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Comportamento Mecânico de

Materiais
Estruturas Aeroespaciais I (10362)
2017
Pedro V. Gamboa
Departamento de Ciências Aeroespaciais
Tópicos

• Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações.


• Ensaio de materiais e estruturas aeroespaciais.
• Materiais isotrópicos e ortotrópicos.
• Equações constitutivas.
• Extensometria.
• Corrosão.

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1. Principais materiais
aeronáuticos e suas aplicações
A atividade aeroespacial tem uma dimensão tecnológica
bastante abrangente, recorrendo a uma grande diversidade de
materiais.
Os requisitos principais dos materiais usados em estruturas
aeroespaciais devem ser:
• boa resistência específica;
• elevada fiabilidade/tolerância ao dano
• facilidade de fabrico
• preço!

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1. Principais materiais
aeronáuticos e suas aplicações

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.1. Ligas de alumínio

As ligas de alumínio apresentam:


• baixa densidade ( 2,7g/cm3 ou 2700kg/m3)
• boa resistência específica (tensões limite de aprox. 690MPa)
• boa resistência à corrosão (em determinadas circunstâncias!)
• boa condutibilidade térmica e elétrica
• são relativamente baratas
Em contrapartida, apresentam:
• um relativamente baixo módulo de elasticidade (aproximadamente
1/3 do valor relativo aos aços)
• baixo ponto de fusão
• alguns problemas de corrosão/fadiga (fratura intergranular sob
tensão)

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.1. Ligas de alumínio

As ligas de alumínio são classificadas de acordo com o elemento


de liga mais abundante, usando-se uma designação com 4
dígitos:
Alumínio puro (99% mínimo) 1xxx
Dois exemplos p/ uso aeronáutico:
Ligas consoante os principais
elementos:
Tipo Estado Resistência à
•Cobre 2xxx tração
de
•Manganês 3xxx [MPa]
Liga
•Silício 4xxx
•Magnésio 5xxx
2024 Recozido(O) 220
•Magnésio e silício 6xxx
Trat. térmico (T6) 442
•Zinco 7xxx
•Outros elementos (lítio) 8xxx 7075 Recozido (O) 276
Trat. térmico (T6) 504
Série livre 9xxx

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.1. Ligas de alumínio

Liga Características Aplicações

• Tratável termicamente • Estruturas de aeronaves


• Alta resistência com temperatura • 2195 (Li, E elevado): tanques de
• Apta para ligações mecânicas; algumas variantes combustível Space Shuttle;
2XXX
(como 2219 e 2048) são soldáveis; • 2124, 2324 e 2419: alta resistência à
fratura.

• Excelente resistência à corrosão; • Permutadores de calor (3003);


3XXX • Boa conformabilidade e soldabilidade; • Indústria alimentar (3004)
• Resistência limite média;
• Excelente resistência à corrosão; • Tanques criogénicos
• Mecanicamente endurecível e boa soldabilidade; • Ambientes salinos;
5XXX
• Boa resistência à fratura a muito baixas
temperaturas;
• Muito alta resistência (incluindo fadiga) • Estruturas e componentes
7XXX • Tratável termicamente aeronáuticos (7050, 7150, 7175, 7075)
• Fraca soldabilidade (excepto 7005 e 7029)
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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.2. Aços

O aço é um dos materiais mais utilizados devido às suas boas


características de resistência, dureza e ao seu baixo preço
(relativo!).
Algumas ligas têm propriedades particulares que as distinguem
(utilizações a alta temperatura, resistência à corrosão,
soldabilidade, resistência à abrasão, etc.).
Possuem, porém, uma densidade elevada (7,8g/cm3 ou
7800kg/m3).
Existem, sobretudo, duas famílias de aços:
• aços-carbono
• aços de baixa liga

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.2. Aços

O teor de carbono nos aços-carbono pode atingir um teor


máximo de 1,2%, havendo uma relação direta entre a quantidade
de carbono e a resistência/dureza do material.
Para este tipo de aços, e na nomenclatura AISI-SAE, de 4 dígitos,
os primeiros dois dígitos passam a “1X”, e os últimos dois
representam a percentagem existente deste elemento (em
centésimas).
Os aços ligados podem conter até 50% de elementos de liga,
embora seja habitual recorrer a concentrações na ordem dos 1 a
4%.
Na nomenclatura AISI-SAE, os dois primeiros dígitos indicam os
principais elementos de liga e os dois últimos a percentagem de
carbono

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.2. Aços

Alguns exemplos:

41xx Crómio: 0.5, 0.8 ou 0.95; Molibdénio: 0.12, 0.2 ou 0.3


46xx Níquel: 0.85 ou 1.83; Molibdénio: 0.2 ou 0.25
92xx Silício: 2.0; ou silício 1.4 e crómio 0.7

Caso especial: aços inoxidáveis!


Especialmente recomendados para aplicações resistentes à
corrosão, têm um teor mínimo de 12% de Cr.
“Melhores” os austeníticos (de 7% a 20% de Ni) do que os
ferríticos e martensíticos.

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.2. Aços
Properties Carbon Steels Alloy Steels Stainless Steels Tool Steels
Propriedades:
Density (1000 kg/m3) 7.85 7.85 7.75-8.1 7.72-8.0

Elastic Modulus (GPa) 190-210 190-210 190-210 190-210

Poisson's Ratio 0.27-0.3 0.27-0.3 0.27-0.3 0.27-0.3

Tensile Strength (MPa) 276-1882 758-1882 515-827 640-2000

Yield Strength (MPa) 186-758 366-1793 207-552 380-440

Percent Elongation (%) 10-32 4-31 12-40 5-25

Hardness (Brinell 3000kg) 86-388 149-627 137-595 210-620

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.3. Outras ligas metálicas

Magnésio – material muito leve, com uma densidade abaixo do


alumínio (1,74g/cm3 ou 1740kg/m3). Tem, porém, muitas
limitações. Baixa resistência mecânica, à fadiga/fluência e ao
desgaste.
Titânio – Excelente resistência mecânica (pode atingir quase
1500MPa à tração) e moderada densidade ( 4.5g/cm3 ou
4500kg/m3). Limitações de aplicação a alta temperatura
(<600ºC) e solicitações de fluência. Preço elevado. Difícil
soldabilidade.
Níquel – destacam-se as superligas de níquel (como Inconel,
Udimet, RR1000, etc.) devido à sua excelente resistência à
fadiga-fluência a alta temperatura. Muito caras. Densidade
elevada (> 8g/cm3 ou 8000kg/m3).

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.3. Outras ligas metálicas

Exemplo de duas ligas de Níquel:


Alloy Cr Mo Ti Al Co Zr W Fe B C Ta Hf
U720Li 16.2 3.2 5.1 2.6 14.5 0.035 1.7 0.072 0.022 <0.1

RR1000 15 5 3.6 3.0 18.5 0.06 0.015 0.027 2.0 0.07

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.3. Outras ligas metálicas

As superligas de níquel possuem uma microestrutura de


pequeno tamanho de grão com uma elevada dispersão de fases
secundárias na matriz do material  elevada resistência:
4800x

30 μm

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1.4. Aplicações de ligas metálicas

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.5. Compósitos

Material que abarca duas ou mais fases distintas e separadas,


combinadas de modo a garantirem um bom desempenho
mecânico de todo o conjunto.
Constituído por um material de reforço, fibras, e um material de
suporte, matriz.
Propriedades gerais:
• Excelente resistência específica;
• Excelente conformabilidade;
• Possibilidade de definição de orientações de solicitação
preferenciais;
• Boa resistência à corrosão e fadiga.

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.5. Compósitos

Existem principalmente duas famílias de compósitos: de matriz


polimérica e de matriz metálica.
Os compósitos poliméricos são largamente utilizados na indústria
aeronáutica, principalmente os reforçados com fibras de carbono
(CFRP).

Imagem de uma observação


microscópica de um compósito laminado
de carbono-epoxy (com fibra óptica
embebida na estrutura)

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.5. Compósitos

GLARE: compósito híbrido desenvolvido em 1987 estruturado em


várias camadas de metal (alumínio) alternadas com camadas de
fibra de vidro (GFRP) alinhadas em diferentes direções.
A agregação destes dois elementos é feita com recurso a resina
epoxídica.
Como características,
apresenta uma
excelente tolerância
ao dano (fadiga e
corrosão) e uma
óptima resistência
específica.

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1. Principais materiais aeronáuticos e suas aplicações
1.6. Madeira

A madeira ainda é,
atualmente, um material
utilizado na construção de
estruturas de aeronaves
ligeiras.
Possui como principais
características:
• Boa resistência específica;
• Excelente resistência à
fadiga;
• Preço acessível;
• Material natural, abundante
e reciclável.

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2. Ensaio de materiais

O comportamento mecânico de qualquer material deve ser


avaliado através de vários tipos de ensaios mecânicos
adequados:
• Tração
• Compressão
• Corte
• Flexão
• Fadiga
• Fluência
• etc.
Devem seguir-se normas e procedimentos de ensaio adequados
(por exemplo, normas ASTM).

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2. Ensaio de materiais

Ensaio de fadiga à tração a alta temperatura


Ensaio de fadiga à flexão

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2. Ensaio de materiais
2.1. Ensaio de tração

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2. Ensaio de materiais
2.1. Ensaio de tração

Exemplos de curvas tensão-extensão:

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2. Ensaio de materiais
2.2. Ensaio de fluência

Fluência – deformação de um material ao longo do tempo sob a


ação de uma carga constante.
Promove uma rutura intergranular nos metais, problema que
merece especial cuidado em altas temperaturas.

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2. Ensaio de materiais
2.3. Ensaio de fadiga

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3. Materiais isotrópicos e
ortotrópicos

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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

Um material pode ser definido como sendo ortotrópico se possuir


diferentes características físicas (mecânicas) e térmicas
relativamente às três direções ortogonais de referência.
Alguns exemplos: contraplacado de madeira, compósito
laminado, etc..
Se assumirmos que um material tem um comportamento
puramente elástico, então podemos estabelecer uma relação
direta entre a tensão aplicada e a extensão verificada.
A constante de proporcionalidade entre ambas é conhecida como
módulo de elasticidade ou módulo de Young (E).
A relação matemática, conhecida como Lei de Hooke, assume a
forma
  E
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

Assim, se considerarmos a extensão provocada por uma tensão


aplicada segundo a direção x, tem-se
 xx
 xx 
E
No entanto, verifica-se que em grande parte dos materiais
elásticos que sofrem um alongamento segundo uma dada direção
de referência se dá um “encurtamento” nas restantes outras
duas direções perpendiculares.
Este fenómeno é conhecido como efeito de Poisson e é traduzido
pelo coeficiente de Poisson
 yy 
    zz
 xx  xx

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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

Para um material ortotrópico existem diferentes coeficientes de


Poisson conforme se considerem interações entre diferentes
direções de referência.
Adota-se, pois, uma representação com dois subscritos com a
seguinte convenção:
• 1º subscrito: identifica a direção da extensão de onde deriva o
efeito;
• 2º subscrito: identifica a direção para onde o efeito é transferido;
Portanto, a influência das tensões aplicadas segundo y e z nas
extensões consideradas segundo x podem ser aferidas
considerando, respetivamente
 yy  zz
 yx ;  zx
Ey Ez
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

Então, a extensão total segundo a direção x é dada pela


expressão
 xx  yx yy  zx zz
 xx   
Ex Ey Ez
Note-se que as extensões segundo cada direção de referência
apenas sofrem o efeito das tensões diretas aplicadas segundo
essas direções, não havendo influência das tensões de corte.
Contudo, as tensões de corte levarão a distorções nas
componentes que terão diferentes valores consoante o plano de
referência considerado.
Assim, podemos escrever as seguintes relações lineares entre
diferentes pares de tensões e extensões de corte
 xy   xy Gxy ;  xz   xz Gxz ;  yz   yz Gyz
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

A constante de proporcionalidade G tem o nome de módulo de


elasticidade transversal ou de corte.
Finalmente, há que considerar possíveis extensões associadas a
efeitos térmicos.
Assim, se um dado material ortotrópico, com um coeficiente de
expansão térmica , sofrer uma variação de temperatura dada
por T, então a extensão consequente avaliada segundo a
direção x será
 xx   x  T

Note-se que os efeitos térmicos não induzem tensões de corte e


são independentes da aplicação de quaisquer tipos de cargas
mecânicas!
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

Combinando todas as contribuições (mecânicas e térmicas) para


as deformações atuantes num material ortotrópico, podemos
escrever as equações tensão-deformação completas que, em
formato matricial, assumem o seguinte aspeto

   S   T   (3.01)

onde
    xx  yy  zz  xy  xz  yz T
    xx  yy  zz  xy  xz  yz T
    x y z 0 0 0
T

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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

e
 1 / Ex  yx / E y  zx / E z 0 0 0 
  / E 1/ Ey  zy / E z 0 0 0 
 xy x
  xz / E x  yz / E y 1 / Ez 0 0 0 
S    
 0 0 0 1 / Gxy 0 0 
 0 0 0 0 1 / Gxz 0 
 
 0 0 0 0 0 1 / G yx 

é a matriz de flexibilidade.
Atendendo a que a matriz de flexibilidade deve ser simétrica,
então facilmente chegamos a três relações entre os módulos de
elasticidade e os coeficientes de Poisson
 xy  yx  xz  zx  zy  yz
 ;  ; 
Ex Ey Ex Ez Ez Ey
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.1. Materiais ortotrópicos

Alguma manipulação algébrica pode ser feita de modo a


encontrarmos um conjunto de equações que relacionem as
tensões com as deformações.
Assim, multiplicando a equação (3.01) pela inversa da matriz de
flexibilidade

S 1   S 1S   S 1 T  


    S    T S   
1 1

Considerando que a inversa da matriz de flexibilidade assume a


designação de matriz de rigidez e é representada por [K]
   K   T K   (3.02)

Estas são as equações tensão-deformação ou constitutivas.


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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.2. Materiais isotrópicos

Um material isotrópico é aquele que evidencia as mesmas


propriedades (mecânicas e térmicas) em todas as direções (ex:
maioria dos metais).
As equações constitutivas para um material isotrópico podem ser
obtidas por simplificação daquelas relativas aos materiais
ortotrópicos, havendo apenas um valor único para E, G ,  e 
em todas as direções
 xx   1 / E  / E  / E 0   xx 
0 0  
    
 yy   / E 1/ E  / E 0 0 0   yy   
 

 zz 
   / E  / E 1/ E 0 0 0   zz 
  
 
     T   (3.03)
 xy   0 0 0 1/ G 0 0   xy  0 
 xz   0 0 0 0 1/ G 0   xz  0 
      
 yz 
   0 0 0 0 0 1 / G  
 yz  
0 

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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.2. Materiais isotrópicos

ou
   S   T  
As equações tensão-deformação podem ser obtidas recorrendo
às constantes de Lamé  e 
 xx  e  2 xx  3  2 T ;  xy  G xy
 yy  e  2 yy  3  2 T ;  xz  G xz (3.04)
 zz  e  2 zz  3  2 T ;  yz  G yz
onde
e   xx   yy   zz
E  3  2 
 ; E
1  1  2   (3.05)
E 
 ; 
21   2   
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.2. Materiais isotrópicos

Foi anteriormente demonstrado noutras disciplinas (Mecânica


dos Materiais) que, para o caso dum material isotrópico, a
constante de Lamé  é igual ao módulo de elasticidade
transversal G.
Por isso
E
G
21  
Da expressão anterior, constata-se que só existem duas
constantes elásticas independentes para o caso de um material
isotrópico.
O intervalo de variação possível para o coeficiente de Poisson de
um material isotrópico (excluindo casos especiais!) é
0    0.5
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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.2. Materiais isotrópicos

Pode ainda definir-se um outro tipo de material  material


anisotrópico: aquele que não tem eixos ou planos de simetria em
termos das suas propriedades, havendo uma interação entre
todas as tensões e extensões independentemente da direção de
referência considerada (i.e., a matriz de flexibilidade não tem
zeros).
Esta é uma situação muito pouco usual na prática.

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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.3. Equações constitutivas em estado
plano de tensões
Considerando um estado plano de tensões, as equações gerais de
tensão-deformação para um material ortotrópico reduzem-se
para a seguinte forma
 xx   1 / E x  yx / E y 0   xx   x 
      
 yy    xy / E x 1/ Ey 0   yy   T  y  (3.06)
   1 / Gxy    0
 xy   0 0  xy  
devendo considerar-se as seguintes equações auxiliares
 xz  yz
 xz   yz  0   zz    xx   yy   z T (3.07)
Ex Ey

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3. Materiais isotrópicos e ortotrópicos
3.3. Equações constitutivas em estado
plano de tensões
As equações tensão-deformação para um material isotrópico
podem ser obtidas invertendo as expressões anteriores e fazendo
as simplificações necessárias
 xx    
  E 1  0   xx  ET 1
 
 yy    1 0   yy   1 (3.08)
  1    1 
2

 xy  0 0
1
1    xy  0
 
 2 

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4. Extensometria

Existem diversas técnicas experimentais adequadas à medição


de extensões.
No entanto, devido à sua simplicidade e relativo baixo custo, a
utilização de extensómetros elétricos é seguramente a mais
utilizada.
Um extensómetro elétrico baseia-se no princípio físico da
variação da resistência elétrica de um condutor através da
variação das suas dimensões físicas, i.e., comprimento e secção
transversal.
Assim, quando um condutor é alongado (aumento de
comprimento), resulta uma diminuição da sua secção transversal
e, consequentemente, um aumento da sua resistência, e vice-
versa.

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4. Extensometria

Este princípio físico foi usado a partir das décadas de 1930-40


para a medição efetiva de extensões em estruturas e
componentes em engenharia.
Note-se que, conhecendo as extensões num dado local de um
componente, facilmente se conseguem definir os campos de
tensões e deslocamentos associados a essa posição do
extensómetro.
As figuras seguintes mostram algumas configurações geométricas
de diferentes tipos de extensómetros.

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4. Extensometria

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4. Extensometria

decrease

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4. Extensometria

A seleção apropriada de um extensómetro obedece a diferentes


requisitos de instalação e operação, designadamente:
• sensibilidade do extensómetro em função do tipo de liga do
filamento;
• tipo de material de suporte;
• valor nominal da resistência elétrica do extensómetro;
• configuração geométrica do extensómetro;
• temperatura(s) de serviço;
• comprimento útil do extensómetro (gauge length).

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4. Extensometria

Outros constrangimentos operacionais devem ser considerados,


tais como, por exemplo:
• precisão de medição;
• fiabilidade face a aplicação de cargas dinâmicas (fadiga);
• local de instalação;
• efeitos ambientais;
• …

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4. Extensometria

Habitualmente, a variação da resistência de um extensómetro é


avaliada com recurso a uma ponte de Wheatstone, podendo
assumir as configurações de quarto de ponte (uso de um
extensómetro num ramo da ponte), meia ponte (dois
extensómetros ) ou ponte completa (4 extensómetros).

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4. Extensometria

Vejamos, agora, como se consegue


determinar um campo de extensões
através da técnica de extensometria.
Considere-se, pois, um corpo sujeito a
um carregamento arbitrário no qual se
instala um extensómetro do tipo roseta,
como o indicado na figura.
Podemos recorrer à equação (2.31)
simplificada, uma vez que o
extensómetro estando à superfície do
corpo é perpendicular ao eixo z (i.e.,
todos os cosenos diretores com subscrito
z são nulos).

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4. Extensometria

Assim
 xy
 n   x cos 2    y sin 2   sin 2 (3.09)
2

Devemos fazer coincidir, alternadamente, a direção n com a


direção de cada extensómetro, de modo a que a extensão n
corresponda à extensão medida por cada extensómetro.
Isto resultará num sistema de 3 equações e 3 incógnitas.

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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

Como visto acima, as tensões num ponto na superfície de um


material podem ser obtidas através das extensões nesse ponto,
usualmente com extensómetros de resistência elétrica dispostos
na forma de uma roseta como mostra a figura 3.01.

Figura 3.01 Roseta de extensómetros.

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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

Suponha-se que I e II são as extensões principais no ponto,


então se a, b e c forem as extensões medidas nas direções ,
+ e ++b relativamente a I, da relação geral das extensões
diretas planas da equação (3.09) tem-se

 a   I cos 2    II sin 2  (3.10)


Uma vez que x fica I, y fica II e xy é zero pois as direções x e
y ficaram as direções principais.
Reescrevendo a equação (3.10) tem-se
 1  cos 2   1  cos 2 
a  I     II  
 2   2 
ou
  I   II    I   II 
a     cos 2 (3.11)
 2   2 
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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

De forma idêntica
  I   II    I   II 
b     cos 2    (3.12)
 2   2 
  I   II    I   II 
c     cos 2    b  (3.13)
 2   2 
Assim, se a, b e c são medidas em direções dadas, isto é
ângulos  e b conhecidos, então I, II e  são as únicas
incógnitas nas equações (3.11)-(3.13).
As tensões principais são depois obtidas substituindo I e II nas
equações (2.52).
Logo
I 
1
 I  II  (3.14)
E
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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

e
 II 
1
 II  I  (3.15)
E

Resolvendo as equações (3.14) e (3.15) obtém-se

I 
E
 I  II  (3.16)
1  2
e
 II 
E
 II  I  (3.17)
1  2

Uma roseta típica pode ter =b=45º pelo que as extensões


principais podem ser obtidas facilmente a partir do círculo de
Mohr.

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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

Suponha-se que o braço a da roseta está inclinado de um ângulo


desconhecido  em relação ao eixo da extensão principal
máxima como na figura 3.01.
O círculo de Mohr das extensões está mostrado na figura 3.02.
As extensões de corte a, b e c não aparecem na análise e, por
isso, são omitidas.

Figura 3.02 Roseta de extensómetros.

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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

Da figura 3.02
OC 
1
 a   c 
2
CN   a  OC 
1
 a   c 
2
QN  CM   b  OC   b 
1
 a   c 
2
O raio do círculo é

CQ  CN 2  QN2

Daqui
2 2
1   
CQ    a   c    b   a   c 
1
(3.18)
2   2 
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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

que pode simplificar-se para dar

CQ 
1
 a   b 2   c   b 2 (3.18)
2
Então, I e II que são dados, respetivamente, por
 I  OC  raio do círculo
 II  OC  raio do círculo
ficam

I 
1
 a   c   1
 a   b 2   c   b 2 (3.19)
2 2
 II   a   c    a   b 2   c   b 2
1 1
2 2 (3.20)

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4. Extensometria
4.1. Medição experimental de extensões

Finalmente, o ângulo  é dado por


QN  b  12  a   c 
tan2   1
CN 2  a   c 
ou seja
2 b   a   c
tan2  (3.21)
a  c
Pode usar-se um procedimento idêntico para a roseta de 60º.

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2. Tensões e rotações em eixos coordenado
2.3. Círculo de Mohr

Exemplo 3.01: Uma barra de secção circular maciça tem um


diâmetro de 50mm e suporta um binário, T, juntamente com
uma carga de tração axial, P. Uma roseta retangular de
extensómetros colocada na superfície da barra forneceu as
seguintes medições: a=1000x10-6, b=-200x10-6 e c=-300x10-6 em
que a e c estão alinhado e perpendicular ao eixo da barra,
respetivamente. Se o módulo de Young é E=70000N/mm2 e o
coeficiente de Poisson =0,3, calcular os valores de T e de P.

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5. Corrosão

Estima-se que os custos diretos associados a problemas de


corrosão no setor da aviação nos EUA rondem os 2.2 biliões de
dólares.
Para além dos problemas económicos, a corrosão acarreta
problemas de segurança e ambientais sérios.
Há inúmeros casos históricos que ilustram bem a dimensão deste
problema:
– Estátua da Liberdade
– Falha do trem do Sea Harrier
– Acidentes com aeronaves
– Petroleiro Erika

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5. Corrosão
5.1. Conceitos gerais

Corrosão  definida genericamente como desgaste ou


degradação superficial do material (metal) quando exposto a um
ambiente reativo adequado.
Oxidação – reação onde ocorre ganho de oxigénio por parte de
uma substância (agente redutor) com consequente perda de
eletrões.
Redução – reação onde ocorre perda de oxigénio por parte de
uma substância (agente oxidante) havendo um ganho de
eletrões.
Exemplo:
Mg  Mg 2  2e : oxidação do Magnésio
1
O2  2e  O 2 : redução do Oxigénio
2
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5. Corrosão
5.1. Conceitos gerais

Assim, a corrosão pode ser redefinida como uma reação redox


heterogénea no interface metal/ambiente, onde o metal é
oxidado e o meio ambiente é reduzido.
A corrosão obedece a leis termodinâmicas, sendo a energia livre
(G) o fator determinante da ocorrência espontânea (ou não) das
reações de corrosão.
Naturalmente, um metal tem tendência para regressar ao estado
em que é encontrado na natureza, verificando-se uma variação
negativa de energia livre.
O potencial de equilíbrio de um metal é calculado através da
equação de Nernst, cuja forma geral é
RT a
Eeq  E0  2.3 log ox (3.22)
nF ard

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5. Corrosão
5.1. Conceitos gerais

RT a
Eeq  E0  2.3 log ox
nF ard

onde
• Eeq: potencial de equilíbrio do metal
• E0: potencial de elétrodo padrão do metal
• R: constante dos gases perfeitos
• T: temperatura absoluta
• n: número de eletrões envolvidos
• F: constante de Faraday
• aox: atividade da espécie oxidada
• ard: atividade da espécie reduzida

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5. Corrosão
5.1. Conceitos gerais

Pilha eletroquímica básica:


• Ânodo: sofre corrosão perdendo eletrões;
criam-se iões que formam produtos de
corrosão insolúveis, podendo funcionar
como bloqueadores de corrosão
(passivação);
• Cátodo: não sofre, habitualmente,
corrosão; as reações catódicas envolvem a
libertação de hidrogénio ou a formação de
iões hidróxido;
• Eletrólito: substância ou solução que
conduz os eletrões (a água/humidade é o
meio habitual);
• Conexão elétrica: deve haver um contacto
elétrico entre o ânodo e o cátodo.
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5. Corrosão
5.1. Conceitos gerais

Tipos de pilhas:
• galvânicas: os elétrodos são metais diferentes
• ativa/passiva: formação de película protetora  passivação
• concentração diferencial: mesmo eletrólito mas em diferentes
concentrações (o ânodo é o local com menor concentração)
• aeração diferencial: o ânodo corresponde ao local menos arejado
(menos concentração de oxigénio);
• variações de temperatura: ocorre a chamada pilha termogalvânica,
onde o ânodo é o local exposto a maior temperatura (caso dos
permutadores de calor);
• concentrações de tensão/carga mecânica (inclui corrosão
intergranular)
• ....

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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão uniforme:
• Geralmente previsível e identificável não havendo grande risco de
falhas catastróficas;
• Degradação de toda a superfície do componente e diminuição das
suas dimensões (ex: espessura);
• Resulta da perda de efetividade dos revestimentos (pinturas, filmes,
etc.).

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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão galvânica:
• Verifica-se entre dois metais diferentes (com diferentes potenciais
de corrosão) em contacto; forma-se, portanto, uma pilha galvânica;
• Deve-se atender à possibilidade de corrosão entre metais mais ou
menos nobres, ocupando posições extremas na série galvânica (ver
tabela);
• Pode ser facilmente evitável se houver um cuidado especial na fase
de projeto.

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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Série Galvânica:

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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão puntiforme (pitting):


• Forma de corrosão muito localizada
revelada sob a forma de pequenas
cavidades ou buracos (picadelas); estes
buracos funcionam como concentradores
de tensão;
• A pilha de corrosão é formada por
variações de concentração do eletrólito;
• A sua difícil deteção pode levar a falhas
catastróficas;
• É um processo auto-sustentável;
• Especial cuidado com aços inoxidáveis!
• Alta suscetibilidade a ambientes ricos em
cloro.
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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão intergranular:
• Normalmente ocorre com a presença de
precipitados nas fronteiras de grão;
• Muitas vezes, existe segregação química que
altera a composição elementar na fronteira
dos grãos tornando esta zona numa área
anódica;
• As fronteiras são fragilizadas comprometendo a
resistência mecânica do material;
• Especiais cuidados são necessários com
materias ricos em crómio (ex: soldadura de
aços inoxidáveis – fragilização da zona afetada
pelo calor);

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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

• Algumas ligas de alumínio de alta resistência (ex: aeronáuticas)


podem sofrer corrosão intergranular pela precipitação de compostos
com cobre, criando micropilhas galvânicas.

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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão por esfoliação:


• Forma particular de corrosão intergranular;
• Particularmente incidente sobre componentes em ligas de alumínio
laminadas ou extrudidas (microestrutura com grãos alongados e
planares);
• A corrosão nas fronteiras de grão pode levar ao aparecimento de
uma carga mecânica com ação delaminante.

Esfoliação de um
componente
aeronáutico em
alumínio 7075 –T6
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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão por fretagem (fretting):


• Corrosão associada ao desgaste por
fretagem de duas superfícies em contacto
e sujeitas a um movimento relativo cíclico
e de pequena amplitude (ex: vibrações);
• Caracterizada por picadas ou fendas
originadas na zona de contacto,
principalmente quando exposta a cargas
de grande amplitude;
• Corrosão típica de maquinaria e órgãos
mecânicos sujeitos a vibrações (ex:
rolamentos e engrenagens); a falha
catastrófica acaba, muitas vezes, por estar
associada a uma combinação
fretting/corrosão/fadiga.
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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão por aeração diferencial:


• Esta forma de corrosão é promovida devido
ao isolamento de certas partes do
componente relativamente ao ambiente;
• Promovida por zonas “estagnadas” ou
“ocultas” (ex: fendas, juntas, orifícios, ...);
• Heterogeneidades no eletrólito (diferentes
zonas de difusão do oxigénio) pode levar à
criação de iões complexos que alteram o pH
no interior das fendas tornando o meio,
aqui, extremamente agressivo;
• Esta é uma reação auto-sustentada;
• Cuidados na fase de projeto dos
componentes e estruturas podem minorar
ou solucionar o problema.
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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

Corrosão por solicitação mecânica:


• Ação combinada entre uma solicitação
mecânica (estática ou cíclica) e um meio
corrosivo;
• As tensões podem ser de caráter residual
resultantes de processos de fabrico
(tratamentos térmicos, soldaduras,
conformação de componentes, ...)
• A corrosão pontual pode promover a
nucleação de fendas que se propagarão de
um modo intergranular, transgranular ou
misto perante um cenário de carregamento
mecânico cíclico;

74 Estruturas Aeroespaciais I – 2014-2017 Pedro V. Gamboa Faculdade de Engenharia


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5. Corrosão
5.2. Tipos de corrosão

• A fadiga elimina as películas passivas protetoras levando a uma


maior velocidade de oxidação do material; por sua vez, esta
oxidação favorece a propagação da fenda, que ocorre para menores
níveis de tensão;
• Problema de difícil deteção podendo resultar em ruínas
catastróficas.

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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Formas de corrosão mais comuns:


• Aeração diferencial (rebites, juntas de paineis, tubagens, etc.);
• Corrosão galvânica por diferentes metais (uniões, conexões, etc.)
• Corrosão sob tensão.

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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Fatores promotores:
• Ambientes agressivos (mar,
poluição atmosférica,
amplitudes térmicas);
• Solicitações mecânicas
exigentes (cargas cíclicas,
vibrações, manobras, ...);
• Idade avançada de algumas
frotas.

77 Estruturas Aeroespaciais I – 2014-2017 Pedro V. Gamboa Faculdade de Engenharia


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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Caso real:
• Corrosão numa bomba de combustível;
• Corrosão severa do corpo interior de uma bomba de combustível de
motor alternativo levou a falha de alimentação e ocorrência de
acidente.

78 Estruturas Aeroespaciais I – 2014-2017 Pedro V. Gamboa Faculdade de Engenharia


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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Algumas considerações de projeto podem minorar o problema da


corrosão em aeronaves:

Seleção de materiais:
• uso de novas ligas de alumínio mais resistentes à corrosão (7055-
T7751);
• uso cada vez maior das ligas de titânio;
• abandono dos componentes em magnésio em estruturas primárias;
• uso crescente de compósitos (cuidado com o carbono!);
• novas técnicas de fabrico (ex: grenalhagem);

79 Estruturas Aeroespaciais I – 2014-2017 Pedro V. Gamboa Faculdade de Engenharia


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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Acabamentos:
• Uso de filmes protetores (cadmiagens em aços inoxidáveis e ligas de
titânio) para evitar corrosão galvânica;
• recentemente, não aplicar selante aos painéis em alumínio
anodizado para melhorar a adesão do primário (pintura mais
resistente).
Drenagem:
• aplicar drenos a todas as cavidades;
Selagem:
• todas as juntas podem ser seladas recorrendo a um composto de
polisulfida que impede a corrosão por aeração diferencial (junções
de painéis, junta asa/fuselagem, etc);
• pode ser utilizado para evitar a corrosão galvânica em metais com
diferentes potenciais de corrosão;
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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Facilidade de inspeção:
• devem ser contempladas portas e/ou outras zonas de acesso
destinadas à inspeção de áreas não visíveis da aeronave;
Aplicação de programas de controlo da corrosão

Alguns exemplos de projeto:

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5. Corrosão
5.3. Corrosão em aeronaves

Alguns exemplos de projeto:


MAU

BOM

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5. Corrosão
5.4. Processos de controlo de corrosão

Eletrodeposição
Consiste em promover um revestimento metálico fino (ex: ouro, prata,
cobre, níquel, cádmio, crómio, zinco, ...) para garantir a proteção
adequada da peça base.
Normalmente, faz-se passar uma corrente elétrica por um banho
contendo iões dissolvidos que irão ser atraídos para o substrato
(cátodo).
Para que o depósito seja cristalino, o processo deve ser lento, o que
garante uma boa adesão.

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5. Corrosão
5.4. Processos de controlo de corrosão

Deposição auto-catalítica
Semelhante à eletrodeposição, mas dispensa a aplicação de uma fonte
de corrente elétrica externa.
A deposição do metal é feita por uma reação espontânea na superfície
do material dando origem a revestimentos de alta qualidade e muito
compactos.
Recomendado para peças com geometrias complexas e zonas de difícil
acesso.
Anodização
Formação de um filme de óxido passivo num metal (normalmente
alumínio) através de processos electrolíticos ou químicos.
Deve-se proceder à selagem desta camada de óxido que é porosa.

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5. Corrosão
5.4. Processos de controlo de corrosão

Proteção Catódica
Utilização de ânodos de sacrifício (ex. magnésio) ou aplicação de
uma corrente impressa.
Proteção Anódica
Utilização de uma corrente elétrica externa suficientemente
elevada de modo a promover a passivação do material.
Pintura eletroforética
Processo de pintura de materiais condutores por tintas
poliméricas compostas por agregados com grande carga.
Ideal para zonas de difícil acesso.

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