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ARTE ROCOCÓ E ARTE NEOCLÁSSICA

O nome pode parecer bem estranho, mas o termo Rococó tem como origem
etimológica a palavra francesa “rocaille” que serve para designar certo tipo de
concha. Esse movimento artístico ocorreu na transição entre o Barroco e o
Neoclássico, mantendo os exageros do primeiro, mas voltando-se para a natureza,
influenciado pela Revolução Industrial, pelo inchaço que ocorria nas cidades e pelo
anseio de algumas pessoas (principalmente pensadores, como Jean Jacques
Rousseau) em pregar um retorno à vida em comunhão com a natureza. O
movimento surgiu no início do século XVIII e dominou até cerca de 1770, ficando Ornamento Rococó. Igreja Franciscana,
Überlingen, Alemanha.
também conhecido como “Estilo Luís XV”.
Essencialmente, era um movimento decorativo que se afastava da religiosidade barroca e buscava reproduzir
rebuscamentos retirados de motivos florais, seguindo um modelo marcado pela alegria e a frivolidade da corte. Era
requintado, elegante, delicado e intimista, em contraposição à ostentação barroca. Embora tenha se originado na
rica decoração de Versalhes, o estilo também representou uma reação à formalidade do palácio real. Juste-Aurèle
Meissonier (1695 - 1750), considerado o pioneiro do estilo rococó na arte decorativa; Gilles-Marie Oppenordt (1672
– 1742), decorador do palácio real; Nicolas Pineau (1684 - 1754) que trabalhou tanto em Paris como em São
Petersburgo (Rússia) como entalhador e decorador, tendo – inclusive – construído carruagens em madeira
decoradas com detalhes em ouro e Germain Boffrand (1667 - 1754), cujo mais representativo trabalho é o “Salão da
Princesa no Hotel de Soubise” em Paris, uma rica sala de recepção realizada na mansão dos Príncipes de Soubise na
qual elementos como janelas e espelhos são usados para dar a sensação de amplitude e fragmentar a luz em uma
fantástica integração entre as formas arquitetônicas, a decoração e as pinturas.

(Germain Boffrand, Salão da Princesa, Hotel de Soubise e detalhe, 1732, Paris, França)

Os artistas deste período conquistaram escalas mais íntimas e um arranjo confortável dos ambientes.
Decoravam-nos de forma colorida, frívola e luminosa, de modo que os painéis e batentes se dissolviam e as paredes
se fundiam com o teto. O repertório de motivos, incluindo arabescos com conchas e “chinoiseries” era muito
variado. Há poucos exteriores rococó na França, mas numerosas igrejas deste estilo na Alemanha.

(Sopeira e prato de prata, desenhados por Juste-Aurèle Meissonnier e fundidos por Pierre-Francois Bonnestrenne, c.
1735, Museu de Cleveland, EUA)

(Carruagem dourada, Nicolas Pineau, madeira, 610 x 213 cm, 1738, Liechtenstein Museum, Viena, Áustria)

Suas principais características eram o uso abundante de formas curvas, principalmente em “S”, e pela profusão de
elementos decorativos, tais como conchas, laços e flores, emprego de cores de tons pastéis, estilização de motivos
fitomorfos (inspirados na natureza) em ornatos. Sua temática eram as cenas mitológicas pastoris, as ‘fêtes’ galantes
(diversões da corte), cenas eróticas e ligadas à mitologia greco-romana.
Uma das primeiras construções do estilo rococó é a igreja parisiense de São Paulo e São Luís, erguida por ordem
de Luís XIII entre os anos de 1627 e 1641. Projetada pelos arquitetos jesuítas Étienne Martellange (1569 - 1641) e
François Derand (1590 - 1644), sua fachada apresenta detalhes da decoração exagerada que marca o estilo.

(Étienne Martellange e François Derand, fachada da Igreja de São Paulo e São Luís, 1641, Paris, França)
A arquitetura palaciana do estilo rococó francês caracteriza-se pela altura era reduzida das construções, cujas
salas principais ocupavam o andar térreo. Um bom exemplo é o “Hotel Matignon”, em Paris (desde 1959 a
residência oficial do Primeiro Ministro), construído entre os anos de 1722 e 1723 pelo arquiteto Jean Courtonne
(1671 - 1739).

(Jean Courtonne, Hotel Matignon e detalhe ‘rocaille’ no teto, 1722/23, Paris, França)

A construção tem apenas dois andares que se organizam em alas curtas projetam. Na fachada há um alinhamento
de janelões de cantos curvos. A busca pela luz é uma característica rococó, por isso os interiores são decorados com
espelhos, as cores usam tons pastéis e texturas suaves (preferencialmente em branco marfim). O dourado é aplicado
de forma pontual para os relevos e molduras. Os tetos – geralmente - não têm mais pinturas decorativas, pois estas
pinturas foram confinadas aos espaços sobre as portas.
Em Portugal, o Palácio Real de Queluz (também chamado de Palácio Nacional) foi uma das últimas construções em
estilo rococó erguidas na Europa, como um local de veraneio para D. Pedro de Bragança, que se casaria com a rainha
D. Maria I, conhecida com “a Louca”, que acabou “internada” no edifício até a vinda para o Brasil, em 1808. Após o
incêndio que atingiu o Palácio da Ajuda em 1794, tornou-se a residência oficial do príncipe regente português, o
futuro D. João VI, e de sua família.
A construção iniciou-se em 1747, realizada pelo arquiteto Mateus Vicente de Oliveira (1706 – 1786). Apesar de
ser muito menor, é conhecido pela alcunha de "o Versailles português".

(Mateus Vicente de Oliveira, Palácio de Queluz e interior, Queluz, Portugal)

Escultura
Na escultura, poucas foram as obras monumentais. No espírito alegre e sensual do período destaca-se o escultor
francês Claude Michel Clodion (1738-1814), cujas pequenas esculturas de temática mitológica, repletas de
graciosidade, vendidas a particulares, fizeram a sua fama. Trabalhou para muitos monarcas antes que as Revoluções
os destituíssem de seus tronos, sendo considerado o mais representativo artista deste período.
(Claude Michel Clodion, Bachanallia, bronze, 42cm e Sátiro feminino com crianças, terracota, 34.9 cm)

Pintura
Semelhante à escultura de Clodion, a pintura rococó era sensual e de pequena escala. Os principais pintores do
período foram Antoine Watteau (1684-1721), que se destacou pelo uso de temas galantes e pastorais inspirados na
“commedia dell'arte”, manifestando sua paixão pelo teatro.

(Antoine Watteau, Comediantes italianos, c. 1720, oleo sobre tela, 64 x 76 cm, National Gallery of Art, Washington
DC)

Antes dos dez anos, ele rabiscava a lápis ou a carvão, fazendo esboços das coloridas cenas de sua cidade natal.
Suas paisagens bucólicas são palco de festas, encontros e representações teatrais representando os prazeres frívolos
da sociedade, associados a uma grande variedade de trajes que fizeram moda. Seus quadros são um retrato vivo e
em movimento de uma época considerada decadente mas extremamente elegante e requintada.
(Antoine Watteau, O Champs Elysées,1717-18, Óleo sobre madeira, 31 x 42 cm, Coleção Wallace, Londres,
Inglaterra)

Outro pintor das fúteis - mas elegantes - cenas rococó foi François Boucher, (1703-1770). Influenciado pela
tranquilidade das paisagens de Watteau absorveu de Rubens os volumes, as cores, o estilo solene e perspicaz. Seus
quadros expressam uma sensualidade e um erotismo galante, além das cenas pastoris. No entanto, sua obra mais
famosa é o retrato de Madame de Pompadour que expressa a mistura das duas influências. Pompadour (amante de
Luiz XV, rei da França) era grande admiradora da arte de Boucher e representou uma época, com seu estilo marcado
pela exuberância, exagero, teatralidade, elegância, riqueza, ostentação, requinte e, portanto, um resumo do estilo
rococó.

(François Boucher, Retrato da Marquesa de Pompadour,1756, óleo sobre tela, 201 x 157 cm, Antiga Pinacoteca,
Munique, Alemanha)

O último representante famoso do rococó também foi inspirado pelo estilo das ‘fêtes’ galantes de Watteau,
tornando-se o pintor etéreo do amor e da natureza. Seu nome era Jean-Honoré Fragonard (1732-1806). Produziu
mais de 550 pinturas (sem contar desenhos e águas-fortes), das quais apenas cinco são datadas. Entre suas obras
mais populares estão as pinturas de gênero, que transmitem uma atmosfera de intimidade e erotismo.
(Jean-Honoré Fragonard, O Balanço, 1767, óleo sobre tela, 81 x 64 cm, Coleção Wallace, Londres, Inglaterra)

BOX: Arlequim e sua Dama

Giovanni Domenico Ferretti, também conhecido como Giandomenico d'Imola, nascido em Florença,
ficou célebre pela perfeição de seu estilo rococó. Suas telas com personagens da Commedia del’ Arte
estão entre as mais conhecidas de suas obras. Nascido em 1692, ele foi o mais importante pintor
florentino de sua época. Morreu em 1768. Suas Arlequinadas, como são conhecidas suas obras sobre o
tema, ficaram célebres. Algumas foram feitas por encomenda, são geralmente murais em palazzos de
famílias nobres de Florença, Siena, Pisa, e arredores.
A extraordinária qualidade de sua pintura, os belos tons pastel, as fantasias que ele pinta de modo
vibrante, tornam suas telas encantadoras. Arlequim tem sempre um ar maroto, travesso, quase perverso.
Está sempre aprontando alguma. Colombina, nem sempre presente nas Arlequinadas, quando aparece,
está caindo de amores por Arlequim.
Ferretti foi membro da Academia de Desenho de Florença, onde ensinava pintura, mas onde também
criava desenhos para tapeçarias encomendadas pelos Médici. Dele é o afresco da capela de São José no
Duomo e o altar e a cúpula da Igreja de São Salvador. Seu estilo é vivo, alegre, sempre em tons suaves.
Decorou as paredes do maravilhoso Palazzo Chigi, em Siena. Atribui-se a ele os afrescos da catedral de
Pistóia.
Construiu uma enorme oficina de arte, que ficou famosa em toda a região e até mais longe. Estava
sempre inovando e queria espaço para criar. Morreu enquanto pintava murais em uma igreja florentina
que, infelizmente, foi destruída por um incêndio.
A imagem é um belo óleo sobre tela, de 59.2cm x 49.5cm, uma das Arlequinadas. Arlequim dedica-se ao seu esporte favorito, conquistar uma dama. É notável
como quase ouvimos o que ele diz para essa Colombina. Para Ferretti, Arlequim é sempre o mesmo. Já as Colombinas, não...
Acervo: Taubman Museum of Art, Roanoke, Virginia, EUA.
Fontes: www.taubmanmuseum.org/ e http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/02/25/pintura-arlequim-sua-dama-163976.asp

Neoclassicismo
Enquanto o Rococó era o estilo da corte, da aristocracia palaciana, o Neoclássico se tornou o estilo da burguesia
racionalista inspirada pelos ideais Iluministas que ascendeu ao poder em vários lugares do mundo na segunda
metade do século XVIII, cujo movimento mais simbólico ocorreu em 1789 com a Revolução Francesa e o posterior
surgimento da Era Napoleônica. As principais características do movimento Neoclássico foram o retorno ao passado
classicista e o academicismo expresso na temática e nas técnicas, de modo que suas obras são construídas em busca
de equilíbrio e simplicidade.
Diferentemente dos renascentistas, a influência clássica não foi revivida rigorosamente, mas adaptada à nova
realidade, ao mundo moderno, um movimento que abrangeu uma nova atitude, mais compreensiva e intelectual em
relação à Antiguidade do que a que havia ocorrido antes, mas que desprezava tanto a Idade Média quanto o
universo contrarreformista do Barroco e a futilidade Rococó, apesar de também ser inspirada pelo “fugere urbem” e
pelo “locus amoenus” como opção para a vida nas cidades e como necessidade de equilíbrio.
Esse retorno aos princípios fundamentais greco-romanos, como o antropocentrismo, a valorização do Belo e do
Bom (“Kalikagathia”) é, talvez, a característica central do estilo Neoclássico.
Um dos motivos para o surgimento do estilo, além da insatisfação crescente de setores da burguesia ilustrada que
não mais aceitava o Absolutismo e o “Direito Divino dos Reis” defendido pela aristocracia e sustentado pela Igreja
Católica desde o final da Idade Média, foram as escavações arqueológicas realizadas nas cidades romanas de
Herculano e Pompéia, soterradas pelas cinzas da erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C. e descobertas em meados do
século XVIII, levando ao redescobrimento do estilo clássico e influenciando decisivamente o modo de vida dos
europeus do Século das Luzes. Era como que um presente da História aos homens modernos, guardado durante 17
séculos e que aflorava no momento oportuno, dando um respaldo cultural ao Iluminismo.

BOX: A Estética
Atribui-se normalmente a Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762) o feito de trazer, na primeira metade do século XVIII, o problema da arte e do belo de
volta ao centro da discussão filosófica, tornando-a disciplina a ser discutida nas Academias. Organizada desde a Antiguidade sob a forma de poéticas e retóricas
que visavam pôr a descoberto as possibilidades de expressão do belo, a experiência artística esteve com maior ou menor regularidade entre os objetos de
investigação da filosofia. Aristóteles e Platão são apenas exemplos da apropriação do belo pelo pensamento. É na sequência histórica dessa relação entre a
filosofia e a arte que Baumgarten se situa. Ele compartilha da crença imemorial de que a manifestação do belo, na vida e na obra, constitui a aspiração mais
elevada que pode pretender um homem de conhecimento.
Embora a palavra ‘estética’ e seu conceito moderno tenham sido desenvolvidos por Baumgarten, para denominar e definir um campo de estudos que deveria
tomar a percepção e as sensações como princípios de um conhecimento sensível do mundo, Kant, Hegel e outros pensadores trouxeram de volta a estética
(como filosofia da arte) à abordagem da filosofia geral.
Como teoria da arte, desde a Antiguidade clássica, passando pela Idade Média, o essencialismo vigorou praticamente sem oposições filosóficas, até o século
XVIII, quando Immanuel Kant publica sua terceira crítica (do Juízo de Gosto), alterando profundamente o que se entendia por estética (arte) até aquele período.
Para Kant o espírito iluminista também precisava encontrar universalidade na atividade estética, livrando-a do emaranhado de opiniões e do capricho dos
humores subjetivos, acumulados até ali pela desordenada profusão de ideias herdadas dos séculos anteriores.
Para ele, “existe sempre a razão, mas ela é ou pura, ou prática. Dois modos que dão acesso a dois mundos. Mas nem um nem outro são válidos para um
terceiro mundo: o da arte, onde as leis da natureza, assim como os preceitos da Razão (ou moral) não podem ser aplicados”, por isso a necessidade de ‘definir’
seu conceito e suas fronteiras.
Esse terceiro mundo anunciado por Kant, em que as leis da natureza e da razão não são aplicáveis, mesmo assim pode ser pensado (julgado) e, portanto,
universalizado e reconduzindo ao regaço da filosofia – mesmo que por outras vias –, bem vigiado como Platão sempre quis. Para tanto, Kant se utiliza das
“formas de entendimento” organizadas para o mundo da razão e da moral, quais sejam, a “qualidade” (satisfação ou desprazer), a quantidade (universalidade
ou subjetividade), a relação com a “finalidade” (determinismo ou liberdade) e, por fim, a modalidade (necessidade ou possibilidade), que compõem parte de
suas categorias, de modo a produzir suas noções sobre estética.
Já que o mundo da arte não pode ser acessado do mesmo modo como aquele da razão que está submetida ao princípio da não-contradição (a necessidade
exclui a liberdade, a universalidade exclui a subjetividade, etc.), a arte só pode ser compreendida numa situação paradoxal em que o juízo de gosto não se
preocupa com a contradição e admite inclusive o ‘terceiro excluído’. Assim, diametralmente ao mundo da razão, Kant obtém os quatro momentos do
julgamento estético: “satisfação desinteressada” (sentimento produzido por um objeto, sem considerar sua utilidade ou necessidade), “subjetividade universal
(sem interesse particular, o juízo do belo pode ser universal, ainda que seja subjetivo), “finalidade sem fim” (sem um fim ou objetivo determinado, a obra de
arte não tem conceito, mas agrada universalmente), e “necessidade livre” (sendo universal o juízo estético, ele também é necessário, porém, não pode ser
imposto e, portanto, é livre).

Arquitetura
A arquitetura neoclássica utilizava materiais nobres como pedra, mármore, granito, baseando-se nos modelos
tanto romanos quanto gregos (daí ser chamada de historicista – apoiada em um momento histórico - neorromana ou
neogrega, de acordo com o estilo imitado). Utiliza-se de sistemas construtivos simples, formas geométricas
regulares, composição simétrica, abóbadas de berço ou de aresta, cúpulas, pórticos colunados, colunas com capitéis
dóricos jônicos ou coríntios, ordem compósita e frontões triangulares. Os construtores dessa época buscaram
inspiração tanto no arquiteto renascentista inglês Inigo Jones (1573 - 1652), quanto no italiano Andrea Palladio
(1508 - 1580), daí também o estilo arquitetônico do século XVIII ser chamado de Palladianismo.
Na frança, destacam-se os arquitetos Jacques-Germain Soufflot (1713 - 1780), iniciador do estilo arquitetônico do
Neoclassicismo, cujo trabalho mais conhecido é, sem dúvida, o Panteão de Paris, construído a partir de 1755 para
abrigar os túmulos de pessoas importantes para a nação francesa; Jacques Ange Gabriel (1698 – 1782), que
executou obras nos jardins do Palácio de Versailles para a amante de Luís XV, Madame Pompadour (que não viveu
para ver a conclusão da obra). O “Petit Trianon” foi passado para Mme du Barry e, posteriormente, para Maria
Antonieta, esposa de Luís XVI.
(Jacques-Germain Soufflot, Panteão de Paris, 1755, Paris França)

(Jacques Ange Gabriel, O pequeno Trianon, 1762/68, Versailles, França)

Outra obra importante do Neoclassicismo francês é O Arco do Triunfo, de Jean-François-Thérèse Chalgrin (1739 -
1811), encomendado por Napoleão Bonaparte para comemorar as vitórias de seu período enquanto Imperador.

(Jean-François-Thérèse Chalgrin, Arco do Triunfo e detalhe, Praça Etoile, Paris, França)

BOX
FONTE: http://turomaquia.com/arco-do-triunfo-guia-pratico-f-a-q/

Até construções religiosas foram erguidas segundo o estilo Neoclássico, o que aparentemente é um contrassenso,
já que por essência o estilo do século XVIII se opunha aos exageros do estilo Barroco, profundamente vinculado à
Igreja Católica. Por isso talvez cause espanto a igreja de La Madeleine, iniciada por Pierre Contant d'Ivry (1698 –
1777) em 1764 e modificada após a morte deste, por Guillaume Couture.

(Pierre Contant d'Ivry e Guillaume Couture, Igreja de La Madeleine, 1764/1806, Paris, França)

Na Alemanha a obra de maior expressão talvez seja O Portão de Brandemburgo ou Porta de Brandemburgo, um
tipo de arco do triunfo que é símbolo da cidade de Berlim, Sua construção foi ordenada pelo rei prussiano Frederico
Guilherme II (Friedrich Wilhelm II) e executada pelo arquiteto Carl Gotthard Langhans (1732 – 1808).
(Carl G. Langhans, Portão de Brandemburgo e detalhe, 1791, Berlim, Alemanha)

Na construção civil inglesa, os principais representantes do Neoclassicismo foram Colen Campbell (1676 - 1729)
que apesar de estudar Direito, dedicou-se à Arquitetura. Sua obra teórica mais importante foi “Vitruvius Britannicus,
or the British Architect”, que apareceu em três volumes em 1725, um compêndio de ilustrações de projetos de
vários arquitetos ingleses, especialmente de Inigo Jones e Christopher Wren. Nesta obra ele condenava os excessos
do Barroco e propunha um modelo classicista. A publicação foi um grande sucesso, tornando-se um cânone do
palladianismo britânico, sendo largamente divulgado também nos Estados Unidos ao longo do século XVIII; e Robert
Adam (1728- 1792), que realizava adaptações de ornamentos romanos em estuque (gesso endurecido) dentro das
características neoclássicas das superfícies planas, seguindo padrões de simetria e exatidão geométrica.

(Colen Campbell, Burlington House, 1717/18, Londres, Inglaterra)

(Colen Campbell, fachada principal de Stourhead House, 1721/24, Wiltshire, Inglaterra)


(Robert Adam, Praça Charlotte, 1750, Edimburgo, Escócia)

O estilo atravessou o oceano e chegou aos Estados Unidos com o nome de estilo georgiano, na mesma época em
que o país passava pelo processo de Independência (1776), motivados pelo racionalismo iluminista. Um dos
primeiros exemplos dessa arquitetura em terras americanas é o “Monticello” (pequena montanha), construída pelo
arquiteto amador e terceiro Presidente dos Estados Unidos da América: Thomas Jefferson (1743 – 1826), que o
construiu para servir-lhe de residência, utilizando-se de tijolo e madeira, com planta compacta e numerosas janelas.
Na fachada observam-se colunas de ordem dórica e uso de frontão triangular. Traz ao centro uma cúpula sobre o
hall, rodeada de óculos redondos, lembrando o estilo panteônico.
Jefferson também desenhou a planta da Casabranca. Foi construída de tijolo e madeira, com planta compacta e
numerosas janelas. Na fachada, colunas de ordem dórica, frontão triangular. Traz ao centro uma cúpula sobre o hall,
rodeada de óculos redondos.

(Thomas Jefferson, Monticello, 1770/84 e 1796/1806. Charlottesville, Virgínia, E.U.A.)

BOX: O Pai da História da Arte


Antes de analisarmos a escultura Neoclássica, precisamos salientar a importância de Johann Joachim Winckelmann (1717 – 1768), um historiador de arte e
arqueólogo alemão, que foi o primeiro a estabelecer distinções entre arte Grega e Romana, teoria que seria decisiva para o surgimento do neoclassicismo
durante o século XVIII. Winckelmann foi o primeiro a aplicar categorias de estilo à história da arte, por isso é geralmente considerado o “pai da história da arte”.
Em seu livro “Geschichte der Kunst des Alterthums” (“História da Arte Antiga”), publicado em 1764, Winckelmann descreve a história da arte Grega e os
princípios em que acreditava que ela era baseada, apresentando uma imagem radiante do ambiente político, social e intelectual da época, algo que, em sua
opinião, favorecia a criatividade na Grécia Antiga.
A ideia fundamental das suas teorias era que o objetivo da arte é a beleza e que o verdadeiro artista, ao selecionar da natureza o seu tema, modifica-o e
combina-o com a sua imaginação criativa para criar o padrão ideal, caracterizado por uma “simplicidade nobre e grandeza serena”, um padrão ideal em que as
proporções são mantidas.Winckelmann apelou a todos os artistas para que a imitassem, restaurando uma arte despida de toda transitoriedade.

Escultura
A escultura Neoclássica não foi tão representativa quanto outras artes, como a pintura, por exemplo. Como na
antiguidade, os materiais mais utilizados eram o mármore e o bronze, no entanto nos séculos XVIII e XIX, os mestres
deixavam o trabalho mais desgastante, para artífices auxiliares, cabendo a eles cortar, talhar, esculpir e quase
terminar a obra. O mestre assumia a escultura definitiva apenas em seus estágios finais de polimento e definição de
detalhes.
Apesar de ter figuras de países tão distintos que teorizaram sobre o novo estilo, como a influência intelectual e
artística do alemão Winckelmann (1717 – 1768), as obras do pintor e arqueólogo escocês, Gavin Hamilton (1723 -
1798), e as análises do crítico de arte Quatremère de Quincy (1755 - 1849), a Itália foi o centro irradiador do
Neoclassicismo escultórico, tendo os artistas Antonio Canova (1757 - 1822), o mais perfeito espelho dos ideais
defendidos por Winckelmann. Seu tratamento do mármore, de extraordinário refinamento, sua pureza de linhas, a
clareza das referências antigas, sua reverência verdadeira aos grandes escultores do passado, o vigor de suas
composições, ao lado de seu caráter pessoal íntegro e bondoso, fizeram dele a figura central do estilo, atraindo
muitos discípulos.

(Antonio Canova, “Eros e Psiqué”, mármore, 155 x 168 cm, 1793. Museu do Louvre, Paris)

(Antonio Canova, “Hércules com a cabeça da medusa”, 1800, mármore. Museus do Vaticano, Roma, Itália)
(Antonio Canova, “Teseu vencendo o centauro”, mármore, c. 1795. Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria)

Lorenzo Bartolini (1777 -1850), protegido de Napoleão, para qum fez um busto também merece destaque entre
os italianos.

(Lorenzo Bartolini, A Ninfa e o Escorpião, 1845, Hermitage, São Petesburgo, Rússia)

Entre outros artistas importantes de outras regiões, mas que merecem destaque estão o dinamarquês Johannes
Wiedewelt (1731 - 1802), e o sueco Johan Tobias Sergel (1740 - 1814), que levou o estilo para o norte da Europa,
além dos e os ingleses Thomas Banks (1735-1805) e Joseph Nollekens (1737 - 1823).
Nos Estados Unidos, somente a partir de 1820, escultores que haviam visitado a Itália e retornado à América
começaram a produzir. Há uma nítida preferência pela confecção de bustos no desenvolvimento norteamericano do
estilo. Entre os artistas desta época merecem destaque Horatio Greenough (1805 - 1852), Hiram Powers (1805 -
1873) e, sobretudo William Wetmore Story (1819 - 1895), que depois de 1857 tornou-se uma referência para o
estilo em terras do Novo Mundo.
(William Wetmore Story: Cleópatra, 1858-69. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, EUA)

Pintura
Como reflexo de uma nova era, os artistas passam a perseguir o Belo, o verdadeiro, a pureza, a integridade moral
e a virtude cívica como contraponto aos exageros cometidos tanto pela Igreja, quanto pela aristocracia durante o
Barroco e o Rococó. A fonte indicada para esse objetivo é a Antiguidade Clássica e a sua arte, pois, segundo
Winckelmann: a arte greco-romana é a “nobre simplicidade e a tranquila grandeza”. Deste modos, as linhas clássicas,
claras e simples, surgem como reação às formas exageradas e excessivas do barroco.
Os artistas neoclássicos irão seguir este conceito, mas vão atribuir-lhe um novo significado e um novo conteúdo,
vão usá-la como meio para transmitir uma mensagem contemporânea da nova visão do mundo e da sociedade,
tornando a arte didática, política e moralista.
A pintura neoclássica é voltada para as faculdades racionais, por isso assume uma tendência histórico-descritiva e
apresenta forte realismo, fazendo a linear assumir maior importância que a cor (ao contrário da expressividade do
Barroco e do Romantismo). As cenas são harmoniosas, os elementos possuem contornos bem definidos e são
dispostos em planos equilibrados. De um modo geral as figuras assumem uma postura rígida, onde a luz artificial
direccionada (em foco) ajuda à criação de um ambiente teatral, resultando numa imagem sólida e monumental. Esta
frieza, conseguida pelo artificialismo da composição, distancia o observador, tornando a pintura numa imagem
simbólica.
O mais importante representante da estética Neoclássica na França foi Jacques-Louis David (1748-1825). Tentou
se aluno de François Boucher (artista rococó de quem era aparentado), que o enviou para Joseph-Marie Vien (artista
que seguia a linha classicista), o que permitiu a ele ingressar na Academia Real. Em 1774 mudou-se para a capital
italiana a fim ingressar na Academia de Roma, onde executou inúmeros desenhos e esboços das ruínas da cidade
histórica, material que o proveu de inspiração para os cenários de suas telas. Estudando os antigos mestres, sentia
uma predileção por Rafael Sanzio, e ao visitar Pompeia ficou maravilhado. Depois destas impressões tão fortes
decidiu adotar em seus trabalhos um estilo de acordo com os conceitos do classicismo.
De volta a Paris, em 1784 pintou a tela “O Juramento dos Horácios”, uma de suas primeiras obras-primas, fazendo
a exaltação de ideais patrióticos republicanos, temas que continuaria a abordar por muito tempo. Apesar de seu
tratamento histórico e cerebral, conseguiu obter um grande efeito dramático. Sua próxima obra importante foi “A
Morte de Sócrates”, exibida no Salão de 1787.
(Jacques-Louis David, “O Juramento dos Horácios”, 1784. Óleo sobre tela, 330 X 425 cm, Museu do Louvre, Paris,
França)

BOX: O Juramento dos Horácios


(...)O Juramento dos Horácios foi concluído em 1784, tem 3,3 por 4,25 metros, e foi encomendado pelo rei da França, Luís XVI. Encontra-se no Museu do
Louvre, em Paris.
A pintura é uma representação de uma passagem da peça Horácio, do dramaturgo francês Pierre Corneille, que por sua vez é inspirada na obra Ab Urbe
Condita, escrita no século I a.C. pelo escritor romano Tito Lívio. A cena representada refere-se às guerras entre Roma e Alba, em 669 a.C. A disputa entre as
duas cidades se resolve com um combate entre três camponeses de cada cidade. Os grupos escolhidos são os três Horácios e os três Curiacis, duas famílias com
relações muito próximas. Uma das irmãs dos Curiacis, Sabina, é casada com um dos Horácios, e Camila, irmã dos Horácios, está prometida a um dos irmãos
Curiacis. Apesar dos laços que ligam as famílias, os irmãos vão para a batalha, colocando a lealdade ao estado na frente dos sentimentos pessoais,
desencadeando uma série de acontecimentos trágicos e conflitos de consciência.
Na obra aparecem três homens vestindo trajes de luta, com os braços levantados em direção a outro homem, que levanta três espadas para o alto. No lado
direito da obra estão três mulheres sentadas, de olhos fechados, com gestos e expressões de consternação. Os três homens são os irmãos Horácios, prestando
juramento de lealdade e solidariedade à Roma. O homem que segura as espadas e que toma o juramento é o pai Horácio, e atrás deles estão Camila Horácio, de
branco, irmã dos três, Sabina Curiaci, de marrom, esposa de um dos Horácios, e uma aia, de azul, carregando os filhos de Sabina e de um dos Horácios. No
centro da pintura verifica-se a ação principal, o ritual de juramento, os homens tem expressões enérgicas, em contraposição ao desconsolo das mulheres.
A obra, encomendada pelo rei Luís XVI, foi concluída em 1784 e exposta pela primeira vez em 1785. Foi pintada poucos anos antes da Revolução Francesa,
movimento que derrubou a monarquia e marcou a instituição de uma nova ordem social na Europa. Grande parte das obras produzidas nesse período pré-
revolucionário têm como característica a representação de idéias como a lealdade ao estado e à monarquia, e o dever público acima do sentimento privado, e
são essas algumas das idéias representadas na pintura de David. A obra é considerada o paradigma da pintura neoclássica, convertendo-se em modelo a ser
seguido por pintores posteriores. Revela aspectos do final do período moderno, como a intenção da nobreza e monarquia em resgatar valores da Roma Antiga,
como o civismo e a virtude, e o bem coletivo sobre os interesses individuais.
FONTE: http://artetestemunho.blogspot.com.br/2011/05/o-juramento-dos-horacios.html

(Jacques-Louis David, “A Morte de Sócrates”, 1787. Óleo sobre tela, 130 x 196 cm, Metropolitan Museum of Art,
Nova Iorque, EUA)

O artista, que era amigo de Robespierre (sendo preso quando da queda deste político exaltado) e membro do
Clube dos Jacobinos, apoiou desde o princípio a Revolução Francesa. Enquanto outros deixavam o país em busca de
novas oportunidades, David permaneceu para auxiliar na queda do antigo regime, votando – inclusive - pela morte
do rei. Com o aval da Assembleia Nacional, planejou reformas Academia, perseguindo inimigos e passando a
desempenhar um papel de propagandista da República tanto por sua atuação política como através de suas pinturas.
Deste período a obra mais importante é “A Morte de Marat”. Quando apresentou a tela na Convenção, disse:
“Cidadãos, o povo novamente clamou por seu amigo; sua voz desolada foi ouvida: 'David, toma teus pincéis, vinga
Marat!'… Eu ouvi a voz do povo, e obedeci”. A obra foi um sucesso político imediato: simples, direta, e
poderosamente tocante, consagrando Marat como um mártir cívico, catapultou David no ambiente revolucionário,
onde ele, como auxiliar de Robespierre no Comitê de Segurança Geral, foi um dos mais ferventes promotores do
Regime do Terror.

(Jacques-Louis David, “A Morte de Marat”, 1793, Óleo sobre tela, 165 × 128 cm, Museu de Belas Artes da Bélgica,
Bruxellas, Bélgica)

David admirava Napoleão (e a recíproca era verdadeira) e quando o general subiu ao trono David solicitou fazer o
seu retrato. Depois o pintou na cena da coroação, nas bodas com Josefina, outra grande composição, e de novo na
da Passagem dos Alpes, montado em um fogoso cavalo.

(Jacques-Louis David, “Napoleão cruzando os Alpes”, 1801, Óleo sobre tela, 259 × 221 cm, Museu nacional do
castelo de Malmaison, França)
Por sua vez, Napoleão o indicou pintor oficial da corte, e pediu que ele o acompanhasse na campanha do Egito (o
pintor recusou, alegando que era velho demais para aventuras).

(Jacques-Louis David, “A Coroação de Napoleão”, 1805/07, Óleo sobre tela, 621 × 979 cm, Museu do Louvre, Paris,
França)

Quando a Casa Bourbon voltou ao poder, apesar de ser proscrito, Luís XVIII concedeu-lhe anistia e até mesmo
ofereceu-lhe uma posição na corte, mas David recusou, preferindo ir para Bruxelas, vivendo tranquilamente com sua
esposa, e dedicando-se a composições em pequena escala e a retratos. Sua última grande criação foi Marte
desarmado por Vênus e as três Graças, terminada um ano antes de sua morte.
Outro pintor Neoclássico foi Jean-Auguste Dominique Ingres (1780 - 1867), marcando a passagem do
Neoclassicismo para o Romantismo. Discípulo de David, permaneceu fiel aos postulados neoclássicos de seu mestre
por toda a vida. Passou muitos anos em Roma, onde estudou Rafael e o maneirismo.

(Jean-Auguste Dominique Ingres, “Napoleão Entronizado”, 1806, Óleo sobre tela, 259 × 162 cm, Museu das Armas,
Paris, França)

O artista Preferia os retratos e os nus às cenas mitológicas e históricas (característica de seu mestre). Entre os
seus melhores retratos estão “Bonaparte Primeiro Cônsul”, “A Bela Célia”, “O Pintor Granet” e “A Condessa de
Hassonville”. Nos nus que pintou “A Grande Odalisca”, “Banho Turco” e “A Banhista”, nos quais se pode perceber o
domínio e a graça com que se serve do traço. A sua obra mais conhecida é “Apoteose de Homero”, de desenho
nítido e equilibrada composição.
(Jean-Auguste Dominique Ingres, “O Banho Turco”, 1862, Óleo sobre tela, 108 × 110 cm, Museu do Louvre, Paris,
França)

A Missão Francesa
A Missão Artística Francesa é o nome que usualmente se dá ao grupo de
artistas e artífices franceses que, fugindo do “Terror Branco” (perseguição ao
partidários de Napoleão), vieram para o Brasil em 1816, transformando o
panorama das Belas-Artes no país ao introduzir um sistema de ensino superior
acadêmico Neoclássico. Apesar de inúmeras versões, ao que tudo indica foram
comissionados pelo governo de Dom João VI, mas o grupo teve que enfrentar a
escassez de recursos financeiros e uma série de intrigas políticas que abalaram o
entusiasmo dos artistas.
Os artistas foram convidados pelo embaixador Pedro José Joaquim Vito de
Meneses Coutinho (Marquês de Marialva), mas a ideia de trazê-los foi de António
de Araújo e Azevedo, o 1.º conde da Barca e ministro do reino. Após consulta
feita ao naturalista Alexander von Humboldt a respeito do assunto, foi indicado o
nome de Joachim Lebreton (ex-secretário do Institute de France, demitido por Retrato de Lebreton
suas ligações com regime bonapartista). Lebreton (1760 – 1819) assumiu a
liderança do projeto e reuniu um grupo de interessados em se transferir para o Brasil, desde que o governo
português financiasse a viagem e seu estabelecimento.

O decreto de fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (12 de agosto de 1816) informa que Dom João,
ao criar a escola, desejava aproveitar o serviço de “alguns estrangeiros” que a ele haviam recorrido em busca de
proteção, como se lê no trecho a seguir:
"Atendendo ao bem comum, que provêm aos meus fiéis vassalos, de se estabelecer no Brasil uma Escola Real de
Ciências, Artes e Ofícios, em que se promova e difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis aos homens
destinados não só aos Empregos Públicos da Administração do Estado, mas também ao progresso da Agricultura,
Mineralogia, Indústria e Comércio, de que resulta a subsistência, comodidade e civilização dos povos, maiormente
neste continente, cuja extensão, não tendo o devido e correspondente número de braços indispensáveis ao amanho e
aproveitamento do terreno, precisa de grandes socorros da prática para aproveitar os produtos, cujo valor e
preciosidade podem vir a formar do Brasil o mais rico e opulento dos Reinos conhecidos, fazendo-se, portanto,
necessário aos habitantes o estudo das Belas-Artes com aplicação e referência aos ofícios mecânicos, cuja prática,
perfeição e utilidade depende dos conhecimentos teóricos daquelas artes, e difusivas luzes das ciências naturais,
físicas e exatas; e querendo, para tão úteis fins aproveitar, desde já, a capacidade, habilidade e ciência de alguns dos
estrangeiros beneméritos que têm buscado a Minha Real e Graciosa Proteção, para serem empregados no ensino da
instrução pública daquelas artes: Hei por bem, e mesmo enquanto as aulas daquelas artes e ofícios não formam a
parte integrante da dita Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios que Eu Houver de Mandar estabelecer, se pague
anualmente etc…"
O grupo chegou no Rio de Janeiro em 26 de março de 1816, a bordo do navio americano Calpe, e era formado por
Joachim Lebreton (o líder); Jean Baptiste Debret (pintor histórico); Nicolas-Antoine Taunay (paisagista e miniaturista,
além de pintar e cenas históricas); Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny e seus discípulos Charles de
Lavasseur e Louis Ueier (arquitetos); Auguste Marie Taunay (escultor); Charles-Simon Pradier (gravador), François
Ovide (mecânico); Jean Baptiste Leve (ferreiro); Nicolas Magliori Enout (serralheiro); Pelite e Fabre (peleteiros); Louis
Jean Roy e seu filho Hypolite (carpinteiros); François Bonrepos (auxiliar de escultura); Sigismund Neukomm (músico)
e Pierre Dillon (secretário de Lebreton.) Seis meses mais tarde, uniram-se ao grupo Marc Ferrez, escultor (tio do
fotógrafo Marc Ferrez) e Zéphyrin Ferrez, gravador de medalhas.
Em junho de 1816 Lebreton propôs ao Conde da Barca uma nova metodologia de ensino através da criação de
uma Escola superior de Belas Artes com disciplinas sistematizadas. O ensino se daria em três fases:
• Desenho geral e cópia de modelos dos mestres, para todos os alunos;
• Desenho de vultos e da natureza, e elementos de modelagem para os escultores;
• Pintura acadêmica com modelo vivo para pintores; escultura com modelo vivo para escultores, e estudo no
atelier de mestres gravadores e mestres desenhistas para os alunos destas especialidades.
O aprendizado de arte no Brasil ainda seguia o modelo informal das corporações de ofícios medievais, os artistas
nem eram reconhecidos (eram considerados meros artesãos especializados, sem inserção na sociedade) e os temas
executados eram basicamente religiosos, uma vez que praticamente não havia mercado para a arte profana ou laica.
Aquilo que se criava era encomendado pela Igreja Católica para a decoração das igrejas, seminários e conventos.
Como os artistas não eram muito bem vistos pelos lusitanos (a exceção dos monarcas e de alguns nobres), eles
sobreviviam da pensão que lhes concedera o governo, aceitavam encomendas de retratos e davam aulas que
conseguiam ministrar nas precárias condições. Além disso, o grupo também enfrentava lutas internas pelo poder
(Lebreton foi acusado de favorecimentos indevidos e má administração). Com a morte de Lebreton (1819), foi
nomeado seu sucessor o português, Henrique José da Silva (1772 – 1834), artista
conservador e crítico dos franceses. O seu primeiro gesto foi liberar os franceses
de suas obrigações como professores. Tantas foram as dificuldades que Nicolas-
Antoine Taunay abandonou o país em 1821 (ano da morte de Napoleão), deixando
para trás o seu filho, Félix Taunay.
Somente em 5 de novembro de 1826, dez anos após a chegada dos franceses é
que foi criada a Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), reconhecida por
decreto de D. Pedro I.
Os integrantes da Missão trabalharam quase que exclusivamente para a família
real, elaborando os cenários relacionados às datas e fatos comemorativos, como
as cerimônias de aclamação de D. João VI (1817) e as comemorativas da chegada
da futura imperatriz Leopoldina (1817), assim como os festejos para a aclamação e
coroação de D. Pedro I em 1822. Para estes eventos criaram de obras de
arquitetura efêmera, como arcos de triunfo, obeliscos e ornamentos. Mas
também deixaram uma importante série de retratos oficiais de personalidades e
(Jean-Baptiste Debret, D. João VI, óleo
membros da nobreza e registros variados da vida na corte e na cidade.
sobre tela, 1817, 60 × 42 cm, Museu
Nacional de Belas Artes, Rio de
Jean-Baptiste Debret (1768 – 1848), talvez seja a figura mais lembrada da
Janeiro, RJ)
“Missão”, pois foi o que teve maior êxito ao registrar os usos e costumes do país, além de tornar-se o pintor oficial
do Primeiro Reinado (é o autor de nossa Bandeira Imperial). Deixou-se encantar pelas paisagens exuberantes e
inéditas e - nas horas em que não lecionava - registrou o exotismo em uma sucessão de desenhos e aquarelas que
anos mais tarde (já na França) publicou nos três volumes da Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Tais imagens dos
costumes, das etnias que copuseram o Brasil, dos escravos de ganho, dos trabalhos executados pelas pessoas
comuns e de cenas cortesãs são uma inestimável documentação visual da época, e fonte básica para o estudo da
cultura e paisagem brasileiras do início do século XIX.

(Jean-Baptiste Debret, “Tocador de Urucungo”, 1826, Museu Castro Maya, Rio de Janeiro, RJ)

(Jean-Baptiste Debret, “Um jantar brasileiro”, 1827, aquarela sobre papel, 15,9x21,9cm, Museu Castro Maya, Rio de
Janeiro, RJ)

(Jean-Baptiste Debret, “Negros vendedores de aves”, 1823, aquarela sobre papel, Museu Castro Maya, Rio de
Janeiro, RJ)

BOX: O Brasil de Debret


O pintor francês ganha a sua mais completa mostra nos festejos dos 200 anos da chegada de dom João VI
CENAS DO RIO Coleta de dinheiro para a igreja (à esq.), castigo de um escravo e família saindo a passeio: Debret foi também um documentarista

O pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) chegou ao Brasil em 1816, oito anos depois de dom João VI, como integrante da missão francesa. Ao longo
de uma década e meia, tempo em que viveu no País, ele produziu o que é considerado o melhor retrato do período joanino. Nada mais natural, portanto, que,
no momento em que se festeja o bicentenário do desembarque da corte portuguesa em solo brasileiro, haja uma exposição desse artista como parte das
comemorações. Trata-se da maior e mais completa mostra de Debret, com cerca de 600 obras, que estará aberta ao público a partir do dia 25 de março, na Casa
França-Brasil, no Rio de Janeiro. Boa parte das pinturas integra o acervo dos Museus Castro Maya, que reúnem 90% das aquarelas. Separadas por temas como
religião, comércio e escravidão, 220 delas estarão distribuídas pelo salão principal, enquanto uma outra sala abrigará 126 esboços. São essas 346 obras que
originaram o livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicado em três volumes, entre 1834 e 1839. Também estarão expostas, pela primeira vez, as 151
pranchas feitas por Debret após seu retorno à Europa em 1831. “Teremos o conjunto de sua obra sobre o Brasil, dos esboços feitos nas ruas do País às litografias
realizadas na França. O seu trabalho nunca foi mostrado dessa forma”, diz o curador Julio Bandeira, que conseguiu ainda seis quadros a óleo produzidos por
encomenda de nobres portugueses e da família real.
Ao chegar ao Brasil, Debret ainda estava impregnado de sua formação neoclássica. Aqui, foi mudando a sua arte tão logo começou a desenhar cenas do
cotidiano da então capital imperial. “O encanto pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil foi tanto que fez com que ele se despojasse do rigor que trazia da Europa”, diz
Bandeira. É dessa fase de mudança, aliás, que surgiu o nome da exposição: Os Museus Castro Maya apresentam o teatro pitoresco de Debret. Assim, a mostra
será um palco da realidade brasileira, desde dom João VI até a Independência, com dom Pedro I. Vai ser uma verdadeira caixa do tempo. O trabalho de Debret
sempre foi mais valorizado aqui do que na Europa e a maior parte de sua obra voltou ao País pelas mãos de colecionadores, entre eles o empresário Raymundo
Ottoni de Castro Maya (1894-1968): em 1939, ele comprou do marchand franco-brasileiro Roberto Heymann 551 pinturas que englobavam esboços e aquarelas.
Na verdade, há pouca coisa de Debret na França e em Portugal. Ele é preciosíssimo para o Brasil.
Segundo a historiadora Valéria Lima, autora dos livros Uma viagem com Debret e J-B Debret, historiador e pintor, as imagens do artista francês não são
valiosas apenas por retratarem, isoladamente, cenas prosaicas do Rio de Janeiro. Valéria diz que, ao organizá-las no livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil,
Debret apresentou sua interpretação da formação do País. “Ele é realmente um documentarista e isso, de certa forma, desmerece suas imagens. Uma coisa são
as imagens soltas e outra, a organização que ele fez no livro, que mostrava sua visão do Brasil.” Essa visão foi agora reconstituída na exposição que faz justiça ao
seu grande talento.

O CATÁLOGO RAISONNÉ DE DEBRETT


Acaba de ser lançado Debret e o Brasil, o mais completo livro já feito no País sobre um artista do século XIX. Trata-se de um catálogo raisonné com o
levantamento da obra desse artista, produzida no Brasil ou sobre o Brasil (708 páginas). Com coordenação e texto de Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago e
editado pela Capivara, a obra também exibe pinturas com “atribuições questionáveis”, como um óleo de dom João VI no Museu Imperial de Petrópolis. Registra
o livro: “Trata-se, mais provavelmente, de um trabalho executado por um seguidor do artista.”
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/2102_O+BRASIL+DE+DEBRET

Já o arquiteto Grandjean de Montigny (1776 – 1850) trabalhou para transformar a paisagem urbanística do Rio
de Janeiro, elaborando o projeto da primeira sede oficial da Academia Imperial de Belas Artes (da qual só resta o
pórtico no Jardim Botânico).
(Foto da Antiga fachada da AIBA e atual pórtico no Jardim Botânico do Rio de Janeiro)

Também foi autor da primeira sede da Alfândega, obra concluída em 1820 (atualmente Casa França-Brasil), e
diversas outras obras de saneamento e urbanização, além de ter formado cerca de vinte novos arquitetos, entre eles
José Maria Jacinto Rebelo, Teodoro de Oliveira, Joaquim Cândido Guilhobel, Domingos Monteiro e Francisco
Joaquim Béthencourt da Silva.

(Grandjean de Montigny, antiga “Sede da Alfândega”, atualmente “Casa França-Brasil”, 1820, Rio de Janeiro, RJ)

O pintor paisagista e miniaturista Nicolas Antoine Taunay (1755 – 1830), chegou ao Brasil com cerca de 60 anos e
jamais se adaptou completamente ao contexto local, mas realizou bela documentação da paisagem em suas telas.
No livro “O Sol do Brasil” a historiadora Lilia Moritz Schwarcz explica que algumas coisas realmente incomodavam o
pintor: a excessiva luminosidade, a presença de negros, o ambiente caótico da capital... tudo isso contribuiu para a
sua infelicidade, fazendo com que Taunay retornasse à França ainda em 1821. Suas pinturas são equilibradas e seu
estilo pictórico aproveita cores pouco intensas que mostram seu aspecto contrário “ao sol brasileiro” que explodia
em cores e tons fortes. Seu filho Félix seria mais tarde Diretor da Academia Imperial, além de realizar obra individual
de mérito, e seu outro filho, Adrien, foi desenhista da expedição Langsdorff, nos anos 1820, deixando importantes
registros visuais do interior.
(Nicolas Antoine Taunay, “Vista do Outeiro, Praia e Igreja da Glória”, 1817, Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio
de Janeiro)

(Nicolas Antoine Taunay, “Largo da Carioca”, 1816, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro)

Referencias Bibliográficas
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tradução Sérgio Milliet, São Paulo, SP, Ridel, 1995.
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FAZIO, Michael et al. A história da arquitetura mundial; tradução técnica: Alexandre Salvaterra, 3ª Ed. Porto Alegre,
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3ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
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NUTTGENS, Patrick. The Story of Architecture. Londres, Phaidon, 1997.
RUSSEL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental: A Aventura das Idéias dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio
de Janeiro, Ediouro, 2001.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Sol DO BRASIL - Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte
de D. João. São Paulo, Companhia das Letras, 2008.

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