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PERSPECTIVA
mantra
novo
um
Encontrando
Encontrando um novo mantra
Shireen N. Heidari, MD
EU saber o dia exato que me
quebrou. Em janeiro de 2021, eu
trabalhava na equipe de cuidados
paliativos de pacientes internados e
havia passado a maior parte de um
longo dia na UTI. O paciente na sala
do outro lado do corredor lutava
para respirar. Ele tinha sido claro:
sim para o oxigênio, mas sem tubo
de respiração. O oxigênio já estava o
mais alto possível. Eu o observei
através do vidro, levantando os
músculos de seu peito mais alto,
tentando desesperadamente pegar
mais ar. Ele não seria capaz de
continuar por muito mais tempo.
Quantas vezes mais assistiríamos a
uma cena como essa? Pude ver
emoções semelhantes nos rostos de
todos:Não sei se posso perder outro
paciente hoje.Olhei para o meu tênis
cinza: um dos cadarços estava se
soltando novamente. Eu realmente
queria ir para casa.
Em vez disso, ligamos para a
família dele, que queria vê-lo.
Explicamos que eles não podiam
entrar na sala, então o vídeo era a
única opção. “Se você desligasse o
oxigênio, poderíamos entrar então?”
um deles perguntou. Vários
segundos se passaram antes que
alguém explicasse: sem o oxigênio,
não haveria chance de despedidas.
Paramos e ouvimos as vozes do
outro lado enquanto sua família
processava a informação, a pequena
liberação de ar sugerindo que pelo
menos uma pessoa estava
chorando. "Nós vamos fazer a
ligação", disseram eles.
Quando finalmente cheguei em casa,
meu marido estava cozinhando e recuou
vários metros para me dar espaço para
passar. Ele estava com medo que eu
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Transferido de nejm.org por ROBERTO COOPER em 10 de setembro de 2022. Apenas para uso pessoal. Nenhum outro uso sem permissão.
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deixaria nós dois doentes. Nosso
cachorro Wesley, geralmente um
borrão alegre de membros
desengonçados lançando-se em
direção a seus humanos, tinha
aprendido que esfregar significava que
eu andaria direto da porta para o
chuveiro, e ele precisava esperar.
Entrei no chuveiro e tentei esfregar o
dia, ainda vendo imagens na minha
cabeça de pessoas se despedindo
virtualmente. Aumentei a temperatura
da água e vislumbrei uma bola de tênis
no tapete do banheiro e o cachorro na
porta. Comecei a soluçar. Quando ele
soube que não tinha permissão para
me tocar quando eu voltasse para
casa?
Por meses, eu estava murmurando
silenciosamente um mantra familiar: Estou
bem. Estamos bem. Nós ficaremos bem.
Quando eu era jovem, minha família estava
dirigindo durante uma tempestade e os
motoristas de vários carros próximos
perderam o controle. Meus pais olharam
para os faróis de um caminhão vindo em
direção a eles enquanto minha mãe
começava a gritar: “Estamos bem, está tudo
bem, está tudo bem”, tentando nos acalmar.
Aparentemente, eu argumentei alto do
banco de trás que eu não estava realmente
bem.
No entanto, como adulto, aprendi a
fingir que estava bem em uma crise porque
era uma habilidade essencial nos cuidados
de saúde. Enquanto meus colegas de
trabalho e eu nos preparávamos para ficar
completamente sobrecarregados e
revisávamos os planos de desastres que
esperávamos nunca usar, eu precisava
acreditar naquele mantra. Um dia, nossa
equipe foi chamada ao pronto-socorro para
atender um paciente com câncer que estava
com dificuldade para respirar e havia
recentemente testado positivo
n inglês j med 387;11 nejm.org15 de setembro de 2022
O novo jornal inglês de medicina
Encontrando um novo mantra
para SARS-CoV-2. Fechei os olhos
com minha companheira de equipe
que estava grávida e disse a ela que
iria sozinha. Ela balançou a cabeça, e
colocamos nossas camadas de
equipamento de proteção individual
e entramos juntos. Essa foi a decisão
certa? Não sei.
As conversas em casa não eram
mais fáceis. Eu nunca esperei que 7
meses depois do meu casamento, eu
estaria perguntando, cada vez que eu
fosse exposto a uma doença mortal no
trabalho, se eu deveria voltar para
casa. Trabalhar em cuidados paliativos
sempre envolvia estar presente na
crise, sentado com dor, mas a
profundidade da perda humana era
devastadora de uma maneira que eu
nunca havia experimentado, e eu tinha
muito pouco para dar quando voltava
para casa. As teorias da conspiração
doem. Ouvir as pessoas que eu amo
chamando meu medo de dramático
corta mais profundamente. Eu fervia,
vendo as pessoas que eu conhecia
minimizando os riscos de infecção e
alardeando a liberdade individual em
vez de usar uma máscara quando
dezenas de milhares de pessoas
estavam morrendo, depois centenas
de milhares. Aquela raiva e exaustão
não tinham para onde ir, porque meu
trabalho era continuar, continuar
apoiando os pacientes e suas famílias,
Sempre tive algum grau de
ansiedade, mas, como muitas pessoas
na medicina, eu a minimizava porque
sentia que precisava. Eu dizia a mim
mesmo que não era tão ruim assim,
que estar atento aos detalhes ajudaria
meus pacientes e que o nervosismo
poderia ser canalizado para o meu
trabalho. O estresse avassalador
PERSPECTIVA
de ser médico durante uma pandemia
explodiu essa mentira. Eu não estava
dormindo. Eu não tinha tempo ou
energia para fazer as coisas que eu
amava – ler, tocar música, estar ao ar
livre, perseguir meu cachorro
— Não conseguia me lembrar da última vez
que me senti eu mesma. Eu estava com
medo de deixar minha família doente.
Durante meses, consegui me concentrar em
apenas um ou dois passos à frente. Eu tinha
sido treinado para subordinar minhas
próprias necessidades físicas e emocionais
ao que era necessário de mim. Mas eu não
poderia fazer isso para sempre. Eu não
estava bem, e eu precisava dizer isso em voz
alta. Eu precisava ser capaz de falar sobre o
que eu estava vendo no trabalho antes que
eu o encontrasse derramando dos meus
olhos enquanto assistia a um comercial de
detergente ou estava no chuveiro. Eu já tinha
um terapeuta que vinha consultando há
anos. Não foi o suficiente. Nem estava
finalmente tirando minhas primeiras férias
em um ano, ou estabelecendo limites, ou
reforçando limites.
Em abril de 2021, depois de
conscientemente tomar medidas para criar
mais tempo para descanso e exercícios,
n inglês j med 387;11 nejm.org15 de setembro de 2022
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entrei no consultório do meu médico
de cuidados primários em uma missão.
Conversamos sobre como eu estava,
os passos positivos que dei, como
estava comendo melhor, dormindo,
me exercitando. Eu sabia que não era
suficiente e criei coragem para dizer:
queria começar a tomar um
antidepressivo. Eu queria me sentir eu
mesma novamente, e era hora de
parar de ter medo de uma opção que
pudesse ajudar. Minha médica pareceu
surpresa, mas sua resposta ficou
comigo: ela disse que eu tinha
pensado claramente nessa escolha e
que ela me apoiaria. Para que
exatamente eu estava me preparando?
Recebemos tantas mensagens na
medicina que deveríamos resistir,
avançar. Os formulários de licenciamento
e credenciamento geralmente perguntam
inadequadamente se alguma vez
procuramos tratamento para nossa
saúde mental. Estou zangado com o
quanto esse estigma prejudicou nossa
força de trabalho. No entanto, mesmo
que eu me prepare para reações por me
tornar vulnerável de maneira tão pública,
isso também é verdade: alguns meses
Encontrando um novo mantra
depois de iniciar a medicação, eu me
senti eu mesma pela primeira vez
em mais de um ano. Já não sinto que
estou olhando para os faróis vindo
em minha direção. Volto do hospital
com energia sobrando para mim e
minha família. Eu tiro dias de folga
quando não estou de plantão. Estou
escrevendo, lendo, conduzindo
oficinas criativas. Assumi um novo
papel de liderança e estou aberto
com minha equipe e estagiários
sobre a necessidade de estabelecer
limites. Um ano depois de tomar a
decisão de falar com minha família e
meu médico, sei que defender
minha própria saúde mental foi a
melhor decisão que poderia ter
tomado. Eu tenho um novo mantra
agora, gravado em uma pulseira no
meu pulso:eu sou humano.
Os formulários de divulgação fornecidos pelo autor
estão disponíveis em NEJM.org.
Da Seção de Cuidados Paliativos, Divisão de Atenção
Primária e Saúde da População, Departamento de
Medicina, Faculdade de Medicina da Universidade de
Stanford, Palo Alto, CA.
Este artigo foi publicado em 10 de setembro
de 2022, no NEJM.org.
DOI: 10.1056/NEJMp2206851
Copyright © 2022 Massachusetts Medical Society.
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