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Glaura C. Franco
Depto. Estatística – UFMG – Belo Horizonte – MG – CEP: 31.270-901 – Email: glaura@est.ufmg.br
Valdério A. Reisen
Depto. Estatística – UFES – Vitória – ES – CEP: 29060-900 – Email: valderio@cce.ufes.br
Paula A. Barros
Depto. Estatística – UFMG – Belo Horizonte CEP: 31.270-901 – Email: pbarros@cocacolabh.com.br
RESUMO
Variáveis cujas médias mudam com o tempo são conhecidas como variáveis não estacionárias
ou variáveis que possuem raiz unitária. Neste contexto, para que uma série se torne estacionária é
necessário diferenciá-la um número suficiente de vezes, onde o número de diferenças é conhecido
como ordem de integração da série, isto é, I(d). Testes clássicos de raízes unitárias consideram a
ordem de integração inteira, ou seja, as hipóteses nula e alternativa são, respectivamente, I(1) e I(0).
Entretanto, pesquisas recentes têm mostrado um maior refinamento destas hipóteses, isto é, situações
em que 0 d 1. Este tipo de análise poder ser obtida através de processos fracionários, também
conhecidos como modelos de longa dependência. Para testar este tipo de processo propomos, neste
trabalho, o uso do estimador semiparamétrico do parâmetro fracionário do modelo ARFIMA (Reisen,
1995) sugerido por Geweke and Porter-Hudak (1983), GPH, e uma versão bootstrap deste teste,
GPH*. Através de ensaios de Monte Carlo observamos que GPH e GPH* possuem maior poder que o
teste clássico ADF (Said and Dickey, 1984) para raízes unitárias, quando a hipótese alternativa é
fracionária.
ABSTRACT
Time series where the mean level changes with time are known as non-stationary processes or
processes having a unit root. In this context, for a series to be stationary it needs to be differentiated a
sufficient number of times, where the number of differences is known as the integration order I( d).
Unit root classic tests consider an integer order of integration where the null and alternative
hypotheses are I(1) and I(0), respectively. However, recent researches have shown a refinement of
these hypotheses where 0 d 1. This kind of analysis can be obtained through fractional processes,
also known as long-memory models. To test this we propose here the use of the semiparametric
estimator of the fractional parameter of the ARFIMA model (Reisen, 1995) suggested by Geweke and
Porter-Hudak (1983), GPH, and a bootstrap version of this test, GPH*. Through Monte Carlo
experiments we observed that GPH and GPH* present higher power than the classic ADF test (Said
and Dickey, 1984) to unit roots, when in the alternative hypothesis d is fractional.
1 INTRODUÇÃO
Se uma série deve ser diferenciada d vezes antes de tornar-se estacionária, então ela contém d
raízes unitárias e é dita ser integrada de ordem d, denotada por I(d).
Neste contexto um processo I(d), yt, t = 1, ..., n, é definido por
que tem a mesma distribuição assintótica de Dickey-Fuller e não depende de qi. No entanto, é
necessário truncar a ordem da autorregressão por uma regra, por um método automático como o AIC
ou por alguma outra especificação.
A hipótese nula de uma raiz unitária (H0: ) é baseada no teste-t com uma distribuição
não normal. Mackinnon (1991) apresenta a tabela com os valores críticos apropriados para alguns
tamanhos amostrais.
Processos fracionários podem ser estimados através de uma extensão dos modelos ARIMA
propostos por Box and Jenkins (1976). Seja y t uma série observada no tempo e u t um ruído branco. Se
yt satisfaz à equação
(2.2)
onde , possuem raízes fora do circulo
unitário, d Î (-0.5,0.5). Entao, yt é um processo autorregressivo média móvel fracionário de ordem
(p,d,q) denotado por ARFIMA (p,d,q). Para valores positivo de d, o modelo ARFIMA(p,d,q) possui a
propriedade de longa dependência, indicando uma dependência não desprezível entre observações
distanciadas por um longo período de tempo. Nas condições definidas acima o processo ARFIMA e
estacionário e invertivel. Maiores detalhes ver Reisen (1994) e Reisen (1995).
Existem vários métodos na literatura para estimar o parâmetro d dos modelos ARFIMA
(p,d,q). Neste trabalho, será utilizado o método semiparamétrico da Regressão utilizando a função
periodograma, conhecido como método GPH devido a Geweke and Porter-Hudak (1983).
Baseando-se na distribuição assintótica do estimador de d (Geweke and Porter-Hudak, 1983),
a estatística de teste utilizada é dada por:
(2.3)
1º) São geradas Nb amostras independentemente replicadas y 1*, ... , yn* sob H0: d=1, para o cálculo do
tamanho do teste, ou sob H1: d<1, para o cálculo do poder.
2º) Para a b-ésima amostra o valor da estatística de teste t b* é calculado.
3º) As Nb estatísticas de teste são ordenadas e é calculado o percentil 5%, que é o valor crítico do teste
bootstrap.
4º) Compara-se o valor da estatística de teste da amostra com o valor crítico.
5°) Conclusão: se o valor da estatística de teste for menor do que o valor crítico a hipótese H 0 é
rejeitada.
Maiores detalhes sobre testes bootstrap podem ser encontrados em Davison and Hinkley (1997).
A estimação do parâmetro de memória longa d do modelo ARFIMA utilizando diferentes abordagens
bootstrap é considerada em Franco and Reisen (2004).
Simulações Monte Carlo foram realizadas para comparar a performance dos testes ADF, o
teste assintótico para o GPH e o teste bootstrap GPH*, através de curvas de poder dos testes. Os
resultados apresentados foram obtidos através de programas computacionais escritos na linguagem
FORTRAN 6.0.
Para a construção do poder dos testes foram geradas 1000 séries utilizando o modelo
ARFIMA (0,d,0) para o tamanho de amostra igual a 100 e 300, g(n)=n0.7, com 500 replicações
bootstrap para os parâmetros d = 0.0, 0.2, 0.4, 0.6, 0.8 e 1.0. O processo ARFIMA foi gerado através
de sua representação AR infinita, sendo 600 o número de observações iniciais jogadas fora para evitar
qualquer contaminação referente ao processo de simulação. O nível nominal dos testes foi fixado em
=5%. Os pontos críticos do teste GPH são apresentados em Santander et al. (2003).
As hipóteses a serem testadas são: H 0: a ordem de integração da série é 1, ou seja, a série é I(1)
vs. H1: a ordem de integração da série é menor que 1.
Figura 1: Curva de Poder dos testes de raiz unitária para (a) n=100 e (b) n=300, respectivamente
Pelas Tabelas 1 e 2 e Figura 1, pode ser observado que o teste assintótico para o GPH é
o que apresenta o maior poder. Para valores de d até 0.4, o teste ADF está ligeiramente superior
ao teste GPH*, porém para d=0.6 e 0.8, o teste GPH* tem maior poder. No tamanho do teste
(d=1), a comparação é feita com o nível nominal de 5%. Neste sentido, o teste assintótico para o
GPH é o que se apresenta mais próximo ao valor 0.05, para ambos os tamanhos de amostra.
Porém, os testes GPH* e ADF não estão muito afastados do nível nominal. Observamos
também, como esperado, que aumentando o tamanho da amostra, os testes tornam-se mais
poderosos.
Foi realizado um estudo da aplicação dos testes de raízes unitárias estudados nas secoes
anteriores, nas séries de preços do grão e do farelo de soja no estado de São Paulo, no período
de 1990 a 1999. Os dados utilizados foram obtidos na publicação Agrianual (FNP Consultoria,
diversos anos) e dizem respeito aos preços recebidos pelo produtor, cotados em dólares
americanos. Para o grão de soja os dados são expressos em dólares americanos por saca de 60
Kg (US$/saca) e para o farelo em dólares americanos por tonelada (US$/t).
A consolidação do complexo soja brasileiro teve início por volta da década de 70 com
expansão da produção de grãos voltada para atender às agroindústrias recém instaladas. Após
esta consolidação, observou-se uma alteração da dinâmica interna. A soja, que era exportada in
natura para ser processada e utilizada na produção de proteína animal nos países importadores,
passou a ser processada também internamente. Esta alteração transformou o farelo de soja
brasileiro em um importante produto, ganhando competitividade no mercado internacional e
passando a ser, dos produtos do complexo soja, o que apresentou maior parcela de sua produção
voltada para o mercado externo. Diante deste cenário, a soja tornou-se um dos produtos
brasileiros de maior exportação.
A Figura 2 apresenta o gráfico das séries do preço do farelo de soja e do grão de soja
respectivamente, no período de maio de 1990 a agosto de 1999 no Estado de São Paulo. Para
efeito de melhor visualização das duas séries conjuntamente, a série preço do farelo foi dividida
por 10.
Figura 2: Séries dos preços do grão e farelo de soja
1) Fazer uma regressão da série com uma variável dummy que represente o momento da
quebra, ou seja,
t=1, ... , n (4.1)
onde DUt = 0 se t<=NB (momento da quebra estrutural) e 1 caso contrário.
Em ambas as séries, o teste ADF não rejeita a hipótese nula da existência de uma raiz
unitária. Os valores críticos do teste ADF, considerando a quebra estrutural, podem ser
encontrados em Perron (1990).
Para o processo fracionário, inicialmente estimou-se o parâmetro de diferenciação d.
Para verificar se as séries possuem uma raiz unitária, utilizou-se a estatística de teste dada na
equação 2.3 para o teste assintótico para o GPH e o próprio para o teste bootstrap, citado na
seção 2.3.
As estimativas de d para as séries do preço do grão e do farelo de soja são dadas na
tabela 4.
Verifica-se que, para a série do preço do grão de soja, a hipótese nula de raiz unitária
não foi rejeitada em nenhum dos quatro testes. O mesmo acontece com a série do preço do
farelo de soja, ou seja, a hipótese nula de raiz unitária também não foi rejeitada.
5. CONCLUSÃO
Nos testes de raízes unitárias, as curvas de poder mostraram que o teste assintótico para
o GPH possui um poder maior que os outros dois testes. O teste bootstrap também apresentou
alto poder, sendo superior ao teste ADF para d = 0.6 e 0.8. Verificamos também que o teste que
mais se aproxima do nível nominal de 5% é o assintótico para o GPH, porém o GPH* e o ADF
não estão muito afastados do nível nominal. Deste modo, concluímos então que os testes
fracionários apresentaram maior poder que os testes clássicos para raízes unitárias. Outros
estimadores do parâmetro de memória longa d estão sendo investigados pelos autores no
contexto da pesquisa apresentada neste artigo.
Para o conjunto de dados reais do preço do grão e farelo de soja, os resultados
evidenciam que ambas as séries possuem uma raiz unitária, tanto utilizando a abordagem
clássica quanto a abordagem fracionária, mesmo levando em conta a quebra estrutural ocorrida
nas séries.
REFERÊNCIAS
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