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Leigh Michaels - Lembrança de Um Louco Amor - Sabrina 439 (Are)
Leigh Michaels - Lembrança de Um Louco Amor - Sabrina 439 (Are)
Amor
Gayle achava que só poderia amar uma vez na vida... Até encontrar Jared!
A vida de Gayle como secretária era o lago sereno que ela desejava desde a morte
de Craig, há sete anos. Ainda o amava e ninguém poderia substituí-lo. Ela era, por isso,
uma opção segura para o plano maluco de Jared, seu chefe: um noivado de fingimento, a
fim de que ele pudesse conseguir um contrato de negócios sem ter que aceitar também um
contrato de casamento. Não haveria rompimentos dolorosos, flores no dia seguinte,
nenhuma emoção. Seu chefe, porém, podia mandar em sua vida quanto quisesse, mas
nunca mandaria em seu coração!
Formatação: Edina
CAPITULO 1
— Bom dia, Srta. Bradley. Chegou cedo. Quase não se vê nada lá fora.
De fato, Gayle quase não reparara no céu fechado e no sol pálido de inverno que
lutava para atravessar a névoa da manhã. Sua mente já estava no escritório. Uma boa
secretária executiva não permitiria que coisas como o tempo ou problemas pessoais
interferissem em seu trabalho. E Gayle Bradley orgulhava-se de ser profissional.
O rapaz olhou-a, espantado, mas não discutiu. Então, ao perceber que não havia
ninguém por perto, ele disse em voz baixa:
— Desculpe-me Srta. Bradley. Escapou sem querer. Mas todo mundo sabe sobre
o apartamento do sr. Logan. . .
— Thomas, você não é pago para discutir sobre a vida particular do sr. Logan!
— Ora, por favor, Srta. Bradley. A senhorita não é cega. Sabe tão bem quanto eu
o que acontece lá em cima!
— Isso não é da minha conta. O Sr. Logan é meu patrão, e o modo como ele
passa seu tempo não me diz respeito.
— Puxa, Srta. Bradley, não consigo entender por que o defende tanto!
— É ele quem assina meus cheques de pagamento, Thonuis Seria bom que você
também pensasse nisso — acrescentou, entrando no elevador.
Obviamente não seria o próprio Jared, que pouco ligava se seus casos fossem de
conhecimento público. Se por acaso Thomas lhe perguntasse sobre Natalie Weston e seu
ninho de amor, ele se limitaria a rir, divertido. Ninho de amor... Francamente! Se tivesse
que escolher um nome para o apartamento de cobertura do edifício Logan, com certeza
Gayle encontraria meia dúzia de adjetivos muito mais apropriados!
Ainda mal-humorada quando o elevador chegou ao décimo oitavo andar, ela abriu
a porta do escritório e ficou parada durante um longo tempo, até esquecer a irritação
quanto ao chefe. A janela de vidro, de onde se avistava o panorama da cidade e as
Montanhas Rochosas que ficavam além, sempre lhe tirava o fôlego. Agora, o céu estava
cinzento, com promessa de nevasca, e os contrafortes, escondidos atrás das nuvens
pesadas. Apesar disso, a beleza de Denver, logo abaixo da janela, compensava o horizonte
escuro.
Como acontecia todas as manhãs, ela fez ronda pelas salas, para se certificar de
que a faxineira deixara tudo em ordem. Endireitou o mata-borrão na mesa de tampo de
vidro de Jared, e em seguida, enquanto a máquina preparava o café, abriu um pacote de
lápis e apontou três deles. Isso tudo era feito automaticamente, com experiência de dois
anos de prática.
"Deus, já faz tanto tempo que trabalho aqui?", perguntou-se, admirada por ainda
não conhecer seus companheiros de empresa melhor do que no dia em que cruzara o hall
de mármore para a primeira entrevista.
Se Natalie já era uma modelo competente, naquelas fotos parecia ter superado as
exigências do gerente de publicidade.
Numa das poses, porém, ela imitava uma estrela do cinema, saia-balão levantada
de modo excessivamente provocador.
Intrigada, Gayle examinou a fotografia durante um longo tempo, curiosa para
saber por que cargas d'água o sujeito do marketing a incluíra na série, quando era evidente
que jamais poderia aparecer numa revista. Talvez fosse melhor retirá-la do meio das
outras, antes que Jared a visse. Será que o Sr. Logan
acharia a foto engraçada? Ou, quem sabe, censuraria o responsável por tomar o
seu tempo? Era difícil prever suas reações, mesmo depois de dois anos de convivência... £
se, de fato, Natalíe Weston fosse a mulher que se encontrava agora no apartamento de
cobertura, então não havia como saber de que modo ele reagiria àquela foto de mau gosto.
Afinal, Gayle resolveu deixá-la na pasta, pois não lhe cabia censurar o que o chefe
examinava. Mas prometeu a si mesma conversar com o homem da publicidade. Caso ele
estivesse procurando acrescentar um pouco de humor à campanha, teria de adverti-lo de
que estava navegando em águas perigosas.
—- Bom dia, Srta. Bradley — disse ele, sem a olhar, entrando direto em sua sala.
Ao vê-lo tão elegante, Gayle sentiu o mesmo choque que experimentara em seu
primeiro encontro com ele. Na ocasião só sabia que Jared construía computadores, e fora
para a entrevista imaginando-o um homem exótico, barbudo e de olhar selvagem, que só
falasse o jargão da eletrônica. Em vez disso, encontrara um homem vestindo camisas de
seda e gravatas de cem dólares, que se divertia tanto quanto trabalhava, e que usava um
pequeno bigode escuro muito bem aparado. De repente ela se deu conta de que o encarava
fixamente e baixou os olhos para o caderno de anotações.
— Você ficaria melhor se fosse ao barbeiro. Surpreso, ele levou a mão até os
cabelos castanho-escuros,
fazendo com que o anel de sinete de ouro reluzisse sob as luzes do escritório.
Jared estudou-a durante um longo momento, como um gato prestes a dar um bote.
Então sorriu, e seus olhos azuis brilharam, divertidos.
— Ótimo. Quero ter tudo na ponta da língua quando for conversar com Russell
Glenn — disse ele, examinando a primeira fotografia da pasta.
— Se quiser, posso vir trabalhar no fim de semana, caso precise de' mais
informações.
— Não acredito! Você renunciar ao seu fim de semana só para tentar me ajudar?
Gayle não gostou do seu tom de voz. Jared parecia insinuar que ela era uma
adolescente ansiosa, que não podia perder uma oportunidade para estar com o namorado.
— Por que não, Sr. Logan? Há muita coisa que precisa ser feita por aqui.
— Não será necessário. Além disso, não espero chegar a um acordo neste fim de
semana. Russell diz que quer vender a Softek, mas se esperou tanto tempo, pode esperar
mais três dias.
— Não entendo por que Russell resiste tanto com essa companhia aqui em
Denver, quando todos os negócios dele estão na Califórnia. Isso não faz sentido. Ele devia
aproveitar a chance de vendê-la enquanto é tempo! Gayle ficou em silêncio por alguns
instantes, sabendo que ele não esperava nenhum comentário, pois estava apenas pensando
em voz alta. Depois ela consultou o caderno de anotações e disse:
— Peters telefonou, perguntando se você quer que ele embale alguma coisa para
o fim de semana.
— Ligarei para ele mais tarde — retrucou fared, examinando uma das fotografias
que ela lhe entregara.
— Ele perguntou também se você vai a Pino Reposo antes de partir, ou se deveria
trazer sua bagagem para Denver. Disse que não o vê há bastante tempo.
— Não precisa transmitir o recado por palavra, Srta. Bradley. Sei muito bem o
que o caseiro pensa de mim. — Então, separando uma fotografia da pilha, colocou-a num
canto da mesa, guardando as restantes na pasta. — Diga a Ron que as fotos estão ótimas.
Ele pode usar qualquer uma. E pergunte-lhe sobre as tomadas para televisão.
— Você e meu caseiro se dão bem, não é verdade, Srta. Bradley? Mas parece que
nenhum dos dois tem bom conceito de mim...
— Sua vida particular não é da minha conta, Sr. Logan. E agora, se não precisar
mais de mim, vou retornar ao meu trabalho.
Devido à neve que caíra durante o dia, o ônibus percorria as ruas com dificuldade.
Consultando o relógio, Gayle perguntou-se se Jared já estaria voando para a Califórnia, a
fim de se encontrar com Russell Glenn, ou seu avião ficara encalhado no Aeroporto
Internacional de Stapleton. Na certa ele devia estar ;i caminho do sol e do mar, enquanto
todo mundo continuava cm Denver, lutando contra o inverno. Aliás, mesmo que passasse o
fim de semana inteiro discutindo com Russell, Jared voltaria bronzeado na segunda-feira à
tarde!
Gayle levantou-se ao se aproximar do ponto onde descia. Ainda bem que seu
irmão tivera o bom senso de comprar uma casa a apenas um quarteirão dali. Caso
contrário, ela teria seguido para seu apartamento e ligado de lá, avisando que não iria jantar
com ele, como fazia todas as sextas-feiras.
Foi com alívio que encontrou Darrel parado perto da porta, esperando-a. O rapaz a
cumprimentou, conduzindo-a então para dentro da casa.
— Que bobagem, Darrel! Até o ônibus teve problemas. Você nunca conseguiria
sair com seu carro. . . Hum, o cheiro está delicioso! — comentou, enquanto Rachel se
aproximava.
— Hoje vamos comer ravióli. Passei a semana toda usando a máquina de fazer
massas que você me deu no Natal.
Gayle entregou o casaco a Darrel e seguiu a cunhada até a cozinha. Lá, sentada no
chão, a pequena Amy, que tinha três anos de idade, estava colorindo as figuras de um livro,
mas quando a tia entrou ela deixou o lápis de lado e correu ao seu encontro. Gayle
suspendeu-a nos braços e a beijou. Depois comentou com Rachel:
— Por favor, Rachel, pensei que já tivesse chegado a um acordo com você sobre
isso. No momento não estou interessada em conhecer ninguém!
— Pelo jeito, nunca vai estar. Quero saber até quando você vai fugir dos homens.
— Não há nenhum que esteja à altura das minhas exigências.
— Minha querida, conheço uma centena de homens que adorariam namorar você.
..
— E esse que vem hoje, o que tem de tão especial que os outros noventa e nove
não têm?
— Ah, eu sabia que você ia ficar curiosa! Para começar, ele possui seu próprio
negócio, está com trinta e cinco anos. . .
— É casado?
— Claro que não! Acha que eu marcaria um encontro para você com um homem
casado?
— Faz um ano. . . Mas você sabe que um marido perfeito não cai do céu de uma
hora para outra. Todo homem tem um passado. . .
— Rachel, francamente!
— Ter filhos não é nada demais, pelo amor de Deus! Afinal, você gosta de Amy
— disse, apontando para a filha, aninhada no colo de Gayle.
— Apenas que me deixem em paz! Prefiro minha vida do jeito que ela é. Gosto
de meu trabalho, ganho o suficiente para me sustentar e não preciso de ninguém!
— Isso acontece com qualquer um. Além disso, depois de amar Craig e perdê-lo,
sé um super-homem me faria esquecê-lo.
— Não estou pedindo que o esqueça, mas você precisa viver sua vida. Afinal, ele
está morto! Não é a mesma coisa se vocês fossem casados. . . — Rachel interrompeu-se ao
ver a expressão da cunhada. E depois de uma pausa, desculpou-se: — Sinto muito. Só
queria ver você feliz, Gayle. Infelizmente já usei todos os recursos a minha disposição e
até agora não a ajudei em nada.
— Não se preocupe, Rachel. Quando achar que estou pronta para isso, eu
rnesma me encarregarei de procurar alguém. Mas se você me arranjar outro convidado
especial de novo, nunca mais voltarei aqui.
— Está bem... Se você ficar agora para conhecer Larry, prometo nunca mais
fazer isso.
— Não confio nem um pouco na sua palavra, mas de qualquer modo esperarei
pelo jantar. Principalmente porque o cheiro do ravióli está delicioso.
Mais tarde, Gayle arrependeu-se por não ter ido embora antes. Larry era simpático
do ponto de vista físico, mas não possuía nenhum atrativo capaz de chamar sua atenção.
Por mais que mostrasse disposição para entabular uma conversa, não acertava num único
assunto que o interessasse. Tanto que, após o jantar, ela se sentia tão pouco à vontade,
com o rosto tão marcado pela preocupação, que Rachel se surpreendeu.
— Nada, estou bem — afirmou ela, forçando um sorriso. — Preciso ir para casa.
Tive uma semana cansativa.
— Não, obrigada. Vou chamar um táxi. Moro fora de seu caminho, e numa noite
como esta.. .
Antes que ela terminasse de falar, Rachel trouxe seu casaco e o cachecol,
ajudando-a vestir-se. Indiferente aos seus protestos conduziu-a para o carro de Larry,
— Não valia a pena você gastar com uma corrida de táxi. Estou acostumado a
dirigir na neve.
Quando Larry parou o carro diante do prédio, Gayle consultou o relógio, e como
não fosse tão tarde para alegar que estava exausta, resolveu ser gentil.
Ao notar o sorriso tímido com que ele acedia Gayle perguntou a si mesma se não
fora injusta ao tratá-lo friamente na casa de Rachel. Mesmo assim, nada acrescentou
enquanto o conduzia
rumo ao elevador.
Quando acendeu a luz do apartamento ela olhou em volta como se visse aquele
ambiente pela primeira vez. Sua casa em nada lembrava a da cunhada, que se caracterizava
pela descontração típica dos casais jovens. Aqui, cada livro estava arrumado na prateleira,
cada quadro em perfeita simetria na parede, e as almofadas bem arrumadas no sofá. Não
havia brinquedos espalhados pelo chão, nem qualquer vestígio de que alguém vivesse entre
aquelas quatro paredes. Apesar disso, o apartamento refletia seu gosto, seu modo de vida.
E ela levara anos até deixá-lo exatamente do jeito que queria.
— Bonito apartamento — comentou Larry, enquanto olhava para uma gravura de
Salvador Dali em cima da lareira.
Como ele estivesse intrigado diante daquele quadro, que era um dos mais realistas
do pintor, Gayle ficou curiosa por saber o que Larry acharia das obras surrealistas do
pintor.
da sala:
— Refere-se ao Dali?
— Tais como um convite para passar a noite aqui? Não seja tolo, Larry! Nós nos
conhecemos há pouco mais de três horas!
— Pois eu não sou. Se quiser tomar o café, ótimo; se não, a porta está aberta.
Larry não respondeu, e instantes depois tomaram o café nu mais absoluto silêncio.
Sem Darrel e Rachel para participarem da conversa, não tinham nada a dizer um ao outro.
Portanto, foi com alívio que Gayle o acompanhou até a porta menos de dez minutos
depois. Assim que ele saiu, ela se encostou na porta, sentindo-se bem por estar tudo
terminado.
CAPÍTULO II
Larry ligou para Gayle três vezes no sábado: uma, quando ela entrava no banho;
outra, no momento em que ela saía do apartamento; e a terceira quando estava no meio de
uma máscara facial que a impedia de falar. Depois disso, Gayle decidiu tirar o fone do
gancho, pois de qualquer modo não esperava telefonema de ninguém. Na manhã da
segunda-feira saiu cedo de casa, feliz por notar que, apesar do ar gelado, o dia prometia ser
claro e sem nuvens.
— Tentei ligar para você agora cedo, mas ninguém atendia. Imaginei que o
telefone estivesse com defeito, por isso resolvi dar uma paradinha aqui.
— Esqueça isso. Eu a levarei até seu escritório — disse o rapaz, puxando-a pelo
braço até o veículo.
Mas isso não importava. Mesmo que Larry fosse o homem mais rico do Estado,
ela não mudaria de opinião a seu respeito. Não que tivesse alguma coisa contra ele;
simplesmente não queria se envolver com ninguém.
— Posso vir buscá-la para almoçar? — perguntou ansioso por puxar assunto. —
Vou ficar no centro da cidade e poderia. . .
— Hoje eu não posso. Meu chefe vai chegar à tarde e talvez eu tenha que
trabalhar até a noite.
Dirigindo devagar, como se não tivesse a menor pressa, Larry demorou mais a
chegar ao edifício Logan do que um ônibus. Gayle ficou irritada, pois não costumava
entrar atrasada no serviço. Mesmo que o chefe só voltasse à tarde, não queria dar motivo a
ninguém para qualquer reclamação.
— Posso lhe telefonar mais tarde, ou seu chefe também não gosta disso?
— Não se preocupe, Gayle. Pelo que Darrel disse, uma mulher competente como
você encontraria emprego em qualquer lugar. Aliás, talvez eu até precise de uma boa
secretária. Ligarei para sua casa hoje à noite, está bem?
Resmungando um "obrigada", Gayle abriu a porta do carro e saiu para a neve, que
lhe chegava até os tornozelos. Assim que ela atravessou a calçada do prédio, ouviu a voz
do chefe que se aproximava, vindo pelo outro lado.
Com um movimento ágil, ele empurrou a porta giratória, de modo a que os dois
entrassem no saguão.
— Claro que não. Simplesmente imaginei que nada seria capaz de afastá-lo do
sol da Califórnia.
Seu aspecto cansado levou Gayle a supor que Natalie Weston não lhe dera a
menor folga na noite anterior. Ou será que ele já mudara de amante? Logo iria saber,
quando ele lhe dissesse para onde mandar flores
— Bem, Srta. Bradley, passei o fim de semana em Pino Re-poso. Portanto, nem
você nem Peter podem falar que deixei de ir lá.
— Fazia um mês que você não ia lá. Não sei por que alguém mantém uma casa se
não gosta dela.
— Por incrível que pareça, você sempre está certa! Oh, desculpe-me — disse,
quando tocou de leve no rosto de Gayle. — Como o ventilador parou, estou tentando tirar o
casaco para não sufocar. Nunca vi um elevador tão minúsculo!
— Não sou tão otimista como você. Por isso vou sentar no chão.
— Talvez você não esteja certa, srta. Bradley. É melhor tirar seu abrigo e se
sentar junto comigo, aqui no tapete. Gayle, que não se mexera desde que as luzes tinham se
apagado, suspirou, antes de retrucar:
Foi então que abriu o pequeno compartimento de emergência, mas para sua
surpresa não havia ali um aparelho de telefone.
— Só espero que ele tome alguma providência — disse Gayle, enquanto tentava
soltar um dos grampos que seguravam seus cabelos, que se enganchara na parede de ferro
trabalhado. Ao sacudir a cabeça, o coque se desfez.
— Era só o que faltava! Meus cabelos se soltaram. Pode me emprestar seu
isqueiro por um instante?
— Por sorte, não — disse Gayle, procurando encontrar uma posição cômoda no
chão. — Você não tem a menor consideração pelo conforto de seus empregados. Poderia
pelo menos colocar bancos nos elevadores — brincou, sentando-se ao lado dele.
— Imagino que você passou todo o dia de ontem conversando com alguém. Não
seria com aquele sujeito? Afinal, seu telefone só dava ocupado.
— Ah, deixei o fone fora do gancho. Mas por que tentou ligar para mim? E como
conseguiu o meu número?
— Bem,-adquiri o hábito de assinar só com as iniciais, por que seria tolice morar
sozinha e colocar meu nome inteiro na caixa do correio. As iniciais podem dar a impressão
de que é um homem que mora lá, e isso é menos perigoso.
— Não conte a ninguém que ficar presa num elevador comigo é uma coisa
maçante. Iria arruinar minha reputação. Vou dai um prazo de mais cinco minutos, depois
começaremos a bater na porta. Alguém deve ouvir.
— Do jeito como esse edifício é construído, duvido muito. As paredes têm mais
de vinte centímetros de espessura! Ah, antes que me esqueça: por que tentou ligar para
mim ontem?
— Não faz mal. Houve um longo silêncio entre os dois, até que Gayle decidiu
insistir na conversa, a fim de não se aborrecer tanto.
— Como foi de viagem? Imagino que chegou a um acordo com Russell, uma vez
que você voltou tão cedo.
O elevador sacolejou um pouco, mas meio minuto depois sua porta se abria para
um pequeno grupo reunido no corredor do décimo segundo andar. Entre eles estava
Thomas ao lado de dois trabalhadores.
— íamos jogar uma corda no poço para resgatá-los. Ainda bem que não foi
preciso.
— Se estou despenteada, isso não significa que fui atacada, Thomas. O sr. Logan
não é exatamente o que você pensa.
— Pode ter certeza. Agora me diga como faço para chegar a minha sala?
— É, parece que vou ter que subir nesse elevador mais cedo ou mais tarde.. .
— Não é preciso.
Momentos mais tarde, em sua sala, Gayle procurava dar um jeito nos cabelos
quando uma das datilógrafas aproximou-se com a correspondência. Com malícia, a moça
comentou:
— Ouvi dizer que você passou uma meia hora excitante esta manhã. . Que tal
ficar presa no elevador com o chefe?
— Jura que não houve nada fora do comum? Outra coisa: é verdade que na sala
dele tem um sofá que se transforma em cama?
— Não sei de nada disso — retrucou Gayle, irritada, levan-tando-se para atender
o telefone. Era Rachel, que parecia preocupada.
— Mas não faz o meu tipo. Além do mais preciso de privacidade, não quero
ninguém que me absorva.
— Privacidade foi só o que você teve nesses últimos anos. Será que ainda não
está pronta para o convívio com outra pessoa?
— Larry não serviria para isso. Obrigada, Rachel, mas pode deixar que eu
procuro alguém que me agrade.
— Já é mais do que tempo de fazer isso, minha querida. Você se esconde em sua
casa, não aproveita a vida...
— Santo Deus! Você insiste em morrer com Craig! Se fosse viúva dele, seria
fácil compreender. Mas nem chegou a usar a aliança de noivado!
— Claro. Mas você também ficou presa no elevador, e nem por isso está
querendo me esganar. Não tive culpa se faltou energia no bairro!
— Venha até aqui, Srta. Bradley! — disse o Sr. Logan num tom seco.
Jared estava de costas, olhando a cidade pela janela, e não notou que ela havia
entrado. Gayle permaneceu em silêncio durante alguns instantes, e depois perguntou:
— Ah, você está aí? — disse ele, voltando-se. — Sente-se, pois vou ditar
algumas notas sobre minha viagem.
— Releia tudo — disse ele, recostando-se no espaldar da cadeira, dedos das mãos
entrelaçados atrás da cabeça.
— "O Sr. Glenn afirmou que perdera o interesse em vender a Softek, mas que
gostaria de associar-se com a Logan Eletrônica. Sugeriu que a melhor maneira de fazer
isso seria que eu me casasse com a filha dele"... É isso mesmo?
— Você entendeu tudo, palavra por palavra!
— Não de maneira clara. Primeiro, disse que uma fusão seria melhor que uma
venda; minutos depois, perguntou: "Você conhece minha filha? Ela vai herdar meus
negócios", e assim por diante.
— Então você concluiu que ele quer casar a filha? Parece-me um raciocínio um
tanto forçado.
— Um homem visado como eu sabe quando alguma coisa ameaça sua liberdade.
— Bom, nem tudo está perdido. Ela pode não estar interessada em casamento, e
do mesmo modo você não tem simpatia pela idéia.
— De maneira alguma. Não vou desistir enquanto não comprar aquela empresa.
— O sr. Glenn merece um prêmio por essa nova idéia nos negócios. E um
casamento pode ser mais interessante do que a simples compra da companhia.
— Estou numa situação difícil. Se Russell se ofender, não vai me vender a firma
por preço nenhum. Mas se eu não sair dessa enrascada, talvez seja obrigado a me casar
com uma estranha!
— Impossível ter! Nunca imaginei que essas coisas acontecessem na vida real. Só
na Idade Média os pais incluíam filhas em seus negócios.
— Pois eu desconfio que a idéia desse casamento partiu dela, e não do velho.
— Meus parabéns! Agora entendo por que você estava tão preocupado com a
proposta de Russell!
— Imagino que Natalie Weston não vai gostar de saber que esse noivado é
temporário. De qualquer modo, como boa atriz que é, será perfeita no papel!
— O sr. Glenn está ansioso para conhecer você, Gayle. Eu lhe disse que você
ficaria feliz em recebê-lo em Pino Reposo neste fim de semana.
CAPITULO III
— Espere um pouco, Sr. Logan. . . — disse Gayle, num tom de voz nervoso. —
Que brincadeira é essa?
Em vez de responder, Jared limitou-se a rir, como se tudo não passasse de uma
piada.
— Acontece que você está propondo uma farsa. E eu não vou fazer isso.
— Se quiser conservá-lo, vai ter que encarar essa nova tarefa. Sinto muito se seu
namorado não gostar. . . Para ser franco, eu não sabia que você estava saindo com alguém.
— Pois estou! E não quero me arriscar a perdê-lo só porque você se meteu numa
encrenca.
— Bem, desde que seja discreta, não me importa o que você faça. Prometo não
tocá-la, e você poderá voltar para ele assim que eu tiver assinado o contrato com Russell.
Pensando sobre o assunto, Gayle percebeu que através daquela farsa talvez fosse
mais fácil livrar-se de Larry. Mas, como ela nada dissesse, Jared prosseguiu:
— Pensei que você não se lembrasse do nome dela — comentou Gayle, sorrindo.
— Não. Como ela se formou no mês passado, recebeu uma viagem de presente
do pai e só vai voltar esta semana. Os dois chegarão em Denver na sexta-feira e partirão na
segunda. Depois, Russell estará na Califórnia, e aí estaremos livres, só continuaremos com
a farsa se ele por acaso nos procurar. Do contrário, terminado o fim de semana. . .
— Ainda não me convenci desse projeto, sr. Logan. Não tenho o menor talento
para ser atriz. Por que não procura outra pessoa?
— Não sei.. . Com certeza não foi por causa de meu charme. Mas qualquer uma
das suas conhecidas ficaria lisonjeada em fingir que é sua noiva...
— Não, não aceito. Tenho certeza de que você encontrará alguém que se
interesse pela proposta.
— Precisa ser você, Gayle, pois eu contei a Russell que tinha me apaixonado pela
secretária. . .
— Acontece que fui pegado de surpresa. De qualquer forma, não fique com essa
cara. Esse papel não vai lhe exigir qualquer esforço e também não será por muito tempo.
Talvez ele até assine os contratos no final de semana.
— Fique tranqüila quanto a isso. Além do mais, vou lhe pagar todas as horas
extras a que você fizer jus. — Jared fez uma pausa, examinando seu vestido, depois
acrescentou: — Se você deixar de usar o preto o tempo todo, melhoraria bastante sua
imagem. . . Faça o seguinte: tire a tarde de folga e compre algumas roupas novas. Pode pôr
na minha conta. E considere isso um abono.
— Estou espantada com sua segurança em relação a esse plano maluco. Não é tão
fácil convencer alguém de que estamos apaixonados um pelo outro! .
— Na verdade, também tenho algumas dúvidas quanto a isso. Talvez seja mais
difícil do que pensei no início. Só que não tive escolha. Fui obrigado a inventar essa
história antes que o velho fizesse uma sugestão clara. Você foi a única possibilidade que
me veio à mente. E para ser franco, não imaginei que você se importasse.
— Enganou-se por completo. Vou fazer esse papel ridículo apenas porque não
tenho outra alternativa.
— Ninguém mais do que eu está ansiosa por terminar logo com essa confusão.
"Não acredito que me meti nessa encrenca", disse Gayle a si mesma, momentos
mais tarde, ao entrar no toalete. Com a impressão de que tudo aquilo fosse um pesadelo,
lavou o rosto com água fria antes de voltar à escrivaninha, Então atirou-se ao trabalho
disposta a não pensar no assunto até que surgissem os primeiros problemas.
Jared fora à fábrica, que ficava nos arredores de Denver, mas nem assim ela
conseguiu tranqüilizar-se, pois a cada vez que a porta se abria, imaginava que era ele
voltando com alguma idéia nova.
O rapaz sentou-se na beira de sua mesa, com um sorriso malicioso nos lábios.
— É muito gentil da sua parte — interrompeu ela, rindo. — Mas nunca vou levar
você a sério. Então, veio até aqui só para conversar?
— Infelizmente, não. Vim tratar de negócios. Queria saber se Logan já tinha visto
o material da campanha. Como ele não está, acho melhor...
— Tem isso aqui para você — disse Gayle, entregando a pasta. — Da próxima
vez, seria conveniente deixar de fora as fotos engraçadas. A menos, é claro, que você
queira colocar em risco seu emprego. Natalie Weston no momento não é um bom tema
para piadas.
— Estou pouco me importando. Duvido que Natalie faça Logan perder seu senso
de humor. Até que eu gostei daquela foto — disse o rapaz, enquanto folheava a pilha de
retratos.
— Não está aí. — Ele tirou-a do meio das outras, e não parecia satisfeito.
— Ah, ele deve ter juntado à coleção de beldades que já passaram por sua cama.
Pelos meus cálculos, no mínimo três álbuns de fotos! O que é que esse homem tem para
agradar tanto às mulheres, Gayle?
— Sou a pessoa menos indicada para lhe dar essa informação, Ron. Por que não
tenta conversar com Natalie, por exemplo?
— Não deve ser por causa do dinheiro. . . Se fosse assim, ele arranjaria mulheres
sem graça. E ao que eu saiba, acontece exatamente o contrário! A única mulher
interessante que não gosta dele é você, Gayle! Por que será que o charme desse homem
não afeta você?
Por sorte o telefone tocou nesse momento, livrando-a de responder àquela questão
embaraçosa.
— Exatamente! Não é de se admirar que meu cunhado diga que tem uma
secretária maravilhosa. Você é ótima! Eu telefonei para agradecer pelo lindo vaso de cristal
que Jared me mandou no meu aniversário.
— Minha querida, não liguei para falar com ele, mas sim com você. Sei muito
bem que Jared não distingue um Steuben de um Lalique, por isto não precisei pensar muito
para descobrir quem o escolheu. Obrigada, srta. Bradley.
Gayle não conhecia pessoalmente Elizabeth Logan, que vivia com o marido,
irmão de Jared, em Chicago, e nunca em Denver. Mas pelo pouco que sabia sobre ela,
tratava-se de uma mulher culta e de bom gosto.
— Sim, claro, Sra. Logan. Eu avisarei a ele que a senhora telefonou ...
— Qual o problema com a sra. Logan? Afinal, deve existir um sr. Weston em
alguma parte, e isso nao parece atrapalhá-la em nada.
— Por que não cuida de sua própria vida? — Natalie retrucou, irritada.
— Pelo jeito você não foi convidada a vir aqui, do contrário saberia que Jared
não estava. Acho melhor não esperá-lo. Ele detesta encontrar gente que não convidou.
— Aposto cem dólares como os planos de Jared para hoje já estão feitos. E mais
cem, como você não está incluída neles, Nat.
Naquele exato momento Jared Logan, que chegara sem ser percebido, entrou
dizendo:
— Você ganhou a aposta, Ron. E agora, se vocês dois fizerem o favor de dar o
fora, minha noiva e eu vamos à joalheria comprar um anel. Está pronta, Gayle?
Atônita, ela fechou os olhos, como se assim pudesse evitar o rubor do rosto, e
quando os abriu, Natalie e Ron já haviam desaparecido.
— Esse telefonema é para mim? — perguntou Jared. • Ela fez que sim,
entregando-Ihe o fone.
— É sua cunhada.
Por que diabo Jared Logan provocara aquela cena? Haviam combinado que ela
passaria três dias entretendo os Glenn. Portanto não fazia sentido espalhar isso para todo o
mundo!
— Você sabe a que me refiro. Por que contou a Ron e à Sra. Weston que
estamos., . bem. . .
— Bem Gayle, a regra número um nos negócios é não guardar segredo do que
fatalmente será do conhecimento de todos. As informações sempre vazam, e então
ninguém mais tem controle sobre os boatos.
— Claro que sei. O que me surpreende é que não tenham arranjado um nome
criativo, original... Mas voltando ao que interessa, já pensou nos comentários quando
vissem seu anel de noivado? Alguém fatalmente vai vê-lo em sua mão!
— Deus do céu! Você nunca criou tantos problemas. Acha que Russell vai
acreditar que um homem de minha posição não dê um anel à futura esposa?
— Mas você quer que ele acredite que estamos noivos, para que eu possa
comprar a Softek e acabarmos com isso, não é mesmo?
— Sim, mas...
— Então vista seu casaco. O joalheiro não pode nos esperar até a noite.
— Você não imagina o que se consegue com um bom advogado. No mínimo, lhe
daria alguns meses de dor de cabeça.
— Por quê? Só estou pedindo sua ajuda. E isso faz parte de seu trabalho.
— É muito diferente!
— Claro. Você teria que encontrar alguém para tomar conta do cachorro.
— Se não tem, melhor. Então não precisamos nos preocupar com isso. Está tudo
resolvido.
— Tudo bem. Agora, por favor, pare de gritar como se estivesse prestes a ser
violentada.
— Sei que é tolice pensar que corro perigo com você, mas.. . — ; Realmente.
Você é uma moça simpática, tem seus encantos, porém não...
— Não sou o seu tipo!
— Isso mesmo. Pouco depois Jared abria a porta de uma das joalherias mais
exclusivas de Denver, deixando que Gayle o precedesse. Um homem de terno escuro
aproximou-se, sorrindo.
— De fato, um noivado como o nosso não deve ser simbolizado por um bilhante
comum.
— De modo algum.
— Laranja! — disse, achando que Jared iria protestar. Mas ele apenas sorriu.
— Excelente idéia! Vai combinar com seus cabelos e olhos castanhos. Depois
podemos comprar um vestido da mesma cor, algo para você usar no fim de semana.. . que
sirva para aumentar o impacto do anúncio do noivado.
— Oh, não. As safiras podem ser violetas, amarelas, verdes... de todas as cores
exceto vermelho. Sabe por que não existem safiras vermelhas? — perguntou, com um
sorriso satisfeito.
— Nem desconfio.
Gayle prendeu a respiração quando o homem abriu o pequeno estojo. O anel tinha
uma enorme pedra laranja-rosada, em volta da qual, atraindo a atenção para o centro, havia
uma dúzia de chuveiros de brilhantes, parecendo raios que fluíam da fonte central de luz.
— Como podem ver, as baguettes são cortadas num ângulo oblíquo, para realçar
a pedra central. E em vez de serem sustentadas por pinos, são montadas num canal
formado pela base de platina.
— Gostou, Gayle?
— É bonito.. .
— Você se apaixonou por ele à primeira vista, não? —- Jared comentou, curioso.
— De fato, é lindo...
— Se concluir esse trabalho e conseguir convencer Russell, pode ficar com ele.
— Outro suborno?
CAPÍTULO IV
Gayle consultou o relógio e olhou para a pilha de roupas que estava em cima da
cama. Dentro de quinze minutos Jared Logan viria buscá-la, e ela mal havia começado a
fazer a mala. Mas, mesmo que já estivesse com tudo pronto, continuaria tensa diante da
prova que teria pela frente.
A campainha da porta tocou de novo. Era Jared, com certeza, refletiu, enquanto
abria a porta.
— Tudo bem, eu espero. Mas não lhe avisei para aumentar seu guarda-roupa e
comprar outras coisas que não fossem pretas?
— Ainda não tive tempo de trocar de roupa. Eu havia planejado fazer as malas à
tarde, mas você resolveu que iríamos de manhã.
Sem lhe dar chance de responder, Gayle voltou ao telefone. Era Larry.
— Rachel disse que você ia viajar neste fim de semana — disse o rapaz,
queixoso.
— Isso mesmo.
— O quê? Oh... É melhor conversarmos sobre isso na semana que vem, Larry.
Até logo! — disse, e desligou o telefone antes que ele pudesse protestar.
— Seu namorado não estava satisfeito? — perguntou Jared, enquanto observava
a gravura de Dali.
— Você estaria? Pense bem. De repente sua namorada aparece noiva de outro
homem. . . Você se sentiria feliz?
— Não consigo me imaginar numa situação como essa. Mas creio que eu daria
uns bofetões no sujeito.
— Por que essa cara de espanto? Esperava encontrar aqui fotos de gatinhos e
cachorrinhos recortadas de velhos calendários? Bem, vou terminar de fazer as malas. Tem
café na cozinha, se você quiser.
Gayle levou quase meia hora para acabar de arrumar suas coisas, e a essa altura já
estava desesperada. Normalmente, faria aquilo em dez, quinze minutos. Desta vez, porém,
sentia-se totalmente confusa. Devia levar roupas esportivas? Trajes de noite?
Voltando para o quarto, ela resolveu não levar mais nada, e fechou a mala.
Chegando em seguida, Jared comentou:
— Alguém já lhe disse que você não tem o menor tato? — retrucou ela,
embaraçada por vê-lo examinar cada detalhe do seu quarto.
Foi então que Jared apontou para o retrato emoldurado em cima da mesinha de
cabeceira e perguntou:
— É seu namorado?
— E não estou!
— Ah, é?
— Há pessoas que se interessam por outras coisas além de sexo, Jared. Mas gente
como você não acredita que existe o amor.
— Não foi isso que eu quis dizer. Você é atraente, quando não se veste como
uma viúva desconsolada. Mas eu me referia ao fato de você não estar mais interessada em
mim do que eu em você.
— Droga! Parece que estou me atrapalhando cada vez mais. Em todo caso, você
tem seu namorado para me manter na linha.
— Isso mesmo. Portanto, não importa o que faça, você sempre estará seguro
comigo.
Em dois anos na Logan Eletrônica, Gayle nunca tinha ouvido falar que alguém da
empresa tivesse ido a Pino Reposo, que Jared considerava como uma espécie de refúgio do
mundo e de seus problemas. Assim, foi por pura curiosidade que ela perguntou pelo
caseiro.
— Como é esse Peters, hem, Jared? É tão afetado quanto parece ao telefone?
— Claro. E ele está tão ansioso por conhecê-la, que tem medo de derramar a sopa
em você na hora do almoço!
Atravessaram as ruas de uma pequena cidade, e depois tomaram uma estrada que
cruzava os campos.
— Você contou a ele que nosso noivado era apenas uma simulação? —
perguntou Gayíe, pouco depois.
— Claro que não. Essa é a segunda regra dos negócios: nunca incluir num
segredo alguém que não precise sabê-lo.
— Espero que você faça bom proveito disso. Pode até tentar um emprego como
executiva júnior em qualquer grande empresa da região.
— Ah, eu não gostaria de ser chefe! Prefiro deixar as dores de cabeça para você.
— Puxa, que honra! Mas eu sentiria sua falta no escritório. Você é a melhor
secretária que já tive.
— Seria bom que você tivesse lembrado disso antes de me arrastar para esse
plano maluco!
— Acalme-se. Peters está com mais medo de você do que você dele.
— Não é isso...
No instante em que Jared saía do carro para apanhar a bagagem, a porta da casa se
abriu e um animalzinho peludo irrompeu latindo furiosamente. Parecia um brinquedo
mecânico, e se movia tão rapidamente diante dos olhos espantados de Gayle que ela só
conseguia ver o seu vulto.
— Pobre Coitado foi encontrado ferido e nós o curamos aqui — informou Jared,
voltando-se então para o homem que estava parado à porta. — Peters, quer guardar este
bichinho em algum lugar?
— Deixe-me pegá-lo — pediu Gayle.
Em seguida ela tomou o animalzinho no colo, surpreendendo-se, por ele ser tão
carinhoso.
— Seja bem-vinda a Pino Reposo, srta. Bradley. O almoço está pronto. Posso
pegar seu casaco? E o cachorro também?
Pobre Coitado protestou, mas foi levado pelo caseiro em direção à casa.
Lado a lado com Jared, Gayle correu os dedos pelos cabelos, enquanto chegava ao
hall de entrada, que se estendia por toda a largura da casa, embora tivesse poucos metros
de profundidade. O lugar estava decorado com algumas folhagens verdes, dois bancos
pequenos e uma impressionante escultura. O piso era de lajota vermelha. Mas o que mais
chamava atenção era uma parede de vidro no lado oposto à porta de entrada, além da qual
um pátio, totalmente cercado pela casa, contendo um pequeno lago, uma fonte e árvores:
um parquezinho completo sob uma cobertura de vidro.
— Você verá tudo depois do almoço. Mas se quiser atravessá-lo agora, tudo bem.
Ela esperava sentir a brisa fria no interior do pátio, mas em vez disso o tempo ali
era cálido, e o ar estava impregnado pelo perfume das flores.
Então seu sangue gelou quando Jared aproximou-se para beijá-la. Foi uma carícia
leve, quase casual, um simples roçar de lábios que logo terminou. Em seguida ele disse:
— Você vai ter que reagir melhor se quiser convencer Russell Glenn.
— Em primeiro lugar porque Peters está nos observando da sala de jantar, Ele
esperava ver alguma coisa assim. Além disso, eu não queria surpreendê-la mais tarde,
quando Russell e Krystal estiverem aqui.
— Por que me apanhar de surpresa? Você não falou nada sobre isso...
— Ora,, imaginei que tivesse lhe ocorrido. Ê natural que um casal de noivos se
toque de vez em quando, não importa quem esteja na sala. Você não será nada convincente
se se retrair cada vez que eu estiver por perto. O que me leva a outra pergunta... é só
comigo que você é fria ou com qualquer um?
— Por que não? Vou ter que ensiná-la a beijar; já me conformei com a idéia. Mas
só queria saber. . .
— Não se preocupe. Farei o que for necessário... e não preciso aprender a beijar,
obrigada! De resto, não importa que eu seja frígida, pois você não terá chance de
descobrir!
Gayle quase não tocou na comida, embora todos os pratos estivessem deliciosos.
Para não desapontar Peters, explicou que a mudança de ar lhe tirara o apetite. Jared nada
comentou, e depois do almoço levou-a para conhecer o resto da casa.
O pátio era realmente o centro da mansão, com todos os aposentos abrindo-se para
ele. Na área dos dormitórios, cada quarto tinha sua própria saleta com vistas para o jardim
interno.
— Por que você não coloca números nas portas? Ou então cores diferentes, para
que os convidados não se percam?
— A casa não é tão grande. São cinco quartos de hóspedes, além da minha ala
particular, biblioteca, sala de jogos, de estar, de jantar. ..
— Não dá para ninguém se perder.. . Você gostaria de ver meus aposentos? Não?
Foi o que pensei. Mas se mudar de idéia, fique à vontade para usar a sauna ou a
hidromassagem.
— Pode confiar em mim, Gayle. Não tenho a menor intenção de seduzi-la. Isso
só causaria problemas no futuro.
— Agora compreendo que você tenha ficado surpreso ao ver o Dali em meu
apartamento.
— Só possuo esse, que minha mãe me deu no último Natal. Ela me disse que o
tempo fugia de mim e me recomendou olhá-lo todos os dias.
— Ela tem razão! A face do relógio derretendo-se numa poça, a torre de pedras
desmoronando.. .
— Bem, eu gosto das figuras de Frederic Remigton. Mas só porque são cowboys.
Jared praguejou.
— Estou entendendo porque o nome dele é Pobre Coitado. Ele é tão bonitinho!
Sem olhar para trás, ele foi para o hall de entrada, enquanto Gayle curvava-se para
pegar o cãozinho, antes de segui-lo até a porta.
Um frio percorreu todo o seu corpo quando ela percebeu que a presença de Peters
junto às portas indicava a chegada dos visitantes.
Ao seu lado vinha uma figura esguia, vestindo um casaco de pele de raposa, a
cabeça curvada para se proteger do vento. Assim que alcançou o hall, a moça riu, tirando o
gorro de pele e soltando os cabelos loiros sobre os Ombros. Seus olhos eram de um azul
intenso e suas faces estavam avermelhadas por causa do frio.
Gayle sentiu o chão sumir sob seus pés. Onde diabos estava com a cabeça quando
aceitara o papel que agora precisava representar? O que mais a impressionava naquele
momento era descobrir que tinha diante de si a mais bela mulher que jamais vira em toda
sua vida. E mais: tinha certeza de que o mesmo ocorria com Jared!
CAPÍTULO V
Do alto de uma elevação que assomava sobre Pino Reposo, Gayle olhou para a
casa banhada pelo sol fraco de fim de tarde. O ar frio e seco trazia de longe um perfume de
pinho, que penetrava em suas narinas. A colina estava silenciosa, dando a impressão de
que não havia viva alma pela redondeza. O que em parte era verdade, não fosse a presença
de um falcão que sobrevoava a paisagem gelada à procura de alguma caça que se
aventurasse a sair nessa tarde fria.
Foi então que uma risadinha nervosa rompeu o silêncio do panorama, fazendo
com que Gayle olhasse por cima do ombro.
Krystal Glenn, envolta num casaco vermelho, procurava subir a pequena colina.
Mas, naquele exato momento, perdia o domínio dos esquis, caindo pesadamente sobre a
neve. Diante daquela cena que se repetira durante todo o fim de semana, Gayle por pouco
não soltou uma gargalhada.
Então Jared abaixou-se para ajudar a moça a se levantar, e em seu rosto havia uma
expressão divertida, como se aquilo fosse a tarefa mais agradável do mundo. Aliás, Krystal
não perdia uma oportunidade de ser tocada por ele desde o momento que chegara na sexta-
feira. Como nunca esquiara antes, usava isso agora como desculpa para mantê-lo perto de
si.
Pensando nisso, ela decidiu deixar a colina antes que os dois a escalassem. Os
esquis curtos que estava usando não- reagiam tão bem quanto os longos, que eram usados
em competições, mas o ar frio que lhe soprava no rosto deixou-a mais animada. Ao chegar
a Pino Reposo, deixou os esquis nos degraus e entrou enquanto tirava os agasalhos mais
pesados. Estava passando pela porta da sala de estar quando Russell Glenn apareceu com
um copo na mão.
— Então foi bom eu ter ficado em casa. Você não gostaria de carregar um velho
de volta à civilização.
— Você nunca conhecerá o Colorado até ter descido pelas encostas de Aspen ou
Vail. Isso foi só um treino de aquecimento
— Ah, não faça isso — pediu Jared, aproximando-se. — Gosto deles soltos.
Krystal, que parará perto da porta em tempo de ver o beijo, fitou-a com olhos
reluzentes de ódio.
Russell entregou-lhe uma xícara de gemada, que Gayle sorveu com prazer antes
de responder.
— Não acredito que você nunca tenha praticado esqui em campo antes.
Principalmente sendo aqui do Colorado. ..
— Você tem anos de prática, não? — perguntou Krystal, num tom de voz doce.
— Quebrei a perna numa encosta para principiantes quando tinha seis anos.
— Tudo que se faz durante tanto tempo se torna uma segunda natureza da gente.
Descobri isso praticando surfe. Mas é claro que não comecei há vinte anos — concluiu a
loira, com uma risadinha.
— Eu nunca consegui aprender bem o surfe — disse Jared, sentando-se numa
poltrona.
— Eu lhe ensinarei da próxima vez que você for à Califórnia. Na verdade é fácil.
Alguém com sua graça não tem nenhuma dificuldade para aprender.
Gayle olhou de um para outro, perguntando a si mesma por quanto tempo ainda
iria ver aqueles flertes mal disfarçados. Depois de tomar um gole de sua bebida, Krystal
prosseguiu:
— Vou continuar tentando esquiar. Afinal, se venho morar aqui no Colorado, não
quero ficar de fora durante metade do ano.
— Papai não lhe contou? Resolvi ficar em Denver para dirigir a Softek. Sempre
gostei de trabalhar em programação, e agora que me formei posso me concentrar realmente
nisso.
Gayle disfarçou o melhor que pôde sua surpresa, enquanto que Jared mantinha no
rosto um olhar de indiferença que nada revelava. Quais seriam os planos dele agora? Iria
desistir da Soflek ou reconsiderar as vantagens de se casar com Krystal Glenn? Afinal, ela
era uma moça encantadora. E parecia estar sinceramente interessada nele.
Gayle prendeu os cabelos antes de se vestir para o jantar, pouco preocupada com a
opinião de Jared a esse respeito. No íntimo desconfiava que ele sequer notaria.
Duas horas depois, enquanto atravessava o pátio para ir para seu quarto, estava
ressentida por ele não ter dito uma única palavra sobre seus cabelos ou seu vestido.
Gayle caminhava sem pressa pelo pátio, lembrando-se de que não dormira bem
nas duas últimas noites. Como não tivesse nada que se entreter, deu várias voltas ao redor
da fonte, aspirando o perfume das flores, e só então dirigiu-se para o quarto.
— Hum, você me deu uma ótima idéia para um baile a fantasia . . . Bem, se você
não estiver com pressa de ir para a cama, podemos conversar um pouco? — Notando que
ela corava, Jared acrescentou: — Desculpe-me. Isso soou como um convite, não foi?
— Preciso estar amanhã cedo no escritório. Você pode se aprontar para partir às
sete?
— É difícil.
— Gosto de minha vida tal como ela é. Russell e Krystal também vão partir
cedo?
— Krystal nunca acorda antes das dez. Como os dois só vão até Denver, é
possível que os encontremos por lá. De qualquer modo já me despedi por você. Quanto a
Russell, estará conosco no café da manhã.
— Ainda bem que vamos voltar cedo. Meu trabalho também está acumulado.
— Nunca me dei conta antes do quanto você é valiosa nessas coisas. Que
perfume é esse que está usando?
Devagarzinho, Jared tocou-lhe os cabelos, até que um grampo caiu em seu colo.
Quando ela insinuou um protesto, ele disse: Só estou verificando o que você falou.
— Não. Prefiro que eles estejam soltos. Faz você parecer mais natural.
— Percebe que não retribuiu nenhum de meus beijos nesse íim de semana? Devo
ter beijado você uma dúzia de vezes!
— Ainda não pensei nisso. Encarei tudo como parte de meu trabalho. A
propósito, por que me beijou agora? Não há ninguém aqui para ver.
— Como assim?
— Isso não vem ao caso. Você está com o orgulho ferido porque não me
disponho a ir para sua cama?
— Então porque não se convence de que há mulheres que não se sentem atraídas
por você?
— Para ser franco, prefiro que seja assim. É menos complicado. Mas sua atitude
não vai convencer ninguém.
— Não seria mais simples dizer a todo o mundo que eu gosto de namorar
reservadamente? E por falar nisso, não faz sentido você paquerar outras mulheres.
— Claro que não. Só quero saber por que continuamos com esse jogo, quando é
tão óbvio seu interesse por Krystal Glenn.
— Entendi! Agora você deixou tudo claro! — exclamou Gayle com ironia.
— É a verdade. Estou apenas sendo amável com ela.
— O que acontece com você, Gayle? Não acredito que nunca tenha havido um
homem em sua vida, e no entanto você não namora...
— Não... Morreu de câncer. Há sete anos — disse, mordendo o lábio para conter
as lágrimas.
— E você entrou num luto do qual nunca mais saiu. Por que chamar de amor algo
que prejudica a pessoa que sobreviveu?
— Espero nunca chegar a esse ponto. Não sou tolo pan> deixar que minha
felicidade dependa de outra pessoa.
— Não. Mas também não me causa nenhuma emoção. Gayle esperava ferir a
vaidade dele, fazê-lo perder a paciência, mas Jared limitou-se a sorrir.
— Você é indiferente aos homens em geral. Deve ser terrível a solidão de sua
torre de marfim. Pobre Larry!
— Bem, eu não preciso de mulheres, mas gosto de tê-las por perto. Que tal
fazermos um acordo, Gayle? Estamos presos a este jogo por mais algum tempo. Vamos
pelo menos nos divertir um pouco enquanto isso.
— Duvido que a sua definição e a minha tenham alguma coisa em comum.
Detesto ser considerada apenas como um objeto de prazer.
— Por que não? Tem medo de descobrir o que perdeu durante os últimos sete
anos?
Notando um brilho maroto nos olhos dele, só então se deu conta de que lançara
um desafio.
— Prove que você é intocável, Gayle. Por que não me beija desta vez, mostrando
que não se esqueceu de como se faz?
— Saia daqui, Jared. Saia antes que eu comece a gritar! Ele se levantou
preguiçosamente, e então beijou-a de leve na nuca. — Boa noite, Gayle. Esse é o xampu
mais maldito que já cheirei. — E saiu sem pressa, deixando-a sentada diante de um fogo
que morria na lareira.
CAPITULO VI
Ela continuou em silêncio, feliz por ter voltado a usar seu uniforme regular de
escritório. Se isso o irritava, pelo menos impediria uma repetição da noite anterior.
Thomas, de trás do balcão de informações, olhou-os espantado por eles aparecerem tão
cedo no prédio. Chegando ao andar da diretoria, Gayle sentia os nervos em frangalhos. E
só melhorou um pouco quando se sentou à sua mesa. Odiava o fato de todos ficarem
sabendo que haviam passado o fim de semana juntos, por mais inocente que este tivesse
sido.
Jared fechou-se em sua sala, avisando que não queria ser incomodado. O que era
ótimo, pois assim ela teria um mínimo de sossego.
Logo, porém, Natalie Weston telefonou e, reconhecendo sua voz, falou num tom
áspero:
— Sinto muito, sra. Weston, mas ele está ocupado. Se quiser deixar um recado...
— O quê? Deixar um recado com você? Quem me garante que ele irá recebê-lo?
— Agora que está noiva dele, duvido que você sequer avise t que eu lhe
telefonei...
— Talvez seja melhor eu ir até aí e esperar até que ele saia para o almoço!
— Por que eu faria isso? Como futura esposa dele, não tenho motivos para sentir
ciúmes, sra. Weston.
Depois de desligar o telefone, Gayle lamentou ter perdido a paciência. Por mais
que Natalie merecesse isso, era imperdoável que uma secretária profissional procedesse
assim.
Era quase meio-dia quando uma mulher, ainda jovem, entrou silenciosamente em
sua sala. Vestindo-se com elegância, ela segurava um casaco de mink no braço e usava um
conjunto verde-esmeralda que se ajustava com perfeição ao seu corpo esguio. Seus cabelos
eram loiros e os olhos verdes.
—Sim.
Antes que Gayle pudesse explicar o que o chefe não atenderia ninguém, a porta
da sala dele abriu e Jared apareceu.
— Gayle, você pode me trazer... — Ele se interrompeu, surpreso ao ver a recém-
chegada
— Olá querido!
— Ah! Por acaso ouvi outro dia parte de uma conversa interessante pelo telefone,
por isto vim até aqui para saber que travessura você aprontou desta vez. Não vai me
apresentar á sua noiva Jared?
— Ora, não vejo motivo para que você queira escondê-la, meu querido!
Um silêncio carregado abateu-se sobre a sala. Tanto Jared como Gayle pareciam
ter perdido a fala e olhavam para a mulher a cada minuto mais consternados. Elizabeth, por
sua vez, não se deu conta do que ocorria e continuou:
— Bem que lhe disse para tomar cuidado com as morenas, Jared. A propósito,
vou levá-la para almoçar comigo. Apanhe seu casaco, Gayle. Quero saber tudo sobre você.
Gayle continuou paralisada, sem saber que atitude tomar. Jared tampouco foi
capaz de qualquer iniciativa. Foi então que sua cunhada sugeriu:
— Seja bonzinho! Faça uma reserva num restaurante para nós três a noite.
— Não, meu querido. Esse almoço é apenas para uma conversa entre mulheres.
Você ficaria entediado.
Gayle fez um gesto vago, como para indicar que aquilo não tinha importância. Era
impossível impedir que Elizabeth tirasse uma série de conclusões. Ah, Jared iria pagar por
isso!
— Então, Gayle, quando Jared vai levar você para conhecer os pais dele?
— Ele deveria convidar os velhos para virem até aqui. Eles fariam tudo para
conhecê-la, tenho certeza!
— Para ser franca, não. Mas a primeira coisa que você precisa aprender sobre os
Logan é que não há segredos na família. Não sei por que Jared mantém você escondida... A
não ser que não queira fazer papel de bobo.
— Claro que não! Acontece que ele disse tantas vezes, e de forma tão categórica,
que jamais se casaria, que se aparecer noivo vai ouvir piadinhas de todo mundo. O fato de
você ser secretária não tem absolutamente nada a ver com a história. Por favor, não me
entenda mal!
— Só não acredito que os pais dele fiquem satisfeitos com esse noivado — disse
Gayle, antes de provar o vinho. Ainda bem que recuperava o autocontrole e já aparentava
naturalidade.
— Helene, a mãe dele, agirá como uma perfeita dama. E no momento em que
Jared virar as costas, vai morrer de rir! Puxa vida, você é tão diferente das escolhas
habituais de Jared!
— Mas é lógico! Para que tenha uma idéia, você é a primeira que convidei para
almoçar.
— Bem. Obrigada.
— Fiquei surpresa quando ouvi aquele trecho de conversa ao telefone, mas não
chocada. Evidentemente que Jared algum dia abriria os olhos. . . Depois de perseguir
mulheres deslumbrantes durante anos, ou que é pior, ser perseguido por elas, era difícil que
ele reconhecesse a beleza verdadeira.
Gayle riu.
— Espere para vê-las daqui a dez anos. Serão todas umas bruxas. E você, quando
tiver cinqüenta anos, poderá passar por trinta e cinco.
— E você recusou? Não me admira que ele tenha resolvido se casar com você.
Sem pensar duas vezes, Gayle relatou as negociações de Jared com a Softek,
concluindo por confessar que seu suposto noivado não passava de um ardil para livrá-lo de
um casamento indesejado.
— Bem que eu desconfiei que havia algo errado nessa história! — exclamou
Elizabeth. — Foi por isso que não contei as novidades a Helene. E agora, em sã
consciência, não posso lhe dizer nada. É uma pena.
— Agora eu gostaria que você me esclarecesse uma coisa. Já sei quais foram as
razões de Jared para montar essa encenação. E quanto às suas? O que você acha dele?
— Não sei lhe dizer ao certo. Nunca pensei sobre isso. Adoro minha vida de
solteira, não planejo me casar, por isso nunca vejo os homens como possíveis
maridos.Depois de pensar um pouco, Elizabeth perguntou:
— Ótimo. Você trabalha na Logan dois anos, não é? E durante todo esse tempo
cuidou dos encontros dele. . .
— Sim, fiz reservas de mesas, adquiri ingressos para teatros, enviei flores na
manhã seguinte. . .
— Que absurdo! Pensei que pelo menos ele fizesse isso pessoalmente. Quer saber
de uma coisa? Já é hora de Jared receber uma lição. Agora é sua vez de fazer algo em
benefício de todas as mulheres.
— Basta seguir seus instintos, Gayle. . . E lutar com as mesmas armas que ele
utiliza.
— O que qualquer mulher corajosa adoraria fazer. Ele tratou você como escrava
durante dois anos. Vai ter que pagar!
— Pelo que eu sei, ele não é capaz de dirigir a empresa sem você. Nesse
momento, Jared precisa mais de você do que você dele.
— Talvez eu tenha que cobrar isso de você se as coisas não derem certo. Qual é o
seu plano?
— Primeiro termine seu café. Depois vamos a Larimer Square. Você está
autorizada a comprar coisas com os cartões de crédito dele, não é verdade?
— Ele não disse que lhe compraria um novo guarda-roupa? Ora, você
simplesmente mudou de idéia e resolveu aceitar. Além disso, podemos fazer compras o dia
inteiro por um preço menor que o desse anel que você está usando.
— Não faço a menor idéia de quanto ele custou.
— Ê até melhor que não saiba. Senão você teria medo de usá-lo.
— Claro! Mas não vá guardá-lo num cofre de banco, por favor! Você sempre usa
seus cabelos desse jeito?
— Geralmente, sim.
— Calma, calma. É sua atitude o que vai contar. Faça-o levá-la ao teatro, à
opera... se você gostar, é claro.
— O museu de arte abrirá uma nova exposição na semana que vem — comentou
Gayle, pensativa.
— Puxa, se tivermos um pouco de sorte, ele vai descobrir como é ser usado e
depois deixado. Isso talvez o torne um pouco mais humano.
Elizabeth aplaudiu.
— Você está começando a entender a idéia. Agora vamos usar o crédito dele.
— Pelo amor de Deus! Jared me conhece bem e sabe que eu não sonharia em
levá-la de volta antes das cinco! Aturdida por ter concordado com aquele plano maluco,
Gayle disse a si mesma que fora tudo culpa do vinho. Afinal, não costumava beber, muito
menos ao almoço. Porém, no fundo do \ coração, algo ainda incompreensível a instigava a
seguir os conselhos de Elizabeth. Assim, não hesitou antes de ir ao mais famoso
cabeleireiro da cidade, depois à manicure, em seguida a um maquiador profissional...
— Céus, eu nunca usei chapéus! Não vai me cair bem — disse Gayle quando
saíam de um grande magazine.
— Tenho certeza de que vai ficar maravilhosa. O formato do seu rosto é ideal
para... Ei veja ali que linda pintura na vitrina da galeria!
Gayle estava prestes a dizer que já era tarde, mas quando olhou na direção
indicada o quadro atraiu-a como um ímã. Era uma paisagem marinha, com ondas
chocando-se contra uma praia rochosa, tão real que a superfície da tela parecia molhada.
Quase sem fôlego ao contemplá-la, Gayle comentou:
— Como é que eu nunca vi esse quadro antes? Passo por aqui duas vezes por dia!
— Essa é uma atitude negativa que não leva a nada. Mas tudo bem. Já é tarde, e
Jared deve estar furioso.
Gayle viu-se refletida na vitrina da loja e ficou satisfeita com sua nova aparência.
O cabeleireiro cortara apenas alguns centímetros de seus cabelos, mas lhes dera um
ondulado diferente, deixando-os soltos sobre os ombros, com mechas que lhe emol-
duravam o rosto. Seus olhos maquilados pareciam cheios de mistérios.
Ao passarem diante de uma loja de artigos para gestantes e bebês, Elizabeth parou
e disse:
— Pensando bem, vamos deixar Jared esperar por mais alguns minutos.
— Bem, não espero que você compre alguma coisa aqui. Desta vez sou eu quem
vai comprar. Quero saber o que usar na próxima primavera.
— Sim. . . Agora já trocamos todos os nossos segredos. Deus do céu! Veja aquele
cabide ali! É preciso ser muito exibicio-nista para usar um agasalho de corrida roxo
enquanto se está grávida!
— Ainda mais com listas cor de rosa! Ah, sim, não vou contar a ninguém sobre o
bebê, Elizabeth.
— Não se preocupe com isso. Helene já sabe. No dia em' que fui ao médico, ela
telefonou por acaso. Parece que a mulher possui uma intuição especial quando se trata de
netos. Detesto ficar sem cintura, mas adoro crianças. O charme dos Logan é fatal!
— Depois não diga que eu não avisei que você está brincando com fogo. E mais:
se acha que Jared é capaz de fascinar qualquer uma, espere até conhecer o pai dele. Os
rapazes não passam de principiantes, comparados ao velho.
Examinando alguns negligês, a loira continuou:
— Você acredita nisso? Quem iria usar rendinhas brancas com cinco ou seis
meses de gravidez? Aliás, foi justamente uma peça de rendinhas brancas que me colocou
nessa situação. Bem, eu me recuso a comprar qualquer coisa até ter certeza de que não vou
caber em minhas roupas normais. É melhor voltarmos ao escritório. Eu gostaria de saber se
Jared fez reservas para o jantar.
— É bem capaz.
— Escute Elizabeth. Você e Jared devem ter muito que conversar. .. Assuntos de
família, ou coisas parecidas. Não posso ser dispensada desse jantar?
— Está querendo me deixar na mão? Claro que preciso de sua companhia. Afinal,
você ainda é minha futura cunhada!
— Até mandá-lo passear, com toda a classe, é claro, não há nada que me
convença do contrário. Vai ser divertido vê-lo padecer!
CAPÍTULO VII
Elizabeth cumpria à risca seu papel de cunhada curiosa e bisbilhoteira. Estava tão
perfeita em seu desempenho, que se nãc soubesse da encenação Gayle seria capaz de
acreditar nela.
— Claro! A família inteira passa o Natal em Nova York, depois fica uma semana
com Grady e comigo em Chicago, durante o verão. Mas em março é a vez de Jared bancar
o anfitrião. E este ano minha querida, ninguém perderia a oportunidade de conhecer você!
— Você vai fazer sua mãe esperar quatro semanas até conhecer a futura nora,
Jared? Que vergonha!
— Quando vai ser o casamento? Você precisa nos avisar com bastante
antecedência! Não gostaria que seu irmão fosse o padrinho?
— Na realidade, ainda não discutimos sobre quando e onde. E até que esse novo
computador seja lançado, não terei tempo para me preocupar com o assunto.
— Vou dizer a Grady para não prender a respiração até lá. Nesse meio tempo,
Gayle pode planejar todos os detalhes necessários. Se precisar de um garoto para levar as
alianças, querida, meu filho está às ordens.
— Seria bom para ele ter alguns primos — sugeriu ela, com um olhar maroto.
— Ah, ele adoraria isso. Às vezes, as atenções de sua avó são um tanto
excessivas. Jared, sua mãe ficará encantada com a perspectiva de ter mais netos!
— Será que o noivado vai sair nas revistas da semana que vem? Os preços das
ações da Logan Eletrônica são capazes de subir! Sem falar nas ações do banco de seu pai.
Não seria bom telefonar para alguém da Time? Afinal, é um grande acontecimento!
O garçom voltou à mesa para lhes servir mais vinho, e depois que ele foi embora
Elizabeth perguntou:
— Onde vocês vão morar? Você vai conservar Pino Reposo, Jared? Fica tão
longe de Denver!
— Parece que já está decidido, Elizabeth. Mas ainda não tivemos tempo de
conversar sobre isso. Onde você gostaria de morar, Gayle?
— Talvez fosse mais conveniente dar uma olhada nos novos condomínios que
estão construindo. Eu gostaria de ter um apartamento bem no alto, para aproveitar a vista
das montanhas nos dias claros.
— Calma, minha querida, nenhum apartamento meu vai ter mais que um quarto.
É um desperdício de espaço — declarou Jared, num tom provocativo.
— É por isso que estou hospedada num hotel. Você precisa entender que para
manter a privacidade um casal tem que contar no mínimo com um quarto extra. Você vai
continuar como secretária de Logan, Gayle?
— Só não pergunto o que vocês discutem porque não quero ser indiscreta.
— Ela tinge os cabelos, Jared. Pensei que você fosse mais exigente com seus
manequins de publicidade. Por que você não utiliza Gayle como modelo? Tenho certeza de
que ela se sairá bem!
— Gayle dá sua ajuda de outras maneiras. Aliás, estou pensando em pôr o nome
dela no próximo computador da série, que também é um modelo de confiabilidade e
eficiência.
Gayle mordeu a língua para não dar uma resposta irônica. Então, notando que
uma mulher na mesa ao lado ouvia a conversa, imaginou que fosse alguma antiga amante
de Jared. Assim estendeu a mão por cima da mesa, segurando a dele, e disse com um
sorriso cativante:
Sem nada dizer a respeito, ele chamou o garçom pedindo a conta. Porém, quando
o rapaz se aproximou com a nota, Eliza-beth pegou-a e pagou-lhe com um cheque.
— Hoje foi por minha conta — disse depois, guardando o talão na bolsa.
— Infelizmente você não tem alternativa. Fique sabendo que nós usamos seus
cartões de crédito até o limite!
— Todos eles?
— Sim, senhor. Mas nos divertimos à beca. Vamos embora? Como Elizabeth iria
retornar a Chicago na manhã seguinte,
Quando pararam diante do prédio em que ela morava, foi que Gayle teve coragem
de romper o silêncio que perdurara durante todo o trajeto.
Alheio àquelas explicações, Jared continuou em silêncio por mais alguns minutos,
depois saiu do carro, contornou-o, abriu a porta e, segurando Gayle pelo cotovelo,
acompanhou-a até a porta do edifício.
— Chegarei cedo ao escritório amanhã, Jared. Lamento ter passado a tarde fora
hoje. Uma boa secretária não se comporta assim...
— Só café, não é?
— Estou inteiramente sóbria! Por via das dúvidas, só tomei dois copos de vinho!
— Escute aqui, Jared, entendo que você esteja zangado, mas eu avisei que ia
devolver o que comprei...
— Não me zanguei por causa das roupas. Fui eu que mandei você comprar
algumas coisas novas.
— Se você não está bravo por causa disso, o que aconteceu então?
— Não gostei nem um pouco de ver você sair do escritório sem deixar alguém
em seu lugar!
— Está vendo como essa farsa de noivado é uma loucura? Logan não funciona
sem mim.
— Se eu fosse você, não me sentiria tão segura. E não se esqueça de que só está
usando esse anel por conivência minha. Não há nada de pessoal nessa história.
— Isso eu já estou cansada de saber. Para mim, não existe destino pior do que me
casar com você!
— Até hoje, nenhuma mulher ameaçou minha independência. Nem jamais vai
ameaçar!
— Outro dia, você me falou que devia ser muito solitária. Mas eu pelo menos
amei e fui amada. Você sequer sabe o significado dessa palavra!
—- Será que esse seu ex-namorado não é apenas uma desculpa para você evitar os
homens?
Resolveram então tomar o café na sala de estar. Assim que sentaram no sofá,
Jared apontou para um porta-retratos em cima da cornija da lareira, perguntando:
Embora já tivesse memorizado cada detalhe daquela foto, tirada um ano antes da
morte do rapaz, num piquenique nas montanhas, Gayle olhou outra vez para ela,
confirmando com um gesto de cabeça.
— Craig. . .
— Você gostava realmente dele! Percebo isso pelo seu tom de voz.
— Não. Só me admiro porque ele não parece do tipo capaz de inspirar devoção
eterna de ninguém.
— A aparência não é tudo, Jared. Mas eu prefiro não falar mais sobre Craig.
— Por que você tem mania de reduzir tudo a sexo? Em vez de responder, ele
apenas comentou:
— Ah, quer dizer que nunca dormiu com ele! Gayle sentiu o sangue lhe subir ao
rosto.
— Como você vai saber o que está perdendo? A propósito, tem certeza de que
está sóbria?
— Porque não quero que você se esqueça disto. — E, antes que Gayle
adivinhasse sua intenção, abraçou-a com força.
Alheio aos seus protestos, ele deslizou a boca com uma lentidão torturante na pele
sensível de seu pescoço, dificultando-lhe a respiração. Mesmo assim, ela continuou:
— Você é um machista, que não admite ser rejeitado por uma mulher!
— Quero somente lhe provar que você não é indiferente, como diz. Seus
sentimentos não estão mortos, mas apenas adormecidos.
Lutando consigo mesma para disfarçar a excitação que os carinhos dele lhe
provocavam, Gayle declarou.
— Inexperiente, não é? Pois espere um pouco, Jared Logan! Vou lhe dar uma
lição!
— Estou as suas ordens, mocinha. Quero ver o que tem para me ensinar.
— Garanto que não é por velhice. Tenho trinta e seis anos c me sinto na flor da
idade. Mas vamos ao que interessa. O que você queria me mostrar?
Sem nada comentar, Gayle aproximou o rosto do dele e o beijou cheio de ardor.
Para seu desencanto fared continuou impassível, os braços ainda cruzados, como se nada
estivesse acontecendo. Irritada, ela disse a si mesma que aquele homem não iria tratá-la
com pouco caso. Então, arqueou o corpo contra o dele, afundou os dedos em seus cabelos e
continuou a beijá-lo cada vez mais profundamente.
— Não é nada divertido beijar sem a colaboração da outra pessoa, não é mesmo,
Gayle? — perguntou ele, puxando-a de encontro ao peito.
—- Eu não pretendia que fosse divertido. Vai me dar uma nota pelo desempenho?
— indagou, num tom cheio de ironia.
— Se você insiste, eu diria que foi regular. . . nada mau para uma amadora. Com
um pouco de prática, pode até se tornar conveniente.
Naquele instante, com um movimento ágil, Jared levou-a para o sofá, de forma tão
inesperada que ela não entendeu o que se passara.
— Se eu quisesse, teria carregado você para o quarto. Só vou lhe dar uma
liçãozinha.
Mal concluiu, a frase, Jared pousou os lábios sobre os seus, de maneira suave e ao
mesmo tempo arrebatadora. Gayle sentiu a pele inteira arrepiar-se de desejo ao contato da
língua quente que invadia sua boca, provocante e sensual.
A luz forte do sol refletia na neve quando Gayle deixou o edifício Logan. O dia
estava frio e o vento parecia atravessar seu casaco de lã. Ainda bem que o restaurante para
onde se dirigia ficava a apenas um quarteirão de distância.
Em frente à galeria de arte ela parou por um instante para admirar o quadro com a
paisagem marinha. Era incrível como aquela pintura sofria transformações aos seus olhos,
dependendo das diferentes condições de iluminação!
Assim que Gayle entrou no pequeno restaurante, avistou o irmão, que acenava de
uma mesa nos fundos. Seguindo em sua direção, sentiu-se inquieta. O que Darrel queria
lhe falar? Fora uma surpresa quando ele ligara para o escritório naquela manhã, e mais
ainda quando a convidou para almoçar, coisa que realmente não acontecia.
— Nada demais. Apenas decidi que era hora de termos uma conversa, sem Amy
lhe pedindo para fazer desenhos e sem Rachel puxando você para o quarto a fim de lhe
mostrar um vestido novo.
— Sinto muito, Darrel, mas você escolheu um péssimo dia. O escritório está uma
loucura — disse ela, colocando o guardanapo no colo, e aproveitando para esconder o anel
de noivado na bolsa.
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— Como assim?
— Você só me convida para almoçar duas ou três vezes por ano. Alguma coisa
aconteceu, do contrário não estaríamos aqui sentados. Além disso, você nunca fica batendo
no copo a não ser que esteja nervoso.
Darrel olhou surpreso para a colher que tinha na mão; depois colocou-a na mesa,
dizendo:
— Sim, é verdade. . . Você tem visto Larry ultimamente?
— Não tenho nada a ver com a história. Só nos vimos duas vezes. Mas, você
também virou casamenteiro?
— Quem é seu tipo? Craig, por acaso? Ele está morto. Você não pode continuar
obcecada por esse homem. Isso é uma loucura. Rachel acha que você está se enterrando
viva!
— Só porque não ando à caça de outro para substituí-lo? Olhe, diga a Rachel que
vá cuidar da vida dela que eu sei o que é melhor para mim!
— Às vezes temos que dizer coisas que machucam. E Rachel tem razão nesse
caso. Você vai acabar solteirona. . .
— Eu amava Craig!
— Sim, claro. Era um sujeito agradável, brincalhão, que não se preocupava com
o futuro. Levava tudo na brincadeira e não queria nada com o trabalho.
— Por acaso executou algum? Eram simples castelos no ar! Por que você não foi
para a universidade?
— Se não fosse isso, haveria outro motivo. Craig não queria você na faculdade.
Temia que você encontrasse alguém melhor, que lhe desse mais do que aquilo que ele
podia oferecer. Distante dele, você iria descobrir a fragilidade dos planos, o vazio do
relacionamento dos dois. E mais: tinha medo de que você lhe exigisse que procurasse um
emprego.
— Não foi bem assim. Eu queria ficar com ele cada minuto!
— Se houvesse amor entre vocês, ele iria buscar o melhor para você.
— Você podia cursar a faculdade, vê-lo todos os dias e ainda se preparar para
uma carreira e uma vida independente. Você queria estudar, mas Craig exigia sua presença
ao lado dele o tempo inteiro, com medo de perdê-la.
— Ainda não, Gayle. Você hoje é secretária porque Craig a convenceu de que era
o único emprego apropriado para uma mulher. E você continua procurando merecer a
aprovação dele. Mas, apesar de todos os esforços para ser o que ele queria, você mudou
nos últimos anos. Se Craig entrasse aqui agora, em cinco minutos você veria que eu tenho
razão e o mandaria passear.
Gayle olhou para a comida que a garçonete trouxera, e empurrou o prato para o
lado, sem o menor apetite. Darrel então continuou:
— Craig se foi e não vai voltar para lhe mostrar o quanto era incapaz. É uma
pena.
— E a sua está no mesmo caminho. Bem, já falei o que tinha que falar. Se quiser
ir embora, não a levarei a mal. Foi um risco que assumi ao abrir a boca.
— Você é meu irmão. Tinha todo o direito de expor seu ponto de vista.
— Lamento ter estragado seu almoço. Eu planejava deixar a conversa para depois
que comêssemos. Dá pena desperdiçar um filé tão gostoso.
— Para mim também. Preciso acabar o trabalho de duas semanas, porque viajo na
sexta. Era outra coisa que eu queria lhe dizer. Rachel sugeriu que você jantasse em nossa
casa amanhã, em vez de sexta-feira. Ela vai comigo para Phoenix.
— Por que não? Compreendo que você esteja zangada comigo, mas...
— Isso é verdade. Você vai ficar sabendo o que a espera quando tiver uma
criança de três anos. Então, fazemos as pazes? — perguntou Darrel, segurando-lhe a mão.
— Você se engana a meu respeito, mas compreendo sua preocupação por mim.
De qualquer modo, não prometo sair com Larry. Há limites para tudo.
Gayle fechou os olhos, dizendo-se a si mesma que aquilo não podia estar
acontecendo. Tinha que ser uma alucinação! Depois, voltou-se lentamente.
— Vou pensar no assunto. Posso saber quem é esse cavalheiro, ou não vai me
apresentar?
— Não acredito no que estou ouvindo, mana! Por que não me contou isso antes
do sermão?
— Apertando a mão de Jared, ele completou: — Admiro seu bom gosto. Rachel
vai ficar feliz.
— É verdade. Depois do fim de semana vamos nos reunir. Minha esposa ficará
encantada em conhecê-lo, sr. Logan.
— É que aconteceu tudo há apenas alguns dias — disse ela, a cada minuto mais
aborrecida.
— Sim, percebo que você ainda está sem o anel de noivado. Vou embora. Tem
um cliente esperando por mim. A gente se vê na sexta-feira, quando eu levar Amy para sua
casa. Estou ansioso por conhecê-lo melhor, Jared.
— Por que está tão animada? A propósito, que história é essa de Darrel dizer que
você não tem um anel? O que houve com o que lhe dei?
Em silêncio, Gayle calçou as luvas lentamente, dizendo para si mesma que devia
manter a calma. Na verdade, sentia vontade de esmurrá-lo. Insistente Jared prosseguiu:
— Não sou sua noiva! Estou cansada desse jogo ridículo, que não vai levar a
parte alguma! E já não agüento mais. . .
— Tenha calma. .. Krystal não está satisfeita com o negócio, e sé desconfiar que
nosso noivado é uma farsa a transação não será concretizada. Agora, só mais uma coisinha.
..
— Então me despeça!
Resignada, ela o acompanhou até a mesa de Russell, certa de que Jared não
hesitaria em provocar uma cena. Disfarçando o constrangimento, cumprimentou o
empresário com delicadeza, conversou trivialidades por alguns minutos, e depois seguiu os
dois homens até a calçada do restaurante.
Assim que Russell entrou num táxi, Jared tentou conversar com ela, porém Gayle
não lhe deu atenção. Em silêncio retornaram ao edifício Logan, e só quando chegaram ao
escritório foi que ela falou.
— Quero que você me explique por que fez aquilo no restaurante! Já não basta
que todo mundo pense que estou dormindo com você? Por que comentar sobre o noivado
com o meu irmão?
— Ora, eu não sabia que era seu irmão. Você nunca me disse nada a respeito.
— Não tinha por que dizer! Essa encenação ridícula era para durar só três dias. E
agora minha família está sabendo da história!
— Não foi por minha culpa que esse assunto se arrastou por mais de uma
semana.
— No máximo uns cinco ou seis dias. Russell ainda não assinou os papéis, e pode
se arrepender se descobrir algo suspeito no nosso noivado. Por isso trate de usar o anel —
recomendou, enquanto se dirigia para sua sala.
— Não sei se vou suportar mais uma semana nessas condições — retrucou ela,
antes que ele fechasse a porta.
Momentos depois, ao abrir a bolsa para apanhar o anel, Gayle sentiu um aperto no
coração.
Tinha certeza de que pusera ali, no entanto não o encontrava em nenhum lugar.
Será que caíra no carpete do restaurante no momento em que tentara escondê-lo do irmão?
Com os nervos à flor da pele, ela esvaziou a bolsa em cima da escrivaninha, e por
sorte encontrou a jóia dentro da caixinha de lenços de papel. Colocou-a no dedo, jurando
que nunca mais iria tirá-lo. Então, quando se preparava para guardar suas coisas, Jared
reapareceu à porta e ficou perplexo diante da cena:
— Você não tem nada mais interessante para fazer do que limpar a bolsa?
— Acho melhor você cuidar do seu serviço. Voltarei dentro de alguns minutos.
Quando pegou o elevador para descer ao saguão, onde estavam preparando a festa
de lançamento do computador, Gayle continuou refletindo sobre o assunto. Aos dezenove
anos, inexperiente, pouco vivida, empolgara-se com os planos fantasiosos de Craig, que era
uma espécie de rebelde em relação a compromissos e obrigações. Só agora ela se dava
conta da irresponsabilidade que estava por trás daquela atitude do ex-namorado. Ele jamais
falara sobre algo prático, sobre o hoje; era sempre a semana que vem o ano que vem...
Algum dia.
O que estaria acontecendo agora se ele não tivesse morrido e os dois estivessem
casados? Das duas, uma: ou ela se reduzira à simples condição de dona-de-casa, ou então
teria se separado dele, a fim de obter um mínimo de independência...
Gayle impressionou-se com a cena. Ali estava um homem que lutava por seus
sonhos, que cada vez que concretizava um buscava outro mais alto. Jared Logan sabia o
que queria e transformava seus projetos em desafios permanentes, que possuíam a força de
atrair as pessoas.
De repente, Gayle compreendeu algo que a razão não lhe permitira descobrir
antes. Até poucos minutos atrás, quando ainda não fizera o balanço de seu relacionamento
com Craig, fora incapaz de perceber que adoraria fazer parte da vida de Jared. Então, uma
dúvida tomou conta do seu coração. Estaria apaixonada por aquele homem?
CAPITULO IX
Durante a festa, Gayle não se sentia nem um pouco à vontade. Bancar a noiva
feliz diante de algumas pessoas era uma coisa; mas representar para centenas de
convidados no saguão Logan não fazia o seu gênero. Ainda mais agora, que chegara à
conclusão de que sentia algo por Jared. Por isso, fez o possível para não ficar ao lado dele
recebendo as pessoas, mas seus esforços resultaram inúteis.
— Por que não tenta sorrir? — perguntou Jared, baixinho, quando não havia
ninguém por perto.
— Sorrir por quê? Acaso tenho algum motivo para estar contente?
— Por falar nisso, enviei o anúncio do nosso noivado aos jornais — disse ele,
antes de se virar para cumprimentar um convidado.
No início ela pensou que Jared estivesse brincando, porém sua expressão séria
convenceu-a do contrário. Bem, fazer o quê? Se o boato já correra pela Logan, e daí para
uma série de outras empresas, a notícia na imprensa não iria alterar a situação...
— Vou levá-la a ura restaurante depois que a festa terminar — disse Jared,
instantes mais tarde.
— Obrigada pelo convite, mas prefiro ir para casa dormir. Os Glenn apareceram
na metade da festa, no momento em
— Que alegria vê-lo, Jared! Você precisa me ensinar tudo que essa máquina faz!
— Não seja modesta, Krys... Você domina computadores maiores do que esse!
— retrucou ele, sorrindo.
— Puxa, quando penso nas coisas que poderia aprender com você... — E ela
suspirou, com uma expressão sonhadora.
Apesar de ter falado num tom neutro, ele a segurou com carinho pela cintura,
puxando-a para o meio do grupo. Foi uma atitude tão indiscreta, que vários repórteres
olharam para Gayle. como se quisessem saber de que maneira ela reagiria. Frustraram-se
todos, pois ela fingiu não ver a cena, assim como ignorou o ar de triunfo que se estampava
no rosto de Krystal.
— Foi só um pouquinho. . .
— Espero que você não conte nada ao chefe. Afinal, tem um bar na sala dele.. .
— É claro que não vou falar com ele sobre isso. O sr. Logan tem coisas mais
importantes para cuidar.
Nas duas últimas semanas, Jared vinha chegando ao escritório bem antes que
Gayle. Agora, ele estava de costas para a mesa e olhava através da janela o sol fraco de
inverno que brilhava sobre Denver. O céu tinha uma coloração clara, mas a oeste nuvens
pesadas pairavam sobre os contrafortes das montanhas.
— Só espero que a neve continue até que minha família chegue para esquiar.
— Talvez ainda demore um pouco, Russell não quer assinar os papéis até que o
governo dê um parecer sobre a legalidade da operação...
— Pode ser. Mas tenho a impressão de que Krystal tem algo a ver com a história.
— No começo você me falou que essa situação duraria alguns dias. Agora está
dizendo que talvez demore semanas. Como é que vai ficar isso?
— Não banque o inocente! Quero saber o que vamos fazer quando sua família
chegar!
— Não estou para brincadeiras. Quero saber se você vai lhes contar a verdade?
— Foi a primeira vez que algo deu errado comigo — disse Jared, com ar
perplexo.
— Se você não contar a verdade a seus pais, pode ficar certo de que eu farei isso!
A tempestade de neve caiu no meio da tarde, uma hora antes que o gerente de
publicidade aparecesse no escritório.
— Desconfio que Jared não irá atendê-lo, Ron — avisou Gayle. — Ele está
concentrado nesse problema com o governo. . .
— Não é para menos. Se o assunto não for solucionado rapidamente, vai nos criar
dificuldades.
Às seis da tarde, ela ainda tinha diante de si uma pilha de documentos, quando
Jared chamou-a pelo intercomunícador.
— Gayle, ligue para aquele restaurante que fica nessa rua e peça dois jantares.
— Tudo bem.
— Vamos fazer uma pausa para comer, e depois continuaremos. O trabalho irá
mais rápido quando não houver ninguém para nos interromper.
Gayle deu-lhe seus últimos cinco dólares. Na confusão dos preparativos para
festa, esquecera-se de ir ao banco, de modo que no dia seguinte precisaria passar por lá e
retirar dinheiro.
Assim que o rapaz foi embora, ela entrou na sala levando o cesto de vime do
restaurante.
— O jantar chegou!
Curiosa para saber de que constava o cardápio, Gayle surpreendeu-se ao ver logo
em cima do pacote uma garrafa de champanhe. Aliás nada fora negligenciado:
guardanapos de tecidos, talheres de prata. . .
— O que você sugere em vez de trabalhar? Gayle sentiu o sangue lhe subir às
faces.
— Não há nada tão divertido como ver você corar. Jantaram em silêncio, pois os
dois estavam famintos. Em seguida continuaram sentados, absortos em pensamentos.
— Aposto como você esteve conversando com meu irmão! — retrucou ela de
imediato.
— Com Darrel? Por quê?
— Ele tem uma teoria para tudo. Mas como eu já lhe disse, sou uma pessoa
prática, gosto de fazer as coisas mas detesto tomar decisões.
— É bom saber disso. Vou pensar duas vezes antes de lhe dar uma promoção.
— Não se preocupe. Estou contente com a minha função. E você? Por que
resolveu trabalhar com computadores?
— De fato. Depois de tudo que ele me ensinou sobre bancos, foi fácil para mim
desenvolver um sistema pioneiro de automatização. Por isso fomos tão bem-sucedidos.
— Grady e eu aprendemos desde cedo que ninguém tinha um pai como o nosso.
Ele às vezes é dominador, interfere na vida dos parentes... Mas eu gosto do velho.
— Hoje não mais. Seria impossível terminá-lo agora à noite. Vou levar você até
sua casa.
— Não estou reclamando disso. Percebe que não há um único veículo nas ruas?
Esta é uma artéria principal. .. devia haver pelo menos limpadores de neve trabalhando.
— Não! A situação está mais séria do que você imagina. É um risco sair com o
carro nessas condições.
— Como há o risco de ficar preso em algum lugar, prefiro que seja num prédio
quente e não na rua. Vamos descansar um pouco e voltar para a Logan.
— Jared, você não devia sair sem um gorro — disse ela, estendendo a mão para
limpar a neve dos cabelos dele.
Por um breve momento, seus olhares se cruzaram, mas logo Gayle baixou a vista,
temendo revelar a emoção que sentia ao vê-lo tão perto.
Felizmente o elevador não tardou a chegar ao seu destino. Aliviada, ela se virou
para a porta quando esta se abriu, mas então parou, perplexa. Não estavam diante dos
escritórios da diretoria, e sim no apartamento de cobertura. Jared levara-a para o Ninho do
Amor!
CAPITULO X
Uma parede cinzenta separava o hall de entrada da sala de estar. Com pelo menos
seis metros de cumprimento, era recoberto por figuras de formatos irregulares, num padrão
escultural único. À esquerda, dois degraus rasos levavam à sala, onde se podia ver um
piano de cauda.
— Um bom banho quente é a melhor coisa para você, Gayle — sugeriu Jared,
conduzindo-a para a sala. Ali, em vez de abajures com desenhos eróticos, como ela
esperava, a decoração lembrava Pino Reposo pela simplicidade, discrição e elegância. A
um lado, uma grande lareira, diante da qual havia um sofá semicircular revestido em couro,
suficiente para acomodar meia dúzia de pessoas. O móvel estava numa concavidade dois
degraus abaixo que o resto da sala. Além do piano, dos armários de parede, o aposento
tinha um aparelho de som sofisticado e centenas de discos e fitas. A iluminação era suave e
indireta.
Dando de ombros, Jared abril a porta que dava com o quarto, em cujo centro
estava uma cama de mogno com dossel, coberta por lençóis finos.
—O banheiro fica do outro lado. Vou procurar algo para você vestir.Só não
garanto que lhe sirva direito.
—Nenhuma mulher esqueceu um negligê preto por aqui? — Perguntou ela, bem
humorada.
Por trás de uma parede espelhada, que ocultava um armário, Gayle encontrou uma
toalha grande, com o qual envolveu o corpo como se fosse uma toga. De volta ao quarto,
viu estendido sobre a cama um robe e um pijama vermelho, de seda. Tocou hesitante na
parte de cima do pijama, sem conseguir acreditar que alguém usasse aquele tipo de coisa,
embora as iniciais "J L" estivessem bordados no bolso.
Só depois que ele fechou o piano e foi para o bar, Gayle decidiu retornar à sala.
Jared abrira uma garrafa de champanhe, e agora servia duas taças.
— Sim, pensei que você fosse usar o chuveiro — disse ela, percebendo que Jared
mudara de roupa e agora usava um suéter e uma calça esporte. — O que estamos
comemorando? — perguntou, indicando a taça de champanhe.
— Costumam dizer que o vinho serve para celebrar datas especiais, e que o
champanhe torna especial qualquer ocasião. . . À sua saúde.
— Três anos.
— Obrigada, estou sem fome. Aliás, caviar com bolacha é algo exótico, não?
— Cabia duas de mim! Achei melhor não vestir a parte de baixo. Jared examinou
seu corpo envolto no robe e depois comentou, rindo:— Se recebêssemos um convite para
uma festa do tipo "venha exatamente como estiver," eu a rejeitaria.— Para falar a verdade,
eu não esperava encontrar aqui um pijama vermelho de seda. Será que você coleciona
peças raras?
— Que tal pôr um disco na vitrola? — sugeriu ela, para ver sua discoteca.
— Clássica.
— Muito bem! Pouca gente reconhece uma música logo nas primeiras notas.
Vamos fazer uma brincadeira? Eu ponho um disco ao acaso, e se você não identificá-lo. . .
— Não estou a fim de ouvir Abertura 1812 — disse ela, ansiosa por fugir de um
clima romântico.
Sem nada responder, Gayle pôs o disco que queria e, em seguida, voltou a se
sentar no sofá,
— Então, está pronta para seu exame de beijos? — Jared indagou risonho, antes
de pôr mais uma acha de lenha no fogo. Logo depois, voltou para o lado de Gayle.
Sem lhe dar tempo de reagir, ele a tomou nos braços, fazendo com que suas bocas
se unissem num beijo profundo e sensual. Pouco importava que o fundo musical fosse uma
marcha de acordes marciais. Gayle sentia-se flutuar. Estava indiferente a tudo o mais à sua
volta.
— Que pergunta?
— Absoluta!
Jared rodeou-lhe os ombros com o braço, de modo que ela ficasse encostada nele.
— É curioso que você me questione sobre isso. Aliás, nunca pensei no assunto
seriamente. Mas vou tentar lhe explicar por que os computadores me fascinam. . .
— É o que eu espero. Tenho duas idéias para jogos, que são um bocado difíceis
de programar. Mesmo assim continuo querendo a Softek. Afinal de contas, Russell já tem
um nome firmado no mercado...
— Você teria se casado com Krystal Glenn?
— Então você não se casaria com ela para conseguir o que quer?
— Claro! Eles dizem que os dom Juan não se envolvem emocionalmente porque
têm medo de que a mulher descubra todas as suas fraquezas.
— Não terminei ainda. O dom Juan teme ser rejeitado, por isso descarta antes a
mulher, para impedi-la de conhecê-lo direito.
— Tem uma outra corrente que considera a atitude do mulherengo como uma
espécie de adolescência retardada.
— Seu interesse pela nova linha de jogos para adultos reforça a segunda teoria —
continuou ela, num tom provocativo.
Ela riu, certa de que tudo não passava de brincadeira. Porém, quando procurava
fugir de Jared outra vez, pisou na barra comprida do roupão, justo no momento em que ele
estendia a mão para segurá-la, de maneira que os dois acabaram caindo no carpete.
Tão pronto Gayle assentiu com um gesto de cabeça, Jared segurou-a entre os
braços fortes, fitando-lhe os olhos com uma expressão de desejo. Então pousou os lábios
sobre os seus, num beijo ardente e possessivo, que lhe tirava toda a força, deixando-a
trêmula e excitada. Enquanto isso, pouco a pouco ele afrouxava o braço, ao mesmo tempo
que suas mãos ávidas buscavam o cinto do robe, abrindo-o. Sem que ela oferecesse qual-
quer resistência Jared percorreu-lhe a curva dos seios, por cima do pijama, sorrindo ao ver
as iniciais do monograma no bolso. Gayle fazia o possível para disfarçar as emoções,
porém o toque daqueles dedos gentis tirava seu fôlego, arrepiava seu corpo inteiro. Ainda
assim, conseguiu esboçar um protesto, embora com a voz trêmula:
Lenta e sensualmente, Jared levou o rosto por entre seus seios, mordiscando-os
um a um até vê-la gemer de prazer.
Foi então que ela se deu conta de que precisava recuperar o controle. Do
contrário, cederia à tentação de puxá-lo para si, compartilhar com ele a plenitude do amor,
com conseqüências imprevisíveis. . .
— E quanto à música?
— Se quiser, posso pôr um disco, mas estamos indo muito bem sem ele.
— Eu... eti me refiro à nossa conversa anterior. Você sente-se atraído pela
informática por causa da lógica. O que acontece em relação à música?
— É bom saber de sua admiração por Beethoven, mas como não posso fazer duas
coisas ao mesmo tempo, você espera até amanhã?
— Não seja mau, Jared. Tenho certeza de que você é apaixonado pelo piano. ..
— Meu Deus, você tira o entusiasmo de qualquer um! Mas vamos discutir sobre
música. O que mais me atrai nela é a simetria dos acordes, que são sempre
matematicamente perfeitos.
— Acertou!
— Só porque não fala a sério na maioria das vezes. Vamos para o quarto.
Meu único aparelho de TV está no quarto, e o computador acoplado nele. Juro que
não quero me aproveitar da situação.
— Já ouvi essa ladainha antes — disse Gayle, enquanto o seguia até o quarto.
Ela sentou-se num canto da cama. E Jared, deitado de bruços sobre o colchão,
abriu uma gaveta da mesa de cabeceira, de onde apertou um botão de um painel embutido.
Do outro lado do quarto uma parede se abriu, fazendo aparecer um telão, que era manejado
por controle remoto.
— Você vai ser uma das primeiras pessoas a levar de zero nesse jogo, Gayle.
Depois de alguns minutos até acostumar com o jogo, ela acumulou pontos e
brincou:
— Felizmente sou honesto, minha querida. Por que você não fica numa posição
mais cômoda?
Jared sorriu, puxando a colcha para baixo. Então empilhou alguns travesseiros,
recostou-se neles e limpou o tabuleiro de jogo.
Ao vê-lo tão bem acomodado, Gayle esperou até que ele se se concentrasse na
próxima rodada, antes de ir para a cabeceira e sentar-se ao seu lado.
— Esta deve ser a noite mais incomum que esse quarto já viu. Francamente,
Jared, pensei que lençóis de cetim fossem coisa de lenda!
— Depois de dormir com eles uma vez, você nunca mais vai querer saber dos de
algodão.
— Suas convidadas gostam deles? —• Não comece com isso de novo.
— Por que não? Tanto você como eu sabemos que elas existem. E eu reconheço
que são as mulheres mais lindas da cidade.
— A maioria não tem pernas tão bonitas quanto as suas — replicou ele,
impassível, concentrado no jogo.
— Claro que tenho. Acontece que não vi a maioria delas exibidas nessas mesmas
circunstâncias.
Só então Gayle percebeu que o robe se abrira, deixando à mostra boa parte de suas
pernas. Corando, ajeitou-o com cuidado, enquanto Jared dizia:
— Por que você se envergonha de um traço físico bonito? Ainda não aprendeu a
aceitar um elogio?
— Só porque você não quer — retrucou ele, debruçando sobre a cama até
alcançar seu tornozelo. — Olhe só para isso!
— Pois eu lhe garanto que poucas mulheres têm pernas tão bem-feitas — disse
ele, deslizando a mão sobre seu joelho, empurrando o robe para um lado. — Só falta você
me dizer: "Obrigada, Jared..."
— Ora.. Gayle, seu comportamento é tão puritano que você não sabe reagir com
naturalidade — murmurou, acariciando-lhe a coxa com dedos quentes e sensuais.
— Eu menti. Avisei-a sobre o negligê preto de rendas, mas não suspeitava que
um pijama de homem fosse tão sexyl — declarou ele, enquanto desabotoava um a um os
botões daquela peça.
— Elizabeth. Ela costuma dizer que todo homem deve ter um pijama vermelho
de seda. Só não sei por quê. Lembre-me de telefonar para ela agradecendo...
Naquele instante, depois de abrir o último botão do pijama, Jared pareceu sem
fôlego enquanto contemplava seus seios perfeitos. Depois, com carinho e paixão, beijou-os
um a um, mordiscando-lhe os mamilos, fazendo Gayle gemer de prazer.
Ela continuava imóvel, desejando pela primeira vez na vida ser tomada por aquele
homem e fazer amor durante toda a noite.
Para sua surpresa, porém, Jared afastou-se de repente, como se estivesse fazendo
algo proibido. Ele se levantou de um salto, murmurou um boa-noite e saiu do quarto sem
olhar para trás.
CAPITULO XI
— Vamos ao zoológico!
— Está muito frio. Os animais não vão sair para brincar. Mas vou deixar suas
roupas em cima da cama para você vestir.
Seguindo depois para a sala de estar, Gayle parou perto da lareira e apanhou a
fotografia de Craig, que continuava na cornija.
— Claro.
Gayle olhou mais uma vez para a fotografia antes de colocá-la sobre a mesa. ]ared
riu, comentando:
— Santo Deus! O que aconteceu aqui? Você sempre espalha pedaços de torrada
em cima da mesa?
— Pelo jeito ela herdou sua obsessão por manter tudo em seus devidos lugares.
— Bonito robe. Cai melhor em você do que o meu. Gayle serviu duas xícaras de
café antes de retrucar:
— Você veio até aqui para falar sobre negócios ou sobre minha roupa?
— Tio Jared?
— Se foi isso que sua mãe lhe disse, sim — respondeu Gayle, levando-a de volta
para o chão.
— Não, minha querida. Ele só tem moças maiores — disse Gayle, com malícia.
— Vamos para Pino Reposo. Não pensei nisso antes, mas Peters pode entreter
Amy.
— Você está ansioso para acabar logo com o trabalho, não? Tudo bem vou
arrumar a mala.
— Claro. Liguei antes de ir ao seu apartamento, e avisei que haveria três pessoas
para o almoço.
— Garanto como não se lembrou de dizer que uma delas é criança e precisa de
alimentação especial.
— Tudo bem.
Quando abriu a carteira para pegar o dinheiro, Gayle lembrou-se dos últimos
cinco dólares que dera de gorjeta ao rapaz na noite da tempestade. Encabulada, foi
obrigada a pedir a Jared:
— Ele não me devolveu a gorjeta que dei ao rapaz dó restaurante. Como não fui
ao banco. .. '
— Bem, a notícia deve ter se espalhado, mas não houve tempo para que chegasse
às revistas. Isso aqui é obra de sua amiga Elizabeth. Sou capaz de apostar.
— Não acredito que ela tenha feito isso comigo! Agora a situação complicou e
pode ser que esse negócio se arraste durante meses... Isso está me destruindo, Jared!
Quando o carro parou em Pino Reposo, Jared pegou Amy no banco de trás e a
colocou no terraço, voltando então para ajudar Gayle a descer.
— Você parece não perceber como as coisas estão difíceis para mim — disse ela,
lutando para conter as lágrimas.
— Eu compreendo, Gayle. Sei que é difícil ter paciência. Prometo que isso vai
terminar logo...
— Ela já comeu metade do meu café da manhã — disse Jared. — Pelo jeito, tirei
seu hábito de só comer iogurte.
— Rachel devia ficar grata por isso — comentou Gayle, servindo-se de uma
xícara de café.
— Só café, obrigada.
— Ele está com o coração partido. Pensa que você não gosta da comida.
— Depois de tanto trabalho no fim de semana, era para ficar faminta. . . Você e
Amy podem se preparar para partir dentro de um hora?
De imediato Gayle voltou-se para a parede de vidro e para o pátio verdejante. Era
a última vez que via aquilo; a última vez que caminharia pelas trilhas de pedras, que
ouviria o crepitar do fogo da lareira no quarto, que afagaria o pêlo macio do cãozinho. . .
— Bem, eu lhe disse que ele foi encontrado. Só não expliquei que quem o achou
foi meu irmão. Fizemos uma troca de presentes. Ele me deu o cão e eu lhe ofereci um
pequeno cagado.
Pararam por um momento em frente à casa de Darrel, a fim de que Gayle levasse
a sobrinha para a mãe, depois seguiram direto ao edifício Logan.
Gayle fez que sim com um gesto de cabeça, continuando em silêncio. Quando
chegaram ao décimo segundo andar, quase tropeçaram num pacote grande, que fora
deixado próximo à porta.
— É para a Srta. Bradley. Sou da galeria Harrington, e vim entregar esse quadro.
Tentamos entrar em contato com a senhorita durante o fim de semana, mas não foi
possível...
Dentro da sobrecarta havia um cartão: "Para a Srta. Gayle Bradley, com amor e os
melhores votos do sr. e Sra. Whitney Logan".
— Pensei que fosse coisa de Elizabeth, mas ê pior ainda! — exclamou Gayle,
mostrando o cartão a Jared.
— Gayle, ligue para o hotel de Russell. Diga-lhe para que não se esqueça da
nossa reunião.
— Está bem.
Ela pegou o telefone no momento que o homem começava abrir o pacote. Tal
como esperava, era o quadro com a paisagem marinha.
Russell chegou à hora combinada e trancou-se com Jared para discutirem detalhes
do negócio. Quinze minutos mais tarde, o telefone tocava.
— Olá! Aqui é Larry. Darrel me contou que você ficou noiva. Só liguei para lhe
desejar felicidades.
Antes que ela se recuperasse da surpresa, Russell foi embora, alegre como
sempre. Jared encostou-se no batente da porta, o rosto fechado, mas quando o empresário
sumiu de vista, ele irrompeu num sorriso descontraído, espreguiçando-se como se cada
músculo de seu corpo clamasse por um alívio de tensão.
Ela o seguiu até a sala, sentindo o coração bater mais forte dentro do peito.
— O que aconteceu?
— Aleguei que estava perdendo tempo e dinheiro sem que ele assumisse
qualquer compromisso, e ameacei cancelar a transação se ele não firmasse o acordo. Agora
está tudo terminado! Ele vai ter que vender a companhia... não pode voltar atrás.
— Não vou!
Em vez de responder, ela pôs a taça em cima da mesa, pegou o bloco e o lápis,
perguntando:
— Se está tudo terminado, não há necessidade dessa farsa. Vou fazer a lista das
pessoas para as quais vamos notificar.
— Notificar o quê? — resmungou ele, irritado.
— Que não estamos mais noivos. Pessoas que mandam felicitações... Sei que é
um pouco embaraçoso, mas você deve entrar em contato com seus pais e esclarecer a
situação.
— Vou telefonar para Darrel, antes que a separação cause o mesmo furor que o
noivado.
— Agora que ele assinou os papéis, isso não tem importância. Pena que o quadro
tenha sido desempacotado. O homem podia tê-lo levado de volta.
— Está bem... Vou ligar para a galeria e mandar que venham buscá-lo.
— Você fará isso? Obrigada. Por favor, diga a sua mãe que eu... que eu adorei o
gesto...
Com a voz embargada pela emoção. Gayle tirou o anel do dedo e deixou-o em
cima da mesa.
CAPÍTULO XII
Gayle tirou uma carta da impressora e leu-a rapidamente, certa de que não havia
nenhum erro. Então encontrou uma letra trocada, que passara despercebida na tela do
computador. Num acesso de raiva, amassou a página e atirou-a no lixo. Era a terceira
correção que fazia, e estava tão cansada que sentia vontade de chorar.
Os últimos dez dias tinham sido os mais longos de sua vida. Desde aquela
segunda-feira em que tirara o anel de noivado do dedo, cada vez que o intercomunicador
tocava ou a porta da sala ao lado se abria ela sofria um sobressalto. Além disso, o tempo
todo cometia erros que em absoluto não se justificavam com uma secretária experiente.
— Gayle? Que bobagem foi essa de recusar a almoçar conosco na semana que
vem?
— Sou capaz de apostar que faria! Não lhe contei sobre meu primeiro encontro
com ela? Se quiser meu conselho...
— Foi exatamente por ouvir seus conselhos que eu me meti nessa enrascada. A
propósito, a conta do cartão de crédito de }ared chegou hoje pelo correio.
— Nunca vi alguém com tanto sangue-frio para não sentir curiosidade. Jared está
sendo grosseiro?
Era isso o que tornava as coisas ainda piores. Se ele se mostrasse irrítadiço,
arrogante ou injusto, Gayle se conformaria, sabendo que pelo menos ó estava incomodando
de algum modo... O problema era que a tratava com a mesma indiferença de antes da
história do noivado. Parecia não se dar conta de sua presença.
— Gayle, diga a ele que fui eu quem a obrigou a comprar as roupas. Estou certa
de que ele não vai culpá-la. . .
— Ora, Elizabeth. . .
— Helene me ligou agora há pouco e leu seu bilhete para mim. Juro que não
gostei.
— Era a única coisa que eu podia fazer. Ela me escreveu antes de saber que o
noivado tinha sido rompido. O convite era dirigido à noiva de Jared. Assim, seria
embaraçoso para todos nós se eu aceitasse.
— Não vou almoçar com a mãe de Jared, Elizabeth. Por favor, não insista.
— Bem, é mais difícil você dizer "não" pessoalmente do que pelo telefone. Por
isso vim convidá-la.. . Darrel e eu vamos levá-la para jantar hoje, em agradecimento por
você ter ficado com Amy no último fim de semana.
Sem forças para discutir, Gayle concordou. Naquele momento a porta da sala
abriu-se, dando passagem a Jared.
— Vou para casa mais cedo, Gayle, fez minhas reservas para o jantar?
Ele a fitou por um longo momento, antes de se curvar para Amy, que o puxava
pela mão.
— Telefone para Peters e diga que estarei em Pino Reposo no fim de semana.
"Para mim, nem mesmo uma despedida," Gayle pensou com tristeza.
A noite foi um desastre completo. Tudo, absolutamente tudo, saiu errado para ela.
Gayle começou com a melhor das intenções, ansiosa por divertir-se e ser uma companhia
agradável. Foi então que a cunhada chegou, anunciando que Darrel e Larry a esperavam no
carro.
Com certeza Larry não teve culpa pelo que aconteceu depois. Afinal de contas,
tratou-a com gentileza, sem forçar qualquer conversa entre os dois. O que a irritou de
verdade foi chegarem a um clube noturno e se sentarem justamente ao lado da mesa de
Jared Logan. Para complicar as coisas, Natalie estava ao lado dele, a mão pousada em seu
braço, os olhos desafiantes ao encontrarem os de Gayle.
Mesmo com os nervos à flor da pele, ela sorriu para o casal, mas teve o cuidado
de escolher uma cadeira que ficasse de costas para eles. Enquanto procurava manter uma
conversa com Larry, percebeu que Jared e Natalie deixavam o clube.
Radiante num casaco, a manequim levava no ombro uma bolsa grande de couro,
com espaço suficiente para um negligê preto de rendas, e outras coisas de que precisasse
para passar a noite no Ninho de Amor. Ou será que ela tomara emprestado o pijama
vermelho de seda?
— Na verdade — disse Natalie —, você tem minha simpatia. Jared não foi
educado ontem à noite, levantando-se e saindo daquele jeito. Receio que isso vá parar nos
jornais.
Antes que ela completasse a frase, Gayle atravessou o saguão, alheia ao seu
sorriso malicioso.
— Não lhe dê atenção — recomendou Thomas, solidário. — Ela não significa
nada para o Sr. Logan. .. Sou capaz de apostar.
Instantes depois, Gayle parava perto da janela da diretoria e via a luz do sol
banhar o centro de Denver. Pela última vez, preparou o café na sala, apontou os lápis e
endireitou o mata-borrão em cima da mesa.
— Tenho muitas coisas para fazer, sr. Logan — respondeu ela, enquanto pegava
o bloco de anotações.
— Está bem.
— Não!
— Eu disse não. Nada de reservas para jantares ou pedidos de flores para suas
convidadas. Não faz parte de meu trabalho.Se quiser que essas coisas sejam feitas, trate
disso pessoalmente.
— Não. Quinze minutos é tudo que lhe dou. Telefone para uma agência, pedindo
uma secretária, se quiser ter alguém aqui até a hora que eu sair — disse ela, rumando para
a sala.
Sem responder, ela atravessou o saguão, mas naquele momento a voz de Jared
ecoou pelo recinto:
— Gayle, volte aqui senão mandarei processá-la por usar meus cartões de
crédito!
—. Não!
— Você me disse uma vez, srta. Bradley, que era ele quem assinava meus
cheques de pagamento. Portanto... — E manteve a porta do elevador aberta.
Chegando à sala de estar, Jared apertou uma série de botões no painel de controle
ao lado do sofá.
— Agora, vou lhe trazer uma xícara de café, se você prometer não atirá-la em
mim.
— Não tem medo de que eu fuja? O que você fez... Trancou-me aqui?
Nervosa demais para ficar parada, Gayle seguiu-o até a cozinha. Quando, de
repente, ele se virou para apanhar as xícaras, ela recuou de imediato.
— Droga, quer parar de fugir de mim? Não vou bater em você ou coisa parecida.
— Desculpe-me...
— E pare de se desculpar!
Ela mordeu o lábio e se manteve um silêncio até que o café foi servido. Então
disse:
— Quem falou que eu a teria despedido? Aliás, por que resolveu sair do
emprego?
— Ora, você estava disposto a sacrificar a compra da Softek para não me ter
atrapalhando ainda mais sua vida.
Certa de que ele estava ansioso por vê-la longe do escritório, Gayle não entendeu
por que ele não a deixara ir embora.
— Obrigada, mas não quero o cargo de Krystal. Em todo caso, não precisava me
comprar para eu ir embora.
— Por que essa mania de sair da Logan? Tem um novol emprego em vista?
Trabalhar para Lárry, talvez? Era com elel que você estava ontem à noite, não era?
— Sim. Mas não vou trabalhar para ele. Talvez eu volte a estudar.
— Você está absolutamente confusa em relação ao futuro. E pelo jeito não quer
falar sobre o assunto. Eu tenho uma explicação para isso.
— Para ser franca, a única coisa que eu quero é ficar longe de você!
— Isso é quase a verdade, Gayle. Você não se sente à vontade comigo porque o
simples fato de me ver lhe trás lembranças, de que seu mundo certinho fora virado de
cabeça para baixo, assim como sua devoção a um homem morto.
— Eu amava Craig!
— Por baixo dessa máscara de gelo existe uma mulher ardente e cheia de vida.
Não me propus a procurá-la, mas de voltar à vida. . . e me orgulho disso.
— É bem do seu feitio esse tipo de coisa! Você se considera o maior amante do
mundo, mas não passa de um presunçoso, arrogante, teimoso, egoísta!
— Isso prova o que eu digo! A antiga Gayle nunca me xingaria desse jeito. Ao
contrário: me daria um sorriso de Mona Lisa e diria apenas que estou sendo tolo. Você
mudou Gayle. E o fato de usar o velho vestido preto não vai transformá-la na pessoa que
você era.
— Não a culpo por querer ir embora. As últimas semanas não foram nada
agradáveis para nós. Mas não vá, Gayle. Por favor, não me deixe.
Naquele instante, na sala de estar, um feixo de luz cintilou sobre o quadro que
estava pendurado em cima da lareira. E na paisagem marinha apareceu a manhã de um dia
nevoento. Por que Jared levara aquela pintura para o apartamento?
— Não posso ser comprada, Jared. E para seu governo, encontrei Natalie lego
cedo, quando ela saía do edifício.
— O que mais devo pensar, se uma hora depois você encomendava flores. . .
— Não acredito!
— Pois é verdade! Nos últimos dias, jantei com várias mulheres, tentando
encontrar algum prazer nisso, mas enquanto estava com elas só pensava em você. Está
arruinada minha vida de solteiro, Gayle — concluiu, forçando um sorriso. Em seguida ele
prosseguiu: — Voltei para cá sozinho todas as noites. Ficava entediado com elas. .. como
nunca me entediei com você.
— Ê sim. . . Tentei dizer a mim mesmo que você era igual às outras. Quando a
conta do cartão de crédito chegou, quase me convenci disso. Dez mil dólares em roupas é
um enxoval e tanto. . .
— Elizabeth tem muito a ver com isso. Então me lembrei do anel de noivado.
Qualquer outra mulher o teria conservado. Ele vale muito mais do que dez mil...
— Você agiu por causa de um homem que está morto há sete anos, Gayle. Sei
que o amava, mas não é justo que se enterre com ele!
— Só lhe peço uma chance, uma oportunidade para lhe mostrar que ainda pode
ser feliz sem ele. Não é deslealdade procurar a felicidade com outra pessoa.
— Sim, mas...
— Você deve gostar pelo menos um pouquinho de mim, Gayle. Do contrário
reagiria com frieza aos meus carinhos. No fundo, você também me quer. Talvez não seja o
mesmo amor que você sentia por Craig, mas não me importo. Esperarei o tempo que for
necessário até conquistar seu coração. Vou lutar por você, fazer tudo para despertá-la...
Enquanto se declarava, Jared tirava um a um os grampos dos seus cabelos, até que
eles caíram em mechas em volta do seu rosto
— Deixe-me mostrar como podemos nos divertir juntos. Existe alguma coisa
entre nós. . . Você é capaz de negar que seu coração está batendo depressa agora? Mesmo
que seja algo puramente físico, já é um começo. Gayle fechou os olhos por um momento,
hipnotizada pela proximidade dele.
— Por que você não fez amor comigo naquela noite de tempestade?
— Gostaria de saber assim mesmo! Depois de uma longa pausa, ele respondeu:
— Eu não queria que acontecesse com você igual ao qu sempre foi com outras
mulheres. A primeira vez que fizermo amor, Gayle...
— Bem. . . vou ser franco... Eu tinha medo, Gayle. Medo de que, se tentasse
seduzi-la e você dissesse não... Eu a desejo tanto que não conseguiria parar.
— Eu achava ridículo que meu irmão não suportasse ficar um só minuto longe de
Elizabeth. Agora eu sei o que é amar a ponto de a outra pessoa tornar-se a própria vida da
gente.
Houve um súbito silêncio, e por um momento Gayle pensou que fosse desmaiar.
Empalideceu tanto que Jared ficou preocupado.
— Você me perguntou uma vez o que eu faria se a mulher que eu amo estivesse
apaixonada por outro.
— Pois bem. Agora estou nessa situação, e não posso fazer nada contra Craig.
Estou loucamente apaixonado por uma mulher que ama um morto! Mas não vou forçá-la,
Gayle. Nem repetir que a amo, se isto a incomoda. Esperarei até que você esteja preparada
para me ouvir.
— Tentarei mudar. Apenas não me deixe, não me abandone. Talvez um dia você
nem ame, Gayle. É só isso que tenho para me segurar. Não me tire essa esperança.
Receberei qualquer coisa que você estiver disposta a me dar, e juro que me contentarei
com isso.
— Certa vez você falou que casar-se comigo seria o pior destino que alguém
poderia ter. Reconheço que eu não ofereço uma grande perspectiva como marido. Só lhe
peço que não me expulse de sua vida...
Gayle tentou falar, mas sua garganta estava tão apertada que quase não conseguia
respirar. Afinal murmurou:
— Esperarei o quanto for preciso, Gayle. Porque estou certo de que algum dia...
Bem, tenho que pensar assim. Não suportaria se não houvesse esperança...
— Por outro lado, não teria nada para usar num casamento hoje. Precisaria fazer
algumas compras. Que tal na semana que vem, quando sua família estiver na cidade?
Com um sorriso radiante nos lábios, Jared abraçou-a, feliz como nunca.
— Eu também tive dias horríveis. Você estava tão ansioso para acabar com
aquele noivado. . .
Ele riu.
— No começo, talvez. Para ser franco, até que você me devolveu o anel não
percebi como me sentia orgulhoso por você usá-lo .. por dizer que você seria minha
esposa,
Gayle suspirou de felicidade quando ele recolocou o anel em seu dedo. Jared
voltou a abraçá-la, enquanto dizia:
— Craig deve ter sido um sujeito especial. Algum dia. . . Vou querer que você
me fale sobre ele.
— Craig foi meu primeiro amor. Como eu era uma adolescente, cometi o engano
de pensar que seria para sempre. E persisti no erro. . até que você me mostrou a verdade.
— Vou queimá-lo hoje mesmo. Você quer realmente partilhar de minha vida,
Gayle?
— Para onde quer que você vá, meu amor. Todos os dias de minha vida.
— Se continuar me olhando desse jeito, serei tentado a levar para o quarto uma
moça insolente para lhe ensinar uma lição necessária!
Ela sorriu.