ANÁLISE DE PROPELENTES PARA FOGUETE HÍBRIDO

XVIII INIC / XIV EPG / IV INID - UNIVAP 2014

Bruna Roberta de Miranda1, Augusto Luís Lopes2, Jhonatan Brandão de Lima 3

Silas Camargo de Matos4
1
UNIVAP/ FEAU/Laboratório de Jato Propulsão, bruna.roberta.miranda@hotmail.com
2
UNIVAP/FEAU/Laboratório de Jato Propulsão, augustollopes@ig.com.br
3
UNIVAP/FEAU/Laboratório de Jato Propulsão, jhonatan_lma@hotmail.com
4
UNIVAP/FEAU/Laboratório de Jato Propulsão, silasrocket@ibest.com.br

Resumo - Este trabalho analisou os propelentes parafina, alumínio metálico e óxido nitroso através de
conhecimentos já fundados e simulações utilizando o software GDLPropep. A adição de alumínio à parafina
combinado com óxido nitroso traz algumas características interessantes: diminuição da massa de oxidante
e aumentos da densidade do grão e do impulso específico. Estas características podem proporcionar ao
foguete a propelente híbrido menores massa estrutural, área superficial, arrasto aerodinâmico e gasto de
energia que resulta em maior desempenho e capacidade de carga.

Palavras-chave: foguete, propelente híbrido, parafina, alumínio e óxido nitroso.

Área do Conhecimento: química e engenharia aeroespacial.

Introdução No trabalho Análise de foguetes a propelente

Foguetes de propulsão híbrida utilizam
propelentes sólidos e líquidos na câmara de
combustão, tendo características similares dos
foguetes a propelentes sólidos e líquidos. O
conceito de foguete a propelente híbrido já é bem
fundado, citado pela primeira vez na Alemanha em
1928 por Hermann Oberth, conforme o trabalho
1
Análise de foguetes a propelente hibrido .
Geralmente, o motor foguete a propelente
híbrido utiliza oxidantes líquidos e combustíveis
sólidos, e o arranjo do grão combustível é similar
ao grão de motor foguete a propelente sólido,
entretanto, nenhuma combustão acontece
diretamente sobre a superfície do grão, pois não
existe oxidante misturado ao grão. Na câmara de
combustão o grão combustível é aquecido por
uma chama, decompondo e vaporizando o
combustível reage com o escoamento de oxidante
ao longo da superfície do grão, produzindo a
5
combustão .
Desde a década de 30 vários tipos de
propelentes foram utilizados em motores foguete a
propelentes híbrido. A 20 anos a parafina vem
sendo foco de pesquisas no Brasil sendo utilizada
como propelente em foguetes (propelente sólido)
4
no trabalho de IZOLA e MATOS . Uma das
conclusões foi a possibilidade de se utilizar a
parafina como combustível sólido em foguetes
híbridos devido a sua alta velocidade de
regressão.
1
hibrido foi utilizada parafina e óxido nitroso como
propelentes em foguetes a propelente híbrido
(foguetes Oberon), demonstrando a viabilidade da
utilização destes propelentes.
O trabalho Design, Optimization, and Launch of
3
a 3" Diameter N2O/Aluminized Paraffin Rocket
demonstrou algumas vantagens em utilizar a
parafina com alumínio tendo óxido nitroso líquido
como oxidante em um foguete híbrido. Adição de
alumínio na parafina aumenta a temperatura de
combustão e a velocidade de regressão reduzindo
a quantidade de oxidante necessária para a
combustão.
A parafina (C20H42) é um derivado do petróleo
de alta pureza, com estado físico sólido é
largamente utilizada em diferentes produtos na
indústria química (fabricação de velas, cosméticos,
tintas, proteções entre outros), possui baixo custo,
atóxica. Algumas de suas propriedades estão
relacionadas na Tabela 1.
Tabela 1- Propriedades físico-químicas da
parafina
Características
Estado Sólido (Temp. Amb.)
Aparência Translúcido, Inodoro
Ponto de fusão 55~62°C
Ponto de ebulição 259~290°C
Densidade 0,78~0,91 g/ml

XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós- 1
Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba.
 O óxido nitroso (N2O) é geralmente utilizado na
forma gasosa e manuseado na forma líquida em
cilindros de alta pressão ou tanques criogênicos,
porém vaporiza facilmente a baixas pressões. Em
motores de combustão interna pode-se injetar
óxido nitroso permitindo a combustão de maior
quantidade de combustível e assim obter aumento
de potência. Algumas propriedades do óxido
nitroso podem ser vistas na Tabela 2.
Tabela 2- Propriedades físico-químicas do
óxido nitroso (N2O)
Características
Estado Gás
Aparência Incolor
Ponto de fusão -90,86°C
Ponto de ebulição -88,48°C
3
Densidade (gás.) 1,8 kg m
Conforme a tabela de riscos norma NFPA 704:
o óxido nitroso é uma substância moderadamente
perigosa, não queima, possui reatividade estável
sendo especificamente um oxidante.
O alumínio em pó é produzido a partir da
atomização do alumínio em estado líquido
completando com rápida solidificação. No estado
sólido (variando sua granulometria) é utilizado em
explosivos (ex.: pólvora branca) e propelentes
para foguetes, mísseis e veículos lançadores. Sua
alta liberação de energia na forma de calor
aumenta o impulso específico do propelente.
Algumas de suas propriedades estão na Tabela 3.
Tabela 3- Propriedades físico-químicas do
alumínio em pó
Características
Estado Solido
Aparência Cinza prateado
Ponto de fusão 660,32°C
Ponto de ebulição 2519°C
Densidade 2697 kg/m³
O alumínio quando em sua forma primária,
apresenta ser um material leve, macio e
resistente. Quando exposto ao ar atmosférico
forma-se uma fina camada de oxido gerado por
passivação, protegendo sua superfície dos efeitos
da oxidação. Este também é atóxico e estável,
quando particulado pode ser misturado junto a um
oxidante ou óxido metálico compondo um tipo de
térmita.
Este trabalho teve por objetivo analisar os
propelentes parafina, alumínio metálico e óxido
XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós-
Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba.
nitroso indicando as vantagens de serem
utilizados em foguetes híbridos.
Metodologia
Os propelentes podem ser comparados de
diversas formas, uma delas utiliza o Is impulso
5
especifico do propelente. Segundo SUTTON a
medida da eficiência propulsiva (Is Impulso
específico, Equação 1) é a razão entre empuxo (F)
por massa de propelente (ṁ) por segundo.
(1)
Considerando este parâmetro quanto maior for
seu valor mais eficiente é o propelente. Os
propelentes podem ser simulados através de
cálculos termoquímicos utilizando razões de
misturas variadas entre os propelentes
selecionados.
As simulações dos propelentes foram
conduzidas utilizado-se o software GDL Propep de
cálculos termoquímicos descrito em Análise de
1
foguetes a propelente hibrido . A janela de
interface deste software oferece uma grande
biblioteca de compostos e substâncias químicas
as quais podem ser combinadas (nas proporções
desejadas) e simuladas considerando: pressão no
interior da câmara de combustão, pressão do
ambiente, temperatura inicial e processo de
combustão com o escoamento congelado ou em
equilíbrio. As simulações ainda podem ser
realizadas fixando-se as temperaturas de
combustão. Os resultados principais são
apresentados na janela de interface e de forma
completa em arquivo txt.
No trabalho Análise de foguetes a propelente
1
hibrido as simulações dos propelentes parafina e
óxido nitroso, conduzidas no software GDLPropep
foram utilizadas em comparações de ensaios
(estáticos e de voo) de foguetes híbrido.
O software GDLPropep foi validado no trabalho
8
de MATOS comparando os resultados de
simulações de propelentes utilizando o software
com os dados experimentais de diversos motores
foguete a propelentes líquidos disponíveis na
literatura. O estudo demonstrou até 6% de desvio
máximo nos resultados das simulações do
GDLPropep.
Para o desenvolvimento do grão combustível
foram consideradas duas razões de mistura entre
a parafina e o alumínio baseados no trabalho
Design, Optimization, and Launch of a 3" Diameter
3
N2O/Aluminized Paraffin Rocket . A primeira
composição simulada pelo software foi 60% de
2
parafina e 40% de alumínio; e a segunda
composição explorada foi 70% de parafina e 30%
de alumínio variando a quantidade de óxido
nitroso, ambas com 1000 psi de pressão de
combustão.

Resultados

A partir das composições simuladas obteve-se

(Gráfico 1) o impulso específico variando a razão
de mistura (O/C) oxidante/combustível de 1:1 a
10:1 com a adição de 40% em massa de alumínio
na parafina. O Gráfico 1.1 apresenta um passo
menor no intervalo de razão de mistura (O/C) Gráfico 2 - Impulso específico x razão de
entre 3:1 a 4:1. Os gráficos 2 e 2.1 dispõem os mistura O/C (70% parafina, 30% alumínio)
resultados de impulso específico e razão de
mistura O/C de 1:1 a 10:1 e 3,5:1 a 4,5:1
respectivamente com adição de 30% em massa
de alumínio na parafina.

Gráfico 2.1 - Impulso específico x razão de

mistura O/C (70% parafina, 30% alumínio)
Gráfico 1- Impulso específico x razão de
mistura O/C (60% parafina, 40% alumínio)
Discussão

Os Gráficos 1 e 1.1 que representam as

Gráfico 1.1 - Impulso específico x razão de
mistura O/C (60% parafina, 40% alumínio)
simulações de óxido nitroso e parafina com adição
de 40% em massa de alumínio indicam impulso
específico máximo de 235s na razão de mistura
O/C de 3,4:1. Os Gráficos 2 e 2.1 que
representam as simulações de óxido nitroso e
parafina com adição de 30% em massa de
alumínio indicam impulso específico máximo de
233,2s na razão de mistura O/C de 4:1.
Os resultados de impulso específico são muito
próximos, porém a parafina com adição de 40%
em massa de alumínio proporciona a maior
redução de oxidante e a maior densidade do grão
propelente.
Considerando os resultados simulados no
1
trabalho Análise de foguetes a propelente hibrido
utilizando apenas parafina como combustível

XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós- 3
Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba.
observa-se impulso específico máximo de 188,3s
com razão de mistura O/C de 5,7:1 a adição de
40% em massa de alumínio reduz em 7,8% a
quantidade em massa de óxido nitroso
aumentando mais de 53% a densidade do grão
propelente e 24,8% o impulso específico.
Considerando um foguete híbrido utilizando o
grão propelente (parafina + alumínio), além do
maior impulso específico a redução da massa de
óxido nitroso possibilita a redução do tanque de
oxidante. Também, a adição de alumínio na
parafina reduz o volume do grão propelente, pois o
alumínio possui maior densidade que a parafina.
Desta forma o foguete poderá ter menor massa
estrutural e dimensão superficial que se traduz em
menor arrasto aerodinâmico. Estas características
possibilitam menor gasto de energia o que
proporciona maior desempenho e capacidade de
carga.
Conclusão
Observou-se nas simulações utilizando o
software GDLPropep que a adição de alumínio à
parafina traz algumas características aos
propelentes: menor massa de oxidante, aumento
da densidade do grão e aumento do impulso
específico. Estas características podem
proporcionar ao foguete menores massa
estrutural, área superficial e arrasto aerodinâmico
possibilitando menor gasto de energia que resulta
em maior desempenho e capacidade de carga.
-[5] SUTTON, GEORGE P., BIBLARZ, OSCAR.
Rocket Propulsion Elements. 5° ed. John Wiley &
Sons, Ney York, 2001.
-[6] L. Brunton, Laurence; Chabner, Bruce A.;
C. Knollmann, Björn. As Bases Farmacológicas da
Terapêutica de Goodman e Gilman 12ª edi. Porto
Alegre, RS: McGraw Hill, 2012. pp. 547
-[7] Horst, Walter J. (1995). "The role of the
apoplast in aluminium toxicity and resistance of
higher plants: A review". Zeitschrift für
Pflanzenernährung und Bodenkunde 158 (5): 419–
428
-[8] MATOS, S. C. Ensaios em Câmara de
Combustão com Injetor Centrífugo Bipropelente
Líquido Criogênico. 2008. Tese apresentada para
obtenção do título de Mestre em Ciências no
programa de Pós-graduação em Engenharia
Aeronáutica e Mecânica na área de Aerodinâmica,
Propulsão e Energia - ITA - Instituto Tecnológico
de Aeronáutica, São José dos Campos.

Referências

-[1] MATOS, S. C. Análise de Foguetes a

Propelente Híbrido. 2009. Trabalho de Conclusão
de Curso para obtenção do título de Engenheiro
Aeroespacial do curso de Engenharia Aeronáutica
e Espaço - FEAU/UNIVAP, São José dos Campos.

-[2] MCCORMICK, A.; HULTGREN, ERIC.;

LICHMAN, SMITH, J.;SNEED RYAN; and AZIMI
SHAUN.

-[3] Design, Optimization, and Launch of a 3"

Diameter N2o/Aluminized Paraffin Rocket, Staford
University, Stanford, C.A

-[4] IZOLA, DAWSON. T.; MATOS, SILAS C.

Análise da parafina como um novo combustível
para veículos espaciais. Campinas, São Paulo,
1994.

XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós- 4
Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba.