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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE – Faculdade de Engenharia

Termodinâmica II

AULA -1

1
Objectivos da aula

◼ Conhecer os combustíveis e sua aplicação;


◼ Distinguir os tipos de combustíveis
◼ Compreender a combustão e as teorias a ela associadas;
◼ Aplicar a combustão nas máquinas térmicas;
◼ Compreender a relação entre a combustão e o desempenho das
máquinas térmicas
◼ Compreender a relação entre a combustão e o meio ambiente.

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COMBUSTÍVEIS E COMBUSTÃO

◼ Tipos de combustíveis e sua aplicação


◼ Química da combustão
◼ Combustão nos motores de combustão interna

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1.1. Combustíveis. Definição
Um combustível é um material que, por suas propriedades, arde
com facilidade. O conceito geralmente se refere à substância que, ao
oxidar-se quando inflamada, desprende calor e liberta energia
térmica que pode ser aproveitada.

Todos os combustíveis têm um certo poder calorífico que é a


quantidade de energia (calor) que libertam por unidade de volume
ou massa quando ocorre uma reacção de oxidação. A reacção de
oxidação começa no momento em que o combustível atinge a
temperatura de ignição.

Lenha Carvão vegetal

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1.1. Combustíveis. Definição
Os materiais que podem ser queimados são variados, porém nem
todo material pode ser utilizado como combustível. Os maiores
exemplos de combustíveis são os compostos orgânicos (substâncias
que possuem na sua constituição os elementos hidrogênio e
carbono.
A composição química dos combustíveis é determinada pelos
Engenheiros Químicos e ela pode ser dada de quatro formas
diferentes: C - Carbono
❑ Massa orgânica (C, H, O, N) H - Hidrogénio
O - Oxigénio
❑ Massa de combustível (C, H, O, N,S)
N - Nitrogénio
❑ Massa seca (C, H, O, N, S, A) S - Enxofre
A - cinzas
❑ Massa de trabalho (C, H, O, N, S, A, W)
W - Humidade

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1.2. Classificação de combustíveis.
Os combustíveis são classificados segundo o estado em que se
apresenta em sólido, líquido ou gasosos.

Os principais combustíveis sólidos naturais são o carvão mineral, a


madeira (lenha), a turfa, que é um produto derivado da
decomposição natural da madeira e carvão vegetal obtido pela
carbonização de madeira ou lenha.

Para que um sólido possa ter valor


como combustível é necessário que
tenha um poder calorífico tão elevado
quanto possível e queime com
facilidade.
Combustível líquido

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1.2. Classificação de combustíveis.
Relativamente aos combustíveis líquidos, quase todos eles são
obtidos a partir do petróleo. O petróleo é um combustível de
origem fóssil, sendo formado por uma mistura complexa de
hidrocarbonetos.

Os principais combustíveis líquido são a gasolina, diesel, querosene,


e álcool. O combustível líquido tem certas vantagens quando
comparado com os sólidos, tais com poder calorifico elevado, maior
facilidade e economia de armazenagem e fácil controle de consumo.

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1.2. Classificação de combustíveis.
Os combustíveis gasosos são obtidos como subprodutos de
processos industriais ou são extraídos de reservatórios naturais. Um
exemplo de combustível gasoso extraídos de reservatórios naturais é
gás natural. Os combustíveis gasasos obtidos a partir do refino de
petróleo são o Propano e o Butano. O gás natural é, ao contrário
dos outros combusíveis gasasos, dominado pelo Metano e sua a
composição varia muito de poço para poço.

Considerado fonte de energia limpa, por estar em estado gasoso e


apresentar baixos índices de gás carbônico, compostos de enxofre e
nitrogênio, o gás natural tornou-se uma matriz energética
ecologicamente correcta, porém não-renovável, uma vez que leva
milhares de anos para ser formado.

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1.2.1 Índices de Classificação de combustíveis.

Comportamento de ebulição – é uma característica importante


dos combustíveis. Para os combustíveis não existe um ponto de
ebulição, mas sim uma linha de ebulição porque eles são misturas
de vários elementos.
◗ Pequena pressão de ebulição provoca perdas de combustível
conduz ao perigo de formação de bolhas de vapor de
combustível;
◗ Grande pressãode ebulição provoca um
mau comportamento ao arranque.

Ponto de inflamação – é a temperatura a que os vapores de


combustível se inflamam ao aproximar-se de uma fonte de
ignição.
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1.2.1 Índices de Classificação de combustíveis.

Ponto de combustão – é o ponto em que os vapores


combustíveis começam a arder depois de se auto-inflamarem.
Ponto de ignição – é a temperatura a qual resulta uma auto
ignição da mistura combustível

Ponto de solidificação – é a temperatura a qual no combustível a


parte líquida e os componentes sólidos se separam.

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1.3. Aplicação dos combustíveis.

Os combustíveis como fonte de energia, encontram larga aplicação


doméstica e industrial. A importância dos combustível no mundo é
inquestionável por ser uma fonte motora para o desenvolvimento.
O petróleo, carvão mineral e gás natural são os combustíveis fósseis
não-renováveis mais utilizados na geração de energia e para o
funcionamento de máquinas industriais e veículos de transporte.

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1.4. Combustão.

Combustão é a reacção química exotérmica que ocorre entre um


combustível e um comburente, que é o oxigênio. Durante a
combustão se liberta energia na forma de calor e são produzidas
novas substâncias. Para promover a combustão na industria,
comumente é empregue o ar atmosférico.
Quando um combustível arde, a
energia associada ao vínculo existente
entre as moléculas de combustível e as
de ar é libertado e aparece na forma de
calor, nos produtos de combustão.

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1.4. Combustão.

A forma mais empregue para produção de calor na indústria é a


combustão, definida como a reacção entre os elementos químicos de
um combustível e o oxigénio.

A oxidação dos combustíveis é uma reacção exotérmica, sendo a


quantidade de calor libertada função da composição química do
combustível e dos produtos finais de combustão.

Na combustão o objectivo é obter o máximo possível de calor. Não


basta porém que o rendimento calorífico atenda às necessidades
requeridas, é preciso que isto seja feito de forma económica.

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1.4. Combustão.

Para que a reação de combustão aconteça devem estar presentes


quatro elementos fundamentais, são eles:

Combustível: Material que irá sofre transformação e alimenta a


combustão. Exemplo: gasolina.

Comburente: Substância que dá vida e sustenta a combustão.


Exemplo: ar atmosférico ou oxigênio.

Energia de activação (calor): É uma energia que irá causar a


reação de combustão. Exemplo de energia de ativação: uma faísca.

Reacção em cadeia: que é a combinação dos três elementos acima,


já que um está relacionado ao outro, formando um ciclo.

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1.5. Tipos de Combustão.

De acordo com a relação do combustível e comburente, a


combustão pode ser completa ou incompleta.

Combustão completa: é aquela na qual são produzidos água (H2O)


e gás carbônico (CO2). Sua chama é azul. Exemplo: acender um
isqueiro ou chama do fogão novo.

CH4 + 2 O2 → CO2 + 2H2O

Quando a combustão completa ocorre na presença de ar, são


produzidos água (H2O), gás carbônico (CO2) e Nitrogénio. De
referir que o nitrogénio presente no ar atmosférico não participa da
combustão.

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1.5. Tipos de Combustão.

Combustão incompleta: é aquela na qual são produzidos água e


monóxido de carbono (CO), com uma quantidade menor de gás
carbônico sendo produzida também. Além desses produtos, essa
combustão produz a fuligem (carvão ou carbono). Sua chama é
amarelada. Exemplo: queimar madeira.

Exemplo de uma equação de combustão incompleta


CH4O + 3/2 O2 → CO + 2 H2O
CH4O + O2 → C + 2 H2O
Nesta combustão para além dos elementos referidos, também se
produz Nitrogénio caso ocorra na presença de ar atmosférico.

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1.5. Tipos de Combustão.

Observação: para que a reacção de combustão acorra é necessário


que os combustíveis tenham afinidade química com o comburente,
caso contrário o processo não irá acontecer. Por exemplo, a areia
não possui afinidade com o oxigênio, por isso não queima, pelo
contrário, é utilizada para apagar um incêndio.

Para calcular a temperatura dos produtos de combustão é necessário


conhecer as características energéticas dos combustíveis, que são
designadas de várias formas: calor de reacção, calor de combustão
ou entalpia de combustão.

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1.5. Tipos de Combustão.

A fim de maximizar-se o rendimento da combustão, deve-se obter o


melhor aproveitamento possível do potencial energético do
combustível através de alguns factores operacionais, como:
❑ Regular a relação ar-combustível;

❑ Proporcionar uma perfeita mistura ar-combustível.

A mistura do combustível com o ar aumenta a superfície de


contacto entre ambos e têm influência decisiva na velocidade da
combustão. Quanto mais íntima a união dos elementos, melhor a
combustão.

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1.5. Tipos de Combustão.

Já foram referenciados os elementos de uma combustão e no que


concerne ao comburente (oxigénio puro ou ar atmosférico) é
importante introduzir-se o conceito de “Ar para a Combustão”.
Deste modo, conhecendo-se a composição do combustível e com
base na estequiometria da reacção, consegue-se calcular o ar
necessário para a queima do combustível.

A química da combustão é um problema de engenharia prático com


muito significado teórico. Os engenheiros têm de estar cientes das
várias teorias de combustão já avançadas, de forma a explicar os
fenómenos que surgem nos motores de combustão interna.

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1.6. Equações da Combustão.

Combustível

Reagentes Combustão Produtos de


Combustão
mR=mcomb+mar

Comburente
Calor

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1.6. Equações da Combustão.
Estequiométrica

CO2 H2O N2

Combustível Rica

Reagentes Combustão
mR=mcomb+mar CO

Ar

Pobre
H2 CH4 O2 SO2

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1.6. Equações da Combustão.
Considere-se a reacção que surge entre o carbono e o oxigénio para dar
origem ao dióxido de carbono.
C + O2 → CO2
Esta equação implica que:
❑ 1 molécula de C + 1 molécula de O2 → 1 molécula de CO2

A massa relativa da mistura e dos produtos é dada pelo seu peso


molecular:
❑ C:12 O2:32 CO2:44
daí:
❑ 12 kg C + 32 kg O2 = 44 kg CO2
ou por outra:
❑ 1 mole C + 1 mole O2 → 1 mole CO2

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1.6. Equações da Combustão.

Por exemplo na combustão do carbono e oxigénio puro:

C + O2 → CO2

No caso da combustão dar-se com o ar:

C+O2 + 3,76N2 → CO2 + 3,76 N2

multiplicando cada termo pelo seu peso molecular, obtém-se:

12kgC + 32kgO2 + 106kgN2 = 44kgCO2 + 106 kgN2

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1.6. Equações da Combustão.

Por exemplo na combustão do carbono e oxigénio puro:

C + O2 → CO2

No caso da combustão dar-se com o ar:

C+O2 + 3,76N2 → CO2 + 3,76 N2

multiplicando cada termo pelo seu peso molecular, obtém-se:

12kgC + 32kgO2 + 106kgN2 = 44kgCO2 + 106 kgN2

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1.6. Equações da Combustão.
Os passos para balancear as equações químicas podem ser ilustrados
pela combustão completa de C8H18 com ar seco.
◼ Primeiro faz-se o balanço do carbono do seguinte modo:
(Cmistura = Cprodutos)
❑ C8 → 8CO2

◼ depois o balanço do hidrogénio

(Hmistura = Hprodutos)
❑ H18 → 9H2O

◼ seguido pelo balanço de oxigénio

(Oprodutos = Omistura)
❑ 12,5 O2 → 8CO2 + 9H2O

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1.6. Equações da Combustão.
Os passos para balancear as equações químicas podem ser ilustrados
pela combustão completa de C8H18 com ar seco.
◼ Primeiro faz-se o balanço do carbono do seguinte modo:
(Cmistura = Cprodutos)
❑ C8 → 8CO2

◼ depois o balanço do hidrogénio

(Hmistura = Hprodutos)
❑ H18 → 9H2O

◼ seguido pelo balanço de oxigénio

(Oprodutos = Omistura)
❑ 12,5 O2 → 8CO2 + 9H2O

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1.6. Equações da Combustão.
• Finalmente o balanço do Nitrogénio (N2 = 3,76 O2)
12,5 (3,76) N2 → 47 N2
A equação da combustão completa é
C8 H18 + 12 1 2 O2 + 47 N 2 → 8CO2 + 9 H 2O + 47 N 2

O RAC, relação ar combustível, é a relação entre a massa do ar e


a de combustível que participam na combustão:

RAC s =
massaar
=
(12 12 + 47)(29) kg
= 15,1 ar
massacomb 8.12 + 18.1 kgcomb

Portanto, 15 kg ar por 1 kg de combustível é a relação


estequiométrica para o combustível C8H18

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1.6. Equações da Combustão.

A massa de ar utilizada no cálculo provém de:


Tabela 2.1 Tabela de propriedades do ar

Análise Fracção Peso


Gás Peso relativo
volumétrica Molar Molecular
O2 20,99 0,2099 32,00 6,717

N2 78,03 0,7803 28,016 21,861


A 0,94 0,0094 39,944 0,376
CO2 0,03 0,003 44,003 0,013
H2 0,01 0,0001 2,016
Total 100,00 1,00 ........ 28,967 = Mar

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1.6. Equações da Combustão.

A quantidade de ar que fornece o oxigénio teoricamente suficiente


para a combustão completa do combustível, é chamada de "ar
teórico" ou "ar estequiométrico".

Na prática, sabe-se que é muito difícil obter uma boa combustão


apenas com o ar estequiométrico.

Se utilizar-se somente o "ar teórico", há grande probabilidade do


combustível não queimar totalmente (haverá formação de CO ao
invés de CO2) e consequentemente a quantidade de calor libertada
será menor.

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1.6. Equações da Combustão.

Para se garantir a combustão completa recorre-se a uma quantidade


adicional de ar além do estequiométrico, garantindo desse modo
que as moléculas de combustível encontrem o número apropriado
de moléculas de oxigénio para completar a combustão. Essa
quantidade de ar adicional utilizada é chamada de excesso de ar. O
excesso de ar é a quantidade de ar fornecida além da teórica.

O excesso de ar proporciona uma melhor mistura entre o


combustível e o oxidante, mas deve ser criteriosamente controlado
durante o processo de combustão

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1.6. Equações da Combustão.

Deve-se conhecer a quantidade ideal mínima possível de excesso a


ser introduzida na queima, pois o ar que não participa da
combustão tende a esfriar a chama, sem contribuir para a reacção.
Quanto maior o excesso de ar, maior o volume de gases nos
produtos de combustão e consequentemente maior a perda de calor
pela chaminé, influindo negativamente na eficiência da combustão.

O valor de excesso de ar a ser utilizado varia de acordo com o tipo


de combustível a ser queimado e também com o equipamento de
queima, sendo menor para combustíveis gasosos e maior para
combustíveis líquidos e sólidos.

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1.6. Equações da Combustão.

Assumido para o exemplo da combustão completa de C8H18 que foi


fornecido mais 25 por cento de ar em relação ao valor teórico a
reacção toma o seguinte aspecto:
5
C8 H18 + (12 1 2 O2 + 47 N 2 ) → 8CO2 + 9 H 2O + 3,12O2 + 58,75N 2
4
Quando o combustível contém oxigénio o procedimento é o
mesmo que o anterior, excepto que o oxigénio do combustível deve
ser diminuído do oxigénio a ser fornecido com o ar. A combustão
completa do álcool etílico é dada por:
C2 H 3OH 3 + 3O2 + 3(3,76) N 2 → 2CO2 + 3H 2O + 11,28N 2
E a relação ar – combustível resulta ser: 414
RAC = = 9,0
46

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1.6. Equações da Combustão.

❑ O RAC pode ser:


◼ RACs – relação ar - combustível estequiométrica

Quando a relação entre as massas do ar e a de combustível são as


quimicamente correctas para que haja a combustão.
◼ RACr – relação ar - combustível real
Quando a relação é entre as massas de ar e de combustível medidas.
O coeficiente de excesso de ar λ, é a razão entre a relação ar
combustível real e a estequiométrica, como segue na expressão:
O coeficiente λ pode ser:
RACr  λ = 1 – mistura estequiométrica
=
RACs  λ < 1 – mistura rica
 λ > 1 – mistura pobre

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