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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA


EM 974 Métodos Computacionais em Engenharia Térmica e Ambiental
Prof. Responsável: Eugênio Spanó Rosa

Estudo sobre o modelamento de um aerofólio NACA 0012

Grupo 3
Allan Gilmour Anderson Junior
RA 075959
Introdução

Dado que aerofólios são utilizados em várias aplicações, principalmente na indústria aeronáutica
(para criar sustentação) e na indústria automobilística (para criar downforce), e que sua performance afeta
em grande parte a performance geral da máquina aonde ele é aplicado, pretende-se compreender melhor o
desempenho dos principais fatores que afetam seu funcionamento: o coeficiente de sustentação (CL) e o
coeficiente de arrasto (CD), de acordo com a abordagem adotada no projeto do aerofólio.
Utilizando-se um aerofólio bidimensional NACA0012, o objetivo do trabalho foi realizar um
estudo sobre a variação do CL e do CD com o ângulo de ataque, a fim de encontrar-se um modelo de
simulação que chegasse o mais perto possível dos dados encontrados na bibliografia.
O aerofólio NACA0012 foi desenvolvido na década de 1930, pelo Comitê Nacional para
Aconselhamento sobre Aeronáutica (NACA, da sigla em inglês). Os aerofólios NACA de 4 dígitos têm
seu nome dado de acordo com suas características, onde a primeira casa representa a casa decimal do
abaulamento, o segundo dígito representa a primeira casa decimal do ponto da corda aonde ocorre
máxima distância da superfície à linha central e os últimos dois dígitos representam a porcentagem da
corda representada pela espessura. Resumidamente, num perfil NACA2412, temos um abaulamento de
0.2, distância máxima à linha central ocorrendo em 0.4 da corda, e uma espessura de 12% do
comprimento da corda (ANDERSON, 2008).
Segundo estas definições, nosso perfil NACA0012 define-se por um perfil sem abaulamento, e,
portanto, seguindo a linha central, com espessura de 12% do comprimento da corda.
Este perfil, devido a sua simetria, é bastante utilizado em experimentos e trabalhos acadêmicos, o
que garante resultados anteriores na literatura com os quais será possível comparar os resultados no
decorrer do trabalho.
Como dados de comparação do projeto final, utilizou-se os dados obtidos por Sheldahl(1981),
como será explicado mais a frente.

Objetivos

Os objetivos do projeto eram modelar um aerofólio NACA0012 e as condições de domínio de


forma a alcançar uma simulação o mais próximo possível das condições reais deste. Como parâmetros,
foram utilizados os coeficientes de sustentação e arrasto, respectivamente CL e CD, do perfil, pois, pelo
fato de estes serem adimensionais, é possível fazer comparações com a literatura independentemente dos
métodos utilizados por seus autores.

Modelo geral

Utilizou-se o cálculo do próprio PHOENICS para encontrar os valores dos coeficientes, pois
dessa maneira minimizou-se o trabalho de cálculo e minimizou-se a possibilidade de erro humano. Para o
ajuste dos parâmetros de cálculo destes coeficientes, obteve-se, através de KAMAL(2009), a informação
de que a área utilizada para o cálculo do CD deve ser a mesma que a utilizada para o cálculo do CL, fato
que mudou um pouco as perspectivas do que havia sido estudado durante o começo do projeto.
Na fase inicial do projeto, pretendia-se realizar as medidas através dos objetos Fine Grid (figura
1) e Null, a fim de se obter melhor refinamento de malha ao redor do aerofólio, no entanto, a utilização
destes objetos foi abolida no decorrer do projeto, por não gerarem bons resultados e proporcionarem alto
índice de discordâncias na convergência da simulação.

Figura 1. Modelo utilizando 3 Fine Grids.


Na etapa final do projeto, optou-se por utilizar, como bibliografia principal para comparação,
SHELDAHL (1981), por possuir maior diversidade de dados, no entanto, não desprezando-se os
resultados obtidos pelas outras bibliografias.
A definição do domínio seguiu as seguintes condições: o aerofólio foi localizado no interior do
domínio, que é delimitado por Outlets nas fronteiras norte, sul e oeste, e por um Inlet na fronteira leste.
Foram tentadas outras formas de modelamento, tais como imbalances e simulações de túnel de vento,
porém os resultados obtidos indicaram que este modelo que havia sido usado até então apresentava
melhor potencial.
Por fim, analisando-se resultados, chegou-se à conclusão de que o domínio poderia ser diminuído
a fim de se ter menor custo computacional, já que esta mudança não afetava os resultados de maneira
significativa, adotando-se portanto um domínio equivalente a uma corda para cima, uma para baixo, uma
para a frente e uma para trás do aerofólio. A figura 2 demonstra o primeiro domínio utilizado no projeto, a
figura 3, o domínio que se passou a usar durante a terceira etapa, e a figura 4 representa a escolha final do
domínio.

Figura 2. Domínio inicial.

Figura 3. Domínio no decorrer do projeto.


Figura 4. Domínio utilizado na etapa final do projeto.

Método

Optou-se por refinar a malha de maneira bastante reforçada, a fim de, mesmo tendo um custo
computacional bastante grande, chegar ao modelo que mais se assemelha aos da bibliografia, e, a partir de
então, engrossar a malha até onde a diferença de resultado possa não ser significativa, chegando-se à
malha mais apropriada.
O trabalho foi feito, portanto, com uma malha 200x500.

Figura 5. Malha utilizada no método.

Modelamento da entrada

Considerou-se duas alternativas, variar o ângulo de ataque do próprio aerofólio, ou decompor a


velocidade de entrada em x e y, a fim de se simular a inclinação do próprio fluido. Estas hipóteses foram
consideradas pois não se sabe a precisão da inclinação do objeto no programa, nem a forma como este a
calcula.
A conclusão a que se chegou é que os dados obtidos através da decomposição de velocidades de
entrada foi pior do que a alternativa de inclinação do objeto aerofólio. Concluiu-se que a precisão da
inclinação deve ser a mesma precisão com a qual se constrói o objeto, já que este não é especificamente
reto.
Portanto, optou-se por continuar o trabalho com o modelamento através da mudança do ângulo de
rotação do objeto aerofólio.

Escolha do modelo de turbulência

Como o resultado para CL já se encontrava bastante próximo da bibliografia, e os de CD estavam


consideravelmente longe, criou-se a hipótese de que a chave para a convergência deveria se encontrar no
modelamento da turbulência ao redor do corpo.
No entanto, com a dificuldade de encontrar modelos que chegassem perto do valor bibliográfico,
optou-se por explorar todos os modelos de turbulência do PHOENICS. Os resultados, para
Reynolds=700000 e ângulo de ataque α=0o aparecem na tabela 1, a seguir. Note que alguns modelos do
programa estão ausentes, pois a simulação com estes não foi possível, devido a erro no programa, ou por
incompatibilidade com o caso.

Tabela 1. Resultados para diversos modelos de turbulência.


Re=700000
Alvo 0,0067
Laminar 0,026
Lvel 0,034
Mixlen 0,043
Kemodl 0,035
C-effective 0,034
Klmodl 0,036
Sgsmod 0,033
Sgs-nowd 0,036
Sgs-vdwd 0,036
Kechen 0,032
Kerng 0,033
Kemmk 0,034
Kekl 0,046
Ke-LoRe 0,037
Kem-2l 0,035

Como, ainda assim não ocorreu convergência para o valor alvo, optou-se por tentar modelar os
parâmetros de um modelo e observar os resultados. O modelo escolhido foi o Sgsmod, e os resultados da
manipulação são demonstrados na tabela 2, onde S representa o valor da constante de Smagorinsky, e c
representa a constante de amortecimento da parede.

Tabela 2. Resultados da manipulação dos parâmetros do modelo Sgsmod de turbulência.


Alvo
S=0.17_c=0.41 0,033
S=0.10_c=0.41 0,031
S=0.10_c=0.21 0,031
S=0.05_c=0.10 0,0308

Chegou-se então à conclusão de que, não importa o quanto se mexa nestes parâmetros, não será
possível alcançar um resultado menor do que o do modelo laminar.

Com esta conclusão, criou-se a hipótese de que possivelmente poderia-se estar em uma região de
Reynolds aonde o fluxo ao redor do aerofólio ainda é laminar, ou em uma região de transição entre
laminar e turbulento. Como estava sendo adotado Reynolds de 700000 (V=36.02 m/s), resolveu-se
explorar a região de Reynolds mais elevado possível encontrada na bibliografia, Re=5000000 (V=257.33
m/s). Os resultados desta hipótese encontram-se na tabela 3.

Tabela 3. Resultados de CL para alto número de Reynolds.


Re=5000000
Alvo 0,0064
Lvel 0,0279
Laminar 0,0198

Mais uma vez deparou-se com resultados bastante diferentes dos resultados bibliográficos, então
resolveu-se adotar o caminho inverso, explorar regiões de Reynolds mais baixas. Mais uma vez
utilizando-se da bibliografia, optou-se por explorar as regiões onde Re=360000 (V=18.53 m/s) e
Re=160000 (V=8.23 m/s). Os resultados seguem nas tabelas 4 e 5.

Tabela 4. Resultados para número de Reynolds igual a 160000.


Re=160000
Alvo 0,0103
Laminar 0,0337
Lvel 0,0411
Kemodl 0,0427
Kekl 0,0435

Tabela 5. Resultados para número de Reynolds igual a 360000.


Re=360000
Alvo 0,0079
Lvel 0,035
Laminar 0,027

E, mais uma vez, os resultados obtidos foram diferentes dos da literatura.

Portanto, chegou-se à conclusão de que os valores alcançados são os valores mais próximos
possíveis dos valores bibliográficos que podem ser alcançados por este tipo de modelamento. Isso se deve
à precisão com que o programa deve modelar o objeto (pixel por pixel?) e à malha utilizada.
Provavelmente, um modelo por BFC deve atingir resultados mais próximos aos bibliográficos.
Considerando-se que estes dados para CD são apenas cerca de 4 vezes os valores encontrados na
bibliografia, e que estes valores já foram superiores a 10 vezes, pode-se dizer que foi alcançado grande
avanço, e que, provavelmente chegou-se ao limite deste tipo de modelamento com esta malha.
Portanto, resolveu-se adotar o número de Reynolds utilizado para o teste dos modelos de
turbulência, Re=700000 para avaliação e comparação com a bibliografia.

Ajuste da malha

Alargando-se a malha, foi possível encontrar um valor que acarretasse menor custo
computacional sem grande variação nos resultados dos coeficientes. Mantendo-se ΔCD na terceira casa
decimal, e ΔCL < 0.01, obteve-se uma malha 90x225, demonstrada na figura 6.
Figura 6. Malha final.

Resultados

Uma vez definido todo o modelamento final, foram obtidos os seguintes resultados:

Tabela 6. Resultados obtidos para CD.


CD
Alpha Bibl. Obtido
0 0,0067 0,024
3 0,0075 0,031
6 0,0108 0,052
9 0,0144 0,0702

Tabela 7. Resultados obtidos para CL.


CL
Alpha Bibl. Obtido
0 0 0,001
3 0,33 0,211
6 0,66 0,442
9 0,96 0,553

Note que o CL é, em média igual a 2/3 do CL documentado, no entanto é da mesma ordem de


grandeza. Como mencionado anteriormente, o CD é entre 3 e 4 vezes maior que o documentado. As
diferenças encontradas nos dois coeficientes foram atribuídas à forma como o PHOENICS modela os
objetos e sua inclinação, que deve ter uma precisão limitada para este tipo de malha e modelo.
A seguir, seguem os resultados gráficos para os ângulos de 0o e 9o, pois os outros ângulos
apresentam posições intermediárias em todos os casos, não sendo portanto necessário demonstrá-los neste
trabalho.
Figura 7. Distribuição de velocidades em torno do aerofólio para α=0o.

Figura 8. Distribuição de velocidades em torno do aerofólio para α=9o.

Figura 9. Distribuição de pressões em torno do aerofólio para α=0o.


Figura 10. Distribuição de pressões em torno do aerofólio para α=9o.

Figura 11. Distribuição de resíduos em pressão em torno do aerofólio para α=0o.

Figura 12. Distribuição de resíduos em pressão em torno do aerofólio para α=9o.


Figura 13. Distribuição de resíduos em velocidade em x em torno do aerofólio para α=0o.

Figura 14. Distribuição de resíduos em velocidade em x em torno do aerofólio para α=9o.

Figura 15. Distribuição de resíduos em velocidade em y em torno do aerofólio para α=0o.


Figura 16. Distribuição de resíduos em velocidade em y em torno do aerofólio para α=9o.

Note que em todas as situações de distribuição de erros, a distribuição é uniforme ao redor do


aerofólio, possuindo um valor muito baixo, contendo valores bastante grandes de erros apenas perto das
fronteiras do domínio, o que nos mostra, que, apesar de o resultado numérico não ter convergido, os
resultados são válidos.

Conclusão

Infelizmente, devido às limitações de tempo e método utilizado, não foi possível alcançar os
valores obtidos na literatura. No entanto, este foi o trabalho que chegou mais perto de tal, e que contém
uma documentação não duvidosa, de que o autor obteve conhecimento.
A solução do Phoenics não convergiu, no entanto, isso se deve a erros acumulados próximos às
fronteiras do domínio, o que valida os resultados próximos ao aerofólio, onde é a região de interesse.
Como o método foi explorado à exaustão, não se tem idéias de trabalhos que possam ser
desenvolvidos a partir deste, de forma a alcançar maior precisão, portanto recomenda-se outros métodos
como o BFC por exemplo.
O trabalho, no entanto, proporcionou maior conhecimento sobre CFD, e de sua implementação no
programa Phoenics, a compreensão do CFD sendo fundamental para pessoas da área de fluidos e energia,
ou que desejam aprender um pouco mais sobre ela.

Bibliografia

ANDERSON Jr., J.D. Introduction to flight, 6a. ed., McGraw-Hill, Boston, 2008.

KAMAL, I.A.R., Aerodinâmica básica, 2ª ed., Unicamp, Campinas, 2009.

MCARTHUR, J., Aerodynamics of wings at low Reynolds numbers, University of Southern


California, 2007.

MCCROSKEY, W.J., A critical assessment of Wind tunnel results for the NACA0012 airfoil,
NASA, California, 1987.

NASA TURBULENCE MODELING RESOURCE, 2D NACA0012 airfoil validation case,


Langley, 2011.

OZELO, R.R.M, RODRIGUES, T.H.R., Simulações aerofólio NACA0012, Disciplina EM974.-


Métodos computacionais de engenharia térmica e ambiental, Unicamp, 2010.

SEIFERT, A., PACK, L.G., Oscillatory excitation of unsteady compressible flows over airfoils at
flight Reynolds numbers, NASA, Langley, 1999.
SHELDAHL, R.E., KLIMAS, P.C., Aerodynamic Characteristics of Seven Airfoil Sections
Through180 Degrees Angle of Attack for Use in Aerodynamic Analysis of Vertical Axis Wind Turbines,
Sandia National Laboratories, Albuquerque, 1981. Disponível em:
<http://www.cyberiad.net/library/airfoils/foildata/n0012cd.htm> e
<http://www.cyberiad.net/library/airfoils/foildata/n0012cl.htm>. Acessado em: 27 de junho de 2012.

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