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UTILIZAÇÃO DA CROMATOGRAFIA GASOSA NO PROCESSO DE

DESTILAÇÃO SIMULADA

Natasha Ficheira Wiechers Lima, nat_wiechers@hotmail.com1


Maria del Pilar Hidalgo Falla, drapilar@gmail.com1
1
Universidade de Brasília, Campus Gama, FGA - Área Especial de Indústria Projeção A-UnB, Setor Leste, Gama/ DF,
CEP: 72.444-240

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo indicar uma metodologia de destilação simulada por meio da
cromatografia gasosa sem seguir exatamente o que é indicado por normas internacionais. Para tanto uma amostra de
petróleo de origem conhecida foi analisada em um cromatógrafo a gás com coluna capilar de 100%
dimetilpolisiloxano (OV-1), injetor do tipo split e detector por ionização de chama. Para uma melhor definição dos
resultados, os testes foram triplicados e os resultados permitiram indicar o percentual de destilado correspondente à
cada faixa de temperatura, bem como possíveis derivados do refino. As análises apresentaram boa repetibilidade e
indicaram uma metodologia eficiente, com o porém de a temperatura adotada ser inferior à necessária para uma
melhor caracterização de frações pesadas da destilação do óleo.

Palavras-chave: destilação simulada, cromatografia gasosa, petróleo

1. INTRODUÇÃO

Por representar a maior fonte de energia mundial, a indústria petroquímica movimenta milhões em dinheiro e
constitui a base de muitas economias. Na situação atual, aqueles que possuem reservas de petróleo detêm um enorme
poder perante as demais nações. Nesse contexto, toda e qualquer etapa da cadeia produtiva do óleo é de extrema
importância, pois um erro significa grandes perdas. Resumidamente, a atividade petrolífera se inicia com o processo de
investigação, quando ações voltadas ao estudo geológico de um possível reservatório irão indicar se existe ou não
alguma possibilidade de haver óleo no local. Feito isto e em caso positivo, a etapa da prospecção entra em vigor, sendo
capaz de concluir sobre a existência de petróleo por meio de métodos geofísicos. Nesta etapa é feita a escolha dos locais
de perfuração. Em seguida entra a perfuração propriamente dita, seguida da produção, que envolve estudos relacionados
ao reservatório, capacidade de produção, mecanismos de produção e recuperação, perfuração de poços, completação,
perfilagem, entre outros (Sebrae, 2007 e Thomas, 2004).
O processo que se segue após a exploração e produção do óleo é chamado de downstream e se relaciona às
atividades de refino, tratamento, transporte e distribuição de derivados (Petrobras, 2008). O petróleo bruto tal como é
extraído não possui valor agregado e, para tanto, é necessário que o mesmo seja submetido a uma cuidadosa etapa de
procedimentos de forma que a maior quantidade de moléculas de interesse seja fracionada, agregando valor aos seus
derivados. Portanto os rendimentos obtidos ao longo do processo de refino são determinantes para a viabilidade
financeira da refinaria (Brasil et al, 2012).
De um modo geral, a destilação é o método mais comumente utilizado no refino do petróleo (Ferreira et al, 2005).
Esse processo parte do princípio de diferentes pontos de ebulição e o gasto tanto financeiro quanto relacionado à
quantidade de energia são fatores determinantes para o pleno estabelecimento dessa prática, assim é proposta a
destilação simulada, onde serão previstos os derivados provenientes do petróleo a ser refinado, bem como o ponto de
ebulição dos compostos. Por anos foram estudados métodos que melhor caracterizassem o óleo cru em frações
destiladas e a conclusão de vários estudos indicou a cromatografia gasosa como a alternativa mais viável para resultados
confiáveis. Assim, ao final do teste cromatográfico, deve-se obter uma curva de destilação que se compare à curva de
destilação de ponto de ebulição verdadeiro (PEV), representada tipicamente pela Fig. (1), de acordo com a metodologia
ASTM.
VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, 31 de julho a 03 de Agosto 2012, São Luis - Maranhão

Figura 1. Curva de destilação PEV do petróleo. Fonte: Brasil et al, 2012.

O conhecimento desta curva é de extrema importância para o rendimento da produção de derivados, sendo capaz de
estabelecer a relação entre a temperatura de ebulição e a razão de volume vaporizado. Levando em conta que todo o
processo de refino do petróleo envolve uma série de fatores econômicos, além de estar diretamente relacionada à
logística de distribuição de derivados, a curva PEV é bastante útil para o planejamento da refinaria.

1.1. Derivados do petróleo

A gasolina, combustível automotivo, é um dos principais produtos comerciais do petróleo. Sua mistura contêm
hidrocarbonetos na faixa de 5 a 10 carbonos e ponto de ebulição variando de 40°C a 175°C (Thomas, 20004). A ampla
utilização deste se dá em motores de combustão interna com ignição por centelha, ou seja, em carros, motos, lanchas,
entre outros. A qualidade do combustível está diretamente relacionada ao seu índice de octanagem, que indica a
capacidade antidetonante do mesmo em funcionamento no motor. Para a avaliação deste fator são comparadas duas
substâncias, o heptano e o 2,2,4-trimetilpentano, também conhecido por isoctano. A primeira é indicada como índice
zero, ou seja, pouco resistente à compressão, enquanto que a segunda representa 100% de octanagem, bastante
resistente à compressão. Nesse sentido quanto maior o índice de octanagem da gasolina, maior é a sua qualidade. Sendo
adicionada de aditivos, o combustível tem suas propriedades detonantes e corrosivas amenizadas, além de propriedades
estabilizantes, detergentes e dispersantes (Borsato et al, 2009). No Brasil, é adicionado um percentual de álcool etílico à
gasolina servindo como aditivo antidetonante.
O óleo diesel, também chamado de gasóleo, além de combustível automotivo, é utilizado em geradores elétricos. É
composto por hidrocarbonetos que apresentam de 13 a 25 átomos de carbono e temperatura de ebulição de 235°C a
400°C (Thomas, 20004). Serve como combustível para motores de ignição por compressão, conhecidos como motores
do ciclo Diesel. Neste mecanismo, a combustão ocorre devido à compressão do ar a elevadas temperaturas. Assim como
a gasolina, o óleo diesel é caracterizado em relação à qualidade pelo número de cetanos. Este índice também se
relaciona à capacidade detonante do combustível e a substância que indica nível zero é o α-metilnaftaleno enquanto que
o cetano (hexadecano) representa índice 100. Quanto maior o valor de cetano, melhor é a qualidade e aproveitamento
do óleo no motor (Borsato et al, 2009).
Tanto o gás natural quanto o GLP são derivados mais leves do petróleo, apresentando até 4 átomos de carbono e
ponto de ebulição de até 40°C (Thomas, 20004). O primeiro deles é composto basicamente por metano, apresentando
frações de etano, enquanto que o segundo é mais comumente composto por propano, butano e isobutano. O gás
liquefeito de petróleo encontra-se no estado gasoso à pressão atmosférica, no entanto quando submetido a pressões
inferiores torna-se líquido, sendo de fácil estocagem. Sua utilização é em grande escala, incluindo consumidores
domésticos e industriais. Segundo Borsato e colaboradores (2009), o petróleo possui de 3% a 8% apenas de GLP.
Os demais derivados também são comercializadas em grande quantidade, o que torna a indústria petroquímica uma
das principais movimentadoras de capital mundial.
Assim, podem-se exemplificar os derivados do óleo por meio de seus pontos finais de ebulição, conforme a Tab.
(1).

Tabela 1. Ponto de ebulição dos principais derivados do petróleo. Fonte: Thomas, 2004.

Temperatura Cadeia carbônica Derivados


Até 40° C C1 – C4 Gás residual, gás natural e GLP
De 40°C a 175°C C5 – C10 Gasolina
De 175°C a 235°C C11 – C12 Querosene
De 235°C a 305°C C13 – C17 Gasóleo leve
De 305°C a 400°C C18 – C25 Gasóleo pesado
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De 400°C a 510°C C26 – C38 Lubrificantes


Acima de 510°C C38+ Resíduos

É importante ressaltar a diferença entre fração e derivado de petróleo. A primeira pode não apresentar todas as
especificidades exigidas por orgãos reguladores, enquanto que o segundo é um combinado de frações misturadas que
estão, obrigatoriamente, de acordo com as normas (Brasil et al, 2012).

1.2. Cromatografia gasosa

A técnica de cromatografia gasosa é um método físico-químico de separação de misturas complexas por meio de
uma fase gasosa, que funciona de forma a impulsionar as moléculas ao longo da coluna e uma fase estacionária, que
desenvolve interações químicas com os elementos componentes da mistura. Assim, os compostos são separados pela
diferença de pontos de ebulição e afinidade química com a fase estacionária (Neto et al, 2003). Uma representação
esquemática do cromatógrafo a gás é dada na Fig. (2).

Figura 2. Representação esquemática do cromatógrafo a gás. Fonte: Farias, 2008.

Na técnica, a substância é inserida na coluna a uma dada temperatura que é elevada conforme uma rampa
programada. Dessa forma, cada componente é separado com base em sua volatilidade. Em hidrocarbonetos é
recomendado o uso de coluna apolar, pois este tipo de molécula apresenta, em geral, esta configuração. Assim, a prática
define os constituintes da mistura em forma crescente de temperatura de ebulição e caracteriza o tempo de retenção que
cada substância permanece na coluna. O cromatograma obtido indica vários picos, que são obtidos em diferentes
tempos, a diferentes temperaturas. Dessa forma, sabendo-se a programação do forno, é possível calcular o percentual de
destilado do petróleo pela integral do pico dado. Os métodos que caracterizam essa prática são os ASTM D2887 e
D2892.
Portanto, o presente trabalho propõe caracterizar uma metodologia de destilação simulada por meio da
cromatografia gasosa sem seguir rigorosamente as normas internacionais. A obtenção de resultados irá indicar as
frações predominantes no petróleo analisado, bem como apontar qualitativa e quantitativamente a eficácia da
metodologia. Assim, o próximo tópico irá desenvolver o cenário em que foram realizadas as práticas experimentais.
Seguido deste, os resultados serão trabalhados no sentido de indicar dados que seriam úteis no processo de refino,
como: faixas de pontos de ebulição, curva PEV do petróleo analisado e percentual de cadeias carbônicas para cada
tempo de retenção.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A técnica de destilação simulada foi realizada com o auxílio do cromatógrafo a gás Trace CG Ultra da Thermo
Scientific e a amostra foi cedida pela PETROBRAS, proveniente da bacia de Campos, campo Barracuda.
Primeiramente foi calculada a densidade do óleo cru à temperatura ambiente e resfriado à aproximadamente
15,5°C. Esta etapa foi de extrema importância para caracterizar o óleo conforme seu °API. Tendo este dado foi possível
criar uma metodologia de análise cromatográfica que se adequasse ao tipo de petróleo a ser analisado. Assim, o
instrumento foi programado de acordo com a Tab. (2) visando o melhor aproveitamento da técnica, bem como
economia de gases, instrumentação e tempo.

Tabela 2. Dados do cromatógrafo.

Coluna OV – 1
Fase estacionária 100% dimetilpolisiloxano
Comprimento 30 m
Diâmetro interno 0,25 mm
Espessura do filme 0,25 µm
-1
Programa de temperatura do forno 40°C (2 min.) - 10°C min - 300°C (5 min.)
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Detector FID
Temperatura do detector 250°C
Injetor Split
Temperatura do injetor 200°C
Volume injetado 1 µL
Fase móvel Hélio
Vazão da fase móvel 1 mL/ min

Com o objetivo de preservar a qualidade do equipamento a amostra de petróleo foi diluída em uma razão de 1:1 em
volume em n-heptano. Feito isto, o analito estava pronto para a injeção. A análise foi realizada de forma triplicada para
um melhor trato estatístico dos resultados. Ainda visando boa qualidade de dados, foi feita uma posterior análise do
solvente n-heptano, de forma duplicada, sendo possível desconsiderá-lo em número da primeira rodada de análises. As
informações obtidas pelo cromatógrafo foram interpretadas pelo software ChromQuest 5.0. A seguir estão apresentados
dois esquemas, o primeiro indicando a relação de materiais utilizados, Fig. (3), e o segundo a metodologia de análise,
Fig. (4).

Figura 3. Materiais.

Figura 4. Metodologia.

Seguindo estes passos, os resultados, bem como a análise dos mesmos foi dividida em três etapas, sendo elas o
cálculo da densidade e °API, análise qualitativa dos cromatogramas obtidos e análise quantitativa dos resultados
relacionados à temperatura, tempo de retenção, percentual de destilado, concentração e composição de cadeias
carbônicas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A primeira etapa da prática, relacionada à densidade e °API foi útil para caracterizar o petróleo previamente. Assim,
a Tab. (3) indica os resultados obtidos. É importante ressaltar que a classificação do óleo em relação ao seu °API de
acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é definida pela portaria nº 09/2000.

Tabela 3. Dados preliminares do petróleo.

Origem Bacia de Campos, campo Barracuda


Densidade 0,92 Kg/ L
°API 22
Classificação ANP Médio
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Estes dados foram importantes para inferir a respeito de derivados provenientes do refino. Neste caso, o petróleo
analisado, oriundo da bacia de Campos, campo Barracuda, apresentou valor de °API de 22, sendo classificado como
médio. Referências que citam este petróleo (Santos, 2004, Ward, 2006 e Brasil, 2012) indicam o °API do mesmo
variando de 23 a 26. Assim, a prática está de acordo com a teoria. Apesar de uma unidade de diferença, deve-se
considerar que as condições de análise podem interferir na obtenção de resultados.
Uma vez com essa classificação é possível fazer uma previsão quanto aos derivados deste óleo, sendo médio,
espera-se gasolina de alto índice de octanagem, óleos lubrificantes de baixo resíduo de carbono e resíduos asfálticos
durante o refino. Com estes dados, a programação adequada de acréscimo de temperatura deveria ser superior à adotada
neste trabalho, no entanto não havia condições físicas para que tal temperatura fosse empregada. Este tipo de petróleo
deveria ser submetido a temperaturas na faixa de 550°C para que se extraíssem os resíduos asfálticos.
Tanto para a análise qualitativa quanto para a quantitativa foi necessário tomar como base o método ASTM D2887
na indicação de temperatura de ebulição de cadeias com 12, 14 e 16 carbonos. Estes três índices são importantes para
definir a qualidade e caracterização dos derivados do petróleo, além de fornecer dados valiosos a respeito do ponto de
ebulição de cada fração. Assim a Tab. (4) indica o tempo de retenção destes hidrocarbonetos.

Tabela 4. Tempo de retenção dos hidrocarbonetos como padrão para este experimento.

C12 C14 C16


Tempo de retenção (min.) 19,6 23,4 26,7

Embasado na Tab. (4), as Fig. (5) e Fig. (6) ilustram os cromatogramas obtidos após a análise do solvente n-
heptano e do petróleo, respectivamente. Todas as análises apresentarem boa repetibilidade. Em cada uma das figuras
estão indicados os tempos de retenção interessantes de observação e as temperaturas referentes aos mesmos.
A análise qualitativa dos cromatogramas obtidos foi bastante útil para que fosse possível perceber a influência do
solvente nos resultados do petróleo, bem como visualizar a grandeza dos picos de cada substância e compará-los, sendo
possível analisar aonde é encontrado o maior percentual de área. Na comparação entre as Fig. (5) e Fig. (6) é possível
identificar claramente a região referente ao n-heptano, que se localiza entre 70°C e 90°C. As outras faixas indicadas
foram feitas considerando os tempos de retenção de no intervalo de cinco minutos e, por meio destes e da Tab. (4),
definir os valores de picos correspondentes aos padrões de C12, C14 e C16. Sendo assim, pode-se identificar que até
220°C se concentra o maior percentual de área da amostra. Conforme já descrito, seria interessante submeter a amostra
à uma temperatura mais elevada, no entanto, visto que a mesma se volatiliza em maior quantidade antes que o forno
atinja sua temperatura máxima, aumentar o limite de aquecimento do forno certamente traria resultados diferentes
quanto à área de cada faixa de cadeias carbônicas, porém estes não seriam representativos quando comparados à área
total da amostra.

Figura 5. Cromatograma de n-heptano.

Figura 6. Cromatograma de petróleo.


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A análise quantitativa do óleo foi realizada da seguinte forma, todos os valores de integral no cromatograma do n-
heptano foram contabilizados e subtraídos do valor da área obtida na amostra de petróleo, no mesmo intervalo de
tempo. Esta manipulação foi bastante importante para que os dados contabilizados fossem coerentes e verídicos. Todos
os dados foram convertidos em planilhas e os resultados quantitativos foram obtidos por meio destas. A Tab. (5) mostra
os valores dos somatórios das áreas dos picos de ambos os cromatogramas e a diferença entre eles.

Tabela 5. Representação numérica das áreas de cada cromatograma.

n-heptano Petróleo + n-heptano Petróleo


Área 1.340.296.842,00 3.004.027.865,00 2.083.643.537,00

Tendo como base a Tab. (5) foi possível manipular os resultados de forma a se trabalhar apenas com o valor
referente à 4º coluna da tabela em questão. Assim foi estabelecida uma relação entre a temperatura de ebulição, seu
respectivo tempo de retenção e percentual de destilado. Estes dados são apresentados na Tab. (6).

Tabela 6. Percentual de destilado por temperatura.

Tempo de retenção (min.) Temperatura (°C) % de destilado


5 70 1
10 120 46
15 170 62
20 220 75
25 270 87
30 300 98
35 300 100

Com os dados da Tab. (6) é possível traçar o gráfico de temperatura pelo percentual de massa destilada, descrito
também como curva PEV. O perfil do gráfico da Fig. (7) seria mais condizente com a curva PEV do petróleo em
questão caso o cromatógrafo fosse programado para atingir uma temperatura superior àquela utilizada na metodologia.
O indicado seria uma temperatura final de 550°C, assim 100% de destilado seria efetivamente volatilizado.
É possível perceber que acima de 170°C já havia sido obtido mais de 50% das frações do petróleo. Como as
condições de análise foram mantidas bem abaixo do devido, as frações mais pesadas do óleo ficaram retidas na coluna,
ou seja, o valor de 100% indicado na Tab. (6) e Fig. (7) não representa realmente o total da amostra, mas sim a
quantidade de frações com o ponto de ebulição de até 300°C. Ainda, a Fig. (7) representa uma função crescente com
primeira derivada maior em módulo até o ponto de 87% de destilado, isto indica que a taxa de variação do percentual de
massa destilada em relação à temperatura é maior, ou seja, há mais componentes voláteis até este ponto. Esse valor
diminui entre o ponto já descrito e o seguinte, de 98%, indicando que há menor volatilidade de compostos nesta região,
ou seja, menor quantidade de compostos é evaporada com o acréscimo da temperatura. Mantem-se constante no último
intervalo, de 98% a 100%, indicando que o percentual de massa não varia com o acréscimo da temperatura nesse
período. Essa afirmação contribui para o fato de que mesmo se a amostra fosse submetida a uma temperatura final mais
elevada, o percentual de massa que seria destilada ao final da análise não seria tão elevado comparado ao restante da
amostra.

350,00
300,00
Temperatura (°C)

250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
-
1,00 46,00 62,00 75,00 87,00 98,00 100,00
% Massa

Figura 7. Relação entre as frações destiladas e a temperatura.


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Ainda na análise quantitativa dos dados foi possível inferir os produtos provenientes da destilação deste petróleo. A
caracterização destes se fez por meio da temperatura do forno relacionado com os conceitos de temperatura de ebulição
dos derivados do petróleo.

64%

17% 19%
0%

GLP Gasolina Querosene Gasóleo


leve

Figura 8. Percentual de derivados.

Na Fig. (8), observa-se qual é o percentual de cada derivado presente neste petróleo. É importante considerar
novamente que o não acréscimo da temperatura até limites mais altos alterou os resultados de derivados obtidos, uma
vez que só foi possível identificar frações que vão até a faixa de gasóleos leves. Sendo assim, tendo como base a
metodologia utilizada, 0,0072% do óleo é composto por GLP, a maioria, 64%, representa a faixa de gasolina, seguido
de 17% para querosene e 19% de gasóleo leve. De acordo com a classificação API, estes derivados se enquadram ao
esperado, no entanto para a obtenção de óleo lubrificante e de resíduos asfálticos seria necessário aumentar a
temperatura de análise.
O método ASTM D2887 que caracteriza a prática de destilação simulada é bastante diferente da metodologia
utilizada, desde os materiais utilizados, como coluna empacotada e detector por condutividade térmica, no
cromatógrafo, até a rampa de temperatura utilizada, porém a técnica ilustrada neste trabalho foi capaz de simular a
destilação do petróleo.
Tendo sido descritos os resultados e discussões, as conclusões serão feitas considerando as condições da análise e a
qualidade dos dados obtidos. Também entrará em questão a eficiência do método, bem como justificativas e
esclarecimentos que devem ser dados em relação à escolha da metodologia.

4. CONCLUSÃO

Na etapa de identificação da densidade e °API o experimento se mostrou bastante eficiente, sendo que o valor
obtido vai de encontro à literatura, classificando o óleo como médio. Esta classificação permite indicar que o petróleo,
por não ser pesado, tem faixas de ebulição medianas, possibilitando a obtenção de resultados quando a amostra é
submetida a 300°C. Também indica que o percentual de derivado encontrado está de acordo com o que era previsto
teoricamente. Para uma análise completa do petróleo, é sempre bom conhecê-lo por meio do seu °API. A classificação
do óleo pode indicar muitos dados relacionados à temperatura de ebulição, composição do óleo e possíveis derivados.
A análise qualitativa de ambos os cromatogramas indicou boa repetibilidade, pois foi possível identificar facilmente
os picos relativos ao n-heptano no cromatograma do petróleo. Nota-se também que o solvente utilizado estava
contaminado, pois, por ser uma substância simples, esperava-se apenas um pico indicando um único ponto de ebulição,
no entanto visualizaram-se vários. Apesar disso, o trabalho estatístico possibilitou que estes dados fossem
desconsiderados. O cromatograma da amostra de petróleo indicou que a maior parte do volume foi evaporada até que se
atingissem os 220°C. Este dado está em conformidade com o resultado que indicou uma maior parcela de frações na
faixa de ebulição da gasolina.
Tanto por meio dos cromatogramas quanto por meio de tabelas e gráficos, observou-se a temperatura nas quais
determinados percentuais de destilados foram volatilizados. Esses dados são condizentes quando considerada a
temperatura final de 300°C, porém conforme já dito neste trabalho, a condição ideal de análise deveria fazer uso de
temperaturas a cima de 500°C para resultados totalmente verídicos.
A curva de destilação PEV não foi correspondente àquela apresentada na teoria. Este fator é justificado pela
temperatura final do forno. Nas condições experimentais, as frações mais pesadas do petróleo não foram volatilizadas,
portanto não aparecem na curva. O valor de 100% indicado considera como massa total os componentes que são
evaporados até 300°C.
Com os resultados obtidos foi possível descrever uma metodologia de análise diferente daquela proposta pela
norma internacional. O trabalho encontrou obstáculos em se tratando da máxima temperatura adequada de análise, não
sendo possível aplica-la às condições dos materiais utilizados. Mesmo com este valor inadequado, comprovou-se a
eficácia do método de CG com coluna capilar e detector por ionização de chama na destilação simulada. É indicado que
os materiais utilizados sejam escolhidos de forma a resistirem a temperaturas mais elevadas para que a metodologia e os
resultados sejam validados.
Portanto, o presente trabalho conseguiu concluir uma metodologia de análise e captação de resultados para a
destilação simulada. Recomenda-se que a prática seja realizada utilizando uma maior temperatura final, porém os
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resultados podem receber os mesmos tratos estatísticos, pois condizem com a literatura. Como continuação deste
trabalho propõe-se a mesma prática, porém em maior temperatura final para fins comparativos e dessa forma, validar a
interferência deste fator em um petróleo de médio grau API.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – www.anp.gov.br.


American Petroleum Institute
ASTM Standards
Borsato, D., Galão, O. F., Moreira, I., 2009, “ Combustíveis Fósseis – Carvão e Petróleo”, Editora Eduel, Londrina,
Brasil.
Farias, R. F., 2008, “Introdução à Química do Petróleo”, Editora Ciência Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
Santos, R. S., 2004, “Automação das Plataformas P-34 e P-48: Tratamento dos Pontos de Entrada e Saída”, Monografia,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.
Thomas, J. E., 2004, “Fundamentos de Engenharia de Petróleo”, Editora Interciência, 2ª edição, Rio de Janeiro, Brasil.
Ward, A. K., 2006, “Projeto Barracuda e Caratinga: um Estudo de Caso de Gestão de Risco em Financiamento de
Projetos do Setor de Petróleo”, Dissertação, IBMEC, Rio de Janeiro, Brasil.
Sebrae-ES. 2007, “Diagnóstico da Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás Natural”, Vitória, 2007.
Petrobras – www.petrobras.com.br
Brasil, N. I., Araújo, M. A. S., Sousa, E. C. M., 2012, “Processamento de Petróleo e Gás – Petróleo e Seus Derivados,
Processamento Primário, Processos de Refino, Petroquímica, Meio Ambiente”, Editora LTC, Rio de Janeiro, Brasil.
Ferreira, A. A., Neto, F. R. A., 2005, “A Destilação Simulada na Indústria do Petróleo”, Revisão, Química Nova,
Volume 3, nº 28.
Neto, F. R. A., Nunes, D. S. S., 2003, “Cromatografia – Princípios Básicos e Técnicas Afins”, Editora Interciência, Rio
de Janeiro, Brasil.

6. DIREITOS AUTORAIS

Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído no trabalho.

USE OF GAS CHROMATOGRAPHY IN THE PROCESS OF


SIMULATED DISTILLATION

Code: CONEM2012-1813

Abstract. This papper ayms to indicate a method of simulated distillation using a gas chromatography without
following international standards. A sample of crude petroleum of known origin was analysed on a chromatography
with capillary column of 100% dimetilpolisiloxane (OV-1), injector on split way and flame ionization detector. For
better results the analysis was done in triplicate and the data could indicate the percentage of distillate corresponding
to each temperature range as well as possible derived from refining. Analysis showed good repeatability and indicated
an efficient methodology, but the final temperature assumed should have been higher for better characterization of
heavy fractions.

Keywords: simulated distillation, gas chromatography, petroleum

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