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Bacharelado em Relações Internacionais

Instituto de Economia e Relações Internacionais – UFU


6º Período – 2018/1

Docente: Erwin Pádua Xavier

Disciplina: Relações Internacionais da Ásia

Discentes: Nicholas Lino

“Basketball Diplomacy” - VICE

Uberlândia, 2018.
A Vice é uma revista/site que possuiu diversas áreas de interesse, ela tradicionalmente
realizada também documentários de cunho político e cultural, nesse sentido o documentário
“​Basketball Diplomacy” (Session on the Hermit Kingdom) é um de uma série que a Vice fez
sobre a Coréia do Norte.

No começo do documentário o vice fundador da Vice, Shane Smith fala sobre a


curiosidade que esse país desperta sobre a revista. A Vice já realizou mais dois
documentários sobre o regime ditatorial norte coreano e um dos poucos grupos de imprensa a
filmar em solo coreano, tanto que os dois trabalhos anteriores extremamente críticos ao
governo, renderam a proibição da entrada de Shane na Coréia do Norte.

Agora um novo grupo chega a Coréia do Norte, depois de conseguir autorização


através do Comitê Olímpico Norte Coreano, um dos poucos canais de relação que o país
mantém com o mundo externo, sobre o pretexto de um “programa de intercâmbio esportivo”.
A idéia deste evento surge através do fato que mesmo durante seu governo e suas várias
críticas aos EUA Kim Jong-il mantinha uma paixão pessoal pelo time norte americano
Chicago Bulls, tradição esportiva que foi passada para o seu filho e atual líder, Kim Jong-Un.

Os EUA e a Coréia do Norte sempre tiveram relações diplomáticas fracas, mas um


dos pontos altos foi o famoso encontro entre a Secretaria de Estado Madaleine Albright com
Kim Jong-il, nesse encontro Madaleine presenteou o supremo líder com uma bola de
basquete autografada por ninguém menos do que Michael Jordan.

Surge então um ponto em comum entre os dois países, a paixão pelo basquete, sobre
esse pretexto de intercâmbio esportivo a Vice leva para a Coréia o grupo Harlem
Globetrotters para competir com o time nacional de basquete.

Chegando em solo coreano a equipe da Vice já consegue perceber como funciona a


dinâmica do partido. Representantes do governo são designados para acompanhar os
correspondentes e são esses representantes que vão te avisar para onde você vai, o que fazer e
o que pode e não pode filmar. A equipe tem um cronograma diário e esses representantes têm
como função garantir que ele seja cumprido todos os dias de forma precisa.

A visita acaba sendo realizada em uma época no mínimo interessante, os coreanos


acabam de realizar mais um teste nuclear, e com os recentes avanços do programa espacial
deixaram a comunidade internacional apreensiva sobre as capacidades nucleares dos coreanos
para fim militar. O nível de desconfiança estava alto e por isso os correspondentes estavam
apreensivos, eles já haviam sido avisados que vários desses representantes do governo,
tradutores e guias turísticos muito provavelmente eram da polícia secreta, e ser pego filmando
sem autorização coreana pode significar prisão.

O cronograma começa com uma ida até um gigantesco estádio, com capacidade para
dez mil pessoas mas só o time sub 18 estava presente, eles estavam esperando os americanos
para aprenderem e praticarem algumas jogadas e técnicas. Nisso o melhor jogador de
basquete do país resolve prestigiar o evento, Lee Myung Han, que uma vez já foi cotado para
jogar na NBA devido seu status de maior homem do basquete. Infelizmente esse projeto não
consegue ser realizado devido sanções econômicas americanas sobre a Coréia do Norte.

Em contraparte os americanos tiveram que participar de um tour pelos símbolos


nacionais que começa pelo Sun Palace, nesse local fica óbvio a importância que os coreanos
dão para os seus líderes e para os ícones nacionais de poder. Em seguida eles vão visitar o
que eles chamam de “Sea World coreano”, onde uma população esperava eles para que o
show começasse. Um fato curioso é o de que os uma fala inicial lembra os presentes da
“conquista” norte coreana no campo nuclear, assim como vários agradecimentos ao supremo
líder Kim Joun-Un, dentre eles o agradecimento ao líder e criador da coreografia dos
golfinhos nesse parque. Fica óbvio como a presença do partido é forte em todos os aspectos
do cotidiano, outro exemplo disso é o fato que Kim pessoalmente planejou um espaço de
atividades físicas popular que o grupo visitou.

Em seguida eles foram levados até um tipo de shopping, mas nesse lugar mais do que
em todos ficou óbvio que era uma simples fachada, o local além de não ter nenhum cliente
fazendo compras ainda não era possível comprar nada, o local não aceitava cartão. Na volta
até o hotel os correspondentes notaram que a cidade era muito bem iluminada de noite, vários
prédios acessos como um tipo de show de luzes que encantou o grupo, mesmo que eles
saibam que a crise de energia no país é constante.

No dia seguinte o grupo faz um uma viagem até o International Friendship Exhibition,
nesse local estão guardados todos os presentes que a liderança norte coreana já ganhou do
mundo, inclusive a bola de basquete assinada pelo Michael Jordan. Em seguida o grupo
seguiu para o Kim In-Sung University, o intuito do local era mostrar como o país é “aberto ao
mundo”, nele os americanos puderam presenciar aulas de inglês, um laboratório de
informática onde praticamente ninguém sabia usar os computadores, a não ser um homem,
que obviamente era o único que os representantes queriam que o grupo conversasse, ele
alegou ter trabalhos publicados na internet, inclusive em conjunto com cientistas europeus.
Um dos correspondentes faz um paralelo com o filme “Show de Truman”, onde tudo aquilo
ali era construído para mostrar ao estrangeiros justamente o oposto do que é falado da Coreia.

Por fim o grupo é levado de volta ao estádio de basquete, só que dessa vez para um
jogo e com o estádio lotado, todos os dez mil lugares aparentemente cheios. Logo fica claro o
motivo de tanta pompa para esse evento, o próprio Kim aparece para assistir o jogo. Ao final
da partida o grupo é convidado para um jantar com o próprio líder supremo, nessa ocasião os
próprios funcionários do governo alegaram que o encontro sirva para “quebrar barreiras
psicológicas” sobre a Coréia.
Comentários:

O documentário é muito interessante e mostra um lado totalmente diferente da


cultura coreana, ainda pelo motivo de que pouco se tem acesso a esses aspectos da
população. Identificar que existe um ponto de aproximação com a cultura ocidental
através do esporte, abre possibilidades de aproximação, assim como o próprio nome
diz, a Diplomacia do Basquete é uma abordagem viável e não somente como forma de
aproximar a Coréia do Norte com os EUA/Ocidente, mas com outras nações do
próprio Oriente, o Reino Eremita já passou muito tempo isolado e isso custa muito
para a sua própria população.

Um dos sintomas desse isolacionismo, fruto de uma política hostil que acaba
afastando os outros países, é o problema crônico de alimentação que o país apresenta.
De acordo com a ONU em 2017 dois em cada 5 norte coreanos sofrem com a
subnutrição, por isso o Lee Myung Han, o maior jogador da coreia causa espanto, já
que esse quadro de subnutrição generalizado atrapalha no crescimento de toda a
nação.

Outra curiosidade que notei é como a população parece ser muito disciplinada,
em certos momentos se comportam como robôs, esperando o estímulo certo para
executar um movimento, pude perceber isso quando a plateia começa a aplaudir e
alguns não parecem não confusos e não sabem bem por que estão aplaudindo mas
seguem o grupo e quando percebem que estão aplaudindo a entrada do Líder Supremo
no estádio começam a se exaltar mais ainda. Esse fanatismo é preocupante, existem
relatos de que a população é ensinada a acreditar que o Líder Supremo consegue ler
suas mentes, então eles são suprimidos em até mesmo nos seus pensamentos íntimos,
tornando a possibilidade de contestação do governo praticamente impossível.

Outro fato curioso é de que durante todo o tempo a sensação de que a visita é
uma completa encenação é muito forte, durante vários momentos a população que
interagia com os americanos parecia condicionada, como se houvessem ensaiado suas
falas para uma grande peça de teatro. Os cenários haviam sido cuidadosamente
preparados muito tempo antes, a sensação é que vários dos lugares visitados foram
criados para essa finalidade, a de mostrar uma realidade diferente para os estrangeiros.

Os coreanos são ensinados desde crianças que os EUA são


malvados/imperialistas, mas quando o líder supremo/deus aparece acompanhado de
americanos isso mostra pelo menos a possibilidade de uma nova abordagem surge.
Isso me ocorreu no final do documentário, quando por um breve momento temos a
diplomacia do basquete quebrando a barreira entre os povos, sem a ideologia
carregando os seus vícios, sem os oficiais ditando cada movimento, uma interação
genuína entre os povos, uma semente de amizade entre as nações, plantada em um
solo rico, mas que constantemente é envenenada pela ação dos líderes de ambas
nações

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