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TESTES DE DIAGNÓSTICO
Não quero enganar ninguém. Sobretudo, não me quero enganar a mim próprio. Detesto perder
tempo. Sempre confiei nos livros.
− Viajar e interpretar. Duas pessoas vão ao mesmo pais e, quando regressam, contam historias
diferentes, descrevem os naturais desse pais de maneiras diferentes. Uma diz que são simpáticos,
a outra diz que são antipáticos. Uma diz que são tímidos, a outra diz que não se calam durante um
minuto.
Isto e radicalmente verdade em relação a Coreia do Norte.
O secretismo e as enormes idiossincrasias 1 desta sociedade fazem com que o olhar do visitante
seja muito conduzido por aquilo que leu em livros antes de chegar. Ao faze-lo, parece-me, acaba
por procurar na paisagem exemplos do que já sabe. Por isso, a interpretação que cada um faz depende dos li vros
que leu.
Para quem procure esclarecimento, os guias norte-coreanos são de pouca utilidade. Sabem de
cor todos os números e datas, mas falham na descrição de outros dados também objetivos: a história
da guerra da Coreia, o desenvolvimento do país, as qualidades dos líderes, etc. Se as questões
não lhes interessam, mudam de assunto ou respondem qualquer coisa só para despachar.
Quando se escondem tanto, estimula-se a imaginação na mesma medida. O cérebro propõe
hipóteses para as perguntas que não são respondidas. E essa a natureza do cérebro.
Além disso, a intensa extravagância da logica a que se chegou na Coreia do Norte faz com que
essa mesma extravagância, comprovada em inúmeros casos, seja seguida em muitos outros que
estão por comprovar.
Se a imparcialidade e sempre impossível, na Coreia do Norte e mais impossível ainda.
As vezes, parece que ninguém tem toda a informação. Ninguém. Não existe um único individuo
que detenha toda a informação sobre o que se passa de facto. Nem de um lado da fronteira, nem
do outro, nem os guias, nem os serviços secretos, nem o líder.
Com frequência, senti que apenas me restava o papel de testemunha alucinada, tentando distinguir
a realidade real da realidade retorica apenas através do instinto.
Não foi por acaso que escolhi reler D. Quixote na Coreia do Norte.
Como ele, basta-me ser fiel a verdade que conheço e em que acredito. Na vida, talvez seja sempre
assim. A sinceridade salva-nos perante nos próprios.
Se estou a escrever estas palavras e porque estou vivo.
Quase no topo da colina Moran, no parque Moranbong, depois da curva ao longo do muro de
pedra, estava toda a gente a dançar.
De amplo sorriso, gente de todas as idades, vestida com a melhor roupa, a dançar. Muitas mulheres
de vestido tradicional, muitos homens com aquele conjunto que Kim Jong-il 2 costumava usar,
espécie de fato de macaco, calcas e casaco com um fecho a frente, muitas crianças também. Todos a
dançarem, cada um para seu lado, dessincronizados. Os estrangeiros que viajavam comigo também
estavam lá no meio, a dançar com eles. Os mais tímidos, encostados ao tronco de árvores, recebiam
convites sucessivos de coreanos que se aproximavam a sorrir, lhes esticavam a mão e os tentavam
levar para o meio da dança. […]
José Luís Peixoto, Dentro do segredo − uma viagem na Coreia do Norte. Lisboa, Quetzal Editores, 2014, pp. 61-63.
Responda aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que lhe são dadas.
1. As afirmações apresentadas de (A) a (G) referem-se às impressões de José Luís Peixoto, aquando
da sua viagem, em abril de 2012, à Coreia do Norte.
1 SENTIDOS 10 • Livro de Testes • ASA
Escreva a sequência de letras que corresponde à ordem sequencial do relato feito. Termine a sequência
com a letra (F).
2. Selecione, para responder a cada item (2.1. a 2.4.), a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto.
2.2. As opiniões sobre os norte-coreanos ou sobre algum país que se visita são condicionadas
(A) por aquilo que se leu sobre o assunto.
(B) pela experiência de vida do visitante.
(C) pelo que se observa no local visitado.
(D) pela bagagem cultural do turista.
3. Selecione a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.
(A) “ele” (linha 28) refere-se a “D. Quixote”.
(B) “que” (linha 34) refere-se a “muitos homens”.
(C) “que” (linha 36) refere-se a “Os estrangeiros”.
(D) “lhes” (linha 38) refere-se a “Os mais tímidos”.
PARTE B
Amar!
5. Comprove a desorientação do sujeito poético, justificando a sua resposta com elementos textuais pertinentes.
6. Explique o sentido do primeiro terceto, referindo a expressividade do verbo “cantar” (verso 11).
7. Indique a razão pela qual a expressão “um dia hei de ser pó” (verso 12) pode ser considerada um eufemismo.
8. Leia os versos de Eugénio de Andrade, apresentados abaixo, e a afirmação que se lhes segue.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
Tanto nestes versos de Eugénio de Andrade como no soneto de Florbela Espanca, é possível ver-se
um apelo ao amor. Porém, nestes últimos versos, há sugestões para que esse sentimento se possa impor,
ao contrário do que acontece no primeiro poema apresentado.
Defenda este comentário, explicitando as semelhanças e diferenças entre os versos dos dois autores,
fundamentando a sua resposta em elementos textuais pertinentes.
PARTE C
Leia as estâncias 119 a 121 do Canto III de Os Lusíadas, a seguir transcritas, e responda, de forma
completa e bem estruturada, ao item 9. Em caso de necessidade, consulte as notas apresentadas.
119 121
«Tu só, tu, puro Amor, com força crua, «Do teu Príncipe ali te respondiam
Que os corações humanos tanto obriga, As lembranças que na alma lhe moravam,
Deste causa à molesta1 morte sua, Que sempre ante seus olhos te traziam,
Como se fora pérfida inimiga. Quando dos teus fermosos se apartavam;
Se dizem, fero Amor, que a sede tua De noite, em doces sonhos que mentiam,
Nem com lágrimas tristes se mitiga, De dia, em pensamentos que voavam;
É porque queres, áspero e tirano, E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Tuas aras2 banhar em sangue humano. Eram tudo memórias de alegria.
120
«Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano3 da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saüdosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome4 que no peito escrito tinhas.
9. Escreva um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras, no qual explicite o conteúdo
das estrofes apresentadas.
Organize a informação da forma que considerar mais pertinente, tratando os seis tópicos apresentados
a seguir.
Responda aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que lhe são dadas.
1. Qual dos conjuntos seguintes é constituído apenas por palavras cujo processo de formação é o mesmo?
2. Associe cada elemento da coluna A ao único elemento da coluna B que lhe corresponde, de modo a
identificar a classe e a subclasse da palavra destacada em cada frase.
COLUNA A COLUNA B
(A) Quando visitou a Coreia, José Luís Peixoto (1) conjunção subordinativa consecutiva
teve contacto com os costumes locais.
(2) advérbio de inclusão/exclusão
(B) O visitante colocou várias questões a que
ninguém respondeu. (3) pronome indefinido
3. Complete cada uma das frases seguintes com a forma do verbo apresentado entre parênteses, no
tempo e no modo indicados.
Presente do indicativo
José Luís Peixoto c. ___ (intervir) numa conferência sobre as guerras na Coreia do Norte.
4. Reescreva a frase seguinte, substituindo a expressão destacada pela forma adequada do pronome
pessoal e fazendo apenas as alterações necessárias.
6. Transcreva a oração subordinada substantiva completiva que a frase complexa que se segue integra.
• O cérebro propõe que encontremos respostas que possam responder às nossas dúvidas, ainda que
não seja a todas.
GRUPO III
Há quem considere perigoso visitar países com regimes totalitários ou com religiões fundamentalistas.
Porém, alguns defendem que só o contacto com essas realidades permitirá ter uma visão correta sobre
essas questões.
Escreva um texto de opinião, onde apresente razões para defender ou não o contacto direto com esse
tipo de realidades, referindo a sua perspetiva pessoal sobre o assunto.