O documento descreve a campanha de penetração cultural dos Estados Unidos no Brasil nos anos 1940 através da agência OCIAA. A OCIAA promoveu valores pan-americanos por meio de rádio, cinema e saúde pública para combater a influência do Eixo e consolidar a solidariedade continental. O personagem Zé Carioca foi criado para retratar o Brasil de forma positiva para o público americano.
O documento descreve a campanha de penetração cultural dos Estados Unidos no Brasil nos anos 1940 através da agência OCIAA. A OCIAA promoveu valores pan-americanos por meio de rádio, cinema e saúde pública para combater a influência do Eixo e consolidar a solidariedade continental. O personagem Zé Carioca foi criado para retratar o Brasil de forma positiva para o público americano.
O documento descreve a campanha de penetração cultural dos Estados Unidos no Brasil nos anos 1940 através da agência OCIAA. A OCIAA promoveu valores pan-americanos por meio de rádio, cinema e saúde pública para combater a influência do Eixo e consolidar a solidariedade continental. O personagem Zé Carioca foi criado para retratar o Brasil de forma positiva para o público americano.
Este o ttulo de um livro do historiador Gerson Moura que trata da ostensiva
campanha de penetrao cultural norte-americana no Brasil desencadeada no incio dos anos 40. Foi uma poca em que gradativamente o american way of life foi ganhando espao na sociedade brasileira, graas a um cuidadoso plano de conquista. Esse plano fazia parte da estratgia dos Estados Unidos de promover a cooperao interamericana e a solidariedade hemisfrica, enfrentar o desafio do Eixo e consolidar-se como grande potncia. A campanha teve incio com a propagao dos "valores pan-americanos" durante as conferncias interamericanas. O passo seguinte foi a criao, em agosto de 1940, de uma superagncia de coordenao dos negcios interamericanos, sob a chefia de Nelson Rockefeller, chamada Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). Essa iniciativa diferia dos programas de colaborao j em funcionamento por estar diretamente vinculada ao Conselho de Defesa Nacional dos Estados Unidos. Para alcanar seus objetivos, o OCIAA contava com as divises de comunicaes, relaes culturais, sade e comercial/financeira. Cada uma dessas divises subdividia-se em sees: rdio, cinema, imprensa; arte, msica, literatura; problemas sanitrios; exportao, transporte e finanas. Durante todo o seu tempo de vida, o OCIAA contou com ativa colaborao do DIP, quer na conduo de projetos conjuntos, quer como rgo de apoio sua ao no Brasil. Na rea de comunicao e informao, a agncia norte-americana procurava veicular na imprensa brasileira notcias favorveis aos Estados Unidos e, nos Estados Unidos, divulgar o Brasil. Procurava tambm difundir as tcnicas mais modernas do jornalismo norte-americano, como por exemplo a recepo e transmisso de radiofotos transmisso de radiofotos. Mas nada se comparava, em termos de glamour e apelo popular, aos programas radiofnicos e, principalmente, s produes cinematogrficas sob sua coordenao. No rdio, um dos mais importantes instrumentos de propaganda da guerra, o OCIAA apresentava programas transmitidos diretamente dos Estados Unidos ou por estaes locais. Alm de fazer a cobertura dos fatos relacionados ao andamento da guerra, as transmisses procuravam divulgar a cultura norte-americana e se contrapor propaganda de guerra do Eixo em programas como "Famlia Borges", "Baro Eixo" ou "O Brasil na Guerra". J na rea cinematogrfica, tanto os filmes de fico quanto os documentrios desempenhavam o papel de difusores culturais e ideolgicos. Na produo dos primeiros, o OCIAA contou com a colaborao das indstrias cinematogrficas de Hollywood. Procurava-se evitar a distribuio na Amrica Latina de filmes que expusessem instituies e costumes norte-americanos malvistos, como a discriminao racial, ou que pudessem ofender os brios dos latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produes de Hollywood. Outra importante iniciativa foi a criao de personagens que ajudassem a fomentar a solidariedade continental. Data dessa poca o nascimento do conhecido personagem dos Estdios Disney, o papagaio Z Carioca. O filme Al Amigos, que apresentou esse personagem ao mundo como amigo do Pato Donald, enfatizava a poltica de boa vizinhana. Vejamos o que diz Gerson Moura: "Z Carioca falador, esperto e f de Donald; sente um imenso prazer em conhecer o representante de Tio Sam e logo o convida para conhecer as belezas e os encantos do Brasil. Brasileiramente, faz-se ntimo de Donald quando este lhe estende a mo, Z Carioca lhe d um grande abrao -, que aceita o oferecimento e sai para conhecer o Brasil." Na rea da sade, a ao do OCIAA voltou-se basicamente para o controle da malria, o treinamento de enfermeiras e a educao mdica. Esses programas no tinham apenas o
objetivo poltico de obter a aprovao da populao atuao da agncia no Brasil.
Destinavam-se tambm a preparar o terreno para o provvel estacionamento de tropas norte-americanas em territrio brasileiro e para a extrao de materiais estratgicos a serem fornecidos aos Estados Unidos, ambas as questes presentes na agenda da negociao do alinhamento brasileiro. Foi nessa poca que Carmem Miranda se tornou smbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos, que o Z Carioca ajudou a construir o esteretipo do brasileiro simptico, que a Coca-Cola substituiu os sucos de frutas na mesas da classe mdia brasileira etc. etc. Apesar dos focos de resistncia sua ao, o OCIAA conseguiu erradicar a influncia do Eixo no Brasil e sedimentar o discurso pan-americanista da solidariedade continental. Terminada a guerra, o governo dos Estados Unidos encerrou as atividades da agncia, deixando a cargo embaixada americana no Brasil a conduo de algumas de suas atividades.
Z Carioca falador, esperto e f de Donald; sente um imenso prazer em conhecer o
representante de Tio Sam e logo o convida para conhecer as belezas e os encantos do Brasil. Brasileiramente, faz-se ntimo de Donald quando este lhe estende a mo, Z Carioca lhe d um grande abrao que aceita o oferecimento e sai para conhecer o Brasil. Nem preciso dizer que Donald fica deslumbrado com as paisagens e os ritmos brasileiros e inteiramente "vidrado" na primeira baiana que encontra. (Para no ferir as suscetibilidades de nossas "elites", eternamente ressentidas pelo apelido de "macaquitos" que argentinos nos aplicavam ento, ou para no desagradar as platias americanas, o fato que os estdios de Disney s puseram em cena baianas e baianos brancos; a mulata no teve vez.) (MOURA, 1988, p.78). MOURA, G. Tio Sam Chega ao Brasil. A penetrao cultural americana. So Paulo: Editora Brasiliense S.A. 1988