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Tratamento
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de Esgoto
ciples, Modeling and Design
Princípios, Modelagem e Projeto
hao Chen
.M. vanMarcelo Kenji Miki
Loosdrecht
Guang-Hao Chen
A. Ekama
Brdjanovic
Mark C.M. van Loosdrecht
G.A. Ekama
Damir Brdjanovic
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Tratamento Biológico de Esgoto
Princípios, Modelagem e Projeto
2ª edição
Guanghao Chen
George A. Ekama
Mark C.M. van Loosdrecht
Damir Brdjanovic
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nesta publicação.
eISBN:9781789063233 (eBook)
Tradutores Alexandre Magno P. da Rocha Eduardo Lucas Subtil Paulo Gustavo Sertório de Almeida
André Bezerra dos Santos Lucas Antonio O. Melgaço Paulo Igor Milen Firmino
Bruno Sidnei da Silva Carlos Lucas Brandimarte Molleta Rodrigo de Freitas Bueno
Augusto L. Chernicharo Lucas Vassalle de Castro Roque Passos Piveli
César Rossas Mota Filho Luiz Antonio Daniel Sérgio Roberto Carvalho de Souza
Daniele Vital Vich Marcelo Kenji Miki Silvio Luiz de Sousa Rollemberg
Dione Mari Morita Marcos Erick Rodrigues da Silva Theo Syrto Octavio de Souza
Moacir M. Araújo Jr Thiago Bressani Ribeiro
© 2022 Os Editores
Este é um livro de Acesso Aberto distribuído sob os termos da Creative Commons Attribution License (CC BY-NC-
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1 Desenvolvimento do Tratamento de
Esgoto
Guanghao Chen, Mark C.M. van Loosdrecht, George A. Ekama
e Damir Brdjanovic
Tradução: Marcelo Kenji Miki
anos 70), a grande maioria das terras agrícolas era bem recebido pelos agricultores da cidade, que
fertilizada com fezes humanas das latrinas. As encontraram um bom uso para esse “adubo”
civilizações antigas do Vale do Indo (já em 2000 humano. Em Amsterdã, um carrinho era dirigido
a.C.), da região do Eufrates e da Grécia usavam pelas ruas nas quais os baldes com dejetos podiam
latrinas públicas que despejavam os esgotos para os ser esvaziados. Ironicamente, o carrinho recebeu o
drenos coletores, que transportavam em conjunto nome de uma marca de água de colônia conhecida
com as águas pluviais para uma bacia de coleta fora na época: o carrinho Boldoot. No entanto, o
da cidade; a partir daí, dutos revestidos com tijolos derramamento era inevitável durante o transporte e
levavam o esgoto para campos agrícolas, sendo esvaziamento dos baldes, e os maus odores não
utilizado para irrigação e fertilização de culturas e diminuíram muito para os cidadãos. Até então,
pomares. Periodicamente fazia-se a desobstrução surgiram planos para um sistema geral de esgoto.
das tubulações de coleta com descarga do próprio Os altos custos de investimento e a incerteza
esgoto. quanto ao fluxo e manutenção do sistema de coleta
impediu a implementação de forma mais rápida.
Os romanos levaram esse conceito de sistema
mais além: em cerca de 800 a.C., foi construída a Por volta de 1900, Liernur apresentou uma
Cloaca Maxima. Inicialmente, esse sistema central solução tecnológica para a coleta de esgoto. Ele
de esgoto foi utilizado para drenar o pântano sobre desenvolveu um projeto para a coleta separada dos
o qual Roma fora posteriormente construída. Em vasos sanitários das águas cinzas e pluviais. Os
100 d.C., o sistema estava quase completo e as despejos dos vasos sanitários deveriam ser
conexões haviam sido feitas em algumas casas. O coletados através do denominado Sistema Liernur
abastecimento de água era fornecido por um de esgotamento à vácuo. Este sistema encontrou
sistema de aqueduto e o sistema de coleta de esgoto uso em várias cidades da Europa (Figura 1.1).
levava as águas residuárias geradas nos banhos
públicos e latrinas para a jusante da cidade e
finalmente para o Rio Tibre. As ruas eram lavadas
regularmente com água do aqueduto e as águas
residuárias geradas nesta lavagem eram
encaminhadas para o sistema de coleta.
O esgoto coletado não era submetido a nenhum modelagem matemática para calcular a carga
tipo de tratamento. Ao invés disso, o esgoto era máxima orgânica admissível de lançamento de
espalhado no solo como fertilizante. No entanto, esgoto em corpo receptor obtida através da curva
tornou-se cada vez mais difícil encontrar áreas de decaimento do oxigênio, de modo a evitar que a
disponíveis nas proximidades das cidades devido concentração de oxigênio dissolvido (DO) caia
aos problemas de alagamento destas áreas e a abaixo de um valor mínimo em um ponto a jusante
contínua expansão urbana. A ideia de que poderia do ponto de lançamento. Com o rápido crescimento
haver melhores soluções, como a utilização de das cidades, logo se percebeu que os rios não
"organismos", começou a surgir gradualmente conseguiriam mais lidar com as crescentes cargas
(Cooper, 2001). orgânicas. Como resposta, aumentaram-se os
requisitos para o tratamento de esgoto para obter
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a melhores eficiências de remoção. Para reduzir a
aplicação organismos já estava sendo feita no demanda de oxigênio no rio e eliminar o efeito
tratamento de esgoto através dos filtros biológicos: tóxico da amônia nas espécies aquáticas, foi
biofilmes em pedras no leito do rio. Um dos introduzido o requisito da nitrificação, levando à
primeiros filtros biológicos foi instalado em construção de muitas ETEs de filtros biológicos de
Salford próximo a Manchester, no Reino Unido, baixa taxa para remoção de matéria orgânica e
em 1893. Nos EUA, o primeiro filtro biológico foi nitrificação nos EUA, Europa e África do Sul. Em
instalado em 1901, em Madison, Wisconsin. Entre estações de tratamento de esgoto com filtro
1895 e 1920, muitos filtros biológicos foram biológico normalmente era incluída a digestão
instalados para tratar o esgoto de vilas e cidades do anaeróbia para tratar o lodo primário e o lodo do
Reino Unido. Essa rápida aplicação do filtro filtro biológico. No início, acreditava-se que a
biológico teve um efeito negativo para o processo descarga de nitrato dessas Estações de Tratamento
de lodo ativado no Reino Unido, após sua invenção de Esgoto seria benéfica porque forneceria uma
em 1913: o dinheiro de investimento já havia sido barreira contra condições anaeróbias nos rios e
gasto em filtros biológicos. lagos. No entanto, os filtros biológicos nem sempre
nitrificam muito bem - principalmente no inverno -
O processo de lodo ativado foi descoberto no devido à necessidade de alta eficiência de remoção
Reino Unido: experimentos no tratamento de orgânica antes da remoção eficiente de nitrogênio.
esgoto em reator com enchimento e descarte (o
precursor do atual reator batelada sequencial - Na segunda metade do século XX, um novo
RBS) produziram um efluente altamente tratado. problema surgiu nas águas superficiais: a
Na crença de que o lodo havia sido ativado, de eutrofização. A eutrofização representa o
maneira semelhante ao carvão ativado, o processo crescimento exagerado de algas e outras plantas
foi denominado “lodo ativado” (Ardern e Lockett, aquáticas, devido ao efeito fertilizante do
1914). nitrogênio (N) e fósforo (P) descartados nos rios.
Na década de 1960, ficou claro que o nitrogênio e
Durante a primeira metade do século XX, o o fósforo também precisavam ser removidos do
corpo receptor do lançamento de esgoto era esgoto para limitar a eutrofização, inspirando
considerado como parte integrante do processo de intensivos programas de pesquisa e sendo
tratamento. A razão pela qual o tempo de 5 dias é aplicados os campos da bacteriologia e
utilizado no teste de demanda bioquímica de bioenergética no tratamento de esgoto. Através da
oxigênio (DBO) é porque 5 dias era o tempo mais cinética de Monod (1949) do campo da
longo que a água levava para percorrer os rios no bacteriologia, Downing et al. (1964) mostraram
Reino Unido antes de chegar ao mar. O livro que a nitrificação dependia da taxa máxima de
“Stream Sanitation” de Phelps (1944) utiliza a crescimento específico dos organismos
autotróficos nitrificantes, que é mais lenta em Pasveer (1959) iniciou uma linha diferente de
comparação com a dos organismos heterotróficos. desenvolvimento baseada no trabalho de Ardern e
Em aplicações práticas reais de ETEs, implica-se Lockett, que originalmente projetaram um
que a idade do lodo deve ser alta o suficiente para processo em batelada de enchimento e descarte.
Pasveer estava se concentrando num sistema
atingir de forma consistente concentrações baixas
econômico. O sistema de vala de oxidação que ele
de amônia no efluente final. O uso da cinética de desenvolveu foi baseado no uso de apenas uma
Monod no tratamento de esgoto foi tão bem- unidade de tratamento. Não havia decantador
sucedido que ainda hoje é usado em todos os primário, decantador secundário, digestor e assim
modelos de simulação, não apenas para por diante. No processo em batelada de enchimento
nitrificação, mas também para muitos outros e descarte com alimentação contínua, as etapas de
processos biológicos. A partir da bioenergética, nitrificação e desnitrificação ocorriam no mesmo
que foi desenvolvida num nível muito avançado reator. A simplicidade e os baixos custos
por McCarty (1964), percebeu-se que o nitrato associados levaram a um uso bem amplo desta
produzido pela nitrificação poderia ser utilizado tecnologia. Além do sistema de valas de oxidação
de Pasveer, os sistemas contínuos de valas de
por algumas bactérias heterotróficas ao invés do
oxidação evoluíram, com base no mesmo princípio,
oxigênio e convertido em gás nitrogênio. Essa mas com a introdução de um decantador.
percepção levou ao sistema de lodo ativado por
nitrificação-desnitrificação, na qual partes do
reator não seriam aeradas para induzir a
desnitrificação. Com todo esse novo conhecimento,
colocou-se sucessivamente em prática e assim, o
sistema de lodo ativado tornou-se o sistema
preferido de tratamento de esgoto. O sistema de
pós-desnitrificação, no qual o reator não aerado
(anóxico) segue o reator aeróbio, foi desenvolvido
por Wurhmann (1964) na Suíça. Para aumentar a
taxa de desnitrificação no reator anóxico, propôs-
se injetar metanol para fornecer matéria orgânica
para o processo de desnitrificação. Devido aos
baixos valores de nitrogênio alcançados no efluente
com esse método, essa prática foi amplamente Figura 1.2 A primeira aplicação (piloto) do sistema de valas
Pasveer (em Voorschoten, Holanda em 1954). A
adotada nos EUA. No entanto, a adição de metanol capacidade da planta era com equivalente populacional
representa um maior gasto econômico e é bastante de 400 de 400 pessoas e 40 m3/h em tempo seco (foto:
contraditório adicionar matéria orgânica ao esgoto Van Lohuizen, 2006).
para removê-la em seguida. O sistema de pré-
desnitrificação desenvolvido por Ludzack e Entretanto para controlar a eutrofização, não é
Ettinger (1962) foi o próximo passo lógico de suficiente apenas a remoção de nitrogênio do
evolução. Em 1972 na África do Sul, Barnard esgoto. O fósforo, principalmente na forma de orto-
combinou os reatores de pós e pré-desnitrificação, fosfato com origem em detergentes e dejetos
introduzindo os fluxos de retorno para controlar o humanos, também necessita ser removido, pois em
nitrato que entra no reator de pré-desnitrificação no muitos ecossistemas o fósforo provou ser o
sistema Bardenpho de quatro estágios. Com esse principal fator limitante da eutrofização. Ao
desenvolvimento, os sistemas de lodo ativado para contrário do nitrogênio, o fósforo só pode ser
remoção de nitrogênio tornaram-se cada vez mais removido pela conversão em uma fase sólida. A
comuns. remoção de fósforo por precipitação química
seguida de filtração terciária surgiu na década de
1970. No entanto em regiões onde a água é escassa, remoção biológica de fósforo poderia ser
como os estados do sudoeste dos EUA, África do relativamente estimulada de forma fácil. Por
Sul e Austrália, o reuso indireto através da diluição exemplo, em 1974, ao otimizar a remoção de
do esgoto tratado com águas superficiais já era bem nitrogênio na ETE de lodo ativado de Alexandria
difundido e a remoção química do fósforo causaria através do desligamento dos aeradores no trecho
um rápido aumento na salinidade das águas final do tanque, Nicholls (1975) observou baixas
superficiais. Além do fato da salinidade reduzir o concentrações de fósforo (e nitrato) no efluente.
uso agrícola de águas superficiais, seu maior Foram encontradas concentrações muito altas de
impacto está na longevidade do sistema de fósforo no manto de lodo formado no fundo do
distribuição de água. Para mitigar esses impactos, reator, devido a sedimentação deste lodo com uma
as leis de recursos hídricos na África do Sul no final densidade mais alta que a do sobrenadante
da década de 1960 e no início da década de 1970 clarificado. Barnard (1976) desenvolveu o
tiveram como objetivo a recuperação total do princípio de Phoredox para a remoção biológica do
esgoto tratado para redistribuição, a fim de evitar excesso de fosfato, que introduziu ciclos
tanto a eutrofização como a salinização das águas anaeróbios e aeróbios no sistema de lodo ativado.
superficiais. Caso ocorresse um alto custo Hoje em dia a EBPR é uma tecnologia estabelecida,
decorrente da remoção química do fósforo, a água na qual a remoção e recuperação de fósforo
também poderia ser recuperada completamente e ocorrem sem aumentar a salinidade do efluente
devolvida ao sistema de distribuição e não ao meio final, abrindo a oportunidade para que o esgoto
ambiente (Bolitho, 1975; Van Vuuren, 1975). tratado possa retornar ao meio ambiente ou ser
reusado de forma eficiente. Como tantas vezes
A remoção biológica do fósforo é um processo acontece, novos desenvolvimentos são encontrados
biológico único que foi descoberto por acidente. O por mero acidente e o entendimento de como
primeiro relato de remoção biológica de fósforo funcionam ocorre posteriormente. Foram
num processo de tratamento de esgoto foi descrito necessários muitos anos de pesquisa na África do
por Srinath et al., (1959) da Índia. Foi observado Sul, Canadá e Europa para entender e controlar
que o lodo de uma determinada estação de completamente o processo e ainda hoje há muitas
tratamento exibia uma maior captação de fósforo facetas sobre o assunto que não estão claras. No
(mais do que o necessário para o crescimento das entanto, o conhecimento limitado da totalidade dos
células) quando aerada. Foi demonstrado que a princípios subjacentes nunca impediu os
captação de fósforo era um processo biológico engenheiros e cientistas de construir e operar
(inibição por substâncias tóxicas, bem como estações de tratamento de esgoto.
necessidade de oxigênio). Mais tarde, este processo
chamado de Remoção Biológica de Fósforo A crise energética nos anos 70, associada a uma
Intensificada (EBPR – Enhanced Biological crescente demanda por tratamento de esgotos
Phosphorus Removal) foi observado em outras industriais, mudou a atenção do tratamento aeróbio
estações de tratamento de esgoto com fluxo pistão para tratamento anaeróbio. A taxa mais lenta de
(plug flow). Os primeiros processos projetados (o crescimento dos microrganismos produtores de
processo PhoStrip®) para a remoção biológica de metano sempre foi uma limitação no
fósforo surgiram ainda numa época em que o desenvolvimento do processo. Em águas
mecanismo por trás do processo era desconhecido residuárias industriais mais concentradas e com
(Levin e Shapiro, 1965). No início da década de maior temperatura, o desenvolvimento dos reatores
1970, devido ao aumento da demanda por remoção anaeróbios de manto de lodo (UASB – Upflow
de nitrato assim como do estímulo para economia Anaerobic Sludge Blanket) por Lettinga e
de energia (crise energética da década de 1970) em colaboradores (Lettinga et al., 1980) significou
vários lugares do mundo, descobriu-se que a uma inovação para o tratamento anaeróbio por não
apresentar problemas para este tipo de despejo. Com a crescente demanda por melhorias na
Essa tecnologia mostrou-se viável não apenas para qualidade final do esgoto tratado, surgiu a
tratamento de águas residuárias industriais, como necessidade de se implementar melhorias nas
também poderia ser aplicada com eficiência para estações de tratamento ao invés de se construírem
esgoto doméstico em regiões tropicais da América novas estações. Por volta da virada do século
do Sul, África e Ásia. passado, isso levou ao desenvolvimento de uma
série de novos processos a serem integrados nas
A implantação de muitas estações de estações de tratamento existentes. Esses novos
tratamento de esgoto ocorreu há mais de um século processos tratavam os despejos resultantes da
e inicialmente fora da área urbana, mas hoje digestão anaeróbia do lodo ativado com altas
encontram-se em áreas residenciais. A ampliação concentrações de nitrogênio e fósforo e que eram
dessas estações tornou-se um problema e os tradicionalmente retornados para o início do
engenheiros começaram a procurar opções mais processo de lodo ativado. O retorno do clarificado
compactas de tratamento. Além disso, a indústria da desidratação do lodo para o início do tratamento
começou a tratar suas próprias águas residuárias, resulta numa alta recirculação de nutrientes no
onde o uso da terra é muito mais crítico do que para processo de lodo ativado e maiores concentrações
os Municípios. Uma linha de desenvolvimento de nitrogênio e fósforo no efluente final, podendo
bem-sucedida que começava a despontar de novo também ocasionar problemas de precipitação de
foi através dos processos com biofilme. Toda uma estruvita. A pesquisa sobre esse problema levou a
gama de novos processos foi desenvolvida (filtros muitas inovações no tratamento das correntes
biológicos aerados, reatores de leito fluidizado, secundárias geradas na desidratação do lodo. Na
reatores em suspensão, biorotores, processos de Holanda, foram desenvolvidos processos como o
lodo granular ou reatores de leito móvel) que sistema Reator Único de Alta Atividade para
superaram os problemas originais dos filtros Remoção de Amônia por Nitrito (SHARON®),
biológicos. Oxidação Anaeróbia de Amônia (ANAMMOX) e
processos avançados de cristalização mineral para
O desenvolvimento desses reatores teve origem precipitação de fósforo om o objetivo de recuperar
na década de 1970. Outro desenvolvimento e reutilizar o fósforo (Crystalactor®). Em especial,
iniciado nesse período e que só foi amplamente o processo anammox foi desenvolvido em uma
introduzido no final dos anos 90 foi o processo de variedade de tecnologias proprietárias.
lodo ativado com separação por membrana em vez
de decantadores. O avanço dos biorreatores de Na última década foi dedicada mais atenção à
membrana (MBR/Membrane Bio Reactor) foi feito recuperação de recursos. A água é um recurso
por Yamamoto e colaboradores (Yamamoto et al., óbvio a ser recuperado, assim como o biogás. Uma
1989), ao integrar um módulo de membrana de série de novas possibilidades está se abrindo, o que
fibra oca dentro do biorreator de aeração. No início mudará o planejamento e o projeto das estações de
do século 21, foi desenvolvida outra tecnologia tratamento de esgoto em um futuro próximo (Guest
compacta sem decantadores dedicados com base no et al., 2009; Kehrein et al., 2020). Exemplos de
lodo granular. Através do reconhecimento dos recursos recuperáveis são celulose, hidrogênio,
princípios básicos da morfologia de crescimento calor, polihidroxialcanoatos, fosfatos, proteínas,
granular foi possível desenvolver a tecnologia de polímeros extracelulares, etc. (Van Loosdrecht e
lodo granular aeróbio (o processo Nereda®) que Brdjanovic, 2014).
permite um processo de remoção de nutrientes
compacto e mais eficiente em termos de energia Um aspecto importante da operação de uma
(Pronk et al., 2015). ETE sempre foi sua capacidade de ser controlável.
Isto diz respeito tanto ao controle de processo
direto como indireto, como por exemplo, a Microthrix parvicella mostra-se frequentemente
sedimentação de lodo ou crescimento de biofilme. problemático nos processos com remoção de
O controle do processo tem sido um fator limitante nutrientes. Apesar de inúmeras pesquisas, que
desde o início. Ardern e Lokett (1914), bem como certamente ajudaram a obter uma melhor
Pasveer, tentaram minimizar os custos através da compreensão das causas e do controle dos
adoção de ciclos em batelada de preenchimento e organismos filamentosos, ainda não é claramente
descarte na estação de tratamento, onde também compreendido até que ponto a sedimentação de
ocorreria a decantação. De fato, a tecnologia lodo é quantitativamente previsível para diferentes
Nereda® também se baseia neste princípio. Este sistemas de lodo ativado. Isso significa que devem
tipo de operação demanda uma automação de ser construídos decantadores secundários maiores
processos. Desde o início dos anos 1970, a do que o necessário de forma a atender a possíveis
instrumentação, controle e automação (ICA – períodos de baixa sedimentabilidade do lodo. Nos
Instrumentation, Control and Automation) últimos anos, o entendimento da morfologia do
atraíram a atenção da indústria de água e esgoto. biofilme e do lodo aumentou significativamente e
Desde então, o desenvolvimento técnico de novos estes campos do conhecimento parecem ter se
processos, tecnologia de sensores e unificado. Um resultado desses desenvolvimentos
instrumentação, desempenho de computador, teóricos é o aparecimento do lodo granular aeróbio
tecnologia de comunicação e Internet das Coisas, que pode ser visto como o extremo oposto do lodo
métodos de detecção, teoria de controle e filamentoso, ou ainda, como uma forma particular
inteligência artificial fez significativos progressos do processo de biofilme (Beun et al., 1999).
em sistemas de alerta, monitoramento e operação
de estações de tratamento de esgoto. Esta melhoria Outra grande preocupação é a eliminação de
na tecnologia de ICA feita nas últimas décadas patógenos no esgoto tratado e no lodo, de forma a
significou uma maior confiabilidade no controle do promover a disposição final ambientalmente
processo e consequentemente o retorno do uso dos sustentável. O fato do esgoto conter organismos
reatores em batelada (por exemplo, tecnologia patogênicos foi a razão inicial das implantações em
Nereda®). As crescentes demandas dos padrões de grande escala, há 150 anos, dos sistemas de coleta
emissão de esgoto tratado combinadas com uma e das estações de tratamento de esgoto. Este fato foi
demanda para economizar e recuperar recursos mais ou menos esquecido até o meio do século 20,
induziram a necessidade de um maior controle do quando a cloração para desinfecção de esgoto
processo. Embora os modelos matemáticos já tratado entrou em uso. Esse processo foi
tivessem sido desenvolvidos nos primórdios dos parcialmente abandonado devido aos compostos
processos de tratamento de esgoto, só se tornaram cancerígenos gerados durante a cloração final do
amplamente utilizados com a introdução de esgoto. Recentemente a desinfecção tornou-se de
computadores pessoais de baixo custo e a novo uma preocupação, desta vez com o uso de
existência de um modelo de lodo ativado unificado tecnologias como filtros, UV e ozonização. Com o
(Henze et al., 1987). avanço da abordagem da recuperação de recursos,
bem como um maior direcionamento para
Outro motivo de investigação por parte dos processos de tratamento individualizado, a
pesquisadores foi o controle das propriedades do desinfecção tem recebido atenção renovada
lodo, merecendo a atenção a ocorrência de recentemente. A disposição final de lodo no solo
microrganismos filamentosos e espumas causadas era originalmente um problema de risco à saúde
por grupos bacterianos específicos. A aplicação de devido ao risco de propagação de patógenos.
sistemas seletores (Chudoba, 1973) para controle Atualmente, a disposição final de lodo no solo está
de bactérias filamentosas tem muitos casos bem- se tornando cada vez mais limitante (também à
sucedidos. No entanto, o organismo filamentoso medida que os padrões de segurança alimentar
tendem a aumentar) e o manuseio do lodo se torna para projetar e dimensionar novas estações de
cada vez mais importante. Para minimizar o tratamento, bem como modernizar as instalações
problema do lodo, especial atenção vem sendo antigas. Esta preocupação se estende também aos
dada a drenabilidade e desidratação como foco de operadores de estação de tratamento de esgoto para
pesquisa. Quando a desidratação do lodo é feita de que possam controlá-las, atingindo os limites das
modo eficiente, a incineração pode ser utilizada tecnologias e processos desenvolvidos até o
como um meio de recuperar a energia e o fósforo momento. Isso é particularmente pertinente nos
contidos no lodo. países em desenvolvimento, onde a incerteza
política e econômica resulta em perda de recursos
As demandas no sistema de esgoto estão humanos qualificados para os países
aumentando continuamente e hoje em dia uma desenvolvidos. Com o desenvolvimento da
atenção cada vez maior vem sendo dada aos tecnologia nos últimos 40 anos, o domínio
emergentes micropoluentes que podem se profissional se expandiu de uma atividade de
acumular no ciclo da água ou afetar os ecossistemas engenharia civil para uma atividade mais baseada
naturais. A escassez de água levará a um maior em disciplinas de engenharia de processos e
desenvolvimento e implementação de tecnologias microbiologia. Em muitas universidades, foram
para recuperação e reuso da água. O reuso da água desenvolvidos currículos dedicados à engenharia
não se limita apenas a regiões com escassez hídrica. ambiental de forma a conectar essas duas
Em áreas com recursos hídricos abundantes, como disciplinas. Hoje em dia, os processos e tecnologias
a Europa Ocidental, as regulamentações e são combinados de tal forma, criando sistemas
demandas locais podem tornar economicamente complexos de tratamento e levando
viável o reuso do esgoto tratado na indústria ao necessariamente ao uso de modelos que lidam com
invés da exploração dos recursos hídricos naturais. os cálculos envolvidos nesses sistemas. Portanto,
Todos esses desenvolvimentos demandam tempo e, hoje temos uma complexidade no tratamento de
após mais de um século de desenvolvimento em esgoto nunca antes vista. Esta situação pode ser um
separado, o tratamento de esgoto e o tratamento de tanto confusa e é assoberbada na medida em que
água potável estão cada vez mais se aproximando. várias empresas se esforçam por comercializar
Um caso de sucesso vem de Hong Kong, onde água processos e tecnologias proprietários. Esta segunda
do mar é utilizada para descargas de vasos edição atualizou e/ou revisou a maioria dos
sanitários desde 1958. Atualmente, esta prática capítulos da primeira edição publicada em 2008 e
atinge mais de 80% da população (7 milhões de inclui novos desenvolvimentos, tais como o lodo
habitantes), economizando 750.000 toneladas de granular aeróbio e tratamento de esgoto à base de
água doce por dia com um consumo menor de enxofre. Todos esses processos e tecnologias se
energia em comparação com a dessalinização de baseiam nos mesmos processos básicos e, como já
água do mar por osmose reversa (Chen et al., 2012; foi dito: 'as bactérias não têm ideia da forma do
Van Loosdrecht et al., 2012). Esta prática de reator ou do nome da tecnologia, simplesmente
abastecimento com dois sistemas de água permitiu denitrificam onde há nitrato e fonte de carbono,
o desenvolvimento do processo de tratamento de sem presença de oxigênio.'
esgoto à base de enxofre (ou seja, o processo
SANI®, Wang et al., 2009) com a agência local
responsável pelo tratamento de esgoto.
de Drenagem, HK).
12
aeração e mistura adequada. Esses processos são Os microrganismos são retidos no processo de
descritos em outros capítulos deste livro. tratamento como flocos, grânulos e/ou biofilmes.
As pressões seletivas são geradas agindo sobre, por
2.1.2 O crescimento microbiano como exemplo, a disponibilidade de nutrientes, doadores
uma unidade funcional de elétrons (doravante denominados e-doadores),
na maioria das vezes matéria orgânica e aceptores
Aqui nos concentramos nos aspectos básicos do de elétrons (e-aceptores), como oxigênio
crescimento microbiano, como ele pode ser dissolvido (O2) ou óxidos de nitrogênio (NOx),
monitorado e estudado, e como ele pode ser como nitrito (NO2˗) ou nitrato (NO3˗). Essas
descrito matematicamente. Baseia-se variáveis são manipuladas pelos projetistas e
simplesmente em como os microrganismos obtêm operadores da ETE para definir as condições
sua energia celular a partir de reações químicas necessárias para sustentar o crescimento e as
redox ou, alternativamente, de luz (catabolismo) e conversões microbianas. Limites ambientais
como eles implementam essa energia para manter adicionais podem impactar os bioprocessos, como
sua célula (manutenção) e sintetizar nova biomassa por exemplo o pH, a temperatura e a
a partir dos nutrientes disponíveis (anabolismo). Os disponibilidade de luz. Ao projetar o sistema, as
sistemas de crescimento microbiano estão limitações de nutrientes, aeração e quantidade de
relacionados a uma combinação triangular de biomassa podem ser superadas.
elementos, elétrons e energia. Com base nisso, o
crescimento microbiano pode ser formulado como O projeto e a operação de ETE estão vinculados
uma reação química caracterizada por ao gerenciamento dos tempos de detenção
estequiometria (rendimentos), cinética (taxas) e hidráulica (TDH) e do lodo (TRS – tempo de
termodinâmica (energia livre de Gibbs). retenção de sólidos ou idade do lodo). Isso
Essencialmente, qualquer reação redox com direciona a seleção de microrganismos com base
energia de Gibbs negativa pode ser considerada nas taxas de crescimento e nos rendimentos da
uma potencial reação catabólica para geração de produção de biomassa sobre os substratos. O
energia para o crescimento microbiano. É essa desacoplamento do TDH (várias horas) do TRS
versatilidade na conversão de compostos químicos (vários dias) tem como objetivo manter os
que é explorada no tratamento de esgoto. microrganismos nos tanques. Microrganismos que
podem lidar com o TRS aplicado serão
2.1.3 Engenharia da Comunidade selecionados; os outros serão eliminados do
Microbiana processo. A afinidade por substratos desempenha
um papel limitado em sistemas de esgoto. As
A engenharia da comunidade microbiana é conversões em flocos e biofilmes e a transferência
aplicada para selecionar as associações de de massa dos grânulos são limitadas pelas
microrganismos naturais que podem converter resistências à difusão. Além de fatores
compostos residuais em compostos inofensivos ou determinísticos, que podem ser controlados por
novos recursos. O estabelecimento de nichos engenheiros, outros tipos de fatores estocásticos ou
microbianos é guiado pela ecologia microbiana. probabilísticos podem impactar a presença de
Uma boa combinação de princípios de engenharia microrganismos nos sistemas de lodo ativado.
ecológica pode ajudar a prever a seleção, a Estes compreendem a dinâmica nas composições
conversão de e a competição entre microrganismos químicas e biológicas do esgoto e nas condições
como base para a concepção do processo ambientais.
(Kleerebezem e Van Loosdrecht, 2007; Lawson et
al., 2019).
Figura 2.1 Árvore da vida (celular), delineando os domínios Archaea (azul), Bacteria (amarelo), e Eukarya (roxo). O domínio
bacteria apresenta uma ampla diversidade de microrganismos. O tamanho do genoma dos diferentes tipos de células é
apresentado pelo gráfico de barras, na escala de 1.000-40.000 de genes codificadores de proteínas relacionados a elementos
não transponíveis presentes em seu DNA. Bacteria e Archaea exibem pequenos genomas que podem evoluir rapidamente via,
por exemplo, transferência horizontal de genes. Vírus e fagos não são exibidos na árvore, uma vez que o posicionamento
desses organismos está em ativo debate.
Vírus e fagos são pedaços de informação materiais não vivos, na árvore da vida (Brussow,
genética (RNA ou DNA) empacotados em uma 2009; Moreira e Lopez-Garcia, 2009). Além da
cápsula de proteína. Eles transferem esse DNA ou omissão de vírus, a transferência horizontal de
RNA para as células vivas do hospedeiro (bactérias genes entre microrganismos desafia o conceito de
para fagos), onde é multiplicado. Embora os vírus árvore na teoria unificadora da biologia. Este
geralmente não sejam considerados organismos capítulo, para simplificar, mas tendo isso em
vivos como tais, às vezes são incluídos na definição mente, se restringirá à descrição da vida celular ao
de microrganismos. Por meio do processo de se referir aos microrganismos.
infecção, os fagos moldam as comunidades,
geralmente impactando as populações Além de sólidos em suspensão do afluente, a
predominantes. Os vírus são classificados em vírus biomassa de ETE contém microrganismos
de arqueias, bacteriófagos e vírus de eucariotos, procarióticos e eucarióticos selecionados, além de
com base em seus alvos celulares. Os vírus e fagos metazoários, como nematóides ou vermes
geralmente não são exibidos na árvore da vida oligoquetas. Estes, como os protozoários, predam a
(celular). Em suma, eles são polifiléticos e têm biomassa microbiana e, portanto, influenciam a
várias origens evolutivas. As linhagens virais não composição das comunidades microbianas e a
compartilham uma única origem comum, como estrutura dos biofilmes (Jürgens et al., 1997; Klein
LUCA para microrganismos celulares, nem et al., 2016). A morfologia dos vários grupos de
compartilham características com as células. No organismos pode ser observada por microscopia
entanto, há um debate sobre onde posicionar os (Figura 2.2).
vírus, que não podem ser descartados como
Figura 2.2 Procariotos e eucariotos do lodo ativado: A) estrutura de células procarióticas (0,5 a 5 μm) e eucarióticas (5 a 100
μm); B) morfologia das bactérias; C) morfologia dos protozoários; e D) organismos multicelulares. Figuras retiradas de Comeau
et al. (2008), em Metcalf e Eddy (2014) e Rittman e McCarty (2001) (adaptado).
Tabela 2.2 Composição química e demanda química de oxigênio teórica (DQOt) de células microbianas e substâncias orgânicas
(adaptado de Comeau et al., 2008).
Composto Fórmula química Peso (SSV) DQO/SSV (g/g)
CHON (g/mol) DQOt
Biomassa
C1H1,8O0,5N0,2a) 24,6 33,6 1,366
C1H1,8O0,5N0,2P0,03S0,02b) 26,2 35,8 1,366
C5H7O2N 113 160 1,42
C5H7O2NP1/12 113 160 1,42
C60H87O23N12P 1343 1960 1,46
C6H7,7O2,3N 131 193 1,48
C18H19O9N 393 560 1,42
C41,3H64,6O18,8N7,04 960 1369 1,43
C4H6O2 86 144 1,67
Substância orgânica
Caseína C8H12O3N2 184 256 1,39
Orgânicos médios C18H19O9N 393 560 1,42
Carboidratos C10H18O9 282 320 1,13
Gorduras, óleos C8H6O2 134 272 2,03
Óleos: ácido oleico C18H34O2 254 880 3,46
Proteína C14H12O7N2 320 384 1,2
Glicose C6H12O6 180 192 1,07
Ácido metanoico CH2O2 46 16 0,35
Acetato C2H4O2 60 64 1,07
Ácido propiônico C3H6O2 74 112 1,51
Ácido butanoico C4H8O2 88 160 1,82
Metano CH4 16 64 4
Hidrogênio H2 2 16 8
a)
Fórmula C-mol de quatro elementos da fração "volátil" da biomassa, usada por Heijnen e Kleerebezem (2010). O grau de redução
(γ; ver Seção 2.4.3) da biomassa é de 4,2 mol de elétrons por C-mols de biomassa, relativo a uma DQOt de 33,6 g de DQO por mol
de biomassa. O fator de multiplicação entre o grau de redução e a DQOt é de 8 g de DQO por mol de elétrons. b) Fórmula estendida
de seis elementos, compreendendo P e S como elementos adicionais.
As composições elementares podem ser pares de bases). Esses pares de bases são formados
medidas para matéria orgânica e diferentes tipos de por ligações A-T e C-G. As unidades de açúcar-
biomassas. A matéria orgânica de esgoto exibe uma fosfato fornecem a estrutura principal do DNA. A
composição elementar de, por exemplo, C11H18O5 quantidade total de genes codificados pelos
(or C1H1,6O0,45). Organismos fototróficos nucleotídeos de uma célula é chamada de genoma.
maximizam seu rendimento de crescimento usando Em procariotos, o DNA genômico está disperso no
energia luminosa para assimilar uma alta fração de citosol como um único cromossomo circular
nutrientes. Por exemplo, bactérias fototróficas amorfo (nucleóide). O DNA pode assumir outras
roxas (C1H1,8O0,38N0,18) assimilam até 100:7:2 formas, como elementos genéticos móveis que são
gDQO, gN, gP, respectivamente (contra 100: 5: 1 trocados entre as populações microbianas. A
para lodo ativado). As algas eucarióticas podem transferência horizontal de genes é um aspecto
assumir a forma de C106H263O110N16 (ou importante subjacente à resistência antimicrobiana.
C1H2,5O1,04N0,15). Ao medir as composições Nos eucariotos, o DNA está contido no núcleo,
elementares, deve-se ter em mente se as células organizado como vários cromossomos lineares.
contêm polímeros de armazenamento intracelular.
Polifosfato ou glicogênio impactam as medições Os ácidos ribonucleicos (RNA) são fitas
elementares. Deve-se considerar a composição simples de centenas de nucleotídeos com uma
elementar de "biomassa celular ativa", sem esses estrutura 3D complexa. O RNA é composto dos
compostos de armazenamento. mesmos nucleotídeos do DNA, exceto que a timina
é substituída por uracila (U). Na vanguarda da
2.2.2.3 Macromoléculas celulares regulação celular, o código de nucleotídeos contido
nos genes no nível do DNA é transcrito em
Os ácidos nucleicos constituem os monômeros das sequências de RNA. O RNA assume diferentes
moléculas que contêm informações genéticas na formas. O RNA mensageiro (RNAm) carrega a
célula (DNA e RNA). As sequências de fitas de informação genética traduzida do DNA para os
ácidos nucleicos são, por convenção, fornecidas na ribossomos para sintetizar proteínas. O RNA
direção 5'-para-3'de sua síntese por meio da ação de transportador (RNAt) fornece aminoácidos aos
polimerases. A extremidade 5'(upstream) ribossomos. O RNA ribossomal (RNAr) liga
corresponde à posição do grupo fosfato no quinto aminoácidos para produzir peptídeos e proteínas.
carbono do anel de açúcar. A extremidade
3'(downstream) se refere ao substituinte hidroxil As proteínas são polímeros de aminoácidos.
não modificado no terceiro carbono. O DNA Eles podem conferir estrutura (por exemplo, no
contém uma fita dupla de ácidos nucleicos; O RNA EPS) ou são os catalisadores básicos (ou seja,
é uma fita simples de ácidos nucléicos. O genoma enzimas) para conversões bioquímicas em células.
de procariotos e eucariotos é armazenado no DNA. As enzimas podem estar localizadas
Os vírus e fagos armazenam informações genéticas intracelularmente no citoplasma, na membrana
no DNA ou no RNA, dependendo de seus tipos. celular voltada para o ambiente intracelular ou
extracelular ou atravessar a membrana, ou
O ácido desoxirribonucleico (DNA) armazena excretadas no meio extracelular.
a informação genética das células em sequências de
milhões de nucleotídeos compostos de adenina (A), Lipídios (Barák e Muchova, 2013) e
citosina (C), guanina (G) ou timina (T), um açúcar polissacarídeos (Misra et al., 2015) estão
pentose (desoxirribose) e um grupo ortofosfato. O envolvidos em diferentes funções das células
DNA é uma dupla hélice formada por duas fitas de microbianas. Fosfolipídios estruturais e
polinucleotídeos ligados por ligações de glicoconjugados são componentes primários das
hidrogênio entre pares de nucleobases (ou seja, paredes e membranas celulares. Os lipídios são
Os polifosfatos são cadeias lineares de fosfatos, reversível para clivar o polifosfato, em paralelo,
cuja carga negativa é estabilizada por cátions como com exo e endopolifosfatases. Em ciclos de
K+ e Mg2+. A ligação éster-fosfato, rica em energia, luz/escuridão e regimes de abundância/escassez, as
é a mesma presente na molécula transportadora de microalgas armazenam amido ou lipídios, que
energia universal das células (ATP; Seção 2.2.3), podem ser usados para produzir biocombustíveis.
que contém uma cadeia de 3 fosfatos. Na maioria Bactérias como Microthrix podem armazenar
das bactérias, o polifosfato é usado como reserva lipídios, principalmente quando há fornecimento
de fosfato e apenas um grupo limitado (mas de lipídios como substratos de crescimento.
importante para o tratamento de esgoto) de
bactérias o usa como composto de armazenamento
de energia. É sintetizado por meio de polifosfato
quinases. Estas podem funcionar de forma
Figura 2.5 Detecção de células microbianas embutidas nas matrizes EPS em criosseções do RBN lodo granular por análise
fluorescente de ligação de lectina (FLBA) combinada com microscopia confocal de varredura à laser (CLSM). Glicoconjugados
são corados com as lectinas verde fluorescentes de Helix aspersa (HAA) e aglutinina de germe de trigo (WGA) (em verde). A)
Microrganismos são corados com Sypro 60, que se liga às proteínas (em Vermelho) e B) com Vermelho do Nilo, que se liga às
inclusões lipofílicas (em Vermelho); C) detecção dos glicoconjugados em torno dos aglomerados de células. D) Detecção do
DNA extracelular (eDNA) na matriz do biofilme granular, com coloração DDAO. Fonte: Weissbrodt et al., 2013.
EPSs fornecem a "cola" para associações eliminadas de seu nicho ecológico. Mídias de
celulares na matriz de flocos de lodo ativado, biofilme e grânulos são usados em ETE para
biofilmes e grânulos. Organismos Zoogloea são desacoplar o TRS do TDH e para manter uma alta
conhecidos por produzir EPSs e são descritos como concentração de biomassa, a fim de atingir taxas de
formadores de floco. No entanto, a composição dos conversão volumétrica suficientemente altas. Uma
EPSs ainda não está muito bem caracterizada descrição detalhada dos biofilmes é fornecida nos
(Seviour et al., 2019). Sob desequilíbrios C/N, uma capítulos 17-18.
superprodução de EPSs em lodo ativado pode levar
a fenômenos de bulking viscoso desfavoráveis,
durante os quais os flocos perdem sua densidade
devido ao aprisionamento de água na matriz de
EPSs. A imobilização de células por EPSs é
essencial na natureza para evitar que sejam
Figura 2.6 Combinação de vias catabólicas (rosa) e anabólicas (verde) para a decomposição de substratos (setas vermelhas) e
biossíntese de componentes de biomassa (setas verdes). Os catabolismos respiratórios envolvem a glicólise, o ciclo de Krebs
e a cadeia transportadora de elétrons. Os catabolismos fermentativos envolvem somente a glicólise. A ilustração é dada
principalmente para a dissimilação da glicose. Glicose (6 carbonos), após a fosforilação em nível de substrato, é dividida em
duas moléculas de piruvato de três carbonos. Nas fermentações, elétrons acabam no produto da fermentação. No caso das
respirações, o piruvato é posteriormente convertido em acetil-CoA (2 carbonos). Ao entrar no ciclo de Krebs, o acetil-CoA reage
com o oxaloacetato (4 carbonos) para formar citrato (6 carbonos), enquanto libera a CoA. O citrato é então divido em
carboxilatos intermediários de 4 carbonos, perdendo átomos em etapas, com a liberação concomitante de O2. O catabolismo
rende a produção de energia celular como ATP, que será fornecido para sustentar a manutenção celular e conduzir as reações
anabólicas. Nas diferentes partes do catabolismo, o ATP é consumido (nas primeiras etapas da glicólise) ou produzido (nas
últimas etapas da glicólise e no ciclo de Krebs, como GTP). Elétrons são liberados como NADH na glicólise, mas principalmente
no ciclo de Krebs para a respiração de microrganismos. As respirações estão ligadas ao envolvimento da cadeia de transporte:
elétrons são entregues por transportadores de elétrons, como NADH e FADH2 e processados passo a passo através de uma
série de cinco proteínas de membrana. Três dessas exportam prótons liberados pelos portadores de elétrons, gerando uma
força motriz de prótons para conduzir a fosforilação oxidativa do ADP em ATP, sob a ação da ATP sintase giratória. Os vários
intermediários produzidos no catabolismo podem ser usados em reações anabólicas para formar constituintes celulares, tais
como aminoácidos (para a síntese de proteínas), carboidratos, lipídios e nucleotídeos (para síntese de ácidos nucleicos). (A
imagem foi construída com base nas informações fornecidas em http://classes.midlandstech.edu/).
informação genética para os ribossomos para a atividade enzimática depende das concentrações de
síntese de proteínas. O código genético fornecido metabólitos (metaboloma) envolvidos nas reações
pelo RNAm é traduzido em proteínas (o proteoma). bioquímicas. As conversões metabólicas resultam
O RNAt fornece aminoácidos aos ribossomos. O em um fluxo de metabólitos (fluxoma) dentro das
RNAr liga resíduos de aminoácidos em peptídeos e células.
proteínas. A ativação pós-tradução de proteínas
leva à formação de enzimas (enzimoma). A
Figura 2.7 Regulação metabólica e molecular em células microbianas: A) O crescimento microbiano requer funções de
codificação e máquina, para funcionar. O DNA serve para replicação e expressão gênica, primeiro pela transcrição do DNA em
RNA e, em seguida, pela tradução do RNA em proteínas. Fonte: Comeau et al. (2008) em Madigan et al. (2018) (adaptado); B)
do DNA aos metabólitos: múltiplos níveis na biologia molecular e regulação metabólica das células microbianas.
Figura 2.8 Sistemática nos grupos tróficos de microrganismos, usando uma combinação de código de prefixos para a (i) fonte
de energia proveniente de uma reação redox química (quimio) ou luz (foto-); (ii) fonte de elétrons proveniente de um doador
de elétrons orgânico (organo-) ou inorgânico (lito-); (iii) fonte de carbono proveniente de CO2 (auto-) ou de um composto
orgânico (hetero-). Os termos podem ser complementados com um adjetivo que caracterize os tipos de respirações ou
fermentações conduzidas pelos microrganismos. Além do oxigênio dissolvido (respiração aeróbia), os microrganismos podem
realizar respirações anaeróbias usando compostos inorgânicos (por exemplo, nitrito, nitrato) ou orgânicos (por exemplo
tetracloroeteno) como aceptores finais de elétrons. Nas fermentações, os elétrons são realocados do piruvato para compostos
orgânicos, como etanol, lactato e ácidos graxos voláteis, bem como dihidrogênio, como um produto inorgânico da
fermentação. As respirações anaeróbias caracterizadas por microbiologistas são descritas na engenharia ambiental como
ocorrendo em condições anóxicas. Os fototróficos abrigam uma diversidade de microrganismos de roxos a verdes. Nos
fototróficos, os fótons de luz entregam energia para energizar os elétrons fornecidos por um doador de elétrons, ou seja, água
pelos fototróficos oxigênicos (a divisão da água para entregar elétrons para a célula resulta na formação de O2), ou compostos
inorgânicos (por exemplo H2S) ou orgânicos (por exemplo acetato), pelos fototróficos anoxigênicos. Embora seja comum
classificar microrganismos de acordo com uma conversão primária, deve-se ter em mente que microrganismos são versáteis
por natureza e podem apresentar diferentes tipos de metabolismos, a depender das condições ambientais. A mixotrofia
também é comum.
Tabela 2.3 (continuação) Semântica de microbiologia e engenharia ambiental (aeróbia, anaeróbia, óxica e anóxica) usada para
descrever as relações dos microrganismos e processos, na presença ou ausência de aceptores finais de elétrons.
Adjetivo Etmologia Semântica microbiológica Semântica de engenharia
Fermentativo Fermentação Processo de fermentação
- Nenhum aceptor final de elétrons - Para uma RBAF eficiente, a matéria
externo. Os elétrons são realocados orgânica particulada deve ser hidrolisada em
em um composto orgânico interno substratos solúveis, que são fermentados em
produzido no metabolismo. AGVs antes da absorção por OAPs e OAGs
no tanque anaeróbico do processo A2 / O.
- Metanogênicos são - Açúcares lignocelulósicos podem ser
quimioorganoheterotróficos eficientemente convertidos em AGVs, por
fermentativos. meio da fermentação de cultura mista.
respiram NH4+, com NO2- ou NO como aceptores como o H2, usando luz, e construir biomassa a
de elétrons. partir de compostos orgânicos, como o acetato.
Figura 2.9 Das conversões microbianas às associações microbianas e populações microbianas, em ETE com remoção biológica
de nitrogênio. Envolvimento dos nutrientes C, N e P nos principais processos catabólicos e anabólicos das populações
bacterianas presentes no lodo ativado. Nas conversões, os termos coloridos (aeróbio, anóxico e anaeróbio) são fornecidos no
léxico de engenharia. Os termos microbiológicos correspondentes são dados em cinza (anaeróbio x anóxico, fermentativo x
anaeróbio).
Tabela 2.4 Classificação trófica de microrganismos em ETE e em ERAR (adaptado de Rittmann e McCarty, 2001; Metcalf e Eddy,
2003).
Fonte de energia
Fonte de carbono
Doador de elétrons Aceptor de elétrons Produtos típicos
Quimiotróficos
¯ ¯
Desnitrificantes Orgânico NO3 , NO2 N2, CO2, H2O Orgânico
2¯
Redutores de sulfato Acetato SO4 H2S Acetato
+ ¯
Nitrificantes: BOA NH4 O2 NO2 CO2
Quimiolitoautotróficos
¯ ¯
Nitrificantes: BON NO2 O2 NO3 CO2
¯ ¯
Desnitrificantes H2 NO3 , NO2 N2, H2O CO2
¯ ¯ 2¯
Desnitrificantes S NO3 , NO2 N2, SO4 , H2O CO2
0 2¯ 2¯
Oxidadores de sulfato H2S, S , S2O3 O2 SO4 CO2
Fototróficos
Microalgas, cianobactérias H2O CO2 O2 CO2
Fotolitoautotróficos
Bactérias verdes sulfurosas, bactérias H2S CO2 S (0) CO2
verdes filamentosas, bactérias roxas
sulfurosas
Figura 2.10 Uma maneira fácil de delinear o sistema de crescimento das associações microbianas. A) Isso ilustra associações
típicas do ciclo do nitrogênio, chamadas de organismos oxidadores de amônia (OOA) aeróbios, organismos oxidadores de
nitrito (OON) aeróbios, organismos anammox (OAM) e organismos desnitrificantes heterotróficos (ODH). O sistema de
crescimento dessas associações metabolizadoras principais pode ser analisado individualmente quanto à sua fonte de C, fonte
de N, doador e aceptor de elétrons; B) além das principais associações de metabolização, as comunidades microbianas do lodo
ativado abrigam uma diversidade de populações de flanco, que foram postuladas para "conectar" o microbioma. No entanto,
são necessárias medições factuais para elucidar a conectividade. Essas peças individuais podem então ser montadas no nível
do microbioma para delinear as interações metabólicas. As rodas dentadas representam os microrganismos e os círculos
internos representam os seus genomas montados. Fonte: baseado em Weissbrodt et al. (2020).
crescimento mais baixa medida até agora) a 15 °C, Os fótons conduzem processos fototróficos em
mesófilos entre 15-40 °C, termófilos entre 40-70 faixas de luz visível (VIS, 400-750 nm) e
°C e hipertermófilos entre 70-110 °C. infravermelho próximo (NIR, 780 nm a 3 μm). O
Microrganismos operando em alta temperatura crescimento raramente foi relatado em
geralmente crescem mais rápido. Ao aumentar a comprimentos de onda de energia mais baixa no
temperatura, um aumento gradual na taxa de infravermelho médio (MIR, 3-50 μm) ou distante
crescimento é observado, até que uma queda (FIR, 50-1.000 μm). FIR é usado em fotomedicina
abrupta é observada devido à desnaturação térmica para ativar células humanas. Comprimentos de
das proteínas. Relações diferentes podem descrever onda curtos (ou seja, altas energias) podem ser
a dependência da temperatura. Em química, a inibitórios ou letais para os microrganismos
equação de Arrhenius descreve a dependência quimotróficos e fototróficos. O efeito bactericida
exponencial da constante de velocidade específica da radiação ultravioleta (UV, 10-400 nm) é usado
(k) para a razão de energia de ativação da reação para desativar microrganismos. O efeito da luz nas
para a temperatura (T) do sistema: k = A · e– Ea/(R · taxas biológicas de fototróficos pode ser modelado
T)
, com a constante pré-exponencial A e a constante de diferentes maneiras (Schoener et al., 2019).
dos gases perfeitos R. No tratamento biológico de Tanto a irradiância da luz quanto o comprimento de
esgoto, as taxas são expressas com um coeficiente onda devem ser levados em consideração ao
de temperatura θ, por exemplo, para taxa de abordar os impactos da luz no crescimento
crescimento específica de biomassa qX (ou μ microbiano. Uma aproximação simples é usar
historicamente): qX(T) = qX(Tref) · θ(T-Tref). O termos Monod como I/(KI + I) com intensidade de
coeficiente de temperatura Q10 mede a taxa de luz I (W/m2 ou J/s.m2). Seguindo a lei de Lambert-
mudança sob um aumento de 10 °C em um sistema Beer de absorbância de luz, a intensidade da luz
biológico: Q10 = (R2/R1)10/(T2-T1). Como regra residual no sistema biológico diminuirá
geral, um aumento de 10 °C leva a taxas 2-3 vezes proporcionalmente ao crescimento e concentração
maiores de conversão e crescimento. celular.
O pH mede a atividade de H+. Os gradientes de Fatores químicos podem ativar, limitar ou inibir
pH através da membrana plasmática da célula o crescimento. A inibição pode ser reversível ou
conduzem a bioenergética celular e as taxas de irreversível. Falamos de toxicidade ou letalidade
crescimento. As forças próton-motivas são usadas quando conduzimos à morte celular. Dependendo
pelos organismos que respiram para geração de da concentração, o mesmo elemento, íon ou
ATP por fosforilação oxidativa. Em modelos substância pode promover o crescimento ou ser
metabólicos, o coeficiente α expressa a inibidor e tóxico. Os testes de (eco)toxicidade
dependência de um rendimento de crescimento ao fornecem curvas de dose-resposta ao contatar
pH. Ele representa o ATP necessário para microrganismos, algas, insetos ou células de
transportar o substrato através da membrana mamíferos para aumentar as concentrações de
celular. A dependência do pH de uma taxa produtos químicos. Os valores de EC50, IC50 e LC50
biológica pode ser expressa com um termo Monod expressam concentrações químicas que levam à
como 10-pH/(KpH + 10-pH). As taxas biológicas metade da resposta efetiva, inibitória e letal
podem ser dependentes da temperatura e do pH, e máxima, respectivamente. Existem vários termos
das combinações desses dois parâmetros, tais de inibição na literatura. Eles podem ser
como: qi(T, pH) = qi(Tref, pHref) · θ(T-Tref) · 10- aproximados como termos Monod inversos, como
pH
/(KpH + 10-pH) (Lopez-Vazquez et al., 2009; KI,i / (KI,i + SI,i) com SI,i sendo a concentração do
Weissbrodt et al., 2017). composto inibitório dissolvido e KI,i a constante
inibitória de meia-saturação.
2.3.1 Análise de caixa preta a cinza e mãos dadas com fluxos de trabalho de laboratório
branca de microbiomas “seco” de bioinformática e bioestatística.
Nos últimos 100 anos de lodo ativado, o setor de Vários apelos foram feitos nas últimas décadas
engenharia de esgoto desenvolveu, em paralelo, para estabelecer uma ponte entre a ecologia
métodos analíticos de microscopia, microbiologia, microbiana e a biotecnologia ambiental, mas, vinte
ecologia microbiana, bioquímica, ecofisiologia, anos depois, essa necessidade continua sendo o
biologia molecular e microbiologia de sistema. status quo. Os campos de engenharia de processos
e ciências da vida e ambientais se especializaram
A partir das primeiras observações de forma totalmente independente, juntamente com
microscópicas de "animálculos" em fluidos feitas expansões em poder analítico e computacional.
por Van Leuwenhoek no século 17, as biociências Novos métodos e fluxos de trabalho podem gerar
analíticas fizeram um progrsso ininterrupto. Agora novas perguntas de pesquisa, enquanto a escolha do
nos beneficiamos de uma variedade de métodos método depende do objetivo definido no início da
para identificar comunidades microbianas, detectar investigação. São necessários o confronto
e caracterizar microrganismos (ou seja, morfotipos, multilateral e a integração das expectativas e
filotipos, genótipos) e examinar seus metabolismos princípios de microbiologia, biotecnologia e
(ou seja, fenótipos). Passo a passo, novos métodos engenharia.
tornaram possível 'ligar a luz sobre o lodo' e passar
de uma descrição de caixa preta para uma análise
mais caixa-cinza das comunidades microbianas,
2.3.2 Moléculas informacionais dos
que combinada com modelagem matemática microrganismos
permitirá mais previsões quantitativas da caixa- Os quatro tipos predominantes de macromoléculas
branca sobre metabolismos e interações dentro de celulares (ácidos nucleicos, proteínas,
redes microbianas. Além dos nomes de associações polissacarídeos e lipídios) são as principais
e populações de culturas mistas, suas funções moléculas informacionais que compõem a
metabólicas são necessárias para projetar e biomassa (Seção 2.2.2). Eles são úteis para elucidar
controlar processos e prever o desempenho geral. as filogenias e as características funcionais das
Os métodos ecofisiológicos são úteis para populações microbianas.
examinar os fenótipos metabólicos.
O DNA contém o código genético da vida. As
A ecologia microbiana avançou para a sequências de nucleotídeos codificam genes nos
microbiologia de sistema de comunidades e para a genomas de microrganismos. As sequências
biologia de sistema ambiental. Os mais recentes gênicas permitem a identificação de linhagens
métodos 'ômicos' estão fornecendo alta resolução e microbianas e a previsão de seu potencial
rendimento para caracterizar culturas puras e funcional. Uma infinidade de métodos pode ser
comunidades complexas, linhagens microbianas e aplicada a modelos de DNA. De um isolado, pode-
suas características metabólicas que variam de se extrair DNA, sequenciar e analisar seu genoma.
DNA (metagenoma), RNA (metatranscriptoma), Fora do pool de DNA de uma comunidade
proteínas (metaproteoma) a metabólitos (meta - microbiana, pode-se sequenciar o metagenoma e
metaboloma) e seus fluxos (meta-fluxoma). ainda armazenar e anotar genomas de linha única.
Embora a resolução e o rendimento tenham
aumentado drasticamente, grandes conjuntos de O RNA (principalmente o RNAm) contém as
dados levaram a novos desafios para gerenciar, informações sobre os genes transcritos. A
extrair e visualizar as principais informações. Os expressão gênica. pode ser capturada por RT-qPCR
procedimentos de laboratório “úmido” andam de (veja abaixo) ou análises transcriptômicas de alto
diferentes ocasiões nos últimos 20 anos, sem genomas de referência (Rubio-Rincón et al., 2019).
sucesso. As condições de seleção envolvendo a A obtenção de genomas de populações de uma
alternância de condições anaeróbias/aeróbias comunidade impulsiona o desenvolvimento de
tornam difícil isolar “Ca. Accumulibacter” em modelos metabólicos para prever seus
placas de ágar. metabolismos e interações distribuídas e para
remontá-los em escala de microbioma.
Além dos níveis taxonômicos, os termos Proteômica e metaproteômica ajudam a
'população', 'guilda' e 'comunidade' são úteis no classificar taxonomicamente e funcionalmente as
vocabulário de microbiologia ambiental. Uma populações microbianas, de isolados a
população é um conjunto de células microbianas da comunidades, com base nas proteínas identificadas
mesma linhagem (por exemplo, populações de e sequências de peptídeos. Ele fornece uma
Zoogloea ou “Ca. Accumulibacter”). Uma guilda é sugestão adicional sobre a funcionalidade expressa
um conjunto de diferentes populações microbianas pelas populações identificadas. As análises
que compartilham a mesma função (por exemplo, baseadas em proteínas podem ser consideradas
guildas de OHOs, ODHs ou ONAs). Uma uma aproximação grosseira para a atividade.
comunidade microbiana (por exemplo, em lodo
ativado) contém diferentes populações e guildas. 2.3.4 Métodos dependentes versus
métodos independentes de cultivo
Genes funcionais podem ser alvos para
descrever e classificar microrganismos ao junto A análise de microbiomas pode ser feita por meio
com seus potenciais metabólicos e celulares. de métodos dependentes de cultivo ou métodos
Árvores filogenéticas podem ser construídas com independentes de cultivo. Desde o trabalho de
base nas informações sobre genes funcionais que Koch, Hesse e colaboradores sobre patógenos
foram amplificados por PCR e sequenciados. Essa relacionados à saúde pública, no século 19, as
abordagem é usada para diferenciar clados de placas de ágar têm sido usadas para isolar colônias
populações microbianas dentro de uma linhagem, de microrganismos. A obtenção de culturas puras
como clados de “Ca. Accumulibacter”, usando o de isolados tem sido considerada um padrão ouro
gene polifosfato quinase (ppk1). para caracterizar microrganismos, sua fisiologia e
seu metabolismo. No entanto, apenas uma pequena
O sequenciamento completo do genoma é fração de microrganismos é realmente cultivável
usado para identificar e classificar isolados com em culturas puras.
alta resolução, para derivar novas espécies e cepas,
para caracterizar potenciais metabólicos e para As culturas de enriquecimento avançaram no
prever vias metabólicas. campo para descreverem o metabolismo de
populações alvo predominantes. Beijerinck
O sequenciamento completo do metagenoma desenvolveu os primeiros princípios de culturas de
seguido por metagenômica centrada no genoma (ou enriquecimento para criar um meio de cultivo para
seja, armazenamento de genomas de linhagens as necessidades de um microrganismo. Em outros
únicas de metagenomas) (Albertsen et al., 2013) termos, isso pode ser formulado como "Certifique-
impulsionou uma elucidação, em escala fina, de se de que apenas organismos com as propriedades
táxons e de seu potencial funcional completo. desejadas são capazes de se desenvolver na
Árvores filogenéticas de populações de ambientes cultura." (Beijerinck, 1921; Van Niel, 1949; La
de esgoto geralmente são feitas com genes RNAr Rivière, 1997). Combinado com o postulado de que
ou genes funcionais, e agora podem ser construídas "Tudo está em toda parte, mas o ambiente
por comparação de genomas recuperados de seleciona" (Baas-Becking, 1934; De Wit e Bouvier,
metagenomas com bancos de dados contendo 2006), esses princípios fundamentam o projeto de
processos de ETE sob condições que selecionam as 2.3.4.1 Analisando táxons e funções:
associações (guildas) de microrganismos escolhendo o(s) método(s)
envolvidos nas conversões de C, N e P. Uma vez correto(s)
que menos de 25% dos microrganismos do lodo
ativado podem ser isolados, os experimentos de Mais de 35 métodos de ecologia microbiana estão
laboratório, na pesquisa de biotecnologia disponíveis para analisar táxons e seus
ambiental, prosperam com culturas de metabolismos. A chave reside na pergunta de
enriquecimento. pesquisa subjacente a partir de perspectivas da
microbiologia fundamental ou aplicada. Os
Desde a reforma Woeseana, as caracterizações métodos envolvem microscopia, isolamento,
moleculares de culturas mistas evitaram a biologia molecular básica, impressão digital
necessidade de culturas puras, extraindo e (fingerprinting) da comunidade, sequenciamento
analisando o pool de moléculas informacionais avançado e técnicas de ecofisiologia. Um conjunto
alvos de amostras biológicas complexas. Eles são de métodos clássicos e modernos, frequentemente
chamados de métodos independentes de cultivo. usados no campo da ecologia microbiana e
Métodos de biologia molecular são eficientemente engenharia da água, é apresentado na Figura 2.11,
complementados com microscopia, para visualizar seguido por uma descrição dos métodos
e localizar microrganismos, e com métodos de comumente usados no estudo de sistemas de
Ecofisiologia, para elucidar as reais características tratamento de esgoto. Mais detalhes podem ser
metabólicas desses microrganismos em consórcios. obtidos nas seções 'Microscopia' (Nielsen et al.,
2016) e 'Métodos moleculares' (Karst et al., 2016)
do eBook de acesso aberto da IWA e nos vídeos de
Métodos Experimentais em Tratamento de Esgoto1
(Van Loosdrecht et al., 2016).
1
https://experimentalmethods.org/
Figura 2.11 Visão geral de mais de 35 métodos analíticos e metas para investigar questões de ecologia microbiana em sistemas
ambientais e de esgotos. A importância não é apenas sobre o método, mas também sobre a pergunta de pesquisa específica
que orienta a sua escolha. A ecologia microbiana envolve um conjunto de métodos, baseados e independentes de cultura, para
direcionar filogenias e funcionalidades. As técnicas de microscopia são fundamentais para visualizar quais tipos de
microrganismos estão presentes em uma amostra biológica. Uma medição simples de microscopia de contraste de fase deve
sempre ser conduzida primeiro, antes de qualquer outra análise. Os métodos de biologia molecular são difundidos com o uso
de marcadores filogenéticos universais (por exemplo, gene 16S RNAr bacteriano e gene 18S RNAr eucarioto) e marcadores
genéticos funcionais (por exemplo, marcação de genes funcionais que codificam para enzimas envolvidas em vias catabólicas
ou anabólicas). Métodos de impressão digital que evoluíram a partir de, por ex. DGGE e T-RFLP para sequenciamento de
amplicons, permitem a caracterização das composições da comunidade microbiana. As análises de alto rendimento fornecem
alta resolução em (meta-) genomas e transcriptomas (via sequenciamento) e em proteomas e metabolomas (via
espectrometria de massa). As técnicas são exibidas em preto e os nomes dos autores representativos são indicados em
vermelho. Fonte: baseado em Nielsen e McMahon (2014).
Figura 2.12 Inspeção visual de amostras biológicas de ambientes de esgotos. A) Observações em microscopia de luz de flocos
compactos de lodo ativado, de bulking filamentoso e de uma colônia de protozoários (imagens: D. Brdjanovic e Eikelboom
(2000); barras de escala não disponíveis); B) observação por microscopia de luz de um grânulo de RBN denso e maduro, com
estrutura de biofilme semelhante a couve-flor (B, topo), de uma seção transversal de grânulo com esfera externa branca ativa
e núcleo preto interno inativo (B, meio), e de sedimentação lenta grânulos fofos (B, fundo; agregado tem 1 mm de diâmetro).
Imagens de Weissbrodt (2018) (B, topo), Weissbrodt, Lochmatter e Gonzalez ‐ Gil (B, meio) e Weissbrodt et al., 2012a (B, fundo);
C) Análises MCVL de um floco, um grânulo liso com células homogeneamente dispersas dominadas por Zoogloea spp. de
crescimento rápido, e um grânulo heterogêneo de microcolônias densas dominado por OAP de crescimento mais lento “Ca.
Accumulibacter”. Imagens: Weissbrodt et al. (2013); D) resolução em nível celular, com microscopia de contraste de fase, de
células OAP e OAG com produtos de armazenamento intracelular (imagem: N. Gubser), com coloração MCVL e FM4‐64, para
rotular lipídios de membrana de células preenchidas com produtos de armazenamento inorgânico, ou seja, polifosfato em OAP
(imagem: Weissbrodt et al., 2013), e com FISH e microscopia epifluorescente para detectar OAP semelhantes a “Ca.
Accumulibacter” (imagem: L. Bittencourt Guimarães); E) observação, por microscopia de luz, de um carreador de biofilme,
amostrado de um reator operado para remoção de nitrogênio, da corrente lateral concentrada por nitritação parcial e
anammox (imagem: Weissbrodt et al., 2020). Análise FISH-MCVL para localizar populações de anammox; F) em uma criosecção
de uma unidade espacial de um portador de biofilme (barras de escala de sub-imagens: (a) 500 μm, (b ‐ d) 50 μm; (imagem:
Laureni et al., 2019); G) em biofilme interrompido (imagem: Wells et al., 2017); H) Análise FISH e MCVL multicor de uma mistura
definida de sete isolados de arqueias, bactérias e levedura (imagem: M. Lukumbuzya et al., 2019).
2
http://probebase.csb.univie.ac.at/
populações de interesse em estruturas de flocos ou para mais sistemática em biologia molecular via,
biofilme. Para FISH, a MELC pode ajudar a por exemplo, testes interlaboratoriais. O banco de
remediar problemas de semi quantificação, ao dados MIDAS e o guia de campo para os
trabalhar com bioagregados, permitindo cálculos microrganismos de lodo ativado e digestores
anaeróbios3 fornecem informações básicas para
de biovolumes.
amostragem, processamento em laboratório úmido
e análise em laboratório seco das composições da
Microscopias eletrônicas de varredura (MEV) e comunidade microbiana (McIlroy et al., 2015;
transmissão (MET) fornecem alta resolução e Nierychlo et al., 2019). Porém, adaptações aos
análises detalhadas de estruturas celulares e protocolos são sempre possíveis e precisam ser
componentes de células microbianas. Sua devidamente relatadas.
combinação com espectroscopia de raios X por
dispersão em energia (EDX) pode ser usada para 2.3.6.2 Reação em cadeia da polimerase
detectar composições elementares na amostra.
Diferentes tipos de fixações são necessários para A reação em cadeia da polimerase (PCR) é uma
MEV, MET e MEV ambiental (MEVA). Além dos técnica de biologia molecular usada para amplificar
fenótipos bioquímicos, a análise de microscopia a sequência de nucleotídeos de um fragmento de
eletrônica (ME) é necessária para descrever uma um gene presente no DNA de um ou vários
nova espécie. organismos. A PCR pode ser realizada para
detectar a presença ou ausência de um gene e de um
organismo que carrega esse gene em uma
2.3.6 Biologia molecular e métodos de comunidade microbiana. A PCR pode ter como
impressão digital (fingerprinting) alvo os genes 16S/18S RNAr ou genes funcionais.
As sequências de oligonucleotídeos dos iniciadores
(ou primers) direto (forward) e reverso (reverse)
2.3.6.1 Extração de ácidos nucleicos e são conformemente projetadas.
proteínas
Uma etapa importante que afeta os resultados A PCR usa um conjunto de dois iniciadores
analíticos das medições de biologia molecular está oligonucleotídicos, conhecidos como iniciadores
relacionada à extração de ácidos nucleicos e direto e reverso, com cerca de 20 pares de bases de
proteínas, antes de sua análise. Atualmente, as nucleotídeos (pb) cada um, para marcar a região de
extrações são realizadas principalmente com kits DNA de fita dupla específica de interesse no gene
fabricados. Uma diversidade de kits e princípios selecionado. Uma enzima polimerase resistente a
podem ser usados para extrair, isolar e purificar alta temperatura é usada para amplificar essa região
essas macromoléculas. O resultado final da análise delineada, pela adição de nucleotídeos, um por um,
molecular será impactado pelo método de extração
à sequência da cadeia do produto de PCR
utilizado inicialmente (Albertsen et al., 2015;
Rocha e Manaia, 2020). Para fins de (conhecido como amplicon). A amplificação
reprodutibilidade e comparação, é preferível funciona por meio de sequências de ciclos de
processar todas as amostras da mesma série com os temperatura e reações de replicação, realizadas em
mesmos kits e métodos. Uma comparação de um termociclador. Os programas de PCR envolvem
desempenho do kit pode ser realizada no início, ao a desnaturação inicial do DNA molde para abrir a
iniciar um novo projeto. Os resultados dos métodos fita dupla (por exemplo, 5-10 min a 95 °C) seguido
moleculares que não usam os mesmos fluxos de por cerca de 30 ciclos de (i) desnaturação (por
trabalho e de diferentes grupos e artigos raramente exemplo, 1 min a 95 °C), (ii) anelamento dos dois
podem ser comparados. Esforços são necessários iniciadores direto e reverso nas duas fitas (por
3
https://www.midasfieldguide.org/
exemplo, 45 segundos a 50-60 °C) e (iii) biológica. As sequências de RNAm podem ser
alongamento da sequência de amplicons pela transcritas reversamente em DNA complementar
polimerase (por exemplo, 2 min a 70-75 °C), (DNAc) antes da qPCR. Isso fornece pistas sobre a
seguida por um alongamento final dos amplicons expressão do gene marcado e a regulação da
(por exemplo, 10 min a 70-75 °C). Os valores dos transcrição nas células, como um primeiro
parâmetros dependem dos genes e organismos representante da "atividade" microbiana.
visados e podem ser encontrados na seção de
métodos em artigos. As composições químicas das 2.3.6.3 Bibliotecas de clones
misturas de reação, temperaturas e comprimentos
de fase da PCR são muito específicos para a Antes do advento do sequenciamento de alto
composição de nucleotídeos dos genes de interesse. rendimento, a composição dos amplicons obtidos
Um fragmento de gene com maior conteúdo de por PCR era obtida por meio da geração de uma
ligações de nucleotídeos G-C (conhecido como biblioteca de clones e do sequenciamento dos
conteúdo GC) precisaria de desnaturação mais fragmentos gênicos presentes em cada clone. Neste
intensa para abri-los. Dependendo do tipo de método, após a purificação, o pool de produtos de
análise de impressão digital ou sequenciamento PCR é colocado em contato com células de
subsequente, uma PCR é conduzida com primers Escherichia coli. Cada fragmento é ligado a um
marcados. Os produtos de PCR são verificados em vetor de plasmídeo e transformado em uma célula
um gel de agarose. Uma banda característica do de E. coli por choque térmico. O pool de células
comprimento da sequência do gene alvo deve ser transformadas de E. coli é incubado overnight a 37
detectada. Caso a PCR não seja específica, obtém- °C em uma cultura líquida, para multiplicação das
se uma mistura de bandas de diferentes células. A mistura de células é semeada em placas
comprimentos, sendo necessária a otimização dos de ágar, antes de uma segunda incubação, a fim de
iniciadores e das condições de reação da PCR. cultivar colônias de células transformadas. Cerca
Quando uma banda está faltando, isso indica que a de 100-500 colônias de clones, em que cada um
PCR não foi bem-sucedida (ou a PCR não é contém um tipo de fragmento de gene, são
específica ou o DNA do organismo-alvo está coletadas uma a uma para PCR e sequenciamento
ausente no pool da amostra). Sanger de produtos de PCR (ou seja, amplicons). O
número de leituras de uma sequência específica
PCR quantitativo (em tempo real) (ou seja, está relacionado à abundância relativa de
qPCR) fornece poder adicional para fragmentos de genes presentes no conjunto de
semiquantificar a abundância relativa deste gene amplicons. O sequenciamento de clonagem é usado
e/ou microrganismo. A fluorescência é emitida para identificar as populações microbianas
sempre que um produto de PCR é formado. De predominantes no processo de interesse. Ele
ciclo para ciclo, uma produção exponencial de também fornece sequências longas e de alta
amplicons é detectada pelo detector de qualidade dos fragmentos do gene. O número de
fluorescência. No entanto, como acontece com leituras de uma sequência específica está
qualquer estudo molecular, embora seja chamado relacionado à abundância relativa de fragmentos de
de "PCR quantitativo", os resultados de qPCR de genes presentes no conjunto de amplicons. O
diferentes estudos são afetados por vieses em todos sequenciamento de clonagem é usado para
os fluxos de trabalho, o que os torna muito difíceis identificar as populações microbianas
de comparar (Rocha e Manaia, 2020). predominantes no processo de interesse. Ele
também fornece sequências longas e de alta
A transcrição reversa (RT) e a qPCR qualidade dos fragmentos do gene.
(conhecida como RT-qPCR) tem como alvo o
RNA. O pool de RNA é extraído da amostra
Figura 2.13 O modelo conceitual de Weissbrodt do ecossistema de lodo granular RBN, destacando as principais conversões C,
P e N (A, esquerda), junto com a associação microbiana envolvida e suas populações bacterianas subjacentes (B, direita). A alta
resolução na detecção de populações presentes no microbioma é revelada pelo sequenciamento do amplicon do gene 16S
RNAr. Traços funcionais podem ser atribuídos a linhagens, de acordo com relatos da literatura. O modelo conceitual de
ecossistema constitui uma base sólida para direcionar outras análises ecofisiológicas. Um processo de lodo granular é operado
de forma eficiente para RBN completa em um reator em batelada sequencial (RBS), que alterna as sequências de uma fase
anaeróbia, com disponibilidade de C, e uma fase de carência aeróbia ou anóxica, na presença de oxigênio dissolvido (O2) e/ou
nitrogênios oxidados (NOx-) como aceptores finais de elétrons. A matriz de biofilme dos grânulos induz limitações de difusão,
o que resulta em gradientes de substrato e condições redox na profundidade, e possibilita processos simultâneos de
nitrificação e desnitrificação. Sob condições anaeróbias, a matéria orgânica particulada (X s) é hidrolisada em um substrato
solúvel (Ss) e fermentada em ácidos graxos voláteis (AGVs), por organismos hidrolíticos e fermentativos, antes do
armazenamento intracelular de AGVs, como poli‐β‐hidroxialcanoatos (XPHA) por organismos acumuladores de polifosfato
(OAPs) e acumuladores de glicogênio (OAGs). OAPs e OAGs envolvem a degradação do glicogênio (XGLY), como fonte de ATP,
e NADH para a polimerização de PHAs. Os OAPs hidrolisam o polifosfato (XPP) como fonte extra de ATP para o transporte
intracelular ativo de acetato, resultando na liberação de ortofosfatos no meio (SPO4). Em condições aeróbias e/ou anóxicas,
OAPs e OAGs crescem no reservatório intracelular de carbono e elétrons de PHAs. Ambas as associações reabastecem seus
estoques de glicogênio, e OAPs seus estoques de polifosfato, removendo ortofosfatos dos esgotos. OAPs e OAGs podem se
desenvolver acoplando seus catabolismos à desnitrificação, tornando-se OAPs e OAGs desnitrificantes (DOAPs e DOAGs).
Nitrogênios oxidados (SNOx, como SNO2 ou SNO3) são fornecidos pela oxidação de amônio por nitrificadores, por meio de
duas associações de organismos oxidadores de amônio (OOAs) aeróbios e organismos oxidadores de nitritos (OONs). Algumas
populações comammox do gênero Nitrospira, na associação de OONs podem oxidar totalmente o amônio (SNH4) em nitrato
(SNO3). A associação de organismos heterotróficos desnitrificantes (OHDs) é surpreendentemente vasta em lodo granular de
RBN. Uma pergunta intrigante permanece: em qual fonte de carbono e elétron todas essas populações prosperam senão
armazenando AGVs na fase anaeróbia? As populações de Anammox também podem estabelecer seus nichos nas proximidades
dos grânulos. Figura: baseado em Weissbrodt et al. (2014) e Winkler et al. (2018).
A ativação de uma via metabólica leva à produção A sondagem por isótopos estáveis (SIP, do
de metabólitos, através da rede de reações inglês stable isotope probing) consiste em rastrear
bioquímicas catalisadas pelas enzimas. O pool de a assimilação de um substrato marcado com
metabólitos extracelulares e intracelulares pode ser isótopos pesados estáveis não radioativos (por
analisado, por cromatografia líquida e exemplo, 13C vs. 12C, 15N vs. 14N) em
espectrometria de massa em tandem, em diferentes macromoléculas, tais como DNA, RNA, proteínas,
pontos no tempo de um biorreator sujeito a uma carboidratos ou lipídios. Após incubações de
perturbação. Os fluxos de metabólitos podem ser amostras de lodo com substratos marcados, o pool
posteriormente quantificados como taxas. As de macromoléculas de interesse é extraído. As
análises metabolômicas e fluxômicas rastreiam as frações pesadas dos pools de DNA ou RNA são
concentrações de metabólitos e seus fluxos durante separadas por ultracentrifugação antes da análise
a regulação. Essas análises são frequentemente molecular com um dos métodos
realizadas usando, por exemplo, substratos descritosanteriormente. O sequenciamento do
marcados com 13C ou 15N, para rastrear mudanças amplicon levará à identificação dos
transientes em estados metabólicos na comunidade microrganismos que integraram os isótopos
microbiana em um reator em escala de bancada. As pesados em seus ácidos nucleicos. A análise de
análises de fluxo metabólico são combinadas com espectrometria de massa ajudará a identificar
modelagem matemática para desenvolver proteínas que incorporaram os elementos pesados e
previsões quantitativas de desempenhos sua afiliação taxonômica.
metabólicos, de microrganismos individuais a
redes de populações microbianas em uma FISH (Seção 2.5.3) pode ser combinado com
comunidade microbiana. microautoradiografia (MAR), espectroscopia
Raman ou espectrometria de massa de íons
secundários (SIMS, do inglês secondary-ion mass
Figura 2.15 Acoplamento bioenergético do processo catabólico produtor de energia com a síntese de biomassa anabólica, e
processos de manutenção independentes do crescimento. A energia química liberada no catabolismo é transferida para o
composto rico em energia adenosina trifosfato (ATP). Fonte: adaptado de Heijnen e Kleerebezem (2010).
pode ser definido como unidade, com os outros transportadora de elétrons, para o aceptor. Em
coeficientes de rendimento sendo expressos em paralelo a esse processo de transporte de elétrons,
relação a este componente. Na Eq. 2.1, todos os os prótons são transportados através da membrana
coeficientes de rendimento podem ser derivados de celular para o exterior da célula. O pH resultante e
balanços elementares (balanços de C, H, O e N) o gradiente de carga criam uma força motriz de
uma vez que um dos coeficientes de rendimento prótons que é usada para o transporte de vários
seja conhecido. Tradicionalmente, este é o compostos através da membrana celular, mas
substrato necessário para produzir uma unidade de principalmente para a produção de ATP pela
biomassa. Quando fontes orgânicas de C são enzima ATP-ase. Durante a geração de ATP, os
usadas, o doador de elétrons e a fonte C geralmente prótons são transportados de volta para o interior
coincidem (por exemplo, metabolismo da célula. Assim, existem três metabólitos centrais
quimioorganoheterotrófico). principais na bioenergética bacteriana: acetil-CoA,
ATP e NADH. O nível intracelular desses
As subseções a seguir apresentam a compostos atua como um poderoso regulador do
metodologia para derivar as reações anabólicas e metabolismo das bactérias.
catabólicas e como combiná-las com base em um
coeficiente estequiométrico medido ou estimado É importante ressaltar que, na ausência de um
para obter a equação metabólica geral. Primeiro, as aceptor de elétrons externo, a célula não pode
principais vias de geração de energia são resumidas regenerar a NADH produzida pela glicólise, e o
e é apresentada a metodologia para derivar a ciclo do ATC não funcionará para oxidar o
estequiometria de qualquer reação redox e calcular substrato além do piruvato e acetil-CoA. Sob essas
a energia gerada. condições, o próprio carbono orgânico pode ser
usado como um aceptor de elétrons e ser reduzido
com a NADH gerada na glicólise em produtos
como acetato e propionato. Este processo de
2.4.2 Bioenergética bacteriana
transferência interna de elétrons é denominado
As duas principais vias de geração de energia fermentação.
biológica são a glicólise e o ciclo do ATC (Seção
2.2.3). A glicólise oxida parcialmente a glicose (um Curiosamente, a maioria das vias biossintéticas
açúcar) em piruvato e acetil-CoA. O acetil-CoA é redutoras no anabolismo dependem de uma
então totalmente oxidado a CO2 no ciclo do ATC coenzima que é equivalente a, mas distinta de
(Figura 2.16). A energia química liberada nessas NADH, a saber, NADPH. A NADPH é produzida
conversões é transferida para o composto rico em na via da pentose fosfato juntamente com a ribose-
energia adenosina trifosfato (ATP) e os elétrons são 5-fosfato, um precursor do DNA e do RNA.
transferidos para a forma oxidada da coenzima Embora a NADH possa ser convertida em NADPH
nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+), que é e vice-versa, isso só pode acontecer às custas do
reduzida a NADH. ATP, destacando como as células mantêm sistemas
separados de energia e crescimento.
Na presença de um aceptor de elétrons, como
O2 ou NOx-, como nitrato (NO3-) ou nitrito (NO2-),
o NADH é regenerado de volta ao NAD+ por uma
transferência de elétrons, através da cadeia
Figura 2.16 Visão esquemática geral da bioenergética bacteriana, destacando os metabólitos centrais, acetil-CoA, ATP, NADH
e NADPH, e os principais processos catabólicos e anabólicos. Fonte: adaptado de Comeau et al. (2008).
D
Considerando que Ye/eD = 24 mole/moleA e
A
A partir das Eqs. 2,4 e 2,5, a eq. 2.3 pode ser Ye/eA é igual a 4 mole/moleA
reescrita da seguinte forma:
Observe que em todos os exemplos os valores
dos coeficientes estequiométricos são
arredondados.
4
kJ mol-1 K-1
semi-reações, escritas de acordo com a Eq. 2.2 e Tabela 2.5, sendo -44,3 kJ⁄molFe+2 No entanto, no
combinadas com a Eq. 2.7, resultam na seguinte pH neutro comumente assumido (Eq. 2.10), a
reação geral: reação ocorre perto do equilíbrio termodinâmico
(ΔG01 = -4,4 kJ⁄molFe+2 ). Torna-se favorável do
ponto de vista termodinâmico apenas sob
condições ácidas, ou seja, ΔG1 = -38,6 kJ⁄molFe+2
A mudança de energia livre de Gibbs padrão da em pH 1.
reação ΔG0 pode ser calculada a partir da Eq. 2.9 e
Tabela 2.5 Energia livre de Gibbs padrão (Gf0) e entalpia (Hf0) de formação, para os compostos orgânicos e inorgânicos usados
nos exemplos; valores de Kleerebezem e Van Loosdrecht (2010) e suas referências. O leitor pode consultar o material de apoio
gratuito de Kleerebezem e Van Loosdrecht (2010) para uma lista mais completa de compostos.
2.5 ESTEQUEOMETRIA DO
Esta segunda reação é favorável em pH 7 e sob CRESCIMENTO MICROBIANO
pressão parcial de hidrogênio padrão de 1 atm:
ΔG01 = -135,5 kJ/mol HCO3-. Em pressões parciais 2.5.1 ANABOLISMO
de hidrogênio que permitem o crescimento de
oxidadores de etanol, a reação se torna menos O anabolismo é o processo geral que envolve a
favorável, mas ainda possível (ΔG1 = -44,2 kJ/mol síntese de todos os constituintes da biomassa, como
HCO3- a 0,0001 atm). Assim, como os proteínas, lipídios, carboidratos, DNA e RNA.
metanogênicos hidrogenotróficos dependem da Apesar da imensa variedade de microrganismos, o
produção de hidrogênio, o crescimento sintrófico conteúdo e a composição elementar das células
ocorre em baixas pressões parciais de hidrogênio, microbianas são semelhantes para todas as células.
favoráveis para ambas as populações. Para a derivação da reação anabólica, a fórmula
empírica CH1,8O0,5N0,2 pode ser usada para a fração
É importante notar que a mudança no potencial orgânica da biomassa (Esener et al., 1983; Heijnen
redox (ΔE em volt, V) é frequentemente usada no e Kleerebezem, 2010). Esta composição molecular
lugar da mudança de energia livre de Gibbs (ΔG) da biomassa pode estar diretamente relacionada ao
para estimar a viabilidade de uma dada reação. O SSV comumente medido pelo peso molar de 24,6
potencial redox (E) mede a tendência de um gSSV por mol de biomassa. Em alguns casos, uma
elemento ou composto de doar ou aceitar elétrons análise elementar mais precisa pode ser necessária,
de um eletrodo de referência. O potencial redox e elementos inorgânicos, como P, Mg, K e outros
5
kJ mol-1 V-1
An
oligoelementos, como Zn, Mn, Mo, Se, Co, Cu e Ni expressa por mol de biomassa (YX/X = 1
estão incluídos (seção 2.2.2.2). molX/molX):
01
com um ΔGCat = -2,687,1 kJ/mol C6H12O6. Este
Figura 2.17 Variação média da energia livre de Gibbs por valor é comparável ao ΔG01 Cat = -2.843,8 kJ/mol
mol de elétrons, para elementos microbiologicamente C6H12O6 associado à oxidação aeróbia da glicose
relevantes com um estado de oxidação variável, obtida (Exemplo 2.1), pois o oxigênio e o nitrato são
considerando a oxidação total de cada composto ambos aceptores de elétrons fortes.
considerado. Desvios padrão são apresentados para
átomos encontrados em vários estados de oxidação.
Diferentemente, se por exemplo sulfato é usado
Fonte: baseado em Kleerebezem e Van Loosdrecht, 2010. como o aceptor de elétrons (SO42-/HS-):
simples na complexidade de uma célula. A Para o crescimento autotrófico (ou seja, CO2
dissipação de energia de Gibbs reflete a eficiência 01
como fonte de C), ΔGDiss depende do doador de
de crescimento específica (por exemplo, menor elétrons na reação anabólica. Elétrons doados por
para metabolismos mais eficientes) e iguala, com o doadores de elétrons fortes, como H2/H+ e HS-
sinal oposto, a mudança de energia livre de Gibbs
/SO42- (Figura 2.17), têm energia suficiente para
da reação metabólica geral. Em analogia com a Eq. 01
2.17, o balanço de energia livre de Gibbs pode ser reduzir o carbono inorgânico a biomassa (ΔGAn
01
escrito da seguinte forma: <0). Nesse caso, com base na Eq. 2,23, ΔGDiss é
igual a 1.000 kJ/molX. Por outro lado, para e-
doadores fracos, como Fe2+/Fe3+ e NH4+/NO2-,
01
ΔGAn > 0 e o conteúdo de energia dos elétrons
precisa ser aumentado por meio de gradientes de
Considerando que, por definição λ∗An = 1 membrana (ou seja, transporte reverso de elétrons -
molX/molX, esta equação pode ser reescrita como: TRE) à custa da energia de Gibbs. Isso resulta em
01
um ΔGDiss significativamente maior, de 3.500
kJ/molX.
Com base em um grande inventário de dados A relação na Figura 2.18 ilustra que, quanto
experimentais, Heijnen e Van Dijken (1992) mais um composto se assemelha a um
observaram que a dissipação de energia de Gibbs intermediário central do metabolismo, por exemplo
01
(ΔGDiss ) depende apenas do doador de elétrons o piruvato, menos dissipação de energia (trabalho
anabólico e da fonte de C, com o tipo de bioquímico) é necessária para produzir uma célula.
microrganismo e aceptor de elétrons tendo pouco A este respeito, é útil lembrar que os blocos de
ou nenhum impacto. construção de biomassa normalmente contêm 4-5
carbonos com um γCS de 4,2 mols de elétrons (Eq.
Para o crescimento heterotrófico em carbono
01 2.13).
orgânico, ΔGDiss é uma função do número de
átomos de carbono no substrato de carbono (NoCCS
em mol-C/molCs) e o número de elétrons por átomo
de carbono liberado após a oxidação completa do
substrato de carbono em CO2 (γCS em mole/mol-
CCs):
Portanto, para fontes de C simples, a energia torna-se 10,5 molNH4+/molX, e o metabolismo geral
precisa ser investida na formação de novas ligações pode ser derivado:
de carbono. Da mesma forma, se a fonte de C é
mais reduzida ou oxidada do que a biomassa, são
necessárias mais reações de oxidação ou redução.
Com NoCCS = 6 e γCS = 4, a glicose é uma fonte de
C quase ideal, conforme refletido na pequena com um ΔG01 associado = -327,3 kJ/molNH4+. Este
quantidade de dissipação de energia necessária valor é obtido dividindo ΔG01 (=-ΔGDiss01, em
para a produção de biomassa (236,1 kJ/molX). kJ/molX) pelo coeficiente estequiométrico da
Além disso, para doadores de elétrons pobres no amônia.
anabolismo autotrófico, o transporte reverso de
elétrons é necessário, contribuindo para uma maior Os valores da estequiometria teórica e do
01
ΔGDiss (Heijnen e Van Dijken, 1992). max
rendimento máximo resultante (YX/NH4+ =0,094
molX/molNH4+) são consistentes com aqueles
Em última análise, substituindo λ∗Cat (Eq. 2.22) determinados experimentalmente (Lotti et al.,
na Eq. 2.19, o rendimento máximo de biomassa no 2014).
substrato é obtido:
Exemplo 2.14 Metabolismo aeróbio com glicose
Em condições aeróbias, os microrganismos
heterotróficos podem usar glicose como o doador
de elétrons catabólico (Exemplo 2.1) e fonte de C
na reação anabólica (Exemplo 2.8):
Aqui é importante perceber que
max
YX/S representa a quantidade máxima de biomassa
que poderia ser produzida por substrato consumido
na ausência de manutenção e, portanto, é
obs
intrinsecamente maior do que os YX/S
determinados experimentalmente. Além disso,
enquanto o método permite uma estimativa dos 01
Pode-se calcular ΔGCat = -2,843,8 kJ/molC6H12O6
rendimentos de biomassa com um erro de 13% na 01
e ΔGAn = -24,8 kJ/molX da Eq. 2.10 (e Tabela 2.5),
faixa de 0,01-0,8 molX/molS, diferenças 01
e ΔGDiss = 236,1 kJ/molX com base na Eq. 2.23.
bioquímicas específicas podem resultar em
Consequentemente, λ∗Cat é igual a 0,07
variações maiores (ver exemplos em Heijnen e Van
molC6H12O6/molX (Eq. 2.22) e o seguinte
Dijken, 1992).
metabolismo geral pode ser derivado:
Exemplo 2.13 Metabolismo anammox
(continuação)
O rendimento máximo estimado de biomassa e a
estequiometria metabólica geral derivada para
anammox são comparados com aqueles derivados com um ΔG01 associado = -946,8 kJ/molC6H12O6
experimentalmente (Exemplo 2.12). As bactérias
expresso por mol de substrato de glicose e um
anammox são autotróficas e requerem transporte Max
YX/C6H12O6 = 0,67 molX/mol-CC6H12O6 consistente
reverso de elétrons porque a amônia é um doador
de elétrons fraco, e portanto ΔGDiss01
= 3.500 com os valores experimentais relatados.
01
kJ/molX. Além disso, já calculamos ΔGAn de 274,8
01
kJ/molX e um ΔGCat de -362,8 kJ/molNH4+ nos
exemplos 2.6 e 2.10. Com base na Eq. 2.22, λ∗Cat
2.6.1 Taxa de consumo de substrato: a Em outras palavras, a Eq. 2.26 reflete o fato de
relação Herbert-Pirt o substrato ser simultaneamente consumido em
dois processos independentes: a reação metabólica
Foi observado que com o aumento da taxa de (Eq. 2.21), com taxa de processo μ, e na reação
crescimento, o rendimento de biomassa no gerando a energia para manutenção, ou seja, o
substrato S (normalmente o doador de elétrons) catabolismo (Eq. 2.16), com taxa de processo mS
também aumenta. Isso é explicado pelo duplo uso (Figura 2.19A). Além disso, a Eq. 2.26 pode ser
do substrato (Figura 2.15). Os microrganismos reescrito da seguinte forma:
consomem o substrato principalmente para (i)
processos independentes do crescimento
(manutenção, necessária para manter o complexo
sistema celular) e (ii) produção de biomassa
(crescimento). Para descrever esse comportamento, considerando que o rendimento de biomassa
obs
geralmente é utilizada a relação Herbert-Pirt. A observado também pode ser definido como YX/S =
equação de Herbert-Pirt define a relação entre a μ/qS. A partir da Eq. 2.27 torna-se claro que a
taxa específica de consumo de substrato pela quantidade real de biomassa produzida por
obs
biomassa (qS, em molS/h.molX)6 e os processos de substrato consumido (YX/S ) diminui com a
crescimento e manutenção como segue: diminuição de μ, conforme aumenta a contribuição
relativa da energia de Gibbs para manutenção
(Figura 2.19A e C). Por outro lado, a contribuição
relativa do consumo de substrato para manutenção
obs
diminui em μ elevado, e YX/S se aproxima do
max
onde, μ (molX/h.molX = 1/h) é a taxa de crescimento YX/S teórico (Figura 2.19C).
específica de biomassa, e mS (molS/h.molX) é a taxa
específica de consumo de substrato pela biomassa Do ponto de vista do projeto, conhecer a
para manutenção, ou seja, a quantidade de substrato estequiometria do processo permite estimar as
catabolizado para fornecer o Energia de Gibbs para quantidades de substratos e produtos envolvidos.
processos independentes de crescimento
max Conforme discutido na Seção 2.5, a estequiometria
(manutenção). YS/X é o coeficiente
real pode ser derivada com base no rendimento de
estequiométrico do substrato na reação metabólica obs
biomassa no substrato (YX/S , Eq. 2.20). No entanto,
determinado pelo método de dissipação de energia
de Gibbs (Seção 2.5.4), que por definição é o como esse rendimento é uma função da taxa de
crescimento (Eq. 2.27; Figura 2.19C), o
6
molS h-1 molX-1
Cat 01
onde, por definição, YS/S = 1 molS/molS, e ΔGCat é
a mudança na energia de Gibbs da reação
catabólica (kJ/molS), conforme estimado na Seção
onde R é a constante de gás universal (8,3145 10 -3
2.5.2. Da Eq. 2.29, quanto mais energia é gerada na
kJ/mol.K), e o valor 69 corresponde à energia de 01
reação catabólica (ou seja, mais ΔGCat negativo),
ativação associada (kJ/mol). Curiosamente, a Eq.
menor é a quantidade de substrato necessária para
2.28 foi derivado com base em um extenso
a manutenção. Qualquer outro mi pode ser derivado
inventário de dados experimentais compreendendo
da estequiometria de reação catabólica
diferentes tipos de microrganismos, condições de Cat
Yi/S correspondente.
crescimento, doadores e aceptores de elétrons
7
kJ h-1 molX-1
Figura 2.19 A) Taxa de absorção de substrato específica de biomassa (qS) e taxa de absorção de substrato específica de
biomassa para manutenção (mS), normalizada por qS como uma função da taxa de crescimento específica de biomassa (μ). B)
Taxa de absorção de substrato específica de biomassa como uma função da concentração de substrato limitante (C S). C)
Rendimento do crescimento observado em função da taxa de crescimento específica da biomassa. D) Taxa de crescimento
específica da biomassa em função da concentração limitante do substrato.
onde qmax
S é a taxa máxima de absorção de
2.6.2 Taxa de consumo de substrato: substrato específico de biomassa (molS/h.molX) e
cinética de saturação KS é a constante de afinidade para o substrato
(molS/L), onde o substrato é considerado o único
Também foi observado que a taxa de consumo de composto que limita o crescimento no sistema . Da
substrato específico de biomassa (qS) é uma função Eq. 2,30, é claro que qS se aproxima de qmax
S para
da concentração real de substrato (CS), e esse CS elevado, enquanto diminui na CS decrescente e
comportamento é adequadamente representado atinge um valor de 0,5 . qmax em CS = KS (Figura
S
pela seguinte equação hiperbólica:
2.19B).
8
molS h-1 l-1
mS, resultando em taxas negativas de crescimento matemática equivalente, é referida como relação
específico de biomassa, ou seja, a concentração de Herbert-Pirt.
biomassa diminuirá. A concentração mínima de
substrato na qual o crescimento pode ser sustentado Alternativamente, o decaimento da biomassa é
(CSmin ) é estimada pela imposição da Eq. 2,36 igual modelado como um processo separado acoplado à
a zero (Figura 2.19D).
produção de biomassa morta, da qual uma fração
Também vale a pena destacar como a estrutura serve como novo substrato. Nesse caso, o processo
estequiométrica e cinética proposta se relaciona de decaimento substitui o conceito de manutenção
com as abordagens de modelagem comumente ou respiração endógena.
adotadas no campo de tratamento de esgoto
(Capítulo 14). A manutenção é comumente Aqui também é importante enfatizar que, na
implementada como respiração endógena, ou seja, maioria das aplicações de engenharia ambiental, os
a própria biomassa é catabolizada para fins de valores KS estimados podem ser significativamente
manutenção na ausência de substrato externo. maiores do que a afinidade intrínseca (biológica)
Matematicamente, a respiração endógena é porque os processos de difusão em flocos e
implementada como um processo de primeira
biofilmes limitam ainda mais a disponibilidade de
ordem na biomassa com o coeficiente de
decaimento (kd) e é totalmente equivalente ao substrato. KS é, portanto, normalmente referido
conceito de manutenção descrito aqui, como fica como a afinidade aparente do substrato.
evidente ao reescrever a Eq. 2,36 (Figura 2.19D):
NOMENCLATURA
a)
Depende da ordem de reação, isto é, unidades de k; b) depende da ordem de reação
Abreviação
A Aceptor
Na Anabolismo
Bchl Bacterioclorofilas
Anammox microbiologia: oxidação anaeróbia de amônia
eng.: oxidação anóxica de amônia
Cat Catabolismo
Chl Clorofila
Comammox Oxidação completa de amônia em nitrato
D Doador
Diss Dissipado
eA Aceptor de elétrons (e-aceptor)
eD Doador de elétrons (e-doador)
S Substrato
X Biomassa
Acrônimo
ADM Anaerobic digestion Model/Modelo de digetão anaeróbia
ADP Difosfato de adenosina
AGV Ácido graxo volátil
AMP Adenosina Monofosfato
AOA Archaea oxidante de amônia
ARDRA Análise de restrição de DNA ribossomal amplificado
ARISA Análise automatizada do espaço intergênico ribossomal
ASM Activated sludge model/Modelo de lodo ativado
ASV Amplicon sequence variant/variantes de sequência do amplicon
ATC Ácido tricarboxílico
ATP Trifosfato de adenosina
BOA Bactéria oxidante de amônia
Bioortogonal non-canonical amino acid tagging/Marcação de aminoácidos não canônica
BONCAT
bioortogonal
BPNS Bactérias púrpuras não sulfurosas
BPS Bactérias púrpura sulfurosas
BRS Bactérias redutoras de sulfato
CAPEX Capital expenditure
CEA Carga de energia de adenilato
CLSM Confocal laser scanning microscopy/Microscopia Confocal de Varredura a Laser
CoA Coenzima A
CTE Cadeia de transporte de elétrons
CTF Citometria de fluxo
DGGE Denaturing gradient gel electrophoresis /Eletroforese em gel de gradiente desnaturante
DNA Ácido desoxirribonucleico
DNAc DNA complementar
DNAg DNA genômico
DQO Demanda Química de Oxigênio
ETE Estação de tratamento de esgoto
FADH/FADH2 Flavin adenine dinucleotide/Dinucleotídeo de flavina adenina (oxidado/forma reduzida)
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secagem; a água de lavagem dos filtros e a água de composição, serão discutidos mais adiante nesse
limpeza dos equipamentos. capítulo (Seção 3.11).
A Tabela 3.1 mostra os vários tipos de águas
residuárias. Seus efeitos, de acordo com a sua
Água residuária proveniente das atividades da sociedade Água residuária gerada internamente nas ETEs
Esgoto doméstico (ou seja, das residências) Sobrenadante do adensamento
Água residuária de instituições (por exemplo, hospitais, Sobrenadante do digestor
escolas)
Água residuária industrial Clarificado do desaguamento de lodo
Infiltração na rede coletora de esgoto Água de drenagem de leito de secagem
Água de chuva Água de lavagem de filtros
Lixiviado de aterro sanitário Água de limpeza de equipamentos
Efluente/lodo de fossa séptica
3.1.2 Visão geral dos constituintes do Tabela 3.2 e suas contribuições podem variar
esgoto sanitário consideravelmente.
Os constituintes do esgoto sanitário podem ser
divididos nas principais categorias mostradas na
Tabela 3.2 Constituintes presentes no esgoto sanitário (baseado em Henze et al., 2002).
Para melhor entendimento sobre o fracionamento, dos vários constituintes do esgoto sanitário. A
inicialmente, é descrita uma introdução sobre a seção 3.11 contém uma revisão das características
ocorrência física e química dos componentes do típicas de vários tipos de águas residuárias e, a
esgoto predominantemente doméstico (Seção 3.2). subsequente, aborda seus comportamentos
A seguir, as seções 3.3 a 3.10 apresentam a dinâmicos e suas implicações (Seção 3.12). O
importância, a caracterização e o fracionamento capítulo é concluído com um resumo dos
coloidal pode ser medida como solúvel (se o eficiência da adsorção depende de um processo
tamanho do coloide for menor do que o tamanho do complexo, que está ligado às características do
poro do filtro) e será modelada como rapidamente lodo, incluindo o tipo e a fração de substâncias
biodegradável, embora ela seja lentamente poliméricas extracelulares (EPS – extracelular
biodegradável. Essa nuance não será percebida na polymeric substances) e a presença dos compostos
modelagem de estações de tratamento nas quais as armazenados. Pode-se modelar todo esse
idades do lodo (SRT- sludge retention time) sejam fenômeno, considerando a matéria coloidal como
suficientemente longas, de tal forma que todos os uma variável de estado (Nogaj et al., 2015).
compostos orgânicos biodegradáveis (solúveis e Todavia, embora tal descrição possa ser
particulados, rapidamente e lentamente) sejam mecanicamente mais correta, é definitivamente
degradados. Porém, ela desempenhará um papel mais complexa, e só é possível às expensas de ter
importante nos sistemas de lodo ativado de alta que se estimar mais parâmetros desconhecidos.
taxa, nos quais a idade do lodo é baixa demais para Uma simples alternativa é manter a distinção
a degradação do material coloidal solúvel somente entre compostos orgânicos solúveis e
lentamente biodegradável. A fim de descrever particulados (não coloidais) e embutir a adsorção e
exatamente esse fenômeno, uma opção é dividir os a sedimentação em um simples parâmetro de
componentes solúveis em frações rapidamente e “eficiência de sedimentação”, que pode ser
lentamente biodegradáveis e modelar suas estimado através de dados medidos rotineiramente
remoções separadamente (por exemplo, Nogaj et nos processos de tratamento de esgoto
al., 2015). Outra alternativa mais simples é ajustar (Smitshuijzen et al., 2016). A comparação entre
o fracionamento do afluente. Nessa abordagem, a ambas as abordagens na modelagem dos processos
fração particulada (XS) é assumida maior do que de lodo ativado de alta taxa foi abordada por Jia et
aquela que seria baseada nos resultados al. (2020).
experimentais (filtração), a fim de refletir que parte
dos compostos orgânicos solúveis – mais O ponto importante é que, na maioria dos casos,
especificamente a porção coloidal – é também modelos mais simples – nesse caso diferenciando
lentamente biodegradável (Smitshuijzen et al., somente os componentes solúveis dos particulados
2016). – sem distinguir os coloides – desempenham
Outra implicação em ignorar a fração coloidal melhor para a descrição e a otimização da estação.
e somente diferenciar entre a matéria orgânica Mas, como qualquer modelo, necessita-se estar
solúvel e a particulada refere-se ao comportamento ciente das hipóteses adotadas.
da adsorção/biofloculação e sedimentação. A
adsorção da matéria orgânica em suspensão é um A modelagem da matéria orgânica coloidal
processo rápido e considerado instantâneo no explicitamente pode ainda ser valorosa se for
ASM1 (Henze et al., 1987). Nos processos de lodo necessário alcançar concentrações efluentes muito
ativado com longo período de contato, os coloides, baixas, uma condição na qual o comportamento
normalmente, adsorverão nos flocos e, dessa matéria torna-se significativa. Sistemas de
subsequentemente, sedimentarão. Portanto, a tratamento avançado, incluindo processos por
suposição de que eles sejam particulados membrana ou adsorção, estão sendo usados com
(denominados assim quando os tamanhos dos mais frequência. O tamanho da partícula da matéria
coloides são superiores ao tamanho do poro do coloidal a ser considerado depende do objetivo do
filtro) é satisfatória. Todavia, em processos de alta modelo usado e do método de sua determinação,
taxa, o tempo de contato pode ser curto demais para podendo estar, tipicamente, entre 0,01 e 1 µm. A
que os coloides adsorvam nas partículas maiores e, plataforma de simulação BioWin diferencia entre
então, sedimentem, embora parte desses possa ter matéria coloidal (aproximadamente 0,04 a 1,2 µm)
sido modelado como material particulado. A e particulada (maior do que 1,2 µm); a DQO
lentamente biodegradável é considerada como a inorgânica e orgânica. Isso será visto nas seções 3.5
soma das frações coloidal e particulada. e 3.6.
Tabela 3.4 Concentrações de SSI, SSV e SST (em mg.L-1),
3.2.2 Constituintes orgânicos versus por exemplo, para esgoto bruto e decantado (adaptado
inorgânicos de Ekama, 2009)
Tabela 3.5 Densidades de micro-organismos no esgoto diluição é necessária para evitar a depleção total de
predominantemente doméstico (número de micro-organismos oxigênio, presente na amostra, durante o período de
por 100 mL) (baseado em Henze et al., 2002) incubação. A DBO também mede o oxigênio
consumido na oxidação das formas reduzidas de
Micro-organismos Mínimo Máximo nitrogênio, ou seja, a Demanda Bioquímica de
Escherichia coli 106 5108 Oxigênio Nitrogenada (DBOn). A fim de evitar
Coliforms 1011 1013 quantificá-la e somente medir a DBO carbonácea,
Clostridium perfringens 103 5104 um inibidor de nitrificação (normalmente ATU: alil
Faecal streptococci 106 108 tioureia) deve ser adicionado ao teste.
Salmonella 50 300
Campylobacter 5103 105 Períodos de duração de teste alternativos
Listeria 5102 104 também podem ser aplicados. Um teste de DBO de
Staphylococus aureus 5.103 105 um dia (DBO1) pode ser usado se os resultados
Coliphages 104 5105 precisam ser obtidos rapidamente, enquanto na
Giardia 102 103 Noruega e na Suécia, um teste de DBO de 7 dias,
Roundworms 5 20 DBO7, é empregado convencionalmente. É claro
Enterovirus 103 104
que o valor de DBO cresce com o aumento do
Rotavirus 20 100
período de teste, uma vez que mais tempo é
disponível para a degradação da matéria orgânica
3.4 MATÉRIA ORGÂNICA (Figura 3.1). Se for requerida uma medida de
(quase) todo o material biodegradável, é
3.4.1 Caracterização: DBO versus DQO determinada a denominada DBO última (DBO∞).
A DBO após um período de incubação de pelo
A matéria orgânica é tipicamente medida em menos 3 semanas, por exemplo, DBO25, é
termos de Demanda Bioquímica de Oxigênio considerada uma boa aproximação da DBO∞ (van
(DBO) e/ou Demanda Química de Oxigênio Haandel; van Der Lubbe, 2007). Metcalf; Eddy
(DQO). (2014) informaram que 95 a 99% da DBO última é
alcançada após 20 dias. Todavia, uma desvantagem
de se medir por um longo período é que, além de
3.4.1.1 DBO consumir muito tempo, uma grande diluição é
necessária para evitar a limitação de oxigênio, o
No ensaio de DBO, mede-se o oxigênio requerido que compromete a confiabilidade da medida de
à oxidação de parte da matéria orgânica. Mais DBO25. É possível estimar vários valores de DBO
especificamente, ela representa a quantidade de a partir de uma simples medida; uma relação típica
oxigênio consumido por micro-organismos para entre DBO5 e DBO25~DBOꝏ é aproximadamente
degradar, bioquimicamente, a matéria orgânica em 0,6 a 0,7 (Tabela 3.6) para esgoto
uma amostra líquida. Fundamenta-se no predominantemente doméstico. A verdadeira
metabolismo microbiano e pode, então, ser visto relação entre essas duas medidas depende do tipo
como um teste respirométrico. O ensaio padrão de de água residuária e fica entre 0,5 e 0,95
DBO dura 5 dias (DBO5). Durante o teste, uma (Roeleveld; van Loosdrecht, 2002). Nesse capítulo,
amostra líquida, em um frasco fechado, é incubada o termo DBO se refere ao ensaio padrão de DBO 5
no escuro, em uma temperatura de 20oC, durante carbonácea.
um período de 5 dias. A diferença entre as
concentrações de oxigênio dissolvido antes e após A medida de DBO também é dependente da
a incubação é tida como DBO5, medida em temperatura. Para o mesmo período de incubação,
mgO2.L-1. Quando se trata de água residuária, a um maior valor é registrado em mais alta
temperatura (vide Figura 3.1). Tal fato pode ser DQO, para evitar a interferência dos íons cloreto.
atribuído a uma maior atividade biológica em O excesso de dicromato é titulado com solução de
maiores temperaturas. Portanto, em vista da sulfato ferroso amoniacal, sendo o volume gasto
reprodutibilidade e da comparabilidade, é essencial usado para calcular a concentração de DQO em
que o teste de DBO seja realizado sob condições mgO2.L-1. Permanganato também pode ser
padrões (20oC). Para maiores detalhes, o leitor deve utilizado ao invés do dicromato, todavia, nesse
consultar Spanjers; Vanrolleghem (2016). caso, deve-se ficar atento à uma falsa medida de
DQO, uma vez que esse método mede somente
parte da matéria orgânica e deve ser executado
Tabela 3.6 Valores de DBO e DQO de esgoto
apenas para o planejamento do ensaio de DBO.
predominantemente doméstico
que mostra que a completa oxidação de 1 mol (ou biodegradáveis (ambos, solúveis e particulados)
46 g) de etanol requer 3 mols (96 g) de oxigênio. A sejam degradados; assim, nenhuma distinção é
DQO teórica do etanol é, então, 96/46 = 2,09. necessária entre o carbono orgânico rapidamente e
o lentamente biodegradável, pelo menos no que diz
3.4.2 Fracionamento da DQO respeito à remoção de matéria orgânica.
No entanto, quando se considera a redução de
A matéria orgânica pode ser quantificada em nitrogênio, uma diferenciação entre as duas frações
termos de DQO; assim, os componentes que são é importante para calcular exatamente o potencial
expressos em DQO são orgânicos. Como o de desnitrificação (vide capítulo 5). Em relação à
tratamento biológico de esgoto depende das remoção biológica de fósforo, o carbono orgânico
conversões microbianas, uma adicional biodegradável solúvel ainda pode ser dividido em
categorização das frações biodegradáveis e não ácidos graxos voláteis (VFA – volatile fatty acids,
biodegradáveis é relevante. Uma distinção SVFA) e uma fração de DQO fermentável (SF), cuja
adicional entre os componentes particulados e os utilização é dividida entre os organismos
solúveis é feita pela separação líquido-sólido. A acumuladores de fósforo (PAOs – phosphorus
DQO particulada fornece informação sobre a accumulating organisms) e os heterotróficos
produção de lodo esperada. Como um resultado, (OHOs – ordinary heterotrophic organisms) (Vide
quatro frações de DQO são definidas (Figura 3.2): capítulo 6).
orgânica solúvel biodegradável (SS); orgânica
solúvel não biodegradável (SU), orgânica Durante o tratamento biológico de esgoto
biodegradável particulada (XS) e orgânica não predominantemente doméstico, pode-se assumir
biodegradável particulada (XU). que toda a DQO biodegradável será convertida para
o crescimento da biomassa heterotrófica, enquanto
a particulada não biodegradável vai para o descarte
de lodo. Se houver uma sedimentação “perfeita”
(“ideal”), o efluente não conterá material
particulado. Então, somente a DQO solúvel não
biodegradável deixa o sistema no efluente.
Figura 3.2 Fracionamento da DQO no esgoto (1) Quantificação da DQO total (DQOt)
predominantemente doméstico baseada nas práticas analíticas padrões
(vide seção 3.4.1);
Na maioria dos modelos, os componentes (2) Quantificação da DQO solúvel (SS+SU)
orgânicos solúveis (SS) são assumidos como pela determinação da DQO numa amostra
rapidamente biodegradáveis, enquanto os de esgoto filtrada (tipicamente em
particulados (XS), lentamente. Algumas das membrana com tamanho do poro igual a
implicações dessas hipóteses foram discutidas na 0,45 µm);
seção 3.2. Na maioria das ETEs, a idade do lodo (3) Determinação da DQO particulada
(SRT – sludge retention time) é suficientemente (XS+XU) pela diferença entre a DQO total
longa para que todos os compostos orgânicos (DQOt) e a DQO solúvel (SS+SU)
frações SS, XS e XU, enquanto a SU não varia muito ativado (por exemplo, o protocolo STOWA,
(Roeleveld; van Loosdrecht, 2002). A Tabela 3.9 Hulsbeek et al., 2002), nos quais se assume apenas
ilustra as frações de DQO correspondentes. As uma pequena concentração inicial de nitrificantes e
variações nas quantidades e relações entre as várias de organismos acumuladores de fósforo
frações de DQO estão ligadas à contribuição (Roeleveld; van Loosdrecht, 2002). Com a
industrial; ao tipo e ao comprimento das metodologia de fracionamento da DQO aqui
tubulações, bem como aos processos de apresentada, a biomassa presente no esgoto
transformação que ocorrem no sistema de coleta e sanitário será incluída nas frações XS e XU. Ao
transporte de esgoto. Os últimos são influenciados contrário, alguns protocolos para fracionamento do
pelas condições redox, tempo de detenção afluente, usados para modelagem dinâmica
hidráulico e temperatura. A quantidade de (baseado no ASM) (vide seção 3.13), incluem uma
compostos orgânicos rapidamente biodegradáveis detalhada caracterização da biomassa heterotrófica
tipicamente decresce em longos condutos por e autotrófica. Esse é o caso do protocolo
gravidade (aeróbios) e aumenta em condutos sob BIOMATH (Vanrolleghem et al., 2003), no qual a
pressão (anaeróbios). Apesar das grandes variações caracterização da água residuária afluente e a
entre ETEs, as frações de DQO e de nitrogênio estimativa dos parâmetros do processo biológico
encontradas em um determinado esgoto sanitário dependem fortemente de medidas respirométricas
são bastante constantes, ainda que as concentrações (Spanjers; Vanrolleghem, 2016).
variem (Henze, 1992). Pode-se afirmar, então, que
um esgoto sanitário específico exibe uma 3.5 NITROGÊNIO
“impressão digital” mais estável.
A fonte principal de nitrogênio no esgoto bruto é a
Tabela 3.9 Valores mínimos, médios e máximos do excreta humana, da qual 75% estão na forma de
fracionamento de DQO de 21 diferentes estações de ureia, que é quase imediatamente hidrolisada para
tratamento de esgoto sanitário (Roeleveld; van
Loosdrecht, 2002).
nitrogênio amoniacal, sendo o restante, orgânico.
Essa relação é reconhecida nas típicas frações de
Fracionamento do afluente à Min. Médio Máx. nitrogênio (Henze, 1992). A fração inorgânica
ETE
SU / DQOt 0,03 0,06 0,10
compõe a maior parte dos compostos de nitrogênio
SS / DQOt 0,09 0,26 0,42 presentes no esgoto predominantemente doméstico
XS / DQOt 0,10 0,28 0,48 e é essencialmente composta de amônia livre e
XI / DQOt 0,23 0,39 0,50 salina (FSA – free and saline ammonia), ou seja, a
BDQOb/DQO t = (SS + XS)/ DQOt 0,45 0,55 0,68
DBO5 / DQOt 0,32 0,40 0,51 soma da amônia livre (NH3) e do íon amônio
Fração de DQO particulada
0,47 0,68 0,88
(𝑁𝐻4+ ). As concentrações de nitrogênio inorgânico,
= (SS+XS)/DQOt nas formas de nitrato e nitrito, são tipicamente
desprezíveis no esgoto doméstico. Além disso, ele
É importante notar que o esgoto sanitário também contém uma fração de nitrogênio orgânico,
também contém uma pequena quantidade de que pode ser subdividida em biodegradável e não
biomassa ativa, que não é explicitamente biodegradável, cada uma presente nas formas
considerada no fracionamento apresentado. A solúvel e particulada (Figura 3.3, Ekama (2009) –
biomassa pode ser responsável por 10 a 20% da vide capítulo 5), que corresponde diretamente à
matéria orgânica total do esgoto bruto (Kappeler; cada uma das frações de DQO mostradas na Figura
Gujer, 1992). Além disso, essa fração não precisa 3.2.
ser considerada no estado de equilíbrio (vide
capítulo 4 para mais detalhes). A quantidade de Para uma descrição detalhada dos
biomassa afluente é também desprezada em certos procedimentos analíticos usados na determinação
protocolos de calibração de modelos de lodo de FSA e Nitrogênio Total Kjeldahl, o leitor deve
consultar os protocolos padrões detalhados em lodo total no reator também contém uma fração
Rice et al. (2017). inerte (SSI), resultante dos compostos inorgânicos
presentes no afluente.
Figura 3.3 Fracionamento do nitrogênio no esgoto A parte orgânica do nitrogênio está ligada à
sanitário matéria orgânica carbonácea do esgoto. A fração de
nitrogênio orgânico total é calculada através da
Durante o tratamento biológico, as frações de diferença entre o Nitrogênio Total Kjeldahl e a
nitrogênio orgânico biodegradável (ambos, solúvel FSA. As frações de nitrogênio total solúvel
Nobs e particulado Nobp) são liberadas como amônia (Nobs+Nous) e particulado (Nobp+Noup) são
e adicionadas ao FSA (além de SNHx). Parte desse determinadas através das medidas de Nitrogênio
FSA é incorporado à biomassa, principalmente a Total Kjeldahl antes e após a filtração. As frações
heterotrófica (OHO, com massa MXOHOv), desde individuais de nitrogênio solúvel e particulado
que a quantidade de biomassa autotrófica biodegradável e orgânico não biodegradável não
(MXANOv) seja desprezível. Durante a respiração podem ser determinadas diretamente, mas podem
endógena, parte do nitrogênio permanece fixo, ser assumidas ou deduzidas de outras medidas. A
denominado resíduo endógeno (MXE,OHOv), e o fração fixa de nitrogênio, para vários componentes
remanescente é liberado novamente na forma de de DQO (fn), pode ser assumida, desde que o
amônia. A parte do FSA, que não é incorporada à conteúdo de nitrogênio no lodo do sistema de lodo
biomassa, fica disponível para conversão à nitrato. ativado seja previsto com suficiente exatidão. Um
A fração de nitrogênio orgânico particulado não conteúdo de nitrogênio fixo fn = 0,10
biodegradável (Noup) incorpora-se à biomassa, mais mgN.mgSSV-1 é atribuído à biomassa
especificamente na parte orgânica não heterotrófica, ao resíduo endógeno e ao composto
biodegradável do lodo (MXUV). A fração de orgânico particulado não biodegradável no
nitrogênio orgânico não biodegradável solúvel exemplo do projeto do capítulo 5.
(Nous) não é removida e, então, sai no efluente. A Alternativamente, a fração de nitrogênio dos
relação entre DQO e as frações de nitrogênio no compostos de DQO solúvel e particulada pode ser
afluente e sua contribuição à massa de SSV determinada, rigorosamente, a partir das análises
(particulado) no reator biológico, assumido no de FSA e Nitrogênio Total Kjeldahl de amostras do
capítulo 5, é esquematicamente ilustrado na Figura afluente e do efluente filtradas e não filtradas,
3.4. Deve-se lembrar que para além da massa de conforme detalhado por Roeleveld; van Loosdrecht
lodo SSV, consistindo da biomassa (MXOHOv), (2002). Mais informações sobre o fracionamento
resíduo endógeno (MXE,OHOv) e compostos do nitrogênio para uso na modelagem podem ser
orgânicos não biodegradáveis (MXUv), a massa de
9
As proporções apresentadas não são válidas para o Brasil,
pois a maioria dos indivíduos descarta o papel higiênico na
lixeira, constituindo, portanto, em resíduo sólido domiciliar.
quatro métodos para quantificar o conteúdo de fármacos têm ganhado muita atenção nas últimas
celulose no esgoto e no lodo: (i) hidrólise ácida duas décadas, especialmente devido ao aumento da
diluída; (ii) hidrólise ácida concentrada; (iii) evidência de seus efeitos biológicos negativos
hidrólise enzimática e (iv) método do reagente de sobre os animais aquáticos (Corcoran et al., 2010).
Schweitzer. Desses, segundo os autores, o único As ETEs são consideradas como fontes típicas
método confiável foi o de Schweitzer, sendo suas desses micropoluentes. De fato, os fármacos
vantagens: a simplicidade; a reprodutibilidade; a alcançam as estações através da urina e das fezes
exatidão; a recuperação ideal (100%) e a relativa descartadas das residências e das instituições.
rapidez do teste, tanto quanto sua independência Mesmo que as ETEs não sejam projetadas para
das reações de hidrólise. removê-los, esses micropoluentes sofrem
biotransformação, sorção, dessorção, sequestro
A celulose mostra um comportamento pela fase sólida e retransformação ao composto de
específico nas ETEs, que é caracterizado pela taxa origem nas unidades do tratamento biológico
de hidrólise muito lenta. Sua taxa de degradação é (Plósz et al., 2012) (Figura 3.9). Cada fármaco
dependente da temperatura, observando-se uma considerado pode ser categorizado em quatro
significativa diferença no verão e no inverno. Para formas. Duas estão na fase líquida: (i) composto
ETEs com relativamente alta idade do lodo, é químico original e (ii) formas químicas
recomendado incluir a celulose como variável de retransformadas, tais como os metabólitos
estado separada (XCL) na modelagem dos sistemas humanos, que são biotransformados da forma
de lodo ativado (Reijken et al., 2018). A original. As outras duas formas estão na fase sólida
consideração como um componente de carbono (iii) sorvida quimicamente e (iv) sequestrada pela
orgânico particulado separado afeta as frações fase sólida (Plósz et al., 2012; Snip et al., 2014).
afluentes orgânica (lentamente) biodegradável
particulada (XS) e não biodegradável particulada
(XU), de modo que é determinado pelo valor da
constante de hidrólise da celulose (Reijken et al.,
2018). A última pode, por sua vez, somente ser
quantificada por métodos de medida de celulose
confiáveis e exatos.
3.9 MICROPOLUENTES
Phenol 0.02-1
valores estão expressos em mg.L ) 0.05 0.1
vazão
according ou 3.3-3.4.
to eqs. carga de DBO, de acordo com as
Phthalates, DEHP 0.1 0.2 0.3
Parâmetro Mínimo Médio equações 3.3 e 3.4.
Nonylphenols, NPE 0.01 0.05 Máximo
0.08
Compostos fenólicos 0,02 0,05 1.5 0,1 2.5 1 PE = 0.2 m3/d, Hvitved-Jacobsen (2013) (3.3)
PAHs 0.5
Ftalatos, DEHP 0,1 0,2 1 𝑃𝐸 = 0,2 𝑚3 . 𝑑 −1 , Hvitved − Jacobsen (2013)
Methylene chloride 0.01 0.03 0,30.05
Nonilfenóis, NPE 0,01 0,05 1 PE = 60 g BOD/d, EC (2007) (3.4) (3.3)
LAS 3,000 6,000 0,08
10,000
HAPs
Chloroform
0,5
0.01
1,5
0.05
2,5
0.01
1 𝑃𝐸 = 60 𝑔𝐷𝐵𝑂. 𝑑 −1 , EC (2007)
Cloreto de Metileno 0,01 0,03 0,05 These two definitions are based on fixed non- (3.4)
LAS 3.000 6.000 10.000 changeableEssas values, independent
duas definições são of the actual
baseadas em valores
Clorofórmio 0,01 0,05 0,01 wastewater volume produced per person
fixos, independentes do volume day per realor de
the água
sourceresiduária
of the wastewater. For example, the
produzida por pessoa por dia ou unit PE a sua
can also be used to quantify the load of industrial
fonte. Por exemplo, o PE pode também ser usado
wastewater streams. However, the actual contribution
para quantificar a contribuição industrial. Todavia,
from a person living in a sewer catchment to the
a real contribuição de uma pessoa, que vive numa
wastewater production, the Person Load (PL), can
bacia de esgotamento sanitário, à produção de
vary considerably (Table 3.15). The reasons for the
esgoto,
variation can be denominada contribuição
that the working place is per the (PL –
capita
outside
person load), pode variar consideravelmente
catchment, socio-economic factors, lifestyle, type of
(Tabela
household 3.15). As
installation etc.razões para tal variação podem
ser: local de trabalho situado fora da bacia; fatores
socioeconômicos; estilo de vida; tipo de residência;
Table 3.15 Variations in load per person (Henze et al., 2002).
etc.
Figura 3.10
Figure 3.10 High
Altas concentrações
concentrations de detergentes
of detergents create
Parameter Unit Range
produzem
problems forproblemas natreatment
a wastewater operaçãoplant
da operator
ETE (foto: M.
(photo: BOD Os termos equivalente
g/cap.d populacional
15-80 e
M. Henze).
Henze) COD contribuição per g/cap.d
capita são frequentemente
25-200
Nitrogen g/cap.d
confundidos ou mal interpretados, de2-15
tal forma que
Phosphorus
se deve ter cuidado g/cap.d
no seu uso e se1-3certificar de
Wastewater flow
definir rate
claramente m3que
no /cap.d 0.05-0.40
se baseiam. PE e PL são
baseados em contribuições médias e usados para
dar uma ideia da carga afluente ao processo de
tratamento
Table 3.16. Load per person in various countries in kg/cap.yr (based on Henze de esgoto. Eles não devem ser
et al., 2002).
calculados através de dados baseados em intervalos
Parameter Brazil Egypt India Turkey US Denmark Germany
de tempo curtos (horas ou dias). A contribuição per
BOD 20-25 10-15 10-15 10-15 30-35 20-25 20-25
capita varia de país a país, como mostrado nos
TSS 20-25 15-25 15-25 30-35 30-35 30-35
valores anuais, ilustrados na Tabela 3.16.
N total 3-5 3-5 3-5 5-7 5-7 4-6
P total 0.5-1 0.4-0.6 0.4-06 0.8-1.2 0.8-1.2 0.7-1
Tabela 3.16 Contribuição per capita em vários países em kg.pessoa-1.ano-1 (baseado em Henze et al., 2002).
3.11.3 Importância das relações substancial parte da matéria orgânica será difícil de
degradar biologicamente. Quando os sólidos em
As relações entre os vários componentes do esgoto suspensão no esgoto têm um alto componente
sanitário têm significativa influência sobre a orgânico (alta relação SSV/SST), eles podem ser
seleção e o funcionamento dos processos de digeridos com sucesso sob condições anaeróbias.
tratamento. Um esgoto com uma baixa relação
carbono orgânico biodegradável/nitrogênio pode Enquanto a maioria da carga poluidora do
necessitar da adição de uma fonte externa de esgoto sanitário origina nas residências, hospitais,
carbono para a desnitrificação biológica. Uma escolas e indústrias, esses contribuem somente
variação na relação entre o carbono orgânico parcialmente à quantidade total de esgoto. Uma
rapidamente e o lentamente biodegradável (SS/XS), significativa quantidade de água no esgoto pode ter
para a mesma quantidade total de carbono orgânico como origem a água de chuva (em alguns países, o
biodegradável (DQOb = SS + XS), pode, degelo da neve) ou a infiltração da água
significativamente, afetar a concentração de nitrato subterrânea. Portanto, embora os componentes do
no efluente. Esgoto com uma concentração de esgoto estejam sujeitos à diluição, não haverá
nitrato relativamente alta ou uma baixa mudanças nas relações entre eles. A Tabela 3.19
concentração de ácidos graxos voláteis (VFAs) não mostra as relações típicas entre os componentes do
será conveniente à remoção biológica de fósforo. esgoto sanitário.
Uma alta relação DQO/DBO indica que uma
Tabela 3.19 Relações típicas no esgoto sanitário (adaptado de Henze et al., 2002). As relações para os exemplos de esgoto
bruto e decantado foram extraídas ou calculadas das Tabelas 4.2a, 6.2b, 3.3c, de acordo com Ekama (2009). dValor típico de Dold
et al. (1980)
Uma vez que as relações dos componentes no anomalias podem afetar o processo de tratamento,
esgoto sanitário permanecem relativamente as causas do seu aparecimento devem ser
constantes, sua análise temporal, para uma investigadas.
determinada vazão, pode ser usada para detectar
anomalias devido a erros analíticos ou descargas
especiais para o sistema de esgotamento sanitário,
frequentemente de indústrias. Se descargas
industriais causam a discrepância, as concentrações
de outros componentes no esgoto, que ainda não
tenham sido determinadas, podem, também,
desviar dos valores esperados. Desde que tais
O esgoto doméstico, ou seja, a água residuária Options for reducing the physiologically generated Ki
Há várias
amount of waste correntes
are notde obvious,
esgoto although
em uma diet organi
originada nas residências varia no mundo todo, em residência, como mostrado na Tabela 3.20. Elas
termos de quantidade e composição. Essas influences the amount of waste produced by the wastew
contêm quantidades específicas de matéria
variações são influenciadas pelo clima; aspectos human organism. However, one could opt to separate kitche
orgânica e nutrientes. A composição do esgoto
socioeconômicos; tecnologia de construção e the toilet waste (also termed physiological waste or ‘clean
doméstico pode ser alterada pela mudança na
outros fatores. Nas residências, a maioria do anthropogenic waste) from the waterborne route, reduct
quantidade e composição das várias correntes.
resíduo sairá como sólido ou líquido e há leading to a significant reduction in the nitrogen, (Danis
phosphorus and organic load in domestic wastewater. food w
Waste
Tabela 3.20 Correntes de esgoto em uma residência e suas características paragenerated
um estilo deafter theecológico”
vida “não separation(deat source has
Sundberg, flushe
1995; Henze, 1997) taken place, however, still has to be transported away divert
from the household, and in many cases, the city. kitche
Parâmetro Unidade Vaso sanitário Cozinha Banheira/Lavanderia Total
solid w
Totala Urina
Vazão m3.ano-1 19 11 Urine18 is the main 18 contributor to nutrients
55 in from
DQO kg.ano-1 27,5 5,5 household16 waste, thus separating
3,7 out the urine
47,2 will treatm
DBO kg.ano-1 9,1 1,8 significantly
11 reduce the 1,8 nutrient loads in wastewater
21,9 also c
N kg.ano-1 4,4 4,0 (Figure 0,3
3.11). Urine separation will reduce 5,1
0,4 nitrogen can af
P kg.ano-1 0,7 0,5 0,07 0,1 0,87
K kg.ano-1 1,3 0,9
content in
0,15
domestic wastewater
0,15
to a level
1,6
where waste.
nitrogen removal is not needed. showe
a
incluindo urina which
which
As opções para reduzir fisiologicamente a
waste
quantidade gerada de resíduos não são óbvias,
showe
embora a dieta influencie na quantidade de resíduo
wastew
produzido pelo organismo humano. Todavia, pode-
reused
se optar por separar os resíduos (também
denominados fisiológicos ou antropogênicos) no
treatm
vaso sanitário, conduzindo a significativas
reduções nas cargas de nitrogênio, de fósforo e de Th
matéria orgânica do esgoto. Tais correntes the ki
segregadas, entretanto, ainda precisam ser with t
transportadas para fora da residência e, em muitos Figure3.11
Figura 3.11Vaso
Urinesanitário
separating toilet. de urina.
separador compo
casos, da cidade. treatm
O resíduo sólido da cozinha contém uma
quantidade significativa de matéria orgânica, que
A urina é a principal contribuinte de nutrientes
tradicionalmente é conduzido para o esgoto 10. É
no esgoto de uma residência; então, sua separação
relativamente fácil reduzir a carga orgânica da
reduzirá significativamente a carga de nutrientes no
corrente da cozinha pela aplicação do cozimento
esgoto doméstico (Figura 3.11), podendo chegar a
“cleantech” (Danish EPA, 1993). No cozimento
níveis nos quais não será necessária a remoção de
cleantech, a fração orgânica do resíduo sólido é
nitrogênio na ETE.
descartada em um recipiente e não triturada e
10
Isso não é verdadeiro no Brasil, onde a maioria da fração através de caminhões, que os encaminham para a destinação
orgânica putrescível dos resíduos sólidos domiciliares é final.
coletada, juntamente com os demais resíduos, na residência,
conduzida para o sistema de esgoto pela água de da carga orgânica na rede. Porém, o resíduo é
torneira. A fração orgânica pode ser disposta junto gerado nas residências e deve ser transportado para
com os demais resíduos sólidos da residência. A fora delas ou das cidades por algum meio. A
água cinza da cozinha pode ser usada para irrigação descarga do resíduo sólido na rede não muda a
ou, após tratamento, para a descarga sanitária. A carga de resíduo total produzido na residência, mas
corrente da cozinha também possui produtos mudará o meio de transporte e a destinação final do
químicos, que podem afetar sua composição e sua mesmo.
carga.
3.11.5 Componentes dos efluentes não
As correntes da lavanderia, da banheira e do domésticos
chuveiro carregam uma menor carga poluidora,
parte da qual provém dos produtos químicos usados O esgoto sanitário transportado por redes coletoras
na residência, que podem afetar a sua composição às ETEs origina não somente das residências, mas
e carga. Essas correntes podem ser usadas, junto também das indústrias que não tem seu próprio
com a água tradicional da cozinha, para irrigação. (descentralizado) tratamento de águas residuárias.
Alternativamente, podem ser reusadas para a Além disso, as ETEs também recebem despejos de
descarga do vaso sanitário. Em ambos os casos, fontes externas, tais como lixiviado de aterro
considerável tratamento é necessário. sanitário.
water reuse
will become
ernal water
ume should Figure
Figura 3.12
3.12 Collection and storage of leachate
Coleta e armazenamento at a em
de lixiviado sanitary
um
Metcalf and landfill site in Sarajevo in Bosnia and Herzegovina (photo: F.
aterro sanitário em Sarajevo na Bósnia e Herzegovina Figure 3.13 Digesters produce digester supernatant which
aracteristics Babi ). Figura 3.13 Digestores produzem sobrenadantes que
(foto: F. Babić) often gives rise to problems in wastewater treatment plants
ted in Table frequentemente causam
due to the high loads of problemas nasother
nitrogen and ETEs,substances
devido às
ncentrations altas cargas
(photo: de nitrogênio e outras substâncias (foto: D.
D. Brdjanovic).
dynamic Tabela 3.22 Qualidade do lixiviado de aterro sanitário Brdjanovic). Figure 3.14 Be
(g.m-3 exceto para pH) collected unde
Tabela 3.23 Sobrenadante do digestor (em g.m-3)
Parâmetro Mínimo Máximo
Componente Mínimo Máximo
DQO total 1.200 16.000
DQO total 700 9,000
DQO solúvel 1.150 15.800
DQO solúvel 200 2,000
DBO total 300 12.000
DBO total 300 4,000
N total 100 500
DBO solúvel 100 1,000
N Amoniacal 95 475
N total 120 800
P total 1 10
N Amoniacal 100 500
SST 20 500
P total 15 300
SSV 15 300
SST 500 10,000
Cloreto 200 2,500
SSV 250 6,000
H2S 1 10
H2S 2 20
pH 6,5 7,2
11
Aqua privy é um tanque séptico no qual a latrina está
localizada diretamente sobre ele
séptica deve ser descarregado em um tanque de • Urina: é o líquido produzido pelo corpo
armazenamento (tanque tampão), do qual será para descartar o nitrogênio na forma de
bombeado à estação, em períodos de baixa carga ureia e outros produtos. Nesse capítulo,
(frequentemente durante a noite). Como regra ela se refere à urina pura, que não é
geral, a descarga de um caminhão limpa-fossa com misturada com fezes ou água.
lodo séptico por dia não criará problemas diretos Dependendo da dieta, a urina humana
nas ETEs que operam para atender mais de 100.000 coletada de uma pessoa durante um ano
equivalentes populacionais. (aproximadamente 300 a 550 L) contém 2
a 4 kg de nitrogênio. A urina pode ser
Por causa que grandes quantidades de lodo estocada, por exemplo, em banheiros
fecal misturados com esgoto frequentemente secos com separação de urina (UD(D)Ts)
alcançam uma ETE, é importante destacar a e hidrolisada naturalmente ao longo do
diferença na composição do esgoto nos sistemas tempo, ou seja, a ureia é convertida a
centralizado e descentralizado. amônia e bicarbonato por enzimas;
• Água de limpeza anal: é a água usada para
Alguns leitores podem não estar familiarizados limpar o corpo após defecar e/ou urinar; é
com as definições dos resíduos sólidos e líquidos gerada por aqueles que usam água ao
originados nos sistemas descentralizados. A invés de material seco para limpeza anal.
descrição geralmente aceita (adotada de Tilley et O volume de água empregado,
al., 2014; Strande et al., 2014; Velkushanova et al., tipicamente, varia de 0,5 a 3,0 L (mas
2020) é a seguinte: pode ser maior em áreas urbanas
desenvolvidas);
• Excreta: consiste em urina e fezes, que • Água para descarga: é a água
não são misturadas com nenhuma água de descarregada pelo vaso sanitário para
descarga. A excreta é relativamente limpar e encaminhar o seu conteúdo para
pequena em volume, mas concentrada em o sistema de transporte ou para
nutrientes e patógenos. Dependendo das armazenamento no local. Água de
características das fezes e do conteúdo da abastecimento, água de chuva, água cinza
urina, pode-se ter uma consistência mole reciclada ou qualquer combinação das
ou viscosa; três pode ser usada como fonte de água
• Fezes: refere-se ao excremento para descarga. Muitos sistemas sanitários
(semissólido) que não é misturado com a não requerem tal água (por exemplo,
urina ou a água. Dependendo da dieta, privada seca);
cada pessoa produz aproximadamente 50 • Água negra: é a mistura de urina, fezes e
a 150 L por ano de material fecal, dos água de descarga com água de limpeza
quais aproximadamente 80% é água e a anal (se a água é usada para limpeza) e/ou
fração sólida remanescente é composta de materiais de limpeza secos;
matéria orgânica. Uma forma especial de • Água cinza: é um nome comum para a
fezes é a diarreia, que é a perda de fezes água gerada pela lavagem de alimentos,
aquosas, resultante de infecção viral, roupas e pratos, tanto quanto pelos
parasitária por protozoários, bactérias e banhos. Não se considera a água dos
helmintos (Tipo 6 e Tipo 7 na Escala de vasos sanitários. Ela responde por
Fezes de Bristol)12; aproximadamente 65% do esgoto
12
Escala de fezes de Bristol é uma ferramenta médica humanas em sete categorias. É usada nos campos clínico e
diagnóstica, projetada para classificar a forma das fezes experimental
produzido
greywater, or nas anyresidências
combinationque possuem
of these three, can empíricas, continuarão
observations, will continuea aumentar
to increaseothe
conhecimento
knowledge
vaso sanitário
be used as a flushcomwater
descarga;
source. Many sanitation sobre
on as características
faecal desse resíduo,
sludge characteristics, e permitirão
and allow more
• systems
Água do not érequire
marrom: flush water
uma mistura de fezes(e.g.e ‘dry’ accurate
previsõespredictions of faecal
mais acuradas, sludgemétodos
usando characteristics
menos
sanitation).
água da descarga, que não inclui urina, using less labour-intensive
intensos laboralmente. methods.
Uma Anrevisão
overview dasof
Blackwaterprincipalmente
gerada is the mixture of em urine, vasos
faeces and the most relevant faecal sludge characteristics
características do lodo fecal mais relevantes de from
flush water with anal cleansing
sanitários separadores de urina. Seu water (if water is public toilets
banheiros and septic
públicos tanks is sépticos
e tanques presentedé in Figure
mostrada
used for cleansing) and/or dry
volume depende da quantidade de água de cleansing materials. 3.26 (adopted from Strande et al., 2014).
na Tabela 3.26 (adotado por Strande et al., 2014). For more
Greywater usada.
descarga is a common Podename for water
também generated
incluir detailed information on faecal sludge characterization,
Para informação mais detalhada, o leitor deve
from washing food, clothes and dishes, as well as sampling and analysis, the reader is referred to
For Translation Purposes Only
Tabela 3.26 Características do lodo fecal de banheiros públicos e de tanques sépticos (adaptado de Strande et al., 2014)
Em muitos casos, variações diárias são observadas; • Amostras simples, ou seja, uma amostra
em alguns, semanais ou sazonais, e em outros, são coletada em um recipiente em um
muito mais prováveis de serem causadas pelos determinado instante de tempo. Esse tipo
de amostragem dá resultados altamente
padrões de produção industrial. Se a carga do variáveis;
componente é mais ou menos constante, a dinâmica • Amostras compostas proporcionais ao
tempo, ou seja, um número de amostras
da concentração se correlaciona amplamente com a
coletadas em intervalos de tempo
vazão. Isso é bastante frequente no caso do carbono regulares (por exemplo, a cada hora), que
orgânico. Outros componentes, tais como são combinadas em uma única amostra
final. Esse tipo de amostragem é
nutrientes, podem mostrar uma dinâmica
conveniente quando as variações das
independente da vazão. Por exemplo, variações características da água residuária são
diurnas nas concentrações de amônio podem ser relativamente lentas quando comparadas
à frequência das medidas.
causadas pela urina, que é um fluxo muito
• Amostragem proporcional à vazão, ou
concentrado de nutrientes (Figura 3.17). seja, um número de alíquotas é coletado
durante um determinado intervalo de
tempo (tipicamente 24 horas) e os
volumes das alíquotas são proporcionais
às variações das vazões instantâneas da
água residuária. Isso dá uma estimativa
mais confiável da dinâmica dos
componentes da carga da água residuária
Figura 3.18 Um curso sobre modelagem dos sistemas de lodo ativado na IHE Delft, durante o qual os estudantes tornam-se
familiarizados com os protocolos de calibração (foto: IHE Delft)
OED (optimal experimental design): Projeto experimental ótimo; CFD: dinâmica de fluidos computacional; µ ANO,máx: taxa máxima
de crescimento da biomassa autotrófica; bANO: coeficiente de decaimento endógeno das heterotróficas
NOMENCLATURA
Abreviação Descrição
ATU Alil tiouréia
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DBO∞ DBO última
CFD Dinâmica de fluidos computacional
DOT Demanda de Oxigênio Total
DQO Demanda Bioquímica de Oxigênio
SIC Saneamento Inclusivo em toda a Cidade
EPS Substâncias poliméricas extracelulares
FSA Amônia livre e salina
FSM Gestão de lodo fecal
FSTP Estação de tratamento de lodo fecal
CG-MS Cromatografia gasosa com espectrometria de massa
HPLC Cromatografia líquida de alta pressão
CL-MS2 Cromatografia líquida com espectrometria de massa em tandem
DBOn Demanda Bioquímica de Oxigênio Nitrogenada
SSI Sólidos em suspensão inertes
OED Projeto experimental ótimo
OHOs Organismos heterotróficos ordinários
PAOs Organismos acumuladores de fósforo
PE Equivalente populacional
PL Contribuição per capita
SA Análise de sensibilidade
ODSs Objetivos de desenvolvimento sustentável
SFD Diagrama de fluxo de excrementos
NTK Nitrogênio Total Kjeldahl
SST Sólidos em suspensão totais
VFAs Ácidos graxos voláteis
SSV Sólidos em suspensão voláteis
WC Banheiro
Figura 3.19 Amostragem é uma parte essencial da caracterização de águas residuárias e do lodo. A foto mostra a coleta de
Figure 3.19 Sampling is an essential part of wastewater and sludge characterization. The photo shows sample collection from
amostra
an de uma
oil refinery estação de
wastewater tratamento
treatment plande(Photo:
águas residuárias de uma refinaria de petróleo (Foto: D. Brdjanovic).
D. Brdjanovic).
se sólidos sedimentáveis. Uma massa muito projeto, a caracterização do esgoto precisa ser mais
pequena de sólidos em suspensão ou coloidal (não detalhada e refinada (o fracionamento detalhado da
sedimentável) é formada no reator, mas, quando água residuária é apresentado na seção 3.14).
ocorre, não pode ser retida de nenhuma forma e
escapa com o efluente. Para remoção de matéria orgânica apenas, com
a concentração do esgoto medida em termos de
DBO5 e SS - sólidos em suspensão (SS,
sedimentáveis e não sedimentáveis), é preciso
pouco mais do que o conhecimento das cargas de
DBO5 e de SS. O conhecimento dos tipos de
compostos orgânicos que compõem a DBO5 e os
SS geralmente não é necessário, porque várias
relações empíricas foram desenvolvidas
associando as cargas de DBO5 e de SS à resposta
esperada e ao desempenho do sistema de lodo
ativado, envolvendo inclusive a produção de lodo e
a necessidade de oxigênio. Quando a matéria
orgânica é medida em termos de DQO, torna-se
necessária uma caracterização mais detalhada do
material orgânico, devido ao fato de que o
parâmetro DQO inclui tanto material orgânico
biodegradável, quanto não biodegradável. As
concentrações de DQO biodegradável, não
biodegradável, solúvel e particulada, por exemplo,
Figura 4.1 Reações de transformações globais dos
precisam ser conhecidas. A concentração de DQO
constituintes orgânicos e inorgânicos do esgoto, a partir
de formas particuladas e solúveis nas fases sólida e particulada não biodegradável afeta fortemente o
líquida. Para a fase sólida como constituinte do lodo e acúmulo de lodo no reator e a produção diária de
para as fases líquida e gasosa que escapam para a lodo, e a concentração de DQO solúvel não
atmosfera ou com o efluente, respectivamente. biodegradável afeta a concentração de DQO
O grau necessário de caracterização da água filtrada do efluente do sistema. Sem nitrificação,
residuária para o projeto do sistema de lodo remoção de nitrogênio ou remoção de fósforo, não
ativado, não é determinado apenas pelos processos é necessário caracterizar o esgoto em termos de N
físicos, químicos e biológicos que o compõem, mas e P. Se a nitrificação é incluída no sistema, é
também pelo nível de sofisticação dos necessário o conhecimento dos componentes do
procedimentos de projeto a serem aplicados. material nitrogenado (NTK e ALS – Amônia livre
e Salina). Com remoção de nitrogênio
Isto é determinado, em grande parte, pela (desnitrificação), muito mais informações são
qualidade necessária do efluente em termos de necessárias: neste caso, não somente a carga
matéria orgânica (C), nitrogênio (N) e fósforo (P). orgânica em termos de DQO (não DBO5) precisa
Geralmente, quanto mais restritivas são as ser especificada, mas também a quantidade e a
necessidades de qualidade do efluente em termos qualidade de alguns compostos orgânicos que
de C, N e P, o sistema de lodo ativado tem que ser compõem a carga total de DQO. Além disso, os
mais complexo para alcançar as remoções materiais nitrogenados precisam ser caracterizados
requeridas e os procedimentos de projeto têm que e quantificados do mesmo modo. Com remoção
ser mais avançados e realistas. Quanto mais biológica de fósforo, são necessárias ainda
sofisticados e refinados são os procedimentos de informações específicas adicionais caracterizando
indevido acúmulo de lodo no decantador. A forma difuso. São exemplos as estações com aeração
do reator é aproximadamente quadrada ou circular prolongada, lagoas aeradas, valos de oxidação de
em planta e a mistura geralmente é feita por Pasveer ou lodo ativado de estágio único de mistura
aeradores mecânicos ou aeração por bolhas de ar completa.
Figura 4.2 Sistema de lodo ativado com (A) estágio único com reator em regime de mistura completa e (B) um reator em
regime de mistura de fluxo a pistão/intermediário.
A Equação 4.1 assume que a perda de sólidos A partir das definições anteriores, pode ser visto
com o efluente é desprezível e que a massa de lodo que há dois parâmetros que se relacionam ao tempo
no decantador secundário é desprezível em relação no sistema: (i) a idade do lodo, que é o tempo em
ao reator biológico. Esta hipótese é razoável que o material particulado permanece no reator, e
quando o sistema é operado com uma elevada razão (ii) o tempo de retenção hidráulica nominal, que é
de vazão de retirada do fundo (~1:1) e a idade do o tempo em que o líquido e o material dissolvido
lodo é maior do que aproximadamente 3 dias (ver permanecem no reator. Em sistemas de lodo
Seção 4.10). ativado que não possuem separação sólido/líquido
com membranas ou decantadores secundários
(DSs), como as lagoas aeradas, a idade do lodo e o
tempo de retenção hidráulica nominal são iguais,
isto é, o material líquido/dissolvido e o material
sólido/particulado permanecem no reator pelo
Tabela 4.1 Constantes estequiométricas e cinéticas e suas dependências da temperatura para os OHOs no modelo de lodo
ativado para degradação carbonácea em estado estacionário (Marais e Ekama, 1976).
YOHOv TRS e:
MXOHOv = F DQOb,i =
(1 + bOHO,T TRS)
= F DQOi (1 − fSU, DQO i XFSS,i concentração de SSI afluente (mgSSI/L)
YOHOv TRS
− fXU,DQO i )
(1 + bOHO,T TRS) Os SSI afluentes são apenas uma parte dos SSI
(mgSSV) (4.9) que são medidos no reator. Os OHOs (e PAOs, se
presentes) também contribuem para a concentração
M XE,OHOv = fXE,OHO bOHO,T M XOHOv TRS = de SSI. Em sistemas totalmente aeróbios e de
YOHOv TRS nitrificação-desnitrificação (ND), onde apenas
= F DQOb,i fXE,OHO bOHO,T TRS OHOs compreendem a biomassa ativa, os OHOs
(1 + bOHO,T TRS)
= F DQOi (1 − fSU,DQOi contribuem com aproximadamente 10 % de suas
YOHOv TRS massas OHODQO (15 % de suas massas de SSV)
− fXU,DQOi ) fXE,OHO bOHO,T TRS ao SSI (Ekama e Wentzel, 2004). Aparentemente
(1 + bOHO,T TRS)
esta massa de SSI é formada de sólidos dissolvidos
(mgSSV) (4.10)
intracelulares, a qual, quando uma massa de lodo é
F XU,i submetida a secagem no procedimento para SST,
M XUv = TRS = F XUv,i TRS = precipita como SSI.
fcv,UPO
fXU,DQOi
= F DQOi TRS Portanto, teoricamente, esta contribuição de
fcv,UPO
SSI dos OHOs (e PAOs, se presentes) aos SST
(mgSSV) (4.11) estritamente deveria ser ignorada, apesar de
contabilizada no teste de SST, porque sendo
M XSSV = M XOHOv + M XE,OHOv + M X UV
sólidos dissolvidos intracelulares, não se
YOHOv TRS
= F DQOi (1 adicionam ao fluxo real de SSI para o decantador
(1 + bOHO,T TRS) secundário. Contudo, uma vez que esta massa de
+ fXE,OHO bOHO,T TRS) SSI sempre foi implicitamente incluída
+ FXUv,i TRS = anteriormente no resultado do teste de SST, ela é
(1 − fSU,DQOi − fXU,DQOi )YOHOv TRS mantida porque os procedimentos de projeto de
= FDQOi ⌈ (1
(1 + fXE bOHO,T TRS) SST, são baseados nos resultados medidos de SST.
fXU,DQOi Em outras palavras, os modelos são ajustados para
+ fXE,OHO bOHO,t SRT) + TRS⌉ acomodar o “erro” do teste de SST. Incluindo a
fcv,UPO
(mgSSV) (4.12) produção de massa OHO SSI para sistemas
completamente aeróbios e de ND,
4.4.2.2 Massa de Sólidos em Suspensão
MXSSF = FXSSF,iTRS + fSSF,OHOMXOHOv (4.14a)
Inorgânicos no Reator
MXSST = MXSSV + MXSSF (mgSST) (4.15) Da Eq. 4.18, pode ser visto que a massa de
oxigênio utilizada pelos OHOs por dia (FO C) é a
A razão SSV/SST do lodo (fVT) é: soma dos dois termos. O primeiro (1-fcv,OHO YOHOv)
é a demanda de oxigênio para crescimento dos
M XSSV OHOs. Representa os elétrons (DQO) que são
fVT = (mgSSV/mgSST) (4.16)
M XTSS
usados no processo de crescimento para gerar
energia pelos OHOs para transformar os compostos
Caso a concentração de SSF do afluente não orgânicos utilizados em biomassa nova
seja conhecida, então a massa de SST (MXSST)T no (catabolismo). O equilíbrio dos elétrons utilizados
reator possa ser calculada a partir de uma razão (DQO, fcv,OHO YOHOv) é conservado como nova
SSV/SST estimada (fVT) do lodo, isto é: biomassa (anabolismo). Pode ser visto que esta
demanda de oxigênio é proporcional aos
MXSST = MXSSV / fVT (mgSST) (4.17) compostos orgânicos biodegradáveis do afluente e
não varia com a idade do lodo. Isto porque todos os
Em que: compostos orgânicos biodegradáveis do afluente
são utilizados e transformados em biomassa dos
fVT razão SSV/SST do lodo ativado OHOs. O segundo termo é a demanda de oxigênio
para a respiração endógena, que aumenta com o
Para a mesma concentração afluente de SSF aumento da idade do lodo. O aumento na demanda
(XSSF,i), a razão SSV/SST do lodo ativado (fVT) não de oxigênio carbonácea (FOC) é, portanto, devida
varia muito com o TRS, mesmo em uma faixa ao aumento da demanda de oxigênio para a
ampla de variação de 3 a 30 d (Ekama e Wentzel, respiração endógena com a idade do lodo. Este
2004). aumento é porque quanto mais tempo a massa de
OHO SSV permanece no reator, mais é degradada
via respiração endógena e mais os seus elétrons, principalmente da carga mássica diária de DQO e
carbono e energia são passados ao oxigênio, SSI sobre o reator e da idade do lodo.
transformados em CO2 e perdidos como calor, Similarmente, a massa de SST no reator é uma
respectivamente. Portanto, o crescimento é o função das cargas mássicas diárias de DQO e SSI
processo biológico por onde os compostos no reator e da idade do lodo. Consequentemente, no
orgânicos biodegradáveis do afluente são que diz respeito a massa de lodo no reator, pouco
transformados em massa de OHO SSV importa se a carga mássica diária de DQO (e SSI)
(anabolismo), com uma transferência de elétrons vem de uma baixa vazão diária com concentração
para o oxigênio associada e uma perda de energia elevada de DQO (e SSI), ou de uma vazão diária
como calor (catabolismo), e a respiração endógena elevada com baixa concentração de DQO (e SSI).
é um processo por onde os compostos orgânicos A FDQOi (e FXSSF,i) resultante é a mesma em
biodegradáveis dos microrganismos são ambos os casos, as massas de SSV e SST serão
degradados via catabolismo a CO2, com uma virtualmente idênticas. Contudo, os tempos de
demanda adicional de oxigênio e perda de energia retenção hidráulica serão diferentes, sendo longo
como calor. Os elétrons transferidos ao oxigênio no primeiro caso e curto no segundo. O tempo de
resultam em um acúmulo muito menor de massa de retenção hidráulica, portanto, é incidental à carga
SSV no reator comparado aos compostos orgânicos mássica de DQO (e SSI), à massa de SSV (e SST)
não biodegradáveis particulados. Todos os elétrons e à vazão diária: não possui função básica de
desses compostos orgânicos são conservados como projeto do sistema de lodo ativado. Critérios de
massa de SSV no reator e nada é passado ao projeto para o volume de reator do lodo ativado
oxigênio. Daí a produção de compostos orgânicos com base no tempo de retenção hidráulica devem,
não biodegradáveis é em efeito 1 gDQO/gDQO ou portanto, serem usados com extrema cautela
1/fcv,UPO gSSV/gDQO. porque incorporam implicitamente as
concentrações específicas das águas residuárias e
4.4.3 Volume de reator e tempo de valores característicos típicos para as regiões para
retenção as quais foram desenvolvidos.
lodo que escapam com o efluente devido à sobre o sistema de lodo ativado em estado
operação imperfeita do decantador secundário. estacionário é dado pela Eq. 4.23, em que:
Assim, as concentrações de DQO filtrada e não
filtrada do efluente, DQOe, são dadas por: DQOe concentração de DQO solúvel total do
efluente (mgDQO/L)
DQOe = SU,e (mgDQOfiltrada/L) (4.21a) XSSV concentração de SSV no reator
biológico (mgSSV/L)
DQOe = SU,e + fcv,OHOXSSV,e OC velocidade de utilização carbonácea
(mgDQOfiltrada/L) (4.21b) (para degradação de material
orgânico) de oxigênio no reator
Em que: (mgO2/L.h)
SU,e DQO não biodegradável no efluente =
SU,i = fSU,DQOiDQOi (mgDQO/L) [Fluxo de DQO(e-) na saída] = [Fluxo de DQO(e-)
XSSV,e SSV no efluente (mgSSV/L) na entrada] [Fluxo de DQO solúvel no efluente] +
Fcv,OHO razão DQO/SSV dos SSV (1,48 [Fluxo de DQO solúvel no descarte de lodo] +
mgDQO/mgSSV) [Fluxo de DQO particulada no descarte de lodo] +
[Fluxo de oxigênio utilizado pelos OHOs para
Na maioria dos casos, as concentrações de SSV quebra de DQO] = [Fluxo de DQO na entrada]
e SST do efluente são baixas demais para serem
medidas confiavelmente com os métodos QeDQOe + QwDQOe + QwXSSVfcv,OHO + VROC =
convencionais. Métodos alternativos para medir QiDQOi
baixas concentrações de sólidos têm sido (4.23)
desenvolvidos, para os SSV, via concentrações de
DQO filtrada e não filtrada, isto é, a partir da Eq. Na Eq. 4.23, os primeiros dois termos representam
4.21 e, para SST via turbidez, uma vez que a curva os compostos orgânicos solúveis que saem do
de calibração turbidez versus concentração de SST sistema via fluxos de efluente e de descarte de lodo,
para o lodo ativado foi preparada (Wahlberg et al., o terceiro termo, os compostos orgânicos
1994). particulados que saem do sistema via fluxo de
descarte de lodo e, o quarto termo, a massa de
XSSV,e = (DQOe(não filtrada) - DQOe(filtrada))/ fcv,OHO oxigênio utilizada para a quebra de material
(4.22) orgânico biodegradável pelos OHOs. Escrevendo
isso:
4.4.6 O balanço de massa de DQO (ou e-)
(Qe + Qw)DQOe = QiDQOe = FDQOe
No sistema de lodo ativado a DQO, teoricamente, QWXSSV = VRXSSV / TRS = MXSSV / TRS = FXSSV
deve ser conservada de modo que, no estado VROC = FOC
estacionário, o fluxo de massa de DQO à saída do QiDQOi = FDQOi
sistema deve ser igual ao fluxo de massa de DQO à
entrada do sistema em um determinado intervalo de O balanço de massa geral de DQO é dado por,
tempo. A DQO (e-) dos compostos orgânicos do FDQOe + fcv,OHO.MXSSV / TRS + FOC = FDQOi
afluente são (i) retidos nos compostos orgânicos (4.24)
não biodegradáveis particulados e solúveis, (ii)
transformado em massa de OHO e, portanto, Em que:
conservado em um tipo diferente de material FDQOe Fluxo de DQO de compostos orgânicos
orgânico, ou (iii) passado ao oxigênio para formar solúveis que saem do sistema via fluxos
água. Assim, no balanço geral de DQO (ou e-)
de efluente e de descarte de lodo dos OHOs dos sólidos voláteis no reator, f av,OHO, é
(mgDQO/d) dada por:
Fcv,OHO.MXSSV/TRS
MXOHOv
Fluxo de DQO dos compostos fav,OHO = (mg OHOSSV/mgSSV) (4.25)
MXSSV
orgânicos particulados que saem do
sistema via descarte de lodo Substituindo-se as equações 4.9 e 4.12 para
(mgDQO/d) MXOHOv e MXSSV e rearranjando, tem-se:
FOC Fluxo de oxigênio utilizado pelos OHOs
1
para degradação de material orgânico = 1 + fXE,OHO bOHO,T SRT +
fav,OHO
biodegradável, todos aqueles a partir do fXU,DQOi (1+ bOHO,T TRS)
afluente via processo de crescimento e (4.26)
fcv,OHO YOHOv (1− fXU,DQOi − fSU,DQOi )
alguns daqueles provenientes da
biomassa de OHOs via processo de Em que:
respiração endógena (carbonácea) Fav,OHO fração ativa dos OHO da massa de SSV
(mgO2/d)
Caso a massa de sólidos em suspensão totais
Substituindo-se as Eqs 4.12 e 4.18 para MXSSV (SST) seja usada como base para determinar a
e FOC na Eq 4.24 tem-se o balanço de DQO versus fração ativa, então a fração ativa da massa de lodo
TRS, que é considerado na Seção 4.5.3 abaixo em relação aos sólidos em suspensão totais, f at,OHO,
(Figura 4.3). é dada por:
solo (Korentajer, 1991); lodos não estabilizados geral, tal como ASM1, foi demonstrada por
aplicados em solo agrícola levam a uma indesejável Sotemann et al. (2006) para sistemas aeróbios e
demanda elevada de oxigênio no solo. sistemas ND (incluindo digestão aeróbia). Ainda,
estes modelos simples de estado estacionário
4.4.8 Projeto no regime estacionário podem formar a base para manipular cálculos para
(i) desenvolver dados de entrada de projeto e (ii)
O conjunto de equações definidas anteriormente verificar resultados de saída dos modelos de
forma o ponto de partida para o projeto de sistemas simulação dinâmica (Ekama, 2009).
de lodo ativado aeróbio e anóxico-aeróbio. Elas são
aplicáveis a um simples sistema com um único Outras hipóteses sobre as quais o modelo em
reator aeróbio de mistura completa e a sistemas regime estacionário é baseado são as de que (i) as
mais complexos com diversos reatores anóxicos- massas de OHOs ativos semeadas no sistema com
aeróbios para remoção biológica de nitrogênio. o afluente são desprezíveis em comparação com
Quando a remoção avançada de fósforo é incluída, aquela que cresce no reator, (ii) não há perda de
as equações anteriores não fornecem uma sólidos no efluente do decantador secundário, (iii)
estimativa acurada das massas de SSV e SST no a massa de água é conservada, (iv) atinge-se um
sistema. Com a remoção avançada de fósforo, um balanço de DQO de 100% e (v) a perda de OHO
segundo grupo de organismos heterotróficos, os ativos é modelada como respiração endógena. Com
PAO precisam ser considerados, que possuem relação à hipótese de utilização completa dos
constantes estequiométricas e cinéticas diferentes, compostos orgânicos biodegradáveis, se este não
produzindo mais massa de SSV e SST por massa for o caso, então a massa de lodo produzida por dia
de compostos orgânicos (DQO) utilizados. A aumenta e a demanda carbonácea de oxigênio
incorporação dos PAOs no modelo estacionário decresce abaixo daquela prevista pelas equações
será discutida no Capítulo 7. básicas. Os motivos para esses desvios estão na
cinética da degradação do material particulado
Para os sistemas anóxicos-aeróbios mais lentamente biodegradável. Caso, por exemplo, a
complexos, as equações básicas anteriores são fração aeróbia da massa de lodo seja muito pequena
aplicáveis se as hipóteses feitas em suas derivações (Capítulo 5), os compostos orgânicos particulados
forem aplicáveis. Para providenciar isto, neste biodegradáveis são utilizados apenas parcialmente
caso, os efeitos da nitrificação (Capítulo 5) e e os compostos orgânicos particulados
nitrificação-desnitrificação (Capítulo 5) e as biodegradáveis residuais (XS) se acumulam no
demandas de oxigênio associadas podem ser sistema como SSV adicionais, do mesmo modo que
formulados como equações adicionais às equações os compostos orgânicos particulados não
básicas anteriores. A abordagem “simplificada” biodegradáveis. Concomitantemente, a demanda
acima é baseada na hipótese de que os compostos de oxigênio carbonácea diminui porque menos
orgânicos biodegradáveis são completamente compostos orgânicos biodegradáveis são
utilizados. Isto tem sido estabelecido pela utilizados. Claramente, em tais situações os
correlação próxima encontrada entre a resposta resultados do modelo de simulação vão desviar dos
média dos sistemas anóxicos-aeróbios mais do regime estacionário. De fato, seria interessante
complexos, prevista por modelo cinético geral mais considerar tais desvios como um sinal para
complexo (e validado experimentalmente), com possíveis saídas incorretas do modelo de simulação
aquela calculada pelas equações básicas anteriores e iniciar uma investigação para encontrar a causa
e pelas equações adicionais para nitrificação e do desvio.
desnitrificação. A correspondência próxima entre
este modelo em estado estacionário simplificado e
os modelos mais complexos de simulação cinética
Figura 4.3 Massa de lodo MXSST (kgSST) e MXSSV (kgSSV) (A), fração ativa do lodo em relação aos SSV (fav,OHO) (B), demanda
carbonácea média de oxigênio FOC (kgO/d) e massa de lodo (SST) produzida por dia (kgSST/d) (C) e balanço de massa de DQO
(D) versus idade do lodo para o esgoto bruto e decantado do exemplo a 14 oC e 22 oC. As constantes estequiométricas e
cinéticas e as características do esgoto são dadas nas tabelas 4.2 e 4.3.
Tabela 4.3 Valores de projeto para o sistema de lodo ativado com idade do lodo de 20 dias para os exemplos com esgoto bruto
e tratado às temperaturas de 14 e 22 oC
Parâmetro do Sistema Unidade Bruto Decantado1
oC
Temperatura do esgoto 14 oC 22 oC 14 oC 22 oC
Massa de SSV, MXSSV kgSSV/d 51.122 48.982 21.918 20.537
Massa de SST, MXSST kgSST/d 68.162 65.309 26.408 24.743
Massa de O2, FOC kgO2/d 6.679 6.837 4.313 4.415
Fração ativa, fav,OHO 0,306 0,265 0,461 0,408
Fração ativa, fat,OHO 0,23 0,199 0,383 0,339
Descarte de Lodo, FXSSV kgSSV/d 2.556 2.449 1.096 1.027
Descarte de FXSST kgSST/d 3.408 3.265 1.320 1.237
DQO do efluente, DQOe mg/L 52,5 52,5 52,5 52,5
Balanço de massa de
DQO
Massa de DQO à saída kgDQO/d
Solúvel em Qe, FDQOe 743 743 766 766
Oxigênio utilizado, FOC 6.679 6.837 4.313 4.415
DQO solúvel em Qw 45 17 45 17
DQO dos SSV em QW 3.783 3.625 1.622 1.520
DQO total à saída kgDQO/d 11.249 11.249 6.718 6.718
DQO total à entrada kgDQO/d 11.250 11.250 6.718 6.718
% DQO no balanço de 100 100 100 100
massa
1
Para esgoto decantado, com base na vazão afluente de 14.925 ML/d para levar em consideração o fluxo de lodo primário de 75 m 3/d
(0,5% da vazão afluente em período seco)
2) DQO particulada (lodo ativado) na vazão de
4.5.3 O balanço de massa de DQO descarte de lodo,
Aplicando-se a Eq. 4.24 do balanço de massa de
DQO ao exemplo com esgoto bruto e decantado, (Qw) : FDQOSSV = fcv,OHOMXSSV /TRS
tem-se: (kgDQO/d)
1) DQO solúvel nas vazões de efluente e de Em que MXSSV é dado pela Eq. 4.12.
descarte de lodo,
3) Demanda carbonácea de Oxigênio utilizada,
(Qe + Qw = Qi ) : FDQOe = DQOiQi = FOC, kgO2/d e dado pela Eq. 4.18.
fSU,DQOiDQOiQi
(kgDQO/d) 4) Massa de DQO que entra no sistema,
FDQOi = DQOiQi (kgDQO/d)
Os sistemas de lodo ativado que operam com diretamente em leitos de secagem sem tratamento
idade do lodo muito alta, chamados aeração adicional. Tratando-se esgoto bruto em um sistema
prolongada (p.e. 30 dias, Tabela 4.4), permite que com aeração prolongada, portanto, reduz-se a
o processo endógeno se aproxime de se completar necessidade de tratamento de lodo, o que ocorre
e assim providencia não apenas o tratamento do também no próprio reator de lodo ativado, mas isto
esgoto no reator de lodo ativado, mas também uma às custas de um tanque muito grande e de taxas
estabilização aeróbia significativa do lodo ativado, elevadas de utilização de oxigênio e de consumo de
de forma a resultar em baixa fração ativa de forma energia.
de que o lodo em excesso pode ser descarregado
Tabela 4.4 Comparação entre produção de lodo, estabilidade (DQO biodegradável remanescente) e demanda de oxigênio no
tratamento do esgoto bruto e decantado do exemplo, sob idades do lodo alta e baixa.
Em contraposição, para tratar esgoto decantado tratamento aeróbio ou anaeróbio para estabilização
sob uma idade do lodo muito baixa (alta taxa, p. e. para reduzir os compostos orgânicos
8 dias), o sistema de lodo ativado demanda um biodegradáveis remanescentes.
volume de reator muito pequeno, com baixa
utilização de oxigênio e consumo de energia, mas
produzem lodo primário e lodo ativado de descarte
muito ativo, sendo que ambos precisam de
reator. Compare-se, por exemplo, duas estações pode ser visto que pode ser obtida uma redução de
operando com a mesma idade do lodo, ambas volume de reator significativa por meio da
recebendo a mesma carga orgânica (kgDQO/d), decantação primária: 62% para o exemplo com
mas a primeira sob alta concentração de DQO esgoto bruto e decantado a 20 dias de idade do lodo.
afluente e baixa vazão e, a segunda, sob baixa
concentração e vazão elevada. Se for projetada com
base em um tempo de retenção hidráulica
específico, o volume da primeira será muito menor
do que o da segunda, mas a massa de lodo nos
reatores será a mesma. Consequentemente, a
primeira estação deverá ter uma concentração de
SST excessivamente elevada, que pode causar
problemas no decantador secundário. Portanto, o
tempo de retenção é uma base completamente
errada para projeto e outros propósitos, tais como
critério para comparar os requisitos de volume de
reator de diferentes estações.
diferenças na concentração de SST no reator entre concentração de SST no reator XSST pode ser obtido
esgoto bruto e decantado surgem porque (i) a vazão a partir da Eq. 4.20, ou seja:
de esgoto por kg de carga de DQO aplicada ao
reator para esgoto bruto é significativamente maior MXSST 68.162
VM = ⁄X = (m3)
SST NLA XSST
do que para esgoto decantado e (ii) a
sedimentabilidade do lodo nos sistemas
Em que:
convencionais pode ser mais pobre do que em
XSST concentração no reator (mgSST/L)
sistemas com aeração prolongada: em uma
NLA número de módulos de lodo ativado
investigação de 45 estações em escala plena de lodo
com um reator por módulo de modo a
ativado na Holanda, Stofkoper e Trentelman
manter o volume de reator de um
(1982) encontraram IVLDs significativamente
módulo dentro de um limite máximo de
mais elevados em sistemas com esgoto decantado
volume de reator, i. e. VR = NLA.VM.
do que em sistemas com esgoto bruto (Ekama e
Marais, 1986).
Para estimar o custo do reator a partir do
volume, são necessárias funções empíricas
Os efeitos da concentração do esgoto e da
relacionando os custos de construção do reator com
sedimentabilidade do lodo, assim como outros
o volume. Tais funções toma a forma:
fatores tais como a razão entre a vazão de pico em
período chuvoso (VPPC) e a vazão média em
Custo do reator = NLACbr(VR)Pbr (4.28)
período seco (VMPS) (ou fator de pico de vazão f q
= (VPPC/VMPS), características do esgoto e do
Em que:
lodo ativado (fXU,DQOi, fSU,DQOi, fVT) e custos de
Cbr, Pbr constantes para um projeto particular de
construção, todos podem ser levados em
reator
consideração para determinar a concentração no
reator a partir de uma análise de minimização de
custos de construção (HÖrler, 1969; Dick, 1976; 4.7.2 Custo do decantador secundário
Riddell et al., 1983; Pincince et al., 1995). Nessa
Com base na teoria do fluxo, Ekama et al. (1997)
análise, os custos de construção do(s) reator(es) e
mostraram que se a taxa de recirculação de fluxo
do(s) decantador(es) secundário(s) (DSs) são
fundo s está acima do valor crítico mínimo, a área
determinados em função da concentração de SST
superficial dos decantadores secundários (ADS) é
no reator. A concentração no reator na qual o custo
função apenas da concentração de sólidos no reator
combinado de construção do(s) reator(es) e do(s)
(XSST) (ou alimentação) e da sedimentabilidade do
DS(s) é, em um mínimo, a concentração no reator
lodo. Caso a concentração no reator aumente ou a
de projeto.
sedimentabilidade do lodo se deteriore, a área
superficial necessária dos tanques decantadores
4.7.1 Custo do reator secundários (DSs) torna-se maior. Assim, o custo
de construção dos DSs aumenta com o aumento de
Para características selecionadas do esgoto
XSST.
(fXU,DQOi, fSU,DQOi, fVT) e do lodo ativado, idade do
lodo e carga orgânica de DQO sobre o reator
Para determinar a área superficial dos DSs, dois
(FDQOi,Reator), a massa de SST no reator (MXSST)
parâmetros precisam ser especificados para o
pode ser determinada pelas eqs. 4.15 ou 4.17 e
projeto, quais sejam, (i) a sedimentabilidade do
permanece constante, como no exemplo com
lodo e (ii) o fator de pico de vazão f q (= razão
esgoto bruto, idade do lodo de 20 dias e 14 oC,
VPPC/VMPS). A teoria idealizada do fluxo 1D
MXSST = 68.162 kgSST. O volume do reator (VR)
requer que a sedimentabilidade do lodo seja
em um módulo único (VM) em função da
VS = V0 exp(-rsz XSST). qi,VPPC = Qi, VPPC /ASST = fq Qi, VMPS /ADS (m/h)
(4.30b)
Valores de V0 e rsz não são facilmente
disponíveis, mas relações entre diferentes em que:
parâmetros de sedimentabilidade do lodo mais VMPS média de período seco
simples, tais como o índice volumétrico de lodo ADS área do decantador secundário
(IVL), índice volumétrico de lodo diluído e agitado
(IVLA) e índice volumétrico de lodo diluído Na calibração do procedimento de projeto da
(IVLD), têm sido propostos por vários autores (ver teoria do fluxo 1D idealizado com dados de
Ekama et al.,1977). desempenho de SST em escala plena, Ekama e
Marais (2004) mostraram que a taxa de
Estas relações permitem calcular os valores do carregamento de sólidos máxima permissível
fluxo V0 e rsz a partir dos índices de (TCS, kgSST/m2.h) deve ser apenas 80% da
sedimentabilidade do lodo, IVL, IVLA ou IVLD. estimada pela teoria de fluxo idealizado 1D e esta é
Contudo, há uma variação considerável nestas a razão para o 0,8 na Eq. 4.30. Esta redução parece
relações e a escolha para uma estação de lodo ser uma consequência de desvio significativo da
ativado em particular precisa de consideração hidrodinâmica em DSs reais, comparada com
muito cuidadosa. Para este exemplo, as relações aquela assumida na teoria do fluxo idealizado 1D,
desenvolvidas por Ekama e Marais (1986) são tais como fluxo horizontal de líquido e de sólidos,
aceitas: turbulência, curto-circuito e correntes de densidade
(Ekama et al., 1977).
IVLA3,5 = 0,67 IVLD (mL/g) (4.29a)
Levando-se em consideração os 25% (1/0,8) de
V0 / rsz = 67,9 exp(-0,016 IVLA3,5) redução, a área superficial dos DSs, ADS, em termos
(kgSST/m2.h) (4.29b) de XSST é dada por:
Em que:
Cds, Pds constantes para um projeto particular concentrados (DBO5 ou DQO), (ii) é maior para
idades do lodo mais elevadas e (iii) é maior para
4.7.3 Custo total esgoto bruto do que para esgoto decantado à
mesma concentração, porque todas essas três
O custo total do sistema reator-DS é a soma dos modificações aumentam o tamanho do reator
custos do reator e do DS. Resultados qualitativos biológico em relação ao do decantador, (iv) é
para o exemplo com esgoto bruto e decantado são menor para fatores de pico de vazão (fq) mais
dados na Figura 4.6, ignorando-se que o volume do elevados e (v) é menor para lodos com
reator e o diâmetro do DS possuem restrições de sedimentabilidade mais pobre, porque essas duas
tamanho, superior e inferior. modificações aumentam o tamanho do decantador
em relação ao reator biológico. Portanto, um valor
Para estações em escala plena, o reator e/ou DS ótimo universal não pode ser especificado. Em
podem precisar serem divididos em dois ou mais países com esgoto de baixa concentração e estações
módulos de mesmo tamanho para trazer o volume com baixa idade do lodo (p.e. América do Norte),
e o diâmetro para dentro do limite das faixas. Pela a concentração no reator tende a ser baixa (2.000-
análise de minimização de custo, como a anterior, 3.000 mgSST/L) e em países com esgoto de
geralmente será encontrado que a faixa de concentração elevada e estações com altas idade do
concentração no reator para o mínimo custo de lodo (p.e. África do Sul), a concentração no reator
construção (i) é maior para esgotos afluentes mais tende a ser elevada (4.000-6.000 mgSST/L),
conforme os esgotos do exemplo demonstram.
Figura 4.6 Custos de construção do reator, do decantador secundário e total conforme a concentração no reator para custo
mínimo para o exemplo com esgoto bruto (A) e decantado (B) em unidades de reator único e DS.
mínimas e médias de vazão e carga. Uma vez que a (mgSST/d por mgDQO/d) (4.34)
carga de NTK varia ao longo do dia e o processo de Um gráfico da massa total diária de lodo (SST)
nitrificação têm profunda influência sobre a produzida por unidade de carga de DQO sobre o
demanda total de oxigênio média diária ou de pico, reator biológico (Eq. 4.34) versus idade do lodo é
são discutidos no Capítulo 5 métodos empíricos mostrado na Figura 4.7 para o exemplo com esgoto
para estimar a demanda de oxigênio de pico a partir bruto e decantado.
da média para sistemas de nitrificação totalmente
aeróbios. Os sistemas de lodo ativado Pode ser visto que a massa de lodo produzido
completamente aeróbios com idades do lodo acima no sistema de lodo ativado (por unidade de carga
de 3 dias são prováveis de nitrificar em de DQO sobre o reator) diminui com o aumento da
temperaturas > 14 oC. Além disso, uma idade do idade do lodo, tanto para esgoto bruto como
lodo de 3 dias é, aproximadamente, o limite de tratado, mas a taxa de decréscimo é desprezível
validade para o modelo de lodo ativado em regime para idades do lodo acima de aproximadamente 20
estacionário, porque em idades do lodo abaixo dias. O tratamento de esgoto decantado resulta em
desta a hipótese de que todos os compostos produção de lodo secundário por unidade de carga
orgânicos biodegradáveis são utilizados não é de DQO sobre o reator mais baixa do que o de
válida. Assim, há pouco mérito em desenvolver esgoto bruto. Isto porque a fração da DQO
métodos empíricos para estimar a demanda de particulada não biodegradável (fXU,DQOi) e o
oxigênio de pico para sistemas totalmente aeróbios conteúdo inorgânico (XSSF,i/DQOi) no esgoto
sem nitrificação. decantado são significativamente mais baixos do
que no esgoto bruto.
4.9 PRODUÇÃO DIÁRIA DE LODO
esgoto fXU,DQOi e a razão SSV/SST (fVT), caso a produção de lodo com baixo conteúdo
concentração de SSI no afluente (XSSF,i) não seja energético, isto é, sem lodo primário e
medida. com baixa concentração de compostos
orgânicos biodegradáveis remanescentes
Embora a produção de lodo secundário no (baixa fração ativa) no lodo secundário,
tratamento de esgoto decantado seja menor do que não requerendo tratamento para
no de esgoto bruto, a massa total de lodo quando se estabilização adicional antes da
trata esgoto decantado é maior porque a produção disposição.
total de lodo inclui tanto o lodo primário quanto o
secundário; em estações em que se trata esgoto A produção diária de lodos primário e
bruto, apenas lodo secundário é produzido. secundário é a massa de lodo que precisa ser tratada
e disposta por métodos de processamento de lodo a
No sistema que trata esgoto bruto, o lodo jusante. O tratamento e a disposição de lodo, para
primário, com efeito, é tratado no reator de lodo sistemas com remoção biológica de nutrientes
ativado por si. Pelo balanço de DQO, quanto maior (RBN) em particular, não pode ser visto em
é o oxigênio que é utilizado no sistema, a produção separado do projeto do sistema de lodo ativado. De
de lodo e sua fração ativa serão menores (Figura fato, todas as operações unitárias da estação de
4.3B,C). Portanto, uma vez que a demanda de tratamento, desde o bombeamento do esgoto bruto
oxigênio carbonácea é muito maior quando se trata até a disposição final do lodo, devem ser vistas
esgoto bruto, a produção total de lodo é muito como um sistema integrado em que o projeto de
menor quando comparada com esgoto decantado. uma operação unitária depende da operação
unitária anterior a ela e as decisões em seus projetos
Generalizando-se as informações anteriores e podem afetar o projeto da operação unitária
levando-se em consideração a fração ativa do lodo seguinte. Por exemplo, enquanto a abordagem 1
de descarte como uma indicação dos compostos acima providencia uma oportunidade para baixo
orgânicos biodegradáveis nele remanescentes, há consumo de energia e alta geração de energia pela
dois extremos na abordagem para projetar estações digestão anaeróbia, o impacto da amônia e do
de tratamento de esgoto com lodo ativado para o fosfato no clarificado da desidratação do lodo
tratamento biológico: digerido sobre o reator de lodo ativado deve ser
considerado, a menos que a remoção de N e P do
(i) tratar esgoto decantado com baixa idade líquido da desidratação seja incluído no esquema
do lodo (quer dizer, 8 dias): Isto resulta de tratamento do lodo (Ekama, 2017). A remoção
em um sistema de lodo ativado muito de N do clarificado da desidratação é considerada
pequeno, com baixa demanda de oxigênio no Capítulo 5.
e elevada produção de lodo com alto teor
energético, isto é, elevada concentração
de compostos orgânicos biodegradáveis 4.10 RAZÃO ALIMENTO-
remanescentes tanto no lodo primário, MICRORGANISMOS (A/M) E FATOR
quanto no secundário (lodo ativado em DE CARGA
excesso), requerendo tratamento para a
estabilização adicional antes da A razão alimento-microrganismo (A/M) e o fator
disposição, ou, de carga (FC) têm sido usados há décadas para
(ii) tratar esgoto bruto com idade do lodo alta dimensionar os reatores de lodo ativado. A A/M
(quer dizer, 30 dias): Isto resulta em um procura quantificar o fluxo de compostos orgânicos
sistema de lodo ativado muito grande, biodegradáveis (alimento, DQO, DBO5) sobre os
com alta demanda de oxigênio e baixa microrganismos (M) do lodo ativado ou biomassa
de OHO. Era aceito que os SSV, sendo orgânicos, Os procedimentos de projeto com base empírica na
quantificavam satisfatoriamente esta biomassa de A/M ou no FC continuam sendo ensinados nos
OHO, porque não havia alternativa. Sem se referir programas de engenharia ambiental e usados em
expressamente aos compostos orgânicos práticas de consultoria como base de projeto do
biodegradáveis e aos microrganismos, o fator de sistema de lodo ativado. Uma vez que o TRS forma
carga leva a mesma ideia da A/M, expressando um a base para a modelagem e simulação dos sistemas
fluxo de carga orgânica (kgDQO/d ou kgDBO5/d) de lodo ativado, a ligação entre A/M ou FC e a
sobre a massa de lodo (kgSSV ou kgSST). idade do lodo é dada a seguir. Isto irá demonstrar
Contudo, ambas essas razões são seriamente falhas que a A/M e o FC estão implicitamente
em termos de perspectivas de modelagem. Para incorporados e podem ser totalmente substituídos
mencionar algumas (Wentzel et al., 2003): (i) pelo TRS, que é muito melhor como base
enquanto a DBO5 é uma aproximação dos fundamental para dimensionamento e modelagem
compostos orgânicos biodegradáveis, ela não mede do sistema de lodo ativado. Isto permitirá que os
nem a capacidade de doar elétrons dos compostos resultados dos procedimentos empíricos de projeto
orgânicos biodegradáveis, nem os compostos baseados na A/M ou no FC sejam comparados com
orgânicos não biodegradáveis particulados (UPO- o modelo de lodo ativado alinhado em estado
unbiodegradable particulate organics), que se estacionário ASM1- apresentado em seções
acumulam como SSV no reator de lodo ativado. (ii) anteriores. Usando-se os SST e a DQO para os
A DBO5 não é massa conservativa e assim não sólidos em suspensão no reator e concentração de
pode ser usada para fazer balanço de massa de compostos orgânicos no afluente e considerando-se
DBO ao redor do sistema de lodo ativado. (iii) apenas os sistemas de nitrificação-desnitrificação
Embora a DQO não seja o “alimento”, uma vez que (ND) totalmente aeróbios, então, das eqs. 4.12 e
inclui os compostos orgânicos não biodegradáveis, 4.14,
o mais importante é que sua massa é conservativa e
MXSST
assim pode ser feito balanço de massa de DQO ao AND,SST = = (1 − fSU,DQOi −
FDQOi
redor do sistema de lodo ativado. (iv) Como o YOHO TRS
fXU,DQOi ) . (1 +
modelo de LA na seção anterior mostra que os SSV (1+bOHO,T TRS)
(e muito menos os SST), não são medidas de f
fXE,OHO bOHO,T TRS + fSSF,OHO ) + [ XU,DQOi +
fcv,UPO
biomassa de OHO, a razão A/M e o FC são
XSSF
totalmente empíricos e, para o mesmo sistema de ] TRS
DQOi
lodo ativado, possui diferentes valores numéricos,
dependendo das unidades (DQO, DBO5, SSV, (4.35)
SST) selecionadas para expressá-las. Além disso,
as razões variam com as características do esgoto Em que:
(particularmente a fração ONP) e a temperatura. De AND,SST ou MXSST/FDQOi é o inverso da A/M ou
fato, tão distante quanto 1976, Marais e Ekama FC, em unidades de kgSST/(kgDQO.d).
mostraram que tanto a razão A/M e o FC não
agregam nenhuma informação adicional ao sistema Note que AND,SST é unidade específica de um
de lodo ativado que a idade do lodo (TRS) não tipo específico de sistema de lodo ativado. É
providencia, porque escolher a A/M ou o FC diferente para sistemas ND ou sistemas ND com
significa implicitamente selecionar um TRS para o remoção biológica avançada de P (EBPR) e varia
sistema. Para piorar as coisas, escolher a mesma com a magnitude da remoção de fósforo (Ramphao
A/M ou FC expressos nas mesmas unidades para et al.,2006, ver Capítulo 7, Seção 7.8). Assim, o
sistemas de lodo ativado tratando diferentes valor de A conforme expresso na Eq. 4.35 é válido
esgotos, brutos ou decantados, produz diferentes apenas para sistemas ND e tem unidade kgSST/
TRSs, dependendo das características do esgoto.
(kgDQO/d). Dividindo-se a Eq. 4.35 pelo TRS, A equação 4.36 mostra que escolher uma A/M
tem-se a produção específica de lodo (PLSST,DQO) ou um FC (assim como alguns procedimentos de
em kgSST produzidos/d por kg de carga de DQO/d, projeto obsoletos fazem) é o mesmo que escolher,
que é a mesma dada pela Eq. 4.34, i. e., com um único parâmetro considerado, a idade do
lodo, as características do esgoto UPO e USO –
1 1
A = = PLSST,DQO R S unbiodegradable soluble organics, as frações da
( ) FCDQO,SST
M DQO,SST DQO (fXU,DQOi), fSU,DQOi) e a concentração de SSI do
MXSST VR XSST afluente (XSSF,i). Portanto, se as características do
= = = AND,SST (4.36a)
FDQOi Qi DQOi esgoto fXU,DQOi, fSU,DQOi e XSSF,i são conhecidas,
então o TRS implícito na A/M escolhida pode ser
1
calculado pelas eqs. 4.35 e 4.36. Isto é mostrado
(F/M)DQO,SST = FCDQO,SST = nas figuras 4.8a e 4.8b, em que a razão A/M é
AND,SST
lançada em gráfico em kgDBO5/(kgSST.d) contra
(kgDQO/kgSST.d) (4.36b)
a idade do lodo, para as características de esgoto
Em que: bruto e decantado da Tabela 4.2 e razões
MXSST massa de SST no reator (kgSST) = DQO/DBO5 para esgoto bruto e decantado de 2,2
VR.XSST,méd e 1,8, respectivamente (Marais e Ekama, 1976).
VR volume do reator (m3) Nas figuras 4.8A e 4.8B à direita, são mostradas as
XSST,méd concentração média de SST no reator faixas das razões A/M ou FC para sistemas de lodo
(kgSST/m3) ativado para remoção de carbono (DQO) apenas,
PLSST,DQO fator de produção específica de lodo em remoção de C com ND e aeração prolongada, que
kgSST/d/kgDQO.d, Metcalf usualmente significa tratamento de esgoto bruto
& Eddy (2014). com longo TRS para aumentar a estabilização do
descarte de lodo ativado de (DLA).
Figura 4.8 Razão A/M versus idade do lodo para diferentes frações de DQO particulada não biodegradável (UPO, f XU,DQOi) para
esgoto bruto com razão DQO/DBO5 de 2,2 (A) e esgoto decantado com razão DQO/DBO5 de 1,8 (B).
VR XSST,médio
Em que: Q i,VMPS = (ML/d)(4.39)
AND,SST DQOi
PLDQO,SSV fator da produção específica de lodo em
kgSSV/d/kgDQO/d
A Eq. 4.39 tem duas incógnitas, Q i,VMPS e
AND,SSV massa de SSV no reator por kg de carga
XSST,médio, logo mais um fator é necessário para
de DQO por dia para sistemas
determinar Qi,VMPS. Isto é obtido a partir da taxa de
totalmente aeróbios e ND, que é função
escoamento superficial sobre o DS. A taxa de
da idade do lodo e das características do
escoamento superficial em VPPC não deve ser
esgoto.
maior do que 0,8 vezes a velocidade de
sedimentação (VS, m/h) do lodo à concentração de
4.11 ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DOS SST na alimentação ou na zona aeróbia, conforme
SISTEMAS DE LODO ATIVADO estabelecido pela Eq. 4.30.
Rearranjando Eq. 4.31 para determinar Q i,VMPS,
Para um dado volume de reator (VR,m3) e área tem-se:
superficial do DS (ADS,m2), a capacidade de vazão
24ADS 0,8 V0
média em período seco (Qi,VMPS) em ML/d pode ser Q i,VMPS = (ML/d) (4.40)
1000 fq e−rszXSST,OX
calculada para um esgoto particular de
características conhecidas (fXU,DQOi, fSU,DQOi e
XSSF,i). Com o TRS requerido pelo sistema Em que V0 e rhin estão em unidades m/h e m3/kgSST
conhecido, por exemplo, o TRS equilibrado de um e são dados pela Eq. 4.29.
sistema ND Ludzack-Ettinger Modificado (LEM)
(Capítulo 5, Seção 5.9.3.2), a massa de SST no Para fazer a Eq. 4.40 igual à Eq. 4.39 é necessária
reator (MXSST, kgSST) por kg/d de carga de DQO uma equação ligando XSST,méd e XSST.OX. Isto pode
aplicada ao reator [AND,TSS kgSST/(kgDQO/d)] ser obtido a partir da configuração do sistema com
pode ser determinada a partir da Eq. 4.35: RBN. Para sistemas sem alimentação escalonada,
totalmente aeróbios, MLE e Bardenpho ND de 4
MXSST = VRXSST,méd = AND,SSTQi,VMPSDQOi estágios, as concentrações de SST em todos os
(kgSST) (4.38) compartimentos do reator são as mesmas. Assim,
XSST,méd=XSST,OX e fazendo-se a Eq 4.39 = Eq 4.40,
Em que XSST,méd é a concentração média de SST no tem-se:
reator ponderada pelo volume (kgSST/m3).
XSST,médio = BND e−rszXSST,médio
(kg SST/m3) (4.41a)
Caso a profundidade média de 3,5 m seja À medida que o reator ocupa um percentual do
atribuída ao decantador secundário, então o volume volume total do sistema cada vez maior, a
total do sistema LA-DS para tratamento de esgoto concentração de SST no reator diminui e a área do
bruto e decantado é, respectivamente,19.952 m3 e decantador secundário torna-se menor. A Figura
10.944 m3, tornando o volume do reator 65% ou 4.10 mostra que, tanto para esgoto bruto, quanto
60% do volume total do sistema (Tabela 4.5). A para esgoto decantado, dentro de ±13%, isto é, ao
Figura 4.10 mostra a capacidade de VMPS do longo de uma faixa de 26% dos 65% e 60% para o
volume total do sistema LA-DS para aumentar o volume total e para o volume do reator, a
percentual de volume atribuído ao reator e, capacidade de VMPS é acima de 95% da
capacidade máxima. A razão para isso é que o custo baixo (< 5 d), a capacidade de VMPS é quase o
total do sistema LA-DS é razoavelmente horizontal dobro do que com TRS elevado (> 20 d). Assim,
sobre uma ampla faixa de concentração de SST (ver selecionando-se o TRS o mais baixo possível,
Figura 4.6). Isto indica que para se obter uma garante-se a mais elevada capacidade de tratamento
concentração precisa de SST no reator para para um dado volume de reator e área de
determinar o volume do reator e a área do decantador secundário. Enquanto para remoção de
decantador secundário, não é tão criticamente matéria orgânica apenas não há critérios
importante; uma concentração de SST quantificados e bem definidos para escolher o TRS
razoavelmente próxima (dentro de do sistema o mais baixo possível, para sistemas
aproximadamente ± 0,5 kgSST/m3) ao ótimo que ND, há. Será mostrado no Capítulo 5 que o TRS de
minimiza o custo total do sistema, é suficiente. Da sistemas ND é baseado na sustentação dos
Figura 4.6, pode ser visto que, à medida que o custo organismos nitrificantes no sistema de lodo
do decantador secundário aumenta relativamente ativado. Os organismos autotróficos nitrificantes
ao do reator, esta faixa de tolerância para a são os organismos funcionais de velocidade de
concentração de SST no reator se estreita. crescimento mais baixa no sistema NDEBPR e,
portanto, o TRS e, consequentemente, o volume do
Para o volume do reator e áreas dos reator, é governado pela sua taxa específica
decantadores secundários na Tabela 4.5, a máxima de crescimento. Os cálculos do TRS mais
capacidade de VMPS para esgoto bruto e esgoto baixo (mínimo) para sistemas ND (e NDEBPR)
decantado, em função do aumento da idade do lodo são, portanto, possíveis e serão apresentados nos
é mostrado nas figuras 4.11a e b. Com TRS muito capítulos 5 e 6.
Figura 4.11 Capacidade de VMPS em ML/d e concentração de SST no reator pelo aumento do TRS para o volume de reator e
área de decantador secundário dados na Tabela 4.5 para esgoto bruto (A) e decantado (B).
4.12 PROJETO DO SISTEMA E CONTROLE idade do lodo, que governa a massa de lodo a ser
descartada diariamente do sistema. A idade do lodo
O parâmetro de fundamental importância no pode e deve substituir a razão alimento-
projeto e controle do sistema de lodo ativado é a microrganismos (A/M, kg DBO ou DQO por dia
Figura 4.15A Uma das duas estações de tratamento de esgoto em Brasília, Brasil (foto: R. Brummer).
Figura 4.15B Subida de lodo devido à desnitrificação no decantador secundário em uma das estações de tratamento de esgoto
em Brasília, Brasil (foto: M. Henze).
Claramente, uma vez que a nitrificação ocorra, volume do reator é descarregado diariamente e caso
seja como um requisito para remoção de N ou for de 20 dias, 1/20 é descarregado diariamente,
inevitavelmente devido às condições do sistema, isto é, QW = VR /TRS (Eq. 4.1). Para estações com
força-se o abandono do uso dos DSs como baixo nível de suporte técnico, pode-se
adensador do lodo de descarte. O adensamento do providenciar um tanque de sedimentação satélite
lodo de descarte pode ser realizado em uma ou um leito de secagem completamente
unidade separada, com alimentação originada a independente dos decantadores secundários, para
partir do fluxo de fundo do Decantador Secundário os quais o fluxo de lodo de descarte do reator possa
ou diretamente do reator através descarte ser encaminhado e, para estações com um nível de
hidráulico, que é um modo mais simples, requer suporte técnico mais elevado, uma unidade de
muito poucas análises de amostras e estabelece a flotação com ar dissolvido pode ser uma melhor
idade do lodo quase que exatamente. Isto resulta alternativa (Bratby, 1978), que também minimiza a
em estabilidade na nitrificação durante o ano todo liberação de P de lodos EBPR (Pitman,1999). O
e é fortemente recomendado para sistemas de lodo sobrenadante é retornado ao reator e o lodo
ativado em que a nitrificação for necessária, adensado é bombeado para a parte da estação de
mesmo que seja possível aplicar medidas tratamento/disposição de lodo. Este procedimento
sofisticadas de controle da concentração do reator. estabelece muito proximamente a idade do lodo
desejada porque a concentração do licor misto não
se altera significativamente ao longo do dia (Figura
4.12.2 Controle hidráulico da idade do lodo 4.12).
Um aspecto importante do controle hidráulico
O controle hidráulico da idade do lodo foi proposto da idade do lodo é que, independentemente da
primeiramente e implementado de forma vazão de esgoto através da estação, caso uma
generalizada por Garret em 1958 e é baseado em fração fixa do volume do reator for descarregada
um método de “aeração modificada de esgoto” por dia, a idade do lodo está fixada. Caso a carga
implementado por Setter et al. (1945). Caso for de DQO aplicada por dia permanecer constante, a
especificada uma idade do lodo de 10 dias, 1/10 do concentração do lodo automaticamente
permanecerá constante. Caso a carga de DQO idade do lodo é particularmente relevante para
aumentar, a concentração do lodo aumentará estações com idades do lodo superiores a cerca de
automaticamente para manter a mesma idade do 5 dias, porque para essas estações a massa de lodo
lodo. Assim, monitorando-se a concentração do contida nos DSs é uma fração relativamente
reator e suas variações sob uma idade do lodo fixa, pequena da massa total de lodo no sistema. Com
obtém-se uma medida indireta das variações a idades do lodo menores do que 5 dias, a massa de
longo prazo das cargas de DQO aplicadas. A lodo nos DSs pode se tornar apreciável em relação
concentração do reator pode aumentar com o à massa total de lodo no sistema, particularmente
tempo, indicando que a carga orgânica aplicada quando a sedimentabilidade do lodo se torna pobre
sobre a estação está aumentando (Figura 4.16). O (IVLD>150 mL/g). Quando a massa de lodo nos
controle hidráulico da idade do lodo é muito fácil DSs é significativa, o controle hidráulico tem que
para o operador: apenas precisa verificar se as levar isso em consideração e a precisão do controle
calhas/tubos não estão bloqueadas e se a vazão requer análises adicionais.
correta está escoando. Assim, a concentração de
SSRB nem mesmo precisa ser medida muito O controle hidráulico da idade do lodo atribui
frequentemente. uma grande responsabilidade sobre o projetista e
diminui a do operador da estação; geralmente a
engenhosidade do operador tem que trabalhar para
contornar as impropriedades do projeto e adequar
os processos biológicos às limitações decorrentes
para ainda assim alcançar a melhor qualidade do
efluente. Isto faz com que seja essencial que o
projetista calcule a massa de lodo mais
precisamente, para providenciar volume de reator
suficiente para a carga orgânica de projeto, de
forma a permitir uma concentração adequada do
lodo no reator sob uma idade do lodo específica.
Também a área superficial do decantador
secundário, a taxa de recirculação de lodo de fundo
e a capacidade de aeração devem ser
dimensionados precisamente para o esgoto em
particular e para a idade do lodo do sistema. Se
Figura 4.16 TRS constante, mas com concentração estes aspectos são atendidos adequadamente, então,
crescente de SSRB do reator com controle hidráulico da com o controle hidráulico da idade do lodo, o
idade do lodo. controle da estação é simplificado e, para estações
de menor escala, pode até mesmo acabar com as
Por meio do procedimento de controle necessidades de testes de sólidos e de IVL, exceto
hidráulico, a idade do lodo pode ser modificada em longos intervalos. O controle hidráulico da
simplesmente pela alteração do volume idade do lodo torna parâmetros com o FC e a A/M
descarregado por dia. Isto significa que se a idade redundantes e introduz uma atitude inteiramente
do lodo é reduzida de 25 dias para 20 dias pelo diferente no controle do sistema. É eminentemente
controle hidráulico, o efeito pleno da modificação prático e estabelece a idade do lodo desejada para
só se tornará aparente depois de cerca de meia assegurar a nitrificação ao longo de todo o ano.
idade do lodo. Assim, a biomassa tem a Quando a nitrificação é necessária, o controle da
oportunidade de se adaptar gradualmente à idade do lodo se torna um requisito e, então, o
mudança na A/M e no FC. O controle hidráulico da controle hidráulico da idade do lodo é a forma mais
fácil e mais prática de fazê-lo. Além disso, com o sistemas modificados tais quais o de estabilização
controle hidráulico da idade do lodo, a maneira de por contato, aeração escalonada e outros. Estações
falhar da estação é completamente diferente do que com idade do lodo baixa foram usadas
com o controle da massa de sólidos. Com o controle extensivamente na Europa e na América do Norte
da massa de sólidos, a estação falha devido à antes de a remoção de N (e P) tornar-se necessária.
interrupção da nitrificação e uma concentração O principal objetivo delas é apenas remoção de
elevada de amônia no efluente, um constituinte DQO, para o que idades do lodo de 1 a 3 dias são
dissolvido não visível que também é difícil de ser suficientes. As remoções de DBO5 ou DQO variam
removido por outros meios. Com o controle da de 75 a 90%. A remoção que pode ser alcançada
idade do lodo, a estação falha mais obviamente: depende das características do esgoto, da operação
lodo sobre os vertedores de efluente do decantador da estação, em particular da administração da
secundário. Em estações operadas com baixo nível transferência de lodo entre o reator e os DSs e da
de capacidade técnica, provavelmente esta é a ação eficiência dos DSs. Uma vez que a atividade
de remediação mais rápida. predatória de organismos protozoários sobre as
bactérias livre-natantes é limitada com baixas
idades do lodo, o componente não sedimentável
4.13 ESCOLHA DA IDADE DO LODO (ou disperso) dos flocos de lodo ativado é elevado
e causa turbidez e DQO do efluente elevada (Chao
A escolha da idade do lodo é a decisão mais e Keinath, 1979; Parker et al., 1971).
fundamental e importante no projeto de um sistema
de lodo ativado. A idade do lodo selecionada para É aceito na Tabela 4.6 que estações com baixa
uma estação depende de muitos fatores, alguns dos idade do lodo, normalmente, não devem nitrificar.
quais são listados na Tabela 4.6, tais como a Este pode ser o caso das regiões temperadas e de
estabilidade do sistema, a sedimentabilidade do latitude elevada, em que as temperaturas do esgoto
lodo, se o descarte de lodo precisa ou não ser geralmente são inferiores a 20 oC. Nas regiões
direcionado para descarga direta em leitos de tropicais e de baixa latitude, onde as temperaturas
secagem e, o mais importante de tudo, a qualidade do esgoto podem ultrapassar 25 a 30 oC, os sistemas
necessária do efluente, isto é, se apenas remoção de com baixa idade do lodo devem nitrificar
DQO é aceitável, se o efluente precisa ser normalmente; de fato, pode ser difícil interromper
nitrificado ou se a remoção de nitrogênio e fósforo este processo. Para estas situações, o melhor é
é necessária. Diversos desses fatores já foram aceitar a nitrificação como inevitável e projetar o
discutidos anteriormente e não serão repetidos sistema de acordo com isso. Além disso, deverá ser
aqui. Apenas alguns comentários esclarecedores vantajoso incluir uma pequena zona anóxica
adicionais serão feitos adiante na Tabela 4.6. primária (~15 – 20% de fração de massa anóxica,
ver Capítulo 5) no sistema para desnitrificar uma
4.13.1 Idades do lodo baixas (de 1 a 5 dias) parte considerável do nitrato gerado, mesmo se a
remoção de N não for necessária; isto aumenta a
4.13.1.1 Estações convencionais idade do lodo mínima para a nitrificação, reduz a
demanda de oxigênio, recupera alcalinidade e
Estas estações são operadas na configuração reduz o risco de flotação de lodo e efluente com
convencional, ou seja, uma configuração com fluxo DQO elevada devido à desnitrificação no fundo do
semi-pistonado, mas também são implantados DS.
Tabela 4.6 Algumas considerações importantes na escolha da idade do lodo e para o sistema de lodo ativado.
idades do lodo acima de 10 a 15 dias e o sistema necessária. A redução no TRS pode ser obtida de
recai na categoria de idade do lodo alta. Em várias formas, tais como adicionando-se carriers
estações de lodo ativado com nitrificação aeróbia, de biofilme no reator biológico ou descarregando-
há sempre a possibilidade de desnitrificação no se seletivamente a fração leve do lodo ativado com
decantador secundário. Este problema é hidrociclones, que enriquecem o lodo ativado em
exacerbado pelo procedimento de controle do fração mais pesada contendo bactérias aeróbias
sistema de retirar lodo ativado em excesso pelo oxidadoras de amônia (BOA), OAP e bactérias
fluxo de fundo do decantador (ver seção 4.12.1). anaeróbias oxidadoras de amônia (AMX) (Ekama,
Com baixas razões de fluxo de fundo, a retenção de 2015).
lodo no DS é elevada, o que leva à desnitrificação
(Figura 4.13). Henze et al. (1993) estimaram que é Para tentar reduzir a idade do lodo necessária
necessário que entre 6 – 8 e 8 – 10 mgN/L de nitrato para a nitrificação e, consequentemente, o volume
sejam desnitrificadas para causar flotação do lodo do reator biológico por ML de esgoto tratado, tem
a 10 e 20 oC, respectivamente. A concentração de sido colocada mídia fixa interna no reator aeróbio
nitrato desnitrificado aumenta à medida que (i) o (Wanner et al., 1988; Sem et al., 1994; ϕdegaard et
tempo de retenção do lodo no DS aumenta, o que é al., 2014). Os organismos nitrificantes que crescem
dependente da razão de recirculação e das sobre essa mídia fixa não estão sujeitos à idade do
condições de pico de vazão, (ii) a fração ativa do lodo da biomassa em suspensão e a fração de massa
lodo aumenta, sendo que ela é maior com idades do aeróbia pode ser reduzida com o resultado que
lodo mais baixa (Figura 4.3B), (iii) a temperatura ambos podem ser reduzidos. Contudo, a
aumenta, e (iv) a massa de compostos orgânicos efetividade da mídia fixa interna não tem sido tão
biodegradáveis floculados não utilizados aumenta, boa quanto esperada e produz uma razão
que é maior em idades do lodo mais baixas e em benefício/custo preferencialmente baixa.
condições de pico de carga (Ekama et al. 1997).
Tem sido alcançada redução bem-sucedida da
O exposto anteriormente demonstra que, para idade do lodo para a abaixo de 8 a 10 dias com
as estações em que a nitrificação ocorre, o DS não nitrificação externa (Bortone et al., 1996; Sorm et
deve servir ao propósito duplo da separação sólido- al., 1997; Hu et al., 2000) e esse sistema começa a
líquido e de adensamento do lodo de descarte, que encontrar aplicação em escala plena (Vestner and
o controle hidráulico da idade do lodo deve ser Gunthert, 2001; Muller et al., 2006). Com
empregado e que a desnitrificação intencional deve nitrificação externa, o processo de nitrificação é
ser incluída no sistema (ver seção 4.12). Estas removido completamente do lodo ativado em
modificações devem melhorar o problema de suspensão e transferido para um sistema externo de
flotação do lodo por desnitrificação no DS, mas mídia fixa, tal como um filtro percolador. Com a
podem não eliminar completamente a raiz da causa, nitrificação independente do licor misto de lodo
por exemplo, a alta concentração de nitrato na ativado com RBN, a idade do lodo pode ser
biomassa em suspensão. reduzida para cerca de 8 a 10 dias. Tal redução,
reduz a necessidade de volume do reator biológico
Para se reduzir o custo de construção do sistema por ML de esgoto a aproximadamente 1/3, sem
de lodo ativado, precisam ser feitas reduções na impactar negativamente a remoção biológica de N
idade do lodo. Além disso, a redução na idade do ou de P. Além disso, a sedimentabilidade do lodo
lodo também aumenta a remoção biológica de N e melhora significativamente (IVLD ~ 60 – 80 mL/g)
P por massa de carga orgânica (WRC, 1984; em comparação com os sistemas de RBN
Wentzel et al., 1990) e isto pode ser convencionais e, adicionalmente, a capacidade do
particularmente benéfico para esgotos a baixa sistema aumenta (Hu et al., 2000).
temperatura (10 – 15 oC), onde a nitrificação é
Comparando-se as estações com idades do lodo compostos orgânicos do afluente de duas estações
intermediárias com as de alta taxa, a demanda de de tratamento, completamente diferentes e tratando
oxigênio por kg de DQO (incluindo a nitrificação) o mesmo esgoto, é virtualmente a mesma se o
dobra (exceto com nitrificação externa, para o qual residual de compostos orgânicos biodegradáveis
é reduzido pela metade), o volume do sistema é de (DQO) no lodo final disposto for o mesmo, ou seja
3 a 4 vezes maior, a massa diária de lodo (i) um sistema de lodo ativado com aeração
descarregado é reduzida em 40% e a fração ativa é prolongada com idade do lodo alta (30 d, Tabela
muito menor. As estações com idades do lodo 4.6) tratando esgoto bruto e (ii) um sistema de lodo
intermediárias são muito mais estáveis do que as ativado com baixa idade do lodo (8 d, Tabela 4.6)
estações de alta taxa, requerendo técnicas de tratando esgoto decantado com digestão anaeróbia
controle ou intervenções do operador menos do lodo primário e digestão aeróbia ou anaeróbia
sofisticadas (excetuando-se a nitrificação externa), do lodo ativado descartado com combustão/queima
o que as tornam mais adequadas para aplicação em benéfica do gás metano.
geral.
4.13.3 Idades do lodo elevadas (20 dias ou
Com idades do lodo intermediárias, a fração mais)
ativa do lodo de descarte ainda é muito alta para
descarga em leitos de secagem. Consequentemente,
alguma forma de estabilização do lodo de descarte 4.13.3.1 Estações aeróbias
precisará ser incorporada na estação de tratamento Estações aeróbias com idade do lodo elevada são
de esgoto, ou seja, digestão aeróbia ou anaeróbia. chamadas de estações com aeração prolongada. O
A primeira tem a vantagem da operação fácil e se é objetivo principal dos sistemas com idade do lodo
operada com SSRB elevada ( > 2%) e com aeração elevada é simplificar o tratamento do lodo primário
intermitente, produz baixas concentrações de N e P (1rio) e do lodo secundário (2rio). Estas estações,
no clarificado da desidratação (Mebrahtu et al., portanto, tratam esgoto bruto e a idade do lodo é
2008), mas tem a desvantagem do custo elevado da escolhida de forma que a fração ativa (ou
energia para o fornecimento de oxigênio. A última compostos orgânicos biodegradáveis residuais) do
tem a vantagem da geração de energia do biogás e lodo de descarte é suficientemente baixa para
a desvantagem da complexidade de operação e permitir sua descarga direta em leitos de secagem
concentrações elevadas de N e P no clarificado da de lodo. A idade do lodo necessária para produzir
desidratação. Mesmo com recuperação de energia lodo suficientemente estável, de forma a não gerar
pela digestão anaeróbia do lodo de descarte, devido problemas de odor, é incerta e depende da
à baixa massa de lodo descarregado da estação de temperatura e condições climáticas, isto é, se o lodo
lodo ativado e à demanda elevada de oxigênio por poderá ou não ser seco rapidamente o suficiente
kg de carga de DQO, não é possível antes que comece a cheirar, provavelmente
autossuficiência em energia com idades do lodo excedendo a 30 dias.
intermediárias. Contudo, em estações grandes
(aproximadamente 500.000 EP), em que a De forma interessante, a partir de um
supervisão técnica e a expertise do operador são de levantamento dos compostos orgânicos
alto nível, os custos de energia podem ser reduzidos biodegradáveis em lodos tratados por sistemas
pela produção de gás nos digestores anaeróbios e diferentes de estabilização, Samson e Ekama
podem, provavelmente, serem justificadas (2000) encontraram que o lodo ativado digerido
economicamente, particularmente se os custos de aerobiamente continha o residual mais baixo de
energia continuarem a aumentar como ocorreu na compostos orgânicos (10%), em comparação com
década passada. Ekama (2009) constatou que a lodo oxidado com ar-úmido (Zimpro) e com lodos
emissão de dióxido de carbono originado dos
primários digeridos anaerobiamente (25 a 60%, recebendo biomassa em suspensão nitrificada por
Figura 4.17). meio de recirculações da zona aerada, para dar o
que é chamado de sistema de nitrificação-
desnitrificação (ND). Os sistemas ND incluem o
Bardenpho de 4 estágios, que incorporam reatores
anóxicos primários e secundários, o Ludzack
Ettinger Modificado (LEM), que incorpora apenas
um reator anóxico primário, Orbal, Carousel e
sistemas de valos de oxidação, em que as zonas
anóxicas são criadas ao longo em pontos diferentes
de um canal extenso, ou em sistemas com aeração
prolongada de decantação intermitente (APDI).
Enquanto a incorporação da desnitrificação impõe
algumas limitações adicionais no projeto com
Figura 4.17 Porcentagem de compostos orgânicos idade do lodo elevada, estes são menores desde que
residuais remanescentes em lodos de descarte a capacidade de aeração da estação seja suficiente
estabilizados, tratados com diferentes tipos de sistemas para a nitrificação sob todas as condições esperadas
de estabilização. Marcadores do eixo X: (1) esgoto bruto (ver Capítulo 5).
não decantado, (2) Humus Zimpro + 1o - DQO solúvel
elevada, (3) 1o digerido anaerobiamente + LAD – AGV 4.13.3.3 Estações anaeróbio-anóxico-
elevados, (4) 1º apenas digerido anaerobiamente – alto aeróbias
AGV, (5) 1o digerido anaerobiamente, 1º e 2º estágios –
baixo AGV, (6) Humus Zimpro + 1o – baixa DQO solúvel, (7) Quando a EBPR é necessária, um reator anaeróbio
1o digerido anaerobiamente, 2º estágio – baixo AGV, (8) é incluído na configuração que recebe o esgoto
DLA adensado por FAD, (9) 1o digerido anaerobiamente + afluente, mas com o mínimo de oxigênio e nitrato
DLA, estágio único – baixo AGV e, (10) DLA digerido via recirculação de lodo. Para a EBPR, assegurar
aerobiamente. uma descarga zero de nitrato na zona anaeróbia é
crítico para se alcançar boa remoção de P e é uma
limitação adicional no projeto quando inclui EBPR
4.13.3.2 Estações anóxico-aeróbias
em sistemas com aeração prolongada. A extensão
Uma vez que a idade do lodo exceda 20 a 25 dias, da EBPR alcançada dependerá de um número de
a nitrificação é inevitável e é aconselhável, pelas fatores, principalmente a concentração de DQO
razões citadas anteriormente, incorporar a rapidamente biodegradável (RB), a razão PT/DQO
desnitrificação no sistema, a qual nessas idades do e o grau em que o nitrato pode ser excluído do
lodo elevadas não afetam a estabilidade da reator anaeróbio, que depende da razão NTK/DQO
nitrificação. Além disso, se necessário, a EBPR do afluente.
pode também ser incluída com baixo custo extra.
De fato, as velocidades de remoção biológica de N O lodo de descarte de sistemas com aeração
e P são significativamente mais elevadas com prolongada que incluem EBPR têm o potencial de
esgoto bruto do que com esgoto decantado, devido liberar concentrações elevadas de P. Isto pode ser
à maior carga orgânica. Para incluir a remoção de contornado com um leito de desaguamento
N (e P), o reator é subdividido em zonas não /secagem especialmente projetado com filtro de
aeradas (anóxicas e anaeróbias) e aeradas, em uma areia sob os drenos e vertedores, que permitem que
variedade de configurações. A desnitrificação os leitos de secagem também operem como um
acontece na zona não aerada, mas misturadas e sistema de desaguamento. Enquanto se descarrega
o lodo de descarte diretamente no leito de secagem,
o dreno de fundo e o escoamento superficial são (DQO) e as frações da DQO não biodegradável
monitorados para a concentração de P e quando ela particulada e solúvel precisam ser conhecidas. A
atinge, por exemplo, 5 mgP/L, a descarga de lodo carga orgânica e a concentração de DQO não
nos leitos de secagem e o retorno de sobrenadante biodegradável particulada afetam fortemente a
para a entrada da unidade são interrompidos. O massa de lodo no reator e a produção diária de lodo,
volume relativamente pequeno do líquido com alta e a concentração de DQO não biodegradável
concentração de P que drena nos leitos de secagem solúvel se reflete na concentração de DQO filtrada
depois é então tratado quimicamente ou usado para do efluente do sistema. A carga orgânica também
irrigação no local da estação. A capacitação para determina a demanda diária de oxigênio e a carga
desaguamento do leito de secagem permite que hidráulica de pico incide sobre a área superficial do
significativamente mais lodo seja descarregado decantador secundário. Caso a nitrificação por
nele do que em leitos de secagem sem essas parte do sistema seja necessária, mais
características de desaguamento. características do esgoto precisam ser conhecidas.
As mais importantes delas são a velocidade
específica máxima de crescimento das bactérias
4.13.4 Diretrizes dominantes para o nitrificantes à temperatura padrão do esgoto de 20
dimensionamento do sistema de
o
C (μBOA,20) e a temperatura mínima do esgoto
lodo ativado (Tmin), ambos estabelecem a idade do lodo mínima
para a nitrificação (TRSmin,NIT). A idade do lodo do
Na seção anterior, algumas das considerações para sistema deverá ser escolhida acima da mínima para
a seleção da idade do lodo do sistema de lodo a nitrificação e quanto mais elevada a razão idade
ativado foram definidas porque esta é a decisão do lodo do sistema / idade do lodo mínima
mais importante e fundamental em seu projeto. A (TRS/TRSmín,NIT), mais baixa a concentração de
idade do lodo é a principal diretriz que governa a amônia do efluente e mais amortecidas suas
qualidade do efluente e o tamanho do sistema de variações em resposta às variações da carga de
lodo ativado. Geralmente, quanto mais elevada é a nitrogênio. Também é necessária, para os sistemas
qualidade do efluente (e do lodo de descarte) com nitrificação, a carga diária de nitrogênio (tanto
requerida pelo sistema, maior é a idade do lodo, NTK, quanto ALS) para que os componentes do
maior é o reator biológico e mais características do material nitrogenado do afluente possam ser
esgoto precisam ser conhecidas (Figura 4.18). determinados. Observe-se que, para a nitrificação,
a velocidade específica máxima de crescimento das
Para remoção de matéria orgânica apenas a nitrificantes está relacionada com as características
idade do lodo é baixa e então o volume do reator é do esgoto e não uma constante do modelo cinético,
pequeno. Essencialmente, apenas a carga orgânica porque é diferente para esgotos diferentes.
Figura 4.18 Características importantes do esgoto que precisam ser conhecidas para diferentes sistemas de lodo ativado:
totalmente aeróbio, nitrificação, nitrificação-desnitrificação e EBPR e também as interrelações que afetam a idade do lodo e a
qualidade do efluente.
Com remoção biológica de nitrogênio com P possam ser determinados. Com EBPR, a
(nitrificação e desnitrificação, ND), uma parte do concentração de DQORB do afluente é muito
reator biológico (a fração de massa anóxica, fxd) é importante, estabelecendo a extensão da remoção
intencionalmente não aerada. Quanto maior a biológica de fósforo que pode ser alcançada. Caso
fração de massa anóxica, mais nitrato pode ser a concentração de DQORB do afluente não seja
desnitrificado, mas a idade do lodo mínima para a conhecida, a remoção biológica de fósforo que
nitrificação se torna maior do que aquela para pode ser alcançada não pode ser calculada com
condições totalmente aeróbias. Assim, para precisão. A DQORB é, indiretamente, a fonte de
sistemas ND, o reator biológico se torna maior, alimento para os organismos acumuladores de
porque a idade do lodo necessária se torna maior. fosfato (PAOs) que intermediam o processo EBPR.
Uma característica adicional do esgoto também O propósito da zona anaeróbia, que recebe o esgoto
precisa ser conhecida, a concentração de DQORB afluente, é permitir que os PAOs utilizem os
do afluente, uma vez que uma proporção elevada produtos da fermentação dos ácidos graxos voláteis
(acima da metade) do nitrato desnitrificado no (AGV) gerados da DQORB afluente. O nitrato (ou
reator anóxico primário é devido a esse oxigênio dissolvido, OD) que entra na zona
constituinte: caso a concentração de DQORB não anaeróbia resulta na utilização de parte da DQORB
seja conhecida, a concentração de nitrato no por organismos heterotróficos ordinários (OHOs),
efluente não pode ser calculada com precisão. que reduzem os produtos dos AGVs disponíveis
para os PAOs e, consequentemente, ocorre a
Com EBPR, a carga diária de fósforo do esgoto remoção biológica de P. A diferença entre a
(tanto P-total, quanto P-ortofosfato) tem que ser concentração de fósforo do afluente e a EBPR que
conhecida, para que os componentes do material
fluxo hidráulico. Para minimizar a variação do vazão projetada para as próximas 24 horas. Esta
fluxo hidráulico, um tanque de equalização deve abordagem de tanque de equalização foi testada na
ser posicionado a montante do sistema de lodo estação com RBN de Goudkoppies (Johannesburg,
ativado cujo fluxo de saída deve ser controlado de África do Sul) e mostrou grande potencial para
tal maneira que as flutuações cíclicas na vazão e na reduzir a aeração e outros problemas de controle
carga sejam amortecidas em valores muito baixos. em estações com remoção de nutrientes (Dold et
O tanque é controlado por um microcomputador al., 1982, 1984).
que calcula a vazão de saída que mais amortece a
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NOMENCLATURA
ABREVIATURAS
Abreviatura Descrição
Abreviatura Descrição
ND Nitrificação-desnitrificação
NKT Nitrogênio total Kjeldahl
OHOs Organismos heterotróficos ordinários
Oxigênio dissolvido Oxigênio dissolvido
PAOs Phosphorus accumulating organisms/Organismos acumuladores de fósforo
RBN Remoção biológica de nutriente
SS Sólidos em suspensão
SSE Sólidos em suspensão no efluente
SSI Componente inorgânico da massa de sólidos sedimentáveis
SSRB Sólidos em suspensão no reator biológico
SST Sólidos em suspensão total
SSVRB Sólidos em suspensão voláteis no reator biológico
TRH Tempo de retenção hidráulica
TRS Tempo de retenção de sólidos (idade do lodo)
VL Volume de lodo sedimentado
VMPS Vazão Média em período seco
VPPC Vazão de pico em tempo úmido
5 Remoção de Nitrogênio
George A. Ekama, Mark C. Wentzel† e Mark C.M. van
Loosdrecht
Tradução: Theo Syrto Octavio de Souza
3,43 e 1/2 • 32/14 = 1,14 mgO2/mgN (também ser formulada em termos da equação de Monod. De
escrita como mgO2/mgN-ALS). Assim, a fato, a cinética de Monod foi aplicada à nitrificação
conversão estequiométrica de amônia em nitrato, antes mesmo de sua aplicação para modelação da
ambos expressos como N, requer 2 • 32/14 = 4,57 cinética da quebra de compostos orgânicos por
mgO2/mgN utilizado. Considerando a amônia organismos heterotróficos. O uso bem-sucedido da
utilizada para síntese de material celular dos nitrificação incitou Lawrence e McCarty (1972) a
organismos nitrificantes, a demanda de oxigênio aplicá-la ao sistema de lodo ativado. Monod
por mgN-ALS nitrificado é ligeiramente menor, estabeleceu que (i) a massa de organismos gerada é
com valores relatados de até 4,3 mgO2/mgN-ALS. uma fração fixa da massa de substrato (neste caso,
Esta abordagem é adotada em modelos de amônia) utilizada e que (ii) a taxa específica de
simulação como o ASM1 (Henze et al., 1987) e é crescimento, ou seja, a taxa de crescimento por
uma das razões para a pequena diferença entre os unidade de massa de organismos, é relacionada à
resultados previstos em simulações com modelos concentração de substrato no entorno dos
estequiométricos em estado estacionário e com organismos.
modelos de simulação mais complexos. A partir de (i):
As constantes de Monod para os OOAs, taxa de oxigênio são superestimados, visto que uma
específica máxima de crescimento (μONA,max) e pequena proporção (1%) de ALS é utilizada pelos
constante de meia-saturação (também conhecida organismos nitrificantes para síntese celular.
como constante de afinidade, KONA), são sensíveis Baseado na fórmula empírica para massa celular
à temperatura, geralmente decrescendo com a dos organismos, C5H7O2N, Brink et al. (2007)
diminuição da temperatura. Um subscrito T mostra que para cada 1 mgN-ALS consumido, 0,99
adicional nos símbolos refere-se à temperatura em mgN de nitrato e 0,076 mgSSVONA são gerados,
o
C. e 4,42 mgO2 são utilizados.
dXONA
= − bONA,T XONA
dt
(mg SSVONA/L.d) (5.9)
onde:
bONA,T taxa específica de respiração endógena
o
para nitrificantes a T C
(mgSSVONA/mgSSVONA.d)
5.3.1 Concentração de amônia efluente SNHx,e versus idade do lodo (TRS), é apresentado na
Figura 5.2. Para valores de idade do lodo maiores,
Um balanço de massa das variações da massa de SNHx,e é bastante baixa e assim permanece até que a
nitrificantes, MΔXONA, em torno do sistema de idade do lodo seja reduzida para cerca de 4 d.
mistura completa em estado estacionário, é dado Abaixo de 4 d, SNHx,e aumenta rapidamente e, de
por: acordo com a Eq. 5.11, pode exceder a
concentração de ALS afluente, SNHx,a. Isto,
MΔXONA = VR ΔXONA = naturalmente, não é possível, então o limite da
μONA,max,T SNHX
. XANO VR ∆t − bONA,T XONA VR ∆t − validade da Eq. 5.11 é SNHx = SNHx,a. Substituindo
KONA,T + SNHX
XONA Q d ∆t SNHx por SNHx,a na Eq. 5.11 e rearranjando para
(mg SSVONA) (5.10a) determinação de TRS resulta na idade do lodo
mínima para nitrificação, TRSmin, com a qual,
onde: teoricamente, a nitrificação não pode ocorrer, ou
VR volume do reator (L) seja:
Qd vazão de descarte de lodo do reator 1
(L/d) TRSmin = KONA,T
(d)
(1+ )μONA,max,T −bONA,T
SNH
X,a
∆XONA μONA,max,T SNHX Esta idade do lodo mínima varia levemente com a
= . XONA,T − bONA,T XONA −
∆t KONA,T +SNHX magnitude de SNHx,a (Figura 5.2); valores maiores
Qd
XONA de SNHx,a resultam em valores ligeiramente
VR
inferiores de TRSmin. O efeito de SNHx,a em TRSmin
(5.10b)
é diminuto porque a magnitude de KONA,T é muito
pequena em relação a SNHx,a (< 5%). Portanto, para
Em condições de estado estacionário (vazão e SNHx,a > 20 mgN/L (raramente será menor que este
carga constantes), ΔXONA/Δt é igual a zero e, a valor), e considerando que KONA,20 ~1 mgN/L,
partir da Eq. 4.1, Qd/VR = TRS – Tempo de então KONA,T/SNHx,a é insignificante comparado a 1
Retenção de Sólidos. (< 5%). Assim, substituindo KONA,T/SNHx,a por zero
na Eq. 5.12 resulta em:
Substituindo estes valores e rearranjando para
1
determinação da concentração de amônia no reator TRSmin = (d)
μONA,max,T − bONA,T
(SNHx) e, portanto, também da concentração de (5.13)
amônia efluente (SNHx,e), devido à definição de
mistura completa, resulta em:
orgânica; não precisa ser com a nitrificação e, amostras da mesma fonte de esgoto. Esta
portanto, nem com a remoção de N. especificidade é tão marcante que μONA,max,T não
deveria ser classificada como uma constante
cinética, mas sim como uma característica do
5.4 FATORES QUE INFLUENCIAM A esgoto. O efeito parece ter natureza inibitória
NITRIFICAÇÃO devido a algumas substâncias no esgoto afluente.
Aparentemente não é uma questão de toxicidade,
A partir da discussão anterior, pode-se observar pois uma alta eficiência de nitrificação pode ser
que há vários fatores que afetam o processo de atingida mesmo com um baixo valor de μONA,max,T,
nitrificação, a idade do lodo mínima necessária se a idade do lodo for alta o suficiente. Estas
para sua ocorrência e a concentração de ALS substâncias inibitórias têm maior probabilidade de
efluente do sistema de lodo ativado, ou seja: estarem presentes em esgoto sanitário que têm
1. A magnitude da “constante” cinética alguma contribuição industrial. Em geral, quanto
μONA,max,20, visto que esta taxa varia maior a contribuição industrial, menor o valor de
consideravelmente para diferentes tipos μONA,max,T, mas os compostos químicos específicos
de esgoto. que causam esta redução não foram claramente
2. A temperatura, pois ela diminui a taxa definidos.
μONA,max,20 e aumenta a constante KONA,20.
3. As zonas não aeradas do reator, já que os Uma temperatura padrão de 20 oC foi adotada
OOAs são aeróbios obrigatórios e para apresentar valores de μONA,max levando em
somente podem crescer em condições conta o efeito da temperatura. Faixa de valores de
aeróbias. μONA,max,20 de 0,30 a 0,75 /d foi relatada para esgoto
4. A concentração de oxigênio dissolvido sanitário. Estes dois limites terão um efeito
(OD), pois a cinética de Monod presume significativo na magnitude da idade mínima do
que a ALS é o nutriente limitante, lodo para nitrificação. Dois sistemas, possuindo
implicando que o fornecimento de estes respectivos valores de μONA,max,20,
oxigênio deve ser adequado. apresentarão valores de TRSmin diferindo em 250%.
5. Vazões e cargas cíclicas, visto que a ALS Evidentemente, devido à ligação entre a idade do
é dissolvida e, portanto, a concentração de lodo e μONA,max,T, o valor desta última deveria
ALS no reator (e no efluente) é afetada sempre ser estimado experimentalmente para
pelo tempo de detenção hidráulica real e otimização no dimensionamento. Na ausência
instantâneo; a maior parte da ALS que desta medida, um baixo valor de μONA,max,T deverá
não é nitrificada durante o tempo de ser necessariamente escolhido para garantir a
detenção hidráulica real escapa com o ocorrência da nitrificação. Se na realidade
efluente. μONA,max,T for maior, a idade do lodo do sistema será
6. O pH do reator, pois μONA,max,20 é mais longa e o volume do reator será maior que o
fortemente suprimida em valores de pH necessário. Porém, o investimento em um reator
fora da faixa de 7 a 8. maior não será perdido, já que, no futuro, o sistema
será capaz de tratar uma carga orgânica mais alta
Estes seis fatores são discutidos a seguir. com idade do lodo menor. Procedimentos
experimentais para determinar μONA,max,20 são
5.4.1 Origem do afluente encontrados na literatura, por exemplo em WRC
(1984).
Observou-se que a taxa específica máxima de
crescimento, μONA,max,T, é bastante específica para Já bONA,20 é assumida como constante para todo
cada tipo de esgoto e também varia entre diferentes esgoto sanitário, com bONA,20 = 0,04 /d. Seu efeito é
pequeno, então não há necessidade de se investigar temperaturas mais altas compensa o aumento de
detalhadamente todos os fatores que a afetam. Há KONA,T, de forma que a ALS efluente diminui com
pouca informação disponível sobre o efeito de o aumento da temperatura.
agentes inibidores em KONA,T; é muito provável que
KONA,T aumenta com a inibição. 5.4.3 Zonas não aeradas
abordagem da idade do lodo aeróbio, admite-se que carga de amônia (ver abaixo). Consequentemente,
os processos de crescimento e endogenia dos para garantir baixas concentrações de amônia
organismos nitrificantes são ativos somente na efluente, a taxa específica máxima de crescimento
zona aeróbia, com nenhum deles ativo na(s) de nitrificantes deve ser reduzida por um fator de
zona(s) não aerada(s). Esta abordagem da idade do segurança, Sf, de forma a fornecer o valor de
lodo aeróbio não é compatível com os modelos de projeto da fração aeróbia mínima da massa de lodo;
simulação ASM1 e ASM2, de forma que previsões a partir da Eq. 5.18:
significativamente diferentes podem ser esperadas
para o comportamento da nitrificação a partir do (1 − fx,max ) = (bONA,T + 1/TRS)/(μONA,max,T /
processo de dimensionamento com idade do lodo Sf )
aeróbio e dos modelos da série ASM. (5.19a)
Seguindo o mesmo raciocínio da Eq. 5.13 A fração não aerada máxima da massa de lodo
anterior, pode-se mostrar que a idade do lodo correspondente, a partir da Eq. 5.19, é:
mínima para nitrificação, TRSmin, em um sistema
com nitrificação-desnitrificação (ND) que
fx,max = 1 − Sf (bONA,T + 1/TRS)/μONA,max,T
apresenta uma fração de massa não aerada, fxt, é:
(5.19b)
1
TRSmin = (5.16)
μONA,max,T (1− fxt )− bONA,T Com auxílio das equações de dependência da
temperatura na nitrificação (Eq. 5.14), a fração não
Alternativamente, se TRS for especificado, aerada máxima da massa de lodo (fx,max), a partir da
então a fração aeróbia mínima da massa de lodo (1 Eq. 5.19, é apresentada na Figura 5.3 para Sf = 1,25
– fx,max) que deve estar presente para a ocorrência e μONA,max,20 com valores de 0,25 a 0,50, a 14 oC.
da nitrificação é obtida substituindo TRS min por
TRS, e fxt por fx,max, na Eq. 5.16, e rearranjando o Isto mostra que fx,max é muito sensível a
termo (1 – fx,max), ou seja: μONA,max,T. A não ser que uma fração aeróbia da
massa de lodo (1 – fx,max) suficientemente grande
(1 − fx.max ) = (bONA,T + 1/TRS)/μONA,max,T seja fornecida, a nitrificação não ocorrerá e,
(5.17) consequentemente, a remoção de nitrogênio pela
desnitrificação não será possível. De fato, a escolha
ou, de forma equivalente, a partir da Eq. 5.17, a da fração não aerada máxima da massa de lodo para
fração não aerada máxima admissível da massa de alcançar nitrificação quase completa e o grau de
lodo com uma idade do lodo TRS é: remoção de N requerido é a decisão mais
importante a ser tomada no dimensionamento de
fx,max = 1 − (bONA,T + 1/TRS)/μONA,max,T sistemas de lodo ativado com remoção biológica de
(5.18) nutrientes (RBN), visto que ela define a idade do
Para uma idade do lodo fixa, TRS, o valor de lodo do sistema e, para uma determinada
projeto para a fração aeróbia mínima da massa de concentração de Sólidos em Suspensão do Reator
lodo (1 – fx,max) deve sempre ser significativamente Biológico - SSRB, também o volume do reator.
mais alto que o dado pela Eq. 5.18, pois a
nitrificação se torna instável e a concentração de
amônia efluente aumenta quando a fração aerada da
massa de lodo decresce para valores próximos ao
mínimo, conforme a Eq. 5.18. Este fenômeno é
intensificado para condições cíclicas de vazão e
5.4.6 pH e alcalinidade
de μONA,max,T; é muito pouco influenciada por para modelar a diminuição de μONA,max a partir de
KONA,T. Para TRS >> TRSmin, a concentração de pH > 7,2 até 9,5 como função de μONA,max,7,2, usando
amônia efluente (SNHx,e), ainda que baixa, é, de cinética de inibição, do seguinte modo:
maneira relativa, significativamente maior para
Kmax −pH
valores maiores de KONA,T. Por exemplo, se KONA,T μONA,max,pH = μONA,max,7,2 K I
Kmax +KII −pH
aumenta por um fator de 2, a concentração de
(5.22b)
amônia efluente aumentará de forma
correspondente pelo mesmo fator (Eq. 5.15).
onde:
Consequentemente, o valor de KONA,T é
KI 1,13
significativo, visto que governa a concentração de
Kmax 9,5
amônia a partir do momento em que a nitrificação
KII ≈ 0,3
ocorre para TRS >> TRSmin.
O efeito geral do pH em μONA,max é modelado
Diversas pesquisas foram feitas para entender o
combinando-se as Eqs. 5.22a e 5.22b, o que é
efeito do pH em μONA,max,T. Estas pesquisas em
mostrado pela Eq. 5.22c e pela Figura 5.7. Pode-se
geral não separaram os efeitos de μONA,max,T e
observar que na faixa de pH = 7,2 a 8,3, a alteração
KONA,T, de forma que a maior parte dos dados são
em μONA,max,pH é pequena, com
de fato estimativas de μONA,max,T a partir de
μONA,max,pH/μONA,max,7,2 > 0,9.
parâmetros combinados. Não há quase nenhuma
informação disponível sobre o efeito do pH em
μONA,max,pH =
KONA,T isoladamente. A modelação quantitativa do Kmax −pH
efeito do pH em μONA,max é prejudicada pela μONA,max,7,2 2,35(𝑝𝐻−7,2) K I
Kmax +KII −pH
dificuldade em medir-se com precisão os efeitos do (5.22c)
pH na nitrificação. Estudos mostraram que μONA,max
pode ser expressa como uma porcentagem do seu onde:
maior valor em pH ótimo. Considerando esta 2,35(pH-7,2) é fixado = 1 para pH > 7,2,
abordagem, e que μONA,max tem seu maior valor e
permanece aproximadamente constante na faixa de
pH de 7,2 < pH < 8,0, mas decresce conforme o pH Kmax −pH
KI =1 para pH< 7,2 e
diminui abaixo de 7,2, (Downing et al., 1964; Kmax +KII −pH
μONA,max,pH = 0 para pH > 9,5
Loveless and Painter 1968; Sötemann et al., 2005)
modelaram a dependência μONA – pH como (para 5
Dados experimentais obtidos da literatura
< pH < 7,2):
também são mostrados na Figura 5.7 para fornecer
(pH−7,2)
suporte quantitativo à Eq. 5.22c. Para baixos
μONA,max,pH = μONA,max,7,2 θns valores de pH (< 7,2), dados de Wild et al. (1971)
(5.22a) e Antoniou et al. (1990) se ajustam à equação
onde: razoavelmente bem. Poucos dados estão
θns coeficiente de sensibilidade ao pH de disponíveis para pH > 8,5, mas os poucos pontos
valor igual a 2,35 relatados obtidos por Antoniou et al. (1990)
mostram concordância razoável com a Eq. 5.22c.
Valores decrescentes de μONA,max em pH > 8,0
foram observados, e foi constatado que a
nitrificação efetivamente cessa em pH de cerca de
9,5 (Malan and Gouws, 1966; Wild et al., 1971;
Antoniou et al., 1990). Assim, para pH > 7,2,
Sötemann et al. (2005) propuseram a Eq. 5.22b
abaixo. A partir da Figura 5.8, a remoção normal Para a remoção biológica de P, as condições
de P pela incorporação na massa de lodo biológico ambientais no reator biológico são projetadas de
é limitada a cerca de 0,006 e 0,004 mgP/mgDQO, forma que um grupo específico de organismos
para esgoto bruto e decantado, respectivamente, heterotróficos (chamados de organismos
resultando em uma remoção de PT de acumuladores de fosfato, OAFs) cresça no reator
aproximadamente 20 a 25% para esgoto sanitário de lodo ativado. Com o acúmulo de polifosfatos,
usual. Como a transformação de orto-P dissolvido estes organismos apresentam um conteúdo muito
à forma gasosa não é possível, para aumentar a maior de P que os organismos heterotróficos
remoção de P da fase líquida, orto-P adicional deve ordinários (OHOs), alcançando 0,38
ser incorporado à massa de lodo. Isto pode ser mgP/mgSSVOAF (Wentzel et al., 1990). Quanto
alcançado de duas maneiras, (i) quimicamente e/ou mais OAFs crescem no reator, maior será o
(ii) biologicamente. Na remoção química de P, conteúdo de P nos SSV da massa do lodo no reator
cloretos ou sulfatos de ferro ou alumínio são e, portanto, maior será a remoção de P via descarte
dosados ao afluente (pré-precipitação), ao reator de de lodo. Com uma massa significativa de OAFs
lodo ativado (precipitação simultânea) ou ao presente, o conteúdo médio de P dos SSV da massa
efluente final (pós-precipitação). A desvantagem de lodo pode aumentar de 0,025 mgP/mgSSV em
da remoção química de P é que ela aumenta sistemas aeróbios para 0,10 a 0,15 mgP/mgSSV em
significativamente (i) a salinidade do esgoto sistemas biológicos com remoção de N e P. A
tratado, (ii) a produção de lodo devido aos sólidos vantagem da remoção biológica de P, em relação à
inorgânicos formados, e (iii) a complexidade e remoção química de P, é que (i) a salinidade do
custos do sistema de tratamento de esgoto. esgoto tratado não aumenta, (ii) a produção de lodo
aumenta somente de 10 a 15% e (iii) o sistema é
menos complexo e custoso na operação. Uma
desvantagem da remoção biológica de P é que,
sendo biológica, é menos confiável e mais variável
que a remoção química de P. Os processos
biológicos que intermediam a remoção biológica
de N e P em sistemas de lodo ativado e diferentes
configurações de reatores em que eles podem
ocorrer são descritos no Capítulo 7.
15% de remoção de NTK no decantador primário, plotados de NITc/DQOa são válidos somente para
resultando em 0,113; 0,127 e 0,141. Também são idades do lodo maiores que a idade do lodo mínima
mostradas as idades do lodo mínimas para correspondente. Essas figuras mostram as
nitrificação com frações não aeradas de massa de magnitudes relativas dos três termos que afetam a
lodo de 0,0; 0,2; 0,4 e 0,6 para exemplo com valor capacidade de nitrificação versus idade do lodo e
de μONA,max,20 de 0,45 /d. Para uma fração não temperatura.
aerada de massa de lodo em particular, os valores
Figura 5.9 Capacidade de nitrificação por mg DQO aplicada ao reator biológico versus idade do lodo para diferentes razões de
concentrações de NTK/DQO afluentes em exemplo com esgoto bruto e decantado a 14 oC (A) e 22 oC (B). Também são
mostradas as idades do lodo mínimas para se obter nitrificação, como linhas verticais, para Sf = 1,25 e fração não aerada da
massa de lodo de 0,0; 0,2; 0,4 e 0,6.
decantado, para qualquer idade do lodo
1) Temperatura: para se obter nitrificação escolhida, a capacidade de nitrificação
completa a 14 oC (para um fx,max escolhido), a (NITc/DQOa) é muito sensível à razão
idade do lodo requerida é mais que o dobro NTK/DQO afluente (NTKa/DQOa). Um
que a 22 oC. A capacidade de nitrificação aumento de 0,01 em NTKa/DQOa resulta em
correspondente por DQO afluente a 14 oC aumento igual de 0,01 em NITc/DQOa. Para a
mostra uma redução marginal em relação à mesma razão NTKa/DQOa para esgoto bruto
obtida a 22 oC devido à redução da taxa de ou decantado, a capacidade de nitrificação
respiração endógena dos OHOs. (NITc/DQOa) para esgoto bruto é menor que
2) Idade do lodo: para uma determinada razão para esgoto decantado, visto que mais lodo
NTK/DQO afluente (NTKa/DQOa), a (SSV) é produzido por unidade de carga de
capacidade de nitrificação (NITc/DQOa) DQO com esgoto bruto do que decantado,
aumenta conforme a idade do lodo também dado que a fração particulada não
aumenta, visto que o N requerido para biodegradável (fXNB,DQOa) no esgoto bruto é
produção de lodo diminui com o aumento da maior que no esgoto decantado. Além desta
idade do lodo, disponibilizando mais ALS diferença, um aumento na razão NTK/DQO
para nitrificação. Entretanto, o aumento é afluente resultará em igual aumento na
marginal para TRS > 10 dias. concentração de nitrato (capacidade de
3) Razão NTK/DQO afluente (NTKa/DQOa): nitrificação) por DQO afluente. Isto diminui
evidentemente, tanto para esgoto bruto como a probabilidade, ou torna impossível, a
CaCO3, a alcalinidade do meio líquido diminuirá 5.7.2 Idade do lodo mínima para
para valores abaixo de 40 mg/l como CaCO3, nitrificação
resultando na queda de pH do meio líquido para
valores abaixo de 7 (Figura 5.6). O baixo valor de Com o propósito de demonstrar a ocorrência de
pH do meio líquido causará, entre outros, nitrificação em condições puramente aeróbias, será
nitrificação incompleta e instável e a produção de assumido que a alcalinidade afluente é suficiente
um efluente agressivo, que ao longo de alguns anos alta para manter uma alcalinidade efluente acima
pode causar dano considerável às superfícies de de 50 mg/L como CaCO3. Nenhum ajuste em
concreto do sistema de tratamento (ver Seção 5.4.6 μONA,max,20 em relação ao pH será feito. O ajuste das
acima). Este simples cálculo aproximado pode constantes cinéticas dos ONAs, em relação à
alertar o projetista, em estágio preliminar, de temperatura, é dado na Tabela 5.2. Para um sistema
possíveis consequências adversas de um completamente aeróbio (fx,max = 0) com μONA,max,20
dimensionamento proposto. Continuando este = 0,45 /d e Sf = 1,3, a idade do lodo mínima para
exemplo, considerações devem ser feitas com nitrificação (TRSmin) é calculada pela Eq. 5.19:
respeito ao dimensionamento de um sistema de
nitrificação-desnitrificação (ND) para recuperar TRSmin = Sf / (μONA,max,20 – bONA,T) =
parte da alcalinidade e manter um pH próximo à = 2,5 d a 22 oC (1,9 d com Sf = 1,0)
neutralidade. Se somente 12 mgN/L (~metade) do = 6,9 d a 14 oC (5,3 d com Sf = 1,0)
nitrato fosse desnitrificado em um reator anóxico,
a alcalinidade efluente permaneceria acima de 50 Evidentemente, para garantir nitrificação ao
mg/L como CaCO3. Em geral, uma razão longo do ano para o valor relativamente baixo da
NTK/DQO alta com baixa alcalinidade no afluente taxa μONA,max,20 de 0,45 /d, a idade do lodo de um
são indicadores confiáveis de alerta para potenciais processo puramente aeróbio deve ser de
problemas em sistemas nitrificantes aproximadamente 8 a 10 dias.
completamente aeróbios.
particulado (Nob,a = Nosb,a + Nopb,a), que é convertida SNHx,NIT = NTKa – Nl – Nosnb,e (mgN/L) (5.38)
a amônia é:
Se a idade do lodo do sistema for menor que a
Nob,a = 60 (1 – 0,75 – 0,03) – 7,6 = 5,6 mgN/L mínima requerida para nitrificação (TRS <
TRSmin), a nitrificação não ocorre e a concentração
5.7.4 Esgoto decantado de nitrato efluente (SNO3,e) é zero. A concentração
de amônia efluente (SNHx,e) fica igual à
Seguindo o procedimento acima para esgoto concentração de nitrogênio disponível para
decantado, ou seja, faN = 0,83, fSNB,NTKa = 0,034 (ver nitrificação (SNHx,NIT, Eq. 5.38). Se TRS > TRS min
Tabela 5.1) resulta em: para Sf = 1,0, a maior parte da ALS disponível para
nitrificação é nitrificada a nitrato e a concentração
NTKa = 51,0 mgN/L de nitrato efluente (SNO3,e) é a diferença entre
SNHx,a = 0,88 • 51,0 = 45,0 mgN/L SNHx,NIT (Eq. 5.38) e a concentração de ALS
Nosnb,a = 0,034 • 51,0 = 1,80 mgN/L efluente dada pela Eq. 5.15. Tanto para TRS <
Nopnb,a = 0,10 (0,04 • 450)/1,48 = 1,2 mgN/L TRSmin quanto para TRS > TRSmin, a concentração
Nob,a = 51,0 – 45,0 – 1,8 – 1,2 = 3,0 mgN/L de NTK efluente (NTKe) é a soma das
concentrações de amônia e de nitrogênio orgânico
Visto que o esgoto decantado é produzido a solúvel não biodegradável efluentes (NTKe = SNHx,e
partir do esgoto bruto, as concentrações solúveis + Nosnb,e).
devem ser as mesmas do esgoto bruto. Já que as
concentrações de DQO e NTK são alteradas com a Para TRS < TRSmin, a nitrificação não ocorre,
decantação primária, as frações dos constituintes de forma que a concentração de nitrato efluente
solúveis aumentam com a decantação primária. (SNO3,e) é zero, ou seja
A partir da Eq. 5.32, o nitrogênio orgânico NTKe = SNHx,e + Nosnb,e (mgN/L) (5.41a)
solúvel não biodegradável no efluente é (para
esgoto bruto e decantado): A massa de lodo nitrificante (MXONA) e a
demanda de oxigênio para nitrificação (FONIT) são
Nosnb,e = Nosnb,a = 1,8 (mgN/L) (5.37) ambas zero, ou seja:
e então > SNHx,NIT (o que também é impossível). calculados. A Figura 5.10a mostra as diferentes
Para uma idade do lodo ligeiramente menor que concentrações efluentes de N do sistema versus a
TRSmin, SNHx,e decresce para valores abaixo de idade do lodo para esgoto bruto e decantado a 14
o
SNHx,NIT. A partir desta idade do lodo, a nitrificação C. A Figura 5.10c mostra a massa de lodo
ocorre e para aumentos progressivos (mesmo que nitrificante (como % da massa de SSV do reator) e
pequenos) na idade do lodo, SNHx,e rapidamente a demanda de oxigênio para nitrificação para
decresce para valores baixos (< 4 mgN/L). esgoto bruto e decantado a 14 oC. Também são
mostradas na Figura 5.10c as demandas carbonácea
Assim, para TRS > TRSmin: e total de oxigênio para esgoto bruto e decantado a
14 oC. Os cálculos foram repetidos para 22 oC e
A concentração de amônia efluente (SNHx,e) é: mostrados nas Figuras 5.10B e 5.10D. As Figuras
5.10A e 5.10B mostram que quando a idade do lodo
KONA,T (bONA,T +1/TRS) é aproximadamente 25% maior que a mínima
SNHX,e =
μONA,max,T (1−fxt )−(bONA,T +1/TRS)
requerida para nitrificação, ela é praticamente
(mgN/L) (5.40b)
completa (para condições em estado estacionário)
e, comparando os resultados para esgoto bruto e
a concentração de NTK efluente (NTKe) é:
decantado, há pouca diferença entre a demanda de
oxigênio para nitrificação e as concentrações de
NTKe = SNHx,e + Nosnb,e (mgN/L) (5.41b)
amônia, nitrato e NTK do efluente. As razões para
este comportamento similar são: (i) o decantador
e a concentração de nitrato efluente (SNO3,e) é:
primário remove somente uma pequena fração do
NTK do afluente, e (ii) o esgoto decantado resulta
SNO3,e = SNHx,NIT – SNHx,e = NTKa – Nl – NTKe
em menor produção de lodo, de forma que a ALS
(mgN/L) (5.39b)
disponível para nitrificação no esgoto bruto e
decantado é praticamente a mesma. A partir do
Analogamente à concentração de organismos
momento em que ocorre nitrificação, a temperatura
heterotróficos ativos (ver Eq. 4.9), a massa de
tem relativamente pouco efeito nas diferentes
organismos nitrificantes é dada por:
concentrações efluentes de N. Entretanto, uma
mudança na temperatura causa uma alteração
MXONA = FSNO3,eYONATRS / (1 + bONA,TTRS)
significativa na idade do lodo mínima para
(mgSSV) (5.42b)
nitrificação.
onde:
Considerando as Figuras 5.10A e 5.10B, para
FSNO3,e massa de nitrato produzida por dia
TRS < TRSmin, a concentração de amônia efluente
= (Qe + Qd) SNO3,e = Qa SNO3,e (mgN/d)
(SNHx,e) e, portanto, a concentração de NTK
efluente (NTKe), aumentam com a idade do lodo
A demanda de oxigênio para a nitrificação é
até TRSmin, porque Nl decresce com o aumento de
simplesmente 4,57 mgO2/mgN vezes a massa de
TRS. Para TRS > TRSmin, SNHx,e decresce
nitrato produzida por dia, ou seja:
rapidamente para < 2 mgN/L, de modo que, para
TRS > 1,3 • TRSmin, a concentração de NTK
FONIT = 4,57FSNO3,e (mgO2/d) (5.43b)
efluente é < 4 mgN/L. O aumento na concentração
de nitrato (SNO3,e) com o aumento na idade do lodo
Substituindo as concentrações afluentes de N
para TRS > 1,3 • TRSmin é principalmente devido à
para esgoto bruto e decantado e os valores das
redução do N requerido para produção de lodo (Nl).
constantes cinéticas a 14 oC nas eqs. 5.38 a 5.43, os
Isto é importante para sistemas com RBN; o
resultados para diferentes idades do lodo foram
aumento da idade do lodo aumenta a capacidade de
nitrificação (ver Seção 5.5.2 acima), de forma que do lodo entre 10 a 30 dias, aproximadamente 2.600
mais nitrato deve ser desnitrificado para se alcançar a 2.900 kgO2/d são requeridos para nitrificação.
a mesma remoção de N. Esta demanda de oxigênio para nitrificação
representa um aumento de 42% e 65% em relação
As Figuras 5.10C e 5.10D mostram que a à demanda carbonácea (DQO) de oxigênio para
demanda de oxigênio para nitrificação aumenta esgoto bruto e decantado. Porém, a demanda total
rapidamente a partir do momento em que TRS > de oxigênio para se tratar esgoto decantado é
TRSmin, mas para TRS > 1,3 • TRS min, aumentos somente 75% da necessária para se tratar esgoto
subsequentes são marginais independentemente da bruto.
temperatura ou tipo de esgoto, ou seja, para idades
Figura 5.10 Concentrações de amônia efluente (SNHx,e), NTK efluente (NTKe) e nitrato efluente (SNO3,e), assim como N requerido
para produção de lodo (Nl), versus idade do lodo a 14 oC (A) e 22 oC (B); demanda para nitrificação (ONIT), carbonácea (Oc) e
total (Ot) de oxigênio, em kgO2/kgDQO aplicada, assim como % de massa de SSV de nitrificantes, versus idade do lodo a 14 oC
(C) e 22 oC (D), para o exemplo com esgoto bruto e decantado.
Para que a nitrificação possa proceder sem que o equipamento de aeração seja adequadamente
inibição por limitação de oxigênio, é importante dimensionado para suprir a demanda total de
oxigênio; geralmente, o crescimento de organismos de nitrato quase completa ao se tratar esgoto bruto,
heterotróficos precede o crescimento de mas não ao se tratar esgoto decantado. A diferença
nitrificantes quando o fornecimento de oxigênio se na remoção de DQO e NTK em DPs, portanto, tem
torna insuficiente. Isto ocorre porque organismos um efeito significativo no dimensionamento de
heterotróficos podem crescer adequadamente com sistemas com RBN.
concentrações de oxigênio dissolvido de 0,5 a 1,0
mgO2/L, enquanto nitrificantes requerem uma
concentração mínima de 1 a 2 mgO2/L. Da mesma 5.8 REMOÇÃO BIOLÓGICA DE
forma que a concentração de ALS rapidamente NITROGÊNIO
decresce para TRS > TRSmin, a massa de lodo de
nitrificantes também aumenta rapidamente quando 5.8.1 Interação entre nitrificação e
TRS > TRSmin, é ligeiramente superior a 14 oC do remoção de nitrogênio
que a 22 oC devido à taxa de respiração endógena,
e é aproximadamente a mesma para esgoto bruto e A nitrificação é um pré-requisito para a
decantado (420 e 940 kgSSV a 10 e 30 dias de desnitrificação; sem ela, a remoção de N não é
idade do lodo, respectivamente). Comparando a possível. A partir do momento em que a
massa de lodo nitrificante com a massa de lodo nitrificação ocorre, a remoção de N pela
heterotrófica, conforme Figuras 5.10C e 5.10D, desnitrificação se torna possível e deveria ser
mesmo com altas razões NTK/DQO para esgoto incluída mesmo quando a remoção de N não é
decantado, a massa de lodo nitrificante consiste em requerida (ver Capítulo 4, Seção 4.11),
< 4% da massa de SSV e, portanto, é incorporando zonas no reator que são
desconsiderada na determinação da concentração intencionalmente não aeradas. Visto que os
de SSV no reator de LA tratando esgoto doméstico. organismos nitrificantes são aeróbios obrigatórios,
a nitrificação não ocorre na(s) zona(s) não
Vale a pena repetir que a sedimentação aerada(s), portanto, para compensar isto, a idade do
primária remove somente uma pequena fração do lodo do sistema deve ser aumentada em situações
NTK, porém uma fração significativa de DQO em que a nitrificação é requerida. Para sistemas
(15% e 40%, respectivamente, neste exemplo). completamente aeróbios e uma temperatura do
Entretanto, mesmo que o esgoto decantado tenha esgoto de 14 oC, uma idade do lodo de 5-7 dias
uma concentração de NTK menor que o esgoto pode ser suficiente para nitrificação completa,
bruto, a concentração de nitrato efluente não reflete levando em consideração a necessidade de que a
essa diferença. Isto ocorre porque a remoção de N concentração de ALS efluente deve ser baixa
para produção de lodo é menor para esgoto mesmo sob vazões e cargas cíclicas (Sf > 1,3). Para
decantado do que para esgoto bruto. sistemas anóxico-aeróbios, uma idade do lodo de
Consequentemente, a concentração de nitrato para 15 a 20 dias pode ser necessária quando uma fração
esgoto decantado é praticamente a mesma que para não aerada de massa de lodo de 50% é adicionada
esgoto bruto; para características diferentes do (Figura 5.3). Portanto, para sistemas em que a
esgoto, ela pode ser maior que para esgoto bruto. remoção de N é requerida, invariavelmente as
Por outro lado, a remoção máxima de N pela idades do lodo são maiores devido (i) à incerteza
desnitrificação usando compostos orgânicos do no valor de μONA,max,20, (ii) à necessidade de zonas
esgoto como doadores de elétrons, denominada de não aeradas, e (iii) à garantia de nitrificação na
potencial de desnitrificação, é principalmente mínima temperatura média de inverno (Tmin). Para
dependente da concentração de DQO afluente, e sistemas em que a nitrificação é uma possibilidade,
esta concentração é significativamente reduzida mas não obrigatória, a incerteza nos valores de
pela sedimentação primária. Isto pode resultar em μONA,max,20 não é importante e as zonas não aeradas
situação na qual pode ser possível obter remoção podem ser menores, resultando que as idades do
lodo podem se situar na faixa usual de idade do Na nitrificação a nitrato, a ALS doa 8 elétrons (e-
lodo de sistemas completamente aeróbios, de 3 a 6 )/mol, e o N se altera de um estado de e- de -3 até
dias. Zonas não aeradas deveriam, ainda assim, ser +5. Na desnitrificação a N2, o nitrato recebe 5 e-
incorporadas para aproveitar os benefícios da /mol, e o N se altera de um estado de e- de +5 a 0.
desnitrificação, caso a nitrificação ocorra. Quando Visto que 4,57 mgO2/mgN-ALS são requeridos
ela não ocorre, a zona não aerada será anaeróbia para a nitrificação, o equivalente de oxigênio do
(sem entrada de OD ou de nitrato), ao invés de nitrato na desnitrificação a N2 é 5/8 • 4,57 = 2,86
anóxica, e um pouco de remoção biológica mgO2/mg N-NO3- (Tabela 5.3). Portanto, para cada
avançada de fósforo (RBAF) pode ocorrer. Visto 1 mg N-NO3- desnitrificado a gás N2 na zona
que a RBAF não é requerida e, portanto, não é anóxica, em que aproximadamente 2,86/(1-YOHO) =
totalmente explorada, não é importante se ela 8,6 mgDQO são utilizados, é necessário suprir 2,86
ocorre ou não, pois não afeta muito o sistema. Com mg de oxigênio a menos à zona aeróbia. Como a
um pouco de RBAF, a produção de lodo será necessidade de oxigênio para produzir nitrato a
ligeiramente maior (< 5%) por DQO da carga partir da amônia é 4,57 mgO2/mgN-NO3-, e 2,86
aplicada, e a razão SSV/SST e a demanda de mgO2/mgN-NO3- são “recuperados” na
oxigênio serão de certa forma menores (em desnitrificação a gás N2, um máximo de 2,86/4,57
aproximadamente 5%). Porém, a RBAF pode ou 5/8 = 0,63 do oxigênio demandado para a
resultar em problemas de precipitação mineral nos nitrificação pode ser recuperado. Uma comparação
sistemas de tratamento de lodo, se o DLA (Descarte entre as reações de nitrificação e desnitrificação é
de Lodo Ativado) for digerido anaerobiamente. mostrada na Tabela 5.3. Em condições
operacionais, nem sempre é possível desnitrificar
5.8.2 Benefícios da desnitrificação todo o nitrato produzido, resultando que a
recuperação do oxigênio utilizado pela nitrificação,
No dimensionamento de sistemas completamente a partir da desnitrificação, é aproximadamente de
aeróbios, discutidoanteriormente, foi sugerido que, 50% (ver Figura 5.11).
quando a nitrificação não é obrigatória, mas uma
possibilidade, zonas não aeradas deveriam ainda
assim ser incorporadas no sistema para que os
benefícios da desnitrificação sejam obtidos.
Tabela 5.3 Comparação entre os processos de nitrificação e desnitrificação em sistemas de lodo ativado com lodo único.
nitrificação. Portanto, embora teoricamente o Em 1973, Barnard propôs uma melhoria ao sistema
sistema tenha o potencial para remover todo o Ludzack-Ettinger, separando completamente os
nitrato, do ponto de vista prático isto não é possível, reatores anóxico e aeróbio, recirculando a corrente
porque a fração anóxica da massa de lodo terá que de lodo sedimentado do DS para o reator anóxico
ser tão grande que as condições para a nitrificação primário (primeiro reator), e adicionando uma
não poderão ser satisfeitas, especialmente se as recirculação da biomassa em suspensão do reator
temperaturas forem baixas (< 15 oC). Além disso, aeróbio para o anóxico primário (Figura 5.13B).
amônia é liberada por meio da morte e lise
microbiana no reator anóxico, uma parte da qual sai
com o efluente, reduzindo assim a remoção de
nitrogênio total do sistema. Para minimizar o
conteúdo de amônia do efluente, um reator “flash”
ou de reaeração é por vezes colocado entre o reator
anóxico e o DS. Neste reator, o gás N2 é removido
do meio líquido para se evitar possíveis problemas
de flotação de lodo no DS, e a amônia é nitrificada
a nitrato para contribuir com o cumprimento dos Figura 5.13B O sistema modificado de remoção biológica
padrões de amônia, mas isto reduz a eficiência de nitrogênio com lodo único de Ludzack-Ettinger,
global de redução de nitrato do sistema. Por estas proposto por Barnard (1973), incluindo somente o reator
razões, a pós-desnitrificação não é largamente anóxico primário.
aplicada na prática, exceto onde ela é usada em
combinação com dosagem de reagentes químicos. Estas modificações permitiram uma melhoria
significativa no controle sobre o desempenho de
remoção de N do sistema com a recirculação da
5.8.5.1 O sistema Ludzack-Ettinger
biomassa em suspensão. Os compostos orgânicos
Ludzack e Ettinger (1962) foram os primeiros a da DQORB e da DQOLB do afluente estimulavam
propor um sistema de lodo único com nitrificação- altas taxas de desnitrificação no reator anóxico
desnitrificação utilizando os compostos orgânicos primário e reduções muito maiores de nitrato
biodegradáveis do afluente como matéria orgânica puderam ser alcançadas em relação à pós-
para a desnitrificação. Ele consistiu de dois reatores desnitrificação, mesmo quando o reator de pré-
em série, parcialmente separados entre eles. O desnitrificação do sistema era substancialmente
afluente era descarregado no primeiro reator, ou menor que o reator de pós-desnitrificação. Neste
reator anóxico primário, que era mantido em sistema, denominado Ludzack-Ettinger
condições anóxicas por meio de mistura sem Modificado (LEM), remoção completa de nitrato
aeração. O segundo reator era aerado e nele ocorria não pode ser atingida, pois parte da vazão total do
nitrificação. O efluente do reator aeróbio passava reator aeróbio não é recirculada para o reator
por um DS e a vazão de lodo sedimentado no DS anóxico, saindo do sistema como efluente. Para
era retornada ao reator aeróbio (segundo reator). reduzir a possibilidade de flotação de lodo no DS
Devido à ação da mistura em ambos os reatores, um devido à desnitrificação do nitrato residual, o
intercâmbio dos líquidos nitrificado e anóxico era acúmulo de lodo no DS deve ser mantido mínimo.
induzida. O nitrato que entrava no reator anóxico Isto foi obtido a partir de uma razão de recirculação
primário era desnitrificado a gás nitrogênio. de lodo sedimentado a partir do DS igual à vazão
Ludzack e Ettinger relataram que seu sistema média afluente (1:1).
fornecia resultados variáveis de desnitrificação,
provavelmente devido à falta de controle do
intercâmbio de conteúdos entre os dois reatores.
Figura 5.14 Concentração de nitrato versus perfis temporais em reatores de fluxo pistonado anóxico primário (A) e anóxico
secundário (B), mostrando as três fases da desnitrificação associadas com as taxas K1, K2 e K3. No anóxico primário, a taxa
rápida inicial K1 é atribuída à utilização da DQORB afluente, e a segunda taxa K2, mais lenta, à utilização da DQOLB do esgoto
afluente e autogerada pela morte e lise dos organismos. No reator anóxico secundário, a taxa K 3 é atribuída à utilização
somente da DQOLB autogerada.
Símbolo 20 ºC θ 14 ºC 22 ºC
a) K
1,20 0,720 1,200 0,241 1,036
b) K
2,20 0,101 1,080 0,064 0,118
c) K
3,20 0,072 1,029 0,061 0,076
d) K
4,20 0,048 1,029 0,040 0,051
a)
Unidades: mgN-NO3-/mgSSVOHO.d
estabelecimento da carga de nitrato imposta ao(s) YOHOv produção celular de OHOs (0,45
reator(es) anóxico(s) como igual ao potencial de mgSSV/mgDQO)
desnitrificação, e (iii) do cálculo das razões de 2,86 equivalente de oxigênio do nitrato
recirculação associadas a esta condição. As razões
de recirculação calculadas desta maneira são os Com relação à DQOLB, este substrato
valores ótimos. contribui para a desnitrificação nos reatores
anóxico primário e anóxico secundário. Os
A partir da discussão anteriormente, fica potenciais de desnitrificação para a DQOLB são
evidente que os cálculos da carga de nitrato e do formulados com base nas taxas específicas de
potencial de desnitrificação são críticos no desnitrificação K2 e K3, respectivamente. Estas
dimensionamento voltado à desnitrificação. A taxas K são uma simplificação das equações
carga de nitrato é calculada a partir da capacidade cinéticas que descrevem a utilização da DQOLB do
de nitrificação, que é a concentração de nitrato por afluente e/ou da morte e lise dos organismos, e se
litro da vazão afluente (Qa) gerada pela nitrificação embasam nos princípios de cinética microbiana
(Seção 5.6.2, Eq. 5.35). Mostrou-se acima que a incorporados nos modelos de simulação de lodo
capacidade de nitrificação (NITc, mgN/lafluente) é ativado, como o ASM1 (Van Haandel et al., 1981;
aproximadamente proporcional à concentração de Henze et al., 1987). As taxas K definem a taxa de
NTK afluente (NTKa). O potencial de desnitrificação como mgN-NO3- desnitrificado por
desnitrificação é calculado separadamente para a dia por mg de massa de SSVOHO no reator
utilização da DQORB e da DQOLB. A DQORB anóxico. Portanto, para determinar a contribuição
gera uma rápida taxa de desnitrificação, de forma da DQOLB ao potencial de desnitrificação, a massa
que se pode assumir que ela é toda utilizada no de SSVOHO produzida em relação à vazão
reator anóxico primário. Isto é, de fato, um objetivo afluente e a proporção desta massa nos reatores
do dimensionamento. Similarmente, a contribuição anóxicos primário e/ou secundário devem ser
da DQORB ao potencial de desnitrificação é calculadas e multiplicadas pelas taxas K2 ou K3.
simplesmente a componente catabólica de sua
capacidade de doar elétrons em termos de nitrato De acordo com o modelo de lodo ativado em
como N. Portanto, na utilização completa da estado estacionário para remoção de matéria
DQORB afluente, uma proporção fixa (1-YOHO) orgânica (Capítulo 4, Seção 4.4.2.1), a massa de
dos elétrons da DQORB (componente catabólica) OHOs no sistema (MXOHOv) é calculada a partir da
será doada ao NO3-, reduzindo-o a N2. Assim, carga de DQO biodegradável (Eq. 4.9). Desta
conhecendo-se a concentração de DQORB afluente massa MXOHOv, uma fração fx1 e/ou fx3 está
e assumindo-se que ela é toda utilizada, o potencial continuamente presente nos reatores anóxicos
de desnitrificação desta DQORB é: primário e/ou secundário, respectivamente, ou seja,
fx1 e fx3 são as frações anóxicas primária e
secundária da massa de lodo, respectivamente. A
DplDQORB = fSS DQOb,a (1 − fdv YOHOv )/2,86 massa de SSVOHO nos reatores anóxicos primário
(mgN-NO3-/Lafluente) (5.46) e/ou secundário por vazão afluente é, então, dada
por:
onde:
𝑓𝑥𝑙 𝑀𝑋𝑂𝐻𝑂𝑣
Dp1DQORB potencial de desnitrificação da DQORB =
𝑄𝑎
afluente no reator anóxico primário 𝑓𝑥𝑙 𝐷𝑄𝑂𝑏,𝑎 𝑌𝑂𝐻𝑂𝑣 𝑇𝑅𝑆
DQOb,a DQO biodegradável afluente ⁄(1
+ 𝑏𝑂𝐻𝑂 𝑇𝑅𝑆)
(mgDQO/L) (mgSSVOHO/L) (5.46a)
fSS fração de DQORB na DQOb,a
para o afluente nos reatores anóxicos primários e
𝑓𝑥3 𝑀𝑋𝑂𝐻𝑂𝑣
= forma que a demanda de oxigênio é diretamente
𝑄𝑎
𝑓𝑥3 𝐷𝑄𝑂𝑏,𝑎 𝑌𝑂𝐻𝑂𝑣 𝑇𝑅𝑆 relacionada à carga de DQO, a demanda de nitrato
⁄(1 (que é denominada potencial de desnitrificação)
+ 𝑏𝑂𝐻𝑂 𝑇𝑅𝑆)
(mgSSVOHO/L) (5.46b) também, pois tanto o oxigênio quanto o nitrato
para o afluente nos reatores anóxicos secundários. agem como receptores de elétrons para as mesmas
reações de degradação de matéria orgânica. Para o
Multiplicando-se estas massas pelas mesmo tamanho de reator anóxico, o reator
respectivas taxas K, obtêm-se os potenciais de anóxico primário tem um potencial de
desnitrificação dos reatores anóxicos primário e desnitrificação muito maior (aproximadamente 2 a
secundário atribuídas à DQOLB (Dp1DQOLB, 3 vezes) que o reator anóxico secundário, porque
Dp3DQOLB), ou seja (i) K2 é maior que K3 e (ii) mais importante, a
DQORB aporta uma contribuição significativa ao
𝐷𝑝𝑙 𝐷𝑄𝑂𝐿𝐵 =
𝐾2 𝑓𝑥𝑙 𝑀𝑋𝑂𝐻𝑂𝑣
=
𝐾2 𝑓𝑥𝑙 𝐷𝑄𝑂𝑏,𝑎 𝑌𝑂𝐻𝑂𝑣𝑇𝑅𝑆 potencial de desnitrificação no reator anóxico
𝑄𝑎 (1+𝑏𝑂𝐻𝑂 𝑇𝑅𝑆) primário. Por esta razão, a DQORB necessita ser
(5.47) precisamente especificada para garantir estimativas
confiáveis da remoção de N que pode ser
K3 fx3 DQOb,a YOHOv TRS
Dp3 DQOLB = (1+bOHO TRS)
(5.48) alcançada. Para um esgoto sanitário comum com
uma fração de DQORB (fSS) de aproximadamente
25% (em relação à DQO biodegradável), a
Esta abordagem é válida porque as taxas K2 e
DQORB contribui com aproximadamente 1/3 a 1/2
K3 são contínuas para todo o tempo de residência
do Dp1, dependendo do tamanho do reator anóxico
do lodo no(s) reator(es) anóxico(s), desde que a
primário e da temperatura. Em um sistema em que
concentração de nitrato não se reduza a zero
um alto grau de remoção de N é requerido, entre
(Figura 5.14). Combinando as componentes do
1/4 e 1/3 da demanda carbonácea de oxigênio é
potencial de desnitrificação referentes à DQORB e
atendida pela desnitrificação, o que reduz a
à DQOLB resulta no potencial total de
demanda carbonácea de oxigênio no reator aeróbio
desnitrificação dos reatores anóxicos primário e
na mesma quantidade. Conforme mencionado
secundário, ou seja
anteriormente, esta redução representa
aproximadamente metade do oxigênio que foi
Dpl = Dpl DQORB + Dpl DQOLB =
DQOb,a (1−fdv ) DQOb,a K2 fxl fdv TRS requerido para a produção de nitrato na nitrificação
fSS + (1+bOHO TRS)
= (ver Figura 5.11).
2,86
fSS (1−fdv ) K2 fxl fdv TRS
DQOb,a { + (1+ bOHO TRS)
}
2,86
A partir da Eq. 5.50, a contribuição da DQORB
(mgN/Lafluente) (5.49)
afluente ao potencial de desnitrificação do reator
Dp3 = Dp3 DQORB + Dp3 DQOLB = 0 +
DQOb,a K3 fx3 YOHOv TRS anóxico secundário é zero. Isto porque toda a
(1+bOHO TRS) DQORB é utilizada nos reatores anóxico e/ou
(mgN/Lafluente) (5.50) aeróbio precedentes. Porém, o termo Dp3DQORB foi
Nas equações 5.49 e 5.50, as taxas K2, K3 e bOHO incluído na Eq. 5.50, caso uma fonte externa de
são sensíveis à temperatura e decrescem conforme carbono, como metanol, ácido acético ou água
a temperatura diminui. A sensibilidade à residuária com alta carga orgânica, seja dosada no
temperatura destas taxas foi medida e está definida reator anóxico secundário para intensificar a
nas Tabelas 5.4 e 4.2. A partir das Eqs. 5.49 e 5.50, desnitrificação. Dp3DQORB é idêntico à Eq. 5.46, em
pode-se observar que os potenciais de que fSSDQOb,a é a concentração de DQO do
desnitrificação são diretamente proporcionais à composto orgânico dosado, em mgDQO/L de
concentração de DQO biodegradável do esgoto afluente. Com metanol, o valor de YOHOv é
(DQOb,a). Isto é esperado, visto que da mesma
oxigênio, e esta diferença deve ser levada em conta características do esgoto no dimensionamento será
para um projeto econômico (Figura 5.11). demonstrado a seguir com exemplos numéricos
gerados para o exemplo de esgoto bruto e
decantado com diferentes concentrações de NTK e
5.9 DESENVOLVIMENTO E frações de DQORB afluentes. O dimensionamento
DEMONSTRAÇÃO DO da remoção biológica de N é desenvolvido e
PROCEDIMENTO DE demonstrado a seguir por meio da continuação dos
DIMENSIONAMENTO cálculos dos exemplos com esgoto bruto e
decantado. As características do esgoto são listadas
Concluiu-se acima que as características do nas Tabelas 4.3 e 5.1. A única característica
esgoto afluente que necessitam ser precisamente adicional necessária para o dimensionamento da
conhecidas são a razão NTK/DQO e a fração de desnitrificação é a fração de DQORB afluente (fSS),
DQORB afluentes. Elas têm uma grande influência que é 0,25 e 0,385 da DQO biodegradável (DQO b,a)
na capacidade de nitrificação e no potencial de para esgoto bruto e decantado, respectivamente. Os
desnitrificação, respectivamente, e, portanto, no resultados obtidos até o momento nos cálculos da
desempenho da remoção de N e na concentração remoção de DQO e da nitrificação estão listados na
mínima de nitrato que pode ser alcançada pela Tabela 5.5.
desnitrificação biológica. O efeito destas duas
Tabela 5.5 Resumo dos cálculos de dimensionamento para remoção de DQO e nitrificação para remoção de N com 20 dias de
idade do lodo e 14 e 22 oC, para os exemplos com esgoto bruto e decantado (ver Tabelas 4.3 e 5.1 para características do
esgoto).
Tabela 5.6 Resumo dos cálculos de dimensionamento da desnitrificação para o sistema Ludzack-Ettinger Modificado (LEM)
para remoção de N com 20 dias de idade do lodo e 14 e 22 oC, para os exemplos com esgoto bruto e decantado (ver Tabelas
4.3 e 5.1 para características do esgoto).
𝑎𝑆𝑂2,𝑎 𝑠𝑆𝑂2,𝑠
𝑆𝑁𝑂3,𝑒 = 𝑁𝐼𝑇𝑐 + + − 𝐷𝑝1
2,86 2,86
A desnitrificação ótima, isto é, a menor (mgN/L) (5.58)
concentração de nitrato, é obtida quando a carga de
nitrato equivalente no reator anóxico é igual ao Visto que NITc, Dp1, SO2,s e SO2,a são constantes,
potencial de desnitrificação do reator anóxico, ou o aumento de SNO3,e com o aumento de “a” acima
seja, Dp1 = SNO3,p1, de forma que de aot é linear com inclinação SO2,a/2,86 mgN/L.
Quando a = aot, as Eqs. 5.57 e 5.58 resultam nas
𝑐 𝑁𝐼𝑇 𝑆𝑂2,𝑎 𝑁𝐼𝑇𝑐 𝑆𝑂2,𝑠
𝐷𝑝1 = [(𝑎+𝑠+1) + ]𝑎 + [ + ]𝑠 mesmas concentrações SNO3,e.
2,86 (𝑎+𝑠+1) 2,86
(5.55)
Considerando a idade do lodo de projeto de 20
Resolvendo a Eq. 5.55 para “a” resulta na razão dias, que permite uma fração não aerada máxima
de recirculação “a” que envia ao reator anóxico da massa de lodo, fx,max, de 0,534, o comportamento
da desnitrificação no sistema LEM é demonstrado
abaixo para os exemplos com esgoto bruto e Isto é ilustrado na Figura 5.16, que, mostra
decantado a 14 oC e a 22 oC. Nos cálculos, as SNO3,e versus a razão de recirculação “a” para o
concentrações de OD nas recirculações “a” e “s”, exemplo com esgoto bruto (Figura 5.16A) e
SO2,s e SO2,a, são 2 e 1 mgO2/L, respectivamente, e a decantado (Figura 5.16B) a 14 oC e a 22 oC,
razão de recirculação de lodo é 1:1. Esta razão de plotados a partir das Eqs 5.57 e 5.58. Para esgoto
recirculação “s” é geralmente fixada em um valor decantado (Figura 5.16B) a 14 oC e s = 1:1, e para
tal que uma operação satisfatória do decantador a < aot, o reator anóxico está abaixo de sua
seja obtida. Detalhes sobre teoria, projeto, capacidade em termos de nitrato e OD e, conforme
modelação e operação de decantadores secundários a recirculação “a” aumenta até o valor de aot,
são discutidos por Ekama et al. (1997) e também aumenta a carga de nitrato equivalente
apresentados no Capítulo 12. rumo ao potencial de desnitrificação do reator
anóxico. Inicialmente, SNO3,e decresce bruscamente
Substituindo os valores da capacidade de para aumentos de “a”, mas, conforme “a” aumenta,
nitrificação, NITc, e do potencial de desnitrificação, os decréscimos de SNO3,e ficam menores. A 14 oC,
Dp1 (Tabelas 5.5 e 5.6), nas Eqs. 5.56 e 5.57, a razão com a = aot = 6,5, o reator anóxico atinge, com as
de recirculação ótima de biomassa em suspensão, recirculações “a” e “s”, seu potencial de
aot, e a concentração mínima de nitrato efluente, desnitrificação, e é alcançada SNO3,e,min = SNO3,e,aot =
SNO3,e,aot, são obtidas, por exemplo para esgoto 4,7 mgN/L. Com a = aot = 6,5, a maior parcela do
decantado a 14 oC. potencial de desnitrificação do reator anóxico é
utilizada para a desnitrificação e, portanto, resulta
A = 2/2,86 = 0,70 nas concentrações de nitrato efluente mínimas
B = 39,9 - 40,1 + {(1+1)2+1x1} /2,86= (SNO3,e,aot). Isto é mostrado nas Figuras 5.17A e
= +1,52 = +1,54 5.17B, para esgoto bruto e decantado a 14 oC. Para
C = (1 + 1) (40,1 – 1.1/2,86) – 1 x 39,9= esgoto decantado a 14 oC (Figura 5.17B) com aot =
+39,61 = +39,60 6,5, 88% da carga de nitrato equivalente (ou seja,
Assim, aot = 6,5 e SNO3,e,min = 4,7 mgN/L. Os (a + s) SNO3,e,min = 35,2 mgN/L de um Dp1 = 40,1
resultados acima, assim como os obtidos nos mgN/L) é nitrato e, portanto, 88% do potencial de
exemplos com esgoto bruto e decantado a 14 oC e desnitrificação é utilizado para desnitrificação e
a 22 oC, são listados na Tabela 5.6. 12% para remoção de OD. Quanto maior a razão de
recirculação “a”, maior a parcela do potencial de
Os resultados na Tabela 5.6 mostram que, para desnitrificação utilizada para remoção de OD. A 14
o
todos os 4 casos, aot excede 5. Embora os cálculos C, para a < aot, a carga de nitrato equivalente
incluam o envio de OD para o reator anóxico, excede o potencial de desnitrificação e, conforme a
razões de recirculação acima de 5 a 6 não são recirculação “a” aumenta, também aumenta SNO3,e
econômicas. Os pequenos decréscimos em SNO3,e devido ao aumento da carga de OD ao reator
que são obtidos, mesmo para grandes aumentos na anóxico. A partir da Eq. 5.58, com a = 15, S NO3,e =
razão de recirculação “a” acima de 10,6 mgN/L e 27% do potencial de desnitrificação
aproximadamente 5:1, não justificam os custos de é requerido para remover OD, restando apenas 73%
bombeamento adicionais. para a desnitrificação (Figuras 5.16B e 5.17B).
Figura 5.16 Concentração de nitrato efluente versus razão de recirculação de biomassa em suspensão “a” para o exemplo com
esgoto bruto (A) e decantado (B), com razão de recirculação de lodo (s) de 1:1 a 14 oC (linha azul) e 22 oC (linha vermelha) e com
s = 0,5:1 e 2,0:1 a 14 oC (linhas tracejadas).
Para 14 oC, os gráficos de SNO3,e versus “a” com até a = 6,5. Isto ocorre porque NITc a 14 oC e a 22
razões de recirculação de lodo “s” de 0,5:1 e 2,0:1 o
C para os exemplos com esgoto bruto e decantado
também são dados na Figura 5.16 e mostram que são praticamente os mesmos (ou seja, 39,9 e 41,6
aot não é significativamente diferente a diferentes mgN/L a 14 oC e a 22 oC, respectivamente, ver
razões de recirculação “s”. Além disso, para baixas Tabela 5.5). Porém, a 22 oC, o potencial de
razões de recirculação “a”, mudanças em “s” têm desnitrificação é significativamente maior que a 14
o
influência significativa em SNO3,e, mas, para altas C (40,1 mgN/L a 14 oC e 52,4 mgN/L a 22 oC, ver
razões de recirculação “a”, mesmo mudanças Tabela 5.6), de forma que um maior valor de aot é
significativas em “s” não alteram necessário (ou seja, 17,9) a 22 oC para igualar a
significativamente SNO3,e. Isto ocorre porque, para carga no reator anóxico ao seu potencial de
altos valores de “a”, a maior parte do nitrato é desnitrificação que a 14 oC. Portanto, a 22 oC,
recirculado para o reator anóxico pela recirculação conforme a recirculação “a” aumenta acima de 6,5,
“a”, de forma que mudanças em “s” não alteram SNO3,e continua decrescendo até que aot = 17,9 seja
significativamente a carga de nitrato no reator alcançada. O aumento de “a” de 6,5 a 17,9 reduz
anóxico. Assim, para o sistema LEM, decréscimos SNO3,e de 4,9 a 2,1, ou seja, somente 2,8 mgN/L.
em “s” podem ser compensados por acréscimos em Este pequeno decréscimo em SNO3,e não compensa
“a”; faz pouca diferença qual recirculação envia o o grande aumento nos custos de bombeamento
nitrato ao reator anóxico, desde que o reator requeridos para obtê-lo. Consequentemente, por
anóxico tenha carga tão próxima quanto possível razões econômicas, a razão de recirculação “a” é
do potencial de desnitrificação, de forma a limitada à máxima “a” praticável (aprat) de,
minimizar SNO3,e. digamos, 5:1, que fixa a concentração de nitrato
efluente mais baixa praticável (SNO3,e,prat) do
Para esgoto decantado a 22 oC e s = 1:1 (Figura sistema LEM entre 5 e 10 mgN/L, dependendo da
5.16B), SNO3,e versus “a” é similar ao caso de 14 oC razão NTK/DQO afluente
.
Figura 5.17 Porcentagem do potencial de desnitrificação não utilizado, usada por oxigênio dissolvido nas recirculações e para
a desnitrificação versus a razão de recirculação “a” para os exemplos com esgoto bruto (A) e decantado (B), para razão de
recirculação de lodo (s) de 1:1 a 14 oC.
Figura 5.18 Razão NTK/DQO afluente (NTK/DQO), frações não aerada máxima (fx,max), anóxica primária (fx1) e anóxica primária
mínima (fx1,min) da massa de lodo (A e B), concentração de nitrato efluente e % de remoção de N (C e D) para sistemas LEM
balanceados com um limite superior praticável da razão de recirculação “a” para o exemplo com esgoto bruto (A e C) e
decantado (B e D) a 14 oC.
Figura 5.19 Razão NTK/DQO afluente (NTK/DQO), frações não aerada máxima (fx,max), anóxica primária (fx1) e anóxica primária
mínima (fx1,min) da massa de lodo (A e B), concentração de nitrato efluente e % de remoção de N (C e D) para sistemas LEM
balanceados com um limite superior praticável da razão de recirculação “a” para o exemplo com esgoto bruto (A e C) e
decantado (B e D) a 22 oC.
A idade do lodo que balanceia o sistema LEM Eq. 5.55, que determina a carga de nitrato
para características do esgoto e aprat dados não pode equivalente no reator anóxico como igual ao
ser calculada diretamente. É mais fácil calcular a potencial de desnitrificação e, assim, aot se iguala
concentração de NTK afluente para uma faixa de ao aprat escolhido. Com Dp1 e “a” conhecidos, NITc
idades do lodo e escolher a idade do lodo é calculado por meio da Eq. 5.55. A partir do
apropriada à concentração de NTK do esgoto momento em que NITc é conhecido, NTKa é
(NTKa). O procedimento para cálculo do NTKa calculado por meio de NTKa = NTKe + Nl + NITc
para um sistema LEM balanceado é o seguinte: a (Eq. 5.35), em que NTKe = Nosnb,e + SNHx,e (Eq.
partir dos valores de μONA,max,20, Tmin e Sf de projeto 5.33) e SNHx,e é dado pela Eq. 5.21, porque com Sf
e de uma idade do lodo escolhida, fx,max é calculado fixo, a relação TRS – fx,max é fixada. Com NITc e
por meio da Eq. 5.19. Considerando que f x,max > NTKa conhecidos, a concentração de nitrato
fx1,min (Eq. 5.51), fx1 é fixado como igual a fx,max. efluente, SNO3,e, e a % de remoção de nitrogênio
Conhecendo-se fx1 e as características do esgoto, (%Nrem) são encontrados por meio da Eq. 5.57 e de
Dp1 é calculado a partir da Eq. 5.49. Este Dp1 e um %Nrem = 100(NTKa – (SNO3,e + NTKe))/NTKa,
valor escolhido de aprat são, então, substituídos na respectivamente. Este cálculo é repetido para
diferentes idades do lodo. A menor idade do lodo (fSS) de 0,385 e 0,25 para os exemplos com esgoto
permitida é aquela que resulta em f x1 = fx,max = decantado e bruto, respectivamente. Portanto, a 14
o
fx1,min. C, enquanto o esgoto bruto pode ser tratado em um
sistema LEM balanceado com aproximadamente
Na Figura 5.18 para 14 oC e esgoto bruto 11 d de idade do lodo (Figura 5.18A), a idade do
(Figuras 5.18A e C), pode-se observar que lodo para esgoto decantado em um sistema LEM
fx1(=fx,max) aumenta de aproximadamente 0,09, em balanceado é de aproximadamente 17 d (Figura
8 d de idade do lodo, na qual fx,max é ligeiramente 5.18B). Uma comparação dos sistemas LEM
maior que fx1,min, para 0,60, em 26 d de idade do balanceados para os exemplos com esgoto bruto e
lodo, na qual fx,max é igual ao limite superior decantado é dada na Tabela 5.7.
estabelecido para ela. Conforme fx1 aumenta,
também aumenta a razão NTK/DQO de 0,061, em A partir da Tabela 5.7, pode-se observar que
8 d de idade do lodo, para 0,115, em 26 d de idade SNO3,e é menos que 1 mgN/L maior para esgoto
do lodo. Com o aumento da razão NTK/DQO, a decantado, mas o volume do reator e a demanda
capacidade de nitrificação, NITc, aumenta e, assim, total de oxigênio são significativamente menores
SNO3,e aumenta de aproximadamente 3,2 mgN/L, quando comparadas com esgoto bruto. Portanto, do
em 8 d de idade do lodo, para 9,3 mgN/L, a 26 d de ponto de vista de um sistema de lodo ativado, tratar
idade do lodo, porque as razões de recirculação “a” esgoto decantado seria mais econômico que tratar
e “s” se mantêm em 5:1 e 1:1, respectivamente (ver esgoto bruto para uma qualidade comparável de
Eq. 5.58). A % de remoção de N, que inclui o N efluente. Além disso, ambos os sistemas requerem
removido via descarte de lodo, Nl, decresce tratamento de lodo; para esgoto bruto porque o lodo
ligeiramente de 85 para 82% conforme a razão de descarte com idade do lodo de 11 d não é estável
NTK/DQO afluente e a idade do lodo aumentam no (alta fração ativa, fat,OHO) e, para esgoto decantado,
sistema LEM balanceado. o lodo primário necessita de estabilização. O lodo
de descarte com idade do lodo de 11 d pode ser
Para esgoto decantado a 14 oC (Figuras 5.18B e estabilizado com digestão anóxica-aeróbia, que
D), os resultados para a razão NTK/DQO afluente, permite que o N liberado na digestão seja
fx1 e fx1,min são similares aos valores para esgoto nitrificado e desnitrificado (Warner et al., 1986;
bruto, ou seja, para a mesma idade do lodo, Brink et al., 2007), e o lodo primário pode ser
aproximadamente a mesma razão NTK/DQO é digerido anaerobiamente com o benefício da
obtida no sistema LEM balanceado. Para esgoto geração de gás. A decisão de se tratar esgoto bruto
decantado, SNO3,e é ligeiramente menor, ou decantado, portanto, não depende tanto da
aumentando de aproximadamente 3,2 para 6,7 qualidade do efluente ou dos custos do sistema de
mgN/L quando a idade do lodo aumenta de 8 d para lodo ativado em si, mas dos custos de toda a estação
26 d; além disso, a % de remoção de N é de certa de tratamento de esgoto, incluindo o tratamento de
maneira menor, em torno de 78%, devido lodo. Visto que a temperatura mínima do esgoto
principalmente à menor remoção de N via descarte (Tmin) governa o dimensionamento do sistema de
de lodo, Nl. Entretanto, deve-se lembrar que a razão lodo ativado (e do tratamento do lodo), os
NTK/DQO e a fração de DQORB do esgoto resultados para o sistema LEM balanceado a 22 oC
decantado são maiores que para o esgoto bruto do não são particularmente relevantes para regiões de
qual ele é produzido, ou seja, razão NTK/DQO de clima temperado.
0,113 e 0,080 mgN/mgDQO e fração de DQORB
Tabela 5.7 Comparação dos sistemas LEM balanceados nos exemplos com esgoto bruto e decantado a 14 oC.
Figura 5.20 Razões de recirculação “a” (linhas em negrito) ótimas (aot) e no limite superior praticável (aprat = 5:1) e
concentrações de nitrato efluente com aot (SNO3,e,aot, linhas azuis) e com aprat (SNO3,e,aprat, linhas vermelhas) versus razões
NTK/DQO afluentes com razões de recirculação de lodo (s) de 1:1 para os exemplos com esgoto bruto (A e C) e decantado (B e
D) a 14 oC (A e B) e 22 oC (C e D). As razões de recirculação “a” ótimas (aot) com razões de recirculação de lodo de 0,5:1 e 2:1
também são mostradas (linhas tracejadas).
A partir da Figura 5.20, pode-se observar que, e “s” não diferem muito em sua influência no reator
conforme a razão NTK/DQO afluente aumenta, anóxico. Portanto, importa pouco qual linha de
decresce aot e aumenta SNO3,e,aot. As linhas aot- recirculação traz a carga de nitrato ao reator
SNO3,e,aot na Figura 5.20 fornecem o desempenho de anóxico. Contanto que o reator anóxico receba
desnitrificação do sistema quando o potencial de carga próxima de seu potencial de desnitrificação,
desnitrificação do reator anóxico é completamente a mesma concentração de nitrato efluente mínima
utilizado, ou seja, o desempenho de desnitrificação (SNO3,e,aot) será obtida com aot. As linhas aot-SNO3,e,aot,
do sistema é igual ao seu potencial de portanto, fornecem o desempenho de
desnitrificação e a concentração de nitrato é a desnitrificação do sistema quando o potencial de
menor possível. Além disso, grandes aumentos na desnitrificação do reator anóxico é completamente
razão de recirculação de lodo “s” (ou seja, de 0,50:1 utilizado (Figura 5.17B), isto é, o desempenho de
para 1,0:1 ou 1,0:1 para 2,0:1) reduzem aot mas não desnitrificação do sistema é igual ao seu potencial.
alteram SNO3,e,aot porque o OD nas recirculações “a” Um melhor desempenho de desnitrificação não é
possível; a desnitrificação é cineticamente limitada efluente (SNO3,e,aot). Para estas razões NTK/DQO
e a biomassa (e, assim, também o sistema) está afluentes, o potencial de desnitrificação do sistema
fazendo o melhor que pode (para determinada taxa é completamente utilizado e o desempenho de
de desnitrificação K2). desnitrificação do sistema é definido pelas linhas
aot-SNO3,e,aot.
A partir da Eq. 5.57, o desempenho de
desnitrificação do sistema com aumento da razão A Figura 5.20 é útil porque combina o
NTK/DQO afluente para uma determinada razão desempenho de desnitrificação do sistema (linhas
de recirculação “a”, operacionalmente praticável aprat-SNO3,e,aprat) e o potencial de desnitrificação
(aprat) de 5:1, é mostrado também na Figura 5.20 (linhas aot-SNO3,e,aot) no mesmo diagrama, conforme
como as linhas aprat e SNO3,e,aprat. Pode-se observar as razões NTK/DQO aumentam para determinados
que SNO3,e,aprat aumenta linearmente com o aumento tipos de esgoto e projeto de sistema (TRS = 20 d e
da razão NTK/DQO afluente. Para baixas razões fx,max = 0,534). O ponto de interseção da linha reta
NTK/DQO afluentes, aprat é consideravelmente SNO3,e,aprat com a linha curva SNO3,e,aot, ou seja, em aot
menor que aot, e o desempenho de desnitrificação = aprat = 5:1, fornece a razão NTK/DQO afluente
do sistema é mais baixo que seu potencial de para o sistema LEM balanceado para o aprat = 5:1
desnitrificação. Isto é evidente pelo fato de escolhido. O desempenho do sistema com as razões
SNO3,e,aprat ser maior que SNO3,e,aot. Conforme a razão NTK/DQO é balanceado a 20 d de idade do lodo e
NTK/DQO aumenta, aot diminui até que aot = aprat = fx,max = 0,534 a 14 oC e 22 oC para os exemplos com
5:1. Para esgoto bruto a 14 oC (Figura 5.20A), isto esgoto bruto e decantado descritos na Tabela 5.6.
ocorre a uma razão NTK/DQO afluente de 0,104.
Esta é a razão NTK/DQO afluente que balanceia o De acordo com a Tabela 5.6 e a Figura 5.20A,
sistema LEM para condições determinadas de para esgoto bruto a 14 oC, o sistema LEM (com
projeto, isto é, 20 d de idade do lodo, f x,max = 0,534 idade do lodo de 20 d e fx,max = 0,534) com razão de
e aprat = 5:1 para o exemplo com esgoto bruto a 14 recirculação de 5:1 pode manter as concentrações
o
C. Para razões NTK/DQO afluentes > 0,104, a de nitrato efluente abaixo de 8,1 (N total de 12,4)
razão de recirculação “a” deve ser estabelecida mgN/l para razões NTK/DQO abaixo de 0,104
como aot, que usa completamente o potencial de (NTKa = 78,0 mgN/l). Com esgoto decantado a 14
o
desnitrificação do reator anóxico e agora é menor C (Figura 5.20B), o sistema LEM com razão de
que aprat = 5:1. Portanto, para aprat estabelecido em recirculação de 5:1 pode manter as concentrações
5:1, somente quando a razão NTK/DQO afluente é de nitrato efluente abaixo de 6,0 e 8,1 mgN/l (N
> 0,104, o potencial de desnitrificação do reator total de 9,9 e 11,1 mgN/l) para razões NTK/DQO
anóxico é completamente utilizado. de até 0,119 (NTKa = 89,3 mgN/l) e 0,148 (NTKa
= 66,6 mgN/l). Estes resultados mostram que o
Esta mesma conclusão pode ser obtida por meio sistema LEM tratando esgoto decantado fornece
da Figura 5.18A a 20 d de idade do lodo, ou seja, SNO3,e mais baixo (em 2-3 mg/l) que quando
fx,max = 0,534, razão NTK/DQO = 0,104. Portanto, tratando esgoto bruto e com razões NTK/DQO
para razões NTK/DQO afluentes < 0,104, enquanto significativamente mais altas. Porém, deve-se
aprat < aot, o desempenho de desnitrificação do observar que (i) as concentrações de NTK afluente
sistema será menor que seu potencial de (dadas anteriormente) para esgoto bruto são
desnitrificação porque nem todo o potencial de consideravelmente maiores que para esgoto
desnitrificação do reator anóxico será utilizado. A decantado e (ii) esgoto decantado com uma razão
partir do momento em que a razão NTK/DQO NTK/DQO de 0,119 (14 oC) ou 0,148 (22 oC) seria
aumenta acima do valor que balanceia o sistema produzido a partir do esgoto bruto com razão
LEM, aot é < aprat e “a” deve ser estabelecido como NTK/DQO afluente significativamente menor que
aot para se atingir a menor concentração de nitrato 0,104 (14 oC) e 0,132 (22 oC).
Na Figura 5.20A, o desempenho da desnitrificação As linhas SNO3,e,aprat para a = aprat = 5:1 são as
do sistema em um aprat = 5 escolhido é combinado mesmas que as linhas pontilhadas da Figura 5.20.
com o potencial de desnitrificação do sistema com Nos pontos de interseção das linhas retas SNO3,e,aprat
a = aot para razões NTK/DQO afluentes variáveis e e curvas SNO3,e,aot, o desempenho do sistema se
um único valor de fração de DQORB afluente. Este iguala ao potencial de desnitrificação e representa
diagrama de sensibilidade de razões NTK/DQO dimensionamentos do sistema LEM balanceados,
afluentes pode ser expandido adicionando-se as ou seja, aot = aprat. Por exemplo, para esgoto bruto a
linhas SNO3,e,aot para outras frações de DQORB 14 oC, com a = 5,0:1 e fSS = 0,25, a razão
afluentes. Uma análise de sensibilidade do sistema NTK/DQO precisa ser de 0,104 para fornecer um
na etapa de projeto é útil para se avaliar o dimensionamento ótimo, ou seja, aot = 5:1, e nesta
desempenho de desnitrificação sob razões razão NTK/DQO, SNO3,e = 8,1 mgN/l. Esta é a razão
NTK/DQO e frações de DQORB afluentes NTK/DQO que balanceia o sistema LEM com TRS
variáveis. Estas duas características do esgoto = 20 d e fx,max = 0,534 (ver Figuras 5.18A e C).
podem variar consideravelmente ao longo da vida
útil da estação e têm um grande impacto no Para razões NTK/DQO < 0,104, aot aumenta
desempenho de remoção de N do sistema. acima de 5:1, mas se “a” é mantido em 5:1 (ou seja,
a = aprat = 5:1), então SNO3,e versus a razão
O potencial de desnitrificação e o desempenho NTK/DQO é dado pela linha reta SNO3,e,aprat com a
do sistema estão combinados para razões = 5:1. Para razões NTK/DQO > 0,104, aot diminui
NTK/DQO e frações de DQORB afluentes abaixo de 5:1 e SNO3,e versus a razão NTK/DQO é
variáveis na Figura 5.21. Para os parâmetros de dado pela linha curva SNO3,e,aot (azul escuro). O
projeto do sistema fixados (ou seja, TRS = 20 d, valor de aot em uma razão NTK/DQO específica é
fxd,max = fx,max = 0,534, s = 1,0), as linhas curvas dado pelo valor da razão de recirculação “a” do
(azul escuro) fornecem SNO3,e,aot quando o reator ponto de interseção entre a linha vertical da razão
anóxico recebe carga igual ao seu potencial de NTK/DQO afluente e a linha curva SNO3,e,aot, isto é,
desnitrificação, ou seja, SNO3,e para a = aot para para o exemplo com esgoto bruto (f SS = 0,25) a 14
razões NTK/DQO variáveis de 0,06 a 0,16 e o
C (Figura 5.21A) com uma razão NTK/DQO de
frações de DQORB de 0,10 a 0,35 para os 0,12, aot = 2:1 e SNO3,e é de 16,0 mgN/L.
exemplos com esgoto bruto e decantado a 14 oC
(Figuras 5.21A e B) e 22 oC (Figuras 5.21C e D). A utilidade da Figura 5.21 é que ela fornece a
As mesmas linhas SNO3,e,aot são mostradas nas avaliação de desempenho de um sistema LEM com
Figuras 5.20A e C para a fração de DQORB (fSS) uma idade do lodo e uma fração anóxica da massa
do esgoto bruto = 0,25. Estas linhas SNO3,e,aot são de lodo escolhidas para uma razão NTK/DQO
calculadas a partir das Eqs. 5.56 e 5.57. As linhas afluente e uma fração de DQORB variáveis
retas na Figura 5.21 fornecem SNO3,e,aprat para razões levando-se em consideração um limite superior da
de recirculação “a” fixadas nos valores indicados, razão de recirculação “a” como aprat. Para o
variando de 0,0:1 a 10:1. Estas linhas retas exemplo com esgoto bruto a 22 oC com uma fração
SNO3,e,aprat fornecem o desempenho do sistema para de DQORB (fSS) de 0,10 (Figura 5.21C), a razão
razões de recirculação “a” escolhidas e são NTK/DQO afluente deve ser maior que 0,113 para
calculadas com auxílio da Eq. 5.57 a partir do valor que “a” seja < 6,0:1. Se “a” for fixado em aprat =
da capacidade de nitrificação em uma razão 6,0:1 e NTK/DQO for < 0,113, então o reator
NTK/DQO dada, da razão de recirculação “s” anóxico está subcarregado com nitrato e o potencial
de desnitrificação não é atingido. O desempenho do
sistema para NTK/DQO afluente < 0,113 é dado curva SNO3,e, que representa o desempenho do
pela linha reta SNO3,e para a = 6:1. Para NTK/DQO sistema igual ao potencial de desnitrificação. Por
afluente = 0,113, a linha reta SNO3,e para a = 6:1 exemplo, se a razão NTK/DQO = 0,120, a = aot =
corta a linha curva SNO3,e,aot, a = aot = 6:1 e o 4:1 e a razão de recirculação “a” envia carga de
desempenho do sistema se iguala ao potencial de nitrato ao reator anóxico de forma a atingir seu
desnitrificação. Se “a” for mantido em 6:1 para potencial de desnitrificação, resultando em SNO3,e
NTK/DQO > 0,113, então o reator anóxico está de 12,0 mgN/L. Portanto, para razões NTK/DQO >
sobrecarregado com nitrato e a desnitrificação 0,113, o desempenho do sistema e SNO3,e são dados
ótima não é atingida devido à alta carga pela linha curva SNO3,e desde que a razão de
desnecessária de OD enviada ao reator anóxico recirculação “a” seja estabelecida em aot, o que é
(similar ao mostrado na Figura 5.16B para a > 6,7). dado pela linha da razão de recirculação “a” que
A razão de recirculação “a”, portanto, deve ser passa pelo ponto de interseção entre a linha vertical
reduzida a aot para razões NTK/DQO > 0,113, em da razão NTK/DQO e a linha curva SNO3,e.
que aot é dado pelo valor de “a” ao longo da linha
Figura 5.21 Concentração de nitrato efluente versus razão NTK/DQO afluente para frações rapidamente biodegradáveis
(DQORB) de 0,10; 0,15; 0,20; 0,25; 0,30 e 0,35 e razões de recirculação “a” de biomassa em suspensão de 0 a 10 para os
exemplos com esgoto bruto (A e C) e decantado (B e D) a 14 oC (A e B) e 22 oC (C e D).
Conforme o exposto anteriormente, pode-se = aot) marca o limite entre condições subcarregadas
observar que o desempenho do sistema somente é e sobrecarregadas do reator anóxico. Na região
igual ao potencial de desnitrificação na linha curva acima da linha curva SNO3,e o reator anóxico está
SNO3,e para a fração de DQORB específica, e aot que subcarregado (à esquerda de aot nas Figura 5.16 e
resulta nisto é dado pela linha de razão de 5.17), e o desempenho do sistema (SNO3,e) para uma
recirculação “a” que passa pelo ponto de interseção razão NTK/DQO específica é dada pelo ponto de
entre a linha vertical da razão NTK/DQO e a linha interseção entre a linha vertical da razão
curva SNO3,e. Essa linha curva SNO3,e (para a qual a NTK/DQO e a linha reta da razão de recirculação
“a”. Na região abaixo da linha curva SNO3,e, o reator reatores anóxicos secundários sejam incluídos em
anóxico está sobrecarregado (à direita de aot nas sistemas de remoção de N, a não ser que a razão
Figuras 5.16 e 5.17). Os valores de SNO3,e nesta NTK/DQO seja atipicamente baixa. Reatores
região não são válidos, mas se a razão de anóxicos secundários são normalmente incluídos
recirculação “a” for reduzida a aot (ou seja, o valor somente onde a dosagem de metanol é requerida
de “a” do ponto de interseção entre a linha vertical para atingirem-se concentrações de N total efluente
da razão NTK/DQO e a linha curva SNO3,e), então o muito baixas (< 5 mgN/L).
valor de SNO3,e será válido novamente. Valores
válidos de desempenho do sistema SNO3,e são,
portanto, mostrados na Figura 5.21 somente no 5.10 VOLUME DO SISTEMA E DEMANDA
limite da linha curva SNO3,e ou acima dela. A partir DE OXIGÊNIO
da Figura 5.21, pode-se observar que para um
sistema LEM dimensionado com SRT = 20 d, fx,max 5.10.1 Volume do sistema
= 0,534 e razão de recirculação “a” limitada a,
digamos, 5:1 por razões econômicas, então o Determinadas as subdivisões da massa de lodo em
sistema é mais adequado para tratar altas razões suas frações anóxica e aeróbia para se atingir a
NTK/DQO, dependendo das frações de DQORB: > remoção de N necessária, a massa de lodo real no
0,091 para fSS = 0,10 e > 0,117 para fSS = 0,35. Isto sistema precisa ser calculada para determinar os
ocorre porque, somente com um reator anóxico volumes dos diferentes reatores. A massa de lodo
primário, o sistema LEM não é capaz de produzir total (SSRB) ou volátil (SSVRB) no sistema, para
um efluente com baixas concentrações de nitrato (< idades do lodo e características do esgoto
4 a 6 mgN/L) com uma razão de recirculação escolhidas para sistemas com remoção de N, é a
limitada a 5,0:1. mesma que para sistemas completamente aeróbios
(remoção de DQO). As equações apresentadas no
Se a obtenção de baixas concentrações de Capítulo 4, Seção 4.4.2, portanto, se aplicam a
nitrato efluente não é necessária para razões sistemas com remoção de N. Para os exemplos com
NTK/DQO baixas, então um dimensionamento de esgoto bruto e decantado, os parâmetros de projeto
sistema LEM balanceado pode ser escolhido para o sistema LEM são listados na Tabela 5.8. A
reduzindo-se a idade do lodo, como demonstrado massa de SSRB no sistema com 20 d de idade do
nas Figuras 5.18 e 5.19. Se a obtenção de baixas lodo e a 14 oC é de 68.168 e 26.422 kgSST,
concentrações de nitrato efluente é importante para respectivamente. Escolhendo-se uma concentração
razões NTK/DQO baixas (< 0,10), então isto pode de SSRB de 4.500 mg/L (4 kg/m3) (ver Capítulo 4,
ser atingido com altas razões de recirculação “a” Seção 4.7) resulta em volume do sistema tratando
(aot > aprat) em sistemas LEM ou com baixas razões esgoto bruto de 15.148 m3 e do sistema tratando
de recirculação “a” incluindo-se um reator anóxico esgoto decantado de 5.871 m3. Visto que a massa
secundário. A incorporação de um reator anóxico de lodo nos sistemas com remoção de N é, em
secundário (e um reator de reaeração por razões geral, uniformemente distribuída no sistema, ou
práticas; ver Seção 5.8.5) resulta no sistema seja, cada reator no sistema tem a mesma
Bardenpho de 4 estágios (Figura 5.13C). Porém, concentração de SSRB, a fração de volume de cada
visto que a taxa de desnitrificação K3 é muito baixa reator é igual à sua fração de massa de lodo. Para
e precisa ser reduzida em pelo menos 20% para os exemplos com esgoto bruto e decantado a 14 oC,
levar em conta a amônia liberada durante a o volume dos reatores anóxicos é de 0,534 • 15.148
desnitrificação endógena (que é renitrificada no = 8.089 m3 e de 0,534 • 5.871 = 3.135 m3,
reator de reaeração), a remoção de nitrato efetiva respectivamente. Os tempos de detenção hidráulica
adicional alcançada em um reator anóxico nominal e real dos reatores anóxico e aeróbio são
secundário é muito baixa, baixa demais para que calculados a partir dos volumes dos reatores
divididos pelas vazões nominais (afluentes) e totais requerida para degradação da matéria orgânica
passando por eles (Eqs. 4.2 e 4.3 e Tabela 5.8). (DQO) e para a nitrificação, menos a recuperada
Observe que o tempo de detenção hidráulica pela desnitrificação. A demanda de oxigênio média
nominal do reator é consequência da massa de lodo diária para (i) remoção de matéria orgânica (FOc) é
produzida a partir da carga de DQO afluente, da dada pela Eq. 4.18 (ver Capítulo 4, Seção 4.4.2.4);
concentração de SSRB e da fração da massa de e (ii) para nitrificação (FONIT) é dada pela Eq. 5.43
lodo; o tempo de detenção em si não tem influência (ver Capítulo 5, Seção 5.7.5). Estas demandas de
na cinética e no dimensionamento da nitrificação e oxigênio no sistema LEM com 20 d de idade do
da desnitrificação (ver Capítulo 4, Seção 4.4.4). lodo para os exemplos com esgoto bruto e
decantado a 14 oC e 22 oC são 9.364 e 7.030 kgO2/d,
5.10.2 Demanda total de oxigênio média respectivamente (Tabela 5.8).
diária
Tabela 5.8 Detalhes de dimensionamento de sistema LEM tratando esgoto bruto e decantado dos exemplos a 14 oC com 20 d
de idade do lodo e fração não aerada da massa de lodo de 0,534.
Parâmetro Símbolo Unidade Esgoto Esgoto decantado
Bruto
Razão NTK/DQO afluente 0,080 0,113
Fração de DQORB afluente fSS 0,25 0,385
Fração não aerada da massa de lodo fx,max 0,534 0,534
Fração anóxica da massa de lodo fx1 0,534 0,534
Fração anóxica mínima fx1,min 0,068 0,105
Razão de recirculação “a” (aprat = aot) 5:1 5:1
Idade do lodo TRS d 20 20
Nitrato efluente SNO3,e mgN/L 5,16 5,7
NTK efluente NTKe mgN/L 3,8 3,8
N total efluente (SNO3,e + NTKe) mgN/L 9,4 9,5
Volume do reator a 4,5 gSST/L m3 15.148 5.871
Volume do Anóxico 8.089 3.135
Tempo de detenção hidráulica nominal do sistema TDHn h 24,2 9,4
Tempo de detenção hidráulica nominal aeróbio TDHnAER h 11,2 4,4
Tempo de detenção hidráulica real aeróbio TDHrAER h 1,6 0,63
Tempo de detenção hidráulica nominal anóxico TDHnAX h 12,9 5,0
Tempo de detenção hidráulica real anóxico TDHrAX h 1,85 0,72
Demanda carbonácea de O2 FOc kgO2/d 6.679 4.311
Demanda de O2 para nitrificação FONIT kgO2/d 2.685 2.719
O2 recuperado FODESNIT kgO2/d 1.440 1.458
Demanda total de O2 FOtDESNIT kgO2/d 7.924 5.572
% de remoção de N 84,4 81,4
Mass de SST descartada MΔXSST 3.408 1.321
Fração ativa com base em SST fat,OHO 0,230 0,383
desnitrificado é dada pela diferença entre a total, e também, menor parcela da demanda de
capacidade de nitrificação, NITc, e a concentração oxigênio pode ser recuperada pela desnitrificação,
de nitrato efluente. Assim, quando comparado com esgoto bruto. Estes efeitos
são resultantes da razão NTK/DQO mais alta do
FODESNIT = 2,86(NITc – SNO3,e)Qa esgoto decantado. Conhecendo-se a demanda de
(mgO2/d) (5.62) oxigênio total, a demanda total de oxigênio de pico
pode ser estimada grosseiramente por meio de uma
De acordo com o desempenho de simples regra de dimensionamento (Musvoto et al.,
desnitrificação do sistema LEM na Tabela 5.8, o 2002). A partir de um grande número de
oxigênio recuperado pela desnitrificação para os simulações com o ASM1, foi observado que, desde
exemplos com esgoto bruto e decantado a 14 oC é que o fator de segurança para a nitrificação (S f) seja
de 1.440 e 1.458 kgO2/d, respectivamente (Tabela maior que 1,25 a 1,35, a amplitude relativa (ou seja,
5.8). (pico – média)/média) da variação da demanda
total de oxigênio é a fração de 0,33 da amplitude
Para esgoto bruto, a Tabela 5.8 mostra que (i) a relativa da demanda de oxigênio total (DOT) das
demanda de oxigênio para nitrificação (FONIT) é cargas de DQO e NTK afluentes (ou seja, Q(DQOa
aproximadamente 40% da requerida para remoção + 4,57 NTKa)). Por exemplo, no caso de esgoto
de DQO (FOc); (ii) aproximadamente 55% de bruto, se o pico potencial da demanda de oxigênio
FONIT pode ser recuperado ao se incorporar a total do afluente for obtido em um período do dia
desnitrificação; (iii) a demanda de oxigênio quando a vazão afluente, a concentração de DQO e
adicional ao se incorporar a nitrificação e a a concentração de NTK forem 25 ML/d, 1.250
desnitrificação é somente 20% daquela requerida mgDQO/L e 90 mgN/L, respectivamente, ou seja,
para remoção de DQO; e (iv) o efeito da 25 • (1.250 + 4,57 • 90) = 41.532 kgO2/d, e a média
temperatura na demanda total de oxigênio não é potencial da demanda de oxigênio total for 15 •
significativo: menos de 3% (ver também Figura (750 + 4,57 • 60) = 15.363 kgO2/d, a amplitude
5.11). Para esgoto decantado, a Tabela 5.8 mostra relativa da demanda potencial de oxigênio total do
que (i) a demanda de oxigênio para nitrificação afluente será de (41.532 – 15.363) / 15.363 = 1,70;
(FONIT) é aproximadamente 63% da requerida para portanto, a amplitude relativa da demanda total de
remoção de DQO (FOc); (ii) aproximadamente oxigênio será de aproximadamente 0,33 • 1,70 =
54% da demanda de oxigênio para nitrificação 0,56; de acordo com a Tabela 5.8, a demanda de
pode ser recuperada pela desnitrificação; (iii) a oxigênio total diária média é de 7.924 kgO2/d e,
demanda de oxigênio adicional ao se incorporar a assim, a demanda de oxigênio de pico é de (1 +
nitrificação e a desnitrificação é aproximadamente 0,56) • 7,924 = 12.378 kgO2/d. Como para todas as
30% daquela requerida para remoção de DQO regras de dimensionamento simplificadas, a regra
somente; e (iv) o efeito da temperatura na demanda acima deve ser utilizada criteriosamente e com
total de oxigênio não é significativo: menos de 3% cuidado e, quando possível, a demanda de oxigênio
superior na temperatura mais baixa. total de pico é melhor estimada por meio de
modelos de simulação de lodo ativado. É
Comparando-se a demanda de oxigênio para fortemente recomendado que as saídas de modelos
esgoto bruto e decantado, a demanda total de de simulação sejam comparadas com resultados de
oxigênio para o último é aproximadamente 30% modelos em estado estacionário e, quando houver
menor que para o primeiro. Esta economia é diferenças significativas, que origens e razões para
possível porque a decantação primária remove 35 a as diferenças sejam estabelecidas. Esta é uma boa
45% da DQO do esgoto bruto. Além disso, para maneira de se encontrarem erros em resultados de
esgoto decantado, a demanda de oxigênio para modelos de simulação e em estado estacionário.
nitrificação corresponde a maior proporção da
autotrófica, a DQO afluente pode ser convertida em nitrogênio ou fosfato. Geralmente, a razão P/N no
biogás (Kartal et al., 2010). líquido é tal que o fosfato pode ser removido sem a
adição de reagentes. Entretanto, para se remover a
Vários exemplos de processos físicos ou amônia, fosfato de magnésio adicional deve ser
químicos foram avaliados para o tratamento da suplementado. Além disso, nesse caso os
corrente secundária, mas usualmente eles são carbonatos deverão ser removidos antes; caso isto
menos favoráveis que processos biológicos. Em não ocorra, eles se tornam parte dos precipitados de
geral, um pré-tratamento é necessário de forma a FAM. A adição de fosfato de magnésio pode ser
remover os carbonatos que podem, de outra minimizada removendo-se a amônia do lodo de
maneira, acumular nos equipamentos do processo. FAM por meio de tratamento térmico. A amônia irá
Isto demanda reagentes e etapas adicionais no volatilizar e pode ser recuperada, enquanto o
processo, e leva à produção de mais lodo químico fosfato de magnésio pode ser reutilizado. FAM ou
na estação. Além disso, em geral os custos de amônia podem, a princípio, ser reutilizados.
técnicas físico-químicas são significativamente A recuperação de amônia é geralmente usada
maiores que para tratamento biológico. Os custos como argumento para a aplicação de métodos
do processo SHARON® com metanol para físicos. O problema é que uma quantidade
correção de pH foram estimados para estações de relativamente pequena da amônia é recuperada
tratamento de esgoto dos Países Baixos como 0,9- quando comparado com o uso geral de amônia, por
1,4 euro por kgN removido (STOWA, 1996), exemplo, como fertilizante. Além disso, estas
enquanto processos físico-químicos foram 5-9 técnicas usualmente demandam mais energia que a
vezes mais caros. Isto é principalmente devido a nitrificação/desnitrificação e a produção de amônia
diferenças em custos de investimentos e demanda industrialmente. Por conta de todos estes fatores, o
de mão de obra. Finalmente, uma limitação das tratamento biológico da carga de nitrogênio da
etapas de processos físicos em uma estação de corrente secundária tornou-se a escolha de
tratamento de esgoto municipal é a demanda de processo mais popular.
diferentes tipos de operação e manutenção, quando
comparado com etapas biológicas, que teriam 5.12.1 Impacto de processos na corrente
consequências para o treinamento de operadores na secundária
estação de tratamento.
A carga de nitrogênio na corrente secundária é
A técnica física mais largamente utilizada para tipicamente cerca de 10-15% da carga total de
o tratamento de águas residuárias contendo amônia nitrogênio do afluente. Em estações onde lodo
é o stripping de amônia. Após um aumento do pH, externo é tratado, esta fração aumenta
a amônia pode ser volatilizada e recuperada. Este significativamente. Esta vazão é tipicamente só 1%
processo pode se tornar mais eficiente ou menos da vazão afluente. O impacto do
aumentando-se a temperatura da volatilização, ao tratamento para o nitrogênio no efluente depende
se utilizar vapor ao invés de ar comum. Quando há da limitação da remoção de nitrogênio no processo
calor residual disponível nas proximidades do de tratamento principal. Se a amônia não é
local, esta pode ser uma opção viável se não houver totalmente convertida no processo principal, então
outro uso para o vapor. O aumento do pH levará à cada quilograma de amônia removida na corrente
precipitação de carbonatos, o que pode ser evitado secundária resultará em um quilograma a menos de
acidificando-se o líquido e volatilizando o CO2 amônia no efluente da estação de tratamento. A
como pré-tratamento. Porém, esta abordagem redução do nitrato, entretanto, não é equivalente à
aumentará ainda mais o uso de reagentes. carga removida no processo da corrente secundária.
A precipitação de fosfato de amônio e Isto depende fortemente das condições locais, mas
magnésio (FAM) é outra opção para se remover ocorrerá geralmente em uma faixa de decréscimo
Além de aspectos puramente de engenharia, foi calculada. Baseado nesta matriz, a decisão final
muitos outros aspectos foram, neste caso e em foi escolher a tecnologia SHARON® para ser
muitos outros, considerados importantes. Estes aplicada ao tratamento do sobrenadante de digestor
aspectos, que incluem uso de energia, gestão e em Beverwijk (Figura 5.25). Os aspectos a serem
construção, são mostrados na matriz de decisão da considerados na matriz de decisão diferem para
Tabela 5.9 (Schemen et al., 2003). Claramente, cada estação de tratamento e também o peso dado
existe uma grande variedade de critérios de para cada aspecto irá provavelmente diferir de um
decisão, que podem mudar para cada estação caso para outro. Isto pode facilmente resultar em
específica. Além disso, cada aspecto decisório tem diferentes escolhas para uma estação similar em
um diferente peso, novamente dependendo de localidade diferente ou gerida por outra
considerações locais. A pontuação total por sistema organização.
Tabela 5.9 Matriz de decisão para escolha do processo de tratamento de sobrenadante de digestor na ETE de Beverwijk.
Critério Peso (%) BABE® SHARON® SHARON®/ANAMMOX®
Aproveitamento 27 + ++ +
Eficiência de remoção de N 5 ++ ++ +
Uso de energia 15 - 0 ++
Emissão de odores 1 + + +
Tempo de execução 20 + + --
Gestão 1 + ++ ++
Construção 1 0 0 0
Flexibilidade 10 - + ++
Inovação 10 + + ++
Risco de falha 10 + + -
Total 100 3,5 4,1 3,5
Nota: ++ =5; + =4; 0 =3; - =2; -- =1 Máximo de 5 pontos
Tabela 5.10 Comparação entre um sistema de remoção de N convencional e o processo SHARON®/ANAMMOX® de remoção
de N.
Item Unidade Tratamento convencional SHARON®/ANAMMOX®
Potência kWh/kgN 2,8 1,0
Metanol kg/kgN 3,0 0
Produção de lodo kgSSV/kgN 0,5 – 1,0 0,1
Emissão de CO2 kg/kgN > 4,7 0,7
Custos totais 1 €/kgN 3,0 – 5,0 1,0 – 2,0
1
Custos totais englobam tanto os custos operacionais quanto os custos de capital
Tabela 5.11 Implicações do anammox: comparação da remoção de nitrogênio entre estações de tratamento de esgoto
municipais com desnitrificação convencional e com o processo anammox nos Países Baixos (capacidade total de tratamento
de 25 milhões de habitantes em termos de população equivalente).
Item Unidade Convencional Pré-tratamento, tratamento Diferença
anaeróbio, anammox
Produção de energia (CH4) MW 0 40 40
Emissão de CO2 kt/ano 400 6 394
Consumo de energia MW 80 41 39
Produção de lodo ktSSV/ano 370 270 100
habitantes, carga de N de 830 kg/d, Van der Star et lodo granular. O compartimento inferior é um
al., 2007, Figura 5.30). compartimento com manta de lodo que é bem
misturada pelo funcionamento de uma bomba tipo
airlift movida pelo gás nitrogênio produzido e
coletado no topo deste compartimento inferior.
Desta forma, as concentrações de nitrito podem ser
mantidas em níveis baixos no compartimento total
do reator, apesar das altas concentrações do
afluente. O compartimento superior também
contém lodo e é principalmente usado para atingir
uma baixa concentração no efluente devido às suas
características de fluxo pistonado.
As conversões de nitritação e anammox podem
também ser combinadas em um único reator. Neste
caso, a imobilização da biomassa é necessária,
devido à taxa de crescimento muito baixa das
bactérias anammox. O critério de “wash-out” para
evitar a oxidação de nitrito não pode ser utilizado.
Porém, é possível, quando tanto oxigênio quanto
nitrito se tornam limitantes, que as bactérias
anammox vençam a competição de forma efetiva
contra as a oxidadoras de nitrito em um processo de
remoção de N (Hao et al., 2002). O método mais
fácil é se operar um processo autotrófico de
oxidação de amônia baseado em biofilme ou lodo
granular sob limitação de oxigênio, de tal forma
que aproximadamente 50% da amônia possa ser
oxidada. Se o biofilme é estável, uma população
anammox pode automaticamente se desenvolver
nas camadas mais profundas do biofilme, conforme
ilustrado na Figura 5.31.
Tabela 5.12 Implicações do anammox: comparação da remoção de nitrogênio entre estações de tratamento de efluentes
industriais com desnitrificação convencional e com o processo anammox nos Países Baixos (capacidade total de tratamento
industrial de 21 ktDQO/ano e 2ktN/ano).
Este processo ocorreu espontaneamente em (Peynaert et al., 2003). Neste meio tempo, todo um
muitos casos (por exemplo, Siegrist et al., 1998). conjunto de processos baseados no anammox
Diversos acrônimos foram dados na literatura: foram propostos na literatura (Tabela 5.13, Van der
Oxygen Limited Autotrophic Nitrification- Star et al., 2007; Lackner et al., 2014). Os
Denitrification (nitrificação-desnitrificação processos anammox são bem desenvolvidos para
autotrófica com limitação de oxigênio) (OLAND®, condições de altas temperaturas (25-40 oC),
Kuai et al., 1998); desamonificação aeróbia enquanto desenvolvimentos ainda estão em curso
(Hippen et al., 1997) e Completely Autotrophic para aplicar o anammox sob condições da corrente
Nitrogen removal Over Nitrite (remoção principal (Kumwimba et al., 2020). A vantagem
completamente autotrófica de nitrogênio a partir de disto seria que a aplicação tornaria as ETEs
nitrito) (CANON®, Strous, 2000). Os dois autossuficientes energeticamente (Kartal et al.,
primeiros nomes sugerem desnitrificação sob 2010). Tem havido relatos de observações de
condições aeróbias, o que, na verdade, não é anammox espontaneamente em estações de
correto; portanto, pode-se sugerir o CANON® tratamento de esgoto em escala real (por exemplo,
como uma descrição geral do processo. em Changi, Singapura e Xi’an, China). Juntamente
Efetivamente, os dois primeiros nomes estão com vários testes em escala piloto, isto mostra que
relacionados à hipótese inicial que a desnitrificação a conversão anammox pode potencialmente
é realizada principalmente por bactérias ocorrer; entretanto, o desafio principal atualmente
Nitrosomonas, embora mais tarde tenha sido se encontra na obtenção de nitritação estável e de
claramente mostrado que as bactérias anammox um projeto robusto do processo.
são efetivamente responsáveis pela conversão
Tabela 5.13 Opções de processo e nomes para sistemas de remoção de nitrogênio envolvendo o processo anammox.
Nome proposto para Fonte de nitrito Nomes alternativos do processo Primeira referência
o processo
Processo de NH4+ Nitritação SHARONa,b)-ANAMMOX® Van Dongen et al.
nitritação-anammox (2001)
em dois reatores OLAND de dois estágios Wyffels et al. (2004)
Desamonificação de dois estágios Treta et al. (2004)
Processo de NH4+ Nitritação Desamonificação aeróbia Hippen et al. (1997)
nitritação-anammox OLANDc) Kuai and Verstraete
em reator único (1998)
CANONd) Third et al. (2001)
Desamonificação aeróbia/anóxica Hippen et al. (2001)
Desamonificação Seyfried et al. (2001)
SNAPe) Lieu et al. (2005)
DEMONf) Wett (2006)
DIBf,g) Ladiges et al. (2006)
Processo de NO3- Anammoxh) Mulder et al. (1995)
desnitrificação- Desnitrificação DEAMOXi) Kalyuzhnyi et al.
anammox em reator (2006)
único DENAMMOXj) Pathak and Kazama
(2007)
a)
Single-reactor High Activity ammonia Removal Over Nitrite (remoção de amônia a partir de nitrito com alta atividade em reator
único); o nome só se refere à nitritação, em que a oxidação de nitrito é evitada pela escolha do tempo de detenção e operação com
temperatura elevada.
b)
Eventualmente, refere-se à nitrificação-desnitrificação a partir de nitrito com este termo.
c)
Oxygen Limited Autotrophic Nitrification-Denitrification (nitrificação-desnitrificação autotrófica com limitação de oxigênio).
d)
Completely Autotrophic Nitrogen removal Over Nitrite (remoção completamente autotrófica de nitrogênio a partir de nitrito).
e)
Single-stage Nitrogen removal using Anammox and Partial nitritation (remoção de nitrogênio em estágio único usando anammox
e nitritação parcial).
f)
O nome se refere ao processo de desamonificação em um reator em bateladas sequenciais com controle de pH.
g)
Deammonification in Interval-aerated Biofilm systems (desamonificação em sistemas de biofilme aerado em intervalos).
h)
O sistema em que o anammox foi originalmente encontrado. O processo todo foi originalmente denominado como anammox.
i)
DEnitrifying AMmonium OXidation (oxidação de amônia desnitrificante); esse nome somente se refere à desnitrificação com
sulfeto como doador de elétrons.
j)
Processo DEnitrification-Anammox (desnitrificação-anammox); esse nome somente se refere à desnitrificação com matéria
orgânica como doadora de elétrons.
são adicionadas, estas são removidas efetivamente processo foi denominado de processo BABE® (Bio
pelos protozoários no lodo. É, portanto, Augmentation Batch Enhanced – bioaumentação
interessante produzir as bactérias nitrificantes em em batelada aprimorada; Zilverentant, 1999),
um reator continuamente inoculado com lodo do porque o processo original é um tipo de reator em
tanque de aeração e alimentado com o efluente do bateladas sequenciais.
digestor. Desta forma, as nitrificantes que crescem
no lodo são aquelas que pertencem ao sistema,
crescem no interior dos flocos do lodo e, portanto,
não são predadas pelos protozoários. Além disso, a
carga de N na estação de tratamento diminui.
(aumentando os volumes anóxico e aeróbio) digestor, e uma linha que era operada com
(Salem et al., 2002). Uma análise econômica bioaumentação, de acordo com a tecnologia
mostrou que o uso da tecnologia BABE® para BABE®. O efeito da bioaumentação do processo
expansão economizaria em torno de 115.000 Euros BABE® aumentou a taxa de nitrificação do lodo em
por ano. Há grande economias com custos de quase 60% (Salem et al., 2004), o que estava de
construção e algumas economias com demandas acordo as previsões de modelos. Porém, visto que
energéticas. Neste caso, considerou-se que a o TRS do sistema era muito curto, o processo
desnitrificação total no reator BABE® teria que ser BABE® poderia, neste caso, não resultar em
realizada com adição de metanol. Isto leva a custos nitrificação completa no inverno.
adicionais para compra de metanol e para a
produção extra de lodo. Construindo-se o reator Uma segunda aplicação em escala real do
BABE® um pouco maior, permite-se o uso processo ocorreu na ETE Hertogenbosch,
significativo do substrato endógeno do lodo de novamente nos Países Baixos (Figura 5.33). Esta
retorno. Para cada estação, uma otimização global estação estava operando com um TRS que
de custos deverá definir o dimensionamento exato resultava em boas características do efluente no
do sistema. verão, e sem nitrificação no inverno. O líquido de
retorno do tratamento de lodo continha
Uma avaliação em escala real da tecnologia aproximadamente 15% da carga de N da estação. O
BABE® foi realizada na ETE Garmerwolde, nos processo BABE® construído foi menor que 1% do
Países Baixos (300.000 habitantes, em termos de volume existente do processo de lodo ativado. Com
população equivalente). Este sistema com alta esta implementação, a nitrificação pôde ser
carga era operado em três linhas paralelas: uma que mantida durante os meses de inverno e, além disso,
recebia a carga normal de N, uma que era operada uma grande expansão dos tanques do sistema de
somente com remoção de N do efluente do lodo ativado pôde ser evitada.
Figura 5.33 Aplicação em escala real da Tecnologia BABE®: ETE Hertogenbosch, nos Países Baixos (à frente está o reator de
bioaumentação; foto: Royal HaskoningDHV).
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NOMENCLATURA
Sigla Descrição
AGV Ácidos graxos voláteis
ALS Amônia livre e salina
BABE Bio Augmentation Batch Enhanced – bioaumentação em batelada aprimorada
BAR Bio Augmentation Regeneration – regeneração de bioaumentação
CANON Completely Autotrophic Nitrogen removal Over Nitrite – remoção
completamente autotrófica de nitrogênio a partir de nitrito
além da síntese celular, pode ocorrer por publicadas regularmente ao longo dos anos (Marais
precipitação química devido à elementos químicos et al., 1983; Arvin, 1985; Wentzel et al., 1991;
presentes no esgoto ou sendo adicionados ao Jenkins e Tandoi, 1991; Van Loosdrecht et al.,
sistema de tratamento. 1997; Mino et al., 1998; Blackall et al., 2002;
Seviour et al., 2003; Oehmen et al., 2007;
Baixas concentrações de fósforo total nos Gebremariam et al., 2011; Yuan et al., 2012; Zheng
efluentes podem ser obtidas pela combinação de et al., 2014; Guo et al., 2019; Liu et al., 2019;
vários processos, conforme indicado na Tabela 6.1. Nielsen et al., 2019).
Por exemplo, para atingir 0,5 mgP/L no efluente, é
possível usar um sistema de EBPR associado à
filtragem de areia, precedido ou não por coagulação 6.2 PRINCÍPIOS DA REMOÇÃO
química (combinação E e D respectivamente). A BIOLÓGICA AVANÇADA DE
remoção biológica de fósforo combinada com um FÓSFORO - EBPR
fornecimento limitado de produtos químicos pode
atingir valores no efluente menores que 0,1 mgP/L, A remoção biológica de fósforo avançada (EBPR)
empregando coagulação e filtração principalmente é a absorção e remoção biológica do fósforo por
para remover o fosfato ligado aos sólidos em sistemas de lodo ativado, em quantidades
suspensão. superiores ao removido nos sistemas convencionais
de lodo ativado. A quantidade de P removida no
Neste capítulo, a intenção é apresentar os processo de EBPR é superior aos requisitos de P
mecanismos, traçar o desenvolvimento e para o crescimento de lodo ativado. Nos sistemas
estabelecer diretrizes para o projeto de sistemas que convencionais de lodo ativado, a quantidade de P
tenham como objetivo a remoção do fosforo por via tipicamente incorporada no lodo é de
biológica. Para facilitar o desenvolvimento das aproximadamente 0,02 mgP / mgSSV (0,015 mgP
diretrizes de projeto, neste livro, os conceitos / mgSST). Devido à remoção diária de excesso do
apresentados são aplicados para organismos lodo do sistema, o fósforo é efetivamente
acumuladores de fósforo estritamente aeróbios removido, como mostra o esquema da Figura 6.1.
(PAOs aeróbios - do inglês Phosphorus
accumulating organisms) que podem usar apenas
oxigênio como aceptor de elétrons para a produção
de energia. Considerando que alguns PAOs
desnitrificantes (DPAOs) existem e podem ter um
impacto significativo no desempenho do processo,
sua influência é devidamente discutida no avançar
do capítulo.
Tabela 6.1 Combinações de processos requeridos para obter determinadas concentrações de fósforo total no efluente
(adaptado de Barnard e Steichen, 2007)
Processo de tratamento Limite de fósforo a ser alcançado (mgP/L)
<1 < 0,5 < 0,1 < 0,05 < 0,01
Combinação A B C D E F G H
Coagulação Química
EBPR1
Pós-coagulação
Filtração de areia
Adsorção
Filtração por membrana
Nota: 1 pós decantador com eficiência >99,9%.
Os PAOs (às vezes também chamados de % de P no lodo ativado e maior será a eficiência do
organismos acumuladores de polifosfato) podem sistema de EBPR. Isso é mostrado graficamente na
incorporar até 0,38 mgP/mgSSV (0,17 Figura 6.2.
mgP/mgSST). No sistema de remoção biológica de
P, tanto os PAOs, quanto os organismos O projeto e os procedimentos operacionais são
heterotróficos comuns - OHOs (que não removem orientados para maximizar o crescimento dos
P em excesso) coexistem. Quanto maior for a PAOs. Em um sistema de EBPR devidamente
proporção de PAOs existentes no sistema, maior projetado, os PAOs podem constituir
será o teor de fósforo percentual do lodo ativado e, aproximadamente 11% dos SST (ou 15% do SSV),
consequentemente, maior será a quantidade de P e este sistema pode geralmente remover
que pode ser removida do afluente. Assim, o aproximadamente entre 10 a 12 mgP /L a cada 500
desafio no projeto é aumentar a quantidade de mg DQO/L de afluente.
PAOs em relação aos OHOs presentes no lodo
ativado, pois isso aumentará a capacidade de
acumulação de P e, portanto, a sua eficiência de
remoção. A proporção relativa dos dois grupos de
organismos depende, em grande parte, da fração da
DQO biodegradável advinda do esgoto que cada
um dos grupos de organismos assimila. Quanto
maior a proporção de DQO biodegradável afluente
ao sistema que os PAOs assimilam, maior será a
fração de PAO no licor misto, maior será o teor de
estudos de cultivo, foi considerado incorretamente de EBPR, pertencem aos Tetrasphaera (Stokholm-
que os PAOs eram do gênero Acinetobacter (Fuhs Bjerregaard et al., 2017; Liu et al., 2019; Nielsen et
e Chen, 1975; Buchan, 1983; Wentzel et al., 1986), al., 2019). Verificou-se que os PAOs de
Microlunatus phosphovorus (Nakamura et al., Tetrasphaera são de alta abundância em vários
1995) ou Lampropedia (Stante et al., 1997). No sistemas de EBPR em escala real, particularmente
entanto, desde então, métodos independentes de sob certas configurações, como processos de EBPR
cultura têm mostrado a importância de outros de fluxo lateral (consulte a Seção 6.6.11). Acredita-
organismos, incluindo Candidatus Accumulibacter se que os Tetrasphaera metabolizam
phosphatis (ou Accumulibacter). Um membro do principalmente açúcares e aminoácidos dentro das
gênero Rhodocyclus dentro das zonas anaeróbias de EBPR, embora alguma
Betaproteobacteria, Accumulibacter é amplamente absorção de VFA também tenha sido observada
considerado um dos PAOs mais importantes (Nguyen et al., 2011). Até o momento, estudos
correspondendo à definição clássica de PAO sugeriram que a maioria dos Tetrasphaera
descrita anteriormente. Técnicas como sondas de provavelmente não são capazes de armazenar e
hibridização de fluorescência in situ (FISH) degradar o PHA, ao contrário do Accumulibacter
combinadas com coloração química para detectar a (Kristiansen et al., 2013). Os Tetrasphaera
ciclagem de polifosfato mostraram que este provavelmente obtêm a maior parte de sua energia
organismo corresponde ao fenótipo PAO e é um para a absorção anaeróbia de carbono orgânico da
importante representante nos processos de EBPR fermentação dessas fontes de carbono, com
em escala real em todo o mundo, bem como em armazenamento de açúcares (como, por exemplo,
escala de laboratório sendo enriquecidos e glicogênio) e certos aminoácidos sugeridos para
alimentados com VFAs (Wagner et al., 1994; contribuir para a absorção aeróbia de P, em vez da
Hesselmann et al., 1999; Crocetti et al., 2000; oxidação de PHA (Kristiansen et al., 2013; Nguyen
Martin et al., 2006; Oehmen et al., 2007). O et al., 2015). Embora a liberação anaeróbia de P
Accumulibacter é o PAO mais conhecido em também seja tipicamente observada por
termos de suas características microbiológicas e Tetrasphaera, sugerindo que o polifosfato é uma
bioquímicas, com base em muitos anos de estudo. fonte adicional de energia em condições
Clades ou subgrupos de Accumulibacter também anaeróbias, os resultados também sugeriram que a
foram identificados (He et al., 2007; Camejo et al., fermentação de certos substratos pode render
2016) e correlações foram tentadas para relacionar energia suficiente para contribuir na absorção
a identidade específica com o comportamento anaeróbia de P (Marques et al., 2017 ) A remoção
metabólico observado (Flowers et al., 2009; desnitrificante de P por Tetrasphaera é atualmente
Oehmen et al., 2010; Acevedo et al., 2012; Camejo considerada de menor importância para a maioria
et al., 2016, 2019; Rubio-Rincon et al., 2017, dos membros deste grupo de organismos em
2019). Também foi sugerido que outros comparação com a absorção aeróbia de P, que
organismos, como Accumulimonas e também é diferente dos achados anteriores para
Dechloromonas, se comportam de forma Accumulibacter (Marques et al., 2018). Sendo
semelhante ao fenótipo PAO clássico e são assim, o foco principal do restante deste capítulo
relevantes em pelo menos algumas plantas de será esclarecer as incertezas em torno de vários
EBPR (Stokholm-Bjerregaard et al., 2017; Wu et aspectos mecanicistas relacionados aos
al., 2019), embora são necessárias mais Tetrasphaera PAOs, os diferentes fenótipos e as
investigações para determinar a importância desses características clássicas de cada PAO, e como eles
e de outros PAOs. impactam no projeto e a operação dos sistemas de
EBPR.
Nos últimos anos, descobriu-se que outro
importante grupo de PAOs encontrado em sistemas
diminuem. Neste caso ocorre a diminuição do PHA moléculas de acetato) e polihidroxivalerato (PHV:
intracelular (Fukase et al., 1982; Arvin, 1985; a 5-C de Ac + Prop). O poli-ß-hidrometilbutirato
Hascoet et al., 1985; Comeau et al., 1986; Murphy (PH2MB: 5-C de Ac + Prop) e poli-ß-
e Lötter, 1986; Gerber et al., 1987; Wentzel et al., hidroximetilvalerato (PH2MV: 6-C de dois Prop)
1988a; Satoh et al., 1992; Smolders et al., 1994b; também podem estar presentes como constituintes
Maurer et al., 1997). Nestas condições, o menores.
glicogênio também é produzido na maioria dos
casos.
Figura 6.5 Vias metabólicas anaeróbias e mecanismos de captação de substrato em Accumulibacter. O acetato é captado
através da membrana celular, onde a energia necessária para o seu transporte é gerada pelo efluxo de prótons (H+) ou sódio
(Na+), que é promovido por diferentes enzimas dependendo do organismo. Além do transporte de acetato, os processos de
produção (e consumo) de ATP e NADH são mostrados, incluindo liberação de P, glicólise e as vias do ciclo de Krebs oxidativo e
redutor realizadas por certos PAOs (adaptado de Oehman et al., 2010).
Na presença de oxigênio (ou de nitrato em Figura 6.8 Modelo bioquímico para PAOs sob condições
condições anóxicas) como um aceptor de elétrons aeróbias (ou anóxicas) (adaptado de Comeau et al. 1986).
externo, os PAOs utilizam o PHA armazenado Para fins de projeto, considera-se que apenas as reservas
como uma fonte de carbono e energia para sua de PHA são utilizadas, via acetilCoa e propionilCoaA, para
manutenção metabólica e crescimento de novas o crescimento de PAO e não matéria orgânica
células e, normalmente, para regenerar o glicogênio biodegradável. O ácido tricarboxílico (TCA), presente no
consumido no período anaeróbio (figuras 6.7 e 6.8). ciclo de Krebs, é utilizado para produzir intermediários de
carbono para crescimento, energia (como ATP) e
aumentar o potencial de redução (como NADH). O NADH,
na presença de um aceptor de elétrons, como oxigênio ou
nitrato, é então usado para expelir prótons, através da
cadeia de transporte de elétrons, criando uma força
motriz de prótons que é usada para o transporte de
fosfato (Pi) com cátions metálicos (M+) e também para a
síntese de ATP, permitindo o crescimento de PAO e
armazenamento de polifosfato.
Figura 6.9 Modelo quantitativo para PAOs submetidos a condições anaeróbias e aeróbias (adaptado de Smolders et al., 1994b).
Cada C‐mol de acetato corresponde a 0,5 mol de acetato. Assim, para o acetato, 1 C‐mol corresponde a 32 gDQO. Todas as
outras concentrações de compostos de carbono são expressas em unidades C‐mol.
6.4.6 Funções da zona anaeróbia utilizar a DQO fermentável como fonte de energia
e carbono quando há um aceptor externo de
A partir da descrição dos mecanismos elétrons. Para cada 1 mg de O2 reciclado para o
anteriormente pontuados, a zona anaeróbia tem reator anaeróbio, 3 mg DQO fermentável são
basicamente duas funções quando o afluente ao consumidas e para cada 1 mg de nitrato recilado,
sistema é esgoto sanitário típico: 8,6 mg DQO fermentável são consumidos. A
proporção de 3 mg SF por mgO2 consumido vem
(i) Estimula a conversão da DQO fermentável considerando um rendimento líquido de 0,67 mg
(SF) em VFAs pela fermentação SSV-DQO produzido por mgDQO consumido para
acidogênica facultativa por organismos a produção de lodo. O restante (0,33 mgDQO), é
heterotróficos. utilizado para produção de energia usando
oxigênio. Assim, se obtem uma relação de 3 mg
(ii) Permite que os PAOs sequestrem os VFAs DQO de SF para cada mg de O2 consumido. Da
os assimiliando e armazenando como PHA. mesma forma, considerando que 1 mg de nitrato é
Na prática, este processo permite que os o equivalente a 2,86 mg de oxigênio, é obtida uma
PAOs sequestrem e armazenem parte do proporção de 8,6 mgDQO consumida por mg NO 3
substrato sob condições onde não exista um -N reduzida.
aceptor externo de elétrons (condições
anaeróbias) ao qual esse substrato não está A DQO fermentável consumida não fica mais
disponível para os organismos heterótrofos disponível para conversão a VFAs pelos PAOs e
comuns. Assim, os PAOs não tem portanto, a quantidade de VFAs gerada e liberada
necessidade de competir por substrato, o para a solução é reduzida, através da DQORB
que ocorreria se um aceptor de elétrons consumida pelos OHOs. Consequentemente, a
externo torna-se disponível (condições massa de VFAs disponível para os PAOs para
anóxicas / aeróbias). armazenamento é reduzida e,
correspondentemente, a mesma redução ocorre
Dos dois processos anteriores, o primeiro é o com a liberação de P, a absorção de P e a remoção
mais lento e determina o tamanho do reator líquida de P.
anaeróbio. No entanto, nos casos em que seja
necessária a fermentação primária do lodo na Da mesma forma, há uma competição entre
estação de tratamento, o primeiro processo não PAOs e OHOs pelos VFAs restantes. Os PAOs os
seria necessário e o tamanho do reator anaeróbio sequestrarão enquanto os OHOs os metabolizarão.
seria diminuído. Consequentemente, o reciclo do oxigênio e/ou
nitrato causa um prejuízo na liberação, assimilação
e remoção líquida de P porque a massa de VFAs
6.4.7 Influência do reciclo do oxigênio e
disponível para armazenamento por PAOs diminui.
nitrato no reator anaeróbio
Wentzel, 1999). Esta variação vai de remoções 6.4.9 Relação entre DQO afluente e lodo
quase zero (por exemplo, Clayton et al., 1991) até
remoções sob condições anóxicas que dominam A relação descrita entre os componentes
sobre aeróbias (Sorm et al., 1996). Evidências afluentes da DQO e as várias massas orgânicas do
experimentais sugerem que a magnitude da lodo (ativa, endógena e inerte) é mostrada na
absorção anóxica de P é influenciada pela fração de Figura 6.10.
massa anóxica e massa de nitrato inserida no reator
em relação ao seu potencial de desnitrificação (Hu
et al., 2001, 2002). Apenas alguns PAOs são 6.5 FATORES QUE IMPACTAM O
realmente capazes de desnitrificação completa, DESEMPENHO DO PROCESSO DE
reduzindo o nitrato a nitrogênio gasoso (Camejo et EBPR
al., 2016, 2019). A maioria parece capaz de reduzir
nitrito a nitrogênio gasoso, onde a conversão de 6.5.1 DQO total afluente (DQOi)
nitrato em nitrito pode ser realizada por organismos
flanqueadores (Rubio-Rincon et al., 2017, 2019). Conforme discutido anteriormente, a DQO total
afluente tem uma influência direta no processo de
A remoção anóxica de P não parece atingir a EBPR, uma vez que contém os substratos
mesma eficiência que a remoção aeróbia de P principais exigidos pelo PAO para realizar tal
(Ekama e Wentzel, 1999) e esse processo ainda está processo. Para ilustrar o efeito da DQO total
em investigação. Portanto, do ponto de vista do afluente no processo de EBPR, o modelo de estado
projeto, no qual maximizar a remoção de P é uma estacionário estequiométrico apresentado na Seção
prioridade, este capítulo não enfatizará a 6.8 é usado. Usando este modelo, as figuras 6.11 e
assimilação anóxica de P e, portanto, não está 6.12 representam o efeito de uma concentração de
incluído no projeto. Entretanto, deve-se enfatizar DQO total afluente de 500 mgDQO/L (na Figura
que devido ao acúmulo anaeróbio de DQO 6.11) e 1.000 mgDQO/L (na Figura 6.12) no
rapidamente biodegradável (DQORB) pelos PAOs, processo de remoção de P em diferentes idades de
a cinética de desnitrificação muda quando um lodo.
reator anaeróbio é incluído no sistema.
Figura 6.10. Diagrama esquemático mostrando o destino de várias frações da DQO afluente em relação às várias massas
ativas, endógenas e inertes do lodo.
descartada por dia. Quando TRS <3d, o primeiro aeróbio de PHA depende do nível de PHA dentro
efeito domina a remoção de P, enquanto quando da biomassa e da cinética de quatro processos de
TRS> 3d o último domina, dando origem à forma utilização de PHA. O PHA formado em condições
da curva. O último efeito, que é a diminuição nas anaeróbias deve ser consumido durante a fase
massas ativas de PAO e OHO com aumento do aeróbia. Caso contrário, o nível de PHA nas células
TSR, seria afetado de maneira crucial pela taxa de aumentará até que um nível máximo seja
perda de massa endógena específica dos PAOs. No alcançado. A partir desse momento, nenhuma
entanto, se a taxa de perda de massa endógena dos absorção de substrato ocorrerá em condições
PAOs (0,04 d-1) forem iguais aos dos OHOs anaeróbias, levando à deterioração do processo de
-1
(0,24 d ), praticamente nenhuma EBPR teria sido EBPR.
obtido.
Em sistemas de lodo ativado projetados para a
remoção de matéria orgânica e nitrogênio, o TRS
está diretamente ligado à taxa de crescimento dos
microrganismos; o TRS mínimo, neste capítulo
representado pela sigla TRS min, necessário
corresponde à taxa de crescimento máxima
(TRSmin= 1/μmax) No entanto, nos sistemas de
EBPR onde os materiais de armazenamento
desempenham um papel importante no
metabolismo bacteriano, a determinação do TRS
total mínimo, neste capítulo representado pela sigla
TRSmin, total, (definido como uma soma do TRS
anaeróbio (TRSmin, AN) e aeróbio (TRSmin,OX)
mínimo exigido: TRSmin,total = TRSmin,NA +
Figura 6.16 Remoção de P prevista versus idade do lodo
TRSmin,OX) depende das taxas cinéticas do processo
para várias frações de massa anaeróbia (fxa), para um
e de uma série de condições do processo,
único sistema de reator anaeróbio tratando águas
notadamente o tempo necessário para a conversão
residuárias não sedimentadas com DQO total de 250
anaeróbia de DQORB em PHA, o tempo necessário
mgDQO/L, com as características mostradas.
para o consumo de PHA em condições aeróbias ou
anóxicas, a taxa de carga aplicada de substrato
Em sistemas de EBPR, o TRS aeróbio
específico de biomassa, a temperatura, a operação
desempenha um papel importante devido aos
do sistema e o conteúdo máximo de PHA da célula.
processos de conversão aeróbia que ajudam a repor
Uma vez que o crescimento ocorre apenas em
os polímeros intracelulares. Em particular, isso
condições aeróbias, apenas o processo de EBPR
ocorre porque o comportamento dos três
aeróbio (e, portanto, apenas o TRS min, OX) é
reservatórios nas células (PHA, polifosfato e
considerado aqui. É claro que existe um tempo
glicogênio) é altamente dinâmico e é determinado
mínimo de oxidação aeróbia abaixo do qual o PHA
por sua conversão durante a fase anaeróbia e
produzido anaerobiamente não pode ser mais
aeróbia (ou anóxica). O conteúdo de PHA da
oxidado. O modelo para a previsão do TRS aeróbio
biomassa depende da concentração de biomassa no
mínimo exigido em função dos parâmetros do
reator. A concentração da biomassa pode ser
processo foi desenvolvido e comparado com dados
facilmente controlada pela manipulação da carga
experimentais usados para avaliar vários aspectos
aplicada de substrato e do TRS. Enquanto a
operacionais da EBPR em um sistema SBR-
produção anaeróbia de PHA depende da carga
Sequencing Batch Reactor (Brdjanovic et al.,
aplicada de substrato no sistema, o consumo
1998b). O modelo provou ser capaz de descrevê- de P, no entanto, diminui em cada etapa com o
los de forma satisfatória (Figura 6.17). aumento de fxa, devido à natureza de primeira
ordem da cinética de conversão. No gráfico, com
um único reator anaeróbio deve-se selecionar fxa >
0,15 porque o aumento moderado na remoção de P
para fxa > 0,20 não parece justificado.
vantagens competitivas ao PAO, apesar das altas deterioração do processo de EBPR devido à
temperaturas do lodo ativado (Whang et al., 2007; proliferação de outros organismos que podem
Lopez- Vazquez et al., 2009b; Qiu et al., 2019). competir com o PAO ao absorver a glicose e
armazená-la intracelularmente como glicogênio
6.5.8 Fontes de carbono (Griffiths et al., 2002; Xie et al., 2017), outros
estudos sugerem que a glicose pode ser fermentada
Com o objetivo de obter culturas de PAO altamente e produzir VFA no estágio anaeróbio das
enriquecidas, várias fontes de carbono têm sido configurações do processo de EBPR, resultando em
usadas para a operação de biorreatores em escala um desempenho do processo de EBPR estável. Da
de laboratório (Jeon e Park, 2000; Jeon et al., mesma forma, o fornecimento de lactato ou álcoois
2001; Oehmen et al., 2004, 2007; Puig et al., parece estar associado a um desempenho de EBPR
2008), com um forte foco no uso de acetato e estável sempre que o estágio anaeróbio é longo o
propionato como únicas fontes de carbono devido suficiente para favorecer sua fermentação (Jeon e
à sua abundância em águas residuárias afluentes Park, 2000; Jeon et al., 2001; Puig et al., 2008).
(Oehmen et al., 2004, 2007). No entanto, o uso Além disso, Tu e Schuler (2013) documentaram
exclusivo de acetato ou propionato como uma que o PAO tem uma afinidade maior para a
única fonte de carbono provou levar à instabilidade absorção de C do que o GAO, superando o GAO
do processo de EBPR devido ao crescimento e em baixas concentrações de fonte de C. Então, na
proliferação de GAO (como Competibacter ou fase anaeróbia, se os produtos da fermentação se
Defluviicoccus) (Oehmen et al., 2006a, 2006b; formarem dentro dos flocos, a maior afinidade do
Burow et al., 2007; Lanham et al.,2008). Em vista PAO pode ajudá-los a captar as fontes de C assim
a capacidade dos PAOs para assumir acetato ou que forem geradas, em detrimento do GAO. Essas
propionato em uma taxa cinética relativamente observações sublinham a necessidade de garantir
semelhante, Oehmen et al. (2006a) e Lu et al. que o volume do estágio anaeróbio deve ser grande
(2006) propuseram alternar essas duas fontes de o suficiente para facilitar a fermentação de tais
carbono periodicamente para vencer o GAO e obter fontes de carbono em favor do PAO.
uma cultura de PAO altamente enriquecida. Ao
aplicar um modelo metabólico, Lopez-Vazquez et Além da presença e disponibilidade de VFA e
al. (2009) previu que um afluente contendo 75% de outros compostos fermentáveis, os aminoácidos
acetato e 25% de propionato poderia ser suficiente também estão presentes em águas residuárias
para obter uma cultura PAO enriquecida brutas. Sua fermentação e consumo foram
(Accumulibacter) Seguindo o resultado de Lopez- associados ao crescimento e proliferação de
Vazquez et al. (2009), Carvalheira et al. (2014) Tetrasphera (Nguyen et al., 2011; Marques et al.,
conduziram um estudo de cultivo de longo prazo 2017; Liu et al., 2019), que parece ser capaz de
que confirmou que uma proporção de 75% de contribuir para o processo de remoção de P, mas
acetato para 25% de propionato pode realmente desempenhando um metabolismo diferente do
levar a uma cultura PAO altamente enriquecida (> Accumulibacter (Liu et al., 2019). Enquanto sua
80% com base na análise de FISH). contribuição direta real para o processo de EBPR
(como um organismo fermentativo e potencial
Além do uso de acetato e propionato, outras PAO) ainda está em estudo (Liu et al., 2019;
fontes de carbono como glicose, lactato e álcoois Rubio-Rincon et al., 2019), a sua presença tem
também foram testadas (Jeon e Park, 2000; Jeon estado associada ao funcionamento estável das
et al., 2001; Puig et al., 2008). Com relação ao plantas de EBPR.
fornecimento exclusivo de glicose, os resultados
são um tanto contraditórios. Embora alguns Em estações de tratamento de esgoto em (ETE)
estudos indiquem que a glicose pode levar à escala plena, para garantir que PAO tenha carbono
suficiente para realizar o processo de EBPR, a envolvimento do ciclo do TCA em altas razões P /
adição de melaço aos pré-fermentadores foi DQO, a cultura de EBPR enriquecida continuou a
avaliada (Zeng et al., 2006), resultando em uma fazer uso da via glicolítica. Essas observações
maior disponibilidade de propionato e em um foram corroboradas por estudos de pesquisa
processo de EBPR melhorado e estável. Além semelhantes (Barat et al., 2006; Zhou et al., 2008;
disso, conforme apresentado na Seção 6.6, certas Acevedo et al., 2012; Welles et al., 2015, 2016).
configurações de processo foram desenvolvidas Em estudos realizados em plantas de EBPR em
para favorecer a autoprodução de VFA escala plena, Pijuan et al. (2008) e Lanham et al.
fermentando (uma fração de) o o lodo ativado de (2014) também observaram um comportamento
retorno (reciclo) – RAS (return activated sludge) semelhante, em particular em altos índices P /
(Vollertsen et al., 2006; Barnard et al., 2017). Esta DQO. Além disso, Welles et al. (2015, 2016)
prática levou a uma maior disponibilidade de foram capazes de cultivar uma cultura PAO
diferentes espécies de VFA (Vollertsen et al., enriquecida em um afluente com baixa razão P /
2006) e também para um melhor desempenho da DQO. Eles notaram que a cultura PAO, devido ao
EBPR. Em outra ETE em escala real operada em baixo teor de polifosfato intracelular, fez uso do
alta temperatura de águas residuárias (Ong et al., glicogênio como o principal composto intracelular
2014; Qiu et al., 2019), a ampla disponibilidade para a captação anaeróbia de carbono, enquanto
de diferentes fontes de carbono e aminoácidos que após ser exposta a um afluente com razão mais
levou a uma operação de EBPR estável, embora a elevada de P / DQO , a cultura PAO poderia mudar
temperatura tendesse a ser desfavorável para o seu metabolismo e absorver ortofosfato
processo de EBPR (Lopez-Vazquez et al., 2009) aerobiamente.
(conforme discutido na Seção 6.5.11). No geral, a
disponibilidade de diferentes espécies de VFA e A influência da relação P/DQO do afluente é
fontes de carbono contribui para uma melhor refletida diretamente na relação liberação
estabilidade do processo de EBPR, em contraste anaeróbia de P/DQO. Em razões P/DQO mais altas,
com o uso de uma única fonte de carbono. os conteúdos de polifosfato intracelular são
maiores, o que resulta em uma razão mais alta de
6.5.9 A razão entre P e DQO afluente liberação anaeróbia de P para consumo de DQO.
Isso parece ser causado por um maior
Outro fator que afeta o metabolismo de PAO é a envolvimento do ciclo do TCA (Schuler e Jenkins,
relação P / DQO afluente. Vários estudos têm sido 2003a, 2003b; Pijuan et al., 2008; Welles et al.,
conduzidos indicando que altas razões P / DQO 2015, 2016). Enquanto isso, em razões P / DQO
afluente favorecem o metabolismo de PAO, mais baixas, os conteúdos de polifosfato
enquanto baixas razões P / DQO favorecem o intracelular diminuem, o que aumenta o papel da
metabolismo de GAO. Schuler e Jenkins (2003a, via glicolítica e a razão de liberação anaeróbia de P
2003b) cultivaram uma cultura PAO em diferentes para consumo de DQO diminui. Além disso,
razões P / DQO. Eles observaram uma mudança no Welles et al. (2015) observaram que, juntamente
metabolismo da cultura de EBPR enriquecida de com as taxas de liberação de fosfato, as taxas de
um metabolismo de acumulação de fósforo (PAM) absorção de acetato também aumentaram até uma
para um metabolismo de acumulação de glicogênio relação polifosfato / glicogênio ideal de 0,3 P-mol
(GAM) conforme a razão P / DQO diminuía. Isso /C-mol. Em razões de poli-fosfato/glicogênio mais
implicava em uma mudança no metabolismo da altas (obtidas em razões P/C influentes acima de
utilização do ciclo de TCA em altas razões P / 0,051 P-mol/C-mol), as taxas de absorção de
DQO para um maior envolvimento da via acetato começaram a diminuir. No entanto, Welles
glicolítica conforme a razão P / DQO diminuía. É et al. (2015) notaram que tal metabolismo era
importante notar que, apesar do maior dependente do tipo específico de microrganismo
presente, com Acumulibacter tipo II sendo mais modelo metabólico de EBPR (modelo TUDP;
flexível do que Acumulibacter tipo I, e, portanto, Smolders et al 1994c, 1995) dependem de
mais flexível e capaz de realizar um metabolismo coeficientes estequiométricos e cinéticos válidos
GAM em baixas razões P / DQO com taxas de em uma faixa estreita de temperatura ou apenas em
absorção de acetato mais altas. um único valor de temperatura. No ASM2, os
coeficientes do processo são definidos para dois
No geral, a relação P / DQO afluente diferentes temperaturas (10 e 20 ºC). Neste modelo,
desempenha um papel importante no processo de os coeficientes estequiométricos não dependem da
EBPR, afetando a estequiometria e a cinética de temperatura, enquanto os coeficientes cinéticos são
culturas de EBPR conhecidas. Como tal, esses afetados pelas mudanças de temperatura. Os
efeitos precisam ser considerados ao medir ou processos no ASM2 são classificados em quatro
avaliar o processo de EBPR. Para fins práticos e grupos com base em sua dependência da
para cumprir os limites de descarga de efluentes temperatura (dependência zero, baixa, média e
exigidos, em princípio, os sistemas de EBPR alta). Valores idênticos para temperaturas de 10 e
tendem a ser projetados considerando uma baixa 20°C foram atribuídos a muitos dos coeficientes.
relação P / DQO do afluente (uma prática bastante Isso foi justificado pela escassez de dados
comum, uma vez que a maioria dos projetos e disponíveis ou pela baixa sensibilidade dos
configurações de EBPR visam maximizar a DQO parâmetros particulares às variações de
do afluente fornecida para PAO). temperatura. Nesta classificação, os processos de
EBPR são considerados como tendo um baixo grau
de dependência da temperatura em comparação
6.5.10 Efeitos de pH com outros processos incorporados no ASM2.
ASM2 é geralmente recomendado para aplicação
Smolders et al. (1994a) avaliou os efeitos do pH no tratamento de águas residuárias por lodo
encontrando uma correlação direta entre a razão de ativado em temperaturas entre 10 e 25 °C, e os
liberação anaeróbia de P e captação de HAc autores do ASM2 são cautelosos quanto à sua
(Prelease/HAcuptake) e o pH medido no líquido aplicabilidade fora dessa faixa. Da mesma forma,
(f PO4, rel = 0,18 pH - 0,81, em unidades gP / gDQO). o modelo UCTPHO possui parâmetros de processo
Essa relação é um reflexo do aumento de energia baseados em 20°C. Para outras temperaturas
necessária em níveis de pH mais elevados para a operacionais, o ajuste dos valores é calculado a
absorção de HAc. Filipe et al. (2001a) alterou tal partir da temperatura de entrada e das constantes de
equação (f PO4, rel = 0,15 pH - 0,53, em unidades gP temperatura de Arrhenius. No modelo metabólico,
/ gDQO) sugerindo que em sua pesquisa todos os parâmetros são determinados em 20°C,
provavelmente houve uma abundância de PAO mas nenhuma informação está disponível sobre sua
mais alta. dependência da temperatura. Foi sugerido que o
impacto da temperatura nos PAOs pode ser
6.5.11 Efeitos de temperatura modelado com os mesmos coeficientes que para
organismos heterotróficos. No entanto, devido às
Com a aplicação de modelagem matemática em grandes diferenças no metabolismo e ao
processos biológicos, o papel dos coeficientes de envolvimento dos produtos de armazenamento,
temperatura torna-se mais importante. Modelos isso pode estar errado. Como ETEs municipais,
matemáticos que incluem a presença de EBPR em incluindo aquelas que operam com EBPR, podem
sistemas de lodo ativado, como o Modelo de Lodo experimentar temperaturas de licor misto tão baixas
Ativado nº 2 (ASM2) (Henze et al., 1994), Modelo quanto 5°C ou tão alto quanto 35 °C, havia uma
de Lodo Ativado da Universidade da Cidade do necessidade significativa de um estudo sistemático
Cabo (UCTPHO; Wentzel et al., 1992) ou o do impacto da temperatura nos sistemas de EBPR,
separados por batelada durante o período de da fase aeróbia sublinha que, em processos
algumas horas. A estequiometria dos processos complexos como a EBPR, é perigoso tirar
anaeróbios foi considerada insensível às mudanças conclusões apenas a partir de parâmetros
de temperatura, enquanto alguns efeitos na facilmente observáveis (como o fosfato). Tal
estequiometria aeróbia foram observados. Em consideração pode facilmente levar à subestimação
contraste, a temperatura teve uma grande influência da dependência da temperatura de outros processos
na cinética dos processos tanto em condições metabólicos da fase aeróbia da EBPR. Meijer
anaeróbias quanto aeróbias. A taxa de liberação (2004) incorporou coeficientes de temperatura
anaeróbia de P (ou absorção de acetato) atingiu o obtido a partir de estudos de Brdjanovic et al.
máximo a 20 °C. No entanto, um aumento (1997, 1998c) no modelo TUDP. Lopez-Vazquez
contínuo foi observado no intervalo 5-30 °C para as et al. (2008b, c) repetiu os experimentos originais
taxas de conversão em condições aeróbias. Com de Brdjanovic et al. (1997, 1998c) e estendeu o
base nesses experimentos, os coeficientes de modelo TUDP com coeficientes para duas
temperatura para as diferentes reações foram temperaturas adicionais, a saber, 15 ºC e 35 ° C. Em
calculados. Um coeficiente geral de temperatura geral, este estudo confirmou os resultados de
anaeróbia e aeróbia θ foi encontrado em 1,078 e Brdjanovic et al. (1997, 1998c) para a faixa de
1,057 (válido nas faixas 5 °C ≤ T ≤ 20 °C e 5 °C temperatura de 5 a 30 ºC. Além disso, Lopez-
≤ T ≤ 30 °C), respectivamente. Vazquez et al. (2008c) também determinou as
dependências da temperatura no curto e longo
6.5.11.2 Efeitos da temperatura em longo- prazo de uma cultura GAO enriquecida com
prazo no funcionamento do sistema Competibacter e, em seguida, os introduziu no
de EBPR modelo TUDelft para avaliar a competição PAO-
GAO em diferentes temperaturas (Lopez-Vazquez
A conversão em estado estacionário de compostos et al.,2009).
relevantes para EBPR foi estudada em um reator
subsequentemente a 20, 30, 20, 10 e 5 ° C. O 6.5.12 Oxigênio dissolvido (OD) e aeração
coeficiente de temperatura para conversões
metabólicas obtidas a partir de testes de A concentração de OD desempenha um papel
temperatura de longo prazo foi semelhante ao importante no processo de EBPR. Carvalheira et al.
coeficiente de temperatura observado em testes de (2014) definiram que OD inferior a 1,5 mg / L é
curto prazo (horas) (θ = 1,085 e θ = 1,078, preferível para favorecer o crescimento de PAO em
respectivamente). A temperatura teve um impacto relação ao GAO devido à sua maior afinidade de
moderado na taxa do processo de absorção aeróbia OD, enquanto que concentrações mais altas de OD
de P (θ = 1,031) durante os testes de longo prazo. tendem a favorecer o GAO, que pode competir
No entanto, foi observado um grande efeito da anaerobiamente por fontes de C com o PAO. Com
temperatura em outros processos metabólicos da mais interesse em reduzir os custos de energia da
fase aeróbia, como consumo de PHA (θ = 1,163), ETE através da otimização do processo de aeração
consumo de oxigênio (θ = 1,090) e crescimento e, assim, operar a ETE com baixo OD, tal prática
(θ> 1,110). Diferentes coeficientes de temperatura é favorável ao PAO.
foram obtidos para a fase aeróbia a partir de testes
de longa e curta duração, provavelmente devido a Por outro lado, enquanto o sistema precisa
uma mudança na estrutura populacional. Essa cumprir um TRS aeróbio mínimo para garantir o
mudança também foi visível em estudos de crescimento do PAO (Brdjanovic et al., 1998b), a
ecologia molecular. O coeficiente de temperatura aeração excessiva pode ter um impacto prejudicial
diferente encontrado para a absorção de P em no processo de EBPR devido ao esgotamento dos
comparação com os outros processos metabólicos compostos PHA intracelulares como uma fonte de
dividido em duas zonas para fornecer ferro (por exemplo FeCl3), alumínio (por
desnitrificação de lodo de reciclo na exemplo alum) ou cálcio (por exemplo cal),
primeira zona e desnitrificação de lodo os sais podem ser adicionados tanto na
aeróbio no reator anóxico a jusante (por corrente principal para pré-, co- ou pós-
exemplo Configuração MUCT). Adicionar precipitação (no decantador primário, no
uma segunda zona anóxica, a jusante da processo de lodo ativado, a jusante do
zona aeróbia, é outra maneira de reduzir a decantador secundário, respectivamente).
concentração de nitrato tanto no efluente Extrair o sobrenadante do tanque anaeróbio
quanto no lodo de reciclo (por exemplo ou retirar um pouco do lodo ativado de
Configuração Bardenpho modificada). reciclo e coagulá-lo também pode levar a
(iii) A absorção de VFA por PAOs no reator uma redução do fósforo solúvel no efluente
anaeróbio deve ser maximizada. A (por exemplo o BCFS® processo; Van
fermentação do lodo primário é uma Loosdrecht et al., 1998). A precipitação
maneira eficiente de aumentar o teor de lateral com cal de fosfato liberado
VFA do afluente, embora também anaerobiamente do lodo de reciclo também
contribua para um aumento da carga de pode ser realizada. A liberação de fosfato
amônia no sistema de lodo ativado. Acetato mais eficiente pode ser alcançada neste
de sódio ou resíduos industriais tanque de fluxo lateral, desviando algum
fermentáveis podem ser adicionados afluente contendo DQO rapidamente
diretamente ao reator anaeróbio ou tanque biodegradável (por exemplo o PhoStrip®
de pré-fermentação. O tempo de retenção processo). Se for realizada a digestão
hidráulica do reator anaeróbio ou pré- anaeróbia ou aeróbia do descarte de lodo
fermentador pode ser aumentado para ativado, essencialmente todos os
favorecer no local a fermentação do polifosfatos serão degradados e o fosfato
afluente ou da matéria orgânica fermentável liberado na solução. A recuperação de
adicionada. A fermentação do RAS também fósforo na forma de estruvita (MgNH4PO4)
pode ser empregada para aumentar a ou hidroxiapatita [Ca10(PO4)6OH2], que
matéria orgânica a ser consumida pelos podem ser utilizados como fertilizantes,
PAOs (ver Seção 6.6.11). também são meios de reduzir o
(iv) As partículas de fósforo do efluente devem carregamento de fosfato solúvel de volta
ser minimizadas removendo-se o total de para o processo de lodo ativado e,
sólidos em suspensão de forma eficiente. O eventualmente, para o efluente.
teor de fósforo particulado pode atingir até
18% gP / gSST para culturas enriquecidas. (vi) A captação de fósforo para a síntese celular
Com um conteúdo mais típico de 5%, cada pode ser maximizada. Embora mais
10 mgSST / L no efluente contribuirá com limitado do que os outros conceitos de
0,5 mgP / L. Assim, os meios para reduzir otimização em sua eficiência potencial,
a concentração de SST no efluente são a manter o tempo de retenção de lodo (TRS)
decantação secundária eficiente, evitando o mais curto possível resultará em um
lodo flutuante da desnitrificação no aumento na remoção de fósforo pela síntese
decantador, a filtração de areia e até mesmo celular. Outro benefício de reduzir o TRS
a ultrafiltração (em um biorreator de será que os PAOs degradarão menos
membrana). polifosfato para manutenção da célula. A
(v) O fósforo solúvel do efluente deve ser restrição na manipulação do TRS é manter
minimizado. Além de otimizar o processo uma idade mínima do lodo para manter a
de EBPR, coagulantes químicos como o nitrificação, enquanto estimula os PAOs.
Figure 6.19. Visão geral da otimização do processo de remoção de EBPR e P. Nota: DP: decantador primário; DS: decantador
secundário.
O primeiro sistema principal prático para EBPR oxigênio quanto de nitratos ...' Propôs produzir a
foi desenvolvido a partir do trabalho de Barnard fase anaeróbia incluindo um reator anaeróbio antes
(1974a, b, 1975a, b, 1976a, 1976b) e Nicholls da entrada para a planta para 'permitir que o licor
(1975). Barnard (1975a, 1975b) enquanto misto se torne anaeróbio através da ação do esgoto
investigava a resposta de nitrificação / que entra'. Barnard chamou esse princípio de
desnitrificação de um sistema que ele desenvolveu método 'Phoredox' e o aplicou (entre outros) ao
para esse propósito, o sistema Bardenpho de 4 sistema Bardenpho de 4 estágios; ele incluiu um
estágios, observou que o sistema removeu mais P reator anaeróbio antes do reator anóxico primário
do que o esperado. Barnard (1974a, 1974b) no Bardenpho de 4 estágios, o reator anaeróbio
postulou que 'o requisito essencial para a remoção recebendo a vazão afluente e a vazão de reciclo de
de fósforo em sistemas biológicos é que durante lodo de fundo dos tanques de decantação
algum estágio antes do estágio final do processo, o secundários; essa configuração tornou-se
lodo ou licor misto deve passar por um estágio conhecida como Bardenpho modificado de 5
anaeróbio, durante o qual os fosfatos podem ou não estágios (Figura 6.20C). Barnard também propôs
ser liberados, seguido por uma fase aeróbia bem que quando menos remoção de nitrogênio é
aerada, durante a qual os fosfatos serão absorvidos necessária, o segundo reator anóxicos e o reator de
pelos organismos ou precipitados como resultado reaeração podem ser excluídos, de modo a resultar
da mudança no potencial redox ’. no Bardenpho modificado de 3 estágios (Figura
6.20A); esta configuração também foi chamada de
Baseado nas observações de Barnard (1974a), anaeróbia / anóxica / aeróbia (A2O)13 configuração.
Nicholls (1975) fez experiências em grande escala Para explicar o fenômeno de remoção avançada de
com os sistemas de lodo ativado de Alexandra e P, Barnard (1976a) hipotetizou que não é a
Olifantsvlei (Joanesburgo, África do Sul). Ele criou liberação de P em si que estimula a remoção do P,
zonas anaeróbias em diferentes partes dos dois mas que essa liberação indica que um determinado
sistemas de lodo ativado e concluiu que 'uma boa potencial redox baixo foi estabelecido na zona
remoção de fosfato pode ser esperada no sistema anaeróbia, ex.: que o baixo potencial redox
Bardenpho modificado (na verdade, um estimula a remoção avançada de P. Barnard
Bardenpho de 5 estágios) quando uma bacia (1976a) reconheceu as dificuldades associadas a
anaeróbia é colocada antes do sistema de lodo medição do potencial redox, e propôs que a
ativado'. medição da liberação de P na zona anaeróbia
poderia servir como um substituto para indicar que
Barnard (1976a), ao ampliar as postulações que as condições necessárias para uma maior remoção
desenvolveu em 1974, concluiu que a massa do de P prevaleciam.
organismo 'deve passar por uma fase anaeróbia em
que a demanda de oxigênio excede a oferta tanto de
Figura 6.20 Configurações do sistema para EBPR: (A) PhoStrip, (B) Bardenpho modificado de 3 estágios (A2O), (C) Bardenpho
modificado de 5 estágios, (D) Phoredox (A / O), (E) UCT (VIP) , (F) MUCT (UCT modificado), (G) Joanesburgo (JHB), (H) BCFS e
(I) S2EBPR
aerada superior a 40 % em 14°C para uma idade de um aumento de nitrato no reciclo de lodo.
lodo de 20 dias, caso fosse mantida uma Concluiu-se, finalmente, que para as águas
nitrificação eficiente, e em segundo lugar, levando residuárias utilizadas na investigação experimental,
em consideração que o reator anaeróbio não pode o sistema tipo Bardenpho Modificado não se
contribuir para o potencial de desnitrificação do mostrou adequado para a EBPR. Isso não
sistema, o sistema de 5 estágios não poderia reduzir implicava que o sistema pudesse não ser adequado
o nitrato a zero para a razão NTK / DQO medida para outras águas residuárias, mas a investigação
no esgoto. Consequentemente (conforme discutido trouxe à luz que havia restrições, não devidamente
anteriormente em Capítulo 5) o volume do reator reconhecidas antes, que podem impedir a alta
anóxico secundário foi adicionado ao anóxico remoção de P. Por exemplo, para qualquer idade de
primário para obter a remoção máxima de nitrato e, lodo e temperatura mínima selecionadas, o
portanto, a concentração mínima de nitrato no requisito de nitrificação completa impõe um limite
reciclo do lodo de reciclo. Os resultados desta superior para a fração de massa não aerada. Esta
investigação (Rabinowitz e Marais, 1980) podem limitação na fração de massa não aerada
ser resumidos da seguinte forma: correspondentemente limita a concentração de
nitrato que pode ser removido. Para o sistema
(i) Quando a concentração de nitrato no Bardenpho modificado de 5 estágios, caso o nitrato
efluente (e no reciclo do lodo de retorno) gerado seja maior do que a desnitrificação
era baixa, geralmente a liberação de P e a alcançável, o nitrato aparecerá no efluente e será
remoção avançada foram observadas. A reciclado para o reator anaeróbio. Para o sistema
remoção avançada de P diminuiu Bardenpho modificado de 3 estágios, a
desproporcionalmente conforme o nitrato desnitrificação completa não é possível e o nitrato
aumentou, um comportamento observado sempre estará presente na vazão de reciclo de lodo
por pesquisas anteriores (Barnard,1975b; do fundo do decantador para o tanque anaeróbio. A
Simpkins e McLaren, 1978). reciclagem de nitrato para ambos os sistemas irá
(ii) Com diferentes bateladas de esgoto mas, influenciar adversamente a remoção de P.
tendo a mesma DQO afluente, com a
mesma concentração de nitrato no reciclo No geral, os sistemas Bardenpho modificado de
de lodo de reciclo, uma batelada de esgoto 3 estágios e 5 estágios mostraram limitações para
apresentou taxas relativamente altas de atingir eficiências de remoção de P estáveis e
liberação de P e maior remoção de P, confiáveis. No entanto, o trabalho de Barnard levou
enquanto em outra não essa liberação foi ao desenvolvimento de sistemas que pareciam
consideravelmente menor ou nula. A razão incorporar os requisitos essenciais para a EBPR,
para esse comportamento não era aparente. embora esses requisitos não fossem explicitamente
compreendidos. Isso estimulou uma extensa
Na configuração Bardenpho modificada de 3 pesquisa sobre este fenômeno, para ganhar
estágios, a remoção de P foi inferior ao esperado; o experiência sobre seu comportamento, para
sistema não desenvolveu remoção avançada de P delinear mais precisamente os fatores que
ao longo de longos períodos de tempo, e quando a influenciam a EBPR e para desenvolver critérios de
remoção avançada de P foi obtida, geralmente dimensionamento.
tendeu a ser baixa e errática devido aos efeitos de
(i) e / ou (ii) já descritos. O aumento da fração de 6.6.5 Phoredox ou sistema
massa anaeróbia durante os períodos de baixa anaeróbio/óxico (A/O)
remoção de P foi considerado contraproducente,
pois isso só poderia ser feito às custas da fração No sistema Bardenpho modificado, a configuração
de massa anóxica que, por sua vez, deu origem a desenvolvida por Barnard para a EBPR foi
reator aeróbio para o anóxico primário (reciclo a). A proporção de reciclagem do licor misto
Pela manipulação da razão do reciclo a, o nitrato (reciclo-a) precisa ser cuidadosamente controlada
no reator anóxico pode ser mantido em zero e, de modo que o reator anóxico primário seja
portanto, nenhum nitrato será reciclado para o ligeiramente carregado com nitrato para evitar uma
reator anaeróbio. Consequentemente, o estado descarga de nitrato para o reator anaeróbio. No
anaeróbio no reator pode ser mantido entanto, em operação em escala plena, esse
independentemente da concentração de nitrato do controle cuidadoso da razão de reciclo não é
efluente, mesmo se a razão NTK/DQO do afluente possível devido à incerteza na razão NTK/DQO,
para a planta variar. Esta condição desejável é particularmente sob fluxo cíclico e condições de
alcançada no sistema UCT às custas de (i) o volume carga.
do reator anaeróbio; no sistema UCT para manter a
mesma fração de lodo no reator anaeróbio que no Para simplificar a operação do sistema UCT,
sistema Bardenpho modificado, o volume do reator buscou-se uma modificação em que o controle
anaeróbio no sistema UCT teria que ser aumentado cuidadoso deste reciclo não seria necessário. Isso
na proporção (1 + r) / r, e (ii) a incapacidade de levou a uma modificação do sistema UCT,
alcançar a desnitrificação completa. chamada de sistema UCT modificado (Figura
6.20F). No sistema UCT modificado, o reator
Testes em escala de laboratório no sistema anóxico é subdividido em dois reatores, o primeiro
UCT usando fluxo de resíduos da Cidade do Cabo tendo uma fração de massa de lodo de
mostraram uma EBPR melhorada tanto em aproximadamente 0,10 e o segundo tendo o
magnitude quanto em consistência em relação ao equilíbrio da fração de massa anóxica disponível.
obtido nos sistemas Bardenpho Modificados. No O primeiro reator anóxico recebe o o lodo reciclado
entanto, talvez a conquista mais importante do (reciclo-s) e o reciclo-r dele sai uma parcela de
ponto de vista da pesquisa foi que com o sistema efluente que é reciclada para o reator anaeróbio. O
UCT foi possível eliminar o efeito de confusão na segundo reator anóxico recebe o reciclo-a do reator
remoção de nitrato de P na reciclagem da vazão de aeróbio. Este reciclo-a mínimo é responsável pela
reciclo de lodo para o reator anaeróbio, de modo introdução da quantidade mínima de nitrato no
que outros fatores que influenciam a EBPR segundo reator anóxico, de forma que seja
pudessem ser estudados com maior facilidade suficiente para carregá-lo até seu potencial de
(Siebritz et al., 1982). A partir de dados de resposta desnitrificação. Qualquer reciclagem superior ao
experimental, os efeitos desses outros fatores mínimo não removerá nitrato adicional, de modo
tornaram-se claramente evidentes: (i) para a mesma que, em recirculações em taxas superiores, mais
DQO afluente, uma batelada de esgoto resultou em nitrato é introduzido do que removido no segundo
altos níveis de remoção de P, enquanto em outra reator anóxico e nitrato aparecerá no efluente deste
resultou baixos níveis, uma observação reator. Isso, no entanto, é imaterial na medida em
anteriormente presumida como ser devida ao efeito que afeta o nitrato no reator aeróbio, que
do nitrato, mas não explicitamente comprovada permanece constante, uma vez que a > amin.
como tal e (ii) a magnitude de EBPR parecia estar Consequentemente, pode-se aumentar o reciclo-a
ligada a alguma característica do esgoto, ainda não para qualquer valor maior que a min, de modo a
identificada. proporcionar o tempo de detenção real requerido,
não afetando o reciclo de nitrato para o primeiro
6.6.7 Sistema UCT modificado reator anóxico; assim o controle cuidadoso do
reciclo-a não é mais necessário 14 . Entretanto esta secundário no fluxo de reciclo de lodo (descarga de
melhoria é obtida num custo (WRC, 1984): a razão fundo do decantador), a massa de nitrato que
máxima NTK/DQO para resultar em nitrato zero precisa ser removida na zona anóxica secundária
para o reator anaeróbio é reduzida de ± 0,14 no para proporcionar descarga zero na entrada de
sistema UCT para ± 0,11 no sistema UCT nitrato no reator anaeróbio é reduzida na ordem de
modificado. Entretanto, uma razão NTK/DQO de s / ( 1 + s) vezes, o que precisa ser removida na zona
0,11 mg N/mg DQO inclui a maioria do esgoto anóxica secundária do sistema Bardenpho
bruto e decantado. Portanto, proporcionando que o modificado de 5 estágios (onde s é a taxa de
reciclo-r possa ser extraído tanto do primeiro reciclagem de lodo em relação à taxa de fluxo
quanto do segundo reator anóxico, o sistema pode afluente). Ou seja, para proteger o reator anaeróbio
ser operado tanto na configuração UCT modificado da reciclagem de nitrato, no sistema JHB apenas o
quanto na UCT, conforme requerido. nitrato na corrente s-recycle (lodo de reciclo do
fundo do decantador) deve ser removido, enquanto
Outra variação do sistema UCT foi proposta, no sistema Bardenpho modificado de 5 estágios as
intitulada Planta da Iniciativa da Virgínia (VIP – concentrações de nitrato do reciclo-s mais da vazão
Virginia Initiative Plant; Daigger et al., 1987). A efluente devem ser removidas. Além disso, ao
configuração básica para este sistema é idêntica à posicionar o reator anóxico no reciclo-s da vazão
do UCT, mas são feitas duas propostas específicas: de reciclo de lodo, a concentração de lodo no reator
(i) várias séries de reatores de mistura completa são anóxico secundário do sistema JHB é aumentada
usados, e (ii) o sistema é operado em idades curtas por um fator (1 + s) / s em comparação com a com
de lodo de 5 a 10 dias. concentração do lodo no reator anóxico secundário
do sistema Bardenpho modificado de 5 estágios,
6.6.8 Sistema Joanesburgo (JHB) permitindo a redução no tamanho do reator para
atingir a mesma fração de massa anóxica. No
Tomando nota da influência adversa do nitrato entanto, ao contrário do Bardenpho modificado de
reciclado para o reator anaeróbio no sistema 5 estágios, o sistema JHB (como para o UCT) não
Bardenpho modificado de 5 estágios, conforme pode atingir a desnitrificação completa. Embora o
relatado por Barnard (1976a), Osborn e Nicholls sistema JHB supere o problema no sistema UCT de
(1978) em um estudo em escala piloto na aumento do volume anaeróbio para a mesma fração
Joanesburgo Northern Works propuseram alterar a de massa, a desnitrificação está em uma taxa mais
configuração do Bardenpho modificado de 5 baixa do que o reator anóxico primário UCT.
estágios movendo a zona anóxica secundária do Portanto, a proteção do reator anaeróbio contra
fluxo principal e reposicionando-o no fluxo da nitrato só pode ser alcançada em razões NKT /
vazão de reciclo de lodo (fundo do decantador). O DQO de afluente mais baixas do que o sistema
sistema de 4 estágios resultante (anóxico, UCT, embora a maioria das águas residuárias caia
anaeróbio, anóxico e aeróbio) tornou-se conhecido na faixa de operação do sistema JHB. Foi relatada
como sistema Joanesburgo (JHB) (Burke et al., uma extensa investigação em escala plena sobre o
1986; Nicholls, 1987). No sistema JHB (Figura desempenho do sistema JHB (por exemplo,
6.20D), ao reposicionar o reator anóxico Nicholls, 1987; Pitman et al., 1988; Pitman, 1991).
14
Embora do ponto de vista de remoção de N e fosfato, o controle cuidadoso reciclo-a, o que elimina efetivamente a vantagem do MUCT sobre o sistema UCT.
do reciclo-a não seja necessário, o aparecimento de nitrato e / ou nitrito no efluente Em sistemas BCFS, o IVL é de 100-120, ou seja, este problema não existe ou o
do segundo reator anóxico foi associado ao problema de intumescimento com controle redox é realmente eficaz.
Uma adaptação posterior do sistema MUCT foi Para construir com eficiência todos os tanques
desenvolvida no final do século 20 na Holanda. nestes sistemas complexos de remoção de
Este sistema, denominado BCFS® (Figura 6.20H), nutrientes biológicos, é possível mudar o
foi desenvolvido para apoiar o processo biológico dimensionamento de tanques retangulares para um
por separação de fosfato e recuperação potencial na tanque redondo dividido em anéis para as
linha principal, estabilizando a propriedade de diferentes zonas aeróbias / anóxicas / anaeróbias.
sedimentação do lodo e otimizando o controle da Desta forma, a quantidade de concreto necessária é
remoção de nitrogênio. Neste sistema, uma terceira minimizada, uma vez que as paredes internas
linha de reciclo é adicionada do reator aerado para exigem muito menos resistência do que as paredes
o primeiro reator anóxico a fim de maximizar a externas da construção (ver Figura 10.1).
desnitrificação e ser capaz de aerar o segundo
reator anóxico durante fluxos de pico. Desta forma, 6.6.10 Sistema EBPR em paralelo (S2EBPR)
tanto o amônio quanto o nitrato podem ser melhor
mantidos em baixos valores de efluente (amônio Devido às baixas concentrações de DQO
tipicamente abaixo de 0,5 gN/L e nitrato em torno rapidamente biodegradável e ácidos graxos voláteis
de 5-8 mgN/L). As vazões de reciclo são presentes na água residuária bruta não é possível
controladas por um controlador simples baseado promover simultaneamente a EBPR e a remoção de
em eletrodo redox (Van Loosdrecht et al., 1998). A N. Sendo assim, desde os anos 70 a estratégia de
compartimentação contribui para um baixo IVL favorecer a fermentação do lodo do decantador
estável (aproximadamente 120 mL / g) (Kruit et al., primário (PST-primary settled sludge) e/ou (de
2002). uma fração) do lodo ativado reciclado (RAS –
return activated sludge), tem apresentado um
A remoção biológica do fósforo pode ser aumento na eficiência do EBPR em certas plantas
complementada pela adição de precipitantes ao na América do Norte. Isto tem promovido
tanque anaeróbio. Como as concentrações de operações robustas em plantas de EBPR
fosfato são altas neste tanque, os precipitantes são produzindo efluentes com concentração de P
usados de forma eficaz. A dosagem de produtos menores que 1 mg/L e até abaixo do limite de
químicos, entretanto, deve ser feita com cuidado. detecção (Barnard et al., 2017). Este aumento de
Muita precipitação tornará o fosfato indisponível robustez e perfomance do EBPR está associado
para PAOs e deteriorará a eficiência da EBPR. Um com a hidrólise e fermentação prévias do PST e/ou
fator complicador é que a estação de tratamento de RAS. Ademais, na Dinamarca nos anos 90,
esgoto responderá rapidamente às mudanças na diversas configurações EBPR em paralelo
adição de produtos químicos, enquanto o processo (S2EBPR) foram implementadas (Figura 6.20I)
de remoção biológica do fósforo pode ter um tempo (Vollertsen et al., 2006) como uma forma de
de resposta de vários dias, senão semanas. No aumentar a disponibilidade de DQORB e VFA na
processo BCFS, um pequeno defletor é colocado no água residuária bruta (representando apenas em
final do tanque anaeróbio de fluxo em pistão. O torno de 150 mg de DQORB/L e 1 mgVFA/L,
lodo irá se depositar localmente de volta no tanque respectivamente) (Vollertsen, 2002) e viabilizar a
anaeróbio e um sobrenadante transparente pode ser promoção do processo EBPR. Nas configurações
retirado para a precipitação do fosfato. O fósforo S2EBPR dinamarquesas, uma fração do RAS é
pode então ser recuperado (Barat e Van direcionada (tipicamente de 4 a 7%) para um
Loosdrecht, 2006) ou o lodo químico produzido tanque anaeróbio em paralelo com tempo de
pode ser impedido de se acumular no lodo ativado, detenção hidráulica de 30 a 40 h. As condições
está na concentração da DQORB no entorno dos zero. Experimentalmente é observado que estes três
microrganismos presentes no reator anaeróbio fatores atuam em conjunto para que haja remoção
(SVFA). No sistema UCT modificado, como não há de fósforo. Outras pesquisas mostraram que nos
reciclo de nitrato para o reator anaeróbio, a sistemas Bardenpho e UCT (e no ainda não
concentração de DQORB (SVFA) é a maior possível. considerado JHB), os fatores (ii) e (iii) citados
Por outro lado, no sistema MLE, nitrato suficiente anteriormente podem se combinar em um único
é reciclado para o reator anóxico para promover o parâmetro, de acordo com as especificidades de
consumo de toda DQORB , ou seja, Svfa = 0. recirculações e efeitos da interação com o tempo de
Portanto, a diferença nos padrões de detenção no reator anaeróbio de cada um destes
comportamento destes processos poderia ser sistemas. Isto é, os três parâmetros podem ser
descrita adequadamente se assumirmos que a reduzidos a dois parâmetros chave: (i) (SVFA – 25)
concentração de DQORB no entorno dos e (ii) a fração de lodo anaeróbio, que é definido por
microrganismos no reator anaeróbio (Ss) é o (massa de lodo no reator anaróbio)/(massa total de
parâmetro chave para determinar se a liberação e lodo no sistema).
remoção avançada de P ocorre. Com base em nosso
conhecimento atual sobre EBPR, sabemos que o Com base nestas informações, o modelo
parâmetro SVFA é teórico e não pode ser medido; a paramétrico para o EBPR foi proposto
partir dos mecanismos de EBPR, a concentração de empiricamente em termos de dois parâmetros
DQORB no entorno dos microrganismos no reator chave e da massa de lodo (ativo, endógeno e inerte)
anaeróbio não é igual a SVFA devido à conversão da descartado por dia.
DQO fermentável a VFA pelos OHOs e ao
acúmulo de VFA pelos PAOs no reator anaeróbio De forma geral, a aplicabilidade deste modelo
(ver seção 6.4.5). foi amplamente testada a partir do momento que
estes conceitos foram incorporados ao modelo
6.7.3 Modelos paramétricos paramétrico. Estes conceitos foram avaliados no
sistema UCT em escada de bancada, sob diferentes
Ampla pesquisa por mais de um ano realizada por idades de lodo, temperaturas, frações de lodo
Siebritz et al. (1983) sobre a validade da hipótese anaeróbio e concentrações de DQO afluente, nas
da DQO rapidamente biodegradável (DQORB) quais a fração de DQORB no afluente (esgoto
confirmou que a liberação de P parece ser induzida doméstico não-decantado) foi enriquecida com a
se a concentração de DQORB no reator anaeróbio, adição de glicose ou acetato. Todos estes testes
Ss, exceder valores de aproximadamente 25 mg/L, forneceram resultados consistentes com as
e a liberação e remoção avançada de P aumenta previsões obtidas no modelo paramétrico baseado
proporcionalmente com SVFA – 25. Isto é, a no conceito de DQORB.
remoção de P está relacionada de forma linear com
a concentração de DQORB no reator anaeróbio. Em escala plena, uma pesquisa conjunta entre a
Isto abriu questionamentos sobre outros fatores que prefeitura de Joanesburgo e a Northern Works
afetam a liberação e remoção avançada de P. Estes avaliou este sistema em termos destes conceitos,
autores chegaram a conclusão de que a remoção fornecendo uma explicação consistente quando a
avançada de P depende de três fatores (i) (SVFA – remoção de P era obtida de forma eficiente ou não
25), (ii) a fração de lodo do sistema que passa pelo (Nicholls, 1982). Então, pela primeira vez o
reator anaeróbio, e (iii) o tempo real que o lodo fica modelo paramétrico permitiu uma abordagem
retido no reator anaeróbio. quantitativa para o dimensionamento de unidades
para remoção de N e P, e uma base para avaliação
A hipótese levantada por estes autores é de que da eficiência de sistemas existentes (Ekama et al.,
não há EBPR se qualquer um destes fatores for 1983). Para uma abordagem mais detalhada sobre
o modelo paramétrico o leitor pode consultar o Essencialmente, até o momento presente pode-
WRC (1984). se dizer que a descrição do comportamento de
sistemas biológicos de remoção de fósforo
6.7.4 Comentários sobre o modelo associada com nitrificação desnitrificação
paramétrico (NDEBPR), não assume a presença de um
organismo específico envolvido na EBPR. O
O modelo paramétrico descrito anteriormente foi modelo paramétrico considera o lodo ativado como
desenvolvido a partir de dados experimentais um todo, de forma a representar um surrogado do
obtidos em sistemas que operavam sob lodo com capacidade de remoção de P; foi
determinadas condições, a saber: levantada a hipótese de que as variações na EBPR
entre diferentes sistemas se deve a alterações na
• Concentrações de DQO afluente: 250-800 capacidade de promover remoção de P que este
mgDQO/L surrogado de lodo possui, que por sua vez está
• DQO rapidamente biodegradável: 70-220 relacionado com as mudanças na concentração de
mgDQO/L, ou seja, representa uma fração DQORB no afluente, fração de lodo anaeróbio e/ou
fss entre 0,12-0,27 mgDQORB/mgDQOtotal descarga de nitrato para o reator anaeróbio.
• Relação NTK/DQO: 0,09-0,14 Contudo, pesquisas em paralelo na área de ciências
mgN/mgDQO da natureza identificaram grupos específicos de
• Idade do lodo: 13 e 25 dias microrganismos que tem a capacidade de
• Temperatura: 14ºC e 20ºC armazenar grandes quantidades de P na forma de
• Fração de lodo anaeróbio: 0,10- polifosfatos. Isto leva à uma mudança na
0,20gSSVAN/gSSVsys abordagem da modelagem de EBPR em sistemas
NDEBPR, assumindo que que do surrogado de
As observações realizadas nestas condições lodo aos microrganismos específicos responsáveis
formaram a base para estruturar as formulações pelo processo de EBPR, denominamados de forma
para a estimativa de remoção avançada de P, e as geral como organismos polifosfato (Wentzel et
equações obtidas foram calibradas usando os dados al.,1986), organismos bio-P (Comeau et al., 1986)
experimentais. A comparação entre os dados de e organismos acumuladores de fósforo (PAO’s;
remoção de P obtidos teoricamente a partir das Henze et al., 1999).
predições do modelo e os medidos
experimentalmente nas condições apresentadas 6.7.5 Cinética de sistemas NDEBPR
anteriormente mostram uma boa correlação.
Contudo, apesar da evidente utilidade do modelo Wentzel et al. (1988) desenvolveram um modelo
paramétrico, ele ainda é experimental; ele se genérico que descreve o comportamento de
relaciona a parâmetros experimentais mas não sistemas NDEBPR. Estes autores assumiram que
fornece qualquer explicação sobre o porquê destes em um sistema NDEBPR tratando esgoto
parâmetros serem importantes para o fenômeno e doméstico, se desenvolveria uma cultura mista que
sua independência em relação a qualquer hipótese pode ser dividida em três grupos de
formal sobre os mecanismos biológicos que microrganismos: (i) organismos heterótrofos
conduzem o processo. Consequentemente, as capazes de acumular polifosfato, denominados
aplicações do modelo paramétrico devem estar organismos acumuladores de fósforo (PAOs), (ii)
estritamente limitadas as faixas de parâmetros organismos heterótrofos incapazes de acumular
operacionais e as caracteríticas de água residuária polifosfato, denominados organismos heterótrofos
listadas anteriormente. Sendo necessário um comuns (OHOs), e (iii) organismos autótrofos
modelo com uma base teórica mais fundamentada. nitrificantes (NIT). Wentzel et al. (1985, 1988)
reconheceram que o desenvolvimento de um
15
O procedimento API 20NE foi posteriormente mostrado por dos PAOs nas culturas aprimoradas tem sido de pouca importância, pois os
superestimar os números de Acinetobacter spp. devido à técnica do teste (Venter modelos são baseados em observações experimentais quantitativas.
et al., 1989) e seleção da cultura (por exemplo, Wagner et al., 1994). No entanto,
fração SSV/SST de 0,75. A baixa relação SSV/SST taxa de predação e regeneração, proposta por
para sistemas com culturas enriquecidas se deve a Dold et al., (1980), no modelo cinético ND.
maior quantidade de polifosfatos associados aos Contudo, a baixa taxa específica de perda de
contra-íons correspondentes que são armazenados lodo endógeno dos PAOs em sistemas com
pelos PAOs (Ekama and Wentzel, 2004). cultura enriquecidas e as observações
realizadas por Wentzel et al. (1985), levaram
6.7.6.2 Modelo cinético para culturas Wentzel et al. (1989a) a concluir que PAOs não
enriquecidas são predados no mesmo nível que os OHOs.
Consequentemente, Wentzel et al. (1989a)
Wentzel et al. (1989a) elucidaram as caracteríticas usaram a abordagem clássica de respiração
e a resposta cinética da biomassa ativa de PAOs, a endógena para modelar a perda de massa
partir de observações experimentais sobre sistemas endógena para PAOs, exceto para situações
com cultura enriquecida no estado estacionário, e onde a suplementação externa de aceptor de
com ensaios em batelada utilizando licor misto elétrons não fosse possível.
retirados de sistemas em regime estacionário
submetidos a uma ampla variedade de condições. Tomando como base o exposto anteriormente,
Duas características das culturas enriquecidas de Wentzel et al. (1989a) desenvolveram um modelo
PAOs foram de particular interesse: conceitual para o comportamento dos PAOs em
culturas enriquecidas, incorporando importantes
(i) Devido a capacidade desnitrificante indefinida caracteríticas, processos e compostos identificados
não há necessidade de informações sobre este a partir de observações experimentais. Usando este
processo ao modelar o comportamento dos modelo conceitual como base, Wentzel et al.
PAO (a indefinição na capacidade (1989a) formularam matematicamente as taxas do
desnitrificante dos PAOs tem implicações na processo e suas interações estequiométricas com os
modelagem da desnitrificação de sistemas com compostos, de forma a desenvolver um modelo
cultura mista NDEBPR, consultar seção 6.11). cinético para culturas enriquecidas de PAO.
(ii) A taxa endógena de perda de lodo Conforme recomendado pelo grupo de pesquisa da
extremamente baixa (0,04 IAWPRC (Henze et al., 1987), este modelo foi
mgSSVA/mgSSVA.d) é muito menor que a apresentado em um formato matricial com
observada para OHOs em sistemas aeróbios de constantes cinéticas e estequiométricas das culturas
lodo ativado (0,24 mgSSVA/mgSSVA.d) enriquecidas sendo quantificadas por uma
(McKinney;Ooten, 1969; Marais;Ekama, variedade de procedimentos experimentais
1976). Wentzel et al. (1985) fizeram (Wentzel et al., 1989b). Então o modelo PAO, ao
observação similar em estudos com sistemas de ser integrado com os modelos OHO e NIT, passou
cultura mista de NDEBPR tratando esgoto a ser conhecido como UCTPHO (Wentzel et al.,
doméstico; eles observaram, ao plotar um 1992).
gráfico de assimilação de fosfato versus
liberação de fosfato para diferentes idades de Com estas constantes, observou-se uma boa
lodo que, para uma determinada quantidade de correlação entre os dados observados e os
fosfato liberado, a assimilação independe da simulados ao aplicar o modelo cinético para
idade do lodo. Para explicar esta observação, culturas enriquecidas em diferentes situações
Wentzel et al. (1985) propuseram que a perda experimentais (figuras 6.21 a 6.23). O modelo foi
de massa de lodo endógeno para os PAOs é então aplicado para simular o comportamento no
muito pequena ou inexistente. A elevada taxa estado estacionário dos sistemas UCT com cultura
específica de perda de lodo endógeno em enriquecida e Bardenpho modificado de 3 estágios,
sistemas com OHO pode ser atribuida a alta
Figura 6.23 Valores experimentalmente observados e • A liberação de fósforo para manter a demanda
simulados para (A) taxa de consumo de oxigênio (TCO), energética aneróbia é sempre menor que a
(B) concentrações de fósforo solúvel total (PO4) e nitrato liberação de fosfato associado a demanda
(NO3) e, (C) concentrações de DQO filtrada com o tempo energética do acúmulo de VFA, ou seja, a
em uma digestão em batelada de licor misto de um cinética da liberação de fosfato para a demanda
sistema de cultura aprimorada (Wentzel et al., 1989a). energética anaeróbia não precisou ser
considerada.
estacionário, a concentração de polifosfato dos culturas mistas, (iii) os PAOs também foram
PAOs no lodo ativado é constante em 0,38 submetidos as mesmas condições presentes no
gP/gSSVPAO, independente da idade do lodo. O que sistema de lodo ativado de cultura mista (ex.,
varia é a proporção relativa de PAOs (com o sequência anaeróbia/aeróbia, longo TRS > 5 dias,
polifosfato acumulado) no lodo ativado. Wentzel et etc), e (iv) os PAOs apresentaram os mesmos
al. (1990), levando em conta as considerações e padrões de comportamento que as culturas
implicações, desenvolveram uma série de equações enriquecidas presentes em sistemas de lodo ativado
para o estado estacionário, para as massas de cultura mista (ou seja, assimilação e liberação de
endógena e ativa dos PAO e para a liberação, P, acúmulo de PHA/polifosfato, etc). De fato, o
acúmulo e remoção de fosfato relacionadas às estas comportamento similar, embora amplificado, dos
massas. Essas equações fornecem um meio de sistemas de culturas enriquecidas comparado com
quantificar a população de PAO em sistemas os de culturas mistas foi um critério usado para
NDEBPR de culturas mistas que recebem como determinar que a cultura enriquecida adequada se
afluente o esgoto doméstico. estabeleceu.
Massa endógena:
Figura 6.28 Relações entre os componentes afluentes,
MXE,PAOv = fXE,PAObPAO,TMXPAOvTRS (6.3)
fluxo e biomassa produzida presentes no sistema.
Onde:
6.8.2 Equações do balanço de massa MXE,PAOv massa endógena de PAO (gSSVE)
fXE,PAO fração residual de partículados
6.8.2.1 PAOs endógenos de PAO (gSSVE/gSSVA)
YOHOv
Onde: MXOHOv = FDQOb,OHO TRS (6.4)
(1+bOHO,T TRS)
MXPAOv massa de PAO biologicamente ativa (g
SSVA)
YPAOv rendimento de biomassa PAO (g Onde:
SSVA/gDQO) MXOHOv biomassa de OHO ativa
(gSSVA)
FDQOb,OHO massa diária de substrato (Ss,i) precisa ser subdividido em duas frações,
biodegradável disponível nomeadas VFAs (SVFA,i) e DQO fermentável
para os OHOs (gDQO/d) (SF,i). Logo, SS,i = SVFA,i + SF,i.
= FDQOb,i – FSS,PAO
FDQOb,i massa diária de DQO Os VFAs presentes no afluente (SVFA,i) são
biodegradável no afluente diretamente disponíveis para o armazenamento
(gDQO/d) pelos PAOs no reator anaeróbio. Wentzel et al.
= FDQOi (1 – fSU – fXU) (1985) demonstraram que a componente
YOHOv rendimento de biomassa OHO fermentável (SF,i) é convertida a VFAs no reator
(gSSVA/gDQO) anaeróbio pelos OHOs, desta forma VFAs
bOHO,T constante da taxa de perda de adicionais são disponibilizados para
massa endógena específica armazenamento pelos PAOs. A taxa de conversão
de OHO na temperatura T (/d) é muito mais lenta que a taxa de acúmulo, portanto
a taxa de conversão controla a taxa de acúmulo do
Massa endógena: VFAs armazenado. Como consequencia, a massa
de substrato de VFA que se torna disponível no
MXE,OHOv = fXE,OHObOHO,TMXOHOvTRS (6.5) reator anaeróbio é controlada pela cinética de
conversão e pela massa de substrato de VFA
Onde: presente no afluente. Caso os VFAs estejam
MXE,OHOv massa endógena residual no sistema presentes no afluente, assume-se que todos estes
(gSSVE) VFAs serão armazenados no reator anaeróbio pelo
fXE,OHO fração residual de partículado endógeno PAOs.
de OHOs (gSSVE/gSSVA)
6.8.3.1 Cinética da conversão de matéria
6.8.2.3 Massa inerte orgânica fermentável a VFAs
A materia orgânica inerte do afluente acumulada no O modelo de conversão proposto por Wentzel et al.
sistema: (1985) assume como hipóteses que:
• a taxa de conversão do DQO fermentável é SF,i,conv = SF,i – 8,6 (s SNO3,s + SNO3,i) – 3,0 (s SO2,s +
dada por: SO2,i) (6.8)
dSF,AN
= -kF,T SF,AN XOHOv,AN (6.7) Onde:
dt
SF,i,conv DQO fermentável disponível por
volume de afluente (gDQO/m3)
Onde: SF,i concentração de DQO fermentável
dSF,AN/dt taxa de conversão de matéria orgânica afluente (gDQO/m3)
fermentável (gDQO m3/d) S taxa de reciclo de lodo para o reator
kF,T constante da taxa de fermentação de anaeróbio com base na vazão de entrada
primeira ordem na temperatura T (0,06 SNO3,s concentração de nitrato no lodo
m3/gSSV.d a 20ºC) reciclado para o reator anaeróbio
SF,NA concentração de DQO fermentável no (gNO3-N/m3)
reator anaeróbio (gDQO/m3) SO2,s concentração de oxigênio no lodo
XOHOv,AN concentração de OHOs no reator reciclado para o reator anaeróbio
anaeróbio (gSSVA/m3) (gO2/m3)
SNO3,i concentração de nitrato no afluente do
• todos os VFAs presentes no afluente no reator reator anaeróbio (gNO3-N/m3)
anaeróbio serão imediatamente armazenado SO2,i concentração de oxigênio no afluente
pelos PAOs. do reator anaeróbio (gO2/m3)
8,6 massa de DQO removida por unidade
de nitrato desnitrificada (gDQO/gNO3-
6.8.3.2 Efeito do reciclo de nitrato ou N);
oxigênio 2,86/(1-fcv . YOHOv) =
A conversão da DQO fermentável para VFAs é 2,86/(1 – 1,48 . 0,45) = 8,6
complexa pois o nitrato ou oxigênio deve entrar no 3,0 massa de DQO removida por unidade
reator anaeróbio via reciclo no afluente. A hipótese de oxigênio consumido (gDQO/gO2);
é de que qualquer oxigênio ou nitrato que entra no 1/(1 – fcv . YOHOv) =
reator anaeróbio é utilizada como aceptor de 1/(1 – 1,48 . 0,45) = 3,0
elétrons pelos OHOs e a DQORB (SS) atuando
como doador de elétrons (substrato). Não é claro se 6.8.3.3 Equações de conversão do estado
a DQO fermentável ou os VFAs no afluente serão estacionário
utilizados preferencialmente como doador de
elétrons. Para o propósito do modelo de estado Equações do estado estacionário para a conversão
estacionário de culturas mistas se assume que a de DQO fermentável em VFAs podem ser
DQO fermentável no afluente será o doador de desenvolvidas pela aplicação das equações 6.7 e
elétrons. Isto implica que os VFAs produzidos na 6.8 no balanço de massa do n-ésino reator
conversão não são mais liberados, mas anaeróbio em uma série de N reatores de igual
metabolizados diretamente pelos OHOs, até que o volume. Isto nos fornece uma equação para calcular
oxigênio ou nitrato seja totalmente consumido. a concentração de DQO fermentável no efluente no
Pode-se incluir isto no modelo de conversão n-ésimo reator anaeróbio:
através da redução da quantidade de DQO
SF,i,conv ⁄(1+s)
fermentável disponível para conversão conforme SF,ANn = f MXOHOv n (6.9)
[1+kF,T xa (1+s) ]
descrito a seguir: N Qi
Onde:
onde:
onde:
ΔPSYS, pot potencial total de remoção de P do
sistema (gP/m3)
ΔPOHO remoção de P devido aos OHOs (gP/m3)
fP fração de massa de OHO ativa que é P
A real remoção de P do sistema é a menor das
= 0,03 gP/gSSV em relação
remoções potencial total e o P total afluente:
a biomassa ativa de OHO, MXPAOv, que
corresponde a uma quantidade P típica
ΔPSYS,actual = min(ΔPSYS,pot;Pi) (6.21)
presente em SSV
onde:
A massa de resíduo endógeno (de qualquer
biomassa, incluindo PAOs e OHOs) é dada por:
MX +MXE,PAOv ΔPSYS,actual remoção real de P do sistema
∆PXE = fp E,OHOv (6.18)
Qi . TRS (gP/m3)
A demanda carbonácea de oxigênio (FOc) é dada FOOHO = FOsíntese OHO + FOrespiração endógena OHO (6.30a)
pela soma das demandas de oxigênio dos PAOs e
OHOs. Do ponto de vista do balanço de massa de FOOHO = (1 – fcv YOHOv) FDQOb,OHO
DQO, qualquer DQO não convertida a biomassa ou + fcv (1 – fE,OHO) bOHO,T MXOHOv
a resíduo endógeno é consumida para produção de (6.30b)
energia. Por exemplo, 1 unidade de DQO
biodegradável removida (DQOb; como os SVFA) irá Ou, mais explicitamente como função da massa
produzir (fcv – YPAOv) unidades de XPAO com a diária de substrato armazenada pelos OHOs:
energia fornecida pela respiração de (1 – fcv –
FOOHO = FDQOb,OHO [(1 - fcvYOHOv )]
YPAOv) da DQOb. O fator fcv (gDQO-biomassa
YOHOv
ativa/gSSV-biomassa ativa) é usado para converter +[fcv (1 - fXE,OHO )bOHO,T TRS]
(1+bOHO,T TRS)
as unidades de YPAOv de gSSV-biomassa (6.30c)
ativa/gDQO-substrato em gDQO-biomassa onde:
ativa/gDQO-substrato. Então, 1 unidade de DQOb FOOHO massa diária de oxigênio consumida
é igual (fcv . YPAOv + 1 – fcv . YPAOv) e o balanço de pelos OHOs (gO2/d)
massa de DQO é mantido.
FOPAO = FSs,PAO [(1-fcv YPAOv )] +[fcv(1-fXE,PAO ) . FOc = (1 – fcv YOHOv) FDQOb,i + fcv (1 – fXE,OHO) .
YPAOv
bPAO,T TRS] (bPAO,T MXPAOv + bOHO,T MXOHOv) (6.31b)
(1+bPAO,T TRS)
(6.29c)
onde:
Figura 6.29 Visão geral do procedimento de dimensionamento para o sistema EBPR. Configuração de Joanesburgo. O reator
anaeróbio foi dividido em duas células (não ilustradas). No Quadro Azul, MXSSV, MXSST, FXSSF, i, TRS
A água residuária bruta a ser tratada (sem O processo de EBPR selecionado (Tabela 6.5)
decantação primária) tem composição semelhante é a configuração Joanesburgo que opera a 14ºC,
em relação à matéria orgânica e remoção de com 2 zonas anaeróbias, TRS de 20 dias, fração de
nitrogênio àquela apresentada nos capitulos 4 e 5, massa anaeróbia de 0,10, razão de reciclo de lodo
respectivamente. A composição das frações de de 0,75 em relação à vazão afluente, razão de
DQO afluente são sumarizadas nas tabelas 6.2 e reciclo anaeróbio/anóxico de 1,5, lodo reciclado
6.3. Para facilitar a transposição selecionou-se uma entrando na zona anaeróbia sem oxigênio mas com
vazão de 15 MLD. A DQO total no afluente é de 0,5 gNO3-N/m3, sólidos em suspensão totais no
750 g/m3 e o fósforo total no afluente é de 17 g/m3. efluente de 5 mg/L, e concentração de sólidos de
O fracionamento da DQO afluente é ilustrada na projeto no no licor misto em 4000 gSST/m3.
Tabela 6.2 Características do afluente para o exemplo do dimensionamento do sistema EBPR (águas residuárias
brutas).
Tabela 6.3 Frações da DQO de águas residuárias brutas para o exemplo do dimensionamento do sistema EBPR
Descrição Símbolo Frações DQO Unidades
Tipo de esgoto Bruto
Frações de DQO
Frações de DQORB fSS,DQOi 0,195 g/gDQOT
fração de SVFA da DQORB fSVFA, SSi 0,15 g/gDQOSS
Fração solúvel da DQO não biodegradável fSU, DQOi 0,07 g/gDQOT
Fração particulada DQO biodegradável fXU, DQOi 0,15 g/gDQOT
Figura 6.30 Fracionamento da DQO afluente para o exemplo de dimensionamento do sistema EBPR.
Tabela 6.5 Características do sistema biológico para o dimensionamento do sistema de EBPR (Joanesburgo).
4.2 OSHOs
Massa ativa
YOHOv 0,45 gSSV/gDQO
YOHOv,obs = YOHOv/(1 + bOHO,T . TRS)
= 0,45 / (1 + 0,202 . 20)
YOHOv,obs 0,089 gSSV/gDQO
MXOHOv = YOHOv,obs . FDQOb,OHO . TRS
= 0,089 . 7.000 .20
MXOHOv 12.490 kg SSV (este valor é o MXOHOv calculado do passo 3.2)
Massa endógena
MXE,OHOv = fXE,OHO . bOHO,T . MXOHOv . TRS
= 0,20 . 0,202 . 12.490 . 20
MXE,OHOv 10.100 kg SSV
4.3 Massa inerte
MXUv = fXU,DQO, i . FDQOi . TRS/fcv
= 0,15 . 11.250 . 20 / 1,48
MXUv 22.804 kgSSV
5. Remoção de P
5.0 Liberação de P
SPO4, rel = fPO4, rel . FSS,PAO/Qi
= 0,5 . 1.770/15
SPO4, rel 59 gP/m3 gP/m3 do afluente, não é gP/m3 do reator anaeróbio
5.1 P por PAOs
PPAO = fP,PAO . MXPAOv / (TRS . Qi)
= 0,38 . 9.511 / (20 . 15)
PPAO 12,05 gP/m3
5.2 P por OSHOs
POHO = fp. MXOHOv/ (TRS. Qi)
= 0,03 . 12.500 / (20 . 15)
POHO 1,25 gP/m3
5.3 P por massa endógena
PXE = PXE,PAO + PXE,OHO
PXE,PAO = fp. MXE,PAOv/ (TRS. Qi)
= 0,03 . 1.603 / (20 . 15)
PXE,PAO 0,16 gP/m3
PXE,OHO = fp. MXE,OHOv/ (TRS. Qi)
= 0,03 . 10.100 / (20 . 15)
PXE,OHO 1,01 gP/m3
PXE 1,17 gP/m3
5.4 P por massa inerte afluente
PXU = fp. MXUv/ (TRS. Qi)
= 0,03 . 22.804 / (20 . 15)
PXU 2,28 gP/m3
5.5 P por precipitação química devido a presença de sais no afluente ou sua adição no sistema
Não considerado
5.6 Remoção potencial P total
PSYS,pot = PPAO + POHO + PXE + PXU
= 12,05 + 1,25 + 1,17 + 2,28
PSYS,pot 16,8 gP/m3
5.7 Remoção real de P total
Pi 17,0 gP/m3
PSYS,actual = min (PSYS,pot; Pi)
= min(16,8; 17,0)
PSYS,actual 16,8 gP/m3
5.8 P particulado no efluente
Para calcular após o passo 6.5, onde o conteúdo de P em SST é calculado
XP,e = fP,SST . SSTe
= 0,124 . 5
XP,e 0,6 gP/m3
5.9 P total no efluente
Pe = Pi - PSYS,actual + XP,e
= 17,0 – 16,8 + 0,6
Pe 0,8 gP/m3
6. SSV e SST
6.1 SSV e fração ativa
MXbio = MXPAOv + MXOHOv
= 9.511 + 12.490
MXbio 22.000 kg SSV
MXSSV MXPAOv + MXOHOv + MXE,PAOv + MXE,OHOv + MXUv
= 9.511 + 12.490 + 1.603 + 10.100 + 22.804
MXSSV 56.506 kgSSV
fbio, SSV = MXbio / MXSSV
= 22.000/56.506
fbio, SSV 39%
6.2 SSF
fPAO, act = [(Qi . TRS . PSYS,actual) – (fp . (MXSSV – MXPAOv)] / MXPAOv
= [(15 . 20 . 16,8) – (0,03 . (56.506 – 9.511)]/9.511
fPAO, act 0,38 gP/gSSV
MXSSF = fSSF,OHO . MXOHOv + fSSF,PAO . (fP,PAO, act / fP, PAO) . MXPAOv + FXSSF,I . TRS
= 0,15 . 12.490 + 1,3 . (0,38/0,38) . 9.511 + 735 . 20
MXFSS 28.938 kgSSF
6.3 SST
MXSST = MXSSV + MXSSF
= 56.506 + 28.938
MXSST 85.443 kgSST
6.4 fVT
fVT = MXSSV/ MXSST
= 56.506/85.443
fVT 0,66 gSSV/gSST
6.5 Conteúdo de P em SST
fP,SST = [(fP,OHO . MXOHOv + fp . (MXE,OHOv + MXE,PAOv) + fp . MXUv) / fVT
+ (fP,OHO . MXPAOv)/ fVT,PAO + fP,SSF,i . MXSSF)] / MXSST
= [(0,03 . 12.489 + 0,03 . (10.109 + 1.603) + 0,03 . 22.804) / 0,66 + (0,38 .
9.517)/0,46 + 0,02 . 28.947)]/85.443
0,124 gP/gSST
7. Volume de processo (com base em SST, mas também pode ser com base em SSV)
É importante notar que a vazão afluente também necessita ser apropriada
XSST,OX 4.000 gSST/m3
VR = MXSST / XSST,OX
= 85.443/4.000
VR 21.361 m3
O volume da zona anaeróbia (dividida em duas seções) depende da fração de massa anaeróbia.
VR,AN = fxa VR
= 0,10 . 21.361
VR,AN 2.136 m3
As frações de massa anóxica e aeróbia e, portanto, o volume nessas zonas, devem ser estimadas de
acordo com o procedimento apresentado no Capítulo 5 sobre remoção de nitrogênio e em Ramphao et
al. (2005), onde as equações que relacionam as frações de volume às frações de massa de acordo com
os fatores de reciclo são fornecidas para várias configurações de reatores, incluindo JHB. Usando uma
estimativa das frações de massa aeróbia e anóxica de 0,45 cada, o volume (m 3) para cada zona é próximo
a: AN1:1.060, AN2: 1.060, AX: 7.000, OX: 10.500, AX-RAS: 1.750, para um volume total de 21.370
m3. Deve-se notar que esta aproximação preliminar não considera que a concentração no RAS (return
activated sludge)/reciclo de lodo ativado – zona anóxica é 2,3 vezes mais concentrada do que na zona
do trem principal ((1+r)/r), o que resulta em cerca de um terço da massa anóxica que está na zona RAS-
anóxica e com menor necessidade de volume de processo
8. Demanda de Nitrogênio
FNs = fn . MXSSV / TRS
= 0,10 . 56.506 /20
FNs 283 kgN/d
NTKi,s = FNs/Qi
=283/15
NTKi,s 18,8 gN/m3
9. Demanda de oxigênio (DO)
DO de PAOs para síntese celular e respiração endógena
FOPAO = FOPAO,s + FOPAO,endo
FOPAO,s = FOS,PAO . (1 – fcv . YPAOv)
= 1.770 . (1 – 1,48 . 0,45)
FOPAO,s 591 kgO2/d
FOPAO,endo = FSS,PAO . fcv . (1 – fXE,PAO) . bPAO,T . YPAOv,obs . TRS)
= 1.770 . 1,48 . (1-0,25) . 0,0337 . 0,268 . 20
O balanço de massa de 100% para a DQO lodo ativado. O lodo é formado de 39% de
indica que toda DQO afluente foi contabilizada biomassa ativa (1,628/4,181) e 61% de matéria
para o cálculo dos valores de demanda de oxigênio particulada inativa (2,553/4,181) dos quais 40%
e produção de lodo. Partindo do balanço de massa são inertes do afluente (1,688/4,181) e 21% de
de DQO, e a partir das condições de resíduo endógeno ((119+747)/4,181) com base em
dimensionamento utilizadas no exemplo, o destino DQO. O resumo dos resultados do
da DQO afluente é o seguinte: 56% é oxidada pelo dimensionamento do sistema de EBPR é
oxigênio, 7% escapa no efluente como matéria apresentado na tabela 6.7.
orgânica não biodegradável solúvel e 37% se torna
Tabela 6.7 Resumo dos resultados do projeto do sistema EBPR (configuração de Joanesburgo).
8. Demanda de oxigênio
Fluxo de demanda de O2 para PAOs FOPAO kgO2/d 947
Fluxo de demanda de O2 para OHOs FOOHO kgO2/d 5.327
Fluxo de demanda carbonácea de O2 FOc kgO2/d 6.274
DQO saída/DQO entrada Balanço de DQO gDQO/gDQO 100%
6.10 INFLUÊNCIA DE FATORES (Fukase et al., 1982; Arvin et al., 1985; Comeau et
OPERACIONAIS NOS SISTEMAS DE al., 1986; Wentzel et al., 1989a; Ekama; Wentzel,
EBPR EM ESCALA PLENA 2004). O elevado conteúdo inorgânico da biomassa
dos PAOs faz o SSV/SST ser bem menor que o
observado para os OHOs, 0,46 mgSSV/mgSST
6.10.1 Influência sobre sólidos em comparado a 0,75 a 0,85 mgSSV/SST. Então,
suspensão totais e voláteis e quanto maior a fração de PAO no licor misto, maior
demanda de oxigênio a EBPR e menor a razão SSV/SST.
O modelo para sistemas de EBPR apresentado
O aumento no SST com a inclusão da EBPR
anteriormente permite que se calculem os sólidos
precisa ser levada em conta no dimensionamento
em suspensão voláteis (SSV) e sólidos em
do volume do bioreator (eq. 6.27) e na produção
suspensão totais (SST) no licor misto (equações
diária de lodo. Além disso, a concentração dos
6.23 e 6.24, respectivamente) e a demanda
cátions inorgânicos na água residuária afluente
carbonácea de oxigênio (Equação 6.31). A
deve ter concentração suficiente, uma vez que eles
comparação da massa de SSV e SST produzida e a
estabilizam o polifosfato; de forma contraria a
demanda carbonácea de oxigênio com e sem EBPR
EBPR pode ser afetada negativamente (Wentzel et
por kg de carga de DQO no bioreator versus a idade
al., 1988; Lindrea et al., 1994). Além disso, devido
de lodo são apresentadas na figura 6.31 e 6.32 para
a massa gerada de SSV por kg de carga de DQO ser
águas residuárias brutas e decantadas,
maior na EBPR, a demanda de oxigênio reduz
respectivamente, conforme as caracteríticas
respectivamente cerca de 5-6% e 8-9% para a água
apresentadas. Estas características foram para um
residuária bruta e decantada (dependendo da idade
sistema de EBPR com dois reatores anaeróbios em
do lodo, Figura 6.32).
série, operado a 20ºC, com uma fração total de
massa anaeróbia (fxa) de 15% e sem nitrato no
Embora exista apenas uma pequena diferença
reciclo para o reator anaeróbio. A partir desta
na produção de SSV entre sistemas de EBPR e não-
comparação parece que incluir EBPR em sistemas
EBPR, as frações constituintes do lodo para os dois
de lodo ativado leva a um pequeno aumento dos
sistemas diferem significativamente. Isto pode ser
SSV, de aproximadamente 5 para 12% e 15-25%,
prontamente demonstrado através da comparação
respectivamente, para águas residuárias brutas e
da porcentagem em massa de SSV produzida nos
decantadas (dependendo da idade do lodo). Este
sistemas que exibem e os que não exibem EBPR:
aumento no SSV se deve a baixa taxa de
para ilustrar, a Figura 6.33 mostra a composição de
perda/morte de massa endógena dos PAOs (0,04 d-
1 porcentagem em massa de SSV para sistemas à
a 20 ºC) comparada aos OHOs (0,24 d -1 a 20ºC).
20ºC, respectivamente, com e sem EBPR, tratando
Contudo, o SST aumentou substancialmente, de
águas residuárias com características conforme as
aproximadamente 20 para 25% e 45 para 55%,
mostradas. Observe que sistemas de EBPR tem
respectivamente, para águas residuárias brutas e
uma concentração significativa de biomassa PAO
decantadas (dependendo da idade do lodo). Esta
biologicamente ativa, mas tem uma biomassa ativa
maior produção de SST se deve as maiores
de OHO menor que sistemas sem EBPR.
quantidades de polifosfatos e cátions inorgânicos
armazenados que são necessários para estabilizar as
cadeias de polifosfato – principalmente Mg2+ e K+
Figura 6.31 e 6.32 Massas aproximadas de sólidos voláteis 6.10.2 Relação P/SSV
(MXSSV) e sólidos totais (MXSST) e demanda diária de
oxigênio carbonáceo (MOc) por kg de carga de DQO no A relação P/SSV (ou P/SST) do licor misto é um
reator biológico em tratamento totalmente aeróbio (FA) parâmetro usado frequentemente para avaliar a
e sistema biológico avançado de lodo ativado com performance da EBPR de um sistema de lodo
remoção de P (A, Fig 6.31) para águas residuárias brutas e ativado. A figura 6.34 mostra a relação P/SSV
(B, Fig 6.32) decantadas. calculada para um sistema com dois reatores
anaeróbios em série e água residuária com
caracteríticas como a mostrada versus a idade do
lodo. É considerado que nenhum nitrato é
descartado do reator anaeróbio.
ASM2d (Henze et al., 1999). Enquanto o modelo devido a um estimulo na biomassa de lodo ativado
ASM2d simula a utilização de PHA pelos PAOs a um aumento na taxa de hidrólise da DQOLB no
sob condições anóxicas, ele não direciona reator anóxico de sistemas NDEBPR,
mudanças no comportamento da EBPR com aparentemente induzido pela presença de reatores
assimilação anóxica de P; a remoção de P por anaeróbios nestes sistemas.
EBPR diminui em um terço (Ekama;Wentzel,
1999). ASM2d permite que a assimilação de P se
inicie no reator anóxico, mas a remoção de P 6.11.2 Potencial de desnitrificação em
prevista é a mesma que se ele fosse assimilado sistemas NDEBPR
apenas no reator anaeróbio. Modelos subsequentes
tentaram resolver isto, ou seja, Hu et al. (2007). O potencial de desnitrificação é a quantidade
máxima de nitrato que pode ser removida por vias
Claramente para que a desnitrificação ocorra biológicas em reatores anóxicos. Uma vez que
com perfeição esta tem que ser incorporada no estudos experimentais sobre a cinética de
modelo de estado estacionário para culturas mistas, desnitrificação em sistemas NDEBPR indicaram
um aspecto omitido até este estágio. Usando que a formulação desenvolvida para sistemas ND
reatores anóxicos de fluxo em pistão e testes em podem ser aplicadas a sistemas NDEBPR, as
batelada, Clayton et al. (1991) conduziram técnicas estabelecidas no capítulo 5 para
experimentos para investigar a cinética da desenvolver equações para o potencial de
desnitrificação em sistemas NDEBPR. Eles desnitrificação em sistemas ND também podem ser
observaram que nestes sistemas: usada para sistemas NDEBPR. Observe que a
notação “linha” (‘) é adicionada as taxas constantes
• No reator anóxico primário, (i) a rapida taxa de de desnitrificação específica para indicar que o
desnitrificação associada com a DQORB foi valor do parâmetro é diferente entre sistema ND
muito reduzida ou nula, e (ii) a taxa de (sem ‘) e sistemas NDEBPR (com ‘)(Clayton et al.,
desnitrificação mais lenta associada com 1991; Ekama ;Wentzel, 1999).
DQOLB foi aproximadamente 2,5 vezes a taxa
medida no reator anóxico primario de sistemas dSNO3 / dt = KT . XOHO (mgNO3—N / L.d) (6.32)
ND.
• No reator anóxico secundário, a desnitrificação onde:
foi aproximadamente 1.5 vezes a taxa medida dSNO3 / dt taxa de desnitrificação (mgNO3—N
no reator anóxico secundário de sistemas ND. / L.d)
KT taxa específica de desnitrificação
A partir de uma ampla investigação das causas, sob temperatura T para sistema
Clayton et al. (1991) concluíram que o aumento das NDEBPR (mgNO3—N / mg
taxas de desnitrificação não foram devido a: SSVA.d)
• Desnitrificação pelos PAOs; para os sistemas
investigados, as medidas de PHA e P indicaram 6.11.2.1 Potencial de desnitrificação do
que os PAOs não desnitrificaram, o que reator anóxico primário
continua controverso.
• Modificação do esgoto na zona anaeróbia; A desnitrificação no reator anóxico primário ocorre
águas residuárias que não passaram pela zona através da utilização de qualquer DQORB e
anaeróbia induziram a mesma resposta DQOLB presentes no reator anaeróbio. Os
desnitrificante do esgoto que passou. procedimentos para determinar a quantidade de
As observações anteriores levaram Clayton et DQORB que se perde através do reator anaeróbio
al. (1991) a concluir que o aumento na taxa foi são definidas na seção 6.8.3.3, onde S F,ANn é a
idade do lodo (TRS), conforme o capítulo 5. Este segundo reator anóxico torna ineficiente o uso da
fx, max precisa ser dividido entre frações de biomassa fração de massa anóxica e a fração de massa
anaeróbia (para EBPR) e anóxica (para anóxica secundária é adicionada ao reator anóxico
desnitrificação). Consequentemente, a fração primário, ou seja, o sistema UCT/MUCT. De forma
máxima de massa de lodo anóxico (fxd, max) é a alternativa, se concentrações muito pequenas de
diferença entre a fração máxima de massa não nitrato no efluente são exigidas, o reator anóxico
aerada (fx, max) e a fração de massa selecionada do secundário pode ser mantido e metanol pode ser
lodo anaeróbio (fxa), isto é: adicionado à ele.
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NOMENCLATURA
Abreviatura Descrição
A/O Processo anaeróbio/óxico
A2O Processo anaeróbio, anóxico, aeróbio
AN Anaeróbio
AX Anóxico
BNR Remoção biológica de nitrogênio
DGGE Eletroforese em gel de gradiente desnaturante
DQORB DQO rapidamente biodegradável
DQOLB Matéria orgânica particulada lentamente biodegradável
DS Decantador secundário
e Efluente
EBPR Remoção biológica avançada de fósforo
EM Microscopia eletrônica
SSVE Resíduo endógeno nos sólidos em suspensão voláteis
FISH Fluorescência na hibridização in situ
HRT Tempo de detenção hidráulica
i afluente
JHB Processo Joanesburgo
MLE Processo Ludzack-Ettinger
MLSS Sólidos em suspensão no licor misto
MLVSS Sólidos em suspensão voláteis no licor misto
MUCT Processo UCT modificado
NIT Organismos nitrificantes
ND Nitrificação-desnitrificação
NDEBPR Nitrificação-desnitrificação EBPR
NTK Nitrogênio total Kjedahl
OHO Organismos heterótrofos comuns
OUR Taxa de utilização de oxigênio/TCO
OX Aeróbio
PAO Organismo acumulador de fósforo
PHA Polihidroxialcanoatos
PHB Polihidroxibutirato
Abreviatura Descrição
PHV Polihidroxivalerato
PO4 Fosfato
RAS Lodo ativado de reciclo
SBR Reator de bateladas sequenciais
SSF Sólidos em suspensão fixos
SSV Sólidos em suspensão voláteis
SSVA Sólidos em suspensão voláteis ativo
SSVI Sólidos em suspensão voláteis inertes
SST Sólidos em suspensão totais
TRS Tempo de retenção de sólidos (ou lodo)
TCA Ciclo do ácido tricarboxílico
TN Nitrogênio total
TP Fósforo total
UCT Processo Universidade de Cape Town
VFA Volatille fatty acids – Ácidos Graxos Voláteis
VIP Processo iniciativa Virginia
w Descarte de lodo do reator aeróbio
ws Descarte de lodo da linha de reciclo
Figura 6.35 Pesquisas com culturas enriquecidas de PAO em reatores de bateladas sequencias (RBS) em escala de bancada
tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de modelos metabólicos. A figura mostra a fotografia da tela de
um curso online sobre EBPR (https://experimentalmethods.org/courses/activated‐sludge‐activity‐tests/) baseado em Van
Loosdrecht et al., 2016
autotrófica induzida pela dosagem de enxofre doce empregada em outros lugares. Desde a
elementar foram recentemente desenvolvidos para introdução do processo de remoção de nitrogênio
melhorar a remoção de nitrogênio total (NT) (por na década de 1960 (ver Capítulo 1), a teoria
exemplo, o processo de desnitrificação autotrófica fundamental do tratamento biológico de esgoto foi
por enxofre-calcário) (Zhang e Lamphe, 1999). construída sobre a transferência de elétrons de
Essa desnitrificação autotrófica independente de carbono orgânico para o oxigênio livre (oxigênio
matéria orgânica é particularmente atraente para a dissolvido) e/ou oxigênio combinado (NO3˗ e NO2˗)
readequação e a melhoria de Estações de para a remoção de nitrogênio e matéria orgânica,
Tratamento de Esgoto (ETEs) existentes que tratam como visto na Figura 7.1.
esgoto doméstico com deficiência de carbono,
típicos de países em desenvolvimento. No caso da Em geral, 50-60% do carbono orgânico no
China, a relação DQO/NT do esgoto municipal esgoto é convertido em CO2, e o restante se
varia entre 5,4 e 10,9, que é menor do que a relação transforma em lodo (Tchobanoglous et al., 2003).
de 8-12 necessária para a remoção satisfatória de O tratamento de lodo (adensamento, estabilização,
nutrientes (nitrogênio e fósforo) (Sun et al., 2016). desidratação e desinfecção) e a disposição final
demandam os processos mais complexos e
Em Hong Kong, China (doravante referida onerosos em ETEs, sendo responsáveis por mais da
como Hong Kong), uma área que é conhecida por metade do custo operacional (Saby et al., 2003;
ter escassez de água, 20% do abastecimento total Ekama et al., 2011). Várias técnicas, portanto,
de água vem da água do mar para descargas de foram investigadas para reduzir esse custo,
banheiros, cobrindo 80% da população total (7,5 minimizando o excesso de produção de lodo na
milhões) em 2019, economizando mais de 760.000 fonte por meio de uma variedade de métodos de
m3 de água doce todos os dias. Esse sistema gera tratamento químico, mecânico/físico, químico e
uma grande quantidade de esgoto salino, que térmico. Entretanto, todos eles resultam em custo
oferece uma oportunidade para se desenvolver uma extra e/ou espaço na aplicação (Saby et al., 2003;
tecnologia única de tratamento de esgoto diferente Foladori et al., 2010).
da tecnologia centenária de tratamento de água
piruvato, lactato e propionato, enquanto a energia de sulfato começa com uma série de reações de
era conservada, principalmente ou exclusivamente, ativação; a redução de sulfato a sulfito requer dois
via fosforilação a nível de substrato (ver Eq. 7.1). elétrons com um potencial redox padrão (E0') de -
No entanto, Badziong e Thauer (1978) relataram 516 mV, que é maior do que os carreadores de
que Desulfovibrio vulgaris consegue crescer com elétrons fisiológicos (Thauer et al., 1977). Nesse
hidrogênio (H2) como doador de elétrons e SO42- caso, o sulfato participa proativamente da formação
como o aceptor de elétrons, na demonstração pela de adenosina 5'-fosfossulfato (em inglês, adenosine
primeira vez, da existência de fosforilação de 5'-phosphosulphate – APS) ou 3'-fosfoadenilil-
transporte de elétrons no metabolismo das BRS sulfato (em inglês, 3'-phosphoadenylyl-sulphate –
(ver Eq. 7.2 ). Assim como as espécies de enxofre PAPS). Em muitas bactérias e eucariotos
oxidado, outros aceptores de elétrons competentes inferiores, a redução de sulfato assimilatória
para as BRS são os sulfonatos de alquilbenzeno, prossegue através da ativação de sulfato para APS
dimetilsulfóxido, NO3-, NO2-, ferro (III), oxigênio, pela enzima sulfato adenililtransferase (ou seja,
fumarato, acrilato, arsenato, cromato e urânio ATP sulfurilase).
(Rabus et al., 2013).
Posteriormente, três vias prosseguem com a
CH3COO- + SO42- → 2HCO3- + HS- -47,6 (ΔG0’ redução de sulfito (ver Figura 7.2). A primeira via
kJ/reação) (7.1) é em bactérias entéricas, por exemplo,
cianobactérias e leveduras; o APS produzido é
4H2 + SO42- + H+ → HS- + 4H2O -151,9 (ΔG0’ fosforilado para gerar o PAPS, que é catalisado
kJ/reação) pela adenilil-sulfato quinase (APS quinase), e o
(7.2) PAPS gerado é, então, reduzido a sulfito com a
ajuda da fosfoadenilil-sulfato redutase
7.2.1.1 Vias redutoras de sulfato (tiorredoxina) dependente de tiorredoxina (ou
glutarredoxina) (PAPS redutase), e, finalmente,
Considerando a importância da conversão uma redução do sulfito a sulfeto, catalisada pelo
biológica de enxofre na engenharia ambiental, é sulfito redutase (NADPH) assimilatória. A segunda
aconselhável definir a redução de sulfato nas via é que as enzimas adenilil-sulfato redutase
categorias assimilatória e dissimilatória. Antes que (glutationa) e adenilil-sulfato redutase
os compostos de enxofre possam ser assimilados (tiorredoxina) catalisam a segunda etapa, ou seja, a
em vias biossintéticas, eles precisam ser reduzidos redução direta de APS a sulfito, e,
a sulfeto de hidrogênio (H2S). As vias que subsequentemente, NADPH é usado como um
catalisam a redução de sulfato a sulfeto com a doador de elétrons (para a maioria das bactérias)
finalidade de incorporação em moléculas com a catálise de sulfito redutases de plantas e a
sintetizadas são denominadas "vias de redução de enzima de Allochromatium vinosum para reduzir o
sulfato assimilatória", enquanto as vias para fins de sulfito a sulfeto; em bactérias e plantas, o sulfeto é
produção de energia são referidas como "vias de finalmente incorporado em O-acetil-L-serina pela
redução de sulfato dissimilatória". cisteína sintase produzindo L-cisteína e,
posteriormente, convertendo em L-metionina, que
Redução de sulfato assimilatória são os dois principais compostos precursores
contendo enxofre. A terceira via é que uma enzima
A captação de sulfato e sua incorporação em muitos dependente de tiorredoxina catalisa a redução
sistemas biológicos tem sido bem documentada direta de APS a sulfito. As vias 2 e 3 compartilham
(Bothe e Trebst, 1981). Tal captação é realizada a procedimentos semelhantes, exceto para a enzima
partir de transporte ativo mediado por um sistema de redução APS. Em ambas as vias, o sulfito é
de enzimas transportadoras. O metabolismo celular reduzido a sulfeto pela ação do sulfito redutase
redução de SO32- a trissulfeto DsrC é realizada (Leavitt et al., 2015). Apesar das incertezas
primeiro pela DsrAB, que é uma enzima comum remanescentes dessa via, as descobertas atuais
envolvida no metabolismo dissimilatório de oferecem grande suporte para o argumento de que
enxofre. O trissulfeto DsrC produzido é, então, DsrC e DsrAB são as proteínas chave e centrais no
reduzido a sulfeto e DsrCr pelo complexo metabolismo dissimilatório de SO32- a S2- pelas
DsrMKJOP, como mostrado na Figura 7.3. A DsrC BRS. Avanços recentes em técnicas analíticas
atua como um parceiro fisiológico da DsrAB na permitiram que metabólitos de enxofre
redução de SO32-. Quando a DsrC está ausente (ou intracelulares e suas composições isotópicas, como
34
seja, apenas a DsrAB está presente) ou em S e 33S, fossem examinados para revelar a via de
fornecimento limitado (ou seja, há muito mais transferência de enxofre. A precisão da detecção,
SO32- do que DsrC), SO32- pode se tornar dominante no entanto, ainda é limitada, devido à interferência
devido à reação entre SO32- e S2- (in vivo) ou à do fosfato abundante.
redução parcial de sulfato com DsrAB (in vitro)
Figura 7.4 Biorreação de degradação microbiana de matéria orgânica por meio de redução de sulfato (+: confirmada; ?: incerta).
Tabela 7.2 Principais gêneros de BRS, aceptor de elétrons e temperatura ótima (adaptado de Hao et al., 2014).
Gênero Forma celular Aceptor de elétrons para o Temperatura
crescimento (outro além de ótima (ºC)
SO42-)
Desulfovibrio Curvada SO32-/S2O32-/fumarato 30-38
/Fe(III)/MnO2/NO2-/NO3-/O2
Desulfomicrobium Oval a cilíndrica SO32-/S2O32-/ NO2-/fumarato/ 28-37
Oxidadores orgânicos incompletos
DMSO
Desulfohalobium Cilíndrica SO32-/S2O32-/S0 37-40
Desulfonatronum Curvada SO32-/S2O32- 37-40
Desulfobotulus Curvada SO32- 34
Desulfocella Curvada - 34
Desulfofaba Curvada SO32-/S2O32- 7
Desulforegula Cilíndrica Desulfoviridin 25-30
Desulfobulbus Limão/Cebola SO32-/S2O32-/NO2-/NO3-/O2/ 28-39
Fe(III)/ grafite
Desulfocapsa Cilíndrica SO32-/S2O32-/S0 20-30
Desulfofustis Cilíndrica SO32-/S0 28
Desulforhopalus Cilíndrica SO32-/S2O32-/NO3- 18-19
Desulfotalea Cilíndrica SO32-/S2O32-/S0/Fe(III)-citrato 10
doadores de elétrons e fontes de carbono, por meio Desulfotomaculum nigrificans são capazes de
de uma série de catálises enzimáticas. A crescer com frutose (Alvarado, 2016). No entanto,
concentração de substrato orgânico é normalmente melaço não pode ser degradado diretamente pelas
expressa quantitativamente em DQO em uma BRS. Ele deve ser fermentado por microrganismos,
biorreação; estequiometricamente 0,67 mol de como Lactobacilli, antes de ser consumido pelas
DQO é necessário para a redução completa de 1 BRS. Enquanto isso, o acúmulo de produtos não
mol de sulfato. Em um sistema com DQO biodegradáveis por meio da caramelização reduz a
deficiente, doadores de elétrons extras ou fontes de atividade da biomassa, resultando em alta
carbono devem ser adicionados para conduzir a concentração de DQO residual no efluente
redução completa de sulfato quando este último é o (Liamleam e Annachhatre, 2007). Deve-se ter
alvo da remoção. cuidado especial com melaço para promover a
redução de sulfato. Os benefícios e as desvantagens
As taxas de redução de sulfato, as reações dessas fontes doadoras de elétrons são variáveis, e
relacionadas e os benefícios e as desvantagens do suas seleções dependem de requisitos de reação
uso de diferentes doadores de elétrons nos específicos.
bioprocessos relevantes estão resumidos na Tabela
7.3. O tipo de doador de elétrons tem um impacto Devido à diversidade de espécies de BRS, uma
substancial na taxa de redução de sulfato, pois os mistura de doadores de elétrons é recomendada
tempos de detenção hidráulica (TDH) dos para o crescimento de BRS. A mistura de diferentes
biorreatores variam em uma ampla faixa, de 1 a 480 tipos de resíduos contendo materiais relativamente
h. Altas taxas de remoção de sulfato heterotrófica biodegradáveis (estrume animal, composto, lodo) e
podem ser alcançadas com esterco, formiato e materiais celulósicos recalcitrantes (serragem ou
CH3COO- como fontes de carbono. Em aparas de madeira) proporciona uma melhor
comparação com outros compostos fermentativos, eficiência de remoção de compostos orgânicos e
lactato e propionato provaram ser substratos sulfato por BRS. Isso implica que os resíduos
orgânicos mais favoráveis do que H2, metanol, orgânicos disponíveis localmente, ou seja, de
etanol, CH3COO- e metano em termos de produção indústrias de processamento de alimentos/frutos do
de biomassa, liberação de energia e produção de mar, esterco animal, lodo de esgoto, melaço e
alcalinidade. No entanto, a oxidação completa do composto que fornece matéria orgânica complexa,
lactato não é alcançada pela maioria das espécies podem servir como fontes doadoras de elétrons
de Desulfobacter e algumas espécies de eficazes, enquanto os resíduos agrícolas, capim-
Desulfobacterium. Desulfonema magnum não canário (Phalaris arundinacea), serragem, aparas
cresce com lactato. Além disso, o uso direto de de madeira, palha de arroz e composto de folhas
açúcares e ácidos graxos de cadeia longa por BRS fornecem matéria orgânica adequada com alto teor
também foi documentado (Muyzer e Stams, 2008). de celulose (Hao et al., 2014).
Foi relatado que Desulfotomaculum antarcticum
usa glicose, enquanto Desulfovibrio e
Tabela 7.3 Taxas de redução de sulfato, reações e benefícios/desvantagens de vários doadores de elétrons para a redução
biológica de sulfato (atualizado de Hao et al., 2014).
Tabela 7.3 (continuação) Taxas de redução de sulfato, reações e benefícios/desvantagens de vários doadores de elétrons para
a redução biológica de sulfato (atualizado de Hao et al., 2014).
Tabela 7.3 (continuação) Taxas de redução de sulfato, reações e benefícios/desvantagens de vários doadores de elétrons para
a redução biológica de sulfato (atualizado de Hao et al., 2014).
Tabela 7.3 (continuação) Taxas de redução de sulfato, reações e benefícios/desvantagens de vários doadores de elétrons para
a redução biológica de sulfato (atualizado de Hao et al., 2014).
elétrons externos, como H2, citrato etc., a serem diferentes processos de tratamento de redução de
fornecidos para conduzir a redução de sulfato (ver sulfato em várias aplicações.
Figura 7.5B). A DGC e seu tratamento de esgoto
podem ser descritos pelas seguintes equações: 7.2.4.2 Biorremediação de metais tóxicos
Figura 7.5 Processos de redução de sulfato para tratamento de A) esgoto contendo sulfato e compostos orgânicos; B) esgoto
de DGC contendo sulfato e doadores de elétrons insuficientes; C) esgoto contendo metal sem fonte de enxofre, mas com
doadores de elétrons; e D) esgoto contendo sulfato e metal.
Tabela 7.4 Parâmetros cinéticos de redução de sulfato para diferentes doadores de elétrons.
Doador de Tipo de BRS µmáx Produção celular Ks para De Ks para Ae
elétrons (1/d) (kgSSV/kgDQO) (kgDQO/m3) (kgSO42-/m3)
C4VFA c4BRS 0,22-0,45 0,023-0,030 0,009-0,100 0,01-0,02
Propionato pBRS 0,20-0,92 0,022-0,035 0,11-0,30 0,0074-0,0190
CH3COO- aBRS 0,13-0,87 0,024-0,082 0,024-0,220 0,0096-0,0190
H2 hBRS 0,39-2,80 0,023-0,077 2,50E-05-1,00E-04 0,0009-0,0190
De: doador de elétron; Ae: aceptor de elétron
Tabela 7.5 Fatores fisiológicos e operacionais que afetam o desempenho dos reatores redutores de sulfato (atualizado de Hao
et al., 2014).
Tabela 7.5 (c0ntinuação) Fatores fisiológicos e operacionais que afetam o desempenho dos reatores redutores de sulfato
(atualizado de Hao et al., 2014).
Tabela 7.5 (c0ntinuação) Fatores fisiológicos e operacionais que afetam o desempenho dos reatores redutores de sulfato
(atualizado de Hao et al., 2014).
1)
Limitação de impacto negativo.
Temperatura
pH e concentração de sulfeto
Em termos de temperatura fisiológica, as BRS
podem ser classificadas em mesofílicas A maioria das BRS mostra uma alta atividade
(temperatura de crescimento < 40 °C), termofílicas específica na faixa de pH de 5,0-8,0 e prefere um
moderadas (temperatura de crescimento 40-60 °C) pH de 7,5-8,0. No entanto, várias espécies de BRS
e termofílicas extremas (> 60 °C) tolerantes a ácido foram encontradas em um pH de
(Brahmacharimayum et al., 2019). As espécies trabalho tão baixo quanto 3 (Zeng et al., 2019).
mesofílicas que predominam em ambientes Algumas espécies também foram relatadas como
projetados são tipicamente Desulfobacter sendo tolerantes a álcalis, por exemplo,
hydrogenophilus, Desulfobacter curvatus, Desulfovibrio alkalitolerans sp. nov. (Abildgaard
Desulfovibrio latus, Desulfovibrio vibrioformis e et al., 2006). Por outro lado, o pH mais alto para as
Desulfovibrio halotolerans. Sob temperatura BRS pode ser de até 10,5 (Zeng et al., 2019). A
ambiente natural, a taxa de redução de sulfato atividade das BRS pode ser submetida a dois
diminui em aproximadamente 60% quando cai para limiares de inibição: um para o sulfeto não
10-15 °C. No entanto, a taxa pode se recuperar dissociado (H2S) e outro para o sulfeto total,
totalmente e melhorar quando a temperatura embora as concentrações inibidoras de sulfeto total
aumenta para 20-35 °C, embora diminua e sulfeto de hidrogênio, respectivamente, não
novamente quando a temperatura ultrapassa 40 °C sejam conclusivas. Em geral, em níveis de pH
(Alvarado, 2016). Em uma aplicação de baixa abaixo de 7,2, o H2S não dissociado será dominante
temperatura, aumentar a diversidade e a e atingirá o limiar de inibição, enquanto, em níveis
abundância das BRS é crucial para se manter a de pH acima de 7,2, o sulfeto total resultará em um
eficiência do tratamento. Por outro lado, em efeito inibitório (Perry, 1984); as BRS são menos
processos termofílicos, o H2S produzido pode ser sensíveis ao sulfeto total quando o pH está entre 6,8
facilmente removido, possivelmente aliviando sua e 8,0, mas serão mais sensíveis ao sulfeto não
inibição enquanto enriquece as BRS termofílicas dissociado. O sulfeto de hidrogênio pode se
(por exemplo, Thermodesulfobacterium commune combinar com o ferro na ferredoxina, no citocromo
e Thermodesulfobacterium hveragerdense). e em outros compostos essenciais contendo ferro
nas células, cessando assim os sistemas de
reações bioquímicas, conforme mostrado nas doadores de elétrons, estão resumidos na Tabela
seguintes equações (Mora et al., 2014). 7.6, entre os quais Thiobacillus e Sulphurimonas
que são quimiolitotróficos obrigatórios e/ou
HS- + 1,23NO3- + 0,573H+ + 0,438HCO3- + facultativos. As BOE quimiolitotróficas
0,027CO2 + 0,093NH4+ → 0,093C5H7O2N + SO42- facultativas podem crescer autotroficamente ou
+ 0,614N2 + 0,866H2O mixotroficamente com compostos orgânicos
Y = 0,61 g células/g NO3--N (7.13) complexos como suas fontes simultâneas de
carbono e energia (Muyzer et al., 2013). Até o
S0 + 0,876NO3- + 0,343H2O + 0,379HCO3- + momento, muitas espécies de BOE foram isoladas
0,023CO2 + 0,080NH4+ → 0,080C5H7O2N + SO42- de sedimentos, fontes hidrotermais, oceanos, lagos
+ 0.44N2 + 0,824H+ alcalinos e lagos hipersalinos, e várias delas são
Y = 0,74 g células/g NO3--N (7.14) encontradas no processo de DACE. A Tabela 7.7
resume essas BOE e suas condições ideais de
S2O32- + 1,24NO3- + 0,11H2O + 0,45HCO3- + crescimento. As espécies de BOE podem crescer
0,09NH4+ → 0,09C5H7O2N + 2SO42- + 0,62N2 + em diferentes valores de pH, por exemplo,
0,40H+ Thiomicrospira cresce em pH 5,5 a 8,5, e
Y = 0,59 g células/g NO3—N (7.15) Thiobacillus denitrificans prefere condições
neutras. Algumas BOE são acidofílicas e podem
Considerando as estequiometrias de crescer em um pH inferior a 5,0, e algumas (por
desnitrificação baseada em sulfeto, S0quím e S2O32- exemplo, Thialkalivibrio nitratireducens e
(ver eqs. 7.7, 7.8 e 7.9), a redução de 1 mg NO 3--N Thiobacillus versutus) apenas crescem em um
gera 5,58, 7,83 e 11,07 mg SO42, respectivamente. ambiente alcalino. Para a maioria das BOE, suas
Isso pode limitar a aplicação da tecnologia DACE temperaturas ótimas de crescimento são em torno
na restauração de águas subterrâneas e superficiais de 30 °C, enquanto algumas BOE têm uma ampla
contaminadas por NO3- e NO2-. faixa de temperatura ótima de crescimento, por
exemplo, Paracoccus crescem em condições
psicrofílicas ou termofílicas.
7.3.3 Microrganismos no processo de
DACE
Uma análise dos gêneros predominantes dá
Os consórcios microbianos envolvidos no processo uma compreensão mais profunda da composição e
de DACE são filogeneticamente diversos e função da comunidade microbiana no processo de
consistem principalmente em bactérias oxidadoras DACE sob diferentes condições operacionais. A
de enxofre e redutoras de nitrato, composição da comunidade microbiana pode ser
predominantemente pertencentes aos filos moldada significativamente alterando os
Proteobacteria, Firmicutes, Chloroflexi e Chlorobi parâmetros operacionais, como as concentrações
(Zhang et al., 2015). Os microrganismos iniciais de enxofre e NO3-, temperatura do reator,
pertencentes aos gêneros Thiobacillus, Thiomonas pH e TDH. Substratos doadores de elétrons
e Sulphurimonas são as BOE mais conhecidas também desempenham um papel importante na
como atuantes na desnitrificação autotrófica, determinação da estrutura da comunidade
obtendo energia para desnitrificação e síntese de microbiana. Por exemplo, Chlorobaculum,
biomassa, principalmente a partir da oxidação de Thiobacillus e Sulphurimonas são os gêneros
enxofre. A composição microbiana e a diversidade predominantes em um sistema de DACE
das BOE variam significativamente dependendo do conduzido por S2O32-, enquanto Acinetobacter,
tipo de doador de elétrons. Vários gêneros Thiobacillus e Thiothrix são predominantes em um
predominantes e suas condições ótimas de sistema de DACE conduzido por sulfeto. Alguns
crescimento, impulsionadas por diferentes gêneros com baixa abundância relativa podem
mudar para uma abundância relativa mais alta também afeta o enriquecimento de
dependendo do tipo de doador de elétrons. Por microrganismos. Assim, a eficiência de remoção de
exemplo, Thauera tem uma abundância relativa NO3- depende de diferentes valores de pH
muito mais alta (2,2%) em um sistema de DACE operacionais com diferentes tipos de substrato de
com S0quím do que em um sistema de DACE com enxofre (por exemplo, doador de elétrons) em um
S2O32- (0,4%) (ver Tabela 7.6). Além disso, sistema de DACE. O lodo ativado enriquecido com
diferentes microrganismos funcionais podem ser BOE também pode ser granulado em um biorreator
enriquecidos, respectivamente, com uma carga de DACE em fluxo contínuo, com populações
volumétrica de sulfeto baixa, média ou alta, que é microbianas predominantes (Betaproteobacteria e
um fator importante que afeta as comunidades Epsilonproteobacteria) que são bastante diferentes
microbianas em um processo de DACE com do lodo floculento (Actinobacteria e
dessulfuração e desnitrificação simultâneas (Yu et Alphaproteobacteria) (Yang et al., 2016a).
al., 2014). O valor de pH no reator biológico
Tabela 7.6 Gêneros predominantes do consórcio bacteriano envolvido no processo DACE conduzido por diferentes doadores
de elétrons.
Doador de Gênero predominante Abundância Tipo de reator pH Temperatura Aceptor de
elétrons relativa (%) (°C) elétrons
Thiobacillus 45,1
Ignavibacteriales 25,4
S0quím Sulphurimona 7,0 AnFB-MBR - 25-31 NO3-
Longilinea 4,1
Thiobacillus 32,6
SDT Sulphurimonas 31,3 GSAD 7,3-7,7 28-32 NO3-
Paracoccus 0,1
Acinetobacter 12,8
Thiobacillus 3,6 Biofiltro
SDT 7,2-7,3 5-35 NO3-
Thiothrix 1,6 ascendente
Chlorobaculum 9,7
Thiobacillus 8,7 Biofiltro
S2 O32- 6,7-7,0 5-35 NO3-
Sulphurimonas 1,2 ascendente
Dechloromonas 18,0
Thiobacillus 8,7 Biofiltro
S0quím 6,5-7,0 5-35 NO3-
Thauera 2,2 ascendente
Tabela 7.6 (continuação) Gêneros predominantes do consórcio bacteriano envolvido no processo DACE conduzido por
diferentes doadores de elétrons.
Sulphurimonas 82,2
Thauera 2,7
S0quím - 7,5 25 NO3-
Simplicispira 2,3
Pseudomonas 1,6
Maribius 11,3
Paracoccus 10,0
Thiobacillus 9,3
SDT, S2O32- MBBR 7,2-7,8 21-23 NO3-
Sedimenticola 8,3
Thioalbus 7,6
Sulphurimonas 1,0
Thiobacillus 11,0
S0quím Sulphurimonas 5,4 - 8,0 31-35 NO3-
SDT: sulfeto dissolvido total (H2S, HS-, S2-); S0quim: enxofre elementar adicionado quimicamente; AnFB-MBR: biorreator
anaeróbio de leito fluidizado com membrana (em inglês, anaerobic fluidized-bed membrane bioreactor); GSAD: desnitrificação
autotrófica com lodo granular (em inglês, granular-sludge autotrophic denitrification); RBS: reator batelada sequencial; MBBR:
reator de leito móvel com biofilme (em inglês, moving-bed biofilm reactor).
Tabela 7.7 Fisiologia, taxonomia e condições ótimas de crescimento para diferentes espécies desnitrificantes quimiolitotróficas
isoladas.
hidrotermal de mar
profundo, ninho de
poliquetas
Halothiobacillus Esterco bovino 6,5-6,9 28-32 S2O32-, S2-, S0 NO3-
neapolitanus
Thiohalorhabdus Sedimento 6,5-8,2 33-35 S2O32- NO3-, O2
denitrificans
Tabela 7.7 (continuação) Fisiologia, taxonomia e condições ótimas de crescimento para diferentes espécies desnitrificantes
quimiolitotróficas isoladas.
Figura 7.6 Visão geral esquemática das vias de oxidação do enxofre microbiano e as principais enzimas funcionais envolvidas.
FCSD = flavocitocromo c sulfeto desidrogenase; SQR = sulfeto:quinona oxidoredutase; Dsr = sulfito redutase dissimilatória; SO
= sulfito oxidase; TQO = tiossulfato:quinona oxidoredutase; PH = politionato hidrolase; APS = adenosina fosfossulfato; APSR =
adenosina-5′-fosfossulfato redutase; ATPS = ATP sulfurilase; Sox = complexo enzimático oxidador de enxofre governado por
um operon Sox conservado.
A oxidação de S2O32- também pode ser enxofre reduzidos (por exemplo, SDT, S2O32- e S0)
realizada pelo sistema de enzima independente de em SO42-. Para obter informações detalhadas sobre
Sox por meio da formação intermediária de as enzimas e vias de oxidação bioquímica do
tetrationato catalisado pela tiossulfato:quinona enxofre, consulte o livro de autoria de Hell et al.
oxidoredutase e, então, seguida pela degradação de (2008).
tetrationato em SO32- por meio de hidrólise
mediada por politionato hidrolase citoplasmática. 7.3.4.2 Enzimas redutoras de nitrogênio
Essa via de oxidação de S2O32- via formação de
politionato é comumente encontrada em várias A desnitrificação autotrófica biológica é uma
proteobactérias β e γ, especialmente em combinação de quatro reações redutoras de
microrganismos quimiolitotróficos obrigatórios nitrogênio microbianas: redução dissimilatória de
(por exemplo, Acidithiobacillus). NO3-, redução de NO2-, redução de NO e redução
de N2O. Todas as etapas dessa via metabólica são
O complexo enzimático dependente de Sox, ou catalisadas por metaloenzimas complexas com
seja, o complexo Sox α-proteobacteriano de múltiplos sítios, que requerem 10 mol de elétrons e
múltiplas enzimas, é governado por um operon Sox 12 mol de H+ para a redução completa de 1 mol de
conservado. O agrupamento de genes NO3- a N2. Na primeira etapa, a redução de dois
soxXYZABCD codifica os componentes elétrons de NO3- a NO2- é catalisada pela nitrato
estruturais do sistema microbiano de oxidação de redutase (Nar) contendo molibdênio. A enzima está
enxofre. Esses sete genes formam as quatro localizada no citoplasma (Nar GH) ou no
proteínas (SoxXA, SoxYZ, SoxB e SoxCD) periplasma (Nap AB). NO2- é posteriormente
necessárias para a redução do citocromo c reduzido a NO na segunda etapa, catalisada pelo
dependente de enxofre. Esse complexo de nitrito redutase (Nir) localizada no periplasma (ver
múltiplas enzimas pode oxidar vários substratos de Figura 7.7). Na terceira etapa, duas moléculas de
óxido nítrico são conjugadas para formar N2O e comum com a Nir. A etapa final (de N2O para N2)
água com a adição de dois elétrons. Essa reação é é catalisada pela Nos, outra enzima periplasmática
catalisada por um óxido nítrico redutase ligada à que recebe elétrons das proteínas doadoras de
membrana (Nor) que compreende cofatores de elétrons intermediárias, por exemplo,
ferro heme c, heme b e não heme. Finalmente, uma pseudoazurina e citocromo c550 (Van Spanning et
metaloenzima contendo cobre, ou seja, óxido al., 2007).
nitroso redutase (Nos), é responsável pela última
etapa de desnitrificação, ou seja, redução de N2O A competição entre as diferentes redutases de
em dinitrogênio (N2) (ver Figura 7.7). Para obter óxido de nitrogênio (ou seja, Nar, Nir, Nor e Nos)
informações mais detalhadas sobre a estrutura e comumente existe na cadeia respiratória da
função das enzimas redutoras de óxido de desnitrificação porque os elétrons para a redução
nitrogênio, os leitores podem consultar os livros de do composto de nitrogênio se originam da fonte de
Van Spanning et al. (2007) e Moura et al. (2016). suprimento de elétrons comum, ou seja, o
reservatório de ubiquinol (UQ/UQH2) como
7.3.4.3 Distribuição e competição por discutido acima. O UQ/UQH2 pode ser
elétrons no processo de DACE reabastecido por elétrons da oxidação de doadores
de elétrons inorgânicos (por exemplo, SDT e
Esta seção fornece percepções fundamentais sobre S0quím). A capacidade relativa de competir pelos
a distribuição de elétrons no processo de DACE, elétrons entre Nar, Nir, Nor e Nos regula a
considerando o suprimento de elétrons (ou seja, a distribuição de elétrons entre as etapas de
oxidação do substrato de enxofre), o consumo de desnitrificação e determina o possível acúmulo de
elétrons, e a competição entre as redutases de óxido compostos de nitrogênio (intermediários
de nitrogênio (Nar, Nir, Nor e Nos). A via de desnitrificantes) durante as reações de DACE.
distribuição de elétrons no processo de DACE é Além disso, os substratos de enxofre podem
mostrada na Figura 7.7. O sulfeto dissolvido pode possuir diferentes taxas de oxidação e subsequentes
ser convertido a S0bio pela SQR ou a SO42- pelo fluxos de elétrons na cadeia de transporte de
complexo enzimático Sox. Os elétrons gerados a elétrons, impondo competição de elétrons nas
partir da oxidação de doadores de elétrons de reações de DACE. Foi descoberto que a
enxofre inorgânicos facilitam a Nar ligado à competição de elétrons entre as redutases de óxido
membrana para realizar a redução de NO3- a NO2-. de nitrogênio afeta as taxas de redução dos óxidos
Os elétrons liberados da oxidação podem ser de nitrogênio e é responsável pelo acúmulo de
alimentados na cadeia de transporte de elétrons, intermediários (ou seja, NO2- e N2O) durante a
que está diretamente conectada ao reservatório de operação de longo prazo de um reator de DACE
quinonas (UQ/UQH2) na membrana (Pan et al., 2013; Yang et al., 2016b). A emissão de
citoplasmática. Os elétrons são entregues à Nir N2O do processo de desnitrificação durante o
periplasmática por um citocromo mono-heme tipo tratamento de esgoto recentemente causou
c, isto é, citocromo c550, ou uma proteína considerável preocupação ambiental, devido ao seu
cupredoxina chamada pseudoazurina. Essas duas potencial de aquecimento global 265 vezes maior
proteínas periplasmáticas e solúveis em água são em relação ao CO2 e sua capacidade de diminuir o
reduzidas por um complexo de membrana integral ozônio estratosférico. Curiosamente, o acúmulo e a
denominado complexo citocromo bc1, que por sua emissão de N2O no processo de DACE são
vez é reduzido pelo ubiquinol. O NO gerado deve significativamente menores do que na
ser restrito a uma concentração baixa devido ao seu desnitrificação heterotrófica convencional (Zhang
potencial de toxicidade para as células. A Nor é et al., 2015; Yang et al., 2016b). Isso se deve ao
uma proteína de membrana integral que recebe fato de que o processo de DACE difere dos
elétrons da pseudoazurina ou do citocromo c550 em processos de desnitrificação heterotrófico e
Figura 7.7 Esquemas da distribuição de elétrons no processo de DACE. Os elétrons para cada etapa de desnitrificação mediada
por diferentes redutases de óxidos de nitrogênio (Nar, Nir, Nor e Nos) se originam da fonte de suprimento de elétrons comum,
ou seja, o reservatório de ubiquinol (UQ/UQH2), que é reabastecido pela entrada de elétrons da oxidação de substratos de
enxofre (ou seja, SDT e S0quím). SDT: sulfeto dissolvido total; S0bio: enxofre biogênico (produzido endogenamente); S0quím:
enxofre elementar químico (adicionado externamente); S2O32-: tiossulfato, SO32-: sulfito; SO42-: sulfato; Nar: nitrato redutase;
Nir: nitrito redutase; Nor: óxido nítrico redutase; Nos: óxido nitroso redutase; Ps az: pseudoazurina; Cytbc 1: citocromo bc1;
Cytc550: citocromo c550.
a relação S/N está abaixo do valor estequiométrico pode facilitar tanto o aumento da concentração de
(1,4 g S/g N). Para alcançar remoção de NO3- biomassa como a robustez para a desnitrificação
superior a 90%, é necessário atingir a relação autotrófica eficiente e estável (Yang et al., 2016a).
mínima de 1,6 g S/g N, maior do que a razão Os detalhes das diferentes configurações dos
estequiométrica teórica de 1,4 g S/g N (Wang et al. biorreatores e suas aplicações no processo DACE
2009; Lu et al., 2012b). estão resumidos na Tabela 7.8.
Os tipos de lodo (ou seja, lodo ativado, A proporção de alcalinidade por nitrogênio
biofilmes e grânulos) nas diferentes configurações removido deve ser mantida em aproximadamente
de biorreator, tais como UASB (reator anaeróbio de 4,00-4,46 mg CaCO3/mg N (Zhang e Shan, 1999;
manta de lodo e fluxo ascendente; em inglês, Oh et al., 2003) para atingir a faixa de pH ideal de
upflow anaerobic sludge blanket reactor) e reator 6 a 8 para as BOE (Oh et al., 2001). Quando o S0quím
de biofilme, ou seja, RLF (reator de leito fixo; em é usado como o doador de elétrons, 4,6 g de
inglês, packed-bed reactor) e MBBR (reator de alcalinidade (como CaCO3) são consumidos por g
leito móvel com biofilme; em inglês, moving-bed NO3--N removido (Kim e Bae, 2000). Algumas
biofilm reactor), influenciam significativamente a fontes alcalinas facilmente disponíveis, como
concentração de biomassa e a taxa de calcário, calcita, dolomita e concha de ostra, podem
desnitrificação. É importante manter uma alta ser consideradas para adição. Em casos de sistemas
concentração de biomassa no sistema para de enxofre-calcário, a proporção volumétrica ideal
melhorar a taxa de desnitrificação. O reator de do calcário para S0quím é de 1:1 - 1:3 m3/m³. O
biofilme é comprovadamente robusto e tem um oxigênio afeta o crescimento das bactérias
bom desempenho na DACE. O reator de leito fixo desnitrificantes autotróficas. A concentração de
é particularmente adequado para a remoção de OD entre 0,1-0,3 mgO2/L pode inibir a atividade da
NO3- em baixa concentração, uma vez que um Nos, e OD > 1,6 mgO2/L inibe completamente o
longo tempo de retenção (> 3 h) é necessário para processo de DACE (Cui et al., 2019). Para a
a desnitrificação completa. O MBBR é capaz de maioria dos desnitrificantes autotróficos, a faixa de
manter alto teor de biomassa contendo BOE de temperatura adequada é geralmente de 25-35 °C
crescimento lento (Cui et al., 2018). Mesmo sob (Shao et al., 2010; Fajardo et al., 2014). O processo
limitação severa de NO3-, o MBBR ainda pode de DACE com sulfeto como doador de elétrons
alcançar a remoção completa de NO3- e tem alta atinge a maior eficiência de desnitrificação (> 97%)
resiliência (Khanongnuch et al., 2019). Outro a 35 °C, no entanto diminui para 36-59% quando a
método para melhorar o desempenho do processo temperatura cai para 15 °C (Fajardo et al., 2014).
de DACE é através da granulação das BOE, o que
Tabela 7.8 Diferentes configurações de biorreator contendo floco, biofilme e grânulos para o processo de DACE.
Tipo de Configuração Doador Aceptor pH do Temperatura Taxa de Escala
lodo biorreator de de afluente (ºC) desnitrificação
elétrons elétrons (gN/m3·d)
Floco Batelada S2O32- NO3- 8,0 30 52,5 Lab.
S0bio 12,0
S0quím 7,0
UASB S2O32- NO3- 7,0 28-32 105,8 Lab.
SDTd 23,1
S0quím 11,2
UASB SDTd NO3- - 30 4.964,2 Lab.
Biofilme PBR S0quím NO3- 7,2-7,5 15-25 360,0 Lab.
PBR S0quím NO3- 7,1-7,4 20-25 94,5-232,0 Lab.
FMFAR SDTd NO3- - 25 100,8 Piloto
MBBR SDTd NO3- - 20 350,0 Plena
UFCR S0quím NO3- 7,1-7,5 25-35 720,4 Lab.
MBBR SDTd NO3- 7,2-7,8 21-23 180,0 Lab.
MBBR SDTd NO3- - - 370,0 Lab.
Granular GSAD SDTd NO3- 7,3-7,7 28-32 310,0 Lab.
UASB: reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente (em inglês, upflow anaerobic sludge blanket reactor); PBR: reator de
leito empacotado (em inglês, packed-bed reactor); FMFAR: reator anóxico preenchido com biomídia fixa (em inglês, fixed-media-
filled anoxic reactor); MBBR: reator de leito móvel com biofilme (em inglês, moving-bed biofilm reactor); UFCR: reator em coluna
e fluxo ascendente (em inglês, up-flow column reactor); GSAD: desnitrificação autotrófica com lodo granular (em inglês, granular-
sludge autotrophic denitrification); SDTd: sulfeto dissolvido total (SDTd=H2S+HS-+S2-).
milhões de m3 da preciosa água doce por ano, Água de Hong Kong (WSD, 2019b). Para
equivalente a aproximadamente 20% da sua maximizar a eficiência energética, o Aeroporto
demanda total (WSD, 2019ª). Essa quantidade é Internacional de Hong Kong (HKIA, 70 milhões de
quase igual à água reciclada anualmente utilizada passageiros/ano) desenvolveu um sistema triplo de
na irrigação agrícola na Califórnia (USEPA, 2012). abastecimento de água, ampliando o sistema duplo
Um sistema SWTF típico em Hong Kong começa de água para reutilização de água cinza em
com a captação de água do mar de um local combinação com água do mar, no resfriamento dos
adequado à beira-mar, passando por uma tela ambientes (ver Figura 7.8). O sistema triplo pode
grossa com abertura de malha de 5-10 mm para economizar até 52% da demanda de água doce no
proteger as bombas, seguido por eletrocloração in- HKIA (Leung et al., 2012). É classificado como um
situ subsequente (3-6 mg/L cloro) para desinfectar dos sistemas de água com maior eficiência
e controlar o crescimento microbiano nas redes de energética do mundo (Grant et al., 2012). A
abastecimento. O consumo de energia do SWTF, aplicação com sucesso do SWTF durante 60 anos
incluindo captação, pré-tratamento e distribuição, é em Hong Kong oferece experiência suficiente no
estimado em 0,32 kWh/m3 (Tang et al., 2007), uso direto da água do mar como um recurso hídrico
significativamente menor do que a recuperação de alternativo econômico e sustentável para áreas
água de esgoto doméstico tratado biologicamente costeiras populosas e ilhas. No entanto, existem
usando filtração por membrana ou um biorreator de algumas limitações para a aplicação deste sistema
membrana acoplado ao processo de osmose reversa duplo de abastecimento de água de baixo custo e
(0,8-1,2 kWh/m3 e 1,2-1,5 kWh/m3, demanda energética em áreas costeiras ou em ilhas,
respectivamente) (Pearce, 2007), bem como sendo que a distância da captação da água do mar
dessalinização de água do mar (2,5-4,0 kWh/m3) deve ser inferior a 10 km e a densidade
(Banco Mundial, 2004). Nas linhas de alimentação, populacional ser de pelo menos 3.000 pessoas/km2
são utilizados tubos de aço e ferro dúctil revestidos (Liu et al., 2016). A experiência do abastecimento
internamente com argamassa de cimento, duplo de água de Hong Kong pode se estender a
enquanto, nos edifícios e residências, são uma aplicação potencial em cidades do interior
empregados principalmente os tubos de polietileno. com escassez de água e acesso a água salgada ou
Para obter detalhes, consulte as informações de salobra, como uma fonte alternativa de água para
projeto do Departamento de Abastecimento de descargas de vasos sanitários.
Figura 7.8 O esquema do sistema TWS no AIHK (modificado de Van Loosdrecht et al., 2012).
Tabela 7.9 Comparação das principais reações no processo convencional de remoção biológica de nitrogênio e no processo
SANI®.
Processo Reação ΔGo Produção
convencional de RBN teórica
Oxidação orgânica 1 1 1 1 -120,10 0,49
𝐶 𝐻 𝑂 + 𝑂2 → 𝐶𝑂2 + 𝐻2 𝑂
24 6 12 6 4 4 4
aeróbia gSSV/gDQO
(7.16)
Desnitrificação 1 1 1 1 1 7 -113,63 0,8-1,2
𝐶 𝐻 𝑂 + 𝑁𝑂3− + 𝐻 + → 𝐶𝑂2 + 𝑁 + 𝐻 𝑂
heterotrófica 24 6 12 6 5 5 4 10 2 20 2 gSSV/gN
(7.17)
Nitrificação 1 1 1 1 1 -43,64 0,17
𝑁𝐻4+ + 𝑂2 → 𝑁𝑂3− + 𝐻 + + 𝐻2 𝑂
8 4 8 4 8
gSSV/gN
(7.18)
Processo SANI®
Redução de sulfato 1 1 1 1 -20,69 0,07
𝐶 𝐻 𝑂 + 𝑆𝑂42− → 𝐻𝐶𝑂3− + 𝐻𝑆 −
24 6 12 6 8 4 8
anaeróbia gSSV/gDQO
(7.19)
Desnitrificação 1 1 1 1 1 1 -92,94 0,4-0,6
𝐻2 𝑆 + 𝐻𝑆 − + 𝑁𝑂3− + 𝐻 + → 𝑆𝑂42− + 𝑁2 +
16 16 5 80 8 10
autotrófica 1 gSSV/gN
𝐻2 𝑂
10
(7.20)
Nitrificação 1 1 1 1 1 -43,64 0,17
𝑁𝐻4+ + 𝑂2 → 𝑁𝑂3− + 𝐻 + + 𝐻2 𝑂
8 4 8 4 8
gVSS/gN
(7.18)
Figura 7.9 Comparação do processo convencional de remoção biológica de nitrogênio e do processo SANI® (Wu et al., 2016)
.
No entanto, o processo convencional de RBN BOE. O SDT residual, se houver, pode ser
gera uma grande quantidade lodo em excesso completamente oxidado a sulfato durante a
devido aos elevados coeficientes teóricos de nitrificação aeróbia. Do ponto de vista da
produção de lodo resultantes da remoção dos transferência de elétrons, o processo SANI®
materiais orgânicos por oxidação aeróbia e anóxica estende o processo de RBN baseado no ciclo de
(mais detalhes na Tabela 7.9). Contudo, o processo carbono-nitrogênio em um processo de RBN
SANI® integra a remoção orgânica anaeróbia por baseado no ciclo enxofre-carbono-nitrogênio (ver
redução de sulfato e remoção de nitrogênio anóxico Figura 7.9b), que oferece uma oportunidade para
por desnitrificação autotrófica para remoção de reduzir o lodo do tratamento de esgoto salino e
NO3˗, minimizando a produção de lodo biológico salobro ou com enxofre.
tanto quanto possível (consulte os coeficientes
teóricos de produção de lodo das reações relevantes 7.4.2 Desenvolvimento do processo
na Tabela 7.9). O estudo estequiométrico mostrou SANI®
que a produção de lodo biológico desse novo
processo de RBN pode ser potencialmente 1/10 da
RBN convencional (Lu et al., 2012b). No novo 7.4.2.1 Estudo de laboratório
processo, o carbono orgânico é oxidado a CO 2 por Para comprovar a ideia do processo SANI®, foi
BRS, que aumenta o pH do reator até 8,0, no qual conduzido um estudo, em escala de laboratório, na
a grande maioria do H2S gerado a partir da reação Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong
anaeróbia se dissolve na fase aquosa do biorreator Kong de 2004 a 2009 (ver Figura 7.10). O sistema
redutor de sulfato (Poinapen e Ekama, 2010a). Isso, foi operado por mais de 500 dias (Wang et al.,
portanto, fornece uma quantidade adequada de 2009; Hao et al., 2014). O afluente continha 265
sulfeto dissolvido (o doador de elétrons) para a mg DQO/L (principalmente glicose, CH3COO- e
desnitrificação autotrófica subsequente, durante a extrato de levedura), 30 mg NH4+ -N/L, 400-600
qual o sulfeto é convertido de volta a SO42- pelas
Tabela 7.10 Desempenho do sistema SANI® em escala de laboratório sob várias taxas de recirculação (Wang et al., 2009).
Parâmetros I II III IV
Taxa de recirculação do filtro anóxico/filtro aeróbio 1Q 2Q 3Q 4Q
DQO afluente ao filtro anóxico 31,8±1,5 15,5±0,8 25,9±1,3 21,4±1,0
DQO efluente do filtro aeróbio ou efluente do sistema 14,1±0,7 8,1±0,4 14,7±0,6 11,7±0,6
NT afluente do SRUSB (mgN/L) 30±1,5 30±1,3 30±1,5 29±1,5
NT efluente do filtro aeróbio (mgN/L) 16±0,8 10±0,5 8±0,4 19±0,9
Remoção de NO3- no filtro anóxico (%) 99±4,1 99±4,5 97±4,6 8±0,4
Eficiência de nitrificação no filtro aeróbio (%) 98±4,1 99±4,5 93±4,5 17±0,8
Eficiência de remoção de NT (%) 49±2,4 65±3,2 74±3,7 34±1,7
Eficiência de remoção de DQO (%) 94,4±4,7 96,9±4,8 94,3±4,7 94,2±4,7
Q = vazão de esgoto afluente; Remoção de NO3- no filtro anóxico (%) = NO3--N removido no filtro anóxico (Ng) / NO3--N afluente
ao filtro anóxico (gN)·100; Eficiência de nitrificação no filtro aeróbio (%) = NH 4+-N consumido no filtro aeróbio (gN)/NH4+-N
afluente ao filtro aeróbio (gN)·100; Eficiência de remoção de NT (%) = (NT afluente do SRUSB – NT efluente do filtro aeróbio)/NT
afluente do SRUSB·100.
operada continuamente por 225 dias em estado
7.4.2.2 Estudo em escala piloto estacionário e atingiu remoções médias de 87% de
A fim de demonstrar a viabilidade do processo DQO, 87% de SST e 57% de NT (Lu et al., 2012b).
SANI®, um estudo em escala piloto foi conduzido A baixa eficiência de remoção de nitrogênio (57%)
durante 225 dias com 10 m3/d de esgoto real salino foi atribuída principalmente à alta fração de
(filtrado por uma peneira de 6 mm), oriundo nitrogênio orgânico solúvel não biodegradável
principalmente do Aeroporto Internacional de (NSNB) presente no esgoto que vinha
Hong Kong, contendo frações de compostos principalmente do Aeroporto Internacional de
orgânicos complexos e DQO não biodegradável Hong Kong (Lu et al., 2011).
(Lu et al., 2011; 2012b). A planta piloto do
processo SANI® foi instalada na estação elevatória
de esgoto Tung Chung (TCSPS) próxima do
aeroporto (ver Figura 7.11). A Tabela 7.11 mostra
as principais condições operacionais da planta
piloto durante o período de estado estacionário. A
planta piloto foi alimentada com esgoto salino que
continha em média 280 mg SST/L, 431 mg
DQO/L, 588 mg SO42-/L e 87 mg NT/L. As cargas
de DQO e de nitrogênio foram de 0,63
kgDQO/m3/d e 0,12 kgN/m3/d, respectivamente, Figura 7.11 Planta piloto SANI® na estação elevatória de
durante todo o estudo. A planta piloto SANI® foi esgoto Tung Chung (foto: HKUST).
Tabela 7.11 Principais condições operacionais da planta piloto SANI® sob condições estacionárias (Lu et al., 2012b).
Reator TDH TDH atual Idade de Vazão Taxa de Temperatura
nominal (ATDH) (h) lodo afluente recirculação média (ºC)
(NTDH) (h) (d)
SRUSB 16,3 4,1 90 Q - 25
Biorreator 9,4 2,7 110 3,5Q 2,5Q 25
anóxico
(BAR1)
Biorreator 9,4 2,7 42 3,5Q - 25
aeróbio
(BAR2)
Q = vazão afluente (10 m3/d)
A fração de sólidos em suspensão voláteis no de Esgoto de Sha Tin (em inglês, Sha Tin
Reator Biológico (SSVRB) em relação aos sólidos Wastewater Treatment Works – STWTW) em
em suspensão no Reator Biológico (SSRB) no colaboração com o conselho local de esgoto: o
reator redutor de sulfato permaneceu estável em Departamento de Serviços de Drenagem de Hong
0,7, e a média do índice volumétrico de lodo (IVL) Kong (em inglês, Hong Kong Drainage Services
ficou abaixo de 110 mL/g. Foi observada a redução Department – DSD) (ver Figura 7.12 e Tabela
de cerca de 90% do lodo biológico, e não foi 7.12). A planta de demonstração consistia em
realizado descarte de lodo da planta piloto durante quatro reatores SRUSB (verdes) para remoção
os 225 dias de operação, o que pode ser atribuído orgânica no SD1 e um reator com meio suporte
ao baixíssimo coeficiente de produção de lodo móvel (MBBR) para remoção de nitrogênio em
observado (0,02 kg SSV/kg DQOremovida), assim SD2. No MBBR, a desnitrificação autotrófica
como a elevada idade de lodo (> 100 dias) no reator representou 54% da área do reator, e a nitrificação
redutor de sulfato. Essa redução significativa de ocupou 46% do reator. O MBBR é uma tecnologia
lodo biológico foi verificada pelo método de compacta para tratamento de esgoto. Nessa planta,
modelagem de estado estacionário mostrado na o esgoto salino bruto afluente passou por uma
Seção 7.4.4. Ao longo da operação não foi peneira grossa de 6 mm e, em seguida, por uma
detectada a formação de H2S e CH4, o que foi peneira de malha fina (350 μm) para substituir o
posteriormente confirmado pelo modelo de estado tratamento primário. Parte do efluente do MBBR
estacionário e pela análise microbiana (Wang et al., foi tratado por coagulação química e sedimentação
2011; Lu et al., 2012a). como uma opção de pós-tratamento (por exemplo,
dosagem de 12 mg/L de alumínio e 1 mg/L de
7.4.3 Demonstração do processo SANI® polímero aniônico, operado com TDH de 1 h).
Finalmente, todo o efluente foi tratado com sistema
Com base na experiência do estudo em escala de flotação por ar dissolvido. Destaca-se que os
piloto, o processo SANI® foi ampliado para 1.000 SST no efluente do MBBR foram de 40-80 mg
m3/d para comprovar seu potencial de aplicação em SST/L, em média, significativamente inferior ao do
Hong Kong. O sistema foi implantado em dois MBBR convencional, com cerca de 200 mg SST/L
tanques retangulares de decantação primária (Ødegaard, 2006), atribuído à baixa produção de
desativados (SD1 e SD2) na Estação de Tratamento lodo do processo SANI®.
Tabela 7.12 Condições operacionais dos reatores na planta de demonstração SANI® (Wu et al., 2016).
SRUSB MBBR anóxico MBBR aeróbio Total
Fase II - operação em estado estacionário de três meses (com uma vazão média de 800 m3/d):
Volume de reator (m3) 192 (4 x 48) 112 96 400
TDH (h) 5,76 3,36 2,88 12,0
Fase III - operação dinâmica de um mês (com vazão média de 720 m3/d, máximo de 1.000 m3/d):
Volume de reator (m3) 144 (3 x 48) 112 96 352
TDH (h) 4,8 3,37 3,2 11,7
Figura 7.12 Planta de demonstração SANI® de 1.000 m3/d (acima) e diagrama esquemático do processo (abaixo).
SRUSB na planta de demonstração foi reduzido de Larsen (1995) e, então, generalizado para uso no
16 h (partida) para 4,8 h (estável), ao mesmo tempo tratamento de esgoto por Grau et al. (2007). Ekama
que a carga orgânica aplicada foi elevada de 0,8 (2009) introduziu, para toda a planta, a modelagem
para 2,4 kg DQO/m3/d, sendo mantida a remoção do estado estacionário baseado no balanço de
de cerca de 80% da DQO. O TDH mínimo do reator massa em projetos de ETEs, bem como o rastreio
SRUSB atingiu 2 h sob o padrão de vazão diurna, dos fluxos dos produtos sólidos, líquidos e gasosos
sem ocorrência de perda de lodo devido à baixa nas ETEs. Na modelagem de estado estacionário,
produção de gás metano e ao projeto particular do muitos dos bioprocessos podem ser concluídos,
reator SRUSB. O TDH do MBBR foi mantido em enquanto outros que não atingem a conclusão são
4-6 h, correspondendo à carga de nitrogênio de 0,2- simplificados (como a regeneração de biomassa
0,4 kg N/m3/d. Através da maturação do biofilme morta para a respiração endógena) ou mantidos
nitrificante autotrófico e do biofilme porque são as reações mais lentas, para governar o
desnitrificante, as taxas superficiais específicas de dimensionamento do sistema, como a nitrificação
nitrificação e de DACE (desnitrificação no sistema aeróbio de lodo ativado e a hidrólise no
autotrófica) puderam atingir até 1,5 g NH4+-N/m2/d sistema de digestão anaeróbia. Tal modelagem,
de 2 g NOx--N/m2/d, respectivamente. No entanto, portanto, tem a vantagem de exigir menos
considerando as variações dinâmicas na vazão de parâmetros de entrada.
esgoto e cargas aplicadas, bem como fatores
ambientais (por exemplo, temperatura), são A modelagem em estado estacionário de
recomendados valores conservadores de projeto processos convencionais de RBN é baseada em
para a taxa de redução de SO42-, taxa de DACE e balanços de massa de DQO, N e P e, em seguida,
taxa de nitrificação a 20 °C, de 1,5 kg DQO/m3/d, dos elementos C, H e O. A modelagem de estado
1 g NOx˗-N/m2/d e 1 g NH4+-N/m2/d, estacionário da redução biológica de sulfato em um
respectivamente. reator SRUSB alimentado com lodo de esgoto
primário foi desenvolvida por Pionapen e Ekama
O balanço de massa na planta confirmou a (2010a), cuja validação foi realizada no
conversão do SO42- a sulfeto e o retorno a SO42˗ em cotratamento de lodo primário e drenagem ácida de
quase 99%. O enxofre elementar acumulado na minas. Eles demonstraram ainda que a maioria do
biomassa e/ou nos reatores pode estar envolvido H2S e CO2 produzidos permaneceram dissolvidos
com a desnitrificação autotrófica como fonte de como HS˗ e HCO3˗, respectivamente. Sem
enxofre. Portanto, a perda de enxofre via enxofre produção de gás CO2 e com baixa emissão de
elementar pode ser comum no processo SANI®. ortofosfato (H2PO4-), o equilíbrio ácido/base fraco
Vale ressaltar que no método convencional de do sulfeto controla o pH do reator SRUSB. Lu et
medição de DQO o enxofre total dissolvido será al. (2009) desenvolveram um modelo de estado
oxidado a SO42˗. Assim, para obter um valor de estacionário para o processo de desnitrificação
DQO razoável, sugere-se a diluição da amostra. autotrófica usando SDT como doador de elétrons e
Um método de correção também pode ser aplicado posteriormente integrou-o com bioprocessos C-N-
(Poinapen e Ekama, 2010a; Daigger et al., 2015). S; isso foi verificado por um sistema SANI® em
escala de laboratório (ver a Figura 7.13). Esse
modelo de estado estacionário foi posteriormente
calibrado pelo estudo SANI® em escala piloto e
7.4.4 Modelagem da planta SANI® no
finalmente verificado pela planta de demonstração
estado estacionário
SANI®.
McCarty (1975) propôs o balanço de massa
estequiométrico a partir do balanço de DQO
(elétron), sendo mais tarde apresentado por Gujer e
uma vez que a relação mássica de DQO e COT em DQO = 8∙[y + 2∙(2x – z) – 3a + 5b]
esgoto salino está entre 2,5 e 3 (Poinapen e Ekama, (g DQO/mol) (7.23a)
2010a). A estequiometria geral da redução de SO42- Mw = 12x + y + 16z + 14a + 31b
com compostos orgânicos biodegradáveis (g massa seca/mol) (7.23b)
identificados como CxHyOzNaPb e a composição da
biomassa produzida como CkHlOmNnPp pode ser Estequiometria da desnitrificação autotrófica
expressa pela Eq. 7.21 (Lu et al., 2009, 2012a):
No reator anóxico, o sulfeto doa elétrons para o
CxHyOzNaPb + [(1 – E)∙(γs/8)]∙SO42- + [3∙x – z + 4∙b NO3- na desnitrificação autotrófica, e, portanto, a
– E∙(γs/γB)∙(3∙k – m + n + 4∙p) – 4∙(1 – estequiometria da desnitrificação autotrófica pode
E)∙(γs/γB)∙H2O → [x – a + b + E∙(γs/γB)∙(n – k – p) ser definida a partir de balanços de massa e carga
– (1 – E)∙(γs/8)]∙H2S + [2∙(1 – E)∙(γs/8) – E∙(γs/γB)∙(n (Ekama, 2009; Lu et al., 2009, 2012a), que pode ser
– k – p) – (x – a – b)]∙HS- + [E∙(γs/γB)]∙CkHlOmNnPp expressa pela Eq. 7.24.
+ [a – n∙E∙(γs/γB)]∙NH4+ + [x – k∙E∙(γs/γB)]∙HCO3- + {(1/8) – (2/10)(1 – E´) – (E´/γ´B)[ – n + p(2 –
f∙[b – p∙E∙(γs/γB)]∙H2PO4- + (1 – f)∙[b – f)]}HCO3- + (nE´/γ´B)NH4+ + (2/10)(1 – E´)NO3- +
p∙E∙(γs/γB)]∙HPO42- f∙p(E´/γ´B)H2PO4- + (1 – f)∙p(E´/γ´B)HPO42- + (1/8)
(7.21) HS- + {(3/8) – (4/10)(1 – E´) – (E´/γ´B)[2k – m + n
onde f é a fração de H2PO4- no ortofosfato (OP) + p(2 + f)]}H2O → (E´/γ´B)Ck´Hl´Om´Nn´Pp´ +
formado (OP = H2PO4- + HPO42-), γS e γB são os (1/8)SO42- + (1/10)(1 – E´)N2 + {(1/8) – (2/10)(1 –
elétrons disponíveis para as reações redox por mol E´) - (E´/γ´B)[k – n + p(2-f)]}CO2
de orgânicos biodegradáveis, CxHyOzNaPb, e os (7.24)
elétrons por mol da biomassa de BRS, onde γ’B é a capacidade de doar elétrons por mol de
CkHlOmNnPp, respectivamente: biomassa desnitrificante autotrófica (isto é, BOE),
Ck´Hl´Om´Nn´Pp´; E´ é definido como a massa de
γs = 4x + y – 2z – 3a + 5b (e- eq/mol) (7.22a) DQO produzida (biomassa de desnitrificação
autotrófica e lodo endógeno) por dia como uma
γB = 4k + l – 2m – 3n + 5p (e- eq/mol) (7.22b) fração do fluxo de nitrato reduzido por dia no reator
anóxico no estado estacionário (produção líquida
onde E é definido como a massa de DQO produzida da biomassa desnitrificante autotrófica e resíduo
(como biomassa de BRS ativa e lodo endógeno) endógeno), ou seja, E' = YBOE/(1 + bBOE∙TRSAX),
por dia como uma fração da massa de orgânicos onde TRSAX é a idade do lodo da zona anóxica no
biodegradáveis que são utilizados por dia no reator MBBR (d), YBOE é o coeficiente de produção de
SRUSB no estado estacionário. A partir do modelo biomassa desnitrificante autotrófica (0,8 mg
cinético do digestor anaeróbio baseado em DQO DQObiomassa/mg NO3--N); e bBOE é a taxa de
definido por Sötemann et al. (2005), E é dado por respiração endógena da biomassa desnitrificante
E = YBRS/[1+ bBRSTRS(1-YBRS)], onde TRS é a autotrófica (0,04 d-1).
idade do lodo do reator SRUSB (d); YBRS é o
coeficiente de produção da biomassa anaeróbia Estequiometria da nitrificação
(0,113 mgDQObiomassa/mgDQOremovida); e bBRS é a
taxa de respiração endógena da biomassa anaeróbia A principal reação na zona aeróbia do MBBR é a
(0,04 d-1). nitrificação e sua estequiometria pode ser descrita
como:
A concentração de DQO/mol e o peso molar 14[(1/7) – (E”/8γ”B)(n + p)]HCO3- + NH4+ +
(Mw) do substrato orgânico de composição 14{(1/7) – (E”/4)[(n”/ γ”B) + (1/8)]}O2 +
CxHyOzNaPb, são dados por: f∙(14p”E”/8γ”B)H2PO4- + (1 –
f)∙(14p”E”/8γ”B)HPO42- → (14E”/8γ”B)
dXBRS
(1/8) HS- + (nE'''/γ'''B)NH4+ + f∙p(E'''/γ'''B)H2PO4- + = YBRS ∙ rhid − bBRS ∙ XBRS (7.27a)
dt
(1 – f)∙p(E'''/γ'''B)HPO42- + [(1/8) + (E'''/γ'''B)(n –
p)]HCO3- + [(1-E''')/4]O2 → [(1/8) – (E'''/γ'''B)(k –
n + p)]CO2 + (1/8)SO42- + dXS
= −rhid + bBRS ∙ XBRS (7.27b)
(E'''/γ'''B)Ck'''Hl'''Om'''Nn'''Pp''' + [(1/2)(1 – E''') – dt
DQO/d) (7.30)
Ks constante de meia saturação Ks
(por exemplo, 500 mg DQO/lL a dXBOE 𝑑𝑆𝑁𝑂3
= Y𝐵𝑂𝐸 ∙ ( ) − 𝑏𝐵𝑂𝐸 ∙ 𝑋𝐵𝑂𝐸
20 oC) dt 𝑑𝑡
Tabela 7.15 Comparação dos valores medidos (M) na planta de demonstração com os valores preditos (P) com base no modelo.
Vazão Afluente Efluente Efluente Efluente Efluente Efluente
(800 m3/d) micro- SRUSB MBBR MBBR
peneirado anóxico aeróbio
Parâmetro M P M P M P M P M P M P
DQO (mg/l) 488 488 352 369 - 69 - 97 112 108 62 45
DBO (mg/l) 231 239 178 188 - 10 - 25 31 31 5,6 9
SST (mg/l) 362 243 192 149 - 45 - 71 68 79 15 17
SSV (mg/l) - 193 - 118 - 24 - 47 - 55 - 11
NT (mg/l) 53 53 48 49 - 48 - 16 16 15 8,4 10,9
NH4+-N (mg/l) 33 35 37 35 - 45 - 10 1,3 2,3 0,4 2,3
NO3--N (mg/l) - 0 - 0 - 0 - 1 7,9 6,2 7,5 6,2
método de síntese ambientalmente amigável. Por 2-5 nm (Bai et al., 2009). Sulfeto é o produto da
exemplo, nanopartículas de sulfeto de cádmio redução de sulfato mediada por BRS, que pode se
(CdS) de 8 nm foram sintetizadas intracelularmente ligar extracelularmente na biomassa ou precipitar
pela bactéria fotossintética Rhodopseudomonas com íons metálicos em solução. Valiosos sulfetos
palustres. E. coli também se mostrou capaz de metálicos produzidos através da via metabólica de
produzir intracelularmente nanocristais de CdS de BRS são mostrados na Tabela 7.16.
Tabela 7.16 Produto potencial de sulfeto metálico mediado pelas BRS (Zeng et al., 2019).
Produto Localização pH Aplicação Agente funcional
Operacional
CuS Extracelular 6,0 Agentes fototérmicos para Sistema sulfetogênico
ablação de células cancerosas
PbS Extracelular 7,2-7,8 Semicondutores Sistema sulfetogênico
Duas estratégias são executadas quando as BRS metálicos na solução, reduzindo o potencial para a
são aplicadas na produção de sulfeto metálico: o recuperação dessas partículas. Em comparação, a
metal reage diretamente com o sulfeto no sistema recuperação de sulfetos metálicos biogênicos de
sulfetogênico (sistema in-line), ou sulfeto é sistema sulfidogênico off-line pode ser uma opção
produzido e separado como um agente precipitante adequada, particularmente no tratamento de esgoto
de metal (sistema off-line). A síntese de base contendo metais. Além disso, as características da
biológica demonstrou superioridade na ligação dos metais são também sensíveis às
estabilidade dos produtos; os precipitados de mudanças de pH. Por exemplo, a natureza,
sulfeto de zinco (ZnS) biogerados por superfície e características de sedimentação do
Desulfovibrio sulfuricans foram mais estáveis do sulfeto de cobre (CuS) e ZnS são fortemente
que aqueles gerados por processos abióticos. O influenciadas pelo pH do meio (Mokone et al.,
Ni3S2 biogênico em uma cultura mista de BRS 2010). Quando a precipitação é conduzida com
exibiu uma melhor cristalinidade do que o sulfeto em excesso em pH operacional abaixo de 6,
correspondente em amostras abióticas (Gramp et o potencial zeta reduz para melhorar as
al., 2007). As substâncias poliméricas propriedades de sedimentação e desidratação dos
extracelulares adsortivas, como carboxila, precipitados de ZnS. Um biorreator modular para
tiol/fosfato e amino/hidroxil, tanto de BRS quanto recuperação seletiva de metal a partir da drenagem
de outros organismos, obstruem a formação de ácida de minas (DAM) usando um sistema
sulfetos metálicos. Além disso, a agregação sulfetogênico off-line foi proposto por Hedrich e
induzida por ligação de polipeptídios metálicos e Johnson (2014), cujo controle de pH é crucial para
proteínas de organismos em um sistema em linha a formação de sulfetos metálicos. Por exemplo,
limita a dispersão de partículas de sulfetos com pH abaixo de 3, Cu pôde ser precipitado
seletivamente por sulfeto, enquanto outros metais Como uma das mais bem-sucedidas tecnologias
(Fe e Zn) presentes em altas concentrações em de recuperação de enxofre, o processo THIOPAQ®
lixiviados puderam ser recuperados como sulfetos tem sido aplicado para dessulfuração de gás por
metálicos precipitados. A cristalinidade dos mais de 25 anos (Paques, Holanda). Esse sistema
sulfetos metálicos é de extrema importância, consiste em três partes: o absorvedor de sulfeto, o
especialmente quando são usados em processos biorreator para oxidação de sulfeto e o decantador
industriais de alta tecnologia, como na construção para separação do enxofre elementar. Primeiro, a
de painéis solares, já que a separação espacial de corrente de gás contendo sulfeto entra em contato
cargas é crucial no projeto de um doador-receptor com uma solução no absorvedor. Posteriormente, o
eficiente de heterojunções (Bansal et al., 2013). Os líquido contendo sulfeto é transferido para um
fatores que determinam a cristalinidade em biorreator onde o sulfeto é convertido
sistemas sulfidogênicos não são ainda claros, biologicamente por BOE à enxofre elementar em
embora uma melhor cristalinidade de ZnS condições alcalinas fracas (pH 8-9), normalmente
biogênico foi obtida por Desulfovibrio dominado pelo microrganismo haloalcalifílico
desulfuricans em comparação à verificada em Thioalkalivibrio. Finalmente, o líquido misturado
testes abiogênicos (Xu et al., 2016). A entra em um decantador para recuperar o enxofre
cristalinidade mineral é uma abordagem atraente elementar. Neste processo, mais de 90% do sulfeto
para alcançar a produção biogênica de sulfetos afluente pode ser convertido a enxofre elementar
metálicos em sistemas sulfidogênicos off-line e (Van den Bosch, 2008). O enxofre elementar
para realizar a recuperação de recursos valiosos a recuperado serve como matéria-prima para
partir de resíduos. produção de ácido sulfúrico, fertilizantes e
pesticidas. Em contraste com o enxofre cristalino
7.5.3 Recuperação e reutilização de comercial, o enxofre produzido a partir de oxidação
enxofre elementar biológica de sulfeto é caracterizada pela alta
hidrofilicidade e atividade biológica (Kleinjan et
Assim como sulfetos metálicos, o enxofre al., 2012). O enxofre elementar biogênico pode
elementar também pode ser recuperado e estimular a geração de ácido sulfúrico e a
reutilizado com a ajuda de um grupo de bactérias dissolução de minérios de sulfeto associados ao
denominadas de BOE quimiolitotróficas, capazes enxofre elementar químico durante a oxidação
de utilizar o O2 como aceptor de elétrons para biológica de sulfeto no processo de lixiviação
oxidar o sulfeto em enxofre elementar. O princípio (Tichý et al., 1994). Além disso, o enxofre
básico para a oxidação seletiva de enxofre é regular biogênico pode ser usado diretamente como
a razão molar oxigênio/sulfeto (O/S) em fertilizante, o que é demonstrado com um vegetal
aproximadamente 0,7 (Lin et al., 2018). O controle oleaginoso, canola. Um aumento de 50% no
do OD é uma estratégia comum para alcançar a rendimento de grãos foi observado após a adição de
relação O/S adequada quando o reator é operado enxofre biogênico, superando o enxofre elementar
com uma concentração de sulfeto relativamente comercial usado no mesmo estudo (Cline et al.,
estável; no entanto, a concentração dinâmica de 2003). Além disso, o processo de enxofre-calcário
OD resultante de seu contínuo consumo causa usando enxofre elementar para promover a
dificuldades em manter a razão O/S desejada desnitrificação autotrófica na remediação de águas
(Janssen et al., 1998). Assim, o potencial de subterrâneas tem uma baixa taxa de reação devido
oxirredução (ORP), determinado pelas à baixa solubilidade do enxofre. O enxofre
concentrações de sulfeto e OD, é um indicador biogênico pode superar essa desvantagem porque
alternativo mais viável para o controle da oxidação sua hidrofilicidade aceleraria a transferência de
seletiva do enxofre. massa.
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NOMENCLATURA
Símbolo Descrição Unidade
a Razão de recirculação -
aF Área superficial específica m2/m3
AF,NH4 Área superficial para o reator nitrificante/aeróbio m2/m3
AF,NOx Área superficial para o reator de DACE m2/m3
BA,NH4 Taxa de conversão de superfície específica de amônia g NH4+-N/m2/d
BA,NOx Taxa de conversão de superfície específica de nitrato/nitrito g NOx--N/m2/d
bADO Taxa de respiração endógena dos microrganismos desnitrificantes 1/d
autotróficos
bANO Taxa de respiração endógena dos microrganismos nitrificantes 1/d
autotróficos
bBOE Taxa de respiração endógena de biomassa de BOE 1/d
bBRS Taxa de respiração endógena de biomassa de BRS 1/d
CH3COO- Acetato -
CO Monóxido de carbono -
DQOc DQO carbonácea mg DQO/L
DQOi Concentração de DQO afluente mg DQO/L
E DQO de lodo produzido/DQO utilizada -
E Massa de DQO produzida (como biomassa de BRS ativa e lodo -
endógeno) por dia como uma fração da massa de orgânicos
biodegradáveis que são utilizados por dia no reator SRUSB no estado
estacionário
E’ Massa de DQO produzida (como biomassa de desnitrificação -
autotrófica e lodo endógeno) por dia como uma fração do fluxo de
nitrato reduzido por dia no reator anóxico no estado estacionário
(produção líquida da biomassa desnitrificante autotrófica e resíduo
endógeno)
E’’ Massa de DQO produzida (como biomassa de nitrificação autotrófica -
e lodo endógeno) por dia como uma fração do fluxo de amônia
oxidada por dia na zona aeróbia no estado estacionário
E’’’ Massa de DQO produzida (como biomassa oxidante de sulfeto -
aeróbio e lodo endógeno) por dia como uma fração do fluxo de
amônia oxidada por dia na zona aeróbia no estado estacionário
f Fração de H2PO4- no ortofosfato -
fav Fração de biomassa ativa -
fav,BRS Fração ativa de BRS -
fc Fração em massa de carbono -
FDQOb,i Massa de DQO biodegradável tratada -
FDQOi Massa de DQO tratada -
fcv Razão de DQO por SSV ou DQO por massa de orgânicos solúveis -
fED Fração de resíduo endógeno -
fh Fração em massa de hidrogênio -
fn Fração em massa de nitrogênio -
fo Fração em massa de oxigênio -
fOHO Fração residual endógena de organismos heterotróficos ordinários -
FONIT Fluxo de oxigênio para nitrificação -
fp Fração em massa de fósforo -
FSO4 Demanda de sulfato -
FBRS Fração residual endógena de BRS -
fSU,DQOi DQO solúvel não biodegradável/DQO total afluente -
fVT Razão SSV/SST do lodo ativado -
Abreviatura Descrição
ADP Adenosina difosfato
AGV Ácidos graxos voláteis
ALS Amônia livre e salina
AMP Adenosina monofosfato
AnFB-MBR Biorreator anaeróbio de leito fluidizado com membrana (em inglês, anaerobic
fluidized-bed membrane bioreactor)
APS Adenosina 5'-fosfossulfato
APSR Adenosina-5'-fosfossulfato redutase
ATP Adenosina trifosfato
ATPS Adenosina trifosfato sulfurilase
BOE Bactérias oxidadoras de enxofre
BRS Bactérias redutoras de sulfato
CdS Sulfeto de cádmio
CEPT Tratamento primário quimicamente aprimorado (em inglês, chemically-enhanced
primary treatment)
CO2 Dióxido de carbono
COT Carbono orgânico total
CuS Sulfeto de cobre
DAM Drenagem ácida de minas
DBO Demanda bioquímica de oxigênio
DBO5 Demanda bioquímica de oxigênio de 5 dias
DGC Dessulfuração de gases de combustão
DMSO Dimetilsulfóxido
DQO Demanda química de oxigênio
DSD Departamento de Serviços de Drenagem
Dsr Sulfito redutase dissimilatória
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
FCSD Flavocitocromo c sulfeto desidrogenase
8 Desinfecção de esgoto
Ernest R. Blatchley III
Tradução: Luiz Antonio Daniel
um século de uso como desinfetante. Por esta especiação do cloro livre será influenciada pela
razão, o foco da discussão sobre os halogênios, química fundamental da solução, incluindo pH e
neste livro, será o cloro. Os leitores devem concentração do íon cloreto. A Figura 8.1 ilustra a
compreender que o comportamento dos outros especiação do cloro livre em função do pH em uma
halogênios que são usados como desinfetantes amostra de água que contém 5,0 mg/L (7,0x10-5 M)
(especialmente bromo e iodo) tende a ser de cloro livre e de íon cloreto (Cl-) na concentração
semelhante, embora não idêntico ao do cloro. de 10-4 M (3,6 mg/L), que é representativa de água
de abastecimento ou de esgoto comum.
8.3.1 FÍSICO-QUÍMICA DO CLORO
17
Os vales de PPR são de White (1992)
A espécie de cloro residual terá efeitos O equilíbrio das reações 8.15 e 8.16 está
importantes no comportamento da desinfecção. O deslocado para a direita, e a reação para a direita é
NH2Cl é substancialmente menos efetivo como extremamente rápida em ambos os casos. Estas
desinfetante do que o HOCl, embora a magnitude características simplificam o controle do processo
desta diferença na eficácia da desinfecção seja para a descloração, pois a dosagem do agente
variável entre os microrganismos e as condições de desclorante (bissulfito, HSO−3 , neste caso) pode ser
aplicação do desinfetante. Por exemplo, a 20 oC e definida usando medições em tempo real da
pH = 7,5, o cloro livre é aproximadamente 250 concentração de cloro residual e a vazão. Em vários
vezes mais eficaz do que NH2Cl para a inativação casos, o agente desclorante é adicionado com
de cistos de Giardia, enquanto, nas mesmas pequeno excesso estequiométrico em relação ao
condições, o cloro livre é aproximadamente 16 cloro com valência +1 para assegurar a descloração
vezes mais eficaz do que NH2Cl para a inativação completa. O bissulfito que permanece após a
de vírus (Malcolm Pirnie and HDR Engineering, descloração é razoavelmente benigno e não
1991). Portanto, a presença de NH3-N, mesmo em representa ameaça para a vida aquática a jusante do
baixa concentração, resultará em cloro residual que ponto de aplicação.
é dominado pelo NH2Cl, não pelo cloro livre. Além
disso, a formação de cloro combinado inorgânico, Deve-se notar que a descloração com bissulfito
essencialmente todo na forma de NH2Cl, diminuirá gera prótons (H+) como produto dessas reações. A
a eficácia da desinfecção, em relação ao descloração com compostos de enxofre S[IV]
comportamento do cloro livre. consome alcalinidade. Em águas fracamente
tamponadas, essa acidez adicionada pode resultar
Quando comparados com outros desinfetantes, em substancial redução do pH. Este efeito pode ser
os compostos de cloro com valência +1 tendem a compensado pela adição de um tampão de pH
ser relativamente estáveis. Essa característica pode adequado, como os compostos à base de carbonato.
ser benéfica em aplicações nas quais é necessário
prevenir o crescimento de patógenos após o 8.3.2 Mecanismos de desinfecção: cloro
processo de desinfecção. Porém, no contexto de
algumas das aplicações da desinfecção de esgoto, O cloro tende a reagir amplamente e com pouca
esta característica pode ser prejudicial, pois os seletividade com microrganismos e biomoléculas
compostos de cloro residual podem ser tóxicos a críticas (Virto et al., 2005). Há vários mecanismos
peixes e outras formas de vida aquática. Por isso, possíveis pelos quais o cloro com valência +1 pode
as vezes é necessário desclorar o esgoto. inativar os microrganismos; o conhecimento atual
desses mecanismos provém da compreensão da
A descloração é feita pela adição controlada de química da reação do cloro com estas
composto químico que apresenta rápida demanda biomoléculas.
de cloro. Os agentes desclorantes mais comuns são
baseados em compostos de enxofre reduzido O cloro livre, especialmente o HOCl, reage
(S[IV]), tais como bissulfito de sódio. A química rapidamente com as aminas para produzir os
da descloração baseada no bissulfito é definida pela derivados correspondentes de nitrogênio clorado,
seguinte expressão estequiométrica: frequentemente sucedidos por reações mais lentas
de oxidação/redução com estes compostos. As
HOCl + HSO3− ⇌ SO2− +
4 + 2H + Cl
−
(8.15) moléculas importantes que contêm grupos amina
incluem proteínas, seus aminoácidos constituintes,
NH2 Cl + HSO3− + H2 O ⇌ SO2− + +
4 + H + NH4 e bases nucleotídicas (purinas [adenina e guanina]
(8.16) e pirimidinas [citosina, uracila, timina]). O HOCl
reage com essas biomoléculas seguindo o
mecanismo que imita a cloração ao breakpoint alternativos. Para a desinfecção de esgoto, as duas
(Shang et al., 2000). Reação com comportamento alternativas mais comuns ao cloro são os perácidos
semelhante foi observada com cloração de culturas e a radiação ultravioleta (UV).
puras de bactérias gram-positivas e gram-negativas
(Shang e Blatchley, 2001). As reações do cloro
livre com bactérias podem resultar em danos à 8.4 DESINFECÇÃO COM PERÁCIDOS
membrana e vazamento dos constituintes celulares (ÁCIDO PERACÉTICO)
para a solução. Porém, os danos na membrana
como uma resposta bacteriana parece requerer Os perácidos são desinfetantes orgânicos que
exposição ao cloro que excede em muito a contêm um ou mais grupos peróxido (-O-OH).
exposição requerida para resultar na inativação Esses compostos compartilham semelhanças
bacteriana (isto é, perda da capacidade de estruturais e funcionais com o peróxido de
reprodução) (Virto et al., 2005). hidrogênio (H2O2) e estão em equilíbrio com o
H2O2 nas soluções usadas em aplicações práticas.
Observou-se que o cloro livre inativa Como descrito a seguir, existe o comportamento
rapidamente a maioria dos vírus, provavelmente sinérgico entre os compostos peróxidos orgânicos
por causa da estrutura das partículas virais. e o H2O2, que pode ser relevante em aplicações de
Especificamente, a maioria dos vírus é constituída desinfecção.
por ácido nucléico, DNA ou RNA, envolvido por
uma capa de proteína denominada capsídeo; o cloro Os compostos perácidos têm sido usados em
com valência +1 tende a reagir rapidamente com os ampla gama de aplicações para a desinfecção ou a
ácidos nucléicos e proteínas. oxidação. Os exemplos incluem: produção
farmacêutica, aplicação em saúde, desinfecção de
Embora haja longa história de sucesso no uso superfícies, branqueamento no processamento de
do cloro como desinfetante e oxidante no celulose/papel, tratamento de água de lastro,
tratamento de água e de esgoto, há também produção de alimentos e bebidas, controle de
importantes inconvenientes nessas aplicações. biofilmes em torres de resfriamento e mais
Entre elas, há a formação de subprodutos da recentemente na desinfecção de esgoto (Block,
desinfecção (SPDs). Mais de 700 SPDs foram 2001; Luukkonen e Pehkonen, 2017). Essas
identificados em águas cloradas (Krasner et al., aplicações são favorecidas pelas características do
2006); é provável que existam muito mais SPDs amplo espectro antimicrobiano dos perácidos, bem
ainda não identificados. Entre esses compostos, como pelo seu baixo potencial de formar SPDs. Os
muitos apresentam uma ou mais formas de SPDs predominantemente formados na aplicação
toxicidade. de perácidos incluem ácidos carboxílicos, que
resultam de sua degradação natural, e alguns
Um segundo problema está relacionado à aldeídos que são formados pela reação entre
ineficácia do cloro contra grupos de patogênicos perácidos e a matéria orgânica natural (MON)
microbianos. Especificamente, o cloro com (Luukkonen e Pehkonen, 2017; Santoro et al.,
valência +1 é muito pouco eficaz contra muitos 2007).
protozoários parasitos, particularmente quando eles
estão presentes em seus estágios resistentes. Um Quando aplicados para a desinfecção de esgoto,
bom exemplo é a baixa eficácia do cloro contra os os perácidos podem ser gerados in loco e, de acordo
oocistos de Cryptosporidium (Murphy et al., 2015). com a demanda, por misturas apropriadas de ácido
carboxílico e peróxido de hidrogênio. No caso de
Essas importantes limitações da desinfecção ácido peracético (APA), o desinfetante perácido
com cloro motivaram a procura por desinfetantes mais comumente aplicado, é também possível
adquirir comercialmente misturas para essas Dada a natureza reversível dessas reações, o
aplicações. Os sistemas de desinfecção com equilíbrio entre reagentes e produtos é rapidamente
perácidos podem ser adaptados aos tanques de atingido e pode ser descrito, em termos
contato de cloro existentes. Como tal, sua aparência quantitativos, para o APA à temperatura ambiente,
física e leiaute são muito similares aos dos sistemas como segue (Luukkonen e Pehkonen, 2017):
de cloração.
[CH3 COOOH]
K eq = [CH = 2,10 a 2,91 M −1 (8.19)
3 COOH][H2 O2 ]
O APA é relativamente estável e pode ser
armazenado para uso. Os sistemas com APA
O APA é disponível como produto comercial,
podem ser facilmente ligados e desligados,
com composição típica (m/m) de 15% de APA,
tornando-os muito adequados para atender as
25% de H2O2, 35% de ácido acético e 25% de água
variações e os picos de vazão. Um método de
(Santoro et al., 2007). O APA é ácido fraco
aplicação do APA é em conjunto com a radiação
(Luukkonen e Pehkonen, 2017; Santoro et al.,
UV (descrita a seguir), no qual o sistema de
2007), com pKa de 8,0 a 8,2 nas temperaturas
desinfecção com UV pode ser dimensionado para
comuns dos sistemas de desinfecção. O
as condições de vazão média, com o APA sendo
comportamento ácido/base dos perácidos é
aplicado em linha para atender as condições de
relevante porque as formas neutras (protonadas)
grandes vazões ou picos que excedem as restrições
desses compostos tendem a ser as mais efetivas
do sistema UV projetado. Isso possibilita que o
como desinfetante. Portanto, a aplicação de
projeto e implementação do sistema UV atenda à
perácido é favorecida na desinfecção quando o pH
maioria das condições operacionais, com o APA
é menor do que o pKa do perácido desinfetante. As
sendo usado quando a vazão exceder as condições
soluções de APA se autodecompõem lentamente;
de projeto do sistema UV. Essa abordagem trará o
este comportamento pode ser neutralizado pela
benefício de economia pela redução de custos de
adição de compostos que atuam como agentes
capital do sistema UV e, ao mesmo tempo,
estabilizantes, tais como o ácido dipicolínico ou
dispondo da flexibilidade para atender às variações
pirofosfato de sódio (Santoro et al., 2007).
de vazão nos sistemas de tratamento de esgoto,
especialmente aquelas que atendem comunidades
Os ácidos perfórmico (APF) e perpropiônico
com sistema combinado de coleta, ou seja esgoto e
(APP) também são usados como desinfetantes.
águas pluviais.
Porém, suas aplicações são menos frequentes do
que a do APA. Em geral, a estabilidade dos
8.4.1 Físico-química dos perácidos perácidos tende a aumentar com o aumento do
comprimento da cadeira alifática, o que favorece o
Os desinfetantes perácidos são preparados pela
uso do APA. De fato, APF não é suficientemente
adição de um ácido carboxílico ao peróxido de
estável, exigindo que seja preparado no local, o que
hidrogênio. O processo é prontamente reversível e
dificulta seu uso. Por outro lado, quando o
é representado pela seguinte equação geral:
comprimento da cadeia alifática aumenta, mais
carbono orgânico estará presente na água, o que
R − COOH + H2 O2 ⇌ R − COOOH + H2 O (8.17)
aumenta o potencial para o crescimento microbiano
na água tratada. O APA parece reunir a melhor
A reação para a direita, nesse processo, é
combinação destas características, que
catalisada por ácido. O perácido de uso mais
provavelmente o torna o mais frequentemente
comum é o APA, CH3COOOH. Sua formação é
usado na desinfecção com perácidos.
descrita como segue:
18
Uma exceção importante da primeira lei da fotoquímica permitir a ocorrência dos processos denominados “multi-
são as reações que envolvem a fotossensibilização, em que foton”. Nesses processos, mais de um fóton pode ser
uma molécula na vizinhança imediata da molécula alvo absorvido pela molécula alvo antes que a energia associada
absorverá um fóton e, em seguida, transfere a energia com o primeiro fóton absorvido(s) seja dissipada por um
absorvida para a molécula alvo por colisão subsequente. processo fotoquímico ou fotofísico. Essas fontes intensas de
19
Foram observadas algumas exceções da segunda lei. Um radiação são raramente usadas em aplicações práticas. Como
exemplo importante envolve o uso de fontes potentes de tal, a lei de Stark-Einstein será válida na maioria das
radiação (por exemplo, alguns lasers), que podem enviar aplicações práticas.
fótons para um alvo em taxa suficientemente elevada para
20
http://butane.chem.uiuc.edu/pshapley/env
ironmental/l14/1.html
Considerando primeiro o caso de reações equação 8.24 indica que a taxa de uma reação
elementares bimoleculares, no nível elementar o elementar bimolecular em um ponto no espaço será
processo envolve a colisão de duas moléculas, B e governada pelas condições que existem naquele
C, que resulta na formação de um ou mais produtos. ponto, incluindo a temperatura local e as atividades
Esse processo requer que B e C colidam com locais dos reagentes. Em vários sistemas de
energia suficiente para a ruptura de uma ou mais reatores químicos e bioquímicos, as condições de
ligações ou uma nova ligação seja formada. A mistura são tais que as concentrações dos reagentes
equação da taxa pode ser decomposta para são uniformes, ou quase uniformes, em vasta
descrever esses dois processos. As concentrações extensão espacial.
(ou formalmente, as atividades) dos reagentes ([B])
e [C]) podem ser imaginadas como representações A cinética fotoquímica é descrita usando lógica
de suas disponibilidades para participar de colisões semelhante, mas com terminologia e variáveis de
com outras moléculas; a taxa desse processo processo, que são relevantes para a fotoquímica.
aumenta linearmente com [B] e [C]. O produto, Como indicado anteriormente, um processo
fotoquímico pode ocorrer quando a energia de um
A ∙ [B] ∙ [C] (8.21) fóton é absorvida por uma molécula alvo; esse
processo é descrito pela equação da taxa básica da
representa a frequência de colisões entre B e C. O reação fotoquímica indicada na Tabela 8.1.
termo exponencial, Observe que o termo h é a notação abreviada para
representar a energia de um fóton de freqüência
Ea
exp (− ) (8.22) (h = constante de Planck). O símbolo Ei representa
R.T
a taxa de fluência da radiação (em determinado
comprimento de onda) que incide na molécula
descreve a fração dessas colisões que têm energia
alvo; isso pode ser imaginado como uma expressão
suficiente para completar a reação.
da disponibilidade de fótons em um local.
Frequentemente, a equação da taxa de reação é
apresentada na forma mais curta:
O símbolo representa o coeficiente de
d[B] absorção molar para uma molécula, que descreve a
= −k ∙ [B] ∙ [C] (8.23)
dt eficiência pela qual a molécula alvo absorve os
fótons incidentes de determinado comprimento de
em que o termo k representa a constante da taxa de onda. O símbolo representa o rendimento
reação de segunda ordem que pode ser expressa quântico, um termo que descreve a fração dos
como segue: fótons absorvidos em um determinado
comprimento de onda que resulta em uma reação.
Ea
k = A ∙ exp (− ) (8.24) Finalmente, o termo Qe descreve a energia da
R.T
radiação em um determinado comprimento de
Quando aplicada ao nível microscópico, a onda.
Tabela 8.1 Resumo das equações da taxa de reação fundamental para as reações elementares químicas (térmicas) e reações
fotoquímicas.
Tipo de reação Equação da reação básica Equação de cinética
Bimolecular elementar (térmica) B + C → Produtos d[B] Ea
= −A ∙ exp (− ) ∙ [B] ∙ [C]
dt R∙T
Fotoquímica elementar (fotolítica) B + hυ → Produtos d[B] 2,303 ∙ 𝐸𝑖 ∙ 𝜖 ∙ [𝐵] ∙ Φ
=−
dt 𝑄𝑒
Como no caso da reação elementar fotoquímico, isso tem profundo efeito na análise,
bimolecular, a equação fundamental da cinética projeto e desempenho do fotorreator.
para uma reação fotoquímica pode ser decomposta.
O quociente: 8.5.3 Mecanismos da inativação
2,303∙Ei ∙ε∙[B]
microbiana: radiação UV
(8.25)
Qe
O principal mecanismo da inativação microbiana
resultante da exposição às radiações UVB e UVC é
descreve a taxa na qual os fótons incidentes são
o dano fotoquímico direto causado nos ácidos
absorvidos pela molécula alvo, enquanto o
nucléicos (DNA e RNA) e às proteínas. As
rendimento quântico descreve a fração desses
radiações UVB e UVC (às vezes referidas como
eventos de absorção de fótons que resultam na
“UV germicida”) são absorvidas eficazmente pelos
reação. Em vários casos, taxa de um processo
ácidos nucléicos.
fotoquímico é definida na forma simplificada:
algumas aplicações em que alternativas não tende a penetrar através do líquido a ser desinfetado
surgiram ou não foram demonstradas; importantes de forma mais eficaz do que a radiação em
entre essas exceções estão as denominadas comprimentos de onda mais curtos.
lâmpadas “fluorescentes”, que contêm Hg. Estas
fontes de iluminação, que são idênticas
eletronicamente às lâmpadas BP de Hg, são
preferidas em muitas aplicações devido à sua alta
eficiência. Até o momento, não há cláusula na
Convenção de Minamata ou outros tratados
internacionais para eliminar o uso de lâmpadas de
Hg para a geração de radiação UV. Contudo, há
pressão crescente para desenvolver e implementar
fontes alternativas de radiação UV.
químicos, incluindo cloro livre, cloraminas patamar e de cauda são evidentes nas medições das
inorgânicas (isto é, cloro com valência +1) e respostas de muitas populações microbianas
perácidos. A equação 8.29 é frequentemente expostas ao desinfetante.
consistente para expressar a resposta de inativação
de microrganismos simples, tais como vírus e
algumas bactérias, porém com limitações do
alcance da inativação. Forma também a base do
conceito “Ct”, que é comumente usado para definir
a exposição ao desinfetante requerida para atender
à eficiência desejada. A ideia por traz deste
conceito é a de que uma dada eficiência de
inativação é regida pelo produto da concentração
do desinfetante e o tempo de exposição. Uma
definição mais formal de Ct (que é uma
representação da dose de desinfetante químico) é a
integral da concentração do desinfetante no tempo
de exposição: Figura 8.9 Ilustração esquemática da cinética de
desinfecção prevista pelo modelo de Chick-Watson (linha
𝜏
Ct = dose desinfetante = ∫0 C(t) ∙ dt (8.30) preta sólida). Estão incluídos também os desvios comuns
do comportamento de Chick-Watson, incluindo a
Onde: existência dos comportamentos “patamar” (linha azul) e
C(t) concentração do desinfetante dependente “cauda” (linha vermelha).
do tempo
tempo de contato. As simulações precisas do comportamento dos
processos de desinfecção requerem o uso de
O modelo de Chick-Watson implica em uma modelos cinéticos que simulem com precisão a
reposta de cinética log-linear na desinfecção (isto resposta das populações microbianas. Essa
é, de primeira ordem). No entanto, desvios necessidade motivou o desenvolvimento de
importantes do comportamento de primeira ordem modelos matemáticos de cinética de desinfecção
são frequentemente observados em medições que são consistentes com as respostas observadas
empíricas da cinética de inativação microbiana. Os das populações microbianas.
dois desvios comuns do modelo de Chick-Watson
são a existência de “patamar” e a presença de O modelo de Collins-Selleck foi desenvolvido
“cauda” na resposta da população microbiana à para considerar os comportamentos do patamar e
exposição ao desinfetante (ver Figura 8.9). A da cauda (Selleck et al., 1978). O modelo é
resposta em patamar é atribuída à influência dos representado pela seguinte equação:
mecanismos de reparo e à capacidade de alguns
dN
microrganismos resistirem à exposição à dose = −k ∙ N (8.31)
d(Ct)
nominal do desinfetante sem demonstrar perda
mensurável de viabilidade ou infecciosidade. A
k = 0 para ct ≤ τ
cauda é atribuída ao envolvimento dos
microrganismos pelas partículas, protegendo-os da k0
exposição ao desinfetante. A cauda pode também k=− para Ct > τ
b ∙ Ct
ser causada pela heterogeneidade fenotípica da
população microbiana (Pennell et al., 2008). O modelo de Collins-Selleck incorpora duas
Independente da causa, o fenômeno da formação de
importantes modificações no modelo de Chick- para desinfecção com cloro, com dose limiar () de 4
Watson. A primeira, a variável independente é Ct e mg.min/L e ko/b= 4.
não o tempo. A segunda, a constante de inativação
(k) pode variar. A esta constante é atribuído o valor O modelo de Collins-Selleck é usado para
zero para as doses de desinfetante inferiores a um ajustar dados empíricos da inativação de bactérias
valor limiar (); é assumido que não ocorre indicadoras por desinfetantes químicos (Hassen et
inativação em doses inferiores a esse valor. Além al., 2000; Selleck et al., 1978). Uma lógica
disso, a constante de inativação decresce quando Ct semelhante possibilitou a aplicação do modelo de
aumenta. Separando as variáveis e integrando, a Collins-Selleck para descrever a cinética de
equação (8.31) resulta na forma algébrica do desinfecção associada à radiação UV (Brahmi et
modelo de Collins-Selleck: al., 2010). No entanto, vários outros modelos foram
desenvolvidos para considerar os desvios do
N dN k0 Ct d(Ct)
∫N =− ∫τ (8.32) comportamento do modelo de Chick-Watson. Por
0 N b Ct
exemplo, o modelo de Hom é amplamente usado
N k0 Ct para simular a cinética de desinfecção de esgoto. O
ln ( ) = − ∙ ln ( ) modelo é expresso pela equação:
N0 b τ
𝑑𝑁
ou = −𝑚 ∙ 𝑘 ∙ 𝐶 𝑛 ∙ 𝑡 𝑚−1 ∙ 𝑁 (8.33)
𝑑𝑡
−k0⁄
N Ct b onde m e n são parâmetros adimensionais
=( ) empíricos, que são selecionados (por análise de
N0 τ
regressão) para ajustar o modelo aos dados
empíricos. Quando m = 1, o modelo de Hom reduz-
A Figura 8.10 é a representação gráfica do
se ao modelo de Chick-Watson. Para m < 1, o
modelo de Collins-Selleck. Para doses de
modelo é consistente com a presença de um
desinfetante inferiores à dose limiar (Ct = ), não é
patamar.
observada alteração na concentração de
microrganismos viáveis ou infecciosos. Para doses
Em todos os modelos de desinfecção química,
de desinfetante maiores que o limiar, a
a capacidade em considerar o declínio do
concentração de microrganismos viáveis ou
desinfetante ou a “demanda” de desinfetante é útil.
infecciosos decresce monotonicamente, mas a taxa
A incorporação de um termo que considera o
de declínio diminui quando Ct aumenta.
declínio de primeira ordem do desinfetante produz
uma solução de forma fechada para descrever a
cinética de desinfecção (isto é, em um reator de
batelada) (Hass e Joffe, 1994). A existência de tal
solução de forma fechada pode ser útil na
simulação do rendimento do processo de
desinfecção.
da inativação, que é observada em uma população, laboratório que empregam reatores rasos e bem
é regida pela dose de UV à qual a população é misturados, posicionado sob feixe colimado de
exposta. Como tal, a dose de UV torna-se a variável radiação UV. De forma explicita, a definição
principal no controle do processo de desinfecção formal da dose de UV é:
com UV.
τ
Dose UV = ∫0 Ei ∙ dt (8.36)
A lógica usada para descrever a cinética de
desinfecção com UV é adaptada dos métodos O modelo de evento único sugere que o gráfico
usados para descrever a cinética dos processos de ln(N/No) versus a dose de UV resultaria em uma
fotoquímicos puros. O modelo mais simples que é linha reta passando pela origem e com declividade
usado para descrever a cinética de desinfecção com –k. isso é análogo ao comportamento que é previsto
UV é o modelo de evento único, que assume que pela equação de Chick-Watson, exceto que a
um único evento fotoquímico em uma biomolécula variável independente é a dose de UV ao invés da
crítica de um microrganismo alvo é suficiente para dose de desinfetante químico (isto é, Ct).
causar a inativação. O modelo de evento único, que Semelhante à desinfeção química, o modelo de
é análogo ao modelo de Chick-Watson, tem a evento único é útil para a simulação de respostas de
forma: inativação de alguns microrganismos simples,
incluindo alguns vírus e bactérias, em extensões
dN
− −k ∙ Ei ∙ N (8.34) limitadas de inativação. No entanto, como ocorre
dt
na desinfecção química, desvios comuns do
onde: comportamento de evento único são observados em
N concentração de microrganismos viáveis ou resultados empíricos, incluindo a existência de
infecciosos patamar ou cauda.
t tempo (s)
k constante de inativação (cm2/mJ) O modelo de eventos em série foi desenvolvido
Ei taxa de fluência incidente (mW/cm2) para considerar a presença de patamar na resposta
da população microbiana à exposição à radiação
Separando as variáveis e integrando, obtém-se UV. A lógica que ampara este modelo é que a
a forma algébrica: inativação de organismos superiores requer danos
múltiplos. O modelo de eventos em série foi
N τ desenvolvido com a suposição de que incrementos
ln ( ) = −k ∫0 Ei ∙ dt (8.35)
N0 nos danos induzidos pela radiação UV se
acumulam como resultado de eventos fotoquímicos
independentes, discretos e sequenciais. O modelo
onde: posteriormente supõe que o microrganismo pode
No concentração de microrganismos viáveis ou ser capaz de resistir em algum nível ao dano antes
infecciosos antes da exposição à radiação que a perda de viabilidade seja evidente. Em outras
UV palavras, os microrganismos são assumidos ter um
período de exposição limiar para os danos induzidos pela radiação UV,
abaixo do qual eles manterão a viabilidade. A
A integral do lado direito da equação 8.35 é a lógica do modelo de eventos em série é descrita
dose de radiação UV à qual a população de como segue:
microrganismos foi exposta. Nesta equação está
implícito que todos os microrganismos da hυ hυ hυ hυ
M0 → M1 → ∙∙∙ Mn−1 → Mn → Mn+1 ∙∙∙ (8.37)
população alvo recebem a mesma dose, uma
condição que é muito próxima dos experimentos de
onde Mi representa o microrganismo que acumulou de bactéria, E. coli (•), fungo, Candida parapsilosis (∎) e
i unidades de dano. A transformação de um vírus bacteriano, bacteriófago f2(•) (Severin et al., 1983).
microrganismo com uma unidade de dano para a
próxima é assumida ocorrer a uma taxa que é A cauda é outra característica comum do
descrita pelo modelo de evento único (Equação comportamento de resposta à dose de UV, no qual
8.34). Assume-se existir um limite para a a taxa de inativação decresce rapidamente. Pennel
viabilidade em n unidades de dano. Portanto, todos et al. (2008) desenvolveram o modelo Persistência
os microrganismos com n-1 unidades de dano ou Fenotípica e Proteção Externa (PFPE) para
menos se manterão viáveis. É possível definir o descrever este comportamento. O modelo foi
modelo de dose-resposta de eventos em série, desenvolvido considerando a hipótese de que a
somando as concentrações de todos os população microbiana poderia ser descrita como
microrganismos com n-1 ou menos unidades de um conjunto de duas subpopulações. Foi assumido
danos como função da dose de UV (Severin et al., que uma das subpopulações fosse relativamente
1983, 1984): sensível à inativação microbiana. O
comportamento desta subpopulação foi descrito
N (𝑘∙𝐷)𝑖 usando o modelo de eventos em série, que
= 𝑒𝑥𝑝(−𝑘 ∙ 𝐷) ∑𝑛−1
𝑖=0 (8.38)
N0 𝑖!
possibilitou expressar o patamar referente aos
dados. A segunda subpopulação foi assumida
A Figura 8.11 ilustra a aplicação do modelo de apresentar maior resistência à exposição à radiação
eventos em série para descrever o comportamento UV do que a primeira subpopulação, resultando em
da resposta à dose de UV aplicada a três inativação relativamente lenta; o comportamento
microrganismos aquáticos: bactéria, fungo e vírus de resposta à dose desta subpopulação foi também
(bacteriófago). No caso do vírus, o menor e mais descrito pelo modelo de eventos em série, mas na
simples dos três microrganismos, foi observado o maioria dos casos os dados são insuficientes para
valor limite de n = 1. Quando n = 1, o modelo de manter o valor limite diferente de n = 1 para esta
eventos em série se reduz identicamente ao modelo subpopulação. A resistência à radiação UV da
de evento único, resultando em comportamento de segunda subpopulação foi atribuída à presença de
primeira ordem. Para os organismos mais partículas (isto é, proteção contra a exposição à
complexos, o valor limite observado foi grande, radiação UV) ou a variações fenotípicas (isto é, a
como evidenciado pelo “patamar” no existência de uma fração da população
comportamento da resposta à dose desses inerentemente resistente). Ambos os fatores
microrganismos mais complexos. resultarão em comportamento de resposta à dose de
UV que difere daquele da subpopulação sensível,
embora seja usualmente difícil definir qual desses
fatores é realmente responsável pela resistência.
Matematicamente, o modelo PFPE é um modelo de
duas populações, que pode ser usado para explicar
a existência de patamar e ou de cauda em um
conjunto de dados da resposta microbiana à dose:
N n−1 (k ∙ D)i
1
= (1 − p) ∙ exp(−k1 ∙ D) ∑ +p
N0 i=0 i!
∙ exp(−k 2 ∙ D)
onde:
p fração da população microbiana que
expressa resistência à inativação
k1 constante de inativação da subpopulação
sensível.
k2 constante de inativação da subpopulação
resistente.
água, portanto o controle deste patógeno é disponíveis são relativamente simples, baratos e de
relevante nos sistemas de esgoto, especialmente aplicação rápida. Além disso, o MS2 é
quando é esperado o contato humano com o esgoto relativamente resistente aos desinfetantes comuns.
tratado, bem como quando o esgoto é lançado em Conjuntamente, essas características motivam o
área recreacional ou quando o efluente é usado em uso do MS2 como substituto viral e também como
irrigação de lavouras. O norovírus humano (HNV) possível organismo indicador.
é responsável por grande parcela de enfermidades
gastrointestinais veiculadas pela água (Wobus et Os dados apresentados na Tabela 8.2 mostram
al., 2006). Embora um método para cultivar o HNV várias tendências que são importantes para os
tenha sido desenvolvido (Ettayebi et al., 2016), tem desinfetantes comumente usados. O HOCl é eficaz
sido difícil reproduzi-lo. Não é possível quantificar para o controle da maioria das células de bactérias
a cinética de desinfecção na ausência de um método vegetativas e a maioria dos vírus. No entanto, é
de cultivo prático para a reprodução dos vírus. notavelmente ineficaz para o controle de alguns
Como resultado, o norovírus murino (MNV) tem protozoários parasitos, especialmente C. parvum.
sido estudado como substituto do HNV. O MNV Também o NH2Cl é eficaz como desinfetante, mas
compartilha muitas características bioquímicas e frequentemente requer doses de 1 a 2 ordens de
genéticas do HNV e são disponíveis métodos de magnitude maiores que as de HOCl para satisfazer
cultivo para propagar o MNV (Wobus et al., 2006). a mesma eficiência de inativação. As doses de APA
Consequentemente, o MNV tem sido usado como geralmente são pouco maiores do que as de NH2Cl
substituto do HNV em experimentos para para efetuar determinada eficiência de inativação
quantificar a cinética de inativação com vários microbiana, e o APA tende a apresentar eficácia
desinfetantes. O colifago MS2 é outro substituto relativa semelhante contra ampla gama dos
viral comumente usado em experimentos deste microrganismos alvo listados na Tabela 8.2, como
tipo. Como todos os colifagos, MS2 é parasito de o HOCl ou NH2Cl. Todos os três desinfetantes
células bacterianas (coliformes) e não é patogênico químicos listados na Tabela 8.2 são eficazes para o
a células de humanos, o que simplifica seu uso em controle de bactérias vegetativas e vírus em doses
experimentos. Adicionalmente, os colifagos são que podem ser facilmente aplicadas em situações
comuns em esgoto. O MS2 é um vírus com RNA práticas; no entanto, o controle de C. parvum é
de fita única, que é estruturalmente similar a alguns modesto nas doses de desinfetantes químicos
vírus humanos. Os métodos de cultivo do MS2 usadas na maioria das aplicações práticas.
Tabela 8.2 Resumo das doses de desinfetante reportadas para inativar 3 log10 de microrganismos alvo comumente usados na
desinfecção. As doses dos desinfetantes químicos estão com unidade em mg.min/L. As doses de UV254 estão em mJ/cm2. As
referências das quais os valores foram extraídos estão indicadas com parênteses.
Desinfetante Microrganismo
Escherichia coli Cryptosporidium parvum Norovírus murino Colifago MS2
HOCl 0,101) 5.3004,A) 0,1797) 0,1427)
NH2Cl 6,91) 14.0005) 118) 6558)
APA 802) n/d B) 738) 6098)
UV254 5,53) 5,26) 159) 979)
1)
Chauret et al., 2008; 2)Rossi et al., 2007; 3)Sommer et al., 2000; 4)Murphy et al., 2015; 5)Rennecker et al., 2000; 6)Craik et al.,
2001; 7)Lim et al., 2010; 8)Dunkin et al., 2017; 9)Weng et al., 2018.
A)
As respostas de inativação com HOCl foram estimadas assumindo que o HOCl foi a única forma de cloro livre que contribuiu
para a inativação de oocistos de C. parvum.
B)
Os dados de eficiência de inativação de oocistos de C. parvum com ácido peracético são amplamente variáveis na literatura. O
ácido peracético é frequentemente reportado ser semelhante ao cloro livre para inativar oocistos de C. parvum.
Figura 8.13 Escherichia coli (superior esquerda; https://phil.cdc.gov/details.aspx?pid=10068; Enterococcus (superior direito,
Purification and characterization of enterocin MC13 produced by a potential aquaculture probiont Enterococcus faecium MC13
isolated from the gut of Mugil cephalus, Canadian Journal of Microbiology (2011); Oocistos de Cryptosporidium parvum (centro
esquerda, Solar water disinfection (SODIS): A review from bench-top to roof-top, Artigo de revisão de literatura∙Journal of
Hazardous Materials, 235-236:29-46 agosto 2012); Colifago MS2 (centro direita, Almeida et al., 2018); Partícula de norovírus
murino, (inferior esquerda, Hsu et al., 2005; partícula de norovírus humano (inferior direita, imagem da Wikipedia; barras
brancas = 50 μm).
Nos sistemas de desinfecção com radiação desempenho dos processos de desinfecção estavam
UV254, o controle da maioria dos microrganismos é aqueles originalmente desenvolvidos para a
feito em doses de 40 mJ/cm2 ou menores. No simulação da eficiência dos sistemas com
entanto, alguns vírus são resistentes à exposição à desinfecção com radiação UV (Chiu et al., 1999a,
UV254. A inativação de vários vírus é aumentada 1999b; Lin et al., 1999). Esses modelos fornecem
pelo uso de radiação com comprimentos de onda considerações detalhadas do comportamento do
menores que (aproximadamente) 240 nm, processo pela integração dos efeitos da mecânica
provavelmente devido à capacidade dessa radiação dos fluidos, incluindo a turbulência, bem como a
de comprimento de onda curto danificar as distribuição espacial da energia radiante e seus
proteínas do capsídeo das partículas virais. É efeitos na taxa local de desinfecção no reator. Essa
também notável que a faixa de doses UV254 abordagem de modelagem foi capaz de identificar
necessária para controlar os microrganismos aspectos do dimensionamento que limitavam o
listados na Tabela 8.2 é menor do que as faixas comportamento do reator. Por sua vez, a
correspondentes para os desinfetantes químicos. identificação dessas características limitantes
Esta tendência é amplamente mantida para a possibilitou melhorias no projeto do reator, que
maioria dos microrganismos, o que implica que o resultaram em aumento na eficiência do processo.
projeto do sistema de desinfecção com radiação
UVC para o controle do microrganismo alvo Um esforço semelhante e paralelo surgiu logo
provavelmente efetuará controle mais amplo do em seguida para fornecer descrições abrangentes e
que seria obtido com um sistema de desinfecção integradas da eficácia do processo nos sistemas de
química comparável. desinfecção química. Este esforço paralelo levou
ao desenvolvimento da Estrutura de Projeto
Integrado de Desinfecção (EPID), que possibilita a
8.7 MODELOS DE PROCESSO caracterização determinística precisa e detalhada
do desempenho do processo nos sistemas de
Como em todo sistema de reatores, o desempenho desinfecção química (Bellamy et al., 2000;
do processo em reatores de desinfecção é regido Ducoste et al., 2001).
pelo efeito combinado do comportamento do
transporte, mistura interna e a cinética intrínseca As aplicações contemporâneas destes métodos
das reações de interesse. No caso dos sistemas de de modelagem integrada geralmente envolvem o
desinfecção, as reações de interesse incluirão a uso de fluidodinâmica computacional (FDC) para
própria desinfecção, como também as reações que simular a mecânica dos fluidos (incluindo
resultem no declínio ou demanda do desinfetante e turbulência) e o comportamento de mistura. As
geração de subprodutos da desinfecção. Os simulações com FDC são usadas para resolver as
modelos de processos, que adequadamente reúnem equações de movimento e continuidade, junto com
os termos para considerar cada um desses efeitos, um modelo apropriado para a turbulência em
demonstraram fornecer previsões precisas do sistema fechado. Quando adequadamente
desempenho do processo de desinfecção para aplicadas, as simulações de FDC podem fornecer
praticamente todos os sistemas de desinfecção. informações precisas sobre a mecânica dos fluidos
nos sistemas de reatores. Com os software e
8.7.1 Modelos determinísticos do hardware dos computadores contemporâneos é
processo possível desenvolver simulações que capturam os
comportamentos mais relevantes da mecânica dos
Entre os primeiros modelos que forneceram fluidos em um reator de desinfecção em um período
descrições abrangentes e integradas do de tempo relativamente curto, frequentemente tão
curto quanto algumas horas a um ou dois dias de do sistema (isto é, absorbância, dissipação,
tempo de simulação computacional. Junto a essas reflexão, refração) que regem a distribuição
simulações de mecânica dos fluidos, muitas rotinas espacial da energia radiante. Quando integrados
de FDC permitem a inclusão de equações para adequadamente, e quando informações precisas são
descrever o comportamento de quantidades disponíveis para descrever outros parâmetros (por
escalares, tais como a concentração de exemplo, vazão, geometria do reator, cinética de
microrganismos viáveis, a concentração de um reação), estes modelos integrados podem fornecer
desinfetante químico, a distribuição espacial da previsões precisas e determinísticas do
energia radiante (isto é, o campo da taxa de fluência desempenho do processo. Com tal, essas
em um sistema com desinfecção com radiação UV) ferramentas numéricas são valiosas no projeto e
e as taxas de reação que são responsáveis pela otimização dos sistemas de desinfecção.
formação dos subprodutos da desinfecção.
A Figura 8.14 ilustra a capacidade dessas
Como um aparte, melhorias consideráveis nos abordagens de modelagem integrada para simular o
métodos analíticos e modelos numéricos para a desempenho do processo de desinfecção nos
medição e simulação os campos de taxa de fluência tanques de contato de cloro. Esses modelos de
nos fotorreatores de UV foram observadas nos simulação foram baseados em simulações da
últimos anos. Com relação às medições, o Detector mecânica dos fluidos com FDC em tanques de
Microfluoerescente de Sílica (DMFS) permite a contato com desinfecção química (cloro) com o
medição precisa e pontual da distribuição da taxa mesmo volume interno, mas com cinco diferentes
de fluência em fotorreatores UV (Li et al., 2011). configurações de compartimentação interna. As
Este equipamento coleta estas medições numa equações cinéticas de declínio do cloro, produção
maneira consistente com a definição fundamental de trihalometanos (como indicador da formação de
da taxa de fluência e pode ser aplicado em ampla SPD) e a inativação de Giardia lamblia foram
gama de arranjos físicos. Para simulações incluídas no modelo para permitir a comparação
numéricas, o método traçado de raio foi direta do desempenho de cada geometria do reator.
implementado para fornecer simulações detalhadas
e precisas dos campos de taxa de fluência em ampla Essa abordagem para a simulação do
gama de tipos de reatores UV (Ahmed et al., 2018). desempenho do processo é uma ferramenta
A capacidade do método de traçado de raio em poderosa para o projeto de tanques de contato e
fornecer simulações precisas dos campos de taxa de para a otimização ou modificação do projeto do
fluência é regida pela capacidade desses modelos reator após a instalação. No entanto, essas
considerarem os fenômenos ópticos que regem o abordagens de modelagem geram previsões
campo de taxa de fluência, incluindo a divergência, determinísticas do desempenho do processo. As
absorção, reflexão e reflexão; estes modelos abordagens determinísticas podem ser suficientes
também consideram a geometria do sistema. para a análise do desempenho do processo de
desinfecção em sistemas em que os parâmetros de
Para os constituintes químicos e bioquímicos, entrada não apresentem forte variabilidade
que são relevantes nas aplicações de desinfecção, temporal. No entanto, em algumas aplicações,
as simulações precisas das quantidades escalares incluindo a maioria das aplicações em esgoto, a
reativas dependem da disponibilidade de qualidade da água afluente e a vazão, bem como a
informações precisas para descrever a cinética das cinética das reações críticas, podem apresentar
reações que conduzem à sua formação ou declínio. forte variação temporal. Como tal, é apropriado
No caso do campo da taxa de fluência, é também considerar as abordagens de modelagem que
necessário incorporar termos ao modelo para considerem a natureza estocástica destes processos.
precisamente considerar o comportamento óptico
Figura 8.14 Simulações de desempenho do processo de desinfecção a base de cloro para uma gama de projetos de reatores
com base na simulação FDC integrada com termos para descrever a cinética das reações participantes. As cores da legenda
indicam o tempo de detenção calculado (linha superior), concentração de desinfetante (segunda linha), concentração de THM
total, como indicador da formação de SPD (terceira linha) e fração sobrevivente de Giardia lamblia (linha inferior), com base na
aplicação de modelo FDC (Angeloudis et al., 2014)
Entre os fatores que afetam o desempenho do Primeiro, o valor de N0 varia em cerca de 3 log10
processo de desinfecção com radiação UV citam-se nessas amostras. O valor de N0 influencia
vazão, potência da lâmpada, transmitância de UV e diretamente na concentração de E. coli viável que
geometria/configuração do reator, todos atuam na está presente no esgoto desinfetado (N). Todos os
determinação da distribuição de dose UV, que é conjuntos de dados individuais evidenciam a
liberada no reator. Para um dado conjunto de formação de cauda. O modelo PFPE (Pennell et al.,
condições operacionais, definidas por esses 2008) foi considerado consistente com esses
parâmetros, a distribuição da dose de UV torna-se conjuntos de dados; portanto, a regressão não linear
essencialmente determinística. Por outro lado, o foi aplicada a cada um dos conjuntos de dados para
valor de N0 e a cinética intrínseca da inativação gerar as estimativas dos parâmetros do modelo
microbiana exibem variabilidade considerável, PFPE (ver equação 8.39). Como tal, esta análise
como ilustrado na Figura 8.15. Por extensão, para resultou em 46 conjuntos independentes de
uma determinada condição operacional, a grande parâmetros do modelo.
maioria da variabilidade no desempenho do
processo é atribuível a estes parâmetros, que são Os dados apresentados na Figura 8.15 também
específicos da população microbiana e da água ilustram que a dose de UV254 de 10 a 15 mJ/cm2
sendo tratada. atenderá com segurança os limites permitidos para
a descarga do efluente da estação de tratamento na
qual as amostras foram coletadas. Isto é notável
porque as diretrizes convencionais de projeto, tal
como a Ten States Standards (Managers, 2014),
recomenda dose nominal de 30 mJ/cm2, ou maior,
a ser usada na desinfecção de esgoto. Os dados
apresentados na Figura 8.15 indicam que isto
representa superdimensionamento por um fator de
2 a 3 para esta estação de tratamento.
de APA para cada condição operacional. Igual ao modelo estocástico de desinfecção com APA gerou
modelo estocástico de desinfecção com UV, os estimativas do desempenho do processo como
autores observaram que a distribuição de dose foi função da condição operacional, incluindo a
essencialmente determinística para uma variabilidade. Essa abordagem de modelagem
determinada condição operacional. A natureza permite que os projetistas e operadores desses
estocástica do processo foi atribuída à variabilidade sistemas, com base nas informações, tomem
da cinética de desinfecção. Também como o decisões sobre a operação de seus sistemas para que
modelo estocástico de desinfecção com UV, o os objetivos do tratamento sejam atendidos.
Figura 8.16 Ilustração esquemática da abordagem de modelagem Monte Carlo usada para simulação de desinfecção com
radiação UV em estação de tratamento de esgoto em escala plena (adaptado de Ahmed et al., 2019). Para uma determinada
condição operacional, como definida pela geometria do reator, vazão, potência da lâmpada e transmitância de UV, a
distribuição de dose liberada pelo reator foi calculada com base na aplicação da fluidodinâmica computacional integrada e no
modelo de simulação do campo da taxa de fluência (isto é, modelo FDC-I; superior esquerdo). Para cada experimento de dose-
resposta, um modelo cinético foi aplicado para obter a estimativa dos parâmetros do modelo dose-resposta (inferior
esquerdo). Amostragem quase-aleatória dos parâmetros do modelo e N0 foram aplicadas para a previsão de rendimento do
reator com base no modelo de escoamento segregado. Para cada simulação, uma estimativa de N foi feita. Coletivamente,
esses resultados das simulações produziram estimativas do desempenho do processo, incluindo a variabilidade, para
determinada condição operacional.
A Figura 8.17 ilustra os resultados dessa que entra no sistema, bem como pelas
abordagem de simulação estocástica para duas variabilidades desses parâmetros e pelos requisitos
condições operacionais distintas. da qualidade microbiológica do esgoto desinfetado.
A qualidade da água afluente ao sistema de
desinfecção será influenciada pelos usos da água na
comunidade servida pela estação de tratamento
(por exemplo, residencial, comercial, industrial),
bem como pelos processos de tratamento que
precedem o sistema de desinfecção. A vazão
também será influenciada pelo tamanho da
comunidade e pelos padrões de uso da água na
comunidade. Nas comunidades com sistema de
coleta de esgoto combinado, a vazão e a qualidade
da água afluente à estação de tratamento podem
apresentar grandes variações durante os eventos
com escoamento das águas pluviais.
Tabela 8.3 Resumo dos regulamentos de reúso definidos pela California State Water Resources Control Board (Conselho de
Controle dos Recursos Hídricos do Estado da California) (CSWRC Board, 2015).
NMP
< 240 Sempre
100 mL
1)
“Esgoto oxidado” é definido como o esgoto no qual a matéria orgânica foi estabilizada, não é putrescível e contém oxigênio
dissolvido.
2)
“Esgoto filtrado” é o esgoto oxidado submetido a um ou mais processos de separação física, que podem incluir a filtração em meio
granular e ou em membranas.
3)
As condições mínimas exigidas para a desinfecção com cloro incluem a exposição ao desinfetante 450 mg.min/L e tempo de
contato de pelo menos 90 minutos nas condições de vazão máxima na estação seca.
4)
Quando são aplicadas alternativas à desinfecção com cloro, como radiação UV, elas devem atender à inativação de pelo menos 5
log10 para colifagos MS2, poliovírus ou vírus alternativo ainda não usado que seja pelo menos tão resistentes quanto o poliovírus.
fatores contribuem para este comportamento, Como indicado nas equações que são usadas
incluindo a presença de canais longos com menos para descrever a cinética de desinfecção com cloro
voltas no sistema. Como regra geral, os tanques de ou APA, a dose desinfetante (Ct) representa a
contato para desinfetantes químicos devem ser principal variável que rege a eficácia da
projetados tal que cada passagem através do reator desinfecção. Como tal, um tempo de contato
tenha razão (comprimento : largura) que se relativamente pequeno pode ser compensado por
aproxima de 20:1, com duas ou mais passagens. uma concentração relativamente elevada de
desinfetante. Esta relação pode ser usada para
definir uma estratégia de controle para o sistema de
desinfecção. Por exemplo, em condições de vazão
baixa, será observado tempo de contato longo no
tanque de contato, o que permitirá manter uma
concentração relativamente baixa de desinfetante.
Inversamente, em condições de vazões elevadas, o
tempo de contato será relativamente curto, de
forma que a concentração do desinfetante deverá
ser aumentada para manter a eficácia adequada da
desinfecção.
Figura 8.18 Ilustração esquemática (planta) de tanques de
contato para desinfetante químico. As setas indicam as
8.8.2 Sistemas de desinfecção UV
trajetórias predominantes do escoamento da água
através do sistema. As áreas pontilhadas indicam zonas O desenvolvimento do projeto do sistema de
que são normalmente caracterizadas por mistura desinfecção com UV deve envolver a
ineficiente e circulação, às vezes referenciadas como caracterização do histórico de vazões e a
“zonas mortas”, que são partes desses sistemas que transmitância UV (TUV) da água a ser tratada. O
diminuem o desempenho do processo. registro da vazão fornecerá informação para definir
a faixa das vazões a serem tratadas pelo sistema.
As exigências de tempo de contato para o cloro Essa informação é fundamental para o projeto, pois
e APA são semelhantes e, portanto, a conversão da geralmente o sistema de desinfecção deve inativar
desinfecção com cloro para APA é frequentemente eficazmente os microrganismos alvo, atendendo
feita pela adaptação do dispositivo do sistema para aos requisitos locais, mesmo em condições de
atender a injeção de APA, que era anteriormente vazões elevadas. De forma semelhante, o registro
usado para a cloração. Genericamente, as histórico da TUV fornecerá informação para
características geométricas do tanque de contato indicar a faixa de condições que necessitarão ser
que são usadas para desinfecção de esgoto com consideradas para o projeto do sistema. Idealmente,
cloro ou APA são essencialmente idênticas. Os qualquer correlação entre a vazão e a TUV deve
tempos de contato médios típicos desses sistemas também ser identificada, pois pode ser relevante no
variam de 30 a 120 minutos, dependendo dos desenvolvimento do algoritmo de controle do
requisitos da aplicação e das restrições regulatórias sistema.
locais. O tamanho total do tanque de contato deve
ser baseado em medições da série temporal da O desempenho do processo nos sistemas de
vazão a ser tratada no sistema. As medições de desinfecção com UV é regido pela distribuição da
vazão devem ser feitas em período de tempo longo dose de UV fornecida pelo reator aos
o suficiente para permitir a quantificação das microrganismos alvo. Por sua vez, a distribuição da
variações de vazão que são esperadas no sistema. dose de UV será regida pela geometria interna do
reator, potência de emissão da lâmpada e outros
base em medições em tempo real da vazão e da destino dos vírus nos sistemas de desinfecção está
TUV. aumentando, por eles serem responsáveis pela
maioria das enfermidades veiculadas pela água, e
por alguns vírus serem resistentes aos
8.9 PERSPECTIVAS desinfetantes. É provável que o interesse nessa área
continuará a aumentar. Uma área de interesse
As ferramentas contemporâneas de modelagem específico é o desenvolvimento de ensaios que
possibilitam previsões detalhadas e precisas permitam a avaliação de riscos apresentados pelo
desempenho do processo de desinfecção. Essas norovírus humano, que é responsável por grande
ferramentas são geralmente baseadas nas parte das doenças humanas relacionadas à água. As
aplicações de fluidodinâmica computacional abordagens possíveis podem incluir o
integrada, expressões cinéticas para definição das desenvolvimento de um vírus substituto ou
taxas de consumo do desinfetante, inativação do indicador ou o desenvolvimento de um ensaio para
microrganismo alvo e formação de SPD, com quantificar o norovírus infeccioso nas amostras de
informação sobre a qualidade da água e a vazão água. Qualquer das abordagens poderia resultar em
impostas ao reator. As adaptações recentes desses melhorias da compreensão do comportamento do
métodos para incluir simulações estocásticas são norovírus humano nos sistemas de tratamento, que
avanços potencialmente importantes, que resultam por sua vez permitiria o desenvolvimento de
em melhorias simultâneas no desempenho e na melhores projetos de sistemas de desinfecção.
confiabilidade do processo. Esses modelos
estocásticos foram aplicados em sistemas de Atualmente, a maioria das aplicações práticas
desinfecção química e com radiação UV e são de sistemas de desinfecção com UV tem sido
particularmente relevantes em aplicações em baseada em lâmpadas de baixa ou média pressão de
unidades de grande escala, nas quais os custos de mercúrio. No entanto, essas fontes de radiação UV
energia e capital são provavelmente elevados. são disponíveis somente para pequena variedade de
geometrias. Também, a pressão política e pública
Os projetos convencionais de sistemas de para diminuir o uso de mercúrio poderá dificultar,
desinfecção para tratamento de esgoto são focados no futuro, a confiança nessas fontes de UV. As
no uso de somente um desinfetante. No entanto, as lâmpadas de LED e de excímero estão entre as
características dos desinfetantes podem possibilitar alternativas às lâmpadas de mercúrio. Esses tipos
que sejam mais eficazes quando usados de fonte de radiação UV oferecem a possibilidade
combinados do que individualmente. Um exemplo de selecionar a faixa de comprimento de onda de
potencialmente importante evolve o uso de emissão que é otimizada para uma determinada
desinfecção com UV em condições operacionais aplicação, e, ao mesmo tempo, permite a
comuns, com a inclusão de APA ou outro flexibilização na geometria da fonte. À medida que
desinfetante químico para satisfazer a demanda das aumenta a demanda por essas fontes alternativas de
condições operacionais, tais como vazões elevadas radiação UV, seus custos de produção tendem a
ou baixa qualidade da água. diminuir, enquanto sua potência de emissão e a
eficiência de conversão de energia tendem a
Historicamente, o foco regulatório dos sistemas melhorar. Como tal, é provável que os sistemas de
de desinfecção tem sido a concentração de desinfecção com UV baseados em fontes
bactérias indicadoras. No entanto, a maioria das alternativas sejam mais comuns no futuro.
bactérias vegetativas tende a ser facilmente
inativada e pode não ser bom indicador das
ameaças à saúde humana pelos microrganismos
patogênicos no esgoto sanitário. O interesse pelo
NOMENCLATURA
Siglas Descrição
APA Ácido peracético
APF Ácido perfórmico
APP Ácido perpropiônico
BP Baixa pressão
DCPs Dímeros de ciclopirimidina
DMFS Detector microfluorescente de sílica
EPID Estrutura de Projeto Integrado de Desinfecção
ERO Espécies reativas de oxigênio
FDP Função de Distribuição de Probabilidade
FDC Fluidodinâmica computacional
HNV Norovírus humano
LEDs Light emitting diodes - Diodos emissores se luz
MNV Norovírus murine
MON Matéria orgânica natural
MP Média pressão
MWRDGG Metropolitan Water Reclamation District of Greater Chicago
PFPE Persistência Fenotípica e Proteção Externa
PPR Potencial padrão de redução
SODIS Desinfecção solar da água
SPD Subprodutos da desinfecção
TUV Transmitância UV
UFC Unidade formadora de colônias
UV Ultravioleta
UVV UV vácuo
Figura 8.20 Este livro foi concluído durante o surto epidêmico do SARS-Coronavírus-2 (SARS-CoV-2). O trabalho de Medema et
al. (2020) demonstrou a presença do RNA viral SARS-CoV-2 no esgoto. De acordo com o conhecimento atual, o novo
coronavírus é eliminado nas fezes, mas é questionável se ele ainda é infeccioso após a eliminação dessa maneira. O SARS-CoV-
2 é membro de um grupo que não tem significante rota de transmissão veiculada pela água. Portanto, o consenso baseado no
conhecimento atual é que os protocolos padrão são suficientemente protetores. (Imagem: A. Eckert e Higgis, título da figura
adotado de https://www.kwrwater.nl/)
9 Aeração e Mistura
Diego Rosso, Michael K. Stenstrom e Manel Garrido‐Baserba
Tradução: Bruno Sidnei da Silva
Tabela 9.1 Resumo de todo as definições utilizadas para especificar sistemas de aeração.
Símbolo Definições Observações
WO2 Vazão mássica de oxigênio alimentada no tanque de
aeração
OTR Taxa de transferência de oxigênio em água limpa OTR = kLa.(ODSat – OD).V
SOTR Taxa de transferência de oxigênio padrão em água
limpa
OTE Eficiência de Transferência de Oxigênio em água 𝑂𝑇𝑅 (𝑂2,𝑒𝑛𝑡.−𝑂2,𝑠𝑎í𝑑. )
limpa 𝑂𝑇𝐸 = ~
𝑊𝑂2 𝑂2,𝑒𝑛𝑡.
SOTE Eficiência de Transferência de Oxigênio sob
condições Padrão (%)
AE Eficiência de Aeração em água limpa 𝑂𝑇𝑅
𝐴𝐸 =
𝑃
SAE Eficiência de Aeração padrão em água limpa
KLa Coeficiente de transferência de massa líquido-gás Medido em testes em água limpa
(1/h)
𝛼 Fator alfa, razão entre o kLa de um difusor novo em αSOTE (kL a) água de processo
α= ou α =
água de processo com o kLa de um difusor novo em SOTE (kL a) água limpa
superficiais) para condições similares (Stenstrom e um misturador ou uma turbina, ou (ii) pela
Gilbert, 1981). Entretanto, é preciso lembrar que liberação de ar através de borrifadores ou materiais
fatores alfas altos são usualmente associados com porosos. Além disso, existe uma terceira categoria
baixa SOTE e vice-versa, devido a geometria e de tecnologia: (iii) novos dispositivos (referidos
hidrodinâmica das bolhas e das gotículas. como sem bolhas, por exemplo os MABR) que
utilizam a sua porosidade intrínseca como uma
Diferenças nos fatores 𝛼 entre sistemas de verdadeira membrana semi-permeável, como as
aeração foram observados já no início da década de membranas de osmose reversa, para transferência
1930 (Kessener e Ribbius, 1934), mas foram de gás para o meio líquido. Essas membranas
geralmente esquecidos até a crise de energia da permitem o trânsito de água e ar através da
década de 1970, que aumentou a consciência sobre membrana, sem permitir a passagem de soluto ou
tecnologias energeticamente eficientes. Antes da material em suspensão, e sem gerar uma interface.
década de 1980, muitas estações foram projetadas Também há outros equipamentos de aeração, como
com um fator 𝛼 de 0.8, que era considerado um as turbinas submersas ou difusores de jato (jet
fator 𝛼 ‘universal’ para todos os tipos de sistemas diffusers em inglês), que podem criar bolhas finas
de aeração. Entretanto, está sendo demonstrado que sem utilização de pequenos orifícios, ou seja, são
métodos de aeração diferentes apresentam aeradores de bolhas finas, mas não são aeradores de
diferentes fatores 𝛼, e para difusores de bolha fina poros finos. Estas tecnologias utilizam a energia
o fator 𝛼 decresce ao longo do tempo de operação mecânica para cisalhar bolhas grandes em bolhas
devido ao “fouling (incrustação biológica)” ou finas. Entretanto, devido a sua ineficiência, elas
incrustação química (Boyle e Redmon, 1983). têm sido largamente abandonadas pelas estações de
Além disso, para sistemas de bolha fina em lodo tratamento de esgotos municipais.
ativado, o fator 𝛼 é função das condições de
processo como o tempo de retenção celular (TRC) O mecanismo de transferência de oxigênio em
ou idade do lodo (IL), também chamado de tempo processos de lodo ativado é ainda longe de ser
médio de retenção celular (TMRC), ou a vazão de totalmente descrito ou modelado, apesar do
ar (Rosso e Stenstrom, 2005). Adicionalmente, o conhecimento disponível. Atualmente especialistas
efeito da biomassa sobre o fator 𝛼 vem sendo reconhecem que a taxa de transferência de oxigênio
registrado (Cornel et al., 2003; Krampe ; Krauth, pode ser avaliada pelo coeficiente de transferência
2003; Germain et al., 2007; Henkel et al., 2011), de oxigênio volumétrico global, KLa, que é
fornecendo as evidências necessárias que estão composto pelo coeficiente de transferência de
direcionando os esforços para estudo da dinâmica oxigênio global, KL, e pela área de interface
dos fluidos nos tanques de aeração (por exemplo disponível para troca, a. KLa é geralmente
Fayolle et al., 2007). determinado para água limpa, seguindo a norma
ASCE. Ele é utilizado como uma constante ou
9.1.2 Bolhas finas, bolhas grossas e como função da vazão de ar, com base nas
gotículas seguintes premissas: (i) o tanque de aeração é de
mistura completa; (ii) as características reológicas
Os sistemas de aeração transferem oxigênio do lodo ativado não impactam significativamente
para um meio líquido pela difusão do gás através na transferência de oxigênio, e (iii) a aeração é
da interface gás-líquido, ou dissolvendo o gás em fornecida ao tanque de forma homogênea. Essas
uma solução líquida utilizando uma membrana premissas são conhecidas como o limite de
semi-permeável. Em outras palavras, tecnologias acurácia para modelos de eficiência de aeração e
ambientais podem contar com (i) transferência como tal dificultam qualquer estudo de otimização
gasosa interfacial, com uma interface gás-líquido que delas fazem uso (Amaral et al., 2016;
criada pelo cisalhamento da superfície líquida com Karpinska et al., 2016). Portanto, esses modelos de
aeração têm sido ampliados utilizando relações aeradores superficiais do que como aeradores de
empíricas, como o fator 𝛼 mencionado bolhas finas. Aeradores de alta turbulência podem
anteriormente (ver seção 9.2.1.3), para introduzir a atingir taxas de transferência melhores, mas por
dependência de condições operacionais e outro lado apresentam alta demanda de energia, e
ambientais no processo. baixa eficiência de aeração.
dos anos de 1970, e atualmente a maioria das também reduzem as perdas de calor (Lippi et al.,
estações de tratamento de esgoto municipal 2009; Talati e Stenstrom, 1990).
geralmente utilizam difusores de bolhas finas. As
altas taxas de vazão em difusores de bolhas grossas Entretanto, os difusores de poros finos
geram aerossóis e spray que usualmente apresentam duas grandes desvantagens: a primeira
necessitam algum tipo de gestão. é a necessidade de limpeza periódica. Cada difusor
de poros finos suja inevitavelmente e
Difusores de bolhas finas inexoravelmente. Além disso, a incrustação
Os difusores de bolhas finas podem ser produzidos inorgânica e a degradação do material (ou seja, seu
por diferentes tecnologias, seja pela liberação de ar envelhecimento) adicionam complexidade ao
através de uma placa porosa, pequenos orifícios, ou problema de quantificar os cronogramas de
pelo cisalhamento mecânico de bolhas grandes em limpeza e substituição. Nenhum difusor é imune da
pequenas. A mais recente tecnologia utiliza combinação desses fenômenos, a diferença é
turbinas submersas ou difusores de jato (jet- somente a extensão deles para cada instalação em
diffusers), que criam bolhas finas, mas o fazem sem particular.
possuir pequenos orifícios, e em ambos os casos a
energia mecânica é utilizada para o cisalhamento
de bolhas grandes em bolhas finas. As bolhas finas
provenientes de turbinas submersas ou difusores de
jato (jet-diffusers) apresentam SAE (na faixa de 1,2
– 1,8 kg.O2/kWh) menores que bolhas finas
provenientes de difusores de bolhas finas. Além
disso, suas bolhas são liberadas em poucos pontos
concentrados, muitas vezes ocasionando uma
distribuição desigual de OD e uma menor
eficiência geral.
Figura 9.7 Aplicação de difusor de poros finos em lagoa aerada. Os tubos de ar (na parte superior da unidade difusora)
distribuem o ar ao longo da lagoa e as mangueiras verticais transportam o ar dos tubos de ar para as unidades difusoras
(localizadas próximo ao fundo da lagoa). A imagem à esquerda mostra uma unidade difusora em demonstração em uma feira
técnica. Este sistema pode ser utilizado em lagoas com profundidades irregulares.
A tabela resumo abaixo compila a experiência dos processos com alto tempo de retenção de lodo.
autores abrangendo as últimas quatro décadas em Isso indica que a eficiência não é somente uma
muitas estações de recuperação de recursos função do sistema de aeração, mas também do
hídricos (ERAR) (tabela 9.2). Os números são processo onde ela está instalada. Por isso nossa
para comparações relativas e não devem ser declaração de advertência contra o uso desses
utilizados para finalidades de projeto. Observe que dados para projeto, uma vez que os números aqui
os difusores de poros finos têm o potencial de podem corresponder a configurações de processo
atingir as mais altas AE (eficiência de aeração), muito diferentes do caso em projeto.
mas oferecem seu melhor desempenho em
Tabela 9.2 Resumo da eficiência de aeração (AE), eficiência de aeração padrão (SAE) e fatores ‘α’ ponderados para vazão de
ar de sistemas de aeração disponíveis comercialmente. Essas faixas são o resultado de décadas de medições de campo pelos
autores em um grande número de ERAR operando em configurações muito diferentes. Utilize por sua própria conta e risco!
Tipo de aerador SAE, kg.O2/kWh Baixa idade do Alta idade do Lodo Fator ‘α’
Lodo e AE sob 2 e AE sob 2
mg.O2/L mg.O2/L
Alta velocidade 0,9 – 1,3 0,4 – 0,8 0,4 – 0,8 0,47 – 0,64
Baixa velocidade 1,5 – 2,1 0,7 – 1,5 0,7 – 1,5 0,48 – 0,71
Turbina 1,2 – 1,8 0,4 – 0,6 0,6 – 0,8 0,30 – 0,47
Injetores (jets) 1,5 – 1,7 0,8 – 1,2 0,8 – 1,2 0,37 – 0,60
Bolha grossa 0,6 – 1,5 0,3 – 0,7 0,4 – 0,9 0,35 – 0,64
Bolha Fina 3,6 – 4,8 0,7 – 1,0 2,0 – 2,6 0,20 – 0,55
No caso de lagoas ou tanques com fundo de superficiais escovantes é utilizada para bombear o
terra, o fundo deve ser devidamente protegido da líquido e não para a aeração. Portanto, valos de
abrasão superficial provocada pelo líquido. Não é oxidação com aeradores superficiais escovantes
incomum que aeradores de superfície criem geralmente são candidatos para retrofitting por
depressões em tanques com fundos de terra, difusores de bolhas finas ou por misturadores /
permitindo que rochas e detritos entrem e bombas mecânicas subsuperficiais de baixa
danifiquem suas hélices ou criem instabilidades potência (como os misturadores ‘banana-blade’),
estruturais. Além disso, para lagoas muito largas e que devem reduzir significativamente o consumo
rasas, a zona de influência do aerador pode não se de energia dos valos de oxidação.
estender até a borda da lagoa, potencializando a
deposição de sólidos e a formação de lodo. Uma aplicação menos frequente para aeradores
superficiais escovantes são as lagoas aeradas rasas
Um tipo de aerador de superfície que fornece (figura 9.11). A escova superficial é montada em
aeração e mistura, além de conferir velocidade uma barcaça flutuante, aberta no centro, onde o
horizontal à água, é o aerador superficial escovante aerador de superfície realiza a mistura e aeração.
ou rotor (de eixo horizontal ou vertical), Esse tipo de tecnologia de aeração é escolhido para
normalmente encontrado em valos de oxidação lagoas devido a facilidade de operação e
(Fig. 9.10). Esses aeradores de baixa rotação manutenção, já que a barcaça pode ser facilmente
geralmente apresentam elevados requisitos puxada para a terra para realizar as ações de
específicos de energia (em outras palavras, baixa manutenção ou reparo. Além disso, o aerador pode
SAE) já que eles bombeiam o líquido assim como ser movimentado para evitar o acúmulo de lodo no
aeram. Em valos de oxidação, uma velocidade fundo.
mínima do líquido é necessária para manter o licor
misto em suspensão. Em tanques plug-flow não há
necessidade de manter uma velocidade do líquido.
Uma vez que a água é cerca de três vezes mais
densa que o ar, muito da energia dos aeradores
Figura 9.10 Um valo de oxidação (conforme esquema acima) equipado com um aerador superficial escovante (rotor de eixo
horizontal) parado (a esquerda inferior) e em operação (a direita inferior).
Figura 9.11 Um aerador superficial escovante (rotor de eixo horizontal) montado sobre uma barcaça em uma lagoa aerada.
Tabela 9.3 Resumo das principais características de sopradores de deslocamento positivo e centrífugos.
Sopradores de Deslocamento Positivo (DP) Sopradores Centrífugos
• Mais econômico em pequena escala • Econômico para todas as escalas, mas
especialmente para grandes instalações
• Barulhento - o ruído associado aos lóbulos • Podem também ser barulhentos, mas os sons
rotativos é mais difícil de amortecer. Três giratórios contínuos e de frequência mais alta
sopradores de lóbulo abordam parcialmente são mais fáceis de amortecer.
essa deficiência.
• A operação com pressão excessiva causa
• As transmissões de vibração para tubos e oscilação, que pode resultar na destruição do
suportes são, algumas vezes, problemáticas soprador.
• Sobrecargas do motor com pressão de • Proteção da corrente e controladores de
descarga excessiva, exigindo proteção da detecção de vibração são necessários para
corrente do motor. uma operação segura.
• Possíveis pressões de descarga mais altas • Possível alta vazão de descarga.
Figura 9.17 Sopradores centrífugos de simples estágio com engrenagem integrada. No topo à esquerda: Bateria do soprador;
no topo à direita: detalhe da entrada em exibição com o servomotor operando as palhetas-guia à esquerda da entrada; inferior
esquerdo: detalhe das aletas de entrada; canto inferior direito: detalhe das palhetas-guia de descarga.
9.1.5 O ‘elefante na sala’: Processos com a maioria dessas instalações estão situadas em áreas
Oxigênio Puro - POP populosas e tendem a ser instalações de grandes
processos. Na configuração mais comum, de 3 a 5
O processo de lodo ativado com oxigênio puro reatores são utilizados em série para garantir uma
(LAOP, Figura 9.20) envolve a utilização de alta utilização do oxigênio aplicado. Estações
oxigênio puro em reatores de estágio coberto ao maiores normalmente terão vários trens paralelos
invés de difusores de ar ou aeradores mecânicos em de reatores. O processo foi introduzido e
tanques descobertos. O processo foi desenvolvido desenvolvido pela Union Carbide Corporation.
para combater a necessidade de expansão da planta Para conhecer a história da tecnologia e seu
em termos de capacidade quando encontram-se desenvolvimento, veja o livro do inventor do
presentes questões físicas da instalação. Portando, processo (McWhirter, 1978).
Figura 9.20 Típico processo de lodo ativado com oxigênio puro. Os reatores em série são cobertos enquanto os decantadores
secundários são abertos para a atmosfera.
A adoção dessa tecnologia atingiu sua Os processos LAOP são quase que
maturidade uma geração atrás (no meio da década exclusivamente eficientes para remoção de
de 1980). A idade dessas instalações, combinada DBO5,20, sendo isso um desafio quando requisitos
com o aumento dos custos de energia e o aumento de remoção de nutrientes são colocados para a
no interesse pela remoção/recuperação de instalação. Tradicionalmente, estações com OP que
nutrientes, impôs uma questão sobre o que fazer necessitavam de nitrificação foram construídas
quando nos aproximarmos do final de sua vida útil. como duas estações em série com decantadores
Uma grande porção, se não a maior parte da vazão secundários entre os dois estágios. Além disso, se a
de esgoto dos Estados Unidos é recebida em um água de reuso tornar-se uma parte integrante do
pequeno número de instalações do tipo LAOP. portfolio do sistema de abastecimento de água em
Mais importante, aproximadamente um terço da várias áreas, alterações nas estações LAOP estarão
vazão de esgoto dos Estados Unidos é administrada no horizonte e o futuro dessas estações LAOP
por 47 estações maiores que 100 MGD (Metcalf & necessita ser repensado para resolver os seguintes
Eddy, 2014), muitas delas localizadas em áreas problemas:
costeiras (por exemplo Nova Iorque, Boston,
Philadelphia, Los Angeles, São Francisco, Miami, • Os arranjos das tubulações para aplicação de
Seattle, etc.). Na verdade, dado o pequeno número gás oxigênio dos reatores de estações com OP
de estações LAOP e seu tamanho relativamente também retém escuma. Para combater esse
grande, a análise de um pequeno número de problema, estações com OP são geralmente
estações pode impactar um grande número de operadas com idade do lodo muito baixa a fim
pessoas atendidas em uma escala continental. de permitir a lavagem pelo sistema de
organismos espumantes. Idade do lodo na faixa solução seria aumentar o volume do reator, o
de 1 a 2 dias são comuns em estações com OP. que pode não ser possível.
• Baixa idade do lodo previne a nitrificação, que • As instalações de geração de oxigênio de
geralmente não é necessária para grandes muitas estações com OP estão no final de sua
estações localizadas em áreas costeiras. vida útil e precisam ser recuperadas, o que
Quando a nitrificação é praticada em estações demandará capital e uma dependência contínua
com OP, com o aumento da idade do lodo, pode dessa tecnologia. Avanços recentes na
ser necessário o ajuste do pH no sistema. Os tecnologia de oscilação da pressão a vácuo
reatores fechados de estações com OP podem moderar esse problema, uma vez que
previnem o stripping de dióxido de carbono esta nova tecnologia é talvez duas vezes mais
com baixos valores de pH. É comum observar eficiente do que as tecnologias anteriores de
pHs de 6,0 no efluente de reatores de estações geração de oxigênio.
com OP, que reduz as taxas de nitrificação e • A simples conversão de aeradores de superfície
pode causar corrosão excessiva. Será também em difusores de poros finos em estações com
necessário desenvolver novos procedimentos OP não é viável com os equipamentos
para reduzir o intumescimento do lodo. existentes. A operação com OP não é
• A operação sob baixa idade do lodo usualmente compatível com as tubulações do sistema de
produz um efluente que não é adequado para aeração e difusão existentes. Uma nova geração
água de reuso, devido a alta concentração de de difusores de poros finos com materiais
SST e a pobre remoção de contaminantes adequados será necessária. Também, os
emergentes (Leu et. al., 2012). aeradores de baixa rotação utilizados em
• A operação sob baixa idade do lodo e alto estações com OP apresentam altos fatores alfa
cisalhamento nos reatores geram outros (0,8) sob baixa idade do lodo. Os difusores de
desafios na separação dos sólidos, devido ao poros finos teriam fatores alfa muito mais
pobre adensamento do licor misto e elevado baixos (~ 0,4) para idades do lodo baixas.
volume de lodo de excesso (por exemplo baixa
concentração de SSRB – sólidos em suspensão
no reator biológico).
• O consumo de energia de estações com OP
pode ser maior que de estações aeradas.
Inicialmente quando as estações com OP foram
introduzidas, elas eram mais eficientes
energeticamente que as estações aeradas devido
ao fato de que as estações aeradas utilizavam
sistemas de aeração do tipo de bolhas grossas
com trajetória em espiral. Entretanto, com o
surgimento dos difusores de poros finos e sua
instalação preenchendo completamente o piso Figura 9.21 Ilustração de alguns desafios enfrentados por
do tanque, a situação se inverteu. processos de LAOP para três estações amostradas.
• Será difícil converter estações com OP em
estações aeradas devido a alta TCO que a Um processo bem controlado atinge de 70 a
operação de estações com OP suporta. A TCO 80% de utilização do oxigênio pela bactéria, o que
do primeiro reator pode ser tão alta quanto 150 significa que de 20 a 30 % do oxigênio gerado está
mg/L.h que está bem acima da máxima TCO sendo desperdiçado. Na verdade, as previsões
praticada por sistemas eficientes de difusores originais da Union Carbide de desempenho ideal,
de poros finos, na ordem de 80 mg/L.h. Uma atingindo ~ 90% de utilização de oxigênio,
A mistura e aeração de tanques de lodo ativado loco proposta por Barnard et al. (2017). As
são processos intensivos que consomem muita condições de mistura incompleta visam permitir
energia, portanto, tornou-se importante otimizar o que mantas de sólidos se desenvolvam no piso das
equipamento de mistura (Füreder et al., 2018; zonas não-aeradas, desencadeando condições
Sharma et al., 2011). Enquanto a aeração pode anaeróbias na manta e promovendo processos
representar cerca de 50-75% do consumo total de relacionados à fermentação, que transformam o
energia de uma ERAR (Reardon, 1995; Rosso e carbono orgânico complexo em carbono orgânico
Stenstrom, 2005; WEF, 2009), alguns autores mais facilmente biodegradável e disponível. Deve-
mostraram que a mistura consome 5-20% (Füreder se ter cuidado ao explorar essas configurações,
et al., 2018; Krampe, 2011). Além disso, até três devido aos efeitos secundários da fermentação
quartos dos tanques apresentam potencial de excessiva (Barnard et al., 2017).
otimização em termos de consumo de energia
(Füreder et al., 2018). Portanto, o estudo e a 9.2.1 Quantificação e projeto de sistemas
otimização da mistura caminham lado a lado com de mistura
qualquer esforço para diminuir a intensidade
energética e aumentar a sustentabilidade do A abordagem conservadora tradicional de
processo de tratamento. superdimensionar sistemas de mistura durante a
fase de projeto pode ter grandes desvantagens
A aeração é em geral não desacoplada da (Pretorius et al., 2015). Isso inclui capital
mistura, mesmo se são utilizados aeração excessivamente gasto em equipamentos e muita
superficial ou difusores de ar. A liberação de um energia usada durante toda a vida útil do
fornecimento contínuo de bolhas satisfaz a misturador, desperdiçando recursos e energia e
demanda de oxigênio, mas também mantém as impactando negativamente o meio ambiente. Além
condições de mistura dentro do reator, o que ajuda disso, a mistura excessiva em zonas anaeróbias ou
a garantir que o substrato correspondente (isto é, anóxicas pode levar à entrada de ar, impactando
DQO, NO3-, AGVs, etc.) esteja em contato com negativamente o desempenho do seletor e a
microrganismos. No entanto, desacoplar a aeração qualidade do efluente, especialmente em sistemas
da mistura pode ter vantagens, mas em tais casos a de remoção biológica de nutrientes (RBN). Além
zona não aerada deve ser fornecida com o mínimo disso, a estrutura do floco de licor misto pode ser
de mistura. Fornecer apenas mistura sem aeração danificada, incentivando a quebra do floco e
pode ser feito de duas maneiras. O mais óbvio é por impactando negativamente a sedimentação do lodo
meios mecânicos, geralmente com hélices. Existe a (Rosso, 2018). Finalmente, Barnard et al. (2017)
opção de empregar equipamento movido a ar para afirmaram que misturadores de tamanho
fornecer mistura, mas deve-se tomar cuidado para excessivamente conservador muitas vezes inibem a
evitar a transferência de oxigênio (por exemplo, fermentação de DQO rapidamente biodegradável -
misturando zonas anóxicas com difusores de bolha DQOrb em zonas anaeróbias devido à aeração
grossa, a la Neethling?). O advento de dispositivos acidental, limitando assim o potencial de remoção
mecânicos que podem fornecer transferência e biológica de fósforo ‘P’. Todas essas desvantagens
mistura de oxigênio (por exemplo, aerador / sublinham a importância de um projeto adequado
misturadores hiperbólicos) fornece a oportunidade para o equipamento de mistura.
de ajustar zonas aeradas, oscilantes e intermitentes
com apenas uma unidade de equipamento. Garantir as condições de mistura adequadas
requer uma quantificação do nível de mistura. No
Às vezes, limitar ou reduzir as condições de entanto, a questão de como quantificar a
aeração e mistura pode fornecer remoção “suspensão homogênea” em tanques de aeração é
aprimorada de nutrientes, como a fermentação in objeto de um debate contínuo, pois outros autores
definiram diferentes benchmarks para essa principalmente ao ruído de medição (ou erro) de
condição (Rosso, 2018). Os métodos propostos sondas OD nessa baixa faixa de operação. Outros
para quantificar a eficácia da mistura podem ser fatores, como taxas de conversão biológica,
divididos em dois grupos: tradicionais e concentrações de substrato, concentração de vários
computacionais (CFD). Na maioria dos projetos, as aceptores de elétrons, etc. também afetam a
condições fictícias de mistura completa são ocorrência de reações anóxicas ou anaeróbias.
geralmente assumidas (Stamou, 2008), mas na
realidade fatores podem impactar essa “mistura boa Uma abordagem promissora no monitoramento
ou completa” teórica no processo de lodo ativado. da mistura é o mapeamento do tanque usando
Mesmo que algumas regras práticas comuns medições da taxa de consumo de oxigênio (TCO).
indiquem os requisitos mínimos de ar para fornecer A TCO é um indicador da atividade da biomassa
boas condições de mistura (Metcalf e Eddy, 2013; (mgO2/L.h) e pode se tornar uma técnica
Pretorius et al., 2015), nenhuma delas pode assumir importante na avaliação da distribuição das reações
o impacto de outros fatores. biológicas que ocorrem no tanque de aeração. O
cálculo e mapeamento correspondente da
É comumente aceito que a necessidade de ar distribuição da atividade microbiana pela TCO
para garantir uma mistura eficaz varia de 1,2 a 1,8 pode detectar as áreas onde a biomassa em
m3/h.m3 de volume do tanque, e que os requisitos suspensão está recebendo menos carga devido a
típicos de energia para manter um regime de fluxo problemas hidrodinâmicos/mistura. Essas medidas
completamente misturado com aeradores de TCO ajudarão a identificar as áreas onde os
mecânicos variam de 13 a 26 W por m3 do volume valores são mais baixos do que o esperado em
do tanque (Karpinska et al., 2016). No entanto, comparação com áreas vizinhas ou experiências
como mencionamos, nenhuma dessas premissas anteriores. No entanto, devemos esclarecer a
considera o impacto da hidráulica do tanque (seção principal limitação desta abordagem, que consiste
transversal, profundidade ou presença de na sua bidimensionalidade. As bolhas coletadas
defletores), entrada de energia ou qualquer outra representam a média dos fenômenos de
variável que possa afetar a mistura. transferência de gás ao longo da lâmina d'água, não
havendo mapeamento de profundidade quando as
Um dos métodos mais comuns usados para bolhas são coletadas na superfície. Em teoria, o off-
quantificar a mistura é o mapeamento do gas poderia ser coletado abaixo da superfície,
Coeficiente de Variação (CoV) da concentração de permitindo assim o mapeamento em 3-D, mas as
sólidos, OD ou TCO. O método CoV pode ser limitações práticas de empurrar a campânula de gás
usado não apenas para sólidos totais em suspensão em profundidade, combinadas com a menor
(SST), mas também para outros parâmetros-chave, transferência de gás em profundidades mais baixas
desde contaminantes (ou seja, DBO5,20, nitrito e (enquanto o erro do instrumento permanece
nitrato) até indicadores de processo, que podem inalterado por profundidade), limitam severamente
trazer informações úteis sobre as condições de esta abordagem. O mapeamento da TCO via off-
homogeneidade existentes. Além disso, o uso da gas depende da coleta do off-gas na superfície, o
medição de OD como indicador de mistura também que significa que apenas as bolhas que atingem a
pode apresentar algumas limitações, superfície no ponto de coleta são capturadas pelo
principalmente em relação aos baixos valores de analisador. Essas bolhas podem ter sido geradas
OD. Valores baixos de OD (isto é, OD<0,5 mg/L) abaixo da campânula de off-gas ou em sua
são difíceis, se não impossíveis, de utilizar para vizinhança (especialmente a montante, devido à
definir as condições reais de oxigênio (aeróbio, velocidade média do líquido). Portanto, a incerteza
anóxico, anaeróbico) e certamente para diferenciar de amostragem é inerentemente incorporada a essa
entre os metabolismos anóxico e anaeróbio, devido medição. A Figura 9.22 foi criada para mostrar dois
perfis típicos de TCO em tanques de aeração hidrodinâmica que estão diminuindo o espaço
(Hodgson et al., 2019). Pode-se ver como o reativo ou funcional dentro do tanque.
mapeamento da TCO revela potenciais atalhos na
Figura 9.22 Mapeamento da TCO. A figura superior esquerda mostra a posição correspondente da campânula de off-gas
implantada para realizar as medições (OTE, %). O eixo X corresponde ao comprimento do tanque de aeração, o eixo Y à TCO
(mgO2/L.h) e Z à largura de passagem do reator. Observe o gradiente visível ao longo da largura do reator.
Nos últimos anos, o uso da Dinâmica de Fluidos ASM não está disponível. Apesar de buscar
Computacional (CFD), que combina análise CFD e resultados mais confiáveis do que os obtidos a
taxas de reação biológicas, vem evoluindo (Fayolle partir do ASM único, essa abordagem depende do
et al., 2007; Karpinska et al., 2016) e tentativas trade-off entre um modelo que pode ser
estão sendo feitas para superar suas limitações implementado e executado em um prazo realista,
atuais (Amaral et al., 2019; Karpinska et al., 2016). e a extensão das simplificações e a precisão da
Potenciais possibilidades de acoplamento dos solução, o que pode levar a uma série de erros de
dados CFD com códigos baseados em ASM foram saída.
exploradas para gerar um modelo adequado de
tanque em série, onde o modelo biocinético pode
ser implementado (Karpinska et al., 2016). No
entanto, até o momento, um modelo CFD capaz de
modelar um sistema de três fases acoplado a um
Ambos
A mistura a ar é outra opção, que inclui todos 9.3 FATORES QUE AFETAM A
os sistemas de aeração por bolhas. Muitos sistemas TRANSFERÊNCIA DE OXIGÊNIO
de bolhas finas são projetados para manter uma
certa vazão de ar mínima, considerado o limite de Diferentes fatores impactam a transferência de
mistura. Muitos difusores movidos a ar são oxigênio em sistemas de aeração, desde o ambiente
projetados especificamente para induzir vazão da até o processo. Nas seções a seguir, o estado da arte
massa líquida, em particular difusores grandes e de a cerca dos fatores que afetam a transferência de
bolhas grossas, mas também alguns misturadores oxigênio é apresentado. Por exemplo,
de bolhas finas, por exemplo, quando utilizados em características relacionadas aos difusores, como o
configurações de trajetória em espiral. Os tipo, profundidade de instalação, distribuição,
misturadores pneumáticos têm a vantagem de tempo em operação, e vazão de ar influenciarão a
distribuir a mistura por toda a coluna de água sem capacidade do sistema de transferir ar na forma de
mover as partes abaixo da superfície do líquido. O oxigênio dissolvido. Similarmente, características
principal benefício de um misturador de ar é que o dos reatores aeróbios como profundidade, volume
efeito da potência de mistura é distribuído e tipo do reator, assim como condições
verticalmente por toda a coluna de água desde o operacionais como tempo de retenção celular ou
ponto de liberação até a superfície. Entretanto, a idade do lodo, processo de remoção de nutrientes,
principal preocupação com o uso de misturadores turbulências, composição do esgoto e fouling
de ar em zonas não aeradas é a transferência (incrustação biológica) influenciarão a
acidental de oxigênio. O conceito de aerar transferência de massa de oxigênio (Eckenfelder Jr
intencionalmente uma zona anóxica com o et al., 1956; Groves et al., 1992; Henkel, 2010). No
entanto, a transferência de oxigênio também pode oxigênio (Rosso e Stenstrom, 2007). O aumento na
ser afetada por outros fatores que podem ser demanda de oxigênio é parcialmente ou mais do
controlados ou previstos como a temperatura, que compensado pela economia produzida pela
pressão barométrica, salinidade ou pressão da maior eficiência de transferência, para processos
coluna de água. localizados em regiões de clima quente.
convencionais devem ser operados na extremidade idade do lodo é a mesma apenas para nitrificação e
inferior de idade do lodo, o processo ND para processos ND, a única diferença parece ser a
(nitrificação e denitrificação) se beneficia de uma presença de seletores anóxicos.
idade de lodo mais longa. Além disso, a faixa de
Figura 9.27 A) Eficiência de Transferência de Oxigênio Padrão para estações selecionadas operando com diferentes
configurações; B) A evolução dos fatores α ou αF para estações selecionadas operando com layouts diferentes. As etiquetas
referem-se ao status do difusor: NOVO (até 1 mês de instalação), USADO (entre 1 e 24 meses de operação), ANTIGO (mais de
24 meses de operação) e LIMPO (até 1 mês de um evento de limpeza). Observe o aumento em α ou αF com o aumento da
Idade do Lodo e o aumento adicional devido aos seletores anóxicos (a Idade do Lodo média para sistemas com apenas N,
nitrificação, e ND, denitrificação, é a mesma).
Figura 9.29 Ilustração da interação do biofilme com as propriedades mecânicas e biomecânicas dos difusores de poros finos,
na superfície do orifício desses difusores, com micrografias mostrando detalhes da estrutura do EPS, fixação do biofilme e os
fenômenos de escamação (adaptado de Garrido-Baserba et al., 2018).
Ao mesmo tempo, a contrapressão (muitas vezes características do orifício (Kaliman et al., 2008).
chamada de pressão úmida dinâmica, DWP – Ambos os efeitos são responsáveis pela diminuição
dynamic wet pressure) geralmente aumenta e, em na eficiência geral do processo e no desperdício de
alguns casos, drasticamente. Este aumento da energia. A limpeza de difusores de poros finos é
pressão úmida dinâmica é devido ao entupimento quase sempre necessária e restaura a eficiência do
de poros em difusores de cerâmica e membrana processo e reduz os custos de energia. Observações
(USEPA, 1989) ou, para membranas poliméricas, de 94 testes de campo mostram que a eficiência
está associado a uma mudança permanente nas diminui com o tempo e a maior taxa de queda
ocorre nos primeiros 24 meses de operação (Rosso biológica) e incrustação química dependendo das
e Stenstrom, 2006a). O declínio da eficiência foi condições do processo, qualidade da água, tipo de
quantificado e incluído nas análises de custos, e o difusor e tempo de operação (USEPA, 1985,1989).
patrimônio líquido foi comparado aos custos de Como resultado, os difusores de poros finos
limpeza. A frequência de limpeza é sempre maior precisam ser limpos rotineiramente. A escolha da
para taxas de incrustação mais altas e a frequência frequência e do método de limpeza determina a
ideal foi tão curta quanto 9 meses e nunca superior eficiência e os benefícios a longo prazo do uso de
a 24 meses. aeração através de difusores de poros finos.
Diferentes métodos têm sido utilizados para limpar
difusores de poros finos, variando em
complexidade e custo. O método mais simples é
esvaziar o tanque de aeração e lavar os difusores da
parte superior do tanque, usando o efluente da
planta. Essa forma de limpeza, chamada de “tank-
top hosing”, é eficaz na remoção do acúmulo de
lodo biológico e geralmente restaura parcial ou
completamente a eficiência. No entanto, para os
casos em que precipitados inorgânicos (sílica,
carbonato de cálcio, gesso, etc.) tenham causado
incrustação química, pode ser necessária uma
limpeza ácida. Além disso, a lavagem manual com
ácido clorídrico de baixa concentração (10 a 15%
Figura 9.30 Eficiência de transferência de oxigênio padrão p/p) é popular e a limpeza com ácido gasoso usando
para água de processo por profundidade (αSOTE/m) de ácido clorídrico gasoso ou ácido acético injetado
103 ETEs em operação de 0 a 60 meses. As ETEs foram nas linhas de distribuição de ar também é possível
divididas em aquelas com idade do lodo menor que 5 dias (Schmit et al., 1989). Esta técnica é limitada aos
e aquelas com idade do lodo maior que 5 dias. difusores cerâmicos, devido à incompatibilidade
entre as membranas poliméricas atualmente
Devido à natureza química e à morfologia desses empregadas e os ácidos inorgânicos fortes.
materiais, eles sofrem fouling (incrustação
Incrustado Limpo
Figura 9.31 Um difusor de disco de EPDM sujo obtido de uma estação de tratamento convencional após 2 anos em operação
(SRT < 2 dias), limpo por escovação de superfície no lado direito. A diferença no número e tamanho das bolhas liberadas é
devido à camada de incrustação biológica ainda presente no lado esquerdo da membrana. O ar liberado dos orifícios na metade
esquerda precisa viajar através da camada biológica e, durante esse tempo de viagem, tem a oportunidade de coalescer e
formar bolhas menores e maiores com transferência de massa desfavorável. O detalhe mostra a membrana na vazão de ar
operacional (foto grande cortesia de Shao Yuan Ben Leu).
Figura 9.32. Exemplos de limpeza de difusores. Topo: um tanque esvaziado equipado com cúpulas cerâmicas antes (esquerda)
e durante (direita) a limpeza por meio de mangueiras situadas no topo do tanque; os difusores limpos são nitidamente de cor
mais clara. Abaixo: limpeza das membranas de poliuretano por meio de escovação.
conhecimento publicado sobre processos aerados um sistema de lodo ativado realmente é. De fato,
em regiões de alta altitude. em um reator real multifásico heterogêneo, o fluxo
de fluido pode ser impactado pela geometria do
A concentração de saturação de oxigênio na tanque, pelas propriedades físicas de seu conteúdo
água é importante para a aeração e representa a (fase, densidade, viscosidade) e pelas variáveis das
quantidade máxima de oxigênio que pode ser condições operacionais (vazões, distribuição de
dissolvida na água (Jenkins, 2013). A concentração oxigênio, temperatura, etc).
de saturação de oxigênio na água é uma função da
pressão barométrica, pressão da água, salinidade e Nos últimos anos, a abordagem baseada em
temperatura (Jenkins, 2013), e diminui modelagem dinâmica mostrou potencial de ser uma
visivelmente quando a pressão atmosférica não é 1 ferramenta poderosa, fornecendo informações
atm e/ou a salinidade (com base na Escala Prática detalhadas sobre o processo da unidade e sobre o
de Salinidade) ou a temperatura é alta. Os comportamento do sistema. Mais detalhes sobre
procedimentos para estimar a concentração de como medir o impacto da hidrodinâmica em ETEs
saturação de oxigênio sob essas condições "padrão" por CFD e suas limitações atuais podem ser
podem ser encontrados em Benson e Krause encontrados na revisão de Karpinska e Bridgeman
(1984). Como dito anteriormente, a força motriz (2016).
para a transferência de oxigênio é o gradiente de
concentração entre a concentração de saturação de Na época em que este livro foi escrito, todo o
oxigênio e o oxigênio dissolvido. Para todos os trabalho utilizando a dinâmica computacional dos
efeitos práticos, a salinidade da água potável pode fluidos para determinar a influência da
ser considerada insignificante. hidrodinâmica ainda não podia ser considerado em
seu estado de maturidade, pois diferentes
9.3.9 Impacto da hidrodinâmica especialistas e grupos de pesquisa ainda estavam
abordando um conjunto de limitações
As seções anteriores deste livro resumiram as fundamentais:
investigações com foco no impacto das condições
ambientais e operacionais do processo na • Em alguns modelos as bolhas são consideradas
transferência de oxigênio. Há também um interesse parte da fase líquida e são contabilizadas
acadêmico em explorar o efeito hidrodinâmico na apenas como uma mudança na densidade do
transferência gás-líquido impulsionado tanto pela líquido, proporcional à fração de retenção do
compreensão mais profunda dos fenômenos de gás; quando cada fase é considerada como
transporte dentro do tanque de aeração quanto pelo tendo seu único vetor de velocidade, um
desejo de modelar a emissão de gases de efeito modelo empírico de arrasto é empregado.
estufa. • Assume-se que as bolhas não mudam de
tamanho durante sua subida, apesar da
Embora o projeto hidráulico de sistemas de mudança na pressão hidrostática em relação a
tratamento de esgoto seja um passo crucial para profundidade da água, e que consequentemente
garantir a operação confiável do processo, na as bolhas não aceleram durante sua subida e não
maioria dos projetos o comportamento do fluxo é aumentam sua perturbação do campo de
previsto através do modelo de reator ideal (Stamou, velocidade do líquido, como de fato acontece.
2008). As ETEs são assumidas, então, como tendo • Assume-se que as bolhas não interagem umas
um regime de mistura completa em todos os tipos com as outras.
de tanques (ou seja, aeróbios, anóxicos e • A viscosidade é o único efeito sobre o
anaeróbios). No entanto, a hidrodinâmica de um coeficiente de transferência de gás, e não
biorreator pode influenciar o quão "bem misturado" considera o efeito de contaminantes (ou seja,
surfactantes), o que equivale a considerar Ativado (ASM) (Henze, 2000; Henze et al., 1987)
exclusivamente a biomassa e não o efeito de é contar como entradas do usuário a possibilidade
agentes que reduzem o fator alfa (como os de inserir parâmetros de ajuste de curva de SOTE e
surfactantes). utilizar fatores αlfa constantes ou variáveis ao
longo do tempo.
O impulso para o avanço desse conhecimento é
certamente importante, pois elucidará os As curvas de SOTE são normalmente corrigidas
fenômenos de transferência de gás cujos efeitos são apenas para vazão de ar, densidade de difusores e
registrados quantitativamente por testes de campo sua submergência (Barker e Dold, 1997; DHI,
(por exemplo, medições de transferência de gás). 2014; Snowling, 2014). Como tanto a OTE quanto
Portanto, a integração de modelagem bem- o fator alfa ‘α’ variam com a carga, ambos exibem
sucedida de tratamento biológico de efluentes uma natureza dinâmica. Embora inúmeras
combinando hidrodinâmica, transferência de massa tentativas de desenvolver relações descritivas ou
e biocinética continua sendo um dos principais preditivas para ‘α’ tenham sido publicadas (Gillot
objetivos na modelagem de processos de efluentes et al., 2005; Gillot e Héduit, 2008; Plano et al.,
(Pereira et al., 2012). 2011; Rosso e Stenstrom, 2005; Wagner e Pöpel,
1998), nenhuma dessas tentativas foram
9.3.10 Dinâmicas diárias e fator alfa completamente bem-sucedidas em descrever a
verdadeira natureza dinâmica do fator α. Portanto,
Os efeitos deletérios na eficiência de transferência o uso de um fator α dinâmico torna-se necessário
de oxigênio causados pela DQO tendem a aumentar para abordar a dinâmica real do processo. A
durante o período diário de maior necessidade de primeira tentativa de modelar o fator α
aeração, o que também tende a ocorrer quando as dinamicamente foi apresentada pelos autores Jiang
cargas de energia e demanda de energia são et al. (2017). Ao realizar testes de 24 horas de off-
máximas (Aymerich et al., 2015). Essa gas na primeira zona aerada de duas ETEs, foi
amplificação frequentemente exacerba os custos de desenvolvida uma correlação entre o fator alfa e a
aeração durante os horários de pico, muitas vezes DQO aplicada ao reator:
resultando em um período de 4-6 horas custando
tanto quanto o restante do dia (Emami et al., 2018). α = A x e−ka x DQO (9.13)
Esse fenômeno ocorre de forma consistente em
quase todos as ETEs, onde as características do onde:
afluente flutuam diariamente, semanalmente e A, ka: Parâmetros de ajuste (ajuste de função por
mensalmente. minimização de erros ou resíduos)
Até o momento, o uso de fatores alfa constantes Os resultados desses experimentos são
é a prática mais comum em projeto e modelagem apresentados na Figura 9.34 mostrando a DQO e o
de processos, promovendo assim imprecisões no fator α negativamente correlacionados em função
fornecimento de oxigênio e a necessidade da carga de DQO afluente à planta de tratamento.
constante de recalibração do modelo para
compensar a falta de estrutura (Amaral et al., 2016;
Plano et al., 2011). Apenas recentemente os
modelos de processo incorporaram a capacidade de
especificar fatores alfa como variáveis em função
do tempo. O estado da arte de projeto e modelagem
de aeração usando simuladores disponíveis
comercialmente baseados no Modelo de Lodo
Q
QN = (9.15)
a x ND x Z
Um novo valor de αSOTE é determinado pela Um exemplo numérico é fornecido. Dada uma
leitura da ordenada do ponto de projeto. Se o novo vazão afluente de 0,875 m3/s, com uma carga de
valor de αSOTE for diferente do valor de αSOTE 180 mg/L SSRB e assumindo um rendimento de
assumido por mais do que uma pequena diferença 0,5 e um coeficiente de decaimento de 0,06 1/d, a
(por exemplo, 0,5%), uma nova taxa de vazão de ar OTR necessária será de 9.540 kgO2/d.
e vazão específica de ar deve ser calculada usando Considerando um tempo de retenção hidráulica de
a nova αSOTE para selecionar um novo ponto de 4 horas, 3 tanques com dimensões de 90 x 9 x 5m
projeto. O novo ponto de projeto está localizado na (comprimento x largura x profundidade) cada, e
Figura 9.36, e um terceiro valor de αSOTE é uma αSOTE inicial de 13,5%, a vazão de ar será de
determinado e comparado com o segundo valor de 0,985 m³/d. Quando o projeto utiliza discos
αSOTE. O processo é repetido até que a nova cerâmicos de 22,9 cm de diâmetro (a = 0,0373 m²
αSOTE e a αSOTE anterior sejam por difusor) operando a 7,87 x 10-4 m³/s por difusor,
aproximadamente iguais. Se o procedimento não 1.252 difusores por tanque é necessário.
convergir, um número diferente de difusores ou Apresentados esses dados, é possível calcular a QN
mesmo uma tecnologia de difusores diferente deve = 0,004152 s-1. Este valor, em conjunto com uma
ser escolhida para o procedimento. idade do lodo de 8,7 dias, é observado na figura
9.36 (ponto I). A nova αSOTE é de 11,9%. Uma
nova QN é calculada como sendo 0,0051 1/s, e o
processo converge até 11,7% após uma interação.
e verificar seu desempenho usando um teste em de fator alfa do fabricante sem abordar criticamente
fábrica ou em campo (testemunhado por um sua validade está expondo a equipe de projeto à
especialista independente) de forma repetível e possível falha do sistema (e provável litígio com o
transparente. É por isso que normas para testar cliente). Na verdade, os engenheiros consultores
sistemas de aeração em água limpa e em água de são contratados especificamente para ajudar o
processo são cruciais. De maneira análoga, o cliente a decifrar as implicações quantitativas das
desempenho e a eficiência do soprador devem ser suposições do projeto: caso contrário, o cliente
avaliados usando a separação de funções ilustrada provavelmente poderia realizar o projeto por conta
aqui. própria. Se todas as funções forem separadas e o
desempenho da aeração for testado de acordo com
protocolos normalizados (por exemplo, ASCE ou
Normas Europeias), o procedimento de projeto
deve resultar em um sistema de aeração totalmente
funcional cujo desempenho e eficiência possam ser
verificados de forma independente e estar dentro
das expectativas almejadas. O papel do especialista
terceirizado é verificar os dados do fabricante e
verificar as suposições do consultor sobre o fator
alfa.
equipe de projeto é recomendada para evitar efeitos Dois cenários foram apresentados na Figura
imprevistos e as discussões resultantes entre as 9.36: o ponto de projeto I mostra o projeto inicial e
partes. é o mesmo do exemplo anterior; o ponto de projeto
II mostra um aumento de carga de 0,875 para 1,094
9.4.1 Algoritmo de verificação / melhoria m3/s, com uma queda no αSOTE de 11,9 para
10,5%. O aumento de 1.094 para 1.313 m³/s para o
Um segundo exemplo é útil para ilustrar o ponto de projeto III resulta em uma queda adicional
crescimento da carga em uma planta existente e é na eficiência para 9,5%. O efeito prático do
mostrado na Figura 9.38. A carga adicional que aumento de carga será um aumento no consumo de
entra na planta aumenta a demanda de oxigênio e, energia elétrica por unidade de carga tratada. A
para fornecer uma maior massa de oxigênio, os importância do exemplo de carga aumentada é
aeradores são operados com uma vazão de ar mais entender que há duas razões para a redução da
alta. Isso causa um aumento no QN, uma vez que o eficiência da aeração: aumento da vazão de ar e
número de difusores e a geometria do tanque não redução da idade do lodo.
mudam. Se a concentração de SSRB não for
aumentada, a ETE operará com idade do lodo mais Quando as estações passam por melhorias ou
baixa. Isso causará duas fontes de redução da adaptações, há a necessidade de dados e parâmetros
eficiência de aeração: menor idade do lodo e maior de projeto dos potenciais fabricantes de difusores.
vazão de ar. Eles podem fornecer diretrizes detalhadas a serem
seguidas para projetar com sucesso o sistema de
aeração, mas os parâmetros de eficiência
fornecidos e garantidos pelos fabricantes devem ser
limitados à água limpa. Os engenheiros de projeto
devem realizar testes específicos no local para
quantificar o fator α para o esgoto, utilizando
técnica de avaliação no local, como o teste de
coluna in loco (Figura 9.39).
frequência da limpeza são específicas do local e lavagem sob pressão devem ser realizadas com um
devem ser avaliadas caso a caso. Ao usar produtos pouco de água acima dos difusores, para evitar
químicos, deve-se ter cuidado para evitar danos na danos mecânicos ou destruição das membranas dos
tubulação e nas conexões de distribuição de ar. A difusores.
limpeza com mangueira no topo do tanque e a
Figura 9.44 Energia consumida pela casa do soprador de uma estação de tratamento de esgoto em escala plena durante um
período de cinco anos. Observe o ciclo sazonal anual, mostrado pelos valores diários (pontos azuis) e a média móvel de 30 dias
(linha laranja). A média de 1 ano (linha preta) mostra o aumento de longo prazo na demanda de energia, quase dobrando no
período coberto por este gráfico. Os cálculos para produzir este gráfico foram baseados em registros de dados do processo.
Figura 9.48 Exemplo de lagoas aeradas em operação em uma grande instalação. Acima uma vista da lagoa do lado do efluente;
na margem esquerda está a tubulação principal de distribuição de ar com todos os cabeçalhos flutuantes onde muitos
conjuntos de difusores estão conectados e flutuando debaixo d'água. No canto inferior esquerdo está uma imagem da casa
do soprador. O centro inferior é uma fotografia de um conjunto danificado sendo recuperado em uma barcaça de serviço;
observe a grande quantidade de trapos sendo retirados da superfície da montagem, visíveis à esquerda e na parte superior da
imagem; uma das membranas do difusor foi removida deste conjunto para estudos de incrustação fora do local. No canto
inferior direito está um detalhe da referida superfície da membrana difusora.
A aeração para lagoas aeradas geralmente é substituição desses sistemas para sistemas de
realizada por aeração mecânica, embora a aeração aeração difusa. Os sistemas de aeração difusa em
difusa seja possível. No caso de aeração difusa lagoas tendem a empregar sistemas flutuantes em
(Figura 9.48), a separação primária é um elemento vez de grids de difusores ancorados no piso. Isso
chave para evitar o acúmulo destrutivo de material facilita a recuperação de conjuntos de difusores em
fibroso e trapos nos conjuntos dos difusores. Para uma única barcaça de serviço e também significa
aeração mecânica, geralmente são empregados que o sistema de difusores funcionará bem em
aeradores de superfície de alta rotação, lagoas com profundidade irregular, nivelando os
normalmente operando na extremidade inferior das difusores à superfície. Essa estratégia mantém até
faixas de SAE. A questão adicional da perda de mesmo a descarga de bolhas em montagens
calor no inverno, agravada pelos sistemas de distantes, uma vez que a submergência dos
aeração de superfície, contribui para o interesse em
Figura 9.49 (A) Diminuição da eficiência de aeração de difusores de poros finos. Dependendo dos tipos de difusores e do tipo
de processo em operação, a taxa de incrustação biológica dos difusores é específica do local. (B) A limpeza dos difusores
recuperou significativamente a eficiência da aeração, e a economia de energia foi calculada pela diferença dos difusores com
e sem limpeza.
A Figura 9.50 mostra os custos de energia de convencionais foi dimensionada para o nível de
aeração nas três estações. Com base no status de ND. Como resultado, os custos de aeração foram
limpeza/incrustação biológica, os difusores foram reduzidos exponencialmente com a Idade do Lodo.
agrupados em três colunas: a coluna azul claro Ao operar com uma idade do Lodo baixa, o status
mostra difusores recém-instalados, a coluna azul de aeração varia drasticamente e mais energia de
escuro mostra difusores limpos e a coluna vermelha bombeamento é necessária devido a mais
escura mostra difusores sujos. A barra de linha no incrustação biológica dos difusores (em vermelho).
topo de cada coluna mostra o desvio padrão dos Idades do Lodo maiores fornecem melhores OTE
resultados do teste, e os custos de aeração de e, portanto, o processo ND requer menos ar para
diferentes processos (convencional ou ND) foram oxidar a mesma quantidade de poluentes. Essa
plotados separadamente para as estações 1 e 2. observação confirmou as observações de estudos
Melhorias significativas na utilização de energia anteriores (Rosso e Stenstrom, 2006b) em que
pela limpeza dos difusores foram observadas, o que maiores idades do lodo associada a um ambiente
proporcionou uma economia de energia de anóxico no processo ND fornecem uma
aproximadamente 4,5 kWh/PE.ano, ou 9.900 composição bacteriana mais saudável que pode
kWh/d na Estação 1. reduzir os impactos negativos dos surfactantes na
transferência de oxigênio (ou seja, um fator alfa
mais alto, Stenstrom et al., 1981). Nesses casos, a
análise de ‘off-gas’ serve como uma ferramenta útil
para a operação da planta e manutenção do difusor.
A Figura 9.51 mostra o custo de aeração sob Figura 9.51 Custos com aeração da Estação 1,
diferentes condições de processo. O custo com apresentados em função do tipo de processo operação da
consumo de energia da Estação 1 foi plotado com a estação e em função da incrustação biológica dos
Idade do lodo. Para comparar diferentes processos, difusores: a incrustação biológica dos difusores foi
as cargas de tratamento foram convertidas para as reduzida para idades do lodo mais altas
mesmas bases: a OTR total dos processos
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NOMENCLATURA
Símbolo Descrição Unidade
a Área de borbulhamento do difusor m²
AE Eficiência de aeração na água limpa Kg.O2/kWh
Q Vazão de ar m³/s
OD Oxigênio dissolvido na água Kg.O2/m³
ODsat Oxigênio dissolvido de saturação na água Kg.O2/m³
kLa Coeficiente de transferência de massa líquido-gás 1/h
kLacw Coeficiente de transferência de massa líquido-gás em água limpa 1/h
kLapw Coeficiente de transferência de massa líquido-gás em água de 1/h
processo
ND Número total de difusores -
OTE Eficiência de transferência de oxigênio em água limpa %
OTR Taxa de transferência de oxigênio em água limpa kg.O2/h
P Demanda de Potência do sistema de aeração kW
SAE Eficiência de aeração padrão kg.O2/kWh
SOTE Eficiência de Transferência de Oxigênio sob condições padrão %
em água limpa
SOTR Taxa de transferência de oxigênio sob condições padrão em água kg.O2/h
limpa
V Volume de água m³
Z Submergência dos difusores m
Abreviação Descrição
AFV Acionamento de frequência variável
ASCE American Society of Civil Engineers - Sociedade americana de engenharia civil
ASM Activated sludge model - Modelo de Lodo Ativado
CFD Computational fluid dynamics - Dinâmica de fluido computacional
DQOrb DQO rapidamente biodegradável
DWP Pressão dinâmica ou contrapressão
EE3 17a-etinilestradiol
EPA Environmental Protection Agency - Agência de proteção ambiental
EPDM Borracha Monômera de Etileno-Propileno-Dieno
ERAR Estação de recuperação de água e recursos
ETE Estação de tratamento de esgoto
F Fator de ‘fouling’ ou incrustação biológica
IL Idade do Lodo
IVL Índice volumétrico do lodo
LAC Processo de Lodo Ativado Convencional
ND Processo de nitrificação e denitrificação
Re Número de Reynolds
rpm Rotações por minuto
SSRB Sólidos em suspensão no reator biológico
Figura 9.52 Sistema de aeração da Estação de Recuperação de Água ‘Donald C. Tillman’, que faz parte do sistema de
tratamento de esgoto da cidade de Los Angeles (foto: D. Rosso).
10 Intumescimento de lodo
Mark C.M. van Lossdrecht, Antonio M. Martins e George A.
Ekama
Tradução: André Bezerra dos Santos e Silvio Luiz de Sousa Rollemberg
volume que é tomado por um grama de lodo após a decantadores. O intumescimento de lodo é
sedimentação. O IVL tem um grande efeito no tipicamente uma operação ou problema empírico,
tamanho necessário do decantador (Figura 10.2), e então não há um valor exato para distinguir um
um aumento no IVL de 100 a 150 ml/g resultará em lodo intumescido de um não intumescido.
quase o dobro da área de projeto necessária para
sedimentação. Detalhes sobre essa medição são Flocos de lodo abertos e porosos assentam mais
fornecidos em Van Loosdrecht et al. (2016). lentamente, portanto exigem decantadores maiores
a fim de serem mantidos nessa unidade de
sedimentação e evitando sua saída no efluente. O
crescimento de bactérias filamentosas é
especialmente prejudicial e leva a muitos
problemas na prática. A fração de volume de
bactérias filamentosas na comunidade de lodo
ativado que causa esse problema pode ser muito
pequena; frações de volume de 1-20% são
suficientes para causarem o intumescimento do
lodo (Palm et al., 1980; Kappeler e Gujer, 1994b).
Embora as bactérias filamentosas muitas vezes não
sejam o grupo bacteriano metabólico dominante no
tratamento, elas ainda causam o intumescimento do
lodo (Figura 10.3).
Figura 10.2 Relação entre o índice volumétrico de lodo
(IVL) e a área superficial necessária para um decantador Apesar de uma vasta quantidade de pesquisas sobre
de acordo com as diretrizes de projeto de decantadores o intumescimento do lodo, esta situação continua a
da STOWA (STOWA, 1994). ser um problema de operação em várias ETEs.
Provavelmente, isso é causado por várias condições
O intumescimento do lodo é um termo usado que causam a proliferação de organismos
para descrever o crescimento excessivo de filamentosos. Muitas bactérias filamentosas não
bactérias filamentosas, problema comum e antigo estão disponíveis em culturas puras, evitando um
no processo de lodo ativado (por exemplo, estudo microbiológico detalhado desses
Donaldson, 1932). Quando os flocos de lodo são organismos. As condições de operação da ETE sob
abertos e porosos, a sedimentação é impedida, e o as quais ocorre o intumescimento de lodo são
lodo sedimentado conterá baixas quantidades de apenas marginalmente documentadas.
sólidos. Na prática, o intumescimento está
associado a um alto IVL. O valor crítico para o IVL Uma razão para não encontrar uma boa solução
acima do qual ocorre o intumescimento do lodo é geral para o intumescimento de lodo pode ser a
fortemente dependente das condições locais do ausência de um consenso sobre o nível exato em
projeto e construção dos decantadores. Na verdade, que o problema deve ser abordado. A abordagem
o volume de lodo geralmente é definido quando os dominante encontrada na literatura é tentar
sólidos em suspensão não podem ser mantidos no identificar as bactérias filamentosas específicas em
decantador, embora diferentes regiões tenham um lodo intumescido (Eikelboom, 1975; 2000).
diferentes tradições na concepção de decantadores. Através dos estudos e compreensão da
Por exemplo, atualmente na Holanda, um IVL ecofisiologia do lodo filamentoso (seja em cultura
acima de 120 ml/g é considerado um lodo pura ou aplicando técnicas in situ, como
intumescido, uma vez que esse valor de índice é microautoradiografia: MAR), espera-se que uma
atualmente usado nas diretrizes de projeto de
Pasveer (1959) voltou à tecnologia original de projetar condições de reator que impeçam a
alimentação e descarte simultâneos de Ardern e proliferação de todos os filamentos e ainda assim
Lockett, a partir da qual ele desenvolveu o sistema alcancem a qualidade necessária do efluente?
Pasveer ou valo de oxidação. Isso reabriu a Mesmo que algumas ETEs nunca tenham
discussão sobre as vantagens da utilização desses experimentado o problema de intumescimento de
sistemas no tratamento de águas residuárias lodo, por décadas os cientistas, engenheiros e
municipais. O valo de oxidação do tipo microbiologistas têm falhado em encontrarem uma
alimentação e descarte simultâneos tornou-se resposta definitiva para essas perguntas. No
relativamente popular na Europa por alguns anos, entanto, alguns relacionamentos podem ser
mas novamente quase todos esses sistemas foram inferidos e serão brevemente discutidos aqui.
logo convertidos em valos de oxidação de fluxo
contínuo pela adição de um decantador secundário 10.3.1 Abordagem microbiológica
e recirculação de lodo. No entanto, durante a
década de 1960, Pasveer mostrou que valos de A falta de sucesso em encontrar uma solução geral
oxidação em grande escala, alimentados para o controle do intumescimento de lodo levou
intermitentemente, produziam um lodo com muitos pesquisadores a olharem para a população
melhor sedimentação do que a alimentação microbiana e procurarem as bactérias filamentosas
contínua em sistemas de mistura completa predominantes responsáveis pelo o
(Pasveer, 1969). intumescimento do lodo. As chaves de
identificação foram desenvolvidas (Eikelboom,
Na década de 1970, Chudoba e seus colegas de 1977, 2000) para identificar bactérias filamentosas
trabalho (1973b) e Rensink (1974) desenvolveram com base na caracterização microscópica.
o reator seletor, que se tornou a ferramenta de
engenharia mais difundida para controlar o Apesar de várias limitações, esses métodos de
intumescimento de lodo. No entanto, embora o uso identificação produziram uma ferramenta
de seletores biológicos tenha sido bem-sucedido e sistemática que permitiu uma relativa confiança na
tenha reduzido os problemas de intumescimento de identificação dos filamentos. A próxima etapa foi
lodo em muitos sistemas de lodo ativado, ainda há encontrar relações entre os filamentos mais
relatos regulares de sua falha. predominantes e sua fisiologia e as condições
operacionais (por exemplo concentração de
oxigênio dissolvido - OD, relação
10.3 RELACÃO ENTRE MORFOLOGIA E alimento/microrganismo A/M etc.) para definir
ECOFISIOLOGIA estratégias (específicas) para seu controle (Jenkins
et al., 1993) (Tabela 10.1). A distribuição dos
Uma das questões mais intrigantes e complexas microrganismos filamentosos varia
sobre o lodo intumescido é se a morfologia, consideravelmente entre as diferentes áreas
fisiologia e cinética do substrato microbiana estão geográficas (Martins et al., 2004a) e sazonalmente.
relacionadas e como elas contribuem para o Pode-se concluir que Microthrix parvicella e os
domínio das bactérias filamentosas no lodo tipos 0092 e 0041/0675 são aparentemente os
ativado. Existe um mecanismo geral que poderia principais filamentos morfotípicos, responsáveis
explicar o crescimento de bactérias filamentosas? pelos eventos de intumescimento de lodo
Ou cada microrganismo filamentoso precisa ser observados em sistemas de lodo ativado com
identificado e descrito fisiologicamente, remoção biológica de nutrientes (BNR). Essas
morfologicamente, cineticamente e pesquisas também mostraram que os episódios de
taxonomicamente para se desenvolver estratégias intumescimento de lodo, supostamente devidos à
de controle do intumescimento do lodo? É possível abundância de Microthrix parvicella, eram mais
Tabela 10.1 Grupos propostos de um morfotipo modelo para microrganismos filamentosos (Wanner and Grau, 1989; Jenkins et
al., 1993).
hydrossis, tipo 1701, tipo 021N, Microthrix dos flocos. Com base nesse raciocínio pode muito
parvicella) e bactérias formadoras de floco bem ser que a teoria relaciona à difusão (Pipes,
(Arthrobacter globiformis, Zoogloea ramigera) 1967; Sezgin et al., 1978; Kappeler e Gujer, 1994a;
apoiaram esta teoria (por exemplo, Van den Eynde Martins et al., 2004c) e a teoria cinética de seleção
et al., 1983). No entanto, é questionável se essas (Chudoba et al., 1973b) são dois lados da mesma
bactérias formadoras de floco são representativas moeda e, portanto, têm o mesmo poder descritivo.
de sistemas de lodo ativado. O uso de sondas
moleculares mostrou que bactérias não dominantes Um experimento que indicou que ambas as
têm sido regularmente enriquecidas a partir do lodo teorias são potencialmente corretas foi realizado
ativado. Uma técnica com base em MAR por Martins et al. (2008). Quando se avaliou o
quantitativo e FISH foi aplicado in situ para se crescimento bacteriano na presença de amido,
medir a cinética de bactérias filamentosas verificou-se que a concentração de substrato
(Candidatus Meganema perideroedes e Thiothrix solúvel sempre se mantinha baixa. O produto da
sp.) (Nielsen et al., 2003). Essa abordagem é hidrólise (maltose) é assimilado diretamente pelas
promissora, e esforços devem ser feitos para células em crescimento ativo. Nesse caso, há a
estendê-la a outras bactérias filamentosas e não utilização de substrato em baixas concentrações,
filamentosas. sem haver a formação de um gradiente de substrato
porque o amido é hidrolisado dentro do floco e não
Até agora, ninguém demonstrou na biomassa em suspensão (líquido).
inequivocamente que bactérias filamentosas têm,
em geral, uma menor taxa máxima de crescimento Nesse caso, a sedimentação satisfatória do lodo
do que outras bactérias presentes no lodo. Além foi obtida (de acordo com a teoria baseada na
disso, não há uma explicação teórica para entender difusão), mas os flocos foram formados
por que uma morfologia filamentosa levaria a uma predominantemente por células Nostocoida (de
menor taxa de crescimento. O valor de KS acordo com a teoria cinética de seleção). Essa
geralmente mais baixo para bactérias filamentosas, observação indicaria que a competição entre
conforme proposto na teoria de seleção cinética, bactérias filamentosas e não filamentosas seria
também não foi comprovado ainda para o caso descrita corretamente pela teoria cinética de
geral. Se o KS é visto como uma propriedade de seleção, mas a morfologia do floco é dependente da
enzimas para utilização do substrato, novamente mesma formação de gradiente de difusão (Figura
parece não haver relação direta entre o KS e a 10.5) como para sistemas de biofilme (Van
morfologia filamentosa. Se, entretanto, o KS é visto Loosdrecht et al., 1995).
como um parâmetro de transferência de massa
aparente descrevendo a transferência de massa para
a célula, como na hipótese da relação A/V baseada
em difusão de Pipes (1967), então está totalmente
de acordo com a teoria cinética de seleção. Em
flocos, o valor KS com base nas medições do
líquido é de qualquer maneira um coeficiente
aparente influenciado pela morfologia dos flocos.
Quanto maior a resistência de difusão (quanto
maiores e mais densos os flocos), maior o valor de
KS aparente medido (Beccari et al., 1992; Chu et
al., 2003). Para filamentos que se estendem do
floco, isso significaria um valor de KS aparente
inferior em comparação com as bactérias dentro
A concentração efetiva de substrato deve ser 1997; Beun et al., 1999). Entretanto, embora os
vista em relação à constante de afinidade pelo seletores tenham sido amplamente instalados e
substrato e, portanto, a relação entre a taxa real e a ainda é a ferramenta de engenharia mais aplicada
taxa máxima de utilização do substrato é usada mundialmente em sistemas de lodo ativado em
aqui. A concentração de oxigênio dissolvido parece escala plena para a prevenção do fenômeno do
ser relevante apenas para o período em que o intumescimento do lodo, a ocorrência de falhas
substrato rapidamente biodegradável está ainda são regularmente citadas na literatura (por
disponível. O pré-requisito da aplicação inicial de exemplo, em Ekama et al., 1996b). Isto é, não está
um fluxo em pistão em um processo de lodo claro se tais falhas foram devido a um projeto
ativado resultou no desenvolvimento de seletores inadequado do tanque seletor para as condições
para evitar o intumescimento do lodo. Ambas as transientes no sistema de tratamento biológico ou a
teorias para o intumescimento do lodo (A/V ou outros fatores que afetaram de alguma forma a
seleção baseada em difusão, bem como a teoria da dinâmica populacional, dando vantagem
seleção cinética) suportam essa abordagem. competitiva às bactérias filamentosas. No caso do
intumescimento causado pela M. parvicella nos
10.6.1 Seletor processos de remoção biológica de nutrientes, os
seletores pareceram falhar (Eikelboom, 1994;
Um seletor é definido como a parte inicial de um Ekama et al., 1996b; Kruit et al., 2002) ou não
reator biológico, caracterizado por um baixo foram suficientes (consulte também a Seção 10.4.2
número de dispersão e por um macrogradiente de sobre fisiologia). Os diferentes seletores e suas
concentração de substrato adequado (Chudoba et potenciais armadilhas serão descritos
al., 1973b; Rensink, 1974). Também pode ser uma resumidamente aqui nas seções a seguir. Uma visão
pequena zona inicial separada de um reator geral das diretrizes/recomendações de projeto de
biológico que recebe o afluente e uma vazão de um seletor pode ser encontrada na Tabela 10.2.
lodo ativado recirculado e tem uma alta taxa de
utilização da DQO rapidamente biodegradável, que 10.6.1.1 Seletores aeróbios
usualmente resulta na sua remoção completa
(Jenkins et al., 1993a). Em sistemas do tipo seletor, Até o final da década de 1980, apenas a remoção de
os microrganismos são submetidos a períodos com carbono orgânico era necessária na maioria dos
(fartura, feast) e sem (fome ou regeneração, países, e sistemas totalmente aeróbios eram
famine) substrato externo. Em essência, um RBS preferidos, geralmente com um padrão de
alimentado por pulso ou um RBS alimentado em alimentação do tipo mistura completa. Nos EUA,
uma forma estática é o sistema de seletor ideal. os sistemas eram principalmente projetados para
uma elevada carga orgânica e com um tempo de
Foi demonstrado que, de fato, em tais sistemas, retenção de sólidos (TRS) ou idade de lodo inferior
o oposto de lodo intumescido, ou seja, lodo a 5 dias. Nessas condições, a ocorrência de
granular aeróbio, pode ser formado (Beun et al., intumescimento de lodo foi atribuída
1999). No seletor, os microrganismos estão sujeitos principalmente ao crescimento excessivo de
a ambientes de alta taxa de crescimento e são bactérias filamentosas, como tipo 021N e tipo
capazes de acumular substrato como produtos de 1701. Na Europa e África do Sul, plantas
armazenamento intracelular. Um período projetadas com baixa carga, como os sistemas de
suficientemente longo sem qualquer substrato valos de oxidação e aeração prolongada, foram
externo disponível (uma baixa taxa de crescimento construídas. Na década de 1990, padrões de
ou ambiente de fome) deve então existir (estágio lançamento mais rigorosos em relação aos
aeróbio) para restabelecer a capacidade de nutrientes, particularmente as emissões de amônia,
armazenamento das células (Van Loosdrecht et al., foram exigidos na Europa e nos EUA. A fim de
Tabela 10.2 Critérios de projeto de seletores aeróbios, anóxicos e anaeróbios em sistemas de tratamento de esgotos
municipais.
Parâmetro Valor Referência
Seletor aeróbio
Número de ≥3 Jenkins et al. (1993a)
compartimentos
Tempo de contato 10-15 min., dependendo da carga, temperatura e Still et al. (1996)
composição do esgoto (i.e., fração da DQO rapidamente
biodegradável).
Taxa de carregamento 12 (1º compartimento), 6 (2º comp.) e 3 (3º comp.) Jenkins et al. (1993a)
do lodo kgDQO/kgSSRB.d
Carga do floco 50-150 gDQO/kgSST (1º comp.) Kruit et al. (1994)
Concentração de OD ≥ 2 mgO2/l, mas dependerá da taxa de carregamento do Sezgin et al. (1978)
lodo, taxa de carregamento do floco e taxa de utilização Albertson (1987) Martins
do substrato. O sensor deve ser posicionado no 1º comp. et al. (2003b)
Seletor anóxico
Número de ≥3 Jenkins et al. (1993a)
compartimentos
Taxa de carregamento 6 (1º compartimento), 3 (2º comp.) e 1,5 (3º comp.) Jenkins et al. (1993a)
de lodo kgDQO/kgSSRB.d
Tempo de contato 45-60 min. Kruit et al. (2002)
(RBCOD/NO3-- Usualmente cerca de 7-9 mg DQO rapidamente Jenkins et al. (1993a)
N)consumido biodegradável (RBCOD) por mg NO3--N devido ao Ekama et al. (1996a) Van
substrato armazenado. Loosdrecht et al. (1997)
Seletor anaeróbio
Número de ≥ 3, canais longos (razão comprimento: largura maior que Albertson (1987), Kruit
compartimentos 10:1) et al. (2002)
Figure 10.10 Variedades de lodo granular: (A) nitrificante, (B) heterotrófico, (C) desnitrificante, (D) metanogênico (foto:
Biothane B.V), e (E) anammox (foto: Paques B.V.).
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NOMENCLATURA
Abreviação Descrição
ADM Anaerobic digestion model - Modelo de Digestão Anaeróbia
AGV Ácidos Graxos Voláteis
ASM Activated sludge model - Modelo de Lodo Ativado
A/V Relação Superfície/Volume
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO Demanda Química de Oxigênio
DQORB DQO rapidamente biodegradável
FISH Fluorescence in-situ hybridization - Hibridização Fluorescente in situ
GAO Glycogen accumulating organism - Organismos Acumuladores de Glicogênio
IVL Índice Volumétrico de Lodo
IWA International Water Association - Associação Internacional da Água
MAR Microautoradiografia
PAO Phosphorus accumulating organism - Organismos Acumuladores de Fósforo
SPE Substâncias Poliméricas Extracelulares
SSRB Sólidos em Suspensão no Reator Biológico
TRS Tempo de Retenção de Sólidos
UCT Universidade de Cape Town
geralmente têm um diâmetro maior e coeficiente de Desde o surgimento do lodo granular anaeróbio
arraste menor (Figura 11.2). As velocidades mais na década de 1970, a granulação tem sido
elevadas de sedimentação dos grânulos aeróbios relacionada principalmente à microbiologia
(4-10 m/h) em comparação com os flocos de lodo específica dos processos metanogênicos. Pensou-
ativado (0,8-1,4 m/h) permitem a integração do se que as estruturas complexas de comunidades
decantador no próprio reator biológico de necessárias para converter substratos
tratamento e, assim, um projeto de reator anaerobiamente em metano, e o papel crucial do
compacto. Isso é ainda melhorado pelas transporte de interespécies de hidrogênio,
propriedades de sedimentação do tipo discreta de formariam o motor evolucionário para os
um leito de lodo granular. A concentração de organismos anaeróbios crescerem em agregados
biomassa acima de 10 g/L é facilmente alcançada. compactos ou grânulos. Entretanto, as primeiras
No entanto, na prática, valores mais baixos são tentativas de formação de lodo granular aeróbio
suficientes, uma vez que o projeto das estações de falharam, e foi admitido que isso ocorreu porque a
tratamento é limitado por outras restrições da conversão aeróbia de substratos, em geral, não
planta (Capítulo 5). dependia de interações sintróficas.
Figura 11.3 ETEs Nereda®; de Vika, Holanda (E.P. de 5.000) para Ringsend em Dublin, Irlanda (E.P. de 2.400.000).
1997). Em geral, microrganismos de crescimento topo da manta de lodo é removido. Isso resulta em
mais lento crescem em estruturas mais densas do um tempo de retenção sólido (idade de lodo) de 0,5-
que microrganismos de crescimento rápido. Esse 5 dias para o lodo floculento e cerca de 30 dias para
crescimento em estruturas densas é uma razão extra a fração granular. Uma discussão mais aprofundada
pela qual os microrganismos de crescimento lento sobre a sedimentação e seus parâmetros associados
(metanogênicas, anammox, nitrificantes, PAO) pode ser encontrada na Seção 11.3.4.
geram grânulos aeróbios compactos e densos. A
boa distribuição do substrato no grânulo 11.2.4 Força de Cisalhamento
combinado com a seleção de microrganismos de
crescimento lento foi reportada de ser o mecanismo A força de cisalhamento pode contrabalançar a
chave para a formação de biofilmes estáveis e tendência de bactérias de crescimento rápido de
uniformes (Picioreanu et al., 1998). formar filamentos. Por exemplo, no reator
CIRCOX® mencionado na introdução, o
11.2.3 Seleção física cisalhamento é um fator dominante na obtenção de
biofilmes lisos e regulares em um reator que é
Na prática, o esgoto é uma mistura complexa de alimentado continuamente sob condições aeróbias
substratos, consistindo de um material dissolvido e (Kwok et al., 1998). Por outro lado, quando
particulado (Capítulo 3). Os compostos solúveis microrganismos de crescimento lento (ou seja, toda
podem sofrer difusão no lodo granular, enquanto o DQO rapidamente biodegradável é convertida
material particulado primeiro tem que ser anaerobiamente em PHA) são adequadamente
transformado a partir da hidrólise. A fração de selecionados no reator, a força de cisalhamento não
material particulado não biodegradável irá se desempenha nenhum papel significativo no
acumular no reator. No caso do lodo granular processo de formação de grânulos, já que, nesse
aeróbio, pode-se classificar a DQO em: (i) caso, não haveria crescimento de filamentos na
granular, DQO para formação do lodo; e (ii) não biomassa. Além disso, na prática, a aplicação de
granular, DQO para formação do lodo. A DQO cisalhamento implica em maior dissipação de
para formação de lodo não granular consiste em energia e maiores custos, portanto, não é algo
material inerte e a DQO que não é convertida em desejável nem mesmo exigido em reatores LGA.
PHA e eventualmente contribui para a formação do
floco. Como resultado, os reatores de lodo granular 11.2.5 Alimentação do sistema com fluxo
sempre contêm uma fração de material floculento, ascensional tipo pistão
consistindo da DQO particulada inerte, biomassa
que cresce a partir da oxidação aeróbia da DQO Todos os aspectos descritos acima levaram às
remanescente após o período anaeróbio, e material estratégias operacionais ótimas para formação de
que se desprende do lodo granular. Esta fração de biomassa granular no tratamento de esgoto com o
baixa sedimentabilidade precisa ser removida para processo Nereda® (Figura 11.11). Para minimizar
formar e manter a parcela de biomassa granular no a limitação de difusão do substrato e garantir a
sistema de LGA. Para remover o lodo de melhor utilização do substrato ao longo da
sedimentação lenta e ao mesmo tempo reter lodo profundidade dos grânulos, o esgoto bruto não deve
granular, é aplicado no processo uma determinada ser diluído antes do contato com os grânulos. Em
pressão de seleção. Para se fazer isso, o lodo reatores LGA, isto é alcançado a partir da
presente no topo da manta de lodo é removido após alimentação do esgoto pelo fundo do reator (Figura
um curto tempo de sedimentação. A curta fase de 11.5) na ausência de aeração.
sedimentação permite a seleção dos grânulos de
alta sedimentabilidade, os quais são retidos no
reator, enquanto o lodo floculento que reside no
2002). O consumo rápido de substratos facilmente granulação. Ambos os substratos são convertidos
biodegradáveis na presença de oxigênio na fração na presença de oxigênio por bactérias de
externa do grânulo levará à formação de crescimento relativamente lento, levando uma
protuberâncias digitiforme ou filamentosa na formação de biofilme mais denso (Mosquera-
superfície. Isso vai depender da concentração de Corral et al., 2003; Villaseñor et al., 2000).
oxigênio no reator e também da tensão de Portanto, os sistemas LGA podem apresentar
cisalhamento, a qual é necessária para garantir a estabilidade, mesmo que alimentados por
superfície regular e granulação estável (Beun et al., substratos convertidos aerobiamente, desde que
1999). Os grânulos formados sob elevada presença esses substratos favoreçam a abundância de
de substratos solúveis rapidamente biodegradáveis bactérias de crescimento lento.
na presença de oxigênio são mais propensos a
quebrarem sob tensão de cisalhamento, uma vez (C) Substratos particulados (por exemplo,
que as regiões internas são inativas, ocasionando a amido e proteínas) apresentam outro desafio em
deterioração e enfraquecimento do grânulo (Beun sistemas LGA, devido à necessidade de hidrólise.
et al., 2002). Isso leva a uma granulação instável, Substratos particulados são principalmente
afeta as características de sedimentação dos hidrolisados na superfície dos grânulos (De Kreuk
grânulos e também ocasiona maior teor sólidos em et al., 2010). Os produtos de hidrólise (VFA –
suspensão (flocos e células soltas) no líquido volatile fatty acids) irão, a partir daí, ficar
(sobrenadante) depois da fase de rápida disponíveis para conversão em polímeros de
decantação. Além disso, a nitrificação e o potencial armazenamento por organismos PAO e/ou GAO.
de remoção de fósforo também são reduzidos. As Isso resulta em granulação estável. Dependendo da
bactérias nitrificantes de crescimento lento terão taxa de hidrólise no período anaeróbio, pode
seu crescimento diminuído devido ao crescimento ocorrer também a hidrólise na fase aeróbia. Sob
excessivo das bactérias heterotróficas na camada condições aeróbias, os produtos da hidrólise serão
externa, sendo empurradas para as camadas usados diretamente para o crescimento pelos
internas do grânulo. Com isso, as bactérias organismos presentes na superfície do grânulo. Isto
nitrificantes se situarão nas camadas internas, criará gradientes de limitação de difusão de
sendo privadas de oxigênio, e prejudicando a substrato acentuados no grânulo, induzindo o
nitrificação (Elenter et al., 2007; Gonenc e crescimento de filamentos, tornando o grânulo
Harremoes, 1990). Alguns substratos específicos, menos estável, e deteriorando a qualidade do
como a amônia e metanol, mesmo quando efluente tratado devido à maior presença de sólidos
convertidos aerobiamente, promovem boa em suspensão na fase líquida.
Figura 11.6 Efeito na formação granular aeróbia com fontes diferentes de carbono e regimes de alimentação em reatores
em bateladas sequenciais empregados em sistemas de lodo granular aeróbio; (A) Substratos rapidamente biodegradáveis
dissolvidos alimentados anaerobiamente, (B) alimentação aeróbia de substratos rapidamente biodegradáveis dissolvidos
em um reator de mistura completa, (C) alimentação anaeróbia de substratos poliméricos através de um leito granular, (D)
alimentação aeróbia lenta de substratos rapidamente biodegradáveis dissolvidos em um reator de mistura completa.
11.3 CINÉTICA DO LODO GRANULAR nitrificante do lodo diminui devido a dois fatores:
AERÓBIO o efeito intrínseco da temperatura sobre a atividade
dos microrganismos nitrificantes (reduzindo a taxa
11.3.1 Remoção de Carbono de nitrificação pela metade a cada redução de 8-10
°C da temperatura), bem como o acúmulo de DQO
No LGA, a remoção de carbono não é muito em suspensão no lodo devido à diminuição das
diferente das estações de tratamento convencionais taxas de hidrólise. No entanto, para o lodo granular,
que possuem remoção biológica de fósforo. No o efeito da temperatura é muito menor, pois a
geral, as mesmas bactérias presentes em sistemas redução da atividade microbiana é compensada por
de lodo ativado estão presentes no lodo granular. uma maior profundidade de penetração do oxigênio
No entanto, a maior diferença é a distribuição da no lodo granular. Além disso, devido à remoção
idade de lodo nas estações de tratamento de lodo preferencial de DQO em suspensão nas estações de
granular. Nas estações de tratamento de lodo tratamento de LGA (descarte seletivo do lodo
ativado, os flocos biológicos têm a mesma idade de floculento), a fração nitrificante do lodo não é
lodo. Embora a idade de lodo média nas estações diluída pelo mesmo. Portanto, no geral, a taxa de
de tratamento de lodo granular seja semelhante à nitrificação específica do lodo granular é muito
verificada com o lodo ativado, a idade de lodo dos menos afetada pela temperatura quando comparada
grânulos é maior do que a da fração de lodo à que ocorre em flocos de lodo ativado (Figura
floculento, conforme reportado em Ali et al. 11.7).
(2019). Os grânulos de maior diâmetro consistem
basicamente de microrganismos PAO e vários
outros grupos microbianos que crescem utilizando
substratos solúveis e rapidamente biodegradáveis,
podendo ter uma idade de lodo maior que 30 dias.
No entanto, a fração de lodo floculento também
contém compostos particulados inertes, biomassa
granular aeróbia desprendida e outras partículas
orgânicas lentamente hidrolisáveis. Essa fração
geralmente tem uma idade de lodo significativa
menor (0,5-5,0 dias) do que a biomassa granular
aeróbia. A composição dessa fração de lodo
floculenta é comparável ao lodo de estações de
tratamento de lodo ativado alimentadas com alta
carga. É importante mencionar que essa fração de
Figura 11.7 Relação geral da temperatura e da
lodo floculento não é mineralizada e, portanto,
concentração de oxigênio dissolvido na taxa de
propicia uma produção de metano relativamente
nitrificação volumétrica em reatores de lodo granular
alta.
aeróbio em escala plena.
Em grânulos suficientemente grandes, a
11.3.2 Remoção de Nitrogênio concentração de oxigênio nas partes mais internas
do grânulo torna-se zero, enquanto a concentração
A nitrificação é realizada por microrganismos
de oxigênio perto na camada externa do grânulo é
nitrificantes que são presentes tanto nos grânulos
alta o suficiente para nitrificação. Por causa disso,
quanto nos flocos. Devido à alta idade de lodo nos
a nitrificação e a desnitrificação podem ocorrer
grânulos, a nitrificação pode ser facilmente
simultaneamente dentro do grânulo. A
mantida, mesmo em baixas temperaturas. Em
concentração de oxigênio dissolvido necessária
estações de tratamento de lodo ativado, a atividade
para uma nitrificação e desnitrificação ótima está 11.3.3 Remoção biológica de fósforo
diretamente relacionada ao tamanho e atividade
dos grânulos. Grânulos maiores têm maiores A remoção biológica do fósforo no LGA é
volumes anóxicos do que grânulos menores em realizada pelos mesmos organismos encontrados
iguais condições de concentração de oxigênio nos processos convencionais de lodo ativado. Nas
dissolvido na suspensão (Figura 11.8). Em estações de tratamento de LGA, as condições de
temperaturas mais baixas, por causa da menor crescimento para PAOs são intrinsecamente ideais,
atividade microbiológica, a profundidade de uma vez que a granulação estável depende do
penetração do oxigênio aumenta. Isso diminui o consumo efetivo e total da DQO sob condições
volume para desnitrificação, tornando mais difícil anaeróbias.
manter efetivamente a nitrificação e desnitrificação
O fósforo presente no afluente é removido a
simultâneas.
partir do crescimento da biomassa e pelo
armazenamento de polifosfato nos PAOs. Sob
condições anaeróbias, os PAOs podem utilizar VFA
formando PHA durante a hidrólise do polifosfato
para produção de energia (Capítulo 6). Isso leva à
liberação de fosfato no líquido. A duração da fase
de alimentação é definida pela necessidade
hidráulica de alimentação do esgoto no reator e,
normalmente, dura de 0,5-1 hora. Nos sistemas de
coleta de esgoto, com longas extensões de redes
coletoras, onde ocorrem hidrólise e fermentação de
forma significativa, o tempo de alimentação
anaeróbia (entre 0,5 e 1 hora) é longo o suficiente
para a ocorrência desses processos. Em sistemas de
coleta de esgoto com curtas extensões, serão
Figura 11.8 Efeito da concentração de oxigênio dissolvido
na suspensão no volume de desnitrificação disponível
observadas hidrólise e fermentação menores, sendo
dentro do lodo granular. A zona cinza indica a necessário um prolongado período anaeróbio para
profundidade de penetração do oxigênio. A zona azul converter a DQO hidrolisável em VFA, os quais
representa a zona anóxica. serão utilizadas para o crescimento de PAOs.
do que ocorre com a nitrificação, onde a Portanto, isoladamente, o IVL não é um parâmetro
concentração de oxigênio é essencial para a muito útil para monitorar a qualidade do lodo
ocorrência do processo. granular. Por outro lado, o IVL é importante para
monitorar a quantidade de biomassa que pode ser
11.3.4 Propriedades do Lodo Granular mantida no reator sem haver a expansão desta, por
exemplo durante a alimentação, e perda com o
A velocidade de sedimentação do lodo granular efluente. Outra medição importante para
aeróbio depende, sobretudo, do diâmetro do caracterização de lodo granular aeróbio é a
grânulo, e pode ter valores de até 100 m/h (Figura distribuição do tamanho do grânulo no sistema.
11.9). Para isso, uma amostra de lodo passa numa série de
peneiras (entre 200 e 2.000 µm). Então a
concentração de biomassa de cada fração de
peneira é medida. Uma vez que um grânulo é
definido como um agregado maior que 200 µm,
toda partícula de lodo menor que 200 µm é
considerada não granular. Observe que este limite
é relativamente arbitrário e a fração "não granular"
ao lado do lodo floculento também contém
pequenos "grânulos iniciais”. Um valor normal
para a fração floculenta está entre 1 e 2 g/L em um
reator LGA em escala plena. Em sistemas operados
com elevadas concentrações de sólidos em
suspensão no reator biológico, a contribuição da
fração de grânulos maior que 1 mm aumenta e, em
Figura 11.9 Velocidade de sedimentação terminal de
alguns casos, essa fração pode representar até 90%
grânulos individuais de um reator Nereda® em escala
do total da concentração de biomassa no reator.
plena em uma ETE localizada em Garmerwolde, Holanda
(a linha com R2 = 0,98 é calculada a partir de um modelo).
11.3.5 Aspectos operacionais dos reatores
Uma medição padrão de 30 minutos do índice LGA
volumétrico de lodo (IVL), portanto, dará Os sistemas atuais de lodo granular aeróbio
informações sobre o comportamento de dependem da operação em regime intermitente
sedimentação do lodo granular, porque em 30 (batelada sequencial), o que gera várias vantagens.
minutos, os grânulos já deverão ter sedimentado há O principal aspecto é a estabilidade da granulação
muito tempo. No acompanhamento de reatores por contato direto do LGA com esgoto bruto em
LGA, é prática comum ser medido o IVL após 5 altas concentrações. Além disso, os grânulos são
minutos (IVL5) e após 30 minutos (IVL30) de alimentados preferencialmente em relação à
sedimentação. Se o IVL5 se aproxima do IVL30, competição existente com o lodo floculento e a
isso é uma indicação de um alto grau de granulação. DQO rapidamente biodegradável é totalmente
O IVL de um lodo granular maduro normalmente convertida em condições anaeróbias.
varia entre 20 e 40 mL/g. É preciso lembrar que o
IVL medido é um valor máximo ditado pela fração Esta operação em batelada também permite
da biomassa de pior sedimentação presente no menor concentração no efluente final (tratado). A
reator. A presença de uma pequena fração de flocos concentração do efluente em processos contínuos é
de sedimentação lenta em um teste tradicional de igual à verificada no tanque de aeração. Para
IVL pode ocasionar valores elevados de IVL. requisitos de qualidade de efluente com baixas
concentrações (de DQO), isto pode levar a um online das concentrações de amônia, nitrato e
decréscimo nas taxas de conversão em condições fosfato durante um dia operacional em uma ETE
operacionais de concentrações baixas (de DQO). Nereda®. No decorrer da fase de alimentação
Na operação de um RBS, a fase de aeração começa (Qafl), as concentrações do sobrenadante na parte
com altas concentrações de DQO, atingindo altas superior do reator são iguais às concentrações do
taxas de conversão. Isto significa que as efluente. Quando a alimentação interrompe e a
concentrações de substrato durante a maior parte da aeração começa, o reator fica completamente
fase de reação são altas o suficiente para não misturado, levando a um forte aumento nas
limitarem a taxa de conversão. Assim, as taxas de concentrações de amônia e fosfato e diminuição do
conversão só caem em concentrações de substrato nitrato. Essas mudanças são proporcionais à taxa de
muito baixas. Por causa disso, as concentrações de troca volumétrica de operação do RBS. A posterior
efluentes podem chegar a praticamente zero sem diminuição das concentrações de amônia e fosfato
reduzir as taxas de conversão. fornece imediatamente a informação que a taxa de
conversão está finalizada. Tal informação é
A operação em batelada também permite um utilizada para fins de monitoramento e controle de
contínuo monitoramento da cinética do lodo processos.
granular. A Figura 11.10 mostra o monitoramento
Figura 11.10 Monitoramento on-line das concentrações de amônia, fosfato, nitrato, oxigênio e a vazão afluente durante um dia
de operação de uma planta Nereda®.
Na fase de reação, a NH4+ é convertida em NO2- parcela do NO2- será convertida em NO3- pelas
, NO3- e N2. Uma vantagem do processo do LGA é bactérias oxidadoras de nitrito (NOB – nitrite
a nitrificação e desnitrificação simultâneas. oxidizing bacteria). Semelhante ao NO2-, o NO3-
Quando o oxigênio está presente na fase aquosa, a também pode ser desnitrificado no núcleo anóxico
NH4+ é convertida em NO2- pelas bactérias do grânulo. A quantidade de desnitrificação
oxidadoras de amônia (AOB – amnonia oxidizing simultânea depende de muitas condições de
bacteria). Por causa das condições anóxicas dentro processo, como temperatura, concentração de
do núcleo do grânulo, e a presença de PHA oxigênio dissolvido no reator e a quantidade de
armazenado pelas bactérias PAO/GAO, parte do VFA no afluente. De forma prática, esse valor pode
NO2- é convertido diretamente em gás N2. A outra variar entre 20% e 80%. Caso seja necessário a
Figura 11.12 Programação da batelada para uma ETE com dois reatores e um tanque de equalização em períodos seco e
chuvoso.
Figura 11.13 Arraste (stripping) do gás nitrogênio de uma situação de saturação completa (A), e depois de 5 minutos (B), 15
minutos (C) e 60 minutos (D) na temperatura de 20 ºC. A área vermelha marca uma concentração de supersaturação e a área
verde marca uma um déficit maior que o equilíbrio com o ar.
Ceq = k H f(Patm + hρg) (11.2) deva ser digerido. Em um reator LGA devidamente
projetado, preferencialmente apenas grânulos
Onde: menores e lodo floculento são regularmente
Ceq concentração no equilíbrio do gás N2 descartados. Para limitar o tamanho dos grânulos e
(mol/m3) manter ótima as eficiências de remoção biológica
kH Coeficiente de Henry para o gás N2 de fósforo, é necessário controlar o TRS dos
(mol/m3.Pa) grânulos maiores. Isso é feito ocasionalmente
f Fração gasosa do gás N2 nas bolhas de gás descartando o lodo a partir do fundo da manta de
(-) lodo. Grânulos largos reduzem a área superficial
Patm Pressão atmosférica (Pa) específica do biofilme do reator. Assim, as taxas de
h Profundidade da água (m) conversão aeróbia potenciais são diminuídas
ρ Densidade da água (kg/m3) porque dependem da taxa de transferência de massa
g Aceleração da gravidade (m/s2) do oxigênio do líquido para o grânulo. Note que
como esses grânulos largos são relativamente
Durante a alimentação, o potencial de velhos e bem mineralizados, a digestibilidade deste
desgaseificação é dependente de dois processos. lodo é relativamente baixa. Devido ao fato de a
Em primeiro lugar, as condições anóxicas levam à digestibilidade da fração de lodo floculento ser
produção de gás N2 devido à desnitrificação. Em maior do que a de grânulos largos, a digestibilidade
segundo lugar, a alimentação pelo fundo do reator média do lodo residual de sistemas LGA é
que move a água para cima, diminuindo a pressão semelhante ou um pouco maior à verificada para
ambiente e resultando em uma menor concentração sistemas de lodo ativado.
de saturação. Para prevenir a desgaseificação
durante a fase da alimentação, uma fase de arraste
de gás (stripping) curta pode ser adicionada no 11.5 CONSIDERAÇÕES PARA PROJETO
final do ciclo quando necessária. Ao aerar
intensamente o reator por alguns minutos, o gás N2 O processo do LGA contém etapas de tratamento
é retirado da fase líquida e a desgaseificação do gás semelhantes às utilizadas em ETEs de lodo ativado
N2 é evitada. Uma visão mais aprofundada e convencional, mas existem algumas diferenças
descrição do modelo é dado por Van Dijk et al. importantes. Os requisitos para o pré-tratamento
(2018). são semelhantes; eles dependem das características
do esgoto e incluem gradeamento, desarenação e,
se necessário, remoção de óleo, gordura e material
11.4.5 Tempo de retenção de sólidos graxo. Quando os requisitos do efluente tratado são
(idade de lodo) mais rigorosos, pode ser necessária uma etapa de
Como mencionado anteriormente, enquanto o pós-tratamento, utilizando produtos químicos
tempo de retenção de sólidos (TRS) médio do lodo (como dosagem de coagulantes ou carvão ativado)
em um processo típico de LGA é semelhante ao ou sistemas mecânicos (como filtro de areia,
lodo ativado convencional, por outro lado os ultrafiltração etc.). As tecnologias de pré-
grânulos individualmente têm uma ampla tratamento e sistemas terciários não serão mais
distribuição de vários TRS. Uma vez que a fração abordadas neste capítulo, pois elas têm projetos
granular possui um TRS que permite a nitrificação semelhantes aos aplicados em sistemas de lodo
em todas as temperaturas, o controle do TRS é ativado.
menos sensível do que para ETEs de lodo ativado.
O TRS da fração floculenta não é explicitamente
definido, mas idealmente deve ser o mais curto
possível, considerando que esse lodo de descarte
Figura 11.14 Diferentes configurações das estações de tratamento Nereda® na Holanda: (esquerda) em Epe, três reatores (N)
sem um tanque de equalização, (meio) em Garmerwolde, dois reatores (N) sem um tanque de equalização (B), e (direita) em
Vroomshoop, uma configuração híbrida aonde a ETE Nereda® (com um tanque de equalização) é operada em paralelo a um
sistema de lodo ativado convencional (C); aqui o lodo excedente do sistema LGA é encaminhado para o sistema de lodo
ativado. Abaixo é apresentada uma descrição da configuração.
Isso pode resultar em tempos de alimentação equalização do afluente pode ser usado para
mais longos do que os necessários para a utilização superar a necessidade de ter sempre um reator no
anaeróbia de DQO e liberação de fosfato, e resulta modo de alimentação (Figura 11.14, meio). Usando
em volumes de reatores geralmente maiores do que tal tanque de equalização para o afluente, apenas
necessários. No entanto, isso torna a remoção um reator seria suficiente para o tratamento. Além
biológica de fosfato mais estável. Esse disso, para ETEs maiores com mais de três
superdimensionamento pode ser limitado pela reatores, um tanque de equalização pode ser usado
aplicação de mais reatores (n), reduzindo o tempo para minimizar o volume do reator e assim, a fase
de alimentação para 1/n do tempo de ciclo total. de alimentação pode ser mais curta com vazões
mais altas. Ao minimizar o tempo de alimentação
Para ETEs menores, construir três tanques de anaeróbia, deve ser avaliado o tempo anaeróbio
tratamento pode ser antieconômico e um tanque de mínimo para a remoção biológica do fósforo, o qual
dependerá das proporções de DQO/P, DQO influenciada pelo nível de comportamento de fluxo
rapidamente biodegradável/DQO total, e a fração em pistão (vertical) no reator. Um fluxo de pistão
de substrato hidrolisável. não otimizado irá diminuir a taxa de troca
volumétrica máxima e irá levar a um maior volume
Outra opção de projeto para lodo granular é do reator. Um dos parâmetros que influenciam a
uma configuração híbrida. Nesta configuração, o alimentação é a velocidade do fluxo ascendente
reator LGA é construído em paralelo a um reator de (m/h). Durante o período de alimentação anaeróbia,
lodo ativado continuamente alimentado pelo LGA a DQO rapidamente biodegradável é consumida do
(Figura 11.14, direita). Certamente quando se trata afluente pelo leito granular. Para permitir a
da modernização das estações de tratamento de hidrólise e a utilização dessa parcela de DQO,
lodo ativado existentes, esta é geralmente uma geralmente tempos de alimentação de 0,5-3,0 horas
opção interessante. Na configuração híbrida, o são necessários, dependendo do tipo de esgoto. De
reator LGA trata apenas parte do afluente total, forma geral, o tempo anaeróbio é definido pelas
sendo o lodo excedente encaminhado para o tanque restrições hidráulicas específicas do local de
de aeração. Ao se fazer isso, acontece uma tratamento.
melhoria da sedimentabilidade da biomassa do
sistema de lodo ativado, assim como da capacidade Os processos na fase de reação dependem dos
de remoção de nutrientes deste sistema, otimizando requisitos do efluente tratado desejado. Caso o
assim a operação do sistema de LGA e lodo objetivo seja apenas remover DQO, a fase de
ativado. reação consiste em um período de aeração
relativamente curto, onde apenas a DQO e o PHA
11.5.2 Volume de projeto armazenado serão oxidados. Em muitos casos, isso
também resultará na quase completa remoção de
O volume de projeto do reator depende fósforo, porque os PAOs desempenham um papel
principalmente da vazão afluente e suas variações, importante no processo de granulação e na remoção
cargas de DQO total e nitrogênio, temperatura da de DQO. No entanto, caso a nitrificação também
água e requerimentos de qualidade do efluente seja necessária, a fase de reação exigirá um período
tratado. A soma dos tempos para as três fases do de aeração mais longo, levando a volumes maiores
ciclo (alimentação, aeração e decantação) e a de reatores. O tempo alocado para desnitrificação é
quantidade de esgoto, determinam o volume total muito dependente do tipo de esgoto e do sistema de
dos reatores LGA. coleta de esgoto utilizado.
Em uma ETE com configuração em múltiplos O volume da reação agora pode ser calculado
reatores sem um tanque de equalização afluente, o com base no tempo total de reação por dia, a vazão
tempo total do ciclo deve ser um múltiplo da do projeto, a concentração de DQO e a taxa de
duração da fase de alimentação: carregamento de lodo. Este último parâmetro é
normalmente semelhante à faixa reportada para
talimentação = (treação +tdecantação) / (nreatores – 1) (11.4) sistema de lodo ativado de 0,1-3,0
kgDQO/kg.SST.d. A nitrificação ocorre
Onde: normalmente até 0,4 kgDQO/kgSS.d em
nreatores número de reatores. temperaturas moderadas. As temperaturas mais
altas podem permitir a nitrificação com taxas de
Portanto, em uma configuração de 3 reatores, a carregamento mais altas.
duração da fase de alimentação é a metade da soma
Q .DQO
da duração das fases de reação e decantação. A fase Vreator = treação,dia (11.7)
SSRB .TCL nreator
de alimentação e a fase de reação são avaliadas 24
é alterada conforme descrito na seção 11.4.2, e o A Figura 11.15 mostra que o volume total dos
tanque de equalização não será esvaziado durante a tanques não muda significativamente quando o
fase de alimentação porque as vazões de entrada e tanque de equalização é aplicado. Em contraste, o
saída estão equilibradas. O volume do tanque de volume restante do reator é usado de forma mais
estabilização segue a partir de: eficiente para aeração, conforme mostrado na
Figura 11.15B. Isso mostra a eficiência, que pode
Qpico talim
Vequalização = − Q pico (11.8) ser expressa como o número de horas por dia que
nreator nciclos 24
os reatores são usados na fase de reação. Além
disso, há uma configuração de ciclo ideal, onde é
Onde:
necessária uma quantidade mínima de volume de
Qpico vazão de pico durante as condições de
reator.
período seco (m3/d).
Em uma configuração híbrida, muitas variações
são possíveis. Pode ser projetado com ou sem
tanque de equalização, com um ou vários reatores.
Na forma mais simples, apenas um reator LGA é
construído. Nesse modelo, a ETE convencional
recebe toda a carga quando o reator LGA não está
alimentando. Semelhante à configuração com um
tanque de equalização, a duração da fase de
alimentação e a fase de reação são adotadas com
base nas condições de contorno do sistema LGA e
do sistema convencional. Alternativamente, os
reatores LGA podem ser construídos em uma linha
separada, sendo continuamente alimentados com
uma fração fixa da vazão total da ETE. Neste caso,
a configuração com ou sem tanque de equalização
pode ser aplicada.
boa. O tratamento do lodo de descarte dos reatores tem um potencial de recuperação de biogás
LGA é comparável ao utilizado com lodo ativado, próximo aos obtidos nas ETEs de lodo ativado
embora pesquisas recentes mostrem que podem ser convencional, onde a decantação primária é usada
recuperados biopolímeros do lodo de descarte dos para maximizar a produção de biogás. Para
reatores LGA (ver a Seção 11.6). processos de lodo granular, isso foi integrado no
próprio reator de tratamento. A DQO particulada
11.5.4 Sólidos em Suspensão no Reator da água residuária é incorporada na fração de flocos
Biológico do lodo. Esta fração tem um tempo de residência
curto (0,5- 5,0 dias) e, portanto, uma
As ETEs de lodo granular são geralmente operadas digestibilidade muito boa. O lodo granular tem uma
com altas concentrações de sólidos em suspensão idade de lodo muito longa e, portanto, uma
no reator biológico (SSRB), bem superiores aos digestibilidade ligeiramente mais baixa do que o
valores encontrados nos sistemas de lodo ativado. lodo biológico floculento (200 contra 230
Este também é um parâmetro importante que mLCH4/gSSV). O lodo de descarte total dos
impulsiona a compactação dos reatores da reatores LGA dá um rendimento de biogás
tecnologia Nereda®. Um projeto típico de um semelhante ao encontrado em processos de lodo
reator LGA alcança concentração de 8 g/L, mas ativado com a combinação do lodo primário e
valores da ordem de 15 g/L não são incomuns em secundário (300 mLCH4/gSSV) (Guo et al., 2020).
ETEs de LGA. No entanto, quando se observam
valores superiores a 8 g/L, a concentração da Um dos compostos do lodo floculento são as
biomassa não é o fator limitante no processo de fibras de celulose (Figura 11.16) que formam uma
tratamento. Essas altas concentrações podem ser fração significativa do afluente (20-30% da DQO
alcançadas por causa da biomassa densa dos particulada). Essa fração acaba no lodo de descarte
grânulos. Os grânulos maduros de reatores LGA e contribui para a maior produção de biogás. A
podem ter uma concentração de SSRB de 50-60 celulose pode ser recuperada por uma etapa de
g/L. Portanto, considerando um reator com peneiramento ou no lodo de descarte. Este último
porosidade do leito granular de 50%, espera-se uma tem a vantagem de um menor fluxo hidráulico
concentração de SSRB de 25-30 g/L. (demanda menor capacidade de peneiramento). A
celulose recuperada pode ser usada para substituir
a celulose em processos industriais. Também pode
11.6 RECUPERAÇÃO DE RECURSOS ser hidrolisada em açúcares (e posteriormente ser
fermentada em VFA) e dosado como substrato em
O objetivo principal do tratamento de esgoto é a ETEs onde a DQO é limitante para remoção de
proteção da saúde humana e do meio ambiente. No fósforo e/ou remoção de nitrogênio.
entanto, na última década, a recuperação de
recursos também se tornou um aspecto importante
no processo de tratamento de esgoto (Kehrein et
al., 2020). O estudo da formação de lodo granular
abriu novas opções para a recuperação de recursos,
especialmente os polímeros que formam a matriz
do lodo granular. A integração da recuperação de
recursos com a tecnologia Nereda® é brevemente
apresentada a seguir.
Figura 11.17 Estação de tratamento Nereda® em Zutphen, Holanda, com uma unidade de extração de Kaumera. No fundo é
mostrada a ETE de lodo ativado convencional existente.
Figura 11.18 A: Plástico compósito retardante de chama derivado de um Kaumera e argila. B e C: Brincos e colar produzidos a
partir dos bioprodutos do esgoto. O principal material é um compósito de Kaumera e celulose. A esfera plástica no colar é de
PHA. A cor azul é vivianita e a cor vermelha é extraída de um lodo anammox (criação da arte por Yuemei Lin).
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NOMENCLATURA
Abreviação Descrição
LGA Lodo Granular Aeróbio
AOB Ammonia-oxidizing bacteria/Bactérias Oxidadoras de Amônia
LAC Lodo Ativado Convencional
EBPR Enhanced biological phosphorus removal/Remoção Biológica Avançada de Fósforo
GAO Glycogen-accumulating organisms/Organismos Acumuladores de Glicogênio
SSRB Sólidos em Suspensão no Reator Biológico
NOB Nitrite-oxidizing bacteria /Bactérias Oxidadoras de Nitrito
PAO Phosphate-accumulating organisms/Organismos Acumuladores de Fósforo
DQORB DQO rapidamente biodegradável
UASB Upflow anaerobic sludge bed reactor/Reator de Anaeróbio de Fluxo Ascendente e Manta de
Lodo
TRS Tempo de Retenção de Sólidos
IVL Índice Volumétrico de Lodo
TCL Taxa de Carregamento de Lodo
VFA Volatile fatty acids/Ácidos Graxos Voláteis
Figura 11.20 Lodo granular aeróbio de uma Planta Nereda ®(foto: Royal HaskoningDHV).
Figura 11.21 As séries de dados apresentadas na Figura 11.10 foram transformadas em uma sequência de notas conectadas de
tal forma que são tocadas ou ouvidas separadamente, sendo o resultado conhecido como melodia Nereda® produzida em
cooperação entre Royal HaskoningDHV e Fundação Pinta 021 (https://pinta021.org/muzika‐vode/) (photo: Foundation Pinta
021).
12 Decantação Final
Imre Takács e George A. Ekama
Tradução: Sérgio Roberto Carvalho de Souza
para promover a recirculação de fluxo de lodo forma contínua. Quanto mais alta a concentração
concentrado, e (III) armazenamento de lodo, de sólidos na recirculação de lodo ativado (RLA),
geralmente em um tempo limitado, durante menor a vazão de recirculação requerida. Um
períodos de vazão elevada. decantador bem projetado (acoplado a um sistema
biológico funcionando otimamente) gerará sólidos
altamente adensados (tipicamente na faixa de 7 a
12.1.2.1 Clarificação em decantadores
12 kg SST/m³) para o fluxo de recirculação de lodo.
secundários
Caso o desempenho do adensamento no decantador
Efluentes finais de decantadores secundários bem não seja ótimo, maiores fluxos de vazão de
projetados, geralmente contém somente 5 a 15 recirculação são requeridos na operação diária, o
mg/L de sólidos em suspensão. Considerando a que aumenta a demanda de energia do decantador
faixa típica de concentração de SST no reator através do mecanismo de remoção de lodo e do
biológico de 1.500 a 3.500 mg/L, a eficiência aumento de sólidos em suspensão no reator
esperada do decantador secundário está na faixa de biológico/SSRB resultante da maior vazão de
99% a 99,9%. Existem dois fatores-chave para recirculação de lodo ativado. Caso a vazão de
alcançar esta alta eficiência de modo consistente: recirculação de lodo ativado seja muito alta, há um
(I) um decantador secundário deve criar condições aumento de risco na instabilidade do manto de lodo
que promovam a floculação do lodo e a captura de (ver próximo parágrafo).
pequenas partículas, incorporando-as aos flocos de
lodo ativado; (II) as condições de fluxo na zona de 12.1.2.3 Lodo armazenado em decantadores
clarificação devem ser uniformes, particularmente secundários
próximo aos vertedores e canaletas de efluente,
para minimizar o efeito local de correntes Em sistemas típicos de lodo ativado, a maior parte
ascendentes desde as camadas profundas, com altas do lodo está nos reatores biológicos em todo
concentrações de sólidos, e misturá-las no efluente. instante, mas há uma troca contínua de massa de
Os meios de engenharia para alcançar estas metas lodo entre os reatores e o decantador. Um aumento
estão resumidos na seção 12.2. O conteúdo de repentino da vazão afluente ou uma redução da
sólidos em suspensão de uma amostra de efluente compactação do lodo deslocará parte do lodo do
contribui para, e às vezes constitui a maior parte, reator para o decantador, resultando num aumento
das concentrações finais de DBO, DQO e P total (e do manto de lodo. Levará tempo (e potencialmente
menos para N total). Diante dos baixos limites de com a intervenção do operador) para retornar a
concentração nos efluentes que estão começando a massa de lodo acumulada no manto de lodo do
ser exigidos em áreas sensíveis, é importante decantador para o reator. A funcionalidade do
manter os sólidos efluentes sob o mais baixo teor armazenamento do lodo no decantador proporciona
possível. Mesmo quando o efluente secundário seja a captura e retenção de sólidos até que o
submetido a subsequente tratamento terciário (tal mecanismo de recirculação de lodo se ajuste à
como várias tecnologias de filtração), um bom sobrecarga temporária.
efluente clarificado, com baixa concentração de
sólidos em suspensão, aumenta a vida útil e reduz Existem configurações de decantador e
os custos operacionais da unidade terciária. estratégias operacionais que explicitamente
utilizam a funcionalidade do armazenamento de
lodo do decantador (ver, por exemplo, manto de
12.1.2.2 Adensamento em decantadores
filtração em decantador de fluxo vertical). Esta
secundários
funcionalidade pode ser benéfica para a qualidade
O lodo sedimentado no fundo do decantador deve do efluente, no entanto são requeridos um bom
ser recirculado para o reator de lodo ativado de projeto e uma operação cuidadosa de modo a
Figure 12.1 Decantadores secundários são algumas das estruturas mais visíveis na Terra a partir do espaço (foto: D. Brdjanovic)
operadores estão familiarizados) também pode ser ajudam a dissipar a energia do fluxo, produzindo
uma importante consideração. condições quiescentes no decantador. A biomassa
em suspensão do reator, devido sua densidade mais
12.2.1 Decantadores circulares com alta, geralmente escoará para o perímetro logo
modelo de fluxo radial acima do topo do manto de lodo, como uma
“corrente de densidade”. Frequentemente se
Um dos formatos mais populares de decantador, desenvolve assim um regime de recirculação de
devido seu projeto mecânico mais simples, é o formato toroidal (“rosquinha”), com o fluxo
circular (Figura 12.2). Estruturas de entrada e saída voltando ao centro pela superfície. O controle do
de água de processo podem ser posicionadas em regime de escoamento no decantador é geralmente
diferentes locais, mas o tipo de escoamento nestas realizado pela instalação de diversas estruturas de
unidades em geral é radial, conduzindo a desvio e anteparos próximos aos pontos de entrada
velocidades mais altas no centro do decantador e e saída. O efluente é retirado através de vertedores
reduzindo em direção ao perímetro. Normalmente, triangulares, e o fluxo vertido é coletado em uma
a biomassa em suspensão é introduzida no centro, canaleta. O vertedor deve ser nivelado de modo que
numa bacia confinada de floculação ou de o escoamento seja uniformemente distribuído ao
amortecimento O projeto dessa bacia deve ajudar a longo de toda a extensão de vertedor. O lodo
floculação da massa de lodo. As passagens abertas sedimentado no fundo do tanque é coletado pelo
da bacia de amortecimento para o decantador mecanismo raspador de lodo e é removido de um
poço de lodo.
Figure 12.3 Ilustração conceitual de um decantador circular com escoamento tipo fluxo radial
Os dois mecanismos mais típicos de coleta de Utilizando a vantagem oferecida pelo formato
lodo são o raspador (lâminas) e o de sucção. circular, ambos mecanismos giram algumas vezes
por hora por ação de um acionador periférico que de anteparos internos. O efluente é coletado através
rola e se apoia sobre a parede externa. da descarga de vertedores em canaletas. A remoção
Uma ilustração conceitual de um sistema de lodo neste exemplo é tipo contracorrente em
específico com alimentação central e de canaleta relação ao escoamento do fluxo de líquido,
periférica de efluente está mostrada na Figura 12.3. podendo ser também concorrente ou tipo fluxo
Setas pretas representam genericamente o regime cruzado. O mecanismo de remoção de lodo
de escoamento no tanque, setas marrons indicam a geralmente é tipo raspador mecânico ou com
direção do fluxo de lodo e setas azuis indicam o correntes.
fluxo do efluente clarificado vertido ao longo das
canaletas.
Caso a escuma que flutua na superfície do Figure 12.9 Anteparo de escuma (tipo Black and Veatch)
decantador não seja removida, a qualidade do
efluente pode deteriorar-se (Figura 12.8).
A escuma pode ter diferentes origens, de
natureza mecânica ou biológica. Podem ser detritos
A maioria dos decantadores é equipada com
mais leves que não foram removidos anteriormente
anteparos de escuma (um exemplo de projeto está
ao longo da estação de tratamento, sólidos
apresentado na Figura 12.9) e vários mecanismos
biológicos mais leves devido ao conteúdo gasoso
de remoção de escuma.
(por exemplo, agregação de nitrogênio gasoso
devido à desnitrificação no manto de lodo), ou
escuma produzida biologicamente (por exemplo,
Nocárdia). Geralmente a presença de escuma
biológica indica um problema operacional no
próprio reator de lodo ativado e é melhor ser
removida antes de entrar no decantador. Reciclar
escuma e seus micro-organismos formadores para
o sistema biológico pode piorar a situação. A
escuma deve ser removida do fluxo em tratamento
tão logo que possível e destruída, com a mínima
utilização de água.
ou operacionais. Neste tipo de situação, pode haver nivelados. A direção dos ventos deve ser levada em
maior vazão a um dos decantadores em operação, conta durante o projeto do equipamento de
produzindo efluente de maior turbidez com maior remoção de escuma. Caso as condições de campo
concentração de sólidos em suspensão que a dos permitam, cercas ou barreiras podem ser instaladas
outros. Algumas vezes, a inspeção visual dos para reduzir o efeito do vento.
fluxos através dos vertedores pode ser o meio
simples para identificação de diferentes cargas 12.2.5.5 Alterações bruscas de temperatura
hidráulicas. O desequilíbrio de distribuição de
vazão pode ser frequentemente corrigido pela Em certas localizações geográficas com grande
medição de vazão em torno de unidades variação de temperatura durante o dia ou forte
individuais, corrigindo perdas desiguais (mantendo exposição à luz solar, pode ocorrer a inversão
a concentração de SSRB uniforme nas diferentes térmica no decantador final. O lodo sedimentado é
unidades de lodo ativado), e ajustando comportas ligeiramente mais pesado que água de processo,
em caixas repartidoras. Repartição uniforme de portanto ocupando o fundo do tanque de
vazões simplesmente construindo canal com sedimentação. Uma diferença significativa de
soleiras niveladas não funciona na prática. temperatura entre o líquido na superfície do
decantador e o lodo no fundo pode resultar numa
12.2.5.3 Vertedores com distribuições inesperada inversão de camadas, resultando na
desiguais flotação do manto de lodo. Esta situação poderia
ser devido ao intenso resfriamento da superfície
Vertedores incorretamente nivelados podem durante uma noite fria, lodo mais quente entrando
resultar mais vazão em certas partes do decantador, no decantador durante a operação diurna, ou
gerando ressurgência localizada e potencial para aquecimento da camada de lodo devido à insolação
elevar ou arrastar o manto de lodo junto à parte direta. Caso o problema persista, somente um
afetada. O vertedor nestes casos deve ser nivelado cobrimento da maior parte da área ou o
novamente, o que poderá diminuir a concentração enclausuramento total da unidade pode ser capaz de
de sólidos do efluente nas mesmas condições de remediar a situação.
carga. Esta situação é uma das razões para que seja
utilizado vertedor triangular fixado no concreto do 12.2.5.6 Congelamento em tempo frio
canal de descarga, de modo que possa ser ajustado
precisamente com equipamento de nivelamento. Em climas frios, apesar do calor natural do esgoto,
formações de gelo podem ocorrer nas superfícies
12.2.5.4 Efeito do vento expostas. Esta situação é particularmente
predominante em estações com tanques de aeração
Um vento forte e consistente pode afetar o regime que usam sistema de aeração superficial (por
de escoamento no decantador final (Figura 12.10). exemplo, rotores mecânicos) que pode diminuir a
Particularmente, tanques circulares de grande temperatura do esgoto em processo. Nesses locais
diâmetro são suscetíveis à exposição ao vento. O deveria ser considerada a adoção de reatores e
regime de circulação alterado pode resultar no decantadores cobertos, assim como aeração por ar
desequilíbrio da carga dos vertedores e elevar a difuso, que transfere algum calor para o meio
concentração de sólidos em suspensão no efluente, líquido.
mesmo se os vertedores estiverem perfeitamente
essencialmente o IVL (unidade mL/g) define o apesar de requerer um aparato experimental mais
volume que 1 grama de lodo ocupa após 30 minutos complexo. O SSRB sempre é diluído ou
de sedimentação sob a condição do teste. concentrado para o valor de 3,5 g/L, e a proveta de
sedimentação (que usualmente tem volume de 5 L
O teste do IVL em sua forma original é o teste e diâmetro de 120 mm) é lentamente agitada a 1-2
mais simples que pode ser realizado, mas ele tem RPM. Os resultados deste teste são mais
algumas desvantagens. A duração de 30 minutos é reproduzíveis do que os testes IVL ou IVLD.
um ponto arbitrário na curva de sedimentação, Tem havido por parte dos líderes das indústrias
portanto os resultados são variáveis. Lodos que muitas solicitações para padronizar protocolos de
sedimentam e adensam rápido ou testes feitos teste de sedimentação na literatura ao longo dos
usando concentrações mais baixas de SSRB, na últimos 20 anos, dado que isto melhoraria a
maioria das vezes concluem a sedimentação em 30 qualidade dos dados coletados e a operação de
minutos e o IVL, nesses casos, é um indicador do decantadores secundários. A despeito de todos
potencial de compactação do lodo. Em estes esforços e de todas as deficiências do teste
concentrações mais altas de SSRB ou em caso de IVL, ele é ainda utilizado amplamente em sua
lodos de sedimentação mais lenta, o processo de forma original, a forma mais simples.
sedimentação não é concluído em 30 minutos e
nestes casos, o IVL é um indicador da velocidade A medição da Velocidade de Sedimentação em
de sedimentação do lodo amostrado. O teste do IVL Zona (ou Velocidade de Sedimentação em Zona
falha em concentrações mais altas de SSRB. Por Agitada) é um ensaio projetado para fornecer
exemplo, um IVL maior que 150 mL/g não pode informações sobre a velocidade de sedimentação
ser medido caso a concentração no cilindro de 1 L de uma amostra de lodo, registrando a taxa real de
(1.000 mL) seja maior que 1000/150 ou 6,7 g/L. Os descida da interface de lodo sob uma determinada
efeitos de parede também podem alterar a medida concentração de SSRB. Como este teste é
do IVL, na medida em que os pequenos cilindros frequentemente usado no contexto da teoria de
utilizados para o teste possuem valores altos de fluxo, a sua descrição é feita na Seção 12.4.1.
razão área por volume quando comparados ao dos Outros métodos totalmente automatizados, como
decantadores em escala real. métodos de testes contínuos (por exemplo, medidor
de sedimentabilidade) também estão disponíveis.
12.3.2 Outros métodos de teste
Vários métodos têm sido desenvolvidos para 12.4 TEORIA DO FLUXO PARA
melhorar e padronizar os resultados do teste de AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE
IVL. O teste de IVL diluído (IVLD) requer a SEDIMENTAÇÃO DO DECANTADOR
diluição da amostra de lodo com efluente de tal
modo que o volume de sedimento após 30 minutos Fluxo de sólidos é uma designação especial de taxa
se reduza à faixa de 150-250 mL. Este teste evita o de fluxo de massa – a massa de sólidos transferida
problema da alta concentração de SSRB e pode ser por unidade de área na unidade de tempo (expressa,
utilizado como um melhor indicador do potencial por exemplo, em kg/m²/h). A teoria do fluxo
de intumescimento filamentoso (caso IVLD > 150 descreve os vários fluxos de sólidos que afetam o
mL/g). transporte de sólidos no decantador, e é utilizada,
entre outros métodos, para estimar a área requerida
O teste do IVL agitado, IVLA, realizado para de decantador e parâmetros operacionais tais como
3,5 g/L de concentração de SSRB (IVLA3,5) é um a recirculação (retorno ou descarga pelo fundo).
aperfeiçoamento. O teste é usado como padrão em Este capítulo resumirá brevemente o método
muitos países (por exemplo, no Reino Unido), utilizado para avaliação da sedimentabilidade do
lodo e a fundamentação matemática da teoria do A curva na Figura 12.13 pode ser dividida em
fluxo, bem como outros métodos de projeto usados três seções distintas:
na prática.
1) Fase de acomodação com duração de um a dois
12.4.1 Teste de Velocidade de minutos do início do teste. Esta situação é
Sedimentação em Zona devida à aceleração das partículas de lodo
formando a interface e à dissipação da energia
Velocidade de Sedimentação em Zona (VSZ) é a decorrente do enchimento do cilindro.
taxa de descida da interface de sólidos (manto de 2) Trecho linear com duração usual de 3-30
lodo), medida em m/h ou unidades similares em minutos, dependendo da concentração de
uma proveta de teste de acordo com Standard SSRB e da altura da coluna de sedimentação. A
Methods (método 2710 D). O teste é denominado inclinação deste trecho linear representa a
teste de Velocidade de Sedimentação em Zona Velocidade de Sedimentação em Zona (VSZ)
Agitada (VSZA) caso a proveta seja equipado com do lodo na concentração com a qual a coluna
um mecanismo de agitação lenta. O teste VSZA foi preenchida. Quando a coluna é agitada
fornece uma medição mais acurada da como é requerido para o teste padrão de
sedimentabilidade do lodo do que outras medições, velocidade de sedimentação, a inclinação do
como os testes IVL, IVLD e IVLA. Uma ilustração trecho linear representa a Velocidade de
da progressão do teste em relação ao tempo é Sedimentação em Zona Agitada (VSZA) na
mostrada na Figura 12.12 (para maior clareza, um concentração com a qual a coluna foi
cilindro sem agitador é mostrado, mas o teste preenchida.
padrão VSZ requer mistura a 1-2 RPM). 3) O início da compressão a partir do fundo do
cilindro resulta na diminuição gradual da
velocidade de sedimentação em seguida à fase
linear.
Neste caso, um volume de SSRB de 5.400 mg/L Uma série de testes VSZA para diferentes
(5,4 kg/m³) foi colocado em um cilindro, e fotos do concentrações de SSRB é geralmente realizada
mesmo cilindro foram tomadas a 1, 2, 4, 6, 8, 10 e para medir a velocidade de sedimentação utilizada
finalmente a 45 minutos e colocadas juntas. A na teoria de fluxo. A teoria e suas aplicações são
altura da interface é registrada e plotada em função definidas a seguir. A concentração mais baixa de
do tempo, produzindo um formato similar à Figura SSRB na qual o teste pode ser realizado com
12.13. sucesso está entre 1 e 1,5 g/L. Em baixas
concentrações pode ser difícil determinar a posição 12.4.2 Sedimentação discreta, floculenta,
do manto de lodo (também da chamada de zona de em zona e de compressão
sedimentação) como está mostrado na Figura
12.14. Numa suspensão, as partículas discretas
independentes e não-floculentas (por exemplo, do
Além disso em concentrações diluídas, a taxa mesmo tipo que a areia) sedimentam mesma
de descida da interface é alta e o início da velocidade, independentemente de sua
compressão a partir do fundo do cilindro pode ser concentração, de acordo com a lei de Stokes. A
iniciada em poucos minutos. Ao contrário do que velocidade de sedimentação das partículas
ocorre em altas concentrações de SSRB, a interface individuais dependerá somente de sua forma,
é bem definida, mas dependendo da concentração e tamanho (diâmetro) e densidade. Uma amostra de
da compactabilidade da amostra, o trecho linear da sólidos em suspensão de um reator biológico de
fase de sedimentação pode ser afetado pela lodo ativado comporta-se de forma muito diferente
compressão logo no início do teste. quando comparada à suspensão de areia,
principalmente devido à sua natureza floculenta.
No início de um teste IVL ou de Velocidade de
Sedimentação em Zona, o lodo composto por
flocos orgânicos, de grandes e pequenas
dimensões, e partículas inorgânicas começará a
sedimentar como uma matriz coagulada (estágio 1
na Figura 12.15) e a velocidade de sedimentação
será fortemente influenciada pela concentração do
SSRB.
Esta fase é denominada de Sedimentação em próxima à função exponencial. (Figura 12.17). Esta
Zona e permanece ao longo dos estágios 1 a 3 na função, conhecida por função Vesilind, é da forma:
Figura 12.15 até que não haja mais manto de lodo
na concentração original do SSRB – ela se reduz vs = vo . e-Psz.X (12.1)
através de uma região de transição para a zona de
compressão (Estágio 4). A sedimentação por
compressão é claramente diferente da onde:
sedimentação em zona – as partículas se apoiam vs velocidade de sedimentação (m/h)
mutuamente e a compressão é realizada expulsando vo velocidade inicial de sedimentação (m/h),
a água da matriz do lodo. A velocidade de obtida através da intersecção da extensão da
sedimentação não é mais uma função da curva com a concentração zero
concentração do lodo, mas depende da pressão psz parâmetro de sedimentação em zona (L/g
intersticial, da compressibilidade e da ou m³/kg)
permeabilidade do lodo. X concentração de SSBR (g/L ou kg/m³) nos
vários testes VSZ
12.4.3 A Função Vesilind de sedimentação
É importante observar que a parte inicial da
No gráfico do teste de VSZA, onde é plotado o curva na região de baixa concentração (0 a
nível da interface ao longo do tempo (Figura aproximadamente 1.500 mg/L na Figura 12.17) é
12.13), o estágio da sedimentação em zona pode ser puramente uma extensão matemática da curva de
reconhecido pelo trecho linear da curva, onde o pontos medidos e na realidade, a velocidade de
manto de lodo sedimenta com velocidade sedimentação em zona não pode ser estendida ou
constante. O teste é repetido para várias medida naquela faixa de concentração.
concentrações como mostra a Figura 12.16.
Caso os mesmos pontos medidos da Figura
12.17 sejam plotados em gráfico semi-log, a função
exponencial é transformada em uma reta (Figure
12.18) de declividade psz e interseção com eixo y
em ln(vo).
Figura 12.17 Relação Vesilind entre a velocidade de sedimentação e a concentração de SSRB no teste (dados: Environment
Canada)
Figura 12.18 Função Vesilind representada em escala semi-log (dado: Environment Canada)
JL = JS(XL)+JB(XL) (12.3)
total, o mínimo ou o fluxo limitante (JL, kg/m²/h) crítica de descarga de fundo, sempre pode ser
pode então ser determinado. determinado um fluxo mínimo para a concentração
limitante.
12.4.5 Critérios limites de aplicação de
sólidos dos decantadores Esta situação está configurada na Figura 12.21.
O fluxo aplicado no decantador deve ser menor que
Considere o fluxo total como representado na o fluxo mínimo para que o decantador seja
Figura 12.21. Caso a taxa de descarga pelo fundo carregado. O decantador está criticamente
aumente, as curvas de fluxo de descarga de sólidos carregado quando o fluxo aplicado é igual ao fluxo
e de fluxo total serão rotacionadas no sentido anti- mínimo. Para uma determinada condição de VPPC
horário em torno da origem, e, então, a uma e concentração de SSRB, a área e a razão de
determinada taxa de descarga de fundo, o valor recirculação devem ser selecionadas de modo que
mínimo do fluxo total (e, portanto, a concentração o fluxo total resultante seja igual ou menor que o
limitante) irá desaparecer (Figura 12.22). fluxo mínimo.
Figura 12.22 Curva de fluxo total para vazão de Nesta condição, o fluxo aplicado (carga sólida)
recirculação crítica ao decantador deve ser menor que o fluxo
gravitacional da concentração de entrada (SSRB)
12.4.5.1 Critério I de Processamento de ou, de forma equivalente, a taxa de aplicação
Sólidos - fluxo de sólidos mínimo superficial (aplicação hidráulica, m/h) deve ser
limitante menor que a velocidade de sedimentação em zona
do lodo na concentração de entrada (SSBR).
Para taxas de descarga de fundo (saída de
recirculação de lodo ativado) menores que a taxa ql = QVPPC/A = vs, SSRB = vo.e-Psz.SSRB (12.4)
As seções seguintes descrevem com mais gravitacional, mas a definição de seu eixo vertical
detalhes como a teoria do fluxo é aplicada para (y) é diferente.
projeto de decantador, especificamente
estabelecendo a área requerida e a taxa de
recirculação mínima.
1) A linha é plotada com a declividade negativa qR taxa hidráulica de descarga de fundo, QR/A,
(uma vez que se posiciona na direção oposta à (m/h)
do fluxo de efluente. jI taxa de fluxo de sólidos do efluente,
2) A linha de descarga de fundo (a qual, QI/A.XF (kg/m²/h)
originalmente, de acordo com a equação 12.6, jR taxa de fluxo de sólidos descarregados pelo
começa com fluxo zero e concentração zero) é fundo, QR/A.XF (kg/m²/h)
deslocada para cima de tal modo que se inicia a jAP taxa de fluxo total de sólidos aplicados,
partir do fluxo total aplicado no eixo vertical (X (Q+QR)/A.XF (kg/m²/h).
= 0). O fluxo total aplicado (também
denominado taxa de carga sólida) é obtido pela Ponto de estado é o ponto de operação do
soma do fluxo de efluente com o fluxo de decantador com fluxo de afluente na concentração
descarga de fundo à concentração de de alimentação.
alimentação,
QI +QR QI
JAP = XF = (1 + R) XF (12.7)
A A
Onde:
Figura 12.26 Diagramas do Ponto de Estado (linhas de fluxo de efluente e de alimentação não mostradas) para diferentes
condições de carga
Todas as combinações são apresentadas O gráfico contém três linhas que ajudam a
visualmente na Figura 12.26, onde o ponto azul é o determinar a condição operacional do decantador
ponto de estado e a linha vermelha é a linha de baseada na sua carga hidráulica (taxa de fluxo de
fluxo de descarga de fundo. A linha de fluxo de efluente) e na razão de recirculação.
efluente (não mostrada) conecta a origem com o
ponto de estado. O decantador deve atender ambos • linha CPS II. A linha reta horizontal representa
os critérios de processamento de sólidos para não a velocidade de sedimentação na concentração
ser carregado criticamente ou sobrecarregado. Dos de alimentação, XF (baseada nos dois
nove casos representados, 1a, 1b, 1c, 2a e 3a são de parâmetros Vesilind, vo e psz), como
sobrecarga, 2b, 2c e 3b são de criticamente apresentado na equação 12.4. A área acima
carregado, e somente um caso (3c) é subcarregado. dessa linha, o CPS II (Critério de
A teoria do fluxo pode ser apresentada em forma Processamento de Sólidos) não é atendido e o
conceitual e gráfica através de diferentes maneiras, decantador está sobrecarregado. Contudo,
além do Diagrama do Ponto de Estado apresentado condições de subcarga não são garantidas
anteriormente. Estes métodos são baseados na abaixo da linha horizontal – que depende da
mesma teoria, contendo a mesma função Vesilind posição da linha de fluxo limitante (CPS I).
de sedimentação, e definem os mesmos fluxos de
sedimentação gravitacional, de efluente e de • linha CPS I. O fluxo de sólidos admissível de
descarga de fundo usando eixos diferentes. Eles acordo com o CPS I aumenta com a elevação
podem ser mais práticos ou convenientes para certo da razão de recirculação. O conceito de fluxo
projeto ou proposta operacional, mas produzirão mínimo foi explicado anteriormente na Figura
exatamente os mesmos resultados. 12.21, e é equivalente a uma série de condições
críticas de carga, quando a linha de recirculação
O Gráfico Ekama de Projeto e Operação de é tangencial à linha de fluxo gravitacional do
(P&O) Diagrama do Ponto de Estado. A equação desta
linha (sem detalhar o desenvolvimento) é dada
Este gráfico reorganiza a informação disponível na nas equações 12.8 e 12.9. Se o ponto de
teoria do fluxo e no Diagrama do Ponto de Estado. operação ficar abaixo desta linha, o CPS I será
A taxa de fluxo de efluente (Q/A, em m/h) é plotada satisfatório.
contra a razão de recirculação no eixo X (Figura
−psz (1+R).XF (1+ α)
12.27). QI v0 1+ α
= e 2R (12.8)
A R 1− α
onde:
4R
𝛼 = √1 − (12.9)
psz .(1+R).XF
mostrar que a razão crítica de recirculação Também há vários padrões de projeto em países,
(acima da qual não existe um fluxo mínimo) é por exemplo, no Reino Unido (WRC), na
uma função hiperbólica: Alemanha (ATV, e sua nova versão, DWA) e na
Holanda (STOWA). Estas diretrizes e métodos de
QI v0
= (12.10) projeto são muito utilizados nesses países e nos
A e2 .R
vizinhos. O princípio dos cinco procedimentos de
Onde: projeto mais amplamente utilizados (inclusive
qR,cri = vo/e² (m/h), e representa a inclinação da teoria do fluxo) é sumarizado a seguir. O objetivo
curva de fluxo gravitacional em seu ponto é ilustrar a variedade de princípios que são usados
de inflexão, que ocorre em valores o dobro nesses métodos, e não apresentar uma orientação
de X (a 2/psz) do que para o fluxo detalhada, passo a passo. Para executar um real
gravitacional máximo (a 1/psz). procedimento de projeto o leitor precisa seguir os
passos originais das referidas diretrizes. Desde que
Os nove casos possíveis de carga mostrados na somente os mais importantes elementos de
Figura 12.26 podem também ser plotados no procedimento de projeto são usados nestes
gráfico Ekama P&O (Figura 12.28). Somente um exemplos, um decantador projetado com o
detalhe do gráfico total da Figura 12.27 é mostrado. procedimento real pode ser significativamente
diferente dos resultados desses exemplos.
21
https://experimentalmethods.org/courses/settling-
tests/
durante condições de vazão de pico, resultando em mesmo tipo de lodo com boa sedimentação. As
decréscimo temporário da concentração (XF, VPPC) propriedades de sedimentação desta amostra de
de SSRB do reator. lodo foram analisadas usando todos os diferentes
métodos requeridos, que permitem a comparação
Vários métodos de projeto requerem diferentes direta dos métodos e do projeto resultante do
medições de características de sedimentação do decantador. Em caso real de projeto, devem ser
lodo (ou seja, vo e pSZ, ou IVL, ou IVLD, etc.). Os levados em consideração os parâmetros de
exemplos seguintes de projeto são baseados num sedimentação de lodo mais conservadores.
1 200
Em condições de vazão média de período seco: q0 = + (m/h) (12.18)
3 VLD30
4) Portanto, durante condições de VMPS, 1.000 usado neste exemplo simplificado. Portanto,
(m³/h)/1,43 (m/h) = 700 m² de área é o valor durante a condição VPPC, 0,7 x 2.500
requerido. (m³/h)/1,43 (m/h) = 1.225 m² de área é o valor
requerido.
5) Durante as vazões de período chuvoso, os
sólidos transferidos temporariamente para o 6) Por considerações práticas, o valor 1.200 m² de
decantador e a resultante queda do SSRB são área é selecionado.
considerados no passo 3. O cálculo real é
iterativo até que os balanços de carga de sólidos 7) O fluxo de recirculação pode ser determinado
sejam reduzidos diante do lodo armazenado no similarmente ao método ATV, resultando em
manto, sujeito às condições reais. A máxima bomba com capacidade de 500 m³/h.
redução de XF permitida é 30%, e isto será
Figura 12.29 Representação Zero, 1-D e 2-D do mesmo decantador (imagem: MMI Engineering)
O uso de modelos CFD tem se acelerado neste caso a simulação não previu uma melhoria
significativamente nestes anos recentes devido a significativa nos sólidos em suspensão do efluente.
avanços na modelagem hidrodinâmica e calibração
de modelo. Detalhes de projeto do decantador são
frequentemente sujeitos à verificação ou 12.7 EXEMPLOS DE PROJETO
otimização em modelos CFD antes da implantação
em escala real. Um exemplo é mostrado na Figura Projetar um decantador. Estabelecer a área
12.32. Neste caso é simulado um anteparo requerida de decantador e a capacidade da bomba
Stamford, que é projetado para desviar o fluxo da de recirculação. Utilizar dos métodos simplificados
área do vertedor de efluente, O efeito do anteparo é conforme foi descrito na Seção 12.5 para projetar o
claramente visível no campo de fluxo; entretanto decantador para as condições esperadas de carga no
futuro conforme especificado na Tabela 12.4.
Figura 12.32 Efeitos do anteparo Stamford no campo de fluxo em torno dos vertedores (Imagem: MMI Engineering)
Tabela 12.5 Parâmetros de sedimentação do lodo assumidos para os vários métodos de projeto
Parâmetro Símbolo Valor Unidade
Índice Volumétrico de Lodo IVL 190 mL/g
Índice Volumétrico de Lodo Diluído IVLD 160 mL/g
Índice Volumétrico de Lodo Diluído Agitado para IVLA3,5 120 mL/g
3,5 g/L de SSRB
Velocidade inicial de sedimentação v0 5,82 m/h
Parâmetro de sedimentação em zona pSZ 0,42 m3/kg
4) Projeto ATV
a) VLD30 pela Eq. 12.12 é 3,2.160 = 512 mL/L. 5) Projeto STOWA
b) A taxa de fluxo de efluente pela Eq. 12.14 é a) VLD30 da Eq.12.12 é 3,2.160 = 512 mL/L. A
0,56 m/h. Isto é menor que o máximo, 1,6 taxa permissível de fluxo de efluente baseada
m/h. na Eq. 12.18 é 0,72 m/h.
b) A taxa volumétrica de aplicação de lodo pela
Eq.12.13 é 371 L/m²/h (se coloca entre 300 e
400 L/m²/h). Portanto, o valor 0,72 m/h é m³/h para VMTS e 341 m³/h para VPPC; 350
aceito. m³/h é o valor selecionado.
c) A área requerida é 240/0,72 = 332 m² para
VMPS e usando 70% como redução máxima A tabela 12.6 resume as áreas de decantador
da concentração SSRB, 0,7 x 672/0,72 = 650 selecionadas e as capacidades da bomba de
m². recirculação usando os diferentes métodos de
d) A vazão de recirculação, baseada no balanço projeto.
de massa apresentado na Eq. 12.17, é 179
Figura 12.33 Exemplo de tanque de decantação secundária, adequadamente operado e mantido, com produção de efluente de
boa qualidade (foto D.H. Eikelboom).
REFERÊNCIAS
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a unified framework to model settling tanks in
water resource recovery facilities. Water Sci.
Technol. 75(3-4):539- 551
Water Environment Federation (2005). Clarifier
Design Manual of Practice, No. FD-8, 2nd
Edn., McGraw- Hill, New York.
NOMENCLATURA
Abreviatura Descrição
APE Análise do ponto de estado
FDC Fluidodinâmica computacional
FPPS Fator de pico diário (período seco)
FPTC Fator de pico tempo chuvoso
IVL Índice volumétrico de lodo
IVLA3,5 Teste do índice volumétrico de lodo agitado realizado para 3,5 g/L de
concentração do SSRB
IVLD Índice volumétrico de lodo diluído
RBS Reator de batelada sequencial
RLA Recirculação de lodo ativado
SSRB Sólidos em suspensão do reator biológico
Abreviatura Descrição
STOWA Stichting Toegepast Orderzoek Waterbeheer - Fundação para Pesquisa
Aplicada na Gestão de Água
VMPS Vazão média de período seco
VPPC Vazão de pico em período chuvoso
VSZ Velocidade de sedimentação em zona
VSZA Velocidade de sedimentação em zona agitada
VPS Vazão de período seco
TAS Taxa de aplicação superficial
Figura 12.34 Um reator de batelada sequencial (RBS) serve como tanque de decantação durante a fase de espera. Este projeto
particular (WWTP Bile’ca, Bósnia e Herzegovina) envolve um sistema de descarga de efluente ajustável que determina o
volume de efluente descarregado do reator após o período de sedimentação (foto: D. Brdjanovic).
13.1 PRINCÍPIOS DE SEPARAÇÃO POR tamanho variando de mícrons (por exemplo, floco)
MEMBRANAS até vários angstroms (por exemplo, sais). Os
tamanhos dos poros dessas membranas, em
A principal função da separação por membrana é comparação com os tamanhos dos poluentes
separar, purificar ou concentrar componentes de particulados/ coloidais/ solúveis, são
uma mistura, aplicando uma ou mais forças esquematicamente demonstrados na Figura 13.1. A
motrizes através de uma membrana permeável MF é capaz de rejeitar substâncias particuladas
seletiva de modo que os componentes de interesse com um tamanho maior que 0,1 m. UF rejeita
possam preferencialmente atravessar a membrana. coloides e macromoléculas com um tamanho de
A membrana permeável seletiva é a chave para 0,002-0,100 m ou mais; a capacidade de rejeição
garantir uma separação eficaz. Os mecanismos de das membranas de UF é geralmente medida pelo
separação por membrana incluem exclusão por peso molecular de corte. A NF rejeita compostos
diferença de tamanho (peneiramento), orgânicos com peso molecular de 100-1.000 Da ou
difusão/eletrodiálise, osmose, transição de fase, mais, bem como alguns íons relacionados a dureza.
etc. A exclusão por diferença de tamanho é um OR rejeita sais e solutos de tamanho pequeno
processo de filtração mecânica utilizando presentes na alimentação. MF e UF são referidos
membranas porosas, enquanto outros mecanismos como processos de baixa pressão, enquanto NF e
dependem da interação físico-química entre os RO são referidos como processos de alta pressão.
componentes que serão separados e o material da
membrana. Os processos de separação por O biorreator com membrana (MBR –
membranas podem ser acionados por gradientes de Membrane Bioreactor) é um processo integrado de
pressão, concentração, temperatura, potencial tratamento biológico e separação por membrana
elétrico, etc. para tratamento de esgoto e recuperação de água. A
membrana utilizada em MBR é geralmente de MF
Os processos de membrana operados por ou UF, cujo objetivo principal é separar os sólidos
pressão têm sido aplicados com sucesso no em suspensão do lodo ativado para garantir a
tratamento de água, tratamento de esgoto e qualidade do efluente. A membrana pode reter
recuperação de água. Microfiltração (MF), completamente os flocos de lodo e bactérias, bem
ultrafiltração (UF), nanofiltração (NF) e osmose como alguns dos biopolímeros coloidais e solúveis
reversa (RO) são os melhores exemplos, capazes de presentes no lodo.
rejeitar uma ampla gama de poluentes com
Os sistemas MBR aeróbios são projetados para projetados para recuperar a energia, material
remover poluentes orgânicos, nutrientes e a maioria orgânico e nutrientes N/P, com o auxílio da
dos patógenos. MBRs anaeróbios (AnMBRs) são capacidade de rejeição das membranas MF ou UF.
Figura 13.1 Esquema mostrando exclusão de poluentes em função do tamanho por membranas de osmose reversa (OR),
nanofiltração (NF), ultrafiltração (UF), microfiltração (MF) e filtração convencional (FC).
MBR
MBRspara o reúso de água
for wastewater reuse MBR para o controle de depósito
MBRs for fouling control
MBR ++ RO
§ MBR OR § AsMBR
AsMBR
MDBR
§ MDMBR Novos
Novel MBRs
MBRs § JLMBR/Airlift
JLMBR/AirliftMB
MBR
NFMBR
§ NFMBR § MABR
MABR
OMBR § MCBR
MCBR
§ OMBR
MBRSpecial
com microrganismos
microbe-basedespecíficos
MBR
Anammox
§ Anammox MBR MBR
Fungi MB
§ Levedura MBR
Figure 13.3 Summarized illustration showing novel MBRs developed in recent years: AGMBR (aerobic granular sludge MBR)
Figura 13.3 Ilustração resumida mostrando novos MBRs desenvolvidos nos últimos anos: AGMBR (MBR de lodo granular
HFMBR (hybrid biofilm MBR); SRMBR (submerged rotating MBR); VSMBR (vertical submerged MBR); MBR+RO (MBR with
aeróbio); HFMBR (MBR de biofilme híbrido); SRMBR (MBR rotativo submerso); VSMBR (MBR submerso vertical); MBR + RO
reverse osmosis); MDBR (membrane distillation bioreactor); NFMBR (nanofiltration MBR); OMBR (osmotic MBR); AsMBR (air
(MBR com osmose reversa); MDBR (biorreator de destilação por membrana); NFMBR (MBR de nanofiltração); OMBR (MBR
sparging MBR); JLMBR (jet loop MBR); MABR (membrane adsorption bioreactor); MCBR (membrane coagulation bioreactor)
osmótico); AsMBR (MBR de ar); JLMBR (jet loop MBR); MABR (biorreator de adsorção por membrana); MCBR (biorreator de
anammox MBR (anaerobic ammonium oxidation MBR) (adopted from Meng et al., 2011a).
coagulação de membrana); anammox MBR (MBR de oxidação anaeróbico de amônio) (adotado de Meng et al., 2011a).
hidrofilicidade/hidrofobicidade, também
13.2.4 Materiais e módulos de membrana influenciam o desempenho do MBR,
Geralmente, dois tipos diferentes de materiais, a especialmente na formação de depósitos na
saber, polimérico e cerâmico, podem ser usados membrana.
para a síntese de membranas. Uma membrana Os polímeros comuns para membranas comerciais
típica normalmente tem uma estrutura assimétrica, de MF/UF incluem acetato de celulose (AC),
formada por uma fina camada mais densa na parte fluoreto de polivinilideno (PVDF), polissulfona
superior, responsável pela seletividade (PS), polietilsulfona (PES), poliacrilonitrila
permanente, e uma camada de suporte porosa mais (PAN), cloreto de polivinila (PVC), polietileno
espessa, que provê a propriedade mecânica. Uma (PE), politetrafluoretileno (PTFE) e polipropileno
membrana para aplicação de MBR deve ter as (PP). Todos os polímeros acima podem ser
seguintes características: (i) alta porosidade, utilizados para sintetizar membranas com
tamanho e distribuição de poro adequado para propriedades físicas desejáveis e resistência
fornecer alta seletividade e alta permeabilidade à química razoável, usando técnicas específicas de
água; (ii) mecanicamente robusta, ou seja, capaz de síntese. Para o mercado de MBR, as membranas
suportar com frequência lavagens e limpezas com PES e PVDF são os produtos dominantes. Mais
ar; (iii) material que seja quimicamente resistente, recentemente, produtos de PTFE também se
isto é, resistente a pH extremo e oxidantes durante tornaram disponíveis. As membranas PES
a limpeza química; e (iv) idealmente resistente a apresentam boa estabilidade química, podendo
formação de depósitos. Várias outras tolerar uma faixa de pH de 1,5-13 e apresentam
características da membrana, como carga resistência moderada ao cloro. As membranas de
superficial, rugosidade e PVDF podem tolerar ácidos fortes (por exemplo,
até pH 1), mas são menos resistentes para operar
Tabela 13.1 Principais fornecedores globais de membrana para aplicações de engenharia de MBRs.
Material da Configuração do Tamanho Nome do produto Fabricante
membranaa módulo nominal do
poro (µm)
PVDF Fibra-oca 0,035 ZeeWeed 500 Suez (Zenon), EUA
PVDF Fibra-oca 0,4 Sterapore Mitsubishi Rayon, Japão
PVDF Fibra-oca 0,1 BSY Origin Water, China
PVDF Fibra-oca < 0,1 SMM Memstar, Singapura
PVDF Fibra-oca 0,03 PURON Koch Membrane Systems, EUA
PVDF Fibra-oca 0,1 Microza MUNC Asahi Kasei, Japão
PVDF Fibra-oca 0,04 Memcor MemPulse DuPont, EUA
PVDF Fibra-oca 0,075 Saveyor SVM Canpure, Canadá
0,05 CPM
PVDF Fibra-oca 0,1 SMT-600-BR Beijing Scinor, China
PVDF Fibra-oca < 0,1 BF, BT Tianjin Motimo, China
PVDF Fibra-oca 0,1-0,2 FMBR Hangzhou Creflux, China
PVDF Fibra-oca 0,02 FFM-MBR-20 FFM Inc., EUA
HDPE Fibra-oca 0,4 KSMBR Econity, Coréia do Sul
PVDF Fibra-oca 0,4 SuperMAK ENE, Coréia do Sul
PVDF Fibra-oca 0,1 RCM Philos, Coréia do Sul
PVDF & PTFE Fibra-oca 0,04 – 0,08 EcoFil, EcoFlon Ecologix, EUA
PTFE Fibra-oca 0,1; 0,2; 0,45 Poreflon SPMW Sumitomo, Japão
PVDF Fibra-oca 0,1 ZENOMEM Suzhou Vina, China
Polietileno Placa Plana 0,4 Kubota SMU Kubota, Japão
clorado
PVDF Placa Plana 0,08 MEMBRAY Toray, Japão
PVDF Placa Plana 0,1 SINAP SINAP, China
PVDF Placa Plana 0,08 – 0,30 PEIER Jiangsu Lantian Peier, China
PES Placa Plana 0,04 CES SubSnake Colloide Engineering Systems,
Northern Ireland
PES & PVDF Placa Plana 0,08; 0,1; 0,4 Ecoplate, EcoSepro Ecologix, EUA
PES Placa Plana 0,01 – 0,20 Neofil LG Electronics, Coréia do Sul
PES Placa Plana 0,04 BIO-CEL Microdyn-Nadir, Alemanha
PES Placa Plana ~ 0,07 U70 A3 Water Solutions GmbH,
Alemanha
PVDF Placa Plana 0,14 M70
PVDF Placa Plana 0,2 MFP2 Alfa Laval, Suécia
PES Placa Plana ~ 0,07 MEMBRIGHT FLI Environmental Group, EUA
PVDF Placa Plana 0,05 VINAP Suzhou Vina, China
PES Placa Plana 0,05 MicroClear Weise, Alemanha
PVDF Tubular 0,03 Airlift MBR Pentair X-Flow (Norit), Holanda
PVDF Tubular 0,03; 100 Bioflow Berghof, Alemanha
kDa
Cerâmica Plana/multi canais 0,1 CH250 Meidensha, Japão
Cerâmica Plana/multi canais 0,2 CFM ItN Nanovation, Alemanha
Cerâmica Tubular 0,02; 0,05; JWCM Jaingsu Jiuwu Hi-tech, China
0,1; 0,2; 0,5
A A
B B
installed
A Beijing in more than 5,000
Origin business
membrane MBR
Water in systems
the world. forCo.
Technology sewage
Ltd. Envirotech Limited (CEL)
produzidas
specializes tanto Group,
por
in advanced whichde
inversão is fase
a leading
membrane-based induzida por
water and
and industrial
(BOW) foi fundadawastewater
em 2001. treatment
Ela se tornou plants in
o maior membrane-based
não
wastewater integrated
solvente (NIPS)environmental
treatment e and
como solutions
por separação
manufactures bothdenon-
fase
worldwideBeijing
fornecedor since 1992. Water
de Origin
membranasAs a global leadercom
da China, of MBR uma providertermicamente
specializing induzida
solvent-induced in phase
water and éwastewater
(TIPS);
separationo maior fabricante
(NIPS) and
membraneBeijing
supplier, MCAS
Origin Water are now expending
Technology Co. Ltd. treatment,thermally-induced
(BOW) water supply and phase recycling.
separation Memstar
(TIPS)
participação de mercado de cerca de 70% (Figura global de produtos de PVDF sintetizados porPVDF
TIPS.
membrane business in the world. specializes in advanced itmembrane-based water and of TIPS
13.6). was founded in 2001. It has become the largest Ahollow Memstarfibres;
possuiis the largest
quatro manufacturer
fábricas em Cingapura,
membrane supplier in 2019,
China, awith a market wastewater
share of China treatment
PVDFe EUA, and
products manufactures
globally. both
Memstar non-has four
Foi relatado
Beijing Origin
que, no final de BOW havia usando processos de fabricação de
aboutWater
70% (Figure 13.6). solvent-induced
manufacturingphasefacilities
separation (NIPS) China
in Singapore, and and the
construído mais de 30 projetos de MBR,
Beijing Origin Water Technology Co. Ltd. (BOW) cada um última
thermally-induced geração. A tecnologia Memstar MBR usa
USA, usingphase separationmanufacturing
state-of-the-art (TIPS) PVDF processes.
com
was uma capacidade
founded in 2001.total
It maior que 100.000
has become m3/d. hollow membranas
the largest fibres; it is thede
The Memstar
fibra-oca
largest
MBR
de uses
manufacturer
technology
PVDF TIPScom
ofPVDF um
hollow-
A membrana
membrane A BOWinMBR
supplier China,usawith
PVDF reforçada,
a market of PVDF tamanho
share que products de poro nominal
globally. Memstarde 0,04 μm
has
fibre membranes with a nominal pore size 0.04 µm e 1,3
four mm de
fornecem alta estabilidade
about 70% (Figure 13.6). química e tem um manufacturing diâmetro externo.
and 1.3facilities
mm Eles fornecem
in diameter.
outer Singapore, China
They andmódulos
provide the
membrane de
tamanho de poro de 0,1 μm. membrana
USA, using coman
state-of-the-art
modules with uma área útil
manufacturing
effective deprocesses.
membrana
membrane area of de 10
10
The Memstar MBR technology
(SMM-1010),
(SMM-1010), 12.5 uses PVDF
12,5(SMM-1013),
(SMM-1013), 2020 hollow-
(SMM-1520),
(SMM-1520), 25
A fibre membranes with ora 30
nominal µm
(SMM-1525)
25 (SMM-1525) ou 30 pore
(SMM-2030) size
(SMM-2030)m20.04
(Figure m213.7).
(Figura
and 1.3 13.7).
mm outer diameter. They provide membrane
modules with an effective membrane area of 10
(SMM-1010), 12.5 (SMM-1013), 20 (SMM-1520), 25
2
(SMM-1525) A or 30 (SMM-2030) B m (Figure 13.7).
B
A B
Figure 13.7
Figura 13.7Memstar
Membranamembrane products:
Memstar: (A) (A)
uma module;
módulo;(B)(B)
a
stack (or skid) (photo: Judd and Judd, 2011).
cassete (ou skid) (foto: Judd e Judd, 2011).
Figure 13.6 Beijing Origin Water MBR membrane products: (A)
a stack; (B) hollow fibres (source: Beijing Origin Water). Koch
Figure 13.7
A Memstar
Puron membrane
GmbH foi products: (A) ano
fundada module;
final(B)dea
2001 e
stack (or skid) (photo: Judd and Judd, 2011).
adquirida pela Koch Separation Solutions, Inc.
Figure 13.6
Figura Beijing
13.6 Origin Waterde
Membranas MBRMBRmembrane products:
da Beijing (A)
Origin (anteriormente Koch Membrane Systems, Inc.) em
a stack; (B) hollow fibres (source: Beijing Origin Water).
Water: (A) um cassete; (B) fibras ocas (fonte: 2004. O biorreator de membrana de ultrafiltração
Beijing Origin Water). PURON® de base única transformou a tecnologia
de tratamento de águas residuárias industriais e
Memstar municipais. Este projeto de módulo patenteado
Memstar é um produto de membrana do grupo (Figura 13.8) apresenta fibras-ocas de PVDF
CITIC Envirotech Limited (CEL), que é um reforçadas que são fixadas apenas na parte inferior,
fornecedor líder de soluções ambientais integradas virtualmente eliminando o acúmulo contínuo
com base em membrana, especializado em (clogging) de cabelo, materiais fibrosos e lodo.
tratamento de água e esgoto, abastecimento e Sólidos e partículas, incluindo bactérias,
reciclagem de água. A Memstar é especializada em permanecem do lado de fora, enquanto o permeado
tratamento avançado de água e esgoto com é extraído através da membrana para o interior das
fibras. A saída de ar está localizada dentro do feixe do que os métodos tradicionais de limpeza. A
de fibra para limpar toda a fibra, minimizando o otimização da recirculação do licor misto nos
consumo de energia. A nova geração de produtos módulos de membranas permite um aumento dos
PULSION® MBR oferece até 40% de redução de fluxos de operação e o desempenho geral. Com a
energia relacionada com aeração e 25% de redução otimização do projeto e do layout foi possível
de área. Esta inovação a baseada na formação de reduzir o tamanho do tanque, eliminando a
uma grande bolha através de um feixe de fibras de necessidade de válvulas de ar. O menor fluxo de ar
membrana compartimentada, criando uma ação de aplicado às membranas possibilitou a redução do
bombeamento semelhante a um pistão que resulta tamanho do equipamento de suprimento de ar em 565
em menores requisitos de ar e energia de aeração 50%.
A B C
Single header
Virtually eliminates
clogging
Central aeration
or Translation Purposes Only
Improves scouring
efficiency
A
A
B
B
Figura13.10
Figure 13.10The
O módulo de membrana
Toray NHP Toray NHP:
membrane module: (A) NHPFigura 13.11 O módulo de MBR da Sinap: (A) Painéis
(A) the Figure 13.11 The Sinap MBR module: (A) Membrane panels
210 300S module; (B) a lateral view of membrane elementsde membrana
o módulo NHP-210-300S; (B) uma vista lateral dos e (B) Módulo Sinap (fonte: Sinap).
and (B) Sinap module (source: Sinap).
elementos
(source: da membrana (fonte:
www.toraywater.com).
www.toraywater.com).
A B
Figura 13.13 Módulo Pentair X-low: A) o módulo Compacto 33V; B) MBR Anaeróbio; C) esquema do processo AnMBR com
Figure 13.13tecnologia
Pentair Crossflow FFR (fonte:A)
X Flow module: www.xflow.pentair.com).
the Compact 33V module; B) Anaerobic MBR; C) schematic of AnMBR process with
Crossflow FFR technology (source: www.xflow.pentair.com).
13.3 DESEMPENHO DO TRATAMENTO DE reutilização) e padrões específicos adotados em
ÁGUAS RESIDUÁRIAS E QUALIDADE diferentes países.
DO EFLUENTE
A versão primária do MBR, ou seja, uma
13.3 WASTEWATER TREATMENT ofcombinação
full-scale simples
MBRs, da established in the 1990s
unidade aeróbia e da or 2000s,
13.3.1 Remoção de poluentes were mainly
membrana in the
(aqui form ofO-MBR),
denominada O-MBR.pode Forser
TN removal,
PERFORMANCE AND EFFLUENT
convencionais usada para remover efetivamente DBO, DBO,
denitrification is required and, hence, an anoxic zone
QUALITY NH4+-N e SS. As primeiras unidades de MBRs em
Os poluentes convencionais normalmente incluem should be added before or after the aerobic tank,
escala plena, estabelecida nos anos 1990 ou 2000,
matéria orgânica (medida pela demanda química de forming an anoxic/aerobic-MBR (AO-MBR)
foram concebidas na configuração O-MBR. Para a process.
13.3.1 Ordinary
oxigênio pollutant
- DQO ou demandaremoval
biológica de oxigênio
For simultaneous
remoção removal of éthe
de NT, a desnitrificação N ande,P nutrients
necessária
- DBO), nitrogênio amoniacal (NH4+-N),
The ordinary pollutants portanto, uma zona anóxica deve ser adicionada
using a biological method, an anaerobic zone is further
nitrogênio total (NT),typically
fósforo totalinclude organic
(FT), sólidos em
antes ou
added todepois
triggerdo the
tanque aeróbio, formando
microbial um
P release-and-uptake
suspensão by(SS)
matter (measured e turbidez.
chemical oxygen A demand
eficiência- COD
de
processo MBR anóxico/aeróbio (AO-MBR). Para a
tratamento necessária difere de acordo com o tipo mechanism and form an anaerobic/anoxic/aerobic-
or biological oxygen demand - BOD), ammonium remoção simultânea dos nutrientes N e P usando
de água residuárias (por exemplo, esgotos
(NH4+-N),
nitrogen sanitários total nitrogen MBR (AAO-MBR) process.
zonaThe AAO-MBR process
industriais), (TN), total método biológico, uma anaeróbia é
versus efluentes demanda de
phosphorus (TP), suspended solids (SS),
efluentes (por exemplo, lançamento versusand turbidity. is the most prevalent in large-scale MBRs for
adicionada para ocorrência do mecanismo
The required treatment efficiency differs according to municipal wastewater treatment. The detailed
wastewater type (e.g. municipal wastewater vs. arrangement of the zones can differ according to the
industrial wastewater), effluent demand (e.g. specific design of the process flow (Xiao et al., 2014).
discharge vs. reuse), and specific standards adopted in In this chapter, the complete biological/membrane
different
Downloaded countries.
from http://iwaponline.com/ebooks/book-pdf/1103904/wio9781789063233.pdf treatment process is regarded as MBR as a whole.
by guest
659
A pesquisa mostra que as concentrações do plena e uma pesquisa recente mostra que as
afluente de DQO, NH4+-N, NT e PT estavam nas unidades de MBR também podem atingir mais de
faixas de 500-700, 25-50, 40-70 e 6-12 mg/L, 90% da remoção de DBO e DQO e 95% da
respectivamente. As concentrações do efluente de remoção de NH4+-N (Zhang et al., 2020). Mais
DQO, NH4+-N, NT e PT foram predominantemente pesquisas e desenvolvimento definitivamente
de 10-30, 0-3, 5-15 e 0-1, respectivamente. Uma valem a pena.
remoção média de ~95% foram alcançadas para
DQO e NH4+-N. Embora com uma flutuação maior, Existem vários avanços técnicos do MBR que
a remoção de NT foi de 80-90%. A remoção de PT sustentam sua excelência na remoção de poluentes
variou de 80% a 99% (mais frequentemente de 87- comuns (Xiao et al., 2019). Sem dúvida, as
98%), dependendo da condição biológica e das membranas podem rejeitar diretamente os flocos
dosagens químicas voltadas para o processo de do licor misto, células de microrganismos e outros
remoção de PT. No caso da China, as sólidos em suspensão maiores que 0,5 μm. A
concentrações de DQO, NH4+-N, NT e PT no capacidade de rejeição das membranas pode ser
esgoto sanitário foram de 150-400, 15-30, 25-40 e aumentada quando seus os poros são reduzidos
2-4 mg/L, respectivamente (dados apresentados devido à adsorção/bloqueio por substâncias
como intervalo interquartil) (Sun et al., 2016b). De formadoras de depósitos ou a superfície da
acordo com as estatísticas para a qualidade do membrana é coberta por uma camada de depósito
afluente e do efluente, as médias de remoção de dinâmico, permitindo a rejeição parcial de
DBO, DQO, NH4+-N, NT, PT e SS por todas as aglomerados de biopolímero e detritos, DQO/N/P
ETEs municipais em escala plena (principalmente coloidal, e até mesmo substâncias solúveis como
adotando processos de LAC – Lodo Ativado Produtos Microbianos Solúveis (PMS) e alguns
Convencional) são estimadas em 92%, 88%, 87%, solutos menos biodegradáveis.
65%, 83% e 93%, respectivamente (Sun et al.,
2016b). Em comparação com os processos de LAC, A filtração por membrana de MF ou UF, como
o MBR é particularmente eficaz na remoção de SS, um processo físico, provavelmente não alterará
DQO e NH4+-N, o que também foi verificado por diretamente a natureza dos microrganismos. No
uma comparação de longo prazo de um MBR em entanto, pode melhorar profundamente o processo
escala plena e LAC operado em paralelo biológico devido à retenção completa dos
(localizado adjacentemente e compartilhando o microrganismos e rejeição parcial dos poluentes. A
mesmo fluxo de esgoto sanitário). Quanto à separação completa do TDH e TRS permite que o
remoção biológica de nutrientes (RBN), o MBR MBR mantenha uma alta concentração de lodo e
também é competitivo para a remoção de NT. A uma baixa relação alimento-microrganismo (A/M)
precipitação química de PT é às vezes necessária (ou seja, uma carga de lodo mais baixa) e mantendo
para auxiliar na remoção adicional de PT. No geral, os microrganismos em condição de respiração
o MBR é extremamente adequado para o endógena para uma degradação mais completa dos
tratamento de esgoto sanitário. poluentes. Para o tratamento de esgoto sanitário, a
relação A/M para o sistema MBR é normalmente
A aplicação do MBR também foi estendida ao de 0,03-0,10 kgBOD5/kgSSRB.d, menor do que o
tratamento de efluentes industriais. Um número LAC, que é normalmente 0,05-0,15
crescente de MBRs tem sido aplicado para tratar kgBOD5/kgSSRB.d. A co-retenção de
uma grande variedade de águas residuárias microrganismos e poluentes também conduz ao co-
industriais (Xiao et al., 2019). As eficiências de metabolismo microbiano para a remoção de
remoção de poluentes variam amplamente de poluentes refratários. Novamente, devido à rejeição
acordo com o tipo de água residuária. O MBR foi da membrana, as bactérias nitrificantes são
aplicado para tratamento de lixiviado em escala mantidas mais facilmente no lodo do sistema e
e metabólitos intermediários, ainda a serem uma pequena porção dos POTr (particularmente os
devidamente monitorados e revelados. compostos não carregados com grandes valores
para a constante de Henry) podem evaporar sob as
As concentrações individuais dos EDCs condições de aeração nos tanques aeróbios ou de
conhecidos nos esgotos municipais variam membrana.
tipicamente de 1 ng/L a 1 μg/L (Xue et al., 2010),
variável de acordo com o tipo de EDCs. As As eficiências de remoção dos POTr dependem
concentrações individuais detectáveis de PPCPs principalmente de sua biodegradabilidade e
são geralmente de 10 ng/L a 10 μg/L em esgoto hidrofobicidade. Para POTr que são facilmente
bruto (Sui et al., 2011). As concentrações são degradáveis, as eficiências de remoção por MBR e
bastante variáveis entre os diferentes tipos de LAC são normalmente comparáveis, enquanto para
antibióticos (Gao et al., 2012). As eficiências de POTr refratários, o MBR é mais eficaz na
remoção de EDCs e PPCPs em MBRs em escala degradação biológica. Para POTr com forte
plena foram pesquisadas, com os resultados hidrofobicidade que são prontamente adsorvidos
mostrados na Figura 13.16. Cerca de metade dos pelo lodo, as concentrações mais altas de lodo, bem
POTr são removidos com eficiência maior do que como provavelmente maiores teores de SPE no
95%, e dois terços dos POTr tiveram uma remoção MBR, conduzem à absorção de POTr, mas a
de mais de 80%, enquanto alguns PPCPs tiveram elevada idade do lodo é desfavorável para o
uma eficiência de remoção inferior a 20%. A descarte do lodo de excesso. Para POTr com
grande variabilidade no desempenho de remoção hidrofobicidade mais fraca, mas ainda passíveis de
foi atribuída à biodegradabilidade e ser adsorvidos pelas partículas e coloides no licor
hidrofobicidade amplamente variadas que, em misto, o MBR é vantajoso na rejeição desses
última análise, resultam da estrutura química dos produtos químicos e na melhoria da qualidade do
compostos. efluente. No geral, as eficiências de remoção são
influenciadas em conjunto pelas propriedades do
Os POTr no sistema MBR podem sofrer licor misto (por exemplo, SSRB e SPE) e as
adsorção, degradação, rejeição e evaporação. Eles condições operacionais (como idade do lodo).
podem ser adsorvidos pelas células bacterianas,
SPE, sólidos em suspensão e coloides no licor A adsorção pode ser melhorada adicionando
misto. A adsorção é determinada principalmente adsorventes, como carvão ativado em pó (CAP), no
pela hidrofobicidade dos POTr, que é refletida pelo sistema MBR. A membrana garantirá a rejeição
coeficiente de partição octanol/água (Kow). Depois completa das partículas adsorventes. Observe que a
de serem adsorvidos na fase do lodo, os poluentes adsorção é meramente um processo físico que
podem então sofrer biodegradação e o processo de transfere os POTr da fase aquosa para a fase
duas etapas pode ser descrito por um modelo de sólida/lodo. A remoção final dos poluentes ainda
duas fases, onde o coeficiente de partição lodo- depende da degradação ou do descarte adequado do
água, constante de taxa de transferência de massa excesso de lodo. Para os POTr que não são
de água-lodo e a constante de biodegradação são os adsorvíveis nem biodegradáveis, o tratamento
parâmetros-chave (Urase e Kikuta, 2005; Xue et avançado (como ozonização e NF) é incorporado
al., 2010). A membrana MF ou UF tem um efeito ao sistema para garantir a alta qualidade do
marginal na retenção direta dos POTr (via adsorção efluente.
de curto prazo nos poros); no entanto, a adsorção e
exclusão de tamanho pela camada gel/torta não são As respostas biológicas aos produtos
desprezíveis. Os POTr podem ser rejeitados farmacêuticos em sistemas de tratamento de esgoto
prontamente quando são adsorvidos na fase de lodo também são dignas de nota. As ETEs são
ou ligados a coloides (Figura 13.1). Além disso, reservatórios potenciais de resíduos de antibióticos,
Figura 13.16 Eficiências de remoção de EDCs e PPCPs em MBRs em escala total (adotado de Xiao et al., 2019).
Por outro lado, as bactérias podem degradar alguns bacterianos de comunidades da camada de torta
biopolímeros biodegradáveis do licor misto do lodo biológica em MBRs anaeróbios são geralmente
ativado. Assim, a presença de micro-organismos formados de uma maneira estocástica não seletiva
nas membranas torna o comportamento do depósito (Cheng et al., 2019), indicando que MBRs aeróbios
muito mais complexo do que atualmente sabemos. e anaeróbios têm mecanismos de depósitos
Por exemplo, partículas subvisíveis, que são de diferentes.
tamanho de micrômetros, são os principais
incrustantes durante a operação de AnMBRs (Zhou No futuro, uma compreensão das mudanças
et al., 2019). Essas partículas podem ser dinâmicas dos biopolímeros e das bactérias em
consideradas como aglomerados de biopolímeros e plantas reais de MBR é necessária para revelar mais
bactérias livres. claramente os mecanismos de formação de
depósito. Um método de rastreamento da fonte
A tecnologia de sequenciamento de alto seria de alguma ajuda na identificação do processo
rendimento é poderosa para caracterizar as dinâmico de formação de depósito da membrana e
comunidades microbianas da camada de torta a fonte de formação de depósito na membrana
biológica. No entanto, a identificação e durante sua operação de longo prazo. Recomenda-
caracterização dos principais microbiomas se uma compreensão abrangente dos processos
causadores de depósitos não devem ser confinados funcionais e metabólicos da camada de torta
simplesmente às suas quantidades relativas, mas biológica, multi-ômicos (por exemplo,
também aos seus papéis no desenvolvimento do metatranscriptômica, metaproteômica e
depósito. Algumas espécies raras (com uma metabolômica). Esses estudos acabariam por
abundância relativa baixa) foram identificadas por ajudar no desenvolvimento de estratégias de
desempenhar papéis importantes no controle de depósitos.
desenvolvimento do depósito (Zhang et al., 2018).
Comunidades da camada de torta biológica não são 13.4.3 Estratégias para controle de
estruturadas aleatoriamente, mas são reguladas por depósitos das membranas
força mecânica, substrato local e associações de
espécies-espécies (Xu et al., 2019). Por exemplo, Normalmente, a essência do controle de depósito
essas comunidades da camada de torta biológica na maioria processos de membrana é regular as
desenvolvidas em alto fluxo são formadas interações entre membranas e incrustantes por
principalmente por processos determinísticos, vários métodos (Figura 13.18).
enquanto aquelas em baixo fluxo são guiadas
principalmente pela dispersão estocástica da
biomassa em suspensão. No entanto, os conjuntos
Figura 13.18 Estratégias de controle de depósito para operação MBR: TRS, tempo de retenção de sólidos; TDH, tempo de
retenção hidráulica; AI, aeração intermitente; RQA, retrolavagem quimicamente assistida; LIL, limpeza no local; GAC, carvão
ativado granular.
projeto de pré-tratamento em MBRs podem ser que são fluidizadas pela aeração limitam o
encontrados na Seção 13.5.2. desenvolvimento da camada de torta (Rosenberger
et al., 2011). Um estudo recente mostrou que a
13.4.4.2 Melhoria das condições adição de grânulos de plástico (polietilenoglicol, 4
hidrodinâmicas mm) com enchimento de 5% no reator diminui a
aeração em 50% (Kurita et al., 2015). No entanto,
A limpeza mecânica pela aeração pode colocar o a introdução de partículas de plástico ou grânulos
lodo em um estado em suspensão e mitigar o pode causar danos à membrana (Kurita et al., 2015;
depósito na membrana. Assim, a utilização de ar ou Siembida et al., 2010) e, portanto, otimização da
aeração é um método amplamente utilizado para forma e dureza dos grânulos de plástico e sua
limpeza de membranas. O aumento da intensidade dosagem são necessários durante aplicações reais.
da aeração pode facilitar a limpeza física devido a
maior velocidade do fluxo tangencial e da tensão 13.4.4.3 Otimização do fluxo da membrana
de cisalhamento. A fim de economizar energia para
operação do MBR, a otimização da aeração, O trade-off entre fluxo imposto e controle do
incluindo taxas, tamanho da bolha e modos de depósito é muito importante para a operação do
aeração, é de grande importância para o controle do MBR. Um baixo fluxo pode garantir uma baixa
depósito. A aeração intermitente ou cíclica tem velocidade de desenvolvimento do depósito, mas
sido considerada uma estratégia de controle de com menor produção de permeado.
depósito eficiente com menor consumo de energia. Operacionalmente, determinação do fluxo crítico
A estratégia de 'eco-aeração' usando aeração (definido como ‘existe um fluxo abaixo do qual um
intermitente com intervalos de 10/30 economiza declínio de fluxo com o tempo não ocorre; acima
até 50% da energia consumida na aeração (Buer e dele o depósito é observado’ (Field et al., 1995) é
Cumin, 2010). um pré-requisito para a operação do MBR, já que
operação com fluxo subcrítico é geralmente
O controle automático da aeração associado ao preferida pela maioria dos fornecedores de
OD, amônio e PTM, pode alcançar economia de membranas. Deve-se notar que o depósito
energia (Gabarrón et al., 2015; Sun et al., 2016a). inevitavelmente vai ocorrer, mesmo quando a
O modo de aeração intermitente pode membrana é operada abaixo do fluxo crítico.
potencialmente aumentar a remoção de nutrientes Particularmente, durante operação em longo prazo,
em MBRs porque as bactérias funcionais incrustantes de membrana se acumulam mesmo em
responsáveis por eliminação de N e P podem ser fluxo operacional muito baixo. Além disso, o fluxo
enriquecidas como resultado das variações das crítico para uma determinada membrana varia com
concentrações de OD (Guadie et al., 2014). as condições ambientais tais como temperatura,
propriedades do lodo, acúmulo de depósito
A adição de partículas (carvão ativado granular irreversível e envelhecimento da membrana.
e esferas de plástico) no licor misto pode Portanto, o fluxo crítico em uma determinada
intensificar consideravelmente a dinâmica dos planta de MBR deve ser reavaliado periodicamente
fluidos na zona do módulo (Rosenberger et al., e as estratégias de controle do depósito devem ser
2016). Assim, a limpeza mecânica em combinação atualizadas em conformidade.
com a limpeza por aeração pode alcançar um
controle eficiente de depósito em MBRs. Esferas 13.4.5 Limpeza das membranas com
de plástico (Microdyn-Nadir GmbH) têm sido depósito
aplicadas comercialmente para controle de
depósito em membranas de placa plana A limpeza da membrana geralmente é necessária
(Rosenberger et al., 2016). As esferas de plástico durante a operação do MBR para manter o
desempenho da membrana. É bem conhecido que a difusão. É amplamente aceito que o modo de
limpeza da membrana inclui limpezas física e filtração intermitente (filtração acoplada com
química. A limpeza física pode eliminar relaxamento) pode aliviar o depósito na membrana,
incrustantes de membrana fracamente aderidos, e tem sido amplamente incorporado em MBRs
muitas vezes denominados “depósitos reversível", como uma estratégia operacional padrão para
enquanto a limpeza química pode remover alguns melhorar o desempenho da membrana. Em alguns
materiais persistentes sobre as/nas membranas. Em casos, relaxamento combinado com retrolavagem
MBRs, esses dois métodos podem ser usados pode ser usado para aumentar a eficácia da limpeza.
separadamente, mas geralmente são aplicados em
combinações para recuperar efetivamente a Limpeza ultrassônica
permeabilidade da membrana. A limpeza ultrassônica é eficaz para aliviar a
polarização por concentração e remoção da camada
13.4.5.1 Limpeza física de torta na membrana, e é usado em vários
processos de filtração por membrana por causa de
A operação de manutenção de MBRs normalmente muitas vantagens, por exemplo não emprego de
depende de limpeza física por meio de aeração, reagentes químicos e não interrupção do processo
retrolavagem, ou seja, inverter o fluxo, ou de filtração. Existem vários parâmetros-chave que
relaxamento, que simplesmente interrompe a influenciam as eficiências de limpeza, por exemplo
permeação enquanto continua a limpar a membrana a frequência ultrassônica, densidade de potência, e
com aeração. Com a crescente pesquisa sobre duração, que podem ser usados para a otimização
limpeza física, uma série de novas estratégias de da limpeza por ultrassom.
limpeza também foram propostas, para exemplo,
ultra-sonicação online, vibração/rotação, etc. Vibração/rotação
A vibração e a rotação das membranas podem
Retrolavagem normalmente gerar alto cisalhamento ou
Os principais parâmetros de limpeza para turbulência na superfície da membrana, que pode
retrolavagem usando permeado são fluxo de permitir a limpeza online de membranas.
retrolavagem, duração e frequência. Uma
variedade de frequências e durações de 13.4.5.2 Limpeza química
retrolavagem são usados em MBRs, ou seja,
retrolavagens menos frequentes e mais longas A limpeza química é um processo essencial para a
(filtração de 7-16 min / 30-60 s retrolavagem), ou recuperação da permeabilidade de membranas com
retrolavagens mais frequentes e mais curtas depósito severo, devido ao envolvimento de
(filtração de 5-12 min / retrolavagem de 5-20 s). reagentes químicos. Normalmente, a limpeza in
Uma frequência e duração de retrolavagem ótima é situ e ex situ podem ser aplicadas dependendo da
dependente do tipo de membrana, parâmetros condição do depósito. Limpeza in situ inclui
operacionais (fluxo, temperatura, etc.), fluxo de limpeza online, onde tanto o licor misto quanto os
retrolavagem, as variações de PTM e propriedades módulos de membrana não são transferidos e a
dos incrustantes. limpeza de recuperação que é realizada nos tanques
de membrana após o licor misto ser transferido dos
Relaxamento tanques de membrana para outros tanques. A
O relaxamento permite o transporte difusivo de limpeza ex situ também é um tipo de limpeza de
incrustantes para longe das superfícies da recuperação que requer que as membranas com
membrana impulsionadas por um gradiente de depósito sejam movidas para tanques de limpeza.
concentração, e muitas vezes é realizado em A limpeza química online, incluindo limpeza no
conjunto com lavagem por aeração para melhorar a local (LIL) e retrolavagem quimicamente assistida
(RQA), normalmente visa manter a permeabilidade concentrações, por exemplo 0,2-0,3% de NaOCl,
da membrana e, portanto, também é chamada de 0,5-1% de ácido oxálico e 0,2-0,3% de ácido
limpeza de manutenção. Essa limpeza de cítrico. Todo o processo de limpeza pode durar
manutenção pode ser intensificada pelo aumento algumas horas, dependendo da condição do
das concentrações de reagentes químicos. Em depósito nas membranas. Por meio da limpeza
comparação, a limpeza de recuperação no modo in química de recuperação, a maioria dos incrustantes
situ ou ex situ visam remover a maioria dos na superfície da membrana ou nos poros da
incrustantes na superfície da membrana e nos membrana pode ser amplamente removido ou
poros, e é conduzida usando altas concentrações de danificado devido à exposição a altas
reagentes químicos e um longo tempo de concentrações de reagentes químicos e longo
exposição. tempo de exposição. No entanto, alterações ou
danos às membranas causados por limpeza química
LIL - Limpeza no local de longo prazo são inevitáveis. Estas alterações
A LIL é projetada para manter a permeabilidade da afetarão o desempenho da membrana, como fluxo
membrana e reduzir a frequência da limpeza e resistência à filtração. Com relação ao LIL e
offline. A LIL é geralmente realizada em intervalos RQA, atividades microbianas e o lodo em
entre 1 e 6 semanas em MBRs. A duração mais suspensão também podem ser impactados pelos
comum para tal a limpeza de manutenção é de 1-3 reagentes químicos durante a limpeza da
h. NaOCl, o reagente de limpeza prevalente em membrana. Além disso, deve-se prestar mais
MBRs em escala plena, é muitas vezes combinado atenção ao fluxo de resíduos e especialmente a
com ácido cítrico durante a limpeza. As dosagem excessiva de produtos químicos deve ser
concentrações típicas de NaOCl e ácido cítrico para evitada.
a RQA são 300-2.000 mg/l e 0,2-1,5%,
respectivamente. É evidente que o LIL requer 13.4.6 Melhorando a filtrabilidade do licor
apenas concentrações moderadas de produtos misto
químicos em comparação com a limpeza offline.
Devido a importância das SPE/PMS e espécies
RQA – retrolavagem quimicamente assistida bacterianas, o TDH e o TRS são muito importantes
Através da adição de uma baixa concentração de no desenvolvimento do depósito (Meng et al.,
agentes de limpeza na água de retrolavagem, 2009). Ou seja, a otimização do TDH e do TRS
eficiência da retrolavagem é aumentada. RQA ajudará a melhorar o filtrabilidade do licor misto
também é parte da limpeza de manutenção. É em MBRs. Contudo, o estabelecimento de tais
executada menos frequentemente do que a parâmetros do reator é normalmente realizado em
retrolavagem física normal, mas com mais direção à remoção de nutrientes, incluindo a
frequência comparada à LIL regular. A RQA pode remoção de nitrogênio e fósforo.
ser realizada diariamente ou a cada 7-14 dias, mas
geralmente em uma base diária. A concentração de A adição de adsorventes ou coagulantes no
reagentes químicos usada na RQA é geralmente licor misto pode ser adotada por causa de seus
inferior ao da LIL e limpeza offline. A papéis na redução dos níveis dos PMS ou das SPE.
concentração típica para o uso de NaOCl na RQA A adição de carvão ativado em pó (CAP) é um
está na faixa de 100-500 mg/L. método conveniente para diminuir os níveis dos
PMS. CAP pode não só adsorver biomoléculas no
Limpeza de recuperação lodo, mas também atuar como um meio para o
A limpeza de recuperação normalmente é realizada crescimento de biomassa e isso reduz a quebra de
uma ou duas vezes por ano. Este tipo de limpeza flocos (Wang et al. 2020). Mais interessante, a
química usa reagentes químicos com altas presença de CAP pode melhorar os efeitos da
reais até agora, essas abordagens fornecem uma incluem óxido de grafeno (OG), óxido de grafeno
alternativa potencial para o desenvolvimento de reduzido (OGr), nanotubos de carbono (NTCs),
estratégias de controle de depósito. fulerenos (C60), nanopartículas de cobre (Cu NPs),
nanopartículas de prata (Ag NPs), nanopartículas
13.4.7.3 Potencial de mitigação de de dióxido de titânio (NPs de TiO2) e
incrustação usando membranas à nanopartículas de óxido de zinco (ZnO NPs)
base de nanomateriais podem ser usadas para desenvolver novas
membranas ou modificar as propriedades da
Em geral, o depósito na membrana ocorre mais superfície de membranas comerciais para que
facilmente em membranas hidrofóbicas do que em tenham alto permeabilidade ou fortes propriedades
hidrofílicas, devido à interação hidrofóbica entre a anti-depósito. A maioria destes ENMs possuí
matéria hidrofóbica e membranas nos biorreatores. características distintas como habilidades
A maioria das membranas poliméricas usadas antimicrobianas e hidrofilicidade, resultando então
comercialmente para aplicação em MBR são de em efeitos multifuncionais para aliviar o depósito
natureza hidrofóbica; a afinidade entre incrustantes nas membranas (Qu et al., 2013).
e materiais da membrana podem levar a um severo
depósito. Como tal, muita atenção foi dada à
redução do depósito na membrana pela 13.5 PROJETO, OPERAÇÃO E
modificação de membranas hidrofóbicas em MANUTENÇÃO DE ESTAÇÕES DE
relativamente hidrofílicas. Por exemplo, polímeros MBR
hidrofílicos solúveis em água são usados como
aditivos para melhorar a hidrofilicidade da 13.5.1 Composição do processo
superfície durante o processo de fabricação da
membrana. Copolímeros anfifílicos com um Os processos baseados em MBR para tratamento de
segmento de cadeia hidrofílica também podem ser esgoto consistem em pré-tratamento, tratamento
envolvidos na fabricação de membranas biológico, filtração por membrana e
hidrofílicas. Uma camada interfacial de hidratação monitoramento e controle de sistemas. O sistema
é produzida na superfície hidrofílica da membrana de filtração por membrana inclui módulos/cassetes
como resultado da interação entre hidrogênios de membrana, tanques de membrana e instalações
hidrofílicos formadores de grupos funcionais e as de filtração/aeração/limpeza das membranas. O
moléculas de água circundantes, que evitam a projeto de todo o processo deve ser compatível com
fixação de incrustantes na superfície da membrana a qualidade da água residuária bruta e requisitos do
(Chew et al., 2017). tratamento. Em função dos diferentes níveis
requeridos de remoção de poluentes C/N/P,
A incorporação de nanomateriais em/sobre existem várias escolhas de configuração de
membranas é um dos tópicos mais populares na processo para o tratamento biológico, conforme
pesquisa e desenvolvimento de novas membranas. ilustrado na Figura 13.19.
Nanomateriais projetados (ENMs), os quais
Recirculation
Recirculação R1R1 Recirculation
Recirculação R3R3
Recirculation R
Recirculação R2 2 Excess sludge
Lodo de excesso
B) AAOA-MBR Demanda de ar G
Air demand G0
O
Carbono
Externalexterno
carbon Air demand
Demanda deGarM GM
Efluente
Esgoto decantando
Settled sewage Effluent
Anaerobic tank
Tanque anaeróbio Anoxic tank
Tanque anóxico Aerobicaeróbio
Tanque tank Anoxicanóxico
Tanque tank Membrane tank
Tanque de membrana
Recirculation
Recirculação RR1
1 Recirculation R2
Recirculação R2
LodoExcess
de excesso
sludge
C) Two-stage
AO-MBR deAO-MBR
dois estágio
Fluxo secundário
Side-stream
Efluente
Esgoto decantando
Settled sewage Effluent
Anaerobic tank
Tanque anaeróbio Anoxic tank
Tanque anóxico Aerobicaeróbio
Tanque tank Anoxicanóxico
Tanque tank Aerobic tank
Tanque aeróbio Membrane
Tanque tank
de membrana
Recirculation R1
Recirculação R1 Recirculation
Recirculação RR2 2 Recirculation
Recirculação R3 R3
LodoExcess sludge
de excesso
Figure 13.19 Examples of the flow charts of MBR based processes for municipal wastewater treatment: (A) AAO MBR for C, N,
and P removal; (B) AAOA MBR for enhanced endogenous denitrification; (C) two stage AO MBR for enhanced denitrification.
Figura 13.19 Exemplos de fluxogramas de processos baseados em MBR para o tratamento de esgoto municipal: (A) AAO-MBR
The pretreatment, primary treatment and sludge treatment are not depicted.
para remoção de C, N e P; (B) AAOA-MBR para desnitrificação endógena intensificada; (C) AO-MBR de dois estágios para
desnitrificação aprimorada. O pré-tratamento, o tratamento primário e o tratamento com lodo não são descritos.
Quando DQO e DBO são os alvos principais águas residuárias (por exemplo, parte das águas
não é requisitada a remoção de NT ou PT, um MBR residuárias desviam das zonas aeróbias e vão
aeróbio de único estágio pode ser adequado para diretamente para as zonas anóxicas para salvar a
esse propósito. No entanto, quando a remoção de fonte de carbono para desnitrificação), e as rotas de
NT é levada em conta, uma zona anóxica é recirculação do licor misto (por exemplo, o AAO-
necessária para compor o processo MBR MBR reverso e o UCT- Universidade of Cape
anóxico/aeróbio (AO-MBR). Para remoção Town/ (Universidade da Cidade do Cabo) - MBR).
biológica simultânea de N e P, o processo AAO- Por exemplo, o processo AAOA-MBR (Figura
MBR representado na Figura 13.19A cumpre este 13.19B) tem um tanque anóxico adicional
propósito. posicionado após a zona aeróbia para melhorar
desnitrificação endógena em caso de insuficiência
O processo AAO-MBR é mais comumente da fonte de carbono do esgoto bruto (ou seja, com
aplicado para tratamento de esgoto municipal, e uma baixa Relação C/N). O (AO)n-MBR de dois
várias variantes personalizadas do processo foram estágios ou múltiplos estágios também é projetado
desenvolvidas através da modificação das para alcançar uma utilização completa da fonte de
localizações espaciais dos tanques A/O, a carbono endógena, conforme ilustrado na Figura
alternância temporal dos tanques A/O (por 13.19C.
exemplo, um tanque alternável A/O), as rotas de
Para o tratamento de águas residuárias aqueles com módulos de membrana de fibra oca).
industriais (como mineração, refino de petróleo, Uma tela ultrafina pode ser instalada antes ou
petroquímica, químicos relacionados ao carvão, depois da câmara de areia ou do tanque de
química fina, processamento de alimentos, sedimentação, ou integrado a caixa de areia para
produtos farmacêuticos, fabricação de papel, economizar área.
impressão e tingimento, e efluentes eletrônicos),
todo o processo é normalmente mais longo do que A caixa de areia remove areia maior que 0,2
para tratamento de esgoto municipal, devido à mm com uma densidade relativa acima de 2,65 para
complexidade dos efluentes industriais e evitar abrasão dos equipamentos mecânicos e
dificuldade do tratamento. Diferente do esgoto módulos de membrana e interferência nos sistemas
municipal, efluentes industriais podem ter biológicos (Metcalf & Eddy, 2003). Se a areia não
propriedades de alto teor, baixa for removida com eficácia, os efeitos adversos são
biodegradabilidade, alta toxicidade, alta salinidade amplificados em um grau maior no processo MBR
ou alto teor de óleos e graxas. Antes do tratamento do que no processo de LAC, devido ao TRS
biológico baseado em MBR, os efluentes tipicamente mais longo no sistema MBR. Para
industriais devem ser adequadamente pré-tratados melhorar a remoção de areia, um TDH mais longo
por meio de, por exemplo, separação de óleo/água, na câmara de areia é sugerido para o processo MBR
coagulação, flotação, precipitação química, do que para o processo de LAC. Entre os vários
condicionamento de pH e hidrólise-acidificação. tipos de caixa de areia, a caixa de areia aerada é
Além disso, o pós-tratamento do efluente da atrativa, pois pode remover alguns óleos e graxas,
membrana pode ser necessário, como adsorção por o que é favorável para reduzir o risco de ocorrer
carvão ativado, oxidação avançada, tratamento por depósito na membrana causado por matéria oleosa.
filtro aerado biológico, NF, OR etc. A configuração O decantador primário é projetado para remover
específica de todo processo depende da qualidade sólidos em suspensão, e é necessário para o
do efluente industrial e do objetivo do tratamento. processo MBR quando a concentração afluente de
SS é alta (por exemplo,> 350 mg/L) (CECS, 2017).
13.5.2 Pré-tratamento O tempo de sedimentação pode ser de 0,5-2,0 h e a
taxa de escoamento hidráulico pode ser de 1,5-4,5
As instalações de pré-tratamento (e tratamento m3/m2.h (CECS, 2017). Quando a razão C/N da
primário) incluem peneiras, caixas de areia e um água residuária é inadequada para desnitrificação
decantador primário. A peneira serve para remover biológica, o tempo de sedimentação pode ser
objetos de grande porte em suspensão e flutuantes, reduzido para 0,5-1,0 h (e a taxa de escoamento
material fibroso, e material particulado, a fim de hidráulica correspondentemente é de 2,5-4,5
proteger o posterior tratamento biológico e m3/m2.h) para economizar a fonte de carbono; outra
sistemas de filtração por membrana. Peneiras opção é permitir a passagem de parte da água
convencionais grosseiras e finas têm um tamanho residuária diretamente para as unidades de
de malha de 16-25 mm e 1,5-10,0 mm, tratamento biológico.
respectivamente. No entanto, eles não podem
garantir a rejeição completa do cabelo e material O pré-tratamento (e tratamento primário) deve
fibroso que pode ficar emaranhado nas fibras da garantir remoção suficiente de substâncias oleosas
membrana, obstruir os canais de membrana, ou (por exemplo, os óleos animais e vegetais são
bloquear os aeradores de bolhas grossas no tanque reduzidos para <50 mg/L e substâncias
de membrana. Portanto, uma peneira ultrafina semelhantes ao petróleo diminuíram para <5
adicional com um tamanho de malha de 0,2-1 mm mg/L). Separação de óleo/água e instalações de
(denominado uma peneira ultrafina aqui) é flotação podem ser adotadas para o tratamento
necessário para o sistema MBR (especialmente quando necessário. Quando o pH da água
residuária está fora da faixa de 6-9 e torna-se dos tanques, rotas e razões de recirculação do licor
inadequado para um sistema biológico, um tanque misto, produção de lodo em excesso e demanda de
de condicionamento de pH é necessário na seção de aeração. O volume dos tanques está relacionado à
pré-tratamento. vazão de águas residuárias e qualidade,
concentração do lodo e taxa de escoamento,
Para águas residuárias industriais, o pré- crescimento do lodo e tempo de retenção e/ou taxa
tratamento tem por objetivo reduzir as de reação dos poluentes. As rotas e razões de
concentrações de SS, substâncias oleosas, recirculação do licor misto podem afetar as
poluentes refratários e melhorar a distribuições das concentrações de oxigênio
biodegradabilidade; ajustar o pH, o que é crítico dissolvido (DO), concentrações de lodo e
para o tratamento biológico subsequente. Em eficiências de remoção de poluentes nos tanques
adição às peneiras, caixa de areia e decantador anaeróbio (A1), anóxico (A2), aeróbio (O) e de
primário, as instalações de pré-tratamento de águas membrana (M). Por exemplo, a recirculação de O
residuárias industriais podem incluir separação de para A2 deve ser alta o suficiente para a remoção
óleo, flotação, floculação, condicionamento de pH, de NO3--N, mas não muito alta, para perturbar o
precipitação química, ou unidades de hidrólise- ambiente anóxico de A2. O OD na zona anóxica
acidificação, de acordo com as características das deve ser inferior a 0,2 mg/L para evitar a inibição
águas residuárias. Por exemplo, separação de do processo de desnitrificação. Para processos
óleo/água e flotação é normalmente necessário para MBR com tanques O e M separados, uma
o pré-tratamento de águas residuárias de refinarias proporção adequada de recirculação de M para O
de petróleo e matadouros; coagulação pode ser (ou para A2) irá prevenir qualquer acúmulo
empregada para águas residuárias altamente excessivo de SSRB no tanque de membrana de
tóxicas ou refratárias de indústrias de carvão exacerbar o depósito na membrana. A concentração
químico, petroquímicas e indústrias de química de OD no tanque O separado é recomendado ser de
fina; pode ser necessário ajustar o pH para águas 1-2 mg/L. Se o processo biológico não é suficiente
residuárias de química fina, fabricação de papel, para atender o padrão de PT para um efluente, a
galvanoplastia e impressão e tingimento; precipitação química pode ser conduzida (pela
precipitação química pode ser aplicada a águas dosagem de produtos químicos nos tanques
residuárias com metais pesados, de indústrias de biológicos ou em um tanque de reação adicional)
galvanoplastia e eletrônicos; e hidrólise- como suplemento. Para o cálculo dos volumes dos
acidificação e reatores anaeróbios de manta de lodo tanques, vazões de recirculação, produção de lodo
podem ser adotados para processamento de e demanda de aeração, a Tabela 13.2 lista uma série
alimentos, fabricação de papel, tabaco e águas de parâmetros que são principalmente adotados a
residuárias farmacêuticas com alta concentração partir da ‘Technical Specification for Design of
e/ou baixa biodegradabilidade. Membrane Bioreactor Processes for Municipal
Wastewater Treatment’ (padrão chinês T/CECS
13.5.3 Unidades de tratamento biológico e 152-2017) (CECS, 2017). Este padrão foi
parâmetros cinéticos principalmente baseado na experiência chinesa
com engenharia de MBRs em grande escala. O
procedimento detalhado e as equações para o
13.5.3.1 Visão geral das unidades de cálculo são introduzidos nas seções a seguir
tratamento biológico (13.5.3.2-13.5.3.4). Há outras abordagens para o
projeto de MBRs, para os quais os leitores podem
O projeto das unidades de tratamento biológico de
se referir aos livros, por exemplo, Judd e Judd
um processo MBR inclui principalmente o volume
(2011), Park et al. (2015) e WEF (2012).
Tabela 13.2 Parâmetros típicos para o projeto de tratamento biológico baseado em MBR para tratamento de esgoto municipal.
fluxos de recirculação
onde VOM1 (m3) denota o volume somado do tanque
Esta seção apresenta o dimensionamento das aeróbio (O) e o tanque de membrana (M, excluindo
unidades de tratamento biológico em um processo o volume do cassete de membrana) onde as reações
MBR, tomando o processo AAOMBR como biológicas aeróbias ocorrem; Q (m3/d) é a vazão
exemplo (ver Figura 13.19A para o fluxograma do projetada; S0 e Se (mg/L) são as concentrações de
processo). DBO5 na alimentação e no efluente da seção de
tratamento biológico, respectivamente (Se é
insignificante quando a taxa de remoção é superior
Zona aeróbia a 90%); XOM1 (g/L) é a média ponderada das
O volume da zona aeróbia pode ser calculado a concentrações de SSRB nos tanque O e M (XO e
partir da taxa de crescimento de bactérias XM, respectivamente; XO pode ser derivado de XM
nitrificantes e TRS (Opção 1) usando a equação: e razão de recirculação via balanço de massa); e Yt
(kgSSRB/kgDBO5) é a produção observada de
sólidos. θOM1 (d) é a idade do lodo mínima na zona de amônia (vn, kgNH4+-N/kgSSRB.d), corrigido
aeróbia, que pode ser estimada através da: para a temperatura:
onde µn (d-1) é a taxa de crescimento específica de Veja a tabela 13.2 para valores típicos de y e
bactérias nitrificantes e F é um fator de segurança vnm.
com o valor de 1,5-3. µn pode ser derivado da taxa
máxima de crescimento específico de bactérias Zona anóxica
nitrificantes (µnm, d-1) de acordo com a relação O volume da zona anóxica (A2) pode ser calculado
Monod, com a correção da temperatura: pela taxa de desnitrificação e balanço de massa de
N usando a equação:
μnm NOM1 1,07(T−20)
µn = (13.3)
Kn 1,053(T−20) +NOM1 Q(Nt0 −Nte )−124∆Xv
VA2 = (13.7)
1000XA2 Kdn 1,026(T−20)
+
onde Kn (mgNH4 -N/L) é a constante de meia
velocidade para utilização de amônia; NOM1 onde VA2 (m3) é o volume da zona anóxica; Nt0 e
(mgNH4+-N/L) é a concentração de amônia na zona Nte (mg/L) são as concentrações NT no afluente e
aeróbia; e T (° C) é a temperatura do licor misto. efluente do sistema biológico, respectivamente; Kdn
Consulte a Tabela 13.2 para valores típicos de XM, (kgNO3--N/kgSSRB.d) é a taxa específica de
Yt, µnm e Kn. desnitrificação; e XA2 (g/L) é a concentração de
SSRB no tanque anóxico que pode ser derivado do
O volume da zona aeróbia também pode ser XM e das taxas de recirculação através do balanço
calculado a partir da taxa de utilização de amônia e de massa. Ver Tabela 13.2 para o valor típico de
do balanço de massa de N (Opção 2) usando a Kdn.
equação:
Zona Anaeróbia
Q(Nk0 −Nke )−124∆Xv
VOM1 = (13.4) O volume da zona anaeróbia (A1) pode ser
1000XOM1 vn
calculado a partir do TDH:
onde Nk0 e Nke (mg/L) são as concentrações de N QtA1
Kjeldahl do afluente do tanque O e do efluente da VA1 = (13.8)
24
membrana, respectivamente; ΔXv (kgSSVRB/d) é
a descarga de biomassa do sistema; 124/1.000 é o onde VA1 (m3) é o volume da zona anaeróbia e tA1
conteúdo de nitrogênio nos microrganismos com a (h) é o TDH de A1, normalmente no intervalo de 1-
fórmula química empírica de C5H7NO2; e vn 2 h.
(mgNH4+-N/kgSSRB.d) é a taxa específica de
utilização de amônia. A ΔXv pode ser estimada via: Vazões de recirculação
As vazões de recirculação do licor misto entre
Q(S0 −Se )
∆Xv = yYt (13.5) tanques diferentes podem ser calculadas das vazões
1000
de recirculação, usando as equações:
Fornecimento de ar
Demanda de oxigênio padrão Finalmente, o fornecimento de ar para operação
A demanda calculada do oxigênio deve então ser pode ser calculado de acordo com a eficiência do
convertida a condição padrão (em 20 °C e 1 bar na aerador (soprador ou aerador mecânico). Tomando
água limpa) baseada na altitude local, na a aeração do soprador como exemplo, o
profundidade da água, na temperatura, na fornecimento de ar é expresso como:
concentração projetada do OD, e na transferência
de oxigênio no licor misto vs. água limpa.
Ostd 100
GO = . (13.21)
0,28ηA 24 τ1
Javg = J1 (13.22)
τ1 +τ0
Q
AM = FM (13.24) Judd, 2011). A vazão de um soprador que fornece
0,024Javg
ar para a aeração do tanque de membrana pode,
portanto, ser calculada a partir de DEA f, DEAm ou
O número de cassetes de membrana (nM) pode
DEAp usando as seguintes equações:
ser determinado via:
AM
DEAf . AP
nM = (13.25) GM = { DEAm . AM (13.27)
AM0
DEAP . 24Q
onde AM0 é a área de membrana por unidade de
cassete (m2). onde GM (Nm3/h) é o suprimento de ar para o
tanque de membrana, AP (m2) é a área total dos
O volume do tanque de membrana (VM, m3) cassetes de membrana e Q (m3/d) é a vazão total do
pode ser projetado a partir de AM (m2) e da permeado. Observe que, além da aeração contínua
densidade de empacotamento aparente (ϕM, m2/m3) conforme calculado acima, a aeração por
de todo o tanque de membrana: membrana também pode ser realizada em modo
intermitente, alternado ou em pulso.
AM
VM = (13.26)
φM
13.5.4.4 Procedimento de limpeza química
A densidade de empacotamento pode depender A limpeza química de uma membrana com
da configuração específica do produto de depósito inclui a limpeza in situ e a limpeza ex situ
membrana e do sistema hidráulico projetado no de acordo com a localização da limpeza, ou
tanque de membrana. É necessário espaço limpeza de manutenção e limpeza de recuperação
suficiente ao redor dos cassetes de membrana para de acordo com a gravidade do depósito (consulte a
garantir a circulação do licor misto no tanque. Seção 13.4.5.2). A limpeza online ou limpeza de
manutenção in situ geralmente é realizada no modo
13.5.4.3 Demanda de aeração LIL ou RQA. NaOCl e NaOH são agentes de
limpeza alcalinos típicos para remover depósitos
Para MBRs submersos, a aeração com bolhas orgânicos, e ácido cítrico, ácido oxálico e HCl são
grossas é normalmente aplicada para limpeza da agentes de limpeza ácidos típicos para remover
membrana para mitigar depósito e o clogging; o depósitos inorgânicos (por exemplo, íons
sistema de aeração das membranas consiste em um metálicos). NaOCl e ácido cítrico são os agentes de
aerador, soprador, tubulação de ar e equipamentos limpeza mais comumente aplicados na engenharia
auxiliares. A demanda específica de aeração em de MBR.
relação à área de projeção (ou seja, footprint) do
cassete de membrana (DEAf) é geralmente 60-120 Um sistema de limpeza química online deve
Nm3/m2.h no caso de MBRs para tratamento de incluir uma bomba de retrolavagem (para o caso do
esgoto (CECS, 2017). A demanda específica de RQA) e instalações para armazenamento, dosagem,
aeração também pode ser calculada com relação à medição e mistura de produtos químicos, e estar
área da membrana (DEAm) e vazão de permeado sob controle automático. A Tabela 13.3 dá
(DEAp). Para tratamento de águas residuárias exemplos de procedimentos para limpeza online
municipais, o DEAm e DEAp de referência para com NaOCl de módulos de membrana de fibra oca
módulos de membrana de fibra oca são 0,3 e de placa plana, respectivamente. Para limpeza
Nm3/m2.h e 15 Nm3/m3 de permeado, online usando NaOCl, ácido cítrico ou ácido
respectivamente, enquanto aqueles para módulos oxálico, uma recomendação para aplicações de
de membrana de placa plana são em dobro (Judd e engenharia é que a concentração seja menor que 3-
5 g/L, a dosagem seja menor que 4-6 L/m2 e o limpeza online, a concentração, a dosagem, o
tempo de contato seja menor que 1-2 h (CECS, tempo de contato e a temperatura podem ser
2017). Em períodos de baixas temperaturas, aumentados de acordo com as necessidades.
quando o depósito tende a piorar, a frequência de
Tabela 13.3 Exemplos de procedimentos para limpeza in situ de NaOCl de módulos de membrana de fibra oca e de placa plana.
For Translation P
coagulants). T
the unsightly architecture and unpleasant odours of with PVDF
typical WWTPs are eliminated. The synergy between Memstar, Si
the smaller footprint due to MBR technology 685 and operated sim
underground placement of the plant also significantly each membra
reduced the capital expenditure on land investment as each unit. T
rapid urbanization has greatly driven up land prices in membrane un
algumas áreas para reduzir ainda mais a área urbanização aumentou muito os preços dos
Guangzhou. l/m2.h, and hi
ocupada. Além disso, embora os MBRs apareçam terrenos em Guangzhou.
with intensi
em quase todos os setores industriais e no
protocols. Th
tratamento de lixiviados, a alta concentração de The image part with r elationsh ip I D r Id 90 w as n o t foun d in the file.
can be reduce
poluentes refratários no afluente requer
the optimized
modificações efetivas dos processos de MBR e/ou protocol. The
integrações eficientes com outras tecnologias. Não the nearby u
obstante, a redução de energia em MBRs é uma AAO-MBR s
meta de desenvolvimento permanente. Com sua 1.24 h, respec
capacidade e número crescentes, a aplicação em the range of 8
larga escala de MBRs está fornecendo uma at 12 d. The i
experiência útil e feedback para seu are shown in
desenvolvimento futuro. Os exemplos a seguir são
fornecidos com relação a esses problemas.
Figure 13.20 Aerial view of the Jingxi WWTP.
13.6.2 Quatro casos completos de
Figure 13.20 Vista aérea da ETE de Jingxi.
aplicação de MBR
Esta seção fornece quatro casos globais de Na ETE subterrânea de Jingxi, o afluente flui
aplicação de MBR. O afluente, nesses casos, inclui para o sistema AAO-MBR após o tratamento
águas residuárias municipais, águas residuárias primário por uma peneira fina e caixa de areia
industriais e lixiviados. Esses casos são típicos em (Figura 13.21).
tecnologias avançadas e modificações para
mitigação de energia, redução da área e melhoria
da qualidade do efluente. O projeto do processo de
tratamento, os parâmetros operacionais reais e o
desempenho desses casos são fornecidos a seguir.
Case 2: MBRs
referência é de 15 L/m2.h, e um fluxo mais alto de
A with lo
até 25 L/m2.h pode ser alcançado com protocolos
recove
de limpeza para manutenção das membranas There are seve
intensificada. A demanda de energia específica do 328,050 m3/d,
sistema pode ser reduzida de 0,22 kWh/m3 para operation or und
0,18 kWh/m3 pela otimização da recirculação of the largest M
interna e protocolo de aeração. O efluente da planta (Tuas Water Rec
é usado para reabastecer o rio urbano próximo. O peak 1,200,000
Figura 13.23 Esquema do processo de tratamento baseado em MBR em uma validação integrada e planta de demonstração.
Tabela 13.5 Parâmetros chave de processo de uma planta de validação e demonstração integrada.
Tabela 13.6 Qualidade do efluente de um tanque de MBR em uma planta de validação e demonstração integrada.
O consumo de energia de todo o processo de Caso 3: Um MBR assistido por biofilme para
tratamento está na faixa de 0,24-0,28 kWh/m3, ou tratamento de águas residuárias
menos do que 0,5 kWh/kgCOD, e o consumo de industriais
energia da lavagem com ar no tanque de membrana Esta planta/instalação de tratamento de águas
é tão baixo quanto 0,04 kWh/m3. A limpeza de residuárias é propriedade da Adama Agan Ltd.,
manutenção com NaOCl (concentração de 200 Ashdod, Israel. A empresa é uma produtora de
mg/L) é realizada duas vezes por semana, e química fina relacionados à agricultura. Como os
nenhuma limpeza de recuperação foi realizada regulamentos atualizados exigiam maior qualidade
entre o início da operação em agosto de 2017 e do efluente, os processos de LAC anteriores foram
fevereiro de 2020. adaptados como um sistema de lodo aeróbio duplo,
onde o MBR é aplicado. O projeto foi executado
pela Adama Agan e pela EPT (Environmental
Protection Technologies), empresa israelense de
tosistema
Adamade Agan Ltd.consiste em um reator micro-
lodo
Wh/m3, or less aeróbio, um reator aeróbio e um clarificador por
updated
ouring energy
regulations required higher effluent quality,
gravidade. O efluente do primeiro sistema de lodo
theas former
s low 0.04 CAS processes were retrofitted as a dual
flui para o segundo sistema de lodo (ou seja, o
singaerobic
NaOCl sludge system, where MBR is applied. The In this dual
sistema MBR) queaerobic sludge
consiste em system,
um tanque the first sludge
aeróbio,
ed twice per
project was carried out by Adama Agan and EPT
as conducted
system consists
pós-tanque anóxicoofe tanque
a micro-aerobic
de membranareactor,
(Figura an aerobic
ust (Environmental
2017 and Protection Technologies), an Israeli 13.25). and a gravity clarifier. The effluent from the
reactor,
based process engineering firm. The MBR retrofit first sludge system flows into the second sludge
plant was commissioned in 2012, with a treatment
ustrial system (i.e. the MBR system) which consists of an
capacity of 7,200 m3/d (Figure 13.24). aerobic tank, post-anoxic tank, and membrane tank
is owned by (Figure 13.25).
ompany is an Figure 13.24 Aerial view of the MBR treatment plant belonging
ucer. Because to Adama Agan Ltd.
luent quality,
ted as a dual 1 - Sistema de lodo 2 - Sistema MBR
applied. The In this dualTanque
aerobic sludge system, the first
Tanque aeróbio sludge
Decantador Tanque Tanque anóxico Tanque de
gan and EPT system consists of a micro-aerobic reactor, an aerobic
micro-aeróbio aeróbio membrana
s), an Israeli reactor, and a gravity clarifier. The effluent from the Metanol
Figure 13.25 Schematic of the wastewater treatment process owned by Adama Agan Ltd.
Figura 13.25 Esquema do processo de tratamento de águas residuárias de propriedade da Adama Agan Ltd.
ZeeWeedMódulosmembrane de modules
membrana (SUEZ, ZeeWeedFrance)(SUEZ,are compounds
pode adsorver in ethepré-concentrar
mixed liquor. os This process not only
compostos
França) estão instalados. A fim
installed. In order to enhance the removal efficiencies de aumentar a orgânicos residuários recalcitrantes no licor misto.
improves the effluent quality but also helps remove
eficiência de remoção de DQO recalcitrante, os Este processo não apenas melhora a qualidade do
of process
atment recalcitrant
owned by Adama COD,
Agan Ltd. MACarriers
MACarriers (material suporte para MBR) são
(membrane- toxicity and make the nitrification process more stable.
efluente, mas também ajuda a remover a toxicidade
accommodating carriers) are added to the
adicionados ao reator no segundo sistema reactor de lodo. in e tornar o processo de nitrificação mais estável.
the second
Z, France) are Um sludge
biofilme
compounds system.
denso
in the mixedDense
eliquor. and
forte This
pode strong notbiofilm
ser formado
process only The influent
A qualidade ande doeffluent
do afluente quality
efluente do MBR comof the MBR
al efficiencies rapidamente
improves the na
effluentenorme
quality área
but
can be quickly formed on the huge bacteria-friendly alsode superfície
helps remove e sem os MACarriers é dado na Tabela
without and with MACarriers are provided in13.7 Table
(membrane- disponível
toxicity andpara
makeas thebactérias
nitrification
dosprocess more stable.
MACarriers, que
the surface
reactor in area of MACarriers which can adsorb and pre- 13.7.
concentrate
trong biofilm theinfluent
The residual
and effluentrecalcitrant
quality of the MBRorganic
teria-friendly without and with MACarriers are provided in Table
dsorb and pre- 13.7.
ant organic
Tabela 13.7 Qualidade do afluente e do efluente de uma planta de tratamento pertencente à Adama Agan Ltd.
Efluente (mg/L)
Poluente Afluente (mg/L)
MBR sem MACarriers MBR com MACarriers
DQO 3500 200-300 Dados não disponíveis
COT Dados não disponíveis 95-120 80-110
NH4+-N 10,5 0,5-10 0,5-2
NT 236 <20 <20
SST 60 <3 <3
AOX 50,4 5-8 3,5-5
AOX: halógenos orgânicos absorvíveis
Caso 4: Um MBR de fluxo tangencial para Este sistema MBR é projetado com uma
tratamento de lixiviado configuração de fluxo tangencial, consistindo em
O projeto Waste-to-Energy no Wuzhong Venous um processo A/O e unidades UF externas. As
Industrial Park, província de Jiangsu, é uma das unidades de UF contêm 18 módulos de membrana
maiores usinas de incineração de resíduos sólidos PVDF tubular (MEMOS, Alemanha) com uma área
na China, com uma capacidade de tratamento de superfície efetiva total de 490 m2 (Figura 13.27).
projetada de 3.550 t/d de resíduos sólidos quando A filtração tangencial é aplicada e a filtração e a
foi comissionado. A planta de tratamento de limpeza online são controladas automaticamente.
lixiviado afiliada adotando o MBR pertence e é O licor concentrado é bombeado de volta para os
operada pela Everbright Environmental Energy tanques A/O.
(Suzhou) Co. Ltd. Comissionada em 2014, tem
uma capacidade de tratamento projetada de 700 Em relação aos parâmetros operacionais, a
m3/d. concentração de SSRB é de aproximadamente
15.000 mg/l, e o TDH é definido em 7,81 d (1,92 d
O lixiviado flui sucessivamente em três tanques para o tanque anóxico e 5,89 d para o tanque
de pré-tratamento paralelos, três reatores aeróbio). A qualidade do afluente e do efluente
anaeróbios paralelos de circulação interna e externa nesta estação de tratamento de lixiviado é mostrada
(IOC) (volume efetivo: 1900 m3 cada), dois tanques na Tabela 13.8. Conforme a demanda por
anóxico-aeróbios paralelos (volume efetivo: 800 tratamento de resíduos sólidos municipais
m3 para cada tanque anóxico; 2400 m3 para cada aumenta, o projeto de transformação de resíduos
tanque aeróbio), uma unidade UF, uma unidade NF em energia será expandido e a estação de
e uma unidade RO (Figura 13.26). A água tratada é tratamento de lixiviado será expandida para tratar
totalmente reaproveitada, sem descarte de líquido. 2.500 m3/d no futuro.
For Trans
m3 for each aerobic tank), a UF unit, an NF unit and expand, and the leachate treatment plant will be
an RO unit (Figure 13.26). The treated water is totally expanded to treat 2,500 m3/d in the future.
reused, and zero liquid is discharged. This MBR 691
Biogás
Sistema MBR
Pré-tratamento Tanque anóxico TTanque aeróbio Ultrafiltração Nanofiltração Osmose reversa
Licor concentrado
Efluente
Afluente
Lodo de excesso
Lodo
primário
596
Figure 13.26 Schematic of the treatment process in the leachate treatment plant in Suzhou.
Figura 13.26 Esquema do processo de tratamento na estação de tratamento de lixiviado em Suzhou.
Tabela 13.8 Qualidade do afluente e do efluente para uma planta de tratamento de lixiviado em Suzhou (unidades: mg/L).
Table 13.8 Influent and effluent qualities for the leachate treatment plant in Suzhou (unit: mg/l).
+
Água
Water DQO DBO5
COD NH4 -N
BOD NT
NH4+-N TN SS SS Cl- Cl-
Influent
Afluente 32.000 32,000
15.000 15,000
1.500 1,500
1.800 1,800 22,000
22.000 6,500
6.500
Effluent 13 0 0.22 13 0 200
Efluente 13 0 0,22 13 0 200
Note: annual average values from November 2018 to October 2019.
Nota: valores anuais médios de novembro de 2018 a 2019.
For Translation Purposes Only
pH sensor
Level Ambos os estudos conduzidos com difusores de
sensor DO sensor
pH sensor
Sensor de pH bolha convencionais mostraram uma diminuição
O2 Level
Sensor
de nível
sensor Sensor
DO de OD
sensor dramática do fator α em função da concentração de
O2 SSRB, e mesmo valores desprezíveis do fator α em
concentrações de SSRB acima de 15 g/L. Por outro
Pressurized
chamber lado, o sistema SDOX exibiu valores de fator α
Pressurized
Câmara
pressurizada
chamber
muito maiores em faixas elevadas de concentração
Figure 13.30 Schematic diagram of the SDOX HL MBR system de SSRB de 15-45 g/L. Mesmo na concentração de
(adopted from
Figure 13.30 Kim et al.,
Schematic 2020).of the SDOX HL MBR system
diagram SSRB mais alta avaliada, de aproximadamente 45
am dissolution (adopted from Kim et al., 2020). g/L, um fator α de 0,35 foi relatado. Os fatores α
nerized
ream SDOX® Figura 13.30 Diagrama esquemático do sistema SDOX HL-
dissolution relatados na Figura 13.31 foram obtidos de lodo
MBRThe oxygen transfer
et al.,performances of the SDOX
ainerized SDOX ®®
ner; (C) a ECO 2 (adotado de Kim 2020). com as características esperadas para um sistema
ainer; (C) a ECO2® system
oxygenation. Theinoxygen
a widetransfer
range ofperformances of the SDOX
MLSS concentrations in the
eroxygenation.
HL-MBR (ou seja, altas concentrações de SSRB e
system in a wide range of MLSS concentrations in the
Os desempenhos de transferência de oxigênio obtidas de plantas operando em valores de TRS
do sistema SDOX em uma ampla gama de curtos). Portanto, pode-se concluir do ponto de
Tabela 13.9 Comparação da energia requerida para sistemas de aeração em função da concentração de SSRB (adotado de Kim
et al., 2020).
Caso 2: Um HL-MBR equipado com um sistema para o cone. As avaliações foram realizadas
de cone Speece alimentando o cone com HPO em vazões de gás
O desempenho do sistema Speece cone também foi variando entre 5 e 40% da capacidade máxima
avaliado no contexto de HL-MBRs. Barreto et al. teórica de dissolução de oxigênio do cone. Os
(2017) avaliaram o desempenho de um MBR autores relataram que a Eficiência de Transferência
fornecido com um sistema Speece cone alimentado de Oxigênio em água limpa sob condições padrão
com esgoto. Além disso, Barreto et al. (2018) (ETOP) não é afetada pela pressão dentro do cone,
avaliaram o desempenho de transferência de nem pela velocidade de entrada, nem pela vazão de
oxigênio do Speece cone em várias condições recirculação. Porém, Taxa de transferência de
operacionais em água limpa e com lodo. A oxigênio em água limpa sob condições padrão
configuração piloto com uma capacidade de (TTOP) aumenta com a pressão dentro do cone e
tratamento de ~ 1 m3/d foi instalada no salão de com a taxa de recirculação, não sendo afetada pela
pesquisa Delft Blue Innovations na estação de velocidade de entrada. Além disso, o TTOP
tratamento de águas residuárias Harnaschpolder em aumenta com a vazão em massa de HPO no cone,
Den Hoorn, Holanda. A Figura 13.32 mostra a embora o ETOP seja afetado negativamente.
configuração experimental. A Figura 13.33 mostra Portanto, se um TTOP mais alto for o produto
o diagrama de fluxo de processos esquemático do desejado, o sistema Speece cone deve ser operado
sistema Speece cone HL-MBR. na pressão operacional máxima permitida, vazão de
recirculação e vazão de gás HPO. No entanto,
As condições operacionais avaliadas por quanto maior a vazão do HPO, menor o ETOP.
Barreto et al. (2018) incluem a pressão dentro do Portanto, a decisão sobre qual vazão de HPO o cone
cone, a velocidade de entrada no cone, a vazão de deve ser operado deve ser baseada nas necessidades
recirculação e a vazão em massa de oxigênio puro de oxigênio do sistema e em considerações
Barreto
Figura et13.33 al . Diagrama
(2017) esquemático
also evaluated the
do processo do
performance of the Speece cone HL-MBR at a MLSS
sistema HL-MBR com Speece cone (adotado de Barreto et
concentration of up to approximately 30 g/l. The
al., 2017).
results are shown in Figure 13.34. The loading rates to
the HL-MBR system were continuously increased by
Barreto et al. (2017) também avaliaram o
mostly increasing the COD influent concentration
desempenho
until reaching the desired do HL-MBR com Speece tocone em
MLSS concentration
uma concentração
operate the HL-MBR system. The Speece de SSRB
cone HL-de até
MBR aproximadamente
system performed 30 g/L. Os
properly, resultados são
biologically
Figure 13.32 The pilot scale Speece cone HL MBR system removingmostrados
all the influentna COD
Figura 13.34. aAs
until reaching MLSS taxas de
located at the Harnaschpolder wastewater treatment plant carregamento
concentration of 25 to 30 para o these
g/l. At sistema HL-MBR foram
concentrations
Figura
in Den 13.32
Hoorn, O The
sistema de Speece
Netherlands. On cone HL-MBR
the left em of
hand side escala
the aumentadas
the system still exhibited CODcontinuamente aumentando
removal efficiencies,
piloto localizado
photo is the Speecenacone
estação dedevice,
aeration tratamento
and on de
the águas
right
hand side is Harnaschpolder
the MBR (photo: H.A.
however, not as wella concentração
principalmente as at the lower de DQO MLSS
no afluente
residuárias em Garcia).
Den Hoorn, Holanda. No
concentration values.
até atingir The COD removal
a concentração efficiencies
de SSRB desejada para
lado esquerdo da foto está o dispositivo de aeração do
decreased fromo sistema
operar approximately
HL-MBR. 100% to 80%.HL-MBR
O sistema The do
Speece cone e no lado direito está o MBR (foto: H.A. cause for this reduction was a limiting capacity in the
Compared to fine bubble diffused aeration, the Speece cone funcionou adequadamente,
Garcia). flow of the recirculation sludge pump that limited the
Speece cone is more efficient, since nearly 100% of removendo biologicamente todo a DQO afluente
até atingir a concentração de SSRB de 25 a 30 g/L.
Em comparação com a aeração difusa por
Nessas concentrações, o sistema ainda exibia
bolhas finas, o Speece cone é mais eficiente, uma
eficiências de remoção de DQO, no entanto, não
vez que quase 100% do oxigênio fornecido pode
tão bem como com valores de concentração de
ser efetivamente distribuído na solução receptora
SSRB mais baixos. As eficiências de remoção de
final. Além disso, não há necessidade de grande
DQO diminuíram de aproximadamente 100% para
quantidade de energia para comprimir enormes
80%. A causa para esta redução foi uma capacidade
quantidades de ar em sistemas de aeração difuso
limitada da vazão da bomba de recirculação do
que são liberados de volta à atmosfera carregando
lodo, que limitou a quantidade de OD introduzida
vários compostos voláteis. Além disso, o Speece
no sistema. No entanto, o sistema Speece cone
cone também dispensa manutenção, uma vez que
mostrou um bom desempenho geral de remoção de
não necessita de limpeza ou substituição dos
DQO quando forçado com concentrações mais
difusores.
altas de SSRB.
microrganismos por meio de vários métodos, como se obter recuperação de recursos e de energia de
otimização de processo, pode diminuir fluxos de águas residuárias.
potencialmente o custo de operação e melhorar a
remoção de poluentes de MBRs. Agradecimentos
Os autores expressam sua grande gratidão ao Dr.
Aplicar MBRs racionalmente Guihe Tao do PUB, Agência Nacional de Água de
Sem dúvida, os MBRs são preferidos em cidades Cingapura, ao Dr. Jinsong Zhang da CITIC
densamente povoadas onde o uso do solo é Envirotech Ltd., ao Dr. Min Luo da SUEZ Water
relativamente caro ou em regiões com deficiência Technologies & Solutions e à China Everbright
hídrica. Os MBRs também podem ser usados para International Ltd. por fornecerem informações
o tratamento descentralizado de águas residuárias sobre os casos em escala plena na Seção 13.6. Os
(como em áreas rurais), porque os MBRs, em autores também gostariam de agradecer ao Sr. Sang
comparação com os processos de LAC, são mais Yeob Kim e ao Sr. Mauricio Barreto, alunos de
fáceis para fazer instalação modular, com alta doutorado do Instituto IHE Delft para Educação em
flexibilidade na configuração do processo e Água, por sua contribuição técnica para o
gerenciamento centralizado. Além disso, os desenvolvimento do HL-MBR na Seção 13.6.3.
processos MBRs+OR combinados são muito Além disso, os autores gostariam de agradecer a
apropriados para atingir descarga zero de líquido BlueInGreen LLC, OVIVO Water-MBR Systems e
durante o tratamento de águas residuárias ECO Oxygen Technologies LLC por seu apoio
industriais. Por causa da alta seletividade das financeiro para conduzir a maioria das pesquisas
membranas e da forte capacidade de biodegradação sobre HL-MBR apresentadas na Seção 13.6.
da biomassa, os MBRs também são atraentes para
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NOMENCLATURA
Abreviação Descrição
A/M Razão alimento/microrganismo
A1 Tanque anaeróbio
A2 Tanque anóxico
AAO-MBR Anaeróbio/anóxico/aeróbio-MBR
AAOA-MBR AAO-MBR com um pós-tanque anóxico
AC Acetato de celulose
Ag NP Nanopartícula de prata
AGMBR MBR de lodo aeróbio granular
AI Autoindutor
Anammox Oxidação anaeróbia de amônia
AnMBR MBR anaeróbio
AO-MBR Anóxico/aeróbio-MBR
AOX Halogênios orgânicos absorvíveis
ARG Genes resistentes a antibióticos
AsMBR MBR de pulverização de ar
DQOb DQO biodegradável
BRA Bactérias resistentes a antibióticos
BOW Beijing Origin Water Technology Co. Ltd.
C60 Fulerenos
RQA Retrolavagem quimicamente assistida
CEL CITIC Envirotech Ltd.
LIL Limpeza no local
CNT Nanotubo de carbono
COT Carbono orgânico total
Cu NP Nanopartícula de cobre
DBO Demanda bioquímica de oxigênio
DQO Demanda química de oxigênio
EDC Composto disruptor endócrino
ENM Nanomaterial projetado
EP Eletroforese
EPS Substâncias poliméricas extracelulares
ETE Estação de tratamento de esgoto
FO Osmose direta
FS Placa plana
GO Óxido de grafeno
HF Fibra oca
HFMBR MBR de biofilme híbrido
HL-MBR MBR de alta taxa
HPO Oxigênio de alta pureza
IA Aeração intermitente
iMBR MBR submerso
IOC Circulação interna e externa
JLMBR MBR jet loop
LAC Lodo ativado convencional
M Tanque de membrana
MBR Biorreator com membrana
Abreviação Descrição
MCBR Biorreator de coagulação e membrana
MD Destilação por membrana
MDBR Biorreator de destilação por membrana
MEC Portadores de enzimas magnéticas
MF Microfiltração
SSRB Sólidos em suspensão no reator biológico
SSVRB SSRB volátil
MRC Mitsubishi Rayon Co. Ltd.
MT Multitubo
NH4+-N Nitrogênio amoniacal
NM Nanomaterial
NT Nitrogênio total
CAPosmoo Carvão ativado em pó
PAN Poliacrilonitrila
PE Polietileno
PES Polietersulfona
PET Polietileno tereftalato
POTr Poluente orgânico traço
PP Polipropileno
PPCP Produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais
PS Polisulfona
PT Fósforo total
PTFE Politetrafluoretileno
PTM Pressão transmembrana
PVDF Fluoreto de polivinilideno
OD Oxigênio dissolvido
RO Osmose reversa
QQ Quorum quenching
QS Quorom sensing
RBN Remoção biológica de nitrogênio
rGO Óxido de grafeno reduzido
DEAf A demanda específica de aeração em relação à área de projeto do cassete
de membrana
DEAm Demanda de aeração específica em relação à área de membrana
DEAp Demanda de aeração específica em relação à vazão de permeado
EAP Eficiência de aeração padrão
SDOX Oxigênio dissolvido supersaturado
sMBR MBR de fluxo tangencial
SMP Produtos microbianos solúveis
SRMBR MBR submerso rotativo
SS Sólidos em suspensão
ETOP Eficiência de Transferência de Oxigênio em água limpa sob condições
padrão
Abreviação Descrição
TTOP Taxa de transferência de oxigênio em água limpa sob condições padrão
TDH Tempo de detenção hidráulica
TiO2 NP Nanopartícula de dióxido de titânio
TRS Tempo de retenção de sólidos
UCT Universidade da Cidade do Cabo
UV Ultravioleta
VSMBR MBR submerso vertical
ZnO NP Nanopartícula de óxido de zinco
(em alguns segundos). Estes processos rápidos não entanto, na modelagem padrão de lodo ativado, isso
têm que ser descritos em uma maneira dinâmica é negligenciado, por não ser relevante o suficiente
porque eles ocorrem tão rapidamente que se pode para ser levado em consideração.
assumir que eles estão em condição de equilíbrio Consequentemente, isso significa que os modelos
ou completamente realizados. Portanto, uma das de lodo ativado geralmente não são projetados para
primeiras considerações ao se fazer um modelo é descrever um sistema na escala de um floco de lodo
considerar quais processos são de interesse, ativado, mas na escala de um reator.
seguida por uma determinação da escala de tempo
relevante, uma avaliação da dinâmica do processo, A próxima etapa na modelagem é examinar o nível
e finalmente uma descrição adequada dos de detalhe relevante de um modelo microbiano
processos que são variáveis no tempo. Os outros (Figura 14.1).
processos, que estão em um estado congelado ou
estacionário, não são de importância primária já
que podem ser introduzidos de maneira muito mais
veloz e simples no modelo, ou até omitidos. Isso
porque eles podem ser considerados como
processos contínuos com concentrações estáveis
sob certas condições (como em digestores). Então,
o aspecto do tempo é o primeiro grande problema
Figura 14.1 Representação esquemática do refinamento
na tentativa de simplificar a realidade. A
passo a passo de um modelo (Smolders et al., 1995).
abordagem recomendada é considerar as constantes
de tempo e selecionar os processos que têm a
dinâmica na ordem das constantes de tempo de Os métodos de projeto típico tradicional de
interesse. Para o tratamento de esgoto, isso tratamento de esgoto são baseados na abordagem
geralmente significa dinâmica horária ou diária e, de ‘caixa preta’ com foco nas características do
às vezes, dinâmica anual. No último caso, é claro, afluente e efluente da estação, enquanto nada ou
a digestão se tornará importante, pois ao longo do muito pouco é conhecido sobre o que está
ano o desempenho de um digestor mudará porque acontecendo em seu interior. Os parâmetros de
a produção de lodo irá variar durante o ano. projeto tradicionais, como a relação A/M (taxa de
carregamento de lodo), não são baseados na
A segunda questão relevante para modelagem é a compreensão dos processos de uma estação de
resolução do espaço. Pode-se, teoricamente, fazer tratamento de esgoto. No entanto, pode-se projetar
um modelo que descreva cada centímetro quadrado uma estação razoavelmente bem aplicando uma
de uma estação de lodo ativado. No entanto, a taxa de carregamento adequada, sem realmente
questão é se alguém está interessado em tal saber quais processos estão ocorrendo nela.
descrição detalhada em primeiro lugar. A resposta Portanto, o modelo caixa preta pode funcionar bem
depende novamente do propósito do modelo. Em na prática.
geral, na prática de tratamento de esgoto, o
tamanho do reator é da ordem de dezenas de O modelo caixa preta não é por definição errado ou
metros. Para descrever os gradientes de não científico, mas a aplicação de sua abordagem
concentração de componentes relevantes no reator, depende muito da finalidade do modelo. Se o
dos quais o oxigênio é o mais sensível, objetivo é projetar uma estação de tratamento de
normalmente é necessária uma escala de alguns esgoto, a prática tem mostrado que a relação A/M
metros. Em outra escala, existe um gradiente de pode ser uma abordagem básica muito boa para o
concentrações dentro do floco de lodo ativado que projeto, apesar do fato de não fornecer informações
pode teoricamente ser descrito por um modelo. No sobre a composição do lodo. Pode-se refinar esta
abordagem e avançar para modelos caixa cinza, Tecnicamente e em princípio isso é possível, mas,
como foi o caso no Modelo de Lodo Ativado No. 1 novamente, deve ser feito dependendo da
(ASM1, sigla do nome em inglês Activated Sludge finalidade e do uso do modelo. Se o modelo for
Model, Henze et al., 1987a, 1987b), No. 2 (ASM2, muito complexo e com muitos parâmetros em
Henze et al., 1995) e No. 2d (ASM2d, Henze et al., relação ao que se deseja descrever, essa abordagem
1999). Aqui, o lodo foi dividido em frações pode ser geralmente considerada uma perda de
relevantes: uma fração de matéria orgânica inerte, tempo e esforço. Também não há necessidade
uma fração de bactérias nitrificantes, bactérias absoluta de um modelo descrever exatamente a
heterotróficas, bactérias desnitrificantes e uma realidade. Até que ponto a realidade deve ser
fração de bactérias removedoras de fosfato. correspondida depende novamente do propósito.
Diferentes aspectos funcionais do lodo foram Por exemplo, se alguém deseja ter uma ideia sobre
especificados para um modelo baseado em a emissão de N2O de estações de tratamento esgoto,
populações onde comunidades microbianas talvez três ou quatro teorias possam ser criadas e
selecionadas foram definidas dentro do lodo incorporadas ao modelo. Neste ponto, é de
ativado e, como tal, incorporadas ao modelo. interesse primordial olhar para os resultados da
simulação de diferentes modelos em termos de
Além disso, o metabolismo dos organismos e suas tendências e em que medida essas tendências
rotas metabólicas internas também podem ser refletem a realidade. Neste estágio, deve-se focar
descritos. Com esse aumento nas informações, a apenas nas tendências e uma boa calibração, ajuste
abordagem se aproxima da modelagem caixa de exato e conhecimento preciso dos valores dos
vidro (como o Modelo de Lodo Ativado No. 3: parâmetros não são necessários. Pelo contrário, por
ASM3, Gujer et al., 1999, e o modelo TU Delft de exemplo, se for necessário prever o desempenho de
RBAF: modelo TUDP, Van Veldhuizen et al., uma estação para atender à legislação que exige que
1999). Isso resulta em um modelo maior e mais cada amostra retirada do efluente seja inferior a
complexo. O desafio aqui é descobrir para cada 1 mgNH4/L, então a precisão dos parâmetros
processo qual é o nível adequado de descrição. A colocados no modelo deve ser muito superior.
questão é: o aumento da complexidade também Neste caso, deve-se garantir que a previsão do
aumenta a qualidade do modelo (saídas), ou seja, modelo deva ser exatamente inferior a 1 mgNH4/L.
fornece uma melhor descrição da estação de Esses dois exemplos mostram novamente que o
tratamento de esgoto? Por exemplo, foi modelo deve sempre ser julgado em relação ao
demonstrado que com um aumento no nível de propósito de seu uso.
detalhe na descrição da nitrificação, uma melhoria
marginal do desempenho do modelo pode ser Podem ser identificados dois extremos no tipo de
obtida, enquanto no caso da remoção de fosfato, modelos matemáticos: modelos empíricos e
uma melhoria significativa pode ser obtida mecanísticos. Um modelo empírico é baseado no
incluindo uma descrição metabólica. Portanto, a reconhecimento dos parâmetros que parecem ser
preferência pela modelagem de caixa preta, cinza essenciais para descrever o padrão comportamental
ou de vidro depende muito do propósito e da de interesse e a vinculação destes parâmetros por
aplicação do modelo. Este é o ponto em que a relações empíricas estabelecidas pela observação.
modelagem geralmente dá errado, pois os Os mecanismos e/ou processos que operam no
modeladores negligenciam o propósito e fazem do sistema não são conhecidos ou são ignorados: uma
próprio modelo o propósito da modelagem. abordagem clássica da caixa preta. Em contraste,
um modelo mecanístico é baseado em alguma
Claro, pode-se até tentar avançar para o próximo conceituação dos mecanismos biológicos/físicos
nível de complexidade, incluindo fundamentos da que operam no sistema, ou seja, é baseado em uma
genética microbiana e mudança genética. ideia conceitual (ou modelo). A complexidade
deste modelo mecanístico dependerá do grau de provavelmente não incluirá todos os processos e
compreensão dos processos biológicos e químicos compostos que estão presentes no sistema; apenas
que ocorrem no sistema. Como os modelos aqueles considerados significativos para o
mecanísticos têm alguma base conceitual, eles cumprimento dos objetivos definidos para o
costumam ser mais confiáveis do que os modelos modelo precisam ser incluídos. A arte de construir
empíricos. Por causa de sua abordagem de caixa modelos conceituais e mecanísticos está em
preta, os modelos empíricos têm uma aplicação eliminar os processos e compostos que pouco ou
estritamente restrita pelos limites (por exemplo, nada contribuem para o cumprimento dos objetivos
características do esgoto, parâmetros do sistema) definidos para o modelo. É uma perda de tempo e
dentro dos quais o modelo foi desenvolvido; apenas esforço desenvolver um modelo complicado, onde
a interpolação é possível. Sendo baseados um mais simples é adequado. É muito improvável
conceitualmente, os modelos mecanísticos têm que um modelo que descreva um fenômeno
maior segurança na aplicação fora dos limites dos completamente possa ser desenvolvido.
quais foram desenvolvidos; tanto a interpolação Teoricamente, uma descrição completa deve
quanto a extrapolação são possíveis. No entanto, incluir aspectos até o nível mais fundamental. O
em última análise, todos os modelos são apenas a nível de organização geralmente é definido pelos
nossa racionalização de padrões comportamentais objetivos do modelo. Por exemplo, ao modelar o
de processos que concebemos ser de interesse. comportamento biológico em sistemas de
Devido a esta racionalização, qualquer modelo tratamento de esgoto, não podemos incluir
precisa ser rigorosamente calibrado e diretamente os mecanismos de controle bioquímico
adequadamente verificado por testes apropriados. (como relações ADP/ATP e NAD/NADH), ou
Além disso, as condições dentro das quais se espera mesmo o comportamento de espécies específicas
que o modelo opere com sucesso precisam ser de microrganismos. A biomassa em suspensão no
delineadas com firmeza. Para os modelos sistema de lodo ativado contém uma grande
empíricos, essas são estritamente as condições diversidade de diferentes espécies de
dentro das quais o modelo foi desenvolvido, microrganismos para as quais técnicas de
enquanto para os modelos mecanísticos essas são identificação e enumeração tornaram-se
as condições sob as quais se espera que o recentemente disponíveis. Essas técnicas, no
comportamento conceituado permaneça válido. É entanto, são demoradas e trabalhosas. Em vez
evidente a partir da discussão anterior que os disso, os microrganismos que cumprem uma
modelos com base mecanística têm maior potencial função particular no sistema de lodo ativado (por
para aplicação em estações de tratamento esgoto, e exemplo, degradação aeróbia de orgânicos ou
a atenção será focada nesses modelos. nitrificação) são agrupados como uma única
entidade, que é chamada de organismo ‘substituto’.
Os processos operando em um sistema e os A este organismo substituto é atribuído um
compostos sobre os quais atuam devem ser conjunto de características únicas que refletem o
identificados a fim de estabelecer um modelo comportamento do grupo, mas podem não refletir
conceitual no qual se baseia o modelo matemático as características de qualquer organismo individual
mecanístico. As várias interações entre os ou espécies de organismos no grupo. Para ilustrar,
processos e entre os processos e compostos são essa abordagem é equivalente a modelar o
delineadas descritivamente. Para desenvolver o comportamento ‘macroscópico’ de uma floresta de
modelo mecanístico a partir do modelo conceitual, árvores em oposição ao comportamento
as taxas de processo e as interações ‘microscópico’ de cada árvore individual ou
estequiométricas com os compostos são espécies de árvores que compõe a floresta. Ao
formuladas matematicamente. O equivalente considerar o comportamento da floresta, um
matemático do modelo mecanístico muito parâmetro que poderia ser modelado, por exemplo,
decisões. A engenharia de tratamento de esgoto e a em modelos, pois sua aplicação ainda é de interesse
engenharia ambiental em geral são áreas científico. Na prática, controladores simples são
multidisciplinares que exigem conhecimentos de ajustados com base no modelo, o que permite uma
diferentes disciplinas, como microbiologia e otimização da estratégia de controle muito mais
bioquímica, além de engenharia física, biológica e rápida em instalações em escala plena (Capítulo
mecânica. Adicionalmente, cada grupo de 15).
especialistas envolvidos, sejam eles operadores,
engenheiros ou cientistas, costuma ter sua própria No âmbito da modelagem integrada do sistema de
perspectiva sobre o mesmo assunto. Ao expressar água urbano, a modelagem do tratamento de esgoto
o assunto em um contexto matemático, a mesma é um componente importante e é necessário
ferramenta de comunicação (linguagem) é usada. vincular o tratamento ao sistema coletor (para levar
Tal abordagem multidisciplinar permite uma em consideração os efeitos de, por exemplo,
melhor descrição da realidade, cada disciplina extravasamentos ou processos que ocorrem na rede
dando sua contribuição para melhor entendimento coletora) por um lado, ou a qualidade e quantidade
da realidade que pode ser incorporada de forma da água do corpo receptor, por outro. A modelagem
estruturada, organizada e quantitativa no modelo. integrada está se tornando uma ferramenta cada vez
A comunicação relacionada a modelos melhorou mais popular para apoiar a tomada de decisão no
muito após a introdução do ASM1 em 1987. Antes nível da gestão do sistema de água urbano, pois traz
da introdução do ASM1, pelo menos cinco ou seis objetividade e dá uma visão quantitativa das
maneiras diferentes de modelar estações de diferenças relevantes entre as opções.
tratamento de esgoto foram descritas; cada modelo
tinha suas diferentes abordagens na escrita, na
notação e na implementação de equações, o que 14.3 PRINCÍPIOS DE MODELAGEM
tornava o entendimento dos modelos e seus
resultados extremamente difícil. O contexto
14.3.1 Construção do modelo
uniforme e a padronização introduzidos pelo
ASM1, em termos de notações, símbolos e Existem muitos tipos diferentes de modelos que
estrutura, tornaram a comparação de resultados e a podem ser categorizados de maneira geral em (i)
transferência de conhecimento muito mais fácil e físicos, (ii) verbais ou conceituais e (iii)
incentivaram ainda mais as aplicações de matemáticos. O modelo físico é uma representação
modelagem. do sistema reduzido espacialmente. Por exemplo,
os experimentos em laboratório e em escala piloto
Hoje em dia, os modelos são ferramentas valiosas usados por cientistas e engenheiros para investigar
para treinamento. Por exemplo, o operador da a resposta e o comportamento do sistema são
estação pode investigar com segurança por meio da modelos físicos. O modelo verbal ou conceitual
modelagem o que pode acontecer se alguém fornece uma descrição qualitativa do sistema e
realizar determinada ação em uma estação de geralmente é desenvolvido a partir de observações
tratamento, sem correr o risco de perturbar a sua detalhadas; esses modelos podem ser apresentados
operação. Além disso, os modelos podem ser como diagramas esquemáticos (por exemplo,
usados para transferir conhecimento de fluxogramas) ou como uma série de declarações
engenheiros de projeto para operadores e, é claro, narrativas. A preparação de um modelo verbal é a
em ambientes acadêmicos em todo o mundo, onde parte mais importante, mas também a mais
a modelagem está cada vez mais se tornando parte complexa da construção do modelo. O modelo
do currículo de engenheiros e cientistas. Do ponto matemático fornece uma descrição quantitativa do
de vista do controle de processos, na prática ainda sistema. Com os modelos matemáticos, as taxas
não há controladores diretos funcionais baseados dos processos que atuam no sistema e sua interação
estequiométrica com os compostos são formuladas • seleção do modelo: escolha dos modelos
matematicamente. As formulações matemáticas necessários para descrever as diferentes
precisam ser incorporadas em um procedimento de unidades da estação a serem consideradas na
solução que leva em conta as restrições físicas e simulação, ou seja, seleção do modelo de lodo
características impostas pelo sistema no qual os ativado, modelo de sedimentação, etc.;
processos ocorrem, por exemplo, temperatura e • hidráulica, ou seja, determinação dos modelos
condições de mistura. Modelos matemáticos hidráulicos para a estação ou tanques;
raramente são desenvolvidos isoladamente, mas • caracterização do esgoto e biomassa, incluindo
geralmente evoluem interativamente a partir de um características de sedimentação de biomassa;
modelo conceitual que pode ser baseado em algum • calibração dos parâmetros do modelo de lodo
grau em observações feitas em um modelo físico, ativado;
por exemplo, experimentos em escala de • falsificação do modelo, e
laboratório ou piloto (Wentzel e Ekama, 1997). • avaliações de cenários.
A metodologia de pesquisa que combina modelos A metodologia é ilustrada em detalhe por Petersen
verbais, matemáticos e físicos (Figura 14.2) é et al. (2002).
muito útil para fazer progresso rapidamente e
avaliar novos sistemas. 14.3.2 Configuração geral do modelo
transporte dos compostos reagentes no reator ou compartimentos são acoplados pelo vetor de
estação de tratamento. Ao comparar sistemas em estado, incluindo as concentrações e vazões das
escala real, as diferenças essenciais residem nesses ligações entre os compartimentos. Esse modelo
processos de transporte. geral é geralmente resolvido numericamente para
fornecer as concentrações de todos os compostos
A vantagem dos processos de transporte (como em função do tempo para cada composto incluído
fluxo convectivo, mistura, aeração) é que eles são no modelo. Portanto, efetivamente pode-se falar de
muito bem estudados e descritos por regras gerais. quatro modelos: o modelo de processo, o modelo
Eles podem, portanto, ser relativamente bem hidráulico, o modelo de reator/compartimento e
previstos para diferentes tipos e escalas de finalmente o modelo de lodo ativado.
processos. Pode-se estudar biologia e química em
laboratório (por exemplo, o efeito da temperatura, A equação de balanço de massa em estado
concentração e pressão sobre os microrganismos) e estacionário é, em termos matemáticos:
então usar modelos físicos de transporte para
prever o que vai acontecer em escala real. δ(Sin ∙ Qin ) δ(Sout ∙ Qout )
Reconhecer o fato de que os microrganismos não =
δt δt
sofrerão mudanças entre as condições de +(α∙q∙X∙V)+(k1 A∙(Smax − S)) (14.1)
laboratório e de escala real, ao contrário dos
processos de transporte, ajuda a compreender os Onde:
processos e sua integração em modelos
matemáticos. Tal integração permite que esses α estequiometria
modelos sejam usados no projeto de processo A área superficial (m2)
(seleção de biorreatores, tipos, estabilidade, kl coeficiente externo de transferência de
otimização, automação e controle, aumento de massa (m/h)
escala, etc.). q taxa de conversão específica (1/h)
Qin vazão afluente (m3/h)
Os componentes de um modelo completo de Qout vazão efluente (m3/h)
tratamento de esgoto são apresentados Smax coeficiente de saturação (gDQO/m3)
esquematicamente na Figura 14.3. Primeiro, S concentração no líquido (gDQO/m3)
parâmetros mensuráveis do esgoto devem ser Sin concentração no afluente (gDQO/m3)
transformados em um vetor afluente com as Sout concentração no efluente (gDQO/m3)
concentrações dos diferentes compostos do modelo t tempo (h)
(Capítulo 3). A estação de tratamento de esgoto é V volume (m3)
modelada hidraulicamente, descrevendo as X concentração de biomassa (gDQO/m3)
diferentes zonas/compartimentos do reator da
estação, incluindo o decantador. Cada Efetivamente, ela afirma que um composto que
compartimento do reator é modelado entra em um reator sai com o efluente, é convertido
individualmente para suas características de no reator ou é trocado com a fase gasosa no
mistura e transferência de massa (por exemplo, compartimento. Cada termo na equação do balanço
aeração). Normalmente, um reator de mistura de massa é expresso como massa ao longo do
completa é usado. Uma equação de balanço de tempo. É útil perceber que, para analisar um
massa é aplicada para cada reator. Tal equação de sistema complexo, é melhor trabalhar nessas
balanço de massa inclui um modelo de dimensões do que em termos de concentração.
bioconversão. No modelo geral, todos os
Figura 14.3 Representação esquemática de um modelo completo de uma estação de tratamento de esgoto (Meijer, 2004)
determinada, etc. A reação estequiométrica pode reais e funções interruptoras é um pouco vago e
ser escrita como uma função do coeficiente de incerto na modelagem de lodo ativado. Portanto, é
rendimento e, neste exemplo particular, a importante perceber se os valores de K estão lá
quantidade de nitrogênio dentro da biomassa. Os como parâmetros reais do modelo ou como uma
coeficientes estequiométricos para cada composto função interruptora para parar o processo quando o
estão incluídos na matriz do modelo (Tabela 14.1). composto relevante não estiver mais presente.
14.3.4 Cinética S SO SN
μ= μmax ∙ ∙ ∙∙∙ (14.4)
KS +S KO +SO KN +SN
Cada reação tem sua própria equação de taxa. A
equação da taxa especifica a taxa de conversão do Para descrever a cinética de inibição, uma
composto com o coeficiente de rendimento abordagem semelhante é aplicada, mas agora a
estequiométrico de 1. A taxa de conversão dos constante de afinidade é chamada de constante de
outros compostos segue da multiplicação de cada inibição e, consequentemente, é possível definir
coeficiente de rendimento pela equação da taxa. O um termo de inibição (Eq. 14.5), que novamente
modelo pode ser baseado na cinética baseada em tem um valor entre 0 e 1. A constante de inibição é
substrato (um coeficiente estequiométrico do igual à concentração de substrato na qual é
substrato é igual a 1) ou na cinética baseada no observada uma diminuição de 50% na taxa.
crescimento (um coeficiente estequiométrico de Existem também termos de inibição muito mais
biomassa igual a 1). Não é aconselhável usar ambas complexos, mas no ASM esse é o termo que
ao mesmo tempo em um modelo. No ASM1, as geralmente é aplicado, especialmente para a
taxas são descritas com base na taxa de inibição do substrato.
crescimento; o coeficiente de biomassa é, portanto,
definido como 1. No ASM, uma equação de S KS
saturação é usada como a equação de taxa padrão. 1- = (14.5)
KS +S KS +S
A cinética de saturação (Monod) inclui dois
parâmetros principais, o parâmetro de taxa máxima É importante notar que a multiplicação de tantos
e a constante de afinidade ou saturação (o valor K, fatores causa desvios porque esses fatores nunca
definido como a concentração na metade da taxa são exatamente iguais a 1. Ao se multiplicar dois
máxima). O termo de saturação S/(K+S) pode ter fatores com valor de 0,9 com o valor de um terceiro
um valor entre 0 e 1, e pode ter uma função fator de 0,5, o resultado será 0,4, enquanto o valor
diferente no modelo. Vários termos de afinidade real deva ser 0,5 pois este é o fator limitante. Isso
refletem um valor real, por exemplo, o termo de significa, consequentemente, um valor de taxa 20%
afinidade de oxigênio é um parâmetro observado. menor. Portanto, é melhor usar um operador lógico
No entanto, em alguns casos, o termo de saturação no modelo e escolher o fator mínimo entre os
é apenas um termo interruptor. Por exemplo, uma termos (Eq. 14.7) em vez de multiplicar esses
função interruptora é usada no modelo para parar o fatores (Eq. 14.6), pois parece que isso se aproxima
processo de crescimento quando não há amônia melhor da realidade.
presente (Eq. 14.4). A constante de afinidade para
a amônia é efetivamente muito baixa e dificilmente S SO SNH SKI
mensurável, então o coeficiente colocado na μ= μmax ∙ ∙ ∙ (14.6)
KS +S KO +SO KNH +SNH KI +SKI
equação tem o único propósito de garantir que não
haja mais crescimento quando a amônia for S SO SNH SKI
totalmente consumida. Consequentemente, isso μ= μmax ∙MIN ( ; ; ∙ )
KS +S KO +SO KNH +SNH KI +SKI
significa que não é necessário calibrar esse valor.
(14.7)
Como distinguir entre parâmetros mensuráveis
Tabela 14.1 Exemplo de uma matriz estequiométrica simples para modelagem de lodo ativado (Henze et al., 1987b).
heterotrófica (DQO)
Oxigênio dissolvido
Substrato orgânico
μHmax Taxa de crescimento específica
dissolvido (DQO)
YH Coeficiente de máxima [T-1]
rendimento heterotrófico KS Coeficiente de saturação para
Biomassa
[MH MS-1] substrato [MDQOL-3]
bH Constante de taxa de decaimento
(O2)
[T-1]
Os coeficientes estequiométricos são bastante Por conveniência, dois aspectos extras podem ser
simplificados ao se trabalhar em unidades adicionados à descrição da matriz (Tabela 14.2). O
consistentes. primeiro aspecto é uma matriz com a composição
em termos de equilíbrios conservados, neste caso a
No exemplo apresentado na Tabela 14.1, os DQO, N e o equilíbrio de carga. A biomassa é
compostos são expressos como equivalentes de expressa na matriz estequiométrica em termos de
DQO. Desde que sejam usadas unidades DQO, mas também contém nitrogênio. Na matriz
consistentes, a continuidade pode ser verificada em de composição isso é incluído. Uma vez que a
relação aos parâmetros estequiométricos movendo- matriz de composição e a matriz de estequiometria
se em qualquer linha da matriz; a soma dos contêm efetivamente todos os equilíbrios
coeficientes estequiométricos deve ser zero. conservados, a multiplicação das duas matrizes
leva a zero.
Esta matriz forma um resumo sucinto das
complexas interações entre compostos e processos. Em segundo lugar, geralmente se está interessado
Ela permite que alterações em processos, não apenas nos compostos expressos nas
compostos, estequiometria e cinética sejam dimensões usadas no modelo, mas também em suas
prontamente incorporadas. A matriz mostra dois unidades medidas ou observadas. Por exemplo, a
aspectos importantes do processo: a equação de quantidade de lodo é geralmente medida como
reação para cada processo é representada nas gSST e não gDQO. A matriz de compostos
diferentes linhas, e nas colunas para cada composto observados contém esses fatores de conversão
pode-se observar diretamente em quais conversões entre, por exemplo, gDQO e gSST. Outras
o composto está envolvido. Multiplicando os quantidades observadas potencialmente
fatores estequiométricos com suas respectivas interessantes são o nitrogênio Kjeldahl, SSV ou
equações de taxa, obtém-se a equação de conversão DBO.
total para cada composto.
Tabela 14.2 Exemplo de uma matriz estequiométrica para modelagem de lodo ativado (adaptado de Gujer e Larsen, 1995).
Componente
Alcalinidade
Biomassa
Substrato
Substrato
Oxigênio
Amônia
Inerte
Inerte
Taxa
SST
Símbolo SO SI SS SNH SHCO XH XI XS XTSS
Unidade gO2 gDQO gDQO gN mol gDQO gDQO gDQO gSST
Processo MATRIZ ESTEQUIOMÉTRICA
Hidrólise 1 -1 -0,75 r1
Crescimento
-0,5 -1,5 -0,08 -0,005714 1 0,9 r2
aeróbio
Lise 0,07 0,005 -1 0,2 0,8 -0,12 r3
Conservativos MATRIZ DE COMPOSIÇÃO
ODt-DQO -1 1 1 0 1 1 1
N 0,02 1 0,08 0,05 0
Carga 0,071429 -1
Observáveis
SST 0,9 0,9 0,75
Tabela 14.3 Resumo dos dados do sistema experimental, Ekama e Marais (1978).
Parâmetro Valor
Regime de alimentação 12 h/d ligado entre 02 e 14 hrs
Vazão 18 L/d
Volume do reator 6,73 L
Processos Remoção de DQO e nitrificação (totalmente aeróbio)
Conteúdo de biomassa no reator 1.375 mgSSV/L ou 2.090 mgDQO/L
Tempo de retenção de sólidos (TRS) 2,5 d
Temperatura operacional 20,4°C
Concentração de DQO afluente 570 mgDQO/L
Concentração de NTK afluente 46,8 mgN/L
Para a lise, é uma espécie de processo de 1ª ordem provavelmente o processo ou processos relevantes
em que a biomassa se desfaz na proporção à foram negligenciados. Neste experimento em
concentração de biomassa presente, e a constante particular, o consumo total de oxigênio observado
de proporcionalidade é chamada de constante de ao longo de 24 horas e o previsto pelo modelo
taxa para decaimento. Substituir os coeficientes no parecem ser bastante próximos. No entanto, foi o
modelo biocinético resulta na matriz para o Modelo desvio entre a previsão do modelo e os resultados
A (Tabela 14.4). experimentais que levou Dold et al. (1980) a
sugerir a divisão da degradação da matéria orgânica
Se este modelo for usado para comparar a taxa de no esgoto em dois processos (frações): o processo
consumo de oxigênio (TCO) observada relativamente rápido de biodegradação de parte da
experimentalmente, percebe-se que as observações DQO composta de orgânicos como AGVs e
experimentais se desviam consideravelmente das glicose, e o processo relativamente lento de
previsões do modelo, exceto para o período entre 0 degradação de DQO (celulose, amido, proteínas,
e 2 horas e ao final do experimento (respiração etc.). Este fracionamento de DQO biodegradável
endógena). Em geral, se as previsões do modelo em DQO rapidamente e lentamente biodegradável
estão se desviando em termos dos níveis do (DQORB e DQOLB, respectivamente) foi
parâmetro de interesse, isso pode ser ajustado de desencadeado pela observação experimental do
forma relativamente direta alterando o valor do(s) perfil de TCO, que mostrou uma queda muito
parâmetro(s) selecionado(s) do modelo. No acentuada quase imediatamente após a interrupção
entanto, se as previsões do modelo em termos de da alimentação (14 horas), seguida por uma
tendências e formas estiverem erradas, muito diminuição lenta observada até o final do
experimento onde atingiu o valor estacionário a DQOLB é convertida em DQORB pelo processo
observado nas primeiras duas horas de teste. relativamente lento de hidrólise (Figura 14.5).
Portanto, o processo de lise foi razoavelmente bem
descrito pelo modelo. Além disso, concluiu-se que
Componente SO SS XH Taxa
SS SO
Crescimento -0,5 -1,5 +1,0 μmax ∙ ∙ ∙X
H KS +SS KO,H +SO H
Lise +1,0 -1,0 bH ∙XH
Componente SO SS XH XS Taxa
SS SO
Crescimento -0,5 -1,5 +1,0 μmax ∙ ∙ ∙X
H KS +SS KO,H +SO H
Lise -1,0 +1,0 bH ∙XH
(XS /XH )
Hidrólise +1,0 -1,0 kH ∙ ∙X
K X +(XS /XH ) H
Componente SO SS XH XS XI Taxa
SS SO
Crescimento -0,5 -1,5 +1,0 μmax ∙ ∙ ∙X
H KS +SS KO,H +SO H
Lise -1,0 +0,92 +0,08 bH ∙XH
(XS /XH )
Hidrólise +1,0 -1,0 kH ∙ ∙X
K X +(XS /XH ) H
Como a última suposição simplifica o modelo, Uma das limitações mais importantes do ASM é
optou-se por usar estequiometria para que ele não descreve o fenômeno de
desnitrificação e as bactérias que são organismos intumescimento do lodo (em inglês: bulking).
heterotróficos comuns. Embora a realidade seja Portanto, se o ASM for usado, por exemplo, para
provavelmente muito mais complexa, foi melhorar o processo de nitrificação, é necessário
demonstrado que esta abordagem simplificada verificar se as alterações propostas causam
funciona satisfatoriamente na prática. intumescimento do lodo. A aeração limitada, que é
benéfica para a remoção de nitrogênio, quase
Outro aspecto importante diz respeito à inevitavelmente induz ao intumescimento do lodo.
diferenciação entre frações de material inerte e O fenômeno em si não pode ser modelado de uma
nitrogênio, que é um dos itens que difere de um forma que seja suficientemente confiável para
modelo comercial para outro. Conforme implementação em pacotes de software comerciais,
mencionado anteriormente, o material inerte pode apesar de algumas tentativas descritas na literatura
se originar do afluente ou da degradação da (Krebs, 1995). Consequentemente, isso significa
biomassa, e o conteúdo final da biomassa que o modelo não pode ser aplicado com precisão
degradada, o material inerte, pode ser diferente em para prever concentrações de efluentes muito
composição ao do material inerte no afluente. Isso baixas quando processos altamente eficientes são
também pode ser levado em consideração no implementados. Além disso, esta consideração
modelo; o material inerte pode ser separado ou análoga é válida também para o processo de
agrupado. Em princípio, não é estritamente desnitrificação. Por outro lado, mesmo que o
necessário definir essas frações separadamente, modelo seja capaz de prever a concentração de
mas às vezes isso é feito por razões estéticas ou amônia em 0,5 mg/L, sempre há algumas
para o propósito específico de aplicação do imprecisões e imperfeições nos procedimentos
modelo. Raciocínio semelhante se aplica ao analíticos para determinar a concentração de
fracionamento de nitrogênio. O desenvolvimento amônia, bem como no procedimento de
do modelo descrito por Ekama e Marais (1978) amostragem e manuseio da amostra.
ainda é considerado válido e o Modelo D estendido
com desnitrificação torna-se próximo ao ASM1 Outra limitação do ASM é que ele não leva em
(Henze et al., 1987b). Para obter mais detalhes consideração a remoção de micropoluentes, como
sobre o ASM1, o leitor deve consultar Dold et al., metais, xenobióticos ou compostos disruptores
1980; Van Haandel et al., 1981; Alexander et al., endócrinos estrogênicos. Isso se deve em parte ao
1983; Warner et al., 1986; Henze et al., 1987a, aumento necessário da complexidade do modelo e
1987b, 2000. em parte à falta de conhecimento sobre os
Ekama e Takács (2014) (em Jenkins e Wanner, oxigênio e a produção de lodo (juntamente com o
2014). Ainda hoje, o modelo ASM1 ainda é, em balanço de DQO), e as conversões de N e P em
muitos casos, o estado da arte para modelar estações de tratamento de esgoto sanitário.
sistemas de lodo ativado (Roeleveld e Van Contudo, apesar de serem projetados para fins
Loosdrecht, 2002). O ASM1 tornou-se uma práticos (e, portanto, não acadêmicos), eles não são
referência para muitos projetos científicos e modelos sanitários, pois não descrevem a remoção
práticos, e foi implementado (em alguns casos com de patógenos. Provavelmente, a melhor maneira de
modificações) na maioria dos softwares comerciais descrever o desenvolvimento do modelo de lodo
disponíveis para modelagem e simulação de ativado em etapas é a abordagem original de Marais
estações para remoção de nitrogênio. Copp (2002) e Ekama (1976) e Ekama e Marais (1978),
relata experiências com implementações do ASM1 posteriormente descrita por Dold et al. (1980), e
em diferentes plataformas de software. Em geral, mais elaborado em Gujer e Henze (1991). O
os modelos de lodo ativado da ‘família’ ASM são resultado dessa abordagem é um modelo que se
desenvolvidos para descrever a taxa de consumo de aproxima do ASM1.
Tabela 14.8 Visão geral de modelos de lodo ativado selecionados (baseado em Gernaey et al., 2004).
Remoção química de P
PAO desnitrificantes
Variáveis de estado
Desnitrificação
heterotrófico /
Fermentação
Decaimento
Nitrificação
autotrófico
Referência
Hidrólise
Reações
Modelo
RBAF
morte-regeneração, Dold et al., 1980) e três estão juntaram. O conhecimento adquirido sobre a RBAF
relacionados à hidrólise. O modelo é apresentado levou à publicação do Modelo de Lodo Ativado nº2
em formato de matriz, também conhecido como (ASM2) (Henze et al., 1995), que incluiu os
matriz de Petersen ou matriz de Gujer (Petersen, processos de RBAF. Em particular, o ASM2 inclui
1965; Takács et al., 2007). Esta matriz contém Organismos Acumuladores de Fósforo, (PAO –
coeficientes estequiométricos e um vetor cinético. phosphate accumulating organisms), crescendo
Todas as variáveis de estado envolvidas em um apenas em condições aeróbias, com as reações
processo são exibidas em colunas, e todos os anaeróbias, anóxicas e aeróbias correspondentes. O
processos onde uma variável de estado está ASM2 foi um equilíbrio entre complexidade e
envolvida são apresentados nas linhas da matriz. Já simplicidade, e entre diferentes pontos de vista
em uso na modelagem química (Petersen, 1965), sobre como o modelo correto deveria se parecer
esta representação ajudou a apresentar o modelo de para ser usado como uma plataforma conceitual
forma compacta. Isso facilitou sua publicação, para seu desenvolvimento posterior (Henze et al.,
interpretação e comparação não só entre modelos, 2000). Em 1996, Mark Van Loosdrecht
mas também entre processos e compostos. No (Universidade de Tecnologia de Delft) tornou-se
entanto, certas limitações principais do ASM1 são, membro do grupo de trabalho após a saída de
por exemplo, que ele apenas descreve reações Tomonori Matsuo, Mark Wentzel e Gerrit Marais.
heterotróficas e autotróficas sob condições Como a ocorrência da RBAF desnitrificante foi
aeróbicas e anóxicas (em que, por exemplo, bem estabelecida (por exemplo, Kuba et al., 1997;
heterotróficos ordinários consomem substratos Murnleitner et al., 1997), o modelo ASM2 foi
carbonáceos e organismos nitrificantes autotróficos expandido em 1999 pela inclusão de PAO
oxidam amônia em nitrato), e não inclui processos desnitrificante (DPAO). Esta versão do modelo foi
de remoção biológica avançada de fósforo (RBAF) denominada ASM2d (Henze et al., 1999). Tanto o
(Gujer e Henze, 1991). Apesar do fato de que em ASM2 quanto o ASM2d são semelhantes ao ASM1
grande parte o conhecimento de processos de no sentido de que assumem que a célula é uma
RBAF já estivesse disponível quando o ASM1 foi caixa preta, em oposição ao uso da abordagem
desenvolvido (Comeau et al., 1986; Van metabólica para modelar os processos que ocorrem
Loosdrecht et al., 1997), RBAF não foi incluído no dentro da célula. No entanto, o ASM2d parece estar
ASM1 pois a maioria das estações de tratamento de superparametrizado em relação aos dados
esgoto daquela época não incorporava remoção de disponíveis, exigindo uma abordagem mais
fósforo biologicamente (ou quimicamente) sistemática para calibração (Brun et al., 2002).
intensificada (Fenu et al., 2010). Embora isso tenha permitido que o modelo se
adaptasse e descrevesse mudanças dinâmicas na
Nos últimos anos, diversos grupos de pesquisa comunidade de lodo ativado, ainda faltava a
começaram a trabalhar na descrição da RBAF para capacidade de descrever inteiramente a dinâmica
sua incorporação em modelos dinâmicos de lodo observada, particularmente no que diz respeito aos
ativado, principalmente baseados em compostos processos de hidrólise e RBAF (Sin e
solúveis diretamente mensuráveis. De meados da Vanrolleghem, 2006). Paralelamente a esses
década de 1980 a meados da década de 1990, o desenvolvimentos, em 1994 um crescente
processo de RBAF cresceu em popularidade e a conhecimento da bioquímica celular interna dos
compreensão de seus mecanismos bioquímicos PAOs resultou no desenvolvimento de um modelo
aumentou (Henze et al., 2000). Nesse ínterim, em metabólico (modelo TUDP; Smolders et al., 1994a,
1990, a composição do grupo de trabalho mudou, b; Murnleitner et al., 1997) descrevendo as fases
quando Leslie Grady saiu e Takashi Mino anaeróbia e aeróbia da RBAF com base em
(Universidade de Tóquio) e Mark Wentzel compostos de armazenamento intracelular. Este
(Universidade da Cidade do Cabo/Cape Town) se
modelo foi posteriormente totalmente integrado ao apenas o ASM3 irá descrever a absorção com
ASM por Meijer (2004). precisão. No entanto, não há problema em usar o
ASM1 para simulação de sistemas de remoção de
Ao mesmo tempo que o modelo ASM2d foi nitrogênio porque a nitrificação é um processo
apresentado, o grupo de trabalho também lento e, portanto, há tempo suficiente para a
desenvolveu o modelo ASM3 para corrigir biodegradação de DQO lentamente biodegradável.
algumas das limitações do ASM1. O ASM3 foi A segunda razão para introduzir o ASM3 foi que o
proposto para se tornar o novo padrão para ASM1 provou ser tão bem-sucedido na simulação
modelagem baseada em ASM. Ele substituiu o de estações de tratamento de esgoto que muitos
processo de morte-regeneração para organismos começaram a acreditar que o que estava no ASM1
heterotróficos por um processo de respiração era 100% verdade e a realidade. No entanto, os
endógena e também introduziu o papel de mecanismos de armazenamento exibidos pela
armazenamento de substratos orgânicos (Gujer et biomassa mostram que o que está no ASM1 não é
al., 1999). Em 2000, o grupo de trabalho totalmente verdadeiro, mas próximo o suficiente da
apresentou a visão geral dos modelos ASM 1 a 3 realidade para servir ao seu propósito. Portanto, o
(Henze et al., 2000). Em essência, o ASM3 ASM3 tem um valor educacional agregado porque
descreve os mesmos processos do ASM1, embora demonstra que existem maneiras diferentes (mas
o ASM3 tenha sido apresentado para corrigir as não necessariamente melhores) de modelar a
deficiências do ASM1. Isso é parcialmente baseado mesma estação de tratamento. No entanto, a razão
nas observações dos testes de taxa de consumo de mais importante para a introdução do ASM3 foi o
oxigênio (TCO) com lodo ativado, que revelaram o reconhecimento da importância de três taxas de
fato de que as bactérias absorvem prontamente a consumo de oxigênio no processo, a saber: a taxa
DQO rapidamente biodegradável e a armazenam rápida de consumo de oxigênio para degradação de
como substrato interno que será convertido DQO rapidamente biodegradável (DQORB), a taxa
lentamente (conversão de DQO rapidamente lenta associada à degradação de DQO lentamente
biodegradável em DQO lentamente biodegradável (DQOLB), e o ainda mais lenta TCO
biodegradável). Quando acetato (substrato endógena. Em contraste, no ASM1 há apenas um
definido) é adicionado ao lodo ativado, a TCO processo de consumo de oxigênio, por isso é muito
observada sugere a presença de dois substratos; difícil realizar a calibração, pois é necessário
pode ser observada uma degradação rápida e lenta calibrar outros processos que influenciam
do substrato associada com TCO (Henze, 1992; indiretamente os processos que consomem
Henze et al., 2008). oxigênio.
No ASM1, parece que dois substratos estão O outro problema é a ciclagem da DQO no
presentes (SS e XS), enquanto nos experimentos processo, pois no processo de decaimento DQO
originais apenas acetato (SS) foi dosado. Para particulada é produzida, hidrolisada e usada para o
descrever a TCO observada com o ASM1 neste crescimento novamente. Isso significa que se no
caso, foi necessário definir que o acetato é processo um parâmetro é alterado, ele influencia
parcialmente solúvel e parcialmente particulado, o todos os outros processos devido à ciclagem, e é
que não é recomendado. Esta deficiência é difícil usar a calibração automatizada porque cada
resolvida com a introdução de um composto de parâmetro influencia todos os processos. No ASM3
armazenamento, XSTO,S, no ASM3. Isso significa esse problema foi resolvido, pois o processo de
que o substrato é absorvido rapidamente e decaimento foi substituído pela respiração
armazenado, enquanto o crescimento ocorre endógena, que elimina o ciclo da DQO (Figura
consumindo o substrato armazenado. Ambos os 14.9). Em outras palavras, uma vez que as células
modelos irão descrever a TCO observada, mas são produzidas, elas começam a se oxidar e, com
isso, a biomassa é reduzida pelo processo de perto, é útil eliminar a interação de bioprocesso da
mineralização aeróbia (a respiração endógena reciclagem de substrato do modelo de morte-
clássica). Embora isso tenha alguma controvérsia regeneração.
conceitual, por exemplo, porque um organismo se
oxidaria (ou seja, faria dieta) quando há comida por
Uma das aplicações mais importantes do ASM3 é diferença significativa se a DQO rapidamente ou
em reatores de fluxo pistonado, como seletores lentamente biodegradável está presente ou se a
(Makinia et al., 2006). Se, por exemplo, acetato DQO é armazenada ou não. Em sistemas com um
deve ser removido no seletor aeróbio para evitar o TRS longo (10-20 dias dependendo da temperatura,
intumescimento de lodo, o projeto do seletor é que são mais comuns na prática), uma grande parte
governado pelo tempo necessário para absorver o da remoção de nitrato está efetivamente associada
acetato e pela quantidade de oxigênio necessária com a DQO lentamente biodegradável do afluente
para isso. Se o ASM1 for usado em vez disso, os e da morte-regeneração no reator de pré-
requisitos de oxigênio no seletor serão desnitrificação e apenas da morte-regeneração no
significativamente superestimados. Na realidade, reator pós-desnitrificação, de modo que a
uma grande proporção de acetato é armazenada sensibilidade para a proporção exata entre COD
dentro da biomassa e, uma vez armazenado, não há rapidamente e lentamente biodegradável é muito
mais o problema de intumescimento de lodo. Se menor. O mesmo se aplica à diferenciação entre
alguém deseja projetar o seletor aeróbio e incluí-lo ASM1 e ASM3. Em sistemas de alta carga a
no modelo, o ASM3 é o melhor modelo a ser usado. respiração endógena é menos importante e,
portanto, o acúmulo de DQO na forma de
Outra aplicação relevante do ASM3 é para a polímeros de armazenamento e a passagem para a
descrição de uma estação de remoção de nitrogênio fase aerada de uma estação de tratamento podem
pré-desnitrificante operando com TRS baixo (Yuan ser significativos.
et al., 2002; Sahlstedt et al., 2004). Aqui, há uma
os rendimentos macroscópicos ao rendimento podem ser lidas separadamente, pois são apenas o
metabólico, que é a eficiência de geração de resultado da reformulação matemática. A partir das
energia (ATP) por unidade de substrato oxidado. A reações metabólicas, foi determinada uma
oxidação do substrato está relacionada à estequiometria geral anaeróbia, aeróbia e anóxica.
transferência de elétrons para o consumo de Uma descrição completa do modelo TUDP é
oxigênio ou nitrato. Os coeficientes de rendimento fornecida por Meijer (2004) e De Kreuk et al.
são, portanto, todos uma função deste parâmetro (2007). No geral, a formulação de uma reação
básico (ATP produzido por par de elétrons global anaeróbia é clara, pois existe apenas uma
transferidos) e o número de parâmetros de reação metabólica. Assim, ao medir a taxa de
rendimento independentes é menor em uma consumo de acetato, todas as outras taxas são fixas.
descrição metabólica para esses microrganismos Em relação à estequiometria aeróbia e anóxica,
complexos. cinco reações gerais (rX, rPP, rGLY, rPHA e mPHA) são
dadas, mas o sistema pode ser resolvido se quatro
Inicialmente, a cinética mais simples foi escolhida das cinco taxas forem determinadas. Em 1999, Van
para o modelo metabólico. Smolders et al. (1994b) Veldhuizen et al. integraram o modelo metabólico
propuseram uma estrutura cinética na qual o de RBAF com os processos heterotrófico,
consumo de oxigênio (ou nitrato) e a degradação do hidrolítico e autotrófico do ASM2d (Henze et al.,
PHA são o resultado líquido do crescimento da 1999). Com este modelo, foi simulado um processo
biomassa (rX), formação de poli-P (rPP), formação MUCT- Modified University of Cape Town em
de glicogênio (rGLY) e manutenção (mO e mPHA). escala plena para remoção de DQO, N e P
Sua estrutura cinética é expressa por equações (Veldhuizen et al., 1999). Este estudo mostrou que
lineares que levam a um conjunto de reações o modelo TUDP foi capaz de descrever as
globais (Meijer, 2004). Em seguida, Kuba et al. condições em escala plena sem quaisquer ajustes
(1996) propuseram um modelo metabólico para significativos. Para fortalecer a aplicação em escala
RBAF desnitrificante. Em 1997, Murnleitner et al. plena do modelo, um protocolo de calibração foi
combinaram os modelos anaeróbio, aeróbio e desenvolvido e testado. Usando o mesmo modelo,
anóxico, propondo uma estrutura cinética em que o Brdjanovic et al. (2000) simularam um processo
crescimento era o resultado líquido do consumo de em escala plena de remoção de P em correntes
PHA e poli-P e formação de glicogênio sem alterar secundárias. Após calibrar a formação de
sua estequiometria original. Do ponto de vista glicogênio, o modelo descreveu o processo sem a
ecológico, o armazenamento é preferível ao necessidade de ajustes adicionais de outros
crescimento, sugerindo que, em sua competição parâmetros. Uma vez que a temperatura
com outros microrganismos, os PAOs dependem desempenha um papel importante nas conversões
de sua capacidade de armazenamento. Um rápido microbianas, Brdjanovic et al. (1998) estudaram o
reabastecimento de compostos de armazenamento efeito da temperatura na RBAF. Seus resultados
é uma condição primária para a sobrevivência a foram incorporados ao modelo TUDP que foi
longo prazo. Assim, a taxa máxima de crescimento usado para simular um processo MUCT em escala
não é mais uma propriedade intrínseca dos PAOs, real otimizado para RBAF desnitrificante (ETE
mas passa a depender das condições ambientais e Hardenberg, ver Meijer et al., 2001). Com base em
da capacidade máxima de armazenamento de PHA todos esses experimentos práticos, o modelo
(Brdjanovic et al., 1998). Com a estrutura cinética metabólico TUDP atualizado e validado mostrou
reformulada, Murnleitner et al. (1997) descreveram que sua estequiometria é totalmente confiável e
todos os experimentos realizados por Smolders et pode ser usado e extrapolado sem calibração. Para
al. (1994a, b; 1995a, b) e Kuba et al. (1996) com simular RBAF em escala plena, o modelo
um conjunto de parâmetros do modelo. Apesar metabólico foi combinado com as reações
disso, é preciso destacar que essas reações não heterotróficas, hidrolíticas e autotróficas do
Figura 14.11 Esquemas simplificados de fluxos de substrato para (A) biomassa autotrófica e heterotrófica nos modelos ASM1 e
ASM3 (modificado de Gujer et al., 1999), (B) armazenamento e crescimento de PAO no modelo ASM2 (Henze et al., 1995), e (C)
armazenamento e crescimento aeróbio de PAO no modelo TUDP (Van Veldhuizen et al., 1999; Brdjanovic et al., 2000).
Adaptado de Gernaey et al. (2004).
Embora fosse possível reformular os processos No modelo metabólico TUDP, a estrutura cinética
autotróficos e heterotróficos do ASM2d em uma resulta em um conjunto de reações atípicas do
forma metabólica, tal modelo teria o mesmo modelo. Essas reações são o resultado matemático
número de rendimentos que o modelo original. da formulação cinética e não podem ser vistas
Portanto, não seria menor e, além disso, não independentemente. Para quem não está ciente
melhoraria o desempenho do modelo. Portanto, no disso, isso pode facilmente levar a interpretações
modelo TUDP, os processos do ASM2d foram errôneas da matriz do modelo, pois as reações
mantidos em sua forma original e a integração dos estequiométricas individuais não descrevem o
dois modelos foi relativamente simples. Isso processo de RBAF real. Isso deve ser
poderia aumentar a confiabilidade da descrição do compreendido quando o modelo é usado para fins
processo de RBAF que o ASM2d parecia não ter educacionais. No entanto, na prática de
(Sin e Vanrolleghem, 2006). No entanto, onde os modelagem, trabalhar com o conceito metabólico
dois modelos são unidos surge uma nova forma de tem vantagens importantes sobre outras abordagens
competição de substrato (por exemplo, entre de modelagem. A principal vantagem é a sólida
Organismos Heterotróficos Ordinários: OHO e base estequiométrica do modelo metabólico. Essa
PAO). Além disso, com a RBAF os processos de base estequiométrica sólida é em grande parte
fermentação e hidrólise no modelo tornam-se mais devida à inclusão de glicogênio e à modelagem
sensíveis e dois conceitos de respiração endógena/ simultânea da dinâmica de reativa do glicogênio e
manutenção são usados simultaneamente. do PHA.
Grupo de Trabalho de Boas Práticas de Modelagem disponibilizar alguns estudos de caso práticos
da IWA (GMP-TG, sigla do nome original em foram mencionados como instrumentos-chave para
inglês Good Modelling Practice Task Group) foi lidar com certos obstáculos, como a complexidade
formado sobre o uso de Modelos de Lodo Ativado, das teorias e procedimentos do modelo, as etapas
paralelamente e com total apoio do grupo de demoradas e, finalmente, a confiabilidade dos
trabalho original em modelagem matemática para modelos.
projeto e operação de tratamento biológico de
esgoto. O site deste e de outros grupos de trabalho Além do envio do questionário, foram organizados
relevantes da IWA no campo da modelagem diversos workshops, reuniões e cursos sobre
matemática são apresentados nos anexos. O GMP- modelagem de lodo ativado, como seminários de
TG consiste em uma equipe internacional de modelagem de tratamento de efluente. O GMP-TG
modeladores que combina experiência e esteve envolvido no desenvolvimento de um novo
conhecimento sobre modelagem de lodo ativado Sistema de Notação de Modelos IWA (Corominas
para fornecer orientação aos profissionais (Rieger et al., 2010), e entrevistou vários modeladores
et al., 2012). Um dos objetivos do GMP-TG foi ilustres (Peter Dold, George Ekama, Willi Gujer,
preparar um relatório técnico e científico para Mogens Henze, Mark Van Loosdrecht, entre
propor procedimentos simples e eficazes para a outros). Uma das sugestões foi recomendar valores
utilização de modelos do tipo ASM (Rieger et al., típicos para razões, variáveis e parâmetros usados
2012). Na preparação deste relatório, o GMP-TG regularmente na modelagem de esgoto. O resultado
desenvolveu e enviou um questionário em 2007 foi compilado no livro da IWA ‘Guidelines for
para comparar e coletar informações relevantes using activated sludge models’, Scientific and
sobre o uso prático da modelagem. Os objetivos Technical Report No. 22 (Rieger et al., 2012).
foram definir melhor o perfil dos usuários de Obviamente, a IWA desempenhou um papel
modelos ASM, identificar as importante na evolução da modelagem de esgoto,
ferramentas/procedimentos que são usados facilitando seu desenvolvimento, fornecendo uma
(modelos, diretrizes, protocolos) e destacar as plataforma para várias comunidades de prática e
principais limitações encontradas durante a promovendo pesquisas e práticas de modelagem
construção e utilização de modelos do tipo ASM por meio de várias publicações.
(Hauduc et al., 2009). O resultado do questionário,
preenchido por 96 respondentes, mostrou que os No mesmo site GMP-TG, as ‘matrizes de Gujer’
modelos são utilizados por pesquisadores para fins ajustadas para sete modelos publicados podem ser
de otimização, bem como por modeladores baixadas como uma planilha do MS Excel: (i)
contratados por empresas privadas para a ASM1 (Henze et al., 1987a,b, 2000); (ii) ASM2d
realização de projetos. A modelagem é vista como (Henze et al., 1999); (iii) ASM3 (Gujer et al.,
uma ferramenta de engenharia, necessitando de 1999); (iv) ASM3 + BioP (Rieger et al., 2001); (v)
treinamento relevante que muitas vezes é ASM2d + TUD (Meijer, 2004); (vi) o modelo de
deficiente. Os modelos biocinéticos mais utilizados Barker & Dold (Barker e Dold, 1997); e (vii)
foram ASM1 (57%) e ASM2d (32%), seguidos de UCTPHO + (Hu et al., 2007). No mesmo site,
ASM3, outro (não especificado), ASDM (BioWin), uma comparação de diferentes regras de
Mantis (GPS-X) e o modelo TUDP. O estudo nomenclatura de parâmetros, incluindo o novo
também revelou que os modelos às vezes não são Sistema de Notação de Modelos IWA (Corominas
aplicados de forma adequada, o que pode ser et al., 2010), também pode ser encontrado.
devido à falta de conhecimento e à procedimentos
padronizados. O desenvolvimento e melhoria de Mais recentemente, entre outras iniciativas para
procedimentos de modelagem padronizados e uma melhorar a transferência de conhecimento,
melhor transferência de conhecimento ao facilitando e disponibilizando alguns estudos de
caso práticos (Hauduc et al., 2009), IHE Delft descreve a seleção de quinze aplicações municipais
publicou o livro ‘A practical guide to activated e industriais de modelo de lodo ativado realizadas
sludge modelling’ (Meijer e Brdjanovic, 2012) que nas últimas duas décadas pelo grupo de modelagem
é usado no curso de modelagem ministrado todos Delft (Brdjanovic et al., 2015). Além de uma série
os anos no IHE Delft22 em cooperação com a de exemplos da Holanda, este livro inclui alguns
Universidade Técnica de Delft. Com um enfoque estudos pioneiros sobre modelagem de lodo
muito prático, ele apresenta todas as etapas ativado na Índia (Brdjanovic et al., 2007; Lopez-
executadas como parte de um projeto de Vazquez et al., 2013), Bósnia e Herzegovina
modelagem onde cinco ETEs foram sujeitas a (Hodzic et al., 2011; Price e Vojinovic, 2010),
modernização para os padrões de descarte de México (Fall et al., 2012), Croácia (Meijer e
efluentes da UE em um novo estado membro da Brdjanovic, 2012) e Uruguai (Bentancur, 2014).
UE. Além dos protocolos gerais de modelagem e Isso demonstra que esforços também estão sendo
diretrizes para caracterização e fracionamento de realizados nos países em desenvolvimento para
efluentes, são apresentados métodos para avaliação aplicar os modelos aos sistemas de lodo ativado
quantitativa de afluentes, abordando diferentes existentes (principalmente para otimização ou
componentes da cadeia de efluentes urbanos e modernização).
introduzindo uma metodologia para quantificação
de componentes de esgoto. Diretrizes para vazões No geral, a modelagem matemática está se
e pontos de medição necessários para a preparação tornando uma prática padronizada e madura,
de um programa de amostragem adicional também principalmente em países desenvolvidos, e os
são mostradas, bem como um inventário de todas esforços feitos pelo GMP-TG da IWA e a
as amostragens regulares do dia-a-dia a serem publicação de diversas diretrizes de modelagem
usadas em um projeto de modelagem, uma (por exemplo, Rieger et al., 2012; Meijer e
metodologia para avaliação de uma estação de lodo Brdjanovic, 2012; Brdjanovic et al., 2015) acabará
ativado e métodos para avaliar os dados brutos da por contribuir para aumentar sua confiabilidade e
estação e filtrar possíveis erros que afetam a aplicação.
confiabilidade e os resultados do modelo. Além
disso, são incluídos métodos práticos para 14.7 DESAFIOS PARA O ASM E
avaliação de dados de esgoto desenvolvidos por TENDÊNCIAS FUTURAS
Meijer et al. (2002). Novos desenvolvimentos na
avaliação de dados também são apresentados neste Com relação ao desenvolvimento futuro da
livro em relação a um recente estudo de caso bem modelagem de lodo ativado, é importante levar em
documentado realizado em uma estação na consideração as necessidades e desenvolvimentos
Holanda. Uma metodologia para o projeto e atuais e futuros. As tendências relacionadas a
avaliação de decantadores secundários também é tecnologias de processo de tratamento de esgoto
descrita, incluindo os cinco procedimentos de existentes provavelmente precisarão se concentrar
projeto e operação de decantadores mais em fornecer uma descrição melhor dos processos
comumente usados, como o empírico, teoria do de remoção de nutrientes atuais e novos, não
fluxo, WRC, ATV (recentemente DWA) e as apenas pela remoção de nutrientes, mas também
diretrizes de projeto STOWA (Henze et al., 2008). para reduzir os custos de energia associados e o
A última parte do livro aborda a metodologia impacto ambiental das estações de tratamento de
aplicada na calibração do modelo e suas principais esgoto. Tais esforços, em combinação com a
etapas. Além disso, outra publicação recente recuperação de recursos (não apenas dos próprios
22
www.un-ihe.org/modelling-wastewater-treatment-
processes-and-plants
nutrientes, mas também de outros produtos competição entre PAOs e GAOs para condições
valiosos) contribuirão para avançar dos conceitos anaeróbia-anóxica-aeróbia sequenciais que são
de tratamento convencional para atingir os tipicamente encontradas na maioria dos sistemas de
objetivos delineados para Estações de Recuperação remoção biológica de nutrientes (RBN). Isto
de Água e Recursos (ERAR), estações de sugeriu a incorporação de até seis grupos de
tratamento de esgoto como fábricas de energia e biomassa diferentes consistindo de Accumulibacter
biorrefinarias (Kartal et al., 2010; Van Loosdrecht Tipos I e II e Competibacter e Defluvicoccus
e Brdjanovic, 2014; Energiefabriek, 2015). desnitrificantes e não desnitrificantes de acordo
com suas capacidades desnitrificantes observadas.
No que diz respeito a novos desenvolvimentos, Seu modelo também incluiu um processo de
embora o processo de RBAF possa atingir taxas de desnitrificação em várias etapas (de nitrato a gás
eficiência de remoção de fósforo relativamente dinitrogênio). No geral, o modelo de Oehmen et al.
altas (com concentrações de fósforo no efluente (2010) com ajustes mínimos foi capaz de descrever
inferiores a 1 mg/l), ele tende a sofrer transtornos e com sucesso as atividades de biomassa de RBAF
deterioração do processo devido a fatores ainda não observadas em dados de reator em batelada
completamente compreendidos (Oehmen et al., sequencial anaeróbio-anóxico-aeróbio em escala
2007). O aparecimento de Organismos de laboratório. No entanto, a aplicação em
Acumuladores de Glicogênio (GAOs – glycogen condições de escala plena do modelo metabólico
accumulating organisms), como Competibacter e desenvolvido por Oehmen et al. (2010) não é tão
Defluviicoccus, foi provisoriamente ligado à simples (por exemplo, devido à ausência de matéria
operação não ideal e até mesmo à falha do processo orgânica e processos de oxidação de nitrogênio,
de RBAF (Cech et al., 1993; Satoh et al., 1994; bem como limitações práticas relativas aos
Saunders et al., 2003). Assim, GAOs são vistos equilíbrios elementares). Recentemente, SUMO,
como microrganismos indesejáveis no tratamento um modelo desenvolvido por Dynamita 23 não só
de esgoto, uma vez que não contribuem para o incorporou um módulo PAO-GAO estendido para
processo de RBAF, mas competem com PAOs na levar em conta as interações entre esses
etapa anaeróbia pela mesma fonte de carbono organismos, mas também um tipo relativamente
(DQORB, como ácidos graxos voláteis: AGV). Em novo de PAO com capacidades fermentativas
2009, Lopez-Vazquez et al. incorporaram a (discutivelmente Tetrasphera, Liu et al., 2019).
influência da fonte de carbono (como acetato e Este ‘novo tipo de PAO’ parece estar ativo em
propionato), temperatura (de 10 a 30°C) e sistemas de RBAF de corrente secundária
dependência do pH de PAOs e GAOs(de pH 6,0 a (S2EBPR, na sigla em inglês) e, portanto, se
7,5) no modelo metabólico alterado por prolifera nesses sistemas, conforme sugerido por
Murnleitner et al. (1997). Assim, usando um observações práticas (Dunlap et al., 2016; Barnard
modelo mecanístico, Lopez-Vazquez et al. (2009) et al., 2017; Varga et al., 2018). Seguindo este
foram capazes de avaliar a influência da fonte de modelo conceitual, além de ‘PAO convencional’
carbono, do pH e da temperatura na interação entre (ativo na linha principal), um segundo grupo de
PAOs e GAOs e seus efeitos na estabilidade da PAO, um ‘PAO de corrente secundária’, foi
RBAF com o objetivo de facilitar a eficiência e incorporado aos modelos de RBAF. Como tal, no
robustez do processo. Concluíram que os PAOs são módulo de RBAF recém-adicionado ao SUMO, o
favorecidos por temperaturas inferiores a 20°C e ‘PAO de corrente secundária’ torna-se ativo e é
níveis de pH superiores a 7,0. Com base na capaz de consumir AGV quando o potencial de
pesquisa realizada por Lopez-Vazquez et al. oxidação-redução na corrente secundária
(2009), Oehmen et al. (2010) expandiram a (calculado em termos das concentrações de
23 www.dynamita.com
oxigênio, nitrato e sulfato na fase líquida) diminui remoção química de P em uma estação piloto. A
para abaixo de -200 mV. Apesar disso, embora tal maioria dos simuladores comerciais já incorporou
abordagem de modelagem provavelmente requeira funcionalidades semelhantes (como BioWin,
melhorias adicionais, principalmente porque os SUMO e GPS-X), mas pesquisas e
mecanismos biológicos reais e os microrganismos desenvolvimentos futuros provavelmente se
dominantes envolvidos não são completamente concentrarão na implementação de tais modelos em
conhecidos (Onnis-Hayden et al., 2019; Liu et al., sistemas em escala real em toda a estação, com
2019), o módulo descreveu de forma satisfatória a particular interesse na recuperação de fósforo.
atividade biológica de remoção de P observada em
sistemas S2EBPR. Em geral, esses modelos Com relação à implementação de tecnologias
integrados parecem ser úteis para descrever as inovadoras de tratamento de esgoto, um foco mais
atividades microbianas relevantes e as populações forte pode ser esperado na modelagem dos
de interesse da RBAF com o objetivo de explorar bioprocessos envolvidos e relacionados à
as condições ambientais e operacionais benéficas implementação do processo anammox na linha de
para o processo de RBAF. tratamento principal (mainstream) e na tecnologia
de lodo granular aeróbio (De Kreuk et al., 2007;
Em alguns casos, como elevado pH (> 7,5) e altas Kartal et al., 2010; Wett et al., 2013; Lackner et al.,
concentrações de Ca++, pode ser necessário 2014). No caso do processo anammox e das
adicionar precipitação de P induzida tecnologias de lodo granular aeróbio, um dos
biologicamente aos modelos ASM (Maurer et al., primeiros desafios a superar é descrever
1999; Maurer e Boller, 1999). De fato, sob certas satisfatoriamente o processo de nitrificação em 2
condições, as reações de RBAF coincidem com etapas (as atividades de oxidação de amônio e
uma precipitação natural que pode ser responsável nitrito, respectivamente), bem como sua forte
por um importante efeito de remoção de P que não interação com os organismos relacionados a
está relacionado às reações de RBAF incluídas nos anammox e RBAF (Dapena-Mora et al., 2004;
modelos descritos até agora. A formação desses Wyffels et al., 2004). Como tal, para aplicações de
precipitados, principalmente contendo fosfato de modelagem de lodo granular aeróbio e anammox
cálcio, é promovida pela alta concentração de P e na corrente principal, torna-se bastante importante
aumento da força iônica durante a liberação descrever o substrato, as reações do produto e as
anaeróbia de P por PAO. As equações do modelo e conversões considerando os gradientes redox
os componentes necessários para descrever este dentro dos flocos ou grânulos correspondentes e as
processo de precipitação foram fornecidos por populações envolvidas, levando em consideração
Maurer e Boller (1999). Além disso, Flores-Alsina sua simbiose e/ou competição. Nesse sentido,
et al. (2015) desenvolveram um módulo de química fatores como a difusão (que depende das
de fase aquosa em toda a estação capaz de propriedades dos flocos e suas respectivas
descrever as variações de pH em sistemas de lodo condições de cisalhamento, coesão, substâncias
ativado. Mbamba et al. (2016) estudaram e poliméricas extracelulares e intensidade de
aplicaram o modelo desenvolvido por Flores- turbulência, Arnaldos et al., 2015; Regmi et al.,
Alsina et al. (2015) para descrever a precipitação 2019) desempenham um papel importante, em
de minerais com ênfase específica em precipitados particular descrevendo o processo simultâneo de
de P. Além disso, com um interesse crescente em nitrificação-desamonificação, observado tanto em
melhorar o processo de remoção de P em estações sistemas conduzidos por anammox e remoção de P
de lodo ativado existentes por meio da com nitrificação-desnitrificação simultânea quanto
implementação de remoção química de P, Mbamba em sistemas de lodo granular aeróbio (Kagawa et
et al. (2019) modelaram a adição de ferro (Fe). Os al., 2015; Baeten et al., 2018a, 2018b). Os
autores descreveram com sucesso o processo de coeficientes de meia saturação aparentes (que
data de TDP e TDS, que foram negligenciadas até aeróbios e anaeróbios é definido (Grau et al.,
agora, mas são relativamente importantes para 2009), que também está disponível em simuladores
alcançar os objetivos finais da ERAR. como por exemplo BioWin, SUMO ou GPS-X, e
(ii) o uso de modelos interligados estabelecidos
Outro aspecto importante na modelagem de estação pela aplicação de um conjunto de equações de
inteira é o acoplamento das variáveis de estado transformação algébrica (‘transformadores’) com
(Volcke et al., 2006) dos tanques de processo de base em uma descrição de ‘matriz de Gujer’ de dois
lodo ativado e aqueles do TDS (Bürger et al., 2011, modelos (Vanrolleghem et al., 2005; Volcke et al.,
2012; Torfs et al., 2013). Modelos para 2006; Nopens et al., 2009; Solon et al., 2017). No
decantadores usam sólidos em suspensão totais geral, essas abordagens anteriores podem ajudar de
como uma variável de estado, o que não é forma satisfatória a aplicar um modelo de estação
explicitamente usado em modelos ASM e precisa inteira. Recentemente, modelos de estação inteira
ser calculado como uma variável composta dos também foram desenvolvidos para descrever as
processos de lodo ativado. Além disso, devido às transformações de P pela estação inteira, incluindo
diferentes condições redox criadas, o fundo de um o destino da digestão anaeróbia de lodo de RBAF
decantador precisa ser modelado dinamicamente de (altamente rico em fósforo e compostos
maneira semelhante a um biorreator para levar em intracelulares), pela inclusão dos processos
consideração os potenciais efeitos redox sobre os necessários no ADM1 (Ikumi et al., 2014a,b; Ikumi
processos biológicos ativos. Alguns exemplos da e Ekama, 2019) e pelo desenvolvimento de um
necessidade de se ter uma descrição de modelagem novo conjunto de modelos de processo biológico
satisfatória da operação do TDS são o lodo (lodo ativado, digestão anaeróbia), físico-químico
flutuante devido à desnitrificação sob condições (fase aquosa, precipitação, transferência de massa)
anóxicas em estações de remoção de nitrogênio, a e interfaces de modelo (entre a fase líquida e de
liberação secundária de P sob condições anaeróbias lodo) para descrever as transformações trifásicas
em sistemas de RBAF e a descrição da (gás, líquido, sólido) de compostos e as
sedimentabilidade do lodo. Alguns desses interligações próximas entre os ciclos de P, enxofre
processos podem ser imitados pela adição de um (S) e ferro (Fe) (Flores-Alsina et al., 2016;
tanque anóxico (desnitrificante) além do tanque de Mbamba et al., 2016; Solon et al., 2017). Esses
decantação secundária (Brdjanovic et al., 2000). modelos contribuíram não apenas para expandir os
No entanto, este ‘truque’ é mais um intermediário modelos ASM, mas também ADM1 (Batstone et
do que a solução final para o problema. Todavia, al., 2012), incluindo processos relevantes para
para aplicar a modelagem de estação inteira, os avaliar a digestão anaeróbia de lodo de RBAF,
maiores desafios podem ser encontrados ao precipitação química de compostos de P,
combinar modelos ASM com modelos de digestão composição de gás (envolvendo compostos
anaeróbia (como ADM1) (Batstone et al., 2002). relacionados a S) e precipitação mineral. Nesse
Esses desafios estão relacionados não apenas à sentido, o desenvolvimento de uma estrutura físico-
descrição dos processos de digestão de lodo que química generalizada do grupo de trabalho da IWA
ocorrem em adensadores e digestores anaeróbios (Batstone et al., 2012) contribuiu para essa
de lodo, mas também aos processos físico- conquista. Embora os fundamentos das reações
químicos que ocorrem dentro desses sistemas. Um físico-químicas sejam bem compreendidos, estão
dos primeiros desafios são os diferentes conjuntos disponíveis de outras disciplinas e não necessitam
de variáveis de estado usados pelos modelos ASM de calibração (uma vez que a termodinâmica define
e ADM1. No geral, existem duas maneiras os pontos finais dos processos cinéticos). Mais
diferentes de lidar com essa questão: (i) a pesquisas são necessárias para validar o destino dos
abordagem do ‘supermodelo’, em que um conjunto compostos orgânicos que impulsionam os
completo de variáveis válidas para ambientes bioprocessos e a termodinâmica das taxas de
24 www.am-team.com
25 http://odvodnjaporec.hr/projekti/projekt-porec/
(Gernaey et al., 2011; Flores-Alsina et al., 2014b; sépticas mais interessantes podem ser encontradas
Nopens et al., 2014). na Caixa de Ferramentas de Gerenciamento de
Lodo de Fossas (FSM27); no entanto, a modelagem
Tendo em vista que 2,6 bilhões de pessoas ainda FSM está fora do escopo deste livro e para obter
não têm acesso a esgotamento sanitário, que a mais informações o leitor deve consultar Strande et
maior parte da população nos países em al., 2014 e Velkushanova et al., 2020.
desenvolvimento não está conectada a sistemas de
coleta de esgoto e que apenas uma pequena fração Além disso, a computação em nuvem ganhou
do esgoto nos países em desenvolvimento é tratada, interesse recentemente (Armbrust et al., 2010),
isso levanta a questão da modelagem holística em unindo esforços e contribuindo para abordagens e
que os modelos de esgotamento sanitário e de notações padronizadas (Corominas et al., 2010) e,
drenagem urbana e modelos de tratamento de portanto, compartilhar modelos de tratamento de
esgoto (não apenas ASM e ADM) serão esgoto entre pesquisadores, desenvolvedores de
complementados e integrados com modelos software e profissionais, apesar de estarem em
(des)centralizados de saneamento em cidades que longitudes e latitudes diferentes, pode não estar
não são totalmente cobertas por sistema de coleta longe da realidade. Esta pode ser uma ferramenta
de esgoto. Existem vários exemplos disso em todo poderosa para facilitar a aplicação de modelagem
o mundo, especialmente em países em de estação inteira e de modelagem integrada de
desenvolvimento. Avanços recentes nessa direção águas urbanas para contribuir com a otimização da
incluem o desenvolvimento de um fluxograma de qualidade e quantidade da água transportada
excrementos (também frequentemente descrito através das veias e artérias aquáticas de um
como um fluxograma de merda26), que é uma assentamento urbano.
ferramenta para ajudar a compreender e comunicar
o gerenciamento de excrementos em uma cidade ou Do ponto de vista comercial e prático, a
povoado. Outra novidade é um conceito de incorporação dos processos e abordagens descritos
esgotamento sanitário descentralizado e seu anteriormente aumentará consideravelmente a
modelo que considera todos os principais complexidade do modelo. No entanto,
componentes da cadeia de serviços de esgotamento compreensivelmente, os profissionais se sentem
sanitário (Brdjanovic et al., 2015). Esta ferramenta desconfortáveis trabalhando com modelos cada vez
de apoio à decisão de áreas sem esgotamento mais complexos. Portanto, fornecedores com
sanitário foi incorporada em uma ferramenta de habilidades de modelagem específicas podem
apoio à decisão chamada WaMEX por IHE Delft, aparecer no mercado, uma vez que os ‘generalistas’
que também inclui componentes de coleta de convencionais de tratamento de esgoto não serão
esgoto (Abbot e Vojinovic, 2009; Sanchez et al., capazes de lidar com o rápido lançamento e
2013; Vojinovic et al., 2014) e tratamento de desenvolvimento de modelos mais complexos para
esgoto (Von Sperling e Chernicharo, 2005). aplicações específicas. Assim, como em outras
áreas, em um futuro próximo os consultores
Outro aspecto de modelagem interessante é a terceirizarão suas atividades de modelagem para
modelagem da influência da descarga de lodo de especialistas em modelagem.
fossas sépticas em estações de tratamento de
esgoto, uma prática regularmente aplicada em Não é impossível imaginar que mais cedo ou mais
muitos países (especialmente de baixa e média tarde novas interfaces e métodos de interação entre
renda) (Strande et al., 2014). Ferramentas de usuários (muito provavelmente menos
modelagem de gerenciamento de lodo de fossas especializados) e modelos serão criados. Isso
26 sfd.susana.org 27 www.fsmtoolbox.com
Tabela 14.9 Uma matriz estequiométrica e uma matriz de composição de componentes (Meijer, 2004).
1 2 3 4 5 6
gDQO/m3
gDQO/m3
gO2/m3
gN/m3
gN/m3
gN/m3
1 rOh Hidrólise aeróbia qDQOXS/d 1-fSI cN,1
2 rNO
h Hidrólise anóxica qDQOXS/d 1-fSI cN,1
3 rAN
h Hidrólise anaeróbia qDQOXS/d 1-fSI cN,1
Crescimento aeróbio
4 rOSF com SF qDQOXS/d -(1/YH-1) -1/YH cN,4
Crescimento aeróbio
5 rOSA com SA qDQOXS/d -(1/YH-1) -1/YH cN,5
8 rAN
fe Fermentação qDQOSF/d -1 1 cN,8
Armazenamento
10 rAN
SA anaeróbio de SA qDQOSA/d -1
11 rAN
M Manutenção anaeróbia qP/d
Armazenamento (1-YNO
SA ) (1-YNO
SA )
-
12 rNO
SA anóxico de SA qDQOSA/d -1 2,86 2,86
Armazenamento (1/YNO
PP ) (1/YNO
PP )
-
14 rNO
PP anóxico de poliP qP/d cN,14 2,86 2,86
16 rNO
M Manutenção anóxica qDQOPAO/d cN,16 -1/2,86 1/2,86
Consumo aeróbio de
17 rOPHA PHA qDQOPHA/d 1/YOPHA -1 cN,17
Armazenamento
18 rOPP aeróbio de poliP qP/d -1/YOPP cN,18
Formação aeróbia de
19 rOGLY glicogênio qDQOGLY/d 1-1/YOGLY cN,19
Crescimento
21 rOA autotrófico qDQOXA/d 1-4,57/YA cN,21 1/YA
1 2 3 4 5 6
6 SST g
Tabela 14.9 ... continuação. Para definição dos símbolos ver Meijer (2004).
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
SPO SI SHCO XI XS XH XPAO XPP XPHA XGLY XA XTSS
gDQO/m3
gDQO/m3
gDQO/m3
gDQO/m3
gDQO/m3
gDQO/m3
gDQO/m3
gDQO/m3
mol/m3
gP/m3
gP/m3
g/m3
cP,1 fSI ce,1 -1 cTSS,1
cP,1 fSI ce,1 -1 cTSS,1
cP,1 fSI ce,1 -1 cTSS,1
YAN
PO ce,10 -YAN
PO YAN
SA 1-YAN
SA cTSS,10
1 ce,11 -1 cTSS,11
YNO
PO ce,12 -YNO
PO YNO
SA cTSS,12
cP,13 ce,13 1/YNO
PHA -1 cTSS,13
cP,14 ce,14 -1/YNO
PP 1 cTSS,14
cP,15 ce,15 -1/YNO
GLY 1 cTSS,15
cP,16 ce,16 -1 cTSS,16
cP,17 ce,17 1/YOPHA -1 cTSS,17
cP,18 ce,18 -1/YOPP 1 cTSS,18
cP,19 ce,19 -1/YOGLY 1 cTSS,19
cP,20 ce,20 -1 cTSS,20
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NOMENCLATURA
Abreviação Descrição
ADM Modelo de digestão anaeróbia (sigla do nome em inglês Anaerobic digestion model)
AE Aceptor de elétrons
AGV Ácidos graxos voláteis
ASM Modelo de lodo ativado (sigla do nome em inglês Activated sludge model)
DBO Demanda bioquímica de oxigênio
DQO Demanda química de oxigênio
DQOLB DQO lentamente biodegradável
DQORB DQO rapidamente biodegradável
ERAR Estações de Recuperação de Água e Recursos
GAO Organismos acumuladores de glicogênio (sigla em inglês para Glycogen accumulating organisms)
IWA Associação internacional de água (sigla do nome em inglês International Water Association)
MR Morte regeneração
NTK Nitrogênio total Kjeldahl
OD Oxigênio dissolvido
OHO Organismos heterotróficos ordinários
PAO Organismos acumuladores de fosfato (sigla em inglês para Phosphate accumulating organisms)
PHA Poli-hidroxialcanoato
RBAF Remoção biológica avançada de fósforo
RPA Reator perfeitamente agitado
RE Respiração endógena
SST Sólidos em suspensão totais
TCO Taxa de consumo de oxigênio
TRS Tempo de retenção de sólidos
TUDP Modelo de RBAF da Universidade Tecnológica de Delft
15 Controle de processo
Gustaf Olsson e Pernille Ingildsen
Tradução: Rodrigo de Freitas Bueno e Alexandre Magno Parente da Rocha
Hoje em dia, o foco do controle na maioria dos As principais forças motrizes são requisitos
sistemas de água está nos processos unitários. legais mais rigorosos, considerações financeiras e
Além disso, o controle do sistema combinado de eficiência de implementação. Outras forças são o
esgoto e água pluvial também tem recebido atenção aumento da urbanização e da população, o que
crescente para o benefício da qualidade do corpo implica um aumento no uso de água e da carga de
receptor de água (Ahm et al., 2016). As estruturas esgoto. As mudanças climáticas e as condições
do sistema combinado de esgoto e água pluvial não climáticas extremas associadas aumentam ainda
são projetadas originariamente para medição de mais os desafios operacionais dos sistemas de água
vazão, mas efetivamente para descarregar o urbanos. No entanto, embora a qualidade da água
excesso de água. Usando modelos e estimativas é seja certamente um fator determinante no projeto
possível quantificar a descarga do sistema da planta, normalmente não é o principal fator para
combinado de esgoto e água pluvial para que o Sistema ICA e, infelizmente, não é normalmente
possam ser realizados adequados cálculos de integrada aos requisitos operacionais. Além disso,
balanço de massa. As vazões do sistema apesar da necessidade do Sistema ICA ser
combinado de esgoto e água pluvial podem ser reconhecida décadas atrás (Vanrolleghem et al.,
derivadas utilizando-se os chamados sensores 1996a), ele só foi implementado como uma
virtuais, onde as vazões são estimadas com base em segunda etapa para as plantas existentes para
medições de nível de água no sistema. melhorar a eficiência ou reduzir custos, mesmo que
projetos inflexíveis ou subdimensionados não
Ampliar a perspectiva de processos únicos para possam ser melhorados por controle.
uma visão de toda a planta e, posteriormente, para
todo o ciclo hidrológico urbano é necessária para O desenvolvimento de processos tornou-se
lidar com a complexidade crescente dos sistemas cada vez mais sofisticado devido aos requisitos de
hídricos urbanos. Esta transição requer pensamento efluentes, e isso aumentou a demanda pelo Sistema
sistêmico, onde a multiplicidade de acoplamentos ICA. Os biorreatores têm mais zonas; anaeróbia,
entre processos e controladores individuais são anóxica e aeróbia. Mais vazões de recirculação
considerados (Beck, 2005). Rodriguez-Roda et al. podem estar sujeitas a controle. Os sistemas de
suprimento de ar são mais sofisticados, por meio computação não é mais um obstáculo. O verdadeiro
dos quais as zonas de aeração podem ser desafio é converter big data em informações úteis.
controladas separadamente, as perdas de pressão O nível de educação dos operadores e engenheiros
podem ser minimizadas pelo controle de pressão de processo aumentou consideravelmente nas
variável e os compressores são fornecidos com últimas décadas.
controle de velocidade variável. Produtos químicos
e carbono externo podem ser adicionados para fins 15.1.3 Esboço do capítulo
de controle.
O restante do capítulo é descrito a seguir. As
A importância dos atuadores também não deve perturbações nos sistemas de tratamento de esgoto
ser negligenciada. Nas últimas décadas, houve uma são significativas e são a razão para o controle,
revolução no desenvolvimento da eletrônica de conforme explicado na Seção 15.2. A função do
potência. Dispositivos eletrônicos de potência, controle é descrita com mais detalhes na Seção
como IBGT-Insulated Gate Bipolar Transistors 15.3. A instrumentação é a base para a operação
(transistores bipolares de porta isolada), estão avançada e seu papel no monitoramento e controle
agora geralmente disponíveis para correntes de até é discutido na Seção 15.4. Os sistemas de
1.200 A e tensões de até 3.000 V com frequências esgotamento sanitário são sistemas dinâmicos, o
de chaveamento de mais de 1 MHz. Isso torna o que implica que qualquer correção precisa de
controle de frequência de motores elétricos tempo para ser notada no sistema, conforme
acessível e confiável, desde a escala de mW até descrito na Seção 15.5. Para manipular qualquer
drives de MW. O controle de velocidade variável sistema, precisamos de atuadores, para traduzir as
tem uma grande influência nas operações de decisões em ações mecânicas, como motores,
tratamento de esgoto para controle de vazão, bem bombas, compressores e válvulas, o que é abordado
como para controle de fluxo de ar. Isso tem um na Seção 15.6. As duas seções a seguir, 15.7 e 15.8,
impacto profundo na qualidade das ações de são dedicadas aos princípios básicos de controle e
controle e na eficiência energética de várias algumas aplicações típicas no tratamento de esgoto.
operações. Todos os principais fornecedores de A energia está intimamente relacionada ao
motores elétricos e bombas fornecem uma grande tratamento de água e esgoto, e a energia e outros
quantidade de informações na Internet. Existem custos operacionais são discutidos na Seção 15.9.
várias palestras curtas disponíveis em Uma estação de tratamento de esgoto consiste em
www.youtube.com. Procure por "sistemas de muitos processos unitários e suas interações devem
acionamento elétrico". ser levadas em consideração para um controle mais
avançado, que está na Seção 15.10.
A energia é a maior despesa operacional isolada
em operações de água, portanto faz sentido do Para o leitor interessado, uma descrição
ponto de vista econômico reduzir esses custos abrangente do controle em sistemas de tratamento
sempre que possível por meio de um controle de esgoto está disponível no livro de Olsson e
adequado. A visão de usinas com energia zero ou Newell (1999). Uma descrição do estado da arte
mesmo positiva já foi concretizada em alguns casos atualizada de problemas de controle em sistemas de
(por exemplo, Nowak et al., 2011). esgoto é encontrada em Olsson et al. (2005). No
livro mais recente de Ingildsen e Olsson (2016), o
Houve um impulso tecnológico substancial princípio de malha fechada é demonstrado não
influenciando o Sistema ICA nos sistemas de água. apenas para o tratamento biológico de esgoto, mas
O desenvolvimento da instrumentação e dos para todos os níveis de operação da água. Neste
atuadores tem sido significativo, contribuindo para capítulo, limitamos a discussão aos sistemas de
tornar o controle mais bem-sucedido. O poder de controle no tratamento biológico de esgoto.
15.2 PERTURBAÇÕES EM SISTEMAS DE tradicional de reduzir seu efeito tem sido projetar
TRATAMENTO DE ESGOTO plantas com grandes volumes para atenuar grandes
distúrbios de carga. No entanto, essa solução
Um dos incentivos para o controle é o aparecimento incorre em grandes custos de capital. Os sistemas
de distúrbios prestes a acontecer ou que já surgiu de controle online, que comprovadamente lidam
dentro de uma planta. O impacto dessas bem com a maioria dessas variações, são muito
perturbações deve ser compensado, mas é ainda mais econômicos e, portanto, uma alternativa
melhor se as perturbações puderem ser atenuadas atraente. A eliminação de perturbações é, de fato,
ou, melhor de tudo, eliminadas antes de atingirem um dos principais incentivos para a introdução do
a planta. Em comparação com a maioria das outras controle de processo online nos sistemas de
indústrias de processo, existem muitos distúrbios tratamento de esgoto.
externos aos quais uma estação de tratamento de
esgoto pode estar sujeita. O esgoto afluente Muitos distúrbios estão relacionados à vazão de
normalmente varia substancialmente tanto em entrada da planta. O afluente muda tanto em termos
termos de concentração de poluentes, composição de vazão, concentração e composição, conforme
e vazão, com escalas de tempo variando de horas a ilustrado na Figura 15.2. Qualquer uma dessas
meses. Eventos discretos, como tempestades, mudanças deve ser compensada. Se o resultado da
derramamentos tóxicos e cargas de pico também perturbação for medido dentro da planta, como
ocorrem de tempos em tempos. Alguns distúrbios uma mudança no nível de oxigênio dissolvido, um
são criados dentro da planta devido ao projeto do manto de lodo crescente ou uma concentração
processo, operação deficiente, equipamento variável de sólidos em suspensão, a informação
inadequado ou falhas de processo. Como resultado, medida é enviada de volta para um controlador que
uma estação de tratamento dificilmente está em irá ativar uma bomba, uma válvula, ou um
estado estacionário, mas está sujeita a um compressor, de modo que a influência no
comportamento transitório o tempo todo. comportamento da planta seja minimizado.
O desempenho consistente deve ser mantido na
presença dessas perturbações. O método
Figura 15.2 Variações diurnas típicas de clima seco em um município com esgoto predominantemente doméstico. Os dados
mostram variações de quinta a domingo (observe o pico em P que é no sábado).
No entanto, infelizmente, muitos distúrbios são Figura 15.3 Variações no afluente em uma grande estação
de tratamento de águas residuárias tendo apenas bombas
criados dentro de uma planta devido à operação primárias on-off, resultando em variações repentinas e
inadequada. Frequentemente, isso se deve à falta de indesejadas de vazão para a estação.
compreensão de como as várias partes de uma
planta interagem. A Figura 15.3 mostra esse A retrolavagem do filtro às vezes pode criar
exemplo. A vazão afluente é bombeada por meio enormes problemas operacionais. Em uma planta
de três bombas on-off. Isso cria mudanças de médio porte, a retrolavagem aumentou a vazão
repentinas na vazão, o que irá deteriorar o do afluente em quase 50%, conforme ilustrado na
comportamento tanto da clarificação quanto da Figura 15.4.
sedimentação na unidade de decantação
secundária.
Figura 15.4 Retrolavagem do filtro (linha inferior) e seu impacto na vazão do afluente da planta (linha superior) e na operação
da planta.
Figura 15.5 Variações da vazão afluente durante três semanas no inverno. A figura inferior mostra as variações diárias e alguns
períodos de chuva. A figura superior mostra como a temperatura diminui como resultado da chuva fria.
Figura 15.6 A relação entre grandes distúrbios hidráulicos e a qualidade do efluente. A figura superior mostra a intensidade da
chuva durante aproximadamente 40 dias e a figura do meio é a vazão afluente correspondente para estação de tratamento
do município. A figura inferior mostra a concentração de sólidos em suspensão após o decantador secundário; isso demonstra
claramente que o decantador está operando perto de sua capacidade máxima e está falhando durante grandes picos
hidráulicos, resultando em grandes valores de concentração de sólidos em suspensão no efluente.
• Operadores e engenheiros de processo são hoje humano. O mais importante de tudo: pessoas.
muito mais treinados em instrumentação, Nenhum sistema de controle pode ser apresentado
computadores e compreensão de controle. aos operadores que não sejam capazes de
Naturalmente, com os novos desafios da influenciar seu projeto. Muito do desempenho é
qualidade da água, a necessidade de mais baseado na confiança. Qualquer sistema de
educação é aparente o tempo todo. controle bem-intencionado e funcionando pode ser
• Existem incentivos óbvios para o Sistema ICA, (e tem sido!) uma falha total se o pessoal de
principalmente do ponto de vista econômico. operação não confiar nele. Portanto, o
As plantas também estão se tornando cada vez envolvimento das pessoas e a educação são partes
mais complexas, o que exige automação e cruciais de um sistema de sucesso. Então, quais são
controle. as prioridades?
material orgânico como demanda química de em termos técnicos, mas também em termos
oxigênio (DQO) ou demanda bioquímica de econômicos, por meio do cálculo do custo de
oxigênio (DBO), nível de lodo e respirometria. propriedade (Tabela 15.1). Os custos de
investimento para o próprio dispositivo costumam
A introdução de um sensor em uma planta ou ser uma pequena parte dos custos durante a vida útil
sistema requer não apenas confiança no da instrumentação. No entanto, é enfatizado que
equipamento. Se o valor da medição não for uma análise simples de custo-benefício muitas
compreendido, é muito fácil perder o interesse pelo vezes é insuficiente para avaliar o benefício da
sensor e, consequentemente, o desempenho da instrumentação. O valor de um sensor depende de
medição diminuirá gradualmente devido à falta de quão inteligentemente ele é usado. É necessário
atenção ou manutenção. Muitos instrumentos de que os operadores tenham um certo nível de
alta qualidade falharam devido a essa falta de compreensão de seu processo para operar a planta
conexão com o propósito da informação. O com razoável confiança.
aumento da confiança na instrumentação é agora
impulsionado pelo fato de que definições claras de As medições da instrumentação devem estar
características de desempenho e testes disponíveis 24 horas por dia e 7 dias por semana.
padronizados para instrumentação tornaram-se As informações precisam ser extraídas
disponíveis (ISO 15839, 2003). adequadamente dos dados medidos. Assim, a
instrumentação deve sempre ser combinada com
A padronização das especificações da triagem de dados adequada, processamento de
instrumentação permite especificar, comparar e medição e extração de recursos das medições,
selecionar a instrumentação mais adequada, não só conforme discutido na próxima seção.
• A comunicação sem fio faz parte do Existe um grande fluxo de dados dos processos
desenvolvimento da IoT e torna possível obter em uma sofisticada estação de tratamento. Mais
medições de campo mais facilmente de locais instrumentação e desenvolvimento de nova
distantes, aumentando assim a probabilidade de instrumentação fornecerão ainda mais dados. No
utilizar sistemas de alerta antecipado com entanto, deve ser enfatizado que mais dados não
sucesso. são valiosos, a menos que tenhamos sucesso em
traduzir os dados em informações úteis.
15.4.2 Monitoramento
Ao contrário dos humanos, os computadores
Rastrear o estado operacional do processo atual por são infinitamente atentos e podem detectar padrões
meio da instrumentação é chamado de anormais nos dados das plantas. A detecção
monitoramento. O monitoramento pode dar precoce e o isolamento de falhas em processos
transparência sobre o que está acontecendo na biológicos são muito eficazes porque permitem que
planta. Sem ele, os processos são como uma caixa ações corretivas sejam tomadas muito antes que a
preta. Mesmo uma instrumentação confiável pode situação se torne desfavorável. Mudanças lentas
falhar durante a operação, o que pode ter nas propriedades biológicas não são facilmente
consequências graves se a instrumentação for observadas pelos humanos e podem crescer
usada no controle de malha fechada. Portanto, é gradualmente até se tornarem um sério problema
necessária a validação de dados em tempo real operacional.
antes de usar medições para fins de controle. Um
monitoramento consistente da qualidade do Todas as análises de dados podem não ser em
produto nos ajudará a evitar problemas que se tempo real. Também há valor na análise de longo
tornem muito grandes, conforme ilustrado na prazo. Existe um limite para a capacidade de
Figura 15.8. qualquer ser humano de receber dados. No entanto,
com o suporte de computadores, podemos
compreender mais do que apenas olhar para os
dados, mas isso requer o domínio de ferramentas de
análise relevantes, bem como uma compreensão
profunda do que está acontecendo na realidade.
Figura 15.9 Variações da vazão afluente durante um período de três semanas. O valor médio e os limites ± 2σ e ± 3σ são
indicados.
A Figura 15.10 ilustra o que acontece quando é descrito em literalmente centenas de artigos.
há uma falha de sensor. A figura superior mostra o Visões gerais são encontradas em Irizar et al.
sinal de medição e o operador observador pode (2008), Hamouda et al. (2009) e Olsson et al.
notar uma mudança no sinal aproximadamente no (2014). Yuan et al. (2019) revisaram os métodos de
tempo 900. Ao filtrar o sinal, no entanto, as detecção para abastecimento e distribuição de água,
mudanças podem se tornar mais óbvias. Um filtro sistemas de coleta e tratamento de esgoto sanitário.
passa-alta mostra essencialmente a variabilidade
(ou taxa de mudança) do sinal. O sinal filtrado é
exibido na figura inferior e revela uma mudança
significativa no caráter de ruído do sinal, expondo
assim um problema de sensor. Obviamente, é
possível detectar a mudança a olho nu, mas isso
requer atenção de alguém. Ao transformar o ruído
em um sinal separado, é possível configurar
alarmes automáticos e, portanto, reagir à mudança
em tempo hábil, em vez de perceber isso tarde
demais.
perder em como selecionar o melhor método de A dinâmica das unidades de processo típicas
análise de dados e não há um atalho simples para pode ser classificada como rápida, média e lenta,
encontrar o melhor. Uma revisão específica das conforme descrito na Tabela 15.2 e essa
técnicas de aprendizado de máquina aplicadas ao classificação influencia o tipo de modelo que pode
campo de água e esgoto é descrita por Hadjimichael ser desenvolvido e também o projeto de estratégias
et al. (2016). de controle.
Vários livros e artigos sobre análise de dados Há uma grande diferença entre as escalas de
elementares podem ser baixados gratuitamente da tempo rápida e lenta (Tabela 15.2). Isso permite a
Internet (pesquise por ‘análise de dados’, ‘análise separação das várias ações de controle em
de dados estatísticos’ e ‘mineração de dados’). Há diferentes domínios de tempo. Na escala de tempo
muitos softwares comerciais e gratuitos disponíveis rápida, as variáveis que mudam muito lentamente
para análise de dados. Todos os métodos aqui serão consideradas constantes. Por exemplo, a
descritos podem ser executados em algum software concentração de OD pode mudar em uma fração de
disponível. Software como o Excel pode ser usado uma hora. Nesta escala de tempo, a concentração
com sucesso para análise de dados elementares, de biomassa pode ser considerada constante. Por
enquanto produtos de software mais sofisticados outro lado, na escala de tempo lenta, por exemplo,
como Matlab1 ou SAS2 contêm uma grande quando pretendemos controlar o inventário total de
variedade de métodos de análise de dados. lodo, então a concentração de OD pode ser
considerada como mudando instantaneamente.
Muitas plantas são projetadas com dois ou mais A manipulação da vazão de descarte de lodo
tanques de aeração paralelos. O processo de divisão ativado é usada para controlar o inventário total de
de vazão é crucial para que a carga seja distribuída lodo no processo. Uma vez que o inventário total é
uniformemente. Frequentemente, esse não é o caso, uma função da taxa de crescimento total dos
o que resulta em uma sobrecarga aparente em organismos, ele é usado para controlar o tempo de
algumas partes do sistema. Em muitas plantas, a retenção do lodo ou a idade do lodo. Esta variável
divisão de vazão é realizada por um arranjo fixo de manipulada irá influenciar o sistema em uma escala
canais, o que pode não ser garantia absoluta de que de tempo de vários dias ou semanas.
a vazão real seja dividida corretamente. Se a
divisão da vazão tiver que ser garantida, as vazões A manipulação da vazão de retorno de lodo
devem ser medidas e as vazões individuais ativado é usada para distribuir o lodo entre os
controladas. reatores de aeração e as unidades de decantação ou
O by-pass deve ser uma variável manipulada no entre os reatores acidogênicos e metanogênicos em
sentido de que nunca deveria ocorrer, a menos que sistemas anaeróbios de dois estágios. O retorno
seja ordenado. Deve ser comparado com a desde a fase de sedimentação é uma variável
alternativa de não realizar o by-pass e deve ser importante para a obtenção do ponto de operação
baseado em algum cálculo quantitativo com um correto nos reatores, mas raramente útil para o
horizonte de tempo adequado (compare a Seção controle de hora em hora. Alguns sistemas são
15.1.1). fornecidos com diversos pontos de alimentação
para o lodo de retorno. Isso tem um potencial de
Todos os diferentes modos de controle de vazão redistribuição de lodo para certas cargas, como
afluente são simplesmente maneiras diferentes de carga tóxica. Uma combinação de diferentes
aumentar a autoridade de controle. Em outras vazões de retorno pode ser importante. Em
palavras, o interceptor de esgoto ou a equalização sistemas com precipitação química, o lodo do
ou o controle de bypass contribuem para tornar decantador secundário pode ser combinado com
mais fácil obter uma vazão uniforme para a planta. lodo químico de uma unidade de decantação pós-
Seu objetivo é a rejeição de perturbações. Uma precipitação. Desta forma, as propriedades do floco
variação suave da vazão é crucial para a operação podem ser influenciadas e os produtos químicos
do decantador secundário. Requer não apenas serão melhor utilizados para a remoção do fósforo.
bombeamento de velocidade variável no nível
operacional para evitar distúrbios, mas também Ao controlar a alimentação escalonada em uma
uma capacidade de armazenamento adequada em planta de lodo ativado, o lodo dentro do tanque de
poços úmidos ou tanques a montante para aeração pode ser redistribuído, dado o tempo
amortecer distúrbios que não podem ser evitados. adequado. Exclusivamente para o controle da
O controle de bombeamento deficiente pode alimentação escalonada, obter-se-á uma estrutura
de estabilização de contato. Além disso, o lodo de
retorno pode ser realimentado não apenas para a melhor sedimentação do lodo. Para a remoção do
parte de entrada do tanque de aeração, mas em fósforo, sais ferrosos, férricos ou de alumínio são
diferentes pontos de alimentação ao longo do adicionados para obter a precipitação química pela
tanque, o que é conhecido como controle formação de fosfatos insolúveis. Uma mudança na
escalonado do lodo de retorno. Esta pode ser uma dosagem química pode ter um efeito bastante
forma eficiente de prevenir o intumescimento do rápido, influência na formação de flocos e na
lodo. sedimentação. Na Seção 15.8, o controle da
precipitação química é discutido.
Vazões de retorno internos ou externos
fornecem acoplamentos entre as diferentes Além do uso normal de produtos químicos para
unidades da planta. As vazões de retorno podem ser remoção de P, produtos químicos podem ser
consideradas como distúrbios controláveis para o adicionados para melhorar as propriedades de
sistema reator-decantador. Eles devem ser sedimentação do lodo no decantador secundário.
manipulados de forma que seu impacto prejudicial Às vezes, produtos químicos são adicionados ao
seja minimizado. Algumas vazões de retorno têm decantador primário para reduzir a carga para o
valores muito altos, como a vazão de recirculação aerador, embora isso possa levar a carbono
de nitrato em uma planta de pré-desnitrificação. insuficiente para a remoção de nutrientes.
Num sistema com pré-desnitrificação é necessário A adição de polímero pode ser usada em
recircular a água rica em nitrato da saída do reator situações de emergência para evitar grandes falhas
de nitrificação. Em particular, o oxigênio contido do decantador. Em uma base rotineira, é usado para
na água recirculada pode limitar a taxa de condicionamento de lodo para melhorar as
desnitrificação na zona anóxica. propriedades de desidratação. Além disso, os
polímeros podem ser usados para aumentar ainda
A seção 15.2 demonstrou que a vazão de mais a eficiência do processo de pré-precipitação.
retrolavagem de um filtro de leito profundo pode
criar grandes perturbações e deve ser manipulado A adição de alcalinizante é feita em processos
adequadamente. Outras vazões podem ter anaeróbios de dois estágios para controlar o pH,
concentrações extremamente altas, como que podem inibir os microrganismos
sobrenadantes do tratamento de lodo, conforme metanogênicos.
indicado na Seção 15.2. A maioria deles pode ser
manipulada propositalmente para obter um melhor 15.6.3 Adição de carbono
desempenho da planta. Em um sistema bio-P,
existem três tipos de reatores: anaeróbio, anóxico e A adição da fonte de carbono às vezes é necessária
aeróbio. Dependendo do projeto, existem muitos na desnitrificação para obter uma proporção
padrões de recirculação em tal planta. Em um adequada de carbono/nitrogênio no sistema. Muito
sistema anaeróbio de dois estágios, a recirculação pouco carbono resulta em desnitrificação
ajuda a manter os metanógenos removidos do incompleta, enquanto muito carbono adiciona um
estágio de acidificação e restaura a capacidade de custo para o produto químico e sua subsequente
tamponamento do pH para reduzir o uso de remoção. A escala de tempo de tal operação está
cáusticos. relacionada ao tempo de retenção da
desnitrificação. Para um sistema de pré-
15.6.2 Adição de produtos químicos desnitrificação, o carbono geralmente é fornecido
por meio do esgoto afluente. No entanto, isso pode
Os produtos químicos são adicionados por duas ser insuficiente durante os períodos de baixa carga,
razões diferentes, para obter a precipitação química então algumas fontes de carbono precisam ser
para a remoção do fósforo ou para formar uma adicionadas. Em um sistema de pós-
desnitrificação, uma fonte de carbono (como processo medido por um sensor é a base para uma
metanol ou etanol) sempre deve ser adicionada. decisão. Para tomar essa decisão, o objetivo ou
Então surge o problema de como ajustar a dosagem propósito deve ser declarado. Depois de tomada a
à necessidade de carbono, sem medições extensas. decisão, ela deve ser implementada por meio de um
atuador, que normalmente é um motor, uma
15.6.4 Fornecimento de ar ou oxigênio bomba, uma válvula ou um compressor.
O oxigênio dissolvido (OD) é uma variável chave Hoje, a engenharia de controle pode oferecer
na operação de lodo ativado. Do ponto de vista quase tudo em termos de métodos e algoritmos que
biológico, a escolha de um ponto de ajuste de OD a operação de água possa precisar. O controle
adequado é crucial. A dinâmica do OD é tal que o automático às vezes é chamado de tecnologia
OD pode ser influenciado em frações de uma hora. oculta. Ele aparece em toda parte ao nosso redor e
Os principais fatores relacionados ao suprimento nem sequer pensamos nisso. Só percebemos
de OD são o suprimento total de ar, os pontos de quando não funciona. Estamos sujeitos a
ajuste de OD e a distribuição espacial de OD. Para realimentação em nossa vida diária. No corpo
obter o perfil de OD necessário, são necessárias humano, as células nervosas sentem a temperatura
medições individuais de vazão de ar e controle em e o cérebro controla os músculos para restringir os
malha fechada sobre as válvulas para cada zona de capilares da pele. Equilibrar o corpo exige que
aeração. O controle de OD será discutido mais percebamos a direção por meio de nosso sistema de
detalhadamente na Seção 15.8. equilíbrio. O cérebro controla os músculos dos pés
e das pernas para nos manter em pé. Ao dirigir um
A vazão de ar é reconhecida como de grande carro, o motorista sempre aplica o conceito de
importância para toda a operação. É razoável supor malha fechada. Os olhos observam o velocímetro e
que um sistema de controle de OD em bom a estrada etc. e o cérebro compilará todas as
funcionamento deva estar disponível. No entanto, informações e decidirá o que fazer no momento
como o custo de energia é significativo, é seguinte. Isso se traduz nos músculos para girar o
interessante minimizar o suprimento de ar. É bem volante, frear ou acelerar. A razão para a
sabido que o fornecimento insuficiente de ar realimentação constante é que a cena muda
influencia o crescimento do organismo, a formação continuamente. Em outras palavras, o processo está
de flocos e as propriedades de sedimentação do sujeito a distúrbios que nos obrigam a usar a
lodo. No entanto, uma vez que os organismos realimentação.
indesejáveis são formados, nem sempre é óbvio
como se livrar deles apenas controlando o OD. Ainda que o controle seja aplicado em áreas
completamente diferentes, existe uma teoria
comum que é independente das aplicações.
15.7 CONCEITOS BÁSICOS DE CONTROLE Existem literalmente centenas de livros didáticos
sobre controle. O livro didático de Åström e
O princípio fundamental de controle é a Murray (2014), disponível em acesso aberto, é
realimentação, ilustrado pela Figura 15.1. O recomendado, uma vez que os autores são líderes
processo (por exemplo, um aerador, um sistema de mundiais no desenvolvimento de teoria e
dosagem química ou um reator anaeróbio) está o engenharia de controle.
tempo todo sujeito a distúrbios externos. Estes
distúrbios são causados principalmente pelas Em outras palavras: controle é sobre como
variações na carga afluente, mas também podem operar a planta ou processo em direção a um
ser causadas por mudanças internas, como objetivo definido, apesar dos distúrbios. Com as
recirculações, bombeamento, etc. O estado atual do variáveis manipuladas e controladas identificadas
disso, a vazão de ar desejada é dada como um ponto significa que o ponto de ajuste de OD apropriado
de ajuste para um segundo controlador, o pode ser determinado por medições online.
controlador de vazão de ar (o 'escravo'). Este
controlador recebe a medição da vazão de ar e a Um analisador de amônia online é colocado
compara com a vazão de ar desejada. Essa próximo à saída do tanque de aeração. Em
diferença fará com que o atuador (um compressor condições ideais, a concentração de amônia
ou uma válvula) altere a vazão de ar para o valor diminuirá ao longo do tanque de aeração e atingirá
necessário. A estrutura de controle é chamada de um valor baixo pouco antes da saída. Se a
malha de controle em cascata e é a configuração concentração de amônia for muito baixa, então
padrão neste tipo de sistema. podemos ter sido muito ambiciosos. Nesse caso, a
qualidade do efluente pode ser alcançada com
Existem duas razões importantes pelas quais o menos ar. Consequentemente, o ponto de ajuste do
controlador de OD não está diretamente acoplado à OD pode ser diminuído para as últimas zonas de
válvula. O primeiro motivo tem a ver com as aeração. Por outro lado, se a concentração de
características da válvula. Normalmente as amônia for muito alta na saída, tentaremos
válvulas são não lineares, como em uma válvula melhorar a taxa de nitrificação aumentando o ponto
borboleta. Uma mudança de 10% no sinal da de ajuste de OD para que possamos alcançar a
válvula produzirá respostas significativamente baixa concentração de amônia necessária. No
diferentes se a válvula estiver quase fechada, na entanto, pode não ser suficiente para aumentar o
faixa intermediária ou quase totalmente aberta. Isso fluxo de ar. A carga pode ser simplesmente muito
significa que uma mudança de vazão de ar desejada alta e a capacidade de nitrificação insuficiente para
exigirá movimentos de válvula muito diferentes se esta carga. Portanto, o valor superior do ponto de
a válvula estiver quase fechada ou se estiver quase ajuste do OD deve ser limitado.
totalmente aberta. Se a vazão de ar for medida, o
controlador de vazão pode produzir a vazão A Figura 15.13 mostra o resultado do controle
necessária independente da não linearidade da de OD com um ponto de ajuste de OD variável na
válvula. Ter o controlador escravo de malha ETE de Källby em Lund, Suécia. É uma planta de
fechada no lugar significa que o controlador mestre PE (população equivalente) de 100.000 do tipo pré-
verá um comportamento linear do sistema de fluxo nitrificação. Em uma das duas linhas paralelas
de ar. A segunda razão tem a ver com o idênticas, um controlador de ponto de ajuste de OD
comissionamento do sistema de controle. O foi testado com base nas concentrações de amônio
controlador escravo é ajustado enquanto o no final da parte aerada da planta. Um controlador
controlador mestre é definido como manual. Desta PI simples foi usado para alterar o valor do ponto
forma, pode-se garantir que a resposta do sistema de ajuste de OD, com base no sinal do sensor de
de fluxo de ar é adequada. Feito isso, o controlador amônia na saída da aeração. O valor do setpoint do
mestre pode ser colocado em modo automático e OD foi enviado ao sistema controlador do OD,
posteriormente sintonizado. conforme mostrado na Figura 15.12. O controlador
resultante é expandido para uma estrutura de três
Exemplo: controle do setpoint de OD com base controladores trabalhando em cascata usando o
em medições de amônia princípio mestre-escravo. O desempenho do
controlador é mostrado na Figura 15.13. Às vezes,
Com o desenvolvimento de sensores de nutrientes,
com alta concentração de amônia no afluente, o
foi possível estender o controle de OD para
ponto de ajuste de OD é elevado ao máximo
permitir um ajuste online do nível de suprimento de
(definido para 3 mg/L). Em períodos com baixa
oxigênio. Para um sistema com recirculação, isso
carga de amônia, o ponto de ajuste OD pode ser
diminuído para valores muito menores. Aqui, ele é
limitado a ficar acima de 0,5 mg/L. Ao permitir um prontamente o custo extra de um analisador de
ponto de ajuste de OD variável, economizaremos amônia.
energia para aeração. Durante o período de teste
nesta planta, uma economia de energia de aeração Existem muitas publicações sobre o controle de
de 28% foi obtida em comparação com a linha OD. Åmand et al. (2013, 2014) e os dois capítulos
paralela onde um ponto de ajuste de OD constante de livro Olsson et al. (2019a, 2019b) apresentam
foi aplicado. Isso corresponde a uma parte análises abrangentes de controle de aeração.
significativa dos custos operacionais e compensa
Figura 15.13 Controle do OD com um setpoint de OD variável. O gráfico superior mostra a concentração de amônio no final da
parte aerada da planta. O ponto de ajuste de amônio é 3 mg/L de NH4-N. O gráfico inferior mostra o ponto de ajuste de OD na
última zona aeradora durante o mesmo período de tempo. O ponto de ajuste do OD é limitado entre 0,5 e 3 mg/L (de Ingildsen,
2002).
Exemplo: Controle de precipitação química um sistema de controle em malha fechada possa ser
estabelecido.
Em muitas ETEs e locais, a remoção de fósforo é
A precipitação química pode ser aplicada antes
obtida por meio de precipitação química. Os
ou depois da etapa de tratamento biológico,
processos de precipitação química são muito mais
denominada pré-precipitação e pós-precipitação,
rápidos do que as reações biológicas. Em
respectivamente. Os produtos químicos também
comparação com a escala de tempo das variações
podem ser adicionados diretamente ao tanque de
na vazão e composição do esgoto, pode-se
aeração, o que é conhecido como precipitação
presumir que a precipitação química ocorre
simultânea. Muitas plantas aplicam uma
instantaneamente. Isso representa um recurso útil
combinação desses diferentes tipos de precipitação.
do ponto de vista de controle e implica que a
Aqui, mostraremos que, com um sensor de fosfato
perturbação pode ser tratada rapidamente por meio
instalado, pode ser alcançado um excelente
do controle em malha fechada. No entanto, a
desempenho de controle usando um controlador em
questão desafiadora é a medição oportuna e
malha fechada simples, demonstrado aqui para um
confiável das variáveis-chave do processo para que
processo de pós-precipitação.
de regressão de 0,96. Isso significa que é possível certo de que a concentração total de fósforo
controlar o processo em direção a um determinado também estará em conformidade.
ponto de ajuste de fosfato e estar razoavelmente
Figura 15.15 A concentração de fosfato no efluente com controle de dosagem química com base em medições de fosfato in situ
(de Ingildsen, 2002).
alta complexidade do processo por modelos o bombeamento primário do esgoto afluente. Nesta
hierárquicos e modulares foi demonstrada em seção, enfatizaremos como o controle e a
várias aplicações da indústria de processo. automação podem reduzir a necessidade de energia
Consequentemente, sugere-se que os futuros elétrica. Discussões mais detalhadas sobre a
sistemas de controle de processos de água e esgoto necessidade de energia no tratamento de esgoto são
sejam baseados em princípios semelhantes. apresentadas em Olsson (2015, capítulos 15-19) e
em Capodaglio e Olsson (2020).
Para melhorar a confiabilidade de um sistema
de controle, um controle de fallback é essencial. O controle de OD foi discutido e agora é óbvio
Quando problemas graves ocorrem, por exemplo, que mesmo o controle de OD simples, com base em
falhas de atuador ou sensor, o sistema de controle apenas um sensor de OD, economizará muita
deve reagir a isso e aplicar uma estratégia de energia elétrica em comparação com nenhum
controle robusta que pode não ser ideal, mas evitará controle. Além disso, ter um ponto de ajuste
falhas de processo significativas. Uma vez que a variável no tempo da concentração de OD reduzirá
funcionalidade do equipamento tenha sido ainda mais o consumo de energia, conforme
restaurada, o sistema de controle pode mover o discutido na Seção 15.8. Existem outras
processo de volta para um estado operacional mais possibilidades para economizar energia no controle
eficiente. Para qualquer aplicação bem-sucedida de do OD. Por exemplo, a pressão do ar pode ser
controle, também é necessário que o processo seja minimizada. Suponha que a planta tenha dois ou
flexível o suficiente para permitir um grau razoável mais aeradores paralelos. O sistema de ar deve
de liberdade em termos de manipulação pelo fornecer ar suficiente para a planta. No entanto, às
sistema de controle. Naturalmente, qualquer novo vezes a pressão pode ser reduzida. Isso é notado se
processo deve ser projetado para tal flexibilidade, as válvulas de vazão de ar não estiverem totalmente
em vez de ter que ser sujeito a um redesenho caro abertas, o que causa uma queda de pressão nas
no futuro. Em muitas situações, este é um grande válvulas. A ideia é diminuir gradualmente a
gargalo para a implementação bem-sucedida de pressão do fluxo de ar para que a válvula de vazão
controle em sistemas de água e esgoto. de ar fique quase totalmente aberta. Isso minimiza
a queda de pressão e possibilita maior economia de
energia. Tais métodos de controle foram
15.9 ECONOMIA DE CUSTOS implementados; ver, por exemplo Olsson e Newell
OPERACIONAIS DEVIDO AO (1999).
CONTROLE
Bombas de grande capacidade, principalmente
O consumo de energia elétrica está para o esgoto afluente, costumam ser os
intimamente relacionado aos sistemas avançados equipamentos que mais demandam energia em uma
de tratamento de esgoto. O tratamento e a planta. Em muitos casos, o equipamento de
transferência de água e esgoto consomem grandes bombeamento não foi projetado para as vazões
quantidades de energia. As estimativas indicam adequadas. Se a bomba for sobre dimensionada, ela
que, em média, o tratamento de esgoto sozinho pode funcionar com um baixo nível de eficiência
requer cerca de 1-3% da produção total de energia para baixas vazões. Em alguns casos, é mais
elétrica de um país, o que representa uma fração econômico instalar uma bomba especial para
significativa das contas de energia municipais. A pequenas vazões. A bomba deve ser projetada para
utilização de energia das estações de tratamento funcionar no ponto de operação mais eficiente para
está na faixa de 20 a 45 kWh per capita da vazões mais comuns (Olsson, 2015, Capítulo 16).
população por ano. As plantas mais antigas podem
ter demandas ainda maiores. Este valor não inclui
Tabela 15.3 Os objetivos, medidas e alças de controle para uma operação com sistema combinado de coleta de águas pluviais
e esgoto.
Seguindo o desenvolvimento dos modelos, os variáveis estão hoje reunidas online nos sistemas
pesquisadores, junto com os operadores, SCADA de estações de tratamento e análises de
desenvolveram as tecnologias e a experiência dados com vários graus de sofisticação são
necessárias para o monitoramento on-line confiável componentes padrão da operação de tratamento e
de sistemas de coleta de esgoto, o que complementa monitoramento de qualidade. No entanto, a última
o monitoramento mais estabelecido de estações de função, que é o controle de processo, é menos
tratamento. O controle integrado já foi realizado na desenvolvida e frequentemente limitada a algumas
vida real, por exemplo na Holanda (Weijers et al., malhas de controle de processo de unidade. Deve-
2012), na Dinamarca (Grum et al., 2011) e na se notar que a operação da planta se torna sub-
Alemanha (Seggelke et al., 2013). Benedetti et al. otimizada com apenas controladores locais. O
(2013) apresentam uma revisão abrangente dos potencial da automação em toda a ETE é coordenar
desafios e soluções de integração. os vários processos da unidade para que os
requisitos gerais de desempenho sejam mais bem
atendidos. Ter sucesso com isso significa que a
15.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS automação obtém um terceiro propósito, além da
aquisição de informações e controle de processo.
Automação é o método de fazer um processo ou Isso pode ser chamado de otimização geral e é
sistema operar e se adaptar automaticamente. A realizado na operação integrada do ciclo
incerteza no processo ou no ambiente ao redor do hidrológico urbano. Nos últimos anos foram
processo torna a automação uma oportunidade e relatados desenvolvimentos encorajadores. É
um grande desafio. As perturbações estão por toda bastante evidente que a operação eficaz deve
parte e são a principal razão para o controle. Outra depender do funcionamento do equipamento.
razão é ser capaz de operar de forma ótima, e o Todos os elos da cadeia devem estar em
controle seria relevante mesmo se não houvesse funcionamento para obter um bom sistema
distúrbios. operacional. O hardware inclui não apenas a
instrumentação, mas também todos os vários
Pode-se dizer que a aplicação da automação na atuadores, como compressores, bombas, motores e
operação de tratamento de esgoto tem duas funções válvulas. Observe que, se todos os componentes
principais: aquisição de informações e controle de não estiverem funcionando o tempo todo,
processo. Para a primeira função, o nível de estratégias de fall-back devem ser implementadas.
automação é relativamente alto. Milhares de
adapte ao meio ambiente e à sociedade humana de soluções erradas ocasionalmente, devemos usar o
forma sustentável. Devemos tentar entender nossos "pensamento de malha fechada" para encontrar
sistemas de infraestrutura humana como uma parte uma maneira de aprender com nossas experiências.
integrante da natureza que habitamos. Precisamos A estrutura é sempre a mesma, enquanto as
sentir nosso ambiente, nossos sistemas e nosso uso medidas, as análises e as decisões são diferentes.
para ter certeza de que os três sistemas estão Isso envolve:
funcionando em sincronicidade. Na verdade,
devemos pensar em termos de "parceria com a • Fazendo uso de grandes quantidades de dados,
natureza" - sustentando, preservando, restaurando • Analisar os dados para se tornarem
e aprendendo com a natureza em todas as nossas informações confiáveis e úteis,
operações com água. Isso não está em conflito com • Esgotando as possibilidades da comunicação
o objetivo original de aplicar instrumentação, digital,
controle e automação (ICA) para tornar as • Usar o potencial dos métodos de controle e
operações mais baratas. É uma meta muito mais decisão em todos os níveis da operação.
elevada alcançar a verdadeira sustentabilidade e a
tarefa é muito mais complexa, exigindo uma Essas considerações também serão verdadeiras
compreensão mais profunda de nossos sistemas de no futuro bem distante: água é vida e devemos
infraestrutura, dos sistemas físicos e biológicos tratá-la com sabedoria. Como dissemos há mais de
naturais com os quais eles interagem e de nosso duas décadas e ainda devemos ter em mente
uso. (Olsson e Newell, 1998), “Nossas sociedades
precisarão de água e ar limpos. A sustentabilidade
Devemos pensar em termos de malha fechada não será apenas uma questão de custo. Na verdade,
em todos os níveis, desde o equipamento até a já é uma questão de sobrevivência em alguns
gestão de alto nível e as decisões estratégicas. Além países. Qual o papel do Sistema ICA neste
disso, observe que a realimentação deve ser usada desenvolvimento e como podemos enfrentar esse
para garantir nosso aprendizado contínuo. Quando desafio?” Este é o nosso desafio nos próximos
resolvemos problemas e implementamos as anos.
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NOMENCLATURA
Abreviação Descrição
DA Digestão anaeróbia
STA Sedimentação no tanque de aeração
DBO Demanda biológica de oxigênio
OD Oxigênio dissolvido
ICA Instrumentação, controle e automação
IWA International Water Association
IP Integral proporcional
PID Proporcional-integral-derivado
SCADA Supervisory control and data acquisition - Controle de supervisão e aquisição de dados
TRS Tempo de retenção de sólidos
AGV Ácido graxo volátil
Figura 15.16 Detalhe do sistema de medição e controle do tanque de aeração de lodo ativado (foto: D. Brdjanovic).
considerável sobre a configuração do respectivo excede 4.500; águas residuárias antes consideradas
sistema de tratamento de águas residuárias. Não não adequadas agora estão sendo tratadas pelo
surpreendentemente, até o momento, a tecnologia processo anaeróbio, tais como efluentes químicos
anaeróbia evoluiu de forma competitiva. Diversos contendo compostos tóxicos ou águas residuárias
tipos de contaminantes orgânicos presentes nas de composição complexa. Para os tipos mais
águas residuárias, mesmo aqueles que antes se extremos de águas residuárias, novos sistemas de
acreditava não são serem passíveis de degradação reatores de alta taxa têm sido desenvolvidos
via digestão anaeróbia, atualmente estão sendo conforme discutido na seção 16.7.2.
tratados por processos de conversão anaeróbios de
alta taxa. Analisando as razões pelas quais a tecnologia
anaeróbia foi selecionada, as seguintes vantagens
marcantes sobre sistemas convencionais de
tratamento aeróbio podem ser citadas:
Tabela 16.1 Aplicação mundial de tecnologia anaeróbia para tratamento de águas residuárias industriais. Número total de
reatores instalados registrados = 2.266, segundo levantamento em janeiro de 2007 (adaptado de van Lier, 2008).
Obviamente, o ranking exato das vantagens industrial ou às vezes até mesmo dentro dos
anteriores depende das condições econômicas e edifícios da fábrica onde o lodo foi produzido. Isso
sociais locais. Nos Países Baixos, o gerenciamento é de particular interesse em áreas densamente
do lodo excedente é o fator de custo determinante povoadas e para as indústrias que buscam recuperar
na operação dos sistemas de tratamento de águas a água do processo, utilizando o tratamento
residuárias. Uma vez que o aterro sanitário não é anaeróbio como primeiro passo de tratamento.
uma opção para a disposição de lodo de esgoto e O interesse renovado nos aspectos energéticos
resíduos orgânicos, e os preços para incineração da tecnologia anaeróbia resulta diretamente do
podem chegar a €400-500/tonelada de lodo úmido, aumento dos preços da energia, das preocupações
a baixa produção de lodo em reatores anaeróbios é com os combustíveis fósseis e da preocupação
um benefício econômico imediato. geral com o aquecimento global. As mais de 25
A compacidade do sistema, outro importante toneladas de DQO/d contidas no efluente da
ativo do processo anaeróbio, pode ser ilustrada por agroindústria podem ser convertidas em 7.000
um exemplo em larga escala, onde um reator m³CH4/d (assumindo 80% de recuperação de CH4),
anaeróbio com 6 m de diâmetro e uma altura de 25 com uma energia equivalente a aproximadamente
m é suficiente para tratar até 25 toneladas de DQO 250 GJ/d. Trabalhando com um moderno
diariamente. O lodo produzido, inferior a 1 equipamento de cogeração de eletricidade e calor
tonelada de matéria seca por dia neste exemplo, não (CHP), atingindo 40% de eficiência, pode-se
é considerado um resíduo, mas sim é alcançar a geração de 1,2 MW de energia elétrica
comercializado como lodo de inóculo para partida útil (Tabela 16.2). A recuperação geral da energia
de novos reatores. Tal compacidade torna o sistema pode ser ainda maior (chegando a até 60%) se todo
adequado para implantação dentro do parque o calor dos gases de exaustão puder ser usado nas
Tabela 16.2 Energia produzida e redução de emissão de CO2 aplicando sistemas anaeróbios de alta taxa para tratamento de
efluentes
podem ocorrer as chamadas reações reversas, como é o principal critério de projeto para digestores
a formação de AGVs de cadeia média ou álcoois a anaeróbios tratando substratos (semi-)sólidos e
partir de acetato e propionato. Essas reações águas residuárias com elevada proporção de
reversas podem tornar-se de particular importância SS/DQO, como efluentes de destilarias de etanol e
no caso de mau funcionamento ou perturbação do esgotos de baixa temperatura.
reator anaeróbio ou quando uma reação específica
é deliberadamente perseguida. Em aplicações A hidrólise pode ser definida como o processo
normais da tecnologia anaeróbia, ou seja, em que substratos poliméricos complexos,
desempenho estável do reator em condições particulados ou dissolvidos, são convertidos em
mesofílicas, o acetato é o principal precursor do compostos monoméricos e diméricos que são
CH4 (aproximadamente 70% do fluxo de DQO). É facilmente acessíveis para bactérias acidogênicas.
interessante observar que só há conversão de DQO Durante a digestão anaeróbia de substratos
e nenhuma destruição de DQO. A remoção de complexos, a hidrólise é geralmente o primeiro
DQO ocorre devido ao fato de que o produto final passo. Com a digestão de lodo biológico, como no
da cadeia de reação, CH4, é gasoso e altamente caso de lodo ativado excedente, a hidrólise é
insolúvel em água. precedida de decaimento e lise da biomassa. Em
alguns casos, uma etapa preparatória, ou seja, pré-
Na presença de aceptores alternativos de tratamento físico-químico ou cominuição, é
elétrons, como NO3 e SO42-, outros grupos aplicada para melhorar a etapa de hidrólise
bacterianos como desnitrificantes e redutoras de (Gonzalez et al., 2018). Os produtos da hidrólise
sulfato também estarão presentes no reator são os substratos para bactérias acidogênicas.
anaeróbio (ver Seção 16.4).
16.2.1.1 Hidrólise
Tabela 16.3 Reações acidogênicas tendo sacarose como substrato e as correspondentes energias livre de Gibbs (ΔGo') a 25 oC.
repentina de pH, quando os reatores são inibição, por sua vez, leva a um acúmulo ainda
sobrecarregados ou perturbados por compostos mais rápido de AGVs e queda subsequente de pH
tóxicos. Uma vez que a alcalinidade é consumida (Figura 16.4). O fato de que as acidogênicas ainda
pelos ácidos produzidos, então o pH começa a cair, estão ativas mesmo em pHs tão baixos como 4-5
resultando em uma maior concentração de AGVs significa que a acidificação do reator para pH 4-5
não dissociados, levando a uma inibição mais pode ocorrer e assim o será quando a capacidade
severa dos organismos metanogênicos. Esta metanogênica do sistema é excedida.
16.2.1.3 Acetogênese
[acetato].[CO2 ][H2 ]3
∆G′ = ∆G 0, + RT ln [propionato]
(16.4)
Estudos realizados com as conversões indicadas pelo ΔG’ positivo na Tabela 16.5. A
acetogênicas têm elucidado as associações estreitas partir desta tabela, depreende-se que as reações
necessárias entre as bactérias acetogênicas para o etanol, o butirato, o propionato e o AGCL
produtoras de H2 e os microrganismos palmitato não ocorrerão em condições padrão, pois
metanogênicos que consomem e regulam o nível o ΔG’ é positivo e, portanto, o rendimento
H2 em seu ambiente. Isso é de vital importância, energético bacteriano é negativo.
pois essas reações são termodinamicamente
desfavoráveis em altas concentrações de H2,
Tabela 16.5 Estequiometria e mudança de energia livre (ΔG’) para algumas reações acetogênicas, assumindo pH neutro,
temperatura de 25 °C e pressão de 1 atm (101 kPa). A água é considerada um líquido puro e todos os compostos solúveis têm
uma atividade de 1 mol/kg.
Composto Reação ΔG0’ Eq.
(kJ/mol)
Lactato CH3CHOHCOO- + 2H2O → CH3COO- + HCO3 - + H+ + 2H2 -4,2 (16.5)
Etanol CH3CH2OH + H2O → CH3COO- + H+ + 2H2 +9,6 (16.6)
Butirato CH3CH2CH2COO- + 2H2O → 2CH3COO- + H+ + 2H2 +48,1 (16.7)
Propionato CH3CH2COO- + 3H2O → CH3COO- + HCO3 - + H+ + 3H2 +76,1 (16.8)
Metanol 4CH3OH + 2 CO2 → 3CH3COOH + 2H2O -2,9 (16.9)
Hidrogênio-CO2 2HCO3 - + 4H2 + H+ → CH3COO- + 4H2O -70,3 (16.10)
Palmitato CH3-(CH2)14-COO- + 14H2O → 8CH3COO- + 7H+ + 14H2 +345,6 (16.11)
Figura 16.5 Energia livre em função da pressão parcial de H2. Um valor de ΔG’ negativo indica a possibilidade de ocorrência
das reações acidogênicas e metanogênicas referidas nesta seção.
Semelhante aos outros substratos acetogênicos, converter elevadas concentrações de óleos e graxas
a conversão de AGCL é altamente endergônica e (O&G) em metano (Figura 16.6) (Van Lier et al.,
muitas vezes limita todo o processo de digestão 2015).
(Novak e Carlson, 1970). Testes com reatores
anaeróbios de fluxo ascendente e manta de lodo
(UASB) têm sido apenas parcialmente bem-
sucedidos, pois AGCLs tendem a ser absorvidos
pelo lodo. Os aglomerados gordurosos de biomassa
resultantes mostraram apenas baixa ou nenhuma
atividade metanogênica, e o biogás produzido nas
partículas de lodo impregnadas de AGCLs
causaram flutuação do lodo e a perda da biomassa
com o efluente. Os reatores de leito expandido, nos
quais os AGCLs são mais uniformemente
distribuídos sobre a biomassa disponível, têm sido
mais bem-sucedidos (Rinzema, 1988). A força de
flutuação do biogás retido no lodo anaeróbio
impregnado de AGCLs também pode ser usada
para separar o lodo do efluente, por meio da
instalação de um dispositivo de flotação dentro do
Figura 16.6 Representação esquemática do reator
reator anaeróbio. Dessa forma, o efluente é
Biopaq®AFR para tratamento de efluentes ricos em óleos
clarificado, ao mesmo tempo em que o lodo
e graxas (O&G), no qual a separação do lodo é baseada na
metanogênico ativo é retido no bioreator. A
flotação do lodo. Esses reatores operam tanto com lodo
empresa holandesa Paques desenvolveu este reator
granular como com lodo floculento
anaeróbio de flotação, o Biopaq®AFR, para
Tabela 16.6 Reações metanogênicas mais importantes, as energias livres de Gibbs correspondentes (ΔG’), e algumas
propriedades cinéticas.
Etapa funcional Reação ΔG0’ μmáx Td KS Eq.
(kJ/mol) 1/d d mgDQO/L
Metanogênese CH3 - COO- + H2O → CH4 + HCO3- -31 0,12a) 5,8a) 30a) (16.12)
acetoclástica1) 0,71b) 1,0b) 300b)
Metanogênese CO2 + 4H2 → CH4 + 2H2O -131 2,85 0,2 0,06 (16.11)
hidrogenotrófica
1)
Duas metanogênicas acetoclásticas com diferentes propriedades cinéticas, pertencentes a aMethanosaeta spec. e bMethanosarcina
spec.
variedade de compostos orgânicos nas águas menores são obtidas para o teste de DBO
residuárias, é impraticável e geralmente também anaeróbio, devido ao crescimento celular
impossível determinar esses compostos significativamente menor sob condições
separadamente. Para quantificar a poluição anaeróbias. Esforços para padronizar esses testes
orgânica na prática, considera-se o fato de que estão sendo feitos atualmente em vários
esses contaminantes podem ser oxidados por laboratórios (Holliger et al., 2016).
agentes fortemente oxidantes. Na prática da
engenharia de tratamento de águas residuárias, são No teste padronizado de DQO, que geralmente
aplicados dois testes padronizados baseados na utiliza dicromato como agente oxidante a uma
oxidação da matéria orgânica: o teste de demanda temperatura elevada (150 oC), (quase) todos os
bioquímica de oxigênio (DBO) e o teste de compostos orgânicos são completamente oxidados
demanda química de oxigênio (DQO) (Capítulo 3). a CO2 e H2O. Por outro lado, o nitrogênio
Em ambos os testes, o material orgânico é oxidado organicamente ligado presente nesses compostos
e a quantidade de oxigênio consumida representa o permanece reduzido e é convertido em NH3. Da
valor do parâmetro. O teste de DBO refere-se à mesma forma, a matéria orgânica contendo sais
quantidade bioquímica de oxigênio exigida pelos quaternários de amônio, como a betaína (trimetil-
organismos aeróbios para oxidar a matéria glicina), também permanece reduzida e, portanto, é
orgânica. O valor da DBO está, portanto, 'invisível' no teste de DQO.
intimamente relacionado com a
biodegradabilidade. Para aplicação no tratamento O carbono orgânico total (COT) é outra medida
anaeróbio, é preferível usar algum tipo de teste utilizada, mas é um parâmetro muito menos útil,
padronizado de biodegradabilidade anaeróbia em uma vez que o estado de redução do carbono não é
vez do teste de DBO aeróbio convencional medido. A concentração de carbono orgânico é
(Spanjers e Vanrolleghem, 2016). Em um teste medida na forma de dióxido de carbono após a
anaeróbio, uma amostra da água residuária é incineração do material orgânico presente em uma
exposta a uma quantidade disponível de lodo amostra de água residuária. Correções devem ser
anaeróbio e a quantidade total de CH4 produzida feitas para o carbono inorgânico, originalmente
após a conclusão do processo de digestão é presente na amostra. O valor teórico de um
determinada e, em seguida, relacionada à composto puro segue da Eq. 16.14:
quantidade de matéria orgânica presente na
amostra de água residuária. Como uma certa COTt =12n/(12n+a+16b+14d)
quantidade de CH4 é equivalente a uma certa (gCOT/gCnHaObNd) (16.14)
quantidade de DQO, podemos então determinar a
DBOanaeróbia, ou a quantidade máxima de CH4 que
16.3.1 DQO
pode ser produzida por quantidade de matéria
orgânica. Este último teste é mais conhecido como A DQO representa, sem dúvida, o parâmetro mais
o potencial biometanogênico, ou teste BMP importante para medir a concentração de
(Holliger et al., 2016). contaminantes nas águas residuárias,
particularmente as de origem industrial. Esta
Uma vez que geralmente nem todos os característica na qual a matéria orgânica é quase
poluentes orgânicos são biodegradáveis e também completamente oxidada torna o teste de DQO
parte do substrato orgânico será usado para síntese muito adequado para avaliar os balanços de DQO.
celular, o valor da DBO é, geralmente, Cálculos da DQO do substrato e da quantidade
substancialmente menor do que o valor da DQO. teórica de metano produzido são apresentados a
Esse é particularmente o caso para o teste seguir.
convencional de DBO aeróbio, mas diferenças
A DQO de um composto orgânico CnHaOb pode A razão entre os valores de DQO e COT é
ser facilmente calculada com base na reação de calculada a partir de:
oxidação química, assumindo uma oxidação
completa: DQO/COT = 8(4n + a − 2b − 3d)/(12 n ) = 8/3 +
2(a − 2b − 3d)/(3n)
CnHaOb + ¼ (4n+1−2b)O2 → nCO2 +(a/2)H2O (16.19)
(16.15)
A Tabela 16.7 lista os valores calculados de
A Eq. 16.15 mostra que 1 mol de material DQO por unidade massa para uma série de
orgânico demanda 1/4·(4n + a - 2b) mols de O2 ou compostos orgânicos do tipo CnHaObNd. No caso de
8·(4n + a - 2b) gO2. Assim, a demanda teórica de compostos fortemente reduzidos, por exemplo,
oxigênio de material orgânico pode ser expressa metano, a DQO equivalente é elevada. Utilizando
como: Eq. 16.17, pode-se calcular a DQO para o metano
(CH4 i.e., n=1, a=4, b=0, d=0):
DQOt =8(4n+a−2b)/(12n+a+16b)
(gDQO/gCnHaOb) (16.16) DQOCH =8(41 + 4 − 20 − 30)/(121 + 4 + 160 +
4
140) = 4 gDQO/gCH4
Obviamente, com compostos contendo (16.20)
nitrogênio (proteínas e aminoácidos), a Eq. 16.16
precisa ser corrigida para o número de elétrons A razão DQO/COT difere substancialmente
que permanecerão com o N e o peso total de N no para os vários compostos, a qual se relaciona com
composto. as diferenças no estado médio de oxidação do
carbono orgânico (C-ox). O C-ox pode variar de -
DQOt =8(4n+a−2b−3d)/(12n+a+16b+14d) 4, o estado mais reduzido de carbono, como
(gDQO/gCnHaObNd) (16.17) encontrado no CH4, até +4, o estado mais oxidado,
como encontrado no CO2. A figura 16.9 retrata o
A DQO equivalente de um composto orgânico C-ox para uma série de compostos. Uma vez que
pode ser rapidamente avaliada com base na reação durante a digestão anaeróbia o C-ox médio
de oxidação completa. Da equação de oxidação permanecerá o mesmo, a composição teórica
química para o ácido acético, CH4/CO2 do biogás produzido está linearmente
correlacionada com o estado médio C-ox daquele
CH3COOH + 2O2 → 2CO2 + 2H2O composto (Tabela16.7).
(16.18)
Quanto menor o C-ox médio em um composto
Tem-se que 1 mol (60 gramas) de ácido acético (ou seja, quanto mais negativo), mais oxigênio
requer 2 mols (64 gramas) de oxigênio. Isso pode ser ligado ao composto, e, portanto, maior o
significa que 1 grama de ácido acético requer 64/60 seu valor de DQO e maior o seu BMP.
(1,067) grama de oxigênio e, consequentemente, 1
grama de ácido acético corresponde a 1,067 grama
de DQO.
Figura 16.9 Composição teórica do biogás produzido em relação ao estado médio de oxidação do carbono em substratos
específicos, assumindo a completa mineralização do substrato
Tabela 16.7 Valores estequiométricos de DQO e COT por unidade de massa para diferentes compostos orgânicos CnHaObNd,
valores DQO/COT, estados médios de oxidação para esses compostos, e % estimada de CH 4 no biogás.
Composto n a b d gDQO/ gCOT/ DQO/ C-ox CH4 %
gCnHaObNd gCnHaObNd COT
Metano 1 4 0 0 4,00 0,75 5,33 -4,00 100,0
Etano 2 6 0 0 3,73 0,8 4,67 -3,00 87,5
Metanol 1 4 1 0 1,50 0,38 4,00 -2,00 75,0
Ciclohexano 6 12 0 0 3,43 0,86 4,00 -2,00 75,0
Etileno 2 4 0 0 3,43 0,86 4,00 -2,00 75,0
Ácido palmítico 16 32 2 0 3,43 0,75 3,83 -1,75 72,0
Acetona 3 6 1 0 2,21 0,62 3,56 -1,33 67,0
Etilenoglicol 2 6 2 0 1,29 0,39 3,33 -1,00 62,5
Benzeno 6 6 0 0 3,08 0,92 3,33 -1,00 62,5
Betaína 5 11 2 1 1,64a) 0,51 3,20 -0,80 60,0
Glicerina 3 8 3 0 1,22 0,39 3,11 -0,67 58,0
Fenol 6 6 1 0 2,38 0,77 3,11 -0,67 58,0
Lisina 6 14 2 2 1,53 0,49 3,11 -0,67 58,0
Fenilanina 9 11 2 1 1,94 0,65 2,96 -0,44 56,0
Insulina 254 377 75 65 1,45 0,53 2,72 -0,08 51,0
Glicose 6 12 6 0 1,07 0,4 2,67 0,00 50,0
Ácido lático 3 6 3 0 1,07 0,4 2,67 0,00 50,0
Ácido acético 2 4 2 0 1,07 0,4 2,67 0,00 50,0
Ácido cítrico 6 8 7 0 0,75 0,38 2,00 1,00 37,5
Glicina 2 5 2 1 0,64 0,32 2,00 1,00 37,5
Ácido fórmico 1 2 2 0 0,35 0,26 1,33 2,00 25,0
Ácido oxálico 2 2 4 0 0,18 0,27 0,67 3,00 12,5
Dióxido de 1 0 2 0 0,00 0,27 0,00 4,00 0,0
cloro
a)
DQO calculada. Teorético: com o teste de DQO padronizado de dicromato nenhuma DQO será medida .
Como calcular o estado de oxidação do carbono O estado médio de oxidação C-ox e, dessa
(C-ox)? Durante o teste de DQO, o N permanece forma, a DQO, não serão alterados durante a
reduzido e o N-orgânico é convertido em N-NH3. digestão anaeróbia. Portanto, a DQO, e não o COT,
Consequentemente, o N utiliza 3 elétrons. Um é geralmente usada para quantificar os orgânicos,
átomo de H fornece um elétron e um átomo de O uma vez que a DQO pode então ser usada para
tomará dois elétrons, então o estado médio de realizar um balanço de massa no reator anaeróbio
oxidação C-ox em um composto CnHaObNd é (ver também seção 16.5). Para prever a quantidade
calculado como a seguir: relativa de CH4 no biogás produzido quando a
composição exata da matéria orgânica é
C-ox = (2b − a + 3d)/n (16.21) desconhecida, a razão DQO/COT é uma ferramenta
muito útil, pois isso se assemelha ao C-ox médio.
Uma vez que o C-ox do carbono totalmente Na verdade, a razão DQO/COT está linearmente
oxidado é +4 (CO2), o número de elétrons liberados correlacionada com o C-ox médio e, portanto, com
por átomo C na oxidação completa de CnHaObNd o conteúdo CH4 esperado no biogás (Figura 16.10).
equivale a:
(16.24)
Na presença de aceptores inorgânicos de
elétrons específicos, como os ânions oxigenados,
Se o composto (CnHaObNd) for completamente
sulfato ou sulfito, a produção de metano
biodegradável e for inteiramente convertido pelos
diminuirá, enquanto os ânions oxigenados serão
organismos anaeróbios (sem crescimento de lodo)
reduzidos, como, por exemplo, mostram as
em CH4, CO2 e NH3, a quantidade teórica de gás
reações seguintes:
metano (e CO2) produzida pode ser calculada
usando a equação de Buswell:
10H + 2H+ + 2NO3− → N2 + 6H2O
CnHaObNd + (n − a/4 − b/2 + 3d/4)H2O → (n/2 +
a/8 − b/4 − 3d/8)CH4 +(n/2 − a/8 + b/4 + (16.26)
3d/8)CO2 + dNH3
(16.25) 8H + SO42− → H2S + 2H2O + 2OH−
(16.27)
Tabela 16.8 Estequiometria e energia livre ΔG’ (kJ/mol de substrato) da conversão de hidrogênio e acetato sob diferentes
condições
Reação ΔG0’ (kJ/mol substrato) Eq.
Aeróbia
H2 + 0,5 O2 → H2O -237 (16.28)
CH3COO- + 2O2 → 2HCO3 - + H+ -844 (16.29)
Desnitrificante
H2 + 0,4 NO3 - + 0,4H+ → 0,2N2 + 1,2H2O -224 (16.30)
CH3COO- + 1,6NO3 - + 0,6H+ → 2HCO3 - + 0,8N2 + 0,8 H2O -792 (16.31)
Bactéria redutora de Fe3+
H2 + 2 Fe3+→2Fe2+ + 2H+ -228 (16.32)
-352 (16.33)
Bactéria redutora de sulfato
H2 + 0,25SO4 2- + 0,25H+ → 0,25HS- + H2O -9,5 (16.34)
CH3COO- + SO4 2- → HS- + 2HCO3 - -48 (16.35)
Metanogênica
H2 + 0,25HCO3 - + 0,25H+ → 0,25CH4 + 0,75H2O -8,5 (16.36)
CH3COO- + H2O → CH4 + HCO3 - -31 (16.37)
aeróbio, por exemplo, crescimento exacerbado Hansen, 1992). As cepas Desulfovibrio têm sido
de algas em lagoas ou ocorrência de reportadas como capazes de reduzir di-, tri-e tetra-
intumescimento filamentoso em sistemas de thionato (Fitz e Cypionka, 1990). Uma habilidade
lodo ativado. Assim, pode ser necessário um única de algumas BRS, por exemplo, Desulfovibrio
sistema extra de pós-tratamento para remover o dismutans e Desulfobacter curvatus, é a
sulfeto contido no efluente do reator anaeróbio. desmutação de sulfito ou tiossulfato (Widdel e
Hansen, 1992):
Com base no consumo de substratos, as BRS
podem ser classificadas nos seguintes três grupos: 4SO32− + H+ → 3SO42− + HS− (16.41)
Se o SO42- estiver presente na água residuária, lado, estão disponíveis no mercado diversas
a redução do SO42- pelas BRS não poderá ser soluções tecnológicas que reduzem a concentração
evitada. Várias tentativas foram feitas para tentar de H2S no reator anaeróbio para minimizar a
direcionar a competição para um sistema de reator toxicidade para arqueias metanogênicas (Figura
único, mas não foram bem-sucedidas. Por outro 16.11).
Figura 16.11 Soluções tecnológicas para reduzir a concentração de H2S em reatores anaeróbios. (A) Dessorção aprimorada de
H2S via recirculação do biogás e dessorção de sulfeto na linha de gás; (B) remoção de H 2S em um sistema de pós-tratamento
(micro)aeróbio e recirculação do efluente tratado para o afluente do reator anaeróbio para diluição; e (C) a maior parte do
H2S será desprendida na etapa de acidificação devido à prevalência do pH baixo.
Tabela 16.9 As várias frações de DQO e seu destino em um reator anaeróbio. O número de pontos indica a importância relativa
da fração DQO indicada no respectivo compartimento (afluente, efluente, lodo, biogás).
muito elevadas, mas baixas taxas de produção de de sistemas de tratamento anaeróbio de alta taxa na
CH4 levam a enormes lacunas no balanço. Neste década de 1970 (Hulshoff Pol et al., 2004; Van Lier
exemplo, a lacuna de DQO indica potenciais et al., 2015). A imobilização pode ocorrer em
problemas operacionais graves a longo prazo. material suporte inerte instalado em uma matriz
Eventualmente, o acúmulo de gorduras e/ou outros fixa em filtros anaeróbios, que são operados tanto
sólidos inertes deteriorará a AME do lodo, e em fluxo ascendente como descendente. A matriz
O&G/AGCL absorvido no lodo pode resultar em também pode ser livre e flutuante, como em
flutuação de lodo e perda com o efluente. A biorreatores de leito móvel e de leito fluidizado. Se
diminuição da biomassa ativa pode levar à falha nenhum material suporte inerte for usado, ocorrerá
completa do processo anaeróbio de alta taxa. uma "autoimobilização", que é entendida como a
imobilização de bactérias em si mesmas em
Operar um reator anaeróbio usando o balanço conglomerados bacterianos, ou em partículas
de DQO como ferramenta para monitorar o inertes ou orgânicas muito pequenas presentes na
desempenho do reator fornece ao operador água residuária. Os conglomerados bacterianos
informações vitais sobre o funcionamento do amadurecerão no devido tempo e formarão um lodo
sistema. Ações adequadas podem ser realizadas granular de forma arredondada.
antes que ocorra uma deterioração irreversível.
Ademais, o impacto dos aceptores de elétrons Com relação à imobilização, particularmente o
alternativos na taxa de produção de CH4 pode ser fenômeno da granulação de lodo anaeróbio tem
facilmente avaliado enquanto, com base na desafiado muitos pesquisadores de áreas muito
produção de gás e nos valores de DQO do diferentes. A granulação, na verdade, é um
efluente, uma estimativa pode ser feita da processo completamente natural e ocorrerá em
quantidade de biomassa nova formada e retida. todos os sistemas onde as condições básicas para
sua ocorrência são atendidas, ou seja,
16.6 IMOBILIZAÇÃO E GRANULAÇÃO DE principalmente com substratos solúveis e em
LODO reatores operados com fluxo ascendente e com
tempos de detenção hidráulica (TDH) inferiores ao
A chave para a moderna biotecnologia de alta taxa, tempo de duplicação bacteriana. Devido à taxa de
seja qual for o sistema de tratamento considerado, crescimento muito baixa dos cruciais organismos
é a imobilização de microrganismos adequados. Na metanogênicos acetoclásticos, particularmente em
verdade, a necessária retenção elevada de biomassa condições sub-ótimas, as últimas condições são
em sistemas de tratamento anaeróbio baseia-se na facilmente atendidas. A formação de grânulo
imobilização, o que geralmente leva à formação de anaeróbio é observada principalmente em
consórcios microbianos bem equilibrados. A bioreatores anaeróbios que são operados com fluxo
presença desses consórcios é considerada um pré- ascendente (Hulshoff Pol et al., 2004). No entanto,
requisito para a adequada operação do processo a granulação bem-sucedida também tem sido
anaeróbio, especialmente considerando a observada em reatores anaeróbios em batelada
ocorrência de diversas reações de conversão sequenciais (Sung e Dague, 1995; Wirtz e Dague,
sintrófica na degradação anaeróbia da maioria dos 1996). Talvez pela primeira vez desde a década de
compostos orgânicos, o efeito prejudicial de 1950, foi observada a ocorrência da granulação de
concentrações mais elevadas de intermediários lodo em decanto-digestores Dorr Oliver de fluxo
específicos e o grande efeito de fatores ambientais reverso, na África do Sul. No entanto, isso só se
como pH e potencial de redox. Avanços tornou evidente pela observação de amostras de
significativos no conhecimento dos fundamentos lodo colhidas de tal digestor em 1979 (Lettinga,
do processo de imobilização têm sido feitos desde 2014). Enquanto estudavam a partida e a
o desenvolvimento e implementação bem-sucedida viabilidade dos filtros anaeróbios de fluxo
Tabela 16.10 Proposta para definição e características de lodo granular de boa qualidade (Fotos: Paques B.V.)
Exemplos de lodo granular Características de lodo granular de boa qualidade
Atividade metabólica:
Ao mesmo tempo, Buswell et al. (1932) passou detenção da biomassa e do líquido a ser tratado são
a adotar a mesma tecnologia para tratamento de desacopladas. Em processos anaeróbios, a carga
efluentes líquidos, considerando despejos máxima permitida de DQO é governada pela
industriais. Todos esses sistemas podem ser quantidade de biocatalisadores anaeróbios
caracterizados como de baixa taxa, uma vez que (microrganismos viáveis) que estão em contato
nenhum recurso especial foi incluído no projeto com os constituintes das águas residuárias
para aumentar a capacidade catabólica anaeróbia. (substrato). Em contraste, nos processos aeróbios,
Logo, a viabilidade desses sistemas era muito a carga de DQO permissível é determinada pela
dependente da taxa de crescimento dos consórcios taxa de transferência máxima do aceptor de
microbianos anaeróbios. Como resultado, os elétrons, ou seja, de oxigênio. Elevadas
reatores eram muito grandes e frágeis em operação. concentrações de lodo em sistemas anaeróbios de
Além disso, uma lagoa anaeróbia pode ser alta taxa são obtidas por retenção física e / ou
considerada um sistema de tratamento anaeróbio de imobilização do lodo anaeróbio. Maiores
baixa carga. Lagoas anaeróbias são frequentemente concentrações de biomassa permitem a aplicação
construídas em conjunto com lagoas facultativas e de elevadas cargas volumétricas de DQO, ao passo
de maturação. As cargas orgânicas aplicadas às que se mantém elevado tempo de retenção celular
lagoas anaeróbias variam entre 0,025-0,5 kgDQO / (idade do lodo) e tempos de detenção hidráulica
m3.d, com profundidades usualmente em torno de relativamente curtos. Nas últimas quatro a cinco
4 m. A principal desvantagem das lagoas décadas, várias configurações de reatores
anaeróbias são os problemas relacionados a anaeróbios de alta taxa foram desenvolvidas com
emissões odorantes, pois esses sistemas podem ser base em diferentes mecanismos de retenção de
facilmente sobrecarregados. No entanto, a perda do lodo, como o reator anaeróbio de contato, o filtro
gás metano (CH4) para a atmosfera, rico em energia anaeróbio (FA), o reator anaeróbio de fluxo
e com elevado potencial de aquecimento global, ascendente e manta de lodo (UASB), o reator de
também é uma desvantagem reconhecida. leito fluidizado, o reator de leito granular
expandido (EGSB), o reator de circulação interna
16.7.1 Sistemas anaeróbios de alta taxa (IC), o reator anaeróbio compartimentado, os
reatores de alta taxa acoplados a membrana, e os
Um dos maiores sucessos no desenvolvimento do reatores de mistura completa (CSTR) acoplados a
tratamento anaeróbio de águas residuárias foi a membranas. Os últimos são mais conhecidos como
introdução dos reatores de alta taxa, nos quais a biorreatores anaeróbios de membrana (AnMBR)
(por exemplo, Dereli et al., 2012).
Figura 16.14 Capacidades de carga relativas de diferentes sistemas anaeróbios. As cargas máximas aplicadas em condições de
escala plena chegam a aproximadamente 40 kgDQO/m³.d aplicando contato aprimorado em versões avançadas de sistemas
de leito de lodo granular expandido.
Para assegurar a aplicação de elevadas cargas por uma grande variedade de organismos
orgânicas em um reator anaeróbio para o diferentes (ver Seção 16.2). A (co)existência de
tratamento de uma água residuária específica, as nichos dentro do sistema é um pré-requisito
seguintes condições devem ser atendidas: absoluto para a conversão total do substrato.
Dependendo do tipo de substrato, grânulos
• Elevada retenção de lodo quando em operação. anaeróbios e / ou biofilmes são caracterizados
• Contato suficiente entre os microrganismos por diversidades filogenéticas, distribuições
viáveis e a água residuária. espaciais e atividades localizadas de bactérias e
• Elevadas taxas de reação e ausência de arqueias. Por exemplo, apesar das
limitações de transporte de massa, tanto em concentrações relativamente altas de H2 na
termos de substratos como de produtos de massa líquida, a pressão parcial de H2 no
reação (intermediários). interior dos biofilmes e grânulos é mantida a
• A biomassa viável deve ser suficientemente um nível muito baixo para permitir que mesmo
adaptada e / ou aclimatada. Considerando as reações acetogênicas muito endergônicas
baixas taxas de crescimento microbiano em ocorram, a tomar pela oxidação do propionato.
condições anaeróbias e, portanto, a elevada
idade do lodo, a adaptação da biomassa pode A Figura 16.14 ilustra o desenvolvimento de
levar longos períodos de tempo. reatores de alta taxa e o impacto da retenção
• Prevalência de condições ambientais aprimorada de lodo e do melhor contato entre
favoráveis para todos os organismos microrganismo e substrato quanto às cargas
necessários dentro do reator sob todas as orgânicas aplicáveis. Embora os primeiros testes
condições operacionais impostas, com foco nas efetuados por Buswell não tenham atingido cargas
etapas de processo limitantes. Deve-se orgânicas da ordem de 1 kg DQO/ m³.d, os sistemas
enfatizar que esta condição não significa que as anaeróbios modernos são oferecidos no mercado
circunstâncias devam ser semelhantes em para cargas orgânicas superiores a 40 kg DQO/
qualquer local dentro do reator e em qualquer m³.d.
momento. A digestão anaeróbia é caracterizada
Até o presente, os processos anaeróbios são 16.7.2 Reatores anaeróbios de estágio único
encontrados preponderantemente como tecnologia
de tratamento de fim de linha para águas residuárias 16.7.2.1 Reatores anaeróbios de contato
oriundas de agroindústrias e do processamento de
alimentos. A Tabela 16.1 relaciona os diversos Seguindo o desenvolvimento histórico dos reatores
setores industriais onde os 2.266 reatores de alta taxa, os reatores anaeróbios de contato
inventariados no ano de 2007 foram instalados. representam a primeira configuração em que o
Deve-se notar que o número atual de reatores tempo de residência celular (idade do lodo) foi
anaeróbios de alta taxa operando em escala plena desacoplado do tempo de detenção hidráulica
excede 4.000 unidades (Van Lier et al., 2015). (TDH). A concentração de biomassa no reator foi
Além das aplicações tradicionais, o número de aumentada empregando-se um decantador
reatores anaeróbios em escala plena fora do setor secundário com recirculação de lodo, semelhante
de processamento de alimentos também cresceu ao seu homólogo aeróbio (Fig.16.15).
rapidamente. Exemplos comuns são efluentes de
fábricas de papel e águas residuárias de indústrias
químicas, como as que contêm formaldeído,
benzaldeídos, tereftalatos etc. (p. ex.: Razo-Flores
et al., 2006). É interessante notar que os reatores
anaeróbios estejam sendo empregados para o
tratamento de águas residuárias de indústrias
químicas em larga escala, uma vez que a tecnologia
Figura 16.15. Processo de contato anaeróbio, equipado
anaeróbia não foi amplamente aceita por estas
com floculador ou desgaseificador para potencializar a
indústrias, devido a preconceitos gerais contra o
sedimentação do lodo no decantador secundário.
tratamento biológico e, em particular, o processo
anaeróbio. No que diz respeito aos compostos
O primeiro relato acerca de um reator anaeróbio
químicos, é interessante mencionar que certas
de contato foi para o tratamento de efluentes
substâncias, tais como poli cloro-aromáticos e poli
diluídos da indústria de processamento de carne,
nitroaromáticos, bem como as ligações azo-
que possuem DQO de aproximadamente 1.300 mg/
corante, só podem ser degradadas quando uma
L (Schroepfer et al., 1955). No entanto, várias
etapa de redução (anaeróbia) é introduzida no
versões da primeira geração de sistemas de
fluxograma de tratamento. Os processos
tratamento anaeróbio de alta taxa para águas
anaeróbios são, portanto, complementares aos
residuárias de concentração intermediária não
aeróbios para se atingir o tratamento completo
tiveram muito sucesso. Na prática, a principal
destas águas residuárias.
dificuldade era a má separação do lodo anaeróbio
do efluente tratado no decantador secundário. A
Os atuais processos anaeróbios de alta taxa
formação de biogás e sua fixação às partículas
também são capazes de tratar águas residuárias em
sólidas durante a etapa de sedimentação foram
baixas temperaturas e com baixa concentração de
outros problemas cruciais (Rittmann e McCarty,
matéria orgânica. Além do esgoto sanitário no caso
2001). A má separação do lodo foi atribuída à
de regiões de clima temperado, muitas águas
agitação muito intensa aplicada no biorreator,
residuárias industriais são lançadas a baixas
culminando em partículas de lodo muito pequenas
temperaturas, a exemplo das águas servidas da
com baixa capacidade de sedimentação. Além
indústria cervejeira. O potencial de aplicação dos
disso, a supersaturação de gases solubilizados
processos anaeróbios ainda está se expandindo e
resultava em forças de arraste para a superfície do
novas configurações de reatores estão sendo
decantador. A ideia da mistura intensificada era
desenvolvidas para ampliar o campo de aplicação.
garantir um contato otimizado entre o lodo e o descendente (Young e Yang, 1989). Vários tipos de
efluente. Os reatores anaeróbios de contato meio suporte sintéticos, bem como materiais
modernos aplicam condições de mistura muito naturais, como cascalho, coque e segmentos de
mais suaves e as unidades de desgaseificação são bambu, têm sido investigados para serem usados
frequentemente instaladas antes da etapa de em filtros anaeróbios. Resultados de pesquisas
decantação secundária. De fato, os reatores indicam que a forma, o tamanho, o peso, a área
anaeróbios de contato modernos são superficial específica e a porosidade do meio
consideravelmente eficazes para o tratamento de suporte são aspectos importantes, bem como as
águas residuárias concentradas, com elevado teor propriedades de aderência à superfície no que diz
de sólidos em suspensão. Dessa forma, estes respeito à fixação bacteriana. Os filtros anaeróbios
reatores têm uma participação de mercado com adequado meio suporte podem ser
consolidada dentre os sistemas anaeróbios de alta comissionados rapidamente, devido à aderência
taxa aplicados em escala plena (Van Lier, 2008). Se eficiente dos microrganismos anaeróbios ao
bem projetados, os reatores anaeróbios de contato material inerte. Essa facilidade de inicialização do
modernos podem atingir tolerar cargas orgânicas sistema foi o principal motivo de sua popularidade
da ordem de 10 kg DQO/ m³.d. No entanto, os nas décadas de oitenta e noventa. No entanto, os
efluentes destes reatores requerem uma etapa de filtros anaeróbios de fluxo ascendente tendem a ter
tratamento subsequente para cumprir com mais problemas do que outros sistemas durante
restrições de lançamento. uma operação de longo prazo. A principal
desvantagem da tecnologia é a dificuldade em
16.7.2.2 Filtros anaeróbios manter o contato necessário entre o lodo e a água
residuária, posto a corriqueira colmatação. Esta
Um método alternativo de retenção de lodo foi situação é particularmente o caso de águas
encontrado a partir da utilização de um material residuárias parcialmente solúveis. Tais problemas
suporte inerte, no qual os microrganismos de colmatação podem obviamente ser superados
anaeróbios podem crescer aderidos. Enquanto os (pelo menos parcialmente) pela aplicação de um
primeiros filtros anaeróbios já eram aplicados no decantador primário e / ou uma etapa de pré-
século 19 (McCarty, 2001), a utilização para acidificação (Seyfried, 1988). No entanto, isso
tratamento de águas residuárias industriais requer a construção e operação de unidades
começou na década de 1960 nos Estados Unidos adicionais. Para além dos custos mais elevados,
(Young e McCarty, 1969; Young, 1991). Os filtros esta possibilidade não elimina completamente o
anaeróbios, também denominados de processo de problema de curto-circuito hidráulico (colmatação
leito fixo, foram desenvolvidos como um sistema do meio suporte), culminando em eficiências de
de biofilme no qual a biomassa é retida, baseando- tratamento mais reduzidas.
se nos seguintes aspectos:
A tecnologia de filtros anaeróbios tem sido
• a fixação de um biofilme a um meio suporte amplamente aplicada no tratamento de águas
sólido (estacionário), residuárias das indústrias de bebidas,
• o aprisionamento de partículas de lodo entre os processamento de alimentos, farmacêutica e
interstícios do material de suporte, e química devido à sua alta capacidade de retenção
• a sedimentação e formação de agregados de de lodo (Ersahin et al., 2011). Desde 1981,
lodo que apresentam uma velocidade de aproximadamente 140 instalações de filtros
sedimentação elevada. anaeróbios de fluxo ascensional em escala plena
foram colocadas em operação para o tratamento de
A tecnologia de filtros anaeróbios pode ser vários tipos de águas residuárias, o que representa
aplicada em configuração de fluxo ascendente e
Figura 16.16. Tecnologias anaeróbias implementadas para águas residuárias industriais considerando o período de 1981-2007
(à esquerda) e o período de 2002-2007 (à direita). Reator UASB: reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo; IC®:
reator de circulação interna, um tipo de sistema EGSB com hidrodinâmica movida a biogás; EGSB: reator de leito de lodo
granular expandido; FA: filtro anaeróbio; CSTR: reator de mistura completa; LAG: lagoa anaeróbia; HYBR: sistema híbrido
combinado com leito de lodo na seção inferior e filtro na parte superior; FB: reator de leito fluidizado (Van Lier, 2008).
As experiências com o sistema são anaeróbios são ocasionalmente operados sob fluxo
razoavelmente satisfatórias, aplicando-se cargas descendente, referidos como reatores de filme fixo
orgânicas volumétricas modestas a relativamente de fluxo descendente. Vários modos de operação e
elevadas, da ordem de 10 kg DQO/ m³.d. Os filtros tipos de meio suporte foram investigados, mas a
anaeróbios de fluxo ascendente permanecerão aplicação em escala plena encontra barreiras. O
atraentes principalmente para o tratamento de fator limitante é a baixa carga orgânica volumétrica
águas residuárias de natureza solúvel, aplicável devido à quantidade restrita de biomassa
particularmente quando o processo de granulação que pode ser retida em tal sistema, uma vez que se
do lodo não ocorrer de forma satisfatória. No baseia principalmente na adesão da biomassa à
entanto, os problemas de longo prazo relacionados superfície do meio suporte; em um filtro anaeróbio
à colmatação do sistema e à estabilidade do meio de fluxo ascendente, a atividade anaeróbia é
suporte causaram um declínio no número de majoritariamente encontrada na biomassa não
sistemas em escala plena sendo instalados. aderida.
16.7.2.3 Reatores anaeróbios de leito de lodo escala laboratorial e piloto usando processos
anaeróbios de leito de lodo, o que resultou no
Os reatores anaeróbios de leito de lodo figuram estabelecimento de milhares de reatores em escala
como o processo de tratamento anaeróbio de águas plena em todo o mundo (Nnaji, 2013; Lim e Kim,
residuárias mais populares até o presente. A 2014; Van Lier et al., 2015). Estes reatores são,
retenção de lodo nestes reatores é baseada na sem dúvida, os sistemas anaeróbios de tratamento
formação de agregados de lodo de fácil de águas residuárias mais populares até o presente,
sedimentação (flocos ou grânulos) e na aplicação tendo um amplo potencial de aplicação no
de um sistema interno de separação gás-líquido- tratamento de efluentes industriais. Em vista de tal
sólido (dispositivo GLS). potencial e do fato de que quase 90% dos reatores
de alta taxa recém-instalados são sistemas de leito
Um dos desenvolvimentos mais notáveis e de lodo (Van Lier et al., 2015; Figura 16.16), a
significativos na tecnologia de tratamento tecnologia UASB foi caracterizada em maior
anaeróbio de alta taxa é a invenção do reator UASB detalhamento do que outros sistemas (Seção 16.8).
por Lettinga e colaboradores, na Holanda (Lettinga
et al., 1976; Lettinga et al., 1980). A retenção de A Figura 16.17 mostra uma representação
lodo neste reator é baseada na formação de esquemática de um reator UASB. Dois exemplos
agregados de lodo (flocos ou grânulos) de boa de reatores UASB em escala plena são mostrados
sedimentabilidade, e na aplicação de um na Figura 16.18.
dispositivo GLS interno em formato de funil
invertido. A introdução da tecnologia UASB para Os primeiros reatores UASB foram instalados
tratamento de águas residuárias industriais só para o tratamento de águas residuárias das
precisou de 5-6 anos para sair da escala indústrias alimentícia, de bebidas e de base
laboratorial, em 1971-1972, para a escala piloto, agrícola, seguidos rapidamente por aplicações para
em 1976, e aplicação em escala plena, em 1977- efluentes de fábricas de papel e papelão, em 1983
1978, em uma usina de produção de açúcar na (Habets e Knelissen, 1985). A maioria dos reatores
Holanda (Lettinga, 2014). Até onde se sabe, este é em escala plena é usada para tratar águas
o ciclo de desenvolvimento mais curto registrado residuárias agroindustriais, mas as aplicações para
para qualquer nova tecnologia no campo da o tratamento de efluentes de indústrias químicas
engenharia ambiental bem-sucedida até o presente. também estão aumentando, conforme discutido a
Após as primeiras aplicações, muitos resultados de seguir (Van Lier et al., 2015; Rajagopal et al.,
desempenho bem-sucedidos foram relatados em 2013).
Figura 16.17 Reatores UASB dos principais fabricantes de sistemas anaeróbios: (A) Paques B.V. e (B) Biothane B.V.
Figura 16.18. Reatores UASB para tratamento de (A) águas residuárias de fábricas de suco de frutas em Bregenz, Alemanha e
(B) águas residuárias de laticínios na Indonésia (fotos: Paques B.V. e Biothane B.V., respectivamente).
Semelhante aos filtros anaeróbios de fluxo 15 kg DQO/ m³.d (Rittmann e McCarty, 2001). No
ascendente, em um reator UASB as águas entanto, uma das principais limitações desse
residuárias se deslocam em um modo ascendente. processo está relacionada às águas residuárias que
No entanto, ao contrário dos filtros anaeróbios, os apresentam alto teor de sólidos em suspensão, o
reatores UASB não empregam meio suporte. Esta que dificulta o desenvolvimento de lodo granular
tecnologia propicia um lodo de boa denso (Alphenaar, 1994). O conceito de reator de
sedimentabilidade, baixos tempos de detenção leito de lodo é baseado nos seguintes aspectos:
hidráulica, eliminação do custo de meios suportes,
elevadas concentrações de biomassa (até 80-100 g/ 1) O lodo anaeróbio tem ou adquire boas
L no fundo do reator), efetiva separação sólido- propriedades de sedimentação, desde que o
líquido e a operação em elevadas cargas orgânicas processo seja operado corretamente. Pequenas
volumétricas (COV) (Speece, 1996). As COVs de partículas ou lodo de baixa sedimentabilidade
projeto situam-se normalmente na faixa entre 4 e serão eliminados do sistema.
2) O bom contato necessário entre o lodo e as defletores devem ser instalados abaixo da
águas residuárias nos reatores UASB é abertura entre as câmaras de gás, bem como
geralmente garantido através de alimentação entre a câmara de gás e a parede do reator.
uniforme junto ao fundo do reator. Além disso, c) Remover as partículas de lodo por um
o aumento da velocidade de fluxo ascendente mecanismo de sedimentação, floculação
resulta em um melhor contato entre as e/ou aprisionamento na manta de lodo (caso
partículas de lodo e os poluentes. Para COVs presente no decantador). As partículas de
superiores a 5 kg DQO/ m³.d, a mistura entre o lodo podem então deslizar de volta para o
lodo e o efluente é provocada pela turbulência compartimento de digestão, caso o leito de
do biogás. A mistura mecânica não é aplicada lodo não atinja o decantador, ou podem ser
em reatores UASB. ocasionalmente removidas junto com o
3) Para águas residuárias contendo compostos excesso de lodo do compartimento de
biodegradáveis inibidores, a mistura digestão.
hidrodinâmica é adicionalmente alcançada pela d) Limitar a expansão do leito de lodo no
aplicação de um fluxo de recirculação de compartimento de digestão. O sistema atua
líquido. Como resultado, desenvolve-se um como uma espécie de barreira contra a
padrão de fluxo mais próximo da mistura expansão excessiva da parte mais leve do
completa e a estratificação do substrato e leito de lodo. Se o leito de lodo se expandir
produtos intermediários ao longo da altura do no compartimento de decantação, o lodo
reator é minimizada, reduzindo assim a inibição tenderá a adensar (posto que o gás foi
potencial. separado). Esse lodo adensado e mais
4) A eliminação de agregados de lodo anaeróbio pesado desliza de volta para o
ativo é evitada pela separação do biogás compartimento de digestão.
produzido por meio de uma câmara de coleta de e) Reduzir ou evitar que as partículas de lodo
gás instalada na parte superior do reator. Desta flutuantes sejam removidas do sistema.
forma, uma zona com relativamente pouca Para este propósito, um defletor de escuma
turbulência é criada na parte superior do reator deve ser instalado anteriormente à canaleta
e, consequentemente, o reator é dotado de um de coleta do efluente.
decantador secundário embutido. f) Realizar algum polimento do efluente em
5) A câmara de coleta de gás atua como um relação aos sólidos em suspensão.
separador trifásico gás-líquido-sólido. O
dispositivo GLS constitui uma parte essencial Alguns pesquisadores e profissionais sugerem
de um reator UASB e serve para: a substituição do dispositivo GLS por um leito
a) Coletar, separar e conduzir o biogás suporte na parte superior do reator. Isso é
produzido. Para um desempenho conhecido como reator híbrido de fluxo ascendente
satisfatório, a área da interface líquido-gás e trata-se de uma fusão dos reatores UASB e filtro
dentro do dispositivo deve ser anaeróbio de fluxo ascendente. Em alguns projetos,
suficientemente grande para que o gás o meio suporte é instalado apenas no
possa escapar facilmente. Isso é compartimento de decantação, deixando o GLS em
particularmente importante se houver sua posição original. Aproximadamente 3% de
acúmulo de escuma. todos os reatores anaeróbios instalados são
b) Minimizar a turbulência do líquido no sistemas híbridos (Figura 16.16). Na maioria das
compartimento de decantação para aplicações, a conversão de matéria orgânica ocorre
melhorar a sedimentação do lodo. Para preferencialmente no leito de lodo e a remoção
evitar que o biogás borbulhe na zona de aprimorada de sólidos em suspensão de pequena
sedimentação no topo, um ou mais dimensão é obtida na parte superior. Testes com
esgoto doméstico mostraram uma remoção ser problemática. O sistema depende da formação
aprimorada de sólidos em suspensão e matéria de um biofilme aderido e/ou partículas
coloidal (Elmitwalli et al., 2002). relativamente uniformes (em espessura, densidade
e resistência). A fim de manter uma situação
Para alguns efluentes químicos específicos, estável em relação ao desenvolvimento do
como águas residuárias de ácido ftálico purificado biofilme, um alto grau de pré-acidificação é
(PTA) (Kleerebezem, 1999a, b), um reator híbrido considerado necessário e a matéria orgânica em
apresenta melhor desempenho do que um reator suspensão deve estar ausente na alimentação
UASB de estágio único. No entanto, os resultados (Ehlinger, 1994). Apesar disso, uma espessura de
mostraram que a conversão do ácido ftálico em biofilme uniforme é sobremaneira difícil de
benzoato só é possível em baixas concentrações de controlar e em muitas situações ocorre uma
acetato e benzoato. Ao aplicar um sistema híbrido, segregação de diferentes tipos de biofilmes ao
estes compostos são convertidos no leito de lodo, longo da altura do reator. Em reatores de escala
enquanto o ácido ftálico é então convertido na plena, as partículas desprovidas de biofilme
seção híbrida, onde microrganismos específicos frequentemente são segregadas, levando a
são retidos para degradar o composto refratário. problemas operacionais. Objetivando manter o
biofilme no reator, ajustes de vazão são
A desvantagem mais comum dos reatores necessários, após os quais o meio suporte começará
híbridos é a deterioração do meio suporte após a se acumular na parte inferior do reator como uma
longos períodos de operação. espécie de leito estacionário, enquanto agregados
leves fofos (biofilmes destacados) estarão
16.7.2.4 Reatores anaeróbios de leito presentes na parte superior. Este último só pode ser
expandido (EGSB) e fluidizado realizado quando a velocidade superficial
permanece relativamente baixa, o que, por sua vez,
Sistemas de leito expandido e leito fluidizado são não é o objetivo de um sistema de leito fluidizado.
considerados como a segunda geração de reatores
de leito de lodo, atendendo cargas orgânicas Os sistemas de segunda geração, como o
volumétricas extremas, da ordem de 30 a 60 kg Anaflux (Holst et al., 1997), dependem da
DQO/ m³.d em escala de laboratório e 20 a 40 kg expansão do leito ao invés da fluidização. Como a
DQO/ m³.d em escala plena. O processo de leito expansão do leito permite uma distribuição muito
fluidizado é baseado na adesão de bactérias a mais ampla dos biofilmes predominantes, o sistema
partículas móveis (meio suporte), que consistem, é consideravelmente mais fácil de operar. Como
por exemplo, em areia fina (0,1-0,3 mm), basalto, nos filtros anaeróbios convencionais, um meio
pedra-pomes ou plástico. Pode ser considerado suporte poroso inerte (partículas < 0,5 mm,
uma tecnologia de tratamento anaeróbio avançado densidade de aproximadamente 2) é usado para o
(Li e Sutton, 1981; Heijnen et al., 1990), capaz de crescimento bacteriano aderido no sistema
tolerar elevas cargas quando operado sob Anaflux. Um separador trifásico também é
condições definidas. Os reatores de leito fluidizado utilizado no topo do reator, semelhante ao
tornam-se altamente eficientes devido à elevada dispositivo GLS em reatores UASB. Quando a
transferência de massa resultante da (i) turbulência camada de biofilme aderida aos agregados (meio
líquida e do fluxo em torno das partículas, (ii) suporte) torna-se excessivamente desenvolvida e os
reduzida colmatação e menor curto-circuito devido agregados (mais leves) subsequentemente se
à ocorrência de grandes poros através da expansão acumulam no dispositivo separador, o material é
do leito e (iii) elevada área superficial específica do periodicamente extraído do reator por uma bomba
meio suporte devido ao seu pequeno tamanho. No externa, submetido a uma tensão de cisalhamento
entanto, a operação estável de longo prazo parece que remove parte do biofilme. Em sequência, tanto
o meio suporte quanto a biomassa desprendida são variar entre 25-30 m/ h, causando uma mistura
retornados ao reator, e a biomassa livre (em quase completa no reator.
suspensão) é então varrida para fora do sistema.
Desta forma, a densidade do meio é controlada e Resultados excelentes foram obtidos com
um leito mais homogêneo é criado. Até 30-90 instalações modernas de leito expandido em escala
kgSSV / m³reator podem ser retidos desta forma e plena, como os reatores Biobed EGSB e Biopaq®IC
devido às elevadas velocidades de fluxo ascendente (Figura 16.19), considerando vários tipos de águas
(até 10 m/ h), um excelente contato líquido- residuárias e COVs entre 25-35 kg DQO/ m³.d. As
biomassa é alcançado. O sistema é aplicável para cargas extremas de DQO para sistemas do tipo
efluentes com concentração de sólidos em EGSB resultam em elevadas taxas de liberação de
suspensão < 500 mg/ L. A maioria dos reatores biogás, a seguir:
anaeróbios de leito fluidizado em escala plena são
instalados como processos Anaflux. No entanto, Vbiogas =
Ef−met 0.35 (T+273)
atualmente, os reatores do tipo EGSB são de muito DQO. . . . Vasc,líquido
100 Fmet−biogás 273
mais interesse para aplicações em escala plena do
que os sistemas fluidizados, que são mais caros. (16.47)
Figura 16.19 Reatores EGSB e IC® dos principais fabricantes de sistemas anaeróbios Biothane B.V. (à esquerda) e Paques B.V.
(à direita).
Figura 16.20. Uma instalação EGSB para tratamento de águas residuárias de laticínios na Alemanha (à esquerda) e uma
instalação IC para tratamento de águas residuárias de cervejarias em Den Bosch na Holanda (à direita) (fotos: Biothane B.V. e
Paques B.V., respectivamente).
O sucesso dos reatores de leito expandido na década de 1990 resultou em um aumento na participação de
vendas às expensas dos reatores UASB (Figura 16.21).
Figura 16.21. Participação dos reatores UASB e EGSB nos sistemas de tratamento anaeróbio em grande escala instalados no
período de 1984 a 2007. Os reatores EGSB incluem os sistemas EGSB, IC® e FB.
mais aprimorados que possam operar em condições
16.7.2.5 Processos avançados de separação de elevada vazão.
lodo-líquido
anaeróbios, é adequado para o lodo anaeróbio regime de mistura parcial ou completa, diferentes
floculento, que é prevalente no caso de águas concepções têm sido testadas considerando a
residuárias mais concentradas, como o caso da separação das várias fases do processo anaeróbio
vinhaça proveniente da produção de bioetanol. (Van Lier et al., 2001). Um exemplo extremo é o
Aproximadamente um quinto dos sistemas processo de dois estágios em que a etapa de
UASBplus em escala plena estão operacionais, dos acidificação é completamente separada da etapa
quais aproximadamente um terço dos reatores metanogênica (veja a Seção 16.7.2.7). O
contém flocos ou pequenos agregados; a maioria sequenciamento de fases horizontal é obtido em
dos reatores UASBplus está instalada na China. reatores anaeróbios compartimentados, melhor
Mais recentemente, a mesma empresa caracterizados como um conjunto de reatores
introduziu um novo sistema no qual a separação UASB operados em série sem dispositivos GLS
lodo-líquido é realizada na parte inferior do reator (Bachmann et al., 1985; Barber e Stuckey, 1999).
de alta taxa. O sistema denominado Biopaq®ICX Embora algumas aplicações em escala plena
leva o efluente tratado da parte superior para um tenham sido feitas com esgoto doméstico, este
decantador de placas inclinadas na parte inferior do reator não foi desenvolvido para além da escala
reator (Figura 16.23). As vantagens observadas piloto (Zhu et al., 2015). A preocupação refere-se à
são: (i) o lodo flotante não é perdido do sistema; (ii) limitação hidrodinâmica que restringe o tempo de
há uma melhor separação lodo-líquido, atribuída à retenção celular do sistema, uma vez que a
maior densidade do lodo no fundo, que resulta do velocidade do líquido é substancialmente maior
aumento da pressão hidráulica de 1-2 bar; e (iii) as àquela de um reator de leito de lodo de etapa única.
concentrações de lodo são incrementadas, Como resultado, a massa de lodo pode mover-se
atingindo 70-80 kg SS/ m³, o que possibilita a lentamente com o líquido através dos vários
aplicação de cargas orgânicas volumétricas para compartimentos. Reatores verticalmente
além de 40 kg DQO/ m³.d. escalonados, como o sistema de leito de lodo
compartimentado de fluxo ascendente (Van Lier et
al., 1994, 2001; Guiot et al., 1995; Tagawa et al.,
2002) foram desenvolvidos especificamente para
elevadas temperaturas. No entanto, embora o
conceito tenha mostrado resultados promissores em
escala piloto, até o presente nenhum reator em
escala plena foi desenvolvido.
sobrenadante é removido. O próximo ciclo é então 2012; Muñoz Sierra et al., 2019). As águas
iniciado. A granulação ocorre bem em um RABS residuárias industriais com características físico-
tratando efluentes diluídos e também sob químicas extremas provavelmente ocorrerão com
temperaturas ambientes mais baixas (Banik e mais frequência no futuro, pois os processos de
Dague, 1997). Estes sistemas mostraram-se de produção industrial mais limpos exigem uma
particular interesse para águas residuárias contendo redução no consumo de água atrelado ao aumento
ácidos graxos de cadeia longa (AGCL) (Alves et da reutilização, além da recuperação de recursos
al., 2001). Durante o período de enchimento, os (Van Lier et al., 2015; Dereli et al., 2012).
AGCLs são absorvidos pelo lodo anaeróbio e
subsequentemente estabilizados durante o processo Combinações de membranas com diferentes
de digestão, considerando a regeneração do lodo tipos de configurações de reatores anaeróbios de
em uma biomassa metanogênica altamente ativa. alta taxa, como CSTR, reatores de contato, UASB,
EGSB, leito fluidizado e reatores híbridos parecem
16.7.2.7 Reatores anaeróbios de membranas possíveis alternativas para o tratamento de
efluentes industriais (Ozgun et al., 2013). No
Os reatores anaeróbios de membranas (AnMBR) entanto, a integração da membrana elimina a
estão sendo cada vez mais pesquisados, pressão de seleção hidráulica necessária para a
particularmente para aplicações onde os sistemas granulação, enquanto a biomassa floculenta com
de leito de lodo comumente aplicados são menos piores características de imobilização é retida em
bem-sucedidos. Os AnMBRs combinam as vez de ser varrida do sistema. Além disso, ao
vantagens dos reatores de membrana (MBR) e da aplicar filtração de fluxo cruzado, as forças de
tecnologia anaeróbia (Dereli et al., 2012; Ersahin cisalhamento prevalentes reduzirão o diâmetro das
et al., 2014). Os custos operacionais relacionados partículas. Portanto, nenhuma granulação é
aos requisitos de energia para a recirculação de esperada em reatores de leito de lodo acoplados à
gás/líquido para controle de colmatação da filtração por membrana, o que diminuiria a
membrana e os custos químicos necessários para a capacidade de sedimentação da biomassa em uma
limpeza da membrana ainda têm um grande peso operação de longo termo. No entanto, uma
na viabilidade econômica dos AnMBRs. No abordagem sequenciada de um reator UASB
entanto, os custos de aquisição e/ou substituição de seguido por módulos de membrana separados
membrana diminuíram significativamente devido a oferece perspectivas interessantes de tratamento. O
um declínio nos custos dos módulos (Ozgun et al., reator UASB fornece uma pré-eliminação de
2013). Apesar dessas restrições, os AnMBRs sólidos em suspensão por aprisionamento e
oferecem efluentes de alta qualidade, livres de biodegradação no leito de lodo, o que reduz a carga
sólidos, e a retenção completa da biomassa, de sólidos para a membrana e, assim, minimiza a
independentemente de suas propriedades de colmatação relacionada à formação da camada de
sedimentação e/ou granulação. Além disso, os partículas (torta) (Ozgun et al., 2013). A maioria
AnMBRs podem ser usados para reter dos sistemas AnMBR pesquisados consiste em um
determinadas comunidades microbianas que reator CSTR acoplado a módulos de membrana de
podem degradar poluentes específicos nas águas fluxo cruzado ou um reator CSTR equipado com
residuárias. Portanto, a tecnologia AnMBR pode membranas submersas.
apresentar uma opção atrativa para o tratamento de
efluentes industriais em condições extremas, como A implantação comercial bem-sucedida da
elevada salinidade, temperatura, concentrações de tecnologia AnMBR começou no início dos anos
sólidos em suspensão e presença de toxicidade, que 2000. No Japão, a empresa Kubota implantou 13
dificultam a granulação e a retenção de biomassa plantas de escala relativamente pequenas com
ou reduzem a atividade biológica (Dereli et al. , vazões de até 2,5 m³/ h usando membranas
ilustrativas para o desenvolvimento das tecnologias Veolia no período de existência da empresa (1976-2019),
dados de 2019 não incluídos.
de digestão anaeróbia em todo o mundo. A Figura
16.24 mostra as vendas da Paques B.V., indicando
o aumento sequencial da tecnologia UASB e IC. Na
16.8 REATORES ANAERÓBIOS DE FLUXO
última década, vários sistemas de reatores novos, ASCENDENTE E MANTA DE LODO
além daqueles previamente discutidos, foram (UASB)
desenvolvidos, como o Biopaq®AFR,
Biopaq UASBplus, Biopaq ICX e Biopaq®Ubox.
® ®
16.8.1 Descrição do processo
16.8.2 Considerações sobre o projeto de granular expandido, atingindo valores de até 8-10
reatores UASB m/ h.
Qafl
Vasc = (m/h) (16.48) 16.8.2.2 Carga orgânica aplicada
A
• atividade metanogênica específica (AME) do testes piloto nas últimas décadas e na grande
lodo em kgDQO/ kgSSV.d quantidade subsequente de experiência em escala
• o grau de mistura alcançado levando a um fator real, foi desenvolvida uma tabela de cargas
de contato entre 0 e 1. orgânicas aplicáveis (rv ou COV) que dependem
da temperatura do reator (Tabela 16.11). Quando a
A AME depende de uma série de fatores como:
COV ou rv aplicável é conhecida, o volume do
• temperatura, reator UASB pode ser facilmente calculado a
• presença de compostos inibidores ou tóxicos, partir da vazão e concentração afluentes (Eq.
• biodegradabilidade do substrato, 16.53):
• presença de sólidos em suspensão (SS) no C .Q
Vreator = aflu aflu
.
(m²) (16.53)
rv
afluente,
Um reator UASB é limitado hidraulicamente
• grau de pré-acidificação das águas residuárias.
ou pela carga orgânica aplicável, porquanto que o
Em reatores UASB convencionais, a massa de volume do reator é calculado pela Eq. 16.51 ou
lodo anaeróbio geralmente está na faixa de 35-40 16.52. Se a situação real não for conhecida, o
kgSSV/m³ de volume do reator (decantador volume é geralmente calculado com base em
incluído). O fator de contato depende da eficácia e ambas as considerações, adotando-se o maior
uniformidade do sistema de distribuição do valor resultante. A Figura 16.26 mostra o impacto
afluente e da carga orgânica aplicada, com a da concentração de águas residuárias (em kDQO/
produção de biogás resultante contribuindo m³) no volume necessário do reator. Assumindo-
amplamente para a mistura no reator. se um TDH mínimo de 4 h para evitar a perda de
Considerando o número de fatores desconhecidos, sólidos, o volume mínimo necessário do reator
uma caracterização completa das águas residuárias será de pelo menos 1.000 m³, independentemente
é indispensável para o projeto de um reator da concentração afluente. Não obstante, para
UASB. Além disso, testes em escala piloto são elevadas concentrações afluentes de DQO, o
geralmente realizados para obter uma melhor volume requerido para o reator depende
compreensão do crescimento e do diretamente da concentração das águas
desenvolvimento do lodo anaeróbio para uma residuárias, uma vez que a carga orgânica
água residuária específica. Com base em muitos admissível é pré-estabelecida.
Tabela 16.11 Cargas orgânicas aplicáveis em reatores UASB de etapa única para vários tipos de águas residuárias em função da
temperatura de operação. A biomassa consiste em lodo floculento espesso ou grânulos.
Temperatura (oC) Carga orgânica volumétrica
Água residuária Água residuária não Efluente com < 5% Efluente com 30 -
acidificada acidificada de DQO 40% de DQO
particuladaa) particulada
15 2-4 1.5 - 3 2-3 1.5 - 2
25 6 - 12 4-8 6 - 10 3-6
30 10 – 18 8 - 12 10 - 15 6-9
35 15 - 24 12 - 18 15 - 20 9 - 14
40 20 – 32 15 - 24 20 - 27 14 - 18
a)
5% da DQO afluente consiste em DQO particulada, 95% referem-se à DQO solúvel.
Tabela 16.12 Área necessária (m²) por tubo de alimentação de um reator UASB, por tipo de lodo e carga orgânica volumétrica
aplicada.
Tipo de lodo Carga orgânica (kg DQO/ Área superficial por tubo de alimentação
m³.d) (m²)
Lodo floculento espesso (20-40 kg <1–2 1–2
ST/m³)
>3 2–5
<1 <1
Lodo floculento denso (> 40 kg 1–2 1–2
ST/m³)
>2 >2
<2 <2
Lodo granular 2–4 2–4
>4 >4
Tabela 16.13 Síntese das diretrizes para o projeto de dispositivo separador gás-líquido-sólido.
Tabela 16.14 Parâmetros cinéticos dos principais substratos/ produtos intermediários no processo de conversão anaeróbia
(Batstone et al., 2002). Dados de vários tipos de sistemas de digestão. A tabela apresenta os dados de revisão da literatura
apenas se disponíveis, caso contrário, valores típicos são considerados. Todos os substratos e pesos relacionados a SSV são
expressos como equivalentes de DQO.
Substrato Taxa de
utilização µmax (1/d) Y (kgSSV/kg) Ks (kg/m³) Kd (1/d)
(kg/kgSSV.d)
Hidrogênio 2-65 0,02-12 0,014-0,183 0,00002-0,0006 0,009
as concentrações de DQO do esgoto doméstico são percoladores, lodo ativado, processos físico-
< 1.000 mg/L e muitas vezes até abaixo de 500 químico, filtros de areia, wetlands etc. (Von
mg/L, com temperaturas que raramente chegam a Sperling e Chernicharo, 2005).
25 oC. De acordo com a Figura 16.26, o tratamento
anaeróbio desses efluentes é limitado pelas O reator UASB e a etapa de pós-tratamento
restrições hidrodinâmicas do sistema, e não pela podem ser implementados consecutivamente ou em
capacidade de conversão de matéria orgânica. uma configuração mais integrada. A Tabela 16.16
Devido à alta fração de DQO particulada, lista as características mais importantes dos
desenvolve-se nos reatores UASB um lodo processos anaeróbios de alta taxa para tratamento
floculento ao invés de grânulos durante o de esgoto. A maioria das vantagens está em
tratamento de esgoto sanitário. A hidrólise desta consonância com aquelas listadas para reatores
fração particulada torna-se a etapa de processo anaeróbios industriais (Seção 16.1.1).
limitante ao invés da metanogênese. Além disso, as
temperaturas do esgoto são frequentemente (muito) Não obstante, durante o estágio inicial de
mais baixas do que as dos efluentes industriais. desenvolvimento do processo anaeróbio de
Somente em condições de clima tropical o esgoto tratamento de esgoto doméstico, algumas das
doméstico atingirá temperaturas ideais para o limitações foram simplesmente ignoradas ou
processo anaeróbio (Van Haandel e Lettinga, negligenciadas no projeto de sistemas em escala
1994). A primeira experiência com tratamento plena devido às limitações financeiras (p.ex.: van
anaeróbio compacto/de alta taxa usando reatores Lier et al., 2010). Isso resultou em experiências
UASB para tratamento de esgoto ocorreu no início negativas com divulgação pejorativa do processo.
da década de 1980, em Cali, Colômbia (Van Atualmente, medidas devem ser tomadas para
Haandel e Lettinga, 1994). Os resultados obtidos na evitar a emissão descontrolada de gases de efeito
operação de um reator UASB piloto de 64 m³ estufa e o lançamento do CH4 capturado sem a
mostraram a viabilidade do sistema nas condições queima deve ser proibida (Chernicharo et al.,
ambientais e características do esgoto vigentes. Os 2015). Para a maioria das restrições listadas,
testes iniciais foram rapidamente seguidos por soluções técnicas estão disponíveis, ou pelo menos
reatores em escala real na Colômbia, Brasil e Índia em desenvolvimento, a tomar pela recuperação do
(Chernicharo et al., 2015). A Tabela 16.15 lista metano dissolvido em efluentes anaeróbios
alguns dos resultados desses reatores UASB em (Chernicharo et al., 2017; Heile et al., 2017).
escala plena tratando esgoto doméstico. Desde o
início de 1990, centenas de reatores UASB em A simplicidade do sistema também se observa
escala plena foram construídos, variando de 50- na Figura 16.28, que compara as unidades
50.000 m³ em volume, particularmente sob funcionais de um processo de lodo ativado com as
condições (sub)tropicais (Von Sperling e de um sistema anaeróbio de alta taxa. O reator
Chernicharo, 2005; Chernicharo et al., 2015; UASB de etapa única compreende apenas quatro
Chernicharo e Bressani -Ribeiro, 2019). unidades funcionais:
Geralmente, uma redução da DBO entre 70 e 80% 1) Decantador primário: remoção/ aprisionamento
é alcançada, com concentrações efluentes de sólidos em suspensão (não) biodegradáveis
inferiores a 40–50 mg/L. As eficiências de remoção do afluente.
em relação a DQO e SST são de aproximadamente 2) Reator biológico (tratamento secundário):
65-75% e eventualmente até mais elevadas remoção de compostos orgânicos
(Chernicharo et al., 2015). A fim de cumprir os biodegradáveis, convertendo-os em metano.
limites legais de lançamento, os reatores UASB são 3) Decantador secundário: clarificação do
geralmente acompanhados por um sistema de pós- efluente tratado no compartimento de
tratamento, como: lagoas de polimento, filtros decantação, na parte superior do reator UASB.
Tabela 16.16 Principais vantagens e limitaçõesa) do tratamento anaeróbio de esgoto em sistemas de alta taxa.
Vantagens
• Economias substanciais em termos de custos operacionais, chegando a 90%, pois não é necessária energia
para aeração.
• Redução de 40-60% nos custos de investimento, pois menos unidades de tratamento são necessárias.
• A depender da escala de implantação, o CH4 produzido é de interesse para a recuperação de energia na forma
de eletricidade e / ou produção de calor.
• As tecnologias não fazem uso de equipamentos de alta tecnologia, exceto para as bombas de alimentação e
peneiras finas. O sistema é menos dependente de tecnologias importadas
• O processo é robusto e pode lidar com elevadas cargas hidráulicas e orgânicas periódicas.
• As tecnologias são compactas com TDHs médios entre 6 e 9 h, portanto, adequadas para aplicação em áreas
urbanas, minimizando os custos de transporte.
• Aplicações em pequena escala permitem tratamento de esgoto descentralizado, diminuindo a dependência
de extensas redes coletoras.
• A produção de lodo de excesso é baixa, sendo este estabilizado e de fácil deságue, portanto não requer
unidades específicas de tratamento.
• Os nutrientes (N e P) são retidos no efluente, assegurando a possibilidade de utilização para fins agrícolas.
Limitações
• O efluente anaeróbio exige pós-tratamento para atender a critérios de lançamento ou reúso.
• O CH4 produzido encontra-se amplamente dissolvido no efluente (dependendo da concentração de DQO e
da temperatura do líquido). Até o presente, nenhuma (ou apenas muito poucas) medida foram tomadas para
evitar que o CH4 escape para a atmosfera.
• O CH4 coletado geralmente não é recuperado ou queimado.
• A aplicação do tratamento anaeróbio de esgoto doméstico em baixas temperaturas requer longos TDHs e,
portanto, grandes volumes de reatores, o que limita a viabilidade do processo.
• Gases como o H2S, que se encontram dissolvidos no efluente, podem escapar, causando problemas de odor.
a)
Comparativamente ao processo de lodo ativado
Figura 16.28 Unidades funcionais de uma estação de tratamento de esgoto, comparando lodos ativado (A) e a tecnologia
UASB (B).
retenção celular (idade do lodo - θ), que deve de água, as concentrações de esgoto variam entre
sempre estar acima de um valor mínimo, a fim de 1.000-2.500 mgDQO/L, por ex.: no Oriente Médio,
manter a capacidade de conversão hidrolítica e no Norte da África, na Península Arábica etc. Além
metanogênica do lodo. No tratamento de esgoto disso, os climas temperados no Oriente Médio e no
doméstico diluído em condições tropicais, DQO < Norte da África são caracterizados por invernos
1.000 mg/L e t > 20 ºC, essa premissa será sempre frios, especialmente nas áreas montanhosas.
atendida, pois as condições hidráulicas (Vasc)
determinam o TDH. Ao considerar a hidrólise
como a etapa limitante do processo, a qual é
descrita por uma cinética de primeira ordem, tem-
se que a idade do lodo requerida é determinada por
esta constante de hidrólise de primeira ordem e a
conversão desejada de DQO particulada.
Vreator V . DQOlodo
θ= = (d) (16.55)
Q Qe .DQOpaticulada + Qex .DQOex
Tabela 16.18 Testes com reatores UASB piloto em Amman-Zarqa na planta de tratamento Khirbet As Samra, Jordânia
Figura 16.31 Tratamento descentralizado de águas fecais separadas na fonte (AF) e água cinza (AC) com recuperação de
nutrientes para fins agrícolas (adaptado de Bisschops et al., 2019). FORSU: fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos
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NOMENCLATURA
Abreviatura Descrição
ABRS BRS oxidadoras de ácido acético
AGBRS BRS oxidadoras de ácidos graxos
AGCC ácidos graxos de cadeia curta
AGCL ácidos graxos de cadeia longa
AGV Ácidos graxos voláteis
BA Bactérias acetogênicas
BMP Biomethane potential/Potencial biometanogênico
BRS Bactérias redutoras de sulfato
ADM1 Anaerobic digestion model/Modelo de digestão anaeróbia no.1
AME atividade metanogênica específica
AnMBR Anaerobic membrane bioreactors/biorreatores anaeróbios de membrana
ASM1 Activated sludge model nº1/Modelo de lodo ativado no.1
CHP Combined heat and power/Cogeração de eletricidade e calor
COV Carga orgânica volumétrica
CSTR Continuous stirred tank reactor/Reatores de mistura completa
EGSB Expanded granular sludge reactor/Reator de leito granular expandido
EPS Extracellular polymeric substance/Substâncias poliméricas extracelulares
FB Fluidized bed reactor/Reator de leito fluidizado
FA Filtro anaeróbio
GLS Sistema de separação gás-líquido-sólido
HBRS BRS oxidadoras de hidrogênio
IC Internal circulation reactor/Reator de circulação interna
PTA Purified therephthalic acid/ácido ftálico purificado
SSV Sólidos em suspensão voláteis
TDH Tempo de detenção hidráulica
UASB Upflow anaerobic sludge blanket/Reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de
lodo
17 Modelagem de biofilmes
Eberhard Morgenroth
Tradução: Paulo Gustavo Sertório de Almeida
28
www.aquasim.eawag.ch 30
https://doi.org/10.25678/00021W (AQUASIM files),
29 https://doi.org/10.25678/00022X (SUMO files)
www.dynamita.com
Figura 17.3 Representação esquemática das diferentes questões que a modelagem matemática pode contribuir para a
identificação. (A) Como o fluxo de substratos para o interior do biofilme depende da concentração de substratos no seio líquido
do reator? (B) Para reações envolvendo múltiplos substratos (p.ex.: doadores e aceptores de elétrons), qual substrato será
limitante para processos de conversão? (C) Como os microrganismos serão distribuídos na espessura do biofilme e como a
distribuição da biomassa afeta os processos de conversão? (D) Como o desempenho global do reator pode ser integrado com
o fluxo local de substratos?
(17.1)
Onde:
SF concentração do substrato no biofilme [M
L-3]
x distância entre a superfície de aderência e a
superfície do biofilme [L]
t tempo [T]
DF coeficiente de difusão no biofilme [L2 T-1]
rF taxa de conversão de substrato por volume
de biofilme (rF > 0 para o processo de
remoção e rF < 0 para o processo de
produção) [M L-3 T-1]
Tabela 17.1 Expressões de taxas para rF na Eq. 17.1 [M L-3T-1], onde XF é a concentração da biomassa ativa no biofilme [M L-3], K0,F
e k1,F são as constantes de ordem zero e de primeira ordem e µmax, Kc, Y são taxas máximas de crescimento específico, constante
de afinidade (ou constante de meia saturação) e coeficiente de produção celular, respectivamente. Na Eq. 17.5, νi,j e ρj são
coeficientes estequiométricos e taxas de conversão associadas a um referido processo j, respectivamente.
JLF,1,com difusão
ε= (17.17)
JLF,1,sem resistência a difusão
(17.18)
Questão:
Calcular a concentração de acetato na base de um
biofilme de 400 µm de espessura assumindo-se
uma concentração de acetato (SF) de 3 mg DQO/L
na superfície do biofilme, uma constante de
primeira ordem (k1,F) de 2,4 m³/g DQO.d, uma
31
A densidade de biomassa no biofilme neste exemplo é aos parâmetros da Tabela 17.13 e compatíveis com os
baixa em comparação às sugestões na Seção 17.11.1. Tal exemplos de Wanner e Gujer, 1985; Wanner e Reichert,
valor foi escolhido para tornar os resultados comparáveis 1996; Wanner et al., 2006).
menores do que o observado para fluxos associados Para um biofilme de 200 µm de espessura, fluxos
a cinéticas de ordem zero e primeira ordem assumindo uma cinética de primeira ordem no
(Figuras 17.8B e 17.8C). Importante destacar que biofilme (JLF,1, Eq. 17.15), com transição para uma
as soluções para cinéticas de ordem zero baseadas cinética de meia ordem (JLF,0,p, Eq. 17.27), e,
na Eq. 17.27 (Figura 17.8) são válidas somente subsequentemente, para uma cinética de ordem
para biofilmes parcialmente penetrados pelo zero (JLF,0,f, Eq. 17.30); Para um biofilme de 80 µm
substrato (β < 1) e os resultados baseados na Eq. de espessura, fluxos assumindo uma cinética de
17.30 são válidos somente para biofilmes com primeira ordem, com transição direta para uma
penetração plena do substrato (β ≥ 1). A transição cinética de ordem zero. Uma abordagem para a
em termos de penetração do substrato (de parcial combinação das diferentes equações analíticas de
para plena) ocorre na intersecção entre JLF,0,p e JLF,0,f fluxo pode simplesmente ser a escolha do mínimo
(em β = 1). Baseado na definição de β (Eq. 17.25) entre as três soluções analíticas em que JLF,1 e JLF,0,p
a concentração do substrato na superfície do são uma função de SLF, e JLF,0,f é independente de
biofilme (SLF,transição) resultando em β = 1 é SLF:
L2
F k0 XF
SLF,transição =
2DF
(17.32) Uma abordagem mais sofisticada seria a
utilização de uma combinação linear de deferentes
Soluções para fluxos de substrato que se fluxos de substrato, tal como descrito por Perez et
referem à cinética de ordem zero ou de primeira al. (2005) (com correções em Gapes et al., 2006).
ordem podem ser combinadas assumindo uma A adequabilidade de simples soluções analíticas e
cinética de primeira ordem (JLF,1) quando fluxos soluções numéricas de maior complexidade é
são aplicados para baixos SLF e fluxos assumindo discutida sob a perspectiva de diversas aplicações
uma cinética de ordem zero para concentrações de em Wanner et al. (2006).
substrato mais elevadas na superfície do biofilme.
Tabela 17.2 Matriz de processos para remoção de substrato por biomassa heterotrófica, assumindo que o substrato orgânico
é o composto limitante. A espessura e a densidade da biomassa no biofilme são assumidas como sendo constantes.
Unidade DQO
Uma abordagem alternativa para o cálculo do O caso mais simplificado para um reator com
fluxo de substrato para o biofilme é baseada na biofilme é observado assumindo-se o seio líquido
mudança de concentração do substrato na camada do reator em mistura completa, como mostrado na
limite de transferência de massa (JBL): Figura 17.10.
Onde:
Onde uF(LF) é a velocidade de expansão ou
Si Concentração do substrato afluente
diminuição da espessura do biofilme como um
[M.L-3]
Figura 17.14 Penetração do substrato no biofilme, assumindo-se o doador de elétrons como limitante (Caso 1), o aceptor de
elétrons como limitante (Caso 2), e nenhum dos componentes como sendo limitantes (Caso 3). Não há conversão de
substrato na região sombreada em azul do biofilme devido a limitações do doador e aceptor de elétrons (LF é a espessura
do biofilme).
Para diferenciar os casos 1 e 2, um modo mais = 4,57 gO2/gN. Assim os valores de βe.d. e βe.a.
simples do que explicitamente avaliar βe.d. e βe.a. podem ser comparados pela razão (γe.d.,e.a):
pode ser desenvolvido calculando-se βS, ao invés
de comparar seus valores específicos. Para o
processo de crescimento as taxas de conversão
para o doador de elétrons (r0,e.d.) e aceptor (r0,e.a.)
Substituindo os βS na Eq. 17.62 com o uso das
são estequiométricamente associados:
constantes associadas a taxas segundo uma
cinética de primeira ordem a partir das equações
17.60 e 17.61 e a definição de β (Eq. 17.25) tem-
se:
Tabela 17.4 Cálculo de compostos limitantes para o crescimento da biomassa a partir de substratos orgânicos ou nitrificação
(parâmetros estequiométricos da Tabela 17.13 assumindo-se DF = 0,8 DW, e DW da Tabela 17.10).
Uma vez conhecida condição em que o doador um composto limitante pode ser calculado
de elétrons ou aceptor limitam o processo de utilizando-se as expressões cinéticas
conversão no biofilme, o fluxo de substrato para desenvolvidas para um único substrato limitante.
Tabela 17.5 Profundidade de penetração e fluxo de oxigênio e substrato estimados para um crescimento de biomassa
segundo uma cinética de ordem zero, utilizando-se as equações 17.25 e 17.27 ou considerando-se apenas a respiração
endógena com os parâmetros cinéticos da Tabela 17.13. Os fluxos de doadores de elétrons marcados com (*) são
compreendidos como sendo não realísticos uma vez que nesse caso o oxigênio seria limitado no biofilme (Tabela 17.4).
Crescimento heterotrófico
SB,O2 Profundidade de JLF,O2 SB,HAc Profundidade de JLF,HAc
(g/m³) penetração (μm) (g/m².d) (gDQO/m³) penetração (μm) (gDQO/m².d)
1 68 4,9 1 35 4,3
3 118 8,5 5 79 9,5
5 153 11,0 15 137 16,5
8 193 13,9 150 434 52,1(*)
Nitrificação
SB,O2 Profundidade de JLF,O2 SB,NH4 Profundidade de JLF,NH4
(g/m³) penetração (μm) (g/m².d) (gN/m³) penetração (μm) (gN/m².d)
1 42 7,9 1 79 3,4
3 73 13,7 5 177 7,6(*)
5 94 17,7 15 307 13,2(*)
8 119 22,4 70 662 28,6(*)
Respiração heterotrófica na ausência de fonte Respiração autotrófica na ausência de fonte externa de
externa de substrato substrato
SB,O2 Profundidade de JLF,O2 SB,O2 Profundidade de JLF,NH4
(g/m³) penetração (μm) (g/m².d) (g/m³) penetração (μm) (g/m².d)
1 409 0,8 1 818 0,4
3 708 1,4 3 1.417 0,7
5 915 1,8 5 1.829 0,9
8 1.157 2,3 8 2.314 1,2
Em que XF é a densidade da biomassa no biofilme Em que ud,s pode ser definida para que todo o
[M.L-3]. A maioria dos modelos consideram taxas biofilme acima da espessura predefinida seja
de desprendimento constantes. Em contrapartida, removido durante a retrolavagem.
Tabela 17.6 Expressões de taxa para o desprendimento do biofilme (modificado de Morgenroth, 2003; . Peyton and
Characklis, 1993; Tijhuis et al., 1995)1.
O balanço de massa apresentado na Eq. 17.70 Uma solução analítica para a espessura do
pode ser resolvido analiticamente ou biofilme pode ser também calculada para uma
numericamente com o uso do AQUASIM taxa de remoção de substrato de ordem zero
Software, considerando-se a remoção de um
substrato e uma expressão de taxa de
desprendimento do biofilme. Contudo, assumindo-se uma distinta expressão de
desprendimento do biofilme
Exemplo 17.3 Predizendo a espessura do
biofilme assumindo-se um
Observe que a opção pela taxa de
fluxo de substrato de meia
desprendimento definida pela Eq. 17.77 ao invés
ordem
do que expressa a Eq. 17.74 reside puramente em
Assumindo-se o fluxo de substrato e uma conveniência de simplificação associada à
desprendimento de biofilme tais como: solução analítica. Substituindo-se a Eq. 17.77 na
Eq. 17.70 tem-se:
Com tais definições, a Eq. 17.70 para uma A qual pode ser resolvida para LF:
condição de estado estacionário (em equilíbrio)
resulta em
Novamente, a espessura do biofilme decresce
com o incremento dos valores de decaimento
microbiano (bina) e do coeficiente de
A qual pode ser resolvida para LF: desprendimento do biofilme (kd) e com o
decréscimo das taxas de remoção de substrato
(k0).
Figura 17.17 Discretização do biofilme em n camadas resultando em uma espessura LF/n. As setas indicam o transporte de
massa de partículas do seio líquido da primeira camada no biofilme (JX,aderência), desprendimento da primeira camada de
biofilme (JX,desprendimento) e uma mistura de biomassa em contracorrente e compostos particulados entre camadas
(JX,espalhamento ao interior, JX,espalhamento ao exterior). As expressões de taxa variam significativamente entre os simuladores comerciais
(BOLTZ et al., 2010). O fluxo de aderência (JX, aderência) é tipicamente proporcional à concentração deste componente no seio
líquido. Na maioria dos simuladores, o fluxo de desprendimento (JX,desprendimento) é uma função da concentração máxima de
sólidos na primeira camada. A acumulação de sólidos devida ao crescimento da biomassa, decaimento e hidrólise de
partículas é balanceada pelo processo de desprendimento (quando uma espessura constante de biofilme é assumida) ou
expansão do volume (quando uma densidade constante é assumida).
Figura 17.20 Concentrações de oxigênio ao longo da profundidade do biofilme e a correspondente distribuição de bactéria
heterotrófica (XOHO), autotrófica (XANO) e biomassa inerte (XI) para diferentes concentrações do substrato orgânico no seio
líquido de 0 (A), 3 (B), 13 (C) e 30 mgDQO/L (D). As concentrações de oxigênio e amônia são 8 mgO 2/L e 13 mgN/L,
respectivamente, para todos os casos (WANNER e GUJER, 1985).
para 6 mgO2/L a meta em atingir concentrações fixa (em inglês ´Integraded fixed-film activated
efluentes de amônia abaixo de 1 mgN/L é sludge´ - IFAS) (ver Capítulo 18 para detalhes). A
alcançada (Figura 17.24C). A vantagem de se partir da introdução da retenção de lodo (pela
elevar as concentrações de oxigênio no seio recirculação da biomassa, Figura 17.23B) mesmo
líquido reside na possibilidade de alteração um baixo tempo de residência de sólidos de 1 d
operacional sem paralizações, enquanto a redução permite que organismos heterotróficos
de cargas superficiais aplicadas requer ampliação acumulem-se na fase líquida para a conversão do
de volumes reacionais da estação de tratamento. carbono orgânico. A oxidação do carbono
O incremento da aeração é utilizado não somente orgânico na fase líquida reduz a carga superficial
para melhorar o desempenho de reatores com sobre o biofilme e aumenta a atividade nitrificante
biofilme em sobrecarga, mas também para lidar de forma que a meta de concentração de amônia
com variações de carga afluente. seja alcançada (Figura 17.24D).
A proposta desse exemplo é demonstrar o
Recirculação de lodo potencial da modelagem numérica no sentido de
Alguns tipos de reatores com biofilme (p.ex.: avaliar diferentes cenários, em termos da
MBBR) podem ser operados com ou sem a operação global de um reator. Neste caso, a
retenção de lodo (Figuras 17.23 ae 18.11). Um discussão foi centrada nas concentrações de DQO
MBBR com retenção de lodo é referenciado como e NH4+. Contudo, o modelo pode também prover
um sistema integrado de lodo ativado e biomassa perfis de concentrações de oxigênio (Figura
17.25) em diferentes seções do reator.
Figura 17.23 Reator com biofilme modelado com oito compartimentos em série sem recirculação de biomassa (A) e com
recirculação de biomassa (B).
Tabela 17.7 Condições operacionais para o reator com biofilme (caso de referência).
Figura 17.24 Concentrações de DQO, amônia e nitrato para os quatro cenários descritos na Tabela 17.8.
Tabela 17.8 Condições operacionais e concentrações efluentes de amônia para os cenários avaliados.
Figura 17.26. Abordagem conceitual para o modelamento de reatores com biofilme. Pontos de decisão (numerados) são
discutidos no texto.
Tabela 17.9 Tempos característicos para processos de relevância em um biofilme (baseado em Clark, 1996; Esener et al.,
1983; Gujer e Wanner, 1990; Kissel et al., 1984; Picioreanu et al., 2000).
Retenção em um reator de
mistura completa
Difusão (massa)
Difusão (viscosa)
Reação
Desprendimento
L = distância característica [L]; u = velocidade [L T-1]; D = coeficiente de difusão [L2 T-1]; = viscosidade [L2 T-1]; V = volume
do reator [L3]; Q = vazão para o reator [L3 T-1]; k0, k1 = taxas de reação volumétrica de ordem zero e de primeira ordem [M L-3
T-1 e T-1], respectivamente; bdecaimento = coeficiente de decaimento [T-1]; , max = taxa de crescimento, crescimento máximo
taxa [T-1]; Y = coeficiente de produção de biomassa [M M-1]; SLF, XF = substrato, concentração de biomassa [M L-3]; KS =
constante de meia-saturação de Monod, [M L-3].
concentração paralelos ao substrato são muito transporte de massa local. Exemplos de questões
menos representativos do que gradientes de ecológicas incluem a modelagem da teia
concentração perpendiculares ao substrato, alimentar anaeróbia em lodo granular anaeróbio
resultando em uma equação unidimensional de (Batstone et al., 2002). Outro aspecto ecológico é
difusão e reação (Eq. 17.1). a formação de diferentes estruturas de superfície
em biofilmes e no lodo granular, onde a
Nos últimos 25 anos, modelos morfologia da superfície pode ter, por exemplo,
multidimensionais para biofilmes foram influência na resistência externa à transferência de
desenvolvidos visando prever a formação da massa (Picioreanu et al., 2000). Modelos
estrutura heterogênea do biofilme, considerando a multidimensionais são normalmente usados para
disponibilidade local de substrato. Por sua vez, responder a perguntas específicas para uma
esses modelos preveem a influência desta melhor compreensão das interações no biofilme.
estrutura heterogênea sobre a ecologia microbiana Em alguns casos, tais interações têm um impacto
no interior do biofilme, e, posteriormente, em no desempenho global do reator com biofilme.
fluxos de substrato. Quando um modelo 1D Nestas circunstâncias, os resultados e
simplificado é adequado ou não ou se há a mecanismos de modelos multidimensionais
necessidade de aplicação de um modelo precisam ser levados em consideração para
multidimensional dependerá das perguntas aplicações práticas associadas a este tipo de
específicas a serem respondidas usando o modelo reator.
matemático. Uma avaliação sistemática de
diferentes abordagens de modelagem e sua Exemplo 17.11 Distribuição 2D de
adequabilidade para várias aplicações distintas é microrganismos geradores e
apresentada em Wanner et al. (2006). consumidores de hidrogênio
em agregados microbianos
Se o foco estiver na previsão de fluxos de
substrato para processos como a oxidação aeróbia A digestão anaeróbia é um processo de várias
de carbono, nitrificação e desnitrificação, então os etapas realizada por uma variedade de
modelos 1D são uma excelente escolha. Tais microrganismos os quais vivem em uma relação
modelos 1D permitem predizer limitações em de simbiose. Concentrações locais de substratos e
termos de transporte de massa para um substrato intermediários dependem da distribuição espacial
limitante, a difusão de múltiplos componentes e a de tais microorganismos. Um aspecto crucial é a
competição microbiana baseada em transferência interespécies de hidrogênio entre
estratificações entre a biomassa heterotrófica de microorganismos que produzem e utilizam
crescimento mais rápido e a biomassa autotrófica hidrogênio, respectivamente.
de crescimento mais lento. Batstone et al. (2006) aplicaram um modelo
matemático 2D para avaliar o desenvolvimento da
As situações nas quais se justifica usar um organização espacial de microorganismos
modelo multidimensional incluem (i) geometria anaeróbios em grânulos. As distribuições
complexa da superfície de aderência (por espaciais de organismos em um grânulo real são
exemplo, estudos em microescala sobre o comparadas com as simulações provenientes do
desenvolvimento de biofilme em um meio uso do modelo na Figura 17.29.
poroso) e para distribuição espacial de biofilme
(por exemplo, crescimento de biofilme "irregular"
com colônias isoladas); (ii) questões ecológicas
complexas influenciadas pela agregação local de
diferentes grupos de microorganismos e
concentrações de biomassa no biofilme (XF) são água, dependendo, até certo ponto, da densidade
tipicamente na faixa de XF = 10 a 60 gSSV/L. da biomassa no biofilme, assim como de
Rittmann et al. (2018) fornecem valores típicos de propriedades do composto. Em geral, um fator de
XF para diferentes tipos de processos de redução de 80% é normalmente usado (Horn e
conversão: Morgenroth, 2006; Stewart, 1998):
Tabela 17.11 Espessura típica de biofilme (LF) para diferentes tipos de reatores considerando a oxidação de carbono ou
nitrificação (baseado em Rittmann et al., 2018)(a).
Tabela 17.12 Matriz de estequiometria e expressões cinéticas para processos com biofilme heterotrófico e autotrófico
(adaptado de Wanner et al., 2006). Observe que o nitrogênio para a síntese celular não está incluído, de modo que a
remoção de nitrogênio observada pode ser diretamente relacionada ao crescimento autotrófico.
↓j →i 1 2 3 4 5 6
Nome do XOHO XANO XU SS SNH4 SO2 Taxa de processo, ρj
Processo
1: Crescimento 1
heterotrófico
2: Inativação -1 1
heterotrófica
3: Respiração -1 -1
heterotrófica
4: Crescimento 1
autotrófico
5: Inativação -1 1
autotrófica
6: Respiração -1 -1
autotrófica
Tabela 17.13 Parâmetros cinéticos e estequiométricos (adaptado de Wanner e Gujer, 1985; Wanner e Reichert, 1996) e
constantes de taxas segundo uma cinética de ordem zero baseadas nas eqs. 17.6 e 17.7.
k0, DQO, OHO 12,0 gDQO/gDQO.d k0, NH4, OHO 4,30 gN/g DQO.d
k0, O2, OHO 7,2 gO2/gDQO.d k0, O2, OHO 18,80 gO2/gDQO.d
3
XOHO 10.000,0 gDQO/m XANO 10.000,0 gDQO/m3
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NOMENCLATURA
Subscrito Descrição
0 Ordem zero
0 No tempo zero
0,f Biofilme com cinética de ordem zero- com penetração plena
0,p Biofilme com cinética de ordem zero - com penetração parcial
1 Primeira ordem
A Por superfície de biofilme
ANO Organismos autotróficos nitrificantes – Autotrophic nitrifying organisms
B No seio líquido
e.a. Aceptor de elétrons – Electron acceptor
e.d. Doador de elétrons – Electron donor
F No biofilme
i Afluente - influent
LF Na superfície do biofilme
NH4 Amônia
O2 Oxigênio
OHO Organismos heterotróficos ordinários
S Substrato orgânico
W Em água
(1)
Observe que em boa parte do Capítulo 17 o tipo de substrato limitante e as unidades não são especificadas. Exemplos de possíveis
substratos são doadores de elétrons, tais como substrato orgânico (SF,DQO), amônia (SF,NH4), ou aceptores de elétrons, como oxigênio
(SF,O2) ou nitrato (SF,NO3). As unidades para o substrato devem ser consistentes com as unidades observadas para constantes cinéticas
e estequiométricas.
(2)
O tipo de biomassa não é especificado. A biomassa ativa genérica converte o substrato genérico SF. Exemplos de possíveis tipos
de biomassa são bactérias heterotróficas (XOHO) e bactérias autotróficas (XANO).
(3)
As unidades do coeficiente associado à taxa de desprendimento dependem da expressão escolhida (ver Tabela 17.6).
18 Reatores de Biofilme
Kim Helleshøj Sørensen e Eberhard Morgenroth
Tradução: Moacir M. Araújo Jr
Figura 18.2 Tipos de reatores de biofilme: (A) filtro percolador; (B) reator de biofilme de leito fixo submerso operado com fluxo
ascendente ou (C) descendente; (D) reator biológico de contato ou biodisco (RBC - rotating biological contactor); (E) reator de
biofilme em suspensão com elevação por ar (“air-lift”); (F) reator de leito fluidizado; (G) reator de biofilme de leito móvel
(MBBR – moving-bed biofilm reactor) e lodo granular aeróbio (AGS – aerobic granular sludge); (H) reator de biofilme aderido a
membrana (MABR – membrane-attached biofilm reactor). Modificado de Wanner et al., 2006.
Tabela 18.1 Área de superfície específica do meio suporte para diferentes tipos de materiais e reatores de biofilme
tão grande quanto 10 vezes a vazão afluente para percoladores a terem baixo desempenho durante
águas residuárias industriais concentradas (WEF períodos com pequenas diferenças de temperatura.
2018). A ventilação em filtros percoladores é a Para superar esta dificuldade e reduzir a limitação
única fonte de suprimento de oxigênio e é à transferência de massa, projetos modernos de
usualmente devida à convecção natural. Por isso, filtros percoladores podem aplicar ventilação
muitas vezes se torna o fator limitante para a forçada. Esta ventilação normalmente possuirá
transferência de massa, como já identificado por perda de carga menor que 1 mca (metro de coluna
Schroeder e Tchobanoglous, 1976. A ventilação de água), e mesmo com ela o filtro percolador ainda
natural é governada pela diferença de temperatura se mantém como uma das tecnologias que possui o
entre a água e o ar, levando muitos filtros menor custo operacional para aeração.
Figura 18.3 Filtros percoladores utilizando (A) material plástico estruturado, (B) material plástico randômico ou (C) pedras
como meio suporte para o biofilme (Fotos: WesTech Engineering Inc. and Raschig USA Inc.).
qual é utilizado em combinação com MBBR biofilme para melhor suportar o peso do biofilme e
(Malmqvist et al., 2004). Filtros percoladores pela utilização de regras de dimensionamento mais
também têm sido aplicados para a desnitrificação, conservadoras para evitar o crescimento excessivo
mas a prevenção da convecção de ar pelo reator tem do biofilme. Além disso, motores dos eixos
se mostrado ser quase impossível na prática, o que controlados por inversores possibilitou a operação
leva a baixas eficiências do sistema. periódica com maior velocidade de rotação para um
controle adicional do biofilme.
Em reatores convencionais de leito fluidizado, onde as vazões afluentes são mais constantes
as exigências das velocidades ascensionais podem quando comparadas com esgoto sanitário.
ser alcançadas independentemente da vazão
afluente por meio da recirculação da água tratada
(Figura 18.2F). A operação destes reatores requer
um ajuste cuidadoso das velocidades ascensionais
de água. Se estas velocidades são muito baixas, o
material suporte irá sedimentar no fundo do reator.
Por outro lado, se as velocidades forem muito
elevadas, o material suporte será lavado do reator
(sairá junto com o efluente tratado). Um segundo
problema é a estratificação das partículas do
biofilme, de acordo com suas velocidades de
sedimentação. Partículas com biofilmes mais
porosos sedimentam mais vagarosamente e se
acumulam no topo do leito onde sofrem menor
cisalhamento. Como consequência, o biofilme
torna-se cada vez mais leve e estas partículas do
topo do reator começam a serem levadas pelo
efluente. Tanto a necessidade de uma velocidade
ascensional definida quanto a inerente instabilidade
do biofilme no sistema limitam a aplicação de
sistemas de leito fluidizado ou expandido para
sistemas de baixo crescimento, tais como processos
anaeróbios e nitrificação.
Figura 18.9 Desenvolvimento de lodo granular aeróbio em um retor de batelada sequencial por “air-lift” iniciado com lodo
ativado convencional depois de (A) 4, (B) 13 e (C) 87 dias de operação do reator (fotos: M.C.M. van Loosdrecht).
Figura 18.10 Meios suportes plásticos utilizados em reatores de biofilme de leito móvel (MBBR) (fotos: AnoxKaldnes).
Figura 18.13 Diferentes sistemas híbridos: (A) ABF, (B) TF/SC, (C) BAS, (D) IFAS com meio suporte fixo, (E) IFAS com cordas e
(F) MBBR IFAS (Ødegaard et al., 2014).
Como o tempo, os sistemas MBBR e IFAS se et al., 2014). Além disso, a menor idade do lodo
tornaram os mais difundidos em uso. Eles são aplicada para sistemas IFAS nitrificantes resulta
utilizados por várias razões: aumento da em um menor consumo de oxigênio devido à
nitrificação; elevação da remoção biológica de redução da respiração endógena. Este ganho
carbono, nitrogênio e fósforo; melhoria na também resulta em um lodo menos estabilizado
sedimentação e estabilidade operacional; área de com maior potencial de produção de metano se
implantação reduzida, etc. (Christensson; levado a um digestor.
Welander, 2004). Contudo, o objetivo mais
frequentemente usado é para o aumento da 18.1.1.8 Reatores de biofilme aderido em
nitrificação, com a meta de nitrificar totalmente membrana
com menor idade do lodo dos sólidos em suspensão
em comparação com os sistemas convencionais de Biofilmes podem ser cultivados em membranas
lodos ativados. Isto resulta em plantas com permeáveis a gases permitindo a transferência de
reduzida área para nitrificação, remoção de massa de substrato tanto pela superfície quanto pela
nitrogênio e remoção biológica de nutrientes (BNR base do biofilme (Figura 18.13).
– biological nutrient removal). Os efeitos colaterais Se o contaminante é um composto oxidado (por
são a melhoria da sedimentação da biomassa e a exemplo nitrato ou perclorato) então um doador de
estabilidade operacional. Por isso, sistemas IFAS elétrons (exemplo, gás hidrogênio) pode ser
são frequentemente utilizados para melhoria de fornecido à base do biofilme através da membrana
plantas com lodo ativado convencional (Ødegaard (Nerenberg e Rittmann, 2004). Alternativamente,
no filtro deve ser observada como a mínima ascendente, a máxima velocidade de filtração
velocidade que garantirá uma distribuição evitará a expansão do leito; para reatores com
completa do afluente e reduzirá a limitação da suporte de biofilme de menor densidade que a água,
transferência de massa. Em reatores UASB e uma alta velocidade no filtro levará a um aumento
sistemas de leito fluidizado, a velocidade no filtro acentuado na perda de carga. Para sistemas MBBR
possui um valor mínimo para assegurar que a a velocidade pode ser comparada ao fluxo em
expansão do leito irá ocorrer para minimizar a direção à parede da peneira e aqui um fluxo muito
transferência de massa e uma máxima velocidade alto levará a uma distribuição desigual do suporte
que evitará a perda de material suporte de biofilme. de biofilme, uma vez que o meio será empurrado
Para reatores de biofilme de leito fixo submerso em direção à parede da peneira.
com meio suporte mais denso que a água e de fluxo
Tabela 18.2 Valores típicos de velocidades nos filtros (qA, Eq. 18.8) para diferentes tipos de reatores de biofilme. Note que as
velocidades nos filtros são fortemente dependentes do pré-tratamento, da mistura ar-água (para filtros submersos), da
frequência de contralavagem e do objetivo do tratamento.
substrato orgânico. Como discutido na Seção 17.9, dimensionamento. Cálculos manuais simplificados
as bactérias nitrificantes tendem a serem cobertas são muito úteis para um dimensionamento inicial e
por bactérias heterotróficas de rápido crescimento. para avaliar a plausabilidade de simulações
Como resultado, o fluxo de amônia no biofilme é numéricas. Ao se realizar a modelagem de biofilme
controlado pela relativa quantidade de oxigênio complexa é sempre recomendado seguir as etapas
(SB,O2) e substrato orgânico (SB,DQO) na fase líquida dadas no artigo “A framework for good biofilm
(Figura 18.17C). Há um limite para SB,DQO/SB,O2 reactor modelling practice” (Uma estrutura para
acima do qual as bactérias nitrificantes são uma boa prática de modelagem de reator de
superadas e a nitrificação não pode mais ocorrer. biofilme) (Rittmann et al., 2018).
Tabela 18.3 Taxas de carregamento superficiais (BA) e taxas de carregamento volumétricas (BV) de projeto para oxidação de
DBO, oxidação combinada de DBO e amônia ou nitrificação terciária. Os valores aplicados para esgoto sanitário para se atingir
remoção significativa (por exemplo, concentração efluente < 10 mg/L para DBO e < 3 mgN/L para amônia) às temperaturas
normais (10-15°C). Note que estes valores dependem da composição específica do pré-tratamento e da água residuária.
Tipo de Material Carga de DBO Carga de amônia Referência
Reator Suporte
BA BV BA BV
(gDBO/m2.d) (kgDBO/m3.d) (gN/m2.d) (kgN/m3.d)
Oxidação de DBO
Filtro Pedra 4 0,4(1) - - ATV, 1997
Percolador Plástico 4 0,4 – 0,8(1) - - ATV, 1997
Reator Plástico 8 -20(2) - - - Tchobanoglous
Biológico de et al., 2003
Contato
(RBC)
Biofiltro Argila Porosa - 10 - - ATV, 1997
Submerso Ardósia Porosa - 10 - - ATV, 1997
Tabela 18.4 Taxas de carregamento superficial (BA) e taxas de carregamento volumétricas (BV) para desnitrificação. Os valores
são aplicados para o tratamento de esgoto sanitário para alcançar remoção significativa (> 90%) em temperaturas normais (10-
15°C). Note que estes valores dependem dos objetivos do tratamento, pré-tratamento específico, composição da água
residuária, e quantidade e tipo da fonte externa de carbono adicionada.
(1)
Utilizando etanol como doador de elétrons
(2)
Utilizando metanol como doador de elétrons
Etapa 4: Cálculo do volume do reator e TDH. Etapa 6: Qual seria o fluxo de oxigênio
correspondente ao fluxo de substrato de 4 g
AF 3.537 m² DQO/m².d?
VR = = = 11,8 m³
a F 300 m2 /m³
O fluxo de diferentes componentes envolvidos no
(penetração parcial de ordem zero) mesmo processo é descrito pela Eq. 17.92 dada
(18.11) novamente a seguir:
17.13: (18.13)
1
Exemplo 18.2: Nitrificação (Projeto de nível 2) = 22,5 = 5,17 g N/m².d
4,57−0,22
Um RBC seria dimensionado para nitrificação Note que este fluxo de 5,17 g N/m².d é menor
terciária com uma concentração efluente de 5 mg que o valor obtido na Tabela 17.5 para uma
N-NH4+/L. A fase líquida do reator pode ser concentração de amônia na fase líquida de 5 mg
considerada como mistura completa com N/L. Isso se deve ao fato de que os fluxos de
concentração de oxigênio dissolvido de 8 mg/L. amônia na Tabela 17.5 são calculados assumindo
que não existe limitação de oxigênio.
Características da água residuária:
Qi = 150 m³/d Etapa 4: Os fluxos na Tabela 17.5 não levam
LF = 200 μm em conta a resistência a transferência de massa
SNH4 = 40 mgN-NH4+/L externa. Na Seção 5 do Capítulo 17, discutiu-se o
Área superficial específica do meio suporte de efeito da resistência a transferência de massa
biofilme aF = 300 m²/m³ externa e do fluxo de oxigênio que poderia ser
explicitamente calculado. Em muitos casos,
Etapa 1: Avaliar se o oxigênio ou a amônia contudo, valores de projeto para oxidação da
serão limitantes. Isso poderia ser feito usando a Eq. amônia estão disponíveis baseados em fluxos
17.64 ou diretamente usando as profundidades de mensurados em sistemas similares como
penetração para amônia e oxigênio na Tabela 17.7. sumarizado na Tabela 18.3. Fluxos de amônia para
Pela Tabela 17.7 a profundidade de penetração para nitrificação estão no range de 1 a 3 g N/m².d.
concentrações de amônia de 5 mg/L e Assim, para o presente sistema um valor de projeto
concentrações de oxigênio de 8 mg/L são: de 2,5 g N/m².d poderia ser escolhido.
Profundidade de penetração da amônia = 177 Deste modo, as etapas 1 a 4 não deveriam ser
μm necessárias e nós poderíamos ter usado diretamente
Profundidade de penetração do oxigênio = 120 a Tabela 18.3. Um perigo no uso de tais valores de
μm projeto sem os cálculos adicionais é que não é
frequentemente evidente nestes valores
Então, para as concentrações da fase líquida recomendados quais fatores estão limitando a
dadas, a disponibilidade de oxigênio dentro do remoção. Da etapa 2 à 4 é explicitado que a
biofilme será limitante para a remoção da amônia. nitrificação é limitada pelo oxigênio e que os fluxos
de substrato são determinados pela penetração de
Etapa 2: O fluxo de oxigênio pode ser oxigênio no biofilme. Utilizando as profundidades
diretamente obtido na Tabela 17.5, sendo: de penetração promovemos a compreensão das
características do biofilme desejadas. Também,
JLF,O2 = 22,4 gO2/m².d pela realização de cálculos explícitos é
imediatamente claro em quais condições o biofilme
Etapa 3: O fluxo de amônia necessita ser será limitado pela amônia ao invés de ser limitado
calculado pelo fluxo de oxigênio usando a Eq. pelo oxigênio.
17.89:
Exemplo 18.3: Combinação da remoção de Onde, VR,total é o volume total do reator e VR,DQO
substrato orgânico e e VR,NH4 são o volume do reator para oxidação de
nitrificação (projeto de nível carbono na parte superior e nitrificação na parte
3) inferior do filtro percolador. Utilizando taxas de
carregamento típicas da Tabela 18.3 de 0,6 kg
Um filtro percolador usando material plástico DBO/m³.d (para oxidação de DBO) e 0,1 kg N/m³.d
deveria ser projetado para oxidação de carbono e (para nitrificação terciária) nós podemos estimar o
nitrificação combinados. volume total como:
m3 gDBO
Características da água residuária: Qi .DQOb,i (150
d
)(200 3 )
m
VR,DQO = = = 50 m³
Qi = 150 m³/d BV,DQO 0,6 kg DBO/(m3 .d)
Cb,i = 200 mg DBO/L (18.16)
SNH4,i = 40 mgN-NH4+/L
m3 gN
Q i . SNH4,i (150 d )(40 m3 )
Parâmetros de dimensionamento típicos VR,NH4 = = = 60 m³
deveriam ser assumidos para o projeto. BV,NH4 0,1 kg N/(m3 . d)
(18.17)
Abordagem 1: Modelagem detalhada de
oxidação de carbono e nitrificação combinadas foi Assim a Eq. 18.15 fica:
discutida na Seção 17.9, demonstrando que uma
condição para que a nitrificação ocorra é ter VR,total = 50 m³ + 60 m³ = 110 m³
concentrações de DBO suficientemente baixas no
meio líquido para dadas concentrações de oxigênio. Portanto, um volume total de 110 m³ deverá
Oxidação de carbono e nitrificação podem ser promover de forma confiável tanto a oxidação do
avaliadas pela modelagem explícita de fluxos de substrato orgânico quanto a nitrificação. O
substrato e a estrutura de biofilme heterogênea projetista tem a opção de projetar um grande reator
onde a DBO é oxidada primeiro seguida da ou dois reatores separados com separação sólido-
nitrificação (Wanner; Gujer, 1985). Simulações líquido entre o primeiro reator de oxidação de
podem ser confirmadas utilizando módulos de carbono e o segundo reator de nitrificação.
biofilme disponíveis em programas comumente
utilizados para plantas de tratamento ou o programa 18.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES DE
AQUASIM que foi introduzido no Capítulo 17. PROJETO
convecção natural para aeração. Se necessário, a acúmulo do excesso de biofilme a fim de se evitar
aeração pode ser aumentada por ventilação forçada a colmatação do leito. Um biofilme espesso
ou difusores de ar submersos em filtros também pode levar ao risco de condições
percoladores e RBC, respectivamente. Reatores de anaeróbias nas partes mais internas do biofilme, o
biofilme submersos dependem inteiramente de que, por sua vez, pode ter um desprendimento não
aeração forçada. Para reatores de leito fixo, o ar é desejado do biofilme como consequência. As
introduzido no material suporte por meio de uma forças de cisalhamento nos filtros percoladores são
grade que ajuda a garantir uma distribuição uma função do carregamento hidráulico (q A, [L T-
1
igualitária do ar ao longo da seção transversal do ], Eq. 18.7), o número de braços do distribuidor
leito do reator. Conforme as bolhas de ar se movem rotativo (a) e sua velocidade de rotação em
através do material filtrante, elas se coalescem revoluções por tempo (n, T-1. Estes diferentes
rapidamente, resultando em bolhas maiores, mas fatores que afetam as forças de cisalhamento e
devido ao aumento da retenção de gás causado pela desprendimento em filtros percoladores são
combinação de suporte de biofilme e o bloqueio combinados nas forças de descarga (SK, de
pelo biofilme do caminho para as bolhas, a Spülkraft na Alemanha):
eficiência de aeração em BAFs pode ser comparada
qA
a que encontrado para um difusor de bolha fina em SK = (18.18)
a.n
lodo ativado (Stenstrom et al., 2008). Em reatores
de biofilme em suspensão, a aeração muitas vezes Valores típicos para a faixa de SK de 4 a 8
serve ao propósito duplo de fornecer oxigênio e mm/braço (ARV-DVWK, 2001). Filtros
suprimento de energia para a mistura. percoladores modernos são frequentemente
Normalmente, sistemas de aeração de bolha grossa equipados com um braço distribuidor eletricamente
a média são preferidos para reatores de biofilme, acionado que permite que o valor de SK seja
uma vez que estes sistemas têm menos risco de controlado. Da mesma forma, RBC com CLPs e
entupimento/incrustação relacionado ao velocidade de acionamento controlada por inversor
crescimento do biofilme. de frequência podem ser programados para realizar
um controle diário ou semanal do biofilme,
18.4.2 Distribuição de fluxo aumentando as velocidades de rotação por alguns
minutos.
Para reatores de leito fixo e leito fluidizado uma
distribuição homogênea da vazão de água afluente Em reatores de biofilme em suspensão, altas
por toda a seção transversal do reator é crítica para taxas de desprendimento e biofilmes finos são
um tratamento eficaz. A distribuição de água resultados de altas taxas de cisalhamento e abrasão.
influencia tanto as taxas de carregamento de Uma carga superficial de carbono muito alta pode,
substrato local quanto a ação das forças de entretanto, levar a um crescimento tão alto do
cisalhamento no biofilme. Em reatores de leito biofilme, que o biofilme não será suficientemente
fixo, uma distribuição de fluxo heterogênea pode controlado e isso se torna um fator limitante.
resultar em caminhos preferenciais, remoção de
substrato reduzida e entupimento o material Em reatores de biofilme de leito fixo, a
filtrante. retrolavagem deve ser realizada em intervalos
regulares para remover o excesso de biofilme e
18.4.3 Controle do biofilme também os sólidos em suspensão que podem se
acumular nos interstícios do meio filtrante. Na
A operação eficaz do reator deve reter um biofilme nitrificação de BAFs, isso também reduz o risco f
suficientemente espesso para permitir a remoção da biomassa heterotrófica crescer sobre a
do substrato, e ao mesmo tempo prevenir o nitrificante.
Figura 18.18 MBBR combinado com alternativas de separação de biomassa: A) decantação, (B) coagulação e decantação
(também Actiflo®), (C) flotação, (D) filtração em mídia, (E) micro tela (ou seja, filtração a disco) e (F) filtração com membrana
(Ødegaard, 2010).
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NOMENCLATURA
Subscrito Descrição
0 Ordem zero
0 No tempo zero
1 Primeira ordem
A Por área superficial de biofilme
ANO Bactéria autotrófica
B Na fase líquida