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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

FORMAÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DO


ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO:
RELATO DA DISCIPLINA PROJETOS
SOLIDÁRIOS
Lie Yamanaka (UFG)
lie.ufg@gmail.com
Maico Roris Severino (UFG)
maico@dep.ufscar.br

Considerando-se sua importância na sociedade atual, os temas


relativos às questões sociais e ambientais têm sido discutidos e vistos
como necessários para formação dos Engenheiros de Produção pelas
diversas instituições que regularizam a ellaboração dos projetos dos
cursos. Porém, poucas são as experiências práticas observadas. Assim,
este artigo tem por objetivo discutir a formação relativa à
responsabilidade social e ambiental do Engenheiro de Produção
através do relato da disciplina de Projetos Solidários e discutir o
impacto da disciplina em tal formação. Desta forma, com base em uma
breve revisão da metodologia participativa e da formação
socioambiental do Engenheiro de Produção, foi feito o relato da
experiência e dos projetos executados na disciplina. Como resultado
foi possível fazer algumas reflexões a respeito da necessidade de
desenvolver ações que visem à formação socioambiental do
Engenheiro de Produção, além da contribuição estar na possibilidade
de replicação da experiência adaptada a outros cursos. Considering its
importance in nowadays, social and environmental issues have been
discussed and seen as necessary for formation of productions engineers
by the institutions that regulate the development of projects of the
courses. However, there are lack of practical experiences. Thus, this
article aims to discuss the formation on the social and environmental
responsibility of the production engineer relating the discipline of
Solidarity Projects and discuss the impact of discipline in such
formation. Thus, based on a brief review of the participatory
methodology and socio-environmental production engineer formation,
this article was built of the experience and developed projects in the
discipline. As a result it was possible to do some conclusions about the
need to develop actions aimed at social and socio-environmental
engineer production formation, besides the contribution is on the
possibility of replicating the experience adapted to other courses.

Palavras-chaves: projetos solidários, formação do engenheiro,


responsabilidade social e ambiental
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
Uma das crescentes demandas da sociedade atual é de profissionais que detenham além do
conhecimento técnico de sua área de atuação, tenham uma atuação voltada para as questões da
sustentabilidade (econômica, social, ambiental, espacial e cultural). Para o caso de
profissionais de Engenharia, de modo especial de Engenharia de Produção, não é diferente,
visto que as soluções propostas ou empregadas devem, por motivos de princípios ou por
motivos de lei, considerar seus impactos sociais e ambientais.
Neste sentido existe pelas instituições que regularizam os projetos pedagógicos dos cursos de
Engenharia de Produção, tais como Ministério da Educação (MEC), Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) e Associação Brasileira de Engenharia de
Produção (ABEPRO), a recomendação de inclusão de disciplinas ou de ações voltadas para as
questões de sustentabilidade, gestão ambiental, responsabilidade social, entre outros temas
relacionados.
Destaca-se que este debate não é recente. Desde a década de 60 uma nova forma de
compreensão da ciência e da tecnologia e suas inter-relações com a sociedade vêm sendo
construída dentro do campo de estudo de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), que
questiona e critica a neutralidade da ciência e da tecnologia, e ainda, de ideias lineares de
progresso (INVERNIZZI; FRAGA, 2007). Recomendando a formação de profissionais que na
proposição de suas soluções levem em consideração os fatores sociais que influenciam o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e se responsabilizem pelas implicações sociais,
ambientais e mesmo éticas de suas proposições.
Apesar de não ser recente somente nos últimos anos, de modo especial na última década, este
debate está tomando maior dimensão, impulsionado principalmente, pelas questões
ambientais e os desastres que vem ocorrendo com maior frequência.
Para responder a esta demanda de profissionais em Engenharia de Produção com uma
formação além de técnica voltada para as questões de sustentabilidade, a Universidade
Federal de Goiás (UFG) em sua proposta curricular do curso de Engenharia de Produção,
propõe algumas ações que buscam proporcionar tal formação desejada.
Entre as ações adotadas para permitir a formação do engenheiro com os conhecimentos
necessários ao desempenho de seu papel social e ambiental, destacam-se duas: a) incentivo
aos alunos em participarem de projetos de extensão (bem como de pesquisa) que tratam de
responsabilidade social e ambiental; b) inserção de disciplinas obrigatórias, optativas e de
núcleo livre (disciplinas ofertadas pelos diferentes cursos para todos os alunos matriculados
em qualquer curso da UFG) na grade curricular do aluno (COLOMBO et. al., 2012).
Quanto à primeira estratégia, destacam-se as ações de extensão como mecanismos
importantes na formação ética e a função social do profissional. Tais ações buscam
incrementar a interação da universidade com a sociedade, estabelecendo uma via de mão
dupla. A extensão universitária é encarada como um processo educativo, cultural e científico
que, articulado ao ensino e à pesquisa, de forma indissociável, viabiliza a relação
transformadora entre a Universidade e a Sociedade. Neste sentido, ações de extensão com

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temas relacionados à responsabilidade social e ambiental são desenvolvidas com a


participação ativa dos estudantes.
Quanto à segunda estratégia, destacam-se a inserção de nove disciplinas obrigatórias, três
disciplinas optativas e diversas disciplinas de núcleo livre que discutem de modo aprofundado
ou em algum tópico da ementa as questões sociais e ambientais nos diferentes períodos do
curso. Como pode ser observado na Figura 1, o fluxo de disciplinas permite que praticamente
em todos os semestres ocorra tal discussão, e em maior intensidade no oitavo período (UFG,
2011).

Fonte: Adaptado de Engenharia de Produção UFG-CAC (2011)


Figura 1: Disciplinas que discutem a responsabilidade social e/ou ambiental no fluxo
curricular de Engenharia de Produção da UFG – Campus Catalão
Apesar da contribuição de todas as ações mencionadas para a formação ampliada do
engenheiro de produção, uma ação que merece destaque é a disciplina de Projetos Solidários.
Desta forma, este trabalho tem por objetivo discutir a formação relativa à responsabilidade
social e ambiental do Engenheiro de Produção através do relato da disciplina de Projetos
Solidários e discutir o impacto da disciplina em tal formação.
Justifica-se a relevância de trabalho desta natureza visto que a possibilidade de replicação do
trabalho desenvolvido adaptados à outros cursos, e ainda, por ser um tema discutido, porém
com poucas experiências práticas no ensino de Engenharia de Produção.
2. Procedimento Metodológico

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Como metodologia do trabalho realizado na disciplina Projetos Solidários utilizou a Pesquisa


Participativa. Esta metodologia possibilita a participação e uma forma de ação planejada de
caráter social, educacional e técnico que nem sempre se encontra em outros tipos de propostas
de pesquisa. Um dos seus principais objetivos consiste em oferecer aos pesquisadores e aos
grupos de participantes os meios de se tornarem capazes de responder com maior eficiência
aos problemas da situação em que vivem, em particular sob a forma de diretrizes de ação
transformadora. Isto é feito através de um diagnóstico da situação no qual os participantes
tenham voz e vez.
Segundo Paiva e Alexandre (1998) este tipo de pesquisa tem como principal característica
respeitar a cultura e o modo de vida dos atores receptores das informações. Para tanto, estes
passariam a fazer parte integrante e ativa de um processo de transferência de informações,
permitindo a eles serem capazes de problematizar, junto com a pesquisa e extensão, as suas
necessidades e desenvolver um espírito crítico que lhes proporcionaria, após o final do
processo de transferência, atingir maior autonomia e visão em respeito à natureza e ao
ambiente em que tais atores vivem.
Nas palavras de Thiollent, citado por Paiva e Alexandre (1998), a metodologia da pesquisa
participativa é planejada a partir das seguintes ações: 1) fase exploratória ou de diagnóstico;
2) fase de pesquisa aprofundada; 3) fase de ação; 4) fase de avaliação.
A disciplina de Projetos Solidários do curso de Engenharia de Produção da UFG tem a
seguinte ementa: Conceitos básicos de Economia Solidária; Cooperativismo; Gestão de
Projetos Solidários; Desenvolvimento de projetos de engenharia de produção junto às
comunidades locais.
As discussões e resultados apresentados neste artigo tratam da primeira ocasião de oferta
desta disciplina no curso. Assim foram realizadas aulas expositivas, leituras e discussões
sobre os temas relacionados à ementa.
Em termos operacionais e relacionando as fases da Pesquisa Participativa, este trabalho foi
realizado do seguinte modo:
1) Fase exploratória ou de diagnóstico: Nesta fase foi discutida e organizada a dinâmica da
disciplina. Ela envolve, além da discussão inicial a respeito dos conceitos e forma de atuação
nos projeto, a identificação de possíveis comunidades a serem atendidas e projetos a serem
desenvolvidos. Isso ocorreu por meio de reuniões com representantes ou instituições de apoio
as comunidades. Nesta fase o docente responsável pela disciplina poderia ser intermediador
de contatos iniciais para identificação das demandas, mas entendendo que os alunos tem a
autonomia e responsabilidade para definição dos projetos a serem desenvolvidos.
2) Fase de pesquisa aprofundada: nesta fase os grupos de alunos foram até aos grupos sociais
escolhidos e fizeram a coleta de dados e diagnóstico da situação atual tais grupos. Em
momento posterior os grupos de alunos retornaram à sala de aula para apresentar os dados
coletados e discutir com o professor e entre os grupos as propostas de projetos. Também nesta
fase os grupos organizaram os planos de ação de cada projeto solidário.
3) Fase de ação: neste momento os alunos voltaram aos grupos sociais e implementaram os
projetos desenvolvidos em sala, a partir da anuência dos mesmos.

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4) Fase de avaliação: esta fase pode ser entendida em quatro momentos de avaliação: a) o
feedback dos grupos sociais em termos da atuação dos alunos; b) a avaliação do professor do
desempenho dos projetos e atuação dos grupos da disciplina; c) a avaliação dos autores do
artigo quanto o impacto da disciplina na formação sócio-ambiental dos alunos que
participaram da mesma.

3. Formação Sócio-Ambiental do Engenheiro de Produção


Segundo a definição da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO, 2011),
o Engenheiro de Produção
“é o profissional responsável pelo projeto, implantação, operação, melhoria e
manutenção de sistemas produtivos integrados de bens e serviços, envolvendo
homens, materiais, tecnologia, informação e energia. Compete ainda especificar,
prever e avaliar os resultados obtidos destes sistemas para a sociedade e o meio
ambiente, recorrendo a conhecimentos especializados da matemática, física, ciências
humanas e sociais, conjuntamente com os princípios e métodos de análise e projeto
da engenharia”.

Apesar da definição apresentada ressaltar questões ambientais e sociais, historicamente (e


ainda hoje em muitos casos) os projetos pedagógicos dos cursos (PPC) de Engenharia de
Produção, em sua maioria, dão grande ênfase à formação técnica de tal profissional. Por
consequência, a formação voltada à responsabilidade social e ambiental não apareciam
(aparecem) ou se restringiam em uma ou duas disciplinas em um curso de 3500 a 4000 horas.
Destaca-se que a inclusão da formação voltada à responsabilidade social e ambiental de
profissionais da área da Engenharia de Produção é uma tendência mundial. De acordo com
Lianza, Addor e Carvalho (2005) começa a se demandar do engenheiro uma visão da
sociedade em seu trabalho, uma abordagem sócio-técnica, que possibilite à Engenharia uma
visão mais global da sociedade e das relações sociais e ambientais imanentes às suas ações.
Assim, a demanda é de proposta pedagógicas que, durante o curso, o estudante venha a
adquirir uma postura ética, que aprenda a trabalhar tanto individualmente quanto em equipe e
adquira uma boa consciência social, no sentido de que, quando for um futuro engenheiro,
possa aplicar seus conhecimentos tanto para seu próprio bem estar, como para o bem estar da
sociedade em que vive, valorizando não apenas as questões econômicas, mas também as
questões sociais, ambientais, espaciais e culturais. Assim oportunizando a formação do
cidadão ético e consciente de suas responsabilidades.
O perfil do engenheiro de produção, portanto, compreenderá uma sólida formação
tecnológica, científica e profissional geral que o capacite a absorver e desenvolver novas
tecnologias, mas principalmente estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e
resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais,
ambientais e culturais, com visão ética e humanística em atendimento às demandas da
sociedade.
Verifica-se que muitas das práticas de ensino de Engenharia, hoje adotadas, na busca destes
objetivos são oportunas, tem trazido mudanças no modo de ser e agir do Engenheiro e,
portanto, devem ser mantidas. No entanto, Colombo et. al. (2012) afirma que é preciso mais,
ou ainda, outra foma de realizar a prática do ensino para que o resultado seja maior, tanto em
termos de amplitude como de profundidade, de modo que o mercado capitalista se torne

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incapaz de modificar os valores do profissional, e sim que este, com seu novo modelo, possa
alterar os valores do mercado.
Neste sentido, o curso de Engenharia de Produção da UFG, como mencionado na seção 1,
apresenta uma proposta desta formação através das ações extensionistas e através de
disciplinas que abordam o tema, com destaque à disciplina de Projeto Solidários. Desta forma,
a seção 4 apresenta o relato das experiências vivenciadas pelos alunos.
4. Relato das Experiências na disciplina de Projetos Solidários no ano de 2011
A disciplina Projetos Solidário é ofertada no oitavo período do curso sendo de caráter
obrigatório. No período em questão os alunos cursaram praticamente todas as disciplinas
específicas do curso. Desta forma, o projeto a ser desenvolvido estará de acordo com as
demandas da comunidade a ser atendida e poderá incluir a aplicação de conhecimentos
adquiridos pelos alunos ao longo do curso.
No ano de 2011 foram atendidos e desenvolvidos 08 projetos. Para identificação das
demandas de projetos os alunos são orientados a visitar comunidades da região, realizar
contatos com associação de bairros, escolas, entidades de apoio. Além disso, foram realizados
contatos com a Secretaria do Meio Ambiente e Secretaria de Ação Social do Município e
com um representante do Sebrae que coordena projetos de cunho sócio-ambiental. Assim, os
alunos são convidados a entrar em contato ou participar de reuniões com tais órgãos ou
comunidades que expõem suas demandas. De posse das informações, os alunos, que são
divididos em grupos de aproximadamente 05 integrantes, definem as comunidades a serem
atendidas por meio do desenvolvimento de um projeto de cunho solidário.
A seguir serão feitos relatos detalhados de três projetos desenvolvidos pelos alunos que
seguiram metodologia exposta na seção 2 deste artigo, estes foram aplicados nas seguintes
comunidades:

 Cooperativa de Trabalhadores Autônomos de Catalão – COOTRACAT


Descrição da comunidade e processo: O projeto “estudo da realidade e propostas de
melhoria de uma cooperativa de reciclagem” envolveu a COOTRACAT, uma cooperativa de
reciclagem que fica instalada ao lado do aterro sanitário controlado da cidade de Catalão. A
cooperativa tem 34 cooperados, opera em dois turnos, selecionando 30% do lixo coletado. A
coleta seletiva está sendo implantada gradualmente nos bairros da cidade, no entanto, a maior
parte da separação do material é realizada pelos cooperados por meio de um processo
localizado ao lado do aterro sanitário.
O processo funciona da seguinte maneira: a) cerca de 30% do lixo coletado é depositado
pelos caminhões de coleta em um espaço próximo a moega (esteira) onde é feita a separação
do lixo; b) O lixo depositado é transportado por uma pá-carregadeira até a moega de
alimentação da correia; c) os cooperados ficam posicionados em ambos os lados da esteira,
sendo que cada um tem uma determinada função de retirar um tipo específico de material
reciclado quando este passa pela esteira; d) uma vez selecionados, o material é locado em uma
área de estoque próximo a esteira; e) os materiais são recolhidos da área de estoque para
serem processado na prensagem; f) os materiais prensados vão para uma área de estoque final
para de onde são expedidos para os clientes (compradores). G) os resíduos dos materiais que
não são separados, incluindo os materiais indesejados são destinados ao aterro sanitário.

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Diagnóstico e proposta de ação: foram realizadas visitas e conversas com os cooperados


a fim de identificar as carências da cooperativa. Ao analisar as diversas questões e
considerando o curto prazo para desenvolvimento do projeto, o grupo optou por focar,
primeiramente, na análise da capacidade produtiva visando à expansão da cooperativa. Para
isso, objetivava-se apresentar duas propostas: uma com o propósito de obter um
financiamento para expansão da produção com recursos obtidos por meio de doação por parte
de empresas locais em conjunto com órgão públicos e outra com vistas a fazer uma análise
financeira de modo que a cooperativa subsidiasse sua própria expansão. Durante o
levantamento, verificou-se que o gargalo do processo estava na prensagem do material, em
um segundo momento seria necessário para a ampliação a aquisição de mais uma nova correia
transportadora e uma moega de alimentação do sistema. Além disso, propôs-se a aquisição de
um novo equipamento que agregaria valor para comercialização em quatro vezes mais, que
seria o lavador e triturador de PET. Por fim, também foi incluída na proposta a aquisição de
um veículo para transportar os materiais a serem comercializados eliminando a figura do
intermediário e agregando maior valor para comercialização.

 Centro de Inserção Social do Presídio de Catalão


Descrição da comunidade: este projeto teve como foco os presidiários em reeducação do
Centro de Inserção Social de Catalão - CIS. O trabalho é um dos mais importantes fatores no
processo de ressocialização dos presos, assim uma das preocupações do sistema penitenciário
tem sido criar novas alternativas de trabalho como forma de melhorar as condições de
dignidade humana dentro das penitenciárias. O presídio de Catalão possui cerca de 160
presos, embora sua capacidade a metade deste número. A maioria das apreensões é causada
em função das drogas, em primeiro plano para sustento do vício. Existe um interesse de
trabalhar, por maior parte dos presos, pela possibilidade de ganho salarial e redução da pena,
no entanto, poucas empresas procuram este tipo de mão de obra. A categoria de presos de
bom comportamento, que está vinculado ao projeto de produção de tapetes é de 12 detentos.
Atualmente, uma fábrica de uniformes funciona nas dependências do presídio, com
aproximadamente 15 detentos empregados.
Diagnóstico e proposta de ação: Foi identificada a necessidade de elaboração do projeto
de produção de tapetes, já realizado de maneira ainda não sistematizada. Assim, foram
realizadas visitas ao CIS, buscando-se identificar as necessidades, dificuldades e conhecer o
produto e o processo. Como escopo do trabalho a ser desenvolvido pelo grupo de alunos
objetivou-se atuar no projeto de produção de tapetes com a proposta de angariar recursos para
capitalizar a produção, organizar o processo produtivo e promover a comercialização do
produto. Para angariar os recursos, buscou-se o auxílio da Secretaria de Ação Social da
cidade. Após a apresentação do projeto e reuniões de negociação, a secretaria se dispôs a
auxiliar financeiramente os reeducandos, com a compra da matéria-prima. Na organização do
processo, estes foram mapeados e para cada etapa foi proposta uma forma de atuação. Na
etapa de estoque e produção, existia um problema quanto ao espaço físico, visto que o
presídio está superlotado. Assim, em conversa com o diretor do CIS, foi possível conseguir
uma área para alocação de estoque e entrega da matéria-prima. Ainda foi criada uma etiqueta
para os produtos para que permitisse fácil identificação e controle e criasse uma marca para o
produto. A etiqueta trazia a logomarca e slogan do projeto que foi chamado de “Projeto

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Tapete Vermelho” (baseada na ideia de boas vindas ao individuo que se reinsere na sociedade
e do que adquire o produto e também é bem recebido por este ideal), também uma breve
explicação a respeito do projeto, o nome, tipo e valor do produto. Com relação à
comercialização, a equipe tinha como proposta o contato com empresas especializadas na
venda de tapetes, preferencialmente, em grande cidades para que se obtivesse um maior preço
com a venda dos produtos artesanais. Além de buscar a comercialização em feiras ou
vendedores autônomos. A fase não pode ser concluída durante a execução do projeto, visto
que necessitava além do encaminhamento da matéria-prima, do processo de formalização para
sua comercialização e que dependia dos agentes de apoio.
Além dos três projetos acima apresentados, outro projeto desenvolvido foi na Associação de
Artesões de Catalão e Região, com objetivo de auxiliar na formalização da associação. Outros
três grupos atuaram em diferentes Escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, cada
um com uma proposta de projeto e tendo em comum o objetivo de conscientização ambiental
e a sensibilização quanto à coleta seletiva por meio de realização de atividades como teatro de
fantoches, pinturas, visitas. Um outro grupo de alunos atuou junto a escolas e bairros carentes
de Catalão beneficiados com a distribuição gratuita do leite de soja produzido pelo Centro do
Convivência do Pequeno Aprendiz, o projeto teve por objetivo aumentar a distribuição do
leite de soja, por meio de divulgação e conscientização. E para completar os projetos
desenvolvidos pelos alunos durante a oferta desta disciplina um oitavo grupo atuou junto a
FENOVA, uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos que atende crianças e adolescentes
na faixa etária de 07 a 17 anos, com carências sociais e morais. O objetivo do projeto foi
elaborar um plano de marketing para os produtos produzidos na entidade.
5. Considerações Finais
O processo de transformação econômica e social de um país passa pela formação de alunos.
No caso da formação de Engenheiros de Produção, este processo é essencial uma vez que suas
decisões e ações não trazem apenas impactos econômicos, mas sociais e ambientais. Por isso,
existe uma necessidade de formação mais ampla para que as decisões do futuro Engenheiro
não sejam balizadas em quadros de referências limitados aos aspectos técnicos ou
econômicos, mas que percebam a inseparabilidade de questões técnicas e políticas que
envolvem a sociedade e o ambiente.
Embora, os diferentes órgãos que regulam ou fornecem recomendações a respeito da
formação do Engenheiro, como, por exemplo, as Diretrizes Curriculares da Engenharia
(MEC, 2011), que diz que o perfil desejado do egresso envolve “identificação e resolução de
problemas considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais,
com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade”, verifica-se que
uma defasagem na formação nos cursos de Engenharias (COLOMBO, et al., 2012; DWEK,
2011; FRAGA, 2007).
A proposta de realização de projetos de extensão e de inclusão de disciplinas, como no caso
da disciplina Projetos Solidários na grade curricular do curso é uma tentativa no sentido de
suprir tal defasagem na formação deste futuro profissional. Ao se fazer uma avaliação inicial
destas iniciativas aplicadas no curso da UFG, não é possível mensurar os resultados imediatos
de tais impactos, no entanto, algumas considerações podem ser realizadas.

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Um aspecto a ser analisado é o impacto que os projetos, mesmo que de pequeno escopo,
podem ter realizado nas comunidades envolvidas. Espera-se que possam ter contribuído,
mesmo que timidamente, para mudar a realidade destas comunidades. Os projetos têm como
característica em comum o início de uma ação e que estas poderão ser transformadas em
projetos maiores de longo prazo.
Outro aspecto a se analisar, no qual o presente artigo se propõe é o impacto para a formação
do Engenheiro de Produção. Não podemos afirmar que apenas uma disciplina do curso
poderia trazer grandes mudanças na visão e comportamento do indivíduo que está sendo
formado, no entanto, ela pode sim interferir neste processo, visto que todos os alunos estão
envolvidos na ação que a metodologia participativa exige. Há de se considerar que esta
mudança varia de indivíduo para indivíduo e que a disciplina também é parte da formação
destes aspectos, visto que ao longo do curso foram trabalhadas disciplinas e também
desenvolvidos projetos de pesquisa e extensão que o ajudam a construir tal formação social,
cultural, ambiental, espacial. Em especial, na disciplina Projetos Solidários, o que se pôde
observar é uma participação e envolvimento de todos os integrantes dos grupos na execução
do projeto e que por meio de alguns depoimentos puderam manifestar esta mudança de visão
na sua formação. Um dos grupos que desenvolveu seu projeto no CIS relata que “o ganho foi
como engenheiros de produção na tentativa de implementar a melhoria de um processo como
um todo, mas também como cidadãos que tomaram conhecimentos sobre a necessidade
dessas pessoas, despertando, assim o interesse em ajudá-las.”
Assim, podemos verificar que independente do método que será empregado para formação do
Engenheiro, seja uma disciplina a parte, um projeto, ou a realização de ações em outras
disciplinas do curso, há de se incluir novas ações em direção à formação do um Engenheiro de
Produção mais consciente, pelo menos, que seja dado a ele esta oportunidade de compreender
estes novos aspectos além dos técnicos.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (ABEPRO).


Engenharia de Produção: Grande área e diretrizes curriculares. Disponível em:
http://www.abepro.org.br/arquivos/websites/1/Ref_curriculares_ABEPRO.pdf. Acessado em:
08/09/2011.

COLOMBO, C. R; RUFINO, S.; ARAUJO, F. O. de; YAMANAKA, L.; SEVERINO,


M. R.; OLIVEIRA, V. A. N. de.; Reflexões e ações para formação de engenheiros de
produção social e ambientalmente responsáveis. In: Tópicos emergentes e desafios
metodológicos da engenharia de produção: casos, experiências e proposições. Vol. 5, Rio de
Janeiro: ABEPRO, 2012.

DWEK, M. A tenacidade da fantasia: propostas para a renovação da formação em


engenharia. In: 8º. ENEDS, 2011. 8º. Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento
Social. Ouro Preto – MG. Anais... Ouro Preto – MG: UFOP, 2011. 1 CD-ROM.
FRAGA, L. S. O curso de graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos da
UNICAMP: uma análise a partir da educação em ciência, tecnologia e sociedade. 2007.
86p.Dissertação (Mestrado em Política Científica e Tecnológica) – Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, 2007.

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INVERNIZZI, N. & FRAGA, L. Educação em Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente.


Revista Ciência & Ensino. Vol.1, Número Especial, 2007.

LIANZA, S.; ADDOR, F. C.;CARVALHO, V.F.M.; Solidariedade Técnica: por uma


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PAIVA, D. W. & ALEXANDRE, M. L.; Pesquisa Participativa e Ação Comunitária. In:


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de Metodologia de Projetos de Extensão. Rio de Janeiro: COPPE, 1998.

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Engenharia de Produção da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão, 2011.

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