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1. Introdução
Uma das crescentes demandas da sociedade atual é de profissionais que detenham além do
conhecimento técnico de sua área de atuação, tenham uma atuação voltada para as questões da
sustentabilidade (econômica, social, ambiental, espacial e cultural). Para o caso de
profissionais de Engenharia, de modo especial de Engenharia de Produção, não é diferente,
visto que as soluções propostas ou empregadas devem, por motivos de princípios ou por
motivos de lei, considerar seus impactos sociais e ambientais.
Neste sentido existe pelas instituições que regularizam os projetos pedagógicos dos cursos de
Engenharia de Produção, tais como Ministério da Educação (MEC), Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) e Associação Brasileira de Engenharia de
Produção (ABEPRO), a recomendação de inclusão de disciplinas ou de ações voltadas para as
questões de sustentabilidade, gestão ambiental, responsabilidade social, entre outros temas
relacionados.
Destaca-se que este debate não é recente. Desde a década de 60 uma nova forma de
compreensão da ciência e da tecnologia e suas inter-relações com a sociedade vêm sendo
construída dentro do campo de estudo de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), que
questiona e critica a neutralidade da ciência e da tecnologia, e ainda, de ideias lineares de
progresso (INVERNIZZI; FRAGA, 2007). Recomendando a formação de profissionais que na
proposição de suas soluções levem em consideração os fatores sociais que influenciam o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e se responsabilizem pelas implicações sociais,
ambientais e mesmo éticas de suas proposições.
Apesar de não ser recente somente nos últimos anos, de modo especial na última década, este
debate está tomando maior dimensão, impulsionado principalmente, pelas questões
ambientais e os desastres que vem ocorrendo com maior frequência.
Para responder a esta demanda de profissionais em Engenharia de Produção com uma
formação além de técnica voltada para as questões de sustentabilidade, a Universidade
Federal de Goiás (UFG) em sua proposta curricular do curso de Engenharia de Produção,
propõe algumas ações que buscam proporcionar tal formação desejada.
Entre as ações adotadas para permitir a formação do engenheiro com os conhecimentos
necessários ao desempenho de seu papel social e ambiental, destacam-se duas: a) incentivo
aos alunos em participarem de projetos de extensão (bem como de pesquisa) que tratam de
responsabilidade social e ambiental; b) inserção de disciplinas obrigatórias, optativas e de
núcleo livre (disciplinas ofertadas pelos diferentes cursos para todos os alunos matriculados
em qualquer curso da UFG) na grade curricular do aluno (COLOMBO et. al., 2012).
Quanto à primeira estratégia, destacam-se as ações de extensão como mecanismos
importantes na formação ética e a função social do profissional. Tais ações buscam
incrementar a interação da universidade com a sociedade, estabelecendo uma via de mão
dupla. A extensão universitária é encarada como um processo educativo, cultural e científico
que, articulado ao ensino e à pesquisa, de forma indissociável, viabiliza a relação
transformadora entre a Universidade e a Sociedade. Neste sentido, ações de extensão com
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4) Fase de avaliação: esta fase pode ser entendida em quatro momentos de avaliação: a) o
feedback dos grupos sociais em termos da atuação dos alunos; b) a avaliação do professor do
desempenho dos projetos e atuação dos grupos da disciplina; c) a avaliação dos autores do
artigo quanto o impacto da disciplina na formação sócio-ambiental dos alunos que
participaram da mesma.
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incapaz de modificar os valores do profissional, e sim que este, com seu novo modelo, possa
alterar os valores do mercado.
Neste sentido, o curso de Engenharia de Produção da UFG, como mencionado na seção 1,
apresenta uma proposta desta formação através das ações extensionistas e através de
disciplinas que abordam o tema, com destaque à disciplina de Projeto Solidários. Desta forma,
a seção 4 apresenta o relato das experiências vivenciadas pelos alunos.
4. Relato das Experiências na disciplina de Projetos Solidários no ano de 2011
A disciplina Projetos Solidário é ofertada no oitavo período do curso sendo de caráter
obrigatório. No período em questão os alunos cursaram praticamente todas as disciplinas
específicas do curso. Desta forma, o projeto a ser desenvolvido estará de acordo com as
demandas da comunidade a ser atendida e poderá incluir a aplicação de conhecimentos
adquiridos pelos alunos ao longo do curso.
No ano de 2011 foram atendidos e desenvolvidos 08 projetos. Para identificação das
demandas de projetos os alunos são orientados a visitar comunidades da região, realizar
contatos com associação de bairros, escolas, entidades de apoio. Além disso, foram realizados
contatos com a Secretaria do Meio Ambiente e Secretaria de Ação Social do Município e
com um representante do Sebrae que coordena projetos de cunho sócio-ambiental. Assim, os
alunos são convidados a entrar em contato ou participar de reuniões com tais órgãos ou
comunidades que expõem suas demandas. De posse das informações, os alunos, que são
divididos em grupos de aproximadamente 05 integrantes, definem as comunidades a serem
atendidas por meio do desenvolvimento de um projeto de cunho solidário.
A seguir serão feitos relatos detalhados de três projetos desenvolvidos pelos alunos que
seguiram metodologia exposta na seção 2 deste artigo, estes foram aplicados nas seguintes
comunidades:
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Tapete Vermelho” (baseada na ideia de boas vindas ao individuo que se reinsere na sociedade
e do que adquire o produto e também é bem recebido por este ideal), também uma breve
explicação a respeito do projeto, o nome, tipo e valor do produto. Com relação à
comercialização, a equipe tinha como proposta o contato com empresas especializadas na
venda de tapetes, preferencialmente, em grande cidades para que se obtivesse um maior preço
com a venda dos produtos artesanais. Além de buscar a comercialização em feiras ou
vendedores autônomos. A fase não pode ser concluída durante a execução do projeto, visto
que necessitava além do encaminhamento da matéria-prima, do processo de formalização para
sua comercialização e que dependia dos agentes de apoio.
Além dos três projetos acima apresentados, outro projeto desenvolvido foi na Associação de
Artesões de Catalão e Região, com objetivo de auxiliar na formalização da associação. Outros
três grupos atuaram em diferentes Escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, cada
um com uma proposta de projeto e tendo em comum o objetivo de conscientização ambiental
e a sensibilização quanto à coleta seletiva por meio de realização de atividades como teatro de
fantoches, pinturas, visitas. Um outro grupo de alunos atuou junto a escolas e bairros carentes
de Catalão beneficiados com a distribuição gratuita do leite de soja produzido pelo Centro do
Convivência do Pequeno Aprendiz, o projeto teve por objetivo aumentar a distribuição do
leite de soja, por meio de divulgação e conscientização. E para completar os projetos
desenvolvidos pelos alunos durante a oferta desta disciplina um oitavo grupo atuou junto a
FENOVA, uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos que atende crianças e adolescentes
na faixa etária de 07 a 17 anos, com carências sociais e morais. O objetivo do projeto foi
elaborar um plano de marketing para os produtos produzidos na entidade.
5. Considerações Finais
O processo de transformação econômica e social de um país passa pela formação de alunos.
No caso da formação de Engenheiros de Produção, este processo é essencial uma vez que suas
decisões e ações não trazem apenas impactos econômicos, mas sociais e ambientais. Por isso,
existe uma necessidade de formação mais ampla para que as decisões do futuro Engenheiro
não sejam balizadas em quadros de referências limitados aos aspectos técnicos ou
econômicos, mas que percebam a inseparabilidade de questões técnicas e políticas que
envolvem a sociedade e o ambiente.
Embora, os diferentes órgãos que regulam ou fornecem recomendações a respeito da
formação do Engenheiro, como, por exemplo, as Diretrizes Curriculares da Engenharia
(MEC, 2011), que diz que o perfil desejado do egresso envolve “identificação e resolução de
problemas considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais,
com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade”, verifica-se que
uma defasagem na formação nos cursos de Engenharias (COLOMBO, et al., 2012; DWEK,
2011; FRAGA, 2007).
A proposta de realização de projetos de extensão e de inclusão de disciplinas, como no caso
da disciplina Projetos Solidários na grade curricular do curso é uma tentativa no sentido de
suprir tal defasagem na formação deste futuro profissional. Ao se fazer uma avaliação inicial
destas iniciativas aplicadas no curso da UFG, não é possível mensurar os resultados imediatos
de tais impactos, no entanto, algumas considerações podem ser realizadas.
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Um aspecto a ser analisado é o impacto que os projetos, mesmo que de pequeno escopo,
podem ter realizado nas comunidades envolvidas. Espera-se que possam ter contribuído,
mesmo que timidamente, para mudar a realidade destas comunidades. Os projetos têm como
característica em comum o início de uma ação e que estas poderão ser transformadas em
projetos maiores de longo prazo.
Outro aspecto a se analisar, no qual o presente artigo se propõe é o impacto para a formação
do Engenheiro de Produção. Não podemos afirmar que apenas uma disciplina do curso
poderia trazer grandes mudanças na visão e comportamento do indivíduo que está sendo
formado, no entanto, ela pode sim interferir neste processo, visto que todos os alunos estão
envolvidos na ação que a metodologia participativa exige. Há de se considerar que esta
mudança varia de indivíduo para indivíduo e que a disciplina também é parte da formação
destes aspectos, visto que ao longo do curso foram trabalhadas disciplinas e também
desenvolvidos projetos de pesquisa e extensão que o ajudam a construir tal formação social,
cultural, ambiental, espacial. Em especial, na disciplina Projetos Solidários, o que se pôde
observar é uma participação e envolvimento de todos os integrantes dos grupos na execução
do projeto e que por meio de alguns depoimentos puderam manifestar esta mudança de visão
na sua formação. Um dos grupos que desenvolveu seu projeto no CIS relata que “o ganho foi
como engenheiros de produção na tentativa de implementar a melhoria de um processo como
um todo, mas também como cidadãos que tomaram conhecimentos sobre a necessidade
dessas pessoas, despertando, assim o interesse em ajudá-las.”
Assim, podemos verificar que independente do método que será empregado para formação do
Engenheiro, seja uma disciplina a parte, um projeto, ou a realização de ações em outras
disciplinas do curso, há de se incluir novas ações em direção à formação do um Engenheiro de
Produção mais consciente, pelo menos, que seja dado a ele esta oportunidade de compreender
estes novos aspectos além dos técnicos.
Referências
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