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A Vida e os Versos de Anna Nogueira Baptista na Literatura Cearense do século XIX

Carla Pereira de Castro1

A Vida e os Versos de Anna Nogueira Baptista na Literatura Cearense do século XIX,


apresenta o cenário do final do século XIX, iniciando sua narrativa no ano de 1870,
abordando o contexto histórico e literário da época. A participação feminina não ficou restrita
as tarefas do lar, muitas vozes foram ouvidas na imprensa e nas artes, dentre elas iremos
destacar Anna Nogueira Baptista, poetisa com contribuição na imprensa local e nacional da
época, integrante de movimentos literários e culturais. Anna Nogueira nos deixou um livro
com um registro de suas poesias escritas na infância e na velhice, marcando-nos com suas
impressões de um período, de sua vida e de sua memória com grande contribuição para a
história da nossa literatura.

A cidade de Icó foi a terceira vila instalada no Ceará, logo após de Aquiraz e Fortaleza
e em 1842 obteve a categoria de cidade. Devido a sua importância econômica, Icó foi uma das
cidades que tiveram projetos urbanísticos planejados na corte, Lisboa. É nesse cenário em Icó,
que no dia 22 de outubro de 1870, nasce Anna Nogueira, filha de João Nogueira Rabello e
Thereza de Albuquerque Mello Nogueira Rabello. Anna Nogueira foi a caçula de nove filhos.
Com apenas quarenta anos Thereza veio a falecer de parto, em 1872 deixando a sua filha
caçula com apenas dois anos de idade. Anna Nogueira passa então a ser criada pela escrava
Mãe Maria. Passado alguns anos seu pai casa-se com Joaquina Rabello, com quem não teve
filhos. Ainda bem pequena, ela presenciou as terríveis cenas da seca de 1877. E aos dez anos
de idade tomou parte nos festejos comemorativos da campanha recitando versos de sua
autoria, num espetáculo teatral promovido em homenagem a uma comissão de libertadores
vinda de Fortaleza.

Os dias de alegria e brincadeiras de Anna foram interrompidos no dia seis de


dezembro de 1883, quando o seu pai, João Nogueira Rabello veio a falecer aos cinqüenta e

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Mestranda do curso de Literatura Comparada da UFC – Universidade Federal do Ceará
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nove anos de idade. Para tristeza de Anna Nogueira, em 21 de janeiro de 1894, Affonso
Nogueira Rabello seu irmão também morre na Amazônia.

Em Fortaleza Anna Nogueira frequenta as rodas literárias e colabora com várias


publicações locais dentre elas: O Libertador, Constituição, Republica, O Pão, O Domingo, O
Repórter, a Evolução de Fortaleza e também com as revistas: A Quinzena e Almanaque do
Ceará.

Nesse período Anna Nogueira conhece os fundadores do movimento literário "A


Padaria Espiritual" e se apaixona por Manoel Sabino Baptista, o Satyro Alegrete, escritor e
poeta. Talvez tenha sido no final de 1895 ou no começo de 1896 quando os jovens se
conheceram, mas foi em 1896 que ocorreu o noivado e o casamento.

Em 30 de setembro de 1896, Anna publica pela primeira vez no jornal “O Pão” na


Edição No. 34, do ano III, na página 6, um poema intitulado “No Templo”.

O casamento aconteceu no dia 22 de outubro de 1896, no mesmo dia do aniversário de


Anna Nogueira. Anna e Sabino casaram-se na matriz do Icó, abençoados pelo vigário da
paróquia, velho amigo da família.

No Jornal “O Pão” de 31 de outubro de 1896, na edição de número 36, Anno III,


página 8, Anna Nogueira publica o poema com o título “Vita Nuova” e assina como Anna
Nogueira Baptista. Essa foi a última edição do jornal “O Pão”. Mesmo com o fim do jornal
“O Pão”, Anna Nogueira continua a escrever e publicar as suas poesias nos jornais da cidade.

O primeiro filho do casal nasceu em 26 de julho de 1897 e foi batizado com o nome de
Luiz Nogueira Baptista. Quase um ano depois do nascimento do primogênito, nasce Olavo
Nogueira Baptista, em 29 de julho de 1898. Após ter publicado o último jornal “O Pão” em
1896, a Padaria ainda permaneceu com suas fornadas até o ano de 1898, de acordo com a
última ata assinada por Rodolpho Teóphilo em 20 de dezembro de 1898.

No princípio do ano de 1899, realizou-se em Fortaleza um concurso, organizado pelo


jornal “A República”, propondo a versão em português de um soneto de François Copée,
conhecido e apreciado poeta francês. Anna concorreu e teve sua versão premiada por
unanimidade dos votos da comissão organizadora, no dia primeiro de fevereiro daquele ano.
O jornal noticia o fato, no dia 21 de fevereiro de 1899. E o seu poema “Ao Amanhecer” foi
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musicado pelo compositor Alberto Nepomuceno. Nessa época Anna Nogueira não escrevia
apenas para os jornais de Fortaleza mas também para várias cidades como: “Pacotilha” do
Maranhão, a “Gazeta de Notícias”, do Rio de Janeiro, “A Província do Pará”, de Belém e o
“Rio Negro” de Manaus.

Naquele mesmo ano o casal decidi mudar-se para o Pará. Em abril Sabino segue
viagem sozinho para estabelecer-se e em seguida buscar Anna Nogueira e os seus filhos. No
dia 28 de julho de 1899 Sabino desembarca em Fortaleza. Um dia o casal veio a cidade e na
volta enquanto esperavam o bonde, Sabino sentiu-se mal, ao chamarem um médico o
diagnóstico foi dado. Sabino tinha sido acometido pela varíola, como o período de incubação
dessa doença é de aproximadamente doze dias, é provável que Sabino tenha contraído o vírus
durante a viagem. No dia 16 de agosto de 1899, Sabino não mais resistiu, sendo levado pela
morte.

Anna Nogueira Baptista, grávida, com os dois filhos pequenos, sem casa e sem
dinheiro, contou com o apoio dos amigos queridos que lhe ajudaram materialmente e com o
conforto da lealdade. E no dia primeiro de janeiro de 1900, Anna deu a luz a uma menina que
a chamou carinhosamente de Maria Thereza Nogueira Baptista. Passados os primeiros meses
de nascimento da filha, Anna começou a lecionar num colégio de Fortaleza.

Após um ano da morte do marido, Anna sofreria um novo golpe, mais uma vez a
morte se aproxima e leva um ente muito querido. A sua filha querida Maria Thereza, com
apenas 10 meses, repentinamente, adoeceu e morreu. Mais uma vez Anna se vê envolta em
profunda tristeza. Sua irmã Thereza que já alguns anos residia em Recife com o marido, a
convida para morar com ela. E assim no final daquele ano de 1900, dois meses após a morte
da filha, Anna embarca para Recife acompanhada dos dois filhos e de Ana Clara, que a
ajudava com os cuidados da casa e das crianças desde a partida de Sabino.

Em Recife, Anna Nogueira lecionou em escolas particulares e estudou à noite na


Escola Propagadora da Instrução, diplomando-se Professora em 1903. Em 1902, fundou com
outras escritoras do Recife a revista “O Lyrio”, dentre elas: Amélia Beviláqua e Úrsula
Garcia. A escritora colaborou até o último número da revisa, em novembro de 1903. Anna
Ingressou no magistério público em 1912, aposentando-se em 1929.

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Em 1964, quando completava noventa e quatro anos, os seus netos se reuniram para
publicarem a sua produção poética em um livro, que foi intitulado “Versos”, sendo editado
pela Edigraf no Rio de Janeiro. O livro reuniu as suas poesias da juventude e da velhice,
realizando um sonho que datava da época do seu casamento. Nos anos seguintes Anna
adoeceu e no dia 22 de maio de 1967, com noventa e seis anos veio a falecer.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA, Ana Nogueira.Versos.Rio de Janeiro:1964

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras. São Paulo:


Escrituras Editora, 2002.

LINHARES, Augusto. Coletânea de Poetas Cearenses. Rio de Janeiro: Editora


Minerva Ltda., 1952.

MAIA, Maria Thereza Baptista Bandeira. Cadeiras na Calçada. Florianopolis: Áprika


Produções em Arte. 1998

SCHUMAHER, S. e VITAL BRAZIL, E. (orgs.). Dicionário Mulheres do Brasil. De


1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

STUDART, Guilherme, Barão de. Diccionario Bio-Bibliographico Cearense.


Fortaleza: Typo-lithographia a vapor, 1910. v.1.

Jornais:

A República - A Pacotilha - O Pão - O Pará – Jornal do Recife – Diário de


Pernambuco – Almanach de Pernambuco

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Revistas: A Quinzena – O Lyrio – Almanach do Ceará

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