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O CAPUZ – conto

Sob um céu nublado, onde as nuvens mostravam que não tardaria a chover, uma
figura magra e oculta sob uma capa, caminhava serenamente pela deserta estrada de um
vilarejo. Suas botas enlameadas, seu rosto e cabelos ocultos pelo capuz, e suas mãos por
luvas de couro.
Ela interrompeu sua serena caminhada ao adentrar em uma lustrosa porta de carvalho.
A sineta soou assim que a porta se fechou, e a figura encapuzada adentrou.
As paredes do local continham um branco intocado, o piso de mármore - ainda mais
lustroso que a porta de carvalho – refletia o grande e suntuoso lustre no meio do local.
- Olá! – a voz da mulher sob a capa ecoou pelo lugar deserto, enquanto ela analisava as
vitrines, onde estavam dispostas joias tão brilhantes que pareciam irradiar luz – alguém?
– tornou ela a chamar.
- Ah, olá você. – saudou uma moça belíssima, cabelos ruivos ressaltando as sardas pelo
rosto, olhos caramelados e sobrancelhas arqueadas. Ela saiu da porta dos fundos,
próxima ao balcão no fim do cômodo pequeno e luxuoso – se perdeu?
- Não! – exclamou a mulher encapuzada – na verdade, desejo ver suas opções de colar.
– disse ela suavemente, passando os olhos sobre as joias.
- Eu agradeceria se tirasse seu capuz. – comentou a vendedora cruzando as mãos de
unhas feitas sobre o balcão – preciso ver meu comprador. Você não faz ideia do quão
criativos os ladrões tem sido...
- Não sou ladra!
- É isso que todos dizem, mas grande parte mente. – disse a mulher passando os dedos
por entre as mechas ruivas, entediada.
- Não irei tirar meu capuz! – disse a mulher sob a capa, ajeitando suas luvas.
- Então, infelizmente, não poderemos fazer negócio. – disse a vendedora levantando a
sobrancelhas – não posso correr o risco de você apresentar todas as nossas opções para
uma funcionária da empresa rival.
- Com ou sem capuz, já vim aqui das duas maneiras, e vocês se recusaram a vender para
alguém como eu. – disse a mulher de preto, batendo a porta.
Ao som da sineta da porta, a vendedora voltou para dentro da porta aos fundos,
revirando os olhos pela perda de tempo. Enquanto, a encapuzada encarava a noite fria.
Levou aos mãos enluvadas aos bolsos, tirando um papel amassado com os dizeres
“comprar presente de aniversário para Natasha”
Natasha... sua filha, a qual o único pedido fora um colar bonito para usar em sua festa
de aniversário.
A mulher suspirou, fazendo ar quente sair de sua boca no mesmo momento que suas
mãos subiam para o capuz.
O tecido preto escorregou por seus cabelos escuros como carvão, e a luz das janelas do
vilarejo ressaltaram sua pele, um tom de umbra.
Como odiava, como ela odiava que nem mesmo seu dinheiro – conquistado com muito
suor – conseguia tapar o racismo que ainda assolava a terra.

Autora: Amanda Vitoria

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