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apreCAPÍTULO 6
TURBINAS A GÁS
6.1 - INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1
6.2 - CÁLCULO TÉRMICO DA TURBINA A GÁS.................................................................7
6.3 - CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A GÁS....22
6.4 - PARÂMETROS DE DESEMPENHO.............................................................................. 90
6.5 - AJUSTE DOS PARÂMETROS TÉRMICOS PARA AS CONDIÇÕES ON-SITE.........114
6.6 - REFERÊNCIAS.................................................................................................................119
6.1 - INTRODUÇÃO
O princípio básico de funcionamento de uma turbina a gás pode ser visto na Figura 6.1(a) e
(b), para o circuito aberto e fechado, assim como o diagrama T-s, Figura 6.1 (c), com as perdas de
pressão na câmara de combustão e exaustão, e a irreversibilidade da compressão e expansão. O
fluido de trabalho é comprimido pelo compressor, passando para a câmara de combustão onde
recebe energia do combustível, aumentando sua temperatura. Saindo da câmara de combustão, o
fluido de trabalho é direcionado para a turbina, onde é expandido fornecendo potência para o
compressor e potência útil. Na prática, as perdas no compressor e na turbina aumentam a potência
absorvida pelo compressor e diminuem a potência fornecida pela turbina, resultando numa redução
da potência útil do ciclo, como mostra a Figura 6.1(c).
A máxima potência útil fornecida pela turbina a gás está limitada pela temperatura com que o
material da turbina, associada a tecnologia de resfriamento, pode suportar, e a vida útil requerida.
Dois principais fatores que afetam o desempenho das turbinas a gás são:
Eficiência dos componentes
Temperatura de entrada na turbina .
Um outro fator que pode alterar o desempenho da turbina a gás é o tipo de câmara de
combustão. Existem dois tipos de câmaras de combustão: pressão constante ou a volume constante.
A primeira denomina o ciclo da turbina a gás de ciclo a pressão constante, e a segunda, ciclo a
volume constante.
Teoricamente a eficiência térmica do ciclo a volume constante é maior que a pressão
constante, mas as dificuldades mecânicas são muito maiores, sendo necessário válvulas para isolar a
câmara de combustão do compressor e da turbina. A combustão é intermitente, a qual impede um
funcionamento suave da turbina a gás.
No circuito fechado, que pode ser visto na Figura 6.1(b), o processo de funcionamento é o
mesmo do circuito aberto; a diferença é que o fluido de trabalho permanece dentro do sistema e o
combustível é queimado fora do sistema. Este ciclo tem sido desenvolvido, principalmente, pelas
empresas Escher-Wyss e GHH, com plantas já em operação.
A maior vantagem do circuito fechado é a possibilidade de usar alta pressão através de todo o
circuito, o que resultará na redução do tamanho das turbomáquinas para uma dada potência útil, e
possibilita a variação da potência útil pela variação do nível de pressão no circuito. Esta forma de
controle significa que uma grande faixa de potência pode ser acomodada sem alterar a máxima
temperatura do ciclo e com uma pequena variação na eficiência.
A principal desvantagem é que o circuito fechado necessita de um sistema externo de
aquecimento, o qual envolve o uso de um ciclo auxiliar, com uma diferença de temperatura entre os
gases da combustão e o fluido de trabalho como mostra a Figura 6.1(b). Outras vantagens são:
a) evita a erosão das palhetas da turbina;
b) elimina o uso de filtro de ar;
c) aumenta a transferência de calor devido a alta densidade do fluido de trabalho;
d) usa gases com propriedades térmicas desejáveis o que implica em componentes
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.3
(a)
(b)
(c)
Figura 6.1 - Circuito: (a) aberto, (b) fechado e (c) diagrama T-S.
6.1.3 - Configuração
Isto significa que os compressores são mecanicamente independentes, possuindo cada um a sua
própria turbina e rotação.
A configuração com turbina livre e gerador de gás pode ser para aplicações industriais ou
aeronáuticas. No caso das turbinas aeronáuticas, a turbina livre é substituída por um bocal de
propulsão. A vantagem deste tipo de configuração é que o gerador de gás está acoplado à turbina
livre por um acoplamento aerodinâmico e que, portanto, os esforços mecânicos na turbina livre não
são absorvidos pelo gerador de gás. Além disso, o gerador de gás pode ter rotações diferentes da
turbina livre. A diferença entre as configurações acima citadas está na operação, onde os
comportamentos são diferentes.
A turbina a gás com mais de um eixo, no gerador de gás, tem a sua maior aplicação na
aeronáutica. Os compressores para este tipo de aplicação podem ser centrífugos ou axiais.
O uso de vários eixos é recomendado para razão de pressão acima de 8:1. Existem turbinas a
gás de um eixo com razão de pressão 15:1; neste caso é necessário o uso de estatores variáveis no
compressor para manter a operação da turbina quando há variação de carga.
podem atingir uma potência em carregamento de base cerca de 50 MW e são usadas principalmente
em plataformas marítimas, bombeamento de gás, potência de pico em centrais termelétrica e
propulsão naval.
Como exemplo de turbinas a gás aeroderivativas, temos as turbinas fabricadas pela General
Electric, GE, que são as LM1600, LM 2500, LM5000 e LM6000, fornecendo potências de 13,2
MW a 40,7MW. A Figura 6.3 mostra a turbina a gás da GE , LM6000, que possui uma potência
elétrica de base de 40,7 MW e 42,3% de eficiência térmica e a da Rolls Royce, RB211, que possui
uma potência elétrica de base de 24,9MW e eficiência térmica de 35,6% nas condições ISO
(International Standard Organization).
Rolls Royce
As turbinas industriais heavy duty são turbinas projetadas para a aplicação industrial seguindo
uma filosofia própria e são conhecidas pela sua robustez, flexibilidade no uso de combustível, alta
confiabilidade e baixo custo, e podem atingir uma potência em carregamento de base cerca de
340MW. Elas são turbinas a gás de ciclo simples de um eixo, um compressor (a maioria axial), uma
câmara de combustão (usualmente externa ao corpo da máquina, Figura 6.4) e uma turbina (a
maioria axial), que fornece energia mecânica para o compressor e para outras aplicações. Possui
uma larga área frontal que reduz a velocidade do ar na entrada. A razão de pressão total das
unidades pode variar de 5 a 15. A temperatura máxima pode chegar até 1290 ºC em algumas
unidades. A grande aplicação das turbinas a gás industriais tem sido a geração de eletricidade
operando na base.
As turbinas heavy duty da GE são MS5001, MS6001, MS7001 e MS9001, fornecendo
potência elétrica de base de 26 MW a 255,6 MW. Elas podem ter injeção de vapor ou não, e
estarem integradas num ciclo combinado. Outro fabricante de turbinas a gás industriais, também
muito conhecido, é a ABB (Asea Brown Boveri). Suas linhas de fabricação são as heavy duty,
como por exemplo a GT13E de baixa emissão de NOx. A potência elétrica gerada na base por esta
turbina a gás, nas condições ISO, é da ordem de 148 MW e eficiência térmica de 34,6%. A Figura
6.4 mostra as turbinas a gás da ABB, modelo GE13E, GE, modelo MS9001FA, e Siemens, modelo
V84.3A.
6.6 Capítulo 6 Turbinas a gás
Como pode ser visto nas Figuras 6.3 e 6.4, a turbina heavy duty da ABB é mais robusta do
que a LM6000 da GE. A GT13E é uma turbina a gás de ciclo simples de um eixo, Figura 6.2(a),
que possui uma câmara de combustão com múltiplos injetores localizada fora do corpo central da
turbina, com um compressor e uma turbina. A turbina a gás LM6000 é também um ciclo simples,
Figura 6.2(b), com dois eixos, derivada do CF6-80C2. A potência produzida vem do eixo de baixa
pressão. Não existe turbina livre. Existem compressores e turbinas de alta e de baixa pressão,
formando dois carretéis concêntricos. O carretel externo é composto pela turbina de baixa com
compressor de baixa e o carretel interno pela turbina de alta com o compressor de alta. A turbina de
baixa pressão tem a finalidade de produzir potência para o compressor de baixa e potência útil de
eixo. A câmara de combustão está localizada no corpo central da turbina. Estas características
físicas dos dois tipos de turbina a gás industrial são um dos fatores, entre outros, que diferenciam as
turbinas a gás aeroderivativas e as industriais heavy duty. Mais detalhes pode ser visto em Boyce,
1982.
General Electric
MS9001FA
Potência elétrica (base) 255,6 MW
Eficiência térmica 38,9%
Siemens
V84.3A
Potência elétrica (base) 170 MW
Eficiência térmica 38%
As turbinas a gás industriais podem se classificar segundo a sua faixa de potência como
segue ( Boyce 1982):
O cálculo térmico do ciclo da turbina a gás real difere daquele do capítulo 4 (ciclo ideal)
pelas seguintes fatos:
a) A compressão e a expansão são processos irreversíveis e, portanto, há um aumento na
entropia do processo adiabático.
b) As velocidades do fluido são consideradas na entrada e na saída de cada componente, e
o uso das propriedades de estagnação se faz necessário.
c) Há perda de pressão na câmara de combustão, nos trocadores de calor e na entrada e
saída dos sistemas de exaustão e admissão.
d) Para um trocador de calor economicamente viável, pequenas diferenças de temperatura
na troca de calor devem ser evitadas.
e) Perdas mecânicas, para compensar o atrito dos rolamentos e windage na transmissão
entre compressor e turbina e componentes auxiliares como bombas de combustível e
óleo, elétricas e térmicas.
f) Os valores de Cp e do fluido de trabalho variam através de todo o ciclo devido à
variação de temperatura e à combustão interna (variação da composição química).
6.8 Capítulo 6 Turbinas a gás
a) Entalpia de estagnação
(6.1)
Fazendo
(6.2)
(6.3)
(6.4)
(6.5)
Aplicando a equação 6.4 para uma compressão isentrópica para os estados 1 e 2, a pressão de
estagnação é dada por:
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.9
(6.6)
Assim po e To podem ser usados da mesma maneira que os valores estáticos. Pressão e
temperatura de estagnação são propriedades da corrente do gás as quais podem ser usadas com os
valores estáticos para determinar as condições termodinâmica e mecânica da corrente do gás.
O fluido de trabalho das turbinas a gás de ciclo aberto se divide em dois: na primeira etapa do
processo é o ar, que vai da entrada do compressor até a entrada da câmara de combustão, e a
segunda etapa do processo é composta de ar mais os produtos da combustão que completam o
restante do processo.
A modelagem matemática do fluido de trabalho é feita, também, em duas etapas,
considerando seu comportamento e suas propriedades. As propriedades dos gases, calor específico à
pressão constante, Cp, calor específico à volume constante, Cv, e k = Cp / Cv, têm um importante
papel na avaliação do desempenho do ciclo, porque elas variam com a temperatura e estão
relacionadas pela seguinte equação:
(6.7)
(6.8)
(6.9)
(b) Calor específico à pressão constante e entalpia específica dos produtos da combustão
na temperatura T(K)
6.10 Capítulo 6 Turbinas a gás
O calor específico à pressão constante e a entalpia específica dos produtos da combustão são
considerados da mesma maneira que o ar.
Os produtos da combustão são para um combustível (C8H18) padrão de 86,08% de carbono e
13,92% de hidrogênio por massa, o qual resulta uma massa molar dos produtos da combustão
idêntico àquela do ar seco. Isso significa que a constante do gás R g = Rar. A Tabela 6.1 fornece os
valores dos coeficientes dos polinômios no sistema internacional.
O calor específico à pressão constante, em kJ/kgK, e a entalpia específica do produto da
combustão, em kJ/kg, na forma polinomial são dados por:
(6.10)
(6.11)
onde
(6.12)
(6.13)
f = razão combustível/ar dada no item 6.2.7.
Fazendo uso das equações 6.8 e 6.10 pode-se traçar o gráfico da Figura 6.5, onde o calor
específico à pressão constante e k são funções da temperatura e razão combustível/ar (f).
A perda de pressão, que pode ser também chamada de perda de carga, ocorre:
no filtro de entrada ( p f );
no sistema de exaustor ( p e );
na câmara de combustão ( p b );
nos trocadores de calor ( p ha lado ar e p hg lado gás).
A Figura 6.6 mostra as perdas de carga e a diminuição da razão de pressão na turbina,
reduzindo assim o trabalho útil específico.
O ciclo da turbina a gás é muito sensível às irreversibilidades, e as perdas de pressão têm
grande efeito no desempenho do ciclo. Com base na nomenclatura da Figura 6.6, o ciclo simples
6.12 Capítulo 6 Turbinas a gás
com trocador de calor, filtro, exaustão e câmara de combustão, as pressões p 03 e p04 podem ser
determinadas como segue:
(6.16)
(6.17)
(6.18)
6.2.3.1 - Filtros de ar
Os filtros de ar são essenciais para turbinas a gás que trabalham em atmosferas contaminadas.
Os compressores são muitos sensíveis a depósitos em suas palhetas e bocais, logo, poeira, vapores,
insetos, entre outros, devem ser removidos para manter o máximo de eficiência. Os filtros causam
uma pequena perda de pressão (pf) na admissão do ar, uma perda que pode ser significante para
um filtro sujo. Lavadores podem ser usados no lugar de filtros; estes oferecem a vantagem de
resfriamento por evaporação do ar quando houver altos valores de temperatura ambiente, com altos
valores de eficiência e capacidade.
6.2.3.2 - Silenciadores
(6.19)
(6.20)
(6.21)
Como a entalpia específica de estagnação para o ar é dado por h0 = T0 , a equação 6.21 torna-
se:
(6.22)
ou
(6.23)
(6.24)
Usando a notação da Figura 6.6, para os trocadores de calor a efetividade é definida como:
(6.25)
com as vazões em massa são iguais e os têm valores próximos, uma vez que as diferenças de
temperatura também são bastante próximas, a equação 6.25 resulta em:
(6.26)
(6.27)
onde wc é o trabalho específico necessário à compressão e wtc é o trabalho específico retirado da
turbina para a compressão.
b) Turbina livre
O rendimento mecânico na turbina livre é dado por:
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.15
(6.28)
onde weixo é o trabalho específico do eixo da turbina livre, e wtl é o trabalho específico entregue pelo
fluido de trabalho à turbina livre.
(6.29)
(6.30)
6.16 Capítulo 6 Turbinas a gás
(6.31)
onde = entalpia da combustão na referência a 288K = 43.124 kJ/kg, har,T, equação 6.9 e h,T,
equação 6.13. Os gráficos e as equações acima apresentadas não levam em conta a dissociação.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.17
(6.32)
onde fteórico é calculado na Figura 6.8 ou com a equação 6.30. Esta definição da eficiência da
combustão não é a mesma da fundamental que é a razão entre o calor real e o calor teórico. Como a
eficiência da combustão, na prática, está entre 0,98 e 0,99, e estes valores são difíceis de serem
medidos com precisão, assim as duas definições produzem o mesmo resultado (Cohen et al, 1987).
(6.33)
(6.34)
(6.35)
(6.36)
ou
(6.37)
p 03
onde é a razão de expansão da turbina, e é o calor específico médio à pressão constante
p 04
do produto da combustão; e o índice g refere-se ao produto da combustão. A equação 6.37
demonstra que para um dado fluido de trabalho, o trabalho específico de expansão é diretamente
proporcional à temperatura de entrada e a razão de pressão da turbina. Usando a eficiência
politrópica, a equação 6.37 pode ser escrita da seguinte forma:
(6.38)
A temperatura máxima de entrada na turbina, em turbinas a gás modernas, está entre 1200K e
1800K, que é muito mais alta do que a temperatura que o material pode suportar. Esta diferença de
temperatura é possível com a utilização do resfriamento das palhetas do primeiro, segundo ou, às
vezes, do terceiro estágio da turbina com ar sangrado na saída do compressor. O ar sangrado do
compressor é injetado dentro e ao redor das palhetas, misturando-se com a corrente principal do gás
(proveniente da câmara de combustão), mantendo-se, assim, a temperatura do material das palhetas
na temperatura desejável. Os limites da tecnologia de resfriamento são um compromisso entre o
material que pode suportar altas temperaturas e o desenvolvimento de técnicas de resfriamento para
minimizar a quantidade de ar necessário para o resfriamento.
A Figura 6.9 mostra a fração da vazão em massa de ar do compressor que é usada para
resfriar os estágios da turbina, r, como uma função do nível de tecnologia e o parâmetro
adimensional chamado efetividade de resfriamento, , também chamado de razão de diferença de
temperatura, dado por:
(6.39)
onde
T03= temperatura do gás na entrada da turbina
T02= temperatura do ar sangrado (fluido de arrefecimento)
Tbm= temperatura máxima do material da palheta
Entre os três níveis de tecnologia de resfriamento da Figura 6.9, pode ser especificado
qualquer número real para simular uma curva de tecnologia de resfriamento. A fração de ar
sangrado para níveis de tecnologia de resfriamento superior a 3, inferior a 1, ou entre 1 e 3, são
obtidos por interpolação entre as três curvas da Figura 6.9 (Korakianitis e Wilson, 1994). Como
exemplo dos níveis de tecnologia de resfriamento apresentado na Figura 6.9, tem-se a Figura 6.10
com as tecnologias de película convectiva (film convection), película de choque (film impingement)
e película de cobertura total (full coverage film), que podem ocorrer em uma única palheta (Bathie,
1984).
6.20 Capítulo 6 Turbinas a gás
A injeção de vapor no ciclo a gás tem sido usada há vários anos. O ciclo de turbina a gás,
que tem a injeção de vapor, é chamado de STIG ( STeam Injected Gas turbine), que, atualmente,
tem sido a resposta para os problemas de poluição, aumento de potência e eficiência. O mecanismo
de injeção de vapor é simples e direto: vapor pode ser injetado na corrente de ar na saída do
compressor, na câmara de combustão e na turbina de potência, como mostra a Figura 6.11,
aumentando, assim, a vazão através da turbina e o trabalho por ela gerado (Horner, 1994). O
vapor produzido para este processo é gerado pelos gases de saída da turbina a gás na caldeira de
recuperação (HRSG). Tipicamente, a água entra a 1 bar e 26,6°C na bomba e, na caldeira de
recuperação, ela é trazida à pressão de 4 bar acima do local de injeção e à temperatura do mesmo.
O vapor pode ser injetado depois do compressor, mas bem antes da câmara de combustão
(Figura 6.11), para criar uma mistura apropriada que ajudará a reduzir a temperatura da zona
primária na câmara de combustão e a emissão de NOx. A Figura 6.12 mostra um desenho
esquemático das turbinas aeroderivativas da GE (LM5000) onde o vapor pode ser injetado em
vários lugares estratégicos: na saída do compressor, na câmara de combustão e na turbina de
potência (Horner, 1994). A entalpia da mistura (ar e vapor) é a soma da entalpia do ar e vapor no
ponto de injeção.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.21
O ciclo STIG é um ciclo mais aprimorado que pode ter capacidade de injeção de vapor até
4,5kg/s para LM 1600, até 7kg/s para LM2500 e até 22,3 kg/s para LM5000 da GE (Horner,
1994). O resultado disso é um aumento na potência e na eficiência térmica do ciclo. A Tabela 6.2
mostra a comparação de desempenho entre ciclo simples sem injeção de vapor e o ciclo STIG para
as condições ISO das turbinas a gás já citadas.
(6.40)
(6.41)
(6.42)
(6.43)
(6.44)
(6.45)
onde PCI é poder calorífico inferior. Substituindo a equação 6.44 em 6.45, teremos:
(6.46)
onde SFC é dado em kg/kWh e PCI em kJ/kg. Normalmente o fabricante está interessado no
consumo de combustível por (kWh). Neste caso, usa-se o produto SFC x PCI, denominado Heat
Rate, dado em (kJ/kWh). Embora o valor do PCI deva ser na temperatura da saída da câmara de
combustão, é usual o valor referente à temperatura de 288K.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.23
O ar do compressor entra na câmara de combustão a uma velocidade de até 200 m/s e deve
inicialmente passar por um difusor para desacelerar a corrente e conseqüentemente aumentar a
pressão. Isto porque a velocidade da chama não deve ultrapassar 26 m/s no caso do querosene. Caso
a chama tenha velocidade superior, ela será apagada. A região de baixa velocidade tem de ser
criada na câmara, para que a chama permaneça acesa durante toda a operação da turbina a gás
(Rolls Royce, 1986).
Em operação normal, a relação ar/combustível de uma câmara de combustão pode variar
entre 45 até 130. Entretanto, o querosene queima eficientemente perto de 15, de maneira que o
combustível será queimado com uma parcela de ar que entra na câmara de combustão, a qual é
chamada de zona primária. Isto é alcançado com o tubo de chama que tem vários dispositivos para
dosar a distribuição do ar ao longo da câmara de combustão (Rolls Royce, 1986).
A Figura 6.14 mostra que aproximadamente 20% da vazão de ar passa pela entrada do spray.
Um pouco abaixo do spray existe um criador de rodamoinhos e pequenos orifícios por onde o ar
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.25
passa e entra na zona primária de combustão. O rodamoinho provoca uma circulação no tubo de
chama. O restante do ar passa entre o tubo de chama e a carcaça da câmara de combustão. Dentro
da zona primária também existem furos secundários que permitem passar 20% do restante do ar, e
na zona de diluição passa o restante do ar. Tudo isso é para garantir uma chama estável durante toda
a operação da turbina a gás (Rolls Royce, 1986).
A temperatura dos gases liberados pela combustão está entre 1800 e 2000 oC. Esta faixa de
temperatura é muito elevada para a turbina. O ar que não é usado na combustão é então misturado
progressivamente com estes gases para abaixar a temperatura dos gases antes de entrar na turbina.
Isso acontece na zona de diluição onde 20% do ar é usado. O restante do ar é usado para resfriar as
paredes do tubo de chama (Rolls Royce, 1986).
a) Tubular
A câmara de combustão tubular é constituída de um tubo de chama cilíndrico montado
concentricamente dentro de uma carcaça também cilíndrica, conforme mostra a Figura 6.15(a). A
câmara de combustão pode ser uma única câmara, como mostra a Figura 6.15(a) ou uma
composição de várias câmaras dispostas circularmente, como mostra a Figura 6.15(b).
b)Tuboanular
Na câmara tubo-anular, um grupo de tubos de chamas cilíndricos é arranjado dentro de
uma carcaça anular conforme mostra as Figuras 6.15(c) e 6.16. Este tipo de câmara é uma
tentativa de combinar a capacidade da câmara anular com as melhores características do sistema
tubular.
As vantagens e desvantagens das câmaras de combustão tubular, anular e tuboanular são
resumidas na Tabela 6.3.
Para minimizar a perda de pressão do ar entre a saída do compressor e a entrada da turbina, o
projeto da câmara de combustão deve visar ao dimensionamento adequado das passagens e a
minimização do número de mudanças de direção do fluxo. O uso de múltiplas câmaras de
combustão (tuboanular) oferece várias vantagens na flexibilidade:
1. diâmetros menores permitem um rigoroso controle do fluxo de ar, projetado para reduzir
6.26 Capítulo 6 Turbinas a gás
c) Anular
Este tipo de câmara tem um tubo de chama anular montado concentricamente dentro de uma
carcaça também anular, como mostra a Figura 6.15(d) e 6.17. Um dos problemas indesejados deste
tipo de câmara é que uma pequena variação no perfil de velocidade do ar que entra pode produzir
uma mudança significativa na distribuição de temperatura dos gases de saída da câmara.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.27
Industrial
O avanço tecnológico das câmaras de combustão aeronáuticas tem sido muito maior do que
as industriais. Uma considerável quantidade de dinheiro e tempo tem sido gastos em estudos
detalhados no campo da combustão em turbinas a gás aeronáuticas. O mesmo não ocorre para as
6.28 Capítulo 6 Turbinas a gás
porte, pode ser necessário o uso do conceito de câmara de combustão simples, devido a ação do
resfriamento brusco das paredes da câmara de combustão na região anular estreita.
Quando se projeta uma câmara de combustão especificamente para uma aplicação
industrial, geralmente escolhe-se entre sistemas com simples ou múltiplas câmaras. Porém, a
câmara de combustão anular, originalmente projetada para aplicações aeronáuticas, tem sido
construída de tal forma que possa ser utilizada em aplicações industriais após modificações
adequadas. A Siemens possui uma câmara de combustão anular curta (Figura 6.21) de grande
desempenho com HBR (Hybrid Burner Ring). Esse tipo de câmara tem placas de cerâmica para
eliminar a maioria dos problemas de esforços térmicos e mecânicos, e redução do tamanho da
chama, reduzindo, assim, o seu tamanho. A seleção entre sistemas com simples ou múltiplas
câmaras depende de fatores econômicos de fabricação e desenvolvimento.
empregado, muitas vezes com fluxo reverso para minimizar o comprimento do eixo da turbina.
O custo de desenvolvimento também é reduzido, desde que uma câmara de combustão simples
possa ser testada usando somente uma fração do fluxo de ar principal. Entretanto, os custos de
fabricação são altos, o acesso para reparos e manutenção é reduzido e um sistema mais completo
de combustível é necessário.
Entre todas as câmaras de combustão, as câmaras simples são as mais baratas para
fabricação. O uso de um grande pulverizador simples apresenta uma vantagem particular em
aplicações com combustíveis pesados de alta viscosidade, os quais necessitam de pré-
aquecimento nas linhas de alimentação.
O sistema de câmaras simples tem sido aplicado em todas as faixas de turbinas industrias,
pois seu custo favorável e sua facilidade de acesso são vantagens particulares para muitas
unidades grandes, para unidades adaptadas para trabalhar com múltiplos combustíveis ou para
aplicações em dupla-fase (por exemplo líquido/gás). Para estas duas últimas, o sistema de
câmaras simples tem a vantagem de apresentar facilidade de intercâmbio com os sistemas de
injeção de combustível.
6.3.1.5 - Difusor
Figura 6.22 - Difusores tipo anular. a) aerodinâmico b) dump c) Controlado por vórtices
(Lefebvre, 1983).
queda de pressão estática através do domo, causado pela rápida desaceleração do escoamento
próximo à superfície do domo, isto dispensa o uso da película de resfriamento nesta área.
Ambos os difusores são largamente usados. Entretanto, os difusores dump, Figura 6.22(b),
estão se tornando cada vez mais usados, principalmente pela facilidade de fabricação em relação
ao tipo aerodinâmico, Figura 6.22(a). O difusor controlado por vórtices (Figura 6.22(c)) tem
uma expansão virtualmente brusca, usa uma sangria de ar para evitar a separação do escoamento.
Testes (Adkins, 1975) revelam que ele possui uma alta recuperação de pressão e uma flutuação
do perfil de velocidade através do difusor.
O difusor deve ter perda de pressão quase nula, pois perda de pressão no difusor representa
desperdício. Uma câmara de combustão ideal teria diferença de pressão no tubo de chama e pressão
zero no difusor.
O papel da zona de diluição é admitir o ar restante e produzir uma corrente de saída com
uma temperatura média e uma distribuição de temperatura que sejam aceitáveis pela turbina. O ar
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.33
de diluição é introduzido através de uma ou mais filas de furos na parede do tubo de chama. O
tamanho e a forma destes furos são selecionados para otimizar a penetração dos jatos de ar e suas
misturas subseqüentes com a corrente principal. Os jatos devem penetrar através do tubo de chama
e, assim, o tamanho mínimo do jato de diluição é relativo à largura do tubo de chama.
A quantidade de ar disponível para diluição está usualmente entre 20% e 40% da vazão em
massa total da câmara de combustão (Figura 6.14). A localização das três principais zonas descritas
acima, em relação a vários componentes da câmara de combustão e os furos de admissão de ar, são
mostrados na Figura 6.24.
Figura 6.23 - Padrão de escoamento na zona primária. a) jato oposto b) redemoinho estabilizado
c) combinação de a e b (Lefebvre, 1983).
6.34 Capítulo 6 Turbinas a gás
Atomizador rajada de ar
Este tipo emprega um conceito simples por onde o combustível à baixa pressão é colocado
para escoar sobre a borda localizada na corrente de alta velocidade. Assim que o combustível escoa
sobre a borda, ele é atomizado pelo ar, que então entra na zona de combustão carregando as
partículas de combustível com ele, como mostra Figura 6.25(b). O tamanho das partículas é obtido
através do máximo contato entre o ar e o líquido.
Vantagens: Desvantagens:
Vantagens: Desvantagens:
Atomizador giratório
O atomizador giratório não é muito popular para turbinas a gás. Uma notável exceção é o
slinger desenvolvido pela Turbomeca. O sistema slinger é usado em conjunto com uma câmara
anular radial como ilustra a Figura 6.25(d). O combustível é fornecido a baixa pressão ao longo do
eixo principal, e é descarregado radialmente para fora através de furos dispostos circularmente
formando uma ou duas fileiras no eixo. Os furos, que formam duas fileiras circulares no eixo,
mantêm uma distribuição uniforme do combustível e evitam o enfraquecimento do eixo.
Vantagens: Desvantagens:
Injeção de gás
Os gases com alto poder calorífico não apresentam nenhum problema especial, do ponto de
vista da combustão. Eles são normalmente caracterizados por uma combustão limpa, com baixa
taxa de formação de fuligem e óxido nítrico. O principal problema é atingir o nível ótimo da
mistura na zona de combustão. A razão da mistura muito alta produz uma redução nos limites de
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.37
estabilidade; se a razão da mistura é muito baixa, o sistema pode tender a oscilações da pressão
induzida pela combustão.
Uma variedade de métodos tem sido usados para injetar gás dentro da câmara de combustão,
incluindo orifícios, fendas, fazedor de redemoinho e venturis.
Figura 6.26 - Esquema do queimador híbrido da Siemens ((Hoffmann, et. al., 1999)).
Figura 6.27 – Esquema da câmara de combustão de baixa emissão de NOx (Davis, 1994).
ar para várias zonas na quantidade correta. A estrutura do tubo de chama deve ser forte para
suportar um grande carregamento criado pela diferença de pressão através de sua parede. Ele deve,
também, ter resistência térmica para suportar operação contínua e cíclica de alta temperatura. Isto é
alcançado através do uso de materiais que suportam altas temperaturas e anti-oxidantes,
combinados com o uso efetivo do resfriamento a ar. Nos combustores modernos, até 50% do total
da massa de ar do combustor é utilizada no resfriamento da parede do tubo de chama. Na prática, a
temperatura da parede do tubo de chama é determinada pelo balanço entre:
calor que ele recebe via radiação e convecção do gás quente;
calor transferido da parede pela convecção para o ar na passagem anular e por radiação
para o ar da carcaça.
O aumento da razão de pressão do ciclo da turbina a gás, nos últimos anos, fez com que o
problema de resfriamento na parede do tubo de chama aumentasse. O aumento da razão de pressão
implica no aumento da temperatura de entrada na câmara. Altas temperaturas de entrada na
câmara produzem dois efeitos:
Aumenta a temperatura da chama, que por sua vez, aumenta a taxa de transferência de
calor para a parede do tubo de chama;
Reduz a efetividade do ar como refrigerante.
Alta razão de pressão significa alta temperatura de entrada na turbina. Isto também tem um
efeito na temperatura do material do tubo de chama, especialmente na saída do combustor.
Aumentar a quantidade de ar para resfriamento não é tecnicamente possível, uma vez que mais ar
inserido ao longo das paredes do tubo de chama poderia piorar o perfil radial de temperatura na
saída do combustor, reduzindo, assim, a vida das palhetas da turbina. Logo, a única alternativa
prática de resolver o problema é fazer o melhor uso do ar disponível.
Os combustores de turbinas a gás mais antigas usavam a técnica de resfriamento por
aberturas onde o tubo de chama era fabricado na forma de uma casca cilíndrica. Quando
montada, dava uma série de passagens anulares nos pontos de interseção da casca. Estas
passagens permitiam uma película de ar de resfriamento ser injetada ao longo do lado quente da
parede do tubo de chama, para proporcionar uma barreira térmica de proteção(Clarke e Lardge,
1958). A Figura 6.29 mostra algumas destas técnicas para a película de resfriamento, que são (a)
wigglestrip, (b) stacked ring, (c) splash-cooling ring e (d) machined ring.
Técnicas modernas de resfriamento incluem película de resfriamento a qual tem um controle
avançado da convecção por paredes ásperas, enquanto proporciona uma camada protetora de ar de
resfriamento ao longo da parede do lado quente do tubo de chama. Resfriamento por choque é o
mais adequado para combustores de alta temperatura. Sua complexidade de construção impõe
dificuldades na fabricação e reparos.
A mais avançada forma de resfriamento da parede que está agora sendo desenvolvida é o
sistema de transpiração, o qual tem potencial de reduzir a quantidade de ar de resfriamento
necessária por volta de 50%. Com este esquema, a vazão de ar de resfriamento através das paredes
porosas do tubo de chama, primeiro remove o calor da própria parede e, então, proporciona a
barreira térmica entre a parede e os gases quentes da combustão.
A Figura 6.30 ilustra a tendência das paredes do combustor (Nealy, 1980). Primeiro a
construção de dupla parede onde as técnicas de resfriamento por choque e/ou convecção aumentam
a transferência de calor no lado frio, melhorada por uma efusão da película de ar de resfriamento, e,
finalmente, a transpiração a qual é considerada como a melhor.
6.40 Capítulo 6 Turbinas a gás
A câmara de combustão da turbina a gás deve satisfazer uma larga faixa de oxigênios das
quais varia com o tipo de turbina a gás. As exigências básicas para a câmara de combustão são as
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.41
seguintes:
Alta eficiência da combustão: o combustível deve ser queimado completamente, de maneira
que toda energia química seja liberada na forma de calor;
Ignição confiável e suave: no chão (especialmente a baixas temperaturas ambientes) e
depois de uma extinção da chama a altas altitudes;
Amplos limites de estabilidade: a chama deve permanecer acesa durante toda a operação da
turbina a gás;
Liberdade de pulsação de pressão e outras manifestações de instabilidade da combustão;
Uma distribuição uniforme de temperatura na saída, para aumentar a vida das palhetas da
turbina;
Baixa emissão de fumaça, combustível sem queimar e gases poluentes;
Baixa perda de pressão;
Projeto para custo mínimo e fácil manutenção;
Tamanho e forma compatíveis com o projeto da turbina a gás;
Durabilidade;
Capacidade de queimar vários combustíveis.
Para as turbinas a gás aeronáuticas as exigências se concentram no tamanho e no peso, que
devem ser os menores possíveis. Para as turbinas a gás industriais a ênfase é colocada em outros
ítens, tais como vida longa de operação e capacidade de queimar vários combustíveis.
A perda de pressão na câmara de combustão é dada pela seguinte equação (Lefebvre, 1983):
(6.47)
onde
Como foi dito, o fator de queda de pressão é uma composição de perdas de pressão, e
matematicamente pode ser representado como segue:
(6.48)
onde
é a perda no difusor.
A perda de pressão total não inclui a perda de pressão fundamental devido ao processo de
combustão. A expressão da perda de pressão fundamental é dada pela seguinte equação:
(6.49)
(6.50)
Finalmente, a Tabela 6.4 mostra os valores de perda de pressão “fria”, isto é, sem a perda
quente, para alguns tipos de câmaras de combustão.
(6.51)
Durante a operação da turbina a gás a eficiência da combustão pode alterar o seu valor,
que depende de parâmetros de entrada, tais como: pressão de entrada, p3, área máxima da seção
transversal da carcaça, Amax, temperatura total de entrada na câmara de combustão, T 3, e a vazão em
massa, , todos no sistema internasional. Portanto, a eficiência da combustão pode ser expressa
por (Lefebvre e Halls, 1959):
(6.52)
(6.53)
onde
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.45
(6.54)
Figura 6.35 – Variação da velocidade e pressão através do compressor (Rolls Royce, 1986).
Alguns projetos de compressores têm dois ou mais compressores ou “carretéis” os quais são
acionados por diferentes turbinas, e são, portanto, livres para girar com diferentes velocidades,
como mostram as Figuras 6.36 e 6.37. O compressor simples (Figura 6.34) consiste em vários
estágios sobre um único eixo para atingir a razão de pressão e a vazão em massa desejada.
O compressor de múltiplos eixos consiste de dois ou mais rotores com vários estágios, cada
um acionado por turbinas diferentes, com rotações diferentes, para alcançar altas razões de pressão
e dar grande flexibilidade de operação. Compressores axiais têm a vantagem de serem capazes de
alcançar altas razões de pressão com eficiências relativamente altas, se compararmos com os
compressores radiais, como pode ser visto na Figura 6.38 (Treager, 1970).
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.47
Como já vimos, o compressor axial é constituído de uma série de estágios e cada estágio é
formado de um rotor e um estator de palhetas. O fluido de trabalho é inicialmente acelerado pelo
rotor e, então, desacelerado no estator, onde a energia cinética transferida no rotor é convertida em
pressão estática. O processo é repetido em vários estágios tanto quanto for necessário para atingir a
razão de pressão desejada. A Figura 6.39 mostra o diagrama dos vetores velocidades através do
estágio (Treager, 1970).
O escoamento está sempre sujeito a um gradiente adverso de pressão, e quanto maior for a
razão de pressão, maior será a dificuldade do projeto do compressor. O processo consiste em uma
série de difusões, no rotor e no estator, como mostra a Figura 6.39. Embora a velocidade absoluta
do fluido é aumentada no rotor, como pode ser visto na Figura 6.39, a velocidade relativa do fluido
no rotor é reduzida. Isto é, existe difusão no rotor. Limites de difusão devem ser impostos para
garantir uma compressão com alta eficiência. Estes limites de difusão em cada estágio significa que
um compressor simples de um único estágio pode produzir somente uma razão de pressão
relativamente pequena, e muito menor do que pode ser usada pela turbina que tem um gradiente de
pressão favorável, palhetas com passagens convergentes e escoamento acelerado. Por isso, uma
turbina de um único estágio pode acionar um compressor de vários estágios.
Cuidadoso projeto das palhetas do compressor baseado na teoria aerodinâmica e experimental
é necessário para evitar perdas e minimizar problema de stall, especialmente se a razão de pressão
for alta. O stall, no caso de um aerofólio isolado, surge do aumento excessivo do ângulo de
incidência. Esta condição ocorre quando o compressor está operando numa condição de vazão e
rotação muito diferente daquela de projeto. Quando o compressor está operando a uma rotação mais
baixa do que a do projeto, a densidade do fluido de trabalho nos últimos estágios estará bem longe
do valor de projeto, resultando em uma velocidade axial incorreta a qual acarretará stall nas
palhetas e o compressor atinge a surge line. Alguns métodos são usados para solucionar este
problema. São eles:
uso de palhetas diretoras (Inlet Guide Vane IGV) e estatores variáveis;
compressores de dois ou mais eixos;
válvula de sangria.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.49
O desenho típico de um estágio é mostrado na Figura 6.40. A Figura 6.41 mostra o diagrama
de velocidade do respectivo estágio. Para o estágio considerado, vamos assumir o seguinte:
Escoamento no estágio é permanente;
As propriedades são uniformes nas seções de entrada e saída;
As propriedades são de estagnação;
Processo de compressão é adiabático.
6.50 Capítulo 6 Turbinas a gás
(6.55)
(6.56)
(6.57)
como =0 e =0 , tem-se h03 = h02, isto é, T03 = T02 como pode ser visto na Figura 6.40.
Portanto, o trabalho necessário para compressão no estágio é dado por:
(6.58)
Podemos concluir através da equação 6.58 e Figura 6.40, que:
Toda potência é absorvida pelo rotor;
O estator transforma a energia cinética em pressão estática, com temperatura de
estagnação constante;
Todo aumento de pressão de estagnação é alcançado no rotor;
As perdas de pressão ocorrem tanto no rotor como no estator.
A obtenção da potência necessária para o estágio do cálculo térmico não é o suficiente para se
projetar as palhetas. Há necessidade de se obter os ângulos de entrada e saída do rotor e do estator.
A análise dos triângulos de velocidade da Figura 6.41 se dará na metade da altura da palheta
onde a velocidade tangencial é U. Esta aproximação bidimensional significa que a velocidade do
escoamento terá duas componentes, uma axial (índice a ) e uma tangencial (índice w) como mostra
a Figura 6.41. Na Figura 6.41, os ângulos 1 e 2 são os ângulos com que o fluido se aproxima e
deixa o rotor, respectivamente. 3 é o ângulo com que o fluido deixa o estator. Os ângulos 1 e 2
são ângulos em que o fluido entra e sai relativo às pás do rotor. Ca é a velocidade média.
Assumindo que a velocidade axial é constante, isto é, C a1 = Ca2 = Ca, duas equações básicas
podem ser tiradas da geometria dos triângulos:
(6.59)
(6.60)
(6.61)
onde Cw1 e Cw2 são os componentes tangenciais da velocidade do fluido antes e depois do rotor. É
conveniente colocar o trabalho por unidade de tempo em termos dos ângulos de ar da palheta do
rotor. Logo o trabalho do estágio é dado por:
(6.62)
(6.64)
(6.65)
(6.66)
(6.67)
(6.68)
para o gás perfeito, temos:
(6.69)
(6.70)
rearranjando, tem-se:
(6.71)
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.53
(6.72)
(6.73)
Integrando entre a entrada 1 e a saída 2 do compressor, com pc constante por definição e
substituindo índice 0 que representa as condições de estagnação, temos:
(6.74)
(6.75)
(6.76)
(6.77)
A equação 6.77 pode ser usada para construir a Figura 6.42, onde se tem a variação da
eficiência isentrópica com a razão de pressão para eficiência politrópica de 0,90.
Com o objetivo de diminuir o número de estágios para uma mesma razão de pressão, deve-se
aumentar o valor do Tos, combinando:
alta velocidade U;
alta velocidade axial;
6.54 Capítulo 6 Turbinas a gás
Figura 6.42 - Variação da eficiência isentrópica com a razão de pressão para eficiência
politrópica 0,90.
Grau de reação
O grau de reação G fornece uma medida de quanto o rotor contribui para o aumento total de
pressão estática dentro do estágio. Ele é definido em termos de entalpia como:
(6.78)
Pode ser demonstrado que o grau de reação em termos de ângulos do fluido é dado por:
ou (6.79)
(6.80)
ou (6.81)
(6.82)
A difusão nas palhetas é limitada no projeto do estágio para evitar stalling. Os limites para
coeficiente de razão de pressão estática e o número de De Haller são:
(6.83)
(6.84)
6.56 Capítulo 6 Turbinas a gás
O aumento de temperatura por estágio (T0s) pode variar e depende da aplicação. Por
exemplo, ela pode variar de 10K a 30K para estágios subsônicos e pode ser 45K ou mais em
estágios transônicos de alto desempenho. O aumento de temperatura por estágio não é considerado
constante para cada estágio através do compressor. Normalmente o primeiro e o último estágio têm
aumento de temperatura mais baixo do que os demais. O primeiro estágio tem um alto número de
Mach na ponta da palheta do rotor, e o escoamento pode se tornar distorcido com variação
significativa na velocidade axial através da área anular do compressor. Logo, este problema é
contornado com um baixo valor do aumento da temperatura. Já no último estágio, o baixo valor do
aumento da temperatura é para reduzir o redemoinho provocado pelo ângulo da saída, que é função
do aumento de temperatura. A redução no redemoinho implica a redução das perdas no difusor, que
vem depois do compressor.
Fator de difusão
Os limites do carregamento da palheta são usualmente avaliados pelo nível do fator de
difusão que é definido como:
(6.85)
onde Vmax , V2 e V1 são mostrados na Figura 6.44. Para testes realizados em grade a
velocidade máxima é dada por:
(6.86)
onde s/c é a razão do espaço entre as palhetas pela corda do perfil, como mostra a Figura 6.44.
Substituindo a equação 6.86 em 6.85, temos (Lieblein, 1953):
(6.87)
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.57
A Figura 6.45 mostra a variação das perdas por atrito com o fator de difusão D obtido de um
número de testes da série de perfil NACA (National Advisory Committee for Aeronautics)
(Lieblein, 1961). Os testes foram realizados com um grande número de perfis aerodinâmicos, e
podem ser aplicados genericamente, contanto que os números de Mach máximos locais sejam
subsônicos ou levemente supersônicos. Observa-se, na Figura 6.45, que as perdas são mais
acentuadas na ponta da palheta para altos valores de difusão.
O grande mérito do fator de difusão, como um sacrifício de limite permissível na deflexão do
gás, é sua simplicidade relativa e o fato de que ele pode ser estabelecido logo que o diagrama de
velocidade tenha sido construído, e um valor de s/c tenha sido estabelecido.
Figura 6.45 – Variação das perdas de atrito com o fator de difusão (Lieblein, 1961).
Primeira Potência
Exponencial
As três soluções, que satisfazem a equação do equilíbrio radial da Tabela 6.5, são
consideradas soluções de projeto das palhetas dos compressores. A Figura 6.46 mostra a variação
do grau de reação em função do raio, para um grau de reação na metade da altura da palheta de
0,50. Como pode ser visto, o projeto vórtice livre resulta em uma maior redução do grau de reação
para R muito pequeno enquanto que a primeira potência resulta em um menor valor de grau de
reação. Para todos os projetos existe um limite de R abaixo do qual o grau de reação é negativo.
Um valor negativo implica uma redução na pressão estática no rotor.
A Figura 6.47 (Cohen et. al, 1987) mostra a distribuição do grau de reação para um projeto de
vórtice livre de razão de raio da raiz/ponta de 0,4, para três valores de grau de reação na metade da
altura da palheta. Fica evidente na Figura 6.47 que um estágio de baixo valor de razão de raio da
raiz/ponta deve ter um valor alto de grau de reação na metade da altura da palheta, para ter
condições satisfatórias do escoamento na raiz da palheta.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.59
Figura 6.46 – Variação radial do grau de reação (Cohen et. al, 1987).
Figura 6.47 – Variação do grau de reação para vórtice livre (r r/rt=0,40) (Cohen et. al, 1987).
Uma vez que os ângulos do escoamento são determinados para fornecer o requerido trabalho
do estágio, o próximo passo é converter estes ângulos em ângulos da palheta que darão a forma
correta da sua geometria.
Para se calcular a geometria da palheta, a qual dará os ângulos do escoamento e o processo de
difusão com a ótima eficiência, isto é, com a menor perda possível de pressão de estagnação, é
necessário se obter resultados de correlações experimentais de túneis de teste de palhetas. Estes são
chamados testes de grade. Os resultados de grade podem ser em dois itens de informações. Eles são:
(a) o ângulo através do qual o ar é defletido para uma perda mínima, e (b) o correspondente do
coeficiente de arrasto do perfil do qual a eficiência da grade pode ser estimada. Uma melhor
descrição da grade pode ser vista em Todd, 1947 e Gostelow, 1984.
A seção transversal de três palhetas que formam uma parte de uma grade típica é mostrada
na Figura 6.48, a qual inclui detalhes de vários ângulos, comprimentos e velocidades associadas
com os experimentos da grade. A simbologia da Figura 6.48 será usada doravante, e é definida
como:
6.60 Capítulo 6 Turbinas a gás
Pode ser demonstrado que a perda de pressão adimensional na grade é dado por:
(6.88)
onde p01 e p02 são as pressões de estagnação na entrada e saída da grade respectivamente.
A Figura 6.49 representa um conjunto de resultados de testes realizados em uma grade de
geometria fixa. O valor médio da perda total e o valor médio da deflexão são plotados em função
do ângulo de incidência.
Deve-se lembrar que a palheta do compressor deverá operar em uma ampla faixa de
incidência sob as condições fora do ponto de projeto. Portanto, no ponto de projeto o ângulo de
incidência deveria estar na região mais baixa da curva do ângulo de incidência, para se obter a
menor perda. Na prática verificou-se que a deflexão nominal é dada por: , onde éa
deflexão de stall que é a posição onde a perda atinge duas vezes o valor mínimo, como pode ser
visto na Figura 6.49. O valor da deflexão nominal é função da razão espaço/corda e do ângulo de
saída do ar, como mostra Figura 6.50.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.61
Figura 6.49 – Perda de pressão total e deflexão média para grade de geometria fixa
(Cohen et. al, 1987).
Figura 6.50 – Curvas de deflexão para condições de projeto (Cohen et. al, 1987).
Figura 6.51 – Efeito do número de Mach de entrada no coeficiente de perda para diferentes s/c em
palheta de duplo arco de círculo (Helmann, 1968).
Ângulo de desvio
O ar que sai da palheta da grade não é o mesmo ângulo de saída da palheta. Existe um desvio
entre o ângulo do ar e da palheta chamado de ângulo de desvio (). Do resultado de testes de grade
(Lieblein, 1960 e 1956) foi possível achar uma relação empírica para este ângulo que é dada por:
(6.90)
a/c é a posição do camber máximo e 2 é o ângulo de ar de saída da palheta (ver Figura 6.48). A
equação 6.90 é para todos os perfis NACA, incluindo o de arco parabólico, e é, também, chamada
de regra de Carter.
Camber ângulo
O camber ângulo é dado por:
(6.91)
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.63
O ângulo de posicionamento da palheta pode ser fixado em relação a direção axial dado por:
(6.92)
Figura 6.52 – Perfil básico e projeto de palheta (Cohen et. al, 1987).
Coeficiente de sustentação
Figura 6.53 – Coeficiente de arrasto e sustentação para grade de geometria fixa (Cohen et. al,
1987).
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.65
Figura 6.55 – Tridimensionais na região anular do compressor (Cohen et. al, 1987).
(6.93)
6.66 Capítulo 6 Turbinas a gás
Eficiência do empalhetamento
Pode ser demonstrado que a eficiência do empalhetamento, p, a qual é definida como sendo
a razão da razão de pressão real pela teórica, é dada por:
(6.94)
Eficiência do compressor
6.3.2.10 - Stall
Existem três tipos de stall: dois são fenômenos aerodinâmicos, rotaing stall e stall individual
da palheta, e o outro é um fenômeno aeroelástico, stall flutter.
O rotating stall é composto de regiões amplas de stall abrangendo várias passagens entre as
palhetas (pás) e se propaga na direção do rotor e em algumas frações da rotação do rotor. O
número de regiões de stall e a taxa de propagação varia consideravelmente. Rotating stall é o tipo
mais predominante de stall.
O mecanismo de propagação pode ser descrito usando a grade da Figura 6.56. Uma
perturbação no escoamento faz com que a palheta 2 atinja a condição de stall antes das outras
palhetas. A palheta com stall não produz aumento suficiente de pressão para manter o escoamento
junto dela, desenvolvendo um bloqueamento efetivo ou uma região retardada do escoamento. O
escoamento principal é dividido, formando um escoamento divergido e direcionado para as palhetas
vizinhas 1 e 3, alterando o ângulo de ataque de cada uma. Na palheta 1, o ângulo de ataque aumenta
e na palheta 3, ele diminui. O stall se propaga na direção oposta da rotação das palhetas (ver Figura
6.56) à uma taxa de cerca de metade da rotação em que se dá o bloqueamento. O escoamento
divergido provoca o stall nas palhetas abaixo da região do escoamento retardado e não interfere no
escoamento das palhetas acima deste. O escoamento retardado ou região de stall se movimenta da
superfície de pressão para a de sucção de cada palheta na direção oposta da rotação do rotor. A
região de stall pode envolver várias passagens entre as palhetas. A velocidade relativa de
propagação é observada em testes de compressores, como sendo menor do que a rotação do rotor.
Na direção radial, a região de stall pode variar em todo comprimento da palheta.
O stall individual da palheta ocorre quando todas as palhetas ao redor da cavidade anular
produzem o stall simultaneamente, sem a ocorrência do mecanismo de propagação do stall. As
condições em que o stall individual da palheta aparece são desconhecidas até o presente momento.
Parece que o processo de stall de um empalhetamento, geralmente, se manifesta em algum tipo de
propagação de stall,e o stall individual da palheta é uma exceção.
O stall flutter é um fenômeno causado pela própria excitação da palheta e a aeroelasticidade.
Este tipo de stall é diferente do clássico flutter, uma vez que este aparece devido à vibração de
flexão e torção do acoplamento que ocorre quando a velocidade da corrente livre sobre a seção do
aerofólio atinge uma dada velocidade crítica. O stall flutter, por outro lado, é um fenômeno que
ocorre devido ao processo de stall do escoamento ao redor da palheta.
O stall da palheta causa os vórtices de Karman na esteira do aerofólio. Quando a freqüência
6.68 Capítulo 6 Turbinas a gás
destes vórtices coincide com a freqüência natural do aerofólio, o flutter ocorrerá. O stall flutter é o
maior causador das falhas em compressores (Boyce, 1982). Maiores detalhes sobre esses
fenômenos podem ser encontrados em Cumpsty, 1989.
A relação característica entre a altura teórica e a vazão é muito diferente segundo o tipo de
palheta. Contudo, na prática, as características gerais de todos os rotores são similares às
palhetas curvadas com 2 < 90 º.
De acordo com o teorema de Euler, o trabalho específico concedido pelo rotor de uma
unidade de massa de fluido que atravessa é:
(6.97)
onde U1, U2 são as velocidades periféricas da entrada e saída do rotor respectivamente, e C w1 e
Cw2 são as velocidades tangenciais do ar correspondentes.
Para determinar o rendimento de um compressor centrífugo, tanto nas condições nominais
como fora do ponto de projeto, é necessário conhecer as diversas perdas que são geradas. A
avaliação destas perdas é uma combinação das perdas teóricas e dos resultados experimentais.
As perdas em um compressor centrífugo podem ser divididas em dois grupos: perdas no rotor e
perdas no difusor. As perdas no rotor são devidas principalmente ao atrito que atua na sua
superfície posterior, assim como as perdas nos rolamentos, perdas provocadas pela recirculação
do ar do difusor para o rotor, as perdas conseqüentes dos gradientes de velocidade negativos que
podem ocorrer na camada limite, dando lugar à separação do escoamento, as perdas devido a
viscosidade do fluido, etc.
Referindo-se ao diagrama de velocidade de entrada da Figura 6.57, a velocidade absoluta
não tem componente tangencial, e, portanto, Cw1= 0. Logo a equação 6.97 se reduz para:
(6.98)
Devido à inércia, o ar aprisionado entre as pás do rotor é relutante em mover-se junto com
ele, e isso resulta em uma alta pressão estática na superfície de ataque das pás do que na
superfície de fuga. Isso impede o ar de adquirir a velocidade tangencial igual a rotação do rotor.
Este efeito é conhecido como escorregamento. Para compensar este efeito é definido um fator
de escorregamento dado por:
(6.99)
Outro fator também definido para compensar o atrito do ar com a carcaça, as pás e o disco
é o fator de trabalho de entrada, . Logo, a equação 6.98 torna-se:
(6.100)
6.70 Capítulo 6 Turbinas a gás
(6.101)
Pode-se demonstrar que a razão de compressão, utilizando a equação 6.101, é dada por:
(6.102)
Os compressores projetados para trabalhar com eficiência máxima não teriam problemas
se funcionassem nas condições nominais de operação. Entretanto os compressores devem ter boa
eficiência em uma ampla faixa de operação, logo, um bom projeto de compressor é feito com a
máxima vazão de ar através de um certo diâmetro do compressor com um número mínimo de
estágios, mantendo relativamente alta eficiência e estabilidade aerodinâmica durante a faixa de
operação.
Uma análise dimensional pode ser aplicada no desempenho do compressor para determinar
os grupos adimensionais, dos quais o desempenho depende. Testes têm mostrado que o
desempenho dos compressores centrífugos e axiais podem ser descritos pelas seguintes variáveis:
No lugar da densidade, um dos parâmetros que poderia ser considerado é a constante dos
gases (R), o peso molecular (M) ou a razão de calores específicos k. Selecionando T 01, p01, Cp e
D como as variáveis comuns, resultando nos seis termos adimensionais:
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.71
p02
T02
1
(6.103)
6.72 Capítulo 6 Turbinas a gás
(6.104)
Figura 6.59 – Característica do compressor axial relativo aos valores de projeto deste
(Cohen et al, 1987).
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.73
A turbina tem a tarefa de fornecer potência para acionar o compressor e acessórios e, no caso
de turbinas a gás, as quais não fazem o uso somente da propulsão, potência de eixo. Ela faz isto
extraindo energia dos gases quentes liberados na câmara de combustão e expandindo-os para uma
baixa pressão e temperatura. Altas tensões são envolvidas neste processo e, para uma operação
eficiente, as pontas das palhetas podem atingir uma rotação acima de 457 m/s. O escoamento
contínuo de gás, na qual a turbina está exposta, pode ter uma temperatura de entrada entre 1123 K e
1973 K e alcançar a velocidade acima de 761 m/s em algumas partes da turbina (Cohen et al, 1987).
Para produzir o torque necessário, a turbina pode ter vários estágios, cada um tendo um
empalhetamento estacionário (estator) chamado de bocais e um empalhetamento que se move
chamado de rotor (Figura 6.60). O número de estágios depende da relação entre a potência
necessária retirada do gás, a rotação que deve ser produzida e o diâmetro de turbina permitido.
Existem três tipos de turbinas; a de ação, a de reação e a combinação das duas, ação-reação.
No tipo ação, a queda de pressão total através de cada estágio ocorre nas palhetas do bocal
(estator) o qual, por causa da forma convergente, aumenta a velocidade do gás embora reduz a
pressão. O gás é direcionado dentro das palhetas do rotor, este sente uma força impulsiva causada
pelo impacto do gás nas palhetas. No tipo reação, as palhetas bocal (estator) são projetadas para
alterar a direção do fluxo do gás sem mudar a pressão. As passagens convergentes entre as palhetas
produzem uma força de reação, resultado da expansão e aceleração do gás. Normalmente as
turbinas a gás não usam o tipo só de ação ou só de reação, mas a combinação ação-reação. A Figura
6.61 mostra o tipo ação e ação-reação.
Figura 6.63 - Modelo da vazão de gás através bocal e palheta (Rolls Royce, 1986).
A Figura 6.64 mostra os triângulos de velocidade para um estágio de uma turbina axial e a
nomenclatura empregada.
p1,T1 - pressão e temperatura estática na entrada
p2,T2 - pressão e temperatura estática entre o bocal e o rotor
p3,T3 - pressão e temperatura estática na saída do estágio
C1 - velocidade de entrada do gás
C2 - velocidade de saída do bocal
C3 - velocidade de saída do gás do estágio
V2 - velocidade relativa de entrada no rotor
V3 - velocidade relativa de saída do rotor
1 - ângulo de entrada de C1 no bocal
3 - ângulo de saída de C3 também chamado de swirl angle
2 - ângulo de entrada no rotor da velocidade relativa V2
3 - ângulo de saída do rotor da velocidade relativa V3
U - velocidade da palheta
Ca - velocidade axial
Cw - componente tangencial da velocidade
Para uma turbina de um estágio C1 é axial, logo 1 = 0 e C1 = Ca1. Se por outro lado, o
estágio é típico de uma turbina de múltiplos estágios, C 1 e 1 serão, provavelmente, iguais a C3 e
3. Uma vez que U varia com o raio, a forma dos triângulos de velocidades varia da raiz para a
ponta. O cálculo, como já foi dito, é realizado no diâmetro médio entre a raiz e a ponta da palheta.
Esta consideração dos cálculos é válida quando a razão do raio da ponta pela raiz for
pequena, isto é, palhetas pequenas. Para palhetas longas é essencial considerar os efeitos
tridimensionais. Na Figura 6.64 vemos que:
(6.105)
Aplicando o princípio do momento angular para o rotor, o trabalho específico produzido pelo
rotor é:
(6.106)
(6.107)
(6.108)
(6.109)
Para um cálculo de projeto preliminar estes valores são bastante adequados. A razão de
pressão do estágio p01 /p03 pode ser:
(6.110)
(6.111)
b) Grau de reação (G) corresponde a fração da expansão do estágio que ocorre no rotor
(6.112)
(6.113)
Os ângulos de gás no estator ou bocal e no rotor podem ser calculados em função dos
parâmetros adimensionais (, e G) como segue:
(6.114)
(6.115)
(6.116)
(6.117)
O limite de U será imposto pela tensão máxima que o material possa suportar.
A queda de temperatura na turbina é determinada pelo cálculo térmico do ciclo.
Escolher um ou dois estágios com maiores valores de ou um número maior de estágios
com pequenos valores de .
Projetos de turbinas de impulsão são os tipos mais eficientes, isto porque as perdas por
vazamento do gás associada à folga na ponta das palhetas são excessivas em estágios de
reação.
Para o caso de 50% do grau de reação, a expansão é uniformemente distribuída entre o estator
e o rotor, e pode variar da raiz da palheta para a ponta. Logo 50% do grau de reação está na
metade da altura da palheta ou no diâmetro médio.
Em geral, as turbinas são projetadas para alcançar eficiência isentrópica máxima de 90%. A
Figura 6.66 mostra que a alta eficiência é obtida quando o coeficiente de carregamento do estágio e
o coeficiente de vazão são pequenos. Todos os valores de eficiência mostrado na Figura 6.66 foram
obtidos de testes experimentais de 69 diferentes modelos de turbinas sem resfriamento da Rolls
Royce, todas tendo aproximadamente 50% de grau de reação na metade da altura da palheta., e
estes valores foram corrigidos para excluir as perdas de folga (Ainley e Mathieson, 1957). Pode
também ser demonstrado que a eficiência do estágio da turbina depende principalmente do
triângulo de velocidade. Observando a Figura 6.66, pode-se notar que as turbinas mais eficientes
são projetadas para .
O uso de menores valores de implica aumentar o número de estágios para uma dada
potência requerida na turbina. Turbinas a gás industriais usam menores valores de uma vez que o
tamanho e o peso não são tão importantes e sim o consumo específico de combustível. Entretanto,
para turbinas aeronáuticas o peso e o tamanho devem ser os menores possíveis e, portanto, altos
valores de são adotados.
Figura 6.66 - Eficiência versus coeficientes de carregamento e fluxo (Ainley e Mathieson, 1957).
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.79
A Figura 6.66 também mostra a faixa dos valores de para boa eficiência que deve estar
entre .
O grau de reação, como já vimos, representa a fração da expansão do estágio que ocorre no
rotor. Normalmente a turbina é projetada para grau de reação de 50% na metade da altura da
palheta. Para o último estágio, o ângulo de saída (3) menor do que 20 é necessário para reduzir
as perdas no sistema de exaustão. Neste caso, é necessário usar grau de reação menor do que 50%
se um valor elevado de for requerido.
Valores negativos do grau de reação devem ser evitados, uma vez que isto produz uma
expansão no bocal seguido de recompressão no rotor aumentando as perdas.
Número de estágios
Existem alguns pontos para se considerar durante a escolha da divisão do trabalho por
estágio, são eles:
Se o estágio está dentro da Figura 6.66;
Se o ângulo de saída e o número de Mach de saída não são excessivos para a turbina
6.80 Capítulo 6 Turbinas a gás
A razão ponta/raiz é definida como sendo a razão entre o diâmetro (raio) da ponta pelo
diâmetro (raio) da raiz da palheta, isto é:
(6.118)
(6.119)
onde 0 é a abertura (Figura 6.67) e s é o espaço entre as palhetas (Ainley e Mathieson, 1957).
A Figura 6.69 mostra a relação entre o ângulo de saída de gás (3) e o ângulo de saída da
palheta (3) para números de Mach de saída menores do que 0,5 ou igual a 1. Para números de
Mach entre 0,5 e 1,0 vale a seguinte expressão [cos-1 (0/s) - 3 ] que varia linearmente com o
número de Mach. A relação da Figura 6.67 parece não ser afetada pelo ângulo de incidência dentro
da faixa de ±15.
O adjetivo "ótima" está entre as pás porque ele é ótimo em relação ao Y p e não relativo as
perdas globais Y. A Figura 6.70 mostra a relação entre a ótima razão de espaço/corda (s/c) e o
ângulo de saída da palheta para vários ângulos de entrada da palheta. 1 e 2 são para o estator e 2
e 3 são para o rotor deste (Cohen et al, 1987). As curvas da Figura 6.70 mostram que quanto
maior é a deflexão, menor é a razão espaço/corda.
Uma vez que s/c é determinado deve se verificar que:
o espaço não deve ser muito pequeno, de maneira que as palhetas possam ser
colocadas no disco com segurança;
existe corda suficiente para o resfriamento da palheta;
o número de palhetas por disco não é maior do que 100.
Deve-se evitar número de palhetas com múltiplos comuns no sentido de minimizar a
probabilidade de vibração. A prática usual é adotar números pares para o estator e números primos
para o rotor.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.83
Baixos valores de razão de aspecto são prováveis em aumentar as perdas secundárias para o
estator e perdas secundárias e de folga para o rotor. Por outro lado, valores elevados de razão de
aspecto aumentarão a probabilidade de vibração e reduzirá a transferência de calor. Uma técnica de
reduzir os problemas de vibração para valor alto de razão de aspecto é o uso de shrouds. Valores
típicos de razão de aspecto são: para estator e menores valores para o rotor.
O ângulo de redemoinho de saída deve ser mantido abaixo de 20 para diminuir as perdas no
exaustor.
Vórtice livre
Estator ou bocal
(6.120)
(6.121)
Rotor
(6.122)
(6.123)
Lembrando que para este tipo de projeto Cw2r = r Ca2 tan 2 = cte e Ca2 = constante. Estes
ângulos são calculados em várias posições ao longo da altura da palheta para se definir a sua torção.
Duas verificações são importantes após o cálculo dos ângulos ao longo da palheta:
se a reação é positiva na raiz da palheta;
se o número de Mach relativo às palhetas do rotor, na entrada, Mv2, é inferior a 0,75.
Mv2 pode ser calculado pela seguinte expressão:
(6.124)
onde .
Este tipo de projeto permite manter o ângulo de saída do bocal constante. Assumindo as
mesmas condições do item de vórtice livre e que 2 é constante, pode-se demonstrar que:
(6.125)
Com isso pode se determinar os demais valores ao longo da altura da palheta. Este tipo de
projeto visa reduzir a torção da palheta, fazendo com que sua fabricação seja mais fácil. O projeto
deste tipo da palheta está fora do escopo deste livro.
cálculo preciso das tensões sobre a palheta e o disco deve ser realizado.
O método resumido a seguir estima a perda e a eficiência para as condições do escoamento
na metade da altura da área anular (também chamado de linha média) para as condições de projeto.
A Figura 6.71 mostra duas correlações para coeficiente de perda de perfil (Y p) retirado de
teste de grade (Ainley e Mathieson, 1957). Elas se referem a palhetas do tipo bocal (2 = 0) e
impulsiva (2 = 3 ) de um perfil convencional (T6) com relação espessura corda t/c = 0,2 , t e/s =
0,02, onde te é a espessura da borda de fuga. Apesar da notação da Figura 6.71 ser para o rotor, a
mesma se aplica para o bocal (estator), apenas trocando 2 por 1 e 3 por 1. Os valores Yp na
Figura 6.71 são para as palhetas que operam com o ângulo de incidência igual a zero.
Figura 6.71 - Coeficiente de perda de perfil para t/c=0,20 (Ainley e Mathieson, 1957).
A eficiência do estágio poderá ser obtida de uma maneira simplificada, usando a seqüência a
seguir.
Cálculo de Yp para o rotor e o bocal através dos ângulos de gás usando a Figura 6.71 e a
equação de interpolação abaixo (Ainley e Mathieson, 1957):
(6.126)
A equação 6.126 representa uma correção para uma mudança no ângulo de entrada para um
ângulo constante de saída, de maneira que Yp(2 = 3) são valores para o bocal e palheta do tipo
impulsiva, tendo o mesmo ângulo de saída 3 que o ângulo da palheta (3). Esta equação também
inclui a correção para t/c diferente de 0,2 e só é confiável para 0,15<t/c<0,15.
Para se obter o coeficiente de perda de perfil para ângulos de incidência diferente de zero,
deve-se recorrer à Figura 6.72 (Ainley e Mathieson, 1957) onde a relação Yp/Yp(i=0) é função de i/is.
6.86 Capítulo 6 Turbinas a gás
(6.127)
onde
CL = 2(s/c) (tan 2 + tan 3)cos m
m = tan-1 [(tan3 - tan2)/2]
k - é a folga (ver Figura 6.73)
h - é a altura (ver Figura 6.73)
B = 0,5 para folga radial (ver Figura 6.73)
B = 0,25 para folga lateral (ver Figura 6.73)
Figura 6.72 - Variação da perda relativa com a incidência relativa (Ainley e Mathieson, 1957).
(6.128)
onde
f - dado na Figura 6.74
rt - raio da ponta da palheta
rr - raio da raiz da palheta
A2 - área de entrada relativa aos ângulos
A3 - área de saída relativa aos ângulos
2 - ângulo de entrada
3 - ângulo de saída
O coeficiente de perda total é dado por:
(6.131)
onde
e a Figura 6.76 representa o diagrama T-s da turbina, exemplificando a nomenclatura das equações
acima.
A eficiência calculada acima é para a condição de não haver perda por choque dentro da
passagem da palheta no ponto de projeto. Para o número de Mach na saída da palheta acima de 1, o
coeficiente de perda de perfil Yp pode ser corrigido de acordo com a equação abaixo (Dunhan e
Came,1970):
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.89
(6.132)
(6.133)
(6.134)
Em uma turbina de fluxo radial, o fluxo de gás entra no rotor da turbina com uma alta
velocidade tangencial e sai do rotor com uma velocidade tão baixa quanto à velocidade
tangencial próxima ao eixo. Como pode ser visto na Figura 6.77, a turbina é muito similar ao
compressor centrífugo, com exceção do anel de palhetas dos bocais substituindo as palhetas do
difusor. Além disso normalmente há um difusor na saída para reduzir a velocidade de escape.
Os triângulos de velocidade da Figura 6.77 são traçados para as condições de projeto, nas
quais a velocidade relativa na entrada do rotor é radial (o ângulo de incidência é zero) e a
velocidade absoluta na saída é axial.
6.90 Capítulo 6 Turbinas a gás
Uma vez que Cw3 é zero e Cw2 = U2, o trabalho específico pode ser dado pela seguinte
expressão:
(6.135)
(6.136)
(6.137)
(6.138)
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.91
(6.139)
Aqui t é expresso em termos dos ângulos de saída do bocal e do rotor, razão entre os raios
do rotor, coeficientes de perdas e razão de temperaturas . A razão de temperaturas pode
ser expressa em função das principais variáveis de projeto, embora ela seja geralmente ignorada
porque é muito próxima de um, tendo assim pouca influência na eficiência t. Assim, podemos
escrever:
(6.140)
A diferença (T2 – T3) pode ser encontrada expandido a equação 6.135 e usando os
triângulos de velocidade da Figura 6.77. Lembrando que T01 = T02:
(6.141)
Note que não é igual na entrada e saída do rotor como nas máquinas de
fluxo axial, pois U3 U2. Logo:
(6.142)
(6.143)
Figura 6.79 - Característica da turbina com o estator entupido (Cohen et al, 1987).
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.93
Existem dois aspectos a serem analisados, no que diz respeito ao desempenho da turbina
a gás. Primeiro, o desempenho do ciclo para a escolha do ponto de projeto (o ponto de projeto,
design point, é a condição selecionada para se projetar a turbina a gás), que depende da
aplicação. Segundo, o desempenho para as condições fora do ponto de projeto (off design
performance), que esta relacionado com o desempenho da turbina a gás durante sua operação.
Em ambos os casos, a variação dos parâmetros térmicos e aerodinâmicos influenciam no seu
desempenho. A seguir veremos uma breve análise destes dois aspectos.
A análise de desempenho a seguir foi calculada, usando a modelagem térmica do item 6.2, e
mantendo-se fixos os parâmetros da Tabela 6.9. Caso haja modificação de algum destes
parâmetros, eles serão especificados na própria explicação do referido texto.
Os parâmetros variáveis são a temperatura máxima do ciclo ou temperatura de entrada da
turbina, TET, cujos valores são 1000K, 1200K, 1300K e 1500K e a razão de pressão do ciclo. A
escolha de todos estes parâmetros referidos acima foi baseada na última geração de tecnologia de
turbinas a gás e na prática corrente industrial disponível na literatura. Os parâmetros de
desempenho são a eficiência térmica do ciclo e o trabalho específico útil.
6.94 Capítulo 6 Turbinas a gás
Os resultados do cálculo do desempenho deste ciclo são mostrados nas Figuras 6.81 e 6.82.
A Figura 6.81 mostra a variação da eficiência térmica com a razão de pressão, para diferentes
TET. Para baixos valores de TET, 1000K, por exemplo, a eficiência térmica máxima (30%),
ocorre para razão de pressão 12. Quanto maiores os valores de TET, maior será a razão de pressão
onde ocorre a máxima eficiência térmica; para TET=1200K, por exemplo, a eficiência térmica
máxima (35%) ocorre para uma razão de pressão 20; para TET=1300K a eficiência térmica
máxima (38%) ocorre para uma razão de pressão 25; e para TET=1500K, por volta da razão de
pressão 42, encontra-se a eficiência térmica máxima de 44%. Unindo os pontos de eficiência
máxima, teremos uma curva que representa a razão de pressão ótima para se obter a máxima
eficiência do ciclo e é crescente com o aumento de TET.
Figura 6.81 - Eficiência térmica em função da razão de compressão para diferentes TET.
A Figura 6.82 mostra a variação do trabalho específico útil com a razão de pressão para
diferentes TET. O valor máximo de trabalho específico útil ocorre para um determinado valor de
razão de pressão e cresce de acordo com o aumento da TET, como pode ser visto na Figura 6.82.
Por exemplo, para uma TET de 1000K o valor máximo do trabalho específico útil (cerca de 150
kJ/kg) ocorre para a razão de pressão 7. E para uma TET de 1500K, o trabalho específico útil
máximo (cerca de 400 kJ/kg) ocorre para a razão de pressão 12.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.95
Figura 6.82 - Trabalho específico útil em função da razão de compressão para diferentes TET.
Para se observar a influência da temperatura ambiente nas turbinas a gás foi escolhido para
análise o ciclo simples. A Figura 6.83 mostra a variação da eficiência térmica com a razão de
pressão para diferentes temperaturas ambientes (faixa de 0C a 45C). Como pode ser visto na
Figura 6.83, a eficiência térmica é pouco sensível à variação da temperatura ambiente.
Figura 6.83 - Eficiência térmica em função da razão de compressão para diferentes temperaturas
ambiente.
Figura 6.84 - Trabalho específico útil em função da razão de compressão para diferentes
temperaturas ambiente.
Em relação à temperatura ambiente ISO, 15C, o trabalho específico útil diminui com o
aumento da temperatura ambiente e aumenta com a diminuição desta. Por exemplo: para a razão de
pressão 20, o trabalho específico útil em relação à temperatura de 15C sofreu um acréscimo de
cerca de 2% para 0C e um decréscimo por volta de 5% para 25C, 9% para 35C e 10,9% para
45C. Este efeito é devido à variação do trabalho de compressão, que é função da temperatura
ambiente.
Esta seção faz uma análise comparativa do ciclo simples, usando os seguintes combustíveis:
A Figura 6.85 mostra que o álcool apresenta um aumento na eficiência térmica do ciclo em
relação ao querosene e ao gás natural. O gás natural, todavia, apresenta uma eficiência térmica do
ciclo maior do que o querosene.
A Figura 6.86 mostra que o álcool é o combustível que apresenta os melhores valores de
trabalho específicos úteis para este ciclo.
É interessante observar que a potência e a eficiência térmica são melhores para o gás natural
do que para o querosene. A melhora no desempenho é causada pelos produtos da combustão dos
dois combustíveis que são diferentes. O gás natural tem uma razão hidrogênio/carbono maior que o
querosene, fazendo com que produza mais vapor d’água e menos dióxido de carbono, o que resulta
num aumento do volume do escoamento. Conseqüentemente, aumenta a potência produzida na
turbina. Para o álcool, a razão hidrogênio/carbono é ainda muito maior que a do gás natural,
resultando numa eficiência térmica e numa potência maiores que o querosene e o gás natural, como
pode ser visto nas Figuras 6.85 e 6.86. Logo, podemos dizer que a razão hidrogênio/carbono é um
parâmetro significativo para o desempenho da turbina a gás.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.97
Figura 6.86 - Trabalho específico útil em função da razão de compressão para diferentes
combustíveis.
do trocador de calor. Ele só se altera se as perdas de carga do trocador de calor forem alteradas.
Figura 6.87 - Eficiência térmica em função da razão de compressão para diferentes valores de
efetividades.
Combustão Simples
Para uma turbina a gás com um estágio de combustão com temperatura de entrada na
turbina constante, atinge-se eficiências maiores para uma alta razão de pressão do que uma
turbina a gás com razão de pressão moderada.
A Figura 6.88 mostra a eficiência da turbina a gás de ciclo simples com um estágio de
combustão em função da temperatura de entrada na turbina TET (de 1000, 1200 e 1400C ) e da
temperatura de saída dos gases. A máxima eficiência, para cada temperatura de entrada da
turbina, é alcançada quando a temperatura de saída dos gases é relativamente baixa.
Figura 6.88 - Eficiência da turbina a gás de ciclo simples com combustão simples função da
temperatura dos gases de saída e TET (Kehlhofer et al, 1999).
Combustão Seqüencial
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.99
A combustão seqüencial é projetada com duas câmaras de combustão. Entre elas encontra-
se a turbina de alta pressão. O ar que deixa o compressor passa na primeira câmara de combustão
e expande no primeiro estágio da turbina antes da combustão final na segunda câmara, e a
expansão final ocorre na segunda turbina (Figura 6.89).
Figura 6.89 - Esquema da turbina a gás com combustão seqüencial da ABB (Cortesia da ABB).
As características deste ciclo são mostradas no diagrama T-s da Figura 6.90. A Figura 6.90
mostra o ciclo seqüencial ( 1-2-3-3i-3j-4) , o ciclo padrão de turbina a gás Heavy Duty (1-2’-
3’’-4’’) e ciclo das turbinas aeroderivativas (1-2-3’-4’).
O ciclo padrão de turbina a gás tem a mesma eficiência do ciclo seqüencial quando a
temperatura de entrada na turbina for superior. Neste caso, a temperatura dos gases de exaustão
(T4’’) é muito alta para utilizar em um ciclo combinado, aumentando o seu custo. Por outro lado
aumentando a razão de pressão do ciclo (turbinas aeroderivativas), para se obter a mesma
eficiência do ciclo seqüencial, a temperatura dos gases de exaustão(T 4’) é inferior, dificultando a
otimização da operação do ciclo combinado.
O processo de expansão no ciclo seqüencial permite não somente selecionar uma ótima
temperatura dos gases de exaustão para a operação de projeto, mas também manter este nível de
temperatura em uma faixa maior em cargas parciais.
Para alta eficiência em cargas parciais, o compressor de geometria variável permite a
turbina a gás operar com uma curva de eficiência achatada na faixa de operação em carga parcial
no ciclos combinados, apenas ajustando as pás diretoras de entrada do compressor, que reduzem
a vazão em massa linearmente de 60% da carga total. A pressão a jusante da turbina cai na
mesma proporção. Isto é acompanhado por uma queda de temperatura no segundo combustor,
6.100 Capítulo 6 Turbinas a gás
que mantém a temperatura dos gases de exaustão praticamente igual a de projeto. A temperatura
do primeiro combustor permanece a mesma, caindo para cerca de 24% da carga total.
Turbinas a gás com combustão seqüencial têm eficiência térmica praticamente igual às
turbinas a gás de ciclo simples com combustão simples, para a mesma razão de pressão do ciclo
e temperatura de entrada da turbina.
A Figura 6.91 mostra níveis de eficiência ótima de uma turbina a gás de ciclo simples com
câmara de combustão seqüencial, para diferentes temperaturas de entrada na turbina. Entretanto,
as temperaturas de exaustão são substancialmente maiores do que aquelas da turbina a gás de
ciclo simples com câmara de combustão simples, Figura 6.88.
Figura 6.91 - Eficiência da turbina a gás de ciclo simples com combustão seqüencial em função
da temperatura dos gases de saída e TET(Kehlhofer et al, 1999).
(6.144)
Note que os termos entre colchetes não são mais adimensionais. Portanto, é comum chamá-
las de variáveis semi-adimensionais ou pseudo-adimensionais. Elas não são adimensionais, mas tem
o mesmo comportamento.
Com o uso dos grupos adimensionais pode-se obter as curvas de desempenho das
turbomáquinas (como já visto em itens anteriores) tais como: compressores e turbinas, através de
banco de ensaio. Em ambos os casos a razão de pressão, p02/p01, é plotada como função de (
)para um dado valor de , sendo esta forma uma maneira usual de
apresentação. Mais detalhes na obtenção dos grupos adimensionais podem ser obtidos em
Dixon,1978.
O método básico para prever o comportamento das turbinas a gás fora das condições de
projeto, em regime permanente, consiste no uso das equações da compatibilidade de rotação
semi-adimensional, da vazão em massa semi-adimensional, do trabalho e das características de
cada um dos componentes para calcular o desempenho da turbina a gás fora do ponto de projeto.
A variação da vazão em massa semi-adimensional, a razão de compressão e a eficiência
com a rotação semi-adimensional do compressor e da turbina são obtidas nas características do
compressor e da turbina. Maiores detalhes no desenvolvimento do cálculo do desempenho da
6.102 Capítulo 6 Turbinas a gás
turbina a gás para as condições fora de projeto podem ser vistos em Cohen et al, 1987 e
Mattingly, 1996.
Esta seção analisa o comportamento da turbina a gás sem e com turbina livre.
a) Gerador de gás
Seria possível realizar os cálculos para um grande número de pontos na característica do
compressor e expressar os resultados juntando os pontos da linha de T 03/T01 constante sobre a
característica do compressor, como mostram as linhas tracejadas da Figura 6.93. Na prática, isso
não é necessário. A exigência de compatibilidade de fluxo de massa dos componentes após o
gerador de gás, turbina livre ou bocal de propulsão, seriamente restringe a zona de operação na
característica do compressor. O procedimento de cálculo para o gerador de gás consiste somente
de uma parte dos cálculos de toda unidade e, quando toda unidade é considerada, somente
poucos pontos podem ser necessários, na característica do compressor.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.103
As turbinas a gás com turbina livre são usadas para acionar uma variedade de
carregamento tais como: bombas, hélices, geradores elétricos, etc. Cada um com diferente
característica de potência versus rotação. Por esta razão, é usual calcular a potência útil sobre
uma faixa de rotação da turbina livre para cada ponto de funcionamento. O resultado pode ser
plotado, como a Figura 6.94 (Cohen et al, 1987). Qualquer curva correspondente a uma dada
rotação do compressor será achatada próximo à metade da faixa de rotação da turbina livre, onde
tp, não varia muito com .
O consumo de combustível pode ser calculado para cada ponto de operação da mesma
maneira descrita para turbinas a gás de um eixo. Desde que o consumo de combustível dependa
somente dos parâmetros do gerador de gás, haverá somente um valor para cada rotação do
compressor. Quando combinando com os dados de potência para dar o consumo específico de
combustível (SFC), é claro que tanto SFC como a potência será uma função da rotação do
compressor e da turbina livre. Normalmente, se expressa a operação da turbina a gás plotando
SFC versus potência de saída para várias rotações, como mostra a Figura 6.95 (Cohen et al,
1987). Essa figura é para uma dada condição ambiente e, normalmente, o desempenho é
calculado para várias condições ambientes.
Este tipo de apresentação permite uma avaliação do desempenho da unidade quando
acoplada com um tipo de carregamento que superpõe a característica do carregamento sobre ela.
A curva tracejada da Figura 6.95 indica uma variação da potência e rotação imposta pelo
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.105
Figura 6.94 - Potência em função rotação da turbina de potência (Cohen et al, 1987).
Figura 6.95 - Consumo específico de combustível versus potência (Cohen et al, 1987).
A escolha das turbinas a gás sem ou com turbina livre (um ou dois eixos) é determinada
pela característica do carregamento. Se a rotação do carregamento é constante, como no caso do
gerador elétrico, a unidade de um eixo é a mais adequada. Uma turbina a gás projetada para
geração de potência elétrica faria o uso de uma configuração de um eixo para geração de base.
Os dois tipos de configuração também têm características diferentes com relação ao
suprimento de calor rejeitado para a planta de cogeração, primeiramente devido às diferenças na
vazão em massa de saída do exaustor quando o carregamento é reduzido. A vazão em massa de
ar, essencialmente constante, e a potência do compressor na unidade de um eixo resultam num
grande decréscimo de temperatura no exaustor para uma dada redução na potência de saída, a
qual provavelmente necessita de uma queima suplementar de combustível na caldeira sob as
condições de operação. Isso não seria necessário com a unidade de dois eixos.
Em ambos os casos, a temperatura do exaustor pode ser aumentada com o uso de pás
diretoras (inlet guide vanes) variáveis, como será visto nos itens que virão. Sistemas de
cogeração têm sido construídos com sucesso, usando ambas as configurações de um e dois eixos,
6.106 Capítulo 6 Turbinas a gás
o último sendo normalmente turbinas aeroderivativas. Por esta razão, o consumo de combustível
em carga parcial da unidade de dois eixos é superior quando operando carga à rotação constante.
A maioria das turbinas a gás não ficam por muito tempo operando à baixa potência, e a diferença
de consumo específico de combustível não é muito crítica na prática.
Uma vez que a turbina a gás é uma máquina térmica que absorve ar atmosférico, seu
desempenho será afetado quando a vazão em massa de ar que entra no compressor for diferente
das condições de referência (ISO) de 15C, 60%UR e 1,013bars. A Figura 6.97 é uma figura
típica da MS7001 General Electric, que mostra como a temperatura ambiente afeta a potência de
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.107
saída, a taxa de calor, o consumo de calor e a vazão em massa de exaustão para uma turbina a
gás de ciclo simples de um eixo. Cada modelo de turbina a gás tem sua própria curva dos efeitos
da temperatura, uma vez que isso depende dos parâmetros do ciclo e da eficiência dos
componentes, bem como da vazão em massa (Brooks, 1994).
Correção para a altitude ou pressão barométrica é mais simples. Ar menos denso reduz a
vazão em massa e potência de saída proporcionalmente; taxa de calor e outros parâmetros do
ciclo não são afetados. A Figura 6.98 mostra a curva do fator de correção da altitude em relação
a altitude padrão.
Similarmente, ar úmido, sendo menos denso que o ar seco, também terá ,em geral, um
efeito na potência de saída e na taxa de calor como mostra a Figura 6.99.
Combustíveis gasosos com poder calorífico menor do que o gás natural pode alterar
significativamente o desempenho. À medida que o poder calorífico cai, a vazão de combustível
deve aumentar para fornecer o calor necessário (Figura 6.100). Esta vazão em massa adicional, a
qual não é compensada pelo compressor da turbina, aumenta a potência da turbina do gerador de
gás e da turbina livre. A potência do compressor permanecerá praticamente constante e,
portanto, a potência útil será aumentada.
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.109
Existem vários problemas que devem ser considerados quando combustíveis de baixo
poder calorífico forem queimados (Brooks, 1994):
Aumento da vazão em massa da turbina que aciona o compressor aumenta a razão de
compressão, o que faz a linha de trabalho se aproximar da surge line.
A alta potência da turbina pode exceder os limites de falha de torque. Em muitos casos, um
gerador maior e outros equipamentos podem ser necessários.
Volume maior de combustível aumenta as tubulações da linha de combustível e tamanho das
válvulas (o custo total). Gases de carvão de baixo ou médio poder calorífico são
freqüentemente fornecidos a altas temperaturas, que ainda aumentam a sua vazão
volumétrica.
Gases com baixo poder calorífico são freqüentemente saturados com água antes de serem
entregues a turbina. Isso aumenta o coeficiente de transferência de calor dos produtos da
combustão e eleva a temperatura do metal na seção da turbina.
À medida que o poder calorífico cai, mais ar é necessário para queimar o combustível.
Máquinas com alta temperatura de entrada na turbina podem não ser capazes de queimar
gases com poder calorífico muito baixo.
A maioria dos gaseificadores com soprador de ar, utiliza ar sangrado do compressor. A
capacidade de extrair ar deve ser avaliada e levada em conta no balanço global de calor e
material.
Como resultado destes efeitos, cada modelo de turbina a gás terá algumas regras de
aplicação na vazão, temperatura e potência de eixo para preservar o projeto de sua vida útil. Na
maioria dos casos de operação com combustíveis de baixo poder calorifico, pode-se assumir que
a potência e a eficiência serão iguais ou maiores do que as obtidas no gás natural. No caso de
combustíveis de alto poder calorífico, tais como os gases de refinaria, a potência e a eficiência
podem ser iguais ou menores do que as obtidas no gás natural.
A injeção de água e vapor para controlar o NO x é obtida injetando-se água ou vapor. Cada
turbina a gás e configuração da câmara de combustão tem limites no nível de injeção de água ou
vapor para proteger o sistema de combustão e a seção da turbina. Dependendo da quantidade
necessária de injeção de água ou vapor para atingir o nível desejado de NOx, a potência irá
aumentar devido a adição de massa. A Figura 6.101 mostra o efeito da injeção de vapor na
potência e na taxa de calor para MS7001EA da General Electric. A injeção de água exige que
mais combustível seja adicionado para eleva-la até as condições da câmara de combustão do que
o vapor, fazendo com que a injeção de água não ofereça melhora na taxa de calor (Brooks,
6.110 Capítulo 6 Turbinas a gás
1994).
Figura 6.101 - Efeito da injeção de vapor sobre a potência e o heat rate (Brooks, 1994).
Geralmente não é possível controlar alguns dos fatores que afetam o desempenho da
turbina a gás. A maioria são determinados pelo planejamento do local e configuração da planta,
isto é, ciclo simples ou ciclo combinado. Se eventualmente uma potência adicional é necessária,
existem varias possibilidades que podem ser consideradas para aumentar o desempenho.
Resfriamento na entrada
A curva que representa o efeito do ambiente no desempenho da turbina a gás (Figura 6.97)
claramente mostra que a potência da turbina e a taxa de calor melhoram à medida que a
temperatura de entrada do compressor diminui. A diminuição da temperatura de entrada do
compressor pode ser alcançada instalando resfriamento evaporativo ou resfriador no duto de
entrada do compressor, logo após os filtros. Cuidadosa aplicação destes sistemas é necessária,
uma vez que condensado ou transporte de água no compressor pode acelerar o fouling e a
degradação do desempenho. Geralmente, tais sistemas são seguidos de separadores de umidade
ou aglutinadores para reduzir a possibilidade de arrastar a umidade. Como pode ser visto na
Figura 6.103, o maior ganho do resfriamento evaporativo pode ser obtido em climas quentes e
de baixa umidade. Nota-se que na Figura 6.103 o resfriamento evaporativo é limitado à
temperatura ambiente de 16C. Abaixo desta temperatura existe a possibilidade do potencial de
formação de gelo no compressor. A Figura 6.103 é para resfriador evaporativo de 85% de
efetividade. Efetividade é a medida de quanto a temperatura de resfriamento de saída se
aproxima da temperatura ambiente de bulbo úmido. Para a maioria das aplicações, resfriadores
que tem efetividade de 85 a 90% fornecem o maior beneficio econômico.
Resfriadores (Chillers), diferentes dos resfriadores evaporativos, não são limitados pela
temperatura ambiente de bulbo úmido. A temperatura desejada é limitada somente pela
capacidade do dispositivo do resfriador (chillers) de produzir frio e a habilidade da serpentina de
transferir calor. Mais sobre o resfriamento do ar de entrada na turbina pode ser visto no capítulo
12.
Melhora do heat rate em cargas parciais
Além dos regeneradores e caldeiras de recuperação, outro fato que trouxe uma
considerável melhoria da eficiência de plantas de turbinas a gás foi o melhor desempenho
conseguido com turbinas a gás trabalhando em carga parcial. As modificações auxiliares no ciclo
térmico básico fazem com que a turbina a gás opere em carregamento parcial por um apreciável
6.112 Capítulo 6 Turbinas a gás
período de tempo e, nestas condições de operação, tem surgido a necessidade de dispor mais
energia de escape para recuperação de calor. Dois projetos que têm este objetivo são descritos a
seguir: palhetas do sistema diretor variável e variação da área dos bocais do segundo estágio
(Javetski, 1978).
Figura 6.103 - Efeito do resfriamento evaporativo na potência e no heat rate (Brooks, 1994).
Figura 6.104 - Aumento da energia recuperada em cargas parciais com palhetas do sistema
diretor variável.
Figura 6.105 - Melhora em carga parcial com a variação da área do bocal do segundo estagio da
turbina.
Uma vez que a turbina a gás é instalada, um teste de desempenho é usualmente conduzido
para se determinar o desempenho da unidade. Potência, combustível, consumo de calor e dados
suficientes de suporte devem ser gravados para permitir que o desempenho testado seja corrigido
para as condições de garantia. Preferivelmente este teste deve ser realizado assim que for
possível, com a unidade nova e limpa. Em geral, a turbina a gás é assim considerada se ela tem
menos do que 100 horas de operação.
Procedimentos de teste e método de cálculo são baseados na ASME Perforamance Test
Code PTC-22-1997, Gas Turbine Power Plants. Antes do teste, todas as estações usadas para a
primeira coleta de dados devem ser inspecionadas e calibradas. O teste deve ser consistente de
pontos suficientes para assegurar a sua validade do teste estabelecido. Cada ponto de teste deve
ter um mínimo de quatro conjuntos completos de leitura, obtidos acima de um período de trinta
minutos quando operando no carregamento de base. A metodologia que corrige os resultados do
teste para as condições de garantia e as incertezas das medidas, deve ser acordada entre as partes
antes do teste.
Turbinas a gás são afetadas pelas condições ambientes impostas pelo local de operação.
Os parâmetros que mais afetam o desempenho térmico são: temperatura ambiente e pressão,
perda de pressão na entrada da exaustão da turbina a gás, química do combustível e, no caso do
uso do resfriamento evaporativo, a umidade de entrada do ar.
A magnitude do efeito de várias condições on-site, em qualquer turbina a gás, é função
das suas características. O desenvolvimento a seguir é baseado em Howard, 1985.
Para ilustrar o desempenho das turbinas a gás em vários site e condições ambientes, e
operação a cargas parciais, foram escolhidos dois tipos de turbinas a gás: um eixo e dois eixos
(gerador de gás e turbina livre). Para a geração elétrica, a mais comum é a de um eixo, e para
bombeamento, veiculo e partidas com carregamento pesado, a turbina a gás de dois eixos é a
mais indicada.
O desempenho das turbinas a gás pode ser representado com precisão, plotando a
potência semi-adimensional em função da rotação semi-adimensional com eficiência do ciclo e
razão de temperatura. A Figura 6.108 representa o desempenho típico de uma turbina a gás de
um eixo e a Figura 6.109, o desempenho típico de uma turbina a gás de dois eixos com turbina
livre. Os parâmetros adimensionais e pseudo adimensionais são definidos como segue:
(6.145)
(6.146)
onde: – potência, kW
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.117
Figura 6.108 - Curva típica de desempenho de uma turbina a gás de um eixo (Howard, 1985).
6.118 Capítulo 6 Turbinas a gás
Figura 6.109 - Curva típica de desempenho de uma turbina a gás com turbina livre eixo
(Howard, 1985)
Temperatura ambiente
gases de exaustão e aumenta a temperatura de exaustão. A Figura 6.97 mostra curva típica de
correção do desempenho de uma turbina a gás de um eixo.
Umidade do ar
- Redução de barulho;
- Tratamento do ar de entrada (filtros e resfriadores);
- Recuperador de calor.
(6.149)
6.120 Capítulo 6 Turbinas a gás
(6.150)
(6.151)
Figura 6.111 - Queda de entalpia na turbina em função da perda de pressão no sistema de exaustão
(Howard, 1985).
Capítulo 6 Turbinas a gás 6.121
(6.152)
O consumo específico de calor (heat rate) é também afetado por estas perdas, desde que
não exista diminuição do consumo de combustível. Logo:
(6.153)
A temperatura de exaustão, que é afetada por estas perdas, pode ser calculada da seguinte
forma:
(6.154)
onde: Tex,ISO - temperatura dos gases de exaustão para as condições ISO
Cp - calor específico à pressão constante dos gases
6.6 - REFERÊNCIAS
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