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Faculdades Pequeno Príncipe

Residência Multiprofissional em Saúde da Criança e do Adolescente


Especialidade de Psicologia

ELISA LEITHOLD
LETÍCIA IAFELIX MINARI
ROSANGELA OLIVEIRA DE SOUZA

Programas de Práticas Parentais como Ferramenta para Quebrar os Ciclos


de Violência Intergeracionais e Promover a Cultura da Paz

Trabalho realizado como avaliação para a aula de


“Sistema Único de Saúde e Políticas Públicas para a
Saúde infanto-juvenil”, ministrada pela Prof.ª Ma.
Luciana Savaris para os alunos da Residência
Multiprofissional em Saúde da Criança e do Adolescente
da Faculdades Pequeno Príncipe.

Curitiba – PR
Março de 2021
1. Objetivos
Esta proposta de intervenção tem como objetivo geral prevenir violência e maus tratos
na infância por meio da realização de grupos de orientação para pais com crianças de 0 a 8
anos de idade. Para tanto, os objetivos específicos visam:
a) Promover reflexões sobre as consequências da violência no núcleo familiar;
b) Fomentar a quebra do ciclo de violência intergeracional dentro das famílias;
c) Estimular práticas parentais não violentas;
d) Fortalecer o vínculo entre pais/responsáveis e filhos e incentivar uma relação
harmônica entre eles.

2. Público-alvo
Os pais são os principais responsáveis pela construção da personalidade dos filhos e
contribuem para aprendizados referente a regulação emocional e comportamental, além dos
processos de socialização. Neste sentido, pensando a infância como um período em que a
subjetividade da criança está se formando e que a exposição à violência pode fazer com que
esta desenvolva uma série de problemas físicos, mentais e comportamentais, o público
escolhido para a intervenção são pais cujos filhos têm de 0 a 8 anos de idade.

3. Estratégia a ser adotada


O grupo de pais seria realizado em uma unidade de saúde da família, sendo que uma
facilitadora e uma co-facilitadora conduziriam as sessões.
Ao todo serão realizadas quatro sessões de duas horas de duração cada, as quais
abordarão os seguintes temas: a) conhecimentos básicos sobre desenvolvimento infantil,
esclarecendo os comportamentos esperados de acordo com a idade das crianças; b)
consequência da violência na vida das crianças; c) identificação, nomeação e manejo de
sentimentos, com foco no sentimento da raiva; d) formas de prevenir comportamentos
difíceis, disciplinando e apresentando regras às crianças sem o uso da violência.
Algumas das estratégias ensinadas serão: conversar com a criança para entender seus
sentimentos e causas prováveis do mau comportamento; dar um tempo para a criança e o
adulto se acalmarem em situações de conflito (recomendado um minuto por ano de idade da
criança); ignorar comportamentos inadequados que não ofereçam riscos à integridade da
criança; estabelecer regras, limites e rotinas claras e consistentes e estabelecer consequências
para os comportamentos inadequados. Além disso, os pais e cuidadores irão aprender sobre
como elogiar e recompensar os comportamentos positivos das crianças.
Para que haja boa adesão dos cuidadores ao grupo, será feita uma pesquisa para eleger
o melhor dia e horário de realização das sessões, além de ser oferecido lanches e sorteios de
pequenos brindes como recompensa pela participação no grupo. Outras estratégias de adesão
utilizadas serão o convite ao grupo realizado em visita domiciliar pelos Agentes Comunitários
de Saúde, aproveitando o vínculo já estabelecido com a família. Por fim, após a conclusão dos
primeiros grupos, seria pedido para que alguns cuidadores gravassem vídeos de relatos de
experiência para convidar outros cuidadores a participarem. Se possível, combinar com algum
colaborador da unidade de saúde da família de fazer atividades com as crianças enquanto os
cuidadores participam do grupo.

4. Fundamentação teórica
A violência e os maus tratos na infância são um problema de ordem mundial, e estima-
se que durante o ano de 2014 mais de um bilhão de crianças de 2 a 17 anos haviam sofrido
algum tipo de violência ao redor do mundo (Hillis, Mercy, Amobi, & Kress, 2016). Entende-
se por violência contra a criança toda forma de violência contra menores de 18 anos, que
resulte em dano real ou potencial à sua saúde ou dignidade, envolvendo relacionamentos de
responsabilidade, confiança ou poder (World Health Organization [WHO], 2020). A violência
na infância pode predispor as crianças a desenvolverem problemas de saúde,
comportamentais, físicos e mentais, além contribuir para uma defasagem educacional (WHO,
2020).
Segundo a Teoria do Aprendizado Social, a criança aprende com as experiências à sua
volta, principalmente pela imitação dos comportamentos dos adultos (Bandura, 1977). Utilizar
comportamentos agressivos e coercitivos contra as crianças pode ensiná-las a também
reagirem desta maneira quando sentirem-se frustradas. Com isso, uma criança vitimizada tem
maior probabilidade de se envolver em situações de agressão e, posteriormente, se tornar um
adulto que usa técnicas severas e coercitivas, perpetuando um ciclo de violência (Knox &
Dynes, 2020). Assim, a violência na infância pode impactar gerações futuras, já que pode ser
transmitida de forma intergeracional (Monteiro, Fernandes, Oliveira, Peixoto, & Pamplona,
2018; WHO, 2020).
Uma das estratégias utilizadas para prevenir a violência e os maus tratos na infância é
a implementação de programas capazes de promover práticas parentais não violentas (WHO,
2020). De forma geral tais programas utilizam as seguintes estratégias para promover
impactos positivos na parentalidade: aumentar o conhecimento dos pais sobre o
desenvolvimento infantil, promover práticas e habilidades parentais eficazes, promover o uso
de comportamentos parentais não violentos, além de incentivar relações harmoniosas entre
pais e filhos (Altafim & Linhares, 2016). Assim, programas que estimulem as práticas
parentais eficazes e não violentas são uma ferramenta importante para interrompermos os
ciclos de violência intergeracionais.

5. Resultados esperados
As mudanças nas maneiras de pais e filhos se relacionarem e se comunicarem podem
vir a ocorrer de modo progressivo. Um resultado esperado poderá levar a outro e este a outro
subsequente. Um dos primeiros resultados seria a compreensão dos papéis familiares, tanto os
parentais, quanto os filiais. Espera-se que esta compreensão favoreça o fortalecimento dos
laços familiares, concomitantemente, à utilização de práticas parentais eficazes e não
violentas, que ajudariam na melhoria do comportamento da criança, bem como, na diminuição
da violência intrafamiliar.

Referências Bibliográficas

Altafim, E. R. P., & Linhares, M. B. M. (2016). Universal violence and child maltreatment
prevention programs for parents: A systematic review. Psychosocial Intervention,
25(1), 27-38. https://doi.org/10.1016/j.psi.2015.10.003

Bandura, A. (1977). Social learning theory. Prentice-Hall.

Hillis, S., Mercy, J., Amobi, A., & Kress, H. (2016). Global Prevalence of Past-year Violence
Against Children: A Systematic Review and Minimum Estimates. Pediatrics, 137(3),
e20154079. https://doi.org/10.1542/peds.2015-4079

Knox, M., & Dynes, M. (2020). The ACT Raising Safe Kids Program. In E. T. Gershoff & S.
J. Lee (Eds.), Ending the physical punishment of children: A guide for clinicians and
practitioners (p. 99–107). American Psychological Association.
https://doi.org/10.1037/0000162-011

Monteiro, A., Fernandes, A., Oliveira, A., Peixoto, I., & Pamplona, M. (2018). Mothers'
perspective on violence against children: constructing meanings. Revista brasileira de
enfermagem, 71(1), 34–39. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0568

World Health Organization. (08 de Junho de 2020). Child maltreatment. World Health
Organization. https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/child-
maltreatment

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