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L C U.T.I.

LINGUAGENS
E CÓDIGOS
Unidade Técnica de Imersão
2
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
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Autores
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Lucas Limberti
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Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
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CARO ALUNO

Você está recebendo o segundo caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este
material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 3 e 4, oferecendo-lhe uma
seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre
pronto a realizar as provas de 2ª fase dos vestibulares.
Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda
mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram
esquecidos.
Aproveite para aprimorar seus conhecimentos.

Bons estudos!

Herlan Fellini
SUMÁRIO

5
35

59

83

91
0 2 Gramática

U.T.I.
© Pexels/Pixabay.com

L C
ENTRE LETRAS
Conjunções
Conjunções coordenativas
As conjunções coordenativas conectam orações sem estabelecer uma relação de dependência (uma função
sintática). De acordo com um critério lógico-semântico, elas se classificam assim:

§ Aditivas – estabelecem uma relação de soma, de adição entre os termos.


§ Principais conjunções aditivas: e, nem, não só... mas também, não só... como também, bem como,
não só... mas ainda.
Exemplos: Ele saiu cedo e levou a carteira.
Ela não só saiu cedo como também passou na farmácia.

§ Adversativas – estabelecem uma relação de contraste, de oposição entre os termos.


§ Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não
obstante.
Exemplo: Tentou vender os livros usados, mas não conseguiu.

§ Alternativas – estabelecem uma relação de alternância, de escolha ou de exclusão entre os termos:


§ Principais conjunções alternativas: ou, ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez...
talvez.
Exemplo: Ou você chega logo, ou vou embora para minha casa.

§ Conclusivas – estabelecem uma relação de conclusão a respeito de um fato dado no mundo.


§ Principais conjunções conclusivas: logo, portanto, por conseguinte, por isso, assim, pois (depois do
verbo e entre vírgulas).
Exemplo: Estava muito irritado, portanto, preferiu conversar mais tarde.

§ Explicativas – estabelecem uma relação de explicação sobre um fato que ainda não ocorreu no mundo.
§ Principais conjunções explicativas: que, porque, porquanto, pois (antes do verbo).
Exemplo: Não fique irritado, porque a conversa pode tomar outros rumos.

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Conjunções subordinativas fim de que, que, porque (para que), que.
Exemplo: Mande o e-mail para que todos
As conjunções subordinativas ligam duas ora- compareçam no horário correto.
ções, das quais uma é necessariamente dependente da
§§ Proporcionais – introduzem uma oração que
outra, desempenhando em relação a esta uma função
expressa um fato relacionado proporcionalmen-
sintática. São classificadas como:
te à ocorrência da principal.
§§ Causais – introduzem a oração que é causa da §§ Principais conjunções proporcionais: à
ocorrência da oração principal. medida que, à proporção que, ao passo que
§§ Principais conjunções causais: porque, – e as combinações: quanto mais... (mais),
que, pois que, visto que, uma vez que, por- quanto menos... (menos), quanto menos...
quanto, já que, desde que, como (no início (mais), quanto menos... (menos).
da frase). Exemplo: Os problemas saem do controle à
Exemplo: Ele não fez as compras porque medida que não são resolvidos.
não havia trazido a carteira.
§§ Temporais – introduzem orações que acrescen-
§§ Concessivas – introduzem a oração que ex- tam uma circunstância de tempo ao fato expres-
pressa ideia contrária à da principal. so na oração principal.
§§ Principais conjunções concessivas: em- §§ Principais conjunções temporais: quan-
bora, ainda que, apesar de que, se bem que, do, enquanto, antes que, depois que, logo
mesmo que, por mais que, posto que, con- que, todas as vezes que, desde que, sempre
quanto. que, assim que, agora que, mal (assim que)
Exemplo: Embora fosse arriscado, investi- Exemplo: Ele nos atendeu assim que co-
mos em ações. meçamos a reclamar.

§§ Condicionais – introduzem uma oração que


§§ Comparativas – introduzem orações que ex-
indica a hipótese ou a condição para ocorrência
pressam ideia de comparação em relação à ora-
da principal.
ção principal.
§§ Principais conjunções condicionais: se,
§§ Principais conjunções comparativas:
caso, contanto que, salvo se, a não ser que,
como, assim como, tal como, como se, (tão)...
desde que, a menos que, sem que.
como, tanto como, tanto quanto, do que,
Exemplo: Caso precise de algum emprésti-
mo, procure um banco. quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que
(combinado com menos ou mais).
§§ Conformativas – introduzem uma oração que Exemplo: A seleção fez mais gols hoje que
exprime a conformidade de um fato com outro. no jogo anterior.
§§ Principais conjunções conformativas:
conforme, como (conforme), segundo, con- §§ Consecutivas – introduzem orações que ex-
soante. pressam consequência em relação à principal.
Exemplo: As coisas nem sempre ocorrem §§ Principais conjunções consecutivas: de
como queremos. sorte que, de modo que, sem que (que não),
de forma que, de jeito que, que (cujo antece-
§§ Finais – introduzem uma oração que expressa dente na oração principal seja tal, tão, cada,
a finalidade ou o objetivo com que se realiza a tanto, tamanho).
principal. Exemplo: Dormiu tanto que ficou com do-
§§ Principais conjunções finais: para que, a res no pescoço.

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Conjunções integrantes
As conjunções integrantes introduzem as orações subordinadas substantivas. Ocorrem com os termos “que”
e “se”.
Exemplos: Espero que você volte (espero sua volta).
Não sei se ele voltará (não sei da sua volta).

Dica
Para confirmar se uma conjunção é do tipo integrante, deve-se substituir os termos “que” ou “se”, e o
restante da oração que os acompanha, pelo pronome “isso”.

Exemplo: É necessário que se mudem os pensamentos.

Termos essenciais
da oração: sujeito e predicado
Sujeito é o termo que concorda, em número e pessoa, com o verbo da oração. Em grande número de casos,
o sujeito da oração é também o agente da ação expressa pelo verbo, mas essa não deve ser a base de definição
conceitual, uma vez que há orações para as quais não se pode atribuir ao sujeito essa função de agente.

Exemplos:
Ele viajou para o interior de São Paulo.
(viajou está no singular para concordar com ele. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)

Eles viajaram para o interior de São Paulo.


(viajaram está no plural para concordar com eles. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)

Ele está no interior de São Paulo.


(está está no singular para concordar com ele; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.)

Eles vivem no interior de São Paulo.


(vivem está no plural para concordar com eles; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.)

Observação: as gramáticas normativas determinam o sujeito e o predicado como termos essenciais; no


entanto, deve-se observar que o termo constante em toda oração é o verbo.
Exemplos: Choveu o dia todo. (verbo que indica um fenômeno natural.)
Chorou.
(verbo que indica uma ação e permite a possível identificação do sujeito através da desinência.)

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Classificação do sujeito a) com verbo na terceira pessoa do plu-
ral, sem que ele se refira a nenhum termo
O sujeito das orações pode ser determinado ou identificado anteriormente (nem em outra
indeterminado. oração).
1. Sujeito determinado é aquele que pode ser Exemplos: Proibiram a entrada de meno-
identificado com precisão a partir da concordân- res.
cia verbal. Ele pode ser:
Estão transferindo as crianças de lugar.

a) Simples, se apresentar apenas um núcleo b) com verbo na voz ativa e na terceira


(a palavra principal do sujeito, que encerra pessoa do singular seguido do prono-
essencialmente a significação) ligado direta- me se, pronome esse que atua como índi-
mente ao verbo, estabelecendo uma relação ce de indeterminação do sujeito. Essa
de concordância com ele. construção ocorre com verbos que não apre-
sentam complemento direto (verbos intran-
Exemplo: As pessoas saíram pelas ruas em
sitivos, transitivos indiretos e de ligação). O
protesto.
verbo obrigatoriamente fica na terceira pes-
Observação: O sujeito é simples, se o verbo soa do singular.
da oração referir-se a apenas um elemento, Exemplos: Vive-se melhor após o avanço
seja ele um substantivo (singular ou plural), da tecnologia. (verbo intransitivo)
um pronome ou um numeral. Não confundir
Precisa-se de vendedores com prática. (ver-
sujeito simples com a noção de singular.
bo transitivo indireto)
Exemplos: O segundo andar possui sala
No dia da prova, sempre se fica nervoso.
de reunião.
(verbo de ligação)
Todos correram em direção ao ônibus.
c) com o verbo no infinitivo impessoal:
b) Composto, se apresentar dois ou mais nú-
cleos ligados diretamente ao verbo, estabele- Exemplos: Era penoso estudar Direito e
cendo uma relação de concordância com ele. Economia, simultaneamente.
É bom assistir a filmes antigos.
Exemplo: Brigadeiro e caipirinha são es-
pecialidades tipicamente brasileiras. 3. Orações sem sujeito são formadas apenas pelo
predicado e articulam-se a partir de um verbo
c) Oculto (elíptico ou desinencial): O sujei- impessoal. Por isso se diz que o sujeito é ine-
to oculto ocorre quando o sujeito não está xistente. Observe a estrutura destas orações.
expresso na oração, mas é possível identificá- Exemplos: Havia borboletas no jardim.
-lo por meio da terminação do verbo. Nevou muito este ano em Santa Catarina.
Exemplos: Resolvi meus os problemas com ATENÇÃO!
o fisco. – Sujeito oculto: (eu resolvi) Os verbos impessoais devem ser usados sem-
pre na terceira pessoa do singular. Cuidado
Estávamos cansados do trabalho. – Sujeito
com os verbos fazer e haver usados impessoal-
oculto: (nós estávamos)
mente: não se deve empregá-los no plural.
2. Sujeito indeterminado: é aquele que, embora
existindo, não é possível determiná-lo nem pelo Exemplos: Faz muitos anos que nos conhece-
contexto, nem pela terminação do verbo. Há três mos.
maneiras diferentes de indeterminar o sujeito de Deve fazer dias quentes na Bahia.
uma oração: Há muitas pessoas interessadas na vaga.
Houve muitas pessoas interessadas na vaga.

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Observação: O verbo existir é pessoal, por- ção para o final de semana.
tanto, admite sujeito que concorda com ele. Núcleo: animados (adjetivo que dá informação
sobre o sujeito oculto. Sintaticamente, este adje-
Predicado tivo recebe a função de predicativo do sujeito).

É o termo da oração que faz uma afirmação 3. Predicado verbo-nominal tem dois núcle-
sobre o sujeito; diz-se, portanto, que se trata de uma os: um núcleo constituído de uma forma verbal
predicação sobre o sujeito. No caso das orações sem e um núcleo constituído de uma forma nominal.
sujeito, a predicação é genérica. Tudo o que constitui as Exemplo: Os alunos chegaram cansados.
orações, à exceção do sujeito e do vocativo, faz parte Predicado: chegaram cansados
do predicado.
Núcleo verbal: chegaram
Os predicados devem conter necessaria-
Núcleo nominal: cansados
mente um verbo, mas o núcleo do predicado (termo
que detém o sentido propriamente) pode ser um verbo,
um nome ou a junção dos dois. Predicativo do sujeito e
predicativo do objeto
Tipos de predicado
É importante sistematizar a definição de predi-
A partir de estruturas que se assemelham às dos cativo, função sintática relacionada à ocorrência, nas
exemplos anteriores, podem-se classificar os predicados orações, de predicados nominais ou verbo-nominais.
em três categorias: Denomina-se predicativo a palavra ou locução de na-
1. Predicado verbal tem, como núcleo, uma for- tureza nominal que constitui o núcleo de um predicado
ma verbal. nominal ou o núcleo de um predicado verbo-nominal. O
a) A estudante gosta de viajar nas férias. predicativo pode se referir ao sujeito da oração – predi-
Predicado: gosta de viajar nas férias cativo do sujeito –, no caso dos predicados nominais, ou
Núcleo: gosta ao objeto da oração – predicativo do objeto –, no caso
b) Todo domingo à tarde ele vai ao cinema. dos predicados verbo-nominais.
Predicado: vai ao cinema
Núcleo: vai Exemplos:
Ana saiu enfurecida.
2. Predicado nominal tem, como núcleo, uma
Predicado: saiu enfurecida.
forma nominal (adjetivo ou locução adjetiva). Núcleo: enfurecida (predicativo do sujeito)
Os verbos que ocorrem nos predicados nomi- Eles julgaram o criminoso culpado.
nais são sempre de ligação. Predicado: julgaram o criminoso culpado
Importante: Os termos que constituem o nú- Núcleo verbal: julgaram.
cleo dos predicados nominais denominam- Núcleo nominal: culpado (predicativo do objeto).
-se predicativos do sujeito.

Exemplo: O filme foi emocionante.


Predicado: foi emocionante
Núcleo: emocionante (adjetivo que dá informa-
ção sobre o substantivo sujeito. Sintaticamente,
esse adjetivo recebe a função de predicativo do
sujeito).

Exemplo: Ficaram animados com a programa-


ção para o final de semana.
Predicado: ficaram animados com a programa-

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Termos integrantes e termos acessórios
Termos integrantes da oração
1. Complementos verbais completam o sentido de verbos transitivos diretos e transitivos indiretos.
§§ Objeto direto é o termo que completa o sentido do verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem o
auxílio da preposição.
Exemplo: Os professores fizeram as resoluções dos exercícios.

O objeto direto pode ser constituído:


a) por um substantivo ou expressão substantivada.
Exemplos: O agricultor cultiva a terra.
Unimos o útil ao agradável.

b) pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos.
Exemplos: Espero-o na minha formatura.
Ela me ama.
Observação: Os pronomes oblíquos empregados no interior de um mesmo enunciado têm a função de
objeto direto pleonástico. Aqueles livros (objeto direto) na estante, eu os (objeto direto pleonástico do
mesmo verbo) comprei na loja nova do shopping.

§§ Objeto indireto é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto. Vincula-se indiretamen-
te aos verbos mediante uma preposição.
Exemplo: Gostava de Matemática e Física.

2. Complemento nominal – nomes (substantivos e adjetivos) e alguns advérbios, da mesma forma que os
verbos, podem exigir um complemento para integrar seu sentido. Tais complementos de nomes são chama-
dos complementos nominais e vêm sempre antecedidos por preposição.

§§ Substantivo complemento nominal


Exemplo: Ela tem orgulho da filha.

§§ Adjetivo complemento nominal


Exemplo: Ana estava consciente de sua escolha.

§§ Advérbio complemento nominal


Exemplo: O juiz decidiu favoravelmente ao acusado.
Observação: O complemento nominal representa o recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa
por um nome. É regido pelas mesmas preposições do objeto indireto. Difere dele apenas porque, em vez
de complementar verbos complementa nomes (substantivos, adjetivos) e alguns advérbios terminados
em -mente. Os complementos nominais mantêm com os nomes o mesmo tipo de relação que os objetos
mantêm com os verbos transitivos. Eles são necessários para complementar o sentido dos nomes.

3. Agente da passiva é o termo da frase que pratica a ação expressa pelo verbo na voz passiva analítica
(construída com o verbo ser). Vem regido comumente da preposição por e eventualmente da preposição de.

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Exemplo: A vencedora foi escolhida pelos jurados. No primeiro caso, muito intensifica a forma ver-
sujeito paciente voz passiva verbo Agente da passiva bal lutaram, que é núcleo do predicado verbal.
Ao passar a frase da voz passiva para a voz ativa, No segundo, muito intensifica o adjetivo inteli-
o agente da passiva recebe o nome de sujeito: gente, que é o núcleo do predicativo do sujeito.
Exemplo: Os jurados escolheram a vencedora. Na terceira oração, muito intensifica o advérbio
sujeito verbo objeto direto mal, que é o núcleo do adjunto adverbial de modo.
Exemplos: Amanhã, vou de bicicleta ao trabalho.
voz ativa
Os termos em destaque
Exemplo: A empresa foi comprada pela concorrente.
estão indicando as seguintes circunstâncias:
sujeito paciente verbo Agente da passiva
§§ amanhã indica tempo
voz passiva §§ de bicicleta indica meio
§§ ao trabalho indica lugar
O concorrente comprou a empresa.
sujeito verbo objeto direto
voz ativa Classificação do adjunto adverbial

Termos acessórios Há algumas circunstâncias que o adjunto


adverbial pode expressar:
da oração §§ Acréscimo: Além de conhecimentos em
Matemática, eram necessários também conhe-
Existem termos que, apesar de dispensáveis na cimentos em Química.
estrutura básica da oração, são importantes para a com- §§ Afirmação: Ele viajará com certeza.
preensão do enunciado. Ao acrescentarem informações §§ Assunto: Falávamos sobre cotas. (ou de cotas,
novas, esses termos: ou a respeito de cotas).
§§ caracterizam o ser; §§ Causa: Com a falta de chuvas, a seca pro-
§§ determinam os substantivos; e pagou-se.
§§ exprimem circunstância. §§ Companhia: Foi ao cinema com a namorada.
§§ Concessão: Apesar da dificuldade do exer-
São termos acessórios da oração: cício, conseguiu resolvê-lo.
§§ o adjunto adverbial §§ Condição: Sem autorização, a criança não
§§ o adjunto adnominal poderá embarcar.
§§ o aposto §§ Conformidade: Seguem os relatórios, confor-
§§ o vocativo me o combinado (ou segundo o combinado).
§§ Dúvida: Talvez seja melhor sair mais cedo.
Adjunto adverbial §§ Fim, finalidade: Viajei a trabalho.
§§ Frequência: Sempre ocupava o mesmo lugar
Como o próprio nome indica, trata-se de advér- à mesa.
§§ Instrumento: A redação deve ser feita à ca-
bio ou locução adverbial associados a verbos, adjetivos
neta.
ou a outro advérbio, acrescentando circunstâncias espe-
§§ Intensidade: A aluna estudava bastante.
cíficas (no caso de verbos) ou intensificando seu sentido
§§ Lugar: Estou em casa.
no contexto.
§§ Matéria: A cadeira é feita de aço.
Exemplos: Eles lutaram muito por seus direitos. §§ Meio: Atravessou a cidade de ônibus.
Ele é muito inteligente. §§ Modo: Fique à vontade para fazer seus co-
Falou-se muito mal daquele filme. mentários.
§§ Negação: Não se deve esquecer o horário da
Nessas três orações, o termo “muito” é adjunto consulta.
adverbial de intensidade. §§ Tempo: O expediente é das 8h às 17h.

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Adjunto adnominal só pode ser complemento nominal. Se não
houver preposição ligando os termos, será
É o termo que determina, especifica ou expli- um adjunto adnominal.
ca um substantivo. O adjunto adnominal tem função
adjetiva na oração, a qual pode ser desempenhada por b) O complemento nominal equivale a um com-
adjetivos, locuções adjetivas, artigos, pronomes adjetivos plemento verbal, ou seja, mantém relação
e numerais adjetivos. exclusivamente com os substantivos cujos
Exemplo: O médico prescreveu dois remé- significados transitam. Portanto, seu valor é
dios ao paciente. Sujeito objeto direto passivo, é sobre ele que recai a ação. O ad-
objeto indireto
junto adnominal tem sempre valor ativo.
Nessa oração, os substantivos médico, remédio e pa- Exemplo: Ana tem muito amor à mãe.
ciente são núcleos, respectivamente, do sujeito determi- A expressão à mãe classifica-se como com-
nado simples, do objeto direto e do objeto indireto. Ao plemento nominal, uma vez que mãe é pa-
redor de cada um desses substantivos, agrupam-se os
ciente de amar, recebe a ação de amar.
adjuntos adnominais:
Exemplo: Ana é um amor de mãe.
O artigo o refere-se a médico;
A expressão de mãe é adjunto adnominal,
O numeral dois refere-se ao substantivo remé-
dios; uma vez que mãe é agente de amar, pratica
O artigo o (em ao), refere-se a paciente. a ação de amar.

Os adjuntos adnominais costumam ser expres-


sos por: Aposto
§§ Adjetivos: crianças tagarelas, políticos corrup-
É um termo que, acrescentado a outro termo da
tos;
oração, tem a função de ampliar, resumir, explicar ou de-
§§ Locuções adjetivas: anéis de ouro, livro de
histórias; senvolver mais o conteúdo do termo ao qual se refere.
§§ Artigos definidos e indefinidos: o papel, os Exemplo: Ontem, domingo, passaram o dia no
papéis, um papel, uns papéis; parque.
§§ Pronomes possessivos: meu carro;
§§ Pronomes demonstrativos: este carro; Domingo é aposto do adjunto adverbial de
§§ Pronomes indefinidos: algum carro; tempo "ontem". Diz-se que o aposto é sintaticamente
§§ Pronomes Interrogativos: qual chave?; equivalente ao termo a que se relaciona porque pode
§§ Pronomes relativos: na biblioteca cujos livros substituí-lo:
estão em mau estado;
Exemplo: Domingo passaram o dia no parque.
§§ Numerais adjetivos: trezentos e cinquenta
soldados. Verifica-se, portanto, que, se "ontem" for elimi-
nado, o substantivo "domingo" assume a função de
Distinção entre adjunto adnominal
adjunto adverbial de tempo.
e complemento nominal
Exemplo: Gosto de todos os tipos de música:
É comum confundir o adjunto adnominal, na for-
rock, blues, chorinho, samba etc. objeto indireto
ma de locução adjetiva, com o complemento nominal. aposto do objeto indireto
Para evitar que isso ocorra, considere o seguinte:
a) Somente os substantivos podem ser acompa- Se for retirado o objeto da oração, seu aposto
nhados de adjuntos adnominais; os comple- passa a exercer essa função:
mentos nominais podem ligar-se a substanti-
Exemplo: Gosto de rock, blues, chorinho,
vos, adjetivos e advérbios. O termo ligado por
samba, etc.
preposição a um adjetivo ou a um advérbio objeto indireto

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Observação: O aposto tem a mesma função sin- Nessas orações, os termos destacados são voca-
tática do termo ao qual se relaciona. tivos: indicam e nomeiam o interlocutor a quem se está
dirigindo a palavra.
Classificação do aposto Observações: o vocativo pode vir antecedido
por interjeições de apelo, tais como ó, olá, eh! etc.
De acordo com a relação que estabelece com o
Ó mar salgado! Quanto do teu sal são lágrimas
termo a que se refere, o aposto pode ser classificado
de Portugal.
em:
a) explicativo: A Linguística, ciência da Olá prezado cliente! Entramos em contato para
linguagem, fornece subsídios importantes apresentar novos produtos.
para o conhecimento da língua materna.
b) enumerativo: A vida se compõe de muitas Distinção entre vocativo e aposto
coisas: amor, trabalho e dinheiro.
O vocativo não mantém relação sintática com
c) resumidor ou recapitulativo: Vida digna,
outro termo da oração.
cidadania plena, igualdade de oportunida-
Exemplo: Pessoal, vamos estudar mais.
des, tudo isso está na base de um país me- Vocativo
lhor.
O aposto mantém relação sintática com outro
d) comparativo: Drummond e Guimarães
termo da oração.
Rosa são dois grandes escritores, aquele na
Exemplo: A vida de Marylin Monroe, artista
poesia e este na prosa.
hollywoodiana, foi muito conturbada.
Além desses, há o aposto especificativo, que di- sujeito a posto
fere dos demais porque não é marcado por sinais de
pontuação (vírgula ou dois-pontos). O aposto especifi-
cativo individualiza um substantivo de sentido genérico,
Sintaxe de colocação
prendendo-se a ele diretamente ou por meio de uma
A colocação de pronomes oblíquos átonos em
preposição, sem que haja pausa na entonação da frase.
português pode ser realizada em três posições, obede-
Exemplos: O poeta Carlos Dummond de An-
cendo a regras e condições específicas. Essas três posi-
drade criou obra de expressão simples.
ções são a próclise, a mesóclise e a ênclise.
A rua Augusta é um dos pontos turísticos de São Paulo.

Vocativo 1. Próclise
É um termo que não tem relação sintática com Temos próclise quando o pronome surge antes
outro termo da oração. Não pertence, portanto, nem ao do verbo. Suas condições de colocação são:
sujeito nem ao predicado. É o termo que serve para cha-
mar, invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético. a) Nas orações que contenham uma palavra ou
Em razão de seu caráter, geralmente se relaciona à se- expressão de valor negativo.
gunda pessoa do discurso. Exemplos: Ninguém me ajuda.
Não me fale de problemas hoje.
Exemplo: Não se esqueça de marcar todas as
Nunca se esqueça do que lhe disse
respostas no gabarito, pessoal! vocativo
Exemplo: A vida, minha filha, é feita de esco- b) Nas conjunções subordinativas:
lhas. vocativo Exemplos: Voltarei a fazer contato se me
interessar.
Ela não quis jantar, embora lhe servissem o
melhor prato.

15
É necessário que o vendamos por um bom preço. Como te admiro! (oração exclama-
tiva)
c) Nas orações em que existam pronomes in-
definidos ou advérbios, sem marcas de pau-
sa.
2. Mesóclise
Exemplos: Tudo me irrita nessa cidade. Temos mesóclise quando o verbo estiver em al-
(pronome indefinido) gum dos tempos futuros do indicativo (futuro do pre-
Hoje se vive melhor no Brasil. sente ou futuro do pretérito), desde que não existam
(advérbio) condições para a próclise. O pronome é colocado no
Observação: caso tenhamos marcas de pausa meio do verbo.
depois do advérbio, emprega-se ênclise. Exemplos: Comprar-lhe-ei umas roupas novas.
Exemplo: Hoje, vive-se melhor no Brasil. (comprarei + lhe)
(advérbio) Encontrar-me-iam se realmente
quisessem. (encontrar + me)
d) Nas orações iniciadas por pronomes ou ad-
vérbios de tipo interrogativo. Observações:
Exemplos: Quem te chamou até aqui? a) Havendo condições para a próclise, esta
(pronome interrogativo) prevalece sobre a mesóclise:
Por que o convidaram? Exemplo: Sempre lhe contarei os meus segre-
(advérbio interrogativo) dos. (O advérbio “sempre” exige o uso de próclise.)

e) Com gerúndio precedido de preposição b) A mesóclise é uso exclusivo da língua culta e


“em”. da modalidade literária. Não a encontramos
Exemplo: Em se tratando de pesquisas, melhor na comunicação oral mais básica.
utilizar a biblioteca. c) Com esses tempos verbais (futuro do pre-
f) Nas orações introduzidas por pronomes rela- sente e futuro do pretérito) jamais ocorrerá
tivos. a ênclise.
Exemplos: Foi aquele rapaz quem me pediu
para falar com você.
3. Ênclise
Há situações que nos constrangem.
Essa foi a festa onde te conheci. Temos ênclise quando o pronome surge depois
do verbo. Seu emprego obedece às seguintes regras:
g) Com a palavra “só” (no sentido de “apenas”
a) Nos períodos iniciados por verbos (desde que
ou “somente”) e com as conjunções coorde-
não estejam no tempo futuro), pois, segundo
nativas alternativas.
a gramática normativa, não podemos iniciar
Exemplos: Só se lembram dos pais quando
frases com pronome oblíquo.
precisam de dinheiro.
Exemplos: Fale-me o que está acontecendo.
Ou vai embora, ou se prepare para
Compravam-se muitos produtos
a bronca.
antes da crise.
h) Nas orações iniciadas por palavras exclama-
b) Nas orações imperativas afirmativas.
tivas e nas optativas (que exprimem desejo).
Exemplos: Ligue para seu primo e avise-o do
Exemplos: Deus o ilumine! (oração optativa)
horário
Ei, ajude-me com essa receita!

c) Nas orações reduzidas de infinitivo.

16
Exemplos: Convém dar-lhe um pouco mais de Exemplos: Viajaram e trouxeram muitas fo-
tempo. tos de lembrança.
Espero enviar-lhe isto até amanhã cedo. Não trouxeram presentes nem
fotos da última viagem.
d) Nas orações reduzidas de gerúndio (desde
que não venham precedidas de preposição Observação: A conjunção “nem” tem o va-
“em”). lor da expressão e não. Dessa forma, deve-se
Exemplos: A mãe adotiva ajudou a criança, evitar, na língua escrita, a estrutura “e nem”
dando-lhe carinho e proteção. para introduzir orações aditivas. As orações
Ele se desesperou, deixando-se le- sindéticas aditivas podem também estar liga-
var pela situação. das pelas locuções “não só... mas (também)”;
Observação: Se o verbo não estiver no início “tanto... como” e semelhantes. Essas estrutu-
da frase, nem conjugado nos tempos Futuro do ras costumam ser usadas se se pretender en-
Presente ou Futuro do Pretérito, é possível usar fatizar o conteúdo da segunda oração. Ele não
tanto a próclise como a ênclise. só canta, mas também (ou como também)
Exemplos: Eu me encontrei com ela. interpreta muito bem. Ela sabe tanto matemá-
Eu encontrei-me com ela. tica como português.

b) As adversativas exprimem fatos ou conceitos


que se opõem ao que se declara na oração
Orações coordenada anterior, estabelecendo entre elas
coordenadas assindéticas contraste ou compensação. Mas é a conjunção
adversativa típica. Além dela, empregam-se:
Como se viu, são orações não introduzidas por porém, contudo, todavia, entretanto e as locu-
conjunção. São coordenadas, postas lado a lado e sepa- ções no entanto, não obstante, nada obstante.
radas por sinais de pontuação. Exemplos: Eles embarcariam para a Europa
Exemplos: Vim, vi, venci. dentro de uma hora, mas perderam o voo.
Chegou; ninguém reparou nele: todos estavam O cachorro não é bonito; no entanto, é sim-
ocupados em seus afazeres. pático.
O problema é grave; contudo, há solução.

Orações Importante
Dependendo do contexto em que for empre-
coordenadas sindéticas gada, a conjunção e pode indicar ideia de adver-
sidade. Compraram vários presentes e perceberam
Conforme o tipo de conjunção que as introduz,
depois que não caberiam nas malas. Deitou-se cedo
as orações coordenadas sindéticas podem ser aditivas,
e não conseguiu dormir.
adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas.

c) As alternativas expressam ideia de alternân-


a) As aditivas expressam ideia de adição, de
cia de fatos ou escolha. Regularmente é usa-
acréscimo. Regularmente indicam fatos,
acontecimentos ou pensamentos dispostos da a conjunção ou. Além dela, empregam-se
em sequência. As conjunções coordenativas também os pares: ora... ora; já... já; quer...
aditivas típicas são e e nem (e + não). quer; seja... seja etc.

17
Exemplos: Diga agora ou cale-se para Orações
sempre. (apenas a segunda é sindética, mas
ambas são alternativas, dada a ideia de es-
subordinadas adjetivas
colha.).
Uma oração subordinada adjetiva tem valor e
Ora mostra-se alegre, ora ex-
função de adjetivo, ou seja, equivale a essa classe de
pressa tristeza profunda.
palavras. As orações adjetivas vêm introduzidas por pro-
Estarei lá, quer você aceite, quer
nome relativo e exercem a função de adjunto adnomi-
não. (a segunda oração fica su-
nal do antecedente.
bentendida, para evitar a redun-
Exemplo: Este é o livro que te indiquei como
dância do mesmo verbo.)
referência.
Observação: Nesse último caso, o par quer...
A conexão entre a oração subordinada adjetiva
quer está coordenando entre si duas orações
e o termo da oração principal que ela modifica é feita
que, na verdade, expressam concessão em
pelo pronome relativo “que”.
relação a “Estarei lá”. É correspondente se-
Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o
manticamente a “embora você não queira,
pronome relativo desempenha uma função sintática na
estarei lá”.
oração subordinada: ocupa o papel que seria exercido
d) As conclusivas exprimem conclusão ou con- pelo termo que o antecede.
sequência referentes à oração anterior. As
conjunções típicas são: logo, portanto e pois Importante
(posposto ao verbo). Usa-se ainda: então, as-
Para que dois períodos unam-se num perío-
sim, por isso, por conseguinte, de modo que,
do composto, altera-se o modo verbal da segunda
em vista disso etc.
oração, se necessário.
Exemplos: Tenho prova amanhã, portanto Dica: O pronome relativo que sempre pode
não posso ir ao show. ser substituído por: o qual, a qual, os quais,as
A situação econômica é delicada; quais. Refiro-me ao livro que é referência. Essa
devemos, pois, agir com cautela. oração é equivalente a: Refiro-me ao livro o qual
O time jogou bem, por isso foi é referência.
vencedor.
Aquela substância é toxica, logo
deve ser manuseada com cuida- Classificação das orações
do. subordinadas adjetivas
e) As explicativas Indicam uma justificativa ou
Na relação que estabelecem com o termo que
uma explicação referente ao fato expresso na
caracterizam, as orações subordinadas adjetivas podem
declaração anterior. As conjunções que mere-
atuar de duas maneiras diferentes. Há as que restrin-
cem destaque são: que, porque e pois (obriga-
gem ou especificam o sentido do termo a que se refe-
toriamente anteposto ao verbo).
rem, individualizando-o. Nessas orações, não há marca-
Exemplos: Vá com cuidado, que o caminho
ção de pausa; são as chamadas orações subordinadas
é perigoso.
adjetivas restritivas.
Mudou de emprego, porque es-
Há também as orações que realçam um detalhe
tava farto da rotina.
ou amplificam dados sobre o antecedente, já suficien-
Ligue para ela, pois hoje é o seu
temente definido; são as denominadas orações subordi-
aniversário.
nadas adjetivas explicativas.
Exemplo: O homem que trabalha é útil à so-
ciedade.

18
A ausência de vírgula restringe o sentido da
palavra homem, designando um tipo de homem entre Atenção
vários.
Trata-se de oração subordinada restritiva que É importante, nesse momento, que sejam
apresenta valor sintático de adjunto adnominal, uma recuperados os conceitos de identificação de con-

vez que qualifica o termo anterior. junções integrantes anteriormente aprendidos.


Lembremos que, para localizarmos uma conjunção
Exemplo: O homem, que trabalha, é útil à so-
integrante, devemos substituir os elementos “que”
ciedade.
ou “se” pelo pronome demonstrativo “isso”. A
A presença de vírgula amplia o sentido da pala- função que couber ao pronome indicará a função
vra homem, que pode ser entendida como todo homem. exercida pela oração.
Trata-se de oração subordinada explicativa, pois Exemplos:
acrescenta uma informação acessória; desempenha
É importante que chegue cedo ao atendimento.
também valor sintático de adjunto adnominal, uma vez
que qualifica o termo anterior. Substituindo a oração subordinada em des-
taque pelo pronome “isso”, temos:
Observação: A oração subordinada adjetiva ex-
plicativa é separada da oração principal por uma pausa, É importante isso (ou, na ordem direta: Isso é im-
portante). Percebemos então que a função sintática
que, na escrita, é representada pela vírgula. É comum,
do pronome “isso” na construção é de sujeito. Ve-
por isso, que a pontuação seja indicada como forma de
jamos outro exemplo:
diferenciar as orações explicativas das restritivas. De fato,
as explicativas vêm sempre isoladas por vírgulas; as res- Não sei se entregaremos a encomenda hoje.

tritivas, não. Substituindo a oração subordinada em des-


taque pelo pronome “isso”, temos:

Orações subordinadas Suponho isso (o pronome “isso” completa o sen-


tido do verbo “supor”). Percebemos então que a
substantivas
função sintática do pronome “isso” na construção
é de objeto direto.
A oração subordinada substantiva trata-se de
uma construção com verbo que possui valor de substan-
tivo (esta oração fica posicionada onde, habitualmente, Classificação das orações
deveria haver um substantivo) e vem introduzida, geral-
mente, pelas conjunções integrantes que ou se. Sintati-
subordinadas substantivas
camente, podem exercer a função de: De acordo com a função que exerce no período,
§§ sujeito a oração subordinada substantiva pode ser:
§§ objeto direto
a) subjetiva: exerce a função sintática de su-
§§ objeto indireto jeito do verbo da oração principal:
§§ complemento nominal Exemplo: Não se sabe se ela foi embora.
§§ predicativo do sujeito §§ Oração principal: Não se sabe
§§ aposto §§ Oração subordinada: se ela foi embora
(sintaticamente exerce função de sujeito da
oração principal).

b) objetiva direta: exerce a função de objeto


direto do verbo da oração principal:
Exemplo: Eu percebo que ficarei com bastante
sono hoje.
19
§§ Oração principal: Eu percebo f) apositiva: exerce a função de aposto de al-
§§ Oração subordinada: que ficarei com bas- gum termo da oração principal.
tante sono hoje (sintaticamente exerce fun- Exemplo: Eu espero a seguinte solução: que re-
ção de objeto direto da oração principal). liguem a energia elétrica em casa.
§§ Oração principal: Coloco uma condição
c) objetiva indireta: exerce a função de ob- §§ Oração subordinada: que não me pertur-
jeto indireto do verbo da oração principal (a be mais. (sintaticamente exerce função de
conjunção integrante vem precedida de pre- aposto da oração principal).
posição). Atenção: a oração subordinada substanti-
Exemplo: Tudo depende de que ela se esforce. va apositiva é a única que pode prescindir da
§§ Oração principal: Tudo depende conjunção integrante. Isso ocorre por conta de
§§ Oração subordinada: de que ela se esfor- os que a acompanham funcionarem, também,
ce. (sintaticamente exerce função de objeto como elemento integrante.
indireto da oração principal.)
Orações subordinadas
d) completiva nominal: exerce a função de
complemento nominal (complementa o sen- adverbiais
tido de um nome que pertença à oração prin-
Uma oração subordinada adverbial exerce a fun-
cipal; também vem marcada por preposição).
ção de adjunto adverbial do verbo da oração principal.
Exemplo: Sou favorável a que o absolvam.
Dessa forma, pode exprimir circunstância de tempo,
§§ Oração principal: Sou favorável
modo, fim, causa, condição etc. Classifica-se de acordo
§§ Oração subordinada: a que o absolvam.
com a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz.
(sintaticamente exerce função de comple-
mento nominal da oração principal.) Exemplo: Quando vi a pintura do artista, senti
uma das maiores emoções de minha vida.

Importante A primeira oração, “Quando vi a pintura do ar-


tista”, atua como um adjunto adverbial de tempo, que
Não podemos esquecer que as orações
modifica a forma verbal “senti”.
subordinadas substantivas objetivas indiretas inte-
gram o sentido de um verbo, enquanto as orações Trata-se de uma oração subordinada adverbial
subordinadas substantivas completivas nominais temporal, uma vez que indica uma circunstância tempo-
integram o sentido de um nome. Para distinguir ral acrescida ao verbo da segunda oração. É importante
uma da outra, é necessário levar em conta o termo lembrar que a classificação das orações subordinadas
complementado. adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação
dos adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância ex-
e) predicativa: exerce o papel de predicativo pressa pela oração.
A seguir, temos as circunstâncias expressas pelas
do sujeito do verbo da oração principal e vem
orações subordinadas adverbiais:
sempre depois do verbo “ser”.
a) causa
Exemplo: O grande mal é que me esqueço das
Exemplo: Como ninguém se interessou pelo
coisas.
projeto, não houve alternativa a não ser cancelá-lo.
§§ Oração principal: O grande mal é
§§ Oração principal: não houve alternativa a
§§ Oração subordinada: que me esqueço das
não ser cancelá-lo.
coisas. (sintaticamente exerce função de pre-
dicativo da oração principal.)

20
§§ Oração subordinada: Como ninguém se §§ Oração subordinada: conforme a recei-
interessou pelo projeto (assume valor de ad- ta (assume valor de adjunto adverbial de
junto adverbial de causa, uma vez que pro- conformidade, pois exprime uma regra, um
voca um determinado fato, ao motivo do que
modelo adotado para a execução do que se
se declara na oração principal.)
declara na oração principal).
b) consequência
Exemplo: Sua fome era tanta que comeu com g) finalidade
casca e tudo. Exemplo: Li o manual a fim de aprender mais
§§ Oração principal: Sua fome era tanta sobre como usar o produto.
§§ Oração subordinada: que comeu com cas- §§ Oração principal: Li o manual
ca e tudo (assume valor de adjunto adverbial
§§ Oração subordinada: a fim de aprender
de consequência, uma vez que declara o efei-
mais sobre como usar o produto (assume va-
to na oração principal.)
lor de adjunto adverbial final, pois expressa a
c) condição
intenção, a finalidade daquilo que se declara
Exemplo: Se o torneio for bem estruturado, to-
dos sairão ganhando. na oração principal).
§§ Oração principal: todos sairão ganhando.
h) proporção
§§ Oração subordinada: Se o torneio for bem
Exemplo: Viaja ao exterior à medida que a
estruturado (assume valor de adjunto ad-
verbial de condição, uma vez que a oração empresa solicita seu trabalho.
subordinada impõe-se como necessária para §§ Oração principal: Viaja ao exterior
a realização ou não de um fato sobre a prin- §§ Oração subordinada: à medida que a em-
cipal.) presa solicita seu trabalho (assume valor de
d) concessão adjunto adverbial proporcional, pois exprime
Exemplo: Embora não goste de cogumelos, ideia de proporção, ou seja, um fato simultâ-
irei provar o prato.
neo ao expresso na oração principal).
§§ Oração principal: irei provar o prato
§§ Oração subordinada: Embora não goste i) tempo
de cogumelos (assume valor de adjunto ad- Quando você for a Londres, traga-me um pre-
verbial de concessão, uma vez que admite sente.
uma ideia de cessão a algum fato, ou mesmo §§ Oração principal: traga-me um presente.
anormalidade em relação a esse fato).
§§ Oração subordinada: Quando você for a
e) comparação Londres (assume valor de adjunto adverbial
Exemplo: Andava rápido como um foguete.
temporal, uma vez que acrescenta uma ideia
§§ Oração principal: Andava rápido
de tempo ao fato expresso na oração princi-
§§ Oração subordinada: como um foguete
(assume valor de adjunto adverbial de com- pal, podendo exprimir noções de simultanei-
paração, uma vez que estabelece uma com- dade, anterioridade ou posterioridade).
paração com a ação indicada pelo verbo da
oração principal).

f) conformidade
Exemplo: Fez o bolo conforme a receita.
§§ Oração principal: Fez o bolo

21
0 2 Literatura

U.T.I.
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L C
ENTRE LETRAS
Romantismo em Portugal
O Romantismo em Portugal
Partidários do liberalismo de D. Pedro e antimiguelistas, os jovens escritores Almeida Garrett e Alexandre
Herculano tiveram de exilar-se na Inglaterra e na França, onde tomaram contato com as obras de Lord Byron, Walter
Scott e William Shakespeare.
De volta, em 1825, Garrett publicou uma biografia romanceada concebida em versos brancos chamada
Camões. Com esse poema, introduziu-se o Romantismo em Portugal. Suas características viriam a firmar-se no
espírito romântico: versos decassílabos brancos, subjetivismo, nostalgia, melancolia e a grande combinação dos
gêneros literários.
O Romantismo português durou aproximadamente 40 anos, como nos demais países europeus, o Romantis-
mo português atrelou-se ao liberalismo e à ideologia burguesa e assumiu compromissos com o novo público leitor.

Gerações do Romantismo português


Nos anos caóticos de lutas entre liberais e conservadores, os românticos foram, pouco a pouco, implementando
as reformas literárias que modificariam o quadro estético neoclássico português.
O Romantismo português conheceu três momentos distintos.
A Primeira Geração (Almeida Garrett e Alexandre Herculano), entre os anos de 1825 e 1840, muito contribuiu
para a consolidação do liberalismo no país.
A Segunda Geração (Camilo Castelo Branco), ultrarromântica, levou o movimento ao exagero, e prevaleceu
entre os anos 1840 e 1860.
A Terceira Geração (Júlio Dinis), de transição para o Realismo, marcou presença nos anos de 1860. Nesses três
momentos, a poesia, o romance, o teatro, a historiografia e o jornalismo se desenvolveram de forma inédita em Portugal.

1ª GERAÇÃO
Almeida Garrett
§§ É um dos principais escritores do romantismo português.
§§ Em 1832, participou do cerco à cidade do Porto, empreendido pelos liberais.
§§ Escreveu romances, poesia e teatro.
§§ Viagens na minha terra é um relato-personagem que registra o pitoresco da terra natal. Trata-se de um
misto de diário, literatura de viagens, reportagens e ficção, cujo fio narrativo é uma viagem de Lisboa e
Santarém. É organizada em capítulos que relatam os acontecimentos e as reflexões do narrador sobre vários
assuntos, entre os quais amor, política, curiosidades.

Alexandre Herculano
§§ Assim como Garrett, engajou-se na luta ao lado dos pedristas (liberais).
§§ A obra literária de Herculano obedece ao princípio romântico de busca da realidade ideal para o país
mediante a reconstituição das formas sociais mais significativas de sua história. Esse historicismo tem sua
origem no romantismo histórico e social do escritor inglês Walter Scott e do francês Victor Hugo.
§§ A ficção histórica é constituída por 3 obras: O bobo, que trata da formação de Portugal em meio a uma
intriga romântica; Eurico, o presbítero, que registra a situação histórica portuguesa sob o domínio mouro e
discute criticamente a questão do celibato clerical; e O monge de Cister, romance que marca o momento
histórico da centralização política monárquica.

37
2ª GERAÇÃO 3ª GERAÇÃO
Camilo Castelo Branco Júlio Dinis
§§ Camilo concentrou seus esforços profissionais na
§§ Criava seus personagens sob a lógica dos tipos
carreira de escritor, fonte de seu sustento. Sua vas-
ta obra compreende as temáticas com foco no sociais e substituiu o ultrarromantismo pelas an-
mistério, nas questões históricas e na crítica aos tecipações realistas, em que a oralidade e os com-
costumes. portamentos observáveis passaram a figurar em
§§ A novela camiliana atende ao gosto popular, com suas narrativas. No entanto, é estudado ainda no
predomínio do ultrarromantismo e do passiona-
Romantismo, por conta do processo de redenção
lismo, traço distintivo e força artística. O mundo
é frustrado sob o ângulo das grandes paixões: nas conclusões de suas tramas.
Carlota Ângela (1858), Amor de perdição (1863), §§ Suas principais obras são: As pupilas do senhor
Amor de salvação (1864), A doida do Candal reitor (1867), A morgadinha dos canaviais (1868),
(1867), O retrato de Ricardina (1868). Uma família inglesa (1868), Serões da província
§§ A obra que rompe com as características típicas
(1870), Os fidalgos da casa mourisca (1871), Po-
do romantismo é Coração, cabeça e estômago,
livro que realiza uma crítica aos costumes como esias (1873), Inéditos e esparsos (1910) e Teatro
numa antecipação ao realismo. inédito (1946-47).

Romantismo no Brasil: três fases da poesia


As gerações do Romantismo
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos.
Essa divisão, contudo, compreende, principalmente, os autores de poesia.
Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas obras apresentam traços
característicos de mais de uma geração.
§§ Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa, com destaque pra Gonçalves Dias e Gonçalves de
Magalhães.
§§ Segunda geração: marcada pelo “mal do século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa-
tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes
Varela e Junqueira Freire.
§§ Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior
expressão desse grupo é Castro Alves. Durante o Segundo Reinado, os românticos foram firmando o projeto de
uma literatura autenticamente nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da
poesia romântica brasileira, cujos poetas reúnem distintas gerações com características em comum.

38
1ª GERAÇÃO para quebrar a noção de ordem e abalar as convenções
do mundo burguês.
Enquanto o lado Caliban do poeta se situa em
Gonçalves de Magalhães uma das linhas que compõem o Romantismo – a linha
orgíaca e satânica –, a ironia levada às últimas conse-
O médico, diplomata, poeta e dramaturgo Do-
quências dos poemas de Álvares de Azevedo acessa um
mingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) foi
veio novo: o antirromântico, o que constitui outro para-
o iniciador do Romantismo na literatura brasileira. Sua doxo. O mais romântico dos nossos românticos lançou o
meta foi implementar a nova corrente literária no País, germe da própria superação do Romantismo, ao ironizar
com o apoio do imperador D. Pedro II. algumas das atitudes mais caras à sua geração, como a
pieguice amorosa e a idealização do amor e da mulher.
Gonçalves Dias
Casimiro de Abreu
Gonçalves Dias criou o indianismo romântico,
impondo-se como uma das maiores figuras da nossa Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poe-
literatura. Seus versos carregavam eloquência, lirismo,
tas românticos mais populares. Natural de Barra de São
grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são: Pri-
João, no Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua
meiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos, Sexti-
obra poética, Primaveras, em Portugal. Apesar de ligado
lhas de Frei Antão, Dicionário da língua tupi, Os timbi-
à segunda geração da poesia romântica, Casimiro con-
ras; as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça,
tribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares
Boabdil e Patkul.
Canção do exílio é um dos mais conhecidos po- de Azevedo deixara ao morrer, sete anos antes.
emas de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em julho
de 1843. Além dele, há também o poema indianista I - 3ª GERAÇÃO
Juca Pirama, a história do último descendente da tribo
tupi feito prisioneiro dos timbiras. O guerreiro seria sa- Castro Alves
crificado e devorado numa festa canibal. Pelo amor ao
pai, já velho e cego, o prisioneiro implora ao chefe dos Castro Alves (1847-1871), o “poeta dos escra-
timbiras que o liberte para cuidar do pai. Julgando-o um vos”, é considerado a principal expressão condoreira da
covarde, o chefe timbira desiste do sacrifício e solta o poesia brasileira. Nascido em Curralinho, hoje Castro
prisioneiro. Alves (BA), estudou Direito em Recife e em São Paulo.
Na evolução da poesia romântica brasileira, sua obra
2ª GERAÇÃO representa um momento de maturidade e de transição.
Maturidade em relação a certas atitudes ingênuas das
gerações anteriores, como a idealização amorosa e o
Álvares de Azevedo nacionalismo ufanista, substituída por posturas mais
críticas e realistas. Transição porque a perspectiva mais
Álvares de Azevedo (1831-1852) é o principal
objetiva e crítica com que trata a realidade aponta para
nome da geração ultrarromântica de nossa poesia. Pau- o movimento literário subsequente, o Realismo.
lista, fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava Castro Alves cultivou a poesia lírica e social, de
o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu que são exemplos Espumas flutuantes e A cachoeira de
um acidente (queda de cavalo), cujas complicações o Paulo Afonso; a poesia épica: Os escravos; e o teatro:
levaram à morte, antes de completar 21 anos. Gonzaga ou Revolução de Minas. Seus poemas trata-
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. vam das questões sociais, da arte engajada e também
Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram da temática lírica.
escritos em apenas quatro anos, período em que era
estudante universitário.
Além disso, o autor também se utilizou constan-
temente da ironia, empregada pelo poeta como recurso

39
Romantismo no Brasil: prosa romântica
O romance brasileiro e a busca do nacional
Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de cons-
truir uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente,
da nossa língua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais.
Nessa busca, o romance se voltou para os espaços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cida-
de, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional
(a vida rural) e ao romance urbano (a vida citadina).
O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja
meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade
brasileira. Esse objetivo foi alcançado.

José de Alencar
José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica.
Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como Mãe e O jesuíta, ence-
nadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles foram
classificados de acordo com o tema.
§§ Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874).
§§ Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875).
§§ Romances históricos: As minas de prata (dois volumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volu-
mes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro).
§§ Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola
(1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877).

Principais obras:
O guarani, 1857, romance histórico-indianista que mostra a convivência entre portugueses e as tribos in-
dígenas da época. A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri
a Cecília; o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, provocada
por D. Diogo, e a consequente revolta e ataque dos Aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de
D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília.
Iracema, 1865, romance histórico-indianista que desenvolve a lenda da fundação do Ceará e a história de
amor entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de cas-
tidade, que rompe ao tornar-se esposa de Martim.
Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigenado.
Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. Enterra-a ao pé
de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho.
Til, 1871, romance regionalista em que o narrador utiliza descrições pormenorizadas da região e de cenários
em torno do rio Piracicaba. A história do romance gira em torno do misterioso nascimento de Berta, uma jovem muito
bondosa e bonita que mesmo sendo uma típica heroína romântica, abnega de seus desejos para cuidar daqueles a
quem quer bem. Por trás de tudo isso, o romance mostra uma visão patriarcal e senhorial presentes no Brasil escra-
vista e patriarcal. Os preconceitos de classe e as relações de poder são enfocadas na obra.
Senhora, 1875, romance urbano, é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamen-

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to como forma de ascensão social, o autor deu início à problemas até então pouco conhecidos em ou-
discussão sobre certos valores e comportamentos da so- tras regiões do país, como o banditismo, o can-
ciedade carioca da segunda metade do século XIX. Au- gaço, a seca, a miséria, as migrações, mais tarde
rélia Camargo é uma moça pobre e órfã de pai, noiva retomados e aprofundados por Graciliano Ra-
de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona ascender mos, José Lins do Rego, Jorge Amado.
socialmente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça §§ Joaquim Manuel de Macedo – Foi autor do
de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar todos os primeiro romance brasileiro propriamente dito, A
homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se mi-
moreninha (1844), depois de algumas tentati-
lionária, e consequentemente, uma das mulheres mais
vas malsucedidas no gênero. Embora formado
cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda ofe-
em Medicina, Macedo se dedicou ao jornalismo
recer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem revelar
e à política. A moreninha conferiu-lhe ampla po-
seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento.
Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia reve- pularidade, mantida com a publicação de outros
la-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto romances.
fora vil em sua ganância. §§ Manuel Antônio de Almeida – Como escri-
tor, produziu uma única obra. O descompromisso
com o sucesso e um grande senso de humor lhe
Outros autores da prosa permitiram criar uma das obras originais do Ro-
romântica brasileira: mantismo brasileiro: Memórias de um sargento
de milícias.
§§ Bernardo Guimarães – criou o romance
regionalista. ¨ Tornou artísticos os “casos” da
literatura oral, valendo-se das técnicas narrati-
vas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O
seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875),
construídas com temas básicos dos romances de
ênfase social de sua época, respectivamente o
celibato clerical e a escravidão.
§§ Visconde de Taunay – É também autor do ro-
mance regionalista. Por conta de suas andanças
no Mato Grosso, o autorreproduzir com precisão
aspectos visuais da paisagem sertaneja, espe-
cialmente da fauna e da flora da região.
Foi autor do romance Inocência (1872), sua
obra-prima, e de livros sobre a guerra e o sertão,
como Retirada da Laguna (1871).
§§ Franklin Távora – Nasceu no Ceará e estudou
Direito no Rio de Janeiro. Foi um dos mais po-
lêmicos e radicais escritores regionalistas. Rebe-
lou-se contra a “literatura do Sul”, especialmen-
te a de Alencar, seu conterrâneo, alegando que
ele se deixava levar pelos modelos estrangeiros
– nos romances urbanos – e que, ao dedicar-se
a romances regionalistas, nem sequer conhecia a
região retratada – em O gaúcho.
Com O cabeleira, inaugurou um dos veios mais
férteis de nossa ficção regional. Trouxe à tona
41
Realismo em Portugal
Realismo Romantismo
Objetivismo Subjetivismo
Descrições e adjetivação objetivas, voltadas para a captação do real Descrições e adjetivação idealizantes, voltadas para a elevação do
como ele é. objeto descrito.
Linguagem culta e direta. Linguagem culta, e estilo metafórico e poético.
Idealização da mulher com qualidades e defeitos. Idealização da mulher, anjo de pureza e perfeição.
Amor e sentimentos subordinados aos interesses sociais. Amor sublime e puro, acima de qualquer interesse.
Casamento, instituição falida, não passa de contrato de interesses
Casamento centrado no relacionamento amoroso.
e conveniências.
Herói em conflito, enfraquecido, com manias e incertezas. Herói íntegro, de caráter irrepreensível.
Narrativa lenta, ao ritmo do tempo psicológico. Narrativa de ação e de aventura.
Personagens moldadas psicologicamente. Personagens planas cujos pensamentos e ações são previsíveis.
Universalismo. Individualismo, culto do eu.

Naturalismo
§§ Linguagem simples.
§§ Clareza, equilíbrio e harmonia na composição.
§§ Narrativa minuciosa.
§§ Emprego de termos regionais.
§§ Longas descrições.
§§ Impessoalidade.
§§ Determinismo.
§§ Objetivismo científico.
§§ Temas sociais patológicos.
§§ Observação e análise da realidade.
§§ Homens encarados sob a ótica animalesca e sensual.
§§ Despreocupação com a moral.
§§ Literatura engajada.

O Realismo cientificista
Aproximar a verdade social da verdade artística, privilegiando o cotidiano do homem também brutal e
animalizado, foi um dos objetivos do Realismo. Conceitualmente, Realismo e Naturalismo confluíram para o ideal
positivista do final do século XIX. Era pressuposto desses movimentos submeter o texto artístico à realidade. Ao
artista importavam a observação e a experiência, não a idealização da realidade que caracterizou o Romantismo.
Em tempos de industrialização e da vitória do capitalismo, o culto à ciência criou o ambiente contrário
ao sentimentalismo romântico. A ciência passou a ser considerada o único veículo legítimo de conhecimento da
realidade, não mais a emoção. Uma literatura “científica”, um recurso de conhecimento da realidade, um espelho
fiel do universo.
O pensamento positivista do francês Augusto Comte (1798-1857) marcou a atmosfera realista cujo foco foi
o saber à luz das leis científicas, superior ao saber teológico ou metafísico.

42
Realismo em Portugal Preocupação com a reforma da sociedade
Desejo de democratização do poder político
Foi com a Questão Coimbrã, em 1865, polêmica
mediante amplas reformas sociais; diagnóstico de pro-
literária travada pelos jornais de Coimbra, que o Re-
blemas sociais e sugestões de soluções reformistas de
alismo começou a ganhar vida em Portugal. Naquela
caráter socialista.
mesma data, o poeta romântico Antônio Feliciano de
Castilho, representante da Escola de Lisboa, fez elogios
num posfácio à obra Poema da mocidade, de Pinheiro
Representação da vida contemporânea
Chagas, e censurou o estilo poético defendido pela Es- Estabelecimento de conexões rigorosas de causa
cola Coimbrã, citando os nomes de Antero de Quental e e efeito entre os fenômenos observados da realidade
Teófilo Braga. Foi o quanto bastou para que Antero de social
Quental lhe respondesse mediante folhetos denomina-
dos Bom senso e bom gosto e A dignidade das letras e
as literaturas oficiais. Eça de Queirós
Linhas de pensamento do Realismo/ José Maria Eça de Queirós (1845-1900) estudou
Direito na Universidade de Coimbra, onde conheceu
Naturalismo em Portugal a geração que revolucionou a literatura. Aos 21 anos
participou ativamente das Conferências do Cassino Lis-
Estas observações procuram sintetizar a produ-
bonense. Ingressou na vida diplomática e atuou como
ção literária do Realismo/Naturalismo português.
cônsul em Cuba e na Grã-Bretanha, onde escreveu O
Crítica ao tradicionalismo vazio crime do padre Amaro e O primo Basílio, romances de
maior repercussão em sua carreira literária.
da sociedade portuguesa
De acordo com os jovens de Coimbra, o tradi- As três fases de Eça de Queirós
cionalismo era resultado de uma educação romântica,
A obra de Eça de Queirós pode ser organizada
convencional e distante da realidade. O escritor tinha
em três fases:
uma missão a cumprir: a de comprometer-se com a ver-
§§ Primeira fase – de 1865 a 1871 – é conside-
dade social.
rada a fase de aprendizado, com a produção dos
Crítica ao conservadorismo da Igreja folhetins de gosto popular, reunida mais tarde
sob o título de Prosas bárbaras. Neles revela
Tendo em vista a importância do catolicismo em influência de Victor Hugo e Mechelet, uma vez
inclinado para os temas históricos. Também em
Portugal, os realistas criticavam seu conservadorismo
folhetins nasceu seu primeiro romance – O mis-
voltado para o passado, que impedia o desenvolvimen-
tério da estrada de Sintra (1871) –, escrito em
to natural da sociedade. A corrupção, as imoralidades
parceria com Ramalho Ortigão. O método epis-
e a quebra do celibato eram também tematizados em
tolar da escrita – troca de cartas entre os autores
escopo crítico.
– despertou o interesse do público. Nas cartas,
os escritores contam a história de um sequestro.
Visão objetiva e natural da realidade Na época, os leitores acreditavam tratar-se de
fato verídico.
O escritor realista construía seus personagens §§ Segunda fase – de 1871 a 1888 –, chamada
mediante tipos concretos, criados pela observação da Realismo Agudo, deu-se após a publicação de O
relação deles com o meio. Seu comportamento deveria crime do padre Amaro e Os Maias. Seu objetivo
ser definido pelos caracteres psicossociais influenciados foi assim expresso por Eça de Queirós em carta
e adquiridos no ambiente em que viviam. ao amigo Teófilo Braga: [...] “pintar a sociedade

43
portuguesa e mostrar-lhe, como num espelho, A cidade e as serras (1901)
que triste país eles formam. [...] destruir as fal-
sas interpretações e falsas realizações que lhe dá José Fernandes narra uma história que tem como
uma sociedade podre”. protagonista um grande amigo seu: Jacinto.
§§ Terceira fase – de 1888 a 1900 –, conside- Jacinto, que nasceu e sempre viveu em Paris, é
rada a fase de “nacionalismo nostálgico” ou rico e herdeiro de fidalgos portugueses, vive a suposta
“realismo fantasia”, em que suas obras focam felicidade que uma grande renda mensal lhe proporcio-
o tradicionalismo das origens de Portugal e uma na. Vive num palacete nos Campos Elísios, no número
tentativa de fazer as pazes com o país que tanto 202, rodeado por luxo e conforto, mas não está satis-
feito e passa boa parte do tempo entediado, mesmo
criticou. É o caso de A ilustre casa de Ramires. O
considerando a cultura e a tecnologia os únicos meios
protagonista Ramires procura colocar-se à altura
de se chegar a suprema felicidade.
de seus antepassados medievais e a recompor a
Devido a um acidente na capelinha da proprie-
própria história. Esta fase compreende também
dade de Jacinto, em Tormes, Portugal, onde estão enter-
A correspondência de Fradique Mendes e o ro-
rados os ossos de seus avós, o rico herdeiro retorna à
mance A cidade e as serras.
terra natal de seus antepassados. Ao sentir-se útil pela
primeira vez, Jacinto reencontra uma grande alegria de
Principais obras: viver. Assim, realiza uma série de reformas.
Na propriedade constrói boas casas para os em-
O crime do padre Amaro (1875)
pregados, aumenta seus salários e proporciona médico
Primeiro romance do Realismo português tem e remédios. Devido a essa atitude, mudanças aconte-
o enredo ambientado em Leiria, cidade interiorana do cem em toda a região e trazem prosperidade. Jacinto
norte de Portugal, onde o ingênuo padre Amaro Vieira une-se em matrimônio com a prima de José Fernandes,
vai assumir sua paróquia. Hospedado inicialmente na Joaninha, e juntos têm um casal de filhos. Passe a ser
casa da Senhora Joaneira, acaba por se envolver amo- organizado e responsável e nunca mais volta a Paris.
rosamente com sua filha Amélia. Seus colegas padres
não estranham tal relação, o que leva o jovem pároco a
perceber que agiam cinicamente.
Realismo no Brasil
O primo Basílio (1878) O contexto brasileiro
Jorge e Luísa são um casal da burguesia lisboeta. A lição dos contemporâneos portugueses, nota-
Convivem num círculo de amizades formado, entre ou- damente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de pre-
tros, pelo Conselheiro Acácio, homem apegado a con- ferência, foi decisiva para os autores realistas brasileiros
venções sociais; Dona Felicidade, que nutre uma paixão
fortemente influenciados por eles. A família burguesa
por ele; e Sebastião, o melhor amigo de Jorge.
já não era mais o único foco da literatura, como havia
Jorge sai em uma viagem de trabalho e durante
acontecido no Romantismo. Os realistas ocupavam-se
sua ausência, Luísa recebe a visita de Basílio, seu primo,
de outras classes sociais e da alma delas.
residente em Paris. Admirado com a beleza da moça,
A crise matrimonial, o papel da mulher nas rela-
Basílio envolve Luísa em um jogo de sedução, que faz
com que ela se imagine vivendo uma das aventuras ções sociais e o operariado passam a ser temas e perso-
amorosas de suas leituras românticas. nagens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade,
Eles se tornam amantes, passando a trocar car- descrever cenas, ambientes e comportamentos passa a
tas de amor. Luísa encontra estímulo na amiga Leopol- fazer parte considerável das obras literárias. Registrar
dina, mulher casada, colecionadora de casos extracon- a realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos
jugais. Toda a movimentação da casa é observada pela disfarçados, as falsas devoções e a moral de aparência
governanta Juliana, sempre às voltas com planos de são temas que passam a integrar o universo do roman-
enriquecimento rápido. ce.

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Tal como em Portugal, o Realismo/Naturalismo
Primeira fase: ciclo romântico
no Brasil esteve muito ligado às ideias estéticas, cientí-
ficas e filosóficas europeias – positivismo, darwinismo, Ao analisar os romances e os contos de Machado
comunismo, cientificismo – que provocaram bastante de Assis considerados românticos, já se revela a carac-
repercussão. As mudanças que o tempo impôs coinci- terística que haveria de marcar sua obra. Os aconteci-
diram, por sua vez, com o rápido declínio do Segundo mentos são narrados sem precipitação, entremeados de
Império de Pedro II, após a Guerra do Paraguai. Não só explicações aos leitores por parte do narrador e cheios
o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo/Natu- de considerações sobre os comportamentos.
ralismo. O movimento Republicano, em 1870, também Seus personagens não são lineares como os dos
propunha trocar o trabalho escravo pela mão de obra demais românticos. Têm comportamentos imprevistos,
imigrante. fazem maquinações, não são transparentes, mas inte-
As campanhas abolicionista e republicana tive- resseiros.
ram início a partir de 1870 e formaram um movimento A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear:
político que dominou o Brasil e toda a América Latina, tem começo, meio e fim bem demarcados. Fazem parte
voltado para as grandes reivindicações urbanas que já do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a
haviam triunfado nos Estados Unidos e na Europa. A luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de contos Histórias
aristocracia rural entrava em decadência e a monarquia da meia-noite e Contos fluminenses.
mostrava-se um regime superado.
Segunda fase: ciclo realista
Principais autores Com a publicação de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo
Machado de Assis de sua obra. Amadureceu como escritor e passou a es-
crever para leitores mais exigentes. Seus personagens
Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Mor-
tornaram-se mais elaborados, pois eram compostos à
ro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em esco-
luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição
las públicas e tratou de instruir-se por conta própria,
do romance foi aperfeiçoada: os capítulos e frases pas-
interessado que era pela leitura. Inteligente e esfor-
sam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior con-
çado, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)
tato com o leitor.
aproximou-se de intelectuais e de jornalistas que lhe Observa-se também uma apurada análise da so-
deram oportunidades. Aos dezesseis anos empregou-se ciedade brasileira do final do Segundo Império, ambien-
na tipografia de Paula Brito. Aos dezenove já era cola- te no qual o casamento começa a ser um grande alvo da
borador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio crítica tecida pelo autor. As estruturas narrativas fogem
Mercantil, O espelho, Diário do Rio de Janeiro, Semana à linearidade, entremeadas de digressões temporais, in-
Ilustrada, Jornal das Famílias. tromissões do narrador e a análise apurada dos aconte-
Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de cimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas
Agricultura, enquanto sua carreira de escritor mostrava- Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires
-se cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos são romances do ciclo realista.
com a portuguesa Carolina Xavier de Novais. Além dos romances, Machado publica cerca de
Na passagem do Império para a República, Ma- duzentos contos a partir de 1869, começando com os
chado de Assis já era um intelectual respeitável. For- Contos fluminenses, publicados em pleno Romantismo.
mado escritor à luz do Romantismo, com o tempo en- Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da
veredou para o Realismo, o que, a depender da fase, meia-noite, Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias
sua obra seja caracterizada ou romântica, até 1880, ou histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha.
realista, de então em diante. Merecem destaque os contos A cartomante, Mis-

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sa do galo, O alienista, O espelho, Cantiga de esponsais, Dom Casmurro (1900)
Noite de almirante, A igreja do diabo, entre outros.
A produção poética de Machado de Assis está
Publicado em 1900, Dom Casmurro é um roman-
reunida em Falenas, Crisálidas, Americanas, Ocidentais.
ce narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback
Destacam-se as peças de teatro Queda que as mulheres
da velhice para a adolescência, Bentinho conta sua pró-
têm para os tolos, Quase ministros e Lição de botânica.
pria história.
Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar
Principais obras muito carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Re-
cebeu todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o desti-
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) nara à vida sacerdotal.
Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Na-
Memórias póstumas de Brás Cubas é o roman-
mora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória,
ce iniciador do Realismo na literatura brasileira, assim
presa a uma promessa que fizera, aceita a ideia inteli-
como da segunda fase do escritor. É, sem dúvida, uma
gente de José Dias de enviar um escravo ao seminário
das mais importantes obras da literatura brasileira,
para ser ordenado no lugar do Bentinho.
como marco inicial do Realismo, bem como um desfile
Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito
de genialidade da escrita do autor.
e acaba casando-se mesmo com Capitu.
As memórias de Brás Cubas não são cronológi-
O casal vive muito bem. Bentinho vai progredin-
cas, optando pelo estilo livre e digressivo. Machado se
do, mantém amizade com Escobar, antigo colega de se-
separa definitivamente do Romantismo, e no próprio
minário, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso.
Realismo coloca em prática seu estilo pessoal que es-
colhe como o personagem principal um defunto que Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
vai contar suas memórias. Brás Cubas decide contar Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho
aos leitores o que foi sua vida sem esconder nenhuma começa a achar Capitu estranha. Surpreende-a contem-
das mais profundas verdades. Essa sinceridade, livre das plando o cadáver de uma forma que ele interpreta como
moralidades e falsidades sociais, só existiam, porque ele apaixonada.
estava morto. A partir do episódio, Bentinho consome-se em
Logo, os seus defeitos vão aparecendo a cada ciúme e o casamento entra em crise. Cada vez mais Eze-
página, entrecortadas por situações de ironia e pessi- quiel torna-se parecido com Escobar – o que precipita
mismo. Seus pensamentos são amorais na viagem que em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O
faz pela memória de sua própria vida. A esse gênero casal separa-se, Capitu e Ezequiel vão para a Europa e
literário dá-se o nome de sátira menipeia, no qual um algum tempo depois ela morre.
morto se dirige aos vivos para criticar a sociedade hu- Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o
mana. pai, que comprova a semelhança do filho com Escobar.
Ezequiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado
em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de “Casmur-
ro” e põe-se a escrever a história de sua vida.

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Naturalismo no Brasil
Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o
romance O cortiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), para perceber que os contrastes sociais já
faziam parte do dia a dia dos cariocas desde o século XIX.
A história revela um efervescente ambiente urbano, construído à luz da observação do cotidiano e sob a
influência da literatura francesa – notadamente do romance L’assommoir (A taberna), 1877, do francês Émile Zola
(1840-1902), inspirador do naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor.

Burguesia versus proletariado


A segunda metade do século XIX foi caracterizado pela consolidação do poder da burguesia, do materia-
lismo e do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de
outro, o crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e
pelo poder, o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram
e desenvolveram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o
idealismo e o tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo.
O método científico passou a ser o meio de análise e compreensão da realidade. Teorias desse naipe de-
ram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais sejam: teoria determinista, de Hippolyte Tai-
ni (1825-1893), encarava o comportamento humano como determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo
momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-1882) defendia a tese de que o homem descende
dos animais. As características do naturalismo literário são ligadas à realidade da época cujo tom deixa de ser tão
poético e subjetivo, como nas escolas precedentes. Os romances naturalistas revelam:
§§ veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade.
§§ contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas.
§§ detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa; o amor é materializado; e a mulher
passa a ser vista como objeto de prazer masculino.
§§ denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito, e
a ambição humanos.
§§ determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens; consi-
deração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista; homem
próximo ao animal (zoomorfismo).
§§ linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns ao das personagens cotidiana;
linguagem é simples, natural e clara.
§§ cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados.
§§ personagens patológicas – mórbidas, adúlteras, assassinos, bêbadas, miseráveis, doentes, prostitutas
procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano.

Aluísio Azevedo
Nasceu em São Luís, no Maranhão, e posteriormente se mudou para o Rio de Janeiro. Produziu folhetins
românticos para jornais. Memórias de um condenado e Mistérios da Tijuca foram alguns deles ditados pelas neces-
sidades de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como
Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio.

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Fase romântica começa a se interessar por Zulmira, filha do comerciante
Miranda – sonha casar-se com ela e mudar de condição
Dentre os seus folhetins românticos destacam-se social. Jerônimo, que acaba se juntando a Rita Baiana,
Uma lágrima de mulher; Memórias de um condenado arma uma cilada para Firmo e o assassina a pauladas.
ou A Condessa Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Moradores do cortiço vizinho, o “Cabeça-de-Ga-
Azira; Mistério da Tijuca ou Girândola de amores. to”, ateiam fogo ao cortiço de João Romão, para vingar
a morte do capoeirista. O incêndio, indiretamente, au-
xilia o português, que o reconstrói, fazendo um cortiço
Fase naturalista mais novo e mais próspero.
Com o tempo, João Romão aproxima-se cada
Romances: O mulato; Casa de pensão; O ho-
vez mais de Miranda. Só resta tirar a escrava Bertoleza
mem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os
do caminho. Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra
contos Demônios; Pegadas; O touro negro.
suicida-se. João Romão casa-se com Zulmira.
Considerado o mais importante dos naturalistas
brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração
da patologia humana, como ocorre, por exemplo, na Raul Pompeia
obra do paradigma francês Émile Zola.
Aluísio prefere a observação direta da realida- A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas
de da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio geniais, na literatura brasileira é controvertida. A princí-
exerce sobre o homem, segundo a teoria determinista pio, a crítica o julgou pertencente ao Naturalismo, mas
de Hippolyte Taine. as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-
-no aproximar-se do Simbolismo, ficando a sua arte
como a expressão típica, na literatura brasileira, do esti-
O cortiço (1890)
lo impressionista. Sua obra mais conhecida é O ateneu.
João Romão é um ganancioso comerciante de
origem portuguesa, dono de um armazém, de uma pe- O Ateneu (1888)
dreira e de um terreno de bom tamanho, no Rio de Ja-
O romance O Ateneu tem cunho memorialista e
neiro, onde constrói casinhas de baixo custo para alugar.
ressalta em seu eixo fundamental o estudo psicológi-
Bertoleza, uma ex-escrava negra, vive com o por-
co de um adolescente. O foco narrativo é centrado em
tuguês e o ajuda no armazém.
Sérgio, personagem constantemente em conflito com os
Aos poucos, o cortiço que vai se formando e pas-
valores impostos pela direção do internato.
sa a incomodar o vizinho Miranda, dono de uma loja
Surgem no romance os problemas criados pela
próxima. Chefe de uma família composta pela esposa
educação convencional: a homossexualidade, as revol-
Estela e pela filha Zulmira, Miranda sempre reclama
tas e a corrupção. Oscilando entre ser um diário e um
da situação sórdida do lugar. João Romão, por sua vez,
romance, o livro é recheado das experiências do menino
também não aprecia o vizinho e com ele mantém cons-
Sérgio no internato, dirigido pela mão de ferro do dire-
tante rivalidade.
tor Aristarco de Ramos.
Quando Jerônimo, um operário português que
Trata-se de quadros narrativos que vão sendo
trabalha na pedreira, muda-se com a esposa Piedade
expostos ao leitor. Personagens e situações do colé-
para lá, a situação começa a sofrer alterações. Jerônimo
gio são apresentados, desvendando-se um mundo de
apaixona-se pela mulata Rita Baiana, comprometida hipocrisias e falsidades em que até amigos tornam-se
com o capoeirista Firmo. delatores. A história do internato passa pela formação
Com a evolução dessa paixão, Firmo e Jerôni- sexual e intelectual do adolescente como um reflexo da
mo acabam se enfrentando e o português leva uma sociedade e focaliza, ao mesmo tempo, a decadência do
navalhada do capoeirista. Nesse ínterim, João Romão regime monárquico-escravocrata brasileiro.

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No colégio há um sistema de “proteções”, estudantes mais velhos tomam a guarda de mais novos. O sis-
tema esconde todo tipo de baixeza, inclusive o assassinato provocado pela criada Ângela. A atmosfera saturada e
falsa, forjada pelo diretor Aristarco, contamina a todos, com exceção de D. Ema, esposa do diretor, que é pessoa de
muito boa vontade e vem a ser alvo de uma paixão platônica do menino Sérgio. A obra termina com um incêndio
provocado pelo estudante Américo.

Parnasianismo
Escola literária exclusiva da França e do Brasil, o Parnasianismo originou-se com as antologias poéticas
publicadas na França a partir de 1866, sob o título Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo).
Os parnasianos interessaram-se apenas por poesia e foram guiados pela estética da “arte pela arte”, pro-
posta pelo precursor da escola, o poeta francês Théophile Gautier (1811-1872).
A “arte pela arte” estava voltada para o ideal clássico de beleza e harmonia de formas. Para os parnasianos,
a estrutura métrica e sonora de seus versos era perfeita, uma vez que predominava neles a técnica do bom versejar
em vez da inspiração.
No Brasil, o movimento é contemporâneo ao Realismo-Naturalismo, uma vez que os poetas parnasianos
compuseram suas obras entre o final do século XIX e o começo do século XX, adotando a moda importada da
França.
A partir de 1878, no Diário do Rio de Janeiro, os simpatizantes do Realismo entraram em polêmica aberta
contra os do Parnasianismo. Esse desentendimento ficou conhecido como Batalha do Parnaso e acabou servindo
para divulgar a estética parnasiana, logo alcunhada de “ideia nova”, nos meios artísticos do País.

Características da poesia parnasiana


§§ Objetividade no tratamento dos temas abordados, baseados na realidade sem subjetivismo e emoção.
§§ Impessoalidade do escritor que não interfere na abordagem dos fatos.
§§ Valorização da estética e busca da perfeição, da beleza em si e da perfeição estética.
§§ Preferência pelas rimas esteticamente ricas.
§§ Linguagem rebuscada e vocabulário vernáculo.
§§ Temas frequentes ligados à mitologia grega e à cultura clássica.
§§ Preferência pelos sonetos.
§§ Valorização da metrificação rigorosa dos versos.
§§ Valorização da descrição de cenas e objetos.

Parnasianos no Brasil
“A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em
que o movimento antirromântico começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses”, explica
Manuel Bandeira, em estudo dedicado ao movimento.
Coube, no entanto, à chamada tríade parnasiana, formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e
Olavo Bilac, a consolidação do Parnasianismo brasileiro.

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Simbolismo
O Simbolismo correspondeu a uma resposta artística à crise de civilização burguesa da Europa industrializa-
da. Foi uma revolta contra a ideologia tecnocrática do Naturalismo e contra certos dogmas, como o determinismo,
por exemplo, que sufocavam a criatividade artística.
Essa luta foi instintiva e afetiva, bem como pessimista. O artista dos últimos anos do século XIX negava os
valores da sociedade burguesa de forma problemática e autodilacerante, e, além disso, parecia estar descontente
consigo mesmo.
A arte simbolista apresentou significativa elaboração estética. Apesar de se referir a um mundo decadente,
suas formas eram bastante refinadas: procuram servir de refúgio ao artista diante de um mundo marcado pelas
práticas burguesas. Por valorizar o mundo inteiro e os valores espirituais, a atitude da arte simbolista é subjetivista,
muito semelhante a dos românticos da metade do século XIX. Porém, os simbolistas vão mais além, atingindo as
camadas do inconsciente e do subconsciente. Eles retomam o misticismo, o sonho, a fé, numa tentativa de encontrar
novos caminhos. Na trilha do desconhecido, o movimento explora a possibilidade de estabelecer relações entre o
mundo visível e o invisível, o universo que se pode sentir, mas não revelar, exceto pela representação de sensações.
De acordo com o determinismo, os acontecimentos na vida de uma pessoa, bem como suas vontades, es-
colhas e comportamentos, eram causados por influência do meio. Em razão disso, as pessoas eram consideradas
resultado direto do meio, destituídas de plena liberdade, decisão e escolha. Nascido nesse mesmo contexto, o
Impressionismo, movimento artístico francês, caracterizou-se pelo estilo fundamentalmente sensorial, no qual a
natureza era encarada não de forma objetiva, mas interpretada. Prevalecia, portanto, a verdade do artista.

Características da literatura simbolista


§§ A teoria das correspondências.
§§ A realidade ambígua.
§§ A musicalidade.
§§ Metáforas e analogias sensoriais.

Simbolismo em Portugal
O marco inicial do Simbolismo em Portugal foi Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890. O prefácio traz um
verdadeiro programa de estética simbolista, com base nas ideias do poeta francês Jean Moréas.
O término do Simbolismo português deu-se em 1915, quando Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro
lançaram a revista Orpheu, que deu início ao movimento modernista.

Simbolismo no Brasil
Como o Parnasianismo, o movimento simbolista também se projetou no século XX, sendo que sua influência
estendeu-se pelo Pré-modernismo e Modernismo, considerando que houve modernistas neossimbolistas.
O decadentismo do final do século XIX reflete-se no Simbolismo do Brasil, se considerar estas três orienta-
ções que o nortearam:
§§ Orientação humanístico-social adotada por Cruz e Sousa e continuada, mais tarde, por Augusto dos
Anjos: preocupação com os problemas transcendentais do ser humano.

50
§§ Orientação místico-religiosa adotada por Alphonsus de Guimaraens: temas religiosos distantes do eso-
terismo europeu.
§§ Orientação intimista-crepuscular adotada por pré-modernistas e modernistas, como Olegário Mariano,
Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira e Cecília Meireles: temas relacionados com o coti-
diano, sentimentos melancólicos e gosto pela penumbra.
A produção em prosa não vingou no Simbolismo brasileiro, mesmo com a poesia em prosa de Cruz e Sousa,
por exemplo. Ficou voltada para a poesia em um momento histórico em que o País estava marcado por frustrações,
falta de perspectiva, angústias.

51
0 2 Interpretação de Textos

U.T.I.
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L C
ENTRE TEXTOS
Semântica – elementos Paronímia
de análise I Temos parônimos quando as palavras são muito
parecidas, mas seus sentidos são diferentes.
Já que se fala a todo o momento de semântica
no curso de Gramática, nada melhor do que apresentá-
Exemplos: comprimento (largura)
-la logo no início do material de Interpretação (já que
e cumprimento (saudação)
ela é parte essencial dos processos interpretativos). A
discriminar (separar) e descriminar
semântica é o campo de estudos linguísticos que cui-
da dos significados das palavras e dos textos. Ela está (absolver)
presente em praticamente todos os outros campos gra-
maticais (com exceção dos estudos básicos de fonética Hiperonímia e hiponímia
e fonologia, ligados à ortografia e à acentuação). Pode
ter certeza de que, onde há acepções de sentido, há São fenômenos que operam relações de abran-
semântica. gência entre palavras (palavras que englobam outras
Além de sua presença em várias áreas da Gra- ou que são englobadas). As palavras que englobam são
mática, a semântica possui seus próprios elementos de conhecidas como hiperônimos; as englobadas, como
análise, que conheceremos a seguir. hipônimos.

Sinonímia Exemplos: Comprei um bacalhau para prepa-


rar na semana santa. Esse peixe é bastante salgado.
Ocorre sinonímia quando temos palavras com (Peixe é uma palavra mais abrangente, que dá conta
significados idênticos ou muito semelhantes a outras. de bacalhau e de outros diversos peixes, portanto, po-
§§ Cão = cachorro demos afirmar que peixe é hiperônimo de bacalhau, e
§§ Jerimum = abóbora bacalhau é hipônimo de peixe.)

A sinonímia tem forte relação com a paráfrase Houve um aumento da gasolina. Esse fato
(possibilidade de se reconstruir uma frase ou texto com deixou os brasileiros irritados. (Fato é uma palavra que
outras palavras similares) e nos ajuda nos processos de dá conta de aumento da gasolina, portanto, podemos
coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a afirmar que fato é hiperônimo do trecho sublinhado.)
repetição de termos em um texto).

Antonímia
Ocorre antonímia quando temos palavras com
significados contrários a outras.
§§ Bonito ≠ feio
§§ Alto ≠ baixo

61
Semântica – elementos o verbo ‘comer’ foi usado com dois sentidos diferentes.
Na primeira, temos comer sendo usado na sua acepção
de análise II mais comum, que é alimentar-se. Já no segundo caso, te-
mos o verbo comer sendo usado para “figurar” a ideia
Homonímia de alguém comendo poeira, mas não porque isso esteja
ocorrendo de verdade, e sim porque se tenta passar a
Ocorre homonímia quando temos palavras de ideia de que o piloto passou tão rápido pelo adversário
grafia igual ou pronúncia igual, mas com significado que levantou poeira, e quem está atrás a teria “comido”.
diferente. Isso nos dá três tipos de homônimos: No primeiro caso, a palavra comer foi usada em
1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia seu sentido dito literal, ou o sentido padrão (primeiro)
igual – grafia diferente) dessa palavra. Quando isso ocorre, temos uma palavra
Exemplo: acento (marca gráfica de tonali- em sentido denotativo. Já no segundo exemplo, o verbo
dade) e assento (local para se sentar) comer foi usado em sentido figurado, tentando figurar/re-
2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual presentar uma situação (alguém comendo poeira). Quan-
– pronúncia diferente) do isso ocorre, temos uma palavra em sentido conotativo.
Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo) Sentido denotativo
3. Homônimo homófono homógrafo (pronúncia
Como vimos anteriormente, entende-se por sen-
igual – escrita igual)
tido denotativo o sentido primeiro de uma palavra. Seu
Exemplo: rio (substantivo) e (eu) rio (verbo)
sentido básico, de dicionário. Entender bem o funciona-
mento do sentido denotativo nos ajudará, mais adian-
Polissemia te, a entender como são operados alguns processos de
interpretação em gêneros textuais do português, como
Temos polissemia em palavras que preservam sua
os textos científicos e também os jornalísticos, que são
classe gramatical, mas que possuem significados múlti-
textos cujo objetivo é transmitir informações exatas e
plos.
precisas ao leitor. Um texto denotativo evita palavras às
Exemplos: natureza (meio ambiente) e nature- quais se possam atribuir sentidos variados. Pensando no
za (essência de algo) que aprendemos na aula anterior, os textos denotativos
banco (local onde se senta) e banco evitam trabalhar com textos polissêmicos.
(instituição financeira) Sentido conotativo

Denotação e conotação Entende-se por sentido conotativo aquele que


explora os múltiplos significados que uma palavra
É dentro do campo da semântica que verifica- pode ter. Em um texto conotativo, não importa muito o
mos também os processos de denotação e conotação, sentido primeiro da palavra, e sim a sua capacidade de
fenômenos linguísticos que nos permitem entender a “sugerir” interpretações variadas. Os gêneros que habi
amplitude de significação existente em nossa língua, tualmente trabalham com conotações são os literários
ou, em termos mais claros, é o estudo da denotação (prosa, poesia, crônica, entre outros) e as canções. Mas
e da conotação que nos permite perceber o quanto os também podemos encontrar esse sentido em outros
significados podem variar por conta do interesse dos tipos de gênero, dependendo das intenções do autor.
interlocutores. Vejamos alguns exemplos: Costumam ser textos de natureza mais complexa, que
exigem um trabalho de leitura mais profundo, para
§§ Filho, você tem que comer todo seu jantar, ou
que se possa apreender o que o autor quis expressar
não terá sobremesa.
nas entrelinhas da mensagem. Trabalha-se aqui com
§§ O piloto fez o adversário comer poeira.
conhecimentos amplos de vocabulário.
É possível perceber nas frases apresentadas que

62
Ambiguidade identificação, exigindo bom conhecimento semântico
e algumas estratégias interpretativas. Pode ser desfeita
Tratar do tema da ambiguidade é tratar de um por meio da reorganização das estruturas sintáticas.
problema que interfere diretamente nas possibilidades Exemplos:
de interpretação de textos. Isso porque a ambiguidade é O pai falou com o filho caído no chão. (Não con-
o fenômeno que faz com que uma palavra ou frase pos- seguimos saber quem está caído no chão. Pode ser o pai
sua mais de um direcionamento de sentido, provocando ou pode ser o filho)
ruídos na interpretação. No português nós possuímos Eu li a notícia sobre a greve na faculdade. (Não
dois tipos de ambiguidade: a lexical e a sintática. se sabe se a greve é na faculdade ou fora dela)
O Papa abençoou os fiéis da janela. (Não é possí-
Ambiguidade lexical vel determinar a posição do Papa; ele pode estar na jane-
Temos ambiguidade lexical quando em alguma la mandando bênçãos para os fiéis, ou pode estar na rua
composição linguística existe uma palavra que aponta mandando bênçãos para aqueles que estão na janela)
para mais de um sentido diferente. É um tipo de ambi-
guidade que estabelece relações diretas com o fenôme- Semântica - Os comandos
no da polissemia e da homonímia. Vejamos o exemplo a
seguir, retirado de uma canção de Chico Buarque:
de interpretação
"O homem sério que contava dinheiro, parou,
Na aula introdutória de nosso curso de interpre-
O faroleiro que contava vantagem, parou,
tação de textos, vimos que grande parte dos vestibulares,
A namorada que contava as estrelas, parou"
hoje em dia, trabalha suas questões de compreensão tex-
Para ver, ouvir e dar passagem.”
(Chico Buarque. A Banda) tual a partir de determinados comandos, ativados espe-
cialmente por comandos verbais. Desse modo, conhecer
Nesta canção percebemos que o compositor bem o que cada verbo nos aponta enquanto relação de
brinca com as acepções de sentido existentes na pa- sentido pode nos ajudar a realizar um processo de inter-
lavra “contar”, cujo significado pode ser o ato de enu- pretação mais efetivo, sem que precisemos ficar presos
merar (contar dinheiro e contar estrelas) e também à multiplicidade de dados que nos traz uma questão.
de “narrar” (contar vantagem). Nesse caso, há duplo Vamos, primeiramente, relembrar os comandos verbais
entendimento de um mesmo termo que vem colocado vistos na aula 1 do curso:
sequencialmente nos versos da canção. De qualquer
modo, não é dos fenômenos mais complexos que temos Comandos
no português. Havendo domínio razoável do léxico, é
possível identificar ambiguidades de cunho lexical, que Analisar Inferir Associar Explicitar
podem ser desfeitas com uma simples substituição da
palavra problemática. Relacionar/Dialogar Comparar Substituir Reconhecer

Citar Explicar Identificar Contextualizar


Ambiguidade
sintática (ou estrutural) Analisar: é o ato de averiguar, estudar ou explorar
alguma coisa de maneira minuciosa, com rique-
Temos ambiguidade sintática quando uma cons- za de detalhes: só aceitará a proposta depois
trução frasal apresenta dois caminhos interpretativos de analisar as possibilidades. Comentar critica-
diferentes. Ocorre mesmo quando a frase apresenta mente; subjugar ou criticar. Fazer uma aprecia-
as corretas colocações de seus elementos constitutivos ção ou julgamento de algo, alguém ou de si
(sujeito, verbo, complementos e adjuntos). Trata-se de mesmo: antes de falar do outro, você precisa
um fenômeno que, em alguns casos, é de complexa se analisar.

63
Relacionar/dialogar: é necessário conectar infor- estruturas verbais. Ou seja, o segredo para conseguir rea-
mações de matrizes distintas dentro de um texto, lizar uma interpretação de textos eficiente estaria em con-
ou mesmo verificar como as informações de um seguir compreender a semântica do verbo que conduz o
texto “conversam” com informações contidas enunciado da questão..
em alternativas.
Citar: é o ato de reportar-se a um texto ou às pa- Outros recursos para
lavras de alguém com o intuito de fundamentar
aquilo que se diz, ou mesmo para Informar ou interpretação de textos
notificar alguém a respeito de algo.
Inferir: é o ato de deduzir fatos ou raciocínios par- Nem sempre o comando
tindo de indícios previamente apresentados. verbal estará explícito no
Comparar: é o ato de averiguar, estudar ou explorar
texto
alguma coisa de maneira minuciosa, com rique-
za de detalhes: só aceitará a proposta depois de Para que haja uma maior eficácia em sua prática
analisar as possibilidades. Comentar criticamen- de interpretação de textos, é necessário que saibamos
te; subjugar ou criticar. Fazer uma apreciação ou que os já comentados comandos verbais de interpre-
julgamento de algo, alguém ou de si mesmo: tação (aulas 1 e 12) nem sempre estarão explicitados
antes de falar do outro, você precisa se analisar. em nos textos. Mas ainda assim, pela própria disposição
Explicar: é o ato de fazer com que algo fique claro do enunciado, é possível identificarmos de que verbo
e compreensível; descomplicar uma ambiguida- se trata.
de.
Associar: é o ato de aproximar coisas, uni-las, Recursos morfológicos
juntá-las, reunir, ou mesmo determinar combina-
ções entre elas.
e sintáticos como suporte
Substituir: é o ato de usar uma coisa no lugar de interpretativo
outra, ou mesmo trocar/colocar algo ou alguém
Também, conforme já havíamos informado na
no lugar de outra coisa ou pessoa.
aula de abertura do curso, um bom conhecimento de
Identificar: é o ato de distinguir ou ter a capaci-
recursos gramaticais, especialmente morfológicos e
dade de reconhecer (alguém, alguma coisa ou
sintáticos, contribui bastante para que realizemos de
um argumento), sendo capaz de expressar ou
forma mais precisa nossas interpretações de texto. Não
evidenciar suas particularidades.
podemos nos esquecer de que os elementos morfossin-
Explicitar: é o ato de retirar a ambiguidade, retirar
táticos comportam relações de sentido (possuem se-
o duplo sentido, de fazer com que algo se torne
mântica) por conta disso, eles são usados como ponto
explícito e claro.
chave para exercícios de interpretação.
Reconhecer: é o ato de observar um elemento
verbal ou não-verbal a fim de distinguir algum
detalhe através de certos caracteres.
Substantivos que
Contextualizar: é o ato de mostrar as circunstân- contém ideias verbais
cias que estão ao redor de um fato, aconteci-
mento, situação. Entender ou interpretar algo Algo que é necessário estar atento é o fato de que
tendo em conta as circunstâncias que o rodeiam, o comando verbal de interpretação pode estar, no enun-
ciado, constituído como se fosse um substantivo.
colocando num contexto.
O Enem, por exemplo, em seu grupo de competên-
cias e habilidades, apresenta um conjunto de exigências
pedagógicas para elaboração de questões que partem de

64
Textos em verso D. Pedro II espia do alto.
(As barbas tão alvas
Muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos tão alvas nem sei!)
gêneros literários para construir questões de interpre- E os pares passeiam,
tação de textos. Ou seja, as questões não abordam ne- parece que dançam,
cessariamente um conhecimento profundo sobre a obra que dançam ciranda,
(seu enredo), mas exigem do candidato um trabalho em torno do Rei.
(Jorge de Lima. Poemas negros. Cosac Naify,
mais acurado com as questões estruturais e também página 41, 2014).
com a compreensão do conteúdo de algum poema ou §§ Verso: entende-se por verso uma sucessão ou
trecho de livro. Nessa primeira aula, daremos ênfase às sequência de sílabas que mantém determina-
características dos textos em verso (os poemas). da unidade rítmica e melódica em um poema,
correspondendo, habitualmente, a uma linha do
O poema poema. No poema apresentado, cada linha do
poema corresponde a 1(um) verso, então temos
O poema é um gênero textual de cunho bas- um total de 21 versos.
tante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias
§§ Estrofe: entende-se por estrofe um agrupamen-
ou sentimentos, mas que articula combinações de pa-
to de versos realizado pelo autor do poema. Os
lavras que, na maioria dos casos, constituem sentidos
agrupamentos podem variar bastante, de acordo
variados. Essas combinações de palavras costumam ser
com a forma do poema (forma fixa ou forma li-
distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado
de vários elementos que conheceremos mais adiante, vre). Por exemplo, no poema de Jorge de Lima
como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, que foi apresentado, opta-se por uma forma
o ritmo (elementos sonoros), entre outros. O jogo de mais livre, com agrupamentos variados. Temos
palavras realizado nos poemas (de fortes marcas deno- na abertura duas estrofes de 3 versos (conhe-
tativas), muitas vezes, imprime dificuldades de interpre- cidas como tercetos), seguidas por uma de 6
tação. Vejamos os elementos do poema: versos (sexteto). Em seguida, temos um agrupa-
a) O verso e a estrofe mento com 2 versos (chamado dístico), seguido
Para entendermos com mais precisão o que são de outro de 3 (mais um terceto). O poema é fi-
esses dois elementos, vejamos o poema a seguir, nalizado com um grupo de 4 versos (quarteto).
do escritor Jorge Lima:
Atenção às formas fixas!
Retreta do Vinte
O cabo mulato balança a batuta, São conhecidos como formas fixas aqueles poe-
meneia a cabeça, acorda com a vista mas que apresentam um padrão pré-determinado em
os bombos, as caixas, os baixos e as trompas. sua construção. Existem vários tipos de forma fixa, como
(No centro da Praça o busto de D. Pedro escuta.) o vilancete (um terceto mais dois outros tipos de es-
Batuta pra esquerda: relincham clarins, trofe à escolha do poeta), o haicai (poema de origem
requintas, tintins e as vozes meninas da banda japonesa que se constrói com três versos e um número
do 20. pré-determinado de sílabas) ou as redondilhas (for-
Batuta à direita: de novo os trombones mas fixas de 5 ou 7 versos). A mais tradicional dessas
e as trompas soluçam. E os bombos e as caixas: formas é o soneto. Ele possui uma forma estruturada
ban-ban! a partir do agrupamento de duas estrofes de 4 versos
Vêm logo operários, meninas, cafuzas, (dois quartetos) e outras duas de 3 versos (dois terce-
mulatos, portugas, vem tudo pra ali. tos), totalizando 14 versos. Em sua composição, costu-
Vem tudo, parecem formigas de asas ma ser desenvolvida uma ideia ou discussão que per-
Rodando, rodando em torno da luz. passa os 13 primeiros versos e encontra sua resolução/
Nos bancos da Praça conversas acesas, fecho no último verso. Vejamos um exemplo de soneto:
apertos, beijocas, talvezes.
65
Oficina Irritada
Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
Eu quero compor um soneto duro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

como poeta algum ousara escrever.


Eu quero pintar um soneto escuro, não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro, Pode-se notar que o primeiro verso que escolhe-
não dxxesperte em ninguém nenhum prazer. mos é um decassílabo perfeito. A contagem, como dito,
E que, no seu maligno ar imaturo, deve ser encerrada na última sílaba tônica da última
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. palavra do verso (a palavra “futuro” é paroxítona; sua
Esse meu verbo antipático e impuro tônica é a sílaba “-tu”). Já no segundo verso encontra-
há de pungir, há de fazer sofrer, mos outra regra que deve ser obedecida (sublinhada no
tendão de Vênus sob o pedicuro. verso): a junção da vogal final de uma palavra com a vo-
Ninguém o lembrará: tiro no muro, gal inicial de outra (des-per-te em). Também é um verso
cão mijando no caos, enquanto Arcturo, decassílabo. De acordo com a variabilidade de sílabas
claro enigma, se deixa surpreender. poéticas, as estrofes terão nomes diferentes:
§§ 5 sílabas poéticas: pentassílabo ou redondi-
Temos aí um soneto de estilo clássico, que além
lha menor
de apresentar o agrupamento de estrofes que comen-
§§ 7 sílabas poéticas: heptassílabo ou redondi-
tamos (dois quartetos e dois tercetos), apresenta ele-
lha maior
mentos de métrica e rima bastante determinados. Aliás, §§ 10 sílabas poéticas: decassílabo
é importante nesse momento conhecermos um pouco §§ 11 sílabas poéticas: endecassílabo
melhor esses outros elementos. §§ 12 sílabas poéticas: dodecassílabos ou ale-
xandrinos
Elementos estruturais O processo de contagem e separação de sílabas
poéticas recebe o nome de escansão.
do poema

Ritmo
Métrica
O ritmo corresponde a uma “melodia” que se
A métrica é a medida dos versos, ou, em termos
cria no corpo do poema por conta da acentuação de
mais claros, a quantidade de sílabas de cada linha que certas sílabas que há nos versos. Usando novamente os
compõe o poema. No entanto, a contagem de síla- versos acima apresentados, podemos perceber que há
bas poéticas segue um padrão diferente da se- um conjunto de sílabas mais fortes nas mesmas posições
paração de sílabas tradicional. Na contagem de sí- de cada verso (no caso, a segunda, a sexta e a décima
labas poéticas devemos proceder da seguinte maneira: são as mais fortes). Esse padrão cria um ritmo que dá
§§ Contam-se as sílabas de maneira habitual, mas certa musicalidade ao poema, quando este é recitado.
devem ser contadas como uma única sílaba a
Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
vogal final + a vogal inicial de duas palavras. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

§§ A contagem deve ser encerrada na última sílaba


tônica da última palavra do verso. não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Vejamos um exemplo com os dois primeiros ver-


sos da segunda estrofe do poema de Carlos Drummond
que foi apresentado:

66
Rima pela emissão de opiniões a respeito dos fatos
que ocorrem na história. A narrativa conduzida
A rima é um recurso sonoro que também atribui por esse tipo de narrador costuma ser entendi-
musicalidade ao poema. Constrói-se a partir da seme- da como uma narrativa parcial, pois os eventos
lhança sonora de palavras no final de versos. Novamente: são contados a partir do ponto de vista de quem
os narra (não temos outros pontos de vista). Por
Eu quero compor um soneto duro esse motivo, tem-se uma visão limitada dos fa-
como poeta algum ousara escrever. tos, o que pode contribuir para o efeito de sus-
Eu quero pintar um soneto escuro, pense sobre os fatos da obra, pois o leitor faz
seco, abafado, difícil de ler. descobertas junto com a personagem.
Quero que meu soneto, no futuro, §§ Narrador-protagonista: é aquele que é não
não desperte em ninguém nenhum prazer. apenas o narrador, mas também a personagem
E que, no seu maligno ar imaturo, principal da história. É uma narrativa marcada por
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. forte subjetividade, pois todos os eventos giram
em torno desse personagem principal. É também
um tipo de narrativa parcial, pois o leitor é induzi-
Destacamos o sistema de rimas do poema de Drum-
do a criar uma empatia com os sentimentos de sa-
mond. Fica evidente que é um esquema de rimas em
tisfação ou insatisfação vividos pela personagem.
que os versos se alternam “-uro” e “-er”. Essa sequên-
Isso tudo dificulta a visão geral da história.
cia de versos alternados também garante musicalidade
§§ Narrador-testemunha: trata-se de uma perso-
ao poema.
nagem que conta uma história por ela vivencia-
da, mas da qual não era a personagem principal.
Textos em prosa
Também há nessa modalidade o registro dos fatos
Os tipos de narrador que por uma visão subjetiva, com a diferença de que
conduzem a obra a carga emocional sobre este é menor, tendo em
vista que não é a personagem principal da trama.
Qualquer dos tipos de texto em prosa que foram
apresentados costuma ser conduzido por um narrador, Narrador em terceira pessoa
que é a figura que transmite as mensagens e conta a §§ Narrador onisciente: é aquele que sabe de
história. Existem dois tipos-padrão de condução narra- todos os fatos a respeito da história e das per-
tiva: a narrativa em primeira pessoa, que é um modo sonagens, incluídos aí os pensamentos e sen-
em que a história é narrada por personagens que falam
timentos destes. Por conta dessa amplitude de
sobre e para si mesmos. Já a narrativa em terceira pes-
conhecimento, esse tipo de narrador é capaz de
soa apresenta alguém que conta a história de algum
fazer descrições sobre coisas que acontecem si-
personagem de “fora para dentro”. Esses dois modelos
multaneamente em lugares diferentes.
apresentam algumas subdivisões que conheceremos a
§§ Narrador onisciente neutro: é aquele que re-
seguir.
lata os fatos e descreve detalhes das personagens,
mas sem influenciar o leitor com observações ou
Narrador em primeira pessoa
opiniões dos eventos narrados. Esse tipo de narra-
§§ Narrador-personagem: é aquele que, não
dor costuma evidenciar somente os fatos que são
apenas conta a história em primeira pessoa, mas
essenciais para a compreensão da narrativa.
também faz parte da narrativa (por isso, narrador
e também personagem). Suas principais caracte- §§ Narrador onisciente seletivo: é aquele que,
rísticas estão na evidenciação de fortes marcas tendo conhecimento dos pensamentos e senti-
subjetivas e emocionais do narrador no decor- mentos das personagens, seleciona aqueles aos
rer da obra. O texto é constantemente pautado quais dará maior ênfase nas revelações. Desse

67
modo, é um narrador que tenta influenciar o lei- Estrutura da crônica
tor a tomar algum posicionamento em relação a
algum personagem. Embora não apresente estrutura completamente
§§ Narrador observador: é aquele que presencia fixa, a crônica possui algumas marcas de condução textual
a história que está narrando. Não deve ser con- que são seguidas por boa parte dos autores. São elas:
fundido com a modalidade “onisciente”, pois o §§ Observação mais subjetiva a respeito de aconte-
narrador observador não tem a visão de tudo. Ele cimento cotidiano.
conhece apenas um ângulo da história que nar- §§ Evocação de experiências pessoais ou de pessoas
ra. Funciona como uma testemunha dos fatos, muito próximas para circunstanciar sua opinião.
mas não faz parte de nenhum deles. Não apre- §§ Há uma conclusão que, em certa medida, retoma
senta nenhum tipo de conhecimento em relação os elementos centrais discutidos na crônica.
à intimidade de qualquer personagem. De maneira geral, a crônica costuma ser orga-
nizada por meio de um movimento reflexivo, que parte

Crônicas de uma experiência particular, e que tem como objetivo


alcançar significado mais amplo, que atinja um número
maior de pessoas e as faça refletir.
A crônica é um gênero que transita entre a litera-
tura e o jornalismo. É conduzido a partir da observação
Linguagem da crônica
subjetiva de fatos cotidianos que são relatados ao leitor.
Há, por parte do cronista, um desejo de oferecer não ape- A linguagem da crônica é marcada por certo grau
nas um relato de um acontecimento, mas uma reflexão/ de informalidade, embora suas bases se construam den-
interpretação sobre o ocorrido. Nesse sentido, a crônica tro da gramática normativa. Esse choque linguístico se
acaba por revelar ao leitor elementos que estão por trás dá justamente por conta de ser um tipo de publicação
das aparências ou que não são percebidos pelo senso veiculada em um jornal/revista (meio de comunicação
comum. Trata-se de um gênero marcadamente opinativo, em que, habitualmente, se usa a norma-padrão), mas
em que a subjetividade do escritor vem à tona. que é dotada de fortes marcas subjetivas.

Contexto de circulação
Discursos
As crônicas circulam habitualmente em sessões es-
pecíficas de jornais e também em revistas. Tratam de temas Em um texto narrativo, o autor pode optar por
variados do cotidiano, mas também podem tratar de temas três tipos de discurso, que podem aparecer separados ou
bem específicos se circularem em revistas especializadas juntos.
(por exemplo, uma revista cuja temática seja a beleza femi- §§ Direto – a produção se dá de forma integral, na
nina, terá crônicas que tratem de temas femininos).
qual os diálogos são retratados sem a interferên-
Posteriormente, muitas crônicas publicadas por
cia do narrador; trata-se de uma transcrição fiel
grandes autores podem vir a ser reunidas em livros. Foi
da fala dos personagens, e, para introduzi-las, o
o que aconteceu com escritores como Carlos Drummond
narrador utiliza alguns sinais de pontuação, alia-
de Andrade ou Rubem Braga, autores cujas crônicas, de
dos ao emprego de alguns verbos de elocução
fortes marcas literárias, passaram do jornal ao livro.
(dizer, perguntar, responder, indagar, exclamar,
ordenar etc.).
Recepção da crônica §§ Indireto – ocorre quando o narrador, em vez de

As crônicas são procuradas por um público varia- retratar as falas de forma direta, reproduz com
do, especialmente as jornalísticas. A menos que sejam as suas próprias palavras, colocando-se na con-
crônicas produzidas, como dito anteriormente, em pu- dição de intermediário frente à ocorrência.
blicações especializadas.
68
§§ Indireto livre – as formas direta e indireta se Mudança na pontuação
fundem por meio de um processo em que o nar- das frases:
rador insere discretamente a fala ou os pensa-
mentos do personagem em sua fala. Frases interrogativas, exclamativas e impe-
rativas no discurso direto passam para frases declara-
discurso direto discurso indireto tivas no discurso indireto.
Emprego de 1 pessoa
a
Emprego de 3a pessoa
Verbos no: Verbos no:
• pretérito imperfeito Mudança dos advérbios
do indicativo
• pretérito imperfeito
e adjuntos adverbiais:
• presente do indicativo do subjuntivo
• pretérito perfeito • pretérito mais-que- Este, esta e isto no discurso direto passam
do indicativo -perfeito
• imperativo (simples ou composto) para aquele, aquela, aquilo no discurso indireto.
Pronomes demonstrativos Pronomes demonstrativos Amanhã no discurso direto passa para no dia
(maior proximidade) (menor proximidade) seguinte no discurso indireto.
Ontem no discurso direto passa para no dia
Regras para passagem anterior no discurso indireto.
Hoje e agora no discurso direto passam para
do discurso direto para naquele dia e naquele momento no discurso indi-
discurso indireto reto.
Aqui, aí, cá no discurso direto passam para ali
Mudança das pessoas e lá no discurso indireto.

do discurso:
Mudança de
Os pronomes eu, me, mim, comigo no discur- tempos verbais:
so direto passa para ele, ela, se, si, consigo, o, a, lhe
no discurso indireto. Imperativo no discurso direto passa para pre-
Os pronomes meu, meus, minha, minhas, térito imperfeito do subjuntivo no discurso indi-
nosso, nossos, nossa, nossas no discurso direto pas- reto.
sam para seu, seus, sua e suas no discurso indireto. Presente do indicativo no discurso direto passa
Os pronomes nós, nos, conosco no discurso di- para pretérito imperfeito do indicativo no discurso in-
reto passam para eles, elas, os, as, lhes no discurso direto.
indireto. Pretérito perfeito do indicativo no discurso
A 1.ª pessoa no discurso direto passa para a direto passa para pretérito mais-que-perfeito do
3.ª pessoa no discurso indireto. indicativo no discurso indireto.
Futuro do presente do indicativo no discur-
so direto passa para futuro do pretérito do indicati-
vo no discurso indireto.
Presente do subjuntivo no discurso direto
passa para pretérito imperfeito do subjuntivo no
discurso indireto.
Futuro do subjuntivo no discurso direto passa
para pretérito imperfeito do subjuntivo no discurso
indireto.

69
Textos em verso, em prosa e crônicas
Textos em verso
Muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos gêneros literários para construir questões de interpretação
de textos. Ou seja, as questões não abordam necessariamente um conhecimento profundo sobre a obra (seu
enredo), mas exigem do candidato um trabalho mais acurado com as questões estruturais e também com a com-
preensão do conteúdo de algum poema ou trecho de livro. Nessa primeira aula, daremos ênfase às características
dos textos em verso (os poemas).

O poema
O poema é um gênero textual de cunho bastante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias ou
sentimentos, mas que articula combinações de palavras que, na maioria dos casos, constituem sentidos variados.
Essas combinações de palavras costumam ser distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado de vários
elementos que conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, o ritmo (ele-
mentos sonoros), entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de fortes marcas denotativas) muitas
vezes imprime dificuldades de interpretação.

Textos em prosa
Denominamos prosa um texto construído prioritariamente com parágrafos (se escrito em versos, teremos
um texto poético), que apresenta maior extensão que um poema, por exemplo.
§§ Romance: entende-se por romance uma composição textual longa, em prosa, que desenvolve algum tipo
de enredo, linear ou fragmentado, que costuma apresentar volume significativo de informações ao leitor.
Não há regras pré-determinadas para a composição das partes de um romance, mas o final, por exemplo,
costuma ser uma espécie de enfraquecimento dos vários elementos que foram sendo “amarrados” na his-
tória. No romance não costuma haver clímax ao final da narrativa. Na prosa brasileira são conhecidas como
romances obras como Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Vidas secas, Capitães da areia,
Iracema, Til. Ou seja, textos narrativos de maior extensão, com enredo variado, que apresentam algum tipo
de “amarração” em sua estrutura.
§§ Novela: entende-se por novela uma composição textual em prosa de menor extensão do que o romance,
mas costumeiramente maior que um conto. Em relação ao romance, podemos dizer que a novela apresenta
maior economia de recursos narrativos. Já em comparação ao conto, pode-se dizer que a novela possui um
maior desenvolvimento tanto de enredo, quanto de personagens. Dessa maneira, podemos concluir que a
novela seria uma forma intermediária entre o conto e o romance. Em geral, trata-se de uma narrativa em
que as ações giram em torno de um único personagem (o romance costuma apresentar maior número de
tramas e linhas narrativas). Não é um gênero muito praticado entre os prosadores brasileiros, embora tenha-
mos, mais contemporaneamente, grandes obras nesse estilo, como A hora da estrela, de Clarice Lispector;
Um copo de cólera, de Raduan Nassar; ou O invasor, de Marçal Aquino. Na Europa, esse gênero deu origem
a grandes clássicos, como A metamorfose, de Kafka; Morte em Veneza, de Thomas Mann; e A morte de Ivan
Ilitch, de Tolstói.

70
§§ Conto: entende-se por conto uma composição
textual em prosa mais curta que a novela ou o
Crônicas
romance. Por possuir um espaço de desenvol- A crônica é um gênero que transita entre a lite-
vimento menor, o conto costuma apresentar ratura e o jornalismo. É conduzido a partir da observa-
uma estrutura bastante fechada, em que o en- ção subjetiva de fatos cotidianos que são relatados ao
redo se desenvolve com maior velocidade, sem leitor. Há, por parte do cronista, um desejo de oferecer
desdobramento de conflitos secundários (como não apenas um relato de um acontecimento, mas uma
habitualmente acontece com o romance). Ca- reflexão/interpretação sobre o ocorrido. Nesse sentido,
racteriza-se por deixar várias questões a cargo a crônica acaba por revelar ao leitor elementos que es-
da interpretação do leitor, e também por possuir tão por trás das aparências ou que não são percebidos
um clímax mais próximo de seu fim. Trata-se de pelo senso comum. Trata-se de um gênero marcada-
um gênero muito trabalhado por prosadores mente opinativo, em que a subjetividade do escritor
brasileiros, pois seus processos de ficcionalidade vem à tona.
costumam alcançar tanto elementos mais “ma-
teriais”, quanto elementos mais fantasiosos (os
contos fantásticos, por exemplo). Há autores que
desenvolveram a totalidade de suas obras em
contos, como é o caso do escritor Murilo Rubião.
Outros grandes contistas brasileiros são Macha-
do de Assis, Mário de Andrade, Clarice Lispector
e Guimarães Rosa.
§§ Drama: entende-se por drama uma composição
textual em prosa que realiza uma figuração/re-
presentação de ações ou histórias. Habitualmen-
te, são textos para serem encenados em peças
(no teatro). Sua estrutura pode ser dividida em
capítulos denominados “atos” (1º ato, 2º ato
etc.), e apresenta dimensões variadas, que levam
em conta o tempo de apresentação da obra ao
público. Muito se discute a respeito das diferen-
ças que podem existir entre o texto dramático
escrito e aquilo que é representado em um palco.
A ideia geral seria que se seguisse o mais fiel-
mente possível o texto que foi produzido pelo
autor, no entanto, os diretores de peças têm a
liberdade de realizar modificações variadas no
enredo ou nas composições cenográficas. Não é
dos gêneros mais trabalhados pelos prosadores
brasileiros, embora existam produções de grande
qualidade que se tornaram famosas por virarem
filmes. É o caso das peças Lisbela e o prisionei-
ro, de Osman Lins, O auto da compadecida, de
Ariano Suassuna, ou Eles não usam black-tie, de
Gianfrancesco Guarnieri.

71
Leitura de imagens
Quadrinho e tirinhas
As histórias em quadrinhos são um conjunto narrativo (entendido como uma forma de arte sequencial grá-
fica) que mescla linguagem verbal (texto) e linguagem não verbal (imagem). É um gênero bastante popular entre
crianças e adolescentes, e tem se tornado cada vez mais popular também entre os adultos, especialmente pela
capacidade que as histórias possuem de representar uma quantidade significativa de situações sociais.
As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras veiculadas
em revistas e jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem
grande espaço), o tipo mais comum de quadrinho que encontramos são as “tiras”.

As tiras
São entendidas como tiras os segmentos de história em quadrinhos publicados em jornais ou revistas num
curto espaço de página, habitualmente na horizontal (atualmente, há também formatos verticais ou com duas ou
mais tiras). É um gênero textual que surgiu nos Estados Unidos para dar conta da falta de espaço que havia nos
jornais para a publicação de cruzadas e outros passatempos. O nome "tira” (ou “tirinha", como a conhecemos no
Brasil) remete ao formato do texto, que parece um "recorte" horizontal de jornal.
Trata-se de um gênero textual que mais comumente apresenta temática humorística, mas também encon-
traremos (especialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem
reflexões existenciais). Vejamos alguns exemplos:

(Tirinha de humor – “Níquel Náusea” de Fernando Gonsales)

Mais recentemente, as tiras (e os quadrinhos como um todo) têm sido objeto de inúmeras pesquisas sobre
comunicação em cursos de graduação e pós-graduação. Encontram-se com facilidade artigos e outras publicações
destinados aos estudos deste gênero. Por esse motivo, os quadrinhos tem sido muito explorados no vestibular.

Charges e cartuns
Charges e cartuns são elementos comunicativos que se assemelham aos quadrinhos por trabalharem com
os campos de comunicação verbal (texto) e não verbal (imagem), mas, ao mesmo tempo, se diferenciam por não
constituírem um processo narrativo. Tanto a charge, quanto o cartum, focalizam situações de comunicação especí-
ficas, geralmente focalizadas em um único quadro.

72
A charge atemporais, que seriam reconhecidas por qualquer pes-
soa, independentemente do contexto abordado.
Charge é um termo de origem francesa que sig- Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhan-
nifica “carga”. Recebe esse nome por conta da “carga” do com as linguagens verbal e não verbal, não depende
satírica que sua informação comporta. A função da de conhecimento de mundo mais específico, pois abor-
charge é relatar costumes humanos, satirizando da situações mais amplas. Vejamos alguns exemplos:
situações que são parte de um contexto cultural,
político, econômico e social bastante específico.
Por essa razão, para que consigamos entender a charge,
é necessário que conheçamos os “alvos” que elas pro-
curam atingir; em geral, pessoas ligadas à vida pública,
como políticos, artistas, atletas, entre outros.
(Novamente um trabalho de Laerte. É possível notar que o tema do car-
O fato de a charge tratar de contextos muito espe- tum tem caráter mais universal. Neste caso, percebemos um processo de
cíficos faz com que ela possua um caráter mais perecível, proletarização por conta da redução contínua de salários, algo que pode
acontecer em qualquer lugar do mundo, a qualquer tempo.)
pois, fora de seu contexto de origem, ela provavelmen-
te perderá parte de força comunicativa; no entanto, por
conta mesmo da relação contextual, funciona como um Imagens
valoroso elemento de registro histórico.
Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhan- Podemos entender por imagem qualquer tenta-
do com as linguagens verbal e não verbal, precisa estar tiva de representação, reprodução ou imitação da for-
em consonância com os conhecimentos de mundo do ma de uma pessoa ou de um objeto, cujo objetivo é
interlocutor, uma vez que o entendimento da mensa- comunicar algo a partir de alguma intencionalidade. É
gem só será efetivado se houver compreensão de con- um processo que pode ser prioritariamente visual, ou
textos determinados. pode também mesclar linguagem verbal e não verbal.
O conceito de imagem abarca todo e qualquer objeto
que possa ser percebido, tanto visualmente, quanto es-
teticamente.
Historicamente, tivemos duas fortes teorias filo-
sóficas que tentaram dar conta da “ideia” de imagem.
A primeira foi concebida por Platão, que considerava a
imagem, como sendo uma projeção que aparecia em
(Charge de Laerte Coutinho cuja compreensão depende de conhecimento nossa mente. Mais adiante, Aristóteles considerou a
histórico sobre os processos de colonização em território brasileiro.)
imagem como sendo um movimento de aquisição pe-
los sentidos, a representação mental de um objeto real.
O cartum Embora seja uma controvérsia bastante antiga, ela dura
até os dias de hoje, com acepções positivas, pois con-
O cartum é conhecido por ser uma espécie de tribui para um entendimento mais amplo e preciso de
anedota gráfica, que, assim como a charge, mescla lin- um conceito que envolve domínios ligados à arte, ao
guagem verbal e não verbal para atingir seus objetivos. registro fotográfico, à pintura, ao desenho, à gravura ou
A diferença crucial entre a charge e o cartum reside no qualquer outra forma visual de expressão da ideia (pro-
fato de que sua finalidade discursiva é a de satirizar pagandas, placas, infográficos, entre outros elementos).
costumes humanos, valendo-se de personagens No momento contemporâneo, há um grande vo-
que representam pessoas comuns, sem que haja lume de imagens circulando em nossa sociedade, que
a preocupação com um contexto específico, atu- chegam até nossos olhos por meio de diversos estímu-
al ou momentâneo. los visuais: anúncios publicitários, cartazes, ou qualquer
Em relação à charge, pode-se dizer que o cartum outro material impresso; os memes de internet, trans-
missões televisivas, obras artísticas, imagens arquitetô-
tem um caráter mais universal, pois aborda situações
nicas, e até mesmo representações sagradas.

73
Linguagem visual e seus
processos de análise
Realizar a análise de um estímulo visual requer
bastante atenção ao seu conjunto. Se na análise discur-
siva precisamos estar atentos a outros fatores para além
do texto, como quem é o autor, o gênero selecionado,
a data da publicação ou o período em que um trabalho
foi realizado; para a análise visual devemos, também,
considerar tudo que compõe a imagem: se o tipo de tra-
ço remete a algum período, se é colorida ou em preto e
branco, se sua composição é simples ou mais complexa,
suas marcas de autoria, entre outros fatores.

74
0 2 Redação

U.T.I.
© Pexels/Pixabay.com

L C
ENTRE FRASES
Acervo
Charlatanismo religioso tecostal Peter Popoff, alemão que emigrou para os EUA
O Código Penal determina, em seu art. 171, que e lá fez fama por sua capacidade aparentemente mila-
é crime obter vantagem ilícita, em detrimento alheio, grosa para falar com Deus. Em seu programa semanal
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante ar- de televisão na década de 1980, ele indicava os en-
tifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, o que dereços e as doenças de pessoas no público presente
configura a figura do estelionato. O art. 283 informa e, em seguida, "curava-os". Segundo denúncias, Popoff
que é crime “inculcar ou anunciar cura por meio secreto faturava cerca de quatro milhões de dólares por ano ao
ou infalível”, na qual configurará charlatanismo quan- longo da década de 1980. Em 1987, descobriram que
do alguém anuncia que sabe curar doença da pessoa Popoff usava um fone de ouvido no palco e sua esposa
através de um método completamente secreto e que transmitia as informações sobre os membros da audiên-
não revelará ao público, além de vender produtos mi- cia desavisados, que ela recolhia antes da apresentação
lagrosos, mesmo não os sendo, cobrar dízimo em troca do marido para as alegadas "curas".
de espaço no céu, dentre outros – ludibriando, pois, os Agora surge o escândalo do nosso João de Deus.
adquirentes. Independentemente das acusações sobre abusos se-
Provavelmente estes artigos do Código Penal xuais, há muito a ser esclarecido. Como ele conseguiu
surgiram a partir da ação de religiosos (ou pseudo-reli-
seu patrimônio constituído de fazendas e de pelo me-
giosos) que se aproveitam da credulidade, do desespero
nos R$35 milhões em caixa, que ele movimentou antes
e da massificação de informações emanadas por admi-
de receber ordem de prisão? E sobre as denúncias de
radores (ou seus asseclas), induzindo grandes massas
comerciantes da cidade de Abadiania que alegam só
de pessoas a buscarem suas curas, deixando doações e
poder vender produtos se previamente autorizados pelo
comprando produtos alegadamente milagrosos.
medium? Ou sobre a venda de produtos "milagrosos"
Um caso intrigante foi o do americano Jim Jones
na área do seu templo? Qual o verdadeiro papel repre-
que resolveu fundar nos EUA, em 1954, a sua própria
sentado pelos fiéis seguidores/guarda-costas que o pro-
igreja chamada de “O Templo dos Povos” Em 1963,
tegem, acompanham e, segundo testemunhas, sabem
mudou-se para o Brasil onde tentou expandir a seita,
exatamente do ocorrido no quarto onde as mulheres e
sem sucesso. Retornando aos Estados Unidos, construiu
adolescentes sofriam abusos?
um templo para “salvar” seus fiéis seguidores da guerra
https://d.blogs.odiario.com/bahr-baridades/735821/
nuclear. Em seguida, construiu a Jonestown, na Guiana charlatanismo-religioso (17.08.2018)
Inglesa, onde pregava a ideia de que ele e seus seguido-
res iriam morrer juntos e se mudar para uma vida mais
feliz em outro planeta. Ao surgirem diversas acusações
contra Jones de fraudes, ameaças físicas, tortura psico-
lógica e sequestros de crianças, o governo americano
enviou um congressista e alguns repórteres da NBC
para investigar o local, que foram hostilizados devido
a um desentendimento sobre desertores da seita. Na
confusão, eles foram alvejados por tiros antes que pu-
dessem partir de volta aos Estados Unidos, e o congres-
sista junto com os repórteres foram mortos. Jim Jones
ordenou então que seus seguidores se envenenassem,
o que causou o suicídio coletivo de mais de 900 pessoas
em Jonestown.
Outro caso emblemático foi o do pregador pen-

85
Falsos profetas: relembre líderes nua encontrada na casa de um padre e coleção de por-
espirituais metidos em escândalos nografia infantil, entre outros relatos.
Abuso sexual, pedofilia e corrupção são alguns A partir da revelação dos episódios ocorridos nos
dos crimes dos quais são acusados “homens sagrados” Estados Unidos, surgiram pelo globo incontáveis acusa-
que teriam se aproveitado da fé alheia ções de práticas de abuso sexual cometidas por sacer-
A série de polêmicas recentes envolvendo o mé- dotes católicos. Em consequência dos escândalos, neste
dium João de Deus – acusado de centenas de abusos ano, 34 bispos chilenos chegaram a pedir renúncia ao
sexuais a mulheres que buscavam atendimento no cen- papa Francisco. Em várias ocasiões, o líder supremo do
tro espírita mantido por ele, a cerca de 100km da capi- catolicismo “implorou”aos fiéis por perdão pelos casos
tal federal – não é, infelizmente, um caso isolado. Ou- de abuso e chegou a admitir um “fracasso da Igreja”
tros líderes espirituais e religiosos já se viram envolvidos contra esses crimes.
em escândalos de toda ordem, desde supostos gurus a
padres e pastores. Todos tiveram de responder por seus Corrupção
crimes perante a justiça dos homens. Ainda há quem pense que a proximidade de líde-
Como esquecer, por exemplo, os casos de pedo- res religiosos com o “sagrado” os torna puros e impe-
filia revelados pelo jornal Washington Post envolvendo cáveis. No entanto, esse argumento tem sido quebrado
a Igreja Católica nos Estados Unidos? Ou o guru espiri- pelos próprios “homens de fé”. Crimes como corrupção,
tual Sri Prem Baba (foto em destaque), de 59 anos, que lavagem de dinheiro e caixa 2 deixaram de fazer parte
foi acusado de abuso sexual? De acordo com relatos de apenas do mundo político e foram integrados aos hábi-
duas seguidoras do seu grupo – as quais passavam por tos de religiosos brasileiros – que movimentam grandes
dificuldades no casamento –, Prem Baba teria utilizado quantias de dinheiro vindas dos dízimos e doações de
sua posição para manter relações sexuais com elas. Ele fiéis.
negou os abusos, alegando que as denúncias eram re- Em 2007, a Igreja Apostólica Renascer em Cris-
sultado de “relações amorosas que chegaram ao fim”. to foi alvo de um escândalo internacional. Os bispos
Estevâm e Sônia Hernandes foram presos pela Polícia
Abuso, pedofilia e a Igreja Católica Federal dos Estados Unidos (o FBI) em Miami, enquanto
Crimes sexuais não são um fato isolado da reli- embarcavam para São Paulo (SP). Os dois foram pegos
gião espírita. A Igreja Católica teve o nome manchado com US$ 56 mil em dinheiro vivo. Eles declararam às
por episódios do gênero. Histórias assustadoras foram autoridades alfandegárias que traziam US$ 10 mil – o
divulgadas pela mídia internacional, como em uma re- limite imposto pela lei norte-americana.
portagem do jornal The Boston Globe. De acordo com a Na época, o Ministério Público Federal chegou
denúncia, padres cometeram abuso sexual contra cen- a pedir o bloqueio dos bens da Igreja Renascer e do
tenas de menores nos Estados Unidos. casal, entendendo que a comunidade se comportava
Os relatos são de mais de 1 mil crianças que te- como uma organização criminosa envolvida em práti-
riam sido abusadas sexualmente ao longo de 70 anos cas de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade
por cerca de 300 padres de seis dioceses da Pensilvânia, ideológica e estelionato. A Justiça brasileira decretou a
nos EUA. Segundo o relatório da Suprema Corte estadu- prisão dos religiosos, mas eles conseguiram um habeas
nidense, os atos aconteciam enquanto líderes religiosos corpus que garantiu, inclusive, o direito de embarcarem
acobertavam os abusos. de volta aos Estados Unidos.
O caso teve grande repercussão e chegou a virar
um filme, intitulado Spotlight. As histórias desmembra- Crimes na capital
das se parecem mais com contos de terror: pedofilia A prisão de bispos e padres em Planaltina de
disfarçada de “exame de câncer”; padres que recorriam Goiás, cidade no Entorno do Distrito Federal, causou
aos superiores afirmando terem abusado de crianças e surpresa aos fiéis da Igreja Nossa Senhora Imaculada
eram “perdoados” ao confessarem os atos; gravidezes Conceição. Durante a Operação Caifás foram encontra-
após as relações sexuais com os párocos; uma menor dos R$ 70 mil no fundo falso de um armário na casa

86
do monsenhor Epitácio Cardozo Pereira. O dinheiro, de O advogado criminalista Euro Bento levantou al-
acordo com os investigadores, teria sido desviado de gumas questões sobre a legalidade do que ocorre no lar
dízimos pagos por fiéis da Igreja Católica. de Inri Cristo. “Seria preciso um inquérito policial para
Dom José Ronaldo Ribeiro, bispo de Formosa avaliar até que ponto essas mulheres são livres e se ele
(GO) preso pela força-tarefa, é cidadão honorário de engana as pessoas que doam dinheiro com promessas
Brasília. Ele recebeu o título da Câmara Legislativa em de cura ou de salvação – isso seria charlatanismo, e há
2002, por seu trabalho como pároco na cidade de So- pena prevista em lei”, afirmou.
bradinho (DF). O religioso também recebeu o prêmio de
amigo da Academia Nacional de Polícia, do Departa- Osho, o guru do politi-
mento de Polícia Federal, em 2005. camente incorreto
Segundo investigações do Ministério Público de Bhagwan Shree Rajneesh, conhecido como Osho,
Goiás (MPGO), dom José Ronaldo fazia parte de uma foi um guru indiano. Durante sua vida, ele foi visto como
associação criminosa que atuava desviando recursos um místico e polêmico líder religioso. No final dos anos
de igrejas católicas do Entorno do DF, inclusive nos 1970 e início da década de 1980, havia tomado as
municípios goianos de Formosa e Planaltina de Goiás. manchetes de jornais e revistas internacionais com sua
O prejuízo estimado foi de mais de R$ 2 milhões. Os doutrina, que misturava elementos das principais reli-
fundos teriam sido utilizados, conforme apontam inter- giões orientais, do misticismo e da filosofia ocidental,
ceptações telefônicas, na compra de fazenda de gado e técnicas de psicoterapia e meditação.
casas lotéricas. Tudo para fins particulares. Em seus discursos, fazia piadas sobre o papa
O pastor da Casa da Bênção e ex-deputado dis- católico e sobre Mahatma Gandhi, além de defender
trital, Júnior Brunelli, foi protagonista de um vídeo icô- a liberdade sexual. Era conhecido por colecionar carros
nico conhecido como “Oração da Propina” – revelado Rolls-Royce, relógios caros e joias.
na Operação Caixa de Pandora. Ele virou réu na inves- Mesmo com as polêmicas que envolviam o seu
tigação sobre desvios milionários durante a gestão do nome, Osho reuniu muitos discípulos. Seus seguidores o
ex-governador do DF José Roberto Arruda (PR). No en- apresentavam como um grande contestador e liberta-
tanto, Brunelli foi preso por outro motivo: ficou 10 dias dor. Seu ensinamento enfatizava a busca de liberdade
na cadeia, em 2012, pela Operação Hofini, suspeito de pessoal e apresentava uma atitude mordaz em relação
ter desviado R$ 1,7 milhão em emendas parlamentares à tradição e à autoridade estabelecida.
destinadas a idosos da Associação de Assistência Social Segundo relatos dos próprios seguidores, Osho
Monte das Oliveiras (AMO). sempre foi uma figura polêmica. Em boa parte, por-
que raramente procurava apaziguar ou evitar conflitos.
O curioso caso de Inri Cristo Membros do seu grupo chegaram a ser acusados de,
Mesmo não se tratando de um crime propria- deliberadamente, causar uma intoxicação com salmo-
mente dito, a história curiosa de Inri Cristo e suas segui- nela na comunidade de Condado de Wasco, no Oregon
doras chama atenção. Ele é famoso, não recusa convites (EUA), após alegadas tentativas para obter vantagens
para aparecer em público e se cerca de mulheres que nas eleições locais.
largaram tudo para servi-lo. Vestindo uma túnica branca Nos Estados Unidos, ele respondeu por 35 acu-
com uma coroa de espinhos, apresenta-se como a reen- sações e foi condenado a 10 anos de prisão com sursis
carnação de Jesus Cristo. – dispensa do cumprimento da pena.
https://www.metropoles.com/brasil/falsos-profetas-lideres-
A forma como o líder religioso controla suas religiosos-envolvidos-em-escandalos-criminais (15.12.2018)
seguidoras é peculiar: Inri diz como elas devem se ali-
mentar, vestir, agir, pensar e até a maneira de se limpar
depois de ir ao banheiro – o uso de papel higiênico na
casa mantida pelo guru é vetado, devendo-se utilizar
apenas água purificada após idas ao sanitário. As segui-
doras dividem casa com ele, no Gama (DF).

87
Proposta A investigação da Delegacia de Crimes contra
a Economia e Proteção ao Consumidor (De-
con) aponta a participação de pastores evan-
TEXTO I gélicos no golpe. Os suspeitos frequentavam
cultos e encontros cristãos para conquistar a
confiança de fiéis e ofertar viagens que aca-
bavam não acontecendo. A divulgação dos
pacotes de viagem também eram feitos nas
redes sociais e propagandas na televisão.

O grupo montou diversas empresas em no-


mes de laranja para lesar os fiéis. O cabeça
do grupo criminoso já havia sido preso em
2015 por aplicar o mesmo golpe.
https://www.gazetadopovo.com.br/curitiba/
operacao-policial-mira-pastores-que-vendiam-
pacotes-falsos-de-viagem/ (19.06.2019)

TEXTO III

Um grupo de voluntários, comerciantes e


frequentadores da Casa Dom Inácio de Loyo-
la realiza nesta quinta-feira (13) uma mani-
festação em apoio ao médium João de Deus e
Induzir alguém ao erro e obter vantagem à instituição criada por ele em Abadiânia, no
sobre a situação é crime, de acordo com o interior de Goiás, para funcionar como uma
artigo 171 do Código Penal Brasileiro. espécie de hospital espiritual. O grupo car-
rega cartazes com dizeres como "Unidos pela
Nesse contexto, a 15ª Câmara de Direito Cri- casa", "Médium João estamos com você" e
minal do Tribunal de Justiça de São Paulo "Gratidão".
manteve a condenação de homem que se No dia 08/12/2018, 13 mulheres relataram
passou por curandeiro e enganou uma se- terem sido vítimas de abuso sexual durante
nhora ao dizer que seus problemas de saú- atendimentos individuais feitos pelo mé-
de seriam curados. O estelionatário cobrou dium na Casa Dom Inácio. Desde então, de-
grande quantia em dinheiro e vaticinou que, zenas de outras mulheres passaram a fazer
caso a entrega não fosse concluída, a vítima relatos semelhantes. A situação levou o Mi-
faleceria em poucos dias. nistério Público de Goiás a criar uma força-
https://www.facebook.com/cnj.oficial/photos/a.191159914 -tarefa para receber as denúncias de abuso e
290110/2801311609941581/?type=3&theater (23.05.2019) investigar os casos.
Nesta quarta (12), o Ministério Público pro-
tocolou na Justiça um pedido de prisão pre-
TEXTO II ventiva de João de Deus. O pedido ocorre
poucas horas ele visitar a casa e manifestar
Um grupo que vendia pacotes de viagens o desejo à equipe de retomar os atendimen-
para fiéis que queriam viajar ao Oriente tos no local.
Médio para conhecer a Terra Santa – região Questionados se o protesto ocorria em de-
entre Israel, Cisjordânia e Jordânia – é alvo fesa do médium, alguns participantes ti-
de operação policial nesta quarta-feira (19) tubeavam e contestavam: "É em defesa da
em diversos bairros de Curitiba e Sarandi, no Casa Dom Inácio". Outros, porém, diziam pa-
Noroeste do Estado. O prejuízo pode chegar a lavras de apoio a João de Deus. "Queremos
R$ 4 milhões. Entre os suspeitos, estão pas- justiça!", gritou Jacilda Soares, que afirma
tores de igrejas evangélicas. atuar como guia na casa desde a década de
1980. "Sou uma mulher assim como outras
Além da Polícia Civil do Paraná, também par- aqui que recebeu só amor do médium João",
ticipam da operação as polícias de São Paulo afirma. "Essa casa é de cura, é um gran-
e Santa Catarina. Os mandados também são de pronto-socorro espiritual. Estamos todos
cumpridos no estado de São Paulo, na capital unidos pelo médium João", disse a médium
e Piracicaba. Além do Paraná, as vítimas são Elisângela Paranhos.
de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Roraima https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/12/
e Pará. fieis-fazem-ato-em-apoio-joao-de-deus-medium-
acusado-de-abuso-sexual.shtml (12.12.2019)

88
TEXTO IV

A venda de artefatos religiosos configura-


ria, a princípio, liberdade religiosa, pois,
por mais que não haja efeito médico algum,
pode haver efeitos religiosos na pessoa, que
acredita sinceramente que aquele artefato
é milagroso por dádiva divina. Outrossim,
pode a pessoa acreditar que doando o seu
dinheiro à Igreja estará fazendo um bem,
tendo, pois, um lugar no céu após a morte.

No entanto, o caso também pode ser enten-


dido como estelionato, já que há o princípio
de “obter vantagem ilícita, em detrimento
alheio, induzindo ou mantendo alguém em
erro, mediante artifício, ardil ou qualquer
outro meio fraudulento”. Assim, qual prin-
cípio deveria prevalecer – e, portanto, ser
aplicado – neste caso? A proteção ao patri-
mônio particular (a qual o estelionato viola)
e à saúde pública (a qual o charlatanismo
viola)? Ou a liberdade religiosa?
Ainda que haja todo um conceito religioso
à frente da venda dos artefatos milagrosos,
de preces em troca de dízimo, dentre outros,
por trás há a intenção líderes religiosos em
se beneficiarem das vendas para auferirem
generosos lucros. Há vários e vários líderes
extremamente ricos, com dinheiros recebi-
dos pelos fiéis em troca de graças, artefatos
milagrosos, dentre outros. Isso é ludibriar o
outro.
https://canalcienciascriminais.com.br/
estelionato-religioso/ (24.09.2015)

A partir da leitura dos textos motivadores


seguintes e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redi-
ja um texto dissertativo-argumentativo em
modalidade escrita formal da língua portu-
guesa sobre o tema O PROBLEMA DO ABUSO
DA FÉ RELIGIOSA NO BRASIL, apresentando
proposta de intervenção que respeite os di-
reitos humanos. Selecione, organize e rela-
cione, de forma coerente e coesa, argumen-
tos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

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