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Folha de rosto
A Contrarrevoluçã o Cristero. Duas visõ es de mundo con litantes
Prefá cio
Introduçã o
Primeira Parte | O pano de fundo de duas visõ es de mundo con litantes
Capı́tulo I | Antecedentes de uma revoluçã o contra o povo
Capı́tulo II | A atitude da hierarquia eclesiá stica
Parte Dois | A atitude de um povo contra-revolucioná rio
Capı́tulo III | Organizaçõ es Cató licas Nã o Eclesiá sticas | na luta contra-
revolucioná ria
Capı́tulo IV | uma revolta popular
Capı́tulo V | A moral de um povo em armas
Capı́tulo VI | Devido desobediê ncia: | justi icaçã o doutriná ria da revolta
cristero
Parte Trê s | A guerra: protagonistas e consequê ncias
Capı́tulo VII | Os anos de guerra
Capı́tulo VIII | Maçonaria na Cristiada
Capı́tulo IX | ó dio religioso
Capı́tulo X | O sangue de um povo: para a Igreja e para o Mé xico
Capı́tulo XI | Os arranjos
CONCLUSAO
Apê ndice I
Abreviaçõ es e Acrô nimos
Bibliogra ia[*]
Sobre o autor
A Contrarrevolução Cristero (México, 1926-1929):
Duas visõ es de mundo con litantes
Tabela de conteúdos
Folha de rosto
A Contrarrevoluçã o Cristero. Duas visõ es de mundo con litantes
Prefá cio
Introduçã o
Primeira Parte | O pano de fundo de duas visõ es de mundo
con litantes
Capı́tulo I | Antecedentes de uma revoluçã o contra o povo
Capı́tulo II | A atitude da hierarquia eclesiá stica
Parte Dois | A atitude de um povo contra-revolucioná rio
Capı́tulo III | Organizaçõ es Cató licas Nã o Eclesiá sticas | na luta
contra-revolucioná ria
Capı́tulo IV | uma revolta popular
Capı́tulo V | A moral de um povo em armas
Capı́tulo VI | Devido desobediê ncia: | justi icaçã o doutriná ria da
revolta cristero
Parte Trê s | A guerra: protagonistas e consequê ncias
Capı́tulo VII | Os anos de guerra
Capı́tulo VIII | Maçonaria na Cristiada
Capı́tulo IX | ó dio religioso
Capı́tulo X | O sangue de um povo: para a Igreja e para o Mé xico
Capı́tulo XI | Os arranjos
CONCLUSAO
Apê ndice I
Abreviaçõ es e Acrô nimos
Bibliogra ia[*]
Sobre o autor
Dr. Javier P. Olivera Ravasi
bons ares
2016
Ediçõ es Katejon
Prefácio
Estou verdadeiramente satisfeito com a oportunidade que me foi
oferecida de colocar algumas linhas antes deste excelente estudo sobre
os feitos dos Cristeros, um dos episó dios mais gloriosos da Igreja do
sé culo XX . Vamos nos limitar nestas pá ginas a destacar as principais
realizaçõ es do autor.
Em primeiro lugar, valorizamos a excelente aná lise que ele nos
oferece quando trata dos remotos prolegô menos da escritura.
Debruça-se especialmente sobre o conturbado desenvolvimento do
sé culo XX , destacando a igura paradigmá tica de Iturbide, que hasteou a
bandeira do cristianismo na sua pá tria, em continuidade com o projeto
de Espanha missioná ria, bem como mantendo o respeito com que o
ı́ndio foi tratados pelos conquistadores e primeiros colonizadores da
pá tria em nossas terras. Propó sitos que o grande caudilho deixou
encarnado nas cores da bandeira do Mé xico independente. Pouco
depois, Juá rez chegou ao poder, com a consequente "vingança" do
mundanismo, a constituiçã o liberal de meados do sé culo e a
persistente tentativa de secularizaçã o do paı́s. Aqui já traçamos as duas
linhas que se cruzam tragicamente na histó ria do Mé xico, a linha
vertical da tradiçã o hispano-cató lica e a linha horizontal da
modernidade, ou seja, da grande revoluçã o anticristã dos ú ltimos
sé culos. Difı́cil cruzamento, diga-se de passagem, mas ao mesmo
tempo gloriosa expressã o do combate profundo que emoldura o tempo
da Cristiada. Sem esse pano de fundo, essa façanha nã o seria inteligı́vel.
Alé m das interpretaçõ es meramente econô micas ou polı́ticas, o
padre Javier Olivera Ravasi enquadra essa luta no contexto da grande
visã o agostiniana da histó ria. «Dois amores fundaram duas cidades -
disse aquele Padre da Igreja e grande teó logo da histó ria-: o amor de
Deus até o desprezo de si mesmo, a Cidade de Deus, e a exaltaçã o do
homem até o desprezo de Deus, a cidade do mundo". Ou seja, o
acontecimento histó rico, para que possa ser plenamente
compreendido, deve ser considerado a partir dos olhos de Deus e do
grande plano divino de redençã o da humanidade pelo sangue de Cristo.
Eram duas visõ es de mundo que se enfrentaram ao longo dos sé culos.
No sé culo 20, a facçã o da "modernidade" adquiriu um poder especial.
Exclusivo de Deus, inimigo da realeza de Cristo.
Anacleto Gonzá lez Flores, o grande má rtir do feito Cristero, foi no
Mé xico o melhor professor da verdadeira e profunda interpretaçã o da
histó ria, da teologia da histó ria. Ele soube reunir ao seu redor
numerosos jovens, fazendo-os compreender que o combate em que
estavam engajados nã o era redutı́vel a uma luta ocasional e acidental,
mas sim mais um capı́tulo no confronto secular de duas visõ es de
mundo radicalmente antagô nicas. Explicou-lhes que o Mé xico e, mais
geralmente, a Amé rica Latina, era o herdeiro da Espanha imperial. A
vocaçã o da Espanha, deixou dito em um de seus escritos, teve uma
origem gloriosa: os oito sé culos de existê ncia, espada na mã o,
rompendo as falanges de Maomé . Continuou com Carlos V, sendo a
vanguarda contra Lutero e os prı́ncipes que apoiavam as ideias novas e
dissolventes. Em Filipe II ele incorporou seu ideal de justiça. E entã o,
nas provı́ncias latino-americanas, foi uma força que gerou povos.
Sempre em continuidade com aquele dia em que Pelayo fez ouvir o
primeiro grito de reconquista: «A nossa vocaçã o, tradicionalmente,
histó rica, espiritual, religiosa e politicamente, é a vocaçã o da Espanha.
E em seguir o caminho aberto da vocaçã o da Espanha, está o segredo
de nossa força, de nossas vitó rias, de nossa prosperidade como povo e
como raça. Junto com a Espanha — continua Anacleto — a Igreja
Cató lica, que abençoou as pedras com as quais cimentou nossa
nacionalidade, entrou em nossa terra. Ela acendeu a tocha do
Evangelho na alma escura do ı́ndio. Ela colocou nos lá bios dos
conquistadores as fó rmulas de uma nova civilizaçã o. Ela esteve
presente em escolas, faculdades, universidades, para dizer sua palavra
do alto da cadeira. Ela esteve presente em todos os momentos da nossa
vida: nascimento, estudo, juventude, amor, casamento, velhice,
cemité rio».
«Com a concretizaçã o do projeto glorioso do hispâ nico -continuava
'el maistro', como o chamavam- surge no horizonte o espectro do anti-
catolicismo e do anti-hispanismo. E o grande movimento subversivo da
modernidade, encarnado em trê s inimigos: a Revoluçã o, o
Protestantismo e a Maçonaria. O primeiro adversá rio é a Revoluçã o,
que no Mé xico moderno encontrou uma realizaçã o aterrorizante na
Constituiçã o de 1917, a de Queré taro, uma tentativa nefasta de
desalojar a Igreja de suas conquistas gloriosas e seculares. Diante
dessas nú pcias entre a Espanha e nossa terra virgem, a Revoluçã o quis
celebrar novas nú pcias, claro que à noite, nas misteriosas sombras do
erro e do mal. As ideias novas e dissolventes entraram no corpo da
Pá tria Mexicana, como uma mistura amaldiçoada, uma epidemia que
penetra até na carne e nos ossos do paı́s, criando geraçõ es de cegos,
paralisados e mudos de espı́rito.
No Mé xico, eles partiram para desestabilizar a herança. Anacleto o
expressa de forma luminosa: «O revolucioná rio nã o tem casa, nem de
pedra nem de espı́rito. A sua casa é uma quimera que terá de ser
construı́da com o desmoronamento de tudo o que existe. Por isso jurou
demolir a nossa casa”, aquela casa onde, durante trê s sé culos,
missioná rios, conquistadores e mestres suaram e sangraram para
construir alicerces e telhados. E entã o elaboraram a planta de outra
casa, a do futuro. “Até agora nã o conseguiram demolir completamente a
casa que construı́mos nestes trê s sé culos. Se nã o conseguiram, é porque
ainda há forças que resistem, porque Ripalda, o velho e desgastado
[catecismo de] Ripalda, como o atlas da mitologia, manté m as colunas
da autoridade, da propriedade, da famı́lia. Persistem em invadir nossa
casa, com suas bandeiras polı́ticas: templos, casas, escolas, o icinas,
consciê ncias, lı́ngua, tudo. Eles sã o invasores; sã o intrusos. Até agora,
eles nã o conseguiram nada alé m de destruiçã o. Parecem incapazes de
construir.
Junto com a devastadora Revoluçã o, Anacleto denuncia o arı́ete do
protestantismo, que chega ao Mé xico principalmente por in luê ncia dos
Estados Unidos. Gonzá lez Flores traz à tona o que o velho Roosevelt
disse quando lhe perguntaram se a absorçã o dos povos hispano-
americanos pelos Estados Unidos ocorreria em breve: "Acho que vai
demorar [a absorçã o] enquanto esses paı́ses forem cató licos". O velho
embate entre Filipe II e Elizabeth da Inglaterra agora se renovava entre
o Mé xico tradicional e as forças do protestantismo que tentavam
penetrar em todos os lugares, atingindo assim o coraçã o das multidõ es
para apoderar-se da juventude e invadir tudo.
O terceiro inimigo é a Maçonaria, que levanta a bandeira da rebeliã o
contra Deus e contra sua Igreja. Anacleto a vê encarnada sobretudo na
ideologia da Revoluçã o Francesa, mã e da democracia liberal, que em
grande parte chegou ao Mé xico també m por intermé dio dos Estados
Unidos. Sua grande mentira, sufrá gio universal. Qualquer homem tirado
da massa informe é entendido como capaz de tomar em suas mã os a
direçã o suprema do paı́s, pode ser ministro, deputado ou presidente.
Ao mesmo tempo, nã o se promovem as vocaçõ es pessoais, nem se
recompensa o trabalho individual e tenaz. "Nossa democracia", diz ele,
"foi uma via crucis sem im, cuja pior parte recaiu sobre o povo dito
soberano: primeiro eles foram proclamados reis, depois foram
coroados de espinhos, um cetro de cana foi colocado em suas mã os ,
estavam ele vestido de trapos e, já nu, cobriu-o de cuspe».
A democracia moderna, continua explicando Anacleto, baseia-se em
um slogan mentiroso, o da igualdade absoluta. «Jogaram-se nos braços
do nú mero, dos seus resultados rigorosamente matemá ticos, e
esperaram calmamente pelo reaparecimento da idade de ouro. A sua
democracia acabou por ser uma má quina de contagem». Os defensores
deste sistema consideram a humanidade como uma imensa massa de
iguras onde cada homem vale nã o pelo que é , mas por constituir uma
unidade, por ser um. "E se essa democracia nã o precisa de sá bios ou
poetas, també m nã o precisa de heró is ou santos." Por que se esforçar,
por que se sacri icar para melhorar se no pâ ntano, sob o pâ ntano, a
vida é uma má quina de contar e cada homem vale tanto quanto os
outros? E assim houve um colapso geral, uma descida devastadora e
vertiginosa; todos nó s descemos, tudo desceu. "Nó s rastejamos sob o
fardo de nossa terrı́vel misé ria, de nosso empobrecimento avassalador."
Tais eram, na opiniã o de Anacleto, os trê s grandes promotores da
polı́tica anticristã e antimexicana: a revoluçã o, o protestantismo e a
maçonaria. «A revoluçã o -escreve-, que é iel aliada tanto do
protestantismo como da maçonaria, continua uma marcha tenaz para a
demoliçã o do catolicismo e bate o pensamento dos cató licos na
imprensa, na escola, nas ruas, nas praças . , nos parlamentos, nas leis:
em todos os lugares. Estamos na presença de uma conspiraçã o contra
os princı́pios sagrados da Igreja».
O padre Javier Olivera Ravasi expande essas questõ es em seu livro.
Destaquemos a aná lise instrutiva que nos oferece sobre a Maçonaria
no sé culo XIX e primeiras dé cadas do sé culo XX , com especial atençã o aos
seus vá rios grupos e obediê ncias. A isso també m se poderia
acrescentar, nã o apenas a ideologia da Revoluçã o Francesa, mas
també m a da Revoluçã o Sovié tica, cujos lı́deres tomaram o poder na
Rú ssia em 1917, pouco antes do levante Cristero, inspirando
explicitamente os sindicatos dependentes do governo perseguidor.
O lema da revolta cató lica foi realmente categó rico: "Por Deus e pela
Pá tria". A luta foi realizada em defesa do catolicismo e do nacionalismo
mexicano, ambos atacados pelo inimigo de Deus e do paı́s, aquele
inimigo que detinha o poder, com o apoio de estrangeiros. Tratava-se de
dois amores hierá rquicos: o amor da Pá tria violada, subordinado ao
amor de Deus. E por isso que aqueles que caı́ram por causa da pá tria
podem ser considerados autê nticos má rtires, segundo os ensinamentos
de Sã o Tomá s. O grito habitual daqueles heró is: "Viva Cristo Rei!",
valeu-lhes o nome sarcá stico de "cristeros", dado pelos seus inimigos e
tornou-se nã o apenas um simples slogan ou fó rmula de
reconhecimento, mas toda uma de iniçã o. Quando Santo Agostinho
tratou das Duas Cidades, nã o deixou de apontar que cada uma delas
tinha seu pró prio rei: o da Cidade de Deus era Cristo e o da cidade do
mundo era Sataná s.
Nada, entã o, surpreendente que os dois exé rcitos rivais aplaudissem
seus respectivos capitã es. A pergunta dos "federados", isto é , dos
soldados do governo perseguidor: "Quem vive?", os Cristeros sempre
respondiam: "Viva Cristo Rei!". Os adversá rios, por sua vez, nã o
hesitaram em gritar: "Viva Sataná s!" Foi realmente uma guerra
religiosa, como temos repetidamente apontado. De uma guerra
teoló gica. Calles, o lı́der da repressã o, foi descrito por alguns cronistas
como "um homem mı́stico". Era, aliá s, uma mı́stica, mas invertida, a de
Sataná s. O presidente perseguidor entendia, ainda que à sua maneira,
que a luta que travava nã o se reduzia a meros desı́gnios polı́ticos, mas
escondia raı́zes religiosas. Um jornalista americano que o entrevistou
naqueles dias sobre a questã o religiosa confessa que se assustou de
medo com as palavras que o ouviu dizer: «Vi no fundo nã o o ó dio de
uma vida, mas de muitas geraçõ es de ó dio». Algo semelhante diria
Portes Gil, que sucedeu a Calles como Presidente da Repú blica, no inal
de um banquete: «A luta nã o começa, a luta é eterna. A luta começou há
vinte sé culos. Poderı́amos dizer, de nossa parte, que começou ainda
mais cedo, muito mais cedo, no inı́cio da histó ria humana, tendo
encontrado seu ponto de virada no confronto pessoal entre Cristo e
Sataná s no deserto. Uma testemunha ocular nos conta que durante a
guerra cristero, ele participou de um banquete na zona inimiga de
Guanajuato, que degenerou em uma autê ntica orgia. E que o general
que a presidia "depois de gritar contra Cristo e contra a Virgem
Imaculada, com palavras sujas, começou a aclamar Lú cifer por quem
brindou entre gritos de aprovaçã o". Os insultos foram contundentes:
«Morte a Cristo! Abaixo Cristo! Vamos esmagar Cristo! Nosso deus seja
Lú cifer! Ele seja nosso chefe! Pra cima Lú cifer! Viva Lú cifer!
Gostarı́amos de destacar, para concluir, a forma sapiencial com que
o autor enfrentou o ú ltimo e doloroso capı́tulo de nosso ato, o dos
chamados "Arranjos", se é que podem ser chamados de arranjos, que
põ em im ao concurso. Padre Olivera Ravasi aponta, com a devida
delicadeza e respeito, as vá rias responsabilidades neste “acordo”, que
muitos dos signatá rios sabiam que nã o seriam cumpridas. A Igreja
cedeu em suas posiçõ es anteriores, e o Estado empreendeu, sem
revogar as leis, aquelas mesmas leis que haviam sido a causa do levante,
para permitir a reabertura dos templos do paı́s.
Referindo-se à epopeia da Vendé ia, que ocorreu na França há dois
sé culos, da qual o feito dos Cristeros é quase como sua ré plica, um
autor francê s, Reynald Secher, destacou que o genocı́dio da Vendé ia,
que apó s a vitó ria executou o exé rcito da Revoluçã o Francesa, seguiu-se
um novo genocı́dio, mas agora intelectual — ele chama de memoricı́dio
— graças ao qual o é pico se tornou um assunto tabu, um assunto sobre
o qual nã o se deve falar, um assunto voluntariamente esquecido.
Segundo a versã o o icial, foi um grupo de "bandidos" que pegaram em
armas e foram sufocados. També m no presente caso assistimos a um
longo memoricı́dio. No Mé xico, até recentemente, nã o se podia nem
falar sobre esse assunto. Até a memó ria dos acontecimentos teve de ser
apagada. Javier Olivera Ravasi teve a coragem de nã o cumprir esta
decisã o inı́qua e porque o fez com inteligê ncia clara. Nossos mais
sinceros parabé ns.
Padre Alfredo Saenz, SJ
Introdução
Havia dois mundos, duas cosmovisões [1] .
Aqueles que presidem o governo da República lideram uma guerra contra a religião católica.
(Pio XI)
Para ser tratado como merece esta parte, por muito tempo silenciada
da histó ria do Mé xico [2] , seriam necessá rios numerosos volumes
apenas para documentos e testemunhos inacessı́veis ao pú blico em
geral; Acontece que o grande drama cristero foi um dos episó dios da
histó ria americana quase ignorado fora do territó rio nacional
mexicano.
Alguns longos trinta anos devem ter se passado antes que, na
dé cada de 1960, os estudiosos começassem a dedicar o tempo e a
vontade necessá rios ao perı́odo que estamos tratando. O que foi que
aconteceu? Que grande estrago ocorreu para que um silê ncio
ensurdecedor governasse tanto a hierarquia eclesiá stica quanto o
Estado mexicano?
Um novo fenô meno foi desencadeado no Mé xico: duas visõ es de
mundo [3] colidiram à maneira de duas religiõ es [4] . Sim; Em meados do
sé culo XX , desenvolveu-se um "con lito teoló gico entre o espı́rito
tradicional do cristianismo, que chegou à s nossas terras graças à
Espanha dos Habsburgos e encarnado no Mé xico por Iturbide, e o
espı́rito da Revoluçã o Francesa, promovido pela Maçonaria . e os
Estados Unidos, e encarnado por Juá rez no sé culo 19 e por Calles no
sé culo 20 » [5] .
O radicalismo do governo mexicano em tentar uma sociedade que
prescindia de Deus e de sua Igreja, em um povo fervorosamente
cató lico, fez germinar subitamente as sementes plantadas há muito
tempo durante a conquista e a evangelizaçã o para se defenderem da
revoluçã o que se aproximava. Uma nova visã o de mundo queria
implantar-se no Mé xico "cató lico e guadalupano"; uma revoluçã o que
tentou virar, abalar os alicerces da sociedade e que causaria o efeito
contrá rio em grande parte dos mexicanos que preferiram defender e
atacar com uma contrarrevoluçã o no sentido clá ssico da palavra,
fazendo o oposto da revoluçã o [6] .
Tratava-se de fazer o contrá rio, como contrarrevolucioná rio foi o
levante da regiã o da Vendé e na França contra a Revoluçã o Francesa, ou
como contrarrevolucioná rio foi o levante dos "russos brancos" contra o
bolchevismo.
Uma nova religiã o queria se implantar no Mé xico em nome da
Revoluçã o e um enorme muro seria encontrado na cidade simples, em
uma cidade que ainda teve que lutar nã o só contra a atitude
avassaladora das consciê ncias, mas també m contra uma certa parte da
hierarquia eclesiá stica que eu o acusaria de "rebeliã o" contra a
autoridade. Uma luta com duas frentes entã o isso custaria muito. Nã o
era rebeliã o ou revoluçã o, mas a luta pela sobrevivê ncia do povo que
estava em jogo. [7] . Nã o era entã o uma revoluçã o, mas um movimento
coordenado de todas as forças ativas do paı́s para se oporem à
revoluçã o.
Deve-se levar em conta també m que foi uma guerra do Estado
contra o povo; E isso vale ressaltar porque ocorre que em aná lises
histó ricas super iciais, as revoluçõ es costumam ser apresentadas
como movimentos populares e os movimentos contrarrevolucioná rios
como movimentos dirigidos e manipulados pelas elites sociais . A
histó ria dos Cristeros mexicanos, como a dos grandes movimentos
contra-revolucioná rios modernos, demonstra o contrá rio: sã o
genuinamente populares. A maioria desses movimentos começou sem
o apoio das grandes potê ncias de seu tempo, sejam civis ou eclesiais,
como tentaremos demonstrar. Na maioria das vezes, eles pegam em
armas contra a Revoluçã o, porque sua consciê ncia o pede, e contra
todas as previsõ es ou cá lculos polı́ticos. Como disse Azcué , é o “claro
re lexo de um povo cristã o que se recusa a morrer nas mã os da
revoluçã o moderna” [8] .
Para a presente investigaçã o nos concentraremos principalmente
nos anos mais importantes desta tragé dia é pica (1926-1929) fazendo
uso da bibliogra ia clá ssica e atual e dividindo a obra em segundo
plano, a atitude do laicato mexicano independente e as consequê ncias
da con lito trá gico.
Entraremos, entã o, em uma histó ria in inita, transcendente e eterna;
uma histó ria guiada por dois amores, segundo Santo Agostinho. Amor-
pró prio até o desprezo por Deus e o amor de Deus até o desprezo por si
mesmo.
Parte um
O pano de fundo de duas visões de mundo
con litantes
Capítulo I
Antecedentes de uma revolução contra o povo
Pobre México: tão longe de Deus e tão perto
Dos Estados Unidos.
(Porfı́rio Dias)
Nã o é fá cil resumir a histó ria do Mé xico em um capı́tulo, no entanto,
somos obrigados a dar um instantâ neo inicial para nos situarmos no
contexto polı́tico que levará , como um furacã o, ao fenô meno com o qual
temos que lidar .
1. Insurgência versus independência
Dı́az Araujo, [9] , a independê ncia do Mé xico, ao contrá rio de outras
colô nias do Reino das Indias, teve dois perı́odos bem marcados: a
"insurgê ncia" (1810-1821) e a "guerra nacional" (1821) [10] .
Coincidentemente, no primeiro perı́odo há dois padres que
permanecerã o para a posteridade como lı́deres da insurgê ncia contra
os "gachupines" (espanhol): os padres Hidalgo e Morelos; os ditos
eclesiá sticos que dialetizam o governo vice-real contra o de Fernando
VII mostravam seu ó dio antiespanhol, chegando a assassinar os
"peninsulares" pelo simples fato de sê -lo, como assinala Carlos Pereyra,
o grande historiador da Amé rica: "Morte aos gachupinos! Do grito ele
foi para o ato. No silê ncio da noite, escondendo-se da sua pró pria turba,
Hidalgo assassinou os espanhó is europeus, acreditando que,
prendendo-os e exterminando-os, desapareceria o ú ltimo obstá culo à
independê ncia» [11] .
Como bem disse Vasconcelos, "com Hidalgo começou uma sé rie de
lutas em que nada se conseguiu senã o destruir o trabalho de geraçõ es
em troca de trocar uns ricos por outros, sempre com vantagem para o
capitalista estrangeiro" [12] .
Havia duas maneiras de alcançar a independê ncia e esses
eclesiá sticos escolheram a pior; em vez da autonomia pacı́ ica, optaram
pela luta injusti icada e selvagem contra uma classe da sociedade,
misturando, por um lado, ressentimento por tudo o que é "velho" e, por
outro, ó dio racial e social.
Esse germe de independê ncia nã o surtirá o efeito desejado e,
embora a historiogra ia o icial continue a enaltecer a obra libertadora
dos eclesiá sticos, será somente em 1820 —com dom Agustı́n de
Iturbide, o grande libertador do norte» quando a autonomia mexicana
será alcançado com um fermento diferente, como o pró prio Iturbide
declarou:
A separaçã o da Amé rica do Norte é inevitá vel... Que seja feito, entã o,
Senhor, sem o preço do sangue da mesma famı́lia. Que o decreto
glorioso saia do centro da sabedoria, e sejam os pais do paı́s (isto é , os
deputados) que sancionem a separaçã o pacı́ ica da Amé rica. Venha,
pois, um Soberano da casa do grande Fernando para ocupar aqui o
trono de felicidade que os sensı́veis americanos lhe preparam, e
estabelecer entre os dois augustos monarcas, em uniã o com os
Soberanos Congressos, as mais estreitas relaçõ es de amizade,
surpreendentes o mundo inteiro com uma separaçã o tã o doce [13] .
Ele estabeleceu o "pacı́ ico e prudente libertador do Septentrió n",
como era chamado na maior parte da Amé rica Central, seu "pacto de
trê s garantias" pela independê ncia da Espanha. Nã o era, em sua visã o,
romper completamente com os descobridores, mas fazer uma
separaçã o harmoniosa; Esse pacto incluı́a trê s pontos principais: a
independê ncia nacional (evitando a ruptura moral com a Espanha), a
uniã o de todas as classes sociais (espanhó is, crioulos e ı́ndios) e a
religiã o cató lica como base espiritual da vida mexicana. Alé m das
crı́ticas que podem ser feitas a Iturbide (Agustı́n I, ele foi nomeado) sua
tá tica alcançou uma paz momentâ nea e isso apesar de certas
frivolidades que ele cometeu em seu governo como bem observa Carlos
Pereyra. [14] .
As garantias declaradas foram inicialmente capazes de assegurar as
trê s notas fundamentais. No entanto, nã o demorou muito para que os
velhos "insurgentes" encontrassem seu aliado natural no anarquismo
caudilesco contra a ú nica coisa que nã o aceitavam plenamente: a
religiã o como parte da identidade nacional. [15] . Isso, somado à açã o
estadunidense que um paı́s vizinho fraco desejava, fez sofrer a obra do
grande libertador.
Aqui entrará em cena o trabalho do embaixador americano Poinsett,
cujas idé ias eram estabelecer uma repú blica federal e laica no sul do
país , deixando de lado todos os valores cató licos e hispâ nicos
existentes. Com a colaboraçã o dos maçons e liberais Lorenzo de Zavala,
Valentı́n Gó mez Farı́as e dos constitucionalistas JML Mora, Fray S. T.
Mier, Ramos Arizpe e outros, Poinsett conseguiu seus objetivos: a
remoçã o de Agustı́n de Iturbide, a instalaçã o do governo do General
Vicente Guerrero (funcional para os EUA), a sançã o da Constituiçã o de
1848, o separatismo centro-americano, a propaganda anticató lica e a
Guerra do Texas, mal realizada pelo "traidor Antonio Ló pez de Santa
Anna" [16] , concluindo-se no Tratado de Guadalupe-Hidalgo , de 2 de
fevereiro de 1848, pelo qual o Mé xico perderia para sempre o Texas, o
Novo Mé xico, o Arizona e a Alta Califó rnia.
Com a execuçã o de Iturbide em 1824 nasceria outra ideia do Mé xico
[17] ; Isso seria deixado para conspiraçõ es internas e interesses
externos, sem um reservató rio histó rico e moral para apoiá -lo. Foi,
talvez, apenas no perı́odo de Lucas Alamá n, como secretá rio de
Relaçõ es Exteriores do Mé xico, que se pensou em uma polı́tica de
defesa nacional; mas nã o conseguiu perdurar no tempo e, como diz
Vasconcelos, quando caiu "a polı́tica externa mexicana icou
subordinada aos Estados Unidos" [18] .
2. Liberalismo mexicano
O segundo grande momento histó rico no Mé xico, em meados do sé culo
XIX , foi o da "Reforma" de Benito Juá rez, que acabou por desencadear a
Constituiçã o de 1857 e as leis que a seguiram em 1873 com Lerdo de
Tejada. Se na é poca da insurgê ncia o anticlericalismo e o anti-
hispanismo existiam de forma incipiente, aqui começarã o a ser vistas
as claras demandas liberais e anti-hispâ nicas; é que a Espanha era a
Igreja e a Igreja era a Espanha para os reformadores e o Mé xico
precisava ser refundado, era preciso “americanizar” e até
“protestantizar” o paı́s para progredir:
A educaçã o primá ria, tanto nas escolas particulares como nas escolas
o iciais, é racional , porque combate o erro em todos os seus redutos,
ao contrá rio da educaçã o laica, que nã o ensina o erro, nã o o prega, mas
tolera com resignaçã o hipó crita. Os ministros religiosos,
especialmente os frades cató licos, nã o tê m acesso à s escolas primá rias
de Sonora, porque sabemos que esses senhores, quando intervê m na
escola, encontram sempre uma forma de imbuir seus erros na
consciê ncia das crianças, mesmo quando ensinam taquigra ia,
digitaçã o, mú sica ou tá ticas militares (...). Sabemos que as igrejas sã o
verdadeiros antros de corrupçã o, porque é aı́ que se perverte a pureza
da donzela e també m a honra da mulher casada; os padres são os
inimigos mais irreconciliáveis da civilização e das revoluções libertárias .
Gostaria que todos os povos da Repú blica fossem como o meu povo
(...). A maioria dos habitantes daquele lugar nã o é batizada; nem meus
ilhos, eles nem tê m nomes de batismo. O Sr. Bojó rquez sabe os nomes
dos meus ilhos [vozes: o quê ?]. Eles tê m nomes numé ricos... [38] .
Uma vez promulgada a Constituiçã o, alguns bispos que já estavam
no exı́lio devido ao contı́nuo assé dio que sofreram nas mã os dos
carrancistas, emitiram uma "Pastoral Coletiva" dos Estados Unidos na
qual se notou que a Constituiçã o de Queré taro elevou a legalidade
status de perseguiçã o religiosa, sancionando-a de initivamente. "A
Constituiçã o", disseram eles, "fere os direitos sagrados da Igreja
Cató lica, da sociedade mexicana e do povo cristã o e proclama
princı́pios contrá rios à s verdades ensinadas por Jesus Cristo". [39] .
Por isso, os cató licos, valendo-se do direito que os assiste, devem
"trabalhar legal e paci icamente para apagar das leis nacionais tudo o
que fere sua consciê ncia e seus direitos" [40] (observe as palavras:
"paci icamente", eles disseram). E mesmo o já mencionado Bento XV
publicou uma carta aos cató licos mexicanos pedindo-lhes que
lutassem paci icamente, exortando-os a serem pacientes e a oferecer o
sofrimento sofrido injustamente. [41] . Voltaremos a esta atitude da
Igreja.
Os presidentes que seguiram Carranza foram Adolfo de la Huerta
(1920) e Alvaro Obregó n (1920-1924); Nenhum deles forçava
diretamente o cumprimento das disposiçõ es anticlericais sancionadas
pela Constituiçã o, mas os surtos anticlericais estavam na ordem do dia.
Um exemplo do caso foi a bomba explodida no arcebispado do Mé xico
em 16 de fevereiro de 1921 e outros excessos que deixamos de narrar.
A situaçã o era cada vez mais complexa e a impunidade com que agiam
contra tudo o que era cató lico fazia o regime de Obregó n parecer um
governo que apoiava a perseguiçã o dissimulada; no entanto, ainda era
possı́vel sobreviver, como a irma Krauze:
Com a Igreja, o tom das relaçõ es era també m de tensa conciliaçã o.
Obregó n felicitou o novo Papa Pio XI em 1922 , insistindo em particular
na "complementaridade" dos programas revolucioná rio e cató lico. Mas
o forno nã o era para pã ezinhos. Em geral, a Igreja estava muito longe de
se resignar aos artigos 3 e 130 da Constituiçã o, e alguns bispos lutaram contra a
transferê ncia de terras ou a sindicalizaçã o laica do trabalho ( ... ) . nã o
compartilham plenamente a ideologia anticlerical de Plutarco Elı́as
Calles, seu ex-ministro do Interior [42] .
5. O aplicativo Streets
dezembro de 1924, assumiu a presidê ncia da Repú blica o general
Plutarco Elı́as Calles; durante seu perı́odo como governador do estado
de Sonora (1915-1919) ele se caracterizou pelo radicalismo na luta
contra a Igreja [43] .
Sua assunçã o do poder caiu como um balde de á gua fria para o povo
cató lico que ainda nã o conseguiu se recuperar de um grave incidente
em seu pró prio meio: acontece que, apoiados pelo governo, um casal de
padres tentou fundar, no inı́cio do sé c. 1925, uma "Igreja Nacional" (a
tentativa seria ú til para o governo "desfanatizar" o Mé xico). Sob a
orientaçã o de um sujeito estranho, o «patriarca» Joaquı́n Pé rez
(sacerdote cató lico e iliado à Maçonaria, ao mesmo tempo) este
pequeno grupo de clé rigos tentou tornar-se independente de Roma;
para isso e com auxı́lio do Estado, foi tomado o templo de "La Soledad"
no Distrito Federal, iniciando-se ali suas funçõ es.
A tentativa foi um iasco: o mı́nimo apoio dos ié is que nã o
frequentavam as igrejas cismá ticas, somado à loucura de tal tentativa
em um paı́s como o Mé xico, fez com que logo tivessem que deixar o
templo devido a revoltas populares (nas quais o governo
recompensados por expropriar e doar a igreja de Corpus Christi para
eles ).
O que pretendia o "Patriarca" Pé rez? Ele o estabeleceu em sua
“exortaçã o” aos padres mexicanos intitulada Ao Clero Secular e Regular
da Igreja Católica Romana e Apostólica – uma repetiçã o de heresias
antigas e modernas:
Cerro del Cubilete. Depois de ser dinamitado. Joaquín Pérez, o “papa” mexicano o Sagrado
Milagrosamente, cabeça e coração, intactos
As condiçõ es atuais já sã o insustentá veis e com que razã o acreditamos
que chegou a hora de dizer: NAO POSSUMUS! NAO PODEMOS! (...) [58] Se
você perseverar em sua resistê ncia digna e ené rgica, amigos e inimigos
inalmente compreenderã o que é impossı́vel arrancar a fé de seus pais
sem ferir mortalmente a alma do povo mexicano. Mas se por
vergonhosa covardia abandonar as ileiras, ou cessar o combate,
humanamente falando estamos perdidos e o Mé xico deixará de ser um
povo cató lico; terá s abdicado das mais nobres e preciosas liberdades,
veri icando em nó s, o que Deus nã o permite, a ameaça de Jesus Cristo
ao seu povo: «O reino de Deus vos será tirado e será dado a um povo
que o tornará fecundo ». (Mat. Cap. XXI, Ver. 43 ) (...). Imitem todos os
verdadeiros amantes das liberdades nacionais, que em todos os
perı́odos da histó ria souberam manter-se irmes na brecha, até
vencerem ou morrerem; Imite a perseverança dos primeiros cristã os...
que morreram como bons, fazendo de seu sangue a semente de novos e
novos convertidos [59] .
Como podemos ver, foi inicialmente a hierarquia local que —movida
pelas circunstâ ncias— enquadrou as circunstâ ncias no que entendia
ser uma perseguiçã o; sem armas, simplesmente, lembrança dos
primeiros má rtires...
Pelo contrá rio, e por volta da mesma é poca, em Roma, o ó rgã o o icial
de imprensa do Vaticano, o Osservatore Romano , declarou o estado de
exceçã o em que o povo mexicano se encontrava diante da
arbitrariedade de seu governo, dizendo que: "há nã o as massas, que
nã o querem se submeter à tirania, e que nã o sã o mais detidas pelas
exortaçõ es pacı́ icas do clero, alé m da rebelião armada » [60] . Apenas
dez dias apó s esta declaraçã o, o mesmo ó rgã o o icial declarou com
maior força um texto que o Secretá rio de Estado transmitiria
o icialmente como crité rio pontifı́cio aos nú ncios, delegados
apostó licos e corpo diplomá tico. Ali se dizia que os cató licos
mexicanos nã o podiam "unir-se e organizar-se para tentar uma defesa
por meios legais (...). Portanto, as massas, que nã o contê m mais as
exortaçõ es pacı́ icas do clero, nã o tê m mais nada alé m de rebeliã o
armada» [61] .
Recordemos entã o: bispos-vocaçã o ao martı́rio; Roma ( Osservatore
Romano )-rebeliã o armada [62] .
O có digo de 1917 viola os mais sagrados direitos da Igreja Cató lica, da
sociedade mexicana e dos cristã os individuais, proclama princı́pios
contrá rios à verdade ensinada por Jesus Cristo, que constitui o tesouro
da Igreja e o melhor patrimô nio da humanidade, e desarraiga os
poucos direitos que a Constituiçã o de 1857 ... reconhecida para a Igreja
como sociedade e para os cató licos como indivı́duos. Nã o pretendendo
intrometer-se em questõ es polı́ticas, mas sim defender a liberdade
religiosa do povo cristã o da forma que podemos em vista do rude
ataque que é in ligido à religiã o, limitamo-nos a protestar contra o
ataque com energia e decoro... 1 ) Que de acordo com as doutrinas dos
Romanos Pontı́ ices. . . e també m movidos pelo patriotismo, estamos
muito longe de aprovar a rebelião armada contra a autoridade
constituída , sem que essa submissã o passiva a qualquer governo
signi ique a aprovaçã o intelectual e voluntá ria das leis anti-religiosas
ou injustas que dela emanam, e sem por ela pretende-se que os
cató licos, nossos ié is, se privem do direito que os assiste como
cidadã os, de trabalhar legal e paci icamente para apagar das leis
nacionais tudo o que fere sua consciê ncia e seus direitos. . . Nosso
ú nico motivo é cumprir o dever que nos é imposto pela defesa dos
direitos da Igreja e da liberdade religiosa. [63] .
Uma relativa paz "por iriana" poderia ter continuado por anos se
Calles nã o tivesse acendido o pavio que fumegava mas nã o queimava,
mas ao aplicar os controversos artigos da Constituiçã o que dormiam
em sua profunda letargia, gerou-se uma reaçã o natural por parte do
povo cristã o.
Os â nimos estavam tã o acalorados que tudo poderia signi icar uma
declaraçã o de guerra entre os dois lados. Foi o caso de uma publicaçã o
que, em janeiro de 1926, foi publicada no jornal El Universal .
Aproveitando a difı́cil situaçã o que a Igreja atravessava, o jornalista
Ignacio Monroy solicitou uma entrevista com o Arcebispo do Mé xico,
Dom Mora y del Rı́o, cujas declaraçõ es seriam posteriormente tachadas
de “sediciosas” quando disse:
não será lı́cito aos ié is ou ao clero recorrer à força bruta para repelir a
agressã o, mas devem observar a conduta mansa mas digna dos
má rtires do cristianismo (...) proibir estritamente motins e motins e, em
geral, quaisquer manifestações de força bruta contra as autoridades
constituídas. [76] .
Dois anos depois (em 12 de julho de 1927 em sua "Mensagem ao
mundo civilizado"), horrorizado com a crueldade que o governo
mostraria contra o povo, ele se voltaria para as armas:
com uma questão que nunca teríamos imaginado: que os mesmos pais
nos proibiram de lutar por Cristo , pela religiã o que nossos pais nos
incutiram e depois nos con irmaram no batismo, crisma e primeira
comunhã o. E mais quando lutamos principalmente para nos defender.
"Você nã o deve ir para a violê ncia", eles nos disseram; o cristã o deve
ser humilde e paciente, deixar-se bater. Você deve sempre dar a outra
face. Jesus era manso como um cordeiro, por isso deixou que o
cruci icassem... Alé m disso, desde Moisé s temos o Quinto Mandamento,
que nos proı́be matar, tirar a vida do pró ximo. Mesmo que seja nosso
perseguidor, está fazendo algo que só corresponde ao dono da vida:
Deus». E assim por diante. Até os nove que fugiram por essas
montanhas e ravinas junto com nossas famı́lias. Nó s, insurgentes,
querı́amos perguntar-lhes por que, sendo verdade que nã o havia outro
jeito senã o dar a outra face aos soldados de Calles, eles nã o iriam se
render para martirizá -los de uma vez por todas . Este foi outro misté rio
para nó s rebeldes [89] .
Houve até padres que foram má rtires dessa passividade, o que
mostra que nã o é necessá rio ser um bom teó logo para dar a vida por
Cristo. [90] .
Assim, a grande maioria dos padres se viu passiva em relaçã o à
"insurreiçã o"; Quaisquer que sejam suas opiniõ es pessoais e sem
julgar claramente suas consciê ncias, muitos deles deixaram suas
paró quias uma vez decretada a "suspensã o do culto" e, com o breviá rio
na mã o, fugiram para o exterior ou se reuniram nas grandes cidades,
onde a perseguiçã o nã o necessariamente levar à morte . Havia també m
no baixo clero - é preciso dizer - padres exemplares que, mesmo contra
a vontade de seus bispos, acompanharam suas ovelhas até a morte [91] .
2. A cessação do culto: um movimento
comprometedor
escaramuças e os primeiros confrontos aconteceram, mas em menor
escala. Foi apenas um fato que, sem dú vida, causou o cansaço geral do
povo cató lico mexicano: a suspensã o do culto.
Com efeito, antes da lei reguladora de Calles que entraria em vigor
em 31 de julho de 1926, os bispos mexicanos, para evitar qualquer
ocasiã o de con lito e acalmar, decidiram, atravé s do Comitê Episcopal
Mexicano, publicar uma carta coletiva em 25 de julho, 1926, pelo qual
foi anunciado que, embora os templos permanecessem abertos, o culto
seria suspenso a partir do momento em que o regulamento entrasse
em vigor [92] . Era uma medida momentâ nea, disse a si mesmo, para
poder ver o caminho a seguir.
Agiu apenas o episcopado mexicano? De maneira nenhuma; Naquela
é poca tudo foi consultado, como consta de um dos telegramas
enviados a Pio XI :
No inal de setembro (...) foi entã o que Dom Orozco, alarmado com os
rumores de guerra, advertiu a Comissã o Episcopal de que se opunha
absolutamente a qualquer recurso à s armas. E quando em novembro
de 1926 a Liga consultou os bispos sobre a legalidade da resistê ncia
armada, sua decisã o já estava tomada: diante das revoltas espontâneas,
isoladas e instintivas que estavam ocorrendo no campo, e diante do
fracasso do boicote, foi proposto controlar os rebeldes para uni icá-los e
tornar seu combate efetivo (...). A Liga colocou o Episcopado diante de
um fato consumado , que nã o poderia mudar ou condenar de forma
alguma. [97] .
Nã o foi uma luta dos pobres contra os ricos, nem dos burgueses
contra os proletá rios; o motivo, como mostram inú meros testemunhos,
era principalmente religioso, e nã o polı́tico:
Eles quiseram fazer leis excepcionais contra o padre cató lico; e as leis
de exceçã o contra o catolicismo já tê m um nome na histó ria: sã o
chamadas de leis de perseguiçã o. E essas leis de perseguiçã o tiveram
um lugar em nossa Carta Magna, ou seja, eles quiseram erigir a
perseguiçã o religiosa no Mé xico permanentemente como uma
instituiçã o do Estado! E este é o procedimento de um Governo
democrá tico, de um poder pú blico que emana do povo, e é instituı́do
em benefı́cio do povo (Art. 39 ) que é quase inteiramente cató lico! Em
uma repú blica democrá tica, nó s cidadã os somos todos ilhos ou todos
internos... Bom para o heró ico povo cató lico de Guadalajara! Viva Jesus
Cristo Imortal Rei de todas as naçõ es! [116] .
Tal foi o efeito causado pelos protestos que a Câ mara dos Deputados
de Jalisco foi obrigada a revogar o decreto no inı́cio de 1919; Foi uma
vitó ria retumbante para os cató licos de Jalisco; Poucos dias depois,
Dom Orozco y Jimé nez e Dom Leopoldo Ruiz y Flores retornariam do
exı́lio , graças à gestã o de Dom Burke [117] , diante de um Carranza que
via com maus olhos tanta devassidã o na perseguiçã o.
4. O projeto da Liga Cívica de Defesa Religiosa
Quase por necessidade e a partir do estado latente de perseguiçã o
religiosa, o inspirador da ACJM, padre Bergö end, concebeu outra
medida: uma Liga que, sem as caracterı́sticas de um partido polı́tico,
"se encarregaria de defender os direitos universalmente reconhecidos
à a Igreja e a liberdade de educaçã o, negada no artigo 3º da
Constituiçã o» [118] . Seria, portanto, um ó rgã o especı́ ico na defesa da
liberdade religiosa, entendida como o direito da Igreja de professar seu
culto pú blico sem a intervençã o do Estado. [119] .
Há alguns anos, o padre francê s deu a conhecer ao Lic. Palomar y
Vizcarra suas intençõ es de fundar uma «Liga» que, permanecendo fora
de qualquer partido polı́tico [120] , daria seu apoio moral e seu voto aos
candidatos que pudessem garantir as liberdades essenciais e o direito
da Igreja. Os igos ainda nã o estavam maduros, entã o eles teriam que
esperar mais cinco anos para colocar o plano em prá tica.
para. Acejotaemeros no Partido Republicano Nacional
A ascensã o ao poder de Alvaro Obregó n em 1920, apó s o golpe e
execuçã o de Venustiano Carranza, foi uma das muitas circunstâ ncias
que continuaram a mobilizar politicamente os leigos cató licos. Alguns
acejotaemeros participaram ativamente da organizaçã o do Partido
Nacional Republicano , cujo objetivo principal era, em caso de tomada
do poder, modi icar a Constituiçã o de 1917.
Em Morelia, no mê s de maio de 1921, houve uma briga entre
estudantes socialistas e cató licos como resultado de uma manifestaçã o
dos primeiros; Apó s um ataque contra um dos templos, uma grande
manifestaçã o foi convocada para o dia 12, em protesto, o que provocou
a violenta irrupçã o da polı́cia sob as ordens do General de Polı́cia
Vicente Coyt:
Para ser membro da Uniã o Popular no grau mais rudimentar, nã o era
necessá rio mais do que um simples ato de vontade. Sem idade, sem
condiçã o, sem taxa determinada, sem obrigatoriedade de presença em
determinados eventos. Você era membro da Uniã o Popular quando
menos esperava. Mas assim que o indivı́duo entrou na organizaçã o,
estabeleceu-se uma corrente contı́nua e efetiva entre ele e a hierarquia
de lı́deres. A exigê ncia do Sindicato para seus membros era mı́nima e,
segundo o pensamento do professor, poderia ser reduzida a isso: que
eles se dispusessem a nos ouvir (...). jornal minú sculo e visitante
domé stico. Esse homem falava periodicamente com outro de sua
paró quia. Havia algo nisso que ia alé m das relaçõ es normais de
vizinhança? Mas isso bastava para o indivı́duo sensı́vel a essa
in luê ncia mı́nima, e gastando o custo de um centavo semanal, o preço
do jornal, para transformar sua apatia em cooperaçã o. «Porque basta -
disse o fundador- que cada cató lico procure o seu chefe de quarteirã o e
peça o registo para que a partir de agora possa ser informado de tudo o
que se faz pela causa de Deus e deixar de ser cató lico paralisado para se
tornar um porta-estandarte das liberdades fundamentais do ser». Uma
hierarquia elementar, tã o só lida quanto simples, ligava o ú ltimo só cio
ao Chefe do Conselho de Administraçã o de cinco membros que
dirigiam o Sindicato. Bloco, zona, freguesia: o responsá vel por cada um
destes cı́rculos tinha um contacto pró ximo com os seus subordinados e
com o seu superior imediato. Ausê ncia de cerimô nias, solenidade e
protocolo; quase nã o havia livros e nenhum comé rcio era feito. A
papelada foi substituı́da pela e icá cia do vı́nculo pessoal» [133] .
Você terá percebido que nossa posiçã o de cató licos militantes nos
levou, quase sem perceber, à crise forçada que necessariamente fará
cada um de nó s re letir sobre o alcance que uma determinaçã o atual
pode ter para a pró pria vida. A Liga embarcou na aventura
revolucioná ria com uma determinaçã o que pode ser, acima de tudo, um
verdadeiro palpite . Espero que a intuiçã o esteja correta. De minha
parte, sei dizer que decidi minha posiçã o pessoal, que nã o pode ser
outra do que minha posiçã o parece exigir: estarei com a Liga e pesarei
tudo o que sou e o que tenho. Mas sinto-me compelido diante de você s
a dizer minha mensagem à posteridade: A Uniã o Popular nunca deveria
ter sido uma organizaçã o cuja missã o correta fosse provocar uma
guerra civil. Confuso como você vai estar, eu sei muito bem, no-
turbilhã o de uma luta que hoje recomeçamos recorrendo à razã o da
força, você corre o risco de esquecer a doutrina: a lâ mina de uma
espada nã o é a melhor apoio para instituiçõ es como a nossa.
Independentemente da vitó ria ou derrota amanhã , temos que
continuar sustentando que o problema no Mé xico é um problema de
cultura, de apostolado, de civilizaçã o. Hoje, poré m , tudo nos empurra
para a montanha. Vamos lá . A União Popular é demais para perder tudo
numa aventura em que vã o nos deixar em paz. Deus faça este sacrifı́cio
coletivo dar frutos [134] .
O corrido mexicano vai lembrar assim:
Senhores, tomem cuidado
O que eu vou te dizer:
Eles pegaram em armas
Os da União Popular [135] .
6. As Brigadas Femininas "Santa Joana D'Arc"
Nem tudo era coisa de homem; havia grupos especialmente dedicados
à açã o formados apenas por mulheres. Apesar de falarmos sobre isso
mais tarde, vamos nomear as famosas Brigadas Femininas de Santa
Juana de Arco : uma sociedade fundada em Jalisco e cujo objetivo inicial
era a defesa moral de trabalhadores comerciais, trabalhadores de
escritó rio e costureiras, recrutando seus iliados na classe mé dia e
Entre as pessoas. Dirigidos e fundados pelo advogado Luis Flores
Gonzá lez e Marı́a Goyaz (vulgo “Celia Gó mez”), chegaram a ter mais de
25.000 militantes e, ao longo do tempo, també m izeram parte da
“Liga” [136] . Completamente secreto, para entrar nele era necessá rio um
juramento rigoroso "de joelhos e diante do cruci ixo" para defender a
Pá tria e a Igreja; Seus membros eram em sua maioria jovens solteiros
entre 15 e 25 anos.
Já no â mbito da guerra, os «BB» como serã o conhecidos, terã o uma
funçã o logı́stica de destaque: «essas verdadeiras heroı́nas que iam e
vinham, de comboio ou de lombo de mula, escondendo as muniçõ es
debaixo das roupas, em coletes que eram como camisas reunidas de
modo que se formavam uma in inidade de dobras onde eram
guardados os cartuchos, de 500 a 700 por jovem» [137] .
Padre Ochoa, que escreveu a escritura cristero de Colima sob o
pseudô nimo de Spectator , narrou o caráter dessas jovens da seguinte
forma:
Como ofereci, à s oito horas estive presente na paró quia (...). Ele me
convidou para entrar. Guiados por ele, chegamos a uma sala onde
estavam reunidas quarenta pessoas (...) entre elas o padre Don Vicente
Camacho, o advogado Anacleto Gonzá lez Flores, o advogado Miguel
Gó mez Loza (...). Depois de nos cumprimentar, o padre, dirigindo-se a
mim, disse:
—Vimos com nossos pró prios olhos que você é um homem honesto e
um cristã o por completo; Fizemos relatos de sua pessoa em diversos
lugares, e as informaçõ es que recebemos sã o condizentes com seu
modo de viver (...). Este grupo será honrado se você concordar em
participar. Você dá sua palavra de honra de nã o contar a ningué m o que
vai ser comunicado a você ?
"Sim", eu respondi. O padre continuou:
—Existe uma organizaçã o estabelecida em toda a Repú blica chamada
Uniã o dos Cató licos Mexicanos, mais conhecida entre nó s como o “U”;
Este grupo está totalmente organizado nos estados de Jalisco e
Michoacá n e está sendo organizado em outros. O propó sito do “U” é
buscar por todos os meios legais e possı́veis a restauraçã o do reino de
Cristo em nosso paı́s. Para atingir este objetivo, é preciso comprometer-
se a obedecer aos superiores em tudo o que é lı́cito e honesto, e dar a
vida, se necessá rio, em defesa dos direitos de Deus e da Igreja. Os
agrupados convidam você para que, pensando com calma, responda o
que achar melhor.
"Senhor Sacerdote", respondi, "ningué m que ama a Cristo como eu o
amo pode negar sua ajuda para tentar, com seu esforço e com sua vida,
que Cristo reine plenamente em nosso paı́s (...) aceitar pertencer a este
ilustre grupo (...).
O Sr. Cura (...) convidou-me a ir ao altar improvisado que havia na sala,
e diante de uma imagem de Cristo cruci icado e do livro dos evangelhos
jurei obedecer aos meus superiores (...). Entã o eles me deram as
senhas e senhas com as quais eu poderia me identi icar com todos os
irmã os do grupo em toda a Repú blica [143] .
mulheres cristero
Capítulo IV
uma revolta popular
Sem sua permissão ou seu mandato nos lançamos nesta luta abençoada por nossa liberdade, e
sem sua permissão e sem seu mandato continuaremos até vencermos ou morrermos. [147] .
Agora é hora de analisar o cará ter popular da guerra cristero ; Observe,
no entanto, que quando nos referimos a "popular" [148] Nã o o fazemos
em uma chave marxista, ou seja, levando em conta a dialé tica biná ria
de pobres versus ricos, mas no sentido mais amplo do termo: o povo,
ou seja, a populaçã o mexicana.
Como conhecemos os vá rios signi icados do termo, faremos uma
breve digressã o.
A palavra povo tem um carisma , uma força praticamente
insubstituı́vel para o desenvolvimento da polı́tica, seja em termos
tradicionais ou atuais. Dado que a modernidade polı́tica tende a
substituir a tradiçã o pela força de vontade, é o povo, diretamente ou
por meio de seus representantes, que tem mais claramente o direito de
construir novos sistemas polı́ticos.
També m é verdade que de maneira convencional sempre se aceitou
que o "povo" no sentido polı́tico é "a associaçã o baseada no
consentimento da lei e na comunidade de interesses", segundo Cı́cero, o
que implica nã o apenas ser titulares de obrigaçõ es e direitos civis, mas
també m polı́ticos.
Modernamente aplicado aos Estados-naçã o, o conceito de «povo»
revela-se també m um ponto de referê ncia fundamental para o direito
constitucional, tendo em conta a crescente heterogeneidade
demográ ica, social e cultural; Assim, a supressã o de castas ou classes
sociais é considerada como uma espé cie de pré -requisito para
enquadrar sua noçã o. Para muitos, isso constitui uma superaçã o da
concepçã o do direito constitucional burguês tradicional , para o qual a
ideia de “povo” era o conjunto de habitantes detentores de direitos
polı́ticos que lhes permitiam formar um governo.
Da mesma forma, e da mesma forma, a distinçã o entre povo e massa
també m nã o pode ser ignorada, pois esta é composta por indivı́duos
que nã o assumem voluntariamente qualquer responsabilidade no
desenvolvimento da vida social, mas se limitam a consumir o que é
consumido, apresenta-os por padrã o; talvez por isso, durante sé culos,
tenha sido considerada inimiga da democracia, pois alimenta qualquer
tirano que saiba deslumbrá -la.
Os autores modernos preferem substituir a expressã o massa por
multidã o, sem alterar essencialmente as caracterı́sticas apontadas; o
povo teria vontade e açã o, enquanto a multidã o/massa seria apenas um
"plano de singularidades" nã o homogê neo, algo para o qual o povo
tende.
No caso que nos interessa, demográ ica e etnicamente, o Mé xico se
caracterizou desde sua origem como o paı́s mestiço por excelê ncia. A
literatura é abundante a esse respeito e, mais recentemente, até as
derivaçõ es do projeto Genoma Humano corroboram essa hipó tese.
Alguns argumentaram em estudos recentes que 85% da populaçã o
mexicana é mestiça, com dois componentes principais: caucasiano e
amerı́ndio, portanto, "quase em todos os casos (mexicanos) tê m
origem indı́gena" [149] . Da identi icaçã o do mestiço com o indı́gena há
um trecho mensurá vel em milı́metros... Outros estudos chegam a dizer
que a miscigenaçã o chega a 93%.
Mesmo a moderna Constituiçã o mexicana leva o caso em
consideraçã o desde seus primeiros artigos. Parece ignorar ou assumir
implicitamente o fato social por excelê ncia, a miscigenaçã o, deduzindo
assim que haveria uma espé cie de dı́vida histó rica disso com o
indı́gena, que beira o absurdo.
Limitar-me-ei a transcrever alguns pará grafos e depois um
esclarecimento que nã o é menos relevante porque é ó bvio.
1. Ações populares
2. O povo armado
Apó s o boicote completamente ignorado pelo governo, o povo
mexicano começou a realizar levantes espontâ neos; a guerra civil já
estava se aproximando em meados de 1926, como vimos. As pessoas
estavam cansadas e para ele «as coisas eram claras: a paciê ncia, a
penitê ncia e as oraçõ es de cinco meses de nada serviram, porque "o
coraçã o de Calles estava endurecido"» [158] — disseram.
Como o único recurso que nos restava para defender nossos direitos eram
as armas , realizavam-se reuniõ es secretas e, quando o nú mero de
envolvidos chegava a trezentos , a data do levante foi marcada para 6 de
janeiro ( 1927 ) . [159] .
Nã o havia agora "nenhum outro recurso"; até o pró prio governo
propô s recorrer à s armas em desa io ao povo mexicano (já citamos a
provocaçã o de Calles quando disse "ou as leis ou as armas"); A prova
dessa incitaçã o à violê ncia foram trê s "contrové rsias pú blicas"
documentadas e realizadas em um certo teatro Iris na Cidade do
Mé xico, a partir de 2 de agosto de 1926: um funcioná rio do governo
falaria em defesa da "legalidade" e um delegado da ACJM deve refutá -la
no melhor estilo de uma disputatio medieval . Nesses debates pú blicos,
o jovem René Capistrá n Garza, um lı́der cató lico popular, soube brilhar:
natural” [166] .
Cristero Joaquı́n de Silva y Carrasco assim declarou suas razõ es a
um padre que tentava dissuadi-lo de abraçar a causa:
b. mulheres e crianças
Sobre as mulheres em tempos da Cristiada há mais escrito a cada dia
[173] ; Acontece que, aparentemente, sem a participaçã o deles, as coisas
Dentro do templo havia terminado a recitaçã o do rosá rio. Lá fora, uma
multidã o de crianças corria pelo jardim da frente do Santuá rio de
Guadalupe e pedia a todos os passantes que gritassem: Viva Cristo Rei!
Ao passar um carro, as crianças o interceptaram e pediram ao
motorista e seu ocupante que dessem o grito de sempre, o que eles
recusaram, continuando o caminho em meio aos gritos das crianças-
que atiraram uma pedra no veı́culo. O general vestido à paisana que
ocupava o carro ordenou que seu motorista parasse, desceu e disparou
sua pistola sem mais provocaçõ es; Alguns homens que se encontravam
nas proximidades responderam a este ataque inesperado da mesma
forma, obrigando o o icial a fugir para o hospital militar, localizado a
pouca distâ ncia daquele local. De lá , ele solicitou uma força federal ao
Quartel-General de Operaçõ es e, meia hora depois, vinte e cinco-
soldados liderados por um o icial apareceram em frente ao templo,
onde já havia um grande nú mero de pessoas reunidas. Vinte soldados
foram distribuı́dos no jardim e cinco tentaram entrar na igreja. Da
multidão que havia permanecido do lado de fora, uma garota da aldeia
se aproximou do o icial e cravou uma adaga em suas costas. Seus
soldados, diante de tamanha audá cia, icaram indecisos, vendo a
corajosa mulher pegar a espada e a pistola de sua vı́tima, que foi
entregar aos homens que contemplavam aquela cena atrá s do portã o
do templo, dizendo-lhes : Tenha isso para que se defendam [181] .
Os mexicanos da é poca eram as armas a serem tomadas.
Registremos aqui o que aconteceu naquela noite da defesa do
santuá rio de Guadalupe. O texto é extenso, mas vale a pena ver a
participaçã o dos ié is comuns no levante Cristero; Assim narrou
Heriberto Navarrete:
Que o estudo do memorial foi feito pelos mais ilustres prelados que
compareceram à mencionada reuniã o da Comissã o; que foi levado ao
conhecimento do Exmo. D. José Mora y del Rı́o, Arcebispo do Mé xico, e
que os vá rios pontos indicados no memorial foram aprovados por
unanimidade, no que se refere à parte que, segundo o mesmo
documento, diz respeito ao episcopado, com essas duas modi icaçõ es :
A Comissã o nã o podia conceder a autorizaçã o de vigá rios militares nos
termos expressos na alı́nea c) do n.º 2 , porque nã o tem poderes para o
fazer, mas as autorizaçõ es ou alvará s necessá rios podem ser
concedidas a cada sacerdote que pretenda exercer o seu ministé rio
entre aqueles que se levantam em armas, passando ao secretá rio da
Comissã o, pois os prelados mais ilustres concordam em dar as licenças
correspondentes em relaçã o à s respectivas dioceses. A Comissã o
considera muito difı́cil, quase impossı́vel e particularmente perigosa, a
açã o que se pede aos mais ilustres prelados , em relaçã o aos cató licos
ricos, conforme solicitado na alı́nea d). A Igreja reconheceu, com esta
declaração, a legalidade da rebelião cristero [187] .
Outros prelados foram forçados a falar també m em Roma; Dom
Pascual Dı́az o fez no L'Osservatore Romano em 1º de março de 1927,
ocupando grande parte da primeira pá gina. Quem o iciava naquela
é poca como bispo de Tabasco (no exı́lio) e secretá rio da Comissã o
Episcopal, explicou que tanto o clero como os leigos recorreram a
todos os meios legais e pacı́ icos que estavam em suas mã os sem obter
uma mudança nas leis que tornaram impossı́vel o exercı́cio do sagrado
ministé rio. Somente depois de esgotados todos esses meios, “ o
próprio povo recorreu à resistência armada . Ele fez o bem ou fez o mal?
Foi nosso dever - salienta o bispo - informar, como informamos, que
esgotados todos os meios pacı́ icos, o povo teria razã o para recorrer à s
armas, mas nã o para fazer uma revoluçã o, mas para defender a sua
direitos. direitos pró prios contra usurpadores revolucioná rios" [188] .
Imediatamente depois, o bispo explica a atitude do clero em relaçã o ao
problema concreto: «O clero enunciou esta doutrina. No entanto —e
que ique bem claro—, nã o quis chegar ao ponto de declarar que a
situaçã o que existe no Mé xico é tal que justi ica a sua aplicaçã o» [189] .
A Igreja falou, mas novamente em linguagem sibilina.
Em resposta, o general José Alvarez, chefe de gabinete do presidente
Calles, que acusou o clero de promover a rebeliã o, disse de forma mais
simples, referindo-se à referida declaraçã o:
Tal era a atitude da grande maioria dos padres , qualquer que fosse a
sua opiniã o pessoal, pelo simples facto de terem abandonado as suas
paró quias, fugindo para o estrangeiro e para as grandes cidades, onde
as perseguiçõ es nunca levavam à morte e limitavam-se geralmente a
simples insultos. Milhares de padres passaram trê s anos em uma
situaçã o à s vezes desconfortá vel, mais frequentemente confortá vel,
alojados em casas de cató licos abastados, até mesmo em casas de-
perseguidores, celebrando em particular. Entre 1926 e 1929 , a maioria do
clero estava reunida no Distrito Federal e em algumas grandes cidades,
enquanto os campos permaneciam literalmente abandonados (...). Nas
grandes cidades onde ainda permaneciam —diziam os combatentes—
“os padres nã o queriam se envolver em nada, nã o mostravam a cara”
[192] .
Os Cristeros tomaram café da manhã ; uns vã o a uma lojinha que abre as
portas em frente ao casco da fazenda, outros sobem até o telhado: daı́ a
planı́cie é dominada (...). Surpreendentemente, aparecem ali os
primeiros soldados do 42º Regimento de Cavalaria (...). O general
Gorostieta levanta-se rapidamente, mede o perigo que os espera e dá a
ordem:
— Você tem que sair daqui de qualquer jeito; todos montem
imediatamente e vamos sair antes que eles nos cerquem.
Mas os cavalos, com o barulho dos tiros, empinam-se, e só o general
Gorostieta consegue montar o dele. Ele pega nas mã os por um instante
o cruci ixo que traz no peito, olha para ele e se lança a toda velocidade
em direçã o à saı́da. Uma saraivada fechada o recebe do lado de fora e
seu cavalo cai; ele volta para o interior da mansã o.
"Esses bastardos mataram meu cavalo e levaram meu arquivo", diz ele
indignado.
Um de seus homens pergunta:
"O que vamos fazer, meu general?"
"Lute como os bravos e morra como os homens", ele responde .
Os Cristeros rejeitam bravamente seus inimigos. Eles foram cercados e
é perigoso e difı́cil escapar. No entanto, o major Heriberto Navarrete, o
auxiliar do general, coronel Rodolfo Loza Má rquez, e o soldado Jesusillo
tentam um pequeno pomar de laranjeiras que ica ao lado da fazenda.
Os trê s atingem seu objetivo. Gorostieta pretende seguir o mesmo
caminho, mas a cerca foi fechada. Uma voz interrompe o bater das
balas:
-Quem vive!
-Viva Cristo Rei! Enrique Gorostieta responde desa iadoramente. Sã o
suas ú ltimas palavras: uma rajada de chumbo ceifa sua vida [223] .
Aquele que começara a guerra com alguma suspeita agora morria ao
grito de “Viva Cristo Rei!”; nã o era apenas um grito de guerra, mas o
re lexo de uma convicçã o interna [224] .
***
Todo reducionismo é parte de uma ideologia e, portanto, em parte
contrá rio à realidade. No caso dos Cristeros, é preciso nã o cair em uma
lenda negra, que diria que tudo foi ruim, ou o contrá rio, dizendo que
nã o havia nada de condená vel. No entanto, os exemplos que lemos ao
longo de muitas pá ginas sã o tã o impressionantes por parte das tropas
cató licas que di icilmente sã o encontrados em outros episó dios da
histó ria. E isso mesmo do ponto de vista meramente humano. A
Cristiada dá material para extrair arqué tipos, iguras heroicas e até
almas sagradas. Por que nã o elogiá -los? Por que nã o publicá -los se eles
també m fazem parte da histó ria dos episó dios? O grito "por Deus e pela
Pá tria" resumia bem a forma mentis daqueles cavaleiros medievais que
agora ressuscitavam no Mé xico e lutavam por seus ideais.
Tal era a preocupaçã o de agir com retidã o que, como Carlos V e a
questã o espanhola sobre os "justos tı́tulos" da Conquista, o Mé xico se
perguntava se era lı́cito ou nã o pegar em armas contra um governo
opressor. A resposta suscitou nã o só a intervençã o de grandes teó logos,
mas acabou por de inir —apó s alguns anos— a posiçã o da Igreja sobre
o assunto, como veremos em breve.
Altar-mor da Paróquia Encarnación de Díaz,
Jalisco, onde se lê no tabernáculo "não é aqui"
Davi nunca fez guerra, mas apenas quando provocado. Assim teve
prudê ncia no combate como companheiro da fortaleza [que] serve na
guerra para defender a pá tria dos bá rbaros, ou para defender a famı́lia
ou amigos dos ladrõ es, é uma fortaleza cheia de Justiça [227] .
E també m a seguinte declaraçã o, que avança o debate: "quem nã o
pode proteger um colega de ser agredido, é tã o culpado quanto quem
agride" [228] .
Mas foi sem dú vida o grande bispo de Hipona, Santo Agostinho, que
deu um salto qualitativo na re lexã o cristã .
O ex-maniqueı́sta narrou, ao falar da guerra, que nã o porque fosse
uma infelicidade ela nã o era mais necessá ria em alguns casos: Triste
necessidade para os bons e felicidade para os maus; no entanto, seria
ainda pior se os malfeitores dominassem os homens justos [229] . Esse
tipo de guerra, em defesa do bem, pretendia restaurar a paz e a justiça.
E, entre a paz e a guerra, a primeira deve ser sempre preferida.
A este respeito, ele escreveu por volta do ano 428 a Dario,
governador da Africa:
Certamente sã o grandes e tê m a sua gló ria os mais fortes e ié is
homens de guerra - o que já é um tı́tulo de verdadeira gló ria - a cujos
esforços se deve, com a ajuda de Deus que os protege, que o inimigo
indomá vel seja derrotado e a vitó ria é alcançada a paz para a Repú blica
e as provı́ncias. Mas é objeto de muito maior gló ria matar a pró pria
guerra com a palavra, em vez de matar homens com a espada, e
alcançar a paz com a paz, nã o com a guerra. Para quem luta, se for bom,
sem dú vida busca a paz, ainda que pelo sangue [230] .
Se quisé ssemos resumir o pensamento agostiniano, deverı́amos
dizer que a guerra só pode ser travada por uma causa justa e depois de
esgotados os recursos da palavra, tendo como inalidade sempre
buscar a paz e aplicar a benevolê ncia contra o inimigo, ou seja, buscar
mesmo está tudo bem. A essas condiçõ es, Santo Agostinho acrescentou
ainda uma ú ltima: a guerra deve ser declarada pela autoridade pú blica
e nã o por particulares. [231] .
Como aponta Gonzá lez Morfı́n, o santo doutor nã o hesita em usar
armas, longe de todo irenismo:
Nã o pense que se algué m milita entre as armas guerreiras nã o pode
agradar a Deus. Sã o David foi um soldado, de quem o Senhor deu tã o
grande testemunho (...). Soldado foi aquele centuriã o que disse ao
Senhor: Não sou digno de que entres debaixo do meu teto (...). Nos braços
estava aquele Corné lio a quem foi enviado um anjo que disse: Corné lio,
suas oraçõ es foram aceitas (...). Neles estavam os que vinham ser
batizados por Sã o Joã o (...). Quando os soldados lhe perguntaram o que
deviam fazer, ele respondeu: Não bata em ninguém nem o calunie, e se
contente com seus salários. Ele nã o os proibiu de militares armados,
porque ordenou que se contentassem com seu salá rio [232] .
Assim, há muitas outras passagens em que se baseia para autorizar
a carreira militar e até para justi icar certos tipos de guerras; Portanto,
apesar de Santo Agostinho nã o propor uma doutrina sistematizada em
torno da guerra justa, ele oferece uma de iniçã o que engloba, em certa
medida, o que ele diz sobre a guerra em muitas outras passagens:
Geralmente sã o de inidas como "guerras justas" aquelas realizadas
para punir uma injustiça, por exemplo, quando uma vila ou cidade faz
guerra para corrigir uma má açã o que foi feita contra a sua pró pria, ou
para restaurar o que por injustiça havia sido tirado deles [233] .
Ou seja, aprecia-se como o que dá origem a uma guerra considerada
justa ou nã o, nada mais é do que a iniquitas inimicorum (iniquidade do
inimigo), ou seja, será justa na medida em que se evitar um erro ou
reparar uma injustiça.
E em Santo Agostinho onde a re lexã o dos Padres encontra sua
expressã o mais madura. Nela, a guerra aparece como uma realidade
infeliz que, para ser lı́cita, precisa cumprir uma sé rie de caracterı́sticas,
algumas das quais passaram até hoje como condiçõ es essenciais para
justi icar uma reaçã o armada a uma grave injustiça. Extraı́das de
fragmentos recolhidos em vá rias obras, estas condiçõ es estabelecidas
pelo bispo de Hipona sã o cinco: a) justa causa; b) que tenha por
inalidade a paz; c) retidã o de intençã o ao lutar; d) esgotar
previamente o recurso do diá logo e e) que seja autoridade legı́tima
quem o declare [234] .
Sem dú vida, o convertido Agostinho lançou as bases doutriná rias;
no entanto, o ensinamento da Igreja nã o terminou em Hipona.
Entre os doutores da Igreja, o ilho dos Condes de Aquino, Sã o
Tomá s, sempre foi o guia seguro ao longo dos sé culos. Em suas obras
—principalmente na Summa Theologica— há elementos claros (muito
claros) para se basear em uma doutrina de resistê ncia armada sem
falhar no esforço [235] .
No quadro da moralidade ou imoralidade da guerra, na questã o 40
de II-II da sua magnum opus, pergunta se empreender um con lito de
guerra é sempre pecado, ao que responde negativamente, ou seja, há
casos em que Você pode simplesmente recorrer à guerra; poré m, para
que seja considerado "justo", sã o necessá rias trê s condiçõ es: 1) que
seja convocado pela autoridade do príncipe (pois nã o é
responsabilidade de um particular promover uma guerra); 2) que haja
justa causa , ou seja, que se faça para reparar um agravo; e 3) que a
intenção de quem a empreende é reta , isto é , que procure obter um
grande bem ou evitar um grande mal, mas que nã o seja movido por
ambiçã o ou crueldade. [236] .
No mesmo sentido e aprofundando-se no assunto, duas questõ es
depois, na questã o 42, trata da sediçã o e, depois de explicar que é um
pecado especial e que difere da simples guerra porque nã o se trata de
atacar — ou preparar-se para atacar — um inimigo estrangeiro, mas
que sã o duas partes do mesmo povo que se enfrentam, Santo Tomá s
questiona, no artigo segundo, se a sediçã o é sempre pecado mortal, e
a irma que o é . No entanto, esclarece que, como um regime tirâ nico nã o
é justo, pois nã o está ordenado ao bem comum, uma rebeliã o contra tal
governo nã o teria cará ter de sediçã o. Alé m disso, um tirano que
buscasse apenas o seu pró prio bem em detrimento de seu povo poderia
ser acusado de sediçã o, porque subjugando seu povo ele alimenta a
discó rdia e a sediçã o.
Como bem observa Gonzá lez Morfı́n, "sem ser ainda um verdadeiro
tratado de resistê ncia armada, esta passagem de Santo Tomá s
contempla a possibilidade de resistir a um regime que abandonou a
busca do bem comum para se concentrar apenas em seu pró prio
benefı́cio" [237] .
"Pois assim como é lı́cito resistir aos ladrõ es, da mesma forma é
lı́cito resistir aos maus governantes, exceto se um escâ ndalo é causado
quando uma desordem muito grave pode resultar de tal atitude" [238] .
No De regimine principum (do governo dos prı́ncipes), o santo
doutor considera a possibilidade de resistir a um governo tirâ nico. Ali,
Tomá s de Aquino estabelece pelo menos trê s condiçõ es para que uma
açã o de resistê ncia armada seja moralmente permitida: a) a existê ncia
de uma tirania que viole fortemente os direitos da sociedade civil; b)
que o levante contra o governo tirâ nico oferece chances de sucesso; e c)
que os males causados nã o sejam maiores do que aqueles que se
pretende remediar.
Em resumo, Gonzá lez Morfı́n diz:
a maior certeza possı́vel em relaçã o à vitó ria; alé m disso, ele é obrigado
a comparar a esperança de vitó ria com o perigo de lesã o e ver se,
pesando todas essas coisas, a esperança prevalece. Mas se é impossı́vel
alcançar tal certeza, pelo menos deve haver uma esperança de vitó ria
mais prová vel, ou igualmente duvidosa dependendo da necessidade do
Estado e do bem comum. [242] .
Em suma, de acordo com este breve instantâ neo, as re lexõ es
desenvolvidas pelos citados autores clá ssicos contê m as condiçõ es que
mais tarde prevalecerã o na doutrina da Igreja ao entender um levante
como legı́timo. E assim que Gonzá lez M. resume as condiçõ es:
Se alguma vez aconteceu que o poder pú blico foi exercido pelos
governantes de forma imprudente e ultrapassando seus limites, a
doutrina da Igreja Cató lica nã o permite que se levantem sozinhas
contra eles, para que a tranquilidade nã o seja perturbada cada vez
mais. de ordem ou daı́ a sociedade recebe maiores danos; e quando as
coisas chegam a tais termos que nenhuma outra esperança de salvaçã o
brilha, ele ensina que o remé dio deve ser apressado com os mé ritos da
paciê ncia cristã e com oraçõ es instantâ neas a Deus. [249] .
O Papa Gregó rio XVI, pouco antes da citada encı́clica, havia
condenado a insurreiçã o dos cató licos poloneses contra o czar; alé m
disso, apenas alguns anos antes, o episcopado irlandê s havia
condenado uma insurreiçã o cató lica anunciando que aqueles que
persistissem em se opor ao governo por meio de armas seriam
excomungados , e qualquer padre que apoiasse a revolta seria suspenso
a divinis [250] .
Por tudo isso, os cató licos se perguntavam se o que estavam fazendo
era algo legı́timo. Alé m disso, alé m da diretriz eclesial que eles queriam
respeitar, havia um problema polı́tico, já que a Igreja hierá rquica nã o
queria ser muito direta em suas declaraçõ es: se a insurreiçã o mexicana
fosse explicitamente condenada, os rebeldes teriam que depor suas
armas com grandes perdas e, se apoiadas, receberiam ainda mais
retaliaçã o do governo, somando à difı́cil situaçã o um con lito
diplomá tico global.
Agora, quais eram os elementos à disposiçã o dos Cristeros para
formar sua opiniã o sobre a legalidade ou nã o da defesa armada?
Para conhecer o pensamento e as fontes daqueles que clamaram
pela defesa armada, é de capital importâ ncia uma obra editada
clandestinamente pela Liga Nacional de Defesa da Liberdade Religiosa.
[251] em 1929, logo apó s os "Arranjos" serem feitos. Este é o livro
Nas circunstâ ncias atuais, a intervençã o dos cató licos para alcançar a
liberdade da Igreja e seu lorescimento, bem como a prosperidade da
naçã o, nã o é , amados ilhos, um simples conselho que lhes damos, mas
uma obrigaçã o muito sé ria que lembrá -lo. [260] .
Mas entã o... legalidade ou ilegalidade da guerra armada? O
episcopado, embora tenha declarado o que lemos, por outro lado disse:
Há casos em que os teó logos cató licos autorizam nã o a rebeliã o, mas a
defesa armada contra a agressã o injusta de um poder tirâ nico, depois
de esgotados os meios pacı́ icos. O episcopado nã o entregou nenhum
documento no qual declare que este caso chegou ao Mé xico (...). Se
algum cató lico, secular ou eclesiá stico, seguindo a referida doutrina,
acredita que chegou a legalidade dessa defesa, o episcopado nã o apoia
essa resoluçã o prá tica. [261] .
Entre os bispos mexicanos [262] quem mais se destacou por sua
clareza é o bispo José de Jesú s Manrı́quez y Zá rate, bispo de Huejutla
que, no momento de responder a uma acusaçã o do governo em que o
clero era culpado pelo levante armado, declarou de seu exı́lio forçado:
Os cató licos mexicanos que estã o no campo de batalha (...) nã o fazem
nada alé m de usar o direito inaliená vel que os assiste para evitar a todo
custo a ruı́na da Igreja mexicana e a destruiçã o da sociedade (...). No
caso de indivı́duos, pode haver alguns casos em que a resistê ncia
passiva é preferı́vel por ser mais perfeita. E o caso dos padres (...). Tal é
també m o caso dos cidadã os inocentes que, por motivos muito justos,
se abstê m da luta armada e que, no entanto, por ó dio à sua fé , sã o
sacri icados (...). Mas o martı́rio nã o é a lei ordiná ria (...); os má rtires
sã o poucos e seria (...) tentar Deus para ingir que um povo inteiro
alcançou a coroa do martı́rio. Entã o, pela lei ordiná ria, a luta tem que
ser ativamente engajada, e a agressã o repelida da forma como ela
ocorre (...). Mas se (um governo) ataca as liberdades essenciais dos
cidadã os, se trai a Pá tria; se assassina (...) e ataca sistematicamente a
vida e a honra de famı́lias e indivı́duos, entã o a defesa armada é um
dever social que se impõe a todos os membros da comunidade [263] .
Aqui está um bispo que fala sem meias palavras...
Como aponta Gonzá lez Morfı́n [264] , há na presente declaraçã o de
Manrı́quez e Zá rate um juı́zo pouco estudado pela teologia moral e que,
aparentemente, está em desacordo com a doutrina comum até entã o
existente sobre a resistê ncia armada; Trata-se da “possibilidade de
sucesso” que o levantamento deve ter para atingir seu cará ter jurı́dico:
Sem falar que os cató licos poderiam se unir e se organizar para tentar
uma defesa por meios legais, já que qualquer associaçã o de ié is que
busque tal im foi estritamente vetada pela Lei Calles com as penas
mais graves (Art. 10 - 16 ); para que as massas que não querem viver sob a
tirania e não são mais contidas pela pregação pací ica do clero iquem
com nada além de uma rebelião violenta [266] .
A única coisa que resta... é a rebelião violenta ..., disse a si mesmo.
Dessa forma, difundiu-se cada vez mais a ideia de que Roma apoiava o
movimento armado e sua justi icativa a partir de seu ó rgã o de
divulgaçã o “sem se comprometer” como o Osservatore . O Vaticano, para
evitar crı́ticas internacionais, levou quase dois anos para quali icar esta
declaraçã o editorial com uma nota explicativa que dizia o seguinte:
Há quem acredite e queira fazer crer que circula no Mé xico, e em alguns
outros lugares, o boato de que o pró prio Sumo Pontı́ ice concedeu uma
bê nçã o especial à insurreiçã o armada e até concedeu indulgê ncias
especiais aos combatentes, estimulando assim ( segundo eles mesmos
dizem) també m a arrecadaçã o de dinheiro destinada aos combatentes.
A irma-se em numerosos documentos conhecidos que o Santo Padre
sempre esteve ao lado de seus ilhos mexicanos, perseguidos e
sofredores pela fé de seus pais, mas també m está documentado que
nã o há nada de verdadeiro na voz mencionada [267] .
O que se pretendia era negar que a bê nçã o papal à insurreiçã o
armada estivesse "documentada", bem como que "coletas" tivessem
sido permitidas a seu favor ou dadas "indulgê ncias aos combatentes",
ao estilo das antigas Cruzadas.
Mas nem tudo é tã o fá cil; Nã o foi apenas o Osservatore Romano que
lançou as bases para uma interpretaçã o favorá vel da revolta, mas o
pró prio Papa Pio XI . Foi um momento difı́cil; Nã o apenas os templos
haviam sido fechados ao culto no Mé xico, mas as primeiras revoltas
també m estavam ocorrendo. Nesse contexto, o Papa recebeu um grupo
de jovens mexicanos em 30 de dezembro de 1926, no â mbito das
festividades do bicentená rio da canonizaçã o de Sã o Luı́s Gonzaga,
dizendo-lhes:
Você , voltando ao Mé xico, dirá a todos as palavras que ouviu de nossos
lá bios; Você lhes dirá que saudamos todos os mexicanos em você s (...),
mas sobretudo e principalmente, aquele amado e generoso jovem
mexicano. Você vai dizer a eles que nós sabemos tudo o que ela faz, que
sabemos que ela luta, e como ela luta, aquela grande guerra que pode ser
chamada de batalha de Cristo [269] .
Parecem-nos palavras claras, tanto pelo seu contexto como pelo seu
signi icado [270] ; No entanto, há quem nã o acredite que esta posiçã o
papal seja um “suporte” para o movimento Cristero, simplesmente
dando-lhe um “sentido metafó rico”. [271] .
1. As revoltas de 1926
rebeliõ es começaram a ocorrer quase simultaneamente: em 31 de julho
em Oaxaca houve um motim por ocasiã o da entrega do templo dos Sete
Prı́ncipes; os tumultos e brigas aconteciam cada vez mais e podiam ser
ilustrados para centenas.
Vimos, da mã o de Rı́us Facius e Heriberto Navarrete, um caso
emblemá tico da reaçã o popular no capı́tulo IV , quando, em 3 de agosto,
no santuá rio da Virgem de Guadalupe (Guadalajara), as pessoas
estavam atentas em cuidar a igreja mais preciosa da cidade; as
crianças, mensageiras do perigo que se aproximava, usavam uma
“senha” para identi icar os carros que se aproximavam: à pergunta
“Quem vive?”, tinham que responder “Viva Cristo Rei!” Antes da defesa
aconteceu que um veı́culo passou e, ao nã o responder com a senha,
uma das crianças acertou uma pedra que acabou motivando um
disparo de arma de fogo de dentro do carro. Aconteceu que, quem
estava viajando para lá , era o general Muñ oz, comandante da praça; o
tumulto foi tal que o pró prio exé rcito teve que intervir. Apó s vá rias
lutas, o exé rcito acabou abrindo fogo contra a multidã o desarmada. Até
as mulheres se lançaram em combate corpo a corpo com os soldados; o
episó dio terminou na madrugada do dia seguinte com a rendiçã o dos
civis e quase quatrocentos detidos.
O mê s de agosto foi marcado por vá rios levantes: Puebla, Oaxaca,
Michoacá n, foram alguns dos lugares onde os cató licos se levantaram
espontaneamente contra os con iscos e buscas do governo.
Mas o mais importante dos levantes ocorreu em Zacatecas: em 14
de agosto daquele mesmo ano, à noite, o exé rcito prendeu o pacı́ ico
pá roco de Chalchihuites: Luis Bá tiz. No dia seguinte, Pedro Quintanar,
uma igura in luente em toda a regiã o e um famoso homem de armas,
foi esmagado pelas pessoas que lhe imploraram para fazer algo pela
liberdade do seu pá roco. Com alguns homens, ele tentou uma
emboscada na saı́da da cidade, mas falhou na tentativa e teve que se
esconder.
O governo, ciente da autoridade de Quintanar, mobilizou os agrá rios
para impedir os acontecimentos e requisitou as armas e cavalos de
particulares da á rea enquanto estes, aceitando a liderança do
movimento, conseguiram atacar em 29 de agosto, com cem homens, a
cidade de Huejuquilla el Alto (Jalisco), sendo recebida em meio ao
clamor de "Viva Cristo Rei!"
Em setembro, na regiã o de Ciudad Hidalgo, Simó n Corté s, chefe das
"forças de defesa social", partiu para o campo com suas tropas
"rebeldes". Em Yururia (Guanajuato) e Maravatı́o (Michoacá n)
apareceram os primeiros rebeldes, incendiando a estaçã o Salvatierra.
Era inal de setembro e o governo teve que enviar reforços para
derrotar as inú meras revoltas que ocorriam por toda parte.
Passaram-se semanas e o fermento parecia fazer o seu trabalho, de
modo que já em "outubro, o exé rcito pô de perceber que as coisas nã o
iam ser tã o fá ceis como o general Amaro e o presidente Calles
acreditavam" [284] . O governo, alé m disso, tentou minimizar os levantes
dizendo que "nenhum problema militar afeta a Repú blica hoje... Há
feixes... formados em parte por faná ticos que embarcaram em
aventuras rebeldes" [285] . Os movimentos populares se multiplicaram,
mas sabe-se que sem liderança nã o há sucesso nas guerras. Aqui entra
o papel fundamental dos movimentos leigos cató licos que apoiaram,
depois que o pavio foi aceso, a insurreiçã o armada.
Tudo foi tentado: assinaturas, boicotes, reclamaçõ es, apelos, mas a
iniciativa pacı́ ica parecia em vã o. O mesmo lı́der cató lico, Anacleto
Gonzá lez Flores, tendo sido um defensor da paz, foi agora obrigado a
recomendar a luta armada. Como já lembramos, foi no inal de
dezembro do mesmo ano que ele leu o seguinte texto à Convençã o da
Uniã o Popular, reunida em Guadalajara: «O LNDLR manda suas
delegaçõ es ... organizar imediatamente um movimento armado para
derrubar o governo da Repú blica e salvar as liberdades populares pela
força» [286] . A Revolta organizada aconteceria em 1º de janeiro de 1927
diante da “irresistı́vel pressã o popular” que se experimentava.
Como já dissemos, citando um comentá rio de Jean Meyer [287] Para o
povo, as coisas eram claras: a paciê ncia, a penitê ncia e as oraçõ es de
cinco meses de nada adiantaram diante dos coraçõ es endurecidos;
Tudo foi feito para evitar pegar em armas, mas nã o havia outra saı́da,
como testemunham inú meros manifestos; a revolta ocorreria de forma
plena e organizada em janeiro de 1927.
Os locais onde a Uniã o Popular teve maior in luê ncia foi, sem dú vida,
no estado de Jalisco, com destaque para a á rea denominada "Los Altos",
onde até hoje pode ser percorrida a "rota cristero". [288] (praticamente
nã o há uma pequena cidade que nã o tenha seus pró prios má rtires);
Isso nã o signi icou que Aguascalientes e Colima, o sul de Zacatecas e
parte de Nayarit icaram fora de sua ó rbita. A resposta do exé rcito
federal foi imediata e o que ia ser simplesmente uma "revolta piedosa"
transformou-se numa guerra de guerrilha que nã o teria terminado sem
os infelizes "arranjos" de 1929, como veremos mais adiante.
Enquanto as tropas cató licas se levantaram espontaneamente para a
luta, muitas vezes incitadas por suas pró prias mulheres, os "federais"
tiveram que recrutar seus homens por meio de recrutamento forçado
[289] , o que levou, em muitos casos, à deserçã o e à transiçã o de tropas
O geral
Enrique Gorostieta
Capítulo VIII
Maçonaria na Cristiada
A luta é eterna;
a luta começou há vinte séculos.
No México, o Estado e a Maçonaria
nos últimos anos têm sido a mesma coisa.
(Emilio Portes Gil, Presidente do Mé xico)
Pouco se sabe sobre este aspecto da Cristiada; A Maçonaria é um
assunto de difı́cil pesquisa, portanto, pouco ou nada existe sobre este
assunto pendente [321] ; no entanto, ao longo de nossa pesquisa, a
questã o surgiu permanentemente no povo, nos ditos e nos governantes
do Mé xico.
Nã o nos alongaremos muito aqui, mas faremos um breve relato da
in luê ncia que a referida instituiçã o teve nos episó dios que nos
preocupam.
2. Maçonaria no México
No Mé xico [323] , como em todos os lugares, é muito difı́cil precisar o
ano em que a Maçonaria começou a funcionar
Segundo Fé lix Navarrete [324] , em 1785 um pintor italiano chamado
Felipe Fabris já havia sido processado por ser maçom; Da mesma
forma, em 1793, o padre de Molango denunciou um francê s, caixeiro-
viajante, por sua adesã o e afeiçã o à seita dos maçons, pelo que se
deduz que já no inal do sé culo XVIII ou inı́cio do sé culo XIX havia eram
maçons no Mé xico, muito provavelmente como resultado das
primeiras imigraçõ es em meados desse mesmo sé culo da Itá lia, França
e Espanha.
Entre essas imprecisõ es e poucos dados, há um livro que é
totalmente esclarecedor por ter sido escrito por um dos iniciados; E o
livro intitulado História da Maçonaria no México de 1806 a 1884 , de
José Marı́a Mateos, fundador do Rito Nacional Mexicano, publicado com
a autorizaçã o do Supremo Grande Oriente do mesmo rito no jornal
o icial La Tolerancia em 1884. De podemos extrair o seguinte pará grafo:
Desde quando ela (Maçonaria) foi introduzida entre nó s? (...). Desde o
ano de 1806 . A Maçonaria no Mé xico data apenas dessa é poca, pois nã o
há evidê ncias de que antes dela alguma L(ogia) tenha sido
estabelecida. A vigilâ ncia estabelecida pelo governo e a proibiçã o
absoluta de qualquer reuniã o que pudesse levantar suspeitas deixaram
os mexicanos em completa letargia. [325] .
Navarrete a irma em seu substancial trabalho sobre a Maçonaria no
Mé xico que a corrente que acabou se instalando em terras mexicanas
nã o foi apenas a inglesa (aparentemente mais tolerante), mas a
escocesa. [326] , de raiz francesa e sob o nome de Rito Escocês Antigo e
Aceito , o mais radical e anticlerical de todos [327] .
Seu nome era Joaquı́n Pé rez y Budar. Ele nasceu em Justlahuaca,
Oaxaca, em 16 de agosto de 1851 . Aos 18 anos, dedicou-se ao comé rcio e,
em 1872 , rebelou-se contra a reeleiçã o presidencial de Lerdo de Tejada.
Aposentou-se com o posto de capitã o para retornar ao comé rcio.
Casou-se e 13 meses depois icou viú vo. Entrou no seminá rio. Em 1881
cantou sua primeira missa na diocese de Veracruz. Voltou à sua terra e,
com grande insolê ncia, ingressou na loja maçô nica "Amigos da Luz",
continuando a exercer o ministé rio sacerdotal [333] .
Mas vamos aos protagonistas mais diretos do con lito e ao vı́nculo
que eles tinham com a pousada.
para. O caso de Calles
O diplomata francê s Ernest Lagarde, fonte inestimá vel utilizada por
Meyer, conseguiu entrevistar o presidente Calles durante os anos
Cristiada; Apó s as conversas, como um bom diplomata, ele enviou seus
resumos para a França onde explicou sua visã o do entrevistado:
«Cada semana que passa sem exercı́cios religiosos (disse Calles) fará
com que a religiã o cató lica perca 2 % dos seus ié is...”. Ele estava
determinado a destruir a Igreja e livrar seu paı́s dela de uma vez por
todas. As vezes, o presidente Calles, apesar de seu realismo e frieza, me
dava a impressão de abordar a questão religiosa com espírito
apocalíptico e místico. [334] .
Ao que Lagarde acrescentou:
Plutarco Elı́as Calles era maçom de grau 33 e, como recompensa por sua
implacá vel campanha de perseguiçã o nacional contra o catolicismo, em
28 de maio de 1926 , pelas mã os do Supremo Grande Comendador do Rito
Escocê s, Luis Manuel Rojas, a medalha da Maçonaria Mé rito. A
cerimó nia decorreu na sala verde do Palá cio Nacional. O comandante
disse no seu discurso alusivo: «A ordem que tenho a honra de presidir-
nunca concedeu esta alta distinçã o; foi decretado pelo mé rito
extraordiná rio de que se tornou credor como Presidente da Repú blica,
resolvendo, em tã o pouco tempo, os problemas mais graves » [337] .
Para dizer a verdade, ele nã o só tinha convicçõ es polı́ticas
profundas, mas també m princı́pios fortemente anticató licos e, embora
tenha ascendido a um alto escalã o na Maçonaria, parece que foi apenas
por causa de sua polı́tica anti-religiosa.
Foi um jornalista italiano que, na opiniã o de Meyer e sem muito
prurido, de iniu grosseiramente as Calles de outrora:
Calles nã o tem uma ideologia precisa, como Obregó n; para atingir seus
objetivos, que sã o "ordem e progresso", ele está disposto a tudo, aquele
que decidiu ser "o dono da pró pria casa" (...). Talvez tenha sido um
jornalista italiano, convidado por Calles, no â mbito de sua campanha de
propaganda internacional , quem melhor de iniu o personagem: «No
Mé xico nã o há bolchevismo...! [O Mé xico] é neste momento um feudo
da Segunda Internacional Social Maçô nica, governada por um Herriot nas
botas de montaria de um general mexicano e por um certo grupo de
barõ es feudais em jaquetas de "compañ ero", agora chamados de
governadores dos estados, agora generais de divisã o com comando de
operaçõ es, agora senadores ou deputados [338] .
b . Emilio Portes-Gil
Apó s o tiranicı́dio perpetrado por José de Leó n Toral [341] contra o
presidente eleito Alvaro Obregó n (julho de 1928), os obregó nistas
pediram a Calles que retirasse do gabinete os ministros que se
mostravam os maiores inimigos do obregó nismo. As mudanças que
foram feitas permitiram a Portes Gil assumir o cargo de secretá rio do
Interior, entã o governador do estado de Tamaulipas e de pouca
importâ ncia polı́tica até entã o, mas "com uma brilhante carreira
maçô nica" segundo Rius Facius. [342] .
A iliaçã o de Portes Gil nã o pode ser questionada, principalmente
quando ele mesmo tentou ostentá -la. De fato, apó s os "arranjos" o entã o
presidente do Mé xico começou a ser tachado de covarde ou conciliador
com o inimigo (a Igreja) por seus pró prios partidá rios anticlericais.
Disseram que, ao ter feito os "arranjos", ele havia desencadeado um
retrocesso no processo revolucioná rio.
Como a acusaçã o se tornou cada vez mais grave e poderia fazê -lo
perder popularidade entre os mais pró ximos, ele foi forçado a fazer
uma declaraçã o pú blica que ocorreu em 27 de julho de 1929 na
celebraçã o do solstı́cio de verã o diante de mais de duzentos Maçons do
grau 33. No banquete, levantando a voz, declarou:
Venerá vel Grã o-Mestre, Venerá veis Irmã os... O clero reconheceu
plenamente o Estado e declarou abertamente que se submete
estritamente à s leis. E eu nã o poderia negar aos cató licos o direito que
eles tê m de se submeter à s leis, porque para isso existe o imperativo
categó rico de que como governante me obriga a respeitar a lei. A luta
não começa. A luta é eterna; a luta começou há vinte séculos . Felizmente,
entã o, nã o há necessidade de se assustar; o que devemos fazer é estar
em nossa posiçã o; para nã o cair no vı́cio em que caı́ram os governos
anteriores, e principalmente os de quarenta anos atrá s, que tolerâ ncia
apó s tolerâ ncia e contemplaçã o apó s contemplaçã o os levaram à
anulaçã o absoluta de nossa legislaçã o.
O que você tem que fazer, entã o, é estar vigilante, cada um em seu
posto. Os governantes e funcioná rios pú blicos, zelosos de cumprir a lei
e garantir que ela seja cumprida. E enquanto estiver no governo, ante a
Maçonaria protesto que terei ciú mes das leis do Mé xico, das leis
constitucionais que garantem plenamente a liberdade de consciê ncia,
mas que submetem os ministros da religiã o a um regime determinado:
protesto, digo , antes da Maçonaria, que enquanto eu estiver no
governo, essa legislaçã o será rigorosamente cumprida... No México, o
Estado e a Maçonaria nos últimos anos têm sido a mesma coisa : duas
entidades que andam de mãos dadas, porque homens que nos últimos
anos estiveram no poder sempre souberam mostrar solidariedade com os
princípios revolucionários da Maçonaria [343] .
Destaquemos estas palavras: «o Estado e a Maçonaria nos ú ltimos
anos tê m sido a mesma coisa...». Para sustentar esta a irmaçã o de
Portes Gil, trazemos aqui brevemente, a lista detalhada que Fé lix
Navarrete faz sobre a iliaçã o maçô nica dos lı́deres mexicanos até o
con lito religioso [344] :
- General Guadalupe Victoria (Presidente 1824-1829).
- General Vicente Guerrero (Presidente abril-dezembro de 1829).
- General Anastasio Bustamante (Presidente 1830-1832).
- General Manuel Gó mez Pedraza (Presidente 1832-1833).
- General Antonio Ló pez de Santa Ana (9 vezes Presidente. A primeira
em 1833; a ú ltima em 1853).
- Dr. Valentı́n Gó mez Farı́as (mé dico) (Vice-presidente atuando como
presidente, sempre em uniã o com Santa Ana, 4 vezes em 1833-34).
- General Nicolá s Bravo (ocupou o governo com vá rios tı́tulos 4 vezes,
de 1824-1842).
- General Mariano Paredes y Arrillaga (Presidente em 1846).
- General Mariano Arista (Presidente 1851-1853).
- Lic. Juan B. Ceballos (Presidente 1853).
- General Manuel Marı́a Lombardini (Presidente em 1853).
- General Ignacio Comonfort (presidente trê s vezes; em 1856, 1857 e
1858).
- Sr. Benito Juá rez (Presidente 1858-1872).
- General Juan N. Almonte (em 1863 era membro da Regê ncia do
impé rio e em 1864 tenente do impé rio).
- Maximiliano I (imperador de 1864 a 1867).
- General Por irio Dı́az (Presidente 1876-1880 e de 1884 a 1911).
- General Manuel Gonzá lez (Presidente 1880-1884).
- Francisco I. Madero (Presidente 1911-1913).
- General Plutarco Elı́as Calles (1924-1928).
- Lic. Emı́lio Portes Gil (Presidente 1928-1930).
Nã o há riquezas considerá veis nas mã os da Igreja, e nã o há revoltas
populares, exceto quando o povo se sente ferido em suas tradiçõ es
indestrutı́veis e em sua legı́tima liberdade de consciê ncia. A
perseguição da Igreja, quer o clero esteja envolvido ou não, signi ica
guerra, e uma guerra tal que o governo só pode vencer contra seu próprio
povo , graças ao apoio humilhante, despó tico, caro e perigoso dos
Estados Unidos. Sem sua religião, o México está irremediavelmente
perdido. [353] .
Uma "guerra contra seu pró prio povo", disse o pró prio presidente
dos mexicanos; con issõ es como essas isentariam mais provas. Esta
guerra, este genocı́dio perfeitamente evitá vel, se tivessem sido seguidas
as regras mais elementares da ló gica aristoté lica, terminou com um
enorme nú mero de vidas do povo, tanto das forças federais como dos
Cristeros.
Que espı́rito guiou a luta? Qual era o motivo de tanto ó dio religioso?
O movimento popular, sem orientaçã o direta da Igreja, como vimos, nã o
se encaixava nos esquemas mentais dos membros do governo, que, ié is
aos princı́pios radicais, viam na religiã o o "ó pio do povo" distribuı́do
pelos homens de cinta e tonsura.
A confusã o era tanta que aqueles que perseguiam as massas deram
as seguintes razõ es para fazê -lo: « 1 ) porque pertencem ao arsenal
histó rico da direita, 2 ) porque sã o cató licos, 3 ) porque eram capazes
de agir por conta pró pria iniciativa" [354] . Especialmente este ú ltimo:
era impossı́vel entender como os Cristeros poderiam ser um
movimento católico e popular .
Neste capı́tulo, entã o, tentaremos fazer um breve resumo dessa
paixã o, dessa ideia quase recorrente que funcionou à s vezes como
motor do con lito.
Vou demonstrar, disse ele, que cada um desses pontos constitui uma
grande imoralidade ... Os pobres de espı́rito que conscientemente,
submissamente, degradantemente permitem que suas esposas, as
mulheres mais queridas, todas aquelas pessoas que estã o relacionadas
com seus mais ı́ntimos sentimentos, vã o esvaziar nas orelhas
crapulosas desses homens tã o desastrosos quanto degradados tudo o
que se passa em casa, todos aqueles segredos que nã o devem sair de
casa... Toda mulher que confessa é adúltera e todo marido que permite
que seja cafetã o e consentidor de tais prá ticas imorais [fortes
aplausos]... Quanto ao casamento do padre, nã o realizando um ato
natural... o que aconteceria, senhores, quando um homem dotado de
carne e sangue, um homem que tem um sistema nervoso capaz de
desenvolver funçõ es reprodutivas, nã o pode realizá -las porque uma
barragem foi colocada em seu desenvolvimento? O que está
acontecendo? Isso tem que prosperar na cerca de outra pessoa. E por
isso que há tantos lares em estado desastroso ... desastre, para que
cada mulher seja uma adú ltera... e cada sacerdote um sá tiro solto no
seio da sociedade [grandes aplausos] [366] .
Isso que agora nos parece impensá vel, ou seja, que em uma letra
fundamental de uma naçã o, como a Constituiçã o Nacional, se trata de
con issã o, aconteceu no Mé xico no inı́cio do sé culo. Mas os
convencionais nã o foram os ú nicos; entre os homens armados també m
havia opiniõ es semelhantes: o general Mú jica, por exemplo, estava
convencido de que "na con issã o é onde está o perigo, é onde está todo
o segredo do poder absoluto que esses homens negros e
verdadeiramente atrasados residem. “teve ao longo de sua vida como
sociedade anô nima no Mé xico”; Foi "uma das grandes imoralidades,
este é um grande crime que foi cometido, e devemos pedir
vigorosamente, de uma vez por todas, que seja completamente
abolido" [367] .
A con issã o nã o seria o ú nico sı́mbolo do catolicismo a ser atacado.
O Mé xico, que se declara 99% cató lico e 100% guadalupano, sofreria
enormemente se algo acontecesse com o manto deixado pelo
aparecimento milagroso de Tepeyac: a imagem da Virgem de
Guadalupe, como aconteceu.
Em 14 de novembro de 1921, Juan M. Esponda, funcioná rio da
secretaria particular da Presidê ncia da Repú blica, foi ao Santuá rio da
Virgem de Guadalupe, no Distrito Federal, e colocou no meio de um
buquê de lores um banana de dinamite, ao pé da venerada imagem.
Apó s a explosã o, o infeliz Esponda tentou fugir e, se salvou sua vida,
foi graças a um grupo de soldados que impediu seu linchamento. De
acordo com as fotos da é poca, o dano foi considerá vel, poré m, devido a
um fenô meno inexplicá vel, o vidro que cobria a imagem nã o havia
quebrado, enquanto o cruci ixo de bronze que estava no altar da
Virgem permaneceu arqueado como se tivesse defendido para a
explosã o de sua mã e [368] .
O terrorista frustrado foi submetido a um julgamento simulado e,
inalmente, declarado inocente. Como sempre, o governo nã o só quis
ignorar o ataque, mas mais uma vez acusar o "fanatismo" popular; O
governador Eduardo Neri declarou: "Os danos causados no templo de
referê ncia foram pouco considerados e o ato em si só favorece o
elemento clerical" [369] . As vı́timas tornaram-se vitimizadores.
Seja como for, todo o ó dio religioso demonstrado pelo governo só
aumentou a devoçã o e a ira das massas populares, que viam em muitas
delas a mã o do inimigo.
Mas nem tudo icou em imagens ou escapulá rios; havia certos
fenô menos que podiam ser caracterizados como sintomá ticos ou
patoló gicos. Que em uma guerra as pessoas matam e morrem nã o é
novidade, o que acontece sã o certas atitudes que raramente sã o vistas,
exceto nas guerras religiosas.
E difı́cil para nó s nã o citar este pará grafo que pode impressionar
mais de um. Para quem leu a histó ria da Revoluçã o Francesa,
especialmente nos chamados anos do "terror" ou, mais perto de nó s, a
perseguiçã o religiosa que ocorreu na Espanha na dé cada de 1930 , vai
parecer que eles estã o olhando para o mesmo quadro com uma
paisagem de fundo distinta.
Meyer, que nã o é exatamente um homem "da Igreja", contou em sua
juventude nã o sem alguma surpresa:
profanações
Padre Zedano,
sacerdote em Zapotlan
Capítulo X
O sangue de um povo: para a Igreja e para o
México
Quando você nã o pode governar do Estado, com dever, você governa de fora, da sociedade, com
direito. E quando nã o pode... porque o poder nã o reconhece? Recorre-se à força para manter a lei e
impô -la. E quando nã o há força? Comprometer-se e ceder? Não, não, então ele vai... para as-
catacumbas e para o circo, mas não cai de joelhos, porque os ídolos estão no Capitólio ” [378] .
cristero , como já dissemos, teve que sofrer durante anos um silê ncio
acordado por parte do governo e da hierarquia eclesiá stica. Um silê ncio
discutı́vel, de fato, mas mesmo assim um silê ncio. As primeiras notı́cias
sobre aqueles que tinham oferecido a vida "por Deus e pela Pá tria" —
como diziam os dirigentes da "Liga" — começaram a surgir graças a
pan letos, brochuras e pequenos livros que, imediatamente apó s o
con lito , começaram a circular sob pseudô nimos ou clandestinamente.
Houve, no entanto, quem desde o inı́cio e ignorando a proibiçã o,
denunciou as perseguiçõ es e martı́rios perpetrados a partir do
aparelho de Estado; Foi graças a essa documentaçã o que, somente em
1988, puderam ser reconhecidas as virtudes heró icas de alguns dos que
caı́ram por ó dio à Fé ; Foi o caso do padre jesuı́ta Miguel Agustı́n Pro
Juá rez, o primeiro padre beati icado pela Igreja. Mais tarde, vá rios
seriam elevados à gló ria dos altares, mas sempre cuidando de um
detalhe: que nã o tivessem agido com violê ncia durante os anos da
guerra; aduziu-se para isso uma razã o prudencial, isto é , que nã o se
interpretou um endosso da Igreja aos santos “violentos” (politicamente
incorreto para nossos tempos). Seja como for, os beati icados eram
quase todos sacerdotes e leigos "pacı́ icos"; embora nem todos.
Mas primeiro, um esclarecimento: o que signi icava quando a Igreja
os declarava "má rtires" e até onde vai essa declaraçã o? Vale a pena
parar. "Má rtir" na esfera cató lica é algué m que foi "testemunha",
testemunha de Cristo a ponto de dar a vida por Ele. No con lito de
Cristero houve muitos que se ofereceram por Deus, mas també m houve
outros, em quem nem sempre icou claro se lutaram por Cristo ou pela
pá tria; isto é , nem todos morreram em defesa da fé , pelo menos falando
diretamente. Eles també m poderiam ser "má rtires" como entendido
pela Igreja? Compreendemos com Sã o Tomá s, o grande doutor da
Igreja, que sim:
Dois dias antes da supressã o dos cultos em toda a Repú blica decretada
pelo episcopado, caiu um velho e modesto comerciante daquela cidade,
José Garcı́a Farfá n, originá rio de Tlaxco, estado de Tlaxcala, na é poca
com 66 anos. De cará ter ené rgico, era amplamente conhecido e
estimado em seu bairro, por seus frequentes gestos de caridade e sua
piedade implacá vel. Ele havia promovido, em sua pequena loja de
miscelâ nea, publicaçõ es cató licas; e precisamente para resolver
alguma pendê ncia com a revista El Mensajero del Corazó n de Jesú s e
fazer uma visita à Virgem de Guadalupe, esteve alguns dias na Cidade
do Mé xico em junho de 1926 . Ao retornar a Puebla, levou consigo vá rios
sinais fornecidos pela Liga Defensor de la Libertad Religiosa, à qual se
juntou desde o inı́cio.
Colocou no aparador, ostensivamente, aquelas lendas que diziam: Viva
Cristo Rei!, Viva a Virgem de Guadalupe!, Só Deus nã o morre!, etc.
Em 28 de julho , foi à Comunhã o, como se previsse o im pró ximo de sua
vida. No meio da manhã , o auxiliar do general Juan Guadalupe Amaya
entrou na sala de miscelâ nea, acompanhado pelo general Daniel
Sá nchez e outro soldado, em um carro que parou em frente. O ajudante
de Farfá n ordenou-lhe que saı́sse para falar com o general Amaya, que o
chamava.
-Onde está ?
"No carro dele, ali na porta."
"Bem, diga ao seu general que é a mesma distâ ncia do carro dele ao
meu balcã o e do meu balcã o ao carro dele." E se ele quiser falar comigo,
deve vir aqui, onde estou à s suas ordens.
Ambos os generais entraram na loja e encheram de insultos o idoso
proprietá rio, ordenando-lhe que retirasse os letreiros da vitrine. José
Garcı́a Farfá n recusou, porque em sua casa só governavam, primeiro
Deus e depois ele, e se algué m se atrevesse a tirar esses sinais de lá
teria que enfrentar as consequê ncias. Amaya sacou sua pistola e atirou
no velho à queima-roupa, que felizmente nã o se feriu, e começou a
arrancar os cartazes pela janela.
Garcı́a Farfá n nã o resistiu a tal ataque e, cheio de raiva, pegou uma jarra
de vidro contendo pimenta em conserva e atirou no soldado. O general
Sá nchez parou o projé til improvisado com o braço e recebeu um
ferimento no pulso. Isso foi o su iciente para Garcı́a Farfá n se acalmar e
pedir desculpas ao seu adversá rio. E enquanto tratava o ferido com
humildade franciscana, Amaya continuava destruindo o conteú do do
aparador. Ele só deixou, por descuido, uma placa que dizia: Deus nã o
morre!
Garcı́a Farfá n foi preso pelos militares e levado ao quartel de San
Francisco, sem as petiçõ es do bairro que tentou resgatá -lo, nem a
intervençã o de um advogado que interpô s um amparo que nã o foi
levado em conta por seus captores.
Na manhã de 29 de julho , Amaya formou o quadro para fuzilar o cató lico
idoso e, momentos antes de dar a ordem de atirar, com implacá vel
sarcasmo disse a Garcı́a Farfá n:
— Agora vamos ver como morrem os cató licos...
"Entã o", respondeu o má rtir, e apertou o cruci ixo de seu rosá rio contra
o peito, enquanto gritava: Viva Cristo Rei!
As balas atravessaram seu corpo; mas ali, na vitrine de sua loja, um
cartaz proclamava: "Deus nã o morre!" [386] .
Pessoas simples, mas com uma fé inabalá vel; eles nã o temiam
aqueles que podiam matar o corpo sem matar a alma [387] .
Você tem que ganhar o céu agora que é barato ; nossos avós, o quanto eles
queriam ganhar glória assim e agora Deus dá pra gente, eu vou embora
(...). A mã e, o jovem Honó rio Lamas, executado na companhia do pai
Manuel, deixou este consolo: O céu está tão fácil agora, mãe! [389] .
A irmaçõ es como essa deram coragem à queles que as ouviram e as
apoiaram.
2. Tomás de la Mora e a primeira vez que foi enforcado...
Havia entre os jovens e crianças alguns que atuavam como
intermediá rios entre Cristeros e Cristeros. Entre eles, destaca-se a
igura de Tomá s de la Mora, um jovem de apenas 17 anos, cujo tio
padre, padre Miguel de la Mora, havia sido martirizado poucos dias
antes.
Thomas era um jovem de coraçã o muito puro, piedade ardente e
grande entusiasmo pela causa de Cristo. Tinha apenas 17 anos e
estudava no Seminá rio Conciliar da Diocese de Colima, onde foi modelo
de piedade e dedicaçã o.
Tomá s, embora um dos mais jovens, sempre foi o conselheiro de
seus companheiros e amigos, e até de seus irmã os mais velhos. Queria
ser santo e um de seus sonhos mais dourados era morrer má rtir, como
escreveu certa vez à irmã , entã o residente na Cidade do Mé xico, onde o
culto pú blico ainda nã o havia sido suspenso. [390] :
"Se você s estã o procurando por mim", disse ele aos soldados, "aqui
estou; Eu sou o ú nico responsá vel por tudo; Eles nã o querem machucar
meu pai.
Vendo sua mã e chegar, seu rosto re letindo a angú stia de sua
preocupaçã o, alarmada com o que estava acontecendo, com a voz
quebrada ela lhe disse:
"Mã e, eles vã o me matar...!" Ela o pegou pela mã o e o acompanhou no
meio dos soldados na busca que izeram na casa; Chegando ao lado de
sua cama, ele pegou sua medalha de congregaçã o e pendurou em seu
peito. Thomas era um menino de pura piedade; sua fervorosa devoçã o
lhe valeu o posto de prefeito da Congregaçã o Mariana.
Foi entã o levado para o pré dio do seminá rio, do qual, até a
expropriaçã o pela tirania para transformá -lo em quartel, fora um aluno
exemplar. Lá estava ele, aproveitando sua posiçã o como chefe, general
Flores; Conduziram-no à sua presença e iniciou-se o seguinte diá logo
entre o general Callista e o acejotaemero:
—Você é uma criança —diz o soldado—, você nã o é capaz de nada; você
tem que nos dizer quem é que o aconselha.
"Nã o diga", respondeu Tomá s de la Mora, "que sou um menino; porque
sei muito bem o que faço: ningué m me aconselha.
"Olhe", ele responde, "se você nos contar o que sabe sobre aqueles que
estã o comprometidos com os Cristeros, nó s pouparemos sua vida, nó s
lhe daremos sua liberdade."
"Será em vã o", responde Tomá s com santa resignaçã o, "porque se hoje
sou libertado, amanhã continuarei trabalhando e lutando por Cristo
junto com meus companheiros: lutar pela liberdade religiosa é um
dever de todo verdadeiro cató lico".
"Você é um pirralho, você nã o sabe o que é a morte", diz o general, já
irritado. Diga rapidamente o que lhe pedimos.
— Se o senhor, general, diz que nã o sei o que é a morte porque nã o
morri uma vez, també m nã o sabe, porque nunca morreu. [393] .
Os ú ltimos momentos da vida sã o agora narrados por Spectator, que
nã o estava longe:
«Direi apenas uma coisa; e é : que trabalhei com toda abnegaçã o para
defender a causa de Jesus Cristo e sua Igreja. Você vai me matar, mas
saiba que a causa não vai morrer comigo (...)».
Os soldados separaram Florencio Vargas Gonzá lez do nú mero de
condenados, acreditando erroneamente que ele ainda nã o era maior de
idade.
Anacleto sangrava profusamente e o general ordenou que fosse
formado o pelotã o de execuçã o para ele, mas pediu que os irmã os
Vargas e Luis Padilla fossem fuzilados primeiro para confortá -los até o
ú ltimo momento.
Dominando suas dores fı́sicas, exortou seus irmã os de martı́rio a
sofrerem com integridade sua libertaçã o eterna, e quando Luı́s lhe deu
a conhecer seu desejo de confessar, Anacleto respondeu:
— Não irmão, não é mais hora de confessar, mas de pedir perdão e
perdoar. É um Pai, e não um Juiz, que vos espera. Seu próprio sangue o
puri icará.
Os quatro rezaram, em voz alta, o ato de contriçã o.
Assim que terminaram de fazê -lo, Jorge e Ramó n Vargas Gonzá lez
foram fuzilados (...) [406] .
As palavras de Anacleto no momento de sua morte foram
amplamente conhecidas e fortaleceram o â nimo dos que estavam na
luta:
4. Sacerdotes e religiosos
mexicana , como vimos, teve um componente anticlerical muito forte e
um dos alvos preferidos eram os padres, por serem considerados os
“ideó logos” do povo. Fazer parte do clero naqueles tempos era
arriscado e a honra que outrora podia ser recebida do Estado só podia
ser trocada agora pela honra dos altares; Tratava-se de abraçar o
sacerdó cio como quem abraçou a cruz mais sangrenta e os candidatos e
os encarregados de sua formaçã o estavam cientes disso, como
evidencia o discurso que monsenhor Lara fez a alguns jovens
seminaristas quatro anos antes do inı́cio da guerra dos Cristeros .:
O pai, impotente, foi empurrado para o cá rcere local, onde passou a
noite. No dia seguinte, festa de Cristo Rei, tiraram-no da prisã o ao
amanhecer, e o levaram ao pé de uma mangueira grossa, que ainda é
preservado na praça Ejutla. Eles entã o jogaram uma corda sobre um
dos maiores galhos e a colocaram em volta do pescoço do padre. Um
soldado, querendo testar a coragem do pai, perguntou-lhe com altivez:
-Quem vive? — ao que o pai respondeu:
— Cristo Rei e Santa Maria de Guadalupe.
Entã o eles largaram a corda e o padre icou pendurado. Depois de um
tempo eles o abaixaram e com aborrecimento o soldado reiterou sua
pergunta:
-Quem vive? — ao qual o pai, sem hesitar:
"Cristo Rei e Nossa Senhora de Guadalupe", exclamou.
Entã o a corda foi puxada com força, e o padre icou pendurado
novamente. Voltou a baixá -lo e pela terceira vez o impertinente soldado
perguntou-lhe:
-Quem vive?
O santo, com a lı́ngua moribunda, gritou pela ú ltima vez:
—Viva Cristo Rei e Santa Maria de Guadalupe.
Ele foi suspenso novamente e sua alma voou para o cé u [414] .
Assim, iniciou seu quarto exı́lio, que só terminaria em maio de 1930,
quando voltou para consagrar seus sucessores Dom José Garibi Rivera e
Dom Vicente Camacho a Tabasco como bispo. Uma residê ncia de menos
de dois anos foi o que lhe foi permitido (mesmo depois de alguns anos
dos chamados "arranjos"), porque em 24 de janeiro de 1932, ele foi
levado, novamente como criminoso, para fora do paı́s.
Dos Estados Unidos iria para a cidade eterna; ali viveria sob a
proteçã o do Vaticano, que o reconhecia como um verdadeiro heró i. Foi
ele quem o Papa Pio XI nomeou para celebrar a solenidade que, em 12
de dezembro de 1933, coroou a Virgem de Guadalupe soberana sobre a
Amé rica Latina e as Ilhas Filipinas. Tinha sessenta e nove anos e alguns
pensavam que rapidamente se tornaria cardeal ( Guarda, guardião,
quale igura di Cardenale. Egli è più cardinale di tutti noi ) – diria o
Cardeal Dominioni ( é mais cardeal do que muitos dos nós ).
Mas ele nã o podia viver fora do Mé xico. Sua â nsia de voltar fez com
que ele (mais uma vez!) e com sua audá cia peculiar, voltasse em 18 de
agosto de 1934. Para seus inimigos era um fora-da-lei que nã o
deixariam em paz. O velho pá roco emé rito de Guadalajara, seria ora o
velho jardineiro do hospital San José e ora a magnı́ ica mitra que
aparecia inesperadamente, grandiosa, na catedral ou na bası́lica de
Zapopan; houve o sinal da luta e as multidõ es icaram eletrizadas com a
sua palavra.
Apó s essa vida agitada, ele conseguiu escapar desse exı́lio terrestre
em 18 de fevereiro de 1936.
Dı́az e eu tivemos vá rias conferê ncias com o C. Presidente da Repú blica
e os resultados sã o evidentes nas declaraçõ es emitidas hoje.
Tenho o prazer de declarar que todas as discussõ es foram conduzidas
em um espı́rito de boa vontade e respeito mú tuos. Como consequê ncia
das referidas declaraçõ es do Presidente C., o clero mexicano retomará
os serviços religiosos de acordo com as leis vigentes.
Mantenho a esperança de que a retomada dos serviços religiosos possa
levar o povo mexicano, animado por um espı́rito de boa vontade, a
cooperar em todos os esforços morais que sã o feitos em benefı́cio de
todos os que vivem na terra de nossos anciã os.
Cidade do Mé xico, 21 de junho de 1929 .
Os Cristeros (...) sofreram a pior prova de toda a guerra, uma paz que os
entregou de pés e mãos atados (...). Ao longo da guerra, os bispos e
Roma, com raras exceçõ es, se recusaram a tomar seu lado abertamente
(...). O general em chefe, Jesú s Degollado, marchou para a capital para
garantir que os combatentes nã o fossem esquecidos, e Dom Dı́az falou-
lhe duramente: “ Não sei nem me interessa saber em que condições você
vai icar . Ainda nã o estamos falando com o Presidente da Repú blica, a
Santa Sé já deu poderes a tudo ; já estamos no que foi publicado. Ao
conversar com o Presidente sobre o seu caso especí ico, não chegamos a
nada . A ú nica coisa que tenho a lhe dizer é que você deve depor as
armas agora, porque agora o caso mudou completamente e o povo
cató lico já os veria como rebeldes contra as autoridades eclesiá sticas e
eles mesmos cooperariam com o governo para lutar com você » [448] .
Mas nã o só ao clero seriam pedidas garantias para os combatentes;
Degollado Guizar també m con iou a um de seus tenentes, Luis Beltrá n,
a delicada missã o de entregar ao presidente suas condiçõ es para
realizar a exoneraçã o. A carta entregue pedia:
«Olha, Santiago Dueñ as, nã o quero ser profeta; mas tenho certeza de
que se algum de nossos lı́deres escapar com vida, no caso de
entregarmos nossas armas ao governo, isso pode ser considerado um
milagre. Isso nã o importa para aqueles que praticam a alta polı́tica,
mesmo que sejam personagens muito ilustres do Clero . A inal, depois
da lua-de-mel que vai custar tã o caro ao nosso povo, serı́amos um
perigo constante para alguns e uma acusaçã o viva para outros. E que a
tensã o nas relaçõ es entre o Clero e o Governo vai voltar, nã o hesite um
momento. A hora da decepçã o para os Bispos chegará em breve» [451] .
Suas preocupaçõ es nã o eram menores e a caçada a Cristeros pode
ser bem lida na primeira pessoa, como o padre Heriberto Navarrete, um
dos tenentes de Gorostieta, contará mais tarde, narrando a “descarga”
das tropas:
Distribuı́mos o dinheiro que estava na caixa de acordo com a
antiguidade e grau de cada um e, em 19 de julho de 1929 , entregamos as-
armas e os cavalos ao Coronel Vizcaı́no Hueso em Tepatitlá n. De volta a
Guadalajara, apresentei-me ao general Figueroa pedindo-lhe que me
concedesse uma licença para portar uma arma de fogo, e por isso ele
me mostrou sua simpatia amigá vel com conselhos que talvez seja a
razã o pela qual minha sorte foi diferente da de tantos camaradas -de
armas que caiu depois, ao golpe traiçoeiro do capanga. Quando entrei
no escritó rio do General, o Sr. Silvano Barba Gonzá lez estava
conversando com ele. Nó s nos conhecemos. Ele se retirou e me deixou
conversando com o General.
— Meu general, agradeceria se me desse uma licença que me permita
portar uma pistola. Você sabe muito bem as razõ es que tenho para lhe
perguntar.
"Você pretende icar e viver em sua terra?"
"Isso mesmo, meu general. Eu estava cursando o quarto ano de
Engenharia quando começou essa campanha, que estamos terminando
. Pretendo me formar e trabalhar na minha pro issã o.
— Mas... Cara!... você é um inocente. Vou dar-lhe o meu conselho
amigá vel. Entendo, é claro, que se você insistir, nã o tenho a menor
objeçã o em conceder-lhe a licença que você pede. Mas seria um grave
erro de sua parte icar e morar em Guadalajara. Nã o, meu amigo, vá
para longe. Sou grato a você (...). Mas, por isso mesmo, lamentaria se
acontecesse com você o que certamente acontecerá com muitos, sem
que pudé ssemos impedir. Nã o, amigo Navarrete, nã o sei o que tem
aqui. Eles o matariam em breve; eles o assassinariam traiçoeiramente.
Nã o adiantaria nada estar armado. Estou em Jalisco o representante da
autoridade federal, do poder militar do paı́s. Eu lhe respondo com
minha palavra de cavalheiro que ele nã o tem nada a temer desta parte.
Mas esses polı́ticos locais sempre acreditarã o que tê m mé rito perante
o Governo Central, cometendo atrocidades como essas. Eles també m
satisfarã o seu desejo de vingança, porque nã o se esqueça de que você
lhes deu mais de uma sé ria dor de cabeça. Alguns deles os odeiam de
coraçã o [452] .
Como foi a correçã o entã o? Os bispos nã o estavam cientes do que
estavam assinando, nã o sabiam o que aconteceria? Esta nã o é uma
pergunta retó rica, mas quase existencial. Nunca deixa de se
surpreender ao ler esses detalhes de perto. O que garantiu que os
"arranjos" fossem cumpridos?
Esta pergunta foi feita, alguns anos depois, a um dos agentes dos
arranjos, o padre Walsh (SJ), como narra Rius Facius: «Depois de algum
tempo, Mons. Orozco e Jimé nez encontraram-se em Roma [453]
acompanhado pelo Pe. Ramó n Martı́nez Silva, SJ, capelã o da
Confederaçã o Nacional dos Estudantes Cató licos do Mé xico, com o Pe.
Edmundo Walsh, SJ, cuja in luê ncia decisiva se fez sentir na
consumaçã o do modus vivendi . O arcebispo, um pouco aborrecido,
disse-lhe, dirigindo-se ao companheiro: "Pergunte a ele, padre Ramó n,
pergunte ao padre Walsh qual era a garantia dos reparos!" E o padre
Walsh respondeu, ainda mais irritado: Amanhã...! Mas Morrow morreu
em nós ! [454] .
A Igreja permaneceria tã o livre quanto "uma prostituta em um
bordel", como disse Antonio Estrada. Isso fez com que alguns cristeros
se levantassem logo depois no que icou conhecido como "La Segunda"
(Cristiada), questã o que nã o abordamos. [455] . Diremos apenas que
desta segunda vez a hierarquia eclesiá stica se opô s ao levante com
muito mais tenacidade, alegando a posiçã o do Papa na encı́clica Acerba
animi [456] , onde a violê ncia foi condenada. Os guerreiros foram
proibidos de lutar e os sacerdotes para auxiliá -los; por isso, eles até
ameaçaram nã o administrar os sacramentos mesmo em perigo de
morte [457] , algo que afetaria um povo tã o cató lico como o mexicano.
ser em uma á rea onde apenas alguns anos antes da sançã o da Lei
Calles, em 1924, os protestantes americanos tentaram por todos os
meios propagar o protestantismo naquela terra cató lica e hispâ nica.
Um desses lı́deres religiosos declarou em uma carta a Calles:
Que sejamos perdoados pela imagem que nos apresenta: nela vemos
um palco ao fundo e um ator sobre ele, mas o personagem mais
importante da performance está quase escondido . Ele é , ao mesmo
tempo, empresá rio, diretor e ponto. E o nome dele é Morrow [470] .
Por parte da Igreja Cató lica, a partir de janeiro de 1928, o padre
americano John Burke atuaria como um "verdadeiro agente romano",
segundo Ortoll [471] . Meyer, por sua vez, a irma que Roma havia
entendido "o valor da atitude de Morrow e, por instigaçã o de alguns
cató licos norte-americanos, permitiu que Pe. Burke (...) fosse a Havana,
onde conversou com Morrow e os prelados Mora y del Rio e Tritschler.
Depois que Morrow apresentou seus planos, Pe. J. J. Burke pediu
permissã o aos bispos para entrar em negociaçõ es com Calles, ao que o
velho arcebispo respondeu que apenas os Estados Unidos estavam de
posse da chave do problema . Isso foi em janeiro de 1928» [472] .
Apó s uma primeira tentativa fracassada devido a um vazamento
jornalı́stico, as negociaçõ es continuaram:
De acordo com o plano traçado, Pe. Burke enviou uma carta a Calles,
que concordou em recebê -la e respondê -la. Morrow controlou a redação
de ambas as cartas . Em 29 de março, Burke escreveu: "Aprendi de pessoas
que tenho boas razõ es para acreditar bem informadas que você nunca
pretendeu destruir a integridade da Igreja, nem impedir suas funçõ es
espirituais, mas que o im da Constituiçã o e das leis mexicanas , bem
como o vosso desejo de as tornar e icazes, foram e sã o impedir que os
eclesiá sticos intervenham nas lutas polı́ticas, deixando-os ao mesmo
tempo livres para se consagrarem ao bem das almas. Os bispos
mexicanos acreditam que a Constituiçã o e as leis, especialmente a que
exige o registro de sacerdotes e a que atribui aos Estados o direito de
ixar o nú mero de sacerdotes, aplicadas em espı́rito de antagonismo,
ameaçariam a identidade dos a Igreja. , dando ao Estado o poder de
controlar os assuntos espirituais. Estou convencido de que os bispos
mexicanos sã o animados por um patriotismo sincero e anseiam por
uma paz duradoura. També m estou convencido de que desejam
retomar o culto pú blico, se isso puder ser feito de acordo com sua
lealdade à Repú blica Mexicana e com suas consciê ncias. Acho que isso
poderia ser feito se tivessem certeza de uma tolerâ ncia dentro da Lei
que permitisse à Igreja viver e exercer livremente suas atividades
espirituais. Isso signi ica que eles entregariam ao povo mexicano,
agindo legalmente, por meio de suas autoridades devidamente
constituı́das, a resoluçã o de outras pendê ncias. Se você acredita que
pode, de acordo com seus deveres constitucionais, declarar que não está
no espírito da Constituição e das leis, nem no seu próprio, destruir a
identidade da Igreja e que, para evitar uma aplicação excessiva de leis, se
o governo estivesse disposto a lidar periodicamente com o chefe da Igreja
do México, devidamente autorizado, estou certo de que não restaria
nenhum obstáculo intransponível para impedir o clero mexicano de
retomar imediatamente suas funções espirituais . Se você acredita na
conveniê ncia de tal acordo, eu icaria muito feliz em poder ir ao Mé xico
para discutir medidas prá ticas com você con idencialmente...» . Calles
respondeu: "Informado dos desejos que os bispos mexicanos têm de
retomar o culto público (o que é essencial para o governo, pois isso poria
im à guerra dos Cristeros ), aproveito a ocasiã o para a irmar
claramente, como já já iz em outras ocasiõ es, que não é objetivo da
Constituição, nem das leis, nem de mim mesmo destruir a identidade de
qualquer Igreja , nem me misturar de alguma forma em suas funçõ es
espirituais”. [473] .
Declaraçõ es semelhantes foram feitas por Portes Gil a pedido dos
prelados, que atuaram —segundo Meyer— sob a obediência do Núncio
Apostólico nos EUA [474] (na falta de um deles no Mé xico), Mons. Pietro
Fumasoni-Biondi; Em 2 de maio de 1929, Morrow enviou um jornalista
americano para fazer uma reportagem sobre Portes Gil, a im de obter
declaraçõ es que permitissem que os arranjos continuassem.
Portes Gil respondeu ao questioná rio que lhe foi apresentado, sem
esconder o seu desprezo pela Igreja e pelos que a defendiam (...). “Por
parte do governo do Mé xico, nã o há inconveniente para a Igreja
Cató lica retomar seus cultos quando quiser, com a certeza de que
nenhuma autoridade a molestará , desde que os representantes da
pró pria Igreja cumpram as leis que regem os assuntos de culto,
cumpram tudo o que impeçam e respeitem as autoridades legalmente
constituı́das. E, embora possa parecer grotesco, foram estas
declaraçõ es que Dom Fumasoni Biondi, delegado apostólico em
Washington, indubitavelmente in luenciado pelo Departamento de
Estado dos Estados Unidos, tomou como cordial convite para chegar a um
acordo, e chamou urgentemente Dom Leopoldo Ruiz e Flores, recém-
chegado de Roma, para ordenar que "faça uma declaração respondendo
ao presidente Emilio Portes Gil". Em 2 de maio de 1929 , o arcebispo
Leopoldo Ruiz y Flores fez a seguinte declaraçã o à imprensa
americana: «O con lito religioso no Mé xico nã o foi motivado por
nenhuma causa que nã o possa ser corrigida por homens de boa
vontade. Como prova de boa vontade, as palavras do Presidente Portes
Gil sã o muito importantes. A Igreja e seus ministros estã o dispostos a
cooperar com ele em todos os esforços justos e morais para o bem do
povo mexicano. (...)». Portes Gil fez novas declaraçõ es à imprensa
metropolitana; neles nã o fez qualquer referê ncia a possı́veis mudanças
na legislaçã o [475] .
Resumindo: a in luê ncia americana atravé s do embaixador
designado para este im foi total; somados à funçã o de delegado
apostó lico nos Estados Unidos e de intermediá rios dos bispos que
receberam suas ordens de arranjar, izeram da desigual e difı́cil disputa
diplomá tica um emaranhado de planos a que só os diplomatas estã o
acostumados. Seja como for, a in luê ncia do paı́s do norte seria mais do
que decisiva para a concretizaçã o do acordo de "paci icaçã o".
— Jornalista: Apesar dos anos passados, acredita que se veri icou uma "
traição " por parte da hierarquia eclesiástica ao assinar os acordos de
Junho de 1929 ?
RF: "Traiçã o" é uma palavra muito forte para descrevê -la assim. Na
verdade, era uma visã o diferente do con lito. Visto sessenta ou setenta
anos depois, vemos que, efetivamente, quem se aproveitou nã o foram
os bispos, mas os polı́ticos que viram que já haviam perdido a causa...
– Jornalista: Como quem?
RF: Como Emilio Portes Gil, e todos aqueles. Quando viram que
Vasconcelos se arrastara com o descontentamento, nã o lhes convinha
continuar aquele con lito porque um novo movimento liderado por
Vasconcelos poderia ser redirecionado, e teria acabado com o regime.
Isso foi muito bem visto por Portes Gil, Calles e todos aqueles. Assim é
que com muita malı́cia conseguiram dar "atole com o dedo" aos bispos,
que, claro, já estavam muito aborrecidos porque depois de trê s anos
sem rezarem a missa nem exercerem o ministé rio, logicamente se
perderam as vocaçõ es, as in luê ncias foram perdidas, o dinheiro, e tudo
teve que ser restaurado: que havia uma ruptura entre uma parte do
Episcopado e outra, isso é evidente. Isso representou uma
oportunidade para os polı́ticos revolucioná rios liderados pelo pró prio
Dwight Morrow, o embaixador dos Estados Unidos no Mé xico. [522] .
Para corroborar nossa tese sobre a responsabilidade papal, o
episó dio de 16 de março de 1927 vem à tona: na manhã daquele dia,
dois personagens enviados por Alvaro Obregó n apareceram no palá cio
episcopal da Cidade do Mé xico e propuseram a Dom Ruiz um arranjo
extra legem , isto é , fora da provı́ncia de Roma . A proposta era que o
clero retomasse o culto pú blico e que, em poucos meses, a Constituiçã o
fosse reformada. Ruiz deixou as seguintes palavras no Arquivo da Cú ria:
ú ltima aná lise, estamos apenas nas mã os de Deus e nas do Papa:
Monsenhor Ruiz nã o é mais do que um simples instrumento do Papa
que deverá cumprir suas ordens e ajustar todas as suas partes ao Sumo
Pontı́ ice, que nele dirá a ú ltima palavra» [525] .
Entendemos que a responsabilidade do ato prudencial deve apontar
para a causa principal. Roma, desde o inı́cio, deu instruçõ es ao bispo
Ruiz y Flores para resolver o con lito de uma vez por todas. Para
agravar a injú ria, em mensagem datada de agosto de 1926, logo apó s o
inı́cio das primeiras revoltas, o Cardeal Gasparri, Secretá rio de Estado
do Vaticano, foi noti icado de um possı́vel acordo prematuro, ao qual
escreveu a Dom Ruiz y Flores por telé grafo: «Os jornais anunciam-
arranjos que nã o cumprem as instruçõ es dadas pela Santa Sé .
Aguardamos relató rios » [526] . O que quer que fosse feito, a Santa Sé
estava sempre atrá s, como Meyer a irma duramente:
Esta paz, boa ou má, foi feita por Roma , desejada por Roma, por razões
pastorais expostas em Acerba animi , e porque o Vaticano acreditava na
possibilidade do modus vivendi (...). A decisão foi romana e també m ao
nı́vel da informaçã o (...). Roma, portanto, queria a paz e acreditava na
possibilidade de vencer, a longo prazo, fazendo concessõ es de curto
prazo. Toda a política vaticana de Pio XI , naquela época, caminhava
nessa direção e se baseava em uma experiência secular de con lito com o
Estado moderno (...). O papado estava disposto a fazer concessõ es
muito grandes, e esta é a razã o pela qual aceitou um modus vivendi
incompreensı́vel para os cató licos mexicanos (...). Nestas condições,
Dom Ruiz y Flores e Dom Díaz não podem ser acusados de ter enganado o
Papa , de ter forçado sua mã o, de ter assinado acordos que excederam
as instruçõ es pontifı́cias. Se eles podem ser acusados de pecar por
excesso de otimismo, mesmo por leviandade, em aceitar garantias
verbais, o Vaticano incorre na mesma culpa, pois os preparou para
aceitar tudo o que sua consciência lhes permitia aceitar. [527] .
Dom Manrı́quez y Zá rate, bispo de Huejutla exilado em Roma, em
uma entrevista apenas dois meses depois dos “arranjos”, escreveu ao
Lic. Miguel Palomar y Vizcarra em 24 de outubro de 1929:
Hoje, de Sã o Rafael Arcanjo, fui recebido por Sua Santidade o Papa, e
com tantas demonstraçõ es de afeto, que foram um verdadeiro consolo
para meu espı́rito amargurado por tantos contratempos... Uma coisa
que todos nó s mexicanos devemos ter em mente: que se Vossa
Santidade sofreu nesta questão prática algum erro deve-se a muitos,
muitíssimos indivíduos determinados a fazer triunfar seu ponto de vista
contra todas as probabilidades... e o Papa, derrotado por sua imensa
caridade para com o Mé xico, quis testar a sugestã o desses intrigantes
cavalheiros com a esperança de obter por este meio a liberdade da
Igreja mexicana [528] .
Depois dessa entrevista, Manrı́quez y Zá rate escreveu um discurso
que faria em Louvain e que chegou à s mã os dos mexicanos. O polê mico
discurso dizia em suas partes principais: «O povo mexicano (...) sabe
perfeitamente que o Papa é o vigá rio de Cristo na terra (...). Os inimigos
de Jesus Cristo foram extremamente astutos em vir a Roma para
derrubar o muro inabalá vel da resistê ncia armada. Eles viram que o
povo entregaria suas armas ao primeiro sinal do Vigá rio de Jesus
Cristo, e por isso, astutamente, astutamente, foram a alguns prelados
excessivamente inclinados à condescendência , fazendo mil ofertas pelo
que estava por vir, mas nã o retirando sequer uma vı́rgula das leis
monstruosas que ferem mortalmente a santa igreja e estrangulam os
direitos mais sagrados do homem e da sociedade» [529] .
Em suma, Calles ganhou, pelo menos momentaneamente: «Os
Cristeros depuseram as armas, porque a Igreja assim o quis e o
governo nã o deu em nada» [530] . Apenas dois anos antes, o pró prio
Santo Padre havia dito que "retomar o culto sem mudar as leis
desencadearia um escâ ndalo por parte do clero e dos ié is", mas que,
em qualquer caso, "a Santa Sé reservou a ú ltima palavra » [531] .
Apó s os arranjos, em setembro de 1932 e diante da possibilidade de
uma nova insurreiçã o armada, o referido pontı́ ice declararia na
encı́clica Acerba animi que tinha achado conveniente pô r im ao con lito
que sangrava o Mé xico há trê s longos anos.
Pio XI explicou que as promessas poderiam nã o ser cumpridas:
"Embora infelizmente soubéssemos por experiência que não havia
segurança em atestar tais promessas, no entanto julgamos que
deveríamos considerar se era ou não oportuno continuar publicamente a
suspensão do ritos sagrados religiosos (...) Certamente nã o era nossa
intençã o nem aprovar as leis mexicanas contra a religiã o, nem de tal
forma retirar as alegaçõ es feitas contra elas, que decretamos que nã o
haveria mais razã o para resistir e atacar as referidas leis em todo o
mundo. o possı́vel. Era apenas o seguinte: como os governantes da
Repú blica davam a entender que abraçavam propó sitos diferentes, isso
parecia exigir que fossem suspensos os procedimentos de resistê ncia
que realmente pudessem prejudicar o povo cristã o e que outros fossem
adotados . na verdade mais oportuno” [532] .
Pio XI se encarregou da decisã o, entã o ele foi, como diz Meyer,
"rapidamente forçado a proibir falar, escrever e pensar sobre os
arranjos" [533] .
Os responsáveis pelos arranjos, Pe. Edmundo Walsh, Ruiz y Flores, Embaixador Cruchaga, Pascual
Díaz, Sergio Moret
Abençoado Pro e Cristo Rei
CONCLUSÃO
Contemplar o Mé xico dos anos 1920 é enfrentar duas visõ es de mundo,
duas cidades, segundo o antigo sentido agostiniano: a de um estado
laico e até contrá rio à religiã o, e a do cristianismo, ou seja, a iloso ia
do Evangelho. (segundo a Leã o XIII ) que tenta embeber a ordem social.
Essas imagens, que mais tarde se tornam a realidade bruta, estã o na
base do assunto que estudamos, mas nã o nascem por geraçã o
espontâ nea ou por força do destino; é o produto de um confronto
histó rico que nasceu, para nã o retroceder muito no tempo, nas origens
do novo Mé xico, como vimos.
Liberais contra conservadores, socialistas contra cató licos,
nacionalistas cató licos contra fascistas corporativistas. Trê s binô mios
que, embora nã o sejam totalmente intercambiá veis, sempre tê m uma
aparê ncia comum, uma forma aná loga de ser. Assim, desde os tempos
de insurgê ncia e independê ncia, o Mé xico cató lico e hispâ nico se opô s
ao Mé xico liberal e nã o religioso (e irreligioso); a visã o de mundo de um
Iturbide contra a de um Morelos, e a de um Alamá n contra a de um
Juá rez; ou, por outras palavras, agarrar-se à Espanha e ao que ela izera
como "uma nova façanha", nas palavras de José Marı́a Pemá n, por um
lado, ou procurar novos horizontes sob a ala liberal e o patrocı́nio
material dos seus vizinhos para o Norte, por outro. O Mé xico, "tã o longe
de Deus e tã o perto dos Estados Unidos", como diria Por irio Dı́az, nã o
sairá ileso dessa luta interna.
Com a Constituiçã o de 1917, a famosa Constituiçã o de Queré taro, a
ala liberal e mais radical iniciará um movimento ascendente em direçã o
ao socialismo que culminará em uma perseguiçã o à Igreja Cató lica
como nunca antes vista na Amé rica Latina. Uma luta pelo poder que
tentará dobrar o cristianismo a ponto de querer o icializá -lo sob sua
é gide. Seus protagonistas serã o Plutarco Elı́as Calles, presidente da
naçã o por um lado, e o simples povo mexicano; um povo cató lico cuja fé
foi ameaçada.O confronto pacı́ ico, primeiro, e depois a luta armada,
farã o —principalmente— a faixa central do Mé xico, campo de uma
batalha cultural, religiosa e militar que durará trê s anos.
Da parte da hierarquia eclesiá stica, poré m, a resposta nem sempre
será clara ou uniforme; Haverá , sem dú vida, casos louvá veis e até
heró icos, mas ela nã o será a grande protagonista do con lito. O grande
participante será o povo mexicano, os leigos cató licos que nã o vã o
querer abrir mã o de suas crenças, seus templos e sua independê ncia;
dele surgirá o clamor de sangue, como disse Blanco Gil.
Diante da passividade ou do derrotismo de alguns prelados, serã o
os simples fazendeiros, as mulheres, os pro issionais e até as crianças
que decidirã o lutar pela liberdade, por "todas as liberdades", como diria
o general Gorostieta. Para isso, será crucial a organizaçã o dos grupos
cató licos que vieram desde o inı́cio do sé culo; a ACJM, a Liga, a Uniã o
Popular, as Brigadas Femininas, etc., serã o as trincheiras que
protegerã o a uniã o dos ié is. Tudo servirá para defender seus
interesses: o boicote, as petiçõ es por meio da coleta de assinaturas, as
manifestaçõ es e, quando nã o houver outra saı́da, a baioneta. Foi, como
disse Calles, "as câ meras ou as armas" e por nã o ser ouvido por meios
pacı́ icos e legais, o catolicismo mexicano foi quase forçado a se opor à
milı́cia contra a malı́cia.
Foi a populaçã o cató lica que se levantou e teve que lutar pela Igreja
sem depender de sua hierarquia. O combatente (eram cinqü enta mil
levantados em armas sem contar os que atuaram como apoio logı́stico),
embora em pouquı́ssimos casos levasse seu capelã o ao campo de
batalha, dependia apenas da moral cristã , como vimos. Quanto à
dogmá tica, seguia os ensinamentos da Igreja, mas quanto à decisã o
prudencial, sabia que estava no campo do contingente e que, portanto,
devia lutar seguindo os ditames de sua reta consciê ncia. No entanto,
isso nã o signi icou que deixou de lado as consultas morais no momento
dramá tico de pegar em armas; foi a histó ria da Igreja e a opiniã o de
moralistas sé rios que lhe deram razã o para defender com armas o que
as palavras nã o podiam alcançar.
A moral em tempos de guerra nã o mudaria a alma do cristero que,
evidentemente, dava nã o só uma boa luta mas até uma guerra tı́pica dos
con litos medievais, sem esquecer que eram irmã os que se
enfrentavam; e irmã os ilhos do mesmo Deus.
Tal guerra, só lucrativa à s custas do povo mexicano, e que somente o
pedido expresso da hierarquia eclesiá stica inalmente fez com que os
leigos cató licos se rendessem nas mã os de seus oponentes sem se
render. E um episó dio difı́cil de narrar e ainda mais difı́cil de entender.
Por que aqueles que foram para a guerra quase espontaneamente agora
depuseram suas armas a pedido da Igreja? Por que o Papado e os
bispos mexicanos pediram este sublime sacrifı́cio de inteligê ncia e
vontade? As questõ es ultrapassam o escopo de nosso trabalho e, para
um homem que nã o entende o que é a Fé do povo mexicano, pode nã o
haver soluçã o. A resposta, parece-nos, deve ser encontrada no gesto
que Herná n Corté s fez há quinhentos anos quando, ajoelhado diante de
doze franciscanos esfarrapados, mostrou ao asteca que o padre está
acima do conquistador e que a vida de fé é acima da vida terrena. A
devoçã o ao Papa e seus ministros faria do Mé xico um paı́s de altares
sangrentos, como o chamou Dom Francis C. Kelley, fazendo do modus
vivendi ou "arranjos" um modus moriendi .
Como essa paz foi alcançada? Acreditamos que houve duas razõ es
principais. Nã o podemos deixar de levar em conta, tanto no
desenvolvimento do con lito quanto em sua culminâ ncia formal, os
interesses polı́ticos e econô micos dos Estados Unidos, o grande
promotor e produtor dos "assentamentos". E enquanto o divide et
impera romano pode ter servido por um tempo, a revoluçã o
permanente nã o era a intençã o dos "irmã os do norte", nem do Morgan
Bank, nem da Maçonaria, como vimos. Uma paz era necessá ria.
Mas, por outro lado, havia os motivos religiosos; a hierarquia temia
que a cessaçã o do culto por muito tempo esterilizasse a obra
evangelizadora de vá rios sé culos. Sem con issã o, sem pregaçã o e sem
moral cristã —diziam— o Mé xico estaria perdido. Alé m disso, a polı́tica
do Vaticano da é poca via certo perigo na independê ncia dos leigos
cató licos da hierarquia, o que motivou, ainda mais, a decisã o de pô r im
ao confronto.
Era a populaçã o mexicana, entã o, que depois de dar a oferta de suas
vidas, agora daria sua vontade por meio de uma decisã o prudencial,
contingente e polı́tica. Havia dois caminhos a seguir: ou desobedecer
à queles que nã o condenaram expressamente o uso de armas ou acatar
religiosamente os decretos inelutá veis da Providê ncia com a ajuda da
vontade.
Este ú ltimo caminho foi escolhido por esta grande naçã o, por este
tremendo povo que, como disse Degollado Guı́zar, tinha a "convicçã o
sobrenatural de que no inal, Cristo Rei reinará no Mé xico".
Apêndice I
CRONOLOGIA DE EVENTOS IMPORTANTES (1911-1937)
1911:
21 de Pactos de Ciudad Juárez : Por irio Dı́az concorda em
maio deixar o paı́s.
6 de Francisco I. Madero assume a Presidê ncia da
novembro Repú blica.
1913:
Apó s um golpe contra Francisco I. Madero,
19 de
Victoriano Huerta assume a presidê ncia da Repú blica.
fevereiro
Trê s dias depois, Madero é assassinado.
1914:
15 de
O governo golpista de Huerta cai.
julho
1915:
19 de Os Estados Unidos dã o seu reconhecimento ao
outubro governo de Carranza.
1917:
5 de
A nova Constituiçã o é promulgada em Queré taro.
fevereiro
26 de Pastoral Coletiva do Episcopado Mexicano contra as
abril leis antieclesiá sticas da Constituiçã o.
1920:
21 de
Carranza morre assassinado.
maio
1 de
Presidente interino General Adolfo de la Huerta.
Junho
1º de Presidente Alvaro Obregó n (até 30 de novembro de
dezembro 1924).
1923:
12 de
Obregó n decreta a expulsã o do Delegado Apostó lico.
janeiro
7 de Começa a rebeliã o “delahuertista” (por Adolfo de la
dezembro Huerta).
1924:
10 de
A rebeliã o sufocada, Adolfo de la Huerta foge do paı́s.
março
1º de Presidente Plutarco E. Calles (até 30 de novembro de
dezembro 1928).
1925:
21 de Tentativa de cisma com a "Igreja Cató lica Apostó lica
fevereiro Mexicana".
14 de Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa é
março fundada .
1926:
Calles insta todas as legislaturas a regular o artigo
130 da Constituiçã o. Alé m disso, sã o conferidos
Janeiro
poderes extraordiná rios para modi icar o atual Có digo
Penal.
O Papa Pio XI emite ao episcopado mexicano a
2 de Carta Apostó lica Paterna sane, na qual trata da
fevereiro perseguiçã o já existente. Lá , a oraçã o e a açã o cató lica
de todo o povo do Mé xico sã o incentivadas.
O Arcebispo do Mé xico, Dom José Mora y del Rı́o,
4 de
declara que continuam as exigê ncias de reforma da
fevereiro
Constituiçã o.
Os padres estrangeiros que permaneceram no paı́s
marchar
sã o expulsos.
2 de julho Publicaçã o da “Ley Calles” (aprovada em 14 de
junho).
14 de A Liga inicia um boicote econô mico para
julho pressionar o governo.
Pastoral Coletiva em que os bispos declaram a
25 de
suspensã o de todos os atos de culto pú blico, assim
julho
que a Lei Calles entrar em vigor.
A Lei Calles entra em vigor e, portanto, icam
1 de
suspensos os atos de culto em que um ministro
Agosto
sagrado tenha que intervir.
22 de Revoltas armadas no estado de Zacatecas e, logo
agosto depois, em Jalisco, Michoacá n e Guanajuato.
A Câ mara dos Deputados rejeita trê s memoriais
setembro para revogar a Lei Calles, um deles com mais de dois
milhõ es de assinaturas.
18 de O Papa Pio XI denuncia em sua encı́clica Iniquis
novembro af lictisque a triste condiçã o dos cató licos mexicanos.
dezembro A Liga pede defesa armada.
1927:
Resposta ao chamado da Liga : as revoltas
Janeiro
aumentam.
O general Enrique Gorostieta Velarde é contratado
Julho
pela Liga para organizar os grupos insurgentes.
1928:
01 de Obregó n é reeleito presidente. Eu assumiria no dia
julho 1º de dezembro.
O general Obregó n é assassinado por José Leó n
17 de julho
Toral.
9 de Outro memorial com dois milhõ es de
setembro assinaturas é apresentado à Câ mara dos Deputados
para reconsiderar a Lei Calles.
Emilio Portes Gil substitui Calles na Presidê ncia.
1º de Começa o "Maximato" Calles, autoproclamado
dezembro "Chefe Má ximo da Revoluçã o", in luenciará
decisivamente os destinos do paı́s.
1929:
Liderada por generais do grupo obregô nico,
3 de março eclodiu uma rebeliã o da qual participou grande
parte do exé rcito.
O governo de Portes Gil domina a rebeliã o
10 de abril "escobarista" (em homenagem ao general Gonzalo
Escobar).
A perseguiçã o religiosa se intensi ica. Centenas
abril de cató licos sã o deportados para a prisã o de Islas
Marı́as.
Leopoldo Ruiz y Flores e Dom Pascual Dı́az
viajam ao Mé xico para buscar um acordo com o
5 de junho
governo sobre um modus vivendi que permita a
retomada do culto.
Os resultados dos acordos entre o governo e a
21 de junho hierarquia, conhecidos como “arranjos”, sã o
publicados.
1930:
5 de Presidente Pascual Ortiz Rubio (renunciará em
fevereiro 2 de setembro de 1932).
1932:
3 de Abelardo L. Rodrı́guez substitui o presidente
setembro Ortiz Rubio.
29 de O Papa Pio XI publica sua encı́clica Acerba animi,
setembro lamentando a violaçã o do modus vivendi pelo
governo.
1934:
1º de Lá zaro Cá rdenas Presidente (até novembro de
dezembro 1940).
1935:
Com a proclamaçã o do general Lauro Rocha
para reiniciar a defesa armada, começa "La
01 de abril
Segunda" (o segundo levante cristero, que terá
pouco sucesso).
1936:
General Calles parte para o exı́lio. Termine o
9 de abril
"Má ximo".
1937:
Terceira encı́clica de Sua Santidade Pio Xl
28 de março sobre a situaçã o da Igreja no Mé xico: o
Firmissimam constantiam .
Abreviações e Acrônimos
a .= artigo
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ASS= Acta Sanctae Sedis , Typographia Polyglotta Sacrae Congregationis de Propaganda Fide,
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ASV = Arquivos Secretos do Vaticano
cap.= capı́tulo
cf.= confrontar
cit.= citado
coords.= coordenadores
CSEL= Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum , Viena 1866 ss.
ed.= editor
fasc.= fascimil
ibidem = igual a nota anterior
nã o= nú mero
nn.= nú meros
P. = pá gina
op. cit.= trabalho citado anteriormente
p.= pá gina
P.= pai
pp.= pá ginas
q.= quaestio
s/e= sem editor
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