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GASTRÓPODES (GASTROPODA)
A classe dos gastrópodes inclui mais de 3/4 de todos os moluscos, dos quais cerca de metade
são espécies marinhas.
Durante a minha infância e juventude, nas praias aqui da região do Porto abundavam as
conchinhas: de mexilhões, lapas, vários tipos de pequenos búzios, de bivalves aparentados com
a amêijoa e o berbigão e, de todas as mais apreciadas, os beijinhos!
A mim, e atrevo-me a dizer a quase toda a gente, encantavam-me os beijinhos! Pequeninos, pois
mal excedem os 10 mm, de forma delicada e perfeita, parecem pequenas jóias, uma espécie de
pérolas dos pobres!
Na maré baixa, dezenas de pessoas percorriam a
praia, curvadas, apanhando principalmente beijinhos.
Mesmo deitados na areia, era fácil encontrar beijinhos.
Será que o seu nome provém de algum jogo que os
namorados praticavam, cujo prémio era um "dito cujo"
por cada beijinho encontrado? Ou, simplesmente
decorre da sua forma que sugere uns lábios em
posição de beijar?
O beijinho era tão popular que havia em Leça, e ainda
há, uma praia chamada Praia dos Beijinhos! Beijinhos
é que parece já não haver, ou quase! Estarão em vias
de extinção nas praias do Porto? Será que terão sido
vítimas desta maldita poluição que espalhamos por
todo o lado?
A família TRIVIIDAE é muito próxima de uma outra, a CYPRAEIDAE, a ponto de, durante muito
tempo, os gastrópodes hoje classificados na primeira terem sido incluídos na segunda.
Para um leigo como eu, a diferença mais evidente entre as duas famílias resulta de os beijinhos
apresentarem sulcos enquanto as cipreias têm uma superfície lisa e muito brilhante. Além disso,
os beijinhos têm tamanhos, em geral, mais pequenos.
A superfície brilhante das cipreias levou os navegadores portugueses de quinhentos, que as
encontraram abundantemente na costa africana, a pensar que era a partir delas que os chineses
fabricavam a porcelana. Daí, o seu nome popular de porcelanas. A família é constituída por cerca
de 200 espécies diferentes, algumas das quais são abundantes, particularmente nos trópicos.
A popularidade das cipreias é tão grande que, durante
milénios, uma destas conchas, a cipreia-moeda (Cypraea
moneta) (ao lado), foi utilizada como moeda.
É uma concha que apresenta uma variação muito
grande, pelo que se encontram exemplares quer com
diferentes cores, como também de forma.
O meu exemplar tem 2,1 cm, um pouco abaixo da média
que é 2,5 cm.
A Cypraea histrio tem, em língua inglesa, o nome popular de minstrel ou histrio cowry, o que,
numa tradução livre, poderia dar algo como porcelana-comediante, em português. Ignoro se
existe nome oficial popular, em português, mas do que "não tenho dúvidas" é que a Natureza se
"divertiu" muito ao criar esta fantástica concha!
De facto, só um artista de imaginação delirante
poderia produzir semelhante obra! No dorso, o
padrão faz lembrar um delicado mosaico duma
antiga civilização, ao qual se sobrepõem
misteriosas manchas escuras! Para além da linha
do manto o padrão muda para um mosaico de
ladrilhos mais pequenos e mais esparsos!
Finalmente, a base apresenta pintas escuras num
fundo quase branco, como se vê na zona ventral
de muitos felídeos, como o leopardo e o jaguar,
por exemplo! Incrível!
A concha que se segue, parcialmente polida, já foi mais fácil de classificar, embora com alguma
sorte à mistura.
O exemplar, representado à
direita, corresponde à turritela-
comum (Turritella communis),
abundante na Europa
Ocidental e Mediterrâneo. Vive
na areia, em águas muito ou
pouco profundas, e tem um
tamanho médio de 6 cm. O
meu tem 6,5 cm.
Os estrombos distinguem-se
por terem um lábio bojudo,
como se vê à direita no
estrombo-rosa, também
conhecido por raínha-das-
conchas (Strombus gigas).
É comum em toda a região
desde o sudeste da Florida até
ao centro do litoral brasileiro e
vive na areia. O animal é
comestível e a sua concha tem
um tamanho médio de 23 cm,
aliás, o caso do meu
espécime.
O estrombo-lutador-das-Índias-Ocidentais
(Strombus pugilis), à esquerda, tem o mesmo
habitat do anterior e encontra-se abundantemente
nas areias das praias. Deve o seu nome aos
enérgicos movimentos do animal.
O meu espécime, que veio duma praia do
Nordeste do Brasil, trazido pelo meu filho Rui, tem
6 cm, um pouco abaixo da média que é 7,5 cm.
A concha-aranha-comum (Lambis
lambis) é também nativa do Indo-
Pacífico, larga, pesada, com tamanho
variável entre 9 e 27,5 cm. O meu
exemplar tem 19 cm.
Como se vê, a abertura larga e ondulada
tem seis dedos-extensão (ou espinhos),
quase todos curvados para cima. O canal
sifonal (em baixo) é simétrico ao espinho
superior.
Os espinhos das conchas-aranha
permitem-lhes rastejar na areia, à volta
dos recifes, sem serem arrastadas pelas
correntes marinhas. As fêmeas possuem
espinhos mais longos do que os machos!
Porque será?
Além disso, os jovens não têm espinhos!
Ainda da família STROMBIDAE, as tíbias (género Tibia) são em
forma de fuso com um canal sifonal mais ou menos comprido. A
mais espectacular é certamente a tíbia-fuso (Tibia fusus), pois
tem o canal sifonal incrivelmente longo, tão longo quanto o resto
da concha. O canal é suavemente curvado na ponta.
Os múrices, animais da família MURICIDAE, ainda que por vezes ostentando belas cores,
destacam-se sobretudo pela ornamentação, verdadeiramente impressionante em algumas
espécies. De alguns membros desta família pode extrair-se um corante de cor púrpura. Os
fenícios foram os primeiros a desenvolver essa técnica e os seus tecidos de púrpura eram
usados pelos nobres romanos como sinal de riqueza.
O múrice representado à esquerda é,
seguramente, uma das jóias mais
preciosas da minha pequena
colecção.
Trata-se da extraordinária Murex
pecten, conhecida popularmente por
pente-de-vénus. Habita os litorais
arenosos do Leste do Oceano Índico,
Pacífico e Japão. Pensa-se que os
espinhos podem constituir uma
protecção contra peixes predadores.
Não é uma concha rara, mas é muito
difícil encontrar um exemplar com os
espinhos intactos.
O meu exemplar é realmente
excepcional, aparentemente sem
nenhum espinho partido. Tem 13 cm,
que é justamente o tamanho médio.
A família MURICIDAE é muito numerosa, pois conta com mais de 380 espécies, algumas com
variações significativas. São, em geral, conchas muito belas, logo muito procuradas pelos
coleccionadores. Para um leigo, como eu, a sua classificação não é fácil pois só o
género Chicoreus abrange cerca de 180 espécies. Em todo o caso, parece não haver dúvida que
o espécime abaixo representado é o múrice-ramificado (Chicoreus ramosus), uma concha
comum dos recifes de coral do Indo-Pacífico.
Há muito que possuo dois exemplares com cerca de 11 cm, mas recentemente consegui este
outro, com 14 cm, muito mais bonito e perfeito. Embora o tamanho médio desta espécie seja 20
cm, encontram-se exemplares com tamanhos que vão dos 5 aos 30 cm, dependendo certamente
da idade do animal.
A dificuldade referida quanto à concha anterior
estende-se ao múrice representado à
esquerda.
Dada a grande variabilidade de cor e tamanho
do Chicoreus ramosus, pareceu-me que
poderia tratar-se duma variante dessa espécie.
Mas, não!
Trata-se, afinal, do múrice-tição (Chicoreus
torrefactus), também oriundo do Indo-Pacífico.
O meu exemplar tem 9 cm, podendo encontrar-
se espécimes com tamanho entre os 6 e os 12
cm.
O disco-solar (Architectonica perspectiva) é uma bela concha pesada que habita as regiões
arenosas da região tropical do Indo-Pacífico.
O meu exemplar tem 4,9 cm, bem
perto da média que é de 5 cm,
sendo o tamanho máximo da
ordem dos 6 cm.
A família CAMAENIDAE integra gastrópodes terrestres e a concha a seguir representada parece
não haver dúvida de corresponder a uma das suas espécies. Saber qual delas é, porém, é que
levanta alguma dificuldade!
Um amigo, muito mais conhecedor do que eu, sem a ajuda do
qual, aliás, eu nem sequer teria descoberto a que família
pertencia, inclina-se para se tratar da Obba parmula, nativa
das Filipinas, cujo tamanho pode atingir 29 mm. Com essa
indicação sobre a família, pus-me a pesquisar e, com base nas
fotos que encontrei, iria jurar que se trata de uma Caracollus
sagemon! Existem várias subespécies, todas nativas de Cuba,
com tamanhos que, dependendo da subespécie, podem atingir
os 34, 35 ou 40 mm.
O meu amigo acha que é pouco provável ser uma Caracollus, pois só existe em Cuba e a
esmagadora maioria das conchas comercializadas são da região das Filipinas.
Só que, em 2002, eu trouxe
algumas conchas de Santiago de
Cuba e uma delas pode bem ter
sido esta concha!
Além disso, como a minha concha
tem 38 mm de diâmetro não me
parece ser uma Obba, se esta não
ultrapassar os 29 mm!
Contudo, o meu amigo diz ter
uma Obba, cuja proveniência é
garantidamente das Filipinas, com
37 mm!
Finalmente, acrescenta
pormenores descritivos da
concha, que seria despropositado
reproduzir aqui, que o levam a
insistir na sua classificação.
Desta forma, a decisão definitiva fica a aguardar uma classificação mais peremptória.
ESCAFÓPODES (SCAPHOPODA)
A classe dos escafópodes integra as conchas dente de elefante, assim chamadas pelo seu
aspecto, e que vivem em luras, na areia do litoral.
Possuo dois exemplares de cuja classificação ainda não estou
bem certo. Assim, é com reservas que apresento a minha
opinião.
A concha da esquerda parece-me ser o dente-de-elefante-
alongado (Antalis longitrorsum), nativo do Indo-Pacífico Tropical.
O seu tamanho médio é 9,5 cm, medindo o meu espécime 7,5
cm.
Quanto à concha da direita, as minhas dúvidas são maiores.
Tendo em conta que foi apanhada, segundo me foi dito, na praia
de Tróia, Grândola, inclino-me para que se trate do dente-de-
elefante-europeu (Antalis dentalis), comum no litoral desde a
Aquitânia à Mauritânia e em todo o Mediterrâneo. Contudo,
parece que o tamanho médio desta concha é 3 cm e como a
minha mede 3,8 cm, suspeito que possa tratar-se doutra
espécie. Além disso, a ausência de estrias longitudinais mais
acentua as minhas dúvidas!
Do que me parece não haver dúvidas é que se tratam de duas
conchas pertencentes à família DENTALIIDAE.
BIVALVES (BIVALVIA)
A classe dos bivalves é a mais numerosa a seguir à classe dos gastrópodes. A concha dos
bivalves é constituída por duas peças ou valvas, unidas por um ligamento.
As vieiras (família PECTINIDAE), com conchas em forma de leque, encontram-se entre os mais
conhecidos de todos os bivalves.
CEFALÓPODES (CEPHALOPODA)
Dos cefalópodes, classe que integra os polvos, as lulas e os chocos, os náutilos
(família NAUTILIDAE) são os únicos com uma verdadeira concha externa. Apesar de já terem
sido muito numerosos, actualmente apenas cinco espécies sobrevivem na região do Indo-
Pacífico.
Esta concha de bivalve veio da praia de Tróia, Grândola. Suponho que popularmente é
designada por conquilha. Será uma telina?
Este búzio foi pescado no mar do Algarve e é comestível (comi-o!). Será um turbo? Qual?
Devem-se remover as deposições calcáreas? (6,3 cm)
Esta concha foi comprada no circuito comercial e, como se vê, foi polida. Parece um troque ou
um turbo, mas qual? (5,5 cm)
Todas as imagens desta secção reproduzem conchas minhas e foram fotografadas por mim.
Todos os direitos de utilização destas imagens estão reservados. Ó 2002 - 2004 Franclim
Ferreira.