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Conchas

GASTRÓPODES (GASTROPODA)

A classe dos gastrópodes inclui mais de 3/4 de todos os moluscos, dos quais cerca de metade
são espécies marinhas.
Durante a minha infância e juventude, nas praias aqui da região do Porto abundavam as
conchinhas: de mexilhões, lapas, vários tipos de pequenos búzios, de bivalves aparentados com
a amêijoa e o berbigão e, de todas as mais apreciadas, os beijinhos!
A mim, e atrevo-me a dizer a quase toda a gente, encantavam-me os beijinhos! Pequeninos, pois
mal excedem os 10 mm, de forma delicada e perfeita, parecem pequenas jóias, uma espécie de
pérolas dos pobres!
Na maré baixa, dezenas de pessoas percorriam a
praia, curvadas, apanhando principalmente beijinhos.
Mesmo deitados na areia, era fácil encontrar beijinhos.
Será que o seu nome provém de algum jogo que os
namorados praticavam, cujo prémio era um "dito cujo"
por cada beijinho encontrado? Ou, simplesmente
decorre da sua forma que sugere uns lábios em
posição de beijar?
O beijinho era tão popular que havia em Leça, e ainda
há, uma praia chamada Praia dos Beijinhos! Beijinhos
é que parece já não haver, ou quase! Estarão em vias
de extinção nas praias do Porto? Será que terão sido
vítimas desta maldita poluição que espalhamos por
todo o lado?

O beijinho é um gastrópode da família TRIVIIDAE, com o nome


científico Trivia monacha. Beijinho é um nome muito português,
acho eu, pois traduzindo os nomes ingleses, encontramos: caurim-
feijão, caurim-manchado ou caurim-europeu-comum.
Ocorre desde o Mediterrâneo até às Ilhas Britânicas e o seu
tamanho vai dos 7 aos 12 mm.

A família TRIVIIDAE é muito próxima de uma outra, a CYPRAEIDAE, a ponto de, durante muito
tempo, os gastrópodes hoje classificados na primeira terem sido incluídos na segunda.
Para um leigo como eu, a diferença mais evidente entre as duas famílias resulta de os beijinhos
apresentarem sulcos enquanto as cipreias têm uma superfície lisa e muito brilhante. Além disso,
os beijinhos têm tamanhos, em geral, mais pequenos.
A superfície brilhante das cipreias levou os navegadores portugueses de quinhentos, que as
encontraram abundantemente na costa africana, a pensar que era a partir delas que os chineses
fabricavam a porcelana. Daí, o seu nome popular de porcelanas. A família é constituída por cerca
de 200 espécies diferentes, algumas das quais são abundantes, particularmente nos trópicos.
A popularidade das cipreias é tão grande que, durante
milénios, uma destas conchas, a cipreia-moeda (Cypraea
moneta) (ao lado), foi utilizada como moeda.
É uma concha que apresenta uma variação muito
grande, pelo que se encontram exemplares quer com
diferentes cores, como também de forma.
O meu exemplar tem 2,1 cm, um pouco abaixo da média
que é 2,5 cm.

A bela, embora pequena, cipreia-cabeça-de-


serpente tem numerosas subespécies em toda a
região tropical do Indo-Pacífico.
Esta, parece-me tratar-se da Cypraea
caputserpentis kenyonae, nativa da África Austral,
onde habita os recifes de coral.
Este espécime tem 2,7 cm, encontrando-se
exemplares dos 1,5 aos 4,3 cm.

Uma das mais bonitas cipreias é


certamente a cipreia-tigre (Cypraea tigris),
apesar de ser muito comum e, portanto,
muito fácil de conseguir.
O seu habitat é nos recifes de coral da
região do Indo-Pacífico e o tamanho
médio dos espécimes adultos é 9 cm (o
meu tem 7,5 cm).
São conhecidas formas gigantes e todas
negras.

Outra cipreia muito popular é a cipreia-toupeira


(Cypraea talpa). Muito brilhante e com cores bonitas
seduz facilmente qualquer apreciador de conchas.
Encontra-se também nos recifes de coral do Indo-
Pacífico, a uma profundidade entre 5 e 10 m.
O meu espécime tem 6,3 cm, um pouco acima da
média que é 5,6 cm.

A cipreia-arábica (Cypraea arabica) tem numerosas


subespécies habitando a região do Indo-Pacífico,
desde a África Oriental ao Tahiti, e do Japão à
Austrália, cujo tamanho varia dos 3,3 aos 6 cm. Este
exemplar tem 5,5 cm.
A cipreia-lince (Cypraea lynx) é também nativa do
Indo-Pacífico e tem tamanho entre 2,7 e 7,8 cm. O
meu bonito espécime tem 5,1 cm.

A cipreia-rosa-silvestre (Cypraea eglantina) não


será uma das cipreias mais bonitas, mas é difícil
uma porcelana não suscitar apreço, pelo que não
deixa de ser interessante.
Habita o Pacífico Central, as Filipinas e a Indonésia
e o seu tamanho pode variar desde os 3,5 aos 8,5
cm. O meu exemplar tem 5,9 cm.

Muito bela e muito rara, a


porcelana-dourada (Cypraea
aurantium) é uma das conchas
mais desejadas pelos
coleccionadores.
O seu habitat localiza-se no lado
de fora dos recifes do Sudoeste
do Pacífico, desde as Filipinas às
Ilhas Salomão e Fidji.
O seu tamanho varia dos 5,8 aos 11,7 cm e o meu exemplar
mede 9,3 cm.
Na imagem ao lado, pode apreciar-se o aspecto particular da
espiral desta concha e a sua cor branca.
É também patente o grande desenvolvimento da margem à
volta do canal superior.

A Cypraea histrio tem, em língua inglesa, o nome popular de minstrel ou histrio cowry, o que,
numa tradução livre, poderia dar algo como porcelana-comediante, em português. Ignoro se
existe nome oficial popular, em português, mas do que "não tenho dúvidas" é que a Natureza se
"divertiu" muito ao criar esta fantástica concha!
De facto, só um artista de imaginação delirante
poderia produzir semelhante obra! No dorso, o
padrão faz lembrar um delicado mosaico duma
antiga civilização, ao qual se sobrepõem
misteriosas manchas escuras! Para além da linha
do manto o padrão muda para um mosaico de
ladrilhos mais pequenos e mais esparsos!
Finalmente, a base apresenta pintas escuras num
fundo quase branco, como se vê na zona ventral
de muitos felídeos, como o leopardo e o jaguar,
por exemplo! Incrível!

É nativa do Oceano Índico, embora exista


uma subespécie na Austrália, e o seu
tamanho varia dos 2,3 aos 8,8 cm. Este
exemplar corresponde à variedade endémica
das Maldivas e tem 5,3 cm.

A família OVULIDAE é próxima da família CYPRAEIDAE e inclui


conchas finas e leves, em geral muito atraentes.
A língua-de-flamingo (Cyphoma gibbosum) é uma concha
pequena, com uma forma muito curiosa e, sobretudo, muito
bonita.
Habita uma região que se estende desde o Sudeste da Florida,
Caraíbas, até ao Brasil.
O meu espécime, que trouxe de Cuba, Província do Oriente, tem
2,5 cm, o que, aliás, corresponde à média do seu tamanho.

Os abalones, orelhas-do-mar ou lapas-reais (família HALIOTIDAE) têm conchas achatadas que


apresentam buracos na circunvolução final que o animal usa para a respiração. Vivem em
rochedos submersos sobre os quais deslizam facilmente. A face interna é iridescente, notando-se
no centro a marca do músculo.
O abalone-arco-íris (Haliotis iris) é exclusivo da Nova Zelândia, onde é conhecido por black-
foot ou paua, na língua dos Maoris. Realmente, a superfície externa da concha natural é negra,
embora o meu exemplar tenha sido polido para pôr em evidência o belo irisado da camada
inferior. Pode atingir os 20 cm, ainda que o meu tenha apenas 14 cm.

As conchas em forma de cone, ou troques, pertencem à família TROCHIDAE, que inclui


centenas de espécies distribuídas por todo o mundo. Coloridas por fora, têm o interior raiado de
madrepérola.
O facto de a camada interior ser nacarada faz com que, frequentemente, estas conchas nos
cheguem às mãos depois de polidas. O problema é que, para os leigos como eu, classificar estas
conchas torna-se, em geral, uma tarefa muito complicada. A concha que se segue é um bom
exemplo.

Já pensei tratar-se do troque-em-


forma-de-cone ou troque-morango
(Tectus ou Trochus conus), mas
agora, enquanto espero que
alguém me esclareça, estou mais
inclinado para a hipótese de ser o
troque-comercial
(Tectus ou Trochus niloticus).
O troque-comercial deve o seu
nome a ter sido intensivamente
utilizada para fazer botões e,
mesmo hoje, ainda é pescada em
pequenas quantidades com fins
comerciais.
É uma concha bastante comum na região tropical do Indo-
Pacífico, perto dos recifes de coral.
A sua cor original é branca ou rosada com riscas vermelhas ou
cinzentas nas circunvoluções e manchas ou pintas na base,
como a imagem da esquerda deixa ver, pelo menos em parte.
O meu exemplar tem perto de 7 cm, podendo encontrar-se
conchas desde os 5 aos 15 cm.

A concha que se segue, parcialmente polida, já foi mais fácil de classificar, embora com alguma
sorte à mistura.

Trata-se do troque-pêga (Cittarium pica) que habita a região


das Caraíbas. Este exemplar foi, efectivamente, trazido da
província de Holguín, Cuba.
Tem cerca de 9,5 cm, sendo o tamanho normal dos
espécimes adultos compreendido entre 5 e 10 cm.
O polimento parcial permite ainda ver a sua coloração
natural que é manchas pretas em fundo branco, o que
ainda é mais patente na foto da esquerda, que mostra a
base que não foi polida.

A família TURBINIDAE integra as conchas conhecidas


popularmente por turbantes ou turbos. O turbo-sul-africano
(Turbo sarmaticus) é uma das conchas mais apreciadas
pelos coleccionadores que a guardam depois de polida
para revelar o nacarado da camada inferior.
Vive nos rochedos submersos do litoral da África do Sul e
tem um tamanho médio de 7,5 cm. O meu belíssimo
exemplar tem quase 7 cm.
De facto, aprecio tanto esta concha que achei justificar-se
mostrar aqui várias fotos dela.
Estas conchas ilustram bem a
dificuldade, para um amador, em
classificar conchas que foram polidas!
Penso não estar enganado ao considerar
que se tratam ambas de espécies da
família TURBINIDAE. Quais é que não
sei!

A primeira, que tem 7 cm, trazia uma


etiqueta com o nome (popular) jade-
turbo, mas é tudo quanto sei! Pode ser
que se trate do turbo-prateado (Turbo
argyrostomus), ou talvez do Turbo
olearium , ou ainda do Turbo stenogyrus!

A segunda, uma concha com apenas 5,5


cm, a acreditar num site comercial que
consultei, poderia ser o turbo-de-boca-
dourada (Turbo chrysostomus), mas só
pela fotografia lá existente, pois o nome
levanta muitas dúvidas! Vou continuar a
pesquisar e se, entretanto, alguém me
puder esclarecer ... ficarei muito grato!

As turritelas, gastrópodes da família TURRITELLIDAE, são


especialmente atraentes pela sua forma muito elegante.

O exemplar, representado à
direita, corresponde à turritela-
comum (Turritella communis),
abundante na Europa
Ocidental e Mediterrâneo. Vive
na areia, em águas muito ou
pouco profundas, e tem um
tamanho médio de 6 cm. O
meu tem 6,5 cm.

A maior das turritelas é a turritela-em-parafuso (Turritella


terebra), muito comum na areia lodosa da Região Tropical do
Indo-Pacífico. O meu exemplar, à esquerda, tem apenas 8,8
cm, mas o tamanho dos espécimes adultos pode atingir os 17
cm.
A família STROMBIDAE abrange seis géneros, cada um deles com a sua forma característica.

Os estrombos distinguem-se
por terem um lábio bojudo,
como se vê à direita no
estrombo-rosa, também
conhecido por raínha-das-
conchas (Strombus gigas).
É comum em toda a região
desde o sudeste da Florida até
ao centro do litoral brasileiro e
vive na areia. O animal é
comestível e a sua concha tem
um tamanho médio de 23 cm,
aliás, o caso do meu
espécime.

O estrombo-lutador-das-Índias-Ocidentais
(Strombus pugilis), à esquerda, tem o mesmo
habitat do anterior e encontra-se abundantemente
nas areias das praias. Deve o seu nome aos
enérgicos movimentos do animal.
O meu espécime, que veio duma praia do
Nordeste do Brasil, trazido pelo meu filho Rui, tem
6 cm, um pouco abaixo da média que é 7,5 cm.

As conchas do género Lambis, também


da família STROMBIDAE, têm o nome
popular de conchas-aranha. Têm
longos dedos-extensão, como se vê, ao
lado, neste exemplar da Lambis
chiragra.
A Lambis chiragra tem várias
subespécies, pelo que se encontram
conchas com variações apreciáveis,
quer em tamanho, cor e padrão de
decoração. Vive na areia do litoral do
Indo-Pacífico, onde é comum.
Esta bonita concha pertence à
subespécie Lambis chiragra arthritica e
o seu tamanho normal oscila entre 11 e
19 cm.
Durante anos, possuí um espécime
com os três dedos superiores partidos
mas, em 2004, consegui este bonito
exemplar, com 13,3 cm.
Já em 2003, tinha conseguido um outro exemplar, este da subespécie Lambis chiragra chiragra,
com o impressionante tamanho de 22 cm, já que o tamanho médio oscila entre 8,5 e 33 cm:

A concha-aranha-comum (Lambis
lambis) é também nativa do Indo-
Pacífico, larga, pesada, com tamanho
variável entre 9 e 27,5 cm. O meu
exemplar tem 19 cm.
Como se vê, a abertura larga e ondulada
tem seis dedos-extensão (ou espinhos),
quase todos curvados para cima. O canal
sifonal (em baixo) é simétrico ao espinho
superior.
Os espinhos das conchas-aranha
permitem-lhes rastejar na areia, à volta
dos recifes, sem serem arrastadas pelas
correntes marinhas. As fêmeas possuem
espinhos mais longos do que os machos!
Porque será?
Além disso, os jovens não têm espinhos!
Ainda da família STROMBIDAE, as tíbias (género Tibia) são em
forma de fuso com um canal sifonal mais ou menos comprido. A
mais espectacular é certamente a tíbia-fuso (Tibia fusus), pois
tem o canal sifonal incrivelmente longo, tão longo quanto o resto
da concha. O canal é suavemente curvado na ponta.

O meu exemplar é perfeito com 24,5 cm, bem acima da média


que é 20 cm. Habita nas águas profundas do sudoeste do
Pacífico e é relativamente rara.

A tíbia-delicada (Tibia delicatula), em baixo, embora mais


discreta do que a anterior, é também muito bonita.
É uma concha não muito
comum, uma vez que
habita águas profundas.
Existem várias subespécies
e acentuadas variações de
cor, ocorrendo em toda a
zona setentrional do Índico,
desde o Golfo de Aden e a
África Oriental até à Ilha de
Samatra.
O meu exemplar tem 9,5
cm, encontrando-se
espécimes de tamanhos
que variam desde os 4,5
aos 11 cm.

As mais de 80 espécies de conchas elmo pertencem à família CASSIDAE e distinguem-se pelo


lábio externo espesso e pela larga protecção da columela. Os animais habitam na areia e
alimentam-se de ouriços do mar.

Uma das espécies mais notáveis


da família é a Cypraeacassis
rufa, popularmente conhecida
por elmo-boca-de-boi, ou boca-
de-touro, uma concha grande e
espectacular, muito utilizada
antigamente para fazer
medalhões e camafeus.
Habita perto dos recifes de coral
do Indo-Pacífico tropical e tem
um tamanho médio de 15 cm. O
meu magnífico exemplar tem uns
bons 16,5 cm.
Outro membro da
família CASSIDAE, o elmo-do-
rei (Cassis tuberosa), pouco fica
a dever em beleza ao anterior,
apesar da sua cor mais discreta.
Habita o Atlântico Ocidental,
desde a Carolina do Norte até
ao Brasil e ainda as Ilhas de
Cabo Verde.
O meu exemplar tem cerca de
15 cm, enquanto a média é 19
cm.

Mais pequeno, mas não menos bonito do


que os anteriores, o elmo-flamejante (Cassis
flammea) habita as águas de baixa
profundidade, desde as Caraíbas até ao
Brasil.
O meu exemplar tem 8 cm, podendo
encontrar-se conchas desde os 7 aos 15,5
cm.

Ainda mais pequeno, mas também muito belo, o


elmo-do-Senegal (Cypreacassis testiculus
senegalica) habita as costas do Senegal e de
Angola. O seu tamanho varia entre 3 e 10 cm e o
meu exemplar tem 4,5 cm.
Tritões e búzios são designações populares de
conchas de animais que se incluem em diferentes
famílias. Uma dessas famílias é a
família RANELLIDAE que, à semelhança da
anterior família CASSIDAE, pertence à
superfamília TONNOIDEA.
Os tritões da família RANELLIDAE apresentam
conchas espessas de tamanho muito variável,
que pode ir de poucos centímetros até às várias
dezenas! São carnívoros, alimentando-se de
outros moluscos e de ouriços-do-mar.
O exemplar ao lado é certamente um tritão desta
família. Penso tratar-se do tritão-protuberante
(Charonia lampas nodiferum), que ocorre nas
Canárias, no Mediterrâneo e da Mauritânia até
Angola. O seu tamanho pode variar de 11,5 a 39
cm, mas o meu tem apenas 18,5 cm.

Em contraste com o enorme tritão anterior,


este seu parente é uma pequenina, mas
muito bela concha, com apenas 2,5 cm,
apesar de poder atingir os 10 cm.
Trata-se do tritão-folha-de-carvalho (Biplex
perca), que habita as águas profundas da
região tropical do Indo-Pacífico, desde a
Somália até às Filpinas e Japão.

A escalária-preciosa (Epitonium scalare), da


família EPITONIIDAE, é talvez a concha mais
famosa e mais desejada pelos coleccionadores.
No século XIX, a sua beleza e raridade fizeram
dela objecto só acessível aos ricos e poderosos, a
ponto de os mercadores chineses venderem
falsificações feitas de pasta de arroz. Hoje, é
relativamente comum, mas mesmo assim difícil de
obter.
Habita as areias e águas de baixa profundidade da
região tropical do Indo-Pacífico. O seu tamanho vai
dos 3 aos 7 cm, tendo o meu exemplar 3,5 cm.

Os múrices, animais da família MURICIDAE, ainda que por vezes ostentando belas cores,
destacam-se sobretudo pela ornamentação, verdadeiramente impressionante em algumas
espécies. De alguns membros desta família pode extrair-se um corante de cor púrpura. Os
fenícios foram os primeiros a desenvolver essa técnica e os seus tecidos de púrpura eram
usados pelos nobres romanos como sinal de riqueza.
O múrice representado à esquerda é,
seguramente, uma das jóias mais
preciosas da minha pequena
colecção.
Trata-se da extraordinária Murex
pecten, conhecida popularmente por
pente-de-vénus. Habita os litorais
arenosos do Leste do Oceano Índico,
Pacífico e Japão. Pensa-se que os
espinhos podem constituir uma
protecção contra peixes predadores.
Não é uma concha rara, mas é muito
difícil encontrar um exemplar com os
espinhos intactos.
O meu exemplar é realmente
excepcional, aparentemente sem
nenhum espinho partido. Tem 13 cm,
que é justamente o tamanho médio.

A família MURICIDAE é muito numerosa, pois conta com mais de 380 espécies, algumas com
variações significativas. São, em geral, conchas muito belas, logo muito procuradas pelos
coleccionadores. Para um leigo, como eu, a sua classificação não é fácil pois só o
género Chicoreus abrange cerca de 180 espécies. Em todo o caso, parece não haver dúvida que
o espécime abaixo representado é o múrice-ramificado (Chicoreus ramosus), uma concha
comum dos recifes de coral do Indo-Pacífico.

Há muito que possuo dois exemplares com cerca de 11 cm, mas recentemente consegui este
outro, com 14 cm, muito mais bonito e perfeito. Embora o tamanho médio desta espécie seja 20
cm, encontram-se exemplares com tamanhos que vão dos 5 aos 30 cm, dependendo certamente
da idade do animal.
A dificuldade referida quanto à concha anterior
estende-se ao múrice representado à
esquerda.
Dada a grande variabilidade de cor e tamanho
do Chicoreus ramosus, pareceu-me que
poderia tratar-se duma variante dessa espécie.
Mas, não!
Trata-se, afinal, do múrice-tição (Chicoreus
torrefactus), também oriundo do Indo-Pacífico.
O meu exemplar tem 9 cm, podendo encontrar-
se espécimes com tamanho entre os 6 e os 12
cm.

O múrice-de-ramos-cor-de-rosa (Chicoreus palmarosae) é mais uma espécie cuja beleza nos


deixa com dificuldade de arranjar adjectivos! Os seus relevos esculpidos, de uma delicadeza
extrema, fazem desta concha uma rara obra de arte da Natureza.

Habita o litoral do Indo-Pacífico, desde as Maldivas ao Sudoeste do Japão, podendo apresentar


pequenas variações em função da região. O seu tamanho varia dos 6,5 aos 13 cm.
O meu exemplar mede 8,0 cm e é a variante das Maldivas.

Em Agosto de 2004, adquiri a bela


concha, ao lado figurada, que se
trata, obviamente, dum múrice,
mas ... qual?
Com uma "ajudazinha" lá descobri
que é o múrice-chicória (Hexaplex
chicoreum), nativo das Filipinas.
O tamanho deste exemplar é 11
cm, um valor médio já que se
encontram conchas entre os 5 e os
15 cm.
Outro múrice com canal sifonal muito comprido, mas sem
espinhos, é o múrice-bico-de-narceja (Haustellum
haustellum).
É uma das maiores espécies do seu género e habita os
bancos de areia sujeitos às marés, desde o Mar Vermelho
e o Índico até ao Pacífico Ocidental.
O meu exemplar tem 12 cm, podendo encontrar-se
espécimes com tamanho entre os 6,5 e os 15 cm.

Este pequenino e encantador múrice (não


chega aos 2 cm) é a drupa-eriçada-do-
Pacífico (Drupa ricinus), que habita os recifes
expostos às marés da região do Indo-
Pacífico Tropical. Existem várias
subespécies, em geral todas com as
extremidades das agulhas negras. Esta,
a Drupa ricinus ricinus, infelizmente, não as
tem.
O tamanho deste exemplar é 19,2 mm,
podendo encontrar-se conchas entre os 19 e
os 32 mm.

As mitras, os membros da família MITRIDAE, são conchas de


cores atraentes que devem o seu nome à semelhança da sua
forma com as mitras dos bispos. Animais predadores, habitam
geralmente nos corais, rochedos ou areia, entre marés.
O exemplar figurado refere-se à mitra-episcopal (Mitra mitra),
uma concha comum que habita na areia de águas pouco
profundas da região tropical do Indo-Pacífico.
O meu exemplar tem cerca de 10 cm, que corresponde ao
tamanho médio desta espécie.
A família HARPIDAE integra conchas
belíssimas pela sua forma, pelos padrões
requintados e pelas cores brilhantes. As
harpas são animais carnívoros, não têm
opérculo e vivem na areia.
Dentro de cada espécie, há uma grande
variação dos padrões e das tonalidades, o que
dificulta bastante a sua identificação. Penso,
contudo, não estar enganado ao identificar o
meu exemplar como sendo a Harpa major.
A harpa-mor vive na areia, em águas pouco
profundas do Indo-Pacífico tropical. Tem um
tamanho médio de 9 cm, enquanto o meu
exemplar tem cerca de 8 cm.

A maravilha-japonesa (Thatcheria mirabilis),


da família TURRIDAE, pelo seu nome e
aspecto, logo indicia tratar-se duma concha
muito especial. Sendo uma concha de águas
profundas (150 a 500 m), foi no passado
muito rara, a ponto de durante muito tempo
se ter conhecido apenas um exemplar!
Continua a ser uma concha difícil de
encontrar, mas relativamente acessível.
Diz-se que o famoso arquitecto Frank Lloyd
Wright se teria inspirado na sua bela forma
para desenhar o Museu Guggenheim, de
Nova Iorque.
O meu espécime tem 6,5 cm, um pouco
abaixo do normal que é entre 7 e 12 cm.
Ocorre desde o Japão ao noroeste da
Austrália.

A família TEREBRIDAE inclui centenas de espécies, em


geral, com conchas longas, esbeltas e brilhantes. As terebras
são animais de águas quentes ou temperadas, alimentam-se
de larvas marinhas e habitam, normalmente, águas pouco
profundas, na areia, rochedos ou coral.
A terebra-manchada (Terebra maculata) tem uma concha
espessa e pesada, pelo que não admira que tenha sido
usada, no passado, como ferramenta de perfuração.
Habita águas pouco profundas da região tropical do Indo-
Pacífico, onde é bastante comum.
A terebra-manchada tem um tamanho médio de 14 cm, que
é, justamente, o tamanho do meu exemplar.
Os cones (família CONIDAE) são conchas muito populares entre os coleccionadores dada a
grande variedade de cores e padrões que apresentam. Alimentam-se doutros moluscos, larvas e
pequenos peixes, que capturam injectando-lhes veneno.

À esquerda, o cone-da-faia (Conus betulinus) é uma


das maiores espécies desta família, podendo chegar
perto dos 18 cm. O meu exemplar, contudo, tem
apenas 6,5 cm.

O cone-de-mármore (Conus marmoreus), à direita,


apresenta uma significativa variedade de cores e o seu
tamanho pode variar entre os 5 e os 15 cm. O meu
tem 7 cm. Ambos habitam águas pouco profundas da
região do Indo-Pacífico.

A classificação sistemática das espécies levantou, desde


sempre, dificuldade e controvérsia entre os especialistas. Que
dizer então dos terríveis obstáculos que se deparam a um
simples leigo como eu? Vejamos o caso do cone
representado à esquerda. Com a ajuda do enorme manancial
de informação que a Internet constitui, tentei pacientemente
classificá-lo. A certa altura, julguei ter atingido o meu
objectivo, uma vez que as imagens disponíveis pareciam
indicar tratar-se do Conus omaria. Então, verifiquei que
também poderia ser o Conus pennaceus!
Valeu-me, finalmente, um amigo coleccionador experiente
que, chamando-me a atenção para o facto de o ápice (ou
vértice) ser rosa, dever tratar-se certamente do Conus
omaria, que habita a região do Indo-Pacífico e cujo tamanho
varia dos 3,3 aos 8,6 cm. O meu exemplar tem 7,5 cm.

A família ARCHITECTONICIDAE compreende os discos solares, também conhecidos por


relógios-de-sol, cujas conchas são, de entre as conchas marinhas, as que exibem a simetria mais
perfeita.

O disco-solar (Architectonica perspectiva) é uma bela concha pesada que habita as regiões
arenosas da região tropical do Indo-Pacífico.
O meu exemplar tem 4,9 cm, bem
perto da média que é de 5 cm,
sendo o tamanho máximo da
ordem dos 6 cm.
A família CAMAENIDAE integra gastrópodes terrestres e a concha a seguir representada parece
não haver dúvida de corresponder a uma das suas espécies. Saber qual delas é, porém, é que
levanta alguma dificuldade!
Um amigo, muito mais conhecedor do que eu, sem a ajuda do
qual, aliás, eu nem sequer teria descoberto a que família
pertencia, inclina-se para se tratar da Obba parmula, nativa
das Filipinas, cujo tamanho pode atingir 29 mm. Com essa
indicação sobre a família, pus-me a pesquisar e, com base nas
fotos que encontrei, iria jurar que se trata de uma Caracollus
sagemon! Existem várias subespécies, todas nativas de Cuba,
com tamanhos que, dependendo da subespécie, podem atingir
os 34, 35 ou 40 mm.
O meu amigo acha que é pouco provável ser uma Caracollus, pois só existe em Cuba e a
esmagadora maioria das conchas comercializadas são da região das Filipinas.
Só que, em 2002, eu trouxe
algumas conchas de Santiago de
Cuba e uma delas pode bem ter
sido esta concha!
Além disso, como a minha concha
tem 38 mm de diâmetro não me
parece ser uma Obba, se esta não
ultrapassar os 29 mm!
Contudo, o meu amigo diz ter
uma Obba, cuja proveniência é
garantidamente das Filipinas, com
37 mm!
Finalmente, acrescenta
pormenores descritivos da
concha, que seria despropositado
reproduzir aqui, que o levam a
insistir na sua classificação.
Desta forma, a decisão definitiva fica a aguardar uma classificação mais peremptória.

ESCAFÓPODES (SCAPHOPODA)

A classe dos escafópodes integra as conchas dente de elefante, assim chamadas pelo seu
aspecto, e que vivem em luras, na areia do litoral.
Possuo dois exemplares de cuja classificação ainda não estou
bem certo. Assim, é com reservas que apresento a minha
opinião.
A concha da esquerda parece-me ser o dente-de-elefante-
alongado (Antalis longitrorsum), nativo do Indo-Pacífico Tropical.
O seu tamanho médio é 9,5 cm, medindo o meu espécime 7,5
cm.
Quanto à concha da direita, as minhas dúvidas são maiores.
Tendo em conta que foi apanhada, segundo me foi dito, na praia
de Tróia, Grândola, inclino-me para que se trate do dente-de-
elefante-europeu (Antalis dentalis), comum no litoral desde a
Aquitânia à Mauritânia e em todo o Mediterrâneo. Contudo,
parece que o tamanho médio desta concha é 3 cm e como a
minha mede 3,8 cm, suspeito que possa tratar-se doutra
espécie. Além disso, a ausência de estrias longitudinais mais
acentua as minhas dúvidas!
Do que me parece não haver dúvidas é que se tratam de duas
conchas pertencentes à família DENTALIIDAE.

BIVALVES (BIVALVIA)

A classe dos bivalves é a mais numerosa a seguir à classe dos gastrópodes. A concha dos
bivalves é constituída por duas peças ou valvas, unidas por um ligamento.
As vieiras (família PECTINIDAE), com conchas em forma de leque, encontram-se entre os mais
conhecidos de todos os bivalves.

O meu exemplar, abaixo, é o grande-pecteu (Pecten maximus), comum desde a Noruega ao


Mediterrâneo. Imortalizada por um quadro de Botticelli e adoptada como símbolo duma poderosa
multinacional, é talvez a mais conhecida de todas as conchas marinhas. A valva direita é
encurvada (a única que possuo), enquanto a esquerda é plana. As vieiras deitam-se no fundo do
mar com a valva plana para cima. O meu exemplar tem 13 cm, que é o tamanho médio dos
adultos.

CEFALÓPODES (CEPHALOPODA)
Dos cefalópodes, classe que integra os polvos, as lulas e os chocos, os náutilos
(família NAUTILIDAE) são os únicos com uma verdadeira concha externa. Apesar de já terem
sido muito numerosos, actualmente apenas cinco espécies sobrevivem na região do Indo-
Pacífico.

O meu exemplar refere-se ao náutilo-com-


câmaras (Nautilus pompilius), a espécie
mais comum e mais conhecida.
É uma concha muito procurada pela sua
originalidade, com um tamanho médio de
15 cm. A minha tem apenas 11 cm.

NOVAS AQUISIÇÕES (por catalogar)


Que bivalve é este? (12,3 cm):

Esta concha de bivalve veio da praia de Tróia, Grândola. Suponho que popularmente é
designada por conquilha. Será uma telina?

Este búzio foi pescado no mar do Algarve e é comestível (comi-o!). Será um turbo? Qual?
Devem-se remover as deposições calcáreas? (6,3 cm)
Esta concha foi comprada no circuito comercial e, como se vê, foi polida. Parece um troque ou
um turbo, mas qual? (5,5 cm)

Todas as imagens desta secção reproduzem conchas minhas e foram fotografadas por mim.
Todos os direitos de utilização destas imagens estão reservados. Ó 2002 - 2004 Franclim
Ferreira.

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