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FONTES MECANIZADAS
COMO CONTRIBUIÇÃO
AOS SISTEMAS DE
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
ALCEU PEDROTTI
MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO
ALCEU PEDROTTI
MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO
0
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:
Fontes Mecanizadas
Como contribuição
aos Sistemas
de Produção Agrícola
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA
ALCEU PEDROTTI
MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO
1
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:
Fontes Mecanizadas
como contribuição
aos Sistemas
de Produção Agrícola
2
CDU
631.17
S 729 r – PEDROTTI, Alceu & SOUZA NETO, Miguel David de,
90
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA: Fontes Mecanizadas como contribuição aos Sistemas de
Produção Agrícola / Alceu Pedrotti & Miguel David de Souza Neto – São Cristóvão – Se.,
2006.
162 P: il.
Bibliografia
3
ÍNDICE
Apresentação ................................................................................................................................................ 7
Um pouco de história: o fim do nomadismo e a agricultura de precisão: .................................................. 9
1. O uso da tração animal na agricultura ..................................................................................................... 9
1.1.1. A mecanização na agricultura .......................................................................................................... 11
A agricultura de precisão ........................................................................................................................... 13
1.1.2. A tração animal e os dias de hoje.................................................................................................... 14
1.1.3. Aspectos da mecanização agrícola: ................................................................................................. 16
A mecanização e a agricultura moderna .................................................................................................... 19
A situação da mecanização agrícola .......................................................................................................... 20
• Principais críticas à mecanização agrícola: ..................................................................................... 24
1.2. Conhecendo o trator: .......................................................................................................................... 30
1.2.1. Princípios básicos de funcionamento de um trator agrícola: .......................................................... 30
1. 2. 2. Definição de motor: ....................................................................................................................... 31
• Os tempos dos motores à explosão ................................................................................................. 33
• Função de alguns órgãos dos motores de Ciclo OTTO: ................................................................. 35
• Função de alguns órgãos dos motores de Ciclo Diesel; ................................................................. 35
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................................................. 38
Os sistemas do trator ................................................................................................................................. 38
2. Os sistemas do trator............................................................................................................................. 38
2.1. O sistema hidráulico............................................................................................................................ 38
2.1.1. Funcionamento básico do sistema hidráulico de três pontos ......................................................... 39
2.1.2. Autocontrol - Pré-programação operacional suportada por tecnologia de computador (tratores
Valtra/Valmet): .............................................................................................................................................. 43
2.1.3. O Sistema de levante hidráulico com controle eletrônico – Hydrotronic (tratores Massey
Ferguson e Maxion)....................................................................................................................................... 44
2.2. O sistema de lubrificação .................................................................................................................... 44
2.2.1. As siglas utilizadas na classificação dos óleos ............................................................................... 44
2.2.2. Manutenção do sistema de lubrificação ........................................................................................... 45
2. 3. O Sistema de arrefecimento .............................................................................................................. 53
2.4. Sistema de embreagens e transmissões ............................................................................................ 55
2.4. Sistema de transmissão: Transmissão de força. A lei das alavancas, um dos princípios dos braços
do hidráulico: ................................................................................................................................................. 62
2.4.1. Sistema de transmissão de trabalho – polias e correias................................................................. 65
2.4.1 Dimensionamento de polias e correias: adequação de implementos: ............................................. 67
2.4.2. Dimensionamento de polias: ............................................................................................................ 67
▪ A relação: Tipos de correias x potência do motor ......................................................................... 68
2.4.3. Dimensionamento de correias ......................................................................................................... 69
Alguns cuidados com as correias e polias: ............................................................................................... 70
2.5. O sistema de alimentação ................................................................................................................... 70
2.5.1.Sistema de alimentação/ar: ............................................................................................................... 70
▪ Manutenção do sistema de filtragem de ar ..................................................................................... 71
2.5.2. Sistema de alimentação/combustível ............................................................................................... 72
▪ Tanque de combustível: ................................................................................................................... 72
▪ Bomba alimentadora ........................................................................................................................ 72
▪ Drenagem do sedimentador e do filtro de combustível. ................................................................. 72
▪ Substituição do filtro de limpeza do sedimentador de combustível. .............................................. 73
▪ Sangria do motor.............................................................................................................................. 73
▪ Sangria do sedimentador e filtro de combustível ........................................................................... 73
▪ Sangria da bomba injetora (bomba horizontal e bomba vertical – cav).......................................... 73
2.6. Ajustes de bitola e lastração .............................................................................................................. 75
4
2.7. considerações sobre a correta manutenção dos tratores: ................................................................. 79
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................................................. 82
Os implementos agrícolas: ......................................................................................................................... 82
3.1. Manutenção dos implementos ............................................................................................................. 83
3.1.2 Manutenção dos equipamentos de tração animal ............................................................................. 83
3.2.Planejamento e desempenho operacional de máquinas agrícolas ...................................................... 85
O Rendimento das operações de mecanização .......................................................................................... 85
Gerenciamento econômico do setor de mecanização................................................................................ 86
3.3. As atividades agrícolas e os implementos: ........................................................................................ 90
3.3.1. Preparo do solo:............................................................................................................................... 90
▪ Aração .............................................................................................................................................. 91
Princípio da aração: A reversibilidade da leiva ......................................................................................... 91
Arados fixos e móveis: .............................................................................................................................. 93
O Arado de aivecas: ................................................................................................................................... 94
O arado de discos....................................................................................................................................... 95
▪ A gradagem ...................................................................................................................................... 96
Regulagem das grades de discos ............................................................................................................. 102
Sistemas de gradagem ............................................................................................................................. 103
Grade de dentes com molas ou grade de molas ..................................................................................... 103
Grade de dentes rígidos ou fixos............................................................................................................. 104
O rolo destorroador: ................................................................................................................................ 104
▪ Escarificadores no preparo do solo. ............................................................................................. 105
Enxada rotativa ........................................................................................................................................ 106
▪ A semeadura .................................................................................................................................. 107
▪ Tratos culturais - As capinas........................................................................................................ 112
Aplicação de herbicidas ........................................................................................................................... 116
Condições climáticas ideais para a aplicação de defensivos: ................................................................. 117
A colheita ................................................................................................................................................. 117
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................................ 122
Prevenção de acidentes no uso dos implementos agrícolas e do trator ................................................ 122
4.1. Medidas gerais de segurança ........................................................................................................... 122
4.1.1. Identificação dos principais controles e instrumentos de controle do trator: ............................. 124
4.1.1.2. Partida do motor ......................................................................................................................... 125
4.2. Conforto na operação do trator: ....................................................................................................... 126
4.2.1. A insalubridade do trabalho de tratorista...................................................................................... 126
4.3. Cuidados com o equipamento: a operação do trator........................................................................ 129
4.4. Tração dianteira ................................................................................................................................ 131
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................................ 133
Manejo e conservação do solo ................................................................................................................. 133
5.1. Características e propriedades edáficas que devem ser observadas no preparo do solo: ............ 133
5.1.1. Textura........................................................................................................................................... 134
5.1.2. Estrutura e Umidade: ..................................................................................................................... 134
a) Estrutura ........................................................................................................................................ 134
b) Umidade do solo ............................................................................................................................ 135
5.1.3. Cor .................................................................................................................................................. 138
5.1.4. Porosidade ..................................................................................................................................... 138
5.1.5. Profundidade .................................................................................................................................. 138
5.1.6. Topografia ...................................................................................................................................... 139
5.2. Medidas conservacionistas ............................................................................................................... 140
Terraceamento e semeadura em nível .................................................................................................... 142
Manutenção da cobertura morta na superfície – Sistema de Plantio Direto (SPD): ............................... 144
Adubação verde ........................................................................................................................................ 144
Rotação de cultura, pousio e cultivo em faixas alternadas ..................................................................... 145
Alternância de implementos ..................................................................................................................... 149
O uso de implementos descompactadores do solo: ................................................................................ 149
5
Subsolador X Escarificador...................................................................................................................... 150
5.3. A fertilidade do solo ......................................................................................................................... 150
5.3.1. Amostragem do solo ...................................................................................................................... 150
5.3.2. Análise foliar .................................................................................................................................. 151
5.3.3. Adubação do solo ........................................................................................................................... 151
5.3.4. Adubação química .......................................................................................................................... 156
5.3.5. Adubação orgânica ......................................................................................................................... 156
5.3.6. O ph do solo e a correção da acidez ............................................................................................. 157
5.3.7. A adubação e a pecuária: ............................................................................................................... 160
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................................................................ 162
6
Apresentação
7
pneu-solo e esteira-solo são freqüentemente revistas e confrontadas entre as grandes áreas
(aplicações agroflorestais, máquinas para construção civil e veículos fora de estrada).
Aquele veículo que hoje é conhecido como trator já passou por muitas fases e
variações. Inicialmente, na primeira metade do século passado, já existia uma quantidade
significativa de máquinas a vapor sobre rodas. As primeiras esteiras, ainda primitivas são
dessa época, e justamente para sustentar máquinas pesadas sobre solo. Na última década
do século passado é que começaram a surgir os tratores com motor de combustão interna. A
partir de então surgiram inúmeras variações e formas construtivas tanto do trator em si
quanto do seu sistema de rodado que é, em última análise, o dispositivo responsável pela
transformação da potência disponível no motor em força de tração (Goering, 1992).
Algum tempo depois do seu surgimento é que esse veículo passou a ser chamado de
trator, pela suas características e função. Um anúncio de um deles, datado de 1906, o
chamava pela primeira vez de “tractor machene”. Essa é a maior função do trator que hoje
impulsiona uma grande fatia da economia, na agricultura e silvicultura.
Em cima destas evoluções e ganhos de tecnificação, que este livro vêm a contribuir
com docentes e pesquisadores, além de, principalmente os discentes cursantes das
disciplinas de graduação, em cursos ligados a ciências agrárias, que tem a necessidade de
subsídios na área de mecanização agrícola, que ao mesmo tempo que registra evoluções e
resultados nos sistemas de produção tão expressivos, carece de materiais como os
propósitos apresentados por esta publicação.
Bom proveito !
8
CAPÍTULO 1
Evolução histórica: o fim do nomadismo e a agricultura de precisão:
9
agricultura, auxiliando o homem nas tarefas de desmatamento, aração, tração,
semeio e colheita. Diversos povos fizeram uso dos animais domésticos, para se
desenvolverem. Grandes proprietários de terras, como o americano Washington,
que em sua fazenda fez uso de mulas, de utilidade como força de tração na
agricultura (GUIMARÃES, 1982), ou os tropeiros, que tantas cargas
transportaram no dorso desses animais, Brasil afora.
Os animais têm um potencial de transformarem alimentos baratos
(forrageiras e grãos) em trabalho mais eficientemente que o homem, pois o
homem mesmo, como fonte geradora de potência, é pouco eficiente, gerando
apenas cerca de 0,1 hp de trabalho pesado e contínuo e cerca de 0,4 hp de
trabalho de esforço contínuo e moderado (HOPFEN & BIESASKI, 1953).
Imagem 1.Cultivadores tracionados por bois. Cena comum no interior do nordeste e em propriedades de
mão – de – obra familiar.
10
somente o grau de cuidados e número de manutenções desses implementos,
como veremos num capítulo mais tarde.
11
Atualmente, existe maquinário que exerce tarefas antes inconcebíveis a
uma máquina, como a colheita de cana-de-açúcar, de algodão, de café, ou de
oliva. Algumas são até guiadas por satélite, na chamada agricultura de precisão,
através do uso de GPS (do inglês: global positioning sat) para a correção e
adubação do solo, em glebas heterogêneas da propriedade, com aplicação de
insumos e fertilizantes, de uma forma bem mais específica de que a adubação
generalizada e extrapolada para toda a área2. Podemos citar ainda, o trator
agrícola que não precisa de operador (atualmente apenas um protótipo); vai ao
campo e volta ao galpão de máquinas guiado por satélite e por computadores.
Esse nível de tecnologia, contudo, só seria viável no emprego de máquinas
para grandes propriedades rurais, de produção intensiva e de culturas com altos
rendimento e remuneração por unidade de área (grandes culturas de valor
econômico elevado ou alta produtividade como a soja, ou o trigo, além de
algumas culturas olerícolas).
2
SOUZA FILHO e RORDAN (2003), ao descreverem a agricultura de precisão, definem os métodos de análises
através de amostragens das áreas tradicionalmente feitos como Agricultura das médias.
12
A agricultura de precisão
A mecanização e a pecuária:
A mecanização atualmente está para a pecuária assim como o boi está para
o pasto, ou no caso de uma pecuária mais mecanizada, assim como o boi, para o
cocho. Inúmeros são os implementos e máquinas utilizadas na pecuária, muitos
deles caracterizados inclusive como implementos pecuários e não mais agrícolas.
Enumeremos alguns:
13
No Nordeste, uma cultura que é usada desde muito pelos agricultores (ou
pecuaristas) familiares e que sustenta toda sorte de gado nos períodos mais
crítico de secas as quais muitas vezes duram anos é a palma forrageira (Opuntia
sp.). Uma cactácea que, de forma característica dessa família botânica, sobrevive
à aridez mediante as suas estratégias fisiológicas (armazenamento de água,
metabolismo CAM, atrofiamento das folhas em espinhos etc) e que naturalmente
serve de alimento aos animais.
Há especificamente nessa região para o setor pecuário uma certa
dificuldade (entre tantas!) que se refere a um caráter de ordem tecnológica e
prática, que é uma colheitadeira de palma forrageira à disposição no mercado.
De fato, se considerarmos somente o aspecto técnico de construção da
mesma, veremos que há algumas limitações de ordem técnica como o corte da
palma e deslocamento do material picado da máquina ao vagão, alimentação do
material através de esteira, espaçamento padrão ideal da cultura a campo,
cultura em área destocada, variedade de palma forrageira mais adequada,
robustez do conjunto trator x implemento e velocidade de corte.
Já para áreas mais abastadas no tocante à regularidade de chuvas e média
pluviométrica bem definida, as colheitadeiras de feno e sua embalagem em
fardos de cerca de 20 kg são as máquinas mais utilizadas por pecuaristas de
maior porte, embora existam máquinas com uma grande capacidade de confecção
e transporte de feno (em rolos).
De uma forma geral, à medida que novas necessidades forem surgindo,
também surgirão novas respostas tecnológicas da mecanização, desde claro, que
haja uma viabilidade de mercado, mas que, de forma absoluta, vê-se uma forte
tendência de incorporação da mecanização à pecuária brasileira.
3 Embora a compactação do solo seja notadamente maior quando se refere à tração mecânica, em termos de proporção, o
animal compacta mais o solo*, pois o tamanho do casco deste em relação ao seu próprio peso é significativamente menor do
que se compararmos a proporcionalidade entre o material rodante (esteira, pneus) de um trator agrícola e o seu tamanho.
Entretanto, essa afirmação adquire uma natureza meramente de curiosidade, ou por assim dizer, sem uma consistência prática,
pois na realidade, os danos feitos aos solos agrícolas restringem-se quase que exclusivamente ao manejo e forma de
exploração do solo. O uso “incorreto” e excessivo do trator, mais contundente em termos de danos ao solo do que o uso da
tração animal, a qual é feita geralmente em pequenas propriedades e sem danos que comprometam o sistema de produção de
tais propriedades – portanto, para as áreas agrícolas com problema de compactação de solo, a formação de camadas
14
não obtém resultados satisfatórios, seja pelas dimensões das parcelas
trabalhadas, pelo relevo ou até mesmo pela não disponibilidade de capital para
aquisição de maquinário.
Atualmente, em países como a China, nas regiões montanhosas
rizicultoras, onde a mecanização com o uso de máquinas autopropelidas
(tratores) é impraticável, os bufalinos continuam sendo utilizados e realizam as
tarefas com perfeição (já existe um maior número de tratores na agricultura
chinesa, devido à abertura econômica que esse país vem realizando na última
década, do século XX, mas que o emprego da mão – de – obra ainda é
significativo, o que é desejável do ponto de vista social, já que a China é um país
superpopuloso). Na Índia, os bovinos são reverenciados como sagrados e
comumente utilizados para diversas atividades, como auxiliadores do homem nas
suas tarefas cotidianas.
A tabela seguinte (tabela 1) ilustra o rendimento de algumas operações
mecanizadas utilizando-se a tração animal e a tração mecânica. Não pretendemos
contudo, com essa tabela, fazermos apologias ao emprego da tração mecânica,
conforme foi discutido no item de críticas à mecanização agrícola. Acreditamos
que cada produtor tenha uma necessidade diferente em relação ao modo de
produzir, cabe somente ou ao técnico responsável ver a real necessidade de
aquisição de máquinas, principalmente no tocante ao custo-benefício de
semelhante empreitada
Tabela 1 – Rendimentos de algumas operações agrícolas com tração animal e
mecanizada.
Tração animal Tração mecanizada
- Animal utilizado - Faixa de potência (cv) para
tratores de pneus
Operações Mula 1 boi 1 junta de 61-63 73-77
bois
Rendimento (ha/turno*)
*considerando um turno (dia/de serviço) de 6 horas de trabalho
Aração 0,37 - 0,45 1,2 – 2,4 2,4 – 3,6
subsuperficiais adensadas, está relacionada não somente com a questão “direta” do uso do trator e a compactação causada
por ele, mas sim às práticas de manejo incorretas e degradantes tais como número de passagens excessivas, aração ou
gradagem muito acima ou abaixo do ponto ideal de revolvimento do solo, o lastramento incorreto e/ou excessivo do trator,
relação implemento de corte x potência do trator inadequada, etc.
*nda.: Na realidade, existem áreas de pastagem que sofrem compactação demasiada, pelo excesso de pisoteio
(excesso de animais numa mesma área ou superpastoreio), mas que evidentemente, é uma situação relacionada ao mal
manejo e falta de racionalização da pecuária, totalmente diferente portanto, da questão de emprego de tração animal ora
discutido.
15
Cultivo 1,60 - -
Sulcamento - 1,2 -
4
Além disso, a má distribuição demográfica, com uma absoluta maioria da população residente em zona rural,
implica em prejuízo social, conforme discutido mais apropriadamente no tópico referente às principais críticas
em relação à mecanização agrícola.
16
Pode-se observar, no quadro acima, que a eficiência de um serviço
realizado por um homem, em relação a um mesmo serviço realizado por um
animal tracionando um implemento e também a um trator acoplado a uma
segadeira.
Se compararmos as três situações, considerando a utilização por este
homem de um equipamento que lhe permita um melhor rendimento, dentre os
dois equipamentos comparados (uma foice e um alfanje manual), veremos que o
rendimento do serviço, no que se refere à área segada, é inferior cerca de 16
vezes ao mesmo serviço realizado pelo animal e cerca de 32 vezes inferior ao
rendimento obtido pelo trator acoplado à segadeira. Já no que concerne à
quantidade de volumoso disponível à alimentação das vacas, esses valores são
maiores, onde o trabalho realizado pelo homem com uma ferramenta simples
produziu forragem suficiente para alimentar apenas 2 vacas, enquanto no mesmo
período de tempo, o conjunto trator x segadeira obteve forragem suficiente para
alimentar 80 vacas. Graficamente, de acordo com o quadro anterior teremos
expressa a seguinte situação:
Gráfico 1. Rendimento médio comparativo entre o trabalho humano, o trabalho utilizando a tração
animal e o trabalho mecanizado (em número de vezes, o trabalho realizado por um homem utilizando
apenas o esforço próprio e uma ferramenta simples e os demais tratamentos usando segadeiras – tração
animal e mecânica).
Rendimento relativo
do conjunto
80 80
tratorizado em
relação à quantidade 70
final de forragem
60
Trabalho
50 Humano
Rendimento 40
relativo do conjunto 40
tratorizado em 31,7 Tração
30 Animal
relação à Área de
pasto cortado
15,7 20
Trabalho
10 mecanizado
2
1
0
17
superior, em muito, ao trabalho feito utilizando-se apenas a mão de obra
humana.
Estimava-se nas décadas 60/70 do século passado, uma relação de
oferta/demanda para o futuro, de proteínas (animal/vegetal) e fibras, tendo a
demanda maior que a oferta. Nesse mesmo período, apregoou-se a chamada
revolução verde 5, com base no consumo por parte da agricultura de quantidades
maiores de insumos6, como uma resposta a então suposta e inevitável crise de
alimentos7.
Segundo alguns autores, poderia haver um colapso na agricultura, em
função de não se obter uma produção que satisfizesse a demanda por alimentos.
Essa teoria foi derrubada, em previsões para um futuro próximo.
Existem algumas controvérsias na literatura acerca desse fato, mas o que
todos concordam é que, atualmente, há alimentos suficientes para todos os povos
do mundo; o que não existe é uma distribuição desses alimentos, criteriosamente
e de forma igualitária, o que evidencia a força dos grandes blocos econômicos,
das grandes empresas de capitais internacionais (ou transnacionais, como
atualmente denominam-se) e principalmente os países ricos, com vistas ao
protecionismo de suas economias, em detrimento da fome e miséria de muitos.
5 Na verdade, ao descrevermos os passos iniciais da mecanização na agricultura (conforme rapidamente exposto no subitem
“A mecanização na agricultura”) veremos que a contextualização da chamada revolução verde não poderia ser dada
UNICAMENTE, como é feito por diversos autores à década de 70 do século passado, mas sim, desde as mudanças mais
radicais de posse de terra na Europa (os enclosures), no período aproximado de 1700 – 1750 às mudanças no modo de
produção na agricultura, através do aperfeiçoamento dos implementos e da popularização do uso do trator, no período pós-
guerra, e não somente após o período da produção e difusão, em larga escala dos agrotóxicos e diversos insumos da indústria
química e petrolífera em meados do século XX.
6 Leia-se nas entrelinhas como “insumos” toda sorte de agrotóxicos, fertilizantes, sementes, novas tecnologias e
equipamentos.
7SILVEIRA (1989), afirma que, somente a utilização criteriosa de insumos, máquinas agrícolas, fertilizantes e sementes de
boa qualidade é que poderá suprir a imperiosa necessidade de produção de alimentos.
18
A mecanização e a agricultura moderna
O setor agropecuário no Brasil vem sendo o responsável desde as últimas
décadas do século passado, pelo superávit na balança comercial brasileira.
Houve um incremento da produção do setor primário da economia nos últimos 15
anos de cerca de 150%! Esse setor foi o responsável pelo saldo positivo na
balança comercial da ordem de 12 bilhões de dólares, no ano de 2002, ano no
qual o volume movimentado pelas exportações brasileiras de produtos agrícolas
foi de aproximadamente 25 bilhões de dólares.
Diversos fatores contribuíram para uma situação tão favorável. As
fronteiras agrícolas expandiram-se (principalmente para os cerrados), graças ao
melhoramento genético, através da obtenção de cultivares adequados às
diferentes regiões do Brasil, o que permitiu sobremaneira o crescimento da
fronteira agrícola, principalmente de grãos, destacando-se a soja e o milho.
Um fator decisivo também foi o manejo de solo, a tecnologia da calagem
dos solos do cerrado, para correção da acidez e o desenvolvimento do sistema
de plantio direto8 colaboraram sobremaneira, no crescimento das fronteiras
agrícolas do Brasil, confirmando a propensão natural do Brasil: a de ser o maior
celeiro agrícola do mundo!
No tocante à fruticultura, o surgimento de novos perímetros irrigados,
também contribuiu na expansão das fronteiras agrícolas (Vale do São Francisco,
Vale do Açu - RN, perímetro irrigado de Minas – MG, do Mato grosso, entre
outros).
Outros aspectos não menos importantes, como a modernização dos
tratores agrícolas e dos implementos com o conseqüente aumento da frota de
máquinas agrícolas nos últimos anos, tiveram papel relevante na elevação dos
índices de produção agrícola, conforme abordado na página seguinte em que se
vê na tabela 2, o crescente aumento da frota agrícola e a subseqüente
modernização da frota brasileira.
Além disso, segundo economistas, alguns fatores econômicos foram
fundamentais para o favorecimento do agronegócio, como a abertura de novos
mercados externos (embora o protecionismo tributário de alguns países ricos,
como os EUA, prejudique o volume de exportações, principalmente de países em
desenvolvimento, como o Brasil, a China, Argentina, México, entre outros) com a
formação de blocos econômicos que começam a se consolidar, a estabilidade da
moeda brasileira, a desvalorização do dólar em relação ao euro, observada desde
o último semestre de 2003, o que torna a agricultura brasileira mais competitiva,
e por fim, os altos índices de produtividade alcançados principalmente pelos
8
O sistema de plantio direto, desenvolvido pelas instituições de pesquisas nacionais, a partir do pioneirismo de
alguns produtores rurais, permitiu a exploração mais racional dos solos tropicais, através dos benefícios aos
aspectos físicos e químicos dos mesmos.
19
sojicultores do centro-oeste, com índices superiores, inclusive, a de outros
grandes produtores agrícolas, como os norte-americanos.
Toda essa situação (frisemos mais uma vez, isto) ilustra a enorme
potencialidade brasileira em se tornar importante celeiro mundial na produção de
alimentos, não só de origem vegetal, no tocante aos grãos, como também em
atividades pecuárias; seja a avicultura, a bovinocultura de corte (exploração do
modelo de produção de carne exclusivamente em regime de pasto, ou semi-
confinado – o chamado boi verde – e do rastreamento da carne, ponto no qual o
Brasil detém já tecnologia e know-how bem avançados, superiores inclusive a
muitos países tradicionalmente produtores de carne).
A situação da mecanização agrícola
20
específicas para a aquisição de maquinário, em algumas regiões, principalmente
as de maior concentração do complexo soja-milho-algodão.
Dados referentes ao volume de capital da safra 2003/2004, refletem uma
melhora significativa em termos de capitalização do setor agropecuário. Segundo
a CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária in: GLOBO RURAL;2004) na
safra de grãos de 2003, o montante necessário como verba de custeio era de 95
bilhões de reais. Desse total, o governo liberou 32 bilhões de reais (um volume
de verbas recorde, até então). Do restante, 35 bilhões foi obtido de capital
transnacional (através das já conhecidas, compras antecipadas dos commodities
por empresas importadoras estrangeiras). Cerca de 28 bilhões de reais para
custeio foi proveniente do desembolso dos próprios agricultores, o que, sem
sombra de dúvidas reflete uma excelente capitalização do setor.
Se por um lado, a agricultura familiar é a grande mantenedora da produção
agrícola para o mercado interno, notadamente na produção e abastecimento dos
mercados nos centros urbanos e no interior do país, respondendo por mais da
metade de alguns gêneros básicos, como o feijão, com a participação maciça da
produção em pequenas áreas, por outro lado, a agricultura agroexportadora,
vem sendo, desde a última década do século passado, a mola mestra no superávit
da balança comercial e importante setor do PIB nacional. De acordo com
diversos autores, não fosse o setor agropecuário, com o crescimento pífio dos
outros setores, a economia brasileira teria sofrido um duro golpe nos últimos
anos do século XX e primeiros anos do século XXI, devido à essa estagnação dos
outros setores da economia (indústria, serviços e comércio). Segundo a CNA (in:
GLOBO RURAL, janeiro de 2004), o PIB agrícola subiu 13% em 2003, mediante
uma participação de 31,5% do agronegócio no PIB nacional.
A capitalização dos agricultores vem se refletindo na compra de
equipamentos e maquinário novo. A NEIVA, fabricante de aviões agrícolas,
previa uma venda de no máximo 28 aparelhos para o ano de 2003, ao preço de
U$ 219 mil (ou cerca de R$ 650 mil), vendeu 56 aparelhos (GLOBO RURAL,
janeiro de 2004), já na última Exposição e feira de vulto nacional do setor
agropecuário, em 2007, com o reaquecimento e nova perspectivas para o álcool,
no âmbito mundial (provocado pela pressão da comunidade científica
internacional e a mídia na busca pela substituição dos combustíveis fósseis pelos
biocombustíveis) houve uma procura considerável pelas colheitadeiras de cana9.
O quadro 2 (página seguinte) ilustra o aumento nas vendas de tratores
agrícolas, considerando, inclusive um aumento de 5% no volume de vendas de
tratores novos para 2003, o que chegará, segundo tal estimativa, a cerca de 45
9
Claro que devemos perceber que há toda uma questão mais complexa envolvendo produtividade e a própria
competitividade de cada agricultor que favorece esse desenvolvimento, contudo, há também os casos de
decréscimo produtivo com o empobrecimento de alguns agricultores, seja por prejuízos sazonais (secas, chuvas
fortes, granizo etc) ou até mesmo por um decréscimo gradual de propriedades que fazem o uso intensivo e até
irracional dos insumos e da maquinaria, pela matriz produtiva com pouca sustentabilidade ambiental.
21
000 unidades. Só no primeiro trimestre de 2003 foram vendidos pouco mais de 8
000 unidades.
Tais dados ilustram que há uma procura maior por tratores novos e,
conseqüentemente, uma renovação da frota agrícola do país. Segundo as
informações obtidas no Site do GLOBO RURAL (2003), essa renovação se dá
graças ao programa federal – o MODERFROTRA. Além disso, o aquecimento no
tocante à modernização da frota agrícola brasileira aquece também um outro
setor da economia: a indústria. Dados não oficiais de janeiro de 04 mostram um
crescimento de cerca de 5% da indústria do RS, principal pólo de produção de
máquinas agrícolas.
Entretanto, com os cortes orçamentários promovidos pela equipe
econômica do governo, para atingir a meta de 4,5% de superávit, o
MODERFROTA, bem como outros planos, sofreu cortes de verbas e um aumento
da taxa de juros que propiciou uma procura menor pelos agricultores e a
conseqüente redução de 10% do mercado de máquinas agrícolas no ano de 2003.
Apesar disso, a economia do Brasil superou as metas, com índices próximos a
6% de superávit primário em 2003.
Gráfico 2 – Vendas de máquinas agrícolas no mercado brasileiro nos últimos quatro anos. Fonte: GLOBO
RURAL (2003).
22
específico do crédito como um todo. De acordo com BITTENCOURT (2003,), o
crédito é o motor para o desenvolvimento do país, pois favorece a realização dos
projetos. Ainda segundo esse mesmo autor, nas populações rurais, especialmente
as de baixa renda, o crédito rural pode desempenhar um importante papel na
geração de emprego e renda, pois são inúmeros os projetos que podem ser
desenvolvidos a partir da terra e do capital social existente. De fato, esse
aspecto fica ainda mais definido na agricultura mais capitalizada, que tem uma
dinâmica mais definida e até arrojada em relação ao mercado.
Quanto ao crescimento e a expansão do agronegócio no viés ambiental e
social, principalmente no que se refere à sustentabilidade econômica – ambiental
de tais empreendimentos agropecuários, existem pesadas críticas, frisemos que
reais, do ponto de vista de impactos ambientais e déficit social, no tocante à
questão agrária, principalmente no que se refere às condições marginais a que
historicamente os agricultores familiares foram e continuam sendo submetidos.
Tais questões referem – se principalmente ao acesso à políticas públicas efetivas
e, de um ponto de vista prático, o acesso ao crédito e aos meios de produção
(leia-se: mecanização voltada para os pequenos agricultores ou agricultores
familiares).
Claro que essa porção (a maioria expressiva do ponto de vista quantitativo
dos imóveis rurais, mas quando confrontados com a área média por imóvel, vê-
se que são pequenos produtores – até 100 ha) tem sua forma de produzir e seu
mercado natural, que é fundamentalmente a produção de gêneros alimentícios
para o mercado interno, em contraposição ao agronegócio, que na sua quase
totalidade volta-se para a exportação ou ao pólo agroindustrial brasileiro.
Há um senão muito relevante no que se refere à expansão das fronteiras
agrícolas no Brasil, principalmente no que se refere ao avanço do
desflorestamento do cerrado e matas de transição (pré – Amazônia),
principalmente pelo efeito mais sério que é feito através das queimadas ilegais,
que confere ao Brasil um grande índice de desprendimento de carbono na
atmosfera, o que o incluí no somatório dos países mais poluidores, quando se
avalia a questão do aquecimento global e efeito estufa.
De forma objetiva, trataremos destas questões no tópico a seguir, mesmo
que possamos ser negligentes ou não esgotarmos todos os aspectos levantados
nos dois últimos parágrafos, já que se remete a uma questão de ordem mais
complexa: a questão agrária; objeto de discussões intermináveis entre os gurus
da economia, sociologia e / ou até de linhas doutrinárias de esquerda ou de
direita; nos atrevemos a pelo menos esboçar alguns aspectos que julgamos
pertinentes e que não seríamos mercadores cegos e surdos ao ponto de
negligenciar algumas críticas à mecanização. Pelo contrário, julgamos até
necessária essa crítica como uma forma de nos precavermos das unanimidades
perniciosas e buscarmos trazer debates que podem sobremaneira enriquecer e
23
auxiliar na busca por uma política pública, ou mais efetivamente, práticas de
campo que visem contornar ou agir sobre tais problemas.
24
Quantos somos
População
urbana(%)
18,75 81,25
População
rural(%)
25
Esses aspectos negativos de exclusão de uma maior parte da mão-de-
obra leva-nos a certeza de que toda tecnologia, toda novidade ou modelo que se
estabelece, surge em detrimento de outro já existente, e que as alterações
provocadas por toda e qualquer atividade humana, mesmo de cunho tão nobre e
essencial como é a agricultura, merece ser feita com cautela, evitando-se os
extremismos que comprometem o bom andamento de qualquer atividade
produtiva.
Têm-se então uma faca de dois gumes: de um lado uma produção maior,
com exclusão de parte da mão-de-obra, de outro uma “desaceleração” da
produção, ao se optar pela redução do emprego das máquinas na agricultura.
Esse paradigma, portanto, não é vivido somente no campo, mas também em
todos os setores produtivos. O homem ainda não se adequou à velocidade das
mudanças que ele próprio vem criando e restam-lhe ainda muitas perguntas sem
respostas imediatas.
Abaixo transcrevemos um texto, do site da Rural News (junho de 2001)
que fala da mecanização agrícola:
“O campo nunca mais foi o mesmo desde que o homem começou a inventar máquinas que
o auxiliassem no trabalho com a terra. Isto é um fato de tamanha importância para a
humanidade quanto as grandes descobertas, invenções e revoluções que ocorreram em qualquer
época do desenvolvimento humano. Podemos comparar à revolução industrial, à invenção do
computador ou às grandes navegações que desbravaram o mundo a partir do século XV.
Não é nem um pouco exagerado de nossa parte tais afirmações, pois a mecanização do
campo é uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento humano. Sem ela, o próprio
crescimento da população do planeta estaria em risco, bem como a qualidade de vida de todos
nós.”
(...)
“Mas o que faz, exatamente, a mecanização? Ela ajuda o produtor agrícola a preparar o
solo para a plantação, fazer a manutenção das lavouras, transforma o processo de plantio e
colheita em operações rápidas e eficientes, sem falar em uma dezena de outras aplicações.
Arados, colheitadeiras e tratores, entre outros, são as grandes ferramentas de trabalho da
agricultura moderna. Aliás, o trator é o símbolo da mecanização na agricultura. Mais que um
símbolo, poderíamos dizer, pois é o principal ponto de referência para os índices de
mecanização do campo. O que isso significa? Um país ou região é considerada mais ou menos
mecanizada, de acordo com o número de tratores em funcionamento; a qualidade da
mecanização é medida pela idade da frota de tratores, ou seja, se grande parte da frota de
tratores de uma determinada região ou país é muito antiga, pode-se dizer que os investimentos
na agricultura estão em baixa ou são insuficientes.
A fabricação e o comércio de maquinário agrícola é um mercado milionário, controlado
no Brasil e em todo o mundo por grandes empresas que atuam em dezenas de países e são as
responsáveis pelo desenvolvimento das novas tecnologias que agilizam e melhoram a qualidade
da produção agrícola em todo o planeta.
Com o crescimento constante da população mundial, seria impossível a produção de
alimentos numa escala crescente, da mesma ordem que o crescimento da população. Há
26
algumas décadas, se difundia a idéia de que por volta do ano 2000 a produção de alimentos não
teria acompanhado ao crescimento populacional e que o mundo estaria mergulhado numa
grande “fome”. Isso só não ocorreu, principalmente, graças à melhoria do aproveitamento das
plantações através da mecanização e da melhoria das técnicas de plantio. É claro que todos
sabem que várias regiões do mundo sofrem com a fome, mas isso não se deve a problemas com a
produção de alimentos e sim a uma péssima divisão da riqueza mundial que faz com alguns
países tenham superproduções agrícolas enquanto outros não tenham como plantar e produzir
alimentos suficientes para as suas populações”.
10 Caio Prado Júnior (1979) já afirmava que as diferenças sociais na agricultura brasileira, a distribuição e concentração da
propriedade agrária impedem as mudanças necessárias à melhoria dos aspectos sociais do setor rural do Brasil.
Esse aspecto de valorização da propriedade rural de mão – de – obra familiar, defendido por Caio Prado, tem seu melhor
exemplo na agricultura dos EUA, onde as regiões que, historicamente e politicamente adotaram o modelo patronal e
acumulador de terras, tem piores índices sociais, do que nas regiões que adotaram o modelo de exploração da propriedade
através da mão – de – obra familiar.
Ressaltamos porém que acreditamos ser dois setores que devem se fortalecer, cada qual ao seu modo, mas que, já que
historicamente o agronegócio sempre foi valorizado, que as políticas públicas, como o PRONAF, por exemplo, estejam mais
próximos com a agricultura familiar
27
inclusão tecnológica, distribuição fundiária, entre outros aspectos que requerem
uma leitura muito mais aprofundada das mesmas, o que não é, infelizmente o eixo
deste livro.
Quanto aos aspectos ambientais, no que concerne ao uso intensivo de
maquinário agrícola, junto com os pesticidas por exemplo, em fazendas de
produção orgânica, como o café orgânico, o maquinário não foi abolido; seu uso
foi racionalizado com algumas adaptações. Segundo MACIEL (2000), em fazendas
citrícolas, vem ocorrendo inclusive o contrário, para propriedades que buscam a
produção orgânica, velhos equipamentos, como os distribuidores de caldas, vêm
sendo reutilizados, substituindo os pulverizadores e atomizadores. Tais
equipamentos estão sendo utilizados para a distribuição de caldas, como a calda
sulfocálcica, no combate de pragas e doenças da cultura, o que é sensivelmente
mais seguro aos operadores e ao meio ambiente.
Contudo, esse mesmo autor afirma que para o pequeno produtor rural, a
aquisição de maquinário agrícola é desvantajosa, pois é um investimento muito
alto, sendo preferível que o pequeno produtor alugue as máquinas para o preparo
das suas áreas agrícolas (o que destoa portanto da nossa discussão de aquisição
no sentido estrito, mas que se for tomado no sentido coletivista, está
contemplada, já que os custos passariam a ser redistribuídos entre eventuais
associados).
MACIEL (op. cit), justifica ainda essa atitude no fato de que, a depreciação
do maquinário agrícola torna inviável sua aquisição para a realidade dos
minifúndios, além do retorno econômico não ser satisfatório.
Uma característica peculiar da agricultura familiar é que nessas pequenas
propriedades as máquinas não substituem totalmente o homem. Não há uma
dependência delas para que se possa produzir, como acontece nas grandes
propriedades rurais.
Quanto ao solo, não há dúvidas que existem impactos negativos, mas que
são por vezes plausíveis de serem evitados, ou minimizados, pois quase sempre
são frutos do desconhecimento das relações Cultivos x Solos, da falta de um
planejamento ambiental, ou ainda, muitas vezes a própria situação do agricultor o
obriga a revolver o solo seco. Esses fatores que podem contribuir na diminuição
dos impactos edáficos seriam o calendário de plantio, ou a disponibilidade de
maquinário (um problema para quem depende de maquinário alugado ou não
dispõe de maquinário suficiente para o preparo do solo na época mais adequada).
Um número excessivo de passagens, operações de revolvimento do solo,
como as gradagens ou arações feitas abaixo ou acima do ponto de aração (Ponto
de umidade ideal no solo para as atividades de revolvimento e preparo do solo)
contribui para, após cultivos sucessivos ao longo dos anos, a formação de
28
camadas subsuperficiais de solo adensadas (o chamado “pé –de – arado” e o “pé
– de – grade”)11.
A partir das últimas décadas do século passado, começou-se a pensar
mais a respeito dos danos sofridos pelos solos frente ao uso do maquinário
agrícola, geralmente feito até de uma forma despreocupada com os possíveis
efeitos sob e sobre o solo.
Na década de 60, iniciou-se nos EUA, “correntes” de agricultores que
realizavam o chamado preparo mínimo do solo ou das sementeiras (ALDRICH &
LENG, 1974), com vistas à redução dos danos estruturais aos solos agrícolas.
Sob essa problemática, no Brasil, em algumas regiões não somente
adotaram-se sistemas de preparo mínimo do solo, como também desenvolveram
– se e se implantaram sistemas de manejo de solo que sequer o revolvem como
acontece no sistema convencional: é o chamado sistema de plantio direto ou
plantio na palha (SPD). Nesse sistema, o manejo dos resíduos culturais mantém
camadas de cobertura vegetal para evitar a erosão.
A adubação verde, na qual incorporam-se adubos verdes ao solo
(geralmente leguminosas), a rotação de culturas, o consórcio de culturas, a
observação do ponto ideal de aração (umidade do solo), o uso alternado de
implementos e de diferentes profundidades de corte (EMBRAPA, 1996), e por
fim medidas drásticas como a descompactação do solo (escarificação e
subsolagem), são procedimentos utilizados para que sejam reduzidos os impactos
negativos do uso da mecanização aos solos agrícolas.
É inegável, porém, que desde o advento do uso dos tratores nas
propriedades agrícolas, os índices de produção tornaram-se gigantescos.
Produz-se muito mais, por unidade de área do que antes da introdução do
maquinário no campo (aspecto defendido pela escola econômica marginalista).
Produtos agrícolas oriundos de áreas mecanizadas, portanto, não deixam a
desejar, em termos de qualidade, nem em quantidade produzida, sobretudo, as
máquinas, quando trabalham com culturas rentáveis e que, hoje em dia,
necessitam do uso intensivo da mecanização, como as lavouras de soja, por
exemplo, reduzem drasticamente os custos de produção, em todas as fases da
cultura, e, como dizem no meio rural, acabam “se pagando”.
11Veremos no capítulo referente ao manejo conservacionista do solo, as características e propriedades dos mesmos, bem
como as diversas medidas, com fins à proteção ou redução dos danos causados pelo emprego do maquinário.
29
1.2. Conhecendo o trator:
Imagem 2. Início do séc. XX -Trator movido a vapor (motor de 40 hp) tracionando 65 toneladas.
12 A grande maioria dos Tratores agrícolas utiliza hoje motores do ciclo DIESEL, embora ainda tenhamos tratores que
utilizem motores de combustão interna do tipo OTTO, especialmente os tratores e máquinas industriais (rebocadores,
empilhadeiras) movidos a gás natural (butano) e gasolina. O Brasil já caminha para a utilização de combustíveis alternativos,
não fósseis, os quais são mais baratos e menos poluentes, como o biodiesel, o qual na Europa é comumente utilizado.
13
Um estudo atual (2003) da UFMG (não publicado) testa misturas do óleo Diesel com óleos vegetais
(biodiesel), como o óleo de um fruto típico do nordeste, também encontrado em MG: o pequi. O estudo aponta
para resultados animadores, como a redução dos níveis de emissão de poluentes e uma economia de 20% do
combustível. Também outro estudo recente, realizado pela CERBIO (Centro Brasileiro de referência em
30
que passou a levar seu nome. Dizia Diesel que : “o motor diesel pode ser
alimentado com óleo vegetal e ajudará consideravelmente, o desenvolvimento da
agricultura nos países que o usarão”. A partir do período pós-segunda guerra,
foram feitas algumas pequenas modificações pela indústria a qual adotou como
combustível o óleo diesel, tendo este “tipo de motor diesel” difundido-se pelo
mundo inteiro, juntamente com a “popularização” do trator agrícola.
Como se vê, os motores diesel desde a sua concepção, estavam aptos a
utilizarem óleos vegetais, hoje intitulados de Biodiesel e nos quais no Brasil,
começa –se a se reinvistir, principalmente do plantio de oleaginosas, com
destaque para a mamona, particularmente no nordeste, região a qual já foi a
maior produtora de mamona, e que o próprio Brasil já se destacou como o maior
produtor mundial, tendo perdido o posto para a Índia. Hoje o Brasil só produz
cerca de 85 mil toneladas, contra 500 mil da Índia (a produção nacional de
mamona já chegou a 393mil toneladas, das quais 300 mil provinham somente da
Bahia).
Um trator agrícola, portanto, apresenta diversos componentes, que em
conjunto formam os sistemas que permitem à essa máquina realizar as mais
variadas (e por que não dizermos, árduas) tarefas no campo, de forma
satisfatória, atendendo às mais diversas exigências de seu projeto. Para que
possamos entender como funciona um trator e assim, cuidar para que essa tão
importante e cara ferramenta seja aproveitada ao máximo. Veremos por partes
como se compõem seus sistemas e órgãos, para ao final, termos uma visão geral
de como funciona e de como devemos cuidar das operações e manutenções do
trator.
1. 2. 2. Definição de motor:
O motor é um conjunto de peças mecânicas, mecanismos (e sistemas
mecânicos), além de aparelhos elétricos que funcionando harmonicamente e
conjuntamente, produzem a força necessária para o deslocamento do trator e o
acionamento de seus sistemas, a chamada força motriz.
Os motores dos tratores agrícolas dividem-se em três partes, ou áreas,
denominadas cabeçote, bloco e o carter.
O cabeçote é a parte superior do motor e serve para fechar o bloco dos
cilindros. Nele se encontram as câmaras de explosão, com a base para as velas
(Motores de ciclo OTTO), o balancim e os conjuntos de válvulas com os tuchos.
O bloco do motor é a parte intermediária, ou o “miolo”, por assim dizer;
aloja em seu interior os cilindros, os pistões, as bielas e a árvore de manivelas.
Biocombustíveis) testou um automóvel Golf (da Volkswagen) de motor 1.8, alimentado com biodiesel e o qual
obteve desempenho semelhante aos modelos com motores de ciclo Otto, além de excelente faixa de consumo, a
qual variou na cidade de 11 a 12 km\litro e 15 a 16 km\litro em rodovia.
31
O carter, localizado na parte inferior do motor, funciona como um
reservatório do óleo lubrificante, como dispersante de calor excessivo do
lubrificante, além de vedar a parte inferior do motor.
O eixo comando de válvulas e os tuchos comandam as válvulas,
comumente em número de 2 para cada cilindro, através do balancim. Comandam
também as bombas, de gasolina, o distribuidor (esses últimos só em motores de
ciclo Otto).
Os motores, usando-se termos análogos à dissecação, possuem na sua
“anatomia” e “organografia” órgãos internos e externos. Relacionamos a seguir
os principais componentes ou órgãos dos motores (relacionamos os motores de
ciclo Otto ainda com carburador só para se entender o princípio de seu
funcionamento):
32
• Os tempos dos motores à explosão
Os tempos do motor (diga-se de um motor 4 tempos) são: admissão,
compressão, explosão e o escape ou descarga.
Admissão ou aspiração:
14
Os chamados PONTOS MORTOS, que são o ponto morto inferior e superior, relacionam-se aos pontos
máximos de descida do pistão do pistão no interior do cilindro e de subida, respectivamente.
33
O segundo momento ou tempo do motor é a compressão, onde há
inicialmente uma compressão da mistura ar + combustível (somente para
motores do ciclo OTTO), ou somente da massa de ar, que se aquece fortemente
(motores do ciclo Diesel)15. Nos motores diesel, há uma alta taxa de
compressão16, pois para o próximo momento ou tempo, haverá a queima do
combustível a qual é feita devido ao superaquecimento produzido pela
compressão fortíssima da massa de ar nos motores diesel. A taxa de compressão
teórica é a relação entre o volume do cilindro no início da compressão e o
volume no final da compressão. De acordo com (CAMARGO, 2004) essa relação
em alguns motores diesel pode chegar à 22:1, dependendo do projeto do motor.
Dessa forma, os motores diesel são construídos com mais robusteza que
os outros de ciclo Otto, devido às grandes pressões que esses primeiros irão
suportar.
Explosão
15 Denomina-se de cilindrada, a quantidade ou volume de gases admitidos pelo pistão durante o seu curso até o seu nível
mínimo de descida, durante a admissão.
16
Essa compressão, portanto, anterior à explosão, exige que, quando dada a partida num motor diesel, o motor de
partida para girar a engrenagem do volante, realize um esforço maior do que o esforço que realiza o motor de
partida de um motor do ciclo Otto em um motor de mesma potência.
34
cada ciclo (admissão-compressão-explosão-escape), a árvore de manivelas dá
duas voltas (720°).
35
Como dito anteriormente, os pistões estão inseridos dentro dos cilindros
como se cada cilindro fosse uma seringa e cada pistão fosse o êmbolo de sua
respectiva seringa. Os pistões, portanto, realizam movimentos ascendentes e
descendentes que conforme sua situação e posição no seu curso, caracterizam os
chamados tempos do motor. Nos cilindros, na parte superior deles, existem
válvulas denominadas de admissão e de escape, conforme a posição do pistão,
essas válvulas se fecham ou se abrem, permitindo ou não, a entrada ou a saída
da massa de gases do cilindro. O movimento dos pistões é transmitido ao volante
do motor (engrenagem que liga o motor ao sistema de embreagens) porque os
mesmos encontram-se fixados por um eixo “tortuoso” que aproveita todos os
diferentes momentos dos pistões nos cilindros, transformando em movimento,
que o faz girar no próprio eixo, transmitindo a potência recebida ao volante, ao
qual está ligado através da cremalheira.
36
MÁRQUEZ (2003), transcreveu um estudo que comparou os motores de
um trator New Holland (modelo 8670) e de um automóvel Fiat (Stilo Abarth),
ambos com a mesma faixa de potência (125 Kw ou 170 c.v. - No capítulo
Anexos, fornecemos algumas tabelas de conversão de unidades de medidas,
inclusive os valores de quilowatts e cavalo - vapor), no qual o autor obteve as
seguintes curvas características:
140
Potência (Kw)
37
CAPÍTULO 2
Os sistemas do trator
2. Os sistemas do trator
a) Bomba e) Arrefecedores;
b) Motor; f) Reservatório (de alimentação);
c) Válvulas; g) Acumulador (Energia armazenada);
d) Conexões h) Comandos;
38
• Operação do sistema hidráulico de três pontos:
39
Figura 4. Trator tracionando implemento de corte (no exemplo, um arado de discos) em solo plano.
40
B) OPERAÇÃO EM TERRENO ACIDENTADO: RODA DIANTEIRA SUBINDO UMA
ELEVAÇÃO.
Nesta situação, a compressão na mola mestra do terceiro ponto é
consideravelmente maior que na situação anterior. A força na mola mestra é
compensada.
41
C) O ARADO ATUANDO NA ELEVAÇÃO:
42
Fig u ra 2 . Vig a ce nt ra l do t e rce iro po nto do h i drá ul ico - E xt ra í do de: A B í bl ia do
tra to r – IO CH P E- M AX IO N
43
2.1.3. O Sistema de levante hidráulico com controle eletrônico – Hydrotronic (tratores
Massey Ferguson e Maxion)
Várias são as siglas que indicam os mais variados tipos de óleo e suas
respectivas aplicações. De um modo mais específico, a sigla SAE (do inglês:
Society Automotive Engineers), classifica os óleos quanto à sua viscosidade e
pelo desempenho que oferecem (BORMIO, 2004).
Existem óleos monograu, onde a identificação é dada por um número (grau)
que antecede a sigla SAE. De acordo com BORMIO (op. Cit), existe ainda uma
classificação que considera a temperatura de trabalho de um óleo à 100°C (os tão
conhecidos SAE 90, SAE 120 e SAE 250, óleos específicos para transmissões).
Uma outra classificação leva em conta o trabalho sob as temperaturas mais frias,
de inverno, tanto que na sua terminologia, é usada a letra W, de inverno (do
inglês Winter), sendo o W colocado imediatamente após o número que designa a
temperatura de trabalho mínima, antecedida da sigla SAE (como exemplos, cita-
44
se o SAE 70W – óleo para temperaturas de até – 55°C, ou o SAE 85W – óleo
para temperaturas de até – 12°C).
Existem também óleos multiviscosos, geralmente aplicados em motores, os
quais têm medidas de viscosidade aplicáveis para o trabalho em baixas e altas
temperaturas. A viscosidade em condições de temperaturas mais frias tende a
diminuir, fazendo com que a película protetora que o óleo faz normalmente, à
temperatura padrão de 21°C, não proteja bem as partes móveis, pois o mesmo
não é fino o suficiente nessas condições. Já para altas temperaturas, ele deve
manter uma viscosidade adequada, para que continue a formar a película
protetora entre as partes metálicas que se atritam.
Um exemplo de óleo multiviscoso é o SAE 80 w 90, onde o mesmo é
testado para os requisitos de um óleo monograu SAE 80W com temperaturas de
trabalho até – 26°C e para os requisitos de um monograu SAE 90 – para
trabalhos em temperaturas de até 90°C.
Além disso, existe uma outra classificação, quanto ao desempenho do
lubrificante, o qual é classificado segundo normas da API (Americam Petroleum
Institute). Para lubrificantes destinados ao sistema de transmissões, dá-se esta
classificação por duas letra GL (Gear lubrificant). A classificação é dada por um
número após o GL, onde esse número indo do um (1) ao cinco (5), sendo o 5 o
óleo classificado como o que oferece o melhor desempenho.
Existe ainda uma série enorme de siglas para classificar os mais diversos
óleos, de acordo com suas características e aplicações, e que neste capítulo não
caberia anexá-la devido à sua extensão e a praticidade desta obra (para
consultá-la quanto às demais siglas observadas nas embalagens dos
lubrificantes, com os seus respectivos significados, vide ANEXOS – Quadros
gentilmente cedidos pela PETROBRÁS).
45
• Verificação do nível de óleo do motor e troca do óleo
Vermelho:
Pressão
baixa
46
47
• Transmissão, eixo traseiro e hidráulico:
48
Fig u ra 3 . B uj ã o de dr e na g e m e f il tro do ó l eo l ub rif ica nte. E x tra í do d e: A B íb lia do
tra to r – IO CH P E- M AX IO N
49
500 horas, faça a limpeza do filtro metálico do controle. Para tratores sem
controle remoto, a troca obedece ao período normal de 750 horas de serviço.
• Troca de rotina do óleo (a cada 750 horas de trabalho) das rodas traseiras
(troca de óleo dos redutores epicíclicos das rodas traseiras):
• Verificação do nível
50
• Pontos de lubrificação a graxa:
Um trator agrícola possuí vários pontos de lubrificação a graxa. A cada 10
horas de trabalho é recomendável que se devam lubrificar os pinos graxeiros
(indicados no esquema das figuras a seguir:).
LEGENDA
Pinos graxeiros – localização – versão 4 x 4
(Tratores MF)
1 a- eixo da embreagem
1 b- tirante do freio
2- pedal de embreagem
3 a- articulação central do eixo dianteiro
3 b- articulação das pontas do eixo dianteiro
3 c- cruzetas (juntas universais)
3 d- semi-eixo dianteiro
4- luvas do eixo da transmissão
5- pedal dos freios
6 a- eixo do pedal da embreagem
6 b- articulação inferior direita do freio
6 c- eixo inferior ao freio
7- pedal de bloqueio do diferencial traseiro
8- barras inferiores
9- correntes estabilizadoras
10- roletes da barra de tração
51
LEGENDA
Pinos graxeiros – localização – versão 4 x 2
(Tratores MF)
1 - eixo da direção
2 – braço do cilindro da direção
3 – cubos das rodas dianteiras
4 – pinos – mestres das rodas dianteiras
5 – eixo dianteiro
6a - eixo do pedal da embreagem
6b – Tirante do freio
7 – pedal da embreagem
8a – eixo do pedal da embreagem
8b – articulação inferior direita do freio
8c – eixo inferior do freio
9 – pedais dos freios
10 – pedal de bloqueio do diferencial traseiro
11 – braço intermediário direito
12 – braço intermediário esquerdo
13 – roletes da barra de tração
52
2. 3. O Sistema de arrefecimento
53
(maior facilidade de vazamentos, se a pressão for excessiva) no sistema ou um
mal arrefecimento (pela pressão menor que a ideal para o sistema). Geralmente a
pressão da tampa está impressa na sua parte superior, variando de 0,3 a 1,1
kgf/cm2 (4 a 15 lbs/pol2).
54
2.4. Sistema de embreagens e transmissões
17
Márquez é professor da Universidad Politécnica de Madrid, seu artigo foi traduzido por Fernando Scholosser.
Os modelos dos veículos avaliados (tanto o trator, quanto o automóvel não estava disponíveis no mercado
brasileiro, até fins de 2003).
55
O conjunto de embreagem é o componente mecânico responsável pela
transmissão (ou interrupção) da potência do motor para a caixa de câmbio.
Basicamente a embreagem possuí três funções (IOCHPE/MAXION, s.d.):
1. Transmitir o movimento do motor para os demais mecanismos de
transmissão, de modo suave e gradativo, sem vibração ou deslizamentos;
2. Interromper a transmissão da potência do motor à transmissão, permitindo
a troca de marchas.
3. Permite a parada do trator e de qualquer equipamento acionado pela TDP.
Muitos fabricantes equipam seus modelos com embreagem de duplo
estágio, para permitir a troca de marchas e o outro estágio, o acionamento da
TDP. Tratores da linha MAXION usam embreagens simples, de um estágio,
acionado também por pedal, bem como alguns modelos de tratores VALMET e
alguns outros tratores, como AGRALE-DEUTZ, HUBER WACCO, etc.
56
O princípio de funcionamento da embreagem pode ser entendido
observando as figuras seguintes:
✓ EMBREAGEM ACOPLADA
(PEDAL DA EMBREAGEM EM REPOUSO)
Prato de pressão
Nesta Volante do secundário
motor
situação, tanto o
disco principal A,
Atuadores
quanto o
secundário B,
estão
Prato de
pressionados,
pressão
transmitindo o principal Pedal de
embreagem
movimento do
motor para a
transmissão. O Rolamento
Disco Desligador
trator estará em
principal A
movimento se a
Disco
caixa de câmbio secundário B
estiver engatada.
57
EMBREAGEM ACIONADA NO PRIMEIRO ESTÁGIO
Ao acionarmos o pedal da
do trator.
58
✓ EMBREAGEM ACIONADA NO SEGUNDO ESTÁGIO
segundo estágio da
embreagem. O segundo
estágio permite o
acionamento da tomada de
do sistema hidráulico.
59
Há também uma folga no sistema de embreagem, a chamada folga livre
do pedal ou curso livre do pedal (folga entre o prato de pressão e o disco
principal). Essa folga permite que não haja um desgaste do sistema de
embreagem, pois quando o disco se desgastasse, os atuadores se apoiariam no
disco e haveria, portanto, o “enforcamento” da embreagem.
Caixa de câmbio
A caixa de câmbio, também conhecida vulgarmente como caixa de
marchas, permite o deslocamento do trator, nas mais diferentes velocidades e
situações no campo, através da “captação da energia” produzida no motor, e
transmitida ao volante do motor, passando pela embreagem, até a árvore
primária (eixo principal da caixa de câmbio).
As operações no campo exigem muito do trator, sob diferentes condições
de velocidade e esforço. Na operação de preparo de solos, para qualquer tipo de
cultura, o operador deve adequar o trator ao tipo de trabalho a ser realizado.
Diversos fatores merecem ser levados em consideração. O mais relevante dentre
os muitos fatores é a velocidade correta de trabalho.
60
O escalonamento de marcha é a variação da velocidade e do torque do
trator em função da marcha engatada. Para cada marcha engatada, ter-se-á uma
variação da velocidade e torque18 determinada pela rotação do motor.
Um bom escalonamento de marchas é o que permite o máximo de opções
de marchas na faixa de velocidades de operação, que vai de 3 a 12 km/h. O que
admite uma seleção mais conveniente para um determinado tipo de operação
(menor consumo e maior rendimento).
Tanto no caso dos tratores, como também em veículos que são equipados
com tração 4 x 4, existe uma alavanca ou botão de controle eletrônico para
redução das marchas, onde se terá mais torque, pois as marchas são reduzidas
numa relação de 2:1 (no caso dos veículos off – road). Contudo, a redução (low
range) nos utilitários ou off – road também só deverá ser feita com o veículo
traçado, ao se utilizar a redução sem que haja a distribuição de força para os dois
eixos, há uma sobrecarga no diferencial, pontas de eixo, semi-eixo, devido ao
aumento do torque, o que poderá causar danos ao sistema.
• A tomada de potência
18 O torque é a resposta dada pelo motor quando submetido a um maior esforço. É um parâmetro usado para comparar, por
exemplo, a velocidade e o tempo de reação de um trator de acordo com o escalonamento de suas marchas, ou comparar
fatores como consumo e aceleração em relação ao torque.
61
normatizassem as características de localização e padronização para a tomada de
força. Normalmente os tratores são equipados com TDP com velocidade de
rotação por minuto (rpm) de 540 (com eixo de seis estrias) ou utilizam 1000 rpm
na tomada de potência (com eixo de 21 estrias).
K A L P
P
R
A
L
K
P
R
A
K L
62
c) alavanca de terceiro gênero ou interpotente: com a potência entre a
resistência e o ponto de apoio.
AK x R = AL x P, conseqüentemente, teremos:
P = AK x R
AL
Quanto maior for o valor de AL, menor será a força P necessária para
realizar o trabalho.
Na prática, podemos utilizar esses princípios das alavancas no
acoplamento de implementos aos braços do hidráulico. Os braços inferiores do
hidráulico, como dissemos anteriormente, possuem furos que podem ser usados
em várias situações diferentes. Esse sistema segue o princípio da lei das
alavancas.
63
acidentados, para facilitar
as ondulações, utilize o furo
oblongo (4), isso evitará a
sobrecarga dos braços
superiores do hidráulico.
Figura 20. Furos do braço inferior do sistema de levante hidráulico, tratores MF. Extraído de Maxion
(s.d).
64
2.4.1. Sistema de transmissão de trabalho – polias e correias.
TDP
Acionamento do
implemento
Cardã
Figura 21. Esquema representativo do acionamento de um implemento hipotético pela TDP do trator.
Polia
fixa
P
Polia
móvel n
P
P
C C
65
No primeiro caso, como a polia é fixa, as forças contrárias (força de tração
ou potência P e a carga C) deverão ser diferentes. para que haja o trabalho.
Portanto, para elevar a carga C, a potência P ou força requerida deverá ser
maior que a força contrária C.
No segundo caso, a polia móvel, facilita a execução do trabalho, uma vez
que a força requerida para elevar a mesma carga C é menor, pois, usando-se
uma analogia em relação à lei das alavancas, o braço da potência P é o dobro do
braço da carga C. Neste caso, expressamos a seguinte relação:
P = C/2
As polias podem ainda ser combinadas em sistemas. Os sistemas mais
comuns são:
- Sistema combinado simples com vários suportes fixos:
Sistema misto em que polias móveis são ligadas entre si, com uma polia
fixa.
- Cadernal:
Sistema de polias combinadas, entre fixas e móveis, com um mesmo
número de polias fixas e móveis.
66
P = Potência para elevar a carga C = Carga ou peso n = número de polias móveis
2.4.1 Dimensionamento de polias e correias: adequação de implementos:
Onde:
67
da polia existente ou colocada no eixo do motor, em seguida, divide-se o
resultado obtido dessa multiplicação, pela rotação que a máquina necessita para
funcionar corretamente.
Caso se necessite saber o contrário, o diâmetro da polia que deverá ser
posta no motor, é só utilizar a mesma fórmula, alterando-a para:
ReM
DxR=dxr
68
2.4.3. Dimensionamento de correias
D
d
D
d
r R
C = π . (r + d) + 2 L2 + (R + D)2
Onde:
C = comprimento da correia cruzada;
r = raio da polia menor;
R = raio da polia maior;
L = distância entre os centros dos eixos
D = diâmetro da polia maior
69
d = diâmetro da polia menor
Alguns cuidados com as correias e polias:
70
isento de poeira e elementos abrasivos, para um funcionamento sem problemas
ao motor.
Para tanto, o sistema de alimentação (ou sistema de admissão e
escapamento) além de ser constituído por toda a tubulação que conduz o ar aos
cilindros possuí filtros para reter a poeira e sujidades. Tais filtros são
denominados de primário e secundário. Ambos estão alojados dentro de uma
carcaça ligada à tubulação. O filtro primário encerra o secundário (também
denominado de elemento filtrante de segurança). De uma forma geral, os
componentes do sistema de filtragem do ar é constituído pelos filtros, citados
anteriormente, por um pré-filtro, por um ciclonizador, pela carcaça do filtro, pela
válvula de descarga e pela tubulação de ar. Esses componentes formam o
sistema de filtragem de ar para tratores que apresentem o filtro a seco. Alguns
tratores utilizam filtros de ar chamados de filtros banhados a óleo. Esse sistema
consiste na filtragem da poeira por um filtro e na deposição das sujidades mais
pesadas no óleo. Atualmente tem entrado em desuso, por ser menos eficiente
que os sistemas que utilizam filtros de ar a seco.
Pré-filtro
Tubo ou
Ar
Mangote Filtro
Cilindros
do motor
Figura 22. Esquema representativo do caminho percorrido pelo ar (durante a admissão) até os cilindros
do motor.
71
As sujidades do filtro principal devem ser removidas com o auxílio de um
compressor ou outro equipamento que produza um jato de ar. Verifique com uma
lâmpada, em uma sala escura, introduzida no interior do filtro, se há defeitos
nele. Nunca aplique durante a limpeza do filtro uma pressão maior que 70lb/ pol2
(5kgf/ cm2), pois, pressões acima desta poderão danificar o filtro, inutilizando-o.
72
▪ Substituição do filtro de limpeza do sedimentador de combustível.
A cada 200 horas de trabalho, faça a substituição do filtro de combustível
e também do sedimentador. Ao colocar o filtro novo, coloque também todos os
anéis de vedação novos que acompanham a embalagem.
▪ Sangria do motor
A sangria do motor deve ser efetivada sempre que a substituição de um
filtro ou a limpeza do sedimentador tiver sido feita. A sangria do motor consiste
na sangria feita no sedimentador, no filtro de combustível e na bomba injetora.
▪ Sangria do sedimentador e filtro de combustível
Solte totalmente o parafuso do tubo de retorno situado no topo do suporte
do filtro. Acione a bomba alimentadora até que saia somente combustível (o qual
deverá estar isento de bolhas de ar), reaperte o parafuso. Muitas vezes, quando
se faz a troca de filtros, ao proceder-se à sangria da bomba injetora (próximo
tópico descrito), e percebe-se que o combustível já está isento de bolhas, dá-se
contato na ignição 1 ou 2 vezes, para auxiliar na extração do ar.
A extração do ar do sistema de alimentação é importante já que o motor só
voltará a funcionar se extraído todo o ar, pois as bolhas impedem a pulverização
do combustível nos bicos. Um dos sintomas quando há algum problema de
entrada de ar (cano furado, parafuso da bomba injetora frouxo, pescador
defeituoso no interior do tanque) no sistema de alimentação é quando o trator
está em movimento e mesmo com tanque cheio, pára de funcionar. Nesse caso
devem-se examinar todas as possibilidades no sistema de alimentação.
73
Assim que o motor ligar, deixe-
o em baixa rotação e raperte.
Nos tratores que não possuírem
parafuso banjo, solte uma ou
duas conexões junto aos bicos
injetores e dê a partida. Aperte
as conexões.
Figura 23. Parafusos de sangria do combustível na bomba injetora. Extraído de: A Bíblia do trator.
IOCHPE-MAXION
74
2.6. Ajustes de bitola e lastração
Figura 8. Sistema telescópico do eixo dianteiro simples (versão 4 x 2). Extraído de: A Bíblia do trator.
IOCHPE-MAXION S.A. S.A.
75
se os parafusos C e D, pode-se deslocar o conjunto inteiro em relação às
canaletas. As bitolas dos tratores MF 4 x 2 variam de 1,13m a 1,93m, conforme
o modelo permita os diferentes ajustes de bitola.
Quanto aos eixos traseiros, para os tratores MF e MAXION, eles possuem
três tipos de rodas traseiras, com diferentes características:
▪ Rodas do tipo arrozeiras – São fixas e não permitem o ajuste de
bitolas. São rodas usadas com pneus largos e altos, o que permite
grande capacidade de flutuação.
▪ Rodas de discos reversíveis – Igual ao eixo dianteiro (4 x 2). Seu
ajuste permite de 3 a 8 bitolas.
▪ Rodas servo ajustáveis – possuem aros com trilhos de deslizamento.
Pode-se obter de 7 a 9 bitolas diferentes.
76
Figura 9. Esquema de ajuste de bitolas traseiras. FÁC – SÍMILE extraído de MAXION (1991).
77
O peso não serve apenas como parâmetro na escolha da lastração ideal a
determinados serviços. A relação peso/potência também mostra a faixa de
potência ou “reserva” de potência de alguns tratores. A relação peso / potência
de alguns modelos de tratores nacionais encontram-se no gráfico abaixo, que foi
retirado de SCHLOSSER (2003).
120
110
100
90
80
70
60
50 Potência
40
30 Peso/Potência
20
10
0
78
Assim, resta-nos somente recomendar para busca de uma boa lastração,
os métodos empíricos, que aproximam-se de valores onde não se compromete
a eficiência do serviço e que se agride menos o solo, em termos de
compactação, como por exemplo: lastrear o trator observando o rastro dos
pneus ao executar a tarefa desejada: se o rastro estiver muito deformado, há a
necessidade de se colocar mais peso, por outro lado, se estiver muito
definido, sem ranhuras, deve-se retirar lastro, de forma que se obtenha um
rastro bem definido nas extremidades dos pneus e pouco definidos no centro
dos rastros.
79
principalmente, cara19. Evidentemente, não citamos todas as manutenções
pertinentes aos tratores e aos implementos agrícolas, mas em linhas gerais,
apontamos as mais importantes. Procedimentos mais específicos estão
contidos nos manuais dos tratores, que é uma fonte de consulta indispensável
ao produtor rural, ou ao responsável pela manutenção do maquinário. Esses
procedimentos ou conselhos foram extraídos dos manuais, obedecendo
criteriosamente às recomendações dos fabricantes.
Quanto à lubrificação e trocas de óleo, alguns cuidados se fazem
necessários. BÓRMIO (2004) alerta para as seguintes precauções no tocante
ao sistema de lubrificação:
• Marcas diferentes de lubrificantes não devem ser misturadas. Segundo
esse mesmo autor, a utilização de elementos químicos com a mesma
finalidade de aditivação pode ocasionar o surgimento de ácidos que irão
atacar as peças do sistema.
• Observar sempre o uso de lubrificantes com o grau de viscosidade e
classificação correto;
• Se houver vazamento de óleo, estes devem ser corrigidos
imediatamente;
• Os bujões de enchimento devem receber limpeza com pincel e com
solvente antes de serem retirados;
• A vedação da vareta de nível e do guarda-pó são pontos onde ocorrem
vazamentos e responsáveis por grande parte da contaminação por
agentes externos, principalmente poeira. BÓRNIO (op. Cit) recomenda
que se danificados, devem ser imediatamente substituídos.
• O filtro de óleo a cada troca, deve ser limpo ou substituído, conforme a
necessidade.
19 Alguns cuidados relativamente simples, como lubrificações, reparos adequados e conservação do trator garantem,
certamente, menores riscos de defeitos e panes mecânicas que, em alguns casos, poderão onerar sobremaneira as reservas
destinadas à manutenção do trator, ou na depreciação, enquanto custo.
80
Tabela 3 - Cronograma de serviços de manutenção20 do trator agrícola.
Lavagem do radiador X
1 Para tratores novos, amaciando o motor a primeira troca deve ser de 50 ou 100 horas.
20 Infelizmente, os cuidados e manutenções descritos neste capítulo, não são a totalidade dos necessários à manutenção do
trator. Até mesmo porque esse livro não pretende deter-se somente à manutenção, devendo abrir discussões acerca de outras
questões. Alguns procedimentos aqui descritos, representam os principais, ou os mais facilmente realizáveis, alguns outros
cuidados são necessários, os quais podem variar de acordo com cada fabricante. É importante que seja consultado o manual
do fabricante, para que esses casos específicos sejam observados.
81
CAPÍTULO 3
Os implementos agrícolas:
82
novamente frisamos. A textura do solo, por exemplo, solos arenosos não
necessitam de um mesmo preparo que os argilosos. A não ser em casos
específicos, como no combate às ervas, incorporação de material vegetal, ou
calagem. Para o caso de combate a ervas daninhas, de acordo com o caso pode-
se usar uma grade ou a roçadora.
A última pergunta è como fazer. Deve-se traçar preliminarmente todos os
passos da tarefa agrícola, sempre visando reduzir ao mínimo o número de
passagens, o que servirá como racionalização dos recursos econômicos e do
manejo do solo.
A escolha do equipamento adequado influí no rendimento do serviço, não
só no sistema convencional de plantio, como também no plantio direto (no caso
deste último, na semeadura, por exemplo, deve-se observar qual tipo de
implemento ou acessório é mais adequado às condições locais, pois o corte da
palhada na formação do sulco das linhas de plantio é extremamente importante).
83
Nos implementos de corte, trocar as enxadas sempre que estiverem muito
gastas, após muito uso (a periodicidade varia com a intensidade de uso, tipo de
solo) -aplicável ao cultivador, enxadão, arado de aivecas.
Lubrificar as partes móveis corretamente, evitando que o lubrificante
possa vir a “atrair” elementos abrasivos, principalmente areia, durante a
operação do equipamento. Evite passar graxa em rolamentos ou mancais secos,
de forma que a areia venha a ficar impregnada nessas partes, funcionando como
um elemento abrasivo, essa graxa não deve entrar em contato com a areia, ou as
partículas de solo.
84
3.2.Planejamento e desempenho operacional de máquinas agrícolas
85
em hora máquina e mostra também o consumo médio de combustível para as
principais atividades motomecanizadas.
Tabela 4 - Rendimento das operações motomecanizadas e consumo de combustível (diesel)
de acordo com a faixa de potência, para tratores de pneus (fonte: AGENDA DO
PRODUTOR RURAL BNB - 2003)
Faixa de 61-63 73-77 79-86 95-110 118-122
potência (c.v.)
Rendimentos (ha/H)
Operações
86
preço, ou muito próximo, da hora cobrada pelo maquinário de aluguel. Ao final,
teremos uma espécie de “saldo”, que poderá ser positivo, que é o desejado, pois
o maquinário está dando lucro e, o saldo negativo, que deve ser evitado.
Assim, seria o equivalente à construção de uma “conta-corrente”, seja do
trator ou do implemento durante sua vida útil. Para que, o empresário possa
adequar os gastos, racionalizando o setor de mecanização de sua fazenda.
O empresário rural pode também lançar mão de planilhas próprias,
elaboradas na própria fazenda, de forma que sejam feitos os somatórios dos
gastos e das receitas, para que se tenha uma noção do saldo do setor na
propriedade.
Durante o período que estivemos no Rio Grande do Norte, pudemos
conhecer bancos de dados originados da própria fazenda, no caso, propriedades
que exploravam mais fortemente a fruticultura de exportação, como a Fazenda
São João e a Vitória Agrícola. Esses bancos de dados eram feitos a partir de
programas de plataforma Windows, como o Excel e que eram de uma excelente
adequação prática.
Ainda no contexto do gerenciamento econômico do setor de mecanização
da empresa agrícola, um outro aspecto que merece ser cautelosamente visto e
discutido refere-se à frota ideal para cada fazenda. Muitos produtores rurais se
perguntam: Quais os implementos mais adequados à sua propriedade? Qual o
trator ideal? Qual a melhor relação de trator x implemento?
De acordo com GENTIL (2001), para o empresário agrícola, “ a frota ideal
é aquela fruto do correto atendimento das necessidades da fazenda. Nunca a
frota será ideal se o gestor repetir rotinas, palpites ou velhos padrões (...) é
preciso analisar, planejar e decidir à luz da razão, do bom senso e dos interesses
o que ele quer, o que ele precisa e o que ele pode” (vê-se que o autor foi
incisivo e direto e por isso destacamos a sua última frase).
87
compra ou não de um trator cabinado. GENTIL (op. cit) ilustra que entre um
trator cabinado e um trator sem capota, a satisfação dos funcionários é bem
diferente, o que influí no rendimento do serviço. Aliás há uma literatura bem
razoável no tocante ao conforto e ergonomia como incrementador de
produtividade.
A compra de um trator usado é algo crítico, pois quase sempre não se tem
a garantia de um bom negócio, afinal garantias reais do perfeito estado daquela
máquina são muito do histórico daquele equipamento. Para a recuperação de uma
frota de uma fazenda, tem-se que traçar um diagnóstico geral do estado da frota.
Esse diagnóstico remete à consulta do valor médio alcançado pelo maquinário no
mercado.
88
O valor que será gasto para recuperação de toda a frota é corresponde ao
índice de sucata da fazenda. Assim se temos em uma fazenda hipotética, alguns
tratores e equipamentos que precisam ser recuperados, a diferença que for
necessária, obtida pelo valor do equipamento novo subtraído do valor atual
representa o valor de sucata. Assim, por exemplo, se tivéssemos:
89
Assim, um caminhão comprado por R$ 40.000,00, ou considerando a moeda
mais comum entre os produtores rurais, sacas ou suas respectivas unidades21 de
produção, e levando-se em conta também que esse caminhão terá vida útil de 10
anos, seu valor de sucata será de um décimo do seu valor de compra.
Assim, teríamos que:
D = Vc/Vu
Onde:
D= Depreciação anual
Vc = Valor de compra
Vu = Vida útil (anos)
21
Muitos produtores rurais contabilizam suas aquisições de acordo com o que custou tal aquisição à empresa.
Esse é um ponto curioso, mas que baseado na realidade de cada produtor é até aí, correta, desde que não haja
uma grande flutuação no valor comercial dessas unidades de produção de cada propriedade agrícola de ano a ano.
90
O preparo do solo para plantio, no sistema convencional obedece a
atividades que mobilizam o solo. Tais atividades compreendem a aração e a
gradagem.
▪ Aração
91
- Ambiente para o crescimento das raízes (rizosfera) profundo;
- Aeração do solo;
- Destruição de insetos e larvas e de seus locais de
desenvolvimento (como exemplo, citamos o bicho – bolo, ou
pão de galinha, inseto-praga de muitas culturas olerícolas, o
qual reside no solo e é facilmente exposto à superfície,
através do revolvimento realizado pelo arado);
- Aumenta o espaço entre as partículas do solo, facilitando a
retenção de água, bem como diminuição da evaporação do
solo, pelo rompimento dos canais capilares, o que resulta em
maior umidade disponível às plantas.
Sistemas de aração:
Uma boa aração deve ser realizada de forma que não se formem áreas não
aradas no terreno, seja por diferenças de profundidades no corte ou até mesmo
pela não passagem do arado. Além disso, os sulcos deverão ter a mesma
profundidade, serem retos, ou em contorno, seguindo o sentido transversal à
declividade do terreno, de forma a evitar a erosão, pela ocorrência da enxurrada.
A aração, portanto, pode ser feita em talhões, em áreas terraceadas ou em
contorno (SILVEIRA, 1989).
A aração em talhões é feita somente em terrenos planos ou ligeiramente
inclinados. Pode-se proceder à aração em talhões tanto de dentro para fora do
terreno, ou vice-versa. É aconselhável, porém, que se façam tais procedimentos
alternadamente, de forma que não se direcione o solo tombado somente para as
92
periferias do terreno, resultando na depressão do centro da área arada somente
de dentro para fora ao longo dos anos, bem como que se evite o acúmulo do solo
no centro do talhão, por ocasião da aração feita de fora para dentro, por anos
repetidos.
A escolha do sistema de aração deve considerar além das características
da topografia da área, o menor tempo para manobra nas cabeceiras das faixas e
a existência de sulco aberto ao final de cada passada do arado, sobre o qual a
leiva subseqüente será invertida.
93
O Arado de aivecas:
94
para as nossas condições. Fatores como textura, restos culturais e até a
velocidade de trabalho influem no funcionamento do arado. De uma forma geral,
quanto mais duro for o solo a ser trabalhado, mais baixa será a altura da aiveca
e mais alta, para solos mais frouxos. Por outro lado, quanto maior for a
quantidade de restos vegetais, maior deverá ser a aiveca. Essas particularidades
dos arados de aivecas fizeram com que o arado de discos se tornasse mais
empregado em todo o Brasil.
O arado de discos
95
Entretanto, as melhores adequações no emprego do arado de discos
referem -se primeiramente à sua versatilidade: são empregados em todos os
tipos de solos.
Para operações de calagem, obtém - se melhores resultados quando se
procede à incorporação com o arado de discos. Esses implementos adequam-se
melhor aos solos mais secos
No entanto, assim como no arado de aivecas, os de discos também
necessitam de uma regulagem para uma boa aração, devendo-se proceder às
regulagens, no que concerne à largura de corte, profundidade de corte,
estabilidade e bitola.
O arado de discos apresenta algumas limitações. A aração por si só já é
uma atividade que requer um esforço considerável por parte do trator (por ser
uma operação em que se trabalha quase sempre em uma 2ª marcha, o consumo
de combustível é elevado, principalmente na aração com o arado de discos).
Especificamente, também neste caso, quando ocorre o uso seguido do
arado por diversos anos, há formação do chamado pé-de-arado, devido ao fato
da roda direita do trator passar pelo sulco recém-aberto, na passada anterior, o
que facilita a compactação.
Há um baixo rendimento quando a leiva é tombada morro acima,
entretanto, recomenda-se que nesse caso, se feito o tombamento morro acima,
alterne-se o sentido no ano subseqüente, para que se evite o acúmulo do solo
nos terraços ou em glebas específicas. Esse tipo de arado também não consegue
penetrar se a área tiver excesso de restos vegetais.
▪ A gradagem
96
escarificação superficial do solo, principalmente em áreas de pastagem, e no
manejo e conservação das áreas declivosas, através da construção e manutenção
de canais e terraços.
A capacidade de trabalho pode ser calculada através da fórmula dada na
página 78, para se determinar a área trabalhada ou o tempo em horas, de acordo
com a largura de corte e eficiência do serviço.
As grades de discos
22Segundo ALDRICH e LENG (1974), a grade de discos não é apropriada para trabalhar em solos pedregosos,
principalmente com pedras grandes e chatas.
97
cortado simultaneamente. Quanto ao corpo do disco, ele pode ser côncavo, plano
ou ondulado, de acordo com o tipo de grade.
Quanto á durabilidade, as condições do solo a que são submetidos
interferirão na vida útil dos discos das grades. As grades de discos, como foi
dito anteriormente, não são adequadas ao trabalho em solos pedregosos, uma
vez que as pedras danificam, e muito, os discos, principalmente os recortados,
que, embora tenham uma maior capacidade de penetração, têm uma menor
durabilidade, face às lesões sofridas nos seus “recortes” o que os faz tenderem
naturalmente ao cisalhamento. Esse aspecto deve ser considerado, uma vez que
os discos de bordos recortados são mais caros do que os de bordos lisos.
Os discos sofrem forças de reação do solo (as forças normais à ação dos
discos e o atrito). Essas forças exigem determinada potência do trator para o
deslocamento do conjunto trator e grade. De acordo com SOUZA et all (2003)
essa potência varia com o tipo de solo, podendo ser em média de 2kW de
potência por disco, chegando em solos mais resistentes a 2,5 kW/disco
(lembrando que 0,746 kw equivale a 1 HP, o que dá até 3,35 HP/disco, para
solos mais resistentes)
Figura 10 - Discos côncavos e cônicos, b) Discos planos e ondulados (Fonte:SOUZA et all, 2003). Nos dois
casos, observa-se que, para os diferentes tipos de discos, existem os bordos lisos e recortados.
a) Seccionamento;
b) Pulverização;
c) Tombamento;
d) Nivelamento.
98
O tombamento é uma conseqüência do levantamento da massa ou leiva de
solo erguida pelos instrumentos de corte ativos (no caso os discos), a qual, em
seguida será invertida, recobrindo a seção seguinte para depois ser nivelada,
segundo SOUZA et all, (op. cit) devido à tendência de formação de microrelevo
pela ação da grade. Esse microrelevo dá-se através das três primeiras ações dos
discos (seccionamento, pulverização e tombamento).
O nivelamento é feito mais facilmente simplesmente pelo aumento da
velocidade de trabalho ou pela regulagem da grade. Segundo SILVEIRA (1989),
para se obter um bom trabalho, a grade deve penetrar uniformemente em toda
sua largura de operação, especialmente para a grade de discos. Faz-se
necessária, portanto, uma regulagem da grade, bem como o trabalho do conjunto
trator/implemento, em velocidades adequadas.
Md = Massa/discos
a) Grades leves:
A grades leves são assim classificadas por apresentarem massa por disco
igual ou inferior a 50 kg, com discos chegando às 22 pol. de diâmetro. São
utilizadas para destorroar, nivelar, misturar insumos, incorporação de ervas
daninhas pequenas, em áreas ainda em sementeira, usadas também na formação
de pastagens, através do enterrio das sementes ou partes vegetativas das
gramíneas implantadas.
b) Grades médias;
As grades médias apresentam massa por disco entre 50 e 130 kg, com
diâmetro dos discos entre 24 e 28 pol. muito utilizada, a grade média presta-se
muito bem para trabalhar em condições de alta infestação de ervas daninhas e
plantas trepadeiras, também usada para destorroar o solo, após uma aração ou
gradagem pesada. Pode substituir a aração, em solos de textura média a
99
arenosa, considerando-se que haja uma alternância com a grade pesada e o
arado.
c) Grades pesadas ou aradoras:
São grades que apresentam massa por disco superior a 130 kg, com
diâmetro dos discos de 30 pol ou superior. Tais grades destinam-se ao
revolvimento profundo do solo e incorporação de material de cobertura. Vem
substituindo em muitas regiões o uso do arado no preparo do solo.
Deve-se sempre observar que, ao cabo de alguns anos, procede-se a uma
aração nas áreas muito trabalhadas nos anos anteriores exclusivamente pelas
grades, a fim de que a alternância da profundidade de preparo do solo, bem
como ao revolvimento mais profundo pela ação do arado, do subsolador, ou até
mesmo do escarificador, quebre camadas compactadas de solo formadas pela
ação contínua de implementos com profundidades de trabalho menores que estes
últimos implementos.
Quanto às grades classificadas no tocante à disposição de suas seções,
(modo de ação dos corpos da grade) elas podem ser divididas em:
- Em tanden;
Esse tipo de grade possui quatro corpos, (grades em “X”), sendo
dispostos em linhas dois a dois, pelos corpos frontais (dianteiros) e posteriores
(traseiros). As seções frontais assemelham-se às da grade de simples ação, com
100
os discos revolvendo o solo do centro da faixa para as bordas, entretanto, os
corpos posteriores revolvem o solo no sentido contrário.
101
manobras e a operação de gradagem, respectivamente. Grades pesadas, com
uma massa superior a 2700kg necessitam de rodas e apoios auxiliares para
manobras e transporte, por esse motivo, as grades mais pesadas, como as
grades de controle remoto dispõem de sistemas de levante hidráulico, conectado
ao do trator.
102
Sistemas de gradagem
103
Figura 12 - Grade de dentes flexíveis (Extraído SOUZA et al, 2003).
104
O rolo destorroador, como seu próprio nome diz, é utilizado para destruir
torrões na área destinada ao plantio ou à semeadura. Pulveriza os torrões,
compactando levemente os 5 a 10 cm superficiais, ajudando também no
desenvolvimento de plantas novas, através da redução de espaços vazios, o que
permite que as radicelas entrem em contato maior com as partículas do solo.
A operação com o rolo torna-se necessária em terrenos que ficaram com
o solo muito desagregado, para que, dessa forma, auxilie no combate ou
prevenção da erosão 23, embora necessário este implemento não é muito
utilizado, tendo caído praticamente em desuso.
Imagem 8 – Grade de molas acoplada no mesmo chassi do Rolo destorroador. Fonte: ALDRICH e LENG
(1974).
23No sistema que visa o preparo mínimo, essa operação pode ser simultânea, com o rolo acoplado à uma grade ou à
semeadora, pois se realizada em excesso, essa operação pode vir a compactar demasiadamente o solo.
105
especialmente para essa finalidade são os subsoladores e os escarificadores,
que consistem basicamente de implementos robustos com hastes que adentram
no interior do solo, quebrando as camadas endurecidas.
Os arados podem ser usados, como dissemos anteriormente, para a
descompactação dessas camadas, com algumas vantagens, como exigirem menor
potência do trator quando se compara uma aração e uma subsolagem. Contudo,
em relação à profundidade, os arados adentram menos profundamente no solo.
Nos cerrados, na cultura do algodão, segundo HERNANI e SALTON
(1998), no preparo primário do solo, já se utiliza escarificação + gradagens
niveladoras (ao contrário do preparo pelo sistema de grades ou do convencional
– arado + grade), reduzindo o chamado pé-de-arado e o pé-de-grade,
decorrentes da compactação do solo. Em algumas pesquisas, demonstrou-se
que foi aumentada inclusive, a produtividade da cultura do algodão de uma forma
significativa.
Todavia em determinadas áreas, o emprego do escarificador, seguido das
grades não tem surtido um bom efeito, tendo ocorrido provavelmente uma
lixiviação maior dos minerais no perfil do solo. De uma forma mais acertada, o
uso ou não desse sistema diferenciado deverá ser feito após o técnico ou o
produtor testar em sua realidade, inicialmente em pequenas áreas na sua
propriedade, se é aplicável ou não, se surtiu efeitos positivos ou negativos na
sua produção, para aí sim, passar (ou não) a fazer uso dessa prática mais
contemporânea.
Enxada rotativa
106
Imagem 9 – Enxada rotativa. Fonte: Baldan.
▪ A semeadura
107
A escolha da semeadora mais adequada à cultura deve visar também a
economia, a cultura a ser implantada e as condições topográficas da área
(semeadoras com muitas linhas são mais eficientes em áreas planas ou quase
planas, com facilidade de manobra nas cabeceiras). Além disso, o sistema de
manejo de solos adotados é também decisivo, pois semeadoras utilizadas em
plantio direto também podem ser usadas em solos gradeados. O contrário
contudo, para semeadoras convencionais não acontece, a menos que o produtor
adapte peças para cortar a palhada e fechar o sulco de semeio.
Quanto ao tipo de semeadura, de acordo com COMPANY (1984), as
semeadoras que semeiam grão a grão são implementos que necessitam, além de
um trabalho preciso da máquina, a utilização de sementes de alto poder
germinativo, bem como boas condições para a germinação (Essas boas condições
devem ser entendidas como uma boa sementeira, através de um bom preparo do
solo e principalmente, umidade adequada).
Tais equipamentos24 precisam ser bastante versáteis, permitindo
diferentes espaçamentos entre fileiras e plantas.
As semeadoras mais comuns (convencionais) no mercado brasileiro são as
de disco horizontal, no entanto, existem outros tipos de semeadoras, com
princípios semelhantes.
Para praticamente todas as semeadoras que utilizam o tamanho dos grãos,
como elemento decisivo para a semeadura (passagem dos grãos nos orifícios
dos discos, sejam tais discos horizontais ou verticais), a uniformidade das
sementes é fator primordial para uma boa semeadura, evitando-se a quebra
excessiva de grãos, os quais uma vez no solo estarão sujeitos ao ataque de
microorganismos patogênicos (Pseudomonas, Giberella, etc.).
24
Comumente vemos a denominação incorreta das semeadoras. O uso da expressão plantadeira/plantadora é
incorreto para designar as máquinas que lançam sementes ao solo na operação de semeio ou semeadura. Tais
máquinas devem corretamente ser chamadas de semeadoras. Plantadoras são apenas os implementos que
plantam, ou seja, põem no solo partes vegetativas das plantas (cana-de-açúcar, por exemplo). Infelizmente esse
erro é difundido em todos os níveis, desde catálogos comerciais, aos técnicos e no próprio meio rural.
108
Figura 13 - Semeadora de disco vertical na qual destaca-se a barra do trator (1), o depósito (3), a caixa
seletora (4), a roda distribuidora (5), a roda defletora (6), alvéolos (7), o tubo semeador (8), a alavanca de
saída (9), o sulco de semeio (10) no solo (2), feito pelo sulcador (11) a uma profundidade (12) pré-
determinada e coberto pela relha (13) sendo por fim compactado pela roda compactadora (14). (Extraído
de COMPANY, 1984).
109
Figura 14 - Semeadora de precisão mecânica. Nesse tipo de semeadora, os grãos caem, através da rotação
de uma engrenagem (11) que movimenta a massa de sementes a qual finda por exercer uma pressão suave
em um defletor (6) no fundo do depósito (9), havendo uma restrição à massa de sementes, o que permite
que as mesmas caiam na canaleta (12) somente uma por vez. (Extraído de COMPANY, 1984).
NL / h = 100
Fs/ Ns
Onde:
NL = Número de Linhas / ha
Fs = Largura da Faixa semeada (de uma linha à outra);
Ns = Número de linhas da semeadora
Tomemos por exemplo uma semeadora de 6 linhas, com uma faixa de
trabalho de 4,2m e a cultura a ser semeada seja o milho. Aplicando-se a
fórmula teremos:
110
De acordo com ALDRICH e LENG (1974), HENTSCHKE et all (2002), a
população ideal de plantas de milho varia conforme o híbrido empregado e as
condições regionais, mas que está algo em torno de 55 000 plantas / ha.
Dividimos essa população total pelo número de fileiras e a esse resultado
dividimos por 100, que é uma constante, ficando assim a segunda fórmula:
25
ALDRICH e LENG (1974) recomendam a regulagem das semeadoras no galpão ou pátio,
com a contagem dos grãos sobre uma lona. Já HENTSCHKE et all (op. Cit) recomendam que
toda regulagem seja feita de acordo com os diferentes tipos de condições de cada gleba que
seja representativa, onde vai se desenterrando as sementes no sulco, para contagem. Ambos
recomendam ainda, que a regulagem da semeadora seja feita de forma criteriosa.
111
De uma forma ainda mais prática, algumas empresas vendedoras de
sementes oferecem catálogos que indicam qual disco usar, de acordo com a
cultivar escolhida.
Já por considerar as reduções de custos e evitar desperdícios, a garantia
da uniformidade da semeadura é um outro aspecto que deve ser considerado,
principalmente porque é também a partir da escolha da semente mais adequada
não só nos aspectos agronômicos de produção, mas especificamente, adequada
ao semeio com o equipamento que se dispõe. A uniformidade das sementes é um
fator crucial, na questão da semeadura mecanizada. Essa uniformidade deve ser
observada em vários sentidos:
112
ou em caso de áreas fruticultoras, faz-se o coroamento das plantas. YAMADA
(2002) aconselha o manejo de plantas invasoras como um forma de conservação
e de melhoria do solo, principalmente no sistema de plantio direto.
No entanto, quando necessário, a eliminação do mato, é feita através das
capinas. Que podem ser classificadas em manual, mecânica e capinas químicas.
CHRISTOFFOLETI et all (2002), por sua vez, classificam os métodos de
controle de plantas daninhas em métodos mecânicos, que correspondem às
capinas mecanizadas, químicas, métodos culturais e rotação de culturas.
Atualmente a agricultura orgânica tem-se mostrado mais expressiva. O
emprego de defensivos naturais e os bons resultados conseguidos têm refletido
o potencial de produção nesse sistema de exploração agrícola, contudo, o
combate às ervas daninhas no sistema orgânico, naturalmente, não utiliza o
combate químico à tais plantas.
Capina manual
As capinas manuais apresentam um baixo rendimento produtivo, sendo
utilizadas somente nos casos em que a declividade não permite o uso da
mecanização, ou em pequenas propriedades, de exploração familiar. É utilizada a
mão-de-obra disponível, para os serviços de capina, seja utilizando enxada,
alfanje ou foice manual.
Um método de capina mais eficiente e acessível aos pequenos produtores
rurais é a utilização da tração animal, como o uso de cultivadores puxados por
bovinos, eqüinos e asininos, ou em áreas específicas onde não compensa a
compra de implementos novos.
Capina mecanizada
A capina mecanizada apresenta um rendimento bem maior que a capina
manual ou a feita por implementos de tração animal.
Devido aos custos com mão – de – obra, a capina mecanizada é
freqüentemente utilizada.
Os implementos mais utilizados são a roçadeira, a grade, as roçocarpas, os
cultivadores e a enxada rotativa.
A roçadeira presta-se muito bem à capina, triturando o material e
deixando o solo protegido por ele. No entanto, seu uso contínuo ao longo dos
anos, favorece o surgimento de ervas rasteiras, como gramíneas (a roçadeira
inclusive, é muito utilizada na manutenção de pastagens de gramíneas).
As grades de discos picam e incorporam o material ao solo. Seu uso
contínuo deve ser evitado, para que não se forme o pé-de-grade.
Já a enxada rotativa, é muito eficiente na incorporação de material vegetal
ao solo, pois ele é triturado e incorporado. Porém assim como os demais
113
implementos, o uso excessivo deste deve ser evitado, pois há uma pulverização
muito freqüente do solo, o que facilita o processo erosivo.
De um modo geral, não se deve insistir no uso de um mesmo implemento
nas capinas mecânicas em uma mesma área, pois ao longo dos anos os efeitos
nocivos deste uso contínuo serão potencializados.
Uma boa alternativa seria sem dúvida que se alternassem os implementos.
Um outro cuidado para as capinas mecânicas é de que em áreas infestadas por
determinadas ervas daninhas, com ciperáceas como a tiririca ( Cyperus
rotundus), após a capina, o implemento não vá para outra área sem antes sofrer
uma limpeza severa, para evitar que ele carregue propágulos de uma área à
outra.
Capina química
A capina química é realizada através do emprego de produtos químicos,
como hormônios vegetais, como o 2-4 D e outros produtos sintéticos, os
chamados herbicidas.
114
Tabela 5 - Percentual do consumo de herbicidas no ano de 2000 nas regiões Brasileiras.
Sudeste 22,8
Nordeste 6,3
Norte 2,0
115
herbicidas. Essas medidas são mais significativas, do ponto de vista de
aplicabilidade, ou funcionabilidade, pois são simples e que estão ao alcance dos
produtores rurais.
De uma forma geral, na agricultura convencional, pelo uso de produtos que
apresentam diversos níveis de toxidez e oferecem um risco ambiental em maior
ou menor grau, é necessário que se conheça não somente as dosagens corretas
dos defensivos agrícolas, o modo correto de aplicação e os cuidados com o
equipamento de aplicação, como também o modo de ação do defensivo e adequar
o equipamento de forma a que se evitem perdas e contaminações tanto para o
pessoal envolvido na aplicação, como ao meio ambiente.
Aplicação de herbicidas
a b
Figura 15 – Tipos distintos de jatos utilizados para a aplicação de herbicidas. O tipo de jato varia
conforme o bico empregado. Pode-se observar na figura o bico de jato em leque (a), utilizado para
aplicações dirigidas e o bico de jato cônico (b), geralmente usado em pré-plantio.
26A numeração indica, respectivamente, o ângulo de abertura do leque do bico, seguido da vazão máxima em galões (1 galão
corresponde a aproximadamente 3,6 litros).
116
pulverização alto, bem como contribuí nas perdas do defensivo pela ação do
vento; barras muito baixas também diminuem a eficiência de aplicação, pois os
jatos ou leques de aplicação podem nem chegar a se cruzarem. Deve-se evitar a
cobertura pobre, devido à colocação de bicos de ângulos diferentes, ou bicos
desalinhados em relação aos demais. Bicos entupidos também devem ser
desobstruídos (faça isso antes da colocação do defensivo, testando o
equipamento apenas com água).
Ainda para equipamentos terrestres, a altura da barra deverá ser de 50 cm
em relação ao topo da cultura (Culturas anuais).
Já para a aplicação aérea, para aviões IPANEMA, a altura de vôo deverá
ser de 4 a 5 m em relação ao topo da cultura ou o topo do solo (culturas anuais).
27As condições de vento forte são contra-indicadas para a aplicação de defensivos, bem como as condições de calmaria
completa.
117
A operação de colheita é ainda a mais crítica para as mais diversas
culturas e a mecanização dessa atividade é ainda restrita. Para muitas
explorações agrícolas, em especial a fruticultura, vem se mantendo o uso
intensivo de mão – de - obra para essa operação. Para os grãos, contudo, já se
apresenta um maior grau de mecanização dessa atividade.
Para a pequena propriedade agrícola, etapas da colheita podem ser
mecanizadas e fazer uso da mão –de – obra para outras etapas. Assim, as
segadoras são utilizadas, cortando as plantas e deixando-as sobre o solo à
espera de serem levadas para a máquina de trilha. Outras cortam e enleiram as
plantas – segadoras enleiradoras - e há as que cortam transportam e enfeixam
as plantas – as segadoras – amontoadoras.
Algumas culturas temporárias, no entanto, apresentam alguma dificuldade
em se fazer a colheita mecanizada, como por exemplo o feijão, que ao contrário
do milho e da soja, tem uma tradição de não ser usada a colheita mecanizada, ou
a colheita por máquinas encontrar nesta cultura uma dificuldade, como a
arquitetura da planta, seu porte e hábito de crescimento. Acreditamos porém,
que um fator que faz com que a colheita mecanizada não seja marcante na
cultura do feijão deve-se aos fatores econômicos e sociais, pois boa parte da
produção de feijão no Brasil deve-se aos pequenos e médios produtores rurais,
com baixo nível tecnológico de condução da cultura (ZIMMERMANN in: SOUZA
NETO 2002), a remuneração pela cultura apresentar níveis de rentabilidade ou
margem de lucro muito estreita, entre outros fatores.
Contudo, em algumas áreas do sudeste e em algumas outras regiões do
país, há alguns anos já tem sido empregadas máquinas especialmente construídas
para a colheita do feijão, como a recolhedora – trilhadora, que recolhe as plantas
previamente cortadas e enleiradas nas fileiras (descrita em: GERALDO DA
SILVA et all, 2000); ou Kits de instalação para adaptação nas colheitadeiras
combinadas, para a colheita do feijão.
Essencialmente, quando se fala em colheita mecanizada, a soja é a
primeira cultura a se pensar. MESQUITA (1993), afirma que, apesar de ser
colhida manualmente há séculos no oriente, mais especificamente na Ásia, sua
região de origem, no Brasil praticamente não ocorre a colheita manual. Tal autor
justifica essa afirmação em fatores como a alta população de plantas, a
deiscência das vagens, que tornam a cultura não recomendável para esse tipo de
colheita. Além disso, a disponibilidade de mão - de – obra em países orientais
produtores de soja como a China, por exemplo, é muito grande. A colheita
manual serve como absorvedora do excedente de mão – de – obra, o que é
extremamente positivo e estratégico, para esse país, do ponto de vista social.
A colheita mecanizada da soja sofreu um forte impulso após o emprego
das colheitadeiras combinadas, desde as primeiras décadas do século passado. A
118
seguir se vê o corte representativo de uma colheitadeira combinada
(MESQUITA, 1993).
Figura 16 – Corte esquemático de uma combinada, destacando os seus componentes ativos (Extraído de
MESQUITA, 1993).
b) Mecanismos de trilha:
119
Cilindro de trilha: formado basicamente por barras estriadas, dispostas de
forma cilíndrica. Tem a função de bater o material através da rotação (cerca de
300 rpm), fazendo a debulha.
c) Mecanismos de separação:
d) Mecanismos de limpeza:
120
e) Mecanismos de elevação, armazenagem e descarga;
121
CAPÍTULO 4
Prevenção de acidentes no uso dos implementos agrícolas e do trator
122
▪ Antes de acionar implementos que utilizem a tomada de força, verifique se
todos os dispositivos de segurança das partes móveis (a camisa protetora
do eixo cardã, por exemplo) estão posicionados devidamente.
▪ Procure não usar roupas frouxas ou acessórios que possam enroscar -se
nas partes moveis dos implementos.
123
▪ Nunca introduza as mãos nos depósitos das semeadoras - adubadoras,
quando estas estiverem funcionando.
124
Destacamos, abaixo, o painel de um trator Massey, (série 200):
Indicador
da carga Indicador
Pressão do de
óleo do da bateria
restrição
motor
Tanque de
combustível
Temperatura Tacômetro
da água Horímetro
Figura 17- Esquema de painel de trator (tratores MF). Extraído e adaptado de: a Bíblia do trator,
IOCHPE-MAXION.
125
causar, dessa forma, severos danos ao motor pela falta de lubrificação das suas
partes móveis.
Ao dar a partida no motor, antes do início da jornada de trabalho, passe
cerca de cinco minutos com o motor “contando”, esse procedimento permite que
o motor adquira uma temperatura mínima de trabalho e também permite que o
óleo possa lubrificar corretamente os mecanismos internos do mesmo, formando
uma película entre todas as peças que se atritam.
126
Comumente, as operações agrícolas com tratores emitem níveis de ruído
superiores aos limites toleráveis, que é de 80 decibéis (dB). FERNANDES
(2003), em pesquisa com tratores nacionais, na sua maioria em condições de
campo, verificou perda auditiva em 59,8% dos ouvidos. Esse dado é
preocupante, pois segundo o autor, ele é superior, inclusive, aos índices
encontrados nos trabalhadores da indústria.
FERNANDES (op. cit), dá ênfase à severidade das condições de trabalho às
quais estão submetidos os tratoristas quando relata que foi observado que: “o
déficit auditivo evoluiu com a idade e o tempo de exposição, comprovando ser o
ruído a causa da perda auditiva (hipocausia). Também ficou evidente a perda da
capacidade auditiva para tratoristas com até 5 anos de trabalho, 42,9% já
apresentavam déficit auditivo e, entre 5 e 10 anos de exposição ao ruído do
trator, 58% já tinham hipocausia”.
A NR – 15 da portaria 3214 da CLT, estabelece um período máximo de
trabalho de acordo com os níveis de ruído (Tabela 2). Infelizmente, sabe-se que
esse aspecto tem dois agravantes: o primeiro de que, na prática, um período
normal de trabalho de um tratorista é de oito horas; o segundo é que, não há,
entre os tratoristas, como relata FERNANDES (op. Cit) o costume de usar os
protetores auriculares (como regulamentado na portaria 3.214 do ministério do
trabalho, em sua NR-15 a qual obriga o uso dessa proteção pelos trabalhadores
submetidos a períodos diários de 8 horas de trabalho, sob níveis de ruídos
superiores a 85 dB). Na prática, as operações agrícolas que emitiram níveis de
ruídos mais altos, segundo FERNANDES (2003), foram a aração, por exigir um
maior esforço do trator e o roço, certamente pela ação das lâminas da roçadeira
no material.
127
Tabela 6 – Exposições máximas permissíveis de acordo com a NR – 15 da portaria 3214
da CLT. (Fonte: FERNANDES, 2003).
marca / modelo Operação Nível de Exposição máxima
ruído permissível
dB(A)
Agrale 4300 Roçagem 98,3 1:00 h
28
Por não ter um sistema de suspensão devido a necessidade de precisão em muitas operações agrícolas, uma das
soluções encontradas foi a colocação de amortecedores eficazes no próprio assento, o que ajudou a melhorar em
muito o conforto na operação do trator.
128
4.3. Cuidados com o equipamento: a operação do trator
129
130
4.4. Verificações diárias antes do trabalho
131
▪ Use a tração dianteira somente quando estiver realizando serviços de
campo. Nunca a utilize em deslocamentos por estradas ou rebocando
implementos, excetuando-se os casos estritamente necessários;
132
CAPÍTULO 5
Manejo e conservação do solo
◼ Textura;
133
◼ Estrutura e umidade;
◼ Cor;
◼ Porosidade;
◼ Profundidade;
◼ Topografia;
5.1.1. Textura
a) Estrutura
134
b) Umidade do solo
coesão
plasticidade
adesão
Figura 17 - Efeito do conteúdo de água em dois componentes principais da consistência do solo. Extraído
de BAVER et al, 1973
135
torrões trazidos à superfície são muito grandes e difíceis de serem quebrados,
isso naturalmente, se o solo for argiloso.
Os solos arenosos ou franco-arenosos, não são propriamente “exigentes”
no aspecto referente à umidade para proceder-se às operações de revolvimento,
pois quase não apresentam ou apresentam pouca estrutura. Segundo ALDRICH &
LENG (1974), para os arenosos, não é estritamente necessário se esperar uma
granulação através do aumento na umidade a fim de que se facilite o trabalho,
enquanto que para solos mais pesados, é desejável que se tenha um solo um
pouco mais úmido e no caso de solos argilosos, que esteja friável, pois isso
facilitará o trabalho, tendo-se assim, uma umidade adequada.
Uma forma mais precisa para o preparo primário do solo (aração e
gradagem), é recomendada por HERNANI & SALTON (1998), ao sugerirem que
essas operações sejam feitas quando o solo apresentar de 60 a 70% da
capacidade de campo.
Esse aspecto de cuidado no preparo do solo torna-se meramente
cientificista; na prática, a observância do ponto ideal de aração é quase
negligenciada, ou que, diante das circunstâncias de produção, disponibilidade de
chuvas, especialmente no semi-árido nordestino, não é observada.
Muitas vezes por conta de contratos de produção, o produtor rural
antecipa o preparo do solo antes do período das primeiras chuvas,
principalmente em grandes áreas de produção intensiva e monocultivos. Outras
vezes, a disponibilidade do maquinário, por produtores que o alugam não permite
que seja observado o ponto de aração; revolve-se o solo assim que se dispõe do
trator e dos implementos para o “corte da terra”.
A não observação do fator umidade do solo é portanto, cumulativa, por se
agravarem as condições físicas do solo diante da erosão e compactação, mas que
não é um aspecto limitante, uma vez que a incorporação de M.O., uso de
implementos diferentes e a própria característica granulométrica dominante do
solo (textura), podem por exemplo, compensarem ou tolerarem o preparo do
solo em condições acima ou abaixo do ponto de aração.
Evidentemente, frisamos mais uma vez, que estamos nos referindo ao
sistema convencional de preparo do solo, sendo este severamente questionável,
por importar um modelo que não é adequado às nossas condições tropicais, o
SPD representa hoje, um passo enorme no conhecimento e manejo dos solos
tropicais, e por isso mesmo, vem-se apresentando ganhos produtivos enormes,
principalmente na produção nacional de grãos, o que reflete a adequação desse
sistema às nossas condições.
Logicamente, há toda uma complexa situação de adequação e
implementação das técnicas do SPD às diversas regiões do Brasil, como por
exemplo, o nordeste. Neste último caso, a premissa de implantar-se o SPD no
136
semi-árido esbarra nos fatores culturais, econômicos e ambientais, já que os
restos de cultura são comumente reaproveitados para a alimentação animal.
No que tange aos fatores culturais, estes são deveras ligados intimamente
às condições do ambiente, pois para o pequeno e médio agricultor / produtor
rural, é quase inconcebível que a palhada seja disposta no solo, onde a mesma
serviria como forragem, ou incrementaria o suporte forrageiro da propriedade.
Assim, há que o técnico de campo, ou extensionista, intervir de maneira a
buscar a sustentabilidade visando a formação dos agroecossistemas de forma
que se planeje uma modificação, conjuntamente com o homem do campo, das
situações ou sistemas de cultivo, pastoreio ou outras atividades exploratórias da
propriedade que tradicionalmente e historicamente são feitas, com um grande
comprometimento social, ambiental e econômico.
137
5.1.3. Cor
5.1.4. Porosidade
5.1.5. Profundidade
138
5.1.6. Topografia
139
5.2. Medidas conservacionistas
140
acordo com a disponibilidade econômica do produtor, ou de
pedregosidade na área, adotar cordões em contorno, que
cumprem a mesma função dos terraços;
h) Rotação de culturas;
i) Adubação verde;
141
Terraceamento e semeadura em nível
A semeadura em nível refere-se ao plantio em nível, acompanhando as
curvas de nível ou niveladas básicas. As linhas de semeadura transformam-se
em obstáculos à movimentação da água e permitem a sua infiltração no solo.
Essa prática é uma das mais simples e importantes práticas conservacionistas,
porque além de controlar a erosão, ainda facilita e tornam mais eficientes as
práticas complementares (HERNANI e SALTON, 1998). A tabela seguinte mostra
o espaçamento utilizado para a construção de terraços ou curvas de nível, a
partir das niveladas básicas.
Tabela 7 - Espaçamento para terraços em nível (extraído de “A cultura da soja nos
cerrados – anais;1992”).
a espaçamento vertical
b espaçamento horizontal
142
características do solo, da declividade da área e, inclusive, do regime de chuvas
(intensidade pluviométrica).
Os aspectos edáfo-climáticos referentes à declividade e ao regime de
chuvas influem sensivelmente nos processo de perda de solo por erosão,
estando intimamente ligados.
Em regiões de uso intensivo do solo, com declividades superiores a 2%, o
terraceamento, segundo CARDOSO (1992) torna-se imprescindível,
principalmente quando considerarmos as longas pendentes que normalmente se
relacionam inversamente com a declividade. Ou seja, áreas de pequena
declividade quando têm longas pendentes (áreas de escorrimento d’água,
funcionando como rampas) fazem com que a água adquira uma energia cinética
considerável, após percorrer certa distância, ela adquire um potencial erosivo
semelhante á uma situação de uma área com declive acentuado e com menos
distância a ser percorrida.
Podemos ilustrar esses aspectos da seguinte forma: De acordo com a
declividade do terreno, teremos uma quantidade x de água da chuva, durante um
certo período de tempo, escorrendo na superfície, com uma taxa y de arraste de
solo. À medida que a declividade aumenta, teremos que diminuir a distância
entre uma curva de nível e outra, pois nessa situação, a mesma quantidade x de
água, tem um potencial erosivo maior, não arrastando somente aquela quantidade
y, mas uma quantidade maior de solo.
Chuva
Superfície Chuva
Terraço em b) do terreno
a) nível
Terraço
L (Comprimento L (Comprimento
Água retida no em nível
da rampa) da rampa)
terraço e
infiltrando no
solo
Figura 18 - Volume de enxurrada com relação ao comprimento de rampa, para a construção de Terraços
em nível Na situação “a”, a declividade do terreno é menor do que a da situação “b”. A energia cinética
que a água adquire ao descer a rampa mais declivosa é maior do que a descida da primeira situação. A
enxurrada, portanto, no último caso é mais forte, o que faz com que seja necessário reduzir a distância
entre os terraços, para que se evitem maiores danos ao solo.
143
Todos esses fatores denominamos de erosibilidade. Já no tocante ao
regime pluviométrico da região, a intensidade das chuvas – são denominados de
erosividade.
Os terraços podem ser:
a) De base larga - tipo Mangum (de absorção) – mais usados para solos
mais arenosos;
b) De base estreita - tipo Nichols (de retenção) – solos argilosos.
Adubação verde
144
responsáveis em muitas áreas por uma contaminação, através da formação e
lixiviação de nitratos para os corpos hídricos.
Além disso, as leguminosas produzem grande quantidade de massa verde
e têm sistema radicular pivotante, capaz de extrair nutrientes das camadas mais
profundas do solo, os quais serão disponibilizados após a sua decomposição
(FAVERO et al., 2000; ARAÚJO et al., 1996).
De acordo com FAVERO et al (2000), a variabilidade de produção de
biomassa por tais plantas varia conforme as condições que elas encontram.
Destacam-se o feijão – guandu (Cajanus cajam) - com produção de massa de
matéria seca de cerca de 17,9 t/ha, além de excelente enriquecedor natural do
solo.
Outras leguminosas muito utilizadas na adubação verde são o feijão de
porco (Cannavalia ensiformes) e a mucuna preta (Stilozobium atterinum), para
esta última, MONEGAT (1991), afirma que, esta leguminosa chega a fornecer de
50 a 200 kg de N/ha e que, quando incorporada ao solo, chega a fornecer, cerca
de 282 kg de N/ha. Dentre os feijões, os do gênero Vigna também são usados
para adubação verde e cobertura do solo, especialmente as variedades de
crescimento indeterminado (SOUZA NETO, 2002).
Após a escolha da espécie, o plantio deverá visar um pequeno intervalo
entre a incorporação das plantas para adubação verde e o plantio da cultura
desejada. Alguns agricultores não esperam a colheita dos grãos da cultura
implantada para adubação verde. Incorporam – na no início do florescimento, ou
um pouco antes. Já outros agricultores e técnicos, esperam até a colheita dos
grãos para obterem com isso, um retorno financeiro maior, para amortização dos
custos. A prática da adubação verde atualmente tem sido muito utilizada, não só
sendo assimilada pelo sistema de plantio convencional, como também na
agricultura orgânica.
145
Ao cabo de 3 anos, cada área teria passado pelas três situações. Trigo,
cevada e pousio (ou alqueive). Assim, teríamos o seguinte esquema:
146
Tabela 8 - Efeito de diversas culturas no controle das perdas de solo e água por erosão.
29 Todos estes componentes ou aspectos citados anteriormente partem de um âmbito de uma situação ideal, que muitas
vezes prende-se (infelizmente) somente no meio acadêmico. Deve-se sim procurar levar em consideração a maior parte, senão
todos os fatores citados anteriormente, mas sabemos que no campo, pelos mais diversos aspectos, isso fica extremamente
complicado: surge então uma pergunta: Como observar todos os aspectos anteriores de conservação do solo (aspectos físicos do
solo, relevo, umidade, medidas conservacionistas etc) sem ônus econômico ou interferência no produzir? – seguramente isso
poderia ser respondido com outra pergunta: dá para observar alguns aspectos mais eficazes? - O manejo de solo em áreas
altamente mecanizadas é extremamente necessário, mas que certos aspectos podem ser aplicados às diferentes situações
econômicas e sociais do produtor, principalmente quando se parte para o pequeno e médio produtor, de uso menos intensivo ou
até pouco, da mecanização. A procura por opções de barateamento das medidas ou práticas de conservação dos solos sem influir
de maneira negativa na produção (e principalmente no bolso do proprietário) deve ser sempre a intenção do técnico e do próprio
produtor.
147
redução de patógenos às culturas principais. BELTRÃO e MELHORANÇA (1998)
consideram-na com um importante método de controle cultural, de ervas
daninhas e de redução da incidência de pragas e doenças.
SOUZA JÚNIOR (2001), em um ensaio em vasos, estudando controles
químicos, culturais e orgânicos para a meloidogenose do tomateiro, encontrou
resultados semelhantes de ocorrência de Meloidogyne incognita no solo e no
sistema radicular do tomateiro: tanto no tratamento químico com carbofuran®
como na área antes em alqueive. O referido autor encontrou os menores valores
de infestação do nematóide, no tratamento com carbofuran e na área em alqueive
(os quais não diferiram estatisticamente), como também valores menores de
infestação nos tratamentos onde havia plantas não hospedeiras (Guandu) e
nematicidas (crotalária) do que nos vasos onde já era plantado tomate.
Tabela 9 - Comparação de tratamentos quanto à ocorrência de Meloidogyne incognita no
solo e no sistema radicular do tomateiro (Extraído de SOUZA JÚNIOR, 2001).
VARIÁVEIS
3
Larvas/300Cm de solo Nº de galhas / Nº de massa Nº de ovos + larvas /
TRATAMENTOS 1
10g ovos/10g 10g de raiz
de raiz de
raiz
T9 820b
1
T1 = tomateiro plantado onde anteriormente fora alqueive; T2 = T1 + esterco bovino; T3 = T1 + biofertilizante; T4
= tomate plantado onde anteriormente fora implantado o Guandu; T5 = tomate plantado onde anteriormente fora
incorporada a crotalária; T6 = Tomate tratado com carbofuran onde anteriormente fora plantado tomate; T7 =
Tomate com adubação mineral onde anteriormente fora plantado tomate; T8= testemunha (tomate) e T9 = solo
mantido em alqueive.
148
produtividade quando se fez uso dessa técnica do que no cultivo contínuo
(FUNDAÇÃO CARGIL, 1984).
Tabela 10 - Efeito de sistemas de rotação sobre a produtividade do algodoeiro.
149
Subsolador X Escarificador
150
amostragem deverá ser feita na profundidade de 0 a 20cm e de 20 a 40cm, para
as culturas anuais, como soja e milho. Para frutíferas, a coleta deverá ser a
profundidades maiores ou a partir 20cm, existindo, contudo, diversos casos
específicos.
Deve-se evitar na coleta linhas de cultivo anterior e em áreas próximas a
formigueiro, cupinzeiro, ou depósitos de calcário. Deve-se evitar raspar
demasiadamente as camadas superficiais do ponto de amostragem. As sub-
amostras devem ser homogeneizadas em um balde plástico ou outro recipiente
limpo. Após essa mistura e homogeneização, deve-se retirar para amostra 500 g
de terra. Para ser enviada ao laboratório, a amostra deverá ser seca à sombra,
para depois ser acondicionada em saco plástico devidamente identificado. Em
monocultivos ou cultivos sucessivos, as amostras deverão ser coletadas a cada
dois anos (CARDOSO, 1992).
151
A seguir destacamos uma breve descrição de alguns minerais relevantes à
nutrição das plantas e que, por muitas vezes, são os mais utilizados, devido às
suas peculiaridades (necessidade de maiores quantidades seja pela
característica da própria cultura, das deficiências naturais do solo ou mesmo do
elemento – lixiviação, volatilização, percolação): entretanto, tomemos essa
abordagem na forma de uma contextualização superficial, ou no caso de uma
leitura mais técnica, sugerimos autores – referência, como Malavolta e as demais
referências que compuseram estes tópicos ora expostos.
152
Nitrogênio (N)
Fósforo (P)
153
de P, devido a uma adubação incorreta, diminuí a absorção de zinco pelas plantas
(TANAKA op cit).
Como fontes de P, podem ser usados os adubos solúveis em água
(Superfosfatos ou o fosfato de amônio) ou em ácido cítrico (Termofosfatos e
fosfato natural reativo). A escolha de determinada fonte de P deve considerar
além da necessidade de outros nutrientes, a relação custo/benefício.
154
Potássio (K)
Cálcio (Ca)
155
cálcio em seguida à adubação de cobertura; f) Variedades mais resistentes (no
caso do tomate, recomenda-se variedades do tipo Santa Cruz).
Magnésio (Mg)
156
Carbono orgânico, pois a flora microbiana dos solos tropicais, graças às
condições ambientais que encontra, é muito eficiente na decomposição da M.O.
Um dos efeitos práticos mais presentes da ação da orgânica desses estercos ou
restos vegetais refere-se aos aspectos físicos de melhora da porosidade geral
do solo, ou na questão dos aspectos químicos, o poder – tampão, onde a adição
de matéria orgânica ao solo implica numa tendência à neutralização de ácidos ou
controle da salinidade (leia-se efeito tampão para a salinidade como imobilização
do sódio e a criação de micro habitat que favorece o desenvolvimento radicular
de muitas culturas).
O continuo fornecimento de M.O. serve como fonte de energia para a
atividade microbiana, que atua como agente de estabilização dos agregados
(SILVA et al. 2000).
A importância da M.O. refere-se principalmente à melhora das condições
físicas dos solos. Solos argilosos quando incorporada M.O. adequadamente
apresentam melhoras estruturais consideráveis, o que é importante para
operações de preparo do solo e o desenvolvimento das raízes das plantas. Por
outro lado, solos de textura arenosa, quando devidamente adicionados de
estercos ou outra fonte de matéria orgânica, como o húmus (praticável somente
em pequenas áreas, em horticultura ou fruticultura, devido à produção custosa de
húmus nos minhocários, o composto, obtido através da compostagem e o
biofertilizante, obtido através de processos de fermentação de estercos,
adicionados de produtos naturais), passam a ter uma considerável melhora dos
seus aspectos físicos e químicos (principalmente os físicos).
157
- Condições desfavoráveis para a microbiota que mineraliza a
matéria orgânica, que é fonte natual de N, S,B e diversos
outros elementos para as culturas;
- Condições desfavoráveis para a fixação livre e simbiótica do
nitrogênio;
- Menor eficiência da adubação de N, P e K.
3 +
NC = Al x 2
158
100
Onde:
S = soma das bases trocáveis (Ca2 + + Mg 2 + + K+)
T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0 ou S + ( H+ + Al 3+
), em cmol
3.
c/dm
V I = % de saturação em bases fornecida pela análise do solo.
V 2 = % de saturação em bases requerida pela cultura (de acordo com a
cultura e a região).
V 1 = 100 x S
T
f = 100 / PRNT
Assim, sempre que o PRNT do calcário for menor que 100, o valor de f
será maior que 1,0. Sendo assim, quando o PRNT for de 80%, por exemplo, o
valor de f, utilizando-se a fórmula será de 100/80 = 1,25 (CARDOSO,1992).
A quantidade de calcário para correção da acidez do solo depende do tipo
de solo e dos sistemas de produção.
Para solos arenosos (teor de argila < 20 %), a quantidade de calcário
utilizada (N.C.) é dada pelo valor maior encontrado em uma destas duas
fórmulas:
N.C. = (2 X Al) x f
N.C. = {[2 – (Ca + Mg)]} X f
159
de 5,1 %. Contudo, na falta ou ausência deste, pode-se utilizar o calcário
calcítico, desde que se acrescente Magnésio ao solo. Deve-se lembrar que a
relação ideal Ca : Mg deve ser de 1 : 1, sendo no máximo, para soja 10 : 1.
A escolha do calcário a ser adicionado ao solo depende também da
observação do seu valor corrigido para 100 % de PRNT, posto na propriedade
(CARDOSO, 1992). O custo de transporte (C.T.) ou frete também deve ser
incluso no valor. Assim, o preço efetivo do calcário poderá ser calculado
utilizando-se a seguinte fórmula:
160
nacional: pastagens competindo com plantas daninhas, gastos excessivos com
roço30, herbicidas, formicidas e cupins, estes últimos, indicadores sérios de
desgaste do solo.
Um dos implementos muito utilizados e que pode seguir uma matriz lógica
de aproveitamento é o distribuidor de esterco liquido (um carroção ou vagão pipa
com distribuidores movidos quase sempre pela TDP). Pode-se proceder a
lavagem das instalações pecuárias, se recolher este esterco junto com a água e
se utilizar o distribuidor de esterco líquido para aplicação na pastagem. Essa
ordem lógica serve bem a uma fazenda produtora, por exemplo de leite.
Dessa forma, os ganhos em produtividade serão garantidos graças a uma
sistemática de visão holística da propriedade e o importante suporte fornecido
pela mecanização, ferramenta indispensável nos dias de hoje à produção do
campo.
30
A afirmação de alternância de implementos e métodos de controle de plantas daninhas para pastagens também
deve ser observado, pois geralmente um método de controle apenas, durante anos sucessivos, acaba por
“privilegiar” determinadas espécies invasoras. Notadamente, percebe-se que, por exemplo, o uso contínuo da
roçadeira permite uma melhor resposta das gramíneas ao manejo e sendo satisfatoriamente eficaz contra a maior
parte das espécies não desejáveis de folha larga.No entanto, deve se observar se algumas plantas que ocorrem,
são indicadoras de problemas de ordem do equilíbrio mineral do solo.
161
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