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MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:

FONTES MECANIZADAS
COMO CONTRIBUIÇÃO
AOS SISTEMAS DE
PRODUÇÃO AGRÍCOLA

ALCEU PEDROTTI
MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO

ALCEU PEDROTTI
MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO

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MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:
Fontes Mecanizadas
Como contribuição
aos Sistemas
de Produção Agrícola

MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

ALCEU PEDROTTI
MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO

1
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:
Fontes Mecanizadas
como contribuição
aos Sistemas
de Produção Agrícola

2
CDU
631.17
S 729 r – PEDROTTI, Alceu & SOUZA NETO, Miguel David de,
90
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA: Fontes Mecanizadas como contribuição aos Sistemas de
Produção Agrícola / Alceu Pedrotti & Miguel David de Souza Neto – São Cristóvão – Se.,
2006.
162 P: il.

Bibliografia

1. Mecanização Agrícola. 2. Tratores e implementos agrícolas – Prevenção de acidentes


3. Operações mecanizadas. 4. Mecânica agrícola

3
ÍNDICE
Apresentação ................................................................................................................................................ 7
Um pouco de história: o fim do nomadismo e a agricultura de precisão: .................................................. 9
1. O uso da tração animal na agricultura ..................................................................................................... 9
1.1.1. A mecanização na agricultura .......................................................................................................... 11
A agricultura de precisão ........................................................................................................................... 13
1.1.2. A tração animal e os dias de hoje.................................................................................................... 14
1.1.3. Aspectos da mecanização agrícola: ................................................................................................. 16
A mecanização e a agricultura moderna .................................................................................................... 19
A situação da mecanização agrícola .......................................................................................................... 20
• Principais críticas à mecanização agrícola: ..................................................................................... 24
1.2. Conhecendo o trator: .......................................................................................................................... 30
1.2.1. Princípios básicos de funcionamento de um trator agrícola: .......................................................... 30
1. 2. 2. Definição de motor: ....................................................................................................................... 31
• Os tempos dos motores à explosão ................................................................................................. 33
• Função de alguns órgãos dos motores de Ciclo OTTO: ................................................................. 35
• Função de alguns órgãos dos motores de Ciclo Diesel; ................................................................. 35
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................................................. 38
Os sistemas do trator ................................................................................................................................. 38
2. Os sistemas do trator............................................................................................................................. 38
2.1. O sistema hidráulico............................................................................................................................ 38
2.1.1. Funcionamento básico do sistema hidráulico de três pontos ......................................................... 39
2.1.2. Autocontrol - Pré-programação operacional suportada por tecnologia de computador (tratores
Valtra/Valmet): .............................................................................................................................................. 43
2.1.3. O Sistema de levante hidráulico com controle eletrônico – Hydrotronic (tratores Massey
Ferguson e Maxion)....................................................................................................................................... 44
2.2. O sistema de lubrificação .................................................................................................................... 44
2.2.1. As siglas utilizadas na classificação dos óleos ............................................................................... 44
2.2.2. Manutenção do sistema de lubrificação ........................................................................................... 45
2. 3. O Sistema de arrefecimento .............................................................................................................. 53
2.4. Sistema de embreagens e transmissões ............................................................................................ 55
2.4. Sistema de transmissão: Transmissão de força. A lei das alavancas, um dos princípios dos braços
do hidráulico: ................................................................................................................................................. 62
2.4.1. Sistema de transmissão de trabalho – polias e correias................................................................. 65
2.4.1 Dimensionamento de polias e correias: adequação de implementos: ............................................. 67
2.4.2. Dimensionamento de polias: ............................................................................................................ 67
▪ A relação: Tipos de correias x potência do motor ......................................................................... 68
2.4.3. Dimensionamento de correias ......................................................................................................... 69
Alguns cuidados com as correias e polias: ............................................................................................... 70
2.5. O sistema de alimentação ................................................................................................................... 70
2.5.1.Sistema de alimentação/ar: ............................................................................................................... 70
▪ Manutenção do sistema de filtragem de ar ..................................................................................... 71
2.5.2. Sistema de alimentação/combustível ............................................................................................... 72
▪ Tanque de combustível: ................................................................................................................... 72
▪ Bomba alimentadora ........................................................................................................................ 72
▪ Drenagem do sedimentador e do filtro de combustível. ................................................................. 72
▪ Substituição do filtro de limpeza do sedimentador de combustível. .............................................. 73
▪ Sangria do motor.............................................................................................................................. 73
▪ Sangria do sedimentador e filtro de combustível ........................................................................... 73
▪ Sangria da bomba injetora (bomba horizontal e bomba vertical – cav).......................................... 73
2.6. Ajustes de bitola e lastração .............................................................................................................. 75

4
2.7. considerações sobre a correta manutenção dos tratores: ................................................................. 79
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................................................. 82
Os implementos agrícolas: ......................................................................................................................... 82
3.1. Manutenção dos implementos ............................................................................................................. 83
3.1.2 Manutenção dos equipamentos de tração animal ............................................................................. 83
3.2.Planejamento e desempenho operacional de máquinas agrícolas ...................................................... 85
O Rendimento das operações de mecanização .......................................................................................... 85
Gerenciamento econômico do setor de mecanização................................................................................ 86
3.3. As atividades agrícolas e os implementos: ........................................................................................ 90
3.3.1. Preparo do solo:............................................................................................................................... 90
▪ Aração .............................................................................................................................................. 91
Princípio da aração: A reversibilidade da leiva ......................................................................................... 91
Arados fixos e móveis: .............................................................................................................................. 93
O Arado de aivecas: ................................................................................................................................... 94
O arado de discos....................................................................................................................................... 95
▪ A gradagem ...................................................................................................................................... 96
Regulagem das grades de discos ............................................................................................................. 102
Sistemas de gradagem ............................................................................................................................. 103
Grade de dentes com molas ou grade de molas ..................................................................................... 103
Grade de dentes rígidos ou fixos............................................................................................................. 104
O rolo destorroador: ................................................................................................................................ 104
▪ Escarificadores no preparo do solo. ............................................................................................. 105
Enxada rotativa ........................................................................................................................................ 106
▪ A semeadura .................................................................................................................................. 107
▪ Tratos culturais - As capinas........................................................................................................ 112
Aplicação de herbicidas ........................................................................................................................... 116
Condições climáticas ideais para a aplicação de defensivos: ................................................................. 117
A colheita ................................................................................................................................................. 117
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................................ 122
Prevenção de acidentes no uso dos implementos agrícolas e do trator ................................................ 122
4.1. Medidas gerais de segurança ........................................................................................................... 122
4.1.1. Identificação dos principais controles e instrumentos de controle do trator: ............................. 124
4.1.1.2. Partida do motor ......................................................................................................................... 125
4.2. Conforto na operação do trator: ....................................................................................................... 126
4.2.1. A insalubridade do trabalho de tratorista...................................................................................... 126
4.3. Cuidados com o equipamento: a operação do trator........................................................................ 129
4.4. Tração dianteira ................................................................................................................................ 131
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................................ 133
Manejo e conservação do solo ................................................................................................................. 133
5.1. Características e propriedades edáficas que devem ser observadas no preparo do solo: ............ 133
5.1.1. Textura........................................................................................................................................... 134
5.1.2. Estrutura e Umidade: ..................................................................................................................... 134
a) Estrutura ........................................................................................................................................ 134
b) Umidade do solo ............................................................................................................................ 135
5.1.3. Cor .................................................................................................................................................. 138
5.1.4. Porosidade ..................................................................................................................................... 138
5.1.5. Profundidade .................................................................................................................................. 138
5.1.6. Topografia ...................................................................................................................................... 139
5.2. Medidas conservacionistas ............................................................................................................... 140
Terraceamento e semeadura em nível .................................................................................................... 142
Manutenção da cobertura morta na superfície – Sistema de Plantio Direto (SPD): ............................... 144
Adubação verde ........................................................................................................................................ 144
Rotação de cultura, pousio e cultivo em faixas alternadas ..................................................................... 145
Alternância de implementos ..................................................................................................................... 149
O uso de implementos descompactadores do solo: ................................................................................ 149

5
Subsolador X Escarificador...................................................................................................................... 150
5.3. A fertilidade do solo ......................................................................................................................... 150
5.3.1. Amostragem do solo ...................................................................................................................... 150
5.3.2. Análise foliar .................................................................................................................................. 151
5.3.3. Adubação do solo ........................................................................................................................... 151
5.3.4. Adubação química .......................................................................................................................... 156
5.3.5. Adubação orgânica ......................................................................................................................... 156
5.3.6. O ph do solo e a correção da acidez ............................................................................................. 157
5.3.7. A adubação e a pecuária: ............................................................................................................... 160
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................................................................ 162

6
Apresentação

A modernização agrícola brasileira baseou-se em mudanças na composição das


colheitas pela diversificação, incorporação de novas tecnologias e em modificações na
estrutura e na organização dos fatores de produção. A mais notável mudança, no que toca à
diversificação de culturas, ocorreu na composição da produção na direção de culturas
caracterizadas por mercado em forte expansão no comércio internacional, com destaque
para as culturas de maior interesse para a exportação, como a soja. Além disso, a
mecanização, a pesquisa agrícola e o uso de insumos químicos também foram fundamentais
para a expansão da fronteira agrícola na direção centro-oeste de nosso País. Graças a
esses fatores, nas décadas de 70 e 80 os ganhos de produtividade passaram a ser uma
importante fonte de crescimento da produção agrícola, especialmente das culturas mais
modernas, ao contrário do que ocorreu nas décadas anteriores. Na década de 80, em
particular, os ganhos de produtividade explicam cerca de 3/4 do aumento da produção
agrícola obtida no Brasil.
O avanço da área de mecanização agrícola registrado já é tão grande que o termo
agricultura de precisão (AP) vem sendo adotado no meio agronômico para identificar um
conjunto de tecnologias modernas oriundas de adaptações informatizadas com uso direto
em equipamentos agrícolas, no sentido de melhorar a eficiência e racionalidade de seu uso
nas diversas operações da propriedade rural. O emprego de computadores acoplados à
máquinas agrícolas em conjunto com informações geoposicionadas levaram ao campo o que
existe de mais avançado em termos de gerenciamento de dados e estratégias de informática
viáveis à melhoria da atividade agropecuária.
Um dos grandes desafios de quem trabalha envolvido com máquinas agrícolas
sempre foi a correta modelagem, com resultados confiáveis, para predizer o que o trator
pode exercer de força numa dada condição e o que a máquina ou implemento vai exigir de
força para ser tracionada nessa mesma condição.
Existiram muitas tentativas e modelos propostos, principalmente após a 1a Guerra
Mundial, quando os veículos fora de estrada passaram a ter grande importância. O trator
agrícola apenas pegou carona e desenvolveu-se uma linha de pesquisa aplicada à
mecanização agrícola.
Essa diferença entre um veículo de transporte de pessoal e armamentos e um
veículo de tração é evidente e por isso a linha agrícola acabou tomando seu próprio
caminho. Mesmo assim, muita coisa em comum continuou existindo e as teorias de relação

7
pneu-solo e esteira-solo são freqüentemente revistas e confrontadas entre as grandes áreas
(aplicações agroflorestais, máquinas para construção civil e veículos fora de estrada).
Aquele veículo que hoje é conhecido como trator já passou por muitas fases e
variações. Inicialmente, na primeira metade do século passado, já existia uma quantidade
significativa de máquinas a vapor sobre rodas. As primeiras esteiras, ainda primitivas são
dessa época, e justamente para sustentar máquinas pesadas sobre solo. Na última década
do século passado é que começaram a surgir os tratores com motor de combustão interna. A
partir de então surgiram inúmeras variações e formas construtivas tanto do trator em si
quanto do seu sistema de rodado que é, em última análise, o dispositivo responsável pela
transformação da potência disponível no motor em força de tração (Goering, 1992).
Algum tempo depois do seu surgimento é que esse veículo passou a ser chamado de
trator, pela suas características e função. Um anúncio de um deles, datado de 1906, o
chamava pela primeira vez de “tractor machene”. Essa é a maior função do trator que hoje
impulsiona uma grande fatia da economia, na agricultura e silvicultura.
Em cima destas evoluções e ganhos de tecnificação, que este livro vêm a contribuir
com docentes e pesquisadores, além de, principalmente os discentes cursantes das
disciplinas de graduação, em cursos ligados a ciências agrárias, que tem a necessidade de
subsídios na área de mecanização agrícola, que ao mesmo tempo que registra evoluções e
resultados nos sistemas de produção tão expressivos, carece de materiais como os
propósitos apresentados por esta publicação.
Bom proveito !

8
CAPÍTULO 1
Evolução histórica: o fim do nomadismo e a agricultura de precisão:

Desde os primórdios, os nossos antepassados viviam da caça e da coleta


de frutos e ervas. Para sobreviverem, andavam em clãs por regiões diversas, em
diferentes épocas, acompanhando a frutificação da flora dessas regiões e da
disponibilidade de caça. Estavam sujeitos aos rigores das matas ou às grandes
distâncias das planícies. Sujeitos aos predadores, às endemias e até aos clãs
rivais.
A partir da observação e descoberta do processo de germinação das
sementes e domesticação de várias espécies vegetais, pelos nossos ancestrais,
surgiu a agricultura. (CARVALHO & NAKAWVA, 1983). Essa agricultura
primitiva, nascida durante o período mesolítico, após mudanças consideráveis no
tocante ao clima da terra, quando houve uma diminuição das calotas polares e
que fez surgir novas áreas habitáveis, acompanhou também a domesticação de
alguns animais e o pastoreio (CÁRCERES, 1996).
Esse evento foi de extrema importância, pois a partir da agricultura e da
domesticação dos animais, o homem pôde deixar o nomadismo e passar a ser
sedentário (GUIMARÃES, 1982), fixando-se em locais propícios às suas
atividades agrícolas e pastoris. A partir do período Neolítico1 o Homo sapiens
estabeleceu relações mais específicas com a natureza, aprimorando
principalmente a agricultura, através da domesticação de animais de tração e
aperfeiçoamento dos primitivos implementos de auxílio no preparo do solo
(CÁRCERES, 1996).
Com o tempo, surgiram pressões de ordem social, como o aumento
demográfico, e a subseqüente separação dos homens em dois meios distintos: o
meio rural e o urbano, com o aparecimento das vilas, perpetuando-se essa
divisão de ecossistemas antrópicos desde as polis gregas até as megalópoles
atuais.

1. O uso da tração animal na agricultura

Os primeiros animais domesticados foram os ovinos, a cerca de 6500 a.C.


Os bovinos foram domesticados 3000 anos depois, devido à sua ferocidade. Por
volta de 3000 a.C., passou-se a castrar os touros, para que se tivessem animais
de tração fortes e ao mesmo tempo dóceis (UNIVERSO, 1973).
A domesticação dos animais trouxe não só para o homem a perspectiva de
obter alimento e produtos de origem animal, como também, a capacidade de
esses animais exercerem algumas atividades, principalmente como força-motriz,
transportando cargas, tracionando implementos nas diversas atividades da

1 Período compreendido aproximadamente entre 6 000 a.C. a 2 500 a.C.

9
agricultura, auxiliando o homem nas tarefas de desmatamento, aração, tração,
semeio e colheita. Diversos povos fizeram uso dos animais domésticos, para se
desenvolverem. Grandes proprietários de terras, como o americano Washington,
que em sua fazenda fez uso de mulas, de utilidade como força de tração na
agricultura (GUIMARÃES, 1982), ou os tropeiros, que tantas cargas
transportaram no dorso desses animais, Brasil afora.
Os animais têm um potencial de transformarem alimentos baratos
(forrageiras e grãos) em trabalho mais eficientemente que o homem, pois o
homem mesmo, como fonte geradora de potência, é pouco eficiente, gerando
apenas cerca de 0,1 hp de trabalho pesado e contínuo e cerca de 0,4 hp de
trabalho de esforço contínuo e moderado (HOPFEN & BIESASKI, 1953).

Imagem 1.Cultivadores tracionados por bois. Cena comum no interior do nordeste e em propriedades de
mão – de – obra familiar.

Dentre os implementos puxados por animais podem ser citados muitos,


entre eles a carroça, o arado de aivecas, o cultivador, a semeadeira –
adubadeira, a plaina, entre outros.
Além dos tratos com o animal, relativos à nutrição, sanidade e inclusive
bem-estar, há evidentemente, os cuidados referentes à manutenção dos
implementos tracionados por estes animais, desde o mais rústicos, como o carro
de boi, até os mais sofisticados, como a semeadeira-adubadeira, variando

10
somente o grau de cuidados e número de manutenções desses implementos,
como veremos num capítulo mais tarde.

1.1.1. A mecanização na agricultura

Após a revolução industrial no século XVIII, houve uma intensa mudança na


estrutura fundiária e de produção. Do sistema feudal, com suas características de
relações servis, dos camponeses para com os seus senhores - relações as quais
discutiu HUBERMAN (1936) – às intensas mudanças do modo de produção
agrícola, ao modo de produção atual as modificações foram muitas. O campo
passou a partir da revolução industrial, também a ser trabalhado por máquinas.
Desde a invenção do motor a vapor por James Watt, no final do séc. XVIII
somente mais tarde, a partir da montagem de uma máquina a vapor autopropelida
sobre rodas, em fins do séc. XIX começam a surgir os primeiros tratores. No
entanto, de acordo com BARGER et alii, (1966) e GUIMARÃES (1982), só
receberam sensível impulso, após a 1ª Grande guerra, e tornaram-se mais
específicos somente após a 2ª guerra mundial. Deste momento em diante, a
evolução do trator acompanhou os níveis de tecnologia agrícola, modelos de
exploração e o tamanho das propriedades.
Os passos iniciais da revolução industrial, que carregou no seu bojo a
mecanização agrícola, foram dados a partir das mudanças do sistema de
produção rural, fomentadas pelos processos inerentes à própria revolução
industrial. GUIMARÃES (op. cit), afirma que por volta de 1800, a mecanização no
campo teve um forte impulso após o aperfeiçoamento e invenção de máquinas,
como uma charrua de ferro fundido, inventada por Charles Newbold e
aperfeiçoada por Jethro Wood. John Deere, em 1840, cria a primeira charrua
inteiramente de aço. Em seguida, grande número de implementos são
aperfeiçoados e fazem com que, nos estados Unidos, grandes extensões de
terras, antes irremovíveis pelos antigos instrumentos, a partir de tais
aperfeiçoamentos, passassem a ser utilizadas na produção de alimentos,
especialmente cereais, obtendo maior rendimento e eficiência.
O desenvolvimento do trator e de implementos específicos à tração
mecanizada ocorreu em detrimento dos antigos implementos puxados por bois e
mulas. A própria evolução do trator evidencia que o nível tecnológico empregado
no maquinário agrícola acompanhou os processos criativos e tecnológicos das
outras áreas. Desde o primeiro passo; do trator a vapor, do séc. XVIII, a passos
maiores, como a invenção do motor Otto em 1870, e o surgimento dos motores
desenvolvidos por Rudolph Diesel em seguida, a invenções também importantes,
como a introdução de pneumáticos por volta de 1930, o sistema hidráulico de
Harry Ferguson, em 1937, ao câmbio sincronizado dos tratores Valmet nas
décadas de 60/70.

11
Atualmente, existe maquinário que exerce tarefas antes inconcebíveis a
uma máquina, como a colheita de cana-de-açúcar, de algodão, de café, ou de
oliva. Algumas são até guiadas por satélite, na chamada agricultura de precisão,
através do uso de GPS (do inglês: global positioning sat) para a correção e
adubação do solo, em glebas heterogêneas da propriedade, com aplicação de
insumos e fertilizantes, de uma forma bem mais específica de que a adubação
generalizada e extrapolada para toda a área2. Podemos citar ainda, o trator
agrícola que não precisa de operador (atualmente apenas um protótipo); vai ao
campo e volta ao galpão de máquinas guiado por satélite e por computadores.
Esse nível de tecnologia, contudo, só seria viável no emprego de máquinas
para grandes propriedades rurais, de produção intensiva e de culturas com altos
rendimento e remuneração por unidade de área (grandes culturas de valor
econômico elevado ou alta produtividade como a soja, ou o trigo, além de
algumas culturas olerícolas).

2
SOUZA FILHO e RORDAN (2003), ao descreverem a agricultura de precisão, definem os métodos de análises
através de amostragens das áreas tradicionalmente feitos como Agricultura das médias.

12
A agricultura de precisão

O funcionamento da chamada agricultura de precisão baseia-se na coleta


de informações de produção, bem como a produtividade dos diversos talhões
existentes numa mesma área. São elaborados mapas de produtividade e após
isso, feitas algumas avaliações desses dados, para em seguida, tomar-se as
medidas cabíveis para o aumento da produtividade de cada m 2 da área. Segundo
SOUZA FILHO e RIORDAN (2003), essas medidas podem ser corretivas, como o
ajuste na quantidade de insumos, ou estratégicas, como a decisão de deixar de
plantar em determinada área. DALLMEYER (2004) traça aspectos positivos
dessa técnica, observando que ela é do ponto de vista agronômico, corretíssima,
pois desconstrói o manejo realizado pela chamada agricultura das médias e passa
a tratar as glebas de solo com os seus potenciais produtivos de forma individual.
DALLMEYER (op. cit), critica contudo, alguns implementos e/ou máquinas de
agricultura de precisão importadas.
Esse autor lembra que tais máquinas nem sempre estão em conformidade
com as condições do sistema de plantio direto, principalmente no tocante às
condições edafoclimáticas (o sistema de preparo de solo e plantio de um país de
clima temperado, como se sabe, não é aplicável aos trópicos), como no
posicionamento das sementes e do adubo no sulco.

A mecanização e a pecuária:

A mecanização atualmente está para a pecuária assim como o boi está para
o pasto, ou no caso de uma pecuária mais mecanizada, assim como o boi, para o
cocho. Inúmeros são os implementos e máquinas utilizadas na pecuária, muitos
deles caracterizados inclusive como implementos pecuários e não mais agrícolas.
Enumeremos alguns:

• O vagão transportador de volumoso;


• O vagão transportador e distribuidor de ração;
• As máquinas de distribuição de ração nas granjas modernas;
• As enfardedeiras tratorizadas e manuais;
• As colheitadeiras de feno;
• As colheitadeiras e picadoras de capim;

Desses implementos existem os mais diversos modelos, tamanhos e níveis


de preço, cabendo ao pecuarista a escolha de acordo com suas necessidades e
possibilidades (vide tópico referente à escolha e dimensionamento da frota na
página 76).

13
No Nordeste, uma cultura que é usada desde muito pelos agricultores (ou
pecuaristas) familiares e que sustenta toda sorte de gado nos períodos mais
crítico de secas as quais muitas vezes duram anos é a palma forrageira (Opuntia
sp.). Uma cactácea que, de forma característica dessa família botânica, sobrevive
à aridez mediante as suas estratégias fisiológicas (armazenamento de água,
metabolismo CAM, atrofiamento das folhas em espinhos etc) e que naturalmente
serve de alimento aos animais.
Há especificamente nessa região para o setor pecuário uma certa
dificuldade (entre tantas!) que se refere a um caráter de ordem tecnológica e
prática, que é uma colheitadeira de palma forrageira à disposição no mercado.
De fato, se considerarmos somente o aspecto técnico de construção da
mesma, veremos que há algumas limitações de ordem técnica como o corte da
palma e deslocamento do material picado da máquina ao vagão, alimentação do
material através de esteira, espaçamento padrão ideal da cultura a campo,
cultura em área destocada, variedade de palma forrageira mais adequada,
robustez do conjunto trator x implemento e velocidade de corte.
Já para áreas mais abastadas no tocante à regularidade de chuvas e média
pluviométrica bem definida, as colheitadeiras de feno e sua embalagem em
fardos de cerca de 20 kg são as máquinas mais utilizadas por pecuaristas de
maior porte, embora existam máquinas com uma grande capacidade de confecção
e transporte de feno (em rolos).
De uma forma geral, à medida que novas necessidades forem surgindo,
também surgirão novas respostas tecnológicas da mecanização, desde claro, que
haja uma viabilidade de mercado, mas que, de forma absoluta, vê-se uma forte
tendência de incorporação da mecanização à pecuária brasileira.

1.1.2. A tração animal e os dias de hoje

Com o advento da mecanização, houve um incremento da produção


agrícola e o uso intensivo das máquinas, muitas vezes, substituiu o trabalho dos
animais nas atividades rurais, predominantemente nas grandes propriedades.
Contudo, alguns produtores (na sua maioria, de pequenas propriedades
agrícolas, minifúndios e médias propriedades) em tarefas específicas, fazem uso
da tração animal, com vistas à redução de danos operacionais, que influem no
nível de compactação3 do solo, ou onde o emprego da máquina não é viável ou

3 Embora a compactação do solo seja notadamente maior quando se refere à tração mecânica, em termos de proporção, o
animal compacta mais o solo*, pois o tamanho do casco deste em relação ao seu próprio peso é significativamente menor do
que se compararmos a proporcionalidade entre o material rodante (esteira, pneus) de um trator agrícola e o seu tamanho.
Entretanto, essa afirmação adquire uma natureza meramente de curiosidade, ou por assim dizer, sem uma consistência prática,
pois na realidade, os danos feitos aos solos agrícolas restringem-se quase que exclusivamente ao manejo e forma de
exploração do solo. O uso “incorreto” e excessivo do trator, mais contundente em termos de danos ao solo do que o uso da
tração animal, a qual é feita geralmente em pequenas propriedades e sem danos que comprometam o sistema de produção de
tais propriedades – portanto, para as áreas agrícolas com problema de compactação de solo, a formação de camadas

14
não obtém resultados satisfatórios, seja pelas dimensões das parcelas
trabalhadas, pelo relevo ou até mesmo pela não disponibilidade de capital para
aquisição de maquinário.
Atualmente, em países como a China, nas regiões montanhosas
rizicultoras, onde a mecanização com o uso de máquinas autopropelidas
(tratores) é impraticável, os bufalinos continuam sendo utilizados e realizam as
tarefas com perfeição (já existe um maior número de tratores na agricultura
chinesa, devido à abertura econômica que esse país vem realizando na última
década, do século XX, mas que o emprego da mão – de – obra ainda é
significativo, o que é desejável do ponto de vista social, já que a China é um país
superpopuloso). Na Índia, os bovinos são reverenciados como sagrados e
comumente utilizados para diversas atividades, como auxiliadores do homem nas
suas tarefas cotidianas.
A tabela seguinte (tabela 1) ilustra o rendimento de algumas operações
mecanizadas utilizando-se a tração animal e a tração mecânica. Não pretendemos
contudo, com essa tabela, fazermos apologias ao emprego da tração mecânica,
conforme foi discutido no item de críticas à mecanização agrícola. Acreditamos
que cada produtor tenha uma necessidade diferente em relação ao modo de
produzir, cabe somente ou ao técnico responsável ver a real necessidade de
aquisição de máquinas, principalmente no tocante ao custo-benefício de
semelhante empreitada
Tabela 1 – Rendimentos de algumas operações agrícolas com tração animal e
mecanizada.
Tração animal Tração mecanizada
- Animal utilizado - Faixa de potência (cv) para
tratores de pneus
Operações Mula 1 boi 1 junta de 61-63 73-77
bois
Rendimento (ha/turno*)
*considerando um turno (dia/de serviço) de 6 horas de trabalho
Aração 0,37 - 0,45 1,2 – 2,4 2,4 – 3,6

Gradagem - - 2,07 9,6 – 12,0 6,0 – 12,6

Plantio 1,90 - - 2,4 – 6,6 2,4 – 7,8

subsuperficiais adensadas, está relacionada não somente com a questão “direta” do uso do trator e a compactação causada
por ele, mas sim às práticas de manejo incorretas e degradantes tais como número de passagens excessivas, aração ou
gradagem muito acima ou abaixo do ponto ideal de revolvimento do solo, o lastramento incorreto e/ou excessivo do trator,
relação implemento de corte x potência do trator inadequada, etc.
*nda.: Na realidade, existem áreas de pastagem que sofrem compactação demasiada, pelo excesso de pisoteio
(excesso de animais numa mesma área ou superpastoreio), mas que evidentemente, é uma situação relacionada ao mal
manejo e falta de racionalização da pecuária, totalmente diferente portanto, da questão de emprego de tração animal ora
discutido.

15
Cultivo 1,60 - -

Sulcamento - 1,2 -

1.1.3. Aspectos da mecanização agrícola:

Devido ao crescimento populacional, naturalmente a demanda por


alimentos, cresceu e tanto a produção quanto à produtividade tiveram que
acompanhar esse crescimento. Esse aumento do consumo acompanhou um
superávit de produção agrícola baseada na utilização do maquinário. O número de
trabalhadores urbanos tornou-se muito superior aos do campo. Em 1940, a
relação entre o número de pessoas da cidade e do campo era de 4,24 para 1. Em
1980, era de 9,4 pessoas para um trabalhador (SILVEIRA, 1989). Ou seja, um
homem teria que abastecer de alimentos, praticamente dez outros4.
É inquestionável o papel da mecanização agrícola hoje, bem como o papel
da agricultura moderna na sustentação da população atual.
A mecanização agrícola vem, portanto, aumentar os níveis de produção e o
rendimento do trabalho no campo (Quadro 1).

Quadro 1 - Produtividade de um homem com alguns implementos agrícolas

Pasto cortado em um dia de trabalho


Equipamentos Área (m2) quantidade (Kg) vacas alimentadas

Foice manual 1.200 480 1


Alfanje manual 2.520 960 2
Segadora tracionada
por animal 40.000 16.000 40
Segadora acoplada
a trator 80.000 32.000 80

Fonte: SILVEIRA (1989)

4
Além disso, a má distribuição demográfica, com uma absoluta maioria da população residente em zona rural,
implica em prejuízo social, conforme discutido mais apropriadamente no tópico referente às principais críticas
em relação à mecanização agrícola.

16
Pode-se observar, no quadro acima, que a eficiência de um serviço
realizado por um homem, em relação a um mesmo serviço realizado por um
animal tracionando um implemento e também a um trator acoplado a uma
segadeira.
Se compararmos as três situações, considerando a utilização por este
homem de um equipamento que lhe permita um melhor rendimento, dentre os
dois equipamentos comparados (uma foice e um alfanje manual), veremos que o
rendimento do serviço, no que se refere à área segada, é inferior cerca de 16
vezes ao mesmo serviço realizado pelo animal e cerca de 32 vezes inferior ao
rendimento obtido pelo trator acoplado à segadeira. Já no que concerne à
quantidade de volumoso disponível à alimentação das vacas, esses valores são
maiores, onde o trabalho realizado pelo homem com uma ferramenta simples
produziu forragem suficiente para alimentar apenas 2 vacas, enquanto no mesmo
período de tempo, o conjunto trator x segadeira obteve forragem suficiente para
alimentar 80 vacas. Graficamente, de acordo com o quadro anterior teremos
expressa a seguinte situação:

Gráfico 1. Rendimento médio comparativo entre o trabalho humano, o trabalho utilizando a tração
animal e o trabalho mecanizado (em número de vezes, o trabalho realizado por um homem utilizando
apenas o esforço próprio e uma ferramenta simples e os demais tratamentos usando segadeiras – tração
animal e mecânica).

Rendimento relativo
do conjunto
80 80
tratorizado em
relação à quantidade 70
final de forragem
60
Trabalho
50 Humano
Rendimento 40
relativo do conjunto 40
tratorizado em 31,7 Tração
30 Animal
relação à Área de
pasto cortado
15,7 20
Trabalho
10 mecanizado
2
1
0

São necessários, portanto, para fazer o mesmo serviço realizado pelo


conjunto trator x segadeira, utilizando o alfanje manual, até 80 homens. Vê-se
então que, a quantidade de trabalho realizado pelas máquinas agrícolas é

17
superior, em muito, ao trabalho feito utilizando-se apenas a mão de obra
humana.
Estimava-se nas décadas 60/70 do século passado, uma relação de
oferta/demanda para o futuro, de proteínas (animal/vegetal) e fibras, tendo a
demanda maior que a oferta. Nesse mesmo período, apregoou-se a chamada
revolução verde 5, com base no consumo por parte da agricultura de quantidades
maiores de insumos6, como uma resposta a então suposta e inevitável crise de
alimentos7.
Segundo alguns autores, poderia haver um colapso na agricultura, em
função de não se obter uma produção que satisfizesse a demanda por alimentos.
Essa teoria foi derrubada, em previsões para um futuro próximo.
Existem algumas controvérsias na literatura acerca desse fato, mas o que
todos concordam é que, atualmente, há alimentos suficientes para todos os povos
do mundo; o que não existe é uma distribuição desses alimentos, criteriosamente
e de forma igualitária, o que evidencia a força dos grandes blocos econômicos,
das grandes empresas de capitais internacionais (ou transnacionais, como
atualmente denominam-se) e principalmente os países ricos, com vistas ao
protecionismo de suas economias, em detrimento da fome e miséria de muitos.

OBJETIVOS DA MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:

Os objetivos primários da mecanização no campo são, segundo BARGER et


alii (1966):

2. Aumentar a produtividade do agricultor;


3. Modificar o aspecto do trabalho agrário, tornando-o menos árduo e mais atraente.
4. Permitir a execução do trabalho agrícola, de uma forma mais rápida, sem,
entretanto, comprometer a qualidade dos produtos obtidos e, sobretudo, melhorar
a qualidade de vida do agricultor.

5 Na verdade, ao descrevermos os passos iniciais da mecanização na agricultura (conforme rapidamente exposto no subitem
“A mecanização na agricultura”) veremos que a contextualização da chamada revolução verde não poderia ser dada
UNICAMENTE, como é feito por diversos autores à década de 70 do século passado, mas sim, desde as mudanças mais
radicais de posse de terra na Europa (os enclosures), no período aproximado de 1700 – 1750 às mudanças no modo de
produção na agricultura, através do aperfeiçoamento dos implementos e da popularização do uso do trator, no período pós-
guerra, e não somente após o período da produção e difusão, em larga escala dos agrotóxicos e diversos insumos da indústria
química e petrolífera em meados do século XX.
6 Leia-se nas entrelinhas como “insumos” toda sorte de agrotóxicos, fertilizantes, sementes, novas tecnologias e

equipamentos.
7SILVEIRA (1989), afirma que, somente a utilização criteriosa de insumos, máquinas agrícolas, fertilizantes e sementes de
boa qualidade é que poderá suprir a imperiosa necessidade de produção de alimentos.

18
A mecanização e a agricultura moderna
O setor agropecuário no Brasil vem sendo o responsável desde as últimas
décadas do século passado, pelo superávit na balança comercial brasileira.
Houve um incremento da produção do setor primário da economia nos últimos 15
anos de cerca de 150%! Esse setor foi o responsável pelo saldo positivo na
balança comercial da ordem de 12 bilhões de dólares, no ano de 2002, ano no
qual o volume movimentado pelas exportações brasileiras de produtos agrícolas
foi de aproximadamente 25 bilhões de dólares.
Diversos fatores contribuíram para uma situação tão favorável. As
fronteiras agrícolas expandiram-se (principalmente para os cerrados), graças ao
melhoramento genético, através da obtenção de cultivares adequados às
diferentes regiões do Brasil, o que permitiu sobremaneira o crescimento da
fronteira agrícola, principalmente de grãos, destacando-se a soja e o milho.
Um fator decisivo também foi o manejo de solo, a tecnologia da calagem
dos solos do cerrado, para correção da acidez e o desenvolvimento do sistema
de plantio direto8 colaboraram sobremaneira, no crescimento das fronteiras
agrícolas do Brasil, confirmando a propensão natural do Brasil: a de ser o maior
celeiro agrícola do mundo!
No tocante à fruticultura, o surgimento de novos perímetros irrigados,
também contribuiu na expansão das fronteiras agrícolas (Vale do São Francisco,
Vale do Açu - RN, perímetro irrigado de Minas – MG, do Mato grosso, entre
outros).
Outros aspectos não menos importantes, como a modernização dos
tratores agrícolas e dos implementos com o conseqüente aumento da frota de
máquinas agrícolas nos últimos anos, tiveram papel relevante na elevação dos
índices de produção agrícola, conforme abordado na página seguinte em que se
vê na tabela 2, o crescente aumento da frota agrícola e a subseqüente
modernização da frota brasileira.
Além disso, segundo economistas, alguns fatores econômicos foram
fundamentais para o favorecimento do agronegócio, como a abertura de novos
mercados externos (embora o protecionismo tributário de alguns países ricos,
como os EUA, prejudique o volume de exportações, principalmente de países em
desenvolvimento, como o Brasil, a China, Argentina, México, entre outros) com a
formação de blocos econômicos que começam a se consolidar, a estabilidade da
moeda brasileira, a desvalorização do dólar em relação ao euro, observada desde
o último semestre de 2003, o que torna a agricultura brasileira mais competitiva,
e por fim, os altos índices de produtividade alcançados principalmente pelos

8
O sistema de plantio direto, desenvolvido pelas instituições de pesquisas nacionais, a partir do pioneirismo de
alguns produtores rurais, permitiu a exploração mais racional dos solos tropicais, através dos benefícios aos
aspectos físicos e químicos dos mesmos.

19
sojicultores do centro-oeste, com índices superiores, inclusive, a de outros
grandes produtores agrícolas, como os norte-americanos.
Toda essa situação (frisemos mais uma vez, isto) ilustra a enorme
potencialidade brasileira em se tornar importante celeiro mundial na produção de
alimentos, não só de origem vegetal, no tocante aos grãos, como também em
atividades pecuárias; seja a avicultura, a bovinocultura de corte (exploração do
modelo de produção de carne exclusivamente em regime de pasto, ou semi-
confinado – o chamado boi verde – e do rastreamento da carne, ponto no qual o
Brasil detém já tecnologia e know-how bem avançados, superiores inclusive a
muitos países tradicionalmente produtores de carne).
A situação da mecanização agrícola

Tabela 2. Frota brasileira de tratores de roda – 1960/2001


ANO FROTA DE ÁREA CULTIVADA ÍNDICE DE MECANIZAÇÃO
TRATORES DE RODAS (1.000 ha) AGRÍCOLA
(Unidades)

1960 62.684 26.672 410

1965 76.691 31.637 413

1970 97.160 34.912 359

1975 273. 852 41.811 153

1980 480.340 47.641 99

1985 551.036 49.529 90

1990 515.815 47.666 92

1995 481.316 50.022 104

2000 450.000 53.300 118

2001 430.000 * 53.200 124


* Estimativa
FONTE: ANFAVEA (2003)
A tabela 2 mostra, conforme já dito anteriormente, que a frota brasileira de
tratores vem crescendo ao longo dos anos.
Segundo dados da ANFAVEA, o tempo de uso dos tratores vem
diminuindo. A frota brasileira está mais nova, com idade próxima aos 12 anos de
uso, idade menor do que dados ilustrados na literatura, idade a qual ultrapassava
os 15 anos (dados da década de 70). Essa renovação se deu graças à melhora
nos preços dos commodities e aos grandes volumes comercializados nas duas
últimas décadas, o que aumentou o capital disponível dos agricultores e
pecuaristas, bem como os financiamentos para aquisição de novos tratores e
implementos, ou até de tratores usados, seja através de programas oficiais ou de
iniciativas de bancos particulares, tendo estes últimos, aberto linhas de crédito

20
específicas para a aquisição de maquinário, em algumas regiões, principalmente
as de maior concentração do complexo soja-milho-algodão.
Dados referentes ao volume de capital da safra 2003/2004, refletem uma
melhora significativa em termos de capitalização do setor agropecuário. Segundo
a CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária in: GLOBO RURAL;2004) na
safra de grãos de 2003, o montante necessário como verba de custeio era de 95
bilhões de reais. Desse total, o governo liberou 32 bilhões de reais (um volume
de verbas recorde, até então). Do restante, 35 bilhões foi obtido de capital
transnacional (através das já conhecidas, compras antecipadas dos commodities
por empresas importadoras estrangeiras). Cerca de 28 bilhões de reais para
custeio foi proveniente do desembolso dos próprios agricultores, o que, sem
sombra de dúvidas reflete uma excelente capitalização do setor.
Se por um lado, a agricultura familiar é a grande mantenedora da produção
agrícola para o mercado interno, notadamente na produção e abastecimento dos
mercados nos centros urbanos e no interior do país, respondendo por mais da
metade de alguns gêneros básicos, como o feijão, com a participação maciça da
produção em pequenas áreas, por outro lado, a agricultura agroexportadora,
vem sendo, desde a última década do século passado, a mola mestra no superávit
da balança comercial e importante setor do PIB nacional. De acordo com
diversos autores, não fosse o setor agropecuário, com o crescimento pífio dos
outros setores, a economia brasileira teria sofrido um duro golpe nos últimos
anos do século XX e primeiros anos do século XXI, devido à essa estagnação dos
outros setores da economia (indústria, serviços e comércio). Segundo a CNA (in:
GLOBO RURAL, janeiro de 2004), o PIB agrícola subiu 13% em 2003, mediante
uma participação de 31,5% do agronegócio no PIB nacional.
A capitalização dos agricultores vem se refletindo na compra de
equipamentos e maquinário novo. A NEIVA, fabricante de aviões agrícolas,
previa uma venda de no máximo 28 aparelhos para o ano de 2003, ao preço de
U$ 219 mil (ou cerca de R$ 650 mil), vendeu 56 aparelhos (GLOBO RURAL,
janeiro de 2004), já na última Exposição e feira de vulto nacional do setor
agropecuário, em 2007, com o reaquecimento e nova perspectivas para o álcool,
no âmbito mundial (provocado pela pressão da comunidade científica
internacional e a mídia na busca pela substituição dos combustíveis fósseis pelos
biocombustíveis) houve uma procura considerável pelas colheitadeiras de cana9.
O quadro 2 (página seguinte) ilustra o aumento nas vendas de tratores
agrícolas, considerando, inclusive um aumento de 5% no volume de vendas de
tratores novos para 2003, o que chegará, segundo tal estimativa, a cerca de 45

9
Claro que devemos perceber que há toda uma questão mais complexa envolvendo produtividade e a própria
competitividade de cada agricultor que favorece esse desenvolvimento, contudo, há também os casos de
decréscimo produtivo com o empobrecimento de alguns agricultores, seja por prejuízos sazonais (secas, chuvas
fortes, granizo etc) ou até mesmo por um decréscimo gradual de propriedades que fazem o uso intensivo e até
irracional dos insumos e da maquinaria, pela matriz produtiva com pouca sustentabilidade ambiental.

21
000 unidades. Só no primeiro trimestre de 2003 foram vendidos pouco mais de 8
000 unidades.
Tais dados ilustram que há uma procura maior por tratores novos e,
conseqüentemente, uma renovação da frota agrícola do país. Segundo as
informações obtidas no Site do GLOBO RURAL (2003), essa renovação se dá
graças ao programa federal – o MODERFROTRA. Além disso, o aquecimento no
tocante à modernização da frota agrícola brasileira aquece também um outro
setor da economia: a indústria. Dados não oficiais de janeiro de 04 mostram um
crescimento de cerca de 5% da indústria do RS, principal pólo de produção de
máquinas agrícolas.
Entretanto, com os cortes orçamentários promovidos pela equipe
econômica do governo, para atingir a meta de 4,5% de superávit, o
MODERFROTA, bem como outros planos, sofreu cortes de verbas e um aumento
da taxa de juros que propiciou uma procura menor pelos agricultores e a
conseqüente redução de 10% do mercado de máquinas agrícolas no ano de 2003.
Apesar disso, a economia do Brasil superou as metas, com índices próximos a
6% de superávit primário em 2003.

Gráfico 2 – Vendas de máquinas agrícolas no mercado brasileiro nos últimos quatro anos. Fonte: GLOBO
RURAL (2003).

Logicamente, a aquisição de equipamentos e maquinários andam juntos


com dois pontos: a viabilidade econômica e o crédito. O crédito específico para a
aquisição de maquinário (o Moderfrota, citado anteriormente) é mais um aspecto

22
específico do crédito como um todo. De acordo com BITTENCOURT (2003,), o
crédito é o motor para o desenvolvimento do país, pois favorece a realização dos
projetos. Ainda segundo esse mesmo autor, nas populações rurais, especialmente
as de baixa renda, o crédito rural pode desempenhar um importante papel na
geração de emprego e renda, pois são inúmeros os projetos que podem ser
desenvolvidos a partir da terra e do capital social existente. De fato, esse
aspecto fica ainda mais definido na agricultura mais capitalizada, que tem uma
dinâmica mais definida e até arrojada em relação ao mercado.
Quanto ao crescimento e a expansão do agronegócio no viés ambiental e
social, principalmente no que se refere à sustentabilidade econômica – ambiental
de tais empreendimentos agropecuários, existem pesadas críticas, frisemos que
reais, do ponto de vista de impactos ambientais e déficit social, no tocante à
questão agrária, principalmente no que se refere às condições marginais a que
historicamente os agricultores familiares foram e continuam sendo submetidos.
Tais questões referem – se principalmente ao acesso à políticas públicas efetivas
e, de um ponto de vista prático, o acesso ao crédito e aos meios de produção
(leia-se: mecanização voltada para os pequenos agricultores ou agricultores
familiares).
Claro que essa porção (a maioria expressiva do ponto de vista quantitativo
dos imóveis rurais, mas quando confrontados com a área média por imóvel, vê-
se que são pequenos produtores – até 100 ha) tem sua forma de produzir e seu
mercado natural, que é fundamentalmente a produção de gêneros alimentícios
para o mercado interno, em contraposição ao agronegócio, que na sua quase
totalidade volta-se para a exportação ou ao pólo agroindustrial brasileiro.
Há um senão muito relevante no que se refere à expansão das fronteiras
agrícolas no Brasil, principalmente no que se refere ao avanço do
desflorestamento do cerrado e matas de transição (pré – Amazônia),
principalmente pelo efeito mais sério que é feito através das queimadas ilegais,
que confere ao Brasil um grande índice de desprendimento de carbono na
atmosfera, o que o incluí no somatório dos países mais poluidores, quando se
avalia a questão do aquecimento global e efeito estufa.
De forma objetiva, trataremos destas questões no tópico a seguir, mesmo
que possamos ser negligentes ou não esgotarmos todos os aspectos levantados
nos dois últimos parágrafos, já que se remete a uma questão de ordem mais
complexa: a questão agrária; objeto de discussões intermináveis entre os gurus
da economia, sociologia e / ou até de linhas doutrinárias de esquerda ou de
direita; nos atrevemos a pelo menos esboçar alguns aspectos que julgamos
pertinentes e que não seríamos mercadores cegos e surdos ao ponto de
negligenciar algumas críticas à mecanização. Pelo contrário, julgamos até
necessária essa crítica como uma forma de nos precavermos das unanimidades
perniciosas e buscarmos trazer debates que podem sobremaneira enriquecer e

23
auxiliar na busca por uma política pública, ou mais efetivamente, práticas de
campo que visem contornar ou agir sobre tais problemas.

• Principais críticas à mecanização agrícola:

Existem críticas à mecanização agrícola, principalmente no que se refere


às questões de caráter ambiental. Tal posicionamento lastreia-se na premissa de
que o emprego de maquinário agrícola corresponde às grandes áreas agrícolas,
de monocultivos, de uso indiscriminado de agrotóxicos, de indiferença à natureza
biológica das produções e das relações ecológicas pré-estabelecidas, hoje
sustentadas pela agricultura orgânica, biodinâmica e outras demais correntes
conservacionistas que deixaram de ser consideradas como ciência – militância e
passaram a ter um enfoque muito significativo na prática, inclusive sendo
aproveitado por uma quantidade razoável de produtores como estratégia de
mercado ou nicho de mercado (produtos orgânicos, boi verde turismo rural,
produtos agroindustrializados com apelo ecológico etc), esse enfoque tem ganho
espaço na mídia principalmente no que se refere às conseqüências do
desmatamento no quadro ambiental (efeito estufa, principalmente).
Entretanto, há, sobretudo, para sermos mais específicos - a questão do
uso incoerente da mecanização, gerando principalmente problemas de estrutura
de solos, através da compactação de camadas subsuperficiais (o chamado “pé-
de-grade” e/ou o “pé – de – arado”), interferindo no desenvolvimento do sistema
radicular das culturas e na infiltração d’água no solo (CASTRO et alii,1986), em
casos extremos, erosão de moderada a forte e acelereção de processos erosivos
significativos, como as voçorocas em micro regiões do sul do país que
avançaram sobre áreas antes produtivas, hoje praticamente estéries.
Há ainda, os que afirmam que a empresa agrícola altamente mecanizada é
excludente, do ponto de vista social no tocante à oferta de emprego no campo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
Brasil é o 5º país mais populoso do mundo, com uma população de 169,9 milhões,
em 2000 e 177,9 milhões em 2003 (GAZETA MERCANTIL, 2003). Entretanto,
além do gravíssimo quadro de má distribuição de renda (o Brasil é, portanto, um
país de contrastes) há também o problema da má distribuição demográfica, pois
segundo dados do próprio instituto, 81,25% dos habitantes concentram-se na
zona urbana, sendo desse percentual, uma grande maioria morando nos grandes
centros, ocupando apenas 5% do território nacional.
Gráfico 3 – Populações rural e urbana do Brasil. Fonte: GAZETA MERCANTIL (2003).

24
Quantos somos
População
urbana(%)

18,75 81,25
População
rural(%)

Esse aspecto remete-nos ao questionamento de diversos fatores sócio-


econômicos, como o modelo desenvolvimentista exercido por décadas, mas sem
planejamento. Além disso, um fenômeno pouco percebido, mas incômodo; que
não remete só aos nordestinos, menos favorecidos nos aspectos de fixação à
terra, devido aos fatores hostis do próprio ambiente (seca, enchente) e que ainda
é uma realidade: o êxodo rural, já discutido, inclusive por Caio Prado Júnior e
outros pensadores. Constituí uma problemática que reflete causas mais
profundas que uma mera observação superficial possa vislumbrar: remete-se à
questão agrária, a falta de políticas de créditos mais fortalecedoras da
agricultura familiar, já que o agronegócio historicamente foi mantido através da
política agrícola e seus instrumentos (ações reguladoras de preço, crédito,
incentivos fiscais, etc) e ainda se mantém dessa forma.
MACIEL (2000) afirma que, nos países ricos, devido à boa estrutura
econômica e social, não há uma saída tão significativa de mão de obra do campo.
A mão -de – obra que migra do campo à cidade, em sua maioria, é absorvida pela
zona urbana; transferindo-a para outros setores da economia, ou ainda, através
de programas de subsidio às novas ou tradicionais atividades agrícolas, com
vistas à fixação das famílias no campo, uma vez que o custo social e econômico
de se manter uma família rural é bem menor do que mantê-la na cidade. Vê-se
que o crédito pode ser uma política pública interessante, como fecundador da
produção no campo e fixação das famílias rurais, discutidos em nossa tese de
especialização:
“O atraso na estrutura agrária e até mesmo na forma de produzir, fortalecido pelo baixo
nível tecnológico empregado nas propriedades diferiu e em muito do perfil das farms
americanas, que, desde fins do séc. XIX já contavam com elementos que facilitavam a produção,
não só no âmbito estritamente produtivo, como também elementos facilitadores dos projetos,
como o acesso ao crédito rural, essa política agrícola parcial atrasou sobremaneira o acesso ao
crédito pela agricultura familiar”
(Souza Neto, 2007,)

25
Esses aspectos negativos de exclusão de uma maior parte da mão-de-
obra leva-nos a certeza de que toda tecnologia, toda novidade ou modelo que se
estabelece, surge em detrimento de outro já existente, e que as alterações
provocadas por toda e qualquer atividade humana, mesmo de cunho tão nobre e
essencial como é a agricultura, merece ser feita com cautela, evitando-se os
extremismos que comprometem o bom andamento de qualquer atividade
produtiva.
Têm-se então uma faca de dois gumes: de um lado uma produção maior,
com exclusão de parte da mão-de-obra, de outro uma “desaceleração” da
produção, ao se optar pela redução do emprego das máquinas na agricultura.
Esse paradigma, portanto, não é vivido somente no campo, mas também em
todos os setores produtivos. O homem ainda não se adequou à velocidade das
mudanças que ele próprio vem criando e restam-lhe ainda muitas perguntas sem
respostas imediatas.
Abaixo transcrevemos um texto, do site da Rural News (junho de 2001)
que fala da mecanização agrícola:
“O campo nunca mais foi o mesmo desde que o homem começou a inventar máquinas que
o auxiliassem no trabalho com a terra. Isto é um fato de tamanha importância para a
humanidade quanto as grandes descobertas, invenções e revoluções que ocorreram em qualquer
época do desenvolvimento humano. Podemos comparar à revolução industrial, à invenção do
computador ou às grandes navegações que desbravaram o mundo a partir do século XV.
Não é nem um pouco exagerado de nossa parte tais afirmações, pois a mecanização do
campo é uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento humano. Sem ela, o próprio
crescimento da população do planeta estaria em risco, bem como a qualidade de vida de todos
nós.”
(...)
“Mas o que faz, exatamente, a mecanização? Ela ajuda o produtor agrícola a preparar o
solo para a plantação, fazer a manutenção das lavouras, transforma o processo de plantio e
colheita em operações rápidas e eficientes, sem falar em uma dezena de outras aplicações.
Arados, colheitadeiras e tratores, entre outros, são as grandes ferramentas de trabalho da
agricultura moderna. Aliás, o trator é o símbolo da mecanização na agricultura. Mais que um
símbolo, poderíamos dizer, pois é o principal ponto de referência para os índices de
mecanização do campo. O que isso significa? Um país ou região é considerada mais ou menos
mecanizada, de acordo com o número de tratores em funcionamento; a qualidade da
mecanização é medida pela idade da frota de tratores, ou seja, se grande parte da frota de
tratores de uma determinada região ou país é muito antiga, pode-se dizer que os investimentos
na agricultura estão em baixa ou são insuficientes.
A fabricação e o comércio de maquinário agrícola é um mercado milionário, controlado
no Brasil e em todo o mundo por grandes empresas que atuam em dezenas de países e são as
responsáveis pelo desenvolvimento das novas tecnologias que agilizam e melhoram a qualidade
da produção agrícola em todo o planeta.
Com o crescimento constante da população mundial, seria impossível a produção de
alimentos numa escala crescente, da mesma ordem que o crescimento da população. Há

26
algumas décadas, se difundia a idéia de que por volta do ano 2000 a produção de alimentos não
teria acompanhado ao crescimento populacional e que o mundo estaria mergulhado numa
grande “fome”. Isso só não ocorreu, principalmente, graças à melhoria do aproveitamento das
plantações através da mecanização e da melhoria das técnicas de plantio. É claro que todos
sabem que várias regiões do mundo sofrem com a fome, mas isso não se deve a problemas com a
produção de alimentos e sim a uma péssima divisão da riqueza mundial que faz com alguns
países tenham superproduções agrícolas enquanto outros não tenham como plantar e produzir
alimentos suficientes para as suas populações”.

Se observarmos um ou outro deslize nesse trecho, deverá ser por uma


falta de profundidade, já que, como dissemos, a lógica da agricultura familiar é
oposta à do agronegócio e ambos, ao nosso ver, são necessários, assim como a
mecanização é sem sombra de dúvida, uma ferramenta importante, sendo mais
entranhada neste último.
Existem questões pois, que não são exclusivas ou pertinentes unicamente
à mecanização agrícola, mas sim de uma conjuntura, de uma má ou até mesmo da
falta de uma política agrícola em que, a questão social do uso das máquinas é um,
dentre muitos fatores que essa política não resolve 10.
É lógico que o trator per si não é o fator que agrava e ofende a agricultura
familiar quando se discute mecanização, seja no ponto de vista marxista ou
weberiano, não importando essa análise partidária; o ponto a discutir não é a
questão simplista de ter ou não ter tratores no campo...Isso nos parece ser já
uma questão morta; o que se deve discutir é o acesso dos pequenos agricultores
à essas tecnologias, ou tecnologias que se insira a partir delas e não sobre
essas classes. Assim o uso coletivo e o financiamento associativo de máquinas,
das movidas à tração animal às colheitadeiras high – tech nos parece que
deveria obedecer uma lógica construtivista da mecanização para os camponeses,
a partir dos camponeses.
Entretanto, aqui não nos caberá dissertar sobre o cunho social que a
implantação de novas tecnologias, como a mecanização acarretou, acarreta ou
acarretará, já que este assunto mereceria um tratado econômico - sociológico, o
que aqui não é a nossa intenção, nem tampouco fôssemos conduzir semelhante
discussão de uma forma tão apropriada quanto o fazem os sociólogos,
historiadores, militantes e economistas, esta discussão superficial serve apenas
para que se tenha um conhecimento mínimo de questões como política agrícola,

10 Caio Prado Júnior (1979) já afirmava que as diferenças sociais na agricultura brasileira, a distribuição e concentração da
propriedade agrária impedem as mudanças necessárias à melhoria dos aspectos sociais do setor rural do Brasil.
Esse aspecto de valorização da propriedade rural de mão – de – obra familiar, defendido por Caio Prado, tem seu melhor
exemplo na agricultura dos EUA, onde as regiões que, historicamente e politicamente adotaram o modelo patronal e
acumulador de terras, tem piores índices sociais, do que nas regiões que adotaram o modelo de exploração da propriedade
através da mão – de – obra familiar.
Ressaltamos porém que acreditamos ser dois setores que devem se fortalecer, cada qual ao seu modo, mas que, já que
historicamente o agronegócio sempre foi valorizado, que as políticas públicas, como o PRONAF, por exemplo, estejam mais
próximos com a agricultura familiar

27
inclusão tecnológica, distribuição fundiária, entre outros aspectos que requerem
uma leitura muito mais aprofundada das mesmas, o que não é, infelizmente o eixo
deste livro.
Quanto aos aspectos ambientais, no que concerne ao uso intensivo de
maquinário agrícola, junto com os pesticidas por exemplo, em fazendas de
produção orgânica, como o café orgânico, o maquinário não foi abolido; seu uso
foi racionalizado com algumas adaptações. Segundo MACIEL (2000), em fazendas
citrícolas, vem ocorrendo inclusive o contrário, para propriedades que buscam a
produção orgânica, velhos equipamentos, como os distribuidores de caldas, vêm
sendo reutilizados, substituindo os pulverizadores e atomizadores. Tais
equipamentos estão sendo utilizados para a distribuição de caldas, como a calda
sulfocálcica, no combate de pragas e doenças da cultura, o que é sensivelmente
mais seguro aos operadores e ao meio ambiente.
Contudo, esse mesmo autor afirma que para o pequeno produtor rural, a
aquisição de maquinário agrícola é desvantajosa, pois é um investimento muito
alto, sendo preferível que o pequeno produtor alugue as máquinas para o preparo
das suas áreas agrícolas (o que destoa portanto da nossa discussão de aquisição
no sentido estrito, mas que se for tomado no sentido coletivista, está
contemplada, já que os custos passariam a ser redistribuídos entre eventuais
associados).
MACIEL (op. cit), justifica ainda essa atitude no fato de que, a depreciação
do maquinário agrícola torna inviável sua aquisição para a realidade dos
minifúndios, além do retorno econômico não ser satisfatório.
Uma característica peculiar da agricultura familiar é que nessas pequenas
propriedades as máquinas não substituem totalmente o homem. Não há uma
dependência delas para que se possa produzir, como acontece nas grandes
propriedades rurais.
Quanto ao solo, não há dúvidas que existem impactos negativos, mas que
são por vezes plausíveis de serem evitados, ou minimizados, pois quase sempre
são frutos do desconhecimento das relações Cultivos x Solos, da falta de um
planejamento ambiental, ou ainda, muitas vezes a própria situação do agricultor o
obriga a revolver o solo seco. Esses fatores que podem contribuir na diminuição
dos impactos edáficos seriam o calendário de plantio, ou a disponibilidade de
maquinário (um problema para quem depende de maquinário alugado ou não
dispõe de maquinário suficiente para o preparo do solo na época mais adequada).
Um número excessivo de passagens, operações de revolvimento do solo,
como as gradagens ou arações feitas abaixo ou acima do ponto de aração (Ponto
de umidade ideal no solo para as atividades de revolvimento e preparo do solo)
contribui para, após cultivos sucessivos ao longo dos anos, a formação de

28
camadas subsuperficiais de solo adensadas (o chamado “pé –de – arado” e o “pé
– de – grade”)11.
A partir das últimas décadas do século passado, começou-se a pensar
mais a respeito dos danos sofridos pelos solos frente ao uso do maquinário
agrícola, geralmente feito até de uma forma despreocupada com os possíveis
efeitos sob e sobre o solo.
Na década de 60, iniciou-se nos EUA, “correntes” de agricultores que
realizavam o chamado preparo mínimo do solo ou das sementeiras (ALDRICH &
LENG, 1974), com vistas à redução dos danos estruturais aos solos agrícolas.
Sob essa problemática, no Brasil, em algumas regiões não somente
adotaram-se sistemas de preparo mínimo do solo, como também desenvolveram
– se e se implantaram sistemas de manejo de solo que sequer o revolvem como
acontece no sistema convencional: é o chamado sistema de plantio direto ou
plantio na palha (SPD). Nesse sistema, o manejo dos resíduos culturais mantém
camadas de cobertura vegetal para evitar a erosão.
A adubação verde, na qual incorporam-se adubos verdes ao solo
(geralmente leguminosas), a rotação de culturas, o consórcio de culturas, a
observação do ponto ideal de aração (umidade do solo), o uso alternado de
implementos e de diferentes profundidades de corte (EMBRAPA, 1996), e por
fim medidas drásticas como a descompactação do solo (escarificação e
subsolagem), são procedimentos utilizados para que sejam reduzidos os impactos
negativos do uso da mecanização aos solos agrícolas.
É inegável, porém, que desde o advento do uso dos tratores nas
propriedades agrícolas, os índices de produção tornaram-se gigantescos.
Produz-se muito mais, por unidade de área do que antes da introdução do
maquinário no campo (aspecto defendido pela escola econômica marginalista).
Produtos agrícolas oriundos de áreas mecanizadas, portanto, não deixam a
desejar, em termos de qualidade, nem em quantidade produzida, sobretudo, as
máquinas, quando trabalham com culturas rentáveis e que, hoje em dia,
necessitam do uso intensivo da mecanização, como as lavouras de soja, por
exemplo, reduzem drasticamente os custos de produção, em todas as fases da
cultura, e, como dizem no meio rural, acabam “se pagando”.

11Veremos no capítulo referente ao manejo conservacionista do solo, as características e propriedades dos mesmos, bem
como as diversas medidas, com fins à proteção ou redução dos danos causados pelo emprego do maquinário.

29
1.2. Conhecendo o trator:

É importante que se conheça o trator. É necessário que se tenha


conhecimento dos princípios de funcionamento dos seus órgãos e sistemas,
dessa forma, pode-se remeter mais rapidamente aos diagnósticos primários de
mau funcionamento de algum órgão ou que se tome às devidas precauções ao
operar o trator, de forma que ele venha render ao máximo no seu serviço. A
seguir descreveremos o trator, seus principais órgãos, sistemas e alguns
cuidados (manutenção). Veremos mais tarde alguns desses aspectos.

1.2.1. Princípios básicos de funcionamento de um trator agrícola:

Os primeiros tratores agrícolas eram movidos por motores a vapor,


(motores de combustão externa), no entanto, após a II guerra mundial, passou-se
a utilizar somente motores de combustão interna. A partir de meados do século
XX, os motores do ciclo Diesel passam a ser os mais usados.12

Imagem 2. Início do séc. XX -Trator movido a vapor (motor de 40 hp) tracionando 65 toneladas.

Os motores à explosão interna passaram a substituir os motores a vapor a


partir de 1870, com os motores de ciclo Otto. Esses tinham como características
serem de menor tamanho, mais leves e com o conveniente de precisar de um
combustível que não ocupava tanto espaço como a lenha ou o carvão. No início
do séc.XX, em 1911, o francês Rudolph Diesel exibiu em Paris um motor que
tinha a proposta inicial de ser movido a qualquer espécie de óleo13, motor esse

12 A grande maioria dos Tratores agrícolas utiliza hoje motores do ciclo DIESEL, embora ainda tenhamos tratores que
utilizem motores de combustão interna do tipo OTTO, especialmente os tratores e máquinas industriais (rebocadores,
empilhadeiras) movidos a gás natural (butano) e gasolina. O Brasil já caminha para a utilização de combustíveis alternativos,
não fósseis, os quais são mais baratos e menos poluentes, como o biodiesel, o qual na Europa é comumente utilizado.
13
Um estudo atual (2003) da UFMG (não publicado) testa misturas do óleo Diesel com óleos vegetais
(biodiesel), como o óleo de um fruto típico do nordeste, também encontrado em MG: o pequi. O estudo aponta
para resultados animadores, como a redução dos níveis de emissão de poluentes e uma economia de 20% do
combustível. Também outro estudo recente, realizado pela CERBIO (Centro Brasileiro de referência em

30
que passou a levar seu nome. Dizia Diesel que : “o motor diesel pode ser
alimentado com óleo vegetal e ajudará consideravelmente, o desenvolvimento da
agricultura nos países que o usarão”. A partir do período pós-segunda guerra,
foram feitas algumas pequenas modificações pela indústria a qual adotou como
combustível o óleo diesel, tendo este “tipo de motor diesel” difundido-se pelo
mundo inteiro, juntamente com a “popularização” do trator agrícola.
Como se vê, os motores diesel desde a sua concepção, estavam aptos a
utilizarem óleos vegetais, hoje intitulados de Biodiesel e nos quais no Brasil,
começa –se a se reinvistir, principalmente do plantio de oleaginosas, com
destaque para a mamona, particularmente no nordeste, região a qual já foi a
maior produtora de mamona, e que o próprio Brasil já se destacou como o maior
produtor mundial, tendo perdido o posto para a Índia. Hoje o Brasil só produz
cerca de 85 mil toneladas, contra 500 mil da Índia (a produção nacional de
mamona já chegou a 393mil toneladas, das quais 300 mil provinham somente da
Bahia).
Um trator agrícola, portanto, apresenta diversos componentes, que em
conjunto formam os sistemas que permitem à essa máquina realizar as mais
variadas (e por que não dizermos, árduas) tarefas no campo, de forma
satisfatória, atendendo às mais diversas exigências de seu projeto. Para que
possamos entender como funciona um trator e assim, cuidar para que essa tão
importante e cara ferramenta seja aproveitada ao máximo. Veremos por partes
como se compõem seus sistemas e órgãos, para ao final, termos uma visão geral
de como funciona e de como devemos cuidar das operações e manutenções do
trator.

1. 2. 2. Definição de motor:
O motor é um conjunto de peças mecânicas, mecanismos (e sistemas
mecânicos), além de aparelhos elétricos que funcionando harmonicamente e
conjuntamente, produzem a força necessária para o deslocamento do trator e o
acionamento de seus sistemas, a chamada força motriz.
Os motores dos tratores agrícolas dividem-se em três partes, ou áreas,
denominadas cabeçote, bloco e o carter.
O cabeçote é a parte superior do motor e serve para fechar o bloco dos
cilindros. Nele se encontram as câmaras de explosão, com a base para as velas
(Motores de ciclo OTTO), o balancim e os conjuntos de válvulas com os tuchos.
O bloco do motor é a parte intermediária, ou o “miolo”, por assim dizer;
aloja em seu interior os cilindros, os pistões, as bielas e a árvore de manivelas.

Biocombustíveis) testou um automóvel Golf (da Volkswagen) de motor 1.8, alimentado com biodiesel e o qual
obteve desempenho semelhante aos modelos com motores de ciclo Otto, além de excelente faixa de consumo, a
qual variou na cidade de 11 a 12 km\litro e 15 a 16 km\litro em rodovia.

31
O carter, localizado na parte inferior do motor, funciona como um
reservatório do óleo lubrificante, como dispersante de calor excessivo do
lubrificante, além de vedar a parte inferior do motor.
O eixo comando de válvulas e os tuchos comandam as válvulas,
comumente em número de 2 para cada cilindro, através do balancim. Comandam
também as bombas, de gasolina, o distribuidor (esses últimos só em motores de
ciclo Otto).
Os motores, usando-se termos análogos à dissecação, possuem na sua
“anatomia” e “organografia” órgãos internos e externos. Relacionamos a seguir
os principais componentes ou órgãos dos motores (relacionamos os motores de
ciclo Otto ainda com carburador só para se entender o princípio de seu
funcionamento):

Internos: volante, eixo de manivelas, pistões, bielas, engrenagens de


distribuição motora, eixo e comando de válvulas, tuchos, válvulas e bomba de
óleo.

Externos: motor de partida, dínamo, bobina, distribuidor, regulador de


voltagem, carburador, bomba de gasolina, velas e tubos de admissão (só motores
Otto), ou para os motores diesel teremos a bomba injetora, tubos de distribuição
de combustível da bomba injetora, bomba alimentadora, sedimentador. Radiador,
motor de partida, ventilador e acumulador são comuns a ambos os motores.
O bloco dos cilindros compreende a maior parte do motor e aloja os órgãos
internos e os cilindros. Dentro de cada cilindro existe o pistão (êmbolo) que é
uma peça de ferro fundido ou alumínio que comprime ou succiona a massa
gasosa no cilindro, de acordo com o seu movimento ou momento.
O motor de partida imprime ao motor a força inicial que o gira, iniciando o
seu funcionamento. Para os motores diesel, o esforço realizado pelo motor de
partida é muito maior em relação ao esforço realizado em motores de ciclo Otto
semelhantes ou de mesma potência, isso porque nos motores Otto, as taxas de
compressão não são tão elevadas quanto nos motores diesel, pois para o segundo
momento motor, a explosão é causada pela fagulha produzida pelo sistema
elétrico através das velas, o que não ocorre nos de ciclo diesel, nos quais tem
que haver uma compressão fortíssima para causar o aquecimento da massa de ar
e sua subseqüente expansão no interior do cilindro pela adição de combustível
pulverizado através dos bicos injetores, gerando o trabalho motor e a reação em
cadeia por assim dizer, nos outros cilindros.
A força transmitida, inicialmente pelo motor de partida e
subseqüentemente pelo próprio funcionamento do motor é transmitida em
seguida ao platô, na caixa de embreagem e a partir daí, ao sistema de
transmissões.

32
• Os tempos dos motores à explosão
Os tempos do motor (diga-se de um motor 4 tempos) são: admissão,
compressão, explosão e o escape ou descarga.

Figura 1 – Esquema demonstrativo de funcionamento dos tempos do motor DIESEL: a


figura mostra os 4 tempos motores: a ADMISSÃO, COMPRESSÃO, EXPLOSÃO e
ESCAPE. Extraído de:CAMARGO (2004).

Admissão ou aspiração:

O primeiro tempo motor inicia-se quando a válvula de admissão abre-se


admitindo o ar para o interior do cilindro, no caso dos motores diesel, ou da
mistura ar + combustível, para os motores OTTO, mistura esta que foi
previamente realizada pelo carburador ou pelo sistema de injeção de
combustível. Esse volume de gases é aspirado para o interior do cilindro devido
ao vácuo formado pelo deslocamento do pistão, para baixo, em direção ao
chamado ponto morto inferior14. Esse deslocamento é simultâneo à abertura da
válvula de admissão, a qual é fechada quando o pistão atinge o ponto morto
inferior, impedindo que a mistura ou a massa de ar saia do interior do cilindro.
Como estão ligados à árvore de manivelas, os pistões a cada movimento
que realizam, movimentam a árvore de manivelas, a qual transmite o trabalho do
motor até o volante e desse último, para o sistema de transmissões e
engrenagens. Assim como todos os outros tempos realizados na admissão, o
cilindro irá girar a árvore de manivelas 180° (meia volta).
Compressão

14
Os chamados PONTOS MORTOS, que são o ponto morto inferior e superior, relacionam-se aos pontos
máximos de descida do pistão do pistão no interior do cilindro e de subida, respectivamente.

33
O segundo momento ou tempo do motor é a compressão, onde há
inicialmente uma compressão da mistura ar + combustível (somente para
motores do ciclo OTTO), ou somente da massa de ar, que se aquece fortemente
(motores do ciclo Diesel)15. Nos motores diesel, há uma alta taxa de
compressão16, pois para o próximo momento ou tempo, haverá a queima do
combustível a qual é feita devido ao superaquecimento produzido pela
compressão fortíssima da massa de ar nos motores diesel. A taxa de compressão
teórica é a relação entre o volume do cilindro no início da compressão e o
volume no final da compressão. De acordo com (CAMARGO, 2004) essa relação
em alguns motores diesel pode chegar à 22:1, dependendo do projeto do motor.
Dessa forma, os motores diesel são construídos com mais robusteza que
os outros de ciclo Otto, devido às grandes pressões que esses primeiros irão
suportar.

Explosão

Nos motores de ciclo OTTO, a mistura comprimida inicialmente sofre


ignição, através da formação de uma centelha elétrica produzida nas velas,
alojadas em uma antecâmara no cilindro. Essa mistura explodindo empurra o
pistão, que desce pelo cilindro. Esse percurso do pistão até sua posição final
dentro do cilindro chama-se trabalho motor. O pistão empurra a árvore de
manivelas mais meia volta (180°).
Nos motores de ciclo DIESEL, não há centelha elétrica. O movimento do
pistão, sendo forçado para baixo no cilindro ocorre porque houve anteriormente
uma compressão fortíssima da massa de ar aspirada para o interior do cilindro, o
que faz com que a massa gasosa se aqueça. Esse ar aquecido e comprimido é
pulverizado com combustível (óleo Diesel) e há a explosão, que resulta também
no chamado trabalho motor.
Escape ou descarga

O último tempo é a descarga ou o escape. Ocorre quando o pistão sobe do


ponto morto inferior do cilindro empurrando a massa de gases resultantes da
queima e ao atingir o ponto morto superior, as válvulas de escape se abrem,
permitindo que a massa de gases saia para o sistema de escape dos gases. Com
o momento do escape, a válvula de manivelas dá mais meia volta. Ao todo, a

15 Denomina-se de cilindrada, a quantidade ou volume de gases admitidos pelo pistão durante o seu curso até o seu nível
mínimo de descida, durante a admissão.

16
Essa compressão, portanto, anterior à explosão, exige que, quando dada a partida num motor diesel, o motor de
partida para girar a engrenagem do volante, realize um esforço maior do que o esforço que realiza o motor de
partida de um motor do ciclo Otto em um motor de mesma potência.

34
cada ciclo (admissão-compressão-explosão-escape), a árvore de manivelas dá
duas voltas (720°).

• Função de alguns órgãos dos motores de Ciclo OTTO:

Nos motores de Ciclo OTTO, o Carburador é o órgão responsável pela


mistura do ar + combustível, que irá participar no primeiro tempo do motor, no
interior do cilindro. Essa peça, contudo, encontra-se em desuso, tendo sido
substituída pelo sistema de injeção eletrônica, que dispensa uma mistura prévia
em um carburador, uma vez que a quantidade de combustível necessária é
injetada diretamente, evitando uma mistura rica ou pobre, como acontecia
freqüentemente nos carburadores. Essa transformação foi decisiva em todos os
fabricantes a partir da década de 90, do século passado, com os motores
fabricados a partir de então, somente com injeção direta de combustível.
O Alternador produz uma corrente elétrica alternada, para as velas de
ignição. Essa corrente elétrica é recebida do gerador e/ou do acumulador
(bateria, no caso da partida do motor), para produção da centelha elétrica nas
velas de ignição.
As Velas de ignição estão alojadas no bloco do motor, nas câmaras de
explosão dos cilindros. Produzem uma centelha, através de descarga elétrica
recebida do sistema elétrico. Essa centelha irá queimar a mistura ar +
combustível e gerar uma explosão, movimentando o pistão dentro do cilindro.

• Função de alguns órgãos dos motores de Ciclo Diesel;


Para os motores Diesel, por ser de um processo diferente de queima do
combustível (através do pré – aquecimento do ar), não será necessária a fagulha
e, portanto, as peças necessárias à produção da mesma, como velas e alternador;
são motores mais robustos e que teremos as seguintes peças específicas e
órgãos principais:

Bomba e bicos injetores: A bomba injetora é responsável pelo


bombeamento do combustível até os bicos injetores. Ela deverá sempre estar
bem regulada, pois a pressão dada ao combustível para que os bicos injetores
possam pulverizá-lo adequadamente no interior dos cilindros deve ser a mais
correta possível, caso contrário, haverá problemas de funcionamento,
desempenho e até de vida útil do motor.

35
Como dito anteriormente, os pistões estão inseridos dentro dos cilindros
como se cada cilindro fosse uma seringa e cada pistão fosse o êmbolo de sua
respectiva seringa. Os pistões, portanto, realizam movimentos ascendentes e
descendentes que conforme sua situação e posição no seu curso, caracterizam os
chamados tempos do motor. Nos cilindros, na parte superior deles, existem
válvulas denominadas de admissão e de escape, conforme a posição do pistão,
essas válvulas se fecham ou se abrem, permitindo ou não, a entrada ou a saída
da massa de gases do cilindro. O movimento dos pistões é transmitido ao volante
do motor (engrenagem que liga o motor ao sistema de embreagens) porque os
mesmos encontram-se fixados por um eixo “tortuoso” que aproveita todos os
diferentes momentos dos pistões nos cilindros, transformando em movimento,
que o faz girar no próprio eixo, transmitindo a potência recebida ao volante, ao
qual está ligado através da cremalheira.

A força ou potência do motor, verificada na tomada de força, ou barra de


tração, é denominada de potência nominal. Durante a transmissão do movimento
do volante até os pneus ocorrem perdas, tanto através dos mecanismos internos,
atritos, deslizamentos, como da dissipação de energia (transformação da energia
cinética em calor. Um motor de 200 C.V. produz cerca de 125 000 Kcal/h, o qual
é dissipado, como calor excessivo pelo sistema de arrefecimento dos motores)
(FAIRES, 1966), esse rendimento fica abaixo de 80%. (cerca de 65%)
Rendimentos maiores só são conseguidos em motores elétricos (em torno de
90%).
Outra grande parte das perdas devem-se ao deslizamento dos pneus do
trator com o solo. Dependendo dos solos, segundo SILVEIRA (1989), (bem como
da lastração) essas perdas ficam ao redor de 60%. Assim, um trator com uma
potência nominal de 65 hp só teria disponível cerca de 36 hp na barra de tração.
Um nível mais tolerável de perdas seria em torno de 30%.
Existem diferenças marcantes entre um trator e um automóvel, isso é
evidente, mas quanto ao motor, os motores dos tratores, quase unanimemente,
motores de ciclo diesel, como dito anteriormente (vide pág. 31) são de uma
construção mais robusta, devido às altas taxas de compressão internas, são
também projetados para obterem alto torque mesmo operando em baixa rotação.

Além do mais, as relações de transmissão de potência dadas pelo sistema


de embreagens e transmissão, conforme será visto no capítulo pertinente a este
sistema, formam uma gama de velocidades de trabalho e opções de força de
tração que também diferenciam os projetos dos motores agrícolas dos
automotivos.

36
MÁRQUEZ (2003), transcreveu um estudo que comparou os motores de
um trator New Holland (modelo 8670) e de um automóvel Fiat (Stilo Abarth),
ambos com a mesma faixa de potência (125 Kw ou 170 c.v. - No capítulo
Anexos, fornecemos algumas tabelas de conversão de unidades de medidas,
inclusive os valores de quilowatts e cavalo - vapor), no qual o autor obteve as
seguintes curvas características:

Gráfico 3 – Curvas resultantes de ensaio comparativo entre um motor automotivo (Fiat


Stilo) e um motor de trator agrícola (New Holland 8670). Fonte: MÁRQUEZ (2003).

Curvas características dos motores comparados

140
Potência (Kw)

120 125 125


100
80 81 NH 8670
60 61
40 Stilo Abarth
20
0

Rendimento do motor (rpm)

Conforme as curvas características dos motores, observam-se nitidamente


as peculiaridades de ambos. O motor do trator alcança seu maior torque em um
giro muito mais baixo em relação ao motor do automóvel (próximo às 2100 rpm),
ao passo que a máxima potência do automóvel só é obtida em muito mais alta
rotação (cerca de 6000 rpm). Essa situação dá ao trator uma grande reserva de
torque, tão necessária nas operações agrícolas, principalmente as de
tracionamento de cargas. Já ao atingir tão elevadas rotações em pouco tempo,
confere-se ao automóvel uma elevada capacidade de aceleração e deslocamento
rápido.

37
CAPÍTULO 2
Os sistemas do trator

2. Os sistemas do trator

O trator é, de um modo simplista, um conjunto de peças e componentes de


vários sistemas que atuam entre si. Analogicamente, podíamos comparar tais
componentes como órgãos que, unidos em funções similares ou complementares,
atuam harmonicamente ou de forma sistêmica, fazendo com que o organismo
(consideremos o trator, como tal) exerça suas funções normalmente. Para uma
simplificação do nosso breve estudo sobre os tratores, dividimos os seus trator,
em sistemas de acordo com as suas respectivas funções e atuação no trabalho do
mesmo. Concomitantemente, ilustramos as manutenções mais freqüentes ou
relevantes (embora todas as medidas referentes à manutenção sejam
importantes, algumas se sobressaem mais).

2.1. O sistema hidráulico

O sistema hidráulico de três pontos é assim chamado, pois leva o


implemento acoplado em 3 pontos de engate no trator. Um sistema hidráulico
consiste de parte ou de todos os componentes seguintes:

a) Bomba e) Arrefecedores;
b) Motor; f) Reservatório (de alimentação);
c) Válvulas; g) Acumulador (Energia armazenada);
d) Conexões h) Comandos;

O trator agrícola possui dispositivos que comandam, ou reagem


diretamente no sistema hidráulico ou por controle remoto, quer pela disposição
quer pelo senso de tração (IOCHPE/MAXION). No caso em que a demanda for
maior que a capacidade da bomba, o acumulador, presente no sistema, armazena
energia sob a forma de gases comprimidos, tornando assim, disponível um
suprimento extra de fluido hidráulico de alta pressão. Um acumulador permite
aumentar, por um período breve de tempo, a potência de saída do sistema
hidráulico, sem ter aumentado ou sobrecarregado a capacidade da bomba
(MIALHE, 1974).
O sistema hidráulico é comandado por uma bomba ISYP e uma tampa
hidráulica. A bomba ISYP produz o fluxo e a pressão do óleo. A tampa hidráulica
aloja o cilindro de levante, os quadrantes de comando e o eixo de levante.

38
• Operação do sistema hidráulico de três pontos:

A fim de que você possa obter o maior rendimento, um grande


desempenho, aliado á uma boa economia, quando utilizar o sistema hidráulico de
três pontos é necessário saber utilizá-lo corretamente. Vejamos o princípio de
funcionamento do sistema hidráulico, bem como algumas instruções operacionais
relevantes:
2.1.1. Funcionamento básico do sistema hidráulico de três pontos

A engenharia e arquitetura do sistema de três pontos consideraram


cuidadosamente o efeito sobre o implemento e o trator, para as tensões e cargas
que o sistema sofreria quando em operação com os mais diversos implementos.
Para que se possa entender o funcionamento completo do sistema hidráulico de
três pontos, é necessário um estudo mais aprofundado, devido à complexidade do
conjunto da Bomba ISYP e o conjunto da tampa hidráulica. Veremos a seguir, de
uma forma clara, as forças que atuam no conjunto implemento x hidráulico e as
reações do sistema hidráulico que acontecem com um trator operando em
diferentes condições de terreno (adaptado de IOCHPE/MAXION):

A) TRATOR OPERANDO EM TERRENO PLANO, SOB CONDIÇÕES NORMAIS.

Inicialmente, o arado tende a levantar na parte traseira, devido à atuação


das forças ocasionadas pelo tracionamento do mesmo: o peso do arado; o
sentido do deslocamento; a resistência do sistema hidráulico entre outras, além é
claro, de todas as forças normais de respostas às forças exercidas no solo,
originando um esforço de compressão no terceiro ponto.

39
Figura 4. Trator tracionando implemento de corte (no exemplo, um arado de discos) em solo plano.

40
B) OPERAÇÃO EM TERRENO ACIDENTADO: RODA DIANTEIRA SUBINDO UMA
ELEVAÇÃO.
Nesta situação, a compressão na mola mestra do terceiro ponto é
consideravelmente maior que na situação anterior. A força na mola mestra é
compensada.

Figura 5. Momento em que a Roda dianteira do trator sobe uma elevação.

C) OPERAÇÃO EM TERRENO ACIDENTADO: RODA TRASEIRA SOBRE A


ELEVAÇÃO.

Nessa situação, o arado abaixa, embora a profundidade de trabalho seja


mantida constante. A pressão que antes existia no terceiro ponto é agora aliviada
e a agulha da mola mestra é liberada.

Figura 6. Roda traseira do trator sobre o obstáculo

41
C) O ARADO ATUANDO NA ELEVAÇÃO:

Quando o primeiro disco atinge a elevação, há uma maior resistência


nesse disco que nos posteriores, pois o mesmo, logicamente, é o primeiro a
romper o obstáculo. Isso cria uma força que tende a alavancar, ou erguer a
parte traseira do implemento. Ao mesmo tempo, cria-se uma maior pressão no
terceiro ponto e o hidráulico reagirá, mantendo a profundidade de trabalho
constante. Há um maior esforço sobre os braços inferiores.

Fig u ra 7 . M o me nt o e m q ue o 1 º di sco d e co r te a ting e o o b stá c ulo

Profundidade de trabalho: sensibilidade do sistema:

Como foi visto anteriormente, o sistema hidráulico reage às mais


diversas situações, sempre com respostas imediatas para cada diferença
existente no terreno.
Entretanto, como é sabido, os mais diferentes tipos de solo, reagem das
formas mais diversas no que se refere à força de “entrada” do implemento ao
solo, como uma força de reação “normal” aos discos, ou às aivecas. Essa
reação é maior em solos argilosos, menor em solos arenosos.
Para possibilitar a adequação da sensibilidade do sistema com o solo a
ser trabalhado, todos os tratores agrícolas possuem uma viga central, com
três furos para o braço do terceiro ponto.

42
Fig u ra 2 . Vig a ce nt ra l do t e rce iro po nto do h i drá ul ico - E xt ra í do de: A B í bl ia do
tra to r – IO CH P E- M AX IO N

Os orifícios na viga central do terceiro ponto são utilizados de acordo com


o tipo de solo que se irá trabalhar com implementos de profundidade. Para solos
leves ou macios utiliza-se o furo 1. Para solos de textura média, utiliza-se o
furo 2 e finalmente, para solos pesados, ou argilosos, usa-se o furo 3. Quando
se desejar usar o arado para descompactar áreas nas quais houve a formação do
“pé-de-grade”, o furo usado é o n° 3.

• Controle e comandos (hidro) eletrônicos:

2.1.2. Autocontrol - Pré-programação operacional suportada por tecnologia de


computador (tratores Valtra/Valmet):

O sistema de manuseio do Autocontrol (controle eletrônico do


hidráulico) é muito simples. Estabelece a profundidade de trabalho, a altura
máxima e a velocidade de elevação; depois baixa. Esse tipo de sistema facilita
as manobras nas cabeceiras. Apenas um toque ligeiro num interruptor para
subir ou descer o implemento para os níveis pré - determinados.
Os tratores VALTRA/VALMET incorporaram no sistema de levante
hidráulico componentes eletrônicos de controle de elevação e profundidade, bem
como de velocidades de descida e de levante:
“O autocontrol ganhou fama como sendo, atualmente um dos sistemas de
controle dos mais sofisticados e eficientes” (site da Valtra/Valmet - Internet).

43
2.1.3. O Sistema de levante hidráulico com controle eletrônico – Hydrotronic (tratores
Massey Ferguson e Maxion)

O sistema de levante hidráulico com controle eletrônico (HYDROTRONIC)


foi desenvolvido pela IOCHPE-MAXION em parceria com a BOSCH.
Também nesse sistema, todos os comandos e ajustes são alocados em um
painel de comandos. Nos tratores Maxion/MF este painel é localizado no lado
direito do operador.
Nos dois sistemas, (sistema HYDROTRONIC e no Autocontrol), após feitos
os ajustes de profundidade de operação, velocidade de descida e subida do
implemento, apenas é necessário que se faça o levante do implemento nas
cabeceiras, resultando em uma operação mais rápida e eficiente. Outros
fabricantes também equiparam seus tratores com sistemas semelhantes.

2.2. O sistema de lubrificação

Um trator agrícola, como toda e qualquer máquina, que apresente motor de


combustão interna. Possuí centenas de peças que se atritam e se desgastam, sob
condições de carga e trabalho severas, de temperaturas e pressão altas. Uma
boa lubrificação, a escolha de um bom óleo lubrificante e uma boa graxa é de
grande relevância. Em peças e componentes, como o virabrequim do pistão e do
comando de válvulas do motor, se a lubrificação não ocorrer de uma forma
conveniente nessas peças, em alguns minutos pode fundir o motor, causando
graves prejuízos.
Além disso, o óleo lubrificante possuí a função de arrefecedor dos
mecanismos móveis, absorvendo e dispersando o calor gerado, atuando ainda
como elemento de limpeza.

2.2.1. As siglas utilizadas na classificação dos óleos

Várias são as siglas que indicam os mais variados tipos de óleo e suas
respectivas aplicações. De um modo mais específico, a sigla SAE (do inglês:
Society Automotive Engineers), classifica os óleos quanto à sua viscosidade e
pelo desempenho que oferecem (BORMIO, 2004).
Existem óleos monograu, onde a identificação é dada por um número (grau)
que antecede a sigla SAE. De acordo com BORMIO (op. Cit), existe ainda uma
classificação que considera a temperatura de trabalho de um óleo à 100°C (os tão
conhecidos SAE 90, SAE 120 e SAE 250, óleos específicos para transmissões).
Uma outra classificação leva em conta o trabalho sob as temperaturas mais frias,
de inverno, tanto que na sua terminologia, é usada a letra W, de inverno (do
inglês Winter), sendo o W colocado imediatamente após o número que designa a
temperatura de trabalho mínima, antecedida da sigla SAE (como exemplos, cita-

44
se o SAE 70W – óleo para temperaturas de até – 55°C, ou o SAE 85W – óleo
para temperaturas de até – 12°C).
Existem também óleos multiviscosos, geralmente aplicados em motores, os
quais têm medidas de viscosidade aplicáveis para o trabalho em baixas e altas
temperaturas. A viscosidade em condições de temperaturas mais frias tende a
diminuir, fazendo com que a película protetora que o óleo faz normalmente, à
temperatura padrão de 21°C, não proteja bem as partes móveis, pois o mesmo
não é fino o suficiente nessas condições. Já para altas temperaturas, ele deve
manter uma viscosidade adequada, para que continue a formar a película
protetora entre as partes metálicas que se atritam.
Um exemplo de óleo multiviscoso é o SAE 80 w 90, onde o mesmo é
testado para os requisitos de um óleo monograu SAE 80W com temperaturas de
trabalho até – 26°C e para os requisitos de um monograu SAE 90 – para
trabalhos em temperaturas de até 90°C.
Além disso, existe uma outra classificação, quanto ao desempenho do
lubrificante, o qual é classificado segundo normas da API (Americam Petroleum
Institute). Para lubrificantes destinados ao sistema de transmissões, dá-se esta
classificação por duas letra GL (Gear lubrificant). A classificação é dada por um
número após o GL, onde esse número indo do um (1) ao cinco (5), sendo o 5 o
óleo classificado como o que oferece o melhor desempenho.
Existe ainda uma série enorme de siglas para classificar os mais diversos
óleos, de acordo com suas características e aplicações, e que neste capítulo não
caberia anexá-la devido à sua extensão e a praticidade desta obra (para
consultá-la quanto às demais siglas observadas nas embalagens dos
lubrificantes, com os seus respectivos significados, vide ANEXOS – Quadros
gentilmente cedidos pela PETROBRÁS).

2.2.2. Manutenção do sistema de lubrificação

A verificação do nível do óleo lubrificante do Carter do motor deve fazer


parte da rotina de verificação e de manutenção do trator agrícola. Diariamente,
antes de dar a partida no motor e com o trator em solo plano, remova a vareta e
verifique o nível do óleo.
Este nível deve estar entre as marcas mínima e máxima.
Para completar o nível do óleo do motor, remova a tampa de
abastecimento, coloque o óleo apropriado até completar o nível adequado A cada
200 horas de trabalho deve-se substituir o filtro e o óleo. Isto é capital para uma
maior vida útil do motor; para tratores novos, a 1ª troca deve ser feita com 50
horas de trabalho.

45
• Verificação do nível de óleo do motor e troca do óleo

1- Remova o bujão de drenagem do Carter e deixe escoar todo o óleo (essa


operação deve ser feita após um período de trabalho, quando o óleo ainda estiver
quente).
2- Manualmente ou com o auxílio de uma cinta, remova o filtro, descartando-o
logo em seguida.
3- Limpe o suporte do filtro com um pano ou bucha, que não solte fiapos.
4- Lubrifique a borracha de vedação do filtro novo com um pouco de óleo e
aperte-o apenas o suficiente para que não haja vazamentos.
5- Coloque o óleo novo até completar o nível (em caso de dúvidas acerca do
tipo de óleo utilizado, bem como suas especificações, consulte o manual do trator
ou o revendedor mais próximo. Geralmente a especificação dos óleos lubrificantes
utilizados na grande maioria dos tratores, é SAE 40, embora alguns tratores
utilizem, o óleo SAE 30).

• Manômetro de pressão de óleo:


O manômetro possuí três faixas indicadoras de pressão:
Verde:
Vermelho:
Pressão
Pressão alta
normal

Vermelho:
Pressão
baixa

Fig u ra 9 - M a nô met ro d e p re s sã o do ó leo


Importante: Sempre que o manômetro indicar uma pressão alta ou baixa, pare imediatamente o
trator e verifique as causas.
BÓRMIO (2004), recomenda que toda troca de óleo deva ser feita o mais
próximo possível, senão no tempo exato, do período de troca. Evidentemente, o
sobreuso dos lubrificantes é muito comum entre os produtores, muitas vezes
pelo próprio calendário de atividades, mas é um “costume” que não deve
ultrapassar muito o período recomendado pelos fabricantes. BÓRMIO ( op. cit)
estima que esse sobreuso, no caso dos lubrificantes para o sistema de
transmissões, não deva ultrapassar os 5% do período de troca, para o motor,
essa “taxa de tolerância” deve ser ainda menor. Evidentemente, o ideal, sem
dúvida nenhuma é que se obedeçam criteriosamente os períodos recomendados.

46
47
• Transmissão, eixo traseiro e hidráulico:

A transmissão, o eixo traseiro e o sistema hidráulico dos tratores MF e


MAXION utilizam o mesmo óleo lubrificante. Para tratores de outras marcas, o
principio de manutenção é o mesmo, mudando só a locação ou a posição de
algumas peças. Como localização da vareta indicadora do nível do óleo da
transmissão. Para todos os casos, só use o óleo recomendado pelo fabricante.
A troca do óleo lubrificante é importante, pois permite que sejam retiradas
as sujidades contidas no óleo, além de repor o óleo lubrificante anterior por um
mais novo, com todas as qualidades esperadas (viscosidade, principalmente).

• Nível de óleo e abastecimento:

Verifique o nível do óleo lubrificante do motor uma vez por semana,


quando as condições do motor estiverem boas (sem vazamentos significativos)
através da vareta no lado direito da carcaça (tratores MF) ou na parte traseira
(tratores MAXION ou VALTRA/VALMET). Ao verificar a vareta, observe se o
nível está entre as marcas mínima e máxima. O nível nunca deverá estar abaixo
do nível mínimo e nem acima do nível máximo essa checagem deverá ser feita
com motor frio ou que tenha parado de funcionar a pelo menos 2 horas. Para
adicionar óleo ao motor, limpe o bujão de abastecimento com pincel e solvente.
Remova o bujão e coloque o óleo até o nível máximo da vareta.Utilize somente o
óleo recomendado pelo fabricante (Geralmente, é usado na grande maioria dos
motores agrícolas de ciclo diesel o óleo SAE 40).
É importante que se atente para a limpeza do bujão de abastecimento, bem
como da correção de vazamentos nos filtros, para evitar contaminações no óleo
do motor (BÓRMIO, 2004). Para a troca de óleo, limpe os dois bujões de dreno e
remova-os, deixando escoar todo o óleo. É recomendável que a troca de óleo
seja feita logo após um período de trabalho, pois o óleo ainda quente, facilita o
escoamento.

48
Fig u ra 3 . B uj ã o de dr e na g e m e f il tro do ó l eo l ub rif ica nte. E x tra í do d e: A B íb lia do
tra to r – IO CH P E- M AX IO N

• Substituição do óleo e limpeza do filtro metálico da bomba ISYP


Limpe os dois bujões de dreno e remova-os, deixando escoar todo o óleo.
Limpe cuidadosamente os bujões magnéticos. Remova a tampa de proteção sob o
trator e retire o filtro da bomba ISYP.Observe a ordem da figura a seguir.

Fig u ra 4 . Co mpo ne nt e s ret i ra do s d ura nte a li mp e za do f ilt ro da bo mba IS YP. E xt ra í do


de: A B í b lia do t ra t o r – IO CH P E- M AX IO N

Limpe o filtro com solvente e seque-o com ar comprimido, reinstalando-o


em seguida. Recoloque a tampa com uma nova junta e cola.
Abasteça a transmissão com óleo novo até completar o nível, utilizando o
óleo recomendado pelo fabricante.
Em tratores que possuem o controle remoto independente, a troca de óleo
da transmissão é feita a cada 1000 horas de funcionamento. Além disso, a cada

49
500 horas, faça a limpeza do filtro metálico do controle. Para tratores sem
controle remoto, a troca obedece ao período normal de 750 horas de serviço.

• Troca de rotina do óleo (a cada 750 horas de trabalho) das rodas traseiras
(troca de óleo dos redutores epicíclicos das rodas traseiras):

Inicialmente, remova o bujão de abastecimento, removendo em seguida, o


bujão de drenagem na parte inferior da carcaça do eixo traseiro. Deixe escorrer
todo o óleo. Complete com o óleo específico recomendado pelo fabricante.
É importante lembrar que a substituição do óleo da transmissão, assim
como toda troca de óleo, deve ser feita após um certo período de trabalho, com o
óleo ainda quente, a fim de facilitar o escoamento do óleo.

• Verificação do nível

Remova o bujão de abastecimento e nível na parte traseira.


O óleo deve estar na mesma altura do bujão. Caso esteja mais baixo,
complete o nível com o óleo adequado.
A correta manutenção do trator e a sua maior, ou menor depreciação
depende, portanto, de que se faça toda a manutenção no tempo certo.

• Os lubrificantes mais adequados

Os lubrificantes mais adequados não são aqueles recomendados por um


amigo, vizinho ou “curioso” por mecânica, baseados na “tentativa” ou no “ouvi
dizer que esse óleo é bom...” mas sim aqueles recomendados pelo fabricante.
Esse nosso pensamento é partilhado por BÓRMIO (2004):
“... reafirmamos também que os melhores lubrificantes, óleo ou graxa, para
serem utilizados no motor, no câmbio, no diferencial, no hidráulico e nos
rolamentos e articulações de seu trator, são aqueles recomendados pelo
fabricante do trator”.

50
• Pontos de lubrificação a graxa:
Um trator agrícola possuí vários pontos de lubrificação a graxa. A cada 10
horas de trabalho é recomendável que se devam lubrificar os pinos graxeiros
(indicados no esquema das figuras a seguir:).

LEGENDA
Pinos graxeiros – localização – versão 4 x 4
(Tratores MF)
1 a- eixo da embreagem
1 b- tirante do freio
2- pedal de embreagem
3 a- articulação central do eixo dianteiro
3 b- articulação das pontas do eixo dianteiro
3 c- cruzetas (juntas universais)
3 d- semi-eixo dianteiro
4- luvas do eixo da transmissão
5- pedal dos freios
6 a- eixo do pedal da embreagem
6 b- articulação inferior direita do freio
6 c- eixo inferior ao freio
7- pedal de bloqueio do diferencial traseiro
8- barras inferiores
9- correntes estabilizadoras
10- roletes da barra de tração

Fig u ra 1 2 . E xt ra í do e a da pt a do de: A B íb lia d o tra to r – IO CH P E- M A XIO N

51
LEGENDA
Pinos graxeiros – localização – versão 4 x 2
(Tratores MF)
1 - eixo da direção
2 – braço do cilindro da direção
3 – cubos das rodas dianteiras
4 – pinos – mestres das rodas dianteiras
5 – eixo dianteiro
6a - eixo do pedal da embreagem
6b – Tirante do freio
7 – pedal da embreagem
8a – eixo do pedal da embreagem
8b – articulação inferior direita do freio
8c – eixo inferior do freio
9 – pedais dos freios
10 – pedal de bloqueio do diferencial traseiro
11 – braço intermediário direito
12 – braço intermediário esquerdo
13 – roletes da barra de tração

Fig u ra 1 3 . E xt ra í do e a da pt a do de: A B íb lia do tra to r – IO C H P E- M AX IO N

52
2. 3. O Sistema de arrefecimento

Os motores de combustão interna sejam de ciclo Diesel ou OTTO,


trabalham em condições elevadas de temperatura interna. O superaquecimento
provoca a dilatação das peças e a ruptura do filme de óleo lubrificante. O contato
entre as peças de metal do motor finda por ocasionar escoriações ou fissuras,
causando o chamado engripamento ou escoriação do motor.
O sistema de arrefecimento tem, portanto, como finalidade a eliminação do
excesso de calor produzido pelo motor. O RADIADOR, A BOMBA DÁGUA e o
VENTILADOR são os principais componentes do sistema de arrefecimento.

Fig u ra 5 . E xt ra í do de: A B í bl ia do tra to r IO C H PE - M AX IO N

O radiador, além de servir como reservatório do líquido de arrefecimento


(a água) que atua na troca de calor entre o interior dos cilindros e a camisa do
motor liga-se à colméia, por onde a água passa, sendo resfriada pelo fluxo de ar
produzido pela ventolina. A ventolina além de gerar o fluxo de ar externamente,
para arrefecimento do sistema, ainda divide o mesmo eixo com a bomba d’água.
Essa última gera o fluxo da água no interior do sistema.
Um item pequeno, porém também importante no sistema de arrefecimento
é a tampa do radiador. Essa peça é projetada e dimensionada para o sistema de
forma que, além de fechar o radiador, ela sirva como controladora da pressão do
sistema. Assim, uma tampa folgada, desgastada ou com defeito compromete o
perfeito arrefecimento do motor, bem como se a tampa original for substituída
inadequadamente por uma não compatível com o radiador, poderá haver danos

53
(maior facilidade de vazamentos, se a pressão for excessiva) no sistema ou um
mal arrefecimento (pela pressão menor que a ideal para o sistema). Geralmente a
pressão da tampa está impressa na sua parte superior, variando de 0,3 a 1,1
kgf/cm2 (4 a 15 lbs/pol2).

Cuidados com o sistema de arrefecimento:

Diariamente antes de dar a partida no motor, verifique o nível da água do


radiador e complete-o com água potável, se necessário.
A cada 500 horas, substitua a água do radiador procedendo da seguinte
forma:

1- Remova o bujão de drenagem situado na base do radiador.


2- Remova também o bujão de drenagem situado no bloco do motor e
deixe escoar toda a água.
3- Lave todo o sistema, até que só saia água limpa do bloco do motor.
4- Recoloque os bujões e abasteça o radiador até completar.

Fig u ra 6 . P a ra f uso na ba s e do ra dia do r, pa ra esco a me nto da á g ua . E xtra í do d e: A


B íb lia do t ra t o r. IO CH PE - M AX IO N.

O uso de aditivos como, por exemplo, anti-congelantes, para regiões com


temperaturas muito baixas, e anticorrosivos para o radiador são indicados, pois
promovem uma melhor conservação do sistema.

54
2.4. Sistema de embreagens e transmissões

Quando uma indústria montadora de tratores agrícolas faz um “novo


projeto” ou lança um novo modelo no mercado, normalmente as novidades
tocantes ao motor não são tão enfatizadas, ou trazem poucas modificações, pois
basicamente um trator pode ter um mesmo motor de um carro de passeio, por
exemplo, (com algumas modificações, logicamente), mas que dada a importância
do sistema de transmissão no trator, o que o diferirá de um automóvel ou de
qualquer um outro veículo de transporte é o seu sistema de transmissões.

Fig u ra 7 . Vi st a e m co rt e do s ist e ma d e tra n s mis sõ e s. E xt ra í do de B Ó RM IO (2 0 0 4 ).

Assim, pode-se dizer que, o que diferencia um trator de uma marca x e


outro de marca y é a engenharia de seu sistema de transmissões. Um bom trator
é, portanto, essencialmente um bem projetado e construído sistema de
transmissões, mesmo que seu motor seja terceirizado de uma indústria
especialista em motores, a importância maior na relação motor x transmissão é
sem dúvida a este último.
Este nosso pensamento também é partilhado por MARQUÉZ (2003), o qual
avaliou alguns aspectos entre um trator 4 x 4 da New Holland e um Fiat Stilo
Abarth17, ambos com motores de 170 c.v.
Vê-se, portanto, a importância que tem o sistema de embreagem e
transmissões para os tratores.

17
Márquez é professor da Universidad Politécnica de Madrid, seu artigo foi traduzido por Fernando Scholosser.
Os modelos dos veículos avaliados (tanto o trator, quanto o automóvel não estava disponíveis no mercado
brasileiro, até fins de 2003).

55
O conjunto de embreagem é o componente mecânico responsável pela
transmissão (ou interrupção) da potência do motor para a caixa de câmbio.
Basicamente a embreagem possuí três funções (IOCHPE/MAXION, s.d.):
1. Transmitir o movimento do motor para os demais mecanismos de
transmissão, de modo suave e gradativo, sem vibração ou deslizamentos;
2. Interromper a transmissão da potência do motor à transmissão, permitindo
a troca de marchas.
3. Permite a parada do trator e de qualquer equipamento acionado pela TDP.
Muitos fabricantes equipam seus modelos com embreagem de duplo
estágio, para permitir a troca de marchas e o outro estágio, o acionamento da
TDP. Tratores da linha MAXION usam embreagens simples, de um estágio,
acionado também por pedal, bem como alguns modelos de tratores VALMET e
alguns outros tratores, como AGRALE-DEUTZ, HUBER WACCO, etc.

56
O princípio de funcionamento da embreagem pode ser entendido
observando as figuras seguintes:

✓ EMBREAGEM ACOPLADA
(PEDAL DA EMBREAGEM EM REPOUSO)

Prato de pressão
Nesta Volante do secundário
motor
situação, tanto o
disco principal A,
Atuadores
quanto o
secundário B,
estão
Prato de
pressionados,
pressão
transmitindo o principal Pedal de
embreagem
movimento do
motor para a
transmissão. O Rolamento
Disco Desligador
trator estará em
principal A
movimento se a
Disco
caixa de câmbio secundário B
estiver engatada.

Fig u ra 1 7 . E xt ra í do e a da pt a do de: A bí b lia d o tra to r. IO CH P E- M A XIO N

57
EMBREAGEM ACIONADA NO PRIMEIRO ESTÁGIO

Ao acionarmos o pedal da

embreagem até mais ou menos

meio curso estaremos

liberando o primeiro estágio

(disco principal), permitindo a

troca de marchas ou a parada

do trator.

Fig u ra 1 8 . E xt ra í do e a da pt a do de: A B íb lia d o tra to r. IO CH P E - M A XIO N

58
✓ EMBREAGEM ACIONADA NO SEGUNDO ESTÁGIO

O prato de pressão principal


empurra o prato secundário,
Ao acionarmos o pedal através dos parafusos do
segundo estágio.
da embreagem até o final do

seu curso iremos liberar o

segundo estágio da

embreagem. O segundo

estágio permite o

acionamento da tomada de

potência e a bomba hidráulica

do sistema hidráulico.

Ambos os discos estão


livres

Figura 19. Extraído e adaptado de: A Bíblia do trator. IOCHPE-MAXION

O controle da embreagem é feito por meio de pedal e transmitido por


tirantes e alavancas até acionar os atuadores do prato de pressão principal.
Para liberar o disco principal o prato de pressão recua apenas alguns
milímetros enquanto que o curso do pedal é de vários centímetros. Essa
relação de alavancas permite multiplicar a força aplicada pelo operador no
pedal, com uma força resultante suficiente para vencer a força das molas
sobre o prato de pressão principal (IOCHPE/MAXION, s.d.).

59
Há também uma folga no sistema de embreagem, a chamada folga livre
do pedal ou curso livre do pedal (folga entre o prato de pressão e o disco
principal). Essa folga permite que não haja um desgaste do sistema de
embreagem, pois quando o disco se desgastasse, os atuadores se apoiariam no
disco e haveria, portanto, o “enforcamento” da embreagem.

Caixa de câmbio
A caixa de câmbio, também conhecida vulgarmente como caixa de
marchas, permite o deslocamento do trator, nas mais diferentes velocidades e
situações no campo, através da “captação da energia” produzida no motor, e
transmitida ao volante do motor, passando pela embreagem, até a árvore
primária (eixo principal da caixa de câmbio).
As operações no campo exigem muito do trator, sob diferentes condições
de velocidade e esforço. Na operação de preparo de solos, para qualquer tipo de
cultura, o operador deve adequar o trator ao tipo de trabalho a ser realizado.
Diversos fatores merecem ser levados em consideração. O mais relevante dentre
os muitos fatores é a velocidade correta de trabalho.

Modelos de caixa de câmbio:

• Caixa de Câmbio deslizante (Crash)


Apresenta 4, 5, 8 ou 12 velocidades. De acordo com o modelo e o
fabricante. Por ser um engrenamento “seco”, não é aconselhável a troca de
marchas com o trator em movimento. Esse modelo de caixa de câmbio foi o
primeiro tipo de caixa de câmbio desenvolvido. Atualmente é comum ser
encontrado em alguns modelos de microtratores e tratores de jardim, como os
microtratores das marcas Tobatta e Agrale.

• Caixa de câmbio Constant mesh


É um conjunto de transmissão intermediário entre a deslizante e a
sincronizada.

• Caixa de câmbio sincronizada.


Semelhante à anterior, sendo que difere por que possuí um conjunto de
componentes (principalmente os anéis sincronizadores) que facilita o
acoplamento das marchas com trator em movimento.

Escalonamento das marchas:

60
O escalonamento de marcha é a variação da velocidade e do torque do
trator em função da marcha engatada. Para cada marcha engatada, ter-se-á uma
variação da velocidade e torque18 determinada pela rotação do motor.
Um bom escalonamento de marchas é o que permite o máximo de opções
de marchas na faixa de velocidades de operação, que vai de 3 a 12 km/h. O que
admite uma seleção mais conveniente para um determinado tipo de operação
(menor consumo e maior rendimento).
Tanto no caso dos tratores, como também em veículos que são equipados
com tração 4 x 4, existe uma alavanca ou botão de controle eletrônico para
redução das marchas, onde se terá mais torque, pois as marchas são reduzidas
numa relação de 2:1 (no caso dos veículos off – road). Contudo, a redução (low
range) nos utilitários ou off – road também só deverá ser feita com o veículo
traçado, ao se utilizar a redução sem que haja a distribuição de força para os dois
eixos, há uma sobrecarga no diferencial, pontas de eixo, semi-eixo, devido ao
aumento do torque, o que poderá causar danos ao sistema.

• Transmissão de trabalho - o uso da barra de tração.

A barra de tração é utilizada para operar implementos de arrasto ou de


tração (grades de arrasto, carroção, plantadeiras/semeadeiras de grande porte,
roçadeiras, etc). é importante observar que o engate da barra de tração deve
estar numa altura adequada, de forma que o cabeçalho esteja paralelo ao solo e
na mesma linha de tração do trator.
Nos diferentes modelos e marcas de tratores, existe a barra de tração reta
e barra de tração com degrau. A primeira não permite que seja feita uma
regulagem de altura, para o engate. A segunda permite que se possa variar a
altura de engate, para uma melhor adequação ao implemento.

• A tomada de potência

A tomada de potência é utilizada para acionar e operar implementos de


trabalho rotativo (roçadeiras, enxadas rotativas, pulverizadores/atomizadores,
batedeiras de cereais, etc).
Para o trabalho correto, o engate entre o trator e o implemento deve ser
localizado a meia distância entre as distâncias das juntas universais e a barra de
tração e não deve balançar lateralmente.
As exigências por parte dos institutos e órgãos governamentais dos
diversos países, no que concerne à segurança fizeram com que se

18 O torque é a resposta dada pelo motor quando submetido a um maior esforço. É um parâmetro usado para comparar, por
exemplo, a velocidade e o tempo de reação de um trator de acordo com o escalonamento de suas marchas, ou comparar
fatores como consumo e aceleração em relação ao torque.

61
normatizassem as características de localização e padronização para a tomada de
força. Normalmente os tratores são equipados com TDP com velocidade de
rotação por minuto (rpm) de 540 (com eixo de seis estrias) ou utilizam 1000 rpm
na tomada de potência (com eixo de 21 estrias).

2.4. Sistema de transmissão: Transmissão de força. A lei das alavancas, um dos


princípios dos braços do hidráulico:

As máquinas, das mais simples, como as alavancas, carro de mão o alicate,


ou mesmo complexas como os tratores e implementos agrícolas baseiam-se em
princípios elementares da mecânica, desde a mecânica pura (estuda os
movimentos dos corpos e as causas que os determinam) à mecânica aplicada.
A alavanca é em sua forma mais elementar, representada por uma barra
rígida que pode mover-se ou girar em torno de um ponto de apoio.
De acordo com a localização do ponto de apoio, a resistência e o sentido
da força ou potência exercida na alavanca, determinam três situações:

K A L P

a) alavanca de primeiro gênero ou interfixa: neste caso, tem-se o ponto de apoio


A entre a potência P e a resistência R (O K e o L representam os segmentos da
alavanca relacionados com o ponto de apoio).

P
R

A
L
K

b) alavanca de segundo gênero ou inter resistente: a resistência R está entre o


ponto de apoio A e a potência P.

P
R
A
K L

62
c) alavanca de terceiro gênero ou interpotente: com a potência entre a
resistência e o ponto de apoio.

Para haver realização do trabalho, a potência P deverá ser maior do que a


resistência R. a razão entre os dois braços de uma alavanca (ou segmentos)
resulta na força que deve ser exercida.
Assim temos a seguinte relação expressa:

AK x R = AL x P, conseqüentemente, teremos:
P = AK x R
AL
Quanto maior for o valor de AL, menor será a força P necessária para
realizar o trabalho.
Na prática, podemos utilizar esses princípios das alavancas no
acoplamento de implementos aos braços do hidráulico. Os braços inferiores do
hidráulico, como dissemos anteriormente, possuem furos que podem ser usados
em várias situações diferentes. Esse sistema segue o princípio da lei das
alavancas.

Ao observamos a figura 20, vemos que, os braços abaixam mais próximo


do solo, no furo 1. Essa posição diminuí, porém, a força de levante. Esse furo
pode ser usado em trabalhos de subsolagem e aração.
O furo 2 é uma
posição intermediária, de
uso menos específico e
geral. A posição em que o
implemento atinge a maior
altura e capacidade de
levante é a do furo 3.
Utilize – o para
implementos longos e
pesados. Em terrenos

63
acidentados, para facilitar
as ondulações, utilize o furo
oblongo (4), isso evitará a
sobrecarga dos braços
superiores do hidráulico.

Figura 20. Furos do braço inferior do sistema de levante hidráulico, tratores MF. Extraído de Maxion
(s.d).

64
2.4.1. Sistema de transmissão de trabalho – polias e correias.

A transmissão da energia do trator, para todos os implementos acionados


pela TDP parte do princípio de transmissão de energia centrífuga através de
polias, correias ou engates com eixo cardã.

TDP
Acionamento do
implemento
Cardã

Figura 21. Esquema representativo do acionamento de um implemento hipotético pela TDP do trator.

As correias, chamadas de trapezoidais (devido à sua seção transversal


ser em forma de trapézio) funcionam transmitindo as cargas através das polias
silenciosamente (FAIRES, 1966).
Denomina-se “polia” roldanas utilizadas isolada ou conjuntamente, com a
finalidade de transmitir força ou imprimir movimento, para exercer determinadas
tarefas. As polias utilizadas isoladamente geralmente são empregadas para
elevação de pequenas cargas. Podem ser de metal ou madeira.
Podem ser fixas ou móveis. As fixas apenas giram em torno do eixo,
deslocando a carga. As móveis além de girarem em torno do próprio eixo
movem-se no sentido do deslocamento. Na ilustração abaixo temos o exemplo
de polias fixas e móveis:

Polia
fixa

P
Polia
móvel n
P
P

C C

65
No primeiro caso, como a polia é fixa, as forças contrárias (força de tração
ou potência P e a carga C) deverão ser diferentes. para que haja o trabalho.
Portanto, para elevar a carga C, a potência P ou força requerida deverá ser
maior que a força contrária C.
No segundo caso, a polia móvel, facilita a execução do trabalho, uma vez
que a força requerida para elevar a mesma carga C é menor, pois, usando-se
uma analogia em relação à lei das alavancas, o braço da potência P é o dobro do
braço da carga C. Neste caso, expressamos a seguinte relação:

P = C/2
As polias podem ainda ser combinadas em sistemas. Os sistemas mais
comuns são:
- Sistema combinado simples com vários suportes fixos:
Sistema misto em que polias móveis são ligadas entre si, com uma polia
fixa.

- Cadernal:
Sistema de polias combinadas, entre fixas e móveis, com um mesmo
número de polias fixas e móveis.

Nas duas situações anteriores, a potência P, necessária para erguer a


carga C é dada pela relação:
P=C
2n
Onde:

66
P = Potência para elevar a carga C = Carga ou peso n = número de polias móveis
2.4.1 Dimensionamento de polias e correias: adequação de implementos:

O funcionamento correto de uma máquina agrícola depende de muitos


fatores, entretanto, para implementos que utilizem a TDP do trator ou um motor
ligado por sistema de correias e polias, deve haver uma correta relação dos
diâmetros das polias, para que a rotação ideal para o trabalho a ser realizado
com a máquina, seja eficiente, sem causar prejuízos.
Uma debulhadeira de cereais, por exemplo, utiliza a TDP do trator para
debulhar grãos de culturas como o milho e o feijão. É comumente utilizada nas
pequenas e médias propriedades rurais e pode ser perfeitamente adaptada para
funcionar com um motor estacionário, desde que o conjunto seja firmemente
fixado, sem riscos de acidentes aos operadores ou o pessoal que estiver
porventura trabalhando na debulha.
Essa adaptação, todavia deverá ser perfeita no que concerne à relação
ideal de rotação entre o motor que vai imprimir a força e a rotação à
debulhadeira, através da polia e das correias para que o serviço seja feito sem
quebrar os grãos (excesso de rotação no eixo principal da debulhadeira) ou que
o material não seja debulhado totalmente, havendo muito desperdício
(geralmente essa causa advém de baixa rotação no eixo da máquina).
Assim, somente a correta relação entre as polias do motor e da máquina
que se deseja utilizar, irá garantir um serviço de boa qualidade e sem prejuízos.

2.4.2. Dimensionamento de polias:

Fórmula: Pmq = ReM X DpM


Rmq

Onde:

DPmq = Diâmetro da polia da máquina que se deseja ligar;


ReM = rotação do eixo do motor (geralmente indicada na plaquinha presa na
carcaça do motor).
DpM = diâmetro da polia que existe no motor (ou da polia que se deseja
colocar);
Rmq = rotação necessária para movimentar a máquina com eficiência
(geralmente escrita na carcaça da máquina).

Para se calcular o diâmetro que precisa ter a polia a ser colocada na


máquina, multiplica-se a rotação do motor, indicada na plaquinha, pelo diâmetro

67
da polia existente ou colocada no eixo do motor, em seguida, divide-se o
resultado obtido dessa multiplicação, pela rotação que a máquina necessita para
funcionar corretamente.
Caso se necessite saber o contrário, o diâmetro da polia que deverá ser
posta no motor, é só utilizar a mesma fórmula, alterando-a para:

Fórmula: DpM = Rmq x DPmq

ReM

Assim, neste caso, o resultado da multiplicação da rotação desejada na


máquina pelo diâmetro da polia da máquina, será dividido pela rotação do eixo do
motor, para que obtenhamos o diâmetro que a polia do motor deverá ter para
imprimir uma rotação ideal para a máquina.
Resumidamente, temos que a relação de rotação entre duas polias é dada,
pela expressão:

DxR=dxr

Onde D e d são os diâmetros das polias e R e r, suas respectivas rotações.


Na prática esse método é aplicável, contudo, teoricamente existem perdas
ao redor de 5%, que são devido ao deslizamento, provocado pela classe de
transmissão, tipo e tensão das correias e outros fatores.

▪ A relação: Tipos de correias x potência do motor

As correias utilizadas para transmissão de potência são de uma forma


geral divididas em planas e em “V”. havendo aí as variações, na largura, na
altura e nas características de construção, como para correias em V com dois ou
mais canais unidos por uma lona no topo ou as correias em forma de cintas.
As correias trapezoidais ou em “V” são encontradas em duas
classificações: correias tipo A e correias tipo B. As polias para correias tipo “B”,
são usadas na proporção de 1 canal para cada 4 Hp do motor, já as polias para
correias do tipo “A”, é utilizado 1 canal para cada 2 ½ Hp do motor. Dessa
forma, para motores de baixa potência, as correias preferencialmente utilizadas
são do tipo “A”, para motores de maior potência, é mais viável o uso de correias
do tipo “B”.
O diâmetro das polias nunca deverá ser maior que o tamanho do motor e
das máquinas (principalmente o motor).

68
2.4.3. Dimensionamento de correias

D
d

O comprimento da correia é calculado pela seguinte fórmula:

C=π. d+D +2L


2
Onde:
C = comprimento da correia;
d = diâmetro da polia menor;
D = diâmetro da polia maior;
L = comprimento entre eixos
As correias cruzadas são utilizadas em casos mais específicos, quando se
deseja inverter o sentido de rotação de uma polia à outra.
Para correias cruzadas, segue-se o seguinte raciocínio:

D
d
r R

C = π . (r + d) + 2 L2 + (R + D)2

Onde:
C = comprimento da correia cruzada;
r = raio da polia menor;
R = raio da polia maior;
L = distância entre os centros dos eixos
D = diâmetro da polia maior

69
d = diâmetro da polia menor
Alguns cuidados com as correias e polias:

No caso da quebra ou ruptura de uma correia, não há necessariamente a


necessidade de parada imediata do serviço, pois as correias restantes
suportarão a carga até certo tempo. Entretanto, a substituição de correias
deve ser não apenas para aquela que se partiu, mas para todo o conjunto, pois
as correias velhas já sofreram desgastes e forças que as deformaram e, ao
colocarmos uma correia nova ao conjunto, essa correia sofrerá uma carga
maior, partindo-se facilmente (FAIRES, 1966).
Quando uma correia específica parte-se repetidamente, verifique se o
alinhamento das polias, por algum motivo não está correto (falta de algum
parafuso de fixação da base da máquina ou do motor, polias desalinhadas,
desgastando e sobrecarregando as correias, etc.)
Evite que o conjunto de correias suje-se de óleos minerais, graxas ou
qualquer elemento abrasivo. Óleos minerais facilitarão a “derrapagem” das
correias nas polias, pela redução do atrito entre elas, o que traz prejuízos à
qualidade do serviço. Elementos abrasivos (solventes, óleo diesel) diminuem a
vida útil das correias, rachando-as.
Para a conservação das correias, recomenda-se o uso de óleo de linhaça
ou sebo.
Correias frouxas apresentam pancadas e movimento irregular, além de
provocarem maiores perdas por deslizamento. Por outro lado, correias muito
apertadas provocam perda de potência no maquinário, o que algumas vezes pode
acabar por aquecer e quebrar polias, rolamentos e a própria correia.

2.5. O sistema de alimentação

O sistema de alimentação é formado pelo conjunto de peças / mecanismos


que juntos tem a função de alimentar o motor, tanto de ar, quanto de
combustível. O perfeito funcionamento do sistema de alimentação, bem como as
revisões periódicas e as manutenções necessárias, permitirão que o motor tenha
uma vida útil maior:

2.5.1.Sistema de alimentação / ar:

Com muita freqüência, um trator trabalha sob condições de intensa poeira.


O motor aspira diretamente o ar do ambiente onde se encontra. É de grande
importância, portanto, que o ar aspirado pelo sistema de admissão de ar do trator
chegue aos cilindros do motor, onde vai ser submetido à queima e compressão,

70
isento de poeira e elementos abrasivos, para um funcionamento sem problemas
ao motor.
Para tanto, o sistema de alimentação (ou sistema de admissão e
escapamento) além de ser constituído por toda a tubulação que conduz o ar aos
cilindros possuí filtros para reter a poeira e sujidades. Tais filtros são
denominados de primário e secundário. Ambos estão alojados dentro de uma
carcaça ligada à tubulação. O filtro primário encerra o secundário (também
denominado de elemento filtrante de segurança). De uma forma geral, os
componentes do sistema de filtragem do ar é constituído pelos filtros, citados
anteriormente, por um pré-filtro, por um ciclonizador, pela carcaça do filtro, pela
válvula de descarga e pela tubulação de ar. Esses componentes formam o
sistema de filtragem de ar para tratores que apresentem o filtro a seco. Alguns
tratores utilizam filtros de ar chamados de filtros banhados a óleo. Esse sistema
consiste na filtragem da poeira por um filtro e na deposição das sujidades mais
pesadas no óleo. Atualmente tem entrado em desuso, por ser menos eficiente
que os sistemas que utilizam filtros de ar a seco.

▪ Manutenção do sistema de filtragem de ar

A manutenção do sistema de filtragem de ar só deve ser executada, se a


restrição máxima for atingida (visualizada quando o indicador de restrição exibir
uma tarja vermelha quando o trator estiver em funcionamento, neste caso, pare e
remova o filtro para limpeza). O excesso de manutenções poderá causar danos
ao filtro, além de diminuir a vida útil do elemento, conseqüentemente isso implica
em maiores custos e tempo de manutenção.
Diariamente, ou quando o trator estiver operando em condições severas de
poeira, pressione a válvula de descarga, para remover a poeira acumulada
(tratores MF e MAXION).

Pré-filtro
Tubo ou
Ar
Mangote Filtro
Cilindros
do motor

Figura 22. Esquema representativo do caminho percorrido pelo ar (durante a admissão) até os cilindros
do motor.

71
As sujidades do filtro principal devem ser removidas com o auxílio de um
compressor ou outro equipamento que produza um jato de ar. Verifique com uma
lâmpada, em uma sala escura, introduzida no interior do filtro, se há defeitos
nele. Nunca aplique durante a limpeza do filtro uma pressão maior que 70lb/ pol2
(5kgf/ cm2), pois, pressões acima desta poderão danificar o filtro, inutilizando-o.

2.5.2. Sistema de alimentação/combustível

O combustível é necessário para o funcionamento do motor, no entanto, o


combustível deve ser limpo, isento de detritos, água ou outros contaminantes.
A manutenção do sistema de alimentação se faz necessária, porque a
bomba injetora e os bicos injetores são muito sensíveis e de altíssima precisão.
Os mecanismos internos da bomba injetora são lubrificados com o próprio óleo
diesel. Dessa maneira, é importante que o óleo seja muito bem filtrado e isento
de contaminantes.
▪ Tanque de combustível:
Abasteça o tanque de combustível diariamente ou após a jornada de
trabalho, para que assim se evite a formação de água pela absorção da umidade
do ar no tanque e, conseqüentemente, a contaminação do combustível. Os
mecanismos internos da bomba injetora são lubrificados com o próprio óleo
diesel, por isso é importante que o óleo esteja isento de água.
Periodicamente verifique o estado da borracha de vedação da tampa do
tanque. Não abasteça o tanque com combustível sujo e cheio de impurezas.
Essas sujeiras poderão com o tempo, obstruir a tubulação de alimentação de
combustível, além de que, quando se permite o abastecimento contínuo com óleo
diesel sujo, isso irá diminuir a vida útil dos filtros de combustível.
▪ Bomba alimentadora
A cada 1000 horas de trabalho remova o bujão para fazer uma limpeza na
tela filtrante da bomba Ao recolocar a tela filtrante observe que o flange deve
ficar voltado para baixo. Substitua o anel de vedação se necessário e aperte o
bujão sem exagero.
▪ Drenagem do sedimentador e do filtro de combustível.
Diariamente antes de dar a partida no motor, é importante que seja feita a
drenagem da água e das impurezas acumuladas no fundo. Para tanto, solte o
bujão de dreno situado na parte inferior da carcaça do filtro e do sedimentador
deixando-o escorrer um pouco. Feche-os em seguida.

72
▪ Substituição do filtro de limpeza do sedimentador de combustível.
A cada 200 horas de trabalho, faça a substituição do filtro de combustível
e também do sedimentador. Ao colocar o filtro novo, coloque também todos os
anéis de vedação novos que acompanham a embalagem.
▪ Sangria do motor
A sangria do motor deve ser efetivada sempre que a substituição de um
filtro ou a limpeza do sedimentador tiver sido feita. A sangria do motor consiste
na sangria feita no sedimentador, no filtro de combustível e na bomba injetora.
▪ Sangria do sedimentador e filtro de combustível
Solte totalmente o parafuso do tubo de retorno situado no topo do suporte
do filtro. Acione a bomba alimentadora até que saia somente combustível (o qual
deverá estar isento de bolhas de ar), reaperte o parafuso. Muitas vezes, quando
se faz a troca de filtros, ao proceder-se à sangria da bomba injetora (próximo
tópico descrito), e percebe-se que o combustível já está isento de bolhas, dá-se
contato na ignição 1 ou 2 vezes, para auxiliar na extração do ar.
A extração do ar do sistema de alimentação é importante já que o motor só
voltará a funcionar se extraído todo o ar, pois as bolhas impedem a pulverização
do combustível nos bicos. Um dos sintomas quando há algum problema de
entrada de ar (cano furado, parafuso da bomba injetora frouxo, pescador
defeituoso no interior do tanque) no sistema de alimentação é quando o trator
está em movimento e mesmo com tanque cheio, pára de funcionar. Nesse caso
devem-se examinar todas as possibilidades no sistema de alimentação.

▪ Sangria da bomba injetora (bomba horizontal e bomba


vertical – cav)
Solte o parafuso A da bomba injetora e acione a bomba alimentadora.
Pare de acioná-la somente
quando o combustível sair
isento de bolhas de ar. Aperte o
parafuso. Solte o parafuso de
sangria B e acione novamente a
bomba alimentadora. Quando
sair combustível sem bolhas de
ar, reaperte o parafuso. Solte 7
voltas no parafuso banjo C .

73
Assim que o motor ligar, deixe-
o em baixa rotação e raperte.
Nos tratores que não possuírem
parafuso banjo, solte uma ou
duas conexões junto aos bicos
injetores e dê a partida. Aperte
as conexões.
Figura 23. Parafusos de sangria do combustível na bomba injetora. Extraído de: A Bíblia do trator.
IOCHPE-MAXION

74
2.6. Ajustes de bitola e lastração

O ajuste de bitolas depende do tipo de operação a ser feita, da cultura e


das irregularidades dos terrenos a trabalhar. A lastração varia consoante o tipo
de solo e o implemento utilizado. Para uma boa lastração, o operador é
fundamental, pois é de acordo com o seu julgamento que iremos colocar mais ou
menos lastro no trator, em relação ao índice de patinagem do trator.
Esses ajustes são extremamente importantes para que se tenha um bom
rendimento na operação do trator. Um trator bem lastreado irá trabalhar o solo,
sem ocasionar uma compactação excessiva*, nem derrapar ou “atolar”
facilmente.
Os valores de bitola utilizados pelos tratores podem ser encontrados no
manual do operador de cada modelo ou marca de trator**

A figura abaixo ilustra o eixo dianteiro simples (de um trator 4x2), as


peças ou sistema que permitem a mudança de bitolas (lembrando que Bitola
refere-se à distância entre o meio de um pneu e o outro, no mesmo eixo, ou no
caso de implementos, à faixa ou largura de trabalho do implemento).

Figura 8. Sistema telescópico do eixo dianteiro simples (versão 4 x 2). Extraído de: A Bíblia do trator.
IOCHPE-MAXION S.A. S.A.

A canaleta A é presa à mesa do trator por barras principais B que se


deslocam em relação à canaleta, aumentando e diminuindo as bitolas. Soltando-

* Veja capítulo sobre manejo do solo.

75
se os parafusos C e D, pode-se deslocar o conjunto inteiro em relação às
canaletas. As bitolas dos tratores MF 4 x 2 variam de 1,13m a 1,93m, conforme
o modelo permita os diferentes ajustes de bitola.
Quanto aos eixos traseiros, para os tratores MF e MAXION, eles possuem
três tipos de rodas traseiras, com diferentes características:
▪ Rodas do tipo arrozeiras – São fixas e não permitem o ajuste de
bitolas. São rodas usadas com pneus largos e altos, o que permite
grande capacidade de flutuação.
▪ Rodas de discos reversíveis – Igual ao eixo dianteiro (4 x 2). Seu
ajuste permite de 3 a 8 bitolas.
▪ Rodas servo ajustáveis – possuem aros com trilhos de deslizamento.
Pode-se obter de 7 a 9 bitolas diferentes.

As bitolas traseiras são modificadas desde a inversão de um pneu de um


lado ao outro até a inversão da roda sem trocar o lado do pneu, através do
deslizamento da roda em trilhos específicos para tal ajuste (rodas servo
ajustáveis).

O ajuste das bitolas é importante porque a qualidade do serviço executado


é melhorada, quando a bitola do trator é bem adequada aos implementos,
espaçamentos e cultura. Atualmente, os tratores multipropósito vêm sendo
utilizados em áreas intensamente mecanizadas, para o cultivo nas lavouras.
Esses tratores, segundo DEUBER (2002), possuem bitola de, aproximadamente 5
metros.
Com espaçamento de 0,5m entre linhas, pode-se usar uma ou duas grades.
Se a grade ou grades, excederem a largura do trator, podem ser cultivadas, 12,
14 ou até 16 ruas em cada passada. Dessa forma, com a redução do número de
passagens no mesmo local, há inclusive, uma menor compactação do solo
trabalhado.

76
Figura 9. Esquema de ajuste de bitolas traseiras. FÁC – SÍMILE extraído de MAXION (1991).

Quanto à lastração, ela poderá ser feita:


▪ Através de lastração metálica, com a colocação de pesos, tanto nas rodas
quanto na parte frontal do trator.
▪ Através da lastração com água (somente nos pneus traseiros para tratores
4 x 2 ou nos quatro pneus, para tratores 4 x 4).
▪ A lastração também poderá ser feita em alguns implementos, notadamente
os implementos de corte, como o arado de discos e as grades, para
trabalhar mais eficientemente em condições específicas (Solos
extremamente argilosos ou compactados, muitos resíduos vegetais para
incorporar ao solo etc.).

77
O peso não serve apenas como parâmetro na escolha da lastração ideal a
determinados serviços. A relação peso/potência também mostra a faixa de
potência ou “reserva” de potência de alguns tratores. A relação peso / potência
de alguns modelos de tratores nacionais encontram-se no gráfico abaixo, que foi
retirado de SCHLOSSER (2003).

Gráfico 4 . Relação Peso/Potência de alguns tratores nacionais. Extraído de SCHLOSSER (2003).

120
110
100
90
80
70
60
50 Potência
40
30 Peso/Potência
20
10
0

CÔRREA (2004) analisando diferentes lastrações em 2 tratores


submetidos à condições similares às de campo, encontrou para os tratores 4x2
auxiliar (4x2 aux.) que a relação de capacidade de tração / lastração
melhorava, à medida que se punha mais lastro na dianteira até uma faixa de 36
a 45% do peso do eixo dianteiro. Essa autora afirma que, embora se fale em
relação peso/potência ideal, não existe um trabalho que comprove
cientificamente qual relação é a ideal, entre kg de lastro / cv de potência.
Evidentemente, concordamos com tais argumentos, uma vez que, com
nossos conhecimentos e mesmo com a revisão bibliográfica que fizemos, não
conseguimos precisar uma relação peso/potência adequada para esta obra.
Entretanto, sabemos que isso deve-se a uma gama de fatores
intrínsecos à lastração e que concorrem para uma soma enorme de variáveis
tanto ambientais, como do próprio maquinário: as variantes ambientais seriam
a textura do solo, declividade do terreno, teor de umidade do solo, por
exemplo. Já aos aspectos pertinentes á máquina teríamos: que maquinário que
vai se utilizar, condições do rodado, tipo de atividade, velocidade de operação,
entre outros.

78
Assim, resta-nos somente recomendar para busca de uma boa lastração,
os métodos empíricos, que aproximam-se de valores onde não se compromete
a eficiência do serviço e que se agride menos o solo, em termos de
compactação, como por exemplo: lastrear o trator observando o rastro dos
pneus ao executar a tarefa desejada: se o rastro estiver muito deformado, há a
necessidade de se colocar mais peso, por outro lado, se estiver muito
definido, sem ranhuras, deve-se retirar lastro, de forma que se obtenha um
rastro bem definido nas extremidades dos pneus e pouco definidos no centro
dos rastros.

2.7. considerações sobre a correta manutenção dos tratores:

Traçando-se em linhas breves, o que foi apresentado neste capítulo, o


qual baseou-se tanto em uma bibliografia técnica, quanto em fontes de
informações mais práticas, como manuais de fabricantes e materiais de pós-
venda de algumas montadoras: De uma forma direta, uma manutenção bem
realizada é o conjunto de medidas mais eficientes na conservação ou na
garantia de um tempo maior na vida útil do trator e de seus implementos, o
que interfere não só em menores gastos em manutenções, como também,
melhora o valor de revenda do maquinário.
Implementos desgastados, enferrujados, quebrados, assim também como
o trator, subtraem o valor de revenda, uma vez que se pressupõe gastos para
recuperação por parte de quem porventura queira adquiri-lo(s).
Além do mais, um maquinário bem conservado, garante ao empresário
rural, a certeza de que poder contar a qualquer tempo com esse equipamento
(trator x implementos), ou fazer com que um produtor rural prefira só
contratar os serviços de aluguel de uma frota bem cuidada e que não venha
interferir negativamente em operações críticas, como o plantio, ou a
semeadura, por atrasos provenientes das quebras constantes das máquinas
alugadas.
MIALHE (1974), considera a manutenção de tratores e da maquinaria em
geral, condição essencial para o sucesso de qualquer programa de
mecanização agrícola. Ele ainda define a manutenção dos tratores e da
maquinaria agrícola como o conjunto de procedimentos que visam manter tais
máquinas nas melhores condições de uso e prolongar-lhes a vida útil, através
de lubrificações, ajustes, revisões e proteção contra as intempéries.
Vimos, portanto, durante todo este capítulo referente aos sistemas do
trator, que são necessárias algumas manutenções dentro de cada sistema, pois
o trator é, sobretudo uma ferramenta importante na produção do campo, e

79
principalmente, cara19. Evidentemente, não citamos todas as manutenções
pertinentes aos tratores e aos implementos agrícolas, mas em linhas gerais,
apontamos as mais importantes. Procedimentos mais específicos estão
contidos nos manuais dos tratores, que é uma fonte de consulta indispensável
ao produtor rural, ou ao responsável pela manutenção do maquinário. Esses
procedimentos ou conselhos foram extraídos dos manuais, obedecendo
criteriosamente às recomendações dos fabricantes.
Quanto à lubrificação e trocas de óleo, alguns cuidados se fazem
necessários. BÓRMIO (2004) alerta para as seguintes precauções no tocante
ao sistema de lubrificação:
• Marcas diferentes de lubrificantes não devem ser misturadas. Segundo
esse mesmo autor, a utilização de elementos químicos com a mesma
finalidade de aditivação pode ocasionar o surgimento de ácidos que irão
atacar as peças do sistema.
• Observar sempre o uso de lubrificantes com o grau de viscosidade e
classificação correto;
• Se houver vazamento de óleo, estes devem ser corrigidos
imediatamente;
• Os bujões de enchimento devem receber limpeza com pincel e com
solvente antes de serem retirados;
• A vedação da vareta de nível e do guarda-pó são pontos onde ocorrem
vazamentos e responsáveis por grande parte da contaminação por
agentes externos, principalmente poeira. BÓRNIO (op. Cit) recomenda
que se danificados, devem ser imediatamente substituídos.
• O filtro de óleo a cada troca, deve ser limpo ou substituído, conforme a
necessidade.

19 Alguns cuidados relativamente simples, como lubrificações, reparos adequados e conservação do trator garantem,
certamente, menores riscos de defeitos e panes mecânicas que, em alguns casos, poderão onerar sobremaneira as reservas
destinadas à manutenção do trator, ou na depreciação, enquanto custo.

80
Tabela 3 - Cronograma de serviços de manutenção20 do trator agrícola.

Serviço de Manutenção Período (em horas) para revisão

10 50 100 200 500 750 1000

Verificação do nível da água do radiador X

Verificação do nível do óleo do motor X

Drenagem do sedimentador ou dos filtros de combustível X

Remoção da poeira acumulada (Válvula de descarga) X

Verificação do nível do óleo da direção hidráulica X

Verificação da pressão dos pneus X

Verificação da tensão da correia do ventilador X

Verificação do nível do óleo da transmissão X

Troca do filtro do óleo lubrificante do motor 1 X X

Troca do óleo do Carter 1 X X

Verificação do nível do óleo dos redutores epicíclicos X

Limpeza dos terminais da bateria, untando-os com vaselina, X


graxa ou mel
Substituição do elemento primário do filtro de combustível X

Limpeza do filtro do controle remoto independente (caso o X


trator possua controle remoto)
Substituição do óleo dos redutores epicíclicos X

Lavagem do radiador X

Troca do óleo do diferencial do eixo dianteiro tracionado X

Substituição do elemento secundário do filtro de combustível X

Substituição do óleo e limpeza do filtro metálico da bomba X


YSIP (troca do óleo da transmissão)2
Troca do óleo da transmissão (tratores com controle remoto) 2
X

1 Para tratores novos, amaciando o motor a primeira troca deve ser de 50 ou 100 horas.

20 Infelizmente, os cuidados e manutenções descritos neste capítulo, não são a totalidade dos necessários à manutenção do
trator. Até mesmo porque esse livro não pretende deter-se somente à manutenção, devendo abrir discussões acerca de outras
questões. Alguns procedimentos aqui descritos, representam os principais, ou os mais facilmente realizáveis, alguns outros
cuidados são necessários, os quais podem variar de acordo com cada fabricante. É importante que seja consultado o manual
do fabricante, para que esses casos específicos sejam observados.

81
CAPÍTULO 3
Os implementos agrícolas:

No âmbito de uma otimização dos recursos do ambiente (leia-se solo,


topografia, clima) e dos recursos artificiais (máquinas, insumos, mão de obra,
capital disponível etc.) – fatores econômicos, é que iremos optar pelo uso mais
adequado dos implementos e do trator.
Para que sejam obtidos bons resultados no trabalho agrícola, é relevante
que além de estar em boas condições de uso e conservação, o implemento
agrícola seja adequado à natureza do trabalho que se deseja executar e que seja
também, compatível com o trator. No que se refere à adequação do implemento
ao trator, em termos de potência e capacidade do conjunto, veremos mais tarde,
as relações de potência, trabalho e capacidade efetiva de trabalho.
No tocante às boas condições de uso e conservação, nós anteriormente já
alegamos que os cuidados com a manutenção são indispensáveis para uma maior
vida útil e, logicamente, uma menor depreciação do equipamento. Porém, a
observação de aspectos práticos, no que se refere ao serviço propriamente dito,
faz parte de um aproveitamento otimizado, tanto do conjunto trator x
implemento, quanto de fatores relativos à eficiência desse conjunto, economia de
tempo e de dinheiro e os aspectos conservacionistas do solo.
O correto manejo do conjunto trator x implemento, otimizando o serviço,
depende de uma boa projeção do que se deseja fazer e o que se deverá fazer.
Definidas as necessidades e os serviços a serem realizados com o
maquinário agrícola, surge uma pergunta: como fazer?
Essa questão a primeira vista pode parecer simplista ou óbvia demais.
Entretanto, fazer uma tarefa agrícola envolve uma série de fatores que se
pensados preliminarmente e resolvidos na execução do serviço, os ganhos
compensarão o esforço.
Primeiro deve-se saber qual a finalidade, o que se quer fazer. Plantar
milho? Soja? Algodão? Implantação ou manejo de pastagem? Um eucaliptal?
De acordo com a finalidade serão definidos com o que se fará. É aí que
entra a escolha do implemento correto. Tanto para a natureza do serviço, como
o seu perfeito dimensionamento, na relação trator x implemento, sempre
objetivando a redução dos gastos ao minimamente necessário. Assim, se a área
na qual você vai plantar uma cultura anual ou o consórcio delas, pede o preparo
de uma boa sementeira, normalmente seria feita uma aração e duas gradagens
médias ou uma aração mais uma gradagem pesada e duas gradagens leves, pelo
sistema convencional de preparo do solo.
No entanto, devem-se observar outros fatores que o preparo
convencional do solo negligencia. Fatores que citamos anteriormente e que

82
novamente frisamos. A textura do solo, por exemplo, solos arenosos não
necessitam de um mesmo preparo que os argilosos. A não ser em casos
específicos, como no combate às ervas, incorporação de material vegetal, ou
calagem. Para o caso de combate a ervas daninhas, de acordo com o caso pode-
se usar uma grade ou a roçadora.
A última pergunta è como fazer. Deve-se traçar preliminarmente todos os
passos da tarefa agrícola, sempre visando reduzir ao mínimo o número de
passagens, o que servirá como racionalização dos recursos econômicos e do
manejo do solo.
A escolha do equipamento adequado influí no rendimento do serviço, não
só no sistema convencional de plantio, como também no plantio direto (no caso
deste último, na semeadura, por exemplo, deve-se observar qual tipo de
implemento ou acessório é mais adequado às condições locais, pois o corte da
palhada na formação do sulco das linhas de plantio é extremamente importante).

3.1. Manutenção dos implementos

Todos os implementos utilizados na agricultura sofrem esforços e


desgastes, bem como a ação das intempéries que fazem com que seja necessário
se proceder a uma manutenção desses equipamentos.
Implementos de preparo de solo, como os arados e as grades requerem
manutenções mais simples do que, por exemplo, um pulverizador.
Basicamente, as manutenções dos implementos consistem em limpeza,
lubrificação das partes móveis (mancais, cubos, articulações), pinturas (alguns
implementos com óleo queimado ou anti-ruste), troca de peças desgastadas,
limpeza de bicos (pulverizadores), afiar os discos (grades e arados), trocar
enxadas desgastadas (cultivadores), reposições, soldas, entre outras
manutenções.
Neste capítulo, faremos a exposição de alguns implementos e relataremos
brevemente as manutenções adequadas a cada implemento.

3.1.2 Manutenção dos equipamentos de tração animal

O mesmo princípio das manutenções aplicado aos implementos tratorizados


é aplicável aos implementos de tração animal.
Assim, no caso de implementos de aço, deve-se protegê-los das
intempéries. A exposição direta e prolongada por muitos anos aos rigores
ambientais (sol, chuva etc) poderá comprometer a sua durabilidade. Passar
nesses implementos óleo queimado, (quando não for possível reformá-los com,
por exemplo, pinturas antioxidantes). Aplicável ao arado, cultivador, enxadão.

83
Nos implementos de corte, trocar as enxadas sempre que estiverem muito
gastas, após muito uso (a periodicidade varia com a intensidade de uso, tipo de
solo) -aplicável ao cultivador, enxadão, arado de aivecas.
Lubrificar as partes móveis corretamente, evitando que o lubrificante
possa vir a “atrair” elementos abrasivos, principalmente areia, durante a
operação do equipamento. Evite passar graxa em rolamentos ou mancais secos,
de forma que a areia venha a ficar impregnada nessas partes, funcionando como
um elemento abrasivo, essa graxa não deve entrar em contato com a areia, ou as
partículas de solo.

84
3.2.Planejamento e desempenho operacional de máquinas agrícolas

O desempenho operacional das máquinas agrícolas depende de diversos


fatores. Fatores como relevo, tipo de solo, implemento usado, potência do trator,
condições climáticas e até a habilidade e experiência do tratorista, influenciam
sobremaneira no resultado final do trabalho agrícola.
O desempenho reflete-se como resultado da influência dos fatores
anteriormente mencionados em um aspecto mais concreto do que simplesmente
conceitual: o rendimento.

O Rendimento das operações de mecanização

O rendimento é função do trabalho realizado num determinado período de


tempo.
Assim teríamos:
Rendimento = Trabalho realizado

Mais especificamente poderíamos deduzir que o trabalho realizado refere-


se à capacidade de trabalho. A capacidade de trabalho é calculada pela
velocidade de deslocamento do conjunto trator – implemento, da área trabalhada
e da eficiência.
A área trabalhada depende diretamente da largura trabalhada e do tempo.
Consideremos o tempo em horas e a área em hectares. Consideremos também
que nenhum conjunto trator – implemento consegue obter uma eficiência de
100%, pois além das perdas durante a faixa trabalhada, ainda há a demora para
as manobras das cabeceiras. Como exemplo, o cálculo da capacidade de trabalho
para uma operação de gradagem, seria expresso, segundo SILVEIRA (1989) na
seguinte relação:

Capacidade de trabalho: Velocidade x largura de corte x eficiência


1.000
Sendo a eficiência o percentual do tempo realmente gasto com a atividade
(excluindo aí as manobras de cabeceiras e paradas) e variando conforme a
atividade. Uma outra forma de calcular a capacidade de trabalho pode ainda ser
através da capacidade efetiva de trabalho, que é dada:

Capacidade efetiva de trabalho = Área trabalhada


Tempo de serviço
Quando tratamos de rendimento, também está implícita a questão do gasto
de combustível em relação à unidade de tempo (hora máquina- HM) para
executar as atividades. A tabela 3 ilustra o rendimento das operações agrícolas

85
em hora máquina e mostra também o consumo médio de combustível para as
principais atividades motomecanizadas.
Tabela 4 - Rendimento das operações motomecanizadas e consumo de combustível (diesel)
de acordo com a faixa de potência, para tratores de pneus (fonte: AGENDA DO
PRODUTOR RURAL BNB - 2003)
Faixa de 61-63 73-77 79-86 95-110 118-122
potência (c.v.)

Rendimentos (ha/H)
Operações

Aração 0,2-0,4 0,4-0,6 0,5-0,7 0,8-1,0 0,9-1,3


Gradagem 0,3-0,6 0,6-0,8 0,6-0,8 0,7-1,0 0,9-1,5
aradora
Gradagem 1,3-2,0 1,0-2,1 1,8-2,7 2,2-3,1 2,0-3,2
niveladora
Distribuição 1,3-1,9 2,2-3,3 2,8-3,6 ... ...
de calcário
Plantio 0,4-1,1 0,4-1,3 0,4-1,4 1,7-1,9 1,7-1,9

Cultivo 0,9-1,9 1,5-2,4 1,4-2,3 ... ...

Pulverização 2,2-3,5 4,9-6,5 4,2-5,4 ... ...

Subsolagem 0,3-0,4 0,4-0,6 0,5-0,6 0,8-0,9 0,8-0,9

Sulcamento 0,4-0,6 0,4-0,5 0,9-1,1 0,9-1,1 0,9-1,2

Roço 0,7-1,2 1,0-1,5 1,0-1,5 1,0-1,5 1,0-1,5


Consumo médio (L)
4,0-7,0 6,0-9,0 7,0-10,0 8,0-13,0 9,0-15,0

Gerenciamento econômico do setor de mecanização

Algumas fazendas compram programas específicos que fazem o


gerenciamento do setor de mecanização através do fornecimento dos custos e
receitas do setor. De uma forma geral, esses programas são bancos de dados
que são alimentados com os dados pertinentes às despesas com mão - de – obra,
combustíveis, lubrificantes, peças e demais despesas, e ao final, esses custos
são subtraídos da receita, que considera todas as horas trabalhadas do mesmo

86
preço, ou muito próximo, da hora cobrada pelo maquinário de aluguel. Ao final,
teremos uma espécie de “saldo”, que poderá ser positivo, que é o desejado, pois
o maquinário está dando lucro e, o saldo negativo, que deve ser evitado.
Assim, seria o equivalente à construção de uma “conta-corrente”, seja do
trator ou do implemento durante sua vida útil. Para que, o empresário possa
adequar os gastos, racionalizando o setor de mecanização de sua fazenda.
O empresário rural pode também lançar mão de planilhas próprias,
elaboradas na própria fazenda, de forma que sejam feitos os somatórios dos
gastos e das receitas, para que se tenha uma noção do saldo do setor na
propriedade.
Durante o período que estivemos no Rio Grande do Norte, pudemos
conhecer bancos de dados originados da própria fazenda, no caso, propriedades
que exploravam mais fortemente a fruticultura de exportação, como a Fazenda
São João e a Vitória Agrícola. Esses bancos de dados eram feitos a partir de
programas de plataforma Windows, como o Excel e que eram de uma excelente
adequação prática.
Ainda no contexto do gerenciamento econômico do setor de mecanização
da empresa agrícola, um outro aspecto que merece ser cautelosamente visto e
discutido refere-se à frota ideal para cada fazenda. Muitos produtores rurais se
perguntam: Quais os implementos mais adequados à sua propriedade? Qual o
trator ideal? Qual a melhor relação de trator x implemento?
De acordo com GENTIL (2001), para o empresário agrícola, “ a frota ideal
é aquela fruto do correto atendimento das necessidades da fazenda. Nunca a
frota será ideal se o gestor repetir rotinas, palpites ou velhos padrões (...) é
preciso analisar, planejar e decidir à luz da razão, do bom senso e dos interesses
o que ele quer, o que ele precisa e o que ele pode” (vê-se que o autor foi
incisivo e direto e por isso destacamos a sua última frase).

Quando nos referimos à perfeita adequação da relação Trator x


implemento, referimo-nos também ao seu contexto na propriedade. Mesmo com
um conjunto trator x semeadeira bem dimensionado para funcionar em conjunto
perfeitamente, pouco adiantará essa relação se ambos forem subutilizados.
Trator e implemento viáveis são aqueles os quais são utilizados ao máximo, por
uma quantidade a maior possível de horas durante o ano.

Assim, a compra de um equipamento ou de um trator deve levar em conta


diversos aspectos, como a própria necessidade daquele equipamento ou trator. A
quantidade de serviço a ser realizado, para que se evite a subutilização. Outro
fator é o conforto operacional. MIALHE (1974) relatava que foram obtidos
melhores índices de produtividade no trabalho com trator quando se fez uso de
assentos ergonômicos. Daí pode se extrapolar para outro aspecto, como a

87
compra ou não de um trator cabinado. GENTIL (op. cit) ilustra que entre um
trator cabinado e um trator sem capota, a satisfação dos funcionários é bem
diferente, o que influí no rendimento do serviço. Aliás há uma literatura bem
razoável no tocante ao conforto e ergonomia como incrementador de
produtividade.
A compra de um trator usado é algo crítico, pois quase sempre não se tem
a garantia de um bom negócio, afinal garantias reais do perfeito estado daquela
máquina são muito do histórico daquele equipamento. Para a recuperação de uma
frota de uma fazenda, tem-se que traçar um diagnóstico geral do estado da frota.
Esse diagnóstico remete à consulta do valor médio alcançado pelo maquinário no
mercado.

88
O valor que será gasto para recuperação de toda a frota é corresponde ao
índice de sucata da fazenda. Assim se temos em uma fazenda hipotética, alguns
tratores e equipamentos que precisam ser recuperados, a diferença que for
necessária, obtida pelo valor do equipamento novo subtraído do valor atual
representa o valor de sucata. Assim, por exemplo, se tivéssemos:

CUSTO DA FROTA NOVA: R$: 215,000.00


VALOR DE REVENDA DA FROTA: R$ 115,000.00
DIFERENÇA: - 100,000.00
ÍNDICE DE SUCATA: 46,51%

Níveis de preços próximos a 40 % são considerados muito bons.


Entretanto, GENTIL (op. Cit) afirma que, na prática, a média está na faixa de 90%
a 75 %,o que muitas vezes torna a fazenda pouco competitiva, ou dificulta a
aquisição de novas máquinas ou a terceirização.
Por nossa própria experiência e vivência em campo, vemos reclamações
no que concerne à renovação da frota devido aos custos ou até mesmo no
tocante à compra de peças e serviços especializados as queixas em relação à
demora da chegada das peças ou do preço delas. Já para GENTIL ( op. Cit), as
reclamações na prática são praticamente as mesmas:quebras de máquinas em
períodos importantes como a colheita ou o semeio, entre outros.

A depreciação das máquinas agrícolas

Entende-se por depreciação, as perdas referentes a um valor inicial de um


bem durável. A depreciação torna-se relevante para o administrador rural, pois
através do conhecimento dos custos de manutenção, bem como do
acompanhamento das despesas e receitas promovidas para qualquer máquina
agrícola, pode-se ter o conhecimento do “saldo”, em dinheiro, que tal maquinário
proporcionou durante o exercício.
Além disso, a depreciação também deve ser vista como uma forma de
análise do valor comercial da maquinaria, de acordo com o seu período de vida
útil. Vida útil de determinado equipamento é o tempo considerado entre a sua
aquisição (ano 0) e seu valor como sucata, ao fim de um prazo pré-determinado.
O cálculo da depreciação pode ser feito segundo SAMUELSON (1963) de
duas formas: linear ou de saldo decrescente.
No cálculo linear, o valor de custo da depreciação é calculado de uma
forma linear. As taxas de depreciação são distribuídas uniformemente durante
toda a vida útil do equipamento ou maquinário.

89
Assim, um caminhão comprado por R$ 40.000,00, ou considerando a moeda
mais comum entre os produtores rurais, sacas ou suas respectivas unidades21 de
produção, e levando-se em conta também que esse caminhão terá vida útil de 10
anos, seu valor de sucata será de um décimo do seu valor de compra.
Assim, teríamos que:

D = Vc/Vu
Onde:
D= Depreciação anual
Vc = Valor de compra
Vu = Vida útil (anos)

Já o método de saldo decrescente, calcula a depreciação de uma forma que


o valor do bem vai decrescendo, inicialmente 20 % do valor total do bem, sendo
a partir da segunda parcela, é calculado em 20% do valor restante. As parcelas
pagas, ou as taxas de depreciação são maiores durante os primeiros anos de
depreciação, mas permitem que as últimas sejam bem menores do que as
primeiras parcelas, ou menores do que as parcelas da depreciação linear.
SAMUELSON (op. Cit) afirma que os cálculos de depreciação embora
feitos com fórmulas aparentemente exatas, geralmente incorrem em erros e
imprevistos, recorrendo a “...correções e hipóteses arbitrárias ... e que os erros
de depreciação acabam por se compensar de alguma forma”. Essa compensação
a que se refere o autor refere-se quando um bem supera a sua vida útil. Assim,
a partir dessa data, os lucros do uso desse bem estarão sobreestimados,
compensando o período em que foram subestimados.

3.3. As atividades agrícolas e os implementos:

Dentro da propriedade rural, os serviços mecanizados têm um alcance de


funções muito grande. Têm-se uma ampla gama de atividades realizadas por
máquinas, de uma forma muito rápida e que requer pouco esforço humano. Como
exemplos citamos o desmatamento, preparo do solo, aplicação de corretivos,
semeadura, práticas conservacionistas, tratos fitossanitários, colheita, transporte
e armazenamento.

3.3.1. Preparo do solo:

21
Muitos produtores rurais contabilizam suas aquisições de acordo com o que custou tal aquisição à empresa.
Esse é um ponto curioso, mas que baseado na realidade de cada produtor é até aí, correta, desde que não haja
uma grande flutuação no valor comercial dessas unidades de produção de cada propriedade agrícola de ano a ano.

90
O preparo do solo para plantio, no sistema convencional obedece a
atividades que mobilizam o solo. Tais atividades compreendem a aração e a
gradagem.

▪ Aração

A terra arável é a parte superior ou mais superficial do perfil do solo.


Restringe-se apenas a profundidade cultivável, ou mais comumente mobilizada
no preparo do solo no sistema convencional, que é de aproximadamente 30 cm,
embora as raízes das plantas explorem um volume de solo relativamente grande,
mesmo de culturas anuais, como o milho, que dependendo das condições físicas
do solo, pode atingir até profundidades próximas a 2 metros.
De acordo com SILVEIRA (1989), para aumentar a fertilidade do solo, é
importante a incorporação de restos vegetais. O aporte aos solos de matéria
orgânica, é sabidamente necessário, principalmente pela melhoria das condições
físicas e estruturais dos solos agrícolas.

Princípio da aração: A reversibilidade da leiva

Essa mobilização mecânica dos solos feita no preparo convencional


consiste na movimentação e inversão das camadas superficiais. O solo é
inicialmente cortado, levantado, invertido e esboroado. Isso é mais facilmente
percebido na operação de aração.
A aração é a operação mais antiga de preparo do solo. Primitivamente,
após a domesticação dos animais de tração, (por volta de 6000 a.c.) usava-se um
galho retorcido para cavar um sulco e revolver a terra. Com a evolução do
engenho humano, muitas modificações foram feitas, principalmente a partir da
revolução industrial e das primeiras mudanças no sistema de produção do campo.
A finalidade da aração, originalmente, nas condições onde foi desenvolvida
(países de clima temperado), era de descongelar as camadas superficiais do solo
para o cultivo, além de eliminar ou enterrar as ervas daninhas e restos de
cultura. Nas nossas condições, de solos tropicais, evidentemente, somente o
enterrio de ervas daninhas e de restos culturais baseiam essa prática. ALDRICH
e LENG (1974) afirmam que, através do revolvimento do solo, tanto através do
arado como das grades, o preparo das sementeiras para culturas anuais é
importante, para uma boa a germinação das sementes, contudo, o sistema de
plantio direto, no qual não há revolvimento do solo tem obtido resultados
extremamente satisfatórios, abolindo operações como a aração e as gradagens..
O trabalho do arado, de acordo com SILVEIRA (1989), pode propiciar as
seguintes vantagens ou benefícios:

91
- Ambiente para o crescimento das raízes (rizosfera) profundo;
- Aeração do solo;
- Destruição de insetos e larvas e de seus locais de
desenvolvimento (como exemplo, citamos o bicho – bolo, ou
pão de galinha, inseto-praga de muitas culturas olerícolas, o
qual reside no solo e é facilmente exposto à superfície,
através do revolvimento realizado pelo arado);
- Aumenta o espaço entre as partículas do solo, facilitando a
retenção de água, bem como diminuição da evaporação do
solo, pelo rompimento dos canais capilares, o que resulta em
maior umidade disponível às plantas.

Entretanto, do ponto de vista da estruturação dos solos, a aração é


questionável. Antes, era tida como atividade básica de preparo. Hoje, ela não é
mais considerada como tal, sendo substituída por gradagens pesadas, médias ou
até leves, no chamado preparo mínimo do solo (ALDRICH e LENG, 1974;
SILVEIRA, 1989) e plantio direto (SILVEIRA, op. cit).
Os fatores principais, portanto, que pode induzir-nos a usar ou não o
arado é a textura e condições físicas do solo. Solos franco-arenosos ou
arenosos não necessitam de uma aração prévia, uma gradagem média ou até
mesmo duas gradagens leves resolvem e, o que é mais importante, não afetam
ou desagregam uma mínima estrutura desejável como desagregaria uma aração
seguida de duas ou até três gradagens, feitas comumente em solos argilosos.
Entretanto, a operação de aração presta-se, no sistema convencional,
principalmente na correção do pH do solo, através da incorporação do calcário e
da operação de incorporação de gesso agrícola, com vistas à lavagem do solo,
para lixiviação do excesso de sais.

Sistemas de aração:

Uma boa aração deve ser realizada de forma que não se formem áreas não
aradas no terreno, seja por diferenças de profundidades no corte ou até mesmo
pela não passagem do arado. Além disso, os sulcos deverão ter a mesma
profundidade, serem retos, ou em contorno, seguindo o sentido transversal à
declividade do terreno, de forma a evitar a erosão, pela ocorrência da enxurrada.
A aração, portanto, pode ser feita em talhões, em áreas terraceadas ou em
contorno (SILVEIRA, 1989).
A aração em talhões é feita somente em terrenos planos ou ligeiramente
inclinados. Pode-se proceder à aração em talhões tanto de dentro para fora do
terreno, ou vice-versa. É aconselhável, porém, que se façam tais procedimentos
alternadamente, de forma que não se direcione o solo tombado somente para as

92
periferias do terreno, resultando na depressão do centro da área arada somente
de dentro para fora ao longo dos anos, bem como que se evite o acúmulo do solo
no centro do talhão, por ocasião da aração feita de fora para dentro, por anos
repetidos.
A escolha do sistema de aração deve considerar além das características
da topografia da área, o menor tempo para manobra nas cabeceiras das faixas e
a existência de sulco aberto ao final de cada passada do arado, sobre o qual a
leiva subseqüente será invertida.

Arados fixos e móveis:

A denominação dada aos arados em fixo e móvel diz respeito à


reversibilidade dos corpos do arado. O arado é dito fixo quando movimenta a
leiva somente para o lado direito. Diz-se que o arado é móvel quando a leiva é
movimentada tanto para o lado direito como para o esquerdo. Para tanto, nos
arados móveis, há alguns componentes que possibilitam a modificação não só do
ângulo vertical (ângulo de ataque) dos discos, mas também a inversão dos
discos, mudando, portanto, o sentido de tombamento da leiva. Em um arado
reversível dos modelos mais comuns, os componentes responsáveis pela
inversão são a barra de regulagem, o apo de reversão, o batente do apo, a barra
de regulagem, o mancal principal do apo e a alavanca manual de reversão.

93
O Arado de aivecas:

O arado de aivecas foi o primeiro arado desenvolvido pelo homem. Esse


tipo de arado inverte o solo através da relha e da aiveca, obtendo-se como
resultado final, uma boa cobertura dos restos vegetais na área trabalhada.
Os componentes montados sobre o chassi são a sega, coluna, relha,
costaneiras, facão e as aivecas.

As aivecas são as peças que realmente caracterizam esse tipo de arado


(SILVEIRA, 1989).O corte, a elevação e o esboroamento da leiva são mais
perfeitos do que o arado de discos. Entretanto, os arados de aivecas possuem
algumas desvantagens que os tornam menos utilizados no campo, perdendo para
os de discos. A saber:
1) Reduzida capacidade de trabalho em solos muito argilosos ou
argilosos (quando o teor de argila ultrapassa os 30%);
2) A regulagem desse tipo de arado é complicada;
3) Enterrio acentuado de restos vegetais, o que pode favorecer a
erosão.
4) Ao contrário dos discos, que podem ser simplesmente afiados ou
trocados, as aivecas quando sofrem manutenção, muitas vezes
requerem o trabalho de um ferreiro para afiar e repor o corte da
relha.

Quanto aos pontos positivos destes implementos, podemos citar:

1) Penetração bem maior do que os arados de discos, atingindo


profundidades de 25 a 35 cm.
2) Pode ser utilizado em áreas compactadas, principalmente
quando ocorre o pé-de-grade. SILVEIRA (1989) afirma que tais
arados melhoram a infiltração d’água no solo, principalmente em
latossolos (planissolos) e terra roxa-estruturada. Além disso,
esse mesmo autor ainda aponta uma vantagem dos arados de
aivecas em relação aos de discos no que se refere ao seu uso
no enterrio de ervas daninhas.

Um problema no desempenho do arado de aivecas refere-se ao desenho


da aiveca. Sabe-se que para cada tipo de solo, há uma “anatomia” da aiveca ou
desenho mais adequado para realizar o trabalho eficientemente, principalmente

94
para as nossas condições. Fatores como textura, restos culturais e até a
velocidade de trabalho influem no funcionamento do arado. De uma forma geral,
quanto mais duro for o solo a ser trabalhado, mais baixa será a altura da aiveca
e mais alta, para solos mais frouxos. Por outro lado, quanto maior for a
quantidade de restos vegetais, maior deverá ser a aiveca. Essas particularidades
dos arados de aivecas fizeram com que o arado de discos se tornasse mais
empregado em todo o Brasil.

O arado de discos

O arado de disco é derivado do de aivecas. O elemento ativo no


revolvimento do solo dos arados de discos é sem dúvida os discos, os quais
historicamente derivaram do aperfeiçoamento das aivecas.
O arado de discos é composto por discos postos isoladamente em
rolamentos individuais (cubos) ligados ao chassi ou porta-implementos, através
de colunas. Tais arados são compostos, portanto, por discos, chassi, colunas,
mastro, roda estabilizadora e os limpadores.

Imagem 4 - Arado de discos. Fonte: Baldan.

Os discos têm a função de cortar e inverter o solo, à profundidades médias


de 25 cm. possuem limpadores, que têm a função de retirar o excesso e acúmulo
de solo dos mesmos. O mastro ou torre conecta o trator ao arado (é onde estão
inseridos os três pontos de engate).
A roda estabilizadora fica localizada na parte posterior (traseira) do arado,
serve para manter o arado estável, absorvendo os impactos laterais e servindo
também para controlar a largura de corte. Durante o deslocamento do conjunto
trator x arado.
A penetração dos discos no solo deve-se ao peso do arado e aos ângulos
de inclinação dos mesmos, assim como os arados de aivecas que têm nos
ângulos formados entre a aiveca e o solo (ângulos verticais e horizontais), uma
maior ou menor penetração.

95
Entretanto, as melhores adequações no emprego do arado de discos
referem -se primeiramente à sua versatilidade: são empregados em todos os
tipos de solos.
Para operações de calagem, obtém - se melhores resultados quando se
procede à incorporação com o arado de discos. Esses implementos adequam-se
melhor aos solos mais secos
No entanto, assim como no arado de aivecas, os de discos também
necessitam de uma regulagem para uma boa aração, devendo-se proceder às
regulagens, no que concerne à largura de corte, profundidade de corte,
estabilidade e bitola.
O arado de discos apresenta algumas limitações. A aração por si só já é
uma atividade que requer um esforço considerável por parte do trator (por ser
uma operação em que se trabalha quase sempre em uma 2ª marcha, o consumo
de combustível é elevado, principalmente na aração com o arado de discos).
Especificamente, também neste caso, quando ocorre o uso seguido do
arado por diversos anos, há formação do chamado pé-de-arado, devido ao fato
da roda direita do trator passar pelo sulco recém-aberto, na passada anterior, o
que facilita a compactação.
Há um baixo rendimento quando a leiva é tombada morro acima,
entretanto, recomenda-se que nesse caso, se feito o tombamento morro acima,
alterne-se o sentido no ano subseqüente, para que se evite o acúmulo do solo
nos terraços ou em glebas específicas. Esse tipo de arado também não consegue
penetrar se a área tiver excesso de restos vegetais.

▪ A gradagem

As operações de gradagem não se limitam somente, ao “ajustamento” do


preparo primário, ou como uma seqüência em relação à aração, (tanto a aração
como a gradagem constituem o que chamamos de preparo periódico do solo,
tendo as gradagens e as outras atividades mecanizadas de revolvimento do solo
– como o uso de rolos compactadores, para preparo das sementeiras – a
denominação mais comum de preparo secundário do solo).
Esse preparo secundário do solo é constituído na maioria dos casos
somente das operações de gradagem. A operação de gradagem pode substituir
em diversas situações a aração (existindo, porém, as particularidades). Em solos
arenosos, não se faz necessário uma aração, seguida das gradagens, uma
(passada de) grade média ou até mesmo duas grades médias comumente
prestam-se muito bem no preparo do solo, sendo práticas difundidas pelo
sistema de preparo mínimo.
Outras atividades realizadas pela operação de gradagem podem ser
listadas como o emprego de corretivos, a destruição de ervas daninhas,

96
escarificação superficial do solo, principalmente em áreas de pastagem, e no
manejo e conservação das áreas declivosas, através da construção e manutenção
de canais e terraços.
A capacidade de trabalho pode ser calculada através da fórmula dada na
página 78, para se determinar a área trabalhada ou o tempo em horas, de acordo
com a largura de corte e eficiência do serviço.

As grades de discos

A grade de discos é um dos implementos mais difundidos para o preparo


do solo. Ela o corta e areja, incorporando restos vegetais com relativa facilidade
e adequação excelente. A faixa trabalhada no perfil varia de 8 a 15 cm da
superfície. Adequa-se de uma forma muito boa a solos duros, no destorroamento
e no preparo de sementeira para plantio, não se adequando, todavia, aos
pedregosos 22.
Os componentes ativos dessas grades são os discos. Tais órgãos são
dispostos montados em um mesmo eixo, distanciados uns dos outros por
separadores, também conhecidos por carretéis, onde na extremidade
encontram-se arruelas de encosto e porcas de fixação. O conjunto destes
componentes é denominado de porta-discos, o qual é fixado ao chassi da grade
por meio de mancais (uma luva de ferro ou aço).
Os mancais das grades podem ser lisos (compostos por ranhuras que
necessitam de constante lubrificação, para evitar seu engripamento e desgaste),
podem ser com rolamentos, os quais precisam de uma boa lubrificação e de
vedação contra a entrada de terra (como lubrificantes, pode-se usar graxa ou
óleo, desde que se observe o período de troca de mil horas de trabalho). Por
fim, existem ainda os mancais antifricção, os quais são equipados com vedação
para impedir a entrada de elementos abrasivos. Estes últimos, de acordo com
SILVEIRA (1989), precisam de lubrificação a cada trezentas horas.
No tocante às manutenções dos implementos de discos, além dos
reapertos em parafusos, da lubrificação e substituição de peças que porventura
estejam quebradas ou defeituosas, os discos ainda merecem um cuidado
especial: é o de serem afiados em esmeril, para que penetrem no solo mais
facilmente.
As grades apresentam diferentes tipos de discos. Quanto à borda (ou
gume) os discos podem ser lisos ou recortados. Os discos de borda recortada
prestam-se melhor ao enterrio de restos de cultura, pois o material é preso e

22Segundo ALDRICH e LENG (1974), a grade de discos não é apropriada para trabalhar em solos pedregosos,
principalmente com pedras grandes e chatas.

97
cortado simultaneamente. Quanto ao corpo do disco, ele pode ser côncavo, plano
ou ondulado, de acordo com o tipo de grade.
Quanto á durabilidade, as condições do solo a que são submetidos
interferirão na vida útil dos discos das grades. As grades de discos, como foi
dito anteriormente, não são adequadas ao trabalho em solos pedregosos, uma
vez que as pedras danificam, e muito, os discos, principalmente os recortados,
que, embora tenham uma maior capacidade de penetração, têm uma menor
durabilidade, face às lesões sofridas nos seus “recortes” o que os faz tenderem
naturalmente ao cisalhamento. Esse aspecto deve ser considerado, uma vez que
os discos de bordos recortados são mais caros do que os de bordos lisos.
Os discos sofrem forças de reação do solo (as forças normais à ação dos
discos e o atrito). Essas forças exigem determinada potência do trator para o
deslocamento do conjunto trator e grade. De acordo com SOUZA et all (2003)
essa potência varia com o tipo de solo, podendo ser em média de 2kW de
potência por disco, chegando em solos mais resistentes a 2,5 kW/disco
(lembrando que 0,746 kw equivale a 1 HP, o que dá até 3,35 HP/disco, para
solos mais resistentes)

Figura 10 - Discos côncavos e cônicos, b) Discos planos e ondulados (Fonte:SOUZA et all, 2003). Nos dois
casos, observa-se que, para os diferentes tipos de discos, existem os bordos lisos e recortados.

As ações exercidas nos solo pelas grades de discos, baseiam-se no


princípio da reversibilidade da leiva, conforme citado no tópico referente à
aração e, segundo SOUZA et all (2003), constituem-se de;

a) Seccionamento;
b) Pulverização;
c) Tombamento;
d) Nivelamento.

No seccionamento, há uma ação cortante dos discos sobre o solo,


dividindo a faixa trabalhada pela grade em seções, sendo uma seção para cada
par de discos da grade.
Há, no segundo momento, uma pulverização do solo, causada pela pressão
dos discos, longitudinal e verticalmente.

98
O tombamento é uma conseqüência do levantamento da massa ou leiva de
solo erguida pelos instrumentos de corte ativos (no caso os discos), a qual, em
seguida será invertida, recobrindo a seção seguinte para depois ser nivelada,
segundo SOUZA et all, (op. cit) devido à tendência de formação de microrelevo
pela ação da grade. Esse microrelevo dá-se através das três primeiras ações dos
discos (seccionamento, pulverização e tombamento).
O nivelamento é feito mais facilmente simplesmente pelo aumento da
velocidade de trabalho ou pela regulagem da grade. Segundo SILVEIRA (1989),
para se obter um bom trabalho, a grade deve penetrar uniformemente em toda
sua largura de operação, especialmente para a grade de discos. Faz-se
necessária, portanto, uma regulagem da grade, bem como o trabalho do conjunto
trator/implemento, em velocidades adequadas.

Tipos de grades de discos:


As grades de discos são classificadas de acordo com a fonte de potência,
massa por disco, engate à fonte de potência, sustentação, disposição das seções
e características estruturais.
A classificação tocante às fontes de potência relacionam-se às grades de
tração animal ou mecânica.
Quanto à classificação por massa de disco, Obtém-se a massa por disco
dividindo-se a massa da grade pelo número de órgãos ativos (discos):

Md = Massa/discos

Dessa forma, obedece-se à seguinte classificação:

a) Grades leves:
A grades leves são assim classificadas por apresentarem massa por disco
igual ou inferior a 50 kg, com discos chegando às 22 pol. de diâmetro. São
utilizadas para destorroar, nivelar, misturar insumos, incorporação de ervas
daninhas pequenas, em áreas ainda em sementeira, usadas também na formação
de pastagens, através do enterrio das sementes ou partes vegetativas das
gramíneas implantadas.

b) Grades médias;
As grades médias apresentam massa por disco entre 50 e 130 kg, com
diâmetro dos discos entre 24 e 28 pol. muito utilizada, a grade média presta-se
muito bem para trabalhar em condições de alta infestação de ervas daninhas e
plantas trepadeiras, também usada para destorroar o solo, após uma aração ou
gradagem pesada. Pode substituir a aração, em solos de textura média a

99
arenosa, considerando-se que haja uma alternância com a grade pesada e o
arado.
c) Grades pesadas ou aradoras:
São grades que apresentam massa por disco superior a 130 kg, com
diâmetro dos discos de 30 pol ou superior. Tais grades destinam-se ao
revolvimento profundo do solo e incorporação de material de cobertura. Vem
substituindo em muitas regiões o uso do arado no preparo do solo.
Deve-se sempre observar que, ao cabo de alguns anos, procede-se a uma
aração nas áreas muito trabalhadas nos anos anteriores exclusivamente pelas
grades, a fim de que a alternância da profundidade de preparo do solo, bem
como ao revolvimento mais profundo pela ação do arado, do subsolador, ou até
mesmo do escarificador, quebre camadas compactadas de solo formadas pela
ação contínua de implementos com profundidades de trabalho menores que estes
últimos implementos.
Quanto às grades classificadas no tocante à disposição de suas seções,
(modo de ação dos corpos da grade) elas podem ser divididas em:

a) Grade de discos de simples ação:


Esse tipo de grade apresenta dois corpos (conjuntos de discos, dispostos
simetricamente em um mancal), os quais são dispostos em linha. O corte, ou o
seccionamento do solo, seguido dos outros três momentos, é feito conforme haja
o deslocamento da grade, onde os discos cortam e tombam o solo somente no
sentido oposto ao deslocamento (para os lados), uma vez que as faces convexas
dos discos estão voltadas para fora.

Figura 11 – Desenho representando o arranjo de uma grade de discos de simples ação.

b) Grade de discos de dupla ação:


Nas grades de dupla ação o solo é removido da faixa trabalhada tanto do
centro para a periferia, quanto da periferia para o centro da faixa trabalhada.
Essas grades podem ser dispostas da seguinte forma:

- Em tanden;
Esse tipo de grade possui quatro corpos, (grades em “X”), sendo
dispostos em linhas dois a dois, pelos corpos frontais (dianteiros) e posteriores
(traseiros). As seções frontais assemelham-se às da grade de simples ação, com

100
os discos revolvendo o solo do centro da faixa para as bordas, entretanto, os
corpos posteriores revolvem o solo no sentido contrário.

Imagem 5. Grade de discos de dupla ação. Fonte: Baldan.

- Grade de dupla ação deslocada

Também chamada de grade em V, off-set ou excêntrica. Os corpos ou


seções desse tipo de grade funcionam em V, perpendicularmente ao sentido de
deslocamento do implemento. Há o efeito de “dupla ação”, onde os discos do
primeiro corpo deslocam o solo para um lado e o corpo seguinte, revira o solo
na mesma faixa para o lado oposto. Corresponderia a apenas um lado de uma
grade em Tanden, daí, sua denominação de grade de discos “em V”.

Imagem 6. Grade de discos em “v”(off set) . Fonte: Baldan.

As grades aradoras quase sempre são grades de discos em V, ou off-set,


geralmente acopladas ao trator apenas na tomada de força, com levantamento
hidráulico através de controle remoto independente (grades com comando
hidráulico).
Nestes casos, a grade dispõe de um ou mais braços hidráulicos, que
levantam ou abaixam o implemento, conforme a necessidade de transporte ou

101
manobras e a operação de gradagem, respectivamente. Grades pesadas, com
uma massa superior a 2700kg necessitam de rodas e apoios auxiliares para
manobras e transporte, por esse motivo, as grades mais pesadas, como as
grades de controle remoto dispõem de sistemas de levante hidráulico, conectado
ao do trator.

Regulagem das grades de discos

Em condições normais, o lastramento das grades de discos não se faz


necessário, exceto em condições especiais (muita cobertura vegetal para ser
incorporada, por exemplo). Nestes casos, as grades possuem bandejas
destinadas à colocação de lastro, sendo quase sempre localizadas acima dos
corpos da grade.
Para as diferentes condições de trabalho, é necessário que sejam feitas
diferentes regulagens das grades de discos, a fim de se obter um melhor
desempenho nas tarefas pertinentes às grades.
Tais regulagens restringem-se praticamente à melhor adequação da
profundidade de trabalho, através da modificação do ângulo das suas seções.
Assim, nas grades de discos, a principal regulagem refere-se ao
afastamento, ou aproximação dos corpos, bem como ao fechamento ou abertura
do ângulo formado entre os mancais.
Para as grades em tanden, SOUZA et all (2003) recomendam uma folga
entre os dois conjuntos dianteiros de 1 cm, para os conjuntos traseiros. Esse
espaço deverá ser de 35 a 40 cm, para as grades de 22 discos. Ainda de acordo
com esses autores, para as grades de 26 e 30 discos, a folga entre corpos
traseiros deverá ser de 40 a 45 cm. Os autores não citam a folga entre os corpos
dianteiros, mas que poderá ser adotada a mesma da usada nas grades de 22
discos.
Para as grades off-set, a profundidade de corte, também será de acordo
com a regulagem do ângulo dos corpos da grade em relação ao deslocamento.
Algumas grades off-set também permitem o deslocamento dos discos para as
laterais do implemento, distanciando a faixa de solo trabalhada do centro do
trator, o que permite executar atividades de gradagens (capinas, por exemplo)
em pomares, ou sob a copa de árvores.
Essa regulagem para um maior ou menor distanciamento da grade em
relação ao centro do trator pode ser feita também em algumas grades que
possuem barras de tração reguláveis, de forma que a barra afaste-se do centro
do implemento, modificando a faixa gradeada para os lados.

102
Sistemas de gradagem

A maneira, ou o sistema de gradear as áreas a serem trabalhadas varia


conforme o relevo, bem como do implemento de que se dispõe.

A gradagem pode ser:


- Cruzada:
Utilizada em locais de topografia plana, com relevo menor que 3 %,
podendo ser utilizada os diferentes tipos de grade de discos. Nesse tipo de
gradagem, passa-se a grade em um sentido, depois no sentido transversal ao
primeiro.
- Contínua:
A gradagem é feita em sentido anti-horário, semelhante à aração, sendo
de fora para dentro da área, ou vice-versa. Nesse tipo de gradagem, adequam-
se mais as grades tipo off-set.

- Em nível, ou transversal à declividade.


Em áreas declivosas, é feita transversalmente à declividade, para evitar a
erosão, podendo inclusive, ser feita em nível.

Grade de dentes com molas ou grade de molas

Um implemento muito utilizado no noroeste do E.U.A., desde a década de


60 do século passado e também difundido aqui (embora sendo muito menos
popular que a grade de discos) é a grade de dentes.
Composta por elementos ativos, lâminas de aço com 1/4”a 3/8 ”de
espessura e 1 ¾” de largura. A grade de dentes com molas, também conhecida
por grade de dentes flexíveis, penetra na superfície do solo, levantando-o e
aflorando-o até uma profundidade de 10 cm (ALDRICH e LENG, 1974). Quebra
os torrões e nivela o solo. SILVEIRA (1989) e SOUZA et all (2003) afirmam que
esse tipo de grade é muito utilizado mais como cultivadoras, no combate à ervas
daninhas e na escarificação do solo, podendo ser acoplada a ela um rolo
destorroador.
Apresentam excelente rendimento no trabalho. Adequam-se muito bem a
solos duros, pedregosos. No entanto, os rendimentos são reduzidos, quando se
trabalha com esse implemento em áreas recém aradas ou com muitos restos
vegetais pelo solo (palhada, por exemplo).

103
Figura 12 - Grade de dentes flexíveis (Extraído SOUZA et al, 2003).

Grade de dentes rígidos ou fixos

É utilizada principalmente para aplainar ou nivelar a sementeira ou a área


de plantio. Apesar de ser usada para destorroamento, não é eficiente nos
agregados ou torrões mais firmes. Muito eficaz para destruir as ervas daninhas
pequenas antes da semeadura. Sua maior ou menor penetração varia conforme o
ângulo dos dentes (que são fixados ao chassi, permitindo apenas a formação de
um ângulo vertical entre o solo e os dentes), sendo uma penetração maior para
ângulos menores que 90°.

Imagem 7 - Grade de dentes fixos (Extraído de ALDRICH e LENG, 1974).


O rolo destorroador:

104
O rolo destorroador, como seu próprio nome diz, é utilizado para destruir
torrões na área destinada ao plantio ou à semeadura. Pulveriza os torrões,
compactando levemente os 5 a 10 cm superficiais, ajudando também no
desenvolvimento de plantas novas, através da redução de espaços vazios, o que
permite que as radicelas entrem em contato maior com as partículas do solo.
A operação com o rolo torna-se necessária em terrenos que ficaram com
o solo muito desagregado, para que, dessa forma, auxilie no combate ou
prevenção da erosão 23, embora necessário este implemento não é muito
utilizado, tendo caído praticamente em desuso.

Imagem 8 – Grade de molas acoplada no mesmo chassi do Rolo destorroador. Fonte: ALDRICH e LENG
(1974).

▪ Escarificadores no preparo do solo.

O uso alternado dos implementos, especialmente quando se trabalha em


uma área executando-se o preparo do solo com maior freqüência, como
discutiremos no capítulo de manejo de solo, torna-se relevante para que se evite
a formação de camadas compactadas no perfil. Implementos construídos

23No sistema que visa o preparo mínimo, essa operação pode ser simultânea, com o rolo acoplado à uma grade ou à
semeadora, pois se realizada em excesso, essa operação pode vir a compactar demasiadamente o solo.

105
especialmente para essa finalidade são os subsoladores e os escarificadores,
que consistem basicamente de implementos robustos com hastes que adentram
no interior do solo, quebrando as camadas endurecidas.
Os arados podem ser usados, como dissemos anteriormente, para a
descompactação dessas camadas, com algumas vantagens, como exigirem menor
potência do trator quando se compara uma aração e uma subsolagem. Contudo,
em relação à profundidade, os arados adentram menos profundamente no solo.
Nos cerrados, na cultura do algodão, segundo HERNANI e SALTON
(1998), no preparo primário do solo, já se utiliza escarificação + gradagens
niveladoras (ao contrário do preparo pelo sistema de grades ou do convencional
– arado + grade), reduzindo o chamado pé-de-arado e o pé-de-grade,
decorrentes da compactação do solo. Em algumas pesquisas, demonstrou-se
que foi aumentada inclusive, a produtividade da cultura do algodão de uma forma
significativa.
Todavia em determinadas áreas, o emprego do escarificador, seguido das
grades não tem surtido um bom efeito, tendo ocorrido provavelmente uma
lixiviação maior dos minerais no perfil do solo. De uma forma mais acertada, o
uso ou não desse sistema diferenciado deverá ser feito após o técnico ou o
produtor testar em sua realidade, inicialmente em pequenas áreas na sua
propriedade, se é aplicável ou não, se surtiu efeitos positivos ou negativos na
sua produção, para aí sim, passar (ou não) a fazer uso dessa prática mais
contemporânea.

Enxada rotativa

As enxadas rotativas são implementos usados no preparo periódico,


preparo primário ou preparo secundário do solo, eliminação de ervas daninhas
em culturas perenes (muito difundida em propriedades citricultoras) e na
horticultura, para a formação de canteiros (rotocanteirador).
Esses implementos são constituídos basicamente de um eixo rotativo
acionado pela TDP ao qual estão montadas diversas enxadas (ou lâminas). Uma
caixa de transmissão seletora de velocidades, formada por engrenagens,
transmite a rotação recebida da TDP, através do pinhão e de uma coroa, e
depois de uma corrente, ao eixo da enxada rotativa.

106
Imagem 9 – Enxada rotativa. Fonte: Baldan.

De acordo com a modificação do posicionamento de duas engrenagens


principais, de tamanhos diferentes, na caixa seletora de velocidades, pode-se
variar a rotação do rotor da enxada rotativa, sem mudar a rotação da TDP (540
ou 1000 rpm) do trator. Os dois pares de engrenagens asseguram velocidades de
122, 153, 172 e 216 rpm.
Assim como algumas grades de discos (grades off-set), as enxadas
rotativas podem trabalhar nas entrelinhas, centralizadas em relação ao trator, ou
embaixo da copa das árvores, em faixas laterais, descentralizadas em relação ao
trator.

▪ A semeadura

Dentre as operações agrícolas, a semeadura é uma das que mais


requerem, senão a operação que mais requer, uma perfeita adequação e ajuste
dos implementos usados.
Tais implementos consistem basicamente de um depósito de sementes ao
fundo do qual, através de engrenagens, há o movimento da massa de sementes, a
qual tende a sair pelo fundo desse recipiente, sendo que de uma forma restrita,
grão a grão, ou alguns poucos grãos, as sementes caem pelas calhas que as
conduzem ao sulco no solo.
De acordo com HENTSCHKE et all (2002), as semeadoras de discos
representam cerca de 80 % do mercado brasileiro desses implementos.

Imagem 10 - Semeadora de grãos para plantio direto.

107
A escolha da semeadora mais adequada à cultura deve visar também a
economia, a cultura a ser implantada e as condições topográficas da área
(semeadoras com muitas linhas são mais eficientes em áreas planas ou quase
planas, com facilidade de manobra nas cabeceiras). Além disso, o sistema de
manejo de solos adotados é também decisivo, pois semeadoras utilizadas em
plantio direto também podem ser usadas em solos gradeados. O contrário
contudo, para semeadoras convencionais não acontece, a menos que o produtor
adapte peças para cortar a palhada e fechar o sulco de semeio.
Quanto ao tipo de semeadura, de acordo com COMPANY (1984), as
semeadoras que semeiam grão a grão são implementos que necessitam, além de
um trabalho preciso da máquina, a utilização de sementes de alto poder
germinativo, bem como boas condições para a germinação (Essas boas condições
devem ser entendidas como uma boa sementeira, através de um bom preparo do
solo e principalmente, umidade adequada).
Tais equipamentos24 precisam ser bastante versáteis, permitindo
diferentes espaçamentos entre fileiras e plantas.
As semeadoras mais comuns (convencionais) no mercado brasileiro são as
de disco horizontal, no entanto, existem outros tipos de semeadoras, com
princípios semelhantes.
Para praticamente todas as semeadoras que utilizam o tamanho dos grãos,
como elemento decisivo para a semeadura (passagem dos grãos nos orifícios
dos discos, sejam tais discos horizontais ou verticais), a uniformidade das
sementes é fator primordial para uma boa semeadura, evitando-se a quebra
excessiva de grãos, os quais uma vez no solo estarão sujeitos ao ataque de
microorganismos patogênicos (Pseudomonas, Giberella, etc.).

24
Comumente vemos a denominação incorreta das semeadoras. O uso da expressão plantadeira/plantadora é
incorreto para designar as máquinas que lançam sementes ao solo na operação de semeio ou semeadura. Tais
máquinas devem corretamente ser chamadas de semeadoras. Plantadoras são apenas os implementos que
plantam, ou seja, põem no solo partes vegetativas das plantas (cana-de-açúcar, por exemplo). Infelizmente esse
erro é difundido em todos os níveis, desde catálogos comerciais, aos técnicos e no próprio meio rural.

108
Figura 13 - Semeadora de disco vertical na qual destaca-se a barra do trator (1), o depósito (3), a caixa
seletora (4), a roda distribuidora (5), a roda defletora (6), alvéolos (7), o tubo semeador (8), a alavanca de
saída (9), o sulco de semeio (10) no solo (2), feito pelo sulcador (11) a uma profundidade (12) pré-
determinada e coberto pela relha (13) sendo por fim compactado pela roda compactadora (14). (Extraído
de COMPANY, 1984).

Para o trabalho de semeadura as semeadoras convencionais não se


adaptam bem às altas velocidades de semeio. Para estes casos, quando se
deseja trabalhar com velocidades altas, as semeadoras recomendáveis são as
pneumáticas; tais equipamentos trabalham com a força de sucção de uma turbina,
a qual através do fluxo contínuo de ar, deposita as sementes de uma forma muito
uniforme no sulco.
Outro tipo de semeadora de precisão são as semeadoras mecânicas, (grão
por ciclo), as quais semeiam grão-a-grão no sulco (figura 38).

109
Figura 14 - Semeadora de precisão mecânica. Nesse tipo de semeadora, os grãos caem, através da rotação
de uma engrenagem (11) que movimenta a massa de sementes a qual finda por exercer uma pressão suave
em um defletor (6) no fundo do depósito (9), havendo uma restrição à massa de sementes, o que permite
que as mesmas caiam na canaleta (12) somente uma por vez. (Extraído de COMPANY, 1984).

A operação de plantio: Regulagem da semeadora:

HENTSCHKE et all (2002) afirmam que é extremamente importante um


bom plantio para se alcançar a população de plantas desejada da cultura ( Stand)
a implantar. No caso do milho, tais autores afirmam que, quando comparado às
outras culturas, como soja, trigo ou arroz, um milharal com baixo stand
dificilmente irá se recuperar, devido à redução do número de plantas, já que o
milho é uma cultura de população relativamente baixa, quando comparada às
essas outras.
De um modo geral, ALDRICH e LENG (1974), afirmam que a boa
regulagem da semeadora é importante para a formação de um stand perfeito. O
mesmo é dito por HENTSCHKE et all (op. Cit) e COPETTI (2003).
A regulagem da semeadora deve ser de forma que os grãos caiam
uniformemente nas linhas. A partir da população final que se deseja, chega-se à
quantidade de sementes/m, considerando a largura da faixa semeada a cada
passada.

Para se fazer o cálculo do número de sementes, procede-se da seguinte


forma:

Cálculo de número de sementes / metro linear:


I)

NL / h = 100
Fs/ Ns

Onde:
NL = Número de Linhas / ha
Fs = Largura da Faixa semeada (de uma linha à outra);
Ns = Número de linhas da semeadora
Tomemos por exemplo uma semeadora de 6 linhas, com uma faixa de
trabalho de 4,2m e a cultura a ser semeada seja o milho. Aplicando-se a
fórmula teremos:

NL / ha = 100 / 0,7 → NL = 143 linhas

110
De acordo com ALDRICH e LENG (1974), HENTSCHKE et all (2002), a
população ideal de plantas de milho varia conforme o híbrido empregado e as
condições regionais, mas que está algo em torno de 55 000 plantas / ha.
Dividimos essa população total pelo número de fileiras e a esse resultado
dividimos por 100, que é uma constante, ficando assim a segunda fórmula:

NG.m-1 = (PoP/ NL)


100
No nosso exemplo, tomamos como população (PoP) 55 000 plantas. Assim
teremos aproximadamente 4 sementes por metro de fileira.

NG. m-1= (55 000 / 143 ) = 3,8


100
Esse é um cálculo extremamente teórico. De uma forma mais funcional
poderíamos também, determinar o espaçamento desejado e, a partir da distância
entre plantas, regular a semeadora para distribuição das sementes na quantidade
desejada, no galpão ou sobre uma lona, no campo25.
No tocante à regulagem de diversas semeadoras, mesmo havendo na
propriedade semeadoras de mesma marca, mesmo ano e modelo, HENTSCHKE
et all (op. Cit) recomendam que seja feita a regulagem individual de cada uma,
pois a regulagem de uma não pode ser extrapolada para as outras.
Um aspecto relevante é a escolha do disco correto. HENTSCHKE et all
(op. Cit) recomendam os seguintes passos na escolha do disco correto:
- É escolhido um anel com friso ou liso (se for semente redonda ou chata,
respectivamente).
- Escolhem-se duas sementes menores e verifica-se se as duas cabem no
mesmo furo (checagem de possíveis duplas);
- Escolhem –se as sementes maiores e observa-se se passam com alguma
folga nos furos;
Outros aspectos que tais autores consideram na regulagem das
semeadoras referem-se à escolha das engrenagens mais adequadas ao número
de sementes distribuídas por metro linear; a escolha dos discos de corte,
verificação do estado dos condutores de sementes, além do equilíbrio da
semeadora (nivelamento).

25
ALDRICH e LENG (1974) recomendam a regulagem das semeadoras no galpão ou pátio,
com a contagem dos grãos sobre uma lona. Já HENTSCHKE et all (op. Cit) recomendam que
toda regulagem seja feita de acordo com os diferentes tipos de condições de cada gleba que
seja representativa, onde vai se desenterrando as sementes no sulco, para contagem. Ambos
recomendam ainda, que a regulagem da semeadora seja feita de forma criteriosa.

111
De uma forma ainda mais prática, algumas empresas vendedoras de
sementes oferecem catálogos que indicam qual disco usar, de acordo com a
cultivar escolhida.
Já por considerar as reduções de custos e evitar desperdícios, a garantia
da uniformidade da semeadura é um outro aspecto que deve ser considerado,
principalmente porque é também a partir da escolha da semente mais adequada
não só nos aspectos agronômicos de produção, mas especificamente, adequada
ao semeio com o equipamento que se dispõe. A uniformidade das sementes é um
fator crucial, na questão da semeadura mecanizada. Essa uniformidade deve ser
observada em vários sentidos:

a) No tamanho da semente: Como vimos, a regulagem dos discos das


semeadoras de disco para o tamanho dos grãos a serem plantados é
importante e pudemos perceber que um dos métodos de regulagem das
semeadoras é através de um tamanho médio das sementes (mínimo e
máximo). É importante que tais sementes não sejam díspares em relação
ao seu tamanho, evitando injúrias às sementes e uma uniformidade de
deposição das sementes no sulco.
b) No poder germinativo: Sementes com um bom poder germinativo
garantem menores custos de plantio, por ser necessário uma quantidade
menor de sementes por área. De acordo com RIBAS (2003), é preferível
que as sementes tenham um padrão mínimo de percentagem de
germinação (padrão federal) que, no caso do sorgo segundo esse autor, é
de 75%.

▪ Tratos culturais - As capinas

As manutenções da cultura implantada são de grande importância para o


sucesso de todo e qualquer empreendimento agrícola.
De uma forma geral, os tratos culturais correspondem às adubações de
cobertura, adubações foliares, controle fitossanitário e capinas.
Geralmente, as plantas que nascem espontaneamente nas áreas de cultivo
agrícola, são denominadas de ervas daninhas. Essa classificação baseia-se no
fato de que tais plantas concorrem por água, luz e nutrientes com as culturas,
além de servirem de hospedeiras, segundo alguns autores, a insetos-praga e
patógenos, como é o caso das malváceas nativas ao hospedarem a mosca branca
(B. tabaci ) em áreas agrícolas cercadas por faixas onde tais plantas ocorrem.
Porém, em algumas culturas, em casos específicos de relevo acentuado,
com riscos de erosão, muitos agricultores preferem deixar o mato nas ruas, para
servir como proteção contra a erosão. Fazendo-se apenas a “limpa” das linhas,

112
ou em caso de áreas fruticultoras, faz-se o coroamento das plantas. YAMADA
(2002) aconselha o manejo de plantas invasoras como um forma de conservação
e de melhoria do solo, principalmente no sistema de plantio direto.
No entanto, quando necessário, a eliminação do mato, é feita através das
capinas. Que podem ser classificadas em manual, mecânica e capinas químicas.
CHRISTOFFOLETI et all (2002), por sua vez, classificam os métodos de
controle de plantas daninhas em métodos mecânicos, que correspondem às
capinas mecanizadas, químicas, métodos culturais e rotação de culturas.
Atualmente a agricultura orgânica tem-se mostrado mais expressiva. O
emprego de defensivos naturais e os bons resultados conseguidos têm refletido
o potencial de produção nesse sistema de exploração agrícola, contudo, o
combate às ervas daninhas no sistema orgânico, naturalmente, não utiliza o
combate químico à tais plantas.

Capina manual
As capinas manuais apresentam um baixo rendimento produtivo, sendo
utilizadas somente nos casos em que a declividade não permite o uso da
mecanização, ou em pequenas propriedades, de exploração familiar. É utilizada a
mão-de-obra disponível, para os serviços de capina, seja utilizando enxada,
alfanje ou foice manual.
Um método de capina mais eficiente e acessível aos pequenos produtores
rurais é a utilização da tração animal, como o uso de cultivadores puxados por
bovinos, eqüinos e asininos, ou em áreas específicas onde não compensa a
compra de implementos novos.

Capina mecanizada
A capina mecanizada apresenta um rendimento bem maior que a capina
manual ou a feita por implementos de tração animal.
Devido aos custos com mão – de – obra, a capina mecanizada é
freqüentemente utilizada.
Os implementos mais utilizados são a roçadeira, a grade, as roçocarpas, os
cultivadores e a enxada rotativa.
A roçadeira presta-se muito bem à capina, triturando o material e
deixando o solo protegido por ele. No entanto, seu uso contínuo ao longo dos
anos, favorece o surgimento de ervas rasteiras, como gramíneas (a roçadeira
inclusive, é muito utilizada na manutenção de pastagens de gramíneas).
As grades de discos picam e incorporam o material ao solo. Seu uso
contínuo deve ser evitado, para que não se forme o pé-de-grade.
Já a enxada rotativa, é muito eficiente na incorporação de material vegetal
ao solo, pois ele é triturado e incorporado. Porém assim como os demais

113
implementos, o uso excessivo deste deve ser evitado, pois há uma pulverização
muito freqüente do solo, o que facilita o processo erosivo.
De um modo geral, não se deve insistir no uso de um mesmo implemento
nas capinas mecânicas em uma mesma área, pois ao longo dos anos os efeitos
nocivos deste uso contínuo serão potencializados.
Uma boa alternativa seria sem dúvida que se alternassem os implementos.
Um outro cuidado para as capinas mecânicas é de que em áreas infestadas por
determinadas ervas daninhas, com ciperáceas como a tiririca ( Cyperus
rotundus), após a capina, o implemento não vá para outra área sem antes sofrer
uma limpeza severa, para evitar que ele carregue propágulos de uma área à
outra.

Capina química
A capina química é realizada através do emprego de produtos químicos,
como hormônios vegetais, como o 2-4 D e outros produtos sintéticos, os
chamados herbicidas.

O alto rendimento operacional e eficiência de controle de plantas daninhas


em qualquer dos seus estágios de vida, de acordo com o produto empregado,
bem como a formação de cobertura morta no solo, o que auxilia no controle da
erosão, figuram como pontos positivos do método de controle químico ou capinas
químicas.
Bastante utilizados no sistema de plantio direto, os herbicidas são usados
justamente por não necessitar propriamente de revolvimento do solo para o
combate às ervas. Faz-se a aplicação de tais produtos em três situações
diferentes: antes do plantio (pré plantio - PP), (pré-plantio incorporado - PPI) e
pós o plantio (Pós plantio – PP).
O uso desses produtos exige mão-de-obra especializada, tanto por parte
da recomendação do produto, orientação que deve ser dada exclusivamente por
um agrônomo, como o pessoal que fará a aplicação deverá receber treinamento
especial referente à aplicação correta e às normas de segurança no uso desses
produtos químicos.
De acordo com SPADOTTO (2002), o consumo de herbicidas no Brasil foi
de cerca de 147 000 toneladas em 2000. o que corresponde a cerca de 81 000
toneladas de ingrediente ativo (i.a.).
O consumo de herbicidas por região no Brasil está descrito na tabela 5.
vê-se que a região de maior consumo desses produtos em 2000 foi a região sul,
seguida da região Centro-Oeste e Sudeste. Ainda de acordo com SPADOTTO
(2002), as regiões de menor consumo desses produtos são a Norte e o Nordeste,
nesta última região, segundo o mesmo autor, o emprego de herbicidas é mais
acentuado nas zonas canavieiras.

114
Tabela 5 - Percentual do consumo de herbicidas no ano de 2000 nas regiões Brasileiras.

Região Consumo (%) no ano de 2000


Sul 38,9

Centro – Oeste 29,9

Sudeste 22,8

Nordeste 6,3

Norte 2,0

Fonte: SPADOTTO (2002)

O uso indiscriminado destes produtos, seja através de dosagens


inadequadas, mesmo modo de ação, ou mesmo princípio ativo porém, pode levar
em alguns casos, ao surgimento de resistência de algumas plantas daninhas aos
herbicidas. Pudemos observar a campo, o uso altamente indevido de herbicidas,
próximo à afluentes de alguns rios e em dosagens extremamente elevadas, o que
nos levou à constantes conversas com os agricultores que usavam tais produtos
dessa forma. Tínhamos em tais conversas, o cuidado de indicarmos realmente as
dosagens mais adequadas, alertando os agricultores para os riscos à saúde de
quem manipulava aqueles produtos tão concentrados e também nos aspectos de
indução de resistência de plantas daninhas aos herbicidas.
KISSMAN (2002) cita herbicidas que inicialmente obtiveram resultados
excelentes no combate à ervas como o amendoim – bravo na cultura da soja,
mas que, com o passar dos anos, acabaram surgindo biótipos resistentes. A
solução apontada, segundo esse autor, foi o uso de herbicidas com modo de ação
diferente. KISSMAN (op. Cit) aponta ainda, soluções para a resistência aos
herbicidas através da manipulação genética das plantas cultivadas, pela
biotecnologia (leia-se transgenia !).
Contudo, os métodos de controle de ervas daninhas, definidos como
culturais por CHRISTOFFOLETI et all (2002), compreendem a implantação de
culturas mais competitivas, ausência ou diminuição das épocas de pousio,
utilização de sementes certificadas, consideração dos efeitos alelopáticos
positivos, entre outras. Esses aspectos, segundo tais autores, além de serem
uma forma de combate às ervas daninhas evitam o surgimento de plantas
resistentes aos herbicidas (biótipos resistentes). O uso de produtos com
mecanismos de ação distintos também são apontados por KISSMAN ( op. Cit)
como uma alternativa ao controle do surgimento de ervas resistentes aos

115
herbicidas. Essas medidas são mais significativas, do ponto de vista de
aplicabilidade, ou funcionabilidade, pois são simples e que estão ao alcance dos
produtores rurais.
De uma forma geral, na agricultura convencional, pelo uso de produtos que
apresentam diversos níveis de toxidez e oferecem um risco ambiental em maior
ou menor grau, é necessário que se conheça não somente as dosagens corretas
dos defensivos agrícolas, o modo correto de aplicação e os cuidados com o
equipamento de aplicação, como também o modo de ação do defensivo e adequar
o equipamento de forma a que se evitem perdas e contaminações tanto para o
pessoal envolvido na aplicação, como ao meio ambiente.

Aplicação de herbicidas

A aplicação de herbicidas é uma operação delicada, pois além do emprego


correto do produto (desde sua escolha pelo técnico, até a sua aplicação no
campo), deve-se buscar o máximo de eficiência em cada aplicação, de modo que
os resultados econômicos sejam compensadores.
Assim, para a pulverização aérea, recomendam-se os bicos 8010, 801526
ou 8020, com aproximadamente 40 a 42 bicos na barra, que deverá ser
posicionada numa angulação de 135º a 180º.

a b

Figura 15 – Tipos distintos de jatos utilizados para a aplicação de herbicidas. O tipo de jato varia
conforme o bico empregado. Pode-se observar na figura o bico de jato em leque (a), utilizado para
aplicações dirigidas e o bico de jato cônico (b), geralmente usado em pré-plantio.

Nas aplicações terrestres, quando se utilizam vários bicos em uma barra


de pulverização deve-se levar em conta o que se deseja fazer com tais bicos
(aplicação de herbicidas, tipo de herbicida, aplicação de defensivos na cultura,
tipo de cultura etc.). É recomendável que todos os bicos sejam de um mesmo
padrão ou angulação. A altura da barra influencia também na escolha do bico, ou
vice-versa, pois a barra muito alta resulta em um cruzamento do leque de

26A numeração indica, respectivamente, o ângulo de abertura do leque do bico, seguido da vazão máxima em galões (1 galão
corresponde a aproximadamente 3,6 litros).

116
pulverização alto, bem como contribuí nas perdas do defensivo pela ação do
vento; barras muito baixas também diminuem a eficiência de aplicação, pois os
jatos ou leques de aplicação podem nem chegar a se cruzarem. Deve-se evitar a
cobertura pobre, devido à colocação de bicos de ângulos diferentes, ou bicos
desalinhados em relação aos demais. Bicos entupidos também devem ser
desobstruídos (faça isso antes da colocação do defensivo, testando o
equipamento apenas com água).
Ainda para equipamentos terrestres, a altura da barra deverá ser de 50 cm
em relação ao topo da cultura (Culturas anuais).
Já para a aplicação aérea, para aviões IPANEMA, a altura de vôo deverá
ser de 4 a 5 m em relação ao topo da cultura ou o topo do solo (culturas anuais).

Condições climáticas ideais para a aplicação de defensivos:

Os parâmetros próximos aos “ideais” para a aplicação de defensivos são:

Temperatura máxima: 27°C.


Umidade relativa: mínima de 55 %.
Vento27: Velocidade máxima de 10 km/h para herbicidas.
Velocidade máxima de 15km/h para UBV.

Imagem 11 - Pulverizador tratorizado (esquerda) e pulverizador autopropelido (EXTRAÍDO DE


CULTIVAR MÁQUINAS, 2004).

Um aspecto que deve ser considerado é o descarte correto das


embalagens dos agrotóxicos, para que se evitem os impactos ambientais. Os
danos ambientais referem-se à contaminação do solo, água, planta, atmosfera
através da ação tóxica e poluidora de produtos químicos empregados na
agricultura ou pecuária.
A colheita

27As condições de vento forte são contra-indicadas para a aplicação de defensivos, bem como as condições de calmaria
completa.

117
A operação de colheita é ainda a mais crítica para as mais diversas
culturas e a mecanização dessa atividade é ainda restrita. Para muitas
explorações agrícolas, em especial a fruticultura, vem se mantendo o uso
intensivo de mão – de - obra para essa operação. Para os grãos, contudo, já se
apresenta um maior grau de mecanização dessa atividade.
Para a pequena propriedade agrícola, etapas da colheita podem ser
mecanizadas e fazer uso da mão –de – obra para outras etapas. Assim, as
segadoras são utilizadas, cortando as plantas e deixando-as sobre o solo à
espera de serem levadas para a máquina de trilha. Outras cortam e enleiram as
plantas – segadoras enleiradoras - e há as que cortam transportam e enfeixam
as plantas – as segadoras – amontoadoras.
Algumas culturas temporárias, no entanto, apresentam alguma dificuldade
em se fazer a colheita mecanizada, como por exemplo o feijão, que ao contrário
do milho e da soja, tem uma tradição de não ser usada a colheita mecanizada, ou
a colheita por máquinas encontrar nesta cultura uma dificuldade, como a
arquitetura da planta, seu porte e hábito de crescimento. Acreditamos porém,
que um fator que faz com que a colheita mecanizada não seja marcante na
cultura do feijão deve-se aos fatores econômicos e sociais, pois boa parte da
produção de feijão no Brasil deve-se aos pequenos e médios produtores rurais,
com baixo nível tecnológico de condução da cultura (ZIMMERMANN in: SOUZA
NETO 2002), a remuneração pela cultura apresentar níveis de rentabilidade ou
margem de lucro muito estreita, entre outros fatores.
Contudo, em algumas áreas do sudeste e em algumas outras regiões do
país, há alguns anos já tem sido empregadas máquinas especialmente construídas
para a colheita do feijão, como a recolhedora – trilhadora, que recolhe as plantas
previamente cortadas e enleiradas nas fileiras (descrita em: GERALDO DA
SILVA et all, 2000); ou Kits de instalação para adaptação nas colheitadeiras
combinadas, para a colheita do feijão.
Essencialmente, quando se fala em colheita mecanizada, a soja é a
primeira cultura a se pensar. MESQUITA (1993), afirma que, apesar de ser
colhida manualmente há séculos no oriente, mais especificamente na Ásia, sua
região de origem, no Brasil praticamente não ocorre a colheita manual. Tal autor
justifica essa afirmação em fatores como a alta população de plantas, a
deiscência das vagens, que tornam a cultura não recomendável para esse tipo de
colheita. Além disso, a disponibilidade de mão - de – obra em países orientais
produtores de soja como a China, por exemplo, é muito grande. A colheita
manual serve como absorvedora do excedente de mão – de – obra, o que é
extremamente positivo e estratégico, para esse país, do ponto de vista social.
A colheita mecanizada da soja sofreu um forte impulso após o emprego
das colheitadeiras combinadas, desde as primeiras décadas do século passado. A

118
seguir se vê o corte representativo de uma colheitadeira combinada
(MESQUITA, 1993).

Figura 16 – Corte esquemático de uma combinada, destacando os seus componentes ativos (Extraído de
MESQUITA, 1993).

Resumidamente, vamos listar os mecanismos que compõem uma


combinada, conforme exposto em SILVEIRA (op. cit):
a) Mecanismos de corte e alimentação:

Barra de corte: corta as hastes das plantas. Formada por diversos


componentes que devem trabalhar bem ajustados, para evitar a transmissão de
impactos e também evitar as perdas na colheita.
Molinete: faz o tombamento sobre a plataforma das plantas cortadas pela
barra de corte.
Caracol: Cilindro oco, localizado na plataforma. Constituído também por
muitas peças móveis (Dedos retráteis), fazendo com que o material depositado
na plataforma seja levado até a esteira alimentadora.

Esteira alimentadora: Mecanismo formado por transmissões de correntes


paralelas, unidas por travessas de metal, as quais realizam o transporte do
material cortado pela plataforma de corte para o mecanismo de trilha.

b) Mecanismos de trilha:

119
Cilindro de trilha: formado basicamente por barras estriadas, dispostas de
forma cilíndrica. Tem a função de bater o material através da rotação (cerca de
300 rpm), fazendo a debulha.

Côncavo: uma espécie de calha que tende a envolver o cilindro de trilha,


permitindo uma filtragem das sementes, vagens e pedaços de vagens, sendo o
material não filtrado dirigido ao sacapalhas.

c) Mecanismos de separação:

Cortinas: Tem a função de evitar perdas de sementes durante o processo


de separação. Geralmente constituído de material flexível.

Sacapalhas: tem a função de eliminar a palha graúda, sendo compostos de


4 calhas que fazem um peneiramento do material, eliminando as palhas e
depositando as sementes no bandejão, aproveitando – se da diferença de peso
entre as sementes e a palhada.

Bandejão: Superfície em forma de crista, que possuí um movimento de


vai-e-vem. Separa o material recebido do sacapalhas por diferença de
densidade, atirando-o devidamente separado sobre a peneira superior.

d) Mecanismos de limpeza:

Peneiras: Como o próprio nome diz, têm a função de peneirar o material.


Existem duas peneiras na combinada, a primeira, a peneira superior, faz o
peneiramento mais grosseiro do material, permitindo a passagem de grãos e
pedaços de vagens. A segunda peneira, a peneira inferior, permite apenas a
passagem dos grãos. Os pedaços de vagens e material não peneirado são
conduzidos para os mecanismos de trilha, onde serão novamente trabalhados.
Ventilador: tem a função de gerar uma corrente de ar para que todas as
partículas mais leves que as sementes sejam expulsas. Pode ser ajustado.

120
e) Mecanismos de elevação, armazenagem e descarga;

Elevador de retrilha: transporta para o mecanismo de trilha as vagens e


pedaços de vagens contendo sementes que foram filtrados pelo côncavo, mas
não pelas peneiras.

Elevador do tanque graneleiro: Transporta para o tanque graneleiro as


sementes filtradas pelos mecanismos de separação.

Tanque Graneleiro: Armazena os grãos limpos. Possuí no fundo do seu


depósito um eixo helicóide para descarga.

Tubo de descarga: Possuí em seu interior um eixo helicóide, como um


fuso, acoplável ao eixo do tanque graneleiro para a descarga dos grãos.

Um aspecto preocupante, na questão da colheita mecanizada são as perdas


provenientes deste processo. Dados de consultores indicam um acréscimo nas
perdas na últimas safras. Na década de 90, a perda média era em torno de 1,6
sacas/ha de soja e, na safra 2003-04, aumentou para 2,3 sacas/ha no Brasil
(Dados da Embrapa, Emater-RS e SENAR-RS). Os dados mostram que na safra
2003-04, o Rio Grande do Sul plantou 3,84 milhões de hectares de soja e teve
uma perda média em torno de 2,1 sacas/ha, equivalente a 4,2%, da produção,
“retida” nas lavouras gaúchas, a considerável cota de 8,07 milhões de sacas de
soja. Alguns aspectos referentes a tal volume de perdas diz respeito a alguns
fatores agronômicos, como fatores climatológicos, mas no grosso modo, devido à
falta de manutenção e regulagens adequadas das colhedoras para as condições
impostas pela cultura. Esses dados são portanto, no mínimo, alarmantes, pois
considera-se uma perda aceitável entre 0.75 a 1.0 saca de soja/ha,
demonstrando a diferença entre perda aceitável e evitável de 1,5 saca/ha.
Vimos nos capítulos anteriores toda uma seqüência lógica de exposição
dos assuntos que julgamos pertinentes à operacionalização da mecanização que é
o conhecimento do trator e seu funcionamento bem como os implementos,
apresentados também numa seqüência lógica do preparo primário da área até a
última etapa que é a colheita.
Nos capítulos seguintes trataremos de aspectos mais amplos, embora
intrínsecos à mecanização que é a questão da segurança na operação do
maquinário agrícola e por fim, a questão do manejo de solo para o modelo
convencional de plantio e as medidas conservacionistas, possíveis de ser
incorporadas nos dois sistemas (Convencional e SPD).

121
CAPÍTULO 4
Prevenção de acidentes no uso dos implementos agrícolas e do trator

Dentro do contexto de uma racionalização da mecanização agrícola, faz-se


necessário que os cuidados e medidas com segurança no trabalho com os
implementos agrícolas e o trator recebam a devida atenção. Assim, para que o
trabalho seja executado com segurança, devem - se observar algumas
recomendações.

4.1. Medidas gerais de segurança

Algumas medidas de segurança podem ser classificadas de acordo com o


seu período de realização, como em medidas preventivas antes do trabalho,
durante o trabalho, depois do trabalho, e a qualquer tempo FUNDACENTRO
(sd.).
Baseado em um folder da FUNDACENTRO (Folder – série técnica nº 15),
bem como em alguns outros materiais pertinentes, transcrevemos alguns dos
cuidados relativos ao trabalho com máquinas e implementos agrícolas, os quais
enfocam as seguintes medidas (agentes de riscos físicos).

▪ Observe se o implemento está em boas condições de trabalho, efetuando


caso seja necessário, os devidos reparos.

▪ Durante o acoplamento, evite ficar entre o implemento e o trator.

▪ Consulte o manual do fabricante antes de efetuar qualquer regulagem.


Caso não disponha do manual, consulte um mecânico especializado.

▪ Faça as regulagens com o implemento no chão e não quando estiver


erguido pelo sistema de levante.

▪ Verifique sempre se os pinos de engate do implemento ao trator estão


bem travados e engatados, caso eles se desengatem durante a execução
do serviço, poderão ocorrer danos no implemento, uma demora maior na
execução do serviço e até mesmo, riscos ao operador.

▪ Evite usar implementos com peças quebradas, pois operando em


condições defeituosas, podem ocorrer acidentes com danos tanto pessoais
como materiais, pois outras partes do mesmo podem ser atingidas.

122
▪ Antes de acionar implementos que utilizem a tomada de força, verifique se
todos os dispositivos de segurança das partes móveis (a camisa protetora
do eixo cardã, por exemplo) estão posicionados devidamente.

▪ Não use enxadas rotativas ou roçadoras quando estiverem com defeito ou


desreguladas.

▪ Só opere as enxadas rotativas ou roçadoras quando estiverem com seus


devidos equipamentos de proteção.

▪ Nunca retire ou inutilize a proteção do eixo do cardã. Verifique, antes do


trabalho se o protetor está bem fixado.

▪ Evite improvisações na acoplagem dos implementos agrícolas que venham


porventura ocasionar insegurança na execução do trabalho. Isso pode
levar a acidentes graves com danos ao equipamento e, principalmente, ao
trabalhador.

▪ Caso o implemento apresente, durante o trabalho, algum defeito em seu


funcionamento, pare a tarefa em execução e o conserte – o antes de
recomeçar.

▪ Durante as manobras, principalmente nas cabeceiras, faça curvas abertas


e não, muito fechadas. Em algumas situações a roda traseira pode
enroscar-se no implemento, causando um acidente.

▪ Nunca permita que pessoas subam no implemento para servir de


contrapeso ou até mesmo sejam simplesmente transportadas sobre o ele.
Uma regulagem bem feita permite a execução de um trabalho perfeito com
o implemento e, evidentemente, o mesmo destina-se a execução de
tarefas agrícolas, e não transporte de pessoas.

▪ Durante o roço de uma área com roçadora, deve-se manter pessoas,


animais e outras máquinas afastadas do conjunto trator x roçadora, pelo
menos 40 metros, a fim de evitar acidentes provocados por materiais
atirados pela mesma.

▪ Procure não usar roupas frouxas ou acessórios que possam enroscar -se
nas partes moveis dos implementos.

123
▪ Nunca introduza as mãos nos depósitos das semeadoras - adubadoras,
quando estas estiverem funcionando.

▪ Nunca faça uso de implementos de lâminas rotativas quando os mesmos


estiverem com falta de algumas lâminas. Trabalhando nessas condições,
as vibrações exageradas produzidas pelo implemento, além de danificá-lo
mais, ainda pode causar danos na coluna do trabalhador.

▪ Prenda corretamente as mangueiras utilizadas para acionar o sistema


hidráulico dos implementos. Essas mangueiras quando danificadas,
interferem negativamente no funcionamento do sistema. Além disso, o óleo
derramado pode causar algum acidente.

▪ Nunca permita que pessoas não capacitadas ou inexperientes, sem


supervisão, executem atividades que envolvam a utilização de
implementos agrícolas, sejam eles de tração mecânica ou animal.

▪ Depois do trabalho terminado, limpe e lubrifique o implemento. Faça uma


revisão para verificar se existem defeitos no implemento. Caso existam,
conserte-os Andes de usá-lo novamente.

▪ Ao transportar os implementos, ou o trator em carretas ou caminhões,


amarre-os e calce-os, de forma que eles não se movimentem.

▪ Caso alguma parte do implemento fique para fora da carroceria do veículo,


sinalize-a com um pano vermelho.

Para as atividades que possam envolver os agentes de riscos químicos,


além das recomendações anteriores, somam-se ainda os cuidados no uso do
equipamento de proteção individual (EPI’s) adequados a cada atividade e
produto.

4.1.1. Identificação dos principais controles e instrumentos de controle do trator:

O conhecimento dos principais instrumentos de controle do trator é de


fundamental importância, pois a execução de tarefas que o utilizem, dependem
dos conhecimentos desses instrumentos e comandos, para que a tarefa seja
realizada de uma forma eficaz e, sobretudo, segura.
Para saber detalhes específicos de cada trator, consulte o manual de
instruções do fabricante.

124
Destacamos, abaixo, o painel de um trator Massey, (série 200):
Indicador
da carga Indicador
Pressão do de
óleo do da bateria
restrição
motor

Tanque de
combustível

Temperatura Tacômetro
da água Horímetro

Figura 17- Esquema de painel de trator (tratores MF). Extraído e adaptado de: a Bíblia do trator,
IOCHPE-MAXION.

Coloque a chave de partida no primeiro estágio e verifique as lâmpadas


indicadoras da bateria e da restrição do filtro de ar. Ambas devem estar acesas.
Se o motor estiver em funcionamento normal, devem apagar. Alguns tratores
(como os da marca MAXION) possuem uma maior quantidade de lâmpadas piloto
no painel. Algumas lâmpadas só acenderão no primeiro estágio da chave de
partida, se os respectivos interruptores estiverem acesos, como as lâmpadas de
freio de estacionamento, pisca-pisca e luz alta (A bíblia do trator - IOCHPE/
MAXION, s.d.).
O exemplo anterior contempla apenas os painéis dos tratores MF
considerados padrões, até a década de 90. Modificações nos painéis atuais, não
só dos tratores MF, como de diversas marcas, incluíram mostradores digitais,
equipamentos eletrônicos, como os destinados aos ajustes eletrônicos das
funções e até a agricultura de precisão (GPS, DGPS).

4.1.1.2. Partida do motor

Em tratores turboalimentados (ou turbinados, como conhecidos


vulgarmente) nunca acelere bruscamente o motor (Barrufadas fortes) quando der
a partida, pois o óleo demora mais para chegar ao turboalimentador, podendo

125
causar, dessa forma, severos danos ao motor pela falta de lubrificação das suas
partes móveis.
Ao dar a partida no motor, antes do início da jornada de trabalho, passe
cerca de cinco minutos com o motor “contando”, esse procedimento permite que
o motor adquira uma temperatura mínima de trabalho e também permite que o
óleo possa lubrificar corretamente os mecanismos internos do mesmo, formando
uma película entre todas as peças que se atritam.

4.2. Conforto na operação do trator:

O conforto para o operador é um aspecto importante para que se tenha


bom níveis de produtividade no trabalho, bem como se minimizem ou até mesmo
se evitem os aspectos de insalubridade nas operações com tratores.
A poluição sonora devido à emissão de ruídos excessivos pelo conjunto
trator x implemento é uma grande causadora de problemas de perda de audição.
Sabe-se desde estudos da década de 60 do século passado que outro fator
importante para o conforto do operador é a cadeira. Tanto que existiram
inclusive estudos anatômicos para se determinar qual a cadeira ideal para o
tratorista. Esse aspecto torna-se relevante, uma vez que foram obtidos índices
de até 20 % de melhora na produtividade, modificando-se apenas a cadeira.
Entretanto, inicialmente nos deteremos nos aspectos de insalubridade referentes
ao aparelho auditivo dos tratoristas:

4.2.1. A insalubridade do trabalho de tratorista

As operações agrícolas mecanizadas exigem cuidados e atenção


redobrada, uma vez que geralmente se lida com maquinário potente, capaz de
causar severos danos até mesmo passíveis de óbito, de acordo com o
equipamento que se trabalha e a severidade dos danos imediatos.
Todavia, os operadores das máquinas agrícolas, notadamente, os
tratoristas, estão submetidos a uma outra situação insalubre e que muitas vezes
passa despercebida: o nível de ruído do trator, ou das operações com o
maquinário agrícola, que em muitos casos leva à uma perda auditiva gradual
(hipocausia), bem como os problemas de postura, decorrentes das operações
tratorizadas.
SCHLOSSER (2003) afirma que os ruídos e vibrações emitidos pelo trator
faz com que os operadores sofram danos na coluna. Segundo esse mesmo autor,
estudos comprovam que 75% dos operadores de máquinas agrícolas tem
problemas de coluna aos 25 anos de idade, enquanto que em outras profissões
como os 45% dos operários em geral tem os mesmos problemas aos 45 anos de
idade.

126
Comumente, as operações agrícolas com tratores emitem níveis de ruído
superiores aos limites toleráveis, que é de 80 decibéis (dB). FERNANDES
(2003), em pesquisa com tratores nacionais, na sua maioria em condições de
campo, verificou perda auditiva em 59,8% dos ouvidos. Esse dado é
preocupante, pois segundo o autor, ele é superior, inclusive, aos índices
encontrados nos trabalhadores da indústria.
FERNANDES (op. cit), dá ênfase à severidade das condições de trabalho às
quais estão submetidos os tratoristas quando relata que foi observado que: “o
déficit auditivo evoluiu com a idade e o tempo de exposição, comprovando ser o
ruído a causa da perda auditiva (hipocausia). Também ficou evidente a perda da
capacidade auditiva para tratoristas com até 5 anos de trabalho, 42,9% já
apresentavam déficit auditivo e, entre 5 e 10 anos de exposição ao ruído do
trator, 58% já tinham hipocausia”.
A NR – 15 da portaria 3214 da CLT, estabelece um período máximo de
trabalho de acordo com os níveis de ruído (Tabela 2). Infelizmente, sabe-se que
esse aspecto tem dois agravantes: o primeiro de que, na prática, um período
normal de trabalho de um tratorista é de oito horas; o segundo é que, não há,
entre os tratoristas, como relata FERNANDES (op. Cit) o costume de usar os
protetores auriculares (como regulamentado na portaria 3.214 do ministério do
trabalho, em sua NR-15 a qual obriga o uso dessa proteção pelos trabalhadores
submetidos a períodos diários de 8 horas de trabalho, sob níveis de ruídos
superiores a 85 dB). Na prática, as operações agrícolas que emitiram níveis de
ruídos mais altos, segundo FERNANDES (2003), foram a aração, por exigir um
maior esforço do trator e o roço, certamente pela ação das lâminas da roçadeira
no material.

127
Tabela 6 – Exposições máximas permissíveis de acordo com a NR – 15 da portaria 3214
da CLT. (Fonte: FERNANDES, 2003).
marca / modelo Operação Nível de Exposição máxima
ruído permissível
dB(A)
Agrale 4300 Roçagem 98,3 1:00 h

Yanmar 1040 Transporte 96,3 1:15 h

M.F. 265 Roçagem 100,3 45 min

Valmet 65 Colheita de 99,8 1:00 h


milho
Ford 4610 Aração 100,5 45 min

CBT 8440 Subsolagem 99,0 1:00 h

Cartepillar D6 Cultivo 102,0 45 min

Fiatallis 7 D Cultivo 103,5 35 min

Komatsu Subsolagem 104,3 30 min

De acordo com o observado nesse estudo, o autor sugeriu que, a


colocação do escapamento por baixo do trator e o redimensionamento da câmara
de expansão dos gases, poderiam atenuar para níveis não insalubres os ruídos
provocados pelo escape.
MARQUÉZ (2003), afirma que, por não haver um sistema de suspensão, a
freqüência das vibrações e solavancos na operação dos tratores é uma grande
causadora de hérnias de disco entre os profissionais que conduzem essas
máquinas28.
MIALHE (1974) também enfatiza que o projeto de um assento adequado,
mais ergonômico, pode prevenir defeitos e doenças posturais. Esse mesmo autor
cita ainda que foi realizado um estudo onde se observou que a modificação da
ergonomia do assento melhorou o rendimento do trabalho do tratorista em cerca
de 20 %.

28
Por não ter um sistema de suspensão devido a necessidade de precisão em muitas operações agrícolas, uma das
soluções encontradas foi a colocação de amortecedores eficazes no próprio assento, o que ajudou a melhorar em
muito o conforto na operação do trator.

128
4.3. Cuidados com o equipamento: a operação do trator

Diversos cuidados devem ser tomados no tocante a operação com o trator.


A seguir destacamos algumas que julgamos ser fundamentais à operação segura
do maquinário, muitos dos pontos a seguir foram retirados do material fornecido
por uma das principais montadoras do país (IOCHPE-MAXION):

▪ Nunca fique com o pé sobre o pedal de embreagem quando estiver


operando normalmente (isto força muito o sistema de embreagem,
ocasionando o desgaste prematuro do disco, do colar e da embreagem);

▪ Em tratores que possuem transmissão do tipo não sincronizada, é


recomendável que na se façam mudanças de marchas com o trator em
movimento, sob risco de danificar a transmissão;

▪ Para veículos traçados (Tração 4 x 4), só utilize a redução (low range),


quando os dois eixos estiverem ligados (veículo traçado), pois utilizando a
redução apenas com o veículo em 4 x 2, há uma sobrecarga do eixo
traseiro, uma vez que o torque aumenta consideravelmente e deve ser
distribuído nos dois eixos.

▪ Mantenha os pedais de freio sempre unidos pela trava de união, quando


estiver se deslocando em estradas;

▪ Evite pegar no volante da direção para subir no trator, utilize o “pega-


mão” ao lado do mini-capuz;

▪ Ao utilizar a trava do diferencial, para ganhar tração ou uniformizar a


tração no eixo, (quando uma roda traseira patinar em um terreno
escorregadio) pare o trator e acione o pedal de bloqueio do diferencial.
Assim que as rodas voltarem a tracionar normalmente, solte o pedal que o
bloqueio irá desaclopar automaticamente, ou caso o desbloqueio do
diferencial não seja automático, destrave-a imediatamente, pois ao
manobrar ou fazer curvas com o diferencial bloqueado, poderão ocorrer
danos na transmissão do trator;

▪ Ao verificar ou completar o nível d’água da bateria, nunca acenda fósforos


ou fume, pois poderá ocorrer explosão. Isso é válido também para o
abastecimento do trator ou qualquer manutenção no sistema de
alimentação de combustível.

129
130
4.4. Verificações diárias antes do trabalho

Diariamente algumas verificações se fazem necessárias. Antes que seja


dada a partida no motor, obedeça aos seguintes procedimentos:

▪ Drene a água e impurezas do sedimentador e do filtro de combustível;

▪ Verifique o nível de óleo do motor. O nível deve estar entre o mínimo e o


máximo, indicado na vareta;

▪ Verifique o nível de água do radiador, caso esteja baixo, complete–o com


água potável;

▪ Abra a grade frontal e pressione a válvula de descarga de pó do filtro de


ar. Em alguns tratores essa operação é desnecessária, já que eles são
equipados com ejetor de poeira.

▪ Inspecione os suspiros da transmissão, dos redutores traseiros e do eixo


dianteiro. É importante que esses suspiros estejam desobstruídos,
evitando a formação de pressão no interior das respectivas carcaças.

▪ Verifique se há necessidade de lubrificação do implemento que você irá


utilizar (antes de qualquer trabalho ou carga, dependendo do implemento
os implementos deverão ser lubrificados, antes e depois do serviço, como
as grades de discos sem rolamentos).

4.4. Tração dianteira

A tração dianteira auxilia o trator a ter um melhor desempenho e


produtividade, principalmente em situações de perda de tração (desnível de
terreno, terrenos argilosos ou escorregadios, necessidade de maior poder de
tração).
▪ Para que a tração dianteira do seu trator possa ter uma excelente
durabilidade, observe as seguintes recomendações:

▪ Nunca engate ou tente engatar a tração dianteira com o trator em


movimento. Devido às diferenças de relação de transmissão dianteira e
traseira, poderão ocorrer danos no sistema;

131
▪ Use a tração dianteira somente quando estiver realizando serviços de
campo. Nunca a utilize em deslocamentos por estradas ou rebocando
implementos, excetuando-se os casos estritamente necessários;

▪ Nunca utilize a tração dianteira com velocidades acima dos 15 Km/h;

▪ Nunca use pneus com desgastes entre si;

▪ Ao trocar os pneus, use pneus da mesma medida e tipo dos anteriores, a


não ser que o trator vá ser usado para uma outra atividade específica
(fruticultura, rizicultura etc), mas para tanto, as dimensões dos pneus
devem obedecer às das novas rodas.

Esperamos com estas indicações, também oriundas de uma coletânea de


publicações específicas com fins à correta manutenção, ajustes e uso do trator,
que os riscos de acidentes sejam minimizados; os bons rendimentos no trabalho
rural mecanizado tornem – se uma constante nas condições locais de cada
técnico ou produtor que as siga.
Mais uma vez, mesmo temendo sermos enfadonhos nas repetições, mas as
temos por necessárias, somente uma manutenção eficiente e correta garantirá o
perfeito funcionamento da frota agrícola da fazenda, assim, o uso de
lubrificantes “mais baratos” muitas vezes não atende às necessidades dos
lubrificantes recomendados pelo fabricante. Peças sucateadas e desgastadas
comprometem o perfeito funcionamento da máquina em questão, seja um trator
ou um implemento, o que fatalmente irá refletir no bom funcionamento e na
produtividade daquela máquina, acontecendo quebras geralmente em períodos
críticos, como plantio, ou colheita.

132
CAPÍTULO 5
Manejo e conservação do solo

De acordo com CARDOSO (1992) as diferentes necessidades das plantas


em nutrientes, ar e água, têm sido tomadas como referências principais para a
escolha das operações de cultivo e a intensidade com que essas práticas são
utilizadas. Os efeitos dos cultivos nas propriedades dos solos, além dos
favorecimentos ou limitações que este ambiente impõe às plantas cultivadas,
exprimem-se em intensidades variáveis, de acordo com os sistemas de cultivo
empregado e das características do solo. A interação ambiente – solo – manejo é
decisiva, portanto, para a autosustentabilidade da atividade agropecuária.
O atual sistema de exploração agrícola tem induzido a um processo de
degradação do solo. A atuação conjunta dos fatores degradantes varia
relativamente de local para local. Sendo assim, o manejo correto do solo,
caracteriza-se como o conjunto de operações que visam melhorar e/ou manter
seus atributos e viabilizar a sustentabilidade da agricultura (EMBRAPA 1996).
Para que a produção agrícola seja otimizada numa propriedade agrícola,
deve-se lançar mão do planejamento do uso da terra. (op. cit).
Diversas práticas conservacionistas podem ser utilizadas para isso, como
o plantio direto, o qual consiste no cultivo, por tempo indeterminado, em terreno
coberto de palha e na ausência das operações de preparo do solo (aração,
gradagem, subsolagem).
Outros sistemas fazem uso de tração animal, quando viável
economicamente, em substituição a algumas atividades anteriormente feitas por
tratores. O sistema de cultivo mínimo, que procura estabelecer nas operações de
preparo do solo e manutenção da cultura, um número de passagens mínimo. Tais
práticas e sistemas advêm dos conhecimentos e observação das características
intrínsecas aos solos, buscando sempre o manejo adequado para cada situação.
BERTONI e LOMBARDI NETO (1985), afirmam que o conhecimento de
algumas características e propriedades do solo, como textura, estrutura, cor e
porosidade são importantes na orientação de trabalhos de manejo e controle de
erosão, idéia que é reforçada por CAMERON et al.
A seguir, observaremos algumas características e propriedades
importantes para a conservação dos solos:

5.1. Características e propriedades edáficas que devem ser observadas no


preparo do solo:

◼ Textura;

133
◼ Estrutura e umidade;
◼ Cor;
◼ Porosidade;
◼ Profundidade;
◼ Topografia;

5.1.1. Textura

De acordo com CARDOSO (1992), textura refere-se à distribuição


qualitativa das classes de tamanhos de partículas que compõem o solo. As
relações físicas e químicas edafológicas verificam-se principalmente na
superfície das partículas, daí a razão do maior interesse nas frações menores (<
2mm), as quais apresentam em termos de proporção, uma maior superfície. A
análise mecânica (geralmente pelo método de peneiramento) determina a
proporção dessas frações e o resultado é comumente apresentado como
percentagens de areia, silte e argila.
A textura é um dos mais relevantes fatores determinantes do uso do solo.
As práticas de uso devem observar esse aspecto. Assim, solos argilosos não
devem ser trabalhados enquanto muito molhados ou úmidos (além de na prática,
ser complicado se trabalhar com umidade elevada nessas condições, face à
pegajosidade das argilas nos implementos).

5.1.2. Estrutura e Umidade:

a) Estrutura

A estrutura está relacionada com a maior ou menor facilidade de trabalho


dos solos, a permeabilidade à água, à resistência á erosão e às condições de
desenvolvimento das raízes.
A estrutura pode ser modificada (melhorada ou piorada, conforme o
manejo) de acordo com as práticas usadas, tais como trabalho mecânico, manejo
da matéria orgânica e drenagem, entre outras (CARDOSO, 1992).
A estabilidade dos agregados é um aspecto importante da estrutura
edáfica. Essa estabilidade relaciona-se com o tipo de argila, aos elementos
químicos associados ás argilas, á natureza dos produtos de decomposição, da
M.O. e da microbiota do solo.
Nos solos argilosos, a correção de uma estrutura adensada pode ser
conseguida em alguns casos através do trabalho mecânico do solo, associado à
incorporação da matéria orgânica (op.cit.).

134
b) Umidade do solo

A água é um dos fatores que devem ser levados em consideração no


preparo do solo.

coesão
plasticidade

adesão

seco úmido molhado saturado


% de água do solo

Figura 17 - Efeito do conteúdo de água em dois componentes principais da consistência do solo. Extraído
de BAVER et al, 1973

A figura acima mostra a relação entre a umidade do solo, as forças de


adesão (forças de atração entre partículas de natureza diferente) e as forças de
coesão (forças de atração entre partículas de mesma natureza). À medida que a
umidade aumenta, a adesão entre as partículas cresce até certo ponto, no qual o
solo tende a ficar saturado e a partir do qual, há um rápido decréscimo das
forças de adesão. As forças de coesão são rapidamente diminuídas à medida que
o teor de água aumenta, tendo seu ponto máximo no solo seco e o ponto mínimo,
em solo úmido (BAVER et al, 1973).
Isso ilustra que a água atua como agregante, para partículas de natureza
diferente e faz o papel de dispersante, para partículas de mesma natureza. No
entanto, quando o solo está muito úmido ou molhado, há uma plasticidade maior,
face á adesão de partículas de granulometria diferentes, (o silte, a areia e a
argila) além de partículas de outra natureza, como outros sesquióxidos e
colóides orgânicos.
O ponto de interseção entre as linhas das forças de coesão e adesão é
denominado de ponto de aração. Nesse ponto, quando feita a operação de
revolvimento, não ocorrem danos significativos à sua estrutura, principalmente
nos pesados (argilosos). Podemos observar na figura anterior que a localização
do ponto de aração está afastado do nível mais seco do solo e próximo do ponto
“úmido”.
SILVEIRA (1989) afirma que quando o solo está muito seco, não ocorrem
danos físicos na estrutura, contudo, a operação torna-se mais custosa, pois os

135
torrões trazidos à superfície são muito grandes e difíceis de serem quebrados,
isso naturalmente, se o solo for argiloso.
Os solos arenosos ou franco-arenosos, não são propriamente “exigentes”
no aspecto referente à umidade para proceder-se às operações de revolvimento,
pois quase não apresentam ou apresentam pouca estrutura. Segundo ALDRICH &
LENG (1974), para os arenosos, não é estritamente necessário se esperar uma
granulação através do aumento na umidade a fim de que se facilite o trabalho,
enquanto que para solos mais pesados, é desejável que se tenha um solo um
pouco mais úmido e no caso de solos argilosos, que esteja friável, pois isso
facilitará o trabalho, tendo-se assim, uma umidade adequada.
Uma forma mais precisa para o preparo primário do solo (aração e
gradagem), é recomendada por HERNANI & SALTON (1998), ao sugerirem que
essas operações sejam feitas quando o solo apresentar de 60 a 70% da
capacidade de campo.
Esse aspecto de cuidado no preparo do solo torna-se meramente
cientificista; na prática, a observância do ponto ideal de aração é quase
negligenciada, ou que, diante das circunstâncias de produção, disponibilidade de
chuvas, especialmente no semi-árido nordestino, não é observada.
Muitas vezes por conta de contratos de produção, o produtor rural
antecipa o preparo do solo antes do período das primeiras chuvas,
principalmente em grandes áreas de produção intensiva e monocultivos. Outras
vezes, a disponibilidade do maquinário, por produtores que o alugam não permite
que seja observado o ponto de aração; revolve-se o solo assim que se dispõe do
trator e dos implementos para o “corte da terra”.
A não observação do fator umidade do solo é portanto, cumulativa, por se
agravarem as condições físicas do solo diante da erosão e compactação, mas que
não é um aspecto limitante, uma vez que a incorporação de M.O., uso de
implementos diferentes e a própria característica granulométrica dominante do
solo (textura), podem por exemplo, compensarem ou tolerarem o preparo do
solo em condições acima ou abaixo do ponto de aração.
Evidentemente, frisamos mais uma vez, que estamos nos referindo ao
sistema convencional de preparo do solo, sendo este severamente questionável,
por importar um modelo que não é adequado às nossas condições tropicais, o
SPD representa hoje, um passo enorme no conhecimento e manejo dos solos
tropicais, e por isso mesmo, vem-se apresentando ganhos produtivos enormes,
principalmente na produção nacional de grãos, o que reflete a adequação desse
sistema às nossas condições.
Logicamente, há toda uma complexa situação de adequação e
implementação das técnicas do SPD às diversas regiões do Brasil, como por
exemplo, o nordeste. Neste último caso, a premissa de implantar-se o SPD no

136
semi-árido esbarra nos fatores culturais, econômicos e ambientais, já que os
restos de cultura são comumente reaproveitados para a alimentação animal.
No que tange aos fatores culturais, estes são deveras ligados intimamente
às condições do ambiente, pois para o pequeno e médio agricultor / produtor
rural, é quase inconcebível que a palhada seja disposta no solo, onde a mesma
serviria como forragem, ou incrementaria o suporte forrageiro da propriedade.
Assim, há que o técnico de campo, ou extensionista, intervir de maneira a
buscar a sustentabilidade visando a formação dos agroecossistemas de forma
que se planeje uma modificação, conjuntamente com o homem do campo, das
situações ou sistemas de cultivo, pastoreio ou outras atividades exploratórias da
propriedade que tradicionalmente e historicamente são feitas, com um grande
comprometimento social, ambiental e econômico.

137
5.1.3. Cor

A cor é uma das características mais elementares para determinação de


outros fatores referentes ao solo, propriedades como a textura e o material de
origem. Essa propriedade pode, no entanto, ser alterada pela maior ou menor
presença de M.O., água e óxidos de ferro. A cor como característica é pouco
importante, entretanto, auxilia no diagnóstico de situações específicas e no
manejo. Cores escuras podem indicar maior conteúdo de matéria orgânica
(M.O.). As cores próximas ao vermelho dependem da quantidade de óxido de
ferro não hidratado que se forma em boas condições de aeração. O amarelo e o
cinza podem denunciar áreas mal drenadas (CARDOSO, 1992) ou solos bastante
intemperizados, como os latossolos.
Conhecendo-se esses aspectos, pode -se determinar quais as operações
de manejo de solo (práticas conservacionistas, drenagem etc.) deverão ser
utilizadas.

5.1.4. Porosidade

A porosidade refere-se à proporção de espaços ocupados pelos líquidos e


gases em relação ao espaço ocupado pela massa de solo.
Após os cultivos, há uma redução na porosidade em relação à porosidade
inicial, ou aos mesmos tipos de solos não cultivados. O sistema de preparo
exerce influência significativa na porosidade, assim como a umidade em que o
solo é revolvido também.
A permeabilidade do solo se expressa em função da porosidade, que, na
prática é a capacidade que a água e o ar tem de passar através do perfil. A
permeabilidade é importante nos sistemas de conservação de solos, pois solos
permeáveis, resistem mais à erosão por conta da capacidade que têm de
absorverem (infiltrarem) a água, seja de chuva ou de irrigação.

5.1.5. Profundidade

Solos profundos possibilitam um maior armazenamento de água que os


rasos e favorecem o desenvolvimento das plantas. Solos rasos limitam as
práticas de sistematização, drenagem, irrigação e práticas conservacionistas,
como terraceamento. Além disso, muitas vezes tornam-se mais erosíveis, face à
sua topografia (CARDOSO, 1992). Um bom exemplo são os litólicos, os quais
apresentam-se geralmente muito rasos, arenosos e com grande número de
rochas na superfície, muitas vezes em relevo ondulado, sendo severamente
restringíveis à mecanização.

138
5.1.6. Topografia

A topografia influi na adequação das práticas conservacionistas, práticas


de preparo do solo e inclusive à própria mecanização da área. Um fator
importante também relacionado á topografia é a erosibilidade maior de áreas
com topografia ondulada ou de relevo forte em relação ás áreas de relevo mais
suave.

139
5.2. Medidas conservacionistas

Alguns aspectos referentes ao manejo conservacionista do solo são


importantes no planejamento do manejo e no sucesso do mesmo. O
conhecimento da área, com suas características, topografia, tipos de solo,
vegetação e até mananciais podem definir diferentes manejos, em diferentes
ambientes, dentro de uma mesma propriedade.
O planejamento integrado caracteriza-se por planejar o manejo, tendo uma
visão abrangente das características anteriormente citadas e indo além dos
limites da propriedade, como o planejamento de microbacias.
De uma forma geral, a COMISSÃO ESTADUAL DE PESQUISA DO FEIJÃO
(1998), recomenda algumas práticas conservacionistas, para a cultura do
feijoeiro que podem ser extendidas para outras culturas anuais, resumidamente
em:

a) Evitar a queima da resteva do cultivo anterior, que protege o solo


e fornece matéria orgânica, que quando decomposta, irá melhorar
as condições físicas, químicas e biológicas do solo (SPD);

b) Caso não se adote o SPD, evitar o preparo excessivo do solo e


sua pulverização, diminuindo o número de passagens com
implementos de corte, buscando manter a rugosidade da
superfície do solo. Esta prática resulta na diminuição do
escoamento superficial da água pluvial, aumentando a infiltração
desta água e sua disponibilidade à cultura, reduzindo a erosão
hídrica;

c) Evitar trafegar com maquinário agrícola e, de animais e


implementos quando o solo apresentar alto teor de umidade, pois,
em solos muito úmidos, as taxas de compactação são maiores, há
concomitantemente, uma redução da porosidade, redução da
infiltração de água e, aumento da erosão;

d) Adotar a prática de terraceamento, quando possível, para reduzir


o excesso de escoamento superficial; esta é uma prática
complementar, que deve estar associada à manutenção da
cobertura do solo e da rugosidade do preparo;

e) Em áreas declivosas, quando não for possível adotar o


terraceamento, adotar práticas semelhantes e mais baratas, de

140
acordo com a disponibilidade econômica do produtor, ou de
pedregosidade na área, adotar cordões em contorno, que
cumprem a mesma função dos terraços;

f) Efetuar o preparo e o plantio preferencialmente em nível, caso


não seja feito dessa forma, que pelo menos, essas práticas sejam
horizontais, no sentido transversal do declive;

g) Capinas em faixas e épocas alternadas;

h) Rotação de culturas;

i) Adubação verde;

j) Integrar lavoura e pecuária, incluindo-se a pastagem na rotação


de culturas e a prática do bosteamento (excreções do gado na
área da pastagem).

Ainda sugerimos a alternância de implementos e profundidade de trabalho,


pois, segundo HERNANI e SALTON (1998), é uma forma de evitar a
compactação de camadas do solo.
O ideal é que todas essas práticas fossem seguidas, contudo, é sempre
difícil ao produtor rural seguir tais preceitos, geralmente por diversos motivos,
como disponibilidade de maquinário, calendário de mão-de-obra, período de
chuvas, áreas extensas para serem trabalhadas em pouco tempo, etc. Entretanto,
pelo menos alguns cuidados devem ser seguidos, não propriamente por serem
mais relevantes, mas sim, por surtirem efeitos mais imediatos, especialmente no
que se refere ao número de passagens, adubação verde e rotação de culturas.

141
Terraceamento e semeadura em nível
A semeadura em nível refere-se ao plantio em nível, acompanhando as
curvas de nível ou niveladas básicas. As linhas de semeadura transformam-se
em obstáculos à movimentação da água e permitem a sua infiltração no solo.
Essa prática é uma das mais simples e importantes práticas conservacionistas,
porque além de controlar a erosão, ainda facilita e tornam mais eficientes as
práticas complementares (HERNANI e SALTON, 1998). A tabela seguinte mostra
o espaçamento utilizado para a construção de terraços ou curvas de nível, a
partir das niveladas básicas.
Tabela 7 - Espaçamento para terraços em nível (extraído de “A cultura da soja nos
cerrados – anais;1992”).

Declive Textura de solo


(%) Argilosa Média Arenosa
EVa EVb EVa EVb EVa EVb
(m) (m) (m) (m) (m) (m)
1 0,27 26,60 0,26 26,00 0,25 25,40
2 0,53 26,60 0,52 26,00 0,51 25,40
3 0,80 26,60 0,78 26,00 0,76 25,40
4 0,86 21,60 0,84 21,00 0,82 21,40
5 0,93 18,70 0,90 18,00 0,87 17,40
6 1,00 16,60 0,96 16,00 0,93 15,40
7 1,06 15,20 1,02 14,60 0,98 14,00
8 1,13 14,10 1,08 13,50 1,03 12,90
9 1,20 13,3 1,14 12,70 1,09 12,10
10 1,27 12,70 1,20 12,00 1,14 11,40
11 1,33 12,10 1,26 11,40 1,20 10,90
12 1,40 11,60 1,32 11,00 1,25 10,40

a espaçamento vertical
b espaçamento horizontal

Essa tabela pode ser usada como guia, na determinação do espaçamento


entre as curvas de nível, tanto o espaçamento na superfície do terreno
(comprimento de rampa, espaçamento horizontal), quanto no desnível do terreno
(diferença de nível, espaçamento vertical). Sabe-se que, o tamanho da rampa,
isto é, a distância no terreno, de uma curva de nível à outra, deve considerar as

142
características do solo, da declividade da área e, inclusive, do regime de chuvas
(intensidade pluviométrica).
Os aspectos edáfo-climáticos referentes à declividade e ao regime de
chuvas influem sensivelmente nos processo de perda de solo por erosão,
estando intimamente ligados.
Em regiões de uso intensivo do solo, com declividades superiores a 2%, o
terraceamento, segundo CARDOSO (1992) torna-se imprescindível,
principalmente quando considerarmos as longas pendentes que normalmente se
relacionam inversamente com a declividade. Ou seja, áreas de pequena
declividade quando têm longas pendentes (áreas de escorrimento d’água,
funcionando como rampas) fazem com que a água adquira uma energia cinética
considerável, após percorrer certa distância, ela adquire um potencial erosivo
semelhante á uma situação de uma área com declive acentuado e com menos
distância a ser percorrida.
Podemos ilustrar esses aspectos da seguinte forma: De acordo com a
declividade do terreno, teremos uma quantidade x de água da chuva, durante um
certo período de tempo, escorrendo na superfície, com uma taxa y de arraste de
solo. À medida que a declividade aumenta, teremos que diminuir a distância
entre uma curva de nível e outra, pois nessa situação, a mesma quantidade x de
água, tem um potencial erosivo maior, não arrastando somente aquela quantidade
y, mas uma quantidade maior de solo.

Chuva
Superfície Chuva
Terraço em b) do terreno
a) nível
Terraço
L (Comprimento L (Comprimento
Água retida no em nível
da rampa) da rampa)
terraço e
infiltrando no
solo
Figura 18 - Volume de enxurrada com relação ao comprimento de rampa, para a construção de Terraços
em nível Na situação “a”, a declividade do terreno é menor do que a da situação “b”. A energia cinética
que a água adquire ao descer a rampa mais declivosa é maior do que a descida da primeira situação. A
enxurrada, portanto, no último caso é mais forte, o que faz com que seja necessário reduzir a distância
entre os terraços, para que se evitem maiores danos ao solo.

Os terraços têm, portanto, a função de fracionar o comprimento da rampa


e evitar a erosão da área (HERNANI & SALTON, 1998).
As áreas a serem terraceadas devem ser estudadas anteriormente, para
que se possam verificar as suas condições gerais, o tipo de solo, textura,
cobertura vegetal (cultura) e o grau do declive.

143
Todos esses fatores denominamos de erosibilidade. Já no tocante ao
regime pluviométrico da região, a intensidade das chuvas – são denominados de
erosividade.
Os terraços podem ser:
a) De base larga - tipo Mangum (de absorção) – mais usados para solos
mais arenosos;
b) De base estreita - tipo Nichols (de retenção) – solos argilosos.

Manutenção da cobertura morta na superfície – Sistema de Plantio Direto


(SPD):

Segundo HERNANI e SALTON (1998), o sistema de plantio direto é a


alternativa mais viável para os solos agrícolas sob as condições tropicais.
Este sistema visa manter a superfície do solo protegida da ação da erosão,
bem como da formação de camadas de restos culturais e a decomposição da das
camadas mais inferiores da “palhada”, contribuindo com o acréscimo de matéria
orgânica ao solo. Caracteriza-se ainda pela busca e execução de programas de
rotação de culturas e ausência de preparo ou revolvimento do solo por tempo
indeterminado.
As áreas com o SPD exigem, contudo, implementos adequados a esse
sistema, como semeadoras específicas, as quais cortam a palha, através de
facões, para a abertura de pequenos sulcos, para a colocação das sementes e do
adubo, bem como um número maior de pulverizações com herbicidas, quando no
início da implantação.

Adubação verde

A adubação verde consiste em se utilizar plantas para enriquecer o solo.


Segundo HERNANI e SALTON (1998), as principais espécies utilizadas para a
cobertura do solo (adubação verde) são: a aveia-preta (Avena strigosa Schreb),
a aveia branca (A. sativus L.), nabo forrageiro (Raphanus sativus L.v. oleiferus),
centeio (Secale cereale L.), milheto (Pennisetum typhoideum), triticale (Tritico
secale L.), a ervilhaca peluda (Vicia villosa L.), o sorgo (Sorghum bicolor L.), a
crotalária (Crotalaria sp.). Estas espécies são mais utilizadas nas regiões sul e
sudeste e em algumas áreas do centro-oeste.
As leguminosas, contudo, têm sido as espécies preferidas para a adubação
verde. A principal razão é a fixação biológica do nitrogênio atmosférico por
bactérias, do gênero Rhizobium, que vivem em simbiose com as leguminosas. O
que possibilita inclusive, a redução da dosagem de adubos nitrogenados,

144
responsáveis em muitas áreas por uma contaminação, através da formação e
lixiviação de nitratos para os corpos hídricos.
Além disso, as leguminosas produzem grande quantidade de massa verde
e têm sistema radicular pivotante, capaz de extrair nutrientes das camadas mais
profundas do solo, os quais serão disponibilizados após a sua decomposição
(FAVERO et al., 2000; ARAÚJO et al., 1996).
De acordo com FAVERO et al (2000), a variabilidade de produção de
biomassa por tais plantas varia conforme as condições que elas encontram.
Destacam-se o feijão – guandu (Cajanus cajam) - com produção de massa de
matéria seca de cerca de 17,9 t/ha, além de excelente enriquecedor natural do
solo.
Outras leguminosas muito utilizadas na adubação verde são o feijão de
porco (Cannavalia ensiformes) e a mucuna preta (Stilozobium atterinum), para
esta última, MONEGAT (1991), afirma que, esta leguminosa chega a fornecer de
50 a 200 kg de N/ha e que, quando incorporada ao solo, chega a fornecer, cerca
de 282 kg de N/ha. Dentre os feijões, os do gênero Vigna também são usados
para adubação verde e cobertura do solo, especialmente as variedades de
crescimento indeterminado (SOUZA NETO, 2002).
Após a escolha da espécie, o plantio deverá visar um pequeno intervalo
entre a incorporação das plantas para adubação verde e o plantio da cultura
desejada. Alguns agricultores não esperam a colheita dos grãos da cultura
implantada para adubação verde. Incorporam – na no início do florescimento, ou
um pouco antes. Já outros agricultores e técnicos, esperam até a colheita dos
grãos para obterem com isso, um retorno financeiro maior, para amortização dos
custos. A prática da adubação verde atualmente tem sido muito utilizada, não só
sendo assimilada pelo sistema de plantio convencional, como também na
agricultura orgânica.

Rotação de cultura, pousio e cultivo em faixas alternadas

A rotação de culturas era uma medida empregada na agricultura desde a


antiguidade, sobressaindo-se na Europa do período feudal HUBERMAN (1985).
Essa prática agrícola, juntamente com o pousio visava explorar da melhor
maneira possível, a terra, de acordo com as atividades do feudo.
Ainda segundo HUBERMAN (op. cit) Na Europa feudal, a rotação de
culturas consistia em que, a terra arável era dividida em dois campos, um para o
plantio do trigo e o outro para o plantio da cevada. Entretanto, houve um salto
produtivo quando se passou a utilizar três campos na mesma área. Um para a
cevada, outro para o trigo e um terceiro em pousio (empiricamente, os
camponeses tomavam essa medida a fim de não se esgotar o solo).

145
Ao cabo de 3 anos, cada área teria passado pelas três situações. Trigo,
cevada e pousio (ou alqueive). Assim, teríamos o seguinte esquema:

Ano I Ano II Ano III

Campo I → Trigo Cevada Pousio


Campo II →Cevada Pousio Trigo
Campo III →Pousio Trigo Cevada

No exemplo anterior, já que nos referimos ao Brasil, não estamos


recomendando explicitamente essa prática com tais culturas, mesmo que haja
uma certa possibilidade, no que se refere aos estados do sul, com estações mais
definidas e clima propício às culturas do exemplo.
Frisamos que a rotação de culturas, incorporada ao pousio deve ser feita
com culturas adaptadas à cada realidade local. Logicamente, a questão do
pousio, destas práticas que ora apresentamos, é uma das menos viável do ponto
de vista econômico, pois como o dito prático de técnicos e produtores “terra
parada é prejuízo na certa!”, já que a renda absoluta da propriedade fica
comprometida com áreas paradas acaba por contradizer até a lógica do uso
social da terra, previsto no estatuto da terra; incentivamos essa prática, somente
para casos específicos como infestações por pragas ou doenças que não se pode
ou não é viável economicamente combater, principalmente em áreas de
fruticultura, como por exemplo, alguns fungos de solo que atacam variedades
mais suscetíveis de bananeira (Musa sp.), como o mal do panamá, ocasionado
por ataque fúngico (Fusarium oxysporum f. sp cubense) (GALLI,1980).
Já a rotação de culturas tornou-se uma prática muito realizada no Brasil,
bem como o plantio em faixas alternadas. Graças a aspectos como o calendário
agrícola, (o plantio do milho safrinha, no sudeste, intercalando o plantio de soja
e/ou algodão) ou até mesmo das “roças” nordestinas, onde se planta o feijão nas
entrelinhas do milho, ou seguido da mandioca, geralmente nas pequenas
propriedades essa prática é corriqueira.
Além disso, as perdas por erosão também podem ser diminuídas, pois a
cobertura do solo ou o “albedo” de determinada cultura pode ser mais eficiente
do que outra. A tabela seguinte (tabela 8), apresentada em HERNANI e SALTON
(1998), mostra as perdas por erosão em diferentes culturas. No caso do feijão,
onde se observaram as maiores perdas de solo, os autores não detalharam qual
o hábito de crescimento da variedade estudada, uma vez que feijões de
crescimento indeterminados ou prostrados são utilizados para cobertura de solo
e adubação verde (SOUZA NETO, 2002).

146
Tabela 8 - Efeito de diversas culturas no controle das perdas de solo e água por erosão.

Cultura Perdas por erosão


Solo Água
-1
(t ha ) (%da chuva)
Feijão 38 11
Algodão 25 10
Soja 20 7
Milho 12 5
Extraído de HERNANI e SALTON (1998). Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1985)

Essa mudança de cultura explorada permite uma variação da profundidade


de exploração edáfica pelas diferentes culturas, as quais também tem
necessidades nutricionais distintas, retirando mais um nutriente do solo do que a
outra cultura. É evidente que a rotação de cultura por si só não garantirá ganhos
produtivos, mesmo quando se faça a rotação com leguminosas (a adubação
verde). A adubação química e a orgânica ainda são indispensáveis ao processo
produtivo.
Por justamente haver uma ciclagem natural dos nutrientes, na rotação de
culturas, de acordo com o tipo de cultura explorada e as características
edafoclimáticas locais, segundo HERNANI e SALTON (1998), cada local exigirá
estudos específicos no sentido de ser definida uma seqüência de culturas que se
adequem às condições edafoclimáticas do local, às condições do agricultor29,
bem como às exigências do mercado.
De acordo com esses mesmos autores, o programa de rotação de culturas
deve levar em conta o seu objetivo. No caso do plantio direto, se para cobertura
do solo e/ou suprimento inicial de palha, deve-se optar por espécies ou
cultivares que produzam quantidades elevadas de matéria seca. Caso seja feita
apenas com vistas às melhorias ao solo, devem-se vislumbrar também os
aspectos de mercado ou de aproveitamento da cultura implantada durante o
período escolhido. A rotação de culturas também pode ter como objetivo, a

29 Todos estes componentes ou aspectos citados anteriormente partem de um âmbito de uma situação ideal, que muitas

vezes prende-se (infelizmente) somente no meio acadêmico. Deve-se sim procurar levar em consideração a maior parte, senão
todos os fatores citados anteriormente, mas sabemos que no campo, pelos mais diversos aspectos, isso fica extremamente
complicado: surge então uma pergunta: Como observar todos os aspectos anteriores de conservação do solo (aspectos físicos do
solo, relevo, umidade, medidas conservacionistas etc) sem ônus econômico ou interferência no produzir? – seguramente isso
poderia ser respondido com outra pergunta: dá para observar alguns aspectos mais eficazes? - O manejo de solo em áreas
altamente mecanizadas é extremamente necessário, mas que certos aspectos podem ser aplicados às diferentes situações
econômicas e sociais do produtor, principalmente quando se parte para o pequeno e médio produtor, de uso menos intensivo ou
até pouco, da mecanização. A procura por opções de barateamento das medidas ou práticas de conservação dos solos sem influir
de maneira negativa na produção (e principalmente no bolso do proprietário) deve ser sempre a intenção do técnico e do próprio
produtor.

147
redução de patógenos às culturas principais. BELTRÃO e MELHORANÇA (1998)
consideram-na com um importante método de controle cultural, de ervas
daninhas e de redução da incidência de pragas e doenças.
SOUZA JÚNIOR (2001), em um ensaio em vasos, estudando controles
químicos, culturais e orgânicos para a meloidogenose do tomateiro, encontrou
resultados semelhantes de ocorrência de Meloidogyne incognita no solo e no
sistema radicular do tomateiro: tanto no tratamento químico com carbofuran®
como na área antes em alqueive. O referido autor encontrou os menores valores
de infestação do nematóide, no tratamento com carbofuran e na área em alqueive
(os quais não diferiram estatisticamente), como também valores menores de
infestação nos tratamentos onde havia plantas não hospedeiras (Guandu) e
nematicidas (crotalária) do que nos vasos onde já era plantado tomate.
Tabela 9 - Comparação de tratamentos quanto à ocorrência de Meloidogyne incognita no
solo e no sistema radicular do tomateiro (Extraído de SOUZA JÚNIOR, 2001).

VARIÁVEIS
3
Larvas/300Cm de solo Nº de galhas / Nº de massa Nº de ovos + larvas /
TRATAMENTOS 1
10g ovos/10g 10g de raiz
de raiz de
raiz

T1 1200,00ab2 81,20bc 61,60ab 12126,20ab

T2 2340,00ab 189,40ab 255,20ª 37999,80ab

T3 1460,00ab 173,00ab 117,60ab 19859,60ab

T4 1360,00ab 152,00ab 54,40ab 19859,60ab

T5 3560,00a 72,40bc 47,60ab 10506,40ab

T6 640,00b 0,80c 0,6b 4966,20b

T7 2220,00ab 26,2bc 51,60ab 119,80b

T8 2700,00ab 273,60ª 186,00ab 48973,30a

T9 820b

1
T1 = tomateiro plantado onde anteriormente fora alqueive; T2 = T1 + esterco bovino; T3 = T1 + biofertilizante; T4
= tomate plantado onde anteriormente fora implantado o Guandu; T5 = tomate plantado onde anteriormente fora
incorporada a crotalária; T6 = Tomate tratado com carbofuran onde anteriormente fora plantado tomate; T7 =
Tomate com adubação mineral onde anteriormente fora plantado tomate; T8= testemunha (tomate) e T9 = solo
mantido em alqueive.

Já em estudos feitos com algodão acerca do incremento da produtividade


no que diz respeito à rotação de culturas, obtiveram-se melhores índices de

148
produtividade quando se fez uso dessa técnica do que no cultivo contínuo
(FUNDAÇÃO CARGIL, 1984).
Tabela 10 - Efeito de sistemas de rotação sobre a produtividade do algodoeiro.

Rotação Produção em Kg ha-1


Milho/algodão/feijão/amendoim 1.162 (141)

Milho/algodão/amendoim 1.384 (169)

Arroz/milho/algodão 2.182 (266)

Algodão (contínuo) 821 (100)

Fonte: Fundação Cargill (1984)

Esses resultados reforçam que a rotação de culturas, preferencialmente


com espécies não hospedeiras, ou até mesmo o pousio de uma área, podem ser
medidas eficientes de controle de alguns patógenos do solo, como no caso, M.
incognita na exploração de olerícolas como o tomate (Tabela 2), ou no
incremento da produtividade de grandes culturas, como no caso do algodão
(Tabela 3).
O plantio em faixas alternadas também é uma prática de conservação do
solo. Algumas culturas quando intercaladas com outras favorecem uma melhor
exploração dos nutrientes, através do plantio de leguminosas x cereais, como o
consórcio muito comum na pequena propriedade rural do nordeste, de feijão e
milho.
Alternância de implementos

A alternância de implementos no preparo do solo no sistema de plantio


convencional tem sido feita com vistas à redução da compactação excessiva de
camadas subsuperficiais do solo. Durante passagens sucessivas ao longo dos
anos, imediatamente a profundidade máxima que alcança o implemento forma-se
uma camada compactada. Assim, procura-se alternar diferentes implementos de
preparo durante os anos de exploração daquela área. Ao utilizar o arado em um
determinado ano no preparo primário do solo, no ano seguinte, faz-se o
revolvimento do solo durante o preparo primário com uma grade pesada ou então
com o escarificador. A alternância de grades diferentes também surte efeito.
HERNANI e SALTON (1998) afirmam que, se num ano a grade pesada trabalhou
em uma determinada gleba a uma profundidade de 15 cm, no outro ano deverá
ser trabalhar a 20 ou 25cm, com o uso do arado ou do escarificador.

O uso de implementos descompactadores do solo:

149
Subsolador X Escarificador

Como discutido anteriormente, as camadas compactadas do solo são


camadas subsuperficiais do solo, as quais são adensaram-se, devido à
profundidade de corte que se repetiu praticamente a mesma, ano após ano (pé-
de-arado e pé-de-grade). Os implementos, utilizados para descompactar tais
camadas do solo, constituem-se em uma solução de efeito imediato, ao contrário
das medidas discutidas, como a descompactação do solo através da implantação
de culturas com o sistema radicular tipo pivotante, que embora sejam efetivas,
representam uma solução a no mínimo, médio prazo, e nem sempre o produtor
rural dispõe de outras áreas, para deixar a área compactada ser recuperada pela
nova cultura.

Faz-se, necessário, nestes casos, o uso de subsolador, escarificador, ou


até mesmo do arado (no caso do pé-de-grade). Esse último aplica-se bem em
áreas onde o emprego das grades é prática de preparo freqüente (preparo
mínimo do solo). Nestes casos, a passagem do arado deve ser preferencialmente
num intervalo de 3 (três) a 5 (cinco) anos, entre uma aração e outra.

5.3. A fertilidade do solo

A fertilidade do solo pode ser afetada por diversos fatores, desde o


esgotamento químico do solo, até a influência nociva das diversas formas de
erosão. Esses aspectos são provenientes de um mau planejamento no uso dos
solos agrícolas, ou até mesmo, a falta deste. Os aspectos referentes às praticas
de correção e adubações visam manter um bom nível de fertilidade dos solos,
além de reduzir elementos tóxicos às plantas, como o alumínio.
Para as práticas de adubação e calagem do solo, são observados diversos
aspectos técnicos:

5.3.1. Amostragem do solo

As amostras para serem levadas ao laboratório de análise de solo devem


representar fielmente a área a ser plantada. Para tanto, recomenda-se a divisão
da área a ser trabalhada em glebas homogêneas, e as amostras obtidas dessas
glebas deverão ser devidamente identificadas. A homogeneidade das glebas
refere-se à cor, textura, topografia, cobertura vegetal, condições de uso,
drenagem e histórico da área (adubações, calagens anteriores, cultivos
anteriores etc.).
Assim feito, deve-se em cada uma delas caminhar em zigue-zague,
coletando-se ao acaso de 15 a 20 sub-amostras de mesma quantidade. A

150
amostragem deverá ser feita na profundidade de 0 a 20cm e de 20 a 40cm, para
as culturas anuais, como soja e milho. Para frutíferas, a coleta deverá ser a
profundidades maiores ou a partir 20cm, existindo, contudo, diversos casos
específicos.
Deve-se evitar na coleta linhas de cultivo anterior e em áreas próximas a
formigueiro, cupinzeiro, ou depósitos de calcário. Deve-se evitar raspar
demasiadamente as camadas superficiais do ponto de amostragem. As sub-
amostras devem ser homogeneizadas em um balde plástico ou outro recipiente
limpo. Após essa mistura e homogeneização, deve-se retirar para amostra 500 g
de terra. Para ser enviada ao laboratório, a amostra deverá ser seca à sombra,
para depois ser acondicionada em saco plástico devidamente identificado. Em
monocultivos ou cultivos sucessivos, as amostras deverão ser coletadas a cada
dois anos (CARDOSO, 1992).

5.3.2. Análise foliar

A análise dos sintomas de deficiência nutricional através das folhas das


plantas é um método importante no auxílio à obtenção de bons rendimentos na
cultura. A análise foliar consiste em se verificar através das folhas, quais as
deficiências nutricionais que a planta está sofrendo e é bastante exata
principalmente para micronutrientes.
De acordo com a cultura, a coleta das folhas obedece alguns
procedimentos padrões, como a coleta somente de folhas de determinada altura
da planta, a observância da idade da folha, etc. De um modo geral, as folhas
retiradas para análise (amostra) deverão ser submetidas a uma lavagem rápida
em água corrente e fria, onde depois enxugarão à sombra, para serem
acondicionadas em saco de papel e remetidas ao laboratório.

5.3.3. Adubação do solo

Quando se aduba, seja através de uma adubação química ou orgânica, está


se colocando no solo, compostos que contém elementos indispensáveis ao bom
desenvolvimento das plantas, com a finalidade de repor elementos químicos ou
melhorar os níveis de fertilidade do solo (e no caso da adição de matéria
orgânica, adicionar não somente os elementos minerais necessários às plantas,
mas também, melhorar suas características físicas).
Todos os elementos são importantes ao bom desenvolvimento da cultura.
O que varia é sua quantidade. Assim, para a cultura do milho, por exemplo, o
nitrogênio, posto em maiores quantidades que zinco não é necessariamente mais
importante que ele. Ambos são importantes.

151
A seguir destacamos uma breve descrição de alguns minerais relevantes à
nutrição das plantas e que, por muitas vezes, são os mais utilizados, devido às
suas peculiaridades (necessidade de maiores quantidades seja pela
característica da própria cultura, das deficiências naturais do solo ou mesmo do
elemento – lixiviação, volatilização, percolação): entretanto, tomemos essa
abordagem na forma de uma contextualização superficial, ou no caso de uma
leitura mais técnica, sugerimos autores – referência, como Malavolta e as demais
referências que compuseram estes tópicos ora expostos.

152
Nitrogênio (N)

A fonte primária de N para as plantas é o ar atmosférico onde está


presente na forma de gás N 2.
Para que o N esteja disponível às raízes das plantas é necessário que ele
seja fixado no solo. Essa fixação pode ocorrer de forma artificial, natural ou por
via biológica, sendo a simbiose a mais relevante para a agricultura.

N 2 + 6e- + 6 H + → 2 NH 3 (Fixação biológica)


N 2 + 3H 2 → 2 NH 3 (Fixação artificial, por métodos industriais, com
grande dispêndio de energia).

O nitrogênio é absorvido pelas plantas preferencialmente na forma de


nitrato (NO3+) e de amônio (NH4+) (TANAKA et al, 1993).
A adubação com nitrogênio geralmente para a maior parte das culturas, é
feita na fundação e em cobertura, face à mobilidade e lixiviação do N no solo. De
acordo com STAUT e KURIHARA (1998), o parcelamento da adubação
nitrogenada, de um modo geral, é a forma mais adequada para aumentar a
eficiência no uso do nitrogênio pelas culturas e para aumentar a produtividade.

Fósforo (P)

Os solos tropicais, devido às diferentes características (material de


origem, intemperismo) são de forma geral, deficientes em fósforo. Normalmente
requerem adubação utilizando-se adubos fosfatados. É o elemento menos móvel
no solo, portanto, a adubação com fósforo deve sempre preceder o plantio
(adubação de fundação).
Este elemento tem importante papel nas plantas em função de ser
constituinte de compostos armazenadores de energia, como o ATP (Adenosine-
Tri-Phosphate). TANAKA et all (1993) afirmam que o fósforo ainda é
responsável por muitas funções nas plantas, como a utilização de amido e
açúcares, participação de diversas cadeias bioquímicas, formação de núcleos e
divisão celular. O P se concentra principalmente nas flores e frutos, sendo
considerado importante na polinização e frutificação das plantas (STAUT e
KURIHARA, 1998).
Quando dentro da planta, é rapidamente translocado e pode mover-se dos
tecidos mais velhos para os tecidos mais novos sob condições de reduzida
disponibilidade no solo.
O fósforo aumenta também a absorção do magnésio, o que é importante
para culturas como aveia, soja, milho e leguminosas. Entretanto altos conteúdos

153
de P, devido a uma adubação incorreta, diminuí a absorção de zinco pelas plantas
(TANAKA op cit).
Como fontes de P, podem ser usados os adubos solúveis em água
(Superfosfatos ou o fosfato de amônio) ou em ácido cítrico (Termofosfatos e
fosfato natural reativo). A escolha de determinada fonte de P deve considerar
além da necessidade de outros nutrientes, a relação custo/benefício.

154
Potássio (K)

O potássio é um elemento essencial para o crescimento vigoroso das


culturas. ALDRICH e LENG (1974) afirmam que na cultura do milho, o K é
responsável pelo bom desenvolvimento das plantas, atuando também, no
processo de formação das espigas.
O K atua na maior parte das reações bioquímicas das plantas. Suas
funções fisiológicas são: ação sobre o metabolismo e formação de carboidratos,
quebra e translocação de amido, quebra do nitrogênio e síntese de proteínas.
Além disso, também atua na ativação de enzimas e promoção de crescimento dos
tecidos meristemáticos (TANAKA et al, 1993).
O potássio, contudo, se perde por lixiviação, como o nitrogênio, embora
lixivie mais lentamente que o N. Não se fixa em compostos não assimiláveis, ou
de difícil assimilação, como o fósforo o faz. Sua deficiência é facilmente
identificável, em grande parte das culturas. A correção das deficiências em K+
no solo são muito viáveis, uma vez os adubos potássicos são relativamente
baratos e as respostas à adubação dada pela cultura são muito rápidas.

Cálcio (Ca)

O cálcio (Ca) tem um importante papel no metabolismo do Nitrogênio e no


poder germinativo das sementes. É um elemento constituinte das estruturas
vegetais, sendo na planta, relativamente imóvel. Sua deficiência se expressa em
órgãos mais jovens das plantas (STAUT e KURIHARA, 1998). Um exemplo
clássico da deficiência de Ca e o colapso que essa deficiência provoca nos
tecidos mais novos na planta é o surgimento da doença conhecida por podridão
apical, podridão estilar ou fundo preto, em tomate e/ou pimentão (GALLI,1980).
Segundo GALLI (1980), acredita-se que a principal causa dessa doença é
o desequilíbrio nutricional devido ao nível de cálcio disponível na planta em
relação a outros cátions, como o magnésio, o potássio, o sódio, e o nitrogênio, o
que a deixa mais suscetível ao ataque de patógenos.
A acidez do solo também influi na absorção de Ca pelas plantas. Solos
muito ácidos, geralmente provocam problemas de absorção de Ca pelas culturas.
Entre os diversos fatores que influem na absorção de Ca pelas plantas,
segundo GALLI (op. Cit), podem ser: a) Acidez do solo: solos ácidos devem ser
tratados com calcário dolomítico ou calcítico; b) Adubação: devem ser aplicados
adubos fosfatados no início da cultura para aumentar o nível de cálcio no solo;
adubações em cobertura devem ser fracionadas ao máximo; c) Tratos culturais
feitos evitando danos às raízes; d) Irrigação: deve ser feita de modo a evitar
flutuações bruscas no nível de água no solo; e) Pulverizações com cloreto de

155
cálcio em seguida à adubação de cobertura; f) Variedades mais resistentes (no
caso do tomate, recomenda-se variedades do tipo Santa Cruz).

Magnésio (Mg)

O Magnésio é pouco exigido pelas plantas, a disponibilidade desse


elemento é satisfatória na maioria dos solos brasileiros. Segundo STAUT e
KURIHARA (1998), podem surgir problemas com o suprimento de magnésio nas
seguintes situações;
- Em solos ácidos muito intemperizados;
- Em solos arenosos;
- Em solos cuja acidez vem sendo corrigida com calcário
calcítico, e
- Em cultivos com adubações pesadas de potássio.

Os distúrbios nutricionais causados ela deficiência do magnésio de


maneira geral expressam-se pelo crescimento lento das plantas. No algodoeiro,
segundo STAUT e KURIHARA (1998), esse crescimento lento é seguido de uma
clorose interneval, nas folhas inferiores da planta, que evoluí para uma coloração
vermelho-púrpura, em contraste com o verde das nervuras das folhas. Os
sintomas evoluem para as folhas mais novas, enquanto as mais velhas sofrem
abscisão. Essa deficiência por vezes é confundida com o “vermelhão”, doença
causada por vírus ou com o ataque de broca – da – raiz.

5.3.4. Adubação química

Sempre que a fertilidade do solo for baixa, ou houver um


comprometimento da produção de determinada cultura pela carência de um ou
mais elementos no solo, deve-se proceder a adubação. Segundo MALAVOLTA
(1987), para se avaliar o resultado econômico da adubação, deve-se avaliar a
relação custo-benefício, através da divisão da produção adicional obtida pela
adição do fertilizante pelo custo do adubo. Ainda segundo esse mesmo autor,
essa relação para o Brasil, de forma geral, é igual a 4 (De cada real investido em
adubos, têm-se 4 de incremento de produção).

5.3.5. Adubação orgânica

A Matéria orgânica é fundamental nos sistemas de manejo adequado dos


solos, especialmente os solos tropicais, que via de regra, possuem pouco
Nitrogênio, graças à facilidade que esse elemento tem de lixiviar e pouco

156
Carbono orgânico, pois a flora microbiana dos solos tropicais, graças às
condições ambientais que encontra, é muito eficiente na decomposição da M.O.
Um dos efeitos práticos mais presentes da ação da orgânica desses estercos ou
restos vegetais refere-se aos aspectos físicos de melhora da porosidade geral
do solo, ou na questão dos aspectos químicos, o poder – tampão, onde a adição
de matéria orgânica ao solo implica numa tendência à neutralização de ácidos ou
controle da salinidade (leia-se efeito tampão para a salinidade como imobilização
do sódio e a criação de micro habitat que favorece o desenvolvimento radicular
de muitas culturas).
O continuo fornecimento de M.O. serve como fonte de energia para a
atividade microbiana, que atua como agente de estabilização dos agregados
(SILVA et al. 2000).
A importância da M.O. refere-se principalmente à melhora das condições
físicas dos solos. Solos argilosos quando incorporada M.O. adequadamente
apresentam melhoras estruturais consideráveis, o que é importante para
operações de preparo do solo e o desenvolvimento das raízes das plantas. Por
outro lado, solos de textura arenosa, quando devidamente adicionados de
estercos ou outra fonte de matéria orgânica, como o húmus (praticável somente
em pequenas áreas, em horticultura ou fruticultura, devido à produção custosa de
húmus nos minhocários, o composto, obtido através da compostagem e o
biofertilizante, obtido através de processos de fermentação de estercos,
adicionados de produtos naturais), passam a ter uma considerável melhora dos
seus aspectos físicos e químicos (principalmente os físicos).

5.3.6. O ph do solo e a correção da acidez

Os solos brasileiros, via de regra, são ácidos, evidentemente, alguns solos


são o oposto dessa situação, são os chamados solos salinos, geralmente ricos em
sódio (os salino sódicos), vistos naturalmente nas áreas salinas, comuns no
Nordeste, como as com Halosolo ou mal drenadas e que recebem aporte hídrico,
seja da irrigação (com água com elevada restrição à irrigação por conta do nível
de sais) ou naturalmente alagadiças, o que vem contribuindo nesse último caso,
com o processo de desertificação nessa região brasileira.
Segundo MALAVOLTA (1987), solo ácido significa:
- baixo pH: o pH é o índice mais comum de medida da acidez do
solo. Solos com pH menor que 6,0 são considerados ácidos;
- pouco Ca e Mg para as plantas;
- excesso de alumínio (Al), Manganês (Mn) e, às vezes, de ferro
(Fe).

157
- Condições desfavoráveis para a microbiota que mineraliza a
matéria orgânica, que é fonte natual de N, S,B e diversos
outros elementos para as culturas;
- Condições desfavoráveis para a fixação livre e simbiótica do
nitrogênio;
- Menor eficiência da adubação de N, P e K.

A correção da acidez é fundamental para o sucesso do cultivo de um


grande número de culturas, como a soja, o algodão, o milho, o feijão.
De acordo com MALAVOLTA (op cit), a prática da calagem visa corrigir a
acidez do solo, criando nele condições favoráveis ao desenvolvimento das
culturas, pela adição de calcário.
A calagem, além de reduzir elementos tóxicos, como o Alumínio (Al) e o
Manganês (Mn), ainda pode adicionar ao solo elementos como o Cálcio (Ca) e
magnésio (Mg), no caso do uso do calcário dolomítico. Além disso, segundo
PEIXOTO e RAMOS (2002), a calagem do solo pode ajudar no emprego de
herbicidas, para combate às ervas, em níveis de pH mais elevados, eventuais
efeitos fitotóxicos dos herbicidas à cultura são desfavorecidos. Um outro fator é
que, em faixas pH adequadas, há o favorecimento da cultura implantada e não
das ervas, as quais, em sua maioria, tendem a se expressarem mais fortemente
em solos ácidos.
A quantidade de calcário a ser aplicada em uma área pode ser obtida
através do método que visa a neutralização do alumínio trocável e o aumento do
Cálcio e Magnésio trocáveis a um valor mínimo de 2 cmolC/DM 3, onde 1
cmolC/DM 3 = 1 meq/100 cm 3.

NC (t/ha) = Al 3 x 2 + [ 2 – (Ca 2 + + Mg2 +)]

Quando os teores de Cálcio e Magnésio forem superiores a 2 cmolC/DM 3,


a quantidade de calcário será calculada apenas considerando-se o teor de
alumínio:

3 +
NC = Al x 2

Caso a análise de solo forneça o teor de acidez potencial, que é


representado por H + + Al 3 + , a Necessidade de Calagem pode ser calculada
em função da saturação por bases. Elevando-se a saturação por bases iniciais de
um valor V1 a um segundo valor, desejado, V2, conforme a expressão:

NC (t/ha) = (V2 - V1) x T

158
100
Onde:
S = soma das bases trocáveis (Ca2 + + Mg 2 + + K+)
T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0 ou S + ( H+ + Al 3+
), em cmol
3.
c/dm
V I = % de saturação em bases fornecida pela análise do solo.
V 2 = % de saturação em bases requerida pela cultura (de acordo com a
cultura e a região).

V 1 = 100 x S
T

As equações anteriores referem-se às doses de calcário com 100 % de


PNRT. Quando o PRNT do calcário for diferente de 100 % faz-se a correção da
dose recomendada, utilizando de um modo geral, a seguinte fórmula:

Dose a aplicar (t/ha) = Dose calculada x 100


PRNT

Ainda podemos calcular a dose recomendável de calcário para a correção


da acidez do solo, quando o PRNT (que se refere, resumidamente, à pureza do
calcário comprado) do calcário for menor que 100%, pode-se corrigir essa
diferença utilizando-se o fator f de correção que é dado pela seguinte fórmula:

f = 100 / PRNT

Assim, sempre que o PRNT do calcário for menor que 100, o valor de f
será maior que 1,0. Sendo assim, quando o PRNT for de 80%, por exemplo, o
valor de f, utilizando-se a fórmula será de 100/80 = 1,25 (CARDOSO,1992).
A quantidade de calcário para correção da acidez do solo depende do tipo
de solo e dos sistemas de produção.
Para solos arenosos (teor de argila < 20 %), a quantidade de calcário
utilizada (N.C.) é dada pelo valor maior encontrado em uma destas duas
fórmulas:
N.C. = (2 X Al) x f
N.C. = {[2 – (Ca + Mg)]} X f

Para solos deficientes em magnésio, como os solos do cerrado,


recomenda-se utilizar o calcário dolomítico ou magnesiano, uma vez que este
apresenta um teor mínimo de magnésio (na forma de óxido de magnésio – MgO)

159
de 5,1 %. Contudo, na falta ou ausência deste, pode-se utilizar o calcário
calcítico, desde que se acrescente Magnésio ao solo. Deve-se lembrar que a
relação ideal Ca : Mg deve ser de 1 : 1, sendo no máximo, para soja 10 : 1.
A escolha do calcário a ser adicionado ao solo depende também da
observação do seu valor corrigido para 100 % de PRNT, posto na propriedade
(CARDOSO, 1992). O custo de transporte (C.T.) ou frete também deve ser
incluso no valor. Assim, o preço efetivo do calcário poderá ser calculado
utilizando-se a seguinte fórmula:

Preço efetivo = Valor do calcário (compra) x 100 + C.T.


(na fazenda) PRNT

Algumas considerações finais devem ser levadas em conta no tocante ao


manejo do solo as quais mais uma vez, insistimos e reforçamos:
A adubação química ou orgânica deve ser feita (enfatizamos isso),
mediante os resultados da análise laboratorial.
O manejo do solo está diretamente relacionado com as operações que se
realiza, mesmo que não se revolva-o como é o caso do SPD, mas que a
utilização criteriosa do maquinário agrícola, evitando as passagens
desnecessárias e o trânsito excessivo de máquinas acabe por resultar no grande
mau das operações mecanizadas: a compactação do solo.

5.3.7. A adubação e a pecuária:

Se a atividade principal da fazenda for a pecuária extensiva, deve-se não


só observar uma maior diversidade das gramíneas escolhidas para os piquetes,
como também a reposição paulatina da fertilidade das áreas utilizadas para o
pisoteio, o que evita sensivelmente o ataque de pragas, como a cigarrinha, o
surgimento de formigas e cupins nas pastagens (o que é um claro sinal de
pastagem degradada), bem como uma melhor resposta do rebanho em forma de
ganho de peso diário, uma vez que o mesmo está se alimentando de uma
forragem mais equilibrada.
Tal pensamento parte do princípio evidente da natureza, que de onde se
tira algo, e no caso são os sais do solo incorporados aos constituintes
nutricionais das gramíneas, deve se reposto, para que não se quebre o ciclo
energético – consideremos os sais e a matéria orgânica como energia (de acordo
com a visão clássica da física quântica) - tão importante para o equilíbrio do
sistema.
Mas efetivamente, se a pastagem, conforme dito anteriormente, não
recebe uma adubação adequada e equilibrada, será mais difícil se obter
resultados positivos, desenhando-se assim um quadro bem típico da pecuária

160
nacional: pastagens competindo com plantas daninhas, gastos excessivos com
roço30, herbicidas, formicidas e cupins, estes últimos, indicadores sérios de
desgaste do solo.
Um dos implementos muito utilizados e que pode seguir uma matriz lógica
de aproveitamento é o distribuidor de esterco liquido (um carroção ou vagão pipa
com distribuidores movidos quase sempre pela TDP). Pode-se proceder a
lavagem das instalações pecuárias, se recolher este esterco junto com a água e
se utilizar o distribuidor de esterco líquido para aplicação na pastagem. Essa
ordem lógica serve bem a uma fazenda produtora, por exemplo de leite.
Dessa forma, os ganhos em produtividade serão garantidos graças a uma
sistemática de visão holística da propriedade e o importante suporte fornecido
pela mecanização, ferramenta indispensável nos dias de hoje à produção do
campo.

30
A afirmação de alternância de implementos e métodos de controle de plantas daninhas para pastagens também
deve ser observado, pois geralmente um método de controle apenas, durante anos sucessivos, acaba por
“privilegiar” determinadas espécies invasoras. Notadamente, percebe-se que, por exemplo, o uso contínuo da
roçadeira permite uma melhor resposta das gramíneas ao manejo e sendo satisfatoriamente eficaz contra a maior
parte das espécies não desejáveis de folha larga.No entanto, deve se observar se algumas plantas que ocorrem,
são indicadoras de problemas de ordem do equilíbrio mineral do solo.

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