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All content following this page was uploaded by Braulio Ferreira de Souza Dias on 30 March 2020.
DIAS, B.F.S., 1992b. Cerrados: uma caracterização, p. 11-25 In: DIAS, B. F. S. (Coord.).
Alternativas de desenvolvimento dos cerrados: manejo e conservação dos recursos naturais
renováveis. Brasília: IBAMA & FUNATURA [2a edição em 1996]
Trata-se de uma região tropical situada entre 3 e 24º de latitude sul e entre 41 e 63º de
longitude oeste, excluídos alguns encraves próximos ao litoral dos estados nordestinos:
68% situados entre 10 e 20º de latitude. É uma região dominada por amplos planaltos,
situando-se metade da área entre 300 e 600 metros acima do mar, com apenas 5,5%
ocorrendo acima de 900m: a altitude máxima da região é atingida na Chapada dos
Veadeiros com 1676m e na Serra do Espinhaço com 1797m (pico Itacolomi) e 2070m
(pico do Sol). A precipitação varia de 600 a 2200mm anuais, mas 65% da área recebe
entre 1200 e 1800mm. Entretanto, a distribuição temporal das chuvas é fortemente
estacional, com dois terços da região apresentando cinco a seis meses de seca durante o
inverno (Adámoli et al.,1986; Ab'Saber,1983).
(MAPA)
Cerca de 90% dos solos da região são distróficos, com fertilidade extremamente baixa
devido aos milhões de anos de lixiviação sob regime de chuvas abundantes, e com alta
toxidez e acidez pelo acúmulo de óxidos de ferro e alumínio (laterita) devido às altas taxas
de evaporação durante secas prolongadas (Goedert,1986; Goodland,1971; Haridasan,1990).
A sugestão de que haveria um gradiente de fertilidade dos solos associado ao gradiente de
vegetação lenhosa de campo sujo a cerradão (Goodland,1971 e Lopes e Cox,1977) é
contestada pela verificação da existência de gradientes estruturais do solo (declividade e
profundidade do solo e profundidade do lençol freático) associados aos gradientes
fitofisionômicos (Eiten,1972,1984 e Haridasan,1990). Entretanto, a maior parte desses
solos são profundos e bem drenados e assentados sobre sedimentos do período terciário que
formam as superfícies de pediplanos e etchiplanos características dos planaltos que cobrem
70% da região. Essas superfícies sedimentares funcionam como gigantescas esponjas que
retêm temporariamente as águas das chuvas que se infiltram nos solos e liberam lentamente
durante os meses secos para as nascentes dos riachos e veredas. Essa é a razão da
paradoxal perenidade dos rios e árvores da regiåo durante a longa estação seca.
A região dos cerrados constitui-se num grande mosaico de paisagens naturais dominado por
diferentes fisionomias de savanas estacionais sobre solos profundos e bem drenados das
chapadas (os cerrados), ocupando mais de 2/3 das terras, que são recortadas por estreitos
corredores de florestas mesofíticas perenifólias ao longo dos rios (as matas de galeria)
ladeados por savanas hiperestacionais de encosta (os campos úmidos) ou substituídos por
brejos permanentes (as veredas). Esse padrão é interrompido por encraves de outras
tipologias vegetais: savanas estacionais de altitude (os campos rupestres), savanas
estacionais em solos rasos (os campos litólicos), florestas xeromórficas semidecíduas (os
cerradões), florestas mesofíticas dos afloramentos calcários (as matas secas), florestas
mesofíticas de planalto (as matas de interflúvio), savanas hiperestacionais aluviais com
murunduns (os pantanais), florestas baixas xeromórficas decíduas em solos arenosos (os
carrascos), além dos ambientes diferenciados associados às cavernas, lagedos, cachoeiras e
lagoas. Essas paisagens diferenciam-se estruturalmente, podendo conter biotas distintas ou
compartilhadas com outras paisagens em combinações únicas (Eiten,1972,1990;
Rizzini,1979; Ratter et al.,1973; Velloso e Góes Filho,1982; Ribeiro et al.,1983;
Warming,1973).
Os fatores que determinam qual tipo de cobertura vegetal ocorre em cada local são diversos
e podem variar de local para local. Os dois fatores mais importantes são a disponibilidade
de água (resultante do total anual e estacionalidade das chuvas e da capacidade de retenção
de água do solo dada pela profundidade e textura do solo) e a disponibilidade de nutrientes
(resultante da fertilidade natural do solo e da ciclagem de nutrientes pela atividade
biológica e das queimadas) (Alvim e Silva,1980; Goodland e Ferri,1979; Eiten,1972;
Coutinho,1990; Frost et al.,1986; Walker,1987; Sarmiento,1984).
Cerca de dois terços da região estavam cobertos primitivamente por savanas estacionais em
solos bem drenados (os cerrados), quase um quarto eram cobertos por florestas de
diferentes tipos (matas mesofíticas de galeria e de interflúvio, cerradões e carrascos), cerca
de 10% estavam ocupados por savanas estacionais com fortes restrições hídricas (campos
rupestres e litólicos, e campos úmidos e pantanais), restando 2,5% para os brejos
permanentes (veredas, etc.). Predominavam, assim, as formações abertas savânicas, o que
enquadra a região entre as savanas tropicais do mundo. Aliás, o Brasil é o país do mundo
com maior área de savana.
RESUMO: 35 FILOS
89 CLASSES >320.000 ESPÉCIES:
160.000 (50,0%) VÍRUS
90.000 (28,0%) INSETOS
40.000 (12,5%) FUNGOS
10.000 (3,1%) ANGIOSPERMAS
5.000 (1,5%) PROTOZOÁRIOS (5 FILOS)
5.000 (1,5%) ARTRÓPODOS (EXCETO INSETOS)
2.000 (0,6%) VERTEBRADOS
2.000 (0,6%) ALGAS (5 FILOS)
1.500 (0,5%) MUSGOS
1.500 (0,5%) BACTÉRIAS (2 FILOS)
1.200 (0,4%) VERMES (8 FILOS)
500 (0,2%) MOLUSCOS
500 (0,2%) SAMAMBAIAS
50 (0,02) HIDRAS
10 (0,003) ESPONJAS
10 (0,003) BRIOZOÁRIOS
3 (0,001) CONÍFERAS
____________________________________________________________
FONTES: Holmes, S.,1979. Henderson's Dictionary of Biological Terms.9a ed., Londres,
Longman; Myers, N.,1984. The Primary Source: Tropical Forests and Our Future. Nova
York, Norton; Wilson, E.O.(Org.),1988. Biodiversity. Washington, National Academy
Press; Castri, F. Di & T. Younes, 1990. Ecosystem Function of Biological Diversity.
Biology International, Special Issue 22; Barnes, R.D., 1984. Zoologia dos Invertebrados, 4a
ed., São Paulo, Roca; Manton, S.M.,1977. The Arthropoda. Oxford, Claredon.
O estado ainda incipiente do levantamento da biota regional dificulta uma análise
comparativa. A flora lenhosa arbórea/arbustiva já conhecida é estimada em mais de 2.000
espécies (Fernando Martins/UNICAMP, inf. pes.), das quais cerca de 56% seriam
acessórias, provenientes de outras regiões, e 44% seriam peculiares ao cerrado, assim como
33,7% dos gêneros (Heringer et al.,1977). Observa-se nos cerrados uma forte dominância
no estrato arbóreo das famílias Vochysiaceae, acumuladoras de alumínio, e Leguminosae,
associadas a bactérias, Rhizobium, fixadoras de nitrogênio (Ribeiro e Haridasan,1990;
Felfili e Haridasan, no prelo). Estudos fitogeográficos de famílias arbóreas reconhecem a
região dos cerrados como uma das grandes províncias florísticas da América do Sul, rica
em endemismos e em nítido contraste com a Caatinga e o Pantanal Matogrossense que têm
muito poucos endemismos (Prance,1990).
A flora do estrato rasteiro é pouco conhecida, porém muito rica e quase 100% endêmica à
região (Tarciso Filgueiras/IBGE-DF, inf. pes.). As famílias Gramineae e Leguminosae
dominam o estrato rasteiro do cerrado em número de espécies (38% conjuntamente) e em
número de indivíduos (52% são gramíneas) (Filgueiras, T. In: Felfili e Haridasan, no prelo).
Uma única espécie de gramínea, Echinolaena inflexa, responde por um terço dos indivíduos
do estrato rasteiro nos cerrados do Planalto Central: surpreendentemente trata-se de uma
espécie com sistema fotossintetisante C3, teoricamente mais adaptada à sombra do que ao
sol o que sugere que os campos cerrados de hoje se originaram de cerrados
densos/cerradões. A flora dos campos rupestres, por sua vez, é reconhecidamente a de
maior endemismo relativo e absoluto no Brasil, sobressaindo as Velloziaceae,
Eriocaulaceae, Melastomataceae e Compositae (Menezes e Giulietti,1986).
O tamanho das flórulas conhecidas de plantas superiores de algumas áreas restritas melhor
estudadas ilustra a riqueza da região dos cerrados: 200 a 240 espécies em 0,1ha e 300 a 450
espécies em 1ha de cerrado denso em Brasília, DF (Eiten,1990), 1.360 espécies nativas nos
1260ha da Reserva Ecológica do IBGE em Brasília, DF (Mendonça, Pereira e
Filgueiras/IBGE-DF, inf. pes.), mais de 1590 espécies nativas em 15.000ha da Serra do
Cipó, MG (Menezes e Giulietti,1986), mais de 1200 espécies nativas na região do Pico das
Almas em Rio de Contas, BA (Burman,1991), e mais de 2042 espécies nativas nos
579.000ha do Distrito Federal (Filgueiras e Pereira,1990).
FANERÓGAMOS
GIMNOSPERMAS 1 1 1
ANGIOSPERMAS 135 678 1938