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ANA BEATRIZ REINALDO

MUDANÇAS SOCIAIS E COMPORTAMENTAIS ADVINDAS DA MODA NO


SÉCULO XX: REFLEXÕES À LUZ DA HISTÓRIA SOCIAL.

INTRODUÇÃO

Costanza Pascolato nasceu na Itália em 19 de setembro de 1939 e foi naturalizada


brasileira após a fuga de sua família para o país durante a Segunda Guerra Mundial. É
considerada a papisa da moda brasileira, e define a moda como o retrato no espelho de
um momento social. O historiador que se propõe a estudar a indumentária abrange não
só questões efêmeras, como as denominadas trends, mas também aborda temas sociais
relevantes, como o consumo, as representações simbólicas e as complexidades de uma
sociedade voltada ao material. Foi Karl Marx quem defendeu a ideia de que o modo de
produção e consumo capitalista necessita da manutenção constante das novidades, e a
moda é um dos meios em que esta se difunde. Sobre isso, a docente de história da
indumentária e história social Calanca (2011, p. 12) acrescenta que

quando a “paixão” pelo novo, pelo recente, pelo requinte,


pela elegância, etc. e a renovação das formas tornam-se um
valor, quando a mutabilidade dos feitios e dos ornamentos
não constitui mais uma exceção, mas se torna uma regra
estável, um hábito e uma norma coletiva, […] então se pode
falar em moda […] existe moda quando o amor pelo novo se
torna um princípio constante, um hábito, uma exigência.

A moda proporciona ao historiador uma nova leitura sobre a sociedade, veremos que
através desta o estudo sobre a individualidade que provém da modernidade se torna
palpável. Com a moda, houve a primeira manifestação de uma relação social que seria
encarnada como a nova paixão particular ao Ocidente, a do “moderno”.
Autores diversos destacam a importância da disseminação do conteúdo de moda,
sobretudo no campo intelectual, onde parece que muitas vezes a vestimenta é esquecida.
Svendsen (2004, p. 4), filósofo norueguês, acredita que a moda é um dos fenômenos
mais influentes na civilização desde o Renascimento, no entanto,

ela foi praticamente ignorada pelos filósofos, talvez porque se


pensasse que esse, o mais superficial de todos os fenômenos,
dificilmente poderia ser um objeto de estudo digno para uma
disciplina tão “profunda”.
Há uma concordância entre os autores de que, muitas vezes, a narrativa da moda é vista
por estudiosos como futilidade. Quanto a isso, Calanca (2011, p. 16) traz ao leitor a
ideia de que o fenômeno da indumentária é completo, isto porque propicia um discurso
econômico, histórico, etnológico e tecnológico ao mesmo tempo. Lipovetsky (2009, p.
14), filósofo francês e teórico da Hipermodernidade, em suas obras sobre o efêmero
agrega sobre a relevância desse estudo,

é preciso redinamizar, inquietar novamente a investigação da


moda, objeto fútil, fugidio, “contraditório” por excelência,
certamente, mas que, por isso mesmo, deveria estimular ainda
mais a razão teórica. Pois a opacidade do fenômeno, sua
estranheza, sua originalidade histórica são consideráveis.

Dessa forma, com base na literatura sobre a moda (e aqui este termo não se restringe
somente ao resultado superficial e efêmero, mas também a outros processos mais
profundos), o presente trabalho se propõe a responder a seguinte questão de pesquisa:
Quais foram os processos sociais que contribuíram para a transformação da moda
durante as décadas do século XX?
Relacionar a história social à emergência da moda, bem como os seus desdobramentos
para que a conhecêssemos da forma que esta se apresentou no século XX, seja por meio
de movimentos revolucionários ou através do caráter mimético, conceito trazido por
Lipovetsky. Isso se dará através de um levantamento bibliográfico quanto o tema,
verificando as diferentes formas em que a moda desenvolveu-se ao longo do século XX,
e demonstrando ao leitor de que a história social da moda merece uma abordagem
conceitual e problemática.
São poucas as obras que tratam da moda do século XX, sobretudo no campo da história,
principalmente atrelando-a aos acontecimentos sociais. Até mesmo os autores que se
propõem a discussão da vestimenta, se reduzem a tratá-la como um “universo
particular”, independente do mundo que a cerca. A maioria das obras encontradas que
abordam o assunto foram produzidas por sociólogos, filósofos e jornalistas.
Sobre a adesão da “nova história”, que retrata de coisas que podem ser vistas como
pequenas, frívolas, autores como Barros (2004), Pinsky (2008), Calanca (2011)
dedicaram-se a discussões envolvendo a historiografia social.
Seguindo a premissa de Marc Bloch, o historiador não julga. Foi daí que partiu a ideia
de abordar a moda, somada a percepção da falta de referências no âmbito da história
quanto à vestimenta.
O vestuário constitui um papel importante na construção social da identidade. Este se
consolida como uma ótima alternativa de estudar a sociedade, e como as pessoas
traduzem os acontecimentos a sua volta na forma que se apresentam diante o mundo.
A década de 20, por exemplo, provou o quanto a moda pós-guerra refletiu todo o
contexto histórico, acompanhando os fatores políticos e econômicos da época.
Este estudo tem como objetivo destacar a indumentária, pois acredita-se que a moda
está por toda parte, no entanto, não causa grande comoção no mundo intelectual. Quase
sendo esquecida no questionamento teórico, parecendo estar ligada a uma cultura de
preconceito entre os historiadores. No entanto, a moda merece uma abordagem
conceitual, pois ela não é somente futilidade.

Referências [POR ORA NÃO PRECISA]

AYUB, Mônica. Estilo e atitude – Reflexos da moda: século XIX ao século XXI. São
Paulo: Labrador, 2017.

BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. Rio


de Janeiro: Vozes, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

CALANCA, Daniela. História social da moda. 2. ed. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2011.

CRANE, Diane. A moda e seu papel social – Classe, gênero e identidade das roupas.
São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.

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%20%C3%A9%20o%20mecanismo,ind%C3%BAstria%20parece%20ser
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LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A estetização do mundo – Viver na era do


capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: A moda e seu destino nas sociedades


modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

PASCOLATO, Costanza. #VivaAModa. Blog Riachuelo, São Paulo, p. 1, mar. 2020.


Disponível em: https://blog.riachuelo.com.br/riachuelo-now/viva-a-moda-entrevista-
costanza-pascolato/. Acesso em: 7 set. 2022.

PINSKY, Carla. et al. Fontes Históricas. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
PONTES, Maria. Moda, imagem e identidade. Achiote.com. v. 1, n. 1, p. 1-14, jun.
2013. Disponível em: http://revista.fumec.br/index.php/achiote/article/view/1642.
Acesso em: 30 aug. 2022.

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do século XVII ao XIX. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

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teaching. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 8, p. e349985435, 2020.
DOI: 10.33448/rsd-v9i8.5435. Disponível em:
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5435. Acesso em: 20 aug. 2022.

SVENDSEN, Lars. Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

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