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1.

INTRODUÇÃO:

Constantemente a música do século XX/XXI provoca certa aversão nem


sempre justificada, por parte tanto de ouvintes como intérpretes. É comum que
ao longo de um curso superior de música o aluno percorra o ciclo que leva da
música fundada no período de prática comum e descubra os encantos das
vertentes de vanguarda do século XX, sejam práticas estas que expandam os
limites da tonalidade ou práticas atonais que já não guardam semelhanças com
a música mais predominante.
Ao longo do curso de Bacharelado em piano na UFSM, busquei
repertórios que nem sempre estavam no repertório comum dos pianistas e
percebi que há uma grande lacuna quando se trata do repertório de mais
“difícil” compreensão, onde poucos são aqueles que se arriscam aprofundar e
perder o medo compreensivelmente gerado ao sair da zona de conforto da
música tradicional. Ao olhar para trás percebo uma pequena semente de
música moderna plantada já na minha primeira semana de curso, onde os
veteranos fariam um recital a quatro mãos e com a desistência de um dos
pianistas, fui chamado para tocar as 5 peças para piano a 4 mãos de György
Ligeti, peças de uma sonoridade bastante contemporânea que se tornaram um
grande desafio e um grande prazer simultaneamente. Ali, tive um primeiro
contato com o rompimento da tonalidade, considerando que uma dessas peças
é uma estudo polifônico politonal.
No final do ano de 2020, conheci Maria Teresa Madeira e tendo aulas
com ela, fui levado ainda mais para o repertório do século XX/XXI,
particularmente o repertório brasileiro, do qual a pianista é referência. Com ela
estudei as 7 Paulistanas de Cláudio Santoro, peças que já de cara, percebi que
teria que incluir no meu repertório pessoal, dada a importância histórica da
obra, do compositor e a grande identificação pessoal com a obra em si. Por
isso, trago-as agora para um nível mais profundo nessa desejada
especialização, almejando que a obra seja mais conhecida e tentando auxiliar
para que mais pianistas a conheçam, toquem e divulguem.
2.JUSTIFICATIVA:

O compositor Cláudio Santoro (1919-1989) foi um compositor e maestro


nascido em Manaus, importantíssimo para a história da música brasileira.
Dentre suas fases composicionais, se destaca a fase nacionalista, de menor
tamanho comparado às fases dodecafônicas e seriais, que compõe a maior
parte de sua obra. As 7 Paulistanas são uma das obras que marcam o período
nacionalista de composição, tendo como cenário a cidade de São Paulo e suas
diferentes referências culturais. A obra é um retrato do cenário cultural da
cidade com o agregar várias massas de população oriunda de outros estados
formando um cenário cosmopolita, evidenciado nas 7 obras em questão.
Sendo pouco tocadas, essas obras exigem um grande trabalho por parte
do intérprete ao fazer escolhas e mesmo superar desafios técnicos presentes
na obra. Por isso, acho de fundamental importância a existência de um material
que ajude a compreensão interpretativa e técnica da obra em sua totalidade,
gerando auxílio pedagógico para os pianistas que vierem a estudar a obra e
sintam-se desafiados pelas diferentes dificuldades presentes, dado que cada
uma das sete possui uma dificuldade completamente diferente e mesmo as
mais simples são extremamente difíceis de atingir um alto nível de refinamento
na execução. Além disso, a pandemia provocada pelo Corona Vírus trouxe à
tona a importância dos meios digitais, que se tornaram essenciais.
Disponibilizando material nesse formato, estaremos de acordo com a nova
demanda de ensino crescente ao longo do tempo, assumindo o papel de
mediadores no ensino de um público alvo cada dia mais crescente. Portanto,
justifica-se com a importância da obra e a falta de material disponível sobre a
obra essa pesquisa, na esperança de que venha a ser de grande ajuda
pedagógica.

3.OBJETIVOS:

-Gerar material escrito e audiovisual sobre as 7 Paulistanas de Cláudio


Santoro.
-Fomentar a execução da obra em si e das demais obras do compositor, bem
como, por extensão, o repertório para piano brasileiro do século XX/XXI.
-Propor soluções técnicas e interpretativas para a obra em questão.
-Compreender o estilo de composição da fase nacionalista de Claudio Santoro
em comparação a outras obras de semelhante aspecto.

4.REFERENCIAL TEÓRICO:

A pesquisa será feita essencialmente a partir dos poucos trabalhos


existentes sobre a obra pianística de Claudio Santoro. Sobre o autor,
recorreremos aos livros de História da Música Brasileira, particularmente Vasco
Mariz e Bruno Kierfer. Sobre as 7 Paulistanas, um livro particular será usado
como guia das ideias formais e interpretativas: 36 compositores brasileiros, de
Salomea Gandelman, uma obra essencial quando se fala em piano brasileiro.
Ali a autora disseca, ainda que de forma resumida, grande parte da obra de
Cláudio Santoro, com informações que serão um guia ao longo desta presente
pesquisa.
Além disso, serão referenciados livros e exercícios sobre técnica
pianística, desde os clássicos exercícios de Hannon, Czerny e Cortot, além de
livros onde a técnica é tratada de forma menos objetiva como o livro de
Seymour Fink.

5.METODOLOGIA:

A presente pesquisa partirá da compreensão do estilo e das fases


composicionais de Cláudio Santoro, inserindo a obra neste contexto e
comparando-a às demais obras de estilo semelhante. A partir disso, a
proposta é, além do material final escrito sobre a obra, construir vídeos onde
explicarei os aspectos interpretativos e técnicos necessários para execução da
peça, gerando um total de 7 vídeos, referentes a cada uma das peças que
compõe a suíte. A avaliação da dificuldade técnica será feita a partir dos
tratados mais comuns sobre técnica e as soluções se darão baseadas na
experiência do pesquisador bem como de sua orientadora.
6.BIBLIOGRAFIA:

ABREU, Maria e GUEDES, Zuleika Rosa - O piano na musica brasileira,


Editora Movimento, Porto Alegre, RS,1992

ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a Música Brasileira. São Paulo: Livraria
Martins, 1962. Doutorado, University of Maryland, E.U.A 2007

FONSECA, Pablo Victor Marquine da. Deveras Humano: Teoria do Tópos


Musical na obra para piano solo de Claudio Santoro. Dissertação. UNB,
2016

GANDELMAN, Salomea. 36 Compositores Brasileiros: Obras para piano


(1950-1988). Rio de Janeiro: Funarte, Relume Dumará Editores, 1997

GERBER, Daniela Tsi, Paulistana nº 2 de Cláudio Santoro: Uma Análise


Rítmica. Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2003

GERLING, C. M. P. C . Performance Analysis for Pianists: A Critical


Discussion of Selected Procedures. Boston University, Dissertação de
Doutorado, 1985.

HARTMANN Sobrinho, ERNESTO Frederico. Estética Musical e Realismo


Socialista em obras nacionalistas para piano de Claudio Santoro:
JANELAS HERMENÊUTICAS. Doutorado , UNIRIO, 2010

HARTMANN, Ernesto. Estética musical e Realismo Socialista em obras


para piano de Claudio Santoro: janelas hermenêuticas. Tese (Doutorado).
Rio de Janeiro, Universidade do Rio de Janeiro, 2010

KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira. Porto Alegre: Movimento,


1977.
MAIBRADA, Heloísa. Musical Integration: The stylistic evolution of the
music of Claudio Santoro as observed in his works for piano.

Mariz, Vasco. História da Música no Brasil. 5º ed. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2000.

Neves, J. M. Música Contemporânea Brasileira. São Paulo, Ricordi. 1981

PIMENTEL, Beatriz. The piano works of Claudio Santoro a microcosm of


his musical style (Dissertation: Thesis (D.M.A.) - University of Houston, 2004)

Santoro. C. Série Paulistanas. São Paulo: Edições Cembra, 1955

SCHNEIDER, Polyane. Paulistana nº7 para piano de Cláudio Santoro: Uma


investigação dos elementos característicos da escrita pianística. Tese de
Mestrado. UFRGS, 2005

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