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2019
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SEIS
LOCALIZAÇÃO DESCONHECIDA
quinze minutos que ela está fazendo isso – desde que Eleni ar-
rastou Sam para fora da cela – tentando forçar sua telecinese
para abri-la.
Não está funcionando.
Furiosa, ela senta na cama que está instalada numa das
paredes. A cabeça dela lateja por conta do esforço que fez ao
tentar usar seus Legados. Ou talvez aquela coisa que Magdalena
colocou em você está rastejando aí dentro, cumprindo o seu pa-
pel, ela pensa.
A ideia de que um parasita pode estar dentro da cabeça
dela fazendo não se sabe o que a deixa com mais raiva. Ela es-
pera que essa história dos Mogadorianos sobre terem implan-
tado algum tipo de parasita nela, em Max e Sam seja algum tipo
de mentira, algo que Magdalena inventou para desestabilizá-la.
Mas levando em conta como os Legados dela e de Sam não estão
cooperando, a fraqueza aparente dele e o fato de Eleni ter con-
sigo derrubá-la com tanta facilidade mais cedo e evitado que ela
ajudasse Sam – já que normalmente ela teria sido capaz de der-
rotar a Mogadoriana com apenas alguns socos – agora ela pre-
cisa presumir que seja verdade. E isso a irrita ainda mais.
Falando no Max, ela se pergunta como ele deve estar. Ela
e Sam foram teletransportados do bunker em Utah para um
novo local. Mas e os outros? Onde Max, Lava e Bats estão agora?
E o que aconteceu com os outros adolescentes que atacaram
eles no bunker? Ela queria poder colocar suas mãos naqueles
delinquentes. Especialmente naquela garota – Freakshow – que
usou o Legado dela em Seis para fazê-la reviver um dos piores
momentos da vida dela. O que ela não daria por uma chance
para poder dar o troco por ter sido torturada daquela forma.
A dor ricocheteia na cabeça de Seis. Ela imagina um rato
roendo fios, interrompendo a energia elétrica e fazendo as luzes
oscilarem.
— Eu juro, se eu tivesse uma faca eu tentaria tirar essa
coisa da minha cabeça sozinha – ela murmura, batendo na late-
ral da cabeça com o punho.
Ela estremece na hora em que outra pontada de dor
atinge o corpo dela, como se a coisa lá dentro tivesse entendido
o comentário e estivesse dizendo que ela não teria chance al-
guma de tirá-lo de lá. Ela deita, fechando os olhos e tentando se
acalmar. Por mais quanto tempo o parasita continuaria a fazer
aquilo? Dias? Ou só lhe restavam horas? Será que Magdalena
iria removê-lo ou o plano dela era deixar a coisa matá-la?
Isso não vai acontecer. Ela não vai se deixar ser uma co-
baia de um experimento Mogadoriano. Se chegar a esse ponto,
ela realmente vai tentar remover o parasita sozinha. E se não
funcionar, bem, ela estará morta antes que os Mogadorianos
possam pegar os Legados dela.
Ela abre os olhos e encara o teto, tentando canalizar a
raiva que sente de uma forma útil para tentar descobrir como
escapar dali. A porta trancada não é uma opção, e não há jane-
las. Não há sequer um duto de ar para ela tentar se esgueirar
até outro lugar. E ela suspeita que a qualquer segundo Eleni vol-
tará para buscá-la.
Seis não pretende estar ali quando isso acontecer.
O olhar dela se fixa na lâmpada no meio de teto. É a outra
única coisa dentro da cela além da cama que ela estava deitada.
Seis se concentrou no disjuntor respectivo que estava em uma
das paredes, tentando apagar e acender a luz com sua teleci-
nese. Novamente, nada aconteceu. Ela vai ter que encontrar al-
guma forma de sair dali sem precisar usar seus Legados.
A imagem do rato roendo fios apareceu na mente dela
novamente, e uma ideia começou a tomar forma. Ela se levan-
tou e arrastou a cama para que ele ficasse exatamente debaixo
da luz. De pé em cima da cama, ela conseguiu alcançá-la e remo-
veu o globo de vidro que protegia as duas lâmpadas. Ela colocou
o globo no chão, subiu novamente na cama e examinou o dispo-
sitivo elétrico. Era básico, nada chique, facilitando o giro da
base e a remoção dos parafusos, revelando a fiação elétrica que
saia de dentro do teto. Havia um fio preto e um branco.
Seis retirou o fio branco do dispositivo elétrico. As lâm-
padas no apagaram depois que o circuito foi desligado. Agora a
cela estava escura, com exceção de um fraco raio de luz do cor-
redor que adentrava por debaixo da porta. Mas Seis não preci-
sava de luz para fazer o que planejou. Ela segurou o fio preto e
o puxou, tendo cuidado para que ele não tocasse a parte descas-
cada do fio branco.
Descendo da cama, ela pegou o globo de vidro e o cobriu
com o fino lençol que havia ali para então esmagá-lo contra o
chão. O vidro estilhaçou. Ela retirou o lençol e examinou com
cuidado os pedaços de vidro com os dedos. Alguns eram bem
grandes. Esses ela separou e deixou de lado. Os outros ela colo-
cou no chão, e então cortou o lençol em várias tiras compridas.
Segurando algumas dos pedaços grandes, ela amarrou uma das
tiras em volta deles. Ela fez o mesmo com uma segunda tira
para que então ela tivesse uma maçaneta que pudesse pegar
sem se cortar.
De pé na cama novamente, ela olhou para os fios preto e
branco.
— Aqui vai alguma coisa – ela disse enquanto tocava as
partes descascadas dos fios ao mesmo tempo. Ouviu-se um alto
som e viu-se algumas faíscas. Olhando para a porta, ela confir-
mou que a fraca luz que emanava do corredor havia apagado.
Seis soltou os fios e desceu da cama. Pegando a faca im-
provisada e o que restou do lençol, ela se posicionou num canto
onde ela poderia se esconder caso alguém abrisse a porta.
Então ela esperou.
Alguns segundos depois, ela ouviu vozes no corredor.
— O apagão atingiu todo o complexo? – uma mulher per-
guntou.
— Eu acho que sim – alguém respondeu.
— Eu tenho certeza que a energia vai voltar já já – a ter-
ceira voz, masculina, respondeu. — Vamos aguardar.
As vozes recuaram. Seis ouviu portas sendo abertas e de-
pois fechadas. Ela se moveu e tentou abrir a porta da cela em
que estava, mas ainda permanecia trancada. Ela começou a te-
mer que talvez nada acontecesse, apesar da tentativa. Mas en-
tão ela ouviu alguém mexendo na maçaneta pelo lado de fora.
— O painel principal mostra que essa cela é a fonte do
curto-circuito – a voz de um homem disse.
A maçaneta mexeu novamente. Então Seis ouviu o baru-
lho de uma chave sendo colocada dentro da fechadura. Ela se
preparou. Ela não fazia ideia de quem iria entrar ali – se eram
Mogadorianos ou humanos. Entretanto, quem quer que fossem,
ela não iria esperar que fizessem perguntas. Um momento de-
pois, a porta se abriu. Uma raio de luz atravessou a cela escura.
Os pedaços de vidro no chão reluziram.
— Nossa – uma segunda voz masculina disse. — Que di-
abos aconteceu aqui?
— Me parece que o dispositivo elétrico caiu no chão de
algum jeito – o primeiro homem disse. — Bom, é fácil de con-
sertar. Vamos.
Os homens entraram na cela, deixando a porta aberta.
Assim que eles saíram do caminho, Seis se espreitou e saiu cor-
rendo pela porta.
— O que—, um dos homens exclamou, dando um pulo.
Seis não parou para dar uma explicação. Ela viu o raio de
luz ser apontado no corredor à procura dela enquanto ela cor-
ria, mas ninguém a seguiu. Quem quer que fossem aqueles ho-
mens, eles não pareceram interessados em descobrir quem era
ela, o que a deixou confusa. Será que Magdalena a deixou ali sem
nenhum guarda? Se eles estavam em outro complexo Mogado-
riano, por que os homens entraram na cela de forma tão casual,
como se esperassem que ela estivesse vazia?
Ela chegou no final do corredor, que acabava numa bifur-
cação. Enquanto ela estava para ali no escuro tentando decidir
para qual lado ir, a energia voltou. De repente, Seis estava enca-
rando um pôster gigante retratando uma mulher que parecia
estranhamente familiar. Então ela percebeu o motivo – a mu-
lher se parecia com ela. Não o suficiente para ela ser confundida
com a imagem do pôster, mas o suficiente para causar questio-
namento.
A mulher estava em pé junto com um grupo de outras
pessoas, todas vestidas no que parecia uniformes pretos de
couro. Vários deles estavam com as mãos levantadas, e parecia
que eles estavam segurando pedras azuis brilhantes. Na parte
debaixo do pôster lia-se: CIRQUE DES ÉTOILES PRESENTS: BAT-
TLE FOR EARTH.
Ela não fazia ideia do que aquilo significava. Ela observou
melhor o pôster, procurando por mais pistas, mas não encon-
trou nada. Agora ela estava ainda mais confusa. Se ela não es-
tava em algum tipo de complexo Mogadoriano, onde diabos ela
estava?
— Você está aqui para provar o figurino de substituta?
Seis se virou, deixando a arma que segura oculta pela la-
teral do corpo, pelo menos por ora. Olhando para ela estava
uma mulher jovem com cabelos loiros amarrados num rabo de
cavalo. Ela estava segurando uma prancheta. Ela não parecia es-
tar preocupada ou algo do tipo por ver Seis perdida no meio do
corredor.
— Peço desculpas pela falta de energia – a mulher disse.
— Alguma coisa aconteceu com os geradores. Mas já conserta-
mos – ela riu. — É óbvio. Enfim, você provavelmente está pro-
curando a sala de figurinos, certo? – o olhar da garota se moveu
de Seis para o pôster, e ela riu novamente. — Você se parece
muito com a Camilla – ela disse. — Você é a suplente dela? Eles
disseram que uma nova garota ia chegar. Eu não consigo acre-
ditar que Lara nos abandonou bem perto da inauguração, mas
um papel principal na Broadway não aparece todos os dias, né?
Enfim, ela provavelmente ia ficar no banco. A Camilla nunca
precisa ser substituída – ela coloca a mão na boca. — Me des-
culpe. Eu não deveria ter dito isso. Quero dizer, talvez ela deixe
você atuar depois que o público diminuir. O que provavelmente
nunca vai acontecer porque as pessoas amam essa apresenta-
ção. Quero dizer, espere até você ver as criaturas.
— Criaturas? – Seis disse. Ela estava ficando cada vez
mais confusa. Ela esperava encontrar Eleni, alguns outros Mo-
gadorianos ou até os humanos que estão trabalhando para eles.
Mas ninguém parecia achar a presença dela aqui um alarme.
A garota mexeu a cabeça. — Eles são fantásticos. Algo
maior do que qualquer coisa que já tivemos. As pessoas vão fi-
car loucas.
Nada que a garota dizia fazia algum sentido para Seis. —
Quem é você? – ela perguntou.
— Oh, me desculpe. Sou Allison, a assistente da assistente
da assistente do figurinista.
— Entendi – Seis disse, embora ela ainda não fizesse
ideia do que a mulher estava falando. — Bem, Allison, eu pre-
ciso fazer uma ligação. Você tem algum celular ou telefone que
eu poderia usar?
Allison mexeu a cabeça. — Não temos nada aqui embaixo.
Mas tem um telefone no lobby.
— Lobby – Seis repetiu. — Agora estamos no caminho
certo. Se você puder me mostrar como chegar lá, eu ficaria
muito agradecida.
— Hum... você deve ter vindo pelo caminho que leva até
lá para chegar aqui... é só subir de novo pelo elevador.
— Obrigada – Seis disse, começando a andar.
— E sobre a prova do figurino? – Allison perguntou.
Seis queria ignorar a pergunta. Mas então ela pensou um
pouco. Ela ainda não fazia ideia de onde, exatamente, ela estava.
Obviamente não era uma base Mogadoriana, mas deveria ter al-
gum motivo pelo qual ela e Sam foram trazidos para cá em vez
de outro complexo mais seguro. Ela precisava ligar para Nove e
encontrar Sam, mas ela não tinha ideia de onde Sam poderia es-
tar e ela não tinha nenhuma informação concreta para contar a
Nove naquele momento. Embora ela estivesse ansiosa para
agir, seria útil se ela esperasse alguns minutos para ver o que
poderia descobrir. Relutantemente, ela se virou.
— Certo – ela disse. — A prova de figurino.
Allison sorriu. — Me siga, vou vesti-la.
Seis seguiu Allison pelo corredor.
— De quais outros Cirque de Étoiles você já participou? –
Allison perguntou.
— De nenhum – Seis respondeu.
Allison pareceu chocada. — Nossa. Você deve ser muito
boa mesmo. Eles normalmente contratam substitutos para os
papeis principais apenas se a pessoa tiver alguma experiência.
Qual é a sua principal habilidade no set? Não. Espera. Deixe-me
adivinhar. Se você está substituindo a Camilla, provavelmente é
aérea.
Seis não sabia que o aquilo significava, mas assentiu.
— Aê! – Allison disse. — Estou ficando muito boa em de-
cifrar as pessoas apenas por observá-las. Quero dizer, algumas
são óbvias. Tipo, se você é menor que dois metros, a chances de
você ser um acrobata é muito grande. E os palhaços são sempre
fáceis de identificar, principalmente porque eles normalmente
parecem tristes. Você é uma graça e obviamente fitness, então
aérea faz sentido.
Elas chegaram numa porta, que Allison abriu. — Seja
bem-vinda ao País das Maravilhas – ela disse enquanto elas en-
traram num cômodo que explodia em cores.
Havia fantasias espalhadas por todo o cômodo. E não
eram comuns. Estas estavam cobertas com penas e lantejoulas,
joias e lacinhos. Várias pessoas estavam experimentando várias
fantasias, fazendo ajustes e alterações. As coisas estavam fi-
cando cada vez mais estranhas, e faziam cada vez menos sen-
tido.
Allison levou Seis para onde um grupo de três pessoas
estavam examinando as escalas azuis e roxas de uma fantasia
vestida por um homem musculoso.
— Ele ainda parece demais com um dragão – um dos ho-
mens disse com um suspiro. — Precisamos de menos dragão e
mais lagarto assustador. Ou o algo assim. Apenas façam aconte-
cer.
— Devin – Allison disse. — Essa é... – ela olhou para Seis.
— Jess – Seis disse, falando o primeiro nome que lem-
brou.
— Jess é a substituta de Camilla – Allison disse.
Devin se virou, olhou para Seis da cabeça aos pés e disse:
— Você acabou de sair de um pântano?
Seis olhou para si mesma. Ela passou por muita coisa nos
últimos dias, e parecia bem acabada. Mas essa era última preo-
cupação na mente dela naquele momento.
— Eu... hum... tomei um banho de chuva a caminho – ela
inventou.
Devin ergue uma sobrancelha. — Em Vegas? – ele disse.
— Não chove aqui há mais ou menos três meses. Está pare-
cendo que você não só caiu na fonte do Bellagio, mas que deci-
diu rolar nas ruas depois.
— Os últimos dias foram longos – Seis disse abrupta-
mente.
— Eu vou deixar vocês dois se conhecerem melhor – Al-
lison disse. — Boa sorte – ela sussurrou ao passar por Seis.
Devin deu uma volta ao redor de Seis, fazendo sons va-
gos. Quando ele voltou e ficou de frente para ela, ele disse: —
Você se parece muito mais com ela do que a própria Camilla. Ela
não vai gostar disso. E você tem um corpo mais apropriado. Ela
realmente não vai gostar nada disso.
— Parecida com quem? – Seis perguntou.
— Número Seis – Devin disse. — Você sabe, a pessoa a
quem você veio substituir a atriz principal? Sei que não a cha-
mamos assim, mas todo mundo sabe quem é ela.
— Seis – disse Seis. O que diabos está acontecendo? En-
tão ela se lembrou do pôster no corredor. — Sim. A batalha pela
Terra e tudo mais.
— Hmmm – Devin murmurou enquanto ele seguia para
uma arara de roupas. Ele pegou algumas e voltou. — Aqui – ele
disse, jogando elas para Seis. — Experimente essas. Já volto.
Seis olhou ao redor. — Aqui? – ela disse.
Devin revirou os olhos. — Os camarins são para estrelas
– ele disse enquanto se afastava.
Seis foi até um dos cantos do cômodo onde havia menos
pessoas, e se despiu o mais rápido que pôde. Ela colocou a
roupa que Devin havia entregado para ela, que consistia num
par de calças e jaqueta de couro. Elas serviram quase que per-
feitamente em Seis. As calças tinham um bolso conveniente
para esconder a arma caseira que ela fez. Ela olhou para si
mesma num espelho e ficou surpresa por ver que ela parecia
maravilhosa apesar de tudo o que ela passou nos últimos dias.
— Ah sim – Devin disse, aparecendo atrás dela. — Ca-
milla vai te odiar. Aqui. Coloque isso – ele deu a ela um par de
botas de couro.
Seis vestiu as botas. O cano delas quase chegou ao joelho,
por cima da calça. Com a fantasia nela, ela se sentiu estranha-
mente poderosa. Quase como a antiga versão dela. Talvez tenha
valido a pena esse pequeno tour, ela pensou.
— Só precisamos fazer alguma coisa com o seu cabelo –
Devin disse. — A cor é meio entediante. Por que você não tira a
fantasia e procura o departamento de maquiagem e cabelo?
Diga para a Selena que eu disse para ela fazer seu cabelo Fire-
fox.
— Firefox – disse Seis. — Entendi.
— Você pode pendurar a fantasia naquela arara – Devin
disse, deixando-a sozinha.
— Ou eu poderia ficar com ela – Seis disse baixinho, as-
segurando que ele estava fora de vista antes dela sair dali ainda
vestindo a fantasia.
Ela andou rápido pelo corredor com mais confiança do
que estava há quinze minutos. Claro, os Legados dela ainda não
estavam funcionando e havia um parasita na cabeça dela que
queria comê-la viva, mas ela conseguiu algumas informações.
Agora ela precisava apenas descobrir exatamente onde ela es-
tava, encontrar Sam, dar um jeito nos Mogadorianos e sair dali.
— Prioridades – ela disse enquanto ela foi até o elevador
e apertou o botão.
Enquanto ela esperava, ela meio que achou que Eleni ou
Magdalena fosse dar as caras. Mas não havia sinal das Mogado-
rianas em lugar algum, nem de qualquer pessoa que estava com
elas no bunker. Onde quer que eles estejam agora, obviamente
não estavam num complexo Mogadoriano como último. Deve
haver alguma conexão, mas qual? Seis adicionou isso para a
lista de perguntas que ela tinha.
Quando o elevador chegou, Seis entrou. Dentro dele ha-
via outro pôster como aquele que ela viu no corredor. Esse ti-
nha uma informação adicional na parte debaixo, que lia: EXCLU-
SIVO NO HOTEL SATURN. Seis notou esse mesmo nome gravado
no painel de metal acima dos botões do elevador. Bom, pelo me-
nos agora eu sei onde estou, ela pensou enquanto ela apertou o
botão que marcava “L” e viu as portas se fecharem.
Quando elas abriram, ela entrou no lobby. Ela parou por
um momento e olhou ao redor. O lugar era maravilhoso. O teto
estava a uns dez metros do chão e foi pintado para se parecer
com o espaço-sideral. Estrelas literalmente piscavam graças as
pequenas luzes instaladas, formando as constelações conheci-
das. Modelos de planetas estavam suspensos em fios invisíveis,
dando a impressão de que flutuavam no ar. Pisos pretos foram
colocados no chão do lobby com pequenas tiras em branco, e
Seis teve a impressão de que estava andando no céu noturno.
— Seja bem-vinda ao Saturn – um sorridente rapaz disse
quando ela chegou na recepção. — Me chamo Mike. Como posso
ajudá-la?
— Eu preciso de um telefone – Seis respondeu.
— Certo – Mike disse. — Há um telefone bem ali – ele in-
dicou uma porta à direita da recepção.
Seis agradeceu o rapaz e seguiu para a direção indicada,
onde um havia um telefone anexado à parede. Seis o pegou e
discou um número. Lexa atendeu depois do segundo toque.
— Ei, você nunca vai adivinhar onde estou.
MAX
POINT REYES, CALIFÓRNIA
—
Max está encarando Nove. Eles estão na enfermaria da
AGH. Eles chegaram na noite anterior depois de escaparem de
um bunker em Utah usando a batisfera1 que Nove havia encon-
trado. Desde que voltaram, Max esteve focado em testes para
descobrir o que havia sido implantado dentro da cabeça dele.
Os cientistas da escola também estavam estudando a criatura
que Nemo trouxe dentro do pote de vidro. Max não pregou os
olhos, e estava exausto. Agora, descobrindo que eles não iriam
remover o parasita que estava dentro dele, ele ficou ainda mais
assustado.
1
Veículo subaquático.
— Eu vou morrer?
— Não! – Nove disse, se aproximando e se sentando na
ponta da cama de Max. — Na verdade, é por isso que eles quere
deixá-lo aí dentro. Pelo menos por enquanto.
— Eu não entendo.
— Seu corpo parece estar criando anticorpos contra o
parasita – Nove explicou. — Está se livrando dele sozinho.
— É por isso que eu estou me sentindo melhor? – Max
respondeu.
— Faça uma coisa para mim – Nove disse. — Tente mo-
ver aquele copo de vidro usando sua telecinese.
Max olhou para a bandeja que estava em cima do criado-
mudo ao lado da cama. Havia pratos e copos ali, do café da ma-
nhã. Ele focou sua atenção no copo que há pouco tempo estava
cheio de suco de laranja. Ele imaginou o copo flutuando através
quarto. Nada aconteceu. Ele esticou as mãos, se sentindo um
pouco idiota por isso, tentando fingir que estava empurrando o
copo fisicamente e ao mesmo tempo com a mente. O copo me-
xeu alguns centímetros, e então caiu.
— Bem, que fracasso – Max disse.
— Na verdade não – Nove disse. — Na noite passada você
não conseguia fazer nada.
Max sorriu. — É verdade – ele disse. — Então, eles acham
que eu estou melhorando?
Nove assentiu. — Eles acreditam que você vai ficar bem.
Melhor do que isso: eles acreditam que podem usar seu sangue
para fazer um antídoto que vai ajudar Seis e Sam.
— Sério? – Max disse. — Eu acho que isso faz de mim um
super-herói, hein?
— Você já é, cara – Nove disse.
— Já sabemos onde Seis e Sam estão? – Max perguntou.
— Ainda não – Nove disse. — Mas estamos trabalhando
nisso.
— Na verdade, sabemos – Lexa disse, entrando no
quarto.
Nove e Max olharam para ela.
— Seis me ligou – Lexa esclareceu. — Há alguns minutos.
— Onde ela está? – Nove perguntou.
— Las Vegas – Lexa respondeu. — Num lugar chamado
Saturn Hotel.
— Ela está bem? – Max perguntou, ansioso.
Lexa assentiu. — Ela está bem. Por enquanto, pelo me-
nos. Mas os Mogadorianos levaram Sam para outro lugar e ela
ainda não descobriu aonde. Está trabalhando nisso.
— O Saturn Hotel – disse Nove. — Por que esse nome soa
familiar? Espere aí. Não é aquele lugar onde eles estão fazendo
aquela coisa circense baseada em nós?
— Cirque de Étoiles – Lexa disse. — Battle of Earth.
— Isso mesmo – disse Nove. — Eles me contataram há
um tempo e perguntaram se eu queria ser um convidado espe-
cial na noite de estreia. Até me ofereceram uma suíte grátis. Eu
recusei.
— Com medo de que eles vão fazer tudo errado? – disse
Lexa.
— Aguardando pela cobertura – disse Nove.
— Podemos voltar a falar de Seis e Sam? – Max disse im-
pacientemente. — Vamos ajudá-los, certo?
— Claro que vamos – disse Nove.
Max começou a descer da cama.
— Onde você pensa que está indo? – disse Nove, inter-
rompendo-o.
— Você acabou de dizer que vamos ajudá-los – disse Max.
— Não tão rápido – disse Nove. — Primeiro porque Seis
está bem por enquanto. Segundo, eu te disse, precisamos de
você parar criar um antídoto para aquela coisa. Isso vai deman-
dar tempo.
— Quanto tempo?
— Eu não sei – disse Nove. — Mas nesse momento você
precisa ficar aqui. Lexa e eu temos alguns planos.
— Mas...
— Eu vou voltar logo – Nove prometeu. — Enquanto isso,
continue praticando sua telecinese. Quando eu voltar, quero ver
você atirando aquela coisa para o outro lado da sala.
Nove e Lexa saíram, e Max se jogou contra os travessei-
ros. Ele encarou o copo de vidro. Ele moveu um quarto de cen-
tímetro. Ele levantou uma das mãos e bateu nela com a outra.
— Você acabou de cumprimentar você mesmo? – Nemo
perguntou do vão da porta.
— Não – disse Max, envergonhado. — Tudo bem, sim.
Nemo riu. — Você é demais – ela disse, andando até a
cama e se sentando onde Nove estava há um minuto. — Como
se sente?
— Bem – Max disse. — E você?
— Melhor – Nemo disse. — Eu consegui dormir por algu-
mas horas. Foi bom estar numa cama de verdade. Mas quando
eu acordei eu comecei a pensar em todo mundo.
— Seis e Sam?
— Neles – Nemo disse. — Mas também em Ghost e Lava
e Bats. Não sabemos o que aconteceu com eles. Ou com Seamus.
— Esqueça aquele cara – Max disse com raiva. — Depois
de tudo o que ele fez?
— É, eu sei – Nemo disse. — Mesmo depois do que ele fez.
Eu vi o pai dele hoje de manhã. Ele parecia chateado.
Max grunhiu. Ele não iria perder tempo se preocupando
com Seamus. Mas ele estava preocupado com os outros e estava
aliviado por estar fora do bunker, mas se perguntou se alguns
dos outros ainda estavam presos lá.
— Eles sabem onde Seis está – disse a Nemo.
— Eu fiquei sabendo – disse ela. — Eu fui falar com Nove
e Lexa antes de vir para cá. Isso é ótimo. Eu também fiquei sa-
bendo que o seu sangue é mágico.
— Eu sou um milagre da ciência – Max disse.
— Eu estou muito feliz por não estar mais carregando
aquela coisa comigo – Nemo disse. — Eu nem posso imaginar
ter uma daquelas coisas se arrastando dentro da minha cabeça,
comendo fatias do meu cérebro ou sugando meus Legados ou o
que quer que ele faça – ela parou de falar e olhou para Max, com
os olhos arregalados. — Me desculpe, eu esqueci que você tem
um...
— Tudo bem – Max disse. — Enfim, eu acho que está
morto, ou pelo menos não está mais fazendo o que deveria fa-
zer. Minha telecinese está voltando. Olhe.
Ele tentou mais uma vez mover o copo de vidro. Desta
vez ele conseguiu empurrá-lo até a borda. Ele estava se ten-
tando jogá-lo no chão quando um enfermeiro entrou no quarto.
— Posso interrompê-lo para colher um pouco de sangue?
– ele perguntou.
— Mais? – Max disse. — De quanto vocês precisam?
— Só mais uma bolsa – ele disse. — Talvez duas.
Max gemeu e esticou o braço. — Me seque então, san-
guessuga.
Enquanto o enfermeiro amarrava a borracha em volta do
braço de Max e procurava por uma veia, ele disse: — Deixa eu
te falar. Depois disso, o que acha de descer e ver o que estamos
fazendo com todo o seu sangue?
Max fechou os olhos e fez uma careta enquanto o enfer-
meiro colocava a agulha na veia. — Eu topo – ele disse.
Assim que a bolsa de sangue encheu, Max se levantou e
seguiu o enfermeiro, Nemo junto com ele, na direção do eleva-
dor. Desceram até o nível em que os laboratórios foram cons-
truídos. Quando chegaram, foram para um escritório que estava
cheio de equipamentos. Uma mulher estava sentada em uma
das mesas, olhando para algo através de um microscópio.
— Dra. Fenris – o enfermeiro disse. — Esse é o Max e sua
amiga, Nemo.
A mulher olhou para eles. — Que prazer – ela disse, se
levantando e estendendo a mão para Max. — Eu estava estu-
dando o seu sangue extraordinário – ela também cumprimen-
tou Nemo. — E graças a você, temos um espécime do parasita
com o qual estamos lidando.
— O sangue de Max realmente mata o parasita? – Nemo
perguntou.
— Então, os anticorpos que o corpo dele produziu em
resposta ao parasita neutralizaram os efeitos dele – explicou a
Dra. Fenris. — Isso, por sua vez, impede que ele se alimente de
forma eficaz do hospedeiro. Então, sim, ele vai morrer. O impor-
tante, no que nos diz respeito agora, é que acreditamos que o
antídoto que estamos tentando criar fará o mesmo com o para-
sita que estiver em outra pessoa – ela olhou para Max. — E eu
fiquei sabendo que sua telecinese está voltando.
Max assentiu. — Está ficando cada vez mais forte – ele
disse.
— São novidades excelentes – a médica disse.
— Então... se levarmos sua antídoto até Seis e Sam, eles
vão voltar ao normal? – Nemo perguntou.
— Esperamos que sim – disse a Dra. Fenris. — Pressu-
pondo que o parasita não evoluiu além do que conhecemos.
— O que quer dizer? – Max perguntou.
— O espécime que Nemo trouxe é um maduro – a médica
disse. — Está no estágio final. O que foi injetado em você estava
no estágio inicial, microscópico. Você nem sabia que ele estava
aí. Mas depois que ele cresce e fica do tamanho do que você
trouxe do bunker, é tarde demais para reverter os efeitos.
— Quanto tempo demora para ele ficar daquele tama-
nho? – perguntou Nemo.
— Não sabemos – a médica admitiu. — Meu palpite é que
demora um pouco. Seis e Sam foram infectados a menos de uma
semana, então estou torcendo para os danos serem reversíveis.
Isso se levarmos o antídoto até eles logo.
— Quanto é “logo”?
— O mais rápido possível – ela disse sem rodeios. Mas a
expressão no rosto dela preocupou Max.
— De onde essa coisa veio, afinal de contas? – Nemo per-
guntou. — Tipo, está por aí, solto no mundo? Qualquer um com
Legados pode ser infectado?
— Eu acho que não – disse a Dra. Fenris. — Meu palpite
é que esse parasita foi criado pelos Mogadorianos que vocês co-
nheceram. É diferente de qualquer outro parasita que eu vi an-
tes. Aqui. Deem uma olhada.
Ela gesticulou para eles irem até o microscópio. Max se
inclinou, olhando através das lentes. Ele viu algo parecido com
três gotas roxas e grandes. — O que é isso?
— São as toxinas criadas pelo parasita – Dra. Fenris res-
pondeu. — Agora observe o que acontece em seguida.
Ela colocou a ponta de uma pipeta fina na superfície da
lâmina de vidro do microscópio. Max viu um fluxo de minúscu-
las bolhas vermelhas saindo.
— E o que é isso? – Max perguntou.
— São os anticorpos que retiramos do seu sangue – a mé-
dica explicou.
Como se sentissem a presença dos anticorpos, as toxinas
se moveram em direção a eles, como monstros caçando suas
presas. Max sentiu seu coração acelerar. Por alguma razão, ob-
servar as toxinas atacando seus anticorpos o aterrorizava. Mas
então algo interessante aconteceu. Os anticorpos atacaram, ati-
rando-se contra as paredes das toxinas até que eles consegui-
rem atravessá-las. Então eles correram para dentro, enchendo
as gotas roxas com vermelho e consumindo-as.
— Isso é incrível – Max disse, dando um passo ao lado
para que Nemo pudesse ver também.
— Isso é ciência – Dra. Fenris disse.
— Então, se o anticorpos do Max podem fazer isso, por
que os de Sam e Seis não podem? – Nemo perguntou.
— Todo corpo é diferente – disse a Dra. Fenris. — Na me-
dicina, gostamos de dizer que o sistema imunológico é constru-
ído, não nascido. Isso significa que seu corpo desenvolve defe-
sas com base no que é exposto ao longo de sua vida. Por alguma
razão, o corpo de Max desenvolveu uma maneira de combater
o parasita. Pode ser porque ele foi exposto a algo semelhante
no passado. Ou o Legado específico dele pode ter algo a ver com
isso, já que a habilidade muda a função cerebral. Ou o corpo
dele pode simplesmente ser melhor em combater invasores.
— Em outras palavras, você não sabe dizer com certeza
– Nemo respondeu.
A Dra. Fenris sorriu. — O que importa é que parece estar
funcionando.
Ouvindo a explicação dela, Max pensou em algo: — Mas
talvez não funcione em Sam ou em Seis, certo? Quero dizer, se
o corpo deles for diferente do meu.
— Estamos esperançosos de que vai funcionar – a médica
disse, colocando uma das mãos no ombro dele.
Max assentiu, mas ainda estava preocupado.
— Quando vocês vão tirar o parasita da cabeça do Max?
– Nemo perguntou.
— Logo – a Dra. Fenris disse. — Se tirarmos agora, o
corpo dele pode parar de produzir anticorpos, e precisamos
que ele continue produzindo, por enquanto.
Um som invadiu o laboratório, e a Dra. Fenris pegou o ce-
lular no bolso do jaleco. — Nove está pedindo para que vocês
vão ao escritório dele.
Max olhou para Nemo. Algo deve ter acontecido. — Va-
mos – ele disse.
Quando chegaram lá, eles encontraram Nove e Lexa, o Dr.
Malcolm e Peter McKenna. Havia também um visitante sur-
presa.
— Bats! – Max exclamou quando viu a garota de Utah
sentada numa cadeira. Ela se levantou, sorrindo, e Max a abra-
çou. — Como você veio parar aqui?
— Nove enviou uma equipe para o bunker – Bats disse.
— Eles me resgataram. Cheguei aqui há alguns minutos.
A felicidade de Max evaporou. — Me desculpe termos
deixado você para trás – ele disse. — Tudo aconteceu tão rápido
e eu não sabia onde você estava.
— Sem problemas – Bats disse, abraçando-o novamente.
— Eu sei. Quando tudo deu errado, eu achei um lugar para me
esconder e esperei por lá até eu achar que fosse seguro sair.
Claro, eu não tinha pensado nas criaturinhas de Magdalena.
Max se arrepiou, se lembrando da criatura que parecia
um dragão e que caçou ele e Nemo pelos corredores do bunker.
— O que importa é que ela está aqui agora – Nove disse.
— E Lava? – Max perguntou.
Bats mexeu a cabeça. — Eu fui a única que ficou para trás
– ela disse. — Até onde eu sei, pelo menos.
— Não havia mais ninguém no bunker – Nove confirmou.
— Mas sabemos que Seis e Sam estão em Vegas.
— Não sabemos se Sam ainda está lá – o Dr. Goode disse,
parecendo preocupado com seu filho. — Os Mogadorianos po-
dem ter levado ele para outro lugar, separando-o de Seis.
— Até termos essa informação, vamos presumir que ele
está lá – Nove disse. — E é por isso que estamos indo para lá.
— Nós? – Max disse. — Todos nós?
— Não todos nós – Nove disse. — Mas eu e você e Nemo
vamos.
— Eu pensei que eu precisava ficar aqui – Max disse.
— Você quer ficar aqui? – Nove perguntou.
— Não – Max disse rapidamente. — É que eu achei que
você precisasse do meu sangue aqui.
— E talvez vamos precisar dele lá também – Nove disse.
— Eu ainda não gosto disso – McKenna disse.
— Sei que não – Nove respondeu, olhando para ele de
forma estranha. — Mas você não está no comando aqui, eu es-
tou.
— Por que não ligar para a Garde Terrestre e pedir uma
mãozinha? – McKenna sugeriu.
Nove suspirou, como se essa fosse uma sugestão ridícula.
— Seis está bem – ele lembrou McKenna. — E só sobraram pou-
cos Mogadorianos lá.
— Mogadorianos perigosos – McKenna disse. — E eles
estão com Sam.
— Não estarão por muito tempo – Nove disse. — Eu não
acho que ligar para a Garde Terrestre e transformar isso num
grande problema vai ajudar alguém. Podemos lidar com isso.
Max olhou para McKenna. Ele parecia exausto. Max sus-
peitou que o homem estava pensando em seu filho e no que ele
fez. Seamus havia traído todos eles, e provavelmente não estava
se dando bem com o pai, particularmente porque ele tinha sido
o chefe de Sam e Seis e foi quem os envolveu em tudo isso, para
começo de conversa.
Nove assentiu para Max e Nemo. — Se preparem – ele
disse. — Vamos sair em vinte minutos.
Max e Nemo se apressaram. Já no corredor, Max sussur-
rou: — É impressão minha ou o clima estava tenso lá dentro?
— Completamente tenso – Nemo disse. — Algo está
acontecendo entre o Nove e o pai de Seamus.
Max mexeu a cabeça. — Eu não ia querer estar na pele de
Seamus agora.
Nemo grunhiu em resposta. Max sabia que ela estava tão
zangada com o antigo amigo quanto ele. Ele se perguntou o que
ela faria se ela ficasse cara a cara com Seamus em Vegas. Ele se
perguntou o que ele faria.
Ele tinha a sensação de que eles iam descobrir.
SAM
LAS VEGAS, NEVADA
—
Seis estava embaixo do palco enorme, olhando através da
abertura que os atores usavam para entrar e sair. Mas a maioria
deles estavam se espremendo para entrar. Era possível ouvir os
gritos da multidão que estava na arena.
Depois de ligar para Lexa, ela procurou por Sam, mas não
encontrou pistas do paradeiro dele, e como os Legados dela
ainda não estavam funcionando e ela estava se sentindo cada
vez pior, Seis decidiu esperar a chegada de Nove com o reforço.
Enquanto isso, ela usou sua semelhança com a atriz principal
para entender o que estava acontecendo. Ela sabia que os Mo-
gadorianos tinham algum motivo para trazer ela e Sam para
esse hotel em vez de levá-los para outro complexo seguro, e ela
tinha a sensação de que isso tinha a ver com a apresentação que
estava sendo exibida. Uma vez dentro do palco em que se apre-
sentavam os artistas do Cirque des Étoiles, foi fácil ficar fora de
vista por algumas horas. Quase todo mundo estava vestido com
trajes estranhos, e ela era uma das pessoas menos interessan-
tes andando por aí. Várias vezes o pessoal acreditou que ela ha-
via sido contratada como substituta de Camilla, mas ela sempre
arrumou uma desculpa de que precisava estar em outro lugar e
assim conseguiu evitar participar da apresentação.
— Saia do meio do caminho! – uma mulher gritou en-
quanto empurrava Seis, quase a derrubando com violência.
Seis olhou para os monitores que mostravam o que es-
tava acontecendo no palco e na arena. Ela viu o ovo gigante se
abrir e revelar um monstro. Quase que imediatamente, um aju-
dante de palco ao lado dela disse: — Aquilo não é o que deveria
estar lá dentro.
A mente de Seis acelerou enquanto ela avaliava a situa-
ção. Ela sabia que a coisa aterrorizando a arena tinha dedo dos
Mogadorianos. O que era, exatamente, ela não tinha a menor
ideia. Isso não importava, no entanto. Tinha que ser parado.
Mas como? Ela não tinha como usar seus Legados contra
aquilo. Não tinha nenhuma arma, a não ser a faca caseira que
ela fez na cela.
Sem falar no fato de que ela era provavelmente a única
pessoa apta para tentar alguma coisa.
— Você!
Seis se virou. Aquela assistente, Allison, estava parada
atrás dela com uma prancheta na mão.
— Você não é a substituta da Camilla – ela disse com fir-
meza.
— Eu não tenho certeza se isso importa no momento –
Seis disse enquanto algum tipo de motor fez um barulho
enorme.
— Esse traje é propriedade do Cirque.
— Novamente, talvez eu não seja o maior problema aqui
– ela disse. — O que vocês vão fazer com aquilo? – ela apontou
para o palco.
— Não é meu problema – Allison disse. — Os seguranças
que resolvam o problema.
Seis a encarou. A presença de espírito da mulher era im-
pressionante, mas ela não parecia entender que o que estava
acontecendo acima deles era mais do que uma falha técnica.
Mas então ela percebeu que Allison tinha se desligado comple-
tamente. Ela estava olhando para o monitor com uma expressão
vazia. A prancheta na mão dela começou a tremer.
— Fique aqui – Seis disse. — Não se mexa. Eu já volto.
Ela subiu os degraus até o palco. Era uma desastre total.
O cenário maciço havia sido esmagado em pedaços. Os poucos
atores restantes estavam vagando pelo palco, atordoados e en-
sanguentados. Seis viu dois corpos jazendo imóveis em meio à
confusão.
O monstro voltou sua atenção para a arena cheia de es-
pectadores. Ele havia saído do palco e estava indo furioso para
as filas de assentos, rasgando-as com suas garras. Como a pla-
teia inicialmente acreditou que a criatura fazia parte do show,
a maioria não se levantou até a criatura pular do palco e come-
çar o ataque. A essa altura, já era tarde demais para alguns de-
les.
Agora eles empurravam e agarravam uns aos outros em
na tentativa de conseguir fugir pelas saídas. Seis viu quando o
monstro derrubou meia dúzia deles com um único movimento
da garra. Uma mulher – pequena e loira – bateu nele com a bolsa
de grife, e a fera revidou com o rabo. Duas outras mulheres cor-
reram em para ajudá-la. A criatura rugiu para elas, fazendo com
que elas fugissem aterrorizadas.
Seis sabia que ela tinha que fazer alguma coisa. Ela estava
exausta e ficando cada vez mais fraca, mas ela ainda era uma
Garde, e ela ainda tinha muita vontade de lutar dentro dela. Ela
correu até a lateral do palco e pulou, indo na direção da criatura.
Ela estava indo para uma das saídas.
Quando Seis alcançou a coisa, ela pulou em cima da cauda
dela e subiu pelas costas. Sentindo sua presença, a criatura pa-
rou e tentou se livrar dela. Mas Seis enterrou suas unhas entre
as escamas que cobriam aquele corpo gigante, permanecendo
deitada contra as grossas camadas e se segurando firme en-
quanto a criatura tentava derrubá-la.
Quando não conseguiu o que queria, a criatura decidiu
continuar. Ela se dirigiu para uma das portas. Nesse momento,
vários seguranças apareceram, apontando suas armas para a
criatura. Seis ouviu o som de tiros. Mas as balas não causaram
danos, ficando presas nas grossas camadas de escamas. A cria-
tura se arrastou para a frente, esmagando um guarda sob seus
pés e jogando os outros dois para limpar seu caminho. Empur-
rou sua cabeça contra a porta; depois, com os ombros maciços,
abriu um buraco na parede grande o suficiente para conseguir
passar. Seis sentiu pedaços de madeira e de gesso caírem ao re-
dor dela enquanto ela permanecia parada nas costas da cria-
tura.
A criatura entrou no longo túnel que ligava a arena ao ho-
tel. Movia-se rapidamente de quatro, suas costas quase roçando
o teto. De vez em quando, soltava um rugido agudo, como se es-
tivesse chamando alguém. Então Seis ouviu um outro rugido em
resposta e seu coração congelou. Havia mais de um.
Ela continuou a se mover pela costa da criatura, subindo
até a cabeça, na direção do que ela esperava ser a parte mais
vulnerável daquela coisa: os olhos. A criatura parecia ter esque-
cido que ela estava ali, e Seis esperava que ainda pudesse pegá-
la de surpresa e pará-la – ou pelo menos atrasá-la – antes que
se lembrasse dela.
Ela chegou na cabeça e, agarrando-se às escamas com a
mão esquerda na parte de trás do pescoço da criatura, usou a
direita para pegar a faca que havia feito a partir dos fragmentos
de vidro quebrado pouco tempo atrás. Ela estava se movimen-
tando devagar, procurando um bom ângulo para atacar, quando
ouviu o rugido da outra criatura. Estava mais perto. A criatura
em que ela estava parou de repente, ouvindo e respondendo.
Então, começou a rasgar a parede do túnel, fazendo um buraco.
Estava querendo ir para fora.
Seis não podia mais esperar. Então ela levantou a faca e a
desceu direito no olho da criatura. Ela sentiu a faca atingir al-
guma coisa, e, depois de alguns segundos, a encravou por com-
pleto. Um fluido quente cobriu sua mão. A criatura gritou de dor
e sacudiu a cabeça. Seis percebeu que começou a escorregar e
precisou soltar a faca para cravar ambas as mãos nas escamas
para tentar se segurar.
A besta se levantou, batendo a cabeça no teto do túnel.
Continuou a se debater para frente e para trás. Seis estava peri-
gosamente perto de ser esmagada contra o teto. Ela se agarrou
à criatura da melhor forma que pôde, mas sentiu sua força di-
minuir com o esforço. Ela fez uma tentativa de abrir caminho
até a cabeça e recuperar sua faca, mas seria impossível se mo-
ver sem cair das costas da criatura.
Então ela ouviu o som de algo rasgando a parede ao lado
dela. Uma seção do túnel se rompeu, e ela viu uma segunda cri-
atura olhando para ela. Sentada nas costas daquela criatura, es-
tava Eleni. Quando a Mogadoriana a viu, ela rosnou. Então ela
levantou a mão. Seis viu uma bola de fogo aparecer e que, de
repente, voou na direção dela como um pequeno cometa, uma
cauda de fogo se formando na parte de trás.
Seis rolou para longe e a bola de fogo atingiu o lado da
criatura em que ela estava. As escamas pareciam protegê-la do
calor, mas foi protegido do fogo e, ainda assim, soltou um ru-
gido irritado. Então veio uma segunda e uma terceira bola de
fogo. A última atingiu Seis no ombro. Uma dor lancinante a atin-
giu quando o fogo rasgou o couro de seu traje e lambeu a pele
dela, e ela gritou. Seu aperto vacilou e ela se viu caindo das cos-
tas da criatura. Ela procurou pelas escamas novamente, ten-
tando se segurar.
A criatura em que Eleni estava entrou, fazendo o pri-
meiro sair do meio do caminho. De sua posição nas costas, Eleni
olhou para Seis, agarrada à criatura, e sorriu com crueldade.
— Magdalena se superou, não acha? – ela disse, levan-
tando a mão e mostrando outra bola de fogo.
Então, Seis pensou, ela conseguiu dar um Legado para
Eleni, no final das contas. Enquanto isso, ela não tinha nenhum
para reagir. O estômago de Seis queimava em fúria e dor en-
quanto ela lentamente se levantou nas costas da criatura em
que estava. Eleni observou, obviamente se divertindo.
— Parece injusto matar você enquanto não tem como se
defender – disse a Mogadoriana. — Além disso, Magdalena pre-
cisa de você viva para remover o seu parasita para que ela possa
dar seus Legados para mim – ela inclinou a cabeça. — Mas isso
não significa que eu não possa te machucar um pouco.
Ela atirou outra bola de fogo na direção de Seis. Buscando
suas últimas forças, Seis cravou as pontas dos dedos nas esca-
mas da criatura e se arrastou até o ombro. Seu braço queimado
estava gritando em agonia, e, enquanto isso, ela conseguiu agar-
rar o cabo da faca, ainda presa no olho da criatura, e a empurrou
para o lado.
A criatura girou na direção de Eleni enquanto tentava se
livrar da faca. Seis puxou a criatura de volta pelo cabo da faca,
usando-o como um mecanismo para fazer a criatura ir na dire-
ção que ela queria, através da dor causada. Ela deu outro puxão
e a criatura se virou novamente, e então começou a se mover
rapidamente de volta para a arena.
Eleni fez o mesmo, seguindo Seis enquanto a criatura em
que ela estava reentrou na arena e se dirigiu para o palco. Seis
ainda não sabia o que faria, mas se sentia melhor em não estar
presa no túnel. Ali havia mais espaço, mais opções.
Eleni estava tentando acertar Seis com bolas de fogo, mas
conseguiu acertar somente a criatura, aborrecendo-a e fazendo
com que ela corresse mais rápido. Vários bolas de fogo atingi-
ram os destroços espalhados pelo chão, iniciando pequenos in-
cêndios que imediatamente começaram a se espalhar. Isso pa-
receu confundir e assustar as criaturas, que se afastaram das
chamas.
Quando a criatura em que ela estava se aproximou do
palco, Seis pulou. Ela caiu de pé, rolando para sair do caminho
enquanto a criatura, agora enfurecida pela dor e pelo medo do
fogo, virava a cabeça e tentava mordê-la com a boca cheia de
dentes afiados. Seis desejou ter conseguido puxar a faca dos
olhos dela, pois ela ficou sem armas.
Então ela espiou algo no chão. Era um bastão que fizera
parte da apresentação. Com cerca de um metro e oitenta de
comprimento, era feito de metal e tinha sido planejado para ser
usado durante um dos atos em que seis artistas realizariam
acrobacias usando os bastões para se lançarem ao ar. Seis o pe-
gou.
Seu ombro machucado queimava, mas ela lutou contra a
dor enquanto se agachava, medindo a distância existente entre
ela e Eleni. A Mogadoriana estava incitando sua criatura para
seguir em frente, gritando com ela em seu idioma. Bolas de fogo
disparavam da mão dela o mais rápido que ela conseguia. Seis
as golpeava com o bastão, quebrando-as em explosões de faís-
cas.
Ela cambaleou, de repente se sentindo exausta demais
para se mover. Como se sentisse a fraqueza, o parasita na ca-
beça dela parecia ficar cada vez mais forte. Ela sentiu seus pen-
samentos começarem a devanear, e ela teve dificuldade em se
concentrar no que precisava fazer. Desistir pareceu ser a me-
lhor ideia do mundo, jogar o bastão no chão e deixar Eleni atro-
pelá-la.
Então ela pensou em Sam. Ela não iria desistir da chance
de vê-lo novamente. Não para uma Mogadoriana. Para nin-
guém. E ela tinha certeza que iria acabar com Eleni primeiro.
Seis se concentrou profundamente, se esforçando apesar
da dor em sua cabeça, no ombro e no resto do corpo. Ela se aga-
chou, olhando Eleni diretamente nos olhos. Então ela correu. As
pernas dela foram bombeadas com as últimas forças que lhe
restaram. Ela segurou o bastão de aço. Quando ela estava a al-
guns metros de Eleni e da criatura que a carregava, ela plantou
o bastão e se ergueu no ar.
A criatura abriu as mandíbulas para tentar pegá-la, mas
ela passou por cima e alcançou a Mogadoriana. Os pés de Seis
atingiram Eleni no peito, derrubando-a para trás. Eleni caiu,
aterrissando no chão da arena. Seis caiu ao lado dela, sem fô-
lego.
Nenhuma das duas se moveu por um momento. Então, de
repente, Eleni estava de pé. Ela chamou a criatura, que se virou
e veio na direção delas. Então ela voltou sua atenção para Seis
e fez um movimento para chutá-la na lateral do corpo. Seis agar-
rou a perna do Mogadoriana e puxou, fazendo-a perder o equi-
líbrio. Eleni cambaleou e caiu novamente. Seis rolou para cima
dela, prendendo-a. Ela agarrou os pulsos de Eleni e segurou
seus braços para baixo.
— Tente criar uma bola de fogo agora – ela disse.
Eleni forçou os quadris para cima, tentando tirar Seis de
cima dela. Seis cravou os joelhos em cima da Mogadoriana o
mais forte que pôde. Ela se inclinou para frente, usando seu
peso para pressionar Eleni no chão.
— Você vai ter que se esforçar além disso – Seis disse.
Eleni virou a cabeça e gritou alguma coisa para a criatura
que se aproximava, que abriu a boca em resposta.
— Se ela vier para cima de mim, matará você também –
Seis disse.
— Então vamos morrer juntas – disse Eleni.
A enorme criatura estava indo na direção delas. Seis en-
carou o rosto de Eleni, decidindo o que fazer. Ela sabia que es-
tava fraca demais para aguentar por muito tempo, especial-
mente agora que a Mogadoriana tinha um Legado. Se ela fosse
morrer de qualquer jeito, talvez seria melhor levar Eleni com
ela. Pelo menos Nove e os outros teriam menos problemas para
se preocuparem quando aparecessem.
Ela podia sentir Eleni lutando para se livrar dela. A Mo-
gadoriana estava com medo. Isso deixou Seis ainda mais deter-
minada a não deixá-la escapar. Deixe-a sentir o que é olhar para
a morte a poucos metros de distância, ela pensou.
A criatura estava quase perto delas. Seis podia sentir
cada passo estrondoso que ela dava. A fumaça dos incêndios
crescentes incomodava os olhos, e o calor ao redor aumentava.
Quando faltavam apenas alguns segundos para a criatura
chegar nelas, Eleni gritou e tentou uma última vez sair de baixo
de Seis e se salvar. Seis quase cedeu. Então ela sentiu um im-
pulso poderoso, como uma grande rajada de vento. Fumaça e
chamas tomaram conta do lugar em volta dela. A criatura foi jo-
gada para o lado, rolando sobre si mesma com um rugido de
surpresa, seus membros se debatendo. Pega na explosão de ar,
Seis foi puxada de cima da Mogadoriana e empurrada pelo chão.
Quando ela parou, estava de costas. Ela se sentou, procu-
rando a fonte da força. A criatura ainda estava deitada de lado,
imóvel, mas berrando de dor. Seis percebeu então que um dos
bastões de metal estava saindo do peito da coisa. Ela procurou
pela segunda criatura, mas não conseguiu ver nada por conta
da fumaça e das chamas. Ela também não conseguia ver onde
Eleni estava. Ela havia desaparecido.
Então uma figura emergiu do inferno.
— Então você arrumou novos bichinhos de estimação –
Nove disse.
— Eles me seguiram até em casa – Seis disse. — Podemos
ficar com eles?
— Podemos – Nove disse, se ajoelhando ao lado dela. —
Mas vai ser sua responsabilidade limpar as caixinhas de areia
deles.
Seis riu. Doía. Ela tossiu.
— Eu pensei que você tinha dito para Lexa que estava
bem – disse Nove.
— Eu não queria preocupá-los – Seis disse. Ela tentou vi-
rar a cabeça. — Onde está a Mogadoriana?
Nove olhou em volta. — Sumiu – ele disse. — Provavel-
mente fugiu enquanto me viu chegar.
— Não se ache tanto – Seis disse, tossindo de novo.
— Precisamos tirar você daqui – Nove disse, passando os
braços por debaixo dos braços dela para levantá-la.
— Você não precisa me carregar – Seis disse. — Eu con-
sigo andar.
Mas ela não conseguiu. Agora que ela não estava mais so-
zinha, o corpo dela finalmente se permitiu descansar. Ela cedeu,
fechando os olhos e deixando a exaustão tomar conta do pró-
prio corpo. Todas as preocupações dela – Eleni, as criaturas,
Sam, o parasita – se afastaram enquanto ela relaxou. Parecia
que ela estava caindo no meio de uma escuridão sem fim. Ela se
rendeu, a cabeça apoiada no peito de Nove, e de repente tudo
se tornou uma escuridão completa.
NEMO
LAS VEGAS, NEVADA
Nemo correu pelo corredor do hotel. Ela estava quase nos ele-
vadores, quando percebeu que não tinha ideia para onde ir. Ela
parou e olhou para trás. Spike e Freakshow não a seguiram. Isso
era mais uma preocupação do que um alívio. Isso significa que
eles não acharam necessário.
Ela quase voltou. Deixar Max sozinho com os dois não pa-
recia ser o certo. Mas ela precisava buscar ajuda. Por mais que
odiasse admitir, ela e os Legados de Max não eram páreo para
Spike. E mesmo que o Legado de Freakshow não fosse algo que
pudesse machucá-los, era ainda mais aterrorizante. Ela sabia
que a garota havia usado o Legado em Max, e ela se sentiu pés-
sima em pensar no que ele poderia ter visto ou que talvez ainda
estivesse vendo. Ele se colocou em grande risco criando uma
oportunidade para Nemo fugir. Ela estava determinada em não
desperdiçá-la.
Ela pegou o celular. Agora ela se sentiu arrependida por
não ter enviado uma mensagem para Nove, deixando-o atuali-
zado sobre o que estavam fazendo. Ela decidiu fazer isso agora.
Quando ela viu que tinha uma mensagem dele, o coração dela
pulou.
ESTOU COM A 6, INDO ATÉ VOCÊS. ONDE ESTÃO?
Mesmo estando preocupada, ela riu pela jeito que ele es-
crevia. Ela começou a responder quando as portas do elevador
se abriram. Ela levantou a cabeça a tempo de ver Seamus e Bo-
omer saindo.
— Indo para algum lugar? – Seamus perguntou.
Nemo se virou e começou a correr. O celular dela escor-
regou da mão e caiu no chão e ela acidentalmente o chutou, des-
lizando ele para fora do alcance. Não havia tempo para pegá-lo,
então ela o deixou para trás, xingando seu jeito desastroso en-
quanto tentava fugir dos dois garotos, que estavam correndo
atrás dela. Ela xingou ao ver Seamus fazer uma pausa para pe-
gar o celular e guardá-lo no bolso.
Ela não tinha ideia para onde ir, então apenas continuou
correndo, virando-se quando o corredor acabava e continuando
por outro. Quando ela viu uma placa vermelha no final do cor-
redor com os dizeres SAÍDA DE EMERGÊNCIA, ela dobrou seus
esforços. Chegando à porta, ela olhou para um aviso que dizia
ACIONAR O ALARME, ela empurrou a barra de metal com
força. Fiel à ao aviso, um zumbido alto começou a soar.
Atrás da porta havia um conjunto de escadas que levava
para cima ou para baixo. Nemo considerou pegar o caminho
que levava para baixo, mas então decidiu que Seamus e Boomer
provavelmente iriam presumir que ela descesse, e por isso ela
optou por subir. Ela esperava conseguir abrir a porta no andar
seguinte e refazer seus passos de volta para os elevadores.
Quando terminou de subir as escadas, no entanto, desco-
briu que era um beco sem saída. A porta na frente dela dizia
ACESSO AO TELHADO. Ela estava prestes a se virar, quando
ouviu passos atrás dela.
Ela abriu a porta. Uma brisa fresca a atingiu no rosto após
ela pisar no telhado do Saturn Hotel. Ela parou, tentando desco-
brir para onde ela poderia ir, mas o som das vozes dos garotos
atrás dela a obrigou seguir em frente. Ela correu às cegas, indo
para o centro do telhado, onde viu uma enorme estrutura do
planeta Saturno em contraste com o céu noturno. Ela esperava
encontrar algum lugar para se esconder.
Seamus e Boomer estavam perto.
— Lá está ela! – Boomer gritou.
Nemo chegou à base da estrutura, percebendo que havia
uma escada na lateral. Ela começou a subi-la. Ao fazê-lo, Mag-
dalena apareceu pelo outro lado. Quando ela viu Nemo, bateu
palmas.
— Oh! Eu amo surpresas! – ela disse.
Nemo a ignorou e continuou subindo. Magdalena não ti-
nha Legados, e agora ela era a menor das preocupações de
Nemo. Ela alcançou o topo da estrutura, onde parou numa pla-
taforma e olhou para baixo. Seamus e Boomer estavam de pé ao
lado de Magdalena, olhando para ela.
— Não tem nada para eu transformar numa bomba –
disse Boomer, parecendo irritado.
— Não precisamos de uma de suas bombas – disse Sea-
mus. — Vou chamar alguns dos meus amigos.
Nemo não esperou para descobrir que tipo de insetos ele
iria invocar. Ela foi até o grande poste em que a estrutura de
Saturno estava apoiada. Também tinha uma escada afixada a
ele. Ela começou a subir. Ela não tinha ideia de como subir mais
a ajudaria, mas achou que era melhor do que estar no telhado
em uma batalha de três contra um.
Quando chegou ao fundo perto do planeta, descobriu que
era oco e que podia se arrastar para dentro. Ela o fez, encon-
trando-se dentro de um globo de cerca de seis metros de lar-
gura. Estava cheio de luzes que piscavam. A escada continuava,
terminando em uma plataforma que tinha uma pequena porta
nela. Nemo a ignorou por enquanto, tentando recuperar o fô-
lego e pensar.
Ela não teve muito tempo. Um momento depois, ela ouviu
zumbidos.
Espero que não sejam moscas, ela pensou.
E não eram. Eram abelhas. Elas começaram a adentrar na
estrutura através das rachaduras na superfície do planeta. Elas
imediatamente cercaram Nemo, picando-a. Nemo batia nelas
com as mãos, mas não estava adiantando nada. Para cada uma
que ela matou, outra aparecia para substituí-la. Logo elas esta-
vam picando Nemo por toda parte.
Desesperada, ela decidiu subir novamente, até a pequena
plataforma. Ela empurrou a porta que tinha ali e se arrastou por
uma plataforma estreita que se estendia por cerca de três me-
tros antes de se conectar com uma borda mais larga, fazendo
uma curva. Deve ser o anel ao redor de Saturno, ela pensou.
As abelhas a seguiram e continuaram a picá-la. O corpo
dela queimava enquanto o veneno delas se espalhava pelo
corpo. Ela tentou usar sua telecinese para afastá-las, mas não
funcionou. A dor constante tornava impossível manter um
campo telecinético por muito tempo, e sempre que ela perdia o
controle, as abelhas retomavam o ataque.
Atormentada, ela se arrastou pela plataforma e entrou no
anel de metal. Olhando para baixo, ela viu que agora estava re-
almente estendida para fora da borda do telhado. O chão pare-
cia estar a quilômetros de distância, e ela sentiu seu coração
congelar em seu peito ao mesmo tempo que a vertigem tomou
conta dela. Ela se achatou contra o metal e fechou os olhos.
— Não tem medo de altura, né? – a voz de Boomer veio
de trás dela.
Os olhos dela, inchados por conta das picadas de abelha,
se recusaram a abrir. Ela os forçou, piscando através de lágri-
mas, e viu Boomer parado na porta. Ele segurava algo na mão.
Algo brilhante.
— Você deveria ter descido – disse ele.
Nemo começou a engatinhar. Ela mal podia ver, mas po-
dia sentir o metal sob suas mãos. As abelhas zumbindo manti-
nham uma cacofonia desorientadora que enchia sua cabeça. Ela
quase não sentia mais as picadas, havia muitas delas.
Ela sentiu uma dor estridente na perna. Boomer jogou o
que quer que estivesse segurando. Ela gritou, instintivamente
rolando para o lado. Então percebeu que seu ombro e sua ca-
beça não estavam tocando em nada sólido. Ela quase caíra do
anel.
— Magdalena disse que ela não tem nenhum uso para
você – Boomer gritou. — Ela disse que eu posso fazer o que eu
quero com você.
Nemo, de costas, forçou os olhos a se abrirem. Boomer
estava de pé no anel, olhando para ela a uma dúzia de metros
de distância. Ele tinha outro objeto brilhante na mão.
— Acho que não tenho medo de altura – disse ele.
Nemo antecipou o golpe, mas ainda parecia estar sendo
baleada quando a coisa a atingiu no estômago. Ela gritou e ro-
lou. Ela se sentiu deslizando pela borda e agarrou a superfície
do anel. Ela conseguiu aguentar, mas sabia que estava prestes a
cair.
Boomer riu. — Isso é muito fácil – disse ele.
As abelhas zumbiram nos ouvidos de Nemo, provocando-
a.
— EI! – Boomer gritou. — Chame seus insetos de volta!
Um momento depois, as abelhas se dissiparam, afas-
tando-se de Nemo e desaparecendo na noite. O corpo dela ainda
queimava por conta das picadas, e ela ofegava para respirar en-
quanto o veneno fazia o seu trabalho. Ela podia sentir sua gar-
ganta se fechando.
— Vamos lá – disse Boomer. — Pelo menos tente.
Nemo olhou para ele com os olhos estreitos, mal conse-
guindo vê-lo. Ele ergueu a mão, mostrando-lhe outro objeto bri-
lhante.
— Última chance – disse ele.
A raiva tomou conta de Nemo, afastando a dor o sufici-
ente para ela ficar de joelhos. Ela respirou, ofegante, enquanto
se forçou a ficar de pé para encarar Boomer. Ela balançou ins-
tável e pensou que poderia cair se tentasse dar um passo se-
quer. Mas ela se manteve firme. Ela ergueu as mãos, torcendo
para que seu Legado funcionasse.
Boomer riu depois jogou sua bomba na direção dela.
Nemo viu o ar entre eles brilhar. De repente, Ghost apa-
receu entre eles. Ela estava de frente para Nemo e não viu Boo-
mer atrás dela. Quando a bomba de Boomer atingiu as costas
dela, ela tropeçou para frente, com a boca aberta, soltando um
grito. Nemo abriu os braços e a pegou. A força quase derrubou
as duas do anel, mas Nemo lutou para se manter estável.
Ghost estava mole contra ela. Nemo caiu de joelhos e co-
locou a amiga no anel. Quando afastou suas mãos, viu que esta-
vam cobertas de sangue. Nemo olhou para Boomer. Ele não es-
tava segurado mais nada. Nemo viu que ele estava sem muni-
ção.
Ela convocou o último fio de sua força, já enfraquecida.
Segurando as mãos para frente, ela concentrou sua telecinese e
a lançou o mais forte que pôde. Ela viu quando Boomer voou
para trás, saiu de dentro da estrutura e caiu para fora do te-
lhado do hotel. Ele nem gritou enquanto caía.
Nemo olhou para Ghost. Os olhos dela estavam abertos e
ela sorria com um sorriso triste.
— Você vai ficar bem – disse Nemo. — Você consegue nos
tirar daqui?
Ghost fechou os olhos. Ela estremeceu de dor enquanto
tentava. — Não – disse ela. — Eu não consigo.
Nemo a pegou em seus braços. — Tudo bem – disse ela.
— Me perdoe – disse Ghost.
— Me perdoe também – disse Nemo.
Ghost tentou dizer mais alguma coisa, mas tossiu.
— Shh – disse Nemo, acariciando o cabelo de Ghost. —
Está tudo bem.
Ghost não disse mais nada. Nemo sentiu lágrimas desli-
zarem dos olhos dela. — Tudo bem – ela sussurrou novamente.
— Tudo bem.
SEIS
LAS VEGAS, NEVADA
óleo.
— Não é meu – ele assegurou a Sam, que estava olhando
para ele com preocupação. — Bem, a grande parte. Acontece
que aquelas coisas são meio máquina. Mas apenas metade. A
outra é real.
Sam havia encontrado ele enquanto corria na direção do
Saturn Hotel. Na verdade, ele teve que parar repentinamente
porque um Grindle morto estava bloqueando a rua. Então Nove
apareceu, escalando a lateral da coisa, parecendo a vítima de
um atropelamento em fuga.
— Os Mogadorianos os chamam de Grindles – disse Sam.
Nove se virou e olhou para a criatura escamosa deitada
atrás dele. — Grindles? Que fofo. Pena que eles têm essa atitude
de merda – ele voltou sua atenção para Sam. — A propósito,
como você sabe disso?
— Magdalena me disse – respondeu Sam.
— Ah, é? – disse Nove. — Vocês dois viraram amigos?
— É uma longa história.
— Bem, parece que você está melhor – disse Nove. — O
que me faz presumir que Nemo e Max te encontraram.
Sam assentiu. — E Ghost apareceu e me teletransportou
para longe. Como eu disse, longa história.
— Bem, funcionou em Seis também – disse Nove. — En-
tão... viva à ciência!
— Onde ela está? – Sam perguntou.
Nove olhou para o Saturn Hotel, onde um Grindle estava
escalando o prédio. Ele apontou. — Eu presumo que no sexagé-
simo oitavo andar, mais ou menos.
Sam seguiu seu olhar. — Temos que ir até lá – disse ele.
— Magdalena está no telhado. E Eleni tem um Legado agora.
— Fiquei sabendo disso – disse Nove. — E isso é ótimo
para todos. Mas você vai ter que lidar com isso sozinho, pelo
menos por enquanto. Há mais uma dessas coisas a algumas ruas
daqui. É melhor eu encontrá-la para matá-la. Pará-la? O que
você achar que acontece com uma criatura biomecânica após
ser destruída.
Sam assentiu. — Vá.
— Eu vou para lá assim que eu cuidar do Sr. Grindle –
disse Nove.
Ele saiu correndo, deixando Sam sozinho para escalar o
Grindle morto para conseguir chegar ao outro lado. Depois que
escalou, ele viu uma ferida aberta na lateral da criatura e as en-
tranhas mecânicas dela cheias de sangue. Ele hesitou por um
instante, depois se concentrou no maquinário. Ele disse para a
criatura se mexer. Quando uma das garras do Grindle se con-
traiu, ele saltou para trás, surpreso. Mas isso lhe deu uma ideia,
e quando ele se virou e começou a correr pelo resto do caminho
até o Saturn Hotel, um plano se formou na cabeça dele.
Já no hotel, ele passou pela multidão de policiais e correu
pelo saguão até os elevadores. Enquanto subia para o telhado,
preparou-se para o que pudesse encontrar. Ele estava se sen-
tindo como o seu eu antigo, mas parte dele temia que isso não
durasse e que seus Legados voltariam a falhar no pior momento
possível.
Quando chegou ao último andar, correu pelo corredor
até a saída, cercado pelo som de um alarme de emergência so-
ando. A porta do telhado estava aberta e, quando ele saiu para
fora, encontrou-se no meio de uma batalha.
De um lado estavam Eleni, Seamus e Spike, que haviam
formado um círculo em torno de Seis, que estava para no meio
usando sua telecinese para afastar os ataques. Magdalena es-
tava ajoelhada no telhado, não muito longe dali, segurando uma
das mãos com a outra. Sam presumiu que Seis foi, de alguma
forma, responsável por ferimento, embora não houvesse tempo
para pensar muito sobre isso. Algo estava obviamente errado
com um dos braços de Seis também. Ele pendia frouxamente ao
lado dela, e ela estava usando o outro para se proteger.
Sam continuou nas sombras, tentando permanecer des-
percebido por certo tempo e manter o elemento surpresa. Ele
foi até Spike primeiro, usando sua telecinese para empurrar o
garoto para o lado. Spike, despreparado para o ataque, deslizou
pelo telhado, gritando. Antes que ele pudesse se recuperar o
equilíbrio, Sam o atingiu novamente, levantando-o no ar.
Então ele parou. O que ele ia fazer com Spike agora? Ele
não podia matá-lo. Mas o que mais ele poderia fazer para tirá-
lo do jogo?
Ele levantou Spike e o jogou na lateral da estrutura do
planeta Saturno. — Desculpa, cara! – ele disse quando o corpo
flácido de Spike caiu no chão, inconsciente.
Em seguida, ele procurou por Seamus. Mas Seamus havia
desaparecido. Sam sabia que isso era uma má notícia, e sua pre-
ocupação foi confirmada um momento depois, quando ele se
viu cercado por uma nuvem de moscas e abelhas. Incapaz de
ver, ele instintivamente começou a tentar afastar os insetos. Ele
estava andando desnorteado pelo telhado, tentando sem su-
cesso afastá-las, e, de repente, foi atingido por uma explosão de
telecinese, e caiu. Ele esticou as mãos e as palmas rasparam
contra a superfície áspera do telhado, machucando-as e acres-
centando uma nova dor ao tormento das picadas.
— Estou ficando tão bom nisso – disse Seamus, sua voz
cortando o zumbido dos insetos.
Sam o atacou cegamente com sua telecinese. Os insetos
se dispersaram e ele viu Seamus claramente por um momento.
Ele o empurrou telecineticamente, e Seamus vacilou. Mas ele se
endireitou novamente e retomou seu próprio ataque, de modo
que Sam se viu novamente cercado por abelhas e moscas.
A raiva inundou-o como o veneno dos ferrões das abe-
lhas, dando-lhe força para ficar de pé. Ele ainda não conseguia
ver Seamus, mas ele atacou com tudo o que tinha. Ele ouviu um
grito de dor e, mais uma vez, os insetos o deixaram em paz. Se-
amus já estava se levantando novamente, e, dessa vez, ele aban-
donando os insetos e usando somente a telecinese.
Sam o encarou frontalmente, e, por um momento, eles
permaneceram paralisados, cada um empurrando com igual
força. Mas Sam era mais experiente, e a frustração de Seamus
se tornou sua própria ruína quando ele tentou convocar as abe-
lhas e não conseguiu manter seu ataque telecinético. Sam usou
a brecha para acertar Seamus com uma explosão de poder que
o fez girar. Então Sam correu até ele, atacando-o fisicamente e
derrubando-o no telhado.
Seamus resistiu, tentando se desvencilhar. Mais uma vez,
Sam teve que decidir o que fazer com ele. Parte dele sentiu von-
tade de jogá-lo pela borda do telhado por todos os problemas
que ele havia causado. Mas ele sabia que não conseguiria fazer
isso. Apesar de tudo, Seamus era apenas um garoto tentando
descobrir quem ele era. Além disso, Sam sabia que Peter
McKenna conseguiria reverter a situação com tempo e ajuda su-
ficiente. Ou pelo menos ele acreditava que sim.
Entretanto, ele precisava fazer algo para tirar Seamus do
caminho. Enquanto tentava descobrir o que fazer, algo o atingiu
na parte de trás da cabeça. Não foi forte o suficiente para der-
rubá-lo, mas ele ficou um pouco desnorteado enquanto se afas-
tava para longe de Seamus.
Magdalena surgiu de pé ao lado dele, ainda segurando
um dos braços com a mão. Ela o chutou.
— Sua namorada quebrou meu pulso – disse ela. — E eu
estava apenas tentando ajudá-la.
— De alguma forma, duvido que você só estava tentando
ajudá-la – disse Sam.
Magdalena bateu o pé com firmeza no chão. Com seu ca-
belo rosa e uma roupa de criança, ela parecia alguém brincando
de se fantasiar. Sam precisou lembrar a si mesmo que ela era
insanamente perigosa. Ela de alguma forma criou os parasitas
e os Grindles; quem sabia o que mais ela tinha debaixo da
manga.
— Levante-se! – gritou Magdalena, não para Sam, mas
para Seamus, que já estava tendo dificuldades para se levantar.
A criatura na lateral do hotel rugiu novamente. Sam esti-
cou a mão para o Grindle morto na rua. Porque o que estava no
telhado ainda estava vivo, e não seria a mesma coisa que inte-
ragir apenas com as partes mecânicas. Desta vez, o cérebro vivo
da criatura fazia parte da equação. Ele esperava que o centro de
controle que operasse as partes não biológicas pudesse se so-
brecarregar.
Ele mandou a criatura se mexer. Tendo em vista ele não
poder vê-la, ele não tinha certeza se estava funcionando. Então
ele ouviu o som de garras perfurando metal e de vidro que-
brando. O Grindle estava respondendo.
Se apresse, ele insistiu enquanto Seamus já estava de pé
e se preparava para atacá-lo, o som de insetos zumbindo en-
chendo o ar da noite. Então houve outro som e Magdalena virou
a cabeça. A expressão dela mudou para uma de deleite e ela ba-
teu palmas.
Não fique muito empolgada, pensou Sam ao enviar mais
instruções para a criatura. O Grindle levantou-se sobre a borda
do telhado, impulsionando-se lentamente para a superfície do
telhado. Sam viu que ela estava ferida e que se movia desajeita-
damente. Mas estava se movendo e isso era tudo de que ele pre-
cisava.
— Diga para atacar! – gritou Eleni para Magdalena, pa-
rando sua luta com Seis por tempo suficiente para se afastar das
mandíbulas do Grindle.
Magdalena soltou o braço machucado e puxou algo do
bolso de seu vestido. Era um celular comum. Sam a observou
digitar alguma coisa. Não me diga que ela desenvolveu um apli-
cativo para isso, ele pensou incrédulo enquanto se concentrava
novamente na criatura, que estava parada, inclinando-se para o
lado e rugindo.
Ele olhou novamente para o celular de Magdalena. Den-
tro de segundos, ele se conectou com o celular, assumindo o
aplicativo. Ele ordenou que o Grindle se movesse. A criatura
deu um passo na direção deles, parecendo tão confusa quanto
podia, já que seu corpo estava fazendo algo que seu cérebro não
tinha controle. A criatura abriu a boca e gritou em aflição, mas
continuou se movendo.
— Isso não é o que eu te disse para fazer! – Magdalena
gritou.
O Grindle a ignorou. Eleni, que já estava lutando com Seis
novamente, se esquivou das garras da criatura. Seamus, obser-
vando a aproximação da coisa, pareceu esquecer que estava
controlando as moscas e as abelhas, já que Sam agora conseguia
espantá-las com facilidade.
O Grindle estava ficando cada vez mais irritado enquanto
seu corpo machucado fora forçado a se mexer. Ele cambaleou
para o lado, caindo sobre um dos ombros quando seus múscu-
los orgânicos falharam. Mas Sam disse às peças hidráulicas para
assumir o controle, e elas obedeceram. A criatura se levantou
novamente. Virou os olhos amarelos para Magdalena.
Para a surpresa de Sam, ela foi na direção dele, sacudindo
a mão boa com raiva enquanto repetidamente pressionava algo
no celular. Ela estava agindo como se a coisa fosse um cachorro
desobedecendo ordens, e não uma criatura gigante capaz de
rasgá-la em pedaços com um golpe de suas garras.
Agora ela estava bem embaixo da coisa, gritando para ela
fazer o que ela mandava. Ela se virou e apontou para Sam.
Sam disse ao Grindle o que fazer. A coisa se abaixou e pe-
gou Magdalena com a boca. Ela o chutou e deu um soco nas es-
camas enquanto se levantava, erguendo-se pelas pernas trasei-
ras até ficar de pé enquanto todo mundo observava. Então ela
continuou, indo de costas na direção da borda do telhado. Sam
fechou os olhos enquanto a coisa desaparecia, odiando o que ele
teve que fazer. Mas tanto Magdalena quanto suas criações eram
muito perigosas. Ele fez a escolha certa.
Quando ele abriu os olhos novamente, Seamus estava en-
carando ele. Mas, por alguma razão, o olhar desafiador havia
desaparecido do rosto e ele parecia assustado. — Você fez isso
– disse ele. — Você fez ele a levar.
Sam assentiu. — Fiz – disse ele.
Seamus se virou e correu para a porta aberta que levava
para as escadas. Sam começou a ir atrás dele, mas parou quando
Seis o chamou. Ele se virou.
— Esqueça ele! – ela gritou. — Nemo e Ghost estão na
estátua, elas estão machucadas. Ajude-as.
Sam não entendeu o que ela quis dizer a princípio. Então
ele percebeu que ela se referiu à estrutura do planeta Saturno.
Mas ele não conseguia ver onde Nemo e Ghost estavam. Seus
olhos examinaram a enorme estrutura, não encontrando nada.
— O anel! – Seis gritou.
Agora ele entendeu. Ele correu para a base da estátua e
começou a subir a escada afixada na lateral. Eleni jogou bolas
de fogo na direção dele, que Seis rebateu. Depois de alguns se-
gundos, ele estava dentro da esfera gigante, e tudo o que ele po-
dia ouvir eram os sons de Seis e Eleni continuando a lutar. As
luzes dentro do planeta eram deslumbrantes, quase cegando
ele enquanto brilhavam alegremente, alheias à batalha que se
desenrolava do lado de fora.
Ele encontrou uma pequena porta que se abria para o
anel. Então ele avançou, de joelhos, enquanto circulava Saturno,
procurando pelas garotas. Ele as encontrou, encolhidas uma ao
lado da outra.
— Nemo! – ele chamou.
Não houve resposta. Sam se apressou. Quando ele chegou
até elas, viu que Ghost estava gravemente ferida. O rosto de
Nemo estava inchado pelo que pareciam ser centenas de pica-
das de abelha, e ela parecia inconsciente. Ele a sacudiu gentil-
mente. Para seu alívio, ela abriu os olhos.
— Ei – disse Sam.
— Eu matei o Boomer – disse Nemo, com o tom de voz
rouco. — Ele estava nos atacando e... – a voz dela desapareceu
quando ela engasgou, tentando respirar.
— Não fale – disse Sam.
— Ghost – disse Nemo, ignorando-o. — Ela está...
— Ela está viva – Sam a tranquilizou. Mas não por muito
tempo, ele pensou. Ele tinha que tirá-las dali.
De repente, a estrutura estremeceu, duas ou três vezes.
Sam se virou e rastejou pelo anel, tentando ver o que estava
acontecendo. Quando ele viu o que era, seu coração acelerou.
Eleni havia lançado uma bola de fogo na base da estrutura. Es-
tava derretendo a base na qual o modelo de Saturno estava
apoiado. Nesse momento, Seis e Eleni estavam trocando socos.
Sam voltou para onde Nemo e Ghost estavam sentadas.
Enquanto engatinhava, ele sentiu a estátua tremer novamente.
Então ela se inclinou na direção da beirada do telhado do hotel.
Sam viu Nemo e Ghost começarem a deslizar.
— Nemo! – ele gritou.
Nemo se mexeu. Quando ela viu o que estava aconte-
cendo, ficou alerta repentinamente. Ela agarrou Ghost, segu-
rando-a com firmeza com uma das mãos enquanto segurava a
borda do anel de Saturno com a outra, tentando evitar que ela
e Ghost caíssem.
O planeta continuou a estremecer e Sam percebeu que
não havia como chegar às garotas a tempo. Mesmo se chegasse,
ele não tinha como tirá-las da estrutura e levá-las para o te-
lhado. Ele poderia se salvar, mas teria que abandoná-las. E ele
não ia fazer isso.
Ele pensou rápido. — Nemo, tente usar sua telecinese
para empurrar a estátua de volta para o prédio – disse ele.
Ele fez o mesmo, tentando criar uma força forte o sufici-
ente para neutralizar o peso da estátua. Ele sentiu a esfera gi-
gante resistir, e por um momento pensou que poderia funcio-
nar.
— Continue empurrando! – ele encorajou Nemo.
Mas o peso era alto demais. O planeta continuou a cair.
Sam viu Nemo perder o controle. Ela e Ghost deslizaram para a
borda do anel, depois sobre ele. Sam queria fechar os olhos, mas
não conseguiu.
Ele só podia observar enquanto as garotas, ainda segu-
rando uma a outra, estavam prestes a cair.
Mas elas não caíram. Eles estavam pairando no ar. Algo
os mantinha suspensos no lugar. Sam, agarrado ao anel, olhou
para ver o que poderia estar acontecendo.
— Uma ajudinha seria bom – disse a voz de Nove. — Essa
coisa é pesada.
Sam não podia vê-lo, mas a voz vinha de algum lugar
abaixo dele. Sem tempo para fazer perguntas, ele mais uma vez
usou sua telecinese para tentar mover a estrutura. E, desta vez,
funcionou. Lentamente, Saturno voltou a uma posição ereta. As-
sim que eles não estavam mais em perigo, Sam foi até Nemo e
Ghost. Então Nove finalmente apareceu, parado em cima de
uma plataforma flutuante.
— Essa coisa é incrível – disse Nove. — Agora eu sei por-
que Eleni gostou.
— Temos que ajudar Seis – disse Sam. — Mas pegue es-
sas duas. E depois me ajude a empurrar essa coisa.
Nemo conseguiu subir na plataforma com Nove, segu-
rando Ghost ainda inconsciente. Sam permaneceu de pé no
anel. — Hora do show – disse ele para Nove. — Dê tudo o que
você tem.
Nove sorriu. Ele afastou a plataforma flutuante para
longe do prédio e levantou as mãos. Sam sentiu o planeta come-
çar a ser inclinado para o outro lado. Ele se virou e encarou o
hotel, e quando Saturno começou a cair, ele correu pela super-
fície, olhando para o telhado abaixo dele. Eleni e Seis ainda es-
tavam brigando e não notaram o que estava acontecendo.
— Seis! – Sam chamou.
Seis olhou para cima. Ela parecia exausta. Mas ela assen-
tiu.
Ela enviou uma explosão telecinética que derrubou Eleni,
que caiu de joelhos. A Mogadoriana olhou para cima, viu a es-
trutura descendo e tentou sair do caminho.
Ela não conseguiu. Saturno caiu no telhado do hotel, atra-
vessando-o e ficando meio dentro e meio fora da laje. Sam pu-
lou, pousando no telhado ao lado de Seis.
— Aparece aí – Seis disse enquanto Sam a ajudou a ficar
de pé e passou os braços em volta dela. Seis o abraçou de volta.
— Eu dar conta dela, você sabe.
— Eu sei – disse Sam. — Mas eu estava ficando cansado
de ficar sentado em Saturno sem você.
Nove pousou no telhado ao lado deles. — Precisamos le-
var elas para um hospital – disse ele.
— Não vamos embora sem o Max. Não vamos mais nos
separar – disse Nemo.
— Estou bem aqui – disse Max, emergindo da escuridão.
— Embora você tenha quase me matado com aquilo – acrescen-
tou ele, apontando para a estátua desmoronada.
— Como você escapou da Freakshow? – Nemo perguntou
a ele.
— Eu gostaria de dizer que chutei a bunda dela e fugi –
disse Max. — Mas a verdade é que Seamus apareceu no quarto
e os dois foram embora. Eu não sei para onde.
— Nós vamos encontrá-los – disse Nove. — Com Magda-
lena e Eleni fora de cena, eles provavelmente estarão com medo
e desnorteados – ele olhou para Sam. — A propósito, há uma
grande bagunça na rua lá embaixo.
Sam sorriu. — Vou assegurar de avisar a equipe da lim-
peza quando eu fizer o check-out.
GHOST E NEMO
POINT REYES, CALIFÓRNIA
SEAMUS
LOCALIZAÇÃO DESCONHECIDA
—
Seamus olhou para o pai, tentando invocar alguma coisa
– qualquer coisa – para atacá-lo. Não era a primeira vez que ele
havia tentado usar seu Legado desde que acordou e se viu preso
em uma cela.
— Nós implantamos um Inibidor em você – disse Peter
McKenna. — Isso nos ajudará a manter suas habilidades sob
controle.
Seamus bufou. — Então, se eu não fizer o que você quer,
você vai me controlar como um robô?
A expressão do pai permaneceu impassível. — Você sabe
por que isso foi necessário. Você é perigoso.
— Uau – disse Seamus, batendo palmas. — Parabéns.
Você finalmente conseguiu o que sempre desejou – controle to-
tal.
— Eu nunca quis controlar você, filho – disse o pai.
Seamus o ignorou. Ele pensou na noite anterior. Ele se
lembrou de fugir da luta no telhado, voltando para o quarto. Ele
se lembrou de ter dito a Freakshow e a Spike que precisavam ir
embora, e que deveriam se misturar na multidão em frente ao
hotel.
Então as coisas ficaram um pouco nebulosas. Ele discutiu
com Freakshow e com Spike sobre aonde ir. Com Eleni e Mag-
dalena fora de cena, ele sabia que as coisas iriam desmoronar.
Seria melhor eles ficarem juntos. Mas Freakshow e Spike que-
riam voltar ao novo esconderijo e esperar por ordens, então ele
saiu sozinho.
Ele se lembrava de roubar um carro, mas havia uma bar-
reira na estrada. Em seguida, uma voz ordenou que ele saísse
do veículo.
— Você teve sorte que a Watchtower se envolveu e evitou
que você levasse um tiro quanto você tentou atacá-los.
— Eu gostaria que eles tivessem atirado – disse Seamus.
— Pelo menos eu teria voltado com Catriona.
À menção do nome de sua irmã, ele finalmente viu al-
guma emoção no rosto de seu pai. Apareceu ali apenas por um
segundo, mas ele percebeu que ele ficou nervoso. Ele conti-
nuou. — Então você teria matado seus dois filhos. Não existe
um tipo de condecoração por isso?
Seu pai parecia prestes a falar. Então ele se virou e saiu
abruptamente. Seamus deitou-se no chão e se perguntou se de-
veria ter ficado com Freakshow e Spike. Certamente eles não
estavam pior do que ele, preso e sem saída.
Exceto que sempre havia uma saída. Ele só tinha que en-
contrar. E quando ele encontrasse, muitas pessoas iriam se ar-
repender. Especialmente o pai dele.
MAX
POINT REYES, CALIFÓRNIA
—
— Tudo bem – Kalea disse. — Espere aí.
O chão sob os pés dele tremeu. Max caiu, rindo. Rena, se-
gurando um tronco de árvore para se equilibrar, balançou a ca-
beça. — Esse é um Legado perigoso.
— Não é tanto quanto o de Kona – disse Kalea, apontando
para o irmão. — Pelo menos eu não transformo as coisas em
lava.
— Não sei não, viu – disse Bats, sentado em uma mesa de
piquenique nas proximidades, observando seus amigos se exi-
birem. — Eu acho que o Legado de Rena é o mais legal.
Rena se aproximou e se sentou em frente a ela. — Todos
nós temos grandes Legados – ela disse enquanto os outros se
juntavam a ela e a Bats.
Max percebeu pela expressão no rosto de Kalea que ela
ainda não estava totalmente confortável com eles. Ele não podia
culpá-la. Afinal, até recentemente ela meio que estava lutando
com o inimigo.
— Vocês todos vão amar aqui – disse ele com entusiasmo.
— Eu já amo – disse Bats.
Kona colocou o braço em volta da irmã. — Estou feliz por
ter minha irmã de volta comigo.
Olhando para Kona e Kalea, Max não pôde deixar de pen-
sar em Ghost. Nemo o convidou para ir com ela visita-la, mas
ele disse não. O estranho era que ele quisesse vê-la mais do que
qualquer coisa no mundo. Mas ele não estava pronto.
Ele sabia que toda vez que ele olhasse para ela, ele pen-
saria sobre o que ela havia feito, e ele não tinha certeza se po-
deria confiar nela de novo, não completamente.
Mas se Kona conseguiu perdoar a irmã, talvez Max pu-
desse perdoar sua amiga. Afinal, ele se importava com ela.
Muito. Eles passaram por tantas coisas juntos antes mesmo de
conhecerem Seis e Sam. E ele mesmo cometeu erros, e ninguém
mencionou isso. Será que Ghost não merecia ter uma segunda
chance?
— Você está bem? – Rena sussurrou no ouvido dele, tra-
zendo-o de volta ao mundo real.
— Sim – disse Max. — Eu estava pensando que amanhã
as aulas vão começar novamente. É como se estivéssemos saído
para o feriado de Natal e agora tivesse acabado.
— Eu não sei quanto a você – disse Bats, — mas nas mi-
nhas férias de Natal eu nunca teria lutado com dinobots gigantes
em cima de um hotel na Cidade do Pecado.
Todos, incluindo Kalea, riram quando Max assentiu. —
Ok, bem, talvez não fosse como o Natal – disse ele. — E talvez
essa escola não seja exatamente como a minha antiga. Mas
ainda teremos aulas amanhã.
Ele tentou imaginar a vida voltando ao normal.
— Eu não vou para a escola há muito tempo – comentou
Bats. — Não para uma de verdade, no final das contas.
— Não se preocupe – disse Max. — Pelo menos aqui você
sempre vai se sentar com os mais legais no almoço.
Bats olhou para ele. — Sério? – ela disse. — Você vai me
apresentar a eles?
A mesa explodiu em gargalhadas novamente enquanto
Bats passava o braço em volta de Max, abraçando-o.
Sim, ele pensou. Tudo ficará bem.
SEIS E SAM
NOVA IORQUE, NOVA IORQUE
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