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Como havia repetido de ano, sua mãe o forçara a frequentar aulas extras que o colégio
fornecia para estudantes de pré-vestibular.
Ele até tentou convencê-la de que poderia estudar em casa nesse horário, mas ela não
cedeu. Disse que o conhecia bem, e que tinha certeza que se não houvesse nada o
pressionando para estudar, ele não o faria.
E cá estava Loid, parado à frente do colégio encarando o grande portão de ferro. Ele
vestia um casaco branco, um shorts jeans rasgado e sandálias havaianas. Totalmente
relaxado.
Manteve as mãos dentro dos bolsos do casaco, segurando um fino caderno velho
embaixo do braço contra seu tronco. Dentro de um dos bolsos do shorts, apenas uma
caneta bic sem tinta.
A noite estava fria, e com parte inferior das pernas descobertas ele sentiu.
Olhou para o caminho ao qual havia vindo. Atestou apenas a presença da fileira de
postes que cercava o colégio junto de um muro, todos apagados, exceto pelo que estava
acima dele.
Estavam assim porque, para cortar custos, eram acompanhados de um sensor de
movimento, e iluminavam apenas uma pequena área circular abaixo deles na calçada,
que era o suficiente para evitar que quem quer que caminhasse por ali nessas horas
tropeçasse.
Apesar do horário atual, caminhou todo o caminho com certo medo. As ruas estavam
estranhamente vazias para uma noite de sábado.
Suspirou tentando não pensar nisso e se pôs em direção ao portão.
Enquanto adentrava o terreno, passando os portões, se viu esfregando constantemente as
mãos uma na outra, tentando se aquecer um pouco. Avistou o prédio principal.
Uma escola de ensino médio em moldes americanos, apesar de bem desgastada.
Algumas árvores espalhadas por um gramado que davam ao ambiente um visual
parecido com o de um parque, além de mais postes como os anteriores contornando a
estrada de pedras que ligava a entrada ao prédio principal.
Seguiu até o prédio, iluminado por alguns dos postes que ainda funcionavam bem
naquela estrada.
Não havia ninguém na porta para recebe-lo. Fazia sentido, afinal ele já estava atrasado
em 50 minutos.
A primeira aula provavelmente já tinha acabado, mas para Loid não importava.
Sabia que viria a essas aulas e provavelmente sentaria o mais ao fundo possível no
auditório para que pudesse dormir sem ser incomodado pelos professores.
Subiu as curtas escadarias e se viu na base superior da escada, frente à porta.
Apoiando uma das mãos no corrimão central que separava os dois conjuntos de degraus,
se virou. Analisou um pouco do ambiente, dando atenção às árvores que enfeitavam a
frente do colégio e aos postes piscando com mau funcionamento.
Respirou fundo. Sentiu passar entre as suas narinas o ar frio e o cheiro de relva.
A quietude da noite era imensurável. Nem mesmo um grilo era escutado.
E só agora, livre de seus pensamentos e da lembrança de sua mãe ralhando com ele,
Loid percebeu que o único barulho que escutava fazia alguns minutos, era de sua
própria sandália se chocando contra o chão e chicoteando de volta a sola de seu pé.
Soprou um pouco de ar entre as duas mãos, tentando novamente se aquecer, enquanto
observava os arredores com certa inquietude.
A sensação de estar sozinho em um lugar tão grande certamente não era gratificante.
Tudo parecia extremamente escuro essa noite, até mais que o normal. Loid escolheu
atribuir a responsabilidade disso à escola, que há tempos vinha cortando gastos com
coisas pequenas, deixando tudo com péssimo ou nenhum funcionamento.
Ele já havia visto isso com os bebedouros, pias e armários, e agora eram os postes.
Estes, que a todo momento falhavam, ou nem sequer funcionavam, davam a todo o
ambiente escolar uma aura extremamente perigosa e assustadora.
O silêncio se soma a esse lugar escuro e frio, agregando um ar solitário e que causava
certo desconforto.
Tão quieto que incomodava, era o que Loid pensava.
De repente, todos os postes no interior se apagaram de uma só vez. Loid piscou,
pensando ter se enganado.
E então, sua visão captou, além dos muros da escola, um dos postes daquela fileira se
acender. Levantou uma das sobrancelhas.
“Será possível que nada funciona nesse maldito colégio?”
E então, o poste seguinte se acendeu, com o de trás se apagando.
Loid inclinou um pouco a cabeça, encarando a luz com dúvida.
E então, o próximo poste se acendeu, e o anterior se apagou.
E mais um poste se acendeu, e de novo apagou-se o antecessor.
O rapaz apenas conseguia olhar sem entender.
Naturalmente percebeu uma sequência, cada luz se acendia em questão de segundos, e
ainda assim de maneira constante.
Mas era estranho.
Ele não havia visto ninguém nas ruas...
E cada um dos sensores de movimento dando defeito um após o outro e ainda em
sequência...
Sentiu um incômodo que não soube explicar.
E elas seguiram, uma após a outra, em intervalos constantes. O tempo que levava para
se acender parecia de alguma forma coincidir com a distância de um poste para outro.
Dez segundos, dez metros. E então o próximo poste se acendia.
Nove dos dez postes no exterior do colégio estavam ligados. Loid se sentia incomodado,
e ao mesmo tempo hipnotizado, encarando.
E o último poste se acendeu, já próximo da entrada, com o mesmo intervalo.
O rapaz recuou, se afastando do corrimão.
Se viu encarando o último poste, a única luz no breu daquela noite, ansioso por algum
motivo e esperando que este também se apagasse. E então, deu mais um passo para trás,
se aproximando da porta do prédio.
Sua visão vacilava entre a luz no alto do poste e abaixo dela, o portão entreaberto que
balançava levemente com o vento.
Ele ficou parado por um minuto inteiro, observando.
Mas nada aconteceu.
Os postes que haviam se apagado, permaneceram de tal modo, e o último exterior
permaneceu aceso. Sua luz tão fraca quanto em qualquer outro momento, mas ainda
assim acesa.
— Humpf.
Suspirou. Sentiu um alívio estranho do qual nem mesmo ele entendia o motivo.
Se virou e entrou pela porta.
Atrás dele ficou a noite. As sombras dos galhos no chão do parque dançavam com a luz
da lua. O parque mal cuidado e a falta de iluminação nesse ambiente agora vazio,
anexavam ao local uma aura obscura.
Um vento forte soprou, balançando o portão que quebrou o silêncio noturno com um
rangido enferrujado.
E então, o último poste se apagou, e todos aqueles no interior se acenderam, piscando
loucamente.
Passou alguns minutos anotando coisas que não entendia e decidiu que era o suficiente.
O jovem, ‘dono’ da caneta, ainda não havia retornado.
Resolveu por em prática o seu plano inicial. Dormir.
Olhando no relógio acima da porta do auditório, constatou que ainda eram oito e meia.
Repousou sua cabeça na mesa, fechou os olhos, e deixou o sono captura-lo.
Ainda faltava muito para essa aula acabar.
— Ei.
Loid despertou sentindo alguém balançando seu ombro.
Levantou o rosto ainda atordoado e encontrou a escuridão que havia tomado conta do
auditório.
Arregalou os olhos em surpresa e se virou para olhar a pessoa que segurava seu ombro.
— Dormiu bem? — Perguntou o professor.
Loid sentiu um arrepio percorrer a sua espinha.
Era o homem de antes, encarando-o de cima com um sorriso.
Agora vendo-o de perto.
A escuridão no local parecia de alguma forma não afetar a sua face, que quase reluzia
de tão branca e pálida.
Seu rosto tinha uma forma magra e com rugas, demarcando sua idade avançada. Seu
queixo pontudo e pelancas no pescoço denotam a aparência frágil de um velho senhor.
E seu nariz, fino e curto, possuía na ponta um leve tom avermelhado, típico da pele de
idosos.
Um sorriso caloroso encontrava o jovem rapaz.
Seus olhos são pequenos e fundos e possuem uma hipnotizante cor castanho bem clara.
Estes, acompanhados por sua sobrancelha fina, somam-se em uma feição calorosa de
um senhor de idade que qualquer um chamaria de avô.
Seu cabelo grisalho apenas se estendia na lateral, deixando uma enorme falha no topo
de sua cabeça.
— Si-sim senhor- — Loid respondeu receoso, mais relaxado do sonho, porém
envergonhado por ter sido pego dormindo pelo professor.
O professor apenas o encara, parando de sorrir lentamente, antes de soltar seu ombro e
puxar calmamente do bolso de seu terno um relógio de bolso ficando um pouco de lado
para olha-lo.
Loid, já desperto, começa a sentir um cheiro estranho vindo de algum lugar que ele não
consegue discernir. Um cheiro levemente metálico.
— Já passa da hora... — Ele fala, encarando o relógio.
E então, com os olhos agora refamiliarizados com a escuridão, o rapaz percebe um
pouco distante, atrás do professor, no chão do corredor ao lado das cadeiras, a metade
de um corpo feminino jogado sobre uma poça vermelha.
Ele arregala os olhos, sentindo seu corpo arrepiar da ponta de seus pés até o último fio
de cabelo em sua cabeça.
Com uma expressão chocada, olhos arregalados, ele vira lentamente e meio travado em
direção ao professor.
Virando o rosto lentamente, este segura o relógio na altura do peito e meio de lado
numa mão e uma maleta preta na outra. E mais uma vez, um sorriso surge em seu rosto.
Mas desta vez, estranhamente mais largo que o anterior.
— São dez horas... — Ele diz em um tom animado enquanto sorri.
E por tudo nesse mundo, o rapaz juraria que seus olhos brilhavam em amarelo atrás
daqueles grandes óculos redondos.
Loid treme assustado e recua na cadeira, sem conseguir tirar os olhos dos dele que ainda
brilhavam fortemente em um amarelo aterrorizante. Nada mais restava daquele bom
senhor.
Sentiu como se aquele brilho se expandisse capturando-o de alguma forma. Sentiu-se
envolvido por um ar pesado, que de alguma forma o impedia de se mover. Talvez fosse
medo.
Tudo parecia estar em câmera lenta.
O professor cessou o sorriso, colocou sua maleta no chão e guardou o relógio no bolso.
Tudo isso sem tirar os olhos de Loid.
E então estendeu as mãos lentamente na direção do rapaz que apenas encarava, por
algum motivo paralisado, os seus olhos brilhantes. Seu sorriso horripilante crescia mais
a cada instante.
Loid começou a suar sem sair do lugar. Nem mesmo tremia. Sua respiração havia
parado.
Sentiu como se todos os seus pelos arrepiados gritassem para que ele pulasse dali e
corresse o máximo que conseguisse.
Quando as mãos do professor estavam ao lado de cada face do rosto de Loid, sua boca
já estava esticada em um sorriso de tal modo que nenhum ser humano normal seria
capaz de fazer.
Loid gritou internamente, porque seu corpo não o obedecia. Seu desespero tomou seu
ar.
As mãos colaram-se em sua face.
*BLAM!*
Um barulho enorme de algo batendo contra a parede surgiu mais abaixo, e o professor
parou de se mover. Seu sorriso se desfazendo lentamente.
Um som de corrida crescente ecoou pelo auditório silencioso.
Virou a cabeça de uma maneira não natural, como se o pescoço não se movesse junto.
E então.
— PORRA!
*POW!*
Loid apenas conseguiu ver o professor sendo arremessado contra a parede atrás dele
com um soco direto na cara.
Sentiu seu corpo ficar livre de novo.
Sentiu o ar preencher seus pulmões novamente e apertou seu peito desesperado.
Seu coração batia mais rápido que qualquer motor.
— Ei- Cê tá bem amigo?
Loid então percebe. À sua frente, estendendo uma das mãos com um olhar preocupado
está aquele mesmo rapaz de antes.
O careca que havia lhe emprestado a caneta e saído para ir ao banheiro para nunca mais
voltar.
Loid o olhou de cima à baixo, e percebeu que agora este vestia uma espécie de roupa de
padre. Encarou sua mão e viu que ele usava uma espécie de soco inglês prateado.
Tão chocado estava, que apenas franziu a sobrancelha com isso, sem mesmo ter forças
para questionar.
Loid estendeu a mão fracamente para segurar a dele.
Mas antes que conseguisse.
*Blam!*
O professor que havia sido jogado violentamente contra a parede, simplesmente pulou
em cima do rapaz de maneira selvagem. Se agarrou e o derrubou no chão como um
animal.
Loid se virou assustado e viu os dois rolarem escada abaixo antes de o senhor
finalmente parar em cima do abdome do rapaz.
Avistou, jogados pelo caminho nos degraus, corpos e mais corpos todos deitados sobre
poças de sangue. Todos caíram de bruços e inclinados para a direita, como se
houvessem tentado fugir para a porta.
O professor segurou os braços do jovem contra o chão enquanto o encarava por cima,
agora sem os óculos, com aqueles olhos amarelos brilhantes e um sorriso animalesco.
O rapaz rangeu os dentes com uma feição misturava raiva e desespero.
Fez força para se levantar, mas seus braços nem sequer desgrudavam do chão.
O professor aproximou seu rosto lentamente à cabeça do rapaz enquanto abria aquela
boca gigantesca e monstruosa de maneira lenta e gradual, ocasionalmente estalando,
como se fosse deslocada para que pudesse se abrir mais. Dela, começa a sair um viscoso
líquido negro, que certamente passa longe de se assemelhar a saliva.
O rapaz forçou o máximo que pôde enquanto virava o rosto tentando se afastar do
velho, que babava aquele nojento líquido negro em cima dele.
Loid percebeu que ainda existia, e em um movimento desesperado se levantou daquela
cadeira.
Passando por cima de todos os corpos jogados que se punham em seu caminho, e
ocasionalmente escorregando numa poça de sangue, ele correu abaixo na direção dos
dois.
*PUMP!*
Loid golpeia lateralmente o velho nas costelas num chute com toda a força do impulso
de sua corrida.
Ele nem sequer se mexe.
Loid arregala ainda mais os olhos em desespero.
E o professor ignorando a sua presença, segue encurtando a distância entre a sua boca e
a cabeça do outro rapaz, ao mesmo tempo que a estica ainda mais.
— MERDA! — Grita o jovem no chão. — Pega o frasco na minha cintura! — Ele grita
com desespero olhando para Loid.
Este, sem sequer pensar duas vezes, se joga no chão ao lado deles e puxa da cintura do
rapaz um frasco de vidro que estava preso a ele por uma corda.
A boca do velho havia crescido tanto que engoliria facilmente a cabeça do jovem abaixo
dele, que somente o encarava com o rosto virado e os olhos desesperados.
Ele não pede instruções. Tira a tampa do vidro e arremessa o que quer que estivesse lá
dentro diretamente na cara do velho.
Aquilo se choca contra o rosto do senhor e rapidamente produz um som de queimação e
uma névoa começa a sair de sua pele.
O velho cai para o lado erguendo os braços e saindo de cima do rapaz, que por sua vez
levanta sem cerimônias.
A fumaça sobe se acumulando com em um incêndio, e o jovem com roupas de padre
não dá trégua.
Ele pula e senta em cima das pernas do professor que estava deitado no chão de barriga
para cima e abre os seus braços, deixando seu rosto exposto. Ele ergue o braço bem
atrás de seu corpo, e então o desce com toda a força.
— EM NOME DO PAI! HAAAM! — Ele solta um rugido animalesco com olhos
furiosos.
*PUMP!*
O punho direito do rapaz vestido com um soco inglês conecta no rosto do velho que
apenas vira pro lado com o impacto e cospe um dente junto de um pouco daquele
líquido negro.
Ele ergue o braço esquerdo.
— DO FILHO! HAMM! — Mais um rugido monstruoso
*PUMP!*
Com a força de um martelo, ele acerta o centro do peito do velho que dá uma tosse
rouca e cospe mais um tanto daquela substância.
E então, o rapaz ergue os dois braços juntos, fechando uma mão sobre a outra.
— E DO ESPÍRITO SANTO! UHHHM! — Gritou com a ferocidade de uma besta.
*PUUMP!*
Como uma marretada, ele explode um golpe direto no estômago do velho, que se retorce
no chão à medida que algo parecia subir de dentro dele, pela barriga e pescoço.
Ele se vira para cima de novo e com sua enorme e monstruosa boca, vomita na direção
do rapaz rios daquela coisa negra.
— GUAAAAAHHHHHH! — Saia de sua boca um gemido gutural e desesperado.
Grande parte em seu peito, no chão, e também do jovem em cima dele, que apenas pôde
tapar o rosto com os braços para evitar de engolir aquela coisa.
E então, o velho parou de vomitar, e seu rosto caiu para o lado com os olhos abertos,
agora sem aquele brilho de antes.
O rapaz acima dele respirando profusamente descansa com os braços estirados e
doloridos.
— Amém! Huff- Huff — Ele diz com um olhar cansado respirando irregularmente.
E então se levanta, mancando na direção de Loid, que com um rosto paralisado encarava
o corpo de seu professor no chão e alguns dos corpos que jaziam pelo caminho até a
porta.
— Huff!
O jovem suspira pesadamente se sentando no degrau ao lado de Lóid.
*Tiiin*
Ele solta seus dois socos ingleses no chão produzindo um som metálico.
— Arght!- Tudo bem cara? — O ‘padre’ pergunta com um tom preocupado enquanto
acaricia sua costela dolorida.
Após voltar a si aos poucos, Loid se vira na direção do rapaz, e percebe no chão os dois
socos ingleses, ambos com uma espécie de soqueira circular com quatro entalhes de
estrelas de Davi com uma pontinha saindo do centro de cada uma.
— Ao propósito, valeu pela ajuda com o frasco. — O rapaz careca agradece com um
rosto de dor enquanto segura o abdômen, uma pequena linha de sangue descendo do
canto de sua boca.
— P-por nada — Loid responde, ainda chocado.
— Tem um cigarro aí?
— Quê? — Loid o encara incrédulo, sem acreditar no que ouviu.
— Que que foi? — Ele rebate com uma pergunta e uma face irritada enquanto tateia seu
corpo em busca de algo. — Um homem de fé não pode fumar não, é?
A boca de Loid entreabre um pouco, sua face confusa, tentando processar toda a
situação.
— Aqui! — O padre comemora, retirando um maço de cigarros de um bolso na calça
com um sorriso.
Depois de colocar um na boca, ele estende o maço para Loid, que apenas acena
negativamente.
— Tsc!
Ele estala a língua em resposta.
Depois de acender o cigarro, ele dá uma tragada profunda e então para olhando para os
corpos com um rosto de pesar enquanto segura o cigarro entre os dedos com os braços
apoiados nos joelhos.
O rapaz fecha os olhos e começa a murmurar em uma voz baixa, quase inaudível, o que
parecia ser uma prece.
Loid olha também, novamente para o seu professor no chão.
E então, pensando, chega a todo tipo de conclusões que ele próprio julgava improváveis.
Sempre amparadas em algo sobrenatural.
Ele engole em seco.
— A-Ao propósito- — Ele pergunta timidamente. — O que tinha naquele vidro? Água
benta?
— Ácido sulfúrico. — O padre responde calmamente ainda de olhos fechados.
Loid arregala os olhos, confuso e revoltado com a indiferença do rapaz, que sem nem
abrir os olhos o responde com uma profunda tragada em seu cigarro.
Respira fundo, aceitando o caos que era a sua mente neste momento.
Depois de alguns minutos, o padre termina de fumar o seu cigarro, e larga a bituca no
chão, limpando o sangue no canto de sua boca com a manga da blusa.
— Humpf!
Ele se levanta com dificuldade enquanto Loid observa calmamente.
— Acho que já deu a minha hora amigo. — Ele afirma com um sorriso. — A polícia
deve chegar a qualquer momento, levando em conta o tanto que eles gritaram. Então dá
um jeito de explicar isso aqui por mim, namoral. — Ele pede com um sorriso de
malandro apontando com o dedo em um movimento circular.
Loid nem pensa em como ele vai explicar o que quer que tenha acontecido aqui para a
polícia, e nem quer ter que pensar nisso.
— Ah- E ao propósito- — O padre se vira de novo para Loid. — Eu sou Noah. — Diz
estendendo-lhe a mão com um sorriso largo e marrento, mas ainda humano.