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INSTITUTO PIAGET DE EDUCAÇÃO CONSTRUTIVA

Através da educação o homem continua sua evolução.


Aluno (a): Nº Nota:

Série: 8º ano Turma: única Turno: MANHÃ


Professor (a): Lara Dumarez Disciplina: Português Data:_____/_____/2021

FICHA DE LEITURA

Conto fantástico

Conto fantástico é o nome que se dá a uma narrativa curta que apresenta personagens que
extrapolam os limites da realidade e/ou fatos igualmente estranhos e inexplicáveis. A literatura fantástica traz
elementos que contrariam a noção de realidade. Portanto, apresenta personagens e/ou fatos impossíveis, isto
é, em desacordo com as leis que comandam os fenômenos naturais.
O conto fantástico é uma narrativa curta, cujos personagens ou fatos estão associados a elementos
sobrenaturais ou sem explicação, já que contrariam as leis naturais.
Dessa forma, esse gênero de literatura, em primeiro lugar, provoca estranheza nos leitores. Em seguida,
pode despertar a emoção durante a leitura ou a reflexão, caso o texto, apesar de extrapolar a realidade, trouxer
alguma crítica a ela.

Exemplo 1
Velhos Fantasmas (L. F. Riesemberg)

Em um empoeirado sótão, os fantasmas discutiam uma forma de assombrar seu casarão para afugentar
os novos moradores. “Há uma semana esses vivos se mudaram, e nem perceberam que moramos aqui. Vocês
nada aprenderam em todos esses séculos?” – perguntou o mais velho do grupo.
“Acho que estão ocupados com a mudança, senhor, e não tiveram tempo de prestar atenção” – disse
outro espírito, otimista.
Um terceiro fantasma manifestou-se: “Bem, acho que é hora de tocar um pouco de piano à noite. Quando
eles virem as teclas se movendo sozinhas, vão fugir correndo”.
"O que? Você acha que já não tentei isso?” – perguntou um pequeno fantasma que saiu do baú. “Na noite
passada toquei todos os Noturnos de Chopin, e você pensa que eles ouviram? O marido saiu para trabalhar à
noite. A mulher tomou sedativo e não ouviu uma só nota do meu concerto. E o filho deles passou a madrugada
acordado no quarto, na frente do computador, com fones de ouvido!”.
Pensativo, o fantasmagórico chefão quis saber o que mais já fora tentado. Uma entidade levantou
timidamente o dedo e passou a relatar.
"Como de hábito, ocupei-me da biblioteca. Abri e fechei as gavetas, folheei os livros, rabisquei o quadro
negro, tudo como dita o costume”.
“E que resultados obteve? Deixou alguém em pânico?”.
"Infelizmente, ninguém adentrou lá ainda. Creio que não gostam de ler”.
“Mas era só o que me faltava!” – gritou o velho. “E você aí?” – apontou para outro desencarnado que
participava da assembleia. “O que fez para ajudar?”. O jovem espectro, desligado do mundo dos vivos há menos
tempo que seus companheiros, engoliu em seco, e disse:
“Me perdoe a franqueza, mas acho que estamos encrencados. Mesmo tentando os meios mais avançados
de assombração, não tenho conseguido nada. Já cheguei a aparecer na tela do computador do rapaz e lhe pregar
um susto com a careta mais sombria que consegui, mas o máximo que aconteceu depois foi ele rir, dizendo que
já tinha caído nesse truque antes”.
Um desânimo começava a contagiar a todos, até que um deles sugeriu:
“E se juntássemos as nossas economias de ectoplasma e materializássemos um de nós? Nunca falha!”.
O que foi respondido por outra visagem:
“Aquilo já está com a validade vencida! Além do mais, se eles filmarem uma aparição dessas vão colocar
as imagens na tal internet, e daí sim que nosso sossego termina de vez”.
“Então o jeito é ficar com eles. Este sótão até que é grande”.
“Pode esquecer! Já ouvi que vão reformar e transformar isto aqui em um estúdio de gravação de músicas”.
“Oh, não daquelas músicas que o menino ouve, por favor!” – lamentaram-se.
Porém, apesar da aparente derrota a que os pobres mortos pareciam estar fadados, um brilhante espírito
teve uma ideia bastante simples e eficaz: interferir na atmosfera ao redor da casa, impedindo que se chegassem
quaisquer sinais que fizessem funcionar a internet, os celulares e os canais da televisão via satélite.
Em duas semanas os moradores deixaram o local.

Exemplo 2
A livraria misteriosa (L. F. Riesemberg)

“Livraria”. Era apenas o que constava entalhado na placa torta acima da entrada do estabelecimento.
Adentrei ao recinto tomado pelas sombras, e logo a porta fechou-se às minhas costas com estrondo. O ambiente
estava habitado por inúmeras prateleiras mal arrumadas, recheadas de livros velhos e teias de aranha. Um forte
cheiro de mofo pairava no ar, evocando em mim memórias há muito adormecidas.
“Pois não?”, uma voz rouca surgiu nas trevas de um dos corredores, acompanhada pelo ranger de lentos
passos sobre o piso de madeira.
A voz vinha de um ancião vestido com um negro e antiquado paletó. Ele carregava um surrado livro de
couro na mão esquerda e sobre seu longo nariz pendia um monóculo de ouro com uma lente que aumentava
consideravelmente o tamanho de seu olho.
“Bom dia, senhor”, eu disse, apreensivo. “Eu sempre passo com pressa por essa rua, e nunca tinha
reparado na sua loja. Resolvi entrar para dar uma olhada”.
O velho aproximou-se mais ainda, e estendeu o livro em minha direção. “Ninguém entra aqui por acaso”,
disse.
Toquei o exemplar que ele me oferecia e o segurei em minhas mãos. O título estava semi-apagado pelo
desgaste do tempo, e mal dava para ler as letras douradas em sua capa.
“Sobre o que é este livro?”, perguntei.
Ele sorriu um sorriso misterioso.
“Talvez você possa me dizer. Abra-o”.
Obedeci e comecei a ler o prólogo. Pareceu-me interessante o suficiente para que eu quisesse levá-lo
para casa e lê-lo até o fim.
Já absorvido pelas palavras naquelas páginas amareladas pelos anos, fui subitamente interrompido pelo
ancião. “Leve-o. É seu”.
Surpreso, estranhei a oferta e quis saber realmente o que ele queria. Arrisquei a perguntar, mas não sabia
exatamente que palavras usar. Antes que eu conseguisse, ele falou: “Este volume foi escrito há mais de um
século, e desde então nunca foi aberto por ninguém. Você é o primeiro a folhear estas páginas”.
“Mas por que?”, eu quis saber. “Como um livro tão antigo nunca foi tocado antes?”.
O velho respondeu: “Ninguém disse que ele nunca foi tocado. Tentaram abri-lo, mas só a pessoa certa
poderia fazê-lo”.
Olhei à volta e reparei na quantidade enorme de livros dispostos nas prateleiras.
“Cada pessoa tem um livro à sua espera”, continuou o velho. “Este que você tem nas mãos esperou todo
esse tempo e viajou ao redor do mundo para te achar. Agora vocês se encontraram, e meu trabalho por aqui está
encerrado”, disse, tirando um molho de chaves do bolso. “Agora vá, que a loja já vai fechar”.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa ele foi me conduzindo à saída, e logo me vi novamente
na calçada, sob a luz do dia. A porta fechou-se e ainda fiquei um tempo ali, pensando no fato inesperado que
acabara de se passar comigo, até que não vi alternativa a não ser ir embora, com o livro que acabara de ganhar.
Passadas algumas semanas, completamente emocionado com a aventura que a leitura havia me
proporcionado, retornei ao local para agradecer apropriadamente ao livreiro. Ao chegar, aquele endereço não
existia mais. Havia apenas um muro, coberto com cartazes antigos, colados uns sobre os outros, e um misterioso
vento de outono sussurrou em meus ouvidos e brincou com meus cabelos.

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