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Organizadores
Leonor Dias Paini
Regina de Jesus Chicarelle
José Aparecido Celorio
PARFOR
Plano Nacional de Formação de Professores,
dialogicidade entre a Educação Básica e a
Universidade: compartilhando saberes
Concepções de leitura
Tendo por base Leffa (1996jI999), Kleiman (2004), Coracini (2010)
e Orlandi (1993), apresentaremos e discutiremos quatro perspectivas
de leitura: a do texto, a do leitor, a interacionista e a discursiva. A
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. .d d· mpartilhando saberes FORMAÇAO DE PROFESSORES PARFOR E AS CONCEP
Plano Nacional de Formação de professores, dialogicidade entre a Educação Básica e a Universt a e. co
da leitura. Devido a essa importância, Leffa (1996, p. 17) acredita que passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua,
"é preciso considerar também um terceiro elemento: o que acontece chegando até o conhecimento sobre o uso da língua".
quando leitor e texto se encontram".
O conhecimento textual é o "conjunto de noções e conceitos sobre
A perspectiva da interação leitor-texto o texto". (KLEIMAN, 2004, p.16) e sobre os diferentes tipos de texto
e de formas de discurso. Devido a isso, é importante expormos os
Na perspectiva da interação leitor-texto, ocorre a ínter-relação entre alunos à diversidade de gêneros discursivos e tipologias textuais, para
os processos ascendentes e descendentes na descoberta do significado. que aprimorem seus conhecimentos sobre as estruturas e composições
Assim, a atividade de leitura se torna um processo que une as textuais e, com isso, possam compreender e interpretar melhor os
informações explícitas às implícitas, o que pressupõe que o significado textos.
não é encontrado no texto ou no leitor, mas por intermédio da interação
entre leitor e texto. Já o conhecimento de mundo ou enciclopédico se refere aos
conhecimentos que adquirimos no cotidiano, nas nossas experiências,
Por essa perspectiva de leitura, o significado não está somente no vivências e aprendizagens. Kleiman acredita que esse conhecimento
texto, nem apenas no leitor, mas no processo interativo entre os dois.
Nesse sentido, Solé afirma que [...] abrange desde o domínio que um físicotem sobre
sua especialidade até o conhecimento de fatos como
[...] a leitura é o processo mediante o qual se "o gato é um mamífero", "Angola está na África",
compreende alinguagem escrita. Nesta compreensão "não se deve guardar fruta verde na geladeira", ou
intervêm tanto o texto, sua forma e conteúdo, como "na consulta médica geralmente há uma entrevista
o leitor, suas expectativas e conhecimentos prévios. antes do exame físico" (KLEIMAN, 2004, p. 20-21).
Para. ler necessitamos, simultaneamente, manejar
com destreza as habilidades de decodificação Kleiman enfatiza a importância desses conhecimentos prévios na
e aportar ao texto nos~os objetivos, idéias e compreensão da leitura:
experiências prévias (SOLE, 1998, p.23).
E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis
Para enfatizar a concepção interacionista de leitura, Kleiman de conhecimento que interagem entre si, a leitura
(2004) reitera a importância da interação à distância entre leitor e autor, é considerada um processo interativo. Pode-se
via texto. O leitor constrói e não apenas recebe um significado global dizer com segurança que sem o engajamento
do conhecimento prévio do leitor não haverá
para o texto, por meio da associação das marcas formais, formulação de compreensão (KLEIMAN, 2004, p. 13).
hipóteses e outras formas de processamento. Enquanto o autor busca
a adesão do leitor, apresentando os melhores argumentos, a evidência A autora afirma que esses três tipos de conhecimentos são
mais convincente, marcas formais mais claras, etc. armazenados na memória de longo prazo e, no momento da leitura,
são ativados pelo leitor, sendo fundamentais para a compreensão do
Kleiman (2004) acredita que o leitor constrói o sentido do texto, ao
texto. Entretanto, Solé (1998) defende que o professor deve utilizar
se utilizar, no momento da leitura, de seus conhecimentos prévios, que
estratégias, antes e durante a leitura, para ativar os conhecimentos
são informações ou conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida. O
prévios que os alunos têm internalizados.
conhecimento prévio compreende o linguístico, o textual e o de mundo
ou enciclopédico. O conhecimento linguístico é o conhecimento Assim, apresentamos, de forma resumida, as estratégias apresentadas
implícito que faz com que falemos português como falantes nativos e por Solé (1998), para ativar o conhecimento prévio dos alunos antes da
desempenha um papel central no processamento do texto, pois, sem ele, leitura: 1) dar alguma explicação aos alunos sobre o texto que será lido
a compreensão não é possível. De acordo com Kleiman (2004, p.13), (indicar sua temática: informar sua superestrutura textual - gênero
"abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar português, discursivo ou tipologia textual): 2) ajudar os alunos a prestar atenção
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construindo novos significados. E consideramos que as perspectivas LEFFA, VilsonJ osé.Aspectos da leitura: uma perspectiva psicolinguística.
interacionista e discursivas de leitura podem ~ontribuir para a formação Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 1996.
desse leitor crítico. _____ .Perspectiva no estudo da leitura. Texto, leitor e interação social
LEFFA,_ Vilson José; PEREIRA, A. E. (Orgs.). Ensino de leitura ~
Diante disso, entendemos ser importante trabalharmos, na
~~~duçao textual: alternativas de renovação. Pelotas: Educat, 1999, p. l3-
formação de professores no PARFOR, as diferentes concepções
de leitura e orientarmos para a importância de o professor ter
MORATTO, Rosi~ne. Cardoso dos Santos. Leitura Discursiva em
internalizadas as concepções de leitura interacionista e discursiva. A
vlogs:uma expenencia em sala de aula 2017 l38 f D' tacã
perspectiva interacionista considera os conhecimentos prévios do leitor (Profl eras,
t ) U' id d E
nrversi a esta
d " .,
ual de Maringá. Maringá, 2017.
isser açao
e sua relação com os dados fornecidos pelo texto, enquanto a discursiva
ORLANDI, EniPulcinelli. Discurso e leitura. São PauÍo: Cortez, 1993.
leva em conta os aspectos sócio-históricos e ideológicos que envolvem
os discursos e os sujeitos - autor e leitor. ---- __ . Análise de discurso. 4. ed. Campinas: Pontes, 2002.
Acreditamos que este estudo possa contribuir para a formação de ----.--. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. 2. ed.
Campmas: Pontes: 2005.
professores da Educação Básica, uma vez que precisamos construir
caminhos que possibilitem a ressignificação das práticas de leitura em PERFEIT<;\ Alba Maria. Concepções de linguagem, teorias subiacentes e
sala de aula. Não podemos perder de vista que nosso aluno é um leitor ensmo de lmgua portuguesa. In:.MENEGASSI, RenilsonJosé; dANTOS,
~nllle Rose dos; RITTER, Lilian Cristina Buzato. Concepções de
ativo, que está inserido num momento sócio-histórico e, além disso, linguagem e ensino. Maringá: Eduern, 2010, p. 11-39.
possui suas experiências anteriores, seus conhecimentos prévios e
suas histórias de leituras. ~Ê~HEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do
óbvio. 3. ed. Campinas: Unicamp, 1997. -
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~8~IM. .' .
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