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Então, meu, não te preocupa com isso, porque são muito poucas
pessoas que têm um completo planejamento da vida quando a gente tá lá
pelos vinte e poucos anos. Naquela fase da vida a nossa visão de futuro
permanece assombreada... Não tá muito claro para nós.
Vocês não têm que ficar preocupados com isso, muito pouca gente tem
esse completo planejamento da vida, quando a gente tem seus 20 e poucos
anos. Com vinte e poucos anos a gente vive a mais completa ilusão da
imortalidade e não dá a mínima para a força do destino. Acreditamos,
piamente, ser a exceção à regra, que nunca sofreremos danos e que a sorte
sempre sorrirá para nós... Cara, olha só: essa é a coisa mais importante que
eu vou te dizer nessa primeira parte da aula: hoje tu tem que entender que
tu vai morrer e que nem sempre a vida vai sorrir para ti. Nem sempre a sorte
vai sorrir para ti o tempo todo. Esse é o mundo real. Essa é a pílula vermelha.
Só que de tanto fingir ser forte e duro, nós nos acostumamos a ter essa
carapaça, a ter essa armadura, a ter essa proteção e por isso que, quanto
mais velhos nos tornamos, mais difícil fica encontrarmos a nossa vocação, a
nossa missão de vida, porque temos que descontruir toda essa armadura,
toda essa carapaça e toda essa proteção.
De tanto tentar realizar mudanças em sua vida, ele começou a ver cada
fase dessa própria mudança em sua vida. De tanto cansar, fazer sua vida, se
arriscar naquilo ali, ele começa a aprender a encontrar, ele começa a ver um
método nessa mudança. Ele começa a ver cada parte desse processo de
transformação.
Tenta te lembrar dos teus coleguinhas do colégio, tenta te lembrar dos cdf,
dos nerds, dos bagunceiros, turma do fundão, lembra dos caras que ficavam
no meio da aula e compara com hoje. Vê a tua vida. Tu vai ver que a maioria
dos teus colegas exitosos hoje, os mais exitosos, eles eram os teus colegas
mais felizes, não eram os cdfs que estavam lá na frente, não eram os colegas
que sentavam lá no fundão, não eram os colegas que sentavam na frente do
professor.
Parei de jogar pôquer pelo seguinte: meus pais eram policiais, e um dia
eu ganhei um campeonato lá em Punta Del Este e, todo emocionado, e
então liguei para minha mãe para contar a boa-nova: “Mãe, ganhei um baita
campeonato de pôquer!”. Minha mãe chorava no telefone. “Bah mãe, tá
chorando de emoção?” Ela respondeu: “Não Fernando, tô chorando de
vergonha, porque jogador de pôquer, puta e cheirador de cocaína é tudo a
mesma coisa”.
Vou falar mais sobre isso daqui a pouco, mas eu quero que vocês
entendam que nessa parte da aula, que a gente às vezes, tu vai ter que abrir
mão do que tu vive, numa realidade, para viver outra, no seu máximo, para
atingir o maior nível possível dentro dessa nova mudança, e para isso a gente
não pode ter medo. E hoje olhando para trás eu vejo que alguns momentos
foram cruciais nessa jornada. O primeiro deles, como eu já falei para vocês,
é a introspecção. Vocês viram como foi importante para conhecer de onde
é que tu vem?
Esse retiro espiritual que eu falo para vocês, desse momento que é só
teu, onde tu consiga enxergar essa semente do teu chamado. Para mim, foi
no final de semana na praia, muitas vezes as viagens têm esse poder
transformador, mas isso se deve mais ao fato de tu estar sozinho, em um
lugar diferente, onde tu depende unicamente de ti do que qualquer outra
coisa. Quando tive um desses momentos, eu comigo mesmo, como eu já
falei para vocês, eu chamei isso de retiro espiritual, foi quando eu fiquei um
período sozinho na minha praia. O meu plano era passar apenas o final de
semana na praia, eu fui para lá para apenas colocar as ideias em ordem. Era
eu, um caderno e uma caneta, como faço sempre, papel e caneta. Os
melhores amigos do homem, né... Meus livros, alguns filmes, o violão e era
isso. Só que quando eu me dou conta, eu tava lá na praia escrevendo sem
parar , quando eu vi, eu já tinha escrito três roteiros de cinema, e assim,
roteiro de cinema mesmo, com a história, com a produção, como é que tinha
que ser a câmera, como tinha que ser o enquadramento, como tinha que ser
o roteiro, se era de dia, se era de noite, eu compunha a cena, fazia os
diálogos, o perfil de cada personagem, tava tudo escrito, naturalmente.
Surgiu, baixou, e quando eu vi já era domingo e eu nem vi o tempo passar. E
Fábia Silvestre - fmsilvestre1977@gmail.com - IP: 187.116.66.147
aí eu pensei: “Poxa, vida, mas que vida boa.” Era isso que eu queria fazer
pro resto da minha vida, ficar escrevendo, ficar criando coisas. Aí o que eu
fiz: olhei para minha agenda, era um feriadão de Corpus Christi, “ Bah,
consigo transferir meus compromissos.”
O que eu quero para mim? Que homem é esse que eu quero ser lá no
futuro? Quando eu era mais novo, tinha lá meus vinte e poucos anos, eu até
me aventurei em escrever uns contos, umas crônicas, umas poesias, mas
nunca levei isso a sério. Escritor não ganha dinheiro, todo mundo te diz, eu
sou advogado, advocacia que paga as minhas contas, que paga o carro, o
apartamento, paga o supermercado, paga as nossas contas do dia a dia, paga
os boletos. Uma ou outra coisa, eu até mostrava para os amigos que
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gostavam de literatura, mas sempre com vergonha, sempre tímido, cheio de
incertezas.
Mas olha que engraçado, quando eu tava lá na praia, nesse meu retiro
espiritual, isso aí foi em junho, quando chegou no meu aniversário, eu
arranjei uma namorada, lá da fronteira. Um dia, fui visitar a guria e aproveitei
e fui dar um passeio no Freeshop. Cara, material fotográfico é muito caro,
cada câmera é o preço de uma viagem pro exterior, com avião, com hotel,
com carro, comida, com tudo junto ali e, dependendo da lente, cada lente
também é uma viagem para o exterior, e olha que eu adoro viajar. Quando
eu chego lá no Freeshop, eu encontro, exatamente, a câmera que eu queria,
com as lentes que eu queria e com o abatimento dos impostos do freeshop
era o melhor cenário que eu poderia encontrar. Era melhor do que comprar
na própria B&H em Nova Iorque, já que eu não ia ter que pegar um avião
para ir até os Estados Unidos. Em síntese, pra mim, era o sinal do destino. Tu
me entente? Eu comprei uma câmera básica, uma semiprofissional, até
então, mas, vamos dizer assim, ela já tinha as lentes intercambiáveis.
Quando eu era criança, eu fotografava com umas câmeras de filme, aquelas
que todo mundo tem ai, já teve em casa. A minha primeira fotografia eu
tinha colocado aqui para mostrar para vocês e está aqui (mostra uma foto).
Minha primeira fotografia: eu, minha mãe, meu pai e meu irmão, tentando
compor as coisas, se o meu irmão tem quatro ou cinco anos, nessa foto, eu
devo ter oito, sete ou oito. Bem bonitinho, até vou deixar aqui, na mesa,
minha família. Ah, o que eu estava dizendo para vocês? Ah, aquela viagem
que eu fiz para a França, que eu tava contando, a fotografia tinha voltado
para minha vida, mas como hobby, porque era o início da popularização das
câmeras digitais. Eu comecei a fotografar novamente, eu vi que eu tava
fotografando muito bem. Tinha voltado a pegar esse ritmo novamente.
Cara, presta atenção: O que eu quero dizer para ti com essa história
toda? O que eu quero dizer para ti? Presta atenção: Ter esse sentimento que
é o teu destino realizar alguma coisa é uma força muito poderosa. Veja bem,
esses dois sentimentos muito poderosos e eles estão juntos: é o sentimento
do chamado, da vocação e o sentimento do destino. Isso tem um poder
absoluto, fora da matéria, quase divino, parece uma epifania, parece aquele
sentimento de que Deus existe, Ele me ama e eu sou o filho preferido D’Ele.
É o sentimento da gente ser o escolhido, ser o tio Sam one, lembra do Matrix
né?, que o Neo era o escolhido. E é importante lembrar, como eu disse para
vocês, que naquele primeiro chamado, lá na praia, eu por mais
entusiasmado que eu estivesse, entire cismado in teus, cheio da presença de
Deus, logo eu coloquei empecilho na mudança, que já era evidente, que
saltava aos olhos. “Bah, como é que eu vou deixar de ser advogado? Bah, eu
não vejo conexão nenhuma com o que eu faço hoje e com essa coisa que eu
quero ser no futuro”. Que nem nome tinha. Vocês enxergam que era eu
mesmo que me abafava, que frustrava meu sonho, minha vocação, minha
missão? Por parte de pressões sociais ou próprio conformismo, vocês
enxergam que era eu que me sentenciava a ser prisioneiro, enclausurado?
Num cárcere imaginário, criado por mim mesmo. Quantas vezes tu já não
passou pela mesma situação? Quanto tempo tu não cortaste as asas do que
tu chama de salto?
Todo o teu sonho, todo esse chamado que a gente fala, que parece
uma coisa: “Ai, meu propósito de vida”. Cara, isso é a tua essência, é a tua
vida te chamando. Isso é o que importa para ti. O que tu tem que seguir. Essa
espécie humana, conspirando para andar adiante. Não é uma coisa
romântica... Não é uma coisa frufru...Não... Isso é a vida. É o DNA, é espécie
humana, fazendo com que um de nós chegue na barreira do conhecimento,
fazendo com que tu te comunique com as coisas que te dão ardor, que te
dão entusiasmo, que te façam te sentir Deus. Essa é a parte mais linda disso
tudo, é a parte que eu quero que tu não esqueça, quão importante é ter esse
sentimento dentro de si, o sentimento de chamado, o sentimento de
vocação e o sentimento de destino, como se fosse parte de uma grande
conspiração, das estrelas trabalhando, com que tu seguisse em direção da
tua essência...
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Essa é a parte mais bonita disso tudo que a gente fala aqui e é isso que
eu quero que vocês memorizem e a parte mais importante desse trecho da
aula: como tu tem que ser esse ser humano especial, tu pode ser ser humano
especial. Isso não tem nada de coaching, não tem nada de psicologia. Isso
aqui é filosofia pura, meus alunos. Filosofia na veia...
Por outro lado, crer em ti, ter os objetivos bem claros pode ser
entendido como prepotência. “Cara, que cara metido”. “Bah, esse cara se
acha”. Tu aprende a te sentir culpado por ser o que tu é. Tu deveria seguir a
tua essência, deveria ser real contigo mesmo e tu te sente culpado, porque:
“Ah, o que eles vão pensar de mim”. “Ai, se eu sou muito metido”. E a gente
cai novamente naquela aparente contradição, que eu comentei com vocês
lá no início da aula, todo o sistema te ensina que tu deve trabalhar duro,
sacrificar-se e aceitar o teu destino. E eles estão certos, o problema é que
eles não te ensinam que o teu destino é a tua essência, que a tua essência é
o teu destino. Porque depois que tu entende qual é a tua essência, o que se
comunica contigo, aí tu tem que, exatamente, baixar a cabeça, trabalhar
duro, estudar muito, ampliar os teus conhecimentos, enfrentar as
vicissitudes do destino para alcançá-la. É um problema conceitual, as
pessoas misturam destino com essência. E é nesse momento, é nesse
turbilhão, é nesse furacão, nessa enxurrada que tu começará a te perguntar:
“Como é que eu vou parir a mim mesmo?” E esse será o tema da nossa
próxima aula. Como é que eu vou parir a mim mesmo?