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Observações
Todo mundo faz, com muita razão, uma distinção entre duas eras na
vida do homem. Uma era é aquela em que ele não conhece como é que se
dá a perpetuação da espécie humana, e por causa disso ele também não é
ainda atormentado pelos problemas de pureza. Ali a alma é uma. Depois ele
conhece como é, mas conhecendo sugere nele uma porção de problemas
de pureza em consequência.
Ouvi dizer que há gente que mesmo sem ter ouvido jamais falar da
perpetuação da espécie humana já tem tentações, e até está exposta a
praticar atos de modo inteiramente instintivo. É possível que seja isso.
Mas seja como for, eu tenho impressão de que para a maioria das
pessoas não é assim. E que eles só se põem o problema depois que sabem
como a espécie humana se perpetua. Isso não quer dizer que eu seja
contrário a que se explique às crianças, o pai, a mãe, o confessor -- à criança,
o problema da perpetuação da espécie humana, como é que se dá. Bem, mas
o que eu quero dizer, é que o fato é que, isso que é necessário, levanta o
problema.
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pôr o problema de maneira tal que cada um se pergunte, dentro de si mesmo,
esta época de que eu vou falar agora, quando é que aparece. Quando é que
apareceu nos senhores, se é que os senhores se lembram.
A pessoa vive muito dessas impressões, viu aquilo ... Por exemplo,
viu agora: tem língua ... Ahhh! Então, tátátá. Já o resto está esquecido, já
vai para os nimbos anteriores ao nascimento quase da pessoa. Depois
aparece uma possibilidade de à tarde, por exemplo, ir andar de bicicleta no
bairro aí, o dia está bonito. Lá vai aquilo. Depois acaba o passeio de bicicleta,
dá frustração e há uma baixa... Mas a pessoa não faz muita correlação das
causas e dos efeitos.
Bem, isso é uma primeira época que tem seu traço de analogia com
a inocência. Quer dizer, em geral é no período em que as pessoas estão na
inocência primeva, primevíssima, que as pessoas estão nessa posição em
face ao futuro. Mas, na realidade, depois o raciocínio vai tomando calor e
também a vida vai ficando mais densa. Não é só questão de pegar uma bola,
de não sei o que, mas a pessoa vai pondo ações, as quais ações podem
produzir conseqüências prolongadas. O que não é na vida de uma criancinha.
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Então vem uma outra época em que a vida do homem toma duas
dimensões: uma é o presente e outra é o futuro.
Bom, eu pergunto quais são aqueles para quem isso está claro ... não
é um charabiá confuso.
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radiante: Ah, casa nova, muito melhor! A casa velha para ele, prefere não
pensar.
Mas em certo tempo, quando ele já está na parte da casa dos 30 que
vai caminhando para os 40, ele encontra de repente na gaveta uma fotografia
velha e amarelada da casa primeira. E ele, que 10 anos antes jogaria aquilo
fora, segura e diz: “ah, isso eu vou guardar!” É aquela era que está
começando.
E diante das coisas boas, a alma toma uma torcida, que quer aquilo,
quer aquilo enormemente, e até imagina coisas melhores do que pode
acontecer. Quer dizer, ela é muito dada à previsão em matéria de coisas boas.
Ela está sempre prevendo coisas boas.
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a ficar tão preocupado, que eu não domino a situação. Então é melhor não
pensar, quando chegar a hora eu vejo o que é que eu faço...”
Isso é bom ou isso é ruim? Por que é que é ruim? Se fosse bom, por
que é que seria bom? Quais são os lados bons disso? É uma pergunta que se
pode fazer.
E daí para frente manter diante dos infortúnios que vem uma
imprevidência intencional, para conseguir não morrer na onda. Está claro?
(Sim!)
Não sei por que ... acho os senhores, o sol está batendo muito forte
aqui ... Não, não, deixe, está agradável mas os rostos da primeira fileira eu
quase não vejo por contraste, de maneira que eu não sei bem quais são as
reações, mas estou achando que essa problemática está encontrando o meu
auditório meio moroso, meio...
Bem, eu tive muito esse problema. E eu não era tanto apegado a que
me viessem coisas muito boas. É claro que é gostoso, mas não fazia tanta
questão. Mas eu tinha muito receio de que me viessem coisas muito más. E
diante disso eu me punha o problema assim: aconteceu uma coisa, eu devo
imediatamente medir qual é o extremo do mal a que isso pode chegar, ou eu
não devo ir tão longe, não devo medir tanto, para não me afligir demais?
Onde é que eu encontro a verdadeira posição de alma que me dá força e
resistência diante do que aconteceu?
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E cheguei a uma conclusão que eu pratiquei a vida inteira, graças a
Deus e com a qual só eu me encontrei bem, e que é a seguinte. Uma má
notícia, nos efeitos de uma má notícia na alma de uma pessoa, nós
podemos encontrar dois aspectos. Um é o amargor da má notícia, e outro é
o susto da má notícia.
O que quer dizer prever? Eu vou considerar que isso pode acontecer.
E quando eu traçar meu plano de luta, eu vou pôr em linha de conta a
possibilidade daquilo acontecer. Ainda que seja improvável. E eu vou preparar
as coisas para que aquele pior não aconteça.
Mas o fato concreto é que se a gente vai até o fim de uma vez, e
prevê tudo o que pode acontecer, pode acontecer tudo; uma coisa não
acontecerá: é o susto. E outra coisa não acontecerá: é que a inocência de
quem andou bem, andou retamente, pereça, seja derrotada na luta por falta
de [previsão].
Então, está mais perto da vitória quem prevê desde logo o pior. E
prevê com confiança em Nossa Senhora e com energia!
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Bom, e agora eu caio de pára-quedas em nosso tema!...
Um homem que tenha o hábito de ver as coisas como são, que tem o
hábito do pão-pão, queijo-queijo pôr-se diante da realidade, e até sem
exagerar o que a realidade tem de ruim, pôr-se diante do que ela pode trazer
de pior, esse homem tem certo feitio de espírito. É um feitio de espírito
penetrante, que gosta de pensar, gosta de raciocinar, gosta de enfrentar e
gosta de lutar.
Outro homem é mole, ele não gosta de nada disso, ele gosta de
imaginar. E imaginar as coisas como não são. De maneira tal que a vida dele
não é uma perpétua confrontação com a realidade, mas é uma contínua fuga
de realidade. Se é assim, eu pergunto: isso tem algum nexo com o
sentimentalismo? Qual dos dois tipos de homem é mais propenso ao
sentimentalismo?
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humano, em vez de perceber que fizeram uma tolice, acham que não! que a
escolha não foi boa! E vão fazer tolice com uma outra.
(Sim!)
E se o indivíduo logo que seja assaltado por uma ilusão dessas, pensar
simplesmente no que eu estou dizendo, e compreender como são as coisas,
é ou não é verdade que ele fica muito mais protegido contra todo
sentimentalismo?
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Ele vai abraçar seus próprios parentes que estão de um lado, ela os
dela. Depois trocam, ele vai abraçar os parentes dela, e ela vai abraçar os
dele. O primeiro lance é muito mais sensível do que o segundo. Ela com os
parentes dele meio assim, ele com os parentes dela assim ... Enfim, se
abraçam. Organiza-se o cortejo e saem. Loengrin de novo, e eles vão para o
automóvel.
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Então, o que fazer: não se casar? Eu responderia com um adágio
francês, que creio já ter citado aos senhores, e o adágio é o seguinte: o
homem insensato casa com a mulher da qual gosta; o homem sensato
gosta da mulher com a qual casa. Isto é muito mais verdadeiro, muito
mais lógico, muito mais razoável, muito mais terra-terra. Mas aí o
sentimentalismo está longe.
Uma vez eu ouvi um sujeito dizer que quem casa com uma moça,
casa com a família inteira! E nem sempre é muito convidativo.
Agora, diante desse quadro, a gente pensa em São Paulo. E São Paulo
dizia: casai-vos, porque casar é bom; mas não vos caseis, porque não casar
é melhor!
(A primeira.)
Ave Maria...
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