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Esta obra pode ser considerada intemporal, pois, apesar de ter sido escrita há muito
tempo, repreende os comportamentos da atualidade, ou seja, transmite uma mensagem
universal e cada vez mais atual.
Podemos confirmar a luta de Vieira contra os mais fracos através das suas repreensões
ao longo da obra. Como refere no texto, os homens mais ricos “comem” os mais pobres,
ou seja, os homens mais poderosos aproveitam-se dos mais fracos. Na nossa sociedade
atual, os homens alimentam a sua sede de poder e riqueza explorando os mais fracos. As
pessoas são ambiciosas e egoístas ao ponto de só pensarem em si próprias, querendo
sempre o melhor para si, mesmo que tenham que prejudicar alguém. Isto reflete-se na
atualidade em várias situações, como é o caso do abuso do poder por parte dos políticos
que se aproveitam do povo.
Além dos homens mais poderosos se aproveitarem dos mais fracos, os gananciosos
“colam-se” aos mais ricos para obterem proteção. Na sociedade atual, isto é cada vez
mais comum. Os homens de classe média agarram-se aos superiores para atingirem os
seus objetivos, quer a nível social quer a nível profissional. É o caso dos funcionários
que se aproximam dos chefes por interesse, para terem maior garantia no emprego e
proteção perante os colegas.
A maioria das pessoas deixa-se levar pela cobiça e pelo interesse. Se Vieira vivesse em
pleno século XXI talvez continuasse a indignar-se com o comportamento dos homens.
Não seríamos mais felizes se nos tornássemos mais humildes? Há que mudar a nossa
atitude! O mal da sociedade está na incapacidade humana de pensar mais nos outros e
menos na sua pessoa.
Tal como no século XVII, ainda hoje os “grandes comem os pequenos”. O que na altura
era visível, sobretudo na atitude egoísta dos colonos, é ainda visível, por exemplo, em
muitos países, mesmo desenvolvidos, em que o aumento dos impostos é constante e
exagerado, levando algumas famílias à miséria e ao desespero, apenas por ganância por
parte dos mais poderosos, que, por terem estatutos sociais elevados, condenam os mais
fracos.
Outra represália feita ao comportamento dos seres humanos no Sermão é a sua cegueira
e ignorância, resultado da vaidade. A vaidade é ainda uma causa dessa cegueira e
ignorância e muitas são as pessoas que se deixam enganar. É o caso de pessoas mais
desfavorecidas que, para obterem melhores condições, muitas vezes se deixam
manipular por outros.
Do mesmo modo, o desrespeito pela vida humana, retratado na obra pela escravização
dos povos indígenas, não deixa de estar presente na atualidade. Infelizmente, mesmo
após quatro séculos, a obra de Vieira continua atual, retratando a nossa sociedade. O
mesmo acontece quando, no nosso país, o governo corta os ordenados da função pública
e as autoridades abusam do poder punindo pessoas inocentes, ou, então, quando pessoas
corruptas são absolvidas injustamente.
Quantas vezes, assistindo ao telejornal, surgem notícias sobre raptos, violações e tráfico
humano por todo o mundo? Desrespeito pela vida humana não se trata apenas da
escravização contra a qual lutou António Vieira. Nos dias de hoje é cada vez mais
visível o menosprezo pela vida do outro, cada vez mais nos deparamos com pessoas que
olham para a vida do outro como um meio para atingir um fim, pondo em causa o valor
da vida humana.
Façamos algo para contrariar a presença na atualidade da obra escrita por Vieira, sendo
pessoas melhores e não nos deixando dominar pela corrupção. O valor da vida humana
é inquestionável e ninguém tem o direito de o colocar em causa ou apoderar-se de
outrem para sobreviver. Já Aristóteles dizia, “O valor final da vida depende mais da
consciência e do poder de contemplação, que da mera sobrevivência.”
Abuso do poder
Fazer mais do que o dever dele
Receber dinheiro para deixar de fazer algo