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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA DE PESQUISA DO TRT 8ª REGIÃO
3. RESULTADOS PARCIAIS DO TRT 8ª REGIÃO
4. METODOLOGIA DE PESQUISA DOS AUTOS DE INFRAÇÃO
5. RESULTADOS TOTAIS DOS AUTOS DE INFRAÇÃO
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1. INTRODUÇÃO
- 50% das análises feitas por amostragem dos acórdãos proferidos pela Tribunal Regional do
Trabalho da 8ª Região;
- 100% das análises dos autos de infração.
Um ajuste se fez necessário em relação às perguntas que seriam respondidas para, onde
se lia:
1. O acórdão versa sobre trabalho escravo contemporâneo na cadeia produtiva da carne bovina?
2. Na hipótese de resposta positiva à pergunta 1, foi reconhecido o trabalho escravo
contemporâneo na decisão?”
Ler-se:
De forma que, inicialmente a ideia era analisar somente os casos em que o trabalho em
condições análogas à de escravo na cadeia produtiva da carne bovina tivesse sido reconhecido.
Entretanto, ampliou-se o objeto da análise para analisar todos os casos ocorridos na cadeia produtiva
da carne bovina bastando que tenha havido a alegação do trabalho em condições análogas à de
escravo, ainda que não reconhecida pelo respectivo órgão julgador.
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2. METODOLOGIA EM RELAÇÃO ÀS DECISÕES PROFERIDAS PELO TRIBUNAL
REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO
“Os órgãos colegiados são compostos por Desembargadores do Trabalho que julgam
recursos interpostos contra decisões dos juízes das Varas do Trabalho, além de ações de sua
competência originária, tais como dissídios coletivos de âmbito regional; ações rescisórias
de decisões suas ou dos juízes das Varas; e mandados de segurança contra atos de juízes das
Varas e desembargadores do TRT. (...)”
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Todos os processos foram coletados e organizados de forma automatizada por meio de
web scraping (raspagem de rede, em tradução livre) com o programa Python (Thomas and Mathur,
2019)1. Em geral, esse procedimento é amplamente utilizado para agilizar a coleta de grandes
quantidades de dados da web disponíveis publicamente. Os 1.079 processos foram todos
armazenados de forma estruturada em bancos de dados SQL.
Após uma análise exploratória dos processos registrados, constatou-se a ocorrência de
registros com número de processos idênticos. Em uma investigação mais aprofundada, pode-se
concluir que essa duplicação tem diferentes origens, as quais serão apresentadas a seguir.
Situação 1 – Mesmo número de processo, mas classes recursais e datas diferentes: são
ocorrências em que, em razão da fase recursal do processo, apresentam o mesmo número, mas datas
e classes diferentes. No exemplo a seguir, o processo tem classe “RO”, recurso ordinário, julgado
em 15/03/2019, e novo julgamento em 25/04/2019, em fase de embargo de declaração, classe “ED”.
Foram encontradas 55 ocorrências com estas características.
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D. M. Thomas and S. Mathur, "Data Analysis by Web Scraping using Python," 2019 3rd International conference on
Electronics, Communication and Aerospace Technology (ICECA), 2019, pp. 450-454, doi:
10.1109/ICECA.2019.8822022. Cochran W.G. (1977). Sampling techniques, 3rd Edition, John Wiley & Sons, New
York.
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Figura 2 - Mesmo número de processo, mas classes recursais e datas diferentes
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Situação 2- Mesmo número de processo e demais informações idênticas: são processos
em que todas as informações são iguais, como data, relator, classe recursal e, inclusive, o conteúdo
do acordão. Foram localizadas 5 ocorrências nessa situação, sendo: 0000754-16.2015.5.08.0115,
0001060-82.2015.5.08.0115, 0001188-13.2016.5.08.0101, 0002062-24.2014.5.08.0115 e 0002182-
33.2015.5.08.0115.
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Figura 3 - Mesmo número de processo e demais informações idênticas
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Situação 3 – Conteúdo do acordão igual, mas datas diferentes: pelo fato de todas as
informações estarem armazenadas em banco de dados, foi possível comparar o conteúdo de cada
acordão. Nessa análise, além dos 5 casos da localizados a partir dos critérios da “Situação 2”, também
foi localizado processo 0000366-16.2015.5.08.0115, com o conteúdo e classe iguais, mas com datas
diferentes.
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Figura 4 - Conteúdo do acordão igual, mas datas diferentes
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A partir das observações apresentadas, pode-se afirmar que a “Situação 1” é esperada, já
que é possível que um processo tenha diferentes fases recursais. No entanto as ocorrências da
“Situação 2” e da “Situação 3” são inesperadas e podem ser consideradas inconsistências da
plataforma, totalizando 6 registros no total.
Assim, a população total da quantidade de registros entre os anos de 2016 e 2021, com
relação ao termo “escravo” foi de 1.073 acórdãos. Em razão da elevada quantidade de registros,
optou-se por utilizar um conjunto menor de processos, de maneira que os resultados da análise
possam ser generalizados para toda a população. Para ajudar a evidenciar o rigor estatístico
empregado na investigação de uma parcela do banco de dados contendo os processos, foi utilizada a
amostragem aleatória simples para amostras finitas.
O cálculo do tamanho da amostra deve ser feito com muito cuidado, para garantir que
todos os processos sejam representados com precisão. Para isso, adotou-se um nível de confiança de
95%, sendo este o valor mais comumente utilizado academicamente. Este percentual representa o
quanto de certeza que temos de que os resultados apresentados se repitam, caso aplique a mesma
pesquisa para amostras diferentes. Também foi adotado uma margem de erro de 5%, pois por
estarmos trabalhando com uma parcela dos dados, estamos sujeitos a conclusões equivocadas, e
precisamos reduzir ao máximo essa margem. Segue a fórmula desenvolvida por Cochran (1977) para
o cálculo de tamanho de amostra:
𝑧 2 × 0,25
𝑡𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑒 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 = 𝑒2
2
𝑧 × 0,25
1+( 2 )
𝑧 ×𝑁
onde, 𝑧 2 é a variável normalmente padronizada associada ao nível de confiança de 95%;
𝑒 2 é a margem de erro e 𝑁 é o tamanho da população.
Com base no cálculo amostral exposto, para o nível de 95% de confiança, a variável 𝑧 2
será igual a 1,96, valor padronizado na tabela z. Considerando, ainda, a margem de erro de 5% e
tamanho da população de 1.073, o tamanho da amostra necessário será de 284 julgados a serem
analisados.
Além desse total, foi adicionado a amostra o percentual de 10% (29 processos a mais),
em função de processos que são referentes ao Amapá, e podem ter sido escolhidos aleatoriamente no
processo de amostragem, esses processos quando escolhidos para análise não foram analisados, e se
analisou-se o processo seguinte. Somando 10% ao total de 284 processos, chegou-se a um tamanho
final de amostra de 313 processos a serem analisados.
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Considerando o escopo desta segunda entrega ser a análise de 50% dos casos, realizou-
se a análise de 162 (cento e sessenta e dois) acórdãos, equivalente a 51,17% e, para a entrega 3,
prevista para 30/05/2022, será apresentada a análise total.
Sendo assim, a análise, por amostragem, desses acórdãos proferidos pelo Tribunal
Regional do Trabalho da 8ª Região será realizada respondendo aos seguintes questionamentos:
4. Qual a capitulação legal (art. 149 do Código Penal) da pretensão descrita na petição
inicial?
5. Qual a capitulação legal (art. 149 do Código Penal) da decisão que reconheceu o
trabalho escravo contemporâneo?
6. Quando o ano que o crime ocorreu?
7. Quantos empregados estavam envolvidos?
8. Os empregadores eram pessoas físicas ou jurídicas?
9. Há notícia de ocorrência de trabalho infantil?
10. Houve condenação em dano moral? Se sim, qual o valor?
11. Houve sanção alternativa aos réus?
12. Há notícia sobre reincidência dos réus?
13. Há notícia sobre denúncia criminal dos réus?
14. Há notícia sobre termo de ajustamento de conduta?
15. Qual foi a turma competente para o julgamento?
16. Qual foi o posicionamento específico de cada julgador?
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3. RESULTADOS PARCIAIS DE 51,17% DA ANÁLISE DOS ACÓRDÃOS
4. Qual a capitulação legal (art. 149 do Código Penal) Trabalho em condições degradantes
da pretensão descrita na petição inicial?
5. Qual a capitulação legal (art. 149 do Código Penal) Não
da decisão que reconheceu o trabalho escravo
contemporâneo?
6. Qual o ano que o crime ocorreu? 2014
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Acordão: 0000745-72.2016.5.08.0130 ID: 627
Data: 18/06/2018 Classe: RO
Relator: PASTORA DO SOCORRO TEIXEIRA LEAL
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Sim
16. Qual foi o posicionamento específico de cada Ação Civil Pública por obrigação de
julgador? fazer com base em relatório feito pelo
Grupo Móvel Interinstitucional de
Combate ao Trabalho Escravo.
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Acordão: 0000244-97.2019.5.08.0103 ID: 248
Data: 29/05/2020 Classe: ROT
Relator: ROSITA DE NAZARE SIDRIM NASSAR
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Sim
4. Qual a capitulação legal (art. 149 do Código Penal) Trabalho em condições degradantes
da pretensão descrita na petição inicial?
5. Qual a capitulação legal (art. 149 do Código Penal) Trabalho em condições degradantes
da decisão que reconheceu o trabalho escravo
contemporâneo?
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OCORRÊNCIAS EM CADEIA PRODUTIVA NÃO INFORMADA
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Acordão: 0000554-60.2020.5.08.0106 ID: 31
Data: 17/11/2021 Classe: ROT
Relator: FRANCISCA OLIVEIRA FORMIGOSA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Acordão: 0000778-17.2014.5.08.0103 ID: 1059
Data: 12/04/2016 Classe: RO
Relator: PASTORA DO SOCORRO TEIXEIRA LEAL
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 13/03/2018 Classe: RO
Relator: VICENTE JOSE MALHEIROS DA FONSECA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 29/08/2018 Classe: RO
Relator: MARY ANNE ACATAUASSU CAMELIER MEDRADO
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 29/01/2019 Classe: RO
Relator: MARIA ZUILA LIMA DUTRA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
30
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 08/05/2019 Classe: RO
Relator: IDA SELENE DUARTE SIROTHEAU CORREA BRAGA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 27/09/2019 Classe: ROT
Relator: JOSE EDILSIMO ELIZIARIO BENTES
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 12/03/2020 Classe: ROT
Relator: SUZY ELIZABETH CAVALCANTE KOURY
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 17/06/2020 Classe: ROT
Relator: FRANCISCO SERGIO SILVA ROCHA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 30/09/2020 Classe: ROT
Relator: FRANCISCO SERGIO SILVA ROCHA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 25/03/2021 Classe: ROT
Relator: JOSE EDILSIMO ELIZIARIO BENTES
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 18/05/2021 Classe: ROT
Relator: MARIA ZUILA LIMA DUTRA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 26/07/2021 Classe: ROT
Relator: GABRIEL NAPOLEAO VELLOSO FILHO
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Não
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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Data: 21/10/2021 Classe: ROT
Relator: SULAMIR PALMEIRA MONASSA DE ALMEIDA
1. O trabalhador alega alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
2. A decisão reconhece alguma das hipóteses do art. Sim
149 do Código Penal?
3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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3. O caso se deu na cadeia produtiva da carne bovina? Não
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SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO TRABALHO NO PARÁ
nao-responder.falabr@cgu.gov.br seg., 11 de
abr. 10:27
para mim
Prezado(a) Senhor(a),
4. Qual a localidade?
5. Quando se iniciou a ação fiscal?
6. Quantos empregados estavam envolvidos?
7. Há notícia de ocorrência de trabalho infantil?
8. Há notícia de ocorrência de trabalho indígena?
Como inicialmente previsto, haja vista a riqueza de detalhes dos autos de infração, a
consultoria optou por analisar integralmente todos os autos de infração fornecidos pela autoridade
competente. Ao se constatar a ocorrência em setor distinto que o da criação de bovino, ainda que não
relacionado à cadeia produtiva da carne bovina.
Desta forma, foram analisados 38 (trinta e oito) autos de infração relacionados à ementa
0017272: “Manter empregado trabalhando sob condições contrárias às disposições de proteção do
trabalho, quer seja submetido a regime de trabalho forçado, quer seja reduzido à condição análoga à
de escravo.”
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Auto de infração n. 20.949.225-2
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Não.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Garimpo.
econômica
envolvida?
“Os trabalhadores dormiam em redes de sua propriedade em um cercado de lona dentro do barraco.
Todos os seus pertences ficavam ou jogados pelo chão ou pendurados na estrutura do barraco. Os
próprios trabalhadores preparavam suas refeições em um fogão improvisado construído de um
tambor de lata cortado servindo de apoio sobre uma fogueira. Os trabalhadores manipulavam os
alimentos e tomavam suas refeições em uma mesa de madeira com bancos que eles mesmos
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construíram. O que os trabalhadores tinham para comer naquele dia arroz e macaxeira. Os
trabalhadores alegaram que não havia carne há dias. Estava dependurado em um arame dentro do
barraco umas lascas de carne seca. Os trabalhadores informaram que por não haver refrigeração, ele
secam a carne e deixam dependurada para colocar no feijão. Não havia no local nenhum banheiro ou
mesmo sanitário. Em entrevista os trabalhadores informaram que faziam suas necessidades no mato
ao entorno do barraco e tomavam banho em um córrego próximo, beirando a mata. Deste mesmo
córrego os trabalhadores lavavam as roupas e os utensílios de cozinha e captavam a água para beber
e cozinhar. A área por onde passa o córrego também é frequentada pelo gado bovino e não havia
uma barreira física que impedisse o acesso de animais a água.”
“O barraco não oferecia nenhuma condição de habitabilidade, pois além da estrutura frágil e
cobertura instável; não dispunha de vedação nas laterais, sendo facilmente devassável por pessoas
estranhas, animais e intempéries; possuía piso de chão batido que virava barro quando chovia,
inundando todo o local e sujando os pertences dos trabalhadores que ficavam espalhados por todos
os cantos. Tal estrutura fora montada, havia cerca de três meses, pelo cerqueiro, Sr. X, juntamente
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com alguns dos trabalhadores e desde então, sempre estivera ocupado. Embora tratasse de cômodo
único, de medidas aproximadas de 2 m de largura por 4 m de comprimento, chegou a abrigar até 10
(dez) trabalhadores ao mesmo tempo, sendo necessário que alguns fossem dormir no sereno com as
redes esticadas nos galhos das árvores. O aspecto visual do ambiente era de muita sujidade e
desordem, pois infestava o lugar, muita poeira, devido ao movimento intenso das pessoas que
circulavam por ali e desordem devido ao fato de que, além de servir para abrigar diversas pessoas,
servia também para a guarda dos pertences dos trabalhadores, alimentos, utensílios domésticos,
ferramentas de trabalho, motosserras, bombas de aplicar agrotóxicos e outros itens que ficavam
espalhados pelo local.
(...)
Nas proximidades do local, o Sr. X tinha uma pocilga e um galinheiro, e criava alguns desses animais
soltos no quintal; sendo comum ver porcos e galinhas circulando nos locais destinados aos
trabalhadores. No local não havia água encanada e nem energia elétrica. Além de não ter dimensões
apropriadas para acomodar com privacidade ou conforto os trabalhadores, cabe ressaltar que os
mesmos dividiam o pouco espaço com todos os pertences e demais itens ali depositados.
(...)
Questionados sobre a forma como tomavam banho, informaram que no barraco de lona era com a
ajuda de uma embalagem vazia de margarina, no córrego que ficava nas proximidades do barraco.
Frise-se que neste mesmo córrego, os trabalhadores lavavam as roupas sujas de agrotóxicos e ainda
retiravam a água que consumiam e cozinhavam os alimentos. Importante ressaltar que este córrego
ficava em área de baixada, onde, segundo os trabalhadores, á agua descia de outro ponto mais alto,
onde os animais pastavam e saciavam a sede. Por sua vez, no barraco de madeira, o banho era tomado
no córrego que ficava nas proximidades do barraco, atrás de uma barreira que fora construída de
galhos e folhas de bananeiras, como única esperança de se conseguir um pouco de privacidade.
(...)
O empregador também não forneceu camas ou mesmo redes, para que os trabalhadores pudessem
descansar após a jornada de trabalho. Também não fornecia nenhum tipo de roupa de cama adequado
às condições climáticas locais e necessárias ao conforto dos trabalhadores durante o descanso. Na
ausência do fornecimento desses itens, os trabalhadores se viram obrigados a adquiri-los as suas
expensas e levá-los consigo nos locais de pernoite.”
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Auto de infração n. 21.082.357-7
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Sim.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Criação de bovinos para leite.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? Itupiranga.
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
“Convém mencionar que a parte inferior do barracão de alojamento, construído sobre pilastras de
madeira, era usada para abrigar porcos. Como também que no alojamento havia presença constante
de ratos. Os trabalhadores relataram que à noite os ratos entravam pelas frestas do piso e paredes,
roíam os mantimentos e andavam sobre os móveis. A equipe de fiscalização constatou a presença de
fezes de rato no alojamento. A água usada para consumo e banho dos trabalhadores alojados na
Fazenda Abaram era proveniente de uma grota a que os animais, como porcos e bois, tinham acesso
irrestrito. Essa água era bombeada para um reservatório instalado ao lado do barracão de alojamento,
não passava por nenhum processo de filtragem e apresentava detritos visíveis. O reservatório de água
apresentava uma crosta espessa de limo e ferrugem.
(...)
A Equipe de Fiscalização observou, durante a inspeção do local, a existência de fezes de ratos no
interior do barracão, os roedores tinham acesso ao interior do barracão, possivelmente, pelas
aberturas existentes nos pisos. Essa situação expunha os trabalhadores ao risco de contaminação por
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doenças transmissíveis por ratos e outros animais. Além disso, sob o barracão circulavam muitos
porcos, animais estes que eram criados ao ar livre, sem nenhuma preocupação com higiene e podiam
ser vistos de dentro da casa pelas aberturas no piso. Evidentemente, que esta irregularidade faziam
com que o piso não cumprisse a função a que se destina, fazendo com que o interior do barracão
deixasse de possuir adequadas condições de higiene e vedação, visto que, a movimentação de porcos
abaixo do piso da casa fazia com que poeiras, pelos de porcos e outros resíduos pudessem ser
transportados pelo ar até o interior do barracão. Além disso, as aberturas no piso do barracão não
ofereciam proteção contra acesso de eventuais animais peçonhentos, que por ventura estivessem nas
proximidades, visto se tratar de zona rural, em meio ao campo aberto.”
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cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Fazenda, construção de cerca.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? Altamira.
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
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“- ADMITIR OU MANTER EMPREGADO SEM O RESPECTIVO REGISTRO EM LIVRO,
FICHA OU SISTEMA ELETRÔNICO COMPETENTE.
- DEIXAR DE DISPONIBILIZAR, NOS LOCAIS DE TRABALHO, ÁGUA POTÁVEL E
FRESCA EM QUANTIDADE SUFICIENTE.
- MANTER ÁREAS DE VIVÊNCIA QUE NÃO POSSUAM CONDIÇÕES ADEQUADAS DE
CONSERVAÇÃO, ASSEIO E HIGIENE.
- MANTER MORADIA COLETIVA DE FAMÍLIAS.
- DEIXAR DE ANOTAR A CTPS DO EMPREGADO NO PRAZO DE 48 HORAS CONTADO
DO INÍCIO DA PRESTAÇÃO LABORAL.
- DEIXAR DE FORNECER AOS TRABALHADORES, GRATUITAMENTE, EQUIPAMENTOS
DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
- DEIXAR DE SUBMETER O TRABALHADOR A EXAME MÉDICO ADMISSIONAL.
-DEIXAR DE EQUIPAR O ESTABELECIMENTO RURAL COM MATERIAL NECESSÁRIO À
PRESTAÇÃO DE PRIMEIROS SOCORROS.
- DEIXAR DE REALIZAR AVALIAÇÕES DOS RISCOS PARA A SEGURANÇA E SAÚDE
DOS TRABALHADORES OU DEIXAR DE ADOTAR MEDIDAS DE PREVENÇÃO E
PROTEÇÃO, COM BASE NOS RESULTADOS DAS AVALIAÇÕES DOS RISCOS PARA A
SEGURANÇA E SAÚDE DOS TRABALHADORES, OU DEIXAR DE GARANTIR QUE
TODAS AS ATIVIDADES, LUGARES DE TRABALHO, MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS,
FERRAMENTAS E PROCESSOS PRODUTIVOS SEJAM SEGUROS E EM CONFORMIDADE
COM AS NORMAS DE SEGURANÇA E SAÚDE.
- DEIXAR DE DISPONIBILIZAR CAMAS NO ALOJAMENTO OU DISPONIBILIZAR CAMAS
EM DESACORDO COM O DISPOSTO NA NR-31.
- MANTER ÁREAS DE VIVÊNCIA QUE NÃO POSSUAM PISO CIMENTADO, DE MADEIRA
OU DE MATERIAL EQUIVALENTE.
- MANTER ÁREAS DE VIVÊNCIA QUE NÃO POSSUAM PAREDES DE ALVENARIA,
MADEIRA OU MATERIAL EQUIVALENTE.
- Manter agrotóxicos, adjuvantes ou produtos afins armazenados em edificação que se situe a menos
de 30 m de habitações ou locais onde são conservados ou consumidos alimentos, medicamentos ou
outros materiais.
- Deixar de disponibilizar a todos os trabalhadores informações sobre o uso de agrotóxicos no
estabelecimento ou disponibilizar informações sobre o uso de agrotóxicos no estabelecimento em
desacordo com o disposto na NR-31.”
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Qual a localidade? Novo Repartimento.
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
Quanto aos dois barracos, além de serem alojamento de trabalhadores, serviam como área para
preparo das refeições, local para alimentação, guarda de pertences pessoais, alimentos e ferramentas
de trabalho. Neles não havia camas, constatou-se também que o empregador não forneceu colchões
e roupa de cama. Os trabalhadores dormiam em redes adquiridas com recursos próprios. Não havia
armários, os pertences dos trabalhadores ficavam guardados em suas mochilas, pendurados em fios
amarrados na estrutura dos barracos ou dentro de sacos plásticos. O cozimento das refeições era feito
em fogareiros rústicos próximo aos pertences dos trabalhadores e não havia local para conservar os
mantimentos.
Os barracos não tinham ligação à rede de energia elétrica. Não havia instalação sanitária, as
necessidades de excreção eram realizadas no mato. O empregador não fornecia água para consumo
aos trabalhadores alojados nos barracos; a água era retirada pelos trabalhadores diretamente de
córrego a que os animais tinham acesso irrestrito e era consumida sem passar por nenhum processo
de purificação e filtragem.
Concentrado em uma área de declive escarpado, para onde escoa toda água pluvial precipitada no
decorrer do período chuvoso, carreando em seu deslocamento toda a sujidade que o solo possa
acumular, dentre as quais citamos o excremento do gado existente no local e de outros animais
silvestres, o córrego era formado por água que apresentava coloração turva e substancial quantidade
de material suspenso. Eis a água que os empregados alojados nos barracos acima descritos usavam
para todos os fins.”
68
Auto de infração n. 21.044.532-7
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Sim.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Criação de bovino para corte.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? Bannach.
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
“Os barracos de lona e o de tábuas não possuíam iluminação, bem como, não tinham ligação à rede
de energia elétrica. Além de servir de alojamento aos trabalhadores, serviam como área para preparo
das refeições, local para alimentação, guarda de pertences pessoais, alimentos e ferramentas de
trabalho. Não havia armários nos barracos, os pertences dos trabalhadores ficavam guardados em
suas mochilas ou pendurados em arames. Os mantimentos ficavam depositados em tábuas colocadas
no chão, em jiraus, em caixas de papelão ou dentro de panelas. O preparo das refeições era feito
sobre tijolos colocados no chão, utilizando lenha para fazer fogo. Não havia instalação sanitária nem
água potável nos barracos e nas frentes de trabalho; a água para beber, tomar banho e preparar
alimentos era retirada de um córrego. As necessidades de excreção eram realizadas no mato. Nenhum
trabalhador tinha registro em livro, tampouco seus contratos de trabalho haviam sido anotados na
Carteira de Trabalho.”
69
Auto de infração n. 20.949.181-7
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Não.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Garimpo.
econômica
envolvida?
“Cabe informar que a atividade de desmate, roço e confecção de cerca que os trabalhadores
desenvolviam, executada em área de abundante vegetação e próxima à segmentos da floresta nativa
(mata ombrófila densa), expunha os trabalhadores a importantes riscos ocupacionais, para os quais
eram necessários, em rol exemplificativo, os seguintes equipamentos de proteção individual
(esclarecemos que medidas coletivas seriam inviáveis para fornecer proteção contra os riscos
70
decorrentes da atividade): botas com biqueira reforçada para proteção dos pés contra contato paredes
laterais. O barraco de acidental com foices e facões; perneiras (ou botas de cano longo) para proteção
contra animais e insetos peçonhentos, abundantes na região (cobras, aranhas); avental para proteção
do corpo contra agentes mecânicos (estacas de madeira, fios de arame); chapéu ou outra proteção
contra o sol; óculos para proteção contra impactos de vegetação e aparas de madeira (decorrente do
corte com motosserra e perfuração das estacas); protetores auriculares devido ao ruído gerado por
motosserra; luvas e mangas de proteção contra materiais ou objetos escoriantes ou vegetais.”
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
73
econômica
envolvida?
Qual a localidade? Jacundá
74
CAMAS EM DESACORDO COM O DISPOSTO NA NR-31.
11. DEIXAR DE FORNECER ROUPAS DE CAMA ADEQUADAS ÀS CONDIÇÕES
CLIMÁTICAS LOCAIS.
12. DEIXAR DE DISPONIBILIZAR INSTALAÇÕES SANITÁRIAS AOS TRABALHADORES.
13. DEIXAR DE DISPONIBILIZAR LAVANDERIA AOS TRABALHADORES.
14. DEIXAR DE DISPONIBILIZAR, NAS FRENTES DE TRABALHO, ABRIGOS QUE
PROTEJAM OS TRABALHADORES DAS INTEMPÉRIES DURANTE AS REFEIÇÕES.
15. DEIXAR DE DISPONIBILIZAR, NAS FRENTES DE TRABALHO, INSTALAÇÕES
SANITÁRIAS COMPOSTAS DE VASOS SANITÁRIOS E LAVATÓRIOS.
16. DEIXAR DE REALIZAR AVALIAÇÕES DOS RISCOS PARA A SEGURANÇA E SAÚDE
DOS TRABALHADORES OU DEIXAR DE ADOTAR MEDIDAS DE PREVENÇÃO E
PROTEÇÃO, COM BASE NOS RESULTADOS DAS AVALIAÇÕES DOS RISCOS PARA A
SEGURANÇA E SAÚDE DOS TRABALHADORES, OU DEIXAR DE GARANTIR QUE
TODAS AS ATIVIDADES, LUGARES DE TRABALHO, MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS,
FERRAMENTAS E PROCESSOS PRODUTIVOS SEJAM SEGUROS E EM CONFORMIDADE
COM AS NORMAS DE SEGURANÇA E SAÚDE.
17. DEIXAR DE EQUIPAR O ESTABELECIMENTO RURAL COM MATERIAL NECESSÁRIO
À PRESTAÇÃO DE PRIMEIROS SOCORROS.
18. DEIXAR DE FORNECER AOS TRABALHADORES, GRATUITAMENTE,
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
19. DEIXAR DE SUBMETER OS TRABALHADORES A EXAME MÉDICO ADMISSIONAL.
20. DEIXAR DE PROPORCIONAR CAPACITAÇÃO SOBRE PREVENÇÃO DE ACIDENTES
COM AGROTÓXICOS A TODOS OS TRABALHADORES EXPOSTOS DIRETAMENTE.
21. DEIXAR DE FORNECER AOS TRABALHADORES EXPOSTOS A AGROTÓXICOS
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E VESTIMENTAS ADEQUADAS AOS
RISCOS.
22. PERMITIR O USO DE ROUPAS PESSOAIS PARA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS.
23. DEIXAR DE FORNECER ÁGUA, SABÃO E TOALHAS PARA HIGIENE PESSOAL,
QUANDO DA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS.
24. DEIXAR DE DOTAR AS EDIFICAÇÕES DESTINADAS AO ARMAZENAMENTO DE
AGROTÓXICOS, ADJUVANTES E PRODUTOS AFINS DE PLACAS OU CARTAZES COM
SÍMBOLOS DE PERIGOS.
75
25. MANTER AGROTÓXICOS, ADJUVANTES OU PRODUTOS AFINS ARMAZENADOS EM
EDIFICAÇÃO QUE NÃO TENHAM PAREDES RESISTENTES.
26. MANTER AGROTÓXICOS, ADJUVANTES OU PRODUTOS AFINS ARMAZENADOS EM
EDIFICAÇÃO QUE NÃO POSSUA VENTILAÇÃO OU COM VENTILAÇÃO SEM PROTEÇÃO
QUE IMPEÇA O ACESSO DE ANIMAIS.
27. MANTER AGROTÓXICOS, ADJUVANTES OU PRODUTOS AFINS ARMAZENADOS EM
EDIFICAÇÃO QUE SE SITUE A MENOS DE 30 METROS DE HABITAÇÕES OU LOCAIS
ONDE SÃO CONSERVADOS OU CONSUMIDOS ALIMENTOS, MEDICAMENTOS OU
OUTROS MATERIAIS
28. MANTER AGROTÓXICOS, ADJUVANTES OU PRODUTOS AFINS ARMAZENADOS EM
EDIFICAÇÃO QUE NÃO POSSIBILITE LIMPEZA E DESCONTAMINAÇÃO.
29. DEIXAR DE MANTER AS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS, ADJUVANTES E
PRODUTOS AFINS SOBRE ESTRADOS E AFASTADAS DAS PAREDES.
30. DEIXAR DE REALIZAR CAPACITAÇÃO DOS TRABALHADORES PARA MANUSEIO
E/OU OPERAÇÃO SEGURA DE MÁQUINAS E/OU IMPLEMENTOS.
31. MANTER INSTALAÇÕES ELÉTRICAS COM RISCO DE CHOQUE ELÉTRICO OU
OUTROS TIPOS DE ACIDENTES.
77
tomava a água; QUE a caixa de água não tem tampa e estava muito suja; QUE saia lodo em todas as
torneiras e no chuveiro; QUE o chão do banheiro ficava seboso por causa da água; QUE não tinha
condição de usar a privada e precisava fazer suas necessidades no mato ao redor da casa; QUE não
sabia onde ficava a fossa da privada; QUE tomava banho no banheiro, mas os outros se banhavam
na lagoa perto da casa; QUE já viu cobras na lagoa;
(...)
COZINHEIRA X: QUE a comida dos trabalhadores de serviços gerais é preparada também na parte
externa da casa, aos fundos, em um fogão a lenha; QUE o local é muito sujo; QUE tem entulhos e
animais no local, como galinha; QUE a água do banheiro também escorre para este local;
(...)
SR. Y: QUE todos trouxeram suas próprias redes; QUE não recebeu nenhum equipamento de
segurança (bota, caneleira); QUE o depoente comprou sua própria bota; QUE cada um lava a roupa
que utiliza no trabalho;
(...)
QUE a água para tomar banho, beber e cozinhar é a que sai do poço que tem ao lado da casa e que
também está no mesmo ambiente onde as cabras transitam, urinam e defecam, onde as cabras passam
a noite (estábulo);
QUE durante todo este tempo o Veloso só levava pequenas quantidades de alimento em sacolinhas;
QUE o alimento não era suficiente; QUE chegaram a passar fome; QUE no café da manhã as vezes
tinha cuscuz de milho ou farofa de ovo; QUE já chegou a ter só café preto; QUE o Veloso só levava
arroz, feijão, óleo, flocão de milho, açúcar, sal, café e carne com osso de vez em quando, sempre
menos do que era necessário para todos comerem com fartura; QUE todos se sentiam muito fracos
pois a comida era pouca e o serviço muito pesado, pois tinha muito morro; QUE uma vez o Veloso
levou um frango azulado, que todos passaram mal depois de comer; (...)
QUE o sr. Veloso reclama quando os trabalhadores, por escassez de comida, deixam de ir fazer o
roço dos pastos; QUE a quantidade de comida trazida pelo sr. Veloso é sempre pouca; QUE a comida
trazida em um dia é consumida, no máximo, em três dias pelos trabalhadores; QUE o sr. Veloso traz
arroz, feijão, café, açúcar, farinha, às vezes, flocão (farinha de milho); QUE só trouxe sabão na
primeira compra; QUE só trouxe leite uma vez; QUE a carne também é fornecida em pequena
quantidade; QUE a carne é trazida com muitos ossos; QUE o valor máximo de carne que já forneceu
de uma só vez foi R$ 17,00 (dezessete reais); QUE os trabalhadores já pediram verduras, porém o
sr. Veloso nunca trouxe; QUE todos os mantimentos fornecidos pelo sr. Veloso seriam descontados
78
dos valores a serem recebidos dos trabalhadores do roço de juquira, no dia do acerto; QUE o pessoal
da juquira ainda não fez qualquer acerto com o sr. Veloso; QUE as foices foram compradas pelo sr.
Veloso; QUE os valores das ferramentas também seriam descontados dos salários no dia do acerto;
QUE o sr. Veloso falou que as foices custaram R$ 70,00 (setenta reais) cada uma; QUE o sr. Veloso
não apresenta as notas fiscais de compras aos trabalhadores;
(...)
SR. X: QUE não existem materiais de primeiros socorros na Fazenda; QUE não existe soro
antiofídico na Fazenda; QUE existem muitas cobras na Fazenda, principalmente onde os
trabalhadores fazem roço; QUE ontem os trabalhadores mataram uma cascavel na Fazenda".
Menor: "QUE adoeceu, ainda com 14 (catorze) anos, aplicando veneno na fazenda, quando teve
alergia; QUE informou o Senhor Veloso que o médico lhe disse que a alergia era decorrente do
veneno; QUE o empregador disse que não era o veneno e pediu para continuar aplicando; QUE hoje
fez aplicação do veneno próximo ao igarapé em que se banham; QUE bateu o veneno usando sua
própria roupa e bota; QUE, ao retornar da aplicação do veneno, fez seu almoço e dos demais
trabalhadores de sua turma, utilizando a mesma roupa; QUE não tem nenhum medicamento,
esparadrapo ou outro material para primeiros socorros na fazenda (...) QUE a água é verde e tem
gosto de barro;
(...)
Importante mencionar que o empregador ora autuado já fora flagrado, em ação fiscal realizada no
mês de setembro de 2011, por auditores-fiscais do GEFM, na mesma prática de reduzir trabalhadores
a condição análoga à de escravo, tendo sido, à época, resgatados 05 obreiros, um deles menor de
idade, de estabelecimento rural a ele pertencente, também denominado Fazenda Vitória, mas
localizado na Vicinal 04 da Reserva Parakanã, zona rural de Novo Repartimento. Todas as
informações constam do Relatório da referida operação.”
“Os barracos onde os empregados estavam alojados localizavam-se em área de mata e em local de
difícil acesso, onde só conseguiam chegar após um hercúleo exercício de subidas e descidas de
barrancos. As paredes laterais eram de madeira e não ofereciam condições mínimas de proteção
contra o acesso de animais peçonhentos e, no caso do barraco de lona, que era sustentado por toras
de madeiras retiradas da mata, tal proteção era totalmente inexistente, fazendo com que a associação
da chuva com os ventos incidisse lateralmente, molhando o trabalhador e seus pertences.
(...)
Que a área onde preparavam o alimento fica ao lado do barraco, não tem parede e o piso é de terra
batida; Que a alimentação era preparada em fogão de lenha e o armazenamento de carne era feito em
arames, onde penduravam para secar e também usavam um balde para conservar em salmoura; Que
o balde utilizado era reaproveitado de produtos agropecuário, no caso sal mineral;
(...)
Que o lucio o anda sempre armado com um revólver calibre 38, com cabo de apoio de cor preta; Que
o lucio deu uns tiros em direção ao trabalhador conhecido por Y, porque o trabalhador disse que não
ia tomar banho; Que ele acredita que o trabalhador agredido tenha alguma doença da cabeça; Que
depois disso o trabalhador foi embora da fazenda; Que o Lúcio humilha muito os empregados; Que
ficou sabendo que os trabalhadores y, x e z, que estavam alojados em um barraco dentro da fazenda,
foram embora fugidos em razão de dívida: Que primeiro foi o yr, sendo que o Lúcio transferiu a
dívida para os outros trabalhadores, no caso o x e z; Que a dívida dos trabalhadores que fugiram era
por conta de compra de rancho, ferramentas, adiantamentos de dinheiro; Que fugiram em razão do
Senhor Lúcio não permitir a saída da fazenda quando o trabalhador está em débito...
80
Auto de infração n. 21.263.344-9
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Sim.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Criação de gado de corte, com 850 cabeças de gado.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? São Geraldo do Araguaia.
Quando se iniciou a 02/08/2017.
ação fiscal?
Quantos empregados 11, sendo 7 submetidos a condições análogas à de escravo.
estavam envolvidos?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
“1 - Admitir ou manter empregado sem o respectivo registro em livro, ficha ou sistema eletrônico
competente.
2 - Deixar de anotar a CTPS do empregado no prazo de 48 horas contado do início da prestação
laboral.
3- Deixar de disponibilizar, nos locais de trabalho, água potável e fresca em quantidade suficiente.
4 - Deixar de disponibilizar instalações sanitárias aos trabalhadores.
5- Deixar de realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores ou deixar de
adotar medidas de prevenção e proteção, com base nos resultados das avaliações dos riscos para a
segurança e saúde dos trabalhadores, ou deixar de garantir que todas as atividades, lugares de
trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e em
conformidade com as normas de segurança e saúde.
6-Deixar de fornecer aos trabalhadores, gratuitamente, equipamentos de proteção individual.
7-Deixar de equipar o estabelecimento rural com material necessário à prestação de primeiros
81
socorros.
8-Manter áreas de vivência que não possuam condições adequadas de conservação, asseio e higiene.
9-Deixar de disponibilizar alojamentos aos trabalhadores.
10-Deixar de disponibilizar local ou recipiente para a guarda e conservação de refeições, em
condições higiênicas.
11-Deixar de disponibilizar alojamentos separados por sexo.
12-Deixar de disponibilizar local adequado para preparo de alimentos aos trabalhadores.
13-Deixar de disponibilizar locais para refeição aos trabalhadores.
14- Manter áreas de vivência que não possuam piso cimentado, de madeira ou de material
equivalente.
15- Deixar de submeter trabalhador a exame médico admissional, antes que assuma suas atividades.
Foi constatado que alguns alimentos eram guardados diretamente sobre o piso de terra batida (sacos
de milho) e ainda outros alimentos, tais como ovos, batatas, cebolas, arroz, eram acondicionados
expostos, sem qualquer tipo de vedação, em cima de estruturas abertas e improvisadas de madeira,
chamadas de jiraus. Alguns alimentos permaneciam guardados nas próprias panelas onde haviam
sido cozidos. Além disso, a falta de armários fechados permitia que ratos, baratas, formigas, aranhas,
e outros insetos tivessem acesso ao alimento guardado de forma precária pelos trabalhadores. O
empregador também não forneceu recipientes adequados para o armazenamento das refeições que
eram levadas para serem tomadas na frente de trabalho. A fumaça produzida pela lenha queimada
para o preparo dos alimentos ficava dentro do barracão. No local não havia água corrente, tampouco
pia para preparar e lavar os alimentos.”
82
Qual a localidade? Araguatins-TO.2
“1 - Admitir ou manter empregado sem o respectivo registro em livro, ficha ou sistema eletrônico
competente.
2 - Deixar de anotar a CTPS do empregado no prazo de 48 horas contado do início da prestação
laboral.
3- Pagar salário inferior ao mínimo vigente.
4 - Deixar de garantir remuneração diária não inferior ao salário mínimo/dia ao empregado que
trabalha por empreitada, tarefa ou peça.
5- Efetuar descontos nos salários do empregado, salvo os resultantes de adiantamentos, de
dispositivos de lei, convenção ou acordo coletivo de trabalho.
6- Deixar de efetuar o pagamento do 13º (décimo terceiro) salário até o dia 20 (vinte) de dezembro
2
Observar que a ocorrência se deu no Tocantins.
83
de cada ano, no valor legal.
7- Deixar de submeter trabalhador a exame médico admissional, antes que assuma suas atividades.
8- Deixar de fornecer aos trabalhadores, gratuitamente, equipamentos de proteção individual.
9- Deixar de realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores ou deixar de
adotar medidas de prevenção e proteção, com base nos resultados das avaliações dos riscos para a
segurança e saúde dos trabalhadores, ou deixar de garantir que todas as atividades, lugares de
trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e em
conformidade com as normas de segurança e saúde.
10 - Manter áreas de vivência que não possuam condições adequadas de conservação, asseio e
higiene.
11 – Manter áreas de vivência que não possuam piso cimentado, de madeira ou de material
equivalente.
12 - Deixar de disponibilizar local adequado para preparo de alimentos aos trabalhadores.
13- Permitir a utilização de fogões, fogareiros ou similares no interior dos alojamentos.
14 - Deixar de disponibilizar local ou recipiente para a guarda e conservação de refeições, em
condições higiênicas.
15- Deixar de disponibilizar camas no alojamento ou disponibilizar camas em desacordo com o
disposto na NR-31.
16 - Manter áreas de vivência que não possuam paredes de alvenaria, madeira ou material
equivalente.
17- Manter local para refeição que não disponha de água potável, em condições higiênicas.
18 - Deixar de equipar o estabelecimento rural com material necessário à prestação de primeiros
socorros.
À exceção do trabalhador x que dormia na cama comprada por ele próprio, os outros trabalhadores
dormiam em redes adquiridas com recursos próprios, constatando-se também que o empregador não
forneceu colchões e roupas de cama. No barraco, não havia energia elétrica nem armários e os
pertences dos trabalhadores ficavam pendurados em fios amarrados na estrutura do barraco ou
guardados em caixas no chão. O cozimento das refeições era feito no chão do barraco em fogareiro
rústico, próximo aos pertences dos trabalhadores e não havia local para conservar os mantimentos.
O empregador não fornecia água tratada para consumo aos trabalhadores; a água era retirada pelos
trabalhadores diretamente de uma mina de água por mangueira e era consumida sem passar por
nenhum processo de purificação e filtragem.
84
Havia ainda descontos de salário, para todos os trabalhadores, referentes à compra de mantimentos,
comumente realizada pelo Sr. Sebastião, à aquisição de ferramentas de trabalho e, esporadicamente,
de equipamentos de proteção individual, os quais não eram fornecidos pelo empregador.
Salienta-se a condição de miserabilidade desses trabalhadores que residiam na Fazenda Pedra
Branca, todos recebiam remunerações inferiores ao salário mínimo.
(...)
O barraco de madeira apresentava cobertura de palha de coco e o piso era de terra nua, não possuía
armários para a guarda de alimentos. No interior do barraco, eram preparadas as refeições em um
fogareiro improvisado, feito com duas fileiras de tijolo, sobre as quais era colocada uma chapa
metálica, o fogo era feito diretamente no chão. Os alimentos eram preparados neste fogareiro
improvisado, instalado dentro do barracão de madeira. Não havia um local adequado, com mesas,
pia e água corrente para que fossem preparados os alimentos, e estes acabavam sendo preparados no
interior do barraco de madeira e piso de terra batida. No local não havia nem mesmo uma mesa para
os trabalhadores. O fogo no interior do barraco produzia fumaça, que deixava cheiro nos pertences
pessoais que eram guardados no interior do barraco.
(...)
No barraco em que estavam alojados, não havia energia elétrica, também não havia nenhum
equipamento próprio para a refrigeração de mantimentos.”
Foi relatado em depoimento por um dos trabalhadores que, há cerca de dois meses, apareceu uma
cobra enrolada próximo ao batente da porta dos fundos do alojamento, tendo ela fugido sem ser morta
ou capturada. As paredes externas e internas da casa, assim como o telhado, eram empretecidas pela
ação da sujeira e da umidade, havendo teias de aranha em alguns pontos. Não existia banheiro com
pia, vaso sanitário ou chuveiro na casa ou no seu entorno, de tal sorte que os trabalhadores ali
instalados tinham que usar o mato para fazer suas necessidades fisiológicas e tomavam banho ao ar
livre. Na área destinada ao preparo das refeições não havia pia e torneira, de modo que os alimentos
eram lavados em recipiente feito de tonel de plástico cortado, com alça feita de arrame. A água deste
recipiente era proveniente da caixa de fibra depositada no quintal da casa, supra descrita. Para lavar
os utensílios domésticos, tais como panelas e talheres, os trabalhadores fixaram tábuas pelo lado
externo da varanda, sobre as quais realizavam a lavagem utilizando água armazenada em embalagens
reaproveitadas de produtos químicos.
Os obreiros recebiam R$ 40,00 (quarenta reais) por dia trabalhado. Não havia direito às diárias
correspondentes aos dias não trabalhados, como, por exemplo, aqueles decorrentes de adoecimento
ou condições meteorológicas adversas (extremamente comum no inverno amazônico, ocasião de
intensas e frequentes chuvas). Também não era acrescido o valor correspondente ao repouso semanal
remunerado. As irregularidades acima informadas, que ensejaram lavratura de autos de infração
específicos, materializam a manutenção dos trabalhadores alojados a condições degradantes, aquelas
que afastam o trabalhador de um patamar mínimo civilizatório, colocando-o na condição de simples
objeto para persecução de lucro pelo empregador, num processo de "coisificação" da pessoa humana
do trabalhador.
Lembramos que, no passado, o escravo não era apenas aquele amarrado ao tronco ou preso nas
fazendas sob a vigilância de capatazes, afinal mesmo naquele período muitos escravos realizavam
tarefas que lhes davam certa liberdade, e mesmo não eram admoestados pelos patrões, mas todos
tinham uma característica em comum: eram considerados coisa! Não tinham garantidos como seus
os direitos de cidadania e dignidade. Da mesma forma, na atualidade estes trabalhadores são tratados
apenas como propriedade, como coisa, e não como cidadãos de direitos. De fato, a situação de
trabalho era inadequada aos cinco trabalhadores encontrados em condições degradantes na Fazenda,
87
e direitos trabalhistas importantes como a formalização do contrato de trabalho e a aplicação de
preceitos de segurança e saúde no trabalho foram descumpridos, abrangendo também as deficiências
dos alojamentos, resultando em conjunto de irregularidades a justificar a necessidade da aplicação
da medida de determinação de rescisão indireta e efetivo resgate destes trabalhadores. Diante do
exposto, verificamos que estes trabalhadores estavam alijados das condições mínimas de cidadania,
vedando qualquer possibilidade de efetivação do conteúdo do princípio constitucional da dignidade
da pessoa humana. As condições de trabalho constatadas e acima descritas demonstram que esses
trabalhadores foram degradados, despromovidos, privados de dignidade.”
88
Qual a atividade Cultivo de cacau.
econômica
envolvida?
89
Auto de infração n. 21.469.036-9
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Sim.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Criação de gado bovino para corte, 5.200 cabeças de gado.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? Cumaru do Norte.
Quando se iniciou a 16/05/2018.
ação fiscal?
Quantos empregados 24, sendo 12 submetidos a condições análogas á de escravo.
estavam envolvidos?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
As diligências de inspeção no estabelecimento rural permitiram verificar que não havia qualquer tipo
de instalação sanitária para atender às necessidades fisiológicas de excreção dos trabalhadores que
ficavam no barraco de lona, ou para tomarem banho. As necessidades fisiológicas eram realizadas
no mato e arredores do barraco, o banho era tomado ao ar livre, em local improvisado ao lado do
barraco, onde os obreiros dispuseram varas de madeira em paralelo no chão, sobre as quais ficavam
em pé e se banhavam com uso de baldes e canecos, situações que ferem a sua privacidade e dignidade.
(...)
Tratava-se de um barraco que ficava em meio à mata fechada, próximo ao pasto que estava sendo
roçado pelos obreiros, e era construído de troncos de árvores e forquilhas de madeira, sobre as quais
os empregados dispuseram lonas pretas amarradas com cordas, havia também palhas esparsas nas
laterais. Não haviam paredes de alvenaria, madeira ou material equivalente e, por obvio, também
inexistiam portas e janelas. Além disso, o piso do barraco era de terra solta, nivelado com o chão da
mata. Importante ressaltar que a Fazenda fica em local isolado geograficamente, distante cerca de
200 quilômetros da cidade de Novo Repartimento, com péssimas condições de acesso,
principalmente devido à falta de manutenção da estrada.”
95
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
“1. Disponibilização de água em condições não higiênicas nos locais de trabalho e de alojamento.
2. Inexistência, nas áreas de vivência, de água limpa para higiene, preparo de alimentos e demais
necessidades.
3. Inexistência de instalações sanitárias no alojamento e nas frentes de trabalho.
4. Alojamento e moradia familiar sem condições básicas de segurança, vedação, higiene, privacidade
e conforto.
5. Coabitação de família com terceiros estranhos ao núcleo familiar.
6. Ausência de local adequado para armazenagem ou conservação de alimentos e de refeições.
7. Inexistência de local adequado para preparo de refeições.
8. Ausência de local adequado para tomada de refeições.
9. Inexistência de medidas para eliminar ou neutralizar riscos da atividade desenvolvida pelos
trabalhadores (ausência de avaliação dos riscos; não fornecimento de EPI; inexistência de materiais
de primeiros socorros; ausência de exames médicos admissionais).
10. Pagamento de salários fora do prazo legal de forma não eventual. Ausência de pagamento de
salário para as cozinheiras.
97
Auto de infração n. 21.489.445-2
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Sim.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Criação de gado bovino para corte, com 800 cabeças de gado.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? Santana do Araguaia.
Quando se iniciou a 06/06/2018.
ação fiscal?
Quantos empregados 18, sendo 13 submetidos a condições análogas à de escravo.
estavam envolvidos?
Há notícia de Sim, um com 15 anos de idade.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
O trajeto percorrido pelas comitivas perfazia a distância aproximada de 1.000 km, sendo previsto o
prazo de 100 (cem) a 120 (cento e vinte) dias para seu transcurso, período no qual os trabalhadores
permaneciam integralmente dedicados à atividade desempenhada, acompanhando os animais
transportados – entre 3.000 (três mil) e 4.000 (quatro mil) bois, no total –, trabalhando em pé ou
montados em cavalos, muares ou asnos, e vivendo no mesmo meio ambiente que a boiada conduzida,
da qual não se apartavam.
O empregador não disponibilizou aos trabalhadores das comitivas nenhuma área de vivência. Os
empregados não contavam com alojamentos, instalações sanitárias, locais para guarda de alimentos,
preparo ou consumo de refeições, tampouco com lavanderias.
99
Os obreiros pernoitavam em quaisquer lugares, sendo os mais comuns – conforme relataram – as
remangas ou currais existentes ao longo do percurso das comitivas. Nestes locais, estendiam lonas
plásticas, utilizadas como coberturas, e sob elas armavam suas redes ou deitavam diretamente sobre
o solo, eventualmente utilizando como colchões os pedaços de espuma usados durante o dia, nas
montarias. O GEFM constatou "in loco" tais condições, junto à comitiva que se encontrava em Brasil
Novo/PA, sendo que os "acampamentos" das outras duas comitivas – organizados de modo idêntico
– não estavam montados, quando se realizou a inspeção.
Como os trabalhadores revezavam-se na tarefa de vigiar o gado bovino transportado durante as
noites, invariavelmente seu local de repouso se encontrava junto à boiada que guiavam. Assim, os
empregados dormiam a poucos metros do gado e, portanto, no meio ambiente contaminado pelos
dejetos dos bois.
Como não existiam alojamentos, todos se encontravam permanentemente expostos a animais e às
intempéries.
(...)
Os alimentos consumidos pelos trabalhadores, que eram adquiridos pelos comissários com recursos
disponibilizados pelo empregador (posteriormente descontados de sua remuneração), ficavam
armazenados em carroças deslocadas por cavalos. Nestas carroças também se guardavam os
utensílios usados para preparo das refeições, como copos, pratos, fogão e botijão de gás. Não haviam
equipamentos ou recipientes – tais quais geladeiras ou isopores – que permitissem a conservação
adequada de alimentos perecíveis, como carnes ou vegetais frescos. As refeições eram consumidas
sem que houvesse quaisquer lugares para tanto, isto é, ficando os trabalhadores sentados sobre o
chão, sob árvores, montados a cavalo, ou onde e como lhes fosse possível se alimentar.
A jornada diária de trabalho se estendia ordinariamente entre 07h00 e cerca de 11h30, quando
cessavam as atividades para o almoço; retomavam o trabalho por volta de 13h30 e o encerravam
cerca de 18h00. Durante as noites, os trabalhadores realizavam revezamento entre si, uma vez que
era necessária a contínua vigilância sobre o gado bovino. Os trabalhos eram realizados diariamente,
sem nenhuma folga semanal, até o término da viagem, ou seja, por cerca de 100 (cem) a 120 (cento
e vinte) dias. Não haviam quaisquer controles da jornada de trabalho laborada e, tampouco, o
pagamento de horas extraordinárias.”
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Auto de infração n. 21.563.988-0
Qual a modalidade de Condições degradantes.
condição análoga à
de escravo?
O caso se deu na Sim.
cadeia produtiva da
carne bovina?
Qual a atividade Criação de gado bovino, lida e apartagem.
econômica
envolvida?
Qual a localidade? São Félix do Xingu e Marabá.
Quando se iniciou a 07/09/2018.
ação fiscal?
Quantos empregados 3.
estavam envolvidos?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho infantil?
Há notícia de Não.
ocorrência de
trabalho indígena?
“1. Admitir ou manter empregado sem o respectivo registro em livro, ficha ou sistema eletrônico
competente, o empregador não enquadrado como microempresa ou empresa de pequeno porte.
2. Deixar de anotar a CTPS do empregado no prazo de 48 horas contado do início da prestação
laboral.
3. Reter, por mais de 48 (quarenta e oito) horas, CTPS recebida para anotação.
4. Deixar de submeter trabalhador a exame médico admissional, antes que assuma suas atividades.
5. Deixar de fornecer aos trabalhadores, gratuitamente, equipamentos de proteção individual.
6. Deixar de realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores ou deixar de
adotar medidas de prevenção e proteção, com base nos resultados das avaliações dos riscos para a
segurança e saúde dos trabalhadores, ou deixar de garantir que todas as atividades, lugares de
trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e em
conformidade com as normas de segurança e saúde.
7. Manter áreas de vivência que não possuam condições adequadas de conservação, asseio e higiene.
8. Manter áreas de vivência que não possuam paredes de alvenaria, madeira ou material equivalente.
9. Manter áreas de vivência que não possuam cobertura que proteja contra as intempéries.
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10. Deixar de disponibilizar instalações sanitárias aos trabalhadores.
11. Deixar de disponibilizar local adequado para lavagem das roupas aos trabalhadores.
12. Deixar de disponibilizar local adequado para preparo de alimentos aos trabalhadores.
13. Manter local para refeição que não disponha de água limpa para higienização.
14. Manter local para refeição que não disponha de água potável, em condições higiênicas.
15. Permitir a utilização de área de vivência para fim diversos daquele a que se destina.
16. Deixar de disponibilizar, nos locais de trabalho, água potável e fresca em quantidade suficiente.
17. Deixar de equipar o estabelecimento rural com material necessário à prestação de primeiros
socorros.
Convém mencionar ainda o isolamento geográfico e de comunicação ao qual os trabalhadores eram
submetidos. O núcleo urbano mais próximo, o município de Tucumã/PA, fica a 130 km de distância
do local de trabalho e, devido às péssimas condições das estradas, o deslocamento dura em torno de
cinco horas. Não havia meios de transporte para os trabalhadores se deslocarem até esse núcleo
urbano (os empregados dependiam de carona), tampouco havia meios de comunicação (internet,
telefone, celular, etc). Caso acontecesse alguma eventualidade que colocasse em risco a sua saúde e
segurança, eles teriam que improvisar uma solução até o devido atendimento (o que nem sempre
seria possível).”
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9. Manter áreas de vivência que não possuam condições adequadas de conservação, asseio e higiene.
10. Manter áreas de vivência que não possuam paredes de alvenaria, madeira ou material equivalente.
11. Manter áreas de vivência que não possuam iluminação adequada.
12. Deixar de disponibilizar camas no alojamento ou disponibilizar camas em desacordo com o
disposto na NR-31.
13. Deixar de disponibilizar locais para refeição aos trabalhadores.
14. Deixar de disponibilizar, nos locais de trabalho, água potável e fresca em quantidade suficiente.
15. Deixar de disponibilizar local adequado para preparo de alimentos aos trabalhadores.
16. Deixar de disponibilizar local ou recipiente para a guarda e conservação de refeições, em
condições higiênicas.
17. Deixar de disponibilizar instalações sanitárias aos trabalhadores.
18. Deixar de disponibilizar local adequado para lavagem de roupas aos trabalhadores.
19. Deixar de realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores ou deixar de
garantir que todas as atividades, lugares de trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e
processos produtivos sejam seguros e em conformidade com as normas de segurança e saúde.
20. Deixar de equipar o estabelecimento rural com material necessário à prestação de primeiros
socorros.
As atividades de extração de açaí consistiam primeiramente em subir no pé do açaí. Para subir nos
pés de açaí, usavam a "peconha" (laço de saco, de farinha, em que os trepadores de árvore apoiam
os pés de encontro ao caule, para por este subirem com a força de suas pernas e braços no pé de açaí).
Também tinham que subir levando a faca ou facão para cortar os cachos, e tinham que descer do pé
carregando os cachos, pois se jogassem no chão estragavam o açaí. No chão, eles debulhavam esse
cacho de açaí para dentro do "panero" (pequeno cesto de vime) onde era transportado o açaí e que
servia como meio de medida para o pagamento da produção dos trabalhadores. Os trabalhadores
recebiam por produção de acordo com o número de "paneros" colhidos no dia. Desse total colhido,
recebiam somente metade e ainda tinham descontado 10% (dez por cento), valor esse que ia para
pagar o encarregado. Esses paneros de açaí eram levados em barcos do empregador Sr. Rui para
serem vendidos em Belém, no entanto, os empregados não sabiam de antemão quanto seria pago por
cada panero. Apenas no outro dia, o barco retornava para buscar mais açaí e trazia o dinheiro dos
trabalhadores e ainda era descontado o frete (uma base de R$3,00 por panero e R$1,00 para pagar os
carregadores em Belém). Os menores declararam que tinham que subir umas 3 ou 4 vezes para encher
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uma rasa ou panero se o cacho do açaí fosse grande, se não fosse tinham que subir mais vezes.
Juntavam dez rasas por dia, cada um.”
“Na baia para cavalos, que o trabalhador x utilizava como habitação, verificou-se a existência de
fiação elétrica envolta no madeiramento do telhado sem conduítes de proteção ou eletrodutos. A
fiação elétrica que ficava pendurada no centro da baia foi puxada de outra fonte pelo próprio
trabalhador. Na extremidade dessa fiação não havia tomadas, razão pela qual o plug do carregador
de um celular estava acoplado diretamente aos fios descascados, fazendo com que partes energizadas
ficassem expostas. Na extremidade de outra fiação presa na parede de madeira da baia, do lado
direito, havia uma tomada envolta com fita isolante e no teto, outras emendas irregulares.
No "puxadinho" nos fundos da Serraria, onde pernoitavam os carpinteiros, foi constatada a existência
de fiação elétrica com partes energizadas desprotegidas. A fiação elétrica foi puxada de outro local
pelo trabalhador Y o qual declarou não possuir treinamento específico para intervir em instalações
elétricas. A fiação estava pendurada nas paredes constituídas de tábuas de madeira. Na extremidade,
um espelho com tomada, também sem fixação, apresentava toda a parte interna com partes vivas sem
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proteção. Na serraria, verificou-se a existência de partes vivas desprotegidas de tomadas penduradas
em pilares de madeira e fiação elétrica sem proteção por eletrodutos.”
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