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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISSERTAÇAÕ DE MESTRADO
Luciana Bassetto
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Luciana Bassetto
Orientadora: Profa. Dra. Maria Evelyna Pompeu do Nascimento
COMISSÃO JULGADORA
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
2006
ii
iii
Para meus queridos pais
Francisco e Neusa.
iv
AGRADECIMENTOS
v
RESUMO
Essa dissertação tem como objetivo o estudo da política pública de educação infantil
(creches e pré-escolas), cujo objeto é a organização da pré-escola na Secretaria Municipal
de Campinas entre 1969 e 1988. Considera-se como política pública um programa de ação
de um dado governo, visando um processo de mediação social, tendo como alvo a correção
de desajustes.
A política de atendimento à infância em Campinas configurou-se pela expansão de
equipamentos em consonância com a política nacional, implementando programas que
procuravam atender a demanda da população para este segmento.
Utilizando-se a análise documental, a recuperação da cultura escolar desta fase, a memória
dos atores políticos e a análise histórica e bibliográfica, os indicadores apresentados
demonstram que apesar de haver a fragmentação do atendimento através do diferentes
equipamentos que surgiram no decorrer do período, a cidade apresentou preocupação com a
demanda pré-escolar e buscou, ainda que com dificuldades, imprimir qualidade nos
serviços oferecidos.
ABSTRACT
The objective of this paper is to study the public policy for infant education (nurseries and
pre-schools), whose aim is the organization of the pre-school of the Campinas Municipal
Department between 1969 and 1988. We consider as public policy a program of action of a
given government, whose objective is a social mediation process, and which aims to correct
mal-adjustments.
The care policy for infants in Campinas has been shaped by the expansion of equipment in
accordance which the national policy; implementing programs which meet the population’s
demand for this segment.
Using documental analyses, a recuperation of the school culture of this phose, the memory
of politicions, and historical and bibliographical analyses, the evidence presented shows
that in spite of there being a fragmentation of the infant care by means of the different
equipment that have appeared during this period, the city shoved a preoccupation with the
pre-school demand and sought, with difficulty, to implement quality in the offered services.
vi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................01
Política pública.....................................................................................................................05
Procedimentos metodológicos.............................................................................................. 06
Dificuldades na coleta de dados...........................................................................................15
CAPÍTULO 1 - Raízes históricas dos direitos sociais e das políticas educacionais para
as crianças de tenra idade no Brasil..................................................................................19
1.1 Os direitos: civil, político e social e a formação do Estado de bem-estar e da
cidadania................................................................................................................................19
1.1.2 As especificidades do Estado brasileiro.................................................................23
vii
1.4 As políticas pós Constituição de 1988 e a educação infantil como direito social da
criança e da família...............................................................................................................56
1.4.1 A legislação anterior a Constituição de 1988.........................................................56
1.4.2 Educação Infantil como direito social....................................................................58
3.3 As Escolas-Parques.........................................................................................................99
viii
4.1.1 Distribuição das unidades de atendimento infantil no território municipal.........116
4.1.2 Expansão da capacidade de atendimento.............................................................122
4.1.3 Número de matrículas..........................................................................................124
4.1.4 Número de classes................................................................................................127
4.1.5 Função docente.....................................................................................................129
4.1.6 Conversando com os dados..................................................................................131
4.1.7 Orçamento............................................................................................................133
ix
4.2.3.5 Dinâmica de trabalho nos PIs............................................................................203
4.2.4 Gestão de Maria Helena de Mello Pupo (abril de 1981 a maio de 1981 e de
setembro de 1981 a maio de 1982) no governo de Francisco Amaral (1977-
1982)..............................................................................................................................205
4.2.4.1 Apresentação.....................................................................................................205
4.2.4.2 Tônica da gestão................................................................................................208
4.2.4.3 Ações desenvolvidas.........................................................................................211
4.2.4.4 Mudanças durante a gestão...............................................................................212
4.2.4.5 Dinâmica de trabalho nas EMEIs......................................................................214
4.2.5 Professor Enildo Galvão Carneiro Pessoa (1983-1988) no governo de José de
Magalhães Teixeira (1983-1988)..................................................................................220
4.2.5.1 Apresentação.....................................................................................................220
4.2.5.2 Tônica da gestão................................................................................................220
4.2.5.3 Ações desenvolvidas/ Dinâmica de trabalho.....................................................222
4.2.5.4 Mudanças durante a gestão...............................................................................232
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................239
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................247
DOCUMENTOS................................................................................................................263
ENTREVISTAS.................................................................................................................267
REPORTAGENS..............................................................................................................268
x
ANEXO III – Treinamento para diretores e docentes das pré-escolas municipais............283
ANEXO IV – Psicomotricidade e Educação Física Generalizada.....................................285
ANEXO V – Ficha de Avaliação........................................................................................287
ANEXO VI – Certificado do I Fórum de Debates sobre Educação...................................289
LISTA DE FIGURAS
xi
Figura 17 – Atividade de conservação de líquidos............................................................161
Figura 18 - Parque Infantil “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – agosto de 1980 –
Inauguração do “Santuário Ecológico”...............................................................................197
Figura 19 - Parque Infantil “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – agosto de 1980 –
“Santuário Ecológico”........................................................................................................197
Figura 20 – Parque Infantil “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – agosto de 1980 –
Plantio de mudas no “Santuário Ecológico”.......................................................................198
Figura 21 – Festa de Natal no PI “Lafayete de Souza Camargo” – bairro Cambuí –
dezembro de 1980...............................................................................................................204
Figura 22 – Festa de Junina no PI “Lafayete de Souza Camargo” – bairro Cambuí – junho
de 1980................................................................................................................................204
Figura 23 – Festa de Formatura no PI “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – dezembro de
1980.....................................................................................................................................205
Figura 24 – Certificado de conclusão do curso de Educação Infantil da EMEI “Regente
Feijó” – Vila Boa Vista – Dezembro de 1982.....................................................................218
Figura 25 – Cartão de dia das mães – PI “Lafayete de Souza Camargo” – bairro Cambuí –
maio de 1980.......................................................................................................................219
Figura 26 – Convite de formatura da EMEI “Regente Feijó” – Vila Boa Vista – dezembro
de 1984................................................................................................................................226
LISTA DE GRÁFICOS
xii
Gráfico 4 – Distribuição do número de função docente da pré-escola por esfera
administrativa (1978-1988)................................................................................................ 130
LISTA DE MAPAS
LISTA DE QUADROS
xiii
Quadro 10 – Relação dos Prefeitos que governaram Campinas entre 1969-1988,
denominação da Secretaria responsável pela Educação, Secretários e Diretores do
Departamento Municipal de Educação.......................................................................141
Quadro 11 – Relação dos Parques e Recantos Infantis anexos as Escolas –Parques do
município de Campinas.......................................................................................................147
Quadro 12 – Relação dos Parques Infantis construídos nos Conjuntos habitacionais da
década de 1970....................................................................................................................149
LISTA DE TABELAS
xiv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
xv
DEFE – Departamento de Educação Física e Esportes do Estado de São Paulo
DNCr – Departamento Nacional da Criança
DOV – Departamento de Obras e Viação
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
EMEI – Escola Municipal de Educação Infantil
EMPG – Escola Municipal de Primeiro Grau
EP – Escola Parque
FEAC – Federação das Entidades Assistenciais de Campinas
FINSOCIAL – Fundo de Investimento Social
FUMEC – Fundação Municipal para a Educação Comunitária
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LBA – Legião Brasileira da Assistência
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
MDB – Movimento Democrático Brasileiro
MEC – Ministério da Educação
MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização
NEEP – Núcleo de Estudos em Políticas Públicas
OMEP – Organização Mundial de Educação Pré-escolar
ONU – Organização das Nações Unidas
PBSE – Plano Básico Sócio-Educativo
PEA – População Economicamente Ativa
PESEC – Plano Setorial de Educação e Cultura
PC do B – Partido Comunista do Brasil
PI – Parque Infantil
PIB – Produto Interno Bruto
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PMC – Prefeitura Municipal de Campinas
PPDI – Plano Preliminar de Desenvolvimento Integrado de Campinas
PROCAI – Programa Comunitário de Atendimento Infantil
PUCCAMP – Pontifícia Universidade Católica de Campinas
xvi
RI – Recanto Infantil
SAM – Serviço de Assistência ao Menor
SEADE – Fundação Sistema estadual de Análise de Dados
SFH – Sistema Financeiro de Habitação
SME – Secretaria Municipal de Educação
SPS – Secretaria da Promoção Social
UNE – União Nacional dos Estudantes
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura
xvii
INTRODUÇÃO
“(...) Será possível ter condições para identificar com maior clareza
quais as questões que a sociedade se coloca nesse determinado
momento, que conflitos de interesses existem, quais são os projetos em
jogo, ou seja, que implicações podem ser levantadas para o fato de que
uma determinada proposta de educação esteja em discussão e ganhe
visibilidade”. (CAMPOS, 1988, p. 22)
1
Para este estudo consideram-se as seguintes definições:
• educação infantil: “(...) primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e do Estado” - LDB 9394/96, seção II, artigo 29;
• creche: equipamento destinado à educação infantil para crianças até três anos de idade, podendo ser
em período integral ou parcial;
• pré-escola: equipamento destinado à educação infantil para crianças de quatro a seis anos de idade,
podendo ser em período integral ou parcial;
• pré-escolar: criança em idade de zero a seis anos de idade.
Ainda considera-se, segundo Mantovani e Perani (1999) que creche e pré-escola são alternativas à
família, bem como o primeiro momento de crescimento social da criança.
dado momento social. Desta forma, foi possível “escutar os sinais que os eventos nos
oferecem”. (BOBBIO, 1992: 53)
Frente a estas implicações, tornou-se relevante entender como a política de
educação infantil foi sendo construída no país, as concepções de infância a ela atrelada e a
cultura escolar que ela constituiu no decorrer de sua história.
Ariès (1981), Badienter (1985), Del Priori (1991), Arroyo (1994) e Sirota (2001)
mostram que a infância é um conceito socialmente construído e que os valores a ela
referidos dependem do momento histórico em questão.
Quanto às políticas de atendimento em educação infantil, o grande marco foi a
Constituição de 1988. Nesta, a criança de 0 a 6 anos passou a ter direito à educação em
creches e pré-escolas sendo uma opção da família, e um dever do Estado: “os municípios
atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil” (Constituição de
1988, art. 211, § 2º). Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96
(LDB/96), há o reconhecimento da educação infantil como uma primeira etapa da educação
básica, enfatizando ainda o atendimento gratuito em creches e pré-escolas.
Hoje a educação infantil pauta-se no binômio educar e cuidar, uma vez que a
criança de 0 a 6 anos possui características próprias, onde o cuidar e o educar
complementam-se no processo educativo. Contudo há ainda muitas resistências a serem
superadas quanto a este caráter, não só no cotidiano dos equipamentos, mas também na
formação dos profissionais.
No decorrer da história do atendimento público à infância, houve diferentes
abordagens que determinaram as ações frente ao atendimento público à criança. Estas
abordagens diferenciaram-se conforme a cultura escolar do período histórico e social em
que estavam inseridas. Considera-se como cultura escolar um conjunto de normas que irão
definir as prioridades de conhecimentos e condutas a serem ensinadas e incorporadas
(JULIA, 2001). Sendo assim, as políticas de atendimento infantil organizaram-se de acordo
2
com o conjunto de valores e normas que queriam transmitir nos momentos históricos e
sociais em que estavam inseridas.
Rocha (2001) localiza que as produções de pesquisas sobre educação infantil no
Brasil vêm buscando compreender, entre outros aspectos, como os atendimentos estão
definindo-se nos contextos sociais atuais uma vez que, a política deste segmento não foi
instituída “a partir de parâmetros, diretrizes ou normatizações próprias, mas sim em
resposta às questões sociais prementes”. (p. 07) Segundo a autora, atualmente as pesquisas
nesta área superaram os estudos apenas de levantamentos e diagnósticos e voltaram-se para
a tentativa de contemplar os mais diversos aspectos que estão envolvidos na educação das
crianças pequenas. Os esforços de aprofundamento nesta área ocorrem no sentido de
atenderem as demandas deste segmento, voltadas para a qualidade do mesmo, onde a
promulgação da L.D.B. 9304/96 foi um elemento propulsor.
Os estudos sobre percursos históricos e formulação de políticas para Educação
Infantil contribuem para a compreensão da prática pedagógica, pois “revelam a intenção
educativa dos projetos passados e questionam o presente”. (ROCHA, 2001:12) Foi essa a
perspectiva ao escolhermos essa temática de estudo.
Caberia indagar por que Campinas como lócus de investigação? E ainda: o “por
que” do período escolhido.
Um aspecto que nos motivou investigar as ações da administração pública no
município é o fato de que a autora atua na educação básica, onde exerce a função de
professora de educação infantil há quinze anos na Rede Municipal de Campinas. Durante
esse período de atuação profissional, a autora vivenciou diferentes ações desenhadas pelas
administrações que se sucederam; propostas educacionais interrompidas, projetos extintos
sem justificativas e outros iniciados sem uma participação efetiva dos profissionais da
carreira. Estas diferentes vivências foram motivos de questionamentos que pediam por uma
maior reflexão, por um maior entendimento de como a política de educação infantil do
município foi se constituindo. Portanto, como sujeito participante desta história que foi
reconstruída, a pesquisadora teve neste segmento especial interesse para compreender as
conjunturas que interferiram e interferem na organização das políticas de atendimento e das
propostas pedagógicas de educação infantil municipal de Campinas.
3
O recorte temporal justifica-se pelo fato de que no período houve um grande surto
migratório para a região de Campinas. Famílias de outras regiões do país migraram para a
cidade em busca de oportunidades de emprego, uma vez que a região encontrava-se em um
acelerado crescimento industrial. Este fato gerou um aumento da demanda por políticas
sociais, uma vez que as famílias migradas instalaram-se no município campineiro sem que
o planejamento urbano e social previsto para a cidade suprisse a população que crescia
vertiginosamente2. Dentre as políticas sociais prementes deste período estava o atendimento
às crianças entre 0 e 6 anos.
Por outro lado, estabeleceu-se como limite o ano de 1988 dado que a Carta
Constitucional impõe mudanças tão significativas que merecem um estudo específico. O
fato é que se pode considerar que ela amplia a responsabilidade da esfera municipal no que
tange à educação para a faixa etária de 0 a 6 anos, o que implicará reestruturação do aparato
público visando cumprir o papel constitucional atribuído aos municípios.
Assim, considerando os elementos abordados, este estudo buscou compreender a
histórica da educação infantil no contexto brasileiro e as suas implicações sociais,
especificamente a educação pré-escolar da Secretaria Municipal de Educação da cidade de
Campinas, entre 1969 a 1988, momento este marcado pela ditadura militar, seguido pela
abertura política, as discussões pré-constituinte e a promulgação da Constituição de 1988.
Para tanto, foi necessário compreender como as políticas públicas para a infância
organizaram-se neste período no Brasil, pontuado pela organização dos movimentos sociais
que reivindicavam o atendimento de direitos específicos, entre eles o atendimento a criança
menor de 6 anos. Teve também como objetivo contribuir para um maior aprofundamento
das questões específicas da educação de crianças pequenas, na medida em que ela está
compondo-se no cenário educacional brasileiro e construindo sua identidade.
2
Badaró (1996), faz um detalhado estudo sobre o Plano de Melhoramentos Urbanos idealizado por Prestes
Maia datado de 1934, que previa para Campinas um planejamento urbano a longo prazo, com correções que
deveriam ocorrer através de revisões periódicas. O plano foi implantado em duas fases: a primeira que foi de
1934 a 1955 e a segunda que compreendeu os anos de 1956 a 1962. Prestes Maia pensava a cidade sob o seu
aspecto funcional, dividindo-a em quatro funções: habitação, recreação, trabalho e circulação. Portanto, “não
se tratava de uma proposta estática e sua realização dependeria, em muito, da equipe de engenheiros
municipais e também do apoio político e técnico da comunidade” (p. 149). Contudo, segundo Badaró, o plano
sofreu várias mutilações, marginalizando aspectos importantes, tais como a orientação da expansão urbana,
centrando ênfase nas questões estéticas e viárias. Mais tarde, esta lacuna abriu espaço para a especulação
imobiliária que pressionavam a administração e os poderes públicos, intensificando-se com a explosão
demográfica das décadas de 1970 e 1980.
4
Políticas públicas
Compreende-se como política pública àquilo que “se apresenta sob a forma de um
programa de ação próprio a uma ou mais autoridades públicas ou governamentais”.
(THOENIG, apud NASCIMENTO, 2001, p. 05) Tal programa visa um processo de
mediação social, tendo como alvo à correção de desajustes. (NASCIMENTO, 2001) A
“correção de desajustes”, remete a como o governo considera seus cidadãos, como viabiliza
seus direitos sociais, enfim, como formula e implementa sua política pública. Anderson
(apud VILLANUEVA, 1996, p. 27), esclarece que uma política pública pauta-se por ações
intencionais que são elaboradas por um ator ou um conjunto de atores, ultrapassando a
mera decisão ou eleição de alternativas. Estas ações serão organizadas conforme a
conjuntura em que estará inserida.
O termo política deriva do termo polis, que significa tudo o que se refere à cidade e
suas várias formas de governo, portanto mais comumente considerada como a arte de
governar. Neste caso a política deverá “oferecer rumos, diretrizes e normas para a boa
organização da polis”. (SOUSA, 1998, p. 424) Estritamente ligado a este conceito está o
poder,
5
grupos na disputa de poder, formas de conquistar grupos de apoio no fortalecimento e
reconhecimento deste poder, assim como, interesses que deverão ser priorizados.
Ao tratar a política educacional como uma política pública, se ganha na amplitude
do tema situando-o dentro das questões sociais. A forma como os recursos são distribuídos
e aplicados, permite identificar a articulação política implicada neste processo, desvelando
os interesses de poder em jogo. Conforme Sá Barreto (1994), esta forma de analisar a
política educacional, nos remete a discussão entre Educação e Estado,
Procedimentos metodológicos
6
como seu formato político, a natureza das agências implementadoras, as inter-relações entre
os vários níveis de governo e entre políticas, em contraposição a uma única autoridade e/ou
política (RUZ PEREZ, 1998). Segundo o autor, anteriormente ao processo de
implementação, destacam-se duas fases:
1. fase da formação política: constituição da agenda, definição do campo de interesse e
identificação das possíveis alternativas;
2. fase de formulação da política: “quando as várias propostas constituem-se em
política propriamente dita, mediante a definição de metas, objetivos, recursos e
explicitações de estratégias de implementação”. (p. 66)
Neste contexto, a forma como se deram às etapas que antecederam o processo de
implementação de políticas para pré-escola na Secretaria de Educação do município de
Campinas entre 1969-1988, desde a definição de sua agenda até a sua transformação em
programa, bem como, o processo de efetivação de ações políticas forneceram elementos
para compreensão dos procedimentos adotados frente à “correção dos desajustes” da
política pré-escolar pública do município campineiro.
Para tanto, este estudo identificou três dimensões (RUZ PEREZ, 1998) para a
análise do processo de implementação que foram aplicadas no estudo das políticas
municipais para a infância em Campinas:
I. a primeira dimensão compreendeu as relações entre as políticas de pré-escola no
município de Campinas e as suas formas de programa, chegando até seu
processo de implementação;
II. a segunda dimensão compreendeu a temporalidade do processo de
implementação das políticas municipais de educação pré-escolar de Campinas e
os diferentes efeitos ocorridos durante este período, sobretudo as resistências e
as adesões dos atores políticos envolvidos e as modificações feitas em relação à
proposta inicial;
III. a terceira dimensão compreendeu os elementos condicionantes que
impulsionaram ou entravaram o processo de implementação das políticas
municipais de educação pré-escolar de Campinas.
Ressalta-se que não raro as definições das políticas, bem como suas ações
implementadoras, são caracterizadas “por incoerências, ambigüidades e incertezas em
7
todos os estágios e em todos os momentos”. As políticas públicas buscam a coordenação
das forças que atuam no interior de sua própria máquina estatal e na sociedade em que está
inserida. Neste caso, é muito comum que a formulação das políticas não tenha claro os
resultados possíveis a serem alcançados, pelo fato de que “as políticas adotadas são
resultado de um processo de negociação no qual o desenho original de um programa é
substancialmente modificado”. (ARRETCHE, 1998: 30)
Assim, pesquisar o processo de implementação das políticas pré-escolares
municipais da Secretaria de Educação de Campinas implicou em captar as relações
complexas entre uma amplitude de variáveis que interferiram neste processo, assim como
compreender a dinâmica das ações dos atores políticos, isto é, o grau de conhecimento do
processo, as formas de incentivo e punição, as opiniões, os interesses (RUZ PEREZ, 1998).
Ruz Perez (1998), afirma que as relações entre as variáveis são complexas, e compreendem
três tipos: variáveis dependentes (graus e forma de implementação); variáveis
intervenientes (comportamentos dos agentes envolvidos na implementação); e variáveis
independentes (estrutura de operação da rede envolvendo as dimensões organizacionais,
jurídicas, financeiras e de apoio logístico). Para o estudo em questão foram consideradas:
1. variáveis dependentes: graus e formas de implementação;
2. variáveis intervenientes: quais foram às ações implementadas no âmbito pré-escolar
no período; houve ou não a presença de grupos de pressão (organização de bairros,
movimentos sindicais, movimento feminista, outros); como se deu o processo da
dinâmica dos implementadores com os sujeitos das implementações (direção e
professores das unidades);
3. variáveis independentes: como a Prefeitura Municipal de Campinas, bem como a
Secretaria Municipal de Educação, no tocante as suas estruturas administrativas
organizaram-se jurídica e financeiramente para as implementações de políticas
públicas para a infância; houve ou não parceria com as esferas estaduais e federais
ou a sociedade civil; como eram os planos administrativos para o atendimento de
toda a demanda; que recursos eram previstos; as propostas eram permanentes ou
sofriam a influência das equipes que assumiam a cada nova eleição municipal.
O Quadro 1 apresenta os indicadores que serão trabalhados em função das variáveis
apresentadas.
8
QUADRO 1 – Variáveis e indicadores da pesquisa
Recursos financeiros
Atos de
criação/resolução
Estatutos e regimentos
Leis que
regulamentavam as
propostas
9
• livros de inspeção e de visitas de Parques Infantis e EMEIs;
• apostilas pedagógicas;
• calendário escolar de Parques Infantis e EMEIs;
• 03 Decretos, 30 leis e 18 portarias do município de Campinas entre 1965 e
1992;
• diário Oficial do Município de Campinas entre 1969 a 1988;
• diplomas de pré-escola das EMEIs;
• documentos de registros de discussões realizadas pela Secretaria de
Educação;
• editais de concurso para professores de educação infantil de 1970 a 1988;
• ficha de avaliação de crianças pertencentes às EMEIs;
• folhas de atividades dos Parques Infantis e EMEIs;
• fotos;
• 170 artigos de jornais, compreendendo:
ü 103 artigos do jornal “Correio Popular” de Campinas, entre 1968 a
2005;
ü 58 artigos do jornal “Diário do Povo” de Campinas entre 1971 a
1987;
ü 8 artigos do jornal “O Estado de São Paulo” do município de São
Paulo, entre 1970 a 1982;
ü 1 artigo do jornal “Jornal de Hoje” de Campinas datado no ano de
1981;
• livro de “Termo de Compromisso”3 de Parques Infantis;
• manual de orientação de recursos sociais da Secretaria de Promoção Social
de Campinas de 1977 a 1980;
• plano preliminar de desenvolvimento da cidade de Campinas para 1970-73;
• plantas arquitetônicas dos equipamentos;
• relatório anual de Parques Infantis e EMEIs;
3
Livro utilizado pelos Parques Infantis, onde cada professora que assumia cargo efetivo nas unidades
assinava um termo de compromisso com as prerrogativas específicas da Secretaria Municipal de Educação de
Campinas.
10
• roteiros de manejo de classes;
• roteiros de planejamentos.
Estes documentos foram encontrados em arquivos diversos: arquivos da EMEI
“Hilton Federici” e “Regente Feijó”, Arquivo Municipal de Campinas, Biblioteca Jurídica
da Prefeitura Municipal de Campinas, Biblioteca Municipal de Campinas, Centro de
Ciências, Letras e Artes, Centro de Lógica Epistemologia e História da Ciência (CLE) da
Unicamp4, Centro de Memória da Unicamp, Secretaria Municipal de Educação de
Campinas e documentos pessoais de entrevistados.
A análise das fontes primárias teve como pontos norteadores as variáveis citadas no
Quadro 1. Conforme Ludke e André (1986), para a análise documental foram considerados
quaisquer materiais escritos que pudessem ser usados como fonte de informação. A análise
dos documentos foi vinculada a adequação com o objetivo da pesquisa, possibilitando a
interpretação e decodificação de seus conteúdos com apoio em outras informações
coletadas. Assim, nos valemos de pesquisa bibliográfica, entrevistas e também de material
iconográfico. A iconografia, em especial, enriqueceu o estudo dando condições de ser
contraposta com outras fontes, principalmente quando não foi possível localizar sujeitos de
um determinado período.
Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas com alguns dos atores que
participaram da implementação de educação pré-escolar de Campinas, no período em
estudo. Em conformidade com o apontado por Ludke e André (1986) as entrevistas
possibilitaram ampliar as informações obtidas em documentos legais. A opção pela
modalidade semi-estruturada deu-se pela possibilidade de liberdade de percurso, bem
como, a facilidade da abordagem dos assuntos a serem investigados, sobretudo dando
flexibilidade ao se entrevistar diferentes profissionais da área.
4
Ressalto que, segundo a Profa. Ítala Maria Loffredo D’Otaviano (jan/2005), os arquivos encontrados no
CLE foram recortes de jornais feitos pela sua mãe quando Ítala era Secretária da Educação do Município de
Campinas e arquivos pessoais da mesma, que doou toda a documentação para o Centro de Lógica da
Unicamp.
11
convenientemente abordáveis através de um instrumento mais flexível”.
(LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.34)
Muitos dos relatos dos entrevistados revelaram aquilo que não era oficial, aquilo que
pertencia somente ao cotidiano. Ter o contraponto dos documentos oficiais da época e os
pareceres dos depoentes trouxe à luz detalhes que enriqueceram o entendimento do
momento histórico estudado.
Tais informações trouxeram à pesquisa fontes inéditas, ou seja, os relatos dos ex-
secretários de educação do município de Campinas que não tinham sido ouvidos por
nenhuma outra pesquisa, bem como dos demais depoentes (professores e assistentes
pedagógicos), arquivos das escolas, artigos de jornais do CLE e arquivos pessoais dos
entrevistados. Ressalto que somente a ex-secretária Ítala Maria Loffredo D’Otaviano já
havia cedido entrevista sobre sua gestão, para a elaboração do livro que trata da
bibliográfica do ex-prefeito José de Magalhães Teixeira5. Assim, os relatos desses atores
políticos possibilitaram analisar mais profundamente este período da história e das políticas
de educação infantil do município de Campinas.
Nossos entrevistados foram definidos pelos seguintes critérios: envolvimento com
implementação das políticas de pré-escola no município de Campinas, ou seja, os
Secretários e Assistentes Pedagógicos, bem como aqueles que estavam envolvidos no
processo de resistência ou adesão as políticas implementadas, a saber, professores que
atuaram nas pré-escolas municipais.
Apesar de termos planejado entrevistar ex-diretores que atuaram no período, não
conseguimos encontrar nenhuma diretora disposta a ser entrevistada. Algumas ex-
assistentes pedagógicas também não foram encontradas, sendo que uma delas recusou-se a
5
FABRINI, Luiz Guilherme e LOURENÇO, José Manuel. Grama – a biografia de Magalhães Teixeira.
Campinas, SP: Pontes, 2003.
12
dar entrevista. Para tanto, as fontes documentais foram fundamentais na medida em que
puderam supriram estas lacunas.
Sendo assim, esta pesquisa teve como entrevistados as seguintes pessoas:
• 4 Secretários Municipais da Educação do período em estudo:
1. Professor José Alexandre dos Santos Ribeiro – ex-secretário de Educação,
Cultura, Esporte e Turismo entre 1969 a 1976;
2. Professora Doutora Ítala Maria Loffredo D’Otaviano – ex-secretária de
Educação entre 1977 a 1978;
3. Professora Mestre Maria Helena de Mello Pupo – ex-secretária de Educação
entre 1981 e 1982;
4. Professor Doutor Enildo Galvão Carneiro Pessoa – ex-secretário de
Educação entre 1983 a 1988.
Os ex-secretários contribuíram com informações sobre como era o quadro
administrativo, financeiro e jurídico da Secretaria em relação à educação pré-escolar no
período em que atuaram, quais as políticas de educação pré-escolar que foram
adotadas, quais eram os órgãos interligados para o atendimento a infância, como se
dava a participação da Secretaria no processo de formulação e implementação das
políticas.
Vale ainda ressaltar que o ex-secretário Ruyrillo de Magalhães já havia falecido
quando esta pesquisa iniciou-se e os 6 demais Secretários do período não foram
entrevistados, pois exerceram o cargo em curto espaço de tempo.
• 2 Assistentes Pedagógicos da Secretaria Municipal de Educação que atuaram
durante o período em estudo:
1. Juracy Beretta Rodrigues da Silva – ex-assistente pedagógica e ex-supervisora
que atuou nas Escolas Municipais de Educação Infantil nas décadas de 1970 e
1980;
2. Orly Zucatto Mantovani de Assis – professora doutora da Faculdade de
Educação da Unicamp que implantou um programa de formação de professores
na Rede Municipal de Campinas entre 1976 e 1978, sendo que nos anos de
1977-78 atuou com assistente pedagógica comissionada pela rede municipal.
13
As ex-assistentes contribuíram com informações sobre como as escolas eram
organizadas no período, como eram recebidas as propostas da Secretaria de Educação,
qual era a clientela atendida, como eram formadas as equipe de atendimento, quais
eram os recursos e a infra-estrutura das escolas, qual a participação da equipe de
assistentes no processo de formulação e implementação das políticas pré-escolares
municipais.
• 2 Professores das Escolas Municipais de Educação Infantil que atuaram durante o
período em estudo:
1. Maria Aparecida Quintino Amauro – ex-professora de educação infantil
municipal entre os anos de 1979 a 1990;
2. Maristela Okamura – ex-professora de educação infantil municipal entre os
anos de 1982 a 1986.
As ex-professoras contribuíram com informações sobre como recebiam as propostas
da Secretaria de Educação, como era a rotina de trabalho, quais eram os momentos de
formação, qual era a participação delas no processo de formulação e implementação de
políticas pré-escolares.
Tratando-se de grupos distintos, houve entrevista específica para cada segmento,
contudo algumas perguntas foram iguais para o cruzamento de informações (ANEXO I –
Roteiro de Entrevistas).
Os depoimentos foram articulados com os documentos oficiais, com o objetivo de
compreender “o ontem” na perspectiva de quem o vivenciou e tentando, na medida do
possível, “escutar os sinais”, desvelar o passado para olhar o presente, analisando-o
criticamente na busca de novas perspectivas. Desta forma o olhar do pesquisador estava
norteado para conhecer o seu objeto dentro de seu contexto histórico, buscando as suas
especificidades e conquistas.
Quanto às fontes secundárias, esta pesquisa considerou que elas indicaram
informações já coletadas acerca do objeto em estudo, permitindo que fosse possível
identificar questões que ainda não foram exploradas ou aprofundar e contrapor dados já
analisados.
Como fontes secundárias destacaram-se a dissertação de mestrado de Ramos (2001),
e o trabalho de conclusão de curso de Ferreira (1996), onde ambas fazem um breve
14
histórico do atendimento infantil municipal de Campinas, de seu surgimento em 1940 até a
década de 1990. Ainda como fonte secundária, houve a dissertação de mestrado de Ferraz
(2001) que versa sobre as propostas de educação continuada de professores da Secretaria
Municipal de Educação de Campinas no período de 1983 a 1996 e o trabalho de conclusão
de curso de Guadagnini (1997), que traça o perfil dos educadores da Rede Municipal de
Campinas.
Aqui gostaríamos de pontuar algumas facetas sobre o processo de coleta dos dados.
Chama atenção a inexistência de um acervo organizado sobre a administração pública em
um município do porte de Campinas. Ainda que tenhamos conhecimento de que vários
trabalhos foram produzidos sobre o tema na Unicamp (Universidade de Campinas),
Puccamp (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e USF (Universidade de São
Francisco), a prefeitura de Campinas não dispõe de infra-estrutura específica de coleta e
sistematização dos documentos oficiais que permitam recompor a trajetória dos serviços
públicos oferecidos ao município. A falta de informações da Secretaria Municipal de
Educação de Campinas sobre o período foi constante, mesmos os funcionários mais antigos
sabiam ao menos quem foram os Secretários de Educação entre 1969-1988. Para recompor
este quadro a pesquisadora verificou todos os Diários Oficiais do Município entre 1969 e
1988, observando as portarias de nomeação e exoneração.
Em relação a dados estatísticos referentes a funções docentes, número de classes e
de alunos de pré-escola nas décadas de 1970 e 1980, a Secretaria não possuía nenhum
registro referente a esta época em discordância com a lei n. 4.024, de 20 de dezembro de
1961 (LDB/61) que previa no artigo 28º: que as administrações públicas deveriam fazer o
levantamento anual das crianças em idade escolar (7 anos) 6. A Prefeitura Municipal de
Campinas não tinha registros deste controle assim como a Secretaria do Estado de São
Paulo até o ano de 1977. Assim, os dados a partir desta data, foram encontrados no do CIE
6
“Assim segue a Lei 4.024/61: “TÍTULO IV - Da Administração do Ensino - Art. 9º Ao Conselho Federal de Educação,
além de outras atribuições conferidas por lei, compete: (...) q) analisar anualmente as estatísticas do ensino e os dados
complementares. (...) CAPÍTULO II - Do Ensino Primário - Art. 28º A administração do ensino nos Estados, Distrito
Federal e Territórios promoverá: a) o levantamento anual do registro das crianças em idade escolar.”
15
(Centro de Informações Escolares do Estado de São Paulo) 7, vinculado a Secretaria do
Estado de São Paulo. Contudo, este órgão não possuía nenhum registro de matrícula e
número de salas de pré-escola da cidade de Campinas antes de 1978 e em relação à função
docente só havia dados referentes pós 1984. 8
Também a Fundação SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) foi
fundamental para que chegássemos aos dados estatísticos, pois apesar de disponibilizar
somente informações por regiões administrativas durante as décadas em estudo, nos
disponibilizaram caminhos para que chegássemos a Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo que era quem informava os dados sobre a educação paulista para esta Fundação.
Quanto aos dados sobre o orçamento da educação para o município de Campinas,
não foi possível localizar os balanços anuais dos gastos municipais. Somente foram
encontrados os orçamentos previstos anualmente. Para a análise destes dados buscamos
apoio na professora Carmem Lúcia Wagner9, que com sua experiência na área mostrou
caminhos para compreendemos as informações obtidas e refletirmos sobre a ausência de
informações dos gastos municipais com educação.
Ressaltamos que todos os quadros, tabelas, gráficos, mapas e linha do tempo foram
elaborados pela autora através das informações primárias obtidas durante a coleta de dados
e que foram fundamentais para organizar os indicadores deste estudo e a análise dos
mesmos.
7
O CIE foi criado em 1976 com o objetivo de captar informações educacionais, mas começou a funcionar
efetivamente no ano de 1978. Até então, não havia um controle específico em relação à pré-escola pública no
Estado de São Paulo. Nos anos iniciais do CIE havia muita imprecisão na coleta de dados, pois eram feitos em
planilhas manuscritas, com a visita do responsável nas salas de aula para a realização do levantamento das
informações. Somente no ano de 1984, com a presença do Professor Eduardo Chaves na Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo é que se iniciou a informatização dos dados educacionais, com a publicação
dos Anuários Estatísticos de Educação do Estado de São Paulo. São nestes anuários que se encontram dados
referentes à função docente. Conforme o prof. Zacarias o CIE paulista foi tão bem organizado que passou a
ser modelo de levantamento de dados para o MEC. Para maior precisão, os dados de matrículas eram feitos
bimestralmente e comparados entre si.
8
A entrevista com o Professor Dr. Zacarias P. Borges foi fundamental para a coleta de dados estatísticos
sobre o período. Atualmente docente da Faculdade de Educação da Unicamp, foi delegado de ensino em
Campinas e no período em estudo era diretor de escola estadual. Ele por sua vasta experiência no ensino
público paulista concedeu informações em 06/06/06 para esta pesquisa referente à busca de dados sobre a pré-
escola.
9
A profa. Carmem Lúcia Wagner e autora da dissertação de mestrado “Financiamento na Educação Pública –
Análise de aplicação de recursos na educação no município de Campinas 1986-1999” apoiaram a análise dos
dados desta pesquisa referente ao orçamento municipal para a educação, contribuindo com entrevista em
06/06/06.
16
Dessa forma, o papel do pesquisador ficou mais desafiante, uma vez que as
informações estavam fragmentadas e incompletas. Foi preciso refazer os caminhos da
história do atendimento pré-escolar em Campinas, a fim de chegar aos dados
pormenorizados. Este levantamento foi feito da forma mais rigorosa possível, porém
algumas lacunas não foram preenchidas tais como: número de matrículas e classes de pré-
escola de Campinas entre os anos de 1970 a 1977, número de função docente entre os anos
de 1969 e 1983 e número de crianças em idade pré-escolar na cidade de Campinas entre
1969 a 1988.
*****************************************
17
mudanças ocorridas na estrutura de atendimento envolvendo as dimensões organizacionais,
jurídicas e financeiras.
Finalmente nas considerações finais são ponderados os indicadores quantitativos e
sua articulação as políticas de pré-escola municipal da cidade de Campinas, realizando uma
reflexão sobre as conseqüências de tais indicadores para o objeto em estudo. Ponderou-se
também sobre cada gestão da Secretaria Municipal de Educação de Campinas, pontuando
seus efeitos para a organização da educação pré-escolar.
18
CAPÍTULO 1 - Raízes históricas dos direitos sociais e das políticas educacionais para
as crianças de tenra idade no Brasil
Os direitos
Marshall (1967) analisando o caso específico da Inglaterra explica como os direitos
foram conformados historicamente. Pressupõe que a condição de cidadão está inter-
relacionada com a construção da sociedade de mercado, que requer novas formações de
integração social.
O autor define que os primeiros direitos estabelecidos foram os civis (século XVIII),
sob os ideais da revolução burguesa e correspondendo à constituição da força do trabalho
livre. Estes ideais preconizavam a liberdade individual e de propriedade, o direito de ir e
vir, a igualdade jurídica, tendo nos tribunais o espaço institucional de garantia de seu
exercício. Em seguida surgem os direitos políticos (século XIX) que representavam a
possibilidade ao acesso a participação nas questões do poder político, representado
fundamentalmente no direito ao voto. Os direitos sociais surgiram por último (século XX)
como mecanismo de correção das desigualdades: direito de todos de desfrutar da riqueza
material/cultural produzida em uma sociedade; direito ao bem estar, a saúde, a educação,
entre outros. Constitui-se como uma forma de recompensa para os segmentos estrangulados
pelo mercado, sendo inicialmente amplos aos desvalidos a fim de integrá-los aos
19
componentes constitutivos da cidadania. Conforma-se como o direito de cada indivíduo
possuir o mínimo de bem-estar econômico e de segurança material, elevando-se até ao
direito de participação integral na herança social. As instituições encarregadas de viabilizar
estes direitos são o sistema educacional e os serviços sociais.
Direitos, desde que reconhecidos, são o modo como às relações sociais se constroem
e se conformam, estabelecidos, sobretudo, pelo reconhecimento do outro como sujeito de
interesses válidos.
20
“O choque de realidade consiste na confrontação entre as expectativas
ilusórias assim criadas com uma realidade de vida ligada ao trabalho e
à profissão, na qual a concessão de status acompanha não o nível
educacional, mas a situação da demanda no mercado de trabalho”. (p.
51)
O Estado de bem-estar
21
administrava e efetuava programas do Estado de bem-estar, além de estar freqüentemente
interessado em seu sucesso, criando grupos de pressões articulados na defesa de valores
burocráticos e dos serviços prestados.
As forças sindicais resistentes a cortes de benefícios e a classe média formaram
outra base de apoio, pois se beneficiavam dos serviços enquanto consumidoras e
produtoras, uma vez que parte da sua camada são profissionais que trabalham no Estado
pelo bem-estar.
Há ainda a quarta base de apoio, considerada fundamental ao Estado de bem-estar: a
formação de uma cultura política, uma ideologia de apoio. Stephens (apud KING, 1988),
considera que a política pública de bem-estar e a sua consolidação favorecem uma
“consciência de classes”, isto é, uma cultura política favorável à noção e aos componentes
do Estado de bem-estar.
O Estado de bem-estar consolidou-se no pós II guerra, em face da grande tarefa de
reconstrução dos países europeus devastados, o clima de austeridade, concomitante a
experiências sociais de solidariedade. Articulado a plena cidadania em função da conquista
dos direitos sociais de forma universal, o Estado propiciava a compatibilidade entre
capitalismo, equidade e justiça, através de uma política fiscal, determinação de taxas de
juros, planejamento de serviços sociais de natureza variada, dando meios para que o
progresso social e eficácia econômica caminhassem juntos.
Sendo um de seus pilares fundamentais o pleno emprego, o Estado de bem-estar
atrelava o desenvolvimento econômico ao social, oferecendo ao cidadão segurança contra
os riscos da vida moderna: desemprego, doença, invalidez, etc. Segundo Offe (1990) os
programas sociais apareceram como força reguladora. Assim, buscou-se combinar
liberdade de mercado com certo nível de equidade social.
Os movimentos sociais foram fundamentais ao desenvolvimento do Estado de bem-
estar, resultado das peculiaridades da luta política de cada país que supunha e reforçava a
participação política dos cidadãos. Contudo, vale afirmar que quanto mais débil a cultura
política do Estado de bem-estar, mais incompleta será sua política social.
22
1.1.2 As especificidades do Estado brasileiro
10
Titmus (apud DRAIBE, 1988), caracteriza os outros dois modelos da seguinte forma: modelo residual,
quando “os canais ‘naturais’ e ‘tradicionais’ de satisfação das necessidades (família, rede de parentesco,
mercado) não estão em condições de resolver determinadas exigências dos indivíduos” (p. 20), a política
social irá intervir temporariamente e de forma limitada, cessando com a eliminação da situação de
emergência; modelo institucional-redistributivo concebe a política social como elemento importante e
constitutivo das sociedades contemporâneas, “voltado para a produção e distribuição de bens e serviços
sociais ‘extra mercado’ os quais são garantidos a todos os cidadãos” (p.21), sendo estes cobertos e
23
“(...) cada um deve estar em condições de resolver suas próprias
necessidades, em base a seu trabalho, a seu mérito, a performance
profissional, à produtividade. A política social intervém apenas
parcialmente, corrigindo as ações do mercado. O sistema Welfare, por
importante que seja, é tão somente complementar às instituições
econômicas”. (p. 21)
24
Telles (1999) traz este conceito como um modelo de cidadão referido a uma
identidade “atribuída ao vínculo profissional sacramentado pela lei e que o qualifica para
o exercício dos direitos”. (p. 90) Conforme a autora, desempregados, desocupados,
subempregados, trabalhadores sem emprego fixo e ocupação definida eram na prática pré-
cidadãos. A estes vigorava o estado da natureza, concebido pelo Estado como uma
existência impermeável à regulação.
A segunda fase completa o sistema de Welfare State, sob características autoritárias
e tecnocráticas, limitando a participação da população, e muitas vezes cooptando seus
lideres, comprometendo a formação de uma consciência política de direitos e de cidadania.
Retoma-se assim, o conceito de debilidade do Estado de bem-estar atrelado a uma fraca
tradição de participação e de formação dos movimentos sociais. Em relação ao objeto em
estudo, pode-se considerar que pelo período em que está inserido (décadas de 1970 e 1980),
tem-se exatamente este tipo de conformação da participação popular quanto à organização
de movimentos para as reivindicações de seus direitos, entre eles o atendimento público das
crianças de 0 a 6 anos.
Embora buscasse principalmente na educação e saúde imprimir caráter
redistributivo e igualitário, a relação entre mercado e Estado era muito frágil, sendo o
segundo sobreposto ao primeiro, e desta forma, tais serviços sempre estiveram aquém das
necessidades reais da população, pois o caráter privatista e centralizador preponderaram
neste período. O país abria espaço para a penetração de interesses privados, através de
grupos de pressão e “lobbies”, causando a gradativa diminuição da participação do Estado
no oferecimento de serviços de educação e saúde (entre outros direitos sociais) vinculando
o acesso de qualidade a tais serviços somente àqueles que pudessem pagar por eles.
A política centralizadora desapropriava estados e municípios dos instrumentos de
intervenção social. A fragmentação institucional, bem como a burocratização excessiva,
quebrava a formação de uma das bases de apoio do Estado de bem-estar social: o
funcionalismo público e sua organização. Sobrepunha programas que careciam de
mecanismos de controle gerando uma categoria desacreditada pela população, na medida
em que efetivava programas de baixa qualidade e favorecimentos a determinados grupos
em detrimento da grande massa, imprimindo a marca do funcionamento do sistema.
25
Assim, no período da ditadura militar a sociedade civil nos momentos decisórios
não tinha participação efetiva, nem tão pouco tinha representantes efetivos no debate
político, dado que o AI511 (Ato Institucional número 5) agigantou o poder do executivo em
detrimento do legislativo. Desta forma, os processos de decisões na ditadura militar
configuraram-se pela ausência de direitos políticos da população e fechamento do
Congresso Nacional.
Sindicatos e partidos políticos que formavam outra base de apoio, tiveram suas
ações limitadas, sendo que algumas de suas potenciais reivindicações chegaram a ser
contempladas nas discussões parlamentares, porém com a intenção de abrandar conflitos e
preservar a ordem nacional.
Vale ressaltar que quanto à participação social, estas não são consideradas como
amorfas, frágeis, de caráter conformista, mas sim de busca constante de organização de
movimentos, que especialmente na luta pela democratização da escola pública demonstrou
força e conquistas. Sposito (1983) afirma que o argumento de que o povo brasileiro fosse,
por sua natureza própria, “(...) impregnado por uma espécie de conformismo pacífico e
passivo” (p. 25) está baseado em uma visão ideológica a fim de justificar o controle que o
Estado autoritário exercia sobre os movimentos sociais das camadas populares.
A realidade do Estado de bem-estar brasileiro, bem como a conformação da
cidadania não pode ser considerada imóvel, incapaz de vislumbrar saídas, buscar caminhos,
superar as contradições.
As mudanças que ocorreram com a “abertura política” e fim da ditadura militar, o
processo de redemocratização, a recuperação dos direitos políticos, o fortalecimento dos
movimentos sociais e os avanços da Constituição Federal brasileira de 1988, abriram
caminhos para uma nova participação social e possibilidades de uma nova contratualidade
que construísse regras de igualdade social e solidariedade civil. Formou-se um Estado
aberto a práticas de representações e interlocuções públicas interessadas em dissolver a
11
O Ato Institucional no. 5 (AI5) foi assinado em 13 de dezembro de 1968 pelo general Costa e Silva. Pela
quinta vez na história do Brasil o Congresso Nacional foi fechado por tempo indeterminado. Por meio do Ato
o executivo podia cassar mandatos e suspender direitos políticos. O Ato, conforme Gaspari (2002, p. 340),
suspendia “as franquias constitucionais da liberdade de expressão e de reunião. Um artigo permitia que se
proibisse ao cidadão o exercício de sua profissão. Outro patrocinava o confisco de bens”. No seu artigo 10
era suspensa a garantia de hábeas corpus no caso de crimes políticos contra a segurança nacional. A imprensa
(rádio, TV e jornal) passou a ter censores recrutados na polícia e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do
Exército. Aquele ano terminou com 85 denuncias de torturas, morreram 12 manifestantes nas ruas e o
terrorismo matou 6 militares e 2 civis. (GASPARI, 2002)
26
indiferença à pobreza, abrindo espaços a sujeitos reivindicantes que re-elaboram sua
condição de existência e abrindo canais de comunicação via fóruns e debates nacionais.
Apesar da Constituição brasileira consagrar a seguridade social, o país carrega
consigo uma história que dificulta os seus passos no sentido de políticas sociais
universalizadas. Esta característica denota a dificuldade em efetuar uma política consistente
para o segmento. Não raro, o que ocorre é que a sociedade civil acaba por assumir o papel
do Estado por meio de organizações não governamentais que se difundem pelo país. A
obrigação pública é transferida gradativamente para tais organizações, o que pode se tornar
um agravante na medida em este mesmo Estado deixa de ser reconhecido como uma esfera
pública competente para organizar políticas educacionais universais (TELLES, 1999). Este
processo esta cada vez mais aguçado, embora esta questão não seja objeto de estudo desta
pesquisa.
Para uma compreensão acerca do objeto em estudo, será feita uma retrospectiva das
políticas de atendimento à infância no Brasil, dividida em três períodos:
I. Os primeiros atendimentos, que vão do final do século XIX à década de 1960;
II. As políticas de pré-escola de massa, que se localiza na década de 1970 e 1980;
III. As políticas pós Constituição de 1988 – a educação infantil como direito social da
criança e da família.
No primeiro período, são organizados publicações e congressos referentes ao
atendimento à infância no que diz respeito à saúde infantil e às propostas de atendimento
para esta faixa etária. Em seguida, serão abordadas as concepções pedagógicas atreladas
aos atendimentos que sugiram nesta fase, quando serão destacados o surgimento dos
Parques Infantis e sua proposta inovadora.
O segundo período será uma reconstrução das políticas de pré-escola de massa,
delimitada pela ditadura militar, na qual está inserido o período do objeto em estudo. Foi
um momento de expansão de atendimento, caracterizado por propostas emergenciais e de
baixo custo, fragmentação do atendimento em diferentes órgãos, bem como, a disseminação
da educação compensatória.
27
O terceiro período inicia-se com a promulgação da Constituição de 1988, quando há
a organização dos movimentos sociais e acadêmicos na luta pela qualidade do atendimento
à infância. A pesquisa que desenvolvemos irá abordar os dois primeiros momentos dado
que o terceiro extrapola o período que ora estudamos.
Neste item serão abordados os modelos de atendimento no Brasil, desde sua origem
até o ano de 1960. São eles: a roda, a creche, a escola maternal, o jardim de infância e o
parque infantil.
1.2.1.1 A Roda
28
amamentação assistindo precariamente a saúde e higiene destas crianças e com práticas
alimentares inadequadas no desmame, o que causava elevada mortalidade infantil. Quando
a criança sobrevivia, deixava a Santa Casa aos sete anos e reingressava no “círculo do
abandono, indo morar em arsenais, seminários, recolhimentos, ou eram encaminhadas no
trabalho pesado na construção de estradas de ferro”. (VENÂNCIO, 1997, p.220)
1.2.1.2 A Creche
29
“(...) diminuir a mortalidade e o abandono freqüente em todas as classes
sociais, mas especialmente presente entre os pobres. A partir da
segunda década do século XIX, a filantropia e a religião juntam-se para
criar instituições onde serão guardadas, cuidadas e instruídas crianças
de tenra idade”. (NASCIMENTO, 2001, p. 288)
30
No Brasil, no final do século XIX e primeira metade do XX, a recomendação era de
que as creches surgissem junto às indústrias, “medida defendida no quadro da necessidade
de criação de uma regulamentação das relações de trabalho, particularmente ao trabalho
feminino”.(KUHLMANN JR, 1991, p. 19)
Assim, conforme Kuhlmann Jr (1991; 2003) surge a primeira creche brasileira da
Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado (RJ), já no período republicano, em 13 de
novembro de 1899, oferecendo 20 leitos e atendendo em torno de 40 crianças. O mesmo
autor descreve inúmeros exemplos de creches e escolas maternais que surgiram no decorrer
do período dentro das indústrias. Em São Paulo, a espírita Anália Franco, cria a
“Associação Feminina Beneficente e Instructiva” no ano de 1901, com o objetivo de
organizar as escolas maternais e creches que funcionariam agregadas a asilos para órfãos.
Em 1908, no Rio de Janeiro, por iniciativas dos juristas e senhoras da elite fluminense,
funda-se a “Creche Central” do Patronato de Menores12, funcionando provisoriamente em
salas do Asilo de Menores Desamparados. Somente com a mudança para o regime
republicano que as creches passaram a se proliferarem pelo país destinadas ao atendimento
das crianças pobres.
Marcílio (2005) conta que a partir de 1902 surgem em São Paulo as primeiras
escolas maternais inspiradas no modelo francês13. Elas eram destinadas a atender órfãos e
filhos de operários. Quem as criou foi Anália Franco, espírita que no ano anterior havia
criado a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, que tinha por fim organizar creches
junto a asilos para órfãos. Até 1910 estabeleceu 18 escolas maternais e 17 creches-asilos
em todo o Estado de São Paulo.
Kishimoto (1988) e Marcílio (2005) relatam que nos anos 20 o aumento do número
de escolas maternais financiadas por industriais, religiosos e damas da sociedade era
incentivado por facilidades concedidas pela legislação brasileira. Este fato fez com que
12
O termo “menor” é amplamente criticado devido aos sinônimos a ele atribuído. Comumente designado
àquelas crianças desamparadas pela família e pelo Estado e não obstante associado ao crime, derivando
segundo ABREU e MARTINEZ (1997) a uma distinção social e classista.
13
Conforme Nascimento (2001) as escolas maternais francesas vieram substituir as salas de asilo e tinham por
objetivo receber crianças de 2 a 7 anos em caráter público, sendo uma instituição explicitamente voltada para
a educação da tenra idade.
31
houvesse o aumento destes tipos de atendimento junto aos centros fabris e vilas operárias,
com o objetivo de atenderem exclusivamente filhos de operários que eram considerados os
mais necessitados.
Pode-se perceber que o Estado desde o início do atendimento infantil não o assumia
como um compromisso social de sua exclusiva responsabilidade. Tinha como eixo de sua
política pública o atendimento em parceria com as indústrias e a filantropia, deixando que a
iniciativa partisse destas, sendo um co-participante no compromisso de contemplar o direito
social ao atendimento educacional à infância. As propostas de ações para este segmento não
contemplavam a criança como uma questão de Estado, fato este marcante nos países
europeus já comprometidos com a égide da República, onde a educação dá acesso à
cidadania e a criança, a mãe e a família são alvos de políticas públicas que visam à
consolidação de um Estado de bem-estar social14.
Kishimoto (1988) também ressalta que o proletariado já começava a organizar-se
em suas reivindicações, sendo que dentre elas estava à construção de estabelecimentos
infantis que atendessem as necessidades de guarda aos filhos dos pais que necessitavam
ausentar-se em virtude do trabalho. Havia também “diversos movimentos político-sociais
de diferentes correntes de pensamento, que contribuíam para aumentar a efervescência das
idéias. Entre elas despontava a idéia de que a escola maternal era uma instituição que
colaborava para a modernização do país” (p. 59) Em 1924, de acordo com Marcílio
(2005) o decreto 3.708 estabeleceu que as escolas maternais fossem destinadas a atender
filhos de operários. A escola maternal passa a ser sinônimo de atendimento típico para
operários, servindo de intermediária entre a família e a escola.
14
NASCIMENTO (2001) faz uma análise aprofundada deste processo na França quando a criança e por
conseqüência a mulher tornam-se uma questão de Estado.
32
1.2.1.4 O Jardim de Infância
33
exclusivamente ao jardim de infância. Assim como as escolas maternais, os jardins também
passaram a aparecer em várias regiões do país após a mudança para o regime republicano.
Conforme Kishimoto (1988) este regime trazia em seu bojo o ideal de que por meio da
educação se alcançariam novos padrões de desenvolvimento no país.
Nesta perspectiva inaugura-se o primeiro jardim de infância público, construído na
cabeceira da Praça da República na capital de São Paulo, em 1896, sendo uma proposta do
Partido Republicano Paulista. Anexo à Escola Normal Caetano de Campos15, o jardim de
infância, bem como a escola primária que lá também se instalara, serviam de estágio para a
formação das professoras da escola normal; um centro do conhecimento científico da
época, difundindo os modelos para as demais escolas oficiais do país. (KUHLMANN JR,
2003) Embora sendo de caráter público era um atendimento reservado à elite paulista.
Tradicionalmente no Brasil os atendimentos nos jardins da infância eram destinados à elite
burguesa, enquanto que as creches e escolas maternais destinavam-se as camadas populares
(KISHIMOTO, 1988; KUHLMANN JR, 2003; MARCÍLIO, 2005).
Com a crise econômica e política da República liberal nas décadas de 1920 e 1930
questionava-se a atuação do Estado frente aos aspectos sociais, estando em pauta a
15
MONARCHA (1997) analisa a arquitetura desta escola normal, bem como do jardim de infância,
destacando que seus padrões passam a ser adotados nas construções dos grupos escolares e escolas normais
do estado de São Paulo. Não deixa de destacar a riqueza de material empregado em sua arquitetura, símbolo
da República brasileira e da hegemonia burguesa.
34
redefinição do Brasil e do povo brasileiro. Nesta época vários movimentos surgem,
destacando-se entre eles a Semana de Arte Moderna16. No campo da educação destaca-se
Anísio Teixeira e Fernando Azevedo, na luta pela democratização da Escola Pública,
movimento este que passou a ser denominado de Escola Nova. É a partir daí que começam
a surgir vários órgãos destinados à infância criados em quantidades progressivas, mas
sempre insuficientes, em relação à infância até a fundação do Serviço de Assistência ao
Menor, em 1941. (ABREU e MARTINEZ, 1997)
Partindo destas idéias inovadoras, em 1935, Mário de Andrade, expoente escritor
brasileiro participante da Semana de Arte Moderna é responsável pelo Departamento
Cultural (DC) da cidade de São Paulo, na gestão de Fábio Prado, criando os Parques
infantis (PIs). O Departamento Cultural objetivava traçar as bases da cultura nacional.
Compunha-se de cinco divisões: Expansão Cultural, Bibliotecas, Documentação Histórica e
Social, Turismo e Divertimentos Públicos, Educação e Recreios. (TONOLLI, 1996)
Nicanor Miranda foi designado para a chefia da Divisão de Educação e Recreio, até
1945. O PI tem sua expansão até 1940, sendo refreado neste mesmo ano pela gestão de
Prestes Maia. Sua proposta era de atender, em um mesmo espaço crianças de 3 ou 4 anos a
6 anos, e as de 7 a 12 anos no período contrário de seu horário escolar. Mario de Andrade
tinha como proposta neste tipo de atendimento, a valorização da cultura brasileira, com
elementos do folclore, em uma nova referência da nacionalidade brasileira. (FARIA, 2002;
KUHLMANN JR, 2003)
Conforme Faria (2002) a ênfase dos PIs era o aspecto lúdico, por meio de
brincadeiras e jogos tradicionais da infância, caracterizando-se por uma proposta de
“escolas populares de saúde e alegria” destacando-se a moral, a higiene e estética. “As
educadoras deveriam brincar com as crianças, ensiná-las a brincar e não lhes
perturbarem ou ameaçarem a liberdade e espontaneidade” (p. 158)
Desta forma, educação e cultura não estavam desvinculadas e nem mesmo
institucionalmente separadas, fazendo parte de um mesmo órgão administrativo, o DC, o
16
A Semana de Arte Moderna pretendia realizar o resgate da cultura nacional, bem como valorizar e
promovê-la. Tem seu ponto de partida no Teatro Municipal de São Paulo, buscando transformar o olhar da
cultura, em prol da renovação nacionalista das produções artísticas e culturais brasileiras. Seu objetivo era
assustar a burguesia e reivindicar um conhecimento mais profundo da cultura nacional. Neste sentido,
buscavam realizar uma “antropofagia” da cultura européia clássica, imposta e cristalizada na sociedade
brasileira. (TONOLLI, 1996; FARIA, 2002; MACC, 2002)
35
que caracterizava ações integradas e visavam políticas de base que incluíam em um mesmo
atendimento assistência a criança e o respeito as suas especificidades, por meio do resgate
lúdico vinculado a cultura nacional.
Destinado a atender predominantemente os filhos de operários, o PI tinha em seus
objetivos os jogos e as brincadeiras também pensando “nas formas lúdicas de construção
da cultura nacional, bem ao gosto romântico e, como tal deixa espaço, inclusive, para as
possíveis manipulações e adestramentos...” (FARIA, 2002, p. 163) Apoiados na Educação
Física, os PIs adotavam uma “orientação esportiva, voltada para a cultura física”.
(KUHLMANN JR, 2003, p. 483) Nas iniciativas do PI percebe-se a disciplina do tempo
livre das crianças, mas também se constata a garantia de um espaço público para as
“pessoas não fazerem ‘nada de útil’, produzirem cultura (geralmente não considerada
‘útil’), recuperando o aspecto gratuito do fator lúdico, tão temido e rejeitado pela
sociedade do trabalho”.(FARIA, 2002, p. 166)
36
houve 7 PIs: 3 em funcionamento no interior paulista – Campinas, Ribeirão Preto e Marília,
3 em construção – em Araraquara, Pirajuí e Amparo, e 1 em Santos. No Distrito Federal
havia 2 Centros de Recreação e 2 PIs, 11 PIs em Porto Alegre e 26 no interior do Rio
Grande do Sul, 1 em Niterói, 1 na colônia de férias de Bogari na Bahia, 1 em Pouso Alegre
e o Serviço Municipal de Parques Infantis criado pela Prefeitura Municipal de Manaus.
37
QUADRO 2 – Órgãos de atendimento à infância de 1940-1960
Este estudo parte do pressuposto, conforme Kuhlmann Jr (1991; 1998; 2003) que
não é somente uma concepção inovadora que necessariamente implica em uma proposta
38
pedagógica de atendimento à infância, pois toda proposta de atendimento possui um caráter
pedagógico em consonância com determinados pressupostos educativos.
Considera-se que ao refletir e reconstruir políticas educacionais do passado é
necessário compreender quais eram os objetivos a serem atingidos por um determinado
programa de governo, suas estratégias de implementação e em qual conjuntura política
econômica este programa estava inserido. Nem sempre os objetivos firmados efetivaram-se
em ações concretas, pois para sua real efetivação deve haver o envolvimento e a
concordância de todos os atores políticos envolvidos nestas ações, o que na prática
planejamento e processo de implementação às vezes podem se distanciar.
Conforme Kuhlmann Jr (1991) o atendimento à infância no Brasil predominava pelo
seu caráter filantrópico, através de entidades assistenciais que consideravam que este
atendimento não era um direito do trabalhador, mas uma benevolência dos filantropos.
Nascimento (2001) explica que
Ainda segundo a autora a filantropia tomava por estratégica básica a educação, “na
conversão dos pobres aos princípios higienistas e morais da burguesia”. (p. 178) O
objetivo desta estratégia era à busca do estancamento da pobreza e da mortalidade, da
melhoria de condições de vida dos operários e de seus filhos, tendo como motivação o
controle social da ordem.
Kuhlmann Jr (2003) afirma que a “proteção à infância” no Brasil será o mote que
impulsionará a criação de inúmeras associações e instituições filantrópicas e públicas para
cuidar de crianças no Brasil, tendo como objetivos diferentes aspectos, desde a saúde e
sobrevivência da criança organizada por médicos, bem como, propostas de legislação e de
associações da educação e instrução pautadas nos direitos sociais, organizados por juristas.
39
Tanto juristas quanto médicos e demais filantropos da burguesia julgavam as
famílias dos setores populares incapazes e ignorantes no que diz respeito à educação de
crianças. Conforme Abreu e Martinez (1997) os homens públicos e filantropos propunham
a fundação de escolas públicas, asilos, creches, escolas industriais e agrícolas de cunho
profissionalizante, além da criação de uma legislação específica para os menores. 17
A abolição da escravidão e a necessidade de formar trabalhadores livres e
disciplinados deram impulso às preocupações sociais com a criança. A proclamação da
República também contribuiu para este debate, na medida em que sua base fundamental era
a formação da nação brasileira. A problemática da criança ganhava nova dimensão tanto no
campo jurídico como no médico.
Segundo Kuhlmann Jr (1991) o Congresso Penitenciário Internacional de 1895
contribuiu para a orientação de privar de pátrio poder aqueles pais considerados indignos,
bem como ajudar aqueles incapazes de educar seus filhos oferecendo creches e salas de
asilos temporários às crianças e aos adolescentes.
A perspectiva médico-higienista traça seus primeiros desenhos em 1836, quando
concluída a primeira tese referente à criança: a importância do aleitamento materno dos
recém-nascidos por Júlio Xavier. Ele inaugurou um longo e por vezes contraditório debate
médico sobre o que consideravam os principais problemas da organização familiar
brasileira, que não estavam dissociados de problemas sociais mais amplos. (ABREU e
MARTINEZ, 1997)
O pressuposto médico-higienista tinha como tema fundamental combater a
mortalidade infantil. Conforme Moncorvo Filho (médico, filantropo e fundador do
Departamento da Criança no Brasil, em 1919 e do Instituto de Proteção e Assistência à
Infância do Rio de Janeiro, em 1929) o saneamento do Rio de Janeiro seria incompleto caso
não estivesse aliado à proteção e assistência imediata à infância. (KULHMANN JR, 1991)
A pediatria surgiu também neste período, “encontrando na puericultura a forma de
divulgação de normas racionais de cuidados com a infância”. (KULHMANN JR, 1991, p.
21) Conforme Nascimento (2001) “aos médicos competia à pediatria, saber teórico
17
Considerando que este trabalho não irá abordar as políticas para a criança transgressora, vale ressaltar que
há um veio de estudos para esta área: Pilotti e Rizzini, (1995); Abreu e Martinez, (1997); Irma Rizzini, (1997;
1997b; 1997c); Sator, (1997); Veronese (2003).
40
elaborado, às mulheres a puericultura, técnica aplicada sob orientação médica
masculina”(p. 324) Assim, seriam as mulheres as encarregadas de propagarem os saberes
médicos referentes aos adequados cuidados a serem despendidos à criança.
Também era função da puericultura os conhecimentos relativos à reprodução
humana e a sua conservação. Deste modo, conforme o autor, a preocupação com a
mortalidade infantil desdobrava-se em propostas de controle racial, via eugenia.
A mulher passa a ser a “sacerdotisa da eugenia”, uma vez que é um elemento de
destaque neste processo, sendo considerada a auxiliar dos médicos. A puericultura apesar
de não ser um conhecimento obrigatório das mulheres que atuavam diretamente com as
crianças em creches, fazia parte do currículo escolar de formação predominantemente
feminina. (KULHMANN JR, 2003)
A eugenia almejava o aperfeiçoamento da raça através do controle do casamento e
reprodução, bem como pela educação da higiene e da moral. Conforme Alfredo Ferreira
Magalhães, “a higiene e a educação, solidárias uma da outra, são fontes verdadeiras da
civilização e do bem-estar”. (KULHMANN JR, 2003, p. 479) A partir destes ideais a
Pedagogia e a Psicologia Experimental passam a ser valorizadas, passando a predominar os
conhecimentos para as propostas de atendimento à infância.
Neste percurso são feitos em escala mundial, com a participação do Brasil,
congressos sobre a assistência à infância. Ocorre o Primeiro Congresso Brasileiro de
Proteção à Infância em 1922 em conjunto com 3o Congresso Americano da Criança. Sua
programação tratava de assuntos referentes ao atendimento à criança na perspectiva social,
médico-higiênico e pedagógico, bem como as relações da família, da sociedade e do Estado
no que se refere ao atendimento infantil, divulgando assim o moderno pensamento
científico da época. (KUHLMANN JR, 1991)
O 2o. Congresso de Proteção à Infância, realizado em 1924, denunciava a falta de
uma política governamental para a Infância. Com a regulamentação da CLT (Consolidação
das Leis Trabalhistas) no governo de Getúlio Vargas, no ano de 1934, tem-se a
obrigatoriedade das fábricas com mais de 30 mulheres operárias oferecerem creches.
Contudo, sabe-se que até hoje há muitos que burlam esta lei, preferindo contribuir
financeiramente com alguma entidade de atendimento à criança ou simplesmente
ignorando-a. (Id. Ibid, 2003)
41
Em 1940 é criado o Departamento Nacional da Criança (DNCr), um órgão
pertencente ao Ministério de Educação e Saúde para coordenar todas as ações relativas à
infância, maternidade e adolescência. Dentre suas ações, o Clube de Mães, de 1952, foi a
primeira parceria entre este órgão e a UNICEF que objetivava fixar e valorizar a
permanência da mulher no lar atuando na educação de seus filhos, assim como combater a
mortalidade infantil através dos ensinamentos da puericultura. (VIEIRA, 1988) Contavam
para este trabalho com o serviço voluntário de monitoras, orientadas por profissional
técnico, em locais de maior afluência de mães. Suas atribuições também incluíam a
fiscalização de instituições em todo o país relativas à higiene e à maternidade, à assistência
social de ambos, realizando estudos e divulgações referentes à infância e maternidade. Em
1970 este órgão é transformado em Coordenação de Proteção Materno-Infantil e
posteriormente em Divisão Nacional de Proteção Materno-Infantil, cujo objetivo era
diminuir mortalidade materna e infantil.
É fundada também a LBA (Legião Brasileira de Assistência) em 1942, com o apoio
da Federação das Associações Comerciais e da Confederação Nacional das Indústrias. Seu
objetivo era unir brasileiros de boa vontade para serviços sociais em prol da infância e da
maternidade, contando para isso com a colaboração do poder público e de instituições
privadas. Durante a II Guerra a LBA criou o Corpo de Defesa Passiva, para o treinamento
da população civil. Pós-guerra a LBA transformou-se, voltando-se inteiramente para uma
política assistencial de atendimento à infância e à maternidade, através da família, passando
a ser um órgão de consulta do Estado. Começavam a surgir os centros de proteção à criança
e a mãe, criados pela própria LBA e/ou com recursos das comunidades. Foram centros
disseminados por todo o país consolidando em 20 anos (1946-1966) sua posição entre as
obras assistenciais brasileiras. Já nesta fase começa a enfrentar dificuldades financeiras por
depender de subvenções diretas do orçamento da União. Em 1966 uma portaria do
Ministério da Justiça faz modificações quanto à finalidade e à administração da LBA
incluindo em seu atendimento, a adolescência e aumentando seu conselho deliberativo.
Devido às dificuldades financeiras, passa a procurar por novas fontes de recursos,
beneficiada por parte da renda líquida da Loteria Esportiva Federal, superando suas
dificuldades. A LBA torna-se uma Fundação, vinculada ao Ministério da Previdência e
Assistência Social em 1974, propondo-se a executar o Projeto Casulo, inserido no
42
Programa Assistência (Subprograma Assistência ao Menor), com o objetivo de atender ao
maior número de crianças, com pouco gasto. (KRAMER, 1982, 2003; ROSEMBERG,
1992, 1997, 1999)
43
QUADRO 3 – Órgãos de atendimento à infância de 1960-1988
18
Apesar de a OMEP ter sido criada em 1953, no Brasil ela começa a atuar efetivamente no segundo período
deste estudo, com veremos mais a frente.
44
A educação pré-escolar no Brasil, na segunda metade da década de 60 até a
promulgação da Constituição de 1988, percorreu um caminho predominado por políticas de
expansão de massa, quando há uma real expansão de vagas no atendimento pré-escolar,
chegando a dobrar sua capacidade de atendimento. Está política visava atender ao aumento
da demanda desta faixa etária (especialmente nas camadas sociais mais baixas) sendo de
caráter exclusivamente público. Naquele período pensava-se em uma pré-escola capaz de
compensar as “deficiências culturais” e nutricionais das crianças das camadas populares e
provê-la de condições para se tornarem um futuro cidadão, um vir a ser. ( SOUZA e
KRAMER, 1991; ARROYO, 1994; KRAMER, 2003)
No campo jurídico, em 1975 houve a criação de uma comissão de inquérito da
Câmara dos Deputados para investigar as causas dos problemas entre as crianças carentes.
Em 1978, a Arquidiocese de São Paulo criava a Pastoral do Menor, com o objetivo de
exercer uma ação junto às bases promovendo, por meio de um ideal cristão, a preservação
das crianças e a integridade das famílias. Surge em São Paulo o Movimento da Defesa do
Menor que lutava pela mudança do cenário político quanto às ações públicas para a
infância. Contudo, em 1979, um novo Código dos menores mantém a concepção de
anormalidade dos menores criminosos e delinqüentes, marcado por política excludente,
reformadora e autoritária. (ABREU e MARTINEZ, 1997)
Ao modelo de atendimento de pré-escola de massa assumido pelo governo federal
acrescentou-se a orientação das propostas de agências internacionais – UNICEF (Fundo das
Nações Unidas para a Infância) e UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
19
Educação, Ciência e a Cultura) através de soluções emergenciais. Até o início da década
de 60 estes órgãos estavam atrelados mais diretamente aos Serviços Sociais, enfatizando o
bem estar da criança e da família.
Durante a década de 1960 estes órgãos internacionais passaram a se relacionar com
outros órgãos ligados à infância: Ministérios da Saúde e Educação, visando coordenar
ações relativas à infância, maternidade e adolescência, reconhecendo na educação a
19
Agências ligadas a ONU que têm como função melhorar as condições da infância em todo o mundo, com
especial ênfase nos países em desenvolvimento, encorajando-os a promoverem programas de atendimento à
infância tanto em setores públicos como os privados. A realidade de cada país é estudada em relação à
situação da criança para que sejam elaborados projetos de ação e recursos a serem alocados (KRAMER,
2003).
45
importância na preparação para a vida e a criança como a chave do desenvolvimento da
nação. Porém, não descartavam a responsabilidade da estrutura econômica da sociedade
quanto às desigualdades sociais, mas de forma geral, seu principal argumento era de
considerar que a melhoria das condições de vida da criança era fundamental ao progresso
da nação. (KRAMER, 1982)
É possível reconhecer no pensamento destes órgãos às mesmas concepções
norteadoras do governo militar brasileiro neste período (décadas de 1960 e parte da de
1980), sendo a causa da infância proclamada como fundamental à medida que as crianças
serão os homens do amanhã e que levarão ao fortalecimento do Estado.
Kramer (1982) e Kramer e Souza (1991) atribuem esta forma de pensar a criança
como única e a-histórica, sem qualquer referência à sua origem, aos conflitos de classes no
qual está inserida e ao Estado como algo neutro, abstrato e harmônico, livre de embates
políticos e sociais.
Discurso proferido pelo Ministro da Educação e Cultura, Eduardo Portella, sobre o
tema “O Pré-escolar”, pronunciado na reunião da Legião Brasileira de Assistência e do
Ministério da Previdência Social, realizada em Brasília em 1979 elucida o que afirmamos.
O ministro atribui à pré-escola um papel decisório quanto ao futuro sucesso da criança,
buscando condicioná-la aos ganhos ou perdas no desempenho da vida social: “Aí (na pré-
escola), portanto, os alicerces se definem e, muitas vezes, o início da jornada é ganho ou
perdido exatamente nesta decolagem. A decolagem defeituosa pode comprometer, de uma
forma definitiva toda viagem”. (INEP, 1979, p. 106)
As estratégias de políticas sociais das agências internacionais (UNICEF e
UNESCO) visavam às populações pobres dos países de terceiro mundo. Dentre suas
estratégias de planejamento previam-se a intensificação dos serviços de saúde e nutrição
por meio de projetos educacionais, a coordenação interministerial dos programas setoriais à
infância e a juventude e a utilização das energias dos movimentos populares. Também
possuíam recomendações setoriais ambíguas para crianças menores de 7 anos: defendiam a
pré-escola como complementação da atenção familiar, contudo recomendavam o apoio
financeiro, por meio de programas predominantemente alimentares, às famílias que
mantivessem seus filhos no lar. (ROSEMBERG, 1992; KRAMER, 2003)
46
Congressos e conferências são realizados para a divulgação destas estratégias. Nesta
ocasião, o DNCr é o órgão que representa o Brasil nessas conferências. A partir da
Conferência em Santiago do Chile, em 1965, o DNCr propõe-se a elaborar o Plano de
Assistência ao Pré-escolar que é concluído no ano de 1967. Em 1968 este Plano é
apresentado no I Congresso Interamericano de Educação Pré-escolar, no Rio de Janeiro. A
partir das orientações contidas neste Plano que foram elaboradas as propostas de pré-escola
de massa feitas pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura). (ROSEMBERG, 1992)
Este plano previa intervenções estruturais permanentes e intervenções emergenciais.
Quanto às intervenções estruturais permanentes previa-se o incremento e a criação de
escolas maternais e jardins de infância sem exigências rígidas de padrões de construção e
funcionamento e o aperfeiçoamento de recursos humanos. As intervenções emergenciais
previam a criação de Centros de Recreação destinados ao atendimento a baixo custo ao pré-
escolar. Vale ressaltar, que o termo emergencial, passa a ser chamado nas décadas de 1970
e 1980 de plano alternativo, tendo o sentido de não convencional, informal, em oposição à
educação tradicional, formal. Em suma é justificativa para o atendimento de baixo custo
que prescindia o trabalho voluntário e unidades simples, em forma de galpão, abrigadas
pelas igrejas ou centros comunitários. Uma proposta baseada, sobretudo, no discurso da
participação comunitária, deixando de observar que o momento político brasileiro era
autoritário e que limitava a participação popular. Pode-se inferir que na proposta de busca
do voluntariado estava implícita a intenção do governo autoritário em cooptar as lideranças
dos movimentos sociais, no sentido de propiciar sua participação e atender suas
reivindicações nos moldes do governo. O que se verifica, portanto é que o Estado, ao invés
de tomar para si a responsabilidade do atendimento pré-escolar, tem como estratégia
delegar a sociedade civil através do voluntariado.
Os Centros de Recreação buscavam atender as necessidades físicas e psicossociais
dos pré-escolares evitando-se que ficassem no abandono ou semi-abandono. Consideravam
que a recreação era a forma principal para impedir atitudes anti-sociais. Para isso tinham o
apoio junto a Divisão de Educação Física do MEC, também contando com um pool de
cooperação do Ministério da Saúde, organizações nacionais e internacionais e da LBA. Os
recursos humanos destes centros deviam ser o mínimo indispensável, contando com o
trabalho voluntário, sendo remunerados somente os técnicos que eram encarregados pela
47
supervisão e orientação destes centros. Não possuíam um orçamento específico
pretendendo ser um modelo de atendimento universal a todos os países pobres, assim como,
a todo território nacional, ignorando-se as especificidades de cada localidade. Na década de
1970 passava a dar maior ênfase na educação compensatória20, momento este quando a
educação pré-primária21 é substituída pela educação pré-escolar, assumindo caráter
preparatório para o ensino obrigatório. Esta idéia não é nova, pois no princípio das
propostas de atendimento infantil no país buscava-se neste segmento apoio para as escolas
primárias. (ROSEMBERG, 1992; 1997)
Para algumas autoras estudiosas deste período, Kramer (1982), Kishimoto (1988),
Rosemberg (1992); Souza (1991) estas propostas eram predominantemente de cunho
assistencialista, em oposição a propostas educacionais. Caracterizavam como
assistencialista o atendimento à criança que se restringiam as suas necessidades básicas:
alimentação e saúde. Rosemberg (1992) utiliza o termo “contaminação assistencialista da
pré-escola” para denominar este processo de expansão do atendimento: “a contaminação
assistencialista da pré-escola dá-se a partir do final dos anos 60, inspirada em propostas
de agências internacionais (UNICEF, UNESCO) e assumida pela administração federal”.
(p. 22) E mais à frente, “os documentos consultados sobre este período permitem que se
detecte, pelo menos a título sugestivo, um enfoque mais do tipo assistencial nas propostas
de atendimento pré-escolar”.(p. 23)
Souza (1991) considera que o atendimento pré-escolar às classes populares passou
por divergências de atendimentos ao longo do tempo, pontuando períodos predominados
20
Abramovay e Kramer (1991) destacam que a origem da educação compensatória remota ao século XIX,
onde se atribuía à pré-escola a função de suprir as deficiências das crianças, sua miséria, negligência de suas
famílias. Conforme Kramer (2003) o conceito de educação compensatória seria um antídoto à privação
cultural. A origem deste pensamento estaria em Pestalozzi e Froebel, sendo mais tarde expandido por
Montessori e McMillan. Froebel iniciou com os jardins de infância nas favelas alemãs, no surgimento da
Revolução Industrial; Montessori no fim do século XIX e início do XX desenvolveram trabalhos pré-
escolares para crianças pobres das favelas italianas; e McMillan, destacava a necessidade da estimulação
cognitiva a fim de compensar as deficiências das crianças. Contudo, somente depois da II Guerra Mundial é
que, nos Estados Unidos e na Europa, a pré-escola como função compensatória disseminou. Correlacionavam
à linguagem e o pensamento com o rendimento escolar, relacionando-os com a privação cultural a que as
crianças de classes populares eram submetidas, na medida em que suas formas de organizar a linguagem e o
pensamento não condiziam com aquilo que lhes era esperado no que tange o rendimento escolar. Passaram a
crer que a pré-escola seria a instância capaz de reduzir este suposto descompasso, suprindo as deficiências
culturais, lingüísticas e afetivas das crianças provenientes das classes populares. Desta forma, o fracasso
escolar que afetava basicamente as crianças negras e as imigrantes daqueles países estaria resolvido.
21
As salas de pré-primário eram anexadas às escolas de primeiro grau pertencentes ao Estado, atendendo
crianças de 6 anos, com o objetivo de preparar a criança para a primeira série do 1o. grau.
48
ora por médico e sanitário, ora por nutricional e social, e mais recentemente por uma
preocupação educacional. Esta conclusão pode denotar que os dois primeiros tipos de
atendimento excluíam uma proposta educacional que os orientavam.
Esta mesma afirmação é identificada também em Kramer (1982):
49
condição de desfavorecimento social e valorização das prerrogativas dos grupos sociais
dominantes em detrimento dos valores construídos nos meios populares.
22
www.omep.or.br em 29/07/06; www.petitmonde.com/omep/bref.htm em 29/07/06.
50
COEPRE não era um órgão normativo, tendo sua função pautada na dinamização dos
setores que atendiam a criança pré-escolar assim como mobilizações das ações nos Estados
e Municípios. (KRAMER, 2003)
A criação do COEPRE, segundo Kramer e Souza (1991) impulsionou os debates
sobre as funções e métodos pedagógicos que deveriam nortear o trabalho com o pré-
escolar, onde o modelo compensatório ganhou força. Estas prerrogativas da educação
compensatória baseavam-se no estabelecimento do vínculo entre o êxito da criança na
escola elementar e o efeito compensatório que a pré-escola teria para seu eventual sucesso.
Baseadas na abordagem de privação cultural, os documentos do MEC/COEPRE
proclamavam a pré-escola como solução para a repetência e evasão das crianças de classes
populares, que por sua vez, eram responsabilizadas pelo seu fracasso, pois eram
culturalmente carentes. Neste período havia o II PSEC – Plano Setorial de Educação e
Cultura (1975/79), que traçava objetivos, metas, estratégias e recursos orçamentários para a
pré-escola, porém destinados unicamente a ações de apoio. (ROSEMBERG, 1992)
O modelo de educação compensatória utilizado pelo COEPRE foi transportado de
outros países, influenciando o ideário de professores pré-escolares e das primeiras séries
iniciais. É possível constatar esta perspectiva ainda hoje, embora superada as teorias de
privação cultural no meio acadêmico, o senso comum ainda espera da atual educação
infantil a preparação para o ensino fundamental.
Kramer (1982) denuncia que este modelo servia “para esconder que as causas do
fracasso escolar estão na própria infra-estrutura socioeconômica da sociedade e da
maneira como esta determina a inserção dos indivíduos – adultos ou crianças - na
produção”. E ainda, que
51
que passavam. Isto acarretava o preconceito e a discriminação das crianças oriundas de
classes populares sendo estendida também as suas famílias.
52
1.3.3 O MEC E O MOBRAL
23
O MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) foi um programa criado em 1970 pelo governo
federal com o objetivo de erradicar o analfabetismo no Brasil no prazo de 10 anos. Inicialmente propunha-se a
realizar a alfabetização funcional de jovens e adultos, mas acabou por tornar-se uma superestrutura e
ampliando seu campo de atuação às quatro primeiras séries do Ensino Fundamental e pré-escola. Porém o
programa não conseguiu alcançar sua principal meta de acabar com analfabetismo brasileiro, além do que sua
proposta era bastante criticada, pois ensinava apenar o ler e escrever sem estabelecer relações com a formação
integral do homem. Marcado por denúncias de desvio de aplicação de recursos acaba por ser extinto no ano de
1985 com a Nova República, sendo então substituído pela Fundação Educar.
(www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=130;www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/baf/tetxt.ht
m em 02/8/06).
53
O Plano Setorial também identificava como problemas da educação pré-escolar a
ausência de uma política específica e integradora para a pré-escola, a escassez do número
de vagas, falta de coordenação entre programas educacionais e de saúde, a predominância
do enfoque preparatório para o 1o. Grau, insuficiência de pessoal docente, falta de
envolvimento da comunidade. Conclamava a pré-escola como medida para diminuir os
efeitos das desigualdades sociais, escamoteando os reais problemas de distribuição de renda
do país. Fornecia como subsídios para a política e o planejamento da Educação a
abordagem da privação cultural, considerando a família como doente e o meio cultural da
criança como inadequado e inferior.
As críticas dos meios acadêmicos questionavam os programas compensatórios e a
abordagem de privação cultural, chamando a atenção para estes tipos de concepções
discriminatórias e marginalizadoras das crianças, bem como colocando na mesma a culpa
de todos seus fracassos escolares. O discurso oficial respondia às críticas de forma
superficial, atribuindo como objetivo da pré-escola a promoção do desenvolvimento global
e harmônico da criança, considerando para isso o momento específico de sua vida, sua
cultura e sua comunidade. Nesta proposta a pré-escola não deveria mais preparar para a
escola obrigatória, mas deveria limitar-se às necessidades específicas da criança. Na
realidade, o que é possível observar nesta resposta é uma tentativa do discurso oficial
responder às críticas do meio acadêmico e simultaneamente justificar um atendimento de
baixo custo.
***********************************
O que se pode concluir é que não havia uma unidade nas orientações pedagógicas e
metodológicas, nem isto era importante para a política vigente. O que interessava era a
expansão do número de vagas na tentativa de abrandar as reivindicações populares por um
Estado de bem-estar. Sem uma clareza quanto aos recursos orçamentários, mas por meio da
mobilização de recursos humanos vindos da força dos movimentos populares
reivindicatórios, assim como abraçando alguns equipamentos já organizados por estes
mesmos movimentos, o poder público proclamava a participação da comunidade na medida
em que mostrava a sua impossibilidade de resolver os problemas do atendimento pré-
54
escolar. Tais prerrogativas são identificadas novamente no discurso proferido pelo Ministro
da Educação e Cultura, Eduardo Portella, sobre o tema “O Pré-escolar”:
55
Conselhos, das associações, dos sindicatos, das universidades, dos parlamentos e dos
órgãos oficiais das novas administrações”. (CAMPOS, 1999, p. 123)
Estes movimentos, conforme Campos (1999) defendiam a creche como um direito
da criança e não somente da mãe trabalhadora, e a socialização da “jovem geração” como
um compromisso da sociedade e não apenas da mãe. Assim a proposta da nova
Constituição pretende que a creche seja uma extensão do direito universal à educação, para
a criança de 0 a 6 anos.
1.4 As políticas pós Constituição de 1988 e a educação infantil como direito social da
criança e da família
56
recursos? Não há delimitações de como o poder público deveria atuar frente a este
segmento denotando uma superficialidade quanto à educação pré-escolar. Ainda ressalta
que, a ausência de uma legislação que explicite a política de um dado segmento, não
significa ausência de política para o mesmo. O que ocorre é que tal ausência caracteriza “a
política educacional voltada para o pré-escolar como estagnada e omissa, plena de
discursos com recomendações, sugestões e interpretações e vazia de medidas concretas de
amplo alcance”. (p. 98)
Kuhlmann Jr (2003) também faz crítica ao termo:
24
O CFE (Conselho Federal de Educação) formulava as diretrizes para as
orientações da COEPRE, elaborava pareceres, recomendações e sugestões, pretendendo
fortalecer e esclarecer as propostas do MEC frente à educação pré-escolar.
24
Oliveira (1999) explica que a Lei 5692/71 representou um avanço no sentido da descentralização em
relação ao currículo escolar, em especial ao ensino de 1o. e 2o. graus, uma vez que ao Conselho Federal de
Educação caberia o estabelecimento do núcleo comum, obrigatório para todas as escolas do país; aos
Conselhos Estaduais de Educação competiam à elaboração das relações das matérias que iriam constituir a
parte diversificada referente à educação geral e aos estabelecimentos de ensinos competiam à elaboração do
currículo pleno, escolhendo as disciplinas a serem oferecidas aos alunos.
57
uma nova LDB que contemplasse a educação pré-escolar, embora baseada em uma
educação compensatória.
“Porque a meta final da luta dos que se sensibilizarem pelo tema deverá
ser uma espécie de cruzada, que inspire o Poder Público a elaborar a
curto prazo, uma terceira lei de diretrizes e bases inteiramente voltada
para os cuidados que devem envolver toda a educação que venha a
preceder à do ensino de 1o. Grau. Porque, como se verá, tal seja a
educação recebida do zero aos seis anos, tal será o desempenho do
educando a partir da 1a. Série de escolaridade regular”. (Parecer no.
2018/74 do Conselho Federal de Educação – BRASIL, 1979)
25
Assim versa a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu capítulo II, Direitos
Sociais, no Artigo 7: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social: (...)
XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até os seis anos de idade em creches
e pré-escola”.
N Capítulo III, da Educação, na seção I, o Artigo 208 afirma:
“O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de (...)
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade.”
58
pública, seguida pelo reconhecimento do Estado como sua responsabilidade em todos os
níveis.
Este momento foi também de abertura política com o fim do regime autoritário,
trazendo em seu bojo, a concepção de um Estado de bem estar-social, que assume a
educação como um direito social e atribui a esta o fundamental papel na construção da
cidadania.
Desta forma, as lutas sociais reprimidas pelo AI5 são retomadas na década 1980
pós-abertura política, trazendo a questão social para o centro das discussões. A nova
Constituição acenava como promessa à construção de uma sociedade capaz de conciliar
maior liberdade e igualdade. (CAMPOS, 1986; TELLES, 1998; 1999)
A dívida social do país era grande, a população atravessava anos de repressão,
desigualdades profundas e descaso público com serviços essenciais. A pobreza avançava
em índices incontroláveis.
A escola pública, além da baixa qualidade, não conseguia dar conta da demanda:
prédios escolares sucateados faltam de vagas, desvalorização dos professores, desvios de
verbas e favorecimentos do dinheiro público com as instituições privadas.
A pré-escola amargava descaso com a ausência de uma política pública que pudesse
dar conta de questões estruturais: a falta de vagas, profissionais despreparado, a alta
incidência de leigos, péssima qualidade da estrutura física destinada ao atendimento. Além
disso, desvalorizava o contexto sócio-cultural da criança de classes populares e sua origem,
sendo consideradas como portadoras de “carências” que cabia à pré-escola supri-las. O
Estado considerava as famílias de classes populares de alto risco, tornando-se alvo das
políticas públicas. Porém devido à escassez de recursos, bem como os problemas
econômicos que os pais sempre enfrentou, esta população sofria com a implementação de
planos a baixo custo em relação ao atendimento de seus filhos na faixa de 0 a 6 anos:
galpões, casas adaptadas, salões de igrejas, com pessoal despreparado e em grande parte
voluntário. Cabia ao Estado prover apenas técnicos que orientariam as ações a serem
desenvolvidas por instituições filantrópicas e fornecer os alimentos. Kramer (2005) afirma
que na década de 1970 apenas 4% das crianças brasileira em idade pré-escolar recebiam
algum tipo de atendimento, incluindo o setor privado.
59
O movimento feminista era intenso na luta pela creche, contudo, os poucos serviços
que eram oferecidos, partiam do pressuposto que o atendimento destinava-se à mãe
trabalhadora e não à criança. O modelo de atendimento era norteado pela noção de abrigo,
ou seja, um espaço oferecido às crianças pertencentes às famílias de baixa renda que não
poderiam cuidar de seus filhos sem ter que renunciar à sua fonte de subsistência – o
trabalho (NASCIMENTO, 2001). A proposta pedagógica era de que a criança desde muito
cedo, deveria ser retirada da considerada situação de desvio do meio social em que vivia.
(KRAMER, 1982; KRAMER e SOUZA, 1991; KUHLMANN JR, 1991; ROSEMBERG,
1992)
Nas discussões pré-constituinte relativa à educação das crianças pequenas, houve
muitos apontamentos dos grupos envolvidos no assunto, abordando questões como: o
financiamento específico para o segmento, à necessidade de definir creches e pré-escolas
como uma modalidade de ensino, a definição das responsabilidades do Estado para com
este segmento, as estratégias que pudessem dar conta de reivindicações do movimento
feminista no que tange à universalização da creche, entre outros.
Campos (1986) discutindo tais aspectos afirma que naquele momento, havia uma
sobreposição de órgãos e programas destinados a atender a criança de 0 a 6 anos, além da
pequena cobertura da demanda. Destaca, em segundo lugar, um forte peso dos grupos de
mulheres trabalhadoras que participavam das discussões, chegando a ser em maior número
do que os educadores. De forma geral, havia um consenso na importância desse
atendimento enquanto possibilidade para prover a igualdade de condições de direito de
trabalho sem que este se chocasse com o direito a maternidade.
Mas a vinculação da creche unicamente aos direitos da mulher era um ponto
bastante controvertido entre os educadores, pois acreditavam em sua maioria que esta
posição descaracterizava a dimensão educativa deste atendimento. Assim, considerava-se
que o atendimento a esta faixa etária deveria ser uma resposta ao direito da criança à
educação. A formulação que acabou por prevalecer foi a de que a educação de 0 a 6 anos
estava ligada não somente ao campo educacional, mas à questão da família e dos direitos da
mulher.
Campos (1986) também esclarece que naquele momento o Brasil ainda não tinha
regularizado o acesso à escola a todas as crianças de 7 anos, o que causava grandes
60
controvérsias nas discussões sobre a universalização de creches e pré-escolas públicas
como uma obrigação do Estado, uma vez que nem o ensino fundamental havia se
universalizado. Tais discussões ampliavam-se nas questões de destinação de recursos nas
esferas administrativas.
Algumas soluções eram apontadas no que tange ao financiamento da educação da
criança pequena:
26
Em 1983, a Emenda Constitucional no. 24/83, conhecida por Emenda Calmon, determina que a União
deveria aplicar ao ano no mínimo 13%, os Estados, Distrito Federal e Municípios, no mínimo 25% de sua
receita tributária na manutenção e no desenvolvimento do ensino, sem especificar em quais níveis.
(OLIVEIRA, 1999)
27
O FINSOCIAL foi um decreto-lei no. 1940/82 que recolhia do contribuinte à base de 0,5% do faturamento
mensal de suas atividades para destiná-lo ao custeio de investimentos de caráter assistencial. Ele incumbia a
sociedade como um todo a contribuir de forma direta ou indireta a seguridade social, atribuindo aos
empregadores a participação mediante bases de incidência em folhas de pagamento, faturamento e lucro. O
percentual deste imposto foi elevado após a promulgação da Constituição de 1988 a 1% pela lei 7787/89, em
1,2% pela lei 7894/89, e finalmente para 2% pela lei 8147/90. No entanto, em abril de 1992 o FINSOCIAL
foi extinto, sendo substituído pelo COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). O
61
• reservar uma determinada porcentagem obrigatória de recursos na Constituição às
creches e deixar com que outras leis regulamentassem a origem e destinação dos
recursos.
Embora o vetor dos direitos tivesse mudado com a nova Constituição, incorporando
a educação infantil como direito da família e da criança, os programas de governo
infelizmente acenavam com políticas predominantemente assistenciais, pontuadas pela
ótica da substituição dos cuidados maternos e, portanto não exigindo uma formação
qualificada no trato com estas crianças. Ainda hoje há municípios que implementam
segmento pré-escolar, por pertencer às políticas de seguridade social chegou a receber aportes significativos
deste imposto.
(CAMPOS, 1996; www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&iddoutrina=1370,
acesso em julho de 2005; www. bassiadvogados.com. br/tribut/tributário.htm, acesso em julho de 2005)
62
28
programas como “mãe crecheira” pautados no pressuposto de que a mulher é
naturalmente vocacionada para cuidar de crianças. (NASCIMENTO, 2005)
Mais uma vez este segmento deparava-se com uma política de segunda categoria,
onde os direitos conquistados estavam distantes de serem efetivados. A questão da política
de educação infantil colocava em pauta o modo como o Estado reconhecia a infância
marcada pelo paternalismo, clientelismo e manipulação ideológico-eleitoral, não diferente
da política geral. Ofereceria programas residuais e de baixo custo, não reconhecendo a
criança pelo que ela é e desprezando seus direitos.
A qualidade na educação infantil deveria pautar-se primeiramente em uma educação
para cidadania, colocando como princípio básico à criança sujeito de direitos, onde o
Estatuto da Criança e do Adolescente seriam os princípios. Seria preciso considerar a
criança historicamente, respeitando a sua diversidade cultural e não a sobreposição de uma
cultura dominante que atribuí o fracasso a incapacidades, a carências culturais. Uma
política de infância para cidadania tem também que contemplar estratégias que viabilizem a
inserção de profissionais envolvidos e preparados, com salários dignos e formação
específica, bem como, em condições de trabalho decentes e espaços físicos que atendam a
especificidade da infância.
Em tempo, de nada adianta uma concepção universal de políticas educacionais, sob
o lema da cidadania e do gozo dos plenos direitos da população, se não estão previstos
recursos de implementação. Muito menos delegar tais responsabilidades às prefeituras, sem
prever uma política de investimentos. Esperamos que a criação do FUNDEB (Fundo
Nacional para a Educação Básica) possa minimizar para tal.
Mesmo após a promulgação da Constituição de 1988, é possível notar no Brasil uma
estratificação social no atendimento infantil. Nascimento (1999) destaca que, no ano de
1995, 43,1% das crianças advindas de famílias com renda per capita maior que dois
salários mínimos, freqüentavam a educação infantil. Já nas famílias com renda per capita
inferiores a ½ salário mínimo, somente 19,2% de suas crianças de 0 a 6 anos eram
atendidas. A maior parte do atendimento se dava na faixa etária de 4 a 6 anos, pois das
43,1% atendidas pertencentes a famílias com rendimento per capita acima de dois salários
28
Esta proposta consiste em que uma mulher da comunidade que iria cuidar de no máximo dez crianças. Ela
receberia um salário rateado pelos pais das crianças atendidas e a função do Estado seria de prover esta
mulher com as necessidades materiais no fornecimento deste serviço.
63
mínimos, 70,6% estavam entre 4 a 6 anos, enquanto que na faixa de 0 a 3 anos somente
19,3%. Mais agravante era o caso das famílias com renda per capita abaixo de ½ salário
mínimo, pois eram atendidas 37, 4% na faixa de 4 a 6 anos e somente 5,1% na faixa de 0 a
3 anos. Comumente, o atendimento na faixa de 4 a 6 anos se dá na pré-escola, enquanto que
na faixa de 0 a 3 anos configura-se o atendimento em creche. Observa-se também que o
país optou pelo oferecimento de vagas em pré-escola em detrimento as creches, podendo-se
inferir que é um atendimento menos oneroso ao Estado. Nascimento observa que não há
uma fonte de recursos definida para a implantação dos serviços em creche, bem como, a
mesma possui características de custos elevados. No caso do município de Campinas, por
exemplo, a autora afirma que em 1994, cada criança matriculada nas creches municipais -
CI (Centro Infantil) tinha um custo aproximado de US$ 70/mês, enquanto que na pré-escola
(EMEI) o custo de uma criança de período integral era de US$ 50/mês e de uma criança em
meio período de US$ 28/mês (NASCIMENTO, 1994).
Isto indica que o Estado tem se caracterizado por uma política de omissão com
relação ao atendimento às crianças de famílias de menor poder aquisitivo. Esta faixa da
população, caracetrizou-se por uma política estagnada e omissa. Partindo do pressuposto
que a política explicita um comportamento propositivo, intencional e planejado, que
pretende alcançar determinados objetivos por determinados meios e estratégias
(VILLANUEVA, 1996), constata-se que o insuficiente oferecimento de qualquer tipo de
atendimento provido pelo Estado para este segmento denota insuficiência de políticas
públicas para superar tal deficiência. Como afirma Nascimento (2001) “uma política pode
consistir exatamente em nada fazer”. (p. 09)
Ainda, como última reflexão, é necessário esclarecer que apesar de reconhecer que o
desenvolvimento econômico proporciona caminhos para provocar a justiça social, ele não é
suficiente. Reduzir a questão a está ótica é incompleto. A questão da política social passa
também pelo viés político, pela incorporação de uma cultura política que reconheça o
Estado como articulador de políticas sociais, pressupondo a democracia como via
necessária para o estabelecimento de canais de comunicação entre a sociedade civil e o
Estado.
64
CAPÍTULO 2 – O município de Campinas
29
www.campinas.sp.gov.br/campinas/campinas/origens em 09/05/06; IBGE, resultados de amostras do Censo
Demográfico 2000.
30
Idem.
65
nascidos vivos.31 Campinas situa-se entre os municípios com melhor situação de riqueza e
com bons indicadores sociais, mantendo-se acima da média do Estado. Em longevidade,
também está acima da média do Estado (10,45% da população campineira está acima dos
60 anos, enquanto que no Estado a média é de 9,57%), assim como a taxa de analfabetismo
(4,99% da população campineira com mais de 15 anos é analfabeta, enquanto que a média
estadual é de 6,64%).
O número de matrículas em 2004, em ensino pré-escolar público municipal foi de
20.808 e os estabelecimentos privados possuíam 9.773 matrículas. O número de docentes
no ensino pré-escolar público municipal foi em 2004 de 807 e no setor privado de 621
docentes. O número de pré-escolas municipais em 2004 foi de 131, sendo que na rede
32
privada são 154. Assim, observa-se que a esfera municipal possui menos
estabelecimentos pré-escolares que a esfera privada, porém atende um maior número de
crianças.
****************************************
A cidade de Campinas foi fundada por volta de 1720, por bandeirantes paulistas que
realizavam a abertura de um caminho, no meio da mata, com a finalidade de possibilitar
uma comunicação mais rápida entre São Paulo e as minas achadas. Este caminho passou a
ser chamado de O “Caminho de Goiases”. Mais tarde serviria para atender à inauguração
das ferrovias, sendo crucial elemento para a escoação da produção açucareira de São Paulo.
(PETRONE, apud SANTOS, 2001) Este caminho teve, no século seguinte, seu percurso
aproveitado pela ferrovia Mogiana. Neste caminho surgiram sesmarias, bem como um
povoado que recebia os bandeirantes em suas jornadas. Meio século depois da abertura do
caminho, surge o bairro “Campinas do Mato Grosso de Jundiaí”, o que significava matas
fechadas, contando com 300 moradores e 50 casas. Conforme Santos (2001) a Freguesia de
Nossa Senhora da Conceição das Campinas de Mato Grosso de Jundiaí, foi fundada por
Dom Luis Antonio de Sousa Botelho Mourão (morgado de Mateus – capitão general e
governador da capitania de São Paulo – 1765-1775), e surge como conseqüência da
31
www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfil.php em 09/05/06.
32
www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Campinas&codmun=350950&tema=educaca... em
09/05/06.
66
ocupação do eixo centro sul da colônia, após a mudança da capital do Estado do Brasil para
a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763.
Já entre 1739 e 1744, com a chegada de Barreto Leme, família e conterrâneos,
instalando-se em terras adquiridas via sesmaria, iniciou-se o povoamento da região. Em
177433, Barreto Leme funda o núcleo e estabelece medidas urbanísticas básicas para o
local. A Coroa enviava ordens expressas ao Governador da Capitania que o local deveria
ser povoado e nele implantada agricultura sólida, pois devido à queda da mineração,
vislumbrava-se uma saída no cultivo do açúcar, uma vez que este se encontrava em alta.
Em 1797, a freguesia passava a condição de vila tendo o cultivo do açúcar como
predominante, mas ainda era composta por poucas casas e ruas. Neste momento chamava-
se Vila São Carlos.
Em 1849, o café já predominava como primeiro produto de exportação do Império,
a “Campinas do açúcar” já possui uma configuração urbana, passando de vila a cidade. Em
1850 a cidade tem os primeiros estabelecimentos industriais com o capital advindo dos
cafeicultores, entrando em operação a estrada de ferro Ferrovia Paulista em 1872.
Na década de 1870, Campinas configurava-se como o município mais rico da
Província paulista, sendo que, em 1875, inaugurava-se a Ferrovia Mogiana que viria a
dinamizar a produção cafeeira.
Em 1888, com a abolição da escravatura e 1889 com a República escravos recém
libertos e imigrantes afluem para a cidade formando os primeiros cortiços em uma cidade
sem esgoto, permitindo-se o avanço da febre amarela que assolou a população campineira
no fim do século XIX e reduzindo a população de 20 mil para 5 mil moradores.
Surgem também, entre 1900 e 1929, os primeiros bairros que se diferenciavam do
núcleo central da cidade: Vila Industrial (próxima aos armazéns, estações e oficinas das
estradas de ferro, abrigando os operários que nelas trabalhavam); Ponte Preta (sediava
tecelagem de seda); Bonfim (desde o século XIX localizava fundições e indústrias
metalúrgicas); Fundão; Cambuí; Guanabara. Eram bairros que nasciam devido às
formações das áreas comerciais no centro, o que valorizava as propriedades ali localizadas,
33
Há controvérsias quanto à data de fundação. Santos (2001), contextualiza que a cidade de Campinas foi
fundada em 1755. (p. 41)
67
fazendo com que a população de menor renda se transferisse para lá. Este fato ocasionou a
expansão da área urbana em 108%.
34
Quanto à ocupação do solo campineiro, Santos (2001) em sua tese de doutorado faz um rico levantamento
de como este processo ocorreu, desde o surgimento da cidade até a atualidade, destacando a elite hegemônica
como a detentora da distribuição do solo municipal. Há também o trabalho de Semeghini (1991) que articula a
urbanização da cidade aos seus diferentes aspectos sócio-econômicos.
68
inúmeras companhias loteadoras que vendiam terrenos a prestação. Surgem então os novos
bairros: Nova Campinas, Vila Amália, etc. (SEMEGHINI, 1991)
Foram feitos os alargamentos das ruas em avenidas, desapropriações e
verticalização das obras, bem como, a destruição de muitos símbolos históricos construídos
35
no tempo da prosperidade cafeeira. O “Plano de Melhoramentos Urbanos” desenvolvido
pelo então urbanista Prestes Maia, visava reordenar a ocupação campineira. O Plano
apontava “medidas urbanísticas e disciplinadora das funções urbanas”. ( BAENINGER,
1996, p. 46)
Segundo Martins (2000) o plano de Prestes Maia foi finalizado em 1936, mas seus
efeitos foram sentidos efetivamente a partir dos anos 40. “Com o plano a cidade muda de
perfil e a população fica entre perplexa e otimista”. (p. 87) Prestes Maia imaginava um
prazo de 25 anos para a aplicação integral de seu plano que acabou sendo abandonado pela
vertiginosa evolução urbana.
35
Badaró (1996) e Santos (2001) analisam o plano de melhoramentos urbanos e a conjuntura política da
época, resgatando as mudanças realizadas, as desapropriações em massa para a expansão da cidade e a
destruição de inúmeros patrimônios históricos da cidade. Tal plano promoveu intensa ocupação vertical da
área central da cidade.
69
Martins (2002) esclarece que o percentual de urbanização de Campinas subiu de 70%
para 84% entre 1950 e 1960, o dobro da média nacional. É possível constatar neste período
inexistência de favelas na cidade, como sinal de competência administrativa e fidelidade ao
plano diretor que se delineava. Conforme Amaral (apud BAENINGER, 1996), a cidade
tinha uma zona comercial bem definida, bairros residenciais que se desenhavam em
categorias satisfatoriamente estabelecidas.
É inaugurada a via Anhanguera em 1948, que veio propiciar a direção dos fluxos
migratórios para Campinas resultando na expansão da cidade e no aumento do seu
perímetro urbano. Entre 1945 e 1955, segundo Mello (apud BAENINGER, 1996), o
crescimento da área territorial estava em mais de 200%, sendo que na década de 40 a
população urbana cresceu 2,42% ao ano. Desta forma, com o crescimento industrial houve
o adensamento da população nas camadas médias e operárias. Outros dois fatores indutores
desta expansão foram à presença da importante linha de transmissão de energia elétrica de
alta tensão e os incentivos fiscais do poder público: asfaltamento de estradas secundárias,
fornecimento de água por meio da rede municipal de abastecimento que juntos buscavam
incentivar a instalação de indústrias na região. (ZIMMERMANN, apud BAENINGER,
1996)
Entre 1940 e 1960 a área agrícola do município diminuiu consideravelmente, enquanto
que o perímetro urbano expandiu-se, principalmente pós 1950. Ressalta-se que as áreas
agrícolas com menos de 100 hectares sofreram maior redução, enquanto que as grandes
fazendas foram as que menos perderam área. Os desmembramentos das áreas das pequenas
e médias propriedades tornaram-se municípios autônomos, como o caso de Cosmópolis,
Valinhos e Sumaré. Eram áreas de antigos núcleos coloniais, que passaram a inserir-se no
circuito de produção capitalista. Também se ressalta que outra razão da diminuição do
número de pequenas e médias propriedades em Campinas foi o avanço do perímetro
urbano, que desenvolveu um intenso surto especulativo no setor imobiliário. Formaram-se
vários loteamentos localizados principalmente na região sudoeste da cidade, próxima a
rodovia Anhanguera e ao aeroporto de Viracopos, que eram formados por áreas de
pequenas propriedades que naquele período sofriam com a queda do preço do algodão.
Surgia a então chamada periferia da cidade. (SEMEGHINI, 1991),
70
Martins (2000) e Semeghini (1991) relatam que de 1933 em diante houve o aumento
progressivo do emprego industrial com cerca de 100 fábricas e 4.075 operários. Em 1942
instalou-se a primeira grande empresa - Rhodia em Paulínia, ainda distrito de Campinas.
Nos anos 50 foram instaladas outras grandes indústrias: Singer do Brasil e Duratex em
1951, Hiplex e IBRAS/CBO em 1953, a Robert Bosch em 1954. Na região ergueu-se a
Rigesa e a Clark em Valinhos, Chicago Bridge em Paulínia e 3M, IBM e Wabco em
Sumaré. Surgiram também os curtumes, de grande peso fabril, que se aproveitaram das
características da cidade, ou seja, um entroncamento ferroviário para o escoamento e
fornecimento de matéria prima. Paralelamente, a urbanização foi acelerada sendo que em
1950, a População Economicamente Ativa (PEA) era de 49,7% situando-se no setor
terciário, 28,8% no setor secundário e 20,7% no primário, dando sinais do grande êxodo
rural que teria maior impulso nas décadas seguintes.
Lopes (apud BAENINGER, 1996) explica que esta expansão não afetava a auto
imagem da cidade, uma vez que ainda oferecia ótimas condições de vida a seus habitantes.
O poder público para comprovar o alto padrão dos serviços municipais apoiou-se no baixo
índice de mortalidade infantil, possuindo equipamentos médicos e saneamento básico já
introduzido na década de 20, pós-epidemia de febre amarela, que contribuíam na
manutenção destes índices (BAENINGER, 1996)
Nas décadas de 50 e 60 novas características marcaram a ocupação do solo com a
implantação de indústrias dispersa pelo município. Este fato permitiu a ação do capital
industrial gerado por estas instalações mais o capital imobiliário que deu início a um
intenso processo de especulação imobiliária.
71
vazios, que se intensificou a partir dos anos 50: “a expansão da cidade passa a fazer-se
não só mais através da incorporação de terras contíguas ao núcleo já urbanizado, mas
predominantemente com a inclusão de áreas distantes, sem infra-estrutura”. (p. 127)
No período pós 64 houve o desaceleramento do setor de produção de bens duráveis
na região metropolitana do Estado, gerando a partir dos anos 70 um grande número de
desempregados. Houve uma desconcentração das indústrias da capital para regiões mais
dinâmicas do interior paulista sendo, pois a partir deste período, verificada uma
dinamização mais acentuada do processo de industrialização no interior paulista.
72
Nas décadas de 1970 e 1980, ocorreu intenso crescimento econômico na cidade,
devido ao estímulo a expansão industrial36, a um crescente processo de urbanização do
interior paulista e aos movimentos migratórios, que se concentravam em algumas das áreas
do interior do Estado. A década de 1970, sobretudo, caracterizou-se por intensos
deslocamentos de população em todo o Estado de São Paulo. A região de Campinas
recebeu neste período por volta de 445 mil migrantes, sendo que 60,17% provinham de
fluxos intra-estaduais e 38,73% de outros estados. Quanto aos fluxos intra-estaduais o
maior volume adveio da região metropolitana de São Paulo (25,10%), seguido das regiões
situadas a oeste do estado (27%). Em relação ao movimento interestadual, tem-se o Paraná
contribuindo com mais da metade deste fluxo (52,58%), seguido de Minas Gerais
(24,81%), Mato Grosso do Sul (4,7%) e Bahia (3,8%). (Censo demográfico de 1980, IBGE;
FUNDAÇÃO SEADE, 1989, apud BAENINGER, 1996)
Baeninger (1996) salienta que a idade de 0 a 4 anos, correspondia a 7% do total
migratório no período de 1970/1980, sendo a faixa de menor volume migratório. O maior
volume migratório concentrou-se nas idades produtivas, isto é, entre 15 e 39 anos
representado 52%. Quanto ao nível de escolaridade, a autora constata que tanto migrantes
interestaduais, quanto os inter-regionais, em 1980, possuíam baixos níveis de escolarização.
Semeghini (1991) destaca que população urbana em Campinas aumentou a uma
taxa anual de 6,2% na década de 1960 e de 5,8% na de 1970. Desta forma, a população da
cidade veio dobrando, em média, a cada 12 anos, devendo-se a isso os fluxos migratórios.
A Tabela 1 mostra a população residente em Campinas nas décadas de 1970, 1980 e
1990. Entre 1970 e 1980 a população cresceu aproximadamente 76,8%, e em 1990,
125,5%.
36
Segundo Semeghini (1991) a industrialização de Campinas remete a algumas considerações: intensificação
da implantação das grandes empresas de capital estrangeiro; desenvolvimento da própria base industrial local
para o mercado nacional e internacional; boom agrícola; ação do Estado com a implantação da Replan;
implementação do pólo de alta tecnologia (informática, microeletrônica, telecomunicações, química fina).
73
TABELA 1 - População Residente e taxa de crescimento em Campinas entre 1970 e
1990
Martins (2000) e Semeghini (1991) destacam que nos anos 60 e 70, o Brasil
enfrentou um período caracterizado por um de seus maiores movimentos migratórios, com
o fluxo de 30 milhões de pessoas deixando a zona rural e partindo para as regiões
metropolitanas. “É o momento da explosão das regiões metropolitanas e das tentativas de
interiorização do desenvolvimento”. (p. 124) Campinas, destacando-se neste contexto,
evidenciava a falta de planejamento desta expansão, tendo um crescimento exponencial de
favelas.
Para buscar soluções para moradia surgia na segunda metade da década de 1960, em
Campinas, a COHAB - Campinas (Companhia de Habitação Popular de Campinas), pela lei
no. 3213 de 17 de fevereiro de 1965, tendo como acionista majoritária a Prefeitura
Municipal de Campinas. Sua criação destinava-se ao planejamento, produção e
comercialização de unidades habitacionais, especialmente a população de baixa renda.
Assim diz seu artigo 1o.:
74
finalidades sociais estariam em conexão com o Banco Nacional de Habitação (BNH),
podendo receber do mesmo financiamento, assessoramento e diretrizes.
Em 1970 as favelas na cidade eram menos de 1%, ao passo que em 1980 este índice
elevou-se para 7,62%, com 44 mil pessoas habitando em 8.700 barracos. Um jornal da
capital denunciava que o aumento das favelas na cidade de Campinas estava ligado ao
intenso movimento migratório e a desqualificação dos que chegavam:
37
“Migrante cria Favela”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 4 de maio de 1972.
75
resultando nas favelas; ausência de postos de saúde, de creches e escolas; falta de
pavimentação; transporte escasso e precário; precária rede de esgoto38.
O governo municipal, percebendo o avanço gradativo do número de favelas no
município, começa a encaminhar as famílias migrantes, moradoras de favelas, que
possuíam pai de família empregado e registrado, para o Serviço de Assistência Habitacional
(órgão criado junto a Secretaria de Promoção Social e COHAB) onde eram incentivados a
adquirirem casas financiadas pelo BNH. A família pagava uma parcela da residência e a
ocupava, pagando o restante em quinze anos, com reajustes. A primeira, experiência em
Campinas foi com o conjunto residencial Vila Rica, com 485 casas em 196639.
Com o intenso volume migratório e o avanço das favelas a COHAB passou a atuar
de forma mais constante. Em Campinas foi responsável pela construção de 23.247
unidades habitacionais, como agente do Sistema Financeiro de Habitação e 3.807 lotes
urbanizados com recursos próprios e da Prefeitura Municipal de Campinas. Teve como
grandes conjuntos habitacionais as vilas “Padre Manoel da Nóbrega”, com 1.096 casas em
1978 e 928 apartamentos em 1982 e “Padre Anchieta”, com 2.492 casas em 1980 e 1.072
apartamentos em 1981. Os primeiros conjuntos habitacionais eram completos: distribuição
de água; coleta e destinação de esgoto; galerias de águas pluviais, guias e sarjetas,
pavimentação das ruas. A rede elétrica e a iluminação pública eram feitas pela CPFL
(Companhia Paulista de Força e Luz). Em alguns conjuntos também foram construídos
equipamentos comunitários: creches, postos de saúde, escolas, centros comerciais. Estes
equipamentos eram construídos após a entrega dos conjuntos sendo assessorados pela
38
Com o crescente aumento da população de mendigos e pedintes houve a organização mais acentuada da
filantropia, destacando-se neste contexto o Rotary Club de Campinas presidido por Eduardo Barros Pimentel,
alto executivo da Bendix e da Fiesp. A ele juntou-se o presidente da LBA de Campinas Ruy Rodrigues e o
professor da Faculdade de Serviço Social da Puccamp e membro do Lions Club, Darcy Paz de Pádua. Foram
defensores da idéia da criação de instituições comunitárias para o atendimento da população empobrecida da
cidade. Criaram a Federação da Assistência Social na sede da ACIC (Associação Comercial e Industrial de
Campinas), com o objetivo de arrecadarem recursos, estruturarem-se administrativamente, elaborarem
estatutos e contatos com empresas. Os idealizadores da Federação foram procurados pelo ex-prefeito
Lafayette Álvaro de Sousa Camargo, que junto com sua esposa já mantinham uma fundação para atender
crianças pobres. Esta Fundação tinha como patrimônio a Fazenda Brandina, que juntando esforços com a
Federação da Assistência Social, no dia 14 de abril de 1964, aprovaram o estatuto da Federação das Entidades
Assistenciais de Campinas (FEAC) – Fundação Odila e Lafayette Álvaro, tendo como principal patrimônio a
Fazenda Brandina, onde deveria aglutinar as ações sociais de Campinas. A FEAC funcionou primeiramente
na sede da LBA, onde foram feitos os primeiros pedidos de filiações de entidades por creches e orfanatos que
realizaram campanhas de erradicação da mendicância. Em 1976 passou a sua sede própria para a então Vila
Brandina, já tendo 25 entidades assistenciais filiadas. (MARTINS, 2000)
39
“Migrante Cria Favela”, O Estado de São Paulo. São Paulo, 4 de maio de 1972.
76
Prefeitura Municipal (THOMAS, 1991). Ressalta-se que a construção desta estrutura visava
trazer à comunidade que ali iriam se instalar condições de acesso aos seus direitos sociais e
será nestes conjuntos que irão surgir os equipamentos pré-escolares municipais de grande
porte que irão provocar uma mudança substancial no atendimento municipal. O poder
público atuava com uma política social completa, onde a população tinha o direito
primeiramente à habitação, seguido do direito à saúde, educação e lazer. Além disso, com a
criação dos centros comerciais, propiciava-se que cada vila tivesse sua autonomia quanto à
aquisição de serviços básicos. Assim, esta forma de organização pressupunha que seus
moradores pudessem satisfazer todas as suas necessidades evitando-se a ida ao centro da
cidade.
Conforme Semeghini (1991) a COHAB foi um bom exemplo de privatização do
poder público pós 1964 uma vez que era uma empresa privada, dotada de um conselho
administrativo, composto por representantes do governo juntamente aos interesses
empresariais urbanos (construção, projeto, transporte, etc), tendo como controle acionário a
Prefeitura. Trabalhava com recursos federais e escapava ao controle de órgãos executivos e
legislativos locais, não se submetendo ao planejamento urbano.
77
Com o crescimento das favelas, a mobilização popular também cresceu. Em 1969,
os movimentos organizados em bairros e favelas de Campinas formaram-se a partir das
comunidades eclesiais de base (Cebs). Os religiosos afinados às Cebs, entre 1972 e 1973,
articulavam-se com a Pastoral Operária de Campinas apoiando o sindicalismo independente
da cidade, nos moldes dos que se organizaram no ABC paulista o que mais tarde veio a ser
a Oposição Sindical em Campinas, no ano de 1978. Nasceu também a Assembléia do Povo,
movimento popular que reunia representantes das vilas populares que se estruturavam junto
com os primeiros loteamentos clandestinos e favelas da cidade. Realizavam manifestações
no Paço Municipal, reivindicando postos de saúde, creches, saneamento, iluminação, ou
seja, condições sociais básicas. Conquistas foram alcançadas, como a urbanização de
alguns núcleos de favelas feita com recursos exclusivamente municipais e com tratamento
individualizado para cada núcleo.
40
“Campinas já Urbaniza as Favelas”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 24 de janeiro de 1982.
78
Segundo Thomas (1990), entre 1977/78, a Prefeitura de Campinas, com o
crescimento do número de favelas e das pressões políticas das associações dos seus
moradores descartou a idéia de erradicá-las, sendo adotada uma política de atuação nas
próprias favelas com o objetivo de melhorar a vidas de seus moradores. São levadas a estas
moradias: luz elétrica domiciliar, mutirões de limpeza, orientação para construção de
fossas, palestras sobre saúde e atuação de psicólogos para organização destas comunidades.
Neste período a COHAB passou a atuar com os estratos médios da população tendo seus
clientes formados basicamente por operários empregados. A disputa para conseguir uma
casa passava a ser grande, podendo ser verificado a prática de clientelismo na seleção de
obtenção das moradias. Isto provocou, entre outros fatores, a uma indução dos mais pobres
para as favelas, cortiços e autoconstruções em lotes periféricos.
Em 1979 as favelas cercavam a cidade e se infiltrava nela. Sua população era
composta na maioria por pessoas que vieram do campo, de origem do próprio Estado de
São Paulo, do Paraná e Minas Gerais. Da população favelada 24,72% era composta por
crianças com menos de 6 anos, que viviam em péssimas condições de habitação, saúde e
alimentação41.
Em 1980/81, havia em Campinas por volta de 80 loteamentos carentes, sendo que
43 estavam à beira de córregos e áreas alagadiças, abrigando uma população de 167.015
pessoas em condições precárias.
Em 1986 a desnutrição infantil havia aumentado. Em Campinas 80% das crianças
com menos de cinco anos de idade eram desnutridas, sendo elas moradoras das regiões
periféricas da cidade42. A taxa de mortalidade infantil também era alta nestas regiões, onde
a desnutrição materna e o nascimento prematuro eram as suas principais causas. Ambas
estavam ligadas Às precárias condições de vida em que se encontrava esta população43.
Semeghini (1991) aponta como principais efeitos sociais do crescimento econômico,
populacional e urbano deste período os seguintes aspectos:
1. aumento do número de pessoas pobres, decorrente do êxodo rural, das
condições perversas de distribuição de renda - os exíguos poderes aquisitivos
41
“Pesquisa mostra o drama das favelas de Campinas”. Diário do Povo. Campinas, 12 de abril de 1979;
“O problema da urbanização das favelas”. Correio Popular. Campinas, 31 de maio de 1979.
42
“Desnutrição, uma epidemia que se alastra”. Diário do Povo. Campinas, 05 de janeiro de 1986.
43
“Favelas: desnutrição crônica”. Diário do Povo. Campinas, 01 de maio de 1988.
79
das camadas pobres, impediam-lhe o acesso às mínimas condições de
habitação e sobrevivência digna;
2. controle do capital imobiliário especulativo sobre a expansão física da
cidade, resultando em uma malha urbana com bairros longínquos e de
ocupação rarefeita, cortada por enormes vazios, tornando caro e
problemático o provimento de infra-estrutura e transporte, isolando a
população pobre espacialmente e fazendo subir terrenos acima dos níveis
inflacionários;
3. ineficiência da atuação do poder público, que mesmo não ocorrendo à
diminuição absoluta da receita real dos municípios no período de 1965/1980,
a administração municipal não conseguiu atender as necessidades da
população. Possivelmente se a opção fosse por soluções mais baratas e
alternativas em contraposição à opção por obras faraônicas e patentes
desperdício de recursos, os índices sociais poderiam ser diferentes.
Assim, Campinas que era apontada como um dos municípios mais ricos da região
até então, evidenciou sinais de problemas de planejamento urbanístico e descontrole da
miséria em face ao crescimento vertiginoso de sua população. A pobreza urbana era
notável, devido ao surgimento de favelas, cortiços e expansão intensa à periferia da cidade.
Juntou-se a estes fatores o aumento da violência e as desigualdades sociais. Problemas de
políticas sociais foram observados intensamente na região de Campinas, pois ao mesmo
tempo em que se assistia um processo de expansão econômica (grandes indústrias e a
confluência de uma migração da classe média intelectual às indústrias de alta tecnologia e
aos pólos de pesquisa), enfrentava-se a alta migração de uma população de baixa renda,
absorvida geralmente pela construção civil e pelo setor terciário. Tal população ocupou a
região periférica da cidade, distante do centro urbano, sem as condições básicas de
habitação e sem os serviços essenciais de saúde e educação, sofrendo crescente
deterioração de sua qualidade de vida.
Será neste contexto que o objeto em estudo será analisado, pois para a compreensão
em como as políticas públicas para pré-escola em Campinas se conformaram é fundamental
ter um panorama geral da cidade. Questões como o aumento vertiginoso da população no
período em estudo que ocasionaram os problemas já ressaltados, expansão urbana
80
desordenada, aumento de favelas, abertura política entre outros, irão influenciar
diretamente nas propostas da municipalidade frente à expansão de vagas nas pré-escolas da
cidade, bem como na qualidade dos serviços prestados para esta faixa etária.
81
82
Capítulo 3 - O atendimento a criança de 4 a 6 anos pela Secretaria Municipal de
Educação de Campinas: do surgimento em 1940 até 1969
83
QUADRO 4 – Equipamentos Públicos Municipais de Atendimento Educacional à Criança de Campinas
– definição, órgão responsável, faixa etária, período de atendimento, equipe profissional, decreto e ano
de criação (1940-1969)
Parque Infantil – Criado por Serviço de 4 a 12 8:00 às 10:30 Diretora; Decreto no. 1940 a
P.I. Mário de Assistência anos, e das 14:00 escriturário; 360 de 29 de 1981.
Andrade em Sócio- sendo às 16:30. Em corpo dezembro de
São Paulo, Educacional, que as 1957, passa a docente 1951. (após a
cujo modelo vinculado à maiores atendimento (educação inauguração
foi seguido Diretoria de de 7 anos ininterrupto. física, de dois PIs).
em Ensino e freqüenta educação
Campinas. Difusão vam em infantil e
Seu objetivo Cultural período educação
era a (DEDC). oposto recreativa);
educação ao da médicos;
não-escolar, escola. dentistas e
dando auxiliar de
ênfase aos inspeção.
aspectos (os três
lúdicos e a últimos
cultura ficavam
popular.(FA ligados ao
RIA, 2002) DEDC),
equipe de
apoio –
limpeza,
cozinha e
jardinagem.
* Em 1970, 4 E.Ps.são cedidas ao Governo do Estado. Em 1971, 14 E.Ps. tem seus prédios cedidos ao
Governo do Estado, sendo transformadas em Grupos Escolares. Em 1975, as E.Ps. passam a atender em dois
períodos (8:00 às 11:00 e 11:00 às 14:00), sendo denominadas Escolas Municipais de 1o. Grau - E.M.P.G.,
pelo Decreto no. 4.532 de 27/09/74. Neste mesmo ano, os P.Is. à elas anexados, são transformados em classes
de ensino pré-escolar, com 1 ano de duração, com o objetivo de preparar crianças de 6 anos para a leitura e
escrita.(RAMOS, 2001)
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Leis, decretos e resoluções promulgadas no
exercício de 1951. Campinas: Oficinas Gráficas da Empresa a Tribuna, 1951; PREFEITURA MUNICIPAL
DE CAMPINAS. Secretaria Municipal de Educação. Catálogo das Escolas Municipais de Campinas.
Campinas, 1996; Diário oficial do Município de Campinas de 04/02/67; 21/02/68.
3.1 Estrutura organizacional da Secretaria de Educação de Campinas
87
FIGURA 1 – Entrada do Departamento de Difusão Cultural (DEDC) localizado no
Teatro Municipal de Campinas – 10 de agosto de 1952.
88
3.2 Os Parques e Recantos Infantis
89
finalidade afastar as crianças da criminalidade, integrando-as num
ambiente apropriado com atividades saudáveis e educativas, tendo como
base conhecimentos da criança e seu desenvolvimento neuro-psico-
motor”. (CAMPINAS, 1999, p. 17)
90
FIGURA 2 – Parque Infantil “Celisa Cardoso do Amaral” – Vila Industrial -década
de 1950.
Construído pelo engenheiro Lix da Cunha, o Parque da Vila Industrial além de sua
área interna, possuía uma grande área externa, abrangendo os terrenos municipais da antiga
chácara Frias e pastos do Matadouro, sendo arborizado e ajardinado, com palco ao ar livre,
piscina, campo para ginástica e brinquedos de parque para as crianças.
Ainda conforme o documento “Currículo em Construção” (1999), as “disciplinas
educativas” destes atendimentos eram: Educação Infantil, Educação Recreativa, Educação
Física e Educação Agrícola. As reuniões pedagógicas eram realizadas aos sábados, “com o
objetivo de promover o intercâmbio de idéias e a troca de sugestões em relação aos
problemas técnico-administrativos”. (p. 17)
Ramos (2001) indica que os espaços dos Parques e Recantos Infantis se propunham
à assistência sócio-educacional, na busca de promover a prevenção na área da saúde,
erradicando a ignorância, “em favor da ordem médico-higiênica, para a conquista do
mundo civilizado” (p. 21), e objetivavam que as práticas saudáveis vivenciadas pelas
crianças nestes espaços fossem estendidas às suas famílias. Enfatizavam a educação
91
higiênica e social da criança e pretendiam amenizar os conflitos entre classes sociais.
Conforme O Senhor Ruyrillo:
92
menores de 7 anos que freqüentavam o espaço dos Parques e Recantos eram, na sua
maioria, filhas de mães trabalhadoras que não tinham com quem deixar os filhos.
Os Parques e Recantos Infantis funcionavam das 8 às 10h30min e das 14 às
16h30min, com um total de 2.160 alunos matriculados. Não era fornecido o almoço, porém
recebiam lanches reforçados, feitos com a produção dos Clubes Agrícolas. Em 1957, por
reivindicação da população e pelo reconhecimento do então Secretário de Educação e
Cultura, Prof. Mário Gianini, da necessidade de as crianças terem uma alimentação
completa visto que seus pais trabalhavam em fábricas e residências o dia todo, os Parques e
Recantos passaram a atenderem em tempo integral. Neste caso, o fornecimento de
alimentos passou a ser efetuado pelo Serviço de Merenda Escolar de Campinas, quando as
crianças recebiam além do lanche, almoço (sopa reforçada, macarronada, bife, ovos e leite)
e sobremesas (frutas ou doces). A Campanha do Ministério de Educação e Cultura passou
também a fazer parte dos Parques, Recantos e Escolas municipais, que oferecia leite em pó
para todas as crianças matriculadas nestes estabelecimentos. (RAMOS, 2001)
Conforme o relato de uma diretora do Parque Infantil Profa. Odacy F. de Andrade
Neto (apud RAMOS, 2001), houve uma queda na freqüência nos Parques quando passaram
a atender em período integral, pois a clientela tornou-se prioritariamente de filhos de pais
trabalhadores. Com isso o atendimento “passou a ser considerado assistencial, por causa
do almoço e da mãe que tinha que trabalhar”. (p. 36)
Ferreira (1996) e Ramos (2001) explicam que o quadro funcional dos Parques Infantis se
formava por:
1. Diretora, com a função de superintender, orientar e controlar tudo relacionado aos
serviços oferecidos pelo Parque;
2. Escriturário ou Auxiliar de Escritório, que poderia substituir a diretora em caso de
ausência;
3. Corpo Docente: uma professora de Educação Física, uma de Educação Infantil,
uma de Educação Recreativa, uma professora responsável pelo Clube Agrícola.
93
Os médicos e dentistas ficavam diretamente ligados ao Departamento de Ensino e
Difusão Cultural (DEDC), assim como o Auxiliar de Inspeção de Escolas e Parques
Municipais, um consultor técnico para tudo o que se referia à organização, eficiência e
funcionamento dos Parques, ficando todos integrados aos trabalhos realizados nos Parques.
As professoras de Educação Infantil atendiam crianças de 3 a 7 anos e de Educação
Física as maiores de 7 anos. Ambas ministravam aulas semelhantes adaptadas às faixas
etárias. A responsável pelo Clube Agrícola era encarregada das atividades de horticultura,
fruticultura, jardinagem e criação de animais.
As professoras, para ingressarem nos Parques deviam fazer estágio de 10 dias na sede
do Serviço de Recreação de São Paulo, onde recebiam orientações técnicas e teóricas,
sendo no final do período submetidas a exames. Em seguida deviam fazer estágios
organizados pelo Curso de Especialização para Professores do Estado de São Paulo e pelo
Departamento de Educação Física e Esportes do Estado de São Paulo (DEFE), onde
participavam das atividades dos Parques já existentes. Campinas foi uma das sedes no
recebimento dessas estagiárias, uma vez que seu atendimento era modelo no Estado.
As Reuniões Pedagógicas eram realizadas na sede ou nas dependências do DEDC,
promovendo a troca de experiências entre professores e sugestões para os problemas
enfrentados. Conforme o decreto no. 360 de 29/12/51, nos artigos 66, 69, 70, 73 (apud
RAMOS, 2001) as reuniões “devem ser de natureza prática, quer tenham por objetivos
aulas, palestras, demonstrações ou conferências”. (p. 39)
Os Parques e Recantos Infantis destacavam-se pela organização, professores
comprometidos: “tudo na estrutura do Parque é estudado (...) o prédio, as instalações a
área verde, a educação propiciadas à criança. Principalmente a educação. As professoras
são especializadas, há orientadoras pedagógicas, nutricionistas,...” – relato do Senhor
Ruyrillo de Magalhães em reportagem ao jornal local44.
44
“Parques Infantis. Primeiros Passos para um desenvolvimento Integral da Criança”, Correio Popular,
21/09/80 apud FERREIRA, 1996.
94
3.2.3 Localização e infra-estrutura dos PIs e RIs
45
Tanques de areia destinados a brincadeiras infantis.
95
QUADRO 5 –Parques e Recantos Infantis do Município de Campinas - localização e
ano de inauguração (1940 a 1969)
96
QUADRO 6 – Distribuição dos PIs e RIs por região - CIs (Secretaria de Promoção
Social), PIs e RIs (Secretaria da Educação) – Campinas 1940 -1970
97
LEGENDA MAPA 1 – Campinas-SP
1. PI “Agostinho Pátaro”;
2. PI “Prof. Carlos Zink”
3. PI “Celisa Cardoso do Amaral”;
4. PI “Cônego Manoel Garcia”;
5. PI “Hilário P. Magro Júnior”;
6. PI “José Pires Neto”;
7. PI “José Villagelim Neto”;
8. PI “Lafayete Álvaro S. Camargo”;
9. PI “Manoel Afonso Ferreira”;
10. CI “Maria Ap. Vilela Gomes Júlio”;
11. PI “Mario Gatti”;
12. PI “Perseu Leite de Barros”;
13. PI “Rafael Andrade Duarte”;
14. PI “Zuleika H. Novaes”.
98
3.2.4 O Clube Agrícola
3.3 As Escolas-Parques
99
era formar alunos de 1ª a 8ª série, em um espaço organizado para as aulas curriculares no
período antes do almoço e de aplicação cultural para depois do almoço.
Também atendiam as salas de pré-primário (crianças de 6 anos). Estas unidades
possuíam
Elas surgiram no ano de 1966 e contavam com 10 unidades até o ano de 1969,
ressaltando-se que neste ano 7 delas foram inauguradas na mesma data.
100
FIGURA 3 – Escola-Parque – Bairro Vila Rica – década de 1960.
Um jornal local elogiava a criação das Escolas-Parque como uma política de bem
estar social que, além de oferecer uma educação de qualidade, era um espaço onde os
filhos da municipalidade podiam ficar em tempo integral, recebendo alimentação
adequada, mesmo que isto significava elevado custo do serviço.
46
“Ensino Primário Municipal”. Correio Popular. Campinas, 24 de outubro de 1969.
101
3.4 Os Centros Infantis Municipais
47
Em 1975 a SPS, com o objetivo de atender a crescente problemática social do município compôs em sua
estrutura administrativa o Gabinete do Secretário e o Departamento de Promoção Social, com os seguintes
serviços: Setor de Expediente, Assessoria Técnica de Estudos e Projetos, Serviço de Promoção do Menor,
Serviço de Colocação e Capacitação Profissional, Serviço de Promoção e Sub-Habitação Urbana.
102
A Secretaria de Promoção Social justificava a criação dos CIs com os seguintes
argumentos: “preocupação com o abandono de crianças, a impossibilidade de atenção da
mãe trabalhadora, a possibilidade de guarda da criança pequena.” (FERREIRA, 1996, p.
82) O pressuposto era que o CI poderia suprir a ausência da mãe em relação ao filho no
período em que estaria trabalhando.
Embora os CIs acabassem por atender crianças das camadas populares a SPS
frisava que era um atendimento para qualquer classe social, com o objetivo de suprir as
necessidades da criança na ausência da mãe. Era assim baseado no modelo de substituição
materna, considerando que naquele momento ainda não havia literatura divulgada que
questionasse este preceito. Como é sabido a creche como direito da criança e não somente
da mãe, viria a ser consagrado na Constituição de 1988.
De acordo com o documento “Histórico da Rede de Centros Infantis do Município
de Campinas”, publicado em 1981 (apud FERREIRA, 1996) o CI foi assim definido:
103
Em 1971 a Prefeitura nas comemorações da Revolução de Março de 1964, lançou o
lema “Março é tempo de construir, ajude ainda mais sua comunidade”, inaugurando um CI
na Vila Presidente Castelo Branco.
104
“Para a instalação de um Centro Infantil, segundo a Secretária de
Promoção Social, são requisitos materiais indispensáveis, um prédio
para acolher no máximo 120 crianças e no mínimo 60, cercado por uma
área externa arborizada, com as seguintes instalações: um galpão
coberto, berçário com sala de banho, vestiário e banheiro, salas de
repouso; sala de refeições, salas de aula, playground, tanque de areia e
áreas cimentadas para recreação dirigida, sala de administração, de
costura, de médico e enfermagem, cozinha, dispensa, lavanderia,
rouparia e sanitários”. (RAMOS, 2001, p. 94)
Segundo Ferreira (1996) apesar da lotação ser estipulada entre 60 e 120 crianças,
nos grandes CIs este limite extrapolava a 210. Entre as condições para que um CI fosse
construído estava a priorização de áreas próximas às famílias a serem atendidas, sendo o
prédio construído no centro do terreno, de forma que houvesse grande área livre para a
criança; a adequação das obras às necessidades das crianças; equipamento instrumental
adequado às necessidades específicas de cada faixa etária atendida.
Muitos dos CIs que surgiram no final da década de 70, segundo Ferreira (1996),
vieram de reivindicações das organizações de bairros, sendo que a proposta de governo
deste período cujo prefeito era Francisco Amaral, tinha como uma de suas metas, o
benefício social pela abertura à participação da comunidade junto à gestão municipal.
Apesar de ser um momento de ditadura militar o governo municipal de Campinas
diferenciou-se pela busca da participação efetiva da população. É neste período que se deu
o movimento de mulheres na luta por creche, visto que, elas passaram a inserir-se mais
efetivamente no mundo do trabalho e precisavam de atendimento público para seus filhos.
Ferreira (1996) e Ramos (2001) ressaltam que inúmeras reivindicações populares
foram feitas neste período nos bairros periféricos da cidade, por novos CIs. Os já existentes
espalhados pela periferia da cidade, possuíam número de vagas insuficientes para a
demanda. Em função desta problemática, utilizavam critérios para matrícula: as crianças
filhas de mães trabalhadoras e crianças subnutridas. Conforme dados da SPS, em 1981, dos
14 CIs, 80,77% das famílias atendidas tinham entre um a três salários mínimos, sendo a
profissão predominante a de empregada doméstica. Quanto à condição habitacional, 43,2%
105
das casas eram alugadas. Assim, os critérios para matrícula delinearam-se da seguinte
forma:
O clube de mães
Quanto ao quadro de funcionários do CI, este era formado por: uma administradora,
um enfermeira prática, uma cozinheira, duas ajudantes de cozinha, duas faxineiras, uma
lavadeira, uma passadeira, dois guardas, pajens, duas professoras que eram cedidas pela
Secretaria de Educação, uma assistente social, assessoria de assistentes pedagógica e
106
psicológica. As pajens dividiam-se em: berçário (crianças até 18 meses) – uma para cada 5
crianças; crianças de 18 meses a 3 anos – uma para cada 10 crianças; crianças de 3 a 5 anos
– uma para cada 15 crianças. O número de funcionários poderia sofrer variações conforme
o número de crianças atendidas.
Ferreira (1996) destaca que o treinamento das pajens era feito por assistentes
sociais e psicólogos. As assistentes sociais faziam a supervisão das creches,
supervisionando de 2 a 5 CIs. Elas orientavam as administradoras, na garantia do melhor
atendimento da criança, no que diz respeito à orientação pedagógica e a assistência
médico-profilática. Também realizavam um trabalho com as mães das crianças buscando
orientá-las no trato dos filhos. As contratações do pessoal eram feitas pela Prefeitura, sendo
que as inscrições e a seleção eram realizadas pelas assistentes sociais. As candidatas
passavam por entrevistas, sendo chamadas quando surgiam vagas. Na gestão de Francisco
Amaral, a comunidade era quem indicava os nomes das candidatas ao trabalho, sendo que
posteriormente passavam pela seleção das assistentes sociais, que também podiam demiti-
las caso se mostrassem inadequadas. O grau de escolaridade destas profissionais variava de
semi-analfabetas a concluintes do segundo grau. Para administradora e a auxiliar exigiam-
se o primário. Contudo, o que mais contava era o carinho que as funcionárias tinham com
as crianças, buscando aproximar-se da relação mãe e filho.
As pajens passavam por constantes cursos de aprimoramentos que buscavam
orientá-las na busca de atividades que estimulassem o desenvolvimento da criança. A
administradora era escolhida entre as pajens que mais se destacasse, sendo a líder do
grupo. Elas faziam o papel de chefia imediata no CIs. Os cursos das administradoras eram
realizados pelas assistentes sociais e pelo pessoal dos Recursos Humanos. (FERREIRA,
1996)
Havia o atendimento de enfermagem, que ministrava remédios receitados pelos
médicos para as crianças, bem como acompanhavam o histórico médico de cada uma delas.
Inicialmente os CIs contavam com visitas semanais dos médicos, sendo que a criança só
era mandada de volta para sua casa quando estivesse com alguma doença contagiosa.
Em síntese o atendimento municipal à criança de pré-escolar em Campinas definiu-
se por três tipos: as escolas-parques, os parques e recantos infantis e os centros infantis,
sendo que este último esteve ligado a Secretaria de Promoção Social. Surgindo no ano de
107
1940 o primeiro parque infantil, Campinas fecha a década de 1960 com 13 Parques
Infantis, 2 Recantos infantis e 10 escolas parques.
Conforme dados do “Plano Preliminar de desenvolvimento Integrado de Campinas
– 1970” 48, Campinas possuía em 1969 na sua rede municipal pré-escolar 129 crianças em
escolas isoladas, 20 em classes especiais e 236 nas escolas-parques, totalizando 385
crianças distribuídas em 23 salas.
48
Prefeitura Municipal de Campinas. Escritório Municipal de Planejamento. “Plano Preliminar de
Desenvolvimento de Campinas – 1970”, Volume II – Estudos Setoriais.
108
CAPÍTULO 4 - A política e a organização do atendimento pré-escolar pela Secretaria
Municipal de Educação de Campinas (1969-1988)
109
Municipais de Educação Infantil (CEMEIs). Neste mesmo ano foram criados os Centros
Integrados Municipais de Educação Infantil (CIMEIs) que era o agrupamento de um
CEMEI com uma EMEI ou duas ou mais EMEIs com classes reduzidas49.
O Quadro 8 apresenta todos os equipamentos públicos municipais destinados à criança
de 0 a 6 anos existente em Campinas, de 1969 até 2006. São descritos os nomes dos
equipamentos, os órgãos responsáveis, a faixa etária a que se destinavam, os períodos de
atendimentos, a composição da equipe profissional, os decretos que determinaram seus
funcionamentos e os anos de criação e extinção. Totalizam 5 tipos equipamentos que
somado aos já criados no período anterior chegam a 9 tipos de equipamentos de
atendimento ao pré-escolar. Importante ressaltar que os Parques e Recantos Infantis e as
Escolas-Parques, surgiram antes do período em estudo, mas persistiram até o ano de 1981,
quando passam a serem denominados Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI).
49
Ressalto que a passagem dos CIs para a Secretaria da Educação, embora sendo no ano de 1989 (dentro do
período em estudo), implicou em uma série de mudanças e de reestruturação no atendimento a criança de 0 a
6 anos. Esta mudança ocorreu com a entrada do prefeito Jacó Bittar pertencente ao PT (Partido dos
Trabalhadores) pós eleições de 1988. Naquele ano é nomeado para Secretário da Educação o professor da
Faculdade de Educação da Unicamp Newton Antônio Paciulli Bryan. Todo este processo implica em uma
análise aprofundada que julgo necessário um estudo específico para esta mudança. Portanto, esta dissertação
não irá tratar deste assunto uma vez que esta mudança irá resultar em grande transformação da rede municipal
para as décadas seguintes.
110
QUADRO 8 – Equipamentos Públicos Municipais de Atendimento Educacional à Criança de Campinas
– definição, órgão responsável, faixa etária, período de atendimento, equipe profissional, decreto e ano
de criação (1969-1990)
cozinheira
s
faxineiras
e guarda.
C.I.M.E.I. É o agrupamento de Secretaria 3 7:00 às Diretora, Decreto no. 1989
(Centro um CEMEI e uma Municipal meses 19:00 vice- 11.051 de
Integrado EMEI ou duas ou mais de a6 horas. diretora, 23/12/92.
Municipal de EMEIs com classes Educação. anos. orientador
Educação reduzidas. a
Infantil) pedagógic
a,
professora
s,
monitoras,
cozinhei
ras
faxineira
se
guarda.
* Em 1985, Campinas possui um total de 200 salas comunitárias, atendendo um número de 6.000 crianças.
Neste mesmo ano, é extinto o MOBRAL e criada a fundação EDUCAR. As verbas para os núcleos eram
Federais, sendo repassada aos municípios. Em 16/12/1987, pela lei no. 5.830, a fim de resolver a situação
funcional dos professores destes núcleos, a Prefeitura de Campinas cria a F.U.M.E.C. - Fundação Municipal
para a Educação Comunitária. Pela lei no. 6.025 de 20/12/88, o governo municipal passa a manter
parcialmente as pré-escolas mantidas pela F.U.M.E.C., sendo que a partir do ano de 1989, as pré-escolas
comunitárias passam a ser de competência exclusiva da Secretaria Municipal de Educação, atendendo um
total de 5.182 alunos.
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Secretaria Municipal de Educação. Catálogo das
Escolas Municipais de Campinas. Campinas, 1996; Diário oficial do Município de Campinas de 11/11/81;
24/12/92.
Para uma melhor visualização do leitor, segue a linha do tempo do atendimento
municipal à criança de 0 a 6 anos pela Prefeitura de Campinas. Combinado-a com os
Quadros 4 e 8 é possível perceber a gradativa ampliação do atendimento municipal iniciado
no ano de 1940 com a criação do primeiro Parque Infantil e no ano de 1951 com a criação
do primeiro Recanto Infantil. Destaca-se nesta linha do tempo a intensa movimentação da
rede municipal em relação ao atendimento pré-escolar no período deste estudo, com a
extinção das Escolas-Parques, a criação das pré-escolas comunitárias em 1983, que no ano
de 1987 passam a ser geridas pela criação da FUMEC (Fundação Municipal para a
Educação Comunitária), transformação dos PIs e RIs em EMEIs, criação e extinção do
projeto-creche (1987-1988 - duração de apenas 1 ano), a integração dos CIs a Secretaria de
Educação, sendo transformados em CEMEIs e a criação dos CIMEIs (CEMEI mais EMEI,
ou duas ou mais EMEIs de pequeno porte), no ano de 1989.
Esta intensa movimentação possibilita concluir que a Secretaria de Educação de
Campinas não esteve omissa ao atendimento do segmento em estudo. Embora esta linha do
tempo não traga resultados quantitativos, os quais serão analisados mais a frente, pode-se
considerar que houve uma preocupação do governo local em proporcionar o atendimento ao
pré-escolar. Isto se comprova com a criação das pré-escolas comunitárias, bem como na
busca em adequar o papel da pré-escola para aquele período, quando transforma os PIs e
RIs em Escolas Muncipais de Educação Infantil. Esta mudança traz em seu bojo uma outra
proposta de atendimento que será pontuada mais a frente, dentro da gestão da Secretária
Maria Helena de Mello Pupo.
Também é interessante notar que assim como acontece no país (ver Quadro 2 e 3)
há em Campinas uma grande variedade de atendimento à criança pré-escolar que oscila em
funções e em órgãos responsáveis. Assim, tem-se o Serviço de Assistência Sócio-
Educacional vinculado a Diretoria de Ensino e Difusão Cultural responsável pelos Parques
e Recantos Infantis, a Secretaria de Educação e Cultura responsável pelas Escolas-Parques,
a Secretaria de Promoção Social responsável pelos Centros Infantis, a parceria entre a
comunidade, o financiamento federal e municipal via Secretaria de Educação na criação das
pré-escolas comunitárias, a FUMEC que passa a assumir as pré-escolas comunitárias no
ano de 1987 e também é co-responsável junto com as empresas privadas, a FEAC na
criação do projeto-creche e finalmente as EMEIs que pertencem à Secretaria de Educação.
114
Linha do Tempo dos Orgãos de Atendimento Municipais
à Criança de 0 a 6 anos em Campinas - 1940 a 1990
115
4.1.1 Distribuição das unidades de atendimento infantil no território municipal
Até antes de 1970 Campinas possuía 13 PIs, 2 RIs e apenas 1 CI, como demonstra o
Quadro 5. Entre 1970 a 1980, Campinas já contava com mais 7 Parques Infantis e 7 Centros
infantis localizados nas regiões norte, noroeste, sul e leste, não havendo nenhum ainda na
região sudoeste, área que passa a ser ocupada pela população com mais intensidade na
década de 1980. Nesta mesma década o atendimento cresce consideravelmente, expandindo
também para a região sudoeste. Neste período são inaugurados 2 mini-creches, 30 Centros
Infantis e 37 EMEIs.
O Quadro 9 traz a relação das unidades de atendimento público municipal de
Campinas à criança de 0 a 6 anos, por região e ano de criação. Neste quadro estão incluídas
as EMEIs pertencentes à Secretaria de Educação e os Centros Infantis pertencentes à
Secretaria de Promoção Social até o ano de 1989. Os períodos foram divididos entre 1970 e
1980 e entre 1980 e 1990. Existem 6 EMEIs que não possuem data de inauguração, pois
foram criadas de forma provisória em barracões de fábricas, de igrejas ou em centros
comunitários sem documentação do seu ano de fundação não sendo possível incluí-las no
quadro. São elas: EMEI “Pinóquio” na região norte; EMEI “Verde e Amarelo” e EMEI
“São Domingos Sávio” na região sul; EMEI “Zé Colméia” e EMEI “Coraçãozinho Feliz”
na região leste e EMEI “Shangai” na região sudoeste.
116
QUADRO 9 – Localização das unidades de educação municipal infantil – CIs
(Secretaria de Promoção Social) e EMEIs (Secretaria da Educação) (1970 – 1990)
117
A Tabela 3 apresenta a distribuição dos equipamentos públicos municipais de
atendimento à criança de 0 a 6 anos no município de Campinas por ano de criação. Nela
estão incluídas todas as EMEIs e CIs. Em seguida é apresentado o gráfico da distribuição
dos equipamentos por região e ano de criação.
80
70
60
50 ATÉ 1970
40 1970 - 1980
30
20
1980 - 1990
10
0
E
L
TE
TE
L
SU
TA
T
ST
ES
ES
R
TO
LE
O
O
O
N
D
SU
O
N
118
A partir da análise da Tabela 3 e do Gráfico 1 é possível levantar os seguintes aspectos:
• quando se observa a distribuição regional dos equipamentos de educação infantil,
há um crescimento entre as décadas de 1970 e 1990, ressaltando-se um salto
quantitativo no período entre 1980 e 1990, no entanto verificando-se que o
crescimento não se deu uniformemente;
• na década de 1980 as regiões sudoeste e sul foram as regiões onde a população
mais expandiu; também foi nelas que houve maior crescimento no número de
equipamentos, sendo que na região sudoeste nos períodos anteriores a 1980 não
teve registros de equipamentos de educação infantil e na região sul houve um
decréscimo no número de equipamentos entre as décadas de 1970 e 1980;
• as regiões com menor expansão urbana, norte e leste, foram também as regiões
onde houve um menor crescimento em número de equipamentos;
• contrariamente ao que foi observado nas outras regiões, na região leste houve um
decréscimo no número de equipamentos nos períodos analisados.
Desta forma, a Tabela 2 e o Gráfico 1 demonstram o crescimento do número de
equipamentos de educação infantil pública municipal de Campinas concomitante com o
aumento da população (Tabela 1), no período de 1970 a 1990; processo intensificado na
década de 1980. Chamamos a atenção que esta comparação é feita sem levar em conta a
população de 0 a 6 anos do período, uma vez que não há dado disponível no que se refere
ao índice de crescimento desta faixa etária no município.
O mapa da cidade de Campinas que segue vem dividido por regiões e a localização dos
CIs e EMEIs por ano de criação. Nele é possível perceber a ocupação do solo campineiro
por unidades de atendimento infantil da região central da cidade para periférica, buscando
acompanhar o deslocamento e a ampliação da população campineira e migrante para tais
regiões. Como já foi dito, entre as décadas de 1970 e 1980, Campinas sofre um grande
surto migratório que faz a sua população dobrar. Esta população vem ocupar as regiões
periféricas da cidade, com pouca infra-estrutura (ruas asfaltadas, rede de esgoto, transporte,
etc) e carente de órgãos de atendimento público (postos de saúde, creches, pré-escolas,
escolas, praças dentre outros). Será, portanto nestas regiões (sudoeste, noroeste e sul) que
haverá um maior investimento em construções de pré-escolas e creches.
119
120
LEGENDA MAPA 2 e 3 – EMEIs (Secretaria de Educação) e CIs (Secretaria da Promoção Social) –
Campinas-SP
121
54. EMEI “Formozinha”;
55. CI “São Francisco de Assis”;
56. CI “Francisco Xavier Sigrist”;
57. EMEI “Gente Amiga”;
58. EMEI “Guilherme de Almeida”;
59. CI “Haydee Maria Pupo Novaes”;
60. CI “Helena Novaes Rodrigues”;
61. EMEI “Helena Novaes Rodrigues”;
62. EMEI “Iniciação”;
63. CI “Isaura Roque Quércia”;
64. CI “São João Batista”;
65. CI “D. Júlia dos Santos Dias”;
66. CI “Lea S. Duchovni”;
67. CI “Leonor Mota Zuppi”;
68. CI “Lídia Bencardini Maselli”;
69. CI “Lua de Papel”;
70. CI “Maria Antonia Mendonça de Barros”;
71. CI “Maria Batrun Cury”;
72. CI “Maria Beatriz Carvalho Moraes”;
73. EMEI “Maria de Lourdes Cardoso Santos”;
74. CI “Maria de Lourdes Dória do Amaral”;
75. CI “Matilde Azevedo Setúbal”;
76. CI “Mauro Marcondes”;
77. CI “Nair Valente Cury”;
78. EMEI “Jd. Nova América”;
79. CI “Orlando Ferreira da Costa”;
80. EMEI “Papai Noel”;
81. EMEI “Pezinhos Descalços”;
82. EMEI “Pequeno Príncipe”;
83. EMEI “Ping-Pong”;
84. EMEI “Raio de Sol”;
85. EMEI “Recanto da Alegria”;
86. EMEI “Reino Encantado”;
87. CI “Dr. Roberto Telles Sampaio”;
88. EMEI “Dr. Roberto Telles Sampaio”;
89. EMEI “Satélite Íris”;
90. EMEI “Sementes do Amanhã”;
91. EMEI “Serelepe”;
92. EMEI “Shangrilá”;
93. EMEI “Snoopy”;
94. EMEI “Sol do Amanhã”.
95. EMEI “Sossego da Mamãe”;
96. CI “Sônia Lenita G. T. Câmara”.
122
355 na região leste e nenhuma nas demais regiões, totalizando a capacidade de atendimento
em 810 crianças. Na gestão de Francisco Amaral (1977-1982) a capacidade de atendimento
aumentou para 320 crianças na região sul, 390 na região norte, 330 na região leste, 495 na
região noroeste e 350 na região sudoeste totalizando o aumento em 1885 na capacidade de
atendimento. Na gestão de José Magalhães Teixeira (1983-1988), a capacidade de
atendimento aumentou em 625 crianças na região sul, 450 na região norte, 180 na região
leste, 350 na região noroeste e 1187 na região sudoeste, totalizando o aumento na
capacidade de atendimento em 2792.
Assim a gestão de Magalhães Teixeira foi a que mais aumentou a capacidade de
atendimento à criança pré-escolar, seguido pelo governo de Francisco Amaral. Chamamos
a atenção que no governo de José de Magalhães Teixeira o aumento da capacidade de
atendimento é 4 vezes maior que a do seu antecessor, privilegiando a região sudoeste uma
vez que o aumento da capacidade de atendimento nesta região é quase o dobro. A
capacidade de atendimento no governo de Francisco Amaral dobra em relação a Lauro
Péricles sendo que este também dobra em relação a seu antecessor Orestes Quércia.
É um movimento que condiz com o que está ocorrendo em nível nacional. É
também neste período que há um maior crescimento da população campineira (vide Tabela
1) sendo, portanto necessário planejar e implementar políticas de expansão de vagas para
pré-escola, uma vez que surgem inúmeros bairros nas regiões periféricas da cidade carente
de infra-estrutura básica e sem pré-escolas para a população infantil, em especial a região
noroeste e sudoeste que até a década de 1980 não possuíam pré-escolas municipais.
123
Tabela 4 – Capacidade de atendimento municipal em EMEIs (Secretaria de
Educação) a criança de 4 a 6 anos em Campinas, por período de gestão (1969 – 1988)
50
.
50
Vale ressaltar que nesta tabela não estão contadas as vagas criadas para crianças de 6 anos nas Escolas
Parques e posteriormente nas EMPGs por não haver nenhum documento encontrado na Secretaria de
Educação de Campinas que registrasse o número de vagas criadas nestes equipamentos.
124
TABELA 5 - Distribuição de número de matrículas iniciais de pré-escola por esfera de
atendimento dos anos de 1978 a 1988*
125
GRÁFICO 2 - Distribuição do nº de matrículas
iniciais de pré-escola municipal de Campinas
10.000
matrículas iniciais
8.000
6.000
4.000
2.000
0
1978 1980 1982 1984 1986 1988
Anos - 1978-1988
Fonte: Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Assessoria Técnica de Planejamento e Controle
Educacional. Centro de Informações Educacionais 1978-1988; Anuário Estatístico de Educação do Estado de
São Paulo. Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educacional. Centro de Informações
Educacionais. São Paulo, SP – Brasil, 1984 -1989.
126
5. a ampliação de limites de municípios conurbados com Campinas pode ter
ocasionado mudanças nos dados, uma vez que em um determinado ano uma
certa escola pertencente à Campinas localizada em limite de município atendia
população do município vizinho e em outro, em virtude da criação de escolas no
município vizinho estas vagas tenham sido suprimidas;
6. criação de classes de período integral, o que ocasiona a diminuição de oferta de
vagas, uma vez que uma mesma criança ocupa a vaga do período matutino e
vespertino;
O fato é que a curva do gráfico 2 mostra movimentos de retração e de expansão do
número de matrículas ao longo do período.
127
TABELA 6 – Distribuição de número de classes de pré-escola por esfera de
atendimento dos anos de 1978 a 1989*
128
GRÁFICO 3 - distribuição do nº de classes de pré-
escola muncipal de Campinas
300
classes de pré-escola
250
200
150
100
50
0
1978 1980 1982 1984 1986 1988
Anos - 1978-1988
Fonte: Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Assessoria Técnica de Planejamento e Controle
Educacional. Centro de Informações Educacionais 1978-1988; Anuário Estatístico de Educação do Estado de
São Paulo. Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educacional. Centro de Informações
Educacionais. São Paulo, SP – Brasil, 1984 -1989.
129
TABELA 7 - Distribuição de funções docentes de pré-escola por esfera administrativa
(1984-1989) *
Diferente do que ocorre com o número de classes, o Gráfico 4 mostra uma inflexão
descendente na curva a partir de 1985.
200
150
100
50
0
1984 1985 1986 1987 1988
Anos - 1984-1988
Fonte: Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Assessoria Técnica de Planejamento e Controle
Educacional. Centro de Informações Educacionais 1978-1988; Anuário Estatístico de Educação do Estado de
São Paulo. Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educacional. Centro de Informações
Educacionais. São Paulo, SP – Brasil, 1984 -1989.
130
4.1.6 Conversando com os dados
131
que também colaborou para configurar a necessidade de
descentralização dos referidos processos”. (BORGES, 2002, p. 85)
132
4.1.7 Orçamento
133
TABELA 8 – Previsão Orçamentária Municipal para a Secretaria da Educação de
Campinas entre os anos 1970 a 1988
134
1975; Lei no. 4550 de 10/11/75 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício
financeiro de 1976; Lei no. 4673 de 02/11/76 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1977; Lei no. 4755 de 01/12/77 – Estima a receita e fixa a despesa do
município de Campinas para o exercício financeiro de 1978; Lei no. 4833 de 30/11/78 – Estima a receita e
fixa a despesa do município de Campinas para o exercício financeiro de 1979; Lei no. 4958 de 03/12/79 –
Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício financeiro de 1980; Lei no. 5045
de 10/12/80 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício financeiro de
1981; Lei no. 5169 de 01/12/81 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício
financeiro de 1982; Lei no. 5300 de 02/12/82 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1983; Lei no. 5380 de 05/12/83 – Estima a receita e fixa a despesa do
município de Campinas para o exercício financeiro de 1984; Lei no. 5511 de 03/12/84 – Estima a receita e
fixa a despesa do município de Campinas para o exercício financeiro de 1985; Lei no. 5628 de 02/12/85 –
Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício financeiro de 1986; Lei no. 5744
de 17/12/86 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício financeiro de
1987; Lei no. 5872 de 01/12/87 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas para o exercício
financeiro de 1988; Lei no. 6017 de 02/12/88 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1989; Lei no. 6162 de 28/12/89 – Estima a receita e fixa a despesa do
município de Campinas para o exercício financeiro de 1990.
51 Assim diz a lei 5692/71: “Art. 59. Aos municípios que não aplicarem, em cada ano, pelo menos 20% da
receita tributária municipal no ensino de 1º grau aplicar-se-á o disposto no artigo 15, § 3º, alínea f, da
Constituição”.
52 A Emenda Calmon (1983) foi regulamentada pela Lei 7348/85 e entrou em exercício no ano de 1986
(verificar nota de rodapé nº 26).
135
Conforme informações obtidas através da profa. Carmem Lúcia Wagner, geralmente
a previsão orçamentária não é fiel aos gastos reais do município. Para tanto seria preciso ter
acesso aos balanços dos gastos da Prefeitura Municipal com a educação para contrapor as
previsões. Contudo, os balanços da Prefeitura de Campinas neste período não discriminam
os gastos específicos em cada segmento, o que impede a análise dos gastos com educação
pré-escolar. Não obstante, tais balanços possuem uma linguagem econômica de difícil
acesso, com códigos específicos para cada gasto. Assim,
136
Pode-se concluir que há um certo descompromisso da educação em envolver-se com
questões econômicas, deixando a cargo de outras secretarias administrarem este aspecto.
Ingenuidade ou omissão por parte dos que compunham a Secretaria de Educação deixando
que um de seus itens mais importante se perdesse entre a burocracia e os empecidos de
compreensão da linguagem econômica. Abdicam do controle dos gastos, desconhecendo o
que realmente o governo investia em educação em contrapartida ao que era previsto na lei.
O que se percebe através da tabela 9 é que os investimentos não cumpriam com o que
determinava a lei, ao menos quanto à previsão orçamentária.
**************************
137
Política partidária em Campinas entre 1969-1988
Em 1977, Francisco Amaral sucede Lauro Péricles Gonçalves, tendo como vice-prefeito
José Roberto de Magalhães Teixeira. Também pertencente ao MDB, sua administração seguiu
até o ano de 1982. Durante seu mandato tirou várias licenças por motivos de saúde
138
(continuação) administrando uma cidade em franco crescimento urbano e com diversos
problemas sociais. Buscou priorizar a periferia em seu mandato, construindo casas populares,
creches, escolas e rede básica de saúde. Também dobrou a capacidade de armazenamento de
água potável. No ano de 1982 renuncia ao cargo para candidatar-se a deputado federal, quando
então assume o presidente da Câmara de vereadores José Nassif Mokarzel, uma vez que o vice-
prefeito José Magalhães Teixeira também licencia-se para candidatar a prefeito da cidade
(MACC, s/dt).
Em 1982, com o início da abertura política, ocorreram as eleições municipais em
Campinas concomitante com as eleições diretas para governadores havendo nova vitória da
oposição, agora com o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), que também
elegeu bancada majoritária na Câmara de vereadores. Desta forma, José Magalhães Teixeira
assumiu a prefeitura de Campinas de 1983 a 1989. O novo governo aplicou, ainda conforme
Martins (2000), medidas relacionadas à intensa urbanização: encerramento das atividades do
“lixão” do Jardim Satélite Íris, obras do corredor de ônibus da Avenida Amoreiras, avenida de
principal fluxo para a região oeste, obras de saneamento e urbanização do Piçarrão53.
53
Córrego de esgoto que atravessa a região sul da cidade de Campinas.
139
e a de Ruyrillo de Magalhães foi Anna Carolina Amaral Andrade que também permaneceu
no cargo durante a primeira gestão de Maria Helena de M. Puppo. Em sua segunda gestão
quem ocupou o cargo de Direção foi Ana A. C. Porto. Hilda G. C. Honorati foi a Diretora
do Departamento de Educação durante a curta gestão de Francisco de Angelis Filho e
Adelaide Costa C. Duppret ocupou o cargo de Diretora durante a gestão do Prefeito José
Nassif Mokarzel.
140
Quadro 10 – Relação dos Prefeitos que governaram Campinas entre 1969-1988, denominação da Secretaria responsável pela
Educação, Secretários e Diretores do Departamento Municipal de Educação.
144
Magalhães Teixeira – Carolina A. Andrade;
assume no período de
licença-saúde do prefeito 11/06/81-20/08/81 – Hilza Ghilardi Curti
Francisco Amaral (3 Francisco de Angelis Honorati;
meses) Filho;
145
4.2.1 Gestão do Professor José Alexandre dos Santos Ribeiro (1969-1976) nos
governos de Orestes Quércia (1969-1972) e Lauro Péricles Gonçalves (1973-1975)
4.2.1.1 Apresentação
143
“(...) quando o Orestes me convidou eu disse que tinha duas condições
para eu assumir: (eu não fui pedir emprego ele me convidou) primeiro
eu não quero ter que fazer favores políticos, se o funcionário não servir
não vai ficar se servir vai. Eu dispensei da orquestra um violinista que
era tio do Orestes porque era incompetente, não dava para trabalhar
com ele. Mandei embora. Falei com o Orestes: olha não deu ele não se
enquadra, ele não ensaia e atrapalha a orquestra. Não sei se ficou tudo
bem, pois eu não admito injunções políticas e eu já havia dito a ele. Eu
vou receber na minha sala vereador de qualquer partido, pois vereador
representa o povo e eu posso atender ele, vai ter o direito de falar, de
pedir de reclamar, como qualquer um. Segundo: eu quero que o que
esteja consignado no orçamento seja verdade, quer dizer orçamento de
mentirinha e eu ficar lá só assinando papel eu não aceito. Ele me disse
tudo bem você esta sendo arrogante, mas eu aceito”. (José Alexandre
dos Santos Ribeiro, janeiro/2005)
144
pública em benefício próprio ou partidário permanece, mesmo contando com quase duas
décadas de democracia.
O professor José Alexandre considerou que a experiência política de administrar
uma Secretaria foi bastante enriquecedora, ampliando sua visão do real, uma vez que até
então sua experiência restringia-se a orientação de uma sala de aula como professor.
“Eu sou professor, a escola é um mundo mágico, está tudo bem você é o
chefe da classe, todos gostam de você se você dá aulas direito, tudo é
uma maravilha, e o mundo lá fora não é assim. Na administração
pública é uma experiência que eu adoro ter tido, pois me amadureceu,
me fez ter contato com coisas que só sabia por correspondência”. (José
Alexandre dos Santos Ribeiro, janeiro/2005)
José Alexandre entendia que seu cargo não era político e sim administrativo. Na sua
concepção era ao Prefeito que competia “fazer política”. Porém, em sua mesma fala se
contradiz, ao afirmar que os secretários deveriam fazer a política do prefeito (a “política
administrativa”), pois foram determinados por ele.
“(..) quem fazia política era o Prefeito. Nós não tínhamos que fazer
política, nos tínhamos que administrar e fazer a política administrativa
do Prefeito, obviamente como secretários dele. Era fácil, os secretários
estavam todos disponíveis e ajudavam na hora, não havia histeria não
havia nada, para mim foi uma experiência maravilhosa”. (José
Alexandre dos Santos Ribeiro, janeiro/2005)
145
4.2.1.2 Tônica da gestão
O Prof. José Alexandre ao descrever o espaço físico destas unidades deixa evidente
que Cultura e Educação se complementavam nos serviços oferecidos à comunidade. Nas
descrições do ex-secretário é possível perceber que as unidades escolares deveriam estar à
disposição do bairro, unindo em seus prédios atendimentos educacionais e eventos
culturais.
146
QUADRO 11 – Relação dos Parques Infantis anexos às Escolas-Parques do Município
de Campinas.
A proposta de políticas integradas vem desmontar a idéia de que cada secretaria tem
suas funções e que atuam de forma isolada. Na verdade, ao propor que em uma mesma
unidade a criança fosse educada, alimentada, tivesse lazer, acesso à cultura, a saúde
possibilitando a participação da família, traz a tona um pensamento de que estes
atendimentos não são polarizados, mas articulados entre si olhando para a criança nas suas
necessidades integrais.
147
gestão da Secretaria Municipal de Educação manter um total entrosamento com a rede
estadual. Este entrosamento visava uma união de forças para solucionar problemas
principalmente de vagas. 54
Em 1974, pelo Decreto 4532 de 27 de setembro de 1974, as Escolas-Parques restantes
foram transformadas em Escolas Municipais de Primeiro Grau (E.M.P.G.) e os Parques
Infantis a elas anexadas foram transformados em classes de ensino pré-escolar com o
objetivo de preparar as crianças de 6 anos para a 1a. Série. Elas deixavam de atender em
período integral, passando a funcionar em dois turnos. Segundo a reportagem “Reforma do
Ensino já funciona em Campinas”, o ensino pré-primário era muito importante, pois
possibilitava um treinamento que desse prontidão aos alunos a fim de que fossem
alfabetizados. Segundo o artigo ficou constatado que “(...) os alunos mais fracos da 1a.
55
Série eram aqueles que não tinham passado pelas salas de pré”. Assim, há a
confirmação da educação pré-escolar preparatória em consonância com os pareceres do
CFE, onde uma das funções da pré-escola era a prontidão para a alfabetização através de
uma educação compensatória, equalizando assim as oportunidades educacionais.(BRASIL,
1979 - Parecer no. 2018/74 do Conselho Federal de Educação).
Ainda em 1974, foi projetada a construção de novos Parques Infantis, conforme
prioridade estabelecida referente à pesquisa da demanda e a densidade demográfica da
cidade realizada por órgãos especializados. 56
Em 1976 foi previsto a reforma de alguns PIs e aquisição de móveis novos para os
mesmos. Também foi inaugurado o primeiro de uma série de quatro PIs com um mesmo
padrão de construção. Chamadas creche-parque em um mesmo terreno era construído um
Parque Infantil e um Centro Infantil. Estes dois prédios eram geminados, sendo seu
planejamento resultado de estudos conjunto entre a COHAB, a Secretaria de Educação, a
Secretaria de Promoção Social e a Secretaria de Obras. O objetivo de unir as duas
construções em um só terreno era de promover uma educação integrada, uma vez que a
criança entraria no Centro infantil com três meses e aos quatro anos iria para o PI, saindo
54
“Escolas Municipais entrosadas com o espírito da reforma”. Correio Popular. Campinas, 08 de março de
1972.
55
Idem;
“Reforma do Ensino já funciona em Campinas”. Correio Popular. Campinas, 23 de fevereiro de 1975.
56
“Planejamento Educacional de Campinas para o Ano que Vem”. Diário do Povo. Campinas, 18 de
dezembro de 1973.
148
de lá pronta para o primeiro grau. Estas obras foram feitas nos núcleos habitacionais
construídos entre a segunda metade da década de 1960 e a década de 1970. As verbas para
estas construções foram conseguidas pelo financiamento do BNH através da COHAB, que
aprovaram o projeto para a construção das creches-parque nos bairros financiado por estes
mesmos órgãos. 57
As construções eram idênticas sofrendo pequenas alterações de acordo com a
topografia dos terrenos.
As figuras que se seguem retratam um dos Parques Infantis construídos nestes moldes.
57
“Pré-primários de Campinas permitirão melhor desenvolvimento do pré-escolar”. Correio Popular.
Campinas, 30 de junho de 1975;
“Criança, a meta básica do governo municipal”. Diário do Povo. Campinas, 20 de fevereiro de 1976.
58
Idem.
59
Idem
149
FIGURA 4 - Parque Infantil “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – julho de 1980 –
Fachada das portas das salas de aula.
150
FIGURA 6 -Parque Infantil “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – julho de
1980 – Play-ground.
151
FIGURA 8 -Parque Infantil “Hilton Federici” – Vila 31 de Março – julho de 1980 –
anfiteatro.
152
Era projeto dessa gestão além de construir os conjuntos habitacionais, dotá-los de
uma infra-estrutura básica e de equipamentos comunitários para o pleno desenvolvimento
daquelas comunidades, atendendo às necessidades de educação, saúde e lazer. Junto a cada
unidade parque-creche, também foram inaugurados uma escola de 1o. Grau, um centro de
saúde, um centro esportivo (que contava com piscina e quadra poli-esportiva), um centro
60
social e administrativo e um centro comercial. Segundo o Prof. José Alexandre este era
um projeto que previa a valorização da convivência familiar e que cada espaço era
destinado a uma faixa etária.
153
Desta forma, a implementação de políticas vai ocorrer através da criação dos PIs
integrados às creches, dos postos de saúde, escola de 1o. grau, centro esportivo, centro
social e administrativo e um centro comercial em cada bairro/vila, com o objetivo de
fornecer os serviços essenciais ao morador sem que para isso ele precisasse se deslocar de
seu local de moradia. Ao mesmo tempo esta forma de organização dava condições para que
os integrantes do bairro e/ou vila pudessem construir sua identidade local.
Uma das prioridades da agenda política deste governo era a alimentação, que foi uma
das ações implementadas para o atendimento a criança pré-escolar.
No ano de 1972, o Setor de alimentação Escolar lançava a Semana da Comunidade,
que tinha por finalidade dar maior destaque à participação comunitária aos programas de
Alimentação Escolar. O Prof. José Alexandre relata que a alimentação escolar era um item
importante para a Secretaria de Educação e Cultura:
154
uma forma de conscientizá-la e alertá-la sobre as conseqüências das carências alimentares.
As famílias valorizavam o programa, pois atendiam a duas funções: a alimentação das
crianças e a familiarização das mesmas com a futura escola através da recreação.
Considerado um programa de grande êxito teve continuidade para o ano seguinte a fim de
ser ampliado. 61
A preocupação com a alimentação do pré-escolar era constante. Partindo do
pressuposto que a criança bem nutrida aprendia melhor, neste mesmo ano os cardápios dos
Parques passaram a ser balanceados e preparados por nutricionistas. A Prefeitura comprava
os produtos que seriam utilizados na alimentação das crianças e os gêneros perecíveis eram
comprados pela diretoria dos Parques. 62
Também foi implementado, através do departamento de alimentação escolar, máquinas
automáticas importadas da Dinamarca que produziam leite.
Estes programas alimentares que o governo implementou nesta gestão demonstram que
essa questão era uma prioridade da agenda política, como elucidada na fala do ex-
secretário referente aos pré-escolares: “Porque só quando estavam lá no parque é que se
alimentavam com regularidade.” (jan./05)
61
“Planejamento Educacional de Campinas para o Ano que Vem”. Diário do Povo. Campinas, 18 de
dezembro de 1973;
“Pré-primário de Campinas permitirão melhor desenvolvimento do Pré-escolar”. Correio Popular. Campinas,
30 de junho de 1975.
62
“Reforma do Ensino já funciona em Campinas”. Correio Popular. Campinas, 23 de fevereiro de 1975.
155
Deste modo, a alimentação foi uma das metas das políticas públicas pré-escolares na
busca da correção dos desajustes do período.
63
“Lei nº 4.494, de 26 de maio de 1975. Autoriza a Prefeitura Municipal de Campinas a celebrar com a
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), visando atualizar os métodos e procedimentos técnico-
pedagógicos para a renovação do ensino pré-escolar municipal. (...)
Art. 1º - Fica o Executivo Municipal autorizado a celebrar convênio com a Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), visando atualizar os métodos e procedimentos técnico-pedagógicos para a renovação
do ensino pré-escolar municipal.
Art. 2º - A Universidade Estadual de Campinas obrigar-se-á, quando da assinatura do convênio, a:
a) ministrar, no ano de 1975, um curso de especialização para, no máximo 60 (sessenta) professores
municipais, a cargo de uma equipe técnica, sob a responsabilidade de sua faculdade de Educação, com a
duração de 1 (um) ano letivo, com o objetivo de implantar uma nova metodologia de educação pré-escolar;
b) orientar e supervisionar, no ano de 1976, o funcionamento de classes experimentais referentes à educação
pré-escolar da Municipalidade de Campinas, aplicando-se a metodologia de educação pré-escolar proposta no
curso de especialização;
c) avaliar sistematicamente o desempenho dos professores durante o curso de especialização e durante os
trabalhos de supervisão das atividades docentes nas classes experimentais de aplicação da nova metodologia;
d) apresentar ao Departamento Municipal de Educação da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e
Turismo, relatórios semestrais das avaliações efetuadas e um relatório final de avaliação global das atividades
desenvolvidas nos termos do Convênio, incluindo-se a avaliação relativa ao desenvolvimento psicológico da
criança, ante os resultados atingidos pelos alunos que freqüentam essas classes experimentais.
Art. 3º - A prefeitura Municipal de Campinas obrigar-se-á a:
a) selecionar, em seu quadro de pessoal docente, os elementos que deverão participar da execução do projeto;
b) fornecer todo equipamento e materiais didáticos necessários para que as classes da rede pré-escolar
municipal estejam aparelhadas para a implantação dos novos métodos e procedimentos técnico-pedagógicos
no início do ano letivo de 1976;
c) assumir a responsabilidade de todos os encargos financeiros necessários á realização do projeto, sem
quaisquer ônus para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), exceto os previstos no artigo 2º desta
lei. (...)
Art. 6º - O Convênio vigorará pelo prazo de 23 (vinte e três) meses, a partir da data da assinatura.
Art. 7º - As despesas da execução da presente lei decorrerão por conta de dotação própria e para tal fim
consignada no exercício de 1975, suplementada se necessário.
Art. 8º Fica o Executivo Municipal autorizado a formalizar Convênio com o órgão competente do Ministério
de Educação e Cultura – MEC -, objetivando obter reembolso dos recursos financeiros empregados.” (DOM,
27 de maio de 1975)
156
experimentais referentes à educação pré-escolar do município, aplicando-se a proposta
metodológica desenvolvida no curso bem como, avaliar sistematicamente o desempenho
dos professores participantes nas classes experimentais de aplicação da nova metodologia.
A Prefeitura Municipal cabia selecionar as professoras que iriam participar do curso,
fornecer todo equipamento e material didático necessário e assumir todos os encargos
financeiros referentes ao projeto.
Este programa surgiu a partir da pesquisa de doutorado da professora da Faculdade de
Educação Orly Zucatto Matovani de Assis. Ela desenvolveu, no ano de 1974 seus estudos
em 5 classes de pré-primário cedidas pela Secretaria de Educação nas seguintes escolas:
Escola Municipal de 1o. Grau Violeta Dória Lins; Escola Municipal de 1o. Grau Dr. João
Alves dos Santos e Escola Municipal de 1o. Grau Vicente Ráo. Seu estudo denominava-se
“A solicitação do meio e a construção das estruturas lógicas elementares na criança” 64 que
tinha como fundamentos teóricos os estudos de Jean Piaget. (ASSIS, 1976)
Do trabalho desenvolvido nestas salas decorreu o convite da Diretora do Departamento
de Educação para que a Profa. Orly aplicasse sua proposta nas demais salas de pré-escola
da Prefeitura e que formasse professores para isto. Apesar de ainda não ter terminado sua
pesquisa, a Profa. Orly aceitou e o convênio com a Prefeitura foi estabelecido.
64
O objetivo do trabalho era verificar a influência da Solicitação do Meio no desenvolvimento intelectual das
crianças de Campinas. A hipótese do trabalho foi de que as crianças submetidas ao processo de solicitação do
meio atingiriam o estágio operatório concreto (de acordo com os estágios de desenvolvimento estudados por
Jean Piaget) aos 6-7 anos como já ocorria nos países adiantados. Para tais experimentos foram formados 2
grupos: o experimental – composto por 183 crianças matriculada nas classes de educação pré-escolar em
Campinas e o grupo controle - composto por 188 crianças matriculadas nas classes de educação pré-escolar
em Campinas. Os resultados demonstraram que 08,87% das crianças pertencentes ao grupo experimental
atingiram o estágio operatório concreto, enquanto que no grupo controle nenhuma criança atingiu. (ASSIS,
1976)
157
Conforme a profa. Orly as classes que implementaram o projeto eram chamadas de
classes de Piaget. A nova metodologia previa a utilização de material específico, formação
dos professores e número reduzido de alunos por sala.
“Os jogos e brinquedos são utilizados de tal forma que solicitem das
crianças operações de seriação, conservação de líquidos e de massa. Os
jogos e brinquedos manipulados pelas crianças não têm modelo pronto:
a criança deverá ‘descobrir’ através da manipulação as propriedades
dos objetos e suas relações.” 65
Segundo a professora Orly, a realidade das salas de pré-escolas municipais era bastante
diferente de sua proposta. Segundo ela os planejamentos eram feitos pela equipe de
especialistas da rede e mimeografados para os professores. O mesmo ocorria com as
atividades que deveriam aplicar, que se reduziam a treinos gráficos. Não havia brinquedos,
as atividades eram dadas coletivamente com seqüências de treino motores em papéis
mimeografados.
65
“Recrutamento e capacitação do pessoal na Secretaria de Educação”. Correio Popular. Campinas, 06 de
outubro de 1977.
158
tipo Páscoa e assim por diante, mas toda a rede fazia as mesmas
atividades na maioria gráficas.” (Orly Zucatto Mantovani, mar/05)
159
FIGURA 12 – Atividade de seriação
160
FIGURA 15 – Atividade Independente
161
Ana Lúcia Maia Bonato em entrevista ao jornal Correio Popular em junho de 1975,
demonstrava entusiasmo com o convênio, pois a nova metodologia daria condições ao
aluno pré-escolar ingressar na primeira série com a prontidão necessária para ser
alfabetizado, principalmente aquele aluno proveniente das classes mais baixas. 66
Conforme relatório da professora Orly sobre a implementação do programa67, o curso
para os professores foi o primeiro passo para a reformulação da educação pré-escolar
municipal.
No ano de 1976, 12 das professoras que passaram pelo curso implementaram o método
em suas salas de pré-primário, sob a supervisão e orientação da professora Orly. Porém o
funcionamento dessas salas ficou prejudicado porque houve um atraso da Prefeitura na
aquisição do material didático. Os mesmos só foram adquiridos no mês de agosto. Assim,
66
“Pré-primários de Campinas permitirão melhor desenvolvimento do pré-escolar”. Correio Popular.
Campinas, 30 de junho de 1975.
67
‘Implantação da nova metodologia de educação pré-escolar em classes de pré-primário do sistema de
ensino municipal de Campinas.” Campinas, janeiro de 1979. Arquivo pessoal da professora Orly Zucatto
Mantovani de Assis.
68
Idem.
162
O programa continuou na gestão seguinte e sua continuidade será abordada mais a
frente. O que deve ser ressaltado é que tanto no programa do CEAPE de autoria do Prof.
Yaro Ribeiro Gandra, da USP quanto no programa das classes experimentais de autoria da
profa. Orly Zucatto Mantovani de Assis da Unicamp, houve a participação das
universidades estaduais na implementação de ações da gestão municipal.
De nossa parte, observamos dois pontos:
Ø a parceria entre a Academia e a esfera municipal, ao contrário do que o senso
comum apregoa, é antiga;
Ø a estratégia de formação continuada dos profissionais de educação visando à
melhoria de condições de oferecimento dos serviços.
Fica a indagação a respeito dos resultados efetivos de tal estratégia, mas esta é uma
questão que extrapola os limites de nosso trabalho.
Concurso
“Uma coisa que é bom saber é que houve concurso público para o
magistério no meu tempo. Há 13 anos não se fazia concurso no
magistério. Havia as substitutas e as efetivas. As substitutas que se
vinculavam a alguma escola acabavam achando que eram efetivas, que
não sairiam nunca de lá.” (José Alexandre dos Santos Ribeiro, jan./05)
163
na cultura política brasileira permeada pelo clientelismo e pela burocracia, que atua como
agente a favor da lentidão da máquina pública.
As provas foram feitas no ano de 1971 e tinham como exigência específica Curso de
Formação de Professor Primário, que era obtido através dos cursos das Escolas Normais
(nível médio). Constava no programa deste concurso conhecimentos em Psicologia
Educacional e Metodologia de Ensino. Em Psicologia Educacional era previsto conteúdo
sobre psicologia do desenvolvimento, aprendizagem, higiene mental e processos de
ajustamento e testes e medidas. Em Metodologia era previsto conceito de educação,
planejamento didático, métodos e técnicas de ensino, motivação, avaliação, direção de
classe e disciplina e metodologia de linguagem, aritmética, estudos sociais, ciências e
educação artística na escola primária. (DOM de 28 de fevereiro de 1970; 23 de maio de
1971)
Estrutura da Secretaria
164
21/02/73 foi denominada Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Turismo. Criou-se um
departamento para cada área. O Departamento de Ensino que passou a ser denominado
Departamento Municipal de Educação não houve alteração quanto a sua chefia. O artigo
3o. definiu a sua estrutura: Assessoria Técnico Pedagógica; Setor de Administração;
Coordenadoria de Orientação e Educação Recreativa; Coordenadoria de Ensino de
Primeiro Grau; Coordenadoria de Ensino Supletivo; Supervisão Municipal de Alimentação
Escolar. Os Parques e Recantos Infantis estavam subordinados a Coordenadoria de
Orientação e Educação Recreativa. (D.O.M. 22 de fevereiro de 1973) Foram criados os
cargos de Nutricionista, Psicólogo Escolar (um para cada duas escolas), Orientador
Educacional (um para cada duas escolas), Assistente Social (um para toda a rede), Auxiliar
de Direção (um para cada escola), Supervisor Escolar (antigo inspetor escolar). 69
No ano de 1975, é criada a Secretaria de Cultura pela lei 4576, de 30 de dezembro de
1975, desvinculando-se da Secretaria de Educação. (D.O.M. de 30 de dezembro de 1975).
As reuniões pedagógicas naquele período eram feitas nos PIs maiores, revezando-se
entre eles. Lá as equipes daquele PI e dos demais PIs (diretoras e professores) se reuniam
com as Assistentes Pedagógicas. Essas reuniões ocorriam mensalmente para discussão e
69
“Reforma do Ensino em Escolas Municipais”. Diário do Povo. Campinas, 23 de fevereiro de 1975.
70
Livro de Termo de Compromisso do PI “Regente Feijó”, 9/09/76.
165
orientação das atividades a serem desenvolvidas nos Parques, orientação dos
planejamentos e definição de calendário escolar para as festas e datas comemorativas. 71
Conforme relato da professora Orly Zucatto Mantovani de Assis, quando ela tomou
contato com os trabalhos pedagógicos e as orientações que eram desenvolvidas na
Secretaria de Educação, constatou que a proposta era
71
Livro de Reuniões Administrativas e Pedagógicas do PI “Regente Feijó”. Atas dos dias 24/09/76 e
17/12/76.
72
Os centros de interesse foram criados por Ovide Decroly (1871-1932), que se destinava a busca dos
conhecimentos de interesse infantil. Tinha como pressuposto básico que a necessidade gera o interesse, que
deve estar na base de toda atividade incitando a criança a observar, associar, expressar-se. Considerava ainda
que as necessidades básicas do homem com o meio seriam a alimentação, a defesa contra as intempéries, a
luta contra os perigos, o trabalho em sociedade, o descanso e a diversão. Seu método denominado centro de
interesse destinava-se especialmente as crianças pré-escolares. Nesses centros a criança passaria por três
momentos:
1. Observação: trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pelas experiências das crianças;
2. Associação: compreender que o conhecimento adquirido pela observação está circunscrito no tempo
e no espaço;
3. Expressão: meio para externar a aprendizagem, através de qualquer tipo de linguagem.
Assim, o método incitava a criança a utilizar objetos concretos do mundo em que vivia, por meio da
experiência direta e a intuição. (www.centrorefeducacional.com.br/decroly.html em 30/07/06).
73
Livro de Reuniões Administrativas e Pedagógicas do PI “Regente Feijó”. Atas dos dias 24/09/76 e
17/12/76.
166
As crianças dos pré-primários dos PIs realizavam a cada final de ano festas de
formatura, onde faziam apresentações musicais para os pais e recebiam diploma de
conclusão do pré-primário74.
A pré-escola nos PIs era percebida como um espaço privilegiado para o
desenvolvimento de bons hábitos, para o estímulo à criatividade, formação psicológica
para orientação da vida futura.
74
Idem.
75
“A recuperação do ensino pré-escolar nos seus 25 anos de existência”. Correio Popular. Campinas, 21 de
setembro de 1975.
167
4.2.2 Gestão da Professora Ítala Maria Loffredo D’Otaviano (1977-1978) no governo
de Francisco Amaral (1977-1982)
4.2.2.1 Apresentação
A profa. Ítala relata que seu envolvimento com a educação nasceu com a sua mãe,
uma professora de escola pública que sempre demonstrou dedicação e empenho a causa da
educação. Ela também foi aluna do Parque Infantil “Celisa Cardoso do Amaral” onde desde
cedo tomou contato com a educação pública municipal.
“Meu envolvimento com a educação começou com a minha mãe que foi
professora, daquelas professoras apaixonadas. Eu cresci vendo
76
Instituto de Matemática, Estatística e Ciências da Computação.
77
Apelido de José Roberto de Magalhães Teixeira.
168
educação. Ela era professora da rede estadual e a vida toda foi muito
apaixonada por educação. Eu convivi com a mamãe sempre dando
aulas, discutindo sobre os problemas da educação. Eu sempre acreditei
no ensino público. (...) Eu estudei no Parque Infantil da Vila Industrial,
era excelente! Mamãe era professora do estado e sempre fez questão
que eu estudasse desde pequena. Ia ao Parque, ia de bonde e era muito
boa a orientação dada lá.” (Ítala Maria Loffredo D’Otaviano, jan/05)
169
ainda que o conhecimento específico sobre a área de atuação possa ser levado em conta na
escolha do secretariado, nem sempre este é um critério determinante. De outro lado alguém
que esteja envolvido com as causas da educação poderia ter a chance de realizar um
trabalho político com mais eficácia.
No caso das gestões de Lauro Péricles e Francisco Amaral verifica-se que o
conhecimento específico da área foi um aspecto levado em conta para a escolha dos
Secretários de Educação, uma vez que tanto Ítala quanto José Alexandre era professores.
Em sua gestão não houve um período de transição entre o antigo Secretário e a sua
posse. Conforme ele conta, o Professor José Alexandre não se recusaria a fazer esta
transição, mas não foi prioridade do governo, uma vez que o prefeito que seguiu (Francisco
Amaral) era do mesmo partido de seu antecessor, o que se pressupunha que as políticas
para a educação seriam continuadas, embora Ítala demonstrasse certa preocupação com
uma possível necessidade de transição. Para tanto, ela se apoiou nos profissionais que
permaneceram na Secretaria, mesmo após a mudança de Secretario, uma vez que eram
funcionários de carreira.
Porém a transição entre um sujeito e outro, mesmo que seja do mesmo partido, nem
sempre é algo que transcorre sem tensões. A cada nova gestão novas idéias poderão surgir
ou novos atores políticos entram na arena de debates para a escolha de prioridades políticas
a serem implementadas. Essa é uma situação que esteve presente no período analisado,
apesar dos prefeitos serem do mesmo partido político – o MDB – não representavam as
mesmas políticas. Em um mesmo partido reuniam-se todas as tendências oposicionistas,
170
das mais conservadoras que se aproximavam do partido da situação (Arena) as mais
radicais (que reuniam pensamentos políticos totalmente avessos à situação da política
federal do país).
Ao optar em obter as informações dos funcionários de carreira que permaneceram
na Secretaria, Ítala estava suscetível a um certo corporativismo público que busca perpetuar
determinados valores burocráticos em benefício individual. Esta forma de corporativismo
vem evidenciar a formação política brasileira do favorecimento da causa pública em
benefício próprio. Ademais, não raro, funcionários públicos de carreira tendem a se
apropriarem dos setores que chefiam como algo privado, resistindo a propostas de
mudanças, que Ítala chegará a descrever. Muitas vezes esta resistência é uma forma de
defender a continuidade de projetos que podem ser extintos devido às mudanças de
governo.
“Então, eu nunca falei com o José Alexandre, Eu nunca falei vou sentar
com o José Alexandre para ele me passar às informações da Secretaria.
Parecia de fato que as informações estavam todas com a Ana Lúcia (Ana
Lúcia Maia Bonato – chefe do Departamento Municipal de Educação),
que todos os projetos eram dela. Eu acredito que o Zé Alexandre
aparentemente confiou nela e em sua equipe, porque elas eram boas e
eram elas que tocavam a Secretaria. (...) Quando eu assumi de fato eu
tentei dar uma linha própria de trabalho e no começo foi difícil porque
eu era a mais nova, trazia assim um pouco de nome da Unicamp. Eu era
alguém que queria mexer um pouco na estrutura, então tinha que ter
muito cuidado. (...) Eu pensava em realizar mudanças, mas queria
manter a qualidade e a dedicação ao trabalho daqueles profissionais.
(...) Elas trabalhavam com paixão e acho que a Secretaria de Educação
de Campinas sempre foi modelo graças à dedicação deste corpo docente
e do corpo de coordenadores, diretoras, supervisoras. Elas eram
ímpares. Então, ao mesmo tempo em que elas seguravam mudanças elas
também seguravam qualidade e a interferência política dos governantes
e dos seus assessores”. (Ítala Maria Loffredo D’Otaviano, jan./05)
4.2.2.2Tônica da gestão
Os dois anos da gestão de Ítala foram permeados de tensões políticas. Ela buscou
pautar sua gestão com democracia na medida em que buscava escutar os segmentos da
Secretaria da Educação antes de propor mudanças: “Eu tentei valorizar o que tinha de bom
171
em todos e busquei renovar alguns cargos, sempre fazendo reuniões e avaliando com toda
a equipe, justificando as mudanças” (Ítala Maria Loffredo D’Otaviano, jan./05)
Porém as tensões políticas no governo eram constantes, uma vez que ela recusava-se
a fazer favorecimentos políticos. Logo no início de sua gestão ela já revela os primeiros
embates entre o que ela entendia que deveria ser feito e o que o Prefeito propunha.
O “jogo político” a que ela vem se referir está circunscrito dentro da disputa de
forças entre as idéias do Prefeito em contraposição as suas que era compartilhada com o
Vice-prefeito, o qual a indicou. Na verdade esta disputa trazia à tona as diferentes
correntes de pensamento dentro do próprio partido. Ocorre um embate entre eles, pois o
Prefeito correspondia a uma concepção política oposta a sua. Ítala buscava atender as
demandas da educação sem favorecer um grupo em detrimento ao outro, enquanto que
o Prefeito pedia que ela buscasse articular as demandas da população sem deixar de
favorecer alguns segmentos já cristalizados dentro da máquina administrativa.
172
todos aos seus cargos que nós vamos reorganizar estes professores, fazer
uma seleção interna para escolha dos cargos. Aí vinha carta de
vereador, do próprio prefeito, dizendo que esta é melhor não mexer, esta
é melhor deixar lá. Ai eu dizia: não, lamentavelmente a medida vai ser
geral, igual para todos. (Ítala Maria Loffredo D’Otaviano, jan./05)
78
“Fatos e Fatos”. Correio Popular. Campinas, 03 de maio de 1977.
79
“Roda Viva”. Diário do Povo. Campinas, 21 de abril de 1977.
173
Mas também havia manifestações pela sua permanência:
Já no início de sua gestão Ítala contava com apoio de grande parte dos professores e
do pessoal da Secretaria e manteve-se no cargo, sendo que na ocasião um grupo de
professores organizou um abaixo assinado encaminhado ao Prefeito, com cerca de 300
assinaturas no sentido de não permitir de forma alguma o seu afastamento81.
Uma das organizadoras do abaixo-assinado foi a coordenadora dos Parques Infantis
Hilza Curti Honorati. Ela declara em uma reportagem da época que o abaixo-assinado:
“Foi uma manifestação espontânea. Meu telefone começou a tocar, com gente de toda
parte manifestando solidariedade a D. Ítala.” 82
O abaixo assinado declarava o reconhecimento dos funcionários da Secretaria de
Educação em relação ao trabalho da Secretária. Destacava que suas ações buscavam
solucionar problemas que já existiam há anos e que ela havia demonstrado coragem em
solucioná-los. Segue trecho do abaixo-assinado:
80
“Solidariedade à professora Ítala Maria Loffredo D’Otaviano”. Correio Popular. Campinas, 01 de março de
1977.
81
Idem.
“Roda Viva”. Diário do Povo, 16 de abril de 1977;
“MDB quer saída da Secretária da Educação”. Correio Popular. Campinas, 21 de abril de 1977;
“Roda Viva”. Diário do Povo, 21 de abril de 1977;
“Amaral vê o caso Ítala na próxima semana”. Correio Popular. Campinas, 23 de abril de 1977;
“D. Ítala está tranqüila. Eliseo mantém posição”. Diário do Povo. Campinas, 26 de abril de 1977;
“Fatos & fatos”. Correio Popular, 03 de maio de 1977;
“Amaral decide hoje com vereadores o caso da Secretária da Educação”. Correio Popular. Campinas, 07 de
maio de 1977;
“Fatos & fatos”. Correio Popular. Campinas, 11 de maio de 1977;
“Prefeito e Secretaria da Educação dizem que impasse está superado”. Correio Popular. Campinas, 11 de
agosto de 1977.
82
“D. Ítala está tranqüila. Eliseo mantém posição”. Diário do Povo. Campinas, 26 de abril de 1977.
174
“Protestamos sim, porque militamos na Secretaria de Educação, somos
capazes de aquilatar seu trabalho, que já começa a refletir nos diversos
setores onde colaboramos e admiramos sua tenacidade ao solucionar
problemas de longa data, procurando em cada caso administrar com
cautela e dignidade. (...) Por trás de tudo isso, haverá sim, mágoas e
ressentimentos ao ver um cargo, talvez desejado, ocupado por uma
jovem imbuída do ideal de ter como escopo, o direito, a honestidade e a
justiça.” 83
83
Idem.
175
se impor, mas que estava sendo contida e que tentaram destruí-la pela
linha de outros componentes do governo. E o Chico de fato achava que
ele era a outra linha e não essa, ele foi eleito por essa, mas ele não
estava com vontade de se comprometer, de se expor, de se envolver no
trabalho que esta outra linha representava apesar de várias pessoas do
outro grupo gostar muito de mim pessoalmente, do trabalho que
desenvolvia. Então o que aconteceu? Eu estava super forte com a rede,
com os professores, com o projeto, nós tínhamos trabalho por muito
tempo, só que me foi pedido que eu deixasse claro que eu não apoiava e
que nem estava junto com o Magalhães e assim continuaria a ser
‘menina dos olhos’ do Chico Amaral. Caso eu não deixasse claro,
dificilmente eu iria continuar como Secretaria da Educação. Aí eu disse
imediatamente que eu não havia pedido para ser Secretária, não tinha
interesse político, não tinha interesse financeiro. Desde que eu assumi
disse ao Chico, eu sou nova, tenho um projeto de doutorado em
andamento, tenho um filho de um ano, eu estou aqui para trabalhar,
para fazer alguma coisa boa pela educação, porque eu acho que tenho
competência para fazer isso e estou cercada de uma assessoria boa e
podemos fazer um bom trabalho. Porém, o que vocês estão me
solicitando, por favor, responda ao prefeito que não, eu sou amiga do
Magalhães, mas eu estou na linha de trabalho dele porque é a linha que
eu respeito, é a linha que a cidade precisa e eu não vou me abdicar disso
e nem trair alguém que conta comigo e me trouxe pra cá, tenho respeito
pro ele. Ai eu viajei para um congresso, fiquei uma semana, quando
voltei tinha sido criado um problema seríssimo. O Chico Amaral
mandou um bilhete para Maria Carolina e ela respondeu de acordo com
as normas e critérios da Secretaria. A Maria Carolina era queridíssima
no departamento por todos. Aí o Chico me deu a ordem para eu demitir
a Maria Carolina. Ela nem ganhava pela Prefeitura, ela ganhava pelo
Estado. Ele disse que ela tinha faltado com o respeito com ele. De
alguma forma nesta minha ausência houve algum desentendimento. (...)
Quando o Chico me disse que eu tinha que demitir a Maria Carolina eu
pedi minha demissão. (...) Na verdade não tinha sentido continuar no
governo, eu estava lá para trabalhar e não para ficar neste jogo e fiz a
minha carta de demissão.” (Ítala Maria Loffredo D’Otaviano, jan./05)
Ìtala conta que no dia em que pediu demissão, Magalhães Teixeira foi até sua casa e
disse que iria defendê-la. Isso poderia criar uma crise terrível no governo. Então pediu para
que não o fizesse, uma vez que ele era Vice-prefeito e não deveria romper com o Prefeito.
“No dia em que eu pedi demissão o Grama foi na minha casa à noite e
disse que ia sair me defendendo. Isso ia criar uma crise terrível no
governo. Eu disse ao Grama que eu achava que ele não devia, ele era
vice-prefeito, não precisa romper com o prefeito.” (Ítala Maria Loffredo
D’Otaviano, jan./05)
“Jogo político”, “tensão política” são elementos constantes no que diz respeito à
elaboração e implementação de políticas. Este processo implica na busca de acordo entre os
176
diversos atores políticos, por meio de debates e disputas dentro da arena política. Muitas
vezes tais debates não conseguem encontrar um acordo em que atendam todas as demandas
implicadas, principalmente quando estão em jogo posições ideológicas antagônicas.
Conforme Villanueva (1996) a política compreende ações que são resultado de
muitas interações e argumentações entre os atores políticos envolvidos. Neste processo são
evidenciadas disputas de poder onde as idéias tentam se sobrepor ou serem acordadas. Este
movimento não tem como ser tranqüilo e neutro, ao contrário é uma arena política em que
as forças lutam na disputa do poder. “As políticas são então um resultado de
enfrentamentos e compromissos, de competições e coalizões, de conflitos e transações
convenientes” (p. 38). 84
O que pode ocorrer é que neste processo de negociação uma das forças abandona a
arena política por não ver saídas para acordos, sobretudo quando o que está em pauta na
discussão não dá possibilidade para o consenso, a não ser que uma das partes abdique de
seus princípios. O que ocorreu com Ítala é que neste conflito ela optou em deixar a arena
política, uma vez que continuar iria implicar em abrir mão de suas concepções pessoais. De
toda forma, este é um episódio que mostra que formulação, implementação e avaliação
estão longe de serem precisos e onde a competência técnica prevalece.
Os jornais da época divulgavam o clima tenso que surgiu entre a Secretária e o
Prefeito. Apesar de Ítala não divulgar para imprensa o que realmente acontecia, havia
rumores de sua demissão, principalmente quando Maria Carolina havia sido demitida. Os
professores demonstravam ampla insatisfação com sua demissão porque encontravam em
seu trabalho compromisso e seriedade.
Durante sua gestão foram feitas muitas discussões sobre a criação do estatuto dos
professores, uma das promessas de campanha de Francisco Amaral. Com sua demissão, tais
discussões foram interrompidas para revolta dos educadores. 85
84
Tradução da autora.
85
“Demissão adiada?”. Correio Popular. Campinas, 06 de dezembro de 1978;
“Secretaria demite-se e faz crítica a Francisco Amaral”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 07 de dezembro
de 1978.
“Ítala sai e condena a omissão do atual governo de Campinas”. Correio Popular. Campinas, 08 de dezembro
de 1978;
“Ítala demite-se e acusa Amaral”. Diário do Povo. Campinas, 08 de dezembro de 1978.
177
“A profa. Ítala Loffredo D’Otaviano demitiu-se ontem da Secretaria de
Educação, entregando o cargo ao prefeito Francisco Amaral, que ontem
mesmo anunciou seu substituto: Ruyrillo de Magalhães. (...) Na carta de
renúncia e para os repórteres, a profa. Ítala acusou o governo de
Francisco Amaral de não possuir unidade e ainda de faltar com o
diálogo e até com o respeito junto a determinados assessores. Com
ironia ela disse que espera, com sua saída, que a administração
municipal ‘desperte do profundo sono que está envolvida’”. 86
Cidade Educativa
86
Idem.
87
Documento do arquivo Histórico do Centro de Lógica Epistemológica e História da Ciência da Unicamp.
(s/dt).
178
Paulínia, no ano de 1976 e posteriormente, por solicitação da Secretaria de Educação de
Campinas, nesta cidade no ano de 1977. 88
Para Covian,
“a cidade constitui por si só um sistema educativo mais constante e
massivo que as horas de ensino na aula tradicional, o que nos leva a
observar a estreita relação que há entre o planejamento físico e a
educação informal. A cidade é uma escola onde o homem aprende
naturalmente: modos de comportamento, formas de convivência,
informações por estímulos visuais e auditivos diretos. Daí a importância
física da cidade, como um meio que possibilite o desenvolvimento das
tendências positivas da população.” 89
Assim, a partir da interação entre o cidadão e sua cidade surgiria um produto que
estava em constante influência dos estímulos presentes: ruídos, longas esperas, serviços
públicos deficientes. Disso resultaria angústia, cólera ou um abatimento/indiferença no
indivíduo. Neste sentido, Covian afirmava que o aspecto físico urbano da cidade provocaria
um tipo de educação informal, por meio dos sentidos, princípio este que para ele era o de
toda educação. A paisagem urbana, a organização dos espaços públicos (mercados,
parques, praças) daria indícios de como a cidade ensina informalmente os valores que
permeiam as relações humanas e as regras de convívio. 90
Denominada de “Cidade Educativa”, a proposta de Covian tinha como princípio
uma atitude dialogal de respeito à forma de ser própria de cada indivíduo, compreendendo
que o seu desenvolvimento se daria pela interação dos elementos naturais, humanos e
técnicos que compõe a urbe91.
Para ser feito o levantamento de como se conformava a interação entre cidadão e
cidade, era preciso que o pesquisador realizasse um levantamento sócio educativo que
obedeceria a um método, um plano. Isto consistia em realizar visitas orientadas na cidade
em estudo, com o objetivo de observá-la em conformidade com uma agenda pautada nos
princípios da “Cidade Educativa”. Para cada observação deveria ser feito um relatório de
tudo o que foi observado. Em seguida deveria ser feito um histórico da cidade em estudo,
88
“Plano de curso – EP – 641 – Tópicos Especiais em Sociologia da Educação” – prof. Roberto César
Covian”. Faculdade de Educação. Unicamp. Campinas, 1976. mimeo;
“Plano de curso – EP – 541 – Sociologia da Educação I – prof. Roberto César Covian”. Faculdade de
Educação. Unicamp. Campinas, 1978. mimeo.
89
“Plano de curso – EP – 541 – Sociologia da Educação I – prof. Roberto César Covian”. Faculdade de
Educação. Unicamp. Campinas, 1978. mimeo.
90
Idem.
91
“O fator ecológico”. Correio Popular. Campinas, 10 de fevereiro de 1980.
179
um levantamento de sua população, seu perímetro urbano, organização comunal e
administrativa, plano de desenvolvimento urbano, áreas verdes, informações dos estímulos
visuais e auditivos. Também deveria ser feito um levantamento sobre a contaminação
ambiental da cidade, os serviços públicos oferecidos (educativos, de saúde, transporte,
habitação) e a infra-estrutura de abastecimento (mercados, farmácias, restaurantes, etc.). 92
Após todo o levantamento sócio-educativo, determinar-se-iam quais os problemas
mais urgentes, selecionar-se-iam as medidas para resolvê-los e aplicar-se-iam os recursos
humanos e econômicos disponíveis para atender as medidas. Contudo, isso deveria ser feito
somente com a participação da comunidade na qual o estudo estava inserido. O programa
“Cidade Educativa” ocorreria justamente neste ponto, quando as medidas eram delimitadas
pelo grupo (comunidade e pesquisador) e efetivadas. 93
92
“Plano de curso – EP – 541 – Sociologia da Educação I – prof. Roberto César Covian”. Faculdade de
Educação. Unicamp. Campinas, 1978. mimeo.
93
“O fator ecológico”. Correio Popular. Campinas, 10 de fevereiro de 1980.
94
Idem.
95
“Ítala: precisamos transformas Campinas em uma ‘cidade educativa’”. Correio Popular. Campinas, 9 de
julho de 1977;
“Ítala: ‘a cidade é um sistema educativo’”. Correio Popular. Campinas, 14 de agosto de 1977;
“Diretor da UNESCO fala do trabalho em Campinas”. Correio Popular. Campinas, 13 de outubro de 1977.
180
Mais uma vez percebe-se a interação entre universidade pública e administração
municipal na tentativa de implementar um programa que visasse atender as necessidades do
município. Embora tenha sido interrompida, a parceria trouxe um levantamento sócio-
educativo da cidade que definiu metas a serem privilegiadas na agenda política da
Secretaria da Educação.
Formação em serviço
96
“Os números da rede municipal de ensino”. Correio Popular. Campinas, 14 de julho de 1978;
“A visão global da educação em Campinas”. Correio Popular. Campinas, 12 de outubro de 1978;
“Ampliada merenda escolar nas escolas municipais”. Correio Popular. Campinas, 06 de dezembro de 1978.
181
transformar Campinas em uma “Cidade Educativa”. Em julho do mesmo ano, por
solicitação da Prefeitura de Americana, a Secretaria de Educação de Campinas, através da
Coordenadoria de Educação Recreativa, ministrou treinamento para os professores do PIs
daquela cidade em um curso denominado “Funcionamento da Parte Administrativa e
Pedagógica de um Parque Infantil”, em função do destaque do trabalho desenvolvido nos
Parques campineiros. 97
Também, entre os meses de julho e agosto do mesmo ano, foi realizado um amplo
programa de capacitação dos Assistentes Pedagógicos e dos Orientadores Educacionais. O
curso dos Assistentes Pedagógicos foi coordenado pela profa. Maria Carolina de Almeida
Lima assessora da Secretária e, o de Orientadores Educacionais, pela profa. da Faculdade
de Educação da Unicamp Isaura Rocha F. Guimarães. Estes cargos foram ampliados de 04
para mais 14, pois a rede municipal estava crescendo. Os ocupantes foram escolhidos
dentre os professores efetivos e em função desta ampliação fez-se necessário um
treinamento a fim de que os mesmo começassem a trazer inovações nas práticas escolares,
dentro das propostas da Secretária. Ao Assistente Pedagógico cabia coordenar a execução
dos planejamentos e analisá-los juntamente com os professores, assim como colaborar no
processo de avaliação dos resultados de ensino. Este cargo era considerado como um agente
técnico nas escolas indicado para promover as mudanças necessárias. O Orientador
Educacional era um cargo que estava começando a ser implantado nas escolas. Inicialmente
seria realizado um projeto piloto em três escolas, para posteriormente ser ampliado. Para o
ano de 1978 a Secretaria previa cursos de capacitação para a área de Administração Escolar
(diretores, inspetores e coordenadores de ensino). 98
Em fevereiro de 1978, Professores e Diretores da rede municipal participaram do
“Treinamento de Docentes da Rede Municipal” realizado na Escola Estadual “Prof.
Adalberto Nascimento”, com sete dias de duração. O objetivo era preparar os professores
para realizarem o planejamento do ano de 1978. Este era o primeiro curso oferecido pela
Secretaria com estes fins e foi reconhecido como uma inovação na rede municipal,
considerado de grande importância, pois orientava os professores dos Parques, dos Centros
97
“Recrutamento e capacitação do pessoal na Secretaria de Educação”. Correio Popular. Campinas, 6 de
outubro de 1977;
“A visão global na educação em Campinas”. Correio Popular. Campinas, 12 de outubro de 1978.
98
“Recrutamento e capacitação do pessoal na Secretaria de Educação”. Correio Popular. Campinas, 6 de
outubro de 1977.
182
Infantis, Escolas de 1o. Grau e Ensino Supletivo quanto à elaboração e avaliação dos
objetivos de ensino. Além de instrumentalizar o professor quanto às tarefas de elaboração e
avaliação do plano de ensino, o curso fornecia bibliografia específica para posterior
aprofundamento dos docentes. Este, segundo os planos da Secretaria, seria o primeiro de
vários que ocorreriam no início de cada ano99.
Ainda buscando a melhoria da qualidade do ensino e do atendimento aos alunos da
rede municipal, os Parques Infantis passaram a receber no ano de 1978 um Assistente
Pedagógico para cada 3 ou 4 PIs. Estes Assistentes passavam por constantes cursos de
aperfeiçoamento e atualização pedagógica e atuavam diretamente nas escolas coordenando
todo trabalho pedagógico e as reuniões mensais realizadas com os professores.
A Secretaria de Educação desta gestão fez um maciço investimento durante seus
dois anos de governo, oferecendo vários cursos para professores, especialistas e pessoal de
apoio (programa de alimentação para as merendeiras do PIs). Essas ações evidenciavam a
preocupação da gestão de Ítala no investimento da formação em serviço, demonstrando
claramente que esse era um item importante de sua agenda política. A formação em serviço
traz em seu bojo a idéia de que um profissional não se forma apenas em seu curso inicial, é
preciso que ele se atualize freqüentemente para oferecer um serviço de qualidade,
principalmente no que diz respeito à oferta de um serviço público que faz parte da rede de
proteção social – a educação pré-escolar.
Ainda vale lembrar, que a gestão buscava articular esta formação com os demais
programas que estavam sendo implementados em parceria com a Universidade de
Campinas via Faculdade de Educação. Também percebia que era importante formar os
vários segmentos que estavam envolvidos no atendimento à criança (merendeiras, diretoras,
assistentes pedagógicos e orientadores educacionais) não se restringindo somente aos
professores.
Programa de férias
99
“Docentes fazem treinamento”. Diário do Povo. Campinas, 04 de fevereiro de 1978.
183
socialização destas crianças e aproveitar as escolas ociosas no período de férias. O
programa visava atender 300 crianças com duração de 4 horas diárias e oferecimento de
lanche. 100
Neste caso a gestão demonstrou preocupação em pautar na sua agenda política o
atendimento à criança mesmo fora do período escolar, entendendo que a mesma necessita
de atendimento o ano todo e não somente durante o ano letivo. Esta ação traz um
entendimento mais amplo das necessidades da criança, em que atendê-la integralmente é
um compromisso da Secretaria da Educação. Nota-se que para efetivar tal programa a
Secretaria soube fazer uso do espaço público escolar, percebendo-o que ele não se limita as
práticas escolares, mas também é entendido como um espaço da comunidade e que deve ser
usufruído de acordo com as necessidades da mesma.
100
Idem.
101
“Pré-escolares participam da comemoração de Páscoa”. Correio Popular. Campinas, 07 de abril de 1977;
“Educação, a pasta que mais trabalhou nestes seis meses”. Diário do Povo. Campinas, 20 de agosto de 1977;
“Recrutamento e capacitação do pessoal na Secretaria de Educação”. Correio Popular. Campinas, 06 de
outubro de 1977.
102
“Implantação da nova metodologia de educação pré-escolar em classes de pré-primário do sistema de
ensino municipal de Campinas.” Campinas, janeiro de 1979. Arquivo pessoal da professora Orly Zucatto
Mantovani de Assis.
184
porque senão teremos que pedir autorização para a câmara e o trabalho
já está tão engajado! Vamos continuar. Você continua fazendo o que
fazia, mas como minha assessora’. Então passei a ter um cargo de
confiança dentro da Secretaria de educação. (...) A Ítala me propôs isto,
porque a filha mais velha dela era aluna do Progresso e tinha feito parte
da pesquisa. Então ela me disse: ‘o resultado do seu trabalho ninguém
precisa me contar porque eu a tenho na minha casa, mas não vamos
fazer uma lei, você continua como assessora.’” (Orly Zucatto Mantovani
de Assis, mar/05)
103
Idem.
104
De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças qualitativas e
quantitativas das estruturas cognitivas derivando cada estrutura de estruturas precedentes. Ou seja, o indivíduo
constrói e reconstrói continuamente as estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio. Essas
construções seguem um padrão denominado de estágios do desenvolvimento que seguem idades mais ou
menos determinadas. Todavia, o importante é a ordem dos estágios e não a idade de aparição destes. Os
estágios são assim determinados: sensório-motor (0 a 24 meses); pré-operacional (2 a 7 anos), operações
concretas (7 a 12 anos) e operações formais (a partir dos 12 anos).
(www.penta.ufrgs.br/~marcia/piaget.htm#tab em 02/08/06)
185
5. promover cursos de treinamento para o pessoal auxiliar da escola.
” 105
É importante ressaltar mais uma vez que Ítala buscou em quase todas as suas ações
implementadas realizar parceria com a Faculdade de Educação da Unicamp, junto ao
professor Covian com o programa “Cidade Educativa”, com a professora Isaura Rocha F.
Guimarães em programas de capacitação em serviço e com a profa. Orly Zucatto
Mantovani de Assis através do programa das salas experimentais. A gestão definiu como
um de seus campos de interesse político trazer a universidade para atender às necessidades
da Secretaria da Educação, desmontando, assim como nos programas do prof. José
Alexandre (embora este em menor grau considerando que o mesmo ficou 8 anos na gestão
e Ítala apenas dois anos), o discurso de que a Universidade não se interessa pelas
necessidades da população.
Quando Ítala assumiu, a Secretaria de Educação, Esporte e Turismo foi alvo de uma
reforma administrativa pelo decreto no. 5095 do dia 01 de fevereiro de 1977. Esta reforma
previa que os Departamentos de Esporte e Turismo passariam para o Gabinete do Prefeito e
a Secretaria ficaria somente com o Departamento de Educação sendo denominada
Secretaria de Educação.
De acordo com o “Manual de Orientação dos Recursos Sociais de Campinas” 106 da
Administração de Francisco Amaral o objetivo da Secretaria de Educação consistia em:
promover pesquisas educacionais; realizar atividades de natureza pedagógica e orientação
educacional e manter o serviço de merenda escolar. Dentre os serviços prestados cabiam as
atividades do ensino regular – pré-escolas e Parques Infantis e assistência escolar –
merenda e Associação de Pais e Mestres.
Conforme a profa. Ítala, havia uma equipe de assessoria na Secretaria que se
destacava pelo empenho no serviço prestado. Mesmo não tendo qualificação universitária,
esta equipe era formada por profissionais antigos na carreira que se mantinham mesmo com
mudanças políticas.
105
Idem a nota 101.
106
“Manual de Orientação dos recursos Sociais de Campinas”. Secretaria Municipal de Promoção Social.
Administração Francisco Amaral 1977-78. p. 034.
186
“Eu encontrei uma Secretaria da Educação estruturada e as pessoas que
trabalhavam eram antigos funcionários da rede, muito dedicados. Nem
sempre com a qualificação profissional necessária, mas dedicados,
experientes e na maioria das vezes capazes. (...) Ela era formada pelos
professores mais velhos, por aqueles mais experientes, que não tinham
formação universitária, mas tinham uma grande experiência profissional
na rede. Eram dedicados, eram muito bons funcionários.” (Ítala Maria
Loffredo D’Otaviano, jan./05)
Segundo a ex-secretaria foi preciso muita cautela para introduzir as mudanças que
achava necessário. Buscou realizar várias reuniões, demonstrar seu interesse e
envolvimento pela causa da educação para que os profissionais se sentissem seguros com a
sua gestão, uma vez que vinham com um mesmo Secretário há sete anos. Primeiramente ela
renovou alguns cargos.
Van Meter e Van Horn (1996) caracterizam que para um processo de
implementação obter sucesso é necessário, dentre outros fatores, uma comunicação aberta
entre os agentes implementadores e seus sujeitos. A participação oferece um bom espírito
de equipe, um maior compromisso e dá possibilidade para compreender as razões dos
implementadores. A clareza dos objetivos é ingrediente decisivo para implementação de
mudanças, reduzindo as possíveis resistências iniciais. O diálogo constante, a postura
democrática facilita o processo de implementação, uma vez que os subordinados tendem a
oporem-se a qualquer mudança quando esta lhes parece ser uma iniciativa exclusivamente
de seus superiores.
187
Buscando agir desta forma, Ítala nomeou para a Diretoria dos Parques Infantis Hilza
Curti Honorati, que era diretora de um dos Parques Infantis.
Nomeou Maria Carolina de Almeida Lima para ser sua assessora particular. Ela era
diretora de uma escola da rede estadual e se destacava em seu trabalho. Este ato era uma
inovação na Secretaria da Educação uma vez que os cargos eram assumidos por pessoal da
carreira. Em fevereiro de 1978, Maria Carolina passou também a assumir o cargo de
Diretora do Departamento Municipal de Educação.
Estatuto do Magistério
Foi também no iniciou desta gestão que começaram as discussões sobre a criação do
novo Estatuto do Professores. De acordo com a profa. Ítala (jan./05) o Estatuto era uma
promessa de campanha do Prefeito Francisco Amaral, uma vez que o existente era muito
criticado. No mês de fevereiro foi nomeada uma comissão a fim de realizar os estudos
necessários para sua elaboração, bem como atender as reivindicações da categoria. No mês
de abril de 1977 já era encaminhado um projeto para a avaliação da Câmara Municipal. No
mês de agosto de 1977, um jornal local informava que uma nova versão estava sendo
188
enviada para a Câmara107. Contudo, esta versão não foi aprovada uma vez que as discussões
continuaram no ano seguinte.
Um novo anteprojeto foi enviado pelo Executivo à Câmara em setembro de 1978,
porém ainda deveria ser analisado pelos professores. Este anteprojeto dividia o Quadro do
Magistério em Categorias Funcionais:
a) professor:
• professor I, formado em nível de 2o. grau com habilitação para pré-escola para
classes de educação infantil;
• professor II, com Licenciatura curta ou plena em Pedagogia.
b) especialista:
• orientador educacional, com Licenciatura plena em Pedagogia e habilitação
específica;
• orientador pedagógico, com Licenciatura plena em Pedagogia e habilitação
específica;
• diretor de escola, com Licenciatura plena em Pedagogia e habilitação específica;
• inspetor de escola, com Licenciatura plena em Pedagogia e habilitação específica.
A primeira entrada se daria por concurso público de provas e títulos pela categoria
professor I e inspetor escolar, sendo que para os cargos de professor II e os demais de
especialista seriam assumidos por professores efetivos com 3 anos de experiência docente,
via concurso interno de acesso. O anteprojeto previa um prazo de trinta dias para que a
Secretaria de Educação encaminhasse sugestões108.
Em outubro foi constituída uma nova comissão através da Câmara Municipal para
tratar do Estatuto do Magistério. Várias reportagens de jornais deste período anunciavam
amplos debates na Secretaria de Educação sobre o novo Estatuto, com a presença constante
da Secretária. As discussões ocorriam nos PIs e eram dirigidas pela Diretora do
Departamento de Educação profa. Maria Carolina de Lima, da responsável pela Assessoria
Técnico-Pedagógica Maria Terezinha Quaiolti e acompanhada pelo professor da Faculdade
de Educação da Unicamp Múcio Camargo de Assis. Um dos pontos mais discutido era que
107
“Estatuto do Magistério vai ser modificado”. Correio Popular. Campinas, 09 de fevereiro de 1977.
“Estatuto dia 18.” Correio Popular, 07 de abril de 1977;
“Educação, a pasta que mais trabalhou nestes 6 meses”. Correio Popular. Campinas, 20 de agosto de 1977.
108
Anteprojeto do Estatuto do Magistério Municipal. Diário Oficial do Município, 29 de setembro de 1978.
189
o novo Estatuto passasse a aceitar a “Habilitação Infantil” adquirida em cursos específicos
nas Universidades109, pois era aceita somente aquela adquirida pelo 4o. ano do curso
normal. 110
Os PIs eram referência de educação pré-escolar. Elogiado pela imprensa local, era
por ela avaliado como um espaço de atendimento a criança de 4 a 6 anos que previa uma
educação de qualidade, planejada e que atendia boa parte da população campineira.
Mantinham os mesmos padrões desde seu surgimento sendo, contudo, ampliado o espaço
109
A essa altura a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), através da Faculdade de educação,
oferecia uma licenciatura curta em Formação de Professores da Pré-escola.
110
“Professores municipais com o prefeito”. Correio Popular. Campinas, 2 de setembro de 1978;
“D. Ítala anuncia: debates começam.” Diário do Povo. Campinas, 03 de outubro de 1978;
“Estatuto Municipal: debates e discussões.” Diário do Povo. Campinas, 07 de outubro de 1978;
“Comissão para tratar do Estatuto do Magistério”. Correio Popular. Campinas, 13 de outubro de 1978.
190
físico. As professoras eram especializadas, havia orientadoras pedagógicas, nutricionistas,
atendimento dentário e médico.
“Por isso a educação pela recreação que os PIs promovem é das mais
significativas e permanentes, e, deve ser reconhecida, em Campinas, por
quantos se interessaram pelo desenvolvimento humanizado.”
(“Educação pela recreação”. Correio Popular. Campinas, 02 de abril de
1978).
A Profa. Ítala também chama a atenção sobre os trabalhos desenvolvidos nos PIs:
“Era emocionante ver o trabalho das professoras dos Parques. Você via
a estrutura que elas mantinham, os brinquedos, o atendimento, a
responsabilidade. Elas trabalhavam com paixão e eu acho que a
Secretaria de Educação de Campinas sempre foi modelo graças à
dedicação deste corpo docente e do corpo de coordenadores, diretoras,
supervisoras.” (jan./05)
191
recomendações ao professor em como proceder, o material que deveria utilizar e os
objetivos daquele material (ANEXO II – Seqüência de Labirintos).
Havia a orientação que durante a semana era necessário realizar três aulas de
educação física, uma aula de dança e uma de jogos. Conforme roteiro de planejamento
fornecido nestas reuniões, o período no Parque deveria ser dividido em atividades de livre
escolha (50 minutos); atividades orientadas (30 minutos); atividades mistas (50 minutos) e
atividades de rotina (20 minutos). Porém, não havia a especificação do que compreendia
cada atividade. A organização por centro de interesse mantinha-se, assim como a utilização
do caderno de linha verde111 para as salas de pré-primário. As decorações dos PIs eram
feitas pelas professoras e deviam ser trocadas mensalmente. Os alunos possuíam boletins
onde era descrito o aproveitamento das aulas de cada criança e oferecido aos pais nas
reuniões que ocorriam durante o ano. 112
Nas reuniões dos PIs os professores também recebiam orientações de como se portar
na condução de suas salas. No registro de reunião de 01 de abril de 1977 e de 29 de abril de
1977 do PI “Regente Feijó”, os professores foram chamados a fazerem a Campanha do
Silêncio, que consistia em diminuir o tom de voz no trato com as crianças. Também
chamavam a atenção quanto aos planejamentos, pois eles estavam sendo repetidos e eram
inadequados a faixa etária a que se destinavam.
Era objetivo dos PIs propiciar condições para a socialização, adaptação e integração
da criança no Parque Infantil; buscar gradativamente um bom relacionamento entre a escola
e família da criança que freqüenta o PI; desenvolver hábitos e atitudes de vida sadia em
relação à higiene, alimentação, habitação e recreação e manter um bom clima de
estabilidade emocional em todo pessoal do Parque Infantil. 113
111
Caderno brochura pequeno contendo linhas verdes para o treino da caligrafia.
112
Ata de reunião pedagógica de 29 de abril de 1977 e de 01 de agosto de 1977do PI “Regente Feijó”.
113
Livro de Reuniões Administrativa e Pedagógica do PI “Regente Feijó” dos dias 02 de fevereiro de 1977 e
05 de fevereiro de1978.
192
4.2.3 Gestão de Ruyrillo de Magalhães (1979–1981) no governo de Francisco Amaral
(1977-1982)
4.2.3.1 Apresentação
114
“Roda Viva”. Diário do Povo. Campinas, 02 de janeiro de 1979.
193
D’Otaviano, Ruyrillo de Magalhães, Maria Helena de Mello Pupo e Itagiba D’Ávila
Ribeiro (Quadro 10)
115
“Ruyrillo quer a Secretaria em ordem e limpa”. Dário do Povo. Campinas, 01 de fevereiro de 1979;
“Em Campinas, escola vai ter um santuário ecológico”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 14 de fevereiro de
1979.
194
4.2.3.3 Ações desenvolvidas
Ruyrillo anunciou que para os anos de 1979 e 1980 haveria um plano de atividades
sócio-educativas que tinha por objetivo dinamizar o ensino e o aprimoramento ético-cívico
dos educandos. Este plano determinava que a ênfase do trabalho pedagógico deveria
pautar-se na Educação Moral e Cívica e no incentivo ao conhecimento das normas
fundamentais à defesa do meio ambiente. Os fundamentos para estas orientações conforme
o ex-secretário estava no suporte de três elementos: a terra, o aluno e a família. Ruyrillo em
entrevista ao jornal Diário do Povo afirmava:
Para ele o ambiente escolar iria induzir o educando a ter o mesmo desvelo com o
quintal de sua casa, com as ruas e praças de seu bairro e pela estética e ordenamento geral
de sua cidade. O aluno, segundo o ex-secretário, deveria estar assistido socialmente,
cuidado em sua saúde física e mental, sendo estimulado a desenvolver
116
“Ruyrillo quer a Secretaria em ordem e limpa”. Dário do Povo. Campinas, 01 de fevereiro de
1979.
117
Idem.
118
Idem.
195
Assim, através do Plano Básico Sócio-Educativo Ruyrillo, em entrevista ao jornal
Correio Popular, instituiu o “Paisagismo Pedagógico” onde todas as escolas e Parques
Infantis da Secretaria de Educação de Campinas deveriam estar organizados no sentido de
serem “(...) um apelo vivo ao amor à natureza, com gramados bem tratados e árvores
119
dispostas de modo a formar imagens paisagísticas agradáveis.” Para tanto, sempre que
houvesse condições de espaço seria implantado o “Santuário Ecológico”, onde
119
“Paisagismo pedagógico já é realidade”. Correio Popular. Campinas, 3 de maio de 1979.
120
Idem a 116.
121
Idem.
122
Idem.
196
FIGURA 18 – PI “Hilton Federici” – Vila 31 de março – julho de 1980 - Inauguração
do “Santuário Ecológico”. (da esquerda para direita: o ex-secretário Ruyrillo de
Magalhães, o ex-prefeito Francisco Amaral e a ex-diretora Vera Villagelin).
197
Figura 20 – PI “Hilton Federici” – Vila 31 de março – julho de 1980 – Plantio de
mudas no “Santuário Ecológico”. (na foto da esquerda o ex-secretário Ruyrillo de
Magalhães e na foto da direita o ex-prefeito Francisco Amaral).
Fon
te: arquivo da EMEI “Hilton Federici”.
198
AMAPAGE
Formação continuada
123
“Ruyrillo implanta Academia.” Diário do Povo. Campinas, 12 de junho de 1979;
“Campinas: 28 mil escolares em 1980.” Correio Popular. Campinas, 26 de fevereiro de 1980;
“Paisagismo Pedagógico”, fórmula educacional da rede do município”. Correio Popular. Campinas, 20 de
janeiro de 1981;
124
Diário Oficial do Município de Campinas de 02 de fevereiro de 1979, p. 05;
“Campinas: 28 mil escolares em 1980.” Correio Popular. Campinas, 26 de fevereiro de 1980.
199
da cidade (PUCC e UNICAMP) no desenvolvimento de ações. O que fica claro é que
grande parte das ações implementadas partiram de ideais de Ruyrillo de Magalhães que
ficou ao seu cargo a vigência dos mesmos. Os cursos oferecidos pelo AMAPAGE não
passaram por um diagnóstico, a fim de conhecer as lacunas encontradas na formação do
pessoal pertencente à rede municipal de educação de Campinas. Este fato poderia gerar a
não adesão dos profissionais aos cursos, uma vez que não faziam parte de seus interesses.
Ela relatou ainda que as professoras que participavam do programa não tinham
condições de continuar sozinhas com o trabalho, pois deviam submissão as determinações
da Secretaria de Educação.
Ruyrillo não estava aberto ao diálogo, nem tão pouco interessado em dar
continuidade a um programa que já vinha sendo desenvolvido ao longo de duas
administrações.
O que se verifica neste caso também, é recorrente na administração pública, ou seja,
a falta de continuidade de programas e ações implementadas. A cada nova entrada de um
ou mais atores políticos, os mesmos querem imprimir sua marca, nem que para isso seja
125 125
“Implantação da nova metodologia de educação pré-escolar em classes de pré-primário do sistema de
ensino municipal de Campinas.” Campinas, janeiro de 1979. Arquivo pessoal da professora Orly Zucatto
Mantovani de Assis.
200
necessário desprezar programas que já vinham sendo desenvolvidos com sucesso. Na
verdade, o que ocorre mais uma vez é a disputa de poder dentro da máquina pública, com
tendência a fazer da gestão um marco e não uma continuidade daquilo que é bem avaliado.
Isto interrompe boas iniciativas e provoca revolta e oposição daqueles que fazem parte do
quadro efetivo de funcionários (e que, portanto não trocam a cada gestão).
Estatuto
126
“Professores só esperam o novo quadro de ensino.” Diário do Povo. Campinas, 03 de março de 1979;
“Barreto acusa Amaral”. Diário do Povo, 13 de março de 1979.
“Professores municipais também estão em greve”. Diário do Povo. Campinas, 15 de março de 1979;
“Os professores entram em greve; baixos salários, insegurança e injustiças devido à falta de um Estatuto”.
Diário do Povo. Campinas, 28 de março de 1979.
127
“Professores só esperam o novo quadro de ensino.” Diário do Povo. Campinas, 03 de março de 1979.
201
II – Especialistas da Educação:
a) Assistente Pedagógico, com habilitação específica obtida em curso superior e ter no
mínimo 3 anos de experiência docente no ensino de 1o. grau ou em educação
infantil;
b) Orientador Pedagógico, com habilitação específica obtida em curso superior e ter no
mínimo 3 anos de experiência docente no ensino de 1o. grau ou em educação
infantil;
c) Diretor Escolar, com habilitação específica obtida em curso superior e ter no
mínimo 3 anos de experiência docente no ensino de 1o. grau ou em educação
infantil e 1 ao de exercício no cargo de Assistente Pedagógico;
d) Supervisor de Ensino, com habilitação específica obtida em curso superior e ter no
mínimo 3 anos de experiência docente no ensino de 1o. grau ou em educação
infantil e 3 anos de exercício distribuído em cargos de especialista de educação.
O ingresso para o cargo de professor I seria feito mediante concurso público de
provas e títulos, sendo considerado o tempo de exercício em funções prestadas à rede
municipal de ensino. Os demais cargos seriam providos por concurso de acesso.
Concurso
No Diário Oficial de 15 de agosto de 1980, após 09 anos, foi publicado o edital para
concurso público de provas e títulos de professores que ocorreu no dia 25 de janeiro de
1981. Havia 175 vagas para preenchimento em classes de pré-escolas e de 1a. à 4a. Série do
1o. Grau. As provas compreendiam conteúdos de Psicologia e Metodologia, além das de
conhecimentos gerais em português e matemática. O conteúdo de Psicologia compreendia o
desenvolvimento infantil, o desenho como forma de conhecimento da criança, conceito de
aprendizagem, problemas de aprendizagem e motivação. O conteúdo de metodologia
compreendia conceito de educação, os processos de ensino-aprendizagem e as
contribuições de Jean Piaget, Skinner e Gagné, planejamento em educação, objetivos
educacionais, recursos áudios-visuais no ensino, avaliação educacional, atividades extra-
classes e conteúdos específicos de matemática, português, ciências, estudos sociais, saúde e
202
educação física para escolas de 1o. Grau. Em 18 de março do mesmo ano as professoras que
foram aprovadas no concurso foram efetivadas.
128
“Semana da criança nas escolas municipais”. Correio Popular. Campinas, 9 de outubro de 1980.
203
FIGURA 21 – Festa de Natal no PI “Lafayete de Souza Camargo” – bairro Cambuí -
dezembro de 1980.
204
FIGURA 23 – Festa de Formatura no PI “Hilton Federici” – Vila 31 de Março -
dezembro de 1980.
4.2.4 A gestão de Maria Helena de Mello Pupo (abril de 1981 a maio de 1981 e de
setembro de 1981 a maio de 1982) no governo de Francisco Amaral (1977-1982)
4.2.4.1 Apresentação
Maria Helena de Mello Pupo formou-se em Direito pela PUCC e fez mestrado na
Faculdade de Educação da Unicamp, sob a orientação do Prof. Roberto César Covian, em
1980. Ela participou do programa “Cidade Educativa” coordenado pelo professor Covian e
também da implantação deste programa durante a gestão da professora Ítala. Vinculada ao
programa de pós-graduação, Maria Helena desenvolveu junto à “Cidade Educativa”, um
trabalho na favela da Vila Brandina, a qual deu elementos para a realização de sua
dissertação de mestrado. 129(Maria Helena de Mello Pupo; junho/06)
129
Sob o tema “Favelado tem Status”, Maria Helena de Mello Pupo contribuiu com seu trabalho para o campo
da educação não-formal de base comunitária, elaborado a partir de observações na favela da Vila Brandina na
cidade de Campinas. O objetivo de seu trabalho foi elaborar uma reflexão crítica a partir da realidade
investigada, a fim de descobrir o caráter educacional que a realidade possibilita aos grupos que a forma. Com
seu trabalho ela pretendeu atribuir “um estatuto à educação informal de base comunitária, na medida em que
constitua uma proposta de educação para o homem, pessoa-urbana, fora da escola”. (PUPO, 1980: 05)
205
“Esse programa (Cidade Educativa) era da Faculdade de Educação que
foi chamada para ajudar a Ítala, mas era um programa curricular, da
graduação e da pós também. Foi feito em 10 favelas.” (Maria Helena de
Mello Pupo; junho/06)
130
De acordo com Fabrini e Lourenço (2003), Geraldo Bassoli era um homem forte na administração de
Francisco Amaral. Havia sido eleito vereador em 1976, se licenciou do mandato para atender o convite de
Francisco Amaral em ser seu Chefe de Gabinete. Voltou à Câmara em 1979, quando foi escolhido presidente
da Casa para o biênio de 1979-1980. Os autores contam que houve um episódio durante a gestão Francisco
Amaral que o mesmo fez uma carta de renúncia, a qual Geraldo Bassoli recebeu como presidente da Cãmara e
a rasgou.
206
“Eu nunca abandonei meu ideal (...) A “Cidade Educativa” tinha como
objetivo, dentro da educação informal, que a cidade educasse de
maneira que os contingentes populacionais que não chegam à escola
fossem atingidos com a nossa presença e recebessem a nossa proposta
de educação do cidadão”. (Maria Helena de Mello Pupo; junho/06)
Maria Helena diz que, não houve uma transição diretamente com Ruyrillo, mas sim
com os próprios funcionários da Secretaria. Pela postura do ex-secretário ser pouco aberta
ao diálogo, Maria Helena não chegou a cogitar o contato com ele.
207
“Não, conversei com o Ruyrillo para fazer a transferência. Porque o
Ruyrillo não atendia ninguém, (...) mas nunca tinha passado pela minha
cabeça ir lá depois que ele assumiu, a Ítala saiu e a gente saiu junto com
ela. O pessoal do gabinete me falou que ele iria para o IPMC. Então eu
fiz uma menção a figura dele no dia da posse.” (Maria Helena de Mello
Pupo; junho/06)
Segundo Maria Helena os alunos deveriam ser o objetivo maior na definição das
políticas educacionais do município. “Eu achava que a educação era para os alunos, os
alunos deviam participar”. A partir dessa primícia, buscou atingir os alunos pertencentes às
camadas da população mais desfavorecidas e tentou imprimir uma maior sensibilidade às
causas destas comunidades, que careciam de qualquer tipo de serviço público. A ex-
secretaria afirmou ter detectado durante sua atuação na Vila Brandina que as escolas
municipais evitavam matricular crianças pertencentes às favelas divulgando datas erradas
de matrículas. Segundo ela, o pessoal da Secretaria Municipal de Educação, apesar de ter
um alto nível de formação na área, tinha uma postura segregadora dos grupos
desfavorecidos da cidade e não os queria dentro de suas escolas.
208
“As funcionárias da Secretaria só me davam informações que nas
escolas estava tudo ótimo, mas não era verdade. Havia as escolas da
periferia... Eu cheguei em uma, a funcionária não me reconheceu e eu
perguntei como estavam as coisas lá. Ela me disse que estava um horror,
que apesar de a Secretária ir na TV e falar que não falta nada nas
escolas era mentira... falta isso, isso, isso... eu disse não acredito! Eu
voltei para a Secretaria e virei a mesa, só assim é que acontecia alguma
coisa. Chamei as supervisoras que eram chiquíssimas, ganhavam altos
salários e disse: escuta vocês me dão estes relatórios que está tudo
bem... e essa escola que eu fui visitar? E a escola tal? E a outra escola
tal? Aí, eu fui na TV e falei que quem não estivesse contente com as
escolas que telefonassem para meu gabinete. Eu coloquei uma pessoa no
meu gabinete só para atender estas reclamações. Aí começaram a
chegar as reclamações e eu consegui fazer alguma coisa. Então eu
recebia gente da vários locais da cidade e almoçava com elas. Eu pedia
um sanduíche e a gente conversava, porque era a única hora que eu
tinha disponível.” (Maria Helena de Mello Pupo; junho/06 - grifo
meu)
O depoimento de Maria Helena evidência pólos de tensão entre ela e seus assessores:
Assim, Maria Helena passou os 09 meses de sua gestão em uma relação tensa com
as supervisoras, uma vez que não concordava com as suas ações. Porém, este clima tenso
trazia dificuldades para sua administração, uma vez que as supervisoras formavam um
grupo de resistência contra a Secretária. Como será visto mais a frente, Maria Helena as
remanejou para outras áreas, mas quando saiu da Secretaria as que ainda não havia se
aposentado voltaram para seus cargos anteriores.
209
Como já foi abordado durante a gestão de Ítala, o fato de funcionários públicos
antigos apropriarem-se das administrações públicas como algo que lhes pertencem é muito
comum. Por estarem muitos anos desenvolvendo a mesma função, acabam por adquirirem
uma certa autonomia a fim de se fortalecerem para as mudanças políticas as quais uma
administração pública está sujeita, principalmente no caso brasileiro, em que os partidos
políticos, ao assumirem uma gestão pública, tendem a desprezarem o que já vinha sendo
desenvolvido visando imprimir uma marca própria a gestão que assumem.
Sem dúvida, isso faz com que os funcionários públicos de carreira criem formas de
resistência. Porém, isto possibilita a formação de ações cristalizadas pelo tempo em que
estão em seus cargos, resistindo às mudanças que são fundamentais dentro da dinâmica da
gestão pública.
Essa questão acaba por prejudicar principalmente a população, que fica refém dos
embates políticos, e vê as reais necessidades da cidade sendo colocadas em segundo plano.
Campinas passava por grandes transformações naquele período. Como já descrito, sua
população tinha aumentado sensivelmente e exigia das ações políticas que implementassem
ações que atendessem a nova demanda populacional.
No caso da Secretaria da Educação aqueles que já estavam há anos em seus cargos
tinham iniciado seus trabalhos na década de 1960, quando Campinas ainda não possuía uma
periferia com favelas ou sem infra-estrutura básica. Na década de 1980 a realidade era bem
diferente, as favelas se multiplicavam, os bairros da periferia estavam cada vez mais
desprovidos de serviços básicos. Porém, os antigos funcionários pautavam suas práticas
ainda com referência a uma cidade que não mais existia. O campo de resistência estava
formado: de um lado a Secretária da Educação tentando modificar a forma de conceber a
educação pública e de outro os funcionários de carreira resistindo as suas propostas e
arrumando mecanismos de defesa, não participando de suas idéias e desmontando qualquer
tentativa de mudança. Maria Helena neste sentido acabou por exercer sua autoridade
remanejando os líderes desses grupos, como será abordada no item “mudanças na gestão”.
210
4.2.4.3 Ações desenvolvidas
Maria Helena esteve muito pouco tempo na Secretaria da Educação, e para dificultar
seu trabalho, esta gestão foi fragmentada em duas: “Eu gostaria de ter feito muito mais,
mas eu fiquei só um ano e pouco como secretária”. (Maria Helena de Mello Pupo,
junho/06) A primeira que durou somente um mês, não foi suficiente para implementar
qualquer ação, pois ela ainda estava conhecendo como era o seu funcionamento. Na
segunda que durou 8 meses, enfrentou demasiada resistência por parte dos cargos de chefia,
o que dificultou o planejamento e a implementação de ações.
Ela conta que no âmbito da pré-escola, o que conseguiu fazer foi abrir duas
unidades com apoio da comunidade. A primeira delas foi na região do Jardim Itatinga, local
que sofria com o preconceito de toda a população, pois ali era um reduto dos prostíbulos da
cidade. A maioria dos alunos eram filhos de prostitutas.
Através de uma iniciativa da igreja católica, um grupo de freiras procurou a
Secretária a fim de que a Prefeitura desse apoio na organização de uma pré-escola para as
crianças daquela região, cuja sede seria no salão de uma igreja. A Secretaria da Educação
passou a remunerar uma de suas professoras:
“Uma pré-escola que a rede apoiou foi a pré-escola do Jd. Itatinga. Fui
procurada pelas irmãs do Bom Pastor (uma ordem ligada ao Padre
Haroldo) que faziam um trabalho com a prostituição. Só que as
prostitutas tinham filhos e quando elas encontravam um cara rico que as
levavam para viajar, a criança ia. Então essa criança não tinha, em
termos de pré-escola regularidade. Ai as irmãs me explicaram isso e
falaram que lá tinha uma igreja, com duas salas maravilhosas e que elas
podiam instalar uma pré-escola. Essa pré-escola iria funcionar por
módulos, para não dar a criança que se ausentava e depois voltava a
sensação de descontinuidade da aprendizagem. Aí a criança viajava com
a mãe e quando voltava ela ia para aquele módulo que ela tinha parado.
Elas dariam duas freiras de graça e a prefeitura pagava uma freira-
professora. O Chico topou e ele pagava esta professora. Eu fui à
inauguração desta escola e avisei o pessoal da promoção social,
expliquei o que estava acontecendo e eles foram também. O pessoal da
Secretaria que era muito elitista achou um escândalo ir lá com as
prostitutas. Eu disse, não interessa, não é para ir atrás de quem
precisa?” (Maria Helena de Mello Pupo; junho/06)
211
Também houve o mesmo trabalho com a favela da Vila Brandina. Eles tinham uma
pré-escola que funcionava com recursos próprios em dois barracos. Fizeram então um
abaixo-assinado para a Secretária, com o objetivo de obterem algum apoio da Secretaria.
Conseguiram o fornecimento da merenda e o pagamento das professoras que lá
trabalhavam. (Maria Helena de Mello Pupo, junho/06)
Outra iniciativa foi a abertura das escolas para a comunidade aos finais de semana,
entendendo que o prédio era um espaço público e deveria estar à disposição das
necessidades da população.
Quando Francisco Amaral a convidou para voltar ao cargo, após sua licença médica,
Maria Helena refletiu: “Eu pensei: eu tinha uma grande gratidão pelo Chico quando ele
me convidou, e isso foi um dos motivos que me fez voltar, porque eu acreditava muito
pouco em poder reverter aquela situação.”
A partir daí ela procurou mexer na estrutura da Secretaria, tentando desmontar a
rede de resistência que os funcionários de chefia havia feito.
212
nomeada sem concurso, que ela era efetiva sem concurso, que o ex-
prefeito Lauro Péricles a convidou porque ela era formada em educação
física, mas ela não preenchia os requisitos para o cargo que ocupava.
Ela foi nomeada politicamente. Enquanto eu estivesse lá eu não ela
comigo. Ela pediu licença sem vencimento e sumiu. No tempo do
Alexandre (José Alexandre dos Santos Ribeiro) ela mandava em tudo”
(Maria Helena de Mello Pupo; junho/06)
De PI para EMEI
131
Arquivo Municipal de Campinas, livro de registro de protocolos.
213
A professora Maria Ap. Amauro (jan./05) relatou que a mudança de nomenclatura
ocorreu com o objetivo de enfatizar o aspecto educacional da pré-escola e não somente o
assistencial. Por esta concepção predominava a idéia de que o Parque Infantil era um lugar
para as crianças brincarem enquanto seus pais trabalhavam, atribuindo o recreativo em
oposição a uma proposta pedagógica. A denominação “escola” trazia o significado de
espaço do saber, da educação, da aprendizagem.
Maria Helena destaca algumas qualidades do trabalho que era desenvolvido em nas
EMEIs, em especial a alimentação das crianças:
“O dia que eu entrei pela primeira vez em uma pré-escola municipal, foi
a do Costa e Silva, eu disse eu estou na Suécia! Eu nasci nesta cidade e
não sabia que existia uma pré-escola assim. Isso não é Brasil, isso é
Suécia! Fiquei encantada, Inclusive, até hoje, o melhor picadinho de
carne que eu comi na minha vida foi lá.” (Maria Helena de Mello Pupo;
junho/06)
214
alimentação oferecida nas EMEIs, bem como aquelas que não tinham com quem ficar
enquanto os pais trabalhavam, sendo que neste caso era comum a exigência do atestado de
trabalho da mãe da criança.
O período de atendimento das EMEIs era integral e/ou parcial, sendo que o integral
visava atender as crianças de maior necessidade e o parcial àquelas cujas mães não
trabalhavam. O atendimento era feito de segunda à sexta das 08h00min às 16h30min e aos
sábados pela manhã. O atendimento era ininterrupto durante todo o ano, sendo que as férias
dos professores eram feitas em esquema de rodízio.
As crianças que ficavam em período integral sempre foram alvo de preocupação,
pois enquanto as de meio período iam para casa às 12h30min, as de período integral
voltavam para as classes, com outras professoras e não raro misturadas às crianças de meio
período da tarde. Este esquema fazia com que aquelas de período integral acabassem por
repetir atividades, dado que não havia estratégias que possibilitassem entrosamento entre as
professoras dos dois períodos, seja devido à falta de horário disponível para estes encontros
ou em função de divergências pedagógicas entre as elas.
Quanto ao número de alunos por sala, houve grandes embates para que não
houvesse superlotação e comprometimento da qualidade do atendimento. Nas décadas de
1970 e 1980 era comum encontrar classes com mais de quarenta crianças e apenas um
professor. A profa. Maristela Okamura (junho/05) conta que chegou a ter salas de 46 alunos
que freqüentavam período integral juntamente com outros que freqüentavam somente meio
período, com idade de 4 anos.
215
continuavam a seguir as apostilas de atividades (ANEXO II e III) e orientar seus trabalhos
pelas datas comemorativas. Também recebiam orientações para atividades de
psicomotricidade e educação física, com brincadeiras que deveriam ser realizadas em áreas
livres, bem como orientações em como desenvolvê-las (ANEXO IV). Conforme ela relata
as apostilas repetiam-se todos os anos, sendo organizadas em ordem crescente de
dificuldade e aplicadas às crianças de 5 e 6 anos. As salas de crianças de 4 anos usavam o
material mais livremente. Ela conta também que as salas de pré-primário sempre eram
atribuídas às professoras mais antigas, uma vez que elas eram consideradas mais
experientes e sabiam manter a disciplina dos alunos. Às mais novas eram reservadas as
salas das crianças de 4 anos, chamadas salas de maternal. As crianças das salas de pré
ficavam grande parte do período em sala realizando atividades mimeografadas (que deviam
ser 4 por dia), fazendo exercícios em cadernos de linhas verdes e quadriculados. Estas
atividades eram de coordenação motora como recorte, colagem, ligar pontos, perfurar
pontos, traçar linhas, etc. Havia algumas atividades livres como modelagem, brincadeiras
na areia e no parque.
Conforme apostila da Secretaria de Educação de Campinas sob o título “manejo de
132
classes” , as atividades desenvolvidas em sala poderiam ser de quatro formas:
1. atividades coletivas: todas as crianças realizando a mesma atividade ao mesmo
tempo;
2. atividades diversificadas: grupos de crianças realizando atividades diferentes e a
professora atendendo os diversos grupos;
3. atividades independentes: grupos de crianças realizando diferentes atividades que
poderiam ser de livre escolha;
4. atividades individuais: a professora atendendo uma ou mais crianças com
dificuldades sem a interferência das demais crianças.
A forma de organização do trabalho pedagógico neste período favorecia a subordinação
e dependência da criança em relação ao adulto, uma vez que era ele quem iria determinar
todas as atividades a serem realizadas e dirigir as produções individuais das crianças. Os
132
Documento elaborado pela Secretaria de Educação no ano de 1982. Arquivo pessoal da professora
Maristela Okamura.
216
exercícios repetitivos acabavam por coibir a criatividade infantil, limitando suas ações e
reflexões.
Quanto à capacitação dos professores era feita de duas formas: treinamentos e
reuniões mensais. Os treinamentos eram realizados no início do ano letivo, visando
subsidiar os professores para um bom desempenho profissional durante o ano. As reuniões
mensais orientavam os professores na elaboração do plano de ensino e para o
aprimoramento profissional133.
Toda semana as professoras entregavam um relatório do que iriam desenvolver na
semana que era conferido pelas assistentes pedagógicas. Era feita também uma ficha de
avaliação de cada aluno para ser entregue nas reuniões de pais (ANEXO V). Havia também
a “sala pedagógica”, isto é, uma sala em cada EMEI onde ficavam dispostos brinquedos
pedagógicos onde cada turma da escola freqüentava uma ou duas vezes por semana para
brincar sob a orientação da professora.
A profa. Maristela conta que havia escolas que era preciso fazer o revezamento de
salas e que também a utilização das piscinas era muito difícil devido ao número elevado de
alunos.
Isso nos leva a refletir que a educação brasileira denota um caráter elitista na
organização do trabalho pedagógico, uma vez que cada turma tem que ter uma sala para seu
uso exclusivo. Não obstante, podemos perceber que apesar de que em algumas escolas não
133
Idem.
217
havia salas exclusivas para cada turma, havia espaços físicos variados para serem
utilizados, como no caso citado a piscina ou a “sala pedagógica”.
Nas comemorações de datas festivas as crianças confeccionavam convites
previamente preparados pela professora e nas festas de formatura cada aluno recebia um
diploma de certificado de conclusão do curso de Educação Infantil, como demonstram as
figuras abaixo.
218
FIGURA 25 – Cartão de dia das mães – PI “Lafayete de Souza Camargo” – bairro
Cambuí - maio de 1980.
As unidades, conforme relatório anual da EMEI “Hilton Federici” dos anos de 1981
e 1982, ainda mantinham a visita mensal de médicos e vacinadores, bem como a realização
de serviços dentários.
*********************************
219
4.2.5 A gestão do Professor Enildo Galvão Carneiro Pessoa (1983-1988) no governo de
José de Magalhães Teixeira (1983-1988)
4.2.5.1 Apresentação
220
Partindo deste princípio, Enildo acreditava que, para estes dois ambientes se
aproximarem, era preciso garantir a democracia dentro das escolas. Que a família e os
educadores buscassem realizar um trabalho que permitisse a reflexão sobre os problemas da
sociedade encontrando meios para enfrentá-los. Era preciso criar uma nova dinâmica nas
escolas promovendo a “libertação humana” 134, isto é, promovendo por meio da educação a
formação da consciência política na luta pela libertação das classes oprimidas (PESSOA,
1997).
134
“Enildo quer uma nova didática com participação popular”. Diário do Povo. Campinas, 12 de abril de
1983.
221
Os Pressupostos Filosóficos apresentavam como concepção uma educação
comprometida com a “libertação do homem”, que se daria através da reflexão sobre o
mundo para transformá-lo. Nesta proposta mudava-se “o enfoque tecnicista para o enfoque
construtivista centrado na criança, visando à melhoria da qualidade de ensino”.
(CAMPINAS, 1999, p. 18-9)
Previa para a concretização das diretrizes pedagógicas, diretrizes operacionais por
meio das interações educador/educando e escola/família. Em relação à interação
educador/educando o documento previa que seria fundamental conhecer e valorizar todas
as experiências que a criança trazia consigo,
222
identificar as necessidades da rede municipal e implementar ações que viesse ao encontro
dessas necessidades foi sincronizada. O que se pode inferir é que a implementação das
ações foram muito claras na definição de seus objetivos, eficientes na comunicação dos
mesmos, assim como em nas justificativas e coerência. Não obstante, o elemento
acessibilidade do Secretário com seus subordinados e o permanente diálogo fez com que as
políticas de implementação diluíssem as resistências corporativas que relatamos
anteriormente.
O impacto do programa “escola do povo”, veio mudar consistentemente as práticas
das escolas, que passaram para uma outra forma de conceber educação e desenvolverem
suas práticas pedagógicas como será visto mais a frente.
Vale ressaltar, que durante o processo de coleta de dados dessa pesquisa, a qualquer
pessoa, indistintamente, que fosse questionada sobre a gestão do professor Enildo, eram
feitas referências positivas, destacando que ele foi um grande marco na Secretaria de
Educação de Campinas. Referiam-se ao “grande marco” como uma mudança efetiva nas
práticas pedagógicas desde a sala de aula até os cargos de chefia. Havia um empenho em
democratizar o ensino público, em refazer as propostas metodológicas de forma que
atendessem as necessidades dos alunos, em refletir sobre o currículo, em aproximar a
comunidade para dentro da escola.
Obviamente, houve resistência daqueles que já estavam há muitos anos com suas
práticas cristalizadas e recusavam-se a repensar seu cotidiano de trabalho. Contudo, Enildo
buscou impulsionar seu programa, tendo como uma de suas estratégias para superar os
entraves da resistência dos profissionais os cursos e formações dentro das unidades
escolares através dos assistentes pedagógicos e a falta de vagas nas pré-escolas com a
criação das pré-escolas comunitárias.
Escola do Povo
Nos dias 08, 09 e 10 de setembro foi lançado o 1o. Seminário a “Escola do Povo”,
onde foram realizadas palestras com educadores envolvidos com a escola democrática,
tendo como base o método de ensino de Paulo Freire de educação popular, na valorização
do cotidiano das crianças, a realidade social como fonte para o desenvolvimento das
223
atividades de sala de aula e a educação da criança para a formação de uma consciência
crítica. “A idéia básica da ‘Escola do Povo’ está centrada, portanto, na formação de uma
135
escola que possibilite a criança viver experiências consistentes com sua própria vida”.
Foram convidados para realizar as conferências 17 especialistas em educação, que
enfocaram os seguintes temas: “A Prática de Alfabetização a Serviço das Classes
Populares”; “Filosofia da Educação Popular”; “A Criança e o Meio Ambiente” e “A
Postura do Educador na Escola do Povo”. Estiveram presentes neste Seminário, entre
outros, Sônia Kramer, Madalena Freire, Guiomar Namo Mello e Moacir Gadotti. Os
educadores da rede municipal demonstravam receptividade com a nova proposta, pois
percebiam que o que vinham desenvolvendo estava aquém das necessidades dos alunos.
Um dos destaques foi a palestra de Madalena Freire sobre sua experiência de alfabetização
divulgada através de seu livro “A Paixão de Conhecer o Mundo”. 136
Conforme relato da professora Maristela Okamura, aquele Seminário representou
um grande marco de mudança na Secretaria de Educação de Campinas.
“Foi uma loucura! Todos falaram coisas que ninguém havia falado.
Madalena Freire despertou muito interesse, mas também muita
resistência pelas professoras mais antigas. Ela falava de atividades
diversificadas, temas geradores surgindo democraticamente em sala de
aula. No dia em que ela se apresentou, chegou a ser vaiada por um
grupo de educadores, que diziam que aquilo que ela falava era de uma
realidade de escola particular, distante da nossa realidade. Porém eu
me entusiasmei muito. Estava recém formada pela Unicamp e muito
estimulada a realizar atividades mais significavas para meus alunos.
Não me conformava com aquela disciplina rígida em que tinha que
seguir as apostilas, que os temas eram pré-definidos pelas
coordenadoras, com aquele monte de exercícios de coordenação
motora. Depois deste Seminário as reuniões pedagógicas começaram a
ser diferentes. A gente discutia formas de implementar aquelas novas
idéias.” (Maristela Okamura, Junho/05)
135
“Educação promove um Seminário para mudar”. Dário do Povo. Campinas, 30 de julho de 1983.
136
“Secretário de Educação quer nova Pedagogia”. Correio Popular. Campinas, 26 de julho de 1983;
“Secretario fará Seminário de Educação”. Correio Popular. Campinas, 29 de julho de 1983;
“Defendida reforma no sistema de alfabetização”. Correio Popular. Campinas, 10 de setembro de 1983;
“Método de ensino muda no próximo ano”. Correio Popular. Campinas, 11 de setembro de 1983;
“Em 84, método Freire em todas escolas daqui.” Diário do Povo. Campinas, 9 de novembro de 1983.
224
coordenação da professora da Faculdade de Educação Regina de Alcântara Assis e da
própria comunidade da favela onde se encontrava este bairro. As crianças que
freqüentavam esta escola tinham entre 4 e 6 anos. As instalações eram bem simples, mas
buscavam implantar uma proposta diferenciada. Com duas pequenas salas instaladas em um
barracão de madeira localizado no meio da favela, a organização física das salas traduzia
um ambiente livre para que a criança pudesse ser autônoma e reproduzir ali situações
concretas de vida. O professor atuava de forma diferenciada, buscando conhecer os
interesses dos alunos para depois iniciar o processo pedagógico, sem esquemas rígidos de
disciplina. Seu espaço físico foi descrito da seguinte forma:
A professora Maristela relata que a proposta da “Escola do Povo” trouxe uma nova
forma de organizar as atividades em sala de aula. Antes havia uma folha para cada
exercício motor. Com a nova proposta a criança realizava grande parte dos exercícios
motores em uma só atividade. Com isso sobrava tempo, pois as tarefas a serem cumpridas
no dia diminuíam e muitas professoras sentiam-se perdidas, não sabiam o que fazer com o
tempo livre e retomavam, desta forma, as práticas antigas.
137
“Pré-escola na favela já tem inimigo: catapora.” Diário do Povo. Campinas, 18 de setembro de 1983.
225
FIGURA 26 – Convite de formatura – EMEI “Regente Feijó” – Vila Boa Vista -
dezembro de 1984.
Enquanto que para aqueles professores mais antigos a nova forma de pensar as
atividades pedagógicas era motivo de insegurança perante a sala de aula (há anos
desenvolviam a mesma metodologia), para outros era sinônimo de liberdade do professor e
do aluno, ambos podiam exercitar sua criatividade, manifestar suas opiniões. A EMEI
“Hilton Federici” também testemunhava o entusiasmo com a proposta do Secretário. Assim
descrevia em seu Plano Escolar de 1984:
Van Meter e Van Horn (1996) indicam que o consenso em torno das metas eleitas
dentro de um processo de implementação tende a lograr maior sucesso. Em função do
entusiasmo e da adesão dos agentes envolvidos. Nesta gestão havia o consenso de que era
preciso renovar a forma de organização do trabalho nas escolas, que era preciso refletir
sobre uma proposta que atendesse as camadas mais desfavorecidas da população as quais
freqüentavam as pré-escolas públicas.
226
Conforme a professora Maristela, este novo método também fortalecia os vínculos
afetivos ente professor e aluno, uma vez que era preciso estabelecer um diálogo entre
ambos para definir os rumos das atividades, bem como era preciso ter sensibilidade para
perceber o interesse da classe.
Eram realizadas constantes reuniões onde havia trocas de experiências com o que
estava sendo desenvolvidos nas escolas. Em relação à alfabetização, Enildo enviou suas
assistentes pedagógicas para realizarem cursos de atualização, a fim de que conhecessem as
novas propostas na área. O que desejava é que a “Escola do Povo” fosse implantada, que
para ele implicava em melhoria na qualidade do ensino municipal. 138
Pré-escolas comunitárias
138
“A educação começa a criar escolas do povo”. Diário do Povo. Campinas, 18 de setembro de 1983.
227
caminho para montarmos isso. Então o que acontecia? A gente alugava
galpões, alugava casas.” (Enildo Galvão Pessoa, jan./05)
Enildo organizava grupos de mães nos bairros onde havia déficit de vagas para as
crianças de 4 a 6 anos e junto com elas buscava encontrar espaços para organizar o
atendimento. Quem geria estas escolas eram as mães junto com as professoras cedidas pela
Prefeitura.
228
Conforme o “Currículo em Construção” (CAMPINAS, 1999) os recursos para a
implementação das pré-escolas vinham do MEC, através do programa de diretrizes para a
implantação da política de expansão de vagas para pré-escola, visando atender crianças de 4
a 6 anos. O objetivo deste programa era criar espaços de recreação infantil, contudo estes
espaços deveriam ser cedidos pela comunidade, como igrejas, associações de bairros, casas
alugadas, visando sempre o baixo custo. Os professores que lá trabalhavam eram
denominados monitores que deveriam buscar o trabalho conjunto com a criança e sua
família. O pagamento destes profissionais era feito com recursos do MOBRAL que eram
repassados pela Prefeitura. Estes monitores faziam reuniões mensais com profissionais da
educação a fim de receberem orientações pedagógicas
A ex-supervisora Juracy Beretta Rodrigues da Silva (dez/2004) conta que fazia estas
orientações com os monitores: “Estas escolas eram praticamente sozinhas! Não tinham um
diretor. Então nós tínhamos as monitoras e nos fazíamos reuniões. Então nós dávamos
orientação pedagógica e depois acompanhávamos.”
Nestas pré-escolas, em julho de 1983, havia 34 monitores atendendo 1200 crianças
de 4 a 6 anos. A Secretaria de Educação tinha como meta abrir para até o fim deste mesmo
ano mais de 100 classes pré-escolares para atender cerca de 4 mil crianças. Os recursos
destinados a estas pré-escolas nunca foram suficientes, o que fazia com que a comunidade
se mobilizasse constantemente organizando festas e bazares para angariar fundos. O
pagamento dos monitores também sofria constantes atrasos, o que gerava desconforto por
parte destes profissionais, que, não raro, sentiam-se desestimulados em suas tarefas, pois
argumentavam que além dos atrasos recebiam muito pouco. Conta a ex-supervisora Juracy:
“Quando eu entrei para ser supervisora atrasavam o pagamento, atrasavam seis meses.”
(dez/2004) Com carga horária de 40 horas semanais, os seus salários representavam a
metade do mínimo para a categoria. Também não possuíam auxílio-transporte e nem
229
registro em carteira. Nos meses de janeiro e fevereiro não eram remunerados, uma vez que
o programa previa o pagamento somente entre os meses de março a dezembro. 139
Em 1984, as merendas destas pré-escolas receberam reforço através da Fundação de
Assistência ao Estudante e convênio com a COBAL (Companhia Brasileira de Alimentos).
As merendas eram compostas por: arroz, feijão, açúcar, leite em pó, charque, óleo,
biscoitos, entre outros. Seu preparo era feito por merendeiras voluntárias, que geralmente
eram as mães das crianças que freqüentavam estes estabelecimentos. Em função da falta de
recursos, as atividades desenvolvidas nos núcleos eram feitas com sucatas doadas pelos
próprios monitores. Com as sucatas as crianças confeccionavam brinquedos buscando
estimular sua criatividade. 140
Contudo, havia casos em que as pré-escolas estavam em precárias condições. Na
região do Descampado, a 20 km do centro da cidade, 50 crianças entre 4 e 6 anos
estudavam em um casarão velho, sem água e cercado pelo mato141. Juracy (ex-supervisora)
conta também sobre estas precárias condições: “Não tinha estrutura, era chão batido, não
tinha água, tinha um telefoninho uma pobreza.” (dez/2004)
Enildo também encontrou condições semelhantes em uma outra escola. Indignado,
buscava soluções dentro da própria comunidade.
“Um dia eu fui ali perto do Ouro Verde, perto do hospital que agora foi
construído. Uma escola que depois que nós tínhamos um grupo de mães
funcionando nós dizíamos: agora vamos tentar construir uma escolinha
bem simples só para sairmos do aluguel. Um dia eu fui ali naquela
região quando cheguei tinha uma casa alugada, um banheiro. Era um
quadrado com palha e um buraco no chão. Aí eu chamei o conselho de
mães, chamei a professora e disse: tenhamos paciência isto já é demais!
Eu não quero que tenhamos riqueza, mas quero que tenha o mínimo, não
é possível! Vamos sair pra rua para encontrar um galpão que tenha o
mínimo de condições. Aí saímos eu e um grupo de mães. Aí, de repente
uma mãe disse: ‘professor agora que eu estou me lembrando a
associação de pais daqui fica aqui perto. Lá tem umas salas que dariam
139
“Enildo quer dobrar as vagas da pré-escola.” Diário do Povo. Campinas, 20 de março de 1983;
Mais de 100 salas de aula para o Mobral aqui”. Diário do Povo. Campinas, 20 de maio de 1983;
“Mobral de Campinas parado.” Diário do Povo. Campinas, 07 de julho de 1983;
“Monitores do Mobral não recebem há seis meses.” Diário do Povo. Campinas, 27 de agosto de 1983;
“Mobral: monitores não recebem e podem parar.” Diário do Povo. Campinas, 30 de agosto de 1983;
“Mobral não paga desde agosto.” Correio Popular. Campinas, 5 de novembro de 1983.
140
“Merenda mais rica para o Mobral”. Correio Popular. Campinas, 17 de maio de 1984;
“Mobral cria brinquedos com sucatas”. Correio Popular. Campinas, 17 de agosto de 1984.
141
“Crianças estudam em um casarão abandonado”. Correio Popular. Campinas, 01 de março de 1984.
230
bem.’ Então fomos até lá. Aí pedi que chamasse o presidente da
associação. Ele veio e eu pedi para ele nos emprestar durante o dia,
pois ele trabalhava mais à noite. Expliquei a ele como funcionava e ele
disse pode vir professor.” (Enildo Galvão Carneiro Pessoa, jan./05)
142
“Prefeito autoriza o funcionamento de 82 classes de emergência.” Diário do Povo, 22 de fevereiro de 1983.
143
Diário Oficial do Município de Campinas de 08 de março de 1986.
144
MEC, Secretaria de Ensino de 1o. e 2o. Graus (Seps), MOBRAL. A criança e a comunicação. Rio de
Janeiro: Mobral, 1985.
231
elaborar seu conhecimento, para assim avaliar o nível de desenvolvimento que ela se
encontrava e planejar sua prática para que ela pudesse avançar. 145
Através do Plano Trienal firmado com o Conesp juntamente com verbas da
Fundação EDUCAR, foi possível reformar e construir vários núcleos melhorando a
qualidade do atendimento das crianças da periferia da cidade. Em muitos casos a prefeitura
fornecia a supervisão técnica e a mão de obra e a comunidade atuava em regime de mutirão
nos serviços mais pesados. Houve períodos que as verbas atrasavam, o que fazia com que a
Secretaria da Educação usasse recursos próprios para estas tarefas. 146
Quanto à manutenção e ampliação dos prédios escolares já existentes a Secretaria
de Educação, em 1983, firmou convênio com a Conesp (Companhia de Construções
Escolares do Ensino de São Paulo), a Divisão Regional de Ensino e a Cohab para os três
próximos anos. 147
145
“Em Campinas, existem mais de 9 mil alunos”. Correio Popular. Campinas, 16 de março de 1986.
146
“Educação quer Cr$ 750 milhões para construir pré-escolas.” Correio Popular. Campinas, 15 de maio de
1985;
“Mais de 274 salas de aula. É o Plano trienal de Educação”. Diário do Povo. Campinas, 28 de março de 1986;
“Em 3 anos, 40 mil vagas nas escolas”. Diário do Povo. Campinas, 26 de abril de 1986;
“Prefeito inaugura hoje pré-escola no Jd. São Gabriel”. Correio Popular. Campinas, 12 de dezembro de 1987.
147
“Acordo para ampliar o número de escolas”. Correio Popular. Campinas, 10 de maio de 1983;
“Conesp libera primeira parcela de recursos”. Correio Popular. Campinas, 23 de setembro de 1983.
232
implantar esta proposta em mais 34 escolas. O ex-secretário acreditava que o aluno de pré-
escola, freqüentando escolas de primeiro grau, já iria habituar-se ao ambiente escolar e ao
convívio com crianças maiores o que podia melhorar seu rendimento. 148
Conselhos de escola
Eleição de coordenadores
148
“Pré-escola é expandida para reduzir repetência”. Diário do Povo. Campinas, 22 de dezembro de 1983.
149
Diário Oficial do Município de Campinas de 29 de janeiro de 1987.
150
“Enildo tenta fórmula para descentralizar decisões nas escolas”. Diário do Povo. Campinas, 22 de fevereiro
de 1983;
“Coordenador das EMEIs será eleito”. Correio Popular. Campinas, 10 de março de 1983.
233
Concurso
Criação da FUMEC
151
Diário Oficial do Município de Campinas de 22 de agosto de 1984.
152
Diário Oficial do Município de Campinas de 17 de setembro de 1987.
234
responsabilidade da FUMEC ficaram todos os núcleos criados até aquela data. A dotação
orçamentária viria através do orçamento do Município, subvenções e auxílios de entidades
públicas e/ou particulares, contribuições de pessoas físicas, rendas de seu patrimônio,
rendas eventuais e outros recursos decorrentes de contratos e convênios (artigo 7o.).
A estrutura organizacional básica da Fundação, conforme artigo 8o era:
I – Órgãos Colegiados:
a) Conselho Administrativo;
b) Conselho Fiscal;
II – Órgão de Direção:
a) Presidência;
b) Diretoria Executiva:
1 – Divisão de apoio administrativo e financeiro;
2 – Divisão para desenvolvimento das ações do Programa Municipal de Educação
Comunitária Pré-Escolar;
3 – Divisão para o desenvolvimento de ações do Programa Municipal de Educação de
Jovens e Adultos.
O presidente da Fundação deveria ser o Secretário Municipal de Educação e do
Conselho Administrativo seria o Secretário Municipal de Administração (artigos 10o e 11o).
A Fundação, conforme Artigo 14 iria absorver todos os monitores, pessoal docente,
técnico, administrativo e de apoio que, na data da promulgação da lei, estivessem prestando
serviços através dos Convênios entre o Município e o Ministério da Educação – MEC – e
entre o Município e a Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos –
EDUCAR. Pelo artigo 24, o Poder Executivo era autorizado a celebrar convênios com a
Fundação delegando a mesma responsabilidade no prosseguimento da execução dos
Programas Municipais de Educação Comunitária Pré-escolar e de Educação Básica
Comunitária de Jovens e Adultos. Assim, pela Lei 6025, de 20 de dezembro de 1988153, o
poder executivo firmou convênio com o Ministério da Educação para o financiamento da
manutenção parcial das pré-escolas mantidas pela FUMEC.
153
Diário Oficial do Município de Campinas de 21 de dezembro de 1988.
235
I Fórum de Debates sobre a Educação da Secretaria Municipal de Educação
154
“Democratização do Ensino Público: caminhos e conflitos.” I Fórum de Debates sobre Educação da
Secretaria Municipal de Educação de Campinas – 1988.
155
Idem.
236
neutra, pois os alunos que fracassavam na escola pertenciam a classes sociais
desfavorecidas e eram marginalizados na sociedade.
Muitos professores acreditavam que seu papel na escola era o de somente transmitir
conhecimentos para seus alunos de forma gradual e uniforme. Para outros, seu papel era
trabalhar o conhecimento a partir da realidade do aluno, devendo propiciar o
desenvolvimento de suas potencialidades a fim de que alcançasse níveis complexos de
pensamento e atuasse criticamente na sociedade.
O documento concluía que a precariedade da escola pública fazia parte de um
contexto mais amplo de uma política educacional do país, que nos últimos anos havia
optado pelo descompromisso com a maioria da população e com as instituições
responsáveis pelo atendimento escolar. Enfatizava que a luta pela democratização do ensino
público exigia a busca de caminhos que perpassavam a vontade e a opção política de
realizar um trabalho voltado para as classes populares e envolvimento de todos neste
processo (família e escola) seria fundamental. 156
No último ano do ex-secretário Enildo a rede municipal mostrava que tinha muitas
dificuldades e divergências a serem enfrentadas, porém era possível encontrar no
documento resultante do Fórum os ideais propostos pela “Escola do Povo”, onde ficou
premente a necessidade de rever a função da escola e seu compromisso com as camadas
desfavorecidas da sociedade.
156
Idem.
237
indivíduo se conhecer como um ser humano, como um agente da história
e isto deve começar desde a pré-escola.” (Enildo Galvão Pessoa,
jan./05)
238
CONSIDERAÇÕES FINAIS
239
Kramer (2003) também ressalta esta crítica, denotando como no Brasil a prática de
criar e extinguir órgãos para a infância acarreta em uma sobreposição do atendimento e
redunda na existência de diferentes órgãos com a mesma função.
Desta forma Campinas não foge à regra nacional, onde assistência, educação e
saúde se esbarram e se confunde não atingindo diretamente as reais necessidades da criança
pré-escolar, que necessitava de um atendimento integral e articulado para seu completo
bem-estar. A criança não é fragmenta em diferentes áreas e carece de um atendimento que a
compreenda em sua totalidade e ofereça serviços adequados para tanto.
No caso campineiro a sobreposição de órgãos ficou mais evidenciada quando ocorre
a criação dos CIs paralelamente aos PIs que posteriormente passam a serem denominados
de EMEIs. Os CIs pertenciam naquele período a Secretaria de Promoção Social e as EMEIs
a Secretaria de Educação, porém ambos atendiam crianças em idade pré-escolar, mas eram
vinculados a secretaria municipais diferentes. Tinha-se a concepção que a função do CI era
exclusivamente assistencial, e as EMEIs, por pertencerem a Secretaria de Educação tinham
caráter educacional. Esses dois equipamentos não se articulavam entre si, embora a
Secretaria de Educação emprestasse seus professores para atuarem nos CIs, em meio
período, atendendo as crianças de 4 a 6 anos.
Embora esta pesquisa tenha delimitado seu objeto de estudo as pré-escolas
pertencentes à SME, não se pode ignorar a existência dos outros atendimentos municipais
destinados a esta faixa etária. Há de se destacar que as especificidades, a estrutura física e
pessoal dos CIs eram diferentes das EMEIs, embora atendessem a mesma faixa etária, e não
obstante acabavam por concorrerem entre si. Na verdade, esta constatação merece a
realização de uma nova pesquisa, pois traz consigo questões amplas que dizem respeito aos
modelos de atendimento a criança pré-escolar e seu caráter multifacetado, que pressupõe a
240
integração de ações de saúde, educação, assistência social e cultural. (NASCIMENTO,
2005a)
Era comum os atendimentos estarem interligados a agências internacionais
(UNICEF e UNESCO), bem como a iniciativas de associações privadas. Não se pode
deixar de evidenciar que nunca houve a previsão de recursos específicos para este
atendimento. Campos (1992) faz uma análise rigorosa sobre o financiamento das políticas
de atendimento a infância no Brasil e destaca que há uma grande instabilidade nos
financiamentos das políticas sociais dado que a fonte de recursos são contribuições sociais
como FGTS, FINSOCIAL, etc., que em geral arrecada sobre as folhas de pagamento dos
trabalhadores. Sendo assim, em períodos de crise econômica quando o índice de
desemprego aumenta, diminui a arrecadação. Assim, nos momentos em que mais a
população carece de políticas sociais, menos recursos existirão para financiá-las.
No Brasil, as políticas de educação infantil pouco atingem as camadas da população
que mais necessitam, ou seja, as camadas mais pobres são as menos atingidas pelos
programas implementados pelo governo. Isso acaba por onerar a própria população que tem
que se organizar por meio de recursos próprios para viabilizar o atendimento de suas
crianças. Neste caso surgem os regimes de mutirão para erguerem creches e pré-escolas, o
serviço voluntário para o atendimento das crianças, carecendo de profissionais com
formação específica para o atendimento adequado e espaço físico em condições mínimas.
Esta pesquisa buscou reconstruir o atendimento nas pré-escolas municipais de
Campinas entre 1969 a 1988. O que se pode concluir é que a implementação desse
atendimento foi feita em consonância com o modelo difundido pela esfera federal.
Porém vale considerar que houve um grande esforço da política municipal em tentar
suprir as deficiências do atendimento, implementando ações que viabilizassem o
atendimento às camadas mais necessitadas da população campineira.
Ao analisarmos os indicadores do atendimento em Campinas podemos concluir que
o município aumentou gradativamente o atendimento, em especial na década de 1980
quando a população campineira crescia vertiginosamente para as regiões sudoeste e
noroeste da cidade. Temos assim o aumento de equipamentos de atendimento pré-escolar
também nestas regiões e certa estagnação na região central da cidade.
241
Os indicadores de número de matrículas, classes e funções docentes também
indicam crescimento, porém vale ressaltar que houve momentos de retração e expansão,
especialmente a cada troca de governo municipal. Este fato pode indicar que a troca de
gestor pode influenciar na oferta do atendimento.
Observa-se que paulatinamente o município de Campinas vai assumindo a pré-
escola quando as salas de pré-primário do Estado vão sendo desativadas. Posteriormente
sabemos que a Constituição Federal de 1988 vem delegar esta responsabilidade aos
municípios, o que Campinas já vinha efetivando.
Considera-se que quadro docente das pré-escolas era composto por pessoal
qualificado, uma vez que, os editais dos concursos que foram publicados durante o período
pediam por formação específica para exercer o magistério neste segmento. Aliado a esse
fator foi constante o investimento das gestões em qualificar o pessoal docente oferecendo
cursos de formação continuada.
Durante a gestão do professor José Alexandre dos Santos Ribeiro, Campinas estava
começando a sofrer as conseqüências do aumento da demanda da população que crescia
vertiginosamente para as regiões periféricas da cidade. Naquele período as ações
municipais para pré-escolas visavam à integração com as demais políticas sociais
implementadas pelo governo municipal. Surgiam as pré-escolas nas vilas populares da
periferia da cidade, construídas em um grande espaço físico, com a construção de
anfiteatro, playground, gabinete dentário, sala de enfermaria, cozinha com a alimentação
balanceada entre outros serviços que previa a integração destas unidades com a cultura, o
esporte e a saúde. Foi um momento em que a pré-escola campineira era considerada como
um modelo, uma referência de um atendimento de qualidade para as populações carentes
que vinham se formando nas vilas populares construídas pelo governo municipal em
parceria com o BNH. Os prédios destas pré-escolas eram integrados às demais iniciativas
municipais que previa a organização das vilas (centro de saúde, praças de esportes, escolas
de ensino fundamental, creches, centros comerciais) de forma que seus moradores
estivessem providos das políticas sociais necessárias para seu bem-estar. Sem dúvida, estas
escolas mudaram substancialmente o atendimento pré-escolar na cidade, pois em seu bojo
traziam a idéia de políticas públicas integradas onde a intenção era atender a população em
sua totalidade e os equipamentos municipais de atendimento infantil (EMEIs e CIs)
242
buscavam oferecer um atendimento completo e integral. Porém, como vimos, este modelo
de atendimento não foi o predominante, uma vez que o atendimento pré-escolar precisou
aumentar sua capacidade de atendimento massivamente nos anos seguintes. O que veio
então a predominar foram equipamentos adaptados, de pequeno porte e de infra-estrutura
inferior para que fosse possível atender a população campineira que crescia a cada ano.
Durante a gestão de José Alexandre também se pode ressaltar o convênio feitos com
as universidades públicas na implementação de programas de atendimento à criança pré-
escolar, como o CEAPE e o convênio Unicamp/prefeitura na implementação das salas
experimentais. Havia um interesse da gestão em trazer a universidade para beneficiar a
população por meio dos serviços públicos oferecidos.
Pode-se observar estas características também na gestão de Ítala Maria Loffredo
D’Otaviano, quando ela buscou na Faculdade de Educação da Unicamp, implementar o
programa “Cidade Educativa” com o professor Roberto César Covian e sua equipe.
Também buscou parceria nesta mesma Faculdade para incrementar a formação dos
profissionais da rede municipal e deu continuidade aos programas instituídos no governo de
José Alexandre (CEAPE e as salas experimentais).
Porém ao analisar esta gestão, tem-se a impressão de que o objeto em estudo
perdeu-se dentro do emaranhado político que se desnuda pelos relatos da Secretária. Seu
depoimento é rico em evidências sobre as questões políticas dentro da Secretaria de
Educação. Ficam também claros os embates políticos que estão efervescendo dentro da
política municipal, as disputas de poder e os favorecimentos políticos. Ítala mostra as
tensões existentes dentro do partido que geria a cidade e que influenciava diretamente a sua
gestão e as propostas de mudança que buscava implementar. O escancaramento deste
cenário político possibilitou a compreensão de que nosso objeto de estudo está permeado de
tensões políticas, jogo partidário, sofrendo a influência de todo este processo. A pré-escola
passa a ser uma peça de manobra no tabuleiro deste jogo, como forma de negociação, troca
de favores e instrumento de pressão para a saída da Secretária.
Esta arena de contenda política deixou toda a rede municipal vulnerável, uma vez
que ficava refém dos interessem políticos em jogo e passavam a ser massa de manobra para
a busca de fortalecimento dos atores que disputavam o poder político partidário.
243
Isso acabou por gerar a fragmentação das gestões do cargo de Secretário Municipal
de Educação, que após a saída de Ítala sofreu constantes mudanças pontuadas por conflitos
entre os funcionários da rede municipal e os secretários que assumiam o cargo. As gestões
de Ruyrillo de Magalhães e de Maria Helena de Mello Pupo foram permeadas pela
insatisfação dos funcionários, pelas resistências com relação às propostas de trabalho e pelo
intenso conflito entre gestor e implementadores. Tem-se a impressão que a rede municipal
de educação de Campinas passou por um período de estagnação, fruto da disputa de poder
que vinha permeando todo o governo municipal do então prefeito Francisco Amaral.
Ruyrillo pareceu estar avesso ao diálogo com os professores quando institui o
estatuto do magistério. Embora tenha implemantado algumas ações como o “paisagismo
pedagógico” e a criação do AMAPAGE, não encontrou apoio entre os professores que o
acusavam de estar demasiadamente preocupado com os “santuários ecológicos” em
detrimento as discussões da elaboração do novo estatuto dos professores. Também
extinguiu programas que estavam sendo bem avaliados como a “Cidade Educativa” e o
convênio Unicamp/prefeitura com as salas experimentais.
Maria Helena também sofreu resistência dos servidores, principalmente daqueles
que já tinham uma longa carreira dentro da Secretaria. Tendo sua gestão fragmentada e de
curta duração não implementou ações em que pese à criação de pré-escolas.
Uma decorrência da constante troca de secretários é que se desenvolve entre os
funcionários públicos certa resistência, uma insegurança de que cada nova gestão possa
impedir o prosseguimento de programas de que estão dando bons resultados, e ainda tensão
sobre as conseqüências pessoais que poderão advir.
Com a gestão de Enildo Galvão Carneiro Pessoa, a Secretaria de Educação parece
ter encontrado uma identidade. A figura deste Secretário até hoje traz referências positivas
na rede municipal. Enildo soube compreender as necessidades da população campineira e
aliar suas ações as tais necessidades contando com a participação e o empenho dos
profissionais da rede. Embora tenha sofrido resistência de alguns funcionários que
rejeitavam as mudanças que queria implementar, Enildo trouxe uma nova concepção de
educação pré-escolar buscando estar próximo das necessidades das populações carentes da
cidade.
244
Entendia que era preciso mudar substancialmente a forma de desenvolver o trabalho
nas escolas, buscando trazer a comunidade para dentro do ambiente escolar e aproximando
os conteúdos abordados no interior das salas de aula às necessidades das classes populares.
Enildo acreditava que a escola precisava ser transformada em espaço de participação da
família e que fosse diminuída a distância entre o que era ensinado na escola e a realidade da
criança que a freqüentava, especialmente as das camadas populares.
É interessante notar que as ações desenvolvidas e a organização do trabalho da
Secretaria ocorriam quase que simultaneamente, denotando uma integração significativa
entre gestor, implementadores e sujeitos da implementação.
Enildo ia até as camadas mais carentes da população, convocava a comunidade em
ritmo de parceria com o governo municipal a organizarem equipamentos para atender a
população pré-escolar que crescentemente aumentava a demanda. Utilizando os recursos
federais do MOBRAL, Enildo implantou a expansão das pré-escolas em Campinas, mas
com uma visão bastante peculiar deste processo. Ele partia do pressuposto que era preciso
oferecer o serviço seja qual forem suas condições para atender a demanda. Uma vez o
serviço instalado, seria aos poucos feita a melhoria necessária. Para ele a luta para uma
melhor infra-estrutura, pessoal adequado e remunerado dignamente fazia parte das lutas
constantes para que a escola pública fosse democratizada. Para isso era imprescindível a
participação de todos os envolvidos na escola.
Deve-se destacar que dentro deste estudo identificou-se que todos os Secretários
analisados advieram de Universidades, públicas ou privadas, da cidade de Campinas. Desta
forma, a academia colocou-se a disposição em oferecer seus integrantes ao serviço público,
contribuindo para a aproximação entre Universidade e população e levando o saber
científico as necessidades das demandas políticas.
Não restam dúvidas que Campinas organizou intensamente políticas para o
atendimento pré-escolar na Secretaria Municipal de Educação. Os índices apresentados
neste trabalho demonstram isso, bem como a descrição de todas as gestões do período em
estudo. Foi possível identificar que apesar de haver a fragmentação do atendimento através
do diferentes equipamentos que surgiram no decorrer do período, o município apresentou
preocupação com a demanda deste nível de atendimento e buscou, ainda que com
dificuldades em alguns momentos, imprimir qualidade nos serviços que oferecia.
245
Esta dissertação procurou através dos elementos históricos e sociológicos da
realidade campineira, retratar o mais fidedignamente possível a organização da pré-escola
municipal sob a ótica das políticas públicas.
A reconstrução do atendimento pré-escolar municipal de Campinas veio contribuir
para o entendimento de como as políticas de educação infantil se conformaram no
município. Veio também desvelar que o objeto em estudo não deve ser analisado
isoladamente, mas necessita ser compreendido dentro de um processo mais amplo que
implica em afinar olhar para o mesmo enquanto uma política social, que sofre influência
dos embates políticos que permeiam os processos de planejamento e implementação de
políticas públicas.
Sendo assim, procurou-se com este estudo demonstrar que a análise das propostas
para a educação infantil não deve ser reduzida a uma análise ingênua de descrição de seus
programas. Deve ir muito mais além, deve compreender e analisar que ela está permeada
constantemente pela arena política que se forma ao redor e entre ela. Somente assim será
possível compreender com amplitude as questões referentes a este segmento através da
reconstrução dos embates políticos que fazem parte de sua constituição enquanto política
social.
246
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259
DECRETOS, EDITAIS, LEIS E PORTARIAS MUNICIPAIS DE CAMPINAS
Decreto 2916 de 03 de fevereiro de 1967 – cria o primeiro Centro Infantil Maria Aparecida
Vilela Júnior;
Decreto no. 3101 de 20 de fevereiro de 1968 – cria a primeira Escola Parque “Violeta Dória
Lins”.
Edital no. 02 de 15 de agosto de 1980 que abre concurso para o provimento inicial (ou de
ingresso), em caráter efetivo, dos cargos vagos de professor I.
Lei no. 3830 de 02/12/69 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1970;
Lei no. 3925 de 30/11/70 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1971;
Lei no. 4056 de 01/12/71 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1972;
Lei no. 4203 de 28/11/72 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1973;
Lei no. 4343 de 30/11/73 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1974;
260
Lei no. 4443 de 09/12/74 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1975;
Lei no. 4550 de 10/11/75 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1976;
Lei no. 4594 de 26 04/1976 – transforma cargos de professor, dispõe sobre seu provimento
e dá outras providências.
Lei no. 4673 de 02/11/76 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1977;
Lei no. 4755 de 01/12/77 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1978;
Lei no. 4833 de 30/11/78 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1979;
Lei no. 4958 de 03/12/79 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1980;
Lei no. 5045 de 10/12/80 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1981;
Lei no. 5169 de 01/12/81 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1982;
Lei no. 5300 de 02/12/82 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1983;
Lei no. 5380 de 05/12/83 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1984;
261
Lei no. 5511 de 03/12/84 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1985;
Lei no. 5628 de 02/12/85 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1986;
Lei no. 5657 de 07/03/1986, que autoriza o poder executivo a firmar convênio com o
Ministério da educação para o desenvolvimento do programa nacional de educação pré-
escolar.
Lei no. 5744 de 17/12/86 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1987;
Lei no. 5830 de 16/09/1987 – autoriza o poder executivo a instituir a “Fundação Municipal
para educação Comunitária” – FUMEC e dá outras providências.
Lei no. 5872 de 01/12/87 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1988;
Lei no. 6017 de 02/12/88 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1989;
Lei no. 6162 de 28/12/89 – Estima a receita e fixa a despesa do município de Campinas
para o exercício financeiro de 1990.
Portaria no. 12672 de 01/02/1977 – concede a exoneração solicitada do Sr. José Alexandre
dos Santos Ribeiro.
Portaria no. 12686 de 02 de fevereiro de 1977, nomeia para exercer o cargo de Secretária
Municipal de Educação, Esporte e Turismo a Profa. Ítala Maria Loffredo D’Otaviano.
Portaria no. 12693 de 02 de fevereiro de 1977, nomeia para exercer o cargo de Presidente
do Instituto de Previdência dos Municipários de Campinas (IPMC) o Dr. Ruyrillo de
Magalhães.
Portaria no. 14983 de 29 de outubro de 1980, resolve revogar a portaria no. 14978,
revigorando o ato que designou as funcionárias ali mencionadas como assistentes
pedagógicas junto aos Parques Infantis e determina que as unidades de 1o. grau municipais
que não possuem assistentes pedagógicas passem a contar com a assistência desses
profissionais.
Portaria no. 15472 de 11 de junho de 1981, nomeia para exercer o cargo de Secretário
Municipal de Educação o Prof. Francisco de Angelis Filho.
Portaria no. 15473 de 12 de junho de 1981, nomeia para exercer o cargo de Diretora do
Departamento Municipal de Educação a Profa. Hilza Curti Honorati.
262
Portaria no. 15608 de 21 de agosto de 1981, nomeia para exercer o cargo de Secretário
Municipal de Educação o Prof. Itagiba D’Ávila Ribeiro.
Portaria no. 16117 de 15 de maio de 1982, concede a exoneração solicitada por D. Maria
Helena de Mello Puppo do cargo de secretária Municipal de Educação.
Portaria no. 16137 de 15 de maio de 1982, concede a exoneração solicitada por D. Ana
Aparecida Cunha Porto do cargo de Diretora do Departamento Municipal de Educação.
Portaria no. 16162 de 25 de maio de 1982, nomeia para exercer o cargo de Diretora do
Departamento Municipal de Educação a Profa. Adelaide Costa Camargo Duppret.
Portaria no. 16271 de 24 de junho de 1982, nomeia para o cargo de Secretário da Educação
o Sr. Clóvis Passani.
Portaria no. 16878 de 2 de fevereiro de 1983, que nomeia o prof. Enildo Galvão Carneiro
para o cargo em comissão de Secretário da Educação.
Portaria no. 16902 de 2 de fevereiro de 1983, que designa a Profa. Maria José de Lima
Diretora do Departamento Municipal de Educação.
Portaria SME no. 946/82 de 04 de novembro de 1982, que dispõe sobre normas para a
elaboração do plano escolar das escolas da rede municipal de ensino.
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“Livro Ponto Médico” - Livro ponto médico e demais auxiliares de saúde do Parque
Infantil “Hilton Federici” dependência da Secretaria Municipal de Educação do
Departamento Municipal de Educação. Campinas, 18 de maio de 1980.
“Livro de Reuniões” - Livro de registro das atas de reuniões pedagógicas do Parque Infantil
“Hilton Federici” dependência da Secretaria Municipal de Educação do Departamento
Municipal de Educação. Campinas, 12 de maio de 1980.
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“Livro de Termo de Compromisso do Parque Infantil Regente Feijó”, dependência da
Secretaria Municipal de Educação do Departamento Municipal de Educação. Campinas, 30
de outubro de 1976.
ENTREVISTAS
ASSIS, Orly Zucatto Mantovani de. Março de 2005. Entrevistador Luciana Bassetto.
Campinas: SP. 1 fita k7 de 90 minutos.
267
D’OTAVIANO, Ítala Maria Loffredo. Janeiro de 2005. Entrevistador Luciana Bassetto.
Campinas: SP. 1 fita k7 de 90 minutos.
PUPO, Maria Helena de Mello. junho de 2006. Entrevistador Luciana Bassetto. Campinas:
SP. 2 fita k7 de 60 minutos.
RIBEIRO, José Alexandre dos Santos. Janeiro de 2005. Entrevistador Luciana Bassetto.
Campinas: SP. 1 fita k7 de 90 minutos.
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de 1981.
“Amaral decide hoje com vereadores o caso da Secretária de Educação”. Correio Popular.
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268
‘Biblioteca guarda acervo de clã pioneiro de advogados”. Correio Popular. Campinas, 09 de
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“Brasil 500 anos – o olhar de Campinas.” Correio Popular. Campinas, 22 de abril de 2000.
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de 1978.
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“Coisas de política”. Diário do Povo. Campinas 24 de abril de 1977.
“Construção de 78 novas salas de aula. Conesp libera primeira parcela de recurso”. Correio
Popular. Campinas, 23 de setembro de 1983.
“Coordenador das EMEIs será eleito”. Correio Popular. Campinas, 10 de março de 1983.
“Corrida por vagas nas escolas particulares. Prefeitura atende 33 mil alunos”. Correio
Popular. Campinas 11 de outubro de 1987.
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“Denuncia: Campinas possui 61 favelas”. Diário do Povo. Campinas, 26 de outubro de
1987.
“D. Ítala anuncia: debates começam”. Diário do Povo. Campinas 31 de outubro de 1978.
“D. Ítala está tranqüila. Eliseo mantém posição.” Diário do Povo. Campinas 26 de abril de
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“Educação, a pasta que mais trabalha nestes 6 meses”. Correio Popular. Campinas, 20 de
agosto de 1977.
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“Educação quer Cr$ 750 milhões para construir pré-escola”. Correio Popular. Campinas,
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“Emenda Calmon é jogar nosso dinheiro fora”. Correio Popular. Campinas, 11 de maio de
1986.
“Enildo tenta fórmula para descentralizar decisões nas escolas”. Diário do Povo. Campinas,
20 março de 1983.
“Ensino municipal caiu 19% nos últimos anos”. Diário do Povo. Campinas, 28 de fevereiro
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“Escolas serão construídas pela própria prefeitura”. Correio Popular. Campinas, 10 de julho
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“O fator ecológico”. Correio Popular. Campinas, 10 de fevereiro de 1980.
“Favela ganha núcleo especial para as crianças.” Correio Popular. Campinas, 08 de julho de
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“Ítala diz que fica na Secretaria de Educação”. Correio Popular. Campinas, 07 de dezembro
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“Ítala sai e condena a omissão do atual governo de Campinas”. Correio Popular. Campinas,
08 de dezembro de 1978.
“Mais 100 salas de aula para o MOBRAL aqui”. Diário do Povo. Campinas, 20 de maio de
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“Mais de 274 salas de aula. É Plano trienal de Educação”. Diário do Povo. Campinas, 28 de
março de 1986.
“Mais 480 vagas nas escolas municipais da periferia”. Correio Popular. Campinas, 25 de
junho de 1987.
“Mais uma escola (reformada) foi inaugurada ontem”. Diário do Povo. Campinas, 26 de
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“Merenda mais rica para o MOBRAL”. Correio Popular. Campinas, 31 de julho de 1984.
“Migrante cria favela”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 4 de maio de 1972.
“MOBRAL de Campinas parado: não local para sua sede”. Diário do Povo. Campinas, 07
de julho de 1983.
“MOBRAL não paga desde agosto”. Correio Popular. Campinas, 05 de novembro de 1983.
“Nestas creches, muito amor e muitos cuidados”. Correio Popular. Campinas, 9 de abril de
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“Novas creches irão atender mil crianças.” Diário do Povo. Campinas, 22 de julho de 1982.
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“Em 84, método de Freire em todas as escolas daqui”. Diário do Povo. Campinas, 09 de
novembro de 1983.
“Pesquisa mostra drama das favelas de Campinas”. Diário do Povo. Campinas, 12 de abril
de 1979.
“Planejamento educacional de Campinas para o ano que vem”. Diário do Povo. Campinas,
18 de dezembro de 1973.
“Pré-escolas vão ter mais salas”. Diário do Povo. Campinas, 29 de novembro de 1984.
“Prefeito inaugura hoje pré-escola no Jd. São Gabriel”. Correio Popular. Campinas, 12 de
dezembro de 1987.
“Prefeito e Secretária de Educação dizem que impasse está superado”. Correio Popular.
Campinas, 11 de agosto de 1977.
“Prefeitura anuncia prazo para funcionar creches”. Correio Popular. Campinas, 31 de maio
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“Prefeitura entrega creche no aniversário da cidade”. Correio Popular. Campinas, 14 de
julho de 1976.
“Os professores entram em greve: baixos salários, insegurança e injustiças devido a falta de
um Estatuto”. Diário do Povo. Campinas, 28 de março de 1979.
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“Reforma do ensino já funciona em Campinas”. Correio Popular. Campinas, 23 de
fevereiro de 1975.
“Reunião com Enildo define plano de escola para alunos carente”. Diário do Povo.
Campinas, 23 de fevereiro de 1983.
“Santa Lúcia terá novo Grupo Escolar”. Diário do Povo. Campinas 20 de outubro de 1971.
“Secretária demite-se e faz crítica a Francisco Amaral”. O Estado de São Paulo. São Paulo,
07 de dezembro de 1978.
“Sem verba, Prefeitura atrasa construção de novas salas de aula”. Diário do Povo.
Campinas, 22 de novembro de 1983.
“Em termos de município a educação vai muito bem”. Correio Popular. Campinas, 06 de
outubro de 1978.
“Em 3 anos, 40 mil vagas nas escolas”. Diário do Povo. Campinas, 26 de abril de 1986.
277
“Vila popular conhece hoje Centro Infantil”. Diário do Povo. Campinas, 01 de abril de
1978.
278
ANEXO I – Roteiro de Entrevista
279
280
ANEXO II – Seqüência de Labirintos
281
282
ANEXO III – “Treinamento para Diretores e
Docentes da Pré-escola Municipal”
283
284
ANEXO IV – Psicomotricidade e Educação Física
Generalizada
285
286
ANEXO V – Ficha de Avaliação
287
288
ANEXO VI – Certificado do I Fórum de Debates
sobre Educação
289
ROTEIRO DE ENTREVISTA