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THIAGO VERONEZZI
Parte significativa dessa população fixou-se nos centros urbanos, cujo número de habitantes
obviamente cresceu a partir do século XI. A busca da sobrevivência levou ao desenvolvimento de
atividades não agrícolas, notadamente o artesanato e o comércio. A camada senhorial também foi
afetada pelas transformações. Não havia mais feudos para distribuir e consolidava-se o princípio da
sucessão pelo primogênito. Com isso, ao lado de uma massa pobre buscando a sobrevivência nas
cidades, a Europa passou a conviver com um setor de nobreza despossuída. A simples aliança com a
Igreja, por meio da qual nobres eram investidos na condição de cardeais e bispos, ocupando terras
católicas, não era suficiente para absorver esse crescente número de nobres sem terra. Assim,
também para uma parcela significativa da nobreza, a expansão e o rompimento com os limites
feudais fizeram-se necessários.
A partir do século XI, transformações significativas passaram a marcar a realidade europeia.
O crescimento dos centros urbanos impunha, necessariamente, uma expansão dos mercados, com
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vista à dinamização do comércio, única atividade capaz de prover a sobrevivência da crescente
camada não rural. Contudo, o controle árabe sobre o Mediterrâneo era um obstáculo a essa
expansão. Paralelamente a isso, no norte da Europa, a possibilidade de saída via Mar do Norte e
Mar Báltico fez com que toda a costa norte ocidental europeia apresentasse um intenso crescimento
do comércio em direção às ricas regiões do Oriente. A chamada Rota do Norte, por maior que fosse
a dificuldade de se atingir o Oriente através desses mares e dos rios que cortavam as planícies
russas em direção ao Mar Negro, foi a primeira via a permitir o contato mais intenso entre a Europa
e o Oriente. Não por acaso, essa região, chamada de Flandres, foi, ao lado das cidades italianas, o
primeiro polo de crescimento do comércio europeu.
Foram esses fatores, acrescidos de mais alguns elementos que analisaremos a seguir, que
geraram um dos principais marcos da Baixa Idade Média europeia, as Cruzadas.
A Igreja viveu períodos de crise que chegaram a colocar em perigo sua própria existência. Assim,
regras canônicas eram constantemente deixadas de lado. Em alguns lugares, cargos religiosos como os de
bispo e arcebispo eram vendidos a nobres que nem sequer sabiam celebrar uma missa e se mostravam mais
interessados em dilapidar os bens da instituição do que em promover a doutrina cristã.
Percebendo a gravidade da situação, alguns clérigos decidiram promover uma profunda reforma
moral e religiosa na instituição. Essas modificações começaram em 910, ano em que foi aberto um mosteiro
beneditino em Cluny, cidade da Borgonha, na França atual. Os monges de Cluny reformaram radicalmente a
vida monástica, enfatizando o poder das orações. Uma rede de mosteiros beneditinos espalhou-se, então, por
quase toda a Europa, todos eles submetidos à autoridade do abade de Cluny. Tudo isso contribuiu para
restaurar durante algum tempo a dignidade da Igreja e do papado.
Em 1059, durante do Concílio de Latrão, o papa Nicolau II confirmou o celibato dos padres, proibiu
que bispos fossem indicados por reis sem autorização papal – a chamada investidura – e estabeleceu que os
papas deixariam de ser escolhidos por imperadores ou reis e seriam eleitos por um colégio de doze cardeais
selecionados entre os mais altos dignitários eclesiásticos. Pela decisão do concílio, ficava reservado ao
imperador do Sacro Império Romano-Germânico – que até então controlava as sucessões papais – apenas o
direito de manifestar sua aprovação em torno do nome escolhido pelos cardeais. Mesmo esse direito poderia
ser-lhe retirado, caso sua posição fosse considerada abusiva.
Outro importante momento de ampliação do poder da Igreja ocorreu em 1075. Naquele ano, o papa
Gregório VII publicou uma bula na qual afirmava o direito papal de derrubar imperadores e a infalibilidade
da Santa Sé. Estabelecia também a pena de excomunhão para todos aqueles que desobedecessem às
determinações da Igreja. O documento provocou a ira de Henrique IV, imperador do Sacro Império Romano-
Germânico, que tentou depor o pap. Em resposta, Gregório excomungou o imperador. Acuado, e sem apoio
dos senhores feudais, temerosos de também seres excomungados, Henrique foi obrigado a pedir perdão ao
sumo pontífice. O conflito, conhecido como Questão das Investiduras, ampliou o poder da Igreja.
Cruzadas
EXERCÍCIOS
(QUESTÃO 01)
Quais os principais fatores que desencadearam a crise do feudalismo?
(QUESTÃO 02)
Escreva um texto sobre a crise moral da Igreja por volta do século X e a importância da reforma
promovida pelos monges de Cluny.
(QUESTÃO 03)
Que decisões foram adotadas em 1059 pelo Papa Nicolau II visando reformar a Igreja?
(QUESTÃO 04)
As Cruzadas foram expedições religiosas e militares destinadas a tomar Jerusalém dos turcos. Que
outros interesses estavam por trás dessas expedições?
O novo milênio
Os últimos anos do século X foram de crescente terror para a população europeia. Com
frequência cada vez maior, previsões catastróficas, alimentadas pelo continente anunciando o
Apocalipse: para muitas pessoas o mundo acabaria com a chegada do ano 1000, quando se
completaria o primeiro milênio depois de Cristo.
Entretanto, o mundo não acabou naquele momento. Pelo contrário: em fins do século X
ocorreu uma sensível diminuição das invasões por povos como os vikings. Ao mesmo tempo,
diminuiu momentaneamente a mortandade por epidemias, pois a população vivia disseminada nos
feudos, o que dificultava a propagação das doenças infectocontagiosas. Tudo isso gerou estabilidade
e crescimento demográfico. Assim, a Europa chegou ao século XI revigorada e em crescimento. Ao
longo dos três séculos seguintes, o continente experimentaria profundas transformações.
Diversas inovações tecnológicas facilitaram a vida do camponês. Uma delas foi a invenção
da charrua, arado de ferro que, por seu peso, revolvia melhor a terra e fazia nela sulcos mais
profundos do que os do antigo arado de madeira. Para puxar a charrua, os camponeses passaram a
utilizar a força do cavalo, bem mais veloz do que o boi.
Outro avanço tecnológico significativo ocorreu com o surgimento dos moinhos de água,
utilizados para moer cereais.
Entre os séculos XII e XII os árabes introduziram na península ibérica os moinhos de vento.
Rapidamente adotados no resto do continente, esses engenhos se revelaram indispensáveis para a
manutenção dos sistemas de diques e canais. Graças a eles, muitas regiões pantanosas foram
drenadas e transformadas em áreas para cultivar.
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O próprio modo de cultivar a terra passou por mudanças. A rotação bienal foi substituída
pela rotação trienal.
Esses avanços tecnológicos elevaram de forma expressiva a qualidade e a quantidade da
produção agrícola. Comendo melhor e momentaneamente livre das epidemias e das invasões, a
população aumentou substancialmente. Calcula-se que entre os anos 1000 e 1300 o número de
habitantes da Europa tenha saltado de 42 milhões para 73 milhões.
Ao mesmo tempo, o excedente agrícola passou a ser vendido em quantidades cada vez
maiores, reaquecendo o comércio, que decaíra nos séculos anteriores. esse processo fez com que o
dinheiro voltasse a circular.
O comércio não desapareceu totalmente durante a Idade Média: mesmo de forma irregular,
as trocas continuaram a ser feitas. Também as cidades continuaram existindo, mas sua função era
essencialmente religiosa e militar. Isso tudo mudou, a partir do século XI, com o incremento do
comércio e com a expansão da vida urbana. Dois fatores foram os principais responsáveis pelo
renascimento comercial: o esgotamento das terras, que ocasionou a entrada de muitos camponeses
na atividade comercial, e as Cruzadas, que criaram nos europeus o gosto pelos artigos de luxo.
As principais beneficiárias desse impulso formam as cidades portuárias italianas. Veneza,
Bari, Palermo, Nápoles, Pisa e Gênova, tornaram-se ativos centros comerciais, distribuindo por toda
a Europa produtos orientais, como café, marfim, perfumes, tecidos e especiarias. Estabelecendo um
verdadeiro império marítimo, que compreendia pontos de apoio insulares e no litoral da Ásia Menor
e norte da África, Veneza introduziu na Europa, em volumes crescentes, arroz, algodão, frutas
cíclicas e, especialmente, o açúcar. Com isso, o Mediterrâneo ganhou o papel de principal via de
riqueza europeia; constituía o grande eixo, monopolizado pelas cidades italianas, do crescente
comércio com o Oriente.
O aumento da atividade comercial levou à formação de ligas ou hansas, associações que
defendiam os interesses dos comerciantes. A mais influente dessas associações foi a Liga
Hanseática, que reunia comerciantes alemães e chegou a ter cerca de 80 cidades associadas. Os
artesãos, por sua vez, formavam as corporações de ofício, que visavam controlar a produção e a
qualidade das mercadorias, além de garantir o monopólio da atividade profissional.
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A assimilação do direito romano na Europa do Renascimento foi, assim, um indício da
difusão das relações capitalistas nas cidades e no campo: economicamente, ela correspondia aos
interesses vitais da burguesia comercial e manufatureira.
Politicamente, o reflorescimento do direito romano respondia às exigencias constitucionais
dos Estados feudais reorganizados da época. Com efeito, não restam dúvidas de que, na escala
europeia, a determinante primordial da adoção da jurisprudência romana reside na tendência dos
governos monárquicos à crescente centralização dos poderes. A noção complementar de que os reis
e os príncipes era eles próprios legibus solutus, isto é, isentos de restrições legais anteriores,
proporcionaram os protocolos jurídicos para a supressão dos privilégios medievais, ignorando os
direitos tradicionais e subordinando as imunidades privadas.
Em outros termos, à intensificação da propriedade privada na base contrapôs-se o
incremento da autoridade pública no topo, corporificada no poder discricionário do monarca. Os
Estados absolutistas ocidentais fundamentavam seus novos objetivos em precedentes clássicos: o
direito romano era a mais poderosa arma intelectual disponível para o seu programa característico
de integração territorial e centralismo administrativo. As monarquias absolutistas do Ocidente
contaram com uma camada especializada de juristas para prover as suas máquinas administrativas.
Imbuídos das doutrinas romanas da autoridade decretal do príncipe e das noções romanas de normas
jurídicas unitárias, tais burocratas-juristas foram os zelosos executores do centralismo monárquico
no primeiro século crítico de construção do Estado absolutista.
O efeito supremo da modernização jurídica foi, portanto, o reforçamento da dominação da
classe feudal tradicional. O paradoxo aparente de tal fenômeno refletiu-se em toda a estrutura das
próprias monarquias absolutistas – combinações exóticas e híbridas cuja “modernidade” superficial
trai frequentemente um arcaísmo subterrâneo. Este traço aparece claramente a partir de uma análise
das inovações institucionais que anunciaram e caracterizaram o seu aparecimento: exército,
burocracia, tributação, comércio e diplomacia. Vale considera-los sumariamente nesta ordem:
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régios lançados para a guerra, os quais, na longa crise feudal do fim da Idade Média,
tinha sido um dos principais motivos dos desesperados levantes camponeses “da
época”. Não existia a concepção jurídica do cidadão sujeito ao fisco pelo simples
fato de pertencer à nação. Na prática, a classe senhorial estava, em toda a parte,
efetivamente isenta de impostos diretos.
Mercantilismo: foi a doutrina dominante da época e apresenta a mesma
ambiguidade da burocracia anterior. O mercantilismo requeria, indubitavelmente, a
supressão de barreiras particularistas no interior da monarquia nacional e
empenhava-se em criar um mercado interno unificado para a produção de
mercadorias. Com o objetivo de aumentar o poder do Estado diante dos outros
Estados, encorajava a exportação de mercadorias, ao mesmo tempo em que
proibia exportações de ouro e prata e de moeda, na crença de que existia uma
quantidade fixa de comércio e riqueza no mundo. O mercantilismo era precisamente
uma teoria da intervenção coerente do Estado político no funcionamento da
economia, no interesse comum na prosperidade de uma e do poder do outro.
Enquanto o laissez-faire era coerentemente “pacifista”, insistindo nos benefícios da
paz entre as nações para o fomento do comércio internacional mutuamente lucrativo,
a teoria mercantilista era fortemente “belicista”, enfatizando a necessidade e a
rentabilidade da guerra. E, vice-versa, o objetivo de uma economia forte era a
realização exitosa de uma política externa voltada para a conquista.
Diplomacia: a diplomacia foi, com efeito, a indelével marca de nascença do Estado
renascentista: com o seu surgimento, nasceu na Europa um sistema de política
internacional. A Europa medieval nunca fora composta por um conjunto claramente
demarcado de unidades políticas homogêneas – um sistema estatal internacional. O
conceito de uma cristandade latina à qual pertenceriam todos os homens fornecia
uma matriz ideológica universalista para os conflitos e decisões, reverso da extrema
heterogeneidade particularista das próprias unidades políticas. No entanto, tais
instrumentos de diplomacia, embaixadores ou secretários de Estado, não eram as
armas de um moderno Estado nacional. Enquanto tais, as concepções ideológicas de
“nacionalismo” eram estranhas à natureza mais íntima do absolutismo. Os Estados
monárquicos da nova era não desdenhavam a mobilização dos sentimentos
patrióticos em seus súditos, nos conflitos políticos e militares que a todo momento
opunham reciprocamente os vários reinos da Europa Ocidental. A auréola nacional
do absolutismo no Ocidente, frequentemente muito acentuada na aparência, era, na
realidade, contingente e emprestada. A instancia última de legitimidade era a
dinastia, não o território. O Estado era concebido como o patrimônio do monarca e,
portanto, os títulos de propriedade dele poderiam ser obtidos por uma união de
pessoas: feliz Austria. O supremo estratagema da diplomacia era, assim, o casamento
– espelho pacífico da guerra, que tantas vezes a provocou. Menos dispendiosa como
acesso para a expansão territorial que a agressão armada, a manobra matrimonial
proporcionava resultados imediatos menores e estava sujeita, por conseguinte, aos
acasos imprevisíveis da mortalidade, no intervalo entre a consumação de um pacto
nupcial e a sua fruição política.
Com efeito, o paradoxo aparente do absolutismo na Europa ocidental era que ele
representava fundamentalmente um aparelho para a proteção da propriedade e dos privilégios
aristocráticos, embora, ao mesmo tempo, os meios através dos quais tal proteção era pr omovida
pudessem simultaneamente assegurar os interesses básicos das classes mercantis e manufatureiras
emergentes. Em outras palavras, cumpriu certas funções parciais na acumulação primitiva
necessária ao triunfo ulterior do próprio modo capitalista de produção. As razões que lhe
permitiram desempenhar este papel “dual” residem na natureza específica do capital mercantil ou
manufatureiro: já que nenhum deles assentava na produção de massa característica da indústria
mecanizada propriamente dita, não exigiam, por si, uma ruptura radical com a ordem agrária feudal
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que ainda englobava a ampla maioria da população. Em outros termos, podiam desenvolver -se
dentro dos limites estabelecidos no quadro do feudalismo reorganizado. Todavia, sempre havia um
campo de compatibilidade potencial, nessa fase, entre a natureza e o programa do Estado absolutista
e as operações do capital mercantil e manufatureiro. Na competição internacional entre as várias
nobrezas, que produzia o estado de guerra endêmico daquela época, o volume do setor de
mercadorias no seio de cada patrimônio “nacional” era sempre de importância crítica para a sua
força militar e política relativa. Toda monarquia tinha interesse, portanto, em concentrar tesouros e
em incentivar o comércio sob a sua própria bandeira, na luta contra os seus rivais. Daí, o caráter
“progressista” que os historiadores subsequentes tantas vezes conferiram às políticas oficiais do
absolutismo. A centralização econômica, o protecionismo e a expansão ultramarina engrandeceram
o Estado feudal tardio, ao mesmo tempo que beneficiaram a burguesia emergente. Expandiram os
rendimentos tributáveis de um, fornecendo oportunidades comerciais à outra.
Era um Estado fundamentado na supremacia social da aristocracia e confinado aos
imperativos da propriedade fundiária. A nobreza podia confiar o poder à monarquia e permitir o
enriquecimento da burguesia: as massas estariam ainda à sua mercê. Exército, burocracia,
diplomacia e dinastia continuaram a ser um complexo feudal fortalecido que governava o conjunto
da máquina de Estado e guiava os seus destinos. O domínio do Estado absolutista era o da nobreza
feudal, na época de transição para o capitalismo. A seu fim assinalaria a crise do poder de sua
classe: o advento das revoluções burguesas e a emergência do Estado capitalista.
A resposta não é simples, pois uma série de fatores devem ser considerados. Sem ignorar o
papel do Infante D. Henrique (1394-1460) e de sua lendária Escola de Sagres no incentivo à
expansão, hoje não se acredita que esses fatos tenham sido tão relevantes quanto se pensava até
alguns anos atrás.
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- Ouro: ele era utilizado como moeda confiável e empregado pelos aristocratas asiáticos na
decoração de templos e palácios e na confecção de roupas.
- O alto valor das especiarias se explica pelos limites das técnicas de conservação existentes
na época e também por hábitos alimentares.
- Ouro e especiarias foram assim bens sempre muito procurados no século XV e XVI, mas
havia outros, como o peixe, a madeira, os corantes, as drogas medicinais e, pouco a pouco, um
instrumento dotado de voz – os escravos africanos.
- a história da ocupação das ilhas do Atlântico é bem diferente do que ocorreu na Áfr ica.
Nela os portugueses realizaram experiências significativas de plantio em grande escala, empregando
trabalho escravo. Ilha da Madeira, em 1420; Açores, 1427; Ilhas do Cabo Verde, 1460; São Tomé,
em 1471.
- Na Ilha da Madeira, dois sistemas agrícolas paralelos competiram pela predominância
econômica. O cultivo tradicional do trigo atraiu um número considerável de modestos camponeses
portugueses, que tinham a posse de suas terras. Ao mesmo tempo, surgiram as plantações de cana -
de-açúcar, incentivadas por mercadores e agentes comerciais genoveses e judeus, baseadas no
trabalho escravo. A economia açucareira acabou por triunfar, mas seu êxito foi breve. O rápido
declínio deveu-se tanto a fatores internos como à concorrência do açúcar do Brasil e de São Tomé.
São Tomé foi sempre um entreposto de escravos vindos do continente para serem distribuídos na
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América e na Europa, e esta acabou sendo a atividade principal da ilha, quando no século XVII a
indústria açucareira atravessou tempos difíceis.
A CHEGADA AO BRASIL
No curso do século XIV a concepção medieval começou a declinar e aos poucos surgiram
novas forças que forjaram o atual mundo moderno. Deste modo, a renascença corresponde ao
período de “renascimento” das letras e das artes como um todo, movimento este iniciado na Itália e
que, entre os séculos XV e XVI, teve influências, em maior ou menor grau, em várias regiões da
Europa como na França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Holanda.
O Renascimento foi essencialmente um movimento urbano. A vida nas novas
aglomerações urbanas criadas a partir do renascimento do comércio tinha características muito
diferentes do modo de vida no feudo, o que levou a novas formas de pensar. O Renascimento foi
um movimento intelectual eminentemente urbano, expressão da sociedade que habitava as cidades
livres.
Este movimento teve dois importantes aspectos: o civil, ligado às cidades dirigidas pela alta
burguesia e pela nobreza ligado ao comércio, e o cortesão, relativo aos príncipes e nobres da corte.
Foi o Renascimento Cortesão que se difundiu pela maioria dos países europeus, pois os temas do
Renascimento Civil só poderiam penetrar em regiões onde as condições econômicas fossem
semelhantes às da Itália, como foi o caso dos Países Baixos (Bélgica e Holanda).
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A sociedade feudal, a partir da renascença, teve seus mercados alterados através do
nascimento de uma burguesia urbana, que revolucionava os padrões então vigentes na produção. Os
centros urbanos se multiplicaram a partir do desenvolvimento das atividades comerciais,
substituindo paulatinamente os antigos feudos.
O berço do Renascimento foram as cidades italianas que viviam do comércio, como
Veneza, Pisa, Gênova e, principalmente, Florença. Essas cidades mantiveram contato frequente com
a cultura árabe e Bizâncio (Constantinopla), fato que permitiu aos sábios bizantinos, que fugiram de
sua terra natal por causa das brigas religiosas (Tomada pelos turcos em 1453), mudaram-se para a
Península Itálica e tornarem-se, em grande parte, responsáveis pelas mudanças culturais que
estamos estudando. Além disso, a Itália era o centro do antigo Império Romano sendo, portanto, um
depósito dos documentos clássicos preservados, principalmente, nos mosteiros.
A denominação Renascimento foi resultado da preocupação dos homens que viveram esta
evolução cultural, em aproximar a sua época da Antiguidade. Houve, por isso, um retorno à
cultura greco-romana, tanto no plano artístico como na maneira de pensar. Isso trouxe a
redescoberta de valor e das possibilidades do homem, que passou a ser considerado o centro de
tudo. Na Idade Média (para muitos, um período sem expressão histórica, em que os homens viviam
nas trevas), o centro era Deus. É preciso salientar, porém, que a valorização da pessoa não
significou uma ruptura com a religião; os humanistas não invalidaram a ideia criacionista,
segundo a qual Deus criou a Terra e as pessoas. O que houve foi uma mudança na relação entre
esses elementos: o pensamento corrente na Idade Média era de que as pessoas estavam no mundo
para sofrer, a fim de expiar seus pecados; os renascentistas, por sua vez, viam o mundo como um
lugar de delícias, onde o ser humano – a mais perfeita das criações divinas – foi colocado para ser
feliz, para usufruir os benefícios e as belezas de tudo o que o rodeia, inclusive do próprio corpo.
Os renascentistas preocupavam-se principalmente com as questões ligadas à vida humana.
Por isso, o movimento associa-se ao humanismo. A princípio, o humanismo foi identificado com a
valorização de disciplinas relacionadas à vida humana, como Matemática, Línguas, História e
Filosofia laica. Eram os estudos de humanidades. Nessa etapa houve a preocupação em buscar nas
pessoas sua beleza, seus aspectos positivos, em contrapartida ao pensamento medieval, que entendia
os seres humanos como “frutos do pecado”.
Os humanistas pregavam a racionalização do mundo, a individualidade do homem, que
era o centro de tudo (antropocentrismo), e não Deus (teocentrismo), como queria a Igreja. Foi
marcado pela convicção de que tudo pode ser explicado pela razão do homem, e pela ciência, a
recusa de acreditar em qualquer coisa que não tenha sido provada. Os métodos experimentais, a
observação científica, o desenvolvimento da contabilidade, a organização política racional, que
começaram no Renascimento, são exemplos desse racionalismo. Com isso, o homem foi
incentivado a buscar soluções racionais para tudo o que acontecia à sua volta. O homem da
Idade Média, que atribuía à vontade divina aquilo que o cercava, não mais existia. Existia agora,
isso sim, homens sábios, socialmente ativos e responsáveis pelas transformações universais. A
imprensa foi desenvolvida (tornou ainda mais fácil a reprodução das obras humanistas), bem como
a prática da navegação, as artes clássicas e sociais. Com o advento da imprensa, os livros tornaram-
se mais acessíveis; com o da navegação, novas terras foram descobertas; com o das artes clássicas,
obras-primas foram produzidas; com o das sociais, movimentos revolucionários surgiram.
Paradoxalmente ou não, os humanistas eram geralmente homens da Igreja ou também professores.
Todavia, aqui cabe uma ressalva: NÃO se pode dizer que a exclusividade do “retorno” aos padrões
da Antiguidade é de propriedade do período renascentista. Tal movimento se iniciou com os estudos
dos cânones artísticos da antiguidade clássica. O estudo da cultura clássica já constituía elemento de
erudição entre os mais cultos homens da Idade Média e até entre a classe sacerdotal. Gradualmente,
tal conhecimento dos padrões clássicos passou a exercer influência sobre os mais variados campos
de atividade humana no período posterior à Idade Média.
O humanismo marcou definitivamente o fim do pensamento medieval na Europa e
abriu caminho para o posterior desenvolvimento capitalista do continente . A burguesia
demonstrou todo seu poderio de classe emergente e o renascimento foi, em grande parte, a
afirmação dos valores da classe, uma vez que foi um movimento elitista, do qual não participaram
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as classes mais baixas da população. Deste modo, o Renascimento foi, também, um movimento
elitista, cujas obras estavam ao alcance apenas de pessoas muito ricas. Aqueles que podiam se
dedicar apenas a estudar grego e latim ou a aprender técnicas de pintura não trabalhavam. Ou eram
muito ricos ou financiados por uma pessoa com grande opulência.
Viver para a arte ou para os estudos requer fortuna pessoal, mas nem todos os artistas e
intelectuais contavam com essa sorte. Para incentivar os gênios que não tinham como prover o
próprio sustento, foi estabelecida a prática do mecenato, isto é, ajuda financeira a artistas e
intelectuais para que pudessem desenvolver seus trabalhos sem a necessidade de realizar tarefas que
lhes garantissem a subsistência. Os burgueses – que haviam conquistado suas riquezas com a
exploração do comércio e das atividades bancárias e queria prestígio social -, os nobres que ainda
conservavam fortuna e os reis foram os responsáveis pelo mecenato.
Os ideais humanistas encorajaram o desenvolvimento intelectual da humanidade e legou ao
futuro algumas das maiores manifestações artísticas da história. Seus princípios seriam mais tarde
retomados e aprofundados pelos iluministas, no século XVIII.
A REFORMA RELIGIOSA
Com o fim do Império Romano, a Igreja Católica assumiu o papel das instituições públicas,
educando as pessoas, arbitrando as questões legais, orientando a economia. Ao mesmo tempo em
que atribuía a si a exclusividade de intercessão junto ao plano divino, o clero católico aproveitava-
se dessa crença generalizada para usufruir de privilégios, enriquecer, compartilhar do poder
político. Essas atitudes receberam muitas críticas ao longo dos séculos, mas no início da Idade
Moderna a indignação dos católicos resultou na divisão da cristandade do Ocidente.
O pensamento renascentista influenciou decisivamente a reforma religiosa. Os
pensadores renascentistas entraram em confronto com o pensamento dogmático da Igreja. Apesar
de não ter a intenção de romper com a religiosidade, o Renascimento representou um
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distanciamento das pessoas em relação aos dogmas, o que sem dúvida facilitou a adesão às novas
religiões surgidas com a Reforma. Ressalta-se que as divergências a respeito das questões doutrinais
já haviam causado o Cisma do Oriente, a primeira ruptura do cristianismo, ocorrido em 1054, que
resultou em uma nova igreja cristã, a Igreja Cristã Ortodoxa Grega.
A Reforma Religiosa do século XVI representou, no nível religioso, a passagem do
feudalismo ao capitalismo. Rompeu a unidade do cristianismo ocidental, transformando a estrutura
eclesiástica e a doutrina da salvação. A Reforma trouxe uma vitória do nacionalismo sobre o
internacionalismo do Vaticano, uma afirmação da burguesia contra uma ideologia contrária a seus
interesses. Ainda em consequência da Reforma, houve uma cisão da cristandade, com o
surgimento de três novas igrejas cristãs: luterana, calvinista e anglicana.
Além das causas já enumeradas, houve, também, uma importante causa social: em muitas
regiões europeias, camponeses oprimidos por senhores católicos transformaram a luta religiosa
em uma luta de classes.
O século XVI na Europa foi marcado por grandes transformações culturais. Sob influência
do humanismo, vários pensadores promoveram novas ideias, como o racionalismo. Além disso, os
ideais renascentistas de curiosidade e liberdade estimulavam os europeus a inovarem sua
mentalidade, principalmente nos campos da política, ciência, artes e religião.
O contato com culturas de regiões distantes, que se deu por meio da expansão marítima
europeia, também contribuiu para o aprimoramento dessas novas ideais. Muçulmanos e bizantinos,
que haviam conservado obras dos antigos gregos em suas bibliotecas, apresentaram-nas aos
estudiosos da Europa, propiciando a difusão e valorização desses conhecimentos.
As reformas religiosas do século XVI foram fundamentais na configuração da Europa
Moderna. Os movimentos mais importantes aconteceram na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra,
cada um apresentando motivações e características específicas, mas também pontos em comum.
Precursores da Reforma:
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nacionalista, de caráter antigermânico. Excomungado pelo Papa Alexandre V, foi ouvido pelo
Concílio de Constança e acabou sendo executado.
A reforma de Lutero
Fundamentando-se na tese “o justo viverá pela fé”, encontrada na Epístola de Paulo de Tarso
aos Romanos, Lutero passou a afirmar que as indulgências não redimiam os pecados, que as
doações à Igreja não eram suficientes para salvar as almas da condenação após a morte. Para o
reformador, o caminho da salvação era o arrependimento.
Após uma viagem a Roma, em 1510, Lutero percebeu que muitos líderes da Igreja Católica
estavam corrompidos, principalmente porque estimulavam a venda de indulgências. Preocupado,
começou a formular o documento que seria considerado o marco fundador da Reforma Protestante:
as 95 teses. Essas teses que foram afixadas nas portas da igreja de Wittenberg, em 1517,
denunciavam, entre outras práticas, a venda de indulgências pela Igreja Católica. O papa exigiu uma
retratação, que Lutero negou, o que lhe valeu a excomunhão em janeiro de 1521. Considerado
herege, refugiou-se no castelo de Wartburg, onde traduziu a Bíblia para o alemão e escreveu artigos
pedindo que a nobreza se apossasse dos bens da Igreja, para purifica-la.
Ao fundamentar sua doutrina, Lutero se baseou na ideia de justificação pela fé, ou seja, a
salvação cristã dependeria da crença das pessoas em Deus, e não na realização dos rituais católicos.
Além disso, acreditava que somente a Bíblia podia revelar a vontade de Deus, sem precisar da
interpretação teológica dos clérigos católicos.
Outro importante elemento da doutrina luterana era o sacerdócio universal, isto é, o
princípio de que todos os fiéis seriam membros do sacerdócio, eliminando a diferença entre leigos e
clérigos. Consequentemente, deveria ser eliminada toda a autoridade do papa e da Igreja.
Lutero também traduziu a Bíblia do latim para o alemão, possibilitando que mais pessoas
pudessem ter acesso direto ao que os cristãos consideram a palavra de Deus. Com essa tradução,
sistematizou a escrita em alemão, contribuindo para o desenvolvimento da língua alemã moderna.
Enfim, Lutero revoltava-se contra a corrupção que, em vários níveis, havia tomado conta da
instituição católica.
Em 1530, Lutero e o teólogo Felipe de Melanchton escreveram a Confissão de Augsburg,
que se tornou a base da doutrina luterana e cujos pontos principais são:
Apesar da perseguição, Lutero continuou difundindo sua doutrina porque teve apoio da
nobreza alemã, para quem, descontadas as questões sinceras da fé, a Reforma tinha grande interesse
político e econômico, uma vez que liberava os reinos da tutela da Igreja e colocava o patrimônio
católico em solo alemão ao alcance dos nobres.
Assim, Lutero abriu espaço para que setores da sociedade insatisfeitos, se manifestassem,
provocando uma onde da turbulência na Alemanha.
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restituição de direitos que haviam sido abolidos, como o uso das terras comunais. Em
diversas ocasiões, chegaram a saquear e queimar castelos, igrejas e mosteiros. A
Guerra dos Camponeses foi rápida e brutalmente contida pelos nobres e pelas
autoridades estatais. O líder da revolta, Tomás Muntzer, foi preso, torturado e morto,
e os camponeses não conseguiram nenhuma melhoria.
Cavaleiros: nobres sem os mesmos privilégios dos príncipes, manifestaram com
violência seu descontentamento diante das explorações a que estavam submetidos.
Lutero continuava protegido pelos nobres, o que explica sua posição política conservadora.
Defendia a resistência passiva dos cristãos e, ao mesmo tempo, reforçava a autoridade dos
príncipes. O imperador Carlos V tentou de todas as maneiras possíveis levar os luteranos de volta
para a Igreja, chegando até, através da Dieta de Spira (1529) obriga-los à força. Os luteranos
protestaram, advindo daí o nome de protestantes aos seguidores de todas as correntes reformistas.
No ano de 1539, Carlos V convocou a Dieta de Augsburgo, onde os luteranos expuseram
oficialmente sua doutrina, sistematizada pela Melachton. Mesmo não sendo aprovado pela
Assembleia, o Luteranismo já havia ganho a adesão de vários príncipes alemães interessados no
confisco dos bens da Igreja como forma de ampliar seus domínios.
Os choques entre o imperador e os luteranos só chegaram ao fim quando, em 1555, foi
assinada a Paz de Augsburgo, baseada no princípio cujus régio, ejus religio (tal príncipe, tal
religião), reconhecendo a nova doutrina e concedendo aos príncipes alemães o direito de impor sua
própria religião aos seus súditos, dividindo, na prática, a Alemanha entre católicos (Sul) e
protestantes (Norte).
O luteranismo expandiu-se para outras regiões europeias como Dinamarca, Suécia e
Noruega. Nesta última, tornou-se a religião oficial.
O Calvinismo
Outro importante movimento reformista foi iniciado pelo francês João Calvino, nascido em
1509. Nascido em Noyon, na França, converteu-se ao protestantismo e deu início a uma nova
doutrina, que encontrou na cidade de Genebra (Suíça) um campo propício ao seu desenvolvimento,
pois a burguesia daquela cidade encontrava-se em luta contra seu governante, o católico duque de
Savoia.
Na Suíça, a Reforma foi desencadeada pelo humanista Ulrico Zwinglio que, mesmo
ordenado padre em 1506, não se conformava com os abusos e desmandos da Igreja. Começou a
pregar a necessidade de mudanças urgentes no cristianismo. No ano de 1524, rompeu com o
celibato clerical ao casar-se com Anna Reihard, o que demonstrava sua desobediência aos
princípios do catolicismo. Suas ideias tiveram forte repercussão no norte da Suíça. Defendia a
predestinação e considerava a confissão desnecessária, pois cabia a Deus, e não aos padres, perdoar
os pecados.
Simpatizante das ideias luteranas, Calvino teve de fugir da França, indo se estabelecer e
Genebra, onde criou uma nova religião que diferia tanto do luteranismo como do catolicismo por
concernente à salvação. Ao se instalar em Genebra, Calvino assumiu o poder na cidade e
estabeleceu um governo baseado em suas doutrinas. Dessa forma, governou com rigidez todos os
setores da sociedade, como o sistema educacional de Genebra, por exemplo, no qual impôs uma
educação cristã desde a infância até a universidade. Calvino exerceu também uma virtual ditadura
religiosa, perseguindo rigorosamente seus inimigos. A cidade ficou conhecida como a “Roma do
Protestantismo”.
Calvino defendia a ideia de que a fé não era suficiente para a salvação, uma vez que o
homem já nascia predestinado, isto é, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a condenação.
Assim, afirmava que a riqueza material era um forte indício da graça divina, pois ganhar dinheiro
não significava pecar, ao contrário, o trabalho fazia grandes benefícios ao homem, porque os que
investiam garantiriam lucros crescentes em seus negócios, melhorando sua condição de vida.
Princípios do Calvinismo:
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Extrema rigidez dos costumes impostos aos seus fieis: a desobediência era tratada
como crime, os prazeres eram fortemente controlados, a boa conduta era incentivada
como forma de evitar os excessos católicos criticados pelos calvinistas;
Doutrina da predestinação à salvação ou à condenação;
Manutenção de dois sacramentos: batismo e comunhão; nesta última existe apenas a
presença espiritual de Cristo;
Jogos e danças eram proibidos;
Os altares foram suprimidos e a liturgia foi simplificada;
Separação da Igreja do Estado;
Condenação de todo o culto exterior, rejeitando a missa, os sacramentos, e tudo o
que não estivesse rigorosamente de acordo com as Sagradas Escrituras;
Livre interpretação da Bíblia;
Negação aos cultos dos santos, da Virgem Maria e da autoridade do papa;
No setor econômico-social, justificou as atividades econômicas até então condenadas
pela Igreja.
Ao ensinar que as pessoas devem, por todos os meios, multiplicar as riquezas já que estas
são confiadas por Deus, o Calvinismo acabou tornando-se a religião da burguesia, que descobriu
que também trabalhava para a glória de Deus. O Calvinismo expandiu-se para vários países:
Escócia (presbiterianos), França (huguenotes), Inglaterra (puritanos) e Países Baixos (calvinistas).
O Anglicanismo
Diferentemente das outras reformas religiosas que ocorreram na Europa no início do século
XVI, o movimento reformista na Inglaterra foi comandado pelo próprio rei.
Na Inglaterra, durante o governo da Dinastia Tudor (século XVI), também havia um grande
descontentamento com os abusos da Igreja, o favoritismo na distribuição dos cargos públicos para
os membros do clero e, principalmente, com o pagamento dos dízimos e envio destes para Roma.
As ideias reformistas foram lançadas por Wycliffe. A principio foram combatidas pelo
soberano Henrique VIII, que recebeu em 1522 o título de “Defensor da Fé”. No entanto, desejando
submeter a Igreja ao Estado, reforçando o Absolutismo, bem como confiscar os bens eclesiásticos,
resolveu romper com o Vaticano.
A causa imediata dessa ruptura foi o pedido de anulação do seu casamento com Catarina de
Aragão para casar-se com Ana Bolena, que foi recusado pelo Papa. Diante disso, a burguesia e a
nobreza inglesas, que classificavam os padres como “a classe vadia”, há muito desejavam o fim do
pagamento de tributos à Igreja e aproveitaram-se de um conflito entre Henrique VIII e o papa
Clemente VII, motivado pela recusa do papa em anular o casamento do rei. Desta forma, o rei deu
início a uma política de confisco dos bens da Igreja.
Em 1529, o Parlamento inglês formalizou seu apoio ao rei na luta contra o papado e aprovou
leis que reduziam os impostos cobrados pelo clero católico. Em 1532, os bispos ingleses também
manifestaram seu apoio às ações do rei na luta contra Roma. Tentando intimidar o rei, o papa o
excomungou, mas Henrique VIII manteve sua Reforma, e o ano de 1534, o Parlamento aprovou o
Ato de Supremacia, reconhecendo o soberano como o chefe da Igreja na Inglaterra. Foi criada
assim uma igreja nacional, sem alteração no culto, a Igreja Anglicana.
O anglicanismo não foi uma doutrina radical com relação ao catolicismo. Popularizou a
leitura da Bíblia, traduzindo-se para o inglês; desencorajou o culto aos e às relíquias, extinguiu o
celibato clerical, pois o próprio rei casou-se seis vezes.
No governo de Elizabeth I, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, o anglicanismo foi
consolidado através da renovação do direito da soberania real sobre a Igreja, além da fixação dos
fundamentos da doutrina e do culto anglicano, contidos na Lei dos 39 Artigos. Teve início uma
violenta perseguição aos católicos.
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A CONTRARREFORMA
No início do século XVI, grupos de clérigos católicos tomaram iniciativas como o intuito de
renovar a espiritualidade da população. Esses grupos incentivavam os demais membros do clero a
realizar com mais fervor as práticas tradicionais católicas, comportando-se rigidamente de acordo
com os princípios éticos e morais cristãos.
Entre 1545 e 1563, o alto clero católico, reunido na cidade de Trento, definiu as bases da
Contrarreforma. O Concílio de Trento reafirmou a maioria das doutrinas expressas pelas “boas
obras” e pelos dogmas católicos, como a caridade, os sacramentos, as missas, o celibato etc. Muitas
dessas doutrinas e práticas vinham sendo questionadas pelos movimentos protestantes, que foram
considerados heréticos pela Igreja Católica.
As principais medidas adotadas em Trento foram:
Além dessas medidas, o Concílio reforçou alguns dogmas católicos, tais como:
O mais forte defensor do processo de reação da Igreja foi a Companhia de Jesus, uma
ordem criada em 1534, que tinha como princípios disciplina rígida, obediência hierárquica e
comportamento moral irreprovável. Os jesuítas preocuparam-se principalmente com a educação das
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crianças, pois acreditavam que, se fossem instruídos desde cedo nos valores espirituais e morais, as
pessoas estariam mais protegidas contra desvios morais. A Companhia de Jesus foi a principal arma
do papado contra o avanço protestante. Muitos jesuítas vieram para a América catequizar os índios,
aumentando assim o número de fiéis para a Igreja Católica.
Houve, também, a reativação do Tribunal do Santo Ofício ou Tribunal da Inquisição, que
passou a perseguir, condenar e executar quem questionasse os dogmas católicos ou discutis se os
princípios da religião.
Estabeleceu também o Index, catálogo de livros proibidos aos católicos, por serem
perniciosos à fé. O Índex foi uma verdadeira censura, que inibiu o debate e as descobertas
científicas, pois o controle da Igreja era severo. Foi extinto oficialmente somente em 1966.
Conclusão:
A Reforma teve, de acordo com seus pregadores, justificativas diferentes: assim, nas regiões
luteranas, encorajou a dominação dos grandes proprietários sobre os camponeses. Nas regiões que
aderiram ao calvinismo, apoiado pela burguesia, o incentivo ao trabalho e à riqueza material, tidos
como forma de salvação, contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo.
Sendo parte do processo de transição do feudalismo para o capitalismo, a Reforma foi um
movimento religioso de adequação aos novos tempos, representando, no campo espiritual, um
ajustamento de ideais e valores às transformações socioeconômicos da Europa.
A Contrarreforma, através da mobilização de papas como Paulo III, Paulo IV, Pio V e Xisto
V, conseguiu afastar a Igreja dos antigos caminhos da corrupção, do despreparo, da imoralidade.
Mas, a consequência mais séria da Reforma Protestante foi a utilização política das novas
doutrinas pelos monarcas europeus, que acabaram ultrapassando o plano nacional, provocando
verdadeira lutas pelo controle da Europa.
Portugal, Espanha e Itália foram países onde não aconteceram movimentos reformistas.
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A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
No século XVII, uma nova forma de pensamento havia começado a se difundir pela Europa,
delineando uma visão de mundo que dava grande valor à ciência e à razão. Criticando a
mentalidade de sua época, dominada pelo obscurantismo religioso, alguns pensadores iniciaram
uma Revolução Científica. Com isso, fundamentaram-se as bases teóricas para os filósofos
iluministas que, a partir do século seguinte, procuraram trazes as “luzes da razão” à sociedade
europeia.
Com a Revolução Científica do século XVII, foram estabelecidos os parâmetros do método
científico moderno, por meio do qual os cientistas puderam aplicar os princípios universais da
ciência (as chamadas “leis da ciência”).
Galileu e a ciência moderna: o pensador italiano Galileu Galilei é considerado por muitos
estudiosos como o primeiro cientista a utilizar o método científico moderno. Ele aperfeiçoou o
telescópio, de forma que pôde estudar com maior precisão as formas e os movimentos dos corpos
celestes. Defensor da teoria cosmológica heliocentrista, que concebia o sol como centro do
Universo, Galileu foi obrigado a se retratar perante a Inquisição, pois a tradição católica da época
defendia a cosmologia geocentrista, a qual sustentava que a Terra era o centro imóvel do Universo.
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