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iempo hizo una gra . nueve meses tuvier, . UNOS Gias, 6 3. Se casaron en junio y 3 z 2. Fue a América LINGUAGEM E COGNICAO 10 comportamento humano, tal como ele & deve-se inteiramente ao fato de que os homens for- mularam seus desejos e posteriormente os racionalizaram, sob a forma de palavras. A formulagdo verbal de um de. sejo levard 0 homem a prosseguir em direcao a sua meta, mesmo quando 0 desejo em si estd adormecido. Seme- thantemente, a racionalizacao de seu desejo em funcao de algum sistema teoldgico ou filosdfice o convenceré de ‘que ele faz bem em perseverar nesse caminho. [...] Do intdo, para o mal e para o bem, as palavras fazem de nds os seres humanos que realmente somos. Despro- vidos da linguagem, serfamos como cies ou macacos. Possuindo a linguagem, somos homens e mulheres ca- pazes de continuar no crime, ndo menos que na virtude herdica, capazes de realizacdes intelectuais além da esfe- ra de qualquer animal, mas ao mesmo tempo capazes de sistemdtica tolice e estupidez tal que nenhum animal mu- do imaginaria, Aldous Huxley (apud Black, 1962, p. 45) Sem a lingua, no poderiam existir como nés 0s conhecemos a cultura humana, 0 comportamento social © 0 pensamento. Mas, embora ninguém negue o papel central da lingua na vida humana, a natureza desse papel tem sido um problema dificil e per- HG imagens © emocdes, intengdes © abstragoes, Iembrangas de sons e perfumes e sentimentos,-e muita coisa O leitor encontrou neste livro, por toda parte, exemplos de idéias independentes de expresso lingiifstica — separacbes affisicas de Iuenciada pela linguagem, mas néo é formada inguagem € um dos muitos fatores que desem- is secdes do capitulo, a discussio gira em torno do papel da linguagem no pensamento, na lembranca, na aprendizagem ¢ no desenvolvimento. Havendo delimitado até que G samento ¢ aco humanos, con- € embaracosa: pensam de ma- lam linguas diferentes? clufmos com uma questo neiras diferentes aqueles. que LINGUAGEM, FALA E PEN3AMENTO A Psicologia do século XX tem tentado ser “‘cientifica”. Geralmen- te, isto significa que a obrigacdo dos psicélogos limit evidenciou-se que regularid: nto mensuravel e observivel podem ser ex; do behaviorismo americano tal especulagio se redu: mo. Assim, aceitava-se_muito mais conversar sobre (fala) do que fazer declaragdes a respeito de mento). John B. Watson, 0 pai da Psicologia be cana, formulou, em 1913, uma posicdo extrema: 202 | do com meu ponto de vista, 0s processos do pensamento sio na verdade hébitos motores da laringe”. O que Watson e seus adeptos queriam dizer € que pensamento e fala sio uma e mesma coisa, assim tornando 0 pensamento diretamente disponivel 20 estudo cientifico, na forma de medicdo de movimentos da musculatura da fala. Uma posicdo menos extremada tem uma rica hist6ria na Psi- cologia russa. Uma das mais antigas posigdes centificas tomadas em relagio a esse problema foi proclamada em 1863 por Ivan M. Sechenov, pai da Fisiologia russa e mentor de Pavlov (p. 498) Quando uma crianga pensa, ela invariavelmente fala so mesmo tempo. O Pensamento numa erianca de ci acompanhado por palavras ou da lingua e dos libios, 0 que é is diversos — mui freqlientemente A posigdo russa, portanto, é de que a linguagem ¢ 0 pensamen- to esto intimamente ligados na meninice. mas que, no decorrer do desen se torna de alguma livre da Tinguagem — pelo menos, livre éas RESPOSTAS DE FALA abertas ou encobertas. Essa posicao foi mais signifi te elaborada pelo grande psicdlogo soviético da década de 30, L. S. Vygotsky. No seu principal trabalho, Thought and language (1962), publicado primeiro na URSS apés a sia morte prema- tura em 1934, Vygotsky desenvolveu a nogao de que tanto na filogenia quanto na ontogenia hé tracos do pensamento nio-verbal (p. ex., “p nsamento instrumental” envolvido nz solugio de pro- trumentais) © da fala nao-intelectual (p. ex., gritos emo- tentow esbocar 0 desenvolvimento ¢ 2 interagao desses dois tracos até 0 ponto em que, na evolugo humana, a fala pode servir a0 pensamento © 0 pensamento pode ser revelado na fala, No capitulo sobre a linguagem infantil, o leitor encont argumentos sobre os meios pelos quais o desenvolvimento co} vo antecede © amolda o desenvolvimento lingiiistico. Essa posigiio — apresentando uma clara oposicio a tradi¢ée behaviorista — baseia-se na extensa obra sobre 0 desenvolvimento cognitive Ie- 108 cinglienta anos, em Genebra, por Jean . De acordo com a escola de Piaget, © desenvolvimento cognitivo avanca por si, em geral seguido desenvolvimento Tingilistico, ou encontrando reflexo na ‘gem da crianca. O intelecto da crianga desenvolie-se por interacio com as coisas e pessoas do seu meio ambiente. Na medi- 203 linguagem esté envolvida nessas interagdes, pode © desenvolvimento em alguns casos, mas nfo esma, crescimento cognitivo. 108 a0 assunto referente ao desenvolvimento mental. Antes, porém, devemos avaliar a posicio da centralidade da lin- ‘guagem, a fim de melhor entender o papel que a lingua pode exer- cer na cognicio, Pensamento sem fala © cuidado de lembrar a distingéo entre no inicio do livro. A fala é um processo fisi- producio dos sons da fala, ao passo que tangivel de significados e estruturas lin- de Watson nao trata, de forma alguma, jento; antes, ele iguala FALA e pensamento. fivos, como Vygotsky ¢ Piaget, ocupam-se da do pensamento na medida em que a fala esté envolvida na cdo de conhecimento entre as pessoas. Contudo, mais es- fe, eles se ocupam com a LINGUAGEM e com 0 pensa- , com as relacdes entre lingiiistica interna e estruturas eles, uso interno da linguagem nao precisa, ne- te, se refletir nos movimentos articulatérios do apare- preen- r uma conversa e, por outro lado, conduzir-se de maneira per- feitamente normal, mostrando processos de pensamento intatos dis- sociados da capacidade de produzir fala articulada. A reductio ad absurdum de que 0 pensamento é imposstvel sem os ‘0s da fala na boca foi também testada experimen- , Brown, Toman e Goodman, 1947), Uma de um ti de droga curare ocasiona uma ps lida em que se fazem necessérios 0 M, Smith apresentou-se, volun- experiéncia para determinar io pudesse, sob a influéncia do curare, produzir nenhuma resposta gestual ou vocal, ele relatou que estivera completamente liicido, sendo capaz de recordar com exatidfo 0 que Ihe disseram e fizeram durante o perfodo da para- lisia, Destarte, € muitfssimo claro que & possivel 0 pensamento sem Passagem pelos “hébitos motores da laringe”, isto 6, sem a fala. Contudo, podemos ir além da aversao behaviorista aos esta- ja o desagradavel fetiémeno de ir apalpadelas & busca de uma palavra ou de tentar encontrar 0 me- Thor meio de nos expressarmos. E um exemplo passageiro, em nos- sa vida normal, da mais duradoura desconexio entre as intengSes ¢ os enunciados observada em alguns tipos de afasi: i no capitulo 5. Ninguém 0 descreveu melhor que Jogo William James, no seu famoso manual e ainda inconscientes & procura de expressio. comparacao de interferéncias cultura ‘modos de dizer “daddy gave me a € um mapeamento direto de um pen- escolha de palavras refletiré sutilezas de ‘Se 0 pensamento nao fosse mais que rerfamos tatear A busca de pi dosamente escolher os meios de expressio? tado com Concebo tudo isso num pensa- 8 separadas. Um ‘Uma outra prova da independéncia que ha entre grande parte nto © da for io verbal vem das afirmacdes de © compositores a respeito de seu 10 de Brewster Ghiselin, The crea- de. ricos exemplos de um periodo ou problema, seguido por uma depois da qual o criador se defronta com a tre- Pensamento. As introspecgdes de Albert ‘a esse respeito io especialmente esclarecedoras (apud GI 1955, p. 43): AAs palavras da lingua, quando escritas ou faladas, nflo parecem exercer nnenhum papel no meu’ mecanismo de pensamento, As entidedes psfquicas 206 ‘que patecem servir de elementos do pensamento so cert gens mals ou menos claras que podem ser “voluntariamente™ reproduzidas . aqueles elementos e os impor icos. E também claro que o desejo de cctitos logicamente conexos 6 a base emocional des alguns de-tipo muscular. As palavras’ convencionais de ser procurados laboriosamente apenas num estigio. secundério, © jogo associativo mencionado esté suficientemente.estabel ser Fo @ vontade. [...] Num estégio em qie a yém de alguma forma, clas so, no meu caso, puramente Nao deverfamos esperar que Beethoven tivesse a si mesmo a idéia de uma sinfonia. Seus ‘ses, mas dificilmente encontramos ali p: ninguém vai dizer que Beethoven nfo te tura e © contetido de suas composicdes. O plano de Gi Picasso, reflete-se em numerosos desenhos, e no numa de palavras. Evidentemente, hd mais pensamento do que fala, sejn aberto ou encoberto. A fala é um dos muitos instrumentos do pen- samento, mas nao € préprio pensamento. Investigando as relacdes entre lingua e cognigio, devemos entio apresentar’ mais duas questdes diferenciadas. (1) Se consi- deramos a lingua como uma entre muitis formas de REPRESENTA- cho MENTAL, devemos explorar as varias formas e indagar como esto inter-relacionadas. Isso é, essencialmente, uma questio es- trutural. Existem vérios modos pelos quais se pode descrever a estratura do conhecimento. A histéria da Filosofia é uma crénica i no sentido de reduzir todo conhecimento a icas, ou reduzir as estruturas lingilisticas a algu- postular varios tipos de entidades men existentes © que interagem. Essa histéria prossegue na Psicologia cognitiva. (2) Se consideramos a lingua como um dos INSTRUMEN- levemos examinar os modos pelos quais 0 influen desempenha papel signi © uso da lingua? Sera que esse papel varia com a idade - viduo? Varia com a lingua ou dialeto especifics envolvidos? LINGUAGEM E REPRESENTACAO MENTAL Retrocedamos um pouco do assunto geral demos algumas questdes relativas & “repr ras e as imagens. Foram essas formas que no ini- atengio de filésofos e psicblogos. O emprego de como o instrumento do pensamento € tio evi- A lingua é um dos muitos meios pelos quais podemos representar a n6s mesmos 0 conhecim« am conhecimento parece con- logia. cogni 3 Shepard e Chipman, I jente, © pensar com o emprego de im: ocorre, de fato, e € diferente do pensar com palavras. O grande f P. W. Bridgman preocupou-se muito com esse problem: do-o em seu livro The nature of physical theory, em 1934 ralvez um dos melhores exemplos de [...] pensamento nfo. seja fornecido por aquilo que fazemos quando snalisemos a agio de i ou esborames no papel o projeto de uma pera de maquinismo. O gue fa50 20 planejar um maquinismo 6 reproduzir sa imaginago © que Seriam minhas atividades observando o desempenho do maquinismo com pleto, e eu sei que para mim tal experitncia € quam inteiramente de ca iter’ motor. Vejo uma parte impulsionando tenho ‘itl em relagSo be forgas e uma. af tante, tudo Isso sem chega ‘erd.seguido por um certo, vi ‘me lembro de situagdes anteriores que despertaram em mim as reagdes € sel o que’ aconteceu entio, © ha um bom nimero de provas de que a repre- a, ou imagem muscular, € um antigo modo de re- tos. Mesmo adultos, podemos fazer certo movi- ‘mento com o brago, quando pedimos um martlo, sugerindo que 0s padres motores continuam a desempenhar um papel em nos- sos modos de conceber objetos e acontecimentos, Outros tipos de tarefas da vida contam com a imagem VISUAL. Bruner declara que, se aprendermos 0 mos um mapa (ou um mapa examiné-lo cuidadosamente, de ‘nosso caminho. la de padres parti- lidade, uma vez que nio pode ser bem examinada em vérias € 0 modo primordial de representacio , a combinagio -oragdo de interior, as artes gréficas, e coisas seme- Ihantes, nas quais nao tém muito emprego nen a representacio ‘motora nem a representacio verbal. € mais gerais que 0 da consciéncia — 0 que William James chamou de “esquemas de pensamento ainda néo articulades”. Nio podemos 209 saber claramente a que se assemelham tais estruturas, nem se to- das as diferentes formas de experiéncia consciente compartilham uma estrutura fundamental comum. Desde o fae sua aplicacdo a linguagem da crianca. Tem havido muitos modelos cognitivos recentes que tomam a proposi- ‘go como a forma bésica pela qu l se representa o conhecimento (p. ex., Anderson ¢ Bower, 1973; Fredriksen, 1972; Kintsch, 1974; 1975). © que todos esses modelos tém riza-se pelo nosso conhecido exemplo de “daddy —a saber, uma rede de conceitos inter-relaciona~ ‘mais geral que qualquer expresso lin- palavras © frases, ou a imagem de qualquer ular. Norman e Rut to move from self to human offspring assado, agente humano progenitor adulto, do sexo fez obj ico mover-se do eu para o receptor da A realidade psi ser resolvida, Além di ygica de tais representagdes esti longe de , como vimos, esse nivel de representacio 210 no corresponde nem ao pleno conhecimento do evento (em que muitos aspectos do ac 2 quematico), nem & qualquer lingua particular. As proposigées, como imagens, bem podem ser uma PARTE da representacdo mental, mas nao retratam de maneira exaustiva o contetido da mente. Além disso, tais modelos admitem que os conceitos podem ser analisados em componentes ou tragos seminticos, como “hu- lino”, € coisas parecidas. Talvez no seja possivel todos os conceitos em conjuntos de trios, e ha evidén- ibém de que a mente nao. tr dessa maneira rigorosa- a. Examinemos alguns problemas que surgem quando tentamos analisar conceitos ou iS em conjuntos de “tracos” ‘ou “componentes” definidos de significado. Tragos € protétipos Muito significado pode ser descrito, € claro, como aspectos ou tributes subjacentes. Os humanos, os mamiferos, os peixes € os passaros, todos sio seres “animados theres, as ovelhas, as deusas e as sereias so, todas elas, “fémeas"; e assim por diante. ‘Contudo, nem todos os significados podem ser “decompostos” tais tracos. Quais so, por exemplo, os aspectos que dis vermelho do verde, ou o belo do feio, ou um conhecido de um amigo? Mesmo nos casos em que haja caracteristicas para uma an4- lise, elas no podem aplicar-se & moda tudo-ou-nada, como ‘“‘mas- culino” e “feminino”, ou “animado” e “inanimado”. Vejamos, por exemplo, uma descri¢ao de cadeiras quanto ao seu aspecto. Pa- rece tratar-se de uma classe que faz sombra em derredor, em to- das as diregdes. Quando 0 encosto de uma cadeira desce bastante. ou seus pés ficam muito compridos, ela vira um tamborete; quan- do 0 assento fica bem largo, ela 'se toma banco, assim por diante. O fil6sofo Lud nossos conceitos que armazenam: — um modo que conte com similaridades parciais e tragos e di- mensées que apresentam transvariagio. A melhor maneira de ex- Primir 0 que ele pensa é citar sua famosa discussio acerca do stein sugeriu que nao orga nitidas de tragos que se cruzai 2 significado de game, “jogo”, “partida”, “passatempo” (1945, se- ’, ou “o melhor exemplar prototipico”, los atributos em comum com outros mem= bros da classe. Por exemplo, 0 tordo ou o pardal é um bom exemplo de péssaro — um passaro que € protétipo, assim. A ema, os pingilins ¢ os quivis também so aves, algum modo, no parecem bem aves como os tordos © os — so grandes demais, nao voam, e assim por diante. Se fosse organizado 0 conhecimento ap todos os pass: i exemplo: “Te © pingitim é uma ave, que & frase O tordo é um péssaro. Numa série de experiéncias engenhosas, Rosch ¢ seus colaboradores mostraram que muitas categorias se organizam de maneira ita-se por causa de tais tragos ide naturais — com membros sm elementos semAnticos subja- centes so retratos imperfeitos de nossas representagdes mentais. Ainda a linguagem e 0 pensamento Qualquer teoria sobre as relacdes entre linguagem ¢ pen‘ amento exi- ge um: definicdo de pensamento, Todavia, o breve sumério recentes, relativas a uma representagiio men- tal, d no dispomos dessa definicio. Nenhum desses caracteriza todas as formas de conhecimento ou mental. E a realidade psicolégica de cada um dos sistemas est ainda em discussio. Além disso, nto de representagio, em acerca de todas elas. Conquanto as imagens sensoriais nao sejam lingiiisticas, © sejam dificeis ou impossiveis de descrevermos em Palavras, podemos responder a indagagées como, por exemplo, 213 Se_as nectarinas t8m gosto de péssego, ou se 0 som do violoncelo é “triste”, ou se as cangées de Schumann apreendem o sentimento, da poesia de Heine. E, embora Einstein tivesse dificuldade em achat i ele eventual- bem. Podemos analisar a experiéncia em proposicées e tragos © protétipos, e falar a respeito dessa anélise. Ha uma linguagem da mente — um “mentalés” — que possa traduzir imagens sensoriais, pensamentos abstratos © expresses lingiiisti- cas? Claro esté que a lingua no & © cédigo fundamental do pen- samento, mas que 6? Nio ¢ preciso dizer’ que no temos uma resposta para essa sunta. Bever jé salientou (1975, p. 77), em um simpésio psi- ‘0 sobre lingua ¢ pensamento: “A meta conceptual bé- sica em discusses como esta é que a mente deve ser UNIFICADA fem algum nivel, que hé uma capacidade mental comum que uni- fica todas as faculdades cogni fais como 0 raciocinio (p. ex., a légica), a representagio m . X., as imagens mentais) 4 comunicacao (p. ex., a Iingua).” E claro que a lingua no é 0 unificador (embora seja cla 0 meio pelo qual nds nos expressamos € procuramos realizar a unificacdo). Bever sugere diversas possi- bilidades: (1) um sistema comum de representagio, a0 qual se Podem reduzir em certo. nivel profundo todos os vérios modos de representacio; (2) um “mentalés” que expresse as virias ca- acidades; ou (3) um conjunto de sistemas especializados de ma- Peamento (entre imagens ¢ palavras, entre Iogica assim por diante). Para o presente — © para o futuro incerto — s6 podemos dizer que a lingua € um cémponente integral do pensamento, mas nnem a lingua nem a fala podem ser equiparadas ao pensamento. Continuemos a estudar alguns meios pelos quais a lingua interage com o pensamento ea meméria, guardando uma respeitével dis- tancia de todos os vespdes que surjam de seus: esconderijos filo- s6ficos nesta primeira seco do capitulo. A LINGUA COMO “INSTRUMENTO DO PENSAMENTO” Existem obviamente variadas maneiras pelas quais nossa posse da lingua influencia nossas vidas como seres humanos. Nem mesmo podemos comecar uma lista de todas essas influéncias. Desejamos 214 to, iio. Esses dois aspectos do s sm conseqiiéncias cogr Consideremos, primeiramente, alguns dos papéis exercidos lingua na aprendizagem ¢ na meméria. liacdio verbal ¢ comportamento behaviorista esperava, a princfpio, que experiéncias , forneceriam também a chave do tudo, percebeu-se logo qi para chegar IGOes e sustenté-las. Na verdade, o préprio Pavlov chegou a lusio, depois de muitos anos, de que seu trabalho sobre re- condicionados tinha aplicagao apenas limitada a0 humano, em vista do complexo papel dos sinai wendo surgi complexas estruturas armazenadas de antiga iéncia. Em suas palavras (1927, p. 407 ... 357): Imente, a palavra é para o homem tanto um estimulo condi $80 03 ‘outros estimulos comuns aos hor i 19 tempo, ela é to 19666). Por exemplo, ao treinar um vezes apresentamos formas de’ estimulo, espe- imal descubra as eventualidades entre estimulo . Contudo, treinando seres humanos, podemos empregat ruc verbal. Isso altera a direcio de muita pesquisa’ acerca suntos de verbal, com 0 objetivo de descobrit que ies de instrugdes verbais so mais eficientes em apressar a igo do desempenho correto de virios tipos de tarefas. 21s A disponibilidade da codificagao verbal desempenha também mngo em experiéncias relativas & memria. Por exemy adigma comum em Psicologia experimental é a experiéncia da resposta retardada. Um homem ou um animal observa o expe- smentador, quando este joculta uma recompensa — alimento, muitas vezes — ¢ pede-se entdo que aguarde um determinado es- Paco de tempo antes de tentar achar a recompensa. A varidvel crucial € a demora que 0 pode tolerar antes de esquecer onde a recompensa foi escondida. Em algumas espécies, a maior demora possivel é de apenas poucos segundos. Nos humanos, con- tudo, a demora pode ser indefinidamente longa. (De fato, na escrita e em outros meios de representacio simbélica, a demora pode se estender ‘de resposta em um experimento en- ativas para responder durante a de- im esta debaixo da xicara vermelha”), podem reter a série apropriada para responder num fodo de tempo © em vérias mudancas na situacio. As, criancas sio, assim, capazes de construir uma pont valo de tempo, por meio da mediacio verbal. desse tipo foram tos tipos de exy iicol6gicos e, presumivelmente, em tipos \gGes na vida real, Codificacao verbal e meméria A araidade de codificar experiéncias verbalmente influencia, los — por exemplo, forma ou cor. demonstraram que a meméria de imagens vis istorcida para melhor se conformar a0s 216 por Carmichael, rape e itulado “An experi- tudy of the effect of langu: 1e representation of ambém Herman, Lawless e Marshall res apresentaram aos sujeitos uma sé- doze figuras ambiguas, ir 0 mais acuradamente possivel. El iando ela era apresentada — por extm| ‘05 sujeitos tendiam a reprod yrmé-las iplo, o primeiro grupo de 0-0 € 0 segundo grupo ‘Numa tarefa dessas, os st em reter doze rétulos verbais e produzir mais t espondentes a esses rétulos do que em reter as doze Pode-se reproduzir esse fendme- 8 em que uma descricdo verbal Pessoa para pessoa, semelhante a0 para se tornarem a meno da esquematizagdo na meméria 6 aquilo a que Miller se refere como RECODIFICAGAO, 10 seu importante 217 artigo sobre a meméria, “The magical number seven, plus or minus two” (1956). Nesse artigo, Miller chega 4 conclusio de que nao se podem reter mais do que 7:2 “blocos” (chun magdo na meméria imediata, e discute a ia do que a lista le “compor blocos” jeméria consiste em recodificar uma longa expe- de uma breve descrigéio — talvez mesmo uma esperanca de que num tempo futuro os detalhes pos- sat werados a partir da lembranca de sua breve deseri¢ao ou rétulo verbal. Por que € necessério esse tipo de esquematizacio na memé- tia? Um momento de reflexéo tornard clara a resposta. Se quiser- ‘mos recordar © que aconteceu ontem, por exemplo, e se a memd- tia niio fosse desse tipo, terfamos de reviver o dia inteiro na me- na mesma proporcio em que o vivemos antes. Evidente- io poderfamos progredir desse modo. Ser-nos-ia necessé_ inteiro s6 para lembrar do dia anterior! Assim, € claro (0s reduzir nossas lembrancas a0 ponto em que possa- meméria autobiogréfica — notadameme da infincia — € de capital importan- essa frea para termos uma visio interes linguagem na meméria. (Para uma pesquisa re~ ‘cente a respeito da meméria autobiogrifica, ver Linton, 1975.) Linguagem ¢ amnésia infantil A meméria nos apresenta dois tipos importantes de problemas — armazenamento e reativago. Passemos por cima do problema do armazenamento — admitindo que a experiéncia foi de algum mo- 218 alguma formulagio esse recurso conve- Porque estio carregadas de represses Seria apenas a “repressio” que esconde ‘com grande acuidade pelo psicdlogo Er- ). A abordagem cognitiva do problema re- ressantes do papel representado pela Tinguagem vanta importantes objegdes a Freud. Salienta que idiana da repressdo de lembrancas ligadas & sexua- Prossegue ele argumentando (1959, p. 284) que a meméria autobiogrtica da primeira infineia pode’ ser impossvel por razdes, estritamente cognitivas, porque: méria addulta no sio receptéculos ‘As categorias (ou esquemas) pars clas ‘adequados para as experi ‘apazes de reservar ces ir se cope ‘idndefunctonal "da memérin aduta,coneciente em geral anon fipos de experiéncia que o auto consciemtemente fax © ¢ capaz de Tazce naturalmente, € simplesmente 0 desenvolvi- 219 expressa 0 dilema colocado por dois iver ow de lembrar — oda experiéncia viva em opo- bolico ou “narrado": comecemos a narrélo, E isso eum contador de histérias, rias dos outros, ve por meio delas ‘sua propria vida como se estivesse gue o acontecimento mais banal se torne wma Desejei que os momentos da minha vids se seguisem e se ordenassem ‘como os de uma vida que se recorda. E como se a gente tentasse agarrar 0 tempo pela cauda, Senta a uma criancinha antes que ela tenha desenvolvido os con- ceitos de permanéncia do objeto ou conservacéo da quantidade? Ha também outra maneira importante em que a experiéncia ‘nfantil. difere da experiéncia do adulto. Schachtel lembra que a Principio a crianga se apdia mais Ientamente nos SENTIDOS DE. PROXIMIDADE (olfato, paladar, tato), e s6 mais tarde os SENTIDOS 221 DE DISTANCIA (visio, audigio) se tornam os dominantes. Temos exprimir as sensagdes dos sen- is sensagdes sio freqilentemen- lar com experiéncias de luz gistrar suas experiéncias ini- ‘mas estas ndo a ajudam de forma acessfvel & recordagio. is lembrancas antigas da is disponfveis a ela — os s de proximidade, estimulos que entram em das que foram aprendidas mais tarde na vida focalizados de um ponto vista diferente do que é usado . Nao é de admirar que Proust achasse necessério assu- Posturas corporais ou encontrar certos odores, © assim por diante, para poder reviver lembrancas antigas na sua “busca do tempo perdido” (“recherche du temps perdu”) — na sua “re- cordacio de tempos passados”. Resumindo numa frase o argumento de Schachtel: A lem- branga das experiéncias do inicio da infincia pode nio ser tio intencionalmente reprimida como simplesmente inacessivel & me- méria, embora nio esquecida, Temos, contudo, uma variedade de meios para representar as exp ‘n6s mesmos; a Tinguagem € apenas um — em- 2m muitos casos. E desolador que as nossas ex- intigas no possam ser geralmente reativadas sem Mas, 0 que dizer de nossas memérias reais mais s — memérias que consistem em imagens e sensagdes vi- Suais, mas que so acessiveis por meio de uma ligagio com algu- ma sugestio verbal. Receio que mesmo aqui — com memérias gré- ficas das nossas préprias experiéncias — nunca possamos estar certos do quanto a imagem foi afetada pela codificagio verbal. Como um exemplo muito extremo da interagio de meios dife- rentes de representagio na meméria, consideremos a seguinte re- ini in 19626, p. 187-188): baba i sndo nos ‘Champs ‘um homem tentow raptarme. Fiquei preso pelo cinto, en pleno ao conselho antigo “Conhece-te a ti mesmo!” 0 jormais — deve-se acreditar que hé alguma correspondéncia entre © 08 acontecimentos e seu relato — e sabe-se quo perigoso isso pode ser. A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO. DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO © uso da linguagem na infancia ‘Apés 0 periodo de experiéncia 2 linguagem passa a desempe ensamento na comunicacio 4 foi que a linguagem evolui de Thante em todas. mais refletir que sociais diferem discutida pelos psicanalistas, Papel sempre maior no A conclusao do capitulo ira mais ou menos seme- ¢ na maioria das vezes irigit 0 progresso cognitivo. Contudo, os grupos tocante as oportunidades que dio as criangas jagem na infancia? Esta questio é de gran- uma vez que boa parte da educacio pre- ieja em termos de nogdes do papel da linguagem no desenvolvimento. idéias existentes atrés dos assim chama- gas da classe baixa nas nogdes de que a “privagio cultura diferente da cultura da ) tem como resultado um déficit de linguagem, e que uma linguagem defici retarda ou bloqueia o pleno desenvolvimento cognitive. A Psico- 223 ica tem uma importante funco social a exercer na demons- tiragéo de que todos os clos desse argumento sio defeituosos. Jé dissemos que todas as criangas aprendem igualmente bem a lin- atuario melhor (pelo menos a principio) nesse sistema, do que as criancas que vém de experiéncias sociais diferentes daquelas sobre as quais se baseia um sistema educacional de uma determi- nada sociedade. Nao estou afirmando que as criangas no neces- bascia no relativo domfnio da lingua, mas nos usos que se fazem da Tinguagem. O estudo de um caso esclarecedor ajudard a elucidar ta em Antropologia, Mari ‘Cowan (Hollos e Cowan, do minucioso d Ivimento cognitivo das criancas de dife- (e-se para o primeiro ambiente de apren- da seguinte forma (p. 632-633): Isso parece 0 tipo da situacao “culturalmente privada” descri- ta em relago aos negros da classe inferior dos corticos das nossas 224 “ quenos voltam, a t uma descricao das fazendas isola- ite que possui uma aura de “salu- distanciada da imagem-padrio lugares como Harlem. Hol | cacional semelhantes, moradoras de um vilarejo e de uma cidade de tamanho médio d: = passam mui “ga. As criancas da vila e da cidade ando livremente com outras criancas tempo ¢ encontrando-se com bientes sociais — Na opinifio do leitor, como esses ambientes influenciam 0 de- senvolvimento cognitivo? Sua resposta dependeré da sua opiniao acerca das relagées entre linguagem € pensamento no desenvolvi- mento. Uma teoria que dé énfase ao papel da interagio verbal e do contato com as opinides dos outros poderia predizer um de- |" senvolvimento superior por parte das criangas que habitam a vila © a cidade. Uma teoria que subestime o papel da linguagem no itive néio prediré diferencas importantes en- 1m efeito, os resultados resis so mais dife- teressantes do que qualquer dessas teorias sim- Plificadas nos poderia levar a pensar. na cor, ao mesmo tempo (p. ex., escolher um objeto para com- Pletar uma cole¢ao de figuras coloridas, de tal modo que 0 objeto seja verde e seja uma estrela). Em outra tarefa (tarefa de “conserva- 40” de Piaget), mostram-se a uma crianca dois copos com igual ni- vel de gua. Despeia-se 0 contesido de um deles num recipien e fino, fazendo subir assim 0 nivel da égud, e pergunta-se se agora ha mais dgua, menos ou o mesmo tanto. Toda a série de tarefas abriu a capacidade da crianca de pensar logicamente © de julgar a respeito das propriedades fisicas dos objetos suas relagoes. 225 Outra série de tarefas tratava da capacidade da crianga de adotar um ponto de vista diferente do seu. Numa dessas tarefas, ela deve contar de novo uma hist6ria a uma pessoa que nao a tenha ouvido antes, ¢ hd um escore relativo & sua exatidio em co- municar-se e capacidade de “coordenar o ponto de vista de um in- dividuo como falante com 0 ponto de vista do ouvinte”. Numa outra tarefa, pede-se a uma crianca que descreva o que um arranjo tridimensional de casinhas de brinquedo pareceria de outras. po- sigdes, ‘no segundo conjunto de tarefas — as que exigem a executar 0 papel de outrem. io, diante de um quadro mais complexo e dife- is desempenhados pela lingua e interacio verbal to cognitivo inicial. E claro que € principalmente 1S nio-verbal dos objetos e pela cuidadosa observagio de mudancas fisicas que se adquire o primeiro conjun- to de capacidades cop mais eficientemente; e € através de bastante interacdo. verbal norueguesas alcancaram eventualmente nivei : nvolvimento em ambos os conjuntos de capaci- dades. A diferenca importante & em termos de RITMos relativos de desenvolvimento em relagio as di pacidades. Essa conclusa , meste capitulo). Pelo rum efeito diferenciado », 0 papel do treino verbal como reparacio para a educagao escolar deve ser encarado sob uma luz mais diferen i io sempre. verbais. De sobre o ambiente social ¢ 0 desenvolvimento cog- 1974, p. 144-145) aponta alguns dos perigos pos- de uma abordagem abertamente verbal do desenvolvimento Pode-se encontrar esse ponto de vista num dos mais antigos fados filosdficos acerca da natureza da linguagem, 0 diélogo de Plato. Sécrates conclui sua consideracio a respeito es entre palavras ¢ coisas, dizendo: “Mas podemos admi- que 0 conhecimento das coisas nao deve derivar de rétu- j9s. Nao, as coisas devem ser estudadas ¢ investigadas em si jesmas.” contribui para a capacidade de “as: papel da comunicaco no desenvolvimento historia em Psicologia, datando do tra- fantil realizado nas décadas de 20 e 30 por Vygotsky, na Unido Soviética. Vygotsky formulou como problema bésico 0 problema de investigar “como uma funcio, surgida na comunicagio ¢ a principio dividida duas pessoas, pode reestruturar toda a atividade da cria dativamente converter-se no complicado sistema funci do Ingesa — The language and thought ‘que ade edo orignal francesa.” A WN. aot 227 reer transigéo de uma para a outra. Na fala egocéntrica (Piaget, 1923: in 1955, p. 32), a crianga no se preocupa em saber « quem esté falando, nem se esté sendo ouvida, Ela fala ou para si mesma ou pelo prazer de astociar qualquer pessoa ali io. Essa fla rinci- tenta colocarse &oiteu reclama © interesse aparente, de ser ou : A fala egocéntrica, para Piaget ida pela iélogo. Piaget preocupava-se mento na crianga, e no via fungdes especiais na fala egocéntrica, atribuindo-a a “incontinéncia verbal” precoce. Vygotsky, por outro lado, salientava que toda fala é social na sua origem, © procurava descobrir as fungGes exercidas pela fala aberta dos primeiros meses na vida da crianca.(#) Ele opés-se tan- to A nogio piagetiana de atrofia posterior da “fala externa” ego- céntrica, quanto a posicdo de Watson de que tal fala, sob a pressio de nio falar alto, era simplesmente interiorizada para se tomar subvocal, ¢, assim, equivalente ao pensamento. Em vez tentou mostrar que a fala egocéntrica dos primeiros me- da fala comunicativa, 6 um estdgio de transigio la em voz alta plenamente desenvolvida ¢ 0 pensamento No decorrer do processo, a fala egocéntrica torna-se cada vez mais abreviada e idiossincrésica, transformando-se depois em fala interior ou pensamento verbal, quilitativamente diferente da fala exterior. Numa série de engenhosas experiénéias Vygotsky ‘nfo consigam diferencar bem a “fala para si mesmas” da “fala para os outros”. Numa série de experiéncias, eles procuraram demonstrar que a fala espontinea das criancas serve a uma fungio pritica, néo 36 acompanhando a atividade, mas servindo para orientéla. Por exemplo, uma crianga, cujo crayon se partiu enquanto ela dese- Fie debs «litany fo Micha Cr Ve hn St ‘ttaer Een Souberman uma coleebo péntuma Sntilede ‘outs The deve: lopment of Riher popcholonca” proses (VyEUKy. 197) PY nhava, disse em voz alta a palavra broken, “quebrado”, e depois ‘mesmo nos primeiros anos, desem- de planejamento na vida da crianca. penha uma funcdo adapt Em outras experiéncias, Vygotsky demonstrou que a fala in- fantil tem um propésito comunicativo. Por exemplo, quando co- locavam uma crianca num grupo de criancas surdas-mudas, crian- ‘gas que falavam uma lingua estrangeira, ou mesmo num ambiente de muito ruido, sua propria fala espontinea reduzia-se a quase nada. Finalmente, Vygotsky notou que a fala egocéntrica se torna cada vez menos inteligivel dos trés aos sete anos de idade, desa- parecendo, final em um nivel aberto, confirmando’ assim egocéntrica esté a caminho de se tornar Esses dados ¢ conclusoes experimentais encontraram, neste pafs,(*) significative apoio na obra de Kohlberg, Yaeger e Hijer- thom (1968) e outros. E 0 proprio Piaget, que sobrevive a Vy- tem expressado claramente opinides semelhantes sobre 0 Papel da comunicacio com os outros em ajuda ao desenvolvimento, cognitivo. Isso esté especialmente claro na sua réplica A versio in- glesa, de 1962, da obra de Vygotsky, Thought and language — infelizmente, a’ primeira interpretacdo' de Piaget da grande obra Nie eequccer que © tro fol exrto nos Estados Unidos. (N. do T.) 229

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