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GENEROS TEXTUAIS NO PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM Rosa Maria Nechi Verceze Universidade Federal de Rondénia - UNIR Rosa_nechi@hotmail.com rosanechi@uol.com.br Abstrat:This paper examines the knowledge of secondary level students about discursive genres’ foundations and presents a diagnosis on the use in textual productions on the basis of theoretical reflections able to help teachers in their reading and writing activities in the classroom. It is based on authors who treat texts’ heterogeneity, emphasize interaction and recognize different text types and different textualization types: Bakhtin, Gumperz e Koch. Key Words: construction of the write do text; discursive genres; processes of the inference; teaching: textual processing. Resumo: Este artigo examina o conhecimento de alunos do ensino médio sobre os fundamentos dos géneros discursivos, apresentando um diagndstico do uso ém producaes textuais com base em reflexdes tedricas passiveis de subsidiar 0 professor em seu trabalho de leitura e produgao textual Fundamenta-se em autores que abordam a heterogeneidade dos textos, privilegiam a interacao, reconhecendo tipos diferentes de textos e diferentes formas de textualizagao: Bakhtin, Gumperz, Koch. Palavras chaves: Construcao do texto escrito; ensino: géneros discursivos; processos de Inferéncia; processamento textual, 1. Introdugao, Virias pesquisas recentes sobre 0 ensino-aprendizagem de produgdo escrita mostram a importincia de atividades de produgio de textos na escola em situagdes coneretas, reais ¢ precisas. Esta abordagem permite colocar em pritica os conhecimentos advindos das iiltimas décadas de pesquisa de campo da lingtistica textual, da sociolingtifstica interacional e da pragmética que, em sintese, procuram dar a0 texto uma dimensio textuabdiscursiva, centrada na interlocugdo (Brando, 2000). Para o desenvolvimento deste estudo, a pesquisa focalizou 0 ensino/aprendizagem em escolas da rede piblica de Guajaré-Mirim, em Rondénia, visando & verificagao dos conhecimentos adquiridos por alunos do ensino médio sobre os fundamentos que regem 08 géneros discursivos e ao diagnéstico do uso em produgdes textuais, Esta pesquisa faz parte de um projeto intitulado "Lingi Aplicada no Ensino de Lingua Materna" que vem sendo desenvolvido com o objetivo de investigar como 0 professor administra os processos de interagao professor/aiuno na sala de aula. Sob ESTUDOS LINGUISTICOS, Sao Paulo, 2 (247-59, maio-ago, 2008 a “ minha orientagdo, alunos PIBIC do Curso de Graduagao em Letras da Universidade Federal de Rondénia-UNIR - Campus de Guajaré-Mirim desenvolvem pesquisas varias para subsidiar o professor da rede piblica. Os alunos PIBIC ministraram algumas aulas a fim de verificar com vem sendo realizado o trabalho de leitura e produgdo de textos. Para isso, introduziram conceitos para a elaboracao dos géneros discursivos nessas aulas ¢ trabalharam com algumas modalidades de géneros — propaganda, noticia, entrevista, etc. -, coletando varias produgdes de alunos, duas das quais selecionadas para andlise neste artigo. 2. Géneros discursivos, interagio, texto Os géneros discursivos sto unidades de sentido com propésitos comunicativos, pois manifestam diferentes intenges do autor: informar, convencer, seduzir, entreter, sugerit etc, Em fungio dessas intengdes, pode-se categorizar os géneros discursivos considerando a fungao comunicativa que neles predomina. O texto jomalistico, por exemplo, caracterizado como opinativo, informativo, interpretative ¢ diversional, obedece as fungdes comunicativas da atividade jomalistica: persuadir, informar, orientar ¢ divertir. Mas as fuangdes comunicativas no so os tinicos elementos que configuram um género discursivo; seus propésitos enunciativos dependem das condigdes de sua produgio ¢ circulagdo. F preciso assim levar em conta as situagdes enunciativas. 0 editorial, por exemplo, se comparado a outro género opinativo, certamente vai revelar mais diferengas que semelhangas, uma vez que orienta o piblico para a opiniao do prdprio jomal sobre um determinado assunto, enquanto os demais casos cumprem a fungi de apresentar a opiniao do jomalista ou do colaborador. Sua estrutura argumentativa clissica e © seu contetido temitico, por serem bem definidos, comprometem a liberdade de estilo: sujeito implicito, sentido denotativo, argumentos ligicos, adjetivagao controlada, voz passiva, objeto destacado e sujeito que se oculta em fungao da busca da conquista de credibilidade do leitor. Para Bakhtin (1992) 0 género se define como "tipos relativamente estaveis de enunciados" elaborados pelas diferentes esferas de utilizagao da lingua, Considera trés elementos "basicos" que configuram um género discursivo: contetido temético, estilo € forma composicional. Nas condiges de produgdo dos enunciados ¢ dos géneros discursivos inserem-se as intengdes comunicativas ¢ as necessidades sécio- interativas dos sujeitos nas esferas de atividade, em que 0 papel ¢ o lugar de cada sujeito sao determinados socialmente. Em cada esfera de uso da linguagem ha uma concepeao padrio de destinatério a que se dirige o locutor; esse destinatério sempre adota uma atitude responsiva ativa adiante da totalidade acabada do género. O discurso estabelece interedmbios sécio-culturais, fruto de processos cognitivos ¢ conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa. Bakhtin (1992) enfatiza que quando fala/escreve ou Té/ouve, 0 individuo ativa seu conhecimento prévio do paradigma dos géneros a que ele teve acesso nas suas relagdes com a linguagem. Em conseqiiéncia, ha de se considerar na pritica pedagégica, ao orientar os alunos para a produgdo textual ou para a leitura, essa dimensdo que constitui o que Bakhtin chamou de relagdo entre forgas centripetas (concentragdo) e forgas centrifugas (expansio). Nos textos, as forgas de concentragdo atuam ao lado das forgas de expansio. E a concentragio que garante a economia nas relapdes de comunicagdo e a entre os falantes pela estabilidade do sistema, e & a expan: ESTUDOS LINGUISTICS, Sto Paulo, 97 (2) 47-59, malo-ago, 2008 permite a variabilidade: a criagdo, a inovagdo, a escotha do idioleto e do estilo ete. (Brando 2000) Para Gumperz (2002), a diversidade lingtistica advém das necessidades das diferentes maneiras de expresso com que 0 falante depara ao se comunicar. Para dar conta disso, ele se baseia em conhecimentos e estereétipos utilizados para categorizar eventos, inferir intengdes ¢ aprender expectativas como recurso comunicativo nas es verbais, nas mais variadas situagdes sociais. O conjunto de informa intemalizadas é crucial para a manutengdo do envolvimento do falante num discurso para o uso eficaz de estratégias persuasivas. O autor procura evitar o dilema inerente as abordagens tradicionais da Sociolingtistica, que explicam os fendmenos sociais como generalizagdes sobre grupos isolados mediante critérios nao-lingtifsticos como classe, sexo, idade, profissdo, etnia, etc. para justificar os comportamentos individuais. Para ele, os fendmenos sociolingtifsticos se baseiam em evidéncias empiricas de cooperagio social e sio a priori independentes de categorias sociais. Sao pistas de contextualizagao todos os tracos lingiiisticos que contribuem para a sinalizago de pressuposigdes contextuais. Isso implica dizer que 0s falantes utilizam as constelagdes de tragos presentes na estrutura de superficie das mensagens para sinalizar, € 0s ouvintes para interpretar, qual é a atividade que esté ocorrendo, como 0 contetido semantico deve ser entendido e como cada frase se relaciona ao que precede ou sucede. Na maiotia dos casos, estas ndo so percebidas conscientemente pelos falantes, constituindo mudangas de cédigo, dialeto, estilo, fenémenos prosédicos, escolhas lexicais e sintaticas, expressdes pré-formuladas e estratégias de seqitenciamento que tém fungdes semethantes de contextualizagio. Os fendmenos de contextualizago subjacentes aos julgamentos que os participantes de uma conversa tecem uns sobre os outros durante as trocas interacionais sfo as inferéncias. Para Gumperz (2002), "o processo inferencial € de matureza sugestiva, munca assertiva, baseado em ptessuposigdes: siio pressuposigdes hipotéticas sobre os propésitos comunicativos." Quanto mais compartilhado for o conhecimento social na interlocugao, tanto mais esta tende 4 normalidade — 0 didlogo bem-sucedido, em que as inferéncias sto compreendidas sem problemas. 0 estudo de Gumperz sobre as pistas de contextualizagdo e as inferéncias sustenta- se na modalidade falada da lingua, nos processos de interpretagdo quando da negociagao de significados numa conversa, Como esta analise refere-se & modalidade escrita, tentar- realizar um estudo das produgd is de alunos adaptando-se a teoria de Gumperz a0 discurso escrito, Pode-se legitimamente pensar que as pistas de contextualizagdo ¢ as inferéncias so aplicaveis também a escrita, pois o que esté em jogo é a construgdo do sentido do discurso. Na escrita, nfo hé o interlocutor em presenga, e disso vem a necessidade de se resgatar por meio de signos convencionais todas as informagées relevantes para dotar de coeréncia o discurso/texto, 0 que na fala envolve sinais paralingiisticos © ndo-verbais, dado que 0 interlocutor se acha em presenca no ato de interagdo. Além disso, 0 texto falado ou escrito & parte de um género, assim como toda tipologia de género € sustentada por um texto, falado ou escrito. Afirma Koch (2003) que "O conhecimento superestrutural (...) permite reconhecer textos como exemplares ESTUDOS LINGUISTICOS, Sao Paulo, 2 (247-59, maio-ago, 2008 0 de determinado género ou tipo; envolve (...) conhecimentos sobre as macrocategorias ou unidades globais que distinguem os vérios tipos de textos, sobre a sua ordenagdo ou seqtienciagdo...”, definindo texto como a “manifestagdo verbal, constituida de elementos lingtiisticos de diversas ordens, selecionados e dispostos de acordo com as virtualidades que cada lingua poe a disposigao dos falantes no curso de uma atividade verbal, de modo a facultar aos interactantes nao apenas a produgao de sentidos, como a fundar a propria interagio como pritica sociocultural." Marchuschi (2005), por sua vez, afirma que “... ao escolher um género, jd se escolhe aproximadamente uma forma textual, mas a reciproca ndo é verdadeira, Nao ha relagdo de biunivocidade entre texto e género...” Ao perguntar “quais as relagdes entre a forma textual e 05 propésitos do género?", introduz elementos de cunho discursivo que vio além da textualidade em si, Nesse sentido, Sobral (2005), partindo de Bakhtin, alega: “... 08 textos so “o plano material de realiza¢do dos discursos ¢ géneros ... O que [0s] mobiliza sio as estratégias discursivas,.. que Ihes impdem inflexdes © formas de realizagdo/estruturagdo a partir de um dado projeto enunciativo, de uma dada arquiteténica, [unindo elementos] estaveis ¢ instaveis, objetivos e subjetivos, cognitivos € priticos, textuais e discursivos/genéricos. Por outro lado, as estratégias cognitivas presentes aos textos sto estratégias de uso do conhecimento partilhado. E esse uso depende, em cada situagdo de fala, dos objetivos, da quantidade de conhecimento disponivel, das crengas, opinides ¢ atitudes AS inferéncias a elas ligadas geram informagdes novas subjacentes ao texto na estrutura de superficie; a intertexualidade toma necessério explicitar no texto 0 conhecimento mais relevante. O professor pode usar as pistas de contextualizagio, representadas na escrita pelos conectivos de coeso, por operadores argumentativos ¢ por selegio Kéxica, identificando por meio delas as inadequagdes seménticas, lexicais, fragmentos de oragdes, auséncia de conectivos coesivos, etc., 0 que compromete a compreensio nia interlocugao discursiva. ss textuais de alunos 3. Anilise dos géneros noticia ¢ editorial em produc Exemplo I - Anilise de uma “noticia de jornal” de um aluno do 1° ano do ensino médio Palestra de Conscientizayao Neste sdbado, dia 24 de julho de 2005, 0 Sebrae Ideal em parceria com a Associagiio de Guajaré-Mirim promoverd uma palestra de prevengio, quanto a0 uso da camisinha, envolvendo toda a populagdo. E com a participagio da Associago de Moradores do Municipio serd possivel contar com um grande nimero de participantes neste evento, onde haverd orientagdes € conscientizago no uso da camisinha no ato da relagao sexual, prevenindo assim, um maior indice de contigil de doengas sexualmente transmissiveis na hora da pritica de relagdes sexual A “noticia” apresenta problemas devido a falta de dominio de elementos lingtifsticos pelos quais o texto se atualiza no momento da enunciagdo, 0 que tora a estrutura lingiistica confusa e incompleta, Essa incompletude causa uma compreensdo parcial do objeto em relagdo ao leitor, que com sua atitude responsiva ativa, ndo consegue detectar na totalidade, 0 que esti sendo dito. Uma noticia deve apresentar a concentragio de ESTUDOS LINGUISTICS, Sto Paulo, 97 (2) 47-59, malo-ago, 2008 elementos constitutivos: quem, 0 qué, 0 como, o por qué, 0 quando € 0 onde © uma determinada regularidade e estabilidade. Aqui, esses elementos aparecem parcialmente. Logo no inicio temos 0 quando "dia 24 de julho de 2005", em seguida um quem Sebrae Ideal ¢ Associagdo de Guajari-Mirim e wm 0 qué uma palestra. Os demais elementos que sustentam a base do corpo da noticia: 0 como ¢ 0 por qué nao sio apresentados de forma explicita ao leitor, pode pressupor-se que 0 como seja entendido no enunciado "haverd orientagdes ¢ conscientizacao no uso da camisinha no ato da relacdo sexual" que na verdade seria trocado por um para qué neste caso ¢, 0 por qué, também aparece, numa estrutura lingilistica confusa, pressupondo ser 0 enunciado "prevenindo ... sexual". Na verdade esse por qué & estendido como a conseqiiéncia favordvel da palestra - 0 ato de prevenir. Deduzindo, assim, 0 como eo por qué ficam comprometidos na estrutura lingbistica, pois o interlocutor tanto pode entender que orientar, conscientizar e prevenir respondem o para que, como 0 por qué, causando um makentendimento na noticia, Do ponto de vista seméntico, nfo existe 0 como, que responderiam as perguntas de que forma? ou como acontecerd? Isso deveria ser contextualizado em outro enunciado explicito. Por exemplo: "se a palestra ser ‘composta pot mesa redonda com varias palestras, apenas um palestrante, por um debate com 0 piiblico, ete", Observa-se, também, a falta dos outros elementos como: quando, demarcando 0 dia ¢ a hora do evento, como também o onde - 0 local de sua realizagio. (veja negrito no texto). Faltam assim informagdes que deveriam ser explicitadas nesta noticia para tornar 0 texto coerente, Nessa noticia, por exemplo, o autor, ao informar seu interlocutor sobre quem realizara a palestra, deixa inferida uma ambigitidade: O evento seri no Sebrae ou na Associagdo de Guajara? Isso precisaria estar na superficie. Outro exemplo, refere-se a passagem onde ... sexual, que de certa forma & interpretada pelo leitor como a conscientizagiio da populagdo para prevenir-se contra Aids. Essa inferéncia do leitor deveria estar explicita no texto, uma vez que 0 objetivo pressupde o controle da Aids. Neste caso, a genetalizaga0” ‘Yoencas sexualmente transmissiveis” nao destaca 0 que seria primordial na informagdo. Neste sentido, deve-se chamar a atengdo do aluno para questionamentos com qual 0 objetivo central da Palestra? Como posso dizer isso? Como organizar meu texto, destacando a Aids como o chamariz para persuadir minha platéia a participar do evento? para ajudé-lo a separar as informagdes_pertinentes para tal propésito e dispensando outras menos necessérias. As pistas de contextualizagao poderiam ser marcadas pelos elementos lingtifsticos-"chave" (selegio_léxica) necessarios para a objetividade: dia (sdbado 24 de julho), (local Sebrae e Associagao de Guajara), palestra, prevengio, orientagio, conscientizagdo, doengas sexuais, Aids, relagdo sexual, que certamente auxiliariam o aluno numa melhor concentragao das informagées. Exemplo 2 - Redagdo de um aluno do 2° ano do ensino médio. Os deputados sem méscaras Atualmente no estado de Rond6nia ¢ nos municipios ¢ também no Brasil todo o povo cada dia se decepciona com os parlamentares que sobem no palanque prometendo mudar a regio ¢ 0 mundo para melhor. Os deputados parecem conduzir 0 acordo e negociagdes que interessem a eles, sé pensam em si proprio. Nas campanhas eleitorais contratam cantores famosos, catros de propaganda dos ESTUDOS LINGUISTICOS, Sao Paulo, 2 (247-59, maio-ago, 2008 mais bonitos, sobrem em palanque com os alto-falantes, falando dos outros candidatos, pedindo apoio de voto, Aqui, os Deputados depois que slo eleitos esquecem das pessoas que os elegeram, mostrando emendas para as negociagdes & pata aprovagio, somente para o interesse deles, onde vo adotar a politica econémica deles © convencer a populagdo por 4 anos. As pessoas pelo que entendo tudo isso, acreditam que estas autoridades tém que se interessar pelo povo, tem que achar um novo caminho. Sou uma eleitora que acredito que a construgdo de uma politica digna tem que ser feita com os trabalhadores, A andlise aqui se restringe a identificar os problemas de argumentago que possam. auxiliar 0 professor a instruir 0 aluno. Como a argumentagdo se baseia em opinides pessoais ou coletivas que expressam apreciagdes, pontos de vista, julgamentos, aprovagdo ou desaprovago, a fundamentagio dos fatos em provas concretas & de extrema importincia, donde a necessidade de exemplos concretos para extrair uma conclusio, A redagdo contém afirmacdes generalizantes: Atualmente ... melhor. Nessa passagem faltam informagdes — dados ou fatos que sirvam de suporte para a pré- formulacao 0 povo cada dia se decepciona. Ou seja, € preciso encontrar dados consistentes de apoio para justificar o por qué 0 povo cada dia se decepciona. Isso por ser feito por exemplos concretos de um fato particular da vida politica do nosso pats. Na passagem "Nas campanhas eleitorais..” “a politica econémica deles", a fundamentacdo para essas informagdes poderia ser sustentada com o acréscimo de dados histérico, por exemplo; pois todos sabemos que em toda histéria do Brasil, o povo, por falta de informagao € sempre persuadido a votar naqueles que usam mascaras como sugere 0 titulo, © povo "embarca" em promessas e conseqilentemente vota errado, ponto para a argumentacdo é utilizar-se de acontecimentos histéricos concretos de autoridades eleitas durante todo 0 percurso da politica no Brasil que foram corruptos, agiram em beneficio préprio ¢ ndo de uma coletividade, ete ou mesmo de argumentos recentes que esto na midia, De forma clara, este fragmento "As pessoas ... os trabalhadores." Representa 0 discurso popular, fragmentado da midia, "revela um autor acritico, preso a lugares- comuns imerso num universo conceitual muito pobre" (Plato & Fiorim 1997). O acréscimo para fundamentar os argumentos neste fragmento seria 0 questionamento, também com provas concretas da politica brasileira. Por que nao ha uma politica digna que beneficie o povo? Quais os interesses que impedem isso? Qual o papel do trabalho diante da politica atual? Qual o papel dos sindicatos? Ete. Contudo, sempre é preciso dclimitar ¢ selecionar os argumentos que sio mais importantes para o texto e, sem diivida, é 0 professor que deve despertar no aluno estas reflexdes. As generalizagdes nfo tém aqui o apoio de dados consistentes (Platdo ¢ Fiorin, 1997). Como a inferéncia sé pode partir da interpretagdo que 0 ouvinte faz do que o falante deseja ou pretende comunicar, é na findamentagdo em provas concretas e fatos comprobatérios, exemplos especificos, que este poderé negociar sentidos e compartilhar informagdes. Na escrita, & preciso explicitar partes das inferéncias no nivel de superficie, transformando-as em constituintes lingtisticos e contribuindo para fornecer informagdes © argumentos que ficam implicitos no discurso, 4. Consideragées finais ESTUDOS LINGUISTICS, Sto Paulo, 97 (2) 47-59, malo-ago, 2008 © conhecimento das teorias lingiisticas, sobretudo da pragmética, da lingdistica textual e da sociolingiifstica interacional, ¢ crucial para mediar o processo de leitura e produgio de texto em sala de aula. O professor precisa ainda atualizar-se sempre, € fomecer aos alunos leituras que também possam ampliar seu conhecimento para além do senso comum, pois s6 assim o aluno teré condigdes de iniciat bem a produgao escrita, ¢ paulatinamente sanar as deficiéncias lingtiisticas e argumentativas. A partir dessa etapa, a obtengio de informagdes necessarias para a construgdo do texto pode ser realizada com mais propriedade. Por isso, 0 questionamento aqui proposto pode tem. bons resultados se o professor tiver conhecimentos necessérios para auxiliar 0 aluno na ampliagdo do que fica inferido no texto escrito, principalmente por causa da falta de leitura. Trazer as inferéncias necessérias para a estrutura de superficie ajuda na completude do texto, na coeréncia que o texto deve ter e € um trabalho que o professor pode realizar através de correcdo participativa das produgdes no proceso de reescrita so the permitird intervir no dominio da microestrutural textual, propiciando assim o avesso ao dominio da argumentacdo e da escrita ‘Referéncias Bibliograficas BAKHTIN, M. (1992). Estética da criagdo verbal. Séo Paulo: Martins Fontes BRANDAO, H. N. (2000). Texto, Género do Discurso ¢ Ensino. In: Géneros do discurso na Escola. BRANDAO, H. N. (Org.), Sao Paulo: Editora Cortez BRASIL. (1999) Ministério da Educagao. Secretaria de Educagdo Média Tecnoligica, Pardmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, Brasilia: MEC GUMPERZ, JJ. (2002), Convengdes de Contextualizagao. In Sociolingtistica Interacional, RIBEIRO, B. T. & GARCEZ, P. M. (Orgs.), Sdo Paulo: Edigdes Loyola KOCH, I. V. (2003). O Texto ¢ a Construgdo dos Sentidos. So Paulo: Contexto MARCUSCIIL, L. A. (2005). Novas perspectivas para o ensino da linguagem. Plendria 2, IIL SIGET, 17 a 19 de agosto de 2005, UFSM, RS. PECORA, A. (1989), Problemas de Redacdo: Sio Paulo: Martins Fontes PLATAO, F. S. & FIORIN, ILL. (1997). Ligdes de Texto: leitura e redado, Sio Paulo: Atica SOBRAL, A.U. (2005). Géneros textuais ou tipos de textualizagdo? Comunicagao apresentada ao III SIGET, 17 a 19 de agosto de 2005, UFSM, RS. ESTUDOS LINGUISTICOS, Sao Paulo, 2 (247-59, maio-ago, 2008 8

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