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Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais

Fundamentos e Aplicações da Estatı́stica


Mestrado em Estatı́stica
Universidade do Minho
Ano Lectivo 2016/2017

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.

É frequente estarmos interessados em associar aos resultados de uma


experiência aleatória uma ou mais caracterı́sticas numéricas.

Por exemplo, na experiência aleatória que consiste em lançar dois


dados equilibrados, podemos estar interessados em estudar:
o número de faces par obtidas;
a soma das faces obtidas;
a diferença entre as faces obtidas;
etc...

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.

Se quisermos estudar apenas uma caracterı́stica numérica,


matematicamente isto é formalizado através de uma função que a cada
elemento do espaço amostral, ω ∈ Ω, faz corresponder um número real,
ie, uma função
X: Ω → R
ω → X(ω)
em que Ω é o espaço de resultados da experiência aleatória.

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Exemplo: Suponhamos que estamos interessados em estudar o
número de faces par obtidas no lançamento dos dois dados. Neste
caso, o espaço de resultados da experiência é

Ω = {(x1 , x2 ) : xi ∈ {1, 2, 3, 4, 5, 6}, i ∈ {1, 2}}

e a função X é dada por

X((1, 1)) = X((1, 3)) = X((1, 5)) = ((3, 1)) = X((3, 3)) =

= X((3, 5)) = X((5, 1)) = X((5, 3)) = X((5, 5)) = 0;

X((2, 2)) = X((2, 4)) = X((2, 6)) = X((4, 2)) = X((4, 4)) =
= X((4, 6)) = X((6, 2)) = X((6, 4)) = X((6, 6)) = 2

e X(ω) = 1 para os restantes elementos de Ω.


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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.

Se quisermos estudar, em simultâneo, k caracterı́sticas numéricas, com


k ∈ N fixo, somos conduzidos a uma função vectorial

X : Ω → Rk
ω → (X1 (ω), X2 (ω), . . . , Xk (ω)).

Neste capı́tulo vamos estudar apenas o caso unidimensional (k = 1).

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Os acontecimentos, cujas probabilidades nos interessa calcular,
passam agora a ser expressos através de subconjuntos reais que são
elementos de B(R).

No exemplo anterior, o acontecimento ”não saiu qualquer face par” é


definido do seguinte modo:

X −1 ({0}) ≡ {ω ∈ Ω : X(ω) = 0}
= {(1, 1), (1, 3), (1, 5), (3, 1), (3, 3), (3, 5), (5, 1), (5, 3), (5, 5)}.

O acontecimento ”saiu pelo menos uma face par” é definido por

X −1 ({1, 2}) ≡ {ω ∈ Ω : X(ω) ∈ {1, 2}}


= {(1, 2), (1, 4), (1, 6), (2, 1), (2, 2), (2, 3), (2, 4), (2, 5), (2, 6),
(3, 2), (3, 4), (3, 6), (4, 1), (4, 2), (4, 3), (4, 4), (4, 5), (4, 6),
(5, 2), (5, 4), (5, 6), (6, 1), (6, 1), (6, 3), (6, 4), (6, 5), (6, 6)}.

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.

Para simplificar a notação, os acontecimentos anteriores podem ser


abreviados por ”X = 0” e ”X ∈ {1, 2}”, respectivamente, ie,

X −1 ({0}) ≡ (X = 0)

e
X −1 ({1, 2}) ≡ (X ∈ {1, 2}).

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.

Para simplificar a notação, os acontecimentos anteriores podem ser


abreviados por ”X = 0” e ”X ∈ {1, 2}”, respectivamente, ie,

X −1 ({0}) ≡ (X = 0)

e
X −1 ({1, 2}) ≡ (X ∈ {1, 2}).

Observe que na descrição destes dois acontecimentos foram usados


subconjuntos reais que são elementos de B(R): {0} no primeiro caso,
{1, 2} no segundo caso.

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
De uma forma geral, estaremos interessados em calcular
probabilidades de acontecimentos da forma
X −1 (E) ≡ {ω ∈ Ω : X(ω) ∈ E} ≡ (X ∈ E),
em que E é um subconjunto real que pertence a B(R).

Observe que é necessário garantir que estes acontecimentos são


elementos de A, a σ-álgebra associada ao espaço de resultados Ω, de
modo a que a sua probabilidade esteja bem definida.

Assim, sendo (Ω, A, P) o espaço de probabilidade associado à


experiência aleatória, a função X deverá ser tal que
para todo o E ∈ B(R), X −1 (E) ∈ A,
de modo a que
P(X ∈ E) ≡ P(X −1 (E)) ≡ P({ω ∈ Ω : X(ω) ∈ E})
esteja bem definida para todo o E ∈ B(R).
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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Definition
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma função.
X diz-se uma variável aleatória real (v.a.r.) se

para todo o E ∈ B(R), X −1 (E) ∈ A.

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Definition
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma função.
X diz-se uma variável aleatória real (v.a.r.) se

para todo o E ∈ B(R), X −1 (E) ∈ A.

É difı́cil provar, usando a definição, que uma certa função é uma v.a.r..
Na prática, recorremos a resultados mais simples para verificar se uma
certa função é uma v.a.r.. Em particular, o teorema seguinte é muito útil.
Theorem
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma função.
X é uma v.a.r. sse

para todo o c ∈ R, X −1 ( ] − ∞, c] ) ∈ A.
[Sem demonstração]
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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Exemplos: 1) Considere a experiência aleatória que consiste em lançar
uma moeda equilibrada. O espaço de probabilidade associado é
(Ω, P(Ω), P), em que Ω = {cara , coroa} e P é a medida de probabilidade
de Laplace. Vamos provar, usando o último teorema, que a função
X : Ω → R definida por X(cara) = 1 e X(coroa) = 0 é uma v.a.r..
Seja c ∈ R qualquer. Tem-se,

 ∅ se c<0
−1
X ( ] − ∞, c] ) = {coroa} se 0 ≤ c < 1 .
Ω se c≥1

Como ∅ ∈ P(Ω), {coroa} ∈ P(Ω) e Ω ∈ P(Ω), podemos afirmar que,


para todo o c ∈ R, X −1 ( ] − ∞, c] ) ∈ P(Ω), ficando assim provado que X
é uma v.a.r..
O acontecimento ”saiu uma cara” corresponde a X −1 ({1}), ou
simplesmente ”X=1”, e a sua probabilidade é
1
P(X −1 ({1})) ≡ P(X = 1) = P({cara}) = .
2
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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Exemplos: 2) Sejam (Ω, A, P) o espaço de probabilidade associado a
uma certa experiência aleatória e B um acontecimento (ie, B ∈ A).
Vamos provar que a função indicatriz do conjunto B, ie, a função
1B : Ω → R definida por 1B (ω) = 1, se ω ∈ B, e 1B (ω) = 0, se ω ∈ B, é
uma v.a.r..
Seja c ∈ R qualquer. Tem-se,

 ∅ se c<0
−1
1B ( ] − ∞, c] ) = B se 0 ≤ c < 1 .
Ω se c≥1

Como ∅ ∈ A, B ∈ A (porque B ∈ A) e Ω ∈ A, podemos afirmar que,


para todo o c ∈ R, 1−1
B ( ] − ∞, c] ) ∈ A, ficando assim provado que 1B é
uma v.a.r..
O acontecimento ”1B = 0” corresponde a não se ter obtido um elemento
do conjunto B na realização desta experiência aleatória e a sua
probabilidade é dada por
P(1B = 0) ≡ P( 1−1
B ({0}) ) = P( B ) = 1 − P(B).
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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.

Definition
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma v.a.r..
Chamamos σ-álgebra gerada por X à seguinte famı́lia de subconjuntos
de Ω
X −1 (B(R)) = {X −1 (B), B ∈ B(R)}.

Observe que, por definição de v.a.r., X −1 (B(R)) ⊆ A. É fácil mostrar que


X −1 (B(R)) é uma σ-álgebra sobre Ω [ver ex. 11.(b) da Folha Prática 1].

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1. Definição e Exemplos. Considerações gerais.
Na prática temos muitas vezes que lidar com uma função de uma v.a.r..
A questão que se coloca é em que condições é que a composição de
uma função real de variável real com uma v.a.r. resulta ainda numa
v.a.r..

Theorem
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade, X : Ω → R uma v.a.r. e
g : R → R. Se g é uma função contı́nua então g(X) também é uma v.a.r..
[Sem demonstração]

Exemplos: Se X é uma v.a.r. então


X 2 é uma v.a.r.;
eX é uma v.a.r.;
|X| é uma v.a.r..
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2. Lei de probabilidade e função de distribuição.
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma v.a.r..
Tem-se o seguinte diagrama:
X
Ω −→ R

P X −1
[0,1] ←− X −1 (B(R)) ←− B(R)

Definition
A aplicação PX : B(R) → [0, 1] definida por PX = P ◦ X −1 , ie,

PX (B) = P[X −1 (B)] ≡ P[X ∈ B], B ∈ B(R),

é designada de lei de probabilidade da v.a.r. X.

Observação: É fácil mostrar que PX é uma medida de probabilidade


sobre (R, B(R)) [ver ex.2 da Folha Prática 3].
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2. Lei de probabilidade e função de distribuição.
Definition
A função FX : R → [0, 1] definida por: para c ∈ R,

FX (c) = PX ( ] − ∞, c] ) = P( X −1 ( ] − ∞, c] ) ) ≡ P(X ∈] − ∞, c]) ≡ P(X ≤ c),

é designada de função de distribuição da v.a.r. X ou função de


distribuição da lei de probabilidade PX .

Observação: [V. IMP.] Como π(R) = { ] − ∞, c], c ∈ R} é um π-sistema


tal que σ(π(R)) = B(R), a lei de probabilidade da v.a.r. X, PX , fica
caracterizada pela respectiva função de distribuição FX (recordar Lema
enunciado no final do Capı́tulo I). Assim, se uma outra v.a.r. Y tiver a
mesma função de distribuição que a v.a.r. X, então a lei de
probabilidade de Y coincide com a lei de probabilidade de X, ie,
para todo o B ∈ B(R), PX (B) = PY (B).
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2. Lei de probabilidade e função de distribuição.

Exemplo: Voltemos à experiência que consiste em lançar uma moeda


equilibrada. O espaço de probabilidade é (Ω, P(Ω), P), em que
Ω = {cara, coroa} e P é a medida de Laplace.

A função de distribuição da v.a.r. X : Ω → R, definida por X(cara) = 1 e


X(coroa) = 0, é dada por

c ∈ R, FX (c) = P[X ≤ c] ≡ P[ X −1 ( ] − ∞, c] ) ]

 P(∅) se c<0
= P({coroa}) se 0 ≤ c < 1
P(Ω) se c≥1


 0 se c<0
1
= se 0 ≤ c<1 .
 2
1 se c≥1

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2. Lei de probabilidade e função de distribuição.
Propriedades de uma função de distribuição:
Sejam (Ω, A, P) um espaço de probabilidade, X : Ω → R uma v.a.r. e F a
função de distribuição de X. F tem as seguintes propriedades:
i) F é monótona não-decrescente;
ii) F é contı́nua à direita;
iii) lim F(c) = 1 e lim F(c) = 0;
c→+∞ c→−∞
iv) Para todo o a, b ∈ R, com a < b, tem-se

PX ( ]a, b] ) ≡ P(a < X ≤ b) = F(b) − F(a)

em que PX é a lei de probabilidade da v.a.r. X;


v) F é contı́nua em x0 ∈ R sse PX ({x0 }) ≡ P(X = x0 ) = 0;
vi) F tem, quando muito, uma infinidade numerável de pontos de
descontinuidade.
[Demonstração de ii), v) e vi) - Ver livro de Lopes & Gonçalves].
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3. Variáveis Aleatórias Reais Discretas
3.1 Definição. Função de Probabilidade.

No que se segue, (Ω, A, P) é um espaço de probabilidade, X : Ω → R é


uma v.a.r. e PX representa a lei de probabilidade de X.

Definition
Se existe um subconjunto real D ∈ B(R) finito ou infinito numerável tal
que PX (D) ≡ P(X ∈ D) = 1, diz-se que X é uma v.a.r. discreta e que PX
é uma lei de probabilidade discreta.
O menor subconjunto real D ∈ B(R) que verifica a condição PX (D) = 1 é
designado de contradomı́nio ou suporte da v.a.r. X e denotado por CX .

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3.1 Definição. Função de Probabilidade.
Theorem
Se PX é uma lei de probabilidade discreta então o contradomı́nio de X é
o conjunto de pontos de descontinuidade da respectiva função de
distribuição.
[Demonstração] Ver livro de Lopes & Gonçalves.

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3.1 Definição. Função de Probabilidade.
Theorem
Se PX é uma lei de probabilidade discreta então o contradomı́nio de X é
o conjunto de pontos de descontinuidade da respectiva função de
distribuição.
[Demonstração] Ver livro de Lopes & Gonçalves.
Theorem
Seja X uma v.a.r. discreta de contradomı́nio CX . A lei de probabilidade
PX é caracterizada por uma função f : R → [0, 1] definida por

PX ({a}) ≡ P(X = a) se a ∈ CX
f (a) = .
0 se c.c.

[Demonstração] Ver livro de Lopes & Gonçalves.


À função f referida neste último teorema chamamos função de
probabilidade da v.a.r. X ou função de probabilidade da lei PX . Também
é habitual adoptar a designação função massa de probabilidade.
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3.1 Definição. Função de Probabilidade.
Observação: Uma vez conhecida a função de probabilidade, f , da v.a.r.
X com contradomı́nio CX = {a1 , a2 , . . . , an , . . .}, com
a1 < a2 < . . . < an < . . ., a função de distribuição de X obtém-se do
seguinte modo:

c ∈ R, FX (c) = PX ( ] − ∞, c] ) ≡ P(X ≤ c)


 0 se c < a1
f (a1 ) se a1 ≤ c < a2




f (a1 ) + f (a2 ) se a2 ≤ c < a3



= ..

 .
f (a ) + f (a ) + . . . + f (an ) se an ≤ c < an+1



 1 2

 ..
.

X
= f (ai )
ai ∈CX : ai ≤c

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3.1 Definição. Função de Probabilidade.

Observe ainda que, se X é uma v.a.r. discreta, de contradomı́nio CX e


função de probabilidade f , então

1 qualquer que seja E ∈ B(R), tem-se


X
PX (E) ≡ P(X ∈ E) = f (a);
T
a∈(E CX )

2 da definição de CX , resulta que


X
f (a) = 1.
a∈CX

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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas
Nesta secção vamos estudar algumas leis de probabilidade discretas
que são frequentemente utilizadas em situações reais.

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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas
Nesta secção vamos estudar algumas leis de probabilidade discretas
que são frequentemente utilizadas em situações reais.

I) Lei de Bernoulli de parâmetro p, p ∈]0, 1[:


Seja (Ω, F, P) um espaço de probabilidade e A ∈ F tal que P(A) = p. Já
vimos que a função X : Ω → R definida por

0 se w ∈ /A
X(w) =
1 se w ∈ A
é uma v.a.r. e a sua lei de probabilidade PX é tal que PX ({1}) = p e
PX ({0}) = 1 − p. Como p ∈]0, 1[, temos que CX = {0, 1}, pelo que X é
uma v.a.r. discreta. A função de probabilidade de X é dada por

 p se a=1
f (a) = 1 − p se a=0 .
0 se a ∈/ {0, 1}

Nestas condições, diz-se que a v.a.r. X segue a lei de Bernoulli com


parâmetro p, e abrevia-se por X ∼ Bernoulli(p).
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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas
II) Lei Binomial de parâmetros n e p, com n ∈ N, p ∈]0, 1[:
Seja (Ω, F, P) o espaço de probabilidade associado a uma certa
experiência aleatória, ξ, e seja S um acontecimento que, numa
realização da experiência ξ, ocorre com probabilidade p, i.e., S ∈ F tal
que P(S) = p.
Seja agora X a v.a.r. que representa o número de vezes que o
acontecimento S ocorre em n repetições independentes da experiência
ξ. Tem-se que X é uma v.a.r. discreta de contradomı́nio
CX = {0, 1, . . . , n} e função de probabilidade dada por
 n k n−k se k ∈ {0, 1, . . . , n}
f (k) = k p (1 − p) .
0 se c.c.
Nestas condições, diz-se que a v.a.r. X segue a lei Binomial com
parâmetros n e p, e abrevia-se por X ∼ Bin(n, p).

Notas: 1) Observe que a lei Bernoulli(p) coincide com a lei Bin(1, p).
2) O acontecimento S é usualmente designado de ”sucesso”.
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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas
III) Lei Hipergeométrica de parâmetros N, M e n:
Considere uma caixa que tem N elementos, dos quais M, com
0 ≤ M ≤ N possuem um certo atributo A, i.e., M elementos têm o tal
atributo e N − M elementos não o têm.
Considere a experiência aleatória que consiste em recolher uma
amostra, sem reposição, de n elementos retirados da caixa e seja X a
v.a.r. que representa o número de elementos da amostra que possuem
o atributo A. Tem-se que X é uma v.a.r. discreta, de contradomı́nio
CX = {max(0, n − (N − M)), . . . , min(n, M)} e função de probabilidade
 M N−M
( )( )
 k Nn−k se k ∈ CX


(n)
f (k) = .


 0 se c.c.
Nestas condições, diz-se que X segue a lei Hipergeométrica de
parâmetros N, M e n, e abrevia-se por X ∼ HG(N, M, n).
Nota: Se a amostra é feita com reposição, tem-se que X ∼ Bin n, M

N .
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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas
IV) Lei de Poisson com parâmetro λ, com λ ∈ R+ :
Seja (Xn )n∈N uma sucessão de v.a.r.’s, todas definidas sobre o mesmo
espaço de probabilidade (Ω, A, P), e tal que Xn ∼ Bin(n, pn ), com
lim npn = λ com λ ∈ R+ .
n→∞
Nestas condições, temos que
lim pn = 0
n→∞
e, para todo o k ∈ N,
n

P(Xn = k) k pkn (1 − pn )n−k n − k + 1 pn λ
= n
= → .
P(Xn = k − 1) pk−1 1 − pn

k−1 n (1 − pn )n−k+1 k k
Isto permite-nos concluir que, para n suficientemente grande, a função
de probabilidade da v.a.r. Xn comporta-se como a de uma v.a.r.
discreta, Y, de contradomı́nio CY = N0 , e tal que
λ
P(Y = k) = P(Y = k − 1) , k ∈ N.
k
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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas
Trabalhando esta última igualdade, concluimos que
λ λ2 λk
P(Y = k) = P(Y = k − 1) = P(Y = k − 2) = . . . = P(Y = 0).
k k(k − 1) k!
Como CY = N0 , temos
+∞ +∞ k
X X λ
1= P(Y = k)⇔1 = P(Y = 0)⇔1 = P(Y = 0)eλ ⇔P(Y = 0) = e−λ .
k!
k=0 k=0

λk −λ
Concluimos assim que, para todo o k ∈ N0 , P(Y = k) = k! e e que a
função de probabilidade de Y é dada por
 λk
 k! e−λ se k ∈ N0
f (k) = .
se c.c.

0
Nestas condições, diz-se que Y segue a lei de Poisson de parâmetro λ,
e abrevia-se por Y ∼ Poisson(λ).
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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas

Nota: A lei de Poisson é adequada para modelar o número de


ocorrências de um fenómeno raro (i.e. um fenómeno que tem baixa
probabilidade de ocorrência) quando não limitamos o número de
repetições da experiência aleatória. Em particular, a lei de Poisson é
usada para obter um valor aproximado para a função de probabilidade
de uma v.a.r. Z ∼ Bin(n, p) quando n é grande e p é pequeno. O
parâmetro λ a utilizar na aproximação será igual a n × p.

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3.2 Leis de Probabilidade Discretas Mais Conhecidas

V) Lei Uniforme num conjunto finito U:

Seja U = {u1 , u2 , . . . , un } um subconjunto real finito, com n elementos.


Diz-se que uma v.a.r. X tem lei Uniforme no conjunto U, abrevia-se por
X ∼ Uniforme(U), se a função de probabilidade é dada por
 1
 n se x ∈ U
f (x) = .
0 se c.c.

Nota: Esta lei é utilizada sempre que se escolhe ao acaso um elemento


do conjunto U e os elementos têm igual probabilidade de serem
escolhidos.

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4. Variáveis aleatórias reais (absolutamente)
contı́nuas
4.1 Leis Difusas

Definition
Seja (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma v.a.r..
X diz-se difusa se a sua lei de probabilidade, PX , é uma lei de
probabilidade difusa sobre (R, B(R)), i.e.,

PX ({a}) ≡ P(X = a) = 0, para todo o a ∈ R.

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4. Variáveis aleatórias reais (absolutamente)
contı́nuas
4.1 Leis Difusas

Definition
Seja (Ω, A, P) um espaço de probabilidade e X : Ω → R uma v.a.r..
X diz-se difusa se a sua lei de probabilidade, PX , é uma lei de
probabilidade difusa sobre (R, B(R)), i.e.,

PX ({a}) ≡ P(X = a) = 0, para todo o a ∈ R.

No conjunto das leis difusas sobre (R, B(R)) existe um subconjunto


particularmente importante que é o que vamos estudar mais
detalhadamente - é o subconjunto das leis de probabilidade
absolutamente contı́nuas. Estas leis caracterizam-se à custa de uma
função real de variável real, designada de função densidade de
probabilidade.
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4.2 Leis absolutamente contı́nuas

Definition
Uma função f : R → R diz-se uma função densidade de probabilidade
sobre R se:
f (x) ≥ 0, para todo o x ∈ R;
R +∞
f é integrável e −∞ f (x)dx = 1.

Exemplos: Exercı́cio 1, Folha Prática 4.

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4.2 Leis absolutamente contı́nuas
Definition
Uma v.a.r. X diz-se absolutamente contı́nua se a sua lei de
probabilidade, PX , é uma lei absolutamente contı́nua sobre (R, B(R)), ie,
se existir uma função densidade de probabilidade sobre R, f , tal que
Z b
PX ( ]a, b[ ) ≡ P( X ∈]a, b[ ) = f (x)dx, para todo o a, b ∈ R, a < b.
a

À função f chamamos função densidade de probabilidade da v.a.r. X (ou


da lei de probabilidade PX ). Ao menor elemento de B(R) onde a função
f é estritamente positiva chamamos suporte ou contradomı́nio de X.

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4.2 Leis absolutamente contı́nuas
Definition
Uma v.a.r. X diz-se absolutamente contı́nua se a sua lei de
probabilidade, PX , é uma lei absolutamente contı́nua sobre (R, B(R)), ie,
se existir uma função densidade de probabilidade sobre R, f , tal que
Z b
PX ( ]a, b[ ) ≡ P( X ∈]a, b[ ) = f (x)dx, para todo o a, b ∈ R, a < b.
a

À função f chamamos função densidade de probabilidade da v.a.r. X (ou


da lei de probabilidade PX ). Ao menor elemento de B(R) onde a função
f é estritamente positiva chamamos suporte ou contradomı́nio de X.
Observação: Uma função densidade de probabilidade sobre R
determina uma única lei de probabilidade, Q, sobre (R, B(R))
absolutamente contı́nua que verifica a condição
Z b
Q( ]a, b[ ) = f (x)dx, para todo o a, b ∈ R, a < b.
a
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4.2 Leis absolutamente contı́nuas
Theorem
Se Q é uma lei de probabilidade sobre (R, B(R)) absolutamente
contı́nua então Q é difusa.

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4.2 Leis absolutamente contı́nuas
Theorem
Se Q é uma lei de probabilidade sobre (R, B(R)) absolutamente
contı́nua então Q é difusa.
[Demonstração]: Pretende-se mostrar que Q({a}) = 0, para todo o
a ∈ R. Seja f a função densidade de probabilidade de Q. Observe que
 
1 1
{a} = ∩ a − , a + .
n∈N n n
Tem-se que
  Z a+ 1
1 1 n
Q({a}) = lim Q a − ,a + = lim f (x)dx = 0.
n→∞ n n n→∞ a− 1
n

A primeira igualdade deve-se ao facto de Q ser uma medida de


probabilidade sobre (R, B(R)) e faz uso de uma das suas propriedades.
A segunda igualdade deve-se ao facto de Q ser uma lei absolutamente
contı́nua com função densidade de probabilidade f .
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
4.2 Leis absolutamente contı́nuas

Observação: Deste último teorema resulta que, se X é uma v.a.r.


absolutamente contı́nua com função densidade de probabilidade, f ,
então a respectiva lei, PX , satisfaz o seguinte: para todo a, b ∈ R, a < b,
Z b
PX ( ]a, b[ ) = PX ( [a, b[ ) = PX ( ]a, b] ) = PX ( [a, b] ) = f (x)dx,
a

i.e.,
Z b
P( X ∈ ]a, b[ ) = P( X ∈ [a, b[ ) = P( X ∈ ]a, b] ) = P( X ∈ [a, b] ) = f (x)dx.
a

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas

Theorem
Uma condição necessária e suficiente para que uma v.a.r. X seja
absolutamente contı́nua é que a sua função de distribuição, FX ,
verifique a seguinte condição
Z c
para todo o c ∈ R, FX (c) = PX ( ] − ∞, c] ) ≡ P(X ≤ c) = f (x)dx,
−∞

para alguma função densidade de probabilidade f .


[Demonstração]
(⇒) Suponhamos que X é uma v.a.r. absolutamente contı́nua. Então
existe f , uma função densidade de probabilidade sobre R, tal que
Z b
PX ( ]a, b[ ) ≡ P( a < X < b ) = f (x)dx, para todo o a, b ∈ R , a < b.
a

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas

Então, para todo o c ∈ R,

 
FX (c) = PX (] − ∞, c]) = PX (] − ∞, c[) = PX ∪ ] − n, c[
n∈N
= lim PX (] − n, c[)
n→∞
Z c
= lim f (x)dx
n→∞ −n
Z c
= f (x)dx.
−∞

Observe que a segunda igualdade deve-se ao facto de PX ser uma lei


difusa; a penúltima igualdade deve-se ao facto de X ser absolutamente
contı́nua com função densidade de probabilidade f e a última igualdade
deve-se ao facto de f ser integrável.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas

(⇐) Suponhamos agora que X é uma v.a.r. cuja função de distribuição,


FX , é dada por
Z c
FX (c) = f (x)dx, para todo o c ∈ R,
−∞

para alguma função densidade de probabilidade f . Se provarmos que


Z b
PX ( ]a, b[ ) ≡ P( a < X < b ) = f (x)dx, para todo o a, b ∈ R,
a

fica demonstrado que X é uma v.a.r. absolutamente contı́nua. Para


provar isto, basta mostrar as seguintes igualdades:
Rb
i) PX ( ]a, b] ) = a f (x)dx,
ii) PX ({b}) = 0.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas
Ora
Z b Z a Z b
PX (]a, b]) = FX (b) − FX (a) = f (x)dx − f (x)dx = f (x)dx,
−∞ −∞ a

ficando assim provado i). Mais

 
1 1
PX ({b}) = PX ∩ b − ,b +
n∈N n n
 
1 1
= lim PX b − ,b +
n→∞ n n
Z b+ 1
n
= lim f (x)dx
n→∞ b− 1
n
= 0,

ficando assim provado ii).


Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
4.2 Leis absolutamente contı́nuas
O último teorema caracteriza as v.a.r.’s absolutamente contı́nuas e
diz-nos como obter a função de distribuição à custa da função
densidade de probabilidade.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas
O último teorema caracteriza as v.a.r.’s absolutamente contı́nuas e
diz-nos como obter a função de distribuição à custa da função
densidade de probabilidade.

A questão que agora se coloca é como obter a função densidade de


probailidade, f , à custa da função de distribuição, F.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas
O último teorema caracteriza as v.a.r.’s absolutamente contı́nuas e
diz-nos como obter a função de distribuição à custa da função
densidade de probabilidade.

A questão que agora se coloca é como obter a função densidade de


probailidade, f , à custa da função de distribuição, F.

É possı́vel mostrar [ver Lopes & Gonçalves] que a função de


distribuição de uma v.a.r. absolutamente contı́nua é uma função
diferenciável excepto, quando muito, num subconjunto infinito
numerável de R.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas
O último teorema caracteriza as v.a.r.’s absolutamente contı́nuas e
diz-nos como obter a função de distribuição à custa da função
densidade de probabilidade.

A questão que agora se coloca é como obter a função densidade de


probailidade, f , à custa da função de distribuição, F.

É possı́vel mostrar [ver Lopes & Gonçalves] que a função de


distribuição de uma v.a.r. absolutamente contı́nua é uma função
diferenciável excepto, quando muito, num subconjunto infinito
numerável de R. Mais, é possı́vel concluir que:
1 Se F 0 é contı́nua então f (x) = F 0 (x), para todo o x ∈ R.
2 Se F 0 é contı́nua excepto, quando muito, num subconjunto infinito
numerável D ⊂ R, e se F 0 é limitada então
f (x) = F 0 (x), para todo o x ∈ R \ D.
Neste último caso, para os pontos x ∈ D convenciona-se f (x) = 0.
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
4.2 Leis absolutamente contı́nuas

Na verdade, podemos atribuir um qualquer valor não negativo à função


f no conjunto D. Uma vez que D é, quando muito, infinito numerável,
teremos PX (D) = 0 qualquer que seja o valor atribuı́do a f (x) em pontos
x ∈ D. Deste modo, podem existir várias funções densidade de
probabilidade para uma mesma v.a.r. X absolutamente contı́nua.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.2 Leis absolutamente contı́nuas

Na verdade, podemos atribuir um qualquer valor não negativo à função


f no conjunto D. Uma vez que D é, quando muito, infinito numerável,
teremos PX (D) = 0 qualquer que seja o valor atribuı́do a f (x) em pontos
x ∈ D. Deste modo, podem existir várias funções densidade de
probabilidade para uma mesma v.a.r. X absolutamente contı́nua.

Nota: As funções de distribuição F de v.a.r.’s absolutamente contı́nuas


que vamos estudar nesta disciplina serão sempre de um dos tipos 1) ou
2) atrás descritos.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
Nesta secção vamos estudar algumas leis de probabilidade
absolutamente contı́nuas que são frequentemente utilizadas na prática.
I) Lei Uniforme no intervalo [a, b], a, b ∈ R, a < b:
Diz-se que uma v.a.r. absolutamente contı́nua, X, segue a lei Uniforme
no intervalo [a, b], abrevia-se por X ∼ U([a, b]), se a função densidade
de probabilidade de X é dada por
 1
f (x) = b−a se a ≤ x ≤ b .
0 se c.c.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
Nesta secção vamos estudar algumas leis de probabilidade
absolutamente contı́nuas que são frequentemente utilizadas na prática.
I) Lei Uniforme no intervalo [a, b], a, b ∈ R, a < b:
Diz-se que uma v.a.r. absolutamente contı́nua, X, segue a lei Uniforme
no intervalo [a, b], abrevia-se por X ∼ U([a, b]), se a função densidade
de probabilidade de X é dada por
 1
f (x) = b−a se a ≤ x ≤ b .
0 se c.c.

Esta lei atribui a mesma probabilidade a intervalos de igual amplitude


contidos em [a, b]. De facto, se ]c, d[ ⊆ [a, b] tem-se que
d  d
d−c
Z
x amplitude de [c, d]
P( X ∈ ]c, d[ ) = f (x)dx = = = .
c b−a c b−a b−a

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
Se X ∼ U([a, b]) então a respectiva função de distribuição é dada por

Z c  0 se c<a
c−a
F(c) = PX (] − ∞, c]) = f (x)dx = se a ≤ c≤b .
−∞  b−a
1 se c > b.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
Se X ∼ U([a, b]) então a respectiva função de distribuição é dada por

Z c  0 se c<a
c−a
F(c) = PX (] − ∞, c]) = f (x)dx = se a ≤ c≤b .
−∞  b−a
1 se c > b.
Uma das utilizações mais importantes da lei uniforme surge no
chamado teorema da transformação uniformizante, que diz o seguinte:
Theorem
Seja X uma v.a.r. cuja função de distribuição, G, é estritamente
crescente e contı́nua. Então a v.a.r. Y = G(X) segue a lei U([0, 1]).
[Demonstração] A função de distribuição de Y, FY , é dada por:

 0 se c<0
FY (c) = P(G(X) ≤ c) = P(X ≤ G−1 (c)) = G(G−1 (c)) = c se 0 ≤ c ≤ 1
1 se c>1

que coincide com a função de distribuição da lei U([0, 1]).


Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
II) Lei Normal (ou Gaussiana) de parâmetros m e σ 2 , m ∈ R e σ ∈ R+ :
Diz-se que uma v.a.r. absolutamente contı́nua, X, segue a lei Normal de
parâmetros m e σ 2 , abrevia-se por X ∼ N(m, σ 2 ), se a função densidade
de probabilidade de X for dada por
(  )
1 x−m 2

1
f (x) = √ exp − , x ∈ R.
σ 2π 2 σ

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
II) Lei Normal (ou Gaussiana) de parâmetros m e σ 2 , m ∈ R e σ ∈ R+ :
Diz-se que uma v.a.r. absolutamente contı́nua, X, segue a lei Normal de
parâmetros m e σ 2 , abrevia-se por X ∼ N(m, σ 2 ), se a função densidade
de probabilidade de X for dada por
(  )
1 x−m 2

1
f (x) = √ exp − , x ∈ R.
σ 2π 2 σ

Nota: A lei N(0, 1) é designada de lei normal standard ou lei normal


centrada e reduzida.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
II) Lei Normal (ou Gaussiana) de parâmetros m e σ 2 , m ∈ R e σ ∈ R+ :
Diz-se que uma v.a.r. absolutamente contı́nua, X, segue a lei Normal de
parâmetros m e σ 2 , abrevia-se por X ∼ N(m, σ 2 ), se a função densidade
de probabilidade de X for dada por
(  )
1 x−m 2

1
f (x) = √ exp − , x ∈ R.
σ 2π 2 σ

Nota: A lei N(0, 1) é designada de lei normal standard ou lei normal


centrada e reduzida.
A lei Normal tem várias propriedades interessantes. Vamos começar
por provar que a função f acima é realmente uma função densidade de
probabilidade sobre R, i.e., que f (x) ≥ 0 (trivial) e que
Z +∞
f (x)dx = 1.
−∞

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
Vamos começar por considerar a função
 
1 1 2
g(x) = √ exp − x , x ∈ R
2π 2
R +∞
e provar que I = −∞ g(x)dx = 1. Como g(x) > 0, ∀x ∈ R, se provarmos
que I 2 = 1 teremos que a única possibilidade é I = 1. De facto:
Z +∞ Z +∞
2
I = g(x)dx × g(y)dy
−∞ −∞
Z +∞ Z +∞  
1 1 2 2
= exp − (x + y ) dx dy
−∞ −∞ 2π 2
Z +∞ Z 2π   Z +∞  
(∗) 1 1 2 r 1 2
= exp − r r dθdr = exp − r dr[θ]2π
0
0 0 2π 2 0 2π 2
Z +∞     +∞
1 1
= r exp − r2 dr = − exp − r2 = 1.
0 2 2 0

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas

A igualdade assinalada por (∗) deve-se à chamada substituição em


coordenadas polares: 
x = r cos(θ)
,
y = r sin(θ)
com θ ∈ [0, 2π] e r ≥ 0. Observe que a matriz jacobiana associada a
esta substituição é dada por
" # 
∂x ∂y 
∂r ∂r cos(θ) sin(θ)
J = ∂x ∂y =
∂θ ∂θ
−r sin(θ) r cos(θ)

e o seu determinante

det(J) = r cos2 (θ) + r sin2 (θ) = r.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas

R +∞
Voltemos agora ao cálculo de −∞ f (x)dx.
(  )
+∞ +∞
1 x−m 2
Z Z 
1
f (x)dx = √ exp − dx
−∞ −∞ σ 2π 2 σ
Z +∞  
(∗∗) 1 1 2
= √ exp − y σdy
−∞ σ 2π 2
= I = 1.
x−m
(∗∗)substituição: y = σ .

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas
Algumas propriedades da lei Normal:
Sejam m ∈ R e σ ∈ R+ .
X−m
1) Se X ∼ N(m, σ 2 ) então σ ∼ N(0, 1).
2) Se Y ∼ N(0, 1) então σY + m ∼ N(m, σ 2 ).
3) A lei N(0, σ 2 ) é simétrica relativamente à origem, i.e., se X ∼ N(0, σ 2 )
então

P(X ∈ [a, b]) = P(X ∈ [−b, −a]), para todo o a, b ∈ R, a < b.

4) A lei N(m, σ 2 ) é simétrica relativamente a m, i.e., se X ∼ N(m, σ 2 )


então

P(X ∈ [m + a, m + b]) = P(X ∈ [m − b, m − a]), para todo o a, b ∈ R, a < b.

As propriedades 3) e 4) são, obviamente, consequências das simetrias


das respectivas funções densidade de probabilidade.
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
4.3 Leis de probabilidade contı́nuas mais conhecidas

Observação: A função de distribuição da lei N(m, σ 2 ), dada por


(  )
1 x−m 2
Z c 
1
F(c) = √ exp − dx,
−∞ σ 2π 2 σ

não tem uma expressão analı́tica. No entanto, para cada c ∈ R, é


possı́vel obter uma aproximação de F(c) recorrendo a métodos
numéricos. O resultado dessa aproximação está disponı́vel no software
R através da função pnorm. Assim, para
√ obter um valor aproximado de
F(c) devemos executar pnorm(c, m, σ 2 ).

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


5. Variáveis aleatórias reais com lei mista

Observação: Na secção anterior, estudamos pormenorizadamente as


leis difusas que são absolutamente contı́nuas (i.e., que são
caracterizadas através de uma função densidade de probabilidade
sobre R). No entanto, existem leis difusas que não são absolutamente
contı́nuas. Essas leis são designadas de leis singulares. Um exemplo
de uma lei de probabilidade singular é a lei de probabilidade de Cantor
[ver Lopes & Gonçalves].

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


5. Variáveis aleatórias reais com lei mista

Observação: Na secção anterior, estudamos pormenorizadamente as


leis difusas que são absolutamente contı́nuas (i.e., que são
caracterizadas através de uma função densidade de probabilidade
sobre R). No entanto, existem leis difusas que não são absolutamente
contı́nuas. Essas leis são designadas de leis singulares. Um exemplo
de uma lei de probabilidade singular é a lei de probabilidade de Cantor
[ver Lopes & Gonçalves].

Nesta secção, vamos estudar as leis de probabilidade mistas ou de


mistura: leis de probabilidade sobre (R, B(R)) que não são nem
discretas nem difusas.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


5. Variáveis aleatórias reais com lei mista
Theorem
Seja H uma lei de probabilidade sobre (R, B(R)) nem discreta nem
difusa. Então existem α ∈ (0, 1), uma lei de probabilidade discreta, H1 , e
uma lei de probabilidade difusa, H2 , tais que

H = αH1 + (1 − α)H2 .

Além disso, esta decomposição de H é única.


[Demonstração] Ver Lopes & Gonçalves

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


5. Variáveis aleatórias reais com lei mista
Theorem
Seja H uma lei de probabilidade sobre (R, B(R)) nem discreta nem
difusa. Então existem α ∈ (0, 1), uma lei de probabilidade discreta, H1 , e
uma lei de probabilidade difusa, H2 , tais que

H = αH1 + (1 − α)H2 .

Além disso, esta decomposição de H é única.


[Demonstração] Ver Lopes & Gonçalves
Exemplo: Seja X a v.a.r. que representa a quantidade de chuva (em
metros cúbicos) que cai numa certa região do paı́s num dia escolhido
ao acaso. Sabe-se que, num dia escolhido ao acaso, a probabilidade de
não chover é 1/3, i.e. P(X = 0) = 1/3. Sabe-se ainda que, quando
chove, a quantidade de chuva segue a lei Exp(1), i.e.,
P(X ≤ c|X > 0) = 1 − e−c , c > 0.
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
5. Variáveis aleatórias reais com lei mista
Observe que função de distribuição de X é dada por:

0, c<0 
0, c<0

1
F(c) = P(X ≤ c) = , c=0 = 1 2 −c ), c ≥ 0
 1 2 3 −c 3 + 3 (1 − e
3 + 3 (1 − e ), c > 0

que pode ser escrita na forma

F(c) = αF1 (c) + (1 − α)F2 (c),


1
com α = 3 e
 
0, c < 0 0, c<0
F1 (c) = e F2 (c) = .
1, c ≥ 0 1 − e−c , c ≥ 0

Note que F1 é função de distribuição de uma lei de probabilidade


discreta e F2 é função de distribuição de uma lei de probabilidade
absolutamente contı́nua (e, consequentemente, difusa).
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
6. Parâmetros de localização e dispersão

Os parâmetros de localização e dispersão não caracterizam as leis de


probabilidade a que estão associadas (como acontece, por exemplo,
com a função de distribuição, com a função de probabilidade (no caso
discreto) ou com a função densidade de probabilidade (no caso
contı́nuo)).

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6. Parâmetros de localização e dispersão

Os parâmetros de localização e dispersão não caracterizam as leis de


probabilidade a que estão associadas (como acontece, por exemplo,
com a função de distribuição, com a função de probabilidade (no caso
discreto) ou com a função densidade de probabilidade (no caso
contı́nuo)).

No entanto, estes parâmetros fornecem informação importante sobre


algumas caracterı́sticas relativas aos valores que a v.a.r. assume,
nomeadamente: a sua localização na recta real, a sua dispersão
relativamente a algum valor central (em geral a média), etc.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática
Definition
Seja X uma v.a.r. definida sobre o espaço de probabilidade (Ω, A, P).
i) Se X é discreta de contradomı́nio CX = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .} e se
X
|xi |P(X = xi ) < +∞,
xi ∈CX

define-se a esperança matemática (ou valor médio) de X,


denota-se por E[X], como sendo
X
E[X] = xi P(X = xi ).
xi ∈CX
X
Se |xi |P(X = xi ) = +∞
xi ∈CX

diz-se que X não tem esperança matemática (ou que E[X] não
existe).
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
6. 1 Esperança matemática
Definition
ii) Se X é absolutamente contı́nua com função densidade de
probabilidade f e se
Z +∞
|x|f (x)dx < +∞,
−∞

define-se a esperança matemática (ou valor médio) de X,


denota-se por E[X], como sendo
Z +∞
E[X] = xf (x)dx.
−∞
Z +∞
Se
|x|f (x)dx = +∞
−∞

diz-se que X não tem esperança matemática (ou que E[X] não
existe).
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
6.1 Esperança matemática

Observações:
1) Se X é uma v.a.r. discreta de contradomı́nio finito então X tem
esperança matemática. Se contradomı́nio de X é infinito numerável
então E[X] pode não existir.
Exemplo: Considere a v.a.r. X, com CX = Z \ {0} e tal que

1
P(X = n) = P(X = −n) = , n ∈ Z \ {0}.
2n(n + 1)

X não tem esperança matemática pois


+∞ +∞ X 1 +∞
X X X n
|n|P(X = n) = 2 nP(X = n) = 2 = = +∞.
2n(n + 1) n+1
n∈Z\{0} n=1 n=1 n=1

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática

2) Se X é uma v.a.r. absolutamente contı́nua, E[X] também pode não


existir.
Exemplo: Considere uma v.a.r. X, absolutamente contı́nua, com
função densidade de probabilidade

1 1
f (x) = , x ∈ R,
π 1 + x2
conhecida por densidade de Cauchy.
E[X] não existe pois
Z +∞ Z +∞
1 1 1 +∞
|x|f (x)dx = 2 x 2
dx = log(1 + x2 ) 0 = +∞.
−∞ 0 π1+x (1) π

Observação: (1) a função log utilizada é a função logaritmo neperiano.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática

Exemplos/Exercı́cios Folha Prática 5:


1) Determine, caso exista, a esperança matemática
i) das v.a.r.’s discretas, indicadas nos exercı́cios 3 (a) e 4 da Folha
Prática 3;
ii) das v.a.r.’s absolutamente contı́nuas, indicadas nos exercı́cios 3 e 5
da Folha Prática 4.
2) Mostre que
i) se X ∼ Bin(n, p), com n ∈ N e p ∈]0, 1[, então E[X] = np;
ii) se X ∼ Poisson(λ), com λ ∈ R+ , então E[X] = λ;
iii) se X ∼ N(m, σ 2 ), com m ∈ R e σ ∈ R+ , então E[X] = m.

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6.1 Esperança matemática
Vejamos agora em que condições existe a esperança matemática de
uma função de uma v.a.r. e, em caso afirmativo, como determiná-la.
Definition
Sejam X uma v.a.r. e φ : D ⊆ R → R tal que φ(X) é uma v.a.r..
i) Se X é discreta, de contradomı́nio CX = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .}, e se
X
|φ(xi )|P(X = xi ) < +∞,
xi ∈CX

diz-se que E[φ(X)] existe e


X
E[X] = φ(xi )P(X = xi ).
xi ∈CX

Se
X
|φ(xi )|P(X = xi ) = +∞
xi ∈CX

diz-se que E[φ(X)] não existe.


Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
6.1 Esperança matemática

Definition
ii) Se X é absolutamente contı́nua, com função densidade de
probabilidade f , e se
Z +∞
|φ(x)|f (x)dx < +∞,
−∞

diz-se que E[φ(X)] existe e


Z +∞
E[φ(X)] = φ(x)f (x)dx.
−∞

Se Z +∞
|φ(x)|f (x)dx = +∞
−∞

diz-se que E[φ(X)] não existe.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática

Exemplos/Exercı́cios Folha Prática 5:


1
1) Seja X ∼ Poisson(λ). Averigue se a v.a.r. Y = 1+X tem esperança
matemática e, em caso afirmativo, determine E[Y].

2) Sejam X ∼ Exp(1) uma v.a.r. e φ : R → R a função dada por

1 − e−x se x ≥ 0

φ(x) = .
0 se x < 0

Averigue se a v.a.r. Y = φ(X) tem esperança matemática e, em


caso afirmativo, determine E[Y].

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática

Exemplos/Exercı́cios Folha Prática 5:


1
1) Seja X ∼ Poisson(λ). Averigue se a v.a.r. Y = 1+X tem esperança
matemática e, em caso afirmativo, determine E[Y].

2) Sejam X ∼ Exp(1) uma v.a.r. e φ : R → R a função dada por

1 − e−x se x ≥ 0

φ(x) = .
0 se x < 0

Averigue se a v.a.r. Y = φ(X) tem esperança matemática e, em


caso afirmativo, determine E[Y].

Observação: Recorde que, se X é um v.a.r. e φ : R → R é uma função


contı́nua, então φ(X) também é uma v.a.r..

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática

Propriedades da esperança matemática:

Sejam X uma v.a.r. e φ : R → R uma função tal que E[φ(X)] existe.

I) E[aφ(X) + b] = aE[φ(x)] + b, quaisquer que sejam a, b ∈ R.


Observe que, como consequência deste resultado, tem-se que

E[aX + b] = aE[X] + b

quando E[X] existe.


[Demonstração] Vamos fazer apenas para o caso discreto. Em
casa, fazer para o caso em que X é v.a.r. absolutamente contı́nua.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática
Propriedades da esperança matemática (continuação):
Seja X uma v.a.r. discreta de contradomı́nio CX = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .}.
Então:
X
E[|aφ(X) + b|] = |aφ(xi ) + b|P(X = xi )
xi ∈CX
X X
≤ |aφ(xi )|P(X = xi ) + |b|P(X = xi )
xi ∈CX xi ∈CX
= |a|E[|φ(X)|] + |b| < +∞

Concluimos assim que E[aφ(X) + b] existe. Vamos agora calculá-la.


X
E[aφ(X) + b] = [aφ(xi ) + b]P(X = xi )
xi ∈CX
X X
= aφ(xi )P(X = xi ) + bP(X = xi )
xi ∈CX xi ∈CX
= aE[φ(X)] + b

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.1 Esperança matemática

Propriedades da esperança matemática (continuação):

II) |E[φ(X)]| ≤ E[|φ(X)|].


[Demonstração] Vamos fazer apenas para o caso discreto. Em casa,
fazer para o caso em que X é v.a.r. absolutamente contı́nua.

X
|E[φ(X)]| = | φ(xi )P(X = xi ) |
xi ∈CX
X
≤ |φ(xi )|P(X = xi )
xi ∈CX
= E[|φ(X)|]

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Os momentos de uma v.a.r. são definidos à custa da esperança


matemática de determinadas funções da v.a.r. em causa. Estas
funções são contı́nuas e a sua composição com uma v.a.r. discreta
(respectivamente, contı́nua) resulta ainda numa v.a.r. discreta
(respectivamente, contı́nua).

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Os momentos de uma v.a.r. são definidos à custa da esperança


matemática de determinadas funções da v.a.r. em causa. Estas
funções são contı́nuas e a sua composição com uma v.a.r. discreta
(respectivamente, contı́nua) resulta ainda numa v.a.r. discreta
(respectivamente, contı́nua).

Definition
Sejam X uma v.a.r. e k ∈ N. Se E[X k ] existe, chamamos momento de
ordem k ao valor de E[X k ].
Caso E[X k ] não exista diz-se que X não tem momento de ordem k.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Propriedades dos momentos de uma v.a.r.:


Seja X uma qualquer variável aleatória real.

I) Se E[X k ] existe então E[X n ] existe, para todo o n ≤ k, n, k ∈ N.


II) Seja k ∈ N. E[X k ] existe sse E[(X − a)k ] existe, para todo o a ∈ R.

[Demonstração] Ver Lopes & Gonçalves

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Definition
Seja X uma v.a.r. tal que E[X] existe e seja k ∈ N. Chama-se momento
centrado de ordem k, denota-se por µk , a

µk = E[(X − E[X])k ]

quando µk existe.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Definition
Seja X uma v.a.r. tal que E[X] existe e seja k ∈ N. Chama-se momento
centrado de ordem k, denota-se por µk , a

µk = E[(X − E[X])k ]

quando µk existe.
Nota: µ1 = E[X − E[X]] = E[X] − E[E[X]] = E[X] − E[X] = 0.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Definition
Seja X uma v.a.r.. Chama-se variância de X, denota-se por Var[X], ao
momento centrado de ordem 2 quando existe, i.e.,

Var[X] = E[(X − E[X])2 ].

Chama-se desvio-padrão de X, denota-se por σX , a


p
σX = Var[X].

Var[X] e σX são parâmetros utilizados para medir a dispersão dos


valores de X relativamente ao parâmetro de localização E[X].

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real
Propriedades da variância: Seja X uma v.a.r..
I) E[X 2 ] existe sse E[X] e Var[X] existem.
[Demonstração] TPC [Ver Lopes & Gonçalves]

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real
Propriedades da variância: Seja X uma v.a.r..
I) E[X 2 ] existe sse E[X] e Var[X] existem.
[Demonstração] TPC [Ver Lopes & Gonçalves]

II) Var[X] = 0 sse X é uma v.a.r. quase certa, i.e., existe a ∈ R tal que
P(X = a) = 1.
[Demonstração] TPC [Ver Lopes & Gonçalves]

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real
Propriedades da variância: Seja X uma v.a.r..
I) E[X 2 ] existe sse E[X] e Var[X] existem.
[Demonstração] TPC [Ver Lopes & Gonçalves]

II) Var[X] = 0 sse X é uma v.a.r. quase certa, i.e., existe a ∈ R tal que
P(X = a) = 1.
[Demonstração] TPC [Ver Lopes & Gonçalves]

III) Se E[X 2 ] existe então Var[X] = E[X 2 ] − (E[X])2 .


[Demonstração] É consequência directa da linearidade da
esperança matemática.
Var[X] = E[(X − E[X])2 ] = E[X 2 − 2XE[X] + (E[X])2 ]
= E[X 2 ] − 2E[X]E[X] + (E[X])2
= E[X 2 ] − (E[X])2

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.2 Momentos de uma variável aleatória real
Propriedades da variância (continuação):
IV) Se X admite momento de ordem 2 então
Var[aX + b] = a2 Var[X], ∀a, b ∈ R.
[Demonstração] Comecemos por mostrar que Var[aX + b] existe.
Para isso, basta mostrar que aX + b tem momento de 2a ordem.
Usando a linearidade da esperança matemática e o facto de E[X 2 ]
existir, tem-se que
E[|(aX+b)2 |] = E[|a2 X 2 +2abX+b2 |] ≤ a2 E[|X|2 ]+2|ab|E[|X|]+b2 < +∞,
e concluimos assim que Var[aX + b] existe. Vamos agora calculá-la.
Var[aX + b] = E[(aX + b − E[aX + b])2 ] = E[(aX + b − aE[X] − b)2 ]
= E[(a(X − E[X]))2 ) = E[a2 (X − E[X])2 ]
= a2 E[(X − E[X])2 ]
= a2 Var[X]
Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais
6.2 Momentos de uma variável aleatória real

Exemplos/Exercı́cios Folha Prática 5:


1) Determine, caso exista, a variância
i) das v.a.r.’s discretas, indicadas nos exercı́cios 3 (a) e 4 da Folha
Prática 3;
ii) das v.a.r.’s absolutamente contı́nuas, indicadas nos exercı́cios 3 e 5
da Folha Prática 4.
2) Mostre que
i) se X ∼ Bin(n, p), com n ∈ N e p ∈]0, 1[, então Var[X] = np(1 − p);
ii) se X ∼ Poisson(λ), com λ ∈ R+ , então Var[X] = λ;
iii) se X ∼ N(m, σ 2 ), com m ∈ R e σ ∈ R+ , então Var[X] = σ 2 .

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

Definition
Sejam X uma v.a.r., com função de distribuição F, e p ∈]0, 1[. Define-se
quantil de ordem p, denota-se por χp , a

χp = min{x ∈ R : F(x) ≥ p}.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

Definition
Sejam X uma v.a.r., com função de distribuição F, e p ∈]0, 1[. Define-se
quantil de ordem p, denota-se por χp , a

χp = min{x ∈ R : F(x) ≥ p}.

Observações:
1) Se X é uma v.a.r. absolutamente contı́nua, tem-se que χp = F −1 (p).

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

Definition
Sejam X uma v.a.r., com função de distribuição F, e p ∈]0, 1[. Define-se
quantil de ordem p, denota-se por χp , a

χp = min{x ∈ R : F(x) ≥ p}.

Observações:
1) Se X é uma v.a.r. absolutamente contı́nua, tem-se que χp = F −1 (p).
2) O quantil de ordem p pode ser visto, grosso modo, como o ponto
que divide a lei de probabilidade de X em duas partes disjuntas: a
uma é atribuı́da peso p (a inferior a χp ) e à outra é atribuı́da peso
1 − p (a superior a χp ).
Quando X é absolutamente contı́nua, essa divisão é exacta, i.e.,

P(X < χp ) = p e P(X > χp ) = 1 − p.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

3) Para p = 0.5, o quantil é também designado de mediana.


Grosso modo, a mediana divide a lei da v.a.r. em 2 partes de igual
peso: 0.5 cada uma.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

3) Para p = 0.5, o quantil é também designado de mediana.


Grosso modo, a mediana divide a lei da v.a.r. em 2 partes de igual
peso: 0.5 cada uma.
4) Os quantis χ1/4 , χ2/4 = χ1/2 e χ3/4 são designados de quartis,
sendo χ1/4 o 1o quartil, χ2/4 o 2o quartil e χ3/4 o 3o quartil.
Grosso modo, os quartis dividem a lei da v.a.r. em 4 partes de igual
peso: 0.25 cada uma.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

3) Para p = 0.5, o quantil é também designado de mediana.


Grosso modo, a mediana divide a lei da v.a.r. em 2 partes de igual
peso: 0.5 cada uma.
4) Os quantis χ1/4 , χ2/4 = χ1/2 e χ3/4 são designados de quartis,
sendo χ1/4 o 1o quartil, χ2/4 o 2o quartil e χ3/4 o 3o quartil.
Grosso modo, os quartis dividem a lei da v.a.r. em 4 partes de igual
peso: 0.25 cada uma.
5) Fazendo p = i/10, com i ∈ {1, 2, . . . , 9}, obtemos os decis.
Grosso modo, os decis dividem a lei da v.a.r. em 10 partes de igual
peso: 0.1 cada uma.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais


6.3 Quantis de uma variável aleatória real

3) Para p = 0.5, o quantil é também designado de mediana.


Grosso modo, a mediana divide a lei da v.a.r. em 2 partes de igual
peso: 0.5 cada uma.
4) Os quantis χ1/4 , χ2/4 = χ1/2 e χ3/4 são designados de quartis,
sendo χ1/4 o 1o quartil, χ2/4 o 2o quartil e χ3/4 o 3o quartil.
Grosso modo, os quartis dividem a lei da v.a.r. em 4 partes de igual
peso: 0.25 cada uma.
5) Fazendo p = i/10, com i ∈ {1, 2, . . . , 9}, obtemos os decis.
Grosso modo, os decis dividem a lei da v.a.r. em 10 partes de igual
peso: 0.1 cada uma.
6) Fazendo p = i/100, com i ∈ {1, 2, . . . , 99}, obtemos os percentis.
Grosso modo, os percentis dividem a lei da v.a.r. em 100 partes de
igual peso: 0.01 cada uma.

Capı́tulo II: Variáveis Aleatórias Reais

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