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Blockchain e algumas de suas aplicações na economia brasileira

Blockchain (Block + chain): Literalmente, cadeia de blocos.Blockchain pode ser definido


como um livro-razão (tradução livre de ‘ledger’), digital, incorruptível, imutável e
facilmente auditável. Sua tecnologia pode ser, simplificadamente, resumida em 4 “Cs”:
Criptografia, Compartilhamento, Consenso e Contrato1. A criptografia garante a
segurança da informação registrada, por meio de codificação de chave dupla, de forma
que a informação registrada seja compreensível apenas para as partes envolvidas na
transação, ou seja, não há necessidade de qualquer intermediário. O compartilhamento
é próprio da forma de registro das transações, baseadas no consenso entre as inúmeras
cópias da corrente detidas por todos os seus participantes. Todo o processo ocorre
dentro de normas preestabelecidas e universais a todos os participantes, uma espécie
de contrato que possibilita previsibilidade e fornece balizas para os usuários. O consenso
manifesta-se por meio da assinatura privada de cada usuários, enquanto o contrato
corresponde aos smart contracts, melhor explicados adiante.
Nos últimos anos, o Blockchain tem adquirido confiança e reconhecimento sobre sua
relevância para o mercado, já sendo utilizado, inclusive, por grandes corporações,
instituições financeiras e até mesmo órgãos governamentais. Exemplos de suas
aplicações, ainda em estado inicial, vão desde o controle de produtos dentro de cadeias
produtivas globais até o registro de transações/contratos envolvendo partes instaladas
em diferentes localidades. Versatilidade, eficiência, baixo custo, anonimato e,
principalmente, segurança são os principais atrativos do Blockchain.
No Brasil, embora a utilização da tecnologia do Blockchain ainda não esteja totalmente
difundida, é possível encontrar iniciativas bastante promissoras, como, por exemplo, o
bCPF2, pela Secretaria da Receita Federal – “SRF”. A título ilustrativo, em 2018, a SRF
editou norma sobre compartilhamento de dados por meio de uso do Blockchain. A partir
da edição desta norma, os dados do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) encontram-se
disponibilizados a todos os órgãos de governo por meio de Blockchain. Trata-se de uma
solução G2G (Government to Government) que simplifica o processo de disponibilização
da base de dados de CPF, de forma mais segura, integrada e eficiente. A partir dessa
experiência, o Conselho de Justiça Federal (CJF) também está desenvolvendo convênios
para a realização de seus convênios de trocas de informação entre órgãos da
administração pública, por meio da tecnologia Blockchain. Ainda nesse sentido,
recentemente, foi firmada parceria entre a Comissão de Valores Mobiliários – CVM e o
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio – ITS Rio, parceria acadêmica e técnica para
a construção de um Cadastro Único de Investidores no Brasil por meio do Blockchain3.

1
LIMA, M. S. de. Blockchain: ponto a ponto. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI272450,41046-Blockchain+ponto+a+ponto
2
http://receita.economia.gov.br/noticias/ascom/2018/novembro/receita-federal-publica-norma-sobre-
compartilhamento-de-dados-utilizando-tecnologia-blockchain
3
http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2018/20181123-1.html
No âmbito do setor privado, atualmente as aplicações de Blockchain têm se concentrado
criptomoedas nos chamados “smart contracts, que consistem em contratos em que a
execução é automatizada por meio de comandos (cláusulas) if-then, ou seja, caso
determinada situação se verifique (p. ex. entrega da mercadoria), então tal comando
será executado automaticamente (p. ex: pagamento será efetuado). Esses contratos são
projetados para garantir o seu desempenho de forma segura para todas as partes, vez
que são auto executáveis, ou seja, dispensam a intervenção humana para o seu
cumprimento, além de reduzir custos com registro e publicidade, contratação de
garantidores e, até mesmo, com processos judiciais, na medida em que se sabe que dada
determinada condição, a ação prevista no contrato será imediata e automaticamente
realizada.
Outro exemplo interessante que merece ser aqui destacado é a utilização do Blockchain,
por algumas empresas brasileiras, para a gestão e monitoramento do descarte de lixo,
trazendo economias consideráveis, em termos de transparência, controle e
compartilhamento de informações e processos. Todo registro da informação é feito em
Blockchain, o que garante a transparência de todo o processo. Além de tudo, as
empresas também podem controlar quem acessa as informações, bem como selecionar
quais dados querem compartilhar.
Definitivamente, sendo o Blockchain um mecanismo que proporciona confiabilidade e
segurança às Criptomoedas, permitindo a sua comercialização, ainda não recebe a
mesma atenção das moedas em si. Contudo, o Blockchain se mostra uma ferramenta de
cost efficiency e compliance extremamente relevante, com potencial de incrementar os
atuais sistemas de registro e compartilhamento de informações a níveis de eficiência
nunca antes vistos. Talvez seu maior trunfo seja a segurança, gerada por seu modelo
livro-razão digital imutável, a partir de um registro descentralizado, que elimina
intermediários em distintas formas de trocas ou transações, conferindo segurança e
transparência de forma descentralizada e anônima. Como toda tecnologia disruptiva,
aqueles que se prepararem a tempo poderão avançar muito na modelagem de seus
negócios e, por conseguinte, incrementar seus lucros de modo exponencial.

Fabio Baum e Rodrigo Petriz Luz

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