Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/362824128
CITATIONS READS
2 981
1 author:
Philip Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
888 PUBLICATIONS 35,333 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
AcreQueimadas - Incêndios florestais e queimadas no Estado do Acre: análise da extensão, nível de degradação e cenários futuros View project
All content following this page was uploaded by Philip Fearnside on 20 August 2022.
FEARNSIDE
FLORESTA
PHILIP M.
AMAZÔNICA
PHILIP M. FEARNSIDE
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO DA
FLORESTA AMAZÔNICA
PHILIP M. FEARNSIDE
1ª edição
Manaus
2022
ISBN 978-85-211-0193-2
356 p. : il. color.
CDD 634.9811
5
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 5 8/18/2022 3:12:53 PM
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 6 8/18/2022 3:12:54 PM
CAPÍTULO
1
Desmatamento na Amazônia brasileira:
História, índices e consequências
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
Av. André Araújo, 2936, Manaus, Amazonas, Brasil. CEP: 69.067-375.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2005. Deforestation in Brazilian Amazonia: History, rates and consequences.
Conservation Biology 19(3): 680-688. https://doi.org/10.1111/j.1523-1739.2005.00697.x
Tradução original:
Fearnside, P.M. 2005. Desmatamento na Amazônia brasileira: História, índices e consequências.
Megadiversidade 1(4): 113-123. http://www.conservation.org.br/publicacoes/megadiversida-
de/16_Fearnside.pdf
7
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 7 8/18/2022 3:13:00 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
8 DA FLORESTA AMAZÔNICA
FIGURA 1.
Desmatamento na
Amazônia brasileira.
Para o desmatamento
acumulado, a parte
preta de cada
barra representa o
desmatamento anterior
a 1970. Dados do INPE
(2018), exceto o ano
de 1978 (Fearnside,
1993b).
do fogo e, por fim, destruição total da flo- que em uma floresta não explorada (Nepstad
resta. O que começou como um desmata- et al., 2004).
mento não detectado conduz a um estrago Nas florestas da Amazônia, o fogo se
detectável como desmatamento nas imagens espalha como uma linha de chamas de mo-
de satélite Landsat (Cochrane et al., 1999; vimento lento no sub-bosque. As bases de
Nepstad et al., 1999b). muitas árvores são queimadas à medida
A infraestrutura de transporte acelera a que o fogo se prolonga. As árvores da flo-
migração para áreas remotas e aumenta o resta amazônica não são adaptadas ao fogo
desmatamento de propriedades já estabele- e a mortalidade a partir de uma primeira
cidas. O programa Avança Brasil, um pacote queimada fornece o combustível e a aridez
de desenvolvimento para o período de 2000- necessários para fazer as queimadas subse-
2007, incluiu US$ 20 bilhões para infraestru- quentes muito mais desastrosas. A tempe-
tura na região da Amazônia (Laurance et al., ratura alcançada e a altura das chamas na
2001; Nepstad et al., 2001; Fearnside, 2002a), segunda queimada são, significativamente,
a maioria voltada à necessidade de transporte maiores que na primeira, matando muitas
de soja. As rodovias estão em péssimas con- outras árvores (Cochrane, 2003). Depois de
dições, particularmente, a BR-163 (Santarém- várias queimadas, a área fica devastada a
Cuiabá) e a BR-319 (Manaus-Porto Velho), ponto de aparecer como desmatamento nas
que possibilitam o acesso a grandes blocos imagens de satélite Landsat (Cochrane et al.,
1999; Nepstad et al., 1999b).
de floresta pouco alterada. O seu sucessor, o
Plano Plurianual (PPA) para 2004-2007, é pra- Durante o fenômeno El Niño, em 1997-
ticamente idêntico ao Avança Brasil. 1998, o grande incêndio de Roraima queimou
entre 11.394 e 13.928 km2 de floresta primá-
ria intacta (Barbosa & Fearnside, 1999), e as
O PAPEL DO CORTE SELETIVO E DO FOGO queimadas no arco do desmatamento tota-
NA PERDA DA FLORESTA lizaram mais 15 × 103 km2 (Nepstad et al.,
1999b; Cochrane, 2003). Uma queimada sig-
O corte seletivo aumenta consideravel- nificativa também ocorreu em áreas de corte
mente a vulnerabilidade da floresta ao fogo. seletivo próximo à Tailândia, no sul do Pará
Quando o fogo entra na floresta, ele mata as e em floresta no estado do Amazonas. No
árvores, aumenta a carga de combustível e sul do Pará, os danos do El Niño são maiores
seca o sub-bosque, elevando o risco de futu- devido a uma combinação de fatores: uma
ras queimadas e da completa degradação da estação seca mais duradoura que em outras
floresta. O impacto do corte de espécies de partes da Amazônia, a concentração da ati-
baixa densidade e comercialmente valiosas vidade de corte seletivo e a concentração de
é, frequentemente, subestimado. O proces- desmatamento e queimada associada para
so de corte seletivo resulta em um prejuízo favorecer a agricultura e a criação de gado.
de quase duas vezes o volume de árvores
que estão sendo removidas (Veríssimo et al.,
1992). Devido ao fato de muitas árvores me- OS IMPACTOS DO DESMATAMENTO
nores serem mortas, o efeito sobre os indiví-
duos é ainda maior. Próximo à Paragominas,
Perda de produtividade
no Pará, para cada árvore retirada, 27 outras A erosão e a compactação do solo e a
árvores foram mortas ou severamente preju- exaustão dos nutrientes estão entre os im-
dicadas (Veríssimo et al., 1992). As aberturas pactos mais óbvios do desmatamento. A pro-
no dossel permitem ao sol e ao vento atin- dutividade agrícola cai na medida em que a
girem o solo da floresta, resultando em mi- qualidade do solo piora, embora um patamar
croclimas mais secos. O número de dias sem mais baixo de produtividade possa ser man-
chuvas necessários para o sub-bosque atin- tido por sistemas tais como a alternância de
gir condições inflamáveis é muito menor em cultivo. A adição contínua de cal, adubo e
uma floresta afetada pelo corte seletivo do nutrientes pode conter a degradação, mas as
são frequentemente anunciadas simultanea- para estender o sistema para municípios se-
mente às conclusões anuais do programa de lecionados no Pará e em Rondônia.
monitoramento do INPE. O primeiro esforço Reforma política sobre impostos, crédi-
importante para reprimir o desmatamento tos e subsídios O principal problema para o
ocorreu em 1989, com o programa Nossa controle do desmatamento é que muito do
Natureza. Desde então, uma série de ações que precisa ser feito está fora do alcance das
punitivas tem sido mal sucedidas. Os índices agências responsáveis pelos assuntos am-
de desmatamento na região parecem aumen- bientais. O poder para mudar as leis tributá-
tar e diminuir independentemente desses rias e as políticas de crédito está com as ou-
programas. A repressão, ainda que indubi- tras agências governamentais, assim como
tavelmente necessária, precisa ser repensada as políticas de reassentamento, a construção
e as causas subjacentes devem ser tratadas. de estradas e as prioridades de desenvolvi-
Em 2000, surgiu a indicação de que o mento. Os subsídios de impostos para as fa-
Brasil teria capacidade de controlar o des- zendas de criação de gado, aprovados pela
matamento. Depois da proibição das quei- Superintendência para o Desenvolvimento
madas se tornar efetiva em julho, as ima- da Amazônia (SUDAM), foram uma impor-
gens do sensor AVHRR (Advanced Very tante força indutora do desmatamento nas
High Resolution Radiometer ou Radiômetro décadas de 1970 e 1980. A interrupção de
Avançado de Resolução Muito Alta), inter- novos subsídios, em 1991, não revogou
pretadas no INPE, indicaram uma queda de aqueles que já haviam sido concedidos.
mais de 80% nas queimadas. O desmatamen- Os projetos aprovados pela SUDAM davam
to também diminuiu por causa do programa isenção de imposto sobre a renda gerada e
permitiam que os proprietários investissem
de licenciamento e desmatamento, que esta-
em suas fazendas parte do imposto devido
va em vigor no Mato Grosso de 1999 a 2001,
de operações de lucro de quaisquer outros
apesar das mudanças posteriores no governo
lugares. A exclusão das fazendas, em 1991,
estadual que transformaram o programa de
não afetou outras atividades prejudiciais,
tal modo que não fazia mais efeito como um
tais como as serrarias e as fundições de fer-
impedimento ao desmatamento (Fearnside,
ro-gusa alimentadas por carvão vegetal. Os
2003b; Fearnside & Barbosa, 2003). subsídios de impostos remanescentes preci-
A redução das queimadas no Mato sam ser cortados.
Grosso foi alcançada por uma combinação Outra causa do desmatamento, mais pro-
de medidas. Um sistema de licenciamen- eminente nas décadas de 1970 e 1980 do
to foi instituído pela Fundação Estadual do que hoje, é a especulação de terra. O ganho
Meio Ambiente de Mato Grosso (FEMA), de capital da venda de uma propriedade de-
incluindo a impressão de imagens de saté- pois de possuí-la por poucos anos foi a fonte
lite mostrando os limites das propriedades e principal de lucro dos fazendeiros, quando
o desmatamento existente. As multas eram os preços da terra subiam mais rápido que a
emitidas juntamente com a imagem do sa- inflação. Embora os preços médios da terra
télite desestimulando, assim, argumentos e não estejam mais subindo nos índices vistos
tentativas de má interpretação da área real- antes da queda brusca da inflação, com o
mente devastada. As regiões do Mato Grosso Plano Real de 1994, as propriedades indivi-
com as maiores diminuições de queimadas duais podem ainda produzir lucros especu-
foram aquelas sujeitas a um treinamento es- lativos, principalmente, quando elas estão
pecial da comunidade e a programas educa- próximas a uma estrada recém-construída
cionais sobre o manejo do fogo pelo Grupo ou reformada. Impostos pesados deveriam
de Trabalho Amazônico e Amigos da Terra – ser aplicados para retirar o lucro provenien-
Amazônia Brasileira, com o apoio da FEMA te da especulação de terra, tanto para tirar
e do Programa de Prevenção e Controle a força especulativa remanescente em áreas
de Queimadas e Incêndios Florestais na favorecidas pela infraestrutura quanto para
Amazônia Legal. Foram anunciados planos fornecer proteção, caso algum dia, retornem
Cochrane, M.A., Alencar, A., Schulze, M.D., Souza Fearnside, P.M. 2001b. Saving tropical forests as a global
Jr., C.M., Nepstad, D.C., Lefebvre, P. & Davidson, warming countermeasure: an issue that divides the
E.A. 1999. Positive feedbacks in the fire dynamic environmental movement. Ecological Economics 39:
of closed canopy tropical forests. Science 284: 167-184.
1832-1835. Fearnside, P.M. 2001c. Soybean cultivation as a threat
to the environmental in Brazil. Environmental
Faminow, M.D. 1998. Cattle, Deforestation and
Conservation 28: 23-38.
Development in the Amazon: An Economic and
Environmental Perspective. CAB International, Nova Fearnside, P.M. 2001d. The potential of Brazil’s forest
York, E.U.A. sector for mitigating global warming under the Kyoto
Protocol. Mitigation and Adaptation Strategies for
Fearnside, P.M. 1987. Causes of deforestation in the Global Change 6: 355-372.
Brazilian Amazon. In: R.F. Dickinson (ed.). The
Geophysiology of Amazonia: Vegetation and Climate Fearnside, P.M. 2002a. Avança Brasil: environmental
Interactions. John Wiley & Sons, Nova York, E.U.A., and social consequences of Brazil’s planned
p. 37-61. infrastructure in Amazonia. Environmental
Management 30: 748-763.
Fearnside, P.M. 1993a. Deforestation in Brazilian
Amazonia: the effect of population and land tenure. Fearnside, P.M. 2002b. Can pasture intensification
Ambio 22: 537-545. discourage deforestation in the Amazon and
Pantanal regions of Brazil? In: C.H. Wood & R. Porro
Fearnside, P.M. 1993b. Desmatamento na Amazônia: (eds.). Deforestation and Land Use in the Amazon.
quem tem razão nos cálculos – o INPE ou a NASA? University Press of Florida, Gainesville, E.U.A., pp.
Ciência Hoje 16: 6-8. 283-364.
Fearnside, P.M. 2003a. Conservation policy in Brazilian Mahar, D.J. 1979. Frontier Development Policy in Brazil:
Amazonia: understanding the dilemmas. World A Study of Amazonia. Praeger, Nova York, E.U.A.
Development 31: 757-779.
Margulis, S. 2003. Causas do desmatamento na
Fearnside, P.M. 2003b. Deforestation control in Mato Amazônia brasileira. The World Bank, Brasília.
Grosso: A new model for slowing the loss of Brazil’s Disponível em: http://www.finefrint.com
Amazon forest. Ambio 32: 343-345.
Mattos, M.M. & Uhl, C. 1994. Economic and ecological
Fearnside, P.M. 2004. A água de São Paulo e a floresta perspectives on ranching in the eastern Amazon.
amazônica. Ciência Hoje 34: 63-65. World Development 22: 145-158.
Fearnside, P.M. 2005a. Deforestation in Brazilian MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). 2004. Brazil’s
Amazonia: History, rates and consequences. National Communication to the United Nations
Conservation Biology 19(3): 680-688. https://doi.
Framework Convention on Climate Change. General
org/10.1111/j.1523-1739.2005.00697.x
Coordination on Global Climate Change, MCT,
Fearnside, P.M. 2005b. Desmatamento na Amazônia Brasília, DF.
brasileira: História, índices e consequências.
Nepstad, D.C., Moreira, A.G. & Alencar, A.A. 1999a.
Megadiversidade 1(4): 113-123. http://www.
conservation.org.br/publicacoes/megadiversidade/16_ Flames in the rain forest: origins, impacts and
Fearnside.pdf alternatives to Amazonian fires. The World Bank,
Brasília, DF.
Fearnside, P.M. & Barbosa, R.I. 2003. Avoided
deforestation in Amazonia as a global warming Nepstad, D.C., Veríssimo, A., Alencar, A., Nobre, C.,
mitigation measure: the case of Mato Grosso. World Lima, E., Lefebvre, P., Schlesinger, P., Potter, C.,
Resource Review 15: 352-361. Moutinho, P., Mendoza, E., Cochrane, M. & Brooks,
V. 1999b. Large-scale impoverishment of Amazonian
Fearnside, P.M. & Barbosa, R.I. 2004. Accelerating forests by logging and fire. Nature 398: 505-508.
deforestation in Brazilian Amazonia: towards
answering open questions. Environmental Nepstad, D.C., Carvalho, G., Barros, A.C., Alencar, A.,
Conservation 31: 7-10. Capobianco, J.P., Bishop, J., Moutinho, P., Lefebvre,
P., Silva Jr., U.L. & Prins, E. 2001. Road paving, fire
Fearnside, P.M. & Laurance. W.F. 2004. Tropical
regime feedbacks, and the future of Amazon forests.
deforestation and greenhouse gas emissions.
Ecological Applications 14: 982-986. Forest Ecology and Management 154: 395-407.
Hecht, S.B., Norgaard, R.B. & Possio, C. 1988. The Nepstad, D.C., Lefebre, P., da Silva, U.L., Tomasella,
economics of cattle ranching in eastern Amazonia. J., Schlesinger, P., Solórzano, L., Moutinho, P., Ray,
Interciencia 13: 233-240. D. & Benito, J.G. 2004. Amazon drought and its
implications for forest flammability and tree growth:
Kaimowitz, D., Mertens, B., Wunder, S. & Pacheco, P. 2004. a basin-wide analysis. Global Change Biology 10:
Hamburger connection fuels Amazon destruction. 704-717.
Relatório técnico. Center for International Forest
Research, Bogor, Indonésia. Disponível em: http:// Nogueira, E.M., Nelson, B.W & Fearnside, P.M. 2005.
www.cifor.cgiar.org/publications/pdf_files/media/ Wood density in dense forest in central Amazonia,
Amazon.pdf Brazil. Forest Ecology and Management 208: 261-286.
Laurance, W.F., Cochrane, M.A., Bergen, S., Fearnside, Salati, E. & Vose, P.B. 1984. Amazon Basin: A system
P.M., Delamônica, P., Barber, C., Barber, C., in equilibrium. Science 225: 129-138.
D’Angelo, S. & Fernandes, T. 2001. The future of the
Brazilian Amazon. Science 291: 438-439. Santilli, M., Moutinho, P., Schwartzman, S., Nepstad, D.,
Curran, L.& Nobre, C. 2004. Tropical Deforestation
Lean, J., Bunton, C.B., Nobre, C.A. & Rowntree, and the Kyoto Protocol. Climate Change 71: 267–276.
P.R. 1996. The simulated impact of Amazonian
deforestation on climate using measured ABRACOS Veríssimo, A., Barreto, P., Mattos, M., Tarifa, R. &
vegetation characteristics. In: J.H.C. Gash, C.A. Uhl, C. 1992. Logging impacts and prospects for
Nobre, J.M. Roberts & R.L. Victoria (eds.). sustainable forest management in an old Amazonian
Amazonian Deforestation and Climate. Wiley, Frontier: the case of Paragominas. Forest Ecology and
Chichester, Reino Unido. p. 549-576. Management 55: 169-199.
2
Uso da terra na Amazônia e as mudanças
climáticas globais
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
Av. André Araújo, 2936, Manaus, Amazonas, Brasil. CEP: 69.067-375.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Publicação original:
Fearnside, P.M. 2007. Uso da terra na Amazônia e as mudanças climáticas globais. Brazilian
Journal of Ecology 10(2): 83-100.
21
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 21 8/18/2022 3:13:08 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
22 DA FLORESTA AMAZÔNICA
RESUMO INTRODUÇÃO
O uso da terra, e as mudanças no uso ao O uso da terra e as mudanças de uso da
longo tempo, na Amazônia, contribuem para terra na Amazônia afetam as mudanças cli-
as mudanças climáticas globais de distintas máticas globais de várias maneiras. Uma das
formas. No período 1981-1990, a emissão lí- consequências, o efeito estufa, recebe contri-
quida comprometida de gases causadores do buições de gases como gás carbônico (CO2),
efeito estufa na Amazônia brasileira corres- metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) libera-
ponde à 4% da emissão global de combustí- dos no desflorestamento, seja por queima,
veis fósseis e produção de cimento. Gases são ou pela decomposição da biomassa que não
liberados pelo desmatamento através da quei- queima. Apesar da emissão de gases por su-
ma e decomposição da biomassa, pelos solos, pressão vegetal ser amplamente conhecido,
pela exploração madeireira, pelas hidrelétri- o contínuo uso da terra, sem uma mudança
cas, pelo gado e pelas queimadas recorrentes
no tipo de uso (e.g. exploração madeireira
de pastagens e de capoeiras. Os incêndios flo-
na floresta, manejo das pastagens), também
restais também emitem gases, mas não foram
contribui para a emissão e fluxo de gases do
incluídos nos cálculos. A perda de um possí-
vel sumidouro de carbono no crescimento da efeito estufa.
floresta em pé também não está incluída. Além do efeito estufa, a conversão da
A “emissão líquida comprometida” repre- floresta amazônica em pastagens reduz a
senta o saldo líquido, durante um longo pe- evapotranspiração, sobretudo na época seca,
ríodo, das emissões e absorções de gases. O diminuindo o suprimento de água para a
principal gás utilizado para aferir o saldo é o atmosfera (Lean et al., 1996; Shukla et al.,
gás carbônico (CO2), uma vez que é liberado 1990). A água reciclada pela floresta amazô-
na queima, e absorvido no crescimento vege- nica mantém as chuvas na Amazônia e, tam-
tal. Gases traço, como metano (CH4) e óxido bém, no restante do Brasil (e.g., Eagleson,
nitroso (N2O), não entram na fotossíntese, e 1986; Salati & Vose, 1984; Fearnside, 2004a).
se acumulam na atmosfera mesmo quando a A falta de energia elétrica nas partes não
biomassa se recupera totalmente. Portanto, amazônicas do Brasil no “apagão” de 2001,
são menos utilizados (ou ausentes) no cálcu- embora provocada por condições meteoroló-
lo de emissão líquida comprometida. gicas de origem não amazônica, deve levar
Outras mudanças climáticas afetadas pelo a uma apreciação maior do valor do serviço
desmatamento incluem a diminuição de chu- ambiental da floresta em manter os padrões
vas devido à diminuição da reciclagem de de precipitação e, portanto, a geração de
água, sobretudo na época seca, alteram a quí- energia por hidrelétricas.
mica da atmosfera, afetando a formação de Outros fatores climáticos afetados pela
nuvens, e a química da atmosfera de diversas conversão da floresta em pastagens, incluem
maneiras além do efeito estufa. Essas profun- o aumento do albedo da superfície, ou seja, a
das alterações climáticas, junto com outras fração da radiação solar que é refletida (e.g.,
mudanças globais tais como a perda de bio-
Henderson-Sellers & Gornitz, 1984). A quei-
diversidade, fundamentam a adoção de uma
mada também lança grandes quantidades de
nova estratégia para sustentar a população da
aerossóis no ar, que alteram o balanço de ca-
região. Ao invés de destruir a floresta para po-
der produzir algum tipo de mercadoria, como lor e o estoque de núcleos de condensação
é o padrão atual, usariam a manutenção da de nuvens no ar. O excesso de núcleos de
floresta como gerador de fluxos monetários condensação resulta na formação de gotas
baseado nos serviços ambientais da floresta, de água que são pequenas demais para cair
ou seja, o valor de evitar os impactos que se em forma de chuva, diminuindo a precipi-
seguem da destruição da floresta. tação (Roberts et al., 2003). As queimadas
também liberam compostos quimicamente
PALAVRAS CHAVE: aquecimento global, car- ativos como N2O, óxidos de nitrogênio (NOx)
bono, desmatamento, efeito estufa, mudan- e monóxido de carbono(CO), diminuindo a
ça de clima, serviços ambientais taxa de remoção dos poluentes pela chuva
e pela reação com o radical hidroxilo (OH-). e nas paisagens desmatadas, e os estoques
Quando o ar contém altos teores de NOx e de carbono nos solos.
ozônio (O3), o mecanismo natural de limpeza
da atmosfera é atrapalhado, elevando o nível
de poluição. Enquanto que, na ausência de USO DA TERRA E O RÍTMO DAS MUDANÇAS
queimadas, o ar na Amazônia tem teores de Em 1990, o ano de referência dos inven-
NOx e O3 característicos do “ar limpo” sobre tários nacionais sob a Convenção Quadro das
os oceanos, e os radicais OH- combinam com Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UN-
o CH4 para formar água (H2O), limpando o FCCC), as mudanças de uso da terra nos 5 ×
metano do ar (Andreae et al., 2002; Kirkman 106 km2 da Amazônia Legal incluíram 13,8 ×
et al., 2002). 103 km2 de desmatamento, aproximadamente
As queimadas, além de diminuem a taxa 5 × 103 km2 de corte de cerrado (que ori-
remoção de poluentes, aumentam a taxa de ginalmente ocupou aproximadamente 20%
formação dos poluentes pela ação de raios. da Amazônia Legal), corte de 7 × 102 km2
As nuvens mais altas e, além de água em de florestas secundárias “velhas” (pré-1970)
forma líquida, contém gelo (Silva-Dias et e de 19 × 103 km2 em florestas secundárias
al., 2002). A produção de descargas elétricas “jovens” (1970+); queimada de 40 × 103
em forma de raios é maior na presença de km2 de pastagens produtivas (33% da área
gelo do que em nuvens formadas apenas de presente), e recrescimento em 121 × 103 km2
água líquida (tais como as que caracterizam de florestas secundárias “jovens”. Nenhuma
a Amazônia quando não há queimadas). O represa hidrelétrica nova foi criada em 1990,
aumento da produção de raios leva a forma- mas a decomposição continuou em 4,8 × 103
ção de N2O que, além de ser um gás de efei- km2 de reservatórios já existentes. A explora-
to estufa, possui outros efeitos indesejáveis ção madeireira de 24,6 × 106 m3 de toras foi
na química atmosférica, como a destruição presumida, a taxa oficial de 1988.
de O3 na estratosfera. A mudança de nuvens
baixas e úmidas para nuvens altas e frias
também afeta a chuva: embora a quantidade
ESTOQUES DE CARBONO
de chuva seria a mesma, cairia com maior Biomassa florestal
intensidade, o que poderia levar a mais ero-
são do solo (Silva-Dias et al., 2002). A estimativa da biomassa florestal é es-
sencial para poder estimar a magnitude das
O papel do solo na liberação de gases
emissões do desmatamento, sendo as emis-
também muda com o desmatamento. Em
sões diretamente proporcionais a este parâ-
condições florestais, o NOx (e N2O) do solo
metro. A biomassa média presente nas flo-
é reciclado e retido sob a floresta, sendo li-
restas primárias na Amazônia brasileira foi
berado, na maior parte, em forma de NO2
calculada baseada na análise de dados publi-
(Gut et al., 2002; van Dijk et al., 2002). Isto
cados sobre o volume de madeira de 2.954 ha
muda caso a área esteja desmatada, com
de inventários florestais distribuídos em toda
CH4 e NOx sendo liberados para a atmosfera
região (atualizado de Fearnside, 1994 baseado
(Kirkman et al., 2002).
em Fearnside & Laurance, 2004; Nogueira et
O impacto climático mais conhecido pro- al., 2005, 2006). A biomassa total média (in-
vocado pelo uso da terra, e a mudança do cluindo os componentes mortos e debaixo do
uso da terra, é a contribuição ao efeito estufa solo) foi calculada em 415 t/ha para todas as
através de emissões de gases. Gases são emi- florestas maduras, não exploradas para ma-
tidos por desmatamento, queimadas recor- deira, originalmente presentes na Amazônia
rentes, exploração madeireira e inundações Legal brasileira. A biomassa média acima do
por hidrelétricas. A quantidade de emissões solo foi 317 t/ha, dos quais 25 t/ha está mor-
depende do ritmo do desmatamento e dos ta, enquanto a média de biomassa debaixo
estoques de carbono, que, por sua vez, de- do solo foi calculada em 98 t/ha. Estas es-
pendem da biomassa nas florestas originais timativas incluíram a densidade de madeira
calculada separadamente para cada tipo de 90% restantes dos dados. Os dados da FAO
floresta, baseado no volume de cada espécie são de cinco relatórios do período 1957-1960
presente e nos dados publicados sobre den- (ver Fearnside, 1994, 1997b); os dados são
sidade básica para 274 espécies (Fearnside, do Projeto RADAMBRASIL (Brasil, Projeto
1997a). As estimativas de biomassa total fo- RADAMBRASIL, 1973-1983). Há certas indi-
ram desagregadas por estado e por tipo de cações de que as equipes de inventário evita-
floresta, assim permitindo o uso dos dados ram locais com muita exploração madeireira
junto com os dados sobre desmatamento (Sombroek, 1992). Além disso, os danos de
baseados no satélite LANDSAT, divulgados exploração madeireira eram muito menos
para cada unidade federativa (Brasil, INPE, difundidos na época dos inventários do que
2006). As biomassas foram ajustadas por da- atualmente. A exploração madeireira está pro-
dos melhorados sobre densidade da madeira gredindo rapidamente, já que a percentagem
(Nogueira et al., 2005) e para reinterpreta- das áreas desmatadas que foram antes explo-
ções dos efeitos de fator de forma e árvores radas para madeira aumentou rapidamente
ocas (Fearnside & Laurance, 2004). nos meados da década de 1970 quando o
acesso rodoviário melhorou na região. Além
Foram calculadas as extensões das áreas
disso, a madeira para carvão e lenha às vezes
protegidas e desprotegidas (até 1990) de cada
é cortada e vendida depois da queimada.
tipo de vegetação em cada um dos nove esta-
dos da Amazônia Legal (Fearnside & Ferraz, A redução da biomassa devido à explora-
1995). Multiplicando a biomassa por hectare ção madeireira em áreas que são derrubadas
de cada tipo de floresta pela área desprotegida é muito mais alta que a redução da biomassa
presente em cada estado, pode-se calcular a média para a floresta como um todo, já que
biomassa cortada, presumindo que o desma- as áreas que estão sendo derrubadas geral-
tamento dentro de cada estado estava distri- mente têm o melhor acesso viário e, portanto,
buído entre os diferentes tipos de vegetação acesso mais barato para madeireiros. Muito
na mesma proporção que os tipos de vegeta- da redução de biomassa pela exploração ma-
ção estavam presentes na área desprotegida deireira resultará em liberação de gás seme-
do estado. Através de ponderação da média lhante às liberações que aconteceriam devido
da biomassa pela taxa de desmatamento em a uma derrubada. Isso ocorre pela decompo-
cada estado, o total médio de biomassa sem sição dos resíduos florestais e do número sig-
exploração madeireira em áreas cortadas em nificante de árvores não-comerciais que são
1990 foi calculado em 389 t/ha, 6,5% abaixo mortas ou danificadas durante o processo
da média para florestas sem exploração ma- de exploração madeireira. Além disso, pode
deireira, presentes na Amazônia Legal como ocorrer também a decomposição e queima
um todo (atualizado de Fearnside, 1997b). A dos resíduos descartados no processo de be-
diferença se deve à concentração da atividade neficiamento, mais os gases liberados pela
de desmatamento ao longo dos limites sul e decomposição mais lenta dos produtos flores-
leste da floresta, onde a biomassa por hectare tais feitos das toras colhidas (veja Fearnside,
é mais baixa que nas áreas de desmatamen- 1995a). Com ajuste para exploração madei-
to mais lento nas partes central e norte da reira, as áreas cortadas em 1990 tiveram uma
região. biomassa total média de 364 t/ha, dos quais
224 t/ha eram biomassa viva acima do solo,
Os valores para biomassa de floresta “não
53 t/ha eram biomassa morta acima do solo
explorada para madeira” representam as me-
e 88 t/ha foram biomassa debaixo do solo.
lhores estimativas para cada tipo de floresta
na época em que foi inventariada, ou seja, Muitas estimativas existentes de biomas-
nos anos 1950 no caso dos inventários flo- sa de floresta amazônica foram subestimadas
restais feitos pela Organização das Nações por deixar de fora alguns componentes da
Unidas para Alimentação e Agricultura biomassa (ver Fearnside, 1994). Estimativas
(FAO), que representam 10% dos dados, e no de emissões que usam estes valores (e.g., 7
início da década de 1970 no caso dos dados entre 8 cálculos feitos por Houghton et al.,
do Projeto RADAMBRASIL, que compõem os 2000) chegam a resultados subestimados
em locais onde foram plantadas apenas cultu- grafítico particulado é calculado por meio de
ras anuais após a derrubada inicial da floresta. fatores de emissão a partir da quantidade de
madeira que passa pelo processo de combus-
Brown & Lugo (1990) revisaram os dados
tão. A quantidade de carbono que entra neste
disponíveis sobre crescimento de florestas
sumidouro é apenas 1/13 da quantidade que
secundárias tropicais. As informações dis-
entra no sumidouro de carvão.
poníveis são praticamente todas de pousios
de agricultura itinerante. As florestas secun- A floresta secundária pré-1970 deve ser
dárias em pastagens abandonadas crescem considerada separadamente da floresta pri-
mais lentamente (Guimarães, 1993; Uhl et mária, já que estas áreas não foram incluídas
al., 1988). Foram usadas estas informações na estimativa de taxa de desmatamento (13,8
sobre taxas de crescimento de vegetação se- × 103 km2/ano em 1990). Uma estimativa
cundária de origens diferentes para calcular a grosseira da taxa de derrubada foi 713 km2/
absorção pela paisagem em 1990 (Fearnside ano (Fearnside, 1996b). A floresta secundá-
& Guimarães, 1996). ria pré-1970 só é pertinente ao balanço anu-
al, não à emissão líquida comprometida. A
quantidade de gases do efeito estufa oriunda
EMISSÕES DE GASES do corte de floresta secundária de origem pré-
1970 é muito pequena.
Desmatamento
Foram calculadas as emissões e absorções
Queimada inicial de gases de efeito estufa para o cálculo de
emissão líquida comprometida em um “cená-
A eficiência da queimada (porcentagem rio baixo de gases-traço” e um “cenário alto
do carbono pré-queima acima do solo que é de gases-traço”. Estes dois cenários usam va-
presumida ser emitida como gases) foi, em lores altos e baixos tirados da literatura para
média, 38,8% nas 10 medidas disponíveis em os fatores de emissão para cada gás nos dife-
queimadas de florestas primárias na Amazônia rentes tipos de queimada (revisão da literatu-
brasileira (ver Fearnside, 2000a, 2003). Ajustes ra em Fearnside, 1997b). Eles não refletem a
para o efeito da exploração madeireira sobre a incerteza com relação à biomassa de floresta,
distribuição diamétrica das peças de biomassa taxa de desmatamento, eficiência de queima-
deram uma eficiência de 39,4%. da e outros fatores importantes.
O carvão vegetal formado na queimada é A queimada inicial representou 246 × 106
uma maneira pelo qual o carbono pode ser t de gás de CO2, ou 27% da emissão compro-
transferido para um estoque de longo prazo, metida bruta de 901 × 106 t. A emissão bruta
sendo que este carbono não entra novamente de um gás se refere a todas as suas libera-
na atmosfera. O carvão no solo é um estoque ções, mas não às absorções. A contribuição
de longo prazo, considerado a ser seques- da queimada inicial de CH4 foi 0,79-0,95 do
trado permanentemente na análise. A média total de 1,08-1,38 × 106 t (69-73%), a de CO
das quatro medidas disponíveis de formação foi 19-24 do total de 27-34 × 106 t (70-71%) e
de carvão em queimadas em florestas primá- a de N2O é 0,05-0,13 do total de 0,06-0,16 ×
rias na Amazônia brasileira indica que 2,2% 106 t (81-83%). Para compostos de nitrogênio
do carbono acima do solo é convertido em e oxigênio como NO e NO2 (NOx) e para hidro-
carvão (Fearnside et al., 1993, 1999, 2001; carbonetos não-metano (NMHC), se conside-
Graça et al., 1999). rados aparte da perda de fontes nas florestas
O carbono grafítico particulado é outro su- maduras representou, respectivamente, 0,60
do total de 0,73 × 106 t (82%) e 0,53-1,00 do
midouro para o carbono que está queimado.
total de 0,57-1,14 × 106 t (88-93%).
Uma quantia pequena de carbono elementar
é formada como particulados grafíticos na Queimadas subsequentes
fumaça; mais de 80% do carbono elementar
formado permanece no local em forma de car- O comportamento dos fazendeiros com
vão (Kuhlbusch & Crutzen, 1995). O carbono relação à queimada pode alterar a quantidade
de carbono que passa para o estoque ao lon- um grande papel. O Inventário Nacional
go prazo na forma de carvão. Fazendeiros Brasileiro (Brasil, MCT, 2004) segue uma me-
requeimam as pastagens em intervalos de todologia padronizada que obriga a inclusão
2-3 anos para combater a invasão de ve- da decomposição, embora a estimativa no
getação lenhosa não comestível. Quando Inventário Nacional também foi mais baixa
essas requeimas acontecem, os troncos so- por diversas razões.
bre o chão são frequentemente queimados.
A decomposição bacteriana e a ativida-
Pode ser esperado que algum carvão forma-
de de térmitas acontecem em grande parte
do em queimadas anteriores também sofra
durante a primeira década. Emissões de me-
combustão. Parâmetros para transformações
tano por térmitas oriundas da decomposi-
dos estoques brutos de carbono foram de-
ção de biomassa que não queima (Martius
terminados em Fearnside (1997b: 337-338),
et al., 1996) são substancialmente menores
com mudanças na biomassa, na fração da
que estimativas anteriores. Isto ocorre prin-
biomassa presente acima do solo, na efici-
cipalmente porque as estimativas do número
ência de queimada, na formação de carvão
de térmitas em áreas desflorestadas indicam
e na liberação de carbono do solo, como es-
que as populações são insuficientes para
pecificado em outras partes do atual traba-
consumir a quantidade de madeira que tinha
lho. Um cenário típico de três requeimadas
sido presumida anteriormente. A produção
ao longo de um período de 10 anos eleva-
mais baixa de metano (0,002 g CH4 por g de
ria a porcentagem de C acima do solo que
madeira seca consumida) também contri-
é convertida em carvão para 2,2% a 2,9%.
buiu para abaixar as emissões desta fonte,
Parâmetros para emissões de carbono por
que foram calculadas em um total de apenas
caminhos diferentes, tais como na forma de
0,013 × 106 t/ano de gás de CH4 nas áreas
CO2, CO e CH4, e para outras emissões de
desmatadas da floresta original até 1990.
gases traço, também foram apresentados em
Fearnside (1997b: 341-344). Os cálculos fo- Queimadas recorrentes
ram realizados por um programa chamado
“DEFOREST”, mas melhor conhecido como Uma fonte de emissões em áreas
“BIG CARBON”, composto de aproximada- desmatadas é a queimada das pastagens
mente 150 planilhas eletrônicas interligadas. que predominam nas paisagens derivadas
de florestas cortadas na Amazônia brasilei-
Decomposição de remanescentes não ra. O CO2 oriundo da queima da biomassa
queimados de capim, de ervas daninhas, ou de vegeta-
ção de crescimento secundário jovem (“ju-
A decomposição acima do solo de re-
quira”) nessas pastagens, não representa
manescentes não queimados foi calculada
uma contribuição líquida ao efeito estufa, já
usando os estudos disponíveis listados em
que a mesma quantidade de carbono seria
Fearnside (1996b: 611). A decomposição faz
removida da atmosfera no ano seguinte com
uma contribuição significante às emissões
o recrescimento do capim. Aproximadamente
de gases de efeito estufa, e fica aparente que
21-22 × 106 t CO2 (5,7-6,0 × 106 t C) oscilam
o grande interesse no assunto de queima de
anualmente entre a biomassa nas pastagens
biomassa muitas vezes tende a levar as pes-
e a atmosfera na Amazônia brasileira. Os ga-
quisas a negligenciar as contribuições da de-
ses traço liberados na queimada das pasta-
composição. As estimativas de emissões de
gens não entram no processo de fotossíntese
gases de efeito estufa do desmatamento di-
e, portanto, são acumulados na atmosfera.
vulgadas por fontes oficiais do governo bra-
Estas emissões têm sido estimadas conside-
sileiro ao longo do período 1992-2002 (e.g.,
rando o destino da biomassa em pastagens de
Borges, 1992; Silveira, 1992) eram apneas
Roraima (Barbosa & Fearnside, 1996).
um terço dos valores calculados no presente
trabalho por um fator de três, principalmen- As queimadas de florestas secundárias
te porque elas ignoravam as emissões herda- (capoeiras) contribuem com gases traço, da
das nas quais a decomposição desempenha mesma forma que a queima das pastagens.
Para o efeito sobre CO2, diferente das pasta- Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) in-
gens, é preciso calcular explicitamente os flu- dicou que foram explorados apenas 2000
xos brutos, com estimativas da emissão e da km2/ano na Amazônia Legal (Krug, 2001;
absorção por recrescimento. Um total de 29 dos Santos et al., 2001, 2002). Estimativas
× 106 t de gás de CO2 (7,9 × 106 t C) foi rea- feitas pelo Instituto de Pesquisa Ambiental
bsorvido pelas capoeiras em 1990. Estima-se da Amazônia (IPAM) indicam 10.000-15.000
que, sem contar as florestas secundárias pré- km2/ano (Nepstad et al., 1999a). A grande va-
1970, a biomassa de capoeira exposta a fogo riação nas estimativas da área explorada anu-
em 1990 liberou 40-52 × 106 t CO2 (11,0-14,2 almente é, de fato, maior que a incerteza real,
× 106 t C) por combustão, e que e a decom- porque limitações metodológicas conhecidas
posição de biomassa não queimada de capo- explicam os resultados obtidos em alguns dos
eira liberou 44-46 × 106 t CO2 (12,0-12,5 × estudos, especialmente as estimativas muito
106 t C), assim tendo uma emissão líquida baixas obtidas pelo INPE. O cálculo do INPE
de 76-90 × 106 t CO2 (20,7-24,5 × 106 t C). está baseado em imagens de LANDSAT sem
Quase tudo isto representa áreas que original- “verdade terrestre” (observações no chão). A
mente eram floresta. explicação mais provável para as estimativas
serem tão baixas é a inabilidade da técnica de
Exploração madeireira interpretação das imagens de satélite de dis-
tinguir a perturbação resultante da explora-
Em uma situação típica, as florestas aces- ção madeireira que não seja os pátios onde os
síveis por terra ou por transporte fluvial são troncos são temporariamente estocados antes
exploradas para madeira, reduzindo a bio- de serem transportados. Os pátios de estoca-
massa tanto pela remoção de madeira como gem das toras têm um padrão característico
por matar ou danificar muitas árvores não de manchas circulares nas imagens. O cálculo
colhidas. Essa floresta já degradada pela ex- do IPAM para a Amazônia Legal (Nepstad et
ploração madeireira é derrubada posterior- al., 1999a) está baseado no volume de madei-
mente para agricultura ou pecuária bovina. ra removido da região como um todo e na in-
O efeito de exploração madeireira não é tensidade da exploração madeireira estimada
tão direto quanto poderia parecer. A remoção com base em entrevistas.
dos fustes (troncos comerciais) das árvores A questão da área sendo explorada anu-
grandes aumentará a eficiência da queimada, almente para madeira na Amazônia foi o
assim como também aumentará a taxa de de- tema de um “grande debate” realizado em
composição média da biomassa não queima- 28 de junho de 2000 no Workshop Temático
da. Isto é porque os galhos de diâmetro pe- do Primeiro Congresso Científico LBA
queno queimam melhor e se decompõe mais (Experimento de Larga Escala na Biosfera-
rapidamente do que os grandes troncos. Estas Atmosfera na Amazônia), em Belém, Pará.
mudanças compensarão parcialmente a redu- David Skole calculou taxas de exploração ma-
ção das emissões devido à menor biomassa. deireira de 2.655 e 5.406 km2/ano, respectiva-
Em cálculos que incluem taxas de desconto mente, para 1992-1993 e 1996-1997 na cena
ou ponderação por preferência temporal, é de LANDSAT-TM (223/63) ao sul do polo de
dada ênfase às emissões em curto prazo, O exploração madeireira em Tailândia, Pará.
efeito de exploração madeireira no impacto Nestes mesmos anos, o cálculo do INPE, apre-
do desmatamento quando as áreas explora- sentado por Thelma Krug, indicou apenas
das para madeira são desmatadas subsequen- 3.220 e 1.989 km2/ano, respectivamente, na
temente será reduzido mais ainda, já que os Amazônia Legal inteira. Na cena LANDSAT
troncos grandes removidos teriam decompo- adjacente, ao norte de Tailândia (223/62),
sição lenta se tivessem sido deixados para se- Ane Alencar calculou uma taxa de exploração
rem cortados no processo de desmatamento. madeireira de 16% (aproximadamente 5.000
Estimativas da área explorada anualmente km2) por ano. O extenso trabalho de campo
para madeira na Amazônia brasileira variam que fundamentou esta estimativa faz com
muito. Uma estimativa feita pelo Instituto que ela seja a mais segura. É impressionante
de Balbina emite mais gases que a geração um determinado ano) de desmatamento fei-
da mesma quantidade de energia por termo- to em 1990 (não incluindo emissões da ex-
elétricas (Fearnside, 1995b), mas representa ploração madeireira ou de corte do cerrado)
um caso extremo devido à topografia plana totalizaram 836 × 106 t de CO2, 1,1-1,4 ×
do local do reservatório e a pequena vazão do 106 t de CH4, 27-34 × 106 t de CO, e 0,06-
rio Uatumã. A represa de Tucuruí apresenta 0,16 × 106 t de N2O. Estas emissões foram
um exemplo mais otimista, já que, do pon- equivalentes a 267-278 × 106 t de carbono
to de vista de densidade energética (Watts de equivalente a carbono de CO2, usando os
capacidade instalada por m2 de superfície de GWPs de 100 anos do SAR. Emissões de CO2
reservatório) e, consequentemente, das emis- incluíram 246 × 106 t de gás da queimada
sões de gases de efeito estufa por unidade de inicial, 561 × 106 t de decomposição, 51 ×
eletricidade, é menor do que a média para 106 t de queimadas subsequentes de biomas-
represas existentes na Amazônia. Também é sa da floresta primária, e 43 × 106 t C de
melhor do que a média para as represas plane- carbono do solo nos 8 m superiores. A longo
jadas que, se todas fossem construídas, inun- prazo, a paisagem de substituição chega a
dariam 3% da floresta na Amazônia brasileira armazenar 65 × 106 C, ou 7,2% da emissão
(Brasil, ELETROBRÁS, 1987: 150). A emissão total. As faixas de variação de emissões da-
de gases de efeito estufa de Tucuruí em 1990 das acima se referem aos cenários de gases
foi equivalente a 7,0-10,1 × 106 toneladas de traço baixo e alto, refletindo a gama de fa-
carbono equivalente a CO2, uma quantidade tores de emissão que aparecem na literatu-
substancialmente maior que a emissão de ra para diferentes processos de queima e de
combustível fóssil da cidade de São Paulo. As decomposição. Estes cenários não refletem a
emissões precisam ser pesadas corretamente incerteza nos valores sobre taxa de desmata-
em decisões sobre construção de barragens. mento, biomassa de floresta, intensidade de
Embora se espere que muitas hidrelétricas exploração madeireira e outras entradas no
propostas na Amazônia tenham balanços cálculo. Algum carbono entra em sumidou-
positivos em comparação com combustíveis ros através da conversão para carvão (5,0 ×
fósseis, as emissões reduzem os benefícios 106 t C) e para carbono de particulados grafí-
atribuídos às represas planejadas (Fearnside, ticos (0,42 × 106 t C).
2002, 2004b). As estimativas oficiais brasi- A inclusão de gases traço no cálculo das
leiras de emissões de gases por hidrelétricas emissões aumentou o impacto da emissão
(Brasil, MCT, 2004; ver também Rosa et al., líquida comprometida em 5-9%, comparada
2004, 2006) ainda omitiam as principais fon- com valores que consideram apenas o CO2.
tes de gases (a água que passa pelas turbinas O SAR reconhece alguns efeitos indiretos do
e pelo vertedouro), resultando em subestima- CH4, mas nenhum do CO, que é um compo-
tivas por um fator de 10 (1.000%) ou mais nente importante das emissões da queima
(Fearnside, 2004c, 2005a, 2006a). Estimativas de biomassa. O terceiro relatório de avalia-
subsequentes para outras represas confirmam ção (TAR) aumentou o GWP de metano de
emissões uma ordem de grandeza acima dos 21 para 23 (um aumento de 10%) devido a
incluídos no Inventário (Fearnside, 2005b; uma revisão do modelo global de carbono,
Delmas et al., 2005). mas não mudou os efeitos indiretos incluídos
no cálculo do SAR (Houghton et al., 2001).
ÍNDICES DE IMPACTO SOBRE MUDANÇA [Obs.: no sexto relatório de avaliação (AR6),
de 2021, o GWP de metano para 100 anos,
CLIMÁTICA comparável a esses números, é de 27,2, e o
Emissões líquidas comprometidas de 20 anos, que é mais relevante ao com-
promisso de limitar o aquecimento global
As emissões líquidas comprometidas em 1,5 ºC, é de 80,8]. É provável que os
(quantidades líquidas de gases de efeito impactos de gases traço aumentem quando
estufa que serão emitidos em longo prazo a IPCC chegar a um acordo sobre os efeitos
como resultado do desmatamento feito em indiretos adicionais dos gases. Por exemplo,
“quantidade atribuída” do Brasil, e que qual- teriam sido se a taxa de desmatamento fosse
quer redução em emissões futuras abaixo dos constante ao nível de 1990.
níveis de 1990 poderia ser usada para comer-
As emissões líquidas comprometidas
cio de emissões sob o Artigo 17 (Fearnside,
(as quantidades líquidas de gases de efeito
1999b). Outra possibilidade importante é a
estufa que serão emitidos a longo prazo
proposta de “redução compensada” de emis-
como resultado do desmatamento feito em
sões (Santilli et al., 2005). Isto também conce-
um determinado ano) de desmatamento
deria crédito com base na redução do total das
feito em 1990 (não incluindo emissões da
emissões nacionais, ao invés de se basear nos
exploração madeireira ou da corte de cer-
resultados de projetos individuais como seria
rado) foram equivalentes a 239-249 × 106
o caso se o crédito fosse concedido por meio t de carbono equivalente a carbono de CO2.
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. O efeito de desmatamento no balanço anual
Uma provisão importante é a possibilidade de de emissões líquidas em 1990 (fluxos líqui-
“bancar” dados de um período de compromis- dos em um único ano na região como um
so para outro sob o Protocolo de Quioto, o que todo) foi uma emissão líquida equivalente a
poderia possibilitar que ações realizadas no 330-335 × 106 t de carbono equivalente a
primeiro período de compromisso para redu- carbono de CO2, enquanto a exploração ma-
zir o desmatamento resultassem em créditos deireira acrescentou 62 × 106 t de carbono
no segundo período de compromisso. equivalente ao carbono de CO2.
A contribuição da perda de floresta às Estes valores indicam que o desmatamen-
mudanças climáticas, junto com outras mu- to na Amazônia brasileira faz uma contribui-
danças globais tais como a perda de biodi- ção significativa ao efeito estufa, e indicam
versidade, fundamenta a adoção de uma es- a alta prioridade que deveria ser dada à me-
tratégia nova para sustentar a população da lhoria das estimativas destas emissões e das
região. Ao invés de destruir a floresta para incertezas contidas nelas. As medidas que te-
poder produzir algum tipo de mercadoria, riam o maior potencial para reduzir a emissão
como é o padrão atual, usaria a manuten- líquida de gases de efeito estufa da Amazônia
ção da floresta como gerador de fluxos mo- seriam mudanças nas políticas públicas? para
netário baseado nos serviços ambientais da reduzir a taxa de desmatamento.
floresta, ou seja, o valor de evitar os impac-
tos que se seguem da destruição da floresta
(Fearnside, 1997c, 2005c, 2006b). AGRADECIMENTOS
Atualizado do trabalho apresentado
CONCLUSÕES na sessão “Dinâmica da Matéria Orgânica
do Solo e Mudanças Climáticas Globais”
Em 1990, o ano para a linha de base (org. Sâmia Tauk-Tornisielo), V Congresso
dos inventários nacionais sob a Convenção Brasileiro de Ecologia, Porto Alegre, RS, 04-09
Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança de novembro de 2001. Agradeço ao INPA (PPI
do Clima, a biomassa total média nas áre- 1-3160; PRJ05.57) e ao CNPq (350230/97-8;
as de floresta original desmatadas era 364 t/ 465819/00-1; 470765/2001-1; 306031/2004-3;
ha (ajustado para a distribuição espacial do 557152/2005-4; 420199/2005-5) pelo apoio
desmatamento e para a exploração madeirei- financeiro. Todas as opiniões expressadas
ra). Desse total, 277 t/ha era biomassa (viva são do autor.
e morta) acima do solo, exposta à queima-
da inicial. Além de emissões da queimada
inicial, os remanescentes de desmatamen- LITERATURA CITADA
tos em anos anteriores emitiram gases por
Achard, F., Eva, H.D., Mayeux, P., Stibig, H-J., Belward,
decomposição e por combustão em requei- A. 2004. Improved estimates of emissions from land
madas. O desmatamento mais rápido nos cover change in the tropics for the 1990s. Global
anos que precederem 1990 faz com que as Biogeochemical Cycles 18(GB2008): 1-11. https://
emissões herdadas estejam maiores do que doi.org/10.1029/2003 GB002142
Achard, F., Eva, H.D., Stibig, H.J., Mayaux, P., Brasil, MCT. 2004. Comunicação Nacional Inicial do
Gallego, J., Richards, T., Malingreau, J-.P. 2002. Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas
Determination of deforestation rates of the world’s sobre Mudança do Clima. Coordenação Geral de
humid tropical forests. Science 297: 999-1002. Mudanças Globais de Clima, Ministério da Ciência
e Tecnologia (MCT), Brasília, DF, 271 p.
Alencar, A., Nepstad, D., Diaz, M.C.V. 2006. Forest
understory fire in the Brazilian Amazon in ENSO Brasil, Projeto RADAMBRASIL. 1973-1983. Levantamento
and non-ENSO years: Area burned and committed de Recursos Naturais, Vols. 1-23. Ministério das Minas
emissions. Earth Interactions 10, Paper 6, p. 1-17. e Energia, Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), Rio de Janeiro, Brasil.
Alencar, A., Nepstad, D., Moutinho, P. 2005. Carbon
emissions associated with forest fires in Brazil. Brown, S., Lugo, A.E. 1990. Tropical secondary forests.
In: Moutinho, P.; Schwartzman, S. (eds). Tropical Journal of Tropical Ecology 6: 1-32.
Deforestation and Climate Change. Instituto de
Carvalho, G., Barros, A.C., Moutinho, P., Nepstad, D.
Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém, 2001. Sensitive development could protect Amazonia
Pará, Brasil & Environmental Defense (EDF), instead of destroying it. Nature 409: 131.
Washington, DC, E.U.A., p. 23-33.
Cochrane, M.A., Alencar, A.A., Schulze, M.D., Souza,
Andreae, M.O., Artaxo, P., Brandao, C., Carswell, F.E., C.M., Nepstad, D.C., Lefebvre, P., Davidson, E.A.
Ciccioli, P., da Costa, A.L., Culf, A.D., Esteves, 1999. Positive feedbacks in the fire dynamic of closed
J.L., Gash, J.H.C., Grace, J., Kabat, P., Lelieveld, canopy tropical forests. Science 284: 1832-1835.
J., Malhi, Y., Manzi, A.O., Meixner, F.X., Nobre,
A.D., Nobre, C., Ruivo, M.D.L.P., Silva-Dias, Cochrane, M.A., Schulze, M.D. 1999. Fire as a recurrent
M.A., Stefani, P., Valentini, R., von Jouanne, J., event in tropical forests of the eastern Amazon:
Waterloo, M.J. 2002. Biogeochemical cycling of Effects on forest structure, biomass, and species
carbon, water, energy, trace gases and aerosols in composition. Biotropica 31(1): 2-16.
Amazonia: The LBA-EUSTACH experiments. Journal Delmas, R., Richard, S., Guérin, F., Abril, G., Galy-
of Geophysical Research 107, D20, 8066-8091 https:// Lacaux, C., Delon, C., Grégoire, A. 2005. Long term
doi.org/10.1029/2001JD000524 greenhouse gas emissions from the hydroelectric
Asner, G.P., Knapp, D.E., Broadbent, E.N., Oliveira, reservoir of Petit Saut (French Guiana) and potential
P.J.C., Keller, M., Silva, J.N. 2005. Selective logging impacts. In: Tremblay, A., Varfalvy, L., Roehm, C. &
in the Brazilian Amazon. Science 310: 480-482. M. Garneau (eds.) Greenhouse Gas Emissions: Fluxes
and Processes. Hydroelectric Reservoirs and Natural
Barbosa, R.I., Fearnside, P.M. 1996. Pasture burning in Environments. Environmental Science Series,
Amazonia: Dynamics of residual biomass and the Springer-Verlag, Heidelberg, Alemanha, p. 293-312.
storage and release of aboveground carbon. Journal
of Geophysical Research (Atmospheres) 101(D20): de Souza, J.A.M. 1996. Brazil and the UN Framework
25.847-25.857 Convention on Climate Change. In: International
Atomic Energy Agency (IAEA). Comparison of Energy
Barbosa, R.I., Fearnside, P.M. 1999. Incêndios na Sources in Terms of their Full-Chain Emission Factors:
Amazônia brasileira: Estimativa da emissão de Proceedings of an IAEA Advisory Group Meeting/
gases do efeito estufa pela queima de diferentes Workshop held in Beijing, China, 4-7 October 1994.
ecossistemas de Roraima na passagem do evento IAEA-TECDOC-892. IAEA, Vienna, Aústria, p. 19-21.
“El Niño” (1997/98). Acta Amazonica 29(4): 513-534
dos Santos, J.R., Krug, T., Araújo, L.S., Meira Filho,
Barlow, J., Haugaasen, T., Peres, C.A. 2002. Effects G., Almeida, C.A. 2001. Dados multitemporais
of ground fires on understory bird assemblages in TM/Landsat aplicados ao estudo da dinâmica de
Amazonian forests. Biological Conservation 105(1): exploração madeireira na Amazônia. In: Simpósio
157-169. Brasileiro de Sensoriamento Remoto No, Foz do
Iguaçu. Anais. Instituto Nacional de Pesquisas
Borges, L. 1992. Desmatamento emite só 1,4% de
Espaciais (INPE), São José dos Campos-SP. (CD-ROM)
carbono, diz Inpe”. O Estado de São Paulo, 10 de
(disponível em: http://www.dsr.inpe.br/sbsr2001).
abril de 1992, p. 13.
dos Santos, J.R., Krug, T., Araújo, L.S., Meira Filho,
Brasil, ELETROBRÁS. 1987. Plano 2010: Relatório
G., Almeida, C.A. 2002. Corte de árvores visto do
Geral. Plano Nacional de Energia Elétrica 1987/2010
espaço. Ciência Hoje 30(179): 67-69.
(Dezembro de 1987), Centrais Elétricas do Brasil
(ELETROBRÁS), Brasília, DF, 269 p. Eagleson, P.S. 1986. The emergence of globalscale
hydrology. Water Resources Research 22(9): 6s14s.
Brasil, INPE. 2006. Estimativas Anuais desde 1988:
Taxa de desmatamento anual (km2/ano). Instituto Eva, H.D., Achard, F., Stibig, H-J., Mayaux, P. 2003.
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), São José Response to comment on “Determination of
dos Campos, SP. http://www.obt.inpe.br/prodes/ deforestation rates of the World’s humid tropical
prodes_1988_2005.htm forests.” Science 299: 1015b.
Fearnside, P.M. 1993. Deforestation in Brazilian de Kyoto. In: Moreira, A.G.; Schwartzman, S. (eds.)
Amazonia: The effect of population and land tenure. As Mudanças Climáticas Globais e os Ecossistemas
Ambio 22: 537-545. Brasileiros. Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia (IPAM), Brasília, DF, p. 59-74.
Fearnside, P.M. 1994. Biomassa das florestas Amazônicas
brasileiras. In: Anais do Seminário Emissão X Fearnside, P.M. 2000d. Uncertainty in land-use change
Seqüestro de CO2. Companhia Vale do Rio Doce and forestry sector mitigation options for global
(CVRD), Rio de Janeiro, p. 95-124. warming: Plantation silviculture versus avoided
deforestation. Biomass and Bioenergy 18(6): 457-468.
Fearnside, P.M. 1995a. Global warming response options
in Brazil’s forest sector: Comparison of project-level Fearnside, P.M. 2001. Saving tropical forests as a global
costs and benefits. Biomass and Bioenergy 8:309-322. warming countermeasure: An issue that divides the
environmental movement. Ecological Economics
Fearnside, P.M. 1995b. Hydroelectric dams in the
39(2): 167-184.
Brazilian Amazon as sources of ‘greenhouse’ gases.
Environmental Conservation 22(1): 7-19. Fearnside, P.M. 2002. Greenhouse gas emissions from
a hydroelectric reservoir (Brazil’s Tucuruí Dam) and
Fearnside, P.M. 1996a. Amazonian deforestation and
the energy policy implications. Water, Air and Soil
global warming: Carbon stocks in vegetation
Pollution 39(2): 167-184.
replacing Brazil’s Amazon forest. Forest Ecology and
Management 80: 21-34. Fearnside, P.M. 2003. A Floresta Amazônica nas
Mudanças Globais. Instituto Nacional de Pesquisas
Fearnside, P.M. 1996b. Amazonia and global warming:
da Amazônia-INPA, Manaus, Amazonas, 134 p.
Annual balance of greenhouse gas emissions from
land-use change in Brazil’s Amazon region. In: Fearnside, P.M. 2004a. A água de São Paulo e a floresta
Levine, J. (ed.), Biomass Burning and Global Change. amazônica. Ciência Hoje 34(203): 63-65.
Volume 2: Biomass Burning in South America,
Fearnside, P.M. 2004b. Gases de efeito estufa em
Southeast Asia and Temperate and Boreal Ecosystems
hidrelétricas da Amazônia. Ciência Hoje 36(211): 41-44.
and the Oil Fires of Kuwait. MIT Press, Cambridge,
Massachusetts, E.U.A., p. 606-617. Fearnside, P.M. 2004c. Greenhouse gas emissions
from hydroelectric dams: Controversies provide a
Fearnside, P.M. 1997a. Wood density for estimating
springboard for rethinking a supposedly “clean”
forest biomass in Brazilian Amazonia. Forest Ecology
energy source, Climatic Change 66(1-2): 1-8.
and Management 90: 59-89.
Fearnside, P.M. 2005a. Do hydroelectric dams mitigate
Fearnside, P.M. 1997b. Greenhouse gases from
global warming? The case of Brazil’s Curuá-Una
deforestation in Brazilian Amazonia: Net committed
Dam. Mitigation and Adaptation Strategies for Global
emissions. Climatic Change 35: 321-360.
Change 10(4): 675-691.
Fearnside, P.M. 1997c. Environmental services as
Fearnside, P.M. 2005b. Hidrelétricas planejadas no rio Xingu
a strategy for sustainable development in rural
como fontes de gases do efeito estufa: Belo Monte
Amazonia. Ecological Economics 20(1): 53-70.
(Kararaô) e Altamira (Babaquara). In: Sevá Filho,
Fearnside, P.M. 1999a. Forests and global warming A.O. (ed.) Tenotã-mõ: Alertas sobre as conseqüências
mitigation in Brazil: Opportunities in the Brazilian dos projetos hidrelétricos no rio Xingu, Pará, Brasil”,
forest sector for responses to global warming under International Rivers Network, São Paulo, p. 204-241.
the “Clean Development Mechanism”. Biomass and
Fearnside, P.M. 2005c. Global implications of Amazon
Bioenergy 16: 171-189.
frontier settlement: Carbon, Kyoto and the role of
Fearnside, P.M. 1999b. Como o efeito estufa pode render Amazonian deforestation. In: Hall, A. (ed.) Global
dinheiro para o Brasil. Ciência Hoje 26(155): 41-43. Impact, Local Action: New Environmental Policy
in Latin America. University of London, School
Fearnside, P.M. 2000a. Greenhouse gas emissions from
of Advanced Studies, Institute for the Study of the
land use change in Brazil’s Amazon region. In: Lal, R.;
Americas, London, Reino Unido, p. 36-64.
Kimble, J.M.; Stewart, B.A. (eds). Global Climate Change
and Tropical Ecosystems. Advances in Soil Science. CRC Fearnside, P.M. Greenhouse gas emissions from
Press, Boca Raton, Florida, E.U.A., p. 231-249. hydroelectric dams: Reply to Rosa et al. Climatic
Change 75(1-2): 103-109, 2006a.
Fearnside, P.M. 2000b. Global warming and tropical land-
use change: Greenhouse gas emissions from biomass Fearnside, P.M. 2006b. Mitigation of climatic change in
burning, decomposition and soils in forest conversion, the Amazon. In: Laurance, W.F.; Peres, C.A. (eds.)
shifting cultivation and secondary vegetation. Emerging Threats to Tropical Forests. University of
Climatic Change 46(1/2): 115-158. Chicago Press, Chicago, Illinois, E.U.A., p. 353-375.
Fearnside, P.M. 2000c.O potencial do setor florestal Fearnside, P.M., Barbosa, R.I. 1998. Soil carbon changes from
brasileiro para a mitigação do efeito estufa sob o conversion of forest to pasture in Brazilian Amazonia.
“Mecanismo de Desenvolvimento Limpo” do Protocolo Forest Ecology and Management 108: 147-166.
Fearnside, P.M., Ferraz, J. 1995. A conservation Hardner, J.J., Frumhoff, P.C., Goetz, D.C. 2000. Prospects
gap analysis of Brazil’s Amazonian vegetation. for mitigating carbon, conserving biodiversity, and
Conservation Biology 9: 1134-1147. promoting socioeconomic development through the
Clean Development Mechanism. Mitigation and
Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.A., Leal Filho, N.,
Adaptation Strategies for Global Change 5: 61-80.
Rodrigues, F.J.A., Robinson, J.M. 1999. Tropical
forest burning in Brazilian Amazonia: Measurements Henderson-Sellers, A., Gornitz, V. 1984. Possible
of biomass loading, burning efficiency and charcoal climatic impacts of land cover transformations,
formation at Altamira, Pará. Forest Ecology and with particular emphasis on tropical deforestation.
Management 123(1): 65-79. Climatic Change 6: 231-257.
Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.A., Rodrigues, F.J.A. Holdsworth, A.R., Uhl, C. 1997. Fire in eastern
2001. Burning of Amazonian rainforests: burning Amazonian logged rain forest and the potential for
efficiency and charcoal formation in forest cleared fire reduction. Ecological Applications 7(2): 713-725.
for cattle pasture near Manaus, Brazil. Forest Ecology
Houghton, J.T., Ding, Y., Griggs, D.G., Noguer, M., Van
and Management 146(1-3): 115-128.
der Linden, R.J., Xiausu, D. (eds.). 2001. Climate
Fearnside, P.M., Guimarães, W.M. 1996. Carbon uptake Change 2001: The Scientific Basis. Cambridge
by secondary forests in Brazilian Amazonia. Forest University Press, Cambridge, Reino Unido, 944 p.
Ecology and Management 80: 35-46.
Houghton, R.A. 2003. Why are estimates of the
Fearnside, P.M., Lashof, D.A., Moura-Costa, P. 2000. terrestrial carbon balance so different? Global
Accounting for time in mitigating global warming Change Biology 9: 500-509.
through land-use change and forestry. Mitigation and
Houghton, R.J.A., Skole, D.L., Nobre, C.A., Hackler, J.L.,
Adaptation Strategies for Global Change 5(3): 239-270.
Lawrence, K.T., Chomentowski, W.H. 2000. Annual
Fearnside, P.M., Laurance, W.F. 2003. Comment on fluxes of carbon from deforestation and regrowth in
“Determination of deforestation rates of the world’s the Brazilian Amazon. Nature 403: 301-304.
humid tropical forests” Science 299: 1015a.
IPCC. 1997. Revised 1996 IPCC Guidelines for National
Fearnside, P.M., Laurance, W.F. 2004. Tropical Greenhouse Gas Inventories. Workbook (Volume 2).
deforestation and greenhouse gas emissions. Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC),
Ecological Applications 14(4): 982-986. Genebra, Suiça.
Fearnside, P.M., Leal Filho, N., Fernandes, F.M. 1993. ISTOÉ. 1997. A Versão do Brasil. ISTOÉ [São Paulo] 15
Rainforest burning and the global carbon budget: de outubro de 1997, p. 98.
Biomass, combustion efficiency and charcoal formation
Kirkman, G.A., Gut, A., Ammann, C., Gatti, L.V.,
in the Brazilian Amazon. Journal of Geophysical
Cordova, A.M., Moura, M.A.L., Andreae, M.O.,
Research (Atmospheres) 98(D9): 16.733-16.743.
Meixner, F.X. 2002. Surface exchange of nitric oxide,
Flavin, C. 1989. Slowing global warming: A worldwide nitrogen dioxide, and ozone at a cattle pasture in
strategy. Worldwatch Paper 91. Worldwatch Institute, Rondônia, Brazil. Journal of Geophysical Research
Washington, DC, E.U.A. 94 p. 107, D20, https://doi.org/10.1029/2001JD000523
Graça, P.M.L.A., Fearnside, P.M., Cerri, C.C. 1999. Krug, T. 2001. O quadro do desflorestamento da
Burning of Amazonian forest in Ariquemes, Amazônia. In: V. Fleischresser (ed.) Causas e
Rondônia, Brazil: Biomass, charcoal formation and Dinâmica do Desmatamento na Amazônia,
burning efficiency. Forest Ecology and Management Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF, p. 91-98.
120(1-3): 179-191.
Kuhlbusch, T.A.J., Crutzen, P.J. 1995. A global estimate
Guimarães, W.M. 1993. Liberação de carbono e mudanças of black carbon in residues of vegetation fires
nos estoques dos nutrientes contidos na biomassa representing a sink of atmospheric CO2 and a source
aérea e no solo resultante de queimadas de florestas of O2. Global Biogeochemical Cycles 9: 491-501.
secundárias em áreas de pastagens abandonadas, em
Laurance, W.F., Laurance, S.G., Ferreira, L.V., Rankin-
Altamira, Pará. Dissertação de mestrado em ecologia,
de-Merona, J.M., Gascon, C., Lovejoy, T.E. 1997.
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/
Biomass collapse in Amazonian forest fragments.
Fundação Universidade do Amazônia (INPA/FUA),
Science 278: 1117-1118.
Manaus, Amazonas, 69 p.
Laurance, W.F., Cochrane, M.A., Bergen, S., Fearnside,
Gut, A., van Dijk, S.M., Scheibe, M., Rummel, U.,
P.M., Delamônica, P., Barber, C., D’Angelo, S.,
Welling, M., Ammann, C., Meixner, F.X., Kirkman,
Fernandes, T. 2001a. The Future of the Brazilian
G.A., Andreae, M.O., Lehmann, B.E. 2002. NO
Amazon. Science 291: 438-439.
emission from an Amazonian rain forest soil:
Continuous measurements of NO flux and soil Laurance, W.F., Cochrane, M.A., Bergen, S., Fearnside,
concentration. Journal of Geophysical Research 107, P.M., Delamônica, P., Barber, C., D’Angelo, S.,
D20, https://doi.org/10.1029/2001JD000521 Fernandes, T. 2001b. The Future of the Brazilian
Amazon: Supplementary Material. Science Online Salati, E., Vose, P.B. 1984. Amazon Basin: A system in
(http://www.sciencemag.org/cgi/content/ equilibrium. Science 225: 129138.
full/291/5503/438/DC1).
Santilli, M., Moutinho, P., Schwartzman, S., Nepstad,
Lean, J., Bunton, C.B., Nobre, C.A., Rowntree, P.R. 1996. D.C., Curran, L., Nobre, C. 2005. Tropical
The simulated impact of Amazonian deforestation deforestation and the Kyoto Protocol. Climatic
on climate using measured ABRACOS vegetation Change 71: 267-276.
characteristics. In: Gash, J.H.C.; Nobre, C.A. Roberts,
Schimel, D. & 75 outros. 1996. Radiative forcing of
J.M.; Victoria, R.L. (eds.) Amazonian Deforestation and
climate change. In: Houghton, J.T.; Meira Filho,
Climate. Wiley, Chichester, Reino Unido, p. 549-576.
L.G.; Callander, B.A.; Harris, N.; Kattenberg, A.;
Martius, C., Fearnside, P.M., Bandeira, A.G., Wassmann, Maskell, K. (eds.) Climate Change 1995: The Science
R. 1996. Deforestation and methane release from of Climate Change. Cambridge University Press,
termites in Amazonia. Chemosphere 33: 517-536. Cambridge, Reino Unido, p. 65-131.
Moran, E.F., Brondizio, E., Mausel. P., Wo, Y. 1994. Shine, K.P., Derwent, R.G., Wuebbles D.J., Morcrette, J-J.
Integrating Amazonian vegetation, land-use, and 1990. Radiative forcing of climate. In: Houghton, J.T.;
satellite data. BioScience 44: 329-338. Jenkins, G.J.; Ephraums, J.J. (eds.) Climate Change:
The IPCC Scientific Assessment. Cambridge University
Nepstad, D., Capobianco, J.P., Barros, A.C., Carvalho, G.,
Press, Cambridge, Reino Unido, p. 41-68.
Moutinho, P., Lopes, U., Lefebvre, P. 2000. Avança
Brasil: Os Custos Ambientais para Amazônia. Instituto Shukla, J., Nobre C.A., Sellers, P. 1990. Amazon
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém, deforestation and climate change. Science 247:
Pará, Brasil. 24 p. (disponível em http://www.ipam. 1322-1325.
org.br/avanca/politicas.htm).
Silva-Dias, M.A.F., Rutledge, S., Kabat, P., Silva Dias,
Nepstad, D.C., Moreira, A.G., Alencar, A.A. 1999b. A P.L., Nobre, C., Fisch, G., Dolman, A.J., Zipser, E.,
Floresta em Chamas: Origens, Impactos e Prevenção de Garstang, M., Manzi, A.O., Fuentes, J.D., Rocha,
Fogo na Amazônia. Banco Mundial, Brasília, DF, 172 p. H.R., Marengo, J., Plana-Fattori, A., Sá, L.D.A.,
Alvalá, R.C.S., Andreae, M.O., Artaxo, P., Gielow,
Nepstad, D.C., Veríssimo, A., Alencar, A.A., Nobre, C.A.,
R., Gatti, L. 2002. Cloud and rain processes in a
Lima, E., Lefebvre, P., Schlesinger, P., Potter, C.,
biosphere-atmosphere interaction context in the
Moutinho, P., Mendoza, E., Cochrane, M., Brooks,
Amazon Region. Journal of Geophysical Research
V. 1999a. Large-scale impoverishment of Amazonian
107, D20, https://doi.org/10.1029/2001JD000335
forests by logging and fire. Nature 398: 505-508.
Silveira, V. 1992. Amazônia polui com apenas 1,4%. Gazeta
Nogueira, E.M., Nelson, B.W., Fearnside, P.M. 2005. Wood
Mercantil [São Paulo] 29 de maio de 1992, p. 2 & 6.
density in dense forest in central Amazonia, Brazil.
Forest Ecology and Management 208(1-3): 261-286. Skole, D.L., Chomentowski, W.H., Salas, W.A., Nobre,
A.D. 1994. Physical and human dimensions of
Nogueira, E.M., Nelson, B.W., Fearnside, P.M. 2006.
deforestation in Amazonia. BioScience 44(5): 314-322.
Volume and biomass of trees in central Amazonia:
Influence of irregularly shaped and hollow trunks. Soares-Filho, B.S., Nepstad, D.C., Curran, L.M., Cerqueira,
Forest Ecology and Management 227(1-2): 14-21. G.C., Garcia, R.A., Ramos, C.A., Voll, E., McDonald,
A., Lefebvre, P., Schlesinger, P. 2006. Modelling
Ramakutty, N., Gibbs, H.K., Achard, F., De Fries,
conservation in the Amazon basin. Nature 440: 520-523.
R., Foley, J.A., Houghton, R.A. 2007. Challenges
to estimating carbon emissions from tropical Sombroek, W.G. 1992Biomass and carbon storage in
deforestation. Global Change Biology 13(1): 51-66. the Amazon ecosystems. Interciencia 17: 269-272.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2486.2006.01272.x
Uhl, C., Buschbacher, R., Serrão, E.A.S. 1988. Abandoned
Roberts, G.C., Nenes, A., Seinfeld, J.H., Andreae, M.O. pastures in Eastern Amazonia. I. Patterns of plant
2003. Impact of biomass burning on cloud properties succession. Journal of Ecology 76: 663-681.
in the Amazon Basin. Journal of Geophysical Research
van Dijk, S.M., Gut, A., Kirkman, G.A., Gomes, B.M.,
108, D2, https://doi.org/10.1029/2001JD000985
Meixner, F.X., Andreae, M.O. 2002. Biogenic NO
Rosa, L.P., dos Santos, M.A., Matvienko, B., dos Santos, emissions from forest and pasture soils: Relating
E.O., Sikar, E. 2004. Greenhouse gases emissions by laboratory studies to field measurements. Journal
hydroelectric reservoirs in tropical regions. Climatic of Geophysical Research 107, D20, https://doi.
Change 66(1-2): 9-21. org/10.1029/2001JD000358
Rosa, L. P., dos Santos, M. A., Matvienko, B., Sikar, Watson, R.T., Noble, I.R., Bolin, B., Ravindranath,
E., dos Santos, E.O. 2006. Scientific errors in the N.H., Verardo, D.J., Dokken, D.J. (eds.). 2000. IPCC
Fearnside comments on greenhouse gas emissions Special Report on Land Use, Land-Use Change, and
(GHG) from hydroelectric dams and response to his Forestry. Cambridge University Press, Cambridge,
political claiming. Climatic Change 75(1-2): 91-102. Reino Unido 377 p.
3
Questões de posse da terra como fatores
na destruição ambiental na Amazônia
brasileira: O caso do sul do Pará
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2001. Land-tenure issues as factors in environmental destruction in Brazilian
Amazonia: The case of southern Pará. World Development 29(8): 1361-1372.
https://doi.org/10.1016/S0305-750X(01)00039-0
Tradução original:
Fearnside, P.M. 2010. Questões de posse da terra como fatores na destruição ambiental na
Amazônia brasileira: O caso do sul do Pará. p. 185-189, 205-207, 217-219 & 237-239. In: I.S.
Gorayeb (ed.). Amazônia 2. RM Graph, Jornal “O Liberal” & Vale, Belém, Pará. 384 p.
39
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 39 8/18/2022 3:13:17 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
40 DA FLORESTA AMAZÔNICA
FIGURA 1. A Amazônia
Legal Brasileira e o Sul
e Sudeste do Pará em
locais mencionados no
texto.
testado em cinco estados do Nordeste, den- produção agrícola nos lotes (Schwartzman,
tro do programa “Cédula da Terra”, financia- 2000). Este programa está sendo estendido
do pelo Banco Mundial. A terra é comprada para o restante do país, por meio do pro-
dos proprietários a preços de mercado, pa- jeto “Banco da Terra”, do Banco Mundial,
gando-se em dinheiro vivo, e é financiada de US$2 bilhões em seis anos. Até julho de
aos colonos por empréstimos com períodos 2000, o modelo de expropriação e indeniza-
de carência de três anos e 18% de juros anu- ção ainda predominava no estado do Pará.
ais. O programa é criticado pelo MST, que Antes das estradas chegarem no inte-
vê, nessa situação, um esforço para minar rior da Amazônia, no início dos anos 1970,
o seu papel na iniciação da reforma agrária. grandes áreas de terra foram concedidas a
O programa também é criticado pelas con- longo prazo como concessões (aforamentos)
dições desfavoráveis dos empréstimos, os para colheita de produtos como a seringa
quais são improváveis de serem pagos pela (Hevea brasiliensis) ou a castanha-do-Brasil
(Bertholletia excelsa). Muitas vezes as terras nas margens de estrada em frente às proprie-
foram adquiridas por “grileiros” com docu- dades que eles desejam que seja expropriada
mentos falsificados, combinado com subor- pelo governo. Se o governo aceitar essa de-
nos, ameaças e violência para se obter áreas manda, ou os acampamentos são transfor-
ilicitamente. No Brasil como um todo, hoje, mados em assentamentos do INCRA ou são
75% das propriedades com mais de 10.000 ha oferecidos às pessoas lotes de terra em um
de área (latifúndios) têm títulos inválidos, de assentamento em outro local.
acordo com o Ministro do Desenvolvimento Até julho de 2000, o INCRA tinha 276
Fundiário (de Souza, 2000). Uma parte signi- assentamentos no sul do Pará, contendo
ficativa da terra no Pará é registrada no nome 46.000 famílias reconhecidas legalmente
de “fantasmas”, ou seja, pessoas fictícias (além de uma população flutuante significa-
(Pinto, 1999). Essas irregularidades são fa- tiva). Aproximadamente 5.000 famílias adi-
cilitadas pelo sistema bizantino brasileiro de cionais esperavam em 29 acampamentos. Os
inscrição de títulos da terra, onde diferentes acampamentos estabelecidos por movimen-
cartórios podem arquivar uma variedade de tos sociais recebem uma doação de comida
documentos que datam de períodos histó- (cesta básica) do INCRA, desde que eles não
ricos diferentes. As reivindicações de terra invadam terra privada. A entrada de migran-
frequentemente se sobrepõem e, até que o tes em terra privada, chamada de “invasão”
Cadastro Nacional da Terra planejado seja pelo governo e de “ocupação” pelos migran-
implementado, a maioria dos documentos tes, ainda é comum, apesar da política do
da terra não tem informações georreferencia- INCRA, iniciada em 1999, de não inspecio-
das sobre os limites das propriedades. nar e expropriar propriedades que foram in-
Em julho de 2000 o Ministério do vadidas. Atualmente as atenções estão foca-
Desenvolvimento Fundiário cancelou as ins- das na Fazenda Cabaceiras (35 km ao sul de
crições de 1.899 grandes propriedades (77% Marabá). O MST acampou nesta fazenda em
do número total) como parte de um esforço abril de 1999, e os ocupantes se retiraram
para conferir a documentação de grandes temporariamente para a margem da estrada
propriedades em todo o país (Brasil, MDF, em julho de 2000 para permitir a inspeção
2000). No Pará foram cancelados 344 re- do INCRA, a qual é exigida para uma decisão
gistros, ou 88% dos latifúndios no Estado. sobre a expropriação.
Propriedades com registros cancelados não Áreas vastas de pastagem dominam o uso
podem ser vendidas, subdivididas, alugadas de terra na região, se estendendo além do
ou hipotecadas, até que um título válido seja horizonte de visão das estradas principais.
apresentado ao INCRA. A prevalência de tí- A maioria da terra se encontra em grandes
tulos irregulares significa que a situação da fazendas de pecuária, frequentemente com
posse de terra na área poderia mudar radi- donos ausentes. Pelo menos nove fazendas
calmente se as terras que atualmente se en- grandes (cada uma com aproximadamente
contram nas mãos de “grileiros” fossem, de 10.000 ha) são da família Mutran, que obte-
fato, desapropriadas. ve concessões de 99 anos para a exploração
No sul e sudeste do Pará, que daqui por de castanha-do-Brasil antes da área se tor-
diante será denominado o “sul do Pará” nar acessível ao transporte rodoviário (e.g.,
(Fig. 1), a iniciativa de assentar pequenos Bunker, 1985; de Almeida, 1995; Emmi,
agricultores vem, principalmente, de uma 1988). O estado legal destas concessões é
variedade de movimentos sociais que orga- um ponto fundamental a ser resolvido nas
nizam migrantes sem terra. Enquanto o MST disputas fundiárias atuais. O MST argumen-
é o maior destes movimentos em escala na- ta que as concessões só permitem a colheita
cional, e o que exerce mais pressão políti- da castanha-do-Brasil, e não o desmatamen-
ca sobre o governo federal, no sul do Pará to ou a exploração madeireira. Estas conces-
o maior é a Federação dos Trabalhadores na sões são controladas pelo Instituto Estadual
Agricultura (FETAGRI). Movimentos sociais de Terras do Pará (ITERPA), ao invés de se-
fixam acampamentos ou em terra privada ou rem controladas pelo órgão federal (INCRA).
Prováveis complicações legais, de acordo Foweraker, 1981; Schmink, 1982). Foi nessa
com a lei brasileira, incluem a possibilidade área que 19 membros do MST foram mortos
dos fazendeiros reivindicar que os termos de a tiros pela Polícia Federal em abril de 1996,
concessão tinham sido violados “de boa fé” no massacre de Eldorado dos Carajás, um
e também a grande dificuldade de remover evento que resultou em mudanças abruptas
qualquer pessoa (grande ou pequena) que nas políticas públicas na área. A colonização
ocupa uma terra sem oposição durante mais durante os anos de 1970 seguiu o modelo
de um ano. A existência de pastagens serve dos Projetos de Colonização Integrado (PICs)
como prova de que os fazendeiros estão ocu- da Rodovia Transamazônica, os quais eram
pando a terra de forma produtiva. Pastagem fortemente subsidiados (Smith, 1982). Nos
também conta como “benfeitoria” na terra anos de 1980, o fluxo de migrantes aumen-
que deve ser indenizada se a terra for desa- tou dramaticamente, levando à substituição
propriada, impondo, assim, limites práticos do INCRA na região pelo Grupo Executivo
sobre a quantidade de terra com pastagem das Terras do Araguaia e Tocantins (GETAT),
que o governo pode expropriar. uma agência militar que realizou expropria-
ções sumárias de terra privada que não tinha
O MST afirma que pastagem não é “terra “melhorias” (i.e., áreas florestadas) e distri-
produtiva” (classificação como “improduti- buição rápida da terra como lotes em áreas
vo” permite a expropriação), argumentando de assentamento com infraestrutura míni-
que a pastagem não cumpre a “função so- ma. A terra em volta da área de mineração
cial da terra”, requerida pela Constituição do Carajás era de prioridade máxima (e.g.,
Brasileira de 1988 (Artigo 184). A interpre- Fearnside, 1986b).
tação do MST da “função social” é que a
terra tem que produzir comida e emprego. O GETAT foi extinto em 1987, seguido
Embora os sistemas de pecuária extensiva por um hiato de 11 anos durante os quais
que predominam nas fazendas forneçam a reforma agrária permaneceu paralisada,
carne bovina e empregos, as quantidades até que o INCRA reiniciou as atividades na
produzidas por hectare são minúsculas área em novembro de 1996, após o massacre
(Hecht, 1993). O INCRA classifica a produti- de Eldorado dos Carajás. Enquanto isso, as
vidade considerando um sistema de pontua- populações urbanas e rurais desempregadas
ção que acrescenta pontos para a pastagem tinham aumentado muito após o esgotamen-
com base na densidade de gado presente e o to da mina de ouro da Serra Pelada no fi-
retorno econômico da operação. No caso da nal dos anos 80. As demissões em massa da
Fazenda Cabaceiras, uma equipe do INCRA companhia que operava as minas de ferro
com dois observadores do MST começaram do Carajás (Companhia Vale do Rio Doce:
a inspecionar a fazenda em julho de 2000 CVRD), privatizada em 1997, incrementaram
para decidir a sua classificação como “pro- a crise. Insuficiências no restabelecimento
dutiva” ou “improdutiva”. das 23.871 pessoas deslocadas pela represa
de Tucuruí, em 1984, também agravaram
os problemas sociais (Fearnside, 1999a).
Conflitos de terra Por exemplo, na Área de Assentamento Rio
O sul do Pará é uma região de 40 mu- Moju, 60% das famílias que foram trans-
nicípios abrangendo 49 milhões de hecta- feridas da área do reservatório venderam
res e, frequentemente, é proposto que essa ou abandonaram os seus lotes nos primei-
região se torne um estado independente, de ros seis anos de assentamento (Magalhães,
nome “Carajás”, com a capital localizada em 1994, pág. 454).
Marabá. Essa área é conhecida como a parte Conflitos entre fazendeiros e posseiros
da Amazônia onde questões fundiárias são têm sido comuns ao longo do tempo, mas
muito explosivas, com uma série contínua de agora os conflitos também estão surgindo
conflitos violentos de terra entre os peque- entre migrantes recém-chegados e os co-
nos agricultores e os grandes proprietários de lonos já estabelecidos que possuem lotes
terras desde o início dos anos de 1970 (e.g., de 20-25 ha em áreas de assentamento do
INCRA, como é o caso da área Progresso es- aos lotes, em vez de serem ligadas às pesso-
tabelecida em 1987. Áreas como esta con- as que receberam os empréstimos. Isto serve
tém populações flutuantes significantes, como um forte estímulo para o abandono
incluindo migrantes individuais que não se dos lotes depois que os recursos do financia-
uniram aos movimentos organizados e mi- mento são recebidos. Também, torna difícil a
grantes que já receberam lotes previamente venda dos lotes abandonados, já que o com-
do INCRA e que agora são desqualificados prador teria que herdar as dívidas do dono
de serem assentados novamente. anterior. Frequentemente, os que abando-
nam seus lotes estão fugindo com o dinheiro
Fracasso e sucesso dos colonos do empréstimo e, dessa forma, o comprador
subsequente estaria assumindo a dívida
A dificuldade de implantar e manter sis- sem um nível correspondente de melhorias
temas de produções sustentáveis em áreas oriundas do investimento dos fundos de fi-
de assentamento na Amazônia é aparente. nanciamento. O resultado é que os bancos
Entre outras deficiências, os colonos, fre- ficam com lotes expostos, sujeitos às inva-
quentemente, têm pouco conhecimento sões subsequentes pela população flutuante.
de como administrar uma propriedade, in-
cluindo habilidades administrativas básicas A extensão agrícola (incluindo serviços
e conhecimento dos problemas especiais da educacionais) é essencial para implantar
agricultura amazônica. Em alguns casos, sistemas sustentáveis. A EMATER, a agên-
como os projetos Palmares -I e -II, os colo- cia federal para extensão agrícola, tem, nos
nos foram trazidos de favelas dos arredores anos recentes, limitado as suas atividades
de Marabá. Moradores de rua urbanos são para servir de intermediária para o crédito
péssimos agricultores, já que esta profis- agrícola, em vez de agir como uma agência
são requer, pelo menos, tanto conhecimen- de extensão. Em 1997, o INCRA estabeleceu
to especializado quanto empregos urbanos um programa de extensão independente cha-
(Moran, 1981). Deve-se enfatizar que a falta mado “Projeto Lumiar”, que foi extinto em
de sucesso de muitos migrantes em projetos junho de 2000 devido a dificuldades legais.
de assentamento de governo não é o resul- Esse projeto alocou agentes de extensão agrí-
tado dos defeitos inerentes das pessoas as- cola para cuidar dos colonos em 29 dos 276
sentadas, como às vezes é alegado por fun- projetos de assentamento (11%) do sul do
cionários do governo (ver Almeida, 1994). Pará. Os agentes foram espalhados de forma
O fracasso é, frequentemente, o resultado esparsa nos projetos favorecidos; por exem-
da falta de apoio material oportuno e apro- plo, no projeto Palmares-II, três agentes co-
priado, assim como, também, da falta de um briam 517 famílias em uma área de 15.000
conjunto de informações e atitudes que pre- ha. Financiamentos do PRONAF concedem
cisam ser adquiridas. até R$ 9.500 (US$ 5.135) por família para
A substituição de lotes é um problema projetos julgados adequados para a terra de
perene que inibe a redução das taxas de des- cada assentado, tais como vacas leiteiras para
matamento. Quando lotes são abandonados os assentamentos com pastagem e cupuaçu
ou vendidos, os donos anteriores se mudam (Theobroma grandiflorum) ou mudas de coco
para desmatar em outro lugar. Se abandona- (ambos irrigados) para os assentamentos
do, o lote deixado para trás permanece inal- com floresta. A associação que organiza os
terado durante um período de tempo, mas, colonos em uma área de assentamento pode
também, pode ser invadido por migrantes deduzir 2% dos fundos do PRONAF para con-
sem terra. Se o lote é comprado por uma tratar uma empresa privada para fornecer os
segunda onda de colonos, provavelmente serviços de extensão. Muitas vezes as associa-
será agregado aos lotes vizinhos para formar ções de colonos foram infelizes nas escolhas
uma pequena fazenda. As dívidas bancá- das suas empresas de extensão. Por exemplo,
rias, incluindo as do Programa Nacional de o assentamento Progresso escolheu uma em-
Agricultura Familiar (PRONAF), são ligadas presa (AGROPAN) sem agentes de extensão
áreas de floresta tropical não é enfatizado na acontece quase que, exclusivamente, nas
propaganda da companhia. porções florestadas das propriedades (e.g.,
A Estrada de Ferro de Carajás, completada Fazenda Cabaceiras). Certamente esse resul-
em 1984, foi financiada pelo Banco Mundial, tado se deve, em parte, à maior probabili-
pela Comunidade Econômica Européia e pelo dade de os fazendeiros reagirem com resis-
Banco de Importação-Exportação Japonês. tência armada se as áreas de pastagem das
Na ocasião, foi considerado um “modelo de propriedades forem invadidas. Outro fator
progresso ambiental” (Goodland, 1985). No importante é a dificuldade de plantar cultu-
entanto, a avaliação ambiental do Banco ras anuais, como arroz e milho, em áreas de
Mundial considerou apenas os impactos di- pasto por causa do solo compactado, o tape-
retos, e a área de influência considerada foi te grosso de raízes de capim e a tendência de
limitada a uma faixa de 100 km ao longo o capim rebrotar como erva daninha depois
da estrada de ferro mais as áreas em vol- que as culturas estiverem estabelecidas. A
ta da mina e do porto (Fearnside, 1989). O conversão de pastagem para culturas agrí-
Programa Piloto para a Conservação das colas usando ferramentas manuais é uma
Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7) fornece tarefa muito difícil.
atualmente um arcabouço de que os esforços A manutenção da produtividade das
para conter a destruição ambiental nesta par- pastagens também enfrenta impedimentos,
te da Amazônia poderiam ser financiados pe- tanto para pequenos colonos quanto para os
las mesmas fontes que financiaram original- grandes fazendeiros. A pastagem se degrada
mente a estrada de ferro (Brasil, MMA, 2000). depois de aproximadamente dez anos, mas,
pode ser “recuperada” se os troncos e tocos
forem retirados mecanicamente e a terra for
A POSSE DA TERRA E O MEIO AMBIENTE arada, fertilizada, corrigida (com calcário) e
Desmatamento replantada (Faminow, 1998; Mattos & Uhl,
1994). Em 2000, estas operações tiveram um
Por muitos anos os fazendeiros se conside- custo aproximado de R$ 1.500 (US$ 811) por
raram “obrigados” a desmatar a floresta para hectare, muito maior que o preço médio de
garantir a posse da terra, porque, apesar das R$ 350/ha (US$180/ha) da terra com pas-
proibições contra o desmatamento, qualquer tagem ou R$ 80/ha (US$ 43/ha) para terra
proprietário de terras que não desmatasse, na com floresta. Este fato desencoraja a intensi-
prática, perderia a terra, ou pela expropriação ficação da pastagem uma vez que haja terra
ou pela invasão. Os problemas de posse da disponível para compra.
terra estão conduzindo à destruição ambien- O processo de assentamento conduz ao
tal tanto por efeitos diretos quanto por indire- desmatamento de floresta adicional até mes-
tos, acelerando o desmatamento por grandes mo para a parcelao da população já assen-
e pequenos proprietários de terras. Deve-se tada em áreas desmatadas. Por exemplo, na
enfatizar que a maior parte do desmatamen- área de assentamento Palmares-I (iniciada
to é realizada por propriedades grandes e em 1993), os colonos que receberam lotes de
médias (Fearnside, 1993, 1997c). Imagens do
terra de pastagem muitas vezes plantaram as
satélite LANDSAT, de 1998, indicam que um
suas culturas anuais nas terras dos seus vizi-
pouco mais da metade do desmatamento feito
nhos que receberam lotes ainda em floresta.
ao longo do período 1997-1998 na Amazônia
Os assentamentos conduzem, inexoravel-
brasileira foi observada em áreas contínuas de,
mente, a uma paisagem dominada por pas-
pelo menos, 100 ha de extensão (Brasil, INPE,
tagem que, exceto pela maior densidade de
2000), uma escala de atividade que excede em
casas, tem o mesmo aspecto geral das vastas
pelo menos 20 vezes o que um agricultor pe-
áreas de pastagem nas grandes propriedades
queno pode desmatar em um único ano usan-
vizinhas. A área de assentamento Boca do
do mão-de-obra familiar.
Cardoso, iniciada pelo GETAT em 1986 em
A invasão atual de fazendas grandes uma área de floresta contínua dominada por
por organizações de camponeses sem terra árvores de castanha-do-Brasil, fornece um
depois para o oeste até Rurópolis (prevista (Fazenda Taboquinha), e colonos nos
no Plano Plurianual 2000-2003, também co- Projetos de Assentamento (P.A.) Progresso,
nhecido como “Avança Brasil”), é provável Palmares-I e Palmares-II. Informações úteis
que o fluxo destas áreas se distribua para também foram fornecidas por represen-
áreas maiores com floresta em pé. Isto res- tantes em Brasília dos CNA, EMBRAPA,
salta a necessidade de uma ação para dimi- IBAMA, INCRA, MMA e Banco Mundial.
nuir o fluxo de pessoas, particularmente do Representante do Pará/Amapá da FETAGRI
Maranhão, para Marabá. e especialmente discussões com os meus
Reduzir a velocidade do fluxo de popula- colegas membros do Grupo Aconselhador
ções do Maranhão requer, no mínimo, dar um Internacional (IAG), do PPG-7. O Conselho
fim à prática de pagamento da passagem de Nacional do Desenvolvimento Científico
trem realizada por algumas prefeituras muni- e Tecnológico (CNPq AI 523980/96-5) e o
cipais do Maranhão para os migrantes e, tam- Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
bém, remover qualquer subsídio da CVRD no (INPA PPI 1-3160) contribuíram com apoio
fornecimento do serviço de passageiro na fer- financeiro. R.I. Barbosa, N. Hamada, S.V.
rovia. No futuro, considerar o fim do serviço Wilson e um referee anônimo fizeram co-
de passageiro pode ser necessário. Também mentários valiosos. Esta é uma tradução atu-
são necessários maiores esforços para alcan- alizada de um trabalho publicado na revista
çar a reforma agrária para viabilizar a pro- World Development (Fearnside, 2001).
dução agrícola familiar dentro do Maranhão.
Nenhum programa para reduzir os problemas
ambientais e de posse da terra no sul do Pará GLOSSÁRIO DE SIGLAS
terá êxito sem o fim da exportação de popu-
lação das áreas fonte. Condições prévias para BASA Banco da Amazônia, S.A.
a melhoria dos problemas sociais e ambien- CNA Confederação Nacional da
tais na Amazônia incluem enfrentar o pro- Agricultura
blema de migração, estabelecer o controle da
lei na região, redistribuir áreas de pastagem CORRENTÃO Cooperativa dos
de grandes propriedades e implantar formas Trabalhadores Agro-
sustentáveis de agricultura familiar nas pasta- Extrativistas de Nova Ipixuna
gens redistribuídas. CVRD Companhia Vale do Rio Doce
EMATER Empresa Assistência Técnica
AGRADECIMENTOS e Extensão Rural
Os seguintes órgãos e grupos fornece- EMBRAPA Empresa Brasileira de
ram ajuda e informações valiosas no Sul do Pesquisa Agropecuária
Pará: Instituto Nacional de Colonização e FETAGRI Federação de Trabalhadores
Reforma Agrária (INCRA), Superintendência na Agricultura
do Sul e Sudeste do Pará, Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) GETAT Grupo Executivo das Terras
na Fazenda Cabaceiras, Federação dos do Araguaia-Tocantins
Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI), IBAMA Instituto Brasileiro do Meio
Marabá, Sindicato dos Produtores Rurais
Ambiente e dos Recursos
de Marabá (PRORURAL), Associação
Naturais Renováveis
dos Produtores Rurais Agro-Extrativistas
do Assentamento Progresso (APREAP), ITERPA Instituto das Terras do Pará
Associação de Produção e Comercialização
INCRA Instituto Nacional de
do Assentamento de Palmares (APROCPAR),
Colonização e Reforma
Cooperativa dos Trabalhadores Agro-
Agrária
Extrativistas de Nova Ipixuna (CORRENTAO),
Amigos da Terra-Marabá, José Diamantino MLT Movimento da Luta pela Terra
MMA Ministério do Meio Ambiente de Almeida, A.W.B. 1995. Carajás: A Guerra dos Mapas,
(anteriormente o Ministério 2a ed. Seminário Consulta, Belém, Pará.
do Meio Ambiente e da de Souza, J. 2000. “75% dos latifúndios são irregulares”.
Amazônia Legal) Folha de São Paulo, 08 de abril de 2000. p. I-10.
Fearnside, P.M. 1999a. Social impacts of Brazil’s Tucuruí Magalhães, S.B. 1994. As grandes hidrelétricas e as
Dam. Environmental Management 24(4): 485-495. populações camponeses. In: M. A. D’Incao & I.
M. da Silveira (Eds.). A Amazônia e a Crise de
Fearnside, P.M. 1999b. Forests and global warming
Modernização. Museu Paraense Emílio Goeldi,
mitigation in Brazil: Opportunities in the Brazilian Belém, Pará. p. 447-456.
forest sector for responses to global warming under
the “Clean Development Mechanism”. Biomass and Mattos, M.M. & C. Uhl, 1994. Economic and ecological
Bioenergy 16(3): 171-189. perspectives on ranching in the Eastern Amazon.
World Development 22: 145-158.
Fearnside, P.M. 2001. Land-tenure issues as factors in
environmental destruction in Brazilian Amazonia: Moran, E.F. 1981. Developing the Amazon: The Social
The case of southern Pará. World Development 29 and Ecological Consequences of Government-Directed
(8): 1361-1372. Colonization along Brazil’s Transamazon Highway.
Indiana University Press, Bloomington, Indiana, E.U.A.
Figueiredo, L. 2000. “Mudança na base orienta a nova
ofensiva do MST”. Folha de São Paulo, 07 de maio Pinto, L.F. 1999. Grilagem: Pará pode perder 20% das
de 2000, p. I-4. suas terras. Agenda Amazônica 1(4): 1-5.
Foweraker, J. 1981. The Struggle for Land: A Political Rosenn, K.S. 1971. The jeito: Brazil’s institutional bypass
Economy of the Pioneer Frontier in Brazil, 1930 to of the formal legal system and its development
the Present. Cambridge University Press, Cambridge, implications. American Journal of Comparative Law
Reino Unido. 19: 514549.
Goodland, R. 1985. Brazil’s environmental progress in Schmink, M. 1982. Land conflicts in Amazonia. American
Amazonian development. In: J. Hemming (Ed.). Ethnologist 9(2): 341357.
Change in the Amazon Basin: Man’s Impact on Schwartzman, S. 2000. The World Bank and land
Forests and Rivers. Manchester University Press, reform in Brazil. http://www.MSTBRAZIL.org/
Manchester, Reino Unido. p. 5-35. LandReform.html
Hecht, S.B., 1993. The logic of livestock and deforestation Silveira, V. 2000. “MST encerra 4o congresso prometendo
in Amazonia. BioScience 43(10): 687-695. tomar o poder”. Jornal do Brasil [Rio de Janeiro], 12
de agosto de 2000, p. 5.
Langevin, M. S. & R. Rosset. 2000. Land reform from
below: The Sem terra Workers Movement in Brazil. Smith, N.J.H. 1982. Rainforest Corridors: The
http://www.MSTBRAZIL.org/Rosset.html. 03 de Transamazon Colonization Scheme, University of
agosto de 2000. California Press, Berkeley, California, E.U.A.
4
O cultivo da soja como ameaça para o
meio ambiente na Amazônia brasileira
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2001. Soybean cultivation as a threat to the environment in Brazil. Environmental
Conservation 28(1): 23-38. https://doi.org/10.1017/S0376892901000030
Tradução original:
Fearnside, P.M. 2006. O cultivo da soja como ameaça para o meio ambiente na Amazônia bra-
sileira. p. 281-324. In: L.C. Forline, R.S.S. Murrieta & I.C.G. Vieira (eds.) Amazônia Além dos 500
Anos. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará, Brasil. 566 p.
55
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 55 8/18/2022 3:13:25 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
56 DA FLORESTA AMAZÔNICA
pelo efeito de fontes múltiplas de lucro do que Entretanto, para substituir pastagens perdi-
é o caso para produtos como a madeira ou a das, os fazendeiros podem desmatar mais
carne de boi. Isto ocorre em função do custo áreas de floresta dentro das suas proprieda-
muito alto por hectare para implantar a soja, des. Também é possível desviar parte dos
principalmente, quando comparado com a recursos dos subsídios governamentais des-
exploração madeireira ou com a implantação tinados à soja para aumentar áreas de pas-
de pastagens. A soja, então, escapa do uso tagem, como aconteceu com freqüência nos
por motivos ulteriores, como assegurar a pos- anos oitenta no caso de subsídios para serin-
se para propósitos especulativos. Além disso, gueira em Rondônia.
a soja freqüentemente substitua ecossistemas Até o momento, a grande maioria da soja
de baixa biomassa, tais como o cerrado, fa- plantada no Brasil não fica em áreas de flo-
zendo com que os lucros potenciais da explo- resta tropical, mas, principalmente, no cer-
ração de madeira sejam mínimos. rado e nos vários tipos de campos nativos
amazônicos (Fig. 1). No entanto, esta vegeta-
A soja pode estimular o desmatamento ção também abriga uma diversidade alta que
em fazendas amazônicas, mesmo que flo- freqüentemente não é apreciada. Acredita-se
resta não seja derrubada para o seu culti- que o cerrado brasileiro seja a mais diversa
vo. Por exemplo, em Paragominas, Pará, a das savanas do mundo em termos de número
soja é plantada em áreas de pastagem velha. de espécies (Klink et al., 1993).
Figura 4. Locais na
Amazônia e áreas
vizinhas mencionados
no texto.
solo, e efeitos de substâncias químicas agrí- do Norte e na Europa (veja Fearnside, 1995).
colas sobre o meio ambiente e sobre a saú- Além disso, uma seca na América do Norte
de humana, a expulsão de populações que conduziu à suspensão temporária de re-
antes habitava as áreas usadas para soja, a messas de soja para a Europa (Smith et al.,
falta de produção de comida para consumo 1995). O aumento resultante nos preços da
local, já que as terras agrícolas usadas para soja conduziu à expansão rápida do cultivo
a agricultura de subsistência são plantadas mecanizado da soja no Paraná. Uma geada
com soja, e o custo de oportunidade das ver- na região Sul do Brasil em 1975 também
bas governamentais dedicadas a subsidiar a acelerou o abandono do café. Outros fato-
soja que não são usadas para educação, saú- res que induziram os proprietários de terras
de e investimentos em atividades que geram na Região Sul trocarem de culturas com uso
mais emprego do que a sojicultura mecani- intensivo de mão-de-obra, tais como o café,
zada. Geração de emprego através do culti- incluem o aumento dos direitos dados a me-
vo de soja é mínima. No Maranhão a média eiros sob um estatuto de terra de 1964 e leis
é um trabalhador por cada 167 ha de soja, de salário-mínimo que aumentaram o custo
e em plantações grandes esta relação sobe de contratar os trabalhadores (Kaimowitz &
para um por cada 200 ha (Carvalho, 1999). Smith, 2001).
Freqüentemente, o emprego criado não é lo-
A soja se deslocou então do Paraná ao
cal. Por exemplo, em Humaitá, Amazonas,
cerrado (Klink, 1995; Klink et al., 1994). A
trabalhadores qualificados do Estado de Rio
marcha do cultivo da soja, no nível muni-
Grande do Sul são trazidos para operar a ma-
cipal, é mostrada em mapas de dados do
quinaria agrícola (observação pessoal).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IGBE) (Fig. 5).
A EXPANSÃO DA SOJA
Um fator importante no avanço da soja
O Brasil produziu menos de um quarto para o cerrado foi o desenvolvimento de com-
da safra global de soja em 1998, tornando binações soja-bactéria com relações pseu-
o País o segundo produtor do mundo, de- do-simbiónticas que permitiram plantar soja
pois dos Estados Unidos, que produziram sem aplicação de fertilizantes nitrogenados.
mais da metade da safra global (Brown et Este era um triunfo para a pesquisa brasilei-
al., 1999: 32). Em 1999 a área de soja no ra, alcançado através do trabalho de Johanna
Brasil somou 13 milhões de hectares (Brasil, Döbereiner (por exemplo, Döbereiner, 1992).
CNPSO-EMBRAPA, 1999). A longa estação O desenvolvimento de variedades toleran-
de crescimento que a agricultura no Brasil tes a baixos níveis de fósforo no solo e de
tem representa uma grande vantagem so- altos níveis de alumínio também foi crítico
bre concorrentes em países temperados. A (Spehar, 1995).
produção anual por hectare é mais alta no
Subsídios generosos era um fator funda-
Brasil do que na América do Norte, e o tem-
mental induzindo o movimento da soja para
po extra na estação de crescimento alivia os
o cerrado. O Programa para Desenvolvimento
agricultores brasileiros dos picos de trabalho
dos Cerrados (POLOCENTRO) distribuiu
intenso nas épocas de plantio e de colheita
US$577 milhões em empréstimos altamente
que são necessários para os competidores na
subsidiados entre 1975 e 1982, responsável
zona temperada.
pela conversão em agricultura de 2,4 milhões
Nos anos setenta a pescaria de anchova de hectares de savana (Mueller et al., 1992
ao largo da costa do Peru desmoronou devido citados por Kaimowitz & Smith, 1999). Outro
ao efeito combinado de depleção pela sobre- evento fundamental na história do avanço da
pesca prolongada e o golpe-de-misericórdia soja no cerrado era o Programa de Cooperação
do fenômeno El Niño/Oscilação do Sul. O Nippo-Brasileiro para Desenvolvimento
fim da pesca comercial contribuiu para o uso Agrícola do Cerrado (PRODECER), começado
da soja como substituto para a farinha de em 1974 com financiamento da Agência de
peixe em ração de animais usada na América Cooperação Internacional Japonesa (JICA).
incorporadas por esta versão mecanizada de de empreiteiras e para uso eleitoral dos pro-
agricultura itinerante. jetos. As barragens de Balbina e de Jatapu
são exemplos bem-documentados deste tipo
Agrotóxicos usados para combater doen-
de dinâmica (Fearnside, 1989; Fearnside &
ças, insetos e ervas daninhas no cultivo da
Barbosa, 1996).
soja podem ter impactos no ambiente, como
também nas pessoas expostas a eles. Isto é Projetos de infraestrutura implantados
especialmente preocupante com relação aos com o propósito primário de transportar a
planos para expansão da soja na várzea per- soja terão efeitos na atratividade econômica
to de Santarém (Carvalho, 1999). Durante o de outras mercadorias, com impactos conse-
período de vazante encolhem ou secam os qüentes no ambiente. A Exportação de ma-
lagos da várzea, concentrando os peixes que deira do Acre pela Estrada para o Pacífico é
são facilmente capturados. Se as terras cir- um exemplo.
cunvizinhas estiverem plantadas com soja,
pode-se esperar que as altas doses de agrotó- Hidrovia Paraguai-Paraná (Hidrovia do Pantanal)
xicos usadas nessa cultura vão se concentrar
Impactos da Hidrovia Paraguai-Paraná
nos lagos e nos peixes.
seriam significativos, posando uma ameaça
Devido ao fato de que a soja requer in- ao tesouro de vida selvagem brasileira no
vestimentos pesados de capital em maquina- Pantanal (Blumenschein et al., s/d [1999];
ria, preparação do terreno e insumos agríco- Hamilton, 1999). O trecho da Hidrovia de
las, essa cultura é inerentemente de domínio Corumbá para Cáceres seria o pior do ponto
de empresários ricos da agroindústria, e não de vista de impactos ambientais no Pantanal.
de agricultores pobres. Uma extrema con- A importância do Pantanal para a biodiver-
centração de renda tem sido associada com sidade global não pode ser sobre-enfatizada
a soja onde quer que essa cultura esteja na (Heywood & Watson, 1995).
América Latina (Kaimowitz et al., 1999). A
A Hidrovia do Pantanal parece ser um
concentração de renda e a influência política
exemplo daquilo que é conhecido como “proje-
associada de elites poderosas têm repercus-
to vampiro”, ou seja, projetos que, como vam-
sões negativas em todas as sociedades onde
piros, dificilmente podem ser mortos, apenas
estas transformações estão acontecendo.
voltando para os seus caixões, dos quais eles
reemergem depois. O governo brasileiro anun-
Impactos de infraestrutura de transporte ciou em março de 1998 que estava sustando
Estrada para o Pacífico planos para a Hidrovia Paraguai-Paraná (por
exemplo, Associated Press, 1998). A existência
Os Planos para produção de soja no de projetos vampiro ficou claro recentemen-
Estado de Acre são usados como justificativa te com o caso da Hidrelétrica de Babaquara,
para construir a Estrada para o Pacífico, ou via no Rio Xingu. Desde 1992, os porta-vozes do
Assis Brasil (no sul do Acre) e Cuzco, Peru, governo fizeram inúmeras declarações de que
ou via Cruzeiro do Sul (no oeste do Acre) e esta represa não seria construída, mas agora
Pucallpa, Peru. Porém, a viabilidade econô- reapareceu com um nome novo (a Hidrelétrica
mica de transportar soja pelo Andes por ca- de Altamira) no plano decenal atual (Brasil,
minhão ainda não tem sido demonstrada. No ELETROBRÁS, 1998: 148), com conclusão pro-
entanto, a existência de numerosas obras de gramada para 2013. O vampiro da Babaquara
infraestrutura economicamente injustificáveis voltou. O problema é que faltam mecanismos
na Amazônia indica que a falta de viabilidade legais pelos quais o governo possa fazer com-
econômica não é o suficiente para proteger promissos irrevogáveis para não construir pro-
o ambiente desses projetos. Independente da jetos específicos que são conhecidamente da-
exportação da soja ser economicamente viá- nosos. Nós temos a cruz e o alho para afastar
vel ou não, esta pode vir a ser usada como temporariamente o vampiro, mas não a estaca
uma desculpa para que obras públicas caras para cravar no seu coração e, assim, matá-lo
sejam impelidas por interesses financeiros para sempre. O trecho Corumbá-Cáceres da
Hidrovia do Pantanal dorme como um vam- construção obteve uma contra decisão, per-
piro no seu caixão, pacientemente esperando mitindo que as preparações para a hidrovia
um retorno futuro. prosseguissem (Radiobrás, 1999). A Hidrovia
Tocantins-Araguaia continua sendo um proje-
Hidrovia Tocantins-Araguaia to de prioridade no programa Avança Brasil.
A Hidrovia Tocantins-Araguaia iria expor A Hidrovia Tocantins-Araguaia incluiria
a Ilha de Bananal à ação das ondas e afetaria instalação de eclusas na barragem de Tucuruí
negativamente a pesca no rio (Cohen, 1995; e em uma longa série de represas hidroelétri-
Switkes, 1999). A Ilha de Bananal é o local cas planejadas nesses rios (Fearnside, 1999).
do Parque Indígena do Araguaia e o Parque O caminho da hidrovia inclui uma mudança
Nacional do Araguaia. O Estudo de Impacto em elevação de 925 m. A pergunta de como
Ambiental (EIA) e o Relatório de Impactos seriam tomadas as decisões sobre a instalação
sobre o Meio Ambiente (RIMA) para esta hi- de eclusas em dezenas de represas é delicada,
drovia (FADESP, 1996a,b) omitiram porções já que o Ministro do Desenvolvimento desde
do texto original que mencionavam aumen- 14 de setembro de 1999 era, até se tornar mi-
tos esperados na mortalidade em tribos no nistro, o presidente da companhia de constru-
Parque Indígena do Araguaia devido ao efei- ção Camargo Corrêa (Folha de São Paulo, 7 de
to que a poluição e o tráfico de barcaças te- setembro de 1999). Na hora de assumir o car-
riam sobre os recursos pesqueiros. Isto con- go, a Camargo Corrêa já estava instalando
duziu a acusações pelos antropólogos que as eclusas na primeira barragem (Tucuruí)
trabalharam no estudo que as alterações no e estava mais bem posicionada para obter
relatório submetido ao Instituto Brasileiro todos os contratos ao longo da Hidrovia
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Tocantins-Araguaia.
Renováveis (IBAMA) eram “inescrupulosas
e de má-fé” (Carvalho, 1999). Falhas múlti- Hidrovia Teles Pires-Tapajós
plas no Relatório de Impactos sobre o Meio
As obras na Hidrovia Teles Pires-Tapajós
Ambiente (RIMA) levaram a uma ordem judi-
foram suspensas por uma ordem judicial em
cial em junho de 1997 suspendendo as obras
junho de 1997 porque seu estudo de impacto
nesta hidrovia (Switkes, 1999). Entre outras
ambiental (EIA) omitiu impactos sobre os po-
falhas, o relatório não diz nada sobre o que
vos indígenas ao longo da rota. Impactos na
seria feito com 2,5 milhões de m3 de sedimen-
tribo Mundurucu foram omitidos por um tru-
tos a serem dragados do rio e 204.000 m3 de
que inteligente: dividindo o relatório em duas
pedras a serem explodidos, nem diz nada so-
seções, um para a extensão abaixo da tribo e
bre o impacto das explosões. O relatório não
a outra para o trecho acima da tribo, simples-
menciona que o nível do rio é muito baixo
mente negligenciando qualquer menção da
para navegar de junho a novembro, período
existência da tribo (Novaes, 1998). Omitir a
que corresponde à época da colheita da soja.
menção sobre os índios era um meio de evitar
O cálculo do relatório prevê o transporte de
a exigência constitucional de obter aprovação
30 milhões de toneladas de soja por ano (seis
do projeto pelo Congresso Nacional.
vezes a produção atual de Mato Grosso), e
presume, sem nomear um único produto, que Hidrovia do Rio Madeira
as barcaças levariam frete de retorno igual a
50% desta capacidade (Novaes, 1998). A hi- Em março de 1997 barcaças começaram
drovia competiria com a Ferrovia Norte-Sul a chegar em Itacoatiara, Amazonas, em um
por transportar a produção de muitas das terminal graneleiro novo que tinha sido em
mesmas áreas produtoras de soja. A audiência grande parte pago pelo governo estadual
pública para a hidrovia foi suspensa em 22 de (Amazonas em Tempo, 02 de março de 1997).
setembro de 1999 por uma decisão judicial a O depósito tem capacidade de armazenamen-
favor dos antropólogos que tinham sido false- to por 90.000 t, e em uma segunda fase, isto
ados no relatório (Silveira, 1999). Uma sema- será dobrado. Desde que o terminal começou
na depois, em 29 de setembro, o consórcio de a operar, 145 caminhões por dia têm chegado
assim conectando essa área com o porto de prioridade nos Programas Brasil em Ação e
água funda em Barcarena. A hidrovia tam- Avança Brasil, mas permanece nos planos. O
bém seria usada para transportar caulim Ministério dos Transportes tem planos gran-
(barro da China) de uma das maiores jazidas diosos para expansão da Ferronorte (Brasil,
do mundo desta matéria-prima para uso na Ministério dos Transportes, 1999). Estes
fabricação de papeis lustrosos. incluem a extensão da estrada de ferro até
Porto Velho e a adição de um trecho de 1500-
Ferrovia Norte-Sul km de Cuiabá para Santarém, assim dupli-
cando a rota da Rodovia Santarém-Cuiabá
A Ferrovia Norte-Sul ligaria Goiânia, (BR-163) e da Hidrovia Teles Pires-Tapajós.
Goiás, com Açailândia, Maranhão, onde co-
nectaria com a Estrada de Ferro de Carajás Estrada de Ferro Madeira-Mamoré
que conduz ao porto de Itaiquí perto de São
Luís. A Estrada de Ferro de Carajás tem fun- A reconstrução da Estrada de ferro
cionado para transporte de minério de ferro Madeira-Mamoré, inicialmente construí-
desde 1984. Parte da Ferrovia Norte-Sul foi da em 1912 e abandonada em 1972, é uma
construída em 1988, mas foi interrompida das propostas para o transporte de soja. Isto
como resultado de um escândalo financeiro: evitaria as cataratas no Rio Madeira, forne-
a licitação tinha sido fraudada e os resultados cendo escoamento de produção da Bolívia,
foram publicados nos anúncios classificados da parte sul de Rondônia, e do Mato Grosso
de um dos principais jornais do país antes de ocidental. Uma hidrovia seria necessária nos
abrir os lances. Uma distinção menos famosa Rios Guaporé e Mamoré para trazer a soja
é que a ferrovia foi uma das primeiras obras de vila Santa Trindade em Mato Grosso oci-
públicas a ter continuidade ilegalmente sem dental para o ponto terminal da ferrovia em
aprovação ambiental depois que Relatórios Guajará-Mirim, Rondônia.
de Impactos sobre o Meio Ambiente fossem
Outras rodovias
obrigatórios em janeiro de 1986.
Em 1996 a Rodovia MT-235, de 450-
Ferronorte km, foi completada cortando a Chapada
dos Parecis, de Mato Grosso, de leste para
A estrada de ferro Ferronorte conectaria
oeste de Comodoro para Sapezal e Campo
Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais com
Novo dos Parecis. Áreas grandes de cerrado
Vilhena, em Rondônia oriental. Esta estrada
cortado para soja apareceram ao longo da
de ferro também conectará à rede ferroviária rota em seu primeiro ano, em antecipação
no Estado de São Paulo (FEPASA) em Santa à exportação pela Hidrovia do Rio Madeira
Fé do Sul. A rota atravessaria áreas impor- (Blumenschein et al., s/d [1999]).
tantes de soja, tais como Rondonópolis, Mato
Grosso. A construção da ponte sobre o Rio Rodovias do Maranhão para Minas
Paraná foi completada em janeiro de 1998. Gerais unem a área de produção de soja ao
redor de Balsas, no sul do Maranhão, com
Algumas versões do plano para Ferronorte o sistema rodoviário em Minas Gerais, tam-
estendem essa ferrovia até Porto Velho, no bém provendo acesso a áreas agrícolas no
Rio Madeira. O trecho Uberaba-Vilhena re- Estado de Piauí. Estas rodovias foram pa-
presenta a estrada de ferro conhecido como vimentadas para transporte de soja através
a “Ferrovia Leste-Oeste”, que era um projeto do empréstimo de melhoria de estradas do
favorito de Olacyr de Moraes quando ele era Banco Mundial para o Maranhão, Piauí e
o ‘rei da soja’ do Brasil. No meio dos anos no- Tocantins. As rodovias atravessam a melhor
venta, o império de soja de Olacyr de Moraes área preservada de vegetação de cerrado, de
foi eclipsado pela família Maggi que deu me- acordo com um estudo do INPE de imagens
nos ênfase a esta estrada de ferro, concen- de 1992 e 1993 que indicam que tinham sido
trando o seu poder de “lobby” na Hidrovia do desmatados 65% do cerrado para pastagens,
Rio Madeira e na Rodovia Santarém-Cuiabá. agricultura e centros urbanos (Mantovani &
A Ferrovia Leste-Oeste não é um projeto de Pereira, 1998 citado por Stedman, 1999).
soja para a Amazônia, já que menos calcário noroeste de Mato Grosso até os portos. O
é requerido em áreas de floresta recentemen- Grupo Maggi está ajudando, segundo notí-
te desmatada do que em áreas de cerrado. cias, com a construção da estrada Aripuanã-
Em floresta, são requeridos 2 t/ha de calcá- Apuí e com melhoria da estrada Apuí-Novo
rio, contra 4-6 t/ha em cerrado (Homma & Aripuanã. A Cooperativa dos Produtores de
Carvalho, 1997). Soja do Amazonas (COPASA), que é fomen-
tado pela Maggi, está tentando obter um tí-
Um projeto de construção de estra-
tulo de 850.000 ha de terras da união (terras
da para soja em Apuí, que está situada na
devolutas) no município de Novo Aripuanã
Rodovia Transamazônica no canto sudeste
(Fachel, 1999). A COPASA encorajou publi-
do Estado do Amazonas, é de preocupação
camente que os agricultores desmatassem
particular tanto por causa dos seus impactos
áreas novas tão depressa quanto possível
potenciais como pelo que este episódio reve-
entre dezembro de 1998 e agosto de 1999,
lou sobre a inabilidade dos mecanismos re-
para que as áreas pudessem ser usadas para
guladores ambientais do Brasil de funcionar
plantio de soja (Carvalho, 1999). A Maggi
na prática. A prefeitura municipal de Apuí e
prometeu comprar toda a soja beneficiada
a prefeitura do município adjacente em Mato
que a cooperativa produzisse (Carvalho,
Grosso começaram a construir uma estrada
1999). A COPASA encorajou migrantes a
para conectar os dois municípios (Amazonas
virem à área para desmatar; um total de
em Tempo, 8 de maio de 1999). Isto estava
85.000 ha foi desmatado, segundo o IBAMA
sendo construído sem qualquer forma de
(Fachel, 1999). Não é claro o que acontece-
relatório de impacto sobre o meio ambiente
rá com os migrantes depois que a terra for
ou aprovação, e foi parado pela agência am-
convertida para soja, já que o emprego ofe-
biental do Estado do Amazonas em setem-
recido pela produção da soja é mínimo. O
bro de 1999 (Amazonas em Tempo, 24 de se-
subsídio do governo para soja vai além da
tembro de 1999). A constituição brasileira e
infraestrutura visível planejada sob progra-
a legislação requerem um Estudo de Impacto
mas de desenvolvimento tais como o Brasil
Ambiental (EIA) e um Relatório de Impactos
em Ação e o Avança Brasil que são o carro
sobre o Meio Ambiente (RIMA) para todas
chefe da administração presidencial atual. O
as rodovias. Porém, nenhum critério é es-
crédito agrícola para a compra de insumos
pecificado definindo o que constitui “cons-
(sementes, agrotóxicos, etc.) e especialmen-
trução” de rodovia, ao invés de “melhorar”
te para a compra de tratores e outras maqui-
uma rodovia existente. Na prática, propo-
narias é oferecido a taxas abaixo daquelas
nentes podem reivindicar que um caminho
que seriam aplicadas com base de cálculos
ilegal de madeireiros pela floresta pode ser
financeiros de tipo padrão, principalmente
melhorado aos poucos até virar uma estra-
se o risco de inadimplência for levado em
da pavimentada, sem ser considerada como
conta. O crédito agrícola brasileiro tem sido
“construção” de uma rodovia (Francisco
influenciado por muito tempo por “lobbies”
Arguelles, comunicação pessoal, 1999).
de grandes proprietários, e a soja é a cul-
A estrada de Aripuanã, Mato Grosso, para tura favorita dos bancos porque os grandes
Apuí, Amazonas será conectada a uma es- proprietários que plantam soja têm títulos
trada existente que conecta Apuí ao porto de de terra seguros, “colateral” (bens hipote-
Novo Aripuanã, Amazonas (no rio Madeira). cáveis) e custos mais baixos de transação
Esta estrada foi construída pelo governo es- para os bancos (Helfand, 1999: 7). Devido
tadual sem ter um Relatório de Impacto so- ao fato de o preço da soja estar sujeito a flu-
bre o Meio Ambiente usando o argumento tuações, a más condições meteorológicas,
que estava apenas melhorando estradas de a insetos, e outros infortúnios que podem
acesso em assentamentos implantados pelo reduzir a produção, os agricultores freqüen-
Instituto Nacional de Colonização e Reforma temente acham os empréstimos difíceis de
Agrária (INCRA). As duas estradas redu- pagar. Já que ciclos de preço e problemas
ziriam a distância que a soja tem que via- agrícolas afetam todos os agricultores simul-
jar de caminhão das áreas de produção no taneamente, o “lobby” ruralista representa
que a aprovação for obtida. Em setembro semântica. Como era o caso de “agropecu-
de 1998, a Comissão Técnica Nacional de ária”, o eufemismo para a pecuária bovina
Biotecnologia aprovou a soja transgênica na Amazônia, chamar a soja de grãos serve
para plantio no País. Em junho de 1999, orga- para transmitir a implicação de que a soja
nizações não governamentais obtiveram uma esteja alimentando o povo brasileiro junto
decisão judicial que requer um Relatório de com arroz, milho e trigo. Na realidade, a
Impactos sobre o Meio Ambiente para a soja expansão da soja é muito mais consangüí-
transgênica (Arnt, 1999). Antes da decisão, nea à longa história de exploração predató-
a Monsanto esperava que até 2002 fossem ria dos recursos naturais no Brasil, como o
convertidos 50% dos 13 milhões de hectares pau-brasil na mata Atlântica e os minérios
de soja no Brasil para sementes Roundup- em Minas Gerais, do que é a agricultura de
Ready™ (Labes, 1999). O pacote tecnológico culturas alimentícias para consumo local.
para esta variedade resulta em rendimentos Freqüentemente o milho é enfatizado no dis-
mais altos a custo reduzido sob as atuais curso sobre “grãos” no Brasil. De fato, o mi-
condições de preço. No entanto, deve ser lho normalmente é parte do ciclo de rotação
mencionado que esta transformação dará de culturas usada com a soja, mas economi-
para Monsanto um monopólio efetivo sobre camente é apenas um subproduto. Somente
uma série de insumos essenciais no processo a soja justifica a infraestrutura volumosa, o
de produção de soja, aumentando a chance que dá a esta mercadoria tanto impacto so-
de elevação dos preços destas contribuições bre o meio ambiente.
ao nível máximo tolerado pelo mercado após Eu já vi altos funcionários da Embrapa
a consolidação do monopólio. fantasiar (depois de algumas cervejas) sobre
No mínimo, uma mudança para soja como a soja poderia alimentar a população
transgênica no Brasil poderia tornar o culti- faminta do Nordeste semiárido, e depois
vo da soja mais lucrativo e assim aceleraria ser lembrado que os brasileiros gostam de
o avanço dessa cultura na Amazônia. Por arroz e feijão, não soja. Pessoas pobres
outro lado, se o Brasil não aceita sementes na Amazônia não comem carne de soja.
transgênicas, a demanda para soja não-trans- Alguma soja é consumida na forma de óleo
gênica na Europa resultaria em um preço de de cozinha, mas esta parte da safra poderia
prêmio, assim também podendo acelerar o ser provida facilmente a partir das áreas de
avanço da soja na Amazônia. Este último soja já existentes no Brasil. A expansão adi-
efeito já está acontecendo (Carvalho, 1999), cional da soja é completamente voltada para
e a própria Maggi se opõe à abertura do País a exportação, e não tem nada que ver com a
para transgênicos (Branford & Freris, 2000). alimentação dos brasileiros.
A Figura 6 ilustra os fatores que afetam
Limites para a expansão da soja a expansão da área de soja no Brasil. Em
diagramas de alças causais como este, o si-
Até onde a soja chegará? A resposta de-
nal perto da ponta de cada seta representa
pende do novo equilíbrio entre a oferta e a
a direção da mudança no valor da variável
demanda. Também depende do ponto além
na ponta da seta dada um aumento no valor
do qual o País consideraria que a expansão
da variável no rabo da seta. A relação entre
adicional de soja seria contrária ao interesse
áreas plantadas e os preços representa um
nacional, devido aos impactos ambientais e
fator importante de controle: a produção de
sociais dessa forma de uso da terra.
soja do Brasil é suficiente para ter um im-
As discussões do interesse nacional bra- pacto significativo sobre os preços mundiais
sileiro na produção de soja estão confusas dessa mercadoria (Frechette, 1997). A por-
pela terminologia adotada. A Embrapa e ção do diagrama que representa a tomada
outras agências ativas na promoção da soja de decisão sobre as políticas do governo re-
raramente utilizam o termo “soja”, substi- ferentes aos subsídios pode parecer distan-
tuindo isso pelo termo “grãos”. A diferen- te da realidade de hoje, mas é importante
ça entre “soja” e “grãos” é muito mais que perceber que uma decisão por omissão é, na
Figura 6. Fatores
que afetam a
expansão da soja
no Brasil.
realidade, tomada diariamente. “Negócios- Rodovia BR-174 parece ser real (Fearnside &
como-sempre” não acontecem por conta Leal Filho, 2001). O anúncio dos assentamen-
própria: é o resultado de uma decisão tácita tos na Rodovia BR-174 veio como uma sur-
para deixar as políticas inalteradas. As con- presa, já que a pavimentação da rodovia em
seqüências desta decisão, e das alternativas, 1996 e 1997 tinha sido apresentada como um
devem ser entendidas e enfrentadas. corte cirúrgico pela floresta. A estrada permi-
tiria o comércio entre a cidade de Manaus e
Um evento preocupante aconteceu em
a Venezuela, bem como o acesso aos portos
1998 em Roraima, quando a soja foi ataca-
daquele país.
da pelo fungo Rhizoctonia que, no feijão,
produz a temida doença conhecida como Embora balões de ensaio, como o anún-
“mela” (Andrade, 1999). O ano de 1998 foi cio no programa de rádio do Presidente
mais chuvoso que a média por ser um ano Cardoso, precisam ser vistos com certas
afetado pelo fenômeno La Niña, e a umidade restrições, eles freqüentemente predizem
alta depois das chuvas favoreceu a doença. grandes projetos que precedem planos de-
Levando em consideração a alta umidade nas talhados. Um dos problemas genéricos com
áreas de várzea perto de Santarém para onde projetos de desenvolvimento amazônicos
o plantio de soja é planejado, espera-se um é que a pressão política para levar a cabo
risco maior de doença do que em áreas secas os projetos é gerada antes que os impac-
como as do cerrado, conduzindo ao maior tos ambientais e sociais dos projetos sejam
uso de fungicidas (Carvalho, 1999). O ataque analisados e julgados. São anunciadas obras
de Rhizoctonia na soja é facilitado pela pre- públicas como compromissos de governo
sença de ervas daninhas (Black et al., 1996). antes que o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e o Relatório de Impactos sobre o Meio
No dia 24 de junho de 1997, o Presidente
Ambiente (RIMA) estejam preparados, as-
Fernando Henrique Cardoso anunciou no seu
sim fazendo com que seja difícil, na prática,
programa de rádio semanal “A Palavra do
que os projetos sejam sustados até mesmo
Presidente” que seis milhões de hectares ao
quando os impactos são severos.
longo da Rodovia BR-174 (Manaus-Caracaraí)
seriam abertos para assentamentos, e suge- É necessário mais que meros anúncios
riu que a área cultivada ali seria “tão colossal para fazer vastas áreas de soja aparecerem:
que dobraria a produção agrícola nacional” é necessário demanda de mercado adequada,
(de Cássia, 1997). Provavelmente, apesar da infraestrutura para transportar a produção, o
hipérbole quase certa tanto sobre a produção calcário e os outros insumos. Até que pon-
esperada como sobre a área a ser plantada, to a expansão rápida de mercados globais de
a intenção de iniciar um grande projeto na soja, que aconteceu durante a última década,
continuará, é uma interrogação crítica. Por momento, isto está longe de acontecer; prin-
exemplo, uma pergunta importante é se a cipalmente, com governos competindo em
China aumentará as suas importações de soja. todos os níveis para atrair tanto investimento
No Brasil, a soja é conhecida pelo termo quanto possível para a soja.
“grãos”, enquanto em inglês o termo “grain” É necessária uma ponderação honesta
é usado para fazer uma distinção entre a soja dos custos e benefícios de ampliar o cultivo
e mercadorias como trigo e milho. O idioma da soja, incluindo todos os custos sociais e
chinês faz a mesma distinção que o inglês, e ambientais. Somente então seria possível to-
em 1993 o governo chinês decidiu dar prio- mar decisões racionais sobre se a expansão
ridade para “grains”, em detrimento da soja. adicional da soja é de interesse nacional, e
A China, que era um exportador pequeno de com que infraestrutura esta se dará.
soja até 1993, começou a importar quantida-
des sucessivamente maiores de soja a partir
de 1994. Até 1998 a China tinha se tornado CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
o maior importador do mundo em todos os
Os impactos adversos múltiplos da ex-
três mercados: soja a granel, óleo de soja e
pansão da soja sobre a biodiversidade e ou-
farelo de soja (Brown et al., 1999). A deman-
tras considerações de desenvolvimento su-
da chinesa poderia esporear uma expansão
gerem as seguintes recomendações:
adicional significativa de soja nos países ex-
portadores. Já que a expansão de soja nos 1) criar áreas protegidas com antecedên-
Estados Unidos está chegando ao seu limite, cia ao estabelecimento das fronteiras
é provável que muito da demanda crescen- de soja.
te da China seja suprida pela ampliação das
2) encorajar a eliminação dos diversos
áreas de soja plantadas na América Latina.
subsídios que aceleram a expansão da
Decisões humanas, particularmente de- soja além do que aconteceria sob as
cisões do governo brasileiro, determinarão forças de mercado.
até que ponto a soja vai avançar no País.
3) levar a cabo estudos, com rapidez,
Claramente a área sob o cultivo da soja não
para avaliar os custos de impactos so-
irá simplesmente se expandir até que essa
ciais e ambientais associados à expan-
cultura ocupe o País inteiro. Espera-se que o
são da soja. São necessários melhores
avanço pare quando a provisão de produção
exceder a demanda global causando a queda métodos para quantificar custos de
de preços, tornando a expansão adicional da oportunidade de dinheiro e terra.
soja antieconômica. Antes de esse ponto ser 4) fortalecer o sistema regulador de im-
alcançado, no entanto, o Brasil poderia deci- pactos ambientais, inclusive avaliação
dir que mais expansão das áreas de soja não dos impactos indiretos (o “efeito de
é de interesse nacional. As razões incluem o arrasto”) da infraestrutura, que esti-
impacto sobre preços, que afetaria a rentabili- mulam outras atividades econômicas
dade da soja se fosse cultivada em toda parte potencialmente destrutivas.
do País, o dreno financeiro significativo que
os subsídios de governo representam aos or- 5) criar mecanismos para assumir com-
çamentos federais, estaduais e municipais, e promissos de não-implantação de pro-
os custos sociais e ambientais em converter jetos de infraestrutura específicos que
áreas cada vez maiores em soja. Governos forem julgados como tendo impactos
poderiam decidir pela redução de subsídios excessivos.
antes que a expansão da soja pare por si só,
sob o conjunto atual de forças econômicas. NOTAS
Pode-se imaginar que governos tomariam
providências ativas para desencorajar a ex- (1) Na época, o uso de sementes transgênicas
pansão adicional da soja se essa expansão atualmente está esperando um relatório de im-
fosse percebida como sendo danoso, mas, no pacto ambiental, com intensa controvérsia.
Ambiental - EIA, referente ao projeto de implantação Fearnside, P.M. 1999. Social impacts of Brazil’s Tucuruí
da Hidrovia dos rios Tocantins, Araguaia e Mortes. Dam. Environmental Management 24(4): 483-495.
FADESP, Universidade Federal do Pará (UFPA),
Fearnside, P.M. 2000. O avanço da soja como ameaça
Belém, Pará. 7 vols.
à biodiversidade na Amazônia. p. 74-82 In: S.
FADESP (Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Watanabe (Ed.) Anais do V Simpósio de Ecossistemas
Pesquisa). 1996b. Relatório de Estudos de Impacto Brasileiros: Conservação. 10 a 15 de outubro de 2000,
Ambiental - EIA, referente ao projeto de implantação Universidade Federal de Espírito Santo, Vitória, ES.
da Hidrovia dos rios Tocantins, Araguaia e das Vol. I Conservação e Dunas. (Publ. ACIESP No. 109-
Mortes. FADESP, Universidade Federal do Pará I). Academia de Ciências do Estado de São Paulo
(UFPA), Belém, Pará. 109 p. (ACIESP), São Paulo. 447 p.
Fearnside, P.M. 1986a. Human Carrying Capacity of the Fearnside, P.M. 2001. Soybean cultivation as a threat to
Brazilian Rainforest. Columbia University Press, the environment in Brazil Environmental Conservation
New York, E.U.A. 293 p. 28(1): 23-38.
Fearnside, P.M. 1986b. Spatial concentration of Fearnside, P.M. 2002. Can pasture intensification
deforestation in the Brazilian Amazon. Ambio discourage deforestation in the Amazon and Pantanal
15(2): 72-79. regions of Brazil? p. 283-364. In: C.H. Wood & R. Porro
(eds.) Deforestation and Land Use in the Amazon.
Fearnside, P.M. 1987a. Causes of deforestation in the
University Press of Florida, Gainesville, Florida,
Brazilian Amazon. p. 37-61. In: R.F Dickinson (ed.)
E.U.A. 386 p.
The Geophysiology of Amazonia: Vegetation and
Climate Interactions. John Wiley & Sons, New York, Fearnside, P.M. 2006. O cultivo da soja como ameaça para
E.U.A. 526 p. o meio ambiente na Amazônia brasileira. p. 281-324
In: L.C. Forline, R.S.S. Murrieta & I.C.G. Vieira (Eds.)
Fearnside, P.M. 1987b. Rethinking continuous cultivation
Amazônia além dos 500 Anos. Museu Paraense
in Amazonia. BioScience 37(3): 209-214.
Emílio Goeldi, Belém, Pará. 566 p
Fearnside, P.M. 1989. Brazil’s Balbina Dam: Environment
Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1996. Political benefits
versus the legacy of the pharaohs in Amazonia.
as barriers to assessment of environmental costs
Environmental Management 13(4): 401-423.
in Brazil’s Amazonian development planning:
Fearnside, P.M. 1995. Potential impacts of climatic The example of the Jatapu Dam in Roraima.
change on natural forests and forestry in Brazilian Environmental Management 20(5): 615-630.
Amazonia. Forest Ecology and Management 78:
Fearnside, P.M. & J. Ferraz. 1995. A conservation
51-70.
gap analysis of Brazil’s Amazonian vegetation.
Fearnside, P.M. 1997a. Comentários do Acadêmico Conservation Biology 9(5): 1.134-1.147.
Prof. Philip M. Fearnside sobre “Solos e os planos
Fearnside, P.M. & N. Leal Filho. 2001. Soil and
do Estado do Amazonas para expansão da soja
development in Amazonia: Lessons from the
nos campos de Humaitá.” p. 96-99 In: C.E. Rocha-
Biological Dynamics of Forest Fragments Project. p.
Miranda (Ed.) A Importância da Ciência para o
291-312 In: R.O. Bierregaard, C. Gascon, T.E. Lovejoy
Desenvolvimento Nacional. Academia Brasileira de
& R. Mesquita (Eds.) Lessons from Amazonia: The
Ciências, Rio de Janeiro. 323 p.
Ecology and Conservation of a Fragmented Forest.
Fearnside, P.M. 1997b. Protection of mahogany: A Yale University Press, New Haven, Connecticut,
catalytic species in the destruction of rain forests in E.U.A. 478 p.
the American tropics. Environmental Conservation
Fachel, F. 1999. ‘Cooperativa destrói a selva amazônica
24(4): 303-306.
para plantar soja’. Jornal do Ambiente. 02 de setembro
Fearnside, P.M. 1997c. Environmental services as de 1999. (http://www.egroups.com/lists/jorn-
a strategy for sustainable development in rural ambiente).
Amazonia. Ecological Economics 20(1): 53-70.
Folha de São Paulo. 10 de maio de 1996. ‘Como morreram
Fearnside, P.M. 1997d. Limiting factors for development os sem terra’. p. 1-10.
of agriculture and ranching in Brazilian Amazonia.
Folha de São Paulo. 07 de setembro de 1999. ‘Presidente
Revista Brasileira de Biologia 57(4): 531-549.
da Camargo Corrêa se reúne com FHC e Malan e
Fearnside, P.M. 1998. Phosphorus and human carrying aceita pasta; posse ocorre na próxima semana:
capacity in Brazilian Amazonia. p. 94-108 In: J.P. Tápias vai para o Desenvolvimento’ p. 1-1.
Lynch & J. Deikman (Eds.) Phosphorus in Plant
Folha de São Paulo. 20 de outubro de 1999. ‘Governo
Biology: Regulatory Roles in Molecular, Cellular,
amplia benefícios a ruralistas’. p. 1-12.
Organismic, and Ecosystem Processes. American
Society of Plant Physiologists, Rockville, Maryland, Foweraker, J. 1981. The Struggle for Land: A Political
E.U.A. 401 p. Economy of the Pioneer Frontier in Brazil, 1930 to
the Present. Cambridge University Press, Cambridge, de Itacoatiara/AM e Porto Velho/RO. HERMASA
Reino Unido. Navegação da Amazônia, S.A., Manaus, Amazonas.
Frechette, D.L. 1997. The dynamics of convenience and Heywood, V.H. & R.T. Watson (eds.). 1995. Global
the Brazilian soybean boom. American Journal of Biodiversity Assessment. Cambridge University Press,
Agricultural Economics 79(4): 1108-1118. Cambridge, Reino Unido. 1.140 p.
Genetic Resources Action International. 1997. La Instituto Socioambiental, 1999. Soy advances upon
industrialización de la soja. Biodiversidad Sustento y Roraima’s savannah. http://www.socioambiental.
Culturas, No. 14: 12-20. org/noticias/english/indigenous/19982310.htm.
Goldin, I. & G.C. de Rezende. 1993. A Agricultura Kaimowitz, D. & J. Smith. 2001. Soybean technology and
Brasileira na Década de 80: Crescimento numa the loss of natural vegetation in Brazil and Bolivia.
Economia em Crise. IPEA 138. Instituto de Pesquisa p 195-211.In: A. Angelsen & D. Kaimowitz (Eds).
Econômica Aplicada (IPEA), Rio de Janeiro. 119 p. Agricultural Technologies and Tropical Deforestation.
Goodland, R.J.A., H.S. Irwin & G. Tillman. 1978. CAB International, Wallingford, Reino Unido. 422 p.
Ecological development for Amazonia. Ciência e Kaimowitz, D., G. Thiele & P. Pacheco. 1999. The effects
Cultura 30: 275-289. of structural adjustment policies on deforestation
Gross Braun, E.H. & J.R. de Andrade Ramos. 1959. Estudo and forest degradation in lowland Bolivia. World
agroecológico dos campos Puciari-Humaitá--Estado Development 27(3): 505-520.
do Amazonas e Território Federal de Rondônia. Klink, C.A. 1995. De Grão em Grão: O Cerrado Perde
Revista Brasileira de Geografia 21(4): 443-497. Espaço. World Wide Fund for Nature (WWF-Brasil),
Halweil, B. 1999. The emperor’s new crops. Worldwatch Brasilia, DF. 66 p.
12(4): 21-29. Klink, C.A., R.H. Macedo & C.C. Mueller. 1994.
Hamilton, S.K. 1999. Potential effects of a major Cerrado: Processo de Ocupação e Implicações para
navigation project (the Paraguay-Paraná Hidrovia) a Conservação e Utilização da sua Diversidade
on inundation of the Pantanal floodplains. Regulated Biológica, World Wide Fund for Nature (WWF-
Rivers--Research & Management 15(4): 289-299. Brasil), Brasilia, DF.
Hecht, S.B. s/d-a. Technology, regional integration and Klink, C.A., A.G. Moreira & O.T. Solbrig. 1993. Ecological
the current transformation of Amazonia. Trabalho impacts of agricultural development in Brazilian
apresentado no “International Conference on Human cerrados. p. 259-282 In: M.D. Young & O.T. Solbrig.
Impacts on the Environments of Brazilian Amazonia: (Eds.) The World’s Savannas: Economic Driving
Does Traditional Knowledge have a Role in the Future Forces, Ecological Constraints, and Policy Options for
of the Region?”, Centre for Brazilian Studies, Linacre Sustainable Land Use. Man and the Biosphere Series
College, Oxford University, Oxford, Reino Unido, 05- Vol. 12, UNESCO, Paris, França. 350 p.
06 de junho de 1998.
Labes, L. 1999. Take it away! Brazil and GM soya. The
Hecht, S.B. s/d-b. Deforestation dynamics on the Bolivian Ecologist 29(1): In brief, p. 4.
frontier. Trabalho apresentado na “Conference on
Patterns and Processes of Land-Use and Forest Losey, J.E, Rayor, L.S. & M.E. Carter. 1999. Transgenic
Change”, 23-26 de março de 1999, University of pollen harms monarch larvae. Nature 399: 214-215.
Florida, Gainesville, Florida, E.U.A. MacMillan, G. 1995. At the End of the Rainbow? Gold,
Hecht, S.B., R.B. Norgaard & C. Possio. 1988. The Land, and People in the Brazilian Amazon. Columbia
economics of cattle ranching in eastern Amazonia. University Press, New York, E.U.A. 201 p.
Interciencia 13(5): 233-240. Mantovani, J.E. & A. Pereira. 1998. Estimativa da
Helfand, S.M. 1999. The political economy of agricultural integridade da cobertura vegetal de Cerrado através de
policy in Brazil: Decision making and influence from dados TM/Landsat. Instituto Nacional de Pesquisas
1964 to 1992. Latin American Research Review 24(2): Espaciais (INPE), São José dos Campos, São Paulo.
3-41. May, P.H. 1990. Palmeiras em Chamas: Transformação
Homma, A.K.O. & R.A. Carvalho. 1998. A expansão do Agrária e Justiça Social na Zona do Babaçu. Empresa
monocultivo da soja na Amazônia: Início de um Maranhense de Pesquisa Agropecuária (EMAPA),
novo cíclo e as conseqüências ambientais. Trabaho Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) &
apresentado no II Encontro da Sociedade Brasileira Fundação Ford, São Luís, Maranhão. 328 p.
de Economia Ecológica, São Paulo, novembro de
Mendez, P. 1999. As tendências do mercado mundial
1997. 8 p.
de grãos e o avanço das áreas produtores de soja
HERMASA (HERMASA Navegação da Amazônia, S.A.) no Brasil. Trabalho apresentado no “Terceiro Atelier
1995. Projeto de implantação dos terminais portuários de Análise Prospectiva: A Dinâmica da Soja e seus
Impactos no futuro da Amazônia.” 13 de setembro Smith, N.J.H., E.A. Serrão, P.T. Alvim & I.C. Falesi. 1995.
de 1999, Brasília, DF. http://www.bcdam.gov.br. Amazonia: Resiliency and Dynamism of the Land
and its People. United Nations University Press,
Monitor Company. 1994. The Fragile Miracle: Building
Tokyo, Japão. 253 p.
Competitiveness in Bolivia, Phase One. The Monitor
Company, La Paz, Bolívia. Spehar, C.R. 1995. Impact of strategic genes in soybean
on agricultural development in the Brazilian tropical
Mueller, C.C., H. Torres & G. Martine. 1992. An analysis
savannahs. Field Crops Research 41: 141-146.
of forest margins and savanna agroecosystems in
Brazil. Institute for the Study of Society, Population, Stedman, P.A. 1999. Root causes of biodiversity loss,
and Nature (ISPN), Brasília, DF. Case study of the Brazilian cerrado. World Wildlife
Fund, Washington, DC, E.U.A. (manuscrito) 37 p.
Nieston, E.T., R.E. Rice, S.M. Ratay, K. Paratore, J.J.
Hardner & P.M. Fearnside. 2004. Commodities Switkes, G. 1999. Gouging out the heart of a river:
and Conservation: The Need for Greater Habitat Channelization project would destroy Brazilian rivers
Protection In the Tropics. Conservation International, for cheap soybeans. World Rivers Review 14(3): 6-7.
Washington, DC, E.U.A. 33 p.
Théry, H. 1999. Dinâmicas geográficas da soja no Brasil.
Novaes, W. 1998. ‘Corda em casa de enforcado’. O Estado Trabalho apresentado no “Terceiro Atelier de Análise
de São Paulo 07 de agosto de 1998. Prospectiva: A Dinâmica da Soja e seus Impactos
no futuro da Amazônia.” 13 de setembro de 1999,
Osawa, M. 1999. ‘Soy production spreads, threatens
Brasília, DF. http://www.bcdam.gov.br
the Amazon in Brazil’. IPS, 10 de setembro de 1999.
(IPS/tra-so/mo/ff/ld/99). Veening, W. & J. Groenendijk. 2000. Extractive logging
in the Guianas: The need for a regional ecosystemic
Pacheco Balanza, P. 1998. Estilos de Desarrollo,
approach. p. 25-40 In: Hall (ed.) Amazonia at
Deforestación y Degradación de los Bosques en
the Crossroads: The Challenge of Sustainable
las Tierras Bajas de Bolivia. Centro Internacional
Development. Institute of Latin Ámerican Studies
de Investigaciones Forestales (CIFOR), Centro
(ILAS), University of London, London, Reino Unido.
de Estudios para el Desarrollo Laboral y Agrario
257 p.
(CEDLA) and Taller de Iniciativas en Estudios Rurales
y Reforma Agraria (TIERRA), La Paz, Bolívia. 389 p. Veríssimo, A. 1999. ‘Soja é uma alternativa para
exportação’. Gazetta Mercantil [Brasília] 24 de agosto
Paterniani, E. & E. Malavolta. 1999. La conquista del
de 1999.
“cerrado” en el Brasil. Victoria de la investigación
científica. Interciencia 24(3): 173-181. Vieira, A. & R. Giraldez. 1999. ‘Um plantador no Planalto:
Maior produtor de soja do mundo, Blairo Maggi testa
Radiobrás, 1999. http://www.radiobras.gov.br/
habilidades políticas no Senado e colhe frutos para
processados/NAC-19990930-164618-0160.htm.
seu próprio império’. IstoÉ [São Paulo] 16 de junho
Ratter, J.A., J.F. Ribeiro & S. Bridgewater. 1997. The de 1999, p. 84-86.
Brazilian cerrado vegetation and threats to its
Williams, G.W. & R.L. Thompson. 1984. Brazilian soybean
biodiversity. Annals of Botany 80(3): 223-230.
policy--The international effect of intervention.
Silveira, W. 1999. ‘Juiz suspende licenciamento de American Journal of Agricultural Economics 66(4):
hidrovia’. Folha de São Paulo, 23 de setembro de 488-498.
1999, p. 1-7.
World Bank, 1999a. http://www.worldbank.org/html/
Smeraldi, R. & A. Veríssimo. 1999. Hitting the Target: extdr/offrep/lac/py2.htm.
Timber Consumption in the Brazilian Domestic
World Bank, 1999b. http://www.worldbank.org/rmc/
Market and Promotion of Forest Certification. Amigos
phrd/bolivianhighway.htm.
da Terra-Programa Amazônia, São Paulo, Instituto
de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola Zockun, M.H.G.P. 1980. A Expansão da Soja no Brasil:
(IMAFLORA), Piracicaba & Instituto para o Homem Alguns Aspectos da Produção. Instituto de Pesquisas
e o Meio Ambiente na Amazônia (IMAZON), Belém, Econômicas da Universidade de São Paulo, São
Pará. 41 p. Paulo. 243 p.
5
A intensificação da pastagem pode
frear o desmatamento no Brasil?
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2002. Can pasture intensification discourage deforestation in the Amazon and
Pantanal regions of Brazil? p. 299-314 In: C.H. Wood & R. Porro (eds.) Deforestation and Land
Use in the Amazon. University Press of Florida, Gainesville, Florida, E.U.A. 386 p.
81
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 81 8/18/2022 3:13:35 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
82 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 1. Amazônia
brasileira e o Pantanal,
com locais mencionados
no texto.
Figura 2.
A predominância
de crescimento
secundário é
aparente em fazendas
localizadas a 80
km ao norte de
Manaus, Amazonas.
As áreas brancas
são floresta, áreas
cinzas são pastagem
e áreas pretas são
florestas secundárias
em pastagens
abandonadas.
Landsat-TM (bandas
3, 4 e 5) imagem
de 20 de setembro
de 1995 (INPE). A
área mostrada é de
aproximadamente
27 × 16 km.
à rentabilidade de derrubar a floresta para sendo que em alguns locais essa valorização
pasto, até mesmo quando a produção da foi bastante expressiva, como, por exemplo,
carne bovina é desprezível (Browder, 1988, em Querência-MT, onde o hectare de “mata”
Fearnside, 1980, 1987b, Hecht, 1993, Hecht passou de R$ 125,00 em novembro-dezem-
et al., 1988). Faminow (1998) apresentou bro de 2001 à R$ 1.000,00 em julho-agosto
uma visão contrária (para uma refutação, de 2003, uma valorização de 700% (Ferraz,
veja Fearnside, 1999a). Faminow (1998: 125 2004). Coincidentemente, o Mato Grosso,
e 131) acredita que a demanda por carne bo- onde as terras se valorizaram mais em 2002-
vina e leite em cidades amazônicas é o fator 2003, foi o estado que teve as mais altas taxas
fundamental que motiva a conversão da flo- de desmatamento em 2003; a forte expansão
resta em pasto. O caso de Manaus desmente da soja também estava em curso nesse esta-
a generalidade de tal interpretação. do. De acordo com o órgão de monitoramen-
to ambiental estadual (Fundação Estadual do
Talvez o sinal mais claro de que a espe-
Meio Amiente-Mato Grosso: FEMA-MT), o
culação da terra foi uma força significante
desmatamento no Mato Grosso cresceu 133%
no desmatamento é o padrão seguido desde
de 2002 para 2003, saltando de 7,95 × 103
o início do Plano Real (o pacote econômi-
km2/ano para 18,58 × 103 km2/ano (incluin-
co, lançado em julho de 1994, que reduziu
do cerrado, transição e floresta).
fortemente a taxa de inflação). Imagens de
LANDSAT indicam um tremendo salto inicial A importância da expansão rápida da área
na taxa de desmatamento em 1995, com 29,1 de pastagem como forma de capturar os lu-
× 103 km2/ano, contra uma taxa de 14,9 × 103 cros da valorização da terra, em detrimento do
km2/ano em 1994; o salto é melhor explicado investimento em intensificação da pastagem,
como sendo o resultado de um volume muito é mostrada por dados de painéis conduzi-
maior de dinheiro que se tornou disponível dos com pecuaristas em Rondônia (Ichihara,
para investimento depois da implantação do 2003). Os retornos econômicos com quatro
Plano Real. O pico de desmatamento em 1995 formas diferentes de recuperação de pastagem
foi seguido por um declínio significativo, para (adubação associada ao uso de herbicidas,
18,2 × 103 km2/ano em 1996 e 13,2 × 103 gradagem e adubação, recuperação através do
km2/ano em 1997, seguido por um aumento cultivo de arroz, e recuperação através do cul-
de 17,4 × 103 km2/ano em 1998, 17,3 × 103 tivo da soja) foram comparados com os retor-
km2/ano em 1999, 18,2 × 103 km2/ano em nos de outras duas opções: a primeira, onde
2000, 18,2 × 103 km2/ano em 2001, 23,2 × não são adotadas tecnologias suplementares
103 km2/ano em 2002, e, de acordo de uma àquelas observadas no manejo convencional,
estimativa preliminar, 23,7 × 103 km2/ano atuando como testemunha; e a segunda, con-
em 2003 (Brasil, INPE, 2004). O declínio en- siderando o desmatamento para a abertura de
tre 1995 e 1997 nas taxas de desmatamento novas áreas de pastoreio, ao invés da intensifi-
acompanhou uma queda nos preços da terra cação do uso de áreas já exploradas. A opção
de mais de 50% ao longo do mesmo período, do desmatamento foi economicamente preferí-
uma diminuição de preço que é melhor expli- vel em todos os casos devido aos ganhos imo-
cada como sendo resultado da taxa muito re- biliários. Mesmo respeitando os limites legais
duzida de inflação que tem eliminado o papel das áreas de reservas (80%) e sem considerar
da terra como uma proteção contra a inflação. os ganhos com a extração da madeira durante
A associação entre a queda no preço da terra o desmatamento, os benefícios concedidos pe-
e as taxas de desmatamento reduzidas sugere las técnicas de recuperação de pastagens ainda
que uma parte significativa do desmatamento eram inferiores (Ichihara, 2003).
que estava acontecendo nos anos anteriores
É importante lembrar que a especulação
estava sendo motivada pela especulação.
acontece com base em propriedades inteiras,
Os elevados níveis de desmatamento em no lugar de ser baseada somente na porção
2002 e 2003 são consistentes com essa rela- de cada propriedade que foi convertida para
ção na medida em que os preços das terras no pastagens. As porções florestadas das pro-
Brasil voltaram a valorizar-se nesse período, priedades, inclusive os estoques de madeira
contidos nelas, representam um valor signi- tamanho do rebanho de gado, tanto quando
ficativo. A pastagem fornece uma garantia a análise era feita usando áreas de culturas
efetiva de posse continuada da propriedade anuais (Reis & Margulis, 1991) como quan-
inteira, dando assim uma motivação impor- do usando a produção em toneladas (Reis &
tante, além da produção da carne bovina. Margulis, 1994: 186). Cline (1991) acredita
Se uma propriedade fosse oferecida à ven- que a colinearidade entre as diversas variá-
da sem que uma porção dela estivesse sobre veis seja a explicação provável para a cons-
pastagem, até mesmo se degradada, a flo- tatação de Reis & Margulis (1991) de uma
resta restante teria um valor de venda mais contribuição relativamente baixa do rebanho
baixo por causa da necessidade do compra- de gado (explicando apenas 10% do desma-
dor de fazer despesas pesadas para derrubar tamento em simulações para 1980-1985).
parte da floresta, ou então, correr o risco de
Seria esperada uma associação forte en-
perder a posse da propriedade.
tre o gado e o desmatamento, por causa da
A lavagem de dinheiro dá outra fonte em associação conhecida entre o tamanho da
potencial de motivação para o aumento de propriedade e o desmatamento, além do
investimento em pastagens na Amazônia. fato óbvio de que fazendas grandes tendem
Dinheiro “sujo”, ganho das drogas, da cor- a plantar pastagem mais que os pequenos
rupção e de muitas outras fontes ilegais, pode agricultores (embora os pequenos agriculto-
ser convertido em dinheiro “limpo” por meio res também plantam pastagem). Evidência
de investimentos em negócios amazônicos, de que a maioria do desmatamento é feito
tais como dragas de garimpagem de ouro e por fazendas médias e grandes incluem as
fazendas de gado, até mesmo se estas ativi- regressões das taxas de desmatamento na
dades são improdutivas com base no valor área de terra privada em propriedades de
aparente de retorno sobre o investimento. A diferentes classes de tamanho nos estados
lógica é ilustrada pelo caso do ex-Deputado amazônicos, ajustadas pelas diferenças nos
Federal João Alves, que ganhou notoriedade tamanhos dos estados. Tais regressões ex-
no escândalo do orçamento federal de 1993 plicam 74% da variância nas taxas de des-
(ISTOÉ, 29 de dezembro de 1993). O João matamento para 1990 e 1991, e indicam que
Alves ganhou aproximadamente 55 vezes os pequenos agricultores respondem por
na loteria nacional porque ele tinha com- apenas 30,5% do total (Fearnside, 1993).
prado muitos milhares de tickets para con- Outra evidência vem de entrevistas feitas por
verter um dinheiro vivo ganho ilegalmente Nepstad et al. (1999) em 202 propriedades
para um valor calculado em US$50 milhões no “arco de desmatamento” de Paragominas
em lucros reconhecidos legalmente. A por- até Rio Branco, indicando apenas 25% do
centagem pequena de dinheiro investida em desmatamento em propriedades de 100 ha
tickets de loteria que vão, em média, voltar ou menos. Uma indicação indireta é forneci-
para um apostador como lucros faria com da pelos tamanhos das clareiras medidas em
que investimentos em esquemas de pecuária imagens de LANDSAT (Brasil, INPE, 1998,
na Amazônia, financeiramente pouco pro- 1999, 2000). Estas medidas indicam a por-
metedores, tornem-se transações excelentes. centagem de clareiras com área < 15 ha era
21% em 1995, 18% em 1996 e 10% em 1997,
Densidade de gado, produtividade de 11% em 1998 e 15% em 1999. O limite de
pasto e desmatamento 15 ha é bem acima dos aproximadamente 3
ha/ano que as famílias de pequenos agricul-
Em uma análise de 191 municípios na tores podem desmatar usando mão de obra
Amazônia brasileira, Reis & Margulis (1991: familiar. Estes valores omitem clareiras pe-
358) acharam uma relação positiva forte en- quenas - o limite de detecção é 6,25 ha numa
tre a densidade de gado por quilômetro qua- escala de 1:250.000 usada para interpreta-
drado e a taxa de desmatamento. Porém, esta ção das imagens no INPE. Porém, a medida
análise econométrica indicou a área plantada que clareiras com áreas abaixo do limite de
como tendo uma elasticidade maior do que o detecção cresçem em anos sucessivos, elas
entrarão na categoria de > 15 ha: pode-se km2/ano em 1994 para 29,1 × 103 km2/ano
presumir que isso ocorra a cada ano de ma- em 1995 (Brasil, INPE, 2002).
neira que a subestimativa de clareiras não Na área de Altamira, Pará, Castellanet et
detectadas é igual à superestimativa da en- al. (1994) encontraram que as predições de
trada de clareiras passadas, quando a área Boserup (1965) relativas à densidade de popu-
cumulativa desmatada em cada local desde lação e à intensificação foram confirmadas no
o levantamento anterior ultrapasse o limiar caso de manejo de pastagens. Em outras pa-
de 6,25 ha. As áreas se referem ao tamanho lavras, os proprietários de terras em Altamira
das clareiras, e não ao tamanho das proprie- não estão intensificando as suas pastagens.
dades nas quais elas se situam. Boserup (1965) forneceu a apresentação clás-
Em um estudo de agricultura em Rondônia, sica da relação entre a densidade da popula-
Jones et al. (1995) encontraram que a “produ- ção humana e a mudança para usos da terra
tividade da terra de pecuária parece, essencial- mais intensas, onde os produtores em regiões
mente, não ser afetada pelas taxas de desma- esparsamente povoadas, como a Amazônia,
tamento”. Pode-se deduzir disto que o oposto tendem a adotar tecnologias extensivas no lu-
também se aplica, por exemplo, que mudan- gar das intensivas, apenas trocando para os
ças na produtividade do gado não afetam o métodos mais intensivos quando a densidade
comportamento dos fazendeiros com respeito populacional aumenta.
ao desmatamento, nem para cima nem para
baixo. Dale et al. (1993: 1002) constataram que Limites de fosfato
os solos bons têm um número maior de gado A EMBRAPA reconheceu que adubação
de corte em Ouro Preto do Oeste, Rondônia, com fósforo acumulado é necessário para
mas Jones et al. (1995) constataram que a qua- manter a produtividade do pasto, e, em 1977,
lidade do solo não tem conexão com a taxa de mudou a sua posição prévia de que o pasto
desmatamento no local. melhora o solo, passando a recomendar que
a produtividade seja mantida por meio da
PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A aplicação de 200-300 kg/ha de fertilizante
fosfatado (50% superfosfato simples, 50%
INTENSIFICAÇÃO hiperfosfato) (Serrão & Falesi, 1977: 55),
Competitividade econômica fornecendo 50 kg/ha de P2O5 (Serrão et al.,
1978: 28). Isto foi modificado, subsequente-
É provável que vários limites restrinjam mente, para 25-50 kg/ha de P2O5 (Serrão et
a expansão do manejo intensificado da al., 1979: 220), no entanto, recomendações
pecuária na Amazônia brasileira. Um sinal mais recentes indicaram os 50 kg/ha origi-
pouco encorajador para a intensificação nais (Corrêa & Reichardt, 1995).
é a extensão mínima de pastagens não Em Paragominas foram encontrados bai-
subsidiadas que usam sistemas altos de in- xos níveis de fósforo disponível no solo, fator
sumos. Hecht (1992) destaca a falta de res- limitante ao crescimento do capim (Serrão
posta para a melhoria de tecnologia na área et al., 1978, 1979). Problemas que limitam a
de Paragominas. Uma demonstração dra- possibilidade de depender de fertilizantes fos-
mática disso aconteceu em 1995, quando o fatatados são o custo de suprir fosfato e os li-
Plano Real (o pacote de medidas econômicas mites absolutos dos estoques mineráveis deste
inaugurado em julho de 1994) de repente fez elemento. Isso foi ressaltado no relatório so-
com que quantias muito maiores de dinheiro bre as jazidas de fosfato no Brasil, publicado
se tornassem disponíveis para investimento. pelo Ministério das Minas e Energia. Só uma
No lugar de um surto de manejo intensifica- pequena jazida existe na Amazônia (de fato
do de pastagens, a resposta dos fazendeiros duas juntas: Serra Pirocaua e Ilha Trauira),
amazônicos foi um tremendo aumento nas estando situada na costa Atlântica perto da
taxas de desmatamento. A taxa de desmata- fronteira do Pará e Maranhão (de Lima, 1976,
mento anual mais que dobrou de 13,9 × 103 veja também Fenster & Leon, 1978). Além do
Nada obriga o Brasil a depender exclusiva- à importância do problema. Sempre fico im-
mente de fontes domésticas de fosfato, embo- pressionado com disparidade entre os esfor-
ra os estoques globais também sejam finitos. ços de modelagem no campo de mudanças
Para usos de alta prioridade, já são importa- climáticas e os esforços no campo de des-
dos fosfatos do estrangeiro para a Amazônia. matamento tropical. No caso da meia-dúzia
O Projeto Jari usa fosfato da Carolina do de modelos de circulação global (GCMs) que
Norte, EUA. No caso da soja e do projeto de são os principais usados para estimativas de
arroz irrigado em Humaitá, Amazonas, que mudança climática, cada modelo consiste de
se tornou uma prioridade política do governo aproximadamente 300.000 linhas de código
estadual antes da eleição para governador em de programação executado em um super
1998, foi importado fertilizante NPK de Israel computador, tendo um time de programado-
para distribuição aos agricultores. res mantidos em tempo integral ao longo de
várias décadas para continuamente testar e
Mitigação do efeito estufa melhorar o modelo. Contrastando com isto,
os esforços para modelar o desmatamento
A intensificação do manejo da pastagem tropical são normalmente provenientes de
poderia ser subsidiada com o objetivo de se- indivíduos ou de grupos pequenos, sempre
questrar carbono no solo como uma medi- operando com recursos mínimos. Apesar
da de mitigação do efeito estufa? Isso pode- dessas limitações, progresso continua a ser
ria conduzir a um programa de subsídios e feito na modelagem do desmatamento (veja
acesso a volumes muito maiores de dinhei- revisões por Kaimowitz & Angelsen, 1998,
ro; por exemplo, durante o governo Clinton Lambin, 1994). Talvez se o entendimento da
os Estados Unidos estavam esperando gas- dinâmica do desmatamento fosse uma prio-
tar US$8 bilhões anualmente em “mecanis- ridade no mesmo nível da mudança climá-
mos de flexibilidade”, como o Mecanismo tica, estaríamos mais perto de ter modelos
do Desenvolvimento Limpo (CDM), para com boa capacidade preditiva. Precisaríamos
arcar com os compromissos dos EUA sob o de modelos funcionais (i.e., causais) que são
Protocolo de Kyoto (veja Fearnside, 1998c, espacialmente explícitos e que incluam a re-
2001a,b). A intensificação do manejo das pas- presentação específica do comportamento
tagens amazônicas foi proposta para seques- dos diferentes grupos sociais para cada lo-
trar carbono na camada superficial do solos cal. Somente quando modelos desse tipo for-
(Batjes & Sombroek, 1997), mas a efetividade necerem cenários adequadamente seguros,
de tais medidas depende muito das suposi- sob uma gama de regimes alternativos de
ções sobre o uso prévio da terra e o mane- política, será possível aproveitar os recursos
jo subsequente (Fearnside & Barbosa, 1998). financeiros mais vultosos que poderiam se
Mais importante, as verbas destinadas a miti- tornar disponíveis se, por exemplo, fossem
gar o efeito estufa seriam muito melhor gas- aceitas as mudanças políticas para reduzir a
tas em medidas para reduzir a velocidade do velocidade do desmatamento como medida
desmatamento. Além de ser o uso mais eficaz para evitar emissões de gás do efeito estufa
em termos de custo para mitigar mudanças sob os termos do Protocolo de Kyoto (i.e.,
climáticas, também traria muitos benefícios com “verificabilidade” de “adicionalidade”).
adicionais oriundos da manutenção de flores- Um perigo existente é a controvérsia en-
tas intactas (Fearnside, 1995). tre os investigadores com relação às causas
do desmatamento ser aproveitada como uma
ENTENDIMENTO DO DESMATAMENTO desculpa para adiar a tomada de qualquer
medida sobre o problema. Amplos preceden-
O nosso entendimento das causas do tes existem, como o lobby da indústria de
desmatamento amazônico ainda está em tabaco que conseguiu adiar durante décadas
um estado embrionário. Isso decorre da falta qualquer ação governamental para desen-
de esforços de pesquisa sobre as causas do corajar o fumo, em virtude de uma alegada
desmatamento em uma escala proporcional “controvérsia” sobre a questão de se o fumo
causa o câncer, ou sucessos semelhantes con- Flórida, E.U.A. (Fearnside, 2002). Trechos
seguidos por lobbies de combustível fóssil desta discussão foram atualizados de
para diminuir e adiar qualquer ação contra o Fearnside (1998b, 1999a, 2006). Agradeço os
efeito estufa. No caso do desmatamento ama- comentários de P.M.L.A. Graça, A. Razera e
zônico, já sabemos o bastante para identificar S.V. Wilson.
algumas das causas críticas que deveriam ser
os objetos de ação imediata do governo. Estas
causas incluem as políticas de estabelecimen- LITERATURA CITADA
to de posse da terra, a arrecadação de impos- Alencar, A., D. Nepstad, D. McGrath, P. Moutinho,
tos para remover os lucros da especulação da P. Pacheco, M.C.V. Diaz & B. Soares Filho. 2004.
terra, o fortalecimento das exigências de ava- Desmatamento na Amazônia: Indo Além da
liação dos impactos ambientais para projetos Emergência Crônica. Instituto de Pesquisas da
de desenvolvimento, e a limitação da constru- Amazônia (IPAM), Belém, Pará. 83 p.
ção e melhoria de rodovias (Fearnside, 1989). Batjes, N.H. & W.G. Sombroek. 1997. Possibilities for
Subsidiar a intensificação das pastagens não carbon sequestration in tropical and subtropical soils.
é recomendado como estratégia para reduzir Global Change Biology 3: 161-173.
a velocidade do desmatamento. Beisiegel, W. de R. & W.O. de Souza. 1986. Reservas de
fosfatosPanorama nacional e mundial. p. 5567 In:
Instituto Brasileiro de Fosfato (IBRAFOS) III Encontro
CONCLUSÕES Nacional de Rocha Fosfática, Brasília, 1618/06/86.
IBRAFOS, Brasília, DF. 463 p.
Não é provável que subsidiar a intensifi-
Boserup, E. 1965. The Conditions of Agricultural Growth.
cação do manejo de pastagens na Amazônia Aldine, Chicago, Illinois, E.U.A. 124 p.
brasileira resulte em reduções nas taxas de
Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
desmatamento previstas pelos proponentes
1998. Amazonia: Deforestation 1995-1997. INPE, São
da intensificação. Ademais, com os limites José dos Campos, São Paulo.
de recursos financeiros e de insumos físicos
(tais como o fosfato) é improvável manter Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
1999. Monitoramento da Floresta Amazônica
vastas áreas de pastagem sob este sistema. Brasileira por Satélite/Monitoring of the Brazilian
A procura por medidas efetivas para desen- Amazon Forest by Satellite: 1997-1998. INPE, São José
corajar o desmatamento deveria focalizar no dos Campos, São Paulo.
quadro de motivações que levam os fazen- Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
deiros a investir no desmatamento, inclusive 2000. Monitoramento da Floresta Amazônica
os fatores sem conexão à produção de carne Brasileira por Satélite/Monitoring of the Brazilian
bovna. Fatores como a especulação de terra Amazon Forest by Satellite: 1998-1999. INPE, São José
e a segurança de posse da terra podem anu- dos Campos, São Paulo.
lar os efeitos esperados de subsidiar a inten- Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
sificação das pastagens. 2002. Monitoramento da Floresta Amazônica
Brasileira por Satélite/Monitoring of the Brazilian
Amazon Forest by Satellite: 2000-2001. INPE, São
AGRADECIMENTOS José dos Campos, São Paulo, SP. 23 p.
Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O Conselho Nacional do Desenvolvimento
2004. Monitoramento da Floresta Amazônica
Científico e Tecnológico (CNPq AI Brasileira por Satélite/Monitoring of the Brazilian
350230/97-98; AI 465819/00-1; 470765/01- Amazon Forest by Satellite: 2003-2004. INPE, São José
1; 477430/2003-1) e o Instituto Nacional de dos Campos, São Paulo.
Pesquisas da Amazônia (IN PA PPI 5-3150; Browder, J.O. 1988. Public policy and deforestation in the
1-3160; 1-3620) contribuíram com o apoio Brazilian Amazon. p. 247-297 In: R. Repetto & M.
financeiro. Uma versão anterior deste tra- Gillis (eds.) Public Policies and the Misuse of Forest
balho foi apresentada à Conferência sobre Resources. Cambridge University Press, Cambridge,
Padrões e Processos de Uso e Mudança do Reino Unido. 432 p.
Uso da Terra de Floresta, 23-26 de março de Castellanet, C., A. Simões & P. Celestino Filho.
1999, Universidade de Flórida, Gainesville, 1994. Diagnóstico preliminar da agricultura
familiar na Transamazônica: Pistas para pesquisa- The Geophysiology of Amazonia: Vegetation and
desenvolvimento. Trabalho apresentado no Climate Interactions. John Wiley & Sons, New York,
Seminário Intérno CPATU, Centro de Pesquisa E.U.A. 526 p.
Agropecuária do Trópico Umido (CPATU), Empresa
Fearnside, P.M. 1989. A prescription for slowing
Brasileira de Pesquisa Agropecúaria (EMBRAPA),
deforestation in Amazonia. Environment 31(4):
Belém, Pará, 20 de outubro de 1994. 22 p.
1620, 3940.
Cline, W.R. 1991. Comments. p. 375-380 In: R.
Fearnside, P.M. 1990. Predominant land uses in the
Dornbusch and J.M. Poterba (eds.) Global Warming:
Brazilian Amazon. p. 235-251 In: A.B. Anderson (ed.)
Economic Policy Responses. MIT Press, Cambridge,
Alternatives to Deforestation: Towards Sustainable
Massachusetts, E.U.A.
Use of the Amazon Rain Forest. Columbia University
Correa, J.C. & K. Reichardt. 1995. Efeito do tempo de Press, New York, E.U.A. 281 p.
uso das pastagens sobre as propriedades de um
Fearnside, P.M. 1993. Deforestation in Brazilian
latossolo amarelo da Amazônia Central. Pesquisa
Amazonia: The effect of population and land tenure.
Agropecuária Brasileira 30(1): 107-114.
Ambio 22(8): 537-545.
Dale, V.H., R.V. O’Neill, M. Pedlowski & F. Southworth.
Fearnside, P.M. 1995. Global warming response options
1993. Causes and effects of land-use change
in Brazil’s forest sector: Comparison of project-level
in central Rondônia, Brazil. Photogrammetric
costs and benefits. Biomass and Bioenergy 8(5):
Engineering & Remote Sensing 59(6): 997-1005.
309-322.
de Albuquerque, G.A.S.C. 1996. A Produção de
Fearnside, P.M. 1996. Amazonian deforestation and
Fosfato no Brasil: Uma Apreciação Histórica das
global warming: Carbon stocks in vegetation
Condicionantes Envolvidas. (Centro de Tecnologia
replacing Brazil’s Amazon forest. Forest Ecology and
Mineral (CETEM) Série Estudos e Documentos, 31),
Management 80(1-3): 21-34.
CETEM, Rio de Janeiro, RJ. 130 p.
Fearnside, P.M. 1997. Limiting factors for development
de Lima, J.M.G. 1976. Perfil Analítico dos Fertilizantes
of agriculture and ranching in Brazilian Amazonia.
Fosfatados. Ministério das Minas e Energia,
Revista Brasileira de Biologia 57(4): 531-549.
Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) Boletim No. 39. DNPM, Brasília, DF. 55 p. Fearnside, P.M. 1998a. “Missing a Moving Target?
Colonist Technology Development on the Amazon
dos Santos, B.A. 1981. Amazônia: Potencial Mineral
Frontier”, by Michael Richards. Environmental
e Perspectivas de Desenvolvimento. Editora da
Conservation 25(3): 285-286.
Universidade de São Paulo (EDUSP), São Paulo,
SP. 256 p. Fearnside, P.M. 1998b. Phosphorus and Human Carrying
Capacity in Brazilian Amazonia. p. 94-108 In: J.P.
Estados Unidos, Council on Environmental Quality
Lynch & J. Deikman (eds.) Phosphorus in Plant
(CEQ) and Department of State. 1980. The Global
Biology: Regulatory Roles in Molecular, Cellular,
2000 Report to the President. Pergamon Press, New
Organismic, and Ecosystem Processes. American
York, E.U.A., 3 vols.
Society of Plant Physiologists, Rockville, Maryland,
Faminow, M.D. 1998. Cattle, Deforestation and E.U.A. 401 p.
Development in the Amazon: An Economic and
Fearnside, P.M. 1999a. “Cattle, Deforestation and
Environmental Perspective. CAB International, New
Development in the Amazon: An Economic,
York, E.U.A. 253 p.
Agronomic and Environmental Perspective”. by Merle
Fearnside, P.M. 1980. The effects of cattle pasture on D. Faminow. Environmental Conservation 26(3):
soil fertility in the Brazilian Amazon: Consequences 238-240.
for beef production sustainability. Tropical Ecology
Fearnside, P.M. 1999b. Forests and global warming
21(1): 125137.
mitigation in Brazil: Opportunities in the Brazilian
Fearnside, P.M. 1984. Land clearing behaviour in small forest sector for responses to global warming under
farmer settlement schemes in the Brazilian Amazon the “Clean Development Mechanism”. Biomass and
and its relation to human carrying capacity. p. Bioenergy 16(3): 171-189.
255271 In: A.C. Chadwick and S.L. Sutton (eds.)
Fearnside, P.M. 2001a. Land-tenure issues as factors in
Tropical Rain Forest: The Leeds Symposium. Leeds
environmental destruction in Brazilian Amazonia:
Philosophical and Literary Society, Leeds, Reino
The case of southern Pará. World Development
Unido. 335 p.
29(8): 1361-1372.
Fearnside, P.M. 1987a. Rethinking continuous cultivation
Fearnside, P.M. 2001b. The potential of Brazil’s forest
in Amazonia. BioScience 37(3): 209214.
sector for mitigating global warming under the Kyoto
Fearnside, P.M. 1987b. Causes of Deforestation in the Protocol. Mitigation and Adaptation Strategies for
Brazilian Amazon. p. 3761 In: R.F. Dickinson (ed.) Global Change 6(3-4): 355-372.
Fearnside, P.M. 2001c. Saving tropical forests as a global Universidade de São Paulo, Piracicaba, São Paulo.
warming countermeasure: An issue that divides the 106 p.
environmental movement. Ecological Economics
ISTOÉ 1993. “Rotina de Escândalos” ISTOÉ [São Paulo]
39(2): 167-184.
No. 1265, 29 de dezembro de 1993. p. 28-33.
Fearnside, P.M. 2001d. Soybean cultivation as a
Jones, D.W., V.H. Dale, J.J. Beauchamp, M.A. Pedlowsi
threat to the environment in Brazil Environmental
& R.V. O’Neill. 1995. Farming in Rondônia. Resource
Conservation 28(1): 23-38.
and Energy Economics 17: 155-188.
Fearnside, P.M. 2002. Can pasture intensification
Kaimowitz, D. 1996. Livestock and Deforestation:
discourage deforestation in the Amazon and Pantanal
Central America in the 1980s and 1990s: A Policy
regions of Brazil? p. 283-364 In: C.H. Wood & R. Porro
(eds.) Deforestation and Land Use in the Amazon. Perspective. Center for International Forestry
University Press of Florida, Gainesville, Florida, Research (CIFOR), Bogor, Indonésia. 88 p.
E.U.A. 386 p. Kaimowitz, D. and A. Angelsen. 1998. Economic
Fearnside, P.M. 2006. Fragile soils and deforestation Models of Tropical Deforestation: A Review. Center
impacts: The rationale for environmental services of for International Forestry Research (CIFOR), Bogor,
standing forest as a development paradigm in Latin Indonésia. 139 p.
America. pp. 158-171. In: D.A. Posey & M.J. Balick Kaimowitz, D., B. Mertens, S. Wunder, & P. Pacheco.
(Eds.) Human Impacts on Amazonia: The Role of 2004. A conexão hambúrguer alimenta a destruição
Traditional Ecological Knowledge in Conservation da Amazônia. Center for International Forestry
and Development. Columbia University Press, New Research (CIFOR), Bogor, Indonésia. 10 pp.
York, E.U.A. 366 p.
Lambin, E.F. 1994. Modelling Deforestation Processes: A
Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1998. Soil carbon changes Review. Office of Official Publications of the European
from conversion of forest to pasture in Brazilian Commission, Luxembourg. 128 p.
Amazonia. Forest Ecology and Management 108(1-
2): 147-166. Margulis, S. 2003. Causas do Desmatamento da
Amazônia brasileira. Banco Mundial, Brasília, DF.
Fenster, W.E. & L.A. León. 1979. Management of 100 p.
phosphorus fertilization in establishing and
maintaining improved pastures on acid, infertile Mattos, M.M. & C. Uhl. 1994. Economic and ecological
soils of tropical America. p. 109-122 In: P.A. Sánchez perspectives on ranching in the Eastern Amazon.
& L.E. Tergas (eds.) Pasture Production in Acid Soils World Development 22: 145-58.
of the Tropics: Proceedings of a Seminar held at CIAT, Nepstad, D.C., A.G. Moreira & A.A. Alencar. 1999. Flames
Cali, Colombia, April 1721, 1978, CIAT Series 03 in the Rain Forest: Origins, Impacts and Alternatives
EG05. Centro Internacional de Agricultura Tropical to Amazonian Fires. World Bank, Brasília, DF. 161 p.
(CIAT), Cali, Colombia. 488 p.
Reis, E.J. & S. Margulis. 1991. Options for slowing
Ferraz, J.V. 2004. Terras: Prossegue a tendência de Amazon jungle clearing. p. 335-375 In: R.
valorização. p. 47-50 In: Anuário Estatístico Dornbusch & J.M. Poterba (eds.) Global Warming:
da Agricultura Brasileira-Agrianual 2004. FNP Economic Policy Responses. MIT Press, Cambridge,
Consultoria e Comércio, São Paulo. http://www. Massachusetts, E.U.A.
fnp.com.br
Reis, E.J. and S. Margulis. 1994. An econometric model
Hecht, S.B. 1992. Logics of livestock and deforestation: of Amazon deforestation. p. 172-191 In: K. Brown
The case of Amazonia. p. 7-25 In: T.E. Downing, and D.W. Pearce (eds.) The Causes of Tropical
S.B. Hecht, H.A. Pearson & C. Garcia-Downing Deforestation: The Economic and Statistical Analysis
(eds.) Development or Destruction: The Conversion of
of Factors giving rise to the Loss of Tropical Forests.
Tropical Forest to Pasture in Latin America. Westview
University College London Press, London, Reino
Press, Boulder, Colorado, E.U.A. 405 p.
Unido. 338 p.
Hecht, S.B. 1993. The logic of livestock and deforestation
Schneider, R.R. 1994. Government and the Economy
in Amazonia. BioScience 43(10): 687-695.
on the Amazon Frontier. Latin America and
Hecht, S.B., R.B. Norgaard & C. Possio. 1988. The the Caribbean Technical Department Regional
economics of cattle ranching in eastern Amazonia. Studies Program, Report No. 34, The World Bank,
Interciencia 13(5): 233-240. Washington, DC, U.S.A. 86 p.
Ichihara, S.M. 2003. Desmatamento e Recuperação Serrão, E.A.S. & I.C. Falesi. 1977. Pastagens do Trópico
de Pastagens Degradadas na Região Amazônica: Úmido Brasileiro. Empresa Brasileira de Pesquisa
Uma Abordagem através das Análises de Projetos. Agropecuária-Centro de Pesquisa Agropecuária do
Dissertação de mestrado em Economia Aplicada, Trópico Úmido (EMBRAPACPATU), Belém, Pará.
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 63 p.
Serrão, E.A.S., I.C. Falesi, J.B. da Viega & J.F. Teixeira Serrão, E.A.S. & J.M. Toledo. 1990. The search for
Neto. 1978. Produtividade de Pastagens Cultivadas sustainability in Amazonian pastures. p. 195-214 In:
em Solos de Baixa Fertilidade das Áreas de Floresta A.B. Anderson (ed.) Alternatives to Deforestation:
do Trópico Úmido Brasileiro. Empresa Brasileira Towards Sustainable Use of the Amazon Rain Forest.
de Pesquisa Agropecuária-Centro de Pesquisa Columbia University Press, New York, E.U.A. 281 p.
Agropecuária do Trópico Úmido (EMBRAPACPATU), White, D., Holmann, F., Fujisaka, S., Reategui, K.
Belém, Pará. 73 p. & Lascano, C. 2001. Will intensifying pasture
management in Latin America protect forests – or
Serrão, E.A.S., I.C. Falesi, J.B. da Viega & J.F. Teixeira
is it the other way round? p. 91-111. In: A. Angelson
Neto. 1979. Productivity of cultivated pastures & D. Kaimowitz (Eds.), Agricultural Technologies
on low fertility soils in the Amazon of Brazil. p. and Tropical Deforestation. CABI Publishing,
195225 In: P.A. Sánchez & L.E. Tergas (eds.) Pasture Wallingford, Reino Unido. 422 p.
Production in Acid Soils of the Tropics: Proceedings of
Yokomizo, C. 1989. Financial and fiscal incentives in the
a Seminar held at CIAT, Cali, Colombia, April 1721,
Amazon. p. 93-136 In: J. Goldemberg & M.N. Barbosa
1978, CIAT Series 03 EG05. Centro Internacional de
(eds.) Amazônia: Facts, Problems and Solutions.
Agricultura Tropical (CIAT), Cali, Colombia. 488 p. Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. 583 p.
Serrão, E.A.S. & A.K.O. Homma. 1993. Brazil. p. 265-
351. In: National Research Council (ed.) Sustainable
Agriculture and the Environment in the Humid
Tropics. National Academy Press, Washington, DC,
E.U.A. 702 p.
6
Fósforo e a capacidade de suporte
humano na Amazônia brasileira
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 1998. Phosphorus and Human Carrying Capacity in Brazilian Amazonia.
p. 94-108 In: J.P. Lynch & J. Deikman (Eds.) Phosphorus in Plant Biology: Regulatory Roles
in Molecular, Cellular, Organismic, and Ecosystem Processes. American Society of Plant
Physiologists, Rockville, Maryland, E.U.A. 401 p.
95
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 95 8/18/2022 3:13:43 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
96 DA FLORESTA AMAZÔNICA
floresta, enquanto apenas sustenta uma popu- condições físicas permitem, pode ultrapassar
lação humana muito escassa (Fearnside, 1983). limites rapidamente em outras esferas quan-
Iniciativas novas podem alterar este cenário do as alocações individuais do zoneamento
significativamente. A soja está sendo promo- são consideradas juntas. Pode examinar cada
vida pelos governos nacional e estaduais. As cela em uma malha, usando um sistema de
primeiras grandes plantações estão localizadas informação geográfica (GIS), comparando o
em campos naturais próximos de Humaitá, solo, chuva, etc., com as demandas de uma
Amazonas. A Hidrovia do Rio Madeira, aberta determinada cultura agrícola, e concluir que
em março de 1997, diminuiu o custo de trans- cada cela individual pode ser alocada ao uso
porte desta parte da região para um terço do em questão, e ainda chegar a uma conclusão
seu custo anterior, mudando assim radicalmen- global que é completamente irreal.
te o quadro econômico para a agricultura mais
A FAO, em colaboração com o Fundo de
intensiva. Um armazém de 90.000 t foi inaugu-
População das Nações Unidas (UNFPA) e o
rado em Itacoatiara, Amazonas, na foz do Rio
Instituto Internacional de Análise de Sistemas
Madeira, e um segundo armazém igual é espe-
Aplicados (IIASA) estimaram a capacidade
rado em uma fase subsequente. A soja já repre-
de suporte na Amazônia e em outras áreas
senta uma cultura importante no Mato Grosso
tropicais do mundo (FAO, 1980, 1981, 1984;
e na parte oriental de Rondônia. Também é
Higgins et al., 1982). Vale a pena examinar o
planejada a expansão no cultivo da soja em
estudo da FAO/UNFPA/IIASA, uma vez que
Roraima. Mas, por ser mecanizado, esse cultivo
a ilusão embutida nele é de que a Amazônia
resulta em pouco emprego para a população.
pode ser transformada em um grande celeiro-
Decisões sobre o uso da terra baseadas -uma ideia muito anterior ao estudo da FAO/
em permitir a intensidade máxima que as UNFPA/IIASA--é um persistente e pernicioso
Figura 1. Mapa do
Brasil com locais
mencionados no texto.
fator no planejamento brasileiro para a região. Logo após a queima [da floresta] a acidez
Os resultados do estudo contêm numerosas é neutralizada, com mudança de pH de 4 para
inconsistências obvias com a realidade, indi- acima de 6 e o alumínio desaparecendo, per-
cando que tais esforços precisam estar base- sistindo esta situação nas diversas idades de
ados em uma verdade mais fundamentada. pastos, tendo a pastagem mais velha a idade
O estudo da FAO/UNFPA/IIASA indica que a de 15 anos, localizada em Paragominas. Os
área da Amazônia brasileira é capaz de sus- elementos nutrientes tais como cálcio, mag-
tentar entre meia e uma pessoa por hectare ao nésio e potássio elevam-se na composição
atual baixo nível de insumos tecnológicos, e química do solo, e permanecem estáveis no
entre cinco e dez pessoas por hectare com al- decorrer dos anos. O nitrogênio baixa logo
tos insumos (fertilizantes, mecanização e uma após a queimada, mas, no entanto, em pou-
ótima mistura de culturas não irrigadas). Estes cos anos volta apresentar o teor semelhante
cálculos conduzem à conclusão de que o Brasil ao existente na mata primitiva.... A formação
pode sustentar uma incrível população de 7,1 de pastagens em latossólos e podzólicos de
bilhões de pessoas, se altos níveis de insumos baixa fertilidade é uma maneira racional e
forem aplicados (Higgins et al., 1982: 104). A econômica de ocupar e valorizar essas exten-
possibilidade implícita de converter a região sas áreas. (Falesi, 1974: 2.14-2.15)
em uma vasta área de agricultura mecaniza- Nas publicações originais da Embrapa,
da, com altos insumos, vai contra os limites não constava o fósforo entre os caracteres de
de disponibilidade de recursos para suprir os solo indicados como melhorando devido à
insumos, especialmente de fosfato. pastagem (Falesi, 1974, 1976), mas foi acres-
centado à lista por outras pessoas quando
Um dos fatores que conduzem aos altos
os resultados foram divulgados para o mun-
valores da capacidade de suporte que o estu-
do (ex.: Alvim, 1981). A própria Embrapa
do apontou para a Amazônia é a suposição
reconheceu que o fósforo era necessário, e
de que a qualidade do solo em áreas ainda
em 1977 mudou a sua posição de que o pas-
não cultivadas é igual à qualidade nas áreas to melhora o solo, passando a recomendar
já cultivadas. O estudo vai tão longe que ale- que a produtividade seja mantida aplican-
ga que “há evidência de que a produtivida- do 200-300 kg/ha de fertilizante de fosfato
de das reservas pode ser mais alta, mas, por (50% superfosfato simples, 50% hiperfosfa-
uma questão de simplicidade, é presumido to) (Serrão & Falesi, 1977: 55), fornecendo
que a produtividade em potencial da terra 50 kg/ha de pentóxido de difósforo. ou P2O5
nova seja igual à da terra já sob cultivo” (Serrão et al., 1978: 28). Isto foi modifica-
(FAO, 1984: 43). Infelizmente, como tam- do posteriormente, para 25-50 kg/ha de P2O5
bém é verdade na maior parte do Planeta, (Serrão et al., 1979: 220), mas recomenda-
as melhores terras são aproveitadas primeiro ções mais recentes têm sido de 50 kg/ha
para o cultivo, com a qualidade da terra di- (Corrêa & Reichardt, 1995).
minuindo progressivamente nas novas áreas
de assentamento, até que apenas terras mui- Embora a controvérsia sobre o solo sob
to marginais permanecem. pastagem possa parecer apenas um engano
passado, que pode ser consignado ao lixo da
No início dos anos 1970, quando os história, suas ramificações ainda representam
programas de incentivos fiscais para pas- uma força no desenvolvimento amazônico até
tagens amazônicas estavam se expandin- os dias de hoje. A noção de que a pastagem
do rapidamente, a agência que hoje é a melhorava o solo coincidiu com o lançamen-
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa to de um grande programa de incentivos fis-
Agropecuária) informava que o pasto me- cais para promover a conversão de floresta em
lhorava o solo. Falesi (1974: 2.14) compa- pastagem. Incentivos fiscais foram um forte
rou solos sob floresta virgem e sob pastagem motivo para o desmatamento nos anos 1970 e
de várias idades em Paragominas (Rodovia 1980. Em 25 de junho de 1991, um decreto sus-
Belém-Brasília, Pará) e na Fazenda Suiá pendeu a concessão de incentivos novos. No
Missu (norte do Mato Grosso): entanto, os incentivos antigos, já aprovados,
ainda continuam, ao contrário da impressão pastagem com cinco anos tem um conteúdo de
popular nutrida por numerosas declarações de P2O5 de 0,46 mg/100 g, e com algumas peque-
funcionários do governo dizendo que os incen- nas variações, ainda possui 0,46 mg/100 g no
tivos haviam sido finalizados. Os mais de 400 décimo ano (Falesi, 1976: 42 43), ou seja, um
projetos de pecuária já aprovados excedem em nível mais baixo do que no solo sob floresta
muito o pequeno número de projetos adicionais virgem na mesma área (0,69 mg/100 g).
que seriam acrescentados à lista a cada ano se
a aprovação de novos projetos continuasse. Grande parte do debate sobre as mudanças
do solo sobre pastagens é irrelevante à questão
As mudanças do solo notadas por Falesi da manutenção da produtividade do pasto. A
(1974, 1976) não conduziram à conclusão de pergunta importante é: os baixos valores, até
que as pastagens serão sustentáveis (Fearnside, os quais os níveis de fósforo são reduzidos
1980). Altos rendimentos de capim não podem sob pastagem, são adequados para sustentar a
ser sustentados se o crescimento for restringi- produção? A resposta é que não, como é con-
do por baixa quantidade de certos nutrientes, firmado pelos baixos rendimentos obtidos em
como o fósforo, mesmo que a quantidade de plantações, tanto experimentais como comer-
outros nutrientes seja suficiente. Usando dados ciais, onde os fertilizantes não são aplicados.
de experimentos de adubação de pastagens
em Belém (Serrão et al., 1971), foi demonstra- O custo dos suprimentos de fosfato e os li-
do que a falta de fósforo limitou o crescimen- mites absolutos dos estoques mineráveis deste
to do capim (veja Fearnside, 1979). Baixos mineral são os problemas que limitam o uso
níveis de fósforo também foram identificados de fertilizantes à base de fosfato. Um relatório
como limitantes do crescimento de capim em sobre as jazidas de fosfato no Brasil, publica-
Paragominas (Serrão et al., 1978, 1979). Os do pelo Ministério de Minas e Energia, indica
dados do estudo de Falesi na Rodovia Belém- uma única jazida pequena na Amazônia (de
Brasília (1974, 1976) mostraram uma forte ten- fato, duas jazidas próximas: Serra Pirocua e
dência descendente no nível de fósforo disponí- Ilha Trauira), situada na costa atlântica, per-
vel, depois do pico inicial que resulta da queima to da divisa entre Pará e Maranhão (de Lima,
da floresta virgem. O fósforo disponível (P2O5) 1976; também ver Fenster & León, 1978) (Fig.
é reduzido de um máximo de 4,18 mg/100 g de 2). Além do pequeno tamanho da jazida, o
solo seco na pastagem nova, para um patamar seu fósforo tem a desvantagem de ser comple-
mais baixo depois de cinco anos. O solo sob xado com o alumínio, dificultando o seu uso
Figura 2. Jazidas de
fosfatos no Brasil e nos
países vizinhos.
agrícola, embora não seja impossível desenvol- fertilizante para ser mantido). Se fossem fer-
ver novas tecnologias para fabricação de fer- tilizados todos os 400 × 106 ha de área ori-
tilizantes (dos Santos, 1981: 178). Uma jazida ginalmente florestada na Amazônia Legal à
adicional foi descoberta no Rio Maecuru, per- taxa recomendada para pastagem, requereria
to de Monte Alegre, Pará, com a estimativa do anualmente 8,00 × 106 t de P2O5. Se todas as
seu tamanho ainda incompleta (Beisiegel & de reservas de fosfato do Brasil fossem dedicadas
Souza, 1986). Quase todos os fosfatos do Brasil a este propósito, elas durariam 81 anos para
estão no Estado de Minas Gerais, um local mui- manter em pastagem a área atualmente desma-
to distante da maior parte da Amazônia. tada (uma área do tamanho da França), e só 11
anos se o resto da área originalmente floresta-
O Brasil não é dotado de um estoque par-
da também fosse convertido em pastagem. No
ticularmente grande de fosfato. Por exemplo,
entanto, as jazidas de fosfatos do Brasil já são
os E.U.A. tem depósitos aproximadamente 20
quase totalmente comprometidas para manter
vezes maiores (de Lima, 1976: 26). Em uma
a produção agrícola fora da Amazônia Legal.
escala global, a maioria das jazidas de fos-
fatos fica situada na África (Sheldon, 1982).
A continuação das tendências prevalecentes FOSFATO COMO UM FATOR LIMITANTE
desde a Segunda Guerra Mundial, em uso de
fosfato, esvaziaria os estoques mundiais até Agricultura
os meados do século XXI (Smith et al., 1972;
E.U.A., CEQ & Department of State, 1980). O fósforo (P) é baixo em praticamente
Embora uma extrapolação simples destas todos os solos na Amazônia brasileira, até
tendências seja questionável devido aos li- mesmo incluindo os tipos relativamente
mites sobre a continuação do aumento da férteis, tais como nas ocorrências de terra
população humana às taxas passadas (Wells, roxa (Alfissolo) nas áreas de colonização ao
1976), a conversão de uma porção significa- longo de partes da Rodovia Transamazônica
tiva da Amazônia em pasto fertilizado acele- no Pará e da Rodovia BR-364 na Rondônia.
raria em muito o término do fosfato no Brasil Na Rodovia Transamazônica, ao oeste de
e no mundo. Para o Brasil, seria sábio pon- Altamira, uma área de estudo de 23.600 ha,
derar cuidadosamente se os seus estoques um estudo baseado em 187 amostras de solo
remanescentes deste recurso limitado devem em floresta virgem indicou que 83% da área
ser alocados a pastagens amazônicas. tem solo com < 1 ppm de P disponível nos
20 cm superiores do solo, e 91% tem P total
Um cálculo grosseiro pode ser feito da sufi- ≤ 2 ppm, determinado usando a solução ex-
ciência das reservas brasileiras de fosfato para tratora de Carolina do Norte, que é o proce-
sustentar pastagens na Amazônia. Reservas dimento padrão para determinações de fós-
brasileiras de rocha de fosfato totalizam 780,6 foro disponível no Brasil (Fearnside, 1984).
× 106 t, com um conteúdo de P2O5 médio
de 12% (de Lima, 1976: 24), não contando Uma variedade de características e proces-
a jazida de Maecuru, ainda sendo avaliada. sos do solo determina a quantidade de fósfo-
Descontando perdas de 8% de P2O5 na trans- ro disponível. A disponibilidade de fósforo
formação da rocha em fertilizante de fosfato em Ultissolos geralmente é muito baixa, pois
(de Lima, 1976: 10), isto representa 86,2 × 106 a maioria do P se encontra em compostos al-
t de P2O5. Os 53,0 × 106 ha de floresta des- tamente insolúveis de ferro (Fe) e de alumínio
matada até 1997 na Amazônia Legal (Brasil, (Al) (Kamprath, 1973: 139). Geralmente, valo-
INPE, 1998) consumiriam anualmente 1,06 × res de pH abaixo de 5,5 são associados à dimi-
106 t de P2O5 se mantidos em pastagem. Isto nuição acentuada na disponibilidade do fósfo-
presume que são fertilizadas as pastagens uma ro (Young, 1976: 299; veja revisão em Jordan,
vez a cada 2,5 anos (Serrão et al., 1979: 220), 1985: 79). O carbono orgânico e o Óxido de ferro
à dose de 50 kg/ha de P2O5, considerando o (Fe2O3) são ambos relacionados positivamente
nível crítico mínimo como sendo de 5 ppm de ao fósforo disponível em Oxissolos brasileiros
P2O5 no solo (em vez do nível crítico tradicio- (Bennema, 1977: 43). Micorrizas são importan-
nal de 10 ppm, o que exigiria doses anuais de tes na mobilização do P em formas disponíveis
(St. John, 1985). Associações de micorrizas fo- Manaus, presumiu-se que o nitrogênio N era
ram encontradas em muitas, mas não em todas, o fator limitante para a floresta como um
das poucas espécies de árvores amazônicas que todo (Biot et al., 1997: 284). Esta suposição,
têm sido examinados (St. John, 1980). provavelmente é uma consequência da falta
de literatura sobre outros nutrientes, e indi-
Quando o P está em formas disponíveis, o
ca a necessidade de pesquisas para quantifi-
processo de fixação converte isto em comple-
car as ligações dos outros caracteres do solo
xos indisponíveis com Fe e Al. Geralmente os
com o crescimento das árvores.
Oxissolos na Amazônia não são considerados
fortes fixadores de P (Cochrane & Sánchez, As leguminosas arbóreas podem fixar ni-
1982: 153). A fixação de fósforo depende das trogênio com a ajuda de bactérias simbiônti-
características do solo: a matéria orgânica im- cas, fato que, provavelmente, representa para
pede a fixação de P, enquanto baixos valores de os membros desta superfamília uma vanta-
pH favorecem à fixação (Bennema, 1977: 44). A gem competitiva em relação às espécies de
taxa de fixação de fósforo (em seis horas a 100 famílias que não possuem esta capacidade.
ppm de P) varia de 26,8 a 51,6% em solos repre- Isto explica, em parte, o fato de que as legu-
sentativos da Amazônia brasileira (Fassbender, minosas são um grupo comum nas florestas
1969). Estas taxas não são altas pelos padrões amazônicas; porém, nas reservas próximas
de muitos Oxissolos e Ultissolos tropicais, po- de Manaus, mantidas pelo Projeto Dinâmica
rém mais fósforo é perdido por meio da fixação Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF)
quando as taxas de aplicação de fertilizante são do INPA e o Instituto Smithsonian, as famí-
baixas (i.e., nos níveis mais prováveis de apli- lias Burseraceae, Sapotaceae e Lecythidaceae
cação). Em terra roxa (Alfissolos) em Altamira, são todas mais comuns que Leguminosae
Pará, o melhor tipo de solo de terra firme na re- (Rankin-de-Merona et al., 1990: 574). Isto
gião (fora das ocorrências, muito pequenas, de leva a crer que, embora o N seja, indubita-
terra preta antropogênica), até 83% do P apli- velmente, importante, não pode ser presu-
cado são fixados em sete dias a uma baixa taxa mido que este elemento esteja controlando o
de aplicação (53 ppm P) (Dynia et al., 1977). A crescimento da floresta.
toxicidade do alumínio age, em parte, por meio
As florestas amazônicas recebem uma
do P, já que o alumínio tende a acumular nas
parte significante do P que elas dispõem
raízes e impede a absorção e translocação de P
proveniente da poeira africana transportada
e cálcio (Ca) até as porções aéreas das plantas
por ventos sobre o Oceano Atlântico (Swap
(Sánchez, 1976: 231).
et al., 1992). A quantidade de poeira é au-
mentada pelo sobre-pastoreio e outros usos
Manejo florestal da terra, além de mudanças de uso da terra
na África e por um clima caracterizado por
As baixas perspectivas de sustentar gran-
eventos severos de seca. Nutrientes também
des áreas de pastagens, são uma razão para o
são transportados em forma de fumaça e
manejo florestal para produção de madeira ser
partículas de cinza das queimadas em sava-
frequentemente sugerido como o melhor uso
nas, possivelmente incluindo as queimadas
de grandes áreas de floresta. Apesar de tais
na África (Talbot et al., 1990). Não é conhe-
recomendações, barreiras econômicas impe-
cido até que ponto estas fontes de nutrien-
dem a manutenção de floresta sobre sistemas
tes podem aumentar a taxa de crescimento
de manejo sustentáveis ao longo de uma su-
das florestas amazônicas. Sem dúvida, os
cessão de ciclos (Fearnside, 1989b). Precisa-
aumentos diferem entre as espécies de árvo-
se considerar se o P é um limite adicional.
re, potencialmente levando a alterações na
Frequentemente tem sido presumido que composição da floresta (Fearnside, 1995).
o nitrogênio limita o crescimento da floresta.
Por exemplo, em um modelo desenvolvido Papel ambiental da floresta
pelo projeto BIONTE (Biomassa e Nutrientes)
para a “Bacia Modelo” do Instituto Nacional A floresta amazônica tem um valor
de Pesquisas da Amazônia (INPA), perto de significante em diferentes maneiras do
dos Santos, B.A. 1981. Amazônia: Potencial Mineral Highway colonization area. Human Ecology 13(3):
e Perspectivas de Desenvolvimento. Editora da 331-369.
Universidade de São Paulo (EDUSP), São Paulo. 256 p.
Fearnside, P.M. 1986. Human Carrying Capacity of the
Dynia, J.F., G.N.C. Moreira & R.M. Bloise. 1977. Fertilidade Brazilian Rainforest. Columbia University Press,
de solos da região da Rodovia Transamazônica. II. New York, E.U.A. 293 p.
Fixação do fósforo em podzólico vermelho-amarelo
e terra roxa estruturada latossólica. Pesquisa Fearnside, P.M. 1989a. Ocupação Humana de
Agropecuária Brasileira 12: 75-80. Rondônia: Impactos, Limites e Planejamento.
Relatórios de Pesquisa No. 5, Conselho Nacional do
E.U.A., Council on Environmental Quality (CEQ) & Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
Department of State. 1980. The Global 2000 Report to Brasília, DF. 76 p.
the President. Pergamon Press, New York, E.U.A. 3 vols.
Fearnside, P.M. 1989b. Forest management in Amazonia:
Falesi, I.C. 1974. O solo na Amazônia e sua relação com The need for new criteria in evaluating development
a definição de sistemas de produção agrícola. p. 2.1- options. Forest Ecology and Management 27: 61-79.
2.11 In: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) Reunião do Grupo Interdisciplinar de Fearnside, P.M. 1990a. Predominant land uses in the
Trabalho sobre Diretrizes de Pesquisa Agrícola para Brazilian Amazon. p. 235-251 In: A.B. Anderson (ed.)
a Amazônia (Trópico Úmido), Brasília, 6-10 de maio Alternatives to Deforestation: Towards Sustainable
de 1974. Vol. 1. EMBRAPA, Brasília, DF. paginação Use of the Amazon Rain Forest. Columbia University
irregular. Press, New York, E.U.A. 281 p.
Falesi, I.C. 1976. Ecossistema de Pastagem Cultivada Fearnside, P.M. 1990b. Human carrying capacity in
na Amazônia Brasileira. Boletim Técnico No. 1. rainforest areas. Trends in Ecology and Evolution
Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido 5(6): 192-196.
(CPATU), Belém, Pará. 193 p. Fearnside, P.M. 1993a. Deforestation in Brazilian
FAO, 1980. Report of the Second FAO/UNFPA Expert Amazonia: The effect of population and land tenure.
Consultation on Land Resources for Populations of Ambio 22(8): 537-545.
the Future. Food and Agriculture Organization of the Fearnside, P.M. 1993b. Forests or fields: A response to
United Nations (FAO), Roma, Itália. 369 p. the theory that tropical forest conservation poses a
FAO, 1981. Report on the Agro-Ecological Zones Project, threat to the poor. Land Use Policy 10(2): 108-121.
Vol. 3. World Soils Resources Report 48/3. Food Fearnside, P.M. 1995. Potential impacts of climatic change
and Agricultural Organization of the United Nations on natural forests and forestry in Brazilian Amazonia.
(FAO), Roma, Itália. 251 p. Forest Ecology and Management 78: 51-70.
FAO, 1984. Land, Food and People. FAO Economic Fearnside, P.M. 1996a. Amazonian deforestation and
and Social Development Series No. 30. Food and global warming: Carbon stocks in vegetation
Agriculture Organization of the United Nations replacing Brazil’s Amazon forest. Forest Ecology and
(FAO), Roma, Itália. 96 p. + 4 mapas. Management 80(1-3): 21-34.
Fassbender, H.W. 1969. Retención y transformación de Fearnside, P.M. 1996b. “The Fragile Tropics of Latin
fosfatos en 8 latosoles de la Amazonia del Brasil. America: Sustainable Management of Changing
Fitotecnia Latinamericana 6(1): 1-10. Environments” Edited by Toshie Nishizawa and Juha
Fearnside, P.M. 1979. Cattle yield prediction for the I. Uitto. Environmental Conservation 23(4): 382.
Transamazon Highway of Brazil. Interciencia 4(4): Fearnside, P.M. 1997a. Limiting factors for development
220-225. of agriculture and ranching in Brazilian Amazonia.
Fearnside, P.M. 1980. The effects of cattle pastures on Revista Brasileira de Biologia 57(4): 531-549.
soil fertility in the Brazilian Amazon: Consequences Fearnside, P.M. 1997b. Environmental services as
for beef production sustainability. Tropical Ecology
a strategy for sustainable development in rural
21(1): 125-137.
Amazonia. Ecological Economics 20(1): 53-70.
Fearnside, P.M. 1983. Land-use trends in the Brazilian
Fearnside, P.M. 1997c. Human carrying capacity
Amazon Region as factors in accelerating deforestation.
estimation in Brazilian Amazonia as a basis
Environmental Conservation 10(2): 141-148.
for sustainable development. Environmental
Fearnside, P.M. 1984. Initial soil quality conditions Conservation 24(3): 271-282.
on the Transamazon Highway of Brazil and their
Fearnside, P.M. 1998. Phosphorus and Human Carrying
simulation in models for estimating human carrying
Capacity in Brazilian Amazonia. pp. 94-108 In: J.P.
capacity. Tropical Ecology 25(1): 1-21.
Lynch & J. Deikman (Eds.) Phosphorus in Plant
Fearnside, P.M. 1985. A stochastic model for estimating Biology: Regulatory Roles in Molecular, Cellular,
human carrying capacity in Brazil’s Transamazon Organismic, and Ecosystem Processes. American
Society of Plant Physiologists, Rockville, Maryland, Revelle, R. 1987. Comments on “Causes of Deforestation
E.U.A. 401 p. in the Brazilian Amazon”. p. 54-57 In: R.E. Dickinson
(Ed.) The Geophysiology of Amazonia: Vegetation
Fearnside, P.M. & W.M. Guimarães. 1996. Carbon uptake
and Climate Interactions. John Wiley & Sons, New
by secondary forests in Brazilian Amazonia. Forest
York, E.U.A., 526 p.
Ecology and Management 80(1-3): 35-46.
Sánchez, P.A. 1976. Properties and Management of
Fearnside, P.M. & N. Leal Filho. 2001. Soil and
development in Amazonia: Lessons from the Soils in the Tropics. Wiley-Interscience, New York,
Biological Dynamics of Forest Fragments Project. p. E.U.A. 618 p.
291-312 In: R.O. Bierregaard, C. Gascon, T.E. Lovejoy Serrão, E.A.S., E. de S. Cruz, M. Simão Neto, G.F. de
& R. Mesquita (Eds.) Lessons from Amazonia: The Sousa, J.B. Bastos & M.C. de F. Guimarães. 1971.
Ecology and Conservation of a Fragmented Forest. Resposta de três gramíneas forrageiras (Brachiaria
Yale University Press, New Haven, Connecticut, decumbens Stapf., Brachiaria ruziziensis Germain
E.U.A. 478 p. & Everard e Pennisetum purpureum Schum.) a
Fearnside, P.M. & Rankin, J.M. 1982. The new Jari: Risks elementos fertilizantes em latossolo amarelo textura
and prospects of a major Amazonian development. media. Instituto de Pesquisa Agropecuária do Norte
Interciencia 7(6): 329-339. (IPEAN), Série: Fertilidade do Solo 1(2): 1-38.
Fenster, W.E. & L.A. León. 1979. Management of Serrão, E.A.S. & I.C. Falesi. 1977. Pastagens do Trópico
phosphorus fertilization in establishing and Úmido Brasileiro. Empresa Brasileira de Pesquisa
maintaining improved pastures on acid, infertile Agropecuária-Centro de Pesquisa Agropecuária do
soils of tropical America. pp. 109-122 In: P.A. Trópico Úmido (EMBRAPA-CPATU), Belém, Pará. 63 p.
Sánchez & L.E. Tergas (Eds.) Pasture Production in Serrão, E.A.S., I.C. Falesi, J.B. da Viega & J.F. Teixeira
Acid Soils of the Tropics: Proceedings of a Seminar Neto. 1978. Produtividade de Pastagens Cultivadas
held at CIAT, Cali, Colombia, April 17-21, 1978, CIAT em Solos de Baixa Fertilidade das Áreas de Floresta
Series 03 EG-05. Centro Internacional de Agricultura
do Trópico Úmido Brasileiro. Empresa Brasileira
Tropical (CIAT), Cali, Colômbia. 488 p.
de Pesquisa Agropecuária-Centro de Pesquisa
Gallopín, G.C. & M. Winograd. 1995. Ecological Agropecuária do Trópico Úmido (EMBRAPA-CPATU),
prospective for tropical Latin America. p. 13-44 In: Belém, Pará. 73 p.
T. Nishizawa & J.I. Uitto (Eds.) The Fragile Tropics
Serrão, E.A.S., I.C. Falesi, J.B. da Viega & J.F. Teixeira
of Latin America: Sustainable Management of
Neto. 1979. Productivity of cultivated pastures on
Changing Environments. United Nations University
low fertility soils in the Amazon of Brazil. p. 195-
Press, Toquio, Japão. 325 p.
225 In: P.A. Sánchez & L.E. Tergas (Eds.) Pasture
Higgins, G.M., A.H. Kassam, L. Naiken, G. Fischer & Production in Acid Soils of the Tropics: Proceedings of
M.M. Shah. 1982. Potential Population Supporting a Seminar held at CIAT, Cali, Colombia, April 17-21,
Capacities of Lands in the Developing World. 1978, CIAT Series 03 EG-05. Centro Internacional de
Technical Report of Project INT/75/P13 ‘Land Agricultura Tropical (CIAT), Cali, Colômbia. 488 p.
Resources for Populations of the Future,’ Food and
Agriculture Organization of the United Nations St. John, T.V. 1980. Uma lista de espécies de plantas
(FAO), Roma, Italia. 139 p. tropicais brasileiras naturalmente infectadas com
micorriza vesicular-arbuscular. Acta Amazonica
Jordan, C.F. 1985. Nutrient Cycling in Tropical Forest 10(1): 229-234.
Ecosystems: Principles and their Application in
Management and Conservation. John Wiley & Sons, St. John, T.V. 1985. Mycorrhizae. p. 277-283 In: G.T. Prance
New York, E.U.A. 190 p. & T.E. Lovejoy (eds.) Key Environments: Amazonia.
Pergamon Press, Oxford, Reino Unido. 442 p.
Kamprath, E.J. 1973. Phosphorus. p. 138-161 In: P.A.
Sánchez (ed.) A Review of Soils Research in Tropical Swap, R., M. Garstang & S. Greco. 1992. Saharan dust
Latin America. North Carolina State University, in the Amazon Basin. Tellus 44B: 133-149.
Soil Science Department, Raleigh, North Carolina, Talbot, R.W., M.O. Andreae, H. Berresheim, P. Artaxo,
E.U.A. 197 p. M. Garstang, R.C. Harriss, K.M. Beecher & S.M.
Medina, E. & E. Cuevas. 1996. Biomass production Li. 1990. Aerosol chemistry during the wet season
and accumulation in nutrient-limited rain forests: in Central Amazonia: The influence of long-
Implications for responses to global change. p. range transport. Journal of Geophysical Research
221-239 In: J.H.C. Gash, C.A. Nobre, J.M. Roberts (Atmospheres) 95: 16.955-16.969.
& R.L. Victoria (Eds.) Amazonian Deforestation
Wilson, E.O. & W.H. Bossert. 1971. A Primer of
and Climate. Wiley, Chichester, Reino Unido. 611 p.
Population Biology. Sinaur, Stamford, Connecticut,
Pawley, W.H. 1971. In the year 2070. Ceres: FAO Review E.U.A. 192 p.
4(4): 22-27.
Young, A. 1976. Tropical Soils and Soil Survey.
Revelle, R. 1976. The resources available for agriculture. Cambridge University Press, Cambridge, Reino
Scientific American 235(3): 164-179. Unido. 468 p.
7
Solo e desenvolvimento na Amazônia:
Lições do Projeto Dinâmica Biológica
de Fragmentos Forestais
Tradução de:
Fearnside, P.M. & N. Leal Filho. 2001. Soil and development in Amazonia: Lessons from the
Biological Dynamics of Forest Fragments Project. p. 291-312 In: R.O. Bierregaard, C. Gascon,
T.E. Lovejoy & R. Mesquita (Eds.) Lessons from Amazonia: The Ecology and Conservation of a
Fragmented Forest. Yale University Press, New Haven, Connecticut, E.U.A. 478 p.
107
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 107 8/18/2022 3:13:53 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
108 DA FLORESTA AMAZÔNICA
anos setenta, mapeou o solo, a vegetação e Latossolos Amarelos Álicos, similares aos
outras características com base em imagens “Allic Haplorthoxes” (Oxisols) na taxono-
do radar aerotransportado de perscruta late- mia de solos dos EUA e “Ferralsols Haplic
ral (SLAR) (Brasil, Projeto RADAMBRASIL, ou Xanthic” no sistema FAO/UNESCO (veja
1976: Vol. 10, 1978: Vol. 18). As imagens Beinroth, 1975). A classificação como um
originais foram obtidas em uma escala de Latossolo(1) relacionasse ao tipo de minerais de
1:250.000 e as imagens publicadas em uma argila presente no solo. As quantias relativas,
escala de 1:1.000.000. Áreas com aspecto se- presentes na fração argilas, de minerais como
melhante foram agrupadas na mesma unida- silicato (caolinita), ferro (goetita) e alumínio
de de classificação, ocorrendo uma posterior (gibsita) determinam a estabilidade estrutural,
visita de verificação no campo para caracte- a fertilidade natural e o efeito da aplicação de
rizar a vegetação e os solos em muitas destas fertilizantes (Sombroek, 1966: 73).
unidades. A área da BR-174 foi identificada Os Latossolos são os solos mais comum
pelo governo do Estado do Amazonas como na bacia amazônica, cobrindo 220 milhões de
uma prioridade para zoneamento econômi- há, ou 45,5% de sua área total (inclusive áreas
co-ecológico (Pinheiro, 1997). fora do Brasil); a maioria da área restante está
A porção do BR-174 a ser aberta para coberta por solos classificados como Podzólicos
agricultura está localizada sobre o Escudo (como o Podzólico Vermelho-Amarelo da
das Guianas, e, portanto, pode se esperar nomenclatura brasileira), cobrindo 142 mi-
que seja mais fértil do que os solos de origem lhões de ha ou 29,4% de sua área (Cochrane
sedimentar que ocorrem nas áreas das re- & Sánchez, 1982: 152). Os Latossolos distin-
servas do PDBFF. No entanto, o Movimento guem-se dos Podzólicos por não apresentarem
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) uma elevação no conteúdo de argila nas ca-
invadiu recentemente algumas fazendas madas mais profundas do solo; comparado ao
no Distrito Agropecuário da SUFRAMA horizonte A, os Podzólicos têm cerca de 20%
(Superintendência da Zona Franca de a mais no conteúdo de argila no horizonte sub-
Manaus), onde também se localizam as fa- superficial (horizonte B) (E.U.A., Department
zendas que abrigam as reservas sendo estu- of Agriculture, Soil Survey Staff, 1975). De
dadas pelo PDBFF, elevando assim a possi- forma generalizada, os Podzólicos são consi-
bilidade de que algumas destas possam ser derados menos apropriados que os Latossolos
utilizadas no futuro para o assentamento de para a agricultura mecanizada devido à sus-
pequenos agricultores (Pacífico, 1997). cetibilidade à compactação e à sua ocorrência
freqüente em áreas de topografia acidentada
Classificação de solos (Sánchez, 1977: 539). No entanto, o amplo es-
pectro de características envolvidas por esses
As reservas de PDBFF estão situadas a 80 grandes grupos de solos (como ilustrado, por
km ao norte de Manaus (2°30’S, 60°O), dis- exemplo, pelos resultados do presente estudo)
tribuindo-se por várias fazendas que englo- indica a necessidade de cautela na aplicação
bam uma área de 20 × 50 km (1.000 km2). de tais generalizações nas decisões específicas
A altitude local é de aproximadamente 50-100 de manejo dos solos (veja Fearnside, 1984).
m acima do nível médio do mar; a tempera-
O Latossolo Amarelo e o Podzólico verme-
tura média anual em Manaus é 26,7°C e a
lho-amarelo (Oxissolo e Ultissolo) freqüente-
pluviosidade média anual (média de 30 anos)
mente ocorrem em proximidade íntima na
é de 2.186 mm, com uma estação seca de três
Amazônia, além de existir uma intergradação
meses que dura de julho a setembro (Lovejoy
muito próxima entre eles (Sombroek, 1966:
& Bierregaard, 1990). A área onde estão loca-
68). Perfis de solos analisados nas proximi-
lizadas as reservas do PDBFF apresenta ca-
dades do local do estudo confirmam isto
racterísticas ambientais que podem ser consi-
(Ranzani, 1980, Chauvel, 1982). No entanto,
deradas típicas para a Amazônia central.
já que Latossolos e Podzólicos se assemelham
Os mapas do RADAMBRASIL classifi- em relação a acidez e baixa fertilidade, sen-
cam os solos das reservas do PDBFF como do indistinguíveis sem que haja informação
sobre diferenças no conteúdo de argila encon- uso da terra na Amazônia brasileira; na re-
trado no horizonte B (que está fora da zona alidade, nem mesmo este nível de detalhe é
das raízes da maioria das culturas agrícolas), considerado quando são tomadas muitas des-
as diferenças taxonômicas entre eles geral- tas decisões. Talvez o exemplo mais gritante
mente têm pouca relevância para a agricultu- deste fato seja o desprezo completo dos ma-
ra na forma praticada na Amazônia. pas de solo demonstrado quando da tomada
As reservas do PDBFF ficam situadas a de decisão, por parte do governo, sobre a lo-
aproximadamente 50 km ao sul do limite do calização dos assentamentos em áreas pouco
Escudo das Guianas (a hidrelétrica de Balbina promissoras para agricultura em Rondônia
fica situada no limite do Escudo). Sendo as- (Fearnside, 1986a).
sim, as reservas estão dentro da bacia delimi-
tada pelos Escudos Brasileiro e das Guianas. Variabilidade dos solos
Esta bacia ocupa aproximadamente 1,2 × 106
km2 no Brasil, ou aproximadamente 25% dos O levantamento de solos na área do
5 × 106 km2 da Amazônia Legal brasileira. Os PDBFF oferece uma oportunidade única para
solos são derivados de depósitos sedimenta- avaliar a variabilidade em escala fina dos so-
res do fundo de um mar raso que ocupou o los amazônicos e o potencial significado des-
centro da bacia amazônica durante o Terciário ta variabilidade para os planos de desenvol-
(Falesi, 1974; Jordan, 1985), compondo a vimento. Pode-se esperar que a variabilidade
Formação Alter do Chão (antigamente cha- em escala fina afete o sucesso de empreen-
mada de Formação Barreiras). Os solos deri- dimentos agrícolas e as características da ve-
vados destes sedimentos foram expostos ao getação natural, tanto influenciando a ocor-
clima tropical ao longo de grande parte dos rências das espécies arbóreas (e, portanto,
60 milhões de anos, desde que a região foi outras formas de vida), assim como o nível
drenada pelo efeito da elevação dos Andes; de estresse ao qual se submetem as árvores
com isso, a maioria dos nutrientes dos solos quando isoladas em fragmentos florestais.
foi perdida por lixiviação (Sombroek, 1984). A variabilidade nas características origi-
Solos mais jovens, tais como aqueles deriva- nais do solo, entre outros fatores, é um ele-
dos de pedras ígneas no Escudo das Guianas mento chave na determinação da capacidade
e no Escudo Brasileiro, têm fertilidade mais de suporte humano de determinada região
alta que os da área do PDBFF, embora eles (Fearnside, 1986b). Na área de colonização
também estejam longe de ser classificados da rodovia Transamazônica, por exemplo,
como férteis para agricultura. os solos variam de níveis de fertilidade se-
Os processos históricos gerais envolvidos melhantes a aqueles encontrados na área do
na origem dos solos estão estreitamente as- PDBFF até níveis consideravelmente mais
sociados com sua fertilidade global. No caso elevados em áreas de terra roxa (Alfisol), as-
do solo da área do PDBFF, esta história eli- sim como em muitas das manchas menores
mina a possibilidade de ocorrência de solos de terra preta do índio (Fearnside, 1984). A
de alta fertilidade, com exceção de pequenas ocorrência de manchas férteis de solos, até
manchas de terra preta de índio (solo antro- mesmo em pequenas áreas, é importante no
pogênico originário da ação de populações in- sucesso da agricultura dos colonos, assim
dígenas) que não foram encontradas na área como é a habilidade dos agricultores em lo-
do projeto. No entanto, uma grande variação calizar estas manchas através da identifica-
em algumas características dos solos pode ser ção das espécies florestais indicadoras que
observada dentro de determinada área, como sobre elas crescem (Moran, 1981).
é o caso das reservas de PDBFF, consideradas
como uma superfície com características uni- Zoneamento econômico-ecológico
formes de solo na escala utilizada pelo levan-
tamento do Projeto RADAMBRASIL, o nível A constituição brasileira de 1988 exige o es-
máximo de detalhe considerado atualmente tabelecimento e a observância do zoneamen-
nas decisões originadas do planejamento de to econômico-ecológico do país nas decisões
sobre uso da terra. Esta exigência foi apoiada do Brasil (PPG-7), com verbas administradas
pela bancada ambientalista composta por dele- pelo Banco Mundial.
gados constituintes, sendo entendida como um
Aumentar o nível de detalhe dos dados
grande passo na redução das probabilidades
sobre características como vegetação e solos
de ocorrência de impactos ambientais exces-
é, obviamente, importante para aumentar o
sivos, como aqueles que resultam dos planos
grau de confiança nas conclusões do zone-
de desenvolvimento que implicam em desma-
amento. Além disso, é importante alcançar
tamentos nas áreas de Florestas Tropicais. No
um melhor entendimento de como evoluir da
entanto, a questão do zoneamento logo se tor-
escala dos mapas gerais de zoneamento para
nou controversa, com os Governos estaduais
uma variação em escala fina existente ao ní-
implementando o zoneamento principalmente
vel do solo, onde as ações acontecem de fato.
como um meio para “abrir” novas áreas para
o desenvolvimento, ao invés de adotá-lo como Uma abordagem proposta para interpre-
ferramenta para conter os excessos cometidos tar as informações sobre solos em conjunto
em nome desse pretenso desenvolvimento com aquelas sobre vegetação, topografia e
(veja Fearnside & Barbosa, 1996, para exem- outras características refere-se as “unidades
plos de Roraima). de terra” (Sombroek, 1966; veja Sombroek et
Após a constituição de outubro de 1988, al., 2000). Unidades de terra usam conjun-
estabeleceu-se uma contenda interinstitucio- tos destes caracteres que coocorrem natural-
nal pelo controle do processo de zoneamen- mente como a base para definir as categorias
to a nível federal; os principais interessados nas quais a paisagem é dividida para propó-
eram o Instituto Brasileiro de Geografia e sitos de planejamento.
Estatística (IBGE), a Empresa Brasileiro de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e o Importância das propriedades do solo
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Textura do solo
(Régis, 1989). O assunto foi resolvido por um
decreto presidencial em 1991, que apontou Uma das características mais importan-
como responsável a Secretaria de Assuntos tes do solo é a sua textura, definida princi-
Estratégicos (SAE), antigo Serviço Nacional palmente pela proporção das frações de areia
de Informações (SNI): uma agência de infor- e argila. Solos muito arenosos podem ser
mação interna envolvida em muitas ações prejudiciais ao crescimento das plantas, de-
polêmicas. Esta decisão institucional pode vido a sua baixa capacidade de retenção de
afetar, potencialmente, tanto a prioridade cátions (moléculas de carga positiva como
dada às preocupações ambientais como o Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, necessárias ao de-
grau de participação popular no processo de senvolvimento vegetal). Assim, nestes solos,
zoneamento. os cátions são facilmente perdidos por lixi-
A metodologia a ser utilizada no zone- viação, resultando em um solo estéril. Além
amento foi motivo de muitas controvérsias. disso, os solos arenosos possuem uma baixa
Uma série de mapas com informações ge- capacidade de retenção de água, expondo os
rais foi preparada em uma escala de 1:2,5 vegetais ao estresse hídrico durante os perí-
milhões, usando os dados do levantamen- odos mais secos. Os solos argilosos apresen-
to RADAMBRASIL; a coleta de dados no- tam maior capacidade de retenção catiônica,
vos não foi empreendida para estes “mapas principalmente porque o conteúdo de argila
diagnósticos”, mas alguma outra coleta de é positivamente correlacionado com a maté-
dados adicionais está prevista em projetos ria orgânica. A fração argila em si também
de zoneamento desenvolvidos por alguns retém os cátions, independente de seu con-
Governos estaduais. Os projetos de zonea- teúdo de matéria orgânica. A matéria orgâni-
mento e o fortalecimento das agências es- ca é especialmente importante para definir a
taduais que começaram a realizá-los está capacidade de troca catiônica (CTC) em so-
sendo feito com a ajuda do Programa Piloto los com minerais de argila de baixa ativida-
para a Conservação das Florestas Tropicais de, tais como os Latossolos e Podzólicos da
Figura 1. Relações
entre o conteúdo de
argila no solo e pH
com o crescimento de
plantas.
escoamento superficial para uma mesma bares seja mais apropriada, o que significa
quantidade de chuva. Porém, em solos ar- que o método padrão conduz a uma subes-
gilosos com elevado nível de agregação, tais timativa da capacidade de água disponível
como os existentes na área do PDBFF, a dre- em aproximadamente 35% (Sánchez, 1976:
nagem pode ser boa, apesar do elevado con- 111). Uma terceira razão é que a amostra ide-
teúdo de argila. Em Latossolos Amarelos típi- al para estimar a água disponível deve ser
cos (Oxisols), os agregados de solo não estão constituída de perfis intactos de solo, retira-
cobertos ou forrados por membranas de sili- dos da lateral da trincheira. De outra forma,
cato de argila, o que os torna pouco sujeitos o resultado obtido utilizando material seco
à formação de voçorocas (Sombroek, 1966: e fragmentado de amostras de solo tradicio-
77). Latossolos com baixo conteúdo de ferro nais (como no presente estudo) dá apenas
(uma característica indicada pela cor amare- uma indicação destes parâmetros no campo.
lada dos solos das reservas do PDBFF) são
Existem Algumas indicações de que a ca-
os mais suscetíveis à deterioração da cama-
pacidade de água disponível pode representar
da de solo superficial quando, sob a agricul-
um obstáculo ao uso de água pela floresta em
tura, são expostos ao sol e a chuva. Neste
solos semelhantes aos das reservas do PDBFF.
cenário, eles se tornam mais suscetíveis à
Um estudo de perfis não deformados na “Bacia
erosão, já que, a sua superfície fica imper-
Modelo” do INPA (30 km ao sudoeste das re-
meável e o escoamento superficial, por con-
servas do PDBFF) indicou que, enquanto 60%
seguinte, aumenta (Bennema, 1977: 35).
do volume do solo coletado a 10 cm de profun-
Capacidade de água disponível didade é composto por poros, somente 17%
da água contida nestes poros estão disponíveis
A capacidade de água “disponível”, tam- às plantas, enquanto que 50% são constituí-
bém conhecida como “água disponível”, dos por água indisponível e 33% são perdidos
mede a quantidade de água que o solo pode por escoamento a uma pressão menor que
conter na forma aproveitável pelas raízes 0,33 bares (Ferreira, 1997: 168).
das plantas. Ela é calculada como a diferen-
ça entre a capacidade de campo (conteúdo Fósforo
de umidade total do solo depois de permiti-
O fósforo (P) é um elemento limitante
do escoar, pela força de gravidade, o excesso
para a produção agrícola e de pastagens
de água de um solo) e o ponto de murcha (o
na Amazônia brasileira. Por exemplo, adu-
conteúdo de umidade sob o qual as plantas
bação com P é o elemento chave para o
murcham e não se recuperam quando no-
aumento do desenvolvimento das gramíne-
vamente umedecidas) (Young, 1976: 40). A
as forrageiras no receituário técnico formu-
água não pode ser absorvida dos microporos
lado pela EMBRAPA (por exemplo, Koster
do solo se a pressão exigida para isso supera
et al., 1977; Serrão et al., 1979). O nível de
aquela que pode ser exercida pelo sistema
fósforo é baixo em praticamente todos os
radicular das plantas. A capacidade de cam-
solos na Amazônia brasileira, incluindo so-
po é determinada a 0,33 bares de tensão, e o
los relativamente férteis, tais como a terra
ponto de murcha em 15 bares.
roxa (Alfissolo), que ocorrem em áreas de
A capacidade de água disponível calcu- assentamento ao longo de partes da rodovia
lada por este procedimento padrão possui Transamazônica no Pará e da rodovia BR-364
um significado restrito por várias razões. em Rondônia (veja Fearnside, 1984, 1986b).
Em primeiro lugar, a habilidade das plantas Além disso, não são boas as perspectivas de
em extrair água do solo varia entre espécies, se manter grandes extensões de áreas agrí-
diferindo do girassol, a planta considerada colas na dependência de fertilizantes fosfata-
como padrão pelos pedólogos. Uma segunda dos na Amazônia, devido às exíguas jazidas
razão é que o valor de 0,33 bares de pressão, de rochas de fosfato existentes no Brasil e no
usado como padrão na determinação da ca- mundo; praticamente todas as modestas jazi-
pacidade de campo, subestima a capacida- das deste mineral localizadas no Brasil ficam
de de retenção de água: acredita-se que 0,1 situadas fora da Amazônia (veja Beisiegel &
de Souza, 1986; de Lima, 1976; Fearnside, Uma exceção importante é o caso do cacau,
1997a,b, 1998a; Fenster & León, 1979). uma espécie amazônica nativa de grande im-
portância econômica e muito pesquisada, em
Na realidade é o fósforo disponível (PO4,
comparação com outras espécies. É notável
na verdade o anion H2PO4-), em lugar de P to-
que, embora a maioria das espécies amazô-
tal, que se relaciona diretamente com o cresci-
nicas aparentemente seja altamente tolerante
mento das plantas. A disponibilidade de fós-
aos solos muito ácidos, o pH do solo (reação
foro em Latossolos geralmente é muito baixa,
do solo) é o melhor previsor de rendimen-
em razão de que a maior parte deste elemento
tos do cacau (Hardy, 1961; veja Fearnside,
se encontra em compostos altamente insolú-
1986b). Sob condições ácidas, que prevale-
veis de Fe e de Al (Kamprath, 1973a: 139).
Normalmente, a disponibilidade de fósforo na cem na maioria dos solos amazônicos, o pH
agricultura é representada pelos teores de ani- do solo é, aparentemente, o único fator im-
drido fosfórico (P2O5); considerando análises portante afetando o rendimento de muitas
feitas com o extrator Carolina do Norte (HCl culturas, tais como o milho (veja Fearnside,
de 0,05 N e H2SO4 de 0,025 N) que é o padrão 1986b). Na Amazônia, o pH do solo no mo-
utilizado no Brasil. Assim, considera-se que mento do plantio depende menos do pH ori-
um miliequivalente (m.e.) de PO43-/100 g de ginal do solo do que da qualidade da quei-
solo seco corresponde a 103 partes por milhão mada utilizada pelo agricultor para preparar
(ppm) de P ou 23,7 mg de P2O5/100 g de solo a terra para o plantio (Fearnside, 1986b). Na
seco (por exemplo, Vieira, 1975: 451-453). Um Figura 1 estão incluídas as relações do pH do
m.e./100 g de solo seco é igual a um centimol solo com o crescimento das plantas.
de carga positiva por quilograma (cmol(+)/ A capacidade de troca catiônica dos solos
kg solo seco). Embora o P total obviamente li- ricos em ferro e óxidos de alumínio (como
mite à quantidade de fósforo disponível que os das reservas do PDBFF) depende do pH
pode estar presente no solo, outras caracterís- (Young, 1976: 95). Além disso, o pH baixo
ticas e processos ao nível do solo determinam eleva as concentrações de íons que são tóxi-
na realidade o fósforo disponível em relação cos ou inúteis para as plantas (Fe2+, Al3+ e
ao fósforo total. Valores de pH abaixo de 5,5 H+) e que ocupam um número significativo
são geralmente associados com uma redu- dos poucos sítios de ligação que existem nos
ção marcante na disponibilidade de fósforo componentes do solo. O termo “saturação
(Young, 1976: 299). Carbono orgânico e Fe2O3 de bases” se refere à porcentagem de sítios
são ambos relacionados positivamente com o ocupados por cátions essenciais, ou bases
fósforo disponível (P2O5) em latossolos bra- trocáveis (Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, a soma dos
sileiros (Bennema, 1977: 43). Considerando quais informa a quantidade de “bases tro-
que carbono e ferro estão associados com alto cáveis totais”). A capacidade de troca cati-
conteúdo de argila, a estrutura granulométrica ônica normalmente é calculada como bases
do solo está relacionada com o crescimento de trocáveis totais + Al3+ + H+, em unidades
plantas através do fósforo, assim como atra- de m.e./100 g de solo seco (Guimarães et al.,
vés de outros nutrientes e da disponibilidade 1970: 85). A capacidade de troca catiônica,
de água. Micorrizas desempenham um papel bases trocáveis totais e saturação de bases
importante na mobilização de P em formas são, na prática, freqüentemente calculadas
disponíveis (St. John, 1985). Considerando a sem considerar os teores de Na+ (por exem-
elevada diversidade de espécies arbóreas ama- plo, Young, 1976: 426-429), porém, os re-
zônicas, associações com micorrizas foram en- sultados são pouco alterados, já que os íons
contradas em muitas das poucas espécies até de sódio normalmente estão presentes em
agora estudadas (St. John, 1980). quantidades constantemente baixas (aproxi-
madamente 0,01 m.e./100 g de solo seco).
pH, alumínio e cations
A importância do pH baixo na agricul-
Poucas informações existem sobre a res- tura deve-se a sua relação íntima com íons
posta de espécies arbóreas amazônicas em de alumínio tóxicos (Al3+). A concentração
relação às diferentes características do solo. de íons de alumínio normalmente tem uma
O conteúdo de argila (valor médio: 215). Dos 373 pontos com medidas de declive
54,7%) apresenta uma ampla variação, de no conjunto de dados usado no atual estudo,
18,0-68,8%; como o conteúdo de argila é 57,1% não apresentaram nenhuma limitação
estreitamente ligado a vários indicadores de por estes critérios, 23,6% apresentaram limi-
fertilidade do solo, o nível de fertilidade em tação reduzida, 23,1% apresentaram limita-
geral também varia substancialmente. O solo ção moderada e 2,7% apresentaram limitação
médio poderia ser classificado como aquele severa. Além disso, a razão argila/areia de 2,6
ocupando o ponto central da “categoria de (ou 3,1 considerando argila+silte) nas reser-
solos argilosos” (Vieira & Vieira, 1983: 68). vas do PDBFF pode ser considerada um im-
O solo apresenta uma porcentagem significa- pedimento à mecanização, pois, o valor má-
tiva de partículas do tamanho de silte (valor ximo desta relação considerado apropriado é
médio = 21,2%), fazendo com que difira de 2,0 (Vieira & Vieira, 1983: 123). No entanto,
alguns solos amazônicos, onde as partículas esta classificação de limitações à mecaniza-
são concentradas nas frações de areia e argila, ção baseada no conteúdo de argila represen-
com pequena proporção das partículas de ta- ta uma média para todo Brasil; W. Sombroek
manho intermediário. Porém, é possível que (comunicação pessoal, 1998), acredita que os
a dispersão incompleta de agregados de argila Latossolos amarelos na Amazônia tais como
possa resultar em uma abundância aparente os que ocorrem nas reservas do PDBFF, pode-
de partículas de silte quando, na realidade, riam se sujeitar à mecanização, mesmo apre-
esta classe de tamanho está presente em sentando conteúdos de argila mais elevados
quantias muito menores (Thierry Desjardins, que os recomendados por esta classificação.
comunicação pessoal, 1998). Assim, para
efeito de análise estatística, estas duas classes O solo é bastante ácido, com um pH mé-
de partículas foram agrupadas em uma só. dio em água de 4,0 (variação: 3,4-4,4). Porém,
não se deve esquecer que, para a agricultura,
O relevo da área pode ser considerado on- não é o nível de nutrientes no solo sob a flo-
dulando, com um declive médio de 10,8%. resta que importa, mas sim o nível que es-
Uma parte da área, com declives íngremes, tará presente após a floresta ser derrubada e
além de não indicada para a agricultura meca-
queimada. Especialmente no caso de pH, os
nizada, apresenta-se propensa a sofrer fenô-
valores se elevam dependendo da qualidade
menos erosivos. As classificações propostas
da queimada (Fearnside, 1986b).
sobre a capacidade de uso da terra consideram
sem limitações declives de 0-2%, ligeiramen- O delta pH (valor médio: -0,3) apresenta
te limitados aqueles entre 2-8%, moderada- uma carga negativa líquida, indicando a exis-
mente limitados aqueles entre 8-30% e mui- tência de capacidade de troca catiônica. Isto
to limitados aqueles >30% (Benites, 1994: também confirma a existência de um nível
razoável de matéria orgânica no solo, conside- à sua aplicação (Young, 1976: 291). Um siste-
rando os padrões de solos agrícolas tropicais. ma de avaliação de capacidade de uso da terra
adotado no Brasil (Vieira & Vieira, 1983: 144)
A saturação de alumínio (excluindo H+),
classifica níveis de K+ < 0,11 m.e./100 g de
com um valor médio de 92,4%, é sem dú-
solo seco como “insuficientes”, 0,11-0,37 como
vida elevada, enquanto a saturação de ba-
“regulares” e > 0,37 como “bons”. Considera-
ses (sem Na+) é baixa, com um valor médio
se que o nível mínimo absoluto exigido por
de apenas 7,6%. Valores de saturação de Al
culturas agrícolas é 0,10 m.e./100 g de solo
(sem H+) < 50% são classificados como
seco (Boyer, 1972: 102).
baixos e > 50% são classificados como altos
(Vieira & Vieira, 1983: 144). Entre os nutrientes essenciais, potássio
é o que apresenta maior demanda pelos ve-
O carbono total apresentou um valor mé-
getais cultivados (Webster & Wilson, 1980:
dio de 1,96%. O carbono orgânico, determi-
74). Assim, provavelmente a deficiência de
nado pelo método Walkley-Black modificado,
potássio trocável afetará o crescimento das
teve um valor médio de 1,58%. A matéria or-
plantas nestes solos.
gânica apresentou um valor médio de 2,72%.
Apesar destes valores sejam baixos para solos As concentrações de íons de cálcio
agrícolas, eles podem ser considerados co- são muito reduzidas (valor médio: 0,058
muns nos solos típicos da Amazônia. m.e./100 g de solo seco). Para culturas agrí-
colas, < 1,50 m.e./100 g de solo seco é con-
Os níveis de N total podem ser conside-
siderada “insuficiente”, 1,50-3,50 m.e./100
rados moderados, com um valor médio de
g de solo seco é considerada “regular” e >
0,16%; valores inferiores a 0,1% são consi-
3,50 m.e./100 g de solo seco “bom” (Vieira &
derados “baixos”, podendo-se prever uma
Vieira, 1983: 144).
provável reposta à fertilização em culturas
agrícolas, enquanto valores de 0,1-0,2% As concentrações de íons de magnésio
ocupam uma faixa “moderada” onde estas são baixas (valor médio: 0,076 m.e./100 g de
respostas ainda são de ocorrência possível solo seco). Na agricultura, < 0,50 m.e./100
(Young, 1976: 291). A relação C/N (valor g de solo seco é considerado “insuficiente”,
médio: 9,9) indica uma quantidade razoável, 0,50-1,00 m.e./100 g de solo seco “regular”
mas não ideal, de nitrogênio disponível às e > 1.00 m.e./100 g de solo seco “bom”
plantas (valores acima de 15 indicam quan- (Vieira & Vieira, 1983: 144).
tidades baixas de N nas formas disponíveis).
A capacidade de troca catiônica (expres-
Os níveis de fosfato são muito reduzi- sa como o CTC de argila) é muito baixa, com
dos (valor médio de PO43 : 0,030 m.e./100 g um valor médio de 14,4 m.e./100 g de argila
de solo seco). A quantidade de PO43- pode depois de corrigida para carbono. Com a cor-
ser considerada “insuficiente” para espé- reção para carbono (considera-se que cada
cies agrícolas em níveis < 0,097 m.e./100 g 1% de carbono corresponde a 4,5 m.e. de
de solo seco (equivalente a < 2.30 m.e. de CTC), uma CTC de 24 m.e./100 g de argila re-
P2O5/100 g de solo seco); níveis “regulares” presenta a linha divisória entre as atividades
de PO43- variam entre 0,097-0,253 m.e./100 g “baixa” e “alta” de argila (Vieira & Vieira,
de solo seco (equivalente a 2,30-6,00 m.e. de 1983: 38). O valor de 24 m.e./100 g de argi-
P2O5/100 g de solo seco), enquanto um “solo la é considerado baixo para solos agrícolas
bom” apresenta > 0,253 m.e. de PO43-/100 g (Benites, 1994: 231).
de solo seco (>6,00 m.e. de P2O5/100 g de
Considera-se a saturação básica > 50%
solo seco) (Vieira & Vieira, 1983: 144).
como indicativo de alta fertilidade, desde
O nível de potássio trocável (K+) é reduzi- que a CTC do solo seja > 24 m.e./100 g de
do, com um valor médio de 0,06 m.e./100 g de solo; saturação básica < 50% indica ferti-
solo seco; valores abaixo de 0,2 m.e./100 g de lidade moderada, como no caso destes so-
solo seco são considerados baixos, podendo- los (Benites, 1994: 215; também veja Vieira
se esperar uma resposta das culturas agrícolas & Vieira, 1983: 46). O valor médio de 7,6%
(sem Na+) na área de estudo é obviamente BTT = 1,86 × 10-3 AS + 3,88 × 10-2 MO – 5,20 × 10-2 Tabela 2. Relações
entre parâmetros de
baixo, como também é o valor máximo de (p < 0,00001, r2=0,84, n=38) solo
12,2%. Os níveis de Na+ encontrados pa- BASES TROCÁVEIS TOTAIS
onde: BTT = bases trocáveis totais (sem Na+)
recem ser estranhamente elevados (média: (sem Na+)
(m.e./100g de terra seca ou cmol(+)/kg solo seco)
0,052 m.e./100 g de solo seco); combinado AS = Argila + silte (%)
com valores muito baixos de Ca2+ (média: MO = Matéria orgánica (%)
0,058 m.e./100 g de solo seco), neste caso, MO = 2,13 × 10-2 AS + 1,12
ser descritas como “muito dinâmicas” e, cer- os problemas de produção para sustentar a
tamente, a situação observada nas fazendas, população humana (Fearnside, 1998b).
sobre as quais situam-se as reservas do PDBFF,
O discurso político que envolve o anún-
não pode ser classificada de dinâmica.
cio de novos assentamentos na Amazônia
Por muito tempo, a Amazônia em geral invariavelmente é repleto de imagens da
e, particularmente, o Estado do Amazonas, prosperidade permanente que emanam dos
era protegido do desmatamento por obstá- sistemas agrícolas a serem implantados nas
culos que incluíam solos pobres, doenças áreas desmatadas. No entanto, as decisões
humanas (particularmente a malária) e di- governamentais de cortar a floresta e im-
ficuldade de acesso a partir das partes den- plantar assentamentos agrícolas em áreas
samente povoadas do Brasil. Entretanto, a com solos como os das reservas do PDBFF,
doença não representa mais o obstáculo que que são típicos de vastas áreas da Amazônia,
foi no passado; por exemplo, se hoje a aber- implicam em duas coisas: ou o governo está
tura de novas áreas exigissem o mesmo nível disposto a prover ou subsidiar com pesadas
de sacrifício de vidas, como ocorreu duran- contribuições regulares o uso eterno de ferti-
te abertura da estrada de ferro Madeira- lizantes (um cenário altamente improvável),
Mamoré em Rondônia no começo do século ou aceita a responsabilidade de converter a
XX, então a ameaça de desmatamento seria floresta em uma paisagem de pastagens de-
reduzida. As dificuldades de acesso também gradadas e capoeiras.
estão sendo rapidamente superadas: muitos
colonos migraram diretamente de Rondônia Infelizmente, esta responsabilidade fre-
para Roraima, evitando assim o Estado do quentemente não é assumida quando se
Amazonas, através do qual passaram, um recorre à utilização de alarmes metafóricos,
fenômeno que se explica tanto pelos solos onde se repete monotonamente que a agri-
de melhor qualidade que ocorrem no Escudo cultura ou pecuária serão sustentáveis atra-
das Guianas em Roraima, como pela indução vés da adoção de um “manejo adequado”,
criada pelo governo de Roraima. A pavimen- implicando que a responsabilidade sobre um
tação da rodovia BR-319, que une Rondônia eventual fracasso futuro do projeto deverá
a Manaus, abrirá as comportas para o flu- ser imputada aos fazendeiros, por não terem
xo migratório de colonos para a Amazônia adotado um “manejo adequado”.
central, inclusive para a área que abrange as É improvável que duas das principais
reservas do PDBFF. culturas atualmente em moda na Amazônia
O que acontece quando se desmata uma tenham êxito em áreas como aquelas onde se
área com as características daquela onde es- localizam as reservas de PDBFF. Uma delas
tão estabelecidas as reservas do PDBFF de- é o dendê (por exemplo, Smith et al., 1995).
pende de qual é o uso da terra implantado. Que apresenta uma rápida e significativa
Algumas opções são melhores que outras redução na produção potencial de óleo em
sob o ponto de vista de maximizar a susten- áreas como a de Manaus, que sofrem uma
tabilidade e minimizar o impacto ambien- estação seca bastante severa. Na Amazônia
tal. Por exemplo, sistemas agroflorestais ou brasileira, duas áreas que apresentam con-
cultivos consorciados que incluam espécies dições climáticas ótimas para dendê locali-
arbóreas são, em muitos aspectos, melhores zam-se nas proximidades a Belém (Pará) e
que culturas anuais ou pastagens. No en- Tefé (Amazonas), apesar das plantações na
tanto, existem limitações severas para uso área de Belém sofrerem os efeitos de uma
generalizado de sistemas agroflorestais nas doença que provoca o amarelamento dos
vastas áreas de terras degradadas já criadas brotos (Fearnside, 1990). Além disso, como
na região amazônica, sem considerar a cria- a maioria dos custos/área de estabelecimen-
ção de novas áreas degradadas, ainda mais to e manutenção das culturas agrícolas, in-
amplas, se o processo de desmatamento fos- depende do seu rendimento, as plantações
se apoiado na convicção de que a adoção localizadas em áreas subótimas tornam-se
de sistemas agroflorestais poderia resolver não competitivas.
Outra cultura agrícola que assume fi- apropriadas. As limitações, devidas a carên-
gura de realce no discurso atual envolven- cia de nitrogênio no solo para várias culturas
do o desenvolvimento amazônico é a soja. não leguminosas, podem ser superadas pela
Infelizmente, os benefícios sociais desta existência de relações pseudossimbionticas
cultura são reduzidos quando se considera dos vegetais com vários tipos de bactérias
a população local, além de requerer mecani- fixadoras de nitrogênio, uma área de pesqui-
zação e demandar pesados investimentos de sa que vem alcançado avanços significativos
capital e utilização de defensivos químicos. no Brasil através do trabalho de Johanna
Embora a mecanização em áreas como a que Döbereiner (por exemplo, Döbereiner, 1992).
é objeto do atual estudo não seja impossível, No entanto, ainda hoje, a manutenção
sua utilização seria ainda contra producente da agricultura e pecuária em vastas áreas da
devido à topografia ondulada do terreno e ao Amazônia é impossibilitada por limitações
elevado conteúdo de argila presente no solo. de mercado, carência de jazidas de fosfatos
A baixa fertilidade do solo pode ser e necessidade investimento financeiro eleva-
compensada pela aplicação de fertilizan- do. Assim sendo, não devemos contar com
tes. Porém, Existem sérias dúvidas sobre uma “solução tecnológica” para solucionar
racionalidade de se difundir um modelo de os problemas de sustentabilidade, pelo me-
agricultura baseado em um consumo in- nos até o dia quando os avanços tecnológi-
tenso de fertilizantes em grandes áreas na cos em questão sejam alcançados de fato.
Amazônia. O melhor exemplo dos riscos “Não se deve contar com os pintos antes
envolvidos é a história da “tecnologia de que eles sejam chocados” é um princípio de
Yurimaguas” desenvolvida para cultivo con- precaução, uma regra básica universal que
tínuo na Amazônia peruana (Sánchez et al., deve ser considerada antes de assumir os
1982; veja Fearnside, 1987, 1988; Walker et riscos de qualquer tipo de aventura. Além
al., 1987). Apesar de uma longa lista de sub- disso, convêm considerar os custos ambien-
sídios, que variavam desde o fornecimento tais envolvidos na perda da floresta, custos
de substâncias químicas até as análises de que não se alteram significativamente, seja
solo e apoio técnico grátis aos 24 agriculto- a agricultura implantada produtiva ou não
res, este pacote de manejo envolvendo uma (veja Fearnside, 1997a).
grande quantidade insumos e custos eleva- Os solos na área de estudo são indiscuti-
dos não obteve aceitação popular na região. velmente inférteis: os indicadores da fertili-
Os limites impostos pelos recursos físicos, dade do solo como pH, capacidade de troca
como jazidas de fosfatos indisponíveis, além catiônica, bases trocáveis totais e PO43- são
de restrições financeiras e institucionais, fa-
baixos, enquanto a saturação de alumínio é
zem com que o uso difundido de tais siste-
alta. Sob estas circunstâncias, a decisão lógi-
mas seja improvável (veja Fearnside, 1997a).
ca seria a de manter estas áreas em floresta
O uso intensivo de fertilizantes represen- e não utilizá-las em usos do solo de baixa
ta apenas uma das soluções para superar as produtividade e de curto prazo. Mas até que
limitações impostas pela baixa fertilidade do ponto a situação seria diferente caso os so-
solo. É necessário considerar as perspectivas los fossem mais produtivos? Em que ponto
de mudanças no potencial agrícolas destas a qualidade do solo faria com que valesse a
áreas caso ocorram outros tipos de avanços pena sacrificar a floresta? Não há nenhuma
técnicos. Por exemplo, um progresso recente resposta simples a estas perguntas. Uma to-
foi o desenvolvimento de plantas transgêni- mada de decisões racional requer a avaliação
cas capazes de superar as limitações impos- de ambos: do valor da produção agrícola da
tas pela saturação de alumínio (Barinaga, área que pode ser esperada realisticamente
1997; de la Fuente et al., 1997). Não seria e do custo ambiental envolvido pela destrui-
inconcebível que as limitações impostas pela ção da floresta. Assim, que lição podemos
carência de fósforo pudessem ser superadas retirar ao constatar a infertilidade dos solos
através do desenvolvimento de culturas agrí- e o fracasso da implantação da pecuária ex-
colas capazes de associar-se com micorrizas tensivas nestas áreas?
Acreditamos que a lição principal vem cátions. Mudanças provocadas pela perda de
da constatação de que os lucros obtidos da matéria orgânica e pelo aumento da compacta-
conversão, para agricultura ou pecuária, ção do solo podem ser revertidas adotando-se
de áreas como aquelas onde estão situadas períodos de pousío. Entretanto, até que ponto
as reservas do PDBFF, são mínimos quan- a sua capacidade em recuperar o solo e rege-
do comparados com o verdadeiro valor dos nerar a floresta compensaria os impactos do
serviços ambientais prestados pela floresta desmatamento constitui foco importante de
intacta. Mesmo considerando que o retorno debate. Infelizmente, a possibilidade teórica
financeiro a ser obtido futuramente através de recuperação de áreas abandonadas por dé-
do fornecimento desses serviços, por parte cadas, ou até mesmo séculos, tem pouca rele-
de países como o Brasil, seja subestimado, vância diante das perdas reais produzidas pelo
o retorno financeiro da agricultura ou da pe- avanço contínuo do desmatamento na região.
cuária também será insignificante quando
O termo “resiliência” encontra-se em
comparado com os valores que, de fato, po-
evidência nas discussões sobre o desenvol-
deriam ser obtidos (Fearnside, 1997c).
vimento amazônico, referindo-se à habili-
dade de um sistema em recuperar suas ca-
Perspectivas de resiliência racterísticas originais após a ocorrência de
determinado distúrbio (por exemplo, Smith
As correlações observadas entre várias
et al., 1995). Os solos das reservas do PDBFF
características do solo seguem padrões ge-
seriam resilientes a ponto de recuperar suas
rais consistente com outros estudos sobre
características originais após serem conver-
solos tropicais. Estas correlações (Figura 1
tidos para pastagens degradadas? Existem
e Tabela 2) indicam algumas das prováveis
razões bem consistentes para duvidar desta
mudanças que resultariam das intervenções
capacidade. Entre elas incluem-se os original-
humanas na floresta: exploração seletiva de
mente baixos níveis de nutrientes essenciais,
madeira, criação de bordas através da frag-
que seriam esgotados em curto prazo. Entre
mentação da floresta e remoção da floresta
as mudanças que ocorrem normalmente po-
para implantação da agricultura ou pecuária.
de-se prever a perda de argila e de carbono,
No caso da exploração madeireira, as mu- junto com os cátions a eles associados. O
danças normalmente observadas incluem a carbono pode ser reposto pela vegetação de-
compactação do solo ao longo as trilhas dos senvolvida em pousíos prolongados, mas, na
tratores utilizados no transporte da madeira prática, pode-se duvidar que os solos seriam
(Veríssimo et al., 1992), exportação de nu- deixados em pousío por períodos suficientes
trientes através da biomassa removida (Ferraz para que isto aconteça (Fearnside, 1996a).
et al., 1997) e remoção de cátions presentes
Diferentes pessoas analisando o mesmo
no solo através da lixiviação e do escoamento
conjunto de dados podem chegar a conclu-
superficial (Jonkers & Schmidt, 1984).
sões radicalmente diferentes. Serrão et al.
A remoção por completo da cobertura flo- (1996: 8), por exemplo, consideram que a
restal provoca impacto significativo sobre os regeneração da floresta secundária (capoei-
estoques de nutrientes e na estrutura do solo ra) em pastagens abandonadas indica que
(veja revisão em Fearnside, 1986b). As carac- “o ecossistema florestal amazônico é bas-
terísticas do solo importantes para o desenvol- tante resiliente aos usos atuais”, embora
vimento das plantas modificam-se simultane- outros discordem. Por exemplo, Fearnside &
amente: na medida em que se ajustam a um Guimarães (1996).
novo equilíbrio, os fatores tenderão a manter,
entre um e outro, as mesmas relações obser- Distribuição da vegetação natural
vadas anteriormente no solo sob a floresta. As
queimadas elevam o pH e contribuem com Em grande escala, a relação entre o solo,
nutrientes para o solo, entretanto, o cultivo espécies arbóreas e biomassa torna-se eviden-
agrícola normalmente implica em perdas de te, cite-se aqui a diferença entre a vegetação
matéria orgânica e de argila que, gradualmen- de baixa densidade das campinas e campina-
te, reduzem a capacidade do solo de reter os ranas que ocorrem sobre solos de areia branca
A variabilidade espacial em escala fina tornado mais freqüente após 1976 (Nicholls
na distribuição de carbono do solo, observa- et al., 1996). Ele resulta em secas prolonga-
da neste estudo, sugere a existência de uma das (de Souza et al., 2000) que podem ter
quantidade significativa de incerteza inerente impacto significativo sobre a floresta ama-
aos estudos sobre alterações no estoque de zônica (Tian et al., 1998). Espécies arbóre-
carbono do solo baseado em “cronoseqüên- as especializadas em áreas mais úmidas são
cias”, pois os efeitos de uso do solo (como particularmente vulneráveis ao estresse pro-
pastagem) são deduzidos de comparações en- vocado pela falta de água. Por exemplo, na
tre amostras coletadas quase simultaneamen- Ilha de Barro Colorado, Panamá, tais espé-
te em vários locais com diferentes histórias de cies sofreram uma mortalidade extremamen-
uso (veja Fearnside & Barbosa, 1998). Porém, te elevada durante o evento El Niño de 1982-
diferenças significativas entre estas áreas po- 1983 (Hubbell & Foster, 1990: 531).
deriam ocorrer devido à variação espacial na-
Evidências arqueológicas sugerem
tural e não em função do uso do solo.
que incêndios catastróficos ocorreram na
Amazônia, sempre em sincronia com even-
Resposta provável da floresta à tos El Niño, quatro vezes durante os últi-
fragmentação mos 2.000 anos: 1.500, 1.000, 700 e 400
anos antes do presente (Meggers, 1994). A
Os estudos desenvolvidos na área do ação humana poderia fazer com que even-
PDBFF forneceram evidências inegáveis so- tos El Niño menos intensos, tais como os que
bre o fato de que a criação de bordas resulta ocorreram em 1982-1983 e em 1997-1998,
em um aumento da mortalidade de árvores
assumam proporções catastróficas (Barbosa
localizadas nas proximidades destas áreas
& Fearnside, 2000). Sabe-se que os eventos
(Laurance et al., 1998; Lovejoy et al., 1984).
menos intensos são muito mais freqüentes
Estas bordas apresentam um ar mais seco
do que aqueles de grande intensidade, en-
que aquele encontrado no interior da flo-
tretanto, seus efeitos podem se tornar mais
resta (Kapos, 1989; Kapos et al., 1993). O
agudos quando somados aos efeitos previs-
aumento na mortalidade de árvores nas pro-
tos das mudanças climáticas, como a redu-
ximidades das bordas provoca um “colapso
ção de chuva provocada pela redução da eva-
de biomassa”, liberando o carbono para a
potranspiração causada pelo desmatamento
atmosfera (Laurance et al., 1997).
continuado (Lean et al., 1996; Salati & Vose,
É provável que algumas características 1984) e ao efeito das alterações na tempera-
dos solos desempenhem um papel importan- tura média e na distribuição de chuva causa-
te na mortalidade de árvores sob estas con- da pelo efeito estufa (veja Fearnside, 1995).
dições de estresse. Pode-se esperar que solos Embora não exista a expectativa de que es-
com maiores quantidades de areia retenham tas alterações produzam, por si só, reduções
menos água, produzindo maior estresse hí- radicais na precipitação pluviométrica, seus
drico na vegetação localizada sob o ambiente efeitos são ampliados pela variabilidade na-
mais seco nas proximidades das bordas. No tural, como aquela causada pelo fenômeno
entanto, solos arenosos são associados aos El Niño, por perturbações promovidas pela
fundos de vale, nos quais se espera a ocorrên- exploração madeireira e pela criação de áreas
cia de um volume adicional de água no solo, de bordas em fragmentos. A exploração ma-
quando comparados aos locais mais altos. deireira está aumentando rapidamente nas
florestas amazônicas, criando áreas abertas
Resposta provável da floresta à mudança e mais inflamáveis devido ao acúmulo de
climática combustível representado pelos resíduos flo-
restais e por árvores mortas acidentalmente
Atualmente, podem ser previstas, ou durante a exploração (Uhl & Buschbacher,
mesmo constatadas variações e mudanças 1985; Uhl & Kauffman, 1990). O avanço
climáticas de vários tipos. O fenômeno co- contínuo das frentes de assentamentos e
nhecido como “El Niño/Oscilação do sul”, desmatamento na região significa que, atual-
ocorre periodicamente há milênios e tem se mente, existem mais oportunidades para que
Chauvel, A. 1982. Os latossolos amarelos, álicos, Falesi, I.C. 1974. Soils of the Brazilian Amazon. p.
argilosos dentro dos ecossistemas das bacias 201-229 In: C. Wagley (Ed.) Man in the Amazon.
experimentais do INPA e da região vizinha. Acta University Presses of Florida, Gainesville, Florida,
Amazonica 12(3): 38-47. E.U.A. 329 p.
Clark, D.A., D.B. Clark, R. Sandoval M. & M.V. Castro C. Fearnside, P.M. 1980. A previsão de perdas através
1995. Edaphic and human effects on landscape-scale de erosão do solo sob vários usos de terra na área
distributions of tropical rain-forest palms. Ecology de colonização da Rodovia Transamazônica. Acta
76: 2.581-2.594. Amazonica 10(3): 505-511.
Clark, D.B. & D.A. Clark. 1995. Abundance, growth Fearnside, P.M. 1984. Initial soil quality conditions
and mortality of very large trees in Neotropical on the Transamazon Highway of Brazil and their
lowland rain forest. Forest Ecology and Management simulation in models for estimating human carrying
80: 235-244. capacity. Tropical Ecology 25(1): 1-21.
Cochrane, T.T. & P.A. Sánchez. 1982. Land resources, Fearnside, P.M. 1986a. Settlement in Rondônia and
soils and their management in the Amazon region: the token role of science and technology in Brazil’s
A state of knowledge report. p. 137-209 In S.B. Hecht Amazonian development planning. Interciencia
(Ed.) Amazonia: Agriculture and Land Use Research. 11(5): 229-236.
Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT).
Cali, Colômbia. 428 p. Fearnside, P.M. 1986b. Human Carrying Capacity of the
Brazilian Rainforest. Columbia University Press,
Coelho, F.S. & F. Verlengia. 1972. Fertilidade do Solo. New York, E.U.A. 293 p.
Instituto Campineiro de Ensino Agrícola. Campinas,
São Paulo, SP 384 p. Fearnside, P.M. 1987. Rethinking continuous cultivation
in Amazonia. BioScience 37(3): 209-214.
Cox, F.R. 1973a. Micronutrients. p. 182-197 In: P.A.
Sánchez (ed.) A Review of Soils Research in Tropical Fearnside, P.M. 1988. Yurimaguas reply. BioScience
Latin America. North Carolina State University, 38(8): 525-527.
Soil Science Department, Raleigh, North Carolina, Fearnside, P.M. 1990. Predominant land uses in the
E.U.A. 197 p. Brazilian Amazon. p. 235-251 In: A.B. Anderson
Cox, F.R. 1973b. Potassium. p. 162-178 In: P.A. Sánchez (Ed.) Alternatives to Deforestation: Towards
(ed.) A Review of Soils Research in Tropical Latin Sustainable Use of the Amazon Rain Forest.
America. North Carolina State University, Soil Columbia University Press, New York, E.U.A. 281 p.
Science Department, Raleigh, North Carolina, Fearnside, P.M. 1995. Potential impacts of climatic change
E.U.A. 197 p. on natural forests and forestry in Brazilian Amazonia.
de Cássia, R. 1997. “BR-174: FHC anuncia abertura de Forest Ecology and Management 78: 51-70.
nova fronteira agrícola no Norte”. Amazonas em Fearnside, P.M. 1996a. Amazonian deforestation and
Tempo [Manaus], 25 de junho de 1997, p. A-4. global warming: Carbon stocks in vegetation
de la Fuente, J.M., V. Ramírez-Rodríguez, J.L. Cabrera- replacing Brazil’s Amazon forest. Forest Ecology and
Ponce & L. Herrera-Estrella. 1997. Aluminum Management 80(1-3): 21-34.
tolerance in transgenic plants by alteration of citrate Fearnside, P.M. 1996b. Amazonia and global warming:
synthesis. Science 276: 1.566-1.568. Annual balance of greenhouse gas emissions from
de Lima, J.M.G. 1976. Perfil Analítico dos Fertilizantes land-use change in Brazil’s Amazon region. p.
Fosfatados. Ministério das Minas e Energia, 606-617 In: J. Levine (Ed.) Biomass Burning and
Departamento Nacional de Produção Mineral Global Change. Volume 2: Biomass Burning in South
(DNPM) Boletim No. 39. DNPM, Brasília, DF. 55 p. America, Southeast Asia and Temperate and Boreal
Ecosystems and the Oil Fires of Kuwait. MIT Press,
de Souza, E.B., M.T. Kayano, J. Tota, L. Pezzi, G. Fisch & C. Cambridge, Massachusetts, E.U.A. 902 p.
Nobre. 2000. On the influence of the El Niño, La Niña
and Atlantic dipole pattern on the Amazonian rainfall Fearnside, P.M. 1997a. Limiting factors for development
during 1960-1998. Acta Amazonica 30(2): 305-318. of agriculture and ranching in Brazilian Amazonia.
Revista Brasileira de Biologia 57(4): 531-549.
Döbereiner, J. 1992. Recent changes in concepts of plant
bacteria interactions: Endophytic N2 fixing bacteria. Fearnside, P.M. 1997b. Human carrying capacity
Ciência e Cultura 44: 310-313. estimation in Brazilian Amazonia as a basis
for sustainable development. Environmental
E.U.A., Department of Agriculture, Soil Survey Staff.
Conservation 24(3): 271-282.
1975. Soil Taxonomy: A Basic System of Soil
Classification for Making and Interpreting Soil Fearnside, P.M. 1997c. Environmental services as
Surveys. Soil Conservation Service, Washington, a strategy for sustainable development in rural
DC., E.U.A. 754 p. Amazonia. Ecological Economics 20(1): 53-70.
Fearnside, P.M. 1997d. Greenhouse gases from p. 151-169 In: N. Higuchi, J.B.S. Ferraz, L. Antony, F.
deforestation in Brazilian Amazonia: Net committed Luizão, R. Luizão, Y. Biot, I. Hunter, J. Proctor & S.
emissions. Climatic Change 35(3): 321-360. Ross (Eds.) Bionte: Biomassa e Nutrientes Florestais.
Fearnside, P.M. 1998a. Phosphorus and Human Carrying Relatório Final. Instituto Nacional de Pesquisas da
Capacity in Brazilian Amazonia. p. 94-108 In: J.P. Amazônia (INPA), Manaus, AM. 345 p.
Lynch & J. Deikman (Eds.) Phosphorus in Plant Gillman, G.P. & G.G. Murtha. 1983. Effects of sample
Biology: Regulatory Roles in Molecular, Cellular, handling on some chemical properties in soils from
Organismic, and Ecosystem Processes. American high rainfall coastal North Queensland. Australian
Society of Plant Physiologists, Rockville, Maryland, Journal of Soil Research 21: 67-72.
E.U.A. 401 p.
Guimarães, G. de A., J.B. Bastos & E. de C. Lopes. 1970.
Fearnside, P.M. 1998b. Sistemas agroflorestais na Métodos de análise física, química e instrumental
política de desenvolvimento na Amazônia brasileira: de solos. Instituto de Pesquisas e Experimentação
Papel e limites como uso para áreas degradadas. p.
Agropecuárias do Norte (IPEAN), Série: Química de
293-312 In: C. Gascon & P. Moutinho (Eds.) Floresta
Solos 1(1): 1-108.
Amazônica: Dinâmica, Regeneração e Manejo.
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Hardy, F. 1961. Manual de Cacao. Instituto Interamericano
Manaus, AM. 373 p. de Ciências Agrícolas (IICA), Turrialba, Costa Rica.
Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1996. The Cotingo Dam Hubbell, S.P. & R.B. Foster. 1990. Structure, dynamics,
as a test of Brazil’s system for evaluating proposed and equilibrium status of old-growth forest on Barro
developments in Amazonia. Environmental Colorado Island. p. 522-541 In: A.H. Gentry (Ed.)
Management 20(5): 631-648. Four Neotropical Forests. Yale University Press, New
Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1998. Soil carbon Haven, Connecticut, E.U.A. 627 p.
changes from conversion of forest to pasture in Irion, G. 1978. Soil infertility in the Amazonian rain
Brazilian Amazonia. Forest Ecology and Management forest. Naturwissenschaften 65: 515-519.
108(1-2): 147-166.
Jonkers, W.B.J. & P. Schmidt. 1984. Ecology and timber
Fearnside, P.M. & W.M. Guimarães. 1996. Carbon uptake
production in tropical rainforest in Suriname.
by secondary forests in Brazilian Amazonia. Forest
Interciencia 9(5): 290-297.
Ecology and Management 80(1-3): 35-46.
Jordan, C. 1985. Soils of the Amazon rainforest. p.
Fearnside, P.M. & N. Leal Filho. 2001. Soil and
83-94 In: G.T. Prance & T.E. Lovejoy (Eds.) Key
development in Amazonia: Lessons from the
Environments: Amazonia. Pergamon Press, Oxford,
Biological Dynamics of Forest Fragments Project. p.
291-312 In: R.O. Bierregaard, C. Gascon, T.E. Lovejoy Reino Unido. 442 p.
& R. Mesquita (Eds.) Lessons from Amazonia: The Jorgensen, S.S. 1977. Guia Analítico: Metodologia
Ecology and Conservation of a Fragmented Forest. Utilizada para Análises Químicas de Rotina.
Yale University Press, New Haven, Connecticut, Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA),
E.U.A. 478 p. Piracicaba, São Paulo, SP. 24 p.
Fenster, W.E. & L.A. León. 1979. Management of Kamprath, E.J. 1973a. Phosphorus. p. 138-161 In: P.A.
phosphorus fertilization in establishing and Sánchez (ed.) A Review of Soils Research in Tropical
maintaining improved pastures on acid, infertile Latin America. North Carolina State University,
soils of tropical America. p. 109-122 In: P.A. Sánchez
Soil Science Department, Raleigh, North Carolina,
& L.E. Tergas (Eds.) Pasture Production in Acid Soils
E.U.A. 197 p.
of the Tropics: Proceedings of a Seminar held at CIAT,
Cali, Colombia, April 17-21, 1978, CIAT Series 03 Kamprath, E.J. 1973b. Soil acidity and liming. p. 126-
EG-05. Centro Internacional de Agricultura Tropical 137 In: P.A. Sánchez (ed.) A Review of Soils Research
(CIAT), Cali, Colômbia. 488 p. in Tropical Latin America. North Carolina State
Ferraz, J., N. Higuchi, J. dos Santos, Y. Biot, F. Marques, University, Soil Science Department, Raleigh, North
K. Baker, R. Baker, I. Hunter & J. Proctor. 1997. Carolina, E.U.A. 197 p.
Distribuição de nutrientes nas árvores e exportação Kapos, V. 1989. Effects of isolation on the water status
de nutrientes pela exploração seletiva de madeira. p. of forest patches in the Brazilian Amazon. Journal
133-149 In: N. Higuchi, J.B.S. Ferraz, L. Antony, F. of Tropical Ecology 5: 173-185.
Luizão, R. Luizão, Y. Biot, I. Hunter, J. Proctor & S.
Ross (Eds.) Bionte: Biomassa e Nutrientes Florestais. Kapos, V., G. Ganade, E. Matusi & R.L. Victoria. 1993.
Relatório Final. Instituto Nacional de Pesquisas da Delta 13C as an I dicator of edge effects in tropical
Amazônia (INPA), Manaus, AM. 345 p. rainforest reserves. Journal of Ecology 81: 425-432.
Ferreira, S.J.F. 1997. Efeitos da exploração seletiva de Klar, A.E. 1984. A Água no Sistema Solo-Planta-
madeira sobre a hidrologia e hidroquímica do solo. Atmosfera. Nobel, São Paulo, SP. 408 p.
Koster, H.W., E.J.A. Khan & R.P. Bosshart. 1977. Nepstad, D.C, A.G. Moreira & A.A. Alencar. 1999. Flames
Programa e Resultados Preliminares dos Estudos in the Rain Forest: Origins, Impacts and Alternatives
de Pastagens na Região de Paragominas, Pará, e to Amazonian Fire. Pilot Program to Conserve the
nordeste de Mato Grosso junho 1975-dezembro 1976. Brazilian Rain Forest, Brasília, DF. 161 p.
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
Nicholls, N. & 98 outros. 1996. Observed climate
(SUDAM), Convênio SUDAM/Instituto de Pesquisas
variability and change. p. 133-192 In: Houghton,
IRI, Belém, Pará.
J.T., L.G. Meira Filho, B.A. Callander, N. Harris,
Laurance, W.F., P.M. Fearnside, S.G. Laurance, A. Kattenberg & K. Maskell (Eds.). Climate Change
P. Delamonica, T.E. Lovejoy, J.M. Rankin-de- 1995: The Science of Climate Change. Cambridge
Merona, J.Q. Chambers & C. Gascon. 1999. University Press, Cambridge, Reino Unido. 572 p.
Relationship between soils on Amazon forest Pacífico, C. 1997. “Distrito Agropecuário: ZF-9, o ramal
biomass: A landscape-scale study. Forest Ecology dos iludidos”. Amazonas em Tempo [Manaus], 01
and Management 118(1-3): 127-138. de junho de 1997, p. A-4.
Laurance, W.F, L.V. Ferreira, J.M. Rankin-de Merona Parkinson, J.A. & S.E. Allen. 1975. A wet oxidation procedure
& S.G. Laurance. 1998. Rain forest fragmentation suitable for the determination of nitrogen and mineral
and the dynamics of Amazonian tree communities. nutrients in biological material. Communications in
Ecology 79(6): 2.032-2.040. Soil Science and Plant Analysis 6: 1-11.
Laurance, W.F., S.G. Laurance, L.V. Ferreira, J.M. Pinheiro, R. 1997. “Zoneamento econômico-ecológico:
Rankin-de-Merona, C. Gascon & T.E. Lovejoy. 1997. Sudeste e nordeste do AM têm maior potencial
Biomass collapse in Amazonian forest fragments. econômico”. Amazonas em Tempo [Manaus], 26
Science 278: 1.117-1.118. de setembro de 1997, p. B-2. Primavesi, A. 1981.
Lean, J., C.B. Bunton, C.A. Nobre & P.R. Rowntree. 1996. O Manejo Ecológico do Solo: Agricultura em Regiões
The simulated impact of Amazonian deforestation Tropicais, 3a Ed. Nobel, São Paulo, SP. 541 p.
on climate using measured ABRACOS vegetation Rankin-de-Merona, J.M., R.W. Hutchings H. & T.E.
characteristics. p. 549-576 In: J.H.C. Gash, Lovejoy. 1990. Tree mortality and recruitment over
C.A. Nobre, J.M. Roberts & R.L. Victoria (Eds.) a five-year period in undisturbed upland rainforest
Amazonian Deforestation and Climate. Wiley, of the central Amazon. p. 573-584 In: A.H. Gentry
Chichester, Reino Unido. 611 p. (Ed.) Four Neotropical Forests. Yale University Press,
Lescure, J.P. & R. Boulet. 1985. Relationships between New Haven, Connecticut, E.U.A. 627 p.
soil and vegetation in a tropical rain forest in French Ranzani, G. 1980. Identificação e caracterização de
Guiana. Biotropica 17(2): 155-164. alguns solos da Estação Experimental de Silvicultura
Lenthe, H.R. 1991. Methods for monitoring organic Tropical do INPA. Acta Amazônica 10: 7-41.
matter in soil. p. 119-129 In: Studies on the Utilization Régis, M. 1989. “IBGE e Embrapa divergem sobre melhor
and Conservation of Soil in the Eastern Amazon ocupação para Amazônia”. Jornal do Brasil [Rio
Region. Deutsche Gesellschaft für Technische de Janeiro] 09 de julho de 1989, Caderno 1, p. 17.
Zusammenarbeit (GTZ), Eschborn, Alemanha. 281 p.
Salati, E. and P.B. Vose. 1984. Amazon Basin: A system
Lovejoy, T.E. & R.O. Bierregaard, Jr. 1990. Central in equilibrium. Science 225: 129-138.
Amazonian forests and the Minimum Critical Size
of Ecosystems Project. p. 60-71 In: A.H. Gentry (Ed.) Sánchez, P.A. 1976. Properties and Management of
Four Neotropical Forests. Yale University Press, New Soils in the Tropics. Wiley-Interscience, New York,
Haven, Connecticut, E.U.A. 627 p. E.U.A. 618 p.
Lovejoy, T.E., J.M. Rankin, R.O. Bierregaard, Jr., K.S. Sánchez, P.A. 1977. Advances in the management of
Brown, Jr., L.H. Emmons & M.E. van der Voort. OXISOLS and ULTISOLS in tropical South America. p.
1984. Ecosystem decay of Amazon forest remnants. 535-566 In: Proceedings of the International Seminar
p. 295-325 In: M.H. Nitecki (Ed.). Extinctions. on Soil Environment and Fertility Management in
University of Chicago Press, Chicago, Illinois, E.U.A. Intensive Agriculture, Tokyo, Japan. Society of the
Science of Soil and Manure, Tokyo, Japão.
Meggers, B.J. 1994. Archeological evidence for the
impact of mega-Niño events on Amazonia during the Sánchez, P.A., D.E. Bandy, J.H. Villachica & J.J.
past two millenia. Climatic Change 28(1-2): 321-338. Nicholaides, III. 1982. Amazon basin soils:
Management for continuous crop production.
Moran, E.F. 1981. Developing the Amazon. Indiana Science 216: 821-827.
University Press, Bloomington, Indiana, E.U.A. 292 p.
Serrão, E.A.S., I.C. Falesi, J.B. da Viega & J.F. Teixeira
National Academy of Sciences. 1972. Soils of the Humid Neto. 1979. Productivity of cultivated pastures on
Tropics. National Academy of Sciences, Washington, low fertility soils in the Amazon of Brazil. p. 195-
D.C., E.U.A. 219 p. 225 In: P.A. Sánchez & L.E. Tergas (Eds.) Pasture
Production in Acid Soils of the Tropics: Proceedings of Tanner, E.V.J., P.M. Vitousek & E. Cuevas. 1998.
a Seminar held at CIAT, Cali, Colombia, April 17-21, Experimental investigation of nutrient limitation of
1978. CIAT Series 03 EG-05. Centro Internacional de forest growth on wet tropical mountains. Ecology
Agricultura Tropical (CIAT), Cali, Colômbia. 488 p. 79(1): 10-22.
Serrão, E.A.S. & A.K.O. Homma. 1993. Brazil. p. 265- Tian, H., J.M. Mellilo, D.W. Kicklighter, A.D. McGuire,
351 In: National Research Council, Committee J.V.K. Helfrich III, B. Moore III & C. V”or”osmarty.
on Sustainable Agriculture and the Environment 1998. Effect of interanual climate variability on
in the Humid Tropics, Board on Agriculture and carbon storage in Amazonian ecosystems. Nature
Board on Science and Technology for International 396: 664-667.
Development. Sustainable Agriculture and the
Environment in the Humid Tropics. National Uhl, C. & R. Buschbacher. 1985. A disturbing synergism
Academy Press, Washington, D.C., E.U.A. 702 p. between cattle-ranch burning practices and selective
tree harvesting in the eastern Amazon. Biotropica
Serrão, E.A.S., D. Nepstad & R. Walker. 1996. Upland
17(4): 265-268.
agricultural and forestry development in the
Amazon: Sustainability, criticality and resilience. Uhl, C. & J.B. Kauffman. 1990. Deforestation, fire
Ecological Economics 18(1): 3-13. susceptibility, and potential tree responses to fire in
Smith, N.J.H., E.A.S. Serrão, P. de T. Alvim & Í.C. Falesi. the Eastern Amazon. Ecology 71(2): 437-449.
1995. Amazonia: Resiliency and Dynamism of the Van Schaik, C.P. & E. Mirmanto. 1985. Spatial variation
Land and its People. United Nations University Press, in the structure and literfall of Sumatran rainforest.
Tokyo, Japão. 253 p. Biotropica 17: 196-205.
Smyth, A.J. 1966. The selection of soils for cacao. FAO Soils Van Wambeke, A. 1978. Properties and potentials of soils
Bulletin No. 5. Food and Agriculture Organization of in the Amazon Basin. Interciencia 3(4): 233-241.
the United Nations (FAO), Rome, Itâlia.
Veríssimo, A., P. Barreto, M. Matos, R. Tarifa & C. Uhl.
Sollins, P. 1998. Factors influencing species composition
1992. Logging impacts and prospects for sustainable
in tropical lowland rain forest: Does soil matter?
forest management in an old Amazonian frontier:
Ecology 79(1): 23-30.
The case of Paragominas. Forest Ecology and
Sombroek, W.G. 1966. Amazon Soils: A Reconnaissance Management 55: 169-199.
of the Soils of the Brazilian Amazon Region. Centre
for Agricultural Publications and Documentation, Vieira, L.S. 1975. Manual da Ciência do Solo. Editora
Wageningen, Paises Baixos. 292 p. Agronômica Ceres, São Paulo, SP. 464 p.
Sombroek, W.G. 1984. Soils of the Amazon region. p. Vieira, L.S. & M.N.F. Vieira. 1983. Manual de Morfologia
521-535 In: H. Sioli (ed.) The Amazon: Limnology e Classificação de Solos. Editora Agronômica Ceres,
and Landscape Ecology of a Mighty River and its São Paulo, SP. 319 p.
Basin. Dr. W. Junk, Dordrecht, Paises Baixos. 763 p. Walker, B.H., P. Lavelle & W. Weischet. 1987. Yurimaguas
Sombroek, W.G., P.M. Fearnside & M. Cravo. 2000. technology. BioScience 37(9): 638-640.
Geographic assessment of carbon stored in Walkley, A. & I.A. Black. 1934. An examination of
Amazonian terrestrial ecosystems and their soils in
the Degtjareff method for determining soil organic
particular. p. 375-389. In: R. Lal, J.M. Kimble & B.A.
matter and a proposed modification of the chromic
Stewart (Eds). Global Climate Change and Tropical
acid titration method. Soil Science 37: 29-38.
Ecosystems. Advances in Soil Science. CRC Press,
Boca Raton, Florida, E.U.A. 438 p. Webster C.C. & P.N. Wilson. 1980. Agriculture in the
St. John, T.V. 1980. Uma lista de espécies de plantas Tropics, 2nd. ed. Longman, London, Reino Unido.
tropicais brasileiras naturalmente infectadas com 640 p.
micorriza vesiculararbuscular. Acta Amazonica Young, A. 1976. Tropical Soils and Soil Survey.
10(1): 229-234. Cambridge University Press, Cambridge, Reino
St. John, T.V. 1985. Mycorrhizae. p. 277-283 In: G.T. Prance Unido. 468 p.
& T.E. Lovejoy (Eds.) Key Environments: Amazonia. Zagatto, E.A.C., A.C. Jacintho, B.F. Reis, F.J. Krug,
Pergamon Press, Oxford, Reino Unido 442 p. F.H. Bergamin, L.C.R. Pessenda, S. Moratti & M.F.
Tanaka, A., T. Sakuma, N. Okagawa, H. Imai & S. Ogata. Gine. 1981. Manual de Análises de Plantas e Águas
1984. Agro-Ecological Condition of the Oxisol-Ultisol Empregando Sistemas de Injeção de Fluxo. Centro de
Area of the Amazon River System. Faculty of Agriculture, Energia Nuclear na Agricultura/Universidade de São
Hokkaido University, Sapporo, Japão. 101 p. Paulo (CENA/USP), Piracicaba, São Paulo, SP. 45 p.
8
Fatores limitantes para o desenvolvimento da
agropecuária na Amazônia brasileira
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 1997. Limiting factors for development of agriculture and ranching in Brazilian
Amazonia. Revista Brasileira de Biologia 57(4): 531-549.
135
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 135 8/18/2022 3:14:03 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
136 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 1. A Amazônia
Legal brasileira.
impedimentos impostos por valores sociais comunidade, e por isso que Allan (1965)
e fatores macroeconômicos. chamou isto de “excesso natural da agricul-
tura de subsistência nível”. Este mecanismo
Expressão de fatores limitantes envolve plantar mais área de cada colheita do
que seria necessária para que seja produzido
Intermediação do planejamento o suficiente para a subsistência, mesmo que
Avaliação de fatores limitantes sobre o o rendimento fosse mau, assim fornecendo
desenvolvimento é fundamentalmente dife- uma margem de segurança contra carências.
rente, de alguns modos, de avaliar limitar
fatores para uma população de organismos LIMITES SOBRE A INTENSIFICAÇÃO
em um ecossistema natural ou no campo de
um fazendeiro. Limites de desenvolvimento Limites agronômicos sobre rendimento
são mediados através de inteligência huma- por hectare
na, pelos mecanismos de planejar (inclusive
zoneamento) e uma variedade de barreiras A “lei do mínimo” de Liebig é aplicada
reguladoras (incluindo avaliações de impac- na agricultura na forma conhecida como o
tos ambientais). Se terra pobre conduzirá a “modelo de resposta linear e platô”. A res-
colheitas fracassadas ou se o desmatamen- posta ao rendimento da colheita abaixo de
to conduzirá para erosão e degradação do um nível suficiente de cada nutriente é con-
solo, então a percepção destes limites pode siderada linear, enquanto nenhuma resposta
conduzir a decisões para não cortar floresta ocorre acima desse limiar. Este modelo foi
para agricultura. Em lugar de simplesmente mostrado para ser adequado para propósi-
permitir que os colonos encontrem os limi- tos práticos para o trabalho agronômico em
tes físicos, uma camada adicional de infor- terras tropicais, com resultados apenas mar-
mação, julgamentos de valor e tomada de ginalmente melhores sendo obtidos usando
decisão é interposto entre as limitações fí- funções quadráticas (Waugh et al., 1975). O
sicas e as decisões sobre desenvolvimento. modelo de resposta linear e platô foi apli-
Por exemplo, quais são os níveis aceitáveis cado a culturas agrícolas usadas por colo-
de risco de fracasso da colheita? Quais são nos na rodovia Transamazônica (Fearnside,
os riscos aceitáveis de grandes catástrofes 1986a). Por causa do solo ácido na maioria
ambientais? Estes e uma larga gama de ou- da área (na maior parte da Amazônia), o
tras considerações determinarão os fatores pH é frequentemente o caráter limitante do
limitantes aplicáveis para o desenvolvimen- solo, por exemplo, para milho (Zea mays),
to da agropecuária na Amazônia. feijão (Phaseolus vulgaris), feijão de corda
(Vigna sinensis), mandioca brava e maca-
Efeito de variabilidade xeira (Manihot esculenta), pimenta-do-reino
A variabilidade de qualquer fator, em lu- (Piper nigrum) e cacau (Theobroma cacao).
gar de apenas o valor médio, é um aspecto Com o passar do tempo, o domínio do pH
essencial de limitação. O fósforo do solo, a tende a exagerar o seu papel na manutenção
chuva, o dinheiro ou outras necessidades dos níveis de produtividade das culturas. O
variam muito no espaço e no tempo. A ca- pH pode ser mantido em um nível razoável
pacidade para sobreviver às carências de um através de queimadas frequentes das roças
determinado fator, depende, em parte, de agrícolas, mas é provável que outros limites,
mecanismos como uma almofada monetária tais como a falta de matéria orgânica e de vá-
(ex., dinheiro, ou uma reserva equivalente rios cátions associados, apareçam em alguns
como o gado, que pode ser utilizado quando anos (Fearnside, 1986a). O arroz (Oryza sa-
necessário). Em sociedades agrícolas tradi- tiva) está limitado pelo pH em combinação
cionais, dinheiro vivo e armazenamento de com matéria orgânica, iones de alumínio
valor e produtos são raros, mas formas de e fósforo total (Fearnside, 1986a). No caso
seguro são providas compartilhando entre da pastagem, o fósforo disponível limita a
membros da família ou agrupamentos da produção (Serrão & Falesi, 1977; Fearnside,
1979a). Os rendimentos de todas as culturas aumentos na colheita total são obtidos atra-
anuais não só dependem da fertilidade do vés da expansão das áreas cultivadas (Paiva
solo, mas também da densidade de plantio, et al., 1976: 62-68).
da consorciação com outras culturas, e dos A tentativa mais conhecida para diminuir
ataques de pragas e doenças. os limites de restrições do solo para susten-
tar produção agrícola ao longo do tempo é
Limites tecnológicos e de pesquisa o projeto para desenvolver cultivo contínuo
empreendido pela Universidade Estadual da
A tentação sempre é forte em acreditar
Carolina do Norte (NCSU), junto com ins-
que a pesquisa removerá praticamente todos
tituições peruanas, em Yurimaguas, Peru
os limites sobre o desenvolvimento, e não
(Sánchez et al., 1982; Nicholaides et al.,
há nenhum lugar onde tais voos de imagina- 1985; veja Fearnside, 1987, 1988; Walker et
ção estão mais livres de correr soltos do que al., 1987). Depleção do solo é um proble-
na Amazônia. Por causa da vasta área da re- ma fundamental que fica cada vez mais caro
gião, estão suposições de áreas enormes de e problemático para corrigir na medida em
agricultura intensiva na Amazônia o fator que o tempo procede sobre cultivo contínuo.
mais importante que está por trás de conclu- Todos os nutrientes removidos nas colheitas
sões globais fantásticas sobre a capacidade colhidas ou perdidos por erosão, lixiviação,
da terra para sustentar populações humanas. podem ser substituídos por outros processos
Presume-se que isto faça parte da convic- na forma de fertilizantes. O custo da substi-
ção do então presidente dos E.U.A., Ronald tuição não só tem que incluir a despesa sig-
Reagan de que “estudos agrícolas” haviam nificativa de comprar os fertilizantes e trans-
mostrado que o mundo poderia sustentar 28 portá-los até o local, mas também a despesa
bilhões de pessoas, se pudessem persuadir de identificar quais elementos estão faltando
os outros países a cultivarem as suas áreas e em que quantidades para cada roça, e de
aráveis na mesma intensidade que é encon- comunicar estas informações a tempo ao
trada nos E.U.A. (Holden, 1980: 989). agricultor para permitir a correção das de-
É fácil para os planejadores se ficiências antes que os rendimentos sejam
convencerem que os rendimentos das afetados. Os principais macronutrientes (ni-
culturas podem aumentar indefinidamente, trogênio [N], fósforo [P] e potássio [K]), jun-
e que eles podem aumentar a sempre to com calcário, respondem pela maioria da
taxas crescentes. Por exemplo, quando a despesa de compra e transporte. Sánchez et
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária al. (1982: 825) afirmam que as quantidades
(EMBRAPA) foi criada em 1974, uma série de fertilizante que precisam ser fornecidas
de projeções de rendimentos por hectare destes elementos são semelhantes às quan-
foi feita para culturas diferentes que tidades usadas por agricultores na região su-
presumem crescimento linear, logarítmico e deste dos E.U.A. Embora este fato poderia
exponencial do rendimento (Páez & Dutra, ter a aparecia de implicar que a agricultura
1974). Recentemente, Gallopín & Winograd poderia ser tal lucrativa na Amazônia como
(1995: 27) chegaram a uma conclusão na Carolina do Norte, deveria se lembrado
otimista com relação às perspectivas para que as distâncias longas elevam em muito o
um «cenário sustentável”, presumindo que custo de fertilizante e diminuem em muito
os rendimentos por hectare das culturas os preços recebidos pelas colheitas que é o
aumentarão exponencialmente a 1,5-2,0%/ caso em outros lugares.
ano (veja Fearnside, 1996a). A ideia de que A correção da depleção de micronutrien-
o crescimento exponencial é uma opção está tes, embora requeira apenas pequenas quan-
enganada, e a noção que se pode selecionar tidades de fertilizantes importados, acrescen-
isto como se fosse escolher algo de uma es- taria substancialmente ao custo e ao risco dos
tante é ainda mais perigosa. Na realidade, agricultores que praticam o sistema. Devem
os rendimentos brasileiros por hectare tra- ser equilibrados os nutrientes para evitar siner-
dicionalmente têm sido quase constantes, gismos prejudiciais. O sistema requer análise
do solo e amostras de planta depois de cada frequente nas roças dos agricultores amazôni-
colheita para calcular a mistura certa de nu- cos. Fracassos seriam mais altos por causa do
trientes para fertilização. Está temeroso imagi- fornecimento incerto de insumos e das infor-
nar a expansão da capacidade dos laboratórios mações sobre quais insumos são necessários.
e dos serviços de extensão que seria necessária
Para fazer o sistema funcionar correta-
para controlar os milhões de amostras que se-
mente, é necessário informações separadas
riam geradas se a tecnologia Yurimaguas fosse
para cada campo. Sánchez et al. (1982: 824)
implementada amplamente. Embora estes ser-
afirmaram que “a cronometragem do apare-
viços foram fornecidos grátis (ex., como um
cimento de limitações de fertilidade de solo
subsídio) por NCSU no caso dos agricultores
que colaboram com a estação experimental de e a intensidade da sua expressão variou
Yurimaguas, os agricultores, os contribuintes nos [três] campos [de teste], embora eles
ou os consumidores nos países amazônicos estivessem localizados perto um do outro,
teriam que aguentar estas despesas se o sis- estavam na mesma unidade cartográfica de
tema fosse ampliado. Quando Sánchez et al. solo, e tiveram a mesma vegetação antes de
(1982) publicaram os primeiros resultados da desmatar. A intensidade do fogo durante o
experiência, as parcelas experimentais tinham desmatamento é considerada um fator que
oito anos e precisavam, além de N, P, e K a contribui a esta variabilidade”. A dificul-
substituição de cinco outros nutrientes: mag- dade de adquirir resultados a tempo para
nésio, cobre, zinco, boro e molibdênio. Três medidas apropriadas de correção, quando
anos depois, tinham sido acrescentados mais só alguns campos experimentais são en-
dois nutrientes à lista: enxofre e magnésio (D. volvidos, deveria dar alguma indicação da
Alterne, comunicação pessoal, 1985). O gru- magnitude dos problemas que seriam en-
po de pesquisa se queixou da dificuldade de frentados por agricultores tentando extrair
obter pureza adequada nas amostras de solo resultados deste tipo dos laboratórios de
e a precisão suficiente nas análises de labora- solos do governo e as suas burocracias as-
tório: com micronutrientes, uma diferença de sociadas. Uma situação paralela pode ser
só algumas partes por bilhões pode ter um im- encontrada nas dificuldades dos agriculto-
pacto grande em rendimentos de colheita. A res na rodovia Transamazônica do Brasil
dificuldade de obter tal precisão seria indubi- na obtenção da liberação de desembolsos
tavelmente muito maior para agricultores com de crédito no momento apropriado no ano
dificuldades de isolamento geográfico, falta de agrícola (Moran, 1981).
educação e uma ligação tênue com as instala-
ções de laboratório por meio de uma cadeia Limites culturais
de pessoal de extensão que frequentemente
faltam treinamento e motivação. Qualquer A ideia de que a Amazônia pode, um
erro ou demora no cálculo da mistura correta dia, se assemelhar aos vales do Ganges ou
de fertilizantes pode causar perdas nos ren- do Yangtze, com populações humanas den-
dimentos. Sánchez et al. (1982: 824) admite: sas que são sustentadas por arroz irrigado,
“No tratamento completo, foram aplicados aponta a importância de limitações culturais
fertilizantes e calcário de acordo com as re- e o grande abismo que existe entre os limi-
comendações baseadas em análises de solo. tes físicos e as restrições sobre populações
Durante o segundo ou terceiro ano, no entan- humanas. Não é provável que a Amazônia
to, os rendimentos começaram a diminuir ra- sofra uma transformação deste tipo no futu-
pidamente. A análise do solo identificou dois ro previsível porque, entre outras barreiras,
possíveis fatores... calcário, e... magnésio”. Se a população que habita a região teria que
rendimentos puderem sofrer por causa de má sofrer mudanças culturais radicais para tor-
avaliação das necessidades de nutrientes em nar atraente a rotina pesada de transplantar
um campo experimental monitorado de perto arroz. É improvável que a agricultura ama-
por uma equipe altamente qualificada de agrô- zônica mude por transfusões de imigrantes
nomos de pesquisa, se esperaria que a queda de outros lugares onde métodos mais inten-
no rendimento das colheitas seria muito mais sivos já fazem parte da tradição cultural. Os
célula individual pode ser alocada ao uso ilusão cruel (veja Fearnside, 1990a). Estes
em questão, e ainda chegar a uma conclu- limites são ilustrados pela inviabilidade de
são global que é completamente irreal. Por aplicar em qualquer parte significante da
exemplo, esta é a explicação da conclusão Amazônia a tecnologia Yurimaguas para cul-
que o Brasil pode sustentar sete bilhões de tivo contínuo, previamente discutida.
pessoas, alcançada por um estudo realiza- Um dos fatores que conduzem aos altos
do pela Organização das Nações Unidas valores para capacidade de suporte que o
para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estudo apontou para a Amazônia é a supo-
em colaboração com o Fundo de População sição de que a qualidade da terra em áreas
das Nações Unidas (UNFPA) e o Instituto ainda não cultivadas é igual à qualidade nas
Internacional de Análise de Sistemas áreas já cultivadas. O estudo vai tão longe
Aplicados (IIASA) (FAO, 1980, 1981, 1984; que alega que “há evidência de que a pro-
Higgins et al., 1982). dutividade das reservas pode ser mais alta,
Vale a pena examinar o estudo da FAO/ mas, por causa de simplicidade, é presumido
UNFPA/IIASA, já que a ilusão embutida nele, que a produtividade em potencial da terra
de que a Amazônia pode ser transformada nova esteja igual à da terra já sobre culti-
em um grande celeiro (uma ideia que ante- vação” (FAO, 1984: 43). Infelizmente, como
cede em muito tempo o estudo FAO/UNFPA/ também é verdade na maior parte do pla-
IIASA) é um persistente e pernicioso fator neta, as melhores terras são as primeiras a
no planejamento brasileiro para a região. Os serem aproveitadas para o cultivo, com a
resultados do estudo contêm numerosas in- qualidade da terra diminuindo progressiva-
consistências obvias com a realidade, indi- mente nas novas áreas de assentamento, até
cando que tais esforços precisam estar base- que apenas terras muito marginais perma-
ados em mais verdade terrestre. A Amazônia necem. Das terras em projetos de coloniza-
brasileira é toda indicada no estudo da FAO/ ção instalados os anos 1970 em Rondônia,
UNFPA/IIASA como capaz de sustentar en- 42% foram classificados por uma pesquisa
tre meia e uma pessoa por hectare ao baixo de solo do governo como sendo “boas para
nível atual de insumos tecnológicos, e entre agricultura com insumos baixos ou médios”.
cinco e dez pessoas por hectare com insu- Por exemplo, para projetos iniciados na pri-
mos altos (fertilizantes, mecanização e uma meira metade dos anos 1980, foram classi-
ótima mistura de culturas não irrigadas). ficados assim 15% da terra, enquanto para
Estes cálculos conduzem à conclusão de que áreas planejadas na época a quantidade foi
o Brasil poderia sustentar uma população de minúsculos 0,13% (Fearnside, 1986b).
incrível de 7,1 bilhões de pessoas, se altos Uma recomendação incluída no estudo
níveis de insumos fossem aplicados (Higgins da FAO/UNFPA/IIASA que os países em de-
et al., 1982: 104). A possibilidade implícita senvolvimento deveriam encorajar a migra-
de converter a região em uma vasta área de ção para as terras baixas tropicais, a partir
agricultura mecanizada com altos níveis de das áreas altamente povoadas em latitudes
insumos vai contra os limites de disponibili- e/ou altitudes mais altas (por exemplo, FAO,
dade de recursos para suprir os insumos. A 1984: 21), é provável provar uma catástro-
Amazônia não tem praticamente nenhuma fe ambiental, assim como já aconteceu com
jazida de fosfato; os transportes são caros, programas semelhantes em países como a
quando a vasta extensão da Amazônia é Colômbia, Equador, Bolívia e Indonésia. A
considerada, e a agricultura deste tipo logo sugestão de que propriedades “fragmenta-
entraria em conflito com os limites absolu- das” de terra devem se agrupar em “proprie-
tos deste recurso. A tentação é grande para dades consolidadas” como parte da transi-
ver a Amazônia como uma cornucópia em ção para agricultura de altos insumos (FAO,
potencial capaz de resolver os problemas da 1981: 16) acabaria com a função social de
população e de distribuição da terra; os limi- muitos programas tropicais de assentamen-
tes sobre a aplicação da agricultura intensiva to. As conclusões sobre a capacidade de
em grande escala tornam esta proposta uma suporte humano são afetadas pela falta de
pastos amazônicos os seus estoques rema- climáticos que estão dentro da capacidade
nescentes deste recurso limitado. dos sistemas naturais para corrigir ou absor-
ver, mas uma área grande deslancharia, em
Pode ser esperado que grandes expan-
algum ponto, processos que levam estes equi-
sões de pasto estejam sujeitas a erupções de
líbrios a se degenerar (Fearnside, 1985, Salati
doenças e insetos, da mesma maneira como
& Vose, 1984). A característica mais inquie-
outras grandes monoculturas. Trocando as
tante da pastagem é que não há nenhum li-
variedades de capim plantadas podem se
mite imediato para contrariar a sua expansão.
opor a tais problemas até certo ponto, mas
Diferente de outras culturas, especialmente as
o custo e a frequência de tal mudança de-
culturas perenes, limites de mercado para os
verá aumentar. A Brachiaria decumbens
produtos do sistema são improváveis de pa-
(braquiária), um capim antigamente comum
rar sua expansão, pois a demanda para carne
na rodovia Belém-Brasília, foi devastada no
de boi é tremenda e seria até maior se mais
início dos anos 1970 por erupções do in-
carne ficasse disponível. A disponibilidade de
seto da ordem Hemiptera conhecido como
mão-de-obra também não restringe a pasta-
cigarrinha (Cercopidae: Deois incompleta).
gem, por ser um sistema extenso com baixa
O capim colonião (Panicum maximum) se
demanda de mão-de-obra (Fearnside, 1980c,
tornou um favorito na área, e o seu desem-
1986a). O domínio de pastagem entre as es-
penho foi descrito pela EMBRAPA como
colhas de uso da terra permite que uma po-
“magnífico” (Falesi, 1974). A diminuição
pulação humana pequena tenha um impacto
posterior da produtividade ficou aparen-
máximo sobre o desmatamento (Davidson,
te, com a depleção do fósforo disponível e
1987: 8; Fearnside, 1983a).
a invasão de ervas daninhas. A invasão de
ervas daninhas em P. maximum é facilita- Limitações de insumos colocam restri-
da pelo hábito de crescimento em toucei- ções rígidas sobre a expansão de sistemas
ras desta espécie, que deixa espaços vazios agrícolas exigentes de fertilizantes, inclusive
entre os tufos de capim, e pela germinação sistemas agroflorestais (Fearnside, 1995a).
pobre das sementes produzidas pelo capim Mercados para os produtos restringiriam a
no campo. Antes dos anos 1980, a cigarri- expansão de muitos usos da terra (especial-
nha tinha se adaptado bem à P. maximum, mente culturas perenes, tais como o cacau)
mas não aos níveis devastadores alcançados que poderiam, de outra forma, ser escolhas
em B. decumbens. No final dos anos 1970, desejáveis dos pontos de vista de sustentabi-
a EMBRAPA começou a recomendar o ca- lidade e de impacto ambiental.
pim de hábito rastejador conhecido como Os limites de mercado, refletidos na di-
braquiária amazônica (Brachiaria humidico-
minuição dos preços de cacau que começou
la). Esta espécie era, no princípio, toleran-
1977, fazem com que as vantagens do cacau
te ao ataque de cigarrinha, mas os insetos
(e.g., Alvim, 1981) sejam improváveis a con-
se tornaram cada vez mais bem adaptados
tinuar, até mesmo para a pequena porção da
a ela.. A EMBRAPA atualmente recomenda
Amazônia que é atualmente dedicada a este
os capins brizantão (Brachiaria brizantha) e
uso da terra, deixado só entrar outras áreas
andropógon (Andropogon gayanus). A cons-
que poderiam ser zoneadas para expansão
tante mudança de espécies e recomendações
de plantações de cacau. Em Rondônia, a área
de fertilizante não alteram as características
principal de cacauicultura na Amazônia bra-
básicas de pastagem que torna a sua susten-
sileira, o Projeto POLONOROESTE do Banco
tabilidade duvidosa.
Mundial (um projeto de desenvolvimento re-
A sustentabilidade do pasto, assim como gional que incluiu a pavimentação da rodovia
também seus impactos sociais e ambientais BR-364), teve cacau como o esteio de seu pro-
é fortemente ligada à extensão potencial des- grama agrícola. A proposta do Banco para o
tas áreas. Uma área pequena de pastagem POLONOROESTE, que foi escrita antes do pro-
pode ser mantida com insumos de nutrientes jeto ser lançado, projetou o declínio nos preços
importados, enquanto uma área grande não do cacau que, na realidade, aconteceu desde
pode. Uma área pequena causaria impactos então, conforme a predição (IBRD, 1981).
Limites de valores sociais que estes agentes poderiam ter (veja Moran,
1981; Fearnside, 1986a).
Henry Walter Bates (1863), o grande natu-
ralista do século XIX, que erradamente acre- O financiamento, desde empréstimos
ditou que terras amazônicas eram férteis, se bancários para pequenos agricultores até
maravilhou que na Amazônia um fazendeiro grandes empréstimos internacionais para
[branco] poderia ganhar uma renda aceitá- projetos de desenvolvimento, representa um
vel com menos de uma dúzia de escravos. fator limitante para muitos tipos de uso da
Obviamente, os valores sociais mudaram desde terra. A natureza limitada dos fundos dis-
o tempo de Bates para excluir sistemas de pro- poníveis para distribuição pelas instituições
dução baseado em escravidão, ou pelo menos financeiras obviamente possui um limite ao
o tipo de escravidão que foi abolido no Brasil nível de financiamento. Este não é o único
em 1888. Os limites de aceitabilidade social não tipo de limitação, no entanto.
são estáticos. A “escravidão” de trabalhadores No caso de financiamento da agricultu-
de carvão vegetal na área de Grande Carajás, ra, restrições burocráticas sobre os emprés-
por exemplo, representa um sistema que, mais timos comumente excluem o financiamento
cedo ou mais tarde, tem que se acabar, com das camadas mais pobres da sociedade. Os
base na justiça social. Denúncias de escravi- títulos de terra normalmente são requeridos
dão no Brasil perante o Tribunal Internacional pelos bancos para crédito agrícola, e é me-
de Trabalho em Genebra em 1994 provocaram nos provável que os agricultores mais pobres
um escândalo que envolve a indústria brasilei- tenham estes documentos. Vários tipos de
ra de carvão vegetal (Sutton, 1994; Pachauski, garantias exigidos para iniciativas de “alto
1994; Pamplona & Rodrigues, 1995). A pergun- risco” também podem ser um obstáculo. Um
ta é se deveriam ser aceitas outras práticas so- exemplo é a demanda (relaxada em 1995)
cialmente questionáveis, como precondições pelo governo alemão para garantias no caso
fixas, tem implicações profundas para os fato- do mal uso de fundos pelas várias cooperati-
res que limitam a produção. Mudanças na situ- vas e outras organizações não governamen-
ação de posse da terra na Amazônia e a prática tais serem financiadas pelo setor de projetos
de especulação de terra afetariam fortemente demonstrativos (PD/A), do Programa Piloto
a direção do desenvolvimento. A quantidade para a Conservação das Florestas Tropicais
de terra “disponível” para desenvolvimento in- do Brasil.
tensivo também depende de se é considerada
Um limite institucional que afeta grandes
“aceitável” a obliteração de culturas indígenas.
empréstimos de desenvolvimento interna-
cionais é a credibilidade institucional. Isto
Limites institucionais age como um fator limitante quando em-
Os limites institucionais do desenvolvi- préstimos não são aprovados (ou não são
mento tomam muitas formas diferentes. Um contemplados) devido à falta de confiança
exemplo é a limitação institucional impos- no compromisso das instituições implemen-
ta por extensão e outros serviços de apoio tadoras para respeitar os limites ambientais.
à agricultura. Estes incluem limites de in- Esta falta de confiança pode ter uma base
fraestrutura, tais como, a impossibilidade firme na realidade, e deve ser examinada.
de laboratórios de solo atender à demanda O Brasil, assim como muitos outros pa-
que seria necessária para estender a tecno- íses, tem um sistema regulador que admi-
logia Yurimaguas para grandes áreas. Eles nistra a avaliação e a aprovação de projetos
também incluem os limites culturais, tais propostos de desenvolvimento. Este sistema
como a recusa dos agentes de extensão de está composto de uma série de decretos, leis
visitar propriedades além do alcance dos e providências constitucionais, e é projeta-
seus veículos. As barreiras culturais para co- do para assegurar que sejam feitas escolhas
municação entre os agentes de extensão e sábias de desenvolvimento. Os componentes
os pequenos agricultores na Amazônia são do sistema incluem a exigência desde 1986
suficientes para cancelar quase todo o efeito que propostas para grandes projetos sejam
examinadas por um Relatório de Impactos outro lado pode parecer uma boa ideia ao
sobre o Meio Ambiente (RIMA) e um Estudo escutar as garantias solenes das agências do
de Impactos Ambientais (EIA). Infelizmente, governo de que nenhum assentamento será
muitos dos mecanismos que compõem este permitido ao longo da estrada, mas os de-
sistema falharam repetidamente em exem- senvolvimentos, na prática, são prováveis
plos específicos para cumprir o seu papel de de serem diferentes uma vez que a estrada
garantir a proteção ambiental. Fortalecer o for construída. O melhor exemplo é a estra-
sistema regulador seria necessário para re- da pela Parque Nacional Yasuní, no Equador
laxar o efeito limitador que a falta de credi- para abrir campos de petróleo desenvolvidos
bilidade coloca sobre os financiamentos por inicialmente pelo Texaco.
bancos multilaterais.
Como controlar o desmatamento é um
Um exemplo é fornecido pela melhoria dos mais importantes e mais difíceis pro-
da rodovia BR-429, em Rondônia. Esta estra- blemas para qualquer política de desenvol-
da, que conecta Presidente Medici a Costa vimento. Na Amazônia brasileira prevalece
Marques, abriu o Vale do Rio Guaporé ao uma tradição de mais de 400 anos, de des-
assentamento. Praticamente nada da terra respeito completo por qualquer lei proje-
aberta pela estrada é satisfatória para agri- tada para preservar a flora e fauna da área
cultura com baixos ou médios insumos, e (Sternberg, 1973). Em todo o Brasil a lei é
só poderia ser esperado que os assentamen- percebida como algo que só será aplicado a
tos trouxeram severos problemas agrícolas, “inimigos”, e que sempre pode ser evitado
sociais e ambientais (Fearnside, 1986b). por meio do onipresente “jeito” (Rosenn,
Porque toda a Rondônia, inclusive o Vale 1971). Uma tradição existente, datando da
do Rio Guaporé, é parte da área de influên- época colonial, de manter tecnicamente em
cia do Projeto POLONOROESTE, financiado vigor milhares de leis e de só aplicar algu-
pelo Banco Mundial, o governo brasileiro mas delas. Estes problemas fazem com que
tinha se comprometido a proteger o meio seja difícil de formular leis efetivas para con-
ambiente em toda esta área quando aceitou trolar o desmatamento, e não é razoável es-
o financiamento para o POLONOROESTE perar que este contexto do problema mudará
(que reconstruiu a rodovia BR-364 que liga no futuro próximo.
Cuiabá a Porto Velho, e financiou o desen-
volvimento associado à rodovia). Quando o Limites de habitação humana
plano para melhorar a rodovia BR-429 para o
tráfego em todos as épocas do ano se tornou Problemas de saúde humana, particu-
uma controvérsia pública, o Governador de larmente a malária, impediram extensas
Rondônia fez uma solene declaração pública áreas da Amazônia de serem densamente
diante dos representantes do Banco Mundial povoadas durante os últimos cinco séculos.
que a BR-429 não seria melhorada (teste- Hoje, em áreas de assentamentos de peque-
munhada por este autor, 16 de setembro de nos agricultores, a malária tem um impacto
1987). Não obstante, alguns meses depois a significante na produção agrícola (e na con-
melhoria tinha acontecido. fiabilidade daquela produção), incapacitan-
do membros chaves da família na época do
Além das discrepâncias entre o discurso
ano quando do trabalho deles é necessário
e a ação, a proteção ambiental pode ser até
para tarefas agrícolas específicas. Foi quan-
mesmo uma impossibilidade, mesmo quan-
tificado o efeito da saúde humana em provi-
do as ações são tomadas. Não importa o
são de trabalho e habilidade para executar
grau de sinceridade com que as autoridades
tarefas agrícolas para colonos da rodovia
de governo podem jurar que o desmatamen-
Transamazônica (Fearnside, 1978, 1986a)
to será evitado em um determinado projeto
usando dados na sazonalidade de admissões
de desenvolvimento, muito do processo de
desmatamento permanece fora do controle de hospital em Altamira (Smith, 1976).
do governo. Por exemplo, uma estrada que Conflitos de terra representam um limi-
corta uma reserva para abrir uma área no te sobre as atividades agrícolas em muitas
partes da região. Em áreas como o Bico do outros aspectos do ecossistema original man-
Papagaio, no norte de Tocantins, que é notó- tidos em círculos concêntricos ao redor das
rio pela matança decorrente das reivindica- áreas núcleo (Sayer, 1991).
ções de terra contraditórias, alguns tipos de
O fator limitante mais óbvio para a expan-
desenvolvimento seriam difíceis. Até mesmo
são da agricultura e pecuária na Amazônia é a
na ausência de conflitos de terra, o aumento
área de floresta que deve ser mantida intacta.
rápido de populações de colonos acrescen-
As diferentes formas de uso de terra insinuam
ta um aspecto de instabilidade para usos da
impactos ambientais (com níveis distintos de
terra que requerem manutenção de um sis-
impacto que dependem se o uso da terra se
tema de manejo consistente ao longo de um
mostra sustentável). O impacto de converter
extenso período.
floresta a outro uso da terra não depende ape-
nas do pedaço de terra para o qual a conver-
Limites sobre risco são está sendo considerada, mas também o
Riscos ambientais que foi feito com o resto da região. Na medida
em que há o acúmulo de área desmatada, au-
Os impactos ambientais limitam a alo- menta-se o perigo que cada hectare adicional
cação de terra para muitos usos. Por exem- de desmatamento conduzirá a impactos ina-
plo, a suscetibilidade para erosão do solo é ceitáveis. Por exemplo, o risco de extinções de
uma restrição direta. As alocações podem espécies aumenta muito na medida em que
afetar áreas vizinhas também, por exemplo, as áreas remanescentes de floresta natural di-
quando são colocados os pequenos agricul- minuem. O papel da floresta amazônica no
tores em proximidade íntima com reservas ciclo da água na região também implica num
de floresta natural. Invasões de áreas de re- risco crescente com a escala do desmatamen-
serva seguem frequentemente, aproveitando to, quando as reduções de chuva causadas
da infraestrutura viária implantada para os por perdas de evapotranspiração da floresta
pequenos agricultores. Exemplos incluem são somadas ao efeito da variabilidade natu-
a Área Indígena Sete de Setembro, perto ral que caracteriza a chuva na região, as secas
de Cacoal, e a Área Indígena Uru-Eu-Wau- resultantes podem cruzar limiares biológicos
Wau, perto de Ouro Preto do Oeste (ambos que conduzem a graves impactos (Fearnside,
em Rondônia). A interposição de plantações 1995b). Estes limiares incluem a tolerância
silviculturais tem sido sugerida como uma à seca das espécies individuais de árvores,
barreira efetiva onde este uso da terra é vi- e a probabilidade aumentada de incêndios
ável (Fearnside, 1983a; Davidson, 1987: 8). que podem se propagar na floresta em pé. Os
Pequenos agricultores não são os únicos ato- incêndios já entram em florestas em pé na
res que tem impactos sobre áreas vizinhas Amazônia brasileira, especialmente em áreas
de floresta, queimadas de pastagens em perturbadas pela exploração madeireira (Uhl
grandes fazendas podem conduzir a incên- & Buschbacher, 1985; Uhl & Kauffman, 1990).
dios que entram na floresta adjacente, espe- Durante a seca do El Niño de 1982/1983,
cialmente se esta foi seletivamente explora- aproximadamente 45.000 km2 de floresta tro-
da para madeira (Uhl & Buschbacher, 1985). pical na ilha de Borneo queimaram quando
Fatores limitantes impostos pela necessi- fogos escaparam dos campos de cultivado-
dade para satisfazer os padrões de qualidade res itinerantes. Dos 35.000 km2 desta área na
ambiental deveriam ser interpretados em ter- província indonésia de Kalimantan Oriental,
mos de um conceito da paisagem como um pelo menos 8.000 km2 era floresta primária,
mosaico de áreas diferentes, onde critérios di- enquanto 12.000 km2 eram de floresta seleti-
ferentes se aplicam, inclusive exigências para vamente explorada para madeira (Malingreau
qualidade ambiental (Odum, 1969; Eden, et al., 1985). Na Amazônia, eventos de “me-
1978; Fearnside, 1979b). Esta visão ajusta ga-El Niño” causaram conflagrações difundi-
bem com o paradigma atual de zonas de en- das na floresta quatro vezes durante os úl-
torno ao redor das unidades de conservação, timos 2.000 anos (Meggers, 1994). O efeito
com níveis diferentes de biodiversidade e de desmatamento amplo é de fazer eventos
relativamente raros tornarem-se algo que para evitar explosões ou outros acidentes
poderia ocorrer periodicamente a intervalos graves que envolvem usinas nucleares, so-
muito mais frequentes. A maneira em que es- mente riscos infinitesimalmente pequenos
tes perigos estão incorporados nas decisões são aceitáveis à sociedade. A aceitabilidade
sobre o uso da terra terá forte influência sobre de risco para a sociedade (Fig. 3A) não é
a capacidade de suporte da região para as po- uma questão científica, mas uma questão
pulações humanas. Presume-se que a região moral e política que precisa ser debatida e
inteira pudesse ser convertida a uso agrícola decidida de maneira democrática.
sem consequências inaceitáveis, então a ca-
Um esboço grosseiro da possível rela-
pacidade de suporte que seria calculada se-
ria muito mais alta do que presumindo que ção entre o risco ambiental para expansão
bastante floresta tem que permanecer intacta de área de desmatamento é apresentado na
para manter o risco de catástrofes ambientais Figura 3B. Ao contrário da relação entre o
dentro de limites definidos. risco aceitável e a magnitude do impacto
(Fig. 3A), a relação de risco com o desmata-
A Figura 3A mostra a relação entre a mento (Fig. 3B) é uma questão científica. A
magnitude de um impacto e a probabilida- construção de uma curva deste tipo baseado
de máxima que a sociedade está disposta em estudos de campo deveria ser uma prio-
a aceitar de o impacto acontecer. Impactos ridade. Na medida em que a área desmata-
pequenos, tais como o fracasso de uma de- da aumenta, a probabilidade de uma grande
terminada colheita, podem até mesmo ser perturbação aumenta, como uma seca seve-
aceitáveis de ocorrerem todos os anos (pro- ra que excede a tolerância de muitas espé-
babilidade de 1,0), mas a sociedade deveria cies de árvores adaptadas a um clima relati-
insistir em uma probabilidade minúscula de vamente estável.
uma grande catástrofe acontecer, por exem-
plo, um ano seco o suficiente para permi- A quantidade máxima permitida de des-
tir o fogo destruir áreas grandes de floresta matamento pode ser calculada dos gráficos
tropical em pé. Isto é análogo a precauções A e B de Figura 3. Começando com o tama-
nho do impacto que seria provocado atra-
vés da perturbação do desmatamento, pode
ser determinado o nível correspondente de
risco máximo aceitável para a sociedade (a
partir da Figura 3A). Então, pode-se deter-
minar (a partir da Figura 3B) a porcentagem
Figura 3. A. Relação de floresta que poderia ser cortada e ainda
entre o nível de poderia ficar dentro dos limites deste nível
risco aceitável e a de risco aceitável.
magnitude do impacto.
Dado que algumas
consequências
Riscos agrícolas
esperadas do
desmatamento são As escolhas sobre desenvolvimento não
graves, a probabilidade só criam riscos para os que participam nas
máxima aceitável atividades de desenvolvimento e os que vi-
destes impactos
acontecerem deveria
vem na vizinhança imediata dos projetos,
ser baixa (Fonte: mas também para terceiros que podem estar
Fearnside, 1993b). milhares de quilômetros distantes do projeto.
B. A porcentagem Por exemplo, quando o cacau foi promovido
máxima permissível
de desmatamento, em Rondônia como o esteio agrícola do proje-
determinada a partir do to POLONOROESTE, aumentou substancial-
risco máximo aceitável mente o risco da doença vassoura de bruxa
(esta probabilidade é
(causado pelo fungo Crinipellis perniciosa) se
determinada na parte
A) (Fonte: Fearnside, espalhar pela principal região de cacauicultu-
1993b). ra do Brasil, na ex-Mata Atlântica do Estado
da Bahia. Com serviço de ônibus direto, que entanto, ordens de governo não podem anu-
conecta Rondônia com a Bahia, era só uma lar leis naturais, tais como as relações entre
questão de tempo antes do fungo saltar esta a fertilidade do solo e o rendimento agrícola.
barreira geográfica. Na realidade, a doença Eles podem alterar o resultado dos eventos,
entrou na Bahia em 1988, somente sete anos no entanto, fornecendo fertilizantes e ou-
depois que o projeto de POLONOROESTE co- tros insumos como subsídios e induzindo os
meçou, e devastou o cacau ao longo do pe- agricultores a cultivar certas áreas, por meio
ríodo 1988-1995. Indubitavelmente, a perda de promessas de títulos de terra e de várias
para a economia do Brasil representada pela formas de ajuda.
destruição do cacau na Bahia ultrapassou to- O desenvolvimento militar tem um pa-
dos os ganhos econômicos de agricultura na pel potencialmente importante na promoção
área do POLONOROESTE. de projetos que conduzirão ao desmatamen-
to em áreas de fronteira. Também obstruiu
Riscos à saúde
(mas não completamente impediu) a demar-
Outro exemplo é o risco causado pela cação das áreas indígenas em uma faixa com
oncocercose, ou cegueira dos rios africanos, 150 km de largura ao longo das fronteiras,
uma doença que na América do Sul é limi- facilitando a entrada de garimpeiros, madei-
tada à fronteira entre Roraima e Venezuela. reiros, posseiros e outros nestas áreas (de
A doença, que se pensa ter sido introduzida Oliveira Filho, 1990).
na região por missionários que haviam tra- São feitos planos militares para o desen-
balhado na África, é transmitida por piúns volvimento, independente do exercício de
ou borrachudas (Simulium spp.) que ocor- zoneamento, e, também, dos procedimentos
rem em grandes áreas do Brasil. Casos isola- normais para obter licenciamento ambiental.
dos já apareceram em outras partes do país, Esta independência não é concedida nos de-
como em Goiás, em garimpeiros de ouro cretos que exigem o Zoneamento Ecológio-
que voltaram de Roraima (Gerais & Ribeiro, Econômico (ZEE) e os Relatórios sobre
1986). Se planos militares vão manter guar- Impacto no Meio Ambiente (RIMAs), mas
nições na área e abrir estas áreas de fronteira são executados nos desenvolvimentos mili-
para a colonização por razões geopolíticas, o tares, na realidade, com liberdade completa.
risco de erupções de cegueira de rio em todo Por exemplo, de acordo com os funcionários
o Brasil seria aumentado consideravelmente. do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),
por exemplo, em 1990 o exército construiu
LIMITES DE INTERFERÊNCIA POLÍTICA E uma estrada que corta o Parque Nacional
MILITAR Pico de Neblina, sem sequer consultar o
O planejamento racional pode estar ba- IBAMA (a agência responsável pelos par-
seado na percepção de limites, assim con- ques nacionais), muito menos passando pe-
duzindo as decisões, por exemplo, de não los procedimentos de avaliação ambiental
encorajar o assentamento agrícola em áreas requeridos para construção de estradas.
onde a baixa fertilidade do solo e outros as- Assentamentos na área ao longo das
pectos de qualidade da terra para agricultu- bordas internacionais do Brasil foi um ob-
ra fazem com que os rendimentos preditos jetivo do exército do país durante muitas
sejam baixos. No entanto, outros setores do décadas. O melhor exemplo do perigo de
sistema de tomada de decisão podem inter- permitir considerações militares em deter-
ferir, por exemplo, com argumentos milita- minar o local de projetos de assentamento é
res ou geopolíticos, que anulam este tipo de o Projeto de Colonização Sidney Girão, que
racionalidade. Os limites sobre o desenvolvi- foi colocado na fronteira da Rondônia com
mento nas partes da região amazônica que a Bolívia por razões estratégicas no início
estão sujeitas a este tipo de racionalidade dos anos 1970 (Mueller, 1980). O solo pobre
alternativa são diferentes dos limites que po- na área logo resultou em tantos lotes sen-
deriam ser deduzidos em outras áreas. No do abandonados que o governo não pôde
encher o projeto até que todas as outras quando os fundos não foram aprovados pelo
áreas de assentamento em Rondônia esti- Congresso Nacional.
vessem transbordando com migrantes em
Em 1993, os mais altos líderes militares
busca de terras. O fracasso do projeto foi
do Brasil traçaram uma lista de nove deman-
reconhecido oficialmente como sendo devi-
das, com a qual o então presidente Itamar
do ao solo pobre (Valverde et al., 1979).
Franco concordou (Folha o São Paulo, 11 de
A construção da Rodovia Perimetral do agosto de 1993). As demandas incluíram a
Norte (BR-210), para abrir acesso às terras retomada da colonização na Amazônia e a
perto das fronteiras do Brasil com Colômbia, “revisão” (i.e., a redução) das áreas indíge-
Venezuela e Guianas, começou em 1973, nas na região.
mas foi parado em 1974. A desilusão com
Em 1995, a maioria das funções do
a pobre aptidão agrícola dos solos revela-
Projeto Calha Norte estava incorporada nos
dapela publicação dos mapas do Projeto
planos para o SIVAM (Sistema de Vigilância
RADAMBRASIL para a área contribuíram
da Amazônia) – um grande projeto militar
para esta decisão (Foresta, 1991: 28).
para manter vigilância através de radar sobre
O Projeto Calha Norte para construir ba- o espaço aéreo amazônico. Rodovias e assen-
ses militares e/ou pistas de pouso em 16 lo- tamentos não aparecem nos planos que foram
cais ao longo das fronteiras do norte do Brasil, tornados públicos até o momento. Embora
foi anunciado em 1986, e a implementação propostas militares individuais aumentem e
procedeu sem qualquer estudo de impacto enfraquecem com uma certa regularidade,
ambiental (embora o projeto inteiro foi rea- a pressão dos líderes militares para assenta-
lizado depois que os RIMAs tivessem ficado mentos ao longo das fronteiras amazônicas
obrigatórios). A área afetada por bases como ainda permanece como uma característica
estas é potencialmente muito maior que o en- inalterada da paisagem política na qual o pla-
torno das instalações militares. Embora não nejamento do desenvolvimento acontece.
indicado no orçamento do projeto, o plano
visa a construção de rodovias e a promoção
de assentamentos. A exposição de motivos DIRETRIZES PARA PESQUISA E AÇÃO
que propõe o projeto para o então presiden-
Quando confrontados com a existência
te José Sarney declarou claramente que “é
fundamental que a ação de governo também de um fator limitante, a reação normal por
contemple o aumento da infraestrutura de parte dos tomadores de decisão e dos pes-
estradas... e o aumento da colonização na- quisadores é de concentrar os esforços em
quela região fronteiriça” (Setubal et al., 1986: achar uma maneira para superar a limitação.
3). Uma vez que as estradas são construídas, A questão de saber se o limite deve ou não
é esperado que posseiros e especuladores en- ser superado, normalmente, nem mesmo é
trem para cortar a floresta independente de considerada. No entanto, esta pergunta bá-
qualquer política do governo, como já acon- sica sempre deve ser respondida, antes que
teceu repetidamente em outras partes da re- qualquer esforço para superar uma limitação
gião (Fearnside & Ferreira, 1984). Nenhuma possa fazer sentido.
parte da área do Projeto Calha Norte é mos- Uma vez tomada a decisão de que os li-
trada nos mapas do Projeto RADAMBRASIL mites devem ser empurrados até certo ponto,
como sendo satisfatória para a agricultura então é necessário obter informações sobre a
(Brasil, Projeto RADAMBRASIL, 1974-1977, gama inteira de fatores que limitam alcançar
Vols. 6, 8, 9, 11, 14). os objetivos definidos de desenvolvimento.
Em 1991, foram anunciados planos para São necessárias informações sobre os custos
a rodovia Transfronteira, uma estrada de unitários e os efeitos de escala de confron-
8.000 km que, por razões estratégicas, acom- tar cada limitação. A reação simplista de que
panharia todas as fronteiras internacionais todo fator limitante deve automaticamente
brasileiras na Amazônia (Jornal do Brasil, 12 ser superado é tanto desperdiçador como e
de agosto de 1991). O projeto foi paralisado pouco inteligente. Apenas depois de organizar
2. A expressão dos fatores limitantes sobre Fearnside, 1987, 1990a e 1990b. Agradeço à
o desenvolvimento é mediada pelo pla- Academia Brasileira de Ciências pela permis-
nejamento humano. A percepção de li- são de publicar esta tradução, originalmente
mites sobre os rendimentos agrícolas e publicada em inglês na Revista Brasileira de
sobre a severidade e a probabilidade de Biologia (Fearnside, 1997b). E. Salati, B.R.
impactos ambientais pode conduzir a de- Teles e S.V. Wilson fizeram valiosos comen-
cisões para limitar a expansão agrícola. tários no manuscrito.
3. Os limites sobre a intensificação da agri-
cultura incluem limites agronômicos sobre REFERÊNCIAS
rendimentos por hectare, limites tecnoló-
gicos e de pesquisa, e limites culturais. Allan, W. 1965. The African Husbandman. Barnes and
Noble, New York, E.U.A. 265 p.
4. Os limites para expansão das áreas agrí-
colas incluem limites de recursos físicos, Allegretti, M.H. 1990. Extractive reserves: An alternative
for reconciling development and environmental
tais como jazidas de fosfato, limites de
conservation in Amazonia. in: A. B. Anderson
valores sociais, limites institucionais (in- (ed.) Alternatives to Deforestation: Steps toward
clusive a credibilidade das instituições), Sustainable Use of Amazonian Rain Forest. Columbia
limites sobre habitação humana (como a University Press, New York, E.U.A. p. 252-264.
saúde) e limites sobre riscos ambientais. Alvim, P. de T. 1981. A perspective appraisal of perennial
5. Os limites de considerações em esferas crops in the Amazon Basin. Interciencia, 6(3): 139-
políticas e militares frequentemente anu- 145.
lam decisões “racionais” baseadas na Bates, H.W., 1863 [1989], The Naturalist on the River
aptidão do solo e nas consequências am- Amazons. Penguin Books, New York, E.U.A. 383 p.
bientais. No entanto, este tipo de inter- Beisiegel, W. de R. & de Souza, W.O. 1986. Reservas
ferência pode causar uma variedade de de fosfatos-Panorama nacional e mundial. in:
impactos que, se corretamente avaliados, Instituto Brasileiro de Fosfato (IBRAFOS) III Encontro
provavelmente levariam à conclusão de Nacional de Rocha Fosfática, Brasília, 16-18/06/86.
que o resultado líquido de tais projetos IBRAFOS, Brasília, DF. p. 55-67.
de desenvolvimento seria negativo para Blackman, F.F. 1905. Optima and limiting factors. Annals
os interesses nacionais do Brasil. of Botany, 14(74): 281-295. Re-editado in: E.J.
Kormondy (ed.) Readings in Ecology. Prentice-Hall,
6. Enquanto alguns fatores limitantes po- Englewood Cliffs, New Jersey, E.U.A. (1965). p. 14-17.
dem ser reprimidos por avanços tecno-
lógicos e por mudanças institucionais, Boserup, E. 1965. The Conditions of Agricultural Growth.
Aldine, Chicago, Illinois, E.U.A. 124 p.
muitas das restrições sobre o desenvolvi-
mento da agricultura e da pecuária sim- Brasil, EMBRAPA. 1988. Delineamento Macro-
plesmente devem ser aceitas e se deve Agroecológico do Brasil. Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Serviço
conviver com elas. Em lugar da expansão
Nacional de Levantamento e Conservação de Solos
da agricultura e pecuária, deveriam ser (SNLCS), Rio de Janeiro, RJ. 114 p.
procuradas outras estratégias para sus-
tentar a população da Amazônia, espe- Brasil, RADAMBRASIL, Ministério das Minas e Energia,
Projeto RADAMBRASIL. 1973-1982. Levantamento
cialmente aproveitando o valor dos ser-
de Recursos Naturais. Departamento de Produção
viços ambientais da floresta intacta. Mineral (DNPM), Rio de Janeiro, RJ. 27 vols.
B ro o k f i e l d , H . C . 1 9 7 2 . I n t e n s i f i c a t i o n a n d
AGRADECIMENTOS disintensification in Pacific agriculture: A theoretical
approach. Pacific Viewpoint 13: 30-48.
Este trabalho foi apresentado no
Davidson, J. 1987. Bioenergy tree plantations in the
“Seminário: Projeto de Biosfera Sustentável: tropics: Ecological implications and impacts.
estudo de caso da Bacia amazônica”, 18- Commission on Ecology Papers No. 12. International
20 de junho de 1996, Manaus, Amazonas. Union for Conservation of Nature and Natural
Foram adaptadas porções do texto de Resources (IUCN), Gland, Suiça. 47 p.
de Lima, J.M.G. 1976. Perfil Analítico dos Fertilizantes Fearnside, P. M. 1979b. The development of the Amazon
Fosfatados. Ministério das Minas e Energia, rain forest: Priority problems for the formulation of
Departamento Nacional de Produção Mineral guidelines. Interciencia 4(6): 338-343.
(DNPM) Boletim No. 39. DNPM, Brasília, DF.
Fearnside, P.M. 1980a. Black pepper yield prediction
de Oliveira Filho, J.P. 1990. Frontier security and the for the Transamazon Highway of Brazil. Turrialba
new indigenism: Nature and origins of the Calha 30(1): 35-42.
Norte Project. In: D. Goodman & A. Hall (Eds.) The
Future of Amazonia: Destruction or Sustainable Fearnside, P. M. 1980b. The effects of cattle pastures on
Development? Macmillan, London, Reino Unido. soil fertility in the Brazilian Amazon: Consequences
p. 155-176. for beef production sustainability. Tropical Ecology
21(1): 125-137.
dos Santos, B.A. 1981. Amazônia: Potencial Mineral
e Perspectivas de Desenvolvimento. Editora da Fearnside, P.M. 1980c. Land use allocation of the
Universidade de São Paulo (EDUSP), São Paulo, Transamazon Highway colonists of Brazil and its
SP. 256 p. relation to human carrying capacity. in: F. Barbira-
Scazzocchio (ed.) Land, People and Planning in
Eden, M.J. 1978. Ecology and land development: The
Contemporary Amazonia. University of Cambridge
case of Amazonian rainforest. Transactions of the
Centre of Latin American Studies Occasional Paper
Institute of British Geographers, New Series 3(4):
444-463. No. 3, Cambridge, Reino Unido. p. 114-138.
E.U.A., Council on Environmental Quality (CEQ) & Fearnside, P.M. 1983a. Development alternatives in
Department of State. 1980. The Global 2000 Report the Brazilian Amazon: An ecological evaluation.
to the President. Pergamon Press, New York, E.U.A. Interciencia 8(2): 65-78.
3 Vols. Fearnside, P.M. 1985. Environmental change and
Falesi, I.C. 1974. O solo na Amazônia e sua relação deforestation in the Brazilian Amazon. in: J.
com a definição de sistemas de produção agrícola. Hemming (ed.) Change in the Amazon Basin: Man’s
in: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Impact on Forests and Rivers. Manchester University
(EMBRAPA) Reunião do Grupo Interdisciplinar de Press, Manchester, Reino Unido. p. 70-89.
Trabalho sobre Diretrizes de Pesquisa Agrícola para
Fearnside, P.M. 1986a. Human Carrying Capacity of the
a Amazônia (Trópico Úmido), Brasília, 6-10 de maio
Brazilian Rainforest. Columbia University Press,
de 1974. EMBRAPA, Brasília, DF. Vol. 1, p. 2.1-2.11.
New York, E.U.A. 293 p.
Falesi, I.C. 1976. Ecossistema de Pastagem Cultivada
na Amazônia Brasileira. Boletim Técnico No. 1. Fearnside, P.M. 1986b. Settlement in Rondônia and
Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido the token role of science and technology in Brazil’s
(CPATU), Belém, Pará. Amazonian development planning. Interciencia
11(5): 229-236.
FAO. 1980. Report of the Second FAO/UNFPA Expert
Consultation on Land Resources for Populations of Fearnside, P.M. 1987. Rethinking continuous cultivation
the Future. Food and Agriculture Organization of the in Amazonia. BioScience 37(3): 209-214.
United Nations (FAO), Roma, Italia. 369 p. Fearnside, P.M. 1988. Yurimaguas reply. BioScience
FAO. 1981. Report on the Agro-Ecological Zones Project, 38(8): 525-527.
Vol. 3. World Soils Resources Report 48/3. Food
Fearnside, P.M. 1989. Extractive reserves in Brazilian
and Agricultural Organization of the United Nations
Amazonia: Opportunity to maintain tropical rain
(FAO), Roma, Italia. 251 p.
forest under sustainable use. BioScience 39(6):
FAO. 1984. Land, Food and People. FAO Economic 387-393.
and Social Development Series No. 30. Food and
Agriculture Organization of the United Nations Fearnside, P. M. 1990a. Human carrying capacity in
(FAO), Roma, Italia. 96 p. + 4 mapas. rainforest areas. Trends in Ecology and Evolution
5(6): 192-196.
Fearnside, P.M. 1978. Estimation of Carrying Capacity
for Human Populations in a part of the Transamazon Fearnside, P.M. 1990b. Predominant land uses in
Highway Colonization Area of Brazil. Tese de the Brazilian Amazon. in: A. B. Anderson (ed.)
Ph.D.em ciências biológicas, University of Michigan, Alternatives to Deforestation: Towards Sustainable
Ann Arbor. University Microfilms International, Ann Use of the Amazon Rain Forest. Columbia University
Arbor, Michigan, E.U.A. 624 p. Press, New York, E.U.A. p. 235-251.
Fearnside, P.M. 1979a. Cattle yield prediction for the Fearnside, P.M. 1993a. Forests or fields: A response to
Transamazon Highway of Brazil. Interciencia 4(4): the theory that tropical forest conservation poses a
220-225. threat to the poor. Land Use Policy 10(2): 108-121.
Fearnside, P.M. 1993b. Migração, colonização e meio- Carroll, J.H. Vandermeer & P.M. Rosset (Eds.)
ambiente: O potencial dos ecossistemas amazônicos. Agroecology. McGraw-Hill, New York, E.U.A. p.
Cadernos da Saúde 9(4): 448-457. 191-234.
Fearnside, P.M. 1995a. Agroforestry in Brazil’s Hecht, S. B. 1981. Deforestation in the Amazon basin:
Amazonian development policy: The role and practice, theory and soil resource effects. Studies in
limits of a potential use for degraded lands. In: M. Third World Societies 13: 61-108.
Clüsener-Godt & I. Sachs (Eds.) Brazilian Perspectives
on Sustainable Development of the Amazon Region. Hecht, S.B. 1983. Cattle ranching in the eastern
UNESCO, Paris, France & Parthenon Publishing Amazon: environmental and social implications.
Group, Carnforth, Reino Unido. p. 125-148. In: E.F. Moran (Ed.) The Dilemma of Amazonian
Development. Westview Press, Boulder, Colorado,
Fearnside, P.M. 1995b. Potential impacts of climatic E.U.A. p. 155-188.
change on natural forests and forestry in Brazilian
Amazonia. Forest Ecology and Management 78: Higgins, G. M.; Kassam, A. H.; Naiken, L.; Fischer, G. &
51-70. Shah, M. M. 1982. Potential Population Supporting
Capacities of Lands in the Developing World.
Fearnside, P.M. 1996a. Human carrying capacity Technical Report of Project INT/75/P13 “Land
estimation in Brazilian Amazonia: Research Resources for Populations of the Future,” Food and
requirements to provide a basis for sustainable Agriculture Organization of the United Nations
development. in: R. Lieberei, C. Reisdorff & A.D. (FAO), Roma, Italia. 139 p.
Machado (Eds.) Interdisciplinary Research on the
Conservation and Sustainable Use of the Amazonian Holden, C. 1980. The Reagan years: Environmentalists
Rain Forest and its Information Requirements. tremble. Science 210: 988-991.
Forschungszentrum Geesthacht GmbH (GKSS),
Hubbell, S.P. 1973. Populations and simple food webs
Bremen, Alemanha. p. 274-291.
as energy filters. I. One-species systems. American
Fearnside, P.M. 1996b. “The Fragile Tropics of Latin Naturalist 107: 94-121.
America: Sustainable Management of Changing
International Bank for Reconstruction and Development
Environments” Edited by Toshie Nishizawa and Juha
(IBRD). 1981. Brazil: Integrated Development of
I. Uitto. Environmental Conservation 23(4): 382.
the Northwest Frontier. The World Bank (IBRD),
Fearnside, P.M. 1997a. Environmental services as Washington, DC, E.U.A. 101 p.
a strategy for sustainable development in rural
Jornal do Brasil [Rio de Janeiro]. 1991. “Uma rodovia
Amazonia. Ecological Economics 20(1): 53-70.
muito polêmica”. 12 de agosto de 1991, Caderno
Fearnside, P.M. 1997b. Limiting factors for development Ecologia, p. 3.
of agriculture and ranching in Brazilian Amazonia.
Revista Brasileira de Biologia 57(4): 531-549. Koster, H.W.; Khan, E.J.A. & Bosshart, R.P. 1977.
Programa e Resultados Preliminares dos Estudos
Fearnside, P.M. & Ferreira, G. de L. 1984. Roads in de Pastagens na Região de Paragominas, Pará, e
Rondônia: Highway construction plans and the farce nordeste de Mato Grosso, junho 1975-dezembro 1976.
of unprotected forest reserves in Brazil’s Amazonian Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
forest. Environmental Conservation 11(4): 358-360. (SUDAM), Convênio SUDAM/Instituto de Pesquisas
Folha de São Paulo. 1993. “Conselho aprova plano para IRI, Belém, Pará.
a Amazônia”. 11 de agosto de 1993, Seção 1, p. 8. Liebig, J. 1840. Organic chemistry in its application to
Foresta, R.A. 1991. Amazon Conservation in the Age of vegetable physiology and agriculture. in: Professor
Development: The Limits of Providence. University Liebig’s Complete Works on Chemistry. T. B.
of Florida Press, Gainesville, Florida, E.U.A. 366 p. Peterson, Philadelphia, PA (1841). Re-editado In: E.J.
Kormondy (Ed.) Readings in Ecology, Prentice-Hall,
Gallopín, G.C. & Winograd, M. 1995. Ecological Englewood Cliffs, New Jersey, E.U.A. (1965) p. 1-14.
prospective for tropical Latin America. in: T.
Nishizawa & J.I. Uitto (eds.) The Fragile Tropics Malingreau, J.P.; Stephens, G. & Fellows, L. 1985.
of Latin America: Sustainable Management of Remote sensing of forest fires: Kalimantan and North
Changing Environments. United Nations University Borneo in 1982-83. Ambio 14(6): 314-321.
Press, Toquio, Japão. p. 13-44. Meggers, B.J. 1994. Archeological evidence for the
Gerais, B.B. & Ribeiro, T.C. 1986. Relato de casos. impact of mega-Niño events on Amazonia during
Oncocercose: primeiro caso autóctone da região the past two millennia. Climatic Change 28(1-2):
Centro-oeste do Brasil. Revista da Sociedade 321-338.
Brasileira de Medicina Tropical 19(2): 105-107.
Moran, E.F. 1981. Developing the Amazon. Indiana
Hall, A.E. 1990. Physiological ecology of crops in University Press, Bloomington, Indiana, E.U.A.
relation to light, water and temperature. in: C.R. 292 p.
Mueller, C. 1980. Frontier based agricultural expansion: Serrão, E. A. S.; Falesi, I. C.; Da Viega, J. B. & Teixeira
the case of Rondônia. In: F. Barbira-Scazzocchio Neto, J. F. 1979. Productivity of cultivated pastures
(Ed.) Land, People and Planning in Contemporary on low fertility soils in the Amazon of Brazil. In: P.
Amazonia. Cambridge University Centre of A. Sánchez & L. E. Tergas (Eds.) Pasture Production
Latin American Studies Occasional Paper No. 3, in Acid Soils of the Tropics: Proceedings of a Seminar
Cambridge University, Cambridge, Reino Unido. held at CIAT, Cali, Colombia, April 17-21, 1978,
p. 141-153. Series 03 EG-05. Centro Internacional de Agricultura
Tropical (CIAT), Cali, Colômbia. p. 195-225.
Nicholaides, III, J.J.; Bandy, D.E.; Sánchez, P.A.;
Benites, J.R.; Villachica, J.H.; Coutu, A.J. & Valverde Setubal, O.E.; Couto, R.C.; Sayad, J. & Denys, R.B.
S., C. 1985. Agricultural alternatives for the Amazon 1986. Desenvolvimento e segurança na região norte
Basin. BioScience 35: 279-285. das calhas dos rios Solimões e Amazonas, Projeto
Calha Norte, Exposição de Motivos (No. 770) para
Odum, E.P. 1969. The strategy of ecosystem development.
o Presidente José Sarney. Brasília, DF.
Science 164: 262-270.
Sheldon, R. P. 1982. Phosphate rock. Scientific American
Pachauski, F. 1994. “Trabalha, escravo”. Isto É [Brasília]
246(6): 31-37.
04 de maio de 1994, p. 32-35.
Shelford, V.E. 1911. Physiological animal geography.
Páez, G. & Dutra, S. 1974. Algumas considerações
Journal of Morphology 22: 551-618. Re-editado In:
sobre o delineamento de sistemas de produção. In:
E. J. Kormondy (ed.) Readings in Ecology. Prentice-
Reunião sobre Diretrizes de Pesquisa Agrícola para
Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, E.U.A. (1965).
a Amazônia (Trópico Úmido), Brasília, maio 6-10,
p. 17-20.
1974. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), Brasília, DF. Vol. 1, p. 4.2-4.22. Smith, F., Fairbanks, D.; Atlas, R.; Delwiche, C. C.;
Gordon, D.; Hazen, W.; Hitchcock, D.; Pramer, D.;
Paiva, R.M.; Schattan, S. & de Freitas, C.F.T. 1976. Setor
Skujins, J. & Stuiver, M. 1972. Cycles of elements.
Agrícola do Brasil: Comportamento Econômico,
in: Man in the Living Environment. University of
Problemas e Possibilidades. Editora da Universidade
Wisconsin Press, Madison, Wisconsin, E.U.A. p.
de São Paulo (EDUSP), São Paulo, SP. 442 p.
41-89.
Pamplona, G. & Rodrigues, A. 1995. “História sem fim:
Smith, N.J.H. 1976. Transamazon Highway: A Cultural-
Um ano depois da denúncia de ISTOÉ, carvoeiros
Ecological Analysis of Colonization in the Humid
ainda trabalham como escravos no norte de Minas”.
Tropics. Tese de Ph.D. em geografia, University of
Isto É [Brasília] 21 de junho de 1995, p. 46-47.
California, Berkeley, California, E.U.A.
Régis, M. 1989. “IBGE e Embrapa divergem sobre melhor
Sternberg, H. O’R. 1973. Development and conservation.
ocupação para Amazônia”. Jornal do Brasil [Rio de
Erdkunde, Archiv für vissenschaftliche Geographie,
Janeiro] 09 de julho de 1989, Seção 1, p. 17.
Band 27, 1 fg. 4 Bonn, Alemanha. p. 263-265.
Rosenn, K.S. 1971. The jeito: Brazil’s institutional bypass (republicado como: Reprint No. 447, Center for Latin
of the formal legal system and its development American Studies, University of California, Berkeley,
implications. American Journal of Comparative Law California, E.U.A.)
19: 514-549.
Subler, S. & Uhl, C. 1990. Japanese agroforestry in
Salati, E.; dos Santos, A.; Lovejoy, T.E. & Klabin, I. Amazonia: A case study in Tomé-Açu, Brazil. In:
1998. Por que Salvar a Floresta Amazônica. Instituto A. B. Anderson (Ed.) Alternatives to Deforestation:
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Towards Sustainable Use of the Amazon Rain Forest.
Manaus, Amazonas. 108 p. Columbia University Press, New York, E.U.A. p.
152-166.
Salati, E. & Vose, P.B., 1984, Amazon Basin: A system
in equilibrium. Science, 225: 129-138. Sutton, A. 1994. Slavery in Brazil--A Link in the Chain of
Modernization. Anti-Slavery International, London,
Sánchez, P.A.; Bandy, D.E.; Villachica, J.H. &
Reino Unido.
Nicholaides, III, J.J. 1982. Amazon basin soils:
Management for continuous crop production. Uhl, C. & Buschbacher, R. 1985. A disturbing synergism
Science, 216: 821-827. between cattle-ranch burning practices and selective
tree harvesting in the eastern Amazon. Biotropica
Sayer, J. 1991. Rainforest Buffer Zones: Guidelines for
17(4): 265-268.
Protected Area Managers. The World Conservation
Union (IUCN), Gland, Suiça. 94 p. Uhl, C. & Kauffman, J.B. 1990. Deforestation, fire
susceptibility, and potential tree responses to fire in
Serrão, E.A.S. & Falesi, I.C. 1977. Pastagens do Trópico
the Eastern Amazon. Ecology 71(2): 437-449.
Úmido Brasileiro. Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-Centro de Pesquisa Agropecuária do Valverde, O.; Japiassu, A.M.S.; Lopes, A.M.T.; Neves,
Trópico Úmido (EMBRAPA-CPATU), Belém, Pará. A.M.; Egler, E.G.; Mesquita, H.M.; da Costa, I.B.;
9
O futuro da Amazônia: Modelos para
prever as consequências da infraestrutura
futura nos planos plurianuais
Publicação original:
Fearnside, P.M., W.F. Laurance, M.A. Cochrane, S. Bergen, P.D. Sampaio, C. Barber, S. D’Angelo
& T. Fernandes. 2012. O futuro da Amazônia: Modelos para prever as consequências da in-
fraestrutura futura nos planos plurianuais. Novos Cadernos NAEA 15(1): 25-52. https://doi.
org/10.5801/ncn.v15i1.865
157
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 157 8/18/2022 3:14:12 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
158 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 2. Principais
projetos do Avança
Brasil na Amazônia e
no Pantanal.
Figura 3. Locais
mencionados no texto.
Tabela 2. Camadas
Camada Fontes de dados
de dados usadas nas
análises de tendências Cobertura de floresta/não floresta produzida pela Administração Nacional Oceanográfica e
Camada florestal atual e rios
de uso da terra na Atmosférica dos EUA baseado em imagens de AVHRR de 1999
Amazônia brasileira Mapa da Amazônia Legal brasileira de 1995 (escala 1:3.000.000) produzido pelo Instituto
Rodovias pavimentadas e estradas não Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); atualizado a partir do mapa de áreas protegidas na
pavimentadas existentes Amazônia em 1999 (escala 1:4.000.000) do Instituto Socio-Ambiental, São Paulo, imagens de radar
JERS-1 para 1999, e conhecimento pessoal
Construção e melhoria de rodovias
pavimentadas e de estradas não Mapas e Informações de Avança Brasil(a), e Brasil em Ação(b), e conhecimento pessoal
pavimentadas
Projetos de infraestrutura Mapa da Amazônia Legal brasileira de 1995 de IBGE existentes e conhecimento pessoal
Mapas e informações de Avança Brasil(a), Brasil em Ação(b), ELETROBRÁS(c), e conhecimento
Projetos de infraestrutura planejados
pessoal
Mapa de áreas com alta, média, e baixa vulnerabilidade a incêndios, baseado em análises de
Susceptibilidade das florestas a
cobertura florestal, umidade sazonal do solo, atividade de exploração madeireira, e fogos recentes
incêndios
durante a estação seca de 1998(d)
Mapa do IBAMA de 1998 dos locais estimados de exploração madeireira legal e ilegal, garimpagem
Exploração madeireira e mineração
artesanal de ouro e mineração industrial.
Parques e reservas federais e
Mapa do IBGE de 1995 da Amazônia Legal brasileira, completado pelo mapa de 1999 de áreas
estaduais, florestas nacionais, reservas
protegidas na Amazônia, e conhecimento pessoal
extrativistas, e áreas e terras indígenas
Florestas nacionais & estaduais Sim Sim Sim Sim Sim(b) Não
Áreas de relevante interesse ecológico Sim Sim(c) Não Sim(c) Não Não
a.) Fontes: Silva (1996), Olmos et al. (1998), Rylands & Pinto (1998), Borges et al. (2001) e Brasil, IBAMA (2000), Brasil, IBGE (2000), e Luciene Pohl, Fundação
Nacional do Índio-FUNAI (comunicação pessoal, 2000)
b) Caça é permitida em algumas áreas; para outras, informações não eram disponíveis
c.) Estas atividades não são permitidas expressamente, mas, já que são permitidas que as pessoas moram nessas reservas, as atividades certamente acontecerão,
pelo menos em escala limitada.
Tabela 5. Presunções
FATOR CENÁRIO OTIMISTA CENÁRIO NÃO OTIMISTA
dos dois cenários
Tampões de rodovias asfaltadas 25, 50 & 75 km 50, 100 & 200 km
Tampões de estradas não asfaltadas & outra infraestrutura 10, 25 & 50 km 25, 50 & 100 km
Áreas de exploração madeireira fora dos tampões Degradação moderada Degradação moderada
Áreas de garimpagem fora dos tampões Degradação leve Degradação leve
Áreas propensas a incêndios dentro dos tampões Degradação moderada Degradação forte
Áreas de uso indireto e reservas indígenas dentro dos tampões Degradação leve Degradação moderada
Áreas de uso indireto e reservas indígenas fora dos tampões Permanecem intactas Degradação leve
Parques nacionais dentro dos tampões Permanecem intactas Degradação leve
Parques nacionais fora dos tampões Permanecem intactas Permanecem intactas
Figura 5. Cenários
“otimista” (painel
superior) e “não
otimista” (painel inferior)
de desmatamento e
degradação da floresta
até 2020. Preto é
desmatado ou fortemente
degradado (e savanas
e outras áreas não
florestadas). Vermelho
é moderadamente
degradado, amarelo é
levemente degradado e
verde é floresta nativa.
Tabela 6. Aumentos Aumento total (ha) Aumento Anual (ha/ano) Aumento porcentual(a)
esperados nas taxas Área de Estudo
Otimista Não otimista Otimista Não otimista Otimista Não otimista
de desmatamento total,
anual, e porcentual na Rondônia/BR-364 5.658.598 9.902.779 282.930 495.139 15,0 26,2
Amazônia brasileira, ao Amazônia oriental (a leste de
7.055.033 12.871.555 352.752 643.578 18,7 34,1
longo dos próximos 20 50o Oeste)
anos, como resultado Amazônia inteira 3.429.200 7.576.400 171.460 378.820 9,1 20,0
de rodovias e outros Média 5.380.944 10.116.911 269.047 505.846 14,3 26,8
projetos planejados de
infraestrutura. a.) O “aumento porcentual” é relativo à taxa de desmatamento média atual (1,89 milhões de ha/ano para o período 1995-1999). São apresentadas estimativas
para dois cenários de desenvolvimento (otimista e não otimista), baseado em avaliações de desmatamento passado em três áreas de estudo diferentes (Rondônia/
Rodovia BR-364; Amazônia oriental; Amazônia brasileira inteira). O valor médio dos três cenários foi usado neste estudo.
Tabela 7. Impacto de
Cenário
infraestrutura até 2020
Otimista Não otimista
Aumento em desmatamento devido à infraestrutura (mil ha/ano) 269 506
Aumento de degradação (milhões de ha/ano) 1,53 2,37
Aumento de emissão de carbono de desmatamento (milhões de t C/ano) 52,2 98,2
Valor perdido a US$20/t C (US$ bilhões/ano) 1,04 1,96
Tabela 9. O sistema
de licenciamento Base legal Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) resolução 001 de 23 de janeiro de 1986
ambiental no Brasil
Relatórios exigidos para
EIA (Estudo de Impacto Ambiental) RIMA (Relatório de Impactos sobre o Meio Ambiente)
grandes projetos
Um “equipe multidisciplinar” (normalmente uma firma de consultoria) que não seja “diretamente ou indiretamente
Preparação do relatório
dependente do proponente do projeto
RIMA: publicamente disponível no órgão estadual do meio ambiente (OEMA) no estado onde o projeto fica
Acesso público
situado. EIA: interpretações discrepantes; na prática, o relatório normalmente não está disponível
Conselho do Ambiente se o projeto fica situado completamente dentro de um único estado; Instituto Brasileiro do
Aprovação do relatório Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) se o projeto fica em mais que um estado. Licença
operacional emitida pelo OEMA
EIA e RIMA têm que considerar
“alternativas”. Isto é interpretado por ONGs para significar alternativas para alcançar os objetivos sociais do
Alternativas consideradas
projeto. Os proponentes de projetos interpretem “alternativas” para significar meios alternativos de explorar o
recurso em questão(b). Interpretação judicial está pendente.
O RIMA deve ser apresentado em um local (ou locais) “acessível a partes interessadas”(c). Audiências são
Consulta pública
organizadas pelo OEMA com participação do Ministério Público
O Ministério Público(d) é uma divisão independente do Ministério da Justiça que tem autonomia considerável para
iniciar investigações, solicitar informações e decidir casos (ver Eve et al., 2000). Pedidos pelo Ministério Público
Participação judicial
para adição de informações ao RIMA, normalmente na hora da audiência pública, é uma barreira importante
dentro o processo de aprovação.
(a) O “Conselho do Ambiente” em cada estado é designado pelo governo de estado. Estes conselhos são dominados freqüentemente por interesses empresariais
locais que são favoráveis a projetos de infraestrutura (ver Carvalho et al., 2002).
(b) Por exemplo, alternativas para o gasoduto Urucú–Porto Velho são interpretados por ONGs para incluir outras formas de provisão de eletricidade para Rondônia
(usinas hidrelétricas, linhas de transmissão, outras fontes de gás, etc.), mas o proponente do gasoduto alega que alternativas são restringidas a meios de
transportar gás de Urucú (i.e., gasodutos versus barcaças).
(c) CONAMA resolução 009 de 03 de dezembro de1987.
(d) Autorizado através da Lei No. 7.347 de 24 de julho de 1985 (Lei dos Interesses Difusos) e pela Constituição Brasileira de 1988.
km2/ano, ou o dobro da taxa anual nos anos PROBLEMAS GENÉRICOS COM O PROCESSO
anteriores (Brasil, INPE, 2002), apesar do DE LICENCIAMENTO
sistema atual de regulação estar vigente,
com exceção da lei de crimes ambientais. Lobby estimulado antes da decisão
Também é importante perceber a distinção
entre o que é requerido legalmente e o que Um problema é que grupos de interesse
acontece na prática. Enquanto práticas de poderosos a favor de construção do projeto
licenciamento atuais representam muitas vi- são mobilizados antes dos impactos ambien-
tórias duramente conquistadas na melhoria tais serem avaliados. Essa avaliação somente
gradual do sistema, é incorreto supor que acontece pouco antes do começo da constru-
o resultado é de ser livre de preocupações ção. No caso do Avança Brasil, o programa
sobre impactos ambientais causados pela in- tem uma página na web em língua inglesa
fraestrutura projetada. Quando são examina- para atrair financiamentos internacionais,
dos exemplos específicos dos estudos e rela- obviamente com antecedência aos estudos
tórios de impacto (EIA/RIMA), a inabilidade ambientais de cada projeto. Em abril de 2001
do sistema para traduzir os impactos am- uma apresentação em Londres pelo ministro
bientais e as preocupações das populações de finanças Pedro Malan e outros oficiais bra-
afetadas em fatores na tomada de decisão é sileiros de alto nível explicou o programa a po-
evidente (e.g., Eve et al., 2000; Fearnside & tenciais investidores europeus. São apresen-
Barbosa, 1996a). Pode-se esperar que o de- tados os 338 projetos do Avança Brasil como
safio apresentado pelo Avança Brasil resulte se fossem um restaurante de comida a kilo,
numa revisão do sistema de licenciamento no qual os investidores em potencial podem
ambiental no Brasil e dos procedimentos pe- escolher os investimentos que os interessam.
los quais são tomadas as grandes decisões Isto está acontecendo antes do País pesar os
sobre o desenvolvimento. custos e benefícios dos projetos propostos,
especialmente os impactos ambientais e so- 2001; Nepstad et al., 2000, 2001). Pavimentar
ciais. Uma vez que o financiamento é mobi- a BR-163 é uma prioridade alta para o Avança
lizado para um projeto, um lobby com inte- Brasil, e serrarias já estão migrando para a
resses financeiros na aprovação do projeto se área (Schneider et al., 2000: 19).
forma automaticamente, aumentando assim Os proponentes do Avança Brasil freqüen-
a probabilidade de aprovação governamental temente sugerem que a infraestrutura do pro-
independente de que impactos ambientais e grama na região amazônica terá impactos
sociais possam ser provocados. ambientais mínimos porque empregará “tec-
nologia ambientalmente amigável” com exi-
O “efeito arrasto” de terceiros gências federais e estaduais de relatórios sobre
avaliação de impactos ambientais, e porque o
A existência de estudos de impactos am-
programa Avança Brasil inclui uma seleção
bientais não significa que projetos prejudi-
de “projetos ambientais” além da construção
ciais não seriam empreendidos. A afirmação
de infraestrutura (e.g., Brazilian Embassy,
de que qualquer projeto que envolve dano London, 2001). Infelizmente, nada disso alte-
ambiental deve ser, ou reformulado ou aban- ra a natureza básica do Avança Brasil e os ce-
donado (e.g., Brazilian Embassy, London, nários para o futuro da Amazônia, tais como
2001) não coincide com a experiência. Um os apresentados por Nepstad et al. (2000) e
dos problemas é que o Estudo de Impacto Laurance et al. (2001a,b).
Ambiental (EIA) e o Relatório de Impactos
sobre o Meio Ambiente (RIMA) somente
reportam sobre impactos diretos, tais como Tendência para relatórios favoráveis
colocar o leito de uma rodovia. É essencial Empresas consultoras tendem a prepa-
entender que os principais impactos dos rar relatórios favoráveis à aprovação dos
projetos de infraestrutura, que são os danos projetos, já que as consultorias são contra-
causados pelas atividades econômicas atra- tadas pelos proponentes dos projetos em
ídas e facilitadas pelos projetos, escapam foco, que têm interesses financeiros pesados
completamente do EIA/RIMA e do proces- na aprovação dos mesmos (e.g., Fearnside
so decisório. Os impactos das atividades de & Barbosa, 1996b). O Estudo de Impacto
terceiros, tais como fazendeiros e madeirei- Ambiental (EIA) e o Relatório de Impactos
ros, que aceleram quando as áreas se tornam sobre o Meio Ambiente (RIMA) são custea-
de fácil acesso, não estão incluídos nesses dos pelo proponente do projeto, que assim
relatórios. Ironicamente, as descrições dos tem influência na escolha do pessoal que é
benefícios dos projetos freqüentemente exal- contratado, na fixação de prazos finais qua-
tam os lucros econômicos destas ativida- se impossíveis, dando atenção sumária aos
des, que os planejadores do Avança Brasil problemas causados pelos projetos, e que o
chamam de “efeito arrasto”, mas o mesmo proponente revise uma série de rascunhos
não se aplica aos impactos das atividades preliminares dos relatórios (com oportu-
(Fearnside, 2001a). No caso da hidrovia do nidades para “sugerir” supressões e outras
rio Madeira, José Paulo Silveira (declara- mudanças) antes dos relatórios finais serem
ção pública, 1998), então diretor do plano submetidos às autoridades governamentais.
plurianual Brasil em Ação, calculou que o Freqüentemente os contratos estipulam que
“efeito arrasto” iria atrair US$3 em ativida- a última prestação do pagamento da empresa
des econômicas adicionais para cada dólar consultora só é feita depois que as autorida-
investido na hidrovia. des ambientais do governo aprovarem o rela-
A rodovia BR-163 (Santarém-Cuiabá) for- tório, dessa forma praticamente garantindo
nece um exemplo dramático do efeito arrasto. que o relatório será traçado para enfatizar os
Esta rodovia abre acesso a áreas vastas de flo- aspectos positivos do projeto proposto.
resta relativamente intacta que é particular- A hidrovia Araguaia-Tocantins, outra prio-
mente suscetível à degradação por fogo devi- ridade do Avança Brasil, fornece um exem-
do à estação seca forte na área (Carvalho et al., plo. Neste caso, quando foram incluídas no
relatório declarações que consideraram pe- hidrelétricas de Belo Monte e Altamira (ver
sados os impactos sobre populações indíge- Fearnside, 1989, 1996, 1999a). Estas represas
nas ao longo da rota, o resultado foi de al- planejadas serão indubitavelmente o foco de
terar o relatório ao invés de sustar o projeto uma das grandes controvérsias ambientais
(Carvalho, 1999; Switkes, 1999). A hidrovia na Amazônia na próxima década.
foi embargada temporariamente por ordem Os impactos de represas hidrelétricas
judicial (Silveira, 1999), mas a empresa pos- são severos em muitas formas, e vão além
teriormente conseguiu uma liminar permitin- de transformações de uso da terra (World
do a continuação (Radiobrás, 1999). Commission on Dams, 2000). Pouca evidên-
A hidrovia Teles-Pires—Tapajós também cia existe de que aconteceu alguma mudan-
foi assunto de um escândalo que envolve ça fundamental na seleção de projetos no
seus estudos de impacto ambientais que, Brasil, já que o projeto mais prejudicial de
neste caso, foi dividido em dois estudos, um todos é agora marcado para conclusão em
para o trecho acima e outro para o trecho 2013, ou seja, um pouco além do horizon-
abaixo da área indígena Mundurucú que é te de planejamento do Avança Brasil. Isto se
cortada pela hidrovia (Novaes, 1998). O pro- refere à hidrelétrica de Altamira, de 6.000
jeto foi barrado desde 1997 por uma ordem km2, antigamente chamada de “Babaquara”
judicial, mas continua aparecendo no “res- (Brasil, ELETROBRÁS, 1998b). A hidrelé-
taurante de comida a kilo” como investimen- trica planejada de Belo Monte (que era co-
to em potencial do Avança Brasil apresenta- nhecida como “Kararaô” antes de 1992),
do a possíveis investidores (e.g., Consórcio alta prioridade para o Avança Brasil, está
Brasiliana, 2000). estreitamente ligada ao projeto muito mais
prejudicial de Altamira (Babaquara), que re-
Ênfase na existência de passos gularia o fluxo do rio Xingu para compen-
sar o reservatório pequeno na hidrelétrica
Mais comum que escândalos como os de Belo Monte (Santos & de Andrade, 1990;
que cercam as hidrovias Tocantins-Araguaia Fearnside, 2001b).
e Teles-Pires-Tapajós é o efeito mais sutil do
Em 1989, uma mulher indígena ameaçou
sistema de licenciamento que requer apenas
com um terçado Antônio Muniz, diretor da
que cada passo no processo seja completado
ELETRONORTE, empresa estatal elétrica na
(entrega de relatório, audiência pública, etc.),
Amazônia, como parte de um protesto con-
com pouca consideração, na prática, para o
tra as seis represas que foram planejadas na
conteúdo das informações. Em efeito, os con-
época na Bacia do Xingu/Iriri, especialmente
sultores que escrevem os relatórios e os teste-
a hidrelétrica de Babaquara. Nos anos seguin-
munhos nas audiências públicas podem dizer
tes, as autoridades governamentais declara-
qualquer coisa, até mesmo mostrar impactos
ram muitas vezes de que a Babaquara não se-
graves, e o processo de aprovação de projeto
ria construída, mas agora ela reapareceu com
simplesmente prossegue baseado no fato de
um nome novo (hidrelétrica de Altamira) no
que os relatórios foram devidamente subme-
plano atual para expansão hidrelétrica no
tidos e a população foi “consultada” (Eve et
país (Brasil, ELETROBRÁS, 1998b: 148).
al., 2000; Fearnside & Barbosa, 1996a).
O reaparecimento de planos para a hi-
Deslanchamento de cadeias de eventos drelétrica de Babaquara é indicativa de um
problema básico: a falta de um mecanismo
Um dos problemas inerentes do atual legal através do qual o governo pode se com-
sistema de avaliação de impacto ambien- prometer a não executar projetos específicos
tal no Brasil é que apenas um projeto pro- que são identificados como danosos. Quando
posto é considerado de cada vez, sem levar projetos são julgados a serem politicamente
em conta os outros projetos que podem ser pouco promissores devido a críticas dos seus
iniciados em conseqüência da implementa- impactos esperados, eles podem simples-
ção do primeiro. Exemplos clássicos são as mente ficar latentes durante décadas, para
porque vale a pena encontrar maneiras para de soja em Mato Grosso contrasta com a ro-
fazer com que o crédito para evitar o des- dovia BR-230 (Transamazônica) de Marabá
matamento, se aplique também às novas para Itaituba que serve como área já ocupa-
fronteiras. O que torna o Avança Brasil tão da por pequenos agricultores.
danoso ao meio ambiente, inclusive o seu
O beneficiamento de alumínio, que é
papel como fonte de emissões de carbono,
uma das principais atividades a serem su-
é que este plano abre vastas áreas “virgens”
pridas pela construção de hidrelétricas pla-
para desmatamento, exploração madeireira
nejadas, fornece outro exemplo extremo.
e incêndios florestais. O preço provável de
ALBRÁS, que usa energia da rede de trans-
não criar regulamentos que dão crédito por
missão suprida pela Tucuruí e outras repre-
evitar estes impactos seria transformar em
sas, consome mais eletricidade que a cidade
realidade os cenários gerados em computa-
dor. Claramente, as apostas são altas. de Belém, mas emprega somente 1.200 pes-
soas (ver Fearnside, 1999a). Em 2000, 33%
Vale a pena notar que o MDL não é o único de ALBRÁS foram comprados por compa-
meio pelo qual o Brasil poderia obter crédito nhias norueguesas, e o plano para dobrar a
por evitar desmatamento sob o Protocolo de capacidade de produção foi anunciado.
Kyoto. Caso o Brasil fosse entrar no Anexo B
do Protocolo, o Artigo 3.7 do Protocolo ga- A hidrelétrica de Serra Quebrada, a ser
rante que as emissões volumosas do desma- construída no rio Tocantins por companhias
tamento no País em 1990 (Fearnside, 2000c) de alumínio internacionais (Alcoa e Billiton)
seriam incluídas na “quantidade atribuída” é parte do plano do Avança Brasil para trans-
ao Brasil, e que qualquer redução em emis- formar este rio em uma escadaria de repre-
sões futuras abaixo dos níveis de 1990 pode- sas. Neste caso, o reservatório deslocaria um
ria ser usada para comércio de emissões sob número grande de pessoas [aproximadamen-
o Artigo 17 (Fearnside, 2000d). Diferente do te 15.000] e inundaria parte de duas reservas
Artigo 12 (que cria o MDL), a elegibilidade indígenas, assim como também afetaria flo-
de florestas para estes créditos não requer restas inundadas (Themag, 2000).
negociação adicional. Os planos do Avança Se a energia é para ser usada para alu-
Brasil implicam num custo de oportunidade mínio, então não há praticamente nenhum
significativa por tornar tais reduções de des- limite à quantidade de capacidade geradora
matamento inviáveis. “necessária”. O Brasil seria sábio de estabe-
lecer primeiro as suas políticas sobre para
BENEFÍCIOS DE INFRAESTRUTURA DE que a eletricidade será usada, antes de de-
cidir sobre projetos de construção de novas
EXPORTAÇÃO hidrelétricas. Um critério primário por ava-
Uma pergunta básica a ser respondida liar usos de energia deveria ser o número de
com respeito à infraestrutura de exporta- empregos criado por unidade de eletricidade
ção, como para qualquer projeto planeja- consumida. No caso de alumínio para expor-
do, é se os benefícios compensam o custo. tação, as duas usinas de alumínio providas
Infelizmente, os benefícios de infraestrutura pela hidrelétrica de Tucuruí consomem 6
de exportação são escassos, especialmen- MWh de energia anualmente para cada um
te em termos de benefícios sociais para o dos 1.950 postos de trabalho criados como
Brasil. Investimento público na infraestru- emprego direto. Considerando só o custo
tura, como também o investimento privado proporcional de construir a hidrelétrica de
nas atividades servidas pelas obras, repre- Tucuruí, estes empregos valeram US$2,7 mi-
senta um tremendo custo de oportunidade, lhões cada (Fearnside, 1999a). Se decisões
já que muitos outros tipos de desenvolvi- sobre projetos hidrelétricos estiverem basea-
mento resultariam em maiores benefícios lo- das em benefícios sociais no Brasil, eu acre-
cais a partir dos recursos financeiros limita- dito ser improvável que a decisão seria de
dos. Por exemplo, a rodovia BR-163 que será fornecer energia para a produção de alumí-
pavimentada para benefício de exportadores nio para exportação.
que atualmente é pesadamente influenciado Negro. p. 303-330 In: A. Oliveira & D. Daly (Eds.)
pelos proponentes dos projetos, que pagam As Florestas do Rio Negro, Editora da Universidade
Paulista, São Paulo, SP. http://ecologia.ib.usp.br/
pelos estudos ambientais. Os severos impac-
guiaigapo/images/livro/RioNegro0.pdf
tos implícitos no programa Avança Brasil
deixam clara a necessidade de repensar a Brasil, ELETROBRÁS (Centrais Elétricas do Brasil).
maneira em que os grandes programas de 1998a. Eletrobrás: The Ten-Year Expansion Plan, B,
1998-2007, ELETROBRÁS, Rio de Janeiro, RJ.
desenvolvimento são decididos e promovi-
dos, assim como a necessidade de reconside- Brasil, ELETROBRÁS. (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.).
rar a prudência de implantar vários dos seus 1998b. Plano Decenal 1999-2008. ELETROBRÁS, Rio
de Janeiro, RJ.
projetos componentes.
Brasil, IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis). 2000. http://
AGRADECIMENTOS www.mma.ibama.gov.br.
Associated Press, 1998. Environmentalists are skeptical Carvalho, G., A.C. Barros, P. Moutinho & D. Nepstad.
Pantanal waterway was killed. Associated Press 2001. Sensitive development could protect Amazonia
release.07 de julho de 1998. Republicado In: instead of destroying it. Nature 409: 131.
International Rivers Network, Dossier Rios Vivos 7: Carvalho, G.O., D. Nepstad, D. McGrath, M.C.V. Diaz,
10. http://www.irn.org
M. Santilli & A.C. Barros. 2002. Frontier expansion
Barros, A.C., D. Nepstad, J.P. Capobianco, G. Carvalho, in the Amazon: Balancing development and
P. Moutinho, U. Lopes & P. Lefebvre. 2001. Os custos sustainability. Environment 44(3): 34-45.
ambientais do programa Avança Brasil. Cadernos
Carvalho, R. 1999. A Amazônia rumo ao “ciclo da soja”.
Adenauer 2(4):51-77.
Amazônia Papers No. 2, Programa Amazônia, Amigos
Borges, S.H., M. Pinheiro, A. Murchie &. C. Durigan. da Terra, São Paulo, SP. 8 p. (http://www.amazonia.
2000. Unidades de conservação da bacia do rio org.br).
Consórcio Brasiliana. 2000. Programa Brasil em ação: Fearnside, P.M. 2001a. Soybean cultivation as a
Eixos nacionais de integração e desenvolvimento. threat to the environment in Brazil Environmental
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Conservation 28(1): 23-38
e Social (BNDES) PBA/CN-01/97. Relatório Final
Fearnside, P.M. 2001b. Environmental impacts
do Marco Inicial, Consórcio Brasiliana, Brasília,
of Brazil’s Tucuruí Dam: Unlearned lessons
DF. 3 vols.
for hydroelectric development in Amazonia.
Cotton, C. & T. Romine. 1999. Facing Destruction: Environmental Management 27(3): 377-396.
A Greenpeace briefing on the timber industry in
the Brazilian Amazon. Greenpeace International, Fearnside, P.M. 2001c. Land-tenure issues as factors in
Amsterdam, Paises Baixos. 21 p. environmental destruction in Brazilian Amazonia:
The case of southern Pará. World Development 29
Eve, E., F.A. Arguelles & P.M. Fearnside. 2000. How well (8): 1361-1372.
does Brazil’s environmental law work in practice?
Environmental impact assessment and the case Fearnside, P.M. 2001d. Avança Brasil: Conseqüências
of the Itapiranga private sustainable logging plan. ambientais e sociais na Amazônia brasileira.
Environmental Management 26(3): 251-267. Cadernos Adenauer 2(4): 101-124.
Fearnside, P.M. 1989. Brazil’s Balbina Dam: Environment Fearnside, P.M. 2002. Avança Brasil: Environmental and
versus the legacy of the pharoahs in Amazonia. social consequences of Brazil’s planned infrastucture
Environmental Management 13(4): 401-423. in Amazonia. Environmental Management 30(6):
748-763.
Fearnside, P.M. 1996. Hydroelectric dams in Brazilian
Amazonia: response to Rosa, Schaeffer & dos Santos. Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1996a. The Cotingo Dam
Environmental Conservation 23(2): 105-108. as a test of Brazil’s system for evaluating proposed
developments in Amazonia. Environmental
Fearnside, P.M. 1997. Environmental services as a Management 20(5): 631-648.
strategy for sustainable development in rural
Amazonia. Ecological Economics 20(1): 53-70. Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1996b. Political benefits
as barriers to assessment of environmental costs
Fearnside, P.M. 1999a. Social Impacts of Brazil’s Tucuruí in Brazil’s Amazonian development planning:
Dam. Environmental Management 24(4): 485-495. The example of the Jatapu Dam in Roraima.
Fearnside, P.M. 1999b. Biodiversity as an environmental Environmental Management 20(5): 615-630.
service in Brazil’s Amazonian forests: Risks, value Fearnside, P.M., D.A. Lashof & P. Moura-Costa. 2000.
and conservation. Environmental Conservation 26(4) Accounting for time in mitigating global warming
305-321. through land-use change and forestry. Mitigation
Fearnside, P.M. 1999c. Forests and global warming and Adaptation Strategies for Global Change 5(3):
mitigation in Brazil: Opportunities in the Brazilian 239-270.
forest sector for responses to global warming under Fearnside, P.M. & W.F. Laurance. 2002. O futuro da
the “Clean Development Mechanism”. Biomass and Amazônia: Os impactos do Programa Avança Brasil.
Bioenergy 16(3): 171-189. Ciência Hoje 31(182): 61-65.
Fearnside, P.M. 2000a. Código florestal: O perigo de abrir Hamilton, S.K. 1999. Potential effects of a major
brechas. Ciência Hoje 28(163): 62-63. navigation project (the Paraguay-Paraná Hidrovia)
Fearnside, P.M. 2000b. Uncertainty in land-use change on inundation of the Pantanal floodplains. Regulated
and forestry sector mitigation options for global Rivers--Research & Management 15(4): 289-299.
warming: plantation silviculture versus avoided Hardner, J.J., P.C. Frumhoff & D.C. Goetz. 2000. Prospects
deforestation. Biomass and Bioenergy 18(6): 457-468. for mitigating carbon, conserving biodiversity, and
Fearnside, P.M. 2000c. Greenhouse gas emissions from promoting socioeconomic development through the
land use change in Brazil’s Amazon region. p. 231- Clean Development Mechanism. Mitigation and
249. In: R. Lal, J.M. Kimble & B.A. Stewart (Eds). Adaptation Strategies for Global Change 5: 61-80.
Global Climate Change and Tropical Ecosystems. International Rivers Network & Coalição Rios Vivos.
Advances in Soil Science. CRC Press, Boca Raton, 2001. Hidrovia news: New government smokescreen:
Florida, E.U.A. 438 p. “no more Hidrovia – just improvements for already
Fearnside, P.M. 2000d. O Potencial do Setor Florestal navigable waterway” International Rivers Network,
Brasileiro para a Mitigação do Efeito Estufa sob Berkeley, California, E.U.A. http://www.irn.org/
o “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo” do
Jochnick, C. 1995. Amazon oil offensive. Multinational
Protocolo de Kyoto. p. 59-74 In: A.G. Moreira &
Monitor 1995(1): 1-6.
S. Schwartzman (Eds.) Mudanças Climáticas e os
Ecossistemas Brasileiros. Instituto de Pesquisas da Laurance, W.F., M.A. Cochrane, S. Bergen, P.M.
Amazônia (IPAM), Brasília, DF. 165 p. Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S. D’Angelo
& T. Fernandes. 2001a. The Future of the Brazilian Schneider, R.R., E. Arima, A. Veríssimo, P. Barreto & C.
Amazon. Science 291: 438-439. Souza Junior. 2000. Amazônia Sustentável: Limitantes
Laurance, W.F., M.A. Cochrane, S. Bergen, P.M. e Oportunidades para o Desenvolvimento Rural. World
Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S. D’Angelo Bank, Brasília, DF & IMAZON, Belém, Pará. 58 p.
& T. Fernandes. 2001b. The Future of the Brazilian
Amazon: Supplementary Material. Science Silva, L.L. 1996. Ecologia: Manejo de Áreas Silvestres.
Online http://www.sciencemag.org/cgi/content/ Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF.
full/291/5503/438/DC1
Silva Dias, M.A.F., Rutledge, P. Kabat, P.L. Silva Dias,
Laurance, W.F., M.A. Cochrane, P.M. Fearnside, S.
Bergen, P. Delamonica, S. D’Angelo, T. Fernandes & C. Nobre, G. Fish, A. J. Dolman, E. Zipser, M.
C. Barber. 2001c. Response. Science 292: 1652-1654. Garstang, A. Manzi, J. D. Fuentes, H. Rocha, J.
Laurance, W.F., G. Powell & L. Hansen. 2002. A Marengo, A. Plana-Fattori, L. Sá, R. Alvalá, M.O.
precarious future for Amazonia. Trends in Ecology Andreae, P. Artaxo, R. Gielow & L. Gatti. 2002.
and Evolution 17(6): 251. Cloud and rain processes in a biosphere atmosphere
Nepstad, D., J.P. Capobianco, A.C. Barros, G. Carvalho, interaction context in the Amazon Region. Journal
P. Moutinho, U. Lopes & P. Lefebvre. 2000. Avança of Geophysical Research (Atmospheres). 107(D20):
Brasil: Os Custos Ambientais para Amazônia. Instituto
art. 8072, doi:10.1029/2001JD000335
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém,
Pará. 24 p. Silveira, J.P. 2001. Development of the Brazilian
Nepstad, D., G. Carvalho, A.C. Barros, A. Alencar, J.P. Amazon. Science 292: 1651-1652.
Capobianco, J. Bishop, P. Moutinho, P. Lefebvre,
U.L. Silva, Jr. & E. Prins. 2001. Road paving, fire Silveira, W. 1999. ‘Juiz suspende licenciamento de
regime feedbacks, and the future of Amazon forests. hidrovia’. Folha de São Paulo, 23 de setembro de
Forest Ecology and Management 154(3): 395-407. 1999, p. 1-7.
Nepstad, D., D. McGrath, A. Alencar, A. C. Barros, G.
Switkes, G. 1999. Gouging out the heart of a river:
Carvalho, M. Santilli & M. del C. Vera Diaz. 2002.
Frontier Governance in Amazonia. Science 295: Channelization project would destroy Brazilian rivers
629. http://www.sciencemag.org/cgi/content/ for cheap soybeans. World Rivers Review 14(3): 6-7.
summary/295/5555/629
Themag. 2000. Aproveitamento hidrelétrico Serra
Nepstad, D.C., A. Moreira, A. Veríssimo, P. Lefebre, P.
Quebrada: Estudo de impacto ambiental: Volume
Schlesinger, C. Potter, C. Nobre, A. Setzer, T. Krug,
A. Barros, A. Alencar & J. Pereira. 1998. Forest fire IV. Diagnóstico do meio sócio-econômico tomo 1/2
prediction and prevention in the Brazilian Amazon. – texto. Themag No. 6291-03-GL-830-RT-00048-R0.
Conservation Biology 12: 951-955. Themag Engenharia e Gerenciamento, Ltda., São
Novaes, W. 1998. Corda em casa de enforcado. O Estado Paulo, SP, Paginação irregular.
de São Paulo 07 de agosto de 1998.
UNFCCC (United Nations Framework Convention
Olmos, F., Queiroz-Filho, A.P. & C.A. Lisboa. 1998. As
on Climate Change). 2001. The Marrakesh
Unidades de Conservação de Rôndonia Secretaria
de Planejamento do Estado de Rondônia, Porto Accords and the Marrakesh Declaration. UNFCCC,
Velho, RO. Bonn, Alemanha. http://www.unfccc.cd/cop7/
Radiobrás. 1999. http://www.radiobras.gov.br/ documents/accords_draft.pdf
processados/NAC-19990930-164618-0160.htm.
Watson, R.T., I.R. Noble, B. Bolin, N.H. Ravindranath,
Rylands, A.B. & L.P. Pinto. 1998. Conservação da D.J. Verardo & D.J. Dokken (Eds.) 2000. Land Use,
Biodiversidade na Amazônia Brasiliera: Uma
Land-Use Change and Forestry: A Special Report
Análise do Sistema de Unidades de Conservação.
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento of the Intergovernmental Panel on Climate Change
Sustentável, Brasília, DF. (IPCC). Cambridge University Press, Cambridge,
Santos, L.A.O. & L.M.M. de Andrade (Eds.). 1990. Reino Unido. 377 p.
Hydroelectric Dams on Brazil’s Xingu River and
World Commission on Dams. 2000. Dams and
Indigenous Peoples. Cultural Survival Report 30.
Cultural Survival, Cambridge, Massachusetts, E.U.A. Development: A New Framework for Decision-
192 p. Making. Earthscan, London, Reino Unido. 404 p.
10
Controle de desmatamento em Mato Grosso:
Um novo modelo para reduzir a velocidade
de perda de floresta amazônica
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2003. Deforestation control in Mato Grosso: A new model for slowing the loss of
Brazil’s Amazon forest. Ambio 32(5): 343-345. https://doi.org/10.1579/0044-7447-32.5.343
Tradução original:
Fearnside, P.M. 2003. O programa de controle de desmatamento no Mato Grosso e as perspec-
tivas da floresta amazônica no combate ao efeito estufa. p. 71-75 In: V. Claudino-Sales (Ed.)
Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservação. Expressão Gráfica e Editora, Fortaleza, Ceará.
392 p.
177
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 177 8/18/2022 3:14:22 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
178 DA FLORESTA AMAZÔNICA
RESUMO INTRODUÇÃO
O controle do desmatamento na Desde 1999 um projeto realizado pelo ór-
Amazônia brasileira tem sido ilusivo, há gão ambiental do governo estadual (Fundação
muito tempo, apesar dos esforços repetidos Estadual do Meio Ambiente-Mato Grosso:
das autoridades do governo para reduzir a FEMA-MT) (Mato Grosso, FEMA, 2001) está
sua velocidade. Agora, um programa de li- em andamento com o objetivo de licenciar e
cenciamento e fiscalização no estado do controlar o desmatamento no estado do Mato
Mato Grosso parece mostrar um efeito sig- Grosso. O programa tem o apoio financei-
nificativo. As taxas de desmatamento na ro do Subprograma dos Recursos Naturais,
floresta amazônica e na “transição” entre do Programa Piloto para Conservação das
floresta e cerrado diminuíram desde o início Florestas Tropicais do Brasil (PPG7-SPRN), na
do programa, em 1999, enquanto o desmata- Secretaria de Coordenação da Amazônia, do
mento no restante da Amazônia Legal conti- Ministério do Meio Ambiente (MMA-SCA).
nuou aumentando. Porém, a taxa de desma- Embora o Mato Grosso tradicionalmente seja
tamento já estava diminuindo em algumas um dos estados amazônicos com as taxas
partes de Mato Grosso, antes mesmo do iní- mais altas de desmatamento (Brasil, INPE,
cio do programa, devido ao esgotamento das 2002), vários indicadores sugerem que o pro-
terras com vegetação original e sem decli- grama vem obtendo um efeito significativo
ves íngremes ou outros impedimentos para sobre o desmatamento mato-grossense. Uma
agricultura. O declínio das taxas de corte na vez que os recursos e a experiência da equipe
floresta e em áreas de transição tornou-se da FEMA estiveram mais limitados em 1999 e
2000 do que em 2001 e 2002, espera-se que o
mais acentuado depois do início do progra-
impacto do programa seja maior em anos fu-
ma, especialmente na área de transição onde
turos do que o efeito observado nas imagens
a fiscalização foi concentrada. O exame das
de satélite de 2001 disponíveis no momento.
tendências em nível de município ajudam
Além disso, existe um atraso natural entre a
a separar os efeitos do envelhecimento das
inspeção, notificação e punição de proprietá-
fronteiras dos da repressão. Em fronteiras
rios de terras que desmatam ilegalmente e,
novas, as taxas de desmatamento estavam
também, um atraso na mudança de compor-
aumentando antes do programa de fiscali- tamento desses proprietários e dos seus vizi-
zação, entretanto, diminuíram nitidamente nhos na medida em que eles são convencidos
depois de 1999. As taxas de desmatamento a se adaptar ao novo “ambiente” regulador.
diminuíram mais onde a fiscalização esta-
va concentrada. Evidências perturbadoras Antes das campanhas de campo, os
de desmatamento em algumas terras indí- desmatamentos ilegais são localizados em
genas indicam a urgência de desenvolver imagens de satélite e, posteriormente, os
mecanismos para recompensar os serviços técnicos são enviados para inspecionar
ambientais como uma forma alternativa desmatamentos específicos (Figuras 1 e 2).
de desenvolvimento. A suposição de que o Usando um sistema de posicionamento glo-
desmatamento na Amazônia esteja incon- bal (GPS), eles podem localizar o desmata-
trolável é a raiz da resistência tradicional do mento e a sede da propriedade. Depois da
Brasil aos fluxos monetários internacionais notificação, a documentação é enviada ao
para recompensar o desmatamento evitado, Ministério Público para ação judicial e o pro-
por exemplo, através do Protocolo de Kyoto. prietário das terras tem a oportunidade de
apresentar qualquer documentação que ele
Os eventos recentes no Mato Grosso indicam
possua para contestar o caso.
que esta suposição é falha e que o desmata-
mento pode ser controlado. Para avaliar qualquer efeito do progra-
ma de controle, é necessário examinar as
PALAVRAS CHAVE: Amazônia, Brasil, tendências de desmatamento em diferentes
Desmatamento, Serviços Ambientais, Mato partes do estado. O Mato Grosso inclui zo-
Grosso, Florestas Tropicais. nas com tipos distintos de ocupação e uso
Figura 2. Um desmatamento de
618 ha sem licença da FEMA
no município de Ipiranga do
Norte (MT). O dono recebeu
uma notificação solicitando
seu comparecimento em
um escritório da FEMA para
apresentar a documentação
sobre o desmatamento.
O processo do caso foi
despachado desde então pela
FEMA ao Ministério Público
para ação judicial. Foto: P.M.
Fearnside.
Figura 4. Parte
da atividade de
desmatamento nos
biênios 1998-1999
(A) e 2000-2001
(B) em clareiras de
tamanhos diferentes.
A predominância
de desmatamentos
maiores que 100 ha é
evidente. Os dados de
2000-2001 (B) para
desmatamentos com
menos de 100 ha são
divididos em classes
de tamanho menores,
mostrando, assim, que
6% da área desmatada
está em clareiras <15
ha de área, e apenas
2% da área desmatada
tem área < 6,25 ha.
novos dados da FEMA podem descobrir des- “desflorestamento” para designar o corte da
matamentos de 1 ha, ou menor, em imagens vegetação que corresponde às categorias de
digitais do mesmo satélite. A informação floresta e transição, e não considera o corte
para a faixa 1-6,25 ha indica que somente do cerrado ou outras savanas, com a exce-
2% do desmatamento no Mato Grosso se en- ção do “cerradão”. No Mato Grosso, o ter-
contram neste intervalo (Fig. 4b). Este fato mo “desmatamento” refere-se ao corte das
é significante com relação a uma estimativa três categorias. As grandes discrepâncias en-
para os desmatamentos menores de 15 ha em tre os números de desmatamento liberados
área, pois a inclusão de desmatamentos me- pelo INPE e os liberados pela Organização
nores que 6,25 há (o limite de detecção nos das Nações Unidas para Alimentação e a
números do INPE) representa um aumento Agricultura (FAO, 1995, 1996) são, principal-
de 40% para esta categoria. No entanto, o mente, devido à confusão sobre essas defini-
impacto sobre o total de desmatamento em ções (Fearnside, 2000).
Mato Grosso seria pequeno, e o novo núme-
As estimativas de desmatamento da
ro da FEMA praticamente elimina a dúvida
FEMA foram realizadas bienalmente até
com relação à possibilidade de um grande
2001, e passaram a ser anuais a partir de
componente do desmatamento passar sem
2002. Estimativas anuais são importantes
detecção, e confirma que os pequenos agri-
tanto para acompanhar o efeito do progra-
cultores têm um papel secundário no total
ma como para permitir indicações melhores
global da atividade de desmatamento.
de outras causas de mudanças nas taxas de
O termo “desmatamento” é usado no desmatamento e nos padrõe espaciais. Deve-
Mato Grosso de um modo diferente de se ressaltar que as taxas durante um biênio
como é em outros contextos, tais como as dividido por dois não são estritamente iguais
estimativas de desmatamento anuais libe- a uma taxa anual da perspectiva de proprie-
radas pelo INPE. O INPE inventou o termo dades individuais, por causa de um padrão
de pulsos na atividade de desmatamento em foi registrada até agora, mas, isto está au-
nível de propriedade (Fearnside, 1984). mentando continuamente a medida que os
Algumas discrepâncias entre os cálculos proprietários de terras solicitam à FEMA li-
da FEMA e do INPE para o Mato Grosso são cenças para derrubar e queimar. De acordo
evidentes, embora as diferenças na sua dire- com a FEMA, entre os 40 milhões de ha de
ção não sejam consistentes (Tabela 1). Para terra privada, somente 1 milhão de ha são
as estimativas de desmatamento serem com- registrados como legais no sistema, 5 mi-
paráveis, são apresentados apenas os dados lhões de ha têm requerimentos com a reso-
relativos à floresta e à transição (no caso da lução de irregularidades pendente, e os 34
FEMA). A estimativa da FEMA é 30,4% mais milhões de ha restantes são de propriedades
alta que a estimativa do INPE para o biênio que estão, atualmente, ignorando o sistema
1996-1997, mas, é 5% abaixo da estimativa do de licenciamento. Multas de R$ 1.000-1.500/
INPE para o biênio 1998-1999. O INPE ainda ha de desmatamento ilegal, além de possí-
não tem dados em nível estadual para 2001. veis penas de prisão para “crimes ambien-
tais”, resultam em uma motivação para que
os proprietários de terras busquem o licen-
O SISTEMA DE LICENCIAMENTO DO MATO ciamento. Isso acontecerá na medida em que
GROSSO eles ficarem convencidos de que eles vão, na
realidade, ser detectados e punidos caso eles
A Fundação Estadual do Meio Ambiente desmatem ilegalmente.
do Mato Grosso (FEMA-MT) tem implementa-
do, desde 1999, um programa para autorizar As campanhas de campo para notificar
e controlar o desmatamento (Mato Grosso, propriedades com desmatamentos ilegais estão
FEMA, 2001). O Mato Grosso está no pro- concentradas no período de fevereiro a maio.
cesso de trazer os proprietários de terras em Além disso, a FEMA realiza uma campanha
complacência com a legislação existente, por semelhante no período de junho a agosto para
exemplo, o “Código Florestal” (Decreto Lei reprimir as queimadas ilegais. A campanha de
No. 4.771 de 15 de setembro de 1965) e ajustes 2001 teve uma frota de 20 camionetes para le-
subsequentes. Desde 2000, exigências federais var os técnicos até os desmatamentos identi-
especificam que a “reserva legal” que deve ser ficados nas imagens do ano anterior, além de
mantida em cada propriedade precisa cobrir uma pequena aeronave para localizar desma-
80% da propriedade quando se tratar de áreas tamentos ocorrendo na hora da campanha.
de floresta e 35% em áreas de cerrado. Uma
Um fator fundamental para tornar a ne-
decisão do governo estadual do Mato Grosso
cessidade de obter as licenças aparente aos
especifica 50% na área de “transição”.
proprietários é a tecnologia de sensoriamen-
Os proprietários de terra devem regis- to remoto, com cópias de partes da imagem
trar sua reserva legal (uma área na qual não incluídas nos documentos de autorização e
deve ter corte raso, porém, onde o manejo nas notificações de infrações, fazendo com
florestal e atividades afins podem ser reali- que os argumentos de contestação sejam
zados), inclusive, com uma descrição geo- muito mais difíceis. Também, é importante
referênciada de seus limites. A “área de pre- um sistema de documentação e administra-
servação permanente”, ou áreas localizadas ção do pessoal que limite muito as oportu-
perto de cursos d’água ou em declives ín- nidades para corrupção, já que os fiscais de
gremes, também deve ser registrada. Só uma campo não têm nenhuma opção para alegar
pequena fração da terra privada no estado que um desmatamento não existiu, que a ve-
getação original era de um tipo onde mais
desmatamento é permitido (por exemplo
Tabela 1. comparação
dos dados da FEMA
Biênio INPE (ha/ano) FEMA (ha/ano) Diferença (%) cerrado em lugar de floresta), ou que a pro-
com os do INPE para 96-97 590.700 770.130 30,4% priedade não foi encontrada. Se os donos
Mato Grosso da propriedade ou os seus representantes
98-99 671.450 638.066 -5,0%
não estiverem presentes para receber uma
notificação, podem ser usados meios alter- da propriedade mostrando a reserva legal, a
nativos, tais como publicações em jornais. área de proteção permanente e os desmata-
mentos legais e ilegais. O sistema atualmen-
Um aspecto importante do programa tem
te está em fase de ampliação para incluir
sido o apoio político do governador do esta-
a imagem de satélite subjacente, como um
do, protegendo, assim, o pessoal da FEMA
pano de fundo para o mapa.
responsável pelo programa contra as pres-
sões em potencial dos proprietários de terras O sistema de licenciamento no Mato
politicamente influentes. Nos níveis abaixo Grosso é facilitado pela distribuição de terra
da liderança da FEMA, a mecânica do siste- nesse estado, com a maior parte em proprie-
ma também funciona para desencorajar in- dades grandes. De acordo com o Instituto
terferência política, uma vez que a seleção Nacional de Colonização e Reforma Agrária
de propriedades para inspeção é feita por (INCRA) cerca de 20.000 propriedades res-
técnicos que não possuem nenhuma infor- pondem por 88% da área de terra privada
mação sobre quem possui cada propriedade. no estado. A responsabilidade por autorizar
o desmatamento é dividida entre a FEMA e o
Os trabalhos de digitalização dos desma-
IBAMA (Instituto Brasileira do Meio Ambiente
tamentos e montagem do banco de dados
e dos Recursos Naturais Renováveis), basean-
foram contratados de uma empresa privada
do-se em um “pacto federativo”, o qual foi
(Tecnomapas, Ltda.). A empresa ganha uma
acordado para que a FEMA autorize os des-
taxa por propriedade incluída no sistema (não
matamentos acima de 200 ha, enquanto o
uma porcentagem das multas coletadas). O ar-
IBAMA autoriza os desmatamentos menores.
ranjo motiva a empresa para maximizar a efi-
Observa-se que o limite de 200 ha se refere ao
ciência de trazer propriedades adicionais para
tamanho do desmatamento e não ao tamanho
dentro do sistema de licenciamento, contri-
da propriedade. Este arranjo aloca metade do
buindo, por exemplo, com algum investimen-
desmatamento, quase exatamente, a cada
to próprio de “risco” para o desenvolvimento
instituição: no biênio 2000-2001, 48,2% do
do software que está sendo distribuído aos
desmatamento descoberto nas imagens esta-
engenheiros florestais no estado para uso na
vam em clareiras de 200 ha ou menos, en-
preparação das propostas de autorizações em
quanto 51,8% estavam em clareiras maiores.
nome dos seus clientes proprietários de terras.
Obviamente, o licenciamento de grandes des-
A integração do Ministério Público no matamentos é mais fácil por hectare do que
Mato Grosso foi crucial no sentido de con- para desmatamentos menores.
vencer os proprietários de terras que eles
O IBAMA ainda não tem um sistema ad-
não têm nenhuma opção a não ser regis-
ministrativo desenvolvido semelhante ao da
trar suas propriedades e obter as licenças.
FEMA para controlar o pessoal de campo e
O Ministério Público é uma parte do sistema
dificultar as oportunidades de irregularidades.
judicial federal, e não está sujeito a mudan-
Autorizações de desmate do IBAMA que, apa-
ças nas administrações do governo estadual.
rentemente, foram realizadas com data retroa-
O acesso público pela internet às infor- tiva são frequentemente encontradas. Isso era
mações sobre propriedades registradas e seus realizado nos primeiros anos do programa em
donos (inclusive a identificação de infrato- 1997, ou antes, para indicar as autorizações
res) representa uma nova adição ao sistema. quando a reserva legal exigida em áreas de
Um “site” foi aberto em março de 2002, e floresta era de 50% em vez dos atuais 80%
estão sendo acrescentadas, progressivamen- e, em áreas de cerrado, de 20% em vez dos
te, as informações sobre as propriedades re- atuais 35%. Datas retroativas também eram
gistradas. O site (http://200.163.61.50/pls/ comuns em 2001 para permitir ao IBAMA
publico/ovigianet.index_ovigianet) lista as conceder as aprovações de desmatamentos
propriedades sem infrações na cor azul e os de mais de 200 ha, as quais, posteriormente,
infratores em vermelho. “Clicando” sobre passaram a ser responsabilidade da FEMA. Os
uma propriedade na lista, aparecem as in- documentos com datas retroativas são feitos,
formações pessoais sobre o dono e um mapa com frequencia, para serem válidos por dois
Figura 5.
Desmatamento
no Mato Grosso
comparado ao restante
da Amazônia baseado
em estimativas do INPE
(Brasil, INPE, 2002).
em cada uma das três categorias de vege- de 43 milhões de toneladas de carbono in-
tação original: floresta, transição e cerrado. dicados diminuiria proporcionalmente.
No Mato Grosso, entre as áreas mapeadas Apesar da incerteza relacionada à porção do
na escala 1:250.000 pelo RADAMBRASIL declínio que pode ser atribuída ao programa
(Brasil, RADAMBRASIL, 1973-1983), são de licenciamento, várias linhas de evidência
consideradas “Floresta” as que correspon- discutidas anteriormente indicam que houve
dem aos seguintes códigos no mapa de ve- um efeito na taxa de desmatamento e que
getação do IBAMA (Brasil, IBGE & IBDF, as quantidades correspondentes de carbono
1988; ver Fearnside & Ferraz, 1995): Da, Ds, são, então, significativas.
Aa, As, Cs, Fa, Fb, Fm e Fs. São considera-
A Tabela 3 apresenta um valor monetário
das “Transição” as áreas que incluem ON,
para estas emissões evitadas, com o cálcu-
SN, SO, TN, Sd, Pa e Pf, e são consideradas
lo presumindo um preço de US$ 20/tonela-
“Cerrado” as áreas que incluem o Sa, Sg, Sp,
da de carbono. Estes valores fornecem uma
Tg, Tp, Ph e ST. Alguns tipos de vegetação,
ilustração útil, indicando um valor de US$
especialmente Sd, Pa, Pf e Ph, não se encai-
864 milhões/ano se toda a redução no des-
xam bem em nenhuma das três categorias,
matamento resultasse em crédito de carbo-
mas foram alocados de acordo com a maior
no. Uma série de considerações restringe a
afinidade. As estimativas de área e biomassa
quantidade de crédito que poderia ser rei-
são apresentadas na Tabela 2.
vindicado pelo desmatamento evitado, de-
Considerando as estimativas de biomas- pendendo de decisões futuras sobre alguns
sa para cada tipo de vegetação original e de fatores como a certeza, permanência (o tem-
substituição (áreas e biomassas atualizadas po que o carbono fica fora da atmosfera) e o
de Fearnside, 1997a por Reinaldo Imbrozio “vazamento” (movimento potencial das fon-
Barbosa, do INPA-Roraima) é possível calcu- tes de emissões, tais como o desmatamento,
lar a emissão correspondente a essas taxas para áreas fora de uma determinada área do
de desmatamento (Tabela 3). Isso presume projeto, por exemplo, através do movimento
que todo o declínio na taxa de desmata- para outro estado) (ver Watson et al., 2000).
mento entre o biênio 1998-1999 e o biênio Embora o valor de US$ 20/tonelada continue
2000-2001 pode ser atribuído ao programa. sendo o que é mais comumente usado em dis-
Os valores são apresentados em uma base cussões sobre carbono, deveria ser lembrado
anual (i.e., a metade dos valores do biênio). que é um valor puramente ilustrativo. O pre-
Uma vez que parte do declínio é o resultado ço de US$ 20/tonelada originou-se de cál-
de outros processos, a redução na emissão culos orçamentários dos Estados Unidos no
governo Clinton. Espera-se que os preços de
mercados do carbono variem livremente de
Tabela 2. Áreas
e biomassas das Área Biomassa média
Ha/ano considerado acordo com a oferta e a demanda; é provável
evitado (com base
paisagens em Mato (km2) (t/ha)
da taxa de 1999)
que o preço de carbono suba bastante a lon-
Grosso e redução da
“Floresta” 208.552 375 149.302
go prazo, quando países industriais alcança-
taxa anual de perda em rem acordos que requerem maiores reduções
“Transição” 393.946 311 74.257
2000-2001.
“Cerrado” 291.030 153 95.835 nas suas emissões de gases de efeito estufa.
Total 893.527 273 319.393 O acordo de Bonn, de julho de 2001, proí-
be crédito para desmatamento evitado sob
o “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo”
Tabela 3. Redução Carbono (t/ha) do Protocolo durante o Primeiro Período de
de emissão anual por
Emissão Valor a Compromisso, mas a inclusão de provisões
mudança do uso da
Paisagem Paisagem Ganho evitado US$20/ como esta poderia ocorrer para o período de
terra em Mato Grosso original substituta líquido (Milhões tC (US$
em 2000-2001. 2013 em diante.
de t C) milhões)
“Floresta” 187 13 175 26 521 A experiência no Mato Grosso assu-
“Transição” 155 13 142 11 212 me uma importância especial no contex-
“Cerrado” 75 5 71 7 131 to das posições brasileiras na negociação
Total 146 10 136 43 864 do Protocolo de Kyoto. O Ministério das
não oferecem uma garantia automática de floresta nestas áreas (Fearnside, 1997b). As
que serão evitados os desmatamentos. perdas crescentes de florestas dentro de áre-
as indígenas são uma indicação da urgência
As imagens de 2001 revelaram grandes
de alcançar progresso nos mecanismos para
desmatamentos em várias reservas indí-
prover compensação por serviços ambientais.
genas no Mato Grosso. A terra indígena
Maraiwatsede teve 6.645 ha desmatados em
2000-2001, incluindo duas clareiras de cer- EXTENSÃO PARA OUTROS ESTADOS
ca de 1.800 ha cada. A reserva Bakairi teve
6.922 ha desmatados em 2000-2001, também No dia 26 de fevereiro de 2002, o Ministro
em grandes desmatamentos como aqueles do Meio Ambiente, baseando-se na experiên-
produzido por grandes fazendeiros em vez cia do Mato Grosso, anunciou que o “Sistema
de roças pequenas. Na Tabela 4 são listadas de Licenciamento de Propriedades Rurais”
as reservas com as taxas de desmatamento seria estendido para toda a Amazônia. Isto
mais altas, quando expressadas na forma de será muito importante para ganhar controle
porcentagem da área da reserva desmatada sobre o processo de desmatamento. No pas-
em um único biênio (2000-2001). Deve-se en- sado, os anúncios anuais das áreas desmata-
fatizar que a maioria das reservas tem muito das calculadas pelo INPE para a Amazônia,
menos desmatamento, e que a numeração frequentemente, vinham acompanhados de
das reservas foi incluída na Tabela para en- pacotes de medidas de controle. No ano se-
fatizar este fato. A terra indígina desmatada guinte, o desmatamento parece, em grande
mais rapidamente perdeu mais de 11% da parte, aumentar ou diminuir, independen-
sua área em um único biênio, até mesmo te dessas medidas. A experiência no Mato
mais do que o município com o recorde se- Grosso fornece uma indicação de que este
melhante: Ipiranga do Norte com 8,4%. não precisa continuar sendo o caso.
Fearnside, P.M. 2000. Global warming and tropical land- Fearnside, P.M. 2003b. O programa de controle de
use change: greenhouse gas emissions from biomass desmatamento no Mato Grosso e as perspectivas
burning, decomposition and soils in forest conversion, da floresta amazônica no combate ao efeito estufa.
shifting cultivation and secondary vegetation. p. 71-75 In: V. Claudino-Sales (Ed.) Ecossistemas
Climatic Change 46 (1/2): 115-158. Brasileiros: Manejo e Conservação. Expressão Gráfica
e Editora, Fortaleza, Ceará. 392 p.
Fearnside, P.M. 2001a. Saving tropical forests as a global
warming countermeasure: An issue that divides the Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 2003. Avoided
environmental movement. Ecological Economics deforestation in Amazonia as a global warming
39(2): 167-184. mitigation measure: The case of Mato Grosso. World
Resource Review 15(3): 352-361.
Fearnside, P.M. 2001b. The potential of Brazil’s forest
sector for mitigating global warming under the Kyoto Fearnside, P. M. & J. Ferraz. 1995. A conservation
Protocol. Mitigation and Adaptation Strategies for gap analysis of Brazil’s Amazonian vegetation.
Global Change 6(3-4): 355-372. Conservation Biology 9: 1134-1147.
Fearnside, P.M. 2002. Controle de desmatamento “Manifestação da sociedade civil brasileira sobre as
em Mato Grosso: Um novo modelo para reduzir relações entre florestas e mudanças climáticas e as
a velocidade de perda de floresta amazônica. p. expectativas para a COP-6”, Belém, 24 de outubro
29-40. In: B. Millikan, L. Teixeira, L. Salvo, M. de 2000”, 2000. Instituto de Pesquisa Ambiental da
Sacramento & P. Curvo (Eds.) Workshop: Aplicações Amazônia (IPAM), Belém, Pará. 2 p. http://www.
do Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informação ipam.org.br/polamb/manbelem.htm
Geográfica no Monitoramento e Controle do Mato Grosso, Fundação Estadual do Meio Ambiente
Desmatamento na Amazônia Brasileira 02 e 03 de (FEMA). 2001. Environmental Control System on
abril de 2002. Subprograma dos Recursos Naturais- Rural Properties in Mato Grosso. FEMA, Cuiabá,
SPRN & Programa de Apoio a Monitoramento e Mato Grosso. 45 p.
Análise-AMA, Secretaria da Amazônia, Ministério
do Meio Ambiente, Brasília-DF. 96 p. Watson, R.T., I.R. Noble, B. Bolin, N.H. Ravindranath,
D.J. Verardo & D.J. Dokken (Eds.) 2000. Land Use,
Fearnside, P.M. 2003a. Deforestation control in Mato Land-Use Change and Forestry: A Special Report
Grosso: A new model for slowing the loss of Brazil’s of the Intergovernmental Panel on Climate Change
Amazon forest. Ambio 32(5): 343-345. https://doi. (IPCC). Cambridge University Press, Cambridge,
org/10.1579/0044-7447-32.5.343 Reino Unido. 377 p.
11
Uma análise de lacunas de conservação
da vegetação da Amazônia
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. & J. Ferraz. 1995. A conservation gap analysis of Brazil’s Amazonian vegetation.
Conservation Biology 9(5): 1134-1147. https://doi.org/10.1046/j.1523-1739.1995.9051127.x-i1
193
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 193 8/18/2022 3:14:34 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
194 DA FLORESTA AMAZÔNICA
de toda a América Latina, estimaram nas áre- florestas e algumas savanas dentro e fora
as das diferentes “ecorregiões”, sua importân- da Amazônia Legal, mas não o cerrado). As
cia biológica e o grau de ameaça de cada uma áreas sem representação foram identificadas
para gerar prioridades de conservação. Com para uma possível inclusão como unidades de
este tipo de análise, a Amazônia fica classifi- conservação. Em 1999, um workshop realiza-
cada como de menor prioridade, comparada do em Macapá, por um grupo de organiza-
com a Mata Atlântica brasileira e as florestas ções não governamentais, usou estes e outros
nas proximidades dos Andes, da Bolívia até a dados para recomendar uma série de priori-
Colômbia, devido ao alto grau de endemismo, dades para a criação de reservas, levando em
às pequenas extensões existentes dos ecossis- conta considerações sociais em diferentes
temas, e às ameaças humanas sobre elas (ver partes da região (Capobianco et al., 2001; ISA
também Myers et al., 2000). et al., 1999). A base da análise foi um mapa,
Ferreira (2001; Ferreira et al., 2001) usa- em escala 1:2.500.000, do Instituto Brasileiro
ram um mapa digital produzido pelo WWF- de Geografia e Estatística (Brasil, IBGE, 1997)
US, em escala 1:5.000.000 (Dinerstein et al., que classifica a vegetação da Amazônia Legal
1995), para definir unidades de vegetação em 161 tipos (incluindo tipos antrópicos),
dentro do “Bioma Amazônia” (que abrange simplificado para 21 tipos por Nelson & de
Oliveira (2001).(2) Os mapas de vegetação em e o cerrado está sobre grande pressão devido
todas estas análises, inclusive o atual, foram à sua proximidade aos centros populacionais
derivados a partir dos mapas de 1:1.000.000 importantes, e à procura de madeira e carvão
do Projeto RADAMBRASIL (1973-1983). vegetal no Centro-Sul do País. A produção
de grãos, especialmente a soja, é uma fon-
te de pressão que aumentou nos ecótonos
ESTABELECENDO PRIORIDADES da floresta/cerrado. Estes tipos de vegetação
são mais fáceis de desmatar que tipos flo-
Um problema no estabelecimento de cri-
restais mais densos, e não têm sido protegi-
térios objetivos para atribuir a importância
dos dos programas de incentivos fiscais para
biológica é o nível de conhecimento da va-
expansão da pecuária após 1979, quando a
riação sobre ecossistemas diferentes e locais
Superintendência do Desenvolvimento da
geográficos em Amazônia. A maioria da di-
Amazônia (SUDAM) suspendeu, pelo menos
versidade biológica é encontrada em áreas
teoricamente, a aprovação dos novos proje-
intensamente coletadas (Nelson et al., 1990).
tos em áreas de “florestas densas”.(3)
Um critério alternativo daria uma prioridade
mais alta às áreas que tiveram muito pou- Os dados de satélite indicam que a zona
co estudo, devido ao princípio de precaução de transição floresta/cerrado sofre o desma-
para evitar a perda de biodiversidade desco- tamento mais rápido (Brasil, INPE, 2002). A
nhecida, mas potencialmente preciosa. pressão mais intensa sobre os tipos de vege-
tação localizados ao longo do limite entre a
O grau de ameaça levantado pelas ativi- floresta e o cerrado também é mostrada por
dades atuais de exploração e desenvolvimen- várias análises de mapas que criam cená-
to varia consideravelmente entre as regiões e rios de desmatamento simulados, baseados
tipos de vegetação. As áreas ameaçadas in- em padrões de expansão de áreas desmata-
cluem a várzea, onde a facilidade de acesso das a partir de rodovias e cidades existen-
fluvial, combinada com a presença de espé- tes (Kangas, 1990; Laurance et al., 2001;
cies de madeira de lei (como ucuuba ou viro- Nepstad et al., 2000).
la: Virola spp.), fez esta a fonte primária de
madeira na região. Em áreas de terra firme, os
locais com concentrações altas de árvores de POSSIBILIDADES PARA A PROTEÇÃO DE
valor, tais como as áreas de cerejeira (Torresea ECOSSISTEMAS
acreana Ducke) e de mogno (Swietenia ma-
crophylla King), em Rondônia, fizeram dessas Assim como os níveis de ameaças variam
alvos para a exploração madeireira, inclusive em diferentes partes da região, as oportuni-
dades para criar áreas protegidas também va-
atividades de exploração em reservas indí-
riam espacialmente. Quando as possibilida-
genas. As ameaças à floresta amazônica es-
des estão presentes, este elemento deve ser
tão continuamente evoluindo. Atualmente, o
pesado nas decisões sobre áreas protegidas.
conjunto de planos para rodovias, ferrovias, Contudo, o esforço para estabelecer novas
hidrovias, hidrelétricas, linhas de transmissão reservas não deveria ser guiado exclusiva-
e gasodutos, incluídos no Programa Avança mente pela perseguição das oportunidades,
Brasil (Consórcio Brasiliana, 2000), repre- como aconteceu no passado. Uma estratégia
senta uma das principais forças aumentan- global baseada em prioridades biológicas
do a pressão sobre a vegetação natural na deve ser elaborada.
Amazônia (ver Fearnside & Laurance, 2002).
Estes desenvolvimentos levantam uma amea- Um tipo de oportunidade surge das rei-
ça às florestas nas áreas afetadas. vindicações territoriais entre estados. O
conflito entre os estados de Amazonas e
Ecótonos entre os vários tipos de savana Pará para as áreas de várzea no lado norte
e a floresta, classificados como as “áreas de do rio Amazonas é um exemplo. Reservas
tensão ecológica” no sistema de classificação extrativistas oferecem outra alternativa fun-
de vegetação do IBAMA (Tabela 1), estão sob damental, onde os produtos que são agora
grande pressão. A transição entre a floresta comercializáveis ocorrem em intensidade
Algumas diferenças entre o mapa de vege- mapas mais refinados deveriam ser feitos para
tação e outros mapas deram lugar a polígonos identificar e proteger estas áreas. Não obstan-
de “tiras” ou “faixas” ao longo das bordas do te, é importante fazer um início mediante a
mapa, mas estas foram pequenas e tenderam identificação das áreas onde a necessidade de
a se sobrepor. Os casos nos quais a fronteira proteção fica evidente, com base na escala do
do Brasil no mapa de vegetação estava fora da mapa atual. Os resultados deste exercício de-
fronteira mostrada nos outros mapas, foram vem ser considerados como um mínimo, e não
contrabalançados por casos onde o inverso como uma proposta definitiva para proteger a
era verdade. O mapa de vegetação foi cortado diversidade biológica.
para ter conformidade com o mapa das áreas
protegidas. Foram descartadas quaisquer áreas
que estivessem no mapa de áreas protegidas, RESULTADOS E DISCUSSÃO
mas fora do mapa de vegetação, codificado-as
como “fora do mapa” e excluídas da análise. A
Desmatamento
presença de polígonos de tira indica que não A extensão de desmatamento em relação
havia uma harmonia perfeita entre os mapas às áreas originais de cobertura florestal é apre-
de origem. Na maioria dos casos, os erros eram sentada na Tabela 2, para os nove estados do
muitos pequenos considerando-se o tamanho Amazônia Legal. Até 2000, o desmatamento
das regiões. Os polígonos foram distribuídos da atingiu 583,3 × 103 km2 (Brasil, INPE, 2002),
seguinte forma: 41 polígonos de 0-500 km2, 5 ou 14,6% da área originalmente florestada. O
polígonos de 500-1.000 km2, e um de cada com desmatamento acumulado chegou a propor-
1.708 km2, 2.056 km2 e 2.124 km2. Uma análise ções alarmantes em estados como Maranhão
mais detalhada dos mapas de origem seria ne- e Tocantins.(4) As percentagens mais baixas
cessária para evitar estas discrepâncias. em alguns outros estados, como Pará e Mato
A escala muito pequena do mapa utilizado Grosso, são um reflexo das imensas áreas de
(1:5.000.000), significa que muitos dos tipos de terra destes estados: por ser o desmatamen-
ecossistemas naturais não estão representados: to desigualmente distribuído nestes estados,
tipos de vegetação originais podiam ser dema- o impacto nas florestas das áreas mais afe-
siado pequenos para aparecer nesta escala de tadas é muito maior que as percentagens em
mapa, ou podem ter sido agrupados com ou- nível estadual sugerem. A predominância de
tras categorias na legenda do mapa. No futuro, endemismo significa que tais perturbações
Tabela 2. Extensão Área original de floresta (103 km2) Área e porcentagem desmatada (103 km2) (%)(a)
de desmatamento Estado
IBAMA(b) INPE(c) 1978 1990 2000
na Amazônia Legal
brasileira 1 2 3 4 5 6
Acre 154 152 2,6 (1,7%) 10,3 (6,8%) 15,8 (10,3%)
Amapá 132 115 0,2 (0,2%) 1,3 (1,1%) 2,0 (1,7%)
Amazonas 1.561 1.481 2,3 (0,2%) 22,2 (1,5%) 30,3 (2,0%)
Maranhão 155 143 65,9(d) (46,1%) 93,4(d) (65,3%) 104,3(d)
Mato Grosso 585 528 26,5 (5,0%) 83,6 (15,8%) 143,9 (27,3%)
Pará 1.218 1.139 61,7(d) (5,4%) 144,2(d) (12,7%) 200,1(d) (17,6%)
Rondônia 224 215 6,3 (2,9%) 33,5 (15,6% ) 58,1 (27,0)
Roraima 188 164 0,2 (0,1%) 3,8 (2,3%) 6,4 (3,9%)
Tocantins
58 59 4,2 (7,1%) 22,9 (38,9%) 26,9 (45,6%)
Goiás
Amazônia Legal 4.275 3.996 169,9 (4,3%) 410,4 (10,3%) 589,7 (14,7%)
(a) Desmatamento, incluindo floresta inundada por represas hidrelétricas. Fontes: Brasil, INPE (2002) para valores de 1990 e 2000; valores de 1978 remedidos por
Skole & Tucker (1993) a partir de Tardin et al. (1980); ver Fearnside (1993b).
(b) Áreas medidas no mapa de IBAMA (Brasil, IBGE & IBDF, 1988).
(c) Áreas medidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Estas áreas de floresta (coluna 3) foram definidas através do aparecimento em imagens de
LANDSAT-TM, e são as mais consistentes com as estimativas de área desmatadas nas colunas 4-6. Eles foram usados, portanto, para calcular as percentagens. As
inconsistências com as estimativas das áreas originais de floresta do IBAMA (coluna 2) representam uma fonte importante de incerteza nas informações disponíveis
sobre percentagens de desmatamento.
(d) Valores para o Maranhão incluem 57,8 × 103 km2, e valores para o Pará incluem 39,8 × 103 km2 de desmatamento “antigo” (aproximadamente pré-1970).
Atualmente grande parte dessa área se encontra com floresta secundária.
concentradas podem ter impactos mais seve- (Nelson & de Oliveira, 2001: 144). Incorporar
ros nas espécies limitadas a estas áreas. áreas indígenas e outras semiprotegidas em
um sistema de unidades de conservação não
É igualmente importante recordar a
implica expulsar os habitantes florestais. Ao
invalidade da prática do cálculo comum
contrário, eles não somente têm o direito de
(mas errôneo) da percentagem desmatada
habitar as suas áreas tradicionais, mas sua
utilizar como denominador a área de terra
presença pode, potencialmente, oferecer
das unidades políticas, em vez de conside-
uma garantia maior de que a floresta perma-
rar apenas a área da floresta original desses
necerá como está, do que no caso de uma
estados. No caso do Tocantins, por exemplo,
transformação destas áreas em parques va-
apenas 9,8% da área terrestre do estado fo-
zios, com proteção contra invasões confiada
ram desmatadas até 2000, mas na realida-
apenas aos guardas florestais do IBAMA.
de isto representa 45,6% da área da floresta
original. No Maranhão, 40,1% da área ter- Os compromissos precisam ser negocia-
restre do estado foram desmatadas até 2000, dos com aqueles responsáveis por estas áreas
representando 72,9% da área originalmente semiprotegidas (como índios, seringueiros e
recoberta por floresta. órgãos do setor florestal do governo) para de-
finir o grau de perturbação aceitável e os me-
Os parques e reservas equivalentes a par- canismos para garantir que estes limites não
ques na Amazônia brasileira são uma peque- serão ultrapassados. Hoje, estas áreas não
na percentagem da região (Tabela 3).(5) Até podem ser consideradas como protegidas.
1997, apenas 18,4 milhões de hectares, ou Nas florestas nacionais e reservas florestais,
seja, 3,7% da Amazônia Legal haviam sido por exemplo, é prevista a futura exploração
incluídos em reservas desse tipo, mesmo que madeireira. As reservas extrativistas que fo-
apenas no papel (Nelson & de Oliveira, 2001: ram criadas são justificadas, principalmente,
144). A conservação de 25% da vegetação pelo seu papel na conservação ambiental. As
original da região foi recomendada em 1979 reservas representam uma iniciativa impor-
pela Comissão Interministerial de Política tante para manter a floresta sob a tutela dos
Florestal, na versão original do projeto de seus habitantes. Contudo, é necessário evitar
lei elaborado pela comissão (ver Fearnside, a perda de sustentabilidade desses sistemas,
1986). O Programa para Aumentar as Áreas devido às expectativas excessivamente altas
de Proteção Ambiental (PROAPAM, também no que diz a respeito à capacidade destas áre-
chamada ARPA), melhor conhecido com o as para absorver fluxos populacionais ou para
“Projeto dos 10%”, foi criado no Ministério produzir riqueza (Fearnside, 1989).
do Meio Ambiente com esse fim. As áreas
na Tabela 3 referem-se a todos os tipos de A maior parte da vegetação semiprotegi-
vegetação, não somente às florestas. da está em áreas indígenas e, infelizmente,
para parte dessas terras ainda falta o reco-
O estado de conservação melhoraria con- nhecimento e delimitação legal na região.
sideravelmente se as áreas semiprotegidas Parte da área indígena incluída na Tabela 3
tivessem sido incluídas. O termo “semipro- não é legalmente reconhecida ainda, e, em
tegido” é utilizado aqui para se referir às flo- alguns casos, vem sendo diminuída por in-
restas nacionais, reservas florestais, reservas vasões e/ou por decretos do governo.
extrativistas e áreas indígenas. Estas unida-
des atualmente exercem apenas uma limita- Exemplos de reservas
ção restrita às perturbações, faltando ainda
exigências legais para impedir a futura ex- A Figura 1 mostra áreas que satisfariam
ploração e perturbação. A inclusão das áreas o critério de proteção de pelo menos alguma
semiprotegidas aumentaria a fração protegi- parte de cada tipo de vegetação em cada es-
da na Amazônia Legal de 2,7% para 19,0% tado, presumindo que as áreas já protegidas
(Tabela 3). Considerandose porém o diagnós- serão mantidas. A distribuição dos tipos de
tico ambiental da Amazônia Legal, do IBGE vegetação nas áreas protegidas existentes é
(1997), o aumento seria de 3,7% para 21,5% especificada na Tabela 4. Os exemplos das
Amapá 142 4.123 3.969 548 8.640 6,1 8.052 9.588 17.640 26.280 18,5
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
Amazonas 1.568 4.399 44.365 13.527 2.057 64.348 4,1 36.980 3.994 287,015 327.989 392.337 25,0
Mato Grosso 901 2.225 2.547 4.772 0,5 111.285 111.285 116.057 12,9
Pará 1.247 2.016 8.206 3.831 14.053 1,1 3.021 11.363 161.998 176.382 190.435 15,3
Rondônia 238 893 7.176 8.978 17.047 7,2 10.346 39.974 50.320 67.367 28,3
Roraima 225 5.192 1.160 1.156 7.508 3,3 97.505 97.505 105.013 46,7
Amazônia legal 5.009 15.709 75.492 33.241 3.761 128.203 2,6 3.021 48.343 22.392 749.285 823.041 946.805 18,9
Percentual da área
100 0,3 1,5 0,7 0,1 2,6 0,1 1,0 0,4 15,0 16,4 18,9
da Amazônia Legal
(a) Áreas medidas a partir dos mapas em escala de 1:5.000.000 preparados por Conservation International (1990a,b). Áreas não incluem as partes cobertas por água segundo o mapa do IBGE & IBDF (1988), com a exeção das reservas
extrativistas, que são de Fearnside (1989). Nem todas as áreas indigenas listadas tem proteção legal. Todas as categorias incluem todos os tipos de vegetação natural (não apenas floresta); apenas áreas de vegetação natural intacta são
incluídas. No caso de reservas não incluidas no mapa da Conservation International Reserva Biológica Uatumã, Reserva Ecológica Sauím-Castanheira, Estação Ecológica Niquiá e Parque Nacional Monte Roraima, as áreas totais são usadas,
possivelmente incluindo água e vegetação não natural
8/18/2022 3:14:35 PM
Uma análise de lacunas de conservação
da vegetação da Amazônia 201
Figura 1. Áreas
protegidas existentes
(da Tabela 4) e áreas
que satisfazem o
critério para proteger
um exemplo de cada
tipo de vegetação
em cada estado (da
Tabela 5).
reservas que cobririam os tipos de vegeta- floresta devem ser protegidos rapidamente.
ção que restam estão enumerados na Tabela Isso, porém, não significa que os projetos
5. As dimensões das áreas indicadas (Fig. 1) de desenvolvimento, existentes nestas áre-
são modestas; em alguns casos a vegetação as, devam ser abandonados.
em questão existe em áreas muito maiores.
A Tabela 1 define os 28 tipos de vege-
Aqui, não se faz nenhuma tentativa de es-
tação natural na Amazônia Legal, indica-
tabelecer critérios para os tamanhos dessas
dos no mapa do IBAMA em uma escala de
reservas que devem ser protegidas. Sempre
1:5.000.000 (Brasil, IBGE & IBDF, 1988).
que possível, os exemplos foram tirados
A área de vegetação natural de cada tipo
para incluir várias zonas de vegetação em
é apresentada, por estado, na Tabela 6. A
uma única área contígua. Nenhuma ten-
distribuição dos tipos de vegetação nas áre-
tativa foi feita para localizar as áreas com
as protegidas, tais como reservas biológicas
referência às oportunidades para proteção
(RB), reservas ecológicas (RE), estações
de habitat, como por exemplo, em reservas
ecológicas (EE) e parques nacionais (PN),
indígenas. Em alguns casos, onde os con-
em cada estado, é apresentada na Tabela 7.
flitos conhecidos com estradas e projetos
As áreas referem-se à vegetação atual (de
de desenvolvimento possam ser evitados,
acordo com o mapa), que é diferente da
mediante a indicação das áreas mais remo-
vegetação original (segundo as indicações
tas do mesmo tipo de vegetação, isto foi
da Tabela 2). Dos 28 tipos de vegetação, 10
feito, porém as áreas não evitam todos os
(36%) não têm área protegida na Amazônia
conflitos desse tipo. É importante recordar
Legal, na sua totalidade.
que onde áreas biologicamente importantes
coincidem com as áreas de desmatamento Por ser a Amazônia tão vasta, as espé-
extensivo, quaisquer remanescentes de cies e outras características dos ecossistemas
RB01 Reserva biológica Lago Piratuba Da-0 (306 km2); Pa-0 (3.031 km2); Pf-0 (473 km2); Sp-0 (159 km2)
PN01 Parque nacional Cabo Orange Ds-0 (59 km2); Pa-0 (2.184 km2); Pf-0 (1.080 km2); SO-0 (799 km2)
RB04 Reserva biológica Abufarí Ab-0 (60 km2); Da-0 (3.312 km2); Pa-0 (54 km2)
RB07 Reserva biológica Uatumã Não incluido no mapa de Conservation International; área total = 10.100 km2
Da-0 (22 km2); Dm-0 (3.874 km2); Ds-0 (2.699 km2); La-0 (597 km2); LO-0
PN02 Parque nacional Pico da Neblina
(13.672 km2)
Ab-0 (2.699 km2); As-0 (643 km2); Db-0 (17.822 km2); Ds-0 (378 km2);
PN03 Parque nacional Jaú
Ld-0 (481 km2); LO-0 (1.248 km2)
AMAZONAS
PN04 Parque nacional Amazônia Db-0 (231 km2)
RE01 Reserva ecológica Sauim-Castanheira Não incluido no mapa de Conservation International; área total = 1 km2
RE02 Reserva ecológica Jutaí-Solimões Aa-0 (98 km2); Da-0 (945 km2); Db-0 (1.014 km2)
EE05 Estação ecológica Anavilhanas Da-0 (449 km2); Db-0 (481 km2); Ds-0 (511 km2)
EE12 Estação ecológica Juami-Japurá Da-0 (549 km2); Db-0 (2.286 km2); LO-0 (123 km2)
EE09 Estação ecológica Taiamã Vegetação não disponível; área total = 143 km2
MATO EE10 Estação ecológica Serra das Araras Sa-0 (513 km2)
GROSSO
Chapada dos
PN07 Parque nacional Sa-0 (820 km2); SN-0 (119 km2)
Guimarães
Pantanal
PN08 Parque nacional Sg-0 (852 km2); SN-0 (754 km2)
Matogrossense
EE07 Estação ecológica Jari Da-0 (7 km2); Ds-0 (2.010 km2)
PN04 Parque nacional Amazônia As-0 (75 km2); Db-0 (5.144 km2); Ds-0 (2.987 km2)
PARÁ
RB02 Reserva biológica Rio Trombetas Db-0 (795 km2); Ds-0 (3.036 km2)
RB08 Reserva biológica Tapirapé Vegetação não disponível; área total = 182 km2
RB06 Reserva biológica Guaporé Da-0 (295 km2); Pa-0 (1.560 km2); Sa-0 (1.388 km2); SO-0 (145 km2)
RONDÔNIA
EE02 Estação ecológica Cuniã Ds-0 (192 km2); SO-0 (701 km2)
Ab-0 (88 km2); As-0 (2.490 km2); Ds-0 (363 km2); Sa-0 (2.105 km2); SO-0
PN05 Parque nacional Pacaás Novos
(2.130 km2)
Ld-0 (475 km2); LO-0 (111 km2), incluindo a antiga Estação Ecológica de
EE01 Estação ecológica Caracaraí Niquiá (vegetação não disponível; não incluido no mapa de Conservation
International; área total = 2.866 km2)
RORAIMA
EE04 Estação ecológica Maracá Dm-0 (564 km2); Ds-0 (421 km2); LO-0 (171 km2)
PN09 Parque nacional Monte Roraima Não incluido no mapa de Conservation International; área total = 1.160 km2
TOCANTINS/ EE08 Estação ecológica Coco-Javaes Não incluido no mapa de Conservation International; área total = 370 km2
GOIÁS PN06 Parque nacional Araguaia Da-0 (57 km2); Fs-0 (421 km2); Sp-0 (3.981 km2)
(a) Áreas totais por estado differem levemente dos totais na Tabela 3 porque uma adjuste por áreas do estado não foram applicada.
(b) Códigos de áreas protegidas: Reserva biológica = RB, Reserva ecológica = RE, Estação ecológica = EE, Parque nacional = PN.
(c) Códigos de tipos de vegetação definidos na Tabela 1.
(a) Áreas em km2 medidas do mapa de vegetação em escala 1:5.000.000 (Brasil, IBGE & IBDF, 1988); Estas áreas não refletam perdas devido a desmatamento recente.
mudam de uma parte da região para outra, diversas zonas podem ser consideradas em
até mesmo dentro de qualquer determinado uma única reserva, como nas 35 áreas pro-
tipo de vegetação. É, por consequente, impor- tegidas existentes, e nos 44 exemplos de re-
tante adotar o critério que um objetivo míni- servas na Tabela 5 e Fig. 1). Das 111 zonas de
mo seja proteger pelo menos um exemplo de vegetação, apenas 37 (33%) têm alguma par-
cada tipo de vegetação, em cada um dos esta- te da sua área protegida, deixando 74 (67%)
dos da região. Como pode ser visto na Tabela sem nenhuma proteção (Fig. 2).
7, isto implica que 111 zonas de vegetação de- A percentagem da área “atual” (Tabela 7)
vem ser protegidas na região (frequentemente que é protegida em cada tipo de vegetação é
Figura 2. Número de
tipos de vegetação
protegidos e
desprotegidos na
Amazônia Legal.
apresentada na Tabela 8. Pelo fato das áreas vegetação desempenham, também, papéis
protegidas serem, às vezes, bastante peque- importantes no regulamento do clima global
nas, a combinação das reservas existentes. e regional, mediante o armazenamento de
com as de exemplo tidas em conta aqui (Fig. carbono e a reciclagem da água. As priorida-
2), é apenas um ponto de início para uma des para a conservação para a regulação do
estratégia para proteger adequadamente a clima seriam diferentes, mas estabelecimen-
biodiversidade na Amazônia brasileira. to destas prioridades depende de muitas das
mesmas informações apresentadas aqui.
Os estados e as zonas de vegetação con-
tidas neles variam tremendamente em ta-
manho. A extensão da área que deve ser CONCLUSÕES
protegida em cada zona de vegetação, além
das áreas mínimas necessárias para manter Apenas um terço das zonas de vegetação
populações biológicas viáveis, deveria man- terrestre presentes na Amazônia Legal estão
ter alguma proporcionalidade ao tamanho protegidas, considerando como de “zonas de
das zonas de vegetação. Decisões sobre os vegetação” as áreas de cada um dos nove esta-
tamanhos das novas reservas necessitarão a dos na região da Amazônia Legal. Proteger um
exemplo de cada tipo de vegetação, em cada
ponderação de vários elementos não incluí-
estado, é recomendado como um objetivo mí-
dos no trabalho atual, inclusive os custos de
nimo. Para proteger as 111 zonas de vegetação
estabelecer e de manter áreas protegidas em
terrestres presentes na Amazônia Legal, não
locais diferentes, os méritos de criar poucas
seria necessário ter uma reserva separada para
grandes reservas versus muitas pequenas
cada uma, porque freqüentemente é possível
reservas, limites de bacias hidrográficas, e
englobar diversos tipos em uma única reserva.
a defensabilidade dos locais contra acesso A atual análise indica que 74 (67%) das zonas
não autorizado. Bacias hidrográficas inteiras de vegetação estão sem proteção. A situação
são as unidades com melhor defensabilidade é mais crítica nas áreas de contato entre a flo-
(Peres & Terborgh, 1995). resta e o cerrado, no Maranhão, Tocantins e
Este documento focalizou a biodiver- Mato Grosso. No Maranhão, atualmente ape-
sidade como a base racional para proteger nas um, dos dez tipos de vegetação, tem pro-
áreas de vegetação natural. Estas formas de teção. Os estados com as zonas de vegetação
(a) Vegetação atualmente inalterada de acordo com o mapa de vegetação em escala 1:5.000,. 00 (Brasil, IBGE & IBDF, 1988);
(b) “--” indica que nenhuma vegetação deste tipo existe no estado; “0” indica que a vegetação existe, porém nenhuma é protegida.
menos protegidas são precisamente aqueles em todas as reservas definidas fora das áre-
que já perderam as maiores percentagens da as protegidas. Em alguns casos, as propos-
sua cobertura florestal. tas revogariam até reservas existentes, para
permitir a livre exploração da região, na sua
Na apresentação de resultados de um
totalidade.(6) As recomendações do estudo
exercício de atribuição de prioridades, deve
atual não implicam, enfaticamente, que o
ser tomado cuidado para evitar a implica-
desenvolvimento ilimitado deve ser permiti-
ção de que apenas estas áreas sejam vistas
do nas áreas que restam.
como necessárias. Forças políticas e econô-
micas muito fortes no Brasil, estão tentando Tanta área, quanto o possível, necessita
remover as limitações ao desenvolvimento ser reservada para objetivos de conservação,
Tipo de Tabela 8.
Porcentagem de vegetação protegida (%) Porcentagens de
vegetação (a)
zonas de vegetação
Mato Tocantins/
Categoria Código Acre Amapá Amazonas Maranhão Pará Rondônia Roraima protegidas na
Grosso Goias
Amazônia Legal
Da-0 -- 3,4 3,2 -- -- 0,0 11,0 0,0 2,2 brasileira
Floresta Db-0 0,0 0,0 3,6 12,7 -- 3,6 0,0 0,0 --
densa Dm-0 -- 0,0 38,3 -- -- 0,0 -- 2,7 --
Ds-0 0,0 0,1 2,0 0,0 0,0 1,9 3,8 5,9 0,0
Subtotal 0,0 0,3 3,6 11,7 0,0 2,1 4,4 4,7 1,0
Aa-0 3,5 -- 0,2 -- -- 0,0 0,0 -- --
Ab-0 3,6 -- 1,3 -- -- -- 8,0 -- --
As-0 -- -- 1,7 -- 0,0 0,0 6,3 0,0 0,0
Cs-0 -- -- -- 0,0 0,0 0,0 -- -- 0,0
Fa-0 -- -- -- -- 0,0 -- -- -- --
Fs-0 -- -- -- -- 0,0 -- 0,0 0,0 32,4
Ld-0 -- -- 1,3 -- -- -- -- 4,3 --
Floresta não LO-0 -- -- 8,7 -- -- -- -- 4,3 --
densa ON-0 -- -- -- -- 0,0 0,0 0,0 0,0 --
Pa-0 -- 37,9 0,4 0,0 0,0 0,0 18,1 -- --
Pf-0 -- 84,9 -- 0,0 -- 0,0 -- -- --
Sd-0 -- -- -- 0,0 0,0 0,0 -- -- 0,0
SM-0 -- -- -- 0,0 -- -- -- -- --
SN-0 -- -- 0,0 0,0 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0
SO-0 -- 18,8 0,0 -- 0,0 0,0 13,6 0,0 0,0
Td-3 -- -- -- -- -- -- -- 0,0 --
Subtotal 3,6 38,1 3,4 0,0 0,5 0,0 7,6 2,9 1,7
Subtotal
todas as 3,2 6,4 3,5 5,2 0,5 1,3 7,2 4,1 1,5
florestas
La-0 -- -- 4,0 -- -- -- -- 0,0 --
Lg-0 -- -- 0,0 -- -- -- -- 0,0 --
rm-0 -- -- -- -- -- -- -- 0,0 --
Sa-0 -- -- 0,0 0,0 0,8 0,0 31,9 -- 0,0
Não floresta
Sg-0 -- -- -- -- 8,1 0,0 -- 0,0 0,0
Sp-0 -- 1,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,3
ST-0 -- -- -- -- 0,0 -- -- -- --
Tp-3 -- -- -- -- -- -- -- 0 --
Subtotal -- 1,6 0,0 0,0 0,9 0,0 25,7 0,0 2,6
Total 3,2 6,1 3,4 2,1 0,6 1,3 8,5 3,2 2,4
(a) Vegetação atualmente inalterada de acordo com o mapa de vegetação em escala 1:5.000.000(Brasil, IBGE & IBDF, 1988).
(b) “--” indica que nenhuma vegetação deste tipo existe no estado; “0” indica que a vegetação existe, mas nenhuma é protegida.
e isso precisa ser feito muito rapidamente. muito antes que este processo esteja comple-
Caso contrário, não haverá nenhuma segun- to, aumentos dramáticos são esperados nos
da chance para muitas áreas biologicamente custos políticos e financeiros para criar áreas
importantes. A continuação das tendências protegidas.. Os custos de procrastinação se-
atuais na Amazônia significaria que as áreas rão, por conseguinte, muito altos.
que devem ser protegidas, logo seriam rei- A urgência no estabelecimento de áreas
vindicadas por ocupantes legais ou ilegais. protegidas antes que se percam as possibili-
O desmatamento pode, fisicamente, remover dades, exige que as decisões sejam tomadas
a possibilidade de proteção futura median- agora, com base nas informações disponí-
te a remoção da vegetação em questão, mas veis. É perigoso demais adiar as decisões,
alegando que mais dados devam ser cole- (3) Na prática, alguns projetos continuaram
tados para assegurar que as melhores áreas a ser aprovados, mesmo em áreas de flo-
possíveis serão as escolhidas. A máxima de resta, ao longo da década de 1980, e a
Júlio César não poderia ser mais apropria- suspensão dos incentivos foi pausada e
da: às vezes é mais importante que uma de- incompleta. Em 12 de outubro de 1988,
cisão seja tomada, do que ela ser a melhor o Programa Nossa Natureza suspendeu
decisão. outra vez os incentivos. Em 16 de janeiro
de 1991, uma lei (No. 167) limitou subsí-
dios, mas a limitação foi cancelada ape-
NOTAS nas três meses depois em 17 de abril de
(1) A escolha da Amazônia Legal e as uni- 1991 (Decreto No. 101). Somente em 25
dades federativas (estados) como uni- de junho de 1991 o decreto No. 153 ve-
dades da análise, tem vantagens e des- dou “concessão de incentivos fiscais ....
vantagens. Estas unidades políticas não para empreendimentos que implicam em
têm fundamento biológico, fazendo com desmatamento de áreas de floresta pri-
que uma representatividade mais efi- mária e destruição de ecossistemas pri-
ciente poderia ser alcançada ignorando mários” (artigo 15, parágrafo 3). Porém,
essas divisões (Ferreira, 2001; Nelson & mesmo esse decreto apenas suspendeu
de Oliveira, 2001). Por outro lado, o em- concessão de novos incentivos, sem re-
basamento de grande parte das decisões vogar os incentivos das centenas de pro-
políticas sobre essas divisões territoriais, jetos já aprovados.
faz com que as informações organiza- (4) Tocantins é um estado criado pela cons-
das por estado tenham bastante utilida- tituição brasileira de outubro de 1988, a
de prática. Também, o fato dos dados partir da metade norte do antigo Estado
de desmatamento do INPE (e.g., Brasil, de Goiás. A divisa entre Tocantins e o atu-
INPE, 2002) serem liberados com base al Estado de Goiás é uma linha irregular
estadual, aumenta enormemente a utili- ao longo do paralelo 13 S, que é o limi-
dade dos dados aqui apresentados, para te da Amazona Legal nesta área. Dados
fins de cálculos dos impactos climáticos sobre desmatamento de anos prévios
do desmatamento. foram reinterpretados para usar a divisa
(2) A diferença principal entre a classificação estadual entre Tocantins e Goiás (Tabela
dos 28 tipos de vegetação usada no atual 2), mas as áreas dos tipos de vegetação
trabalho, e a de 21 tipos de Nelson & de não têm sido ajustadas (nas tabelas se
Oliveira (2001), é que estes autores jun- refere a essas áreas como “Tocantins/
tam as “zonas de tensão ecológica” do Goiás”). Do atual Estado de Goiás, 2.875
IBGE com o tipo de vegetação em cada km2 ficam ao norte do paralelo 13 S, e
par com menor porte. Nesse caso, as “zo- 7.411 km2 do Estado de Tocantins ficam
nas de tensão” são consideradas como ao sul deste paralelo (Fearnside, 1993a).
interdigitações de dois tipos adjacentes Virtualmente nenhuma parte desta área
de vegetação, e não como ecótonos, com era originalmente arborizada.
características próprias que justificariam (5) As Tabelas 3, 4, 7 e 8 e as Figuras 1 e
uma proteção específica. Independente 2 são baseadas na versão do mapa da
de decisões sobre áreas protegidas, deve- Conservation International (1990a), na
se lembrar que a desagregação de dados escala 1:5.000.000 para áreas protegi-
sobre vegetação de forma que se mante- das, utilizada no Workshop-90 em janei-
nha a distinção entre “zonas de tensão” ro de 1990. Uma Estação Ecológica não
e a vegetação em si, é importante para foi incluída no mapa em questão: Niquiá
cálculos de biomassa e emissões de ga- (2.866 km2 , em Roraima), codificada
ses de efeito estufa, já que essas áreas como EE01 na Tabela 4 e Figura 1. Um
(que atualmente sofrem a maior pressão parque nacional (Monte Roraima) não
antrópica) são de biomassa diferenciada. foi incluído, codificado aqui como PN09.
e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Fearnside, P.M. & Ferraz, J. 1995. A conservation
Brasília, DF. gap analysis of Brazil’s Amazonian vegetation.
Conservation Biology 9: 1.134-1.147. https://doi.
Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
org/10.1046/j.1523-1739.1995.9051127.x-i1
2002. Monitoramento da Floresta Amazônica
Brasileira por Satélite/Monitoring of the Brazilian Fearnside, P.M. & Ferraz, J. 2004. O estado de proteção
Amazon Forest by Satellite: 2000-2001. INPE, São da vegetaçao da Amazônia brasileira. p. 293-299
José dos Campos, SPhttp://www.inpe.br). In: R. Cintra (Ed.) Historia Natural, Ecologia e
Brasil, Projeto RADAMBRASIL. 1973-1983. Levantamento Conservação de Algumas Espécies de Plantas e
de Recursos Naturais. Ministério das Minas e Animais da Amazônia. Editora da Universidade do
Energia, Departamento Nacional de Produção Amazonas (EDUA), Fundação de Amparo à Pesquisa
Mineral (DNPM), Rio de Janeiro, RJ. 23 vols. do Estado do Amazonas (FAPEAM) & Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),
Capobianco, J.P.R., Veríssimo, A., Moreira, A., dos Manaus, Amazonas. 333 p
Santos, I., Pinto, L.P. & Sawyer, D. (eds.) 2001.
Biodiversidade na Amazônia Brasileira. Editora Fearnside, P.M. & Ferreira, G. de L. 1985. Roads in
Estação Liberdade & Instituto Socioambiental, São Rondonia: Highway construction and the farce of
Paulo, SP. 544 p. unprotected reserves in Brazil’s Amazonian forest.
Environmental Conservation 11(4): 358-360.
CI (Conservation International). 1990a. Parques e
reservas. Escala: 1:5.000.000. CI, Washington, DC, Fearnside, P.M. & Laurance, W.F. 2002. O futuro da
E.U.A. Amazônia: Os impactos do Programa Avança Brasil.
Ciência Hoje 31(182): 61-65.
CI (Conservation International). 1990b. Áreas indígenas.
Escala: 1:5.000.000. CI, Washington, DC, E.U.A. Ferreira, L.V. 2001. A representação das Unidades de
Conservação no Brasil e a Identificação de Áreas
Consórcio Brasiliana. 2000. Programa Brasil em Ação:
Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade
Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento.
nas Ecorregiões do Bioma Amazônia, Tese de
Identificação de Oportunidades de Investimentos
doutorado em ecologia, Instituto Nacional de
Públicos e/ou Privados. Relatório Síntese. Banco
Pesquisas da Amazônia & Universidade Federal do
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Amazonas, Manaus, Amazonas. 203 p.
(BNDES), Consórcio Brasiliana, Brasília, DF, 3 vols.
Ferreira, L.V., de Sá, R.L., Buschbacher, R., Batmanian,
Dinerstein, E., Olson, D.M, Graham, D.J., Webster, A.L.,
G., da Silva, J.M.C., Arruda, M.B., Moretti,
Primm, S.A., Bookbinder, M.P. & Ledec, G. 1995. A
E., de Sá, L.F.S.N., Falcomer, J. & Bampi, M.I.
Conservation Assessment of the Terrestrial Ecoregions
2001. Identificação de áreas prioritárias para
of Latin America and the Caribbean. International
Bank for Reconstruction and Development -The a conservação de biodiversidade por meio da
World Bank. Washington, DC, E.U.A. 129 p. representatividade das unidades de conservação
e tipos de vegetação nas ecorregiões da Amazônia
Fearnside, P.M. 1986. Human Carrying Capacity of the brasileira. p. 268-286 In: Veríssimo, A., Moreira, A.,
Brazilian Rainforest. Columbia University Press, Sawyer, D., dos Santos, I., Pinto, L.P. & Capobianco,
New York, E.U.A. 293 p. J.P.R. (Eds.), Biodiversidade na Amazônia Brasileira:
Fearnside, P.M. 1989. Extractive reserves in Brazilian Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação,
Amazonia: An opportunity to maintain tropical Uso Sustentável e Repartição de Benefícios. Instituto
rain forest under sustainable use. BioScience 39(6): Socioambiental & Estação Liberdade, São Paulo,
387-393. SP. 540 p.
Fearnside, P.M. 1993a. Deforestation in Brazilian Foresta, R. 1991. Amazon Conservation in the Age of
Amazonia: The effect of population and land tenure. Development: The Limits of Providence. University
Ambio 22(8): 537-545. Presses of Florida, Gainesville, Florida, E.U.A.
Fearnside, P.M. 1993b. Desmatamento na Amazônia: ISA (Instituto Socioambiental), IMAZON (Instituto do
Quem tem razão--o INPE ou a NASA? Ciência Hoje Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), IPAM
16(96):6-8. (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ISPN
(Instituto Sociedade, População e Natureza), GTA
Fearnside, P.M. 1997. Environmental services as a (Grupo de Trabalho Amazônico) & CI (Conservation
strategy for sustainable development in rural International). 1999. Seminário Consulta de Macapá
Amazonia. Ecological Economics 20: 53-70.
99: Avaliação e identificação das ações prioritárias
Fearnside, P.M. 2001. South American natural para a conservação, utilização sustentável e
ecosystems, Status of. p. 345-359 In: S.A. Levin repartição dos benefícios da biodiversidade da
(Ed.) Encyclopedia of Biodiversity, Vol. 5. Academic Amazônia. ISA, São Paulo, SP. http://www.isa.org.
Press, San Diego, California, E.U.A. br/bio/index.htm
Kangas, P. 1990. Deforestation and diversity of life zones existing conservation units and design criteria for
in the Brazilian Amazon: A map analysis. Ecological the future. Conservation Biology 9: 34-46.
Modelling 49: 267-275.
Rosa, M.O. & Ferreira, L. 2000. Áreas protegidas ou
Laurance, W.F., Cochrane, M.A., Bergen, S., Fearnside, espaços ameaçados: O grau de implementação e
P.M., Delamônica, P., Barber, C., D’Angelo, S. & a vulnerabilidade das unidades de conservação
Fernandes, T. 2001. The Future of the Brazilian federais brasileiras de uso indireto. Série Técnica
Amazon. Science 291: 438-439. III, WWF-Brasil, Brasília, DF.
Mestrinho, G. 1991. Código Amazônico (Versão Rylands, A. 1990. Priority areas for conservation in
Preliminar apresentada a la. Reunião de Governadores the Amazon. Trends in Ecology and Evolution 5(8):
da Amazônia, 18 de julho de 1991). Governo do 240-241.
Estado do Amazonas, Manaus, AM.
Santilli, M. 2001. Reservas indígenas de recursos
Myers, N., Mittermeier, C.G., Mittermeier, R.A., da naturais. p. 290-192 In: Capobianco, J.P.R.,
Fonseca, G.A.B. & Kent, J. 2000. Biodiversity Veríssimo, A., Moreira, A., dos Santos, I., Pinto, L.P.
hotspots for conservation priorities. Nature 403: & Sawyer, D. (Eds.) Biodiversidade na Amazônia
853-858. Brasileira. Editora Estação Liberdade & Instituto
Socioambiental, São Paulo, SP. 544 p.
Nelson, B.W., Ferreira, C.A.C., da Silva, M.F. &
Kawasaki, M.L. 1990. Endemism centres, refugia and Schwartzman, S., Moreira, A., & Nepstad, D. 2000.
botanical collection density in Brazilian Amazonia. Rethinking tropical forest conservation: Perils in
Nature 345: 714-716. parks. Conservation Biology 14: 1.351-l.357
Nelson, B.W. & de Oliveira, A.A. 2001. Área botânica. Skole, D. & Tucker, C. 1993. Tropical deforestation and
p. 132-176 In: Capobianco, J.P.R., Veríssimo, habitat fragmentation in the Amazon: Satellite data
A., Moreira, A., dos Santos, I., Pinto, L.P. & from 1978 to 1988. Science 260: 1.905-1.910.
Sawyer, D. (Eds.) Biodiversidade na Amazônia
Tardin, A.T., Lee, D.C.L., Santos, R.J.R., de Assis, O.R.,
Brasileira. Editora Estação Liberdade & Instituto
dos Santos Barbosa, M.P., de Lourdes Moreira, M.,
Socioambiental, São Paulo, SP. 544 p.
Pereira, M.T., Silva, D. & dos Santos Filho, C.P.
Nepstad, D., Capobianco, J.P., Barros, A.C., Carvalho, 1980. Subprojeto Desmatamento, Convênio IBDF/
G., Moutinho, P., Lopes, U. & Lefebvre, P. 2000. CNPq-INPE 1979. Instituto Nacional de Pesquisas
Avança Brasil: Os Custos Ambientais para Amazônia. Espaciais (INPE) Relatório No. INPE-RPE/103. INPE,
(Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia- São José dos Campos, São Paulo.
IPAM, Belém, Pará. http://www.ipam.org.br/
Vilas Boas, A. 2000. SOS Rio Xingu. p. 631-638 In:
avanca/politicas.htm
Ricardo, C.A. (Ed.) Povos Indígenas no Brasil, 1996-
Peres, C.A. & Terborgh, J.W. 1995. Amazonian nature 2000. Instituto Socioambiental (ISA), São Paulo,
reserves: An analysis of the defensibility status of SP. 832 p.
12
Política de conservação na Amazônia
brasileira: Entendendo os dilemas
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2003. Conservation policy in Brazilian Amazonia: Understanding the dilemmas.
World Development 31(5): 757-779. https://doi.org/10.1016/S0305-750X(03)00011-1
Tradução original:
Fearnside, P.M. 2011. Dilemas no campo. Políticas de conservação. p. 69-71, 88-91, 93-97, 125-
128, 129-131, 153-155 & 138-139. In: I.S. Gorayeb (Ed.). Amazônia Sustentável. RM Graph,
Belém, Pará. 188 p.
213
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 213 8/18/2022 3:14:44 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
214 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 1. Floresta e
áreas de não floresta
na Amazônia Legal
brasileira.
Figura 2. Estados
na Amazônia Legal
brasileira e cidades
mencionadas no texto.
estão mais sujeitos às pressões locais dos com partidos políticos e, às vezes, têm suas
donos de serraria e outros grupos de inte- próprias ambições eleitorais. Cada unidade
resse, diminuindo, portanto, a prioridade de conservação cria vencedores e perdedores,
para a conservação comparada os ganhos a criando assim oportunidades de obtenção de
curto prazo. Assim, embora a contribuição votos entre os diferentes grupos por políticos
dos governos municipais seja importante na que apoiam ou não qualquer proposta de con-
tomada de decisões sobre unidades de con- servação. Dependendo da proposta, os perde-
servação federais e estaduais, os governos dores, tais como os trabalhadores de serraria,
municipais não deveriam ter poder de veto podem ser mais numerosos e/ou serem mais
sobre a criação das mesmas. prováveis de terem título eleitoral válido do
que os vencedores, tais como extrativistas tra-
dicionais e povos indígenas.
POLÍTICA PARTIDÁRIA
A relevância para as bases de apoio polí-
A política partidária é uma considera- tico é ilustrada pelas reservas de desenvolvi-
ção onipresente nas decisões sobre o esta- mento sustentável como Mamirauá e Amanã
belecimento de unidades de conservação. (Figura 3), as quais são promovidas pelo go-
Particularmente em nível estadual, as au- verno do estado do Amazonas. Pode-se espe-
toridades ambientais são atores diretos que rar que os residentes das reservas, que têm
geram apoio político para os governadores acesso preferencial aos recursos pesqueiros,
que as indicaram, enquanto é provável que além de receberem benefícios modestos adi-
os políticos de partidos da oposição adotem cionais de programas sociais, tenham maior
posiçõescontrárias nestas questões. Além probabilidade de votar em candidatos apoia-
disso, indivíduos chaves nos órgãos federais dos pelo governador estadual que criou as
e estaduais e em organizações não governa- reservas. Por outro lado, esforços de organi-
mentais (ONGs) frequentemente têm ligações zação social mais antigos e geograficamente
Figura 3. Projetos e
reservas mencionados
no texto.
difundidos por parte da Igreja Católica e or- a todos os lados do espectro político, desde
ganizações associadas, tais como a Comissão políticos conservadores como Mestrinho (do
Pastoral da Terra (CPT), frequentemente au- Partido do Movimento Democrático Brasileiro:
mentam a probabilidade de votos em candi- PMDB) até os da esquerda política que, du-
datos da oposição. Isto pode levar as pessoas rante uma série de audiências públicas da
que são ligadas à partidos políticos da opo- Comissão sobre Meio Ambiente e Assuntos
sição a resistirem aos esforços de criação de Amazônicos, da Assembleia Legislativa do
reservas liderados pelo governo estadual no Estado do Amazonas, em outubro de 1999,
Corredor da Amazônia Central. denunciou o projeto Corredores Ecológicos do
PP-G7 como sendo umaartimanha para inter-
Além das oportunidades para obtenção
nacionalizar a região.
de votos das populações diretamente afetadas
pela criação de uma unidade de conservação, Embora as lutas relacionadas à política
a vantagem política também pode ser adqui- partidária estejam por trás de muitas contro-
rida por meio de apelos aos interesses mais vérsias sobre unidades de conservação que
universais na tentativa de influenciar eleitores são debatidas com apelos ao patriotismo e
em locais distantes (normalmente urbanos). altos princípios, os custos ambientais do fra-
Embora as preocupações ambientais como casso na conservação dos ecossistemas na-
a biodiversidade e mudanças climáticas se- turais são bastante reais. Não se deveria per-
jam, às vezes, enfatizadas por partidários de mitir que a política partidária impedisse os
reservas, os oponentes, por sua vez, frequen- esforços paracriar unidades de conservação
temente se aproveitam da crença comum no enquanto ainda existem oportunidades para
Brasil de que o mundo está comprometido se fazer isto em grandes áreas.
em uma conspiração permanente para ata-
car a soberania brasileira sobre a Amazônia O setor público versus o setor privado
(e.g., Reis, 1982). Uma pesquisa sociológica
na população da Amazônia brasileira reve- Tanto o setor público quanto o setor
lou que 71% dos entrevistados concordaram privado desempenham papéis importantes
com a afirmação “eu tenho medo de quea para a conservação amazônica. Algumas
Amazônia seja internacionalizada” e 75% atividades, como ecoturismo, são inerente-
concordaram que “os estrangeiros estão ten- mente mais eficientes se conduzidas pelo
tando ocupar a Amazônia” (Barbosa, 1996). setor privado. Organizações não governa-
Este fato cria uma tentação permanente para mentais têm se mostrado intermediários es-
qualquer político denunciar ameaças reais ou senciais entre os órgãos governamentais, tais
imaginárias à soberania brasileira, já que des- como o IBAMA, e as comunidades locais em
sa forma ele atrairia um número maior de elei- unidades de conservação. O Parque Nacional
tores. Gilberto Mestrinho foi o político mais do Jaú (cogestão IBAMA [hoje ICMBio] e a
conhecido em aplicar esta tática com suces- Fundação Vitória Amazônica) e o Parque
so (A Crítica, 1991a). Quando foi governador Nacional Serra do Divisor (cogestão IBAMA
do estado do Amazonas ele ameaçou ordenar [hoje ICMBio] e SOS Amazônia) são os me-
que a polícia militar metralhasse as equipes lhores (e praticamente os únicos) exemplos
da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) caso (Guazelli et al., 1998; SOS Amazônia, 1998).
elas tentassem demarcar terras indígenas no
estado (A Crítica, 1991b). Na condição de se-
nador, Mestrinho declarou no plenário do se-
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
nado que o projeto corredores ecológicos, do Tipos de unidades
PP-G7, ia “engessar a Amazônia. Por que eles
fazem isto? Esvaziar [a Amazônia] faz com O Brasil tem uma ampla variedade de ti-
que seja mais fácil dominar [a região]. ..... pos de unidades de conservação. Em muitos
[É] usado como uma estratégia para a invasão casos elas servem para propósitos diferentes,
futura de nossa soberania” (Adolfo, 1999). O enquanto em outros, elas têm propósitos se-
uso da teoria de internacionalização se aplica melhantes, mas devem sua origem a órgãos
(grandes barcos de pesca vindo de fora da situadas longe da atual fronteira. No compu-
área) tem o apoio imediato da população to geral, deveria ser colocada prioridade para
local. Isto pode ser usado para alavancar o a expansão rápida de unidades de conserva-
apoio para a RDS, como um todo, até mes- ção em áreas relativamente pouco ameaça-
mo se nenhum financiamento seja oferecido das, longe das fronterias de desmatamento.
para a extensa lista de programas associados
a uma reserva como Mamirauá. Assim, ati- Distribuição do esforço entre áreas
vidades novas RDS iniciar com atividades de completamente e parcialmente
pesca, evoluindo, posteriormente, para o uso
dos outros recursos da várzea e, finalmente,
protegidas
para os da terra firme. Se menos for prome- O debate sobre “pessoas nos parques” é
tido o risco de levantar esperanças pode ser central à pergunta de quanto esforço deva
reduzido enquanto se permanece incapaz de ser alocado entre áreas completamente e
entregar resultados . O custo pode ser mo- parcialmente protegidas. Em um extremo
desto: Amanã tem somente oito funcionários do espectro, os que argumentos a favor da
para uma área de 2,35 milhões de hectares concentração dos esforços em algumas áre-
área maior que o estado de Sergipe. as bem protegidas vêem o futuro como uma
marcha inexorável rumo a degradação am-
Local perto ou longe da fronteira de biental, com reservas habitadas adiando
desmatamento apenas ligeiramente a hora quando essas
áreas chegarão ao seu ponto final de deso-
A escolha dos locais para a criação de lação completa (Terborgh, 1999). Já os que
unidades de conservação influencia forte- estão a favor de priorizar as áreas habitadas
mente o custo de se estabelecer e manter as vêem a criação de áreas grandes sob prote-
unidades. Locais próximos às áreas de des- ção total como sendo politicamente inviável,
matamento ativo são, normalmente, de alto tendendo a causar injustiças para as popu-
custo, além da provável resistência política lações tradicionais que já vivem nas áreas
à criação de reservas. No que diz respeito e oferecendo menos proteção, no final das
ao estabelecimento de áreas significativas de contas, para natureza devido à falta de apoio
unidades de conservação, é sábio, então, dar popular dos habitantes locais que podem de-
prioridade às reservas longe das fronteiras fender as florestas contra invasores de forma
do desmatamento. Por outro lado, um fator mais eficiente do que os guardas pagos pelo
a favor do estabelecimento de reservas perto governo (Schwartzman et al., 2000). Embora
da frente de desmatamento é a raridade de a caça e outras atividades dos povos tradi-
unidades de conservação que existem nessas cionais possam reduzir a biodiversidade de
regiões, as quais protegem amostras de vá- unidades de conservação quando compara-
rios tipos de vegetação ao longo da transição das às com as florestas despovoadas, a con-
entre floresta e cerrado, local atual do “arco vergência de muitos objetivos entre os que
de desmatamento”. Um segundo fator é a buscam assegurar os direitos de posse da
probabilidade de que, num futuro próximo,
terra aos povos tradicionais e aqueles que
essas florestas sejam derrubadas na ausência
estão principalmente interessados na con-
das unidades de conservação, contribuindo,
servação da biodiversidade, o que oferece
assim, para a “adicionalidade” de desmata-
um grande campo para alianças com ganhos
mento evitado nessas áreas como uma con-
para ambos os grupos de interesse (Redford
tribuição para reduzir as emissões de gases
& Stearman, 1993).
de efeito estufa. Além disso, a atratividade
política de distribuir os recursos o mais uni- Uma certa tensão é evidente entre vários
formamente possível entre estados tenderia atores governamentais e não governamen-
a desestimular a concentração de recursos tais com relação às suas prioridades para
em certos estados, tais como o Amazonas, criar áreas de uso sustentável, como RESEX,
onde vastas áreas potencialmente aprovei- FLONA e RDS versus áreas totalmente prote-
táveis para unidades de conservação ficam gidas, tais como parques nacionais, reservas
Florestas Tropicais do Brasil (PP-G7), o qual incluiu projetos nas florestas nacionais
foi um dos principais financiadores de pro- (FLONAs). Outros componentes visavam a
gramas ambientais na Amazônia até a sua ciência e tecnologia, o manejo das várzeas
finalização em 2008. e havia também um programa especial para
combater as queimadas.
Programa Piloto (PP-G7)
Sub-Programa dos Recursos Naturais
Avaliação do PP-G7
(SPRN)
O Programa Piloto para a Conservação
O Sub-Programa dos Recursos Naturais
das Florestas Tropicais do Brasil (PP-G7) foi
anunciado pelos países do G-7 na reunião (SPRN) fortaleceu os órgãos estaduais de
em Houston, em 1990, numa época em que a meio ambiente (OEMAs), incluindo as ati-
preocupação global com relação ao desmata- vidades especiais dentro dos Projetos de
mento amazônico atingiu seu auge, havendo Gestão Ambiental Integrado (PGAIs) e um
cobertura quase que diária sobre o assunto Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) em
na imprensa internacional. Os líderes do G-7 cada estado. O zoneamento foi um assunto
(Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, particularmente controverso, com negocia-
Reino Unido e E.U.A.), pressionado por seus ções prolongadas entre autoridades federais
eleitores, sinalizaram que repassariam US$ e cada governo de estado resultando em
1,5 bilhões ao Programa. No entanto, com atraso de sua implementação em alguns es-
o fim da Conferência das Nações Unidas tados. Uma metodologia padrão foi encoraja-
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da, mas houve variações de suas aplicações
(UNCED, ou ECO-92), em junho de 1992, entre os estados. Em Rondônia,por exemplo,
a atenção da mídia sobre Amazônia desa- onde o governo do estado ordenou o zone-
pareceu abruptamente. Em 1993, no início amento em lei, houve um engessamento do
do PP-G7, os países do G-7 destinaram ape- processo, complicando ajustes que pode-
nas US$ 250 milhões de fundos ao progra- riam amenizar os problemas (Mahar, 2000).
ma central, ou seja, 1/6 da quantia original, Apesar de seu zoneamento, Rondônia con-
além disso, esse valor teve que ser extraí- tinuava sendo um dos estados mais destru-
do dos países com um esforço considerável. tivos ambientalmente entre os nove estados
Originalmente, esperava-se que o PP-G7 du- da região amazônica. Em contraste, o zo-
rasse três anos, entretanto, as demoras na neamento exigiu maior proteção ambiental
iniciação de vários componentes, combina- no Acre e Amapá, que eram os dois estados
do com o desejo geral para continuar as ati- cujos governos favoreciam a conservação
vidades mais bem sucedidas, foi prorrogado mais fortemente na época do zoneamento.
repetidamente até 2008. Embora o planejamento possa ser apri-
O PP-G7 foi financiado pelos países do morado por esforços que usem o zonea-
G-7 e administrado pelo Banco Mundial e o mento para prever consequências das di-
governo brasileiro. Os componentes incluí- ferentes decisões de desenvolvimento, a
am o PD/A (projetos demonstrativos tipo realidade observada atualmente é outra. O
“A”) para os projetos de desenvolvimento verdadeiro zoneamento está acontecendo
sustentáveis em pequena escala conduzidos (sem discussões de impactos) por meio de
por ONGs. Também foram incluídos projetos grandes decisões, tais como a implantação
para reservas extrativistas e terras indígenas. dos eixos de desenvolvimento que fazem
Um Sub-Programa dos Recursos Naturais parte de programas como o Avança Brasil e
(SPRN) incluiu o zoneamento ecológico-e- o Programa de Aceleração do Crescimento-
conômico (ZEE) e o fortalecimento dos ór- PAC (Fearnside, 2002). Bilhões de dólares em
gãos estaduais do meio-ambiente (OEMAs) investimentos estão sendo buscados antes
em cada um dos nove estados da Amazônia que os estudos ambientais, estudos de zone-
Legal brasileira. O projeto PROMANEJO, que amento e outras informações sejam realiza-
promoveu iniciativas de manejo sustentável, dos e debatidos. Assim, o zoneamento está
sendo feito, na prática, em grande escala, Agrário. Também é significante que as propos-
sem seguir quaisquer um dos princípios que tas para reservas extrativistas se originaram
guiam o programa de zoneamento. dos próprios extrativistas, e não das autorida-
des governamentais. Ao contrário de condenar
Corredores Ecológicos os seus residentes à pobreza, as reservas lhes
oferecem uma renda melhor e mais estável
O projeto Corredores Ecológicos foi pro- do que eles poderiam, realisticamente, espe-
jetado para promover uma administração rar obter na ausência das reservas (Allegretti,
coordenada dos diferentes tipos de unidades 1996). A ideia de que os residentes foram en-
de conservação e terras indígenas em uma ganados por ecologistas ao renunciar a uma
área contígua, incluiíndo a área intersticial vida como fazendeiros prósperos é comple-
que completa a paisagem dentro do corredor. tamente fictícia. Ao invés disso, eles seriam,
Apenas um corredor na Amazônia acabou provavelmente, obrigados a se mudarem para
sendo trabalhado ativamente (o Corredor favelas urbanas ou a se juntarem às fileiras de
da Amazônia Central, centralizado nas pobres sem-terras nas áreas rurais da região.
Reservas de Desenvolvimento Sustentável Sob o PP-G7, o projeto RESEX fortaleceu as co-
Mamirauá e Amanã e no Parque Nacional munidades de extrativistas nas reservas, assim
do Jaú). Quatro corredores adicionais para o como, também, ajudou na comercialização da
projeto foram esboçados nos primeiros pla- produção local? e facilitou o acesso à saúde,
nos. Apesar dos medos de alguns políticos, educação e outros serviços.
os corredores não paralisam o desenvolvi-
mento dentro dos seus limites, pelo contrá- Terras Indígenas (PPTAL)
rio, podem facilitar a obtenção de ajuda para
projetos de desenvolvimento sustentável O Projeto Integrado para Proteção de
destinados a estas áreas. Populações e Terras Indígenas na Amazônia
Legal (PPTAL) obteve realizações concretas
Reservas Extrativistas (RESEX) que englobam grandes áreas da região. Até o
momento, 29 milhões de hectares foram de-
As Reservas Extrativistas (RESEX) se ori- marcados em 53 reservas, de um total de 45
ginaram de uma proposta feita em 1985 pelo milhões de hectares e 160 reservas (Figura
Conselho Nacional dos Seringueiros, sob a li- 4). O processo de demarcação das terras in-
derança de Chico Mendes. Elas têm sido cria- dígenas restantes não incluídas no PPTAL foi
das pelo governo federal como uma forma de muito mais lento do que as demarcações no
unidade de conservação desde fevereiro de PPTAL, e incluíam, praticamente, todas as ter-
1988. A área sob esta forma de uso da terra ras nos estados de Mato Grosso e Rondônia.
totaliza, atualmente, mais de doze milhões de Esses estados, ironicamente, foram excluídos
hectares. As reservas extrativistas foram criti- do PPTAL com base no argumento de que eles
cadas por condenar os seus residentes à po- já tiveram financiamento de empréstimos do
breza e por serem financeiramente inviáveis Banco Mundial PRODEAGRO e PLANAFLORO
devido ao baixo preço dos produtos extrativis- para demarcação . A metodologia de demarca-
tas, tais como a seringa e a castanha-do-Bra- ção participativa desenvolvida sob o PPTAL,
sil (Homma, 1996). No entanto, é importante onde os próprios povos indígenas faziam a
observar que a razão para criação das reser- demarcação ao invés do trabalho ser feito por
vas extrativistas é ambiental, ao invés de ser uma empresa contratada, teve êxito tanto na
um meio barato de produzir borracha ou de execução da tarefa a custo mínimo quanto na
sustentar uma grande população humana geração de experiência organizacional e de ati-
(Fearnside, 1997a). As reservas extrativistas tudes de responsabilidade entre os membros
são criadas como unidades de conservação dos grupos indígenas. Esses benefícios ser-
pelo Ministério do Ambiente, ao invés de se- virão as tribos na defesa dos seus territórios
rem criadas como assentamentos pelo Instituto e na implementação de atividades sustentá-
Nacional de Colonização e Reforma Agrária veis dentro deles. Problemas com empresas
(INCRA), no Ministério do Desenvolvimento contratadas que resistem e comprometem a
Figura 4. Áreas
indígenas na Amazônia
Legal brasileira.
Banco Mundial, como parte da campanha do até mesmo, um “golpe ambiental” (Laschefski
WWF “florestas para a vida”. Até 2001, áreas & Freris, 2001). A certificação florestal, organi-
totalmente protegidas que não eram sobre- zada pelo Conselho para Zelar pelas Florestas
postas com áreas indígenas correspondiam (FSC, 2001), é apoiada por organizações de
a 3,6% do bioma amazônico, enquanto as conservação internacionais, tais como WWF,
áreas de uso sustentável representavam 9,0% Amigos da Terra (FOE) e Greenpeace, assim
e as terras indígenas 22,5% (Ferreira, 2001). como, também, por organizações brasileiras,
O Programa para Ampliar Áreas de Proteção tais como IMAZON, ISA e IPAM. Manejo sus-
Ambiental (PROAPAM, também chamado tentável não é sinônimo de minimização do
ARPA), mais conhecido como o “Projeto dos impacto ambiental, podendo causar danos sig-
10%”, foi criado dentro do Ministério do Meio nificantes aos ecossistemas florestais (Bawa &
Ambiente para atingir esse objetivo. Seidler, 1998). No entanto, biodiversidade sig-
nificativa pode sobreviver em áreas manejadas
Agendas Positivas (Johns, 1997), e os métodos de baixo impacto
exigidos em áreas certificadas reduzem bas-
As “Agendas Positivas” - uma série de tante o dano em comparação à exploração des-
prioridades para desenvolvimento e conser- controlada (Johns et al., 1996). Se o cenário de
vação negociadas entre os diferentes atores referência que se vê como alternativa for flo-
de cada estado - estão em andamento desde resta intacta, então o manejo é desastroso para
1999. Este sistema foi criado pelo Ministério a biodiversidade, enquanto se a alternativa for
do Meio Ambiente em resposta ao aumento considerada uma pastagem, então o manejo é
das taxas de desmatamento em 1999, e se muito melhor. Se este copo é visto como “meio
tornou o principal determinante de priorida- cheio” ou “meio vazio” é, atualmente, uma
des para a Secretaria Especial da Amazônia questão de orientação pessoal, com pouca
(SCA), tendo início em abril de 2000. As base em informações quantitativas. Cenários
agendas positivas são elaboradas pelos con- mais realísticos de como a mudança do uso
sensos dos participantes em reuniões que da terra progrediria numa região sob diferen-
duram vários dias em cada capital estadual. tes regimes de política, incluindo regimes rela-
O uso desta técnica em 1999 para solucio- cionados ao manejo florestal, poderiam ajudar
nar uma disputa intratável sobre a criação
na redução da disparidade entre as conclusões
de uma reserva extrativista para coleta de
sobre as perdas ou benefícios que o manejo
castanha-do-Brasil nas ilhas do reservatório
florestal traz para a biodiversidade.
de Tucuruí foi visto como uma grande con-
quista na abordagem das agendas positivas. Operações certificadas de manejo flores-
Como qualquer participante nas reuniões tal aumentaram rapidamente: Mil Madeireira
tem poder de veto efetivo sobre a inclusão (com operações florestais e serraria localizadas
de qualquer item na agenda, os resultados em Itacoatiara, Amazonas) foi certificada em
em medidas ambientais são, frequentemen- 1997, a GETHAL (com as operações florestais
te, fracos. A sua vantagem se encontra no em Manicoré e a serraria de laminados em
amplo apoio para a implementação das reco- Itacoatiara, Amazonas) foi certificada em 2000
mendações que elas fazem. (mas, posteriormente desativado), e a CIKEL
(com operações florestais em Paragominas e
serraria de laminados em Belém, Pará) foi cer-
DILEMAS DO MANEJO FLORESTAL tificada em 2001. Embora o aumento de ope-
Certificação versus boicotes rações certificadas de manejo na Amazônia
tenha tido uma mudança significativa, a maior
Poucos debates são tão polarizados quanto parte da exploração madeireira na região ain-
aqueles que envolvem a questão do manejo e da é predatória. Até mesmo operações com
certificação florestal como uma medida de con- Planos de Manejo Florestal (PMFs) aprovados
servação, com visões que variam desde o seu pelo IBAMA têm impacto pesado e prospectos
uso como sendo a “última chance” para a bio- pobres para sustentabilidade (Eve et al., 2000).
diversidade (Rainforest Alliance, 2001) para, A demanda por madeira certificada é pequena,
de decisões econômicas sejam mudados materiais precisa levar para poder comple-
(Fearnside, 1989; Clark, 1976). tar a viagem. No caso do manejo florestal, a
pessoa está embarcando em uma viagem de
O primeiro ciclo sempre produzirá ma-
25 anos (no caso de áreas de várzea) ou de
deira mais valiosa do que os ciclos subse-
30 anos (no caso de terra firme), e o recurso
quentes porque quem maneja a floresta pode
que está sendo gasto é a madeira de lei da
vender as árvores grandes que levaram sécu-
floresta (complementado por alguma renda
los para crescer. Além do custo inicial muito
de fontes adicionais, tais como o ecoturis-
baixo de compra da terra, estas árvores gran-
mo). Se a intensidade da colheita adotada
des estão disponíveis sem nenhum custo fora
mantém a viabilidade financeira do projeto
da despesa de extração, enquanto que nos
ao longo deste período de tempo, o projeto
ciclos futuros a operação terá que passar por emergirá do outro lado com uma floresta em
uma transição para vender apenas a quan- pé (menos as grandes árvores de madeira
tidade de madeira que cresceu enquanto o de lei). Depois do primeiro ciclo, a floresta
investidor esperou e manteve a operação. pode ser usada para produtos farmacêuticos
Kageyama (2000) questionou a sustentabi- e, possivelmente, para renda que poderia ser
lidade das operações de manejo com base alcançada, naquela época, a partir de bene-
na biologia populacional das árvores. Além fícios de carbono e da vontade para pagar
disso, cálculos de sustentabilidade invaria- pelo valor de existência da biodiversidade.
velmente ignoram a probabilidade de que Isto seria complementado por qualquer ren-
os fogos entrarão em uma área de manejo da que poderia ser obtida com manejo das
florestal. A exploração madeireira aumenta espécies de madeira “branca” (macia) da
a suscetibilidade da floresta para entrada de floresta, ecoturismo, etc. A taxa interna de
incêndios, e uma vez que fogo entra, árvores retorno (IRR) exigida é bastante alta (20-
são mortas, a carga de combustível aumenta 25%/ano) para impedir que a operação ca-
e o sub-bosque fica mais seco, aumentando nibalize a sua base de capital.
o risco de futuros incêndios mais prejudi-
ciais e de degradação completa da floresta Investimentos para ganhos de biodiversi-
(Cochrane & Schulze, 1999; Cochrane et al., dade em curto prazo são improváveis, devido,
1999a; Nepstad et al., 1999a,b). em parte, à sabedoria de esperar o governo
brasileiro definir as suas políticas sobre o uso
Manter o manejo florestal como uma ope- da biodiversidade. Atualmente, as políticas
ração economicamente viável além do primei- operacionais são definidas por “medidas provi-
ro ciclo requer uma mudança, com o passar siórias”, ou seja, decretos presidenciais tempo-
do tempo, nos produtos dos quais o valor é rários que devem ser renovados a cada quatro
derivado, já que as taxas de crescimento das meses e que podem mudar facilmente de um
árvores das espécies de madeira de lei colhi- dia para o outro. Além disso, um escândalo
das no primeiro ciclo são inerentemente muito em 2000 (Adolfo, 2000) sobre um contrato as-
baixas. Isto pode incluir uma troca para espé- sinado entre a Associação Brasileira para o Uso
cies de crescimento rápido, assim como, tam- Sustentável da Biodiversidade da Amazônia
bém, para outras fontes de renda potenciais. (BIOAMAZONIA) e Novartis, uma empresa
Estas outras fontes de renda podem ser um fa- farmacêutica baseada na Suíça, afastou, pelo
tor fundamental no planejamento à longo pra- menos temporariamente, o interesse empresa-
zo de projetos de manejo florestal sustentável rial nesses recursos. A BIOAMAZONIA era uma
e do interesse de certos grupos em investir em “organização social” formada para realizar a
“hedges” (tampões) contra mudanças econô- bioprospecção e atividades relacionadas sob
micas e ambientais futuras. o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular
A lógica do (já extinto) projeto de mane- para o Uso Sustentável de Biodiversidade de
jo florestal sustentável GETHAL foi descrita Amazônia (PROBEM). A Novartis se retirou do
pelo seu originador (J. Forgach, comunica- contrato e o projeto acabou.
ção pessoal, 2001) da seguinte maneira: se A lógica de “cruzar o deserto” se apli-
uma pessoa for cruzar um deserto ela pre- ca aos benefícios das mudanças climáticas
cisa saber quanta água, comida e outros de maneira semelhante à biodiversidade. O
interesse do investimento em carbono, vi- madeira bruta serrada ou, em extremos, tron-
sando lucros a curto prazo, foi limitado nos cos sem beneficiamento?”. Um lado deste de-
últimos anos pelo fato de que o acordo sobre bate afirma que somente produtos de valor
o Protocolo de Kyoto alcançado em Bonn, agregado deveriam ser produzidos para que a
em julho de 2001, excluiu o crédito para a quantidade máxima de emprego e dos ganhos
manutenção de floresta, no Mecanismo de financeiros permaneçam na região (Goodland
Desenvolvimento Limpo, durante o primei- & Daly, 1996). Analistas empresariais frequen-
ro período de compromisso do Protocolo temente se opõem a isto porque mais dinheiro
(2008-2012). No entanto, a longo prazo, es- pode ser ganho exportando as matérias-pri-
pera-se que as lutas políticas que estão por mas, já que as serrarias no exterior desper-
trás desta decisão mudem. A “quantidade diçam menos madeira e produzem mercado-
atribuída” (cota nacional de emissões) à rias com melhor qualidade e uniformidade,
cada parte é renegociada a cada período de obtendo-se, assim, preços substancialmente
compromisso sucessivo, removendo, assim, mais altos do que os produtos das serrarias
a vantagem dos atores chaves (especialmen- amazônicas. Repetto (1988) mostrou a lógi-
te na Europa) de forçar certas partes (espe- ca financeira desta posição com exemplos do
cialmente os Estados Unidos) a cumprirem Sudeste da Ásia. No contexto amazônico ar-
os compromissos assumidos em Kyoto quase gumenta-se também que a expansão do ma-
completamente com medidas domésticas re- nejo florestal certificado de baixo impacto está
lativamente caras (Fearnside, 2001). As ne- limitada pela quantidade de capital disponível
gociações ao longo de um período de três para este propósito, e que o dinheiro “verde”
anos e meio entre a conferência de Kyoto em disponível para este tipo de investimento se-
1997 e o acordo de Bonn em 2001 foram úni- ria usado melhor na maximização da área sob
cas porque os países industrializados já ha- manejo, ao invés de usá-lo para construir e
viam aceitado as quantidades atribuídas (co- manter operações industriais muito caras que
tas) específicas para o primeiro período de são necessárias para transformar a produção
compromisso antes que as regras sobre tais em mercadorias de valor agregado. De outra
questões fossem definidas, como a inclusão maneira, um mercado de madeira seriaabas-
do desmatamento evitado no Mecanismo de tecido pelas operações predatórias de explo-
Desenvolvimento Limpo. Para períodos de ração madeireira que dominam a cena hoje.
compromisso futuros, a inclusão do desma- O emprego e renda dos produtos de valor
tamento evitado ajudaria a induzir os países agregado são a razão pela qual o Brasil proí-
a aceitarem compromissos maiores do que be, desde 1965, a exportação de toras brutas.
eles aceitariam na ausência de uma provisão Embora seja evidente a atratividade reduzida
desse tipo, e, portanto, a inclusão das flores- para o capital de investimento da perspec-
tas teria um benefício líquido inegável para o tiva de operações de valor agregado, existe
clima. À medida em que o efeito estufa pio- um raciocínio ambiental (assim como tam-
ra e os esforços para combatê-lo ficam mais bém um social) para favorecer investimentos
fortes e mais universais, pode-se esperar que deste tipo. Este é o efeito do dano ambiental
o valor do carbono das florestas tropicais au- do aumento da exploração madeireira, inde-
mente dramaticamente. É provável que isto pendente dos cálculos do dano serem feitos
aconteça antes do fim de um ciclo de manejo por unidade de investimento absorvido, por
florestal de 30 anos iniciado agora. unidade de emprego criado, ou na forma
de uma porcentagem de lucro que inclui os
Valor agregado versus efeitos monetários e ambientais. Uma ilus-
matérias-primas tração hipotética é apresentada na Tabela
1. Embora uma estratégia de matéria-prima
Uma pergunta recorrente é “até que ponto seja mais lucrativa em termos puramente fi-
as operações de manejo florestal na Amazônia nanceiros, a opção de valor agregado pode
deveriam se esforçar para fornecer produtos ser preferível se forem incluídos indicadores
de valor agregado (tais como laminados ou sociais e ambientais, dependendo do valor
mobília) ao invés de matérias-primas como atribuído a essas outras considerações.
respectivamente. A disposição de pagar pela do Brasil por Portugal. Este programa inclui
manutenção da floresta seria maior se os be- uma meta de aumentar, em muito, a área de
nefícios da biodiversidade fossem incluídos FLONAs para suprir os mercados interno e
além dos benefícios do carbono (Fearnside, de exportação de madeira a partir do mane-
1997b, 1999). Se um valor monetário fosse jo sustentável nestas áreas. Mais da metade
atribuído à criação de emprego, então o va- dos 15,2 milhões de hectares de FLONAs da
lor crítico mudaria para favorecer ainda mais Amazônia se sobrepõem áreas indígenas, re-
a estratégia de valor agregado. duzindo para 8 milhões de hectares a área
disponível para manejo. O PNF espera ter 20
milhões de hectares sob manejo em 10 anos,
PROPRIEDADES PRIVADAS e a área em FLONAs deverá totalizar 50 mi-
VERSUS CONCESSÕES lhões de hectares para alcançar a meta de su-
FLORESTAIS prir o mercado (Deusdará Filho, 2001). Um
total de 115 milhões de hectares, ou 23% da
Iniciativas privadas são cada vez mais
Amazônia Legal, estão aptos para a criação de
proeminentes nas discussões sobre a polí-
FLONAs onde não há terras indígenas, unida-
tica de conservação na Amazônia. Embora
des de conservação, desmatamento, ou falta
a criação de unidades de conservação possa
de acessibilidade (Veríssimo et al., 2000).
ser proposta para algumas áreas, as vastas
áreas de floresta restantes, fora de qualquer Em comparação com o manejo em ter-
unidade existente, sempre deixam a pergun- ras privadas, concessões florestais em terras
ta do que fazer com o resto. Eficiência é uma públicas, tais como FLONAs, oferecem ao
preocupação: em comparação com o gover- proprietário da concessão a “viagem pelo
no, as operações privadas são mais eficien- deserto”, mas não a recompensa ao chegar
tes em muitas das tarefas envolvidas. Claro do outro lado. Efeitos que contrapõem esta
que a supervisão é necessária para garantir desvantagem, do ponto de vista do investidor,
que as operações privadas de manejo flores- são a liberação da necessidade de comprome-
tal desempenhem o papel esperado delas na ter capital para comprar a terra e a expecta-
conservação. A viabilidade de iniciativas pri- tiva de proteção do governo para defender a
vadas tem uma relação com as unidades de terra contra invasão. No entanto, concessões
conservação, já que o preço baixo da madei- para exploração madeireira representa um as-
ra representa um fator fundamental que de- sunto difícil em relações aos setores público
sencoraja o investimento no manejo susten- e privado. Argumentos para precaução são
tável. O preço só aumentará quando a oferta fornecidos pela experiência triste do sudeste
em relação à demanda diminuir. Madeira de asiático, onde companhias privadas de explo-
manejo sustentável estará em desvantagem ração madeireira destruíram ou degradaram
enquanto houver o fornecimento de toras severamente vastas áreas de floresta tropical
baratas colhidas de forma insustentável. Isto nas terras públicas exploradas por meio de
pode mudar através da criação de unidades concessões (Repetto & Gillis, 1988).
de conservação para tornar áreas grandes de Outro arranjo é a venda de madei-
floresta indisponíveis à exploração e através ra no lugar de uma concessão. Na FLONA
da aplicação rígida dos regulamentos flores- Tapajós, uma experiência de 2.700 ha de
tais já existentes no Brasil. Essas unidades manejo florestal iniciada pela Organização
devem ser iniciadas agora para evitar a al-
Internacional de Madeira Tropical (ITTO) foi
ternativa de esperar até que a floresta esteja
concedida à CEMEX, uma companhia com
quase totalmente destruída, levando à escas-
uma serraria de laminados em Santarém (84
sez de madeira e ao consequente aumento
km por estrada asfaltada da área), por um
dos preços, motivando, assim, a conserva-
período de cinco anos. A companhia paga
ção dos fragmentos restantes.
R$ 6/m3 de toras e tem o direito de colher 30
O Programa Nacional das Florestas (PNF) m3/ha. O custo para a serraria é, então, 30
foi decretado em 22 de abril de 2000, em co- × R$ 6 = R$ 180/ha, ou aproximadamente
memoração aos 500 anos da “descoberta” seis vezes o preço de compra de áreas de
Brasil, MMA (Ministério do Meio Ambiente). 2008. Fearnside, P.M. 1997b. Protection of mahogany: A
Plano Nacional sobre Mudança do Clima-Brasil. catalytic species in the destruction of rain forests in
MMA, Brasília, DF, 129 p. the American tropics. Environmental Conservation
24: 303-306.
Clark, C.W. 1976. Mathematical Bioeconomics: The
Optimal Management of Renewable Resources. Fearnside, P.M. 1997c. Greenhouse gases from
WileyInterscience, New York, NY, E.U.A. deforestation in Brazilian Amazonia: Net committed
emissions. Climatic Change 35: 321-360.
Cochrane, M.A., Alencar, A., Schulze, M.D., Souza Jr.,
C.M., Nepstad, D.C. Lefebvre, P. & Davidson¸ E.A. Fearnside, P.M. 1997d. Environmental services as
1999. Positive feedbacks in the fire dynamic of a strategy for sustainable development in rural
closed canopy tropical forests. Science 284: 1832- Amazonia. Ecological Economics 20: 53-70.
1835.
Fearnside, P.M. 1998. Plantation forestry in Brazil:
Cochrane, M.A. & Schulze, M.D. 1999. Fire as a Projections to 2050. Biomass and Bioenergy 15:
recurrent event in tropical forests of the eastern 437-450.
Amazon: Effects on forest structure, biomass, and
species composition. Biotropica 31: 2-16. Fearnside, P.M. 1999. Biodiversity as an environmental
service in Brazil’s Amazonian forests: Risks, value
A Crítica [Manaus]. 1991a. “Defesa da Amazônia dá a and conservation. Environmental Conservation 26:
Mestrinho 1o lugar”, 21 de setembro de 1991, p. 6. 305-321.
A Crítica [Manaus]. 1991b.“Mestrinho ameaça mandar Fearnside, P.M. 2001. Saving tropical forests as a global
metralhar equipe da Funai”, 14 de dezembro de warming countermeasure: An issue that divides the
1991, p. 1. environmental movement. Ecological Economics 39:
De olho no Fundo Amazônia. 2010. Documento de 167-184.
recomendações ao Fundo Amazônia é atualizado Fearnside, P. M. 2002. Avança Brasil: Environmental
por organizações da sociedade civil. De olho no and social consequences of Brazil’s planned
Fundo Amazônia. Controle social dos recursos, infrastructure in Amazonia. Environmental
Instituto Socioambiental (ISA), Brasília, DF. http:// Management 30(6): 748-763
deolhonofundoamazonia.ning.com/forum/topics/
documento-de-recomendacoes-ao Fearnside, P.M. 2003. Conservation policy in Brazilian
Amazonia: Understanding the dilemmas. World
Deusdará Filho, R. 2001. “Programa Nacional de Development 31: 757-779. https://doi.org/10.1016/
Florestas”, in V. Fleischresser (Ed.) Causas e S0305-750X(03)00011-1
Dinâmica do Desmatamento na Amazônia.
Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF. p. 389- Fearnside, P. M. 2010a. Código Florestal: As perdas
396. (p. 395). invisíveis. Ciência Hoje 46(273): 66-67.
Dinerstein, E., Olson, D.M, Graham, D.J., Webster, A.L., Fearnside, P.M. 2010b. Consequências do desmatamento
Primm, S.A., Bookbinder, M.P. & Ledec, G. 1995. A da Amazônia. Scientific American Brasil Especial
Conservation Assessment of the Terrestrial Ecoregions Biodiversidade, pp. 54-59.
of Latin America and the Caribbean. International Fearnside, P.M. 2011. Dilemas no campo. Políticas de
Bank for Reconstruction and Development -The conservação. p. 69-71, 88-91, 93-97, 125-128, 129-
World Bank, Washington, DC, E.U.A. 131, 153-155 & 138-139. In: I.S. Gorayeb (Ed.).
Eve, E., Arguelles, F.A. & Fearnside, P.M. 2000. How well Amazônia Sustentável. RM Graph, Belém, Pará.
does Brazil’s environmental law work in practice? 188 p.
Environmental impact assessment and the case Fearnside, P.M. & Ferraz, J. 1995.A conservation
of the Itapiranga private sustainable logging plan. gap analysis of Brazil’s Amazonian vegetation.
Environmental Management 26: 251-267. Conservation Biology 9: 1134-1147.
Fearnside, P.M. 1989. Forest management in Amazonia:
Ferreira, L.V. 2001. A representação das Unidades de
The need for new criteria in evaluating development
Conservação no Brasil e a Identificação de Áreas
options. Forest Ecology and Management 27: 61-79.
Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade
Fearnside, P.M. 1995. Global warming response options nas Ecorregiões do Bioma Amazônia, Tese de
in Brazil’s forest sector: Comparison of project-level doutorado em ecologia. Instituto Nacional de
costs and benefits. Biomass and Bioenergy 8: 309- Pesquisas da Amazônia & Universidade Federal do
322. (p. 316). Amazonas, Manaus, AM.
Fearnside, P.M. 1997a. Human carrying capacity Ferreira, L.V., de Sá, R.L., Buschbacher, R., Batmanian,
estimation in Brazilian Amazonia as a basis G., da Silva, J.M.C., Arruda, M.B., Moretti, E.,
for sustainable development. Environmental de Sá, L.F.S.N., Falcomer, J. & Bampi, M.I. 2001.
Conservation 24: 271-282. Identificação de áreas prioritárias para a conservação
de biodiversidade por meio da representatividade McGrath, D.G. 2000. Avoiding a tragedy of the
das unidades de conservação e tipos de vegetação commons: Recent developments in the management
nas ecorregiões da Amazônia brasileira. In: A. of Amazonian fisheries. In: A. Hall (Ed.) Amazonia
Veríssimo, A. Moreira, D. Sawyer, I. dos Santos, L.P. at the Crossroads: The Challenge of Sustainable
Pinto & J.P.R. Capobianco (Eds.). Biodiversidade na Development. University of London, Institute of
Amazônia Brasileira: Avaliação e Ações Prioritárias Latin American Studies-ILAS, London, Reino Unido.
para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição p. 171-187.
de Benefícios. Instituto Socioambiental & Estação
McGrath, D.G., Castro, F. & de Futemma, C. 1994.
Liberdade, São Paulo, SP. p. 268-286.
Reservas de lago e o manejo comunitário de pesca
FSC (Forest Stewardship Council). 2001. Forest no baixo Amazonas: Uma avaliação preliminar. In
Stewardship Council United States. http://fscus. M.A. D’Incao & I. M da Silveira (Eds.). A Amazônia
org/html/index.html. FSC. New York, NY, E.U.A. e a Crise da Modernização. Museu Paraense Emílio
Goeldi-MPEGj, Belém, PA. p. 389-402.
Goodland, R. & Daly, H. 1996. If tropical log export bans
are so perverse, why are there so many? Ecological Nepstad, D.C., Moreira, A.G. & Alencar, A.A. 1999a. A
Economics 18: 189-196. Floresta em Chamas: Origens, Impactos e Prevenção
de Fogo na Amazônia. International Bank for
Guazelli, A.C., Rebêlo, J.H., Benatti, J.H., Pinheiro, Reconstruction and Development -World Bank,
M.R., Chaves, M.P.S.R., Saragoussi, M., da Silva, R. Brasília, DF.
O., Borges, S. & Barreto, H. 1998. A Gênese de um
Plano de Manejo: O Caso do Parque Nacional do Jaú. Nepstad, D.C., Alencar, A., Nobre, C., Lima, E.,
Fundação Vitória Amazônica, Manaus, AM. 113 p. Lefebvre, P., Schlesinger, P., Potter, C., Moutinho,
P., Mendoza, E., Cochrane, M. & Brooks, V. 1999b.
Hardin, G. 1968. The tragedy of the commons. Science Large-scale impoverishment of Amazonian forests
162: 12431248. by logging and fire. Nature 398: 505-508.
Homma, A.K.O. 1996. Extrativismo vegetal na Peres, C.A. & Terborgh, J.W. 1995. Amazonian nature
Amazônia: Limites e possibilidades. In: M. Clüsener- reserves: An analysis of the defensibility status of
Godt & I. Sachs (Eds.) Extrativismo na Amazônia existing conservation units and design criteria for
Brasileira: Perspectivas sobre o Desenvolvimento the future. Conservation Biology 9: 34-46.
Regional, Compêndio MAB 18. United Nations
Educational and Scientific and Cultural Organization Pires, A., Lima, D.M., Masterson, D., Moura, E. A.,
(UNESCO), Regional Office for Science and Queiroz, H., Ayres, J. M., Reis, M. & Marmontel, M.
Technology for Latin America and the Caribbean. 1996. Mamirauá Management Plan. Sociedade Civil
Montevideo, Uruguai. p. 35-61. Mamirauá-SCM, Tefé, Amazonas, Conselho Nacional
do Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq,
Johns, A.G. 1997.Timber Production and Biodiversity Brasília, DF & Instituto de Proteção Ambiental do
Conservation in Tropical Rain Forests. Cambridge Amazonas-IPAAM, Manaus, AM.
University Press, Cambridge, Reino Unido.
Poore, D., Burgess, P., Palmer, J., Rietbergen, S. & Synott,
Johns, J.S., Barreto, P. & Uhl, C. 1996. Logging T. 1989. No Timber without Trees: Sustainability in
management in planned and unplanned logging the Tropical Forest. Earthscan, London, Reino Unido.
operations and its implications for sustainable (p. 197-202).
timber production in the eastern Amazon. Forest
Ecology and Management 89: 59-77. Rainforest Alliance. 2001. Smartwood: Practical
Conservation through Certified Forestry. http://
Kageyama, P. 2000. Uso e conservação de florestas www.smartwood.org/. Rainforest Alliance, New
tropicais: Qual a paradigma? In: S. Watanabe (Ed.) York, NY, E.U.A.
Anais do V Simpósio de Ecossistemas Brasileiros:
Conservação. 10 a 15 de outubro de 2000, Universidade Redford, K.H., & Stearman, A.M. 1993. Forest-dwelling
Federal de Espírito Santo, Vitória, ES. Vol. IV, Publ. native Amazonians and the conservation of
biodiversity: Interests in common or in collision?
ACIESP No. 109-IV. Academia de Ciências do Estado
Conservation Biology 7: 248-255.
de São Paulo-ACIESP. São Paulo, SP. p. 72-82.
Reis, A.C.F. 1982. A Amazônia e a Cobiça Internacional,
Laschefski, K. & Freris, N. 2001. Saving the wood from
5th. ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ.
the trees. The Ecologist 31(6): 40-43, 66.
Repetto, R.C. 1988. The Forest for the Trees?: Government
Mahar, D.J. 2000. Agro-ecological zoning in Rondônia,
Policies and the Misuse of Forest Resources World
Brazil: What are the lessons?. In: A. Hall (Ed.)
Resources Institute, Washington, DC, E.U.A.
Amazonia at the Crossroads: The Challenge of
Sustainable Development. University of London, Repetto, R.C. & Gillis, M. (Eds.). 1988. Public Policies
Institute of Latin American Studies-ILAS. London, and the Misuse of Forest Resources. Cambridge
Reino Unido. p. 115-128. University Press, Cambridge, Reino Unido.
Robbins, C.F. 2000. Mahogany Matters: The U.S. Market SOS Amazônia. 1998. Plano de Manejo do Parque
for Big-leafed Mahogany and its Implications for Nacional da Serra do Divisor (PNSD). SOS Amazônia
the Conservation of the Species. http://www. & IBAMA, Rio Branco, AC.
worldwildlife.org/forests/attachments/mahogany.
pdf. TRAFFIC-North America, Washington, DC, Terborgh, J. 1999. Requiem for Nature. Island Press,
E.U.A. Washington, DC, E.U.A.
Rosa, M.O. & Ferreira, L. 2000. Áreas protegidas ou Veríssimo, A., Barreto, P., Mattos, M., Tarifa, R. &
espaços ameaçados: O grau de implementação e Uhl, C. 1992. Logging impacts and prospects for
a vulnerabilidade das unidades de conservação sustainable forest management in an old Amazonian
federais brasileiras de uso indireto. Série Técnica
frontier: The case of Paragominas. Forest Ecology and
III, WWF-Brasil, Brasília, DF.
Management 55: 169-199.
Rudel, T.K. & Horowitz, B. 1993. Tropical Deforestation:
Small Farmers and Land Clearing in the Ecuadorian Veríssimo, A., Moreira, A. Sawyer, D., dos Santos,
Amazon. Columbia University Press, New York, I., Pinto L.P. & Capobianco, J.P.R. (Eds.). 2001.
NY, E.U.A. Biodiversidade na Amazônia Brasileira: Avaliação
e Ações Prioritárias para a Conservação, Uso
Sayer, J. 1991.Rainforest Buffer Zones: Guidelines for
Protected Area Managers. Forest Conservation Sustentável e Repartição de Benefícios. Instituto
Program, International Union for the Conservation of Socioambiental & Estação Liberdade, São Paulo,
Nature and Natural Resources-IUCN, Gland, Suiça. SP. p. 450-455.
Schwartzman, S., Moreira, A. & Nepstad, D. 2000. Veríssimo, A., Souza Jr., C., Salomão, R. & Barreto,
Rethinking tropical forest conservation: Perils in P. 2000. Identificação de Áreas com Potencial para
parks. Conservation Biology 14: 1351-l357. a Criação de Florestas Públicas de Produção na
Schneider, R.R., Arima, E., Veríssimo, A., Barreto, P. Amazônia Legal. Ministério do Meio Ambiente-
& Souza Junior, C. 2000. Amazônia Sustentável: MMA & Food and Agriculture Organization of the
Limitantes e Oportunidades para o Desenvolvimento United Nations-UN-FAO. Brasília, DF.
Rural. International Bank for Reconstruction and
Development -World Bank, Brasília, DF & Instituto Vieira, I.C.G. & Becker, B.K. 2010. A revisão do Código
para o Homem e o Meio Ambiente na Amazônia- Florestal e o desenvolvimento do país. Ciência Hoje
IMAZON, Belém, PA. 46(274): 64-67.
13
BR-163: A rodovia Santarém-Cuiabá
e o custo ambiental de asfaltar um
corredor de soja na Amazônia
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2007. Brazil’s Cuiabá-Santarém (BR-163) Highway: The environmental cost of
paving a soybean corridor through the Amazon. Environmental Management 39(5): 601-614.
https://doi.org/10.1007/s00267-006-0149-2
Versão original:
Fearnside, P.M. 2005. Carga pesada: O custo ambiental de asfaltar um corredor de soja na
Amazônia. p. 397-423 In: M. Torres (Ed.) Amazônia revelada: Os descaminhos ao longo da BR-163.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasília, DF. 496 p.
239
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 239 8/18/2022 3:14:54 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
240 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 2. A Rodovia
BR-163 (Santarém-
Cuiabá), trecho
Guarantã do Norte a
Santarém.
aplicadas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro al., 2002). Obviamente, o outro lado desta
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais moeda é a rápida destruição da floresta com
Renováveis) pelo desmatamento ilegal po- o asfaltamento da rodovia. Outro efeito im-
dem ser usadas para documentar a presença portante do clima mais seco seria facilitar a
efetiva de grileiros na área. Assim, ironica- entrada do fogo na floresta em pé. Incêndios
mente, levando alguns a quererem ser mul- rasteiros em áreas da floresta amazônica se
tados pelo Órgão. tornaram uma fonte importante de impacto
ambiental durante as últimas duas décadas
O preço da terra aumenta rapidamente
(Barbosa & Fearnside, 1999; Cochrane, 2003;
quando uma estrada é asfaltada. Isto sus-
Cochrane et al., 1999; Nepstad et al., 1998,
tenta a motivação em desmatar para asse-
1999a,b, 2000, 2001). A inflamabilidade da
gurar as reivindicações de posse da terra, floresta é aumentada pela exploração ma-
incluindo terras pretendidas para propósitos deireira, que é uma atividade em franca ex-
especulativos. Todos esses processos já es- pansão ao longo de toda a BR-163. Assim,
tão acontecendo na expectativa de asfaltar pode-se esperar que uma grande extensão
a estrada, mas se o asfaltameto ocorresse de de floresta seja destruída pelo fogo ao longo
fato, aceleraria ainda mais esses processos. dessa rota, além daquela derrubada delibe-
A quantificação deste efeito deveria ser uma radamente para pecuária, agricultura e espe-
prioridade máxima na avaliação do impacto culação de terra.
ambiental. Cenários com e sem asfaltamento
precisam ser comparados para avaliar seus A definição “terra-sem-lei” é um fenôme-
efeitos. Ao invés disso, o que tem acontecido no estreitamente ligado à BR-163, permean-
é uma série de comparações de cenários com do praticamente todas as atividades econô-
e sem “governança”, mas sempre com a su- micas e grupos sociais exitentes na região.
posição que a rodovia será asfaltada. A história da rodovia é, no mínimo, pitores-
ca, inclui a febre do garimpo de ouro nos
O desmatamento na Amazônia brasileira anos 1980 (quando o preço de ouro era mui-
tem sido em grande parte limitado ao “arco to maior do que é atualmente), com a do-
de desmatamento” ou “arco de fogo” que se minação violenta da atividade por “Márcio
estende em forma de meia-lua, da rodovia Rambo”, morto em uma invasão policial,
Belém-Brasília na Amazônia oriental, na di- mas que ainda é fonte de lendas na região.
visa entre a floresta amazônica e o Cerrado Um evento emblematico dessa “terra-sem-
no Mato Grosso, continuando ao longo do -lei” foi o assassinato, ainda não soluciona-
eixo da rodovia BR-364 de Rondônia até a do, de um grileiro em Novo Progresso, em
parte oriental do Acre. A BR-163 mudará este julho de 2004, depois que ele viajou à Belém
padrão, cortando ao meio a região, de sul e denunciou a polícia vários outros grileiros
para norte, até o rio Amazonas, formando e madeireiros por uma variedade de crimes
um “W”. comuns na BR-163, inclusive a exploração
Um aspecto importante da BR-163 é que ilegal de mogno, exploração madeireira em
essa rodovia está inclusa numa área de clima áreas indígenas, falsas reivindicações de ter-
mais seco do que a maioria das áreas flores- ra e pistolagem para executar os oponentes
tadas na Amazônia. Esse clima mais seco se (O Liberal, 2004). A lista de pessoas denun-
estende-se diagonalmente pela região, apro- ciadas inclui políticos e seus familiares (O
ximadamente em paralelo ao rio Tapajós, Estado de São Paulo, 2004).
com precipitação pluviométrica aumentando A crença de que a “governança” será
tanto no sentido oriental (para Belém) quan- capaz de controlar a área sob influência da
to no sentido ocidental (para Manaus) desta BR-163 tem sido tema de debate largamen-
linha (Nimer, 1979; Nepstad et al., 2004). O te divulgado (Laurance & Fearnside, 2002;
clima mais seco é benéfico para a agricultu- Laurance et al., 2001a,b, 2002a,b, 2004;
ra e criação de gado, aumentando assim a Nepstad et al., 2002a,b; Silveira, 2001).
rentabilidade obtida pela conversão da flo- O efeito da governança foi simulado por
resta em cultivos ou pastagens (Schneider et Britaldo Soares-Filho (Soares-Filho, 2004a;
1.353 km2/ano ao longo dos 22 anos (de 2008 em cada faixa de distâncias a partir de uma
a 2030). A influência do asfalto declina ao estrada. Relações estatísticas são estabeleci-
longo do tempo, na medida em que a área de das com variáveis preditora, tais como a dis-
floresta remanescente diminui: a taxa média tância de cada tipo de estrada (Soares-Filho et
adicional de perda de floresta diminui pela al., 2003, 2004, 2005). A quantidade de des-
metade para 653 km2/ano se a análise for matamento na área em geral é calculada em
extendida até 2050. A diminuição do efeito uma simulação não espacializada baseada
do asfaltamento ao longo do tempo implica em parâmetros econômicos, seguido por uma
que, nos primeiros anos após sua condução, alocação espacial do desmatamento simula-
a diferença entre os cenários com e sem as- do, baseada nos pesos de evidência. Quando
faltamento é provavelmente muito acima da o peso de evidência para um determinado fa-
média de 1353 km2/ano em 22 anos, o que tor é positivo (maior que zero), então o fator
por si só representa uma área enorme (quase estimula o desmatamento, e quando o valor
a metade da área do reservatório de Balbina é negativo, o fator inibe o desmatamento.Um
por ano!). Os primeiros anos são críticos, exame destes parâmetros por Britaldo Soares-
não somente em termos de extensão da área Filho, autor do modelo, indicou que a faixa
desmatada, mas também em termos da loca- de distância a partir de uma estrada que afe-
lização das áreas. E a continuação do desma- ta o desmatamento (baseado em imagens da
tamento sob as atuais condições “terra-sem- parte norte de Mato Grosso) é 10 vezes maior
-lei” reduziria rapidamente as oportunidades no caso de uma estrada asfaltada em compa-
para criar áreas protegidas. ração a uma estrada não asfaltada. O peso de
Comparações de cenários com governança evidência é mais alto na margem da estrada,
(Soares-Filho, 2004b) indicam um efeito cres- e diminui progressivamente a medida em que
cente da governança a medida em que o tem- se desloca para longe da estrada, caindo abai-
po passa. Sob os cenários com governança, se xo de zero a uma distância de 5 km de uma
o extensivo asfaltamento da BR-163 fosse pos- estrada não asfaltada e 50 km de uma estrada
tergado até 2050 (um cenário não realista), a asfaltada. Isto significa que asfaltar a estrada
floresta poupada totalizaria uma área impres- aumenta a taxa de desmatamento em uma
sionante de 92.134 km2, ou 2.194 km2/ano. larga faixa (45 km adicionais de cada lado)
ao longo da rodovia.
Os parâmetros usados nos modelos publi-
cados para simular o desmatamento com e O efeito da rodovia não se restringe à
sem governança (Soares-Filho et al., 2004a) e, faixa de desmatamento que se expande a
também em simulações substancialmente me- partir de cada lado da rodovia. A influência
lhoradas usando o modelo SIMAMAZONIA pode saltar para locais distantes por meio de
(Soares-Filho, 2004a, 2005), calculam a proba- “teleconexões”, semelhantes àquelas obser-
bilidade de cada celula (i.e., cada hectare) ser vadas na climatologia, onde eventos (como
desmatada baseada em “pesos de evidência” o desmatamento) em um lugar podem afe-
que refletem fatores tais como a proximidade tar o clima em um lugar distante. Em 2004,
de uma estrada asfaltada ou de uma estrada havia uma dramática extensão da atividade
não asfaltada e, a proximidade para desmata- grileira da BR-163 para a área de Apuí, no
mentos já existentes. Os “Pesos de evidência” Amazonas, situado a mais de 1.000 km por
decorrem de uma técnica comum em estudos estrada (Fig. 3). Apuí, município situado na
geológicos para modelar os locais prováveis rodovia Transamazônica, no extremo sudes-
de jazidas minerais (Bonham-Carter, 1994). te do estado do Amazonas, foi durante mui-
Para estudos de desmatamento, a técnica é to tempo um foco de desmatamento naque-
aplicada dividindo em celulas (rasterização) le estado, principalmente pelos pecuaristas
um par de imagens de satélite de uma deter- e colonos que migraram de Rondônia via
minada área em duas datas distintas, e cal- Humaitá. O fluxo de pessoas, e sobretudo de
culando a fração de celulas que sofrem tran- investimento, vindos do lado leste pioraria
sições (tais como o desmatamento) em cada a situação, já crítica. De acordo com grilei-
zona tampão de distância (buffer), ou seja, ros que atuam na BR-163, estes fluxos são
encorajados pelo prefeito de Apuí, que ofe- é o Baixo Amazonas. O cultivo de soja na
receu lotes de 100 ha perto da cidade como área de Santarém tem expandido ao lon-
incentivo para que grileiros maiores mon- go dos anos. Esta atividade já ultrapassou
tassem bases naquela região. Vários ônibus o rio Amazonas, chegando aos municí-
fretados com grileiros das cidades ao longo pios de Prainha, Monte Alegre, Alenquer e
da BR-163, desde Castelo dos Sonhos até Oriximiná. É provável que a migração de
Caracol, fizeram a viagem. Uma empresa de investidores neste setor seja estimulada por
ônibus em Itaituba com três microônibus de uma rodovia asfaltada, com investimentos
18 assentos se especializou neste ramo. Os partindo de Mato Grosso na direção norte.
grileiros geralmente não abandonam as suas
O alcance de atividades madeireiras tam-
bases na BR-163, mas fazem breves visitas
bém está ampliando, se expandindo a mais
a Apuí e, despacham familiares ou empre-
de 70 km da BR-163. A floresta nos dois la-
gados de confiança para estabelecer e man-
dos da rodovia foi penetrada por muitas es-
ter as novas reivindicações. Em dezembro
tradas de exploração madeireira. Atualmente
de 2004 o governo do estado do Amazonas
são exploradas quatro espécies em quanti-
criou um mosaico de 3,2 milhões de hectares
dades significantes: cumaru (Dipteryx spp.),
de reservas, principalmente florestas estadu-
jatobá (Hymenaea spp.), ipê (Tabebuia spp.)
ais (para manejo de madeira) no extremo
e cedro (Cedrela odorata) (Maurício Torres,
sudeste do estado (Ninni, 2004) com objeti-
comunicação pessoal, 2004). O mogno
vo de freiar a entrada de desmatadores pro-
(Swietenia macrophylla) também ocorre na
venientes de Mato Grosso, assim como de
área, mas sua exploração atualmente é ile-
grileiros oriundos da BR-163.
gal. Com o asfaltameto da rodovia, a distân-
Outro local distante que é receptor das cia a partir da qual é financeiramente viável
atividades impactantes da rodovia BR-163 explorar a madeira será expandida, assim
Figura 3. A área
de influência da
BR-163 no Pará,
incluindo a rodovia
Transamazônica em
direção oeste até Apuí,
e a Terra do Meio, que
extende a leste até o rio
Xingu, em São Félix do
Xingu (mapa elaborado
por Arnaldo Carneiro).
como o número de espécies exploradas (e.g., sob o programa ARPA (Áreas Protegidas da
Veríssimo et al., 2002). Amazônia) do Ministério do Meio Ambiente,
e fizeram parte de um mosaico de reservas
Pelo menos duas rotas ligam a BR-163 a
propostas para a Terra do Meio (ISA, 2003b).
“Terra do Meio”, que é uma área de flores-
ta relativamente intacta entre o rio Xingu ao Ao mesmo tempo, uma área de 8 milhões
leste, rio Iriri ao norte, reservas ao longo da de hectares, a maior parte localizada no lado
rodovia BR-163 ao oeste, e áreas indígenas ao oeste da rodovia BR-163, foi declarada uma
sul (Fig. 3). A primeira rota inicia em Novo “área administrativamente interditada”, na
Progresso, de onde uma parte uma estrada se- qual seriam criadas outras reservas ao longo
cundária (“ramal”) em direção ao rio Curuá. O dos próximos meses. Nessa área, a estrada
transporte público na forma de caminhonetas de penetração principal a partir de Moraes
“pickup” de lotação faz a viagem até o ponto de Almeida (a estrada “Transgarimpeira”) se
de embarcação e de lá, podem ser contratados tornou uma fronteira ativa de especulação de
barcos para descer o rio Curuá, chegando a terra e de grilagem (estabelecimento de rei-
Terra do Meio. Do mesmo modo, equipamen- vindicações fraudulentas de terra). Imagens
tos pesados, como tratores florestais (“skid- LANDSAT indicam que o desmatamento já
ders”) são transportados de Novo Progresso a passou do rio Novo e do rio Crepori, alcan-
estrada de Canópus, que corta uma seção de çando o rio Cururu na divisa da área indí-
250 km da Terra do Meio, de leste para oeste. gena dos Mundurucus (Fig. 3), podendo
A segunda rota é uma estrada aberta para a ainda avançar ao norte para unir com a ro-
exploração madeireira, que atualmente pene- dovia Transamazônica em Jacareacanga. A
tra a área do Riozinho de Anfrísio a partir da Transgarimpeira representa o ponto de entra-
BR-163 perto de Trairão (Maurício Torres, co- da principal no grande bloco de floresta que
municação pessoal, 2004). O acesso é proibido é delimitado ao oeste pela rodovia BR-163,
a todos com a exeção das pessoas envolvidas a noroeste pela rodovia Transamazônica, ao
na operação de exploração de madeira. Uma sul pelo campo de provas do Exército, na
das principais famílias de grileiros de Castelo Serra do Cachimbo, e ao sudoeste pela área
dos Sonhos reivindica parte dessa área. indígena dos Mundurucus (Fig. 3). O anún-
cio da área interditada aparentemente teve
A área de Riozinho de Anfrísio foi decla- algum efeito em desestimular os grileiros em
rada uma reserva extrativista em 08 de no- investir em mais desmatamentos nesta área
vembro de 2004 (ISA, 2004b). A opção de durante a estação seca de 2005.
criação dessa reserva por pouco não foi per-
dida, visto a migração de madeireiros e de Os planos para a área interditada estão
outros grupos que avançavam sobre a área evoluindo, e uma proposta para “florestas
a partir da BR-163 e da estrada “Transiriri”, públicas”, nas quais seriam concedidas con-
uma estrada interiorana que parte de Uruará cessões de manejo florestal (incluindo em-
(na rodovia Transamazônica) em direção ao presas internacionais) está em análise no
rio Iriri (e.g., Amazonas em Tempo, 2004a; Congresso Nacional. Um aspecto preocupan-
te desses planos é a proposta para aproxi-
Greenpeace, 2003; Pontes Júnior et al.,
madamente metade da área ser transforma-
2004). Defender esta reserva requer mais do
da em Áreas de Proteção Ambiental (APAs)
que um esforço simbólico.
(Fig. 4). Apesar do som tranqüilizador deste
Em fevereiro de 2005 o assassinato da nome, APAs não apresentam praticamen-
irmã Dorothy Stang criou uma oportuni- te nenhuma restrição ambiental real. APAs
dade política para criação de várias reser- pode incluir áreas de agricultura (como a
vas na área. Assim, no dia 17 de feverei- Ilha de Marajó inteira) e áreas urbanas, até
ro o Ministério do Meio Ambiente criou a mesmo um bairro inteiro como ocorre na ci-
Estação Ecológica da Terra do Meio (3,4 mi- dade de Rio de Janeiro (Santa Teresinha). O
lhões de hectares) e o Parque Nacional da fato mais importante é que APAs reconhe-
Serra do Pardo (445.392 ha). Ambas as re- cem propriedade privada dentro dos seus
servas haviam sido planejadas previamente limites, significando que os muitos grileiros
que têm reivindicações ilegais de terra na destes posto, tanto em “Trinta” como na
área podem continuar as negociações e re- Serra de Cachimbo precisa-se de medidas
cursos jurídicos intermináveis para legali- para impedir rotas alternativas de fuga de
zar as suas reivindicações, e eles ganharão madeira, que contornam os postos de fisca-
legitimidade adicional por serem partes em lização; além de meios de evitar a corrupção
negociações oficiais, como se fossem os ocu- dos fiscais, que reportadamente permitem a
pantes legítimos em lugar de criminais. passagem de mogno ilegal disfarçado como
sendo de outras espécies. Além dos desafios
A exploração madeireira é uma das ativi-
para controlar o transporte de madeira, há
dades mais importantes a ser controlada ao
ainda problemas relacionados aos projetos de
longo da BR-163. A exploração está aconte-
manejo florestal como as autorizações de des-
cendo de qualquer maneira, até mesmo na
mate fraudulentas, e a exploração madeireira
ausência de uma rodovia asfaltada, e sua lu-
em áreas indígenas, freqüentemente com o
cratividade e alcance seriam ampliadas com
consentimento de líderes indígenas locais.
o asfaltamento, como já mencionado. Para
controlar o transporte de madeira, o IBAMA Pode ser esperado um estímulo de migra-
criou em 2004, um posto de fiscalização no ção para a área área alcançada pela BR-163.
ponto onde a BR-163 encontra com a rodo- O exemplo de Rondônia é pertinente: embora
via Transamazônica, 30 km a leste de Itaituba uma migração enorme para Rondônia tivesse
(conhecido como “Trinta”) e outro na ponta acontecido antes que a BR-364 fosse asfalta-
sul da rodovia no Pará, ainda a ser estabeleci- da, o efeito da rodovia abrindo aquela parte da
do. Como ainda não foi fisicamente criado, o Amazônia à destruição foi evidente (Fearnside,
fluxo de madeira ilegal para o sul continuou 1986). Um fato importante é que não são ape-
desimpedido durante toda a estação seca nas migrantes pobres, mas também grandes
de 2004. E mesmo como o estabelecimento investidores, que chegam a essas áreas.
Figura 4. Atual
proposta para a
alocação da zona de
8 milhões de hectares
interditadas ao oeste
da Rodovia BR-163.
O LUGAR DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NA Isto ficou claro nas desaventuras do Banco
TOMADA DE DECISÕES Mundial em Rondônia, onde os funcioná-
rios do Banco justificaram o financiamento
A recente história da rodovia BR-163 ser- da BR-364 (projeto POLONOROESTE) com
ve como uma lembrança das deficiências do o argumento de que o asfaltameto da rodo-
atual sistema de licenciamento ambiental via era inevitável mesmo antes do seu início
no Brasil. O problema fundamental é que a (Fearnside, 2005a).
avaliação do impacto ambiental e os proce- Muitas das audiências públicas e de ou-
dimentos de autorização são sujeitos à pres- tras discussões são explícitas em somente
são dos agentes interessados em uma cons- permitir comentários “positivos”, o que quer
trução veloz e livre de obstáculos. Apenas dizer que os participantes têm que aceitar
poucos dias após o lançamento do grupo de a suposição de que a rodovia será asfaltada
trabalho para controlar o desmatamento no como uma pré-condição para a participação.
Brasil, o Presidente da República chamou Discussões são limitadas, então, à questão
seus ministros para exigir que estes encon- de como minimizar os impactos negativos o
trassem modos para contornar impedimen- máximo possível. O grupo de trabalho inter-
tos ambientais a projetos de infraestrutura ministerial que elabora o plano de ação para
protelados em todo território brasileiro, in- prevenção e controle de desmatamento trata
cluindo 10.000 km de projetos rodoviários como “medidas de prevenção, ordenamento
(Amazonas em Tempo, 2004b). e mitigação de efeitos socioambientais” na
Um aspecto fundamental do debate so- BR-163, assim não fazendo nenhuma men-
bre a BR-163 foi o esforço para suprimir ção de discussão da questão de se a rodovia
de qualquer discussão a possibilidade de deve ser ou não asfaltada agora (Brasil, GT-
não asfaltar a rodovia, assim permitin- Desmatamento, 2004, pág. 31). A existên-
do somente sugestões sobre como mitigar cia de rodovias e de outra infraestrutura é o
ou minimizar os impactos do projeto, não determinante mais importante do desmata-
uma avaliação de que se o projeto deveria mento, e não os detalhes sobre os programas
ir adiante. A discussão de impactos invaria- de mitigação que podem ser promovidos
velmente começa a partir da suposição de junto com os projetos.
que o asfaltameto da rodovia é inevitável. O papel de participação de organizações
Nepstad et al. (2002a) consideram que o as- não governamentais (ONGs) ambientalistas
faltameto da rodovia BR-163 é “inevitável”. nas reuniões se tornou um assunto polêmico.
Embora seja altamente provável que esta Em julho de 2004, quando ONGs protestaram
rodovia seja asfaltada como planejado no como o argumento que a série de reuniões
Plano Plurianual (PPA) de 2003-2007, não públicas sobre os impactos da rodovia
se deve tratar uma alta probabilidade como simplesmente tinham o objetivo de obter
sinônimo de inevitabilidade (Laurance et al., uma imediata “liberação” para a construção,
2002b). Uma probabilidade desse tipo não a resposta oficial do governo foi de que as
é como uma probabilidade associada a um ONGs tinham participado de reuniões prévias
evento natural, como a ocorrência de uma e, portanto, não deveriam estar se queixando
seca. Sua ocorrência depende de decisões dos procedimentos fora do contexto das reu-
humanas e, estas estão sujeitas à mudanças. niões (Nunomura, 2004). Desnecessário di-
Tratando o projeto como inevitável faz-se zer, que a citação de participação em reuniões
uma profecia que se auto-realiza. A questão como alegação a existência de acordo e, silen-
de quando considerar algo como inevitá- ciar divergências, não é a melhor maneira de
vel ou irreversível sempre será controverso. traçar um caminho para o desenvolvimento
Fomentadores sempre considerarão obras sustentável. Participação em reuniões não
como inevitáveis desde o momento de sua significa que as ONGs estão coniventes.
idealização. Considerar antecipadamente Pelo contrário, é notável que as ONGs tive-
obras como inevitáveis pode deixar pessoas ram um papel importante em pressionar as
bem intencionadas em uma situação difícil. autoridades para prometerem medidas que
tempo é crucial em permitir que o desmata- governança de fato estabelecida, é que se de-
mento irreversível se expanda a partir da ro- veria asfaltar a rodovia. Ainda assim, com
dovia. Uma vez mais, Rondônia provê uma um período de espera a ser iniciado a partir
lembrança triste. O asfaltameto da rodovia do momento em que a área fosse indepen-
BR-364 em Rondônia era para acontecer si- dentemente certificada como sendo sobre
multaneamente com medidas tais como a controle (i.e., com governança).
criação de áreas protegidas e a demarcação
Entre as medidas necessárias tem-se a
de terras indígenas (Goodland, 1985; IBRD,
necessidade de neutralizar os esforços de au-
1981). O asfaltamento foi adiante “a todo va-
toridades locais em promover atividades ile-
por” (até mesmo com adiantamentos finan-
gais. Exemplos são fáceis de achar. Em 2004
ceiros das empresas de construção), enquan-
um trator de esteira da prefeitura do Trairão
to as medidas de mitigação ficaram para trás
foi apreendido pelo IBAMA fazendo estradas
durante anos. Invasões e desmatamento das
áreas a serem protegidas se tornaram um ilegais para exploração madeireira dentro da
fato consumado antes que as atividades de FLONA [Floresta Nacional] de Itaituba. A
mitigação fossem empreendidas (Fearnside, implantação de governança efetiva é neces-
1989b; Fearnside & Ferreira, 1985). sária não só ao longo da BR-163, mas tam-
bém nas áreas para as quais os efeitos da
O esforço para conter a falta do estado BR-163 estão se expandindo, inclusive Apuí
de direito tem que se estender além da vi- e Terra do Meio. Antes de asfaltar a rodovia,
zinhança imediata da rodovia BR-163. Um é preciso ter um programa acelerado para
programa efetivo deve ser implantado para criação de áreas protegidas e de áreas de uso
conter a migração da fronteira “terra-sem- sustentável, tais como FLONAs. Nenhuma
-lei” para locais mais distantes na região. É área pode ser deixada sem destinação espe-
impressionante a frequência de comentários cífica, já que isto inevitavelmente conduz a
de grileiros e outros atores na região insinu- sua apropriação por grileiros.
ando que eles têm um direito dado por Deus
para se apropriar de qualquer terra desocu- A área em questão também sofreu um
pada e subsequentemente conseguir que o retrocesso importante nos esforços para pro-
governo legalize a ocupação. A atitude de teger os povos indígenas e áreas protegidas
que a terra florestada está lá para ser tomada de floresta. Exemplo disso é a redução em
é algo que pode mudar com relativa rapidez, 317.000 ha da terra indígena Baú, em 2003,
mas não sem um momento decisivo. O pa- para satisfazer fazendeiros e os grileiros atu-
ralelo com a ocupação da América do Norte antes na BR-163, que invadiram uma parte
é evidente, o “fechamento da fronteira” em da reserva (ISA, 2003b). Isto constitui um
1890 estando lá o momento decisivo (Turner, precedente muito perigoso, visto que a ex-
1893). O lugar onde isso deve acontecer na pectativa de que as tentativas de invasão de
Amazônia está aqui mesmo na BR-163: não áreas indígenas e unidades de conservação,
se deve esperar até que a última árvore seja no final das contas, não sejam bem-sucedi-
cortada em alguma área mais distante. das é maior proteção que estas áreas têm.
Se considerado o futuro em uma escala A Terra do Meio é reconhecida como
de décadas, o asfaltameto da BR-163 está uma “terra-sem-lei” dominada por tráfico
praticamente garantido, mas a pergunta nes- de drogas, lavagem de dinheiro, grilagem e
te momento é se o asfaltamento deveria se outras atividades ilegais (Castro et al., 2002;
dar agora, no período até 2007, ou se deveria Greenpeace, 2003; ISA, 2003a; Schönenberg,
ser adiado até que os planos atuais de levar 2003). A área é semelhante aos morros do
a região um estado de direito seja efetivado? Rio de Janeiro, onde a polícia somente en-
e ainda se a governança só pode ser conse- tra durante operações pontuais e, os resi-
guida com asfalto? Eu sugiro que pode haver dentes locais têm que se adequar às regras
governança sem asfalto, desde que o gover- dos traficantes de droga para sobreviver. A
no esteja disposto a investir em um esforço necessidade urgente em se ter o controle do
sério para trazer a lei à região. Só depois da governo sobre a Terra do Meio é ilustrado
área ao oeste da BR-163 por meio da estrada 2004. Desmatamento na Amazônia: Indo Além
Transgarimpeira, invasão da nova reserva da Emergência Crônica. Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém, Pará. 87 p.
extrativista de Riozinho de Anfrísio, assim
como também FLONAs e outras áreas, além Amazonas em Tempo [Manaus]. 2004a. Grileiros
da perda de oportunidades para estabelecer derrubam milhares de hectares de floresta no Xingu.
áreas protegidas adicionais. 27 de outubro. p. B-8.
Amazonas em Tempo [Manaus]. 2004b. Lula quer a
Embora, na escala de décadas a existên-
retomada de obras paralisadas. 21 de março. p. A-7.
cia de uma estrada asfaltada seja logicamen-
te esperada, isto não significa que deveria Arima, E. & A. Veríssimo. 2002. Brasil em Ação:
ser feito na próxima estação seca, nem no Ameaças e Oportunidades Econômicas na Fronteira
Amazônica. Imazon Série Amazônia No 19.
atual mandato do presidente ou dos gover- Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia
nos estaduais. Um argumento que ainda (IMAZON), Anandeua, Pará. 22 p.
pode ser dado é de que o custo ambiental
Barbosa, R.I. & P.M. Fearnside. 1999. Incêndios na
de asfaltar a estrada nos próximos anos é de-
Amazônia brasileira: Estimativa da emissão de
masiadamente alto, e que, ao invés disso, o gases do efeito estufa pela queima de diferentes
asfaltamento da BR-163 deveria ser adiada ecossistemas de Roraima na passagem do evento “El
até que a área apresentasse um histórico de Niño” (1997/98). Acta Amazonica 29(4): 513-534.
governança estabelecida. Bonham-Carter, G. 1994. Geographic Information
Systems for Geoscientists: Modeliing with GIS.
Pergamon, New York, E.U.A. 414 p.
AGRADECIMENTOS
Brasil, GT-Desmatamento (Grupo Permanente de
Agradeço ao Conselho Nacional do Trabalho Interministerial para a Redução dos
Desenvolvimento Científico e Tecnológico Índices de Desmatamento da Amazônia Legal).
(CNPq) pelo apoio financeiro para vi- 2004. Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
sitar a BR-163 (Proc. 52.0177/2003-7 a Desmatamento da Amazônia Legal. Presidência da
República, Casa Civil, Brasília, DF. 156 p.
Maurício Torres). O Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico Castro, E.R., R. Monteiro & C. P. Castro. 2002. Relatório:
(CNPq AI 470765/01-1) e o Instituto Nacional Atores e Relaçoes Sociais em Novas Fronteiras na
Amazõnia; Novo Progresso, Castelo de Sonhos e
de Pesquisas da Amazônia (INPA PPIs1-3620
São Félix do Xingu. Estudo sobre dinâmicas sociais
& 1-1005) também contribuíram com apoio na fronteira, desmatamento e expansão da pecuária
financeiro. R.I. Barbosa, P.M.L.A. Graça, B. na Amazônia. Trabalho de Consultoria prestado ao
Soares Filho e M. Torres fizeram comentá- Banco Mundial (Contrato – 23584 e 388135 - de
rios valiosos. Agradeço a P.M.L.A. Graça, 18/01/2002), World Bank, Brasília, DF. 141 p.
A. Carneiro e J. Costa por ajuda com as Cochrane, M.A. 2003. Fire science for rainforests. Nature
figuras. Uma versão anterior desta discus- 421:913-919.
são foi apresentada ao Grupo de Trabalho
Cochrane, M.A., A. Alencar, M.D. Schulze, C.M. Souza
Interministerial sobre Desmatamento (Casa Jr., D.C. Nepstad, P. Lefebvre & E.A. Davidson. 1999.
Civil). Este trabalho é traduzido de Fearnside Positive feedbacks in the fire dynamic of closed
(2007), atualizado de Fearnside (2005b). canopy tropical forests. Science 284: 1832-1835.
Convênio DNIT/IME. 2005. Estudos De Viabilidade
LITERATURA CITADA Técnico-Econômica Consernantes à Construção
da BR-163/MT/PA Trecho Guarantã-do-Norte/
Alencar, A., Micol, L., Reid, J., Amend, M., Oliveira, M., MT – Santarém/PA. Ministério dos Transportes,
Zeidemann, V., de Sousa, W. C. 2005. O asfaltameto Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
da BR-163 e os desafios à sustentabilidade: Transportes (DNIT) & Ministério da Defesa, Instituto
uma análise econômica, social e ambiental. Militar de Engenharia (IME), Brasília, DF, Brazil.
Instituto Centro de Vida (ICV), Cuiabá, Mato 4 Volumes. http://dnit.ime.eb.br/est_via_tec.htm
Grosso. 25 p. http://www.estacaovida.org.br/pdf/
ECOPLAN Engenharia, Ltda. 2002a. Estudo de Impacto
pavimentacaobr163.pdf
Ambiental: Pavimentação BR 163,-BR 230, ECOPLAN
Alencar, A., D. Nepstad, D. McGrath, P. Moutinho, Engenharia, Ltda, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
P. Pacheco, M del C.V. Diaz & B. Soares-Filho. 7 volumes. http://dnit.ime.eb.br/br163.htm
ECOPLAN Engenharia, Ltda. 2002b. Relatório de Impacto Environmental Management 39(5): 601-614. https://
Ambiental: Pavimentação BR 163,-BR 230, ECOPLAN doi.org/10.1007/s00267-006-0149-2
Engenharia, Ltda, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Fearnside, P.M. & G. de Lima Ferreira. 1985. Roads in
74 p. http://dnit.ime.eb.br/br163.htm
Rondonia: Highway construction and the farce of
O Estado de São Paulo. 2004. Dossiê de pecuarista unprotected reserves in Brazil’s Amazonian forest.
morto liga políticos a grilagem. 27 July. http://www. Environmental Conservation 11(4): 358360.
amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=117451
Fearnside, P.M. & W.F. Laurance. 2002. O futuro da
Fearnside, P.M. 1986. Spatial concentration of Amazônia: Os impactos do Programa Avança Brasil.
deforestation in the Brazilian Amazon. Ambio Ciência Hoje 31(182): 61-65.
15(2): 7279.
Goodland, R.J.A. 1985. Brazil’s environmental progress
Fearnside, P.M. 1987. Deforestation and international in Amazonian development. pp. 5-35 in J. Hemming
economic development projects in Brazilian (Ed.) Change in the Amazon Basin: Man’s Impact
Amazonia. Conservation Biology 1(3): 214221. on Forests and Rivers. Manchester University Press,
Fearnside, P.M. 1989a. Brazil’s Balbina Dam: Manchester, Reino Unido. 222 p.
Environment versus the legacy of the pharaohs Greenpeace. 2003. Pará Estado de Conflito: Uma
in Amazonia. Environmental Management 13(4): Investigação sobre Grileiros, Madeireiros e Fronteiras
401-423. Sem Lei no Estado do Pará. Greenpeace, Manaus,
Fearnside, P.M. 1989b. Ocupação Humana de Amazonas. 59 p. http://www.greenpeace.org.br/
Rondônia: Impactos, Limites e Planejamento. amazonia/pdf/para_estadodeconflto.pdf
Relatórios de Pesquisa No. 5, Conselho Nacional de Holden, C. 1987. World Bank launches new environment
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), policy. Science 236:769.
Brasília, DF. 76 p.
IAG (International Advisory Group). 2004. Programa
Fearnside, P.M. 1990. A Hidrelétrica de Balbina: O
Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais
Faraonismo Irreversível versus o Meio Ambiente na
do Brasil, Grupo de Assessoria Internacional
Amazônia. Instituto de Antropologia Meio-Ambiente
(IAG). Relatório da XXI Reunião. O Plano BR-163
(IAMÁ), São Paulo. 63 p.
Sustentável no quadro das políticas governamentais
Fearnside, P.M. 2001a. Soybean cultivation as a threat para Amazônia. Brasília, 26 de julho a 6 de agosto
to the environment in Brazil. Environmental de 2004. IAG, Brasília, DF. 18 p.
Conservation 28(1): 23-38.
IBRD (International Bank for Reconstruction and
Fearnside, P.M. 2001b. Avança Brasil: Conseqüências Development). 1981. Brazil: Integrated Development
ambientais e sociais na Amazônia brasileira. of the Northwest Frontier. The World Bank (IBRD),
Cadernos Adenauer 2(4): 101-124. Washington, D.C., E.U.A. 101 p.
Fearnside, P.M. 2002. Avança Brasil: Environmental IPAM. 2005. Os caminhos da Cuiabá-Santarém:
and social consequences of Brazil’s planned Oportunidade para o desenvolvimento regional
infrastructure in Amazonia. Environmental sustentável. Instituto de Pesquisas da Amazônia
Management 30(6): 748-763. (IPAM), Belém, Pará. http://www.ipam.org.
Fearnside, P.M. 2002. Avança Brasil: Environmental br/programas/cenarios/br163/planejamento.
and social consequences of Brazil’s planned php?session_id=7447fabd6c6d356cf7cedf028058
infrastructure in Amazonia. Environmental 4e16
Management 30(6): 748-763. ISA (Instituto Socioambiental). 2003a. Realização de
Fearnside, P.M. 2005a. Brazil’s Samuel Dam: Lessons for Estudos Preliminares e Formulação de uma Proposta
hydroelectric development policy and the environment Técnica para Implantação de um Mosaico de
in Amazonia. Environmental Management 35(1): Unidades de Conservação no Médio Xingu. Relatório
1-19. Final de Atividades. 207 p. + anexos.
Fearnside, P.M. 2005b. Carga pesada: O custo ambiental ISA (Instituto Socioambiental). 2003b. Ministro
de asfaltar um corredor de soja na Amazônia. p. da Justiça assina portaria reduzindo a Terra
397-423 In: M. Torres (Ed.) Amazônia revelada: Os Indígena (TI) Baú. Notícias Socioambientais
descaminhos ao longo da BR-163. Conselho Nacional 09/10/2003. http://www.socioambiental.org/nsa/
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico detalhe?id=1437
(CNPq), Brasília, DF. 496 p.
ISA (Instituto Socioambiental). 2004a. Marina Silva e
Fearnside, P.M. 2007. Brazil’s Cuiabá-Santarém Ciro Gomes encerram o Encontra BR-163 Sustentável.
(BR-163) Highway: The environmental cost of Notícias Socioambientais 24/11/2003. http://www.
paving a soybean corridor through the Amazon. socioambiental.org/nsa/detalhe?id=1491
ISA (Instituto Socioambiental). 2004b. Governo Federal Nepstad, D.C., A. Moreira, A. Veríssimo, P. Lefebre, P.
cria Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio. Schlesinger, C. Potter, C. Nobre, A. Setzer, T. Krug,
Notícias Socioambientais 09/11/2004. http://www. A. Barros, A. Alencar & J. Pereira. 1998. Forest fire
socioambiental.org/nsa/detalhe?id=1853 prediction and prevention in the Brazilian Amazon.
Conservation Biology 12: 951-955.
Laurance, W.F., A.K.M. Albernaz, P.M. Fearnside, H.L.
Vasconcelos & L.V. Ferreira. 2004. Deforestation in Nepstad, D.C., A. Veríssimo, A. Alencar, C. Nobre,
Amazonia. Science 304: 1109. E. Lima, P. Lefebvre, P. Schlesinger, C. Potter, P.
Moutinho, E. Mendoza, M. Cochrane & V. Brooks.
Laurance, W.F., A.K.M. Albernaz, G. Schroth, P.M.
1999a. Large-scale impoverishment of Amazonian
Fearnside, S. Bergen, E.M. Ventincinque & C. da
forests by logging and fire. Nature 398: 505-508.
Costa. 2002a. Predictors of Deforestation in the
Brazilian Amazon. Journal of Biogeography 29: Nimer, E. 1979. Climatologia do Brasil. Instituto
737-748. Brasilieiro de Geografia e Estatástica (IBGE), Rio
Laurance, W.F., M.A. Cochrane, S. Bergen, P.M. de Janeiro. 422 p.
Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S. D’Angelo Ninni, K. 2004. A nova fronteira natural: O Amazonas
& T. Fernandes. 2001a. The Future of the Brazilian cria a segunda maior reserva tropical do mundo
Amazon. Science 291: 438-439. para conter devastação de Mato Grosso. Época [São
Laurance, W.F., M.A. Cochrane, P.M. Fearnside, S. Paulo] 20 de dezembro de 2004, p. 83.
Bergen, P. Delamonica, S. D’Angelo, T. Fernandes & Nunomura, E. 2004. “Plano para BR-163 é alvo de ONGs:
C. Barber. 2001b. Response [a J.P. Silveira]. Science Ambientalistas criticam o processo de consulta
292: 1652-1654. pública para obras em rodovia amazônica” O Estado
Laurance, W.F. & P.M. Fearnside. 2002b. Issues in de São Paulo. 06 de julho, p. A-10.
Amazonian Development. Science 295: 1643. Pontes Júnior, F., E. Castro, R. Araújo & M.A.
O Liberal [Belém]. 2004. Solicitada a prisão temporária Menezes. 2004. Terra do Meio: Poder, Violência e
dos acusados de envolvimento na morte de Prestes. Desenvolvimento. Museu Paraense Emílio Goeldi
21 de julho de 2004. http://www.amazonia.org.br/ (MPEG), Belém, Pará. 35 p. (MPEG Idéas e Debates
noticias/noticia.cfm?id=116779 No. 7).
Nepstad, D.C., J.P. Capobianco, A.C. Barros, G. Carvalho, Radiobras. 2004. Incêndio em escritório do Ibama no
P. Moutinho, U. Lopes & P. Lefebvre. 2000. Avança Mato Grosso pode ter sido criminoso. Radiobras 23
Brasil: Os Custos Ambientais para Amazônia. Instituto de novembro de 2004. http://www.amazonia.org.
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém, br/noticias/noticia.cfm?id=135400
Pará. 24 p. Disponível em http://www.ipam.org.br/ Schneider, R.R., E. Arima, A. Veríssimo, P. Barreto & C.
avanca/politicas.htm Souza Junior. 2000. Amazônia Sustentável: Limitantes
Nepstad, D.C., G. Carvalho, A.C. Barros, A. Alencar, e Oportunidades para o Desenvolvimento Rural. World
J.P. Capobianco, J. Bishop, P. Moutinho, P. Lefebvre, Bank, Brasília, DF & Instituto do Homem e Ambiente
U.L. Silva, Jr. & E. Prins. 2001. Road paving, fire na Amazônia (IMAZON), Belém, Pará. 58 p.
regime feedbacks, and the future of Amazon forests. Schöenenberg, R. 2002. Drug trafficking in the
Forest Ecology and Management 154(3): 395-407. Brazilian Amazon. p. 172-207 In: C. Geffray, G.
Nepstad, D.C., P Lefebvre, U.L Silva Jr., J. Tomasella, P. Fabre & M. Shiray (Eds.) Globalisation, Drugs
Schlesinger, L. Solorzano, P. Moutinho, D. Ray & J.G. and Criminalisation: Final Research Report from
Benito. 2004. Amazon drought and its implications Brazil, China, India and Mexico. United Nations
for forest flammability and tree growth: A basin- Educational and Scientific Organization (UNESCO),
wide analysis. Global Change Biology 10(5): 704-712. Paris, França. 3 Vols.
Nepstad, D.C., D. McGrath, A. Alencar, A. C. Barros, G. Schwartzman, S. 1986. Bankrolling disasters:
Carvalho, M. Santilli, & M. del C. Vera Diaz. 2002a. International development banks and the global
Frontier Governance in Amazonia. Science 295: 629. environment. Sierra Club, Washington, DC, E.U.A.
32 p.
Nepstad, D.C., D. McGrath, A. Alencar, A. C. Barros,
G. Carvalho, M. Santilli, & M. del C. Vera Diaz. Soares-Filho, B.S. 2004a. SIMAMAZONIA. Centro de
2002b. Response [a Laurance & Fearnside]. Science Sensoriamento Remoto (CSR), Universidade Federal
295: 1643-1644. de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG,
http://www.csr.ufmg.br/simamazonia
Nepstad, D.C., A.G. Moreira & A.A. Alencar. 1999b.
Flames in the Rain Forest: Origins, Impacts and Soares-Filho, B.S. 2004b. Results for selected
Alternatives to Amazon Fire. Pilot Programme to areas. Centro de Sensoriamento Remoto (CSR),
Conserve the Brazilian Rain Forest (PPG7), Banco Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Mundial, Brasília, DF. 161 p. Belo Horizonte, MG. http://www.csr.ufmg.br/
14
Desmatamento na Amazônia:
Dinâmica, impactos e controle
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Versão original:
Fearnside, P.M. 2006. Desmatamento na Amazônia: Dinâmica, impactos e controle. Acta
Amazonica 36(3): 395-400. https://doi.org/10.1590/S0044-59672006000300018
259
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 259 8/18/2022 3:15:05 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
260 DA FLORESTA AMAZÔNICA
RESUMO DESMATAMENTO
O desmatamento na Amazônia procede a O desmatamento na Amazônia brasi-
um alto ritmo por várias razões, muitas das leira tem aumentado continuamente desde
quais dependem de decisões do governo. O 1991, variando de acordo com as mudanças
desmatamento leva à perda de serviços am- relacionadas às forças econômicas (Fig. 1).
bientais, que têm um valor maior que os Estas mudanças incluem um pico no desma-
usos pouco sustentáveis que substituem a tamento em 1995, resultado do Plano Real,
iniciação em 1994 e uma queda em 2005,
floresta. Estes serviços incluem a manuten-
resultado de taxas de câmbio desfavoráveis
ção da biodiversidade, da ciclagem de água e
para exportações, combinado com a “ope-
dos estoques de carbono que evitam o agra- ração Curupira” para reprimir a exploração
vamento do efeito estufa. Retroalimentações madeireira ilegal em Mato Grosso, junto com
entre as mudanças climáticas e a floresta, por criação de reservas e uma de área interditada
meio de processos tais como os incêndios no Pará após o assassinato da Irmã Dorothy
florestais, a mortalidade de árvores por seca Stang. É provável que o desmatamento futu-
e calor e a liberação de estoques de carbono ro aumente ainda mais rapidamente por cau-
no solo, representam ameaças para o clima, sa da constante expansão da rede de estra-
a floresta e a população brasileira. Eventos das. Decisões para construir ou pavimentar
recentes indicam que o desmatamento pode rodovias têm conseqüências de longo alcan-
ser controlado, tendo a vontade política, ce, condenando a floresta circunvizinha ao
pois os processos subjacentes dependem de desmatamento (por exemplo, Ferreira et al.,
decisões humanas. 2005; Soares-Filho et al., 2004, 2005).
Os atores e as forças que conduzem ao
PALAVRAS CHAVE Aquecimento global, desmatamento variam entre partes diferen-
Biodiversidade, Desmatamento, Carbono, tes da região, e variam ao longo do tempo.
Cíclo hidrológico, Efeito estufa, Serviços Em geral, os grandes e médios fazendeiros
ambientais respondem pela grande maioria da atividade
2004; Jones et al., 2005). Isto eleva o espec- ser a redução da velocidade de movimento da
tro do “efeito estufa fugitivo”, onde o aqueci- Corrente Marinha do Golfo, como resultado
mento global escapa de controle de humano da debilitação da circulação termohalina (por
e continua aumentando independentemente exemplo, Bryden et al., 2005). É esperado que
de quaisquer cortes nas emissões antropo- o efeito estufa debilite esta circulação e, além
gênicas que possam ser alcançadas. Uma disso, pode ser esperado que o aquecimento
pesquisa recente indica que ocorreram per- geral dos oceanos faça massas de água morna
das de estoques de carbono do solo na Grã- exceder as temperaturas de limiar com maior
Bretanha mesmo com o modesto nível atu- freqüência em geral, incluindo tanto as anoma-
al de aumento da temperatura global desde lias de temperatura no Atlântico, assim como
1900, de apenas 0,8oC Hansen et al., 2006). o aquecimento da água superficial do Oceano
Os estoques globais de carbono contidos nos Pacífico que ativa o fenômeno El Niño.
solos, como os da Amazônia, dê a este, o
potencial para alcançar o limiar para o efeito
estufa fugitivo (Fearnside, 2010). CONTROLE DO DESMATAMENTO
Uma indicação da capacidade de mudan- O controle do desmatamento é essencial
ça climática para liberar grandes estoques de para evitar os impactos da perda de flores-
carbono independente da vontade humana foi ta. Muito do processo do desmatamento
provida pela seca na Amazônia em 2005. Esta está atualmente fora de controle do governo
seca causou níveis de água muito baixos em to- (por exemplo, Torres, 2005). Não obstante, a
dos os afluentes do lado sul do rio Amazonas, ação de governo já mostrou ter uma influên-
assim como também nas calhas principais dos cia notável sobre as taxas de desmatamen-
rios Amazonas e Solimões. Incêndios afetaram to onde foram aplicados esforços para fazer
muitas áreas que não estão historicamente su- cumprir a legislação indo mais além do que
jeitas a fogos, inclusive a Reserva Extrativista uma base simbólica. Um exemplo histórico
Chico Mendes, no Acre. A seca não foi causa- importante é o programa de licenciamento
da pelo El Niño, mas sim por uma massa de e controle de desmatamento executado pelo
água morna no Oceano Atlântico (Fearnside, governo do estado de Mato Grosso de 1999
2006a). Na época do período de pico da seca a 2001 (Fearnside, 2003b). Este alcançou re-
na Amazônia, a zona de convergência inter- duções significantes no desmatamento no
tropical (ITCZ) ficava situada aproximadamen- estado como um todo, como mostrado pe-
te na latitude de 12o N, ou seja, em cima da las tendências em municípios onde uma fra-
área de água morna. A energia da água mor- ção significativa da floresta continuava em
na causou a intensificação da ascensão de ar pé exposta ao desmatamento. A explosão
no ITCZ, assim aumentando a circulação de subseqüente do desmatamento no estado
Hadley, inclusive a descida do ar seco em cima que resultou de uma mudança no governo
das cabeceiras dos afluentes do lado sul do estadual realça a importância de políticas
rio Amazonas. Anomalias de temperatura no de governo por estas tendências (Fearnside
Atlântico seguem um ciclo natural de 60 anos, & Barbosa, 2004). Em 2005, o Instituto
e este ciclo estava em um ponto alto em 2005 Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
(Marengo & Nobre, 2005). De junho a outubro Naturais Renováveis (IBAMA) empreendeu a
de 2005 a temperatura média da superfície do “Operação Curupira” para reprimir a explo-
mar no Atlântico Norte Tropical era 0,92oC aci- ração ilegal de madeira, que também parece
ma da média para 1901-1970; a metade disto ter contribuído para reduzir a velocidade de
(0,45o C) era devido ao aquecimento global, desmatamento naquele ano, embora outros
o resto sendo do ciclo natural de 60 anos (< fatos como baixos preços da soja e da carne
0,1o C), o efeito residual de El Niño no ano bovina também contribuíram.
anterior (0,2oC) e de fenômenos com variabili- Além da repressão ao desmatamento em
dade de ano a ano (0,2o C) (Trenberth & Shea, áreas onde o desmatamento já é bem avan-
2006). Um fator adicional que contribui à acu- çado em propriedades privadas, decisões de
mulação de água morna no Atlântico pode governo terão grande efeito sobre a taxa de
Woods (Eds.) As Terras Pretas de Índio da Amazônia: Nicholls, N. & 98 outros. 1996. Observed climate
Sua Caracterização e Uso deste Conhecimento na variability and change. pp. 133-192 In: Houghton,
Criação de Novas Áreas. Editora da Universidade J.T., L.G. Meira Filho, B.A. Callander, N. Harris, A.
Federal do Amazonas (EDUA) & Embrapa Amazônia Kattenberg & K. Maskell (Eds.). Climate Change
Ocidental, Manaus, Amazonas. 420 p. 1995: The Science of Climate Change. Cambridge
University Press, Cambridge, Reino Unido. 572 p.
Fearnside, P.M. & Barbosa, R.I. 2003. Avoided
deforestation in Amazonia as a global warming Oyama, M.D. & Nobre, C.A. 2003. A new climate-
mitigation measure: The case of Mato Grosso. World vegetation equilibrium state for Tropical South
Resource Review 15(3): 352-361. America. Geophysical Research Letters 30(23):
2199-2203.
Fearnside, P.M. & Graça, P.M.L.A. 2006. BR-319: Brazil’s
Manaus-Porto Velho Highway and the potential impact Rice, A.H.; Pyle, E.H.; Saleska, S.R.; Hutyra, L.; Palace,
of linking the arc of deforestation to central Amazonia. M.; Keller, M.; de Camargo, P.B.; Portilho, K.;
Environmental Management 38(5): 705-716. Marques, D.F. & Wofsy, S.C. 2004. Carbon balance
and vegetation dynamics in an old-growth Amazonian
Fearnside, P.M. & Laurance, W.F. 2004. Tropical forest Ecological Applications 14(4): s55-s71.
deforestation and greenhouse gas emissions.
Salati, E. 2001. Mudanças climáticas e o ciclo hidrológico
Ecological Applications 14(4): 982-986.
na Amazônia. p. 153-172 In: V. Fleischresser (Ed.),
Ferreira, L.V.; Venticinque, E. & de Almeida, S.S. 2005. Causas e Dinâmica do Desmatamento na Amazônia.
O Desmatamento na Amazônia e a importância das Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF. 436 p.
áreas protegidas. Estudos Avançados 19(53): 1-10.
Shukla, J., Nobre, C.A. & Sellers, P. 1990. Amazon
Hansen, J.; Sato, M.; Ruedy, R.; Lea, D.W. & Medina- deforestation and climate change. Science 247:
Elizade, M. 2006. Global temperature change. 1322-1325.
Proceedings of the National Academy of Sciences Soares-Filho, B.S.; Alencar, A.A.; Nepstad, D.C.; Cerqueira,
203(39): 14288-14293. G.C.; Diaz, M. del C.V.; Rivero, S.; Solórzano, L. &
Hegerl, G.C.; Crowley, T.J.; Hyde, W.T. & Frame, D.J. Voll, E. 2004. Simulating the response of land-cover
2006. Climate sensitivity constrained by temperature changes to road paving and governance along a major
reconstructions over the past seven centuries. Nature Amazon highway: The Santarém-Cuiabá corridor.
440: 1029-1032. Global Change Biology 10(5): 745-764.
Huntingford, C.; Harris, P.O.; Gedney, N.; Cox, P.M.; Soares-Filho, B.S.; Nepstad, D.C.; Curran, L.; Cerqueira,
Betts, R.A.; Marengo, J.A. & Gash, J.H.C. 2004. G.; Garcia, R.A.; Ramos, C.A.; Lefebvre, P.;
Using a GCM analogue model to investigate the Schlesinger, P.; Voll, E. & McGrath, D. 2005.
potential for Amazonian forest dieback. Theoretical Cenários de desmatamento para Amazônia. Estudos
and Applied Climatology 78: 177-185. Avançados 19(54): 138-152.
Stainforth, D.A.; Aina, T.; Christensen, C.; Collins, M.;
Jones, C.C.; McConnell, K.; Coleman, P.; Cox, P.; Faloon,
Faull, N.; Frame, D.J.; Kettleborough, J.A.; Knight, S.;
P.; Jenkinson, D. & Powlson, D. 2005. Global climate
Martin, A.; Murphy, J.M.; Piani, C.; Sexton, D.; Smith,
change and soil carbon stocks; predictions from two
L.A.; Spicer, R.A.; Thorpe, A.J. & Allen, M.R. 2005.
contrasting models for the turnover of carbon in
Uncertainty in predictions of the climate response to
soils. Global Change Biology 11: 114-166.
rising levels of greenhouse gases. Nature 433: 403-406.
Laurance, W.F.; Cochrane, M.A.; Bergen, S.; Fearnside,
Tian, H.; Mellilo, J.M.; Kicklighter, D.W.; McGuire, A.D.;
P.M.; Delamônica, P.; Barber, C.; D’Angelo, S. & Helfrich III, J.V.K.; Moore III, B. & Vörösmarty, C. 1998.
Fernandes, T. 2001. The Future of the Brazilian Effect of interannual climate variability on carbon
Amazon. Science 291: 438-439. storage in Amazonian ecosystems. Nature 396: 664-667.
Lettau, H.; Lettau, K. & Molion, L.C.B. 1979. Amazonia’s Timmermann, A.; Oberhuber, J.; Bacher, A.; Esch, M.;
hydrologic cycle and the role of atmospheric Latif, M. & Roeckner, E. 1999. Increased El Niño
recycling in assessing deforestation effects. Monthly frequency in a climate model forced by future
Weather Review 107(3): 227-238. greenhouse warming. Nature 398: 694-696.
Marengo, J.A. & Nobre, C.A. 2005. Lições do Catarina e Torres, M. (Ed.) 2005. Amazônia revelada: Os
do Katrina. As mudanças do clima e os fenômenos descaminhos ao longo da BR-163. Conselho Nacional
extremos. Ciência Hoje 37(221): 22-27. de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). 2004. (CNPq), Brasília, DF. 496 p.
Brazil’s National Communication to the United Trenberth, K.E. & Shea, D.J. 2006. Atlantic hurricanes
Nations Framework Convention on Climate Change. and natural variability in 2005. Geophysical
Coordenação Geral de Mudanças Climáticas Globais, Research Letters 33: art. L120704. https://doi.
MCT, Brasília, DF. org/10.1029//2006GL026894
15
BR-319: A rodovia Manaus-Porto Velho e
o impacto potencial de conectar o arco de
desmatamento à Amazônia central
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
267
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 267 8/18/2022 3:15:13 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
268 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 1. Mapa
do Brasil com a
localização das
rodovias federais
amazônicas (linhas
tracejadas).
Outro processo que indica um aumento po- residentes tradicionais da área que se ocupam
tencial no desmatamento ao longo do eixo da da colheita de castanha-do-pará (Bertholetia
rodovia, caso a estrada seja repavimentada, é excelsa), e várias reivindicações maiores por
a chegada de migrantes sem-terra. Isto inclui, donos individuais e empresas, de blocos de
por exemplo, o estabelecimento de um acam- lotes ao longo da rodovia. Os residentes ao
pamento de sem-terra no Igarapé Realidade longo da rodovia acreditam que a proprieda-
(100 km ao norte de Humaitá: Figura 2). Os mi- de de um lote à margem de estrada confere
grantes sem terra no acampamento no Igarapé ao dono o direito a uma área praticamente ili-
Realidade estão organizados na forma de co- mitada de terra pública que se encontra atrás
munidade (embora não se identificam como da área colonizada. Por sua vez, o INCRA diz
pertencendo a quaisquer dos movimentos na- que os colonos não têm nenhum direito desse
cionais de sem-terra, como o Movimento dos tipo (David Benedito Gonçalves, comunicação
Trabalhadores Rurais Sem-Terra, ou MST). pessoal, 2005).
Dois ônibus de migrantes foram obrigados a
voltar para Rondônia depois de uma confron- Além dos migrantes no Igarapé Realidade,
tação com a polícia, mas aproximadamente 30 um fluxo de pessoas procurando terra de for-
famílias permaneceram no acampamento e na ma independente apareceu buscando áreas
área circunvizinha, e, ao longo do período de para estabelecer posses. Alguns destes vêm
2005-2008, este acampamento evoluiu para se por meio de embarcações, sendo deixados
tornar uma vila e um assentamento. Antigos às margens do rio Madeira para então va-
residentes na área reivindicam as áreas com gar pela floresta em busca de terras não
desmatamentos iniciados em várias partes da ocupadas. Espera-se que estes agentes indi-
área “fundiária” (as terras públicas atrás da viduais de áreas já ocupadas em Rondônia
faixa de 2 km dos lotes que foram original- viajem para todos os pontos ao longo da es-
mente distribuídos pelo INCRA ao longo da trada, uma vez que o acesso seja melhorado.
margem da estrada). Esta área de terra pú- Atualmente, existem linhas de ônibus ope-
blica já tem vários pretendentes, inclusive os rando até 200 km ao norte de Humaitá.
Figura 2. Localização
da rodovia BR-319.
outras áreas urbanas são tendências podero- per capita no Amazonas é até ligeiramente
sas na redistribuição da população brasilei- maior do que no Paraná, que é bem conheci-
ra (Brasil, IBGE, 2005; Browder & Godfrey, do como um estado rico. A renda per capita
1997). O distrito industrial em Manaus, que do Amazonas é mais que o dobro do Pará, e
se beneficia de isenções de impostos, empre- quatro vezes maior do que a do Maranhão
gou 82,7 mil pessoas em abril de 2005 (Brasil, (Figura 3). De grande importância para a BR-
SUFRAMA, 2005a); este foi o principal ímã de 319, é o fato do Amazonas ter quase o dobro
atração de população para a cidade (popula- da renda per capita de Rondônia.
ção aproximadamente 1,6 milhões em 2005).
É desnecessário dizer que a chegada mas-
Muito da migração para Manaus tem siva de migrantes urbanos em Manaus de-
sido de populações ribeirinhas do interior da gradaria os serviços sociais já precários e au-
Amazônia até agora, mas este fluxo poderia mentaria os problemas urbanos, tais como:
ser tolhido pela vinda de novos migrantes do desemprego, subemprego, invasões urbanas e
resto do Brasil se o acesso fosse facilitado. O criminalidade. É esperado que a taxa de mi-
desemprego em Manaus é mais baixo do que gração de outras partes do Brasil seja propor-
em muitas cidades brasileiras, embora a re- cional à disparidade em relação a oportuni-
putação que Manaus desfruta de níveis altos dades de emprego e padrões de vida entre os
de emprego não é completamente merecida. locais fontes e de destino, conduzindo a uma
Manaus tem 141 empregos formais por mil redução das qualidades atrativas do local de
habitantes; das capitais das unidades federati- destino até que um equilíbrio seja estabeleci-
vas brasileiras, um terço tem mais desemprego do. A magnitude da disparidade que pode ser
que Manaus enquanto dois terços têm menos mantida em equilíbrio depende da fricção, ou
(Brasil, IBGE, 2005). Porém, Manaus tem a resistência, à migração representada por im-
melhor razão entre emprego e população de pedimentos como a falta de acesso de estrada
qualquer cidade importante na região Norte. para Manaus. Manaus hoje se mantém como
Renda per capita fornece outro indicador uma ilha de riqueza da mesma forma que uma
da atratividade de Manaus como destino à garrafa térmica mantém seu café quente por
migração. O Estado do Amazonas é muito meio do impedimento da parede da garrafa à
melhor do que os estados circunvizinhos, e passagem de calor. Colocando o mesmo café
tem renda per capita mais alta que qualquer quente em um bule de ferro, ele se esfria logo.
outro estado no Brasil com a exceção do Quando os impedimentos à migração fo-
Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, rem afastados, o equilíbrio poderia mudar
Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A renda na medida em que a taxa elevada de migra-
ção abaixasse as características atraentes da
área de destino. Um exemplo é a cidade de
Sorriso, em Mato Grosso, que está no cen-
tro do “boom” da soja em Mato Grosso: era
o assunto de reportagens frequentes por-
que o “boom” econômico na área resultou
no alcance do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) mais alto do Brasil. Um ano
depois, o prefeito da cidade lamentava que
Figura 3. Renda per
a publicidade sobre o IDH resultasse em um
capita nos estados excesso de migrantes. Com cinco ônibus lo-
brasileiros em 2002 tados de pessoas chegando por dia, o prefeito
(fonte de dados: estava procurando meios para desencorajar
IPIB, 2005). Valores
em Reais, em 2002
a migração que já aumentou a população es-
(US$ 1 = R$ 2,28). colar em 36% (A Folha de São Paulo, 2005).
Estados “ricos” têm
renda per capita acima Criar emprego em Manaus é uma luta
de R$8 mil. interminável para autoridades em todos os
níveis, como também é o caso em outros lu- extensão de reservas indígenas e unidades
gares. Esta luta pode facilmente se tornar um de conservação em Roraima (em ambos os
trabalho de Sísifo. Assim como o Sísifo da mi- casos criados por autoridades federais).
tologia grega, que foi condenado a rolar eter-
namente um pedregulho pesado para cima de
uma colina em Hades, para que a pedra rolasse BENEFÍCIOS DA RODOVIA
de volta ao fundo da colina cada vez que ela Os benefícios de pavimentar a BR-319 são,
se aproximasse ao topo, a luta de Manaus para indubitavelmente, menores do que aqueles
empregar sua população seria em vão se para retratados no discurso político acerca desse
cada posto de trabalho criado, três ou quatro assunto. A justificação principal apresentada
migrantes desempregados chegassem à cidade. é a redução de custos de transporte no fre-
te para o centro-sul brasileiro, aumentando
Impactos em Roraima assim a competitividade de produtos indus-
triais de Manaus nos mercados em São Paulo
É provável que o potencial à migração
e em outros centros populacionais. Porém,
crescente em direção a Roraima seja um
os produtos industriais de Manaus, como te-
dos principais impactos em pavimentar a
levisores e motocicletas, não são artigos pe-
BR-319 (Barni et al., 2009). A parte do fluxo
recíveis para os quais a diferença de alguns
de população existente há muito tempo do
dias em tempo de transporte faria uma dife-
Maranhão para o Pará, Rondônia se tornou
rença significante. Remessa de tal frete por
a principal fonte de migração para outros
navio para o porto de Santos é muito mais
estados amazônicos, os destinos principais
eficiente tanto em termos de uso de energia
são áreas como Apuí (no sul do Amazonas),
como em termos de custos de mão-de-obra,
Acre oriental, e um movimento significante
quando comparado com a remessa em mi-
para o noroeste de Mato Grosso (inverten-
lhares de caminhões, qualquer que seja a
do o fluxo tradicional de Mato Grosso para
rota rodoviária. É notável, que os mesmos
Rondônia). Roraima também é um destino,
argumentos usados como justificativa para a
embora a dificuldade de transporte entre
BR-319 estão sendo simultaneamente usados
Rondônia e Manaus contenha a migração,
como parte da justificativa para pavimentar
no momento, nesta rota. No início da década
a rodovia BR-163 de Santarém à Cuiabá (por
1980, quando a BR-319 era transitável, uma
exemplo, Simonetti, 2005; Brasil, SUFRAMA,
fração significativa dos migrantes que che-
2005b). O frete atualmente realizado de
garam a Manaus pela rodovia seguiu direta-
Manaus para Belém em barcaças e transpor-
mente para Roraima pela BR-174, ao invés de
tado em caminhão para São Paulo pela ro-
se instalar na Amazônia central. Isto é expli-
dovia Belém-Brasília (BR-010) leva 11 dias, e
cado parcialmente pela geoquímica, já que
chegaria em 5 dias se transportado em cami-
Roraima, situada em parte na formação Boa
nhão a partir de Santarém (Brasil, BNDES,
Vista, possui solos mais jovens e mais férteis
1998, p. 68). Desnecessário dizer que, con-
do que os de Manaus. A migração também
tabilizando o mesmo frete para justificar a
é explicada, em parte, pelo encorajamento
BR-319, implica que este benefício evapora-
ativo do governo de Roraima na distribuição
ria para a BR-163. A atual rota multimodal
de terras em áreas de assentamento, no for-
via Porto Velho é mais barato que a rota via
necimento de transporte subsidiado até mer-
Belém, mas só é utilizável durante uma par-
cados e nos outros serviços, e até mesmo em
te do ano porque o rio Madeira não perma-
programas ativos para transportar migrantes
nece navegável, no seu período de vazante
novos ao estado, como parte de estratégias
(o nível de água no rio varia em 15 m ao
de eleição (veja Fearnside & Barbosa, 1996a).
longo do curso do ano, e a profundidade em
Roraima ganhou uma reputação como um
Porto Velho é de apenas 2 m quando a vazão
estado onde o nível de governança ambien-
do rio chega ao seu mínimo anual).
tal é próximo de zero (Fearnside & Barbosa,
1996a,b). Uma exceção importante é a bar- A rota de transporte por caminhão
reira ao desmatamento atribuído pela grande de Manaus para São Paulo pela rodovia
os que conseguem levar o crédito pela sua caso é o efeito de não contabilizar o impac-
reconstrução. Deveria ser notado que a to ambiental e social da estrada que é o im-
construção seria feita com fundos federais, pacto potencial do fluxo de população para a
não com fundos dos contribuintes do Estado Amazônia central e para Roraima. Os impac-
do Amazonas. Esta diferença de perspectiva tos de construir o leito rodoviário propriamen-
pode ser crucial na percepção de que grandes te dito são mínimos quando comparado aos
investimentos valem à pena; a construção impactos de alcance mais longo, tais como o
da Hidrelétrica de Balbina perto de Manaus fluxo populacional e o aumento da atividade
é um exemplo claro (Fearnside, 1989a). de desmatamento (e.g., Fearnside, 2005).
Outro grupo influente são as empresas de
A necessidade por um repensar dos pla-
construção e os provedores potenciais de
nos para reconstruir a BR-319, neste momen-
bens e serviços ao esforço de construção.
to, é sugerida pelos altos custos ambientais e
Como qualquer investimento público de
sociais e os benefícios modestos quando vis-
grande porte, cujos custos financeiros vêm
to sob uma luz mais realística do que o dis-
de contribuintes espalhados por todo o País
curso político atual. Os impactos poderiam
enquanto que a atividade comercial e os em-
ser reduzidos na rodovia se uma decisão em
pregos gerados na fase de construção são lo-
pavimentar fosse adiada por vários anos e se
calizados (por exemplo, em Manaus), pode
fosse feito bom uso do tempo interveniente.
ser esperado que um lobby de apoio local
Uma alternativa que o governo do Estado do
se desenvolva até mesmo caso o projeto em
Amazonas faria bem em explorar é a promo-
questão tenha justificativa econômica míni-
ção de um serviço de cabotagem regular en-
ma. Por exemplo, a Hidrelétrica de Balbina é
tre os portos de Manaus e Santos. O porto de
conhecida como um projeto “faraônico” por-
Manaus é capaz de receber navios oceânicos
que, como no caso das pirâmides de Egito
de todos os tamanhos, mas o transporte é fo-
antigo, ergueu-se uma estrutura enorme a
calizado principalmente em mercados exter-
grande custo com pouco ou nenhum retorno
nos. Uma resistência a isto pode ser espera-
prático (Fearnside, 1989a).
da por empresários por questão de interesses
Além do frete industrial que é visto financeiros da atual operação de barcaças
como condutor de aumento de empregos em para Belém e Porto Velho. No entanto, esses
Manaus, uma fonte importante de apoio à pa- mesmos interesses também seriam contra o
vimentação da BR-319 está na imaginação de projeto de reconstrução da BR-319. Em 1996,
residentes de classe média de Manaus que se havia 15 empresas transportando carga geral
visualizam fazendo viagens de férias para o para Belém e oito empresas para Porto Velho
centro-sul brasileiro, embora, a maioria das (Brasil, BNDES, 1998, p. 66 & 79).
tais viagens provavelmente nunca viesse a
O zoneamento ecológico-econômico do
acontecer (pelo menos por estrada). Acabar
Estado do Amazonas já foi realizado em forma
com o “isolamento” de Manaus demonstra
preliminar (Estado do Amazonas, 2001), mas
ser um lema poderoso, mas raramente é
precisa ser fortalecido e implementado. Em
lembrado que se trata de uma moeda com
Roraima, foi concluído um zoneamento, mas
dois lados, o outro sendo a chegada de um
foi deixado sem implementação porque o ór-
fluxo de migrantes para Manaus.
gão ambiental estadual não enviou a proposta
de zoneamento à Assembleia Legislativa do
A BR-319 E O PROCESSO DE TOMADA DE estado. Deveria ser enfatizado que a condição
DECISÃO prévia necessária para a decisão de pavimen-
tar uma rodovia não é um plano ou um comi-
O processo de tomada de decisão sobre a tê, mas reais mudanças que sejam implanta-
reconstrução da BR-319 segue o padrão evi- das de fato antes da aprovação ser concedida.
dente em outros projetos de infraestrutura Pressupõe-se que as medidas de mitigação
amazônica de subestimar substancialmente que serão implantadas simultaneamente com
os impactos e superestimar os benefícios de pavimentação da rodovia representam uma
obras públicas propostas. O mais notável neste fórmula para o desastre ambiental, como
amplamente mostrado pela história da rodo- de terra. Isto precisa ser feito sem legalizar
via BR-364 (Fearnside, 1989b). as reivindicações, tanto de grileiros ou dos
pequenos invasores. Embora um cadastro
A criação de reservas ambientais e a sua
nacional esteja em preparação pelo INCRA,
implantação (incluindo a contratação de pes-
progresso neste projeto de longo prazo ainda
soal) ao longo do eixo rodoviário é uma me-
não alcançou a área da BR-319. O Instituto
dida importante que precisa, não só estar no
de Terras do Amazonas (ITERAM) também
lugar antes da rodovia ser aberta, mas antes
ainda não teve sucesso em montar um ban-
que os efeitos de expectativas de uma futura
co de dados georreferenciados das proprie-
pavimentação corroam as possibilidades de
dades nas áreas que o órgão controla.
criar tais áreas. As reservas podem formar bar-
reiras paralelas à rodovia para conter a expan- São necessárias mudanças fundamentais
são do desmatamento a partir das margens da e de longo alcance, além de medidas mais
estrada. No caso de reservas extrativistas, es- paliativas para conter o desmatamento por
tas oferecem também a possibilidade de man- meio de zoneamento, criação de reservas e
ter a economia atual baseada na colheita de fazer cumprir os regulamentos ambientais.
castanha-do-pará, uma atividade que é sacri- A falta de alternativas de emprego precisa
ficada onde o desmatamento avança e onde ser endereçada em contextos urbanos e ru-
os residentes locais são substituídos. rais. No contexto rural, fatores que agem
para desencorajar a contratação de trabalho
A falta de governança é um problema crô- incluem o fardo pesado de “custos sociais”,
nico na BR-319, assim como em outros lugares tais como a previdência social. O mercado
na Amazônia. Ambos, a agência ambiental informal (não regulado) de trabalho domi-
federal (IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio na em grande parte do interior amazônico.
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) Abusos como a escravidão por dívida são
e o órgão estadual (IPAAM: Instituto de um resultado comum. Este é um resultado
Proteção Ambiental do Amazonas) são muito lógico da governança fraca que arruína a
fracos quando comparado aos desafios que execução de regulamentos de todos os tipos.
enfrentam. A execução de regulamentos
ambientais é mínima, tanto para os que Os tipos de uso de terra escolhidos desen-
exigem uma reserva legal de 80% em cada corajam a criação de emprego rural estável.
propriedade situada na parte da Amazônia, A exploração madeireira é um empregador
onde a vegetação original é de floresta, assim significante, mas a falta de sustentabilida-
como para aqueles regulamentos que exigem de deste uso da terra, até mesmo quando
as áreas de proteção permanente (APPs) ao executado como parte de planos de manejo
longo de cursos de água e em locais aciden- aprovados, conduz a um movimento ininter-
tados. Uma combinação de sensoriamento re- rupto de serrarias e fronteiras de exploração
moto, campanhas de campo, e de cooperação madeireira. O próprio processo de desmata-
íntima entre os órgãos de execução e o siste- mento emprega uma mão-de-obra significan-
ma judiciário se mostrou eficaz em influen- te na Amazônia, mas necessariamente é um
fenômeno efêmero em qualquer determina-
ciar o comportamento de desmatamento, a
do local (e, em longo prazo, na região como
exemplo de Mato Grosso, no seu programa
um todo). O uso da terra predominante após
de licenciamento e controle de desmatamento
o desmatamento é a pastagem, que também
de 1999 a 2001, ou seja, durante o governo
emprega poucas pessoas. Onde o cultivo me-
estadual anterior (Fearnside, 2003; Fearnside
canizado de arroz e soja é lucrativo, estes
& Barbosa, 2003). Estes métodos ainda não
usos estão presentes em áreas crescentes.
têm sido aplicados no Amazonas e nem em
Esta forma de agricultura substitui a mão-
Roraima.
de-obra braçal pela maquinaria e os herbici-
Um impedimento básico para uma go- das. Entre os fatores que desencorajam usos
vernança melhor é a falta de um cadastro da terra que empregariam mais pessoas em
das terras, que tornaria possível identificar áreas desmatadas está o receio de que meei-
quem possui qualquer determinado pedaço ros e/ou trabalhadores contratados ganhem
direitos de posse sobre a terra que cultivam. fronteira” em 1890 marcou o fim desta for-
Estratégias para evitar tais reivindicações de ma de assentamento independente (Turner,
posse pela terra incluem a atual combinação 1893). Para este tipo de mudança acontecer
de usos da terra, que exigem pouca mão-de- no Brasil por algum meio diferente do sim-
-obra e a periódica expulsão e substituição ples esgotamento de área de terra, precisa-se
de trabalhadores e arrendatários. de algum marco visível. Se a vontade políti-
O Brasil precisa enfrentar urgentemente o ca para uma mudança desse tipo vier ocor-
desafio de fazer a transição em deixar de usar rer, as rodovias BR-163 e BR-319 poderiam
o costume de direitos de posse como uma vál- ser o momento decisivo para o Brasil.
vula de escape para desigualdades e injustiças
de todos os tipos, assim como também por fim O EIA-RIMA DA RODOVIA BR-319
ao padrão de permitir e legitimar apropriação
de grandes áreas de terra pública por grileiros. O EIA-RIMA para a rodovia BR-319
Mais cedo ou mais tarde, este costume fatal- (Manaus-Porto Velho) trata de uma das deci-
mente vai mudar, à medida que chegarem ao sões mais importantes diante o governo bra-
limite as áreas de floresta disponíveis. Os be- sileiro hoje: se deveria abrir a parte central
nefícios ambientais e sociais seriam grandes se e norte da Amazônia à migração oriunda do
a transição pudesse ser alcançada logo, bem notório “arco de desmatamento”, que atual-
antes que o País seja forçado a isto por falta de mente se restringe ao sul da Amazônia. A
floresta adicional para invadir. Infelizmente, proposta de reabertura da rodovia BR-319,
a “MP da grilagem” (Medida Provisória uma estrada abandonada há mais de 20
458/2009), já aprovada pelo Congresso anos, facilitaria em muito o movimento de
Nacional, representa um grave retrocesso nes- atores do arco de desmatamento, inclusive
te sentido, legalizando uma grande área de grileiros (apropriadores ilegais de grandes
ocupações ilegais anteriores e criando a expec- áreas de terra pública) e de sem terras (gru-
tativa geral de que, no futuro, os que seguem pos organizados de camponeses pequenos
invadindo também serão beneficiados. que não possuem terras) (Fearnside & Graça,
Na maioria das partes do mundo, esta 2006; Fearnside, 2008). A região de Manaus,
transição já foi feita há muito tempo: pes- por exemplo, tem sido poupada de conflitos
soas desempregadas que faltam os recursos agrários resultantes da busca por terra, tais
para começar um negócio próprio enfrentam como a invasão de fazendas por sem terras,
a opção de buscar alguma forma de empre- e o ciclo resultante de desmatamento cujo
go, urbano ou rural. Nem passaria pela ca- posseiros desmatam para estabelecer as suas
beça de tais pessoas a ideia de que teriam reivindicações e os grandes proprietários de
um direito inato de invadir qualquer terra terras desmatam para evitar que as terras
“não utilizada”, tais como as terra públicas sejam invadidas, ou então, confiscadas pelo
na Amazônia, para começar uma proprieda- governo para fins de reforma agrária. A situ-
de nova. É claro que, em alguma época no ação inusitada na Amazônia central somente
passado distante, os antepassados de prati- é possível por causa da dificuldade de chegar
camente todas as pessoas de hoje reivindica- até esta área na ausência de uma conexão
ram terra por meio de simples ocupação. No por estrada. O EIA-RIMA especificamente re-
Brasil esta forma de transferir terra pública jeita um aumento da migração como impac-
para o domínio privado persiste até os dias to da BR-319, declarando que “A existência
de hoje. Abandonar esta tradição requer uma de uma migração reprimida é um fenômeno
mudança na mente da população. É impor- questionável, já que, desde os tempos da co-
tante entender que tal mudança de atitude lonização da Amazônia, o uso da via fluvial
pode acontecer: a tradição de ganhar a posse tem sido intenso, sendo o principal meio de
da terra por meio da ocupação não é uma acesso às diversas cidades da região” (UFAM,
constante da paisagem. Um exemplo é for- 2009a, Vol. 1, p. 189). Infelizmente, a migra-
necido pelo assentamento da parte ocidental ção tem sido uma ocorrência repetida quan-
dos Estados Unidos, cujo “fechamento da do outras áreas foram abertas por estradas,
como no caso da BR-364 em Rondônia (por Manaus e São Paulo pela rodovia e o custo
exemplo, Fearnside, 1986b). de transporte pela alternativa mais barata.
O EIA-RIMA contém a confissão extraor- Neste caso, a alternativa mais barata para a
dinária de que a BR-319 tem “baixa importân- maioria do frete seria transporte em contê-
cia para o Pólo Industrial de Manaus” (UFAM, ineres por cabotagem, e o “benefício” seria
2009a, Vol. 1, p. 216). Seguramente, isto deve negativo porque a alternativa é mais barata
ser uma das declarações mais extraordiná- do que a rodovia. Observa-se que a viagem
rias nos 23 anos de história do EIA-RIMA que precisa ser comparada para a maior par-
no Brasil. A importância alegada da BR-319 te do cálculo está entre Manaus e São Paulo,
para o Pólo Industrial de Manaus sempre foi não entre Manaus e Porto Velho (UFAM,
a principal justificativa para a existência da 2009a, Vol.1, item Análise Financeira do
rodovia. Infelizmente, a afirmação da inexis- Projeto, p. 191). Porto Velho serve apenas
tência de interesse é completamente verda- como um entreposto para os caminhoneiros
deira, e isto foi declarado publicamente pelo em trânsito para São Paulo, e não como o
representante da Federação das Indústrias do destino final do transporte.
Amazonas (FIAM) no evento realizado na
Superintendência da Zona Franca de Manaus A quantidade de tráfego que os autores
(SUFRAMA), em 19 de março de 2008. O refe- do EIA-RIMA esperam está baseada em su-
rido evento teve por objetivo debater a propos- posições extraordinariamente otimistas. Eles
ta, que estava sendo apoiada pelo governo do esperam 375.000 passageiros de ônibus por
Estado do Amazonas naquele momento, para ano a partir de 2012, data esperada de inau-
substituir o projeto da rodovia BR-319 por uma guração da rodovia (UFAM, 2009a, Vol. 1, p.
ferrovia. Um ampla informação existe, mos- 193), o que é aproximadamente igual à po-
trando que a cabotagem em navios oceânicos pulação inteira da cidade de Porto Velho, que
de Manaus para Santos é um meio muito mais era de 368.345 habitantes em 2007 (UFAM,
barato para transportar a produção das fábri- 2009a, Vol. 4, p. 25). Vale a pena lembrar que
cas de Manaus para São Paulo do que o trans- atualmente o número de imigrantes chegando
porte por qualquer rota rodoviária (Fearnside a Manaus é 1,8 vezes maior do que o núme-
& Graça, 2006, 2009a; Peixoto, 2006; Teixeira, ro de emigrantes saindo da cidade (UFAM,
2007). Por exemplo, Teixeira (2007), investi- 2009a, Vol. 4, p. 208), e que a proporção de
gando as opções de transporte de carga geral
viagens no sentido Porto Velho-Manaus deve
nas conexões com a região amazônica, con-
cluiu que o transporte marítimo por cabota- guardar uma proporção similar em compara-
gem reduz os custos do transporte na ligação ção às viagens Manaus-Porto Velho depois de
Manaus-São Paulo em 37%, quando compa- abrir a estrada. Esta migração líquida de de-
rado com os atuais meios de transporte. Por sempregados para Manaus não representaria
sua vez, a mesma autora, quando considera um benefício para Manaus de hipótese algu-
a construção da rodovia (BR-319) ligando ao ma, mas sim um custo enorme em termos de
resto da malha rodoviária brasileira, os custos gastos municipais com serviços e em termos
aumentam em 19% em relação à rota atual, de outros impactos sociais.
que utiliza a hidrovia até Belém. Os autores do EIA declaram: “a rodovia
O EIA-RIMA calcula o benefício da rodo- BR-319 é encarada como uma promissora
via como a receita bruta do frete e do tráfego rota de exportação de commodities do agro-
de passageiros que os autores esperam pas- negócio (soja e álcool)” (UFAM, 2009a, Vol.
sar pela rota. Esta receita, é claro, não cons- 1, p. 184). Porém, é improvável que este tipo
titui nenhum tipo de benefício, mas sim um de frete seja transportado por estrada, uma
custo a ser pago por aqueles que usam a ro- vez que estes produtos são muito mais bara-
dovia. Por esta lógica, quanto mais ineficien- tos transportados a granel, em barcaças, do
te e mais caro o transporte, maior o “benefí- que fracionar o frete em contêineres ou cami-
cio” que poderia ser contabilizado (L. Fleck, nhões. Poupar alguns poucos dias em trans-
declaração pública, 15 de abril de 2009)! O porte não justifica o custo substancialmente
benefício deveria ser calculado como a di- mais alto de transportar este tipo de frete por
ferença entre o custo de transporte entre caminhão. A literatura de transporte trata a
Figura 4. Mapa
rodoviário do
Amazonas incluindo
estradas planejadas
ao longo da BR 319
(indicadas por setas
amarelas). Fonte:
(Brasil, DNIT, 2002,
acrescentadas as
setas).
repassar parte do ônus mal contabilizado argumentou que nenhum estudo de viabilida-
desta obra para os usuários, por meio da co- de é preciso, pois considera que este projeto
brança de um novo tipo de imposto na forma é apenas uma “recuperação” de uma estra-
de um “pedágio ambiental” (UFAM, 2009a, da existente. O mesmo argumento era usado
Vol. 1, p. 211-212). pelo Ministério dos Transportes ao reivindicar
que nenhum EIA-RIMA seria necessário, mas
A análise de custos ambientais realizada
isto não foi aceito pelos tribunais e agora foi
pelo EIA, considerou quatro cenários (um sem
elaborado um EIA-RIMA. A pergunta de por
governança e os demais com governança fra-
que um estudo de viabilidade também não
ca, moderada e forte) para a mensuração dos
foi realizado permanece. Por exemplo, a rodo-
custos ambientais da pavimentação da rodovia
via BR-163 (Santarém-Cuiabá), que também
BR319. Nesta análise os autores concluíram
é um projeto de “reconstrução” de rodovia,
que devido aos altos custos ambientais a re-
construção da rodovia só teria viabilidade eco- tem os dois tipos de relatório: o EIA-RIMA e o
nômica no caso de um cenário de governança estudo de viabilidade.
ambiental (UFAM, 2009a, Vol.1, p. 203). No Qualquer tomada de decisão racional so-
entanto, os custos ambientais para a realiza- bre projetos de infraestrutura como a rodovia
ção de uma governança ambiental, tais como a BR-319 deve pesar todos os custos e benefícios
implementação de Unidades de Conservação, para todas as alternativas, inclusive a opção
postos de fiscalização, contratação de pessoal, sem o projeto, antes que uma decisão fosse to-
não foram considerados na análise de custos. mada. A finalidade de avaliações ambientais
De acordo com dados preliminares de um es- é de prover informações para tomar uma de-
tudo realizado pela Conservação Estratégica cisão racional. Neste caso, a consideração dos
(CSF-Brasil), em abril de 2009, a implantação custos e benefícios é altamente seletiva, omi-
de 29 parques e reservas ao longo da rodovia tindo as comparações econômicas principais
gerará um custo estimado de R$ 578 milhões, que precisam ser feitas relativo ao transporte
que não será coberto pela economia nos trans- entre Manaus e São Paulo (não somente entre
portes. O custo para a implementação dessas Manaus e Porto Velho), e omitindo os impac-
áreas de proteção ambiental atualmente pelo tos ambientais principais que seriam o resul-
governo é estimado em apenas 39 milhões de tado da migração para áreas fora da área ao
reais (Brasil, Ministério dos Transportes, 2009, longo da extensão de rodovia planejada para
p. 5). Apesar da “blindagem verde” proposta reconstrução. A apresentação das informações
para a BR 319, é possível que grandes áreas no EIA-RIMA deve ser de uma forma objetiva
de florestas remotas bem conservadas sejam para permitir uma decisão livre sobre a obra
atingidas pelo desmatamento caso as estra- pela sociedade e pelas autoridades competen-
das laterais planejadas pelo DNIT venham a tes. Os autores do RIMA não demonstram ne-
ser realizadas. Por exemplo, já existe a um nhuma preocupação em manter uma posição
trecho aberto da extensão BR-174, que liga a neutra sobre a obra, concluindo que: “Ao final,
BR-319 a Manicoré, atualmente intransitável, reiteramos a relevância desta obra como instru-
que ultrapassa essa “blindagem verde”. Pior, mento de integração dos estados do Amazonas
a estrada planejada cruzando o rio Purus em e Roraima ao restante do país e a importância
Tapauá abriria uma vasta área para desmata- de que ela seja executada com base em alicerces
mento atrás da estreita fila proposta ao lado econômicos, sociais e ecológicos fortes e equili-
da rodovia BR-319. brados” (UFAM, 2009b, p. 38).
Nenhum estudo de viabilidade existe para
a BR-319. Um estudo de viabilidade consiste CONCLUSÕES
em uma estimativa detalhada dos custos e be-
nefícios financeiros de um projeto proposto. O custo ambiental não contabilizado de
Obviamente, este é um elemento fundamen- conectar a Amazônia central com o “Arco
tal no processo de tomada de decisão para de Desmatamento” precisa ser incorporado
qualquer projeto de infraestrutura. No caso da no processo de decisão antes dela ser toma-
rodovia BR-319, o Ministério dos Transportes da sobre a reconstrução e pavimentação da
rodovia BR-319. Embora seja lógico, numa Amazonas em Tempo. 2005b. “Rodovia BR-319 será
escala de tempo de décadas, esperar que a o corredor de agricultura familiar”. Amazonas em
Tempo [Manaus]. 05 de junho de 2005, p. A-5.
pavimentação desta rodovia se concretize, o
custo ambiental seria alto se isto fosse reali- Amazonas em Tempo. 2005c. “Demarcação de terras
zado sem primeiro preparar as áreas para as em Tapauá gera polêmica”. Amazonas em Tempo
[Manaus]. 17 de junho de 2005, p. B-7.
quais os impactos potenciais se estendem,
inclusive Roraima. Estas preparações in- Banega, A. & K. Gomes. 2005. “BR-319 começa a ser
cluem zoneamento ecológico-econômico, es- recuperada”. Amazonas em Tempo [Manaus]. 09 de
julho de 2005, p. A-5.
tabelecimento de reservas, e aumento do ní-
vel de governança, a ponto que o impacto de Banega, A. & A. Simonetti. 2005. “Alfredo garante:
um fluxo crescente de migrantes poderia ser Enfim, a BR-319 será recuperada.” Amazonas em
Tempo [Manaus]. 06 de março de 2005, p. B-4.
contido. Mais fundamentalmente, o Brasil
precisa passar por uma transição de modo Barni, P.E., P.M. Fearnside & P.M.L.A. Graça. 2009.
que a tradição secular de conceder a posse Deforestation and carbon emissions in Amazonia:
Simulating the impact of connecting Brazil’s
da terra a migrantes que invadem áreas de state of Roraima to the “arc of deforestation” by
floresta seja encerrada. Isto significa prover reconstructing the BR-319 (Manaus-Porto Velho)
uma válvula de escape para muitos proble- Highway. In: CFM 2009| WFC 2009 XII Congreso
mas do País que não podem ser sustentados, Forestal Mundial XIII World Forestry Congress
e é melhor substituir isto com oportunida- – XII Congrès Forestier Mondial 18-23 Octubre
des de emprego melhores em áreas urbanas 2009, Buenos Aires-Argentina. Desarrollo Forestal-
Equilibrio Vital / Forest in Devlopment- A Vital
e rurais antes que esta transição no País seja Balance, Food and Agriculture Organization of the
forçada pela dizimação da floresta. United Nations (UN-FAO), Roma, Itália. CD-ROM &
http://www.wfc2009.org.
Brazil, SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca Fearnside, P.M. 2002. Avança Brasil: Environmental
de Manaus). 2005b. Pólo industrial de Manaus. and social consequences of Brazil’s planned
SUFRAMA, Manaus, Amazonas. Apresentação infrastructure in Amazonia. Environmental
Powerpoint. Management 30: 748-763.
Browder, J.O. & B.J. Godfrey. 1997. Rainforest Cities: Fearnside, P.M. 2003. Deforestation control in Mato
Urbanization, Development and Globalization of Grosso: A new model for slowing the loss of Brazil’s
Amazon forest. Ambio 32(5): 343-345.
the Brazilian Amazon. Columbia University Press,
New York, NY, E.U.A. 427 p. Fearnside, P.M. 2005. Carga pesada: O custo ambiental
de asfaltar um corredor de soja na Amazônia. In:
CNT (Confederação Nacional do Transporte). 2002.
M. Torres (Ed.) Amazônia revelada: os descaminhos
Transporte de Cargas no Brasil: Ameaças e
ao longo da BR-163. Conselho Nacional de
Oportunidades para o Desenvolvimento do País.
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
Diagnóstico e Plano de Ação. CNT & Centro de Estudos
Brasília, DF.
em Logística (COPPEAD), Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ. 200 p. http:// Fearnside, P.M. 2008. The roles and movements of
www.coppead.ufrj.br/pesquisa/cel/ new/pesq-trans/ actors in the deforestation of Brazilian Amazonia.
DIAGNOSTICO_e_PLANO_DE_ACAO.pdf Ecology and Society 13(1): art. 23. http://www.
ecologyandsociety.org/vol13/iss1/art23/
Consórcio Brasiliana. 1998. Programa Brasil em Ação: Eixos
Nacionais de Integração e Desenvolvimento. Banco Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1996a. Political benefits
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social as barriers to assessment of environmental costs
(BNDES) PBA/CN-01/97. Relatório Final do Marco in Brazil’s Amazonian development planning:
Inicial, Consórcio Brasiliana, Brasília, DF, 3 vols. The example of the Jatapu Dam in Roraima.
Environmental Management 20(5): 615-630.
Estado do Amazonas. 2001. Zoneamento Ecológico-
Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1996b. The Cotingo Dam
Econômico no Estado do Amazonas. Junho de 2001.
as a test of Brazil’s system for evaluating proposed
Diretrizes Iniciais para um Ordenamento Ecológico-
developments in Amazonia. Environmental
Econômico do Sudeste-Sul do Estado do Amazonas.
Management 20(5): 631-648.
Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas
(IPAAM), Manaus, Amazonas. Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 2003. Avoided
deforestation in Amazonia as a global warming
Fearnside, P.M. 1985. Agriculture in Amazonia. p. mitigation measure: The case of Mato Grosso. World
393418 In: G.T. Prance & T.E. Lovejoy (eds.) Key Resource Review 15(3): 352-361.
Environments: Amazonia. Pergamon Press, Oxford,
Reino Unido, 442 p. Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2006. BR-319: Brazil’s
Manaus-Porto Velho Highway and the potential
Fearnside, P.M. 1986a. Settlement in Rondônia and impact of linking the arc of deforestation to central
the token role of science and technology in Brazil’s Amazonia. Environmental Management 38(5): 705-
Amazonian development planning. Interciencia 716. https://doi.org/10.1007/s00267-005-0295-y
11(5): 229-236.
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2009a. Transporte
Fearnside, P.M. 1986b. Spatial concentration of hidroviário por cabotagem como alternativa à
deforestation in the Brazilian Amazon. Ambio Rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319). p. 437-
15(2): 7279. 441 In: José Alberto da Costa Machado (Ed.)
Anais da IV Jornada de Seminários Internacionais
Fearnside, P.M. 1987. Deforestation and international sobre Desenvolvimento Amazônico, Volume 3.
economic development projects in Brazilian Superintendência da Zona Franca de Manaus
Amazonia. Conservation Biology 1(3): 214-221. (SUFRAMA), Manaus, Amazonas. 629 p.
Fearnside, P.M. 1989a. Brazil’s Balbina Dam: Environment Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2009b. BR-319: A
versus the legacy of the pharaohs in Amazonia. rodovia Manaus-Porto Velho e o impacto potencial
Environmental Management 13(4): 401-423. de conectar o arco de desmatamento à Amazônia
central. Novos Cadernos NAEA 12(1): 19-50. https:// regime feedbacks, and the future of Amazon forests.
doi.org/10.5801/ncn.v12i1.241 Forest Ecology and Management 154(3): 395-407.
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2009c. O EIA-RIMA Ono, R.T. 2001. Estudo de Viabilidade do Transporte
da Rodovia BR-319: Decisão Crítica sobre a Abertura Marítimo de Conteiners por Cabotagem na Costa
do Coração da Amazônia ao Desmatamento. Brasileira. Dissertação de mestrado em engenharia,
Globoamazonia. 05 de junho de 2009. Disponível Escola Politêcnica da Universidade de São Paulo, São
em: http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/2009/ Paulo, SP. 136 p. http://www.teses.usp.br/teses/
Comentario-BR319_4.pdf disponiveis/ 3/3135/tde-16012002-102949/publico/
teses_online.pdf
Fearnside, P.M., P.M.L.A. Graça, E.W.H. Keizer, F.D.
Maldonado, R.I. Barbosa & E.M. Nogueira. 2009. Peixoto, T.F.A. 2006. Quadro comparativo entre
Modelagem de desmatamento e emissões de gases as diferentes modalidades de transporte de
de efeito estufa na região sob influência da Rodovia mercadorias. p. 89-108 In: A. Freitas & L.S.
Manaus-Porto Velho (BR-319). Revista Brasileira de Portugual (Eds.) Estudos de Transporte e Logística na
Meteorologia 24(2): 208-233. Amazônia. Novo Tempo, Manaus, Amazonas. 396 p.
Ferreira, L.V., E. Venticinque & S.S. de Almeida. 2005. Schneider, R. R., E. Arima, A. Veríssimo, P. Barreto & C.
O Desmatamento na Amazônia e a importância das Souza Junior. 2000. Amazônia Sustentável: Limitantes
áreas protegidas. Estudos Avançados 19(53): 1-10. e Oportunidades para o Desenvolvimento Rural, World
Bank, Brasília, DF & Instituto do Homem e Meio
Folha de São Paulo. 2005. “Em Sorriso, estrada divide Ambiente da Amazônia (IMAZON), Belém, Pará. 58 p.
Daslu e miséria”. Folha de São Paulo. 19 de junho
de 2005, p. B-.4. Simonetti, A. 2005. BR-163: Preservação em primeiro
lugar. A secretária de Coordenação da Amazônia do
IPIB (Internet Produto Interno Bruto). 2005. IPIB - Ministério do Meio Ambiente, Muriel Saragoussi,
Internet Produto Interno Bruto. Rio de Janeiro, RJ. garante que a recuperação da rodovia BR-163 vai
http://www.ipib.com.br beneficiar a Zona Franca. Amazonas em Tempo
Laurance, W.F., A.K.M. Albernaz, G. Schroth, P.M. [Manaus] 01 de abril de 2005. p. A-3.
Fearnside, S. Bergen, E.M. Ventincinque & C. da Soares-Filho, B.S. 2004. SIMAMAZONIA. Centro de
Costa. 2002. Predictors of deforestation in the Brazilian Sensoriamento Remoto (CSR), Universidade Federal
Amazon. Journal of Biogeography 29: 737-748. de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas
Laurance, W.F., M.A. Cochrane, S. Bergen, P.M. Gerais. http://www.csr.ufmg.br/simamazonia
Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S. D’Angelo Teixeira, K.M. 2007. Investigação de Opções de Transporte
& T. Fernandes. 2001. The future of the Brazilian de Carga Geral em Conteineres nas Conexões com
Amazon. Science 291: 438–439. a Região Amazônica. Tese de doutorado em
Engenharia de Transportes, Universidade de São
Litaiff, P. 2005. “Grilagem: Balas protegem as terras.
Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São
Terras ocupadas por grileiros nos municípios do Sul
Carlos, São Paulo. 235 p.
do Amazonas são protegidas à bala por pistoleiros.”
Amazonas em Tempo [Manaus]. 04 de junho de Turner, F.J. 1893. The Significance of the Frontier in
2005, p. B-7. American History, Proceedings of the American
Historical Association for 1893, p. 199-222.
Mahar, D.J. 1976. Fiscal incentives for regional Reeditado em forma expandida: The Frontier in
development: A case study of the western Amazon American History. Dover Publications, Mineola, NY,
Basin. Journal of Interamerican Studies and World E.U.A., 384 p. (1996).
Affairs 18(3): 357-378.
UFAM (Universidade Federal do Amazonas). 2009a.
Nepstad, D.C., J. P. Capobianco, A. C. Barros, G. Estudo de Impacto Ambiental – EIA: Obras de
Carvalho, P. Moutinho, U. Lopes & P. Lefebvre. 2000. reconstrução/pavimentação da rodovia BR-319/AM,
Avança Brasil: Os custos ambientais para Amazônia. no segmento entre os km 250,0 e km 655,7. (UFAM),
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia-IPAM, Manaus, Amazonas. 6 Vols. + Anexos.
Belém, Pará. 24 p. Disponível em: http://www.ipam.
org.br/avanca/politicas.htm UFAM (Universidade Federal do Amazonas). 2009b.
Relatório de Impacto Ambiental – RIMA: Obras de
Nepstad, D.C., G. Carvalho, A.C. Barros, A.A. Alencar, reconstrução/pavimentação da rodovia BR-319/AM,
J.P. Capobianco, J. Bishop, P. Moutinho, P. Lefebvre, no segmento entre os km 250,0 e km 655,7. UFAM,
U.L. Silva, Jr. & E. Prins. 2001. Road paving, fire Manaus, Amazonas. 38 p.
16
Modelagem de desmatamento e emissões de
gases de efeito estufa na região sob influência
da Rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319)
Versão original:
Fearnside, P.M., P.M.L.A. Graça, E.W.H. Keizer, F.D. Maldonado, R.I. Barbosa & E.M. Nogueira.
2009. Modelagem de desmatamento e emissões de gases de efeito estufa na região sob influên-
cia da Rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319). Revista Brasileira de Meteorologia 24(2): 208-233.
https://doi.org/10.1590/S0102-77862009000200009
287
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 287 8/18/2022 3:15:23 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
288 DA FLORESTA AMAZÔNICA
amazônico (Brasil, MCT, 2004). Modelar pelo governo federal como parte do Plano de
esse processo, portanto, representa uma alta Aceleração do Crescimento (PAC).
prioridade para subsidiar a tomada de medi- Rondônia e Amazonas contrastam nitida-
das visando diminuir essa emissão, inclusi- mente em termos de desmatamento (Figura
ve por meio do aproveitamento do valor da 2). As florestas ao redor de Manaus estão em
Redução de Emissões por Desmatamento e grande parte intactas e o desmatamento está
Degradação (REDD), que é um dos pontos acontecendo em um ritmo relativamente len-
chaves nas negociações sob a Convenção to, enquanto o estado de Rondônia foi quase
de Clima atualmente. Este estudo apresenta completamente desmatado exceto em áreas
simulações de desmatamento e de emissões de terras indígenas e unidades de conserva-
de gases de efeito estufa em uma área no ção, tais como parques nacionais e reservas
estado do Amazonas, onde se espera nas biológicas. Rondônia é a principal fonte de
próximas décadas grandes reduções na co- migrantes que se deslocam para outras áreas
bertura florestal, em decorrência da constru- no sudoeste da Amazônia, tais como o estado
ção da infraestrutura planejada (Figura 1). do Acre e a parte sul do Amazonas. Desde o
Essa área corresponde a “Área sob Limitação período em que a rodovia BR-319 foi abando-
Administrativa Provisória” (ALAP), de nada (1988), Rondônia é fonte de migração
153.995 km2, ao longo da rodovia BR-319, que para áreas circunvizinhas. Esse movimento
corta o estado de norte a sul, unindo Manaus aumentou continuamente, como é eviden-
(Amazonas) e Porto Velho (Rondônia). Essa te na recente expansão do desmatamento
rodovia está abandonada desde 1988, quan- em partes acessíveis do sul do Amazonas,
do o serviço de ônibus entre Manaus e Porto tais como Apuí, Santo Antônio do Matupi,
Velho cessou, entretanto, a reconstrução da Humaitá, Lábrea e Boca do Acre (veja Brasil,
estrada até 2011 foi anunciada recentemente INPE, 2007). Portanto, é razoável deduzir,
Figura 1. Mapa
do Brasil com as
principais rodovias
amazônicas existentes
e planejadas (linhas
tracejadas), inclusive
a BR-319 (Manaus-
Porto Velho) (fonte:
Fearnside & Graça,
2006).
Figura 2.
Desmatamento na
Amazônia brasileira
até 2006, baseado em
dados do programa
PRODES do Instituto
Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE)
(desmatamento em
preto) (dados de:
Brasil, INPE, 2007). Em
destaque, a rodovia BR-
319, ainda com grande
parte da cobertura
floresta intacta ao redor
do seu traçado.
Figura 3. A Rodovia
BR-319 e estradas
laterais propostas
(fonte: Fearnside &
Graça, 2006).
(Aguiar, 2006; Aguiar et al., 2007). Uma si- será o mesmo, ainda que estradas ou reservas
mulação específica para a área da rodovia sejam criadas, isto só mudará a distribuição
BR-319 também foi executada (Rede Temática espacial do desmatamento, e não a sua ex-
GEOMA, 2006; Câmara, 2007). O CLUE pro- tensão total. No jargão que cerca o Protocolo
duz uma representação de espaço do local de de Kyoto, criar uma reserva resulta em 100%
desmatamento baseado em tais fatores como: de “vazamento”, ou seja, o desmatamento
distância até mercados, distância até estradas, evitado dentro da área da reserva criada sim-
qualidade do solo e status como área protegi- plesmente seria deslocado para outro local.
da (Veldkamp et al., 2001; Kok et al, 2001; Isto pode ser visto na Figura 5, onde o des-
Verburg et al., 2002). As relações entre o uso matamento que teria acontecido nas reser-
da terra e seus fatores determinantes são ava- vas propostas ao longo da rodovia de BR-319
liadas a partir de regressões logísticas. A re- aconteceu no Acre, Boca do Acre e na área ao
solução espacial é bastante grosseira quando redor de Manaus.
áreas extensas são simuladas. Por exemplo,
Aguiar (2006) usou um tamanho de célula de Soares-Filho et al. (2006)
grade de 25 km × 25 km. O programa não
inclui meios para calcular o total de desma- Britaldo Soares-Filho e colaboradores de-
tamento, e isto culmina na presunção de que senvolveram um pacote de software chamado
o desmatamento anual segue uma trajetória DINAMICA para simular a distribuição es-
fixa, podendo permanecer constante a um pacial do desmatamento (Soares-Filho et al.,
determinado nível, aumentando linearmente 2002, 2003; Soares-Filho, 2004). Nas simu-
por uma quantia fixa a cada ano, ou aumentar lações, o programa DINAMICA pode operar
exponencialmente por uma porcentagem fixa junto com a contribuição de uma simulação
anualmente. Isto limita severamente os pro- não espacial executada no software Vensim
pósitos para os quais as simulações podem (Ventana Systems Inc., 2007). Recentes me-
ser aplicadas. Não podem ser representados lhorias no software DINAMICA permitem que
os efeitos de decisões de políticas diferentes, cálculos feitos pelo Vensim sejam executados
como construção de estradas e criação de re- dentro do próprio DINAMICA. Baseado em
servas, porque o desmatamento total anual indicadores econômicos como crescimento do
Figura 5. Efeito de
áreas protegidas
propostas na BR-
319 ALAP indicado
pelo deslocamento
do desmatamento
em outras áreas
(indicado pelo círculo
vermelho) em uma
simulação em CLUE
(Fonte: Rede Temática
GEOMA, 2006;
também veja Câmara,
2007). Porém, este
“vazamento” é um
artefato do método
de simulação que usa
um valor externamente
especificado pelo total
de desmatamento
(veja texto).
PIB, o programa Vensim calcula o desmata- Collor de Mello) e depois teve um pico em
mento total durante cada ano a ser simulado. 1995 (seguindo o início do Plano Real), que
O vetor das taxas de desmatamento anuais é refletiam a disponibilidade de dinheiro para
passado então ao programa DINAMICA que investimento em desmatamento (i.e., a capa-
determina onde a alocação do desmatamento cidade dos fazendeiros para desmatar).
acontecerá baseada em pesos de evidência, ou O software DINAMICA inclui rotinas
na probabilidade relativa que cada célula na para simular a construção de redes de estra-
grade que representa a paisagem será desflo- das secundárias e para iniciar focos de des-
restada. Estes pesos são derivados de relações matamento novos (ao invés da expansão de
calculadas de pares de imagens de satélite das clareiras já existentes). Estas características
quais são feitos cálculos de probabilidade de fazem o DINAMICA mais complexo do que
desmatar a distâncias diferentes de estradas, o CLUE, e permite representar alguns aspec-
considerando a influência da qualidade do tos que são conhecidos do desmatamento no
solo, a influência de áreas protegidas, distân- Brasil. Especialmente importante é a expan-
cia dos mercados, distância do desmatamento são da rede de estradas endógenas (Souza Jr.
existente e outras características. et al., 2005) e o processo de estabelecimento
O modelo do Vensim usado por Soares- de novas fronteiras (Fearnside, 1987).
Filho et al. (2006) calcula o vetor de taxas de Simulações com o DINAMICA indicam a
desmatamento, ou seja, de “demanda” para rota da rodovia BR-319 formando um enorme
desmatamento, para o período inteiro da si- corredor de desmatamento. Praticamente o
mulação (2001-2050) separadamente do mo- interflúvio Madeira-Purus inteiro é indicado
delo espacial do DINAMICA. Posteriormente, como desmatado até 2050 (Soares-Filho et
repassa este vetor para que o DINAMICA al., 2006; veja Figura 6).
possa determinar onde este desmatamento
ocorre. Não há uma retroalimentação anual As simulações e capacidades dos softwa-
entre os dois modelos, que seria necessária res DINAMICA e Vensim evoluíram continua-
mente (Soares-Filho et al., 2003, 2004, 2006).
para que as características espaciais possam
Estes proveram séries úteis de representações
influenciar na taxa de desmatamento no ano
de como é provável que o desmatamento se
seguinte. Portanto, a existência de reservas
espalhe conforme cenários do tipo “Business
não muda o total de desmatamento (i.e., o
as Usual”. Séries paralelas de cenários de go-
vazamento é de 100%). O uso do modelo
vernança representaram o que aconteceria
para o efeito de reservas envolve recortar as
se regulamentos como o Código Florestal de
áreas das reservas e subtrair o desmatamento
contido nelas do total, ou seja, um método
de “cookie cutter” (cortador de biscoitos), que
efetivamente representa um vazamento zero
(i.e., Soares-Filho & Dietzsch, 2008). O que
limita o quanto que um fazendeiro desmata e,
portanto, o quanto o conjunto de todos os ato-
res desmata no total, normalmente é a capaci-
dade do fazendeiro, ou seja, a oportunidade.
Se tivesse mais dinheiro, mais mão-de-obra,
e menos risco de punição, então, desmataria
mais. Sua opção de desmatar não está dire-
tamente associada à regulação do mercado,
Figura 6. O cenário de
com base na lei da oferta e da procura, e referência (“Business
sim pela disponibilidade de capital. Isto está as Usual”) de Soares-
exemplificado no histórico de subidas e deci- Filho et al. (2006)
indica praticamente
das na taxa de desmatamento amazônico, a o interflúvio Madeira-
qual declinou de 1988 até o ponto mais baixo Purus inteiro sendo
em 1991 (recessão no governo de Fernando desmatado até 2050.
1965 (Brasil, 1965) fossem respeitados, com- do desmatamento: uma redução de 20% no
binado com uma diminuição do desmatamen- custo de transporte resulta em um aumento
to total por uma quantidade presumida (por no desmatamento na Amazônia de 29-32%
exemplo, Carvalho et al., 2001, 2002; Soares- (Cattaneo, 2001, p. 230). Em uma análise fei-
Filho et al., 2006). Estes estão baseados em ta por Chomitz & Thomas (2003), desenha-
suposições relativas à quantidade global de da para testar o efeito da pluviosidade sobre
desmatamento ao invés de ser derivado de taxas de desmatamento, demonstrou que as
cálculos baseados em dados sobre como o estradas aumentam o desmatamento, mas
comportamento do desmatamento responde a magnitude do aumento depende sobre o
a medidas específicas de política. A utilidade controle de outras variáveis, tais como o im-
de tais cenários de governança está no foco pacto do desmatamento pré-existente, que
da discussão sobre a necessidade de gover- tem um efeito que se mescla com o das es-
nança, mas os cenários não deveriam ser con- tradas. Análises no nível municipal indicam
fundidos com um cenário “com projeto” para que estradas aumentam o desmatamento
qualquer determinado conjunto de medidas em locais onde muito da floresta permanece
de governança, tais como o Programa “BR- intacta (como é o caso na ALAP da rodo-
163 Sustentável” (veja: Alencar et al., 2004, via BR-319), mas em locais onde o processo
2005) no caso da rodovia Santarém-Cuiabá de desmatamento já está bem avançado a
(veja Fearnside, 2007). Diferente dos cená- construção de estradas adicionais diminui o
rios utilizados no modelo de Soares-Filho et desmatamento (Andersen et al., 2002; Reis &
al. (2006), os cenários do presente estudo se Weinhold, 2004). No entanto, estudos sub-
restringem aos efeitos de estradas e reservas e sequentes das mesmas bases de dados do
não oferecem cenários de governança. IBGE, mas usando dados ao nível de unida-
des de censo (i.e., com aproximadamente 20
Modelos econométricos e outros vezes mais dados), indicam que estradas são
propulsores do desmatamento em todas as
Outros tipos de modelagem, especial- fases do processo (Pfaff et al., 2007).
mente modelos econométricos, têm sido
aplicados ao desmatamento amazônico.
Geralmente estes se aplicam a uma esca- UM MODELO PARA DESMATAMENTO NA
la maior, representando, por exemplo, a BR-319
Amazônia brasileira como um todo, sem
ser detalhados em termos espaciais. Os da- Abordagem de simulação com o DINAMICA
dos geralmente vêm de censos ao nível de Modelo conceitual do DINAMICA
município, ou então de unidades de cen-
so, do Instituto Brasileiro de Geografia e O DINAMICA é um modelo de simulação
Estatística (IBGE). Exemplos incluem as explicitamente espacial da dinâmica da pai-
equações desenvolvidas por Reis & Margulis sagem que se baseia em um algoritmo de au-
(1991) e Reis & Guzmán (1994), para as- tônomo celular. Modelos fundamentados em
sociar a taxa de desmatamento com dados autômatos celulares, tal como o DINAMICA,
sobre população, percentagem de área em podem ser entendidos como sistemas de di-
cultivos agrícolas, densidade de bovinos por nâmica espacial no qual o estado de cada
km2, intensidade de exploração madeireira célula dentro de um arranjo espacial (grade
em m3 km-2, comprimento de estradas por de células) depende do estado prévio das
km2, distância da capital do estado, e uma células de vizinhança, de acordo com um
variável dummy para representar diferenças conjunto de regras de transição estabeleci-
entre estados. Nestes modelos, as estradas do. Conforme Soares-Filho et al. (2006), au-
são consideradas como um determinante tônomos celulares são capazes de simular
significativo do desmatamento. O custo de os padrões espaciais do desmatamento in-
transporte, que depende diretamente da dis- corporando um mapa de probabilidades re-
ponibilidade e qualidade das estradas, tem presentando a influência integrada de dados
sido mostrado ser um determinante chave cartográficos na alocação do desmatamento.
Figura 7. Fluxograma
esquematizando
a arquitetura do
DINAMICA. Fonte:
modificado de http://
www.ufmg.br/csr/
dinamica, acesso em
13/10/2007.
Figura 8. Acoplamento
dos modelos não
espacial e espacial.
Em cada ciclo são
enviadas as variáveis
calculadas entre os
módulos.
EGO. As taxas calculadas são as de desmata- em função da superfície de estradas que ain-
mento, “clearing” (corte das florestas secun- da não tenham produzido desmatamento.
dárias, “capoeiras”) e recuperação (regenera-
Os mapas de estradas combinados com
ção da vegetação). Para o cálculo das taxas, o
os mapas de uso do ciclo anterior geram ma-
modelo espacial disponibiliza valores quan-
pas de floresta disponível sobre os quais são
titativos que caracteriza a cena, como as su-
aplicadas as taxas fornecidas pelo módulo
perfícies de floresta acessível e fundiária entre
outras, e a de extensão de estradas que ainda não espacial (Vensim). Esta superfície de
não tem produzido desmatamento. A Figura floresta disponível é uma das principais ino-
9 apresenta um quadro sintético dos fluxos de vações deste modelo espacial. Esta superfí-
informação em cada ciclo. cie está estreitamente relacionada com o de-
senvolvimento da rede de estradas, e com a
A primeira linha do diagrama corres- localização de áreas de proteção ambiental,
ponde ao módulo espacial de construção de como veremos no ponto seguinte. A floresta
estradas. Este utiliza os conceitos de atrati- disponível é uma faixa de floresta a 10 km de
vidade e fricção para seu funcionamento. A distância das estradas. Dentro desta faixa se
atratividade é formada por mapas numéri- encontra a faixa de floresta fundiária (flores-
cos, onde as áreas propícias para agropecu- tas disponíveis em uma propriedade padrão,
ária possuem os maiores valores e as áreas tal como aquelas oriundas de assentamentos
protegidas ou inundáveis possuem os meno- antigos do INCRA na BR-319) relacionada
res valores e as áreas de proteção integral va- com a propriedade de pequena ocupação.
lor zero. Nos mapas de fricção as áreas com
maior declividade, inundadas ou com prote- O cálculo das taxas para desmatamento,
ção ambiental possuem os maiores valores. clearing e recuperação está relacionado com
Desta forma, o módulo aumenta a rede de a superfície fundiária, uma faixa de 2 km de
estradas e disponibiliza o novo mapa para o distância à estrada. A área de floresta dentro
resto do modelo. Este módulo de construção desta faixa modifica a atividade agropecuária.
de estradas pode ter sua atividade regulada Na esquerda da Figura 10 observa-se a série de
Figura 9. Diagrama
dos fluxos de
informação onde são
indicadas as inovações
desenvolvidas
no laboratório de
Agroecologia do INPA.
Figura 10.
Esquematização do
modelo numérico
elaborado em Vensim.
O módulo principal de
cálculo e os módulos
de transferência das
variáveis localizados
no centro da figura
(anéis concêntricos);
à esquerda, a entrada
de variáveis iniciais
do DINAMICA no
modelo não espacial
e, à direita, a saída das
taxas para o modelo
espacial.
variáveis de superfície que o modelo espacial al., 2002), por exemplo, atravessar áreas com
envia ao modelo numérico para o cálculo das maior declividade, áreas inundadas e áreas
taxas. O módulo numérico do Vensim calcula protegidas produzem trajetos de maior cus-
as demandas para cada tipo de uso da terra e to. O terceiro módulo está relacionado com a
as disponibiliza para a rotina de expansão do regulação da atividade. Neste módulo é com-
desmatamento do modelo espacial. parado o mapa de desmatamento correspon-
dente a uma dada iteração com o mapa da
Construção de estrada BR-319 e estradas rede de estradas correspondente. Desta ma-
laterais neira, uma proporção alta de estradas que te-
nha produzido desmatamento resulta em um
A construção de estradas no modelo aumento da atividade do “construtor de estra-
DINAMICA está dividida em duas instân- das”. Este é um mecanismo de autorregularão
cias, uma delas constituída por uma rotina que aproxima o comportamento do autômato
interna de construção automática e outra ao esperado na realidade.
por rotina de incorporação de mapas de es-
tradas planejadas.
Incorporação de estradas planejadas
A rotina automática, ou “construtor de es-
tradas”, é formada por três módulos automá- As estradas planejadas são incorporadas
ticos, o principal constrói estradas com base ao modelo em etapas predefinidas, relaciona-
na localização probabilística de destinos. A das às datas estimadas de construção extraí-
distância destes destinos é regulada pelo esta- das do plano diretor do Estado. Dentre estas
do de atividade. Um “construtor de estradas” estradas foram incluídas aquelas do segmen-
mais ativo significa destinos mais distantes to central da BR-319 (trecho Realidade-Igapó
(estradas de penetração), e menos ativos com- Açu) no ano 2011, a estrada vicinal BR-319-
preende destinos mais próximos (estradas de Manicoré (AM-464), atualmente abandonada,
consolidação). O segundo módulo calcula o no ano 2014, a vicinal BR-319-Borba (AM-356)
custo do trajeto até o destino, este custo é cal- no ano 2017, BR-319-Tapauá (AM-366) proje-
culado com base na fricção (Soares-Filho et tada para conectar via terrestre a região de
f.
Distância estradas primárias
(CSR-UFMG)
g.
Distância estradas secundárias
(CSR-UFMG)
h. Atratividade a centros urbanos (deri-
vado de IBGE)
O mapa de distâncias às estradas é apre-
sentado na Figura 16.
III. Mapa de fricção
Figura 15. Mapa
O mapa de fricção foi elaborado a partir cobertura da terra
de dados de declividade e áreas de proteção no ano 2004.
ambiental (UCs) existentes nos cenários. A Legenda do mapa:
1-Desmatamento;
fricção é uma variável que influencia a ativi- 2- Não floresta; 3-
dade do módulo de construtor de estradas. Floresta; 4- Água.
Figura 19.
Comparação entre
o desmatamento
modelado e observado
em Matupí, provendo
alguma validação os
resultados globais do
modelo.
Figura 23.Área
desmatada acumulada,
cenário “Conservação”
Tabela 1. Unidades de
Conservação Propostas
BIOMASSA E EMISSÕES
e Porcentagem
desflorestada no Biomassa florestal na área de influência
Cenário 1 da BR-319
Estimativa da biomassa florestal dos ecossiste-
mas terrestres
31,8 cm de DAP - diâmetro à altura do peito), das Minas e Energia (MME) nas décadas
exclusivamente para sistemas florestais. de 1970 e 1980 (escala 1:1.000.000) (Brasil,
Projeto RADAMBRASIL, 1973-1984). O re-
Para transformar os dados de volume de
sultado bruto dos inventários (volume da
madeira em biomassa por unidade de área (t
madeira com casca, número de espécies e
ha-1), como método de ajuste, foram utilizados
de indivíduos) foi obtido das publicações do
os fatores de expansão de volume (VEF = 1,25 MME, enquanto que a base física (localiza-
para florestas densas e 1,5 para não densas) ção dos pontos amostrais) das espécies botâ-
para adicionar os volumes correspondentes aos nicas do inventário foi extraída do banco de
fustes das árvores menores (com DAP entre 10 dados do SIVAM. Embora nesta última fonte
e 31,7cm). A densidade de madeira média pon- houvesse incertezas devido a vários erros de
derada pelas espécies ocorrentes em cada par- digitação nas informações de circunferência
cela foi utilizada para converter o volume dos do tronco ou na altura comercial, foi possível
fustes em biomassa dos fustes. A biomassa das utilizá-la para obter estimativas de densida-
copas foi acrescentada utilizando um fator de de da madeira (crucial nos cálculos gerais)
expansão de biomassa (BEF), conforme des- por cada unidade amostral de acordo com a
crito originalmente por Brown & Lugo (1992) as espécies presentes em cada parcela.
e Brown (1997). Esta expansão de volume em
As definições fitofisionômicas (ecossis-
biomassa foi posteriormente refinada a partir
temas) adotadas na base de cálculo foram
de ajustes propostos por Fearnside (1992), que
todas derivadas do manual técnico da vege-
adicionam outros compartimentos da biomas-
tação brasileira (Brasil, IBGE, 1992), que é a
sa florestal que não estavam contemplados no referência para a classificação das fitotipolo-
modelo de Brown & Lugo (1992). Os dados de gias no País. Foram formados dois grandes
densidade de madeira foram corrigidos para grupos florestais para dar início ao proces-
a variação radial conforme resultados obtidos so de cálculo que transformaria volume em
em floresta densa na Amazônia central (veja biomassa: “Floresta Densa” e “Floresta Não
Nogueira et al., 2005). Os ecossistemas não densa”. Ambos são o marco inicial para apli-
florestais (vegetação aberta, com menor abun- cação do VEF e do BEF. No primeiro grupo
dância de espécies e indivíduos) presentes na estão incluídas todas as formações primá-
área de influência não foram contemplados rias (aluvial, das terras baixas, submonta-
pelos inventários de volume de madeira do na e montana) definidas dentro da classe
Projeto RADAMBRASIL, e estão desprovidos de formação “floresta”, subclasse de for-
de estimativas confiáveis. mação “ombrófila”, subgrupo de formação
“densa”, conforme determina o sistema de
Base dos cálculos classificação brasileiro. No caso das flores-
Para realizar os cálculos gerais, todas tas não densas, estão incluídas todas demais
as 306 parcelas selecionadas para a área subclasses e subgrupos de formação flores-
de abrangência da BR-319 foram dimen- tal, como as florestas ombrófilas abertas, as
sionadas em um banco de dados georrefe- campinaranas, as florestas estacionais deci-
renciado. Este banco foi formatado a par- duais e semideciduais, e todos os sistemas
tir de duas fontes básicas: (1) banco de florestais de contato (p. ex. floresta ombró-
dados georreferenciado do SIVAM/SIPAM fila em contato com floresta estacional ou
(Brasil, SIVAM/SIPAM, 2004), versão 6, para savana em contato com floresta ombrófila).
toda a Amazônia Legal Brasileira (escala
Estimativas gerais
1:250.000), juntamente com um conjunto
geral das informações fornecidas pelo IBGE Das 306 parcelas amostradas, 253
ao SIVAM sobre a base de dados do Projeto (82,7%) estavam no grupo de Floresta
RADAMBRASIL e (2) livros de levantamento Densa e 54 (17,6%) no de Floresta Não
de recursos naturais(volumes) e mapas te- densa. Os ecossistemas com o maior número
máticos (solos, vegetação, etc.) do próprio de parcelas amostrais foram os de Floresta
RADAMBRASIL publicados pelo Ministério Ombrófila Densa das Terras Baixas (Db; 156
parcelas) e Aluvial (Da; 62): quase todos apresentada por Brown & Lugo (1992),
dentro do estado do Amazonas e, o de menor e de +4,5% em relação ao refinamento
amostragem foi a Floresta Ombrófila Aberta apresentado posteriormente por Fearnside
Aluvial (Aa; 9). Este último com apenas uma (1992) (ver Tabela 3). Os valores aqui
parcela no estado de Rondônia. relatados já possuem os mais recentes ajustes
para densidade da madeira, por ecossistema
A biomassa média total (não ponde-
e Estado (média geral de 0,651 g.cm-3), além
rada pela área de cada sistema) calculada
de outros refinamentos como a eliminação
neste trabalho foi de 414 t ha-1 (277-604 t
de ajustes anteriores para “árvores ocas”
ha-1) (Tabela 3). Os demais sistemas terres-
e “casca”, atualmente contemplados em
tres presentes na amostragem do Projeto
outros níveis do cálculo.
RADAMBRASIL continham um maior nú-
mero de parcelas inventariadas e consegui- Estes valores para biomassa incorporam
ram diluir sua variabilidade na média final, uma série de melhorias em comparação com
não apresentando distorções. Todos estão estimativas anteriores por ter resolvido pro-
dentro da faixa de resultados encontrados blemas com relação à contabilidade de ár-
para a maioria dos trabalhos realizados na vores ocas e irregulares e de fator de forma
Amazônia (300-600 t ha-1) utilizando os (Fearnside & Laurance, 2004; Nogueira et
métodos de medidas direta e indireta dis- al., 2006), e de diferenças regulares e signi-
ponibilizados na literatura corrente (Klinge ficativas a cerca da densidade de madeira no
& Rodrigues, 1974; Fearnside et al., 1993; arco de desmatamento em comparação com
Fearnside, 1994; 1997; 2000a,b; Higuchi et a Amazônia Central, mesmo para árvores de
al., 1994; Alves et al., 1997; Laurance et al., uma mesma espécie (Nogueira et al., 2007).
1999; Nascimento et al., 2007).
Os cálculos acima apresentados usam
Para comparação, os valores aqui a biomassa da floresta original, sem ajuste
calculados possuem uma diferença de -75% pelos efeitos da exploração madeireira ou
em relação à aplicação direta da fórmula outras formas de degradação da floresta em
de expansão de volume em biomassa pé. Desta maneira, as emissões associadas
Tabela 2. Distribuição Estado Tipo Florestal Legenda Floresta Densa Floresta Não-Densa Total
das parcelas
amostrais (inventários Floresta Ombrófila Densa (sem formação) D? 8 8
florestais) do Projeto Floresta Ombrófila Densa Aluvial Da 58 58
RADAMBRASIL dentro
Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas Db 156 156
das classes de floresta
densa e não densa, por Floresta Ombrófila Densa Submontana Ds 8 8
ecossistema, utilizadas Amazonas Floresta Ombrófila Aberta (sem formação) A? 1 1
na área de influência
Floresta Ombrófila Aberta Aluvial Aa 9 9
da BR 319.
Floresta Ombrófila Aberta das Terras Baixas Ab 16 16
Floresta Ombrófila Aberta Submontana As 6 6
sem informação (*) si 10 10
Floresta Ombrófila Densa Aluvial Da 4 4
Floresta Ombrófila Densa Submontana Ds 2 2
Floresta Ombrófila Aberta Aluvial Aa 1 1
Rondônia Floresta Ombrófila Aberta das Terras Baixas Ab 9 9
Floresta Ombrófila Aberta Submontana As 11 11
Formações Pioneiras com influência fluvial Pa 1 1
sem informação (*) si 7 7
Total - - 253 54 307
(*) 10 parcelas no Amazonas e 7 em Rondônia foram incluídas como floresta densa para comparação, embora o banco de dados do Brasil, SIVAM/SIPAM (2004)
não tenha fornecido esta informação (ecossistemas sem definição).
aos processos de degradação para as áreas tais como monóxido de carbono (CO), óxidos
desmatadas estão implicitamente incluídas, de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos não-
mas não para a degradação na floresta re- metanos (NMHC) não são considerados atu-
manescente que não é desmatada logo (por almente pelo Painel Intergovernamental sobre
exemplo, dentro de um prazo de três anos Mudanças Climáticas (IPCC). A equivalência
após a exploração madeireira). Se no futuro dos gases foi baseada nos potenciais de aque-
vierem a ser realizados cálculos explícitos de cimento global (GWPs) do Segundo Relatório
exploração madeireira e de outras emissões de Avaliação do IPCC, e são os valores que
por degradação, a biomassa usada para cal- foram adotados pelo Protocolo de Kyoto
cular a emissão do desmatamento teria que para uso durante o seu Primeiro Período de
ser ajustada adequadamente (veja discussão
em Fearnside, 1997).
Compromisso (2008-2012). Usando essas equilíbrio que substitui a floresta. Isto con-
equivalências, cada tonelada de CH4 tem o tém 28,5 t ha-1 de biomassa com um con-
impacto sobre o aquecimento global de 21 to- teúdo de carbono de 0,45, ou 12,8 t C ha-1
neladas de gás de CO2, enquanto que cada em biomassa (i.e., não considerando o car-
tonelada de N2O é equivalente a 310 toneladas bono do solo), baseado em uma matriz de
de CO2, calculado ao longo de um horizonte transições entre categorias de usos da terra
de tempo de 100 anos (Schimel et al., 1996). (Fearnside, 1996).
Deve ser notado que o Quarto Relatório de Os cálculos acima das emissões causa-
Avaliação do IPCC (Forster et al., 2007, p. das pelo desmatamento apenas incluem o
212) altera estes valores. No caso de metano, carbono da biomassa viva e morta, excluído
o valor do GWP aumenta para 25, uma ele- o carbono do solo. Uma estimativa de libe-
vação de 19% sobre o impacto deste impor- ração de carbono do solo pela conversão da
tante gás. No caso de óxido nitroso, o GWP floresta amazônica na paisagem de substi-
foi reduzido para 298, uma diminuição de tuição de equilíbrio é de 5,4 t C ha-1 nos pri-
4%. Para estas emissões, o efeito do metano meiros 20 cm de solo, 7,9 t C ha-1 no primei-
será maior, e o impacto atribuído ao desmata- ro 1 m de solo, ou 8,5 t C ha-1 nos primeiros
mento aumentará quando essas novas infor- 8 m de solo (Fearnside & Barbosa, 1998). O
mações forem incorporadas nas negociações carbono do solo mais profundo leva mais
internacionais. Usando os valores atuais do tempo para ser liberado do que o carbono
Protocolo de Kyoto, cada tonelada de carbono no solo superficial.
emitida tem um impacto adicional de gases-
O cenário de referência resulta na libera-
traço equivalente a 0,087 t C (toneladas de
ção de 0,9 Gt C até 2050, comparado com a
carbono), baseado nas emissões de 1990 cal-
liberação de 0,6 Gt C no cenário conservação.
culadas por Fearnside (2000a,b).
A maior parte da diferença entre os dois
A emissão líquida foi calculada a partir cenários se deve à taxa comparativamente
da emissão bruta, da qual foi subtraído o menor de liberação de carbono no cenário
estoque médio de carbono na paisagem de conservação após o ano 2020 (Figura 25).
Alencar, A., L. Micol, J. Reid, M. Amend, M. Oliveira, V. Brown, S.; Lugo, A. 1992. Aboveground biomass
Zeidemann & W.C. de Sousa. 2005. A pavimentação estimates for tropical moist forest of the Brazilian
da BR-163 e os desafios à sustentabilidade: Amazon. Interciencia 17(1): 8-18.
uma análise econômica, social e ambiental.
Instituto Centro de Vida (ICV), Cuiabá, Mato Câmara, G. 2007. Developments in Land Change
Grosso. 25 p. http://www.estacaovida.org.br/pdf/ Modelling in Amazonia: Governance and Public
pavimentacaobr163.pdf Policies. Global Land Project, Scientific Steering
Committee Meeting, Copenhagen, October 2007.
Alves, D.S.; Soares, J.V.; Amaral, S.; Mello, E.K.; Apresentação PowerPoint, 38 p. Disponível em:
Almeida, S.A.S.; Silva, O.F.; Silveira, A.M. 1997. http://www.dpi.inpe.br/gilberto/present/camara_
Biomass of secondary vegetation in Rondônia, glp_oct_2007.ppt
Western Brazilian Amazon. Global Change Biology
3: 451-461. Carvalho, G., A.C. Barros, P. Moutinho & D. Nepstad.
2001. Sensitive development could protect Amazonia
Andersen L.E.; Granger, C.W.J.; Reis, E.J.; Weinhold, D.;
instead of destroying it. Nature 409: 131.
Wunder, S. 2002.The Dynamics of Deforestation and
Economic Development in the Brazilian Amazon. Carvalho, G.O., D. Nepstad, D. McGrath, M.C.V. Diaz,
Cambridge University Press. Cambridge, Reino Unido. M. Santilli & A.C. Barros. 2002. Frontier expansion
in the Amazon: Balancing development and
Barbosa, R.I.; Pinto, F.S.; Souza, C.C. 2008.
Desmatamento em Roraima: Dados Históricos e sustainability. Environment 44(3): 34-45.
Distribuição Espaço Temporal. Instituto Nacional de Catteano, A. 2001. Deforestation in the Brazilian
Pesquisas da Amazônia (INPA), Boa Vista, Roraima, Amazon: comparing the impacts of macroeconomic
Brasil. Relatório Técnico Elaborado para Subsidiar shocks, land tenure, and technological change. Land
as Discussões sobre Desmatamento no Estado de Economics 77: 219-240.
Roraima. Disponível em: http://agroeco.inpa.gov.
br/reinaldo/Usuarios_Visitantes_RIB.htm Chomitz, K.M. & Thomas, T.S. 2003. Determinants of
land use in Amazônia: A fine-scale spatial analysis.
Brasil, 1965. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 American Journal of Agricultural Economics 85:
que institui o Novo Código floresta. Disponível
1016-1028.
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
Referencia_Legislativa/L4771ref_leg.htm A Crítica. 1997. “Estado e DNER recuperam 42 rodovias”
A Crítica [Manaus], 10 de agosto de 1997, p. E-4.
Brasil, IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). 1992. Manual Técnico da Vegetação Fearnside, P.M. 1987. Causes of Deforestation in the
Brasileira (Manuais Técnicos em Geociências no 1). Brazilian Amazon. p. 37-61 In: R.F. Dickinson (ed.)
IBGE, Rio de Janeiro. 92 p. The Geophysiology of Amazonia: Vegetation and
Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Climate Interactions. John Wiley & Sons, New York,
2007. Projeto PRODES: Monitoramento da Floresta E.U.A. 526 p.
Amazônica Brasileira por Satélite. INPE, São José Fearnside, P.M. 1989. Ocupação Humana de Rondônia:
dos Campos, São Paulo. Disponível em: http://www. Impactos, Limites e Planejamento. Relatórios
obt.inpe.br/prodes/ de Pesquisa No. 5, Conselho Nacional de
Brasil, MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia). 2004. Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
Brazil’s Initial National Communication to the Brasília, DF. 76 pp.
United Nations Framework Convention on Climate
Fearnside, P.M. 1992. Forest biomass in Brazilian
Change. MCT, Brasília, DF. 271 p.
Amazonia: comments on the estimate by Brown
Brasil, Projeto RADAMBASIL. 1973-1984. Levantamento and Lugo. Interciencia 17(1): 19-27.
dos Recursos Naturais (Parte das Folhas SA.20
Fearnside, P.M. 1994. Biomassa das florestas amazônicas
Manaus; SA.21 Santarém; SB.19 Juruá; SB.20 Purus;
SC.19 Rio Branco; SC.20 Porto Velho). Ministério das brasileiras. In: Anais do Seminário “Emissão x
Minas e Energia, Rio de Janeiro. Seqüestro de CO2: Uma Nova Oportunidade de
Negócios para o Brasil”. Companhia Vale do Rio
Brasil, SIVAM/SIPAM (Serviço de Vigilância da Amazônia Doce, Rio de Janeiro, Brasil. p. 95-124.
/ Serviço de Proteção da Amazônia). 2004. Banco de
Dados IBGE - versão 6 (derivado da recuperação dos Fearnside, P.M. 1996. Amazonian deforestation and
dados originais do Projeto RADAMBRASIL). SIVAM/ global warming: Carbon stocks in vegetation
SIPAM, Manaus, Amazonas. (4 CDs). replacing Brazil’s Amazon forest. Forest Ecology and
Management 80(1-3): 21-34.
Brown, S. 1997. Estimating biomass and biomass
change of tropical forests. FAO Forestry Paper 134, Fearnside, P.M. 1997. Greenhouse gases from
FAO - Food and Agriculture Organization of United deforestation in Brazilian Amazonia: Net committed
Nations, Roma, Italia. 54 p. emissions. Climatic Change 35(3): 321-360.
Fearnside, P.M. 2000a. Global warming and tropical Dense Tropical moist forest. Memories of the Faculty
land-use change: Greenhouse gas emissions from of Agriculture (Kagoshima University) 30: 43-54.
biomass burning, decomposition and soils in forest
Kirby, K.R., W.F. Laurance, A.K. Albernaz, G. Schroth,
conversion, shifting cultivation and secondary
P.M. Fearnside, S. Bergen, E.M. Venticinque & C.
vegetation. Climatic Change 46(1-2): 115-158.
da Costa. 2006. The future of deforestation in the
Fearnside, P.M. 2000b. Greenhouse gas emissions from Brazilian Amazon. Futures 38: 432-453.
land-use change in Brazil’s Amazon region. p. 231-
Klinge, H.; Rodrigues, W.A. 1974. Phytomass estimation
249 In: R. Lal, J.M. Kimble & B.A. Stewart (Eds.)
in a Central Amazonian rain Forest. In: H. E. Young
Global Climate Change and Tropical Ecosystems.
(Ed.), IUFRO Biomass Studies. University Press,
Advances in Soil Science. CRC Press, Boca Raton,
Maine, E.U.A. p. 339-350.
Florida, E.U.A. 438 p.
Kok, K., A. Farrow, A. Veldkamp, P.H. Verburg. 2001.
Fearnside, P.M. 2002. Avança Brasil: Environmental A method and application of multiscale validation
and social consequences of Brazil’s planned in spatial land use models. Agriculture, Ecosystems
infrastructure in Amazonia. Environmental and Environment 85: 223-238.
Management 30(6): 748-763.
Laurance, W.F., S. Bergen, M.A. Cochrane, P.M.
Fearnside, P.M. 2007. Brazil’s Cuiabá-Santarém Fearnside, P. Delamonica, S. D’Angelo, C. Barber
(BR-163) Highway: The environmental cost of & T. Fernandes. 2005. The future of the Amazon.
paving a soybean corridor through the Amazon. pp. 583-609 In: E. Bermingham, C.W. Dick and C.
Environmental Management 39(5): 601-614. Moritz (eds.) Tropical Rainforests: Past, Present and
Fearnside, P.M. & R.I. Barbosa. 1998. Soil carbon Future. University of Chicago Press, Chicago, Illinois,
changes from conversion of forest to pasture in E.U.A. 1004 p.
Brazilian Amazonia. Forest Ecology and Management Laurance, W.F., M.A. Cochrane, S. Bergen, P.M.
108(1-2): 147-166. https://doi.org/10.1016/S0378- Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S. D’Angelo
1127(98)00222-9 & T. Fernandes. 2001. The Future of the Brazilian
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2006. BR-319: Brazil’s Amazon. Science 291: 438-439.
Manaus-Porto Velho Highway and the potential impact Laurance, W.F.; Fearnside, P.M.; Laurance, S.G.;
of linking the arc of deforestation to central Amazonia. Delamônica, P.; Lovejoy, T.E.; Rankin-de Merona,
Environmental Management 38(5): 705-716. J.M.; Chambers, J.Q.; Gascon, G. 1999. Relationship
Fearnside, P.M., P.M.L.A. Graça, E.W.H. Keizer, F.D. between soils and Amazon forest biomass:
Maldonado, R.I. Barbosa & E.M. Nogueira. 2009. a landscape-scale study. Forest Ecology and
Modelagem de desmatamento e emissões de gases Management 118: 127-138.
de efeito estufa na região sob influência da rodovia Margulis, S. 2003. Causas do Desmatamento na
Manaus-Porto Velho (BR-319). Revista Brasileira Amazônia Brasileira. Banco Mundial, Brasília, DF.
de Meteorologia 24(2): 208-233. https://doi.
org/10.1590/S0102-77862009000200009 Nascimento, M.T.; Barbosa, R.I.; Villela, D.M. & Proctor,
J. 2007. Above-ground biomass changes over an
Fearnside, P.M. & W.F. Laurance. 2004. Tropical 11-year period in an Amazon monodominant forest
deforestation and greenhouse gas emissions. and two other lowland forests. Plant Ecology 192:
Ecological Applications 14(4): 982-986. 181-191.
Fearnside, P.M.; Leal Jr., N. & Fernandes, F.M. 1993. Nepstad, D.C., J.P. Capobianco, A.C. Barros, G. Carvalho,
Rainforest burning and the global carbon budget: P. Moutinho, U. Lopes & P. Lefebvre. 2000. Avança
biomass, combustion efficiency, and charcoal Brasil: Os Custos Ambientais para Amazônia. Instituto
formation in the Brazilian Amazon. Journal of de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém,
Geophysical Research 98(D9): 16733-16743. Pará, Brasil. 24 p. (disponível em: http://www.ipam.
org.br/avanca/politicas.htm).
Forster & 51 outros. 2007. Changes in Atmospheric
Constituents and in Radiative Forcing. p. 129-234. Nepstad, D., G. Carvalho, A.C. Barros, A. Alencar, J.P.
In: S. Solomon, D. Qin, M. Manning, Z. Chen, Capobianco, J. Bishop, P. Moutinho, P. Lefebvre,
M. Marquis, K.B. Averyt, M. Tignor & H.L. Miller U.L. Silva, Jr. & E. Prins. 2001. Road paving, fire
(Eds.). Climate Change 2007: The Physical Science regime feedbacks, and the future of Amazon forests.
Basis: Contribution of Working Group I to the Fourth Forest Ecology and Management 154(3): 395-407.
Assessment Report of the Intergovernmental Panel
Nogueira, E.M., P.M. Fearnside, B.W. Nelson, R.I.
on Climate Change. Cambridge University Press,
Barbosa & E.W.H. Keizer. 2008. Estimates of forest
Cambridge, Reino Unido. 996 p.
biomass in the Brazilian Amazon: New allometric
Higuchi, N.; Santos, J.M.; Imanaga, M.; Yoshida, S. equations and adjustments to biomass from wood-
1994. Aboveground biomass estimate for Amazonian volume inventories. Forest Ecology and Management
Reis, E.J. & Weinhold, D. 2004. Land use and Souza Jr., C., A. Brandão Jr., A. Anderson & A.
transportation costs in the Brazilian Amazon. Veríssimo. 2005. Avanço das estradas endógenas
University of Wisconsin-Madison, Department of na Amazônia. O Estado da Amazônia, Instituto do
Agriculture & Applied Economics Staff Paper No. Homem e Meio Ambiente na Amazônia (IMAZON),
467. Madison, Wisconsin, E.U.A. 31 p. Belém, Pará. 2 p. (Disponível em: http://www.
imazon.org.br/downloads/download.asp?id=234)
Rodrigues, H.O.; Soares-Filho, B.S.; Costa & W.L.S. 2007.
Dinamica EGO, uma plataforma para modelagem Veldkamp, A., P.H. Verburg, K. Kok, G.H.J. de Koning,
de sistemas ambientais. In: Simpósio Brasileiro de J. Priesse & A.R. Bergsma. 2001. The need for scale
Sensoriamento Remoto, 13. Instituto Nacional de sensitive approaches in spatially explicit land use
Pesquisas Espaciais (INPE), São José dos Campos, change modeling. Environmental Modeling and
Assessment 6c: 111-121.
São Paulo.
Ventana Systems Inc. 2007. Vensim from Ventana
Schimel, D. & 75 outros. 1996. Radiative forcing of
Systems Inc. http://www.vensim.com/
climate change. p. 65-131. In: J.T. Houghton, L.G.
Meira Filho, B.A. Callander, N. Harris, A. Kattenberg Verburg, P.H., W. Soepboer, A. Veldkamp, R. Limpiada,
& K. Maskell (eds.). Climate Change 1995: The V. Espaldon & S.S.A. Mastura. 2002. Modeling the
Science of Climate Change. Cambridge University spatial dynamics of regional land use: the CLUE-S
Press, Cambridge, Reino Unido. model. Environmental Management 30(3): 391-405.
17
A tomada de decisão sobre
grandes estradas amazônicas
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Versão original:
Fearnside, P.M. 2012. A tomada de decisão sobre grandes estradas amazônicas. p. 59-75. In: A.
Bager (Ed.) Ecologia de Estradas: Tendências e Pesquisas. Editora da Universidade Federal de
Lavras, Lavras, Minas Gerais. 313 p.
317
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 317 8/18/2022 3:15:42 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
318 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 1. Brasil e as
rodovias amazônicas
(linhas tracejadas).
programa Brasil em Ação, que depois foi su- uma área que fica a leste da rodovia BR-163
cedido pelos programas Avança Brasil, PPA (Venturieri et al., 2004, p. 5). Há sinais claros
(Plano Plurianual), e hoje o PAC (Programa da facilidade com que a legislação ambiental
de Aceleração do Crescimento), argumentava é burlada na área, com placas de propaganda
que a reconstrução e asfaltamento da estrada na beira da estrada oferecendo serviços de “re-
iram ser acompanhados por um nível de go- gularização fundiária” e de “plano florestal”
vernança, para evitar qualquer impacto sobre com o mesmo telefone de contato (Fearnside,
o desmatamento (Silveira, 2001), um cená- 2005a). O papel de grileiros (grandes apropria-
rio que foi logo contestado (Laurance et al., dores ilegais de terras) é fundamental na dinâ-
2001a). De fato, a história da área desde 2000 mica de desmatamento na região (Escada et
tem revelado um espalhamento de desmata- al., 2005; Fearnside, 2005b, 2006, 2008).
mento ainda mais rápido do que aquele pre-
visto no cenário “convencional”, mesmo sem O Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
a reconstrução da estrada (Brasil, INPE, 2011; da BR-163 contém menos de duas páginas
veja Fearnside, 2007). Um evento marcante foi sobre o desmatamento, em uma obra com-
o aparecimento em 2004 de uma clareira de posta por oito volumes (ECOPLAN, 2002).
6.239 ha, conhecida como o “revólver” devi- Abaixo, está transcrito o que foi abordado
do à sua forma, em parte da Terra do Meio, sobre o desmatamento:
o desmatamento. A barreira das reservas ao outras áreas, como ao oeste do rio Purus e ao
longo dos dois lados da rodovia é denomina- norte de Manaus), as novas reservas teriam
da “zona de blindagem”, mas se esta “blin- um efeito substancial sobre desmatamento e
dagem” for perfurada pelas estradas laterais, emissões. Cenários simulados para a ALAP
os desmatadores serão simplesmente levados da BR-319 com e sem as reservas até 2050
para o outro lado da fila de reservas. No caso indicam uma diferença equivalente a 310 mi-
do lado oeste, há uma enorme área que seria lhões de toneladas de carbono em forma de
exposta no “miolo” do Amazonas, ao oeste CO2 em termos de emissão líquida compro-
do rio Purús. Esta área, que é do tamanho do metida (Fearnside et al., 2009)
Estado de Rondônia, é de terras públicas, sem
nenhum tipo de proteção, como mostra o ma- Ao norte de Manaus há uma área de
crozoneamento do Estado do Amazonas. Este grande vulnerabilidade à invasão, que de-
é o tipo de terra que é mais vulnerável à in- monstra o papel chave da proteção da flo-
vasão por grileiros, fazendeiros e sem terras. resta, no impedimento da migração via a
BR-319 para a Amazônia Central, ao longo
As reservas ao longo da BR-319 foram
dos últimos 23 anos. Essa área compreende
criadas dentro de uma Área de Limitação
o Distrito Agropecuário da Superintendência
Administrativa Provisória (ALAP), criada em
da Zona Franca de Manaus, onde grandes
2006 para facilitar a implantação das reservas.
fazendas receberam generosos subsídios go-
Uma simulação do efeito da estrada e das re-
servas foi feito a pedido da Casa Civil (Aguiar, vernamentais entre 1974 e 1984. Quando os
2006; Câmara, 2007; Rede Temática GEOMA, incentivos fiscais e outros subsídios acaba-
2006). A conclusão foi de que a estrada não ram na prática, estas fazendas pararam de
ia aumentar o desmatamento e teria até um desmatar e mais de 80% das pastagens fo-
efeito benéfico, atraindo o desmatamento do ram abandonadas, transformando-se em ca-
interior para a beira da estrada como se fosse poeira (ver Fearnside, 2002). Que uma área
um imã, e assim aliviando a pressão sobre assim pudesse ficar sem uso ativo ao longo
reservas e outras áreas longe da estrada. Ao de mais de 25 anos, sem ser invadida, é uma
mesmo tempo, as reservas não iriam reduzir situação sem paralelo em outras regiões da
o desmatamento, mas apenas levariam isto a Amazônia. Se essa área estivesse localizada
acontecer em outro local, no caso, nas áreas no arco do desmatamento, certamente seria
de Manaus e de Boca do Acre. Acontece que invadida em poucos dias. A área de Manaus
estas conclusões são baseadas em um artefa- não tem “sem terras” (grupos organizados
to do método de simulação e, portanto, não de agricultores sem terra) e nem o padrão
representam um fenômeno real. A simulação de violência rural entre fazendeiros e possei-
foi feita presumindo uma taxa predetermina- ros que caracteriza o arco de desmatamento.
da de desmatamento na Amazônia como um Mas isto pode mudar da noite para dia se
todo. Portanto, não importa em termos do to- for aberta a conexão rodoviária com o arco
tal do desmatamento, se for criada uma reser- de desmatamento, via a BR-319. O efeito se
va ou aberta uma estrada. Portanto, haveria estenderia para Roraima (Barni et al., 2009).
100% de “vazamento” das reservas, ou seja,
a perda do benefício climático pelo desloca- A chamada “polêmica da BR-319” tem
mento do desmatamento para outros locais. um aspecto surreal devido à falta de um ra-
Mas, apesar de existir algum vazamento, re- ciocínio econômico para a abertura da estra-
servas têm efeitos reais em diminuir o desma- da. Diferente da BR-163, onde o transporte
tamento (Ferreira et al., 2005; Nepstad et al., de soja para portos no rio Amazonas tem um
2006; Fearnside et al., 2009; Vitel et al., 2009). retorno financeiro substancial, a BR-319 não
As estradas têm um efeito real no aumento é necessária para transportar os produtos
do desmatamento (Ferreira, 2001; Laurance das fábricas da Zona Franca de Manaus para
et al., 2001b, 2002; Soares-Filho et al., 2004; São Paulo, a suposta razão-de-ser da estrada.
Nepstad et al., 2001). No caso da ALAP (sem De fato, o EIA admite que o principal raciocí-
considerar o efeito de deslocamento para nio da estrada simplesmente não existe:
“representantes das indústrias de Manaus pela BR-319 fosse incluído na conta, a diferen-
têm indicado que, no momento, a rodo- ça entre essas opções seria astronômica.
via teria baixa importância para o Pólo
Industrial de Manaus.” (UFAM, 2009, Um estudo financeiro foi feito comparan-
Vol. 1, p. 216). do os custos de transporte na BR-319 com
outras opções, como a cabotagem e o siste-
Este autor não conhece outra confissão ma atual de balsa + rodovia (Teixeira, 2007)
deste tipo desde que o EIA-RIMA se tornou e, nele concluiu-se que:
obrigatório no Brasil em 23 de janeiro de 1986.
“A cabotagem reduz os custos do trans-
As indústrias em Manaus não estão inte- porte na ligação Manaus-São Paulo em
ressadas na BR-319 porque o frete do trans- 37%, quando comparado com os atuais
porte para São Paulo é mais barato pelo meios de transporte. Via a BR-319 os cus-
sistema atual, e poderia ter um custo ainda tos aumentam em 19% em relação à rota
menor se houvesse melhoria nos portos que atual, que utiliza a hidrovia até Belém.”
servem Manaus. O porto público em Manaus (Teixeira, 2007)
fica no centro da cidade, onde não há espa-
ço suficiente para uma operação eficiente. Há O Banco Nacional de Desenvolvimento
um porto privado para conteiners (o Porto Econômico e Social (BNDES), que é respon-
de Chibatão), e um terceiro porto está pla- sável pelo financiamento tanto de rodovias
nejado. Todos esses portos atendem quase quanto de portos, avaliou os impedimentos à
que exclusivamente a exportação de contai- operação de cabotagem a partir de Manaus.
ners para outros países, não a operação de Apontou que:
cabotagem, ou seja, o transporte em navios
oceânicos para outros portos no mesmo país. “O maior impeditivo para a operação
A grande maioria do frete para São Paulo é dessa carga por cabotagem está na ine-
realizada em balsas, conhecidas como “cha- ficiência e falta de confiabilidade dos
portos. Caso fossem praticadas tarifas e
tas”, cada uma com capacidade para carregar
qualidade dos serviços em padrões inter-
35 carretas. Essas carretas são levadas para nacionais, viabilizando a operação regu-
Belém, para descer a rodovia Belém-Brasília lar de cabotagem, o frete entre Manaus e
(BR-010), ou, na estação em que a água no rio a região Sudeste cairia para cerca de R$3
Madeira é alta, as balsas vão até Porto Velho mil [por contêiner], metade do praticado
para seguir na rodovia Cuiabá-Porto Velho atualmente.
(BR-364). O custo médio por contêiner (20 t
em 33 m3) de Manaus para São Paulo é de Além dos custos portuários, tem-se tam-
bém os preços abusivos dos serviços au-
R$12.032 via balsa e rodovia, versus R$3.500 xiliares. Apenas com praticagem [serviço
via cabotagem, ou seja 3,4 vezes mais caro de guia oficial para mostrar o caminho
por balsa e rodovia (Peixoto, 2006, p. 104). no percurso fluvial] no rio Amazonas,
Aproximadamente 80% do custo do percurso gasta-se R$100 por contêiner, em média,
por balsa e rodovia é a parte rodoviária. ou seja, 3% do frete entre Manaus e São
Paulo.” (Brasil, BNDES, 1998)
A cabotagem é inerentemente muito mais
barata do que o transporte de frete em carre-
Manaus tem o pior dos seis maiores por-
tas. Um navio, com cerca de uma dúzia de
tos do Brasil, levando o dobro do número de
tripulantes, pode levar o equivalente de cen-
horas para descarregar um navio comparado
tenas de caminhões. Ter uma fila de milhares
com o porto de Santos (Ono, 2001, p. 43).
de caminhões fazendo o trajeto entre Manaus
e São Paulo seria muito caro, mesmo se a Um EIA, por lei, precisa avaliar “alterna-
construção e manutenção da rodovia fossem tivas” à obra proposta. No entanto, o EIA da
gratuitas. Cada caminhão tem gastos com BR-319 não considera a cabotagem para trans-
combustível, pneus, manutenção, seguro con- porte de carga até São Paulo. As comparações
tra roubo de carga, etc. Evidentemente, se o são restritas às diferentes alternativas de
custo ambiental do desmatamento provocado transporte entre Manaus e Porto Velho, não
entre Manaus e São Paulo (UFAM, 2009, Vol. 72%. Deve ser lembrado que grande parte
1, p. 126). Acontece que a cidade de Porto desta redução já aconteceu (inclusive, an-
Velho não é o destino final da carga suposta- tes do anúncio do PNMC), com a ajuda de
mente a ser transportada. Porto Velho serviria fatores macroeconômicos (Fearnside, 2009,
apenas como uma parada para os caminhei- 2010). No entanto, o desmatamento não está
ros, antes da continuação da viagem para São sob controle. Pensar que estradas podem ser
Paulo, geralmente, o destino final. abertas em qualquer lugar da Amazônia,
sem ter impacto sobre o desmatamento é
A conclusão do EIA é que:
uma ilusão perigosa. A BR-319 está sendo
“... quando se coteja com o cenário de
mantida como prioridade no Programa de
governança ambiental forte, todos os in- Aceleração do Crescimento (PAC) (Amazonas
dicadores (Valor Presente Líquido, Taxa em Tempo, 2009), decisão que é questionada
Interna de Retorno e Índice Benefício- pelo fato de ser inconsistente com o objetivo
Custo) se mostraram altamente favorá- declarado no PNMC para reduzir o desmata-
veis ao projeto. Nesse cenário, os custos mento e as emissões (Fearnside, 2009).
ambientais são mitigados a um nível de-
sejável que torna o projeto socialmente Uma particularidade da BR-319 é que não
desejável.” (UFAM, 2009, Vol. 1, p. 187) existe um Estudo de Viabilidade, que é pa-
drão para qualquer obra. Isto normalmente
É impressionante o exemplo escolhido da é um documento volumoso dando os deta-
referida “governança ambiental forte”: lhes técnicas da engenharia da obra e uma
justificativa do trafico (no caso de estradas)
“...não necessariamente o fato de ter ro- e do raciocínio econômico do projeto. A ex-
dovias em áreas de concentração de re- plicação dada para não ter um Estudo de
cursos naturais implica em degradação Viabilidade é de que se trata de uma obra
do patrimônio natural. Um exemplo de de “segurança nacional”. É marcante o para-
turismo sustentável é aquele realizado
no Parque Nacional de Yellowstone...”
lelo com o discurso na época militar quan-
(UFAM, 2009, Vol. 1, p. 184) do a primeira estrada na rota foi construí-
da. Acontece que nem o argumento militar
Isto é seguido no EIA pela reprodução do salva a BR-319, pois a estrada está situada
mapa de Yellowstone (UFAM, 2009, Vol. 1, no meio do continente, longe de qualquer
p. 185). Há estradas no parque onde o pú- fronteira, e não consta em nenhuma men-
blico circula, sem cortar uma única árvore. ção na lista de prioridades elaborada recen-
Comparações dessa natureza são extrema- temente pelos altos oficiais militares do País
mente perigosas. Embora um dia o caos (Brasil, Presidência da República, Casa Civil,
da fronteira amazônica poderá evoluir para Subchefia de Assuntos Jurídicos, 2008).
uma situação semelhante ao de Yellowstone, A tomada de decisão sobre grandes es-
o tempo que levaria para esta transformação tradas na Amazônia precisa de uma reforma
não deixaria muitas árvores nas áreas aber- imediata para que as decisões futuras sejam
tas pela BR-319 (Fearnside & Graça, 2009). mais sensatas. Essa reforma é muito mais
importante do que os impactos e benefícios
de cada projeto individual, mesmo que as
ESTRADAS E O PLANO NACIONAL DE conseqüências sejam muito grandes como
MUDANÇAS CLIMÁTICAS nos dois casos examinados aqui.
Decisões sobre estradas como a BR-163
e BR-319 têm enormes conseqüências para o AGRADECIMENTOS
processo de desmatamento e, por consequ-
ência, para a emissão de gases de efeito estu- As pesquisas do autor são financiadas
fa. Ao lançar o Plano Nacional de Mudanças pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Climáticas, ou PNMC (Brasil, CIMC, 2008), Científico e Tecnológico (CNPq 305880/2007-
o governo quer reduzir o desmatamento em 1, 610042/2009-2, 575853/2008-5,
Brasil, BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Fearnside, P.M. 1987. Deforestation and international
Econômico e Social). 1998. Transporte na Região economic development projects in Brazilian
Amazônica. Cadernos de Infra-Estrutura No. 7, Amazonia. Conservation Biology 1(3): 214221.
BNDES, Rio de Janeiro, RJ. 114 p. http://www.finame. https://doi.org/10.1111/j.1523-1739.1987.tb00035.x
com.br/conhecimento/cadernos/aicad_07.pdf.
Fearnside, P.M. 1989. Ocupação Humana de Rondônia:
Brasil, CIMC (Comitê Interministerial sobre Mudança Impactos, Limites e Planejamento. Relatórios
do Clima). 2008. Plano Nacional Mudança do de Pesquisa No. 5, Conselho Nacional de
Clima PNMC. Ministério do Meio Ambiente, Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
Brasília, DF. 129 p. http://www.mma.gov.br/ Brasília, DF. 76 p.
estruturas/smcq_climaticas/_publicacao/141_
Fearnside, P.M. 2002. Can pasture intensification
publicacao07122009030757.pdf
discourage deforestation in the Amazon and Pantanal
Brasil, DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura regions of Brazil? p. 283-364 In: C.H. Wood & R. Porro
de Transportes). 2009. Mapa Multi-Modal Amazonas (Eds.) Deforestation and Land Use in the Amazon.
2009. Escala: 1: 2.400.000. DNIT, Ministério dos University Press of Florida, Gainesville, Florida,
Transportes, Brasília, DF. http://www.dnit.gov.br/ E.U.A. 386 p.
mapas-multimodais/mapas-multimodais/AM.pdf
Fearnside, P.M. 2005a. Carga pesada: O custo ambiental
Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). de asfaltar um corredor de soja na Amazônia. p.
2009. Monitoramento da Cobertura Florestal da 397-423 In: M. Torres (Ed.) Amazônia Revelada: Os
Descaminhos ao Longo da BR-163. Conselho Nacional Ferreira, L.V. 2001. A Conservation Gap Analysis for the
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brazilian Legal Amazon. Tese doutorado, Instituto
(CNPq), Brasília, DF. 496 p. Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),
Manaus, Amazonas.
Fearnside, P.M. 2005b. Deforestation in Brazilian
Amazonia: History, rates and consequences. Ferreira, L.V., E. Venticinque & S.S. de Almeida. 2005.
Conservation Biology 19(3): 680-688. O desmatamento na Amazônia e a importância das
áreas protegidas. Estudos Avançados 19(53): 1-10.
Fearnside, P.M. 2006. Containing destruction from
Brazil’s Amazon highways: Now is the time to give IPAM (Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia).
weight to the environment in decision-making. 2005. The paths of the Cuiabá-Santarém: Opportunity
Environmental Conservation 33(3): 181-183. DOI for sustainable regional development. IPAM,
10.1017/S0376892906003109. Belém, Pará. Disponível em: http://www.ipam.
org.br/programas/cenarios/br163/planejamento.
Fearnside, P.M. 2007. Brazil’s Cuiabá-Santarém php?session_id=7447fabd6c6d356cf7cedf0280584e16
(BR-163) Highway: The environmental cost of
paving a soybean corridor through the Amazon. Laurance, W.F., A.K.M. Albernaz, G. Schroth, P.M.
Environmental Management 39(5): 601-614. Fearnside, S. Bergen, E.M. Venticinque & C. da
Costa. 2002. Predictors of deforestation in the
Fearnside, P.M. 2008. The roles and movements of Brazilian Amazon. Journal of Biogeography 29:
actors in the deforestation of Brazilian Amazonia. 737-748.
Ecology and Society 13(1): art. 23. http://www.
ecologyandsociety.org/vol13/iss1/art23/ Laurance, W.F., M.A. Cochrane, P.M. Fearnside, S.
Bergen, P. Delamonica, S. D’Angelo, T. Fernandes &
Fearnside, P.M. 2009. Brazil’s evolving proposal C. Barber. 2001a. Response. Science 292: 1652-1654.
to control deforestation: Amazon still at risk. https://doi.org/10.1126/science.292.5522.1651c
Environmental Conservation 36 (3): 176-179. https://
doi.org/10.1017/S0376892909990294 Laurance, W.F., M.A. Cochrane, S. Bergen, P.M.
Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S. D’Angelo
Fearnside, P.M. 2010. Consequências do desmatamento & T. Fernandes. 2001b. The future of the Brazilian
da Amazônia. Scientific American Brasil Especial Amazon. Science 291: 438–439.
Biodiversidade, pp. 54-59.
Laurance, W.F. & P.M. Fearnside. 2002. Issues in
Fearnside, P.M. 2012. A tomada de decisão sobre grandes Amazonian development. Science 295: 1643.
estradas amazônicas. p. 59-75. In: A. Bager (Ed.)
Ecologia de Estradas: Tendências e Pesquisas. Editora Lobato, E. 2010. Teles temem perder R$20 bi com Telebrás.
da Universidade Federal de Lavras, Lavras, Minas Folha de São Paulo. 19 de maio de 2010, p. B1.
Gerais. 313 p. Nepstad, D.C., J.P. Capobianco, A.C. Barros, G.
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2006a. O corte Carvalho, P. Moutinho, U. Lopes & P. Lefebvre.
profundo na floresta: Reconstrução de estrada na 2000. Avança Brasil: Os Custos Ambientais para
Amazônia conectará trechos de floresta intocada a Amazônia. Instituto de Pesquisa Ambiental da
áreas de desmatamento. Scientific American Brasil Amazônia (IPAM), Belém, Pará. 24 p. Disponível
5(54): 10-11. em http://www.ipam.org.br/avanca/politicas.htm
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2006b. BR-319: Nepstad, D.C., G. Carvalho, A.C. Barros, A. Alencar,
Brazil’s Manaus-Porto Velho Highway and the J.P. Capobianco, J. Bishop, P. Moutinho, P. Lefebvre,
potential impact of linking the arc of deforestation U.L. Silva, Jr. & E. Prins. 2001. Road paving, fire
to central Amazonia. Environmental Management regime feedbacks, and the future of Amazon forests.
38(5): 705-716. https://doi.org/10.1007/s00267- Forest Ecology and Management 154(3): 395-407.
005-0295-y. Nepstad, D.C., D. McGrath, A. Alencar, A.C. Barros, G.
Carvalho, M. Santilli & M. del C. Vera Diaz. 2002.
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2009. BR-319: A
Frontier governance in Amazonia. Science 295: 629.
rodovia Manaus-Porto Velho e o impacto potencial
de conectar o arco de desmatamento à Amazônia Nepstad, D.C., D. McGrath, A. Alencar, A.C. Barros, G.
central. Novos Cadernos NAEA 12(1): 19-50. Carvalho, M. Santilli & M. del C. Vera Diaz. 2002.
Frontier governance in Amazonia. Science 295: 629.
Fearnside, P.M., P.M.L.A. Graça, E.W.H. Keizer, F.D.
Maldonado, R.I. Barbosa & E.M. Nogueira. 2009. Nepstad, D.C., S. Schwartzman, B. Bamberger, M.
Modelagem de desmatamento e emissões de gases Santilli, D. Ray, P. Schlesinger, P. Lefebvre, A.
de efeito estufa na região sob influência da rodovia Alencar, E. Prinz, G. Fiske & A. Rolla. 2006.
Manaus-Porto Velho (BR-319). Revista Brasileira Inhibition of Amazon deforestation and fire by
de Meteorologia 24(2): 208-233. https://doi. parks and indigenous lands. Conservation Biology
org/10.1590/S0102-77862009000200009 20: 65-73.
Ono, R.T. 2001. Estudo de Viabilidade do Transporte Engenharia de Transportes, Universidade de São
Marítimo de Conteiners por Cabotagem na Costa Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São
Brasileira. Dissertação de mestrado em engenharia, Carlos, São Paulo. 235 p.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
UFAM (Universidade Federal do Amazonas). 2009.
Paulo, SP. 136 p. http://www.teses.usp.br/teses/
Estudo de Impacto Ambiental – EIA: Obras de
disponiveis/ 3/3135/tde-16012002-102949/publico/
reconstrução/pavimentação da rodovia BR-319/AM,
teses_online.pdf
no segmento entre os km 250,0 e km 655,7. UFAM,
Peixoto, T.F.A. 2006. Quadro comparativo entre Manaus, Amazonas. 6 Vols. + Anexos.
as diferentes modalidades de transporte de
Venturieri, A., A.P.D. Aguiar, A.M.V. Monteiro, A.
mercadorias. p. 89-108 In: A. Freitas & L.S. Carneiro, D. Alves, G. Câmara, I.C. Vieira, I. Veiga,
Portugal (eds.) Estudos de Transporte e Logística na I. Escada, J. Veiga, J. Gavina, M. Thales, M. Oliveira,
Amazônia. Novo Tempo, Manaus, Amazonas. 396 p. P. Fearnside, R. Araújo, S.A. Kampel & T.G. Carneiro.
Rede Temática GEOMA. 2006. Análises preliminares dos 2004. Sumário executivo da missão de campo na
efeitos espaciais de áreas protegidas na ALAP da BR região de São Félix do Xingu/Iriri, 13 a 18 de outubro
319. Grupo Permanente de Trabalho Interministerial de 2004. Dinâmica de uso e ocupação do território,
sobre Desmatamento na Amazônia, Casa Civil da dinâmica de população e assentamentos humanos
Presidência da República, Brasília, DF. e modelagem computacional. Dinâmica territorial
da frente de ocupação de São Félix do Xingu-Iriri:
Silveira, J.P. 2001. Development of the Brazilian Subsídios para o desenho de políticas emergenciais de
Amazon. Science 292: 1651-1652. contenção do desmatamento. Secretaria de Políticas
Soares-Filho, B.S., A. Alencar, D. Nepstad, G. Cerqueira, e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento: Rede
M. del C.V. Diaz, S. Rivero, L. Solórzano & E. Voll. GEOMA, Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT),
2004. Simulating the response of land-cover changes Brasília, DF. 18 p. Disponível em: http://www.geoma.
to road paving and governance along a major lncc.br/Doc_Sumario_Exec_Ministro_Xinguri_
Amazon highway: The Santarém-Cuiabá corridor. Nov2004_Final.doc
Global Change Biology 10(5): 745-764. Vitel, C.S.M.N., P.M. Fearnside & P.M.L.A. Graça.
Soares-Filho, B.S., D.C. Nepstad, L.M. Curran, G.C. 2009. Análise da inibição do desmatamento pelas
Cerqueira, R.A. Garcia, C.A. Ramos, E., Voll, A. áreas protegidas na parte Sudoeste do Arco de
McDonald, P. Lefebvre & P. Schlesinger. 2006. desmatamento. p. 6377-6384. In: J.C.N. Epiphanio
& L.S. Galvão (Eds.) Anais XIV Simpósio Brasileiro
Modelling conservation in the Amazon Basin. Nature
de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil 2009.
440: 520-523.
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
Teixeira, K.M. 2007. Investigação de Opções de Transporte São José dos Campos, São Paulo. http://sbsr.dpi.
de Carga Geral em Conteineres nas Conexões com inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2008/11.13.14.42/
a Região Amazônica. Tese de doutorado em doc/6377-6384.pdf
18
Dinâmica de uso da terra e a expansão de
propriedades rurais em Apuí, um hotspot do
desmatamento na Rodovia Transamazônica
Tradução de:
Carrero, G.C. & P.M. Fearnside. 2011. Forest clearing dynamics and the expansion of land holdin-
gs in Apuí, a deforestation hotspot on Brazil’s Transamazon Highway. Ecology and Society 16(2):
art. 26. http://www.ecologyandsociety.org/vol16/iss2/art26/
329
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 329 8/18/2022 3:15:50 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
330 DA FLORESTA AMAZÔNICA
5) concluem que os mercados de terras são expansão ainda precisam ser compreendidos
uma das grandes dúvidas “ ...que só pode melhor. No entanto, existe informação sobre
ser resolvida por futuras pesquisas”. Eles a relação entre o desmatamento, o tamanho
concluem que “a pesquisa provavelmente da área e o tamanho do rebanho em tais áre-
será mais produtiva se concentrar no nível as. Geralmente há uma correlação positiva
da família e regional, em vez de estudos na- entre tamanho da propriedade e do número
cionais e global”. O presente estudo contri- de cabeças de gado (Downing et al., 1992;
bui para preencher esta necessidade em um Kaimowitz, 1996; Ludewigs et al., 2009),
foco (hotspot) do desmatamento no Brasil. como também entre o número de cabeças e a
disponibilidade de crédito rural (Moran, 1981;
Na Amazônia brasileira, as causas subja-
Hecht, 1993). As áreas com solos mais fér-
centes são uma combinação de políticas de co- teis têm uma produção mais diversificada e
lonização e agrícola promovida pela migração são mais resistentes a trocar de proprietários
de camponeses sem terra e fortes subsídios (Moran et al. 2005). Desmatamento em áreas
para os empresários iniciar a atividade pecuá- com solos inférteis e alta pluviosidade dimi-
ria (Mahar, 1979, 1989). As maiores áreas des- nuem de forma assintomática na Amazônia
matadas estão no “arco do desmatamento”, em áreas com níveis de precipitação anual
uma área em forma de lua crescente ao longo acima de 1800 mm, mesmo na presença de
das bordas sul e leste da floresta amazônica. uma estrada (Chomitz & Thomas, 2001).
A colonização foi frequentemente realizada
por agricultores familiares do sul e nordeste O papel especulativo de terras que atraiu
do Brasil, que foram posteriormente substitu- empresários à Amazônia foi importante na
ídos por grandes fazendas (Fearnside, 1986b, década de 1970 e ainda é mantido hoje, em
1987). Recentemente, o desmatamento tem se certa medida (Fearnside, 2008). Isso significa
expandido a partir do arco do desmatamento que a pecuária tem uma dinâmica que pode
em direção ao centro da Amazônia (Laurance, ser parcialmente independente de produti-
2000; Fearnside & Graça, 2006), principal- vidade (Hecht et al., 1988), que fortemente
mente no sul do estado do Amazonas e sul de moldou a paisagem e a acumulação de terra
Roraima (Sawyer, 2001). no estado de Rondônia entre 1973-1986 (ver
Mahar, 1979, 1989; Binswanger, 1991). A es-
O movimento da população significa o peculação de terras tem sido menos rentável,
movimento de investimentos, um fator cru- já que a inflação foi reduzida em 1994 com
cial que influencia as decisões domésticas. as reformas econômicas do “Plano Real”, e
Áreas de projetos de assentamento e ga- a criação de gado nem sempre é rentável em
rimpos funcionam como “pólos” que resul- fronteiras de expansão. Em geral, as taxas de
tam da migração intrarregional (Ozório de retorno anual na Amazônia variam entre 3
Almeida & Campari, 1995; Campari, 2002; e 15% (Schneider et al., 2000; Arima et al.,
Perz, 2002). Projetos de assentamento repre- 2005). No entanto, taxas negativas de retorno
sentam cerca de 15% do desmatamento total foram relatadas em Apuí quando apenas as
da Amazônia Brasileira (Brandão & Souza, receitas de gado são consideradas, sem acres-
2006). A tendência de famílias acumular ter- centar as receitas da exploração madeireira e
ras continuamente nas fronteiras de expan- do aumento do valor da terra (Razera, 2005).
são (Hecht, 1993; Campari, 2002) sugere que
A expansão de pastagens em Apuí ainda
os atores desempenham papéis diferentes na
ocorre mesmo em uma área onde os retor-
mudança da paisagem ao longo do tempo. A
nos econômicos são limitados pelo excesso
atividade pecuária em áreas de assentamen-
de chuvas e baixa fertilidade do solo, entre
to incorpora mais terras, geralmente através
outras características. O caso de Apuí oferece
de compra de propriedades adjacentes para
a oportunidade de, ao mesmo tempo, anali-
formar uma fazenda contínua (Aldrich et al.,
sar a dinâmica temporal do desmatamento,
2006; Caldas et al., 2007).
os agentes e fatores sócioeconômicos espe-
Os padrões de estratégias de uso da ter- cíficos da região, e fatores que são gerais
ra no acúmulo de terras nas fronteiras de para a Amazônia. Esses fatores incluem a
movimentação anterior dos atores através de PARJ foi criado pelo Instituto Nacional de
uma sucessão de fronteiras agrícolas em ex- Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
pansão antes de chegar a Apuí, suas estraté- A cidade de Apuí está localizada dentro do
gias para a geração de renda e a forma como PARJ. O PARJ apresenta um bloco de cerca de
eles contribuem para moldar a cobertura ve- 5.240 lotes com uma área total de 444.000 ha
getal nessa fronteira. Atentamos para evidên- (Fig. 1), incluindo áreas de florestas remanes-
cias baseadas no uso da terra de unidades centes e as propriedades que foram tituladas
familiares que poderiam elucidar como suas antes da criação do PARJ. A área de estudo
estratégias estão moldando o desmatamen- é composta por 108 estradas de acesso (“es-
to, considerando as forças subjacentes em tradas vicinais”) com uma extensão de apro-
Apuí. Optamos por utilizar uma abordagem ximadamente 1200 km com diferentes graus
que pode representar os padrões dessas fa- de trafegabilidade (Brasil, INCRA, 2006). Há
mílias em relação ao uso e ao acúmulo de também estradas abertas para exploração ma-
terra e o desmatamento. Nossa hipótese é deireira, os “carreadores”, que foram abertos
que o acúmulo de terras e a expansão de pelos proprietários ou por madeireiros.
pastagens usando os investimentos de outras Apuí apresenta altitude média de 135 m
fontes estão impulsionando o desmatamento acima do nível do mar, com relevo plano a
em Apuí. O artigo procura abordar a questão moderadamente ondulado (Brasil, Projeto
da importância relativa de diferentes fatores RADAMBRASIL, 1978). A precipitação anu-
na evolução do desmatamento em Apuí, in- al está entre 2200-2800 mm e a temperatura
cluindo características de unidades familia- média anual é de 26°C. O clima é classifi-
res e da especulação de terras. cado como tropical de monções (Köppen,
1948). O tipo de solo predominante é
METODOS Latossolo Vermelho-Amarelo na classifica-
ção brasileira, um Argissolo (Aber & Melillo,
Área de estudo 1991; EMBRAPA, 2006).
Figura 1. Localização
de Apuí na região
amazônica; área de
estudo com os lotes
com desmatamento
do Projeto de
Assentamento Rio
Juma e arredores.
separada em oito coortes representativas de lotes ocupados em cada período, bem como o
períodos de ocupação dos lotes desde a criação espectro da área total de propriedades rurais
do PARJ em 1982. Foi considerada a freqüên- entre as famílias. Uma entrevista foi agendada
cia de lotes em cada coorte (ni) proporcional- com a pessoa responsável pela família proprie-
mente ao número total de lotes. Utilizamos tária do lote. Um total de 83 famílias foram en-
essa proporção para selecionar um número trevistadas em 78 dias de coleta de dados no
de lotes de cada coorte. A amostra, portanto, segundo semestre de 2008. Um questionário
tem o intuito de representar a proporção de semiestruturado foi adaptado de um utilizado
pelo Centro Antropológico para Treinamento todas as propriedades rurais dentro do PARJ
e Pesquisa em Mudanças Ambientais Globais e quaisquer outras propriedades localizadas
(Indiana University, Bloomington, Indiana, até 115 km da cidade de Apuí. Este critério
E.U.A.). Também foram coletados mapas de foi usado para controlar o efeito da distância
uso da terra seguindo o método descrito em (transporte) e as limitações nas respostas di-
D’Antona et al. (2008). ferentes a respeito do uso produtivo das pro-
priedades da unidade familiar. A amostra foi
A entrevista continha informações sobre a composta por 83 famílias obtidas de 83 lotes
origem e a migração, o acúmulo de lotes, a sorteados. Nota-se que alguns proprietários
economia e a estrutura familiar, e sobre as ca- residem em seus lotes e obtém renda somente
racterísticas da infraestrutura e do uso da terra da produção, enquanto outros residem na ci-
nas propriedades rurais. As informações cole- dade e realizam outras atividades econômicas,
tadas permitem uma análise sobre a posse da como por exemplo, comércio, cargos públicos,
terra e a mudança no uso da terra nos lotes, etc., e vice-versa. O esforço para encontrar as
tamanho do rebanho bovino, mão de obra e famílias dos lotes sorteados é necessário para
renda. Para cada família foram contabilizadas representar a gama de estratégias de ocupação
e acumúlo de terras, de uso da terra e de con-
solidação das propriedades rurais.
Tabela 1. Lista das Variável Carater† Tipo‡ Valores
variáveis utilizadas Foi utilizado o método de Árvores de
Dependente
na análise de árvore
Desmatamento total 9,42 - 1.300,00
Regressão (Breiman et al., 1984), conside-
de regressão com os Esp N
(log10) (0,45 - 3,11) rando uma ampla gama de variáveis inde-
valores máximos e
mínimos obtidos da Independente pendentes (Tabela 1). Este método é ade-
amostra. Área total Esp N 24,57 - 4.831,02 quado para explorar as relações complexas
Residência Esp C urbana, rural entre os dados. O método aceita valores fal-
sul, sudeste, centro- tantes e estima um valor substituto potencial
Região de origem Esp C
oeste, norte, nordeste
(Therneau et al., 2009). A árvore de regres-
Pasto sujo Esp N 0-1
Pasto limpo Esp N 0-1
são é construída continuamente dividindo
Vegetação Secundária Esp N 0-1 a amostra com base em uma única variável
Derrubada Esp N 0 - 0,83 dependente e, também, lista alternativas ou
Culturas (anuais/perenes/ variáveis concorrentes para a variável inde-
Esp N 0 - 0,52
consórcios) pendente eleita (De’ath & Fabricius, 2000).
1 (80-92%); 2, (50- Nós usamos a soma dos quadrados, equi-
Floresta remanescente Esp C 80%), 3(20-50%),
4(<20%) valente aos modelos lineares dos mínimos
Despesa anual por quadrados. Usamos a regra “1 – SE” para
Ec N R$240 - 19.320
pessoa selecionar o tamanho da árvore pela valida-
Riqueza§ Ec C 1, 2, 3 e 4. ção cruzada, onde o “SE” é o erro padrão
agropecuária, (Breiman et al., 1984). Isso foi feito usando
comércio, emprego
Atividade principal Ec C
urbano, sem o pacote “mvpart” no programa estatístico R
ocupação v.2.6.2 (R Core Team Development, 2008).
Tempo permanência Temp N 1 - 29
Testamos 20 variáveis que refletem fa-
Cabeças gado por
propriedade
Fis N 0 - 1.600 tores socioeconômicos para explicar a área
Cabeças gado por família Fis N 0 - 1.700 total desmatada por unidade familiar. A va-
Infra-estrutura pecuária Fis N 0 - 61 riável resposta foi transformada em log10 e
Mão de obra familiar Fis N 0-7 teve distribuição normal (Shapiro-Wilk: W
Mão de obra contratada Fis N 0-6 = log10 0,98, p> 0,47). Estes valores são
Mão de obra permanente Fis N 0-6 apresentados em hectares nas figuras e ta-
Mão de obra para fora Fis N 0-1 belas sobre as folhas da árvore de regressão.
† Esp = espacial, Ec = econômico, Fis = física e Temp = temporal.
‡ C = categorica, N = numérica
§ Riqueza:classes baseadas nos bens acumulados: 1-não tem fogão a gás,
Entre as variáveis espaciais estão o local
geladeira ou TV; 2- tem pelo menos fogão, geladeira ou TV; 3- tem veículo de residência, a origem geográfica, a área to-
(moto, carro, caminhão ou caminhonete) e pelo menos um dos bens citados
acima; 4- tem dois ou mais veículos e pelo menos um dos bens citados acima. tal das propriedades, a floresta remanescente
Figura 2. Grupo de
propriedades rurais
da amostra dentro do
PARJ. Cores diferentes
representam cada uma
das unidades familiares.
Figura 5. Porcentagens
de cobertura vegetal
nas propriedades de
83 unidades familiares
(n=325) para dois pontos
no tempo (1= no momento
da aquisição ou ocupação
da propriedade, 2= em
2008) agrupadas em duas
classes: (a)- propriedades
adquiridas com 100% de
cobertura florestal [tempo
médio de aquisição =
8,8 anos ((± 6,6)]; (b) –
propriedaeds parcialmente
abertas (desmatadas)
quando adquiridas de
proprietários anteriores
[tempo médio de aquisição
= 6,7 anos (± 5,6)].
(1998) e 7,3 por Perz (2001) para a Amazônia em Apuí (n = 78) 78,2% das famílias possu-
equatoriana e Uruará, no estado do Pará, res- íam dois lotes ou mais com 27% (21 famílias)
pectivamente. No entanto, esses estudos não possuindo seis lotes ou mais. Num total de
demonstraram que a composição familiar tem 77% dos lotes da amostra houve a mudan-
efeito significativo na mudança da cobertura ça de proprietário, percentual semelhante ao
da terra (ver VanWey et al., 2007). A impor- encontrado em assentamentos em Porto Acre
tância do número de pessoas por unidade fa- (65%), Santarém (74%) e Altamira (76%),
miliar parece diminuir quando usam mão de embora a área total média possuída por unida-
obra contratada para as derrubadas. Ainda de familiar em Apuí foi, respectivamente, 3,7,
assim, a pecuária é dependente do trabalho 2,5 e 1,6 vezes maior do que as médias nestes
do sexo masculino (Marquette, 1998; Perz, outros assentamentos (Ludewigs et al., 2009).
2001), com o número de homens adultos em
geral positivamente correlacionado com a área O isolamento geográfico e as péssimas
desmatada (por exemplo, Godoy et al.,1998, condições de acesso também resultam em
Sydenstricker-Neto 2004), fator confirmado uma baixa freqüência de fiscalização e li-
pela razão sexual média de 1,36. cenciamento ambiental, e a ineficiência dos
serviços prestados pelas agências do governo
torna inviável o manejo florestal sustentável.
Posse e acúmulo de terras
Os escritórios mais próximos dos órgãos am-
Ludewigs et al. (2009) encontraram bientais estão em Humaitá (400 km por es-
93,6% das propriedades tituladas em Porto trada) ou em Manaus (500 km em linha reta,
Acre (Acre), 53,2% em Santarém (Pará) e mas sem acesso por estrada). Apuí é um mu-
69,9% em Altamira (Pará); estas percenta- nicípio localizado na extremidade do arco do
gens são de três a cinco vezes maiores do que desmatamento e fica evidente a necessidade
o percentual em Apuí (17,6%). Muitas pro- de maior governança.
priedades em Apuí não são tituladas por uma
variedade de razões. Uma parte é devido à ca- Especulação de terras e desmatamento
pacidade limitada do INCRA para supervisio-
nar, inspecionar e emitir títulos de terras na O tamanho do rebanho bovino e a área to-
região. Outras razões incluem a incapacidade tal de propriedades rurais foram as variáveis
dos ocupantes de pagar as prestações anuais mais significativas explicando as causas pro-
necessárias para a compra do lote; a mudan- ximais do desmatamento. No entanto, quando
ça de proprietários de um determinado lote analisamos o uso da terra e as características
que bloqueia a emissão de títulos de terra por de cobertura vegetal das propriedades rurais
causa de dívidas hipotecárias; e pessoas que dos grupos gerados pela análise de árvores
já possuem um lote reivindicando outros, o de regressão, alguns padrões podem desven-
que é inelegível perante a lei. dar estratégias que denotam a especulação de
A compra e venda de lotes ocorre mes- terras. O preço da terra subiu rapidamente em
mo na ausência de título da terra, porque as Apuí, com a chegada de agricultores capitali-
vendas são feitas do «direito de posse» com- zados do Paraguai, Rondônia, e sul do Brasil a
pensando, teoricamente, o vendedor das ben- partir de 1995, inflando o valor da terra (Portal
feitorias realizadas. A frequente ausência de Apuí, 2008). A alta taxa de abandono de lo-
títulos de terras favorece muito uma mudança tes contribuiu para o acúmulo de terras como
de proprietário dos lotes e o acúmulo de terras. outros colonos na região adquiriram as terras
No assentamento em Uruará (Pará) em 1996, a preços simbólicos, ou quando estes lotes fo-
18,9% das unidades familiares (n = 132) ti- ram comprados por fazendeiros recém-chega-
nham mais de um lote com o máximo obser- dos altamente capitalizados. A venda da ma-
vado sendo cinco lotes (Caldas et al., 2007). deira também contribui para a especulação.
No mesmo assentamento, em 2002, Aldrich et Madeireiras e serrarias têm aumentado a sua
al. (2006) constataram que 27,6% (n = 125) contribuição na economia do município, com
tinham mais de dois lotes, com o maior pro- nove serrarias operando em 2010 em compara-
prietário tendo sete lotes. Em nossa amostra ção a apenas quatro em 2004 (Razera, 2005).
A proporção de gado em relação à área e pecuária em Apuí, como também tem sido
total de pastagem indica que, embora quase o caso em outras áreas de assentamento
todos os colonos possuam gado, em alguns (MacMillan, 1995; Phillips, 2007).
casos isso não representa uma fonte primá-
O corte de vegetação secundária contribui
ria de renda. A análise dos resultados indica
para reduzir a taxa de desmatamento, absor-
que há uma tendência das famílias em não
vendo os recursos financeiros dos recém-che-
confiar exclusivamente na rentabilidade da
gados por um tempo. No entanto, altas taxas
pecuária de seus lotes, ao invés disso, as pro-
de desmatamento continuarão a ocorrer e
priedades funcionam como oportunidades de
provavelmente irão aumentar quando áreas
investimento que dirigem a especulação de
de floresta secundária forem significativa-
terras. Esse fato foi confirmado por 30,6%
mente reduzidas e apenas restarem florestas
das unidades familiares que tinham a pecuá-
primárias, assumindo que capital externo
ria como sua atividade principal, porém sem
e mão de obra estejam disponíveis (Walker
obtenção de renda. O capital proveniente de
et al., 2000). No monitoramento mensal de
outras fontes está sendo investido no rebanho
grandes incrementos em derrubadas (> 25
e/ou no acúmulo de terras, apesar da falta
ha), utilizando imagens MODIS de 250 m de
de rentabilidade demonstrada da pecuária. O
resolução, o PARJ figurou sete vezes entre os
influxo de capital para compra de terras ali-
três assentamentos com as maiores taxas de
menta o aumento dos preços da terra, criando
desmatamento em toda a Amazônia brasilei-
uma retroalimentação positiva entre a espe-
ra entre maio de 2008 e maio de 2010, e foi
culação de terras e o desmatamento que im-
duas vezes o «campeão» na primeira posição,
pulsiona a expansão das pastagens. Este ciclo
com taxas de até 2,5 mil ha em um único mês
especulativo fornece a explicação para o que
(Souza et al., 2009; Hayashi et al., 2010). O
de outra forma seria um verdadeiro enigma:
uso da terra predominante em Apuí é a pe-
a expansão das pastagens, apesar retornos fi-
cuária extensiva baseada na expansão de áre-
nanceiros baixíssimos. Apesar de grandes fa-
as de pastagens, com a expectativa de que a
zendeiros já serem bem conhecidos por trazer
terra aumente de valor. O resultado é a pro-
recursos externos para investir nessas ativida-
pagação contínua da atividade destrutiva da
des (Walker et al., 2000), esta tendência foi
floresta, mesmo durante um período em que
observada até mesmo em pequenos e médios
as taxas de desmatamento total na Amazônia
proprietários rurais de Apuí.
têm reduzido (Brasil, INPE, 2009).
Geração de renda e investimento na Esforços para chegar a generalizações glo-
destruição da floresta bais sobre as causas de desmatamento muitas
vezes passam longe da realidade quando se
O acúmulo de terras com base na expan- olha para um caso específico. Por exemplo, a
são da pecuária sobre a floresta primária pa- visão de que a maior parte do desmatamen-
rece ser impulsionado por recursos externos, to tropical está sendo causado por famílias
mesmo quando as famílias tenham atividades pobres que realizam a agricultura de pousio
próprias ou fornecem mão-de-obra para ou- (Myers, 1980, 1994) não se encaixa bem no
tras propriedades. Adicionalmente à venda Brasil, onde a maioria do desmatamento é o
da madeira (Razera, 2005), as mulheres, em trabalho dos fazendeiros mais ricos (Fearnside,
particular, podem trazer dinheiro de fontes 2005). Dentro da Amazônia brasileira, a por-
urbanas para a família, que é investido na ção oriental da região tem a pecuária que é
propriedade (Marquette, 1998; VanWey et al., pelo menos moderadamente rentável para a
2007). O município de Apuí foi classificado produção de carne bovina em áreas com aces-
em 22º entre 5.507 municípios do Brasil du- so rodoviário adequado (Mattos & Uhl, 1994;
rante o período de 1995 a 2000 em termos da Mertens et al., 2002; Margulis, 2004), fornecen-
taxa de aumento do emprego formal, ou seja, do vetores económicos além dos identificados
com carteira assinada (Matos, 2007). O ga- em nosso estudo em Apuí. Mesmo em uma
rimpo de ouro também foi relatado como fon- área relativamente limitada, como o município
te de renda para investimento na agricultura de Apuí (54.251 km², uma área maior que a
Fearnside, P.M. 2005. Deforestation in Brazilian Amazonia: Köppen, W. 1948. Climatologia: con un estudio de los
history, rates and consequences. Conservation climas de la tierra. Fondo de Cultura Económica,
Biology 19(3): 680-688. https://doi.org/10.1111/ Mexico City, Mexico.
j.1523-1739.2005.00697.x
Lambin, E.F. 1994. Modelling deforestation processes: a
Fearnside, P.M. 2008. The roles and movements review. TREES series B: Research Report n1, European
of actors in the deforestation of Brazilian Commission, EUR 15744 EN. Office of Official
Amazonia. Ecology and Society 13(1): art. 23. http:// Publications of the European Community, Luxemburgo.
www.ecologyandsociety.org/vol13/iss1/art23/.
Lambin, E.F. 1997. Modelling and monitoring land-cover
Fearnside, P.M. & P.M.L.A. Graça. 2006. BR-319: Brazil’s change processes in tropical regions. Progress in
Manaus-Porto Velho Highway and the potential Physical Geography 21(3): 375-393.
impact of linking the arc of deforestation to central
Amazonia. Environmental Management 38: 705-716. Laurance, W.F. 2000. Mega-development trends in the
https://doi.org/10.1007/s00267-005-0295-y Amazon: Implications for global change. Environmental
Monitoring and Assessment 61: 113-122.
Geist, H.J. & E.F. Lambin. 2001. What drives tropical
deforestation? A meta-analysis of proximate causes Ludewigs, T., A. O. D’Antona, E. S. Brondízio & S.
and underlying sources of deforestation based on Hetrick. 2009. Agrarian structure and land-cover
subnational scale case study evidence. LUCC Report change along the lifespan of three colonization areas
Series N°4, LUCC International Project Office, in the Brazilian Amazon. World Development 37(8):
Department of Geography, University of Louvain, 1348-1359.
Louvain-la Neuve, Belgica. MacMillan, G. 1995. At the End of the Rainbow? Gold,
Geist, H.J. & E.F. Lambin. 2002. Proximate causes and Land and People in the Brazilian Amazon. Columbia
underlying driving forces of tropical deforestation. University Press, New York, New York, E.U.A.
BioScience 52: 143-150. Mahar, D.J. 1979. Frontier Development Policy in Brazil:
Godoy, R., S. Groff & K. O’Neill. 1998. The role of A Study of Amazonia. Praeger, New York, New
education in neotropical deforestation: household York, E.U.A.
evidence from Amerindians in Honduras. Human Mahar, D.J. 1989. Government policies and deforestation
Ecology 26: 649-675. in Brazil’s Amazon region. World Bank, Washington,
Hayashi, S., C. Souza, Jr., M. Sales & A. Veríssimo. D.C., E.U.A.
2010. Transparência Florestal Amazônia Legal (Abril e Margulis, S. 2004. Causes of Deforestation in the
Maio de 2010). Instituto do Homem e Meio Ambiente Brazilian Amazon. World Bank Working Paper No.
da Amazônia (IMAZON), Belém, Pará. http:// 22. World Bank, Washington, D.C., E.U.A.
www.imazon.org.br/publicacoes/transparencia-
florestal/transparencia-florestal-amazonia-legal/ Marquette, C.M. 1998. Land use patterns among small
transparencia-florestal-da-amazonia-legal-abril-e farmer settlers in the northeastern Ecuadorian
Amazon.Human Ecology 26(4): 573-598.
Hecht, S.B. 1993. The logic of livestock and deforestation
in Amazonia. Bioscience 43(3): 687-695. Matos, R. 2007. Novos espaços da migração ou espaços
efêmeros do emprego e da população? V Encontro
Hecht, S.B., R. B. Norgaard & C. Possio. 1988. Nacional sobre Migrações. Universidade Estadual
The economics of cattle ranching in eastern de Campinas (UNICAMP), Campinas, São Paulo
Amazonia. Interciencia 13: 233-240. http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/
Kaimowitz, D. 1996. Livestock and deforestation: Central outros/5EncNacSobreMigracao/mesa_01_nov_esp_
America in the 1980s and 1990s. A policy perspective. mig.pdf
Center for International Forestry Research (CIFOR), Mattos, M. M. & C. Uhl. 1994. Economic and
Bogor, Indonésia. ecological perspective on ranching in the eastern
Kaimowitz, D. & A. Angelsen. 1998. Economic Models Amazon. World Development 22(2): 145-158.
of Deforestation. A Review. Center for International
McCracken, S.D., E.S. Brondízio, D. Nelson, E.F.
Forestry Research (CIFOR), Bogor, Indonésia.
Moran, A.D. Siqueira & C. Rodriguez-Pedraza.
Koh, L. P. & J. Ghazoul. 2010. Spatially explicit scenario 1999. Remote sensing and GIS at farm property
analysis for reconciling agricultural expansion, forest level: demography and deforestation in the Brazilian
protection, and carbon conservation in Indonesia. Amazon. Photogrammetric Engineering and Remote
Proceedings of the National Academy of Sciences Sensing 65: 1311-1320.
USA 107: 11140-11144.
McCracken, S.D., A. D. Siqueira, E. F. Moran &
Koh, L.P. & D.S. Wilcove. 2008. Is oil palm agriculture E.S. Brondízio. 2002. Land use patterns on an
really destroying tropical biodiversity? Conservation agricultural frontier in Brazil: insights and examples
Letters l: 60-64. from a demographic perspective. p. 162-192 in C. H.
Wood & R. Porro (editors). Deforestation and Land Phillips, T. 2007. Brazilian goldminers flock to “New
Use in the Amazon. University Presses of Florida, Eldorado”. The Guardian, 11 January 2007. http://www.
Gainesville, Florida, E.U.A. guardian.co.uk/world/2007/jan/11/brazil.mainsection.
Mertens, B. & E.F. Lambin. 2000. Land-cover change Portal Apuí. 2008. Nossa História. Portal Apuí, Apuí,
trajectories in southern Cameroon. Annals of the Amazonas, Brazil. http://www.portalapui.com.br/
Association of American Geographers 90(3): 467-494. index.php?option=com_content&view=article&id
=48&Itemid=3
Mertens, B., R. Poccard-Chapuis, M.-G. Piketty, A.-
E. Laques & A. Venturieri. 2002. Crossing spatial R Core Development Team. 2008. R. version 2.6.2 (2008-
analyses and livestock economics to understand 02-08). The R Foundation for Statistical Computing,
deforestation processes in the Brazilian Amazon: the Auckland, Nova Zealândia. http://www.r-project.org/
case of São Felix do Xingu in South Pará. Agricultural
Razera, A. 2005. Dinâmica do desmatamento em uma
Economics 27(3): 269-294.
nova fronteira do sul do Amazonas: análise da
Mertens B., W. Sunderlin, O. Ndoye & E.F. Lambin. pecuária de corte no Município do Apuí. Dissertação
2000. Impact of macroeconomic transformations on de mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas
deforestation in southern Cameroon: integration of da Amazônia (INPA) & Universidade Federal do
household survey and remotely sensed data. World Amazonas (UFAM), Manaus, Amazonas.
Development 28(6): 983-1000.
Sawyer, D. 2001. Evolução demográfica, qualidade
Moran, E.F. 1981. Developing the Amazon. Indiana de vida e desmatamento na Amazônia. p. 73-
University Press, Bloomington, Indiana, E.U.A. 90. in V. Fleischresser, editor. Causas e dinâmica
do desmatamento na Amazônia. Ministério do Meio
Moran, E.F., E.S. Brondízio & L.K. VanWey. 2005.
Ambiente (MMA), Brasília, DF.
Population and environment in Amazônia: landscape
and household dynamics. p. 106-134 in B. Entwisle Schneider, R.R., E. Arima, A. Veríssimo, P. Barreto & C.
& P. C. Stern (eds.). Population, Land Use, and Souza, Jr. 2000. Amazônia Sustentável: Limitantes e
Environment: Research Directions. National Academy Oportunidades para o Desenvolvimento Rural. World
Press, Washington, D.C., E.U.A. http://books.nap. Bank, Brasília, Distrito Federal, and Instituto do Homem
edu/openbook.php?record_id=11439&page=106 e Ambiente na Amazônia (IMAZON), Belém, Pará.
Myers, N. 1980. Conversion of Tropical Moist Forests. Souza, Jr., C., A. Veríssimo & S. Hayashi. 2009.
National Academy of Sciences, Washington, D.C., Transparência florestal da Amazônia Legal (Julho
E.U.A. de 2009). Instituto do Homem e Ambiente na
Amazônia (IMAZON), Belém, Pará. http://
Myers, N. 1994. Tropical deforestation: rates and
www.imazon.org.br/publicacoes/transparencia-
patterns. p. 27-40. in K. Brown & D. W. Pearce
florestal/transparencia-florestal-amazonia-legal/
(eds.) The causes of tropical deforestation. The
transparencia-florestal-da-amazonia-legal-julho-de
economic and statistical analysis of factors giving rise
to the loss of the tropical forests. University College Sydenstricker-Neto, J.M. 2004. Land-Cover Change and
London Press, London, Reino Unido. Social Organization in Brazilian Amazonia.Tese de
doutorado. Cornell University, Ithaca, New York, E.U.A.
Osgood, D. 1994. Government failure and deforestation
in Indonesia. p. 217-225. in K. Brown, K. & D.W. Therneau, M.T., B. Atkinson, B. Ripley, J. Oksanen
Pearce (eds.) The Causes of Tropical Deforestation. & G. De’ath. 2009. ‘Mvpart’ Package, v. 1.2-6.
The Economic and Statistical Analysis of Factors The R Foundation for Statistical Computing,
Giving Rise to the Loss of the Tropical Forests. Auckland, Nova Zealândia. http://cran.uvigo.es/
University College London Press, London, UK. web/packages/mvpart/mvpart.pdf
Ozório de Almeida, A.L. & J.S. Campari. 1995. Sustainable VanWey, L.K., A.O. D’Antona & E.S. Brondízio. 2007.
Settlement in the Brazilian Amazon. Oxford Household demographic change and land use/land
University Press, Oxford, Reino Unido. cover change in the Brazilian Amazon. Population
and Environment 28: 163-185.
Perz, S.G. 2001. Household demographic factors as
life cycle determinants of land use in the Amazon. Walker, R.T. & A.K.O. Homma. 1996. Land use and
Population Research and Policy Review 20: 159-186. land cover dynamics in the Brazilian Amazon: an
overview. Ecological Economics 18: 67-80.
Perz, S.G. 2002. Population growth and net migration
in the Brazilian Legal Amazon, 1970-1996. p. 107- Walker, R.T., E.F. Moran & L. Anselin. 2000. Deforestation
129 in C.H. Wood & R. Porro (eds.) Deforestation and cattle ranching in the Brazilian Amazon:
and Land Use in the Amazon. University Press of external capital and household processes. World
Florida, Gainesville, Florida, E.U.A. Development 28(4): 683-699.
19
A Política Brasileira ameaça as
Políticas Públicas Ambientais
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2016. Brazilian politics threaten environmental policies. Science 353: 746-748.
https://doi.org/10.1126/science.aag0254
345
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 345 8/18/2022 3:16:01 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
346 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 1. O Santarém-
Cuiabá (BR-163),
destinado à reconstrução
para transportar a soja
de Mato Grosso para os
portos do rio Amazonas
(Fearnside, 2007), é
um importante corredor
para desmatamento e
extração de madeira.
Construir ou melhorar
uma estrada desencadeia
a migração da população
com impactos de
longo alcance no meio
ambiente e na população
tradicional. Foto: Pulsar
images/Alamy stock
photo
Figura 2. A represa de
Jirau, no rio Madeira,
tem enormes impactos
(Fearnside, 2014b),
assim como terão as
represas planejadas:
deslocamento de
populações humanas,
bloqueio de migrações
de peixes, perda
de biodiversidade,
emissões de gases
de efeito estufa,
entre outros. Foto: N.
Friedman-Rudovsky/
Polaris/Newscom
Um risco constante é que cientistas e ou- de Moura Rocha Lima, G. 2016. Constitucionalização
tras pessoas que trabalham com os proble- de Políticas Públicas e Emendamento Constitucional
no Brasil. Tese de doutorado em administração
mas ambientais na Amazônia sucumbam ao pública e governo, Escola de Administração de
fatalismo ao assumir que evitar a destruição Empresas de São Paulo, São Paulo, SP. 102 p.
na região é uma causa perdida. A continuida- http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/
de de subsídios da comunidade científica é h a n d l e / 10 4 3 8 / 1 6 3 7 5 / Te s e G i ova n n a L i m a .
fundamental para orientar a política ambien- pdf?sequence=1
tal em direção a um futuro melhor no Brasil. Fearnside, P.M. 1995. Hydroelectric dams in the
Brazilian Amazon as sources of ‘greenhouse’ gases.
Environmental Conservation 22(1): 7-19. https://
AGRADECIMENTOS doi.org/10.1017/S0376892900034020
Fearnside, P.M. 2007. Brazil’s Cuiabá-Santarém
O autor reconhece o apoio do CNPq
(BR-163) Highway: The environmental cost of
(575853/2008-5; 311103/2015-4), FAPEAM paving a soybean corridor through the Amazon.
(708565) e INPA (PRJ15.125); Maurício Environmental Management 39(5): 601-614. https://
Torres por Figura 2. Paulo Maurício Lima doi.org/10.1007/s00267-006-0149-2
de Alencastro Graça e dois referees forne- Fearnside, P.M. 2014a. Brazil’s Madeira River dams:
ceram comentários. Isto é uma tradução de A setback for environmental policy in Amazonian
Fearnside (2016). development. Water Alternatives 7(1): 156-169.
http://www.water-alternatives.org/index.php/
alldoc/articles/vol7/v7issue1/244-a7-1-15/file
REFERÊNCIAS Fearnside, P.M. 2014b. Impacts of Brazil’s Madeira
River dams: Unlearned lessons for hydroelectric
Amazonas em Tempo. 2016. Bancada tenta reverter
development in Amazonia. Environmental Science
decretos. 16 de junho de 2016, p. A-8. http://www.
& Policy 38: 164-172. https://doi.org/10.1016/j.
emtempo.com.br/
envsci.2013.11.004.
Baquero, M. 2015. Corruption, political culture and
Fearnside, P.M. 2015. Natural riches of Amazonia,
negative social capital in Brazil. Revista Debates
deforestation and its consequences. Global
9(2): 139-157. http://www.seer.ufrgs.br/debates/
Land Project News 12: 22-25. http://www.
article/viewFile/57686/34737
globallandproject.org/arquivos/GLPNews_Nov2015.
Barros, C. & I. Barcelos. 2016. Mineração em área pdf
indígena depende de nova regulação. Folha de São Fearnside, P.M. 2016. Brazilian politics threaten
Paulo, 16 de junho de 2016, p. B-10. environmental policies. Science 353: 746-748.
Borges, A. 2016. Ambientalistas criticam PEC do https://doi.org/10.1126/science.aag0254
licenciamento. O Estado de São Paulo, 28 de Ferreira, J., L.E.O.C. Aragão, J. Barlow, P. Barreto, E.
abril de 2016. http://economia.estadao.com.br/ Berenguer, M. Bustamante, T.A. Gardner, A.C. Lees,
noticias/geral,ambientalistas-criticam-pec-do- A. Lima, J. Louzada, R. Pardini, L. Parry, C.A. Peres,
licenciamento,10000040589 P.S. Pompeu, M. Tabarelli & J. Zuanon. 2014. Brazil’s
Bergamon, M. 2016. Nenhum direito é absoluto, e país environmental leadership at risk. Science 346: 706-
precisa funcionar. Folha de São Paulo, 16 de maio 707. https://doi.org/10.1126/science.1260194
de 2016, p. A-14. http://www1.folha.uol.com.br/ Guetta, M. 2016, Nota técnico-jurídica: Minuta de
poder/2016/05/1771609-nenhum-direito-e-absoluto- resolução CONAMA sobre licenciamento ambiental.
e-pais-precisa-funcionar-diz-ministro-da-justica. Instituto Socioambiental (ISA), Brasília, DF. 05 de
shtml abril de 2016. https://www.socioambiental.org/
Brasil, MPF (Ministério Público Federal). 2016. Nota sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/
Técnica- A PEC 65/2012 e as clausulas pétreas. nota_tecnico-juridica_-_licenciamento_ambiental_-_
Grupo de Trabalho Intercameral, MPF, Brasília, DF. isa_-_versao_05.04.2016.pdf
22 p. http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/ Hernandez, F.M., & S.B.M. dos Santos. 2011. Ciência,
nota-tecnica-pec-65-2012/ cientistas e democracia desfigurada: O caso de Belo
Monte. Novos Cadernos NAEA, 14(1), 79-96. https://
CFBio (Conselho Federal de Biologia). 2016. CFBio
doi.org/10.5801/ncn.v14i1.599
entrega ofícios ao relator da PEC 65 e ao presidente
da CCJ. 14 de junho de 2016. http://www.cfbio.gov. Infomoney. 2014. Senador eleito mais rico tem quase R$
br/artigos/CFBio-entrega-oficios-ao-relator-da-PEC- 400 milhões; veja onde eles investem. Infomoney 09
65-e-ao-presidente-da-CCJ October 2014. http://www.infomoney.com.br/onde-
Metzger, J.-P.; Lewinsohn, T.; Joly, C.A.; Verdade, Soares-Filho, B.S., R. Rajão, M. Macedo, A. Carneiro,
L.M.; Rodrigues, R.R. 2010. Brazilian law: Full W. Costa, M. Coe, H. Rodrigues, & A. Alencar. 2014.
speed in reverse. Science 329: 276-277. https://doi. Cracking Brazil’s Forest Code. Science 344: 363-364.
org/10.1126/science.329.5989.276-b https://doi.org/10.1126/science.1246663
Nepstad, D.C., S. Schwartzman, B. Bamberger, M. Zucco, C. & B. Lauderdale. 2011, Distinguishing
Santilli, D. Ray, P. Schlesinger, R. Lefebvre, A. between influences on Brazilian legislative behavior.
Alencar, E. Prinz, G. Fiske, & A Rolla. 2006. Inhibition Legislative Studies Quarterly. 36(3): 363-396.
of Amazon deforestation and fire by parks and https://doi.org/10.1111/j.1939-9162.2011.00019.x
20
Como sempre, os negócios: O ressurgimento
do desmatamento na Amazônia brasileira
Philip M. Fearnside
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Av. André Araújo, 2936 – CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: pmfearn@inpa.gov.br
Tradução de:
Fearnside, P.M. 2017. Business as Usual: A Resurgence of Deforestation in the Brazilian
Amazon. Yale Environment 360, 18 de abril de 2017. http://e360.yale.edu/features/
business-as-usual-a-resurgence-of-deforestation-in-the-brazilian-amazon
Tradução original:
Fearnside, P.M. 2017. Como sempre, os negócios: o ressurgimento do desmatamento na
Amazônia brasileira. Yale Environment 360, 18 de abril de 2017. http://e360yale.universia.net/
como-sempre-os-negocios-o-ressurgimento-do-desmatamento-na-amazonia-brasileira/?lang=pt-br
351
Destruição e Conservação da Floresta Amazônica - Miolo.indb 351 8/18/2022 3:16:09 PM
DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO
352 DA FLORESTA AMAZÔNICA
Figura 2. Na Amazônia
brasileira uma área do
tamanho da França foi
perdida em virtude do
desmatamento desde
2016.
pela queda dos preços dos principais produ- do desflorestamento foi o resultado, sobretu-
tos de exportação como a soja e a carne bo- do, da redução dos cortes que estavam sendo
vina. Esta situação foi agravada pelo aumen- realizados pelos grandes e médios latifundiá-
to de 80% no valor da moeda brasileira em rios que precisavam lidar com as restrições de
comparação com o dólar norte-americano, crédito dos bancos públicos, ao contrário dos
tornando as exportações menos rentáveis pequenos agricultores.
para os latifundiários cujas despesas eram Então, o que há por trás do crescimen-
pagas em reais, enquanto os lucros das ex- to constante do desflorestamento a partir
portações eramem dólares de 2012? Esse ano foi caracterizado pela
De 2008 em diante os preços das matérias- promulgação de uma lei que enfraquecia
-primas se recuperaram, mas o desmatamen- muito o Código Florestal Brasileiro, remo-
to continuou a cair em 2012, uma indicação vendo restrições importantes sobre o des-
de que alguma coisa tinha mudado. A mu- matamento, especialmente na Amazônia, e
dança mais evidente foi a resolução adotada tornando mais fácil a obtenção da permissão
em 2008 pelo Banco Central do Brasil de su- oficial para desmatarlegalmente. E, graças
bordinar a concessão de créditos para a agri- ao aumento sem precedentes da influência
cultura e a pecuária à condição de não pos- política dos latifundiários ruralistas, o códi-
suir multas pendentes por desflorestamento go perdoou as derrubadas ilegais realizadas
ilegal. Ao contrário das multas - contra as até 2008, criando assim uma expectativa de
quais, pelo que parece, é possível apresentar futuras “anistias”. O preço da soja também
um recurso atrás do outro e, frequentemente, subiu em 2012, atingindo brevemente o nível
não pagar nunca - o indeferimento do crédi- (corrigido pela inflação) de 2004, encorajan-
to é imediato, não cabe recurso e afeta dire- do os agricultores a desmatar mais terras.
tamente os atores principais e mais ricos do O aumento do desmatamento nos últi-
processo de desmatamento. A desaceleração mos cinco anos não deveria nos surpreender,
já que os fatores subjacentes à destruição dos os problemas econômicos do país. Essa revi-
bosques continuam crescendo ano após ano. ravolta abriu as porteiras para o avanço rápi-
A cada ano a região amazônica fica mais po- do de iniciativas do legislativo para eliminar
pulosa, mais estradas penetram na selva e as restrições ambientais, uma tendência que
existem mais investimentos na agricultura e continuou após a transferência formal dos
pecuária e em grandes projetos, tais como a poderes presidenciais ao atual líder do Brasil,
contrução de represas hidrelétricas. As áreas Michel Temer (Fearnside, 2016).
ao redor das represas no rio Madeira (Santo
Ainda que outros fatores econômicos
Antônio, cujo reservatório foi enchido em
possam ter contribuído para o aumento do
2011, e Jirau, enchido em 2013) e no rio
desflorestamento, sua magnitude sugere
Xingu (Belo Monte, enchido em 2015) foram
que ele também teve sua origem no rápido
pontos de desflorestamento intenso. O mes-
crescimento do poder político dos ruralistas,
mo ocorreu na estrada de Santarém a Cuiabá
que está sendo reconstruída para transportar que já tinha começado muito antes do fim
a soja do Mato Grosso para os portos com do governo de Rousseff. O atual ministro da
acesso ao rio Amazonas (Pearce, 2011). Agricultura, Blairo Maggi, é o maior produtor
de soja do Brasil (Bonato & Samora, 2016).
Os antigos motivos do desflorestamento, Em 2005, quando era governador do Mato
como a especulação fundiária, a lavagem de Grosso, ele recebeu do Greenpeace o prêmio
dinheiro e a aquisição de terras - seja obten- “Motosserra de ouro” por ser o maior res-
do o título legal de propriedade da terra ou ponsável individual pelo desmatamento da
ocupando e evitando que sejam invadidas Amazônia (Greenpeace, 2005).
ou confiscadas, com ou sem um documento
legal - continuam existindo. Soma-se a tudo O Ministro da Justiça, Osmar Serraglio,
isso uma economia livre para vender produ- que controla o órgão responsável pelas ter-
tos agrícolas com fins lucrativos (Fearnside, ras indígenas, foi o congressista mais pode-
2005). Durante este período foram abertos roso por trás de uma emenda constitucional
novos mercados internacionais para a carne proposta para extirpar do órgão a autoridade
do Brasil, com um aumento constante das para criar reservas indígenas, uma iniciati-
exportações até 2016, antes que estourasse va amplamente considerada um revés para
o escândalo de inspeção da carne e sua co- os esforços de conservação das florestas tro-
mercialização fosse proibida (supostamente picais (Arsenault, 2017). Serraglio também
de forma temporária) em 2017. O avanço da lutou para arrancar do Ministério do Meio
soja para as antigas pastagens de gado no es- Ambiente a faculdade de criar reservas na-
tado do Mato Grosso, inclusive em algumas turais. A facção ruralista também encabeça
áreas onde originalmente predominavam sa- ambas as câmaras do Congresso Nacional e
vanas em vez de floresta tropical, induziu os lidera a coalizão governamental nas mesmas.
pecuaristas a vender suas terras e reinvestir Não existe uma solução única para a
os lucros para a compra e desmatamento de incessante destruição da floresta amazôni-
zonas florestais na região mais remota da ca. Uma série de medidas divididas em três
Amazônia, onde a terra é barata. categorias são necessárias: esforços para
Compreender o aumento do desmata- prevenir o desflorestamento; suspensão das
mento do ano passado é importante para ações governamentais que fomentam o des-
prever quais medidas deverão ser adotadas florestamento; e oferta de alternativas para
para limitar a derrubada dos bosques. Um aqueles que dependem da agricultura para
fator importante em 2016 foi a incerteza po- subsistir - um grupo que não inclui o agrone-
lítica durante e após o processo de impeach- gócio, os pecuaristas ou os “grileiros” (gran-
ment da presidente Dilma Rousseff, a qual foi des usurpadores ilegais de terras) (Fearnside,
obrigada a afastar-se em maio de 2016 para 2008a). O valor dos serviços ambientais da
o início de seu julgamento, culminando em região é uma fonte potencial de recursos
sua acusação formal, em agosto passado, por que estive promovendo durante mais de
manipular o orçamento federal para ocultar três décadas. Estes serviços incluem manter