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Quatro assuntos introdutórios ao pensamento de Nietzsche

O conceito do Super Homem


É tentador relacionar o Super Homem ("übermensch") de Nietzsche com o Super-
Homem da DC. Mas, apesar de Henry Cavill responder a todos os quesitos estéticos da
sociedade moderna, ele não tem nada a ver com as ideias nietzschianas. Segundo o filósofo
especialista em Nietzsche, o Super Homem (ou Além do Homem) poderia ser representado
por aquele que encarara a vida sem as muletas que o homem usou até hoje para poder
suportar a existência, como a religião ou a moral, por exemplo. Segundo Nietzsche, essas
muletas seriam uma negação da morte. E seria por causa dessa negação que as pessoas
acreditariam em falsas promessas como o paraíso. Portanto, o Super Homem seria um ser
superior, uma ideia melhorada de nós mesmos: não na força, mas no âmbito psicológico.
Se você achou essa ideia de "ser superior" um pouco nazista, saiba que Hitler
também. Durante muito tempo, as ideias do filósofo foram usadas como justificativa para os
horrores da Segunda Guerra Mundial. Grande parte por conta da má interpretação de
alguns estudiosos — que também contou com a influência da irmã de Nietzsche, Elizabeth.
O Eterno Retorno
Não é raro alguém levantar cedo para ir ao trabalho, encostar a cabeça no vidro do
ônibus e pensar: “Que droga eu estou fazendo com a minha vida?”. E se ele tivesse seguido
o sonho de abrir um bar na praia em vez de estar sendo sugado por uma empresa que nem
paga tão bem assim? Ele realmente está aproveitando a existência na Terra ou só está
vendo-a passar pela janela do ônibus?
Na obra A Gaia Ciência, Nietzsche nos presenteia com um exercício mental
intrigante: “E se um dia um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te
dissesse: ‘Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma
vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nada de novo, cada dor e cada prazer (...) há de
retornar (...). Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que
te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que que lhe
responderias: ‘Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!’”.
A forma como você reagiria à proposta do demônio diz muito sobre o modo como
você leva a vida e faz questionar (muito) sobre o rumo que dá a ela e como toma suas
decisões.
Deus está morto
Nietzsche não gostava muito da Igreja Católica. A afirmação que fez na obra O
Anticristo, de que “Deus está morto”, apavora os cristãos até hoje. A principal ideia que o
filósofo atacava era a da moral cristã. Para ele, os cristãos não são bons (ou tentam ser)
porque se preocupam com o próximo. Eles são bons porque têm medo de queimar no
inferno. Não é uma bondade genuína. Segundo ele, é nesse medo da punição em que se
baseia toda a fé cristã. Por isso, ele propôs uma ideia de ética que dependia simplesmente
da própria pessoa — que não deveria acreditar em recompensas além da vida ou em deuses
que o tratassem como gado. Ou seja, a pessoa seria boa simplesmente porque assim ela se
sentiria bem consigo mesma e não porque uma entidade superior e vingativa puxaria seu pé
à noite.
Ele não via sentido em negar o sexo, o corpo e o amor. O filósofo se perguntava:
“Que validade tem, afinal de contas, ser cristão se este vive ameaçado pela terrível punição
de ser excluído da presença de Deus se não se comportar ‘bem’?”. Isso sem falar na noção
de culpa que vem de brinde. Por isso, Nietzsche defendia o fim da moral cristã, atacando
sua principal incentivadora: a Igreja. Mas, diferentemente de Marx, por exemplo, ele não
achava que seria preciso uma revolução para isso. Mas, sim, um questionamento individual
que faria cada um perceber que ser cristão era entregar sua vida a uma ilusão sem sentido.

Niilismo de Nietzsche
(Muito) Basicamente, o niilismo é a descrença total nos valores impostos pela
sociedade. Para os niilistas, a vida não deve ser regida por nenhum tipo de padrão que nos
foi ensinado pela escola, pelos pais ou assistindo à TV Cultura. Deus? Não acredito. Pecado?
Não acredito. Lady Gaga como a nova Madonna? Faça-me o favor...
Não é à toa que Nietzsche era um verdadeiro opositor da moral cristã. E o que
acontece quando se deixa de acreditar no sentido das coisas? A pessoa cai no vazio
absoluto. Restaria apenas esperar pela morte. Mas Nietzsche não acreditava nisso como
saída, para ele, quando se mata Deus, a pessoa se torna responsável por criar suas próprias
regras, usando o conceito de Eterno Retorno como guia.

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