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I Colóquio Louis-Ferdinand Céline na América Latina

(IEL/Unicamp-Brasil)
- Data: 10 e 11 de novembro de 2022

- Formato virtual: transmissão pelo canal do IEL no YouTube

- Horário (Fuso horário: Brasília GMT-03:00):

10 de novembro: 08h30 às 13h30

11 de novembro: 09h20 às 12h50 e 14h00 às 16h20

Site: https://www.coloquioceline.com/

- Organização:

Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber (PPGTHL-IEL/Unicamp)


Doutoranda Amanda Fievet Marques (IEL/Unicamp-FAPESP)

- Objetivo: O encontro pretende criar um espaço de discussão sobre a obra


literária do escritor francês Louis-Ferdinand Céline, ainda escassamente
traduzida, lida e debatida na América Latina. Convém ressaltar que a
organização do Colóquio não professa nenhuma ideologia.
- Programação:

10 de novembro: A obra de Céline em diálogo

– Apresentação inicial e leitura de um fragmento de Guignol’s band I traduzido


em português – 08h30 às 09h00 (Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber – PPGTHL-
IEL/Unicamp)

– Leitura e comentários de excertos da obra de Céline – 09h00 às 09h40 (Jean


van der Stegen)

– Entrevista sobre Céline à hue et à dia (2022) – 09h40 às 10h40 (Marc


Laudelout – crítico literário e diretor do Bulletin célinien)

Intervalo: 10h40 às 11h00

– A poética célineana do ódio à prova de Guerre – 11h00 às 12h00 (Professor J an


Miernowski, PhD – Department of French and Italian, University of Wisconsin-
Madison/Faculty of "Artes Liberales", University of Warsaw)

– Céline: moderno, burguês e democrático? – 12h00 às 12h40 (Doutorando em


Letras, Francisco Salaris Banegas – Universidad Nacional de Córdoba )

– Conferência de encerramento da manhã: O alter ego continental de Céline –


12h40 às 13h30 (Prof. Dr. Dau Bastos – PPG/Letras Vernáculas/UFRJ)

11 de novembro: Problemas estéticos e políticos

– O romance póstumo Guerre e os manuscritos inéditos de L.-F. Céline – 09h20 às


10h00 (Prof. Dr. Daniel Padilha Pacheco da Costa – ILEEL/UFU)

– Um itinerário através da viagem céliniana – 10h00 às 10h40 (Dra. Regina Dantas


Miguel – FFLCH/USP)

– Guerra e Romance: Fricções entre Viagem ao fim da noite, de L.-F. Céline, e O fogo,
de Henri Barbusse – 10h40 às 11h20 (Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares –
ILEEL/UFU)

Intervalo: 11h20 às 11h30


– A crise do realismo em Viagem ao fim da noite, de Louis-Ferdinand Céline – 11h30
às 12h10 (Dr. Daniel Santos Garroux – FFLCH/USP)

– Linguagem e poder em L.-F. Céline: algumas observações sobre a organização


enunciativa de Mort à crédit – 12h10 às 12h50 (Dr. Gabriel Perugini – Universidade
Lille 3 e Universidade de São Paulo)

Intervalo: 12h50 às 14h00

– Ensaio sobre a expressão do informe: o fundamento orgânico da palavra em


Féerie pour une autre fois I – 14h00 às 14h40 (Doutoranda Amanda Fievet
Marques – IEL/Unicamp-FAPESP)

– A redenção pelo estilo: Céline e a trilogia alemã – 14h40 às 15h20 (Prof. Dr. Daniel
Teixeira da Costa Araújo – UNB)

– Conferência de encerramento: Céline diante do extremo – 15h20 às 16h10


(Profa. Dra. Leda Tenório da Motta – PUC-SP)

– Considerações finais – 16h10 às 16h20 (Doutoranda Amanda Fievet Marques –


IEL/Unicamp-FAPESP)
RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS:

A poética célineana do ódio à prova de Guerre1 – Professor Jan Miernowski, PhD


(Department of French, University of Wisconsin)

Inspirando-me na distinção aristotélica entre ódio e raiva, parto da premissa de


que existe um ódio suficientemente autotélico e auto-suficiente para se tornar
potencialmente um valor estético. Apresso-me a enfatizar que minha intenção
não é reabilitar moralmente essa paixão. No entanto, colocá-la como categoria
estética me permite lançar luz sobre a poética de Céline. A poética do ódio foi
elaborada por Céline em romances, peças de teatro, assim como em seus
panfletos antissemitas. Não visa o belo (irremediavelmente perdido segundo o
autor), mas o sublime. É um sublime deliberadamente ignóbil, mas seria errado
confundi-lo com o sublime invertido dos românticos. Minha comunicação
colocará a poética célineana do sublime odioso à prova da leitura do inédito:
Guerre.

Céline: moderno, burguês e democrático? 2 – Doutorando em Letras,


Francisco Salaris Banegas (Universidad Nacional de Córdoba)

A presente proposta busca retomar uma discussão cordial que tive com Amanda
Fievet Marques, a partir de uma afirmação – provocativa e polêmica, admito –
que fiz em um artigo sobre o conceito de estilo em Céline. Ali defendia,
comparando a poética de Céline com a de Proust, que “a práxis de Céline é
moderna, burguesa e democrática”. Claro que caracterizar a estética de Céline
como “burguesa e democrática” é no mínimo questionável, e foi assim que
Fievet Marques a entendeu. Esta apresentação, então, tentará esclarecer a tensão
irredutível que existe na obra de Céline entre a declaração de certos princípios
antimodernos, antiburgueses e antidemocráticos e a profunda e lacerante
disposição a uma concepção burguesa de arte, cujo principal valor é o trabalho e
1
Essa conferência será realizada em francês. O resumo original se encontra no caderno de resumos em
francês.
2
Essa conferência será realizada em espanhol. O resumo original se encontra no caderno de resumos em
espanhol.
cujo quadro de atuação é o mercado editorial. Para entender Céline como um
“moderno apesar de si mesmo” (Compagnon, 2005) trabalharei sua noção de
arte, de artista e de estilo, abordando fundamentalmente o campo
semântico/metafórico que utiliza e sua relação com a tradição literária francesa.
O corpus de minha proposta é constituído pelo texto Entretiens avec le
professeur Y, por seleções de suas cartas e ensaios e por fragmentos dos
panfletos.

O alter ego continental de Céline – Prof. Dr. Dau Bastos (PPG/Letras


Vernáculas/UFRJ)

A obra céliniana se universaliza por conta da duração e amplitude dos reflexos


dos fatos que a nutriram, assim como por encarnar o conceito de literatura
enquanto território de exercício arriscado com texto. Constitui uma ficção
submetida a graves eventos históricos, dos quais mimetiza, entre outros
aspectos, o ritmo com que eclodem. Assim, pode privilegiar a ressonância dos
acontecimentos sobre um eu entregue a intempéries passíveis de lhe servir de
matéria-prima para a realização de um projeto que excede amplamente sua
idiossincrasia. Ao longo de três décadas de produção, o prosador francês
reescreve sua biografia, que perfaz uma linha paralela em relação à chegada ao
ápice do processo de autodestruição da Europa. Tendo nascido há poucos anos
da virada do século e participado ativamente dos dois conflitos planetários,
molda sua própria vida de maneira a confundi-la, mais e mais, com o declínio do
continente. É o que tentaremos demonstrar a partir da articulação de descobertas
e reflexões reunidas no livro Céline e a ruína do Velho Mundo, que publicamos
em 2003.

O romance póstumo Guerre e os manuscritos inéditos de L.-F. Céline – Prof. Dr.


Daniel Padilha Pacheco da Costa (ILEEL/UFU)

Em maio de 2022, foi lançado o romance póstumo Guerre, de Louis-Ferdinand Céline,


e inaugurada a exposição “Céline: Les manuscrits retrouvés” na sede da editora
Gallimard. Escrita, provavelmente, em 1934, essa é a primeira obra publicada com base
nos quatro manuscritos inéditos sumidos do apartamento de Céline em Montmartre
depois da sua fuga de Paris em 1944 e recuperados em 2021. O manuscrito de Guerre –
que não estava pronto para a publicação, mas era a primeira versão de um possível
romance deixado inacabado – trata de um episódio decisivo na vida do narrador dos
seus romances: a convalescença de Ferdinand em um hospital militar em Peurdu-sur-la-
Lys, após ser gravemente ferido no front, durante a 1ª Guerra Mundial. A partir do
estudo da edição póstuma de Guerre e da sua exposição de lançamento, pretendo situar
a sua importância literária, histórica e editorial no interior da obra romanesca de L.-F.
Céline.

Um itinerário através da viagem celiniana – Dra. Regina Dantas Miguel


(FFLCH/USP)

Recentemente, em maio deste ano, o mundo literário acolheu a publicação de um texto


inédito de Céline: Guerre, livro escrito dois anos após Voyage au bout de la nuit. Trata-
se de uma narrativa, entre romance e autobiografia, cuja ação se desenrola durante a
Primeira Guerra Mundial e na qual o autor, através de seu alter ego, o personagem
Ferdinand Bardamu, nos fala do horror da guerra e da morte, temas constantes de toda a
sua produção literária. Seria, portanto, a ocasião, no decorrer deste colóquio, de
apresentar o romance inaugural do escritor Louis-Ferdinand Céline, Voyage au bout de
la nuit, obra, esta que, desde o ano de seu lançamento, 1932, suscitou uma grande
repercussão junto aos círculos literários e ao público. Por uma linguagem popular e
virulenta e pela violência com que seu herói Ferdinand Bardamu denunciava as
injustiças da sociedade, o livro de estreia de Céline causou um forte impacto e, até hoje
possui um lugar à parte no cenário literário. Um dos fatores responsáveis por tal efeito
seria sem dúvida, a inovação perpetrada à língua francesa, uma vez que seu autor a
renova a partir da linguagem oral e popular: escolha linguística considerada inovadora e
revolucionária para os padrões da época.

Guerra e Romance: Fricções entre Viagem ao fim da noite, de L.-F. Céline, e O


fogo, de Henri Barbusse – Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares (ILEEL/UFU)

A presente proposta insere-se em um projeto de pesquisa maior intitulado Guerra,


cinema e romance: a Primeira Guerra Mundial em Narrativas literárias e fílmicas,
desenvolvido por mim na Universidade Federal de Uberlândia. O objetivo é investigar a
produção de escritores e cineastas, que tratam direta ou indiretamente da temática da
Primeira Guerra Mundial, com vistas a cercar a noção de romance de guerra e cinema
de guerra e seus desdobramentos no âmbito de uma teoria do romance e de uma teoria
do cinema narrativo de ficção. Dentre os sete romances que fazem parte do corpus da
pesquisa, estão O fogo (1916), de Henri Barbusse, e Viagem ao fim da noite (1932),
Louis-Ferdinand Céline, duas respostas singulares, no âmbito ficcional, à questão da
guerra. Para a comunicação, portanto, pretendo ler o primeiro romance de Céline em
contraponto a O fogo, de Barbusse, autor evocado mais de uma vez pelo autor de Morte
a crédito.

A crise do realismo em Viagem ao fim da noite, de Louis-Ferdinand Céline – Dr.


Daniel Santos Garroux (FFLCH/USP)

O crítico Leo Spitzer situa Céline na tradição de escritores cuja inventividade linguística
apontava para a “autonomia da palavra”, ao mesmo tempo em que assinala o aspecto
“escatológico” da escrita celineana. A observação consegue formular o aspecto
contraditório que atravessa e vivifica o estilo de Viagem ao fim da noite: se, por um
lado, a linguagem age no romance como emancipação da palavra em relação à
referencialidade; pelo outro, ela aponta e participa de um movimento escatológico,
grotesco, caricatural. De modo abreviado, pode-se considerar que, no estilo de Céline,
as palavras são os disjecta membra da experiência individual estilhaçada. Esse caráter
ambíguo da linguagem é uma das características mais intrigantes do livro e lhe serve de
mola criativa. Em minha exposição, procurarei interpretar alguns trechos do romance
que desafiam o leitor, apontando para essa ambiguidade fundamental da obra e para
seus pressupostos históricos, sociais e artísticos.

Linguagem e poder em L.-F. Céline: algumas observações sobre a organização


enunciativa de Mort à crédit3 – Dr. Gabriel Perugini (Universidade Lille 3 e
Universidade de São Paulo)

Mort à crédit, que precede por muito pouco a publicação dos primeiros panfletos,
acentua a verve crítica da escrita célineana pelo viés da radicalização do estilo

3
Essa conferência será realiza em francês. O resumo original se encontra no caderno de resumos em
francês.
oralizado, mas também pela implementação de uma estrutura enunciativa complexa, em
que a linguagem surge muitas vezes como um fenômeno de poder. Nesta comunicação
tentaremos analisar alguns elementos da economia enunciativa célineana neste romance:
o agenciamento das vozes do texto, a função dos atos de fala na evolução do enredo, a
encenação metafórica das questões de poder da linguagem. Isto deve nos levar a fazer
um julgamento nuançado sobre a situação da poética de Céline.

Ensaio sobre a expressão do informe: o fundamento orgânico da palavra em Féerie


pour une autre fois I – Doutoranda Amanda Fievet Marques (IEL/Unicamp-FAPESP)

Para o narrador célineano, encarcerado na Dinamarca, o estilo de Féerie pour une autre
fois I (1952) põe um problema de expressão. Nessa “nau” noturna que é a prisão,
constitui-se como uma música do inarticulado: gritos, gemidos, latidos, gagueiras, os
ruídos do universo carcerário, os gritos dos suicidados, tudo o que se mistura à narrativa
emaranhada das lembranças do narrador emprisionado. As linhas temporais e melódicas
se embaralham, escapando às normas romanescas de espaço-tempo e de função
mnemônica, criando, assim, uma outra forma que, do nosso ponto de vista, é da ordem
da expressão do informe. Essa nova forma, Céline a forja ao referir o estilo ao próprio
corpo do narrador, à expressão eminentemente variável dos ruídos e sensações que o
acometem. Lançado, tanto quanto o leitor, fora das palavras, num caos de desespero e
tédio, o romance, cuja composição nos propomos, aqui, a perscrutar, torna-se uma
articulação de ruídos milenares, melopeias, gritos e risos.

A redenção pelo estilo: Céline e a trilogia alemã – Prof. Dr. Daniel Teixeira da
Costa Araújo (Depto. de Teoria Literária e Literaturas/UNB)

Com base nos eixos “espaço público-biográfico” e “espaço jurídico-literário”, esta


apresentação abordará a intrincada relação entre fatos vividos e transposição literária na
trilogia alemã de Louis-Ferdinand Céline, sob a chave de leitura da defesa pública
através da literatura. A partir da tensão entre um julgamento jurídico com bases legais,
porém com fragilidade de provas, e um julgamento público fundamentado em princípios
morais, contudo sem a sustentação legal que enquadrasse à época os crimes de racismo
e antissemitismo, procurou-se mostrar como Céline foi poupado de uma extradição que
poderia tê-lo levado a uma condenação à morte por traição à pátria, sob acusação de
colaboração com os nazistas. Condenado por prejuízo à defesa nacional e anistiado com
ajuda de uma manobra jurídica, Céline experimentou uma condenação pública moral, à
qual teve que enfrentar até o fim de sua vida. Pretende-se mostrar que – ao revelar o
calvário vivido na fuga pela Alemanha entre 1944 e 1945, sua visão da história, do
cotidiano da guerra e do exílio numa tentativa de se inscrever como vítima dos fatos –
Céline usou a literatura, através dos romances da trilogia alemã, como uma espécie de
defesa para além do processo jurídico, como se intentasse uma redenção pelo estilo. Ao
elaborar um discurso de que a perseguição que sofreu tinha como base a inveja e o ódio
causados por seu estilo, Céline teria conseguido recuperar em parte sua reputação
literária.

Céline diante do extremo – Profa. Dra. Leda Tenório da Motta ( Programa de


Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)

Objetiva-se indicar que o estilo Céline constitui-se em modo notável de atalhar o


que tem sido chamado, em redutos acadêmicos e artísticos da cultura bem-
pensante, de “literatura de testemunho”. Na mesma ordem de reflexão, ousa-se
notar que a memória, aliás reivindicada, daquilo que o escritor chamou “a linha
das guerras”, desvela o sentido restritivo desse “de” que a mesma cultura impôs
aos memoriais dos sobreviventes da Shoah, assim separando o testemunho do
testemunho e a literatura, da literatura. Outro objetivo é sustentar,
problematizando as teses em torno da irrepresentabilidade da catástrofe, que dar
direito de cidade ao estilo Céline é comensurá-lo à questão modernamente
poética da insuficiência da palavra diante de todo real, sem fazer do Holocausto
o real todo. É inseparável disso notar que “catástrofe” significa “revirada para
baixo”, o que está compreendido nos efeitos de cômico igualmente reivindicados
de Céline e em certas definições antilogos do riso, que vão dos parodistas gregos
ao choque baudelairiano e à psicanálise.

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