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(IEL/Unicamp-Brasil)
- Data: 10 e 11 de novembro de 2022
Site: https://www.coloquioceline.com/
- Organização:
– Guerra e Romance: Fricções entre Viagem ao fim da noite, de L.-F. Céline, e O fogo,
de Henri Barbusse – 10h40 às 11h20 (Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares –
ILEEL/UFU)
– A redenção pelo estilo: Céline e a trilogia alemã – 14h40 às 15h20 (Prof. Dr. Daniel
Teixeira da Costa Araújo – UNB)
A presente proposta busca retomar uma discussão cordial que tive com Amanda
Fievet Marques, a partir de uma afirmação – provocativa e polêmica, admito –
que fiz em um artigo sobre o conceito de estilo em Céline. Ali defendia,
comparando a poética de Céline com a de Proust, que “a práxis de Céline é
moderna, burguesa e democrática”. Claro que caracterizar a estética de Céline
como “burguesa e democrática” é no mínimo questionável, e foi assim que
Fievet Marques a entendeu. Esta apresentação, então, tentará esclarecer a tensão
irredutível que existe na obra de Céline entre a declaração de certos princípios
antimodernos, antiburgueses e antidemocráticos e a profunda e lacerante
disposição a uma concepção burguesa de arte, cujo principal valor é o trabalho e
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Essa conferência será realizada em francês. O resumo original se encontra no caderno de resumos em
francês.
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Essa conferência será realizada em espanhol. O resumo original se encontra no caderno de resumos em
espanhol.
cujo quadro de atuação é o mercado editorial. Para entender Céline como um
“moderno apesar de si mesmo” (Compagnon, 2005) trabalharei sua noção de
arte, de artista e de estilo, abordando fundamentalmente o campo
semântico/metafórico que utiliza e sua relação com a tradição literária francesa.
O corpus de minha proposta é constituído pelo texto Entretiens avec le
professeur Y, por seleções de suas cartas e ensaios e por fragmentos dos
panfletos.
O crítico Leo Spitzer situa Céline na tradição de escritores cuja inventividade linguística
apontava para a “autonomia da palavra”, ao mesmo tempo em que assinala o aspecto
“escatológico” da escrita celineana. A observação consegue formular o aspecto
contraditório que atravessa e vivifica o estilo de Viagem ao fim da noite: se, por um
lado, a linguagem age no romance como emancipação da palavra em relação à
referencialidade; pelo outro, ela aponta e participa de um movimento escatológico,
grotesco, caricatural. De modo abreviado, pode-se considerar que, no estilo de Céline,
as palavras são os disjecta membra da experiência individual estilhaçada. Esse caráter
ambíguo da linguagem é uma das características mais intrigantes do livro e lhe serve de
mola criativa. Em minha exposição, procurarei interpretar alguns trechos do romance
que desafiam o leitor, apontando para essa ambiguidade fundamental da obra e para
seus pressupostos históricos, sociais e artísticos.
Mort à crédit, que precede por muito pouco a publicação dos primeiros panfletos,
acentua a verve crítica da escrita célineana pelo viés da radicalização do estilo
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Essa conferência será realiza em francês. O resumo original se encontra no caderno de resumos em
francês.
oralizado, mas também pela implementação de uma estrutura enunciativa complexa, em
que a linguagem surge muitas vezes como um fenômeno de poder. Nesta comunicação
tentaremos analisar alguns elementos da economia enunciativa célineana neste romance:
o agenciamento das vozes do texto, a função dos atos de fala na evolução do enredo, a
encenação metafórica das questões de poder da linguagem. Isto deve nos levar a fazer
um julgamento nuançado sobre a situação da poética de Céline.
Para o narrador célineano, encarcerado na Dinamarca, o estilo de Féerie pour une autre
fois I (1952) põe um problema de expressão. Nessa “nau” noturna que é a prisão,
constitui-se como uma música do inarticulado: gritos, gemidos, latidos, gagueiras, os
ruídos do universo carcerário, os gritos dos suicidados, tudo o que se mistura à narrativa
emaranhada das lembranças do narrador emprisionado. As linhas temporais e melódicas
se embaralham, escapando às normas romanescas de espaço-tempo e de função
mnemônica, criando, assim, uma outra forma que, do nosso ponto de vista, é da ordem
da expressão do informe. Essa nova forma, Céline a forja ao referir o estilo ao próprio
corpo do narrador, à expressão eminentemente variável dos ruídos e sensações que o
acometem. Lançado, tanto quanto o leitor, fora das palavras, num caos de desespero e
tédio, o romance, cuja composição nos propomos, aqui, a perscrutar, torna-se uma
articulação de ruídos milenares, melopeias, gritos e risos.
A redenção pelo estilo: Céline e a trilogia alemã – Prof. Dr. Daniel Teixeira da
Costa Araújo (Depto. de Teoria Literária e Literaturas/UNB)