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Mimetismo

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O mimetismo em borboletas neotropicais Heliconiini é visto aqui, apresentando quatro formas de


Heliconius numata, duas formas de Heliconius melpomene e as duas formas de imitação,
correspondentes, de Heliconius erato.
A borboleta Papilio laglaizei (abaixo) é um mimético batesiano da mariposa venenosa Alcides
agathyrsus (acima) na Nova Guiné.
Mimetismo consiste na presença, por parte de determinados organismos denominados mímicos, de
características que os confundem com um outro grupo de organismos. Por exemplo o bicho-folha é
confundido com a folha de determinada espécie de planta. Essa semelhança pode se dar principalmente
no padrão de coloração, textura, forma do corpo, comportamento e para todas as características
químicas, e deve conferir ao mímico uma vantagem adaptativa[1]. Difere da camuflagem, que é o
conjunto de técnicas e métodos que permitem a um dado organismo ou objeto permanecer indistinto do
ambiente que o cerca.[2]

Definição
Mimetismo é o caso em que uma espécie possui características que evoluíram especificamente para se
assemelhar com as de outras espécies, um exemplo de evolução convergente. [3].
Essa semelhança confere vantagens, tais como proteção contra predação para um ou ambos os
organismos, através de algum fluxo de informação entre os organismos miméticos e mimetizados, e o
agente que recebe os sinais miméticos (agente de seleção). O agente de seleção (predador, simbionte,
ou hospedeiro de parasita, dependendo do tipo de mimetismo encontrado) interage diretamente com os
organismos aparentemente similares e é iludido por sua similaridade.[4].
Este tipo de seleção distingue o mimetismo de outros tipos de semelhança convergente, resultantes de
outras forças seletivas, como a camuflagem, que se refere ao padrão de coloração e textura, que torna
um organismo semelhante ao seu entorno, dificultando a sua detecção.

Etimologia
Proveniente do termo grego "mimetés" que significa imitação. Era originalmente usado para descrever
pessoas, só foi aplicado em biologia a partir do início do século XIX.

Histórico
Em 28 de maio de 1848, dois jovens naturalistas ingleses aportaram em Belém do Pará, Brasil, em
busca de conhecimentos sobre história natural e principalmente em busca de espécimes para vender a
colecionadores diletantes da Inglaterra e assim pagar as despesas da viagem. Os dois naturalistas eram
Henry Walter Bates e Alfred Russel Wallace. Nesta viagem que durou cerca de 11 anos Bates viajou
pela Amazônia e foi com as observações que lá obteve sobre grupos de borboletas impalatáveis
Heliconiidae, e as palatáveis Dismorphiinae (Pieridae) que cunhou o termo mimetismo e a teoria de que
espécies desprotegidas podem levar vantagem adaptativa ao parecerem com espécies protegidas
(posteriormente denominado mimetismo batesiano)em 1862.
Bates também havia observado exemplos de espécies de borboletas aparentemente desagradáveis que
se assemelhavam a outro tipo também desagradável: "Não só, porém, são as Heliconidae os objetos
selecionados para a imitação, alguns deles são eles próprios os imitadores".[5]
Bates sugeriu que espécies raras, independente de sua palatabilidade, poderiam ganhar proteção
contra predadores, assemelhando-se às mais comuns da espécie antecipando Müller por mais de
uma década.

Johann Friedrich Theodor Müller, que havia emigrado para o Brasil em 1852, foi atingido pelo mesmo
fenômeno intrigante de mimetismo entre borboletas palatáveis. Müller propôs várias explicações para a
tendência, uma explicação inicial foi inspirada pela teoria de Darwin da seleção sexual,
especificamente, que os indivíduos podem desenvolver uma preferência por parceiros com padrões de
cores certas depois de ver outras formas (da mesma espécie ou espécie diferente), com aparências
semelhantes [6]. No entanto, se este argumento particular estivesse correto, então seria de se esperar
que o processo tendesse a produzir semelhanças mais próximas entre organismos masculinos co-
mímicos que os femininos, porém, onde o dimorfismo sexual ocorre, são as fêmeas que tendem a ser
miméticos [7].
Em 1878, Müller fez uma breve descrição de uma explicação diferente para o fenômeno, desta vez,
como a teoria original de Bates, ele assumiu que o mimetismo surgiu como consequência da seleção
imposta por predação. O argumento de Müller baseou-se na "força dos números": duas ou mais
espécies não palatáveis podem evoluir para uma aparência semelhante, simplesmente por
compartilharem custos de mortalidade menores envolvidos no ensino de predadores ingênuos para
evitá-los. [8]

Evolução do mimetismo
Ainda há muitas perguntas sobre a via evolutiva do mimetismo que não foram elucidadas, no entanto,
várias hipóteses foram geradas para tentar explicar como as alterações na aparência dos organismos que
emitem sinal semelhante se movem em relação um ao outro durante a evolução.
Dixey em 1897 argumentou que a aparência do modelo não se altera durante a evolução do mimético.
Este raciocínio baseia-se no pressuposto de que a resposta mimética gradual atinge seu máximo com a
manutenção das características do modelo. Assim mutações no modelo seriam geralmente menos
eficientes.
Fisher em 1930 argumentou contra Dixey e afirmou que a seleção tenderá a modificar o modelo de
modo a torná-lo diferente do organismo mimético e tão evidente, chamando atenção do predador,
quanto possível. No entanto, manteve a ideia de que o valor mimético atinge seu máximo com a
manutenção das características do modelo. Sua explicação foi baseada na suposição de que o valor
mimético é assimétrico, de modo que as mutações que distanciam o modelo do mimético são menos
desvantajosas que aquelas que o aproximam.
Recentemente, pesquisadores têm argumentado que o modelo se afasta do mimético, mas a um ritmo
mais lento onde, o mimético deve ser capaz de se aproximar do modelo mais rápido do que este se
afasta para que o mimetismo possa se estabelecer. Parece necessário para a aparência do modelo
alterar-se durante a evolução, caso contrário o mimetismo mülleriano tornar-se-ia um problema, pois,
ambos o modelo e o mimético podem ser vistos como modelo um para o outro. Se a aparência dos dois
organismos for diferente e ambos estiverem em sua resposta máxima, eles podem evoluir para esse
novo sinal que os diferencia?
Uma alternativa para este dilema foi feita por Nicholson em 1927, a hipótese das duas etapas. Nela o
primeiro passo é a mutação de um gene modificador que atua na regulação de um complexo supergene,
trazendo uma espécie mais próxima em aparência da outra rapidamente. O segundo passo seria de
pequenas mutações que ajustariam a semelhança perfeita entre modelo e mimético [9]

Classificação
Existem diversos tipos de mimetismo, e estes podem ser classificados quanto ao valor adaptativo que
beneficia a espécie imitadora ou também podem ser classificados quanto às diferentes funções que
desempenham na vida do organismo.

Classificação quanto ao valor adaptativo


Essa classificação leva em conta o valor adaptativo que beneficia a espécie imitadora. Existem quatro
tipos de mimetismo: Batesiano, Mülerriano, Peckhamiano e Wasmanniano.
Batesiano
O mimetismo batesiano ocorre quando a espécie mimética e o modelo vivem no mesmo espaço
geográfico ao mesmo tempo, mas não interagem de forma direta. É notável que uma característica
presente neste tipo seja a maior abundância do organismo modelo na natureza que o ser mimético, de
modo que o predador tenha maiores chances de predar o modelo (impalatável, agressivo...) e aprenda a
evitá-los .[10].
O mimetismo batesiano é conhecido como o fenômeno onde um animal inofensivo ou palatável evolui
semelhante a um animal perigoso ou desagradável (modelo).

Aranha mimetizando formiga.


Exemplos

Um dos modelos mais imitados por aranhas e outros artrópodes são as formigas, isso porque as
formigas são evitadas pela grande maioria dos grupos animais por apresentarem ferrão, fortes
mandíbulas, exoesqueleto duro, substâncias irritantes como o ácido fórmico e um sistema de defesa
espetacular já que vivem em colônia. As aranhas que imitam formigas acabam apresentando um corpo
que aparenta ser dividido em três segmentos, suas pernas se tornam longas e finas e suas quelíceras se
assemelham a mandíbulas como as da formiga. Os olhos e o ferrão são imitados pela cutícula e
fiandeira.[10].
Outro modelo do mimetismo batesiano é o que ocorre entre os Lepidoptera tóxicos e não-tóxicos. Por
exemplo, as lagartas de mariposas do gênero Alcides, que alimentam-se de plantas da família
Euphorbiaceae cujo nível de toxinas acumuladas acaba por afastá-las de predação em sua fase adulta.
[11] Na Nova Guiné a mariposa Alcides agathyrsus possui como modelo mimético não-tóxico a
borboleta Papilionidae, de asas de coloração similar, Papilio laglaizei. Ela mimetiza a mariposa tóxica
para obter a mesma vantagem de escape à predação.[12][13][14] Na América do Sul, diversas
borboletas apresentam um padrão de coloração em laranja, amarelo e negro, indicando sua toxidade;
modelo este compartilhado por espécies palatáveis e impalatáveis.
Há também o clássico exemplo da cobra coral e da falsa cobra coral. A verdadeira, pode matar e é
extremamente venenosa. A falsa, não tem veneno algum. Essa semelhança é usada pela falsa cobra
coral como um mecanismo de defesa,que confunde os predadores e a faz ter mais chances de
sobrevivência no mundo animal.
Peckhamiano
Ocorre quando a espécie mimética é o predador, que engana sua presa para se aproximar o suficiente a
ponto de capturá-la.

Wasmanniano
Neste tipo de mimetismo as estratégias são variadas. Os estímulos utilizados dependem da forma na
qual o hospedeiro reconhece co-específicos, podendo os estímulos serem químicos ou táteis. Neste
mimetismo a espécie mimética não afeta negativamente a espécie imitada já que cada uma utiliza-se de
presas distintas e a presença do mímico não tem efeito algum sobre o sucesso reprodutivo do modelo.
Seriam basicamente comensalistas.

Mülleriano

Diversas espécies inofensivas que mimetizam vespas.


Neste tipo de mimetismo a interação entre o modelo, a espécie mimética e o receptor do sinal igual é
semelhante ao visto no batesiano, porém neste, tanto o modelo quanto o mimético compartilham sinais
defensivos, coloração, forma e odores que conferem uma vantagem adaptativa ao facilitar a
memorização destes animais pelo predador.[15] Fazendo com que o predador associe a imagem da
presa como imprópria para consumo, porém essa imagem é compartilhada entre 2 espécies diferentes,
fazendo com que nenhuma dessas espécies seja predada..
Exemplo

Um exemplo bem conhecido é o da lagarta Euchelia jacobaea, aberrantemente colorida com faixas
amarelas e negras, é rejeitada por aves insetívoras após um contacto mínimo, devido a secreções
nauseabundas que emanam de sua derme. As vespas que trazem o mesmo padrão de coloração têm
igualmente um gosto nauseabundo, por causa de seus órgãos digestivos. As aves, após terem atacado
vespas ou lagartas daquelas espécies, rejeitam qualquer inseto que exiba o mesmo tipo de padrão
cromático.

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