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3.

1 – Campo da Gravidade Normal

3.1.1 – Terra Normal

Entenderemos por Terra normal um elipsóide de revolução qual se atribui a


mesma massa M e a mesma velocidade angular  da Terra real e tal que o
esferopotencial U seja uma função constante sobre a superfície limitante, isto é,

U C (3.1.1.1)

(massa distribuída axialmente simétrica em torno do eixo de rotação. Simétrica em


relação ao plano do Equador. Centro de gravidade coincidente com o CG da Terra
normal)
O campo da gravidade da Terra normal será


  gradU (3.1.1.2)

onde o esferopotencial U é a soma do potencial de atração gravitacional V e do


potencial devido à força centrífuga 

U V   (3.1.1.3)

As superfícies equipotenciais do campo da gravidade normal são denominadas


esferopes.
Pelo teorema de Stokes, o campo externo da gravidade normal não se altera
quando há uma redistribuição de massa no interior da Terra normal, desde que a
superfície limitante satisfaça a condição de esferope. Em outras palavras: o campo
exterior da gravidade normal ficará definido se forem conhecidas a massa M e a
velocidade angular  da Terra normal.
As dimensões da Terra normal serão aquelas da superfície de referência adotadas
para os cálculos geodésicos. No sistema Geodésico de Referência, adotado em 1967,
temos
Semi-eixo maior:
a = 6.378.160 m
achatamento polar:

-1-
1

298,247

3.1.2 – Esferopotencial

O esferopotencial, como já sabemos, é o potencial produzido pela Terra normal


e, como na expressão (3.1.1.3), será representado por

U V  

onde V é o esferopotencial de atração e  o de rotação.


Então, o campo da gravidade normal, expresso em termos do esferopotencial,
tem a forma
 U  U  U 
  gradU  i j k (3.1.2.1)
x y z
e
  2U  2U  2U
div    2U  2  2  2 (3.1.2.2)
x y z

Onde
U U U
x  , y  , z
x y z

Pelo que já foi visto, no exterior da Terra normal, devemos ter

2 V  0 

 (3.1.2.3)
 2   2 2 

onde  representa a velocidade angular da Terra normal, naturalmente igual à da Terra


real.
O esferopotencial devido à força centrífuga é dado por

  12  2 x 2  y 2  (3.1.2.4)

-2-
que provém da força

 
f  grad   2 x i  y j 

(3.1.2.4)

cuja componente segundo o eixo Oz é nula.

Para calcular o esferopotencial de atração, consideremos um elemento de massa


dm(,,) e uma partícula de prova em P(x,y,z) (Fig. 3.1.2.1). Então, o potencial de
atração será

dm
V  G (3.1.2.5)
E
l

Onde l representa a distância entre o elemento de massa e a partícula de prova.

z P
l
dm
r
R

y
O

Figura 3.1.2.1
Observando que

1 1 
2
R R
  P0 (cos )  P1 (cos )    P2 (cos )  
l r  r r 
(3.1.2.6)

Rn
  n1 Pn (cos )
n 0 r

-3-
onde P1(cos), P2(cos), ..., Pn(cos) são os polinômios de Legendre; podemos
escrever (3.1.2.5) na forma

n
G  R
V     Pn (cos ) dm (3.1.2.7)
r n 0 E r

ou, desenvolvendo a soma

G G G
V 
r E
dm  2
r 
E
R P1 (cos ) dm 
r3 
E
R 2 P2 (cos ) dm   (3.1.2.8)

Esta expressão apode ainda ser representada simbolicamente por

V  V0  V1  V2  V3   (3.1.2.9)

Comparando (3.1.2.9) com (3.1.2.8) é fácil observar que:


O termo de grau zero
G GM
V0  
r E
dm 
r
(3.1.2.10)

representa o potencial de atração produzido por uma esfera homogênea de massa M


sobre a partícula de prova P, a uma distância r do centro de gravidade. Naturalmente M
é a massa da Terra normal que admitimos ser igual à massa da Terra real, incluindo a
massa da atmosfera.

O termo de primeiro grau


G
V1 
r2 
E
R P1 (cos ) dm (3.1.2.11)

Que pode ser expresso em coordenadas retangulares com auxílio da fórmula


x  y  z
P1 (cos ) cos  (3.1.2.12)
Rr

-4-
toma a forma

G 
3  
V  x  dm  y  dm  z   dm  (3.1.2.13)
r  E 
E E 

As integrais que aparecem entre os parênteses da expressão (3.1.3.13)


representam os momentos estáticos, que são nulos quando o sistema cartesiano tem a
origem coincidente com o centro de gravidade. Este, pois ,é o nosso caso, então

V1 = 0

O termo de segundo grau

G
V2  R P2 (cos  )dm
2
(3.1.2.14)
r3 E

Com algumas manipulações que omitimos, assume a forma

G
V2  5
[ x 2 ( B  C  2 A)  y 2 ( A  C  2 B)  z 2 ( A  B  2C ) 
2r (3.1.2.15)
 6 y z D  6 x z E  6 x y F]

onde A, B e C são os momentos de inércia da Terra normal em relação aos eixos Ox,
Oy, Oz, representados por



A    2   2 dm  
E 

B    2   2 dm  
 (3.1.2.16)
E 

C    2   2 dm  

E 

e D, E e F são os produtos de inércia

-5-
D    dm ; E    dm ; F    dm (3.1.2.17)
E E E

Convém lembrar que todas as integrais, tanto da expressão (3.1.2.16) como as da


(3.1.2.17), são integrais de volume sobre a Terra normal.
Devido à simetria do elipsóide de revolução, os eixos cartesianos são os eixos
principais de inércia, o que anula os produtos de inércia

D=E=F=0

além de tornar iguais os momentos de inércia em relação aos eixos equatoriais

A=B

Com isso podemos escrever (3.1.2.15) na forma

V2 
G
5
 
(C  A) x 2  y 2  2 z 2  (3.1.2.18)
2r

Usando as coordenadas esféricas r,  e , relacionadas às cartesianas por

x  r sen  cos 
x  r sen  sen  (3.1.2.19)
x  r cos 

obtemos sucessivamente de (3.1.2.18)

V2 
G
3
 
(C  A) 1  3 cos 2   (3.1.2.20)
2r

V 2  3 (C  A) P2 ( ) 
G
(3.1.2.21)
r

Consideremos agora o termo de terceiro grau. Para expressá-lo em coordenadas


esféricas, basta introduzir os harmônicos esféricos de superfície, que são constituídos de

-6-
zonais (função de ) e as funções associadas de Legendre, que são os tesserais e
setoriais (estas dependentes de  e ). A simetria do modelo adotado implica na
nulidade dos setoriais e tesserais, pois não pode haver dependência da longitude,
restrição que naturalmente se estende às f associadas de Legendre de qualquer grau. O
zonal de 3o grau só contém potências ímpares de .

P3  5
2
cos 3
  53 cos  
cujo sinal depende do sinal da latitude, o que contraria a simetria equatorial (plano xOy)
da Terra normal. Naturalmente, esta observação se aplica a todos os zonais ímpares.
Portanto, a série (3.1.2.9) se restringe aos zonais pares P2n()

G 
2 4 6
a a a
V  1  J 2   P2 ( )  J 4   P4 ( )  J 6   P6 ( )   (3.1.2.22)
r  r r r 

Com

CA
J2  (3.1.2.23)
M a2

 R cos   76 cos 2   353  dm


1225
J4  4 4
(3.1.2.24)
64M a 4 E

onde a é o semi-eixo maior da Terra normal.


Então podemos escrever o esferopotencial

GM  
 2n
a
U 1   J 2 n   P2 n ( )  12  r sen  
2
(3.1.2.25)
r  n 1 r 

Evidentemente, com a expressão (3.1.2.25), se os coeficientes J forem


conhecidos, podemos determinar o esferopotencial em qualquer ponto exterior em
função de suas coordenadas r e .

3.1.3 – o Coeficiente J2

-7-
Conforme foi visto na seção anterior, o conhecimento dos coeficientes J
possibilita a determinação do esferopotencial num ponto em que as coordenadas r e 
sejam conhecidas. A determinação dos coeficientes J, dos quais apenas dois eram
conhecidos no início da era espacial, tem sido um dos principais objetivos da Geodésia
celeste.
O coeficiente J2, por exemplo, vinculado ao achatamento terrestre, é cerca de mil
vezes maior que os restantes e tem sido objeto de determinações rigorosas. Hoje este
coeficiente desempenha papel importante em Geodésia e Astronomia e, por isso, o valor

J2 = 10.827 x 10-7

Figura no Sistema de Constantes Astronômicas da U.A.I e consta na definição do


sistema Geodésico de Referência – 1967 (Resolução no 1 da Assembléia Geral da
U.G.G.I de Lucerne)

SISTEMA GEODÉSICO DE REFERÊNCIA – 1967

a = 6.378.160 m
GM = 398.603 x 109 m3 s-2
J2 = 10.827 x 10-7

O achatamento  do modelo (Terra normal), que tem o valor

-1 = 298,247   = 0,0033529237

agora é grandeza derivada do J2

J 2  23   13 m  13  2  21
2
m (3.1.3.1)

-8-

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