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Avaliação da presença de doença hepática em pacientes infectados

pelo HIV internados em uma enfermaria de moléstias infecciosas.

Análise de uma série de casos

Lisia GMM Tomich1§, Maria Cassia J Mendes-Correa 1


1
Divisão de Doenças Infecciosas e Parasitárias, Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
§
Autora correspondente

Email:

LGMMT: lisiamoura@hotmail.com

MCJMC: cassiamc@uol.com.br
2

SUMÁRIO

Lista de abreviaturas
Lista de tabelas
1
INTRODUÇÃO..........................................................................................................10
1.1 Epidemiologia da Infecção pelo HIV...................................................................10
1.2 Hepatites Virais e Infecção pelo HIV...................................................................11
1.3 Lesão Hepática Induzida por Drogas....................................................................13
1.3.1 Epidemiologia...................................................................................................13
1.3.2 Definição...........................................................................................................14
1.3.3 Fatores de risco para hepatotoxicidade relacionada à TARV...........................17
1.3.4 Impacto negativo do aumento de transaminases no tratamento dos pacientes
com aids.............................................................................................................18
1.3.5 Drogas envolvidas.............................................................................................19
1.3.6 Prevenção e manejo da LHID............................................................................21
1.3.6.1 Prevenção e manejo da lesão hepática induzida pela TARV..........................22
1.3.6.2 Prevenção e manejo da lesão hepática relacionada ao tratamento da TB.......25
2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................28
3 OBJETIVOS..........................................................................................................30
3.1 Objetivo Geral.......................................................................................................30
3.2 Objetivos Específicos............................................................................................30
4 MÉTODOS............................................................................................................31
4.1 Desenho do Estudo e Casuística...........................................................................31
4.2 Coleta de Informações..........................................................................................31
4.2.1 Definição de complicação hepática...................................................................32
4.2.1.1 Alterações laboratoriais...................................................................................32
4.2.1.2 Alterações clínicas..........................................................................................35
4.2.1.3 Alterações de exames de imagem...................................................................35
4.2.1.4 EDA...............................................................................................................35
4.2.2 Infecção crônica por VHB e VHC.....................................................................36
4.2.3 Definição de droga hepatotóxica.......................................................................36
4.2.4 Avaliação de associação entre a presença de complicações hepáticas e algumas
variáveis.............................................................................................................36
4.4 Análise Estatística.................................................................................................38
4.4.1 Análise descritiva..............................................................................................38
4.4.2 Análise univariada.............................................................................................38
4.4.3 Análise multivariada..........................................................................................38
4.4.4 Organização do banco de dados e softwares utilizados.....................................40
4.5 Aspectos Éticos.....................................................................................................40
5 RESULTADOS......................................................................................................42
5.1 Análise Descritiva.................................................................................................42
5.1.1 Variáveis sociodemográficas e comportamentais..............................................42
5.1.2 Comorbidades....................................................................................................44
5.1.3 Exames de imagem e EDA................................................................................46
5.1.4 Uso de droga hepatotóxica.................................................................................47
5.1.5 Variáveis relacionadas ao HIV..........................................................................48
5.1.6 Alteração clínica associada à hepatopatia durante a internação........................51
3

5.1.7 Alteração laboratorial.........................................................................................51


5.1.7.1 Exames iniciais...............................................................................................51
5.1.7.2 Evolução durante a internação........................................................................53
5.1.7.2.1 Alteração laboratorial grave.........................................................................54
5.2 Diagnóstico Final, Tempo de Internação e Desfecho...........................................55
5.3 Análise Univariada..............................................................................................56
5.3.1 Variáveis sociodemográficas, comportamentais e comorbidades.....................57
5.3.2 Uso de droga hepatotóxica.................................................................................61
5.3.3 Variáveis relacionadas ao HIV..........................................................................62
5.3.4 Alteração laboratorial.........................................................................................65
5.3.5 Diagnóstico final................................................................................................66
5.4 Análise Múltivariada............................................................................................67
6 DISCUSSÃO..........................................................................................................70
7 CONCLUSÃO.......................................................................................................75
8 REFERÊNCIAS.....................................................................................................76
4

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Critérios usados pelo FDA para classificação da LHID ............................16

Figura 2 - Avaliação da toxicidade da TARV em paciente sem doença hepática


prévia ......................................................................................................24

Figura 3 - Fluxograma do manejo da hepatotoxicidade relacionada à TARV ..........25

Figura 4 - Manejo da hepatotoxicidade relacionada ao tratamento da tuberculose ...27


5

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Lista parcial de medicamentos potencialmente hepatotóxicos não-


antirretrovirais prescritos para pacientes com infecção pelo
HIV..........................................................................................................21
Tabela 2 - Distribuição dos 149 pacientes com diagnóstico de HIV internados em
uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de
2011 quanto ao gênero, idade, raça e procedência
..................................................................................................................43
Tabela 3 - Avaliação da história de etilismo e da categoria de exposição ao HIV dos
149 pacientes com diagnóstico de HIV internados em uma enfermaria de
moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011
..................................................................................................................43
Tabela 4 - Avaliação das comorbidades dos pacientes com diagnóstico de HIV
internados em uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de
2010 a agosto de 2011 .............................................................................44
Tabela 5 - Avaliação dos resultados de investigação de hepatite viral dos pacientes
com diagnóstico de HIV internados em uma enfermaria de moléstias
infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011
..................................................................................................................45
Tabela 6 – Avaliação do perfil lipídico de 103 pacientes com diagnóstico de HIV
internados em uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de
2010 a agosto de 2011 .............................................................................46
Tabela 7 – Avaliação das alterações nos exames de imagem realizados por 73
pacientes com diagnóstico de HIV internados em uma enfermaria de
moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011
..................................................................................................................47
Tabela 8 – Análise dos antecedentes de doença oportunista dos pacientes com
diagnóstico de HIV internados em uma enfermaria de moléstias
infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011
..................................................................................................................49
Tabela 9 – Avaliação do uso da terapia antirretroviral dos pacientes com diagnóstico
de HIV internados em uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto
de 2010 a agosto de 2011 ........................................................................50
Tabela 10 – Avaliação da carga viral de HIV e dos linfócitos T CD4 + dos pacientes
com diagnóstico de HIV internados em uma enfermaria de moléstias
infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011
..................................................................................................................50
Tabela 11 – Avaliação laboratorial inicial dos pacientes com diagnóstico de HIV
internados em uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de
2010 a agosto de 2011 .............................................................................51
Tabela 12 - Avaliação das alterações laboratoriais no pico de elevação durante a
internação dos pacientes com diagnóstico de HIV em uma enfermaria de
moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011
..................................................................................................................53
6

Tabela 13 – Diagnósticos ao final da internação de 140 pacientes portadores de HIV


em uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto
de 2011 ....................................................................................................56
Tabela 14 - Distribuição dos pacientes segundo características sociodemográficas,
categoria de exposição ao HIV e etilismo em relação à lesão hepática
grave.........................................................................................................58
Tabela 15 - Distribuição dos pacientes segundo a existência de comorbidades em
relação à ocorrência de lesão hepática grave ..........................................59
Tabela 16 - Distribuição dos pacientes conforme resultados da investigação de
hepatite viral e ocorrência de lesão hepática grave
..................................................................................................................60
Tabela 17 - Distribuição dos pacientes segundo avaliação do perfil lipídico e
ocorrência de lesão hepática grave ..........................................................61
Tabela 18 - Distribuição dos pacientes de acordo com uso de droga hepatotóxica e
ocorrência de lesão hepática grave ..........................................................62
Tabela 19 - Distribuição dos pacientes conforme histórico de infecção oportunista em
relação à ocorrência de lesão hepática grave ..........................................63
Tabela 20 - Distribuição dos pacientes de acordo com variáveis relacionadas ao HIV
de ocorrência de lesão hepática grave......................................................64
Tabela 21 - Distribuição dos pacientes conforme enzimas no baseline e ocorrência de
lesão hepática grave ................................................................................65
Tabela 22 - Distribuição dos pacientes conforme diagnóstico ao final da internação e
ocorrência de lesão hepática grave ..........................................................66
Tabela 23 - Variáveis com nível descritivo inferior a 0,25 à análise univariada .......67
Tabela 24 - Estimativas da razão de prevalência lesão hepática grave na evolução dos
pacientes pelo modelo de regressão múltipla de Cox .............................68
7

LISTA DE SIGLAS

ACTG AIDS Clinial Trials Group


ALT Alanina aminotransferase
AST Aspartato aminotransferase
CIOMS Council for International Organizations of Medical Sciences
DST Doença sexualmente transmissível
FA Fosfatase alcalina
FDA Food and Drug Administration
Gama-GT Gama glutamil transferase
HAART Antirretrovirais de alta potência
HBsAg Antígeno de superfície do VHB
HDL High density lipoprotein
HIV Vírus da imunodeficiência humana
HSH Homens que fazem sexo com homens
IC Intervalos de confiança
INR International Normalized Ratio of prothrombin time
IP Inibidores de protease
LDL Low density lipoprotein
LHID Lesão hepática induzida por drogas
LSN Limite superior da normalidade
NASH Esteatohepatite não-alcoólica
OR Odds ratio
PCR Reação em cadeia da polimerase
RIPE Rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol
RM Ressonância magnética
RP Razão de prevalência
TARV Terapia antirretroviral
8

TB Tuberculose
TC Tomografia computadorizada
TG Triglicérides
UDIV Usuários de drogas injetáveis
UNAIDS Joint United Nations Programme on HIV/AIDS
USG Ultrassonografia
VHB Vírus da hepatite B
VHC Vírus da hepatite C
9

RESUMO
A avaliação da doença hepática em pacientes com infecção pelo HIV,
especialmente a interpretação e manejo das elevações das transaminases
hepáticas, é complexa e pluricausal. Objetivo: Estimar a prevalência de lesão
hepática grave durante a internação de pacientes com diagnóstico de infecção pelo
HIV, avaliando sua possível associação com determinadas variáveis
sociodemográficas, clínicas e laboratoriais. Metodologia: Análise retrospectiva de
dados de pacientes infectados pelo HIV e internados de agosto/2010 a agosto/2011
em uma enfermaria de doenças infecciosas de hospital terciário. Definiu-se lesão
hepática pela presença de elevação de ALT e/ou AST acima do limite superior da
normalidade (LSN): grau 1 (1,25-2,5xLSN), grau 2 (2,6-5xLSN), grau 3 (5,1-
10xLSN) e grau 4 (>10xLSN). Definiu-se hepatotoxicidade grave na presença de
aumentos de ALT ou AST nos graus 3 ou 4. Calculou-se a prevalência de lesão
hepática grave (IC95%) e sua associação com variáveis sociodemográficas,
associadas à infecção pelo HIV, associadas às hepatites virais, antecedente de uso de
álcool, antecedente de uso de drogas hepatotóxicas e emprego delas na internação.
Na análise multivariada, empregou-se o modelo de regressão de Cox com variância
robusta (p<0,05). Resultados: Dos 149 pacientes internados no período, 33
desenvolveram alteração hepática grave (prevalência de 22,1% com IC95%:15,8-
29,7). Em análise univariada, estiveram associados à presença de lesão hepática
grave, CD4 <100 céls/mm3 (p=0,046), níveis de ALT (p=0,008) e AST (p=0,011)
alterados no baseline e diagnóstico de micobacteriose durante a internação
(p<0,001). Em análise multivariada, permaneceram associados à presença de lesão
hepática grave, diagnóstico final de micobacteriose (p=0,004) e níveis alterados de
ALT no baseline (p=0,028). Conclusão: 1- Houve alta prevalência (22,1%) de lesão
hepática grave entre os pacientes avaliados; 2- Constatou-se risco 93% maior de
desenvolver lesão hepática grave nos indivíduos com ALT alterada no baseline. 4-
Diagnóstico de micobacteriose esteve independentemente associada ao risco de
ocorrência de lesão grave.
10

1 INTRODUÇÃO

1.1 Epidemiologia da Infecção pelo HIV

Em 2011, estima-se que 2,2 milhões de adultos no mundo tenham se infectado

pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), 500.000 a menos do que em 2011

(UNAIDS, 2012). E ainda, o número de mortes relacionadas à aids reduziu de 2,3

milhões em 2005 para estimados 1,7 milhões em 2011, dado o acesso aos

antirretrovirais e ao cuidado médico (UNAIDS, 2012).

Segundo ainda a UNAIDS, cerca de um terço das pessoas que vivem com HIV

nas Américas Central e do Sul moram no Brasil, sendo sua maior parte formada por

grupos urbanos de homens que fazem sexo com homens (HSH); nessas Américas,

estima-se que pelo menos dois milhões de pessoas sejam usuárias de drogas

injetáveis (UDIV), sendo que pouco mais de um quarto deve viver com HIV;

entretanto, tem-se observado aumento da transmissão heterossexual do vírus, por

meio de sexo pago e outras formas de sexo de alto risco.

Boletim epidemiológico revelou recentemente que a taxa de incidência nacional

de aids em 2011 foi de 17,9/100.000 habitantes, sendo constatada estabilização do

número de casos novos ao longo dos últimos 12 anos (Ministério da Saúde, 2011).

Com o aumento da expectativa de vida dos pacientes com HIV, a partir da

introdução de drogas antirretrovirais de alta potência (HAART), observou-se que as

causas de morbimortalidade entre esses pacientes modificaram-se ao longo dos anos,

tornando-se importantes as hepatopatias, as doenças cardiovasculares, os distúrbios

metabólicos, toxicidade medicamentosa, câncer e doenças renais, dentre outras


11

(Crum et al., 2006; Ministério da Saúde, 2007; Pacheco et al., 2009; Rezende et al.,

2010).

Coorte americana multicêntrica conduzida por Palella et al. (2006) observou

óbitos de pacientes com aids tratados de 1996 a 2004, sendo que as doenças

hepáticas foram as únicas causas de morte reportadas que só aumentaram ao longo

do tempo. Dentre esses óbitos, a proporção de coinfectados pelo vírus da hepatite B

(VHB) ou vírus da hepatite C (VHC) aumentou de 50% em 1996 para 80% em 2004.

Trabalho brasileiro realizado no hospital de referência em Recife/Pernambuco

avaliou pacientes, cuja notificação de aids foi realizada entre 1997 e 2004 e com

progressão para óbito após dezembro de 2005, encontrando 97,4% de pacientes com

doenças relacionadas à aids, sendo as mais comuns pneumocistose (24,4%),

neurotoxoplasmose (24,4%) e tuberculose (TB) pulmonar (21%). Ainda nesse

trabalho, observou-se 61,3% de doenças não relacionadas ao HIV (Melo et al., 2008).

1.2 Hepatites Virais e Infecção pelo HIV

A infecção por VHC é mais prevalente entre os portadores de HIV do que na

população geral. No Brasil, estima-se que essa coinfecção esteja entre 9,2% e 54,7%,

conforme a região geográfica, sendo a maior prevalência entre os UDIV (Ministério

da Saúde, 2008). A coinfecção HIV/VHB também tem prevalência variável,

situando-se entre 5,3 a 24,3% (Ministério da Saúde, 2008).

A transmissão sexual do VHC permanece controversa (van de Laar et al.,

2010). Entretanto, na última década, o VHC tem emergido como doença sexualmente

transmissível (DST) entre HSHs infectados por HIV (Lambers et al., 2011; Montoya-
12

Ferrer et al., 2011; Taylor et al., 2011), sendo que alguns casos de hepatite C aguda

com associação temporal e filogenética sugerem que esses pacientes subnotifiquem

seus riscos sexuais para a aquisição do vírus (Montoya-Ferrer et al., 2011). Essa

transmissão sexual é provavelmente mediada por vários fatores, dentre eles, técnicas

sexuais traumáticas e úlcera secundária à DST, as quais podem causar danos à

mucosa retal (van de Laar et al., 2010; Taylor et al., 2011).

A presença do HIV acelera a evolução natural das infecções por VHB e VHC,

levando à cirrose hepática e hepatocarcinoma, mais frequentes nessa população (Pol

e Soriano, 2008).

A infecção por VHB em portadores de HIV aumenta a mortalidade, mesmo

após a introdução de TARV (terapia antirretroviral), conforme demonstrado pelo

estudo EuroSIDA, que revelou aumento do risco de morte relacionada a hepatopatia

em 3,6 vezes em pacientes HBsAg (antígeno de superfície do VHB) positivos,

quando comparados a indivíduos HBsAg negativos (Konopnicki et al., 2005). E

ainda, uma coorte multicêntrica observou aumento do risco da mortalidade em oito

vezes em pacientes coinfectados VHB/HIV, quando comparados com

monoinfectados pelo HIV, especialmente aqueles com baixo CD4 no nadir (Thio et

al., 2002).

Soto et al. (1997) mostraram que, dentro dos 10 - 15 anos iniciais da infecção

por VHC, desenvolvem cirrose 12 - 15% dos indivíduos coinfectados com HIV e 2 -

6% dos pacientes HIV negativos.

Além disso, aids pode ser determinante para os altos níveis de viremia de VHC

(Soto et al., 1997). Isso porque esse baixo controle do VHC pelo hospedeiro deve ser
13

o resultado do impacto do HIV na resposta imune celular mediada (van de Laar et al.,

2010).

Vários estudos tem demonstrado que a presença de VHC está

independentemente associada a um maior risco de aumento de transaminases em

pacientes que recebem TARV (Mauss et al., 2009).

1.3 Lesão Hepática Induzida por Drogas

1.3.1 Epidemiologia

A epidemiologia da lesão hepática induzida por drogas (LHID) é

predominantemente baseada em estudos retrospectivos e mesmo esses estudos são de

número limitado, tornando a prevalência possivelmente subestimada pelos números

de casos não notificados (Larrey, 2000; Larrey, 2002). Estima-se que apenas 10%

dos casos sejam registrados (Larrey, 2002), considerando também a falta de

padronização dos critérios diagnósticos de LHID (Bell e Chalasani, 2009).

Na população geral dos Estados Unidos, quando dose terapêutica de drogas é

usada, reação hepática idiossincrática ocorre de 1 por 1.000 a 1 por 100.000 pessoas,

sendo o dano hepático consistente para cada droga e para cada classe de droga

(Larrey, 2000; Dieterich et al., 2004).

Em estudo realizado durante 10 anos na unidade de fígado do Hôpital Beaujon

em Paris, constatou-se que 10% dos pacientes internados com hepatite aguda tiveram
14

o diagnóstico de LHID; o estudo também revelou prevalência de hepatotoxicidade

relacionada à droga de 40% em pacientes com mais de 50 anos (Larrey, 1995).

1.3.2 Definição

Não há, na literatura corrente, uma definição internacionalmente aceita e

uniforme de LHID (Pol et al., 2004; Bell e Chalasani, 2009; Núñez, 2010). Para os

clínicos, é um diagnóstico de exclusão e a inexperiência no seu reconhecimento

atrasa o diagnóstico, aumentando o risco de doença hepática grave ou crônica

(Hayashi, 2009).

Apesar de elevações de fosfatase alcalina (FA) também serem marcadoras de

hepatotoxicidade, os aumentos de aminotransferases são mais comumente

considerados na definição de dano hepático (Verma e Kaplowitz, 2009).

Conforme os critérios do AIDS Clinial Trials Group (ACTG) de 1996,

pacientes com transaminases basais dentro dos limites de normalidade tem

diagnóstico de lesão hepática quando os níveis de alanina aminotransferase (ALT)

e/ou aspartato aminotransferase (AST) se elevam acima do limite superior da

normalidade (LSN), conforme o sistema de graduação subsequente: grau 1 (1,25 a

2,5 x LSN), grau 2 (2,6 a 5 x LSN), grau 3 (5,1 a 10 x LSN) e grau 4 (>10 x LSN).

Todavia, alguns autores propõem que o escore de hepatotoxicidade relacionada

à TARV em pacientes já com enzimas elevadas no baseline seja graduado da

seguinte forma: grau 1 (1,25 a 2,5 x baseline), grau 2 (2,6 a 3,5 x baseline), grau 3

(3,6 a 5 x baseline ) e grau 4 (>5 x baseline) (Sulkowski et al., 2000; Pol et al., 2004;

Sulkowski et al., 2004).


15

Hepatotoxicidade grave é definida por aumento dos níveis de ALT ou AST até

os graus 3 ou 4 durante o tratamento medicamentoso (Sulkowski et al., 2004).

Tal qual já avaliado por Núñez et al. em 2001, elevações isoladas de gama

glutamil transferase (Gama-GT) podem ser consideradas reflexo de indução

enzimática, ao invés de representarem dano hepático.

Com base nas alterações nos níveis de ALT e FA, o Council for International

Organizations of Medical Sciences (CIOMS) estabeleceu em 1990 que a LHID seria

classificada em lesão hepatocelular aguda, colestase ou lesão mista - citólise e

colestase (Benichou, 1990). Esses critérios foram revisados em 2005 pelo grupo

Drug Hepatotoxicity Steering Committee, que faz parte do Food and Drug

Administration (FDA) dos Estados Unidos e estão apresentados na Figura 1

(Navarro, 2005).

O curso clínico após a suspensão da droga culpada é variável, podendo haver

resolução rápida das enzimas hepáticas ou a lesão pode agravar-se por semanas até

que haja melhora do painel hepático (Verma e Kaplowitz, 2009).

Usualmente, não há uma correlação satisfatória entre os níveis de aumento de

ALT e a gravidade da doença hepática (Verma e Kaplowitz, 2009). Entretanto, a

presença de icterícia (bilirrubina ≥ 3 x LSN) está associada a pior prognóstico, com

mortalidade em torno de 10%, fenômeno esse conhecido como “regra de Hy”,

confirmada por estudos recentes (Björnsson e Olson, 2005; Núñez, 2010).

O padrão colestático se deve à colestase canalicular ou à lesão dos dúctulos

hepáticos e sua apresentação pode mimetizar obstrução biliar, bem como evoluir de

forma indolente com icterícia e prurido (Verma e Kaplowitz, 2009). A colestase pura

é caracterizada por prurido, icterícia, não há manifestações de hipersensibilidade, as


16

transminases são comumente normais ou apresentam pequeno aumento; todavia,

aumentos significativos e transitórios das transaminases podem ocorrer

precocemente, devido à lesão hepatocitária induzida pelos sais biliares (Larrey,

2002).

Lesão hepatocelular aguda: ALT ≥ 3 x LSN e (ALT/LSN) ≥ 5


(FA/LSN)

Colestase: FA ≥ 2 x LSN e (ALT/LSN) ≤ 2


(FA/LSN)

Lesão mista: ALT > 3 x LSN e FA > 2 x LSN e (ALT/LSN) > 2 e < 5
(FA/LSN)

Figura 1. Critérios usados pelo FDA para classificação da LHID


(Navarro, 2005).
ALT: alanina aminotransferase
LSN: limite superior da normalidade
FA: fosfatase alcalina

A lesão hepatocelular aguda é a forma mais comum de dano hepático causado

por drogas, geralmente não cursa com manifestações clínicas específicas e pode

mimetizar quadro de hepatite viral aguda (Larrey, 2002). Essa lesão pode estar

relacionada à superdosagem, reações idiossincráticas, hipersensibilidade à droga ou

às manifestações autoimunes (Larrey, 2002).

O padrão misto de lesão hepática corresponde a uma combinação de colestase e

lesão hepatocelular aguda e possivelmente é a forma em que resulta em menor

mortalidade (Verma e Kaplowitz, 2009). Drogas que causam dano colestático podem

causar lesão hepática mista e vice-versa (Verma e Kaplowitz, 2009).

O diagnóstico de hepatotoxicidade é principalmente baseado em critérios

semiológicos e cronológicos (Pol et al., 2004; Bourlière et al., 2007). O critério


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cronológico inclui a introdução de uma droga potencialmente hepatotóxica pelo

menos três meses antes da alteração das transaminases, melhora bioquímica após

descontinuação do medicamento e novo aumento das enzimas hepáticas com

reexposição à droga, a qual deve ser evitada, excluindo as outras causas de lesão

hepática (Pol et al., 2004).

Sinais de hipersensibilidade, achados histopatológicos como necrose

centrolobular e infiltrado eosinofílico ou a presença de autoanticorpos específicos

são encontrados de forma infrequente para diagnóstico fidedigno de que uma LHID

está em curso (Larrey, 2000; Pol et al., 2004). Costumeiramente, a histologia apenas

indica o tipo e o grau de lesão hepática, ao invés da etiologia (Verma e Kaplowitz,

2009).

Ainda assim, a maioria dos pacientes HIV positivos não segue os perfis

semiológico e cronológico descritos, tendo em vista que usualmente são tratados com

múltiplas drogas de forma concomitante (Pol et al., 2004).

1.3.3 Fatores de risco para hepatotoxicidade relacionada à TARV

As hepatites crônicas virais tem sido relacionadas, de forma consistente, ao

aumento do risco de hepatotoxicidade grave à TARV, com risco relativo de 2,1 vezes

(Sulkowski et al., 2002).

Na coinfecção VHC/HIV, estima-se que o risco de aumento grave de ALT

durante a TARV varie de 2,5 a 5 vezes (Núñez et al., 2001; Wit et al., 2002;

Sulkowski et al., 2004; Servoss et al., 2006). Enquanto que, na coinfecção


18

VHB/HIV, o risco parece ser mais elevado, com 9,2 vezes mais chance de ocorrer

aumento de enzimas hepáticas até grau 4 (Wit et al., 2002).

Wit et al. (2002) também observaram que, em pacientes coinfectados

VHB/HIV, o risco de ocorrer hepatotoxicidade grau 4 é de 6,8 vezes quando a

lamivudina é suspensa, droga que trata ambos os vírus.

Outro fator de risco relevante é a presença de níveis de ALT já aumentados no

baseline (Wit et al., 2002; Servoss et al., 2006), assim como AST >35U/L e carga

viral de HIV >10.000 cópias/mL também no baseline (Sulkowski et al., 2004).

Outrossim, alguns estudos tem identificado, isoladamente, fatores ligados ao

hospedeiro, como sexo feminino, etnia não-negra, elevado índice de massa corpórea,

idade avançada, insuficiência renal, trombocitopenia, elevados níveis da carga viral

de HIV (Núñez et al., 2001; Wit et al., 2002; Servoss et al., 2006; Kovari et al.,

2010).

1.3.4 Impacto negativo do aumento de transaminases no tratamento dos

pacientes com aids

De acordo com Núñez (2010), o impacto negativo na prática clínica do

aumento das transaminases se revela em visitas adicionais e novas coletas para

acompanhamento, internações hospitalares, aumento dos custos, indicações em bulas

de medicamentos que aumentam a ansiedade dos pacientes, modificações na

prescrição do regime de TARV e na influência em guidelines.


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Também conforme Núñez (2010), o desfecho clínico da hepatopatia induzida

por drogas pode ser devastador e incluir eventos agudos de hepatite sintomática e

insuficiência hepática aguda com ou sem óbito, além de síndromes crônicas.

Alguns estudos tem mostrado associação de aumento de transaminases e

mortalidade (Lewden et al., 2002; Rancinana et al., 2002).

E ainda, drogas potencialmente hepatotóxicas podem levar à descontinuação de

uma terapia antirretroviral (Melvin et al., 2000; Bell e Chalasani, 2009).

1.3.5 Drogas envolvidas

Existem inúmeras causas de lesão hepática em pacientes com HIV, tais como

doenças oportunistas com envolvimento hepático, hepatites virais, dislipidemias, uso

de álcool e/ou drogas endovenosas, doenças metabólicas e auto-imune, obstrução

biliar, sepse, nutrição parenteral total, uso de diferentes medicamentos, tais como as

estatinas, anticonvulsivantes, cotrimoxazol, bem como os antirretrovirais (Sulkowski,

2004; Bourlière et al., 2007; Verma e Kaplowitz, 2009).

A avaliação da doença hepática em pacientes com infecção pelo HIV,

especialmente a interpretação e manejo das elevações das transaminases hepáticas, é

complexa e pluricausal (Dieterich et al., 2004; Pol et al., 2004; Powderly, 2004).

A infecção por HIV é comumente considerada como um fator predispontente à

LHID (Bell e Chalasani, 2009). Nesses pacientes, é provável que coexistam vários

fatores relacionados à hepatotoxicidade; a resposta inflamatória diante da presença

desse vírus é um deles, pois pode sensibilizar os pacientes à LHID (Ganey et al.,

2004).
20

Há uma grande variabilidade de prevalência de toxicidade hepática entre uma

droga e outra (Larrey, 2000).

Em levantamento dos casos de hepatite fulminante nos Estados Unidos,

reações idiossincráticas secundárias às drogas ocorreram em 13% dos 308 pacientes,

sendo isoniazida, cotrimoxazol e fenitoína algumas das drogas envolvidas (Lee,

2003).

Uma lista parcial de medicamentos potencialmente hepatotóxicos, exceto

antirretrovirais, prescritos para indivíduos com infecção por HIV está apresentada na

tabela 1(Price e Thio, 2010).

A LHID é um problema de importância crescente, especialmente durante o

tratamento da infecção por TB. O fígado tem um papel central no metabolismo e

desintoxicação, tornando-se, pois, vulnerável (Russmann et al., 2009).

Entre os antirretrovirais, nevirapina, ritonavir em dose alta, inibidores de

protease (IP) e exposição prolongada à zidovudina ou estavudina são os mais

importantes (Sulkowski et al., 2002; Wit et al., 2002; Kovari et al., 2010). Entretanto,

todos os antirretrovirais tem sido associados a algum grau de hepatotoxicidade

(Dieterich et al., 2004; Pol et al., 2004; Powderly, 2004; Sulkowski, 2004).

E ainda, a incidência de efeitos adversos hepáticos relacionados à TARV em

pacientes com HIV é relativamente alta (Ganey et al., 2004; Núñez, 2010). Somado a

isso, os novos antirretrovirais que tem sido licenciados possuem dados limitados em

relação à segurança hepática (Núñez, 2010).

Contudo, em um regime de tratamento de um paciente com HIV, várias drogas

são costumeiramente associadas à TARV, dificultando a atribuição da

hepatotoxicidade a uma droga em particular (Núñez, 2010).


21

Tabela 1 - Lista parcial de medicamentos potencialmente hepatotóxicos não-


antirretrovirais prescritos para pacientes com infecção pelo HIV (Price
e Thio, 2010).
Medicamento Mecanismo de lesão
Antifúngicos
Cetoconazol, fluconazol, anfotericina B Lesão hepatocelular
Antibióticos
Ciprofloxacino Lesão hepatocelular
Azitromicina, dapsona Lesão colestática
Cotrimoxazol Lesão mista (hepatocelular e
colestática)
Tratamento de tuberculose
Rifampicina, isoniazida, pirazinamida Lesão hepatocelular
Etambutol Lesão colestática
Antivirais
Ganciclovir, aciclovir Lesão hepatocelular
Estesteróides androgênicos/anabolizantes
Testosterona, nandrolone, oxandrolone Lesão colestática, tumores hepáticos,
peliose hepática

1.3.6 Prevenção e manejo da LHID

O manejo, uma vez que o paciente desenvolve LHID, deve implicar em

suspensão imediata da droga envolvida, em terapia de suporte e sintomática, mas

também em vigilância para o desenvolvimento de hepatite fulminante (Verma e

Kaplowitz, 2009).

Em casos de doença grave, deve-se prontamente transferir o paciente para uma

unidade transplante hepático, caso sinais precoces de falência hepática surjam, como

INR (International Normalized Ratio of prothrombin time) >1,5, desenvolvimento de

ascite ou algum grau de encefalopatia hepática (Verma e Kaplowitz, 2009).


22

No que diz respeito à prevenção, independente da estratégia adotada, o mais

útil é a educação dos pacientes para o reconhecimento de sinais de alerta, os quais

incluem dor abdominal, náusea, vômito e icterícia (Verma e Kaplowitz, 2009).

1.3.6.1 Prevenção e manejo da lesão hepática induzida pela TARV

Um acompanhamento pormenorizado de pacientes virgens de tratamento

antirretroviral e com baixos níveis de linfócitos T CD4 + pode minimizar o risco de

reação idiossincrática com envolvimento hepático relacionada à nevirapina (Núñez,

2010).

Para as demais classes de drogas capazes de desencadear reações de

hipersensibilidade, um seguimento próximo nas primeiras semanas do tratamento

também deve ser realizado, bem como a dosagem de enzimas hepáticas, caso ocorra

desenvolvimento de rash cutâneo (Núñez, 2010). Havendo o rash, a droga suspeita e

as demais que compõem a TARV devem ser descontinuadas, sendo um novo regime

reinstituído quando os sintomas estiverem resolvidos (Núñez, 2010).

Casos de acidose lática associada à lesão hepatocelular aguda e esteatose

hepática tem sido menos relatados, tendo em vista o atual emprego de ITRN com

menor toxicidade para a mitocôndria (Núñez, 2010).

Quando há indícios de dano hepático direto, outras causas devem ser

excluídas, como outras drogas hepatotóxicas, hepatite aguda viral e, na coinfecção

VHB/HIV, o desenvolvimento de resistência ou a suspensão de droga anti-VHB, isto

é, tenofovir, lamivudina e emtricitabina (Núñez, 2010).


23

Em pacientes com elevação assintomática de aminotransferases e que fazem

uso de medicamentos com potencial hepatotoxicidade, a suspensão da TARV e troca

por outro regime não é consensual; todavia, o aumento assintomático de

aminotransferases >10 x LSN deve motivar a suspensão do agente causal (Núñez,

2010).

Um fluxograma para acompanhamento das enzimas hepáticas de pacientes

sem doença hepática prévia, adaptado de Dieterich (2003), está reproduzido na

Figura 2. Já na Figura 3, adaptado de Núñez (2010), está detalhado o manejo de

pacientes com lesão hepática grave induzida pela TARV.

Em pacientes coinfectados com VHC, ITRNNs não devem ser usados

naqueles classificados nos estágios B ou C de Child-Pugh e administrados com

precaução nos demais (Núñez, 2010).

Com relação à prevenção de esteatohepatite, os pacientes com síndrome

metabólica ou que já desenvolveram NASH (esteatohepatite não-alcoólica) devem

ser controlados no que diz respeito à hiperglicemia, hiperinsulinemia e

hiperlipidemia (Núñez, 2010). Regimes de TARV que utilizam raltegravir,

atazanavir ou darunavir, esses últmos com booster de ritonavir, tem uma boa

segurança quanto ao perfil lipídico (Núñez, 2010).


24

Pacientes Sem Doença


Hepática
Iniciando Nova TARV

ALT/AST em 4 semanas

>5 x LSN 5 -10 x LSN > 10 x LSN

Repetir ALT/AST a
cada 4 semanas até
resolução

Sintomas?
NÃO SIM

Repetir ALT/AST a Parar todos os medicamentos


cada 1-2 semanas até a potencialmente hepatotóxicos e
resolução TARV

* Outras causas: Excluir outras causas*


-Hepatites A ou B agudas: parar TARV até ALT<2,5xLSN Repetir ALT/AST em 1 semana
-Hepatite C aguda: considerar terapia
-Etanol: ALT frequentemente < AST
-Ultrassom de abdome: avaliação de doenças hepatobiliares,
como colecistite aguda

Figura 2. Avaliação da toxicidade da TARV em paciente sem doença hepática prévia


(adaptado de Dieterich, 2003).
ALT: alanina aminotransferase
AST: aspartato aminotransferase
LSN: limite superior da normalidade
TARV: terapia antirretroviral
25

HAART

SINTOMÁTICA HEPATOTOXICIDADE ASSINTOMÁTICA


GRAVE

REAÇÃO DE EXCLUSÃO DE OUTRAS CAUSAS DE


HIPERSENSIBILIDADE AUMENTO DE ALT: ÁLCOOL, HEPATITE MANEJO
AGUDA, DROGAS HEPATOTÓXICAS SIM CONFORME
NÃO RELACIONADAS AO HIV A CAUSA
SUSPENDER HAART E
ACIDOSE LÁTICA TODAS AS DROGAS
RELACIONADA A ITRN POTENCIALMENTE NÃO
HEPATOTÓXICAS

ICTERÍCIA/HEPATITE ELEVAÇÃO TRANSITÓRIA EM MANTER HAART E


AGUDA SINTOMÁTICA PACIENTE COM HEPATITE SIM ACOMPANHAR
CRÕNICA VIRAL ANTENTAMENTE

NÃO

GRAU 3 GRAU 4

SUSPENDER E REINICIAR NOVA


CONSIDERAR HAART SEM A DROGA CULPADA,
OPÇÕES PREFERENCIALMENTE APÓS
NORMALIZAÇÃO DA ALT

MANTER HAART E MONITORIZAR SE


TROCAR HAART POR
NÃO HOUVER BENEFÍCIOS COM
OUTRA COMBINAÇÃO
OUTRO REGIME E SE OS BENEFÍCIOS
EFETIVA DISPONÍVEL
SUPERAM OS RISCOS

Figura 3. Fluxograma do manejo da hepatotoxicidade relacionada à TARV (figura


adaptada de Núñez, 2010).
HAART: terapia antirretroviral de alta potência
ITRN: inibidor da transcriptase reversa nucleosídico

1.3.6.2 Prevenção e manejo da lesão hepática relacionada ao tratamento da TB

Usualmente, a LHID nos pacientes submetidos ao tratamento da TB ocorre nas

primeiras semanas do tratamento, em paralelo com a necrose de hepatócitos, a qual

pode desencadear encefalopatia e morte (Coca et al., 2010).

Medidas sistemáticas de prevenção e manejo da lesão hepática induzida pelo

pelas drogas de tratamento da TB, esquema RIPE (rifampicina, isoniazida,

pirazinamida e etambutol), incluem educação do paciente, pronto acesso ao cuidado


26

desses, comunicação adequada entre os prestadores de serviços e o uso criterioso de

critérios clínicos e bioquímicos no monitoramento, especialmente quando há história

de etilismo, droga hepatotóxica concomitante, hepatite viral, doença hepática

preexistente, ALT alterada, gestação ou puerpério precoce (Saukkonen et al., 2006).

A orientação para manejo da hepatotoxicidade do esquema RIPE, baseada no

Guia para o diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose (2009), está

esboçada na Figura 4.

Para os pacientes que serão submetidos à reintrodução do esquema RIPE droga

a droga, quando a toxicidade se delimita à presença de icterícia sem aumento de

enzimas, deve-se seguir a sequência pirazinamida, isonizida e rifampicina; em

contrapartida, quando há aumento das enzimas hepáticas, concomitante ou não à

icterícia, as drogas devem ser, sucessivamente, isoniazida, rifampicina e

pirazinamida (Guia para o diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose,

2009). Salienta-se que as drogas devam ser iniciadas com intervalos de três dias entre

elas (Guia para o diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose, 2009).

Indivíduos com infecção pelo HIV também devem ter suas enzimas hepáticas

acompanhadas. Em geral, o tratamento deve ser interrompido quando há um aumento

superior a três vezes de ALT do LSN na presença de icterícia e/ou 5 x LSN, na

ausência de sinais (Saukkonen et al., 2006; Schutz et al., 2010).


27

Indicação
de RIPE

AST/ALT antes de
ALT/AST normais ou até 3 x LSN iniciar o ALT/AST > 5 x LSN
tratamento*

Iniciar RIPE ALT/AST 3 - 5 x LSN


Suspender RIPE
Perfil hepático semanal
até normalização ou
Náuseas, vômitos, Avaliação individual ou retorno ao basal
ictéricia, dor esquema alternativo Reintrodução droga a
abdominal, sinais de droga ou esquema
encefalopatia hepática alternativo

ALT/AST e bilirrubinas Exames normais:


Suspender RIPE buscar outras causas

ALT/AST ou
bilirrubinas > * Pacientes de alto risco: etilismo,
3 x LSN uso de drogas hepatotóxicas ou
ilícitas, hepatopatia prévia,
imunodepressão, nefropatia,
Perfil hepático semanal até gestação, infecção por HIV,
normalização mulheres não-brancas
Reintrodução droga a droga . ALT/AST 4 a 12 semanas após
ou esquema alternativo início do tratamento

Figura 4. Manejo da hepatotoxicidade relacionada ao tratamento da TB (figura


modificada do Guia para o diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose,
2009).
ALT: alanina aminotransferase
AST: aspartato aminotransferase
LSN: limite superior da normalidade
RIPE: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol

Os esquemas alternativos para hepatotoxicidade incluem: 1. três meses de

estreptomicina, etambutol e ofloxacino, seguidos de nove meses de estreptomicina e

ofloxacino; 2. dois meses de estreptomicina, isoniazida e etambutol, seguidos de

quatro meses de isoniazida e etambutol e, após, 6 meses de isoniazida; 3. dois meses

de estreptomicina, rifampicina e etambutol, seguidos de quatro meses de rifampicina

e etambutol (Guia para o diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose, 2009).


28

2 JUSTIFICATIVA

O surgimento de alterações hepáticas significativas em pacientes com

diagnóstico de infecção pelo HIV/aids pode determinar importante impacto no

atendimento clínico desses pacientes. Nesse contexto, destaca-se a elevação súbita do

nível das enzimas hepáticas acima do LSN, particularmente as transaminases, em

pacientes em uso de TARV ou de outros medicamentos comumente prescritos para

esse grupo de pacientes. O surgimento dessas alterações pode determinar visitas

adicionais ao serviço médico, além de necessidade de novas coletas de exames

laboratoriais para acompanhamento, gerar internações hospitalares, aumento dos

custos, modificações na prescrição do regime de TARV e, por conseguinte, poderá

levar à descontinuação da TARV e à redução das taxas de adesão a essa terapia.

A avaliação da doença hepática em pacientes com infecção pelo HIV,

especialmente a interpretação e manejo das elevações das transaminases hepáticas, é

complexa e pluricausal.

Assim sendo, a identificação de fatores preditivos de possíveis complicações

durante o tratamento dos pacientes com aids é subsídio fundamental para a

construção de estratégias que otimizem o acompanhamento, melhorando a

performance evolutiva dos indivíduos internados ou em seguimento ambulatorial.

Do ponto de vista de planejamento em saúde pública, é também relevante

conhecer as causas clínico-epidemiológicas de internação de pacientes com

diagnóstico de HIV. O melhor entendimento desse perfil pode auxiliar na

implantação de estratégias de intervenção mais efetivas para o controle da doença.


29

A escassez de dados na literatura nacional sobre a prevalência de LHID em

pacientes infectados pelo HIV motivou a execução do presente trabalho, tendo em

vista o potencial impacto negativo dessa complicação no manejo terapêutico e na

morbidade desses pacientes.


30

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Estimar a prevalência de lesão hepática grave durante a internação por causas

diversas de um grupo de pacientes infectados pelo HIV em uma enfermaria de

moléstias infecciosas.

3.2 Objetivos Específicos

o Avaliar a associação da presença de lesão hepática grave com algumas variáveis:

a. idade, raça, categoria de exposição ao HIV e histórico de etilismo;

b. diagnóstico de hepatite viral B e/ou C;

c. níveis de ezimas hepáticas à admissão hospitalar;

d. diagnóstico que motivou a internação hospitalar.

o Avaliar as principais causas de internação desse grupo de pacientes;


31

4 MÉTODOS

4.1 Desenho do Estudo e Casuística

Realizou-se uma análise retrospectiva dos prontuários físicos e eletrônicos de

pacientes com diagnóstico de infecção pelo HIV internados na enfermaria de

moléstias infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo no período de 1° de agosto de 2010 a 1° de agosto de

2011.

O presente estudo faz parte de projeto “Avaliação clínico-epidemiológica de

pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana em uma enfermaria de

hospital terciário em dois períodos, pré e pós-terapêutica antirretroviral de alta

potência”, aprovado pelo Comitê de Ética local sob o número 0108/10.

Pacientes com mais de uma internação durante o período elencado no estudo,

tiveram apenas a primeira internação avaliada, a fim de evitar duplicata na

interpretação dos dados coletados.

4.2 Coleta de Informações

A coleta das informações foi realizada por meio da análise dos prontuários

médicos dos pacientes.


32

Dados demográficos e relativos às sorologias para VHB e VHC, bem como

exames laboratoriais são solicitados de forma rotineira aos pacientes internados na

enfermaria, sendo que a solicitação da bioquímica hepática tem frequência avaliada

conforme o julgamento da equipe médica assistente. Foram, pois, esses os exames

utilizados na execução do presente trabalho.

Os exames de bioquímica hepática solicitados durante toda a internação foram

reunidos neste trabalho, sendo distribuídos em exames de entrada e pico de elevação,

quando ocorreram.

4.2.1 Definição de complicação hepática

Definiu-se complicação hepática por meio dos seguintes critérios: alterações

laboratoriais, alterações clínicas, alterações de exames de imagem e de endoscopia

digestiva alta (EDA). Essas alterações estão dispostas a seguir.

4.2.1.1 Alterações laboratoriais

1. AST e ALT

Para a avaliação de alterações de ALT e AST, foram utilizados os critérios

subsequentes:

a. pacientes com transaminases basais dentro dos limites de normalidade tem

diagnóstico de lesão hepática, quando os níveis de ALT e/ou AST se elevam acima
33

do LSN. O sistema de graduação foi: grau 1 (1,25 a 2,5 x LSN), grau 2 (2,6 a 5 x

LSN), grau 3 (5,1 a 10 x LSN) e grau 4 (>10 x LSN) (ACTG de 1996);

b. indivíduos já com enzimas elevadas no baseline também tiveram suas enzimas

graduadas da seguinte forma: grau 1 (1,25 a 2,5 x baseline), grau 2 (2,6 a 3,5 x

baseline), grau 3 (3,6 a 5 x baseline ) e grau 4 (>5 x baseline) (Sulkowski et al.,

2000; Pol et al., 2004; Sulkowski et al., 2004).

No nosso serviço, os limites de AST são 37 U/L para homens e 31 U/L para

mulheres e os de ALT são 41 g/dL para homens e 31 U/L para mulheres.

2. Gama-GT

Neste estudo, os aumentos de Gama-GT (normal, no nosso serviço, até 61 U/L

para homens e 36 U/L mulheres) seguiram a graduação que se segue: grau 1 (1,25 a

2,5 x LSN), grau 2 (2,6 a 5 x LSN), grau 3 (5,1 a 10 x LSN) e grau 4 (>10 x LSN).

3. FA

O sistema de graduação dos aumentos de FA foi: grau 1 (1,25 a 2,5 x LSN),

grau 2 (2,6 a 5 x LSN), grau 3 (5,1 a 10 x LSN) e grau 4 (>10 x LSN) (ACTG,

1996). FA é normal, no nosso serviço, até 129 U/L para homens e 104 U/L para

mulheres.
34

4. Bilirrubinas

As alterações de bilirrubina total foram assim delineadas: grau 1 (1,1 a 1,5 x

LSN), grau 2 (1,6 a 2,5 x LSN), grau 3 (2,6 a 5,0 x LSN), grau 4 (>5,0 x LSN),

sendo os valores de referência para LSN de bilirrubina total 1 mg/dL, bilirrubina

direta 0,3 mg/dL e bilirrubina indireta 0,6 mg/dL (ACTG, 1996).

5. Plaquetas

As alterações nos níveis de plaquetas dos pacientes não foram analisadas, pelo

fato de coexistirem vários fatores de confusão, como alteração plaquetária por sepse

ou toxicidade medular por drogas, por exemplo.

6. INR

Ainda conforme os critérios do ACTG (1996), as alterações de INR foram

expostas em grau 1 (1,1 a 1,5 x LSN), grau 2 (1,6 a 2,0 x LSN), grau 3 (2,1 a 3,0 x

LSN) e grau 4 (>3,0 x LSN).

7. Classificação da lesão hepática

Com base nas alterações nos níveis de ALT e FA, foram utilizados os critérios

revisados pelo Drug Hepatotoxicity Steering Committee do FDA americano para a

classificação da LHID, conforme já apresentado na Figura 1 (Navarro, 2005).


35

8. Definição de lesão hepática grave

Lesão hepática grave foi definida pelo aumento dos níveis de ALT e/ou AST

até os graus 3 ou 4 durante o tratamento medicamentoso (Sulkowski et al., 2004),

bem como aumento de bilirrubina total nesses graus (Núñez, 2010).

4.2.1.2 Alterações clínicas

Neste estudo, observaram-se as alterações clínicas relacionadas à hepatopatia:

icterícia, ascite, encefalopatia, hematêmese, melena e hepatoesplenomegalia.

4.2.1.3 Alterações de exames de imagem

Nos exames de ultrassonografia (USG), tomografia computadorizada (TC) e

ressonância magnética (RM) de abdome, quando realizados, avaliaram-se a presença

de hepatoesplenomegalia, fígado heterogêneo, nódulo hepático e dilatação de veia

porta.

4.2.1.4 EDA

Por meio da EDA, quando realizada, catalogaram-se a existência de gastropatia

hipertensiva e varizes esofágicas.


36

4.2.2 Infecção crônica por VHB e VHC

Infecção crônica por VHB foi definida pela presença do antígeno de superfície

HBsAg e infecção crônica por VHC, por anticorpos anti-VHC e/ou detecção

qualitativa do RNA de VHC por reação em cadeia da polimerase (PCR).

4.2.3 Definição de droga hepatotóxica

Foram consideradas as drogas mais implicadas em lesão hepática na literatura

como rifampicina, isoniazida, pirazinamida, sulfa, estatina, imidazólico,

anticonvulsivante, anti-inflamatórios não-esteroidais e macrolídeos (Sulkowski,

2004; Bourlière et al., 2007). Todas as drogas antirretrovirais também foram

consideradas como potencialmente hepatotóxicas. Contudo, a TARV foi avaliada

como uma variável distinta de droga hepatotóxica, com a finalidade de não

superestimar essa última.

4.2.4 Avaliação de associação entre a presença de complicações hepáticas e

algumas variáveis

Foram utilizadas as seguintes variáveis na avaliação, quando as informações

estavam disponíveis nos prontuários:

1. Variáveis demográficas

Sexo, idade, procedência e naturalidade.


37

2. Variáveis associadas à infecção pelo HIV

Categoria de exposição ao HIV, carga viral de HIV alta (maior do que 100.000

cópias/mm3) ou baixa (menor do que 100.000 cópias/mm3) conforme o Consenso de

HIV do Ministério da Saúde (2008), níveis de linfócitos T CD4+, uso de TARV,

adesão ao tratamento relatado no prontuário, tempo de infecção pelo HIV conhecido

pelo paciente. Também foi avaliada a associação da presença de lesão hepática grave

com o diagnóstico clínico estabelecido, como causa da internação hospitalar.

3. Variáveis associadas às hepatites virais

Infecção por VHB, infecção por VHC, antecedente de tratamento dessas

infecções.

4. Dislipidemia

De acordo com a IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da

Aterosclerose (Sposito et al., 2007), os pacientes com doseamento do colesterol

solicitado pela equipe médica tiveram seus níveis de colesterol classificados em

hipercolesterolemia isolada [elevação isolada de LDL (low density lipoprotein) ≥ 160

mg/dL], hipertrigliceridemia isolada [elevação isolada dos triglicérides (TG) ≥ 150

mg/dL], hiperlipidemia mista (valores aumentados de LDL e TG) e HDL (high

density lipoprotein) baixo, ou seja, redução do HDL em homens <40 mg/dL e, em

mulheres, <50 mg/dL.


38

5. Outras variáveis

Antecedente de uso de álcool descrito no prontuário, antecedente de uso de

drogas hepatotóxicas e emprego delas na internação.

4.3 Análise Estatística

4.3.1 Análise descritiva

Inicialmente, efetuou-se a análise descritiva das variáveis do estudo. Os

resultados foram apresentados em tabelas de frequência para as variáveis

qualitativas. No que tange às variáveis quantitativas, foram feitas estimativas das

medidas de tendência central e de dispersão.

Calculou-se a prevalência de lesão hepática grave em pacientes com

diagnóstico de HIV internados em uma enfermaria de hospital terciário e seu

respectivo intervalo com 95% de confiança.

4.3.2 Análise univariada

Em estudos de corte transversal com desfechos binários, a associação entre

exposição e desfecho é estimada pela razão de prevalência (RP). Quando é

necessário ajuste para potenciais variáveis de confusão, geralmente são utilizados

modelos de regressão logística que produzem estimativas de odds ratio (OR).

Todavia, quando o risco é alto, o OR não é uma aproximação adequada da RP,


39

sendo, nesses casos, inapropriado o seu uso (Davies et al., 1998; Barros e Hirakata,

2003; Coutinho et al., 2008).

Neste estudo, considerando a elevada prevalência de lesão hepática grave

(22%), estimaram-se a RP e seus respectivos intervalos de confiança (IC 95%) para a

análise univariada sobre a relação entre diversas variáveis e o desfecho ocorrência de

lesão hepática grave.

4.3.3 Análise multivariada

As variáveis que apresentaram valor de p<0,25 foram selecionadas para a

análise múltipla.

Empregou-se, nessa etapa, o modelo de regressão de Cox com variância

robusta. Esse modelo tem sido sugerido como boa alternativa na obtenção de

estimativas das RPs ajustadas para variáveis de confusão. Porém a regressão de Cox

é comumente utilizada para analisar o tempo até um evento, isto é, para desenhos

longitudinais.

Em estudos de corte transversal é possível atribuir o valor unitário ao tempo de

seguimento de cada participante como estratégia para obtenção da estimativa por

ponto da razão de prevalência, pois não há seguimento real dos participantes nesse

tipo de estudo (Lin e Wei, 1989).

Além disso, o uso da regressão de Cox sem qualquer ajuste para análise de

estudos com desenho transversal pode levar a erros na estimativa do intervalo de

confiança, o qual pode ser maior do que deveria. Nessas situações, o método de

variância robusta também pode ser utilizado (Lin e Wei, 1989).


40

O processo de modelagem foi iniciado com a variável que apresentava o menor

valor de p pelo teste de Wald e, em seguida, foram acrescentadas sucessivamente as

demais com valor de p<0,25.

As variáveis que apresentaram valor de p<0,05 à análise múltipla

permaneceram no modelo final. Além disso, acrescentou-se no modelo final,

independentemente da significância estatística, a variável “uso de droga hepatotóxica

durante a internação”, devido à sua relevância clínica em conjunto com as demais

variáveis. Finalmente, estimaram-se as RPs para cada uma dessas variáveis e seus

respectivos intervalos de confiança (IC 95%).

Os testes foram realizados com nível de significância de 5%.

4.3.4 Organização do banco de dados e softwares utilizados

Os dados foram analisados no Stata 11.0 (StataCorp LP, College Station,

Texas, Estados Unidos). Posteriormente, realizaram-se as checagens de consistência,

com as correções pertinentes.

4.4 Aspectos Éticos

Por se tratar de estudo que previu apenas a análise retrospectiva de dados de

prontuários dos pacientes, anexamos Termo de Confidencialidade do Pesquisador e

solicitamos ao Comitê de Ética a dispensa do termo de consentimento, conforme já

prenunciado no projeto original.


41

Portanto, todos os dados obtidos por meio da análise de prontuários (físico e

eletrônico) foram utilizados exclusivamente para a realização do presente trabalho,

respeitando-se o sigilo e confidencialidade dos dados.


42

5 RESULTADOS

5.1 Análise Descritiva

Durante o período examinado, foram compilados dados de 149 pacientes com

diagnóstico de infecção por HIV internados em uma enfermaria de moléstias

infecciosas de um hospital terciário.

5.1.1 Variáveis sociodemográficas e comportamentais

A Tabela 2 distribui a população estudada em gênero, idade, raça e localidade

de procedência.

Fatores comportamentais como história prévia ou atual de etilismo, bem como

categoria de exposição ao HIV estão delineados na Tabela 3. Dos 100 pacientes com

categoria de exposição sexual conhecida, 77 eram heterossexuais, 20 eram HSH, dois

eram bissexuais e um paciente descreveu histórico de violência sexual. Os pacientes

cuja exposição foi parenteral, 13 relataram ser UDIV e dois mencionaram transfusão

sanguínea.
43

Tabela 2 – Distribuição dos 149 pacientes com diagnóstico de HIV internados


em uma enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a
agosto de 2011 quanto ao gênero, idade, raça e procedência

Variáveis no %

Sexo Masculino 93 62,4


Feminino 56 37,6

Idade < 42 70 47
≥ 42 79 53
Média (desvio padrão) 42,1 (12,3)
Mediana (mínimo-máximo) 42 (16 - 71)

Raça Não 46 30,9


branca Sim 103 69,1

Procedência São Paulo capital 101 67,8


São Paulo interior/litoral 35 23,5
Outras 13 8,7

Tabela 3 - Avaliação da história de etilismo e da categoria de exposição ao


HIV dos 149 pacientes com diagnóstico de HIV internados
enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de
2011

Fatores comportamentais no %

História prévia ou Não 71 47,6


atual de etilismo
Sim 54 36,3
Ignorado 24 16,1

Categoria de Sexual 100 67,1


exposição ao HIV
Parenteral 15 10,0
Transmissão vertical 5 3,3
Ignorado 31 20,8
44

5.1.2 Comorbidades

Dentre os 143 pacientes com informação sobre comorbidades, observou-se que

64 (43,8%) apresentavam alguma doença metabólica e 27 (18,5%) tinham

diagnóstico de hepatite B e/ou C. A Tabela 4 elenca as comorbidades dos pacientes

no momento da internação, as quais foram representadas por grupos de doenças.

Tabela 4 - Avaliação das comorbidades dos pacientes com diagnóstico de

HIV internados na enfermaria de moléstias infecciosas de agosto

de 2010 a agosto de 2011

Comorbidades no %

Doenças auto-imunes 4 2,7


Doenças metabólicas 64 43,8
Hepatite viral B e/ou C 27 18,5
Neoplasia 5 3,4
Patologias de saúde mental 7 4,8
Outras 16 10,9

Os resultados dos exames utilizados na investigação de hepatite viral estão

delineados na Tabela 5. Observou-se que, dos 16 pacientes com sorologia negativa

para VHC em que foi investigada a presença do vírus por PCR, três (18,7%) tiveram

PCR qualitativo para VHC detectado.


45

Tabela 5 - Avaliação dos resultados de investigação de hepatite viral dos pacientes


com diagnóstico de HIV internados na enfermaria de moléstias
infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011

Investigação de hepatite viral no %

Anti-HBc total (n=137) Negativo 97 70,8


Positivo 40 29,2

Anti-HBc IgG (n=40) Negativo 18 45,0


Positivo 22 55,0

Anti-HBc IgM (n=43) Negativo 43 100


Positivo - -

AgHBs (n=42) Negativo 39 92,9


Positivo 3 7,1

AgHBe (n=5) Negativo 3 60,0


Positivo 2 40,0

Anti-HBe (n=5) Negativo 4 80,0


Positivo 1 20,0

Anti-HBs (n=53) Negativo 26 49,1


Positivo 27 50,9

Anti-VHC (n=139) Negativo 113 81,3


Positivo 26 18,7

PCR para VHC (n=38) Negativo 16 42,1


Positivo 22 57,9
AgHBe: antígeno “e” do vírus da hepatite B (VHB)

HBc: antígeno do core do VHB

HBs: antígeno de superfície do VHB

VHC: vírus da hepatite C

PCR: reação em cadeia da polimerase


46

Foram obtidos os perfis lipídicos de 103 pacientes, sendo os níveis alterados de

colesterol e triglicérides classificados conforme Sposito e colaboradores (2007) e

expostos na Tabela 6. HDL baixo foi constatado em 73,8% dos pacientes e

hipertrigliceridemia isolada em 27,2% deles.

Tabela 6 – Avaliação do perfil lipídico de 103 pacientes com diagnóstico de


HIV internados na enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de
2010 a agosto de 2011

Classificação da dislipidemia no %

Hipercolesterolemia isolada Não 94 91,2


Sim 9 8,8

Hipertrigliceridemia isolada Não 75 72,8


Sim 28 27,2

Hiperlipidemia mista Não 91 88,4


Sim 12 11,6

HDL baixo Não 27 26,2


Sim 76 73,8
HDL: high density lipoprotein

5.1.3 Exames de imagem e EDA

No que concerne aos exames de imagem, alguma alteração foi observada em

38,3% (57) dos 73 pacientes que realizaram TC e/ou RM. A Tabela 7 representa as

alterações mais relevantes relacionadas às hepatopatias encontradas nos exames

realizados.
47

EDA foi realizada em 67 pacientes, constatando-se gastropatia hipertensiva e

varizes esofágicas em seis (0,1%) indivíduos.

Tabela 7 – Avaliação das alterações nos exames de imagem realizados por 73


pacientes com diagnóstico de HIV internados na enfermaria de
moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011

Alteração em exames de imagem no %

Hepatomegalia Não 26 35,6


Sim 47 64,4

Esplenomegalia Não 44 60,3


Sim 29 39,7

Fígado heterogêneo Não 53 72,6


Sim 20 27,4

Nódulo hepático Não 62 84,9


Sim 11 15,0

Dilatação veia porta Não 66 90,4


Sim 7 9,6

5.1.4 Uso de droga hepatotóxica

Foi possível avaliar a informação de 143 pacientes sobre o uso de drogas

classicamente hepatotóxicas anterior à internação. Desses, 28 (19,6%) faziam uso de

drogas potencialmente hepatotóxicas ambulatorialmente.

Puderam-se observar as prescrições médicas de internação de 145 pacientes,


sendo encontrado emprego de drogas potencialmente hepatotóxicas em 108 (74,5%).
48

5.1.5 Variáveis relacionadas ao HIV

Os dados sobre a época do diagnóstico da infecção por HIV foram obtidos de

146 pacientes, constatando-se que esse diagnóstico foi realizado durante a internação

de 34 (23,3%) deles.

A média de tempo de infecção por HIV conhecida foi de 77,1 meses (desvio

padrão 83,9 meses) e a mediana foi 48 meses (mínimo de 0 mês e máximo de 288

meses).

A informação sobre os antecedentes de doenças oportunistas foi encontrada nos

prontuários de 141 pacientes. Notou-se que 46,1% (65) apresentaram alguma

infecção oportunista antes da internação. Dentre essas, as infecções de maior

prevalência foram micobacteriose (38,5%), doenças causadas por vírus da família

Herpesviridae (24,6%) e pneumonia de repetição (21,5%). A Tabela 8 representa a

avaliação dos antecedentes de doenças oportunistas, relativizando-os entre os

pacientes com histórico de doença oportunista (n=65) e entre todos os pacientes com

informação sobre seus antecedentes (n=141).

Antes da internação, 82 dos 147 pacientes (55,8%) já faziam uso de TARV e a

maioria desses (43; 52,4%) utilizava regularmente as medicações. Constatou-se que,

dos 142 pacientes, cuja informação sobre TARV na internação era disponível, 26,8%

(38) passaram a receber TARV durante a internação e 15,5% (22) continuaram sem a

terapêutica (Tabela 9).

Dos 82 pacientes em uso de TARV anterior à internação, obteve-se a

informação sobre o tempo de uso de 75 (91,5%) deles. A média do tempo de uso foi
49

de 86,8 meses (desvio padrão de 69,3 meses) e a mediana, 84 meses (mínimo de 0,1

e máximo de 228 meses).

Tabela 8 – Análise dos antecedentes de doença oportunista dos pacientes com


diagnóstico de HIV internados na enfermaria de moléstias infecciosas
de agosto de 2010 a agosto de 2011

Antecedente de doença oportunista nº % (n=65) % (n=141)

Candidíase do trato digestivo 12 18,5 8,5


Diarréia crônica 5 7,7 3,5
Doença causada por vírus da família
16 24,6 11,3
Herpesviridae1
Micobacteriose 25 38,5 17,7
Neoplasia 6 9,2 4,2
Pneumocistose 8 12,3 5,7
Pneumonia de repetição 14 21,5 9,9
Toxoplasmose 10 15,4 7,1
1
14 pacientes tiveram Herpes Zoster e dois tiveram doença causada por vírus Herpes simples.

A Tabela 10 destaca as aferições de linfócitos T CD4 + divididas entre os

principais grupos, bem como a carga viral de HIV dos pacientes no momento da

internação.

Dentre os 145 pacientes com valor de carga viral de HIV conhecido durante a

internação, 34 (23,5%) tinham carga viral indetectável e sete (4,8%) possuíam mais

do que 500.000 cópias/mL.


50

Tabela 9 – Avaliação do uso da terapia antirretroviral dos pacientes com


diagnóstico de HIV internados na enfermaria de moléstias
infecciosas de agosto de 2010 a agosto de 2011

Variáveis no %

Uso de TARV antes da Não 65 44,2


internação (n=147)
Sim com uso irregular 39 47,6
Sim com uso regular 43 52,4

Início da TARV Não 104 73,2


durante a internação
(n=142) Sim 38 26,8

TARV: terapia antirretroviral

Tabela 10 – Avaliação da carga viral de HIV e dos linfócitos T CD4 + dos pacientes
internados na enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a
agosto de 2011

Variáveis no %

Carga viral de HIV (cópias/mL) < 100.000 110 75,9


(n=145)
≥ 100.000 35 24,1

Linfócitos T CD4+ (células/mm3) < 50 63 42,5


(n=148)
50 a 99 21 14,2
100 a199 21 14,2
200 a 349 25 16,9
≥ 350 18 12,2
Média (desvio padrão) 164,0 (214,4)
Mediana (mínimo - 74,5 (1 - 1327)
máximo)
51

5.1.6 Alteração clínica associada à hepatopatia durante a internação

Evoluíram com sinais/sintomas de complicação hepática 12 (8,0%) pacientes

durante a internação, sendo que dois apresentaram ascite, um encefalopatia, um

hematêmese e oito desenvolveram icterícia.

5.1.7 Alteração laboratorial

5.1.7.1 Exames iniciais

A Tabela 11 agrupa os resultados dos primeiros exames colhidos na internação

dessa população em estudo, classificados conforme critérios do ACTG de 1996.

Tabela 11 – Avaliação laboratorial inicial dos pacientes com


diagnóstico de HIV internados na enfermaria de
moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de
2011

Variáveis no %

INR (n=147) Normal 110 74,8


1,1 a 1,5 x 34 23,1
1,6 a 2,0 x 3 2,1

ALT (n=148) Normal 121 81,8


1,25 a 2,5 x 15 10,1
2,6 a 5,0 x 11 7,4
5,1 a 10,0 x 1 0,7
continua
52

Conclusão

Variáveis no %

ALT > 10,0 x - -

AST (n=148) Normal 110 74,3


1,25 a 2,5 x 20 13,5
2,6 a 5,0 x 14 9,4
5,1 a 10,0 x 3 2,1
> 10,0 x 1 0,7

Bilirrubina Normal 139 93,9


Total (n=148)
1,1 a 1,5 x 4 2,7
1,6 a 2,5 x 3 2,1
2,6 a 5,0 x - -
> 5,0 x 2 1,3

FA (n=147) Normal 117 79,6


1,25 a 2,5 x 23 15,6
2,6 a 5,0 x 5 3,4
5,1 a 10,0 x 2 1,4
> 10,0 x - -

Gama-GT Normal 84 57,5


(n=146)
1,25 a 2,5 x 31 21,2
2,6 a 5,0 x 18 12,3
5,1 a 10,0 x 10 6,9
> 10,0 x 3 2,1
ALT: alanina aminotransferase
AST: aspartato aminotransferase
FA: fosfatase alcalina
Gama-GT: gama glutamil transferase
INR: International Normalized Ratio of prothrombin time
53

5.1.7.2 Evolução durante a internação

A Tabela 12 agrupa as alterações laboratoriais nos picos de elevação durante a

internação dos pacientes, quando ocorreram.

Tabela 12 - Avaliação das alterações laboratoriais no pico de elevação


durante a internação dos pacientes com diagnóstico de HIV na
enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto
de 2011

Variáveis no %

INR (n=141) Normal 100 70,9


1,1 a 1,5 x 28 19,9
1,6 a 2,0 x 7 5,0
2,1 a 3,0 x 4 2,8
> 3,0 x 2 1,4

ALT (n=143) Normal 78 54,5


1,25 a 2,5 x 22 15,4
2,6 a 5,0 x 29 20,3
5,1 a 10,0 x 8 5,6
> 10,0 x 6 4,2

AST (n=142) Normal 76 53,5


1,25 a 2,5 x 22 15,5
2,6 a 5,0 x 26 18,3
5,1 a 10,0 x 8 5,6
> 10,0 x 10 7,0
continua
54

conclusão

Variáveis no %

Bilirrubina total Normal 112 78,3


(n=143)
1,1 a 1,5 x 10 7,0
1,6 a 2,5 x 4 2,8
2,6 a 5,0 x 7 4,9
> 5,0 x 10 7,0

FA (n=143) Normal 96 67,1


1,25 a 2,5 x 28 19,6
2,6 a 5 x 11 7,7

FA 5,1 a 10 x 3 2,1
> 10 x 5 3,5

Gama-GT Normal 63 44,0


(n=143)
1,25 a 2,5 x 22 15,5
2,6 a 5,0 x 19 13,3
5,1 a 10,0 x 23 16,1
> 10,0 x 16 11,1
ALT: alanina aminotransferase
AST: aspartato aminotransferase
FA: fosfatase alcalina
Gama-GT: gama glutamil transferase
INR: International Normalized Ratio of prothrombin time

5.1.7.2.1 Alteração laboratorial grave

Apenas dois (1,3%) pacientes apresentaram aumento isolado de Gama-GT

durante a internação.

Dentre os 149 indivíduos analisados, 33 desenvolveram alteração hepática

grave durante a evolução, ou seja, aumentos de ALT, AST e/ou bilirrubinas


55

classificados em graus 3 e 4, resultando em uma prevalência igual a 22,1% (IC 95%:

15,8 – 29,7).

Dos 28 pacientes, cuja informação sobre troca ou manutenção da terapêutica

pode ser obtida, foi realizada a substituição da terapia implicada em hepatotoxicidade

em 12 (42,8%) pacientes.

5.2 Diagnóstico Final, Tempo de Internação e Desfecho

Em média, os pacientes permaneceram internados por 26,7 dias (desvio padrão

de 24,1 dias), sendo a mediana 19 dias (mínimo de 2 e máximo de 147 dias).

Foi possível obter informações sobre o diagnóstico final de 140 pacientes,

observando-se as infecções bacterianas (30%), a candidíase do trato digestivo

(22,8%), a micobacteriose (17,1%) e a toxoplasmose (15%) como as doenças mais

prevalentes nessa população (Tabela 13).

Com relação ao desfecho, 133 (89,2%) pacientes receberam alta, 11 (7,4%)

pacientes evoluíram a óbito, três (2%) foram transferidos para outro instituto, um

(0,7%) paciente evadiu e outro (0,7%) recebeu alta a pedido.


56

Tabela 13 – Diagnósticos ao final da internação de 140 pacientes portadores de HIV


na enfermaria de moléstias infecciosas de agosto de 2010 a agosto de
2011

Diagnóstico ao final da internação no %

Candidíase do trato digestivo 32 22,8


Citomegalovirose 2 1,4
Criptococose 5 3,6
Diarréia crônica 8 5,7
Doença causada por vírus da família
3 2,1
Herpesviridae
Histoplasmose 2 1,4
Infecção bacteriana 42 30,0
Micobacteriose 24 17,1
Neoplasia 5 3,6
Pneumocistose 6 4,2
Sífilis 3 2,1
Toxoplasmose 21 15,0
Outros 56 40,0

5.3 Análise Univariada

Com a finalidade de identificar os possíveis fatores associados à ocorrência de

lesão hepática grave, testou-se a relação entre essa resposta e todas as variáveis

obtidas no estudo.
57

5.3.1 Variáveis sociodemográficas, comportamentais e comorbidades

Não foi observada diferença com significância estatística nas prevalências de

lesão hepática grave consoante a idade (p=0,327), a raça branca (p=0,936), a

categoria de exposição ao HIV (p=0,958) e o consumo de bebidas alcoólicas

(p=0,434; Tabela 14). Da mesma forma, em relação aos pacientes com e sem doença

metabólica (p=0,832; Tabela 15).

Ainda que sem significância estatística, os dados sugerem que haja maior

prevalência de lesão hepática grave em homens (p=0,088) e em pacientes com

hepatite viral B ou C (p=0,070; Tabelas 14 e 15).


58

Tabela 14 - Distribuição dos pacientes segundo características sociodemográficas,


categoria de exposição ao HIV e etilismo em relação à lesão hepática
grave

Lesão hepática grave


Valor
Variáveis RP (IC 95%)
Não Sim de p
no (Prevalência) no (Prevalência)

Sexo 0,088
Feminino 48 (85,7) 8 (14,3) 1
Masculino 68 (73,1) 25 (26,9) 1,88 (0,91 - 3,89)

Idade (anos) 0,327


< 42 52 (74,3) 18 (25,7) 1
≥ 42 64 (81,0) 15 (19,0) 0,74 (0,40 - 1,35)

Raça 0,936
Branca 80 (77,7) 23 (22,3) 1
Não branca 36 (78,3) 10 (21,7) 0,97 (0,50 - 1,88)

Categoria de exposição ao HIV (n=118) 0,958


Parenteral 83 (80,6) 20 (19,4) 1
Não 12 (80,0) 3 (20,0) 1,03 (0,35 – 3,07)
parenteral

História prévia ou atual de etilismo (n=125) 0,434


Não 58 (81,7) 13 (18,3) 1
Sim 41 (75,9) 13 (24,1) 1,31 (0,66 - 2,61)
RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança
59

Tabela 15 - Distribuição dos pacientes segundo a existência de comorbidades em


relação à ocorrência de lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Valor
Comorbidades Não Sim RP (IC 95%)
de p
no (Prevalência) no (Prevalência)

Doença metabólica (n=146) 0,832


Não 64 (78,1) 18 (21,9) 1
Sim 49 (76,6) 15 (23,4) 1,07 (0,58 - 1,95)

Hepatite viral B ou C (n=143) 0,070


Não 95 (81,9) 21 (18,1) 1
Sim 18 (66,7) 9 (33,3) 1,84 (0,95 - 3,57)
RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança

No que diz respeito às hepatites virais, não houve associação entre ocorrência

de lesão hepática grave e infecção crônica por VHC (p=0,193; Tabela 16).

É relevante ressaltar que dois (66,7%) dos três pacientes com AgHBs reagente

apresentaram lesão hepática grave durante a internação. Entretanto, devido ao

pequeno número de eventos positivos dessa variável, optou-se por não analisar o seu

efeito no modelo de análise múltipla.

Com relação à dislipidemia, os pacientes com e sem lesão hepática grave não

diferiram com significância estatística quanto à ocorrência de hipercolesterolemia

isolada (p=0,542), de hiperlipidemia mista (p=0,984) e de hipertrigliceridemia

isolada (p=0,973; Tabela 17).


60

Tabela 16 - Distribuição dos pacientes conforme resultados da investigação de


hepatite viral e ocorrência de lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Investigação de Valor
RP (IC 95%)
hepatite viral Não Sim de p
no (Prevalência) no (Prevalência)

Anti-VHC/PCR 0,193
VHC (n=139)
Negativo 88 (80,0) 22 (20,0) 1
Positivo 20 (69,0) 9 (31,0) 1,55 (0,80 -
3,01)

AgHBs (n=134) 0,008


Negativo 104 (79,4) 27 (20,6) 1
Positivo 1 (33,3) 2 (66,7) 3,23 (1,35 -
7,73)
AgHBs: antígeno de superfície do vírus da hepatite B
IC: intervalo de confiança
RP: razão de prevalência
VHC: vírus da hepatite C
61

Tabela 17 - Distribuição dos pacientes segundo avaliação do perfil lipídico e


ocorrência de lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Valor
Comorbidades RP (IC 95%)
Não Sim de p
no (Prevalência) no (Prevalência)

Hipercolesterolemia isolada (n=102) 0,542


Não 71 (75,5) 23 (24,5) 1
Sim 6 (66,7) 3 (33,3) 1,36 (0,50 - 3,68)

Hiperlipidemia mista (n=103) 0,984


Não 68 (74,7) 23 (23,3) 1
Sim 9 (75,0) 3 (25,0) 0,99 (0,35 - 2,82)

Hipertrigliceridemia isolada (n=103) 0,973


Não 56 (74,7) 19 (25,3) 1
Sim 21 (75,0) 7 (25,0) 0,99 (0,46 - 2,10)
RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança

5.3.2 Uso de droga hepatotóxica

Ainda que sem significância estatística, os dados indicam maior prevalência de

ocorrência de lesão hepática grave em pacientes que receberam medicamentos

potencialmente hepatotóxicos durante a internação (p=0,146; Tabela 18).


62

Tabela 18 - Distribuição dos pacientes de acordo com uso de droga hepatotóxica e


ocorrência de lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Droga Valor
RP (IC 95%)
hepatotóxica Não Sim de p
no (Prevalência) no (Prevalência)

Já em uso de droga hepatotóxica à entrada (n=143) 0,708


Não 90 (78,3) 25 (21,7) 1
Sim 21 (75,0) 7 (25,0) 1,15 (0,55 - 2,39)

Droga hepatotóxica na internação (n=145) 0,146

Não 32 (86,5) 5 (13,5) 1

Sim 80 (74,1) 28 (25,9) 1,92 (0,80 - 4,62)


RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança

5.3.3 Variáveis relacionadas ao HIV

A ocorrência de lesão hepática grave também não alcançou significância

estatística quando correlacionada com histórico de infecções oportunistas (Tabela

19).

Verificou-se que 28,6% dos pacientes com CD4 inferior 100 células/mm 3

tiveram lesão hepática grave, enquanto 14,1% dos indivíduos com CD4 superior a

100 células/mm3 apresentaram esse desfecho (p=0,046; Tabela 20).

No que concerne à carga viral de HIV, embora sem significância estatística, os

dados sugerem que indivíduos com carga viral alta tenham maior prevalência de

ocorrência de lesão hepática grave (p=0,056; Tabela 20).


63

Tabela 19 - Distribuição dos pacientes conforme histórico de infecção oportunista em


relação à ocorrência de lesão hepática grave

Diagnóstico Lesão hepática grave


de Valor
Não Sim RP (IC 95%)
infecção de p
oportunista no (Prevalência) no (Prevalência)

Antecedente de infecção oportunista (n=141) 0,455


Não 58 (76,3) 18 (23,7) 1
Sim 53 (81,5) 12 (18,5) 0,78 (0,41 - 1,50)

Micobacteriose (n=140) 0,482


Não 89 (77,4) 26 (22,6) 1
Sim 21 (84,0) 4 (16,0) 0,71 (0,27 - 1,85)

Doença causada por vírus da família Herpesviridae (n=141) 0,183


Não 96 (76,8) 29 (23,2) 1
Sim 15 (93,8) 1 (6,2) 0,27 (0,04 - 1,86)

Pneumonia de Repetição (n=141) 0,468


Não 101 (79,5) 26 (20,5) 1
Sim 10 (71,4) 4 (28,6) 1,40 (0,57 - 3,43)
RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança
64

Tabela 20 - Distribuição dos pacientes de acordo com variáveis relacionadas ao HIV


e ocorrência de lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Variáveis
Valor
relacionadas ao RP (IC 95%)
Não Sim de p
HIV
no (Prevalência) no (Prevalência)

Diagnóstico HIV realizado na internação (n=146) 0,270


Não 89 (79,5) 23 (20,5) 1
Sim 24 (70,6) 10 (29,4) 1,43 (0,76 - 2,71)

Carga viral de HIV à internação (cópias/mL) (n=145) 0,056


< 100.000 89 (80,9) 21 (19,1) 1
≥ 100.000 23 (65,7) 12 (34,3) 1,80 (0,98 - 3,27)

CD4 à internação (células/mm3) (n=148) 0,046


< 100 60 (71,4) 24 (28,6) 1
≥ 100 55 (85,9) 9 (14,1) 0,49 (0,25 - 0,99)

Já em uso de TARV (n=147) 0,871


Não 50 (76,9) 15 (23,1) 1
Sim 64 (78,1) 18 (21,9) 0,95 (0,52 - 1,74)

TARV introduzida na internação (n=142) 0,511


Não 82 (78,8) 22 (21,2) 1
Sim 28 (73,7) 10 (26,3) 1,24 (0,65 - 2,39)

Tempo conhecido de infecção pelo HIV (meses) 0,187


< 48 53 (72,6) 20 (27,4) 1
≥ 48 59 (81,9) 13 (18,1) 0,66 (0,35 - 1,22)
IC: intervalo de confiança
RP: razão de prevalência
TARV: terapia antirretroviral
65

5.3.4 Alteração laboratorial

Outrossim, maior ocorrência de lesão hepática grave foi observada em

pacientes com níveis de ALT e AST alterados no baseline (p=0,008 e p=0,011,

respectivamente; Tabela 21).

Tabela 21 - Distribuição dos pacientes conforme enzimas no baseline e ocorrência de


lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Enzimas Valor
RP (IC 95%)
baseline Não Sim de p
no (Prevalência) no (Prevalência)

ALT (n=148) 0,008


Normal 99 (81,8) 22 (18,2) 1
Alterado 16 (59,3) 11 (40,7) 2,24 (1,24 - 4,06)

AST (n=148) 0,011


Normal 91 (82,7) 19 (17,3) 1
Alterado 24 (63,2) 14 (36,8) 2,13 (1,19 - 3,83)
Bilirrubina 0,064
total (n=148)
Normal 110 (79,1) 20 (20,9) 1
Alterado 5 (55,6) 4 (44,4) 2,13 (0,96 - 4,75)
ALT: alanina aminotransferase
AST: aspartato aminotransferase
RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança
66

5.3.5 Diagnóstico final

Constatou-se que pacientes que tiveram diagnóstico de micobacteriose durante

a internação apresentaram maior prevalência de lesão hepática grave, quando

comparados àqueles sem o mesmo diagnóstico (p<0,001; Tabela 22).

Tabela 22 - Distribuição dos pacientes conforme diagnóstico ao final da internação e


ocorrência de lesão hepática grave

Lesão hepática grave


Diagnóstico ao
Valor
final da RP (IC 95%)
Não Sim de p
internação
no (Prevalência) no (Prevalência)

Micobacteriose (n=140) <0,001


Não 96 (82,8) 20 (17,2) 1
Sim 12 (50,0) 12 (50,0) 2,90 (1,65 - 5,11)

Candidíase do trato digestivo (n=140) 0,741


Não 84 (77,8) 24 (22,2) 1
Sim 24 (75,0) 8 (25,0) 1,13 (0,56 - 2,26)
Infecção bacteriana (n=140) 0,536
Não 77 (78,6) 21 (21,4) 1
Sim 31 (73,8) 11 (26,2) 1,22 (0,65 - 2,31)

Toxoplasmose (n=140) 0,910


Não 92 (77,3) 27 (22,7) 1
Sim 16 (76,2) 5 (23,8) 1,05 (0,45 - 2,42)
RP: razão de prevalência
IC: intervalo de confiança
67

5.4 Análise Multivariada

No intuito de identificar as variáveis independentemente associadas à evolução

para lesão hepática grave, procedeu-se à análise com a regressão múltipla de Cox

(com variância robusta), utilizando-se as variáveis que apresentaram valores de

p<0,25 à análise univariada. Na tabela 23 encontram-se as variáveis que

apresentaram esse resultado.

Tabela 23 - Variáveis com nível descritivo inferior a 0,25 à análise


univariada

Variável Valor de p

Diagnóstico final de micobacteriose <0,001


ALT alterada no baseline 0,008
AST alterada no baseline 0,011
CD4 <100 células/mm3 0,046
Carga viral ≥100 mil cópias/mL 0,056
Bilirrubina total alterada no baseline 0,064
Hepatite viral B ou C 0,070
Sexo 0,088
Tempo conhecido de infecção pelo HIV (meses) 0,118
Uso de droga hepatotóxica na internação 0,146
Doença causada por vírus da família Herpesviridae 0,183
Anti-VHC 0,193
ALT: alanina aminotransferase
AST: aspartato aminotransferase
VHC: vírus da hepatite C
68

Identificou-se que a evolução para lesão hepática grave na amostra estudada,

ajustada pelo uso de droga hepatotóxica durante a internação, esteve

independentemente associada ao diagnóstico final de micobacteriose e a níveis

alterados de ALT no baseline (Tabela 24).

Tabela 24 - Estimativas da razão de prevalência de lesão hepática grave na

evolução dos pacientes pelo modelo de regressão múltipla de Cox

Variáveis RPbr RPaj (IC 95%) Valor de p

ALT no baseline 0,028


Normal 1 1
Alterado 2,24 1,93 (1,07 – 3,46)

Diagnóstico de micobacteriose 0,004


Não 1 1
Sim 2,90 2,30 (1,30 – 4,08)

Uso de droga hepatotóxica na internação 0,183


Não 1 1
Sim 2,15 1,76 (0,77 – 4,03)
ALT: alanina aminotransferase

IC: intervalo de confiança

RPaj : razão de prevalência ajustada

RPbr : razão de prevalência bruta

Verificou-se que o risco de ocorrência de lesão hepática grave para um

indivíduo com diagnóstico de HIV com níveis alterados de ALT no baseline foi 93%

maior, quando comparado a um indivíduo com níveis normais de ALT no baseline

(p=0,028). Enquanto que, para aqueles que tiveram diagnóstico final de


69

micobacteriose, o risco de ocorrência de lesão hepática grave foi 130% maior do que

para os demais (p=0,004).


70

6 DISCUSSÃO

Diferentes estudos tem avaliado a presença de lesão hepática grave em

pacientes infectados pelo HIV. Contudo, que seja de nosso conhecimento, nosso

estudo é o primeiro a incluir exclusivamente pacientes infectados pelo HIV,

internados por causas clínicas diversas e, portanto, sujeitos a complicações clínicas

mais frequentes. De acordo com nossos resultados, observamos alta prevalência de

lesão hepática grave nessa população, tendo em vista que quase um quarto da

população analisada (22,1%) apresentou esse desfecho. Essa taxa é claramente

superior à estimada em estudos de população geral (Larrey, 1995; Larrey, 2002).

As principais causas de internação dos pacientes analisados foram infecção

bacteriana, candidíase do trato digestivo, micobacteriose e toxoplasmose.

Publicações recentes também apontam tuberculose e infecções bacterianas graves

como as doenças infecciosas mais prevalentes como causa de internação nessa

população (de Cherif et al., 2009; Núñez et al., 2006).

Em conformidade com o já evidenciado por outros trabalhos (Servoss et al.,

2006; Wit et al., 2002), observamos, após análise multivariada, que pacientes com

enzimas alteradas no baseline tiveram maior risco de desenvolver lesão hepática

grave durante a internação.

Observamos, também após análise multivariada, que o diagnóstico de

micobacteriose esteve independentemente associado ao risco de ocorrência de lesão

hepática grave.

Indivíduos com micobacteriose frequentemente tem manifestação hepática da

doença (Price e Thio, 2010), ao mesmo tempo em que são tratados com rifampicina,
71

isoniazida e pirazinamida, drogas cuja hepatotoxicidade é bem definida. No entanto,

em nossa casuística, o uso de drogas hepatotóxicas (entre elas os antituberculosos)

não esteve isoladamente associado à presença de lesão hepática grave, como seria de

se supor. Estudo brasileiro demonstrou hepatotoxicidade pelo emprego de

antituberculosos em pacientes infectados pelo HIV variando de 20 a 77%,

dependendo da definição de lesão hepática (Coca et al., 2010).

Outro aspecto significativo foi a elevada prevalência de pacientes internados

que desconheciam o diagnóstico de HIV, bem como a alta prevalência de pacientes

com imunodepressão grave entre os pacientes analisados. Vale lembrar que o

diagnóstico de infecção pelo HIV foi realizado durante a internação em 23,3% (34)

dos pacientes incluídos, sendo que a carga viral do HIV era superior a 100.000

cópias/mL em 24,1% dos pacientes e 42,5% (63) deles apresentavam contagem de

linfócitos T CD4 <50 células/mm3, refletindo claramente a grave imunossupressão

apresentada por esses pacientes à internação.

Após análise univariada, observamos associação entre lesão hepática grave e

linfócitos T CD4 ≤ 100 células/mm3 e carga viral alta para HIV. Esses achados

sugerem que pacientes com infecção pelo HIV em sua fase mais avançada possam

apresentar risco aumentado para surgimento de lesão hepática grave. Dado

semelhante foi observado por Sterling et al. (2008), que destacou risco 57% maior de

aumento de ALT em indivíduos com CD4 < 200 células/mL, quando comparados

com pacientes com CD4 > 200 células/mL e por Nagu et al. (2012), que observou

prevalência 71% maior de elevação de ALT em pacientes com CD4 < 50 células/mL

em relação aos indivíduos com CD4 > 200 células/mL.


72

Nesse contexto é plausível imaginar que a doença avançada pelo HIV, através

da própria presença do HIV no fígado (Bell e Chalasani, 2009), possa levar à

ativação imune hepática e a fenômenos apoptóticos desse vírus no fígado (Blackard e

Sherman, 2008; Mata-Marín et al., 2009) contribuindo com isso, para elevação das

enzimas hepáticas, como observado em nosso estudo.

Além disso, outros trabalhos também tem associado elevação de enzimas

hepáticas ao uso de TARV (hepatoxicidade), o que poderia contribuir para a

ocorrência da lesão hepática grave nesses pacientes, visto que a introdução dessa

terapia é concomitante, em alguns acasos à elevação das enzimas (Ofotokun et al.,

2007). Além disso, poderíamos imaginar a possibilidade de algum grau de lesão

hepática induzida por mecanismos de reconstituição imune após uso de TARV.

Nesse contexto, é plausível se supor que vários mecanismos possam

concomitantemente estar envolvidos na etiologia da elevação das enzimas

observadas, em nossa casuística (Ofotokun et al., 2007; Ungo et al., 1998).

Diferente do observado em outras casuísticas (Pol e Soriano, 2008), em nosso

trabalho, doença hepática descompensada, carcinoma hepatocelular ou as hepatites

virais não se destacaram como causa significativa de internação entre esses

pacientes. Em nosso trabalho destacaram-se: micobacteriose e toxoplasmose,

clássicas infecções oportunistas, comumente diagnosticadas em fase avançada de

imunossupressão.

Esse dado pode sugerir que, em nosso meio, apesar da disponibilização

universal de medicamentos e atendimento às pessoas que vivem com HIV, o cenário

relativo ao controle dessa infecção ainda é inadequado, influenciando a menor

predominância dessas outras causas hepáticas.


73

No entanto, é possível que haja um viés no perfil de pacientes atendidos em

nosso serviço, já que nosso serviço é um hospital terciário e referência no

atendimento a esses pacientes. É possível que, por esse aspecto, estejamos atendendo

aos pacientes mais graves, o que seria responsável pelas características da população

internada.

Algumas limitações deste trabalho incluem a utilização retrospectiva de ALT

como marcador de lesão hepática em detrimento da análise histológica do fígado.

Todavia, a elevação de ALT é considerada um marcador altamente específico como

indicador de dano hepático, sendo o mais comumente usado como marcador de

doença hepática crônica (Kovari et al., 2010), além de ser associado à mortalidade

em populações não-HIV (Ruhl e Everhart, 2009).

Considerando também que ALT é o único marcador usado para monitoramento

de doença hepática em pacientes que vivem com HIV em localidades em que a

biopsia hepática não é sempre possível, a compreensão da prevalência e dos fatores

de risco associados à elevação de ALT é extremamente relevante (Nagu et al., 2012).

Dessa forma, supomos que o desfecho observado em nosso estudo, com alta

frequência de lesão hepática grave seja, na verdade, de causa multifatorial. Estariam

envolvidos na etiologia desse evento, a presença frequente de pacientes com

micobacteriose em nosso meio, em fase avançada da doença pelo HIV e que já à

internação apresentavam-se com níveis alterados de ALT e AST por causas diversas.

Imaginamos que a ocorrência desse desfecho poderia de alguma forma ser

evitada em nosso meio, através do diagnóstico precoce da infecção pelo HIV e da

tuberculose , assim como pelo reconhecimento dos fatores de risco associados a esse

desfecho. Com isso, poderíamos contribuir para uma sobrevida maior dos indivíduos
74

infectados pelo HIV (Pol et al., 2004), bem como minorar o impacto dessas

complicações clínicas no custo de nosso sistema público de saúde.


75

7 CONCLUSÃO

Constatou-se alta prevalência (22,1%) de lesão hepática grave nos pacientes

avaliados. Não houve significância estatística entre as variáveis idade, raça, categoria

de exposição ao HIV e histórico de etilismo em relação ao desfecho lesão hepática

grave. Houve uma tendência de maior prevalência de lesão hepática grave em

pacientes com diagnóstico de hepatite viral B e/ou C.

Constatou-se risco 93% maior de desenvolver lesão hepática grave nos

indivíduos com níveis de ALT alterados no baseline e observou-se a variável

diagnóstico de micobacteriose como independentemente associada ao risco de

ocorrência de lesão grave.


76

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