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INTRODUÇÃO

Esta apostila destina-se a você, estudante de graduação para os cursos de Engenharia Ambiental,
Engenharia de Produção ou afins, para acompanhamento do conteúdo de Engenharia de Materiais, nos
cursos a distância.
Com o intuito de simplificar a exposição dos tópicos abordados, procurou-se, através de uma lin-
guagem simples, expor o conteúdo de forma sucinta e objetiva, com a dedução de parte das equações
expostas no texto.
Neste curso, será abordado o estudo dos materiais metálicos, poliméricos e cerâmicos, bem como
os materiais compósitos. Você terá a oportunidade de aprimorar os seus conhecimentos no mundo dos
materiais, que o cerca no dia a dia. Muitos dos materiais utilizados atualmente em veículos automotores,
utensílios domésticos, fazem parte dessa gama enorme de novos materiais e suas aplicações. Você tam-
bém vai reconhecer a importância da nanotecnologia na produção de equipamentos em escalas cada
vez menores, na ordem de 10-9 do metro, com a mesma eficiência, porém consumindo menor quantida-
de de matéria-prima.
Para complementar a teoria, são propostas atividades com grau de dificuldade gradativo. Além
desta apostila, você terá como materiais de estudo as aulas web, material de apoio e aula ao vivo. Serão
utilizadas para avaliação as atividades, podendo ser atribuída uma nota ou não, e a prova presencial.
Esperamos que você, aluno(a), tenha facilidade na compreensão do texto apresentado, bem como
na realização das atividades propostas.

Aparecido Edilson Morcelli

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1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A grande variedade de materiais disponí- Você e eu, agora, temos a certeza de que,
veis aos engenheiros pode ser dividida em cinco quando as propriedades dos materiais são com-
grandes categorias: metais, cerâmicas e vidros, preendidas, o material apropriado para determi-
polímeros, compósitos e semicondutores. As três nada aplicação pode ser processado e seleciona-
primeiras categorias podem ser associadas a tipos do. A seleção de materiais é feita em dois níveis:
distintos de ligação atômica. Os compósitos en-
volvem combinações de dois ou mais materiais, ƒƒ Primeiro nível: existe a competição en-
como, por exemplo, metais e cerâmicas. tre as diversas categorias de materiais;
Você pode observar que os metais, as ce- ƒƒ Segundo nível: existe a competição
râmicas e vidros, os polímeros e os compósitos dentro da categoria mais apropriada
compreendem os materiais estruturais. Os semi- para o material específico ideal.
condutores compreendem uma categoria sepa-
rada de materiais eletrônicos, distinta por sua ex-
clusiva condutividade elétrica intermediária. Para ilustrar a você o que eu estou falando,
vamos analisar a micrografia obtida da superfície
Agora, vamos entender as várias proprie-
de fratura de um material metálico. Nesse caso,
dades desses materiais. Nesse caso, é preciso que
trata-se de um ferro fundido nodular. A microgra-
você e eu examinemos a estrutura desses mate-
fia foi obtida por Microscopia Eletrônica de Var-
riais em escala microscópica ou atômica.
redura, comumente conhecida como MEV. Veja a
Você já deve ter ouvido falar em nanotec- micrografia e seus detalhes da superfície:
nologia, para a produção de dispositivos cada
vez menores. Para eu e você podermos enxergar
o mundo microscópico, necessitamos de equipa-
mentos de observação. O microscópio eletrônico
é um equipamento utilizado atualmente para
enxergar os materiais e estudar o seu comporta-
mento.
Vamos fazer uma análise compreendendo
a ductilidade relativa de certas ligas metálicas. A
ductilidade da liga metálica está associada à “ar-
quitetura” em escala atômica.

Dicionário

Ductilidade: deformação permanente anteceden-


do a ruptura. Alguns materiais apresentam alta
ductilidade.

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Figura 1 – Micrografia obtida por MEV.

Fonte: O autor.

Você notou pelo contraste que existem re- h


giões claras, com a existência de alvéolos, indi- m⋅v =
cando que a fratura ocorreu por sobrecarga. As λ
esferas em contraste escuro são de carbono ou A imagem é obtida por MEV, através da ima-
grafita, indicando a forma de resfriamento do gem de elétrons secundários. Calma! Eu vou falar
material. Nós vamos falar um pouco mais sobre a mais sobre essa técnica nos próximos capítulos.
análise de materiais nos próximos capítulos.
Você notou que o aumento obtido corres-
ponde a 420x. Agora, veja essa mesma superfície
Atenção de fratura com um aumento de aproximadamen-
te 1300x.
A imagem obtida por MEV é através da interação
do feixe de elétrons com o material. Nessa técnica,
é importante perceber que os elétrons se compor-
tam como onda. Você viu, em Física I, a dualidade
onda-partícula proposta por De Broglie.

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Figura 2 – Micrografia obtida por MEV.

Fonte: O autor.

Agora, você e eu podemos “adentrar” à su- engenheiro responsável por selecionar vários
perfície de fratura e observar com grande profun- metais para aplicações de projeto precisa estar
didade de foco e resolução a superfície de fratura ciente de que algumas ligas são relativamente
e as esferas escuras dentro dos alvéolos. Você já dúcteis, enquanto outras são relativamente frá-
tinha imaginado visualizar a superfície de um me- geis. Observamos que as ligas de alumínio são ti-
tal e encontrar tantos detalhes? Não! picamente dúcteis, enquanto as de magnésio são
No nosso curso, vamos investigar os mate- normalmente frágeis. Essa diferença fundamental
riais através de técnicas de observação e de rea- se relaciona diretamente com suas diversas estru-
lização de ensaios e testes para observar o seu turas cristalinas. Por enquanto, você deve saber
comportamento mecânico e termomecânico. apenas que a estrutura do alumínio segue um
Para você e eu entendermos as propriedades ou arranjo cúbico e a liga de magnésio segue um ar-
características observáveis dos materiais da enge- ranjo hexagonal.
nharia, é necessário entender a sua estrutura em Vamos, agora, visualizar um corpo de prova
uma escala atômica e/ou microscópica. Qualquer metálico submetido ao ensaio de tração.

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Figura 3 – Corpo de prova após o ensaio de tração.

Região de ruptura
do corpo de prova.

Fonte: O autor.

Você está observando que o material está


Saiba mais
rompido. Nas pontas próximas do rompimento,
observamos uma redução da área. Esse fenômeno Elasticidade: tensão máxima que ainda provoca de-
ocorre porque o material sofre inicialmente formação elástica.
uma deformação elástica, posteriormente uma
Dureza: resistência à penetração.
deformação plástica e, no estágio final, há a
ruptura na região em que houve a redução da
área ou, simplesmente, a estricção.

1.1 Classificação dos Materiais

Uma base para a classificação dos mate- ligações covalentes fortes ao longo de cadeias po-
riais da engenharia é a ligação atômica. Embora liméricas, mas possuem ligações secundárias mais
a identidade química de cada átomo seja deter- fracas entre cadeias adjacentes. A ligação secun-
minada pelo número de prótons e nêutrons den- dária atua como um elo fraco na estrutura, geran-
tro de seu núcleo, a natureza da ligação atômica do resistências e pontos de fusão tipicamente bai-
é determinada pelo comportamento dos elétrons xos. Os semicondutores são predominantemente
que orbitam o núcleo. covalentes por natureza, com alguns compostos
Vamos classificar os materiais da engenharia semicondutores tendo uma característica iônica
que admitem um tipo de ligação em particular ou significativa. Essas quatro categorias de materiais
uma combinação de tipos para cada categoria. Os da engenharia são, portanto, os tipos fundamen-
metais envolvem a ligação metálica. As cerâmicas tais. Os compósitos são combinações dos três pri-
e vidros envolvem a ligação iônica, mas normal- meiros tipos fundamentais e possuem caracterís-
mente em conjunto com uma forte característica ticas de ligação apropriadas aos seus elementos
covalente. Os polímeros normalmente envolvem constituintes.

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1.2 Ligação Iônica e a ligação Secundária ou de Van der Waals

ƒƒ a a distância de separação entre os


A ligação iônica é o resultado da atração
coulombiana entre espécies químicas com cargas
centros dos íons;
opostas. A força de atração coulombiana segue a
seguinte relação: (
ƒƒ K dado por: K = k0 Z1q Z 2 q . )( )

K A energia de ligação E está relacionada à
Fc = −
a2 força de ligação, por meio da expressão diferen-
cial:
Sendo:
dE
F=
da
ƒƒ Fc a força de atração coulombiana en-
tre dois íons de cargas opostas; Você poderá visualizar no gráfico que a
curva de ligação líquida é a derivada da curva da
energia de ligação.

Figura 4 – Gráfico da curva de ligação líquida.

Fonte: Shackelford (2011, p. 24).

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A inclinação na curva de energia em um mí- dentro de cada átomo ou unidade molecular que
nimo é igual a zero, ou seja: está sendo ligada. Essa assimetria de carga é de-
nominada dipolo. A ligação secundária ou de van
 dE  der Waals pode ser de dois tipos, dependendo de
F= 0=  
 da  a = a0 os dipolos serem temporários ou permanentes.

A ligação conhecida como secundária ou


Saiba mais
ligação de van der Waals ocorre com energias de
ligação substancialmente menores, sem a trans- Johannes Diderick van der Waals (1837-1923), físico
ferência ou o compartilhamento de elétrons. holandês, melhorou as equações de estado para os
Você pode observar que o mecanismo da gases, levando em consideração o efeito das forças
secundárias. Sua brilhante pesquisa foi publicada
ligação secundária ou de van der Waals é seme- inicialmente como uma dissertação de tese, que
lhante à ligação iônica, ou seja, a atração de cargas surgiu de seus estudos de física em tempo parcial.
opostas. A principal diferença é que nenhum elé-
tron é transferido. A atração depende de distribui-
ções assimétricas de cargas positivas e negativas

1.3 A Estrutura Cristalina

A estrutura cristalina tem como caracterís- rística da célula unitária é que ela contém uma
tica central sua forma regular e repetitiva. Para descrição completa da estrutura como um todo,
quantificar essa repetição, temos de determinar pois a estrutura completa pode ser gerada pelo
qual unidade estrutural é repetida. Vamos, agora, empilhamento repetitivo de células unitárias ad-
analisar a geometria de uma célula unitária. jacentes, face a face, por todo o espaço tridimen-
sional.
Figura 5 – Geometria de célula unitária.

Dicionário

Célula unitária: o menor volume que, por repetição


no espaço, reproduz o reticulado cristalino.

Você vai perceber que a descrição das es-


truturas cristalinas por meio de células unitárias
tem uma vantagem importante. Todas as estrutu-
ras possíveis se reduzem a um pequeno número
Fonte: Shackelford (2011, p. 45).
de geometrias básicas de célula unitária. Existem
somente sete formas exclusivas de célula unitária
Você deve observar que o tamanho das que podem ser empilhadas para preencher o es-
arestas da célula unitária e os ângulos entre os ei- paço tridimensional.
xos cristalográficos são chamados constantes de Vamos, agora, analisar o sistema cúbico:
rede ou parâmetros de rede. A principal caracte-

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Figura 6 – Sistema cúbico. Figura 7 – Sistema cúbico.

Fonte: Shackelford (2011, p. 46).

No sistema cúbico, os comprimentos axiais


são a=b=c e os ângulos correspondem a 90º. A
rede cúbica simples se torna a estrutura cristalina
cúbica simples quando um átomo é colocado em
cada ponto da rede.
Você pode observar, a partir da figura a se-
guir, que os átomos estão colocados em cada vér-
tice do sistema cúbico.

Fonte: Shackelford (2011, p. 47).

A forma geral da curva da energia de liga-


ção e a terminologia associada às ligações cova-
lentes e também iônicas estão representadas na
figura a seguir. Você pode verificar a energia de
ligação em relação ao comprimento de ligação.
Essa é uma forma comum para descrever a curva
de energia de ligação.

Figura 8 – Energia de ligação em função do comprimento de ligação a.

Fonte: Shackelford (2011, p. 31).

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1.4 Exercícios Resolvidos

1. Calcule a força de atração coulombiana entre Na e Cl no NaCl .


+ −

Dados: rNa = 0, 098nm e rCl = 0,181nm

Resolução:

A força coulombiana é dada por:

K
Fc = −
a2

Sendo K = k0 ( Z1q )( Z 2 q ) , temos:

K k ( Z q )( Z q )
− 2 =0 1 2 2
Fc =
a a

K k0 ( Z1q )( Z 2 q ) 9 ⋅109 × 1, 6 × 10−19 × −1× 1, 6 × 10−19


Fc =
− 2 = =
( )
2
a a2 0, 278 × 10−9

9 ⋅109 × 1, 6 × 10−19 × −1× 1, 6 × 10−19


Fc
= = 2, 98 × 10−9 N
( )
2
0, 278 × 10−9

K KR
2. Dado o potencial E =
− 6A + , onde K A e K R são constantes para atração e repulsão,
a a12
−78 6
respectivamente, e sendo: K A =10, 37 × 10 J ⋅ m e K R =16,16 × 10−135 J ⋅ m12 , calcu-

le a energia de ligação e o comprimento da ligação para o argônio.

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Resolução:

 dE  6 K A 12 K R
O comprimento da ligação (em equilíbrio) ocorre em   = 0= − 13
 da  a = a0 a07 a0
Isolando-se

1 1
 K R  6  16,16 ×10−135 J ⋅ m12  6
a0 =
2 2
 =× −78 6 
0,382 ×10−9 m =
m= 0,382nm
 K A   10,37 × 10 J ⋅ m 

Agora, você deve observar a energia de ligação dada por E ( a0 ) .

Para o potencial dado pela equação:

K K
E=
− 6A + 12R , teremos:
a a
KA KR
E ( 0, 382nm ) =
− +
( 0, 382nm ) ( 0, 382nm )
6 12

10, 37 × 10−78 J ⋅ m6 16,16 × 10−135 J ⋅ m12


E ( 0, 382nm ) =
− +
( 0, 382nm ) ( 0, 382nm )
6 12

10, 37 × 10−78 J ⋅ m6 16,16 × 10−135 J ⋅ m12


E ( 0, 382nm ) =
− + −1, 66 × 10−21 J .
=
( 0, 382nm ) ( 0, 382nm )
6 12

Para um mol de argônio (Ar), teremos:

ligações J
−1, 66 ×10−21 J / ligações × 0, 602 ×1024
Eligação = −0,999 ×103
=
mol mol

O valor obtido corresponde à energia de ligação, que, em módulo, será dada por:

J
= 0,999 × 103
Eligação
mol

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1.5 Resumo do Capítulo

Neste capítulo, você aprendeu a visualizar no microscópio a fratura de um material, sobre a influên-
cia da estrutura cristalina do material e seu comportamento macroscópico, sobre a relação da força cou-
K
lombiana dada por Fc = − na ligação iônica e na ligação secundária ou de van der Waals e a repre-
a2
sentar a energia de ligação E, que está relacionada à força de ligação, por meio da expressão diferencial:

dE
F= .
da

1.6 Atividades Propostas

1. Calcule o número de átomos contidos em um cilindro de de profundidade e diâmetro de:


a) Magnésio.

g
Dados: ρ Mg = 1, 74 e Massa atômica Mg = 24,31u.m.a.
cm3

g
2. Utilizando a densidade do MgO, ρ MgO = 3, 60 , calcule a massa de um tijolo de MgO
cm3
refratário (resistente à temperatura), com dimensões 50 mm x 100 mm x 200 mm.

3. Calcule as dimensões de um cubo que contém 1 mol de cobre.

Dados: massa atômica Cu = 63,55 g / mol e ρ = 8,93 g / cm3 .

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