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Processo n. 2002.36.00.003429-4
Classe 1900 – Ação ordinária/outras
Impte: Waldir Antônio da Silva e outro
Impdo: União Federal e FUNAI
Segunda Vara da Justiça Federal
Seção do Estado de Mato Grosso
Juiz de Fora, MG
outubro de 2010
Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
ÍNDICE
INTRODUÇÃO............................................................................4
ANEXOS
DOCUMENTOS ....................................................................... 134
FOTOGRAFIAS ....................................................................... 140
MAPAS
1. CARTA-IMAGEM DA TERRA INDÍGENA ERIKPATSA .......................... 151
2. CARTA-IMAGEM DA TERRA INDÍGENA JAPUÍRA .............................. 152
3. CARTA-IMAGEM DA TERRA INDÍGENA ESCONDIDO ......................... 153
4. OCUPAÇÃO DA TERRA INDÍGENA ESCONDIDO ............................... 154
FIGURAS
Figura 1: Situação da área sub judice ............................................................ 4
Figura 2: Localização dos povos indígenas ...................................................... 7
Figura 3: Aldeias rikbaktsa no rio do Sangue, 1958.......................................... 9
Figura 4: Território dos Rikbaktsa ................................................................19
Figura 5: Rikbaktsa no século XIX ................................................................21
Figura 6: Rikbaktsa e povos vizinhos ............................................................23
Figura 7: Aldeias rikbaktsa em 1962.............................................................24
Figura 8: Expedições no Arinos, 1957 ...........................................................26
Figura 9: Aldeias rikbaktsa no baixo Arinos, 1958...........................................26
Figura 10: Aldeias rikbaktsa no rio do Sangue, 1959 .......................................30
Figura 11: Frente do alto Juruena, 1958........................................................31
Figura 12: Aldeias rikbaktsa na margem esquerda do Juruena, 1959 .................32
Figura 13: Aldeias rikbaktsa no baixo Juruena, 1959.......................................34
Figura 14: Aldeias entre os córregos do Cristóvão e Santarém, 1960 .................40
Figura 15: Postos de assistência ..................................................................43
Figura 16: Localização e planta do posto Escondido, 1962................................47
Figura 17: Habitat rikbaktsa e terras indígenas ..............................................76
Figura 18: Terras indígenas demarcadas .......................................................79
Figura 19: Terra Indígena Erikpatsa..............................................................80
Figura 20: Proposta de interdição, 1971 ........................................................82
Figura 21: Terra Indígena Japuíra ................................................................85
Figura 22: Permuta de área pelo INCRA ........................................................90
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TABELAS
Tabela 1: População da aldeia Babaçu, TI Escondido .......................................68
Tabela 2: Coordenadas do caminhamento .....................................................71
Tabela 3: Toponímia hidrográfica rikbaktsa....................................................73
Tabela 4: População Rikbaktsa em 2001 .......................................................74
Tabela 5: Extensão das terras rikbaktsa ........................................................96
Tabela 6: Metades e clãs associados ........................................................... 103
Tabela 7: População Rikbaktsa, 1973.......................................................... 108
Tabela 8: Dados populacionais Rikbaktsa, 1957-2010 ................................... 109
Tabela 9: Dinâmica residencial, 2000.......................................................... 110
Tabela 10: População por terra indígena e aldeia, 2004 ................................. 111
Tabela 11: Atividades sazonais .................................................................. 114
Tabela 12: Espécies animais e comestibilidade ............................................. 116
Tabela 13: Castanha coletada na safra 2005/2006........................................ 125
GRÁFICOS
Gráfico 1: Série demográfica, 1957-2010 .................................................... 108
Gráfico 2: Renda monetária, 2005.............................................................. 125
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INTRODUÇÃO
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que chamou “Reino dos Parecis”, defrontou-se com a “nação” dos “Cavihis”
que, por sua localização e os dados etnográficos fornecidos por Pires de
Campos, talvez fossem os ancestrais dos Rikbaktsa, ou então de algum dos
povos Tupi-Mondé hoje situados mais a oeste.
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Não resta dúvida, porém, de que se tratava de uma fração dos índios
Rikbaktsa: mais de quarenta anos depois ali ainda restavam as capoeiras
dessa antiga aldeia, na margem direita do rio do Sangue, logo abaixo do
córrego Antônio Correa, justamente nas imediações onde o padre jesuíta
João Dornstauder, em 1958, encontrou a aldeia do “capitão Tabobocta”
(Dornstaurder, 1975, p. 139, 157), conforme o mapa acima. Embora os
índios tenham rechaçado todas as tentativas de aproximação, os
expedicionários conseguiram registrar alguns de seus traços mais salientes,
assim consignados no relatório do tenente Vasconcellos:
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“Ainda desta vez não fomos bem recebidos; ao nos avizinharmos do porto,
partiram outras duas flechas, disparadas sobre nós. Felizmente, como as
primeiras, erraram o alvo [...] Instantes depois deste nosso segundo
malogro, os índios deixaram-se finalmente ver em vários pontos da
margem, ricamente enfeitados, com as suas vestimentas de penas
multicores, entre as quais predominavam as de araras, armados de arcos,
maços de flechas e dando gritos [...] , arremedando-nos perfeitamente [...]
Enquanto isto, ouvia-se na maloca um canto fanhoso de muitas vozes, com
batidos cadenciados de pés e acompanhamento de sons de algum
instrumento rudimentar. De todo este aparato, e tendo em vista os
acontecimentos anteriores, concluímos que aquilo era um canto de guerra
[...] ” (idem, p. 229).
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Até 1989, o padre João Dornstauder atendeu aos Kayabis do posto Tatuí, no rio
dos Peixes. Faleceu em 1994, em Belo Horizonte, MG.
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A denominação “Escondido” refere-se ao córrego que deságua no Juruena, cuja
foz não se avista ao longe por quem desce o rio (Pacini, 1999, p. 115, nota 101).
3
A tradução dos Diários de Tolksdorf, que consultei nos arquivos da OPAN, está
com a data de 1996, enquanto Pacini (1999, p. 236) indica uma versão de 1997.
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A OCUPAÇÃO INDÍGENA
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rikbkatsa, dos quais quinze ainda ativos em 1962, disseminados por todo o
vale do médio Juruena. Para Hahn (1976, p. 33), contudo, o padre Schmidt
dissera que, pessoalmente, Dornstauder visitou quarenta e dois desses
locais. Em suma, todos esses dados nos permitem circunscrever o habitat
tradicional dos Rikbaktsa entre os seguintes limites: no sentido leste-oeste,
desde a margem direita do rio Aripuanã à margem direita do rio Juruena; e
no sentido norte-sul, desde o salto Augusto aos rios Arinos, Sangue e
Papagaio. Para o que interessa a este laudo, merece atenção, no mapa de
Dornstauder acima, as dez aldeias plotadas justamente na região do córrego
Escondido e seu entorno, além do posto da Missão Luterana.
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“Padre Edgar me disse [a Alfred Hahn] que durante as epidemias ele andou
junto com padre João por semanas através de aldeias com muitos doentes e
mortos; eles recolheram crianças que consideravam órfãs. Os padres
levaram muitos Rikbakca primeiro para Santa Rosa, um posto missionário no
Arinos, e depois para seu centro missionário em Utiariti, anteriormente um
posto da linha telegráfica de Rondon, logo acima de uma queda d’água de
oitenta metros no rio Papagaio [afluente da margem direita do Juruena]”
(Hahn, 1976, p. 34).
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“Neste outubro de 1958, a pacificação entra numa nova fase histórica. Até
aqui, empenhei-me, tomando a iniciativa de cada movimento pacificador,
indo sempre à frente. Os bons frutos dos encontros tidos com os Rikbaktsa
amadureceram. Os Rikbaktsa interessam-se fundamente pela pacificação, e
encontros se dão por iniciativa deles. E dois movimentos acontecem, um em
direção a mim e outro em direção aos seringueiros. Daqui acontecerá a
euforia dos seringueiros de verem os índios, sem minha presença. Acham-se
também pacificadores.
Minha atividade se desdobra, atendendo às necessidades dos Rikbaktsa nas
doenças no Arinos, no Juruena, pela região da barra do Arinos, no Sangue,
no Juruena, pela região da barra do Papagaio.
Também o Pe. Edgar Schmidt, continuando meu trabalho em extensão para
o Juruena, tanto em cima como depois embaixo, ampliará o campo de ação,
reforçando ao mesmo tempo as bases de atendimento” (idem, p. 159).
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“Dia 11. Descemos à aldeia de locoindi. Hatsabui abre a marcha com arco e
flecha na mão. Fazemos fila indiana. Marcha pelo mato de ar abafado, os
córregos secos.
Às 14 hs., chegamos a uma verdadeira aldeia: duas grandes casas e a casa
dos homens, servidas por caminhos largos e limpos, mata alta, muito
babaçu. Aldeia de locoindi vazia. Entendi, depois dos comentários, que fugira
para o Aripuanã, ao poente, de medo, para se unir aos Rikbaktsa de
Pignobitsa [no rio Aripuanã]. É um dos nove que mataram o seringueiro
Suarez.
Hatsabui, Uaigma e Matereocutipa passam a uma outra aldeia que está
perto. No dia seguinte seguirão até a maloca do pai de Matereocutipa, num
dia bem puxado de marcha. Os mais ficamos. Fritz tem uma enorme bolha
num calcanhar, Cangauvi uma ferida, Ricoteti sente-se abatido. Comida
escassa. Felizmente, no caminho, Aundo sobe numa castanheira e derruba
castanhas verdes. De noite vento forte.
Dia 12. Fritz permanece na aldeia abandonada. Aundo e sua mulher nos
guiam. Apesar da temperatura fresca de friagem, suamos bastante, com
sete córregos secos e apenas um com água. Afinal, chegamos a uma roça
ainda fumegando. Uobatau.u, que até aqui veio à frente, guiando, fica atrás
de todos. Um caminho reto rasga um maravilhoso anajazal, a mata alta. Por
fim, um amarelo de palha, de nítidos contornos, se destaca do fundo escuro,
em parte fechado pelo mato. Aldeia maior que a anterior: três casas grandes
e uma casa dos homens. Tudo abandonado, com sepulturas novas.
Após conselho breve dos índios, voltamos um tanto do caminho e
enveredamos por outra trilha batida, que nos leva a uma pracinha com seis
ranchos. Matereocutipa nos espera. Seu pai falecera e não sente
necessidade de ir logo à distante aldeia.
Primeiro me apresentam a Tsapako [pai de Marinho Manita, a quem
entrevistei na aldeia Pé de Mutum, em julho de 2010, por ocasião dos
trabalhos periciais] [...] Dou-lhe remédio. Depois vem Icoma, o chefe desse
grupo e a alma da resistência ao avanço dos civilizados, cabelo comprido,
estatura pequena, porte de homem no vigor da idade e do mando. No grupo
conto três homens e duas mulheres [...]
Reunimo-nos umas 30 pessoas. Os nomes mais falados são: Icoma,
Tsapako, Uatama. Iogmaba [...] Dou remédios a todos. Icoma faz questão
de que sua criança receba uma injeção.
De tarde, chegam em fila indiana, silenciosos, quatro caçadores, de uma
excursão pela região do baixo curso do Juruena. Gastaram três a quatro
meses. Matsin [Geraldino Matsi, também entrevistado por mim na aldeia Pé
de Mutum, em julho de 2010], o mais avantajado entre eles, vem tossindo.
Comida farta na aldeia: carne moqueada, batata, mingaus de batata doce e
milho semi-azedados. Tenho a impressão de ser bem acolhido e aceito,
quase com expectativa de algo extraordinário. Mostram curiosidade e
admiração mal disfarçada. Reparo que muitos examinam de perto e tocam
pela primeira vez um civilizado.
Os hóspedes pousamos ao ar livre. Noite fria e de forte vento. Ricoteti, entre
dois fogos, a toda hora sopra tições.
Dia 13. Voltamos à aldeia de locoindi. Fritz não perde a ocasião de
demonstrar a boa pontaria e destreza no tiro. Obtém, por troca, objetos
indígenas, já que os índios se mostram interessados. Não aprovo, porque
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Sai um índio, já idoso, também com arco e flecha, mas, quando vê gente
sua, sossega e manda-nos chegar. Esse costume de sair de arma preparada
vem do medo dos Rikbaktsa tidos como brabos, que matam gente.
Aqui encontramos o velho e uma mulher com um bebê. No caminho de
volta, encontramos ainda Iadogmuitsa com mulher e criança. A turma toda
conta com dez a doze pessoas.
Dia 15. Chega a segunda turma de onze Rikbaktsa. Atravessamos parte da
turma para o outro lado do rio, quase defronte do barracão. Essa turma
segue mais tarde o córrego Bambu, também chamado Oignatsik e depois se
dirige ao Japoíra. Dez índios sobem comigo ao posto Santa Rosa.
Dia 17. No posto Santa Rosa faço as contas e vejo que são 47 os índios
encontrados nesta expedição.
E os Megütsato? Pensava ser a turma que mora mais para diante, mais
abaixo, que não dão confiança. Ora, as últimas turmas visitadas se tratam
de Kütsa, gente, nossa gente. Começo a entender que Megütsato não é um
grupo determinado, mas simplesmente outra gente” (idem, p. 177-178).
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- ‘Seringueiro não presta, não tem nada: só facão velho e um anzol grande
rabichado com cera!’
Dizem que comeram o miolo. Os seringueiros e o encarregado do barracão,
François, confirmam essa morte. O crânio do seringueiro, a faca e o anzol
foram enviados para o Museu da Faculdade de Filosofia Nossa Senhora
Medianeira, em São Paulo.
O grupo de Moikxau totaliza 15 pessoas. O mais velho é Paravari. As duas
filhas de Paravari estão casadas com os dois irmãos Moikxau e Mãroc. Aqui
está também Aigba e sua irmã ou prima. O pai de Aigba, faz pouco, foi
morto por Uoigbe, matador de gente, morador não longe daqui. Com Pacai
está sua mulher e a enteada Anoindu, depois chamada também Luzia, e
mais a viúva do irmão de Uaigma, com a paralítica. Também estão lamari,
Tsapatao, Adivaliuta, cada um com a família. A mulher falecida de
Adivaliuta, que era irmã de Uaigma e Tsavata, chamava-se Nema e tinha
deixado uma filhinha Moha, depois chamada também Beatriz” (idem, p. 179-
181; grifos meus).
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De acordo com Pacini (1999, p. 49, 59), concluída mais essa etapa,
os jesuítas dedicaram-se aos postos de assistência às margens dos rios
Arinos, Sangue e Juruena, e as expedições perderam sua importância
estratégica. Epidemias de gripe, catapora, varíola e sarampo, que
dizimaram parte das aldeias e deixaram inúmeros órfãos e viúvos, por sua
vez, serviram de justificativa para as medidas de transferência massiva dos
remanescentes para os espaços sociais sob o controle dos missionários, uma
forma de “neutralizar a dispersão” dos Rikbaktsa por seu imenso território
tradicional. Na opinião do antropólogo, o tratamento dos doentes nos postos
tornou-se “um fator decisivo da adesão dos Rikbaktsa à pacificação”; apesar
das condições precárias e a freqüente troca de encarregados, os postos
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“De volta ao posto Régis, vem comigo uma turma de adultos e crianças
semi-órfãs, na esperança de uma vida melhor. Uaigma chefia a turma. Ainda
no porto, atarefado, recebo um recado do seringueiro do córrego Amolar,
Paraíba, dizendo que espera por mim na sua feitoria, com uma turma
grande de índios. Não posso atender ao Paraíba, ocupado com a
transferência dos 40 índios que tinha reunido aos poucos, trazendo-os em
dois grupos, etapa por etapa, ao posto Régis” (Dornstauder, 1975, p. 183).
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Escondido aos cuidados de Germano Falk; este sairia em 1968, atritado com
o pastor Silvio Krahl; Arnildo F. Wiedemann o substituiu na função.
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“Na seca irão procurar suas roças antigas. Alguns talvez fiquem morando em
suas aldeias primitivas. Outros querem fixar-se em definitivo no Escondido.
Com isto torna-se muito difícil pensar em uma transferência, nos próximos
tempos. Primeiro nós deveremos pensar em mentalizar acerca da
transferência para a reserva.
Haverá um modo que talvez apresse este processo. Que o capitão Tapema,
com mais alguns homens influentes os vá procurar, esteja com eles o tempo
necessário, e os convença. Mas para isto eles deveriam dispor do tempo,
que é totalmente tomado pelas derrubadas, extração de borracha, etc.
Deveria haver um fundo que os mantivesse durante este tempo, pois se
trata de um trabalho importante” (Schmidt, 1972a).
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Inseto hematófago de tipo simulídeo.
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Os índios estão andando mesmo. Devem ter andado matando peixe. Muitos
pauzinhos quebrados que não deixam dúvida. Também vimos um caminho
(pauzinho quebrado) indo rumo ao córrego do Santarém [limite norte da
atual terra indígena Escondido], em cujas cabeceiras os Rikbaktsa acham
que os Iakarawata [como denominam estes índios isolados] se encontram
[...] ” (Loebens, 1978-1984).
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De acordo com Athila (2006, p. 107, nota 66), a ponta de flecha jurupará (zayta)
é “um artefato extremamente valorizado pelos Rikbaktsa”, uma “questão de
status”. É o que os leva a excursionar na estação seca para o baixo Juruena, “em
direção ao Escondido, pois dizem só existir nesta região”, salientou a
antropóloga.
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Por ocasião da perícia que realizou em 2001, o antropólogo Aloir Pacini (2001, p.
34-35) vistoriou a laje da Capivara, na ponta da ilha do Escondido. No cemitério,
encontrou cinco túmulos, um deles de Severino Apiaka, morto em setembro de
1988 por garimpeiros - o que motivou a fuga dos Apiakas (Raimundo e sua
esposa Santina; Doca, seu marido Pedro e seus filhos) que ali residiam para a
área do Japuíra. Raimundo, Severino e Doca eram filhos de Dico Apiaka, e este
irmão de Noca Apiaka. Um dos filhos de Doca, Chico, casado com Maria
Auxiliadora (Rikbaktsa) fez uma roça na foz do córrego Santarém em 1995.
Permaneceram ali até 2001, quando a morte de um filho e um conflito conjugal
os separou; mudaram-se então com os demais Apiaka para o município de Juara.
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7
As famílias de Sykmy e Dokta, junto com as de Folia e Moreno, estavam entre as
últimas a se transferir para o alto Juruena, em 1973. Apenas Dokta voltou a
residir no Escondido, onde fundou a aldeia Babaçu, visitada na ocasião desta
perícia. Folia sofreu um acidente fatal com sua canoa (Athila, 2006, p. 156, nota
109). Sykmy reside na aldeia Beira Rio, onde o entrevistei, e Moreno na aldeia
Areia Branca.
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Ozeias: Nasci no córrego Branco, para baixo, perto do rio Juruena. Depois
mudamos para aldeia mais lá para cima. Já crescido, na faixa de 17 anos,
voltamos para a aldeia onde nasci.
JDP: Como chama seu pai?
Ozeias: Mapa.
JDP: Vocês vieram juntos aqui para cima (Japuíra)?
Ozeias: Vim só. Meu pai ficou lá na outra aldeia, no córrego Branco, na área
Escondido. De lá, desceu, e foi para o posto Escondido.
JDP: Com quem seu pai veio para cima?
Ozeias: Veio com Folia, para o Barranco Vermelho.
JDP: Seu pai veio na última viagem?
Ozeias: Trazido pelo Paraíba Doido. Veio de canoa, remando.
JDP: Canoa de casca?
Ozeias: Já era canoa de seringueiro, canoa feita de táboa.
JDP: Por que chamaram vocês de “canoeiros”?
Juarez: Segundo as informações, durante esse processo de contato, eles (os
seringueiros) avistavam muito os Rikbaktsa andando de canoa,
atravessando o rio, pescando. Aí eles falavam: Olha lá o “canoeiro” ali...
Desde ali pra cá, colocou-se o nome... Adaptou-se... Mesmo nos córregos
maiores, andavam de canoa, pescando...
JDP: Havia aldeias na beira do rio Juruena?
Juarez: Tinha aldeias também na margem do rio Juruena. Esse lugar, do
córrego Branco; o posto Escondido, no barranco do rio; bem lá para baixo,
duas aldeias na beira do rio... A margem do rio era cheio de aldeias, e mais
no fundo também tinha aldeias...
JDP: Depois que mudaram para cima (Japuíra e Barranco Vermelho),
retornaram para o Escondido? Quando?
Ozeias: Anualmente. Nessa viagem anual, ficávamos seis meses (na área do
Escondido), no período do verão, passava o verão todinho lá, caçando,
fazendo roça, fazendo coleta de material... Depois voltava pro Japuíra. Todo
ano fazia isso. Depois, os outros foram mudando, abrindo novas aldeias...
JDP: Até quando fizeram isso? Quando parou?
Ozeias: Quando passava um tempo que não ia visitar, no máximo ficava dois
anos sem visitar... Quando tinha condições, canoas boas, era todo ano.
JDP: Retornaram lá continuamente?
Juarez: Caçando, pescando, olhando... Inclusive roça, tem lá.
Ozeias: Não deixamos de ir pra lá, porque é o lugar de nossa origem,
sempre fomos, todo ano vamos pra lá.
Juarez: Logo após uma reunião que vamos ter, eles estão planejando descer
para o Escondido.
JDP: Alguma coisa mais que queira dizer?
Ozeias: A área (Escondido) contém muitas coisas que aqui (Japuíra) e na
área de cima não tem. Por isso precisam ir todo ano lá para colher, buscar
lá. Todo ano, no período do verão, descemos para lá. Esse ano a viagem já
está programada, descendo o Juruena até o Escondido.
JDP: Quando tempo demora, de motor de popa?
Juarez: Demora umas quatro horas...
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Paulo: Porare também faleceu lá, antes do contato. Várias outras pessoas
também faleceram lá.
JDP: No local dessa aldeia, o que tem agora?
Paulo: A aldeia ficou fora da demarcação?... Não, está dentro da reserva
(Escondido). O córrego Cristóvão é a divisa, uma margem é área e a outra
margem é fazenda. A aldeia (do pai), estava na margem direita, subindo o
córrego... Está dentro.
Juarez: Descendo o córrego, é na margem esquerda...
JDP: Depois que o Porare morreu, acabou a aldeia? Vocês mudaram?
Paulo: Mudamos para outra aldeia, mais próximo à barra do Cristóvão. Lá
tinha sete aldeias. A aldeia Ipasisikta, a árvore angelim. Em baixo dela
formou a aldeia.
JDP: Ficou muito tempo nessa aldeia?
Paulo: Uns três anos. Depois descemos para outra aldeia, chamada
Otokosoiriky, aldeia do cacique Waigma, o pai da Dasia (Dazia ou Dasa). Eu
ainda era solteiro.
JDP: Onde você se casou?
Paulo: Casei-me aqui, no Japuíra. Nós subimos junto com Bernardino, um
seringueiro. Cristóvão era um seringueiro também, que morava na barra do
córrego (que por isso tem seu nome). Decidimos vir até Japuíra, depois,
porque, visitando as outras aldeias, os outros comentaram sobre o contato
que o padre João fazia. Dissemos então: vamos ver a outra aldeia, na beira
do rio Juruena. Descemos pro rio Juruena. Quando chegamos na margem, o
primeiro seringueiro que encontramos informou que o padre João, e vários
seringueiros em companhia dele, estavam fazendo a pacificação dos
Rikbaktsa. Nisso, ele já tinha criado o posto Escondido lá mais para baixo.
Aí, esse seringueiro de nome Bernardino, nos levou para o posto Escondido,
de barquinho, com dois seringueiros. Como não puderam ir todos numa
viagem, levaram uns poucos e os outros ficaram esperando. Lá no posto
Escondido já estavam o Tawama, o Sykmy, o Aone, já estavam morando
nessa aldeia (do posto Escondido). Lá encontramos a estrutura que o padre
João tinha feito, onde morou o Fritz, Arnildo, Joana... Passamos a viver com
eles lá, bastante tempo, até quando todos os outros que moravam mais nas
cabeceiras vieram para a aldeia do posto Escondido. Quando o padre João
chegou lá, já nos encontrou morando no posto. Nas viagens dele, foi
trazendo para o Japuíra. Eu ainda não era casado, era solteiro quando
cheguei no Japuíra, no Barranco Vermelho.
JDP: Como era a vida no posto Escondido? O que vocês faziam?
Paulo: Permanecemos lá, com esse pessoal, o Sykmy, a Joana, o Fritz, por
dois anos e meio - depois subi para o Barranco. Lá era assim, preparava a
roça, assim nesse ambiente que estamos hoje... De lá o padre João falou:
vamos pro Barranco, vamos pra Utiariti. Fomos sendo puxados,
transportados de lá, no barco, dez a doze de cada vez. De lá, levava
semanas pra chegar. Uns vinham de canoa. Eu fui um dos que veio de
canoa, gastava mais tempo. O padre Balduíno tem material sobre isso, da
língua, as expedições...
JDP: Você continuou visitando o Escondido?
Paulo: Ainda continuo, sempre.
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essa terra para nós vivermos. Nós temos que segurar porque é de nossos
antigos, nossos tataravôs.
JDP: Vocês subiram com o padre João?
Inácio: Eu subi com o padre João. Fui sozinho, com nove ou dez anos...
JDP: Por que você foi com ele?
Inácio: Eu achava que era uma vantagem... Porque, antigamente, nós não
entendíamos como hoje. Agora sabemos falar português, como vocês. A
gente achava que aquilo que ele falava para nós era coisa mais importante
para nós, entendeu? Aí nós fomos, fui criança. Porque criança qualquer bala
doce, uma coisa, a criança acompanha... Eu fiquei um ano lá no Japuíra. De
Japuíra fui para Utiariti (Internato), onde fiquei oito anos no meio dos
padres. Aí voltei para dentro de nossa área. Quando a idade vai chegando, a
gente fica meio variado... Aí eu fui andando para cima e para baixo... Fui
para o Tatuí (aldeia dos Kayabis), fiquei um ano lá, voltei de novo para o
Barranco Vermelho. Do Barranco fui para casa da minha madrinha,
Bernadete, fiquei dois anos... Achei que não dava certo, fui trabalhar fora,
fiquei vinte e dois anos fora trabalhando. Depois de 1991 voltei para cá, e
estou até hoje.
JDP: Em 1991 você veio para o Escondido?
Inácio: Para cá eu vim em 2000.
JDP: E você, não subiu logo com o padre João?
Dokta: Não. Primeiro morava perto de Juruena. Veio para cá. A família do
Juarez também, passamos dois anos no Escondido velho. A Missão, o finado
padre João, levaram para lá. Tinha outros, Joana, Sheila... Convidaram nós
para acompanhar ela, levaram nós. Mandaram nós subir, para estudar com
elas. Então nós subimos para aldeia Segunda. Nós subimos, o pai do Juarez
também subiu. No Escondido não ficou ninguém... Depois, começaram a
falar, o pai do Juarez, que lembra da área do Escondido, (diziam) área do
Escondido é melhor do que aqui. Porque lá para cima não tem ponta de
flecha. Aí começamos a descer...
JDP: Quando você estava para cima, você veio visitar aqui?
Dokta: Anda muito. Eu subi, mas não fiquei de uma vez, não. Sempre
voltando aqui no Escondido. Sempre apanhando ponta (de flecha), voltava,
passava um mês, voltava, apanhava outra vez. Já andei por lá no Escondido
velho, andei até na cabeceira do Santarém, apanhando ponta de flecha. No
caminho do Japuíra tem um bambuzal, numa fazenda. Tem aqui na barra do
córrego do Dico, tem na cabeceira do Escondido... Andava muito.
Para a vistoria dos lotes sub judice e suas imediações, planejei tomar
a estrada que fora aberta por madeireiros, possivelmente na década de
1990, das cabeceiras do córrego Canoeiro rumo noroeste, atravessando a
terra indígena Escondido. A despeito da manutenção que o PIC - Programa
Integrado da Castanha (PNUD/FEMA) realizou anos atrás, para extração,
transporte e estocagem da castanha - inclusive a construção de um
barracão para servir de Centro de Apoio, já nas águas do córrego Escondido
-, o trânsito pela estrada tornou-se agora quase inviável, face à queda de
árvores e ao estado precário de bueiros e pinguelas (ver fotografias da
estrada em anexo). Mesmo assim, com o apoio do cacique Dokta e seus
liderados, efetivou-se o caminhamento em duas etapas: no dia 18 de julho,
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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DISTÂNCIA
PONTOS COORDENADAS
(metros)
Divisa sul da TI Escondido S 9º 40’ 26.4”; W 58º 43’ 10.1”
Aldeia Babaçu 417 S 9º 40’ 14.2”; W 58º 43’ 14.6”
Capoeira de aldeia antiga 1607 S 9º 39’ 50.1”; W 58º 43’ 46.0”
Córrego das Táboas 5957 S 9º 37’ 36.1”; W 58º 44’ 29.8”
Capoeira de aldeia antiga 7757 S 9º 36’ 40.3”; W 58º 44’ 46.4”
Córrego das Pontas (de Flecha) 8539 S 9º 36’ 16.0”; W 58º 44’ 53.1”
Touceiras de taboca jurupará 10059 S 9º 35’ 31.8”; W 58º 45’ 15.1”
Ponto final - caminhamento 12349 S 9º 35’ 14.1”; W 58º 46’ 28.1”
Lote - divisa sul 14749 S 9º 33’ 56.5”; W 58º 46’ 27.4”
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português rikbaktsa
salto Augusto Itapijwaka
córrego Santarém Omahaopokiboatsa
córrego Escondido Hahyktsapetsa
córrego Canoeiro (do Dico) Hozoktehy
Tsaytsabohokota (“onde
córrego do Cristóvão (do Noca)
comemos mais peixe”)
córrego Água Branca Mutsaihokbokta
córrego Amolar Porotsi
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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TERRA
ALDEIA RIO MUNICÍPIO hab.
INDÍGENA
Japuíra Castanhal Arinos Juara 11
Japuíra São Vicente Arinos Juara 7
Japuíra Japuíra Juruena Juara 20
Japuíra Cerejeira Juruena Juara 51
Japuíra Pé de Mutum Juruena Juara 81
Japuíra Jatobá Juruena Juara 41
Japuíra Divisa Marcolino Sangue Juara 20
Erikpatsa Escolinha Sangue Brasnorte 24
Erikpatsa Barranco Vermelho Juruena Brasnorte 35
Erikpatsa Boa Esperança Juruena Brasnorte 25
Erikpatsa Palmeira do Norte Juruena Brasnorte 10
Erikpatsa Divisa Juruena Brasnorte 35
Erikpatsa Cabeceirinha Juruena Brasnorte 27
Erikpatsa Primavera Juruena Brasnorte 71
Erikpatsa Primavera do Oeste Juruena Brasnorte 8
Erikpatsa Pedregal Juruena Brasnorte 15
Erikpatsa União Juruena Brasnorte 10
Erikpatsa Novo Paraíso Juruena Brasnorte 7
Erikpatsa Curva Juruena Brasnorte 60
Erikpatsa Curvinha Juruena Brasnorte 18
Erikpatsa Segunda Juruena Brasnorte 60
Erikpatsa Nova Segurança Juruena Brasnorte 13
Erikpatsa Beira Rio Juruena Brasnorte 49
Erikpatsa Laranjal Juruena Brasnorte 19
Erikpatsa Santa Rita Juruena Brasnorte 36
Erikpatsa Santa Fé Juruena Brasnorte 9
Erikpatsa Seringal II Juruena Brasnorte 13
Erikpatsa Pedra Bonita Juruena Brasnorte 26
Areia
Erikpatsa Juruena Brasnorte 14
Branca/Bananal
Erikpatsa Nova Juruena Brasnorte 47
Erikpatsa Velha Juruena Brasnorte 24
Escondido Babaçu Juruena Cotriguaçu 20
Fora Desaldeados 27
TOTAL 933
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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“Na região entre os rios Aripuanã e o rio Juruena está localizada a Área
Indígena Escondido. Afirmam os Erikbaktsa que ‘só na área do Escondido é
que a mata é completa’, isto é, é o único local onde os índios encontram
taquaras, pontas de flechas, penas de gavião real, várias espécies de
animais, plantas e raízes silvestres (utilizadas na medicina indígena) e
também pescam, ou seja, é apenas nessa região que eles encontram a
totalidade dos recursos naturais necessários a sua vida sócio-cultural. Então,
todos os anos, durante os meses de agosto e setembro, um grande grupo de
índios, acompanhados de mulheres e crianças, deslocam-se em direção à
Área Indígena Escondido, estabelecendo-se provisoriamente em aldeias ou
acampamentos, época em que exploram seus recursos, como atestam os
índios Apiaka (habitantes desde 1962 da Área Indígena Escondido), os
seringueiros (moradores das barrancas do rio Juruena) e a Missão Anchieta.
Além de economicamente necessária, essa área é ainda mais significativa
por ser o local de nascimento de grande parte do grupo, de abrigar
cemitérios e outros locais sagrados.”
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8
Numa de suas primeiras expedições, subindo o rio Juruena, o padre Dornstauder
(1975, p. 55) registrou em seu diário, em novembro de 1956: “Às 11 hs.
cortamos um largo poço e um travessão com manchas de pedra e damos com
uma canoa nova de Rikbaktsa, amarrada na margem com cipó. Não era de casca,
mas de madeira talhada a machado. Parece lugar de travessia dos Rikbaktsa.
Grande descoberta saber que os Rikbaktsa aqui atravessam para a margem
esquerda do Juruena [...] Deixo um brinde na canoa rikbaktsa.”
9
A pesca nos rios maiores ganhou importância, entre os Rikbaktsa, após a
introdução dos apetrechos industrializados, o anzol e as linhas de nylon.
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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10
Para Sahlins, o “esquema cultural” estaria sempre a improvisar uma “dialética
em suas relações com a natureza”. Assim, dirigindo-se à economia dos povos
caçadores e coletores, diz o antropólogo norte-americano: “A cultura, sem
escapar aos constrangimentos ecológicos, pode negá-los, de forma que, a um só
tempo, o sistema traz a marca das condições naturais e a originalidade de uma
resposta social - em sua pobreza, abundância” (Sahlins, 1972, p. 32-33).
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103
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“Quando uma pessoa morre todas as suas coisas pessoais devem ser
queimadas e ela é enterrada [hoje] em cemitério nas proximidades de sua
aldeia. Certos bens de procedência civilizada como machados, armas de
fogo, rádios e relógios escapam da destruição, sendo apropriados pelos
11
Para uma etnografia dos rituais, ver Arruda, 1992a, p.315-353.
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O “recinto dos homens”, que Schultz (1964a, p. 266) observou nas “malocas” de
Ipatoto e Barari.
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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com roça de batata e banana (p. 57). Em julho de 1957, na mesma região
do divisor Arinos-Juruena, uma aldeia com “um grande tapiri no meio do
mato, com um terreirozinho na frente”, dentro do qual nove redes (p. 89;
ver Figuras 8 e 9 acima). Em janeiro de 1958, nas cabeceiras do córrego
Sararé (hoje, “Tucunaré”), afluente da margem esquerda do rio Arinos, uma
aldeia com “quatro casas menores do que as comuns e mais um rancho
aberto” (na primeira casa, “três redes esticadas, quatro enroladas”), e bem
perto, “uma grande casa nova com o rancho aberto em frente” e uma “casa
dos homens” (p. 107, 109; v. mapa, p. 149). Em setembro de 1959, a
aldeia de Iocondi, na margem esquerda do rio Juruena, “uma verdadeira
aldeia: duas grandes casas e a casa dos homens, servidas por caminhos
largos e limpos, mata alta, muito babaçu” (p. 175). Pouco mais ao norte,
uma aldeia ainda maior: “três casas grandes e uma casa dos homens”
abandonadas, “com sepulturas novas”; e nas imediações, o acampamento
de Icoma, “uma pracinha com seis ranchos” (p. 175). E, em maio de 1960,
na margem esquerda do baixo Juruena, a aldeia de Moikxau, “uma casa
comprida, com o lugar reservado aos homens, numa das extremidades” (p.
180).
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1600
1400
Série demográfica Rikbaktsa
1200
1000
800
600
População
400
200
0
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
2010
108
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seringa, ali plantavam uma pequena roça. Em fins dos anos 1980, muitos
desses locais se converteriam nas atuais aldeias. Ainda que sob novas
condições, a partir de então os Rikbaktsa conseguiram recompor algo de
sua própria dinâmica sócio-política (Arruda, 1992a, p. 251-254).
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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Barranco Vermelho 60
Boa Esperança 28
Barranco Vermelho Cabeceirinha 28
(189 pessoas) Divisa 36
Escolinha (Rio do Sangue) 37
Primavera 84
Laranjal 38
Primavera Primavera d’Oeste 11
(170 pessoas) União 10
Vale do Sol 8
Pedregal 9
ERIKPATSA Miguel 10
(771 pessoas) Curva 53
Curvinha 17
Curva Segunda 78
(226 pessoas) Segurança 15
Novo Paraíso 15
Beira Rio 48
Pedra Bonita 31
Pedra Bonita Seringal I 17
(99 pessoas) Seringal II 9
Santa Rita 42
Nova 44
Nova
Velha 27
(87 pessoas)
Areia Branca 16
Pé-de-Mutum 85
Pé-de-Mutum Jussara 6
(162 pessoas) Divisa Marcolino 19
JAPUÍRA Jatobá 52
(204 pessoas) Japuíra 17
Japuíra Castanhal 16
(42 pessoas) Pantanal 2
São Vicente - Arinos 7
Escondido
ESCONDIDO Babaçu 42
(42 pessoas)
TOTAL 1017
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
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Laudo antropológico – Processo 2002.36.00.003429-4
2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
“os seis homens que viviam na aldeia foram caçar no dia anterior, enquanto
todas as mulheres começaram a cozinhar na casa do homem mais velho, um
líder cuja roça estava sendo preparada. No dia seguinte, os homens
gastaram a manhã derrubando árvores maiores que restavam, tocavam uma
corneta quando as árvores caíam, enquanto as mulheres terminavam de
preparar a comida. Então todos os petiscos preparados [...] foram trazidos
ao makyry (a casa de todos os rapazes solteiros, e local de encontro de
todos os homens [hoje, conhecida também por “rodeio”]) onde foram
redistribuídos às diferentes famílias. Mais foi deixado no makyry do que
distribuído. A festa prosseguiu, mas sem as danças que acompanham as
demais cerimônias” (Hahn, 1976, p. 53).
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MESES
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
início da estação
estação chuvosa estação seca final da estação seca
chuvosa
pesca de peneira em
maior permanência plantações de milho fofo
engorda de macacos poços dos córregos
na aldeia e outros cultivares
esvaziados
danças ocasionais que homem planta a batata-
coleta de castanha, redundam na festa de doce (zodo e zodospu) - a
derrubada de roças
inajá e pequi fechamento da estação mulher colhe, mas o
chuvosa homem pode ajudar
homem planta o milho-
colheita de milho e
coleta de castanha e festa de derrubada fofo (wanatsitsa), mas a
outros cultivares
outros produtos mulher pode plantar se
(dez. e jan.)
ele estiver viajando
festa do milho fofo flores de angelim de queima de roças coleta de patauá, bacaba,
(dez. e jan.) saia (tsorõrõ) buriti
expedições em busca de
pesca (veneno
pesca (veneno (ximbua pontas de flechas, penas,
(ximbua batsitsak),
batsitsak), arco e conchas e animais para piracema
arco e flecha,
flecha, linhada) criação (no passado,
linhada)
inimigos)
caça (arco e flecha, caça (arco e flecha, caça (arco e flecha, arma
coleta
arma de fogo) arma de fogo) de fogo)
nominação, furação de
orelha e nariz, caça (arco e flecha, arma
escarificações e de fogo)
tatuagens
“Nesta marcha através da selva vão as famílias inteiras. Cada um leva sua
rede de dormir, seu arco e flechas e paus ignígenos. As mulheres carregam
cestos cheios de utensílio de cozinha, e víveres para os primeiros dias. Por
cima dos cestos, as mães levam seus filhos pequenos, e os lactentes na
tipóia” (Schultz, 1964a, p. 253).
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Como esclareci acima, por ocasião dos trabalhos periciais, além dos
roçados que circundam a aldeia Babaçu, verifiquei nas cabeceiras do
córrego Canoeiro (Dico) a existência de capoeiras de antigas aldeias e
roças: uma, a quatrocentos metros ao sul, onde resistem bananeiras de
variadas espécies; e outra, ao norte, cerca de mil e duzentos metros, onde
também rebrotaram bananeiras e se avistam os esteios de velhas “malocas”
(ver fotografias em anexo). Além destas, localizei uma terceira capoeira a
cerca de sete mil metros da aldeia Babaçu, desta feita um largo trecho
tomado pela vegetação secundária - portanto, nas imediações da área ora
sub judice.
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densos, que se estendem por toda aquela zona das cabeceiras dos córregos
Canoero e Escondido, que abrange a área demandada nos presentes autos
(em anexo, na “Carta-Imagem da Terra Indígena Escondido”, o
mapeamento da incidência de castanhais e demais recursos naturais ali
existentes).
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para 14% em 2005. Na média, a renda anual obtida com a castanha pelas
famílias apresentou uma elevação de R$ 396,00 para R$ 622,00 nesse
período. Este dado revela a importância que a produção de castanha vem
adquirindo após a implantação do Programa Integrado da Castanha entre os
Rikbaktsa (Coelho et alii, 2006, p. 35-36).
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ANEXOS
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DOCUMENTOS
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25 - Touceiras de taboca jurupará, nas imediações dos lotes sub judice (TI Escondido)
26 - Pontas de flecha confeccionadas com jurupará
27 - Salvador Okodoby confeccionando flechas (Aldeia Pé de Mutum, TI Japuíra)
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