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Cuiabá, MT
fevereiro de 2016
Laudo antropológico – Processo 2001.36.00.001508-9
1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
ÍNDICE
INTRODUÇÃO............................................................................ 3
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INTRODUÇÃO
- gleba (b): área de 20.000,00 hectares, oriunda dos títulos definitivos emitidos
em favor de Gregório Ramos da Paixão e de Manoel José de Siqueira Filho, na mesma
data;
- gleba (g): área de 20.000,00 hectares, oriunda dos títulos definitivos emitidos
em favor de Celina de Moraes e Fábio Firmino Leite, em 26/01/1961.
Foram formulados à perícia antropológica quinze quesitos pela autora, fls. 319-
321, e oito pela União Federal e FUNAI, às fls. 323-325. O perito foi nomeado às fls.
894 dos autos. A audiência para início dos trabalhos periciais foi marcada para 14 de
outubro de 2015, às 14:00 horas. Além do perito nomeado, compareceram Luciano
Márcio Gazzani, agente de indigenismo, na qualidade de representante do assistente
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Kej/Barreira (coordenadas S 10˚ 57’ 31,58” W 60˚ 53’ 52,31”) por volta das 18:30 hs,
quando fomos informados que os caciques e demais lideranças nos esperavam na
Aldeia-Escola Zarup Wej. Passamos na aldeia Paraíso da Serra, de Miguel Zan
(coordenadas S 10˚ 48’ 21,80” W 60˚ 43’ 31,14”), e finalmente chegamos na Aldeia-
Escola (coordenadas S 10˚ 39’ 33,03” W 60˚ 34’ 19,15”) por volta das 21 hs, onde
pernoitamos.
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gado que adquiriram de uma fazenda próxima. Cruzamos o rio na balsa recém-
reformada para chegar na aldeia, a cerca de 500 metros da margem direita do rio
Branco. Durante o descanso para o almoço, recolhemos informações sobre as várias
atividades produtivas desenvolvidas na aldeia e os locais que são explorados no
entorno, com a colaboração de Geraldo Chambi, Caio e Marcio Kijãzap. À tarde,
retornamos a Ji-Paraná, e no caminho paramos na aldeia Ikolen dos Gaviões para
conversar com Catarino Sebirop, mas este se encontrava ausente. Chegamos em Ji-
Paraná cerca de 17:30 hs, dando por encerrada esta etapa de vistoria pericial.
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razão, tomarei livremente seus resultados e alguns excertos daquele laudo. Naquela
vistoria e na presente, a posição geográfica das aldeias, capoeiras e outros locais
relevantes foi obtida através de um aparelho GPS, modelo Garmin.
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OS POVOS TUPI-MONDÉ
Devo notar que, de início, os vários grupos indígenas da família Tupi-Mondé que
habitavam essa região noroeste de Mato Grosso e leste de Rondônia foram
confundidos sob uma mesma denominação - “Cinta Larga” ou “Cinturão Largo” -,
provavelmente devido ao fato de todos usarem algum tipo de cinto e de semelhanças
entre suas grandes malocas oblongas. Não obstante, a leitura cautelosa do noticiário
da imprensa e dos relatórios oficiais produzidos até os primeiros anos da década de
1970 permite-nos deslindar com exatidão as distintas etnias a que estes se referem,
assim como atribuir diretamente a cada uma delas os respectivos eventos históricos.
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habitam a TI Sete de Setembro, ao sul da região em tela. E, para o caso que aqui nos
interessa, foram também os funcionários da FUNAI que, ao ouvir o que diziam seus
tenazes inimigos Suruís, consagraram a designação que hoje identifica os “Zorós”, à
época conhecidos pelos regionais sob a alcunha de “Cabeças-Secas”. Segundo o
jornalista Cesarion Praxedes, que visitou em 1977 o acampamento da FUNAI às
margens do rio Branco (afluente da margem esquerda do rio Roosevelt) e publicou
reportagens sobre o contato com os Zorós na revista Manchete (“Zorós: os últimos
guerreiros”, na edição de 12 de novembro de 1977, p. 4-11) e na Revista Geográfica
Universal (“Primeiro encontro com os índios Zorós”, no número 38, 1977, p. 68-79):
“Zoró é o nome que ficou da denominação monshoro, utilizada pelos suruís para
designar seus vizinhos e inimigos (...). Monshoro é uma palavra depreciativa que os
suruís não explicam direito o significado. Com o tempo, foi abreviada para shoro e, por
fim, zoró”.
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transferidos para as margens do rio Guaporé e outros rincões. Por sua vez, os Cintas-
Largas, os Gaviões e os Zorós falam línguas mutuamente compreensíveis, apesar de
fortes diferenças dialetais. Segundo o lingüista Denny Moore (1984, p. 9; ver também
Chiappino, 1975, p. 9), a língua Suruí é a que mais se distancia das demais da família,
não sendo entendida, exceto umas poucas palavras, pelos falantes das três anteriores.
Visto que não se encontrou, até o momento, outro povo de língua Tupi-Mondé
fora da região dos afluentes da margem direita do alto Madeira (Rondônia e noroeste
de Mato Grosso), os especialistas consideram este fato uma prova da antigüidade da
ocupação da região pelos povos desta família linguística. De acordo com o antropólogo
Gilio Brunelli (1987, p. 151), as pesquisas etno-lingüísticas permitem estimar a origem
do processo de diversificação das línguas Tupi-Mondé em cerca de 200 ou 300 anos
atrás, quando alguns grupos “proto-tupi-mondé”, eventualmente retomando áreas já
ocupadas por outros grupos da mesma família, deslocaram-se a montante ao longo dos
rios Aripuanã e Roosevelt.
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Quanto à bibliografia, a língua Gavião foi estudada por Denny Moore (1984),
que realizou uma descrição do sistema gramatical, a primeira realmente exaustiva de
uma língua Tupi-Mondé. Os antropólogos noruegueses Lars Løvold e Elizabeth Forseth,
do Instituto de Antropologia Social de Oslo, desenvolveram pesquisas sobre sua
cosmologia e organização social entre 1980 e 1981 (Løvold & Forseth, 1984; Løvold,
1983; 1984a; 1984b); na ocasião tiveram ainda o privilégio de observar os recém
contatados Zorós, que então buscaram refúgio na área dos Gaviões para fugir de
ataques dos Suruís. Um livro de mitos foi organizado pela antropóloga Betty Mindlin,
com a colaboração de narradores Gaviões (Mindlin et alii, 2001).
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Nos últimos anos, novas pesquisas vêm sendo divulgadas, a exemplo de Pucci, 2009;
Yvinec, 2011; Romero, 2014; entre outros.
“Os Suruí, a sudoeste, a quem os Cinta Larga chamam de Jorey, eram os ‘inimigos
hereditários’, como notou Chiappino (1975) (...) Quanto aos Zoró, ou Jeikípey, a oeste,
ataques e atos canibais teriam pontuado o itinerário da migração que estes
empreenderam para o sul no início do século (Brunelli, 1986). E outras escaramuças,
ocorridas há mais de 30 anos, estão igualmente presentes na memória dos próprios
Cinta Larga, como constatei na área Aripuanã” (Dal Poz, 1998, p. 168).
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funcionários. Quanto aos Cintas-Largas que tinham suas aldeias ao norte, na região
dos rios Branco e Guariba (atual TI Aripuanã), estes se mantiveram em guerra contra
os seringueiros desde a década de 1950, época em que adquiriram os primeiros
instrumentos de metal. Mas em janeiro de 1974, eles tomaram a iniciativa de
estabelecer relações pacíficas com os moradores da vila Aripuanã - quando narram a
visita, os Cintas-Largas dizem que seu objetivo era obter ferramentas - dabekara
veribate, os machados e terçados estavam acabando (Dal Poz, 1991).
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Os Zorós (Pangyjej) que habitam a TI Zoró, dos quais trata este laudo
antropológico, foram o último dos povos Tupi-Mondé a se aproximar das frentes
regionais: em 1977 eles saíram ao encontro de “peões” da fazenda Castanhal, às
margens do rio Branco, afluente do Roosevelt. Depois, em outubro daquele ano, uma
expedição da FUNAI, auxiliada por índios Gaviões, Cintas-Largas e Suruís, foi contatá-
los na sede dessa fazenda (Praxedes, 1977a; 1997b; Silva 1986a) – os eventos do
contato e as informações demográficas serão detalhados nos tópicos adiante. O
cotidiano da vida no posto e, especialmente, a atuação dos funcionários da FUNAI
foram aspectos abordados por Roberto Gambini (1983; 1984a; 1987), que visitou os
Zorós na qualidade de membro da equipe FIPE/USP de avaliação do Programa
Polonoroeste e foi o responsável pelo relatório de identificação da área Zoró (Gambini,
1984b). O antropólogo Gilio Brunelli estudou a etnomedicina Zoró e as transformações
que este sistema sofreu através do contato com a sociedade nacional, bem como
incursionou pela noção de pessoa e a cosmologia, as restrições alimentares, as práticas
terapêuticas e a farmacopéia. O mesmo autor discutiu ainda outros temas pertinentes
às questões que nos interessam neste laudo: um ensaio de etnohistória, no qual a
narrativa das guerras e migrações põe em questão a identidade dos grupos Zoró
(1986); uma análise das relações entre o sistema cosmológico e os hábitos alimentares
(1988a); e algumas notas sobre o complexo do xamanismo (1988b). Sua colega Sophie
Cloutier apresentou dados interessantes acerca da musicologia zoró e o processo de
conversão dos índios ao evangelismo (Cloutier, 1987; 1988a; 1988b)
Por fim, os Arara do Guariba, como são chamados pela população regional
(município de Aripuanã), seriam provavelmente remanescentes de uma frente
avançada dos Cintas-Largas ou outro grupo Tupi-Mondé, ao norte, que se desagregou
ao se deparar com a empresa seringalista três ou quatro décadas atrás. O relatório da
Diocese de Ji-Paraná (Valdez, 1984) traz a sua localização, um pequeno vocabulário e
alguns dados sobre as poucas famílias que vivem hoje como seringueiros, dispersas em
várias colocações naquela região. Tive a oportunidade de levantar alguns relatos sobre
suas relações com a sociedade regional (Dal Poz, 1995).
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A OCUPAÇÃO INDÍGENA
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No caso dos Zorós, sobre os quais versa a presente perícia, tal questão deve ser
deslindada considerando-se, ao menos, as seguintes variáveis: a) a maneira como
interpretam suas origens históricas e mitológicas e seu enraizamento territorial; b) o
modelo social que ordena a distribuição territorial dos grupos locais e suas relações
internas; c) a localização de suas aldeias e os seus reordenamentos espaciais, tanto em
razão da exaustão dos recursos naturais nas proximidades como a emergência de
novas alianças ou conflitos internos ou com agências e segmentos da sociedade
nacional; d) as técnicas e as práticas que utilizam na exploração dos recursos naturais,
em particular as atividades agrícolas, de caça, de pesca, de coleta e, modernamente,
de extração comercial de produtos florestais e de minérios e a criação de bovinos.
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“Um velho guerreiro recorda ainda de uma das batalhas em que participou. Na aldeia
zoró, outros se lembram desta batalha porque seus pais dela participaram. Esta batalha
[ver no croquis acima o local assinalado] opôs um grupo zoró, os Njoiki Wey, ao último
grupo cinta larga que se encontrava ainda no território compreendido entre o rio
Roosevelt e o Branco, os Ngotchurey. (...) A batalha terminou por uma brilhante vitória
dos Njoiki Wey, que, ao que parece, estava nesse momento aliado aos zoró Pewey e,
na falta de uma melhor identificação, aos zoró Kirey. Conta-se que os Ngotchurey
foram derrotados, mortos e comidos pelos Zoró; alguns sobreviventes lograram a duras
penas cruzar o rio Roosevelt e buscar refúgio junto a outros grupos cinta larga que
habitavam mais a leste e mais ao sul. Assim que, há mais de cinqüenta anos [ou seja,
em meados da década de 1930] os grupos zoró tornaram os donos de uma larga
porção do rio Roosevelt, cujo limite meridional alcançava o território dos grupos suruí
mais setentrionais” (Brunelli, 1986a, p. 12).
O movimento dos grupos zorós veio a cessar quando, por volta da década de
1930, estes se chocaram ao sul com outros grupos cintas-largas e com os Suruís, bem
mais numerosos – conforme ilustra o croquis acima. Em meados do século XX,
portanto, os Zorós ocupavam um território contínuo que se estendia desde a margem
direita do rio Roosevelt até os córregos que formam o rio Madeirinha, tendo como
confrontantes os Cintas-Largas a leste, os Suruís ao sul, os Gaviões a sudoeste e oeste
e os Araras a noroeste. Tal disposição espacial revela-se, inclusive, na toponímia e no
conhecimento geográfico acurado sobre toda a região, dos quais a tabela abaixo serve
de exemplo:
português zoró
rio Madeira Sere xi
rio Ji-Paraná Op xi
rio Madeirinha I Pokajã xi
rio Aripuanã Abolopwa xi
rio Roosevelt I Kabe Pewa xi
rio Branco (afl. do Roosevelt) Baribej xi
Ribeirão Watalã xi
rio Cigano Palyã xi
rio Tiroteio Boriri Ka xi
rio Quatorze de Abril I Kabe Tỹ xi
rio Canaã Zat Kot xi
rio Vera Cruz Paji Xã xi
Tabela 1: A toponímia hidrográfica zoró
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terras do interflúvio do rio Roosevelt e seu afluente rio Branco, bem como em ambas
as margens destes rios. As falas foram traduzidas pelo professor indígena Edílson
Waratã:
Wam (ancião com mais de 80 anos; morador da aldeia Tamali Syn): “Eu sou o mais
velho do povo Zoró. Eu nasci aqui, o meu pai morava aqui. Esse título que ele (a parte
autora) está falando que marcou, foi em cima de nossa terra. A gente viu acontecer, os
não-índios vieram, por isso que a gente foi lá, afastou daqui, para onde hoje está o
pessoal da aldeia Central (Bubyrej). Eu vi acontecer a abertura da estrada, onde
estamos andando agora. Eu vi o pessoal montando essas fazendas, Muiraquitã, Peralta,
Castanhal. Eles mataram a gente, os brancos mataram a gente. Por isso falo que é
nossa terra. Eu não vim de lá de fora, eu não vim de outro país. Eu nasci aqui, o meu
pai morava aqui.”
Edílson Waratã (cerca de 44 anos; professor indígena): “O Ribeirão chama Watalã xi. O
rio Branco chama Baribej xi. O Roosevelt, I Kabe Pewa xi. O Quatorze de Abril, I Kabe
Ty. Eles sabem todos os rios. Aquele rio Tiroteio, Boriri Ka xi. Todos os rios colocaram
nome, qualquer córrego dentro da nossa área tem nome.”
Pepuj (cerca de 71 anos; cacique da aldeia Ikarej): “Eu mandei eles desenharem as
aldeias antigas (no mapa que foi apresentado na lousa, ver em anexo ), tá dentro
desse mapa aí, está tudo localizado. Algumas aldeias mudaram de nome, outras
permaneceu o nome antigo. Está tudo desenhado aí. (...). Até as aldeias que existiam
fora da área que foi demarcada, nas fazendas Peralta, Castanhal, Roosevelt e
Muiraquitã. Era tudo conhecido deles, é nosso.
Eu sou daqui mesmo, eu não estou contando história do meu pai, eu presenciei que
aqui era só nosso, não tinha ninguém, não tinha jara (brancos) nada. Só moravam
índios, nós, os Suruís, os Cintas-Largas, os Gaviões. Esses grupos que moravam aqui.
Não tinha jara. Não tinha barulho, de carro, caçador. Não tinha, só nós. Vivia livre,
andando em todo lugar.”
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o rio Madeira. A gente viu brancos chegando, e ficamos só com um pedacinho, que a
FUNAI demarcou para nós. Não tinha mais pra onde a gente correr. Pra todo lado está
cheio de fazendeiro” (Depoimentos prestados em 21/10/2015)
De acordo com Brunelli (1986a, p. 22; 1987a, p. 160), entre a década de 1950
e fins da década de 1960 os Zorós dispunham de nove ou dez grupos locais,
distribuídos em quinze ou dezesseis malocas, e uma população que se contava entre
1.000 a 1.500 pessoas: os Nzabeap Wey com três malocas, os Pangeyen Tere com
cinco malocas, os Njoiki Wey, os Njei Wey, os Pama-kangym Ey, os Mantchin Ey, os Ii-
andarey, os Pewey, os Angoiey e, provavelmente, os Kirey, com uma maloca cada. No
mapa elaborado na lousa, sob a supervisão de Pepuj, constam inúmeras aldeias
antigas, distribuídas no triângulo formado pelos rios Roosevelt e seu afluente rio
Branco. Veremos adiante outras informações sobre a localização das aldeias zorós
antigas e atuais.
Luiz Matianzap: A gente morava assim. Vocês perguntam por que morou do outro lado
também? A gente morava assim, deixava esse lado livre, pra crescer os animais, os
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peixes voltarem, o mato crescer, a capoeira crescer. Depois de um tempo, voltava para
aquele lugar. Os animais, anta, jacamim, paca, já voltaram, os peixes já voltaram. Por
isso que nós fazíamos assim, atravessava para o outro lado do rio Branco, ficava mais
ou menos uns vinte anos pra lá, e depois voltava para reabrir as mesmas aldeias.
Voltava a morar nas mesmas aldeias, enquanto lá do outro lado estava recuperando. É
assim que nós vivíamos.
Foi quando estávamos neste lado (direito do rio Branco), um pouco ainda ficou lá, a
fazenda Castanhal veio. O pessoal que ficou fechado lá, eles passaram na marra para
atravessar para o lado de cá, saiu pra cá. Antes do contato, quando o fazendeiro
montou aquela fazenda Castanhal. A gente brigou muito lá, e o fazendeiro atacava a
gente, e a gente atacava também. E não deu, não adiantou nada. Até hoje a fazenda
Castanhal está lá. Assim que aconteceu. Enquanto eles estavam esperando recuperar
as aldeias lá, os brancos vieram, e trancaram eles (o grupo zoró) lá.
“Os Zorós construíram malocas nas proximidades do rio Branco, depois que
abandonaram as margens do rio Roosevelt onde antes viviam – por causa do
aparecimento de fazendas na área. Fugindo em direção ao rio Branco, os Zorós
encontraram outra fazenda que estava sendo aberta na margem oeste. A situação dos
índios ficou crítica: não poderiam subir em direção à cabeceira do rio por causa dos
Suruís, mas também não poderiam seguir o caminho das águas por causa dos
brancos.”
A notícia mais remota vem do aventureiro Antônio Pires de Campos que, no ano
de 1727, atravessou a chapada dos Parecis (Campos, 1862). Tendo atingido o rio
Juruena, fronteira oeste do que chamou “Reino dos Parecis”, deparou-se com a
“nação” dos “Cavihis” que, pela sua localização e pelos dados etnográficos fornecidos
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por Pires de Campos, poderia ser algum dos povos Tupi-Mondé. Afora este provável
primeiro registro histórico, não foi possível encontrar para os séculos XVIII e XIX outros
vestígios nos documentos disponíveis. A ausência de informação explica-se, com efeito,
pelo completo isolamento em que os Zoró e demais povos Tupi-Mondé subsistiram em
seus habitats por todo aquele período histórico. O processo de colonização no Centro-
Oeste e sul da Amazônia, com efeito, passou ao largo da região banhada pelos rios
Aripuanã, Roosevelt e Ji-Paraná, tributários da bacia do rio Madeira. Apenas a partir da
segunda metade do século XIX, tendo início o “ciclo da borracha” que atraiu peruanos
e cearenses para a exploração dos seringais nativos, os afluentes do Madeira, como o
Marmelos, o Manicoré, o baixo Aripuanã e o Machado (ou Ji-Paraná), passariam a ser
percorridos e ocupados economicamente.
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do então imenso Estado de Mato Grosso: além de estender o telégrafo, abrir estradas
estratégicas, executar trabalhos geográficos, botânicos e mineralógicos, a Comissão
ainda se encarregou de “pacificar” as populações indígenas em seu percurso.
“começamos a encontrar vestígios recentes dos índios. Primeiro, foi um tapiri, feito
segundo o tipo usado pelos Urumis e Pauatês, tribos do Gy-Paraná; depois, foi um
conjunto de três ranchos, pequenos e baixos, de forma abaulada, inteiramente
cobertos e fechados por folhas de palmeira. (...). Do exame de todas estas cousas,
porém, o que mais me interessava, era a indicação de se acharem os índios do rio
Roosevelt relacionados com as tribos do Gy-Paraná” (Rondon, 1916, p. 76-77).
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encontradas somente no médio curso do rio, quase trinta quilômetros abaixo da foz do
então denominado rio Quatorze de Abril, afluente da margem esquerda. Seus
moradores disseram ao ex-presidente Roosevelt que não conseguiam subir além de um
trecho de grandes corredeiras, “em face da hostilidade dos índios” (Roosevelt, 1943, p.
257). Vez ou outra, estes lhes apareciam ora num lugar, ora noutro diferente:
“Há tempos, eles apareceram e foram recebidos a tiro, numa barraca acima da
propriedade do Honorato. A represália não se fez esperar, e a conseqüência dela foi o
dono daquela barraca, um caboclo chamado Manoel Vieira, cair ferido por golpes de
flecha. (...) O pânico causado pela nossa chegada mostra claramente o grau de tensão
nervosa em que vive aquela gente, constantemente atormentada pela expectativa de
ver surgir do interior do sertão os guerreiros indígenas” (Rondon, 1916, p. 102).
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Tais conflitos, decerto, não eram fatos isolados. Na década de 1960 dava-se um
novo ritmo à migração e à ocupação econômica de Rondônia e oeste de Mato Grosso:
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Ainda em 1966 o prefeito Amaury Furquim deu início à estrada que ligaria a BR-
364 à sede do município de Aripuanã (denominada AR-1 e BR-172; hoje rodovia MT-
319), e mandou construir uma pista de pouso de apoio na foz do rio Vinte e Um, o
chamado “Campo 21”. No ano seguinte, por sua vez, o seringalista Antônio Junqueira
determinou a abertura de uma pista a oito quilômetros da margem direita do rio
Aripuanã, para depois abandoná-la e construir a pista que, anos depois, serviria ao
posto da FUNAI na área Serra Morena.
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“Em avião posto à nossa disposição pelo Senhor Governador do Estado de Mato
Grosso, sobrevoamos a região matogrossense habitada pelos referidos índios (Cinta-
Larga), ou seja os vales do Aripuanã e do Roosevelt. Localizamos então, vinte e uma
(21) aldeias de índios, sendo que vinte (20) pertencem à tribo dos 'Cinta Larga' e uma
(1) à dos 'Nambiquara', localizada no rio Camararé. As aldeias dos citados índios
existentes no Território de Rondônia, já haviam sido localizadas através de um bom
'croquis', onde as situavam com precisão” (Meirelles, 1968).
O croquis a que alude Meirelles foi elaborado por missionários das Novas Tribos
(Stute, 1967; ver próximo tópico). A segunda frente da Operação Cinta Larga foi
encetada pelo sertanista João Américo Peret e visava atingir os índios do vale do
Aripuanã. Segundo os sertanistas, estimava-se um total de cinco mil índios na região
(Globo, 1968b). Com base nas informações do inspetor Bucker e do prefeito de
Aripuanã e o que anotaram missionários e pilotos, o sertanista Peret encaminhou ao
Departamento do Patrimônio Indígena da FUNAI croquis indicando as aldeias cintas-
largas já avistadas, e sugeriu medidas de interdição (Peret, 1968a; 1969). Em seguida,
sobrevoou a região considerada, a convite do prefeito Furquim, identificando outras
aldeias e visitando acampamentos de garimpeiros.
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mesma etnia que já freqüentava o posto Sete de Setembro (esta, depois denominada
“Suruí”, como dissemos acima), a FUNAI procurou então afastar os garimpeiros e
instalou no local o subposto Roosevelt (na seção sul da atual área Roosevelt),
aproveitando a curta pista de pouso e os barracões construídos pelos garimpeiros. Em
fins de 1971, porém, os Cintas-Largas romperam as relações amistosas e mataram os
dois funcionários da FUNAI que ali se encontravam, o chefe do subposto e ex-jornalista
Possidônio Bastos e o rádio-telegrafista Acrísio Lima, e incendiaram as instalações
(Jornal do Brasil, 1971). O médico e etnólogo Jean Chiappino, que, entre julho e
dezembro de 1972, visitou os Cintas-Largas que viviam no posto Roosevelt e em uma
aldeia nas proximidades da foz do rio Capitão Cardoso, verificou que os que ali
estavam eram remanescentes “de um grupo mais importante que consistia em cerca
de cem pessoas, que foram dizimadas por uma epidemia um ano antes (...) em
circunstâncias (...) dramáticas” (Chiappino, 1975, p. 9).
Muito embora a presença dos Suruís, Cintas-Largas e Zorós nos vales dos rios
Roosevelt e Aripuanã estivesse claramente atestada, conforme os levantamentos
efetuados, entre outros, pelos sertanistas João A. Peret e Francisco Meirelles e o
fotógrafo J. von Puttkamer, o governo do Estado de Mato Grosso acelerou a alienação
e a colonização das terras do município de Aripuanã, e pressionava o próprio governo
federal para reduzir os limites das áreas indígenas já reconhecidas. Com efeito, em
1974 o parque do Aripuanã foi reduzido à metade, restando duas áreas contíguas
provisoriamente interditadas (ver tópico abaixo). Com o mesmo objetivo, o Estado
reservou terras devolutas para a CODEMAT, através da Lei Estadual 3.743, de 31 de
março de 1976, destinadas à implantação do Projeto Juína – uma área ainda ocupada
pelos grupos cinta-larga do rio Vermelho (Tolksdorf, 1976).
No diz respeito aos Zorós, foi apenas em outubro de 1977, à margem do rio
Branco, que uma expedição da FUNAI - sob o comando dos sertanistas Apoena
Meirelles e José do Carmo Santana (“Zé Bell”) - viria a com eles confraternizar. As
primeiras tentativas de contato com os então denominados “índios suruis” do alto rio
Branco (na verdade, os Zorós) partiram do encarregado do SPI do posto Igarapé
Lourdes, Constantino Marques de Almeida, com a cooperação de índios Gaviões – em
fevereiro de 1967 aqueles fizeram uma visita à aldeia na ausência destes – os
moradores participavam de uma festa na aldeia Arara (Almeida, 1966; 1967;
Albuquerque, 1969).
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“Havia duas clareiras de duas novas aldeias com duas a três malocas no meio de uma
área desmatada há pouco. Porém as pessoas correram, escondendo-se do avião. Estes
índios são hostis, tendo matado recentemente vários homens brancos. Uns poucos
minutos depois, nós vimos duas outras aldeias com malocas mais velhas – já nas
cabeceiras do rio Branco. Os índios aqui são hostis também, e tentaram esconder-se do
avião (em suas casas). Apenas os cachorros permaneceram do lado de fora.
Em torno de uma das casas, nós pudemos ver centenas de taquaras de flecha, secando
no sol. Por que estão fazendo assim tantas flechas? Para guerra, obviamente. Porém
eles irão combater intrusos brancos, ou voltar de novo e atacar seus parentes no posto
Sete de Setembro?
Nós sabíamos que mais ao norte nós encontraríamos outras aldeias, porém estava tão
enevoado e cheio de fumaça [de queimadas nas fazendas ao sul e a oeste das terras
dos Zorós]”. (Puttkamer, Diários de Campo III, 1975-1976, p. 293).
“Os índios Zorós (...) habitam entre a margem direita do rio Branco, e a margem
esquerda do Ig. Tiroteio, quando fazem incursões até o 14 de Abril, afluente da
margem esquerda do rio Roosevelt.
A necessidade da abertura de uma Frente de Atração prende-se a fatores externos, ou
seja, a pressão cada vez maior de Agro-pecuárias e colonos que chegam a Rondônia
forma um círculo que aos poucos vai se fechando em torno dos índios Zorós.
Outro fator a ser observado é que a área onde habitam os índios Zorós não foi
abrangida por nenhum decreto de interdição ou reserva, o que permitiu muita
especulação por parte de pessoas interessadas em terras. (...)
Pressionados os Zorós não podem sair para o 7 de Setembro devido aos Suruis, seus
tradicionais inimigos (...) Em direção ao Cap. Cardoso não podem ir também devido aos
Cinta-Larga, e restam a eles então, darem contato esporádico com as fazendas
Castanhal e Roosevale, o que não deixa de ser uma temeridade” (Meirelles, 1977a).
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Aripuanã, seria lançada em março do mesmo ano para “contactar cerca de 800 índios
zorós ou cabeças-secas” (Estado de São Paulo, 1977a; Jornal de Brasília, 1977), para
evitar que entrassem em choque “com fazendeiros e seringalistas que avançam, a cada
dia, em direção às suas terras, situadas nas cabeceiras dos rios Branco e 14 de abril”
(Folha de São Paulo, 1977a). Segundo este último jornal:
A partida da expedição aos Zorós, todavia, adiada seguidas vezes, deu-se afinal
no mês de outubro de 1977 (Globo, 1977; Folha de São Paulo, 1977b; 1977c; Estado
de São Paulo, 1977a; 1977c), após um novo sobrevôo da área, como informou o Jornal
da Tarde, em 13/10/1977:
“Em outubro passado [do ano de 1977], à margem do rio Branco, em Mato Grosso,
aconteceu o primeiro contato dos índios zorós com a cultura branca. E, como eles
viviam em estado inteiramente primitivo, o encontro da expedição da FUNAI com os
indígenas foi precedido por dezoito dias de angústia e espera. Durante todo o tempo
em que a equipe esteve na região dos índios, promovendo expedições na selva e pelo
rio, os zorós observaram sem se aproximarem. Somente quando tiveram certeza que os
invasores eram pacíficos é que resolveram visitar o acampamento. Chegaram
desarmados, com mulheres e crianças, numa clara demonstração de que estavam em
missão de paz. Eram apenas vinte, embora o número de malocas existentes faça supor
uma tribo de aproximadamente 350 indígenas. (...)
O pequeno monomotor sobrevoava a maloca pela segunda vez, quando apareceu um
grupo de índios para observar a estranha e barulhenta máquina voadora que invadia o
seu mundo [a fotografia da aldeia está em Praxedes, 1977b, p. 71-72]. Desde nossa
chegada a Vila de Rondônia [Ji-Paraná, RO], cinco dias antes, aquela era a primeira vez
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que víamos os zorós, uma das últimas tribos ainda em estado inteiramente primitivo na
Amazônia.
O objetivo do vôo era dar ao sertanista Apoena Meireles uma visão geral da localização
das malocas e uma avaliação do número de índios que vivem na área. Meireles, 28
anos, era responsável pela expedição que tentaria o primeiro contato com esses
indígenas, que vivem entre os rios Branco e Roosevelt, no oeste de Mato Grosso, nas
proximidades da fronteira com o Território de Rondônia. A região, inteiramente coberta
pela floresta amazônica, vem sendo ocupada por fazendeiros, o que obrigou a FUNAI a
promover a expedição para contatar e preparar os índios para o convívio com a
civilização. (...)
Apoena instalou seu acampamento à margem do rio Branco, próximo da fazenda
Castanhal. Faziam parte da equipe, além de Meireles, os técnicos indigenistas José do
Carmo Santana (Zé Bel) e Hugo Pedro da Silva, três peões contratados em Vila de
Rondônia, três índios suruís, dois gaviões, um cinta-larga e um xavante. Os índios
foram levados para servir como intérpretes, já que uma de suas línguas deveria ser
parecida com a dos zorós. Acreditava-se que os suruís pudessem entender bem os
zorós [o que, se viu depois, não foi possível, pois as línguas zoró e suruí, ainda que da
mesma família, se distanciam bastante], embora houvesse uma certa apreensão em
relação a esse encontro: as duas tribos sempre foram inimigas. (...).
Partindo do acampamento, uma picada foi aberta na direção dos caminhos que os
zorós utilizam durante suas caçadas. Alguns presentes deixados na picada tinham a
finalidade de atrair os indígenas. Mas Meireles não pretendia ficar parado ali, esperando
que eles aparecessem, já que o contato prometia ser fácil e rápido.
Os zorós construíram malocas nas proximidades do rio Branco, depois que
abandonaram as margens do rio Roosevelt - onde viviam - por causa do aparecimento
de fazendas na área. Fugindo em direção ao rio Branco, os zorós encontraram uma
outra fazenda que estava sendo aberta na margem oposta. A situação dos índios ficou
crítica: não poderiam subir em direção à cabeceira do rio por causa dos suruís, mas
também não poderiam seguir o caminho das águas por causa dos brancos. (...).
Cercados, os zorós, ao chegarem à margem do rio Branco, resolveram atacar os
empregados da fazenda Castanhal: em dois ataques mataram três trabalhadores e
feriram bastante um quarto. (...) Os irmãos José e Miguel Fortes, proprietários da
Castanhal, ordenaram que nenhum mal fosse feito aos índios. Apenas determinaram
que os peões passassem a trabalhar em grupo, sempre com uma espingarda à mostra,
para deixar claro que também possuíam armas.
Em 1972 Apoena e Zé Bel haviam descido o rio Branco e não encontraram vestígio dos
zorós. Sabiam no entanto da existência dos indígenas nas cercanias do rio Roosevelt, e
por esse motivo pediram a interdição daquela faixa de terra entre os dois rios – o que
não aconteceu.
O aparecimento dos cabeças-secas na Castanhal – apesar de provocar mortes entre os
peões – teve aspectos positivos. Como não tiveram represália pelos ataques, os
indígenas passaram a observar os trabalhadores de longe, e no início deste ano um
grupo de vinte surgiu na beira do rio e acenou para o barqueiro Roque Nunes. Roque,
ao ver que o grupo estava desarmado, atravessou o rio e se aproximou dos índios.
‘Quando saltei da canoa’, conta, ‘não sabia quem tremia mais de medo, se eu ou os
índios. ‘Depois desse encontro cerca de oitenta zorós visitaram a fazenda, mas,
passado um certo tempo voltaram a desaparecer.
Apoena Meireles pretendia contatar no início o grupo que tinha surgido na Castanhal,
para, através dele, chegar aos habitantes das malocas mais afastadas. Como já
tínhamos sobrevoado dez malocas [aldeias], estimávamos que mais de 350 índios
viveriam na região, sendo que a maioria – principalmente os que vivem próximo ao rio
Tiroteio, um afluente do Roosevelt – tem evitado qualquer aproximação com os
brancos.
Acompanhados de Roque Nunes e Gustavo Luís de Almeida, que tinham feito um bom
relacionamento com o grupo de zorós que visitou a fazenda Castanhal, seguimos para
as malocas mais próximas. Acreditava-se que elas ficavam a quatro horas de
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“Após seis horas de caminhada encontraram uma maloca abandonada. Pelo que
puderam observar, seus moradores a haviam deixado há bastante tempo. Convencidos
disso, prosseguiram na caminhada. Andaram ainda umas cinco horas quando voltaram
a encontrar outra maloca, desta vez com sinais evidentes de que fora abandonada há
dois dias. Soube depois que um japonês fizera uma picada desde o rio Roosevelt, já se
preparando para grilar as terras.
- Por isso os índios fugiram – disse Apoena. Esse caminho passava a um quilômetro da
maloca. Quando fomos até a picada, o japonês desaparecera, talvez alertado pelas
notícias de que nos encaminhávamos para o local. Resolvemos não ir adiante no
caminho, pois do contrário estaríamos fazendo o mesmo que o aventureiro japonês.
O grupo de Apoena resolveu então voltar para o acampamento, mas antes , deixaram
alguns presentes na maloca, como facas, machados e facões. Havia certeza de que os
índios voltariam, pois na fuga deixaram redes armadas e milho plantado na roça,
vestígios claros da fuga apressada.
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“A nossa expedição percorrera mais de 200 kms a pé, estivemos nas cabeceiras do
igarapé Tiroteio, Canaã, enfim em quase todas as malocas dos índios Zorós, e fizemos
duas etapas de penetração pelo rio Branco, onde chegamos nos limites da reserva do
Posto Indígena 7 de Setembro (limite leste)” (Meirelles, 1977b, p. 1).
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Portanto, vamos defender sejam quais forem os riscos, a permanência dos índios Zorós
onde estão e aqueles que desejarem a transferência dos índios que o façam, pois nós
não concordamos com essa solução.
A FUNAI, Sr. Presidente, e nós não entendemos até hoje, pois em 1974 nós já
havíamos pedido a interdição da margem direita do rio Branco para os Zorós, mantém
interditada a margem esquerda, e onde os Zorós estão, não existe nenhum ato nesse
sentido. Na margem esquerda do rio Branco, só existem os Gaviões e Araras, do PI
Lourdes, que já estão com a sua reserva demarcada.
Para que não ocorra aos Zorós o fim trágico dos Suruís, atraídos em 1969, e que só
quase dez anos depois a FUNAI resolveu demarcar suas terras, já então invadidas,
griladas, é necessário que já no próximo ano a reserva para os Zorós seja criada, e,
devidamente demarcada. Proposta nesse sentido enviaremos a V. Excia. após terminar
o levantamento total da área” (Meirelles, 1977b, p. 5; ver tb. Estado de São Paulo,
1977d; ).
Em meados do ano seguinte, uma família zoró que acampava num local
próximo à atual aldeia Zawã Kej Alakit (Barreira) - a poucas centenas de metros
adiante da divisa sul da TI Zoró – foi atacada pelos Suruís, armados com espingardas.
Morreram então um homem, uma mulher, um velho, uma mocinha e uma criança. A
tocaia aconteceu, segundo relataram os próprios Suruís aos funcionários da FUNAI,
num “ato de vingança contra os zorós que há dois anos mataram uma família inteira de
suruís” (Estado de São Paulo, 1978a; Chapelle, 1979, p. 216-220).
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Embora curta, a estadia nas terras dos Gaviões, donde retornaram poucos
meses depois, foi marcante para os Zorós: depararam-se com os religiosos
fundamentalistas norte-americanos da Missão Novas Tribos e, sobretudo, foram
afetados por epidemias de malária e hepatite que vitimaram vários deles (Brunelli,
1987, p. 203; Forseth & Lovøld, 1984, p. 18).
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FUNAI lotados na Frente de Atração Zoró - dois deles foram removidos pouco depois
desses fatos (Forseth & Lovøld, 1984, p. 18; Cloutier, 1988, p. 12; Gambini, 1983, p.
7).
“O chefe [de posto da FUNAI] não deixou ninguém caçar durante a semana. Em
conseqüência comeram conservas [enlatados] cada dia útil, o que provavelmente era
caro para a FUNAI e não muito saudável para os índios. Além disso, esta prática criou
problemas para as mulheres e as crianças que foram privadas de carne e de peixe. Os
homens tinham que fazer serviço, e a comida da FUNAI era ‘só para os trabalhadores’.
Só nos domingos era permitido caçar – e aí tinham que ter sorte! Então, um efeito do
projeto era de reduzir consideravelmente o valor nutritivo da alimentação das mulheres
e das crianças” (Forseth & Lovøld, 1984, p. 19)
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Acerca destes fatos iniciais do contato, registrei por ocasião da vistoria pericial o
seguinte depomento do professor indígena Edílson Waratã:
Waratã: “Isso aí eu acompanhei, quando era criança, meu pai ia lá visitar eles, eu ia lá
com ele também. Tinha muita gente, trabalhadores com machado. Isso eu
acompanhei, eu vi. No tempo do contato, antes não. Atravessou dentro da área. Eu
tinha uns dez anos. Eu presenciei, eu fui junto com meu pai no barraco do cara; ele
pegou o revolver, ele atirou perto dele, pá pá pá... Descarregou o revolver e ele riu
depois” (depoimento prestado em 21/10/2016).
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f) Lote de 10 mil hectares adquirido do Estado de Mato Grosso por Manoel José
de Siqueira Filho, que o passou a Chukri Makari em 02/12/64 (transcrição 25.968, RGI
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do 2º. Ofício de Cuiabá, MT); deste, por Ramez Abou Rizk em 24/10/1973; e,
finalmente, por Armando Santos de Almeida em 08/07/1976, que o cedeu para
integralizar o capital social da Agro Pecuária Sul do Aripuanã Ltda em 15/06/1979.
Não obstante, apenas em 1966 o SPI daria início aos trabalhos de “pacificação”
dos índios hostis, com a instalação de um posto-base em Vilhena, para apoiar as
expedições, e a realização de sobrevôos de reconhecimento e localização das aldeias
dos “Cintas-Largas” (Bucker, 1966b). Entre os rios Eugênia, Divisa e Capitão Cardoso
uma aldeia é logo avistada (Breves, 1966). E em março de 1967, Horst Stute (1967) da
Missão Novas Tribos do Brasil sobrevoou a região ao norte de Vilhena e a leste da vila
de Rondônia (hoje Ji-Paraná), oportunidade em que avistou várias aldeias, as quais
atribuiu aos Suruís e aos Cintas-Largas (na verdade, algumas das aldeias eram dos
Zorós):
- uma vila de quatro malocas grandes e roças entre o igarapé Tarumã e o rio
Branco;
- uma vila de cinco malocas compridas com várias roças ao redor, a quinze
quilômetros oeste do rio Branco;
- uma vila de dezesseis malocas grandes com três roças muito grandes, a
cinqüenta quilômetros a nordeste de Pimenta Bueno, na cabeceira do Riozinho;
- uma maloca grande e uma menor numa roça, entre o rio Roosevelt e o rio
Capitão Cardoso;
- duas roças com uma maloca cada, a leste do rio Capitão Cardoso e norte do
ribeirão da Divisa;
- e uma roça com duas casas, no ribeirão da Divisa, cerca de trinta e cinco
quilômetros a leste do rio Capitão Cardoso.
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“uma área de terras de presença dos indígenas, das tribos Gavião, Arara, Suruis e Orós
[Zorós] (...), a fim de, por decreto do Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
ser transformada em reserva e Parque Indígena, considerando que, na localidade se
encontram várias famílias de silvícolas e como usufrutuários, por força do estatuído no
art. 198, da Constituição da República, devem ser preservados e incorporados,
lentamente à comunidade nacional” (Monteiro, 1972).
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“A burla à lei poderia ocorrer durante todo o processo, desde a constituição dos
processos-pilotos das glebas arrecadadas e matriculadas em nome do Estado de Mato
Grosso, na fase preliminar das licitações com a desobediência dos prazos do edital, até
o ‘fechamento’ da concorrência que, normalmente, já tinham candidatos certos,
acobertados por procuradores testas-de-ferro.
Tudo começava com a montagem da vistoria prévia das áreas tidas como devolutas,
quando é imprescindível sua realização, mesmo nas arrecadações sumárias. Por
suposição, a maioria das glebas arrecadadas sumariamente no norte de Mato Grosso,
principalmente nas áreas hoje desmembradas dos municípios de Aripuanã e de Alta
Floresta, foi considerada como devoluta e desocupada, nos próprios gabinetes,
considerando-se serem áreas de mata inexploradas e sem vias fáceis de acesso. Os
mapeamentos das terras quase sempre foram feitos a distância, com recursos da
Cartografia até então disponíveis. Isso era facilmente detectado nos autos de medição,
peça fundamental em qualquer processo de alienação, seja por meio de regularização
seja de venda direta. O perímetro da gleba era delimitado primeiro, a partir do
lançamento de coordenadas geográficas, tendo por base cadastral os mapas de Mato
Grosso editados pelo Departamento de Geografia e Estatística do IBGE. A partir daí
montava-se o memorial descritivo da gleba, que era parcelada, ou melhor, quadriculada
na prancheta, em tamanhos, rumos e distâncias iguais, formando os lotes individuais.
Quando havia ‘urgência’ na conclusão da licitação da área, justificada por interesses
diversos, as áreas eram alienadas com base nessas medições, calculadas, tendo como
referência apenas as linhas das coordenadas geográficas, que certamente, no plano,
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real, continham imprecisões, devido aos poucos recursos cartográficos até então
disponíveis” (Moreno, 2007, p. 255).
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por toda a área, que foram observadas durante os sobrevôos da região (Gambini,
1984a, p. 294). Esta proposta de interdição tomava como limite norte a confluência do
rio Branco com o rio Roosevelt, como limite leste os rios Roosevelt e Quatorze de Abril
e como limite oeste o rio Branco, conforme croquis abaixo. Num primeiro momento, o
presidente da FUNAI, general Ismarth de Araújo Oliveira, havia concordado com tal
proposta de interdição, segundo o jornal O Estado de São Paulo (1976b), muito
embora o objetivo da FUNAI fosse, segundo ele, “promover, nos próximos dois anos, o
contato definitivo com o grupo isolado e transferi-lo para o interior do Parque do
Aripuanã, pois a área onde vivem, próximo ao rio Branco, já está praticamente
ocupada por fazendas”.
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“As aldeias distavam horas, às vezes dias de marcha umas das outras, o que evidencia
o raio de território necessário à autonomia e sobrevivência de cada subgrupo. Trata-se
de um tipo de ocupação do espaço nada arbitrário, mas determinado pela possibilidade
de alimentação adequada e distribuição equilibrada por toda a extensão de terra sobre
a qual incidem antiqüíssimos direitos não escritos de soberania. Os índios, caçadores e
coletores, viviam em permanente deslocamento [no interior de seu território],
realizando alianças através de casamentos, visitando-se e constantemente vigiando seu
território. Na região sul da zona interditada, atualmente invadida em decorrência do
picadão aberto pelas fazendas, havia pelo menos três aldeias que conseguimos
identificar: as encabeçadas por Potsanwíp, Zaap-á e Matchianza, distantes
respectivamente cinco, quatro e três dias de marcha da atual aldeia organizada pela
FUNAI. Havia aldeias até recentemente onde hoje estão as fazendas Castanhal e
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Muiraquitã e que a interdição não levou em conta. Essas são provas suficientes da
extensão da ocupação territorial dos Zoró. O que melhor pode comprovar a posse da
terra que a fixação da moradia?” (Gambini, 1984b, p. 9-10).
Desde 1983 a área Zoró vinha sofrendo uma intensa invasão, capitaneada pelo
grileiro Américo Minotti e outros tantos, que vendiam lotes e instigavam dezenas de
famílias de Roriundas ndônia a ocupar as terras indígenas devassadas pela estrada que
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saía de Espigão d’Oeste em direção à fazenda Muiraquitã, a leste da área sub judice.
Desde fins de 1984, a FUNAI pôs-se a acompanhar os desdobramentos da invasão
crescente, que utilizava a estrada aberta pelo Condomínio Lunardelli, cujos lotes
marcados e desmatados se espraiavam até a margem esquerda do rio Roosevelt.
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ANO DE 1986
“Índios preparam-se para guerra em Rondônia” (Correio Braziliense, 5/9/1986); “Cidade
nasce no meio de área indígena” (Jornal do Brasil, 15/9/1986); “Agrava-se a situação
entre posseiros e índios Zorós” (Diário de Cuiabá, 12/10/1986); “Nenhuma definição
quanto à reserva dos índios Zoró” (Jornal do Dia, 15/10/1986); “Aripuanã: zorós podem
atacar a qualquer hora” (Estado de Mato Grosso,18/10/1986); “Os Zoró avisam que a
paciência acabou” (O Imparcial, 19/10/1986); “Conflito entre os Zoró e colonos
preocupa as autoridades do Estado” (Diário de Cuiabá, 30/10/1986); “Área Zoró em
troca de votos” (Porantim, novembro 1986); “Grupo interministerial vai analisar o caso
dos Zoró” (Diário de Cuiabá, 5/11/1986);
ANO DE 1987
“Área zoró é delimitada, mas continua invadida:” (Porantim, abril 1987); “Paraíso da
Serra: posseiros pedem socorro” (Diário de Cuiabá, 29/8/1987); “Impasse entre índios
e brancos pode se agravar” (O Estado de Mato Grosso, 1/9/1987); “Funai admite que
funcionários possam estar armando os Zoró” (Jornal do Dia, 1/9/1987); “Novo conflito
na área dos Zoró” (Diário de Cuiabá, 5/9/1987); “Índios Zoró voltam a pedir a retirada
dos posseiros” (Jornal do Dia, 5/9/1987); “Kazu quer indenização para posseiros de
Paraíso da Serra” (Tribuna Cuiabana, 13/9/1987); “Kazu em 'Guerra Santa' contra os
Zoró” (Tribuna Cuiabana, 17/9/1987);
ANO DE 1988
“Políticos convidam sem-terra a invadirem área Zoró” (Jornal do Norte – Cacoal,
19/3/1988); “PF vai para área de conflito entre índios e posseiros” (Folha de São Paulo,
18/10/1988); “Conflito entre índios e posseiros faz seis desaparecidos” (Folha de São
Paulo, 19/10/1988); “Índios zoró escapam de emboscada em Mato Grosso; cacique
está desaparecido” (Folha de São Paulo, 20/10/1988); “Funai investiga tiroteio em
reserva zoró; índios planejam invadir sede” (Folha de São Paulo, 23/10/1988); “Polícia
Federal encontra o corpo do ex-cacique Yaminer” (Diário de Cuiabá, 4/11/1988); “Funai
encontra corpo do cacique desaparecido depois de confronto” (Folha de São Paulo,
4/11/1988); “Matadores dos índios têm mandado de prisão” (O Estado de Mato Grosso,
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5/11/1988); “Índios Zoró prendem seis invasores” (Diário de Cuiabá, 22/11/1988); “No
MT, posseiros vão deixar terras dos índios Zoró” (Folha de São Paulo, 7/12/1988).
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dos posseiros, no entanto, vinha afetando os grupos indígenas vizinhos, pois a invasão
ameaçava alastrar-se pelas áreas Roosevelt, Aripuanã e Sete de Setembro.
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divisa norte, onde antes dos contatos amistosos em 1977 estavam localizadas várias
aldeias antigas – razão pela qual o espaço geográfico da TI Zoró vem se mostrando,
cada vez mais, insuficiente para suas necessidades mais básicas, como moradia e
produção de alimentos:
Paulo Apeti (cerca de 61 anos): “O povo está aumentando, por isso que nós vamos
precisar de área livre. Essa área já está lotada já. Em vários lugares tem aldeias, as
aldeias estão ocupando toda a beirada. Vai ficar pequeno pra nós viver. Por isso esse
cara (a parte autora) não pode mexer nossa área, ele não pode querer pra ele nossa
terra. A gente precisa muita área”.
Resumindo aqui a resposta aos quesitos deste tópico, temos que a Terra
Indígena Zoró encontra-se regularmente demarcada e homologada, e lá habitam de
forma permanente os índios Zorós, que a utilizam integralmente para sua reprodução
física e sócio-cultural. A região noroeste de Mato Grosso e sul de Rondônia vêm sendo
ocupada pelos grupos da família lingüística Tupi-Mondé (Cinta-Larga, Suruí, Zoró e
Gavião) desde épocas muito remotas, cuja datação precisa exigiria pesquisas
arqueológicas de vulto. Parece suficiente, contudo, para que se comprove a ocupação
indígena tradicional de forma inequívoca, uma inspeção cuidadosa das referências
extraídas da extensa documentação histórica, jornalística e administrativa. Entre outros
detalhes relevantes, esclarece-se nelas o fato de que as frentes pioneiras da sociedade
nacional, ao adentrar a região dos vales do Roosevelt, do Aripuanã e do Juruena nas
primeiras décadas do século XX, ali já encontraram uma numerosa população indígena
composta de várias etnias, dentre as quais a hoje denominada Zoró.
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Diante das evidências apresentadas, enfim, concluímos que as glebas sub judice
são parte integrante do território zoró mais amplo, seja de um ponto de vista mítico e
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cultural, seja pela localização histórica de suas aldeias, seja em razão da ocupação
atual destas terras por um contingente demográfico expressivo (os dados populacionais
encontram-se no próximo tópico). Quanto aos dez títulos definitivos adquiridos pela
autora a terceiros na década de 1970, por sua vez, nove deles estão sobrepostos total
ou parcialmente aos limites demarcados e homologados da TI Zoró (cfe. mapa em
anexo, “A ocupação indígena na TI Zoró”, elaborado com base nas coordenadas
disponíveis nos autos e no Mapa Cadastral da Divisão de Cartografia e
Fotointerpretação do INTERMAT, datado de 15/10/1980, com auxílio do aplicativo
Google Earth) – e, nestes termos, as partes sobrepostas da área sub judice
configuram-se inequivocamente como terras de ocupação tradicional dos índios Zorós,
a saber:
6) Lote de 10 mil hectares adquirido do Estado de Mato Grosso por Manoel José
de Siqueira Filho: totalmente inserido na TI Zoró;
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10) Lote de 10 mil hectares adquirido do Estado de Mato Grosso por José
Augusto de Figueiredo: não inserido na TI Zoró.
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aspectos sociais e culturais mais relevantes. No que diz respeito aos dados etnográficos
sobre os Zoró, além do que foi observado e registrado em campo, compulsei os
estudos levados a cabo por Gambini (1984b), Maldi (1994) e Brunelli (1989).
De acordo com Maldi (1994; ver também Brunelli, 1987a), a sociedade zoró
apresentava-se sob a forma de grupos locais (ou aldeias), de dimensões variadas
(entre algumas dezenas e, talvez, pouco mais de uma centena de pessoas), que
ocupavam diferentes pontos do território tradicional e eram dotados de autonomia
política e econômica. Na ausência de uma autoridade ou poder político centralizado,
não eram incomuns no passado eventuais cisões, disputas e refregas; todavia, laços de
parentesco e obrigações rituais e festivas favoreciam a manutenção de relações de
aliança e cooperação. Do mesmo modo, contribuíam as funções xamânicas, para as
quais costumavam recorrer a grandes chefes, amplamente reconhecidos e requisitados.
“Cada grupo local era formado por famílias extensas – um grupo de consangüíneos e
afins reunidos em torno de um homem de prestígio – o fundador – e habitava um local
nominado e conhecido dos demais. (...)
A unidade local abrigava-se na grande casa coletiva, a ‘maloca’. Em função de pressões
demográficas, esses grupos eram flutuantes, isto é, podiam se dissolver e novos eram
formados. (...) A dimensão demográfica de cada maloca podia variar de 80 a 150
pessoas – cifras muito comuns nesse tipo de organização social.
A maloca abrigava também os mortos: os Zoró não tinham cemitérios, mas enterravam
os mortos dentro das malocas, o que lhes conferia um caráter sagrado” (Maldi, 1994, p.
182-183).
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“consangüíneas”: segundo Brunelli (1989), em meados dos anos 1980 um terço dos
casos estudados correspondia a casamentos avunculares (entre tio materno e
sobrinha) e um terço a casamentos de primos cruzados (entre filhos de irmãos de sexo
oposto), reais ou classificatórios, o restante não parecia implicar em relações
significativas. O sistema de parentesco zoró, em seus traços principais, assemelha-se
aos dos demais povos tupis-mondés, reconhecidos pela inflexão matrimonial avuncular
e suas projeções oblíquas na terminologia. Contudo, há evidência de alterações
recentes que sugerem uma tendência à equalização geracional (em particular, o uso de
um único termo para o tio materno e a tia paterna, kutkut), e uma preferência mais
acentuada por casamentos entre primos cruzados. Para ego masculino, os demais
termos vocativos são: avôs e avós, de ambos os lados, kutkut; pai e irmão do pai,
papa; mãe e irmã da mãe, ngaj; irmã e primas paralelas, mbat, e irmão e primos
paralelos, zano; filhos próprios e filhos do irmão, netup (m) e wajit (f); sobrinhos
(filhos da irmã) e primos cruzados patrilaterais (filhos da irmã do pai), opep (m) e õzaj
(f); primos cruzados matrilaterais (filhos do irmão da mãe), ma-kaman (“filhos dos
outros”, ou seja, quase não-parentes); e netos, nzerat.
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“Considere-se que a cada três ou cinco anos há troca de aldeia, cujo retorno ocorre
após 25 a 30 anos, quando então a mata, bem como a fauna, está refeita. São
necessários então quatro espaços territoriais idênticos até o retorno ao mesmo local.
Com isso tem-se uma idéia aproximada do território necessário para uma sociedade de
caçadores. A caça é uma atividade constante para o abastecimento de proteínas, daí o
esgotamento pelo uso de 3 a 5 anos” (Pivetta, 1996, p. 77-78).
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terras indígenas (bem como a passagem de estradas, como hoje se observa em ambas
as áreas) têm implicado não apenas em maior disputa de caçadores e aldeias por
espaço e oportunidades, mas sobretudo uma ameaça efetiva à reprodução e a
manutenção do atual estoque de recursos cinegéticos naquele ecossistema.
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caminhada umas das outras. Tal forma de distribuição espacial assegurava um uso
equilibrado dos recursos naturais disponíveis, além de autonomia política. Como
explicou Luiz Matianzap, por ocasião da vistoria pericial, através do método de pousio
das áreas mais intensamente exploradas era possível assegurar a sua ampla
recuperação ecológica, dando ensejo a um novo ciclo de ocupação humana:
“A gente morava assim. Vocês perguntam por que morou do outro lado também? A
gente morava assim, deixava esse lado livre, pra crescer os animais, os peixes
voltarem, o mato crescer, a capoeira crescer. Depois de um tempo, voltava para aquele
lugar. Os animais, anta, jacamim, paca, já voltaram, os peixes já voltaram. Por isso que
nós fazíamos assim, atravessava para o outro lado do rio Branco, ficava mais ou menos
uns vinte anos pra lá, e depois voltava para reabrir as mesmas aldeias. Voltava a morar
nas mesmas aldeias, enquanto lá do outro lado estava recuperando. É assim que nós
vivíamos” (Luiz Matianzap, 21/10/2015).
“Os caniços usados no fabrico de flechas não são facilmente encontráveis, sendo
necessários até vários dias de caminhada para se atingir os raros pontos em que
crescem. E assim com todos os demais elementos coletados, de frutos silvestres até
mel (absolutamente essencial à dieta), barro para as panelas, ervas e cipós medicinais,
resinas, etc. A extração do recurso natural, não sendo predatória, pressupõe um
período de repouso das fontes para evitar o esgotamento e garantir a continuidade
dessa forma típica de produção econômica” (Gambini, 1984, p. 18).
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Homens e jovens (num total de 45) foram submetidos a um estafante regime semanal,
para aprender a “trabalhar como branco”:
“Antes das 7 horas, já são convocados os que se demoram em suas casas. Tomado o
café na cozinha, a um sinal do chefe, partem todos em fila, bota de borracha, chapéu
de palha e facão na mão. Às 11:30, assoviando como nhambu, chama a turma para o
almoço [arroz, feijão e macarrão]. À tarde há mais quatro horas de trabalho” (Gambini,
1983).
A disciplina imposta aos Zorós tinha por objetivos a expansão desmesurada das
áreas cultivadas nas imediações posto e a abertura de uma estrada até a fazenda
Castanhal. Em 1984 a área desmatada já alcançava 40 alqueires, ainda que os
excedentes de milho, arroz e outros produtos fossem desperdiçados, porque não havia
formas de escoamento. De certa maneira, a compulsão ao trabalho, tal qual uma “ética
protestante”, prestava-se antes de tudo à reafirmação cotidiana da autoridade da
FUNAI, um exemplo eficaz de sua missão civilizatória. As atividades de caça e coleta
limitavam-se aos sábados; os domingos estavam reservados ao culto evangélico. Às
sextas-feiras o chefe de posto comandava a distribuição dos brindes semanais, apenas
aos mais assíduos ao “trabalho coletivo”: algumas pilhas, sabão, quatro espoletas,
umas 50 gramas de pólvora, chumbo, querosene, sal. Efeito direto de tal regime de
trabalho, a dieta de mulheres e crianças reduzia-se a mandioca e milho, pois o almoço
na cozinha do posto era servido apenas aos homens que trabalhavam. Segundo o
antropólogo Gambini (1983):
“O índio agora recebe ordens para trabalhar em sua própria terra, em roças que não
escolheu, em quantidades que não planejou, a troco de brindes e de um excesso de
grãos que não pode consumir e não sabe vender.”
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População
ALDEIA Coordenadas
(nov/2015)
Abesewap 13 10° 44’ 05,55” 60° 44’ 17,31”
Anguj Tapua (Santa Maria) 60 10° 39' 04.75" 61° 07' 41,78"
Barãjurej (Seringal) 10 10°33'51.89 60°42' 08,03"
Bubyrej (Central) 48 10° 28’ 33,99” 60° 56’ 30,20”
Casa Verde (antigo Posto Fiscal) 10° 51’ 12,54” 60° 46’ 34,79”
Duabiyrej (Caneco) 18 10° 19’ 31,94” 60° 44’ 22,22”
Duãjurej (Serrinha) 55 10° 35’ 57,59” 60° 42’ 34,26”
Escola Zarup Wej 14 10° 39’ 33,03” 60° 34’ 19,15”
Escola Zawa Karej 14 10° 24’ 20,38” 61° 01’ 24,95”
Gala Anjut 17
Guwã Puxurej 74 10° 53’ 27,40” 60° 48’ 41,11”
Ikarej 15 10° 53’ 47,27” 60° 52’ 10,88”
Inbepuaxurej 25 10° 12’ 53,23” 60° 53’ 24,82”
Ipe Wyrej 36 10° 31’ 07,87” 60° 51’ 07,09”
Ipisirei 10
Japara 5 10° 52’ 12,84” 60° 47’ 47,68”
Pãjyrawã 20 10° 34’ 02,97” 60° 49’ 09,61”
Paraiso da Serra 23 10° 48' 21,80” 60° 43' 31,14”
Pawanewa 37 10° 24’ 30,92” 61° 01’ 35,10”
Payo 4
Rio Azul (Zawup) 10 10° 24’ 14,16” 61° 01’ 26,91”
Santa Cruz 13 10° 42’ 18,92” 60° 34’ 45,94”
Tamali Syn 77 10° 29’ 07,77” 60° 41’ 41,88”
Webaj Karej 32 10° 54’ 45,00” 60° 51’ 02,29”
Zawã Kej Alakit (Barreira) 42 10° 57' 31,58” 60° 53' 52,31”
Cultos, rezas e curas espirituais são hoje ministrados quase diariamente por
pastores indígenas, cujo treinamento e orientação encarregaram-se os missionários da
MNTB, ora sediados em Ji-Paraná (RO). As narrativas bíblicas, traduzidas e
memorizadas na língua materna, são evocadas em sermões e solenidades públicas,
bem como servem aos novos juízos morais e preenchem a conversação doméstica.
Ápice do processo de transfiguração por que passa a cultura zoró, os batismos
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Desde 1987, quando diversos contratos irregulares foram assinados pela própria
FUNAI, as áreas indígenas na região noroeste de Mato Grosso e sul de Rondônia foram
escancaradas à exploração ilegal de madeira, envolvendo funcionários e fazendo
sucumbir a resistência das lideranças indígenas. Embora os contratos tenham sido logo
embargados pela Justiça Federal e pelo Tribunal de Contas da União, as atividades
ilícitas prosseguiram, crescendo ano a ano em volume e alcançando mais grupos
indígenas e novas áreas de exploração. As instâncias locais da FUNAI e dos demais
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Um cenário da situação dos Zorós quanto ao uso dos recursos naturais de sua
área foi elaborado em 2003 e 2004pelo GERA, um núcleo de pesquisa da Universidade
Federal de Mato Grosso, com o objetivo de subsidiar programas regionais a serem
apoiados pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. No
relatório apresentado por Mendes do Santos (2004), destacava-se a decisão dos Zorós
em manter uma barreira e uma equipe permanente de fiscais para impedir a evasão e
o roubo de madeira de suas terras. Ao mesmo tempo, os Zorós assinaram um acordo
com os condôminos da APROVALE (a denominação atual do “Condomínio Lunardelli”) e
com a fazenda Peralta para a utilização por estes das estradas que atendem aos
mesmos, cruzando a área indígena. Em troca da concessão de uso das estradas, cujo
tráfego os fiscais Zorós controlavam, a Associação Pangyjej recebia bens diversos –
como cabeças de gado, veículos e combustível. Ademais, várias aldeias utilizam agora
as pastagens formadas pelos posseiros para a prática de criação de gado, construindo
pequenos currais e cercas próximo das residências.
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Do ponto de vista dos recursos naturais e seus usos pelos Zorós, por
conseguinte, a ocupação indígena caracteriza-se levando em conta os seguintes itens:
os locais de moradia; os terrenos das roças e capoeiras; os territórios de caça; os rios e
córregos onde pescam e batem timbó; as concentrações de castanheiras e de outras
fruteiras do seu cardápio de coleta; os trechos da floresta que oferecem as matérias
primas vegetais que utilizam, principalmente palhas, enviras, pequenos cocos,
taquaras, madeiras especiais para arcos e flechas, resinas, xikaba etc.; os nichos
ecológicos onde vicejam as plantas de sua farmacopéia; os morros e as serras mais
áridas onde encontram as colméias de abelha, fontes de mel silvestre; e, além de
outros recursos de uso tradicional, agora as reservas de madeira que estão
eventualmente explorando com fins comerciais e as pastagens onde apascentam
pequenos rebanhos. Muito embora não exaustiva, esta listagem de recursos e de locais
necessários à subsistência e à reprodução sócio-cultural dos dos Zorós proporciona um
mapeamento adequado de sua ocupação territorial atual. Além dessas utilidades
materiais, temos ainda os locais referidos nos relatos míticos, os sítios de antigas
aldeias, os cemitérios e as capoeiras, que são os marcos históricos que consagram no
espaço geográfico as tradições, os feitos e as glórias dos antepassados.
Agricultura: Há várias roças atuais, situadas entre 0,5 e 1,5 quilômetros. Além
da roça comunitária, cada família tem uma roça particular. Utilizam o terreno
desmatado por dois anos seguidos; e retornam às capoeiras, após um período de
pousio de poucos anos.
Coleta: Extraem palha de babaçu para a cobertura das casas de vários lugares
ao redor, a sul e a oeste, entre 2 a 3 quilômetros. A palha de buriti serve de enfeite
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nas festas. A taquara é obtida na serra, perto da aldeia Guwã Puxurej. Para açaí,
patoá, buriti, mel, etc., a melhor região é a noroeste, cerca de 3 quilômetros. Tiram
timbó (para pesca) ao sul e a noroeste, entre 10 a 20 quilômetros.
Pesca: Pescam no rio Tiroteio e no rio Roosevelt; a oeste, alguns pescam no rio
Branco situado a grande distância a oeste.
Figura 26: Croquis do uso dos recursos naturais na aldeia Tamali Syn, 2015
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Pesca: Pescam pelo rio Branco, acima até a divisa com a TI Sete de Setembro
(Suruí) e abaixo vão descendo até a fazenda Castanhal, cerca de 20 quilômetros.
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coleta de palhas, frutas e mel (cinza médio); 3) a zona de coleta de castanha e de caça
(cinza claro); e 4) os locais de pesca e de coleta de taquara (setas). Pode-se observar,
assim, que uma grande extensão do setor oeste da área ora sub judice encontra-se
sobreposta às zonas de uso dos recursos naturais da aldeia Anguj Tapua – quanto às
demais parcelas da área em litígio, estas correspondem às zonas de uso da aldeia
Abesewap e demais aldeias das imediações.
Figura 27: Croquis do uso dos recursos naturais na aldeia Anguj Tapua, 2015
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Bloise, Clodomiro et alii
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Boletim do CIMI
1976 “Parque Indígena Aripuanã” (inclui excertos do relatório “Situação dos índios
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Bontkes, Willem & Carolyn
1974 On Suruí (Tupian) social organization. Summer Institute of Linguistics: datilo.,
19 p., quadros anexos.
Brasil - Presidência da República
1968 Decreto n. 62.995, de 16 de julho (DOU, 18/07/68). Declara interditadas, para
fins de pacificação de tribos indígenas, as áreas que discrimina.
1969 Decreto n. 64.860, de 23 de julho (DOU, 24/07/69). Cria o Parque Indígena
Aripuanã, que discrimina, na região limítrofe do Estado de Mato Grosso com o
Território Federal de Rondônia, e dá outras providências.
1971 Decreto n. 69.658, de 3 de dezembro (DOU, 3/12/71).
1974a Decreto n. 73.562, de 24 de janeiro (DOU, 25/01/74). Declara interditadas,
para fins de atração de grupos indígenas, as áreas que discrimina no Estado de
Mato Grosso e no Território Federal de Rondônia.
1974b Decreto n. 73.563, de 24 de janeiro (DOU, 25/01/74). Altera os limites do
Parque Indígena Aripuanã e dá outras providências.
1976a Decreto n. 77.033, de 15 de janeiro (DOU, 16/01/76). Altera o Decreto n.
73.562, de 24 de janeiro de 1974, mantendo, para fins de demarcação
administrativa, as áreas descritas naquele Decreto e dá outras providências.
1976b Decreto n. 78.109, de 22 de julho (DOU, 23/07/76). Declara sem efeito a
interdição de parte da área a que se refere o Decreto n. 73.562, de 24 de
janeiro de 1974.
1977a Decreto n. 80.169, de 16 de agosto (DOU, 17/08/77). Declara sem efeito a
interdição de parte da área a que se refere o Decreto n. 73.562, de 24 de
janeiro de 1974, e dá outras providências.
1977b Decreto n. 80.422, de 28 de setembro (DOU, 29/09/77). Declara sem efeito a
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1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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Laudo antropológico – Processo 2001.36.00.001508-9
1ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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