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Processo n. 2006.36.00.003067-5
Classe 1900 – Ação ordinária/outras
Impte: Walmor José Bianchi
Impdo: União Federal e FUNAI
Segunda Vara da Justiça Federal
Seção do Estado de Mato Grosso
Juiz de Fora, MG
fevereiro de 2011
Laudo antropológico – Processo 2006.36.00.003067-5
2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ...........................................................................4
I. UM ESBOÇO ETNOGRÁFICO.....................................................8
ANEXOS
MAPAS
1. Carta-imagem da terra indígena Erikpatsa .............................................................................. 198
2. Carta-imagem da terra indígena Japuíra ................................................................................. 199
3. Carta-imagem da terra indígena Escondido ............................................................................ 200
4. Ocupação indígena na região do Escondido ........................................................................... 201
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Laudo antropológico – Processo 2006.36.00.003067-5
2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
FIGURAS
Figura 1: Situação da área sub judice ............................................................. 5
Figura 2: Localização dos povos indígenas........................................................ 9
Figura 3: Aldeias no rio do Sangue, 1958 ........................................................11
Figura 4: Piques de castanha no Escondido .....................................................46
Figura 5: Rikbaktsa no século XIX .................................................................50
Figura 6: Território dos Rikbaktsa .................................................................51
Figura 7: Rikbaktsa e povos vizinhos..............................................................53
Figura 8: Aldeias rikbaktsa em 1962 ..............................................................54
Figura 9: Expedições no Arinos, 1957.............................................................56
Figura 10: Aldeias no baixo Arinos, 1958 ........................................................56
Figura 11: Aldeias no rio do Sangue, 1959 ......................................................60
Figura 12: Frente do alto Juruena, 1958.........................................................61
Figura 13: Aldeias na margem esquerda do Juruena, 1959 ................................62
Figura 14: Aldeias no baixo Juruena, 1959 .....................................................64
Figura 15: Aldeias na região do Escondido, 1960 ..............................................70
Figura 16: Postos de assistência....................................................................73
Figura 17: Localização e planta do posto Escondido, 1962..................................77
Figura 18: Habitat rikbaktsa e terras indígenas.............................................. 104
Figura 19: Terras indígenas demarcadas....................................................... 105
Figura 20: Terra Indígena Erikpatsa............................................................. 107
Figura 21: Proposta de interdição, 1971........................................................ 108
Figura 22: Terra Indígena Japuíra ............................................................... 111
Figura 23: Permuta de área pelo INCRA ........................................................ 116
Figura 24: Área excluída da Terra Indígena Escondido, 1992 ............................ 119
Figura 25: Terra Indígena Escondido............................................................ 123
TABELAS
Tabela 1: Metades e clãs associados...............................................................22
Tabela 2: População Rikbaktsa, 1973 .............................................................27
Tabela 3: Dados populacionais, 1957-2010 .....................................................29
Tabela 4: Dinâmica residencial, 2000 .............................................................30
Tabela 5: População Rikbaktsa em 2001 .........................................................31
Tabela 6: População Rikbaktsa, 2004 .............................................................32
Tabela 7: Atividades sazonais .......................................................................37
Tabela 8: Espécies animais comestíveis ..........................................................40
Tabela 9: Safra de castanha 2005/2006 .........................................................48
Tabela 10: Nascidos na região do Escondido ....................................................88
Tabela 11: População da aldeia Babaçu, TI Escondido .......................................94
Tabela 12: Coordenadas do caminhamento ................................................... 102
Tabela 13: Extensão das terras rikbaktsa...................................................... 122
Tabela 14: Toponímia hidrográfica rikbaktsa ................................................. 126
GRÁFICOS
Gráfico 1: Série demográfica .........................................................................28
Gráfico 2: Renda monetária ..........................................................................49
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INTRODUÇÃO
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I. UM ESBOÇO ETNOGRÁFICO
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“Os sinais de índios [...] foram se tornando mais frequentes e menos antigos,
notando-se em todos eles o emprego das nossas ferramentas. No dia 19,
bivacamos na margem direita, em um grande e não muito antigo acampamento
deles e onde naturalmente passaram algum tempo ocupados em caçadas e
pescarias [...]
Não estávamos de fato longe dos silvícolas [...]
Havíamos feito 12 kilômetros de levantamento, quando a canoa da mira foi
advertida por gritos e risadas dos índios, que mais abaixo se estavam
divertindo no banho [...]
Assim que ouviram o primeiro grito, naturalmente avistaram as nossas canoas,
e fizeram absoluto silêncio. Não fosse a fumaça que saía da maloca e que se
elevava por cima da mata, e ainda mais a cobertura de palha do rancho, que
somente de longe se avistava por entre a copa do arvoredo, ninguém que por lá
passasse naquele momento suporia que talvez debaixo de cada árvore vibrasse
um coração humano [...]
Havíamos descido, pouco mais ou menos, cento e cinqüenta metros, quando
avistamos a flor d’água, e encostada à margem direita, em pequeno porto, uma
ubá que se achava alagada. Para lá nos dirigimos, a fim de examinar com mais
atenção esta primitiva embarcação usada pelos índios, e que consiste em
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“Ainda desta vez não fomos bem recebidos; ao nos avizinharmos do porto,
partiram outras duas flechas, disparadas sobre nós. Felizmente, como as
primeiras, erraram o alvo [...] Instantes depois deste nosso segundo malogro,
os índios deixaram-se finalmente ver em vários pontos da margem, ricamente
enfeitados, com as suas vestimentas de penas multicores, entre as quais
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“Até então, os Rikbaktsa eram, na fala dos seringueiros, como que fantasmas
hediondos e cruéis, que infestavam traiçoeiramente as colocações dos
seringueiros, roubando seus pertences e, vez por outra, matando seus
ocupantes, cujos troncos eram encontrados sem membros e sem cabeça, o que
fazia supor que, além de tudo, eram antropófagos. Por sua vez, [...] os
seringueiros atiravam para matar assim que avistavam índios, ou mesmo se só
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1 Até 1989, o padre João Dornstauder atendeu aos Kayabis do posto Tatuí, no rio dos Peixes. Faleceu em 1994, em
Belo Horizonte, MG.
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2 A denominação “Escondido” refere-se ao córrego que deságua no Juruena, cuja foz não se avista ao longe por
quem desce o rio (Pacini, 1999, p. 115, nota 101).
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3 A tradução dos Diários de Tolksdorf, que consultei nos arquivos da OPAN, tem a data de 1996, enquanto Pacini
(1999, p. 236) indica uma versão de 1997.
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“Não são índios de rio, como o nome ‘Canoeiro’ pode sugerir. Contudo,
constroem barcos apenas aqueles grupos que habitam o território sul, entre o
Arinos e o Rio do Sangue. Barcos de cortiça, feitos da casca do jatobá e do
cajueiro [...] Suas aldeias estão situadas no interior e distam do rio uns dois ou
três dias de viagem, talvez por causa dos mosquitos ou de outros bichos [...] Os
índios também só vêm ao rio, no tempo seco, para pescar com arco e flecha”
(Tolksdorf, s/d, p. 9-10).
4 Numa de suas primeiras expedições, subindo o rio Juruena, o padre Dornstauder (1975, p. 55) registrou em seu
diário, em novembro de 1956: “Às 11 hs. cortamos um largo poço e um travessão com manchas de pedra e damos
com uma canoa nova de Rikbaktsa, amarrada na margem com cipó. Não era de casca, mas de madeira talhada a
machado. Parece lugar de travessia dos Rikbaktsa. Grande descoberta saber que os Rikbaktsa aqui atravessam
para a margem esquerda do Juruena [...] Deixo um brinde na canoa rikbaktsa.”
5 A pesca nos rios maiores ganhou importância, entre os Rikbaktsa, após a introdução dos apetrechos
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6 Para Sahlins, o “esquema cultural” estaria sempre a improvisar uma “dialética em suas relações com a natureza”.
Assim, dirigindo-se à economia dos povos caçadores e coletores, diz o antropólogo norte-americano: “A cultura,
sem escapar aos constrangimentos ecológicos, pode negá-los, de forma que, a um só tempo, o sistema traz a
marca das condições naturais e a originalidade de uma resposta social - em sua pobreza, abundância” (Sahlins,
1972, p. 32-33).
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Para uma etnografia dos rituais, ver Arruda, 1992a, p.315-353.
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“No alto Juruena pude observar ainda, o seguinte: se morre ali, um índio, na
sua cabana, é enterrado na mesma e a cabana é, então, queimada.
Finalmente, os índios restantes abandonam o lugar e constroem nova cabana,
a alguma distância da que foi queimada” (Tolksdorf, s/d, p. 28-29).
“Quando uma pessoa morre todas as suas coisas pessoais devem ser
queimadas e ela é enterrada em cemitério nas proximidades de sua aldeia.
Certos bens de procedência civilizada como machados, armas de fogo, rádios e
relógios escapam da destruição, sendo apropriados pelos parentes próximos do
morto. Porém, as roupas, colares, adereços e outros objetos de uso pessoal são
destruídos.
Antigamente, diziam que o morto era enterrado no chão da maloca, a qual
também devia ser queimada. Por isso, havia o costume de construir uma
maloca menor para abrigar uma pessoa muito doente, preservando a maloca
de moradia de uma destruição precoce.
Os parentes do morto com os quais ele vivia raspam a cabeça e, depois dos
ritos funerários, mudam de casa e de aldeia, passando uma temporada numa
aldeia mais distante. Só voltam quando os cabelos estiverem crescidos de
novo. Algumas vezes, abandonam definitivamente a aldeia. Há um temor
generalizado de que o morto retorne à aldeia em que vivia, reencarnado num
animal feroz, à procura de vingança contra os parentes vivos”.
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8 O “recinto dos homens”, que Schultz (1964a, p. 266) observou nas “malocas” de Ipatoto e Barari.
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1600
1400
Série demográfica Rikbaktsa
1200
1000
800
600
População
400
200
0
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
2010
Gráfico 1: Série demográfica
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Em fins dos anos 1980, muitos desses locais se converteram nas atuais
aldeias. Sob novas condições, então, os Rikbaktsa puderam recompor algo de
sua própria dinâmica sócio-política (Arruda, 1992a, p. 251-254). A
configuração espacial retomaria seus contornos tradicionais, com a
fragmentação de postos e aldeias: “as aldeias maiores desmembraram-se em
vários aldeamentos menores, mais espalhados e localizados em áreas mais
distantes em busca de mais caça, pesca e outros recursos, reproduzindo a
dinâmica tradicional de ocupação do espaço, inclusive no tamanho e composição
das aldeias”.
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TERRA
ALDEIA RIO MUNICÍPIO hab.
INDÍGENA
Japuíra Castanhal Arinos Juara 11
Japuíra São Vicente Arinos Juara 7
Japuíra Japuíra Juruena Juara 20
Japuíra Cerejeira Juruena Juara 51
Japuíra Pé-de-Mutum Juruena Juara 81
Japuíra Jatobá Juruena Juara 41
Japuíra Divisa Marcolino Sangue Juara 20
Erikpatsa Escolinha Sangue Brasnorte 24
Erikpatsa Barranco Vermelho Juruena Brasnorte 35
Erikpatsa Boa Esperança Juruena Brasnorte 25
Erikpatsa Palmeira do Norte Juruena Brasnorte 10
Erikpatsa Divisa Juruena Brasnorte 35
Erikpatsa Cabeceirinha Juruena Brasnorte 27
Erikpatsa Primavera Juruena Brasnorte 71
Erikpatsa Primavera do Oeste Juruena Brasnorte 8
Erikpatsa Pedregal Juruena Brasnorte 15
Erikpatsa União Juruena Brasnorte 10
Erikpatsa Novo Paraíso Juruena Brasnorte 7
Erikpatsa Curva Juruena Brasnorte 60
Erikpatsa Curvinha Juruena Brasnorte 18
Erikpatsa Segunda Juruena Brasnorte 60
Erikpatsa Nova Segurança Juruena Brasnorte 13
Erikpatsa Beira Rio Juruena Brasnorte 49
Erikpatsa Laranjal Juruena Brasnorte 19
Erikpatsa Santa Rita Juruena Brasnorte 36
Erikpatsa Santa Fé Juruena Brasnorte 9
Erikpatsa Seringal II Juruena Brasnorte 13
Erikpatsa Pedra Bonita Juruena Brasnorte 26
Areia
Erikpatsa Juruena Brasnorte 14
Branca/Bananal
Erikpatsa Nova Juruena Brasnorte 47
Erikpatsa Velha Juruena Brasnorte 24
Escondido Babaçu Juruena Cotriguaçu 20
Fora Desaldeados 27
TOTAL 933
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Barranco Vermelho 60
Boa Esperança 28
Barranco Vermelho Cabeceirinha 28
(189 pessoas) Divisa 36
Escolinha (Rio do Sangue) 37
Primavera 84
Laranjal 38
Primavera Primavera d’Oeste 11
(170 pessoas) União 10
Vale do Sol 8
Pedregal 9
ERIKPATSA Miguel 10
(771 pessoas) Curva 53
Curvinha 17
Curva Segunda 78
(226 pessoas) Segurança 15
Novo Paraíso 15
Beira Rio 48
Pedra Bonita 31
Pedra Bonita Seringal I 17
(99 pessoas) Seringal II 9
Santa Rita 42
Nova 44
Nova
Velha 27
(87 pessoas)
Areia Branca 16
Pé-de-Mutum 85
Pé-de-Mutum Jussara 6
(162 pessoas) Divisa Marcolino 19
JAPUÍRA Jatobá 52
(204 pessoas) Japuíra 17
Japuíra Castanhal 16
(42 pessoas) Pantanal 2
São Vicente - Arinos 7
Escondido
ESCONDIDO Babaçu 42
(42 pessoas)
TOTAL 1017
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“os seis homens que viviam na aldeia foram caçar no dia anterior, enquanto
todas as mulheres começaram a cozinhar na casa do homem mais velho, um
líder cuja roça estava sendo preparada. No dia seguinte, os homens gastaram a
manhã derrubando árvores maiores que restavam, tocavam uma corneta
quando as árvores caíam, enquanto as mulheres terminavam de preparar a
comida. Então todos os petiscos preparados [...] foram trazidos ao makyry (a
casa de todos os rapazes solteiros, e local de encontro de todos os homens
[hoje, conhecida também por “rodeio”]) onde foram redistribuídos às diferentes
famílias. Mais foi deixado no makyry do que distribuído. A festa prosseguiu,
mas sem as danças que acompanham as demais cerimônias” (Hahn, 1976, p.
53).
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“Nesta marcha através da selva vão as famílias inteiras. Cada um leva sua rede
de dormir, seu arco e flechas e paus ignígenos. As mulheres carregam cestos
cheios de utensílio de cozinha, e víveres para os primeiros dias. Por cima dos
cestos, as mães levam seus filhos pequenos, e os lactentes na tipóia” (Schultz,
1964a, p. 253).
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MESES
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
início da estação
estação chuvosa estação seca final da estação seca
chuvosa
maior permanência pesca de peneira em poços plantações de milho fofo e
engorda de macacos
na aldeia dos córregos esvaziados outros cultivares
danças ocasionais que homem planta a batata-
coleta de castanha, redundam na festa de doce (zodo e zodospu) - a
derrubada de roças
inajá e pequi fechamento da estação mulher colhe, mas o
chuvosa homem pode ajudar
homem planta o milho-fofo
colheita de milho e
coleta de castanha e festa de derrubada (wanatsitsa), mas a
outros cultivares
outros produtos mulher pode plantar se ele
(dez. e jan.)
estiver viajando
festa do milho fofo flores de angelim de saia queima de roças coleta de patauá, bacaba,
(dez. e jan.) (tsorõrõ) buriti
expedições em busca de
pesca (veneno
pesca (veneno (ximbua pontas de flechas, penas,
(ximbua batsitsak),
batsitsak), arco e flecha, conchas e animais para piracema
arco e flecha,
linhada) criação (no passado,
linhada)
inimigos)
caça (arco e flecha, caça (arco e flecha, arma caça (arco e flecha, arma
coleta
arma de fogo) de fogo) de fogo)
nominação, furação de
orelha e nariz, caça (arco e flecha, arma
escarificações e de fogo)
tatuagens
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Nesta terra indígena, próximo ao limite sul, localiza-se hoje uma única
aldeia (conhecida como Babaçu, ou Babaçuzal; no seu laudo pericial, Pacini
confundiu-se ao designá-la “aldeia Jatobá” na p. 39, corrigindo-se para “aldeia
Babaçu” na p. 97, cfe. Pacini, 2001). Em julho de 2010 ali residiam sete
famílias, totalizando uma população de trinta e uma pessoas. A infra-
estrutura da aldeia consiste basicamente de casas residenciais, banheiros e
lavanderias, poço artesiano com motor, escola, pequeno posto de saúde, casa
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9 “Esplanada” é um local desbastado para a operação de máquinas e caminhões, onde são empilhadas as toras
para transporte.
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Com base nesses os dados, podemos afirmar que o habitat tradicional dos
Rikbaktsa inscrevia-se entre os seguintes limites: no sentido leste-oeste, desde
a margem direita do rio Aripuanã à margem direita do rio Juruena; e no
sentido norte-sul, desde o salto Augusto aos rios Arinos, Sangue e Papagaio.
Para o que interessa a este laudo, merece atenção, no mapa de Dornstauder
acima, as dez aldeias plotadas justamente na região do córrego Escondido e
seu entorno, bem como o próprio posto da Missão luterana que então assistia
àquela região.
Pome hoje reside na aldeia Beira Rio, na área Erikpatsa, onde o conheci
em julho de 2010, quando dos trabalhos periciais requeridos em outra ação
judicial. No mapa abaixo, os trajetos dessas primeiras expedições na região do
baixo Arinos, e as aldeias visitadas no ano de 1957 por Dornstauder:
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“Padre Edgar me disse [a Alfred Hahn] que durante as epidemias ele andou
junto com padre João por semanas através de aldeias com muitos doentes e
mortos; eles recolheram crianças que consideravam órfãs. Os padres levaram
muitos Rikbakca primeiro para Santa Rosa, um posto missionário no Arinos, e
depois para seu centro missionário em Utiariti, anteriormente um posto da
linha telegráfica de Rondon, logo acima de uma queda d’água de oitenta
metros no rio Papagaio [afluente da margem direita do Juruena]” (Hahn, 1976,
p. 34).
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“Neste outubro de 1958, a pacificação entra numa nova fase histórica. Até
aqui, empenhei-me, tomando a iniciativa de cada movimento pacificador, indo
sempre à frente. Os bons frutos dos encontros tidos com os Rikbaktsa
amadureceram. Os Rikbaktsa interessam-se fundamente pela pacificação, e
encontros se dão por iniciativa deles. E dois movimentos acontecem, um em
direção a mim e outro em direção aos seringueiros. Daqui acontecerá a euforia
dos seringueiros de verem os índios, sem minha presença. Acham-se também
pacificadores.
Minha atividade se desdobra, atendendo às necessidades dos Rikbaktsa nas
doenças no Arinos, no Juruena, pela região da barra do Arinos, no Sangue, no
Juruena, pela região da barra do Papagaio.
Também o Pe. Edgar Schmidt, continuando meu trabalho em extensão para o
Juruena, tanto em cima como depois embaixo, ampliará o campo de ação,
reforçando ao mesmo tempo as bases de atendimento” (idem, p. 159).
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“Dia 11. Descemos à aldeia de locoindi. Hatsabui abre a marcha com arco e
flecha na mão. Fazemos fila indiana. Marcha pelo mato de ar abafado, os
córregos secos.
Às 14 hs., chegamos a uma verdadeira aldeia: duas grandes casas e a casa dos
homens, servidas por caminhos largos e limpos, mata alta, muito babaçu.
Aldeia de locoindi vazia. Entendi, depois dos comentários, que fugira para o
Aripuanã, ao poente, de medo, para se unir aos Rikbaktsa de Pignobitsa [no rio
Aripuanã]. É um dos nove que mataram o seringueiro Suarez.
Hatsabui, Uaigma e Matereocutipa passam a uma outra aldeia que está perto.
No dia seguinte seguirão até a maloca do pai de Matereocutipa, num dia bem
puxado de marcha. Os mais ficamos. Fritz tem uma enorme bolha num
calcanhar, Cangauvi uma ferida, Ricoteti sente-se abatido. Comida escassa.
Felizmente, no caminho, Aundo sobe numa castanheira e derruba castanhas
verdes. De noite vento forte.
Dia 12. Fritz permanece na aldeia abandonada. Aundo e sua mulher nos
guiam. Apesar da temperatura fresca de friagem, suamos bastante, com sete
córregos secos e apenas um com água. Afinal, chegamos a uma roça ainda
fumegando. Uobatau’u, que até aqui veio à frente, guiando, fica atrás de todos.
Um caminho reto rasga um maravilhoso anajazal, a mata alta. Por fim, um
amarelo de palha, de nítidos contornos, se destaca do fundo escuro, em parte
fechado pelo mato. Aldeia maior que a anterior: três casas grandes e uma casa
dos homens. Tudo abandonado, com sepulturas novas.
Após conselho breve dos índios, voltamos um tanto do caminho e enveredamos
por outra trilha batida, que nos leva a uma pracinha com seis ranchos.
Matereocutipa nos espera. Seu pai falecera e não sente necessidade de ir logo à
distante aldeia.
Primeiro me apresentam a Tsapako10 [...] Dou-lhe remédio. Depois vem Icoma,
o chefe desse grupo e a alma da resistência ao avanço dos civilizados, cabelo
comprido, estatura pequena, porte de homem no vigor da idade e do mando.
No grupo conto três homens e duas mulheres [...]
Reunimo-nos umas 30 pessoas. Os nomes mais falados são: Icoma, Tsapako,
Uatama. Iogmaba [...] Dou remédios a todos. Icoma faz questão de que sua
criança receba uma injeção.
De tarde, chegam em fila indiana, silenciosos, quatro caçadores, de uma
excursão pela região do baixo curso do Juruena. Gastaram três a quatro
meses. Matsin [Geraldino Matsi], o mais avantajado entre eles, vem tossindo.
Comida farta na aldeia: carne moqueada, batata, mingaus de batata doce e
milho semi-azedados. Tenho a impressão de ser bem acolhido e aceito, quase
com expectativa de algo extraordinário. Mostram curiosidade e admiração mal
disfarçada. Reparo que muitos examinam de perto e tocam pela primeira vez
um civilizado.
Os hóspedes pousamos ao ar livre. Noite fria e de forte vento. Ricoteti, entre
dois fogos, a toda hora sopra tições.
Dia 13. Voltamos à aldeia de locoindi. Fritz não perde a ocasião de demonstrar
a boa pontaria e destreza no tiro. Obtém, por troca, objetos indígenas, já que
10 Pai de Geraldino Matsi e Salvador Okodoby, os quais entrevistei em julho de 2010 na aldeia Pé-de-Mutum
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O contato com Icoma, que imaginava seria o fecho da pacificação, não é senão
a porta para nova série de aldeias. Uaigma, Tsavata e Matereocutipa dizem que
encontrarei aldeias ligadas entre si por trilhos até o Salto Augusto e ao interior
do Aripuanã. Têm interesse de irem até esses índios. O chefe mais falado por
Uaigma é Vutamo. Teria de visitar Moikxau” (idem, p. 178-179; grifos meus).
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- ‘Seringueiro não presta, não tem nada: só facão velho e um anzol grande
rabichado com cera!’
Dizem que comeram o miolo. Os seringueiros e o encarregado do barracão,
François, confirmam essa morte. O crânio do seringueiro, a faca e o anzol
foram enviados para o Museu da Faculdade de Filosofia Nossa Senhora
Medianeira, em São Paulo.
O grupo de Moikxau totaliza 15 pessoas. O mais velho é Paravari. As duas
filhas de Paravari estão casadas com os dois irmãos Moikxau e Mãroc. Aqui
está também Aigba e sua irmã ou prima. O pai de Aigba, faz pouco, foi morto
por Uoigbe, matador de gente, morador não longe daqui. Com Pacai está sua
mulher e a enteada Anoindu, depois chamada também Luzia, e mais a viúva
do irmão de Uaigma, com a paralítica. Também estão lamari, Tsapatao,
Adivaliuta, cada um com a família. A mulher falecida de Adivaliuta, que era
irmã de Uaigma e Tsavata, chamava-se Nema e tinha deixado uma filhinha
Moha, depois chamada também Beatriz” (idem, p. 179-181; grifos meus).
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de Juína Mirim não funciona. Deixo por escrito uma mensagem, para o dia em
que funcionar.
Já com atraso de três ou quatro dias, parto para a confederação da Pedra
Bonita, deixando de atender a outras necessidades dos Rikbaktsa e dos
seringueiros. Saio do posto Santa Rosa.
No barracão do Geraldo, informam que já apareceram três ou quatro
turminhas de Rikbaktsa pedindo ferramenta, entre eles Intsima e Matsin. [...]
Na ilhinha da Água Branca, o seringueiro Abel acaba de baldear uma turminha
de Rikbaktsa para sua feitoria. Sente-se todo feliz e preocupado. Tento
persuadi-lo da conveniência de seguir o regulamento de nossa turma de
pacificação. Levo os índios novamente para a margem esquerda do rio. Dizem-
se ligados a Iyama e Patsec. Matereocutipa e Tsapatao me acompanham só até
o porto de Intsima, pois desejam falar com Intsima, Tsanamuitsa e Voco. Para
sugerir a paz e para noivar.
Dia 16. Às 17 hs., encontro-me com Poigma e Patsec na feitoria de José
Alagoano, numa pequena ilha. José Alagoano anda em relações amistosas com
os Rikbaktsa. Dá-lhes do que tem. Dorme em tarimba, porque cedeu rede e
mosquiteiro para os índios. Defronte à sua ilha, fica o porto de Poigma.
Tsavata tinha trazido uma turma de índios até a Pedra Bonita e de lá Geraldo
os trouxe de lancha, até o porto de Poigma. Na Pedra Branca morreram cinco
índios, entre eles Poigma, na maloca de Poigma e Mãrãmo, da turma de
Arobitsapo, no porto. José Alagoano tratou de Mãrãmo na própria feitoria e
depois no mato, olhando todos os dias por ele. Numa raiz de árvore, sentado,
Mãrãmo dizia:
- ‘Padre João não vem. Vamos embora!’
Fico pensando. Pousamos em terra firme. Não longe, no ranchinho de palha, o
Rikbaktsa morto, já quase seco.
Outro dia, entro terra a dentro, em marcha acelerada. Já tarde, passamos pela
maloca de Bebeu e Pudata e logo pela de Uatamo abandonadas. No outro dia,
encontramos a turma acampada no mato. Um misterioso alívio se espalha com
a minha chegada, como de um parente, de muito tempo esperado. Vutamo
sente-se fraco, com os pés inchados e nevralgias toráxicas. Petsama tem uma
ferida infeccionada no pé. Vutamo desabafa:
- ‘Tudo era bom. Faz tempo não havia doença. Agora, os Kütsa apertam por
todos os lados.’
Dia 18 de junho. Saio a buscar mais medicamentos em Santa Rosa. Poigma me
acompanha. Uaigma, já prático, permanece e dá as injeções restantes.
4 de julho. Estou novamente no porto de Poigma. Acompanham-me
Iagdomuitsa e Pubarata.
Dia 6. Ainda cedo, passamos pelo desvio da Pedra Bonita. O acampamento fica
perto. De longe meus companheiros percebem fogo e se aproximam com
cautela. Encontramos duas crianças. Não fogem. Somos esperados com
ansiedade, mas poucas palavras e isenção de expressão. Uma breve vista
revela tudo: muitas cabeças rapadas e muitas crianças juntas [...] Morreram
Uutamo, Uoiguedem, Petsama. Ao entrar, oferecem bananas verdes cozidas.
Reparto com as crianças.
A rede de Uaigma ocupa o centro, ao lado da viúva de Uutamo, tendo ao lado a
rede da mãe. A mãe e os outros membros do clã endossam o casamento de
Uaigma e da viúva recente: assisto ao jogo caprichoso da morte e da vida”
((idem, p. 181-183).
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De acordo com Pacini (1999, p. 49, 59), concluída mais essa etapa, os
jesuítas dedicaram-se aos postos de assistência às margens dos rios Arinos,
Sangue e Juruena, e as expedições perderam sua importância estratégica.
Epidemias de gripe, catapora, varíola e sarampo, que dizimaram parte das
aldeias e deixaram inúmeros órfãos e viúvos, por sua vez, serviram de
justificativa para as medidas de transferência massiva dos remanescentes
para os espaços sociais sob o controle dos missionários, uma forma de
“neutralizar a dispersão” dos Rikbaktsa por seu imenso território tradicional.
Na opinião do antropólogo, o tratamento dos doentes nos postos tornou-se “um
fator decisivo da adesão dos Rikbaktsa à pacificação”; apesar das condições
precárias e a freqüente substituição de encarregados, os postos permitiram
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“De volta ao posto Régis, vem comigo uma turma de adultos e crianças semi-
órfãs, na esperança de uma vida melhor. Uaigma chefia a turma. Ainda no
porto, atarefado, recebo um recado do seringueiro do córrego Amolar, Paraíba,
dizendo que espera por mim na sua feitoria, com uma turma grande de índios.
Não posso atender ao Paraíba, ocupado com a transferência dos 40 índios que
tinha reunido aos poucos, trazendo-os em dois grupos, etapa por etapa, ao
posto Régis” (Dornstauder, 1975, p. 183).
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11 Amawi (Tonobibita; Padrasto) mora hoje na aldeia Jatobá, onde o entrevistei em julho de 2010 – ver adiante.
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“Antes o pe. João encostou no Posto para levar índios, especialmente crianças
para o posto deles, mas o Germano não deixou e o padre diz [que], se não vai
desta vez nesta maneira, ele encontra outra. Mandou outra vez índios para
atrapalhar a nossa vida, mas os nossos índios não querem sair do posto. O
padre prometeu [a] estes índios muita coisa e eles tinham medo de voltar sem
levar índios. Eles ainda queriam ficar conosco mas eu não deixei - até índios
Kajabis querem ficar conosco” (Tolksdorf, 1996, p. 223).
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“Na seca irão procurar suas roças antigas. Alguns talvez fiquem morando em
suas aldeias primitivas. Outros querem fixar-se em definitivo no Escondido.
Com isto torna-se muito difícil pensar em uma transferência, nos próximos
tempos. Primeiro nós deveremos pensar em mentalizar acerca da transferência
para a reserva.
Haverá um modo que talvez apresse este processo. Que o capitão Tapema, com
mais alguns homens influentes os vá procurar, esteja com eles o tempo
necessário, e os convença. Mas para isto eles deveriam dispor do tempo, que é
totalmente tomado pelas derrubadas, extração de borracha, etc. Deveria haver
um fundo que os mantivesse durante este tempo, pois se trata de um trabalho
importante” (Schmidt, 1972a).
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“Estão muito apegados ao lugar. As razões que aduzem são: O mato é limpo.
Caça e pesca abundante. Castanha em abundância. A construção das casas é
fácil com babaçu. Facilidade de coleta de penas e taquara. Ao pium13 estão
acostumados. Tem boa amizade com a população envolvente. Nas peles [de
animais] tem um meio fácil de sempre ter em mãos dinheiro. Motivos que
Balduíno [Loebens, jesuíta] e eu vemos: Joana [Joan Boswood, lingüista] está
ligada afetivamente ao grupo. Enquanto ela não se mexer vai ser bastante
difícil. Viveram sempre em grande fartura. Há ainda o problema de grupos de
família, clãs, com questões muito antigas. Não acreditam na vinda do civilizado
em massa e na conseqüente diminuição de caça e pesca, e restrição de
liberdade de as mulheres poderem andar a vontade sozinhas pelos matos em
procura de contas, frutas, etc. (Schmidt, 1972e, p. 1).
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fazia cinco anos, o local ainda abrigava muitas fruteiras. Este comentou sobre
os “vestígios de índios, neste córrego do Dico e no córrego do Cristóvão, também
chamado Corregão”. Da foz do córrego Dico, os expedicionários seguiram para
a “antiga roça de Abiktsamy”, distante duas horas e meia de caminhada
córrego acima. Daí, passaram para o córrego do Cristóvão, encontrando nas
cabeceiras deste o “maior número de vestígios”.
Os índios estão andando mesmo. Devem ter andado matando peixe. Muitos
pauzinhos quebrados que não deixam dúvida. Também vimos um caminho
(pauzinho quebrado) indo rumo ao córrego do Santarém [limite norte da atual
Terra Indígena Escondido], em cujas cabeceiras os Rikbaktsa acham que os
Iakarawata [como denominam estes índios isolados] se encontram [...]”
(Loebens, 1978-1984).
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Novas expedições deram-se nos anos seguintes, duas a três cada ano,
percorrendo repetidas vezes os córregos Cristóvão, Escondido e Santarém - a
despeito de vestígios aqui e ali, inclusive roças velhas, os índios “arredios” não
mais foram avistados (idem, ibidem; Valdez, 1985). De todo modo, as dezessete
expedições do padre Balduíno Loebens à região do Escondido, entre julho de
1978 e maio de 1984, proporcionaram aos Rikbaktsa, aos guias e suas
famílias, condições para a obtenção das valiosas tabocas para fabricação de
ponta de flecha14 e, da mesma maneira, para aproveitar os demais recursos de
coleta (castanha, mel etc.), caça e pesca existentes naquele habitat, bem como
frutas e outros produtos em capoeiras do posto e de antigas aldeias.
14De acordo com Athila (2006, p. 107, nota 66), a ponta de flecha jurupará (zayta) é “um artefato extremamente
valorizado pelos Rikbaktsa”, uma “questão de status”. É o que os leva a excursionar na estação seca para o baixo
Juruena, “em direção ao Escondido, pois dizem só existir nesta região”, salientou a antropóloga.
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2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
ALDEIA ONDE
NOME SEXO NASCM. PAI MÃE
RESIDE (2002)
Raimundo Aikba M 1930 Ruwai Myktape Cabeceirinha
Raí Iribudu M 1933 Iokzari Mabe Segunda
Jovelino Otope M 1936 Hazotok Sturiu Beira Rio
Abelardo Awi M 1943 Ewbadik Primavera
Tokta M 1945 Zõrõ Muma Velha
Marlene Tikdaba F 1947 Pedra Bonita
Ana Maria Pikzare F 1948 Bokok Segunda
Luzia Wauhomy F 1950 Zeohõta Isturio Rikabktatsa Nova
Lúcia Aritsó F 1950 Totsimy Mybaza Beira Rio
Vitor Tabta M 1952 Tabta Myma Primavera
Rafael Tsady M 1952 Wowoi Mãwa Curva
Ricarda Dama F 1952 Pentsa Curva
Tomas Apana M 1952 Victor Tyawytak Diana Perawy Divisa
Zezão Tãbok M 1953 Mõzõze Seringal
Maurina Tawy F 1953 Amawe Pikdau Segunda
Sérgio Etedemy M 1954 Bezazik Zada Nova
Myitsikzi
Arlindo Pudata M 1955 Primavera
(seringueiro)
Nicolau Apytsae M 1955 Pudata Apute Pedra Bonita
Ângelo Koi M 1956 Primavera
Cláudio Abamy M 1957 Materokutipa Pikzare Pedra Bonita
Pedrina Kanawa
Agda Waikna F 1960 Divisa
Manihã
Miguel Iokdomutsa M 1960 Bezazik Zada Nova
José Peteca Wowoi M 1961 Wowoi Mikmawa Nova
Daniel Waikyi M 1962 Pedro Paulo Adudaba Mykzabyi Segunda
Judite Mytaikmy F 1962 Pedro Paulo Adudaba Francisca Tiksou Segunda
Zenilda Burik F 1962 Aone Tebe Velha
Vanda Tsutsuba F 1963 Raí Mapõ Pikdamy Segunda
José Augusto
M 1963 Pedro Paulo Adudaba Francisca Tiksou Segunda
Boemy
João Tsaputai M 1965 Sykmy Luzia Wauhomy Velha
Barranco
Darci Bararik M 1966 Bararik Tabay
Vermelho
Alberto Jobomy M 1968 Abelardo Awi Isaura Myitsikwy Primavera
Juarez Paimy M 1968 Sykmy Luzia Neidy Curva
José Pelado
Jucelino Izikmõ M 1970 Tereza Makbui Cabeceirinha
Pikupybawy
Valter Mykbema M 1972 Frederico Tsodopa Dázia Zazilta Segunda
Edite Mõma F 1972 Sykmy Luzia Tapada Laranjal
Cássia Anipá F 1972 Boatemy Zada Nova
Nestor Zikmy M 1973 Bwadare Eunice Tykdawy Curvinha
Daniela Mãnãe F 1974 Pedro Paulo Adudaba Francisca Tiksou Segunda
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2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
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2ª Vara da Justiça Federal - Mato Grosso
15 Por ocasião da perícia que realizou em 2001, o antropólogo Aloir Pacini (2001, p. 34-35) vistoriou a laje da
Capivara, na ponta da ilha do Escondido. No cemitério, encontrou cinco túmulos, um deles de Severino Apiaka,
morto em setembro de 1988 por garimpeiros - o que motivou a fuga dos Apiakas (Raimundo e sua esposa Santina;
Doca, seu marido Pedro e seus filhos) que ali residiam para a área do Japuíra. Raimundo, Severino e Doca eram
filhos de Dico Apiaka, e este irmão de Noca Apiaka. Um dos filhos de Doca, Chico, casado com Maria Auxiliadora
(Rikbaktsa) fez uma roça na foz do córrego Santarém em 1995. Permaneceram ali até 2001, quando a morte de
um filho e um conflito conjugal os separou; mudaram-se então com os demais Apiaka para o município de Juara.
16 As famílias de Sykmy e Dokta, junto com as de Folia e Moreno, estavam entre as últimas a se transferir para o
alto Juruena, em 1973. Apenas Dokta voltou a residir no Escondido, onde fundou a aldeia Babaçu, visitada na
ocasião desta perícia. Folia sofreu um acidente fatal com sua canoa (Athila, 2006, p. 156, nota 109). Sykmy reside
na aldeia Beira Rio, onde o entrevistei, e Moreno na aldeia Areia Branca.
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do rio Juruena, na aldeia Omyhaopoki (figueira), onde seu meu pai faleceu. Ali
morou por mais sete anos; seguiu então para o posto Escondido, onde
encontrou com Sheila, Fritz, padre João... Na época do contato, morava na
aldeia Zopoktsahaky: “Ali escutei os comentários dos outros Rikbaktsa, de que o
padre João fez os primeiros contatos. Quando visitávamos outras aldeias, lá
comentavam sobre o padre João. Fomos por isso descendo, porque as expedições
do padre João eram mais beirando o rio Juruena. Teve duas visitas do padre
João. Ele foi até a barra do córrego onde eu morava, e daí ele subiu. Deixou o
barco e foi pela trilha até chegar na aldeia. Voltei a morar nessa aldeia, eu não
queria ser amansado pelo padre João... Daqui fui direto para o posto Escondido,
onde estava a turma da missão (luterana) fazendo frente de contato, Sheila,
Fritz... Voltei a morar na segunda aldeia, passei mais uns quatro anos... Aí na
outra, de lá fomos para o posto Escondido, o posto velho. Aqui (apontando no
mapa) havia mais aldeias vizinhas, nas cabeceiras do córrego Escondido: a
aldeia do Mapõ; a aldeia do Erikdi; a aldeia do Oiakitsi (ele faleceu na aldeia); a
aldeia de Awei. Esse pessoal veio também para o posto Escondido. Do
Escondido, fomos transferidos para o Japuíra”.
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Dokta: Nós aproveitamos para fazer a roçada, para derrubar, plantar roça.
Fazer casa tradicional, primeiro. Começou a fazer casas, em 1998, ficamos de
vez. Não volto mais para lá.
JDP: Alguém veio para falar para vocês saírem daqui?
Dokta: Não. Não tem jeito de mandar... Só esse pessoal do Berneck [firma
madeireira da região] que veio aqui, falando que era dono, que nós estávamos
tirando madeira... Não sei se queriam roubar mais madeira... Agora nós
estamos na nossa área, esse negócio de roubar madeira acabou. Tem que
respeitar um ao outro. Se nós formos roubar de vocês lá, não vão gostar.
Mesma coisa que vocês pensam. Tem que respeitar um ao outro. Essa
demarcação que foi feita, agora vai começar... roubar mais madeira? O cara
ficou quieto. Passou de noite, oito horas da noite... Nunca veio mais.
Marilza (assistente técnica): No futuro, essas pessoas que nasceram aqui e
moram em outros lugares, vão vir para cá?
Dokta: Muitas pessoas que nasceram nesta região, existem ainda, estão para
cima. Tem Rafael, Paulo, João Pequeno, a mulher do Darci... Quando veio aqui
falou: “Esse pé de castanha, eu apanhei, pequena, com doze anos, apanhei
castanha, subi nesse pé de castanha, apanhei...” Agora está aposentada
também. Tem outra mulher que veio ano retrasado: “Lá córrego nós
apanhávamos peixe aqui...” O pessoal lembra ainda. Tem um homem, que veio
esse ano, o pai do Marcelo, que está casado com minha sobrinha, ele contou
tudo, nesse pé de açaí, conheceu tudinho. Ele gostava de matar peixe na
flecha, nesse córrego; morou muitos anos aqui. Esse pedaço, onde está a
derrubada velha, ele mostra tudo aqui. Onde o pessoal fazia festa, na beira do
córrego Canoeiro, ele contou. Tem uma roça velha, que é mais para dentro,
onde fomos ontem, adiante do córrego das Táboas, tem uma derrubada velha.
Lá também, ele contou que o pessoal fez festa uma vez...
JDP: Lá era aldeia de quem?
Dokta: Aldeia do avô de Adelcio, chamava Aone.17 Adelcio está morando... O
pai do Adelcio chamava Tokta. Ele ficava na aldeia Nova, não anda... Está lá.
JDP: Parece seu nome?
Dokta: Meu nome é Dokta, e ele é Tokta.
17Tebe (aprox. 80 anos), a viúva do cacique Aone, está hoje morando na aldeia Pé-de-Mutum (informação pessoal,
Adriana Athila, 2011).
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abrir o corte. Meu pai lá era chamado para abrir corte de seringa, para os
outros trabalharem. O pessoal aqui falou que estava precisando de gente para
abrir corte. Meu pai tinha feito diploma, naquele tempo, fez curso. Aí viemos
para cá. Veio abaixo assinado de lá, que meu pai estudou... Não queriam
qualquer um, só quem mandasse uma carta, para apresentar quem que você
é... Um vinha trabalhar, outro... Naquele tempo, de muita bandidagem, 1962.
Mandaram então uma carta, dizendo qual era a profissão do meu pai.
Chegamos ali na Capivara, a laje da Capivara.
JDP: Perto da foz do córrego do Escondido?
Raimundo: Lá onde era a maloca dos meninos [índios] lá. Fica mais ou menos
no meio, o Santarém é mais em baixo. Nós chegamos nessa laje, que é uma
pedreira grande, bonita. Nós viemos do Pará com meu tio, tinha um
motorzinho daqueles 10/12, puxado na fieira. Tinha umas cachoeiras brabas,
vinha com ele. Chegamos naquela laje. Aí chegou lá um cara que andava por
lá, finado Boeira, faleceu há muito tempo. Ele trabalhava na administração
dessa seringa. Meu pai mostrou a carta que tinham mandado.
JDP: O Boeira trabalhava para quem?
Raimundo: Trabalhava para a CONOMALI, era encarregado de comprar
borracha, vender, limpar estrada, trazer seringueiro. Meu pai mostrou a carta,
ele disse que estavam precisando, tem muita gente aí, mas não sabe abrir
corte. Fomos então na CONOMALI, o finado Willy era o chefe, tinha outro,
Walter Erbach, que está até hoje, o irmão dele [Willy]. Meu pai então começou
a trabalhar. Fui indo, me entendi de gente, e nós ficamos lá trabalhando. Foi o
tempo em que o padre João começou a navegar aí. Tinha esses índios bravos,
esses Canoeiros, esses Erikbaktsa que ainda estavam brabos.
JDP: Eles não atacavam vocês?
Raimundo: Nunca atacou. Eles eram acostumados ver meu pai trabalhando lá
no Pará... Eles navegavam daqui ao Pará. Falavam que era perigoso. Meu pai
dizia: “Não, estou acostumado com eles, não são perigosos”. Quando eu peguei
idade, cinco ou seis anos, eu ia com meu pai [cortar seringa]. Ia com picuá de
caneco nas costas, meu pai vinha com a faquinha abrindo. Eu ia só pondo os
copos. Chegava naqueles lugares, a estrada fechada, eu queria abrir com meu
facãozinho. Meu dizia: “Não, deixa que foram os colegas [índios] que fecharam”.
Arrodeava e ia embora.
JDP: Como fechava?
Raimundo: Quebrava ramo, dobrava assim. Ou amarrava cipó, um ramo no
outro, nas picadinhas. Às vezes emborcavam o copo, e a seringa ficava
pingando. Eu ficava com bastante medo, começava a chorar. Não, dizia meu
pai, eles não mexem. Ele não falava que era índio, dizia que era um passarinho
que emborcava... Nunca nos atacaram. Depois o padre João começou a ir por
lá, deixava as coisas para nós deixarmos para eles, facão, bolacha, doce. De
início, eles não pegavam. Depois começaram a pegar. E começaram também a
navegar com o padre João, deixaram... Foi indo, eles saíram nesse lugar, lá no
Escondido, onde eles tinham a maloca. Tem a boca do córrego, mais para cima
tem um lajeiro, tipo uma cachoeira. O seringueiro andando por lá, viu eles
tomando banho nas pedras. Aí foram amansando, e fizeram o barracão lá, para
amansar eles. Aí ficou o barracão, até agora. Passou o tempo, eles amansaram,
aí começaram a espalhar, para Fontanillas, para o Barranco. Andávamos pelo
Juruena, o padre João e eles que davam mais condição para nós. Daí, toda
vida, ficamos no meio deles.
JDP: Você chegou a conhecer o posto dos evangélicos, o Fritz...
Raimundo: Conheci demais. O Fritz, aquele Arnildo... Esses caras, uns ainda
estão no Porto dos Gaúchos, velhinhos... Navegaram, nesse tempo. Tem o
Leopoldo, esse era rapazinho, tem uma oficina grande agora lá. Depois que
faleceu o Boeira, entrou um tal de Gustavo, por último, o derradeiro
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comprador de borracha que entrou foi o Azuino. Ele tem uma fazenda hoje. A
firma não quis mais mexer, tinha muita despesa, e a borracha desvalorizou.
JDP: Vocês ficaram morando?
Raimundo: Ficamos morando nessas condições, no tempo em que cortava
seringa, e junto com os meninos [índios]. Depois parou a borracha, e nós
ficamos que nem os meninos [índios], no meio deles, e dando assistência, esse
padre Edgar, padre João, sempre dava assistência para nós, mais saúde. No
tempo do padre Edgar, no tempo da Sheila... Tinha outras, que já faleceram, a
irmã Helvécia, que estava na nossa aldeia. Eles comandavam lá. Naquele
tempo era difícil esse negócio de saúde, nós fizemos um campo lá no
Escondido, só de traçador, machado e foice. Para um caso de emergência, o
avião descer.
JDP: Vocês moravam todos juntos, na laje da Capivara?
Raimundo: Tudo junto. Foi o entrevado que eles saíram, eles andavam por
aqui, mas não estavam mais morando, aí nós ficamos.
JDP: Quando o padre Balduíno fez as expedições, levando o pessoal para
cima?
Raimundo: Foi. Nós ficamos tomando conta da área. Eles [os índios] sempre
iam lá, e tal... Foi o tempo em que estavam os garimpeiros lá no Juruena, que
é bem pertinho. Nós fazíamos roça, vendia, mas ficamos sem assistência de
saúde. Só de comida mesmo, nós fazíamos roça, fazíamos farinha, vendia
galinha, vendia porco, tinha muita roça. Aí começou lá um piseiro, puseram os
garimpeiros para fora, entrou uma firma, uma companhia, aí começou a
ameaçar nós. Tinha pouquinha gente nessa aldeia aí. Naquele tempo nós
éramos muito obedecidos. Meu pai falou: Vamos embora. Aconteceu esse
entrevado, para a gente se desgostar. Mataram meu irmão lá, para roubar.
Garimpeiros. Meu pai ficou desgostoso. Está fazendo mais de vinte e cinco
anos que aconteceu isso, trinta anos. Meu pai se desgostou e falou para irmos
embora. Acabamos com tudo, vendemos tudo e viemos. Nesse entrevado, me
ajuntei com uma mulher aí, tinha três crianças com ela. Ela não era índia, era
branca. Nós viemos, ficamos ali no Arinos, no Castanhal (aldeia). Eles (os
Rikbaktsa) queriam nós bem demais, mas já com minha esposa não queriam...
Eu era índio, ela não, para largar não tinha jeito. Peguei e saí. Fomos lá para
nossa aldeia no rio dos Peixes. Lá se tornava melhor, era nossa. Também lá
ficou a mesma coisa, me queriam bem mas não queriam minha esposa. Meu
pai falou: Vamos sair para cidade, que nós ficamos tranqüilos. Mas aí meu pai
já não agüentava mais, vivia doente, sofreu derrame duas vezes e acabou
falecendo. No Porto dos Gaúchos, onde está enterrada minha mãe também.
Meu pai faleceu. Chegaram os pais da minha mulher, que moravam em Barra
do Bugres. Fomos para lá passear, eu não conhecia. Lá ela achou que não
queria mais me acompanhar, ficou com pai e mãe. Vou fazer o quê? Você vive
sua vida, eu vivo a minha, o mundo é grande. Deixei ela lá, vendi a casa que
nós tínhamos, dei o dinheiro para ela. Fiquei sozinho, trabalhando.
JDP: E as crianças?
Raimundo: As crianças ficaram com ela. Eu fiquei dando assistência aos
meninos, agora estão todos grandes, casaram. Já tenho até neto. Fiquei
sozinho, trabalhando lá. Nessa época de final de ano, essa irmã mais velha
estava para cá. Meu pai tinha deixado lá uma casona (Porto dos Gaúchos) de
herança nossa, eu não podia vender porque não tinha nome de ninguém. E
estava sem contato com essa irmã mais velha, Doca (Maria de Fátima) que
mora em Cotriguaçu... Telefonei para ela, convidou para vir passear... Lá perto
da rodoviária (de Porto dos Gaúchos), tem um tio meu, Cândido [Morimã], que
pilotava os barcos para a CONOMALI. Está velhinho. O filho dele que está
tomando de conta da Rodoviária. Ele tomou conta da Rodoviária, aposentou,
entregou para o filho dele. Segunda-feira cedo sai para cá. Nem sabia que eles
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DISTÂNCIA DA
PONTOS ALDEIA BABAÇU COORDENADAS
(metros)
Divisa sul 397,0 S 9º 40’ 23,1”; W 58º 43’ 12,3”
Aldeia Babaçu S 9º 40’ 14,4”; W 58º 43’ 15,2”
Roça nova 196,1 S 9º 40’ 11,7”; W 58º 43’ 9,5”
Esplanada (ponto inicial do lote
1478,0 S 9º 39’ 37,6”; W 58º 43’ 46,4”
sub judice)
Estrada de seringa/castanha 1569,5 S 9º 39’ 35,1”; W 58º 43’ 47,9”
Córrego das Táboas 5389,3 S 9º 37’ 35,2”; W 58º 44’ 29,4”
Carreador 5589,2 S 9º 37’ 39,4”; W 58º 44’ 50,6”
Cruzamento carreador/estrada 5695,5 S 9º 37’ 29,9”; W 58º 44’ 33,6”
Ponto final do caminhamento 5985,6 S 9º 37’ 17,4”; W 58º 44’ 37,2”
Capoeira da aldeia de Mõktsy 577,3 S 9º 40’ 33,1”; W 58º 43’ 13,5”
Capoeira da aldeia de Amawe 1192,0 S 9º 39’ 54,3”; W 58º 43’ 46,0”
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Por fim, encerrando a fase de vistoria, estivemos numa das roças novas,
a duzentos metros a leste, onde verificamos culturas consorciadas de milho,
mandioca, amendoim, cará, abacaxi e batata-doce (ver Fotografias, em anexo).
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“Prevemos que em poucos anos poderemos dar por encerrada a fase de atração
dos grupinhos restantes da tribo. Então toda essa área estará liberada para
investimentos agro-pecuários” (idem, ibidem).
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“1) Área do Japuíra: toda a região identificada a partir da barra do córrego Sujo
(também conhecido por Marcolino), na margem direita do rio do Sangue, em
frente a atual Reserva. Seguindo por este (Sujo) pela sua margem direita até a
cabeceira. Desta uma linha seca até a cabeceira do córrego Sararé, seguindo
por este na sua margem esquerda até sua barra no rio Arinos. Descendo por
este, na sua margem esquerda até encontrar o rio Juruena subindo por este
até a barra do rio do Sangue, onde encontra a Reserva atual. Além disso, [os
Rikbaktsa] reivindicam a posse das ilhas, tanto do Juruena como do Arinos.
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da madeira nobre ali abundante – dentre elas, Walmor José Bianchi - Firma
Individual, a parte autora. Para este fim, rompeu-se uma estrada rumo
sudeste, partindo do córrego Santarém às cabeceiras do córrego Canoeiro
(Dico), além de carreadores e esplanadas – sobre estes fatos, as observações
em campo foram acrescidas, proveitosamente, de informações e explicações
oferecidas por Gilson de Araújo, ex-funcionário da parte autora (ver tb., Pacini,
2001, p.40).
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“Na região entre os rios Aripuanã e o rio Juruena está localizada a Área
Indígena Escondido. Afirmam os Erikbaktsa que ‘só na área do Escondido é
que a mata é completa’, isto é, é o único local onde os índios encontram
taquaras, pontas de flechas, penas de gavião real, várias espécies de animais,
plantas e raízes silvestres (utilizadas na medicina indígena) e também pescam,
ou seja, é apenas nessa região que eles encontram a totalidade dos recursos
naturais necessários a sua vida sócio-cultural. Então, todos os anos, durante
os meses de agosto e setembro, um grande grupo de índios, acompanhados de
mulheres e crianças, deslocam-se em direção à Área Indígena Escondido,
estabelecendo-se provisoriamente em aldeias ou acampamentos, época em que
exploram seus recursos, como atestam os índios Apiaka (habitantes desde
1962 da Área Indígena Escondido), os seringueiros (moradores das barrancas
do rio Juruena) e a Missão Anchieta. Além de economicamente necessária,
essa área é ainda mais significativa por ser o local de nascimento de grande
parte do grupo, de abrigar cemitérios e outros locais sagrados.”
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QUESITOS DA AUTORA
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português rikbaktsa
salto Augusto Itapijwaka
córrego Santarém Omahaopokiboatsa
córrego Escondido Hahyktsapetsa
Tsaytsabohokota (“onde
córrego do Cristóvão (do Noca)
comemos mais peixe”)
córrego Água Branca Mutsaihokbokta
córrego Amolar Porotsi
Para Hahn (1976, p. 26-27), com efeito, a área de ocupação mais remota
dos Rikbaktsa estava, justamente, nesse interflúvio dos rios Juruena e
Aripuanã, donde se expandiram e vieram a alcançar o alto Juruena ainda no
século XIX. Neste sentido, os informantes Rikbaktsa mais velhos assinalaram
que, até a década de 1970 ao menos, havia picadas ligando todas as suas
aldeias, em particular as que se situavam na margem esquerda do Juruena - o
que, entre outras coisas, permitiu ao padre João Dornstauder, o “pacificador”
dos Rikbaktsa, visitar em pouco tempo dezenas de aldeias, conduzido pelos
guias indígenas.
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“Em cerca de duas horas e meia de vôo fizemos todo o perímetro da área,
cruzamos o picadão [da Colonizadora Cotriguaçu] nos dois sentidos,
localizamos o curso dos córregos que cortam a área e constatamos que a
ocupação real [pelos colonos e fazendeiros] se limita à área ao sul do picadão já
citado [...] Concentra-se na altura das cabeceiras do córrego Cristóvão até sua
meia altura, estendendo-se numa faixa que alcança as cabeceiras do córrego
do Dico, onde já perde densidade extinguindo-se abruptamente. Da Vila
Cotriguaçu sai uma estrada em direção ao picadão e às cabeceiras do córrego
do Dico, subdividindo-se noutra que avança quase até as cabeceiras do córrego
Escondido. Entretanto, essa segunda vertente constitui-se mais num carreador
por onde os construtores da estrada retiram a madeira com a qual seu
trabalho é pago, não apresentando ocupação humana em seu trajeto, que se
segue totalmente sob a densa mata atravessada por ela.
Em resumo, somente a área ao sul do picadão se encontrava ocupada e mesmo
assim não totalmente, desmentindo em parte as informações verbais que
havíamos obtido” (Arruda, 1992b, p. 6, 8-9)
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“No começo da seca [de 1997] a gente saiu para tirar madeira em outro lugar,
em outra área. Não posso afirmar o mês. Trabalhamos no começo da seca.
Provavelmente junho, julho, até agosto, tiramos [madeira] aqui. Fomos então
trabalhar em outra área. Nós saímos então [em 1997]. Quando voltei aqui, em
1998, foi para colocar umas placas no Manejo. Umas placas, indicando o início
do manejo... Eu vim para colocar umas placas num talhão, e daí o picadão [da
terra indígena] já tinha passado aí. Numa certa região aqui eu cheguei entrar
para dentro, com a camionete. Já tinha um pessoal dos índios, acampado, e
daí não deixaram chegar lá. Foi a última vez que eu vim” (Gilson de Araújo,
entrevista em 10/12/2010, aldeia Babaçu, TI Escondido).
O laudo juntado aos presentes autos, às fls. 526-750, foi elaborado pelo
antropólogo Aloir Pacini, nomeado perito judicial no âmbito da ação que a
Cotriguaçu Colonizadora do Aripuanã S/A move contra a União Federal e
outros (Processo 1998.36.00.006843, Segunda Vara da Justiça Federal, Seção
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Água Branca, num total de oito pessoas, lideradas por Eribudo (Maxpo)
(Schmidt, 1971c).
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11. Em face das respostas aos quesitos anteriores, é possível afirmar que
o território delimitado como sendo a Terra Indígena Escondido são terras
tradicionalmente ocupadas por indígenas, em especial as áreas rurais sub
judice?
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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28 - Touceiras de taboca jurupará, nas imediações do lote sub judice (TI Escondido,
jul/2010)
29 - Salvador Okodoby confeccionando flechas (Aldeia Pé-de-Mutum, TI Japuíra
jul/2010)
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42 e 43 – Esteios de maloca na
capoeira de Amawe (TI Escondido)
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56 e 57 – Carreador do do Projeto de
Manejo da autora (TI Escondido)
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64 – Raimundo Apiaka
65 – Dokta Rikbaktsa (cacique)
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