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Temporada de Direito Agrário, Indígena e Quilombola

Temporada de Direito Agrário, Indígena e Quilombola

DIREITO AGRÁRIO, INDÍGENA E QUILOMBOLA


VIDEOBOOK 01.............................................................................................................................. 1
HISTÓRICO DO DIREITO AGRÁRIO.................................................................................................... 1
CONCEITO........................................................................................................................................ 2
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO AGRÁRIO..........................................................................4
IMÓVEL RURAL................................................................................................................................ 5
CLASSIFICAÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS.......................................................................................7
LEI Nº 8.629/93 - REFORMA AGRÁRIA E LEI Nº 4.504/64 - ESTATUTO DA TERRA......................8
DESAPROPRIAÇÃO......................................................................................................................... 9
LEGITIMAÇÃO E REGULARIZAÇÃO DE POSSE AGRÁRIA.........................................................11
EXERCÍCIOS DE DIREITO AGRÁRIO - PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES - REFORMA E
DESAPROPRIAÇÃO AGRÁRIA - IMÓVEL RURAL - LEI Nº 8.629/93 - REFORMA AGRÁRIA E
LEI Nº 4.504/64 - ESTATUTO DA TERRA..................................................................................13
VIDEOBOOK 02............................................................................................................................ 20
TERRAS DEVOLUTAS........................................................................................................................ 20
CONCEITO...................................................................................................................................... 22
ESTATUTO DO ÍNDIO..................................................................................................................... 24
USUCAPIÃO ESPECIAL................................................................................................................. 25
EXERCÍCIOS DE DIREITO AGRÁRIO - TERRAS PÚBLICAS E DEVOLUTAS - USUCAPIÃO
ESPECIAL.................................................................................................................................. 27
VIDEBOOK 03............................................................................................................................... 32
CONTRATOS AGRÁRIOS................................................................................................................... 32
CONTRATO DE PARCERIA AGRÍCOLA......................................................................................... 33
AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA...................................................................................35
AÇÃO DE DESPEJO EM ARRENDAMENTO RURAL....................................................................35
GRILAGEM DE TERRAS PÚBLICAS.............................................................................................. 36
VIDEOBOOK 04............................................................................................................................ 38
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 38
ÍNDIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.........................................................................................39
COMPETÊNCIA.............................................................................................................................. 40
OCUPAÇÃO TRADICIONAL........................................................................................................... 42
PROCEDIMENTO PARA RECONHECIMENTO E DEMARCAÇÃO DOS TERRITÓRIOS
INDÍGENAS..................................................................................................................................... 43
USUFRUTO..................................................................................................................................... 45
PROTEÇÃO NO ÂMBITO DO DIREITO PRIVADO.........................................................................46
VIDEOBOOK 05............................................................................................................................ 48
QUILOMBOLAS E POVOS TRADICIONAIS.......................................................................................48
IGUALDADE RACIAL...................................................................................................................... 50
PROTEÇÃO NO ÂMBITO DO DIREITO PRIVADO.........................................................................52
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................................... 55
Temporada de Direito Agrário, Indígena e Quilombola
Anotações
VIDEOBOOK 01
Olá concurseiro! Preparado?
Sou Maria Helena Azzi, e serei sua facilitadora Fly no estudo da Disciplina de
Direito Agrário.
Para começarmos, o professor te avisa que esse tema, aparentemente, pode
assustar, mas ele não é complexo. Tenha foco e concentração que logo
terminaremos o assunto.
Vou te falar algo importante: “Seu compromisso precisa ser maior que sua
vontade”.
Agora vamos abordar a Lei da Reforma Agrária e das Terras Devolutas.
Direito Agrário é um ramo do direito muito importante, por meio dele podemos
compreender melhor a relação entre o homem e a propriedade rural, as
políticas de uso do solo e a reforma agrária.
As legislações sobre o tema estão nos artigos 184 a 190 da Constituição
Federal, bem como na Lei da Reforma Agrária Lei nº 8.629/93 e no Estatuto
da Terra Lei nº 4.504/64.

HISTÓRICO DO DIREITO AGRÁRIO


No Brasil, o Direito Agrário surgiu com o Tratado de Tordesilhas no ano de 1.494,
onde o chamado “novo mundo” foi dividido entre Espanha e Portugal, sendo que
grande parte do território brasileiro ficou com Portugal.
Com o passar dos anos, iniciou um desentendimento com o Tratado de Tordesilhas,
pois percebia-se o privilégio dos próprios portugueses, havendo, assim, uma
desocupação desenfreada do território brasileiro.
Então, em 22/04/1.500, com o descobrimento do Brasil, o rei Dom João II nomeou
como governador do Brasil, Martim Afonso de Souza, que resolveu implementar um
sistema de administração por meio de capitanias hereditárias e sesmarias. O sistema
de sesmarias acabou sendo extinto pela Lei 601/1.850, pois acreditavam que ele
tenha gerado um caos na colonização do país.
Em 1.912 foi criado o primeiro projeto legislativo de elaboração de um Código Rural e
em 1.917, com entrada em vigor o Código Civil de 1.916, surgiram diversos conceitos
eficientes de posse e propriedade.
A Constituição de 1.934 englobou algumas ideias que estavam no projeto do Código
Rural, quais sejam: usucapião rural e função social da propriedade. Já a Constituição
de 1.946 trouxe avanços no que se refere à desapropriação.
Para o doutrinador Benedito Ferreira Marques, a Constituição de 1.946 foi a que mais
progrediu sobre o Direito Agrário, uma vez que representou a certidão de batismo do
direito agrário no nosso país, trazendo autonomia legislativa.
Após, foi editado o Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64), a Emenda Constitucional
10/1964 e a então vigente Constituição da República de 1988.

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Anotações
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CONCEITO
O Direito Agrário é um ramo do direito que regula a relação do indivíduo com a terra,
buscando:
● o progresso social e econômico do trabalhador do campo e
● o enriquecimento da coletividade a partir da promoção da função social.
Em síntese, podemos dizer que o direito agrário está voltado a dirimir conflitos de
terra e seu principal objeto é a normatização da atividade agrária.
Sendo assim…

Essa normatização das atividades agrárias começa pela Constituição Federal,


primeiramente no art. 5º, quando estabelece o direito fundamental à propriedade, e
que esta atenderá à sua função social (incisos XXII e XXIII).
Em seguida, a Constituição tratou da matéria nos artigos 184 a 191, regulamentando:
● a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária,
● a política agrícola,
● a destinação das terras públicas e devolutas e
● a usucapião constitucional rural.
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até
vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de
reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório
especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida
agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de
reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de
reforma agrária.

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:

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Anotações
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que
seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade
produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a
sua função social.

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação
do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei,


com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e
trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de
armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente:
I - os instrumentos creditícios e fiscais;
II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de
comercialização;
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
IV - a assistência técnica e extensão rural;
V - o seguro agrícola;
VI - o cooperativismo;
VII - a eletrificação rural e irrigação;
VIII - a habitação para o trabalhador rural.
§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais,
agropecuárias, pesqueiras e florestais.
§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma
agrária.

Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada


com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.

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Anotações
§ 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com
área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica,
ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.
§ 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as
concessões de terras públicas para fins de reforma agrária.

Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma


agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis
pelo prazo de dez anos.
Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil, nos termos e condições previstos em lei.

Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de


propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá
os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional.
_________________________

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO AGRÁRIO


O Direito Agrário é regido pelos seguintes princípios:
● Monopólio legislativo da União - assim, somente a União é competente para
legislar em matéria de Direito Agrário.
● Utilização da terra se sobrepõe à titulação dominical - versa que a terra é um
bem que deve servir a todos, em detrimento de um número restrito de
indivíduos.
● Propriedade condicionada à função - a propriedade rural deve ser plenamente
utilizada e não se tornar um objeto de especulação financeira.
● Dicotomia do Direito Agrário - estabelece que a terra deve estar disponível a
todos e estes devem produzir nela.
● Interesse público sobre o individual - o interesse público prevalece sobre as
pretensões individuais.
● Proteção à propriedade familiar e à pequena e média propriedade - a lei deve
buscar a manutenção da propriedade que sirva ao sustento de um núcleo
familiar e as pequenas e médias propriedades devem ter o estímulo do poder
público.
● Fortalecimento da empresa rural - a unidade que se dedica a culturas
agrícolas, criação de gado ou culturas florestais deve ser estimulada com a
finalidade de obtenção de renda.
● Conservação e preservação dos recursos naturais e do meio ambiente - a
produção rural não deve desperdiçar ou colocar em risco os recursos naturais.

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Anotações

Tudo certo até aqui? Não tem nada difícil! É só ter atenção que tudo vai
fluindo!
Siga comigo! Agora vou te explicar sobre o Imóvel Rural…
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IMÓVEL RURAL
QUAL A DEFINIÇÃO DE IMÓVEL RURAL? Imóvel Rural é a área formada por uma
ou mais matrículas contínuas do mesmo titular, localizada tanto na zona rural quanto
urbana, destinada à exploração de atividade agrícola, pecuária, extrativista ou
agroindustrial. Este é o conceito dado pelo Estatuto da Terra nos incisos do seu artigo
4º:
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se:
I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a
sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou
agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer
através de iniciativa privada;
Para o Direito Agrário, a classificação de um imóvel como rural leva em conta a sua
destinação. Mesmo que o imóvel se encontre em zona urbana, poderá sofrer
incidência das normas de Direito Agrário, bastando que se destine à exploração
agrícola, pecuária, extrativista ou agroindustrial.
O STJ aplica esse raciocínio para o Direito Tributário, quando analisa se há incidência
de ITR (Imposto Territorial Rural) ou ITU (Imposto Territorial Urbano).

REGRAS SOBRE O DIMENSIONAMENTO DO IMÓVEL RURAL


Cuida-se de definir a medida de área de terras ideal para que o agricultor tenha
condições de explorá-la com eficácia.
A legislação utiliza alguns institutos específicos para tratar do dimensionamento dos
imóveis rurais, e que são importantes para sua classificação. Destacam-se:
● o módulo rural,
● o módulo fiscal e
● a fração mínima de parcelamento.
- Módulo rural - a definição de “módulo rural” leva em consideração:
● a localização,
● qualidade da terra e
● condições de aproveitamento econômico.
O conceito é extraído dos incisos II e III do art. 4º do Estatuto da Terra, e está
vinculada ao conceito de propriedade familiar:

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Anotações
II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de
trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico,
com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e
eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;
III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior;
São denominações de módulos:
● exploração hortigranjeira,
● lavoura temporária,
● lavoura permanente,
● exploração pecuária e
● exploração florestal.
Existem ainda duas outras categorias que se extraem da definição legal de “módulo
rural”:
● Módulo da propriedade - resultado da soma de módulos de exploração
indefinida, quando existem várias explorações no imóvel, sem indicação
específica.
● Módulo do proprietário - quando o proprietário possui vários imóveis, somados
à quantidade de módulos obtidos em cada área e dividido pelo total das áreas
que possui.
Na prática, os dispositivos legais do “módulo rural” estabeleceram parâmetros para a
fixação de dois conceitos dimensionais do imóvel rural:
● o Módulo Fiscal e
● a Fração Mínima de Parcelamento.
- Módulo fiscal - já a definição de “módulo fiscal” decorre da Lei nº 6.746/1979, que
alterou o Estatuto da Terra, e estabeleceu que o “módulo fiscal” seria fixado por
município, considerando:
● o tipo de exploração ali predominante,
● a renda advinda dessa exploração e
● o conceito de propriedade familiar.
Dessa forma, a fixação do “módulo fiscal” do município leva em consideração o
“módulo rural” daquela região.
Coube ao INCRA (na Instrução Especial nº 20/1980) a definição dos “módulos fiscais”,
que variam entre 5 a 110 hectares, de acordo com a aptidão de exploração da terra
em cada município.
O “módulo fiscal” inicialmente servia apenas para fins tributários, mas a partir da Lei
nº 8.629/93 o conceito é importante na classificação dos imóveis rurais.

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Anotações
- Fração Mínima de Parcelamento - define o limite de desmembramento de um imóvel
rural, para evitar que as sucessivas divisões da terra resulte em áreas que de tão
pequenas venham a se tornar inviáveis para a exploração de atividade rurais.
Vamos agora às classificações.. Fica bem concentrado, porque estamos
passando da metade da aula e você precisa aprender esse conteúdo!
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CLASSIFICAÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS


Há classificações distintas dos imóveis rurais na legislação brasileira:
● O Estatuto da Terra se preocupava em diferenciar:
○ minifúndios,
○ latifúndios,
○ além de definir a empresa rural;
● A Constituição Federal e a Lei nº 8.629/1993 já trazem classificação em:
○ pequena,
○ média e
○ grande propriedade rural.
De toda forma, a classificação feita nas leis mencionadas visa estabelecer parâmetros
para:
● política de reforma agrária e
● desapropriações.
Observando a classificação do Estatuto da Terra (mais antiga), nosso mestre te
apresenta:
- Minifúndio - imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da “propriedade
familiar”. Em razão da proximidade dos conceitos de “propriedade familiar” e “módulo
rural”, na prática seria “minufúndio” o imóvel com área inferior ao “módulo rural”.
- Latifúndio - o parâmetro para estabelecer o “latifúndio” foi o “módulo fiscal” e não o
“módulo rural”. São duas hipóteses:
● imóvel rural com área superior a 1 “módulo fiscal” e mantida:
○ com fins especulativos ou
○ inexplorada em relação às suas possibilidades físicas, econômicas e
sociais; ou
● qualquer imóvel rural superior a 600 módulos fiscais, neste caso, não
importando se há ou não exploração eficiente.
- Empresa rural - empreendimento, conduzido por pessoa física ou jurídica, com área
superior a 1 “módulo fiscal”, que faça exploração econômica racional desse imóvel
rural, dentro de condição de rendimento mínimo esperado para a região.

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Anotações
Para o Estatuto da Terra, apenas os “latifúndios” estavam sujeitos à reforma agrária.
Estariam imunes:
● os “minifúndios”, por serem “propriedade familiar”, e
● as “empresas rurais”, que demonstram bom índice de aproveitamento da terra.
Com relação às outras classificações, a Lei 8.629/93 regulamenta a Constituição e
traz a seguinte classificação:
● Pequena propriedade - aquela com área de 1 a 4 módulos fiscais.
● Média propriedade - que tem entre 4 e 15 módulos fiscais.
● Grande propriedade - com área superior a 15 módulos fiscais.
Percebe-se que esta classificação não considera o conceito de
● “propriedade familiar” ou
● “módulo rural”.
De acordo com a Constituição, se a pessoa tiver um único imóvel, sendo este uma
pequena ou média propriedade, não está sujeito a desapropriação para fins de
reforma agrária.
A Lei 8.629/93 fala em “propriedade produtiva” e “improdutiva”, sendo esta
classificação importante para definir se o imóvel está ou não sujeito à política de
reforma agrária:
● é produtivo o imóvel que é explorado racional e economicamente, e atinge:
○ grau de utilização da terra (GUT) - igual ou superior a 80%, e
○ grau de eficiência na exploração (GEE) - igual ou superior a 100%.
Esses índices são fixados por região, por órgão federal competente.
Conteúdo fluindo e sua prova cada vez mais fácil.
Continue para gabaritar o Direito Agrário.
Vamos lá!
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LEI Nº 8.629/93 - REFORMA AGRÁRIA E LEI Nº 4.504/64 - ESTATUTO DA


TERRA
No Brasil, há uma distribuição desigual de terras desde o ano de 1530, com a criação
das capitanias hereditárias e do sistema de sesmarias, cuja política de aquisição de
terras formou vários latifúndios. Com a independência do Brasil em 1822, a
demarcação de imóveis rurais foi feita com o uso de violência, imperando a lei do
mais forte.
A reforma agrária surge a partir da constatação de que o uso inadequado da terra
atrapalha o desenvolvimento social e econômico do país, impedido o bem-estar da

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Anotações
comunidade. No Brasil a reforma agrária é lenta e repleta de barreiras, entre elas
podemos citar
● a resistência dos grandes latifundiários e
● o elevado custo de manutenção das famílias assentadas.
O artigo 16 do Estatuto da Terra traz a principal função da reforma agrária:
Art. 16. A Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações
entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a
justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o
desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio
e do latifúndio.
O Estado é responsável por realizar o processo da reforma agrária, comprando e
desapropriando terras de grandes latifundiários e, então, distribuindo lotes de terras
para família camponesas. Desta forma, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) exerce grande pressão para a distribuição de terras.
Para a execução dos planos da reforma agrária a Lei 8.629/93 fixou que:
Art. 13. As terras rurais de domínio da União, dos Estados e dos
Municípios ficam destinadas, preferencialmente, à execução de planos de
reforma agrária.
Professor entende importante ressaltar que a reforma agrária não é cabível na
pequena e média propriedade se o proprietário possuir apenas um imóvel, conforme
estabelecido no §1º do artigo 4º da Lei 8.629/93:
§ 1º São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a
pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não
possua outra propriedade rural.
Se atente neste tema! Se a dúvida persistir, ao final, novamente.
A preguiça, apenas, te afasta do seu objetivo. Siga!
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DESAPROPRIAÇÃO
A União pode obter propriedades rurais destinadas à reforma agrária através da
expropriação e da compra. A expropriação é a modalidade original para a obtenção
de terras para fins de reforma agrária. A propriedade que não cumpre sua função
social é passível de desapropriação, conforme dispõe o artigo 2º da Lei 8.629/93:
Art. 2º A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art.
9º é passível de desapropriação, nos termos desta lei, respeitados os
dispositivos constitucionais.
§ 1º Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social.
§ 2o Para os fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal
competente, autorizada a ingressar no imóvel de propriedade particular

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Anotações
para levantamento de dados e informações, mediante prévia comunicação
escrita ao proprietário, preposto ou seu representante.
§ 3o Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a
comunicação será feita mediante edital, a ser publicado, por três vezes
consecutivas, em jornal de grande circulação na capital do Estado de
localização do imóvel.
§ 4o Não será considerada, para os fins desta Lei, qualquer modificação,
quanto ao domínio, à dimensão e às condições de uso do imóvel,
introduzida ou ocorrida até seis meses após a data da comunicação para
levantamento de dados e informações de que tratam os §§ 2o e 3o.
§ 5o No caso de fiscalização decorrente do exercício de poder de polícia,
será dispensada a comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o.
§ 6o O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de esbulho
possessório ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de
caráter coletivo não será vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois
anos seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de
reincidência; e deverá ser apurada a responsabilidade civil e administrativa
de quem concorra com qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o
descumprimento dessas vedações.
§ 7o Será excluído do Programa de Reforma Agrária do Governo Federal
quem, já estando beneficiado com lote em Projeto de Assentamento, ou
sendo pretendente desse benefício na condição de inscrito em processo
de cadastramento e seleção de candidatos ao acesso à terra, for
efetivamente identificado como participante direto ou indireto em conflito
fundiário que se caracterize por invasão ou esbulho de imóvel rural de
domínio público ou privado em fase de processo administrativo de vistoria
ou avaliação para fins de reforma agrária, ou que esteja sendo objeto de
processo judicial de desapropriação em vias de imissão de posse ao ente
expropriante; e bem assim quem for efetivamente identificado como
participante de invasão de prédio público, de atos de ameaça, sequestro
ou manutenção de servidores públicos e outros cidadãos em cárcere
privado, ou de quaisquer outros atos de violência real ou pessoal
praticados em tais situações.
§ 8o A entidade, a organização, a pessoa jurídica, o movimento ou a
sociedade de fato que, de qualquer forma, direta ou indiretamente, auxiliar,
colaborar, incentivar, incitar, induzir ou participar de invasão de imóveis
rurais ou de bens públicos, ou em conflito agrário ou fundiário de caráter
coletivo, não receberá, a qualquer título, recursos públicos.
§ 9o Se, na hipótese do § 8o, a transferência ou repasse dos recursos
públicos já tiverem sido autorizados, assistirá ao Poder Público o direito de
retenção, bem assim o de rescisão do contrato, convênio ou instrumento
similar.
Para fins de desapropriação, deve haver prévia e justa indenização em títulos da
dívida pública, exceto as benfeitorias úteis e necessárias, que serão pagas em
dinheiro:

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Anotações
Art. 5º A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que
não cumpra sua função social, importa prévia e justa indenização em
títulos da dívida agrária.
§1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
Ou seja…
Quem estabelece se uma propriedade cumpre sua “função social” é o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), por meio de índices de
produtividade predeterminados. De acordo com o INCRA, de 2003 a 2009, o governo
do Brasil comprou mais de 40 milhões de hectares para realizar a reforma, enquanto
a expropriação atingiu apenas 3 milhões de hectares.
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LEGITIMAÇÃO E REGULARIZAÇÃO DE POSSE AGRÁRIA


O que caracteriza o Direito Agrário são as atividades agrárias com a finalidade
produtiva, em especial a posse agrária, que tem como objeto não só o imóvel rural,
mas todos os bens agrários que permitem a realização dessas atividades.
“Legitimação de posse agrária” é o ato administrativo, através do qual o poder público
reconhece ao particular que trabalha na terra pública (terra devoluta) a sua condição
de legitimidade, outorgando o formal domínio pleno. Esse conceito está em
consonância com o artigo 99 do Estatuto da Terra:
Art. 99. A transferência do domínio ao posseiro de terras devolutas
federais efetivar-se-á no competente processo administrativo de
legitimação de posse, cujos atos e termos obedecerão às normas do
Regulamento da presente Lei.
O pedido deve ser feito perante o INCRA, que é a autoridade competente. Qualquer
posseiro pode pleitear a concessão de “licença de ocupação” se preencher os
requisitos exigidos, quais sejam:
● posse de terras devolutas;
● área de até 100 hectares;
● comprovação de moradia permanente e cultura efetiva não inferior a 1 ano;
● não ser proprietário de imóvel rural; e
● exploração de atividade agrária com seu trabalho direto e o de sua família.
A “licença de ocupação” será concedida pelo prazo de 4 anos, e após este período, a
posse poderá ser transformada em propriedade, desde que preenchidos outros
requisitos. Vejamos:
● morada habitual e cultura efetiva (artigo 102, do Estatuto da Terra):
Art. 102. Os direitos dos legítimos possuidores de terras devolutas
federais estão condicionados ao implemento dos requisitos absolutamente
indispensáveis da cultura efetiva e morada habitual.

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Anotações
● área compatível com a capacidade de exploração do interessado, limite
máximo de 2.000 ou 3.000 hectares, conforme esteja ou não na Faixa de
Fronteira;
● tempo mínimo de ocupação de 10 anos;
● área de terra limite mínimo de 100 hectares;
● o interessado não pode ser proprietário de outro imóvel (artigo 25, V, §3º, do
Estatuto da Terra);
Art. 25. As terras adquiridas pelo Poder Público, nos termos desta Lei,
deverão ser vendidas, atendidas as condições de maioridade, sanidade e
de bons antecedentes, ou de reabilitação, de acordo com a seguinte
ordem de preferência:
I - ao proprietário do imóvel desapropriado, desde que venha a explorar a
parcela, diretamente ou por intermédio de sua família;
II - aos que trabalhem no imóvel desapropriado como posseiros,
assalariados, parceiros ou arrendatários;
III - aos agricultores cujas propriedades não alcancem a dimensão da
propriedade familiar da região;
IV - aos agricultores cujas propriedades sejam comprovadamente
insuficientes para o sustento próprio e o de sua família;
V - aos tecnicamente habilitados na forma da legislação em vigor, ou que
tenham comprovada competência para a prática das atividades agrícolas.
§ 1° Na ordem de preferência de que trata este artigo, terão prioridade os
chefes de família numerosas cujos membros se proponham a exercer
atividade agrícola na área a ser distribuída.
§ 2º Só poderão adquirir lotes os trabalhadores sem terra, salvo as
exceções previstas nesta Lei.
§ 3º Não poderá ser beneficiário da distribuição de terras a que se refere
este artigo o proprietário rural, salvo nos casos dos incisos I, III e IV, nem
quem exerça função pública, autárquica ou em órgão paraestatal, ou se
ache investido de atribuições parafiscais.
§ 4º Sob pena de nulidade, qualquer alienação ou concessão de terras
públicas, nas regiões prioritárias, definidas na forma do artigo 43, será
precedida de consulta ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que se
pronunciará obrigatoriamente no prazo de sessenta dias.
Tenho certeza de que o conteúdo foi absorvido com o máximo de
aproveitamento. Meta cumprida!
Então, é isso aí! Até mais!

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Anotações
EXERCÍCIOS DE DIREITO AGRÁRIO - PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES -
REFORMA E DESAPROPRIAÇÃO AGRÁRIA - IMÓVEL RURAL - LEI Nº
8.629/93 - REFORMA AGRÁRIA E LEI Nº 4.504/64 - ESTATUTO DA TERRA
Prova: TJ AC VUNESP 2019
97. Assinale a alternativa correta a respeito do processo judicial de desapropriação.
A) Os juros compensatórios são devidos, na desapropriação direta, desde a imissão
antecipada na posse e, na indireta, da efetiva ocupação do imóvel.
B) A ação, quando a União for autora, será proposta no foro da Capital do Estado
onde for domiciliado o réu; sendo outro o autor, no foro do seu domicílio.
C) Na hipótese de urgência, o expropriante poderá ser emitido provisoriamente na
posse do bem, que será autorizada mediante o depósito da quantia oferecida na
inicial.
D) A imissão provisória poderá ser feita mediante o depósito, exigida, contudo, a
prévia citação do réu.

COMENTÁRIOS
GABARITO: A

A) CORRETA. A questão transcreveu a Súmula 69 do STJ.


B) INCORRETA. Redação diverge do texto da lei - Art. 11 do Dec-Lei
3345/1941: “A ação, quando a União for autora, será proposta no Distrito
Federal ou no foro da Capital do Estado onde for domiciliado o réu, perante o
juízo privativo, se houver; sendo outro o autor, no foro da situação dos bens.

C) INCORRETA. O depósito que garante ao ente expropriante o direito de


imissão (provisória) na posse do bem não deve observar o valor oferecido na
inicial, mas sim o valor de avaliação judicial - Art. 11 do Dec-Lei 3345/1941:
“Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de
conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará imití-
lo provisoriamente na posse dos bens.” (a referência é ao CPC 1973 - no atual
CPC é equivalente o art. 874).

D) INCORRETA. A lei não exige prévia citação - Art. 11 do Dec-Lei 3345/1941:


“Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de
conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará imití-
lo provisoriamente na posse dos bens.”

Prova: TJ SP VUNESP 2018


92. É correto afirmar que a chamada desapropriação indireta

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Anotações

A) não dispensa o cumprimento das exigências previstas no artigo 34 do Decreto-lei


no 3.365/41 para o levantamento do valor indenizatório depositado em juízo.

B) decorre da aplicação do princípio da intangibilidade da obra pública a uma situação


originada de ato ilícito indenizável praticado pela Administração contra o proprietário
ou possuidor.

C) decorre de apossamento administrativo cuja licitude se funda no princípio da


intangibilidade da obra pública e na supremacia do interesse público.
D) difere da desapropriação por utilidade pública, embora também fundada em
decreto da entidade expropriante, por ser a respectiva ação judicial promovida pelo
proprietário ou possuidor e não pelo Poder Público.

COMENTÁRIOS
GABARITO:B

A) Na desapropriação indireta não há indenização prévia, e assim, não se fala


em “valor indenizatório depositado em juízo”, afastando a incidência do art. 34
do Dec-Lei 3365/41.

B) CORRETA. Na desapropriação indireta a conduta da Administração Pùblica


representa um ato ilícito, porque se apropriou de um bem particular sem o
devido processo legal. A incidência do princípio da intangibilidade da obra
pública impede apenas a sua demolição, mas não torna lícita a
desapropriação, que não precedida de reconhecimento da utilidade pública
(por Decreto ou Lei) e da competente indenização. Resta ao proprietário
pleitear, em ação judicial, o recebimento de indenização pelos danos que
suportou.

C) A desapropriação indireta, de fato, decorre do apossamento administrativo


de um bem particular. Esse apossamento é feito com fundamento na
supremacia do interesse público, mas configura um ato ilícito. Só seria lícito se
a Administração tivesse observado o devido processo legal, que exige prévia
declaração de utilidade pública (por lei ou decreto) e prévia indenização em
dinheiro, nos termos do art. 5º, inciso XXIV da Constituição da República. O
princípio da intangibilidade da obra pública serve tão somente para evitar a
demolição da obra pública, cabendo ao interessado cobrar judicialmente
apenas a indenização dos prejuízos que suportou.

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Anotações
D) A assertiva está errada porque na desapropriação indireta não há prévio
decreto da entidade expropriante.

Prova: TJ MT VUNESP 2018


100. A desapropriação

A) indireta decorre do ato administrativo de tombamento compulsório de bem imóvel


particular, independentemente da comprovação do esvaziamento integral do conteúdo
patrimonial do bem.

B) de imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social para fins de reforma
agrária é do Estado- -membro em que localizado o bem, por expressa delegação
legal.

C) destinada à urbanização ou reurbanização realizada mediante concessão


patrocinada, poderá abranger área contígua necessária ao desenvolvimento da obra,
mediante proposta fundamentada do concessionário, se este vislumbrar a
possibilidade de valorização extraordinária
da zona em consequência da realização do serviço, formalizando-se por
apostilamento contratual.

D) poderá ser realizada por concessionária de serviço público, se assim estipulado no


edital de licitação e no contrato de concessão, caso em que será desta a
responsabilidade pelas indenizações cabíveis, preservada a competência do Poder
Concedente para declarar de utilidade pública os bens necessários à execução do
serviço ou obra pública.

E) pode se dar “por zona”, isto é, coletivamente em favor de núcleos urbanos


informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida
pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros por
possuidor.

COMENTÁRIOS
GABARITO: D

A) O tombamento não implica no apossamento do imóvel (no esbulho) pela


Administração, o que é pressuposto para a desapropriação indireta. Assim, os
institutos (do tombamento e da desapropriação indireta) não se confundem. Se

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Anotações
houver o esvaziamento integral do conteúdo patrimonial do bem (perda total
do valor de mercado) após o tombamento, poderá o prejudicado pleitear a
competente indenização, sem que isso configure desapropriação indireta, vez
que o proprietário não estará privado da posse do bem tombado.

B) A competência para a desapropriação, por interesse social, para fins de


reforma agrária é exclusiva da União (art. 184 da CF).

C) Por força do art. 4º do Dec-Lei 3365/41, quando houver desapropriação por


zona, motivada na valorização que a área terá em razão da intervenção do
Poder Público, caberá a este reconhecer a utilidade pública de toda a área, por
decreto ou lei. Não é o concessionário o responsável pela identificação da
zona de valorização. Por outro lado, se houver concessão da obra pública, a
desapropriação por zona deve estar prevista no edital da licitação, não
bastando apenas o apostilamento (a previsão) no contrato administrativo.

D) CORRETA. A assertiva extrai o conteúdo do art. 4º, caput e parágrafo único


do Dec-Lei 3365/41. Quanto à responsabilidade pelo pagamento das
indenizações (pela concessionária) o fundamento está no art. 29, inciso VIII da
Lei 8987/1995 (lei das concessões administrativas): “Art. 29. Imcumbe ao
poder concedente: (...) VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários
à execução do serviço ou obra pública, promovendo as desapropriações,
diretamente ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em que
será desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis.”

E) A assertiva não trata sobre a desapropriação (por zona), mas sim de um


outro instituto, previsto no art. 10 do Estatuto da Cidade, qual seja, a
usucapião especial coletiva.

Prova: ; TJ PR CESPE 2017


86. Assinale a opção correta a respeito da desapropriação indireta.

A) Se a administração conferir destinação pública a determinado bem, o particular


prejudicado poderá recorrer a ações possessórias, reivindicatórias e indenizatórias.

B) O juízo competente para processar e julgar a desapropriação indireta é o do foro


de situação do bem.

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Anotações
C) A afetação do bem particular a um fim público constitui forma de transferência da
propriedade.
D) Por observar o devido processo legal, a desapropriação indireta é instituto
amplamente praticado e permitido pela legislação brasileira.

COMENTÁRIOS
GABARITO: B

A) A destinação público ao bem, conferida pela Administração (por lei ou


decreto) permite a desapropriação, com a incidência do princípio da
supremacia do interesse público, afastando a possibilidade de manejo de
ações possessórias ou reivindicatória. Já em relação à ação indenizatória, o
proprietário só fará jus à indenização se o Poder Público efetivamente buscar
a desapropriação do bem, não bastando a mera declaração de utilidade
pública.

B) CORRETA. Art. 11 do Dec-Lei 3365/41: “A ação, quando a União for autora,


será proposta no Distrito Federal ou no foro da Capital do Estado onde for
domiciliado o réu, perante o juizo privativo, se houver; sendo outro o autor, no
foro da situação dos bens.”

C) A transferência efetiva da propriedade só ocorre com o registro do ato


translativo no Cartório de Registro de Imóveis. A declaração de utilidade
pública, por si só, como ato de afeta o bem particular, não implica em
transferência da propriedade para o Poder Pùblico, o que só poderá ser feito
por meio do registro da sentença que julgar procedente o pedido de
desapropriação, ou por acordo prévio entre as partes, devendo o termo de
acordo ser levado também a registro, no Cartório de Registro de Imóveis, na
forma da Lei de Registros Públicos.

D) Embora amplamente praticado e previsto na legislação brasileira, a


desapropriação indireta representa o apossamento do bem (esbulho) pelo ente
expropriante, sem a observância do devido processo legal. Vale lembrar que o
devido processo legal expropriatório exige prévia declaração de utilidade
pública (por lei ou decreto) e prévia indenização em dinheiro.

Prova: TJ GO FCC 2015


99. Joaquim é proprietário de um imóvel rural cortado por diversos cursos d’água com
150 hectares integralmente utilizados para o plantio de soja. Joaquim ganhou prêmio

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Anotações
de produtor rural do ano, diante da alta produtividade de seu imóvel rural. Segundo a
Constituição da República, seu imóvel rural

A) cumpre com sua função social, visto que contribui de forma expressiva para o
desenvolvimento econômico da região.

B) cumpre sua função social, diante de sua alta produtividade.

C) cumpre sua função social, uma vez que se trata de uma propriedade com uso
econômico.

D) não cumpre com sua função social, diante da ausência de preservação do meio
ambiente.

E) não cumpre com sua função social, visto que seu aproveitamento, sob o ponto de
vista econômico, não é racional e adequado.

COMENTÁRIOS
GABARITO: D

A) o princípio da função social exige a observância do equilíbrio entre o


desenvolvimento econômico (decorrente da alta produtividade) e a proteção ao
meio ambiente, nos termos do art. 186 da Constituição da República. “Art. 186.
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos: (...) II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente.”. Assim, se a fazenda está
produzindo integralmente nos 150 hectares, certamente não está respeitando
as áreas de preservação permanente (às margens dos cursos d’água) e à
reserva legal (de, no mínimo, 20% da área), deixando de cumprir sua função
social.

B) O princípio da função social exige a observância do equilíbrio entre o


desenvolvimento econômico (decorrente da alta produtividade) e a proteção ao
meio ambiente, nos termos do art. 186 da Constituição da República. “Art. 186.
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos: (...) II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente.”. Assim, se a fazenda está
produzindo integralmente nos 150 hectares, certamente não está respeitando
as áreas de preservação permanente (às margens dos cursos d’água) e à

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Anotações
reserva legal (de, no mínimo, 20% da área), deixando de cumprir sua função
social.

C) O princípio da função social exige a observância do equilíbrio entre o


desenvolvimento econômico (decorrente da alta produtividade) e a proteção ao
meio ambiente, nos termos do art. 186 da Constituição da República. “Art. 186.
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos: (...) II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente.”. Assim, se a fazenda está
produzindo integralmente nos 150 hectares, certamente não está respeitando
as áreas de preservação permanente (às margens dos cursos d’água) e à
reserva legal (de, no mínimo, 20% da área), deixando de cumprir sua função
social.

D) Gabarito oficial. “Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade


rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (...) II - utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.”. Assim, se a
fazenda está produzindo integralmente nos 150 hectares, certamente não está
respeitando as áreas de preservação permanente (às margens dos cursos
d’água) e à reserva legal (de, no mínimo, 20% da área), deixando de cumprir
sua função social.

E) O princípio da função social exige a observância do equilíbrio entre o


desenvolvimento econômico (decorrente da alta produtividade) e a proteção ao
meio ambiente, nos termos do art. 186 da Constituição da República. “Art. 186.
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos: (...) II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente.”. Assim, se a fazenda está
produzindo integralmente nos 150 hectares, certamente não está respeitando
as áreas de preservação permanente (às margens dos cursos d’água) e à
reserva legal (de, no mínimo, 20% da área), deixando de cumprir sua função
social.
_________________________

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Anotações
VIDEOBOOK 02
Olá concurseiro!
Estudar deve ser um momento prazeroso. Pense que é uma etapa para o seu
sucesso e progresso profissional e por que não pessoal também, não é
mesmo?!
Então, sem choro porque você não é mais criança e sabe muito bem onde
quer chegar. Prepare o ambiente e arrume as ferramentas de estudo.
Nosso grande jurista preparou pra você um excelente estudo sobre Terras
Devolutas, Estatuto do Índio e Usucapião Especial.
Mas e aí...o que esse assunto tem a ver com a minha vida? Aliás, com a sua
vida?
Vimos frequentemente nos jornais situações de ocupação de terras
pertencentes ao Estado e às tribos indígenas. Quando e como isso ocorre é o
que você vai aprender aqui.
Além disso, você também vai entender o conceito e a destinação das terras
devolutas (aquelas terras sem registro, que são de propriedade do Estado), e
ainda, como se dá o procedimento para que alguém receba o título de uma
propriedade rural sobre a qual exerça a posse e na qual venha trabalhando
com sua família para subsistência.

TERRAS DEVOLUTAS
BREVE HISTÓRICO - a história das “terras devolutas” confunde-se com a própria
história de ocupação das terras brasileiras, por isso o conceito deve ser buscado
dentro do contexto histórico.
Inicialmente, todas as terras existentes no Brasil eram públicas e pertenciam a
Portugal e após a conquista do Brasil no ano de 1500, todo o território passou a
integrar o domínio da Coroa Portuguesa. Com isso, muitas terras foram passadas aos
colonizadores através das denominadas concessões de sesmarias. Os colonos
tinham a obrigação de demarcá-las e cultivá-las, além de pagarem uma renda sobre
os frutos, sob pena de reversão das terras à Coroa.
Após a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, o domínio das terras
brasileiras passou a pertencer à nação brasileira e no ano de 1850 foi criada a
primeira “Lei de terras do Brasil”, a Lei nº 601, cujo principal objetivo era legitimar as
posses que apresentassem os requisitos da moradia habitual e cultivo da terra,
mesmo em relação às sesmarias concedidas irregularmente, que poderiam ser
revalidadas.
Essa lei, trouxe em seu artigo 3º quatro situações explicando quais terras poderiam
ser consideradas “terras devolutas”. Vejamos:
Art. 3º. São terras devolutas:
§ 1º. As que não se acharem aplicadas a algum uso público nacional,
provincial ou municipal;

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Anotações
§ 2º. As que não se acharem no domínio particular por qualquer título
legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do
Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta de
cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura;
§ 3º. As que não se acharem dadas por sesmarias ou outras concessões
do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por
essa lei;
§ 4º. As que não se acharem ocupadas por posses que, apesar de não se
fundarem em título legal, forem legitimadas por essa lei.
Com o passar dos anos, a Constituição Republicana de 1891 repassou as “terras
devolutas” aos estados-membros, conforme se depreende da leitura do seu art. 64:
Art. 64 - Pertencem aos Estados as minas e terras devolutas situadas nos
seus respectivos territórios, cabendo à União somente a porção do
território que for indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações,
construções militares e estradas de ferro federais.
Parágrafo único - Os próprios nacionais, que não forem necessários para
o serviço da União, passarão ao domínio dos Estados, em cujo território
estiverem situados.
Apenas não foram passadas ao domínio dos estados as terras que a União
considerou indispensáveis para:
● defender fronteiras,
● fortificações,
● construções militares e
● estradas de ferro federais.
_________________________
As Constituições Federais de 1934 e 1937 não incluíram as “terras devolutas” como
bens pertencentes à União, diferentemente da Constituição de 1946, que explicitou
essas terras dentre os bens da União, conforme seu artigo 34:
Art. 34 - Incluem-se entre os bens da União:
I - os lagos e quaisquer correntes de água em terrenos do seu domínio ou
que banhem mais de um Estado, sirvam de limite com outros países ou se
estendam a território estrangeiro, e bem assim as ilhas fluviais e lacustres
nas zonas limítrofes com outros países;
II - a porção de terras devolutas indispensável à defesa das fronteiras, às
fortificações, construções militares e estradas de ferro.
Seguindo essa sistemática, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 20, inc. II, e
art. 26 prevê expressamente que as “terras devolutas” são bens da União:
Art. 20. São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;

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Anotações
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das
fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à
preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu
domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros
países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as
praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as
que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao
serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-
históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em
depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de
obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu
domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
Foi um breve histórico, mas bem informativo. Não é mesmo?
Quanto mais você estudar mais sorte vai ter na prova! Fica esperto!
_________________________

CONCEITO
“Terras devolutas” são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que em
nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que irregular a sua
posse. A expressão “devoluta” assemelha-se a terra devolvida ou a ser devolvida ao
Estado.
O artigo 225 trata do meio ambiente e prevê em seu §5º que as “terras devolutas”:

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Anotações
● são necessárias à proteção dos ecossistemas naturais e
● são indisponíveis:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
Se liga nessa dica importante do nosso professor...
Muitos confundem as “terras devolutas” com os “módulos rurais”, dois institutos do
Direito Agrário brasileiro regulamentados pela Constituição Federal e pelo Estatuto da
Terra, mas que possuem particularidades diferentes:
● “terras devolutas” - são conhecidas como “terra de ninguém”, por não serem
habitadas por ninguém, e por isso são de propriedade exclusiva do Estado;
● “módulos rurais”, assim como os “módulos fiscais” - são uma unidade de
medida, expressa em hectares, utilizado para disciplinar uma porção de terra
de propriedade particular, servindo de parâmetro para a política pública a ser
adotada sobre essa terra.
Ei! Não se deixe distrair! Estudar o conteúdo picado também não vai te ajudar
em nada.
Professor vai te explicar sobre a usucapião de Terras Devolutas. Não pisca,
porque é importante.
Continue comigo…

USUCAPIÃO DE TERRAS DEVOLUTAS - as “terras devolutas” são caracterizadas


como “bens públicos dominicais” e, por isso, em regra, não podem ser adquiridas por
meio de usucapião. No entanto, é pacífico nos Tribunais Superiores que a entidade
pública deve demonstrar que a “terra devoluta” é pública. Caso contrário, não será
caracterizada como “bem dominical”, podendo ser alineada e usucapida:
Art. 188 A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com
a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área
superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que
por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso
Nacional.
§2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as
concessões de terras públicas para fins de reforma agrária.
Somente uma parte minoritária da doutrina entende dessa forma (Celso Ribeiro
Bastos e Ives Gandra Martins), mas os Tribunais do país defendem fortemente esta
tese. Ocorre que a cada dia é mais visível a inércia da administração pública no que
diz respeito ao aproveitamento de suas propriedades.

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Temporada de Direito Agrário, Indígena e Quilombola
Anotações
Ainda, é importante ressaltar que o STJ reconheceu a possibilidade de usucapião na
faixa de fronteira do Brasil com o Uruguai, pois não havia registro de propriedade do
imóvel e, portanto, inexistia em favor do Estado presunção de que as terras devolutas
eram suas:
(...) O terreno localizado em faixa de fronteira, por si só, não é considerado de
domínio público, consoante entendimento pacífico da Corte Superior. 2. Não
havendo registro de propriedade do imóvel, inexiste, em favor do Estado,
presunção iuris tantum de que sejam terras devolutas, cabendo a este provar
a titularidade pública do bem. Caso contrário, o terreno pode ser usucapido.
(REsp 674558/RS).
Por fim, o STF editou a Súmula 477 estabelecendo que: “As concessões de terras
devolutas na faixa de fronteira, feitas pelos Estados, autorizam, apenas, o uso,
permanecendo o domínio com a União, ainda que se mantenha inerte ou tolerante,
em relação aos possuidores”.
_________________________

ESTATUTO DO ÍNDIO
O Estatuto do Índio (Lei 6.001/73) disciplina as relações do Estado e da sociedade
com os povos indígenas, que são considerados relativamente incapazes e são
tutelados pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI.
Temos, na Fly, aula específica sobre o Direito Indígena, com nosso mestre.
Aqui trataremos apenas de noções sobre a terra dos índios.
A Constituição Federal, em seus artigos 231 e 232, reconhece aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições:
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas
em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu
bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus
usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua
posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo,
dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais
energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas
só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados
da lavra, na forma da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os
direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad

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Anotações
referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que
ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após
deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o
retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham
por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este
artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o
que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às
benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.

Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas


para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o
Ministério Público em todos os atos do processo.
Em regra, somente são consideradas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
aquelas que eles habitavam na data da promulgação da CF/88. Entretanto, existe
uma exceção a essa regra, é o denominado “renitente esbulho”.
Mesmo que na data da promulgação os índios não ocupassem mais a terra, esta
poderá ser considerada terra dos índios, se estes foram expulsos do local e mesmo
assim continuaram lutando por aquela área, de forma “renitente”, ou seja, os índios
persistiram em reivindicar a área, mesmo após perderem a posse.
Porém, se os índios que habitavam aquele local e decidiram sair ou foram expulsos
anos antes da entrada em vigor da CF/88, e desistiram de lutar, não se configura
“renitente esbulho”.
Eu sei que é muita coisa, mas você precisa estar atento para assimilar o
máximo de conteúdo possível.
Nada de preguiça. Vamos em frente!
_________________________

USUCAPIÃO ESPECIAL
Usucapião especial é uma modalidade de aquisição de propriedade de terras:
● públicas ou
● devolutas.
Para tanto, o possuidor deverá:
● estabelecer nela sua moradia e
● estar na posse por, no mínimo, 5 anos ininterruptos e
● gerar produtividade com seu trabalho.
Assim, irá adquirir o seu domínio, independentemente de boa-fé. Vamos ao que diz a

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Anotações
Lei 6.969/81:
Art. 1º - Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, possuir
como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua,
não excedente de 25 (vinte e cinco) hectares, e a houver tornado produtiva
com seu trabalho e nela tiver sua morada, adquirir-lhe-á o domínio,
independentemente de justo título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para transcrição no
Registro de Imóveis.
Art. 2º - A usucapião especial, a que se refere esta Lei, abrange as terras
particulares e as terras devolutas, em geral, sem prejuízo de outros direitos
conferidos ao posseiro, pelo Estatuto da Terra ou pelas leis que dispõem
sobre processo discriminatório de terras devolutas.
Apesar da Lei 6.969/81 dispor que a área rural não pode exceder a 25 hectares, a
Constituição Federal alterou o tamanho para 50 hectares, conforme artigo 191:
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona
rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho
ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Em se tratando de “terras devolutas” a usucapião poderá ser reconhecida
administrativamente, é o que versa o artigo 4º, § 2º “No caso de terras devolutas, em
geral, a usucapião especial poderá ser reconhecida administrativamente, com a
consequente expedição do título definitivo de domínio, para transcrição no Registro de
Imóveis.”
Pra finalizar, importante você saber que o benefício da assistência judiciária gratuita
na ação de “usucapião especial” abrange as custas do cartório de Registro de
Imóveis, conforme disposto no artigo 6º da Lei.
Art. 6º - O autor da ação de usucapião especial terá, se o pedir, o benefício da
assistência judiciária gratuita, inclusive para o Registro de Imóveis.
Caro aluno, vale ressaltar que de acordo o §3º do art. 183 e parágrafo único do art.
191 ambos da CF e art. 102 do CC, os bens imóveis públicos não estão sujeitos a
usucapião, mormente usucapião especial. Nesse sentido, o entendimento majoritário
doutrinário e jurisprudencial vem se alinhando à Constituição Federal, ou seja, à
vedação de usucapião em relação aos imóveis públicos, inclusive terras públicas. No
entanto, existem algumas discussões nos tribunais sobre esse tema.
Na verdade, há decisões de tribunais que afirmam ser possível tal situação, desde
que o imóvel público não possua registro de propriedade, isto é, a titularidade não é
conhecida, o que significa dizer que não pertence ao Estado, nem ao particular, ou
quando a ação de usucapião for reconhecida sobre terras públicas e devolutas em
casos ocorridos antes da Constituição Federal de 1988, mais especificamente, antes
do CC/16, pois este antigo Código Civil autorizava a usucapião de terras públicas.
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

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Anotações
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou
à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

Terminamos aqui mais uma aula sobre o Direito Agrário. Conteúdo estudado e
pronto para cair na sua prova.
Não se esqueça: sem estudo, sem aprovação.
Até mais!

EXERCÍCIOS DE DIREITO AGRÁRIO - TERRAS PÚBLICAS E DEVOLUTAS -


USUCAPIÃO ESPECIAL

Prova: TJPA CESPE 2019


94. As terras devolutas são

A) terras de propriedade da União que não têm afetação específica e que, portanto,
são consideradas disponíveis

B) terras públicas que estão afetadas a um uso público, mas que ainda não foram
arrecadadas por ações discriminatórias

C) terras públicas ou privadas localizadas em faixas de fronteira, reservas indígenas


ou terrenos de marinha.

D) terras públicas ou privadas consideradas indispensáveis à defesa de fronteira e à


preservação ambiental.

E) terras públicas não incorporadas a patrimônio particular e que não estejam


afetadas a qualquer uso público.

COMENTÁRIOS

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Anotações
GABARITO: E

A) INCORRETA. O item exige conhecimento da LEI: art. 20, inciso II da CF:


""as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação
ambiental, definidas em lei"".
As terras devolutas de propriedade da União, ao contrário que afirma o item
em questão, têm uma afetação específica, ou seja, são aquelas que têm uma
destinação legal (constitucional), como, por exemplo, a defesa das fronteiras
ou a preservação ambiental.

B) INCORRETA. O item exige conhecimento da LEI: Lei de Terras - Lei nº


601/1850 - “Art. 3º São terras devolutas: § 1º As que não se acharem
applicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal.”
A Lei de Terras, ainda em vigor, define as terras devolutas como aquelas que
não têm utilização pública, ou seja, exatamente porque não afetadas
(destinadas ao uso público) é que são classificadas como devolutas pela lei.
Também são consideradas devolutas as terras sem posse legitimada (sem
proprietário privado definido), e aquelas dadas em sesmaria, mas que o
sesmeiro descumpriu com suas obrigações perante o Império (voltaram para o
domínio público).

C) INCORRETA. O item exige conhecimento da DOUTRINA.


As terras devolutas são bens públicos, jamais propriedade privada. No tocante
às terras indígenas e aos terrenos de marinha, são bens da União já
discriminados, ou seja, já demarcados, individualizados, não se enquadrando
no conceito de terras devolutas.

D) INCORRETA. O item exige conhecimento da LEI. art. 20, inciso II da CF:


"as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação
ambiental, definidas em lei"".
As terras devolutas indensáveis à defesa da fronteira e à preservação
ambiental são bens da União, portanto, bens públicos. As propriedades
privadas jamais podem ser definidas como terras devolutas.

E) CORRETA. O item exige conhecimento apenas da LEI: Lei de Terras (Lei n°


601/1850) - “Art. 3º São terras devolutas: § 1º As que não se acharem
applicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal. § 2º As que
não se acharem no dominio particular por qualquer titulo legitimo, nem forem
havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial,
não incursas em commisso por falta do cumprimento das condições de
medição, confirmação e cultura. § 3º As que não se acharem dadas por

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Anotações
sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apezar de incursas em
commisso, forem revalidadas por esta Lei. § 4º As que não se acharem
occupadas por posses, que, apezar de não se fundarem em titulo legal, forem
legitimadas por esta Lei.”
A Lei de Terras estabelece, no art. 3º, que os imóveis não afetados a qualquer
uso público, e também aqueles que não foram transferidos legalmente para o
patrimônio de particulares são considerados como terras devolutas.

Prova: TJ GO FCC 2015


98. Antonio é proprietário de um imóvel urbano, mas ganha a vida como agricultor
familiar em um imóvel rural de 30 hectares. Todos os dias, dirige-se, com sua família,
a este imóvel rural para cultivá-lo e com isto garantir o sustento de todos. Antonio
ajuizou ação pretendendo adquirir a propriedade do imóvel rural comprovando que
exerce posse, sem oposição, com animus domini, por cinco anos ininterruptos. A ação
deverá ser

A) extinta, sem resolução de mérito, diante da ilegitimidade de parte no polo ativo.

B) julgada procedente.

C) julgada improcedente.

D) julgada parcialmente procedente.

E) extinta, sem resolução de mérito, diante da impossibilidade jurídica do pedido.

COMENTÁRIOS
GABARITO: C

A) Antônio tem legitimidade para ajuizar a ação de usucapião especial


(constitucional) rural, porque é possuidor do imóvel usucapiendo. No mérito,
não lhe assiste o direito de adquirir o imóvel, conforme comentários dos itens
“B” e “C”.

B) Constituição da República. “Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de


imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares,

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Anotações
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade” - como Antônio possui outro imóvel,
ainda que urbano, não faz jus à usucapião especial (constitucional) rural, por
isso o pedido deve ser julgado improcedente.

C) CORRETA. Constituição da República. “Art. 191. Aquele que, não sendo


proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a
cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade” - como Antônio possui
outro imóvel, ainda que urbano, não faz jus à usucapião especial
(constitucional) rural, por isso o pedido deve ser julgado improcedente.

D) Constituição da República. “Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de


imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares,
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade” - como Antônio possui outro imóvel,
ainda que urbano, não faz jus à usucapião especial (constitucional) rural, por
isso o pedido deve ser julgado improcedente.

E) Constituição da República. O pedido é juridicamente possível, com base na


previsão legal de usucapião especial rural - “Art. 191. Aquele que, não sendo
proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a
cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade” - como Antônio possui
outro imóvel, ainda que urbano, o Juiz deve adentrar ao mérito e julgar
improcedente o pedido.

Prova: TJ GO FCC 2015


100. A destinação de terras devolutas

A) com mais de 2.500 hectares será feita a qualquer pessoa, independentemente de


prévia aprovação do Congresso Nacional.

B) será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma


agrária.

C) poderá ser compatibilizada com o plano municipal de reforma agrária.

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Anotações
D) não necessita ser compatibilizada com a política agrícola, pois está vinculada ao
plano nacional de reforma agrária.

E) seguirá a ordem cronológica de inscrição dos Municípios.

COMENTÁRIOS
GABARITO: B
A) Constituição da República. Art. 188, § 1º. “A alienação ou a concessão, a
qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos
hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa,
dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional.
B) CORRETA. A assertiva transcreveu a redação do art. 188 da Constituição
da República.
C) Constituição da República. “Art. 188. A destinação de terras públicas e
devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional
de reforma agrária.”. A compatibilização da destinação das terras devolutas se
dará com o plano nacional de reforma agrária (e não municipal).
D) Constituição da República. “Art. 188. A destinação de terras públicas e
devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional
de reforma agrária.”
E) Constituição da República. “Art. 188. A destinação de terras públicas e
devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional
de reforma agrária.”. Não há participação dos Municípios na destinação de
terras devolutas, que é feita pelos Estados (via de regra) ou pela União
(quando necessidade de compatibilização com a política de reforma agrária).

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Anotações
VIDEBOOK 03
E aí, tudo bem? Se você chegou até aqui é sinal que está determinado a
atingir os seus objetivos.
E eu, Maria Helena, tenho o objetivo de facilitar sua jornada. Então, não perca
tempo. Vem comigo, que nesta aula você tem muito a aprender!
Nosso jurista te apresenta as modalidades de contratos agrários, as ações
cabíveis no arrendamento rural e terras irregulares, manipulação de
documentos e vendas irregulares.
Você já ouviu falar em grilagem de terras públicas? Então agora aprenderá
tudo sobre esse assunto.

CONTRATOS AGRÁRIOS
CONCEITO
Contratos agrários são manifestações de vontade firmadas entre os interessados no
intuito de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos e obrigações
relacionados sempre à produtividade da terra ou ao imóvel rural.
Os contratos agrários estão previstos nos artigos 92 a 96 do Estatuto da Terra e no
Decreto nº 59.566/66. Vejamos o que diz o artigo 92 do Estatuto da Terra:
Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de
contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela
exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamento rural,
de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, nos termos desta
Lei.
Podem ser classificados em:;
● contratos típicos ou nominados (arrendamento e parceria agrícola) ou
● contratos atípicos ou inominados.
CARACTERÍSTICAS - os contratos agrários têm como características principais
serem:
● consensuais,
● bilaterais,
● comutativos,
● onerosos,
● informais (não exigem forma específica),
● de trato sucessivo (obrigações continuadas),
● limitativos da liberdade de contratar.
PRAZO MÍNIMO DE DURAÇÃO - em relação ao prazo de duração, é saiba que
podem ser estabelecidos em no mínimo 3, 5 ou 7 anos, observado cada caso.

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Anotações
● contratos com prazo mínimo de 3 anos - estarão incluídos todos os casos de
parceria e arrendamento que envolva exploração:
○ de lavoura temporária e
○ pecuária de médio e pequeno porte.
● contratos de no mínimo 5 anos - serão para arrendamento de:
○ lavoura permanente,
○ pecuária de grande porte ou
○ extração de matérias primas de origem animal.
● os contratos com prazo de duração mínima de 7 anos - serão estabelecidos
nos casos que envolvam exploração florestal.
CONTRATO DE ARRENDAMENTO - o arrendamento, previsto no art. 3º do Decreto
59.566/66, é o contrato agrário que contempla a entrega temporária de um imóvel
rural pelo proprietário mediante retribuição, a ser prestada pelo arrendatário. É
parecido com o instituto da locação, porém o que diferencia é o imóvel:
● arrendamento - destina-se a imóveis rurais,
● locação - refere-se a imóveis urbanos.
Art 3º Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se
obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de
imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros bens,
benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nêle ser exercida atividade
de exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista,
mediante, certa retribuição ou aluguel , observados os limites percentuais
da Lei.
A finalidade exclusiva do arrendamento é a prática de atividade agrária que será
desenvolvida pelo arrendatário. O contrato de arrendamento não precisa ser
registrado para ter validade, mas caso as partes queiram se beneficiar das linhas de
crédito deverão registrar o contrato perante o INCRA.
É característica do arrendamento o direito de preferência do arrendatário na aquisição
do imóvel colocado à venda. Deve ser notificado, e pode ficar com a terra se depositar
o preço, no prazo máximo de 6 meses, conforme disposto no §4º do artigo 92 do
Estatuto da Terra:
§ 4° O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o
preço, haver para si o imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis
meses, a contar da transcrição do ato de alienação no Registro de
Imóveis.
_________________________

CONTRATO DE PARCERIA AGRÍCOLA


O contrato de parceria agrícola, previsto no artigo 4º do Decreto 59.566/66, é o
contrato pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou
não, o uso específico de imóvel rural com o objetivo de nele ser exercida atividade de:

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Anotações
● exploração agrícola,
● pecuária,
● agroindustrial,
● extrativa vegetal ou mista e
● para criação de animais.
Art 4º Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a
ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso especifico de imóvel
rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, benfeitorias, outros
bens e ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de
exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e
ou lhe entrega animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração
de matérias primas de origem animal, mediante partilha de riscos do caso
fortuito e da fôrça maior do empreendimento rural, e dos frutos, produtos
ou lucros havidos nas proporções que estipularem, observados os limites
percentuais da lei.
Nesta modalidade de contrato haverá compartilhamento dos riscos, como caso
fortuito e força maior, frutos e lucros e variações de preço, de modo que passam a ser
sócios e participantes na produção.
Os dois tipos de contratos possuem o mesmo objeto, que é a atividade agrária, porém
no caso do arrendamento a gestão produtiva dos bens é transferida integralmente ao
arrendatário, o que não ocorre na parceria.
CONTRATOS ATÍPICOS - modernidade, a evolução das relações particulares e a
liberdade de contratar vem possibilitando cada vez mais a elaboração de esquemas
contratuais diversos das convenções nominais. Foi então que surgiu a modalidade de
contrato atípico ou inominado, que não possuem forma certa e determinada em lei.
Podemos citar, a título de exemplo de contratos atípicos:
● comodato rural - que é o empréstimo gratuito de coisas infungíveis;
● leasing agrário - onde a arrendadora, pessoa jurídica, adquire a propriedade e
logo em seguida arrenda ao rurícola/arrendatário;
● contrato de pastoreio - utiliza o uso e o costume como fonte do direito, o prazo
não ultrapassa um ano e exige obrigação do proprietário da terra na
alimentação e engorda dos animais;
● contrato do Fica - muito usado nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul, cuja prática se resume na transação de gado, por meio de um documento
chamado Fica, onde os animais ficam em poder do emitente por diversos
motivos, e não há finalidade de engorda;
● contrato de roçado - essa modalidade é comum em todo o Brasil, onde nos
períodos de safras ocorre a entrega da propriedade rural para que a parte
possa usar a terra e ao término da colheita deverá entregar limpa ao dono e
preparada para a próxima lavoura.
Tudo bem? Acompanhando o conteúdo?

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Anotações
Continue focado!
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AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA


A adjudicação compulsória decorre de uma promessa de compra e venda,
devidamente quitada, sem cláusula de arrependimento, em que há recusa
injustificada do promitente vendedor em outorgar a escritura definitiva de venda ao
promitente comprador.
Assim, diante da recusa injustificada, não há outra saída a não ser o comprador
ajuizar “ação de adjudicação compulsória”, sendo que constitui pressuposto
indispensável o pagamento de todas as parcelas do compromisso de compra e
venda.
A “ação de adjudicação compulsória” pode ser utilizada pelo arrendatário rural que
teve desrespeitado o seu direito de preferência para a aquisição do imóvel rural.
Sendo julgado procedente o pedido da ação, e transitada em julgado a sentença,
haverá a adjudicação do imóvel ao compromissário, valendo como título para a
transição.
Não pisca que ainda tem mais! Estamos quase acabando!
Vamos falar agora sobre...

AÇÃO DE DESPEJO EM ARRENDAMENTO RURAL


O artigo 32 do Decreto 59.566/66 elenca as situações em que ocorrerá o despejo do
arrendatário:
Art. 32. Só será concedido o despejo nos seguintes casos:
I - Término do prazo contratual ou de sua renovação;
II - Se o arrendatário subarrendar, ceder ou emprestar o imóvel rural, no
todo ou em parte, sem o prévio e expresso consentimento do arrendador;
III - Se o arrendatário não pagar o aluguel ou renda no prazo
convencionado;
IV - Dano causado à gleba arrendada ou ás colheitas, provado o dolo ou
culpa do arrendatário;
V - Se o arrendatário mudar a destinação do imóvel rural;
VI - Abandono total ou parcial do cultivo;
VII - Inobservância das normas obrigatórias fixadas no art. 13 deste
Regulamento;
VIII - Nos casos de pedido de retomada, permitidos e previstos em lei e
neste regulamento, comprovada em Juízo a sinceridade do pedido;
IX - Se o arrendatário infringir obrigado legal, ou cometer infração grave de
obrigação contratual.

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Anotações
Como visto, o texto legal é taxativo, não admitindo interpretação extensiva.
Vale ressaltar que a ação de despejo rural é uma medida judicial adequada para que
o proprietário retome a posse da terra, ou seja, objeto de contrato de arrendamento
ou de parceria rural. De acordo com o Decreto 59.566/66 que regulamenta a Lei
4.504/64 (Estatuto da Terra) determina que a ação de despejo deverá ser proposta
nos casos que envolvam arrendamento ou parceria rural, mostrando, dessa forma,
não ser possível postular ação possessória em seu lugar.

Ademais, a ação de despejo rural se desenvolve pelo rito COMUM e quando esta
apresentar valor da causa não superior a 40 salários mínimos, poderá ser proposta no
Juizado Especial Cível, nos termos do art. 1063 do NCPC, Lei 13.105/2015.
Nota-se que o artigo 86 do Decreto 59.566/66 ainda prevê o rito sumário do antigo art.
685 do CPC/39 para ações relativas a contratos de arrendamento rural, incluindo as
de despejo. No entanto, com o advento do NCPC em 2015, houve a unificação dos
ritos das ações no procedimento comum, com exceção dos procedimentos especiais
e da ação de execução, conforme art. 318 do NCPC. Sendo assim, o despejo nos
contratos de arrendamento ou parceria rural seguirá o rito do procedimento comum,
sujeitando-se a medidas cautelares, liminares e ao julgamento antecipado do mérito.
Nessa linha, a tramitação da ação de despejo se dará segundo o foro de eleição ou
no lugar do imóvel, caso não conste no instrumento contratual.

GRILAGEM DE TERRAS PÚBLICAS


Se diz “grilada” uma porção de terras com mais de um título de propriedade. Quer
dizer, por meio de falsificação, o imóvel foi vendido mais de uma vez.
O termo “grilagem” vem de uma prática antiga de envelhecer documentos forjados
para conseguir a posse de determinada área de terra. Os papéis falsificados eram
colocados em uma caixa com grilos e com o passar dos anos, a ação dos insetos
dava aos documentos uma aparência envelhecida, fazendo com que os documentos
parecessem verdadeiros.
Atualmente, existem maneiras mais sofisticadas de “grilagem”, como a repetição do
procedimento para registro de títulos, nos cartórios, junto ao INCRA e à Receita
Federal. Por meio do cruzamento dos dados registrados, o grileiro tenta dar uma
aparência de legalidade à fraude.
Infelizmente, a grilagem acontece até hoje devido às deficiências encontradas no
sistema de controle de terras no Brasil. Apesar das diversas propostas, o governo
ainda não implementou um registro único de terras ou ao menos um cadastro
específico para as grandes propriedades.
Também não há articulação e cruzamento de dados entre os órgãos fundiários nos
três níveis de governo (federal, estadual e municipal).
Para você ter uma noção, o CNJ determinou o cancelamento de 5,5 mil registros de
terra do estado do Pará considerados irregulares, cuja maior parte dos papéis
provavelmente é fruto de grilagem.

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Temporada de Direito Agrário, Indígena e Quilombola
Anotações
Na decisão entendeu-se que o tamanho das terras não pode ser superior ao previsto
pela Constituição vigente no momento em que as propriedades foram registradas, por
isso foram cancelados todos os imóveis:
● com área superior a 10 mil hectares registrados de 1934 até 1964;
● com mais de 3.000 hectares registradas de 1964 até 1988; e
● com mais de 2.500 hectares a partir de 5 de outubro de 1988.
Em 2009, a comissão solicitou à Corregedoria do Tribunal de Justiça do Pará o
cancelamento de mais de 6.000 títulos.
Ainda, de acordo com um levantamento feito pela Comissão Pastoral da Terra, há
indícios de que no ano de 2012 no estado do Amapá, existiam 380 mil hectares de
terras com suspeita de grilagem, fato este que vem sendo apurado.
Você conseguiu! Encerramos mais um conteúdo. E é isso, nada de desânimo.
Vamos estudar e seguir o planejamento: foco, disciplina, estudo e aprovação.
Até mais!
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Anotações
VIDEOBOOK 04
Olá, guerreiro!
Preparado para iniciar uma nova luta?
Sou Maria Helena Azzi, sua facilitadora FLY nesta aula. Você tem uma meta
muito importante que é a de materializar os seus sonhos.
Registe isso! Vamos juntos atingir o objetivo.
Nosso grande jurista, te apresentará o estudo sobre os Direitos dos Índios!
Ele inicia com uma breve introdução! Vem comigo!

INTRODUÇÃO
Para se entender o Direito Indigenista, professor entende necessário analisar dois
aspectos normativos à luz da Constituição Federal.
- O primeiro aspecto - é o direcionado pelo Estatuto do Índio, de 1973, cujo princípio
era integracionista, ou seja, a condição indígena seria algo a ser harmoniosamente
eliminada por intermédio da integração dos índios à comunhão nacional.
Professor destaca que no Estatuto do Índio, existem 03 (três) situações distintas:
• A primeira é a dos índios não integrados - que são aqueles com a imagem
idealizada correspondente a nudez, inocência, não falam a língua portuguesa,
não utilizam produtos industrializados e não possuem acesso aos meios de
comunicação modernos. Esse índio é o sujeito de proteção do Estatuto do
Índio, ele é incapaz e está sob a tutela da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI).
• A segunda situação é do índio em vias de integração - esse indígena ainda
mantém algumas das características tribais originais, mas já obteve contato
com o costume dos brancos, tal como a língua portuguesa.
• A terceira situação é a do índio integrado - nessa situação, o índio fala
português, vota, exerce direitos civis e está na condição de penalmente
imputável.
- O segundo aspecto - consta da Convenção nº 169 da Organização Internacional do
Trabalho - OIT, já internalizada no Direito Brasileiro:
• pelo Decreto nº 5.051/2004, e
• pela Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.
Nesses documentos, o princípio adotado é o da “autodeterminação”, que considera
que “ser índio” não é uma condição transitória, a ser eliminada. Ao contrário: “ser
índio” é uma identidade cultural, definida por “autorreconhecimento” e assegurado por
políticas públicas específicas.
Transitando sobre esses dois aspectos normativos, esta nossa Carta Magna.
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Anotações

Agora que você já está se situando no assunto sobre os indígenas, vamos


prosseguir com o próximo tema…

ÍNDIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


O artigo 231 da Constituição Federal reconheceu aos índios seus costumes e
tradições, rompendo e abandonando o paradigma integracionista.
A Constituição de 1988 abre-se ao “multiculturalismo”, ao reconhecer direitos culturais
aos povos tradicionais, dentre os quais o respeito e a valorização dos seus modos
próprios de criar, fazer e viver.
Antes da nossa atual Constituição, “ser índio” era uma condição transitória, que
deveria ser respeitada enquanto durasse, pois o objetivo era a extinção, mediante a
integração do índio à comunhão nacional.
Agora o índio tem o direito de se manter nessa condição, preservando a sua cultura e
costumes.
Vale destacar que as garantias trazidas pela Constituição Federal não se enquadram,
totalmente, nos dispositivos internacionais mencionados. Por isso, o Estatuto do Índio
foi, em geral, recepcionado pela Carta Magna, mas deve ser interpretado em sua
conformidade.
A título de exemplo da ausência de integral reconhecimento da cultura indígena é o
fato das línguas indígenas não serem reconhecidas como oficiais (art. 13 da
Constituição), impedindo o seu uso em atos oficiais, ainda que secundariamente, em
estados ou municípios com grande concentração indígena.
Professor destaca para você que a Constituição Federal determina o respeito à língua
indígena, mas de modo restrito às atividades indígenas (art. 210, §2º).
Importante você concurseiro também saber que o Ministério Público Federal foi
incumbido pela Constituição Federal de proteger os índios (art. 109, XI combinado
com o art. 129, V). Nesse sentido, a boa jurisprudência, também baseada no art. 63
da Lei Federal nº 6.001/73 e no art. 232 da Constituição da República, vem se
posicionando no sentido de que não se pode conceder medida liminar em causas que
envolvam interesses indígenas sem prévia oitiva da União, da FUNAI e do Ministério
Público Federal.
A partir da “interpretação conforme” e atualizada do art. 5º do Estatuto do Índio,
constata-se que se aplicam aos índios todos os direitos constitucionais relativos:
• à nacionalidade e
• à cidadania
A nacionalidade é o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e
determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, capacitando-o
a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres impostos. Por
exemplo, o índio nascido no território brasileiro, pelo critério jus solis, previsto no
inciso I do art. 12 da Constituição, é “brasileiro nato” (pode ser até Presidente da
República).

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Anotações
Os índios também são cidadãos, como todos os demais brasileiros, uma vez que
gozam do direito de desfrutar de todos os direitos fundamentais previstos na
Constituição Federal.
No mais, o art. 231 da Constituição Federal dispõe que as terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios lhes são destinadas de modo permanente e exclusivo, assim
como o usufruto exclusivo dos recursos naturais respectivos, tudo no intuito de que
possam exercer com plenitude seus direitos e manter vivos seu povo e sua cultura.
O inciso XI do art. 20 da Carta Magna determina que a propriedade da terra indígena
é da União, detendo os índios apenas a posse.
Mais um destaque importante: o art. 231 dispõe que são indígenas as terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios. Mas qual seria a referência para se saber
quando deve ser essa ocupação? O STF, no famoso caso das terras Raposa Serra do
Sol, definiu como terra tradicionalmente ocupada por povos indígenas, o território que
esteja na posse dos índios em 05 de outubro de 1988, data da promulgação da
Constituição Cidadã.
_________________________
Tudo certo? Ótimo!
Vamos seguir...

COMPETÊNCIA
A competência é estabelecida em lei e determina os limites do poder de julgar. Em
suma, é a limitação do exercício da jurisdição atribuída a cada órgão ou grupo de
órgãos jurisdicionais.
O inciso XI do art. 109 da Constituição Federal prevê a competência dos juízes
federais para processar e julgar a disputa sobre “direitos indígenas”.
O conceito de “direitos indígenas”, previsto na referida norma constitucional, para
efeito de fixação da competência da Justiça Federal, é aquele referente às matérias
que envolvam:
• a organização social dos índios,
• seus costumes, línguas, crenças e tradições,
• bem como os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam.
Nessa definição de competência dos juízes federais também está o processamento e
julgamento de ações penais que envolvam matérias exclusivamente indigenista, por
exemplo, o crime de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela
posição de cacique em comunidade indígena.
A prática de conduta tipificada como crime por índio adolescente, mesmo envolvendo
a organização social dos índios, não será julgado pelos juízes federais, por se tratar
de ato infracional, de competência do juízo da infância e juventude do local do fato.
Aqui, é importante destacar a existência do chamado Direito Penal Indígena, que
consiste no processamento e julgamento de condutas ilícitas e culpáveis praticadas
por índio em face de outro índio, dentro de território indígena. Esse Direito Penal é

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reconhecido pela Constituição Federal, uma vez que o art. 231 determina que o
Estado reconheça a organização social e as tradições dos povos indígenas.
Também, a Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho, em seu art.
9º, item 1, reconhece os métodos indígenas de repressão dos delitos cometidos pelos
seus membros, desde que compatível com o sistema jurídico nacional.
Dessa forma e considerando a garantia constitucional da inafastabilidade da
jurisdição, inserida no inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal, o Estado deve
utilizar do “Princípio da fragmentariedade” e “subsidiariedade” para intervir nos
eventos ocorridos nos limites da organização social ocorridos exclusivamente no
contexto indígena, tendo como parâmetro o grau de infração aos “direitos humanos”
internacionalmente reconhecidos. Enfim, quanto maior for o desrespeito aos “direitos
humanos” internacionalmente reconhecidos, tanto pela conduta do índio, quanto pela
sanção indígena, maior será a interferência do Estado, por meio da análise do Poder
Judiciário.
A título de exemplo, já houve caso em que o Tribunal do Júri absolveu um índio pelo
fato de ter sido considerada suficiente a sanção condenatória aplicada segundo os
costumes da correspondente comunidade indígena.
Em resumo, em matéria criminal, a competência, da Justiça Federal ou Estadual,
levará em consideração as circunstâncias que envolvem a conduta delituosa, ou seja,
se estão presentes ou não situações exclusivamente indigenistas. A competência é da
Justiça Federal somente quando o processo versa sobre questões ligadas à cultura
indígena e aos direitos sobre suas terras. Agora, se o crime é praticado por outras
motivações, mesmo entre índios, trata-se de delito comum, sem qualquer pertinência
com “direitos indígenas”, sendo, assim, de competência da Justiça Estadual.
Em matéria cível, as demandas que tratem de direitos da comunidade indígena, tal
como disputas de terras, tutela de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos
de populações de índios, serão de competência dos juízes federais. Também será da
Justiça Federal a competência para processar e julgar ações em que o demandado
seja um órgão federal.
A competência é da Justiça Estadual:
• se o demandado for o município ou o estado ou, ainda,
• se a questão posta não versar sobre “direitos indigenistas”.
A título de exemplo, uma indígena adolescente saiu de sua comunidade e passou a
residir na região metropolitana da Capital Goiana. Por estar grávida e
economicamente hipossuficiente, necessitou do beneplácito de medidas protetivas
para ver garantido o direito à sua saúde e do nascituro. A Fundação Nacional do Índio
- FUNAI atuou na assistência da adolescente, não sendo parte. Então, fixou-se a
competência da Justiça Estadual, no caso, por meio do juízo da infância e juventude,
para a concessão e acompanhamento das medidas protetivas, inclusive após o parto
do curumim.
Atenção concurseiro para a dica do nosso jurista Fly: As hipóteses de competência
anômala, em que a Justiça Estadual processa, em primeiro grau, causas federais,
quando não há vara federal na localidade, conforme previsto no §6º do art. 109 da
Constituição da República, restringe-se às matérias previdenciária e de execuções
fiscais federais. Em relação às questões indígenas, não está prevista a possibilidade

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Anotações
de competência anômala da Justiça Estadual. Logo, a resolução de conflitos
relacionados a direitos pertinentes a grupo indígena será sempre federal,
preservando-se a competência da Justiça Estadual em casos que envolvam membros
das comunidades, individualmente considerados, fora do contexto de disputas
coletivas.
_________________________

Vamos passar para o próximo tema. Nada de WhatsApp e, sim, muito estudo.
Fique atento ao que nosso professor vai te ensinar agora!

OCUPAÇÃO TRADICIONAL
Qual a importância de se entender sobre ocupação tradicional indígena?
Além de ser tópico de edital (mantenha o foco na matéria que será cobrada!), também
é o critério constitucional para definição de quais áreas são destinadas ao usufruto
pelas comunidades indígenas.
Após a Revolução Constitucionalista, a segunda Constituição Republicana Brasileira,
em 1934, garantiu o respeito à posse de terras de “silvícolas” que nelas se achassem
permanentemente localizados.
Na Constituição Cidadã, o art. 231 dispõe que as terras tradicionalmente ocupadas
pelos índios lhes são destinadas de modo permanente e exclusivo, assim como o
usufruto exclusivo dos recursos naturais respectivos, tudo no intuito de que possam
exercer com plenitude seus direitos e manter vivos seu povo e sua cultura.
Lembre-se filho: Nos termos do inc. XI, do art. 20, da Carta Magna, a propriedade da
terra é da União, detendo os índios apenas a posse.
Dica Fly para você: Eu te pergunto, se a terra indígena é um bem público, qual a sua
espécie? As terras indígenas não são “bens de uso comum do povo”, mas “bens
públicos de uso especial”, eis que estão afetadas especificamente ao uso da
comunidade indígena que as ocupa e não à integralidade da população.
Para o povo indígena, a noção de ocupação territorial é diferente do que,
normalmente, vemos nas disposições do Direito Civil. A relação do índio com a terra é
uma relação de vida, de cultura e até espiritual, que deságua em agricultura
extensiva, no extrativismo e, sobretudo, no respeito. Portanto, a determinação contida
no artigo 231 da Constituição Federal vai além da simples posse de terras, conforme
previsto no Direito Civil, mas alcança a relação supramaterial que liga o índio ao
ambiente que vive.
Neste ponto professor traz um assunto de extrema importância: o indigenato.
Defendem muitos doutrinadores que a relação do índio com a terra não é “ocupação”,
pois este oriundo de título adquirido.
A relação indígena com a terra, conforme defende a “Teoria do indigenato”, de origem
luso-brasileira em 1680, tem natureza originária, ou seja, independem de qualquer
título anterior, decorrendo apenas da condição indígena. Assim, a demarcação seria

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um procedimento de caráter meramente declaratório, cujo objetivo é o
reconhecimento político de um direito já existente.
Explicando melhor, o instituto jurídico do “indigenato” tem como característica
essencial o fato de ser um título congênito, ou seja, ele nasce com o próprio índio,
que vive em comunidade na sua terra tradicional, diferente da “ocupação” que é um
título adquirido.
Veja filho que a jurisprudência já tem se posicionado no sentido de que a Constituição
Federal de 1988 manteve o instituto do “indigenato” no ordenamento jurídico brasileiro
contemporâneo à medida que no art. 231 reconheceu o direito dos índios de terem a
sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, bem como os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União:
• demarcá-las,
• proteger e
• fazer respeitar todos os seus bens.
Mais uma dica para você, fique atento: a proteção às terras tradicionalmente
ocupadas por comunidades indígenas remonta os tempos do Brasil-Colônia e
permaneceu positivado nos textos constitucionais, sendo que não é necessária a
demonstração da posse ininterrupta da terra pela comunidade indígena para o
reconhecimento de seu direito sobre ela.
Outra dica do professor Fly: o “indigenato”, mantido pela constituição vigente, em seu
art. 231, enquanto direito originário à ocupação das terras tradicionais, é classificado
como direito fundamental (“direito humano”, portanto), uma vez que diz respeito à
sobrevivência e perpetuação das comunidades indígenas e sua cultura.
Observação importante filho: o instituto do “indigenato”, apesar de amplamente
reconhecido, não prevaleceu no STF, no julgamento do Caso Raposa Serra do Sol,
oportunidade em que se adotou a “Teoria do fato indígena”, segundo a qual a posse
legítima deve ser verificada na data da promulgação da Constituição da República de
1988.
A “ocupação tradicional indígena” se refere a ocupação de terras, mediante habitação
em caráter permanente, utilizando-as para suas atividades produtivas, imprescindíveis
à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as
necessárias à reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Como visto, para que uma terra seja reconhecida como tradicionalmente ocupada por
indígenas, o vínculo físico de ocupação deve estar diretamente relacionado aos usos,
costumes e tradições dos índios.
_________________________

PROCEDIMENTO PARA RECONHECIMENTO E DEMARCAÇÃO DOS


TERRITÓRIOS INDÍGENAS

Conforme já se posicionou o STF, compete à União, por atos situados na esfera de


atuação do Poder Executivo, instaurar, sequenciar e concluir formalmente o processo

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demarcatório das terras indígenas, tanto quanto efetivá-lo materialmente, nada
impedindo que o Presidente da República venha consultar o Conselho de Defesa
Nacional, especialmente se as terras indígenas a serem demarcadas coincidirem com
faixa de fronteira.
Também, em conformidade com posicionamento do STF, inclusive reconhecendo a
possibilidade de discussão da validade de títulos de propriedade sobre terras
indígenas não demarcadas, o procedimento demarcatório tem”natureza declaratória”,
pois o que se busca com ele é apenas a delimitação da área já pertencente aos
índios, em razão dos direitos que decorrem da ocupação tradicional.
O processo de demarcação é de extrema importância, por diversos aspectos, dos
quais se destacam os seguintes:
• garante a integridade do território brasileiro, no caso de terras indígenas
localizadas em área de fronteira;
• traz benefícios ambientais, pois possibilita a preservação da fauna e da flora,
em sua diversidade, ante o conhecimento indígena antigo, bem como torna
privativa a exploração pelo modo indígena, que é menos agressivo que os
métodos da agricultura ordinária.
O procedimento propriamente dito para a demarcação das terras indígenas está no
Decreto nº 1.775/96, que se dá da seguinte forma:
• O primeiro passo - é a identificação e delimitação da área a ser demarcada,
sendo fundamentado em trabalhos desenvolvidos por antropólogos, os quais
apresentarão estudo antropológico de identificação, no prazo fixado na portaria
de nomeação, expedida pelo presidente da FUNAI. Veja filho que os estudos
de delimitação das terras não são desenvolvidos exclusivamente por
antropólogos e o grupo técnico poderá solicitar a colaboração de membros da
comunidade científica ou de outros órgãos públicos para embasar os seus
estudos, tudo sob a garantia da participação do grupo indígena envolvido.
• O passo seguinte - concluídos os trabalhos de identificação e delimitação, o
grupo técnico apresentará relatório circunstanciado à FUNAI, cujo presidente
poderá aprovar ou não.
• O terceiro passo - que se seguirá caso o relatório seja aprovado pelo
presidente da FUNAI, este fará publicar, no prazo de 15 dias, resumo do
relatório no Diário oficial da União e no Diário oficial da unidade federada onde
se localizar a área sob demarcação. Também, a publicação deverá ser afixada
na sede da Prefeitura Municipal da situação do imóvel.
• O quarto passo é a oportunidade, desde o início do procedimento demarcatório
até 90 dias após a publicação do resumo do relatório, dos estados e
municípios em que se localize a área em demarcação, assim como os demais
interessados, manifestar, apresentando objeções fundadas e comprovadas
acerca da área demarcada (aqui esta a garantia de que o contraditório não foi
desrespeitado!).
• O quinto passo é o encaminhamento, pela FUNAI, no prazo de 60 dias do
encerramento do prazo nonagesimal citado, do procedimento ao Ministro de
Estado da Justiça, juntamente com pareceres relativos às objeções
apresentadas.

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Anotações
• O sexto passo é dado pelo Ministro de Estado da Justiça, no prazo de 30 dias,
por meio de “ato administrativo vinculado”, que deverá cingir-se à verificação
do atendimento ao disposto no §1º do art. 231, da Constituição Federal. A
partir dessa verificação, o Ministro poderá:
• declarar, mediante portaria, os limites da terra indígena e determinar
sua demarcação, oportunidade em que rejeitará as objeções;
• determinar diligências, que deverão ser cumpridas no prazo de 90 dias;
• desaprovar a identificação, o que deverá fazer motivadamente, como
em qualquer ato administrativo, e devolver os autos à FUNAI.
• O último passo é a submissão do procedimento administrativo à homologação
pelo Presidente da República, que o fará mediante Decreto, o qual terá como
base legal o inc. IV, do art. 84 da Constituição, combinado com o §1º do art.
19 da Lei nº 6.001/73.

_________________________

Tudo certo sobre o procedimento de demarcação? Qualquer dúvida é bom


revisar a aula na sequência, para não perder nenhuma linha de raciocínio!
Vamos lá, sem desanimar, estamos avançando para o final da aula!

USUFRUTO
O art. 22 do Estatuto do Índio prevê que cabe aos índios ou silvícolas:
• a posse permanente das terras que habitam e
• o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades
naquelas terras existentes.
À luz da Constituição Federal, esse dispositivo legal foi recepcionado pelo art. 231, o
qual:
• viabiliza as atividades produtivas dos índios,
• preserva os recursos ambientais necessários ao seu bem-estar, bem como
• permite a reprodução física e cultural do grupo, conforme seus usos, costumes
e tradições.
O “usufruto” decorre da posse, a qual há diferença entre “posse indígena” e “posse
civil”:
• posse civil - tem caráter patrimonial, estando vinculada apenas à ocupação e
exploração da terra, inclusive, em determinados casos, passível de gerar a
prescrição para usucapião.
• posse indígena - importa em ocupação e exploração da terra em íntima ligação
com a sobrevivência física e cultural do grupo.

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Anotações
Filho, muito importante agora: o usufruto pelo índio, para se ter a proteção
constitucional especial, deve estar intimamente ligado às questões indigenistas e,
jamais, para o exclusivo fim de acumulação de riquezas, tal como é o objetivo da
posse civil.
Diante desse raciocínio, não são todos os bens que se submetem ao usufruto
indígena, mesmo que estejam em terras indígenas. São bens de propriedade da
União, não sendo os índios seus usufrutuários:
• oss potenciais de energia hidráulica e
• os recursos minerais, inclusive os do subsolo.
Professor destaca, como limite ao usufruto indígena, a adequação das atividades de
exploração ambiental às normas postas. Ante o valor constitucional de respeitar as
atividades indígenas próprias, não é o caso de sancionar a atividade tradicional do
índio, mas será ponderada se extrapolar o objetivo puramente de sustento da
organização social indígena, tal como se houver transformação em comércio de
produção ou grave comprometimento do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Por fim, um assunto que já foi polêmica no STF são os limites da utilização de águas
fluviais. Concede-se ao índio a posse e o usufruto da terra por ele ocupada, incluindo-
se, no usufruto, o uso dos mananciais e das águas dos trechos das vias fluviais, mas
não em caráter exclusivo, sendo-lhes vedado impedir a utilização por outras pessoas.
_________________________
Agora não é hora de descansar, assim que terminar, você descansa. Vamos,
último tema!

PROTEÇÃO NO ÂMBITO DO DIREITO PRIVADO


A Constituição Federal garante os direitos à nacionalidade e cidadania aos índios.
Nesse sentido, todos os cidadãos brasileiros, incluídos, por óbvio, os índios, têm
direito à “documentação básica”.
O acesso à documentação básica, tais como Certidão de Nascimento, Carteira de
Identidade, Cadastro de Pessoa Física - CPF, Carteira de Trabalho e Previdência
Social - CTPS, é requisito para acessar direitos sociais e de cidadania, como realizar
matrícula na escola, acessar direitos trabalhistas e previdenciários (aposentadoria,
salário-maternidade, auxílio-doença), acessar programas sociais, como o bolsa-
família, programas habitacionais entre outros e, também, para exercer o direito ao
voto.
O fato de se garantir ou adquirir a mencionada documentação básica aos índios, não
significa perda dos direitos específicos determinados pela Constituição Federal,
relacionados às terras tradicionais que ocupam ou ao respeito à sua organização
social, costumes, línguas, crenças e tradições.
Portanto...
É importante destacar que:
• para os cidadãos não-indígenas - a documentação básica é um direito e dever;

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• para os indígenas - o registro civil de nascimento e a documentação básica
não são obrigatórios, mas um direito e uma opção de cada indígena, conforme
seus usos, costumes e tradições.
Por fim, professor te explica com propriedade sobre a capacidade civil dos índios.
Para tanto, nada melhor do que a compreensão do art. 232 da Constituição Federal,
que determina que os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas
para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o
Ministério Público em todos os atos do processo.
A Constituição reconhece a “capacidade processual” das “comunidades indígenas”.
Logo, está o reconhecimento, de forma geral, da “capacidade civil plena” dos índios.
Conclui-se que a questão da “capacidade civil” dos índios atualmente deve ser
entendida à luz da Constituição Federal que facilmente se sobrepõe aos dispositivos
do Estatuto do Índio, o qual prevê a incapacidade relativa do índio (art. 8º da Lei nº
6.001/73).
E com relação ao “direito privado indígena”? O que de relevante precisamos estudar
sobre esse ponto para o concurso público?
Ao considerar a organização social, as crenças e tradições dos povos indígenas, a
Constituição Federal também impõe o respeito ao ordenamento indígena quanto às
relações de família, à sucessão, ao regime de propriedade e nos atos e negócios
realizados entre os índios, salvo se optarem pela aplicação do direito comum.
Em consonância com a Carta Magna, o art. 6º garante aos índios a vigência de seu
próprio sistema de “direito privado”. Trata-se de valiosa hipótese de norma não
emanada do Estado, mas por ele reconhecida e protegida.
Importante aqui filho: o Estado não é a única fonte de produção de regras jurídicas no
Brasil, pois são reconhecidas as regras criadas pelas comunidades indígenas.
Essas regras, ditas de “Direito Privado Indígena”, possuem três aspectos relevantes:
• primeiro - é a garantia de aplicação do direito indígena no seio da
comunidade;
• segundo - é a garantia de aplicação do direito mais favorável e
• terceiro - é a garantia de observância das peculiaridades culturais, quando da
aplicação do direito comum.

Chegamos ao fim desta aula, cheia de conteúdo e aprendizado.


Saiba que fico muito contente com o seu esforço e empenho. Você
está no caminho certo, filho!
Lembre-se que o único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho
é no dicionário. Eu fico por aqui.
Até a próxima!

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Anotações
VIDEOBOOK 05
Olá, concurseiro! Tudo bem?
Está empenhado para merecer sua vaga?
Não deixe essa oportunidade passar. Corra atrás de sua vitória!
Eu sou a Maria Helena, sua facilitadora. Minha missão na Fly é te ajudar
nessa caminhada rumo à aprovação e ao seu sucesso!
E nosso jurista também está bem empenhado a te ajudar nisso!
Nesta aula ele te ensinará sobre os Direitos Quilombolas! Vamos juntos?

QUILOMBOLAS E POVOS TRADICIONAIS


De início, professor destaca para você que “quilombolas” são populações tradicionais
e não possuem essa qualificação pelo simples fato de serem negros.
Importante saber que...
Nem todo negro é quilombola!
Quilombolas são comunidades tradicionais, culturalmente diferenciadas do grupo
dominante, tendo como referências suas características étnico-cultural e não apenas
racial.
Como é natural, todo o estudo deve ter por base a Constituição Federal.
Sobre os quilombolas, o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
dispõe que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos.”
Tal dispositivo foi repetido na Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial), em
seu artigo 31.
Como visto, a proteção às “comunidades quilombolas” tem amparo:
• constitucional,
• legal e,
• também regulamentar, através do Decreto nº 4.887/2003.
Vamos lá! Quem afinal são os nominados “quilombolas”? O Art. 2º do Decreto nº
4.887/2003 define que “consideram-se remanescentes das comunidades dos
quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnicos-raciais, segundo critérios de
autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais
específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à
opressão histórica sofrida.”
Da disposição legal, podemos extrair 04 (quatro) elementos para a caracterização do
conceito de quilombolas:
• O primeiro - é que os quilombolas são um grupo étnico negro;

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Anotações
• O segundo - é a existência de uma trajetória histórica e existência de relações
territoriais próprias;
• O terceiro - é a presunção de ancestralidade negra relacionada à luta contra a
opressão histórica;
• E, por fim, o quarto elemento - é a prevalência da autoatribuição ou
autodefinição da própria comunidade.
Para melhor entender sobre a caracterização de uma “comunidade quilombola”, vale
destacar o posicionamento do STF no caso denominado de Ilha da Marambaia,
oportunidade em que se delineou que quilombos não são, apenas, lugares onde havia
negros escravos fugitivos, mas envolve várias características culturais e de tradições
que superaram o tempo, vencendo-se vários desafios pertinentes aos infortúnios da
vida isolada, adversidades variadas, resistência do poder regular, especulação
imobiliária e preconceito racial.
Conforme mencionado pela antropóloga Miriam de Fátima Chagas, a conceituação de
quilombos unicamente como local de escravos fugidos remonta ao próprio período
escravocrata de nossa sociedade, de forma a caracterizar o escravo em condição
ilegal, fugido de seu proprietário. É um conceito que favorece unicamente ao senhor
escravista. A Constituição Federal, ao consagrar o direito à terra dos “remanescentes
de quilombos”, não o fez tomando como base os “quilombos” unicamente como locais
de negros fugitivos, mas sim referindo-se ao uso da terra segundo os costumes e
tradições das comunidades negras.
Enfim, conforme nos orienta Edilson Vitorelli: “comunidade quilombola” é todo grupo
negro, usualmente habitante de área rural, desde tempos que remontam, pelo menos,
às primeiras décadas do século XX, tendo nela se instalado por qualquer razão
histórica e ali vivido até os dias atuais, compartilhando um território e uma identidade,
e que assim se autorreconheça”.
Veja que não importa se a comunidade se originou de negros escravos em fuga. O
importante, para caracterizar “comunidade quilombola”, é a existência de um grupo
negro com ocupação temporalmente remota do território e que nele vive conforme
seus costumes e tradições.
Mas, enfim, os “quilombolas” são povos tradicionais?
Para responder essa pergunta, é necessário verificar o conceito trazido no art. 3º do
Decreto nº 6.040/2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Esse dispositivo determina que povos e comunidades tradicionais são “grupos
culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais
como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.”
A partir desse conceito, verificamos que, tal como os índios, os quilombolas se
encaixam na categoria de “comunidades tradicionais”, já que a característica
essencial é a preservação de uma cultura distinta da majoritária, mantendo uma
relação com a terra que é mais do que posse ou propriedade. É, na verdade, uma
relação de identidade.

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Anotações
Por serem um povo tradicional, os quilombolas contam com as prerrogativas da
Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, a qual foi
internalizada pelo Decreto nº 5.051/2004, e que, por se tratar de matéria sobre direitos
humanos, possui status supralegal.
Essa “Convenção internacional” garante, dentre outros direitos, o direito do povo
tradicional de ver implementadas, pelo Estado, mediante consulta, políticas que lhes
garantam o acesso, em igualdade de condições, às oportunidades oferecidas à
generalidade da população e à plena efetividade dos direitos sociais, sempre com
respeito a suas peculiaridades culturais.
_________________________
Tudo bem, aí?
Acompanhando o conteúdo?
Ótimo! Quero te ver até o final desta aula bem concentrado! Eu sei que pode
estar doendo, e que de repente por um segundo você tenha dispersado, mas
chame essa cabecinha de volta e siga comigo!

IGUALDADE RACIAL
Para tratar deste tema, nosso professor acha importante, primeiro, trabalhar o
conceito de raça.
E ele te pergunta: será que existem, efetivamente, raças humanas?
O geneticista Guido Barbujani nos orienta que, no momento, não há motivo para
acreditar que a espécie humana se subdivide em grupos biológicos distintos, que
evoluíram naturalmente, e que possamos chamar legitimamente de raças, qualquer
que seja a definição de raça que adotarmos.
As diferenças externas entre as pessoas são fruto das influências climáticas e de
características hereditárias, como qualquer outra característica: ser alto ou baixo, ser
gordo ou magro, ter uma pinta ou não, ter olhos mais claros ou mais escuros.
Na verdade, nenhuma pessoa é igual a outra, uma vez que, cada um, possui uma
característica que a distingue de outras.
Essas diferenças, biologicamente, não são suficientes para dizer que existem raças
humanas distintas.
Considerando que todas as pessoas são seres humanos, a história da humanidade
demonstra que, nem sempre, uma característica externa foi determinada para a
segregação social.
Na Grécia e em Roma antigas, por exemplo, a escravidão decorria de dívidas ou da
derrota em guerras.
Para Roma, inclusive, o termo “bárbaro” foi cunhado como referência a ausência de
domínio do latim pelos povos que viviam além das fronteiras do Império. Enfim, a
aparência não era considerada.
Com a descoberta das Américas, a partir de 1492, e com o início da colonização
africana, é que a situação começou a mudar.

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Anotações
Os povos Europeus precisavam de abundância de mão-de-obra para a empreitada
colonial e não bastava, apenas, a justificativa de sobreposição militar. Havia
necessidade de um fundamento racional que, de certo modo, justificasse a imposição
da vontade europeia aos povos americanos e africanos. Assim, utilizar como
justificativa a característica física, em especial a cor da pele, era mais conveniente,
uma vez que havia evidentes distinções aparentes entre europeus e a população
africana e americana.
A força às ideias racistas não veio da fé ou da ausência da razão, mas, sim, do
“império das luzes”, no movimento denominado de racionalismo, a partir do período
renascentista.
Na verdade, toda essa teoria de discriminação racial adveio da necessidade de
alguma desculpa para justificar o extremado materialismo econômico que conduzia a
negar os povos “inferiores” qualquer participação nos privilégios que os povos
dominadores (geralmente europeus) desfrutavam.
No Brasil, hoje, a grande discussão é se o preconceito gira em torno da cor da pele ou
da desigualdade social. No Estados Unidos, por exemplo, existem muitos casos de
discriminação de negros, independentemente, da cor da pele. No Brasil, não é tão
simples observar a natureza do preconceito.
Em território brasileiro, existe o preconceito pela cor da pele, mas, também, existe a
discriminação pelas distinções sociais, decorrentes do acúmulo ou não de bens
materiais ou de alcance escolar-cultural.
Considerando que há muito motivos sociais para a discriminação social, por qual
motivo ainda permanece a discriminação pela cor, afligindo as pessoas de cor negra?
Conforme conclui Edilson Vitorelli, o problema está na imagem, que ainda persiste do
estereótipo negro: menos inteligente, menos capacitado ou menos trabalhador que o
branco.
Nesse contexto é que foi editado o Estatuto da Igualdade Racial, o qual, em verdade,
não se preocupou, de forma objetiva, com a igualdade racial, mas sim com a
promoção de ações especificamente destinadas aos negros.
Neste momento, é importante destacar que o direito convencional e a Constituição
Federal estabelecem como objetivo fundamental a promoção do bem de todos, sem
discriminação de raça ou cor, ou seja, os compromissos assumidos estão diretamente
ligados à eliminação de todas as formas de discriminação racial, não apenas da
discriminação racial voltada contra a população negra.
Não podemos perder de vista que o preconceito racial no Brasil não se restringe
exclusivamente contra os negros. Os índios, de modo particular, são alvo de
preconceito muitas vezes mais aberto e incontido do que aquele direcionado aos
negros.
Enfim, o Estatuto da Igualdade Racial se restringiu à discriminação contra negros,
inclusive com o grave problema de definição da população denominada “parda”,
contrariando os comandos fundamentais de Tratado Internacional e da Constituição
Federal.
Mudando de aspecto, é essencial, quando se trata de Igualdade Racial, saber a
distinção entre discriminação racial e desigualdade racial:

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Anotações
• discriminação racial - é o ato que, em virtude da raça, distingue, exclui ou
restringe o reconhecimento, gozo ou exercícios de direitos em qualquer campo
da vida pública ou privada. Não é uma situação, mas um ato dinâmico
correspondente a conduta.
• desigualdade racial - é o estado, a situação já verificada, na qual um indivíduo
ou grupo não consegue acessar ou fruir os bens sociais em igualdade de
condições com o restante da população.
Sobre a igualdade, em seus efeitos práticos, a Teoria do Impacto Desproporcional,
adotada no Brasil, permite que se constatem violações ao “Princípio da igualdade”
quando os efeitos práticos de determinadas normas, de caráter aparentemente
neutro, causem dano excessivo, ainda que não doloso, mas que atinge certos grupos.
Professor destaca que, à partir das orientações do doutrinador Celso Antônio
Bandeira de Melo, em sua monografia intitulada de “O Conceito jurídico do princípio
da Igualdade”, é possível o estabelecimento de desigualdades legais em
cumprimento, e não em desrespeito, à Constituição Federal. Tal fenômeno ocorre
para que se atinja pessoas efetivamente distintas da realidade, com a finalidade de
suprimir a desigualdade efetiva.
Nesse ponto, como exemplo de ações que estabelecem desigualdades legais, com a
finalidade de proporcionar a inclusão social daquele que é efetivamente desigual,
estão as “ações afirmativas”, mencionadas no Estatuto da Igualdade Racial.
Entende-se por “ações afirmativas” os programas e medidas especiais adotados pelos
Estados e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a
promoção da igualdade de oportunidades. O Estatuto da Igualdade Racial, para
garantir a participação da população negra em condições de igualdade de
oportunidades, dentre algumas medidas, prioriza a implementação de programas de
ações afirmativas destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante
à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de
comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça e outros.
Por fim, a política de igualdade racial que se pretende ver estabelecida no Brasil se
funda, basicamente, em dois pilares:
• o primeiro é a adoção de políticas difusas de combate ao racismo;
• o segundo é a criação de oportunidade específicas para indivíduos integrantes
da raça negra, a fim de proporcionar que tenham ampliadas suas
possibilidades de acesso aos bens sociais.
_________________________

PROTEÇÃO NO ÂMBITO DO DIREITO PRIVADO


Saiba filho que todas as causas relativas aos territórios quilombolas e aos interesses
coletivos de suas populações são de interesse do INCRA e da Fundação Cultural
Palmares, autarquia e fundações públicas federais, respectivamente. Portanto, nos
termos do inciso I do art. 109 da Constituição, essas questões são de competência
jurisdicional da Justiça Federal e de atribuição ministerial do Ministério Público
Federal.
Quero que saiba que…

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Anotações
Falar em proteção no âmbito do Direito Privado, também é falar em proteção à
propriedade.
Os artigos 6º a 9º do Decreto nº 4.887/2003 estabelecem o procedimento de
demarcação das terras quilombolas que é, de modo geral, muito parecido com o
procedimento de demarcação das terras indígenas:
• Primeiro, a Fundação Cultural Palmares, considerando o autorreconhecimento
da comunidade, expede a respectiva certidão.
• Depois, o INCRA inicia o procedimento de demarcação com a elaboração do
laudo antropológico, o qual definirá os limites que considerem as dimensões
necessárias à auto reprodução física e cultural da comunidade.
• Definidos os limites da ocupação tradicional, o INCRA efetuará o levantamento
ocupacional e cartorário, cujo objetivo é verificar se existem títulos de
propriedade em favor de outros sujeitos externos à comunidade, bem como a
validade de tais títulos.
• Concluídos os trabalhos, o INCRA providenciará um edital de conclusão, que
será publicado por duas vezes, nos diários oficiais da União e do estado em
que se situe a comunidade quilombola, além de afixado na sede da prefeitura
local.
• Terminados os trabalhos do INCRA, o procedimento é remetido à Fundação
Palmares e a outros órgãos públicos encarregados de verificar aspectos sobre
interesse do patrimônio histórico nacional, impacto ambiental, interesses de
comunidades indígenas ou de segurança nacional.
• Esses órgãos têm o prazo de 30 dias, a contar da notificação pessoal, para
manifestarem e qualquer interessado tem o prazo de 90 dias para oferecer
contestação administrativa, a contar da publicação. Essas eventuais
impugnações são julgadas pelo INCRA.
• Uma vez demarcada e resolvidas suas eventuais pendências, a propriedade
será titulada coletivamente, com título indiviso, em nome da comunidade, que
pode ser representada por uma “associação civil” por ela própria constituída. É
importante ressaltar que não é obrigatória a constituição da associação, dada
a vedação constitucional. Caso não exista essa associação, a comunidade
será tratada como uma coletividade despersonalizada, tal como um
condomínio.
Professor destaca que o respeito constitucional à cultura diferenciada dos povos
quilombolas impõe a aceitação de suas tradições, inclusive no âmbito de sua
organização social, cujos reflexos alcançam às relações familiares e sucessórias.
Ele ressalta, inclusive, que a implantação de políticas públicas nas comunidades
tradicionais quilombolas deve ocorrer após prévia consulta das pessoas que ali vivem,
mesmo que seja para garantir o pleno exercício da cidadania.

Terminamos por aqui o conteúdo da aula sobre os Direitos dos Quilombolas.


Conteúdo estudado e pronto para cair na sua prova.
Aqui na FLY a gente olha pra frente. Sempre confiante.

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Anotações
Vamos estudar! Sem estudo, sem aprovação.
Até mais!

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Anotações
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
O conteúdo de Direito Agrário do curso Fly foi produzido com base na legislação
vigente, jurisprudências e informativos dos Tribunais Superiores, bem como à partir
de diversos conteúdos jurídicos produzidos por doutrinadores e professores, em
especial citamos Benedito Ferreira Marques. Utilizamos como fonte de pesquisa
livros, artigos jurídicos e sites da área jurídica, principalmente do site
www.dizerodireito.com.br.
O conteúdo de Direito Indígena e Quilombola do curso Fly foi produzido com base na
legislação vigente, jurisprudências e informativos dos Tribunais Superiores, bem como
a partir de diversos conteúdos jurídicos produzidos por doutrinadores e professores,
em especial citamos Edilson Vitorelli. Utilizamos como fonte de pesquisa livros, artigos
jurídicos e sites da área jurídica.

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